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ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS RESULTADOS DE LAJES

CALCULADAS POR MEIO DE MÉTODOS SIMPLIFICADOS E ANALOGIA


DE GRELHAS
COMPARATIVE ANALYSIS BETWEEN RESULTS OF SLABS CALCULATED BY
SIMPLIFIED METHODS AND BY GRILLAGE ANALOGY

Brandão, Higor Machado (1); Dordenoni, Daniele (2); Ceotto_Sobrinho, Bruno (3)
(1) Estudante de Engenharia Civil, Universidade Vila Velha
(2) Engenheira Civil, Vertiko – Engenharia Estrutural
(3) Professor Mestre, Curso de Engenharia Civil da Universidade Vila Velha
Rua Rui Barbosa, 17. Planalto. Vila Velha/ES. CEP 29118-350.

Resumo
Durante muitos anos, devido à falta de recursos computacionais, o cálculo estrutural dos pavimentos de
edifícios em concreto armado foi realizado de maneira simplificada, por meio de tabelas, considerando-se as
lajes como elementos isolados e apoiadas em vigas rígidas. Atualmente, mesmo com a disponibilidade de
programas comerciais capazes de realizar análises e cálculos de forma rápida e refinada, a NBR 6118 (2014)
ainda admite o emprego de métodos de cálculos simplificados. O presente trabalho tem o objetivo de
apresentar um estudo comparativo sobre o dimensionamento de lajes maciças de um pavimento em concreto
armado com base em três métodos distintos, a saber: os métodos simplificados de Czerny (MC) e de Marcus
(MM), que consideram as lajes como elementos isolados, e a Analogia de Grelha (AG), que permite reproduzir
o comportamento estrutural do pavimento inteiro de maneira mais próxima da realidade. Para alcançar esse
propósito, foi desenvolvido um estudo de caso a partir do projeto arquitetônico de um edifício residencial em
concreto armado, constituído de cinco pavimentos e de lajes retangulares maciças. Os resultados obtidos
foram comparados a fim de serem verificadas as diferenças entre os valores dos momentos fletores máximos
positivos e negativos obtidos pelos três métodos mencionados. No trabalho em tela, foram adotados os
mesmos parâmetros de cálculo para os três métodos empregados e foi utilizado o Software CAD/TQS como
ferramenta de apoio para a análise pela AG. Por fim, foi avaliado se, em prédios calculados por métodos
simplificados, que apresentam áreas de aço inferiores àquelas fornecidas pela AG, existe uma maior
tendência para a ocorrência de manifestações patológicas estruturais quando considerados outros fatores
adversos.
Palavras-Chave: Cálculo de Lajes; Método Czerny; Método de Marcus; Analogia de Grelhas.

Abstract
For many years, due to lack of computer resources, the structural calculation of reinforced concrete buildings
floors was performed by simplified way, through tables and considering the slabs as isolated elements and
supported by rigid beams. Currently, even with the availability of commercial calculation programs able to
perform analysis and fast calculations with great refinement, the NBR 6118 (2014) still allows the use of
simplified calculation methods. The present article aims to present a comparative study on the design of floor
slabs in reinforced concrete with the use of three distinct methods: the simplified method of Czerny (MC), the
simplified method of Marcus (MM), and the Grillage Analogy method (GAM), that recreates the structural
behavior of the pavement closer to reality. For this purpose, a case study will be developed from an
architectural design of a residential building in reinforced concrete having five floors and massive rectangular
slabs. Thus, the final results will be compared, in order to verify the differences between the positive and
negative maximum values of bending moments reached by the three methods mentioned. In this project, the
same calculation parameters will be selected for the three methods and as a support tool for the analysis of
the Grid Analogy method, the CAD/TQS software will be used. In conclusion, it is intended to evaluate if
buildings calculated by simplified methods, which have lower steel areas than those provided by the Grillage
Analogy Method, have a greater tendency for occurrence of structural pathological manifestations when other
adverse factors are considered.
Keywords: Slab Calculation; Czerny method; Marcus method; Grillage Analysis; Finite Element Method.
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ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018
1 Introdução
No Brasil, o processo de transição entre a utilização de tabelas para o cálculo de lajes de
edifícios até a efetiva utilização de programas e softwares comerciais para o cálculo dessas
estruturas foi relativamente demorado. Embora no início dos anos 1990 já existissem
softwares nacionais para o cálculo de estruturas em concreto armado, a grande maioria dos
projetistas ainda calculava as estruturas utilizando processos simplificados de cálculo, os
quais, muitas vezes, eram realizados por meio de calculadoras científicas programáveis,
tais como a Texas TI-59 e as da família HP. Nessa época, como poucos programas
possuíam interface gráfica, os modelos eram gerados por meio de arquivos produzidos com
a digitação de dados. FORTES (2009) relata que, em 1994, os processos de cálculo dos
projetistas ainda eram bem tradicionais, visto que apenas uma pequena parcela dos
escritórios de cálculo estava preparada para modelar pavimentos por grelha ou por
elementos finitos. Dessa forma, a transição do processo do cálculo tradicional para o cálculo
baseado no modelo de pórtico espacial e de pavimentos em grelha, ou modelagem em
Elementos Finitos, não ocorreu de imediato. Em verdade, essa transição se prolongou até
o início dos anos 2000, quando uma nova geração de projetistas se adequou ao uso dos
novos softwares de cálculo e aos novos paradigmas normativos que entraram em vigor com
a NBR 6118 (2014). Observa-se, assim, que, na sociedade brasileira, há,
aproximadamente, 15 anos, grande parte dos edifícios ainda eram calculados de maneira
simplificada, considerando-se as lajes isoladas e apoiadas em vigas rígidas. BANKI (2013)
comenta que, nos casos de pavimentos formados por lajes quadradas ou retangulares, com
dimensões não muito diferentes entre si e com vigas de apoio suficientemente rígidas, o
procedimento antigo, ou simplificado, não apresenta resultados muito diferentes daqueles
obtidos com a análise do pavimento inteiro por meio da Analogia de Grelha.
É importante enfatizar, contudo, que essa consideração necessita de alguns cuidados
adicionais para ser adotada, pois há projetos que apresentam uma grande discrepância nos
esforços obtidos ao se considerar a laje apoiada sobre vigas supostamente indeformáveis,
calculadas com o uso de tabelas, ou sobre vigas deformáveis. Conforme COL DEBELLA
(2015), tais simplificações podem produzir erros significativos, que chegam a superar a
capacidade de redistribuição de esforços da estrutura.

2 Referencial Teórico
2.1 Métodos de análise estrutural para lajes
As lajes estão sujeitas, de maneira geral, tanto a ações normais quanto a ações horizontais
em seu plano, o que faz com que sejam projetadas para suportar e promover a distribuição
dos esforços oriundos dessas ações aos seus apoios e dos demais elementos de
contraventamento da edificação. O cálculo dos esforços solicitantes nas lajes é feito,
normalmente, por meio de dois grupos de métodos: os métodos que se baseiam na teoria
da plasticidade e consideram os mecanismos de ruptura da laje, considerando o material
com comportamento rígido-plástico perfeito; e os métodos clássicos, que se fundamentam

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na teoria da elasticidade, supondo o material homogêneo, isotrópico e de comportamento
linear (MONTOYA; MESEGUER; CABRÉ, 2000, p. 539).

2.1.1 Método das Linhas de Ruptura ou das Charneiras Plásticas


O Método das Charneiras Plásticas baseia-se na formação das linhas teóricas de ruptura
para analisar os mecanismos de ruptura no estado limite último (ELU). Esse método é
utilizado para o cálculo das reações de apoio em lajes retangulares, isoladas, armadas em
duas direções, com carga uniformemente distribuída e que trabalham no regime plástico.
As reações obtidas são consideradas uniformemente distribuídas nas vigas de apoio, o que
representa uma simplificação de cálculo. Em verdade, as reações têm uma distribuição não
uniforme, geralmente com valores máximos na parte central do vão, que diminuem nas
extremidades. Vale ressaltar, porém, que a deslocabilidade das vigas de apoio pode
modificar a distribuição dessas reações.
Embora a transmissão das cargas das lajes para seus apoios aconteça no regime elástico,
o procedimento de cálculo, proposto pela NBR 6118 (2014), baseia-se no regime plástico,
a partir da posição estimada das linhas de plastificação, também denominadas charneiras
plásticas.
O Método das Charneiras Plásticas admite que, sob a ação da carga de ruptura, as lajes
se dividem em painéis que giram em torno de linhas ao longo das quais os momentos, tanto
os positivos quanto os negativos, são constantes máximos e iguais aos momentos de
ruptura da laje (a armadura atinge seu patamar de escoamento).

2.1.2 Teoria das Placas Delgadas ou de Kirchhoff-Love


A Teoria das Placas Delgadas é fundamentada na Teoria da Elasticidade, que considera
os materiais das placas como homogêneos e isótropos, com comportamento elástico-linear.
A partir das equações diferenciais do equilíbrio das placas, das leis constitutivas do material
e das relações de compatibilidade de deslocamentos de um elemento infinitesimal, obtém-
se uma equação diferencial parcial de 4ª ordem, denominada equação fundamental das
placas delgadas ou equação de Lagrange (PINHEIRO; MUZARDO; SANTOS, 2010).
Na equação 1, a seguir, tem-se a representação dessa equação:
𝜕4 ω 𝜕4 ω 𝜕4 ω p
+2 2 + = − (Equação 1)
𝜕𝑥 4 𝜕x2 𝜕𝑦 𝜕y4 D

onde:
ω = função que representa os deslocamentos verticais da placa;
p = carregamento na placa;

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D = rigidez à flexão da placa, que é dada pela equação 2.
Eh3
D= (Equação 2)
12(1−ʋ2 )
E = módulo de elasticidade do concreto;
h = espessura da placa;
ʋ = coeficiente de Poisson do concreto.

Cumpre pontuar que a solução algébrica exata para a equação fundamental das placas
delgadas se limita à análise de casos específicos. Para casos mais gerais de carregamento
e de condições de contorno, as soluções podem ser obtidas por meio das séries de Fourier,
que apresentam duas famílias de solução: as equações de Navier e as de Lévy (ARAÚJO,
2014).
Diversos autores desenvolveram tabelas que permitem o cálculo simplificado dos
momentos fletores e de flechas para casos particulares de carregamento e de condições
de apoio de lajes isoladas. Os casos mais gerais abrangem, além das lajes retangulares,
as triangulares, as circulares, as apoiadas em pilares, as com bordas livres, bem como os
carregamentos uniforme e triangular (BASTOS, 2015).
Atualmente, a solução da equação diferencial das placas delgadas é realizada por meio de
processos numéricos, tais como o Método dos Elementos Finitos ou o Método da Analogia
de Grelha.

2.1.2.1 Método de Marcus


No Brasil, o Método de Marcus foi, ao longo dos anos, muito utilizado pelos projetistas no
cálculo de edifícios. Trata-se de um método aproximado, que é destinado ao
dimensionamento de lajes retangulares isoladas e armadas em duas direções. Tem sua
origem a partir de correções, propostas por Marcus, para diminuir os valores dos momentos
fletores positivos fornecidos pelo processo das grelhas com o intuito de aproximá-los dos
valores reais advindos da teoria das placas. As correções são feitas por meio de
coeficientes que visam considerar os efeitos da torção que não são considerados na teoria
das grelhas (ARAÚJO, 2014).

2.1.2.2 Método de Czerny


O Método de Czerny origina-se na Teoria da Elasticidade. Suas tabelas, obtidas por meio
da integração numérica por diferenças finitas, podem ser aplicadas em todas as situações
de lajes retangulares com carregamento uniformemente distribuído, com lados
perfeitamente apoiados ou engastados. Podem ser usadas, também, para lajes com um
bordo livre e para carregamento triangular, sendo, por isso, muito utilizadas para caixas
d'água.
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Para a aplicação das tabelas de Czerny, deve-se considerar que o vão menor é sempre lx
e que os momentos fletores positivos e negativos nas lajes são encontrados a partir de
parâmetros obtidos em tabelas em função da relação dos vãos  = lx/ly, que variam de 1 a
2 (1 ≤≤ 2).

2.1.2.3 Método da Analogia de Grelha.


Conforme ARAÚJO (2014), a Analogia de Grelha, implementada em inúmeros softwares
comerciais, é um dos métodos numéricos mais empregados na análise de lajes de concreto
armado. Tal método pode ser utilizado para a análise de lajes que apresentam formatos
diversos, inclusive para as próprias vigas de apoio.
Como é uma solução por análise limite, os resultados possíveis para uma laje são inúmeros
em função da variação dos parâmetros de rigidez das barras da grelha. O procedimento
consiste em substituir a laje por uma grelha equivalente, que é analisada estruturalmente
pelo método da rigidez.
Ao se analisar um pavimento de lajes pelo Método da Analogia de Grelha, é preciso
discretizá-lo em um conjunto de faixas com largura pré-definida. Essas faixas são
substituídas por elementos de barra, o que gera um pavimento constituído por grelhas
planas. Assim, os esforços no pavimento podem ser calculados como um todo, levando-se
em consideração as deformações.
Estruturalmente, as grelhas funcionam como um painel formado por barras reticuladas,
unidas pelos seus pontos nodais.

3 Estudo de caso
O presente trabalho objetiva realizar um estudo comparativo entre os momentos fletores
característicos, positivos e negativos, obtidos por meio de três métodos de cálculo distintos,
para as lajes do pavimento tipo de um edifício residencial em concreto armado.
A partir da definição do pavimento de formas do pavimento tipo, foram calculados os
esforços solicitantes nas lajes através dos métodos simplificados de Czerny e de Marcus,
que consideram as lajes como elementos isolados sobre apoios rígidos; e da Analogia de
Grelha, que permite reproduzir o comportamento estrutural do pavimento inteiro de maneira
mais próxima da realidade.

3.1 Convenção para vinculação das lajes


Para o cálculo dos esforços solicitantes e das deformações, torna-se necessário
estabelecer os vínculos da laje com os apoios, sejam eles pontuais, como os pilares, ou
lineares, como as vigas e as paredes de concreto ou de alvenaria estrutural.

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De forma simplificada, para o cálculo das lajes maciças retangulares, a convenção de
vinculação será feita com diferentes estilos de linhas, como pode ser visto na figura 1.

Figura 1 - Convenção de estilo de linha para os vínculos de lajes.

Em função das várias combinações possíveis de vínculos nas quatro bordas das lajes
retangulares, as lajes recebem números que diferenciam as combinações de vínculos nas
bordas, como indicado na figura 2.

Figura 2 - Tipos de lajes em função dos vínculos nas bordas.

3.2 Métodos de Cálculo Simplificados


Para a aplicação das tabelas de Marcus e Czerny, deve-se considerar que o menor vão da
laje é sempre lx. Os momentos positivos e negativos nas duas direções das lajes são obtidos
a partir de parâmetros em tabelas específicas, dados em função da relação  = ly/lx entre
os vãos, que varia de 1 a 2.
O cálculo dos momentos fletores por meio das tabelas de Marcus e Czerny são realizados
a partir das Equações 3, 4, 5 e 6 em função do tipo de laje e da relação  = ly/lx entre os
vãos.
𝑝𝑙𝑥²
𝑀𝑥 = (Equação 3)
𝑚𝑥

𝑝𝑙𝑥²
𝑀𝑦 = (Equação 4)
𝑚𝑦

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𝑝𝑙𝑥²
𝑋𝑥 = (Equação 5)
𝑛𝑥

𝑝𝑙𝑥²
𝑋𝑦 = (Equação 6)
𝑛𝑦

Sendo:

lx menor vão da laje;


Mx momento fletor positivo na direção x;
My momento fletor positivo na direção y;
Xx momento fletor negativo (borda) na direção x;
Xy momento fletor negativo (borda) na direção y;
P carga uniformemente distribuída;
mx coeficiente para definição do momento fletor positivo na direção x;
my coeficiente para definição do momento fletor positivo na direção y;
nx coeficiente para definição do momento fletor negativo (borda) na direção x;
ny coeficiente para definição do momento fletor negativo (borda) na direção y;

É importante destacar que as fórmulas, apresentadas acima, atendem somente as lajes


retangulares apoiadas ou engastadas no seu contorno que são submetidas a uma carga
uniformemente distribuída.

3.3 Método da Analogia de Grelha


No Método da Analogia de Grelha, o dimensionamento foi realizado por meio do software
de cálculo estrutural CAD/TQS. Nesse método, as vigas do pavimento são analisadas de
maneira integrada com os painéis de grelha que formam as lajes, de modo que o conjunto
formado é analisado como uma única grelha plana.
No presente estudo, as lajes foram discretizadas em grelhas formadas por faixas ortogonais
espaçadas em 35 cm tanto na direção x como na y. Além disso, o cálculo das lajes foi
realizado para duas situações distintas: na primeira, foi considerado o vigamento com seção
transversal de 12x50 cm a fim de retratar a situação real de projeto na qual as lajes são
apoiadas sobre vigas flexíveis, que, ao sofrerem deformações, modificam a distribuição de
esforços internos nas lajes; na segunda, por sua vez, foram simuladas vigas com seção
transversal de 12x400 cm com o intuito de considerar o vigamento com comportamento
rígido, buscando retratar a mesma hipótese utilizada para as vigas de apoio dos métodos
simplificados.

3.4 Definição do pavimento tipo


A definição das lajes foi feita em função da planta arquitetônica apresentada na figura 3 e
suas espessuras foram obtidas atendendo às exigências dos estados limites de serviço
(flechas, vibrações, fissuração, etc) e aos esforços solicitantes para o estado limite último.
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O pavimento é composto por 20 (vinte) lajes retangulares maciças, que possuem as
dimensões e espessuras indicadas na figura 4. Na Figura 5, são apresentadas as condições
de contorno adotadas para os métodos de Czerny e Marcus de acordo com os tipos de lajes
indicadas previamente na figura 2.

Figura 3 - Planta baixa arquitetônica.

Figura 4 - Planta de forma do projeto estrutural definido.

Figura 5 - Planta de forma com as condições de contorno

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3.5 Ações atuantes nas lajes e parâmetros de projeto
Para a obtenção do carregamento total nas lajes (p = gtot + q), é preciso que sejam
consideradas todas as ações atuantes sobre as mesmas, tais como o peso próprio, o
revestimento do lado inferior da laje, o contrapiso, o piso, as paredes, as ações variáveis e
toda ação que porventura provoque solicitações nas lajes (cf. Tabela 1).
No estudo em tela, foram considerados os seguintes parâmetros de projeto:
• espessura média do contrapiso com 5 cm e peso específico da argamassa
(arg,contrapiso) de 21 kN/m³;
• espessura média do reboco da face inferior das lajes com 1,5 cm e peso específico
da argamassa (arg,reboco) de 19 kN/m³;
• piso cerâmico com peso de 0,15 kN/m² em toda a área útil do apartamento;
• parede de bloco cerâmico com espessura de 9 cm x 19 cm x 19 cm, com peso
específico (alv) de 15 kN/m³;
• paredes com espessura final de 15 cm e altura de 2,94 m;
• lajes em balanço e regiões das áreas de serviço com (q = 2,0 kN/m²) e demais lajes
com (q = 1,5 kN/m²);
• concreto C30, com brita 1 de granito, e aços CA-50 e CA-60;
• todas as vigas com largura de 12 cm;
• classe IIl de agressividade ambiental;
• coeficientes de ponderação c = f = 1,4 ; s = 1,15.

Tabela 1 – Ações nas lajes (kN/m²).


Revestimento Contra- Piso Paredes Permanente Variável Total
h gpp
Laje Tipo de forro piso cerâmico (gpar) total (gtot) (q) p = gtot + q
(cm) (kN/m²)
(kN/m²) (kN/m²) (kN/m²) (kN/m²) (kN/m²) (kN/m²) (kN/m²)

L1=L2 Bal. 12 3 0,285 1,050 0,150 - 4,485 2 6,485


L3=L10 3 12 3 0,285 1,050 0,150 1,747 6,232 1,5 7,732
L4=L9 5A 13 3,25 0,285 1,050 0,150 0,819 5,554 2,0 7,554
L5=L8 3 12 3 0,285 1,050 0,150 2,950 7,435 1,5 8,935
L6 1 10 2,5 0,285 1,050 0,150 - 3,985 1,5 5,485
L7 1 10 2,5 0,285 1,050 0,150 - 3,985 1,5 5,485
L11=L19 Bal. 12 3 0,285 1,050 0,150 - 4,485 2 6,485
L12=L18 1 20 5 0,285 1,050 0,150 3,252 9,737 1,5 11,237
L13=L17 5B 15 3,75 0,285 1,050 0,150 3,465 8,700 2,0 10,700
L14=L16 5B 12 3 0,285 1,050 0,150 3,100 7,585 1,5 9,085
L15 4A 12 3 0,285 1,050 0,150 3,518 8,003 1,5 9,503
L20 Bal. 12 3 0,285 1,050 0,150 - 4,485 2 6,485

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4 Análise comparativa entre momentos fletores
Com a finalidade de realizar uma comparação entre os valores dos momentos fletores
característicos fornecidos pela análise estrutural do pavimento, foram elaborados os
gráficos 1, 2, 3 e 4, nos quais são apresentados os momentos fletores máximos, positivos
e negativos, obtidos por meio de três métodos de cálculo. Nesses gráficos, os momentos
fletores positivos e negativos referentes aos métodos de Czerny e Marcus já se encontram
com os valores compatibilizados.

Momento positivo na direção X


Mx (KNcm/m)

2500,0
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
L3=L10 L4=L9 L5=L8 L6 L7 L12=L18 L13=L17 L14=L16 L15
Grelhas 735,8 735,8 1059,5 676,9 676,9 2315,2 1520,6 735,8 1000,6
Vigas Rígidas (12x400cm) 578,6 460,9 1147,4 294,2 264,8 1922,1 1412,2 735,5 1078,7
Czerny 373,0 275,1 846,6 173,9 165,4 1306,1 1342,5 844,6 819,6
Marcus 326,1 488,0 797,6 785,3 150,1 1074,7 1178,4 735,0 726,2

Gráfico 1 - Momento característico máximo positivo na direção X de cada laje.

Momento positivo na direção Y


2500,0
My (KNcm/m)

2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
L3=L10 L4=L9 L5=L8 L6 L7 L12=L18 L13=L17 L14=L16 L15
Grelhas 833,9 1030,1 1147,8 137,3 196,1 1962,0 902,2 696,5 873,1
Vigas Rígidas (12x400cm) 863,0 1019,9 1137,6 98,1 107,9 1961,3 1010,1 686,5 872,8
Czerny 590,7 800,2 575,3 232,1 196,2 2188,6 724,0 579,5 606,4
Marcus 576,8 267,4 555,0 196,3 152,0 1823,9 604,7 491,3 375,7

Gráfico 2 - Momento característico máximo positivo na direção Y de cada laje.

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Momento negativo na direção X
3500,0
Xx (KNcm/m)

3000,0
2500,0
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
L3-L4 L4-L5 L12-L13 L13-L14 L14-L15
Grelhas 1657,3 2030,0 3304,8 1853,4 1500,4
Vigas Rígidas(12x400cm) 1196,4 1892,7 3236,2 1941,7 1775,0
Czerny 987,8 1326,7 1988,7 2045,3 1283,8
Marcus 1072,7 1421,2 1829,8 1867,0 1157,4

Gráfico 3 - Momento característico máximo negativo na direção X de cada laje.

Momento negativo na direção Y


3500,0
Xy (KNcm/m)

3000,0
2500,0
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
L3-L12 L4-L13 L5-L14 L12-L20 L13-L20 L14-L20 L15-L20
Grelhas 2030,0 1539,6 1726,0 1578,9 1608,3 1549,4 1765,2
Vigas Rígidas(12x400cm) 2471,3 2059,4 1922,1 3236,2 1951,5 1745,6 2010,4
Czerny 882,3 1723,9 1498,7 1623,1 1623,1 1623,1 1623,1
Marcus 856,2 1113,9 1212,7 1623,1 1623,1 1623,1 1623,1

Gráfico 4 - Momento característico máximo negativo na direção Y de cada laje.

A partir dos momentos fletores apresentados nos gráficos de 1 a 4, foram elaboradas as


tabelas 2, 3 e 4, nas quais se encontram os valores das razões obtidos pela divisão de cada
momento fletor da laje e pelo correspondente momento fletor fornecido pela Analogia de
Grelha, com o objetivo de se fazer uma análise crítica dos resultados obtidos.

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Tabela 2 – Razão entre cada momento positivo e o corresponde momento obtido pela Analogia de Grelha.
Laje L3=L10 L4=L9 L5=L8 L6 L7 L12=L18 L13=L17 L14=L16 L15

Czerny 0,51 0,37 0,80 0,26 0,24 0,56 0,88 1,15 0,82
Mx
Marcus 0,44 0,66 0,75 1,16 0,22 0,46 0,78 1,00 0,73

Czerny 0,71 0,78 0,50 1,69 1,00 1,12 0,80 0,83 0,69
My
Marcus 0,69 0,26 0,48 1,43 0,77 0,93 0,67 0,71 0,43

Tabela 3 – Razão entre cada momento negativo na direção X e o corresponde momento obtido pela Analogia de Grelha.
L3-L4 L4-L5 L12-L13 L13-L14
Laje L14-L15
L9-L10 L8-L9 L17-L18 L16-L17
Czerny 0,60 0,65 0,60 1,10 0,86
Xx
Marcus 0,65 0,70 0,55 1,01 0,77

Tabela 4 – Razão entre cada momento negativo na direção Y e o corresponde momento obtido pela Analogia de Grelha.

L3-L12 L4-L13 L5-L14 L12-L20 L13-L20 L14-L20


Laje L15-L20
L10-L18 L9=L17 L8=L16 L18-L20 L17-L20 L16-L20
Czerny 0,43 1,12 0,87 1,03 1,01 1,05 0,92
Xy
Marcus 0,42 0,72 0,70 1,03 1,01 1,05 0,92

Em relação aos momentos fletores positivos, apresentados na tabela 2, é possível observar


que, nas lajes L3=L10, L4=L9, L5=L8, L6, L7 e L12=L18, os valores dos momentos
característicos, obtidos pelos métodos simplificados, apresentaram resultados entre 49% a
76% inferiores aos fornecidos pelo Método da Analogia de Grelha.
No que diz respeito aos momentos fletores negativos, situados na tabela 3, nota-se que, na
borda da laje L3/L4 = L9/L10, o momento característico obtido pelo método de Czerny
apresenta um resultado 40% mais baixo do que o fornecido pelo Método da Analogia de
Grelha. Além disso, na tabela 4, nas bordas das lajes L3/L12 = L10/L18, os momentos
característicos obtidos pelos métodos de Czerny e de Marcus são, respectivamente, 57%
e 58% menores do que os fornecidos pelo Método da Analogia de Grelha.
Embora tais comparações, por si só, não sejam suficientes para indicar um possível
subdimensionamento de armaduras, esses resultados demonstram que, em edificações
dimensionadas com o uso de métodos simplificados, é possível a ocorrência de armaduras
com áreas inferiores às obtidas pelo Método de Analogia de Grelhas, cujo modelo
apresenta um comportamento estrutural mais próximo da realidade para o pavimento.

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5 Conclusões
O presente trabalho buscou verificar as diferenças entre os valores dos momentos fletores
para lajes maciças de concreto armado obtidos por meio de métodos manuais, com as
tabelas de Czerny e Marcus, e do Método da Analogia de Grelha, com o uso do software
TQS.
Analisando os resultados, constatou-se que os métodos manuais divergem muito pouco
entre si, porém, em alguns casos, podem diferir de forma significativa dos resultados
obtidos pela teoria das grelhas. Essas diferenças ocorrem, principalmente, porque o Método
da Analogia de Grelha calcula o pavimento de concreto armado como um todo, de forma
integrada, apresentando uma análise estrutural mais próxima da realidade, visto que leva
em consideração a contribuição simultânea de todos os elementos que compõem o
pavimento.
Tendo em vista essa constatação, conclui-se que os prédios calculados por métodos
manuais simplificados, ainda que em conformidade com as normas vigentes, podem ter
lajes dimensionados com base em resultados inferiores aos reais, desfavoráveis à
segurança. À vista disso, tais prédios podem apresentar deformações, trincas e fissuras
não esperadas, oriundas da diferença entre os métodos manuais (cálculo simplificado) e o
modelo baseado na teoria das grelhas (mais próxima da realidade).
Apesar disso, deve-se ressaltar que, como as lajes trabalham em regime linear elástico,
com carga média de serviço inferior a 65% da sua carga característica atuante, nos casos
desfavoráveis à segurança, as diferenças apresentadas entre os métodos simplificados e
a teoria das grelhas não terão consequências práticas, pois as lajes dimensionadas com
valores inferiores aos da teoria das grelhas, normalmente, estarão sendo submetidas a
esforços reais inferiores aos utilizados no dimensionamento.

6 Referências
ARAÚJO, J. M. Curso de concreto armado. Rio Grande, Dunas, 2014.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 – Projeto de estruturas


de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

BANKI, A. L. Modelos de análise de lajes de concreto armado. Santa Catarina, 2013.


Disponível em:
<http://www.eberick.com.br/suporte/EberickGold/duvidas_usuais/Dimensionamento/lajes_
de_concreto_armado_Intro.htm>. Acesso em 18 mai. 2018.

BASTOS, P. S. S. Lajes de Concreto: notas de Aula. Bauru, Universidade Estadual


Paulista, 2015.

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COL DEBELLA, L. B. Estudo da analogia de grelha no cálculo de lajes
maciças de concreto armado. Trabalho de Conclusão de Curso da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, Pato Branco, 2015.

FORTES, L. A. S. Longas Lembranças. São Paulo, 2009. Disponível em:


<http://www.tqs.com.br/suporte-e-servicos/biblioteca-digital-tqs/89-artigos/15-processos-
simplificados-x-estruturas-atuais?pop=1&tmpl=component>. Acesso em 02 mai. 2018.

MONTOYA, P. J.; MESEGUER. A. G.; CABRÉ; F. M. Hormigón Armado. Barcelona,


Gustavo Gili, 2000.

PINHEIRO, L. M.; MUZARDO, C. D.; SANTOS, P. S. Lajes maciças: estruturas de


concreto. São Paulo, USP, 2010.

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