Representação Ao CNJ - Pedido de Providências - Petição Inicial - TJ-GO - FUNDESP - Princípio Da Colegialidade - Desvio de Finalidade

MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE GOIÁS

PROCURADOR DE CONTAS
Praça Cívica n. 332, Goiânia - GO – Tel.: (062) 3201-7395
fsantos@tce.go.gov.br
Representação – FUNDESP-PJ – CNJ – Repasse de Recursos ao Executivo
EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE

JUSTIÇA, MINISTRO ENRIQUE RICARDO LEWANDOWSKI.
URGENTE
Pedido de Providências. Fundo de
Reaparelhamento e Modernização do
Poder Judiciário Goiano. Projetos de Leis.
Inobservância ao princípio da
colegialidade. Desvio de finalidade na
aplicação dos recursos do fundo especial
do TJ-GO. Adoção de medidas.
O MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO TRIBUNAL DE CONTAS
DO ESTADO DE GOIÁS, no desempenho de sua missão institucional de defender a
ordem jurídica, o regime democrático, a guarda da Lei e fiscalizar sua execução, no
âmbito das contas do Estado de Goiás, com fundamento no art. 130 c/c 127 da
Constituição Federal e art. 98 do RICNJ, vem oferecer o seguinte
PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS
C/C PEDIDO LIMINAR INAUDITA ALTERA PARTE
em face do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS (TJ-GO), em razão do
repasse de recursos financeiros ao Poder Executivo do Estado de Goiás, pelas razões
a seguir expostas.
1
I – RESUMO
1. O presente pedido de providência solicita a atuação do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), a fim de impelir o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
(TJ-GO) a observar o princípio da colegialidade, quando do encaminhamento de
projetos de leis à Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (ALEGO); a não
encaminhar à ALEGO projetos de leis de repasse de recursos financeiros próprios a
outros poderes, notadamente para pagamento de despesas correntes e estabilização
de fluxo de caixa; a utilizar os recursos financeiros do Fundo de Reaparelhamento e
Modernização do Poder Judiciário –FUNDESP–PJ exclusivamente nas finalidades
estabelecidas em sua lei instituidora, qual seja, Lei Estadual nº 12.986/1996; a adotar
as medidas necessárias à recuperação de todos os recursos financeiros
indevidamente aplicados.
2. Para tanto, pleiteia-se seja excepcionada ao Ministério Público de
Contas que atua junto ao Tribunal de Contas do Estado de Goiás (doravante, MPC)
o disposto na Portaria CNJ nº 52, de 20 de abril de 2010, porquanto este não possui
autonomia administrativa e financeira, ficando sob o jugo do Tribunal de Contas do
Estado de Goiás (TCE-GO) (STF, ADI 2378); assim, para que o membro do MPC, na
defesa do interesse público, não seja obrigado a arcar, às próprias expensas, com o
ônus financeiro para o cadastramento eletrônico no CNJ, é que se pede lhe seja
excepcionada a aplicação da Portaria acima mencionada e aceita a petição da forma
que se encontra elaborada.
2
II - DA EXPOSIÇÃO FÁTICA
3. Por meio da Lei Estadual nº 12.986, de 31 de dezembro de 1996,
instituiu-se o Fundo Especial de Reaparelhamento e Modernização do Poder
Judiciário do Estado de Goiás – FUNDESP – PJ, vinculado ao Tribunal de Justiça do
Estado de Goiás (art. 1º), com o fito de “suprir e implementar as atribuições do Poder
Judiciário, no Estado de Goiás, quanto ao atendimento das despesas de custeio, de
investimentos e inversões financeiras”1.
4. Em 1º de agosto de 2011, por meio do Ofício nº 82/DGPR, o então
Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), Desembargador Vítor
Barboza Lenza, encaminhou à Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (ALEGO)
projeto de lei, ad referendum da Corte Especial do TJ-GO, “que autoriza a transferência
de recursos à Secretaria da Fazenda” (Processo Legislativo nº 2011003909)2.
5. Para tanto, argumentou tratar-se “de transferência, como subsídio, para
atualização do fluxo de caixa, no valor de R$ 17.400.000,00 (dezessete milhões e quatrocentos
mil reais), com recursos do Fundo de Reaparelhamento e Modernização do Poder Judiciário –
FUNDESP-PJ”3.
6. Referido projeto de lei foi aprovado e se transformou na Lei Estadual nº
17.428, de 30 de setembro de 2011, do seguinte teor:
1
http://www.gabinetecivil.goias.gov.br/pagina_leis.php?id=3016
2
https://drive.google.com/file/d/0B_9VHhByDhp-dDRzR2ZTVENWZFk/edit?usp=sharing
3
https://drive.google.com/file/d/0B_9VHhByDhp-dDRzR2ZTVENWZFk/edit?usp=sharing
3
“Art. 1º Sem prejuízo de sua programação orçamentária ordinária, fica o Tribunal de

Justiça do Estado de Goiás autorizado a transferir, como subsídio, à Secretaria da
Fazenda do Estado de Goiás, para a atualização do fluxo de caixa, a quantia de R$
17.400.000,00 (dezessete milhões e quatrocentos mil reais), com recursos do Fundo de
Reaparelhamento e Modernização do Poder Judiciário - FUNDESP-PJ-.
Parágrafo único. Da quantia de que trata o caput deste artigo serão deduzidas,
mediante acertos de contas, as decorrentes de débito do Tesouro Estadual contraídas
por transações anteriores, ficando o saldo a lhe ser transferido em seis parcelas iguais,
a partir de julho de 2011.
Art. 2º As despesas decorrentes da execução desta Lei correrão à conta dos recursos
consignados no orçamento do - FUNDESP-PJ -, inclusive créditos especiais e
suplementares, se necessários.
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”4.
7. Mencionada lei segue a mesma linha das Leis Estaduais nº 16.522, de 17
de abril de 20095, 16.818, de 27 de novembro de 20096, 16.977, de 27 de abril de 20107,
e 17.841, de 30 de novembro de 20128.
8. Com relação a essa última lei, 17.841/2012, esta prescreveu a “remissão
dos créditos remanescentes decorrentes das Leis nºs 16.522, de 17 de abril de 2009, 16.818, de
27 de novembro de 2009, e 16.977, de 27 de abril de 2010, com a consequente extinção dos
convênios e termos de recomposição creditícia então firmados”, totalizando um valor
histórico de R$ 91.000.000,00 (noventa e um milhões de reais); e “transferência de R$
20.000.000,00 (vinte milhões de reais), oriundos de recursos do Fundo de Reaparelhamento e
4
http://www.gabinetecivil.goias.gov.br/leis_ordinarias/2011/lei_17428.htm
5
6
7
http://www.gabcivil.go.gov.br/leis_ordinarias/2010/lei_16977.htm
8
4
Modernização do Poder Judiciário –FUNDESP–PJ para o Fundo Estadual de Segurança
Pública de Goiás –FUNESP–GO”.
9. De acordo com o noticiado no jornal O POPULAR , de 20 de julho de
2014, novamente o Estado de Goiás bate às portas do Poder Judiciário, desta feita
com pedido empréstimo no valor de R$ 80.000.000,00 (oitenta milhões de reais), “para
o pagamento da folha de pessoal e também para bancar gastos com o custeio da máquina
estatal nos próximos meses” (Coluna Giro, p. 2, cópia anexa).
10. É o relato.
III – FUNDAMENTAÇÃO
11. Inicialmente, pleiteia-se seja excepcionada ao Ministério Público de
Contas que atua junto ao Tribunal de Contas do Estado de Goiás (doravante, MPC)
o disposto na Portaria CNJ nº 52, de 20 de abril de 2010, porquanto este não possui
autonomia administrativa e financeira (ADI 2378-GO), ficando sob o jugo do
Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE-GO), sendo que, em diversas
oportunidades, se coloca em posição antagônica à da Corte de Contas, que não tem
deixado passar em branco a oportunidade de retaliar fortemente o MPC, como já
bem constatou o próprio Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), no Parecer
Cível nº 0463/2014, proferido nos autos do Mandado de Segurança nº 201393195075
5
(cópia anexa); assim, para que o membro do MPC, na defesa do interesse público,
não seja obrigado a arcar, às próprias expensas, com o ônus financeiro para o
cadastramento eletrônico no CNJ, é que desde já se pede lhe seja excepcionada a
aplicação da Portaria acima mencionada e aceita a petição.
A – Da inobservância ao princípio da colegialidade.
12. Em face da composição dada aos Tribunais de Justiça carece de dúvidas
que o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás seja um órgão colegiado.
13. Não obstante o Presidente do TJ-GO seja primus inter pares, ele se
encontra inter pares; o “estar entre iguais” é que faz do Tribunal um órgão colegiado;
enquanto órgão colegiado, a vontade do TJ-GO se forma a partir da conjunção da
decisão isolada de cada um dos desembargadores que a compõe; sem essa
manifestação coletiva --- que não necessita ser unânime, mas apenas majoritária ---,
pública e motivada, inexiste vontade da Corte de Justiça.
14. A vontade isolada do Presidente do TJ-GO é inapta a materializar a
vontade do Tribunal, se desamparada da manifestação expressa em sessão pública da
maioria dos seus desembargadores (ou da maioria dos desembargadores
componentes do Órgão Especial), ante o princípio da colegialidade que rege os atos
administrativos simples colegiados.
6
15. Embora no Processo Legislativo nº 2011003909 o então Presidente do TJ-
GO tenha asseverado no Ofício nº 82/DGPR que o projeto de lei era ad referendum da
Corte Especial do TJ-GO, a autoria do projeto foi unipessoal, e não colegiada,
padecendo de vício insanável referido projeto de lei.
16. Assim, porque inobservado pelo Presidente do TJ-GO o princípio da
colegialidade --- implícito no artigo 96, I, da Constitucional Federal vigente, --- é
inconstitucional, por vício de forma, Lei Estadual nº 17.428, de 30 de setembro de
2011, bem assim toda e qualquer lei de iniciativa do TJ-GO que não tenha o
respectivo projeto de lei sido previamente submetido aos desembargadores e por
eles aprovado, ainda que por maioria.
B – Do desvio da finalidade do Fundo Especial de Reaparelhamento e
Modernização do Poder Judiciário do Estado de Goiás (FUNDESP-PJ)
17. De acordo com o disposto no artigo 165, § 9º, inciso II, da Constituição
Federal de 1988, cabe à lei complementar estabelecer normas de gestão financeira e
patrimonial da administração direta e indireta bem como condições para a
instituição e funcionamento de fundos.
18. Tais normas se encontram positivadas na Lei nº 4.320, de 17 de março
de 1964, em seus artigos 71 a 74, recepcionada pela CF vigente como lei
7
complementar, em consonância com entendimento do Supremo Tribunal Federal, na
ADI-MC 1726, a saber:
“1. A exigência de previa lei complementar estabelecendo condições gerais para

a instituição de fundos, como exige o art. 165, § 9º, II, da Constituição, está
suprida pela Lei nº 4.320, de 17.03.64, recepcionada pela Constituição com
status de lei complementar; embora a Constituição não se refira aos fundos
especiais, estão eles disciplinados nos arts. 71 a 74 desta Lei, que se aplica à
espécie: a) o FGPC, criado pelo art. 1º da Lei nº 9.531/97, é fundo especial, que
se ajusta à definição do art. 71 da Lei nº 4.320/63; b) as condições para a
instituição e o funcionamento dos fundos especiais estão previstas nos arts. 72
a 74 da mesma Lei”9.
19. Os fundos especiais são objetos de direito instituídos para otimizar a
gestão do orçamento público, pois, contando com financiamento permanente e sendo
uma garantia contra decisões políticas de contingenciamento de recursos públicos,
contribuem para a consecução de seus objetivos de forma mais eficiente10.
20. O Fundo Especial de Reaparelhamento e Modernização do Poder
Judiciário do Estado de Goiás (FUNDESP-PJ) é formado por destaques orçamentários
destinados a finalidades estabelecidas em sua lei instituidora (artigo 2º da Lei
Estadual nº 12.986/1996), destaques esses que integram o conjunto de recursos
orçamentários pertencentes ao Poder Judiciário Goiano.
9
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=347237
10
Fundos especiais e projetos de infraestrutura, Kleber Luiz Zanchim, in Orçamentos públicos e direito
financeiro, editora RT, 2011.
8
21. De acordo com o parágrafo único do artigo 8º da Lei Complementar nº
101, de 04 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF), “Os recursos
legalmente vinculados a finalidade específica serão utilizados exclusivamente para atender
ao objeto de sua vinculação, ainda que em exercício diverso daquele em que ocorrer o ingresso”
(destaque acrescido)11; por conseguinte, tendo sido criado o FUNDESP-PJ,
estabelecidas foram as prioridades orçamentárias impossíveis de serem preteridas
(também, artigo 71 da Lei nº 4.320/64), sob pena de se criar contradição sistêmica, em
que a vinculação dos recursos não é vinculação aos fins estabelecidos em lei que
justificaram a criação do próprio Fundo.
22. De acordo com o magistério de Cléucio Santos Nunes, “os fundos, como
instrumentos que auxiliam o alcance de determinados fins de desenvolvimento social ou
econômico, trazem em sua lógica a necessária destinação de suas receitas à realização das
despesas que motivaram sua instituição. Seria indisfarçável burla à lei orçamentária admitir-
se desvinculação das receitas previstas para aplicação nos fins que justificaram a criação do
fundo. Além disso, há um componente político que não pode ser descartado, qual seja, o
comprometimento do interesse público sotoposto à criação do fundo” (in Orçamentos
Públicos – A Lei nº 4.320/1964 comentada. Coordenador José Maurício Conti. Ed.
Revista dos Tribunais, 1ª edição, 2008, p. 212).
23. Conquanto a lei instituidora tenha prescrito que o FUNDESP-PJ “tem
por objetivo suprir e implementar as atribuições do Poder Judiciário, no Estado de Goiás,
11
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm
9
quanto ao atendimento das despesas de custeio, de investimentos e inversões financeiras”12,
rotineiramente tem havido desvio da finalidade na aplicação dos recursos do
FUNDESP-PJ, que têm sido repassados para o Poder Executivo, “para atualização de
pagamentos do funcionalismo público estadual” (artigo 1º da Lei Estadual nº 16.522/0913) e
para “auxiliar ajuste no caixa do Tesouro Estadual” (artigo 1º da Lei Estadual nº
16.818/0914), em grave prejuízo à população, que deixa de ter um Judiciário
adequadamente aparelhado e passa a sofrer toda sorte de percalços para a obtenção
da prestação jurisdicional satisfatória, seja pela falta de comarcas instaladas, seja pelo
déficit do número de juízes, seja pela carência de computadores e de sistemas
informatizados adequados, seja pela baixa oferta de treinamento de servidores e
magistrados ou até mesmo pela ausência de oficial de justiça e de meios de
locomoção destes.
24. E os valores envolvidos não são de pequena monta; pelo contrário, o TJ-
GO já abdicou de mais de R$ 110.000.000,00 (cento e dez milhões de reais) em favor
do Executivo, para pagar pessoal (doação para pagamento de despesa corrente (???))
e para ajustar o fluxo de caixa do Poder Executivo (assunção de obrigações sem
disponibilidade orçamentária-financeira ???).
12
http://www.gabinetecivil.goias.gov.br/pagina_leis.php?id=3016
13
14
10
25. Enquanto a população demandante dos serviços judiciais goianos tem
de arcar com valores elevados de custas e emolumentos15, o Poder Judiciário volta
suas costas para ela e agracia — ilegal, inconstitucional e ilegitimamente — o Poder
Executivo com recursos públicos, abdicando, de certa forma, de sua própria parcela
de poder (artigo 2º da CF/88) e, talvez, até, mitigando sua imparcialidade nos
julgamentos de causas envolvendo o Estado de Goiás.
26. Note-se que o valor de R$ 80.000.000,00 (oitenta milhões) que ora é
pedido ao TJ-GO, a título de empréstimo, pelo Estado de Goiás, provavelmente se
refere a recursos do FUNDESP-PJ indevidamente aplicados no Banco Santos pelo TJ-
GO, e agora recentemente recuperado, conforme noticiado pela mídia eletrônica:
“Banco Santos devolve mais de R$ 80 milhões para a Justiça de Goiás” (in
http://www.conjur.com.br/2014-jul-08/banco-santos-devolve-80-mi-justica-goias, com
acesso em 21 de julho de 2014, cópia anexa).
27. Ademais, essa nova atípica operação de crédito pretendida pelo Estado
de Goiás, da mesma forma que as anteriores, não possui guarida no ordenamento
jurídico pátrio, notadamente a Resolução nº 43, de 2001, do Senado Federal, e a Lei
Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF),
sendo que, em relação a esta última, os seus artigos 32 a 38 revelam a impossibilidade
de tal operação, seja pela ausência de previsão legal, seja em razão de o TJ-GO não
ser instituição financeira, seja pelo que se dessume, contrario sensu, do inciso I do § 1º
15
http://www.aredacao.com.br/noticias/44300/henrique-tiburcio-propoe-ao-tj-go-reducao-de-taxas-judiciais
11
do artigo 35 da LRF, seja, ainda e especialmente, pela vedação expressa à realização
de operação de crédito no último ano de mandado do Governador (alínea b do inciso
IV do artigo 38 da LRF).
28. Fosse isso pouco, essa conduta do Poder Judiciário Goiano cria
obstáculos à verificação do equilíbrio nas contas públicas do Poder Executivo,
porquanto mascara a real situação financeira do Estado de Goiás, em prejuízo à
transparência das contas públicas (Lei Complementar nº 131, de 27 de maio de 2009)
e com possível ingerência sobre o equilíbrio da competição eleitoral a ocorrer no ano
de 2014.
IV – DO PEDIDO DE LIMINAR INAUDITA ALTERA PARTE
29. Na visão instrumentalista do processo judicial, que se amolda com
perfeição aos processos da Corte de Contas, “O processo, em outras palavras, é
instrumental que apenas tem valor quando serve ao direito material e aos escopos da
jurisdição” (Luiz Guilherme Marinoni, in Novas linhas do processo civil, Editora
Malheiros, 3ª edição, 1999, p. 100).
30. No caso em questão, a concessão de medida liminar almeja suspender
inaudita altera parte o repasse de recursos do FUNDESP-PJ ao Poder Executivo do
Estado de Goiás.
12
31. Certo. A concessão de liminar, inaudita altera parte, se faz necessária
para determinar ao Presidente do TJ-GO, NEY TELES DE PAULA a imediata
suspensão de qualquer procedimento tendente ao empréstimo de recursos do
FUNDESP-PJ ao Poder Executivo do Estado de Goiás, por evidente violação à Lei
Estadual nº 12.986/1996 e à LRF.
32. Para a concessão dessa pleiteada e necessária medida liminar, estão
presentes os requisitos da fumaça do bom direito e do perigo da demora.
33. Certo. A fumaça do bom direito decorre do atentado que se comete ao
princípio da legalidade (Lei Estadual nº 12.986/1996 e à LRF), conforme já
explicitado.
34. No pertinente ao perigo da demora, sua ocorrência está na anunciada
possibilidade de repasse de R$ 80.000.000,00 (oitenta milhões de reais) ao Poder
Executivo do Estado de Goiás, em detrimento a investimentos necessários a serem
feitos pelo Poder Judiciário, para a ampliação e melhoramento do acesso da
população a uma prestação jurisdicional que se deseja mais célere e imparcial.
35. Por essas razões é que se pleiteia a concessão de medida liminar
inaudita altera parte.
V - DOS PEDIDOS
36. Diante do exposto, solicita o Ministério Público de Contas que atua
junto ao Tribunal de Contas do Estado de Goiás (MPC) lhe seja excepcionado o
13
disposto na Portaria CNJ nº 52, de 20 de abril de 2010, porquanto o MPC não possui
autonomia administrativa e financeira, ficando sob o jugo do Tribunal de Contas do
Estado de Goiás (TCE-GO); seja conhecido o presente pedido de providência,
confirmando-se a medida liminar inaudita altera parte, com o fito de se determinar ao
TJ-GO:
• Em projetos de lei vindouros, a fiel observância ao princípio da
colegialidade;
• O não encaminhamento à ALEGO de projetos de leis de repasse
de recursos próprios a outros poderes, notadamente para pagamento de
despesas correntes e estabilização de fluxo de caixa;
• A utilização dos recursos dos FUNDESP-PJ única e
exclusivamente para a finalidade prevista em sua lei de instituição;
• A adoção das medidas necessárias para recuperar os recursos
financeiros indevidamente repassados, nos termos do § 1º do artigo 33
da LRF.
Nestes termos, pede e espera deferimento.
Goiânia, 21 de julho de 2014.
Fernando dos Santos Carneiro

Procurador do MPC-TCE-GO
14

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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE GOIÁS

Representação – FUNDESP-PJ – CNJ – Repasse de Recursos ao Executivo

EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE

O MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO TRIBUNAL DE CONTAS

DO ESTADO DE GOIÁS, no desempenho de sua missão institucional de defender a

ordem jurídica, o regime democrático, a guarda da Lei e fiscalizar sua execução, no

Constituição Federal e art. 98 do RICNJ, vem oferecer o seguinte

C/C PEDIDO LIMINAR INAUDITA ALTERA PARTE

em face do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS (TJ-GO), em razão do

repasse de recursos financeiros ao Poder Executivo do Estado de Goiás, pelas razões

Representação – FUNDESP-PJ – CNJ – Repasse de Recursos ao Executivo

1. O presente pedido de providência solicita a atuação do Conselho

Nacional de Justiça (CNJ), a fim de impelir o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

(TJ-GO) a observar o princípio da colegialidade, quando do encaminhamento de

projetos de leis à Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (ALEGO); a não

encaminhar à ALEGO projetos de leis de repasse de recursos financeiros próprios a

outros poderes, notadamente para pagamento de despesas correntes e estabilização

de fluxo de caixa; a utilizar os recursos financeiros do Fundo de Reaparelhamento e

Modernização do Poder Judiciário –FUNDESP–PJ exclusivamente nas finalidades

as medidas necessárias à recuperação de todos os recursos financeiros

2. Para tanto, pleiteia-se seja excepcionada ao Ministério Público de

autonomia administrativa e financeira, ficando sob o jugo do Tribunal de Contas do

excepcionada a aplicação da Portaria acima mencionada e aceita a petição da forma

que se encontra elaborada.

Representação – FUNDESP-PJ – CNJ – Repasse de Recursos ao Executivo

3. Por meio da Lei Estadual nº 12.986, de 31 de dezembro de 1996,

instituiu-se o Fundo Especial de Reaparelhamento e Modernização do Poder

Judiciário do Estado de Goiás – FUNDESP – PJ, vinculado ao Tribunal de Justiça do

Judiciário, no Estado de Goiás, quanto ao atendimento das despesas de custeio, de

investimentos e inversões financeiras”1.

4. Em 1º de agosto de 2011, por meio do Ofício nº 82/DGPR, o então

Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), Desembargador Vítor

Barboza Lenza, encaminhou à Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (ALEGO)

projeto de lei, ad referendum da Corte Especial do TJ-GO, “que autoriza a transferência

de recursos à Secretaria da Fazenda” (Processo Legislativo nº 2011003909)2.

5. Para tanto, argumentou tratar-se “de transferência, como subsídio, para

atualização do fluxo de caixa, no valor de R$ 17.400.000,00 (dezessete milhões e quatrocentos

mil reais), com recursos do Fundo de Reaparelhamento e Modernização do Poder Judiciário –

6. Referido projeto de lei foi aprovado e se transformou na Lei Estadual nº

17.428, de 30 de setembro de 2011, do seguinte teor:

Representação – FUNDESP-PJ – CNJ – Repasse de Recursos ao Executivo

“Art. 1º Sem prejuízo de sua programação orçamentária ordinária, fica o Tribunal de

7. Mencionada lei segue a mesma linha das Leis Estaduais nº 16.522, de 17

de abril de 20095, 16.818, de 27 de novembro de 20096, 16.977, de 27 de abril de 20107,

e 17.841, de 30 de novembro de 20128.

8. Com relação a essa última lei, 17.841/2012, esta prescreveu a “remissão

27 de novembro de 2009, e 16.977, de 27 de abril de 2010, com a consequente extinção dos

convênios e termos de recomposição creditícia então firmados”, totalizando um valor

histórico de R$ 91.000.000,00 (noventa e um milhões de reais); e “transferência de R$

20.000.000,00 (vinte milhões de reais), oriundos de recursos do Fundo de Reaparelhamento e

Representação – FUNDESP-PJ – CNJ – Repasse de Recursos ao Executivo

Modernização do Poder Judiciário –FUNDESP–PJ para o Fundo Estadual de Segurança

Pública de Goiás –FUNESP–GO”.

9. De acordo com o noticiado no jornal O POPULAR , de 20 de julho de

com pedido empréstimo no valor de R$ 80.000.000,00 (oitenta milhões de reais), “para

estatal nos próximos meses” (Coluna Giro, p. 2, cópia anexa).

11. Inicialmente, pleiteia-se seja excepcionada ao Ministério Público de

autonomia administrativa e financeira (ADI 2378-GO), ficando sob o jugo do

Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE-GO), sendo que, em diversas

oportunidades, se coloca em posição antagônica à da Corte de Contas, que não tem

deixado passar em branco a oportunidade de retaliar fortemente o MPC, como já

bem constatou o próprio Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), no Parecer

Cível nº 0463/2014, proferido nos autos do Mandado de Segurança nº 201393195075