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Estudo de Livro de Apocalipse – Faculdade Fidelis


2011 – Prof. Arthur W. Dück
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1. Autoria
- em sua 2ª. viagem missionária Paulo queria pregar o evangelho na Ásia, mas foi impedido pelo Espírito Santo
(At 16:6). Quando voltava para Jerusalém parou brevemente na sinagoga de Éfeso (At 18:19-21). Em sua 3ª.
viagem missionária Paulo veio à Ásia e ministrou a partir de Éfeso, onde permaneceu por dois anos e meio.
Através do seu ministério toda a província foi alcançada com o evangelho (At 19:1-41). Mais tarde quando
estava preso em Roma escreveu 3 cartas para as igrejas da Ásia (Colossos, Filemon, Efésios). Depois que foi
solto passou rapidamente em Éfeso, deixando Timóteo para lidar com o problema na igreja (1 Tim 1:3). Mais
tarde escreveu 2 cartas para Timóteo que está em Éfeso (Wilson 2002, 245)
- Pedro desenvolveu um relacionamento com as igrejas da Ásia possivelmente quando foi para Corinto (1 Co
1:12) e Roma (1 Pe 5:13), mesmo que o NT nunca menciona que ele viajou nessa região. Mais tarde ele
escrever uma carta para eles, mencionando a Ásia em sua saudação (1 Pe 1:1). O NT também silencia sobre
como João veio a residir na Ásia. A tradição diz que cristãos migraram para a Ásia a partir da Judéia em 66 AD,
no início da revolução judia. Filipe e suas filhas teriam morado em Hierápolis, enquanto João fixou residência
em Éfeso. Os pais da igreja mostram que João ministrou nessa região. O livro de Apocalipse, juntamente com o
evangelho e as cartas de João se originam da região de Éfeso (Wilson 2002, 246)
- o autor do livro se identifica como sendo João, o servo/escravo de (Jesus/Deus) ... (exilado) na ilha de Patmos
(1:1, 4, 9; 22:8). Ele recebe diversas visões enviadas por Deus para as igrejas da província da Ásia. Identificar
esse João tem sido um desafio para os estudiosos, porque ele nunca se identifica como apóstolo, mas
simplesmente como escravo (1:1), profeta (1:3; 22:9) e um entre seus irmãos os profetas (22:9; cf. 19:10)
(Osborne 2002, 2)
- muitos hoje crêem que o Apocalipse foi escrito por diversos autores. O estilo do Apocalipse é bem diferente
do Evangelho de João, levando assim diversas pessoas a duvidar da autoria joanina. Por outro lado, grande parte
do vocabulário é idêntico. O gênero diferente de literatura poderia explicar a diferença. A maior parte da
tradição cristã primitiva atribui esse livro a João (Keener 1993, 757-58) (para detalhes das similaridades e
diferenças de vocabulário, ver Brown 1997, 803-4)
- temos que considerar as hipóteses da autoria do livro
a. João, o apóstolo
b. o presbítero João como Papias o denominou;
c. alguém que se intitula João como pseudônimo, como tantos outros apocalipses judaicos, possivelmente
um membro anônimo da escola joanina;
d. João Batista
e. João Marcos
f. Cerinto;
g. um João desconhecido (Carson et al. 1999, 525-26; Osborne 2002, 2).
- Justino Mártir escreveu em meados do séc. II que o apóstolo João teria escrito o livro e esta se tornou a
proposta aceita. Mais tarde houve diversas outras propostas como listadas acima (Osborne 2002, 2-4)
- a principal razão porque muitos rejeitam a autoria joanina são as diferenças do evangelho de João:
a. Diferença de linguagem. Estas poderiam ser causadas pelo gênero diferente de literatura e por causa da
influência das visões extáticas sobre o autor, sem contar que poderia ter usado um amanuense diferente.
Mas também há muitas similaridades de linguagem com o Evangelho (Osborne 2002, 4)
b. Diferença de teologia. O Evangelho fala de um Deus de amor que busca a conversão do mundo
enquanto no Apocalipse, Deus tem ira e vai julgar o mundo. Mas essa diferença não é tão real já que o
Evangelho também menciona o julgamento e o Apocalipse também menciona o arrependimento.
Existem outras diferenças, mas também similaridades, o que deixa esse argumento sem tanto peso
(Osborne 2002, 4-5)
- devemos pensar que existem diversos argumentos em favor da autoria do apóstolo:
a. Existe evidência que os pais da igreja aceitavam a autoria joanina (Justino Mártir, Irineu, Tertuliano,
Clemente de Alexandria) (Osborne 2002, 5)
b. Existem diversas similaridades com o Evangelho que dão apoio à autoria joanina. Ambos enfatizam a
divindade de Cristo baseadas na unidade entre Deus e Jesus. Também existe uma ênfase similar sobre a
missão (Osborne 2002, 5)
c. Existe afinidade na linguagem utilizada (Osborne 2002, 5)
- de uma forma geral aceitamos a autoria joanina. As palavras de Guthrie devem ser levadas a sério: “Será que a
igreja asiática estava repleta de cristãos de destaque que tinham o nome de João, os quais precisavam apenas
dizer o seu nome para que os cristãos soubessem qual deles estava falando?” (Guthrie in Carson et al. 1999,
526). Para maiores informações sobre os argumentos sobre a autoria ver deSilva 2004, 893-98.
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2. Data
- a data para o Apocalipse é colocada nos anos 60 ou 90 AD. A data mais tardia é sugerida por Irineu – o
Apocalipse teria sido escrito no final do reinado do imperador Domiciano (81-96 AD). A crueldade de
Domiciano é bem documentada, sendo chamado inclusive de 2º. Nero, por causa da perseguição contra a igreja.
O martírio em massa parece relacionado com a perseguição de Domiciano. Mas nos últimos anos provou-se que
não houve uma perseguição da igreja com Domiciano, mas uma perseguição limitada à aristocracia romana em
seu círculo imediato. Assim o livro poderia ter sido escrito entre a morte de Nero (68 AD) e a queda de
Jerusalém (70 AD). Algumas indicações contextuais ligam melhor com o tempo de Nero. Depois do incêndio de
Roma em 64 AD, Nero começou a perseguir a igreja. Muitos cristãos foram mortos, incluindo Pedro e Paulo. O
final dos anos 60 foram os anos mais turbulentos da história romana. No ano 66 AD os judeus se revoltaram na
Judéia, o que levou à morte mais de 1.000.000 de judeus com a destruição de Jerusalém no ano 70. Houve
diversas outras revoltas. A luta mais séria foi entre os generais romanos e suas legiões para estabelecer o
controle de Roma depois do suicídio de Nero. Em 68-69 os reinados de Galba, Otho e Vitellius se sucederam
rapidamente. Em julho de 69 Vespasiano foi proclamado imperador por aqueles que o apoiavam no Egito e na
Judéia, mas demorou até dezembro até que suas tropas conseguissem ocupar Roma e matar Vitellius. Durante o
ano dos 4 imperadores, o império romano parecia se auto-destruir bem como sua famosa Pax Romana (Wilson
2002, 246-47)
- fica evidente que datar o livro com certeza é impossível. A maioria dos estudiosos ainda coloca a data do
Apocalipse durante o reinado de Domiciano, especialmente por causa do testemunho de Irineu. Mas se essa
evidência externa não for confiável para datar o livro, não haveria motivo para não datar o livro logo após o
suicídio de Nero (Guthrie 1990, 962)

3. Destinatários
- Robert Yarbrough escreve sobre os destinatários da carta de 1ª. João o que em grande parte se aplica para o
Apocalipse. Os destinatários para quem o Apocalipse é enviado estão enfrentando diversas situações que
causavam confusão nas igrejas:
a. Influência dos falsos mestres. Há líderes que estão tentando levar as igrejas a uma direção diferente
daquele estabelecida por Jesus Cristo. Em Éfeso há “homens maus ... que dizem ser apóstolos mas não
são” (Ap 2:2). Entre eles havia os nicolaítas (2:6), um grupo que surgiu aparentemente dentro da igreja
e promovia uma moral sexual pagã. Eles também estão influenciando em Esmirna (2:15). Em Tiatira
existe uma crise similar. Uma mulher chamada de Jezabel afirma ter dons proféticos. Ela ensina às
pessoas os segredos profundos de Satanás (2:24). Assim como os nicolaítas, ela seduz seus seguidores
para uma expressão sexual imoral (2:20). Esse parece ter sido um problema geral em certos segmentos
da igreja primitiva (2 Pe 2:15; Jd 11) (Yarbrough 2002, 178)
b. Influência de uma prática relaxada da fé. Desde os tempos mais primitivos, Deus chamava as pessoas a
uma fé que se expressasse em obediência amorosa (Deut 6:4ss). Os escritores do NT pregaram uma fé
que deveria ser rica em obras. 1ª. João [e também o Apocalipse] está endereçado a pessoas que
perderam de visão a natureza ativa da fé bíblica. Esse problema transparece na igreja de Éfeso, onde a
igreja deixou de lado o primeiro amor. Essa igreja é exortada: “Arrependa-se e pratique as obras que
praticava no princípio” (Ap 2:5). Em Tiatira e Filadélfia os crentes são exortados a ‘apegar-se’ ao que
têm até a volta de Cristo (Ap 2:25; 3:11). De forma mais grave, Cristo adverte a igreja de Sardes: “não
achei suas obras perfeitas aos olhos do meu Deus” (3:2). Há somente “uns poucos que não
contaminaram as suas vestes” (3:3), i.é., não caíram na armadilha de um padrão de comportamento
sub-cristão. O compromisso ativo da igreja de Laodicéia é revoltantemente morno aos olhos de Cristo
(3:16). Se essas igrejas históricas têm algo em comum com os receptores de 1ª. João, seria uma prática
relaxada da fé (Yarbrough 2002, 178-79)
c. Influência das religiões rivais hostis e a ameaça da perseguição. Os receptores não vivem num vácuo
religioso. João precisa incentivar seus leitores a permanecer firmes e não ser intimidados pelas forças
que estão alinhadas contra eles (1 Jo 4:4-5). Líderes religiosos hostis ao evangelho e sua prática
presidem sobre movimentos divisivos quase-cristãos ou modismos não-cristãos que desafiam e até
perseguem as igrejas apostólicas novas. Já mencionamos os nicolaítas. Em Esmirna estão os que se
autodenominam judeus que estão prestes a aprisionar os cristãos e inclusive apressar suas mortes (Ap
2:9-10). Em Filadélfia está a “sinagoga de Satanás” a quem Cristo promete que colocará de joelhos
reconhecendo a sua presença entre o verdadeiro povo de Deus (3:9). Grupos rivais em Pérgamo
ensinam doutrinas idólatras e imorais que parecem ter sido praticadas (2:14). Cristo adverte que ele vai
matar os pseudo-cristãos de Tiatira que foram seduzidos pelo movimento de Jezabel (2:23). Em Sardes
a maioria da igreja visível é acusada: “você tem fama de estar vivo, mas está morto” (3:1). A situação
não está melhor em Laodicéia, uma igreja denunciada por Cristo como estando morna e tão cega que
não consegue ver sua própria pobreza (3:17-18). 1ª. João [e o Apocalipse] possivelmente fala de uma
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realidade onde posturas religiosas aberrantes e mesmo a perseguição ameaçam colocar em jogo a
integridade de diversas igrejas aos olhos de Deus (Yarbrough 2002, 179)
- o imperador Domiciano (81-96 AD) parece ter dificultado a situação para os cristãos. Ele baniu o apóstolo
João para a ilha de Patmos. Além disso, aumentou as distinções legais entre judeus e cristãos criando
desvantagens para os cristãos, tirando deles o status de religião legalizada. Domiciano não tolerava divergências
religiosas (Yarbrough 2002, 179-81)
- João recebe a revelação de Deus quando experimenta perseguição por causa do seu testemunho cristão.
Quando João analisa a situação as igrejas na Ásia com relação à história do povo de Deus, muitos paralelos se
apresentam. Moisés, o 1º. profeta, guiou Israel para a sua liberdade depois de 10 pragas forçando o faraó a
libertá-los. Isaías profetizou durante o exílio das tribos do Norte, depois que Samaria caiu nas mãos da Assíria
em 722 AC. Jeremias, Ezequiel e Daniel foram profetas do exílio que experimentaram a captura de Jerusalém e
a destruição do templo pelos babilônios em 586 AC. O profeta Zacarias viu os judeus retornar do exílio e
reconstruir o templo em 516 AC. João se enxerga em linha com estes profetas, que anunciam a mensagem de
Deus em tempos turbulentos. Ele reflete essa situação usando muito a linguagem do AT. Apocalipse tem
aproximadamente 150 alusões a textos do AT. Essas referências não são prefaciadas com a introdução típica do
NT: “está escrito”, ou “as Escrituras dizem”. João presume que seus leitores conhecem o AT e conseguem
reconhecer o background histórico e teológico para estas alusões. O Apocalipse não pode ser entendido à parte
do AT. A audiência do Apocalipse é politicamente e espiritualmente precária. Os novos cristãos precisam de
encorajamento para perseverar em tempos difíceis. Essa é a mensagem do Apocalipse para os cristãos em todas
as gerações. Cada geração tem tido seus próprios profetas que testaram a sua resolução de manter a palavra de
Deus. A igreja enfrenta desafios novos a cada geração e verá o surgimento do anticristo e o retorno de Cristo
(Wilson 2002, 247-48)
- esse livro é escrito para 7 igrejas na Ásia onde predomina o culto ao imperador. Em diversas cidades da Ásia
havia festividades anuais em honra ao imperador. Além disso, havia o culto a outros deuses. A grande questão
nessas igrejas é o relacionamento que elas têm com as pessoas que adoram outros deuses (incluindo o
imperador). Pesquisas recentes têm mostrando que Domiciano não era o monstro como era retratado anos atrás.
Havia uma certa perseguição (Ap 2:10, 13), mas no futuro ela iria aumentar mais. O exílio de João em Patmos
mostra que havia uma certa oposição contra a igreja cristã (Beasley-Murray 1997, 1029)
- o contexto básico do Apocalipse é o escopo e a ideologia do império romano. Os romanos tinham dominado
grande parte do mundo conhecido da época. O poder romano fica evidente nas 7 cidades para onde a carta é
enviada de diversas formas, principalmente através do culto ao imperador. Esse culto não foi imposto por
Augusto, mas foi a resposta natural das cidades ao tremendo poder do imperador (visto como divino) e
relacionado aos benefícios que trazia para as províncias. O culto ao imperador considerava-o o padroeiro do
mundo. A devoção dada aos padroeiros divinos era também dada a ele. A devoção ao imperador mantinha o
reino forte (evitando guerras civis) e a boa disposição do imperador com a referida província quando esta
precisasse de recursos imperiais. Foi uma decisão altamente politizada de incumbir os embaixadores do
imperador (Roma) nas províncias também como sacerdotes do culto ao imperador (deSilva 2004, 898-900). O
culto ao imperador estava ligado ao culto das divindades tradicionais, ocupando o mesmo espaço, enfatizando a
sua conexão. O imperador não era simplesmente um deus, mas o instrumento através do qual os deuses
tradicionais estabeleciam a ordem e derramavam suas dádivas sobre a humanidade. Como o sumo-pontífice do
mundo romano ele se colocava como mediador entre os deuses e os humanos. Muitas moedas cunhadas nessa
época mostram o imperador em uma das faces com o título de “filho daquele tornado divino” e Pontifex
Maximus; e do outro lado o retrato de uma divindade mostrando que seu reinado estava baseado no
reinado/destino dos deuses. Ele tinha o direito de reinar dado pelos deuses e suas realizações eram sinais do
favor divino (deSilva 2004, 900). O culto ao imperador incluía o culto a Roma propriamente dito. O culto ao
imperador reforçava a crença que Roma fora escolhida pelos deuses para reinar o mundo, para subjugar as
nações e para conduzi-las para a era de ouro da paz duradoura e do bem-estar, unidas debaixo dela. A iniciativa
de cultuar o imperador vinha das províncias e não como imposição real, para ganhar os favores do imperador.
As cidades tentavam edificar templos em honra ao imperador por causa do status que trazia. Os cristãos que se
recusavam a participar do culto ao imperador devem ter sofrido grande pressão para tomar parte dessas
atividades. Caso contrário traziam sobre si a má vontade das pessoas e das elites. A recusa a qualquer forma de
idolatria limitou a vida social, econômica e política dos cristãos, já que um rito religioso acompanhava
praticamente todas as reuniões, além de uma refeição onde se honrava o padroeiro divino que presidia essa
refeição. Assim um cristão convicto que recusava a participação nas associações de comércio, reduzia o número
de amigos não-cristãos, diminuindo a possibilidade de prosperidade e ajuda dos patronos em épocas de
necessidade. Os cristãos era considerados anti-sociais e isso levou diversos a tentar minimizar as distinções com
a sociedade, mas João procura escalar essas tensões (deSilva 2004, 900-1)
- ao mesmo tempo os cristãos sofreram também a perseguição, ou difamação dos judeus. Estes possivelmente
tentaram chamar a atenção para as autoridades que os cristãos não eram judeus. Augusto tinha concedido ao
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Judaísmo a honra de ser considerada religio licita no império o que permitia que cultuassem sua religião
livremente, estando isentos dos cultos cívicos e imperiais. Isso nem sempre trazia vantagens para o judeu, mas
diminuía as ações anti-judaicas. Quando os cristãos são acusados de não pertencerem ao Judaísmo, eles perdem
o status de isenção do culto ao imperador (deSilva 2004, 903) e com isso se inicia a perseguição, que pode ser
social inicialmente caminhando para as outras esferas incluindo perseguição física
- as 7 igrejas a quem o livro é endereçado são possivelmente conhecidas pessoalmente por João por causa do
seu ministério na região. Possivelmente foram escolhidas por causa de sua geografia e as comunicações (Carson
et al. 1999, 531)

4. Propósito
- para os cristãos da Ásia a exaltação de Roma e a popularidade do culto ao imperador tornou a vida dos cristãos
dessa região um bocado complicada e com um futuro desalentador por causa da “pressão social” para se juntar
com a maioria que celebrava a divindade do imperador e a prontidão dos outros de entregar às autoridades as
pessoas que se recusavam a isso. Mas consentir com essa pressão significava negar a fé cristã em sua totalidade,
o que era impensável. Assim João escreve, por ordem do Cristo ressuscitado, para fortalecer a fé e a coragem
dos crentes preparando-os para a batalha contra as forças do anticristo no mundo e assim ajudá-los a
testemunhar do verdadeiro Senhor e Salvador (Beasley-Murray 1997, 1035)
- o livro enfatiza a manutenção dos distintivos cristãos em meio a uma pressão muito grande para fazer
concessões dentro do mundo. João escreve para fortalecer os limites e o compromisso dos cristãos para com
esses limites estabelecidos para que a mensagem e o testemunho dos cristãos não sejam abafados e continuem a
anunciar o único Deus dentro do mundo em que vivem. João fala que a tensão entre a igreja e a sociedade vai
aumentar no futuro próximo (deSilva 2004, 906)
- todo o livro é baseado sobre o retrato do Senhor, Todo-Poderoso, como o Senhor da história e sua atividade
redentora em Cristo. Tão certamente como Jesus realizou o primeiro e mais importante estágio na redenção da
humanidade, assim ele vai completar sua tarefa designada de levar o reino de Deus à vitória e com isso à total
emancipação da humanidade das forças do mal. Os seguidores do Cordeiro não podem contar que escaparão de
compartilhar os sofrimentos dele, por isso logo no início do livro temos o chamado para as igrejas: “Seja fiel até
a morte, e eu lhe darei a coroa da vida” (2:10). E isso significa participar na vida eterna na companhia de Deus
e dos redimidos na cidade eterna de Deus (Beasley-Murray 1997, 1035)
- João escreve para uma igreja pequena que corre o risco de ficar desiludida. Quando o evangelho foi pregado,
as pessoas ouviram que Deus enviou seu Filho para morrer na cruz e com isso abrir o caminho para a vida
eterna. O Filho ressuscitou e voltou ao céu. Na hora certa voltaria para reinar sobre a terra. Os impérios
humanos, incluindo o império romano ficariam sujeitos a ele e os crentes reinariam com Jesus. Para as pessoas
que tinham sido maltratadas pelos romanos isso era um grande consolo. Eles se converteram e esperavam pelo
retorno de Cristo. Mas nada aconteceu. Os romanos continuavam oprimindo, os crentes eram perseguidos e
mortos. O mal prosperava como antes. Será que tudo foi um engano? César era mais poderoso que Cristo? O
mal iria prevalecer? “Apocalipse foi escrito para um grupo de pessoas que estão perplexos tentando resolver
essas questões. João estaria dizendo a eles: ‘Vocês estão vendo só um pedaço do quadro. Se pudessem olhar
além da cortina, veriam que Deus está executando o seu propósito e, na hora que lhe for apropriada, ele
derrotará ao mal completamente. A salvação conquistada do Calvário não deixará de atingir seu alvo final’ ”
(Morris 1993, 354)
- o livro não é apenas para identificar o futuro, mas muito mais um livro teológico que visa falar à igreja do
presente através das profecias do futuro. João esperava que os leitores vissem a si mesmos e sua situação
através da lente desse livro que eles eram a igreja dos últimos tempos. O estilo apocalíptico tenta levar os
leitores para dentro de uma realidade transcendente que toma precedência sobre a situação atual e incentiva os
leitores a perseverar em meio às dificuldades. As visões invertem a experiência normal: a transformação dos
mistérios celestiais se torna o mundo real e a crise atual é temporária, ilusória [o mundo real não é a perseguição
que enfrentam, mas o que Deus vai fazer]. Isso ocorre porque Deus transforma o mundo dos fiéis. Assim o livro
é uma exortação para suportar a perseguição baseado na realidade transcendente do reino de Deus no presente,
baseado no controle divino do futuro. A pressão e as tentações para se conformar com as exigências do mundo
podem ser suportadas quando percebemos que Deus é aquele “que é, que era e que há de vir” (1:4). O Deus que
controlou o passado é o mesmo que controla o futuro, mesmo que não pareça. Assim o elemento ético é
fundamental. As pessoas devem se arrepender e permanecer fiéis até o final para serem recompensadas
(Osborne 2002, 13-15)
- algo curioso tem acontecido com este livro. Ele foi escrito para acabar com o medo do leitores originais, mas
agora o efeito parece contrário. Os leitores originais, que estavam ameaçados, receberam essa carta com
esperança, enquanto nós que vivemos de modo tranqüilo, encaramos esse livro de forma ameaçadora. Alguns
chegam a ter pesadelos com as imagens retratadas no livro. Outros “profetas” exploram estas páginas para criar
um terrorismo apocalíptico. Mas não é essa a intenção do livro
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5. Gênero do Apocalipse
- muitos interpretam o Apocalipse tentando olhar para o futuro, decodificando as imagens com situações
políticas contemporâneas e antevendo como estas se cumprirão na história. Com isso estão ignorando um
princípio básico da exegese onde vemos que o texto foi escrito para uma audiência original. As imagens que
João nos apresenta convidam os cristãos que vivem na Ásia Menor no final do séc. I a perceber o caráter das
realidades que enfrentam todos os dias, e responder a elas de forma a demonstrar o triunfo do Cordeiro ao invés
do castigo sobre a Babilônia. O Apocalipse ajuda os crentes a viver como testemunhas de um único Deus que
exige justiça, que tem um plano maravilhoso para o futuro dos crentes e assim criticar as pretensões e injustiças
da cultura dominante. O desafio do Apocalipse não é predizer o futuro, mas discernir a verdadeira natureza da
sociedade em que vivemos à luz de Deus e do Cordeiro, e à luz do inevitável “dia de sua ira”. Entendendo a
crítica que João faz do Império Romano e as concessões feitas pelos cristãos ao sistema em prol de vantagens
pessoais nos dá o paradigma para levantar o véu que cada sistema de poder usa para esconder sua verdadeira
natureza e conseguir o apoio daqueles que não conseguem discernir suas reais motivações (deSilva 2004, 895)
- muitos têm tentado decifrar os eventos do futuro com base no Apocalipse (Hal Lindsey; Wim Malgo, etc.).
Depois a cada ano que passa eles revisam um pouco as suas predições quando estas se mostram falhas. O que
precisamos nos perguntar é como as pessoas das 7 igrejas a quem a carta foi endereçada liam a carta (deSilva
2004, 885-86).
- para entender esse livro precisamos olhar em 1º. lugar o contexto histórico onde ocorre como acontece em
qualquer livro que estudamos. A profecia é uma “palavra do Senhor” que irrompe na situação atual do povo de
Deus que precisa de orientação e encorajamento ou um chamado para o arrependimento e um novo
compromisso. Normalmente queremos ver que cada profecia precisa ter o seu cumprimento comprovado no
futuro. Mas nem sempre as profecias dadas na Bíblia se cumprem. Jonas profetizou que Nínive seria destruída
em 40 dias o que não ocorreu (Jn 3:4, 10). Jonas observava para ver quando Deus destruiria a cidade e se sentiu
desapontado quando isso não ocorreu (Jn 4:2-5). Mas para Deus o objetivo da profecia se cumpriu, pois
estimulou as pessoas ao arrependimento. A profecia quer levar as pessoas a uma reação no presente e não
proporcionar uma cópia detalhada do futuro (deSilva 2004, 887)
- o livro do Apocalipse tem diversos gêneros literários, cada um deles com uma função:
a. Carta. Ela está firmemente ancorada na situação histórica das igrejas a quem é endereçada. Assim como
em Gálatas lemos sobre uma situação específica entre os cristãos gentios com relação aos judaizantes e
isso nos ajuda a entender a resposta dada e eles dentro do contexto, assim também ocorre no Apocalipse
(deSilva 2004, 889)
b. Profecia. Ela se propõe a trazer “uma palavra do Senhor” para uma situação específica. Seria de se
esperar que revele a perspectiva de Deus sobre os leitores, seu comportamento e os desafios que os
circundam, alertando-os para as ações que devem tomar para permanecer ou retornar ao favor divino e
evitar o julgamento (deSilva 2004, 889). O propósito divino da profecia é estimular uma resposta fiel no
presente e não providenciar uma cópia exata sobre o futuro incerto (deSilva 2004, 887)
c. Apocalipse. O livro do Apocalipse cumpre o seu propósito revelando diante dos olhos dos cristãos da
Ásia Menor uma história maior de espaço e tempo que ajuda a colocar a realidade presente mundana
em perspectiva. Ela coloca as situações do dia-a-dia, as escolhas e desafios em perspectiva olhando o
seu contexto maior. A mundo dos cristãos da época é diferente quando visto da perspectiva da adoração
eterna ao redor do trono de Deus; da realidade e ferocidade dos julgamentos sobre os idólatras; das
recompensas para a fidelidade. Muito mais do que necessitando de interpretação, o Apocalipse
interpreta a realidade dos leitores, mostrando a eles a verdadeiro caráter do culto ao imperador, a
adoração a esse líder que escravizou o mundo, a luta real atrás das cenas do mundo visível, as
conseqüências reais que as decisões das pessoas trazem, a verdadeira natureza, caráter e mensagem de
outros profetas nas comunidades a quem João escreve (deSilva 2004, 889)
Assim João levanta o véu debaixo do qual as realidades do dia-a-dia no nosso mundo visível que são mostradas
como bastante importantes, na verdade não são tão importantes assim comparadas com o chamado divino. Isso
ajuda os cristãos da Ásia Menor a refletir como vão agir no mundo. Ele os liberta de reagir às exigências de um
sistema político e econômico como se fossem os poderes absolutos com os quais precisam lidar, e os capacita a
responder a Deus, que mesmo sendo invisível é o poder final único do universo. Mesmo que aparenta que o
Apocalipse levanta o véu dos eventos futuros, sua principal função é levantar o véu do presente (deSilva 2004,
889)

6. Métodos de Interpretação
- mais do que qualquer outro livro, o Apocalipse depende muito da perspectiva hermenêutica que adotamos.
Será que os cap.11 e 13 se referem a Nero, impérios mundiais, o papa (a visão dos reformadores), Hitler, ou um
Anticristo futuro? Os 3 anos e meio (11:2-3; 12:6, 14; 13:9) se referem à destruição de Jerusalém, à era da
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igreja, ou à tribulação no final da história? Essas e outras questões dependem de nossa perspectiva
hermenêutica (Osborne 2002, 18). Existem diversas maneiras diferentes de interpretar o Apocalipse:
a. Método Historicista. Este método iniciou com Joachim de Fiore no séc. XII. Ele afirmou ter tido uma
visão onde os 1260 dias se referiam aos eventos da história ocidental desde o tempo dos apóstolos até o
presente. Os franciscanos seguiram Joachim e viram o livro se referindo à Roma pagã e o papado (em
virtude da corrupção dentro da igreja). Mais tarde os reformadores também adotaram esse método,
tendo o papa como o Anticristo. O dispensacionalismo clássico tomou essa abordagem crendo que as
cartas profetizavam 7 períodos da história da igreja. Da mesma forma os movimentos proféticos, que
vêem cada detalhe do AT e do NT sendo cumprido na atualidade se alinham com esse método. Esse
método olha para Ap 2-19 como profecia do desenvolvimento da história da igreja dentro da história
mundial. Assim o Anticristo tem sido interpretado como sendo o papa, Napoleão, Mussolini ou Hitler.
Por causa de sua identificação exclusiva com a igreja ocidental e as especulações sobre a história
mundial, essa abordagem precisa ser retrabalhada a cada novo período da história mundial (para fazer
os fatos baterem) e o fato de que o livro de torna totalmente irrelevante para a época em que foi escrito,
essa abordagem está perdendo adeptos (Osborne 2002, 18-19)
b. Método Preterista. Os detalhes do livro estão relacionados com a situação presente em que João vivia
ao invés do futuro. Os símbolos se referem a eventos do séc. I experimentados pelos leitores de sua
época. João estão dizendo como Jesus iria livrá-los de seus opressores. Dentro desse método existem 3
abordagens diferentes:
i. O livro está relacionado com a igreja no Império Romano. O livro foi escrito sobre a opressão
romana e a decadência do império. Motivado pelo desenvolvimento do culto ao imperador, a
pressão para se conformar e a perseguição resultante se tornaram grandes ameaças para a igreja.
Assim a besta seria o Império Romano ou o Imperador Romano, e os selos, trombetas e taças são
julgamentos contemporâneos que Deus está derramando (ou irá derramar em breve) sobre Roma.
Assim o livro descreve a luta entre a igreja e o estado, entre fidelidade a Deus e concessões feitas
com o mundo pagão (Osborne 2002, 19)
ii. Para outros havia pouca perseguição na época, sendo que a crise é mais uma percepção do que
realidade. A igreja continua sendo chamada para fora do mundo para seguir a Deus, mas se trata de
uma crise espiritual interna e não perseguição externa. A escatologia do livro não é uma linha do
tempo para o futuro, mas uma reinterpretação do presente. Ela nos provê com uma interseção entre
o terreno e o celestial para dar novo significado à situação presente. Assim os símbolos provêem
mundos alternativos forçando os leitores a optar entre a esfera transcendente de Deus e da igreja ou
a alternativa secular, o mundo de Roma. Desta maneira o problema do livro seria a acomodação
(fazer concessões), como vista no movimento dos nicolaítas e a solução é a verdadeira adoração a
Deus (Osborne 2002, 19)
iii. Outros vêem o livro sendo escrito antes do ano 70 AD profetizando a queda de Jerusalém como o
julgamento sobre a apostasia de Israel por rejeitar o Messias e perseguir a igreja. A besta é Roma,
os reis do oriente são os generais romanos que trouxeram o exército de Roma da parte oriental do
império para destruir Jerusalém, e Armagedom seria a derrota de Jerusalém (Osborne 2002, 19-20).
Essa 3ª. opção é a menos provável já que restringe o livro para os judeus, dando pouca atenção aos
povos de todas as nações. Por outro lado as 2 anteriores também são problemáticas já que o fim do
mundo não ocorreu quando o império romano caiu no séc. V (Osborne 2002, 20)
c. Método Idealista. Nessa escola os símbolos não se referem a eventos históricos, mas a verdades
espirituais atemporais. Elas se relacionam à igreja entre a 1ª. e 2ª. vinda de Cristo. Assim os relaciona à
batalha entre Deus e o mal e entre a igreja e o mundo em todos os tempos da história da igreja. Os selos,
trombetas e taças descrevem os julgamentos de Deus sobre os pecadores em todos os tempos, e a besta
se refere a todos os impérios anti-cristãos e governadores na história. Assim o livro descreve a vitória
de Cristo e do seu povo através da história. O milênio não é um evento futuro, mas o ciclo final do
livro, descrevendo a era da igreja. Há diversos pontos fortes nessa abordagem: a centralidade da
teologia do livro, a relevância da igreja em todas as épocas, a natureza simbólica do livro. Mas também
tem suas fraquezas: a ausência de uma conexão histórica, a fato de não enxergar algumas profecias
como se referindo ao futuro e sua conexão com a história (como o texto parece indicar em diversos
pontos) (Osborne 2002, 20)
d. Método Futurista. Utilizado por diversos dos primeiros pais da igreja (Justino, Irineu, Hipólito), mas
com o triunfo do método alegórico (tomando uma abordagem espiritual do livro) depois de Orígenes e
da visão amilenista de Agostinho e Ticônio, esse método ficou esquecido por 1.000 anos. No séc. XVII
um jesuíta espanhol, Franciscus Ribeira escreveu sobre esse método para contra-atacar a visão dos
reformadores (que viam o papa como o Anticristo). Esse método vê que os cap.4-22 se referem
8
basicamente ao final da história logo antes da volta de Cristo. Essa abordagem seria o
dispensacionalismo (Osborne 2002, 20-21):
i. O Dispensacionalismo crê que Deus nos trouxe o plano de salvação em uma série de dispensações,
ou estágios, centrados sobre sua eleição de Israel para ser o povo da aliança. Assim a era da igreja é
um parêntesis nesse plano, à medida que Deus se voltou para os gentios até que ocorra um
reavivamento nacional dos judeus (Rom 11:25-32). No final desse período, a igreja será arrebatada,
inaugurando o período da tribulação de 7 anos no meio da qual o Anticristo se tornará conhecido
(Ap 13) e instigará a “grande tribulação” ou a perseguição dos 144.000 e outros entre os judeus que
se tornaram cristãos. No final desse período virá a parousia quando Cristo retorna para julgar,
seguido de um milênio literal (20:1-10), o grande trono branco de julgamento (21:1-22:5). Assim os
símbolos são interpretados literalmente (Osborne 2002, 21)
ii. O Dispensacionalismo Clássico é similar em sua abordagem, mas não crê das dispensações
(estágios). Assim haverá apenas uma volta de Cristo depois da tribulação (Mt 24:29-31; cf. Ap
19:11-21) e é a igreja toda, e não somente Israel que passa pela tribulação. Diversos elementos são
interpretados de maneira simbólica (Osborne 2002, 21)
O lado positivo é levar o texto muito a sério, mas a fraqueza e remover a aplicação do livro para os
leitores originais e pode chegar a ponto de somente especular sobre os eventos sem dar atenção para o
contexto histórico. Se os eventos e símbolos não possuem significado teológico, grande parte da
mensagem do livro pode ser perdida (Osborne 2002, 21)
e. Método Eclético. Muitos estudiosos recentemente preferem combinar diversos métodos hermenêuticos.
Mesmo que o método histórico tem pouco valor, ele pode nos ajudar a entender o que João queria que
seus leitores entendessem. Cada uma das escolas pode levar a extremos complicados. A melhor solução
é permitir que os métodos preterista, idealista e futurista interajam entre si de modo que os pontos fortes
possam ser maximizados e os negativos minimizados. É possível ver a descrição da igreja como uma
descrição do presente para o futuro. A descrição da besta (13:1-8) pode se referir a muitos anticristos
que surgiram na história e ao Anticristo que aparece no final da história. Em outros aspectos temos uma
referência aos eventos finais, ao julgamento final de Deus sobre as nações dando a elas a última
oportunidade de arrependimento (9:20-21; 11:13; 14:6-7; 16:9, 11) (essa visão seria mais futurista). Por
outro lado a visão preterista também está correta pelo fato de falar a uma realidade presente dos leitores.
O Anticristo será uma pessoa parecida com Nero. Assim teríamos o autor falando do presente com
paralelos no futuro (Osborne 2002, 21-22)

7. Teologia
a. O trono e a soberania de Deus
- o tema principal do livro parece ser a soberania de Deus, o tema de todos os apocalipses judaicos e cristãos.
Deus é tanto o criador como juiz e senhor sobre a história. Essa é a mensagem que se desenrola no livro. Num
certo sentido temos 2 tipos de cenas: a celestial (cap.1, 4-5, 7) e a terrena (cap.2-3. 6, 8-9). As cenas celestiais
mostram a adoração, alegria, paz e triunfo enquanto as terrenas, problemas, caos, apostasia e julgamento. A
soberania de Deus une esses temas como pode ser visto nos títulos do cap.1:
i. “Aquele que é, que era, e que há de vir” (1:4). Mostra que Deus está no controle no presente da mesma
forma que esteve no passado e estará no futuro. Essa é uma interpretação do nome YHWH e garante a
vinda futura em salvação e julgamento. Deus está soberanamente no controle e já garantiu o futuro do
seu povo (Osborne 2002, 31-32)
ii. “O Alfa e o Ômega” (1:8). Deus não está somente no controle do passado e do futuro, mas também de
tudo o que acontece entre eles. Ele é soberano sobre toda a história. Isso é interpretado de duas formas
sinônimas: “o primeiro e o último (1:17; 22;13) e “o início e o fim” (21:6; 22:13). É interessante ver
que se trata de um título tanto para Deus (1:8; 21:6) como para Cristo (1:17; 22:13), mostrando que
João inicia e termina seu trabalho enfatizando a soberania tanto de Deus como de Cristo sobre a história
(Osborne 2002, 32)
iii. “O Todo-Poderoso” ocorre 9 vezes como designação para Deus (1:8; 4:8; 11:17; 15:3; 16:7, 14; 19:6;
21:22). Significa sua onipotência e faz parte do tema do guerreiro divino no livro. Ele não é somente
soberano sobre a história, mas também sobre todas as forças do mal (Osborne 2002, 32)
- essa soberania fica evidente na utilização do termo edothe = foi dado, na voz passiva, mostrando o controle de
Deus sobre todos os eventos. Esse verbo aparece freqüentemente no livro (6:2, 4, 8; 7:2; 8:2, 3; 9:1, 3, 5; 11:1,
2; 12:14; 13:5, 7, 14, 15; 16:8) e aparece concentrado especialmente nas passagens dos 4 cavaleiros (6:1-8) e as
atividades da besta (13:5-15). Mesmo as atividades das forças do mal estão sob o controle de Deus. Eles
somente podem agir com a permissão de Deus. Cada aspecto da criação flui de sua presença capacitadora. As
ações das pessoas e de todos os poderes celestiais, sejam bons ou maus, somente ocorrem com sua autorização
(Osborne 2002, 32)
9
- a visão dos cap.4-5 mostra um mundo celestial onde Deus e o trono do Cordeiro estão no centro, com todo o
restante colocado à sua volta, a auréola do arco-íris, os “seres viventes” que guardam o trono, os 24 anciãos
sentados em tronos num círculo em volta do trono e depois todas as criaturas do universo. As 17 referências ao
trono de Deus nesses capítulos (comparado com 34 no livro todo) enfatizam a centralidade da soberania de
Deus, motivo pelo qual recebe de forma climática a glória (4:9-11; 5:12-13). Deus e Cristo são glorificados
porque a ressurreição de Cristo demonstra que eles são soberanos sobre a criação para julgar e redimir. A
dedução clara dos cap.4-5 é que o Cordeiro está na mesma posição divina que Deus, um ponto reiterado em
todo restante do livro e insinuado antes (1:13-14) (Beale 1999, 172). Deus criou o mundo e o sustenta. O Deus
que criou o mundo também pode destruí-lo. As pessoas adoram a besta, mas deveriam adorar ao Criador, por
isso não chamados ao arrependimento. Deus vai destruir o mundo antigo manchado pelo pecado e fazer “novo
céu e nova terra” (21:1-22:5). A soberania fica evidente no tema da criação e da nova criação (Osborne 2002,
33)
- os cap.4-5 introduzem e são mais importantes que todas as visões de 6:1-22:5 que brotam dessa visão
introdutória e devem ser vistos como as conseqüências históricas da soberania divina em seu exercício de
redenção e julgamento. Deus e Cristo estão no controle final sobre todos os “ais” tanto de cristãos como de
incrédulos. Mas sua soberania sobre esses eventos desagradáveis criam um problema teológico: como a justiça,
bondade, e santidade de Cristo e de Deus podem ser mantidas se estão tão diretamente ligadas com os
julgamentos e estão por trás dos agentes demoníacos que executam tantos julgamentos destrutivos realizados
com supervisão direta deles? Algumas pessoas dizem que Deus simplesmente “permite” que aconteçam. Mas o
Apocalipse vê o trono divino como estando por trás das provações dos crentes e dos “ais” dos incrédulos, além
de que as passagens do AT que formam a base para os julgamentos dos selos, trombetas e taças, sem exceção,
têm Deus como causa última dessas provações (Zac 6:1-8; Ez 14:21; Lev 26:18-28 e seu uso em Ap 6:2-8)
(Beale 1999, 172)
- a resposta para esse problema teológico está no propósito final desses “ais”, que servem para refinar a fé dos
crentes e castigar os incrédulos. A conexão direta entre os cap.4-5 e os julgamentos dos cavaleiros (6:1-8) deixa
isso mais claro. 6:1-8 fala dos efeitos da morte e ressurreição de Cristo. Ele transformou o sofrimento da cruz
em triunfo, recebeu a soberania sobre os poderes do mal que o crucificaram (cf. 1:18; Col 2:15) e
subseqüentemente os usa para alcançar os propósitos de refinar seu povo e castigar aqueles que permanecem
obstinados em sua maldade (6:1-8). Da mesma forma como no final tanto do cap.4 como do cap.5, assim no
final das visões em 19:7-8 é afirmado que os santos devem glorificar a Deus; essa glorificação vem no final da
história por causa do casamento do Cordeiro com sua noiva (que será perfeitamente adornada para a ocasião); o
foco sobre a noiva adornada tem a intenção de levar os santos a glorificarem a Deus. Essa noção de glória
divina é central também em 12:1-22:5 já que a nova Jerusalém (= povo de Deus) somente pode ser definida em
termos de sua relação com a reflexão luminescente da glória de Deus. Na verdade a característica central da
cidade é Deus e o Cordeiro, que brilham como uma lâmpada sobre o cidade (cf. 21:22-23; 22:5), de modo que a
definição mais completa da nova Jerusalém é o povo de Deus em completa comunhão com Deus e Cristo,
refletindo a glória de Deus e de Cristo (Beale 1999, 172-73)
- Bauckham enfatiza que o Apocalipse pode ser visto como um cumprimento das primeiras 3 afirmações do Pai
Nosso: que o seu nome seja santificado/sagrado; venha o teu reino; faça-se a tua vontade na terra como no céu.
Na terra o seu nome não é santificado e sua vontade não é realizada. Mas essa realidade será transformada
porque o Deus entronizado vai agir para mudar o cenário. A esfera do controle de Deus engloba a terra. O
reinado temporário do mal é uma ilusão. Todos os poderes serão derrotados, pois Deus está no trono e seu reino
será realidade sobre a terra. O trono de Deus é mencionado seguidamente no livro (6:16; 7:10-11, 15; 8:3;
11:16; 12;5; 16:17; 19:4; 20:11; 21:5) para mostrar a autoridade absoluta de Deus sobre todas as coisas. Deus
está sentado no trono e conduz o dia-a-dia da terra, permitindo o mal mas garantindo a vitória final. É a justiça
divina que prevalece (Osborne 2002, 33)

b. A futilidade de Satanás
- o outro lado da moeda do controle soberano de Deus está centrado sobre as ações do dragão. Não existe uma
descrição do dragão como um ser poderoso. As descrições do dragão (12:9; 20:2, 8, 10) estão centradas sobre
seu papel de adversário (o real significado de “Satanás” e diabo) e seu método = engano. Ele é o “acusador” dos
crentes (12:10), mas nunca os vence. Eles os engana. Esse mesmo método é usado pelos outros elementos da
falsa trindade (16:13), a besta e o falso profeta (13:14; 19:20). Mas ele já perdeu, pois a grande batalha no
Apocalipse não ocorre no Armagedom, mas na cruz. O Cordeiro que foi morto, venceu (5:6, 12) e o diabo sabe
que tem pouco tempo (12:12). Armagedom não é a última batalha, mas o último ato de desafio de um inimigo
que já foi vencido (Osborne 2002, 34)
- Satanás imita o que Deus já fez. A marca da besta (13:16-17) na mão direito ou testa é uma cópia de Deus
selando os santos na testa (7:3). A trindade falsa (dragão, besta e falso profeta, 16:13) é uma cópia da Trindade
divina. O ferimento mortal é curado (13:3, 12) imitando a morte e a ressurreição de Jesus. O dragão concedendo
10
à besta o poder, o trono e grande autoridade (13:2) imita o relacionamento entre Deus e Cristo. A exigência
da adoração da besta e do dragão por parte das nações (13:8, 14-15) segue as ordens constantes nas Escrituras
para adorar a Deus. Satanás pode estar insano de raiva (12:12), mas não é burro. Para fazer algo certo, ele pode
somente imitar a obra perfeita de Deus. Ele sabe que o seu tempo é curto e seu fim é totalmente certo. Assim,
ele traz o máximo de confusão que pode. Sua futilidade e frustração ficam evidentes quando persegue a mulher
no cap.12, na usurpação temporária da adoração que pertence somente a Deus (cap.12) e mesmo quando castiga
e tortura seus próprios seguidores (9:1-21; 17:16) (Osborne 2002, 34)

c. O Senhor glorioso
- o evento Cristo é o tema unificador do livro. Sua morte traz a derrota definitiva de Satanás e seu sangue é a
base para a vitória dos crentes (12:11) e do seu status como um “reino de sacerdotes” (1:6; 5:9-10) (Du Rand in
Osborne 2002, 34). Reddish vê Cristo como mártir arquétipo; “a testemunha fiel e verdadeira” (3:14) que é o
“primogênito dos mortos” (1:5) e abre o caminho para os outros. Ele partilha do trono com Deus (5:6; 22:1) e
sua vinda é o clímax final do julgamento do mal (19:11-27). Da mesma forma como o evangelho de João, temos
uma cristologia sobre a unidade. Deus é o Alfa e o Ômega (1:8; 21:6), Cristo também (1:17:22:13). Deus está
no trono e também Cristo (5:6; 22:1). A ira de Deus (14:10, 19; 15:1) é colocada lado a lado com a ira do
Cordeiro (6:16). A adoração a Deus é colocada lado a lado pela adoração a Jesus (5:9-12 com vocabulário
similar) e a adoração a ambos culmina em 5:13 com a adoração “àquele que está assentado no trono e ao
Cordeiro”. O Apocalipse continua com a ênfase de João enfatizando que Jesus é Deus (Osborne 2002, 34-35)
- temos muitos títulos dados a Jesus. João traz saudações “de Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o
primogênito dentre os mortos e o soberano dos reis da terra” (1:5). Sua 1ª. visão é do Senhor em toda a sua
glória (1:12-20). “Enquanto não virmos o Senhor pelo que ele é, não teremos visto ainda da perspectiva correta”
(Morris 2003, 354). Depois de deixar claro que Jesus é o Senhor, ele apresenta uma série de títulos de Jesus:
“Eu sou o Primeiro e o Último. Sou Aquele que Vive” (1:17-18); é ele que tem as chaves da morte e do Hades
(1:18). Ele é o Filho de Deus (2:18), o “santo” e “verdadeiro”, “que tem a chave de Davi. O que ele abre
ninguém pode fechar, e o que ele fecha ninguém pode abrir” (3:7); o princípio/soberano da criação de Deus
(3:14); o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi (5:5). Depois é apresentado como Cordeiro que foi morto (5:6).
Isso faz parte de uma visão onde o louvor é cantado diante do trono de Deus. “À medida que a narrativa avança,
vê-se que o livro é o livro de destino humano, e a visão quer dizer que o Cordeiro está no controle de tudo. É
evidente que os cristãos, longe de ser um grupo insignificante e sem importância, são os seguidores daqueles em
cujas mãos está o destino de todas as pessoas e de todas as nações” (Morris 2003, 354-55)
- a primeira referência a Jesus em 1:5 estabelece o tom de todo o livro. É a saudação “de Jesus Cristo, que é a
testemunha fiel, o primogênito dentre os mortos e o soberano dos reis da terra”
i. Ele é a “testemunha fiel”, titulo que é repetido em 3:14 onde é chamado de “testemunha fiel e
verdadeira” e em 19:11 onde é chamado de “fiel e verdadeiro”. Assim ele é o arquétipo do cristão fiel
(2:10, 13: 17:14) que devem perseverar em seu testemunho (6:9; 11:7; 12:11; cf. “testemunho de Jesus”
em 1:9; 12:17; 19:10; 20:4) (Osborne 2002, 35)
ii. Ele é o “primogênito dentre os mortos” com duas ênfases: Jesus tem a soberania sobre a vida e a morte,
o que o prepara como juiz escatológico (20:14; 21:4, uma autoridade que ele compartilha com o Pai);
Jesus é o protótipo daqueles que ele levantará dos mortos com ele (2:7, 11; 20:6; 22:2-3, 14, 17)
(Osborne 2002, 35)
iii. Ele é “o soberano dos reis da terra”, daqueles inimigos de Cristo (10:11: 17:18) que serão derrotados
por ele (6:15; 18:9; 19:18) e eventualmente trarão sua glória para a Nova Jerusalém (21:24; i.é., aqueles
que se arrependerem segundo o padrão de 14:6-7) (Osborne 2002, 35)
iv. Ele nos libertou pelo seu sangue e nos fez um reino de sacerdotes (5:10; 20:6) (Osborne 2002, 35)
- o título mais importante de Jesus no Apocalipse é “Cordeiro” (29 de suas 30 ocorrências no NT ocorrem no
Apocalipse) e está centrado sobre a vitória escatológica de Cristo como o cordeiro pascal na cruz. Jesus é o
cordeiro conquistador através do seu auto-sacrifício, sendo o cordeiro que foi morto (5:6, 9, 12; 13:8) que
derrama seu sangue (5:9; 7:14; 12:11). O sangue de Jesus livrou as pessoas dos seus pecados (1:5; 7:14; cf. Jo
1:29; 1 Pe 1:18-19) e comprou-os para Deus das nações (5:10). A morte na cruz foi a grande derrota de Satanás
que permitiu os santos se tornarem vencedores com ele (12:11-12) (Osborne 2002, 35)
- a figura do Cordeiro conquistador (5:6) aparece também em 17:14 onde 10 reis vão à guerra contra o Cordeiro,
mas são vencidos por ele porque ele é o “Senhor dos senhores e rei dos reis”. É a ira do Cordeiro juntamente
com a face do Deus entronizado que leva as nações a temer porque “o grande dia da ira chegou” (6:16-17). O
cordeiro também está no trono (5:6; 7:17) e se torna o juiz que manuseia o livro da vida (13:8; 21:27) e castiga
os maus (14:10). É o cordeiro que vai receber e cuidar dos seus seguidores no céu e da noiva. Em 7:17 o
cordeiro se torna o pastor messiânico de Davi que os leva às correntes de água viva (Osborne 2002, 35)
- mesmo que em partes do Império Romano Jesus não recebe muita honra, no céu ele recebe a maior honra. Ele
é o Senhor sobre tudo. Os anjos atuam sob seu comando. Por causa da sua grandeza a salvação se tornou
11
possível. Ele nos libertou dos pecados (1:5), ele comprou com seu sangue pessoas de toda tribo, raça e nação
(5:9). Os salvos lavaram as suas roupas no sangue do cordeiro (7:14). Jesus é aquele que venceu. Ele traz vitória
para o seu povo (o que não podem alcançar sozinhos) (Morris 2003, 355-56)

d. Batalha cósmica
- o tema do combate é predominante nos cap.12-13, mas está presente em todo o livro. A descrição de Jesus no
AT em 1:12-20 contém muitos símbolos do guerreiro divino (olhos como chama de fogo, pés como fornalha
ardente, espada de 2 gumes saindo de sua boca) e imagens militares se encontram nas 7 cartas: “virei a você e
tirarei o seu candelabro do lugar dele” (2:5); “daquele que tem a espada afiada de dois gumes” (2:12); “lutarei
contra eles com a espada da minha boca” (2:16); “matarei os filhos dessa mulher” (2:23); “despedaçará como
a um vaso de barro” (2:27); “farei que se prostrem aos seus pés” (3:9). O Judaísmo via freqüentemente no AT a
idéia de uma batalha messiânica para derrotar os inimigos de Israel. A idéia é construída sobre a imagem de
Deus fazendo guerra (Ex 15:3; Is 42:15-16) e se refere à guerra escatológica final em que Deus vai trazer paz
para seu povo e introduzir sua era final (Dan 7:9-14; Jl 3:11-13; Zac 14:3-9). Em Ap 5:5-6, a “raiz de Davi” se
refere a Is 11:1, 10 e uma figura messiânica que “com suas palavras, como se fossem um cajado, ferirá a terra;
com o sopro de sua boca matará os ímpios” (Is 11:4) produzindo uma era em que “o lobo viverá com o
cordeiro” (Is 11:6). O “leão da tribo de Judá” se refere a Gen 49:9-10, uma passagem considerada messiânica
pelos judeus (Judaísmo mais tardio) (Osborne 2002, 37)
- a guerra messiânica no Apocalipse chega ao auge com o tema do martírio. O martírio denota uma derrota de
Satanás, e uma das ironias do livro. Ao mesmo tempo em que a besta recebe autorização de Deus para “vencer
os santos” (13:7), entregando suas vidas os santos “o venceram” (12:11). Nisso os santos fazem uma réplica da
vitória de Cristo, que por sua morte derrotou a Satanás. O sangue dos mártires está debaixo do altar como um
sacrifício a Deus (6:9) e eles pedem a Deus por vingança (6:10). A grande batalha cósmica por vir tem um
aspecto dessa vingança. Esta inicia com a 6º. selo onde os inimigos escondem-se de medo da “ira do Cordeiro”
(6:15-17). Ela continua com os julgamentos das trombetas que são construídos sobre “as orações os santos”
(8:3) que inauguram os julgamentos. A grande guerra dos cap.12-13 também precisa ser vista dentro dessa
perspectiva, pois quando o dragão ataca a mulher, ela foi levada para o deserto onde Deus a protegeu (12:6, 13-
17). O tema do combate combina a guerra messiânica e a vingança de Deus dos santos que sofrem (Osborne
2002, 38). Para nós o termo vingança é pejorativo, já que não se encaixa nos atributos de Deus. Mas a vingança
de Deus está ligada com a justiça e não é algo motivado por questões pessoais de buscar a justiça pelas próprias
mãos, ou de castigar alguém que me ofendeu. Ela está ligada com as ações justas de Deus para preservar a
justiça
- o tema da conquista (vencer) no livro ocorre quando a vitória de Cristo (3:21; 5:5; 17:14; 19:11-21) é colocada
lado a lado com a vitória de seus seguidores (7 vezes nas 7 cartas bem como em 12:11; 15:2; 17:14; 21:7). À
medida que a besta guerreia contra os santos, eles o conquistam/vencem “pelo sangue do Cordeiro e pela
palavra do testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida” (12:11). Assim, Satanás é
derrotado por 3 agentes: o sangue de Cristo, o testemunho fiel dos santos e a guerra santa da parte de Deus
(Osborne 2002, 38)

e. Sofrimento e vitória
- da mesma forma como no evangelho de João, a morte e a derrota de Cristo, são, na verdade, sua vitória sobre
Satanás (5:5-6). Os seguidores do Cordeiro devem recapitular o modelo de sua vitória irônica em suas vidas:
permanecendo [fiéis] durante a tribulação eles reinam no reino invisível do Messias (1:6, 9). Eles exercem o
reinado em meio ao seu sofrimento da mesma forma como Cristo fez na cruz. Os cristãos são chamados para ser
conquistadores imitando em suas próprias vidas o triunfo arquétipo de Jesus. Mesmo que o corpo externo dos
cristãos está vulnerável à perseguição e sofrimento, Deus prometeu proteger o espírito interior regenerado dos
verdadeiros santos (11:1-7). E, no final da jornada do corpo de Cristo na terra, sua presença, assim como a dele,
será totalmente removida, e depois disso será ressuscitado (11:7-12; cf. 20:8-22:5) (Beale 1999, 171)
- por outro lado quando os oponentes da igreja perseguem o povo de Deus, eles se auto-derrotam da mesma
maneira que Satanás foi derrotado na cruz, mesmo que pareceu que ele tinha derrotado fisicamente a Jesus (cf.
Col 2:14-15). Atos de opressão contra os santos, quando não são confessados (baseados no arrependimento),
estabelecem um motivo crescente para o seu julgamento final e até se tornam expressão de um julgamento do
endurecimento por Deus sobre pessoas permanentemente obstinadas (8:2-11; 19; cf. 11:3-6) (Beale 1999, 171)
- o livro de Apocalipse foi escrito depois que já tinha havido perseguição intensa aos cristãos por alguns
imperadores romanos. João escreve como exilado em Patmos pela mesma causa que outros haviam perdido a
vida. A perseguição estava intimamente relacionada com um movimento político que visava levar todo o
império a adorar o imperador (Webb 1997, 1137)
- a perspectiva sobre o sofrimento que vai ocorrer no Apocalipse estimula os cristãos a ter esperança no além
(não existe muito otimismo com relação ao futuro da terra ou que esse sofrimento vai trazer resultados positivos
12
sobre a terra). Em outras passagens do NT vemos que tudo resulta para o bem daqueles que amam a Deus –
que os cristãos devem se alegrar quando passam por provações. Aqui temos uma visão pessimista – esse mundo
está perdido e não tem o que possa dar jeito nas pessoas que rejeitam a Deus. Os cristãos devem aguardar que o
justo juiz virá em breve (Ap 19:11-16); que eles reinarão junto com Jesus (Ap 20:4-6); que o julgamento de
Deus será final e decisivo (Ap 19:11-15); e a transformação da ordem existente no novo céu e nova terra (Ap
21:1). Durante esse tempo os cristãos agem como testemunhas em favor de Cristo (Ap 1:2, 9; 6:9; 12:17; 19:10;
20:4). Mas o seu testemunho não parece resultar em algo muito positivo, pois as pessoas estão endurecidas e se
recusam ao arrependimento (Ap 9:20-21; 16:9,11; cf. Ap 11:10; 12:17). O julgamento de Deus vem sobre a
Babilônia (provavelmente a sede do governo humano que se opõe a Cristo) o que causa júbilo no céu (Ap 18:1-
19:8; cf Ap 11:5) (Webb 1997, 1137-38)
- o sofrimento pelo qual os cristãos passam está ligado a uma batalha muito mais intensa nas regiões celestes
entre Deus e o diabo, entre anjos e demônios. Os cristãos são chamados para suportar esse período com vistas a
um futuro muito melhor na vida eterna. Hoje os cristãos estão debaixo da tirania do diabo, mas essa situação vai
se reverter. O choro de hoje irá se converter em alegria no futuro quando Deus enxugará toda lágrima. O
martírio mostra que os cristãos têm um compromisso inabalável com os valores do reino de Deus que ainda não
está na sua totalidade, mas que acontecerá em breve e não terá mais fim (Webb 1997, 1138)
- no Apocalipse o sofrimento ocorre, pois os cristãos acabam desafiando as normas sociais e estruturas políticas.
O martírio é a demonstração suprema da rejeição dos valores de presente mundo e adoção dos valores do
mundo vindouro. No mundo vindouro, o “cordeiro que foi morto” está sentado sobre o trono (Webb 1997,
1138)
- o autor quer exortar o povo de Deus a permanecer fiel ao chamado de seguir o exemplo paradoxal do Cordeiro
e não comprometer a sua fé, com o objetivo de herdar a salvação final. Mas esse não é o tema teológico
principal do livro (veja 21:1-22:5). O tema mais importante do livro é a glória que pertence a Deus porque ele
completou a salvação e o julgamento final (1:6; 4:11; 5:11-13; 19:1, 5, 7; cf. 11:17). Mesmo a noção de Cristo e
sua igreja reinando de forma irônica no meio do seu sofrimento e a idéia dos perseguidores incrédulos
experimentando derrotas espirituais em meio a suas vitórias físicas demonstram a sabedoria de Deus a apontam
para a glória dele (Beale 1999, 171-72)
- o inimigo tenta matar aqueles que permanecem fiéis a Jesus (12:17). Em meio a este conflito os cristãos são
chamados a declarar a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, sabendo que ele venceu o inimigo. O significa
que não vamos amar nossas vidas, mas o autor da vida, que não vamos medir o sucesso pelos padrões humanos
ou a vitória pelas vantagens pessoais, mas em termos de nossa cooperação com o plano de Deus de expandir o
seu Reino; que não iremos sacrificar o testemunho de Jesus no altar do comprometimento (fazer concessões) e
da conveniência (Homcy 1995, 201)
- o Apocalipse precisa provocar a igreja a renunciar ao mundo que está passando e abraçar o Senhor da vida.
Como afirma J. Sweet, a mensagem do livro não é um ataque contra o mundo para incentivar a Igreja, mas um
ataque contra a Igreja que está abraçando/adotando o mundo – para avisar para esse perigo mortal e da traição
de sua verdadeira função de convencer o mundo pelo seu testemunho, para a salvação do mundo (Homcy 1995,
201)

f. Teodicéia
- a defesa do caráter de Deus e do julgamento é um tema importante. Há 4 aspectos importantes:
i. O julgamento revela o caráter justo de Deus. A soberania de Deus e de Cristo é o tema predominante do
livro. Como soberano, Deus é juiz de toda a terra, e a ira divina é uma reação necessária para a
prevalência do mal no mundo (6:16-17; 11:18; 14:10, 19; 15:1, 7; 16:1, 19; 19:15). Cristo não é somente
o redentor, mas também o juiz que segura a espada de 2 gumes (1:16; 2:12, 16; 19:15, 21). Os selos,
trombetas e taças são o resultado de seu julgamento justo. Sua santidade e justiça são motivos para a
adoração. O anjo diz para as nações: “Temam a Deus e glorifiquem-no, pois chegou a hora do seu juízo”
(14:6-7). A resposta apropriada para o caráter de Deus como juiz é o arrependimento e adoração. Esses
julgamentos são chamados de “atos de justiça” (15:3-4). Fumaça enche o templo à medida que a glória e
o poder de Deus são revelados à medida que as 7 taças são derramadas (15:7-8). Os santos devem se
alegrar nos julgamentos (18:12) e cantam louvores quando os julgamentos justos de Deus são celebrados
(19:1-12) (Osborne 2002, 38-39)
ii. Os julgamentos de Deus são exigidos pela depravação e rejeição dos habitantes da terra. Existe grande
ênfase sobre as ações maldosas das nações: seus atos vergonhosos (17:4, 5; 21:27), assassinato (6:9; 9:21;
13:7, 10, 15; 20:4), celebrando o mal (11:10), imoralidade (2:14, 20, 21; 9:21; 14:8; 17:2, 4; 18:3, 9;
19:2), feitiçaria (8:21; 18:23; 22:15), idolatria e blasfêmia (2:14, 20; 9:20; 13:1, 5, 6; 16:9, 11, 21; 17:3;
22:15), falsidade (2:2; 3:9; 14:5; 16:13; 19:20; 20:10; 21:27; 22:15), e um resumo em 21:8. A culpa dos
castigados é a base dos julgamentos. Mas a rejeição da oferta de arrependimento é a essência da teodicéia.
A falsa profetisa Jezabel se recusa a se arrepender, e é advertida sobre o julgamento iminente (2:22-23). 3
13
vezes nos julgamentos das trombetas e taças ocorre um chamado para o arrependimento (9:20-21; 16:9,
11). Em cada uma delas, o derramar da ira de Deus é uma advertência para as nações, como foi o caso
com as pragas do Egito, mostrando que os deuses terrenos eram impotentes e afirmando a soberania de
Yahweh. Isso constituiu um chamado para o arrependimento (implícito nas passagens acima e explícito
em 14:6-8) e sua rejeição prova sua depravação total e a justiça dos julgamentos de Deus. Mesmo depois
do milênio quando o diabo é solto aqueles que viveram debaixo do reinado de Cristo imediatamente se
voltam a Satanás, mostrando a sua depravação total, exigindo o julgamento diante do trono branco
(20:11-15). A depravação é uma força eterna que exige um castigo eterno. Hitler e Stalin odiarão a Deus
mais em um bilhão de anos do que no dia em que morreram (Osborne 2002, 39)
iii. O julgamento de Deus executa sua justiça justa à medida que o pecado se volta contra si mesmo. O
princípio de justiça é o mesmo que atuava tanto no AT como na lei romana – lex talionis, a lei da
retribuição. O que fizermos aos outros, Deus fará conosco. Deus permite que o pecado completo o ciclo.
A lei básica é afirmada em 2:23: “retribuirei a cada um de vocês de acordo com as suas obras”. Esse
tema aparece muitas vezes no AT (Sl 28:4; 61:13; 62:12; Prov 24:12; Is 3:11; Jer 17:10; Lam 3:64) e no
NT (Mt 16:27; Rom 2:6; 14:12; 1 Co 3:12-15; 2 Co 5:10; 1 Pe 1:17) e também no Apocalipse (para os
salvos, 2:23; 11:18; 14:13; 20:12; 22:12; para os perdidos, 11:18; 18:6; 20:13). Os pecados das nações
trouxeram um castigo justo de Deus sobre eles. O mal vai cair sobre os malfeitores. Os 4 primeiros selos:
desejo de conquista, guerra civil, fome e morte se voltam contra os conquistadores até que estejam
mortos. A Babilônia que obrigou as nações a “beberem do vinho da fúria da sua prostituição” será
forçada a “beber do vinho do furor de Deus que foi derramado sem mistura no cálice da sua ira” (14:8,
10). Em 16:5-7 a justiça de Deus será vista tornando as águas em sangue: “pois eles derramaram o
sangue dos teus santos e dos teus profetas, e tu lhes deste sangue para beber, como eles merecem”.
Finalmente em 18:6 a voz do céu diz: “Retribuam-lhe na mesma moeda; paguem-lhe em dobro pelo que
fez; misturem para ela uma porção dupla no seu próprio cálice” (Osborne 2002, 39-40)
iv. O julgamento de Deus é provado em sua vingança/justificação dos justos. Os santos são amados por Deus
(3:9; 20:9) e perseguidos pelos seguidores da besta (13:7, 10; 15:2). O martírio é um dos elementos
centrais no livro (6:9-11) onde vemos que eles “lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do
Cordeiro” (7:14). A maldade do Império Romano é provada pelo fato que está “embriagada com o
sangue dos santos” (17:6). Mas Deus vai vingar os mártires (6:11) e “enxugar toda lágrima” (7:17; 21:4).
Sua vitória também é uma vitória sobre Satanás (15:2; 20:4). Suas orações por vingança são respondidas
progressivamente por Deus no livro, visto nos apelos das nações para que possam se esconder da ira
(6:15-17) para o incensário com as orações dos santos preenchida com fogo e lançado sobre a terra (8:2-
5). Os julgamentos no restante do livro detalham essa vingança e culminam com os santos sobre os tronos
julgando (20:4-5) (Osborne 2002, 40)

g. Missão
- muitas vezes se diz que o Apocalipse é um livro que está centrado no julgamento e na retribuição, não
deixando espaço para missões. Mas Deus tem um grande interesse em alcançar os perdidos nesse livro (Osborne
2002, 41)
- esse livro apresenta o resultado da missão nos últimos dias. Representantes de todas as nações estarão
presentes diante de Deus, adorando-o. No final dos tempos a sorte estará lançada. Aqueles que creram em Cristo
e perseveraram até o final, serão salvos, enquanto os maus serão condenados. Isso implica que missão é o que
fazemos entre a 1ª. e a 2ª. vinda de Cristo (cf. Mc 13:10; Mt 24:14). Na 2ª. vinda ela chega ao seu final. Isso
denota o tempo limitado para missões, enfatizando a sua urgência bem como o seu propósito, isto é, ajuntar os
representantes da humanidade redimida para o louvor e a glória de Deus. Os justos serão justificados, os maus
serão condenados e Cristo reinará como o rei eterno. Essa visão escatológica concedida a João deve ajudar a
manter a igreja sofredora na Ásia Menor na sua luta no final de séc. I (Köstenberger & O’Brien 2001, 243-44)
- o livro está repleto de alusões ao AT indicando que a comunidade da nova aliança herda a visão escatológica
inicialmente dada para Israel. Zac 12:10, uma passagem aplicada à 1ª. vinda de Jesus (Jo 19:37) agora é
aplicada para a sua 2ª. vinda (cf. 1:7). O conceito de missão que temos aqui é o da “testemunha” que caminha
de “testemunha” para a morte da pessoa por sua fé como “mártir” (Köstenberger & O’Brien 2001, 244-45). O
significado de 1:7 possivelmente é a profecia das nações que lamentam porque aquele a quem eles
“traspassaram” se refere ao lamento sobre a sua destruição no futuro. Originalmente o texto de Zac 12:10 se
referia ao lamento pelo pecado e um grande avivamento que leva à purificação do “pecado e da impureza”
(13:1). Isso se encaixa com o tema de missões aqui. Logo podemos ter um significado duplo aqui no uso de Zac
12:10 que introduz o futuro das nações e descreve os 2 caminhos que as pessoas podem tomar dependendo de
sua resposta ao chamado de Deus (o evangelho eterno em 14:6-7). As pessoas das nações que aceitam esse
chamado se arrependem (11:13) e encontram a salvação porque o sangue de Cristo os comprou para Deus (5:9).
Assim as nações produzirão uma multidão que está diante do trono e diante do Cordeiro em triunfo (7:9). Eles
14
adorarão a Deus (15:4) e ambos trazem sua glória para a Nova Jerusalém (21:26) e andam em sua luz (21:24)
(Osborne 2002, 41)
- aqueles entre as nações que rejeitam o chamado de Deus seguem um caminho bem diferente e tem um destino
diferente. As nações beberam o vinho de adultério da Babilônia (14:8; 18:3), adoraram o dragão e a besta (13:4,
7-8), e se alinharam com Satanás (20:3). Eles se voltaram contra Deus (11:18) e o amaldiçoaram (16:9, 11, 21).
Eles perseguiram e mataram os santos (6:10), depois se regozijaram com a morte das 2 testemunhas (11:10). A
grande prostituta os governa (17:15) e eles participam de todos os pecados dela (17:3-4), incluindo o assassinato
dos santos (17:6). Eles se juntam à falsa trindade no ato final de rebelião chamado de Armagedom (16:13-16;
19:19). Assim são os objetos da ira de Deus (11:18; 14:10), incluindo o tormento eterno (14:11). Os “habitantes
da terra” se tornaram a Grande Babilônia, cujos pecados grandes levaram Deus a pagar em dobro pelos seus
atos depravados (18:2-8). Para estes Deus enviou os 3 julgamentos (cada um com 7 partes), tanto para punir por
seus crimes e para dar a eles uma oportunidade final para se arrepender. Mas quando recusam essa oferta final,
eles enfrentam o julgamento e a eternidade no lago de fogo (20:11-15) (Osborne 2002, 41)
- a conversão das nações está no centro da mensagem profética do Apocalipse. Bauckham nos chama a atenção
para algumas passagens em especial
i. Ap 14:6-7 “6 Então vi outro anjo, que voava pelo céu e tinha na mão o evangelho eterno para proclamar
aos que habitam na terra, a toda nação, tribo, língua e povo. 7 Ele disse em alta voz: ‘Temam a Deus e
glorifiquem-no, pois chegou a hora do seu juízo. Adorem aquele que fez os céus, a terra, o mar e as
fontes das águas’ ”. Aqui a terminologia usual, “os habitantes da terra”, é trocada por “aqueles [aos] que
habitam a terra”, o que indica que esse último grupo, ao contrário do primeiro, potencialmente ainda
pode se converter. Essa passagem faz alusão a Sl 96:2. O Sl 96 é o primeiro de uma série de Salmos que
celebram o reinado universal de Yahweh
ii. Ap 11:1-4 “1 Deram-me um caniço semelhante a uma vara de medir, e me disseram: “Vá e meça o
templo de Deus e o altar, e conte os adoradores que lá estiverem. 2 Exclua, porém, o pátio exterior; não
o meça, pois ele foi dado aos gentios. Eles pisarão a cidade santa durante quarenta e dois meses. 3 Darei
poder às minhas duas testemunhas, e elas profetizarão durante mil duzentos e sessenta dias, vestidas de
pano de saco”. 4 Estas são as duas oliveiras e os dois candelabros que permanecem diante do Senhor da
terra”. Aqui temos o relato das 2 testemunhas (cf. esp. 11:5-6), onde Moisés e Elias (ambos confrontaram
governantes pagãos e religiões) servem como modelos do AT, mas onde ambas as testemunhas
transcendem ambos, já que morreram como mártires, algo que não ocorreu com Moisés e Elias. Elias (e
Moisés, segundo a tradição) não tinham morrido
iii. Ap 14:14-16 “14 Olhei, e diante de mim estava uma nuvem branca e, assentado sobre a nuvem, alguém
“semelhante a um filho de homem”. Ele estava com uma coroa de ouro na cabeça e uma foice afiada na
mão. 15 Então saiu do santuário um outro anjo, que bradou em alta voz àquele que estava assentado
sobre a nuvem: “Tome a sua foice e faça a colheita, pois a safra da terra está madura; chegou a hora de
colhê-la”. 16 Assim, aquele que estava assentado sobre a nuvem passou sua foice pela terra, e a terra foi
ceifada”. Aqui temos a visão da colheita de grãos, uma imagem que não é de julgamento, mas de ajuntar
os convertidos das nações para o reino de Deus
iv. Ap 15:2-4 “2 Vi algo semelhante a um mar de vidro misturado com fogo, e, em pé, junto ao mar, os que
tinham vencido a besta, a sua imagem e o número do seu nome. Eles seguravam harpas que lhes haviam
sido dadas por Deus, 3 e cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro:
‘Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso. Justos e verdadeiros são os teus
caminhos, ó Rei das nações. 4 Quem não te temerá, ó Senhor? Quem não glorificará o teu nome? Pois tu
somente és santo. Todas as nações virão à tua presença e te adorarão, pois os teus atos de justiça se
tornaram manifestos’ ”. Aqui temos o cântico de Moisés, uma exegese cuidadosa de Ex 15:1-18 com
referências aos Salmos 86:8-10; 98:1-2; 105:1; Jer 10:6-7; Is 12:1-6. Aqui Deus não liberta seu povo fiel
pela eliminação dos inimigos, como fez nos tempos de Moisés, Elias e Ester, mas vai permitir que sejam
mortos pelos seus inimigos para trazer as nações ao arrependimento e fé. Dessa forma aqueles que foram
resgatados pelo sacrifício do Cordeiro agora são chamados eles mesmos ao sacrifício para participarem
em sua vitória, dando a ela um efeito universal (Köstenberger & O’Brien 2001, 245)
- mas será que existe uma oferta real de arrependimento a eles? Diversos estudiosos (Beale, Aune, Schnabel)
acham que não existe em 9:20-21; 16:9, 11. Muito pelo contrário, segundo eles o foco está em sua rejeição
completa de Deus. Não se diz que todas as pessoas serão convertidas, mas fala sobre a vitória que Jesus vai
finalmente alcançar sobre os poderes hostis e sobre as pessoas que os seguem quando ele volta (19:11-21)
(Osborne 2002, 41; Köstenberger & O’Brien 2001, 245). Por outro lado as palavras “evangelho eterno” em
14:6-7 são: “temam a Deus e glorifiquem-no”. Em 15:4 a adoração das nações é identificada como “quem não
te temerá, ó Senhor? Quem não glorificará o teu nome?”. Adiante em 16:9 os pecadores “recusaram
arrepender-se e glorificá-lo” onde “glorificá-lo” é virtualmente uma definição de arrependimento. Assim é
provável que as trombetas e as taças fazem parte da oferta final de arrependimento, chamando as nações a
15
“temer a Deus e glorificá-lo”. Além disso, em 11:13 temos um exemplo desse arrependimento, quando um
grande terremoto, depois da ascensão das 2 testemunhas, leva à conversão dos sobreviventes. Assim o
Apocalipse não é somente um livro de julgamento, mas também um livro que contém a compaixão de Deus e
sua missão para um mundo perdido (Osborne 2002, 41-42)
- isso implica que o testemunho dos cristãos é a chave para a conversão das nações. No clímax dessa profecia, o
sofrimento e o martírio são colocados dentro de uma perspectiva eterna. Jesus é o protomártir (1:5; 3:14; cf.
11:3; 14:6; 17:6; 19:11; 22:16, 20), o Cordeiro de Deus, o primogênito entre os mortos e igual ao Pai. Também
temos referência a Antipas, “a fiel testemunha” (2:13) e às “duas testemunhas” que testificam diante dos
habitantes da terra por 1260 dias e depois são mortos pelo seu testemunho (11:3, 7). João, também dá
testemunho (1:2) (Köstenberger & O’Brien 2001, 245-46)
- assim como Pedro, João se apresenta como “irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na
perseverança, em Jesus” (1:9; cf. 1 Pe 5:1-2). O “testemunho de Jesus” (1:2, 9; 12:17; 19:10; 20:4), i.é., o
testemunho dos cristãos de Cristo, com uma possível nuança “até a morte”, é apresentado como um ato
profético que revela a verdade de Deus em um mundo inflexível em sua oposição a Deus. Nos últimos dias não
é a missão que é necessária, mas “segurar-se firme no testemunho de Jesus” até o final, pois quem “perseverar”
e “vencer” será recompensado eternamente (Köstenberger & O’Brien 2001, 246)
- mas o conceito de testemunho não se mostra numa indiferença com o destino do mundo, mas proclamando a
mensagem divina para eles (cf. 14:6 onde um anjo proclama o evangelho eterno para todas as nações). A
exortação para o arrependimento das pessoas nas 5 das 7 igrejas mostra que ainda há espaço para o
arrependimento (2:5, 16, 21-22; 3:3, 19). A atitude de não se arrepender daqueles que são confrontados com o
evangelho no Apocalipse também acaba enfatizando a justificativa da teodicéia de Deus [explicação porque
Deus permite o mal]. Também aqui a igreja é apresentada tendo uma função mediadora entre Deus e o mundo
(cf. 1:6; 5:10; 20:6; cf. Ex 19:6; Is 61:6; cf. 1 Pe 2:5, 9) (Köstenberger & O’Brien 2001, 246-47)
- João apresenta a comunidade messiânica como uma mulher que depois de dar à luz a um filho (Cristo) foge
para o deserto para escapar da perseguição, e ali é nutrida/cuidada por Deus (12:1-17). Satanás é lançado fora
(derrotado) como um dragão (cf. Satanás é apresentado como um leão que ruge em 1 Pe 5:8). Babilônia (Roma)
é descrita como a “grande prostituta” com a qual os poderosos do mundo praticaram a imoralidade, “a mulher
estava vestida de azul e vermelho, e adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas ... embriagada com o sangue
dos santos, o sangue das testemunhas de Jesus” (17:1-6). O testemunho numa situação como estas não deve
levar à corrupção (cf 14:4). Enquanto 1ª. Pedro ainda enfatiza uma relativa participação na sociedade, aqui no
Apocalipse os cristãos não participam das atividades relacionadas com o culto dominante ao imperador. Esse
livro poderia ser descrito como uma ajuda subversiva e subterrânea para fortalecer os cristãos contra o poder
controlador do mundo, mantendo-os com uma visão do final, onde o destino será virado de ponta cabeça e com
isso Roma receberá o seu castigo e os cristãos serão justificados diante de Deus. Somente a fé poderia manter as
pessoas dentro dessa perspectiva totalmente contrária à experiência atual delas no mundo. Jesus aqui também é
apresentado como o seu modelo para o sofrimento, só que muito mais glorioso que nas outras cartas
(Köstenberger & O’Brien 2001, 247)
- João coloca claramente que Deus vai justificar e receber os fiéis e condenar os ímpios. João enfatiza o papel
central do Cristo crucificado e ressurreto no julgamento e no governo; a participação da igreja no governo de
Cristo; a universalidade dos cristãos e a sua adoração; a glória que aguarda aqueles que fielmente suportam o
sofrimento; a condenação da imoralidade sexual e espiritual, da falta de compromisso, da covardia, da auto-
gratificação, mentira, materialismo, homossexualismo e outros pecados (Köstenberger & O’Brien 2001, 249)

h. Perseverança dos santos


- provavelmente escrito durante o reinado do imperador Domiciano (81-96 AD) o livro pode ser descrito como
um chamado para a “perseverança dos santos” (14:12). Nos chama a atenção que é Jesus mesmo quem revela as
profecias para a igreja sofredora. Esse Jesus que venceu no sofrimento, mesmo até a morte, o cordeiro que
também é leão, do céu agora incentiva os cristãos a perseverarem até o final e a preservarem a pureza e
fidelidade dentro de uma sociedade descompromissada. Ele apresenta visões de um mundo onde não haverá
mais sofrimento, dor e morte (21:4). Dessa forma incentiva os cristãos a colocarem a sua esperança no mundo
eterno que os aguarda. Existe um mundo mais real e permanente que as realidades deste mundo temporário e
transitório. Essa visão nunca é mais importante do que para uma igreja que está sofrendo (Köstenberger &
O’Brien 2001, 243-44)
- se o eixo vertical do livro seria a soberania de Deus, o eixo horizontal é responsabilidade dos crentes de
perseverar. A literatura apocalíptica existe para exortar as pessoas a permanecerem fiéis e para desafiar os
descompromissados a mudarem suas vidas. No NT a escatologia sempre conduz à ética. Toda passagem que
fala sobre o retorno de Cristo termina com um chamado para viver com vigilância e diligência. Muitas
passagens que não são apocalípticas contêm uma frase como “o fim está próximo” que sempre está conectado
com exigências éticas (Rom 13:11; 1 Co 7:29; 10:11; 1 Pe 7:11; Tg 5:8; 1 Jo 2:18). Quando Cristo retornar ele
16
exigirá a prestação de contas quanto ao propósito de vida dos cristãos (Mt 25), incentivando-os a permanecer
fiéis. Assim a perseverança é um dos temas chaves do livro (Osborne 2002, 42)
- 5 termos conduzem esse tema: suportar com paciência (perseverança), fidelidade, testemunho,
conquistar/vencer e obediência. Eles aparecem por todo o livro ao redor da questão da responsabilidade. Logo
no início, Jesus é o modelo de “testemunha fiel” (1:5), ele é o arquétipo daqueles que são caracterizados pela
proclamação pública, geralmente em meio à oposição muito forte. Jesus também é o modelo em 3:14 “a
testemunha fiel e verdadeira” em oposição à igreja de Laodicéia, cuja dependência baseada em suas riquezas
constitui infidelidade. Segundo Matthews a perseverança no Apocalipse é cristocêntrica: participação ativa e
paciência no sofrimento baseado no modelo de Cristo como testemunha fiel, resultando em vida fiel. Antipas
também é chamado de “testemunha fiel” (2:13) através do seu martírio. Ele é o precursor daqueles que vão
realizar o seu último ato de perseverança fiel – o martírio (cf. 17:6) (Osborne 2002, 42)
- a perseverança é vista em 1:9 onde João é companheiro dos crentes que sofrem: “companheiro de vocês no
sofrimento, no Reino e na perseverança em Jesus”. Aqui a perseverança vem acompanhada de sofrimento e do
Reino, um resumo da experiência básica do crente. Temos uma seqüência de sofrimento, Reino, e perseverança
(em meio ao sofrimento), mostrando que suportar o sofrimento é o caminho para experimentar o reino de Deus.
Éfeso, Tiatira e Filadélfia foram caracterizados pela “perseverança” mostrando que é uma característica chave
para o crente vitorioso. Na igreja de Éfeso, perseverança significa tanto as dificuldades que passam e a
perseverança contra os falsos mestres. Em Tiatira (2:19) está conectado com a perseverança no serviço. Em
Filadélfia (3:8) se refere a suportar a perseguição (Osborne 2002, 42-43)
- a ênfase da perseverança nas 7 cartas se refere aos conquistadores (vencedores) a quem as promessas
escatológicas são dadas (2:7, 11, 17, 26; 3:5, 12, 21). Estes são aqueles que mantêm o seu testemunho e andam
com Jesus em meio a pressões internas de falsos mestres e perseguição externa dos Judeus e Romanos. Eles
vencem sobre os poderes do mal. Seria a participação ativa na guerra divina contra o mal e não algo meramente
passivo. Tem a conotação de batalha espiritual e fidelidade a Deus. Os santos que serão recompensados são
aqueles que venceram o mundo e se colocam ao lado de Cristo em meio a oposição civil e religiosa. A santidade
ocorre quando os cristãos estão no mundo (e não fora dele). A realidade política da época exigia que os cristãos
fossem dissidentes. João mesmo está exilado por seguir a Cristo dentro do mundo onde se cultua o imperador.
Santidade está relacionada com um compromisso inviolável com Deus somente em face de exigências políticas
contrárias onde não se pode fazer concessões. A vitória é alcançada através da vitória final do Cordeiro na cruz
(5:5-6) (Osborne 2002, 43)
- em 6:9 os mártires pedem a Deus por vingança. Mesmo que o termo martyria (testemunho) não tem a
conotação de mártir ainda (somente vindo a tê-la um século mais tarde), o Apocalipse foi fundamental para essa
mudança. No Apocalipse, testemunho significa martírio. Mas nesse livro o martírio significa a sua vitória. Os
crentes vencem o diabo de 2 formas: “pelo sangue do Cordeiro” (5:5-6) e “pelo sangue do Cordeiro e pela
palavra do testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida” (12:11). Isso é similar aos
evangelhos onde os cristãos são chamados a imitar a Cristo “tomando a sua cruz sobre si”, estando dispostos a
morrer por Cristo (Mc 8:34). Aqui a morte é sua grande vitória, sua perseverança final e fidelidade a Deus
(Osborne 2002, 43)
- existem diversas exortações para a perseverança no livro. Os cristãos são chamados a se comportar da maneira
correta em meio à perseguição, pois eles são “os que obedecem aos mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao
testemunho de Jesus” (12:17). Os aspectos de obediência e testemunho fiel são as exigências dadas às 7 igrejas
(2:10, 25-26; 3:3, 10-11). O testemunho fiel dos cristãos é a atividade dos cristãos numa época de perseguição.
Eles não se escondem em cavernas, mas testemunham abertamente de sua fé, simbolizado pela atividade das 2
testemunhas (11:3-6) (Osborne 2002, 44)
- depois do ataque da besta sobre os cristãos (13:7) os cristãos são exortados: “Aqui estão a perseverança e a
fidelidade dos santos” (13:10). O cerne da reação dos cristãos está aqui: perseverança ocorre 7 vezes e
fé/fidelidade, 12 vezes. A fidelidade é o aspecto espiritual da perseverança, exigindo que nos recusemos a
aceitar as ofertas tentadoras e exigências do mundo, mas que permaneçamos fiéis a Deus. Os 2 termos aparecem
juntos em 2:19 e 14:12 e em 2:10 a fidelidade é definida como “fidelidade até a morte”. O martírio é um dos
resultados possíveis em 13:10 (Osborne 2002, 44)
- em 14:12 temos outra passagem sobre a perseverança, logo após a proclamação do castigo eterno sobre
aqueles que seguem a besta (14:9-11): “Aqui está a perseverança dos santos que obedecem aos mandamentos
de Deus e permanecem fiéis a Jesus”. O resultado ético deve ser perseverança, obediência e fidelidade. Face o
castigo sobre os infiéis, seria melhor os cristãos permanecerem fiéis. Os cristãos são vitoriosos porque “não se
contaminaram com mulheres, pois se conservaram castos ... são imaculados” (14:4-5). Logo após a ordem
tripla em 14:12 temos uma promessa para aqueles cuja obediência os leva ao martírio, que a bênção de Deus
estará sobre eles e quem serão recompensados (14:13). Eles recebem harpas e cantam o hino de vitória de
Moisés, enaltecendo as “grandes e maravilhosas ... obras, [e os atos] justos e verdadeiros” de Deus (15:2).
17
Esse hino precede o julgamento das taças mostrando que estes julgamentos são extraordinários, vingando os
santos por tudo que suportaram e demonstrando a justiça de Deus (16:5-7) (Osborne 2002, 44-45)
- outros chamados para a perseverança está na seção do julgamento divino (cap.6-18)
i. Uma mensagem profética de Jesus (16:15) lembra seus seguidores que ele “volta como um ladrão”, de
forma inesperada, e é construída sobre os pecados das igrejas mais problemáticas ordenando que
“permaneçam acordados (o que não ocorre com Sardes) e “que mantenham as roupas consigo” (o que não
ocorre com Laodicéia). São advertências severas que o julgamento aguarda aqueles que não permanecem
vigilantes a continuar caminhando com o Senhor (Osborne 2002, 45)
ii. Aqueles que vão constituir o exército vitorioso de Cristo são chamados de “chamados, escolhidos e fiéis”
(17:14). Os 2 primeiros termos denotam os fiéis pertencendo a Deus e escolhidos de forma especial por
ele. A eleição divina e a responsabilidade estão de mãos dadas como característica dos seguidores de
Deus (Osborne 2002, 45)
- em 21:7-8 temos as promessas e advertências finais. Ela interrompe as visões da recompensa eterna com o
contraste profético entre o vencedor e o covarde. Os vencedores herdarão os novos céus e a nova terra.
Vingança e recompensa será a realidade eterna para os fiéis. Mas os covardes (possivelmente se referindo
àqueles que não perseveraram), tomarão o seu lugar com os pecadores das nações. A lista dos pecados resume
os pecados das nações que apareceram no livro (veja 21:8). Portanto, os covardes, assim como os habitantes da
terra “o lugar deles será no lago de fogo que arde com enxofre” (21:8). A seriedade dessa questão não poderia
ser colocada de forma mais clara (Osborne 2002, 45)
- o epílogo (22:6-21) continua com a ênfase na importância da perseverança. A bênção está sobre aqueles que
permanecem fiéis. Eles serão recompensados ricamente. Eles devem continuar com a conduta apropriada
porque os maus serão castigados (Osborne 2002, 45)

i. Adoração
- a adoração no Apocalipse é um livro muito importante para entender a liturgia no NT porque a conecta sempre
com um evento histórico. Bauckham vê na adoração do cap.4 as 2 formas mais primárias da consciência de
Deus: a percepção de sua santidade (4:8; cf. Is 6:3) e a consciência de nossa total dependência de Deus para a
própria existência que é a natureza de todas as coisas criadas (4:11). A adoração feita a Deus no AT agora é
estendida para envolver também a Jesus: “Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória” (4:11);
“Digno é o Cordeiro ... de receber ... glória” (5:12). Ambos são também endereçados ao culto do imperador
dizendo: “Somente Deus e o Cordeiro, não César, são dignos de louvor”. A grande ênfase é que somente Deus e
Cristo devem ser adorados e não o imperador ou os anjos (19:10; 22:8-9). A cena do cap.4 une adoração e
política. Ambos caminham juntos (Osborne 2002, 46)
- a adoração neste livro é sempre um fenômeno celestial comparado com a culto idólatra ao imperador, um
antídoto bem como uma alternativa ao culto ao imperador. Ruiz tenta nos mostrar que os hinos são mais
políticos que litúrgicos, tentando afastar os leitores dos símbolos do culto de Roma. A função sóciopolítica pode
ser demonstrada vendo que o termo proskyneo = adoração ocorre nas cenas celestiais para adoração de Deus ou
do Cordeiro (4:10; 5:14; 7:11; 11:16; 15:4; 19:4; 20:4) e nas cenas sobre a terra para a adoração os poderes
malignos (9:20; 13:4, 6, 12, 15; 14:9, 11; 16:2: 19:20). Isso também demonstra a centralidade da idolatria no
livro. Há somente 2 exceções para esse uso: em 11:1 os adoradores do templo são medidos ; e 14:7 onde ao não
chama as nações a adorar a Deus por causa da chegada do juízo. Mas ambos continuam demonstrando o tema
da adoração do Apocalipse. Cada ser humano vai adorar alguma coisa, e a escolha tomada determina o destino
eterno (Osborne 2002, 46-47)
- as cenas de adoração ocorrem nos pontos críticos do livro provendo um comentário sobre a importância da
ação. De acordo com Peterson as cenas são usadas para interpretar os eventos e dar significado a eles. Essas
cenas celebram a vitória de Deus nas narrativas na forma de hinos. Todos os maiores eventos do livro estão
acompanhados de hinos celestiais (Osborne 2002, 47)
- a parte central do livro é introduzida com a visão de Deus e do Cordeiro no trono. Há diversas ênfases:
i. Somente Deus é digno de adoração. A base para isso é a sua santidade (4:8 – “santo, santo, santo”); sua
soberania sobre a história (4:8), controlando o passado (“que era”), presente (“que é”) e futuro (“que há
de vir”); e ele é o criador e sustentador de “todas as coisas” (4:11) (Osborne 2002, 47)
ii. O Cordeiro já venceu (5:5) através de sua morte sacrificial (5:6. 9, 12) e assim comprou pessoas para
Deus de todas as nações (5:9) (Osborne 2002, 47)
iii. Os santos sofredores não somente serão vingados/justificados, mas reinarão com ele (5:10) (Osborne
2002, 47-48)
iv. O Cordeiro juntamente com Deus é também digno de adoração (5:12, 13). Assim os julgamentos (selos,
trombetas e taças) são introduzidos com uma observação de vitória como é proclamada na adoração
(Osborne 2002, 48)
18
- dentro dos julgamentos também temos diversas cenas de adoração, proclamando a verdade que em meio ao
conflito o triunfo de Deus e de seu povo não somente está garantido, mas que já é celebrado. No 1º. interlúdio
(7:9-17), os santos estão celebrando a salvação trazido por Deus. Os selos revelam que teremos muitos mártires
durante esse tempo (6:9-11), mas os santos serão selados da mão dos poderes malignos. Eles serão mortos, mas
Deus vai vingá-los e eles experimentarão a salvação. Sua morte os levará para o trono de Deus (7:10, 15), aonde
irão servi-lo (7:15) e todas as suas necessidades serão supridas (7:15-17). Obviamente, as forças do mal não
podem fazer nenhum mal derradeiro a eles. Na 7ª. trombeta (11:15-19), mais adoração celebrando a troca do
reino do mundo pelo reino de Deus (11:15). Mesmo antes de o conflito ser descrito (cap.12-13), ação de graças
é dada pela destruição das nações pela ira de Deus bem como pela vitória final dos servos de Deus (11:17-18)
(Osborne 2002, 48)
- a adoração celestial está fortemente presente no interlúdio do livro (cap.12-14). A derrota do dragão (12:1-9)
leva à aclamação pois “Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus,... pois foi lançado fora o
acusador” (12:10). Mais uma vez fica patente que a vitória sobre Santas já ocorreu através “pelo sangue do
Cordeiro” (12:11). Em 14:1-5 os 144.000 santos triunfantes no Monte Sião participam de uma celebração
jubilosa cantando um novo hino. Esse texto está conectado intimamente com o novo hino de 5:9, sendo assim
possivelmente se refere à libertação dos crentes através do ato sacrificial do Cordeiro. A adoração é importante
nesse livro para deixar claro o poder soberano de Deus em favor do seu povo sobre as forças do mal. A última
cena de adoração na parte central do livro (cap.6-16) mostra um anjo celebrando a justiça divina (16:5-6) com
uma resposta antifonal do altar (16:7). Esse é um clímax apropriado para essa seção, mostrando a santidade e
justiça de Deus executando um castigo justo sobre os pecadores (Osborne 2002, 48)
- a cena final de adoração leva o livro ao seu final:
i. Os cânticos de aleluia (19:1-10) concluem os julgamentos (cap.17-18) e introduzem os eventos finais
(cap.19-22). Eles são uma resposta para a ordem de se alegrar diante da justiça divina, a retribuição pela
maneira como a Grande Babilônia tratou os santos (18:20)
 Deus é adorado pela justiça de seus julgamentos (19:1-5). No 1º. hino (19:1-2) a multidão
celestial o adora por julgar a grande prostituta (cap.17) e por vingar o sangue de seus escravos
(6:9-11)
 No 2º. hino (19:3) a multidão de forma antifonal o adora pelo tormento eterno da grande prostituta
(19:3; cf. 14:10-11). Depois disso os anciãos e os seres viventes chamam os escravos de Deus
sobre a terra para se unir ao coro celestial louvando a Deus (19:5). O coral de aleluia de 19:6-8
introduz a nova cena, a parousia. Há 2 aspectos da parousia: o aspecto positivo, confirmando os
santos como a noiva de Cristo (19:6-8) e o aspecto negativo que o mostra como o guerreiro divino
que destrói os pecadores na batalha final (19:11-21). O hino celebra a o reinado de Deus (19:6) e a
proclamação divina das “bodas do Cordeiro” onde a igreja é a noiva (19:6-8) (Osborne 2002, 48-
49)
Essa passagem (19:1-10) é um clímax apropriado para as cenas de adoração do livro, pois contém ambos
os aspectos da adoração: quem Deus é (digno e majestoso é o Cordeiro) e o que Deus faz (confirma os
santos e pune os pecadores). Muitos não conseguem entender como podemos adorar a Deus por destruir
os não-salvos. Isso tem levado muitos a crerem que todos serão salvos, pois acham que Deus precisa
perdoar a todos. Como um Deus santo ele é tanto misericordioso, quanto juiz. Ele mostra misericórdia
para aqueles que se voltam para ele para obter o perdão e julga aqueles que rejeitam esse chamado e
continuam vivendo no pecado. A depravação total do ser humano significa que os humanos rejeitarão a
Deus por toda a eternidade. Os santos não se alegram na destruição dos pecadores, mas na justiça de
Deus e a vingança do seu sofrimento. Deus busca o arrependimento das nações até o final. Assim as
cenas de adoração estão centradas sobre a destruição do mal e o irromper do reino de Deus de forma
cabal (Osborne 2002, 49)
ii. Mas essa não é a cena final de adoração. A vinda do “novo céu e nova terra” (21:1-22:5) não contém
uma cena de adoração, mas toda ela é permeada de adoração. A vida da Nova Jerusalém é uma longa
experiência de adoração. A realidade é que finalmente Deus habita com seu povo fisicamente, e eles
estão com ele em sua maneira mais completa possível (21:3). O cumprimento dos anseios do povo de
Deus tanto do AT como do NT agora está completo, e eles o “o servem dia e noite” (7:15). Nesse sentido
a adoração será a atividade primária na vida eterna (Osborne 2002, 49)

j. A nova criação
- o retrato da nova aliança, do novo templo, novo Israel e nova Jerusalém afirmam o futuro cumprimento dos
temas proféticos predominantes do AT e do NT. Todos encontram o seu clímax final na nova criação. A nova
criação em si mesmo é a promessa bíblica mais ampla que abarca todas elas, das quais as 4 precedentes são
apenas facetas. As alusões repetidas às formas históricas do AT dessas 5 promessas expressam uma
interpretação tipológica da história que enxerga as instituições e realidades do AT como prognósticos das
19
realidades equivalentes do NT de forma escalada (e.g. criação, o êxodo como cumprimento da aliança divina
e como nova criação, o tabernáculo, o templo de Salomão, e a antiga Jerusalém). Esses temas tipológicos e
proféticos sugerem uma crença em Deus como o arquiteto soberano de toda a história, que é planejada para
resultar em sua glória. Esses 5 temas bíblicos (nova aliança, novo templo, novo Israel, nova Jerusalém e nova
criação) são metáforas da realidade singular da presença íntima e gloriosa de Deus com seu povo (Beale 1999,
173)
- esses 5 temas também culminam em 21:1-22:5 e formam o clímax e o ponto mais importante do livro até aqui:
a noção central da presença gloriosa de Deus, introduzida no cap.4-5 e desenvolvida em todo o livro, finalmente
culmina nas visões de 21:1-22:5. Diversas profecias do AT que João vê chegando a seu cumprimento final na
conclusão da história são vistas em outros locais no NT como tendo iniciado em Cristo e com a igreja (e.g., a
nova criação, novo templo, apóstolos como fundamento do templo, nova Jerusalém, a promessa da presença de
Deus tabernaculando com seu povo (21:3) e o reinado dos santos. Mesmo na literatura apocalíptica fica claro
que essas profecias já tinham iniciado o seu cumprimento no final do séc. I (e.g. nova criação [3:14], o novo
templo [os candelabros em 1:12-13, 20], os santos exaltados no templo celestial em 6:9-11, e reinando [1:5-6, 9,
13; 2:27; 3:21; 5:10]) (Beale 1999, 173-74)
- mas as visões na conclusão sobre a nova criação (21:1:22-5) não expressam o ponto principal do livro. Elas
aparecem perto da conclusão do livro para enfatizar a base para o propósito último do livro: encorajar e
admoestar os cristãos a permanecerem fiéis. Por isso o livro termina sem uma visão, um epílogo de promessas
repetidas, exortações, afirmações sobre a volta iminente de Cristo e advertências aos santos (22:6-11). A visão
do povo perfeito de Deus no futuro em comunhão ininterrupta com a sua presença gloriosa tem a intenção de
encorajar e motivar os leitores a perseverar através da tentação que os levaria a comprometer o seu
compromisso com Cristo. A expectativa da vitória final deveria providenciar o ímpeto para ganhar uma vitória
parcial agora não comprometendo a sua fé. A comparação da noiva com a prostituta (17:1-22:5) é feita para
incentivar e admoestar as igrejas vacilantes, afetadas pelo relacionamento com a prostituta, a parar esse
relacionamento e refletir sobre os aspectos de sua perfeição vindoura. As imperfeições da igreja nos cap.2-3 tem
o correspondente antitético com as perfeições em 22:1-22:5, 9 (Beale 1999, 174)

k. O lugar dos cristãos no mundo


- o tema principal do Apocalipse seria: a soberania de Deus e Cristo, redimindo e julgando, traz glória a eles. A
função disso é motivar os santos a cultuar a Deus e refletir seus gloriosos atributos através da obediência à sua
Palavra. Assim não é coincidência que as maiores expressões de adoração ocorrem onde a glória de Deus é
enfatizada (cap.4-5; 7:9-12; 11:15-19; 15:2-8; 19:1-8). A idolatria não é meramente como cultuar ídolos, mas
“deixar de adorar aquele que é Senhor sobre tudo”. O livro fala de uma nova criação no final dos tempos que já
irrompeu no mundo antigo presente através da morte e ressurreição de Cristo e através do envio do Espírito no
Pentecostes. A visão de João comunica valores que vão contra os valores do velho mundo e providenciam uma
estrutura de significado que é a base para a vida nos cristãos no novo mundo. Os símbolos que descrevem o
novo mundo descrevem o significado eterno e as conseqüências da vida de Cristo, sua morte e ressurreição e
das escolhas presentes e comportamento dos leitores. Isso é feito em parte para motivar os leitores a não
comprometer a sua fé com o mundo, mas alinhar os seus pensamentos e comportamento com os padrões
teocêntricos da nova criação. Eles devem ver sua situação nesse mundo à luz da perspectiva eterna do novo
mundo, que agora é sua verdadeira casa (Beale 1999, 174-75)
- as igrejas devem ler e reler o livro para que estejam continuamente lembradas do mundo real, o mundo de
Deus que está em oposição ao sistema antigo e caído em que vivem atualmente. Esse lembrete continuo vai
levá-los a se dar conta que sua morada não é nesse antigo mundo, mas no novo mundo retratado de forma
parabólica nas visões celestiais. Reler continuamente o livro vai encorajar os santos genuínos a perceber que
aquilo que eles crêem não é estranho, mas normal na perspectiva de Deus. Eles não se sentirão desanimados
pelo mundanismo, mesmo aquele que entrou nas igrejas, que sempre causa os padrões divinos a parecer
estranhos e os padrões pecaminosos como normais. Os descrentes são descritos como “aqueles que habitam a
terra” porque o seu lar é a terra transitória. Eles não podem confiar em nada a não ser o que seus olhos vêem e o
que seus sentidos físicos percebem. Eles estão presos à terra, confiando somente na segurança terrena e
perecerão com a antiga ordem no final dos tempos quando o cosmos corrompido finalmente será julgado e
desaparecerá. Por outro lado, os cristãos são como peregrinos de passagem pelo mundo. Como peregrinos
devem se comprometer com a revelação de Deus na nova ordem para progressivamente refletir e imitar sua
imagem e cada vez mais viver de acordo com os valores do novo mundo, não se conformando com o sistema
caído, suas imagens idólatras e os valores associados com eles (cf. Rom 12:2) (Beale 1999, 175)
- nesse sentido nos chama a atenção porque Cristo fala aos anjos das igrejas e os culpa pelos pecados da mesma.
Temos aqui a representação corporativa em que o representante é visto como responsável pelo grupo e o grupo
pelas ações do representante. Um dos motivos pela presença de tantos anjos no livro é para lembrar os cristãos
verdadeiros que uma dimensão de sua existência já ocorre na esfera celestial, e que sua verdadeira morada não é
20
aqui entre os que residem sobre a terra e que eles têm ajuda celestial e proteção em sua luta para não se
conformar ao ambiente pagão. Um dos propósitos para a igreja se reunir toda semana (1:3, 9) é para lembrá-los
de sua identidade celestial modelando o seu culto no culto dos anjos e da igreja celestial do Cordeiro exaltado. É
por isso que cenas da liturgia celestial são entrelaçadas em todo o Apocalipse, especialmente no final do livro
que servem como interpretações das narrativas visionárias precedentes. Assim as igrejas devem aprender a
adorar a Deus em suas reuniões e devem adorar o verdadeiro Deus com zelo. O resultado esperado é que os
cristãos experimentem uma atitude crescente de reverência adoradora a Deus, não somente na igreja, mas se
curvando diante da soberania de Deus em todos os aspectos de sua vida e no resultado que produz em tudo o
que fazem (Beale 1999, 175-76)

l. O significado teológico da utilização dos símbolos


- a forma literária das parábolas simbólicas é usada quando as advertências normais não são levadas a sério e
nenhuma advertência normal será considerada por pessoas que estão espiritualmente duras e cuja intenção é
continuar na desobediência. O aspecto parabólico da mensagem profética do AT é um dos meios pelos quais as
pessoas são cegadas (cf. Is 6:9-10). Mesmo assim, as parábolas tem a intenção de ter um efeito de sacudir o
remanescente que se tornou complacente entre a maioria que comprometeu a fé, e sobre um remanescente de
pseudo-cristãos que são acordados e genuinamente convertidos. As parábolas funcionam da mesma forma em
Ezequiel e no ministério de Jesus. Assim, o aparecimento das parábolas na história da redenção sinaliza
julgamento sobre a maioria da comunidade da aliança (Beale 1999, 176)
- diante do padrão do AT e dos evangelhos o uso repetido da fórmula: “quem tem ouvidos para ouvir, ouça”,
não é novidade, mas está em linha com o padrão profético anterior. A utilização dessa frase está ligada com Is
6:9-10 e Ez 3:27 (cf. Ez 12:2), e é um desenvolvimento da utilização da frase nos evangelhos (e.g. Mt 13:9-17,
43), o que já é uma elaboração de Is 6:9-10. Da mesma forma como ocorreu com os profetas e Jesus, a
expressão sobre ouvir indica que a comunicação parabólica tem a intenção de abrir os olhos do remanescente
verdadeiro e cegar os membros falsos na comunidade da aliança. Ela revela a verdade para alguns e a esconde
de outros. João usa essa fórmula para a igreja, que é a continuação do verdadeiro Israel, a verdadeira
comunidade da aliança. Mas a igreja, da mesma forma que Israel, se tornou espiritualmente dura e começou a
comprometer sua fé associando-se à idolatria. O método de parábolas é usado no Apocalipse porque as igrejas
se tornaram intratáveis em seu comprometimento. Eles servem tanto para endurecer os incrédulos e dar um
choque nos verdadeiros crentes que estão tomados pelo comprometimento da igreja com o mundo. Os símbolos
revelam a essência terrível e satânica das instituições idólatras com as quais o povo de Deus está começando a
se envolver. Revelando a natureza dessas instituições a intenção é que os verdadeiros cristãos quebrem
imediatamente a sua associação com elas (Beale 1999, 177)
- a utilização da fórmula no final de cada carta antecipa as parábolas visionárias nos cap.4-21 e a fórmula
similar que aparece em 13:9. Isso mostra que João quer que as visões simbólicas dos cap.4-21 tenham uma
dupla função revelatória, abrir os olhos de alguns e cegar outros. Isso demonstra que as visões simbólicas nos
cap.4-21 são elaborações do material mais abstrato mencionado nos cap.2-3. Assim a carta interpreta as visões
simbólicas e vice-versa. Essa função dupla também fica aparente pelo fato que João usou o padrão das
trombetas e taças com base nas pragas do Êxodo, que teve a função tanto de endurecer os egípcios como trazer
percepção e redenção aos israelitas. Mas um remanescente entre os egípcios respondeu de forma positiva às
pragas e deixou o Egito juntamente com Israel, e a grande maioria dos israelitas que deixaram o Egito eram
caracterizados pela descrença (veja Sl 95). Conseqüentemente, da mesma forma como ocorreu com os profetas
do AT e Jesus, os símbolos usados por João não somente endurecem os perdidos, mas dão um choque nos
crentes genuínos para que saiam de sua anestesia espiritual e levam um remanescente entre os incrédulos a crer.
João aplica o modelo do Êxodo para a igreja e para o mundo. Conseqüentemente grande parte do material
simbólico usado no Apocalipse serve primariamente para identificar a relação que João faz entre a situação das
igrejas da Ásia Menor com os profetas do AT e Jesus para a situação de Israel (Beale 1999, 177)
21
Apocalipse 1:1-20

1. Qual é a intenção do autor com o prólogo de um livro? Isso se aplica também ao Apocalipse (1:1-3)?
- o prólogo tende a dizer porque o livro foi escrito e em que condições isso ocorreu. Pode nos contar um pouco
sobre a vida do autor e o que o motivou para escrever
- o Apocalipse inicia como os livros da época nos dando o autor, o propósito e o conteúdo da obra. Por outro
lado vai adiante. Nos livros do AT e do NT o autor é citado mais cedo que neste livro (Osborne 2002, 51)
- o propósito desse prólogo é estabelecer logo de cara a autoridade divina atrás do livro. João faz questão de
mostrar que não se trata simplesmente de uma série de visões que ele teve, mas que elas vêm diretamente de
Deus e Cristo, mediada pelos anjos. Na crise pela qual as igrejas da Ásia Menor estão passando, Deus não está
em silêncio, mas afirma às igrejas que ele ainda está no controle. Assim 1:1-3 contém o título (Revelação de
Jesus Cristo), um resumo escatológico do conteúdo do livro (para mostrar aos seus servos o que em breve há
de acontecer) e uma exortação profética para o que o povo de Deus deve fazer com o livro (Feliz aquele que lê
as palavras desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam ao que nela está escrito, porque o tempo está
próximo) (Osborne 2002, 51-52)
- é a revelação de Jesus Cristo, o autor do livro. O nome Jesus Cristo completo aparece 3 vezes no prólogo (1:1,
2, 5) indicando que o mesmo que encarnou se revelando na carne, morreu na cruz, ressuscitou é agora o
mediador das visões deste livro (Osborne 2002, 52)

2. Qual é o significado do termo revelação? O que/quem está sendo revelado aqui?


- o termo revelação = apokalypsis muitas vezes na Bíblia indica revelar o que está oculto. Aqui se trata de
revelar o futuro iminente: “Deus lhe deu para mostrar aos seus servos o que em breve há de acontecer”. Assim
o livro vai desvendar as verdades ocultas, i.é., a realidade oculta do controle soberano de Deus sobre o futuro e
como ele o governa levando a cabo o aparente sucesso das forças do mal na era presente (Osborne 2002, 52-53)
- o processo de revelação ocorreu em 4 estágios
a. Deus deu a revelação a Jesus
b. Jesus a revelou aos anjos
c. Os anjos a mediaram para João
d. João a escreveu para as igrejas
Isso já mostra de cara a soberania de Deus, que é central em todo o livro. Outro ponto que se segue em todo o
livro é que Deus e Jesus trabalham juntos. Aqui juntos eles mostram essas visões aos seus escravos. As diversas
visões são vistas como um todo vindas de Deus para a igreja via Jesus Cristo. A revelação é passada aos
escravos, aos membros das 7 igrejas (outros acham que o termo doulos aqui poderia indicar profetas, mas
escravos seria melhor). Os cristãos são chamados de escravos 7 vezes no livro e são denotados como
representantes especiais de Jesus – isso se torna um título de honra para eles (Osborne 2002, 53-54)
- essa revelação vai mostrar “o que em breve há de acontecer”. Isso corresponde a Dan 2:28-29 “28 mas existe
um Deus nos céus que revela os mistérios. Ele mostrou ao rei Nabucodonosor o que acontecerá nos últimos
dias. O sonho e as visões que passaram por tua mente quando estavas deitado foram os seguintes: 29 “Quando
estavas deitado, ó rei, tua mente se voltou para as coisas futuras, e aquele que revela os mistérios te mostrou o
que vai acontecer”. As profecias de Daniel são vistas como se cumprindo nesse livro. Isso acaba mostrando
mais uma vez que Deus está no controle de tudo o que ocorre. O futuro iminente é um tema recorrente no NT e
está no coração do Apocalipse (Osborne 2002, 54)
- essas visões irão se concretizar em breve. Isso poderia indicar que seria logo em seguida, ou repentinamente.
Alguns têm argumentado que tudo isso deveria ocorrer de forma iminente. Mas isso traz o problema dos 19
séculos que se passaram antes que se cumprisse (sem falar que não sabemos quando vem o fim). Seria melhor
olhar para essa afirmação como o “logo” que encontramos em muitas partes da Bíblia. Com isso não se afirma
que não haja ainda outros eventos que vão ocorrer antes da volta de Cristo. A linguagem da iminência leva a
uma expectativa e responsabilidade constantes, que devem caracterizar a igreja em todos os tempos. Na verdade
diversas das profecias já iniciaram o seu cumprimento e ainda aguardam o seu cumprimento final (Osborne
2002, 54-55)
- essas visões precisam se tornar conhecidas. João usa o termo esemanen (semeion = sinais). Seria tornar
conhecido por meio de sinais. Esses sinais são passados por meio do seu anjo (de Jesus), já que mediação dos
anjos é característica da literatura apocalíptica (Osborne 2002, 55)
22
3. A quem Deus está revelando este livro (compare Jo 21:24; 1 Jo 1:14)?
- a revelação é passada para o escravo João. João não traz nenhuma indicação de status aqui, estando alinhado
com os outros cristãos que também são escravos de Cristo. Escravo também poderia indicar o agente do seu
senhor, possuindo uma autoridade representativa (Osborne 2002, 55-56)
- João testemunha da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo. No Apocalipse o termo martyria =
testemunho indica uma proclamação pública e autenticação destemida, normalmente em face de oposição
tremenda, das realidades divinas em palavra e vida. João recebeu essas visões e agora passa elas adiante
afirmando que essas visões constituem a palavra de Deus. Ele vai comunicar tudo o que viu, mostrado a ele por
Jesus, autenticando a visão. Os termos “palavra de Deus” e “testemunho de Jesus Cristo” são descrições
complementares dessas visões. Essas expressões aparecem muitas vezes no Apocalipse e se tornam uma
fórmula semi-técnica para “verdade do evangelho” e “testemunho fiel cristão acerca do evangelho”. Aqui se
trata de confirmar que a mensagem realmente procede de Deus (Osborne 2002, 56)

4. Qual é a reação que Deus espera dos seus leitores? Por que precisamos ser exortados a isso?
- felizes os que lêem e guardam essas profecias. Esta é a 1ª. das 7 bem-aventuranças que encontramos no
Apocalipse. Estas estão ligadas com o propósito ético do livro, algumas exortando os santos a perseverar e viver
uma vida exemplar à luz dessas profecias (1:3; 16:15; 22:7) e outras prometendo recompensas futuras por agir
desta forma (14:13; 19:9; 20:6; 22:14). A bem-aventurança contém tanto uma exortação a viver pelos padrões
de Deus, bem como as bênçãos experimentadas por aqueles que perseveram (Osborne 2002, 57)
- o fato que menciona a leitura dessas palavras indica que deveria ser lido nos cultos. Possivelmente seguia o
costume judaica onde havia normalmente 5 leitores das Escrituras nos dias de festa, 6 no dia da expiação, e 7 no
sábado, mesmo que nas sinagogas fora da Palestina havia normalmente somente um leitor. Possivelmente na
igreja primitiva os presbíteros ou líderes leigos liam as Escrituras (Osborne 2002, 57-58)
- os leitores devem ouvir e guardar as palavras. Esses 2 conceitos estão muito presentes na Bíblia. O termo
hebraico para ouvir implica também em obedecer. Esses conceitos são inseparáveis biblicamente falando. Além
de muitas passagens na Bíblia, no Apocalipse temos as cartas às igrejas onde elas devem ouvir o que o Espírito
diz às igrejas e logo em seguida fala das promessas aos vencedores (2:7, 11, 17, 26-29; 3:6, 12-13, 21-22; cf.
13:9). O tema de “guardar” ocorre 10 vezes no livro (1:3; 2:26; 3:3, 8, 10; 12:17; 14:12; 16:15; 22:7, 9), duas
vezes conectado com “ouvir” (1:3; 3:3). O princípio da perseverança é definido no Apocalipse como “guardar”
as instruções de Deus. João define as palavras como profecia. Logo devem ser vistas como profecias-
apocalípticas. Seu propósito não é somente falar da futura intervenção de Deus ou retratar o povo de Deus
simbolicamente à luz dessa realidade divina, mas chamar os santos para viver de acordo com essa realidade.
Esse é um livro de advertências bem como conforto para a igreja (Osborne 2002, 58-59)
- João adverte que o tempo está próximo. Isso deve chamar os leitores para a responsabilidade. O livro não está
focado simplesmente sobre a escatologia, mas sobre a ética. Já que o tempo está próximo somos chamados a
viver de modo decisivo e completo para Deus (Osborne 2002, 59)
- teoricamente quem se dá conta que Deus está falando não deveria nem pensar em outra coisa a não ser ouvir
atentamente para praticar. Na prática, porém, vemos que tantas vezes esquecemos de Deus em nosso dia-a-dia.
Precisamos ser lembrados da ética, de que Jesus volta e teremos que prestar contas, e temos que aprender a
prestar contas periodicamente aqui sobre a terra para escapar da surpresa no dia da volta de Cristo

5. A quem este livro é endereçado? Por que escolheria somente estas 7 igrejas?
- João escreve para as 7 igrejas da Ásia. A maioria dos escritos apocalípticos eram pseudônimos utilizando o
nome de um personagem famoso. Aqui, no entanto, João fala abertamente quem é o autor. Não sabemos porque
as 7 igrejas foram escolhidas, omitindo outras. Elas são colocadas na ordem do percurso seguido por um
mensageiro. João escolheu as igrejas porque eram representativas, querendo com isso falar a todas as outras
igrejas da mesma forma (Osborne 2002, 60)
- João recebe a comissão de escrever da mesma forma como os profetas do AT. Ele deve escrever o que está
vendo e depois deve enviar às 7 igrejas da Ásia. Parece que se tornaram centros de organização e distribuição de
onde as mensagens saíam para as outras igrejas da província. Também podem ter sido escolhidas por causa do
seu culto ao imperador (com exceção de Tiatira todas tinham templos ao imperador, e com exceção de
Filadélfia e Laodicéia tinham sacerdotes e altares dedicados ao imperador). Além disso, tinham os mesmos
problemas que as igrejas ao seu redor, servindo assim de exemplos para elas (Osborne 2002, 85)
- havia ainda muitas outras igrejas a quem essas cartas poderiam ser enviadas, e que provavelmente as
receberam
23
6. Como o autor da revelação se apresenta em 1:4-5? Como isso deve ter impactado os leitores originais?
- a saudação é feita com a palavra graça (cumprimento helenista comum) e paz (shalom – do judeu). Mas no NT
esses termos têm uma conotação teológica muito maior, já que implicam na promessa escatológica de bênçãos
espirituais enviadas por Deus. Isso significaria mais ou menos isso: Agora em Cristo vocês podem experimentar
o que era somente uma esperança antes, ou seja, a verdadeira graça e paz (Osborne 2002, 60). Essa graça e paz
vem de 3 fontes:
a. Deus recebe um título muito interessante aqui: “daquele que é, que era e que há de vir”, uma paráfrase
do nome divino de Yahweh: eu sou o que sou (Ex 3:14-15). É interessante notar que a ordem é
invertida, colocando o presente antes do passado e do futuro. Isso pode ter sido feito para mostrar que o
controle do passado e do futuro implica que o presente também está nas mãos de Deus, mesmo que não
pareça. As forças do mal que prevalecem aos olhos humanos também estão debaixo do controle de
Deus (Osborne 2002, 60-61)
b. Depois fala dos 7 espíritos que estão diante do trono de Deus. Alguns acha que se trata de 7 anjos, mas
é melhor ver esse texto à luz de Is 11:2 (a LXX acrescenta uma 7ª. virtude “piedade” às 6 do texto
massorético) e Zac 4:2, 10 onde fala das 7 lâmpadas como os olhos do Senhor que cobrem toda a terra
se referindo ao sétuplo Espírito, com o número 7 enfatizando a obra perfeita do Espírito. A chave
estaria em Zac 4:6 onde o Senhor Todo-Poderoso define sua ação como “não por força ou violência,
mas pelo meu Espírito”. Assim o Espírito é o meio pelo qual Deus vai destruir o poder do dragão e da
besta (Osborne 2002, 61)
c. De Jesus Cristo, a fiel testemunha (em sua vida sobre a terra), o primogênito dos mortos (na sua
ressurreição) e o soberano dos reis da terra (o que vai ocorrer na parousia).
i. Jesus como a fiel testemunha liga com o tema de perseguição e perseverança. Jesus é o arquétipo
e paradigma para o crente, que também precisa permanecer em pé contra o mal e a idolatria,
mesmo que significa entregar a vida. A fidelidade é central diante das ameaças dos poderes do
mal até o ponto de morrer pela fé.
ii. O termo primogênito tem a conotação de soberania sobre vida e morte e Jesus como o protótipo
daqueles que serão ressuscitados com ele. Na família judaica o primogênito era o que controlava
a herança. Ele estava logo abaixo do pai em nível de importância. Como primogênito Jesus é o
Messias exaltado (Col 1:15) enfatizando a sua soberania sobre a criação. Mas Jesus também
ressuscitou para tornar possível a nossa ressurreição. Cristo venceu a morte de modo que a morte
não terá mais domínio e os cristãos irão partilhar de sua exaltação no futuro
iii. O mesmo Cristo que é soberano sobre vida e morte naturalmente irá reinar sobre os reis da terra.
O conflito entre o Cristo exaltado e os soberanos terrestres é grande no Apocalipse. Os reis são os
inimigos de Cristo (10:11; 17:18), cheios de maldade (17:2; 18:3) que se reunirão para a batalha
final (16:14; 17:14; 19:19) e serão totalmente destruídos (6:15-17; 17:14; 18:9ss; 19:18). Ao
mesmo tempo eles são o objeto da missão e submeterão sua glória ao Senhor exaltado no final
das contas (21:24). Herodes, Pilatos e César são soberanos terrenos, mas Jesus Cristo é o Rei dos
reis, Senhor dos senhores (19:16), e somente ele, não César, é digno de adoração (Osborne 2002,
63)

7. O que o autor da revelação faz pelos crentes? O que ele quer dizer com isso?
- em seguida temos uma doxologia: “Ele nos ama e nos libertou dos nossos pecados por meio do seu sangue,
6 nos constituiu reino e sacerdotes para servir a seu Deus e Pai. A ele sejam glória e poder para todo o
sempre! Amém”. Facilmente os cristãos tomam como óbvio o fato da redenção. Será que é possível refletir
sobre a redenção sem adorar a Jesus? Há diversos aspectos dignos de louvor a Cristo:
a. Amor. Possivelmente se refere ao amor de Cristo no passado que culminou em sua morte (Rom 8:37;
Gal 2:20; Ef 5:2, 25; Ap 3:6, 9, 12; 7:14; 12:11; 13:8), seu amor presente (neste texto) e seu amor futuro
visto na vitória sobre as forças do mal em nosso favor. Uma atmosfera de amor divino por seu povo que
sofre permeia o livro. A justificação do povo de Deus pelo seu sacrifício e fidelidade é o resultado desse
amor (Osborne 2002, 63-64)
b. Libertação dos pecados pelo seu sangue. O amor de Cristo é visto em especial na obra de redenção.
Tanto a obra como os efeitos são enfatizados. O amor atual de Cristo é enfatizado pela sua morte no
passado como morte sacrificial. Duas frases predominam no livro para falar da obra redentora de Cristo:
o Cordeiro que foi morto (5:6, 12:13:8) e o sangue sacrificial (5:9; 7:14; 12:11). De acordo com Hanson
o sangue no Apocalipse tem um significado ritual da teologia do sacrifício que vem de Levítico. Cristo
conquistou primeiramente através de seu sacrifício de sangue. O martírio dos santos é uma maneira de
re-experimentar a vitória de Jesus sobre Satanás (12:11). Mas aqui a ênfase está sobre os efeitos da
expiação pela sua morte, em que ele nos livrou de nossos pecados. Enquanto os pecados dos inimigos
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de Deus continuam se amontoando deixando-os prontos para o julgamento divino, os pecados
daqueles que se voltaram para Deus já foram “libertados” pelo sangue de Cristo (Osborne 2002, 64)
c. Ele nos constituiu reino e sacerdotes. Aqui ele nos inclui em sua função real e sacerdotal. Faz-se alusão
a Ex 19:6 “vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa”. Aqui a igreja é vista
como uma nova comunidade do êxodo, cumprindo a função do sumo-sacerdote do AT. Isso faz parte da
tradição que olha para a igreja como o verdadeiro Israel. Eles são reino, não somente pelo fato de
habitarem no local onde Deus reina, mas também reinarão com Cristo. Em diversas passagens no
Apocalipse vemos que os cristãos vão participar no reinado de Deus (2:26; 3:21; 5:10; 20:4; 20:6). Eles
reinarão “em seu nome”. Mas eles também serão sacerdotes (Ex 19:5-6; Is 61:6). Como sacerdotes, o
povo de Deus tem acesso direto a Deus, um grande privilégio (Hb 10:19-20) e a tarefa/responsabilidade
de servi-lo (Rom 12:1). Da mesma forma que o trabalho sacerdotal de Cristo o levou à morte sacrificial,
os santos devem conduzir a sua vida de modo sacrificial servindo a “Deus, e Pai”. Participando com
Cristo em seu oficio sacerdotal, estamos servindo ao mesmo Deus e Pai que ele serviu (Osborne 2002,
65-66). Apesar das perseguições e do sofrimento que os santos estão suportando, João quer que saibam
que já estão habitando uma posição muito alta com Cristo diante de Deus. O mundo parece que domina
a cena, mas Cristo já entrou no mundo como resultado do seu amor e os livrou do fardo do pecado e os
tornou parte do seu reino, no qual são tanto reis como sacerdotes. Seu reinado com ele já iniciou,
mesmo que ainda não se consumou. Agora os cristãos devem perseverar em seu serviço a Deus e assim
participar na obra sacerdotal de Cristo (Osborne 2002, 66-67)
- depois disso temos a doxologia propriamente dita, como uma resposta à obra de Cristo (1:5-6). A ele seja a
glória e o poder. Isso lembra os ouvintes que somente ele e não César ou outro poder do mundo é digno de
adoração, pois somente ele pode realizar a redenção. Ele tem o poder, o domínio. Isso é especialmente
importante para uma igreja perseguida expressando a certeza da vitória divina sobre os poderes que agora
confrontam a igreja. O termo glória também celebra a obra suprema de Deus e Cristo derrotando os poderes do
mal e realizando a salvação. O termo glória também indica esplendor do Rei dos reis, com um contraste forte
com o culto ao imperador. Somente Deus e Cristo e não César têm o domínio e é digno de glória e poder,
comparado com a glória e poder parcial de César. Enfrentando dificuldades os crentes precisavam saber que
havia um poder soberano que transcendia o que é temporal e garantia o futuro do povo de Deus. Amém = que
assim seja, autenticando e garantindo a eficácia da adoração (Osborne 2002, 67-68)

8. Os v.7-8 anunciam a volta de Cristo. Esse texto está conectado com outros textos da Bíblia. O que o texto
está afirmando?
- nos v.7-8 temos a anunciação profética da volta de Cristo que está ligada com 2 outros textos do AT:
Ap 1:7-8 “7 Eis que ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram; e todos
os povos da terra se lamentarão por causa dele. Assim será! Amém. 8 ‘Eu sou o Alfa e o Ômega’, diz o
Senhor Deus, ‘o que é, o que era e o que há de vir, o Todo-poderoso.’ Alguém Semelhante a um Filho de
Homem”
Dan 7:13 “Em minha visão à noite, vi alguém semelhante a um filho de homem, vindo com as nuvens dos céus.
Ele se aproximou do ancião e foi conduzido à sua presença”
Zac 12:10 “E derramarei sobre a família de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de ação de
graças e de súplicas. Olharão para mim, aquele a quem traspassaram, e chorarão por ele como quem
chora a perda de um filho único, e se lamentarão amargamente por ele como quem lamenta a perda do
filho mais velho.”
Mt 24:30 “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações da terra se lamentarão e
verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória.”
- a passagem de Daniel faz menção a alguém parecido com o filho do homem que vem para estabelecer o
domínio sobre a terra, focando sobre o reino eterno estabelecido por Deus (Dan 7:14). Zac 12:10-14 prediz o
arrependimento de Israel, com todos os elementos da nação (tribo, clã, família) chorando e pranteando por
causa daquele que eles traspassaram. A chave está em Zac 12:10: “E derramarei sobre a família de Davi e
sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de ação de graças e de súplicas”. Em 12:1-9 Deus daria a seu
povo a vitória sobre as nações, e em 12:10-14 enviaria a eles o arrependimento. Assim nesse caso para Zacarias
o lamento em 1:7 poderia se referir ao arrependimento, e João pode estar construindo sobre esse texto uma
indicação da conversão das nações (trocando Israel por “todos os povos da terra”). Pode haver uma alusão aqui
a Gen 12:3 onde temos a bênção sobre todas as nações baseadas na aliança feita com Abraão. Isso também está
ligado com a guerra escatológica de Zac 12 e 14 e sua conexão com a guerra cósmica no Apocalipse. Assim a
vitória escatológica de Deus sobre seus inimigos (Zac 14:1-15) levou ao arrependimento das nações (Zac 14:16
= Ap 1:7). Mesmo que esse lamento possa ser de arrependimento, a maioria dos estudiosos acha que se trata de
lamento por causa do julgamento. O contexto imediato é ambíguo. Há uma possibilidade que os 7 candelabros
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de ouro (Ap 1:12) tenham a conotação de evangelismo das nações e isso favoreceria a idéia do
arrependimento aqui. É provável que existe uma ambigüidade deliberada aqui entre arrependimento e
julgamento. Essa ambigüidade continua pelo livro, à medida que a conversão das nações e o julgamento das
nações se desenvolvem lado a lado (Osborne 2002, 68-69)
- temos aqui 4 coisas sendo afirmadas depois do “eis” = idou que chama a atenção para oráculos de Deus. A
idéia é: prestem atenção ao que vou dizer (Osborne 2002, 69):
a. Ele vem com as nuvens. O fato que Cristo vai voltar é um dos temas principais do Apocalipse,
culminando com a vinda de Rei dos reis e Senhor dos senhores em julgamento (19:11-16). Diversas
vezes quando fala da volta de Cristo enfatiza-se a sua volta iminente. A ênfase de sua vinda sobre as
nuvens é uma imagem apocalíptica comum, possivelmente parte do tema do guerreiro divino. O
Apocalipse tem diversas imagens de Yahweh indo à batalha contra o dragão e seus seguidores. No AT a
metáfora das nuvens deriva possivelmente das nuvens levantadas pelas carruagens na guerra (Osborne
2002, 69-70)
b. Todo olho o verá. Aqui possivelmente se trata daqueles que não crêem nele, que se opõem a Deus e a
seu povo. Isso inclui tantos judeus como gentios responsáveis por colocar Jesus na cruz, mas incluindo
também toda a humanidade caída (que num sentido espiritual colocam Jesus na cruz).
c. Aqueles que o traspassaram o verão. Aqueles que colocaram Jesus na cruz
d. Todos os povos da terra se lamentarão por causa dele. Possivelmente aqui temos o significado duplo de
lamentar: eles verão no momento de sua convicção de pecados, e/ou na hora da parousia. O lamento se
refere à conversão de algumas pessoas, mas também ao lamento de reis pela queda da Babilônia (18:9).
Assim será. Amém (Osborne 2002, 70-71)

9. O v.8 volta a descrever a Cristo. O que João estaria querendo mostrar com essa afirmação?
- quem está falando isso é o Alfa e o Ômega, a primeira e última letra do alfabeto grego, dando a entender
claramente que ele é o início e o fim (e tudo o que tem no meio também). Isso implica que Deus é soberano
sobre a história; tudo se resume nele. Outro título que aparece aqui é “Senhor”. No evangelho, João usa muitas
vezes a designação “eu sou” vinda de Ex 3:14, lembrando da divindade de Cristo e o tetragrama – YHWH. A
idéia é que Deus une tanto o passado, o presente e o futuro debaixo do seu controle soberano. Depois o título
que segue é “Todo-Poderoso”. Na LXX essa palavra é freqüentemente traduzida como “Senhor dos exércitos”
enfatizando a onipotência e autoridade de Deus sobre todas as forças terrenas. No Apocalipse sempre tem a
conotação de poder e controle absolutos. Assim vemos aqui que Deus reina sobre toda a história, sobre este
mundo e sobre o mundo vindouro, com total autoridade sobre as forças terrenas e cósmicas (Osborne 2002, 71-
72)
- João quer que tenhamos em mente que a parousia é iminente, todas as pessoas da terra o verão o precisam
reagir. As nações são tanto o objeto da missão como do julgamento. A nossa tarefa è participar da missão e
deixar que Deus cuide do julgamento. A nossa participação na missão é realizada diante da realidade da volta
iminente de Jesus. Deus é soberano sobre toda a história e reserva a si o direito e o poder de terminar com a vida
sobre a terra quando achar conveniente (Osborne 2002, 72-73)

10. Como João se apresenta aos seus leitores? Em que sentido isso dá crédito ao que está falando?
- aqui João se apresenta como irmão e companheiro, se identificando com eles em seu sofrimento. Comumente
nas epístolas temos a utilização do termo mais oficial “apóstolo” (como Paulo faz), mas João sempre evita isso,
sem apresentar título algum em 1ª. Jo e usando “presbítero” em 2ª. e 3ª. Jo. Com isso quer demonstrar que “são
farinha do mesmo saco”. Esse tipo de linguagem era usado por Jesus e pela igreja primitiva, onde se chamavam
de irmãos e irmãs. João vai adiante e se identifica como “companheiro de vocês”, denotando a idéia de
comunhão/comunidade e participação mútua na família de Deus. Essa comunhão é em primeiro lugar com Deus
e depois uns com os outros. Aqui temos o compartilhar da experiência do sofrimento e da glória (Osborne 2002,
79). Eles compartilham de 3 áreas que estão intimamente interligadas:
a. Sofrimento/tribulação. Seria basicamente a aflição/perseguição que experimentam nos últimos dias. De
acordo com Schüssler Fiorenza, João compartilha com eles as tribulações dos últimos dias: provável
exílio, prisão, ostracismo social, calúnia, pobreza, exploração econômica, violência, ameaça constante
de ação judicial. A resposta adequada a esta situação é a perseverança. A perseverança sempre ocorre
em situações de opressão pelos inimigos de Deus
b. Reino. Nos ensinos de Jesus o Reino é o irromper do reinado de Deus que inicia com a vinda de Jesus e
termina com a sua volta. Os cristãos devem suportar o “mal” no “reino” presente sabendo que Jesus
volta e vai fazer justiça no “reino” final de Cristo. A base da esperança do cristão é o reinado de Cristo.
O cristão já participa com Cristo no seu reino. Hoje isso significa que compartilham da luta contra o
26
reino satânico e a perseguição do império mundial no presente. Hoje somos reino e sacerdotes (1:6;
5:10) no meio do reino do mal (17:12, 17, 18) enquanto aguardamos o retorno do Rei dos reis (19:16)
que vai despejar a sua ira sobre o reino da besta (16:10) e vai trocar o “reino deste mundo” pelo “reino
eterno de nosso Senhor e do seu Cristo” (11:15; 12:10). Mas esse tempo é de dificuldades (cf. Mc
10:29-30; Jo 16:33; 1 Ts 3:3; 2 Tm 3:12; 1 Pe 2:21)
c. Perseverança. É esperar em Deus e permanecer de pé contra as tentações e o mal do mundo. O retorno
de Cristo ocorre em breve e isso exige que permaneçam firmes já que seguramente serão perseguidos.
O aspecto vertical é a fidelidade de Deus enquanto a horizontal é a perseverança diante do mal. A
perseverança é um dos temas centrais do livro (Osborne 2002, 80-81)
Os 3 elementos são experimentados “em Jesus”. A identidade e a união dos crentes somente é possível por
causa de nossa identidade corpórea com Cristo. A repetição do “em” para cada um dos elementos enfatiza que
todo o sofrimento cristão era interpretado pela igreja primitiva como participação “em Cristo”(cf. Rom 8:17; 2
Co 1:5; 4:10; Fp 3:10; Col 1:24; 1 Pe 4:13). A aflição em nome de Cristo era percebida como participar em sua
vida e glória (1 Pe 1:11, onde os sofrimentos de Cristo e as glórias que seguiriam se tornam o modelo da
perseverança cristã no restante da epistola) (Osborne 2002, 81)
- agora João descreve como compartilha dos seus sofrimentos, estando exilado na ilha de Patmos.
Possivelmente João estava exilado nesta ilha temporariamente por proclamar o evangelho. Essa ilha tinha 16km
por 10km e tinha uma população razoável com um templo de Ártemis. Assim, João deve ter tido uma vida
relativamente normal sobre a ilha. Possivelmente pode ir a Éfeso por causa da anistia concedida pelo imperador
Nerva em 96 AD, depois da morte de Domiciano. João foi exilado “por causa da palavra de Deus e do
testemunho de Jesus”. O exílio ocorreu por pregar a palavra e testemunhar acerca de Jesus. Não sabemos a que
nível a perseguição ocorria no império, mas João estava exilado e podia fazer o que bem entendia na ilha, mas
não sair dela (Osborne 2002, 81-82)

11. De que forma João recebe a revelação divina? Qual a sua responsabilidade com essa revelação?
- João estava no Espírito (possivelmente no Espírito Santo) quando recebeu a 1ª. visão. Ao que tudo indica João
retém a consciência quando o Espírito lhe dá a visão. Aqui João está tentando indicar que a experiência
visionária que recebe quer mostrar ao leitor que Deus está no processo de levar a história ao seu final. Essa
visão é recebida no “dia do Senhor”, possivelmente se referindo ao domingo, dia em que os crentes se reúnem
por causa da ressurreição de Jesus (Osborne 2002, 83)
- a experiência visionária de João ocorre primeiramente de forma auditiva e depois visual. Ele ouve uma voz
forte atrás dele como de uma trombeta. Possivelmente é Cristo mesmo que está falando a ele. A trombeta muitas
vezes tem a conotação de anunciar o dia do Senhor (Mt 24:31; 1 Co 15:52; 1 Ts 4:16) ou uma teofania (Hb
12:19). Três aspectos do AT podem ser importantes para o seu uso escatológico aqui no Apocalipse: dar o sinal
da guerra (Jz 3:27; 6:34; Ez 7:14); como arautos do rei, especialmente no sentido da coroação (2 Sam 15:10; 1
Rs 1:34-35); e a adoração no culto durante as procissões festivas (2 Cro 29:27-28). A voz de Cristo é uma
teofania e prepara para a aparição e adoração daquele “como um filho do homem” (1:12-20) (Osborne 2002, 84)
- João recebe a comissão de escrever da mesma forma como os profetas do AT. Ele deve escrever o que está
vendo e depois deve enviar às 7 igrejas da Ásia. Não sabemos exatamente porque estas 7 igrejas foram
escolhidas. A ordem que são colocadas seria uma seqüência normal seguindo a rota pelo território. Parece que
se tornaram centros de organização e distribuição de onde as mensagens saíam para as outras igrejas da
província. Também podem ter sido escolhidas por causa do seu culto ao imperador (com exceção de Tiatira
todas tinham templos ao imperador, e com exceção de Filadélfia e Laodicéia tinham sacerdotes e altares
dedicados ao imperador). Além disso, tinham os mesmos problemas que as igrejas ao seu redor, servindo assim
de exemplos para elas (Osborne 2002, 85)
- a visão que João recebe inicia agora e termina no final do cap.3. Isso implica que a visão de Cristo que temos
agora nos prepara para as cartas às igrejas (Osborne 2002, 85). Essa descrição apresenta a Cristo como o
governador e juiz dos últimos tempos (Beale 1999, 205-6). Isso vai alertar as igrejas que precisam permanecer
fiéis ao seu chamado (Osborne 2002, 85)

12. O que João vê? De onde tira as descrições de Jesus e o que significam?
- João se vira e vê 7 candelabros de ouro. Isso nos leva de volta ao Êxodo quando Moisés recebeu a ordem de
fazer um candelabro de ouro para colocar no Lugar Santo com 7 braços e lâmpadas, a menorah que se torna um
símbolo do Judaísmo. Em 1 Rs 7:48-49 Salomão coloca 10 candelabros no Lugar Santo, possivelmente para
indicar o número completo. Depois em Zac 4:1, 10, a passagem do AT mais próxima dessa, o profeta recebe
uma visão de um candelabro de ouro com 7 canais e em 4:10 o número 7 (provavelmente as 7 lâmpadas) são
definidas como “os olhos do SENHOR, que sondam toda a terra”. Existe muitas interpretações sobre o que viria
27
a ser o candelabro. Poderia significar a presença de Yahweh entre o seu povo, mas a maior parte dos
estudiosos considera que se trata de Israel brilhando entre as nações com o Espírito Santo (1:6) e a verdade de
Deus. As igrejas são descritas como luzes que brilham para Deus no meio do mundo hostil (Osborne 2002, 86-
87)
- depois disso Cristo é introduzido (1:13). Ele está no meio dos candelabros. Ele não é o dono das terras que
está ausente, mas aquele que está no meio deles ajudando-os em meio ao sofrimento e perseguições. Temos
uma seqüência de descrições com Jesus “entre os candelabros” (1:13), depois “segurando” as 7 estrelas em sua
mão direita (1:16; 2:1; 3:1), e finalmente “andando entre os 7 candelabros de ouro” (2:1). Essa imagens
mostram Cristo envolvido na vida do seu povo e soberanamente protegendo-os. Por outro lado há também uma
advertência aqui. Como ele é o senhor sobre a igreja ele pode removê-las caso não se voltem para ele (Osborne
2002, 87)
- a referência a Jesus como “semelhante a um filho de homem” nos leva de volta a Dan 7:13 e depois com o
filho do homem nos evangelhos. A maioria dos estudiosos crê que o filho do homem de Dan 7 significa alguém
como se fosse humano, mas as dificuldades não acabaram por aí. Poderia ser o remanescente fiel de Israel; o
próprio Daniel; um líder humano de Israel; uma figura celestial como o rei da dinastia de Davi; Israel como um
todo; um ser celestial como um arcanjo; ou um libertador messiânico que representa Israel no céu e vem para a
terra (ver Goldingay 1989, 167-72). Possivelmente a opção do libertador messiânico seja a mais indicada. Ele é
semelhante ao humano e reinará com o povo de Deus da mesma maneira como reinam as bestas da terra. Essa
era uma interpretação muito comum desse texto nessa época (Osborne 2002, 87-88)
- agora temos 8 imagens sucessivas tiradas do AT para introduzir temas que vão continuar pelo restante do
livro. Temos uma imagem metafórica. Não devemos tentar juntar todas como uma figura de Jesus. O que temos
é uma descrição do seu poder e sua glória. Elas devem ser vistas em conjunto evocando memórias e emoções.
Essas associações eram óbvias para os leitores que cresceram dentro do contexto dessas imagens. Como não
somos os primeiros leitores precisamos decifrar essa linguagem. Devemos manter os olhos sobre o todo e não
sobre as partes (Osborne 2002, 88-89)
a. Veste longa e um cinturão de ouro. Pode se referir à vestimenta e cinturão do sumo-sacerdote, ou para
os dignitários e governantes. A frase “uma veste que chegava aos seus pés” se encontra em Ex 9:2
numa passagem que fala sobre o julgamento divino sobre os incrédulos (sem conotação de sacerdócio).
O cinturão de ouro no peito poderia também representar o sumo-sacerdote, mas mais provavelmente
vem de Dan 10:5. Além disso em Ap 15:6 os 7 anjos têm um cinturão ao redor do seu peito, outra vez
sem conotação sacerdotal. Assim temos aqui a descrição de Cristo como um dignitário exaltado. Os
peões tinham um cinturão ao redor da cintura para prender a túnica para trabalhar, enquanto os
aristocratas a usavam ao redor do peito para indicar o seu status (Osborne 2002, 89)
b. Cabeça e cabelos brancos. No Apocalipse utilizam-se as descrições do AT de Deus para Jesus,
enfatizando a unidade entre eles. Em Dan 7:9 temos uma descrição do ancião: “Sua veste era branca
como a neve; o cabelo era branco como a lã”. Na cultura antiga, o cabelo branco indicava dignidade e
acúmulo de sabedoria pelos anos de experiência. Além disso, a lã branca indica uma das maiores
indústrias da região, na Laodicéia. A lã e a neve juntas indicam pureza. Não havia outra maneira do
mundo antigo descrever a brancura perfeita (cf. Mc 9:3 na descrição do Cristo transfigurado: “Suas
roupas se tornaram brancas, de um branco resplandecente, como nenhum lavandeiro no mundo seria
capaz de branqueá-las”). Da mesma forma Cristo é retratado em sua sabedoria eterna e no respeito que
ele merece (cf. Lev 19:32; Prov 20:29) (Osborne 2002, 90)
c. Olhos como chama de fogo. Essa imagem vem de Dan 10:6 e se repete em Ap 2:18; 19:12. Isso implica
a visão que penetra ao âmago da situação humana. Mas como em Daniel, aqui vai ainda, além disso,
incluindo um julgamento violento de Deus que conhece e age contra aqueles que o desobedecem. Esse
é o contexto de Ap 2:18 onde a igreja de Tiatira deixa de tratar do culto ao imperador liderado por
Jezabel e em 19:11-12 onde Cristo retorna para julgar com justiça e guerra (Osborne 2002, 90)
d. Pés de bronze. Essa imagem está relacionada com seus olhos flamejantes em Dan 10:6 (“os braços e
pernas como o reflexo do bronze polido”) e Ap 2:18 (“cujos olhos são como chama de fogo e os pés
como bronze reluzente”); Ez 1:7 (“seus pés eram como os de um bezerro e reluziam como bronze
polido”). A interpretação é difícil porque “como bronze” somente ocorre na Bíblia e não temos paralelo
em outra literatura grega. Possivelmente temos aqui uma liga de cobre e zinco com fins militares e para
cunhar moedas. A imagem do bronze polido enfatiza a glória e poder de Cristo. Esse bronze é refinado
pelo fogo na fornalha, possivelmente indicando um local onde o metal era aquecido a ponto de se tornar
branco indicando sua pureza. Já que os pés são uma indicação da direção que a pessoa toma, aqui deve
indicar a vida de Cristo e sua força e estabilidade e sua pureza. Também poderia indicar o poder e a
pureza no contexto do julgamento sobre os incrédulos e apóstatas. Isso se encaixaria com a imagem
militar por trás desse símbolo. Significa a glória e a força, mas também adverte sobre o julgamento em
potencial (Osborne 2002, 90-91)
28
e. Voz poderosa. Essa imagem vem de Ez 1:24 (as asas das criaturas viventes “parecia o ruído de
muitas águas, parecia a voz do Todo-poderoso”) e Ez 43:2 (a voz de Yahweh “era como o rugido de
águas avançando”). A idéia é de um ruído de muitas/grandes águas e poderia representar uma catarata,
uma cascata de águas brancas, ou então as ondas intermináveis batendo nas praias de Patmos. Na região
do Mediterrâneo é mais comum o rugido das águas do oceano. A imagem é de poder e força, da incrível
voz de Deus. A voz de Cristo já foi descrita como a de uma trombeta. Aqui essa imagem é construída
sobre aquela (Osborne 2002, 91)
f. Estrelas na sua mão direita. Nas Escrituras a mão direita denota poder e autoridade (cf. Sl 110:1; Mt
26:64). Segurar algo significa “adquirir” ou “tomar posse” de algo num certo sentido e no outro de
“segurar” ou “preservar” essa coisa. Possivelmente tanto possuir como proteger estão em questão aqui.
Assim o Cristo glorificado está no controle completo da situação. As 7 estrelas são identificadas no v.20
como os anjos das 7 igrejas endereçadas nos cap.2-3. As igrejas estão em sua mão – ele tem controle
total sobre elas. João usa estrelas possivelmente porque no AT elas estavam ligadas com os anjos (Jó
38:7; cf. Ap 9:1), mesmo que Israel em todos os tempos estava proibida de adorar as “estrelas” (Deut
4:19), uma referência óbvia para a astrologia. Alguns estudiosos vêem aqui uma referência aos 7
membros do sistema solar dos judeus (sol, lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno) ligados com
os 7 galhos da menorah. Krodel faz uma observação interessante aqui enfatizando um possível contraste
entre as pretensões dos imperadores romanos que afirmavam seu reinado cósmico com os símbolos dos
planetas ao redor deles. No mundo antigo as estrelas eram freqüentemente vistas como poderes
(geralmente como deuses) que poderiam influenciar o curso da história e determinar o destino da
humanidade (Osborne 2002, 91-92)
g. Espada de sua boca. A menção da espada afiada de 2 gumes mostra que a imagem primária de segurar
as 7 estrelas está mais ligada com o controle do que com a proteção, aqui com uma ênfase extra de
julgamento. A imagem vem de Is 11:4 (cf. Is 49:2) que diz que o Messias (a raiz de Davi, o
galho/renovo de 11:1 sobre o qual o “Espírito de Yahweh” irá repousar em 11:2) “com suas palavras,
como se fossem um cajado, ferirá a terra; com o sopro de sua boca matará os ímpios” (Is 11:4). A
troca de “vara” por “espada” é feita para mostrar que Cristo é o portador da autoridade judicial
universal. No AT e no Apocalipse isso está conectado com o “cetro de ferro” com o qual o Messias de
Deus irá julgar as nações (Sl 2:9; Ap 19:15). A espada era uma espada larga da Trácia usada em
incursões da cavalaria como uma foice diferente de uma espada romana curta de Ef 6:17; Hb 4:12. Ela
aparece na metáfora da língua, mas uma língua grande e grotesca saindo da boca. Aqui se trata da
espada de julgamento. Em 2 Ts 2:8 na parousia Cristo vai destruir o homem sem lei com o sopro de sua
boca. A “boca” era um símbolo apocalíptico de julgamento e aqui denota a palavra de Cristo levantada
para o julgamento final. Em contraste com os cultos dos cap.2-3 e o culto imperial em particular, a boca
de Cristo fala somente a verdade e julgamento contra os inimigos da verdade, como em 2:12-16 onde a
palavra de sua boca vai fazer guerra contra a seita dos nicolaítas em Pérgamo (Osborne 2002, 92-93)
h. Face radiante. Essa descrição final resume todas as outras. Lembra Moisés quando desceu do Sinai e
sua face estava radiante porque tinha falado com Yahweh. Além disso, João esteve presente na
transfiguração de Jesus onde “sua face brilhou como o sol, e suas roupas se tornaram brancas como a
luz” (Mt 17:2). Deus é chamado de “sol e escudo” (Sl 84:11) e “o Senhor será a sua luz para sempre”
(Is 60:19). Outra vez a descrição da imagem de Yahweh no AT é aplicada ao Cristo glorificado. De
forma interessante nesse contexto o símbolo do AT também contem um elemento de julgamento (uma
função comum nos “deuses do sol” da antiga Mesopotâmia) como em Jer 43:13 “Ele despedaçará as
colunas no templo do sol”, ou na utilização apocalíptica da imagem do “sol” no AT (Is 13:10; Ez 32:7;
Jl 2:10; Miq 3:6) e no Apocalipse (6:12; 8:12; 9:2; 16:8; 19:17). Em face da imagem da espada na
descrição anterior, os temas gêmeos de glória e julgamento podem estar ligados aqui. O tema da glória
é predominante, com o tema do julgamento como secundário (Osborne 2002, 93)

13. Qual a reação de João diante da revelação que recebe? O que isso quer nos mostrar?
- a reação de João enfatiza ainda mais a presença divina. Ele caiu a seus pés como se estivesse morto. “Cair a
seus pés” diante das visões de uma divindade ou mensageiro angelical era uma reação comum (e.g., Jos 5:14;
Ez 1:28; Dan 8:17-18; 10:7-9; 1 Enoque 14:14; Mt 17:6; Jo 18:6). Deus disse a Moisés: “Você não poderá ver a
minha face, porque ninguém poderá ver-me e continuar vivo” (Ex 33:20). A reação de João enfatiza o senso de
poder apocalíptico, pois Deus/Cristo está presente em toda a sua glória. A reação normal diante de uma epifania
é cair em temor, e João reage dessa forma diversas vezes no Apocalipse (1:17; 19:10; 22:8), mesmo que as
outras 2 são diante de mediadores angelicais. É ainda mais comum cair no chão em adoração (4:10; 5:8, 14;
7:11; 11:16; 19:4), e isso poderia estar em vista aqui, mesmo que o aspecto mais importante aqui é o do temor
(Osborne 2002, 93-94)
29
- isso nos mostra que é impossível encontrar o Senhor em sua glória e permanecer como estamos. Enquanto
Jesus estava sobre a terra ele se auto-limitou por causa da encarnação e isso possibilitou que diversas pessoas o
ignorassem e até colocassem na cruz. Mas isso não vai ocorrer outra vez. As pessoas saberão com quem estão
lidando

14. Como Cristo o conforta neste estado? O que Cristo quer mostrar para João com os títulos?
- a voz ouvida é de Cristo, aquele “semelhante ao filho do homem” (1:13). Quando João toca Jesus ocorre
conforto e restabelecimento de confiança. O fato que Cristo coloca a mão direita sobre ele denota uma comissão
e conforto. Ele coloca a mão que segura as 7 estrelas sobre João. É provável que isso denote poder e controle.
Colocar as mãos é sinal de comissão onde se passa autoridade e poder (cf. At 6:6; 8:17-19; 13:3; 1 Tim 4:14;
5:22; 2 Tim 1:6; Hb 6:2). É difícil determinar quanto dessa imagem é intencional aqui, mas a utilização de sua
mão direita pode denotar parte dessa comissão (Osborne 2002, 94)
- Cristo inicia ordenando que João pare de temer. Não há necessidade de temer na presença de Deus quando a
pessoa o serve (diferente dos “habitantes da terra” em 6:16). Essa é uma reação comum a uma teofania. A base
para a confiança está no fato de quem Jesus é. A descrição usada para Deus em 1:8 agora é aplicada a Cristo.
Assim um dos propósitos é deixar claro a divindade de Cristo. Jesus é descrito como ego eimi = eu sou. Como
existem diversas nuanças a Ex 3:14 em Ap 1:4 é possível que tenhamos essa referência aqui, mas não com as
afirmações predicativas de Jo 6:35; 8:12; 10:7, 11:25; 14:6; 15:1. Não há ego eimi absolutos no Apocalipse
como no Evangelho de João (Osborne 2002, 94-95)
- Jesus é descrito como “o Primeiro e o Último”. Isso está conectado com o Alfa e o Ômega. Esse título procede
de Is 41:4; 44:6; 48:12 onde se refere a Deus como o criador de tudo e soberano sobre a história. Segundo
Bauckham Deus é antes de tudo como seu criador, e trará todas as coisas para o seu cumprimento escatológico.
Ele é a origem e o alvo da história. Ele tem a 1ª. palavra na criação e a última palavra na nova criação. No
contexto de Ap 1:17-18 essa soberania é agora estendida a Cristo (Osborne 2002, 95)
- depois Jesus é descrito como “aquele que vive” mostrando que o título anterior (Primeiro e Último) se refere
mais a Deus como ser eterno do que soberano. Esse título é comum para Deus na Bíblia (cf. Jos 3:10; Sl 42:2;
Os 1:10; At 14:15; Rom 9:26) e em Ap 4:9-10 e 10:6 ele é aquele “que vive para todo o sempre”. No AT esse
título é a antítese dos deuses pagãos que não têm vida ou poder. No Apocalipse está em contraste com os
poderes malignos que controlam somente “a morte e o Hades” (mas veremos abaixo que Deus controla também
estes). É Deus e Cristo somente que são eternos e que permitem viver no gozo eterno (Osborne 2002, 95)
- essa eternidade é exemplificada com “estive morto mas agora estou vivo para todo o sempre”, se referindo à
morte e ressurreição de Jesus. Paulo nos diz: “se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como
também é inútil a fé que vocês têm” (1 Co 15:14). O contraste entre morto e vivo quer enfatizar que ele é eterno,
utilizando o presente para afirmar “estou vivo para todo o sempre”. Existe muitas outras referências à
eternidade de Cristo nesse livro (Osborne 2002, 95-96)
- a última descrição de Cristo aqui é “tenho as chaves da morte e do Hades”, enfatizando o seu poder sobre as
forças cósmicas. Ele já venceu a morte (uma das forças). O Hades é a esfera da morte, freqüentemente o
sepulcro (Osborne 2002, 96). Cristo tem autoridade sobre essa esfera e figuradamente essa esfera está em sua
posse (Beale 1999, 214-15). As chaves proporcionam o acesso às “portas da morte” (Jó 17;16; Sl 9:13; Is 38:10)
mesmo que a idéia das chaves para o Sheol somente se desenvolvem no Judaísmo mais tardio, perto do NT. No
mundo helenista as chaves para o Hades pertenciam a Pluto, Persephone ou Hecate. Segundo Aune aqui Jesus
pode estar no lugar de Hecate (deusa da magia e feitiçaria) como aquele que controle o mundo dos mortos. Mas
de acordo com o contexto do livro é mais provável que aqui a referência seja a Jesus que com sua morte e
ressurreição venceu os poderes do mal (os poderes gêmeos da morte e do Hades) e os dominou (cf. Col 2:15; 1
Pe 3:19-20). No NT, “chave” num texto escatológico sempre tem a conotação de poder ou autoridade sobre (Mt
16:19; Ap 1:18; 3:7; 9:1; 20:1). Jesus venceu e tem o domínio sobre as forças cósmicas (Osborne 2002, 96)
- João já tinha recebido a comissão para escrever (1:11). Agora ele deve escrever em função do que viu: Jesus
venceu as forças do mal e isso precisa ser passado adiante. “Escreva, pois, as coisas que você viu, tanto as
presentes como as que acontecerão”. Aqui se refere ao passado, presente e futuro. João deve passar adiante o
passado e sua interpretação dele, analisar o presente e também o futuro

15. O v.20 no traz a chave para interpretar o significado dos símbolos. Qual o significado do anjo e do
candelabro?
- o v.20 no traz a chave para interpretar o significado dos símbolos. João escolhe falar sobre os candelabros e as
estrelas. O foco não está somente em quem Cristo é, mas também nas igrejas como recebedores do “mistério”.
O termo mistério se refere a segredos ocultos que haviam sido escondidos das pessoas no passado, mas que
30
agora haviam sido revelados por Deus. Aqui vai decifrar o significado dos 2 símbolos chaves da 1ª. visão.
Mas é mais do que um simples símbolo, já que é um mistério apocalíptico sobre Cristo e a igreja (Osborne
2002, 98)
- o 1º. símbolo nos leva as 7 igrejas em que temos: “ao anjo da igreja em ...” . O significado de anjo é altamente
debatido (Osborne 2002, 98). Existem diversas idéias sobre o que significa uma mensagem ao anjo. O
Apocalipse é um livro que é construído extensivamente sobre as fontes apocalípticas do AT (especialmente
Ezequiel, Zacarias e Daniel) onde os anjos servem como homens divinos da corte, guardiões e protetores do
povo de Deus e agentes de julgamento. Apesar de sua presença forte no livro, eles têm papéis secundários na
revelação. A profecia de João vem de Deus através de Jesus que enviou seu anjo a João (Ap 1:1-3; 22:6). Mas
os agentes da revelação são o Cristo exaltado e o Espírito (Ap 1-10) (Noll 1997, 46)
a. Os anjos são mensageiros que levam a mensagem para as igrejas. Essa visão é possível (1 Mac 1:44),
mas é pouco provável que João usaria 7 cópias separadas do livro para as igrejas ou enviaria 7
mensageiros diferentes para as igrejas (Keener 1993, 767)
b. Os anjos são aqueles que lêem a carta em público na igreja, como um mensageiro nas sinagogas. De
acordo com o ensinamento do séc. II se ele errasse em sua leitura do texto bíblico, toda a congregação
era responsável diante de Deus porque ele agia como representante da congregação (Keener 1993, 767-
68)
c. Os anjos são os mensageiros ou líderes das igrejas. Isso se encaixa com a utilização das “estrelas” no
mundo antigo para designar domínio ou soberania. Mas as cartas são endereçadas às igrejas e não a
indivíduos, e anjos no Apocalipse sempre se referem a seres celestiais (Osborne 2002, 99)
d. Os anjos refletem a tendência judaica e algumas partes do Cristianismo de adorar anjos. Assim
colocando os anjos nas mãos de Cristo, seria um lembrete para que não se adorasse os anjos, mas àquele
que controla os anjos: Cristo. Isso se encaixa bem com Ap 1:20, mas não com as cartas às igrejas
(Osborne 2002, 98-99)
e. Os anjos eram literais baseados na visão judia de anjos da guarda (Sl 34:7; 91:11; Dan 10:13-21; Mt
18:10; At 12:13; Hb 1:14), e as estrelas representando os anjos (Jó 38:7; Is 14:12-13) que cada pessoa e
nação tinha o seu anjo da guarda (padroeiro). Poderia ser um príncipe angelical que se identifica
fortemente com a igreja a ponto de ocasionalmente João se dirigir a ele na 2ª. pessoa do plural (vós)
(Ap 2:10, 13). Esses anjos não são necessariamente santos, pois são chamados a se arrependerem. Seria
algo parecido com a idéia de espíritos das nações (territoriais?). No AT algumas vezes os anjos estavam
colocados sobre as cidades e que influenciavam a liderança dessa cidade. Em Sl 82 esses anjos como
também os líderes das nações são chamados a prestar contas. Essa idéia está mais forte no AT que no
NT. Os anjos das nações perversas seriam julgados juntamente com as nações que levaram para o mau
caminho. Assim seriam anjos literalmente. O problema é que as cartas tratam de situações
problemáticas nas igrejas exigindo o arrependimento de muitos. Isso seria estranho se aqui se trata de
um anjo literal (Keener 1993, 768; Noll 1997, 46; Osborne 2002, 98)
f. Os anjos seriam correspondentes celestiais para realidades terrenas (as igrejas), simbolizando a
importância celestial das igrejas da mesma forma como os candelabros o faziam: isso se encaixaria com
a imagem apocalíptica (Keener 1993, 768). Os anjos seriam usados para mostra o caráter espiritual das
igrejas e para tratar nas necessidades espirituais das igrejas. O símbolo dos candelabros, no entanto,
aponta para igrejas reais o mesmo possivelmente com os anjos (Osborne 2002, 98).
g. Os anjos poderiam representar a personalidade corporativa e vocação de cada igreja (Wink in Noll
1997, 46)
Fica difícil optar entre as possibilidades. O termo “anjo” no Apocalipse torna difícil interpretá-los como seres
humanos. Não existe muita evidência de culto aos anjos nas 7 igrejas. Portanto, possivelmente devemos ver
uma combinação de opções. “Estrelas” era um símbolo para domínio e para anjos. No mundo helenista, as
estrelas eram deuses e no mundo judaico, representavam forças angelicais. Assim essas estrelas eram os anjos
responsáveis para cada igreja, mas também eram identificados corporativamente com as igrejas. Num sentido se
pedia que eles interviessem nas necessidades espirituais da igreja; em outro eles representavam as igrejas
(Osborne 2002, 99). Assim as estrelas são os anjos que receberam autoridade sobre as igrejas e estão
corporativamente identificados com cada igreja (Osborne 2002, 101)
- o 2º. símbolo usado aqui é candelabro (visto em 1:12). O candelabro era uma representação da menorah
judaica, ou candelabro de 7 luzes identificado aqui como as 7 igrejas. A conexão entre anjos e igrejas fica
evidente nos cap.2-3. O ponto central é que Cristo é responsável por ambos. Cristo “está no meio” dos
candelabros e “segura” as estrelas “em sua mão direita” (1:16). Em ambos os casos Cristo está no controle:
soberano sobre os anjos e as igrejas que representam e servem em meio a sua situação precária num mundo mau
que os despreza e persegue. Ao mesmo tempo eles devem são responsáveis por perseverar e permanecer fiéis
durante a sua jornada, como veremos nas cartas (Osborne 2002, 99)
31
16. Quais são os temas centrais desse capítulo? Será que tem algo a ver conosco em pleno séc. XXI?
- o que vemos nesse capitulo introdutório são 2 temas presentes em toda a passagem: o Cristo glorificado e a
igreja que está debaixo do seu controle e cuidado. Cristo é retratado como cumprimento da simbologia do AT e
das esperanças apocalípticas. As descrições não são literais, mas simbólicas daquele que é o Messias e ao
mesmo tempo divino. Há um governante e juiz divino sobre o mundo e sobre a igreja. A igreja está debaixo do
seu controle tanto de modo positivo (justificação e recompensa) e negativo (advertência e prestação de contas).
Deus está no controle da história e é soberano, mas agora esse domínio é passado adiante para o Cristo
glorificado. João, no exílio, mostra que a igreja passa por dificuldades e deve perseverar até o fim. Esse livro
fala muito sobre o sofrimento pela fé, que está distante da maioria de nós. Mas existem alguns pontos
importantes a considerar sobre este assunto:
a. Milhões de cristãos no mundo sofrem perseguição. A Bíblia nos ordena a ter empatia com eles e orar
por eles (Rom 12:15; Hb 13:3)
b. À medida que a sociedade se torna cada vez mais secular, a perseguição pode vir a nós em breve.
Devemos estar preparados a qualquer hora para enfrentar o sofrimento e vencer
c. Devemos nos perguntar se estamos deixando de defender a nossa posição como cristãos para sermos
aceitos pelas pessoas ao nosso redor
d. Perseguição é um tipo de provação (1 Pe 1:6-7; Tg 1:2-4) e podemos aplicar esses princípios às
provações da vida. Todos passamos por tempos difíceis e tanto a perseverança como a fé são
necessárias em todos os tempos. O outro lado da moeda das provações é a vitória sobre o pecado e a
tentação. Todos precisamos disso em nossa caminhada com Deus (Osborne 2002, 100)
32
Ap 2:1-3:22
- os cap.2-3 apresentam mensagens específicas para 7 igrejas da Ásia Menor, que vão receber todo o livro do
Apocalipse. Cada cidade tem a sua característica particular e por isso cada carta também tem algo direcionado
especificamente para a igreja nesta cidade

1. De que forma a introdução da carta (Ap 1:1-20) conecta com as cartas para as igrejas?
- o prólogo (1:1-8) e a visão inaugural (1:9-20) estabelecem o tom e introduzem os personagens principais do
restante do livro: as forças do bem (Cristo e as igrejas) e do mal (os governantes do mundo e os poderes
cósmicos). Vimos que, de fato, Jesus é glorificado e controla não somente as igrejas (1:12-13, 16), mas também
os governadores seculares (1:5) e as forças do mal (1:18). Assim o palco está montado para as cartas às igrejas
da Ásia Menor, detalhando os efeitos do conflito entre o bem e o mal na vida dos cristãos, contra quem o
mundo luta. Aqui continua se tratando de uma visão de João. Elas são a mensagem enviada de Cristo para as
igrejas. Os cap.2-3 são parte da visão introdutória de 1:9-3:22 (Osborne 2002, 104)

2. Veja a fórmula básica das 7 cartas. O que podemos aprender dessa fórmula?
- a carta tem a seguinte estrutura (Osborne 2002, 105-6)
I. Introdução
A. Destinatário: ao anjo da igreja ... escreve
B. Fórmula profética e caráter de Cristo: estas são as palavras daquele que ...
II. Corpo da carta: consiste da análise dos pontos fortes e fraquezas, cada uma com uma fórmula introdutória
A. Pontos fortes: conheço as tuas obras
B. Pontos fracos: mas tenho contra ti ...
C. Solução: ordens imperativas para se arrepender, etc.
III. Conclusão
A. Chamado para ouvir: ouça o que o Espírito diz às igrejas
B. Desafio para vencer: aquele que vencer + promessas escatológicas para os vencedores

- existe algo interessante nessa fórmula. João deixa muito claro tanto no início, como no fim da carta quem está
escrevendo: trata-se de Cristo e do Espírito falando às igrejas. Assim ninguém deve pensar que João estaria
querendo passar um recado da parte dele para a igreja. Para que ninguém tenha dúvida disso a apresentação de
Cristo ocorre com uma fórmula profética do AT, levando os leitores a ligar este livro com o AT. Depois é útil
começar com os pontos fortes de uma igreja – reconhecer o que Deus está fazendo na igreja. Depois abordar os
problemas e apresentar soluções, chamando a igreja a se arrepender e mudar de ação. Depois o chamado é para
ouvir/praticar. A ênfase é específica, mas a aplicação é para todas as igrejas. Por final um incentivo para o
vencedor, para aquele que persevera até o final
- João conhece as igrejas para quem escreve e vai falar a cada uma em particular, mas também aborda os
problemas de uma forma geral das igrejas da Ásia Menor. Essas igrejas são centros de disseminação de
informação para as outras igrejas da região. Assim sendo seus problemas são os problemas das igrejas de modo
geral. Toda carta termina com a frase; “ouça o que o Espírito diz às igrejas”, indicando que devem dar atenção
a cada uma das advertências e aplicar no seu contexto (Osborne 2002, 104-5)
- existe ainda uma teoria que precisa ser abordada, que é o dispensacionalismo clássico. Ela diz que não se trata
de igrejas reais, mas os escritos são absolutamente proféticos, falando de 7 períodos da história da igreja:
Éfeso = igreja primitiva
Esmirna = o período da perseguição na era patrística
Pérgamo = o período de Constantino
Tiatira = a Idade Média
Sardes = a Reforma
Filadélfia = os séc. XVIII e XIX
Laodicéia = a era moderna (a apostasia crescente antes da volta de Cristo (Osborne 2002, 105)
Thomas apresenta 3 razões para essa teoria:
a. as condições morais são tão variadas que não podem simplesmente retratar as igrejas no tempo de João;
b. a atmosfera profética se estende para adiante do séc. I;
c. especialmente as últimas 3 igrejas se estendem até a parousia
Assim segundo ele os elementos comuns entre os períodos da história da igreja com as 7 igrejas não seria
acidental (Osborne 2002, 105).
- mas também existem muitos argumentos conta essa teoria:
a. os períodos da história da igreja não se encaixam tão bem como se argumenta. Fica claro pelos detalhes
que se tratam de cartas que refletem a situação na Ásia Menor e para todas as épocas da história da
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igreja. A situação da igreja de Sardes, por exemplo, poderia ser aplicada para qualquer época
(Osborne 2002, 105; deSilva 2004, 886). As cartas são endereçadas a igrejas reais que entendem a carta
no seu tempo e são motivadas a reagir às suas circunstâncias reais no seu contexto (deSilva 2004, 886)
b. fica muito difícil definir os padrões gerais da igreja global em uma determinada época com apenas 7
versículos (deSilva 2004, 886)
c. esse modelo acaba presumindo que Deus somente estaria interessado na igreja ocidental até a Reforma
e depois dela com as igrejas protestantes, em grande parte nos EUA. Se Deus estivesse dando a
mensagem para a igreja de Laodicéia para caracterizar o período atual da igreja, ele não estaria dando
atenção a milhares de cristãos em outras partes do mundo que são fiéis a ele em meio a grandes
perseguições e cujo entusiasmo pelo evangelismo muito mais se assemelha a igrejas como Esmirna e
Filadélfia do que Laodicéia (deSilva 2004, 886)
d. não há nada no texto que sugira que as 7 igrejas representem 7 épocas da história da igreja. Essa
interpretação surge dos “experts” em profecias que afirmam que o grosso do livro de Apocalipse (cap.4-
22) se refere a eventos futuros (deSilva 2004, 886). Já vimos que a melhor forma de interpretar o livro
seria uma abordagem hermenêutica eclética onde pegamos elementos das diversas linhas de
interpretação para fazer justiça ao livro

3. João escreve algo específico para cada igreja. Alguns aspectos históricos da cidade se refletem na igreja. O
que isso está querendo nos mostrar?
- algo interessante é notar que cada igreja recebe a mensagem baseada na história da cidade. É difícil imaginar
uma maneira mais criativa e eficiente do que esta. Cada morador na respectiva cidade é lembrado que eles são
parte do mundo em que vivem, pois as igrejas geralmente têm uma semelhança muito grande com a sua cidade.
Isso está em concordância com o padrão do NT em que os crentes são chamados para ser cidadãos do céu, mais
que da terra (Fp 3:17-21), buscando os tesouros celestiais e não os da terra (Mt 6:19-20), e se considerando
como peregrinos e estrangeiros nessa terra (1 Pe 1:1, 17; 2:11) (Osborne 2002, 109-10)
- a igreja tende a absorver a cultura da cidade onde se encontra. Isso significa que se a igreja não tomar cuidado
ela passa a ser como um clube da cidade que existe para defender os interesses dos membros. A igreja é
diferente pois está a serviço de Jesus no mundo, já que é o corpo de Cristo. Assim se ela não se auto-analisar
continuamente vai adotar os padrões do mundo, como veremos a seguir
- as pessoas que participam da igreja ainda assim têm uma vida na cidade onde os valores da cidade são
enfatizados e absorvidos. Facilmente a igreja nem percebe como se tornou cativa dos valores da cidade. A
solução para isso é contato a Palavra de Deus e com outras igrejas para se tornar consciente dessa influência

4. A Ásia Menor é hoje a Turquia, um país com uma porcentagem muito pequena de cristãos. Estima-se que
no país todo haja em torno de 2000 cristãos. Um local de igrejas vivas, se tornou um cemitério de igrejas. O
que aconteceu? O que isso quer nos ensinar?
- nos cap.2-3 do Apocalipse, João escreve cartas específicas a algumas igrejas da Ásia Menor (hoje Turquia). A
maior parte das igrejas mencionadas surgiram através do trabalho direto ou indireto de Paulo
- a Ásia Menor já foi um local fortemente dominado pelo evangelho. Grande parte das viagens de Paulo foram
nessa região. Hoje a Turquia é um país com poucos cristãos. Em 1900 havia cerca de 22% de cristãos – no
início da década de 90 eram 0,2% dos quais ainda muitos eram estrangeiros. Em 1960 só havia cerca de 10
turcos cristãos conhecidos. No início dos anos 90 estimava-se que havia cerca de 500 (Johnstone 1993, 542), e
no ano 2000 eram em torno de 2000 divididos em 34 comunidades (Johnstone 2003, 656)
- um passado brilhante ainda não indica um futuro brilhante. O trabalho na igreja é realizado pela igreja sob
orientação da liderança. Basta uma liderança que pensa em se perpetuar no poder, para que em poucos anos a
igreja perca totalmente o seu foco. A igreja deixou de ser profética e absorveu os valores da cultura local
muçulmana. As pessoas da igreja não conseguiram transmitir a sua fé adiante para os outros membros de sua
família, e com o decorrer do tempo, a fé em Deus praticamente deixou de existir. Isso quer nos mostrar que
mesmo o Brasil tendo uma população evangélica bastante expressiva no presente, pode no futuro se tornar um
deserto espiritual se não treinarmos lideranças a amarem a Bíblia e terem uma visão missionária

Igreja de Éfeso (Ap 2:1-7)


- juntamente com Roma, Alexandria e Antioquia da Síria, Éfeso era uma das cidades mais importantes do
Império Romano, tendo mais de 250.000 habitantes. Tornou-se uma grande cidade depois que foi capturada em
550 AC por Croesus que contribuiu muito para a reconstrução do templo de Ártemis e o estabelecimento da
cidade. Alexandre, o Grande, transferiu a população da região do templo para o porto da cidade, e a cidade se
desenvolveu bastante. O templo foi queimado, mas reconstruído no séc. IV AC se tornando uma das 7
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maravilhas do mundo antigo. Éfeso se tornou rapidamente um centro de comércio para a Ásia Menor
ocidental, uma das regiões mais prósperas no Império Romano. Durante o reinado de Antíoco III (197 AC) se
tornou a capital da região. Os romanos a conquistaram em 133 AC, mas houve grande resistência da cidade a
isso. Ela se rebelou contra os romanos, mas foi dominada em 69 AC. Depois disso as coisas sossegaram e Éfeso
brigava com Pérgamo pela proeminência como capital dessa província. Éfeso se tornou a maior cidade da
região com grandes construções e uma vida econômica e religiosa muito ativa. Três grandes rotas comerciais
passavam pela cidade (Osborne 2002, 108). A rota que atravessava a Ásia Menor acabava em Éfeso (Wilson
2002, 260)
- do ponto de vista religioso, Éfeso era conhecida por causa do seu templo à deusa da fertilidade, Ártemis (para
os romanos, Diana). O templo (veja At 19:23-41) estava fora da cidade e tinha literalmente milhares de
sacerdotes e sacerdotisas, muitas delas prostitutas cultuais. Talvez fosse a maior construção do mundo antigo,
sendo todo feita de mármore. O templo tinha dimensões incríveis: 130m de comprimento, 61m de largura e 127
colunas de 18m de altura sustentando o prédio. Havia doações e ofertas tão volumosas que a tornaram o centro
da riqueza de Éfeso e a líder da província da Ásia. O templo também guardava uma estátua da deusa que
supostamente era um meteorito que caiu do céu. Não era uma escultura como outras esculturas helenistas, mas
uma pedra preta sem forma. O poder dessa deusa é visto no tumulto de At 19:23-24 gerado simplesmente pela
afirmação: Grande é Ártemis dos efésios (At 19:28). Éfeso tinha muitos templos sagrados, incluindo o templo
ao imperador. O culto ao imperador era forte na cidade. Durante o tempo de Domiciano (81-96 AD) Éfeso foi
chamado de “guardião do templo”, sendo o promotor do culto ao imperador. At 19:19-20 também nos fala que
havia muito interesse na magia e feitiçaria na cidade (Osborne 2002, 109). Milhares de pessoas vinham na
primavera de cada ano para as celebrações anuais em torno de Ártemis, lembrando as peregrinações anuais para
Jerusalém. Mesmo que o culto à Ártemis não é mencionado no Apocalipse, permaneceu como opositor do culto
cristão na cidade até a destruição do templo em 262 AD. A cidade tinha no mínimo 14 outras divindades
cultuadas identificadas através dos templos. Assim a igreja luta contra um paganismo muito forte na cidade
(Wilson 2002, 260)
- Éfeso também tinha uma população judia significativa. Estes chegaram a ser considerados cidadãos da cidade.
Parece que a igreja foi estabelecida por Priscila e Áquila que foram deixados por Paulo na cidade em torno de
52 AD e foram ajudados por Apolo (At 18:18-25). Depois Paulo volta e fica 2 anos e 3 meses na cidade (At 19),
aparentemente usando Éfeso como um centro para evangelizar toda a região (19:10). Mais tarde a igreja luta
com falsos mestres (Ef 4:14; 1 Tm, 2 Tm; talvez 1 Jo), o que vemos também em Ap 2:2, 6 (Osborne 2002, 109)

Comissão para escrever


- ao “anjo da igreja escreve”. Vimos que o anjo aqui se trata do guardião sobre a cidade e corporativamente
identificado com a cidade. Assim a carta é enviada à igreja de Éfeso via o anjo. Isso está de acordo com Ap 1:1-
2 onde temos o Apocalipse enviado por Deus através de Cristo para João, que por sua vez deve repassar para as
igrejas. Assim o anjo tem a função de mensageiro para a igreja. No entanto, no NT anjos são mais do que
mensageiros. Em algumas passagens (1 Co 11:10 [talvez se anjos ali são anjos bons e não maus]; Hb 13:2; 1 Pe
1:12), anjos atuam como testemunhas autoritativas supervisionando o plano de Deus operando entre o povo de
Deus. Sua presença aqui acrescenta uma força escatológica para a mensagem como lembrete que existem forças
divinas atuando e observando (Osborne 2002, 110-11)
- Mundle nota 4 funções dos anjos nessas 7 cartas:
a. Existe uma identidade corporativa entre o anjo e a igreja, com o anjo (singular) se referindo à igreja
como um todo e cada pessoa dentro dela;
b. Já que cada igreja é distinta, com suas características singulares, precisávamos de cartas separadas para
cada anjo ligado com a igreja;
c. A presença do anjo implica que a igreja é uma entidade espiritual com uma vida celestial vivendo de
modo figurado à direita de Cristo, debaixo de sua orientação e proteção;
d. Eles são servos de Deus executando suas ordens de reformar, desafiar e ajudar essas igrejas (in Osborne
2002, 111)

1. A igreja de Éfeso se orgulha de ser uma igreja-mãe. Como o caráter de Cristo citado se encaixa com a igreja
dentro dessa cidade?
- a igreja de Éfeso estava orgulhosa de sua posição como metrópole da Ásia (como era chamada, mas também
como igreja-mãe da região). Assim é a 1ª. a receber a carta, não por causa do seu status, mas porque a rota para
as igrejas naturalmente inicia por ela (Osborne 2002, 111). Ela também teve um papel importante no início da
igreja nessa região, já que se tornou o centro da missão da missão de Paulo e residência de João. Éfeso tinha o
melhor porto da região e por isso era a porta de entrada para essa região da Ásia Menor (Beale 1999, 228-29)
- “isso é o que diz” – trata-se de uma fórmula profética construída segundo o padrão do AT, que introduz Cristo
em todas as cartas [isso implica que temos profecias sobre as igrejas e não somente cartas (Beale 1999, 229)].
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Fica evidente que o caráter de Cristo citado é escolhido a dedo para tocar nas necessidades da igreja. Aqui vai
lembrar a igreja de Éfeso das verdades essenciais que eles estão negligenciando. Já que Éfeso é a igreja mãe,
precisa levar em conta que Cristo e não ela própria, “segura as 7 estrelas” e “anda entre os candelabros”. Não há
espaço para orgulho, pois Cristo sozinho é soberano, não a igreja (1:16, 13). Cristo anda no meio das igrejas.
Isso mostra a sua preocupação/cuidado com a igrejas e sua autoridade sobre ela. O aspecto disciplinar de Cristo
está presente na carta que alerta o que Cristo poderá fazer: “virei a você e tirarei o seu candelabro do lugar
dele” (2:5) (Osborne 2002, 111-12). Já que Cristo anda entre as igrejas ele as conhece profundamente (Beale
1999, 229)

2. Quais são as virtudes dessa igreja? O que significam?


- as 5 igrejas que têm pontos fortes iniciam essa seção com “conheço as tuas obras” (2:2, 19; 3:1, 8, 15). A
palavra usada oida não se trata meramente de conhecer fatos nesse contexto. Quando Jesus é sujeito desse verbo
se refere a um certo conhecimento intuitivo. É isso o que ocorre no Apocalipse onde essa palavra ocorre 7 vezes
(2:9, 13; além das 5 acima), sempre com a idéia de conhecimento absoluto. Nesse mesmo texto a palavra
ginosko = conhecer também aparece 4 vezes (2:23, 24; 3:3, 9) mas não possui Cristo como sujeito. Quando oida
e ginosko são usadas com a humanidade como sujeito a distinção desaparece (Osborne 2002, 112)
- conheço as tuas obras. Erga = obras, não se refere simplesmente a boas obras, mas a toda a caminhada
espiritual do crente. Aqui as obras são definidas como trabalho árduo (2:2b) e perseverança (2:3). O termo para
trabalho árduo é usado por Paulo para designar o trabalho difícil para se sustentar (cf. 1 Ts 2:9; 2 Ts 3:8; 1 Co
15:58). É usado 2 vezes no Apocalipse (2:2; 14:13) para o trabalho dos cristãos que vai ceifar recompensas.
Perseverança também é combinado com “trabalho” e “trabalho/esforço árduo” em 1 Ts 1:3 e os 3 podem ser
vistos como descrevendo a vida cristã (Osborne 2002, 112-13)
- o trabalho bem sucedido da igreja de Éfeso continha uma batalha com os falsos mestres, uma situação já
presente em Efésios (4:14), Colossos, as Epístolas Pastorais, e 1 João como um problema contínuo na Ásia
Menor:
a. Eles não toleram os homens maus. O caráter dessas pessoas é descrito como mau, se referindo ao mal
moral e espiritual (ambos os aspectos são evidenciados nas 7 cartas). Os efésios não suportavam esses
homens. A palavra pode significar suportar calor intenso (Mt 20:12) ou suportar as fraquezas dos outros
(Rom 15:1). Os efésios não suportavam esses falsos mestres (Osborne 2002, 113)
b. Baseado nos mandamentos do AT eles testaram as afirmações dos falsos mestres, para ver se eram
válidas. O mesmo significado temos em 1 Jo 4:1-3 onde os “espíritos” dos falsos mestres devem ser
provados para ver se provêm de Deus (veja também Mt 7:15-20; 1 Ts 5:21). Esses falsos mestres
poderiam ser:
i. Judaizantes de Jerusalém como em Gálatas ou 2 Coríntios;
ii. Mestres itinerantes ou evangelistas;
iii. Um partido libertário de Paulo;
iv. Mestres de uma forma geral que se opunham a João;
v. Nicolaítas de 2:6, 14. Essa opção é a mais provável por causa do contexto (Osborne 2002, 113)
Aparentemente esses heréticos agiam como missionários/mestres itinerantes indo de igreja (nas casas) a igreja
se autodenominando apóstolos. Paulo tinha advertido os efésios que “lobos ferozes penetrarão no meio de vocês
e não pouparão o rebanho” (At 20:29). Essa profecia se cumprira mais uma vez, e ao contrário do que vemos
em 1 e 2 Timóteo, a igreja de Éfeso tinha triunfado nesse quesito (Osborne 2002, 113)
- na igreja primitiva o termo apóstolo era usado de 2 formas: para designar os líderes escolhidos por Deus para a
igreja (os 12, Paulo e alguns outros como Barnabé [At 14:14], e Tiago [Gal 1:19]), e de uma forma geral para
descrever os representantes das igrejas que viajavam de lugar a lugar com a autoridade completa da igreja
enviadora (e.g. 2 Co 8:23; Fp 2:25). Não sabemos qual postura adotavam. Alguns oponentes de Paulo são
denominados de “super-apóstolos” talvez de forma irônica (2 Co 11:5; 12:11) e certamente não se viam
inferiores a Paulo. Aqui possivelmente temos esse tipo de apóstolos que se autodenominavam líderes/mestres
escolhidos por Deus para a igreja. A igreja testou suas afirmações e elas continuavam sendo falsas. Eles eram
um bando de mentirosos pretendendo ser algo que não eram. Mais tarde Éfeso seria conhecida como uma igreja
que não tolerava os falsos mestres (Osborne 2002, 114)
- o problema dos falsos apóstolos/mestres era comum nas igrejas. Eles não eram muito facilmente identificados
já que operavam camuflados de “apóstolos de Cristo” e “servos da justiça”: “13 Pois tais homens são falsos
apóstolos, obreiros enganosos, fingindo-se apóstolos de Cristo. 14 Isto não é de admirar, pois o próprio
Satanás se disfarça de anjo de luz. 15 Portanto, não é surpresa que os seus servos finjam que são servos da
justiça. O fim deles será o que as suas ações merecem” (2 Co 11:13-15) (Beale 1999, 229). De forma parecida 1
João alerta que os anticristos saíram de dentro da igreja. As pessoas poderiam até conviver com eles dentro da
igreja e depois se desviam para doutrinas estranhas. Como são disfarçados não são percebidos claramente até
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que fizeram um grande estrago. No Brasil a questão de não julgar principalmente as profecias dadas nas
igrejas levam a uma situação como estas
- agora João vai falar de sua perseverança. Aqui se trata de perseverança paciente em tempos de provação. Num
certo sentido “vencer” (2:7, 11, 17, 26; 3:5, 12, 21) é o resultado de um processo de perseverança. Juntos
formam um dos temas mais importantes do Apocalipse. O termo perseverança ocorre 7 vezes (1:9; 2:2, 3, 19;
3:10; 13:10; 14:12), sempre no contexto da dominação do mal. É combinado com o temo fé (13:10), obediência
e fé (14:12) e amor e fé (2:19). É um conceito abrangente que se refere a uma vida de confiança e perseverança
paciente em tempo difíceis. Cristo vai adiante em sua descrição dizendo que eles têm “suportado sofrimentos
por causa do meu nome” (2:3). Eles permaneceram fiéis a Cristo em meio à perseguição (1:9) e ensinamentos
falsos (2:2), uma ênfase freqüente no NT (Mc 13:13; Mt 10:22; Jo 15:21; 1 Pe 4:14). Sofrer merecidamente é
diferente do que sofrer pelo nome de Cristo ou por ter permanecido fiel a ele (Osborne 2002, 114-15)
- a igreja de Éfeso “suportou sofrimentos”. Seu trabalho árduo os levou à exaustão causada pela perseguição e
pelas batalhas contra os falsos mestres. Os efésios se mantiveram firmes na ortodoxia e triunfaram sobre os
hereges mantendo seu estado de alerta espiritual (Osborne 2002, 115)

3. Quais são as fraquezas da igreja? O que significam?


- agora João fala de um problema que ameaça a vida da igreja. “Contra você, porém, tenho ...” descrevendo os
problemas espirituais e morais da igreja. Isso acaba mostrando a insatisfação divina com a situação e o
julgamento futuro que virá se a situação não mudar. Os efésios abandonaram o primeiro amor. Isso significa o
amor que eles tinham no início, logo depois da conversão. Eles perderam o primeiro entusiasmo e alegria em
sua vida cristã e se satisfizeram com a ortodoxia fria com uma força superficial ao invés de profundidade.
Possivelmente a 2ª. geração deixou de lado o fervor da 1ª. Cumpriu-se a profecia de Jesus: “o amor de muitos
esfriará” (Mt 24:12) (Osborne 2002, 115)
- mas que amor é esse?
a. O amor horizontal entre irmãos. “Os convertidos em Éfeso tinham experimentado este amor nos
primeiros anos de sua nova existência; mas a sua luta com os falsos mestres e seu ódio contra ensinos
heréticos parece que trouxeram endurecimento aos sentimentos e atitudes rudes a tal ponto que levaram
ao esquecimento da virtude cristã suprema que é o amor. Pureza de doutrina e lealdade não podem
nunca ser substitutos para o amor” (Ladd 1986, 32)
b. O amor a Deus
c. O fracasso em demonstrar o amor a Deus através do seu testemunho para o mundo (Beale 1999, 230-
31)
d. O amor a Deus e a Cristo não podem ser separados do amor entre irmãos. O resumo da lei diz isso:
“Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de
todo o seu entendimento e ame o seu próximo como a si mesmo” (Lc 10:27) (Osborne 2002, 115-16)
Tanto o amor a Deus/Cristo quanto o amor aos irmãos é incentivado em todo o NT. Um exige o outro. Não
podemos amar a Deus sem amar os seus filhos (1 Jo 2:9-10; 4:16, 20-21). Numa passagem paralela a esta em 1
João, o amor era o teste para a ortodoxia (2:7-17; 3:10-24; 4:7-5:3). Fica evidente que os efésios amavam mais a
verdade do que amavam a Deus e uns aos outros. Seu primeiro amor havia esfriado e trocado por uma busca
zelosa pela ortodoxia (Osborne 2002, 116). Aparentemente em sua busca por pureza doutrinária haviam passado
a odiar a pessoa e não as suas obras (“odiar as práticas dos nicolaítas”). De odiar o pecado para odiar a pessoa é
somente um passo pequeno e fácil. Ao perder esse amor fraterno, os efésios estavam deixando de amar ao
próprio Senhor (Mt 22:37-38; 1 Jo 2:9-11; 3:10, 14s; 4:17s; 4:2-s; 5:1). Deixar de amar o próximo, mesmo que
este esteja em erro grave, significa deixar de amar a Cristo (Stam 1999, 89)
- essa igreja havia sido um modelo de amor cristão: “do amor que demonstram para com todos os santos” (Ef
1:5; veja também At 19:10-20, 30-31; 20:17-38), mas agora tinha esfriado e endurecido. Sem o amor os
trabalhos se resumiam ativismo sem sentido. Sem o amor nem o êxito nem o prestígio tinha o menor valor (cf. 1
Co 13:1-3) (Stam 1999, 88)
- Packer nos adverte que muitas vezes podemos cheirar doutrinas estranhas a uma milha de distância, mas o
fruto da experiência pessoal com Deus muitas vezes é raro em nossas vidas (in Keener 2000, 113). Podemos ser
tão zelosos pela doutrina que montamos um cavalo de batalha sobre assuntos que não são tão centrais. Com isso
nos tornamos amargos uns contra os outros ao invés de olhar as Escrituras juntos e debater como irmãos alguns
dos temas onde podemos discordar, pois não são centrais para a salvação das pessoas

4. Que solução é apresentada por Cristo para resolver o problema?


- nas cartas onde há problemas sérios, a solução contém uma série de imperativos exigindo o arrependimento e
mudança, seguido de um aviso de julgamento, caso não se arrependam (Osborne 2002, 116)
- a 1ª. coisa a fazer é se lembrar. Eles devem trazer a memória o passado e mudar a sua ação. Eles devem voltar
atrás e lembrar sua experiência passada do 1º. amor. Muitas vezes na Bíblia o termo “lembrar’ é usado para
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“retomar os padrões morais e espirituais do passado” (Is 44:21; 46:8-9; Miq 6:5; Rom 15:15; Gal 1:6-9; 3:2-
3; 5:7; 1 Ts 1:5-10; 2:13-14; 4:1-2). Eles devem se lembrar de onde caíram (o quão longe caíram ou a altura da
qual caíram). Pode haver aqui algum paralelo com Is 14:12 “Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho
da alvorada! Como foi atirado à terra, você, que derrubava as nações!” Veja a conexão com as estrelas em Ap
1:10 e a expulsão de ⅓ das estrelas pelo dragão em 12:4. Isso seria para enfatizar o seu amor no passado e seu
estado presente de frieza (Osborne 2002, 116-17)
- olhar para trás pode ser pecaminoso, como no caso da mulher de Ló. Olhar para os pecados dos quais fomos
libertos pode atrair o desastre. Mas podemos olhar para o caminho que o Senhor andou conosco e ver o que já
tínhamos alcançado é o primeiro passo na estrada do arrependimento (Stott 1999, 24)
- a única resposta é se arrepender, uma resposta baseado no “lembrar”. Depois de lembrar eles devem se
arrepender e agir. A igreja está sendo chamada para refletir sobre suas ações passadas. Isso os convencerá dos
seus erros no presente e os levará a se arrepender e mudar as ações. Lembrar é a base para o arrependimento. O
lembrar (pres.) deve levar a repetidos atos de arrependimento (aor.). Arrependimento no NT indica uma
mudança de coração envolvendo o repúdio do passado e a adoção de um novo estilo de vida. É essa a maneira
de reação diante dos problemas espirituais da igreja. Trata-se aqui de uma volta ao passado para praticar as
primeiras obras. Não se trata somente de boas ações, mas atos de amor para com Deus e o próximo que
caracterizam a igreja primitiva. Sua luta contra os hereges certamente pode ser construída como sendo uma ‘boa
obra’, mas não sendo acompanhada pelo amor (veja 1 Co 13:1-2) foi insuficiente. Ortodoxia sem ortopraxia é
uma religião falsa (Osborne 2002, 117)
- o mais importante não é o que os efésios sentem em relação a si mesmos, mas o que fazem a respeito dos seus
pecados. Eles não devem esperar até que estejam na pior. Devem se lembrar de como começaram a caminhada
com Cristo e agora rejeitar o que não está bem em sua conduta. Eles não precisam de uma experiência
emocional para mudar de rumo. Agora que estão cientes do seu desvio devem voltar para o primeiro amor (Stott
1999, 26)
- a descrição inicial de Jesus como tendo as 7 estrelas em sua mão denota a provisão disponível para a igreja
voltar ao seu status de igreja que testemunha (Beale 1999, 231) e que vive o evangelho

5. A igreja pode optar se quer atender ao que Cristo está dizendo para ela. Mas sua decisão trará
conseqüências. O que vai acontecer se eles não derem ouvidos à sugestão de Cristo? O que isso quer dizer
na prática?
- para deixar a coisa muito clara João reafirma o que disse de forma negativa: se você não ... ; a não ser que se
arrependa. As duas frases condicionais enfatizam a maneira de sair desse dilema: arrependam-se. O julgamento,
caso seu pedido não seja atendido é muito severo: Deus vai remover o candelabro. “Virei a ti” poderia significar
a vinda escatológica de Cristo, ou então um julgamento particular sobre a igreja. Aqui possivelmente pode ser
os dois. A vinda atual poderia ser um arauto de sua vinda para o julgamento final (Osborne 2002, 117-18)
- mas o que poderia ser a remoção do candelabro?
a. seria a perda do seu testemunho, baseado na conexão anterior de testemunho da igreja e candelabro
(1:12)?
b. Seria uma advertência contra a apostasia e subseqüente perda do status de igreja?
A seriedade da linguagem de advertência em todo o livro favorecem a 2ª. (Osborne 2002, 118). Hemer indica
que o termo julgamento aqui tem uma conotação muito forte já que no passado a cidade tinha sido movida 3
vezes de local. O perigo seria que a grande cidade portuária e sua igreja vigorosa fosse movida de volta debaixo
do poder mortal do templo (Hemer 1986, 53). Da mesma forma como a cidade lutava pela sua sobrevida contra
o assoreamento do porto, a igreja estava lutando por sua vida contra a perda de status de igreja diante de Deus.
Felizmente Inácio nos conta que a igreja atendeu à advertência e se arrependeu e se tornou uma igreja ativa
(Osborne 2002, 118-19). Mas um viajante que passou pela região na Idade Média, encontrou apenas 3 cristãos
ali “e estes imersos em tamanha ignorância e apatia a ponto de mal terem prestado atenção aos nomes de Paulo
e João” (Stott 1999, 27). Hoje a Turquia tem pouquíssimos cristãos. Anos de dominação muçulmana
erradicaram basicamente o Cristianismo dessa região. A igreja pode ser removida
- possivelmente Hughes tem razão quando diz que se uma igreja não cumpre mais o seu papel, Deus vai
escolher outra para ser luz no mundo (in Osborne 2002, 119). “Nenhuma igreja tem um lugar seguro e
permanente neste mundo. Ela está continuamente em julgamento” (Stott 1999, 26-27). Assim como Israel no
passado, Éfeso pode ser removida. Israel se recusou a ser luz para as nações por gerações o que levou Deus a
optar pela igreja (Beale 1999, 231).
- “A advertência a Éfeso é perfeitamente apropriada para nós hoje. A luz de nossa própria igreja se apagará, se
perseveramos obstinadamente em recusar o amor de Cristo. A Igreja não tem luz sem amor. Somente quando
seu amor acende sua luz poderá brilhar. Muitas igrejas hoje cessaram verdadeiramente de existir. Seus edifícios
podem permanecer intactos, seus pastores podem continuar pregando e suas congregações se reunindo, mas seu
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candelabro foi removido. A igreja está mergulhada nas trevas. Nenhum vislumbre da luz irradia dela. Ela não
tem luz porque não tem amor. Atentemos para esta advertência antes que seja muito tarde (Stott 1999, 27)

6. Depois do chamado ao arrependimento Cristo mais uma vez elogia a igreja. O que essa ênfase quer
mostrar?
- não sabemos o que o autor quer colocando o v.6 neste ponto da narrativa: “Mas há uma coisa a seu favor:
você odeia as práticas dos nicolaítas, como eu também as odeio” (2:6). Poderia ser um elogio como em 2:2-3, o
que seria singular entre as cartas; ou então poderia ser um incentivo para se arrepender e perseverar. Poderia
também ser ambos. Se ali eles descobriram os mestres como sendo falsos, aqui eles odeiam as suas obras, que
Cristo também odeia. Parece até que contradiz o mandamento do amor em 2:4-5. Mas amar a Deus e os crentes
não implica em aceitar os seus pecados. O ódio não é direcionado contra as pessoas, mas contra suas ações
(referindo-se a suas obras, atitudes e vida moral). Mas essa linguagem de odiar os pecados é estranha em nosso
contexto pluralista (Osborne 2002, 119)
- mas a Bíblia é clara em nossa atitude contra os falsos mestres/profetas. No AT, Deus odeia tanto o mal (Sl
45:7; Prov 6:16-19; Jer 44:2-6; Zac 8:17) como as pessoas que o cometem (Sl 5:5; Os 9:15; Am 6:8). No NT
esperaríamos uma atmosfera diferente. Somos exortados, não a odiar, mas amar os nossos inimigos (Mt 5:43-
47; cf. Rom 8:35; 12:14; 1 Co 4:12) e fazer o bem àqueles que nos odeiam (Lc 6:27, 35; cf. Rom 12:19-20).
Nos escritos joaninos o ódio é principalmente a resposta do mundo a Deus/Cristo (Jo 7:7; 15:18) e contra os
seguidores de Jesus (Jo 15:18-16:4). Todavia a justiça de Deus não tolera crenças ou ações pecaminosas. Hb 1:9
diz que Jesus “ama a justiça e odeia a iniqüidade”. Aqui no Apocalipse temos uma reação que não poderia ser
considerada sub-cristã contra os nicolaítas (Osborne 2002, 119-20)
- o movimento dos nicolaítas é difícil de definir, pois não temos muita informação sobre ele. Os textos que
falam sobre eles são Ap 2:6, 15 e possivelmente as discussões sobre os cultos de Balaão (2:14) e Jezabel (2:20-
23) (possivelmente o mesmo movimento). Existem diversas tentativas de reconstrução das doutrinas dos
nicolaítas, mas nada muito concreto (ver Osborne 2002, 120). Uma tradição antiga liga esse grupo a Nicolau,
um dos 7 diáconos de At 6, mas existe pouca evidência disso (Wilson 2002, 262). O que sabemos desse grupo é
algo sobre suas práticas. A chave está na referência a Balaão (2:14-15) e Jezabel (2:20-23). Os pecados
encontrados em ambos são idolatria e imoralidade (alguns estudiosos acham que a imoralidade seria muito mais
simbólica para a idolatria do que física, mas possivelmente envolve ambas). Ao que tudo indica temos um
sincretismo, onde se tenta acomodar as práticas pagãs, participando do culto ao imperador e mostrando uma
liberdade da lei, podendo dar vazão aos seus desejos. Eles participam em cultos pagãos sacrificando às
divindades pagãs e se acomodando aos pecados da sociedade como um todo. Assim o sincretismo e a
acomodação aos valores da sociedade parecem ser os maiores problemas (Osborne 2002, 120-21). O termo
nicolaíta (literalmente “vitorioso sobre as pessoas”) é um jogo de palavras sobre um termo chave no
Apocalipse: nikao = vencer. Diferente dos verdadeiros “vencedores” que venceriam resistindo às ordens
políticas, sociais e religiosas, os nicolaítas aparentemente advogavam uma acomodação à sociedade pagã dos
seus dias comendo alimentos sacrificados aos ídolos e se envolvendo em imoralidade sexual (Wilson 2002, 262)
- finalmente temos o chamado para dar atenção: “Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igreja”
(2:7), que funciona como uma advertência profética para abrir a mente e o coração para as verdades do reino.
Mc 4:9 menciona que os segredos do reino são dados para os discípulos, mas não aos outros. Alguns vão ouvir e
outros serão endurecidos. Existe um chamado dizendo: Deus colocou essas verdades à nossa disposição. Agora
precisamos reagir a elas: ouvir e obedecer. A mensagem é dada para todas as igrejas. Elas devem ouvir o
Espírito falando através dela e analisar a sua situação para ver se a carapuça serve. Se este for o caso devem
ouvir e se arrepender (Osborne 2002, 121-22)

7. Não temos apenas exortações para as igrejas, mas também promessas aos vencedores. O que Cristo está
prometendo aos vencedores? O que isso significa?
- uma das mensagens mais importantes do livro é o desafio para ser um vencedor: “Ao vencedor darei o direito
de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus” (2:7). É uma linguagem atlética e metáfora militar
que tem a conotação de superioridade e vitória sobre um inimigo subjugado. No Apocalipse temos muitas
referências a vencer o inimigo. A vitória dos cristãos é somente provisória, pois a vitória final vem somente
através de Cristo. A vitória é nossa a partir da cruz e a batalha final (Ap 19:17-21) é o último ato de oposição de
um inimigo que já está subjugado. A nossa vitória é a participação na sua vitória. É interessante que a vitória
nas 7 cartas é uma promessa disponível a todas, mesmo para as igrejas mais fracas. Ela precisa ser alcançada
através da perseverança. Para vencer o inimigo precisamos de fidelidade e determinação para colocar os seus
valores acima das coisas materiais. Para ser um vencedor na guerra escatológica preciso um caminhar diário
com Deus na dependência de sua força. Somente o vencedor será recompensado. A igreja de Éfeso está em
grande perigo (2:5). Ser um vencedor no Apocalipse é análogo a crer em Paulo: uma confiança ativa em Deus
que leva a fidelidade em situações difíceis da vida que vivemos para Cristo (Osborne 2002, 122-23)
39
- eles participarão das bênçãos que estavam programadas para Adão e Eva: “comer da árvore da vida”. A
árvore foi colocada no Éden (Gen 2:9), mas Adão e Eva foram proibidos de comer dela por causa do seu pecado
(3:22-24). Um anjo impediu que eles comessem desse fruto evitando que recebessem a imortalidade [antes de
pecarem não existe restrição a esta árvore. A restrição não é castigo, mas graça, evitando que tenham que
permanecer eternamente confinados a esse mundo caído. Ao mesmo tempo mostra a perfeição que perderam
por terem decidido ir contra os mandamentos de Deus (Ryken et al. 1998, 889)]. Na literatura judaica essa
árvore simbolizava a vida eterna dada por Deus a seus seguidores. Essa é a idéia que temos no Apocalipse, onde
os vencedores recebem a recompensa por sua fidelidade. Aqui eles comem do fruto, revertendo a maldição do
Éden e a vida eterna agora é dada para o povo de Deus (Osborne 2002, 123-24). Esse termo volta a aparecer em
Ap 22:1-2 junto com a descrição da cidade junto com o jardim. Com a morte da morte o acesso a esta árvore é
restaurado. É a recompensa por aqueles que permaneceram fiéis até o final (Ryken et al. 1998, 890)
- no Apocalipse a árvore da vida tem a conotação da cruz. Ela geralmente se refere à cruz ou à árvore da vida no
NT e ambas as imagens parecem estar conectadas. É a cruz de Cristo que produz vida e torna possível herdar o
paraíso de Deus. Em 5:6 e 13:8 o Cordeiro foi morto. Assim, atrás da árvore da vida e a recompensa final está a
árvore em que Cristo foi morto (cf. Gal 3:13, uma passagem dependente de Deut 21:22-23). Isso está em
contraste com o templo de Ártemis (Osborne 2002, 124). O templo de Ártemis era originalmente um santuário
da árvore e o símbolo de Ártemis durante esse tempo era uma tamareira. Isso seria um símbolo para contrastar
com a imoralidade e idolatria de Éfeso. Ártemis como uma deusa da fertilidade, significando “vida”). Somente
a cruz de Cristo poderia ser a “árvore” que produz “vida” (Hemer 1986, 44-47; Osborne 2002, 124)
- a árvore está no paraíso de Deus. Isso mostra que mesmo que a árvore está ancorada no passado (na cruz), ela
será experimentada na futura glória da eternidade. Esse paraíso aqui aponta para os novos céus e a nova terra
(21:1-22:5) contrastando com o templo de Ártemis que prometia um paraíso sobre a terra, mas nada eterno
(Osborne 2002, 124)

8. O que você acha que esta carta quer mostrar para a sua igreja nos dias de hoje?
- hoje existem muito mais seitas que no tempo de João. Precisamos perseverar em meio à perseguição e dos
falsos mestres. Os falsos mestres devem ser testados, e verificar se o nosso ensino é ortodoxo. Ao mesmo tempo
temos que cuidar para não nos tornar caça-hereges, que atacam para cada diferença doutrinária, buscando tanto
o poder como a verdade [talvez até mais verdade do que amor]. O segredo está em separar as doutrinas centrais
que estão claras na Bíblia e essenciais para a fé cristã das outras doutrinas menos claras e menos essenciais da
vida cristã. Para doutrinas centrais precisamos disciplinar (testar e verificaram que eram falsas) e nas doutrinas
menos centrais (dialogar, concordar em discordar). A história da teologia tem um papel muito importante nesse
processo. Precisamos conhecer as heresias e permanecer firmes diante delas, mas dialogar quando discordamos
de elementos menos centrais (Osborne 2002, 124-25)
- a igreja precisa voltar ao amor. Não adianta falar que amamos, se a nossa vida prova o contrário. É triste
quando na igrejas as pessoas se sentem tão solitárias quanto no mundo. Uma igreja que esqueceu o amor não é
mais igreja. Para isso precisamos lembrar do nosso passado e nos arrepender de nossa falta de amor a Deus e ao
nosso próximo. Quem ama pode experimentar o paraíso já aqui na terra. Precisamos aprender a corrigir os
hereges, mas também nossas tendências pecaminosas (Osborne 2002, 125)

Igreja de Esmirna (Ap 2:8-11)


- das 7 cidades, Esmirna é a única que continua existindo nos dias de hoje com o nome de Izmir. Cidade
portuária, 55km ao norte de Éfeso, conhecida por sua beleza e orgulho cívico. Ela se chamava de a 1ª. da Ásia e
a cidade natal de Homero (o que é disputado por outras cidades). Mantinha um excelente relacionamento com
Roma. Foi a 1ª. cidade da Ásia a erigir um templo à deusa Roma (195 AC). Em 26 AD, por causa de sua
lealdade a Roma, venceu outras 10 cidades para ter o privilégio de edificar um templo para o imperador Tibério.
Nas décadas subseqüentes se tornou um centro de culto ao imperador. A cidade tinha sido destruída em 600 AC,
mas foi reconstruída por ordem de Alexandre, o grande em 334 AC. Ela foi reconstruída mais perto do porto da
cidade. Sua arquitetura a tornava uma das cidades mais agradáveis da Ásia. Os templos famosos de Zeus e
Cibele era conectados através de uma alameda, o que dava inveja no mundo antigo. A cidade também era
conhecida por um conjunto de construções chamadas de “coroa de Esmirna”, uma acrópole no monte Pagos e
uma estrada maravilhosa chamada de “estrada de ouro” (Osborne 2002, 127). Os cristãos se recusavam a
chamar César de Senhor, porque Jesus era o Senhor. “Mas sua indisposição de conformar-se à prática era
interpretada pelos outros como uma falta desonrosa de patriotismo, e até mesmo como traição” (Stott 1999, 29)
- Esmirna tinha uma população judia numerosa que se opunha violentamente contra os cristãos. Isso pode ter
sido causado pela destruição do templo de Jerusalém e o conseqüente sentimento anti-judeu no Império
Romano. Assim o Cristianismo se tornou uma ameaça dupla: religiosa e política. Comumente se afirma que o
decreto de Domiciano exigindo a adoração do imperador tornou fácil a perseguição aos cristãos e que os judeus
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denunciavam os cristãos que não o faziam, talvez para tirar a atenção deles mesmos. Roma tinha dado aos
judeus o direito de praticar a sua religião, e eles não queriam que esse direito fosse ameaçado. Além disso, nos
anos 80 o Judaísmo expulsou os cristãos heréticos das sinagogas e queria distância deles. Em 155 AD o bispo
Policarpo de Esmirna foi queimado vivo por se recusar a chamar César de Senhor durante uma perseguição
extensiva instigada pelos judeus. A igreja de Esmirna possivelmente foi fundada durante a missão de Paulo de
Atos 19 (Osborne 2002, 127)

1. Que características de Cristo são enfatizadas para a igreja de Esmirna? O que significam nesse contexto?
- como na carta a Éfeso, as características de Cristo são escolhidas a dedo para tocar nas necessidades da igreja.
Jesus é descrito como
a. O Primeiro e o Último. Esse título é usado somente para Cristo no livro (1:17; 2:8; 22:13). Em 1:17 está
conectado a Deus como o “Alfa e o Ômega” (1:8; 21:6; os dois ocorrem juntos em 22:13 onde
descrevem a Cristo). Esses títulos significam que Deus e Cristo são soberanos sobre a história, estão no
controle tanto do passado quanto do futuro. Cristo é o ser eterno garantindo a vingança dos seus
seguidores sofredores. Esse título é tirado de Is 44:6 e 48:12. Isso é digno de nota, pois essa carta tem
poucas referências do AT, possivelmente devido ao antagonismo contra os judeus na cidade. Esmirna se
autodenominava a “Primeira” dentre as cidades da Ásia, mas somente Jesus pode ser corretamente
chamado de “Primeiro” e isso no sentido cósmico. Essa mensagem é especialmente relevante para uma
igreja que está passando por uma oposição muito severa. Eles precisam ouvir que Jesus ainda é
preeminente e que está cuidando deles (Osborne 2002, 128)
b. Aquele que estava morto e tornou a viver. Isso aponta para a morte e ressurreição de Jesus como evento
histórico. Assim como Esmirna (morreu em 600 AC e renasceu em 290 AC para uma honra maior),
Jesus ressuscitou depois de sua morte. Essa idéia já apareceu em 1:17-18 “Estive morto mas agora
estou vivo para todo o sempre!” Esmirna pode tirar a vida presente das pessoas, mas Jesus garante a
nossa vida futura. Uma igreja sofredora como esta precisava da certeza que seu futuro estava seguro,
mesmo que no presente estavam sofrendo bastante (Osborne 2002, 128-29)

2. Quais são as fraquezas desta igreja? O que isso quer nos mostrar?
- essa, juntamente com a igreja de Filadélfia é uma igreja onde não se mencionam fraquezas. É marcante que
ambas as igrejas eram as menores das 7 em termos de números e influência. É mais importante ser fiel do que
poderosa [será que isso quer nos mostrar algo para nós que vivemos dentro de uma teologia do sucesso?]
(Osborne 2002, 129).
- já mencionamos anteriormente que a igreja tende a ser o reflexo da cultura na qual está inserida. Estamos no
mundo capitalista onde números determinam o sucesso. Não basta ser bíblico, tem que ter sucesso. A frase
freqüentemente citada em conexão com os esportes é uma das maiores mentiras da nossa sociedade: O
importante não é vencer, mas competir. Em nossa sociedade, vivemos uma frase diferente: O importante é
vencer, não importa como. Infelizmente isso tende a entrar nas igrejas e comandar as ações. Estamos muito
preocupados com o nosso status de igreja, de pastor de tantas ovelhas, mesmo sem ser bíblico.

3. Que aspectos que Cristo conhece a respeito da igreja são enfatizados nessa carta?
- essa igreja, juntamente com a igreja de Pérgamo, também não tem a fórmula: “conheço as tuas (boas) obras”.
Ao invés disso, temos a ênfase sobre o conhecimento (e empatia) divino da situação. O senhor exaltado conhece
3 coisas a respeito da igreja: sua aflição, sua pobreza e a difamação. As 3 não seriam consideradas pontos fortes
em nossos dias, antes problemas ou até tragédias. Isso porque a igreja de nossos dias esqueceu a centralidade da
“comunhão/participação em seus sofrimentos” (Fp 3:10) da igreja primitiva. Sofrer por Cristo era um privilégio
e não somente algo dolorido. Certamente era difícil (Hb 12:11), mas também era visto como participação em
Cristo a um nível mais profundo. Esmirna sofreu muito, mas como resultado foi ainda mais favorecida por Deus
(Osborne 2002, 129). “A igreja de Esmirna foi uma igreja sofredora. Essa carta é dedicada exclusivamente a um
relato de suas aflições passadas e presentes, um aviso de futuras provações mais drásticas e encorajamento para
suportá-las” (Stott 1999, 28)
a. Aflição. Esse termo já apareceu em 1:9 onde se trata do sofrimento do povo de Deus como parte da
tribulação dos últimos dias. Aqui a ênfase recai sobre o sofrimento presente e não o elemento
escatológico. Os outros 2 termos descrevem as particularidades dessa aflição (Osborne 2002, 129)
b. Pobreza. Por causa da perseguição eles experimentaram pobreza. Hemer sugere alguns elementos que
podem ter causado essa pobreza: tumultos na cidade, tanto de judeus como de gentios, gerados pelo
ódio dos judeus o que resultava na destruição da propriedade; os cristãos eram da classe mais pobre da
cidade; a liberalidade com que os crentes ofertavam em tempos de necessidade (cf. 2 Co 8:2-5); a perda
de empregos num ambiente pagão. A oposição dos judeus implicava que os cristãos não gozavam mais
da tolerância oferecida pelos romanos ao povo judeu, pois os romanos cessaram de dar aos cristãos o
41
direito de cultuarem o seu Deus (uma exceção concedida aos judeus e dada por um tempo para os
cristãos, como uma seita judia). Muitas vezes a pobreza tem sido o destino dos cristãos, porque o
mundo odeia os filhos da luz e freqüentemente procura feri-los (Jo 15:18-16:4). No AT, pobreza era
uma aberração que não deveria ser tolerada entre o povo de Deus. Já que a terra pertencia a Yahweh e
tinha sido dada em confiança para o seu povo como um todo, não deveria haver pobreza (Deut 8:9;
15:1-18; 24:14-22). Os profetas vêem na pobreza uma prova concreta da apostasia da nação como um
todo, e “os pobres” acaba se tornando um termo quase técnico para descrever o remanescente de Israel
perseguido por uma nação rebelde (e.g., Is 41:17; 51:21-23; 54:11). Tanto no AT como no NT os
pobres têm um relacionamento especial com Deus como seu protetor. A 1ª. bem-aventurança (Mt 5:3)
está centrada sobre os pobres e a promessa é que “é deles o Reino de Deus”. Deus cuida dos pobres e
vai protegê-los (Osborne 2002, 129-30). É interessante notar que no Apocalipse, toda vez que a palavra
“pobre” aparece está em contraste com o “rico”. Fica evidente que “riqueza e pobreza” é um problema
muito sério nas igrejas de Sardes e Laodicéia [e por tabela também nesta igreja]. Eles são pobres
materialmente e figuradamente ricos espiritualmente. Alguns judeus na cidade tinham acusado os
cristãos resultando em sua prisão e possivelmente a perda de seus lares e posses (Osborne 2002, 130).
Não era fácil para cristãos conseguirem se virar num mundo antagônico e assim muitos eram pobres.
Eles poderiam também ter sofrido em conseqüência da violência da turba e dos saques (Mounce in
Osborne 2002, 130). Roma não suportava as religiões novas que se recusavam a adorar o imperador. Os
judeus com inveja já que os “tementes a Deus” estavam se convertendo ao cristianismo em grandes
números, tinham prazer em denunciar o Cristianismo como não sendo uma seita judia (Beale 1999,
240). Mas a perseguição fez bem para a igreja, que chegou mais perto de Deus. O Cristo exaltado
afirma neste ponto: “mas você é rica”, enquanto os judeus fazem parte da sinagoga de Satanás. No
mundo o status das pessoas está invertido, mas a sua situação diante de Deus é deixada às claras aqui.
Apesar da aflição que estão passando, Deus tem dado riquezas a vocês muito além das expectativas.
Jesus tinha dito aos seus discípulos que receberiam 100 vezes mais pelos sacrifícios feitos por amor a
ele, além da vida eterna, acrescentando “com perseguições”. Deus envia bênçãos espirituais, mas não
tira a animosidade e a perseguição, pois isso significa participar no caminho de Cristo (Fp 3:10; Col
1:24; 1 Pe 4:1-19). Temos um contraste interessante aqui: Esmirna é pobre economicamente, mas rica
espiritualmente, enquanto Laodicéia é rica economicamente e pobre espiritualmente (3:17) (Osborne
2002, 130-31)
c. Difamação/blasfêmia. Em outras passagens no Apocalipse esse termo é usado para blasfêmia contra
Deus (13:1, 5, 6; 17:3). Aqui eles são difamados pelos judeus. Difamar o povo de Deus acaba sendo
uma forma de blasfêmia contra Deus. A oposição dos judeus ao evangelho é muito comum na Bíblia.
Em Atos vemos que os judeus causavam bem mais problema que as autoridades romanas, que
freqüentemente reagiam com base nas reclamações dos judeus (At 13:45-52; 14:19; 17:6-9, 13; 18:12-
17; 21:27-40). Em nenhum lugar isso era pior do que em Esmirna com sua numerosa população judia,
muitos dos quais eram cidadãos que queriam proteger os seus direitos. No séc. II os judeus denunciaram
a Policarpo e a igreja diante das autoridades romanas por difamar o imperador e a religião romana,
através de sua recusa de participar no culto ao imperador. Depois disso eles mesmos juntaram a madeira
e queimaram a Policarpo no sábado [instado a renunciar a Cristo Policarpo exclamou: “Por 86 anos eu o
tenho servido e Ele nunca me faltou; como, pois, posso blasfemar contra meu rei que me salvou?” Mais
tarde amarrado na estaca para ser queimado orou: “Ó Senhor, Deus Todo-Poderoso, Pai de teu amado
Filho Jesus Cristo, por meio de quem viemos a conhecer-te... Graças por considerar-me digno neste dia
e hora de compartilhar a taça de Cristo entre os muitos de teus mártires” (in Stott 1999, 32-33)]. É
possível que a difamação pela sinagoga de Satanás se refira a um grupo de judeus que instigou ações
legais nas cortes romanas contra os cristãos de Esmirna (Osborne 2002, 131). O texto denuncia os
acusadores e sua pretensão de ser o povo de Deus. Eles dizem que são judeus, mas na verdade são a
sinagoga de Satanás. Sua afirmação de ser o povo de Deus é negada por serem instrumentos de Satanás
contra o verdadeiro povo de Deus, a igreja (Michaels acha que poderiam ser cristãos judeus que
voltaram ao Judaísmo para escapar da perseguição. Isso é uma possibilidade, mas precisa de maior
provas). Em Jo 8:31-47 Jesus diz àqueles que se diziam filhos de Abraão que na verdade eram filhos do
diabo. Em Rom 2:28-29, Paulo diz que o verdadeiro judeu não é identificado pelo exterior, mas pelo
interior (confiança em Deus e seu filho). Os judeus de Esmirna se autodenominaram a “sinagoga de
Deus” (cf. Num 16:3), mas o Cristo exaltado afirma que na verdade eles são a “sinagoga de Satanás”. O
termo Satanás significa adversário de Deus e do seu povo, cheio de hostilidade, ódio e difamação. Os
judeus se uniram com Satanás para difamar o povo de Deus. A sinagoga de Satanás também se uniu
com Roma denunciando os cristãos diante das autoridades [para tirar deles o privilégio de religião
tolerada] (Osborne 2002, 131-32)
42
4. Como Cristo encoraja a igreja diante desse quadro?
- o v.10 os alerta e encoraja que existe aflição vindo sobre a igreja: “Não tenha medo do que você está prestes a
sofrer. O Diabo lançará alguns de vocês na prisão para prová-los, e vocês sofrerão perseguição durante dez
dias. Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida” (2:10)
a. Cristo diz que não devem ter medo (de ninguém). A proibição do medo em tempos de dificuldades ou
perseguições é comum na Bíblia, construído sobre Sl 46:1-3: “1 Deus é o nosso refúgio e a nossa
fortaleza, auxílio sempre presente na adversidade. Por isso não temeremos” e as palavras de Jesus em
Mt 10:28: “Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham
medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno”. Esse tema continua na maioria
das epístolas que falam sobre o sofrimento como Hebreus (cf. 10:31; 11:23, 27; 12:13; 13:3, 6) e 1
Pedro (cf. 3:14-15; 4:12-14, 19). No Apocalipse não há outras passagens tão diretas como esta, mas a
utilização de “medo” é iluminadora. Sempre que o termo é usado para os “santos”, se refere a
reverência para com Deus (11:18; 14:7; 15:4; 19:5) e sempre que é usado para os “habitantes da terra”,
se refere ao terror diante do julgamento (11:1; 18:10, 15). Em meio à tribulação terrível o povo de Deus
é chamado a “testemunhar” destemidamente (1:2, 9; 6:9; 12:11, 17; 20:4) acompanhado pela
“perseverança” (1:9; 2:2, 3, 19; 3:10; 13:10; 14:12) e “fé” (2:10, 13, 19; 13:10; 14:12; 17:14) em Deus
(Osborne 2002, 132)
b. Cristo os lembra que não devem ter medo de sofrer. Seu sofrimento é iminente e inevitável. O termo
mello (= o que está para acontecer) aqui combina a perseguição iminente com a antecipação do fim dos
tempos, já que o martírio está conectado com o fim (2:10; 3:10; 6;10-11; cf. 1:9; 8:13; 10:7; 12:4-5;
17:8). Seu destino não é agradável, mas Deus promete estar com eles. Jesus dissera que as recompensas
atuais dos crentes seriam acompanhadas de perseguições (Mc 10:30). Não há promessas de uma vida
fácil nas Escrituras, mas a promessa de conforto divino e bênçãos em meio aos sofrimentos (Osborne
2002, 132-33). A perseguição iminente agora é explicitada pelo aprisionamento iminente. João introduz
essa parte com idou (= veja, preste atenção). Aqui a atenção é para o sofrimento que os aguarda. O que
os aguarda é a prisão. Satanás ainda não terminou a sua tarefa, pois o diabo está prestes a lançar alguns
deles na prisão. A troca do termo “Satanás” por “diabo” possivelmente é realizada para dar ênfase. Esse
termo também significa adversário e difamador e é usado na LXX para traduzir o termo satan do
hebraico. Usando os 2 termos João quer mostrar que este realmente é o adversário dos cristãos. O
aprisionamento pode ter diversos significados. Hemer argumenta que os romanos não usavam a prisão
para punir atividades criminosas e descreve 3 propósitos para a prisão:
i. coerção contra a teimosia
ii. detenção aguardando o julgamento
iii. detenção aguardando a execução (Hemer 1986, 68; Osborne 2002, 133)
Aqui possivelmente estamos falando da 2ª. e 3ª. opção. Os cristãos de Esmirna estão diante de uma
possibilidade real de morte nessa situação desesperadora (Osborne 2002, 133)
c. O propósito de tudo isso é que sejam testados. O agente desse teste poderia ser tanto Deus (passivo
divino) como Satanás. O contexto imediato favorece que Satanás é a origem. Mas nesse caso ficamos
em dúvida porque o autor não usa o tempo ativo (para testá-los) antes o passivo no grego (para que
sejam testados). No Apocalipse temos muitos passivos divinos e com isso está implícito que Deus
controla a extensão do teste tornam a opção de Deus como o sujeito uma proposta bastante atrativa.
Talvez até tenhamos aqui uma intenção dupla: Satanás tenta as pessoas para apostatar da fé, enquanto o
propósito de Deus é testar a fé das pessoas (Osborne 2002, 133). Eles experimentarão aflição, mas esta
somente vai durar 10 dias. Deus vai cuidar que o teste da fé esteja dentro dos seus limites de forma
similar ao que temos em 1 Co 10:13: “Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos
homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas,
quando forem tentados, ele mesmo lhes providenciará um escape, para que o possam suportar”. Mas o
que seriam estes 10 dias?
i. É um número pequeno, indicando um tempo completo, mas breve;
ii. É um número que lembra o teste de Daniel por 10 dias (Dan 1:12-14), assim sendo um tempo
limitado;
iii. Mesmo sendo limitado é um tempo longo denotando uma perseguição séria;
iv. Seriam 10 períodos de perseguição, por 10 imperadores romanos;
v. Seria um tempo literal de 10 dias de intensa perseguição ocorrendo logo após o recebimento da
carta;
vi. Seria a linguagem da arena, similar às inscrições celebrando a luta entre gladiadores. Os jogos de
Esmirna seriam especialmente perigosos diante do sentimento anti-cristão, podendo se referir a
um tempo curto onde o perigo da morte iminente seria muito grande (Osborne 2002, 133-34)
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Como o livro é muito simbólico, não deveríamos ver a questão tão literal. A última opção é somente
especulação, sendo que uma combinação das 3 primeiras seria o mais indicado. Não sabemos se o autor
tinha Daniel em mente, mas seria o paralelo mais próximo. Deus está no controle e vai cuidar da
limitação desse tempo muito complicado (Osborne 2002, 134)

5. Que postura Cristo requer de uma igreja que vive nestas condições?
- a solução proposta, assim como sempre ocorre no Apocalipse é a perseverança fiel. Fidelidade é uma das
palavras chaves do livro caracterizando os cristãos em meio à oposição que enfrentam no mundo. Essa palavra é
usada primeiramente para Jesus (1:5; 3:14; 14:12; 19:11) sem sua fidelidade para com seus seguidores e das
“palavras fiéis” do próprio Apocalipse (21:5; 22:6). Depois é usada para designar a conduta fiel (2:19; 14:12;
17:14), especialmente a ponto do martírio (2:10, 13; 13:10). Fé no Apocalipse é a maneira pela qual
perseveramos, colocando toda a nossa confiança em Deus que é soberano sobre a história e vai vingar o seu
povo de todo o seu sofrimento. Isso não significa que o nosso destino não é o sofrimento, mas que Deus vai
trazer vitória a partir de derrotas temporárias. Isso é importante pois o sofrimento é até a morte. O
aprisionamento poderia ser para esperar a execução. Nos Evangelhos o discipulado radical foi definido em Mc
8:34 como negar-se a si mesmo, tomar a cruz sobre si e seguir a Jesus. A cruz é mais do que uma metáfora para
negar-se a si mesmo. Também significa que o cristão deve estar disposto a seguir Jesus até a morte (Osborne
2002, 134-35)

6. Que recompensa é prometida para os vencedores?


- a recompensa prometida é a coroa da vida. Uma “coroa de ouro” é mencionada diversas vezes no Apocalipse,
com o significado de honra e autoridade (4:4 para os 24 anciãos; 9:7 para os gafanhotos; 14:14 para o filho do
homem). A única outra referência usada para os crentes é 3:11. Em 2:10 e 3:11 não fala de realeza como temos
em outras passagens (12:3; 13:1; 19:12), mas uma coroa de vencedor, uma metáfora atlética e militar ligada
com a idéia de “vencer” (2:11). Uma grinalda era colocada sobre a cabeça do atleta vencedor. Esmirna era
conhecida por seus jogos e essa seria uma metáfora natural. É possível que tenhamos aqui uma referência à
coroa atlética e coroa usada pelos magistrados da cidade. Hemer menciona que uma coroa era dada
postumamente para um cidadão exemplar da cidade. Isso se encaixa com o tema da morte e vida. Os habitantes
de Esmirna honram um cadáver enquanto Jesus traz o morto à vida. Enquanto os reis da terra esperam receber
uma coroa em sua visita (parousia) à cidade, Cristo vai dar a “coroa da vida” em sua parousia. Nenhum
sofrimento que suportarão pode impedir Deus de justificá-los e dar a eles a sua recompensa. No Apocalipse
como um todo e em especial em Esmirna, essa era uma promessa em especial para aqueles que iriam pagar com
as próprias vidas (Osborne 2002, 135)
- no v.11 outra vez João convoca os leitores a prestar atenção ao que está dizendo. Ele desafia aquele que
participa na vida de Cristo a estar disposto a obedecer. Aqui não temos a conotação negativa que tínhamos na
igreja de Éfeso. Ao que tudo indica as pessoas estavam dispostas a ouvir. Isso estava sendo provado com o seu
sofrimento. Assim eles realmente eram vencedores mesmo que poderiam perder suas vidas, mas nunca iriam
experimentar a segunda morte. Aqui temos um paralelo entre receber a coroa da vida e nunca morrerão. O
termo 2ª. morte pode ser explicado pelas outras referências no Apocalipse (20:6, 14; 21:8). É o lago de fogo, a
morte eterna depois da morte física que termina com essa vida. O martírio pode acabar com essa vida, mas para
estes (os vencedores) não existe a 2ª. morte. As pessoas podem até sofrer o martírio, mas não podem ser
destruídos por ele. Sua verdadeira vida é garantida por Deus (Osborne 2002, 136)

7. Que aplicação podemos fazer desta carta para a igreja do séc. XXI?
- essa é uma carta para aqueles que estão passando por tempos difíceis. Há 2 níveis de aplicação da Palavra
aqui. Diretamente se aplica para pessoas que estão passando por perseguições ou então no nível teológico
podemos falar de tempos difíceis pelos quais os cristãos passam, já que a perseguição é uma situação dessas (cf.
Hb 12:4-11; 1 Pe 1:6-7). Há 4 níveis em que a perseguição poderia ser aplicada para uma sociedade como a
nossa onde não existe uma perseguição direta
a. podemos nos identificar com muitos cristãos que estão sofrendo em todo o mundo (cf. Rom 12:15; Hb
13:3);
b. podemos nos conscientizar que uma perseguição como estas poderia ocorrer no futuro e assim nos
preparamos para ela;
c. podemos nos perguntar se estamos fazendo concessões para evitar que sejamos perseguidos no trabalho
ou na sociedade em que vivemos;
d. podemos perseverar nas dificuldades que enfrentamos que tiram a nossa atenção do mundo e nos
trazem mais perto de Deus (Osborne 2002, 136)
Deus lembra os crentes de Esmirna que não permitam que os tempos complicados os desanimem, pois
“sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam” (Rom 8:28), e mesmo da
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perseguição final Deus vai gerar vida. Talvez nem todas as nossas orações sejam atendidas até a morte (assim
como os heróis da fé de Hb 11), mas Deus vai defender o seu povo. Na verdade a “sinagoga de Satanás” não vai
nos fazer mal. A coroa da vida é prometida a todos o que permanecem fiéis (Osborne 2002, 136-37)
- a 1ª. marca de uma igreja verdadeira é o amor. A 2ª. é o sofrimento como vemos nesta igreja. “Uma é
conseqüência da outra. A disposição de sofrer prova a autenticidade do amor. Estamos dispostos a sofrer por
aqueles que amamos” (Stott 1999, 28)
- “Nada provoca tanto a oposição do mundo como o Evangelho de Jesus Cristo. Isso porque ele enfatiza certas
doutrinas desagradáveis como a gravidade do pecado humano, a realidade da ira e do juízo de Deus, a
impossibilidade de auto-salvação, a necessidade da cruz, a dádiva da vida eterna e os perigos da morte eterna.
Estas verdades minam o orgulho humano e incitam a oposição humana. Assim, os pregadores são tentados a
silenciá-las, ‘para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo’ (Gal 6:12). Os padrões morais de Cristo
são também impopulares – honestidade nos negócios, castidade antes do casamento e fidelidade depois dele,
contentamento em lugar de cobiça, autocontrole e auto-sacrifício. Se a Igreja tivesse de manter tais padrões, ela
se encontraria onde realmente é o seu lugar apropriado – fora dos portões e no deserto. Mas o temor do mundo
tem-nos enlaçado. Nossa tendência é diluir o Evangelho e abaixar nossos padrões, a fim de não provocar
oposição. Amamos o louvor de nossos semelhantes mais do que o louvor de Deus. Não estou recomendando
que desenvolvamos um complexo de mártir ou que busquemos provocar oposição. Estou apenas dizendo que, se
fizéssemos menos concessão, indubitavelmente sofreríamos mais. Esmirna foi uma igreja sofredora porque era
uma igreja destemida” (Stott 1999, 35)
- aqui temos que lembrar como Cristo se apresentou a esta igreja. Eu sou o Primeiro e o Último. Com isso
afirma ser o eterno Deus que não muda, apesar das circunstâncias adversas. Depois afirma que é o vitorioso:
morreu e viveu. Ele foi obediente até a morte, e com isso venceu a morte e o diabo. Ele é vencedor que dará
vitória aos fiéis, em meio ao sofrimento e quem sabe até à morte (Stott 1999, 36). Existe uma grande
recompensa aguardando aqueles que são fiéis até a morte

Igreja de Pérgamo (Ap 2:12-17)


- Pérgamo significa cidadela – cidade construída sobre uma colina de granito em forma de cone de uns 300
metros de altura acima da planície do rio Caicus (Mounce 1977, 95; Osborne 2002, 138). A cidade de tornou
importante no séc. III AC quando os sucessores de Alexandre, o Grande tornaram a cidade em uma fortaleza
militar. Alguns acham que os persas deixaram de investir na cidade por causa do seu potencial militar (Osborne
2002, 138). Depois disso a cidade foi aliada de grupos rivais que lutavam pela hegemonia da região. Por volta
de 135 AC se tornou aliada de Roma. Mais tarde, porém (89-84 AC) se aliou ao rei de Ponto (contra os
romanos) matando todos os cidadãos romanos da cidade. Mais tarde Pérgamo foi derrotada e perdeu o lugar de
destaque na região, sendo suplantada por Éfeso. Somente no reinado de Augusto, ela vai voltar a ter destaque.
Ela conseguiu ter destaque novamente por causa das inovações arquitetônicas. A cidade recebeu uma muralha
que a protegia, um templo de Atená, um grande altar a Zeus (Osborne 2002, 138)
- havia nessa cidade uma biblioteca com mais de 200.000 volumes. Ela se tornou um centro cultural, religioso e
intelectual da região (Osborne 2002, 138). Diz a tradição que o pergaminho foi inventado nessa cidade quando
o papiro não veio mais do Egito porque tentaram trazer o bibliotecário de Alexandria para Pérgamo
- o mais espetacular dessa cidade eram os palácios reais e os altares/templos dedicados aos deuses. Os templos,
altares e santuários eram dedicados a Zeus (o rei dos deuses e conhecido como o deus-salvador); a Atená (deusa
da vitória e padroeira da cidade); Dionísio (deus padroeiro da dinastia, simbolizado por um boi); e Asklépio
(deus da cura, simbolizado por uma serpente). Uma grande parte da cidade e um templo eram dedicados para
Asklépio e as artes da cura. Como resultado a cidade tinha um centro médico e era considerada a Lourdes dos
seus dias. O altar a Zeus tinha aprox. 13m de altura representando a vitória de Attalus I sobre os gálatas e com
um friso na base representando a vitória dos deuses helenistas sobre os gigantes da terra (da civilização sobre o
paganismo). Este altar estava no topo de um terraço no alto da montanha. Além disso, a cidade era um centro do
culto imperial na Ásia. Foi a 1ª. cidade que teve autorização de erigir um templo para um governante vivo
quando em 29 AC Augusto permitiu que um templo fosse edificado para ele. Havia precedentes para isso já que
governadores anteriores da cidade já tinham se autodenominado “salvador” e “deus”. Um templo com
sacerdotes e sacerdotisas reais foi edificado ao lado do palácio e por 3 vezes Pérgamo foi chamada de “guardião
do culto imperial”. Esse título a levou a se tornar uma cidade muito forte na província (Osborne 2002, 139)
- os cristãos de Pérgamo eram perseguidos principalmente por causa da prevalência do culto ao imperador na
cidade ao invés dos cultos aos outros deuses. O culto ao imperador estava ligado com a lealdade cívica e o
patriotismo. A recusa em participar era vista como ateísmo (os cristãos eram chamados de ateus na cidade por
rejeitarem os deuses romanos), e também subversiva. Os cristãos eram acusados de odiar a humanidade porque
se recusavam a mostrar lealdade ao imperador e ao povo romano. Os judeus eram tolerados por representarem
uma nação bastante antiga, enquanto os cristãos não tinham uma história nacional. Os judeus eram protegidos e
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reconhecidos pelo tratado que tinham com Roma, mas isso não se aplicava ao Cristianismo, que era
considerado como superstição e odiado por seu exclusivismo e sua intolerância aos deuses (Osborne 2002, 139)

1. Que descrição de Cristo temos nesta carta? O que sinaliza?


- essa carta tem a descrição mais simples de Cristo das 7 cartas. Escreve aquele que tem a espada afiada de dois
gumes, símbolo da justiça romana. Esse título já foi mencionado em 1:16 e vem de Is 11:4 e a figura da justiça
divina que encontramos ali. Está ligado com Ap 2:16 e 19:15, 21 com a metáfora da espada da justiça que sai de
sua boca se referindo à sua palavra de julgamento. A referência é a uma espada da Trácia que era larga, usada
nas incursões da cavalaria. Na era romana se tornou o símbolo do seu poder. Aqui esse objeto possivelmente é
usado porque o procônsul romano residia em Pérgamo e o símbolo da soberania total sobre todas as áreas da
vida, especialmente para executar os inimigos do estado era a espada. Essa ilustração aqui demonstra que o
Cristo exaltado (e não os oficiais romanos) é o verdadeiro juiz. O poder final pertence a Deus e nenhuma ação
dos pagãos pode mudar esta situação (Osborne 2002, 140)
- Jesus tem o controle sobre todo o universo – é importante nos lembrar de que nós também somos muito menos
importantes do que pensamos. Vivemos como se o mundo (e quem sabe até Deus) dependesse do meu
consentimento com suas idéias. Conta-se a história de Muhammad Ali que estava no avião. A aeromoça pede
que coloque o cinto de segurança. Ele retruca dizendo que ele é o Superman e que por isso não precisa colocar o
cinto. A aeromoça responde que se ele é o Superman ele não precisaria andar de avião. Precisamos ser
lembrados de que Deus não precisa de nós – Deus não vai perguntar para você o que pode ou não pode fazer

2. O que o Cristo exaltado conhece a respeito da cidade?


- o Cristo exaltado conhece 3 coisas a respeito da cidade
a. O mundo pagão em que você vive. Deus conhece a residência ou habitação dessa igreja. Eles não eram
simplesmente moradores temporários, mas tinham a sua moradia nesse local. O local recebe a ênfase do
texto: onde Satanás tem o seu trono (onde Satanás está entronizado). Pérgamo é a habitação especial de
Satanás, seu trono. O trono implicava em autoridade especial e governo real. Assim de uma certa forma
Pérgamo é denominada de trono do poder satânico. Mas o que seria esse trono de Satanás?
i. Olhando de longe a acrópole colocada sobre o planalto se parece como um trono. Essa metáfora
funcionaria para Esmirna que era chamada de “coroa” pelos escritores antigos, mas não temos
evidências que dariam suporte a essa idéia (Osborne 2002, 141)
ii. Os ídolos, altares, santuários e templos de Pérgamo, assim como seu paganismo extremado eram
ferramentas de Satanás. Mesmo que isso seja verdadeiro seria difícil pensar na cidade em si como
o trono de Satanás, pois a maior parte dessas cidades eram centros de idolatria e paganismo
(Osborne 2002, 141)
iii. O altar a Zeus Soter no topo da montanha era uma estrutura magnífica que dominava a cidade. As
pernas dos gigantes na escultura eram caudas de serpentes, e essa estrutura resumia a idolatria e o
paganismo. Mas o culto a Zeus era central em todas as cidades (Osborne 2002, 141)
iv. O centro do culto a Asklépio era Pérgamo e o símbolo de Asklépio era uma serpente, que está
ligada a Satanás em 12:9 e 20:2. Os membros desse deus chamavam a Asklépio de salvador e
muitos desses eram especiais para esta cidade (Osborne 2002, 141). A imagem de Asklépio, o
deus da cura, atraía pessoas de todo o mundo a ponto de que Charles a denomina a Lourdes da
Ásia (Mounce 1977, 95)
v. A melhor opção seria o culto ao imperador, o grande problema por trás do Apocalipse é a
essência da religião de Pérgamo. Foi o culto ao imperador que mais diretamente levou a
perseguição durante Domiciano e Trajano. Pérgamo era o centro do culto ao imperador em toda
província da Ásia. Não se trata basicamente de algo na arquitetura, mas a oposição romana e
perseguição aos cristãos que é central (Osborne 2002, 141). É difícil morar numa cidade tão
paganizada. A pressão sobre o povo de Deus é constante
- Deus “está ciente que seu povo está rodeado de uma sociedade não-cristã e exposto de todos os lados à
pressão dos padrões e valores do mundo. Seu pequeno barco é fustigado pelas ventos e ondas de doutrinas
estranhas. Sua fortaleza é bombardeada pelo fogo da artilharia de seitas estrangeiras. Os cristãos sentem-se
sitiados” (Stott 1999, 41-42). Deus está ciente de tudo e tem um plano de ação para cada igreja de acordo
com o seu contexto e a realidade que enfrenta
b. O testemunho fiel dos crentes de Pérgamo. Eles continuam permanecendo fiéis (pres.) ao meu nome. O
significado aqui é de alguém que segura com força, no caso aqui permanece fiel. Eles se seguram
firmemente em seu nome. O nome conota a essência da pessoa. Na LXX freqüentemente denota as
características básicas da pessoa (e.g., Pedro = Rocha). Quando os cristãos recebem um nome novo
(2:17) isso denota uma nova identidade, uma nova família (cf. 3:5, 12; 14:1; 22:4). Assim, permanecer
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fiel ao nome de Jesus significa viver de acordo com a responsabilidade da nova identidade: resistir à
tentação desse mundo pagão (Osborne 2002, 141-42). O outro lado da moeda que serve para deixar
mais clara a situação da igreja é que eles se recusaram a “renunciar” à fé em Jesus. Eles continuam
permanecendo firmes (pres.) e se recusaram a renunciar a sua fé (aor.). Aqui e em 3:8 o termo renunciar
= perseverança em face da perseguição. A mudança do presente para o aoristo pode indicar que no
passado houve perseguição e que esta é um modelo para a perseguição iminente que os aguarda.
Mesmo nessa situação eles continuam tendo “fé em mim”, em Jesus (uma fé ativa) (Osborne 2002, 142)
c. Sua perseverança. Essa explica em maiores detalhes a recusa a renunciar à fé em Jesus. Isso nem nos
dias de Antipas – que foi morto por permanecer fiel a Jesus. Diz a tradição que ele foi colocado dentro
de um bezerro de bronze e assado lentamente durante o reinado de Domiciano. É possível que ele tenha
sido o bode expiatório para pressionar toda a igreja a ceder a pressão de adorar o imperador (Mounce
1977, 97). Não sabemos nada sobre quem era esse Antipas, e essa tradição parece muito alegórica, e,
portanto, improvável. Mas Antipas é retratado como a fiel testemunha – título dado a Jesus em Ap 1:5.
O termo “testemunho” não chegou a significar “mártir” até o séc. III, mas esse livro preparou o terreno
para que se ligasse “testemunho” com “martírio” (cf. At 22:20, “o sangue de tua testemunha Estêvão”).
Ser fiel = confiança perseverante em Cristo em meio à perseguição e martírio. Aparentemente somente
Antipas morreu na perseguição prévia, mas assim como em Esmirna (2:10), muitos outros podem
morrer, como Eusébio, mais tarde enumera alguns deles (Osborne 2002, 142-43)

3. O ponto forte da igreja está ligado com a localização estranha da cidade nesta carta. O que você acha que
Cristo quer dizer com isso?
- finalmente o texto ainda nos diz que esse é o local onde Satanás habita. Esse é o inclusio onde primeiro diz
que esse é o “trono de Satanás” e agora o “local onde Satanás habita”. A igreja de Pérgamo mora na cidade
natal de Satanás, o que é provado pelo martírio de Antipas e a oposição total da população pagã e dos oficiais
romanos aos santos de Pérgamo. Satanás é a origem desse ódio (Osborne 2002, 143)
- mais tarde um 2º. templo foi construído quando a cidade ganhou o título de “duas vezes guardiã do templo”
- nessa cidade Satanás havia colocado o seu trono oficial. Assim como Roma era o centro da atividade de
Satanás no ocidente, Pérgamo era no oriente. Nessa cidade os cristãos não haviam cedido à tentação de queimar
incenso para o imperador ou de declarar que “César é o Senhor”. A ênfase está no contraste com os cristãos que
moravam lá – os cristãos e também Satanás moravam lá na mesma cidade. Assim não deveríamos estranhar se o
martírio inicia nesta cidade (Mounce 1977, 96-97)
- segundo Hemer há paralelos interessantes entre as palavras usadas em Apocalipse com as palavras usadas
pelos imperadores romanos
a. Nero se denominou o “salvador do mundo” e o “senhor de todo o mundo”. Em outra inscrição ele é
identificado como Asklépio
b. Domiciano usava um título que equivale ao dado por Tomé – “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20:28)
c. O termo salvador aparece somente 3 vezes no Apocalipse (7:10; 12:10; 19:1) cada vez num contexto
onde uma grande voz proclama a “salvação do nosso Deus”, possivelmente em contraste com a
salvação imperial e sua liturgia oficial
d. Existe um paralelismo interessante entre Jesus e César. As afirmações de César são vistas por João
como uma imitação satânica das afirmações de Cristo (Hemer 1986, 86-87)

4. Quais são as fraquezas da igreja?


- a igreja de Éfeso tinha sido elogiada por identificar e se opor à heresia dos Nicolaítas. A igreja de Pérgamo
tolerava essa heresia e precisa ser castigada por essa fraqueza. Aqui Cristo tem “algumas coisas” contra essa
igreja. Isso mostra a seriedade da situação. Mesmo que os cristãos permaneciam fiéis estavam permitindo que
um movimento herético florescesse entre eles, colocando em risco toda a igreja. O seu problema não era
externo, mas interno: “você tem aí [entre vocês] pessoas”. A heresia é identificada como os ensinos de Balaão
(Osborne 2002, 143).
- Balaão é um personagem do AT do qual precisamos nos lembrar um pouco para entender a acusação contra
essa igreja. O povo de Israel está chegando perto de entrar na Terra Prometida. Eles já haviam derrotado vários
reis no seu caminho e agora estão diante de Moabe e Midiã. O rei de Moabe fica com muito medo e manda
chamar o profeta Balaão para vir amaldiçoar o povo de Israel. Balaão resiste a tentação de aceitar dinheiro para
vir amaldiçoar o povo. Ele 1º. pede a Deus se pode ir amaldiçoar o povo. Deus lhe diz que não pode amaldiçoar
o povo que Deus abençoou. Balaão gentilmente recusa a oferta e os emissários do rei voltam para o palácio. O
rei, porém não ficou satisfeito com a resposta e enviou mensageiros mais importantes para convencer o profeta.
Balaão novamente consulta o Senhor. Deus permite que ele vá junto com a condição de que só fale aquilo que
Deus quiser. Depois disso temos o famoso episódio entre Balaão e a jumenta. Nessa situação o anjo ameaça
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matar a Balaão se ele continuar com os planos de amaldiçoar a Israel. Ao invés de amaldiçoar o povo de
Israel, ele abençoou o povo 3 vezes. Aí Balaão deve ter dito ao rei como seduzir o povo de Israel
- aparentemente alguns membros da igreja tinham se unido ao movimento dos Nicolaítas, os ensinos de Balaão.
Tanto o termo Balaão como Nicolau significam “conquistador do povo”. Isso poderia explicar a comparação
entre os dois. Balaão era um profeta gentio que foi consultado por Balaque, rei de Moabe (Num 22-24) para
amaldiçoar Israel. Mas ao invés de amaldiçoar ele abençoou o povo 3 vezes. Não temos registro de Balaão
aconselhando Balaque, mas Num 25:1-3 nos diz que os israelitas sucumbiram à imoralidade com as mulheres
pagãs e a idolatria, adorando a Baal. Moisés atribui essa ação das mulheres moabitas ao conselho de Balaão
(Num 31:16). A tradição judaica considerava Balaão como um falso mestre. Aqui Cristo enfatiza isso afirmando
que Balaão ensinou (impf. denotando um ensino contínuo dado por Balaão a Balaque para vencer os israelitas)
os ensinos: “você tem aí pessoas que se apegam aos ensinos de Balaão, que ensinou Balaque a armar ciladas
contra os israelitas” (2:14). As palavras usadas depois disso, balein skandalon = lançar uma pedra de tropeço,
fala de conduzir a pessoa para a apostasia. Esse termo indica que a doutrina de Balaão é pintada claramente
como heresia e seus seguidores são apóstatas (Osborne 2002, 143-44)
- as pessoas nessa igreja haviam tomado posição coerente contra as perseguições externas, mas estavam
deixando uma forma sutil de adaptação ao mundo acontecer dentro da igreja (Beale 1999, 248)
- os ensinos de Balaão não se referem a doutrinas erradas, mas à astúcia de Balaão que mostrou às mulheres
midianitas como seduzir os israelitas contra o seu Deus. Num 25:1ss – mostra que o povo de Israel começou a
praticar a imoralidade com as filhas de Moabe. Essas por sua vez conseguiram levá-los a adorar os seus deuses
e a tomarem parte nas suas refeições sagradas. Por meio da comida e das mulheres pagãs Balaão conseguiu
destruir a moral/disposição de ânimo do povo de Israel. Balaão se tornou o protótipo de líderes corruptos que
levam cristãos a comprometer a sua fé com ideologias mundanas (Mounce 1977, 97-98)
- as 2 áreas desse “ensino” – idolatria e imoralidade – são práticas e não ensinos, e não são mencionados na
carta a Éfeso, Pérgamo ou Tiatira sobre os ensinos do movimento. Talvez isso seja intencional já que os ensinos
não eram dignos de uma discussão, não querendo dar publicidade a eles. Mas outras cartas mostram o conteúdo
dos falsos ensinos (Colossenses, Pastorais, 1 João). Logo, possivelmente o movimento estava mais centrado na
prática do que na doutrina. A descrição de comer a carne sacrificada aos ídolos e cometer idolatria é
reminescente de At 15:20, 29 e faz parte das restrições sobre os crentes gentios colocadas pelo Concílio de
Jerusalém. Sempre havia problemas entre os crentes gentios que estavam presentes num ambiente de idolatria e
imoralidade. Ao que tudo indica essa heresia tentava uma acomodação com essas práticas pagãs (Osborne 2002,
144). Os mestres dentro da igreja achavam que as pessoas podiam se adaptar mais ao mundo do que João
achava que seria próprio (Beale 1999, 248). Alguns membros da igreja haviam decidido que se adaptar às
pressões da sociedade seria a melhor maneira de se viver especialmente numa cidade onde estava o trono de
Satanás. Os nicolaítas viviam de uma maneira mais relaxada numa sociedade pagã. Era um grupo de pessoas
que achava que podia permanecer fiel a Cristo e ter uma coexistência pacífica com Roma (Mounce 1977, 98).
Provavelmente as pessoas estavam participando das festas às divindades que às vezes envolvia imoralidade. A
não participação nessas festas poderia trazer isolamento comercial e social (Beale 1999, 249).
- o problema principal aqui é a idolatria (em face do culto forte ao imperador na cidade). Ao que tudo indica os
hereges estavam ensinando que não havia nada de errado em participar no culto ao imperador, já que a maior
parte dos romanos o fazia para cumprir suas responsabilidades cívicas ao invés de verdadeira adoração. Alguns
estudiosos acham que o seu pecado se resumia a comer carne sacrificada aos ídolos (como em 1 Co 8-10; Rom
14), mas a figura de Balaão e Jezabel é muito forte para ser somente isso. Possivelmente temos uma idolatria
nos templos pagãos em honra a César, deus e salvador. A cidade tinha diversas festas e procissões aos deuses
que duravam dias (Osborne 2002,144). A indiferença com que os nicolaítas eram tratados, era preocupante
- talvez tivéssemos aqui algo similar ao que vemos em algumas cartas de Paulo onde a liberdade em Cristo foi
trocada pela libertinagem. Um pouco de idolatria não é ruim, um pouco de imoralidade, etc. (Stott 199, 49).
Eles acabam fugindo de um radicalismo de sua fé
- também se discute se o termo imoralidade seria somente uma metáfora para idolatria, construída sobre a
imagem de Israel no AT, quando faz o papel de prostituta com os outros deuses (Is 57:3, 8; Os 2:2-13). No
Apocalipse “imoralidade” se refere literalmente a promiscuidade (9:21; 21:8) e metaforicamente para idolatria
(2:21; 14:8; 17:2, 4; 18:3, 9), mostrando que tanto uma quanto outra seria possível. Aqui e em 2:20
possivelmente se refere a uma promiscuidade literal, similar à libertinagem dos hereges em 1 Jo (veja também
2:6). Os falsos mestres estavam guiando seus seguidores para a idolatria e imoralidade (Osborne 2002, 145).
Ambos aspectos estavam interligados muitas vezes nas religiões pagãs
- a seita de Balaão (v.15) está conectada com os Nicolaítas em 2:2, 6. A pergunta é se são movimentos idênticos
ou diferentes. A questão chave nessa discussão é a frase: “do mesmo modo”. Possivelmente temos aqui um
único movimento (os Nicolaítas) e a tradição judaica sobre Balaão: da mesma forma como Balaão enganou os
israelitas, esses falsos mestres estão tentando fazer com vocês. As pessoas se “apegaram” aos ensinos de Balaão
(v.14) e se “apegaram” aos ensinos dos Nicolaítas (v.15) (Osborne 2002, 145)
48

5. Qual a solução para essa acomodação aos padrões do mundo? Veja que a mudança exigida da igreja vem
acompanhada de uma advertência caso a igreja resolva não mudar.
- nesse pluralismo tolerante com os hereges a igreja estava correndo perigo. Sua situação é oposta à igreja de
Éfeso, que tinha triunfado sobre os Nicolaítas, mas tinha esquecido de “amar”. Pérgamo tinha sido fiel, mas
tinha esquecido de lutar contra os inimigos de Deus. Independente disso, a solução é a mesma, arrependimento.
O arrependimento aqui é singular, já que é endereçado ao anjo. Arrependimento significa mudar seu caminho
anterior, tanto espiritual como eticamente. Aqui significa mudar a sua abordagem e se posicionar contra os
falsos mestres. Não agir dessa forma constitui pecado (arrependimento sempre conota pecado) e convida o
julgamento divino (Osborne 2002, 145-46)
- se você não se arrepender, virei logo – vinda iminente do julgamento. Aqui também se refere à vinda sobre a
igreja para um julgamento em breve e ao julgamento final na parousia. Agora os verbos deixam o presente e vão
para o futuro. Virei até você e farei guerra contra eles. Esse termo lutar/fazer guerra é usado no Apocalipse
tanto para a luta do dragão e da besta contra os santos (11:7; 12:17; 13:7) e contra o Cordeiro (16:14; 17:14;
19:19) e a guerra de Deus contra as forças do mal (12:7; 19:11). Essa é uma metáfora que é construída sobre o
guerreiro divino do AT quando Deus vai à guerra contra seus inimigos. A mudança de “você” para “eles”
(“virei em breve até você e lutarei contra eles”) indica que a vinda é para toda a igreja, mas a ira será
especialmente contra os hereges e seus seguidores. Mas o julgamento será sobre toda a igreja, pois se a igreja
tivesse tomado uma postura clara contra os hereges, haveria uma debandada menor para o lado dos Nicolaítas.
Os crentes agora são chamados para tomar uma decisão: ir à guerra contra os hereges ou então Deus vai à
guerra contra eles e os resultados da 2ª. opção são bem mais severos. Voltaremos a esse tema quando olharmos
a igreja de Tiatira (Osborne 2002, 148)
- Deus nos torna responsáveis por nossa atitude diante da verdade que conhecemos. Jesus e sua palavra que nos
conduzem à salvação, também podem nos conduzir à perdição (Stott 1999, 54)
- o julgamento vai ocorrer com “a espada da minha boca”, voltando à espada que estava presente no início da
carta na descrição de Cristo (2:12). Essa espada simboliza a palavra de julgamento proferida por Cristo contra
as forças do mal (aqui se trata dos hereges). Já há muito tempo se reconhece que a Pax Romana é uma
designação incorreta já que ela era garantida com a espada, o símbolo da justiça romana. Aqui esta imagem
seria muito forte para o seu tempo (Osborne 2002, 146-47)

6. Mesmo estando em uma situação complicada, a igreja é desafiada a se tornar vencedora. Que promessa
aguarda os vencedores?
- o chamado para ouvir o que o Espírito diz às igrejas está construído sobre Mc 4:9 sendo uma advertência
profética para ouvir as palavras desta carta. É o Espírito que está falando e a igreja pode ignorar essas palavras
para sua própria desgraça. Ouvir = obedecer. É um chamado para colocar em prática essas exortações em sua
igreja. Eles devem se arrepender e iniciar a repreender os falsos mestres e seus seguidores (Osborne 2002,147)
- quem agir desta forma será um vencedor, que vão vencer com sua obediência e perseverança em meio à
terrível perseguição que experimentam em Pérgamo (o problema externo no qual se saíram muito bem) e
através de sua fidelidade na oposição ao falsos mestres (o problema interno, no qual têm fracassado até agora)
(Osborne 2002, 147)
- os vencedores nessas áreas receberão dádivas divinas
a. o maná escondido. O significado dessa metáfora é discutido. Osborne nos apresenta diversas
possibilidades:
i. A lenda judaica fala desse maná escondido. Um pote com o maná que caiu no deserto foi
colocado na arca da aliança (Ex 16:32-34; cf. Hb 9:4). A tradição diz que antes destruição do
templo de Salomão, Jeremias (ou um anjo) pegou a arca e a escondeu no Monte Sinai (ou Nebo)
(2 Mac 2:4-7, etc.) para aguardar a era escatológica quando o Messias iria colocar a arca no novo
templo. Assim estaria conectado com a festa messiânica nos últimos tempos e se refere ao gozo
eterno do céu (Beale, Aune)
ii. Alguns vêem aqui uma referência à eucaristia, já que Paulo liga o maná com a celebração da
eucaristia (1 Co 10:3-4). Ambas seriam antecipações da festa messiânica final
iii. Outros ainda vêem isso como uma comida espiritual ou celestial que está à disposição dos
vencedores (como o que estava disponível aos israelitas no deserto), mas escondido do restante
do mundo
iv. O maná escondido poderia ser Cristo, como o pão da vida (Jo 6:35) que provê sustento eterno (Jo
6:37). Esse maná está oculto aos não-salvos e parcialmente disponível aos salvos
v. Seguindo uma tradição judaica construída sobre Sl 78:25, onde o maná é denominado o pão dos
anjos, o reino messiânico seria a comida do povo de Deus (Charles)
49
vi. Poderia ser grãos de incenso usado nos altares do culto ao imperador. Assim aqueles que se
recusam a adorar o imperador receberiam o incenso celestial quando reinarem com Cristo no
reino messiânico (Krodel) (Osborne 2002, 147-48)
O conceito do maná escondido favorece o primeiro item, mas poderia também ter algo a ver com comida
espiritual. A conexão com a eucaristia não é muito clara e a utilização do incenso não se encaixa muito bem
com o escondido. Possivelmente temos que à medida que eles vencem tanto a pressão para adorar o imperador e
os falsos mestres entre eles, os crentes recebem comida espiritual como um antegosto do maná celestial na volta
de Cristo (Osborne 2002, 148)
b. Eles recebem uma pedra branca. Para entender o significado da pedra branca precisamos ver que o
branco no Apocalipse implica em pureza e vitória. Poderia ser uma pedra preciosa, ou uma pedra usada
em votações (Osborne 2002,148). Hemer apresenta diversas opções para o significado da pedra:
i. Seria uma pedra preciosa no sentido do AT, ou da tradição judaica onde pedras preciosas caíram
junto com o maná no deserto, ou pedras que estavam na estola sacerdotal do sumo sacerdote com
os nomes das 12 tribos sobre elas
ii. Em julgamentos nessa época o júri precisava usar pedras brancas ou pretas para culpar ou
inocentar a vítima (cf. At 26:10). Mesmo que não havia nomes escritos sobre as pedras, a situação
do júri poderia fazer sentido em Pérgamo. Mesmo que o júri humano da cidade desse uma pedra
preta para o cristão, uma pedra branca seria dada ao cristão por Jesus, aquele que é soberano
sobre tudo – isso aconteceria na eternidade
iii. Era comum que membros de associações ou os vencedores nos jogos usarem pedras como
“entrada” para serem admitidos nas festas, ou para comida gratuita nos jogos. A pedra poderia
também ter algo a ver com um contrato entre duas pessoas. Uma pedra branca era partida ao meio
e cada pessoa levava a sua metade. Para provar o contrato as pessoas juntavam as partes da pedra
(não poderia ser criada nenhuma farsa)
iv. Os pagãos muitas vezes tinham amuletos mágicos com nomes secretos (normalmente o nome de
um dos deuses) escritos sobre eles para protegê-los do mal e trazer sorte. Se esse fosse o contexto
o nome de Cristo ou de Deus seria escrito sobre a pedra do crente
v. Quando os gladiadores que haviam alcançado a admiração do povo eram libertos da arena
recebiam pedras (pedaços de osso) com seu nome sobre ele e a data de sua libertação, indicando
que não precisavam mais lutar;
vi. Os iniciados ao culto de Asklépio freqüentemente recebiam uma pedra com um novo nome
inscrito sobre ele;
vii. Poderia haver um contraste entre a natureza permanente de uma inscrição sobre a pedra
comparada com a transitoriedade das inscrições nos pergaminhos, tão famosos em Pérgamo
(Hemer 1986, 96-102; Osborne 2002, 148-49)
Não sabemos ao certo qual seria a melhor imagem para a pedra. Como ninguém sabe o nome seria difícil
imaginar que Cristo seria escrito sobre a pedra. Assim o nome da pessoa parece mais provável. Poderia ser o
novo nome recebido pelo crente relacionado com Is 62:2: “você será chamada por um novo nome que a boca
do Senhor lhe dará” (cf. Is 65:15). Assim possivelmente teríamos a combinação da pedra dada aos vitoriosos
nos jogos para entradas na festa e possivelmente uma pedra para a votação da inocência do crente. Assim tanto
o maná como a pedra são símbolos escatológicos relacionados com a festa messiânica na volta de Cristo mas
também a comida espiritual e novo nome que Deus dá aos crentes também no presente (Osborne 2002, 149)

7. Há paralelos da igreja de Pérgamo com a igreja de nossos dias? O que Cristo estaria dizendo através dessa
carta para as nossas igrejas?
- a igreja vive hoje dentro das pressões do mundo secular, mesmo que em nosso meio não temos nada
comparado ao culto ao imperador e sua perseguição contra tudo o que se chama de cristão (mesmo que isso
ocorra em outras nações). No entanto, a sociedade ao nosso redor nos pressiona um bocado, o que tende a levar
para um sincretismo por causa do materialismo. Mesmo que a igreja esteja crescendo o seu efeito na sociedade
parece quase nulo, já que dificilmente identificamos um cristão pelo estilo de vida. Além disso, temos muitos
falsos mestres na igreja. Dessa perspectiva temos algo em comum com a igreja de Pérgamo e precisamos estar
atentos diante das pressões para enfraquecer a nossa fé e caminhada cristã. Tendemos a uma teologia muito
superficial já que queremos que as pessoas se sintam bem. Temos que desenvolver professores e pastores que
conseguem transformar a teologia em algo relevante para os nossos leitores. Precisamos nos arrepender e nos
tornar vencedores em meio a essa cultura (Osborne 2002, 150)
- o crente Raimundo se encaixa bem nessa igreja. São pessoas que concordam com os nicolaítas: dá muito bem
para pertencer a Cristo (para garantir a vida eterna) e participar das coisas do mundo sem que isso afete o nosso
compromisso com Deus. Na igreja de Pérgamo a principal ofensa era de que praticavam a imoralidade mesmo
50
pertencendo à igreja. A igreja ficou quieta, como se aquilo fosse o problema individual das pessoas com Deus
– não tenho nada a ver com isso – é entre a pessoa e Deus
- “É surpreendente que, de acordo com estas cartas, o amor seja a primeira marca de uma igreja verdadeira e
viva, sendo a verdade a segunda, porque as Escrituras colocam o amor e a verdade no mesmo plano. Alguns
cristãos estão decididos a considerar o amor mais importante e esquecer a santidade da verdade revelada.
‘Vamos submergir nossas diferenças doutrinárias’, estimulam, ‘no oceano do amor fraternal!’ Outros estão
igualmente equivocados em sua busca da verdade às expensas do amor. Tão pertinaz é seu zelo pela palavra de
Deus que se tornam ásperos, amargos e desagradáveis. O amor torna-se sentimental se não for fortalecido pela
verdade, e a verdade torna-se opressiva se não for suavizada pelo amor. Precisamos preservar o equilíbrio da
Bíblia, que nos ensina a seguir a verdade e amor, a amar os outros na verdade, e a crescer não somente em
amor, mas em percepção ou discernimento (Ef 4:15; 3 Jo 1; Fp 1:9)” (Stott 1999, 43). Aparentemente a maior
parte dos crentes de Pérgamo permaneceram fiéis à Palavra, mas estavam tolerando os falsos mestres, e a
verdade não pode ser ignorada. Quando isso ocorre as conseqüências podem ser muito sérias
- a maneira de vencer o pecado é a proclamação da Palavra. Não expulsamos a falsidade com a inquisição, etc.,
mas com o ensinamento correto. Ideologias falsas precisam ser derrotadas com a ideologia superior de Cristo
(Stott 1999, 54)

Igreja de Tiatira (Ap 2:18-29)


- a cidade menos importante das 7. Tiatira era uma cidade comercial. Hoje a cidade de Akhisar está na mesma
localidade de Tiatira o que impediu que se fizessem escavações arqueológicas. Como resultado temos menos
informação sobre esta cidade do que sobre as outras. A cidade foi fundada no séc. III AC como posto fronteiriço
por Seleuco I (mesmo que possivelmente uma pequena vila já existia) como um pára-choque contra o seu
vizinho Lisímaco. Pérgamo dominou Tiatira em 262 AC e Roma em 190 AC. Como uma cidade estratégica na
fronteira, o seu 1º. século foi gasto sofrendo as devastações dos conquistadores. Mesmo que depois de 190 AC
havia menos revoltas por causa da presença dos romanos, Tiatira continuava sendo militarmente estratégica e
com isso freqüentemente havia instabilidade por causa da política local (Osborne 2002, 151)
- até o séc. I AC Tiatira tinha pouca paz. Mas depois com a Pax Romana, Tiatira estava bem localizada nas rotas
de mercadores e se aproveitou das oportunidades para comércio e manufatura. Quando a carta foi escrita, Tiatira
ainda era relativamente desconhecida, mas adquiriu prosperidade nos séc. II e III. A cidade era conhecida por
suas associações de mercadores. A maior parte das cidades da época estavam centradas sobre essas associações,
mas de forma especial isso ocorria em Tiatira (Osborne 2002, 151). Hemer opina que além do posto militar,
tendo uma guarnição militar, ela tinha essa função comercial. Cada operário (mercadores, curtidores, oleiros,
padeiros, costureiros, vendedores de tecido, metalúrgicos) era parte de uma associação. Mesmo que não era
obrigatório pertencer a uma delas, poucos não se ajuntavam a elas, pois eram os centros comerciais e da vida
social simultaneamente. As associações eram o coração da vida cívica da cidade. As cidades eram construídas
em quadras e cada associação controlava suas quadras. Lídia, a vendedora de púrpura, na igreja de Filipos, era
de Tiatira, cidade muito conhecida por suas tinturas. A vida religiosa da cidade também era influenciada pelas
associações. Cada associação tinha o seu deus padroeiro e as festas das associações eram freqüentemente de
caráter religioso. A pressão para que os cristãos participassem da vida idólatra estava freqüentemente ligada
com essas associações, pois estas festas estavam no coração da vida social e comercial da cidade. Se recusar a
participar significava a perda da freguesia e dos negócios (Osborne 2002, 151-52)
- o deus mais cultuado em Tiatira era Apolo, o deus do sol e filho de Zeus (conectado com o deus do sol da
região da Lídia, Tirimnos). Havia pouco ou nenhum culto ao imperador (mesmo que alguns acham que este
poderia ser indireto, já que Apolo também era o padroeiro do imperador, que também era visto como filho de
Zeus). A população era etnicamente variada. Pode ter havido uma pequena população judia na cidade (Osborne
2002, 152)

1. Que descrição de Cristo temos aqui? Por que essa descrição é tão relevante para a igreja?
- é interessante notar que a cidade menos importante recebe a carta mais longa (Charles in Stott 1999, 58)
- essa carta outra vez é endereçada ao anjo da cidade mostrando a seriedade da situação. A única diferença é que
aqui temos a referência ao Filho de Deus (a única referência no livro). A razão disso possivelmente está na
centralidade de Apolo, o filho de Zeus, em Tiatira. É Jesus e não Apolo, o verdadeiro Filho de Deus. Esse título
dá a conotação de majestade e divindade e é uma mensagem importante para essa igreja fraca que deve se
encontrar no verdadeiro “Filho de Deus” (Osborne 2002, 153)
- a descrição de Jesus “cujos olhos são como chama de fogo e os pés como bronze reluzente” é tirada de Ap
1:14-15 onde fazem alusão a Dan 10:6. Estas também são especiais a Tiatira, especialmente o bronze reluzente
51
que se refere a uma das maiores “associações/corporações” da cidade. Os “olhos como chama de fogo”
indicam a percepção penetrante e o julgamento de Jesus. Duff argumenta que os olhos como chamas vêm da
imagem de uma divindade do mundo antigo que amontoa o julgamento sobre os inimigos. Essa imagem estaria
correta nesse ponto, mesmo que a referência vem de Dan 10. Nessa situação desesperadora com o heresia de
Jezabel andando a pleno vapor na igreja, eles precisam estar cientes que Cristo não somente conhece tudo sobre
a igreja, mas que o julgamento sobre a igreja é iminente. Mesmo que muitos membros da igreja possam ser
enganados por seus argumentos perniciosos, Jesus perscruta cada um deles e o fogo consumidor logo vai
aniquilá-los. O bronze polido era uma fusão de cobre e zinco, uma espécie mais pura e refinada de metal
manufatura pela corporação local para uso militar em Tiatira. Assim podemos ter aqui uma oposição ao deus
padroeiro Apolo, que freqüentemente é mostrado como um deus guerreiro montado sobre um cavalo
empunhando um machado de 2 gumes usado em batalhas. É Jesus o verdadeiro guerreiro divino e seu poder
logo será sentido pela igreja (Osborne 2002, 153-54)

2. Que virtudes dessa igreja são ressaltadas?


- é interessante notar que as igrejas de Éfeso e Tiatira que têm problemas sérios, também são as igrejas que têm
a maior lista das boas obras conhecidas por Cristo. Em todo o NT quando uma exortação séria é dada, ela está
ancorada num encorajamento (Osborne 2002, 154). Ao que tudo indica a igreja de Tiatira tinha crescido bem e
tinha muitas qualidades a serem mencionadas:
a. Amor. Como freqüentemente ocorre no NT, o amor ocupa o 1º. lugar. Ao contrário da igreja de Éfeso,
esta é uma igreja que ama (possivelmente tanto a Deus como ao próximo). É interessante que a palavra
agape ocorre somente na referência à igreja de Éfeso e de Tiatira, contrastando assim claramente ambas
as igrejas. Nas 3 vezes que o verbo agapao é usado (1:5; 3:9; 20:9) denota o amor divino e a 4ª.
ocorrência (12:11) da prontidão ao sacrifício dos mártires: “diante da morte, não amaram a própria
vida” (12:11). O amor é a característica primária dos filhos de Deus (Osborne 2002, 154)
b. Fé. A fé é ainda mais central neste livro descrevendo a confiança em Deus ao invés da confiança no
mundo, mas ainda muito mais a perseverança em meio à opressão e pressão dos pagãos. Possivelmente
temos aqui tanto a fidelidade como fé/crença. No texto paralelo de Ap 2:13 ambos aparecem onde um
esclarece o outro: “você permanece fiel ao meu nome e não renunciou à sua fé” (Osborne 2002, 154)
c. Serviço. Essa palavra ocorre somente aqui no livro e denota uma vida ativa de cuidado e ajuda, serviço
de caridade e ministério aos outros. Pode haver uma diferença entre os termos diakoneo que denota
serviço em favor de alguém enquanto douleo, o serviço subordinado a alguém (Osborne 2002, 154-55)
d. Perseverança. Esse é um dos grandes temas do livro denotando uma perseverança ativa em meio à
pressão e tempos difíceis. É a chave para o “vencedor” que permanece fiel a Deus mesmo que
signifique martírio (Osborne 2002, 155)
Essas 4 características descrevem a vida do cuidado cristão para com os outros e a fidelidade com Deus.
Contrário à igreja de Éfeso, a qualidade de vida nessa igreja não estava diminuindo. Eles continuavam a crescer
em boas ações, pois “sei que você está fazendo mais agora do que no princípio”. Possivelmente aqui se refere a
um aumento qualitativo e quantitativo. Havia um número maior de boas obras e estas tinham um impacto maior
do que quando Tiatira era uma igreja jovem. Esse é um elogio considerável (Osborne 2002, 155)

3. Que fraquezas são mencionadas?


- mesmo que os pontos fortes eram numerosos, as fraquezas eram ainda mais severas. Assim como Pérgamo
haviam relaxado em sua vigilância teológica e estavam tolerando a heresia que os efésios tinham rejeitado. Aqui
também a frase “tenho contra ti” mostra a insatisfação divina com o problema sério da igreja e adverte sobre o
julgamento vindouro caso esta situação não mude (Osborne 2002, 155). No meio daquela situação tão bacana de
crescimento equilibrado aparece uma fraqueza que ameaça destruir toda a vida da igreja.
- se Deus busca a nossa santidade, o diabo está interessado em nos levar ao pecado. “Se o monstro do mar falhar
em esmagar a Igreja pela força e o monstro da terra em perverter seu testemunho pelo mal, então a prostituta de
Babilônia pode ter sucesso em seduzi-la através de seus encantamentos repugnantes (compare com Ap 17:1-6).
Ou, deixando de lado as imagens vívidas do Apocalipse, se o diabo não pode destruir a Igreja por meio de
perseguição ou heresia, ele tentará corrompê-la com o mal. Tal foi ao menos a estratégia do dragão em Tiatira”
(Stott 1999, 62)
- o grande problema é a tolerância aos heréticos. Aqui Cristo usa uma palavra mais forte do que para a igreja de
Pérgamo. Ali a igreja “tinha” falsos mestres entre eles; aqui eles “toleram” a líder Jezabel. A palavra tolerar
pode inclusive ter a conotação de dar suporte. No mínimo aqui eles se recusam a tomar posição contra o seu
ensino pernicioso. Enquanto em 2:14-15 se falava do movimento dos nicolaítas como um todo, aqui se fala
especificamente da líder desse grupo, com o nome de Jezabel. Jezabel era a mulher fenícia de Acabe que de
forma programada levou o reino de norte ao culto a Baal e à feitiçaria (1 Rs 16:31-34; 21:25-26; 2 Rs 9:22).
Mesmo que a imoralidade não é mencionada no texto do AT (a prostituição de 2 Rs 9:22 possivelmente tem o
52
significado espiritual de idolatria), o culto a Baal normalmente era caracterizado pela licenciosidade. A líder
aqui é uma mulher que se chama de profeta, afirmando que suas palavras vinham diretamente de Deus. Isso
pode indicar que ela não tinha um ensino sistemático, mas que falava por oráculos e pronunciamentos. O dom
de profecia era muito importante para a igreja primitiva, sendo que estes eram numerados entre os líderes da
igreja (Ef 4:11; 1 Co 12:28). As mulheres podiam profetizar (1 Co 11:5) e eram numeradas entre os profetas (At
21:9). Ao mesmo tempo havia muitos falsos profetas no AT (Jezabel tinha em torno de 900 [1 Rs 18:19]). Não
podemos identificar essa líder a não ser pelo nome de Jezabel e que possivelmente se tornou líder do
movimento (possivelmente dos nicolaítas) por causa de suas profecias (Osborne 2002, 155-56). É certo que o
problema da igreja de Tiatira estava centrado nas associações/corporações. Para sobreviver a pessoa precisava
estar conectada (ser membro) de uma das associações. O problema para os cristãos é que isso implicava em
participar das festas das associações que envolviam a carne oferecida aos ídolos, já que os deuses padroeiros
eram sempre adorados nas festas. Não se sabe até onde estas festas envolviam promiscuidade, mas é uma
possibilidade. Quando os cristãos se recusavam a participar dessas festas porque isso comprometeria sua fé,
enfrentavam a ira da população e poderia ter repercussões econômicas quando perdiam seus empregos. Em
Pérgamo a situação era a ponto de correr perigo de vida. Aqui a perseguição era econômica e social. Jezabel
possivelmente ensinava que não havia nada de errado em participar nas festas e celebrações das associações,
pois era uma atividade meramente civil. Já que os ídolos não eram nada, os cristãos não destruiriam sua fé
participando dessas festas. Também é possível que ela usou uma forma do ensino paulino sobre a liberdade
cristã: “sabemos que o ídolo não significa nada no mundo e que só existe um Deus... A comida, porém, não nos
torna aceitáveis diante de Deus; não seremos piores se não comermos, nem melhores se comermos” (1 Co 8:4-
8). Assim o cristão estava livre para comer a carne oferecida aos ídolos (Osborne 2002, 156-57)
- a resposta do Cristo exaltado é enfática. Em seus ensinos, Jezabel está enganando meus escravos. O termos
planao = enganar é usado no livro para Satanás (12:9; 20:3, 8, 10), para o falso profeta (13:14; 19:20), ou para a
prostituta Babilônia (18:23), enganando/induzindo o mundo para a idolatria e para a imoralidade. Esse é o único
lugar no livro onde os cristãos são enganados (nos outros casos isso sempre ocorre com os descrentes). Como se
trata de meus escravos, é mais provável que sejam cristãos que são seduzidos ao pecado. Braun percebeu 3
características em passagens apocalípticas judaicas e cristãs: sedução através do poderes do mal (anjo das
trevas), dualismo (luz X escuridão; verdade X erro), e escatologia (profetas falsos afirmando ser os libertadores
dos últimos dias). Existe uma paralelo interessante entre o Apocalipse e os discursos do monte das Oliveiras,
quando Jesus profetizou que falsos profetas e falsos messias enganariam muitos na igreja (Mc 13:5-6, 22; Mt
24:4-5. 11, 24). Jezabel é vista aqui como força satânica (esse é o único lugar no livro onde uma pessoa tem
esse poder terrível) afirmando ter a autoridade do Espírito (como profeta), mas levando muitos dos escravos de
Deus para o caminho errado da heresia (Osborne 2002, 157-58)

4. Que solução Cristo oferece para esta igreja? Existe algo de peculiar nesta solução?
- em outros lugares (2:7, 17, 26, 28), a oferta de Deus é escatológica e se relaciona com a recompensa no futuro
(usando o tempo futuro) para aqueles que vencerem. Aqui o presente está no passado e não está relacionado
com uma recompensa, mas a uma oportunidade para o arrependimento. Por causa da seriedade do problema, a
única coisa que Deus pode dar a eles é a oportunidade de mudar seus caminhos (arrependimento). Mas o tempo
para isso quase acabou e o julgamento é iminente (2:22-23). É provável que João ou outro líder já tivesse
advertido Jezabel (somente ela é mencionada, mas todo o movimento está sendo considerado através dela), seja
por comunicação profética ou de acordo com 3 Jo 10: “se eu for, chamarei a atenção dele para o que está
fazendo”. Em 1 Co 14:29, 32 (cf. 1 Jo 4:1) os lideres devem testar as afirmações proféticas para determinar
quais vinham de Deus. Jezabel falhou no teste, mas não estava disposta a se arrepender (o tempo presente usado
denota a tentativa continua de ajudá-la a acertar a situação com Deus). Diferente de 2:14, 20, aqui o adultério é
visto de forma metafórica, se referindo a adultério com outros deuses. A disposição de Jezabel para participar
nas práticas das religiões pagãs era equivalente a cometer adultério contra Deus (Osborne 2002, 158)

5. Que promessa a igreja de Pérgamo recebe de Cristo? Isso tem algo a nos ensinar?
- Pérgamo recebera uma advertência, mas para Tiatira o julgamento que está a caminho é anunciado como um
fato. Ela se perverteu com os deuses pagãos na cama da idolatria. Agora Deus vai lançá-la num tipo diferente de
cama, uma cama de dor. Deus vai infringir sofrimento sobre ela. A utilização de doença como julgamento é
comum na Bíblia. Os amigos de Jó presumiram que seu sofrimento era o resultado do pecado e em 1 Co 11:30
tanto doença como morte resultaram da participação indigna na celebração da ceia (cf 1 Co 11:27-29).
Possivelmente aqui João se refere a uma cama de sofrimento, uma metáfora para uma doença muito séria. Isso
estaria de acordo com a entrega a Satanás para julgamento e excomunhão pronunciada por Paulo em 1 Co 5:5 e
1 Tim 1:20 onde o propósito disso é levar a pessoa a experimentar o fruto amargo de seus atos (Osborne 2002,
158-59)
53
- existe discussão se estamos falando aqui de um ou 2 grupos distintos. O v.22 dá uma oportunidade para
arrependimento: “Por isso, vou fazê-la adoecer e trarei grande sofrimento aos que cometem adultério com ela,
a não ser que se arrependam das obras que ela pratica”. Mas na continuidade o v.23 não abre essa
oportunidade: “Matarei os filhos dessa mulher”. Logo parece mais viável que tenhamos 2 grupos distintos aqui.
Aqueles que cometem adultério com ela são os membros da igreja que foram atraídos para o seus ensinamentos
e práticas sincretistas, mas ainda não foram tão longe como ela, ou seja, ainda não se fecharam ao
arrependimento e assim aqui têm uma oportunidade para fazê-lo assim como ela teve. Pode ser que estas
pessoas a toleravam, mas ainda não tinham sido envolvidas totalmente em suas práticas. Estas pessoas são
advertidas que Deus irá visitá-los com grande tribulação. Deus vai castigá-los com essa aflição terrível da
mesma maneira como Jezabel foi acometida pela doença. A grande tribulação aqui se refere a um tempo terrível
de aflição que Cristo vai aplicar sobre eles. Essa aflição é mais geral do que a cama da aflição de Jezabel
podendo conter diversos tipos de julgamentos visando trazê-los de volta ao arrependimento. Isso fica muito
claro na afirmação: “a não ser que se arrependam das obras que ela pratica”. O tempo aoristo utilizado
possivelmente se refere a um ato especifico de arrependimento ou mais provável a um arrependimento contínuo.
Jezabel e seus filhos já tiveram essa oportunidade, mas a recusaram. Esse arrependimento precisa ser “das obras
que pratica”. O pecado é primariamente o pecado de Jezabel e as ações procedem de sua influência má. Isso não
significa que as pessoas são inocentes, mas que estão seguindo o seu modelo. Jezabel introduziu essas práticas
erradas e chamou as pessoas para segui-la (Osborne 2002, 159-60)
- existe ainda o grupo dos filhos de Jezabel, possivelmente não seu filhos físicos, mas espirituais, aqueles que
estão totalmente comprometidos com seus ensinos. Pode haver um paralelo com os filhos de Acabe que foram
mortos em 2 Rs 10:7, mas o paralelo mais próximo está em Ez 33:27 onde parte do julgamento sobre Israel foi
que muitos morreram através de uma praga. Existe aqui uma progressão de julgamentos dado a Jezabel e seus
seguidores: do leito de doença para a morte através de uma praga (Osborne 2002, 160)

6. O texto deixa claro que a advertência também vale para as outras igrejas. O que ele quer nos mostrar com
isso?
- Cristo agora vai falar aos outros membros da igreja chamando-os a prestarem atenção. Mas aqui a linguagem é
muito forte. Cristo está derramando o seu julgamento para que as outras igrejas saibam. Todas as igrejas devem
ser advertidas sobre o poder de Cristo para julgar. No futuro elas verão a mão do Senhor cair sobre os pecadores
de maneira que saberão que não há como escapar. Temos aqui 2 igrejas que permitem os falsos mestres entre
eles. As igrejas precisam se conscientizar da seriedade disso e não permitir que isso ocorra. O princípio por trás
disso é: “Os que pecarem deverão ser repreendidos em público, para que os demais também temam” (1 Tim
5:20) (Osborne 2002, 161)
- Deus quer que as igrejas saibam que “que eu sou aquele que sonda mentes e corações”. Cristo faz uma
investigação crítica expondo as partes mais intimas da pessoa. A linguagem vem de Jer 17:10: “Eu sou o Senhor
que sonda o coração e examina a mente”. Literalmente o Senhor sonda os rins que no pensamento hebraico era
a essência das emoções e dos sentimentos. O coração é a sede do intelecto e da mente. Juntando os 2 temos o
ser interior da pessoa. Nada pode ser escondido de Deus. Portanto, todas as igrejas devem examinar as suas
casas. Caso contrário o mesmo julgamento virá sobre elas, pois não escaparão com seus pecados (Osborne
2002, 161)
- finalmente Deus se dirige para toda a igreja e reitera seu presente futuro, mas nesta igreja no contexto do
julgamento e não da recompensa. Isso significa que Deus vai “pagar” a cada um segundo o que fez, seja bom ou
mal. Cada membro individualmente receberá a recompensa ou castigo de acordo com as suas obras. Esse é o
princípio do AT e romano da lex talionis onde cada um recebe o julgamento baseado nas suas obras. Esse é um
tema importante que já inicia no AT (Sl 62:12; Prov 24:12; Os 12:2) e é retirado por Cristo (Mt 16:27), Paulo
(Rom 2:6; 14:12; 2 Co 11;15; 2 Tim 4:14) e Pedro (1 Pe 1:17). No Apocalipse esse tema aparece em 2:23;
14:13; 18:6; 20:12, 13; 22:12. Deus não tem favoritos e julga a cada um segundo as suas obras. Trata-se das
obras externas e dos pensamentos internos (Osborne 2002, 161-62)
- além disso, se promete aos crentes fiéis que não terão outro fardo/carga extra. Esse é o grupo que não
sucumbiu ao ensinamento falso e rejeitou as coisas profundas de Satanás. Mesmo que toleraram o movimento
eles não o aceitaram. Eles não conheceram ou aderiram ao movimento. Isso pode significar conhecer por
experiência ou compreender/aceitar esses ensinamentos. Eles não aprenderam “os segredos profundos de
Satanás”, possivelmente uma afirmação sarcástica sobre a afirmação de Jezabel de conhecer os segredos
profundos de Deus (cf. 1 Co 2:10), que na verdade eram os segredos de Satanás que apareceram em suas
profecias. Como eles dizem possivelmente se refere para trás aos segredos de Satanás (Osborne 2002, 162-63)
- para os crentes não haverá um fardo maior. Isso pode indicar que sobre eles não viria uma ameaça de
julgamento, ou então nenhum outro fardo a não ser permanecer fiel ao Senhor. Deus não colocará sobre eles
nenhum fardo extra a não ser que permaneçam fiéis até que ele volte. Seria a perseverança como estilo de vida.
Isso implica em “segurar firme” as verdades tradicionais da fé (Mc 7:3; 2 Ts 2:15; Col 2:19). Assim eles devem
54
se apegar firmes ao que eles têm, as doutrinas cristas e distinguindo dos ensinamentos heréticos que devem
combater. Isso deve ser feito até que Jesus volte (Osborne 2002, 163-64)

7. Que promessa é feita as vencedores?


- agora temos a promessa aos vencedores. A única maneira de ser vencedor é perseverar nas palavras de Jesus
(v.25) e nas suas obras (v.26) até o fim. Isso está em contraste com os ensinos e obras de Jezabel. Somente as
obras de Cristo podem ser a base para a vitória do cristão. As palavras de Jesus precisam ser praticadas em
obras. A crença leva à ação. As obras já foram descritas como amor, fé serviço e perseverança. Eles viveram
estas no passado e precisam delas agora mais do que nunca. É necessário permanecer fiel até o fim para ser
salvo (Osborne 2002, 164-65)
- as promessas para os vencedores são grandes. A 1ª. é uma paráfrase de Sl 21:8-9 interpretado no séc. I como
sendo messiânico: “8 Pede-me, e te darei as nações como herança e os confins da terra como tua propriedade.
9 Tu as quebrarás com vara de ferro e as despedaçarás como a um vaso de barro”. O Cristo exaltado substituí
o termo herança por autoridade dada ao vencedor sobre as nações. Possivelmente devemos entender esse reinar
com Cristo sobre as nações depois da parousia. Eles reinarão com um cetro de ferro denotando a vitória de
Cristo sobre as nações que se opõem a ele. Os cristãos vão reinar juntamente com Cristo. As nações serão
quebradas como quem despedaça um vaso de barro. Isso implica em destruição total. Os santos participam
dessa batalha, mas não sabemos como (Osborne 2002, 165-67)
- os crentes recebem a mesma autoridade que Cristo recebeu de seu Pai. Existe uma corrente de autoridade do
Pai para o Filho e depois para os vencedores. Isso é paralelo ao que temos no evangelho de João, onde Deus
envia seu Filho e lhe dá a autoridade e este por sua vez a transfere para seus discípulos. Além disso, eles
recebem a estrela da manhã. Tem havido muitas propostas para esta estrela da manhã. As mais prováveis são a
referência à profecia de Balaão e sua conexão com os nicolaítas (essa se encaixa no contexto da heresia na
igreja), e o planeta Vênus com seu símbolo da soberania o poder dos romanos (esta se encaixa contra o
paganismo que se infiltrava). Talvez tenhamos que ver ambos neste texto. A estrela que viria era Cristo
(profecia messiânica nessa época). Cristo permite que a igreja participe em sua autoridade messiânica (compare
19:15 com 2:26-27; 22:16 com 2:28). E aqui Cristo permite que a igreja compartilhe de sua glória messiânica
como a estrela da manhã. Isso também se encaixa com a idéia do planeta Vênus, já que 2:26-27 apresenta a
vitória final sobre as nações pagãs. As legiões romanas carregavam consigo o símbolo de Vênus para
demonstrar sua invencibilidade. Nesse contexto Cristo está dizendo que somente ele é soberano e o poder está
com ele e seus seguidores vitoriosos (Osborne 2002, 167-68)
- “os cristãos fiéis que têm repudiado os padrões do mundo, controlado os desejos de sua natureza caída e
resistido à sedução do diabo receberão esta resplandecente estrela da manhã. Rejeitando Jezabel;, receberão
Cristo. Terão permissão para compartilhar não somente sua autoridade, mas também sua glória. Não irão apenas
governar as nações, mas também servir ao Senhor das nações” (Stott 1999, 73)
- depois somos chamados mais uma vez a ouvir o que o Espírito está falando. Devemos ouvir e obedecer. Isso
vai além de Tiatira para todas as igrejas

8. Para o que a carta para essa igreja quer nos alertar?


- essa igreja tem 3 pontos principais para nos alertar
a. A igreja hoje precisa crescer em suas obras: amor, fé serviço e perseverança. A igreja enfrenta situações
parecidas e seria bom que Cristo pudesse dizer que as obras da igreja hoje são maiores e melhores que
de anos atrás
b. A igreja enfrenta muitas heresias que tentam diluir o evangelho. Precisamos proteger a igreja daqueles
que querem levar os membros para o caminho errado, adaptando o evangelho demais às pessoas
c. A maior pressão de Tiatira, ao contrário de Pérgamo, não eram as religiões rivais, mas a oposição vinha
do mundo do comércio e dos negócios. Muitos tendem a comprometer a sua fé em favor do dinheiro e
do status. O julgamento de Deus pode vir sobre as nossas igrejas da mesma forma que veio sobre
Tiatira. Tudo o que fazemos precisa trazer honra a Cristo. Caso contrário podemos acabar como Jezabel
(Osborne 2002, 169)

Igreja de Sardes (Ap 3:1-6)


- Sardes era uma das cidades mais gloriosas da Ásia, mas grande parte do seu esplendor era coisa do passado.
Era uma das cidades mais antigas da região, fundada possivelmente em torno de 1200 AC, tornou-se a capital
do abastado e poderoso reino da Lídia. Sua acrópole possivelmente estava no topo de um monte com um
precipício de 450m de 3 lados e uma subida íngreme do outro. Assim, desde o início era uma fortaleza natural,
garantindo a sua proteção. Com o tempo a cidade se desenvolveu na região (Osborne 2002, 171; Mounce 1977,
108-9). Hemer fala que a parede de pedra tinha mais de 2000m a partir da base da planície. O que parece pedra,
no entanto, é de um tipo de terra que forma essas paredes verticais, mas que desmancha ao toque (Hemer 1986,
55
129). Dá para imaginar o que a erosão faz com um material assim. Provavelmente a maior parte da antiga
Sardes foi destruída pela erosão
- em tempos de guerra a acrópole servia de proteção para as pessoas da cidade (Hemer 1986, 130).Conquistar a
acrópole de Sardes era tido como algo impossível
- no séc. VI AC, Sardes era uma das cidades mais poderosas do mundo. Para o gregos ela tinha sido de longe a
cidade mais importante de todas. No entanto, na época do Império Romano esta cidade já não tinha mais o
mesmo poder nem o mesmo brilho. Ela vivia muito da fama antiga (Hemer 1986, 129, 134)
- um dos reis famosos do passado era Gyges no séc. VII AC. Ele foi responsável pela riqueza e poder da cidade
e era conhecido pelos assírios como “Gugu”, segundo Hemer o protótipo de “Gogue” de Ez 39-39 (Hemer
1986, 131). A cidade era uma fortaleza militar que raramente perdia uma batalha sendo temida por todos. A
cidade também enriqueceu muito através do comércio. A lenda diz que Midas deixou seu ouro das nascentes do
rio Pactolus que corria pela cidade. Essa lenda pode ter surgido da presença de pó de ouro que tinha
acrescentado à riqueza da cidade (Hemer 1986, 130-31). Sardes foi a 1ª. cidade a cunhar moedas de ouro e
prata. Croesus, o filho de Gyges era tão poderoso que pretendeu atacar Ciro, o rei da Pérsia. Depois do ataque
inicial ele se retirou para Sardes para passar o inverno, na expectativa que Ciro voltasse para casa. No entanto,
Ciro perseguiu a Croesus e o surpreendeu, destruindo sua famosa cavalaria. Croesus se retirou para sua fortaleza
para se preparar para o cerco da cidade. No entanto, um dos soldados de Ciro escalou a montanha impossível de
ser escalada por uma fissura, um ponto onde não foi observado e abriu os portões. Sardes caiu depois de 14 dias
do cerco em 546 AC. Isso impressionou tanto o mundo grego que a expressão “capturar Sardes” se tornou uma
expressão para atingir o impossível (Osborne 2002, 171)
- Sardes se tornou a capital do governador persa, mas no decorrer dos próximos 300 anos a cidade passou por
diversos fiascos militares, como a revolta de Lídia alguns anos mais tarde, o incêndio que queimou a cidade
baixa pelos iônios em 499 AC, a utilização da cidade como a base militar de Xerxes e a rendição de Sardes a
Alexandre sem batalha. A 2ª. grande derrota da cidade ocorreu quando Antíoco III invadiu a região em 314 AC
para suprimir uma revolta. Outra vez um soldado de Creta chamado Lagora escalou o penhasco num ponto que
não estava sendo observado juntamente com 15 homens (enquanto os soldados de Sardes apenas observavam a
entrada principal da cidade) e abriram os portões. Depois disso Sardes se rendeu a Pérgamo em nível de
importância. Ela ainda continuava com sua riqueza e prosperidade comercial (ela afirmava que fora a 1ª. a
inventar o processo de tingir a lã e era o centro dessa indústria), mas vivia praticamente somente do passado
(Osborne 2002, 171-72)
- em 17 AD a cidade sofreu com um terremoto muito forte. Não sabemos com certeza, mas parece que grande
parte dessa acrópole que ficava sobre a colina simplesmente desapareceu quando grande parte da colina ruiu
(Hemer 1986, 134). Esse terremoto devastou Sardes e Filadélfia. Plínio chamou esse terremoto do pior desastre
na memória humana. Sardes foi reconstruída com a ajuda de Augusto. Para expressar sua gratidão, os cidadãos
de Sardes cunharam uma moeda com sua imagem e escreveram nela: Sardes de Cesárea. Em 26 AD apelou para
Roma para ter a honra de erigir um templo para César, mas o privilégio foi dado a Esmera. Além disso, havia na
cidade um enorme templo para Ártemis (que não foi concluído) que rivalizava o templo de Éfeso [escavações
tem mostrado que a cidade tinha um teatro, um estádio, e também um templo gigantesco de Ártemis (50 X 100
X 18m [as colunas]) (Mounce 1977, 109)]. Conhecida também pela deusa da Anatólia Cybele, Ártemis era a
deusa padroeira de Sardes. As pessoas de Sardes tinham um interesse especial pela morte e imortalidade e muito
de sua vida religiosa era adoração da natureza focando sobre o ciclo da fertilidade e gerar vida da morte. Uma
fonte de água quente sagrada a 3km da cidade parece estar conectada com um deus do além com as mesmas
ênfases (Osborne 2002, 172). Ártemis tinha o nome regional de Cybele que se acreditava tinha o poder de
restaurar a vida aos mortos
- Sardes tinha uma comunidade judaica enorme nos séc. V e IV AC. Antíoco III colocou 2000 judeus como
cidadãos na região e há evidência que muitos judeus tinham a cidadania romana na cidade. Uma das maiores
sinagogas foi descoberta na cidade pelas escavações, que tinha sido construída no séc. II AD. Parece que a vida
judaica e helenista tinha muito em comum (veja Hemer 1986, 137), podendo indicar que havia sincretismo dos
judeus e cristãos com a comunidade pagã local. Mesmo que fontes externas não provam esse ponto, algumas
indicações nessa carta sustentam essa afirmação (Osborne 2002, 172)
- como era um centro comercial forte provavelmente atraiu para lá judeus. Josef indica que havia judeus na
cidade que haviam até se tornado cidadãos da cidade. Isso normalmente só acontecia se abandonassem a sua fé
em Deus (apostasia). Mas havia casos em que um grupo de judeus era favorecido pelas autoridades quando uma
nova constituição foi imposta sobre eles pelos selêucidas. Inclusive os nomes dos judeus achados nas inscrições
da sinagoga são nomes judeus. Por dinheiro se faz qualquer coisa. Normalmente havia muita tensão racial entre
judeus e outros povos. Sardes parece ser única no fato de que conviviam amistosamente. Diversas coisas nos
mostram que tanto judeus como cristãos haviam se adaptado muito bem a maneira de viver das pessoas de
Sardes. De acordo com Heródoto, “os habitantes de Sardes, no correr dos anos, tinham adquirido uma reputação
respaldada em padrões morais frouxos e até mesmo licenciosidade ostensiva” (Stott 1999, 79)
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1. Que característica de Cristo é dada para esta igreja? O que significa?


- essa carta começa com a descrição de Cristo
a. Aquele que tem os 7 espíritos de Deus. Isso denota o controle divino. Talvez mostrem a extensão do
poder de Deus sobre as 7 igrejas. Pode ser uma alusão a Zac 4:2, 10 onde menciona as 7 partes do
Espírito como já discutido em Ap 1:4. Aqui se refere ao trabalho completo e adequado do Espírito na
comunidade. A igreja de Sardes está quase morta e pode receber nova vida somente se o Espírito tomar
conta, e Cristo tem o poder do Espírito à sua disposição. As 7 lâmpadas de Zac 4:2 e os 7 olhos de Zac
4:10 estão sobre a igreja de Sardes na pessoa do Espírito Santo (Osborne 2002, 173; Mounce 1977,
110)
b. Aquele que tem/controla as 7 estrelas. Em 1:20 denota os 7 anjos das igrejas. O controle de Cristo sobre
os anjos sugere que Cristo controla a igreja através do anjo e este precisa prestar contas a ele somente.
Da mesma forma como a igreja de Éfeso, essa igreja precisa entender quem é soberano nesta situação
(Osborne 2002, 173)

2. Qual é o ponto forte da igreja?


- basicamente não existe nada de bom para falar dessa igreja a não ser que existe um remanescente fiel pequeno.
Este vai ser dado mais tarde quando da promessa aos vencedores

3. Quais são as fraquezas da igreja?


- aqui a expressão “conheço tuas obras” descreve a sua fraqueza. Aqui essa expressão é irônica, já que existe
pouco de bom para falar desta igreja. Essa igreja não precisa de uma seção para falar dos pontos fracos, pois o
seu ponto forte é a sua fraqueza. Somente um remanescente fiel (a minoria nesta igreja) recebe encorajamento e
são colocados perto da promessa dada aos vencedores (3:5). As obras da igreja são descritas de uma maneira
estranha: “você tem um nome”. Isso outra vez denota uma ironia, pois utiliza o nome cristão “vida”, mas
realmente retêm o nome pagão “morte”. É triste quando a única coisa que a igreja faz é o nome que dá a si
mesma, especialmente se a realidade mostra que isso é uma mentira, como neste caso. O seu passado dava a
eles uma reputação entre as igrejas por estar viva para Cristo, mas suas obras presentes mostram um retrato bem
diferente (a mesma coisa ocorre com a história da cidade). A antítese vida/morte era muito importante na cidade
onde as especulações religiosas centravam sobre esta questão. Logo fora da cidade havia uma famosa
necrópolis/cemitério, com os túmulos dos reis que haviam falecido há muito tempo. A assembléia de Sardes
representava o cemitério mais que uma igreja viva. Se quiserem viver, terão que se voltar de suas obras falsas
para o Espírito que dá vida (Osborne 2002, 173-74)
- para o observador externo, esta igreja era o modelo ideal. Ao que tudo indica ela não tinha problemas
financeiros, era uma igreja que crescia, sem deficiências de talentos ou recursos humanos. Tudo sugeria vida e
vigor (Stott 1999, 78)
- essa igreja tinha fama de estar viva, mas estava morta. A igreja havia se adaptado demais aos costumes e à
cultura dos seus dias. É como se alguém dissesse: você está igual ao mundo. A igreja estava viva só de nome. O
prédio da igreja estava bem, as reuniões ainda acontecem, mas é só. Você é bonita por fora, mas podre por
dentro. Quem não conhecia as pessoas da igreja passava e achava que era o máximo. O louvor tinha
equipamentos bastante sofisticados, muita pose, estava tudo lá, mas vida espiritual tinha ido embora – era tudo
só fachada
- a igreja de Sardes é criticada muito fortemente, pois aparentemente não tinha problemas com falsas doutrinas
(como outras igrejas) e também estava livre da perseguição, mas tinha se adaptado de uma maneira tão intensa à
cultura dos seus dias que apesar de parecer viva, ela estava espiritualmente morta. É uma igreja que tinha
folhas, mas não frutos. Eles ainda queriam estar na igreja e ter a Cristo, mas sem compromisso. Claro, Jesus é
jóia – ele é o cara legal – o cara bacana – mas nada de muito radicalismo. Jesus é jóia, mas também não dá prá
aceitar tudo. Às vezes a gente lucra muito mais se pode fazer o que a gente quer e não precisa ficar ligando para
o que esse Jesus quer. Jesus é bom enquanto me dá vantagens. Meu compromisso com ele vai até onde eu posso
lucrar por estar com ele
- a motivação da igreja e a direção espiritual estavam erradas – assim as suas obras eram questionáveis. Diante
de sua cidade estavam com um nome muito bom – mas diante de Deus as suas obras não somavam nada. As
suas obras poderiam passar na fiscalização humana, mas não na divina. Para quem olhava de fora, estava muito
satisfeito – mas por dentro a casa estava toda podre. A igreja se preocupou demais em agradar os homens e não
a Deus, que vê o coração e não as aparência exteriores (1 Sam 16:7)

4. Qual a solução apresentada para resolver a fraqueza da igreja?


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- temos agora 5 imperativos todos focados sobre a necessidade de vigilância espiritual. A igreja é como a
cidade. Por 2 vezes na história a cidade havia sido conquistada por inimigos justamente pela falta de vigilância
daqueles que deveriam estar atentos cuidando da cidade. É provável que exista uma alusão a história de Croesus
em 549 AC. Ele era o general que tentava proteger Sardes das mãos de Ciro o rei da Pérsia. Na 1ª. batalha
Croesus teve que fugir com as suas tropas para a cidadela sobre a colina. Supondo que Ciro iria esperar um
pouco antes de uma ofensiva mais direta contra ele dispensou os seus aliados do Egito, Babilônia e Esparta.
Ciro, porém mandou um dos seus soldados escalar a colina e assim derrotou a Croesus. As pessoas que
deveriam estar vigiando não deram atenção. Croesus preferiu se suicidar (ou foi condenado para ser queimado
por Ciro) do que ser escravizado e ver Sardes saqueada. A idéia era de que o suicídio assegurava a imortalidade
pois fazia morrer o que é mortal dentro dele. Há então na cidade uma preocupação com a morte e a vida nova. A
vida nova que Cristo oferece ao vencedor contrasta com a suposta segurança que a cidade proporcionava. 200
anos depois a situação se repetiu quando um grupo de inimigos escalou a parede de pedra e abriu os portões
para a entrada do exército. Se considerar seguro e deixar de permanecer alerta é dar sopa para o azar A igreja
está sendo repreendida pela mesma falta de vigilância
a. Esteja atento = mostre-se como vigilante. Eles precisam mudar seus caminhos e provar que estão
vigilantes. Eles adormeceram espiritualmente e precisam acordar. O termo usado aqui denota a
necessária vigilância espiritual aguardando a volta de Cristo (Mc 13:35, 37; Mt 24:42; 25:13; Lc 12:36-
38; 1 Ts 5:6) e fala do perigo dos crentes reduzirem o nível de compromisso a Deus através de Cristo
permitindo que outras coisas de menor valor os aluguem (Osborne 2002, 174)
b. Fortalecer o que resta, aquilo que ainda sobreviveu. De um modo geral a igreja está morta, mas havia
um pouco que tinha sobrevivido, tanto pessoas, como algumas características da igreja. Estas
precisavam ser fortalecidas (iniciar o seu fortalecimento). Aquele pouco que restava estava prestes a
morrer. O processo de morrer já estava presente por um tempo, e a morte definitiva está “logo ali”. Eles
tinham que agir rapidamente ou morrer. Combinado com o v.1 onde diz que a igreja está morta, vemos
que a maior parte da igreja morreu e aquela pequena minoria que ainda está viva está prestes a morrer.
A igreja precisa agir rápido enquanto ainda há tempo (Osborne 2002, 174-75). A razão para esta ordem
é porque suas obras são inadequadas. Nenhuma de suas obras foi suficiente: “não achei as tuas obras
perfeitas”. A expressão “não achar” tem uma conotação judicial aqui. Eles foram testados e constatou-
se que estavam em falta. Suas obras (talvez as mesmas mencionadas em 2:19: amor, fé, serviço,
perseverança) não estavam completas aos olhos de Deus, tanto em quantidade como qualidade, i.é., não
atingiram o padrão exigido por Deus. A igreja não está somente inadequada, está sendo indiciada. Aos
olhos das pessoas ao redor pode ser suficiente, mas não aos olhos de Deus. Cristo os julgou e agora
estão sendo julgados por Deus. O grande templo de Ártemis não tinha sido completado. É possível que
haja uma alusão aqui a esta construção – inacabada e inútil. A expressão “meu Deus” possivelmente
indica que o julgamento de Cristo e de Deus acerca da igreja está em consonância (Osborne 2002, 175-
76). Os próximos imperativos ocorrem por causa da situação da igreja (inadequada aos olhos de Deus).
Para resolver a situação a igreja precisa tomar algumas posturas
c. Lembre-se do que recebeu e ouviu. Essa solução é similar àquela dada a igreja de Éfeso, já que ambas
tinham falta de amor e suas obras eram inadequadas. Continue a lembrar-se (pres. impv) = uma volta
contínua e atualização das verdades ensinadas no passado. Não se trata de simplesmente trazer à
memória, mas aplicar estas verdades em suas vidas. Eles devem se lembrar do que receberam e
ouviram. Possivelmente o receber se refere à tradição apostólica e o ouvir ao ensinamento da igreja.
Ouvir normalmente implica Além de estar atento, crer e agir baseado no conhecimento. A igreja tinha
sido ensinada no passado, mas não colocou em prática. Agora está ameaçada de perder tudo o que
recebeu (Osborne 2002, 176)
d. Obedeça/guarde. Possivelmente se trata de obedecer ao que receberam e ouviram. A vigilância
espiritual é vista no viver perseverante e obediente dessas verdades (Osborne 2002, 176)
e. Arrependa-se. Essa resume todas as outras. Eles precisavam mudar em todos os aspectos a sua espiral
descendente e colocar a vida em ordem com Cristo e com Deus (cf. 2:5, 16; 3:19) (Osborne 2002, 176)

5. O chamado ao arrependimento recebe uma ênfase especial. Como o autor enfatiza esse aspecto?
- o chamado urgente para o arrependimento está ligado na grande probabilidade do fim iminente. Mas se eles
não se arrependerem virei como ladrão, dando a idéia de vigilância espiritual outra vez. Eles precisam retornar a
um estado constante de vigilância espiritual, se quiserem mudar. Se isso não acontecer a história vai se repetir
quando um ladrão entrou na cidade e os destruiu. Jesus já falara do ladrão como imagem de sua volta. Aqui
possivelmente temos uma vinda repentina para julgamento atual o que serve como precursor da parousia. A
igreja não sabe quando Jesus virá sobre eles. O grego fala de que eles nunca saberão quando Jesus vem. Isso
indica que somente se estiverem vigilantes poderão estar preparados. A vinda será repentina e inesperada e
como precursor da vinda final de Cristo. Outra vez temos um paralelo com Éfeso onde o seu candelabro será
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removido. Aqui Cristo vai julgar não somente os pagãos, mas também as igrejas que deixaram de permanecer
fiéis a Cristo. Aqui se refere a um julgamento histórico sobre a igreja e não sobre a parousia se eles não se
arrependerem (Osborne 2002, 177-78)

6. A carta termina com uma promessa e um desafio para os vencedores. Quais são e o que significam?
- antes da promessa Cristo encoraja aqueles que permaneceram fiéis na igreja. A minoria da igreja não
contaminou suas vestes. Essa figura vem da industria de lã da cidade, uma das maiores fontes de riqueza dessa
região. Diferente das roupas que produziam, suas roupas espirituais estavam sujas. O termo aqui denota que não
foram lavadas e pode ter uma conotação religiosa de impureza, por exemplo, tendo comido da carne sacrificada
aos ídolos (1 Co 8:7) ou pela imoralidade (Ap 14:4). De acordo com Moffatt, roupas sujas desqualificavam a
pessoa para cultuar o seu deus e traziam desonra para o deus. Acomodando-se ao contexto pagão a igreja de
Sardes havia se contaminado e se tornada impura (Osborne 2002, 178)
- aos que resistiram à tentação recebem a promessa que “eles andarão comigo, vestidos de branco”.
Continuando com a imagem das roupas como símbolo da vida espiritual, Cristo promete uma nova vida (andar
como símbolo para a vida) de pureza (branco). Há diversas possibilidades para o contexto dessa metáfora: a
manufatura de roupas em Sardes; roupas celestiais enfatizando a vitória, glória e o estado celestial; as roupas
sujas de Josué o sumo-sacerdote trocadas por roupas limpas em Zac 3:1-10, sendo a justiça sacerdotal; uma
vestimenta de casamento denotando justiça imputada; vestimentas batismais; e o triunfo de Roma onde os
cidadãos vestiam roupas brancas para celebrar as vitórias militares. De acordo com o contexto a última proposta
é a melhor. Uma cidade e uma igreja que tinham experimentado a derrota e somente tinham a memória de um
triunfo no passado seria emocionante pensar que poderia ser parte de alguns que iriam caminhar com Cristo na
procissão triunfal de sua vitória final (Osborne 2002, 178-79)
- a palavra branco ocorre 14 vezes no Apocalipse (das 23 vezes que aparece no NT) e significa vitória, pureza,
santidade, glória e celebração. Aqui a referência é a pureza e santidade. Eles são vitoriosos por permanecerem
puros numa igreja que cada vez mais apostatou. Eles andarão de branco porque são dignos: permaneceram
puros e suas obras são completas. Os poucos fiéis de Sardes são chamados para imitar a Deus e a Cristo e não
os pagãos (Osborne 2002, 179)
- ao vencedor, aquele que persevera e permanece fiel em meio à pressão externa dos pagãos e da pressão interna
dos movimentos cristãos falsos. Aqui se refere a uma recusa à acomodação da caminhada cristã às exigências
do mundo pagão, i.é., se recusam a sujar as suas vestes. Cristo diz para os fiéis de Sardes que eles são
vencedores e receberão as recompensas prometidas aos vitoriosos.
a. Será vestido de branco, repetindo no v.5 o que havia dito no v.4, fazendo essa promessa mais enfática.
Como conquistadores vitoriosos participarão na procissão triunfal de Cristo na sua volta, vestidos de
branco
b. Como pessoas perdoadas e mantidas em segurança “jamais apagarei o seu nome do livro da vida”. A
idéia do livro da vida vem tanto do AT como do mundo helenista. A 1ª. menção do livro ocorre em Ex
32:32-33 depois do incidente do bezerro de ouro. Moisés pede que Deus perdoe a Israel dizendo que se
Deus não o fizer “risca-me do teu livro que escreveste”. Atrás disso estava o registro dos cidadãos de
Israel (cf. Sl 9:5; 87:6; Is 4:3). Este se tornou o livro celestial onde estavam os nomes dos justos (Sl
69:28; Dan 12:1). Outras tábuas celestiais relatavam tribulações (Sl 56:8), julgamento (Dan 7:10), atos
de fidelidade (Ml 3:16), e o destino das pessoas (Sl 139:16). É provável que aqui se refira ao mesmo
pergaminho que detalhava as ações e recompensas/julgamentos pela conduta das pessoas. Idéias
apocalípticas mais tardias conectavam esse registro com a vida eterna e comunhão com Deus. No
mundo pagão as idéias eram parecidas, iniciando com o registro dos cidadãos de um determinado local
e indo para o registro dos deuses. Isso poderia ter um significado especial para Sardes já que como
capital do império persa e selêucida guardava os registros. Ter o nome apagado significava exclusão da
comunidade. Quando os gregos eram culpados de um crime hediondo seus nomes eram removidos do
registro público. No AT a remoção do nome estava associada com a pena capital (Deut 29:20) e ser
apagado da memória nacional (Amaleque em Ex 17:14; Deut 25:19) (Osborne 2002, 179-80). Essa
imagem continua no NT: “alegrem-se ... porque seus nomes estão escritos nos céus” (Lc 10:20);
“companheiros de jugo [cujos] nomes estão no livro da vida” (Fp 4:3); “à igreja dos primogênitos,
cujos nomes estão escritos nos céus” (Hb 12:23). No Apocalipse esse tema está ligado com a
predestinação (13:8; 17:8); o registro de nossas obras (20:12), e a recompensa/castigo eterno (20:15).
Ap 21:27 se refere ao livro como o “livro da vida do Cordeiro”, e 13:8 o liga com a cruz. A
participação depende da morte sacrificial de Cristo e a perseverança fiel em Cristo do crente. Ambos os
aspectos precisam permanecer intactos (Osborne 2002, 180). Há outras passagens no Apocalipse que
também denotam a possibilidade de perda das pessoas do seu lugar no reino (cf. 2:5; 21:7-8; 22:17-18)
além de material parecido no NT (e.g., Jo 15:1-6; Hb 6:4-6; 10:26-31; 2 Pe 2:20-22). Assim para os
calvinistas isso seria aqueles que participam das bênçãos da aliança, mas não fazem parte dos eleitos.
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Para os arminianos a possibilidade de perda da salvação é uma possibilidade aberta para todos. A
única maneira de ter certeza da salvação seria perseverar até o fim. Essa última se encaixa melhor com
o Apocalipse (Osborne 2002, 183). O livro da vida contém o nome das pessoas e suas obras daqueles
que afirmam o seu compromisso com Cristo e somente os que permanecerem fiéis irão permanecer
dentro dele. Não apagar o nome era um termo usado freqüentemente para apagar registros escritos
(Deut 9:14; 29:20; Is 48:19; 56:5) e se tornou uma metáfora para remoção ou destruição. Aqui aqueles
que estão sem manchas do mundo pagão recebem a recompensa da presença eterna de Deus (Osborne
2002, 180-81)
c. Cristo afirma: Eu “o reconhecerei diante do meu Pai e dos seus anjos”. Isso seguramente vem das
palavras de Jesus: “Quem, pois, me confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante do
meu Pai que está nos céus” (Mt 10:32). A referência aos anjos pode ter sido acrescentada da passagem
paralela de Mc 8:38: “Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras nesta geração adúltera
e pecadora, o Filho do homem se envergonhará dele quando vier na glória de seu Pai com os santos
anjos”. A maior parte da igreja de Sardes havia se envergonhado de Cristo, comprometendo a sua
caminhada ao lado de Cristo para ser aceito pelas pessoas da cidade. Atrás dessa promessa há também
uma advertência para os infiéis na igreja. O fato que Cristo vai confessá-los indica uma imagem
judicial. Cristo assume a postura de juiz e júri pronunciando a palavra de aceitação ou rejeição. O
“nome” ocorre 4 vezes nesta carta (3:1, 4, 5). No mundo antigo o nome falava da essência ou das
características principais da pessoa. No Apocalipse, ter o nome de Deus (3:12; 14:1; 22:4) significa que
somos dele; ter o nome da besta (13:17; 14:11) significa pertencer a Satanás. Aqui o “nome” é escrito
no livro da vida e depois confessado no julgamento final. Aqueles que permanecem fiéis a Cristo têm
uma nova identidade, uma nova cidadania, e um novo futuro – vida eterna no céu (Osborne 2002, 181)
- mais uma vez temos o chamado para dar atenção ao que o Espírito está dizendo para todas as igrejas
(plural). Aqueles que lêem esta carta precisam ouvir e obedecer às advertências se quiserem receber as
promessas. A mensagem procede de Deus, não somente de João, e a importância de responder a elas é
essencial (Osborne 2002, 181)

7. O que a carta à igreja de Sardes tem para ensinar para as igrejas do séc. XXI?
- infelizmente temos muitas igrejas como Sardes no mundo de hoje. A falta de vigilância em um mundo secular
é grande hoje. È fácil ser distraído pelas coisas da vida que perdemos de vista o fato que somente Deus controla
a vida das igrejas. O cerne da vigilância está em reconhecer a supremacia de Cristo sobre todas as coisas.
Algumas igrejas já se comprometeram tanto com o mundo que deixaram de ser cristãs. A Bíblia nos alerta para
vivermos a nossa vida cientes de que vamos prestar contas a Deus. Em algumas dessas igrejas os verdadeiros
crentes devem se enxergar como missionários dentro das próprias igrejas e tentar acordar as pessoas enquanto
há tempo. Estas pessoas são responsáveis diante de Deus para esta função (Osborne 2002, 181-82)

Igreja de Filadélfia (Ap 3:7-13)


- a cidade de Filadélfia estava situada numa das rotas de comércio de Esmirna para o leste. Também estava no
meio de uma das maiores rotas postais de Trôade a Pérgamo, Sardes e depois Filadélfia no leste. A cidade era
ideal para o comércio e era chamada de o portão para o leste. A localização dela era ideal do ponto de vista
comercial e militar. O solo vulcânico era muito fértil e ideal para a plantação de uvas. Assim também era
próspera em termos de agricultura. Das 7 cidades era a mais nova, fundada depois de 189 AC por Eúmenes II
ou seu irmão mais novo Attalus. A família era composta de 4 irmãos muito fiéis uns aos outros. Houve um
boato que Eúmenes tinha sido assassinado levando Attalus a se tornar o rei. Quando Eúmenes voltou, Attalus
entregou de volta a ele o reino. Mais tarde os romanos pressionaram Attalus a depor seu irmão e se tornar o rei,
mas ele se recusou até que seu irmão morreu. A cidade deve seu nome a Attalus Filadélfia, e ficou conhecida
com a cidade do “amor fraternal” e era orgulhosa de suas origens. Por causa de sua localização ela era chamada
de cidade missionária. Os monarcas contavam que a cidade iriam introduzir a cultura grega para as cidades das
províncias vizinhas e fazer deles sujeitos leais. A cidade sucedeu nesse intento e no final do séc. I, o grego era a
língua falada nessas terras (Osborne 2002, 184)
- um dos problemas da cidade era a sua vulnerabilidade para terremotos. Os vulcões ativos deixaram a terra
fértil, mas os terremotos tornavam a vida complicada nessa cidade. O mesmo terremoto que devastou Sardes em
17 AD também destruiu Filadélfia. Aparentemente houve também pequenos tremores que se sucederam
deixando a população com medo, tanto que grande parte da população vivia fora da cidade, no campo. Mesmo
que Sardes foi mais afetada pelo terremoto, Filadélfia sofreu os danos mais permanentes. Um historiador narra
que as muralhas da cidade rachavam constantemente, as pessoas viviam em construções que não eram seguras,
a ponto que todos os seus planos eram realizados com o terremoto em mente. Por causa do terremoto, o
imperador suspendeu a cobrança dos impostos por 5 anos para que pudessem se recuperar economicamente e
60
reconstruir a cidade. Em gratidão Filadélfia se renomeou “Neocesaréia” por um tempo, erigiu um monumento
à Roma juntamente com as outras 12 cidades que receberam ajuda e desenvolveram um culto em honra ao filho
adotivo do imperador, Germânicus. Nos anos 80 a cidade também assumiu o título de “Flávia”, o nome da
dinastia imperial. Isso mostra a conexão muito próxima com Roma e o imperador nessa época (Osborne 2002,
184-85)
- em 92 AD, durante o reinado de Domiciano, possivelmente para incentivar o plantio de grãos para alimentar o
exército romano e por causa da fome, o imperador assinou um decreto ordenando que metade das vinhas fossem
cortadas e novas plantadas. Isso afetou seriamente a economia, pois os grãos não eram tão produtivos, já que o
solo vulcânico não era adequado a isso. Além disso, os terremotos e as fomes tinham complicado a vida na
cidade. Esse decreto provocou revolta na província porque levaria anos para as vinhas crescessem e isso foi um
desastre para a região. Os elos com o imperador dissiparam, pois não havia mais resultados a longo prazo desse
clientelismo, e esse decreto de modo insensível ameaçava a vida na cidade (Osborne 2002, 185)
- a religião na cidade era similar às outras cidades, um sincretismo entre as práticas anatólias e helenísticas. O
deus padroeiro era Dionísio, o deus do vinho. Não sabemos se havia culto ao imperador nessa época. No início
do séc. III a cidade recebeu o título honorifico de guardião do templo e no séc. V foi chamada de pequena
Atenas por causa dos muitos templos e seitas, mas não sabemos se isso era verdade no tempo dessa carta. Não
há evidências de uma comunidade judia forte na cidade, mas parece que era similar a Esmirna. Também nada
sabemos sobre a origem da igreja. Possivelmente a cidade foi evangelizada pelos discípulos de Paulo (Osborne
2002, 185)

1. O que Esmirna e Filadélfia tem em comum e que diverge das outras igrejas? Por que enviar uma carta para
igrejas que estão neste estado?
- a carta é enviada para o anjo da igreja para acrescentar poder escatológico para a mensagem e lembrá-los da
seriedade da mensagem. Filadélfia e Esmirna não as igrejas que não são repreendidas. Ambas sofrem por causa
da ameaça da presença judia poderosa na cidade. Por isso os nomes escolhidos para Cristo refletem a sua
situação histórica e reafirmam os cristãos sitiados de Filadélfia que os Messias está do lado deles e não do lado
da sinagoga de Satanás (3:9) (Osborne 2002, 186)
- muitas vezes achamos que somente as pessoas que estão ruins e perigando cair precisam receber a visita do
pastor ou a carta da igreja. Aqui tanto as igrejas que estão bem, quanto as que estão mal recebem um recado de
Cristo

2. Quais são os títulos que Jesus recebe nesta carta?


- os primeiros dois títulos são “santo e verdadeiro” descrevendo Cristo em termos do AT. Essa carta está
fortemente ancorada no AT, sem dúvida por causa das batalhas com o Judaísmo na cidade. O termos santo é
freqüente no AT usado para Deus e aqui se refere a Deus/Cristo como separados desse mundo, como aquele
totalmente diferente e único digno de adoração. “Verdadeiro” pode se referir a Jesus como o Messias genuíno
nas discussões com os judeus que afirmavam que Jesus era um messias falso, bem como comparando a
fidelidade de Cristo em contraste com a infidelidade do imperador. No contexto da perseguição, os cristãos
podem contar que Cristo vai justificá-lo em suas provações e recompensá-los por seu sofrimento (Osborne
2002, 186-87)
- Jesus também é aquele que tem a chave de Davi. Isso vem de Is 22:22 onde o Senhor exigiu que Eliaquim
tomasse o lugar de Sebna como mordomo chefe da casa de Ezequias e que dessem a ele “a chave do reino de
Davi; o que ele abrir ninguém conseguirá fechar, e o que ele fechar ninguém conseguirá abrir”. Isso
significava o acesso ao rei e seu palácio. Num certo sentido ele atuaria como ministro do exterior. Essa
passagem pode ter sido interpretada messianicamente em alguns segmentos do Judaísmo do séc. I, e
provavelmente foi interpretada tipologicamente aqui. Eliaquim é um tipo de Cristo exaltado que controla as
chaves do reino (cf. Mt 16:18-19, onde passa a chave para os seus seguidores, “e as portas do inferno não
prevalecerão contra [a minha igreja]). Nesse contexto isso descreve Jesus como o Messias davídico que controla
a entrada para o reino de Deus, a “Nova Jerusalém” (3:12). No contexto original o paralelo “abrir/fechar”
enfatizava o poder absoluto e a autoridade de Eliaquim. Aqui possivelmente temos os judeus expulsando os
cristãos da sinagoga, mas essa afirmação declara que somente Cristo, não os judeus, tem autoridade. Somente
ele pode abrir e fechar as portas para o céu. Além disso, os judeus fecharam a porta da sinagoga para os cristãos,
mas Cristo vai fechar a porta do céu para ele. Sua decisão será final. Quando ele abrir a “Nova Jerusalém” para
os gentios ninguém poderá mudar a sua decisão. Quando ele fecha a porta para os judeus essa decisão também
não poderá ser alterada (Osborne 2002, 187-88)

3. Jesus conhece e aprova esta igreja. O que esta igreja tem que alegra a Deus?
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- Deus conhece e aprova esta igreja. A igreja estava em ordem com Deus e precisava de encorajamento e não
repreensão. Eis = idou = preste atenção para algo importante. Cristo deu a esta igreja algo que normalmente
ocorre no final para os vencedores, aplicando Is 22:22 para a igreja. Cristo tem a autoridade para abrir e fechar e
agora passou essa autoridade para a igreja da mesma maneira como temos em Mt 16:18-19; 18:18; Jo 20:23 (as
chaves do reino = a autoridade de soltar e reter) (Osborne 2002, 188)
- a porta aberta poderia ser a porta para missões, já que a igreja é missionária, mas mais provavelmente é a porta
para o reino. Os cristãos foram excomungados da sinagoga, mas Cristo tem as chaves do reino. Ele abriu e
ninguém pode fechar (Osborne 2002, 188-89)
- mesmo sendo uma igreja pequena eles permaneceram fiéis e perseveraram. A afirmação que eles têm pouca
força/poder não é vista de modo negativo aqui. A igreja não era grande e não tinha uma presença marcante na
comunidade, antes era humilhada e perseguida. Eles tinham “pouca autoridade” e influência. Mas ela era fiel e
este é o parâmetro da bênção divina e não o sucesso (Osborne 2002, 189)
- eles guardaram a palavra e não negaram o nome de Jesus. Parece que isso resume a vida da igreja e sua
fidelidade. Eles guardaram a palavra, não permitindo que houvessem erros ensinados e obedeceram em meio à
perseguição severa. Além disso, não negaram a Cristo assim como aconteceu com a igreja de Sardes (3:5),
especialmente em sua alusão a Mt 10:32-33 (aquele que me confessar) (Osborne 2002, 189-90)
- a porta tinha sido aberta por Cristo e ninguém poderia fechá-la. “A mesma situação se aplica para a Igreja
cristã em muitas partes do mundo atual. Naturalmente, algumas portas estão fechadas; porém muitas delas estão
abertas. Há mais lacunas do que se pode preencher e mais oportunidades do que aquelas a serem aproveitadas.
Há carência de pessoas com as qualidades certas. Há falta de homens e mulheres que sejam bem treinados e
competentes, e ao mesmo tempo totalmente devotados a Cristo. A Igreja precisa urgentemente de cristãos com
um zelo apostólico tal que considerem todas a coisas como escória por amor de Cristo, e empenhem vida,
conforto, carreira e reputação por Ele. As portas abertas são muitas, mas há poucos para cruzá-las” (Stott 1999,
101-2)

4. Que recompensa e desafios são dados ao vencedor. Isso não soa estranho aos nossos ouvidos?
- se na igreja de Sardes apenas alguns permaneceram fiéis, aqui a igreja toda perseverou. Agora Deus prometeu
vingar o seu povo diante dos inimigos (os judeus) que os perseguiram de forma tão severa. A igreja recebeu a
porta aberta e aqui recebe a vingança. Descrevendo os judeus como pertencendo à sinagoga de Satanás, João
liga esta igreja com a igreja de Esmirna. Eles se dizem judeus, mas são mentirosos. Os judeus afirmam ser o
povo de Deus, mas já que rejeitaram o Messias e perseguiram os cristãos, eles mentem (cf 1 Jo 1:10; 2:4) e não
são o verdadeiro povo, antes pertencem a Satanás (cf. Jo 8:44; 2 Co 11:13-15). Como Paulo nos lembra em
Rom 2:28-29, o verdadeiro judeu é interiormente, do coração (Osborne 2002, 190)
- agora a vingança é detalhada. Os falsos judeus seriam levados a reconhecer seu erro, mas a forma que isso
ocorre é muito debatida. Eles se prostrarão aos pés de vocês. Alguns vêem aqui a conversão dos judeus, mas
isso não se encaixa muito bem nesse contexto. Possivelmente se trata de uma alusão a Is 60:14: “Os filhos dos
seus opressores virão e se inclinarão diante de você; todos os que a desprezam se curvarão aos seus pés” (cf. Is
2:3; 14:2; 45:14; 49:23; Ez 36:23; Zac 8:20-23). O AT ensinava que no fim dos tempos os gentios seriam
forçados a prestar reverência aos judeus. Agora essa promessa é invertida. Os judeus opressores seriam forçados
a reverenciar os crentes gentios. Cristo está prometendo a esses cristãos perseguidos que ele vai vingá-los e esse
tema vai reaparecer no livro (6:9-11; 16:6; 18:20; 19:2). Interessante é notar que eles se curvarão aos pés de
“vocês” e não diante dos “meus”. Isso implica em submissão, não adoração, e é similar a 2:26-27, onde os
santos fiéis recebem a promessa para participarem no julgamento dos seus inimigos (Osborne 2002, 190-91)
- isso tudo vai ocorrer para que reconheçam que eu os amei. É possível que João tenha juntado alguns trechos
de Isaías aqui. Que eles saibam viria de Is 37:20, onde a vitória de Israel sobre os pagãos é para que saibam que
somente Deus é o Senhor. A 2ª. parte (que eu vos amei) possivelmente vem de Is 43;3-4 onde a derrota das
nações é “porque eu amo vocês”. Esse amor se refere ao amor de Deus por toda a história da igreja. Os judeus
finalmente vão reconhecer que o verdadeiro amor de Deus é para aqueles que creram em seu Messias (cf. Jo
13:1; Rom 8:35-39) (Osborne 2002, 191)

5. Deus também promete uma certa proteção aos fiéis. Que tipo de proteção seria? Presente ou futura?
- o v.10 é um dos mais comentados de todo o Apocalipse: “Visto que você guardou a minha palavra de
exortação à perseverança, eu também o guardarei da hora da provação que está para vir sobre todo o mundo,
para pôr à prova os que habitam na terra”. Alega-se que o dispensacionalismo se baseia sobre este versículo. O
versículo começa com “visto que/já que/porque”. Esta palavra é colocada no início do versículo para enfatizar
que a sua perseverança é a base para a proteção divina. Eles guardaram a palavra de Cristo (muito similar a 3:8
“guardaram a minha palavra”) que se referia a sua vigilância e obediência às verdades da igreja. Aqui seu
cuidado está centrado sobre a palavra de exortação à perseverança. Trata-se das palavras de perseverança
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proclamadas por Jesus que se tornaram um modelo de perseverança para a igreja da Filadélfia no meio de
suas provações (Osborne 2002, 192)
- por causa de sua fidelidade a Cristo, eles recebem uma promessa. É interessante ver o “eu também” indicando
que a promessa é recebida porque os cristãos fizeram a sua parte. Eles fielmente guardaram a palavra de Cristo
o que leva Cristo a guardá-los da hora da provação. A dúvida aqui é se ele vai protegê-los da provação ou tirar
da provação. Os estudiosos debatem as opções. Poderia haver uma ligação com Jo 17:15 “Não rogo que os tires
do mundo, mas que os protejas do Maligno”. Aqui seria uma proteção em meio às tribulações, mas também
poderia ser argumentado que o contexto ali é diferente (uma batalha no presente com o mal e não a batalha
final) o que indicaria que poderia ser remoção da tribulação. Gramaticalmente as duas são viáveis, sendo que o
contexto precisa determinar qual deles seria mais correto. Assim temos que determinar o que vem a ser
“guardarei da hora da provação”. O termo “hora” não se refere a um período de tempo, mas a um evento. É o
tempo em que Deus irá provar a terra. Depois “da provação” pode ser “o tempo caracterizado pela provação” ou
“o tempo quando Deus vai provar”. O consenso dos estudiosos é que isso se refere às últimas provações
antecedendo a volta de Cristo. Trata-se de julgamentos messiânicos mundiais sobre os quais o Apocalipse fala
(cf. Dan 12:1-2; Mt 24:21-22; 2 Ts 2:1-12). Essa provação vem sobre todo o mundo. Se trata dos incrédulos que
experimentarão toda a ira de Deus que será derramada sobre eles em selos, trombetas e taças. Ao que tudo
indica não se trata de uma perseguição local em Filadélfia porque ele menciona “todo o mundo” duas vezes.
Além disso, utiliza a palavra mellouses = prestes a, que nos contextos escatológicos se refere aos eventos finais
antecedendo a parousia (1:19; 8:13; 10:7; 12:5; 17:8). Como se trata de algo universal possivelmente se refere
aos eventos finais sobre toda a humanidade e não sobre Filadélfia. O propósito disso é “para pôr à prova os que
habitam na terra”. O termo “habitantes da terra” (cf. 6:10; 8:13; 11:10; 12:12; 13:8, 12, 14; 17:2, 8) é
importante e sempre se refere aos não-crentes, os inimigos de Deus que não somente adoram e seguem a besta,
mas também perseguem os crentes. Esse é o mesmo grupo a que João se referiu com “todo o mundo”.
Finalmente em 3:11 temos uma referência à volta de Jesus, logo não se trata de uma provação somente para os
crentes de Filadélfia. Assim sendo a visão que se trata de proteção ao invés de remoção é mais provável. Isso
também está de acordo com a ênfase do restante do livro, especialmente em conexão com os selos, trombetas e
taças. Quando os selos são abertos, os julgamentos caem sobre a terra (6:4, 8) e são os “reis da terra” que
clamam no meio da ira (6:15, 17). Nas trombetas, Deus ordena que os insetos somente aflijam os incrédulos
(9:4). Em 12:6, 14, a mulher foge para o deserto onde ela é cuidada durante esse período. Durante essa época os
cristãos são perseguidos ferozmente, chegando ao martírio pelo dragão e seus seguidores (6:9-11; 12:12-13, 17;
13:7; 16:6; 20:4). Mas há uma grande diferença entre a ira de Deus e a ira do dragão. Em todo o NT,
perseguição é o destino dos crentes, inclusive seu grande privilégio (e.g., Mc 10:29-30; Jo 15:18-16:4; Fp 3:10;
Col 1:24; 1 Pe 3:13-14). No Apocalipse o martírio é visto como vitória sobre Satanás, e não derrota (6:9-11;
7:14-17; 12:11). Da mesma forma como quando Satanás colocou Cristo na cruz, ele derrota a si mesmo quando
tira a vida de um dos crentes. Assim sendo, a igreja da Filadélfia (identificada aqui com todos os crentes fiéis)
será protegida da ira de Deus contra os incrédulos, mas não da ira de Satanás, e essa proteção ocorre em meio à
perseguição e não sendo removido dessa ira (Osborne 2002, 192-94)

6. A igreja também é exortada a perseverar. Por que a igreja precisa dessa exortação?
- no v.11 temos a 4ª. menção da volta de Cristo e a 1ª. vez que é mencionada de forma positiva (como em 22:7,
20). Para Éfeso (2:5) o retorno de Cristo significa a remoção do candelabro; para Pérgamo (2:16) julgamento
com a espada de sua boca; para Sardes (3:3) um julgamento inesperado como um ladrão na noite. Para
Filadélfia, no entanto, sua volta significa vingança e recompensa. Da mesma forma como a provação de 3:10, a
volta iminente de Cristo é uma das ênfases principais do livro (1:7; 2:5, 16; 3:3, 11; 22:7, 12, 20). A mesma
vinda de Cristo trará julgamento para alguns (Ap 3:10 = 1 Ts 5:1-10) e recompensas para o crente (Ap 3:11 = 1
Ts 4:13-18). Da mesma forma como temos em 3:3 (o julgamento imediato que também funciona como arauto
do julgamento final) aqui temos a vinda de Jesus para conforto e proteção agora e sua 2ª. vinda para vingá-los
por seu sofrimento. Por isso eles devem perseverar: “Retenha o que você tem”. O verbo kratei = se
agarrar/apegar firmemente foi usado para contrastar o apegar-se ao nome de Cristo (2:13) com o apegar-se com
a heresia (2:14-15) e em 2:25 (da mesma forma como aqui) ordenando a perseverança na fé até que Jesus volte.
A ênfase aqui está em reter continuamente (pres.) a sua caminhada com Cristo. Eles devem manter o que têm =
a porta aberta que ninguém pode fechar (3:7-8), i.é., sua cidadania no reino de Deus, bem como sua futura
vindicação (3:10) e proteção (3:11) por Deus (Osborne 2002, 194-95)
- depois disso temos uma advertência: “para que ninguém tome a sua coroa”. Se eles cessarem a sua caminhada
com Deus correm o risco de perderem a sua recompensa. A imagem usada aqui é atlética, quando o vencedor
recebe a coroa no final. Aqui possivelmente se trata de Cristo que vai tirar deles a coroa e não outro corredor (os
judeus ou Satanás), por terem fracassado na corrida (veja o paralelo de Paulo quando fala de ser desclassificado
da corrida por Deus em 1 Co 9:24-27). Os crentes de Filadélfia venceram a corrida em meio a perseguições
severas, mas ainda precisam perseverar pois poderiam perder o seu lugar na oliveira depois que foram
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enxertados nela (Rom 11:17-21). Essa é uma advertência como a que encontramos em 2:5; 21:8; 22:18-19.
Tanto o crente como o incrédulo serão julgados de acordo com suas obras, e esse julgamento pode ser severo
(Osborne 2002, 195)
Ap 2:5 “Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não se
arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do lugar dele.”
Ap 21:8 “Mas os covardes, os incrédulos, os depravados, os assassinos, os que cometem imoralidade sexual, os
que praticam feitiçaria, os idólatras e todos os mentirosos — o lugar deles será no lago de fogo que arde
com enxofre. Esta é a segunda morte.”
Ap 22:18-19 “18 Declaro a todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro: Se alguém lhe acrescentar
algo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste livro. 19 Se alguém tirar alguma palavra deste livro
de profecia, Deus tirará dele a sua parte na árvore da vida e na cidade santa, que são descritas neste
livro.”

7. O vencedor recebe uma promessa. Qual? O que significa?


- depois disso temos a promessa feita para o vencedor. Aqui eles recebem duas promessas, uma nova segurança
e um novo nome. Eles já haviam recebido diversas promessas: uma porta aberta que ninguém pode fechar (v.8),
os inimigos vão se prostrar aos pés de vocês (v.9); eles vão reconhecer o meu amor por eles (v.9), guardar da
hora da provação (v.10), venho em breve (v.11). Somando-se estas 2 temos 7 promessas para a igreja, mais do
que as outras. Da mesma forma como em Esmirna, as igrejas que aparentam o menor sucesso (mas a maior
fidelidade) recebem as maiores recompensas (Osborne 2002, 195-96)
a. Cristo fará deles uma coluna no santuário de Deus. Os apóstolos são chamados de colunas (Gal 2:9) e a
igreja é chamada de “coluna e fundamento da verdade” (1 Tim 3:15). Aqui a idéia é de estabilidade e
permanência, o fundamento firme sobre o qual está construído. Temos que lembrar que a cidade tinha
sofrido terremotos e instabilidades econômicas o que levou as pessoas a nunca se sentirem seguras.
Essa promessa seguramente caiu bem. Johnson lembra que depois de diversos terremotos as únicas
estruturas que ficaram intactas foram as colunas do templo. Possivelmente a coluna e o nome de Deus
escrito sobre os crentes são idéias que estão interligadas. Também há elementos judaicos e helenistas
contribuindo para essa metáfora. Há muitas tentativas de enxergar o background dessa metáfora. Em Ex
28:36-38 uma placa com os dizeres: “Santo para o Senhor” foi colocada na testa de Arão, assim
podendo indicar que o nome dos vencedores seria escrito em sua testa. Para a idéia dos pilares/colunas
havia colunas no templo de Salomão que tinham nomes (1 Rs 7:21; 2 Cro 3:15-17). No Apocalipse o
conceito do templo aparece freqüentemente. A idéia do Senhor no seu templo aparece muitas vezes no
AT e no Apocalipse é o templo escatológico para os santos. A coluna do templo aqui mostra
metaforicamente o lugar permanente do cristão no reino final de Deus. 4 vezes no v.12 ele fala em
“meu Deus” enfatizando a sua unidade com o pai. Depois ele enfatiza algo muito interessante “e dali
ele jamais sairá”. Por causa dos terremotos grande parte dos moradores foi forçada a viver no campo.
Jesus promete que eles estarão seguros da cidade de Deus e nunca terão que abandonar suas casas. Hoje
suas vidas estão caracterizadas por incerteza e fraqueza. Eles sofrem fisicamente pelos terremotos e
perseguições externas. Mas terão a segurança e força que anseiam (Osborne 2002, 195-97)
b. O novo nome escrito sobre o crente. Temos aqui referência a 3 nomes
i. O nome do meu Deus. Ter o nome do seu Deus significa pertencer a ele, ser seu filho (similar à
teologia da adoção de Rom 8:14-17). O AT ensina que cada israelita tinha o nome de Deus escrito
sobre ele (Num 6:27; Deut 28:10; Is 43:7; Dan 9:18-19). Aqui poderíamos ter um eco de Is 62:2:
“você será chamada por um novo nome que a boca do Senhor lhe dará”. No Apocalipse os santos
são selados em sua testa (7:3) e depois recebem o nome de Deus (14:1; 22:4) em contraste com o
nome da besta escrito sobre seus seguidores (13:17; 14:11) (Osborne 2002, 198)
ii. O nome da cidade do meu Deus, a Nova Jerusalém. O paralelo mais próximo era que cidadãos
romanos estavam atrelados a cidades (e.g., Paulo de Tarso). Aqui se fala da cidadania no novo reino
de Deus. A idéia da Jerusalém celestial vem das visões escatológicas do templo (Ez 40-48)
(Osborne 2002, 198). O nome da cidade (Nova Jerusalém) é chamada de “o Senhor está aqui” já
que sua glória habitará lá de forma permanente (Beale 1999, 198). Mas também há a história da
cidade. Filadélfia tinha mudado o seu nome para Neocesaréia e depois para Flávia para honrar o seu
relacionamento com o imperador. Aqui o nome do crente é mudado para o nome do seu Deus. Mas
há algumas diferenças. Para a cidade o relacionamento com o imperador era de clientelismo, para a
igreja filiação. O imperador traiu suas promessas quando pediu que metade das vinhas da cidade
fossem destruídas, e Deus nunca irá trair sua confiança. A Nova Jerusalém é a cidade celestial (Gal
4:26; Hb 12:22). Nessas passagens se faz o contraste entre a cidade escatológica e a cidade terrena
para mostrar a superioridade do Cristianismo sobre o Judaísmo. A comunidade dos cristãos é
superior aos judeus que se opõem a eles. A Nova Jerusalém procede de Deus e é símbolo da
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presença eterna de Deus com seu povo. Numa cidade onde as construções poderiam ruir quando
houvesse um novo tremor de terra, seria um tremendo consolo saber que são cidadãos de uma
cidade eterna (Osborne 2002, 198-99)
iii. O meu novo nome. Já vimos que o nome do Pai e do Cordeiro são colocados sobre a testa do crente
(14:1; cf. 7:3). Não temos explicação sobre o novo nome de Jesus. Dificilmente seria o nome de
Yahweh, porque já ha diversas indicações dos “eu sou” apontando nessa direção. Possivelmente é
um nome oculto que se revelará somente na sua volta. O mais incrível é que nós iremos partilhar
desse nome (Osborne 2002, 199)
- como em todas as cartas no final dela o leitor é incentivado a aplicar o que ouviu. Todos os cristãos precisam
ouvir e obedecer as promessas e advertências da carta. O Espírito está falando, mas nós precisamos ouvir. É
verdade que essa igreja está bem, mas isso ainda não garante que no futuro estará bem. Eles poderiam perder a
sua coroa. Para que isso não ocorra devem se agarrar no que têm, ouvindo a mensagem que o Espírito está
passando para eles (Osborne 2002, 199)

8. Existe alguma aplicação para as nossas igrejas com base nesta carta? Comente.
- igrejas que atuam em locais complicados são confortados por esta carta. Também aqueles que ainda não
sabem os seus dons ou o ministério onde devem atuar na igreja são animados. Deus está mais interessado na
fidelidade do que no sucesso. Quando ministramos em um ambiente onde não vemos resultados imediatos
somos tentados a fugir já que o local não tem futuro. Mas será que Deus chama somente para ministrar onde
ocorre crescimento impressionante? Quando chegarmos no céu talvez as maiores recompensas serão dadas às
pessoas que permaneceram fiéis em situações complicadas como a de Filadélfia. Eles recebem uma porta aberta
e uma coroa que ninguém pode tirar deles, mas eles mesmos podem perdê-la se não perseverarem até o final
(Osborne 2002, 199-200)

Igreja de Laodicéia (Ap 3:14-22)

Uma Igreja Sem Jesus?

I – Reconheça que o descontentamento de Senhor com a igreja o leva a agir - 14-16


A – A essência do Senhor é a base para avaliar a igreja - 14
B – O Senhor sabe a situação presente da igreja - 15
C – O Senhor deseja uma postura diferente da igreja - 15
D – O Senhor executará julgamento sobre a igreja - 16

II – Reconheça que a igreja precisa vir à fonte correta para sua vida espiritual - 17-18
A – O egocentrismo nunca pode ser a fonte da igreja - 17
1 – O egocentrismo conduz a presunção arrogante - 17
2 – O egocentrismo conduz a uma falsa auto-avaliação - 17
B – O Senhor sempre deve ser a fonte da igreja - 18
1 – Adquira ouro genuíno do Senhor - 18
2 – Adquira vestimentas puras do Senhor - 18
3 – Adquira uma visão precisa do Senhor - 18

III – Reconheça o amor do Senhor como a fonte de suas ações - 19-21


A – Reprovando e disciplinando - 19
B – Chamando para ser zeloso e se arrepender - 19
C – Tomando iniciativa para restabelecer companheirismo - 20
D – Recompensando o vencedor - 21

IV - Reconheça e pratique o que o Espírito diz às igrejas - 22

- Laodicéia se encontra na junção de no mínimo duas rotas importantes de comércio, uma para o oeste passando
por Éfeso e outra para o sul (5 das 7 igrejas estavam nesta rota que levava para o sul). A cidade estava
localizada sobre um platô de 1km quadrado e uns 100m acima da planície do vale fértil do Lycus. Esse vale
estava situado na encruzilhada das províncias da Lídia, Frígia e Caria, tornando a cidade importante
politicamente. Estava perto de Hierápolis (10 km) e de Colossos (16 km). Para o sul há montanhas de até
2500m de altura (Mounce 1977, 122; Osborne 2002, 201)
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- a cidade foi fundada por Antíoco II antes de 253 AC quando se divorciou de sua esposa Laodice, em honra a
quem tinha dado o nome da cidade. Nos próximos 150 anos as rotas de comércio que passavam pela cidade se
tornaram cada vez mais importantes levando Laodicéia à proeminência, inclusive sobre Colossos. Em 133 AC a
cidade foi dominada pelos romanos. Outras cidades se revoltaram contra Roma, mas Laodicéia permaneceu fiel
e assim continuou se desenvolvendo. Em torno do ano 50 AC se tornou o centro administrativo e judicial da
região, tornando-se um centro dos bancos e cada vez mais rica. Nessa época do império romano Laodicéia se
tornara a cidade mais rica dessa região (Osborne 2002, 201; Mounce 1977, 123)
- a planície onde se localiza a cidade era muito fértil e por isso excelente para a produção de lã. Com isso eles
haviam desenvolvido uma lã preta espessa / grossa (carneiros pretos) que era muito procurada e contribuiu para
a fama da região. Essa indústria acabou por se tornar mais importante que as outras indústrias de roupa da
região (Mounce 1977, 123; Osborne 2002, 201). Essa riqueza trouxe os bancos para a região. Em 62 AC o
procônsul Flaccus confiscou grande quantidade de ouro dos judeus da região (Mounce 1977, 124)
- é possível que os judeus de Laodicéia se integraram tão bem nessa cidade afluente que nem podiam ser
distinguidos da população e que até se tornaram líderes comerciais (Hemer 1986, 183-84)
- a cidade era famosa por sua escola de medicina que foi estabelecida em conjunto com o templo ao deus Men
Karou (o deus da cura). Eles se tornaram especialistas – doenças complexas exigiam misturas complexas de
remédios. Os remédios mais famosos tinham a ver com um bálsamo para os ouvidos e um outro para os olhos.
Isso trouxe uma fama ainda maior para a cidade e mais dinheiro (Mounce 1977, 123; Osborne 2002, 201)
- o maior problema da cidade é que ela não tinha uma fonte boa e consistente de água. Sua localização fora
determinada pelas estradas e não pelos recursos naturais da região. A água era trazida por um aqueduto de umas
fontes que ficavam a uns 10km para o sul. Essa água chegava a Laodicéia morna. Esse aqueduto tinha
aproximadamente 1m de largura e facilmente poderia ser quebrado deixando a cidade sem água (uma boa parte
da canalização da água era subterrânea, mas chegando perto da cidade havia esse aqueduto que deixava a cidade
vulnerável [Keener 2000, 158]). Uma cidade com esse problema precisa aprender a viver em paz e conciliação
com as pessoas ao seu redor (Mounce 1977, 123)
- a cidade também era vulnerável aos terremotos. A cidade era tão rica que quando destruída pelo terremoto em
60 AD nem pediu auxílio a Roma para a reconstrução da cidade. Os próprios cidadãos ricos da cidade a
reconstruíram (Mounce 1977, 123; Osborne 2002, 202). Hemer acha que a ajuda foi recusada pela cidade por
causa do seu orgulho (Hemer 1986, 193). Eles construíram grandiosamente e com luxo.
- a religião da cidade, típica da região, era sincretista, combinando deuses locais e deuses romanos. Os deuses
principais eram Men e Zeus. O templo de Men Karou ficava a 20km da cidade, mas ainda assim o centro da
expressão religiosa da região. O Judaísmo também era forte da cidade, tanto em números como influência.
Aparentemente Antíoco III estabeleceu 2000 famílias judias na região, e Laodicéia deve ter recebido uma boa
parte deles. Algumas das famílias se tornaram muito ricas a adotaram nomes gregos. Hemer crê que os judeus
se acomodaram ao paganismo da região se tornando a fonte da heresia de Colossos. Isso também poderia
explicar a falta de oposição dos judeus nesta carta. Parece que o seu fervor religioso ficou comprometido com o
sincretismo (Osborne 2002, 202; Keener 2000, 157). A cidade era um centro importante do culto ao imperador
(Mounce 1977, 124)
- provavelmente essa igreja foi fundada por um colaborador de Paulo (Epafras) durante a 3ª. viagem missionária
de Paulo, juntamente com Colossos e Hierápolis. Não temos evidência de que Paulo tenha visitado a igreja, mas
sabemos que escreveu uma carta para ela que foi perdida mais tarde. A igreja, da mesma forma como a cidade,
havia se tornado gorda e complacente, satisfeita com sua riqueza, mas sem qualquer profundidade espiritual. A
carta na tem nada de bom a dizer sobre a igreja. Parece que não existe nem uma minoria fiel, como na igreja de
Sardes (Mounce 1977, 124; Osborne 2002, 202)

1. Que títulos de Cristo temos para esta igreja? O que querem mostrar?
- a carta é enviada ao anjo que aparentemente deve interceder junto com a igreja. A igreja de Laodicéia precisa
tomar ciência da seriedade da sua situação. Num certo sentido estão carregando o anjo responsável pela igreja
de culpa. Os nomes de Cristo apresentados aqui são significativos e colocados em contraste com os membros
acomodados da igreja (Osborne 2002, 203)
a. Cristo é o Amém. Possivelmente um eco de Is 65:15 que duas vezes apresenta “o Deus da verdade” (no
hebraico, Deus do amém, e a LXX o verdadeiro Deus). No hebraico o amém significa confirmar e era
usado muitas vezes para confirmar a oração (1 Cro 16:36) ou um hino (Sl 41:13). Jesus usou essa
palavra muitas vezes para autenticar verdades importantes e solenes. Jesus não usou essa palavra para
chamar a atenção de sua divindade, mas para mostrar a sua autoridade de falar em nome de Deus como
seu mensageiro. Enfatizava a confiabilidade e origem divina da mensagem. Aqui predomina o contexto
de Isaías. As palavras de Jesus são confiáveis e têm a mesma autoridade. Podemos confiar que Jesus
fala a verdade, ao contrário dos laodicenses (Osborne 2002, 203-4), ele vai cumprir as suas promessas
(Keener 2000, 158)
66
b. A testemunha fiel e verdadeira. Jesus é a testemunha fiel em 1:5 e Antipas é “minha testemunha fiel”
em 2:13. Fica claro que Jesus é o modelo para fidelidade perseverante como testemunho para o mundo
da superioridade do caminho de Deus. No Apocalipse tanto fidelidade (2:10) como testemunho (2:13;
11:3; 17:6) estão conectados com o sofrimentos e especialmente o martírio como o testemunho final de
ser um vencedor no mundo. Cristo como o “cordeiro que foi morto” (5:6) é a epítome desse
testemunho. Cristo é verdade (3:7, 14; 19:11) e o Pai é verdade (6:10; 15:3; 16:7; 19:2, 9). O Pai e o
Filho são unidos em sua veracidade, eles vão cumprir o que prometeram. Os 3 títulos de Cristo estão em
contraste com os laodicenses mornos que não são nem fiéis nem verdadeiros a Cristo e cujo testemunho
era inexistente (Osborne 2002, 204; Keener 2000, 158)
c. O soberano/governador da criação de Deus. Esse titulo está ligado com o Amém por sua ligação com Is
65:17 que segue “o Deus da verdade” com “Pois vejam! Criarei novos céus e nova terra”. A veracidade
de Deus é vista em especial por seu controle sobre a criação, e aqui essa função é também atribuída a
Jesus como filho de Deus. Isso os laodicenses já sabiam porque a carta enviada para a igreja irmã
Colossos já dizia isso: “Ele é ... o primogênito de toda a criação, pois nele [por ele] foram criadas
todas as coisas” (Col 1:15-16); veja também Prov 8:22; Jo 1:3). Logo em seguida Jesus é descrito como
o arche = princípio ou preeminente (Col 1:18). Mesmo que não existam provas conclusivas é possível
que a heresia de Colossos estivesse presente também em Laodicéia. Era uma característica de um
sincretismo judaico proto-gnóstico que negava Jesus como criador do mundo físico. Enfatizando que
Jesus era o arche também falamos de sua origem ou fonte e esta é a conotação provável aqui. Jesus é o
princípio e a fonte da criação de Deus. Os laodicenses achavam que eles estavam no controle das coisas
com sua riqueza e complacência. Mas Jesus está dizendo a eles que somente ele controla a criação, ele é
a verdadeira fonte de sua riqueza e poder (Osborne 2002, 204-5)

2. Qual é o ponto forte dessa igreja?


- da mesma forma como na igreja de Sardes, o aspecto positivo da igreja está repleto de ironia. É uma afirmação
retórica dizendo: isso é o que de melhor posso falar a seu respeito (Osborne 2002, 205)
- é triste quando Deus que julga corretamente não tem nada de bom a falar de uma igreja. Apesar disso envia
uma carta para a igreja o que mostra o seu interesse por ela. Se não tivesse nenhum interesse nela simplesmente
a deixaria se afundar

3. O que significa a metáfora do quente, frio e morno?


- conheço você e sei que não é quente nem frio. Até metade do séc. XX as pessoas achavam que se tratava de
uma espiritualidade morna. Ma isso criava problemas, pois não se sabia porque Jesus iria preferir alguém que
estivesse frio ao morno (Osborne 2002, 205)
- 10km ao norte em Hierápolis havia águas termais famosas que corriam por uma encosta de frente para
Laodicéia. Essa encosta tinha uns 100m de altura e 1,5km de largura. As águas dessa região muito vulcânica
chegam em locais a quase ferver (95 graus). Em Hierápolis a água não era tão quente assim. Como a água corria
pelo planalto, antes de chegar na encosta já estava morna. Até hoje em localidades vizinhas a água potável é
colocada em frascos para esfriar. A pessoa que via a água cheia de enxofre e alumínio achava que deveria ser
muito boa, mas em seguida a cuspia fora, pois era muito ruim. Isto se devia não só pela temperatura da água,
mas por ser sulfurosa. A água provocava náusea em quem a bebia. Hierápolis era conhecida por suas águas com
qualidades terapêuticas, se tornando um grande centro médico (Hemer 1986, 187-91; Osborne 2002, 205)
- 16km ao leste estava a cidade de Colossos, conhecida por sua água pura e gelada. Essa fonte de água
possivelmente era o motivo pelo qual a cidade foi fundada. Laodicéia não tem fonte de água própria. Ela não
tinha sido fundada por suas qualidades naturais, mas por causa do comércio de da localização estratégica militar
(Osborne 2002, 205)
- a vida cristã da igreja de Laodicéia é descrita desta forma. È a falta de obras ao invés de sua espiritualidade
que está sendo tocada. A falta de obras acabava por mostrar a sua esterilidade espiritual (Osborne 2002, 205)
- a comparação entre o quente e o frio representam a água fria e saborosa de Colossos e as águas medicinais
quentes de Hierápolis. Laodicéia deveria ter sido conhecida pela cura espiritual que dava às pessoas, ou pelo
ministério de refrigério. Mas nenhuma delas ocorre. Eles são mornos. Eles não têm obras e assim não tem
utilidade para o Senhor
- Laodicéia não rejeita o evangelho – mas também não dá o sangue pelo evangelho – não entenderam que o
evangelho leva a uma mudança de valores em suas vidas (Beasley-Murray). Eles acham que a vida com Cristo é
uma boa, mas sem compromisso de mudança de vida. Para eles o evangelho são idéias boas, mas não deve ser
tão radical, porque isso cria dificuldades com outras pessoas. Então cada um na sua e ser cristão não tem nada a
ver com a vida diária. Como o seu sistema de água poderia ser cortado a qualquer momento em épocas de
guerra, o melhor era evitar guerras a todo custo. Eles não davam a vida pelo que acreditavam – para tudo dá-se
um jeitinho. Não é tão radical – podemos ser amigos de Deus e do mundo – porque ser careta?
67
- as obras deles têm demonstrado que não são nem frios nem quentes. A conseqüência é que Jesus está a
ponto de vomitá-los de sua boca. Jesus está prestes a fazê-lo (iminência). A água que vinha de Hierápolis estava
cheia de minerais e criava uma imagem paradisíaca. O reflexo da luz sobre ela criava diversas cores e o
contraste com os picos nevados ao fundo era impressionante. Mas isso também lembrava a igreja que essa água
não era potável. Assim criava uma metáfora perfeita para a superficialidade da igreja, bonita por fora e doente
por dentro. Cristo está chamado a atenção deles dizendo: Vocês não sabem que estão me deixando doente?
(Osborne 2002, 206)
- a igreja estava deixando a sua função de lado e por isso causando náuseas para Jesus. A igreja é repreendida
por que não faz nada – não cumpre com o papel da igreja. A igreja não está sendo repreendida pela falta de zelo
– a igreja simplesmente deixou de ser igreja. Talvez poderíamos dizer que passou a ser um clube que cuida dos
seus próprios interesses – aqueles que dão problema precisam ser tirados do clube – ao invés de cuidar dos
doentes. O clube se tornara tão fechado que não havia mais espaço para Jesus no clube. Seria como se uma
firma produzisse os seus produtos somente para uma exposição ou para estar no show-room. Essa igreja recebe
a crítica mais forte, não porque está fazendo algo errado – porque não está fazendo nada – está totalmente
passiva / indiferente
- isso nos alerta sobre a tendência de absorver os valores da cultura ao nosso redor sem uma reflexão crítica.
Isso nos leva a extremos indesejáveis: aceitação total ou rejeição total (2 formas diferentes de fanatismo). Para
isso precisamos lembrar uma frase: “Dedicação sem reflexão é fanatismo em ação, mas reflexão sem dedicação
é a paralisia de toda ação” (in Stott 1999, 115). “O que Jesus Cristo deseja e merece e a reflexão que leva à
dedicação e a decisão que nasce da reflexão. Este é o significado de fervor, de estar inflamado por Deus” (Stott
1999, 115)

4. O que causou o problema na igreja de Laodicéia?


- agora vemos o que causou a situação de Laodicéia. Eles eram muito ricos e isso levou à auto-suficiência e
complacência (estar satisfeito como está), uma combinação mortal para o cristão (Osborne 2002, 206). Já que
eram ricos materialmente achavam que também eram ricos espiritualmente. Há exemplos de pessoas muito ricas
na cidade a ponto que um deles atingiu o status de rei debaixo dos romanos. O problema, no entanto, não era a
riqueza, mas a auto-satisfação que trouxe: “Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada’”. Mesmo com a
destruição da cidade em 60 AD por um terremoto, eles não pediram ajuda a Roma, possivelmente porque não
precisaram. A cidade tinha construções enormes demonstrando a riqueza dela, a ostentação. A igreja era como a
cidade crendo que riqueza material equivale a riqueza espiritual. A cidade achou que não precisava da ajuda de
Roma, e a igreja não precisava da ajuda de Deus. Nessa situação o Cristo exaltado resume a sua situação
deplorável: “Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego, e que está nu”. Isso está
em contraste com sua afirmação esnobe: “[eu] estou rico, [eu] adquiri riquezas e [eu] não preciso de nada’”.
Sua auto-suficiência e orgulho esnobe os deixou cegos para a verdade. Sua falta de conhecimento os levou a
passar batido da verdade espiritual essencial: eles não tinham qualquer riqueza espiritual. Sem qualquer pressão
externa da perseguição dos pagãos (como Sardes) ou dos judeus (como Esmirna ou Filadélfia) e sem ameaças
dos movimentos heréticos (como Éfeso, Pérgamo ou Tiatira) eles sucumbiram em seu próprio estilo de vida
afluente e nem perceberam (Osborne 2002, 206-7)

5. Como o estado da igreja é descrito? Que solução é apresentada por Cristo para a igreja?
- o estado da igreja é descrito com 5 adjetivos que se separam em 2 grupos: seu estado geral: miserável e digno
de compaixão; e sua descrição específica: pobre, cego e nu
a. Miserável. A conotação é de extrema infelicidade. Essa palavra é usada em Rom 7:24 (miserável
homem que sou) e em Tg 4:9 onde fala que as pessoas devem se lamentar e chorar pelos seus pecados
(Osborne 2002, 208)
b. Digno de compaixão. Essa palavra ocorre em 1 Co 15:19 onde temos pena da pessoa que não tem
esperança alguma de ressurreição. Aqui a palavra é ainda mais forte, pois não diz que devemos ter pena
deles, mas que o seu estado é lamentável, similar a miserável. Os 2 termos acima são basicamente
sinônimos descrevendo a igreja como miserável ao invés de poderosa. O propósito não é para ter pena
deles, mas para desafiá-los. Eles não merecem que tenhamos pena deles, mas precisam de conselhos, o
que recebem logo em seguida (Osborne 2002, 208)
c. Pobre. A riqueza da qual a igreja se gabava era espiritual. E além disso essa riqueza tinha sido
conseguida por eles próprios sem a ajuda de ninguém. Além disso, a arrogância de que não estava
precisando de nada, é notável. Isso lembra a parábola do rico tolo que afirma que agora vai comer,
beber e se divertir pois estava seguro por muitos anos (Lc 12:19). Laodicéia acha que é rica, mas é
pobre porque comprou as coisas erradas. Eles compraram dos mercadores terrenos e assim foram para a
loja errada. Eles somente poderão ser ricos se comprarem ouro de Jesus. Cristo é a única loja que tem
produtos que não perecem (o contraste entre as coisas terrenas e eternas é intencional [Keener 2000,
68
161]. Podemos ser ricos aos olhos do mundo, mas paupérrimos aos olhos de Deus. Infelizmente para
grande parte da igreja, o padrão do mundo fala mais alto]. Mas este não pode ser comparado, precisa ser
recebido pela fé. Eles precisam comprar ouro refinado no fogo. A idéia de ouro purificado também
ocorrem em 1 Pe 1:7 e pode recapitular Sl 66:10. Se isso está correto pode haver uma referência ao
efeito purificador do sofrimento. Se 3:19 é entendido que Deus vai enviar provações, isso daria força
para essa conexão entre o ouro purificado e o sofrimento pessoal (Osborne 2002, 208-9). Fernão Dias
passou a vida toda procurando esmeraldas até encontrar – não tinham nenhum valor. Laodicéia não se
enxerga, eles não vêem a sua situação real. Na verdade quando o meu referencial não é mais Jesus –
perco a percepção da realidade. Às vezes dou uma de sonâmbulo. Nos EUA uma noite acordei e vi uma
torta de chocolate em cima do nosso carpete branco. Levantei e pus no balcão da cozinha. No outro dia
não conseguia achar as minhas meias. Parece ridículo, mas para mim na hora era tão real
d. Cego. Apesar da fama do bálsamo desenvolvido para os olhos. Suas realizações humanas eram
insignificantes (na verdade atrapalhavam) à luz de sua cegueira espiritual. Uma paralelo interessante
está em Jo 9 onde temos um cego de nascença que enxerga fisicamente e depois espiritualmente
comparado com os fariseus que afirma ter visão espiritual, mas progressivamente mostraram ser cegos.
O versículo chave é Jo 9:39: “Eu vim a este mundo para julgamento, a fim de que os cegos vejam e os
que vêem se tornem cegos”. Laodicéia precisa ser ungida com o colírio de Deus para que se vejam
como realmente são. Eles precisam enxergar sua cegueira espiritual, se arrepender e receber cura
espiritual de Cristo, que é a única fonte de cura (Osborne 2002, 210). Não podemos descartar que os
laodicenses poderiam ter visto utilidade na religião para a cura espiritual, mas certamente nos deuses
errados (Asklépio) (Keener 2000, 160)
e. Nu. A cidade era famosa por sua lã preta espessa, mas os cristãos da cidade estavam nus. Podemos
vestir ternos Armani e estar nu aos olhos de Deus. A nudez era vergonhosa para os judeus. No AT
nudez também é símbolo de julgamento (Is 20:1-4; Ez 16:36; 23:10) e vergonha implica em estar
sujeito a julgamento. Na Bíblia quando Deus leva a pessoa à vergonha, o resultado é o julgamento.
Seria a vergonha trazida pelo julgamento divino. O contraste é receber roupas finas iniciando honra,
como José em Gen 41:42 ou Mardoqueu em Est 6:6-11. No Apocalipse, roupas brancas simbolizam
justiça (3:4, 5; 6:11; 7:9; 19:14), ser lavado no sangre do Cordeiro (7:13-14) e glória no reino final de
Deus (4:4; 19:14). Isso é um chamado para o arrependimento, para se conscientizar da vergonha de sua
verdadeira nudez espiritual e comprar sem qualquer custo) a oferta (Is 55:1) da justiça de Cristo
(Osborne 2002, 209-10). É terrível quando alguém está nu e não sabe e anda entre as pessoas como se
estivesse com roupas.
- para cada um dos problemas existe um conselho sendo dado por Cristo. Isso não é apenas um conselho
opcional, mas um conselho-ordem (Osborne 2002, 208).
- o principal problema das pessoas que têm problemas mentais é convencê-las de que precisam tomar remédio,
Normalmente elas estão tão certas de que estão bem que deixam o remédio de lado e aí desanda tudo
- uma igreja que acha que não precisa de ajuda não pode ser ajudada
- é como se Jesus estivesse dizendo para as pessoas: reconheçam a sua cegueira, caso contrário não há
esperança para serem curados. O remédio foi oferecido, agora cabe às pessoas tomarem o remédio

6. Por incrível que pareça ainda há chances para esta igreja. Que indicações do texto confirmam isso?
- mas Cristo continua amando a igreja, tanta a vencedora como aquela derrotada. Para aqueles que fracassam
em sua caminhada o amor divino leva à disciplina. Todos aqueles que Deus ama passam por isso. Deus exige o
arrependimento de todas as pessoas, assim essa mensagem é tanto para a igreja quanto para os incrédulos. Aqui
se aplica de modo especial para Laodicéia, mas também é verdade para todos. A igreja de Laodicéia deve
acertar as contas com Deus. Para os vitoriosos, a disciplina é um processo purificador (Jo 15:2) e para os fracos
uma cutucada para acordar. Cristo mesmo vai disciplinar essa igreja. Deus disciplina aqueles que ele ama e
ensina o princípio bíblico do amor divino que exige disciplina (Prov 3:11-12; 13:24; Hb 12:5-6) (Osborne 2002,
210-11)
- os verbos “repreender” e “disciplinar” se complementam. Repreender significa repreensão que tenta apontar o
problema e convencer a pessoa de agir com relação ao problema. O verbo também tem a conotação de reprovar
e disciplinar. Disciplinar é mais amplo e se refere à correção ou castigo cujo propósito é treinar e guiar o
indivíduo ou a igreja (cf. 2 Tim 2:25; Hb 12:6, 7, 10). O texto paralelo mais próximo de Ap 3:19 é Hb 12:4-11
que cita Prov 3:11-12 que descreve Deus como um pai amoroso que precisa disciplinar seus filhos (Osborne
2002, 211).
- “como é meu costume eu repreendo e corrijo a todos aqueles que eu amo” (Mounce 1977, 128). O amor nunca
é cruel, mas pode ser severo (Charles in Mounce 1977, 128)
69
7. Qual a reação que Cristo espera da igreja?
- “por isso” = a reação diante da situação atual de Deus mostrando o seu amor via disciplina, a única reação de
Laodicéia deve ser diligência e arrependimento. O zelo/diligência de acertar as contas com Deus precisa
substituir a espiritualidade morna que caracteriza a igreja. Esse zelo será visto como arrependimento (veja 2:5,
16, 22; 3:3). Laodicéia estava cega para a sua espiritualidade indiferente. Aparentemente eles tinham ouvido sua
afluência material mais do que a Cristo e tinham pensado que afluência material significa que estavam em
ordem com Deus (um pensamento não muito distante de alguns segmentos do Judaísmo antigo e dos nossos
dias). Seu entusiasmo precisava mudar de foco – de si mesmo para Deus – e a única maneira que isso poderia
acontecer seria via arrependimento (Osborne 2002, 211-12)
- muitas pessoas não estão dispostas a ouvir uma mensagem de repreensão. Para eles Jesus é amor e somente
fala palavras amorosas. Sem dúvida há pessoas quebradas que precisam mais de consolo do que de repreensão
por causa de sua história. Para estes Jesus fala de forma suave (Ap 2:9-10; 3:8-10) [o que também pode ser visto
no tratamento que Jesus dá aos marginalizados nos evangelhos]. Mas para uma igreja auto-suficiente que está
segura de si, as palavras de Cristo soam como um trovão [o mesmo pode ser visto no tratamento que Jesus deu
aos fariseus]. Para estes o tom de voz de Cristo é severo. Ele age dessa forma por causa do seu coração
quebrado e não por causa de sua raiva irracional (Keener 2000, 163-64)
- o amor compassivo mostrado pela disciplina divina agora dá um convite para a igreja (3:20). Esse versículo
tem sido usado para o evangelismo, mas não é este o foco dele. Afinal é dado para uma igreja de crentes fracos
chamando-os para o arrependimento. Ao mesmo tempo é um chamado para todos na igreja (todas as igrejas)
para se abrirem para Cristo e convidá-lo para fazer parte de suas vidas. É uma promessa que ele vai cumprir, ter
comunhão com eles (Osborne 2002, 212)

8. O v.20 nos traz uma metáfora usada muitas vezes para a conversão. Mas nesse contexto o que significa?
- Cristo está do lado de fora e bate à porta. A figura é de um visitante pedindo para entrar na casa – ilustrando a
sua compaixão. Mas existe uma condição para entrar – ouvir a minha voz e abrir. Isso enfatiza a importância da
resposta pessoal. Cristo não força a entrada, mas está disponível para entrar. Cada pessoa precisa decidir se quer
que ele entre. A pessoa precisa ouvir, pois Cristo se identifica do lado de fora da porta. A pessoa que reponde
em arrependimento abre a porta para Cristo. O resultado é a comunhão à mesa. Comunhão à mesa significava
acertar as contas (se reconciliar) se houvesse discórdia. Aqui Jesus oferece aceitação, compartilhamento e
bênção, uma comunhão profunda oferecendo perdão e reconciliação com Deus. Isso seria um antegosto do
banquete messiânico final, antecipando a unidade total a ser alcançada com Deus e Cristo na eternidade (Ap
21:1-22:5) (Osborne 2002, 213)
- o bater na porta pode se referir aos portões que Laodicéia tinha, já que estava construída ligando 4 rotas
principais da região. Os portões ficavam fechados para evitar que os seus bancos fossem assaltados. Um
viajante que desejasse entrar precisaria bater no portão para poder entrar na cidade (Hemer 1986, 204)
- num ato inacreditável agora Jesus pede para que o deixem entra outra vez para dentro da igreja para reatar a
comunhão com eles
- houve grande tensão entre Laodicéia e Roma de 85 AD até o final do século. Laodicéia havia capitulado diante
de forças inimigas, o que levou os romanos e cobrar impostos terríveis deles. Além disso, eles tinham que
abrigar os soldados romanos e pagar pelas suas despesas, um fardo muito pesado. Os romanos invadiam as
residências e exigiam que as pessoas os hospedassem ou saíssem para que pudessem morar ali. O contraste com
Jesus que está à porta é muito grande. Ele não vem com ameaças, mas com promessas para aqueles que o
convidarem a entrar (Hemer 1986, 204)
- ao que tudo indica temos um convite individual para cada pessoa da igreja reagir, baseado na promessa ao
vencedor. Poderia também ser visto como um convite para a igreja como um todo (corporativa), mas parece
melhor olhar de forma individual. O convite é para uma comunhão que inicia agora e continua na eternidade
(Osborne 2002, 217)
- devemos tomar cuidado para não enxergar aqui o crente de Laodicéia como um consumidor que decide se vale
a pena deixar Jesus entrar. Isso tira a seriedade do pecado e da graça de Deus. Jesus não é o coitado que está do
lado de fora pedindo pelo amor de Deus que o deixem entrar (Wiarda 1995, 211). A imagem é de alguém que
tem compaixão e gostaria de ver a situação diferente

9. Mesmo com a igreja neste estado há oportunidades para ser vencedor. Que promessas são dadas aos
vencedores?
- o vencedor será recompensado: sentará comigo em meu trono, partilhando a glória na eternidade. Os
vencedores não somente se sentarão nos seus tronos, mas partilharão o trono de Jesus. Esse texto conecta com a
visão do trono das cap.4-5 (Osborne 2002, 214)
- o vencedor sentará com Jesus no seu trono da mesma forma como Jesus venceu e está no trono de Deus
70
- um certo general que invadiu a Ásia e nenhuma cidade tinha a ousadia de fechar as portas para ele até que
chegou a Laodicéia. No ano 40 AC, Zeno e seu filho Polemo resistiram a esse general e por esse motivo recebeu
o trono da cidade por causa de sua bravura – seus sucessores eram arrogantes e ricos e não dividiam o seu poder
com ninguém (Hemer 1986, 205-6). Em contraste Cristo irá dividir o seu trono com aqueles que são vencedores
- ha 3 estágios de desenvolvimento na teologia do trono na Bíblia. No AT Yahweh senta no trono com
majestade e julgamento. Nos Evangelhos, Jesus, como filho de Deus partilha do trono de Deus compartilha do
trono de Deus com majestade e julgamento (Mt 19:28; 25:31-46). O mesmo ocorre no Apocalipse. No cap.4
Yahweh está no seu trono glorioso e no cap.5 Jesus em suas obra redentora está entronizado com ele.
Finalmente os santos vitoriosos também partilham do trono da glória e para julgamento (Mt 19:28; 1 Co 6:2; 2
Tim 2:12; Ap 2:26-27; 3:21; 20:4). O trono dos santos inicia com a derrota das forças do mal no Armagedom
(2:26-27 = 17:14; 19:14), continua no reino do milênio (20:4) e será completado na eternidade (3:21). Jesus é o
modelo para a vitória que leva ao trono dos santos: “assim como eu também venci e sentei-me com meu Pai em
seu trono” (3:21). A idéia de sentar com o Pai é reminescente de Sl 110:1 onde Deus promete: “Senta-te à
minha direita até que eu faça dos teus inimigos um estrado para os teus pés” interpretado messianicamente no
séc. I (Osborne 2002, 214-15). Mas sentar-se com Jesus no trono não significa se tornar igual a ele. Para todo o
sempre seremos criaturas e ele o Criador
- a vitória de Cristo é um dos temas importantes do NT (Mt 22:44; At 2:34-35; Ef 1:20; Hb 8:1; 10:12-13; 12:2).
Os exorcismos de Jesus eram demonstrações de suas vitória sobre Satanás (Mc 3:27) com relação a amarrar o
homem forte em sua casa. Na cruz Satanás foi destruído totalmente: “tendo despojado os poderes e as
autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz” (Col 2:15). Nesse tempo Jesus foi
e pregou aos espíritos em prisão anunciando que eles tinham sido derrotados (1 Pe 3:19), e “Deus o exaltou à
mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome” (Fp 2:9). A vitória de Cristo é base para o
trono, e a vitória dos santos à medida que vencem o mundo e o mal são a base para o seu trono (Osborne 2002,
215)
- todos devem ouvir o que o Espírito está dizendo, já que a eternidade está em jogo (Osborne 2002, 215)

10. O que podemos aplicar da carta à igreja de Laodicéia em nossas igrejas?


- “Talvez nenhuma das sete cartas seja mais apropriada à Igreja do final do século vinte do que esta. Ela retrata
nitidamente a religiosidade respeitável, nominal, um tanto sentimental e superficial tão difundida entre nós
atualmente. Nosso cristianismo é frouxo e anêmico. Parecemos ter tomado um banho morno de religião” (Stott
1999, 114)
- a igreja de Laodicéia nos lembra de um dos grandes problemas da igreja: a afluência nos deixou mornos, pois
nos sentimos bem em interpretar os nossos ornamentos de sucesso (igrejas grandes, prédios maravilhosos,
orçamentos milionários) como bênção de Deus. Facilmente esquecemos que Deus busca nosso coração e não
somente nossos números. Hoje é possível ficar rico no ministério. Quando ficamos ricos é difícil colocar a Deus
em 1º. lugar em nossas vidas e ministério. Trabalhamos, mas não adoramos. Deus passa a ser mais um em nossa
lista. O Cristianismo passa a ser algo como um seguro para a eternidade. Mas coitado deles diante do trono.
Essa carta no mostra que Deus quer o melhor que podemos dar. Se nossas posses materiais são mais
importantes do que Cristo (da mesma forma como o jovem rico em Mc 10:17-31) Cristo sente náuseas de nós.
A resposta é se arrepender e nos tornar vitoriosos sobre nossas buscas egocêntricas e materialistas. Precisamos
servi-lo e permitir que ele nos glorifique no tempo certo. Somente seremos grandes no Reino se formos
pequenos aqui sobre a terra. Quem vive para o conforto aqui já recebeu a sua recompensa (Lc 6:24) (Osborne
2002, 215-16)
- a igreja é uma comunidade escatológica, uma contracultura dentro do mundo. Toda contextualização que não é
mais do que acomodação à cultura é anti-evangélica. Toda presença cristã que não é profética é anti-profética.
O seu silêncio acaba dando um aval ao sistema [quem cala, consente] (Stam 1999, 168)
- hoje somente restam ruínas da cidade tão badalada (Stott 1999, 119)
71
Ap 4:1-5:14 – A visão da sala do trono

1. Em meio a perseguições a igreja tende a esquecer a realidade divina, focando somente sobre o que está
diante dos olhos. De que maneira a visão que temos nos cap.4-5 pode ajudar a mudar essa realidade?
- o tema que une esses 2 capítulos é o trono. Em 1:1 João é exortado a escrever e enviar às 7 igrejas. Aqui ele é
convidado a subir ao céu para ver o que vai acontecer. Quando chega lá vê um trono no céu que domina os
próximos capítulos. No cap.4 a majestade e soberania de Deus está em foco. No cap.5 o Cordeiro é enfatizado.
A adoração muda de Deus (o Criador) para o Cordeiro (o Redentor) e a última cena une ambas as figuras (5:13-
14) (Osborne 2002, 220-21)
- aqui na cena Deus está sentado no seu esplendor sobre o trono, bem acima dos governadores humanos,
obviamente tendo controle do mundo e de sua história. Ele é o Senhor Todo-Poderoso (4:8), Senhor e Deus
(4:11). Somente ele criou todas as coisas e dá vida a elas (4:11). Além disso, somente Deus e o Cordeiro são
dignos, porque Deus é o criador e o Cordeiro triunfou (5:2-3) e essa vitória foi alcançada através de sua morte
sacrificial como o Cordeiro que foi morto. A vitória do Cordeiro e sua exaltação para uma posição de
autoridade não ocorrem no final do livro, mas foi alcançada na cruz. Mesmo aqui essa autoridade é somente
celebrada e não proclamada. A vitória ocorreu na cruz e o fim dos tempos somente é o resultado dessa vitória
(Osborne 2002, 221)
- nos cap. seguintes João vai ver muitos julgamentos de Deus sobre a terra. A igreja já está passando por
perseguições e isso tudo pode levá-los a desanimar. Mas João vai ter uma visão acertada de quem Deus é, do
que a cruz realmente representou, ver a autoridade do Cordeiro que foi morto e isso vai colocar toda a história
na perspectiva correta. Não são os poderes de mundo que governam, mas tudo faz parte do plano de Deus, que
criou todas as coisas, e redimiu na cruz, para levar a história ao seu final. Nada como uma visão do todo para
entender que Deus está no controle de todas as coisas. Quando vemos quem Deus e o Cordeiro são, nenhuma
revolta, ou poder humano mais nos afetam, pois entendemos com quem está o poder, e que essa revolta dura
somente por pouco tempo. Deus está no controle de tudo e por isso deve ser adorado
- aqui temos uma visão de como Deus enxerga os eventos sobre a terra. A nossa miopia é tirada para vermos as
coisas da perspectiva divina. E isso faz toda a diferença

2. Tronos, especialmente o trono de Deus são mencionados 45 vezes no Apocalipse. Por que você acha que
temos essa ênfase tão grande sobre esse aspecto? O que isso tem a ver com a mensagem do livro?
- a visão dos cap.4-5 mostra um mundo celestial onde Deus e o trono do Cordeiro estão no centro, com todo o
restante colocado à sua volta, a auréola do arco-íris, os “seres viventes” que guardam o trono, os 24 anciãos
sentados em tronos num círculo em volta do trono e depois todas as criaturas do universo. As 17 referências ao
trono de Deus nesses capítulos (comparado com 34 no livro todo) enfatizam a centralidade da soberania de
Deus, motivo pelo qual recebe de forma climática a glória (4:9-11; 5:12-13). Deus e Cristo são glorificados
porque a ressurreição de Cristo demonstra que eles são soberanos sobre a criação para julgar e redimir. A
dedução clara dos cap.4-5 é que o Cordeiro está na mesma posição divina que Deus, um ponto reiterado em
todo restante do livro e insinuado antes (1:13-14) (Beale 1999, 172). Deus criou o mundo e o sustenta. O Deus
que criou o mundo também pode destruí-lo. As pessoas adoram a besta, mas deveriam adorar ao Criador, por
isso não chamados ao arrependimento. Deus vai destruir o mundo antigo manchado pelo pecado e fazer “novo
céu e nova terra” (21:1-22:5) (Osborne 2002, 33)
- os cap.4-5 introduzem e são mais importantes que todas as visões de 6:1-22:5 que brotam dessa visão
introdutória e devem ser vistos como as conseqüências históricas da soberania divina em seu exercício de
redenção e julgamento. Deus e Cristo estão no controle final sobre todos os “ais” tanto de cristãos como de
incrédulos. O propósito final desses “ais” é para refinar a fé dos crentes e castigar os incrédulos. A conexão
direta entre os cap.4-5 e os julgamentos dos cavaleiros (6:1-8) deixa isso mais claro. 6:1-8 fala dos efeitos da
morte e ressurreição de Cristo. Ele transformou o sofrimento da cruz em triunfo, recebeu a soberania sobre os
poderes do mal que o crucificaram (cf. 1:18; Col 2:15) e subseqüentemente os usa para alcançar os propósitos
de refinar seu povo e castigar aqueles que permanecem obstinados em sua maldade (6:1-8) (Beale 1999, 172-
73)
- hoje muita coisa acontece na terra que mostra que a vontade de Deus não está sendo realizada. Mas essa
realidade será transformada porque o Deus entronizado vai agir para mudar o cenário. A esfera do controle de
Deus engloba a terra. O reinado temporário do mal é uma ilusão. Todos os poderes serão derrotados, pois Deus
está no trono e seu reino será realidade sobre a terra. O trono de Deus é mencionado seguidamente no livro
(6:16; 7:10-11, 15; 8:3; 11:16; 12;5; 16:17; 19:4; 20:11; 21:5) para mostrar a autoridade absoluta de Deus sobre
todas as coisas. Deus está sentado no trono e conduz o dia-a-dia da terra, permitindo o mal, mas garantindo a
vitória final. É a justiça divina que prevalece (Osborne 2002, 33)
72
3. Onde ocorrem os cap.4-5? Em que diferem dos cap.1-3, 6? O que isso quer nos mostrar?
- os cap.1-3, 6 ocorrem aqui sobre a terra, enquanto nos cap.4-5 João é transportado para o céu para uma visão
do trono de Deus. A partir do que realmente é real ele vai poder ver a história humana se desenrolando a partir
dessa perspectiva
- a história somente faz sentido quando entendemos que existe alguém por trás dela com um propósito para ela.
Caso contrário, ela se torna simplesmente algo aleatório onde as oportunidades e poder dos fortes vão
predominar sobre os fracos. Nesse sentido Eclesiastes nos conta que tudo é vaidade, tudo é inútil nesse mundo

4. Qual é a 1ª. coisa que João vê? O que poderia significar?


- a sala do trono é como um caleidoscópio de imagens do AT, sem que haja uma dominante. Talvez a imagem
mais forte seja de Ez 1:4-28, mas também Is 6:1-4 e Dn 7:9-10 são importantes. Também temos alusão à
criação com imagens pegas de Ez 1 e talvez Gen 1, uma conexão com o templo e um paralelo com o culto ao
imperador. O trono de Deus domina a cena (Osborne 2002, 222)
- “depois destas coisas” introduz uma nova visão enfatizando o progresso da narrativa, e possivelmente se refere
a 1:10-3:22. João tinha visto Cristo andando entre os candelabros, agora ele vê o trono. Não ha indicação de
tempo, assim não sabemos se houve um período entre as visões. A narrativa é mais retórica do que temporal. À
medida que entramos numa nova parte do livro temos eidon kai idou = olhei e eis que, indicando o início de
uma nova seção no livro (6:2, 5, 8; 14:1, 14) para indicar uma parte importante da visão, nesse caso a porta
aberta no céu (Osborne 2002, 223)
- temos aqui a combinação de duas imagens: a porta e o céu aberto. Isso ainda não quer dizer que todo o céu
está aberto, pois isso vai ocorrer somente no final da história, na volta de Cristo. Ao invés disso, uma porta para
o céu está aberta e somente João é convidado a entrar (talvez essa porta aberta indica que somente João tem
acesso nesse momento ao céu) [Mounce 1977, 133]). A porta é usada ocasionalmente na literatura apocalíptica
para acesso a Deus e alegria/êxtase eterna. A porta já está aberta e ocorre diversas vezes no NT (Mt 3:16; Jo
1:51; At 7:56; 10:11; 2 Co 12:1-4) e inverte o ensinamento bíblico de uma porta fechada por causa do pecado
do mundo (Lc 4:25; Tg 5:17-18; Ap 11:6, todos comentando sobre uma seca de 3 anos e meio no tempo de
Elias em 1 Rs 17). De acordo com Aune a porta aberta no mundo greco-romano simbolizava uma epifania ritual
da deusa (especialmente Ártemis). No batismo de Jesus (Mt 3:16) os céus se abriram e em Jo 1:51 Jesus afirma
que os céus permanecem abertos para ele. A mensagem é que com o ministério de Cristo os tempos finais já
iniciaram. Aqui em Ap 4:1 os estágios finais da consumação são anunciados. No Apocalipse o céu aberto
continua como uma mensagem de esperança para os cristãos que são importunados (8:1ss; 11:19; 12:10; 15:5;
19:11) (Osborne 2002, 223-24)
- a maior parte das ocorrências do termo céu na Bíblia ocorre no plural “céus”, mas no Apocalipse, das 52
ocorrências somente uma está no plural (12:2). Já que o céu é o lugar de habitação de Deus e a habitação final
dos crentes vitoriosos, João não se interessa pelo conceito hebraico de múltiplos céus. O antigo céu com seus
conflitos e o mal (12:7-9, 12) será destruído (21:1) e trocado por um novo, céu final cheio da presença de Deus
no meio do seu povo (Osborne 2002, 224)
- assim temos uma mistura de imagens da porta aberta para o céu: os cristãos têm acesso a Deus no céu onde
terão alegria eterna depois do seu tempo sobre a terra. Isso é uma mensagem de esperança para aqueles que
sofrem, pois em breve estarão para sempre na presença do Senhor

5. Depois disso João ouve uma voz como trombeta. O que João tem em mente quando usa a trombeta? O que a
voz está dizendo para João?
- a 3ª. imagem é de uma voz como trombeta [depois da porta e do céu abertos], olhando para 1:10 e
introduzindo a 2ª. visão. Assim como na referência anterior provavelmente se refere à voz de Cristo. Essa voz é
a anúncio apocalíptico dos eventos do fim preparando primeiramente para a aparição daquele “como filho do
homem” e depois uma visita para a sala do trono [em diversas passagens a trombeta anuncia a vinda de algo
importante, como o rei. Aqui seria o anúncio dos eventos finais]. João é chamado para subir ao céu. João vê a
visão no espírito, mas não estamos falando aqui de uma libertação da alma para esta viagem. Uma visita para o
céu é freqüente na literatura apocalíptica, sempre enfatizando a presença de Deus e o poder escatológico da cena
(Osborne 2002, 224-25)
- aqui Deus vai mostrar, uma revelação ou o processo de tirar o véu da realidade divina (Jo 5:20; 14:8; Ap 1;1;
17;1; 21:9-10; 22:6-8). A expressão “mostrarei o que deve acontecer depois dessas coisas” aparece em 1:1; 4:1;
22:6 como uma revelação primária. A ênfase está sobre “deve acontecer”. Deus é visto controlando
soberanamente a história, determinando o progresso dos eventos de acordo com o seu plano. Ele vai ver o que
precisa ocorrer a partir da sala do trono (cap.4-5) até os eventos dos últimos tempos (cap.6) e adiante (Osborne
2002, 225)
73
6. João é transportado para a sala do trono de Deus. O que mais te chama a atenção nessa descrição do trono
de Deus (4:2-6)?
- “imediatamente” João está em espírito = uma experiência dada pelo Espírito Santo na qual Deus revela seus
mistérios. Essa 2ª. visão é parecida com a 1ª. mas com uma diferença importante: em 1:10-11 João ficou em
Patmos, enquanto que aqui ele foi levado ao céu. Pela 2ª. vez em 2 versículos o texto enfatiza “no céu”. A porta
está no céu e agora ela se abre para revelar uma sala do trono grande no céu. Da mesma forma como em Is 6,
Deus está no centro sobre o trono. O trono é uma das grandes ênfases do livro, contrastando o trono de Deus
como o trono de Satanás e possivelmente nesse capítulo com o trono de César. O termo ocorre 13 vezes nesse
capítulo curto. Originalmente se tratava de uma cadeira para um hóspede honrado, mas se tornou um símbolo da
majestade soberana do rei. Implica em governo e julgamento (Osborne 2002, 225-26)
- somente aqui no NT temos a descrição do trono de Deus. O background podemos ver em Is 6:1-4 e Ez 1:26-
28. A ênfase de Is 6 é “o Senhor assentado num trono alto e exaltado, e a aba de sua veste enchia o
templo” e a presença de seres angelicais (serafins). De Ez temos os 4 seres viventes, a abóbada do céu e o
esplendor transcendente do trono. Mas diferentemente de Isaías o trono é no céu ao invés do templo e diferente
de Ezequiel aqui o trono é fixo e não se movendo como um redemoinho. Essa é a culminação de todas as cenas
do trono na Bíblia (Osborne 2002, 226)
- João vê alguém sentado no trono. João não dá nome àquele que está no trono. O leitor deve saber quem está no
trono. Freqüentemente Deus é identificado como sentado no trono no Apocalipse e a imagem sugere um
soberano que senta para o julgamento final do mundo. Aqui existe o contraste com César. Ao invés de dar nome
a ele, João o descreve com símbolos apocalípticos – as cores brilhantes de pedras preciosas (ao contrário de
Ezequiel que o descreve como a figura de alguém como homem). A Bíblia freqüentemente descreve a Deus
como a luz (Sl 18:12; 104:12; 1 Tm 6:16; 1 Jo 1:5, 7), e aqui 3 pedras translúcidas são usadas para descrevê-lo:
a. Jaspe. O jaspe era uma pedra opaca, freqüentemente vermelha, mas podendo ser verde, marrom, azul,
amarela ou branca. Com base em Ap 21:11 poderia ser uma opala ou talvez o diamante (Osborne 2002,
226). Beale sugere que esta pedra sumariza as outras pedras preciosas no livro, já que também é a
muralha da cidade de Deus (21:18) e é a 1ª. pedra de 21:19-20. Está especialmente associada com a
glória de Deus (Beale 1999, 321)
b. Sardônio. Uma pedra vermelha muito popular no mundo antigo
c. Um arco-íris parecendo uma esmeralda que circunda o trono. O arco-íris tem forma de auréola e
circunda o trono. Essa imagem combina o arco-íris como a luz radiante que circunda Deus em Ez 1:28 e
a aliança feita com Noé (Gen 9:13-17). A promessa de nunca mais destruir a terra com água prepara
para o tema do julgamento no restante do livro. A descrição do arco-íris como uma esmeralda pode
indicar uma pedra verde ou uma pedra de cristal transparente que serve como prisma para trazer à tona
o arco-íris das cores. Ambas enfatizam a glória que circunda Deus e o seu trono (Osborne 2002, 226-
27)
- existe um grande debate sobre a interpretação dessas imagens. A maior parte dos estudiosos acha que não há
significado individual nas pedras e que devem ser vistas como um todo, mas alguns vêem significado individual
nas pedras (jaspe = majestade/santidade; sardônio = ira/julgamento; esmeralda = graça/misericórdia). É mais
provável olharmos para eles como um todo já que são pegas do AT como um todo:
a. Fazem parte da lista que descreve o rei de Tiro: “todas as pedras preciosas o enfeitavam: sárdio ...
jaspe ... esmeralda” (Ez 28:13)
b. Fazem parte das pedras preciosas que ficavam no peito do sumo-sacerdote, cada uma representando
uma tribo (jaspe = Benjamim; sardônio = Rubem; esmeralda = Judá)
c. As cores brilhantes das pedras podem juntas simplesmente representar o resplendor de Deus
O contexto não favorece qualquer ligação com o rei de Tiro ou o sumo-sacerdote. Assim a idéia de Deus
habitando em “luz inacessível” (1 Tm 6:16) pode nos dar o melhor pano de fundo. João usa 3 pedras que se
encontram também na Nova Jerusalém: jaspe (4:3; 21:11, 18, 19); sardônio (4:3; 21:20) e cristal (4:6; 22:1).
Assim a majestade de Deus e o esplendor da Nova Jerusalém estão ligados (Osborne 2002, 227-28)
- em seguida temos uma imagem de 24 tronos que circundam o trono de Deus, sobre os quais temos assentados
24 anciãos. Temos diversos círculos concêntricos com o arco-íris imediatamente circulando o trono, depois os 4
seres viventes, e depois os 24 anciãos. Pode haver uma seqüência hierárquica aqui com as figuras mais perto do
trono citadas por último. Esses círculos concêntricos são a essência da visão e retratam glória e adoração
(Osborne 2002, 228)
- quem são os 24 anciãos: seres humanos ou celestiais? Eles estão vestidos de branco e têm coroas sobre suas
cabeças
a. Poderiam ser humanos já que anjos não são chamados de anciãos e não usam coroas, nem sentam sobre
tronos na Bíblia. Além disso, as roupas brancas no Apocalipse são sempre usadas pelos santos. Dentro
dessa posição temos diversas sugestões:
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i. Os 12 patriarcas do AT e os 12 apóstolos do NT, assim sendo todo o povo de Deus (veja 21:12-
14 com os nomes das 12 tribos e dos 12 apóstolos nos portões e fundamentos da Nova Jerusalém)
ii. Os grandes santos do AT vistos no NT como santos
iii. Toda a comunidade construída sobre as 24 ordens do sacerdócio de 1 Cro 24:4-5
iv. A igreja como o verdadeiro Israel, a contrapartida celestial de todos os vitoriosos (a coroa seria a
grinalda do vencedor ao invés da coroa de governante)
v. Um júri celestial sentado sobre os tronos para julgamento (Osborne 2002, 228)
b. Poderiam ser figuras angelicais, já que não há outros seres humanos no cap.4 e em Is 24;23 os anjos
podem ser chamados de anciãos (é debatido se o texto se refere a anjos ou anciãos de Israel). Em Sl
89:7 (cf 1 Rs 22:19; Jó 15:8) Deus senta em conselho com os seus santos (= anjos). Além disso, anjos
são chamados de “tronos ou poderes ou governadores ou autoridades” (Col 1:16 [cf. Ef 3:10; 6:12]) e
eles vestem roupas brancas (Mt 28:3; Jo 20:12; At 1:10). Os tronos e coroas de ouro poderiam se referir
a sua função real debaixo de Deus de forma similar como os reis do séc. I estavam sujeitos ao
imperador de Roma (Osborne 2002, 228-29)
- a chave para o entendimento dos anciãos é seu uso no Apocalipse. Sua função principal é adorar (5:14; 11:16;
19:4) e louvar (4:11; 5:9-10; 11:17-18; 14:3; 19:4). Além disso, são intermediários e intérpretes (5:5; 7:13-17).
Esses textos nos mostram uma diferença entre os anciãos e os santos. Os anciãos seguram as taças de ouro
contendo as orações dos santos (5:8); um ancião explica quem são os santos vitoriosos (7:13-14); eles
agradecem a Deus por recompensar os santos (11:18); os 144.00 santos cantam uma nova canção diante do
trono e diante dos 4 seres viventes e diante dos anciãos; em 19:4 eles se juntam no coro celestial. Os anciãos
estão assentados sobre os tronos (4:4; 11:16) enquanto os santos estão em pé diante do trono (7:9). Dessa
evidência é mais provável que são seres celestiais que reinam com Deus e são parte do grupo que circunda o
trono. Além disso, já que todos os anjos também estão diante do trono (7:11) estes devem ser seres celestiais
com uma função de reinar (Osborne 2002, 229)
- da mesma forma como os seres celestiais, não sabemos que tipo eles são, apenas que fazem parte do conselho
celestial. Suas vestimentas brancas significam pureza e santidade (talvez parte de sua função sacerdotal de
apresentar as orações dos santos no seu culto) e as coroas de ouro significam seu status real. O número 24 pode
se referir às ordens sacerdotais se essa função está sendo enfatizada aqui, ou aos patriarcas e apóstolos se eles
são o equivalente à igreja sobre a terra. Não podemos ter certeza, mas parece que a função sacerdotal como
líderes do culto/adoração celestial se encaixa com a apresentação das orações dos santos diante de Deus (5:8;
8:3-4). Assim entendemos que os anciãos são uma classe de seres celestiais que reinam, que circundam o trono
e conduzem a adoração celestial, exibindo assim a sua função sacerdotal (Osborne 2002, 229-30)
- a descrição adiante está centrada sobre o trono combinando diversas imagens do AT: centrado sobre o que
circunda o trono (4:4); do que procede do trono (4:5a); do que está diante do trono (4:5b-6a). Do próprio trono
saem trovões e relâmpagos = eles procedem diretamente da obra de Deus. Relâmpagos, vozes e trovões também
aparecem em 8:5 (7º. selo); 11:19 (7ª. trombeta) e 16:18 (7ª. taça). Essas são passagens de julgamento, enquanto
4:5 é uma passagem de adoração. Esta prepara o terreno para as outras, pois o Deus incrível é a base tanto para
a adoração como para o julgamento. Além disso, todas são construídas sobre as passagens de Yahweh do AT,
em particular as teofanias da tempestade do Sinai (Ex 10:16; Ez 1:13, que faz parte de Ez 1:4-28, o texto básico
para o background da revelação que temos em Ap 4). Essa era uma parte importante da meditação judaica sobre
o Deus incrível e atemorizante como visto em Jz 5:4; 1 Sam 7:10; 12:17-18; 2 Sam 22:8-10; Sl 18:7-9; 29:3;
77:17-18; 97:4; Jub 2:2; Hb 12:18. Segundo Bauckham essa visão inicial do reinado de Deus no céu nos leva
para a expectativa da vinda de Deus para julgar e governar o mundo (Osborne 2002, 230)
- agora vamos diante do trono onde 7 lâmpadas de fogo estão acesas e um mar de vidro. São 7 tochas acesas e
firmes que significam a presença de Deus. Não se trata dos candelabros, mas das mesmas tochas que temos em
8:10 que estão ligadas com a grande estrela que caiu do céu na 3ª. trombeta. O termo está conectado no mundo
da época com estrelas, possivelmente estrelas cadentes que pareciam tochas. Tanto os relâmpagos como as
tochas são símbolos da majestade divina, mas também do julgamento no Apocalipse. Assim preparam o leitor
para o derramar da ira desse Deus incrível que virá em breve. Aune enxerga uma ligação com o império
romano, já que era comum carregar “o fogo sagrado” diante do imperador. Assim, outra vez é Yahweh, não o
imperador que tem essa autoridade (Osborne 2002, 230-31)
- os 7 espíritos de Deus são o sétuplo Espírito Santo. Em Mt 3:11 Cristo batizaria com o Espírito em com fogo,
símbolo da purificação e julgamento. Em Ap 4:11 Deus é o sustentador e consumador da criação. Aqui o
Espírito se une a ele nessa atividade. Baseado em Zac 4:1-10 que fala das 7 lâmpadas e dos 7 olhos de Deus,
isso indica que o Espírito perfeito é o meio pelo qual Deus supervisiona e julga sua criação (Osborne 2002, 231)
- também temos diante do trono o mar de vidro, uma possível alusão ao firmamento que separou as águas (Gen
1:7). Ainda precisamos incluir Ez 1:22 que é construído sobre Gen 1:7 descrevendo “acima das cabeças dos
seres viventes estava o que parecia uma abóbada, reluzente como gelo, e impressionante”. O trono de Deus
estava apoiado sobre esse firmamento/abóbada. O mar de vidro claro como cristal imita o mar, mas o mar não
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está lá, somente é parecido com ele. A ênfase é sobre a imensidade desse Deus incrível, sua transcendência e
santidade que o separam da criação (da mesma forma como o firmamento separou as águas). A cena é
incrementada com essa imagem espetacular. De um lado é como vidro, refletindo a magnificência e as cores
caleidoscópicas da sala do trono. Do outro é transparente como cristal, radiando sua incrível santidade (note o
jaspe claro como cristal [21:11]; o ouro puro como vidro puro [21:18]; o rio claro como cristal de água da vida
[22:1] na descrição da Nova Jerusalém). Esse mar vai aparecer mais duas vezes (15:2) onde o mar de vidro está
misturado com fogo, indicando o julgamento divino, e depois vemos que não havia mais mar (21:1), que pode
se referir ao mar como o abismo, o caos das profundezas que no mundo antigo significam o reino do mal no
mundo. Aqui o mar de vidro claro como cristal simboliza a santidade transcendente de Deus e sua incrível
soberania que é a fonte da adoração (4:6) e depois se torna a base para o julgamento (15:2) quando Deus quer
erradicar o mal de sua criação (21:1) (Osborne 2002, 231-32)

7. João também fala de 4 seres viventes com aspectos estranhos. O que quer mostrar com esses símbolos?
- no centro e ao redor do altar estão os 4 seres viventes. É estranho pensar no centro e ao redor. Como a imagem
é baseada em Ez 1 que parece indicar que um ser está diante do trono e os outros ao lado e talvez por trás (Ez
1:5, 12-13), talvez seja melhor pensar que estão ao lado do trono, circundando-o com sua presença. Esses seres
viventes estão cheios de olhos na frente e atrás deles. Isso se baseia em Ez 1:18 onde os aros das rodas do trono-
carruagem estavam cheios de olhos por toda a parte. Os aros não fazem parte dessa visão, mas o significado dos
olhos ao redor é similar = significam vigilância constante. Num certo sentido como os olhos de Deus, eles
poderiam ser uma extensão de sua onisciência à medida que observam a sua criação. Nada pode ser ocultado
desses seres à medida que supervisionam/examinam os negócios de Deus (Osborne 2002, 232-33)
- a identificação dos 4 seres viventes tem criado muitas especulações. A sua aparência era parecida com um
homem, leão, boi e águia. Há diversas sugestões para resolver esse enigma:
a. Os pais da igreja viam aqui os 4 evangelhos, mas não havia unanimidade sobre qual representava qual
evangelho. Não devemos levar muito a sério essa sugestão
b. Alguns vêem alusão à mitologia babilônica que via nesses os 4 extremos do zodíaco (Touro = boi; Leão
= leão; Escorpião = homem; Aquário = águia). Isso pode se encaixar bem nos 3 primeiros, mas não
existe uma boa explicação para relacionar Aquário = águia. Além disso, a ligação das crenças
babilônicas para Ezequiel, depois para Israel depois para João é muito especulativa. Aliado a isso João
nunca constrói sobre um motivo astrológico no livro, assim não temos evidências para esta teoria – ela
permanece especulativa
c. Em contextos babilônicos e assírios há representações da realeza com esfinges ou leões com asas. Além
disso, os reis são retratados como montados em trono que são sustentados por asas, o que poderia ser
uma classe de anjos que sustentam o trono servindo a Yahweh. Aqui outra vez não temos uma ligação
do imaginário babilônico com o Apocalipse
d. Outros vêem estes como representando atributos divinos ou características espirituais como coragem e
majestade (leão), paciência e força (boi), inteligência e espiritualidade (humano) e soberania e rapidez
de ação (águia). Mesmo sendo interessante não tem suporte no Apocalipse, pois estas criaturas nunca
são adoradas nem vistas dessa forma
e. Eles representam as 4 tribos de Israel (Judá, Rubem, Efraim, Dã) cujos estandartes estavam nos 4
cantos do tabernáculo (Num 2:2). Como o tabernáculo/templo é visto como estando no céu isso é
possível, mas somente uma possibilidade
f. Outros ainda vêem que representam a totalidade da criação animal, talvez retratando o que existe de
mais nobre, forte, sábio, e rápido na criação divina. Essa parece a opção mais provável e evita uma
alegorização exagerada. Mas não temos muitas evidências que nos possibilitem ter certeza (Osborne
2002, 233-34)
- o que sabemos é que esses seres viventes combinam os querubins de Ez 1 e 10 com os serafins de Is 6. As 4
faces são tiradas de Ez 1:10; 10:4 e os olhos de Ez 1:18 enquanto as 6 asas e o canto litúrgico vem de Is 6:2.
Sabemos muito pouco sobre essas ordens de seres viventes. Os paralelos mais próximos são as esfinges e leões
com asas que adoravam os tronos e estavam do lado de foram dos templos na Mesopotâmia. No AT os
querubins e serafins estavam guardando a árvore da vida (Gen 3:24), estavam de cada lado da arca com suas
asas cobrindo-a (Ex 25:18-20), lideravam a adoração/culto (Is 6:3) e sustentavam a carruagem de Deus pelos
céus (Ez 1:19-21; cf. 2 Sam 22:11; Sl 18:10). Na literatura apocalíptica judaica estes também eram centrais no
reinado divino. No Apocalipse esses 4 seres viventes lideram a adoração (4:6-9; 5:8-9, 11; 19:4), estão como
sentinelas ao lado do trono (5:6; 7:11; 14:3) e tomam a frente no derramar da ira divina (6:1, 3, 5-7; 15:7). Já
que estão mais próximos do trono (4:6) e lideram a adoração (4:8; 5:14) provavelmente são os líderes da corte
celestial. O que sabemos é que representam a ordem mais alta de seres celestiais, talvez anjos e lideram na
adoração e no julgamento. Outra vez vemos que a adoração diante do trono prepara para o tema do julgamento
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no restante do livro. Enquanto esses seres transcendentes são seres celestiais, eles também representam a
totalidade da ordem criada à medida que estão diante de Deus (Osborne 2002, 234-35)
- esses seres têm 6 asas e olhos em toda a parte. As asas (Is 6:2) são usadas para cobrir a face, os pés e para
voar, mas aqui possivelmente temos a alusão para a sua rapidez. Assim pode ser que as asas representam a
rapidez e os olhos a vigilância. Mas também é possível que não tenhamos alegoria alguma aqui. A descrição
seria somente para acrescentar a incrível cena de adoração de Is 6 (Osborne 2002, 235)
- existe grande ênfase sobre a interminável adoração dos seres viventes. Eles não descansam de dia ou de noite.
Isso é comum na literatura apocalíptica judaica onde Deus é continuamente adorado por sua majestade e poder.
A principal tarefa desses seres viventes é louvar a Deus por sua soberania sobre a criação e seu poder. As outras
atividades (como chamar para o juramento, etc.) se baseiam sobre esse trabalho principal. A ênfase do cap.4 é a
preparação para o julgamento. A destruição do mal é necessária antes que a eternidade possa começar (Osborne
2002, 236)

8. Os seres viventes lideram o louvor no céu. O que eles cantam? O que estão querendo enfatizar? Isso teria
algo a ver com a situação histórica desse livro?
- aqui temos o 1º. hino. Os hinos são colocados estrategicamente no decorrer do livro para nos chamar a atenção
sobre a majestade e soberania de Deus bem como da adoração do seu povo, tanto na terra como no céu. A
ênfase está sobre o Deus que liberta e vinga seu povo e julga os que praticam o mal. Louvor é a resposta válida
daqueles que são objetos do seu amor onipotente. De acordo com Johnson os hinos dos cap.4-5 (4:8, 11; 5:9-10,
12, 13) mostram a unidade entre o Pai e o Filho. Os primeiros 2 estão relacionados com Deus, os outros 2 com o
Cordeiro e o hino final com ambos. Além disso, o coro se torna cada vez maior, iniciando com os 4 seres
viventes e concluindo com “toda criatura no céu e na terra” (5:13) (Osborne 2002, 236)
- neste hino, os 4 seres viventes lideram a adoração litúrgica e celebram 3 coisas: sua santidade, sua onipotência
e sua eternidade. Eles iniciam com: santo, santo, santo, baseado em Is 6. A repetição enfatiza sua santidade, sua
imensa grandiosa santidade. A santidade separa Deus de sua criação. Ele é o “totalmente outro” que está acima
do mundo e logo vai julgá-lo. Nem toda terra está repleta de sua glória, porque está cheia de abominações
(Osborne 2002, 236-37)
- sua santidade conduz para a onipotência. Is 6:3 usa o termo Senhor Sabaoth = Senhor dos exércitos. A LXX
normalmente usa a tradução de Senhor todo-poderoso (usada também aqui). Esse é um dos títulos preferidos de
João (aparece 9 vezes no livro) e se refere ao poder soberano de Deus e do seu controle sobre o universo. Nesse
tempo de perseguição severa a igreja se sentia desprovida de poder. Assim, ser recordado que Deus é onipotente
era uma fonte de encorajamento. João usa aqui o termo “Senhor Deus todo-poderoso” para enfatizar não
somente o seu poder, mas também sua soberania sobre a criação. A igreja não deve se apavorar diante do poder
ilusório das forças que se opõem a Deus. Depois disso os seres viventes celebram a eternidade de Deus, que
controla o passado, presente e futuro. Deus é eterno e soberano. Sua eternidade é enfatizada duas vezes: vive
para todo o sempre (4:9-10) (Osborne 2002, 237-38)

9. Mas os seres viventes não estão sozinhos em sua adoração. Como os 24 anciãos participam, e o que isso
quer mostrar?
- agora a cena passa dos 4 seres viventes (4:8b-9) para os 24 anciãos (4:10-11). O canto é antifonal com os seres
viventes celebrando a santidade de Deus e depois os anciãos cantando o refrão sobre Jesus que é digno de ser
adorado. Ao que tudo indica esse louvor é contínuo. O hino dos 4 seres viventes é descrito como dando glória,
honra e graças a Deus e o hino dos anciãos inclui glória e honra. É a glória que pertence a Deus por quem ele é,
sua onipotência e eternidade. A glória é atribuída primariamente a Deus (1:6; 4:9, 11; 7:12; 11:13; 14:7; 15:8;
16:9; 19:1, 7; 21:11, 23), mas também a Cristo (5:12), para ambos (5:13), para um anjo que participa na glória
divina (18:1) e para as nações que entregam sua glória a Deus (21:24, 26). Era o termo usado na LXX para
traduzir o termo kabod = majestade e glória do soberano Deus. Era usado para expressar o governo soberano de
Deus sobre a natureza e a história e em seus atos históricos de salvação e julgamento percebidos somente pelo
olho da fé. No NT glória e honra significam o prestigio que Deus merece. Deus merece o nosso agradecimento
pelo que nos concede. O hino dos seres viventes está centrado sobre os atributos de Deus e o louvor dos anciãos
sobre a sua obra de criação (Osborne 2002, 238-39)
- seu louvor resume os aspectos mais importantes de Deus no cap.4:
a. Ele está assentado no trono – uma frase tirada de 4:2 com a intenção de representar a descrição do Deus
soberano, o grande Deus, o Rei dos reis, aquele diante do qual César some por causa de sua
insignificância
b. Ele é o Deus eterno – aquele que vive para todo o sempre. Tirado de Dan 4:34; 12:7 que louva o Deus
soberano que reina de forma eterna. Isso não engloba somente a majestade eterna de Deus, mas também
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sua glória eterna e o reinado de Cristo, bem como seus julgamentos sobre o incrédulo e a recompensa
eterna para os fiéis. Apocalipse olha para o futuro para falar do presente. À medida que centramos em
Deus que controla o futuro podemos vencer as dificuldades do presente (Osborne 2002, 239)
- toda vez que os seres viventes levantam suas vozes em adoração (4:10) os 24 anciãos se prostram diante de
Deus e o adoram. A reverência dos anciãos aparece diversas vezes no livro e é baseada na adoração litúrgica do
povo de Deus bem como dos suplicantes ao imperador romano (temos ambas imagens aqui). No mundo secular
era comum que aqueles que queriam algo do rei se prostrassem diante dele e beijassem as suas roupas. Reis
inferiores tiravam suas coras diante do imperador para mostrar sua submissão a ele. Essa é a 3ª. ação dos
anciãos (além de se prostrar e adorar). Eles têm coroas de autoridade, mas não são soberanos. Suas coroas são
de ouro e as entregam para Deus. Com isso demonstram sua reverência e submissão a Deus já que somente ele é
digno dessa reverência. O imperador romano será forçado a se submeter a Deus, pois somente ele reina para
todo o sempre. Todos os reis da terra e do céu precisam reconhecer a soberania de Deus (Osborne 2002, 239-
40)

10. Quais são as 2 partes do hino cantado pelos anciãos? Por que escolheram esse conteúdo para seus hinos?
Isso tem algo a nos ensinar?
- o hino dos anciãos (4:11) providencia o clímax dessa cena. Enquanto o hino dos seres viventes está na 3ª.
pessoa, o hino dos anciãos é cantado diretamente a Deus na 2ª. pessoa. Essa linguagem é política usando a
terminologia das cerimônias judiciais romanas (digno és tu, nosso Deus e Senhor, glória, honra e poder). Deus é
apresentado como o único digno de nossa adoração e fidelidade (Osborne 2002, 240)
- há 2 partes no hino centrado sobre o Deus que é digno e depois sobre sua obra de criação e sustentação. A
frase “digno és tu” não ocorre no AT, mas parece ter sido tirada do contexto romano, da aclamação feita ao
imperador ou seu representante quando entrava na cidade. A idéia da superioridade de Deus sobre os
governadores da terra é enfatizada pelo “nosso Senhor e Deus”, que também não ocorre no AT, mas era usada
para o imperador Domiciano, diferente da prática comum de chamar o imperador de deus somente após a sua
morte. Não é o imperador que merece esse título, mas Deus. Deus e Cristo são retratados como Senhor,
enfatizando sua soberania sobre a criação (Osborne 2002, 240)
- já que Deus é digno e Senhor sobre todos, deve receber glória, honra e poder. O v.8 celebrou o poder do Deus
todo-poderoso. No v.9 vemos que os seres viventes dão a ele glória, honra e graças. O hino de 4:11 combina a
adoração de ambos os hinos: glória, honra e poder (ao invés de graça). Esse é o termo usado nos sinóticos para
falar dos grandes milagres de Jesus, e no Apocalipse é usado para descrever as grandiosas obras de Deus.
Normalmente é atribuído a Deus (4:11; 7:12; 11:17; 12:10; 15:8; 19:1), é estendida para o Cordeiro (5:12) e é
atribuída para ambos (5:13). No AT o poder de Deus foi demonstrado de maneira especial no êxodo do Egito. A
idéia de um Deus pessoal que controla a história através dos atos de poder é freqüente no AT e se torna ainda
mais forte dos escritos apocalípticos judaicos. O Messias virá e terminará a era presente. Esse hino acrescenta o
poder de Deus sobre a criação, que é o tema do restante do hino (Osborne 2002, 241)
- o sujeito enfático do hino é Deus e toda a criação é o objeto. Existe o contraste com César, pois somente Deus
cria a vida, mas o foco está sobre a adoração ao Criador que tornou todas as coisas possíveis. A criação existe
por causa da providência divina. A vontade de Deus é central em todos os aspectos da criação. Deus criou o
mundo do nada e o sustenta por sua vontade. Mas o mundo vai ser destruído no tempo apropriado para a sua
vontade (2 Pe 3:7, 10). Mesmo que o texto tende a inverter a ordem cronológica no último versículo, devemos
ver um quiasmo ABA aqui: criou, existem, foram criados (Osborne 2002, 242). O propósito é enfatizar a
preservação por causa da intenção pastoral do livro – encorajar o povo de Deus a reconhecer que tudo que
acontece a eles na história faz parte do propósitos salvíficos da criação de Deus (Beale 1999, 335)

11. Qual é a função desse capítulo? Isso quer nos ensinar algo sobre a nossa adoração pública?
a. Fundamentar nossa adoração litúrgica na adoração celestial dos seres viventes
b. Contrastar a magnificência de Deus com a glória terrena de César e de todos os governadores da terra
c. Mostrar que o julgamento de Deus (cap.6-20) está baseado em sua santidade e obra redentora (cap.4-5).
Deus é o criador e como tal soberano sobre tudo. Quando as pessoas optam por adorar a criatura (como
no culto imperial) ao invés do Criador, isso é blasfêmia e precisa levar ao julgamento (Osborne 2002,
243)
- os cultos hoje estão muitas vezes focado sobre culto à personalidade. Os cultos na igreja estão focados sobre
pessoas, e sobre a dimensão horizontal, que estamos deixando de lado o elementos vertical de nosso culto. Essa
passagem mostra isso de maneira muito clara (Osborne 2002, 243)
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12. Que impressão o cap.4 nos dá sobre Deus, o Pai? O que podemos aprender dele baseado nesse capítulo?
- Deus é muito mais do que podemos imaginar. Ele é descrito com símbolos, porque não se encontra
equivalentes nas palavras para poder descrevê-lo. Depois disso, vemos relâmpagos, tronos, e vozes saindo do
trono, mostrando a sua soberania sobre todas as coisas do universo. Diversos seres estão diante dele e o servem.
Mesmo estes são descritos de maneira simbólica, pois estão acima dos humanos. As descrições dele são de
santidade = separação dos outros seres vivos (ele é o único do seu tipo); poder = onipotência, e eternidade. Ele é
Senhor sobre tudo, pois criou todas as coisas e as sustenta
- Deus é muito mais do que imaginamos que seja. Em nossa vida do dia-a-dia tendemos a esquecer com quem
estamos lidando. Em nossa adoração particular ou pública sempre precisamos ser lembrados com quem estamos
lidando. Isso nos ajuda a colocar novamente a vida e o mundo dentro da perspectiva eterna. Sem isso, estamos
fadados a viver num mundo ilusório aqui sobre a terra, o mundo que a mídia criou diante de nós, um mundo do
engano controlado por Satanás

13. Qual é a grande mudança que encontramos do cap.4 para o cap.5?


- a exaltação da majestade de Deus no cap.4 nos conduz à exaltação do Cordeiro, que também está no centro do
trono (5:6). A adoração na Bíblia é totalmente monoteísta, separando Deus de toda a criação. Ao que tudo
indica temos agora os eventos que antecipam o fim. Temos a transferência de autoridade de Deus para o
Cordeiro. Somente o Cordeiro tem o poder para abrir os selos. O Cordeiro comprou pessoas para Deus e assim
pagou o preço para se tornar digno também para julgar (6:1-2). A cruz é a base tanto para o amor divino
(redenção) como para a justiça (julgamento) (Osborne 2002, 245-46)

14. Deus tem em sua mão um rolo selado. O que essa imagem quer nos mostrar?
- a expressão “eu vi” ocorre 4 vezes neste capítulo (5:1, 2, 6, 11) e divide o capitulo em cenas separadas (5:1, 2-
5, 6-10, 11-14). Na 1ª. visão vemos Deus assentado no trono (resumo do cap.4). Aquele sentado sobre o trono
(4:2, 3, 9, 10) é o Rei dos reis, o Senhor exaltado do universo, o único digno de louvor. Aqui o autor acrescenta
algo sobre a sua “mão direita” que simboliza poder e autoridade. Aqui o livro está sobre a sua mão. A imagem
vem de Ez 2:9-10 (também de Dan 12:4; Is 29:11-12; Jer 36:1-25), onde um rolo com as palavras “lamento,
pranto e ais” escrito dos dois lados se encontra na mão de Deus e é mostrado a Ezequiel. A mensagem de
julgamento dada a Ezequiel nos dá o background para o rolo e os 7 selos (Osborne 2002, 247)
- possivelmente temos aqui um rolo feito de tiras de papiro coladas juntas de modo que o livro poderia ser
enrolado. Havia também rolos de pergaminho, mas estes normalmente tinham a escrita somente de um lado. Os
pergaminhos selados eram fechados com cera e tinham um carimbo real para tornar o documento oficial. O
propósito dos selos é manter os segredos até o tempo do seu cumprimento, um tema apocalíptico comum (Da
8:26; 12:9). Mas o que vem a ser esse documento selado escrito dos 2 lados:
a. O livro da vida do Cordeiro. Esse é um tema predominante no Apocalipse (3:5; 13:8; 17:8; 20:12, 15;
21:27). Isso significa que os nomes dos redimidos deve ser divulgado. O fato de estar escrito de ambos
os lados indica que há muitos nomes. Mas não temos nenhuma indicação nesse sentido nesse contexto.
Aqui a ênfase está sobre os eventos que vão ocorrer e não sobre nomes. O rolo aqui e em 10:1-11
introduzem o plano que Deus tem para o futuro da criação (Osborne 2002, 248)
b. O AT, especialmente a Torah, com suas bênçãos e maldições que estipulam as leis da aliança. Essas
bênçãos se cumprem no NT à medida que a revelação da vontade de Deus é aberta pelo Cordeira e se
torna a base para o julgamento dos inimigos de Deus e a vindicação dos santos. Essa idéia se encaixa
com a predominância do cumprimento do AT neste livro, mas não se encaixa com o tom do livro nesse
lugar. A ênfase aqui está sobre o futuro e não somente no passado; e sobre a morte de Cristo (5:6, 9,
12), mais que sobre a profecia do AT de modo geral (Osborne 2002, 248)
c. O testamento contendo a herança dos santos e selado com os 7 selos. A pessoa fazendo o testamento
colocava-o sobre um rolo e depois este era selado por 7 testemunhas. Depois de sua morte os selos eram
quebrados (de preferência com a presença das testemunhas) e o conteúdo divulgado. Essa opção é
possível, mas não há muita ênfase sobre a herança dos santos nesse contexto e esta imagem nunca e
usada para julgamento dos incrédulos (cap.6) (Osborne 2002, 248)
d. Uma carta de divórcio, dobrada e assinada do outro lado pelas testemunhas, emprestando a imagem do
AT sobre a infidelidade de Israel. Assim Cristo está divorciando a Jerusalém que apostatou e se casando
com a Nova Jerusalém. Não se encaixa muito bem com os detalhes. Além disso, a idéia do divórcio não
aparece em outras partes do livro (Osborne 2002, 248-49)
e. Um documento de contrato escrito dos 2 lados e selado com 7 selos e uma descrição do conteúdo do
contrato no verso. Esse tipo de contrato era usado largamente entre os povos antigos. O contrato era
escrito na parte de dentro do rolo, depois era enrolado e selado com 7 selos, e uma descrição curta era
79
escrita do lado de fora. No mundo judaico esse contrato era dobrado e selado com no mínimo 3
testemunhas e podia ser usado em casos de divórcio. Mesmo que não se encaixe diretamente com o
tema do julgamento e vindicação dos cap.6-20, é um paralelo muito interessante (Osborne 2002, 249)
f. Um livro celestial contendo o plano de redenção divino e a história futura da criação de Deus, talvez
detalhando as profecias do livro. Isso era comum na literatura apocalíptica judaica. Estes detalham os
julgamentos que vão inaugurar o fim dos tempos e providenciar o final da história e o começo do
reinado eterno de Cristo bem como da alegria do povo de Deus (Osborne 2002, 249)
Possivelmente temos uma combinação das duas últimas propostas: um plano detalhado do plano de salvação de
Deus com a revelação cada vez mais clara de Cristo. Foi a morte de Cristo, o ponto marcante do plano redentor
de Deus e o Apocalipse descreve como esse plano vai ser concretizado. O julgamento das nações nos selos,
trombetas e taças fazem parte do plano, de modo especial já que estes servem para dar uma oportunidade final
para as nações se arrependerem (9:20-21; 15:4; 16:9, 11). O plano de redenção era necessário por causa dos
efeitos do pecado e o julgamento é necessário para purificar a criação de Deus e de limpá-lo de sua escravidão
(Rom 8:19-22). O que veremos no cap.6 não está no rolo. Os julgamentos dos selos são eventos preliminares
que conduzem para o desvendar do fim dos tempos e o cumprimento do plano divino. O Apocalipse nos mostra
como Deus vai levar a cabo o seu plano. São 7 selos que apontam para a perfeição do plano de Deus (ou o plano
completo). O plano é perfeito e será executado no seu tempo. O rolo descreve o plano de Deus por trás dos
selos, trombetas e taças (Osborne 2002, 249-50)

15. O futuro está para ser desvendado, mas há algo que precisa acontecer antes que isso possa acontecer. O que
precisa acontecer? Qual é o resultado disso?
- em Ez 2:10 Deus mesmo abre o livro, mas aqui procura um agente, pois é seu Filho, o Cordeiro que vai trazer
a tona os eventos finais. Um anjo poderoso proclama. Possivelmente um arcanjo, mas não há maneiras de
identificá-lo. Estes proclama em alta voz, faz um pronunciamento e não uma afirmação. Ele atua como porta-
voz com uma proclamação do rei: Quem é digno? Já que Deus mesmo não vai abrir o rolo, faz-se uma busca na
criação para ver se encontra alguém digno de abrir o rolo. Somente o Cordeiro que foi morto é digno. Ele é
celebrado primeiramente focando sobre o motivo que o torna digno (5:9-10) e depois os resultados, quando ele
como Deus recebe uma aclamação sétupla (5:12 = 4:11). O foco aqui está mais sobre sua autoridade do que
sobre sua moralidade que o torna digno (Osborne 2002, 251)
- não encontraram ninguém no céu, na terra ou debaixo da terra digno de abrir o livro, seguindo a divisão do
universo de acordo com a cosmovisão hebraica, se referindo provavelmente à toda ordem criada ao invés de
seres específicos ou esferas espaciais da vida. O que fica claro é que ninguém tem autoridade para abrir o rolo.
Aqueles debaixo da terra poderia se referir aos santos do AT que já tinham morrido. Mas na cosmologia
hebraica possivelmente se refere às regiões do além, o abismo de 9:2, 11 e 11:7, onde as forças demoníacas
habitam. A idéia é que nenhum dos seres criados (5:13) tem o poder para abrir o rolo ou mesmo para olhar para
o mesmo depois que foi aberto. Refletindo sobre o poder dos anjos poderosos de Deus, dos grandes feitos dos
heróis do AT e as realizações espirituais dos reis, profetas e apóstolos do NT, vemos que esta afirmação é
impressionante. A questão central é mostrar que a única realização que pode ser digna é a morte sacrificial de
Cristo como a verdadeira conquista do mal. Todo o restante é apenas preparatório para essa derrota final de
Satanás na cruz (Osborne 2002, 251-52)
- João chora porque ninguém foi encontrado digno. Pela 3ª. vez nesses versículos encontramos “abrir o rolo”
(5:2, 3, 4) mostrando que a atenção dos leitores está sobre o conteúdo do rolo. Desde 4:1 quando foi anunciado
que João veria o que deve acontecer, ficamos na expectativa da revelação. Agora parece que essa expectativa
vai por água abaixo, o deixa João muito triste (o termo aqui denota uma tristeza profunda por aquilo que se
perdeu). Existe dúvida porque João chorou: uns pensam que chorou por ninguém ser digno moralmente de abrir
o rolo, ou porque não conseguia saber o conteúdo do rolo. Mas possivelmente João chora porque assim os
eventos preditos não se realizarão = a vinda definitiva do Reino de Deus (Osborne 2002, 252)
- um dos anciãos de 4:4, 10 vem a João e o conforta. Não existe necessidade de lamentar diante do poder de
Deus que logo será demonstrado (cf. Lc 7:13; 8:52). O anúncio começa com “eis que” chamando a atenção para
algo importante que será dito. No grego a palavra que vem em 1º. lugar é “venceu” para ênfase e se refere a sua
vida de vitória sobre os poderes do mal ou à sua morte sacrificial como a grande vitória sobre Satanás. Essa
palavra já fora usada nas cartas para falar daqueles que vencem, podendo indicar que a vitória dele é a base para
a nossa. A cruz (como em 5:6) é o coração do poder espiritual sobre o mal. Aqui está um grande paradoxo do
Cristianismo: a vitória surge da aparente derrota; o mal [é conquistado através do sofrimento terrível da cruz (1
Co 15:54). Quando Satanás colocou Jesus na cruz, isso foi o seu maior erro tático, pois fez parte de sua própria
derrota (Osborne 2002, 252-53)
80
- antes que o futuro pudesse ser desvendado e acontecer, o plano anterior de Deus precisava ser executado: a
morte e ressurreição de Jesus. Pois somente o Cordeiro que foi morto é digno de abrir o rolo que vai destravar o
que vai acontecer no futuro. Não existe futuro sem a morte de Jesus na cruz.

16. O v.5 apresenta 2 títulos messiânicos de Jesus. O que poderiam significar nesse texto?
- o v.5 combina 2 títulos messiânicos: leão de Judá e raiz de Davi, baseado em Gen 49:9 e Is 11:10, que
freqüentemente eram vistos de forma messiânica pelos judeus. O 1º. título é mencionado pelo ancião. Leão é o
animal mais mencionado no AT (150 vezes na LXX), freqüentemente usado de forma figurativa para poder e
força (um símbolo para o reino de Davi em 1 Rs 10:19-20) ou como um adversário carnívoro (o diabo anda em
derredor buscando a quem devorar – 1 Pe 5:8). Yahweh comino o guerreiro divino é retratado diversas vezes
como o leão (Jó 10:16; Is 31:4; Jer 50:44; Os 5:14; Am 3:8), e agora Jesus assume essa função de guerreiro
divino (Osborne 2002, 253)
- o leão tem 2 características: da tribo de Judá e a raiz de Davi. O termo da tribo de Judá procede de Gen 49:9-
10 “9 Judá é um leão novo. Você vem subindo, filho meu, depois de matar a presa. Como um leão, ele se
assenta; e deita-se como uma leoa; quem tem coragem de acordá-lo? 10 O cetro não se apartará de Judá, nem
o bastão de comando de seus descendentes, até que venha aquele a quem ele pertence, e a ele as nações
obedecerão”. Gen 49:8 dá um tom militar usando uma metáfora que pode ter sido emprestada para retratar a
vitória de Cristo: “sua mão estará sobre o pescoço dos seus inimigos”. Judá é comparado a um leão novo que
cresce em sua força, captura sua presa e volta para descansar em sua toca. A chave está no v.10 “a quem ele
pertence” que era interpretado pelos judeus numa direção messiânica. É a perícia militar do Messias e a sua
vitória sobre os inimigos que é celebrada (Osborne 2002, 253)
- Jesus como a raiz de Davi vem de Is 11:1,10 outro texto interpretado de forma messiânica pelos judeus: “Um
ramo surgirá do tronco de Jessé, e das suas raízes brotará um renovo ... Naquele dia as nações buscarão a
Raiz de Jessé, que será como uma bandeira para os povos”. Essa é mais uma passagem militar como em 11:4:
“Com suas palavras, como se fossem um cajado, ferirá a terra; com o sopro de sua boca matará os ímpios”. A
literatura apocalíptica judaica esse texto era visto como se referindo ao messias conquistador que destruiria os
inimigos de Israel. Logo, parece que Jesus vai destruir as nações. Mas o versículo seguinte qualifica essa
posição e traz um grande paradoxo cristão – Jesus conquistou primariamente através de sua morte sacrificial e
não através da força militar (mesmo que esta ainda vem) (5:6, 9, 12). Jesus como a raiz de Davi é
freqüentemente mencionado nos evangelhos. No Apocalipse predomina a imagem militar de Davi. Como o
Messias real ele empreende uma guerra messiânica contra o mal, e a maior arma que derrota os inimigos de
Deus é a cruz. Essa vitória cósmica o capacita para abrir o rolo (Osborne 2002, 254)

17. O v.6 apresenta um outro símbolo para Jesus. O que esse símbolo significa? Será que a seqüência é
importante?
- depois disso João vê um Cordeiro que parecia ter estado morto. Aqui temos uma das mais belas metáforas da
Bíblia onde o leão é um Cordeiro. O estágio final é um cordeiro e não um leão. 5:6-10 nos mostra como o
Cordeiro conquistou, não através de força militar (mesmo que esta ainda venha), mas pelo sacrifício pascal.
Jesus conquista não com base em sua perícia e coragem militar (como um leão), mas suportando hostilidade e
morrendo (como um cordeiro pascal). Isso significa que a vitória sobre Satanás já ocorreu: a cruz é o ponto
central da história e a batalha final do Armagedom (16:16; 17:14; 19:14-21) é a culminação da vitória que já
ocorreu. Na verdade, Armagedom se trata mais do ato final de rebeldia do que a vitória de Cristo. A vitória de
Cristo ocorreu na cruz. É impossível enfatizar demais a transformação magnífica de 5:5-6: o leão é
transformado num cordeiro que se torna um cordeiro pascal morto que é novamente transformado num cordeiro
conquistador (7 chifres) (Osborne 2002, 254-55)
- esse Cordeiro tem um lugar de destaque na visão dos cap.4-5. Devemos lembrar dos círculos concêntricos do
cap.4 com Deus no trono que está no centro e depois circundado pelos 4 seres viventes e depois dos 24 anciãos.
No meio poderia significar:
a. O Cordeiro está “no centro do trono”, estando assim no centro da ação. Mas 5:7 nos diz que ele se
aproximou e pegou o livro de Deus, sugerindo uma certa distância
b. O Cordeiro está entre o trono e os outros
c. O Cordeiro está entre ou com os outros personagens
Possivelmente temos o Cordeiro perto da área do trono habitada pelos seres viventes e os anciãos. Nessa cena
do trono temos outra vez um contraste com o trono imperial. As pretensões de Roma de uma reinado universal
se mostram bastante pálidas em comparação com o reino universal de Deus e do Cordeiro (Osborne 2002, 255)
- existe muita dúvida sobre o significado do Cordeiro nesse texto. O AT tem muitos significados para o
Cordeiro. Essa imagem é muito importante do AT e na literatura apocalíptica. A imagem primária de Cordeiro
81
do AT é o cordeiro pascal que vem da Páscoa de Ex 11-12 e a cerimônia de Ex 29, Num 28-29. Em Is 53:7
essa imagem é usada para o Servo Sofredor de Yahweh: “como um cordeiro foi levado para o matadouro”, [é
aplicado para Cristo em Jo 1:29, 35; At 8:2; 1 Co 5:7; 1 Pe 1:19]. Por esta razão o Cordeiro é descrito como
“parecia ter estado morto” o que significa que foi morto como uma animal sacrificado. João combina a imagem
do sacrifício pascal e o servo sofredor, e ambos está por trás da imagem de Jesus como o Cordeiro que foi morto
nesse texto. Assim Cristo como o cordeiro combina as imagens do cordeiro pascal (Êxodo) e do Servo Sofredor
(Isaías) (Osborne 2002, 255-56)

18. Mas existe algo mais no v.6 que menciona os chifres do cordeiro. O que isso quer nos mostrar?
- o v.6 acaba nos dando um pouco mais de luz sobre o tom militar que temos no v.5. Jesus, como Messias da
linha de Davi ali destrói os inimigos de Deus. Mas no v.6 vemos que a vitória foi alcançada não pela espada,
mas pelo sacrifício. Cristo é o conquistador, mas pela cruz. O tema do cordeiro é absolutamente central,
focando mais sobre salvação do que sobre juízo. Mas no final no v.6 vemos que o cordeiro tinha chifres. João
usa a técnica da transformação de leão para cordeiro, para o cordeiro que foi morto, para o cordeiro
conquistador. Isso mostra que temos uma ênfase clara sobre o guerreiro divino aqui na figura do cordeiro, que
vem da apocalíptica judaica. Possivelmente João usa o termo arnion = cordeiro para acrescentar o conceito de
autoridade e triunfo para a imagem de Is 53 de mansidão e submissão. Na literatura apocalíptica judaica o
cordeiro com chifres é o conquistador messiânico que conduz o povo de Deus à vitória. Alguns comentaristas
vêem em Jo 1:29, 35 (o cordeiro que tira o pecado do mundo) uma conotação militar. Isso teria suporte aqui
nesse texto do Apocalipse onde o cordeiro tem 7 chifres e tem uma função militar (6:16; 17:14). No Apocalipse,
o Cordeiro de Deus tem 2 aspectos: o cordeiro sacrificial e o cordeiro militar (líder, governador) e estes estão
inter-relacionados, mostrando os 2 lados da atividade divina, sua misericórdia e sua justiça (Osborne 2002, 256)
- o Cordeiro tem 7 chifres e 7 olhos. Os chifres vêm da apocalíptica judaica e denotam o Messias guerreiro que
destruirá os inimigos. No mundo antigo os chifres indicavam poder e força (Dan 7:7, 20 com os 10 chifres da
4ª. besta). Os 7 olhos, como em 4:6, 8, denotam o cordeiro que vê todas as coisas. Em Zac 4:10 os olhos do
Senhor que sondam toda a terra. O número 7 denota perfeição. Aqui se enfatiza a onipotência (chifres) e a
onisciência (olhos) do cordeiro-guerreiro (Osborne 2002, 257)
- os 7 olhos são identificados adiante com os 7 espíritos de Deus. Estes poderiam ser seres angelicais, mas
possivelmente se trata do sétuplo Espírito Santo “enviados a toda a terra”. O Espírito foi enviado por Deus e
Jesus para realizar a sua missão no mundo (Jo 14:26; 15:26; 16:7), e aqui essa missão é estendida onde o
Espírito é enviado para revelar Deus para as nações, tentando levá-las ao arrependimento. Em outras passagens
“o mundo todo” é enganado por Satanás (12:9), o segue (13:3; 16:14) e logo será julgado (3:10). Ao mesmo
tempo “o evangelho eterno” é proclamado para os “habitantes da terra” (14:6-7) e os sobreviventes do grande
terremoto “dão glórias a Deus” (11:13). Finalmente na Nova Jerusalém (21:24) vemos que as “nações andarão
na luz da cidade”. Assim o Espírito inicia a missão universal de Deus para “o mundo todo” (Osborne 2002, 257)

19. O que o cordeiro faz no v.7? O que isso significa?


- o Cordeiro de Deus, que está no centro do trono toma o rolo da mão direita de Deus (5:1 denotando o controle
divino sobre o conteúdo do rolo). Ocorre uma transferência de autoridade de Deus para o Cordeiro. Cristo é
colocado numa posição juntamente com Deus como Senhor de todos os acontecimentos no céu e na terra (3:21;
cap.11-14). Ele exerce o reinado do Pai que lhe foi entregue. Por causa do sacrifício na cruz, somente o
Cordeiro é digno de tomar o rolo. A ênfase está sobre a transferência de Deus para o Cordeiro que irá executar o
plano determinado por Deus. Abrir o rolo significa o julgamento do mundo e a vindicação dos santos (Osborne
2002, 257-58)

20. O resultado é a adoração do Cordeiro. Que elementos nos chamam a atenção nessa adoração? Em que 4:11
difere de 5:9-10?
- a adoração de Deus (4:8-11) agora é replicada na adoração universal do Cordeiro, em primeiro lugar pelos
seres viventes e os anciãos e depois de forma antifonal pelas hostes angelicais. Quando o Cordeiro pega o rolo,
os líderes de louvor do livro, os 4 seres viventes e os 24 anciãos se prostram diante do Cordeiro. Se prostrar
diante de Deus demonstra a resposta básica tanto dos humanos como dos seres angelicais diante da majestade
de Deus. O Cordeiro está prestes a inaugurar os eventos que irão dissolver a ordem presente e instituir o reino
definitivo e glorioso de Deus (Osborne 2002, 258)
- cada ser celestial tem uma harpa e uma taça de ouro com incenso. A harpa tinha 10-12 cordas e era usada na
adoração do templo para acompanhar os hinos. Era o instrumento básico usado para cantar os salmos (Sl 33:2;
57:8; 98:5; 147:7). Acrescenta uma alegria festiva ao culto/adoração. A taça com incenso aparece no NT
82
somente no Apocalipse. A taça era de ouro para fins religiosos, e cheia de incenso. Havia taças como estas no
tabernáculo (Ex 25:29; 37:16). A libação era aparentemente derramada da jarra para dentro da taça. Pode haver
um paralelo romano também em que o incenso era derramado no fogo sagrado nas cerimônias da corte imperial.
Dentro do culto judaico o incenso significava um aroma agradável ou aceitação do sacrifício por Deus. Os anjos
no Apocalipse atuam como sacerdotes do templo celestial realizado as funções sacerdotais. Aqui o incenso
representa a oração dos santos. Possivelmente há uma conexão aqui entre essas orações e 6:9-11 e 8:3-4. Essas
orações não são somente de adoração, mas possivelmente também súplicas trazidas diante de Deus pelos santos
martirizados pedindo por vindicação e justiça (6:9-11). O derramamento dos julgamentos das trombetas (cap.8-
9) é a resposta divina para estas orações (8:3-5). Isso é impressionante: os julgamentos dos selos, trombetas e
taças são em parte a resposta de Deus para as orações dos santos (Osborne 2002, 258-59)
- os líderes da adoração angelical (os seres viventes e os anciãos) cantam um cântico novo (5:9). A idéia de um
“novo cântico” para celebrar a soberania e dignidade de Deus é freqüente nos Salmos (Sl 33:3; 40:3; 96:1; 98:1;
144:9; 149:1) onde expressa uma nova adoração inspirada nas misericórdias de Deus. Em Is 42:10, no entanto,
o “cântico novo” é escatológico e conectado com a aparição do Servo de Yahweh e as “coisas novas” (Ap 5:9)
que Deus irá introduzir em breve. Em 14:3 o “novo cântico” está ligado com a vinda do reino definitivo e aqui o
novo cântico celebra a base para a ação final divina, a morte sacrificial do Cordeiro. O termo usado é kainos ao
invés de neos enfatizando a qualidade e não o aspecto temporal – assim temos um novo tipo de hino. Esse e o
adjetivo usado para Nova Jerusalém e para os novos céus e nova terra no livro. Para uma nova era que vai
aparecer em breve há um novo tipo de hino que celebra a sua vinda (Osborne 2002, 259)
- o cântico é composto de 3 partes
a. Aclamação que o Cordeiro é digno (“Tu és digno” 5:9b). Repete a celebração que ele é digno (4:11) e
continua a unidade entre Deus e Cristo no livro. Também está ligado com a pergunta que abre esse
capítulo: quem é digno de abrir o rolo? Cristo toma o livro que vai instigar o julgamento de Deus
abrindo os selos. Cristo tomou o livro das mãos de Deus e agora toma sobre si a tarefa divina de julgar a
terra (Jo 5:22, 30; 8:16; 9:39). O que o torna digno é a sua morte sacrificial (Osborne 2002, 259)
b. A obra salvífica do Cordeiro (5:9c). O Cordeiro foi morto, tirando a imagem de Is 53:7. A ironia é que a
morte do Cordeiro se torna a sua vitória e a base para a conquista da besta e de seus seguidores. A besta
recebe o poder para derrotar os santos (13:7), mas já foi conquistada pelo “Cordeiro que foi morto desde
a criação do mundo” (13:8). O sacrifício de Cristo comprou seguidores de todas as tribos e nações.
Aqui temos a união da imagem sacrificial com a comercial. O termo é usado para libertar um prisioneiro
de guerra do cativeiro. A morte de Jesus foi o pagamento do resgate através do qual Deus comprou
pessoas para si mesmo (veja 1 Co 6:19-20; 7:23; 2 Pe 2:1; Ap 14:3, 4). O pagamento foi pelo seu
sangue. Agora pessoas foram libertas, libertadas da escravidão, mas não somente isso, pois adquirem
um novo status como escravos de Cristo comprados por preço para fazer a sua vontade. São pessoas de
toda tribo, língua, povo e nação. Essa frase é universalista enfatizando todas as nações. Da mesma forma
como Ap 5:10 faz alusão a Ex 19:6 a Israel como “nação de sacerdotes”, Ap 5:9 faz alusão a Ex 19:5
“vocês serão o meu tesouro pessoal dentre todas as nações”. Em outras palavras, a igreja é constituída
de pessoas de todas as nações da terra. O tema da missão aparece outra vez aqui, a proclamação da
palavra de Deus e do testemunho de Jesus (1:1, 9; 5:6; 6:9; 12:17; cf. 14:6, 7) para chamar as nações ao
arrependimento. João então expande Ex 19:5 com a fórmula quádrupla das nações (toda tribo, língua,
povo e nação) tirada de Gen 10:5, 20, 31 e especialmente Dan 7:14 para fazer alusão ao tempo quando
todas as nações virão debaixo do “domínio eterno” daquele “como filho do homem” (Ap 1:13) (Osborne
2002, 259-61)
c. Os efeitos para os seguidores do Cordeiro (5:10). Os efeitos novamente são descritos com base em Ex
19:6. O sacrifício de Cristo tornou possível que todas as pessoas de todas as nações da terra se tornem
reis e sacerdotes no novo reino de Deus. Os santos são comparativamente uma nação e individualmente
sacerdotes. Como sacerdotes eles o servem em adoração e testemunho. Isso deixa ainda mais claro o
tema missionário que está implícito em 1:6. Os santos pertencem a Deus e assim o servem participante
do missão universal para as nações (5:6, 9). Como reis, eles reinam com Deus no seu reino (veja 2:26,
27; 3:21). A ênfase é sobre esse reinado, pois reinarão sobre a terra. Existe uma progressão sobre o tema
do reinado. Há passagens que denotam que Deus e Cristo reinam e outras onde somos chamados a reinar
com ele [Deus]. As profecias sobre o povo de Deus do AT estão se cumprindo. No NT os santos se
sentarão em tronos para julgar a terra (Ap 20:4; cf. Mt 19:28; 1 Co 6:2; Rom 5:17; 2 Tim 2:12). Isso se
refere ao reino do milênio (Ap 20:4) e à eternidade (Ap 22:5). Através da morte de Cristo como a vitória
final sobre o mal, seremos reis servindo a Cristo com autoridade sobre sua criação (Osborne 2002, 261)
- enquanto 4:11 é endereçado a Deus Pai, em 5:9-10 o foco está colocado sobre o Cordeiro. A Deus pertence
toda a honra, glória e louvor em especial pela obra da criação e sustentação e por ele ser o foco de toda a
criação. Ele é o Senhor sobre tudo e todos. Em 5:9-10 o foco está sobre a redenção e o reino definitivo de Deus
onde os cristãos vão participar por causa da obra de redenção do cordeiro.
83
21. Em seguida temos a adoração pelo coro angelical. Eles enfatizam alguns pontos em sua adoração. Que
significado teriam?
- o número dos anjos é visto pela expressão usada por João: dez milhares vezes dez milhares e mil vezes mil,
uma alusão clara a Dan 7:10, descrevendo um número infinito de anjos que servem a Deus. Esse número
incontável de anjos também aparece outras vezes no AT e na literatura apocalíptica judaica. Isso acrescenta
beleza e poder à cena da adoração, enfatizando outra vez a incomparável majestade e esplendor de Deus no seu
trono. Esses anjos circundam o trono e formam o 4º. círculo ao redor dele (depois do arco-íris, dos seres
viventes e dos anciãos. João não somente os vê, mas ouve sua voz de aclamação que introduz o hino de 5:12
(Osborne 2002, 261-62)
- o hino faz alusão à introdução do Cordeiro (5:6) e ao hino anterior (5:9-10) sendo endereçado ao Cordeiro que
foi morto. A morte sacrificial do Cordeiro de Deus é visto como a base para ele ser digno, e no livro como um
todo contém a vitória sobre Satanás. A alusão é a 4:11 onde Deus é digno de louvor, sendo aplicado aqui para o
Cordeiro. A razão porque ele é digno não é explícita aqui, mas resumida na obra principal de Cristo, seu
sacrifício. O Cordeiro é digno de receber um louvor sétuplo. A adoração expressa a Deus agora é estendida a
Cristo. O padrão de 7 pode ser dividido em um padrão de 4 celebrando os atributos de Cristo (poder, riqueza,
sabedoria e força) e 3 celebrando a adoração que ele merece como resultado (honra, glória e louvor). Essas
características mostram que Cristo é rei, paralelo das prerrogativas de Deus em 1 Cro 29:11 (“Teus, ó SENHOR,
são a grandeza, o poder, a glória, a majestade e o esplendor, pois tudo o que há nos céus e na terra é
teu. Teu, ó SENHOR, é o reino; tu estás acima de tudo”) e aquelas dadas a Nabucodonosor por Deus. Essas
características são uma unidade sendo que cada uma das 7 é uma aplicação metafórica a Cristo da qualidades
que pertencem propriamente a Deus. Enfatiza a unidade entre o Pai e o Filho (Osborne 2002, 262-63)
a. Poder. Aparece em muitas listas de aclamação (4:11; 5:12; 7:12; 12;10; 19:11), mas somente aqui
aparece em 1º. lugar. Possivelmente enfatizando a morte sacrificial do Cordeiro como o poder através
do qual as forças do mal são conquistadas (5:5; cf. 12:11; 17:14)
b. Riqueza. Somente aparece aqui como um atributo de adoração. O NT seguidamente adverte contra o
perigo das riquezas do mundo nos chamando para buscar os tesouros do céu ao invés dos tesouros da
terra (Mt 6:19-21). Também temos uma comparação com o lamento das profundezas pela destruição das
riquezas da grande cidade (Babilônia/Roma). A única fonte de verdadeira riqueza está em Cristo, além
de que a grande riqueza de Roma vai acabar em breve
c. Sabedoria é também atribuída a Deus em Ap 7:12. Cristo é chamado de “a sabedoria de Deus” (1 Co
1:24, 30) e “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” estão ocultos nele (Col 2:3). O termo é
usado para descrever a Deus no AT e também a sabedoria que ele concede aos líderes do povo. No
Apocalipse, sabedoria consiste na habilidade dada por Deus para interpretar os símbolos (Ap 13:18;
17:9). Aqui se trata da sabedoria do Cordeiro de sua decisão de tornar-se o sacrifício ordenado por Deus
pelos pecados da humanidade
d. Força está em paralelo com poder e produz a estrutura para os 4 atributos essenciais do Cordeiro de
Deus. Ambos os termos são usados juntos para enfatizar a idéia do poder de Deus (os 4 aparecem juntos
em Ef 1:19-20 para enfatizar o poder divino em operação). Em contraste em Ap 12:8 o verbo cognato
enfatiza que o dragão não tem força suficiente de modo que o dragão e seus anjos perderam seu lugar no
céu. Esse é um conceito chave do livro para mostrar o poder soberano do Deus Todo-Poderoso de levar
essa era ao seu final e derrotar os poderes do mal de uma vez por todas
e. Os 3 termos finais descrevem a adoração do Cordeiro. Honra é colocada lado a lado com glória também
em 4:11 para descrever a adoração do Cordeiro e em 5:13 “honra e glória” serão dadas a Deus e ao
Cordeiro juntos. Isso denota a exaltação e honra que o Cordeiro recebe do hospedeiro celestial. O
grande número de seres celestiais que circundam o trono reconhecem sua glória e concedem a ele a
honra devida a ele. Isso faz parte da grande ênfase sobre a divindade do Cordeiro que é digno da mesma
adoração que o próprio Deus. O termo louvor ou bênção é usado para descrever que o Cordeiro merece
ser louvado. No AT e no Judaísmo do tempo de Jesus o louvor era a maneira básica de adoração/culto, à
medida que a congregação retornava a Deus as bênçãos que ele tinha derramado em suas vidas (Osborne
2002, 263-64)

22. Finalmente todas as criaturas adoram. Que surpresas temos aqui?


- agora cada ser criado no universo se une às hostes angelicais para oferecer o seu louvor ao Cordeiro. O padrão
vai dos anjos para as hostes celestiais para toda a criação (como no Sl 103:20-22). Isso conclui toda a cena do
trono que João viu nos cap.4-5. Temos todos os seres criados (incluindo o reino animal) se juntando para adorar
a Deus e o Cordeiro juntos. Outra vez, baseado na cosmologia judaica de um universo de 3 partes, temos os
seres do céu, da terra e do mar (do mundo de baixo). A ordem não é normal com o mar mencionado por último
podendo o mar indicar o mal, de acordo com o simbolismo do livro. A imagem do abismo (9:2, 11; 11:17; 17:8;
84
20:1, 3) vem das águas caóticas das profundezas. A expressão “e tudo o que neles há” enfatiza toda criatura
no cosmos – anjos humanos e demônios, bem como aves, animais e peixes. Toda a criação participa no fim
dessa era (Osborne 2002, 264-65)
- o hino é uma repetição antifonal dos temas que já vimos nos cap.4-5. Esse hino é cantado para “aquele que
está assentado no trono e ao Cordeiro”. A adoração a Deus (cap.4) e ao Cordeiro (cap.5) agora se une num
derramar final do louvor a Deus. Isso aponta que as ações do restante do livro são realizadas por Deus e pelo
Cordeiro juntos. O Pai e o Filho vão terminar a história juntos, vão habitar a Nova Jerusalém juntos (21:22, 23),
e são adorados juntos (Osborne 2002, 265)
- os 4 itens celebrados na doxologia são unidos com as doxologias anteriores e sumarizam os itens de louvor
nos hinos dos cap.4-5. Aqui temos um artigo antes de cada item, dando uma ênfase distinta para cada um.
Louvor terminou o outro hino e inicia este, unindo os 2 hinos, sendo a chave para essa adoração. Honra e glória
aparecem pela 3ª. vez nesses capítulos (4:9; 5:12; glória aparece também em 1:6) e acaba juntando o tema que
tanto Deus como o Cordeiro são dignos de louvor. O termo kratos = poder aparece a 1ª. vez aqui para resumir
poder e força. Resumindo, temos aqui 3 elementos: o louvor em si mesmo; o motivo do louvor (honra e glória)
e o aspecto da soberania divina do Cordeiro (poder) que vai ser demonstrada logo em seguida pelos selos,
trombetas e taças (Osborne 2002, 265)
- de maneira adequada os 4 seres viventes que proferiram a 1ª. doxologia (4:8) terminam o louvor em 5:13. Mas
o amém não somente termina a doxologia de 5:13 mas é a conclusão apropriada para a cena dos cap.4-5. Esse
termo é usado freqüentemente no livro para terminar a adoração/culto e funciona como uma afirmação das
verdades citadas. Quando eles terminam o culto/adoração, os anciãos se prostram e o adoram (Osborne 2002,
265-66)

23. Resumindo, quais são os pontos enfatizados nesse capítulo?


a. João chora porque ninguém é digno de abrir o livro. Choramos junto com ele pedindo que Jesus volte
logo. Precisamos estar preparados para a sua volta
b. Jesus está ao lado do trono de Deus e partilha de todos os atributos de Deus. Jesus é o guerreiro divino
(leão de Judá) e o sacrifício pascal (Cordeiro que foi morto). O cordeiro pascal se torna o cordeiro
conquistador o que deve nos levar a nos colocar de joelhos diante dele
c. o sangue de Deus pagou o nosso resgate nos comprando para Deus. Ao mesmo tempo a morte se torna a
vitória eterna, derrotando Satanás de uma vez por todas. A vitória sobre o mal foi alcançada na cruz. O
fim dos tempos é a manifestação final dessa vitória e a destruição final daqueles que já foram derrotados
d. o cap.4 é paralelo ao cap.5 onde tudo o que foi dito para Deus se aplica para Cristo. Cristãos tendem a
fazer Cristo pequeno demais, fazendo-o nosso amigo e irmão a ponto de perdermos a dimensão do Deus
soberano. Cristo também merece a nossa adoração da mesma forma como Deus e a gratidão por sua
soberania e grande vitória na cruz por nós
e. a escolha de Deus do cordeiro indica que ele não se volta para os poderosos, mas para os fracos, dando
uma ênfase diferente sobre o sucesso e exercício do poder. Isso é muito importante numa cultura de
autopromoção. Isso deve levar a igreja a valorizar outros valores do que a cultura secular ao nosso redor
valoriza (Osborne 2002, 266-67)

24. Olhando os cap.4-5, o que parece ser a principal ocupação no céu (veja especialmente Ap 4:8-11; 5:8-14)?
Por que isso poderia ser importante?
- a imagem central desses capítulos é o trono. No Império Romano o trono era símbolo de poder e por isso
temido. Tudo acontece ao redor do trono: o reinado de Deus em nossas vidas e comunidades é o início, centro e
fim do culto cristão (Stam 2004, 130)
- sem seguida temos o quarteto: leão, boi, humano e águia que não cessam de adorar a Deus, o criador
enfatizando a sua santidade. Quando esses 4 seres proclamam a santidade de Deus, os 24 anciãos saem de seus
tronos e se curvam diante de Deus, proclamando que Deus é digno. Depois se introduz o Cordeiro na adoração
enquanto os outros personagens continuam com sua adoração. A eles vão se unir todos os seres criados. O
Cordeiro é digno por causa de sua morte sacrificial. Depois que incontáveis anjos e humanos se juntam à
celebração temos o Amém final, assim seja, me comprometo com o que foi dito e feito aqui (Stam 2004, 130-
40)
- a ocupação principal no céu vai ser a adoração. Adoração tem a ver com exaltar quem Deus é e o que tem feito
e depois enaltecer a Jesus, o redentor, que nos comprou para si mesmo. O foco do culto está muito bem
definido. Creio que algumas pessoas vão se sentir mal nesse culto no céu porque estão tão acostumados a
enaltecer a pessoas e personalidades ilustres que Deus tem pouca chance.
- em todos os nossos cultos Deus e Cristo (e o Espírito Santo) precisam ocupar o trono. Qualquer desvio disso
se torna perigoso caminhando para a idolatria
85
Ap 6:1-8:1 – O julgamento dos selos

- vimos no cap.5 que somente o Cordeiro é digno de abrir os selos. Agora ele vai abri-los e veremos o que nos
aguarda. Os 7 selos são julgamentos preliminares que nos preparam para as trombetas e as taças. Como nos
outros julgamentos os 7 selos podem ser divididos em 2: os primeiros 4 selos (julgamentos sobre a terra) e os
outros 3 selos (julgamentos cósmicos). Todas as 3 séries de julgamentos terminam com a volta de Cristo. O rolo
não vai ser aberto até que todos os 7 selos sejam abertos. Assim os 7 selos são preliminares, porque o conteúdo
do rolo está mais ligado com as trombetas e as taças e os eventos dos cap.17-20: o plano divino de terminar a
história humana e o início de uma era eterna (Osborne 2002, 269)
- existe uma discussão muito grande sobre a progressão das 3 séries de julgamentos. Thomas crê que a melhor
abordagem é cronológica no sentido que o 7º. selo engloba as trombetas e a 7ª. trombeta engloba as taças. Desta
forma o 7º. julgamento de cada série termina com a volta de Cristo. Isso é viável, mas não explica porque temos
a repetição na seqüência das primeiras 4 trombetas e taças, bem como o 6º. selo que também aponta para a volta
de Cristo. Assim é melhor vê-los como recapitulação. De acordo com Davis o 7º. julgamento de cada série
termina com uma teofania da tempestade; o 6º. selo no limiar da parousia e a 7ª. trombeta mostra o impacto da
parousia. Também, visto que o efeito vai se intensificando (os selos afetam ¼ da terra, as trombetas ⅓ da terra e
as taças toda a terra) é melhor ver esses ciclos numa progressão cada vez mais intensa. Ao que tudo indica não
temos as 3 séries de julgamento em seqüência cronológica, mas são vistos como sobrepostos (overlaping),
sendo que os julgamentos se tornam cada vez mais intensos. Esses julgamentos são preparatórios para o
julgamento final (Guthrie 1981, 867), já que cada uma das séries termina com o dia do Senhor. Assim segundo
Caird a unidade do livro não é cronológica, nem aritmética, mas artística, da mesma forma como um tema com
variações, onde cada variação acrescenta algo novo ao todo. Isso pode ser visto, já que cada nova série
recapitula e desenvolve os temas que já foram apresentados (Osborne 2002, 269-70)
- os selos seguem o modelo dos julgamentos da volta de Cristo apresentado em Mc 13 e seus paralelos: guerras,
disputas internacionais, fomes, morte, perseguição, terremotos e abalos cósmicos. O discurso escatológico de
Jesus provê diversas das imagens usadas no Apocalipse, mas temos também outras. A perseguição ao povo de
Deus, o julgamento divino sobre os maus, os sinais cósmicos precedendo a volta de Cristo, são imagens comuns
em Daniel e Zacarias até os apocalipses intertestamentários. Assim os selos recapitulam temas comuns e os
aplicam para o cenários do fim dos tempos (Osborne 2002, 270)
- essa seção dos julgamentos também contém o 1º. dos interlúdios que interrompem os selos, trombetas e taças
(7:1-17; 10:1-11:13; 12:1-14:20). Esses interlúdios funcionam como vinhetas ilustrativas para descrever a
atmosfera desse período escatológico e mostram o lugar da igreja nesses eventos. O cap.7 tem 2 propósitos:
continua a resposta de oração de Deus às orações dos santos por vingança, mostrando que Deus sela aqueles que
ainda estão vivos para ele; e coloca (juntamente com os cap.4-5) os julgamentos dos selos dentro da estrutura de
adoração e celebração do Deus triunfante (Osborne 2002, 270)

1. Quando ouvimos falar no julgamento de Deus, que sentimentos nos vêm à mente? Comente.
- normalmente temos em mente algo ruim e destrutivo. Isso já nos mostra que estamos cientes que temos culpa
no cartório. Por causa do sistema de leis que temos no Brasil, sempre estamos errados em algum aspecto.
Olhamos para as autoridades como aquelas que querem nos prejudicar, porque vão nos cobrar por causa de
diversas leis injustas que temos.
- mas isso não deveria ser o caso com Deus. Dizemos que “quem não deve não teme”. Na verdade todos
devemos a Deus e somente podemos encarar o juízo de Deus com a cabeça erguida se estivermos lavados no
sangue do Cordeiro

2. O cap.6 inicia com os julgamentos de Deus sobre a humanidade que não se submete a ele (estes selos são
seguidos de trombetas e taças). Qual seria o propósito desses julgamentos?
a. São julgamentos de Deus derramados sobre os “habitantes da terra” (não estão restritos ao povo de
Israel). Os santos são protegidos desses julgamentos (3:10; 7:1-8; 9:4; 16:2). O princípio operante é a
lex talionis (a lei da retribuição) que governa as leis do império romano e do AT. Nesses julgamentos
Deus é justo dando aos “habitantes da terra” o que merecem: “5 Então ouvi o anjo que tem autoridade
sobre as águas dizer: ‘Tu és justo, tu, o Santo, que és e que eras, porque julgaste estas coisas; 6 pois
eles derramaram o sangue dos teus santos e dos teus profetas, e tu lhes deste sangue para beber, como
eles merecem’. 7 E ouvi o altar responder: ‘Sim, Senhor Deus todo-poderoso, verdadeiros e justos são
os teus juízos’ ” (16:5-7) (Osborne 2002, 270-71)
b. Esses julgamentos são a resposta de Deus para as orações imprecatórias dos santos por justiça e
vingança (5:8; 6:9-11; 8:3-5) (Osborne 2002, 271)
86
c. A soberania de Deus é enfatizada em toda a passagem, em especial pelo uso freqüente de edothe = foi
dado (6:2, 4, 8; 7;2; 8:2, 3; 9;1, 3, 5; 13:5, 7, 14, 15) para mostrar que nem as forças demoníacas podem
fazer qualquer coisa sem a autorização divina (Osborne 2002, 271)
d. Mas nessas passagens Deus não precisa ordenar o mal para fazer a sua vontade, mas simplesmente
deixa o mal operar. Em 6:1-8 ele permite que o mal chegue ao limite quando a cobiça por conquista
leva à guerra civil e depois para a morte de ¼ da humanidade. Na 5ª. e 6ª. trombeta (9:1-19) ele permite
que demônios façam o que fizeram no decorrer dos Evangelhos: torturar e matar seus próprios
seguidores (Osborne 2002, 271)
e. A resposta dos “habitantes da terra” prova sua depravação total, pois (com exceção de 11:13) se
recusam a se arrepender e preferem adorar os poderes demoníacos que se voltaram contra eles (9:20-21;
16:9, 11) (Osborne 2002, 271)
f. Ao mesmo tempo, o derramamento dos julgamentos tem o propósito redentivo e é parte da última
chance para o arrependimento (9:20; 14:6-7; 16:9, 11). Os julgamentos de Deus são um ato de
misericórdia, pois mostrou a falta de poder dos deuses terrenos (da mesma forma como as pragas do
Egito) e chama a humanidade pecadora para que “temam a Deus e glorifiquem-no, pois chegou a hora
do seu juízo” (14:7). Dessa forma os julgamentos são parte da missão de Deus ao mundo (a questão do
propósito missionário desses julgamentos é questionada por alguns tendo em vista que as pragas do
Egito somente serviram para que o próprio faraó ou Deus endurecesse mais o seu coração. Além disso
nos apocalipses judaicos nunca buscam o arrependimento. Mas, por outro lado, é possível que João
retrabalhou essas imagens de acordo com o motivo de missão do livro). Existe uma tensão entre a oferta
de arrependimento de Deus e a rejeição dessa oferta (Osborne 2002, 271)
g. Há um desmantelamento progressivo da criação, à medida que a ordem criada é sacudida pelos selos
(6:12-14), depois nas trombetas e taças. Primeiramente ¼ e depois ⅓ da criação são virtualmente
destruídos. Isso prepara para a consumação final quando essa ordem mundial será destruída (20:11;
21:1) (Osborne 2002, 271)
- somente o Cordeiro foi encontrado digno de abrir os selos. Os eventos que levam para o fim da história
humana estão prestes a começar. Os selos são julgamentos preliminares que vão trazer à tona os eventos dos
últimos tempos. Os 4 primeiros selos são os cavaleiros do Apocalipse. Em cada um deles o Cordeiro abre o
selo. Depois disso um dos seres viventes dá ordem ao cavalo e este surge na cena. O tema principal desse trecho
é a soberania de Deus. As atividades dos cavaleiros somente ocorrem quando autorizadas por Deus. Cristo
controla o processo sentado no trono de Deus e os seres viventes dão ordens para a execução. Os 4 primeiros
selos estão centrado sobre a depravação da humanidade. A seqüência é da cobiça para conquista para guerra
civil, fome e peste e morte. É a seqüência natural da desumanização do ser humano. Deus permite que o pecado
humano complete o ciclo, se voltando contra si mesmo e se auto-destruindo (Osborne 2002, 272)

3. Qual a ligação do cap.6 com o cap.5? Por que essa ligação é importante?
- se no cap.5 João se lamenta que ninguém foi achado digno de abrir os selos, até que o Cordeiro foi declarado
digno por causa de sua morte sacrificial, temendo que isso talvez impedisse o futuro projetado por Deus de
ocorrer, aqui temos o Cordeiro abrindo os selos. O futuro glorioso dos cristãos tem o paralelo na perdição e no
tormento daqueles que se recusam a dar ouvidos à verdade. Toda a natureza clama por justiça e esta vai
acontecer no tempo determinado por Deus, da forma que Deus quiser, através de quem ele determinar
- essa busca por justiça está ancorada na adoração do Cordeiro do cap.5. Isso é difícil para nós entendermos,
pois achamos que amor e justiça não podem andar juntos. Aqui a adoração no céu tem desdobramentos sobre a
terra. O Cordeiro venceu e agora essa vitória do Cordeiro vai ter implicações sobre a criação, pois a ordem
criada tal qual como a conhecemos está chegando ao seu final. Mas tudo isso tem sua base na morte sacrificial
de Cristo na cruz e o tempo determinado por Deus para o arrependimento das pessoas

4. Agora começamos com a imagem dos cavaleiros. Que elementos comuns temos na abertura de cada selo? O
que significa?
- a imagem dos 4 cavaleiros vem de Zac 1:7-11 e 6:1-8. Em Zacarias as carruagens vão pela terra encontrando
basicamente paz e repouso. O contraste no Apocalipse é deliberado, pois estes vão para trazer guerra e
pestilência para a raça humana. Em Zacarias as cores dos cavaleiros simbolizam os 4 ventos, enquanto aqui
simbolizam morte e destruição associados ao julgamento. Pode haver ainda outras passagens sobre as quais as
imagens são construídas como Jer 15:2; Ez 5:12 (LXX). Essas passagens têm os mesmos temas: cativeiro,
espada, fome, morte. Aqui temos os 4 cavaleiros juntos onde as ações procedem de cobiça para conquistar, para
guerra civil, para fome, para pestilência e morte (Osborne 2002, 274). Pode até ser que os 4 julgamentos
ocorrem de forma simultânea já que o 4º. cavaleiro resume os primeiros 3 (Beale 1999, 370-71), mas mesmo
87
Beale reconhece a seqüência acima, o que indica que possivelmente temos uma seqüência e não julgamentos
simultâneos. Dessa maneira, não vemos tanto Deus derramando o julgamento sobre os “habitantes da terra”,
mas Deus permitindo que a depravação complete o ciclo. Esse é um tema comum no Apocalipse onde o pecado
acaba se voltando contra os pecadores e os destruindo (Osborne 2002, 274-75)
- todas as ações iniciam com o Cordeiro abrindo os selos, pois ele é o juiz divino do cap.5. Os sentidos estão
envolvidos nas visões que João tem: ele vê (observa) e depois ouve. Depois que foi aberto o 1º. selo João ouve
um dos seres viventes dizer com voz de trovão, dando ordem para os próximos acontecimentos. Os 4 seres
viventes lideram a adoração celestial (4:8-9; 5:8-10, 14; 19:4); fazem parte da comitiva do trono (4:6; 5:6; 7:11;
14:3) e implementam os julgamentos divinos (6:1, 3, 5, 6, 7; 15:7). Nos primeiros selos, cada um dos seres
viventes introduz a próxima visão. Isso acaba unindo os 4 primeiros selos e a progressão passa a chamar a
atenção. Os julgamentos vêm do trono de Deus. João é chamado: “venha” = possivelmente indicando que João
deve vir agora mesmo (Osborne 2002, 275)

5. Quem é o 1º. cavaleiro? Qual a essência desse julgamento?


- veja as propostas dos estudiosos para esse cavaleiro em Stam 2003, 32)
- após a voz de comando aparece o 1º. cavalo. Diversos estudiosos têm visto esse 1º. cavaleiro sendo Cristo, já
que é descrito na sua parousia vindo sobre um cavalo branco (19:11) para destruir os inimigos (19:15-16).
Assim teríamos a conquista que descreve o triunfo do Evangelho (Mt 24:14). Outros vêem que o 1º. cavalo é
visto de forma positiva por causa de sua cor (branco) indicando a justiça de Deus, com a coroa (soberania) e
com um arco (o evangelho) para conquistar [Stam 2003, 34-35]. Além disso , o 2º. cavalo é descrito como saiu
“outro” cavalo e a recapitulação de Ap 6:8 somente fala do 2º. ao 4º .cavalo. Assim o melhor paralelo seria
Cristo (Ap 19:11). Mas isso não se encaixa muito bem com o contexto e a unidade dos 4 cavaleiros, além de
que aqui o cavaleiro tem um arco e ali uma espada. Como os 4 estão intimamente ligados seria difícil imaginar
que o primeiro seria tão radicalmente diferente (Osborne 2002, 275-76)
- outros vêem esse cavaleiro como uma figura satânica. Poderia se referir ao Anticristo; a governos que
perseguem os cristãos; ou aos servos do diabo em geral. Branco normalmente se refere a justiça – aqui pode ser
a tentativa do diabo de imitar a justiça. Esse cavaleiro está sob a soberania de Deus (foi dado a ele) (Beale 1999,
377). Poderiam ser agentes satânicos de destruição com paralelos em Gogue (Ez 38-39). Isso é possível já que
em Ap 13:7 Deus permite à besta guerrear contra os santos e conquistá-los. Se a coroa e o arco (6:2) são usados
como símbolos de Apolo, um deus associado com profecias e adivinhações, isso também seria possível. Outra
possibilidade é que o arco e a coroa são símbolos dos habitantes da Pártia, e assim temos insuficiente evidência
para interpretar esse símbolo de maneira tão específica. Assim faz mais sentido ver essa imagem de maneira
mais geral com os cavaleiros ligados com a cobiça humana para a guerra e suas conseqüências. Nesses 4
julgamentos o julgamento de Deus permite que a depravação humana ande por si só. Assim temos aqui forças
humanas e não demoníacas. Isso seria importante no séc. I quando a Pax Romana na verdade não era uma paz,
mas uma fachada construída sobre a espada romana = o controle militar sobre as nações conquistadas (Osborne
2002, 276-77)
- o cavaleiro estava sentado num cavalo, que é paralelo com aquele assentado sobre o trono (4:2, 3, 9, 10). O
cavaleiro é a humanidade que se assenta no lugar de Deus. “Foi dado” ao cavaleiro = passivo divino mostrando
o controle divino da situação, a soberania sobre a criação, mesmo sobre as forças do mal (Osborne 2002, 277).
Satanás tem autorização divina para executar uma função (fazer uma papel) (Beale 1999, 377). Tudo o que
ocorre nesse livro é com permissão divina (Osborne 2002, 277)
- pode representar uma invasão que vem de fora sobre o império romano (Mounce 1977, 154). A descrição do
cavaleiro é parecida com os partas, a única força militar temida pelos romanos já que tinham derrotado as forças
romanas 2 vezes (55 AC e 62 AD). Era uma federação de tribos a leste do Eufrates (a fronteira leste do Império
Romano), famosos especialmente por sua cavalaria, e tinham aperfeiçoado a habilidade de atirar flechas com
precisão montados sobre um cavalo em ação contra o inimigo. Já que o cavaleiro recebe um arco e cavalgava
para conquistar, os partas seriam o background natural. Eles tinham feito diversas incursões em território
romano nos anos 60-70. A coroa indicaria a sua independência de Roma. Mas esse povo seria apenas o pano de
fundo para essa imagem. Na verdade se trata de uma propensão geral do ser humano: a cobiça pela conquista
(Osborne 2002, 277). O arco é usado na Bíblia para conquista não menos que a espada para a guerra, mesmo
que a imagem do arco é associada mais freqüentemente com pessoas com tinham a habilidade com ele (Is
21:15; 22:3; 41:2; Jer 6:23; 46:9; 49:35; 50:14, 29. 42; 51:3; Os 1:5, 7; 2:18). Mas por causa das outras alusões
aos partas (Ap 9:14; 16:12), alusões que possivelmente seriam evidentes para os leitores da Ásia Menor –
possivelmente temos uma referência aos partas aqui. Os partas eram conhecidos por sua habilidade com o arco
(eles eram todos arqueiros montados, os únicos arqueiros montados conhecidos no Mediterrâneo), quando para
os romanos os arqueiros somente constituíam o exército auxiliar. O branco era a cor sagrada dos partas. O
exército parta sempre tinha alguns cavalos brancos sagrados. O arco era o símbolo de autoridade dos
governadores partas (Keener 2000, 201-2). Por outro lado os partas foram derrotados em 63 AD e não
88
incomodaram mais aos romanos. Assim sendo o cavaleiro branco poderia indicar um falso profeta, um dos
anticristos cujas profecias erradas já eram sentidas nas igrejas da Ásia, ligando com Apolo, o deus que inspirava
a profecia seguidas vezes representado como carregando um arco (Wilson 2002, 289)
- “como vencedor para vencer” = mostrar que a atividade mais importante e o propósito é conquista militar. O
termo vencer/conquistar aparece muito no livro denotando a luta entre Satanás e o povo de Deus. Possivelmente
a chave está em 12:12ss e 13:7 onde temos uma ironia interessante: quando a besta crê que está vencendo os
santos (13:7), na verdade eles estão vencendo ele. Essa grande guerra cósmica aqui é usada para mostrar que a
guerra é a depravação final do ser humano (Osborne 2002, 277)

6. O que representa o 2º. cavalo e seu cavaleiro?


- a seqüência ocorre da mesma forma. O Cordeiro abre o selo para o julgamento de Deus que aqui é colocado
como permitindo que o pecado tome o seu rumo natural. O 2º. cavalo (vermelho) representa o terrível derramar
de sangue e mortandade sobre a terra. Essa cor aparece outra vez em 12:3 para a cor do grande dragão. Ali o
significado está no ódio e no assassinato do povo de Deus realizados pelo dragão. Aqui o cavaleiro tem
autorização para fazer 3 coisas: tirar a paz da terra, levar pessoas a assassinarem umas às outras e usar a espada
para alcançar seus propósitos sangrentos. As 3 ações são governadas por edothe = foi dado, indicando a
autorização divina para essas atividades. O meio para isso é a espada ou punhal romanos, símbolo do poderio
militar e do poder sobre a vida e a morte que os romanos reservavam somente a si mesmos. Os romanos
reservaram para si o direito de executar pessoas através dos governadores. A pax romana é mantida via força.
Essa espada é grande, pois tem o poder de destruir a terra. Deus o verdadeiro imperador de toda criação deus a
esse cavaleiro o direito de matar (Osborne 2002, 278)
- através da espada a cobiça pela conquista (1º. selo) se transforma em guerra civil (Osborne 2002, 278). Beale
acha que aqui e refere à perseguição aos cristãos (Beale 1999, 379), mas acho que o contexto favorece a guerra
civil.
a. Deus permite que o cavaleiro tire a paz da terra. Alguns conectam esse texto com 2 Ts 2:6-7 onde o
poder que restringe o “homem sem lei” é tirado. Isso é possível se achamos que Ap 6:4 descreve o
período final da história. Mas é mais provável que se refira a guerras e rumores de guerra (Mc 13:7-8).
Descreve a propensão da humanidade para a guerra e para o assassinato. A paz civil que todos almejam
é tirada. A guerra civil fica evidente em que as pessoas se matam (Osborne 2002, 278-79)
b. Deus permite que as pessoas se matem umas às outras. Não se trata somente de matar uns aos outros,
mas de carnificina, sintomático de uma guerra. A seqüência segue Mc 13:7 onde guerras e rumores de
guerra levam à nação se levantando contra nação e reino contra reino. Esse era o grande receio dos
impérios antigos. Alexandre o grande teve seus império dividido após a sua morte em 4 generais que
passaram os próximos 200 anos lutando um contra o outro. Roma era paranóica com relação à guerra
civil. Ela tinha experimentado algumas. Em 68-69 AD houve 4 imperadores diferente sendo que o
último (Vespasiano) salvou o império da auto-destruição (Osborne 2002, 279)
c. Deus permite que se use a espada para atingir seus propósitos. Uma guerra civil tira a responsabilidade
das pessoas de seguir diversas leis. Normalmente é a lei do mais forte. Ocorrem lutas internas e
anarquia onde as leis não valem mais. Divisões internas impedem um trabalho efetivo para coibir o
crime. Nessas horas é a lei da selva – a lei do mais forte que predomina. A espada passa a ser usada
contra aqueles que discordam e até contra aqueles que não se posicionam claramente a favor do líder

7. Qual o significado do 3º. cavaleiro?


- o 3º. cavaleiro segue a mesma seqüência com exceção que aqui João acrescenta “e eu vi”. Estes não aparecem
no 1º. e 2º. selos para demonstrar a unidade entre ambos. Esta expressão aparece no 3º. e 4º. selo para
demonstrar os efeitos da guerra. Aqui temos um cavalo preto simbolizando a fome e o sofrimento que seguem
uma guerra. A cor também ocorre em 6:12 “preto como crina negra” se referindo à vestimenta usada no
judaísmo para o lamento (Osborne 2002, 279)
- os detalhes que seguem estão todos relacionados com a fome. O cavaleiro segura uma balança em suas mão. A
balança servia no mundo antigo para assegurar a paz: “Balanças e pesos honestos vêm do Senhor; todos os
pesos da bolsa são feitos por ele” (Prov 16:11). A ênfase aqui está sobre os preços exorbitantes cobrados pela
fome e o racionamento dos alimentos. Em Lev 26:26; Ez 4:16 temos o comer o pão com base no seu peso como
simbolismo de uma escassez terrível. Durante a guerra o exército conquistador tendia a viver do campo,
freqüentemente tirando o alimento à força e deixando os moradores na mão. O resultado era a fome (Osborne
2002, 279-80)
- temos 2 exemplos: o suprimento de azeite e de grãos. João ouve uma voz entre os seres viventes,
provavelmente vindo do trono de Deus. Trigo e cevada eram as maiores fontes de alimento no império romano.
Era uma prática dos líderes romanos dar uma porção gratuita de grãos anualmente para os pobres da cidade para
conseguir o seu apoio. O trigo era melhor, e a cevada mais barata, mas menos nutritiva. Os pobres comiam
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cevada e os ricos o trigo. Um denário era o pagamento de um operário. Um litro de trigo era comida
suficiente para uma pessoa por dia e 3 litros de cevada não eram bem suficientes para uma família pequena
(havia poucas famílias pequenas a não ser entre os mais ricos). Assim o salário de um homem mal dá para se
alimentar sozinho, sem falar na sua família, além de todos os outros gastos da família. Estes são preços de
tempos de fome, de 10-12 vezes mais caros que o preço normal (Osborne 2002, 280)

8. Qual seria o significado do azeite e do vinho nesse contexto?


- azeite de oliva e vinho são itens importantes, mas não tão críticos quanto o trigo e a cevada. Não sabemos o
que significa a exortação para não danificar o azeite e o vinho
a. Seria uma mensagem social. Os pobres ficam sem nada enquanto os ricos têm azeite e vinho o tanto
quanto precisam. Mas isso dificilmente se encaixa no contexto, já que ao que tudo indica a ordem vem
diretamente do trono de Deus. Por que Deus iria se preocupar com os ricos em detrimento dos pobres?
Esse não é o tipo de julgamento que encontramos nesse livro (Osborne 2002, 280)
b. A fome não vai ser tão severa porque haverá azeite e vinho disponível. Poderia se basear no AT onde o
azeite e o vinho eram considerados colheitas secundárias (Deut 7:13; Sl 104:14-15; Jl 1:10) e assim
seriam uma limitação do julgamento. Poderia ser que a fome se limitaria a uma estação do ano e assim
não afetaria as outras. Parece que não se encaixa muito bem com o contexto, já que o resultado é a
morte de ¼ da população mundial como resultado dessa fome. A ênfase está sobre a severidade da
fome, uma que nunca ainda houve sobre a face da terra (Osborne 2002, 281)
c. O azeite e o vinho seriam usados nos sacramentos (veja Tg 5:14) indicando que os cristãos serão
protegidos da fome. Mas o texto não nos diz que os cristãos são os recebedores do azeite e do vinho,
nem indicação de que os cristãos estão presentes (Osborne 2002, 281)
d. Seria visto historicamente como a situação terrível da conquista de Jerusalém quando pessoas morriam
de fome, mas um grupo de rebeldes roubou o azeite sagrado e o vinho usado para ofertas no interior do
templo e fizeram uma festa com esse vinho. Dificilmente esse paralelo faria sentido para os cristãos da
Ásia (Osborne 2002, 281)
e. Possivelmente temos que ver a background histórico atrás dessa imagem. Em 92 AD houve uma
colheita ruim de grãos e Domiciano ordenou que metade das vinhas fosse cortada para aumentar a
produção de grãos. Isso afetaria a produção de vinho por diversos anos e tornaria a fome ainda mais
severa. Isso pode mostrar a severidade da fome e a dificuldade que as pessoas teriam para sobreviver
nessas condições. Não sabemos qual a imagem que João tem quando escreve, mas seguramente teria
algo parecido com o que viemos. O texto nos mostra que é inútil tentar proteger as pessoas nessa
situação. A voz do céu mostra que Deus está por trás da severidade desses julgamentos (Osborne 2002,
281). Apesar da fome ser muito severa, os produtos continuam existindo. Essa fome afeta a todos, mas
os cristãos por serem pobres são afetados de maneira especial (Beale 1999, 381)

9. Qual a essência do 4º. cavalo e do seu cavaleiro?


- Cristo abre o selo e o cavalo e cavaleiro são chamados. O cavalo pálido, amarelo esverdeado, a cor da doença
e da morte (essa cor é usada às vezes para a palidez de um cadáver). O cavaleiro sobre o cavalo é chamado de
morte e o Hades o segue de perto. O Hades aqui é o companheiro maligno da morte. Ambos são vistos no
Apocalipse como personificações das forças cósmicas malignas (1:18; 6:8; 20:13, 14). O Hades se refere ao
túmulo e possivelmente ao deus grego do mundo dos mortos (especialmente para os leitores que vinham de um
contexto pagão). Na LXX o termos morte (thanatos) diversas vezes traduz o termo pestilência (praga) do
hebraico, o que se encaixa nesse texto. Assim temos um significado duplo aqui: morte através da praga/peste.
Assim o significado aqui é de peste e não morte. O Hades segue a morte de perto ajuntando os cadáveres que
forma deixados pela peste e pela morte à medida que atingiam vítima após vítima (Osborne 2002, 282)
- mais uma vez Deus deu às focas demoníacas a autoridade/poder de infligir um sofrimento terrível sobre a
humanidade. Aqui o poder é exercido sobre ¼ da terra, que são mortos. Os métodos que usam resumem o 2º.,
3º. e 4º. selos: pela espada, fome e pestilência e pelos animais selvagens da terra. A espada resume e conecta os
primeiros 2 selos e fome é o sujeito do 3º., enquanto a pestilência resume o 4º. selo. Não sabemos se eles se
tornam progressivamente mais intensos. Já que o 4º. selo resume os outros, parece provável que os 4 selos
juntos matam ¼ da raça humana (hoje 1,5 bilhão de pessoas). Isso é mais do que todas as guerras dos últimos
200 anos. A indicação dos animais selvagens do campo se deve à fonte do AT para estas pragas: “Quanto pior
será quando eu enviar contra Jerusalém os meus quatro terríveis juízos: a espada, a fome, os animais
selvagens e a peste” (Ez 14:21). Mas tem a sua importância já que os pássaros de Ap 19:17-18, 21 estão em
paralelo com os predadores carnívoros de Ez 14. Ambos demonstram a severidade dos julgamentos, à medida
que aqueles que estão fracos pela fome e pela praga se tornam a presa dos animais selvagens. Ez 14:12-13 fala
que Yahweh está pensando em 4 julgamentos em potencial contra Israel por sua idolatria e comportamento
injusto: fome (14:13-14) para animais selvagens (14:15-16), para a espada (14:17-18) e finalmente para praga
90
(14:19-20). Jerusalém receberá todos os julgamentos (Ez 14:21), mas o remanescente fiel vai ser poupado por
causa de sua conduta justa (14:22-23). Mas não temos esse encorajamento aqui nesse texto. A morte vencerá a
humanidade perversa e eles não escaparão ao julgamento de Deus (Osborne 2002, 283)
- temos que tentar nos colocar na situação dos primeiros leitores da 7 igrejas que estariam aterrorizados pela
seqüência de catástrofes que se abateriam sobre eles (Mounce in Osborne 2002, 283)
10. Que mudança vemos do 4º. para o 5º. selo? O que parece estranho para os nossos ouvidos nesse relato?
- agora temos uma mudança de cenário. A cena que estava sobre os “habitantes da terra” agora se volta para o
céu. Agora vemos o que os “habitantes da terra” fizeram aos cristãos, e para a justiça de Deus já que o tema do
julgamento de Deus era o tema dos primeiros 4 selos. Agora temos a única oração de súplica do Apocalipse:
uma oração imprecatória pedindo vingança. Jesus já tinha alertado seus seguidores que poderiam contar com
perseguições. Agora isso se tornou realidade, já que temos o martírio dos cristãos. Temos a conexão entre
martírio e julgamento aqui já que a lex talionis é um dos elementos chaves do livro, mostrando porque Deus
precisa julgar a humanidade perversa. O que temos agora é a resposta de Deus a estas orações imprecatórias da
parte dos crentes martirizados (6:15-17) (Osborne 2002, 283-84)
- quando o Cordeiro abre o 5º. selo, João vê debaixo do altar as almas dos mártires. O termo alma é usado
normalmente para descrever toda a pessoa. Aqui poderia ser a parte imaterial do ser humano que continua
vivendo após a morte física. A imagem das almas debaixo do altar está ligada com o sistema sacrificial onde o
sangue da vítima era derramado debaixo do altar. Possivelmente temos aqui a imagem que a “alma” da mesma
forma que “sangue” era visto como um símbolo da vida, assim os 2 funcionam como sinônimos. Em Ex 29:10-
14 e Lev 4:3-12 a cerimônia da oferta pelo pecado continha um touro sem mácula trazido para o altar, colocar
as mãos sobre ele para identificar o pecador com o touro e transferir os seus pecados sobre ele e depois
sacrificar o touro como substituto para aqueles pecados. Um pouco do sangue era colocado sobre os chifres do
altar, e o resto era derramado na base do altar. Aqui os cristãos martirizados são claramente colocados como
aqueles que foram sacrificados por Cristo (Osborne 2002, 285)
- eles foram mortos/assassinados por causa da palavra de Deus e do seu testemunho. No decorrer do livro, a
igreja é apresentada como uma igreja testemunhadora. Eles não fogem para se proteger nem acabam
comprometendo o evangelho para evitar a perseguição, mas corajosamente mantêm o seu testemunho nas
situações desesperadoras (Osborne 2002, 285-86)
- foi um sacrifício celestial e na presença de Deus eles pedem por vingança. É o grito da angustia, similar ao
sangue de Abel que clama da terra (Gen 4:10). O clamor inicia com reverência e depois caminha para um
clamor por justiça, seguindo o padrão das orações imprecatórias do AT (Sl 6:3; 74:10; 79:5; 80:4) (Osborne
2002, 286)

11. Será que temos uma contradição entre essa oração e oferta de perdão de Jesus na cruz? A vingança pode ser
encaixada com um Deus de amor?
- alguns vêem essa oração como problemática, pois foge da oferta de perdão de Jesus na cruz. Mas essas
orações estão de acordo com as maldições da aliança de Deut 28:57-59 e 32:35. Também está de acordo com
Rm 12:19 que cita Deut 32:35: “Minha é a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor”, e Lc 18:7-8: “Acaso Deus
não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite?”. Não se trata de um clamor por vingança
pessoal, mas justiça pública. Eles estão diante do juiz justo apresentando o seu caso pedindo o julgamento do
seus perseguidores, da mesma forma como Jesus que “entregava-se àquele que julga com justiça” (1 Pe 2:23).
Assim não se trata de uma situação problemática, mas da justiça divina e da soberania de Deus na vida e na
morte dos santos (Osborne 2002, 286)
- a oração inicia com “até quando” = por quanto tempo, expressando o pedido angustiante por justiça, uma
questão levada a Deus por um povo que sofre nos Salmos e Profetas (Sl 79:5; 89:46; 90:13; Is 6:11; Hab 1:2;
Zac 1:12; Dan 12:6) bem como na literatura intertestamentária. Depois disso temos a afirmação da majestade de
Deus: soberano, santo e verdadeiro. O termo soberano descreve a autoridade e poder absolutos de Deus. Aqui
especificamente o juiz que vai consertar o mal que foi feito. Santo e verdadeiro se referem aquele que está
separado do mal e é fiel para vindicar o seu povo do sofrimento. A questão não é se Deus vai julgar os
transgressores, mas quando vai fazê-lo. Os mártires gostariam que a vingança acontecesse logo, mas isso cabe a
Deus. O que é certo é a condenação daqueles que praticam o mal (Osborne 2002, 286-87)
- a oração pergunta: até quando você Deus vai esperar para julgar e vingar? Deus vai julgar os “habitantes da
terra” = mundo pecaminoso rebelde contra Deus, primeiramente através dos selos, trombetas e taças e depois
nos eventos finais de sua volta. Esse pedido é respondido de forma implícita em 6:15-17 e depois de forma
específica: “Deus a julgou, retribuindo-lhe o que ela fez a vocês” (18:20). Um dos motivos pelos quais Deus
derrama o seu julgamento é em resposta às orações dos santos nesse texto (Osborne 2002, 287)
- o outro termo ainda nos traz mais dificuldades. Deus vai se vingar daqueles que perseguem o seu povo. Isso é
visto de forma específica quando os oceanos e águas dos continentes se transforma em sangue: “eles
derramaram o sangue dos teus santos e dos teus profetas, e tu lhes deste sangue para beber, como eles
91
merecem” (16:5-7). A vingança final ocorre em 2 estágios: os martirizados reinam em tronos sobre a terra no
milênio (20:4-6) e quando os incrédulos são julgados diante do grande trono branco de acordo com suas obras
(20:11-14) (Osborne 2002, 287-88)
- Deus responde de 2 maneiras em 6:11:
a. Ele dá a cada um dos mártires uma veste branca que determina o seu status da mesma forma como a
veste usada por Jesus em Ap 1:13; as vestes brancas prometidas para os fiéis que são dignos em Sardes
(3:4-5) e as vestimentas brancas dos 24 anciãos (4:4). Essa vestimenta indicava um status social alto no
séc. I. Jesus a usou como exemplo dos escribas que gostam de andar com roupas especiais (Mc 12:38) e
o anjo da ressurreição que usada uma veste branca (Mc 16:5). Na literatura apocalíptica judaica era um
sinal da recompensa celestial da glória. Possivelmente significa que os mártires recebem a recompensa
por sua fidelidade. O branco possivelmente indica pureza e glória (triunfo romano sobre as nações e a
marcha de branco).
b. Depois disso os mártires são chamados a ter paciência que caracterizou sua vida de perseverança sobre
a terra (1:9; 2:2-3, 19; 3:10; 13:10; 14:12). Deus diz que devem esperar por um curto espaço de tempo =
a iminência é enfatizada. Deus está levando a história para o seu final no seu tempo, mas avisando que
o tempo vai ser curto. Enquanto os mártires esperam = descansam na glória do céu
c. Eles devem aguardar até que o número daqueles que ainda serão martirizados esteja completo. Era
comum nos escritos apocalípticos dizer que Deus em sua soberania tinha estabelecido um número de
mártires que deveriam ainda ser mortos antes do juízo final. A ênfase está sobre a soberania de Deus
que sabe quem e quando serão martirizados e vai vindicar cada um deles no tempo certo, e esse tempo
virá logo. O 6º. selo vai mostrar o terror dos perseguidores diante da ira de Deus. Ao mesmo tempo os
cristãos perseguidos são avisados que a matança ainda não terminou. A perseguição vai continuar até o
tempo determinado por Deus. A história relata a morte de centenas de pessoas fiéis a Cristo. Estes são
descritos como “conservos e irmãos”, possivelmente uma descrição somente de escravos como eles que
são irmãos. Eles são escravos de Deus juntamente com os santos martirizados e são irmãos na fé. Eles
são escravos, totalmente controlados por um superior, na dependência absoluta dele, a quem pertencem.
Estes são chamados a sofrer juntamente com eles = uma identificação no sofrimento (Fp 3:10) (Osborne
2002, 289-90)

12. Qual é a resposta de Deus à oração dos mártires pedindo vingança no 6º. selo? O que esses sinais indicam?
- a resposta de Deus à oração “até quando” é tanto imediata como final. O final iminente da história é visto no
estremecimento dos céus que freqüentemente na Bíblia inicia o dia do Senhor. Não sabemos quanto do livro é
literal e quanto é simbólico. Creio que devemos ler o livro como um todo de maneira simbólica e literal e deixar
que Deus resolva como vai colocar isso em prática. Aqui temos os eventos que indicam o final da história,
mesmo que ainda somente estamos no cap.6. Os ciclos de julgamento são repetitivos elaborando sobre o
significado desse primeiro ciclo. Assim esses sinais indicam o retorno de Cristo. O estremecer dos céus é
repetido na 7ª. trombeta (11:13, 19) e na 7ª. taça (16:18-21) e em todas as ocasiões enfatiza a vinda de Deus em
julgamento (como resposta à oração dos mártires por justiça) (Osborne 2002, 290-91)
- imediatamente após a abertura do selo temos uma grande tempestade (terremoto). Há diversos textos do AT
como pano de fundo para essa afirmação, principalmente Is 34:4: “As estrelas dos céus serão todas dissolvidas,
e os céus se enrolarão como um pergaminho; todo o exército celeste cairá como folhas secas da videira e da
figueira”. O terremoto no AT era o arauto da vida de Deus para julgar os inimigos (Jz 5:4-5; Jl 2:10; Sl 78:7-8)
e o terremoto do Sinai se tornou o modelo para a santidade de Deus evidente em todo o êxodo (Sl 68:8; 77:17-
18; Hab 3). Depois se torna uma parte integral do dia de Yahweh (Jl 2:1-2; Miq 1:3-4; Na 1:3-6; Zac 14:4-5) e
se torna um terremoto cósmico ou universal que abala os céus e a terra (Is 24:18-23; Jl 2:10). A literatura
apocalíptica judaica trabalha com os mesmos temas especialmente uma nova libertação do Sinai e o tremer do
cosmos como iniciador do fim. Nos sinóticos temos a abalar dos céus no retorno de Cristo (Mc 13:24-27)
(Osborne 2002, 291)
- depois disso o sol escurece e a lua vermelha como sangue. O efeito sobre os luminares também é visto na 4ª.
trombeta e taça à medida que o julgamento é derramado sobre os “habitantes da terra” através do sol, lua e
estrelas (8:12; 16:8-9). O sol se torna negro como saco de crina, uma vestimenta áspera feita para tempos de
lamento. Isso prepara para o lamento que vem logo em seguida. O escurecer do sol é freqüente no AT como
sinal de julgamento e a lua se tornando vermelha acentua a imagem. Um julgamento terrível está para acontecer
com os “habitantes da terra” (Osborne 2002, 292)
- as estrelas caem sobre a terra, uma imagem que pode ser pega da chuva de meteoros, mas é muito mais forte,
porque se trata de estrelas. O texto paralelo é: “As estrelas dos céus serão todas dissolvidas, e os céus se
enrolarão como um pergaminho; todo o exército celeste cairá como folhas secas da videira e da figueira” (Is
34:4). Não se trata somente de folhas, mas de figos secos que caem com facilidade. Em Isaías se trata do
julgamento das nações, e aqui o julgamento final (Osborne 2002, 292)
92
- o próprio céu se enrola como um pergaminho. É como um rolo que foi aberto e a sustentação dele foi tirada
de maneira que ele se enrola sozinho. Depois as montanhas e ilhas serão removidas dos seus lugares. Devido a
intensidade do grande terremoto, as montanhas e ilhas serão removidas. Esses fenômenos pertencem ao final da
história quando o juiz celestial vem para julgar (Osborne 2002, 293)

13. Qual o resultado dos sinais na natureza sobre os “habitantes da terra”? Como eles reagem? O que isso quer
nos mostrar?
- resultado desses abalos cósmicos é compreensível já que os “habitantes da terra” entendem que o dia do
julgamento chegou. Agora Deus vai vingar o sangue dos cristãos. Por isso, cada elemento da sociedade começa
a tremer. A lista sétupla de 6:15 é similar com a lista de 19:18 cuja carne será comida pelas aves depois da
batalha do Armagedom. Provavelmente existe uma conexão entre os eventos. O julgamento em questão aqui vai
ocorrer em 19:17-8, 21. A lista aqui faz alusão a Ez 28:2-6 que profetizou a destruição de Gogue e Magogue.
Aqui temos a profecia sobre a destruição dos “habitantes da terra” que invadiram e saquearam o povo de Deus.
a. os reis da terra, a descrição para os vassalos que serviam debaixo do imperador romano. São os
governadores da terra que estão contra Deus e seu povo (Sl 2:2); eles rendem seu poder e autoridade
para a besta (Ap 17:12-13) (Osborne 2002, 294)
b. os príncipes, se referem aos oficiais que executam as tarefas do rei e fazem as coisas acontecer no
governo. O termo também é usado para os mercadores da terra (18:23) (Osborne 2002, 294)
c. os generais são os líderes militares que comandavam 1.000 soldados, as unidades básicas do exército
d. os ricos refletem as famílias ricas que mais do que César comandavam o império romano. Como em
diversas sociedades são os poucos ricos que determinam a direção que a nação caminha (Osborne 2002,
294)
e. os poderosos, possivelmente não um grupo separado, mas um resumo dos anteriores. São um grupo de
pessoas influentes que lideram a nação e ordenam o que os outros devem fazer (Osborne 2002, 294)
f. escravos e livres descrevem a classe social predominante no mundo antigo = as classes baixas, a qual
pertenciam muitos dos apóstolos. Estas são as pessoas que serão o exército da besta (cap.16, 19) e a
conexão é óbvia. No final da história, todos que se levantaram contra Deus se unirão em rebelião e
depois serão destruídos à medida que o guerreiro divino luta contra eles (Osborne 2002, 294)
- essa lista também é similar à classes sociais que existiam em Roma. No topo estava o imperador e sua família.
Depois vinham os príncipes que era a elite governante da sociedade romana, incluindo os senadores (600). Era
comum que pessoas ricas fossem admitidas como senadores. Depois vinham os equestrianos (alguns milhares).
Membresia vinha pelo nascimento ou quando eram apontados pelo imperador por possuir propriedades num
certo valor. Desse grupo vinham os generais que comandavam as 28 legiões de Roma que se situavam nas
fronteiras do império. Estes tinham grande influência sobre suas tropas. Em cada cidade do império havia um
grupo de decúrios. Alguns decúrios também eram cidadãos, outra classe na sociedade, pois havia poucos
cidadãos fora de Roma. Assim a posição de Paulo como cidadão era singular nas províncias onde andou. Depois
vinham os plebeus que nasceram livres e os camponeses rurais. O restante da população eram livres e escravos.
Havia muitos escravos já que a economia era baseada no trabalho escravo. Ao menos ⅓ da população dos
grandes centros urbanos, como Éfeso, eram escravos. A igreja primitiva refletia as camadas da sociedade tendo
grande diversidade social entre seus membros: ricos, pobres, livres e escravos (Wilson 2002, 293)
- todos estes estarão unidos em seu medo. O terror acaba tirando todas as diferenças sociais diante do
estremecer dos céus e da chegada do julgamento terrível do Senhor. Vemos o seu terror:
a. Eles se escondem em cavernas e entre as rochas das montanhas. A imagem de se esconder nas cavernas
era comum no AT. Essa passagem faz alusão a Is 2:9, 10, 21 que descreve os efeitos do dia do Senhor.
É a reação normal para quem quer fugir da ira de Deus. Ao mesmo tempo é irônico dado que por causa
do grande terremoto, as ilhas e montanhas serão removidas. Assim estão se escondendo no que vai
desaparecer em breve e os colocar cara a cara com Deus (Osborne 2002, 294-95). Desde o pecado de
Adão as pessoas se esconderam de Deus – agora isso não é mais possível (6:12-17). Parece que temos
aqui uma descrição do juízo final (Beale 1999, 400)
b. Eles estão tão cheios de terror que gritam para os montes e rochas onde se escondem: caiam sobre nós.
Primeiro se escondem neles, depois pedem por uma avalanche que os proteja de encarar Deus cara a
cara e do Cordeiro. Isso também é irônico porque a morte não vai ajudá-los a escapar do julgamento de
Deus (Ap 20:11-14). O terror é tão grande que fazem qualquer coisa para escapar (Osborne 2002, 295)
- eles pedem que as rochas caiam sobre eles para esconder da face de Deus. No AT a face de Deus se refere ao
seu relacionamento com a humanidade e misericórdia ou quando Deus se volta para o povo em sua ira. No NT o
aspecto do julgamento predomina. No Apocalipse temos um contraste entre: “A terra e o céu fugiram da sua
presença, e não se encontrou lugar para eles” (20:11) e “Eles verão a sua face, e o seu nome estará em suas
testas” (22:4). Os salvos estarão em sua presença a participarão de sua glória, mas a ordem antiga, dos
“habitantes da terra” que sentiu os efeitos do pecado humano precisa fugir de sua presença. Deus está sobre o
93
trono e tem majestade e soberania sobre a criação. Aqui lembra os cap.4-5 e os aplica para o cap.6 (Osborne
2002, 295-96)
- mas as pessoas do mundo também temem a ira do Cordeiro. O Cordeiro sacrificial se tornou o juiz de todos e
o Cordeiro agora está cheio de ira. Agora ele não e somente o conquistador (5:5), mas o juiz e sua ira santa é
acesa. A ira vai aparecer ainda em outras passagens no livro mostrando a resposta divina para um mundo
consumido pelo pecado e a reposta da santidade de Deus em oposição ao mal. Aqui se trata do grande dia do
Senhor. Quando o Senhor aparece nenhum dos seus inimigos pode suportar. Eles cairão de joelhos diante dele, e
todo o seu poder será fútil (Osborne 2002, 296-98). A ironia da crucificação fica ainda mais evidente quando
vemos que o Cordeiro que se deixou empurrar para a cruz, na verdade é aquele que vai julgar a todos e diante
do qual todos tremem quando se deparam com quem ele realmente é

14. De que forma você foi impactado pelo cap.6? O que mais te chamou a atenção?
- a nossa compreensão sobre Deus é muito limitada e distorcida. Não falamos desse jeito, mas achamos que no
final tudo vai dar certo inclusive para aqueles que se rebelam continuamente contra Deus. Mas esse texto deixa
claro que o bicho vai pegar no final. Aqueles que estiverem vivos passarão por momento de angústia muito
grandes e tudo isso faz parte do plano de Deus para a humanidade
- se a tendência normal quando pecamos é nos esconder, esse tempo vai acabar quando não podemos fugir da
presença de Deus e de prestar contas do que vivemos

15. Terminamos o 6º. selo e antes que chegamos ao 7º. selo temos um interlúdio (cap.7). Qual seria a função
desses interlúdios (que também ocorre entre a 6ª. e 7ª. trombeta)?
- num certo sentido o cap.7 entra de supetão interrompendo a seqüência que tínhamos. O cap.7 é o 1º. interlúdio
que temos na descrição dos julgamentos de Deus sobre a terra. Os interlúdios têm diversos propósitos:
a. O interlúdio que ocorre entre o 6º. e 7º. selo e entre a 6ª. e 7ª. trombeta estão intimamente ligados com o
6º. julgamento que o precede
b. Eles nos provêem informações sobre a situação dos santos (7:1-17) e o conflito (10:1-11:13; 12:1-13-
18) que circunda os selos, trombeta se taças
c. Eles enfatizam ainda mais o controle soberano de Deus em todo o processo. No caso do cap.7
precisamos nos perguntar com a pergunta que termina o 6º. selo: “quem poderá suportar?” (6:17). Esse
interlúdio contrasta os santos com o pecadores. Os “habitantes da terra”, ou pecadores não
permanecerão/suportarão quando o julgamento de Deus vier sobre eles, mas os “habitantes do céu”, ou
santos, permanecerão porque têm o selo de Deus. Eles permanecerão no meio dos julgamentos
derramados sobre o mundo (Osborne 2002, 301). A repetição de histemi = estar parado/permanecer de
pé em 6:17 e 7:9 mostra que a pergunta: Quem pode suportar = permanecer de pé diante dessa situação
(6:17)? é respondida em 7:9 com “estava uma grande multidão que ninguém podia contar ... diante do
trono” (7:9) (Beale 1999, 405)

16. O que significa o selo colocado sobre os cristãos? Se o selo deve protegê-los, porque encontramos mártires
no cap.6? Como juntar essas pontas?
- há diversos textos que nos informam sobre a proteção dada por Deus aos seus seguidores fiéis nesse período.
A promessa é dada à igreja de Filadélfia: “Visto que você guardou a minha palavra de exortação à
perseverança, eu também o guardarei da hora da provação que está para vir sobre todo o mundo, para pôr à
prova os que habitam na terra” (3:10). O selo colocado sobre os santos em 7:1-8 mostra o maneira que isso é
realizado. Depois essa idéia é desenvolvida adiante nas ordens especificas dadas durante as trombetas e taças:
“Ai, ai, ai dos que habitam na terra ...” (8:13); “Eles receberam ordens para ... causar dano ... apenas àqueles
que não tinham o selo de Deus na testa” (9:4); “eles derramaram o sangue dos teus santos e dos teus profetas, e
tu lhes deste sangue para beber, como eles merecem” (16:6); “Deus lembrou-se da grande Babilônia e lhe deu
o cálice do vinho do furor da sua ira” (16:19). Fica claro que os selos, trombetas e taças são derramados
somente sobre os não-crentes, e os crentes são protegidos porque foram selados por Deus (Osborne 2002, 301)
- ao mesmo tempo o selo sobre os crentes continua a promessa feita aos mártires em 6:9-11: “foi-lhes dito que
esperassem um pouco mais, até que se completasse o número dos seus conservos e irmãos, que deveriam ser
mortos como eles”. Mas aqui temos o contrário disso: ali os crentes são mortos pelos “habitantes da terra” e
aqui eles são protegidos dos julgamentos de Deus. Em ambos se enfatiza que o número precisa estar completo,
aqui pelo simbolismo (12 x 12 x 1.000 pelo selo sobre as tribos). Os crentes são protegidos da ira de Deus, mas
não protegidos da ira da besta. Eles não sofrerão dos selos, trombetas e taças, mas sofrerão a perseguição dos
“habitantes da terra”. O ensino de Jesus ajuda a entendermos essa parte: “Ninguém que tenha deixado casa,
irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, ou campos, por causa de mim e do evangelho, deixará de receber cem vezes
mais, já no tempo presente ... e com eles perseguição” (Mc 10:29-30); “Não tenham medo dos que matam o
corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o
94
corpo no inferno” (Mt 10:28). O Apocalipse nos força a avaliar o que realmente tem valor: a esfera celestial
ou a esfera terrena. Deus protege a alma, mas permite sofrimento intenso nesse mundo. Há muitos textos que
trabalham essa dimensão (Rom 5:3-5; 8:12-39; 1 Co 4:8-13; 1 Ts 1:4-7; Hb 12:4-11; Tg 1:2-4; 1 Pe 1:6-7; 3:13-
4:19). A presença amorosa de Deus nunca se faz mais intensa que em tempos de sofrimento e perseguição. Os
crentes não precisam temer os eventos terríveis de 6:12-17 ou os efeitos dos julgamentos de Deus nos cap.6-16,
pois pertencem a Deus e são o seu povo. Os habitantes da terra estão selados para o julgamento, enquanto os
habitantes do céu estão selados para a salvação (Osborne 2002, 302)

17. Quais são os 2 grupos mencionados no cap.7? Onde está cada grupo? Como esse capítulo responde a
pergunta de 6:17?
- possivelmente o grupo de 7:1-8 e 7:9-17 é o mesmo. Algumas pessoas acham que a 1ª. passagem se refere aos
judeus, tomando o texto literalmente, mas isso não é provável porque as 10 tribos estão perdidas, logo não
estavam presentes no tempo de João. Deus não está selando os judeus, mas toda a igreja. Não sabemos bem ao
certo se 7:9-17 se refere somente aos mártires, ou a todos os cristãos. Possivelmente se trata de todos os
cristãos, tanto mártires como os outros, já que não temos uma idéia de martírio total no livro. Assim
possivelmente temos os crentes de todas as épocas reunidos (Osborne 2002, 303)
- assim o propósito desse interlúdio é mostrar o povo de Deus sendo selado antes do derramamento dos
julgamentos e depois no céu adorando a Deus depois que o número dos mártires se completou (6:11).
Cronologicamente 7:1-8 nos dá um flashback para o tempo imediatamente antecedente ao derramamento do
julgamento e 7:9-17 nos leva para frente depois dos julgamentos. No cap.7 os santos são selados como
possessão de Deus e depois imediatamente estão no céu se regozijando nos frutos do seu trabalho por Deus
(Osborne 2002, 303)

18. Por que Deus está retendo as forças de julgamento? Como é chamado o grupo de pessoas seladas? Qual é a
sua identidade?
- baseado na narrativa de 5:12-17 fica claro que as forças de destruição estão reunidas e que a destruição desse
mundo mau é iminente. Mas Deus ainda não está bem pronto para terminar com o mundo atual. Antes disso o
seu povo precisa ser selado para protegê-los dessa destruição. Logo temos um flashback cronológico porque o
autor não está interessado em cronologia, mas em temas. Assim os 4 ventos estão retidos (7:1-3) para impedi-
los de executar o julgamento nesse momento. As forças angelicais receberam uma tarefa mais importante: elas
devem dar segurança para o povo de Deus com um selo em suas cabeças, indicando a posse, já que são escravos
de Deus (7:3) indicando que serão protegidos dos julgamentos que vão ocorrer em breve (Osborne 2002, 304)
- 4 anjos nos 4 cantos da terra estão retendo os 4 ventos de destruição. Os 4 anjos estão conectados com os 4
anjos de 9:14 e podem fazer alusão aos 4 espíritos do céu (Zac 6:4; cf. Dan 7:2; 8:8; 11:4). A frase ventos da
destruição é usada na apocalíptica judaica em que Yahweh controla o tempo – ventos, chuva, raio. No êxodo o
vento trouxe os gafanhotos e os levou embora (Ex 10:13, 19), e também transformou o mar em terra seca (Ex
14:21). No período profético os 4 ventos são usados para mostrar um desastre universal que vem de todas as
direções (Jer 49:36; Dan 7:22ss). A passagem mais próxima desta possivelmente vem de Zac 6:5, a mesma
usada para os 4 cavaleiros (Ap 6:1-8). Ali os 4 ventos do céu tomam o seu lugar na frente de cada uma das
carruagens e os conduzem para as 4 direções da bússola. Isso pode indicar que esses 4 ventos são idênticos com
os 4 cavaleiros. Isso também indica que essa cena ocorre antes dos 4 cavaleiros de Ap 6:1-8 nos dias em que
estavam sendo retidos de sua missão destruidora até que os santos fossem selados por Deus (Osborne 2002,
305)
- os anjos estão nos 4 cantos da terra indicando que é um desastre que vai ocorre em breve sobre a terra. Esses
anjos estão retendo/atrasando os 4 ventos de destruição até o tempo designado por Deus. Isso mostra a
soberania de Deus em todo o processo e especialmente o seu cuidado com os seus seguidores fiéis. Deus não
permite os julgamentos terríveis sobre a terra antes que seus seguidores estejam selados dessas forças terríveis.
Sua preocupação é em especial com aqueles que serão martirizados (6:11) (Osborne 2002, 305-6)
- os ventos são impedidos de soprar sobre a terra, mar ou árvores e não sobre as pessoas. No entanto, o vento
poderia afetar a pessoa quando destrói a vegetação. O vento quente do deserto (sirocco) poderia murchar uma
flor em segundos. Essa imagem é usada freqüentemente no AT para designar o castigo divino (Jer 51:36; Os
13:15) bem como a fragilidade da vida (Sl 103:16: Is 40:6-7). O vento, então, se tornou a metáfora par ao
julgamento na apocalíptica judaica. O vento é impedido de continuar soprando continuamente indicando
continuidade, possivelmente com força de furacão. Esse vento afeta tudo, inclusive todo o comércio feito pelos
mares. Isso destruiria o império romano que dependia das rotas marítimas de comércio. Deus usa a sua criação
para trazer julgamento, como veremos nas trombetas e taças (Osborne 2002, 306)
- depois disso um outro anjo sobe do oriente com o selo do Deus vivo. Ele tem autoridade sobre os 4 anjos e
tem o selo de Deus. Esse anjo sobe do oriente. Não sabemos o que isso significa, pois existem tanto coisas boas
ou ruins que vêm do oriente, mas dado que traz o selo de Deus possivelmente seria o derramar das bênçãos de
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Deus. Este carrega o selo de Deus, possivelmente um anel real para autenticar documentos. No mundo antigo
o selo estava conectado cm os deuses e provia poder especial para quem tinha esse anel. Freqüentemente um
sacrifício era selado garantindo que não poderia ser violado pelos deuses. Em muitos cultos greco-romanos os
cultuadores eram selados para indicar que pertenciam aos deuses. Aqui esse selo é tudo isso e ainda mais. É
uma promessa para os vencedores fiéis e uma advertência contra os heréticos nicolaítas que estão seguindo
deuses errados. No AT os selos são principalmente “reais” para indicar que aquele que tem o selo tem a
autoridade do rei para tomar decisões ou autenticar os decretos reais. Aqui se trata da marca para mostrar que os
fiéis são seus e serão protegidos da destruição a seguir (como também no significado do NT). Aqui é o selo do
Deus vivo. No AT essa designação é vista no contraste entre Deus e os deuses e da atividade de Deus em prol
do seu povo. Isso certamente é endereçado aos nicolaítas que seguem um deus falso quando o Deus vivo está
entre eles. No NT a designação do Deus vivo acrescenta que ele dá vida e traz salvação. Ele é o Deus soberano
que intervém em favor do seu povo retendo os ventos de destruição até que tenha selado os crentes e os tornado
seus (Osborne 2002, 307-8)
- o anjo que tem o selo do Deus vivo bradou em alta voz aos 4 anjos (7:2) usando as mesmas palavras que os
mártires debaixo do altar (6:10). Seu brado é em resposta ao brado deles. Os “escravos de Deus” (7:3) que estão
prestes a morrer são primeiramente selados pelo Deus vivo a quem pertencem e que os protege dos julgamentos
prestes a serem derramados sobre os perseguidores. O selo é o sinal externo que o escravo realmente pertence a
Deus: “19 Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes
foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos? 20 Vocês foram comprados por alto preço” (1 Co 6:19-
20) (Osborne 2002, 308-9)
- os anjos recebem poder para danificar a terra e o mar (7:2), usando o mesmo verbo edothe de 6:2, 4, 8 para o
soberano Deus que entrega aos cavaleiros o poder para tirar a paz da terra (6:4). Esse verbo é usado para
mostrar que Deus está no controle de tudo mesmo em situações desesperadoras, e que mesmo os poderes do mal
recebem ordens dele. Aqui eles recebem o poder sobre a terra e o mar e os ventos que controlam (Osborne
2002, 309)
- em 7:3 temos a restrição aplicada aos anjos: não devem danificar a terra, o mar e as árvores até que os
escravos de Deus estejam selados. É interessante ver como terra, mar e árvores são repetidos (7:1, 3) e terra e
mar aparecem também em 7:2. Aqui ele está apontando para os julgamentos das trombetas e taças que afetam
em especial a terra e o mar. Os escravos eram considerados como propriedade dos deuses. Mas aqui os crentes
pertencem ao “nosso Deus”. É um Deus pessoal que vai tornar os crentes parte de sua família, como os escravos
no mundo romano eram vistos como parte da família (Osborne 2002, 309)

19. Qual o significado do selo colocado sobre os cristãos?


- o selo deve ser colocado sobre a testa dos escravos. É uma alusão a Ez 9:4-6 que faz parte do julgamento sobre
aqueles que cometem idolatria no templo (Ez 8-9). Em 9:1-2 aparecem 6 anjos da guarda, 5 com armas e um
deles com um estojo para escrever. Este deve colocar uma marca na testa daqueles que lamentam pelas coisas
horrorosas feitas no templo e os outros anjos devem matar aqueles que não têm a marca. A marca era a última
letra do alfabeto hebraico t (tav). Nos escritos antigos esse sinal mais parecia um + ou X, que para os crentes
simbolizava a cruz ou o nome de Cristo (a 1ª. letra da palavra Cristo era X. A marca na testa é antitético
(oposto) ao sinal da besta em 13:16, colocada na testa ou mão direita. No Apocalipse não há meio termo, ou as
pessoas seguem a Deus (e pertencem a ele) ou seguem a Satanás. Aquele que está buscando a Deus ainda é
seguidor de Satanás. Um sinal ou tatuagem na testa do escravo era comum no mundo antigo somo sinal de
posse, bem como sinais religiosos de pertencer a um determinado deus. Os escravos de Deus têm um sinal em
suas testas que indica posse e fidelidade a ele. Alguns acham que o selo seria ou batismo, ou então o Espírito
Santo, mas estes não se encaixam muito bem com o contexto aqui. Logo parece que se trata simplesmente de
uma metáfora de que os cristãos pertencem a Deus e são protegidos por ele (Osborne 2002, 309-10)

20. Quem seriam os 144.000? O que/quem representam?


- “então ouvi o números dos que foram selados”, lembrando que os mártires devem esperar até que o seu
número seja completado. O número aqui é 12 x 12 x 1.000, com ênfase na perfeição/integralidade (Osborne
2002, 310). Alguns como Beale acha que se trata do número dos mártires: “O número completo dos mártires
(144.000) está completo nesse intervalo entre o julgamento que se aproxima (6:17) e a cena que temos na
abertura do 7º. selo quando todo céu está em silêncio para que Deus possa ouvir as orações dos santos e
finalmente vingar o seu sangue (8:1, 3-5)” (Beale in Osborne 2002, 310-11), mas pode também se referir a
completar um 2º. número (de todos os santos) e não somente dos mártires. Diversos autores vêem aqui uma
referência ao povo de Israel, já que se especifica que são 12 tribos e não há paralelo das 12 tribos para a igreja.
Assim eles separam 7:1-8 (12 tribos) de 7:9-17 (multidão de todas nações, raças, etc.). Mas há diversas
indicações que se trata da igreja aqui. Não há referência a cristãos judeus no Apocalipse. Em 21:12-14 temos o
nome das 12 tribos nos portões da Nova Jerusalém e o nome dos 12 apóstolos no fundamento. Ali significa a
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unidade do povo de Deus do AT e do NT, os vencedores fiéis que estão ligados com os crentes das 7 igrejas
(cap.2-3) compostas de gentios (possivelmente predominavam) e judeus. Além disso o NT tem diversas
materiais sobre a igreja como o verdadeiro Israel. Provavelmente Jesus escolheu 12 discípulos para significar o
remanescente fiel de Israel e prometeu: “vocês que me seguiram também se assentarão em doze tronos, para
julgar as doze tribos de Israel” (Mt 19:28). No NT a distinção entre judeus e gentios cai por terra (Osborne
2002, 311-12)
- o propósito aqui é enfatizar o número completo da igreja que persevera: o número 12 (número completo),
multiplicado por 12 tribos, multiplicado por 1.000 (outro símbolo do número completo no livro). Mas será que
este número é composto dos santos no final dos tempos, ou em toda a história? Como ocorre entre os cap.6-7
isso favorece que seja visto como os vencedores no tempo da tribulação, que permanecem fiéis a Deus na
perseguição terrível da besta. Mas certamente os crentes das 7 igrejas se viam incluídos nesse número. Assim
acho melhor olharmos esse número como a totalidade dos crentes que permanecem fiéis a Deus em todos os
tempos, sejam eles martirizados ou não (Osborne 2002, 312)

21. O que há de estranho na lista das 12 tribos? Comente.


- a lista das 12 tribos é problemática, já que nenhuma outra lista apresenta essa mesma seqüência: Judá, Rúben,
Gade, Aser, Naftali, Manassés, Simeão, Levi, Issacar, Zebulom, José, Benjamim. A maior parte dos estudiosos
acha que a seqüência segue a linha matriarcal:
a. Lia: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulom
b. Raquel: José, Benjamim
c. Zilpa: Gade, Aser
d. Bila: Dã, Naftali
- mas se compararmos, ela tem diferenças. Smith acha que os filhos de Bila foram jogados para cima na lista
para mostrar a inclusão dos gentios, mas isso pode estar exagerado. Existem alguns problemas:
a. Judá aparece por 1º. ao invés de Rúben o primogênito. Há 20 listas das tribos no AT e com diferenças
consideráveis entre eles. Em muitas das listas existe uma ordem geográfica com Judá mais ao sul, mas a
seqüência das outras tribos na bate aqui. Possivelmente Judá está em 1º. porque o Messias vem dessa
tribo.
b. Depois temos a ausência de Dã, possivelmente porque a tribo caiu em idolatria. Não existe nenhuma
ligação exegética que confirma isso, mas é uma teoria que é viável.
c. A presença de José ao invés de Efraim é interessante. Efraim e Manassés são os filhos de José e eles são
incluídos na lista quando Levi é tirado. Mas aqui Levi está presente e José também, aparentemente
substituindo Dã. A hipótese mais viável é que Num 1:20-43 esteja no background, especialmente 1:32
onde a fórmula “dos descendentes de” é alterada para “dos filhos de José, e dos descendentes de
Efraim”, imediatamente antes de 1:34 onde fala “dos descendentes de Manassés” (Osborne 2002, 314-
15)
- como se trata de um censo militar, aqui podemos ver o número completo do povo de Deus, como seu exército
messiânico do leão de Judá. Eles foram selados por Deus do derramamento de sua ira e recebem uma função
dupla: eles devem ser testemunhas militantes do evangelho eterno enquanto chamam as nações ao
arrependimento (12:11a) e participam na derrota do dragão através do martírio (12:11b) e formando o exército
vitorioso de Cristo em sua volta (17:14) (Osborne 2002, 315)

21. Que mudança aparece em 7:9-17? Por que esse trecho é importante no contexto da perseguição e sofrimento
pelo qual a igreja passa?
- em 7:9-10 temos uma cena no céu. Isso nos traz um pouco de confusão quanto à cronologia. Mesmo sabendo
que a cronologia é secundária, devemos tentar esclarecer um pouco:
a. 7:1-8 é o que ocorre primeiro: os santos são selados antes da “grande tribulação” (7:14)
b. 6:9-11 mostra Deus selando os mártires que são sacrificados por Cristo durante esse tempo
c. 7:9-17 os cristãos vitoriosos no céu depois que venceram a batalha (alguns vêem essa cena durante a
tribulação ou durante o milênio, mas se encaixa melhor com o grande trono branco (20:12). Os fiéis
recebem a recompensa baseados em suas obras (20:12) e se regozijam (Osborne 2002, 317)
- temos em 7:9-17 a 2ª. parte da visão de João. Agora os cristãos selados na terra estão no céu se alegrando na
salvação. João vê uma grande multidão que ninguém pode contar. Essa multidão incontável está em contraste
com os mártires de 6:11 e os 144.000 que estão numerados. Aqui temos um eco da promessa feita aos patriarcas
que seus descendentes seriam incontáveis (Gen 13:16; 15:5; 32:12; Os 1:10; Hb 11:12). Provavelmente indica
que os mártires tomam o seu lugar com os santos que foram vitoriosos e agora estão no céu. Possivelmente
temos os mártires que se unem com os santos que formam a grande multidão (ou então os mártires que se
juntam com os 144.000 que agora se juntam à grande multidão – se os 144.000 não são os santos em todos os
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tempos). Essa multidão incontável é uma elaboração dos 144.000 que já pareceria muito grande para as 7
igrejas (Osborne 2002, 317-18)

22. Quem está diante do trono nesse trecho? Quem são essas pessoas?
- será que essa multidão seriam somente os mártires do fim dos tempos? 7:14 identifica esses mártires como
saindo da grande tribulação, mas que lavaram suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro. Não há ênfase
aqui sobre o martírio. Lavar e branco falam sobre renovação moral e espiritual. Eles venceram o mal e
permanecem fiéis a Cristo no meio das angústias: através da perseverança ou através do martírio (Osborne
2002, 318)
- temos aqui uma multidão de toda nação, tribo, raça e língua. Isso está em paralelo com Ap 5:9. Todas as
nações está lembrando a promessa aos patriarcas que seriam pais de muitas nações. Também está de acordo
com a missão da igreja para as nações (10:11; 11:9; 13:7; 14:6; 17:15; 21:24, 26) e provavelmente recapitula a
ênfase do AT sobre a procissão das nações para Deus (Is 11:10; 66:18-21). Assim as nações é enfatizado e tribo,
povo e língua suplementa essa categoria abrangente (Osborne 2002, 318-19)
- esta multidão está em pé diante do trono e do Cordeiro. Os 4 anjos estão nas 4 extremidades da terra e estes
estão diante do trono. Os anjos têm a sua função na terra antes da grande batalha e os santos têm a sua função
no céu após a batalha. Além disso, em 6:16 o trono e o Cordeiro estão cheios de ira contra os habitantes da
terra, enquanto aqui recebem os santos vencedores para o seu lar no céu. O trono divino significa julgamentos
(cap.6) e recompensa (cap.7). Estando diante do trono os cristãos são honrados e recebem sua recompensa pela
fidelidade (Osborne 2002, 319)
- os cristãos estão vestidos de branco – roupas de pureza (lavaram suas roupas), mas especialmente de vitória,
imitando a procissão de vitória nas estradas de Roma vestindo todas brancas. Isso estabelece um relacionamento
especial com os mártires que receberam roupas brancas de Deus (6:11) que agora vestem diante do trono. Além
disso, eles carregam palmas = sinal de alegria em ocasiões festivas, como na entrada triunfal de Jesus em
Jerusalém (Jo 12:13). O contexto é similar, já que ali eles viam Jesus como um rei conquistador e aqui celebram
a vitória (Osborne 2002, 319-20)

23. Qual a diferença entre o clamor dos mártires (6:10) e o clamor da multidão (7:10)? O que isso quer nos
ensinar?
- a multidão clama em alta voz, de maneira parecida com os mártires. Se os mártires clamavam por justiça, aqui
a multidão se regozija pela justiça que receberam de Deus. A adoração deles inicia com: A salvação pertence ao
nosso Deus. Seria a celebração da vitória alcançada por Deus sobre os inimigos bem como a libertação de seus
seguidores selados. Assim 7:1-8 é uma promessa (selo) e aqui temos o cumprimento. Mas também podem
implicar a vitória sobre o pecado já que são lavados pelo sangue. Mas a ênfase principal está na vitória que
Deus alcançou em favor do seu povo. Deus venceu as forças do mal. Ele é o “nosso Deus” mostrando seu
relacionamento especial com seu povo. Este Deus se assenta no trono e ao Cordeiro que realizou a obra de
salvação (Osborne 2002, 320-21)
- estamos num mundo mau. O pecado e as forças do mal tendem a dominar tudo o que acontece, ao menos é o
que parece para nós. Diante da aflição pedimos pela intervenção de Deus, porque achamos que Deus está
indiferente a tudo o que ocorre por aqui. Mas Deus não está dormindo. Ele está conduzindo a história para o seu
final, da sua forma. A nossa oração é vista como um dos meios pelos quais Deus realiza os seus propósitos.
Podemos colocar diante de Deus as nossas angústias, mas sempre com uma atitude correta

24. Que cenas repetidas vemos diante do trono? Existe alguma diferença para o hino cantado em 5:12? Qual o
significado desse hino a Deus?
- agora voltamos à cena dos cap.4-5 e vemos todos os anjos (o círculo mais distante do trono) (5:11). Eles estão
em volta do trono e dos seres viventes e dos anciãos. Essa cena é recriada, mas ainda mais forte. Ali havia
muitos anjos e aqui temos todos os anjos. Agora também temos a multidão dos remidos ao redor do trono
(Osborne 2002, 321)
- os anjos, os anciãos e os seres viventes se prostram com o rosto em terra diante do trono e adoram a Deus. O
seu hino (7:12) é semelhante ao de 5:12, exaltando a Deus. das 7 características de 5:12, 6 são repetidas aqui
trocando apenas riqueza por ação de graças. A diferença que ocorre aqui é que aqui se enfatiza a vitória
escatológica de Deus sobre as forças do mal
a. Louvor. É visto como a resposta natural dos anjos para a alegria de ver Deus libertar os santos. E, 1 Pe
1:12 vemos que os anjos estavam interessados no plano salvífico de Deus por seu povo e ansiavam
poder vê-lo. Quando vêem que o plano se concretizou e a vitória está finalizada eles naturalmente
irrompem louvando a Deus (Osborne 2002, 322)
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b. Glória se refere à glória ou majestade de Deus revelado em sua vitória final sobre os inimigos. Toda a
glória da Bíblia está focada sobre esse momento quando seu plano de salvação se cumpre e a glória
eterna do seu povo está prestes a começar (Osborne 2002, 322)
c. Sabedoria é a sabedoria divina que deu forma a este mundo e agora deu a ele sua redenção final. Deus
sabia antes da fundação do mundo como o salvaria (Mt 25:34; Ef 1:4; Hb 4:3; 1 Pe 1:20) e sua
sabedoria foi revelada agora através de suas obras (Osborne 2002, 322)
d. Ação de graças está em paralelo com louvor e se refere ao derramar de graças a Deus por tudo o que fez
por sua criação trazendo-a a sua vitória final (Osborne 2002, 322)
e. Honra está em paralelo com glória. Deus libertou o seu povo e agora é digno de honra de toda a criação
(Osborne 2002, 322)
f. Poder e força são praticamente sinônimos. Poder se refere à onipotência do Deus Todo-Poderoso que
trouxe vitória sobre as forças do mal. Isso é grandioso demais para um humano compreender. Força é a
aplicação do poder de Deus na história da salvação, i.é., sua aplicação e implementação do plano para a
salvação de sua criação (Osborne 2002, 322)
- essa aclamação é dirigida ao nosso Deus para todo o sempre. Ela celebra a adoração a Deus que vive
eternamente (Osborne 2002, 322-23)

25. Qual a função do ancião que aparece diante de João? O que isso quer nos mostrar?
- depois disso um dos anciãos vai ajudar João a entender o que está acontecendo. Estes que João vê são aqueles
que lavaram as suas vestes no sangue do Cordeiro. Estes estão de branco assim como em 3:4-5 e especialmente
os mártires de 6:11. João responde às perguntas dizendo que o ancião sabe as respostas. Essa multidão saiu da
grande tribulação. Todas as vezes que o termo tribulação aparece no livro, aparece em ambientes de hostilidade
contra o povo de Deus. Assim possivelmente não se trata de um termo técnico para os 3 anos e meio finais da
história. Por outro lado possivelmente é um eco de Dan 12:1: “Haverá um tempo de angústia como nunca houve
desde o início das nações até então”. Já que tem um artigo definido possivelmente se refere à batalha final do
dragão e seus seguidores contra os crentes (cap.12) . Mas esta não inclui os julgamentos derramados por Deus
sobre os habitantes da terra. Eles foram selados destes. À medida que Deus exerce sua ira sobre o mundo mau
na forma de selos, trombetas e taças, o mundo pratica a retaliação com sua vingança sobre os seguidores de
Cristo. Deus permite que o dragão aja desta forma por um curto espaço de tempo (Mc 13:20) para conquistar os
santos (Ap 13:7) resultando em “dias de tribulação como nunca houve desde que Deus criou o mundo até
agora, nem jamais haverá” (Mc 13:19 no qual a destruição de Jerusalém é uma antecipação desse período).
Mas estas mesmas tribulações são a vitória da igreja (Ap 12:11) e de Deus (7:10) (Osborne 2002, 324-25)
- essa vitória através do sacrifício está ancorada não somente em sua fidelidade, mas no sacrifício final de
Cristo. Cristo nos livrou de nossos pecados por causa do seu sangue (1:5). O Cordeiro que foi morto produziu a
vitória final sobre as forças do mal e nos comprou para Deus (5:9). Os cristãos venceram a Satanás pelo sangue
do Cordeiro (12:11). Aqui a sua libertação ocorre pelo sangue do Cordeiro. Assim através de sua fidelidade em
meio à tribulação terrível e por causa do sangue de Cristo os crentes redimidos lavam suas vestes e as tornaram
brancas. A idéia é lavar as roupas cheias de pecado para que se tornam brancas. Salvação é pela graça. A nossa
participação é a fé. Em diversas passagens os crentes recebem roupas brancas, mas aqui eles mesmos a tornam
brancas. Lavar algo com sangue para se tornar branco faz sentido diante das imagens de sacrifício do AT e sua
aplicação ao NT ao sangue de Cristo (Osborne 2002, 325-26)
- o ancião continua respondendo agora em forma poética descrevendo o estado eterno dos cristãos no céu
a. Eles estão diante do trono de Deus. Eles saíram da tribulação e estão diante do trono de Deus. Por causa
de suas roupas brancas eles são dignos de estar diante de Deus e o servir. Hoje a vitória do crente está
na esfera espiritual. Hoje o crente está assentado com Cristo nas regiões celestes (Ef 1:20), mas mais
tarde iremos estar em pé diante do trono (Osborne 2002, 326-27)
b. Eles o servem dia e noite em seu templo. Astheneo = servir e adorar. No AT se trata de servir com a
conotação de sacerdote, num ambiente de culto a Deus ou então de uma vida de adoração. No NT o
aspecto cultivo não aparece, mas uma vida inteira de adoração sacrificial a Deus (Rom 12:1). Aqui os
cristãos são sacerdotes que adoram a Deus eternamente, uma atividade constante, ao contrário do
templo em Jerusalém onde a adoração cessava depois do sacrifício vespertino para iniciar outra vez no
sacrifício matutino. No templo celestial a adoração vai ser contínua. Mas também sabemos que não
haverá templo celestial (21:22) o que nos mostra que isso é metafórico. A imagem do templo implica na
presença contínua de Deus entre o seu povo (Osborne 2002, 327-28)
c. Aquele que está assentado sobre o trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Essa imagem une
diversos temas teológicos. É o Deus onipotente no torno que vai “tabernacular” sobre eles. Isso traz a
imagem do shekinah do AT = presença de Deus entre o povo. Os 2 símbolos principais para isso era a
coluna de nuvem durante o dia e a coluna de fogo durante a noite à medida que o Senhor ia adiante
deles para os guiar no deserto (ex 13:21). O significado era a presença de Deus habitando entre o povo
99
para guiar e proteger. Depois da construção do tabernáculo e do templo, Deus habitava no Santo dos
Santos entre os querubins e a arca (1 Sam 4:4) e uma nuvem descia no tabernáculo e no templo e a
glória de Yahweh enchia o templo. No judaísmo intertestamentário, shekinah se tornou o conceito para
descrever a obra de Deus entre seu povo. No NT isso é visto em especial em Jo 1:14 onde a Palavra
encarnada tabernaculou entre nós. O shekinah se tornou encarnado. Em Ap 7:14 os crentes vão
experimentar a presença shekinah de Deus eternamente. Aqui existe ainda a conotação de proteção e
conforto, já que estenderá sobre eles o seu tabernáculo (Osborne 2002, 328-29)

26. Qual a diferença entre Ap 7:16-17 e Is 49:10?


- Ap 7:16-17 é uma expansão midrashica da promessa de Is 49:10 dada aos exilados retornando a Israel da
Babilônia (Osborne 2002, 239). O midrash era uma interpretação rabínica que procura descobrir os significados
mais profundos do texto que os rabinos achavam que estava nas próprias palavras do texto. O propósito era
pastoral – dar ensinamentos bíblicos para situações que não eram cobertas diretamente pelas Escrituras (Klein et
al. 1993, 24)
Is 49:10 “Não terão fome nem sede; o calor do deserto e o sol não os atingirão. Aquele que tem compaixão
deles os guiará e os conduzirá para as fontes de água.”
Ap 7:16-17 “16 Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede. Não os afligirá o sol, nem qualquer calor
abrasador, 17 pois o Cordeiro que está no centro do trono será o seu Pastor; ele os guiará às fontes de
água viva. E Deus enxugará dos seus olhos toda lágrima”
O que temos nesse texto é uma expansão ou aplicação do texto de Isaías no Apocalipse. O Cordeiro é
introduzido como o responsável pelo alívio das dificuldades do povo de Deus. Acrescenta-se que Deus vai
enxugar toda a lágrima, que seriam o resultado das aflições. Não está errado, mas vai um pouco além do que o
texto original está nos dizendo. É o que nós fazemos freqüentemente.
a. Toda privação corporal será removida. Eles não terão mais fome ou sede enfatizando que isso nunca
mais vai acontecer. Fome e sede são vistas freqüentemente no AT como sinais de julgamento sobre
Israel por ter abandonado a Deus (Deut 28:47-48; Lam 4:4; 5:10; Is 8:21). O propósito é tornar o povo
de Deus ciente de uma necessidade muito mais profunda por avivamento espiritual. A metáfora da
comida na Bíblia não fala somente sobre as necessidades da vida, mas como mostra Is 49:10 e afirmado
abertamente em Is 55:1, 3: “Venham, todos vocês que estão com sede, venham às águas ... ouçam-me,
para que sua alma viva”. Da mesma forma Jesus afirma: “Bem-aventurados vocês, que agora têm fome,
pois serão satisfeitos” (Lc 6:21). Os que tem fome são abençoados porque dependem totalmente de
Deus. Fome e sede são virtualmente esperadas para aqueles que servem a Deus completamente (1 Co
4;11-13; 2 Co 11:27), mas todas as privações da vida sofridas por Cristo simplesmente demonstram o
poder de Deus que é superior a tudo (2 Co 4:7; cf. 6:7; 13:4). Em Ap 7:16, todos que fazem sacrifícios
desse tipo serão recompensados, à medida que Deus transforma fome em gozo eterno e o Cordeiro sacia
sua sede para sempre (7:17) (Osborne 2002, 329-30)
b. Nem o sol vai afligi-los, nem calor abrasador. Isso poderia ser alusão ao sol do deserto do Sinai.
Poderiam ser os julgamentos de Deus sobre Jeoaquim (Jer 36:30) as aflições de Jó (Jó 30:30). Poderia
também ser o sirocco, mas não existe evidência para tal. Assim possivelmente se trata da libertação que
Deus vai trazer de todo sofrimento que tiveram que suportar por sua causa (Osborne 2002, 330-31)

27. Quais são as ações do Cordeiro e de Deus em favor do seu povo?


- os efeitos dos v.15-16 é visto na obra do Cordeiro e de Deus em favor dos seus seguidores. O cordeiro que está
no centro do trono será o seu Pastor. No AT Deus é o pastor de Israel que vai adiante do rebanho, guia, leva às
pastagens e fontes de água, protege com seu cajado e junta as ovelhas dispersas e as carrega em seu seio. Em Ez
34 fala de um governante da linhagem de Davi que será pastor. Nielsen acha que essa imagem vem
especialmente de Os 5:13-14, que descreve Deus como pastor de Israel. Segundo ele “o pastor briga e cura. Mas
Deus é um tipo bem especial de pastor; ele se transforma em um animal selvagem, um leão, o inimigo do
pastor; ele fere seu próprio rebanho, mas ele cura seu próprio rebanho depois que o feriu” (Nielsen in Osborne
2002, 331). Em outras palavras o que temos aqui e a tendência de inverter as metáforas fazendo-as mostrar o
oposto: o leão é o cordeiro, e o cordeiro morto se torna o cordeiro conquistador (5:5-6) que está cheio de ira
(6:16). O cordeiro se torna pastor. Jesus é o bom pastor que conhece suas ovelhas, as chama pelo nome e dá sua
vida por elas (Jo 10). Sua missão era de arrebanhar as ovelhas perdidas de Israel (Mt 15:24; cf. 10:6). Em 1 Pe
2:25 as ovelhas perdidas retornam para o pastor de suas almas. Mas aqui a ênfase é sobre a metamorfose de um
cordeiro para pastor. Aqui o cordeiro está no centro do trono. Não é somente o Messias, mas o próprio Deus-
homem que pastorei o rebanho de Deus na eternidade (Osborne 2002, 331-32)
- como o pastor divino Jesus os guiará para as fontes de água. O termo odegesei = guiar é usado para Deus
guiado o seu rebanho no êxodo (Ex 13:17; 15:13) e especialmente na coluna de fogo e nuvem (Deut 1:33). Deus
se torna o guia dos fiéis e das nações (Sl 31:3; 67:4). É comum o povo de Deus nos Salmos orar por orientação
100
(Sl 5:8; 27:11; 119:35), e essa orientação está ligada com a função pastoral de Deus (Sal 78:72; 80:1). No
NT o Espírito nos conduz a toda a verdade (Jo 16:13) e aqui o pastor guia seu rebanho para fontes de água viva.
A fontes de água se tornam o símbolo da vida. Logo o Pastor conduz o seu povo para a vida e vida em
abundância (Osborne 2002, 332)
- Deus também vai enxugar toda lágrima. Aqui possivelmente se trata de lágrimas de sofrimento, continuando
com o tema da perseguição e martírio de Ap 6:9-11 e 7:9-12. Isso pode ser um eco de Is 25:8 que promete que
Yahweh ira engolir a morte para sempre e enxugar toda lágrima da face. A palavra usada para enxugar também
tem a idéia de destruir. Toda dor e sofrimento serão removidos por Deus (Osborne 2002, 332)

28. Qual o significado do silêncio após a abertura do 7º. selo? Isso quer nos ensinar algo?
- depois disso o cordeiro abre o 7º. selo. Continuando com a imagem do cap.5 o rolo contém os eventos finais
da história humana e agora está prestes a ser aberto. Mas algo muito estranho ocorre quando o selo é aberto. Ao
invés de sinais na natureza e ações de anjos como nos outros selos, trombetas e taças. temos um silêncio
dramático que dura aproximadamente ½ hora (Osborne 2002, 336). O que significa esse silêncio? Muitas
opções têm surgido:
a. Silêncio no céu para que as orações dos santos possam ser ouvidas
b. Uma cessação temporária da revelação, com o silêncio sendo no céu e não na terra
c. Uma pausa dramática com o significado de ficar maravilhado e temor à medida que as hostes celestiais
esperam pela próxima ordem
d. Repetição do silêncio que ocorreu na criação
e. Uma indicação que as visões dos selos acabaram
f. Um silêncio litúrgico que tanto nos rituais greco-romanos, como nos judaicos, provêem um prelúdio
para a oração
g. O silêncio dos condenados do 6º. selo que aguardam o julgamento
h. Uma expectativa intensa da intervenção divina dando uma interrupção breve entre o 1º. ciclo (selos) e
os outros (Osborne 2002, 336-37)
- possivelmente não devamos ver uma das opções como exclusiva. Certamente é uma pausa dramática, mas isso
não engloba todo o significado. Vai completar a visão dos selos, mas tem mais. De forma litúrgica prepara para
o incenso e a oração em 7:3-5 como acontecia nas reuniões na sinagoga judia, mas também seria somente parte
do propósito. O silêncio da criação (Gen 1:2-3) é somente implícito e não se encontra no texto, mas o judaísmo
tardio enfatizava esse silêncio da criação como um prelúdio para o silêncio final precedendo o fim dos tempos.
Os escritores do AT vêem o silêncio como antecipação da ação iminente de Deus (Ex 14:14; 1 Sam 12:16)
como a resposta natural à onipotência de Deus (Is 14:1; Hab 2:20), ou como um temor reverente diante do
julgamento vindouro (Sof 1:7; Zac 2:13). Isso nos dá um background mais próprio para o silêncio que temos
aqui. Todos no céu estão na antecipação aguardando as ações finais de Deus para terminar com a história
humana, e os pecadores estão em silêncio diante do julgamento iminente. O rolo está sendo aberto e eles mal
podem esperar para ver os eventos finais se cumprir. Wick apresenta uma outra idéia. O silêncio poderia ser
explicado já que os sacrifícios sacerdotais eram realizados em silêncio. O silêncio contrasta com o barulho da
adoração no cap.7 e as trombetas de 8:6-7. O silêncio aparece aqui porque 8:1-6 nos provê com um sacrifício
com incenso e com a oração dos mártires. Isso é uma opção viável (Osborne 2002, 336-37)
- dentro dessa hipótese a idéia do silêncio para ouvir a oração do povo de Deus faz sentido. 8:1 seria a
conclusão dos julgamentos dos selos, e ao mesmo tempo a introdução dos julgamentos das trombetas. Assim
temos uma conexão entre 8:1 e 8:2-5. Desta forma as ações do anjo carregando o incensário de ouro com as
orações dos santos para Deus (8:2-4) fazem parte do silêncio no céu. Na tradição judaica os anjos cantam a
noite, mas estão quietos durante o dia para que Deus possa ouvir as orações do seu povo. Essa tradição cria que
quando o povo de Deus o louvava ou quando incenso era oferecido no templo as hostes celestiais estavam em
silêncio. Por causa da centralidade do incenso e das orações em 8:3-4 isso faz sentido. Assim temos 2 razões
para essa pausa dramática (Osborne 2002, 337-38):
a. A expectativa do desenrolar do julgamento divino
b. O silêncio litúrgico do céu em vista do incenso e das orações dos santos em 5:8; 6:9-11; 7:3-4

29. De que maneira esse texto pode ser um consolo para pessoas que passam por dificuldades? Ele poderia
significar outra coisa para outro grupo de pessoas?
- o sofrimento é complicado. Tendemos a perder de vista a perspectiva correta da vida. Mas esse texto nos ajuda
a entender que o sofrimento é por pouco tempo. Deus não nos abandonou e está no controle de tudo o que
acontece. Por isso não precisamos temer mesmo que a coisa não vá tão bem por algum tempo. Existe uma
recompensa muito grande aguardando aqueles que permanecem fiéis.
101
Ap 8:2-9:21 – O julgamento das trombetas

- agora o conteúdo do rolo será revelado nas trombetas e taças. Os selos eram os julgamentos preliminares que
exploram a depravação da humanidade e demonstram a necessidade do julgamento. Os santos são selados da ira
de Deus e dos julgamentos, mas enfrentam a ira dos habitantes da terra. O silêncio no céu é a expectativa da
ação de Deus, mas esta não será apenas o derramar da ira, as a maneira de Deus responder às orações
imprecatórias dos santos (6:9-11 recapitulado em 8:3-4). Assim há adoração (o incensário de ouro com incenso)
por trás da justiça (Osborne 2002, 339)

1. Estudando as trombetas logo ficamos cientes que existe um paralelo com as pragas do Egito. Qual era o
propósito das pragas do Egito (Ex 6:6-7; 7:5, 17)? Será que a chave para entender as trombetas poderia estar
nas pragas?
- fica claro que as trombetas estão direcionadas para a idolatria tão prevalecente nos dias de João. As primeiras
4 trombetas recapitulam as pragas egípcias (Ex 7-10), que eram endereçadas aos deuses egípcios. As pragas
tinham diversos propósitos:
a. Provar a presença soberana e o poder de Yahweh
b. Demonstrar que os deuses egípcios não tinham poder algum
c. Mostrar a faraó (um deus para os egípcios) que ele não poderia vencer (Osborne 2002, 339)
Mesmo que não podemos provar concretamente que havia um deus egípcio atrás de cada uma das pragas, havia
ligações com os deuses locais. O resultado foi que Yahweh provou que é mais forte que os deuses egípcios,
mesmo que esse não era o seu propósito principal. As pragas mostraram o poder de Deus sobre o faraó. O faraó
era considerado o sustentador da ordem cósmica como deus do estado egípcio. O rei era a encarnação do deus
Horus e responsável pela fertilidade da terra. Ele também era o filho de Re, o deus do sol. Ele presidia
anualmente sobre diversas festas relacionadas com a vitalidade da terra. As pragas certamente demonstraram
que havia uma luta cósmica entre Yahweh e a habilidade do faraó de manter a ordem cósmica. As pragas
mostram que o faraó não controlava as forças da natureza, mas Yahweh é o sustentador de sua criação. Deus
sustenta a criação para que haja justiça e bem-estar no mundo. O faraó tende a destruir essa intenção divina e
por isso se torna objeto do julgamento divino. Mas no final das contas Deus estava interessado em mostrar a
Israel que ele era o seu Deus e somente ele poderia redimi-los: “6 Eu sou o SENHOR. Eu os livrarei do trabalho
imposto pelos egípcios. Eu os libertarei da escravidão e os resgatarei com braço forte e com poderosos atos de
juízo. 7 Eu os farei meu povo e serei o Deus de vocês. Então vocês saberão que eu sou o SENHOR, o seu Deus,
que os livra do trabalho imposto pelos egípcios” (Ex 6:6-7). Os julgamentos das pragas e a destruição na
travessia do Mar Vermelho estão ligados com a destruição do Egito e a salvação de Israel (Hoffmeier 1997
4:1056-58). Além disso, o faraó e seu povo saberão que Yahweh é o Senhor (Ex 7:5, 17). Todos esses
elementos estão presentes nas trombetas e taças, exceto o 3º. elemento, que foi transformado para mostrar aos
habitantes da terra que Satanás não pode vencer. As imagens das pragas foram alteradas para incluir alguns
elementos do Sinai (Osborne 2002, 339)
- da mesma forma como os selos, as trombetas têm uma forma 4+2+1, com um grande interlúdio (10:1-11:3)
entre a 6ª. e a 7ª. trombetas. Mesmo assim as últimas 3 estão intimamente ligadas pelos “ais” (8:13; 9:12;
11:14). Além disso, na 5ª. e 6ª. trombetas outro tema é introduzido: o chamado ao arrependimento. Dessa
maneira as trombetas participam na missão para o mundo e provêem tanto uma prova final do poder de Deus
sobre os deuses terrenos e uma chance final para o arrependimento. Para entender as trombetas precisamos
interpretá-las baseadas na utilização profética da tradição das pragas com sua ênfase sobre o chamado para o
arrependimento. O propósito de Deus enviando as pragas era que se convertessem da idolatria. Sua intenção é
trazer as pessoas para o arrependimento antes que seja tarde. Mas as pessoas não querem ser alertadas. Em 9:20-
21 esse convite é rejeitado, continuando a enfatizar a depravação total da humanidade. Mas em 11:13 (o
interlúdio entre a 6ª. e a 7ª. trombeta) parece que alguns respondem ao evangelho e “dão glória a Deus” (cf.
14:7) (Osborne 2002, 339-40)
- a chave para entender está nas pragas. É interessante que a história nos ensina que não aprendemos nada da
história. Infelizmente, somos fadados a cometer os mesmos erros de nossos antepassados simplesmente porque
não levamos a sério que somos tão mortais como as pessoas que viveram antes de nós. A história de Israel está
relatada na Bíblia para nos servir de modelo do que devemos fazer e daquilo que não devemos fazer. Mesmo os
nossos próprios erros podem nos ensinar muitas coisas. Que triste conhecer alguém que não consegue aprender
nada dos erros que comete. Não há esperança para uma pessoa neste estado
102
2. Além das pragas do Egito, existe um paralelo entre as trombetas e as taças (Ap 16). Veja que
similaridades e diferenças consegue observar no quadro abaixo
- mas o relacionamento entre as trombetas e taças é complexo. Enquanto a ordem das primeiras 4 é muito
similar (julgamentos sobre a terra, as águas do oceano, as águas do interior e os corpos celestes), os próprios
julgamentos não correspondem um ao outro tão facilmente. Roloff propõe um paralelo interessante (in Osborne
2002, 340):
Ciclo das trombetas Ciclo das taças
1 Granizo e fogo (= 7ª. praga); com ⅓ da vegetação Feridas dolorosas (= 6ª. praga), com todos os
queimada seguidores da besta afetados por elas
2 Oceano se torna sangue (= 1.ª praga), com ⅓ dos Oceano se torna sangue (= 1ª. praga), com todas as
peixes e navios destruídos criaturas do mar morrendo
3 Águas fluviais se tornam amargas (= 1ª. praga) com Águas fluviais se tornam sangue (= 1ª. praga) com
muitas mortes as pessoas tendo que beber sangue
4 Sol, lua e estrelas escurecem (= 9ª. praga), com o O sol queima as pessoas (nenhuma praga) com dor
céu escuro por ⅓ do dia e da noite intensa das queimaduras
As similaridades são evidentes, iniciando com a utilização das pragas egípcias e a ordem dos elementos naturais
afetados por elas. Além disso, há uma intensificação uniforme na qual as trombetas afetam ⅓ da terra e as taças
afetam toda a terra. No entanto, as diferenças também são interessantes e óbvias na tabela. Somente a 2ª. e 3ª.
concordam no tipo de julgamento, mas mesmo ali há diferenças: a 2ª. trombeta inicia com uma grande
montanha caindo no mar, enquanto que a 2ª. taça simplesmente é derramada no mar. A 3ª. trombeta tem uma
estrela queimando cai nas águas, enquanto a 3ª. taça é simplesmente derramada sobre as águas fluviais. As
diferenças podem ser entendidas em que Deus quer mostrar com cada uma delas o seu poder soberano e tem
uma mensagem própria. Todas as 3 seqüências de julgamentos provam que Deus está presente vindo para julgar
e salvar (Osborne 2002, 340)
- na apocalíptica judaica 2 metáforas do céu predominam: a sala do trono e o templo celestial com seu altar.
Ambas estão presentes aqui nesta cena com o altar diante do trono (8:3). Além disso, a adoração em todo o livro
produz julgamento bem como alegria. Isso ocorre porque Deus é caracterizado tanto por amor como justiça, e
estes não são separados, mas aspectos interdependentes do seu ser. Assim sendo o julgamento contra os
inimigos de Deus leva à mesma adoração que a vindicação e salvação do seu povo. Aqui as orações dos santos
por justiça são trazidas diante de Deus e produzem os julgamentos. Deus assegura seu povo que ele ouve suas
orações e age com base nelas, mas no seu tempo, não no tempo deles (6:11) (Osborne 2002, 341)

3. O que João vê em 8:2? O que poderia significar?


- estamos outra vez diante do trono de Deus. Agora temos 7 anjos em pé diante do trono. Não sabemos quem
são os 7 anjos. Talvez sejam os anjos das 7 igrejas, mas aqui estão em pé diante do trono. Possivelmente se trata
dos 7 arcanjos, que de acordo com a tradição apocalíptica apresentam as orações dos santos diante do trono.
Esses 7 anjos estão ligados com os círculos dos seres viventes, dos anciãos e dos anjos. Cada um deles recebe
uma trombeta, o que os torna arautos das ações do rei dos reis. As trombetas eram usadas em tempos de guerra,
na inauguração do templo, na coroação do rei, nos salmos onde o rei é entronizado, antes das ofertas queimadas,
festas, chamando o povo ao arrependimento, etc. Na vida judaica havia no mínimo 21 ocasiões diárias onde a
trombeta era tocada no templo e nas festas até 48 vezes. Num paralelo interessante vemos que na aparição de
Yahweh diante de Israel no Monte Sinai: “Ao amanhecer do terceiro dia houve trovões e raios, uma densa
nuvem cobriu o monte, e uma trombeta ressoou fortemente” (Ex 19:16). É possível que essa imagem se tornou a
base para a trombeta que anuncia o dia de Yahweh (Is 27:13; Jl 2:1; Sof 1:16; Zac 9:14). Na apocalíptica
judaica a trombeta continuou sendo o instrumento que anunciava o julgamento escatológico, o mesmo
acontecendo no NT (Mt 24:31; 1 Co 15:52; 1 Ts 4:16). No Apocalipse as trombetas são usadas como símbolos
da promessa escatológica (1:10; 4:1) bem como arautos do julgamento (todas as outras vezes que as trombetas
soam estão conectadas com os julgamentos aqui) (Osborne 2002, 342-43)

4. Depois vemos um outro anjo com um incensário e as orações dos santos. Que orações seriam estas? O que
quer nos mostrar?
- um outro anjo aparece (diferente dos 7) que continua a preparar para o derramamento dos julgamentos. Por
causa de sua função mediadora (levar as orações dos santos a Deus) alguns acreditam que se trata de Cristo
(Beale, Walwoord). Por outro lado os anjos também atuam com funções sacerdotais no livro (4:8-11; 5:8-14;
7:11-12) e aqui possivelmente é outra instância disso. De acordo com Mounce, o anjo leva a oração aqui diante
de Deus e não a torna aceitável diante de Deus. A função mediadora dos anjos, tão prevalecente na apocalíptica
judaica não encontra espaço no NT (Mounce in Osborne 2002, 343). A ação de carregar o incensário é paralela
à ação sacerdotal de carregar as taças de ouro de incenso com as orações dos santos (5:8) (Osborne 2002, 343)
103
- esse anjo veio e ficou em pé ao lado do altar. Certamente se trata do mesmo altar que veremos a seguir.
Alguns acham que o anjo vai ao altar de ofertas queimadas (8:3a) pega brasas que são levadas ao altar de
incenso (8:3b) para depois retornar ao altar de ofertas queimadas para jogar o fogo sobre a terra (8:5). Mas
outros acham que isso não se encaixa no contexto, já que não há indicação de movimento aqui. Logo, assim
como na apocalíptica judaica, o altar de incenso e o altar das ofertas queimadas estão unidos. O altar de incenso
estava junto à cortina dentro do lugar santo (Ex 40:26, mas Hb 9:4 teologicamente o coloca dentro do
Santíssimo Lugar, e os sacerdotes ofereciam diariamente incenso sobre ele (Osborne 2002, 343-44)
- o anjo carrega um incensário de ouro. Isso era uma panela com a tampa aberta usada para carregar as brasas
vivas do altar de ofertas queimadas (Lev 16:12) e freqüentemente o incenso era colocado sobre essas brasas e
oferecido ao Senhor (Num 16:6-7). Isso é realizado pelo anjo que continua com a ênfase do trabalho sacerdotal
dos anjos. O anjo recebe muito incenso de Deus. O incenso era uma mistura de diferentes produtos e servia para
a proteção do sacerdote e do povo (Lev 16:13; Num 16:47-48) e para as orações das pessoas que ascendiam a
Deus (Sl 141:2) (Osborne 2002, 344)
- o anjo tem muito incenso para oferecer junto com as orações dos santos. Não sabemos se o incenso consiste
das orações dos santos, ou se o incenso e as orações são separados. No AT o incenso diversas vezes consiste das
orações dos santos. Mas aqui possivelmente o incenso carrega as orações dos santos. O incenso ascende por
causa das orações dos santos (Osborne 2002, 344-45)
- no Israel antigo o incenso era oferecido de 3 maneiras
a. O incenso era queimado com as ofertas de cereais (Lev 2:1, 15) e talvez com o holocausto
b. O incenso externo era oferecido no incensário com alças longas (Lev 10:1; Num 16:6) e não colocado
sobre o altar, mas queimado com as brasas do altar (Lev 16:12)
c. O incenso interno era oferecido no altar do incensário de ouro como parte da oferta matutina e
vespertina de um cordeiro (Ex 30:7-9). Brasas eram tiradas do altar de bronze para o altar de incenso e
o incenso era espalhado sobre elas (Aune in Osborne 2002, 345)
- o que temos em mente aqui é o 3º. modelo. As orações aqui se referem às orações imprecatórias por vingança
e justiça (Ap 6:9-11). Mesmo que a presença de “todos os santos” aqui possa se referir a todas as orações de
modo geral. Possivelmente são as orações imprecatórias dentro da categoria das orações de todos os santos.
“Todos os santos” aqui se refere à grande multidão de 7:9 e dentro daquela categoria os mártires são colocados
em destaque. Deus aceita aquelas orações como aroma suave (a imagem do incenso aqui). A menção do trono
de Deus enfatiza a sua soberania e nos conduz naturalmente para o tema do julgamento (8:5) (Osborne 2002,
345)

5. A fumaça do incenso sobre e se torna aroma agradável a Deus. Logo em seguida vemos a resposta de Deus,
um pouco diferente do que estávamos acostumados. O que João quer nos mostrar com isso?
- quando o anjo oferece o incenso a fumaça subiu. A fumaça do incenso no AT era a nuvem de fumaça que
enchia o Lugar Santo e representava o aroma suave dos sacrifícios a Deus (Ex 29:18; Lev 1:9; Num 18:17).
Esse termo também é usado em Ef 5:2 olhando para a morte de Cristo “como oferta e sacrifício de aroma
agradável a Deus”. Em Fp 4:18 Paulo chama as ofertas da igreja “são uma oferta de aroma suave, um sacrifício
aceitável e agradável a Deus”. A idéia da fumaça combina a fumaça do sacrifício que está sendo consumido no
altar e a fumaça do incenso que também ascende a Deus como “aroma suave”. Há um contraste interessante
aqui entre a fumaça da oração dos mártires (14:1) e a fumaça do tormento dos malfeitores que “sobe para todo
o sempre” (19:3). Na teologia do Apocalipse, a fumaça do tormento dos malfeitores é a resposta de Deus à
fumaça da oração dos mártires. Também há um contraste implícito com 9:2 onde “subiu dele [do abismo]
fumaça como a de uma gigantesca fornalha”. Aqui a fumaça é adoração e ali é julgamento (Osborne 2002, 345)
- a oração dos mártires ascende até Deus. Todo o céu está envolvido em assegurar que Deus receba esse clamor
por justiça (Osborne 2002, 346). Beale vai ainda mais longe argumentando que os anjos no Apocalipse têm a
função de mensageiros divinos. Aqui a oração sai da mão do anjo, poderia indicar que Deus já aceitou a sua
oração e está no processo de vindicar seu sacrifício por ele (Beale 1999, 455-56)
- Deus ouve e atende a oração dos mártires. O anjo sacerdotal se torna um anjo de vingança. Obviamente por
ordem divina o anjo toma o incensário de onde as orações e o incenso subiu ao céu e o enche novamente com
fogo do altar. O leitor original sabia que o incensário tinha brasas antes que o pó do incenso tivesse sido
colocado sobre ele. A imagem agora é o sacerdote que volta para o altar (agora o altar do holocausto) e toma o
fogo dele. A ênfase das primeiras brasas era para elevar o incenso e as orações a Deus, mas agora as brasas se
tornam o fogo do julgamento. O altar que normalmente é o local da misericórdia, agora de forma irônica se
torna o local de julgamento. Para João a misericórdia e o julgamento não podem ser separados. A melhor
imagem paralela vem de Ez 10:2-7 onde um homem vestido de linho (um anjo) deve pegar as brasa de fogo em
suas mãos do trono e espalhá-las sobre a cidade, simbolizando um julgamento intenso. Segundo Bauckham em
Ezequiel esse ato simbólica está conectado com o selo dos justos em sua testa (Ez 9:4) e com julgamento (Ez
1:12-13), que inclui brasas, fogo e raios (Osborne 2002, 346)
104
- a ênfase principal é que esse julgamento de fogo nos capítulos seguintes são a resposta de Deus ao clamor
do seu povo e a sua vindicação dos seus seguidores por tudo o que sofreram se achamos que se trata do início
do julgamento das trombetas (Osborne 2002, 345-46). Mas isso também poderia ser visto como o julgamento
final se achamos que estamos lidando aqui com o final do 7º. selo (Beale 1999, 457-58). O anjo lança o
incensário sobre a terra, uma demonstração de um ato violento de julgamento. A mesma palavra vai ser usada
para descrever que o anjo lançou granizo e fogo e uma grande montanha sobre a terra (Osborne 2002, 347)
- aqui temos a 2ª. teofania da tempestade (4:5) que também é similar a 6:12-14. Esta teofania ocorre aqui no
final do 7º. selo, e vai ocorrer outra vez depois da 7ª. trombeta (11:19) e taça (16:18). Em 4:5 a teofania da
tempestade era parte da adoração e as outras aqui fazem parte do julgamento. Já vimos que adoração e
julgamento caminham juntos no Apocalipse. De maneira interessante o terremoto está ausente de 4:5, mas
presente nas outras. No Apocalipse o terremoto é visto de maneira especial como parte do julgamento de Deus e
assim se encaixa melhor nesses contextos (Osborne 2002, 347)
- os 7 anjos receberam as trombetas (8:2). Agora se preparam para tocá-las. Normalmente quando 7 sacerdotes
tocavam trombetas, faziam-no simultaneamente. Mas aqui cada um toca separado indicando julgamentos
separados (Osborne 2002, 347-48)
- Deus aceita as orações dos crentes pedindo que ele faça justiça. Podemos e devemos colocar diante de Deus as
nossas questões deixando que ele faça justiça, ao invés de tentar fazê-lo por conta própria. Deus pode nos ajudar
a vencer a dor profunda e amar aqueles que não conseguimos amar (Rom 12:14-21). Deus, no seu tempo, e da
sua forma, vai fazer justiça (Osborne 2002, 348). É melhor deixar ele lidar com isso, pois ele julga de maneira
imparcial, dando a cada um o que merece
- as trombetas são uma réplica das pragas do Egito e se voltam contra o problema da idolatria. Isso não ocorre
somente no império romano, mas também entre as seitas cristãs da província da Ásia. O propósito é demonstrar
a soberania de Deus e dar uma última oportunidade para o arrependimento. Com cada trombeta uma nova parte
da terra experimenta a destruição. As 4 primeiras trombetas atingem a terra enquanto que a 5ª. e 6ª. atingem os
habitantes da terra ou o reino da besta. Depois temos o interlúdio e a 7ª. trombeta simboliza o fim dos tempos
(Osborne 2002, 349)

6. Qual é a essência da 1ª. trombeta? Qual o resultado?


- o 1º. anjo tocou a sua trombeta e granizo e fogo misturado com sangue foi jogado sobre a terra. Isso está em
paralelo com a 7ª. praga do Egito (Ex 9:13-35) na qual Moisés levantou o seu cajado ao céu e Deus enviou
granizo misturado com raios e trovões, a pior tempestade na história do Egito (Ex 9:18) que destruiu toda a
vegetação. O granizo é um símbolo comum do julgamento no AT, mas no NT aparece somente no Apocalipse.
Isso acaba indo além da 7ª. praga, pois inclui o fogo e ambos estão misturados com sangue. A imagem de fogo e
sangue possivelmente vem de Jl 2:30-31: “30 Mostrarei maravilhas no céu e na terra: sangue, fogo e nuvens de
fumaça. 31 O sol se tornará em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e temível dia do Senhor”.
Essa passagem se cumpriu parcialmente no Pentecostes (At 2:19) e aqui temos o seu cumprimento final no
grande e terrível dia do Senhor. Sangue e fogo eram símbolos freqüentes do julgamento. Não sabemos bem o
significado do sangue. Pode ser alusão à chuva cor de sangue que cai na região do Mediterrâneo por causa do
deserto do Saara, ou a erupções vulcânicas que tornaram o céu vermelho. Outros ainda acham que todo o
imaginário vem do AT e logo não devemos nos preocupar com detalhes. Mas João usa o background grego
também o que poderia indicar um desses antecedentes. Além disso, a chuva de sangue também é um símbolo de
julgamento divino (Osborne 2002, 350-51)
- o resultado é que ⅓ da terra e suas árvores e toda relva verde foi queimada. A 7ª. praga destruiu e nivelou a
vegetação no chão, mas aqui o fogo a destrói. Nos perguntamos porque toda a relva queima quando somente ⅓
das árvores é queimada? Possivelmente a simbologia aponta para o fato que nada vai escapar do julgamento
divino. Além disso, temos um problema com 9:4 onde diz que os gafanhotos não devem danificar a relva sobre
a terra. Alguns tentam harmonizar dizendo que entre um julgamento e outro houve tempo para o crescimento,
mas não há indicação disso no texto. Outros acham que toda a relva queimou sobre ⅓ da terra. Mas o mais
provável é que tenhamos aqui imagens apocalípticas cuja intenção não é que sejam harmonizadas, mas aceitas.
A natureza cíclica desses julgamentos permite essas contradições aparentes. O leitor deve sentir o impacto
dessas descrições e não tentar comprar. Cada visão é uma unidade completa em si mesma (Osborne 2002, 351)
- todos já vimos os efeitos de queimadas nas florestas, mas nada parecido com isso. Aqui temos ⅓ de todas as
florestas queimando. È um desastre natural além de tudo que se pode imaginar. Bombeiros do mundo todo
tentam apagar o fogo que é muitas vezes maior do que qualquer coisa que já viram. Mesmo que os julgamentos
são simbólicos, o impacto nos leitores originais era como se fosse literal. Logo devemos contemporaneizar os
símbolos para sentir o impacto (Osborne 2002, 351)
105
7. A 2ª. trombeta vai adiante da 1ª.? O que ocorre nesta trombeta?
- a 2ª. trombeta destrói ⅓ das águas do mar e está em paralelo com a 1ª. praga em que as águas do Nilo são
transformadas em sangue. Aqui existem diferenças grandes daquela praga, já que temos algo como um grande
monte em chamas lançado ao mar, dando a idéia de uma grande massa caindo sobre a terra. Qual é a fonte da
imagem de João aqui?
a. Alusão a Jer 51:25 onde Yahweh fala contra a Babilônia: “Estou contra você, ó montanha destruidora
... Estenderei minha mão contra você, eu a farei rolar dos penhascos, e farei de você uma montanha
calcinada”. Mesmo que a imagem não é muito exata (em Jeremias a montanha que queimou é a
Babilônia), o contexto do julgamento escatológico é similar.
b. Sua origem pode ser a apocalíptica judaica: “E eu vi ali as 7 estrelas que eram como grandes montes
queimando”, que eram anjos caídos que estavam amarrados num local vazio (1 Enoque 18:13; 21:3-4).
Um paralelo mais próximo seria: “a grande estrela virá do céu para o mar incrível e queimará o oceano
profundo e a própria Babilônia”. Com a combinação do mar e da Babilônia (Ap 17-18) esse paralelo é
viável
c. Pode vir das erupções vulcânicas do séc. I, possivelmente o Monte Vesúvio, que entrou em erupção em
79 AD e sepultou Pompéia e Herculano. Um historiador comenta que a erupção vulcânica das ilhas do
mar Egeu acabaram formando uma nova ilha, o que deixa essa opção viável
d. Poderia ser a imagem de um meteorito caindo no mar. A imagem da deusa Diana (Ártemis) do templo
de Éfeso aparentemente era um meteorito. Cria-se que os meteoros eram um sinal da ação direta dos
deuses (Osborne 2002, 352-53)
- não é fácil optar entre essas possibilidades. Poderia ser cada uma delas. O resultado dessa montanha caindo no
mar é devastador. Somente um povo que depende do comércio marítimo e da produção de alimentos poderia
entender o quão terrível esse julgamento é para os leitores originais. ⅓ do mar se torna sangue. Muitos têm
notado que o mar pode se tornar avermelhado como conseqüência da atividade vulcânica, mas aqui o mar não
se torna como sangue, mas se torna sangue. Na 1ª. praga do Egito o Nilo se tornou completamente em sangue e
todos os peixes morreram. Aqui ⅓ do mar se torna em sangue, ⅓ da vida marinha morre e ⅓ dos navios são
destruídos. Hoje precisamos pensar em ⅓ de todos os oceanos para ter o mesmo efeito que teve sobre os leitores
nos seus dias. As rotas marítimas eram chamadas de “o sangue da vida de Roma”, porque os romanos eram tão
dependentes do mar tanto para a comida e o comércio (veja também Ap 18:17-19). Assim essa catástrofe é
ainda pior que a 1ª. é difícil imaginar o efeito disso sobre a população. Mas mesmo assim, ainda é um
julgamento parcial dando oportunidade para o arrependimento (Osborne 2002, 353-54)

8. Se a 2ª. trombeta atingiu o comércio, agora as águas fluviais são atingidas. Qual o efeito desse julgamento?
- no julgamento sobre as águas fluviais temos outra alusão à 1ª. praga do Egito, algo um pouco mais próximo da
situação original. Agora vemos uma grande estrela caindo do céu queimando como uma tocha. Aqui fica claro
que se trata de um meteorito que cai através da atmosfera e cai sobre a terra. É um julgamento sobre a natureza
enviado por Deus. Sempre quando isso aparece na Bíblia é um sinal do fim dos tempos. Este meteoro queima
como uma tocha, uma descrição gráfica de um meteoro caindo, mas também de um arauto de um julgamento
ardente do lago de fogo (Ap 19:20; 20:10, 14-15) (Osborne 2002, 354)
- a estrela ardente cai sobre ⅓ dos rios e fontes de água, uma frase usada freqüentemente no AT já que as águas
de Judá vinham de fontes naturais. A água era rara ali, o que tornava as fontes naturais e artificiais essenciais.
As fontes de água eram vistas como a fonte da vida. Há diversas passagens mostrando que Deus conduz o seu
povo para as fontes de água para saciar a sua sede. Mas aqui parece que temos uma inversão à medida que a
água passa de fonte de vida para fonte da morte nesse julgamento, similar à 1ª. praga do Egito (Osborne 2002,
354)
- de maneira interessante essa estrela tem o nome de Absinto, um arbusto de gosto amargo, que se tornou um
símbolo de lamento amargo (Prov 5:4), do veneno amargo da idolatria (Deut 29:18) e do julgamento e morte
(Jer 9:15; 23:15). O gosto é tão forte que uma onça (= 30 gramas) desse material pode ser detectada em 2000
litros de água. Não se trata apenas que a estrela é chamada de Absinto, mas que ⅓ das águas se tornam Absinto.
O Absinto em si não é venenoso, mas a sua conexão aqui com o lamento amargo e julgamento faz dele um
símbolo natural da morte. Fica claro que muitos morreram com base nisso. A estrela envenenou as águas e o
efeito foi tão amargo como o Absinto. Em Deuteronômio e Jeremias a água venenosa é sinal de julgamento
divino pelo pecado e rebelião. Também podemos ver aqui uma inversão natural do milagre de Mara (Ex 15:23)
onde Moisés jogou um pedaço de madeira na água para tornar a água doce. Não temos certeza que João tinha
essa imagem na sua mente. De toda forma é um julgamento que afeta a civilização. Não conseguimos imaginar
⅓ dos rios e lagos se tornando envenenados. Todos os rios poluídos nos últimos anos parecem um nada diante
desse quadro (Osborne 2002, 355)
106
9. O que temos na 4ª trombeta? Como isso afetaria a vida sobre a terra?
- esse julgamento é uma replica da 9ª. praga do Egito em que Yahweh enviou uma escuridão sobre o Egito por 3
dias, a ponto de ninguém poder viajar. Quando a 4ª. trombeta soa Deus atinge os luminares celestiais. O termo
“feriu” denota um raio ou pancada forte. Deus feriu os luminares celestiais com uma praga. Mas como nas
outras trombetas essa praga é parcial, afetando somente ⅓ do dia e da noite, tanto do sol, lua e estrelas. Aqui a
escuridão é total e não somente uma eclipse. O que fica claro é que num terço do dia e da noite reina a
escuridão. Isso quer nos mostrar que tanto o dia como a noite são iguais, sem luz; que a escuridão dura ⅓ de sua
extensão; que a escuridão é completa (Osborne 2002, 357-58). Outros acham que ocorre somente uma
diminuição da luminosidade do sol. Isso mostra que o julgamento não é final, mas somente uma antecipação
dele (Beale 1999, 481). Mas no final do versículo temos a indicação que ⅓ do dia e ⅓ da noite ficam sem luz
indicando que é escuridão total (Mounce 1977, 188). Esse julgamento tem muito em comum com 6:12-13 onde
o sol fica preto e a lua é coberta e as estrelas caem do céu. Aqui temos um julgamento parcial, enquanto lá é
total. Isso acaba indicando que a terra, vista por muitos como o seu local definitivo começa a dar sinais de
impermanência. Isso gera terror nas pessoas (Beale 1999, 481). Essa escuridão poderia ser causada por fumaça,
poeira ou cinza vulcânica dos julgamentos anteriores (Wilson 2002, 303)
- escuridão e eclipses freqüentemente ilustram julgamentos escatológicos na Bíblia. Escuridão caracterizou um
mundo primitivo no início da criação (Gen 1:2). Em todas as escrituras a escuridão representa o mundo do mal
(Jó 12:22; Jo 3:18-21). Mesmo assim Deus controla a escuridão e a luz porque criou ambas (Is 45:7; Sl 104;
20). Ele enviou a escuridão na 9ª. praga no Egito, bem como no incidente onde “o sol parou” (Jos 10:7-14). O
tema da escuridão é pego mais tarde pelos profetas: “Diante deles a terra treme, os céus estremecem, o sol e a
lua escurecem e as estrelas param de brilhar” (Jl 2:10); “Naquele dia”, declara o SENHOR, o Soberano:
“Farei o sol se pôr ao meio-dia e em plena luz do dia escurecerei a terra”(Am 8:9). A escuridão também
parece como o castigo de Deus nos escritos apócrifos. Tanto os temas da escuridão personificando o mal e da
escuridão como julgamento continuam no NT. Ambos estão unidos no mesmo tema: A descrição do mal e a
resposta divina para o mesmo. “A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram” (Jo 1:5). Mesmo dos
discursos do monte das Oliveiras Jesus afirma: “24 Mas naqueles dias, após aquela tribulação, o sol escurecerá
e a lua não dará a sua luz; 25 as estrelas cairão do céu e os poderes celestes serão abalados” (Mc 13:24-25;
cf. Ap 6:12-13). Nesse sentido a escuridão freqüentemente significa destruição (Mt 8:12; 22:13; 25:30 onde está
ligado com “choro e ranger de dentes”). Assim nesse caso a escuridão é um julgamento apocalíptico sobre o
mundo. A escuridão prepara para a 5ª. taça quando o reino da besta será escurecido. Como resultado os
seguidores da besta “mordiam a própria língua” (Ap 16:10). Não existe dor nesse julgamento a não ser que
esteja implícito no tema da escuridão como dor (veja Ap 16:10) (Osborne 2002, 356-57)

10. Qual é a função das primeiras 4 trombetas? O que acontece com os cristãos que ainda estão vivos durante
esse período?
- a função das 4 primeiras trombetas é mostrar que os deuses do mundo não são nada comparados com Yahweh.
Recapitulando as pragas do Egito, Deus quer demonstrar sua onipotência para o mundo e mostrar a futilidade de
se rebelar contra ele. Cada uma deles está endereçada a um aspecto diferente da vida do mundo antigo e
também do mundo moderno. A 1ª. mostra que o mundo material não é a resposta; a 2ª. e 3ª. falam do comércio
do mar, incluindo alimentos; a 4ª. está focada sobre a vida em si no calor e luz dos corpos celestiais. As 4 juntas
provam que aqueles que vivem somente para este mundo escolheram mal, pois somente em Deus existe
verdadeira vida. As coisas do mundo se voltam contra nós. Convém não depender delas (Osborne 2002, 357)
- sabemos que os cristãos que foram selados estão imunes desses julgamentos. Mas não sabemos exatamente o
que ocorre com eles durante esses julgamentos, já que essa pergunta não é respondida no Apocalipse. Pode ser
que eles sofrem junto com as outras pessoas, já que o julgamento é sobre a natureza e os cristãos vivem entre as
pessoas que serão afetadas pelo envenenamento da água, por exemplo. Mas também pode ser que os cristãos
são protegidos e que o veneno não os atinja. Isso também não seria difícil para Deus. Mas o Apocalipse não nos
responde estas questões

11. Qual é a função de 8:13? Como se encaixa no cap.9 como um todo? O que nos chama a atenção na
quantidade de texto que João emprega para a 5ª. e 6ª. trombeta?
- antes que o anjo toque a 5ª. trombeta temos uma águia que voa pelo meio do céu avisando dos dois “ais”
(terror) que sobrevirão aos habitantes da terra. As 4 primeiras trombetas estavam endereçadas contra a natureza,
mas as últimas 3 estão direcionadas contra as pessoas que rejeitaram a Deus e perseguem o seu povo. Estes se
direcionam diretamente contra as pessoas perversas (Osborne 2002, 358)
- os 2 julgamentos de trombeta do cap.9 são 3 vezes mais longos que as 4 primeiras trombetas (8:6-12) juntas.
Isso ocorre em parte para esclarecer os temas dos selos, trombetas e taças. Eles provam para os habitantes da
terra que os falsos deuses que eles seguiram são forças demoníacas e que esses poderes maus não são seus
amigos. Na verdade eles odeiam aqueles que os adoram. Nos Evangelhos, os demônios possuem pessoas para
107
torturar e matar aqueles que são criados à imagem de Deus (veja o gadareno [Mc 5:1-20] ou a criança
possessa [Mc 9:14-29]). Esse é o mesmo padrão da praga de gafanhotos (Ap 9:1-11) e a cavalaria demoníaca
(9:12-19). Os gafanhotos torturam os habitantes da terra por 5 meses de uma forma tão terrível que os
habitantes da terra buscam a morte. Depois os cavaleiros dão a eles a morte que tanto buscavam, e ⅓ da
humanidade morre. Mas a tragédia do pecado continua. Apesar da prova incontestável da onipotência de Deus e
do ódio dos falsos deuses sobre seus seguidores, as pessoas perversas não se arrependem, mas rejeitam a oferta
de Deus e tornam outra vez a adorar os poderes malignos que acabaram de torturar e matar tantos deles (Ap
9:20-21) (Osborne 2002, 358)
- João vê uma águia ou urubu, já que nos escritos antigos não se faz grande distinção entre eles, já que ambos
são grandes, fortes e rápidos além de serem predadores. O que poderia favorecer a águia seria que os romanos
utilizavam uma águia como símbolo. Além disso, as águias eram consideradas os mensageiros dos deuses.
Mesmo que na Torah a águia/urubu era visto como animal impuro (Lev 11:13; Deut 14:12). Deus utiliza um
animal impuro, dizendo aos impuros o que os aguarda. No AT a águia/urubu é símbolo de algumas coisas:
a. poder e rapidez do vôo, freqüentemente simbolizando libertação (Ex 19:4; Prov 23:5; Is 40:31)
b. arauto de morte e destruição (Jer 48:40-42; Os 8:1)
c. como símbolo do poder criativo de Deus (Jó 39:27-30) do seu cuidado (Deut 32:11) aparição real (Ez
1:10; 10:14) e vigor e força da juventude (Sl 103:5; Is 40:31)
Na literatura apocalíptica ele entrega mensagens e se torna símbolo do império romano. Esse pássaro grande
aparece 2 vezes no NT fora do Apocalipse: como figura de condenação: “Onde houver um cadáver, aí se
ajuntarão os abutres” (Mt 24:28; Lc 17:37). No Apocalipse a águia representa a grandeza, poder e um arauto do
julgamento. Um dos seres viventes era como uma águia (Ap 4:7); a mulher perseguida pelo dragão recebe 2
asas de uma grande águia para a levar à segurança, enfatizando a habilidade da águia de voar acima dos
problemas da vida (Ap 12:14; cf. Is 40:31). Aqui temos a águia anunciando morte e destruição, avisando dos 3
“ais”, julgamentos que virão (Osborne 2002, 359-60)
- a águia voa no meio do céu. Isso pode se referir às outras vezes que esse termo é usado: o anjo proclamando o
evangelho eterno (14:6) e o chamado para as aves que comem carniça para a festa da carne dos exércitos
destruídos na batalha final (19:17). Os humanos precisam optar entre 2 destinos e os 3 “ais” são parte da última
chance para responder ao chamado de arrependimento (Ap 9:20-21) e ao anúncio da condenação para aqueles
que recusam esse convite. Além disso, todos vêem o evento e ouvem a mensagem (Osborne 2002, 360)
- a mensagem da águia domina o cap.9. Os 3 “ais” podem se referir às 3 trombetas, mas também é paralelo ao
santo, santo, santo que enfatiza da maneira mais forte a santidade de Deus. Aqui a ênfase recai sobre a
severidade do seu julgamento (8:13). Na verdade sua santidade exige o julgamento. Existe um duplo “ai”
declarado para a Jerusalém infiel por causa de sua idolatria e imoralidade (Ez 16:23 bem como Ap 18:10, 16,
19). Aqui temos uma intensificação dessa declaração do julgamento iminente. O background desses “ais” vem
dos “oráculos dos ais” do AT que retratam a ira e garantia do julgamento divino sobre aqueles que o rejeitaram
(Is 5:8-9; Am 6:1-2; Hab 2:9-10). Não retrata o lamento daqueles que pecaram, mas o anúncio do desastre
futuro sobre os habitantes da terra. Esse julgamento é iminente (Osborne 2002, 360-61)

12. O que nos chama a atenção na descrição da 5ª. trombeta?


- a 5ª. trombeta corresponde ao 1º. “ai”. Aqui temos uma invasão terrível de gafanhotos sobrenaturais do abismo
que traz tortura aos habitantes da terra por 5 meses. O que enfatiza aqui é:
a. os demônios se voltam contra as pessoas que os seguem e mostram seu desprezo por eles através de sua
crueldade torturando seus adoradores
b. Deus está no controle e guia todo o evento (Osborne 2002, 361)
Exaurindo todas as tentativas de trazer as nações para uma perspectiva melhor, Deus demonstra sua soberania,
vindicando sua santidade e justificando sua sentença final de condenação (Kiddle in Osborne 2002, 361)
- João vê uma estrela caída sobre a terra. Não sabemos exatamente o que João quer dizer com isso. Beale acha
que se trata de um anjo mau já que no AT uma estrela sempre se refere a um anjo mau (Beale 1999, 491-92).
Mas no Apocalipse, esta seria a única vez em que a estrela representaria isso. Logo é melhor pensar que se trata
de um mensageiro divino enviado do céu para executar o plano de Deus. A esse anjo foi dado (edothe =
controle total de Deus sobre a situação). Este recebe a chave do poço do abismo. O abismo se tornou o símbolo
do lugar do mortos, possivelmente porque os mortos eram impuros e assim foi usado para uma prisão na qual os
anjos caídos estavam aprisionados. No NT representa o local onde se encontram os mortos (Rom 10:7) e a
prisão dos maus espíritos (Lc 8:31), além da mesma idéia em 2 Pe 2:4; Jd 6. No Apocalipse o abismo é uma
prisão fechada que quando aberta mostra a fumaça do seu fogo (9:2); o local de onde surge a besta no tempo
determinado por Deus (11:7; 17:8). Satanás será preso no abismo por 1.000 anos e permanecerá trancada por
esse período (20:1-3). O poço do abismo se refere à entrada do abismo como se fosse um poço (Osborne 2002,
362-63)
108
- Cristo controla soberanamente o abismo. Como se representante o anjo abre o abismo com uma chave.
Dessa abertura subiu a fumaça como de uma fornalha gigantesca. A fumaça no AT representa muitas vezes a ira
de Deus como no caso de Sodoma e Gomorra (Gen 19:28) de onde surge uma fumaça. Aqui temos o sinal da ira
e da destruição iminente da mesma forma como temos a imagem do Geena nos Evangelhos e do lago de fogo
(Ap 19:20; 20:10, 14, 15). A grande fornalha também aponta para o fogo do inferno (Osborne 2002, 363)
- a fumaça é tão tensa que o sol e a lua escureceram com a fumaça. A idéia da estrela que desce (eco da 3ª.
trombeta) e aqui temos um eco da 4ª. trombeta. Em outras palavras, aqui temos um resumo do julgamento das
outras trombetas. Isso lembra Joel 2:10 em que os gafanhotos são tão densos que “o sol e a lua escurecem e as
estrelas param de brilhar”. Com a referência à fumaça de Jl 2:30 e a presença da praga dos gafanhotos nos
versículos anteriores, essa é a passagem de pano de fundo que temos aqui. Joel 2:1 inicia com: “Toquem a
trombeta em Sião” retratando um arauto avisando os povo de um ataque inimigo. Como Dillard afirma, Joel
inverte a versão do dia do Senhor. Ao invés de miríades de anjos com o exército celestial vindo para proteger
Israel e vingá-los das nações, os anjos vêm para julgamento de Israel. A visão aqui tem uma abordagem similar,
só que mais forte: os gafanhotos vêm diretamente do abismo do inferno (Osborne 2002, 363-64)
- dessa nuvem de fumaça espessa saem os gafanhotos que vieram sobre a terra. Estes retratam Joel 1:2-2:11,
mas também a 8ª. praga do Egito (Ex 10:1-20). Os gafanhotos são conhecidos pela devastação que produzem.
Mounce fala de uma nuvem de gafanhotos de mais de 6km de comprimento e 30 metros de espessura que matou
200.000 pessoas por causa da fome que causou na Algéria em 1866. No AT os gafanhotos são um aviso ao povo
de Israel contra a apostasia (Deut 28:39-42; Am 4:9). A imagem dos gafanhotos é usada freqüentemente para
retratar os julgamentos militares enviados por Deus (Jer 46:23; 51:14; Na 3:15-17). A grande praga dos
gafanhotos de Am 1-2 é o arauto do grande e terrível dia do Senhor (2:31). Toda o imaginário dos gafanhotos é
consumado nessa cena. Seguindo Aune esses gafanhotos são demônios e seu rei é Abadom, o anjo do abismo
(Ap 9:11). Eles sobem do abismo em paralelo com a ascensão da besta (11:7; 17:8) (Osborne 2002, 364)

13. Que ordem é dada aos gafanhotos? Quem dá estas ordens? O que isso quer indicar?
- esses gafanhotos recebem ordens de Deus. Deus dá a eles a autoridade de causar dano aos habitantes da terra.
Isso está em paralelo com Ap 13:7 onde a besta recebe autoridade para guerrear contra os santos. Mesmo os
demônios nada podem fazer se Deus não o permitir. Satanás já perdeu a sua batalha na cruz e agora somente
pode agir debaixo da autoridade de Deus. Agora todas as ações deles fazem parte do plano de Deus. Deus vai
usar os gafanhotos para alcançar o seu objetivo, o julgamento sobre os habitantes da terra. Da mesma forma
como ocorreu com os 4 cavaleiros, aqui Deus não precisa ordenar os gafanhotos demoníacos, eles simplesmente
deixa que o seu mal se expresse (Osborne 2002, 364-65)
- os gafanhotos não podem comer a vegetação, mas somente atormentar os habitantes da terra como se fossem
escorpiões. Eles recebem o poder como os escorpiões têm hoje. Eles vêm do abismo e não do mundo natural.
Os escorpiões têm um ferrão que pode ser fatal para crianças pequenas. No AT os escorpiões se tornaram uma
metáfora para julgamentos terríveis (1 Rs 12:11, 14). Jesus usa escorpiões e cobras como símbolos de forças
demoníacas (Lc 10:19). O propósito dos escorpiões é para intimidar, desmoralizar e aterrorizar os habitantes da
terra (Osborne 2002, 365)
- os gafanhotos normalmente comem relva, mas aqui são proibidos de fazê-lo. Os julgamentos sobre a natureza
já ocorreram. Agora o julgamento é sobre as pessoas. Eles são seres como gafanhotos. São demônios voltados
para aqueles que não têm o selo de Deus. Somente aqueles que não atenderam ao convite de Deus ao
arrependimento são afetados por eles. Isso ocorre porque o julgamento é uma retaliação por suas ações
perversas e um último chamado ao arrependimento. Da mesma forma como no Egito, o povo de Deus foi
protegido de diversas pragas, aqui o conceito é que a misericórdia de Deus vale para seu seguidores. Mas
aqueles que rejeitaram a Deus e o seu selo vão encarar a ira de Deus e do Cordeiro (Ap 6:16-17) (Osborne 2002,
365-66)

14. O que o tormento causou nas pessoas? Qual a reação delas? Qual o resultado?
- os demônios não têm autorização para matar as pessoas, somente atormentar por 5 meses, como julgamento de
Deus por sua rejeição a Deus e do tratamento que deram aos salvos. O tempo de 5 meses pode vir do tempo de
vida dos gafanhotos, ou do tempo entre a 1ª. e última chuva (abril a agosto). Normalmente uma praga de
gafanhotos dura apenas alguns dias. Aqui poderia se enfatizar que é um tempo extremamente longo. Mas a idéia
central não é o tempo, mas que Deus colocou um limite claro no tempo de tormento, já que são demônios,
talvez como um tempo apropriado para poder refletir e se arrepender (9:20-21). As pessoas sofrem muito, o
termo mais forte para sofrimento é usado aqui. Assim essa dor é o arauto da dor que sofrerão no tormento
eterno do lago de fogo (Osborne 2002, 366-67)
- o desespero causado por esse tormento pode ser visto pelo fato de as pessoas buscarem a morte. O texto diz:
“os homens procurarão a morte, mas não a encontrarão; desejarão morrer, mas a morte fugirá deles”. Trata-se
de um desejo muito forte da pessoa de morrer, podendo indicar a tentativa de suicídio. Isso é similar ao pedido
109
de 6:15-16 onde as pessoas pedem que os montes os cubram para afastá-los da ira de Deus. Deus não
permite que morram até o tempo correto, na próxima invasão demoníaca. Existe uma certa ironia aqui. Eles
mataram os mártires de 6:9-11, mas Deus não permite que morram. Aqui continuamos com a ênfase da lex
talionis (16:6; 18:6). Por causa da natureza hedionda dos crimes cometidos contra Deus e seu povo, aqueles que
martirizaram receberão o mesmo pagamento e ainda mais severo. Eles torturaram e mataram, agora serão
torturados e mortos pelas mesmas forças que os incentivaram a cometer seus crimes. Temos aqui uma descrição
gráfica do julgamento. As pessoas querem morrer, mas a morte foge continuamente deles (Osborne 2002, 368-
69)
- os v.7-10 descrevem esses gafanhotos de forma bizarra. Parece que João está combinando os gafanhotos, os
escorpiões e os guerreiros de um exército invasor. Essa descrição os mostra de um modo muito aterrorizante.
João foi buscar a sua imagem em Joel: “Eles têm a aparência de cavalos; como cavalaria, atacam galopando”
(Jl 2:4-5). A cabeça de um gafanhoto tem semelhanças com a cabeça de um cavalo. Os cavalos de guerra eram
animais atemorizantes: “É você que dá força ao cavalo ... o faz saltar como gafanhoto, espalhando terror com o
seu orgulhoso resfolegar? Ele escarva com fúria ... e sai para enfrentar as armas. Ele ri do medo e nada teme;
não recua diante da espada. ... não consegue esperar pelo toque da trombeta. Ao ouvi-lo, ele relincha: ‘Eia!’
De longe sente cheiro de combate, o brado de comando e o grito de guerra” (Jó 39:19-25). Os cavalos romanos
eram grandes e preparados para a batalha, ensinados a morder e equipados com cascos muito afiados. A
descrição diz que estavam preparados para a batalha (v.7). Os demônios estão prontos para guerrear contra seus
seguidores (Osborne 2002, 369)

15. Que descrição é dada dos gafanhotos? O que poderiam significar esses símbolos?
- agora João os descreve em detalhes
a. na cabeça algo como coroas de ouro – possivelmente indicando a coroa da vitória. A guirlanda de
folhas era colocada na cabeça dos atletas que venciam as competições, ou coroas de metais preciosos
indicando a autoridade. No Apocalipse as coroas de ouro pertencem somente àqueles que têm
autoridade de Deus. Aqui as coroas que pareciam ser de ouro (no grego) imitando a verdadeira coroa de
ouro que pertence aos seguidores de Deus. Os demônios fazem de conta que têm uma autoridade, que
na verdade não é deles. Assim como Domiciano eles terão autoridade na terra, mas não autoridade
cósmica (Osborne 2002, 369-70)
b. suas faces parecem humanas. Isso gera diversas tentativas de interpretação
i. João combinou características humanas e animais num ser sobrenatural
ii. Não há referência a um humano em Joel 1-2, mas o 3º. ser vivente (Ap 4:7) tem a face como de um
homem com palavras similares às usadas aqui. Isso poderia ser outra imitação dos seres viventes
(como da coroa acima) por estes demônios
iii. Existe uma conexão entre o rosto e a descrição do cabelo que vem logo a seguir (como cabelos de
mulher) enfatizando a conexão humana, talvez de inteligência e esperteza dessas criaturas
iv. Todas elas se encaixam no contexto e possivelmente não devemos nos restringir a uma delas.
Combinando-as temos o desejo de todos os seres demoníacos para usurpar a criação de Deus para
eles mesmos e se tornarem o clímax da criação, o lugar que pertence aos seres humanos (Osborne
2002, 370)
c. os cabelos são como os de mulher. O pano de fundo pode estar ligado com os cabelos longos dos
guerreiros da Partia. Estes tinham derrotado os romanos 2 vezes e criado uma certa paranóia nos
romanos quanto a eles. Mas também seria somente uma suposição. Talvez a melhor opção seja somente
um elemento extra para a cabeça humana como característica eventualmente imitada pelos gafanhotos
d. os dentes como os de leão. Tanto leões como gafanhotos são conhecidos por seu apetite voraz, mesmo
que aqui eles não comem as vitimas, mas somente as atormentam
e. eles têm couraças como de ferro. Os gafanhotos têm um tórax que imita uma couraça. Havia uma
tendência de proteger os cavalos de guerra com uma couraça no tórax tornando-os invencíveis numa
batalha. Essas criaturas são invencíveis
f. suas asas como barulho de muitos cavalos. Isso imita uma nuvem de gafanhotos e a metáfora da guerra.
O barulho aterrorizante de suas asas descreve uma praga de gafanhotos similar ao barulho de muitas
carruagens puxadas por cavalos. Não havia uma arma mais devastadora no mundo antigo. A conquista
da Terra Prometida por Israel se concentrou em grande parte nos montes porque os habitantes locais
tinham carros de ferro. Também outros povos investiam em carros puxados por cavalos como arma nas
batalhas
g. tinha caudas e ferrões como de escorpiões. Eles têm ferrões como instrumentos de tortura. Os demônios
sempre buscam torturar e matar (9:15) até mesmo os seus seguidores. Do ponto de vista de Deus esse
período é um curto espaço de tempo dando às pessoas a oportunidade de colher os frutos de seguir a
Satanás, de se arrependerem e glorificarem a Deus (11:13; 14:7) (Osborne 2002, 372-73)
110
16. Quem é o líder desses gafanhotos? Que ironia temos adiante sobre ele (19:20; 20:10, 14). Ele realmente
é o rei deles?
- o rei dessa nuvem de gafanhotos é o anjo do abismo, podendo ser o próprio Satanás, ou um de seus generais.
Ao que tudo indica o nome Abadom ou Apoliom era conhecido dos leitores. No Apocalipse, os reis simbolizam
os governadores terrestres que seguem a besta e atendem às suas ordens (16:14; 17:2, 10-11) em contraste com
o rei dos séculos (15:3), o rei dos reis (19:16). Esse é o único lugar onde temos um rei demoníaco que faz a
vontade de Satanás e conduz a nuvem de gafanhotos na tortura dos habitantes da terra (Osborne 2002, 373)
- o nome hebraico Abadom = destruidor, usado no Apocalipse para destruição do mundo. Existe uma certa
ironia aqui já que o destruidor logo será destruído ele mesmo (19:20; 20:10, 14). Em diversos textos do AT essa
palavra é usada para o reino dos mortos. Assim esse rei é nomeado pelo lugar onde reina – o Hades. O termo
grego Apoliom é sinônimo, mas acrescenta mais um detalhe ao todo. O nome do deus grego Apolo vem desse
termo e o gafanhoto era um de seus símbolos, já que era o deus da pestilência e da praga. Domiciano se via
como a encarnação de Apolo. Assim poderíamos ter aqui uma outra representação do culto ao imperador. Em
todo o livro o império romano é retratado como demoníaco, e esta seria uma maneira de descrevê-lo. Mas a
ênfase principal aqui é que as forças demoníacas são organizadas, poderosas, aterrorizantes e cheias de ódio e
desprezo pelos seus seguidores. Tão logo Deus permite, eles torturam e matam aqueles que rejeitaram a Deus
para adorá-los (Osborne 2002, 373-74)

17. O que nos chama a atenção na descrição da 6ª. trombeta (9:13-16)?


- estamos vendo os 3 “ais”, os julgamentos de Deus direcionados diretamente contra os seus inimigos. Mas
ainda tem mais dois “ais” que virão em breve (estes correspondem à 6ª. e 7ª. trombeta. O 6º. anjo tocou a
trombeta e João ouve uma voz dos chifres de ouro do altar na presença de Deus. Essa voz não é identificada,
mas não pode ser de Deus, já que ocorre na presença de Deus. Pode ser a voz do anjo que apresentou as orações
dos santos diante de Deus (8:3-5). Se refere ao altar de incenso e os chifres (Ex 30:1-10; 37:25) eram
protuberâncias nos 4 cantos do altar que indicavam a força e o poder de Yahweh (Osborne 2002, 377-78)
- a voz vem do altar, enfatizando a origem divina da voz. Em cada instância que ocorre a voz do altar existe
uma ligação forte com a ação do anjo relacionado com a oração dos santos em 8:3-5. O que temos aqui é o
terrível julgamento de Deus como resposta divina para a oração dos santos (6:10) que foi oferecida a Deus pelo
anjo do altar (8:3-4) pedindo por vingança. Em 8:5 o anjo dá 1ª. resposta lançando o incensário para a terra e
iniciando os julgamentos das trombetas. Aqui temos uma 2ª. resposta do anjo iniciando o estágio final
ordenando que os anjos da morte sejam soltos (Osborne 2002, 378)
- o anjo do altar dá a ordem de Deus para o anjo que tocou a trombeta. O anjo deve soltar os 4 anjos. Não
sabemos quem são esses 4 anjos, mas estão conectados com os 4 anjos de 7:1 que estavam retendo os ventos da
destruição. Mas não são os mesmos anjos já que estes estão presos ao Eufrates. Ali os ventos estavam sendo
retidos, aqui são liberados por Deus para a sua obra de destruição. O fato que estão presos pode indicar que são
demônios (Osborne 2002, 378-79)
- esses anjos estão presos do Eufrates. Em 1 Enoque os anjos da destruição se voltam para o oriente para os
medos e partas para que estes ataquem Israel. Aqui temos algo similar, pois o Eufrates é a fronteira oriental do
império romano sendo que outro lado estavam os temidos partas. Os partas haviam vencido o exército romano
em 53 AC e 62 AD e estavam buscando por oportunidades para atacar. O Eufrates também era o limite do reino
de Israel. Muitas vezes Israel foi invadido por povos que vinham a oriente do Eufrates. Assim o Eufrates passou
a ser visto como um símbolo de invasão externa. O Eufrates é secado na 6ª. taça preparando para a invasão dos
reis do oriente, outra vez montado sobre a invasão dos partas (Osborne 2002, 379)
- esses anjos foram preparados por Deus para este exato momento. Em 6:11 os mártires deveriam ter paciência e
esperar até que o número daqueles que deveriam ser mortos estivesse completo. Tanto ali como aqui a ênfase
está sobre a hora escolhida por Deus para a vindicação. Outro momento para vingar o seu sangue chegou.
Vimos em 9:7 que os gafanhotos que pareciam cavalos foram preparados para a batalha. Aqui os anjos do
castigo são preparados para uma batalha ainda mais terrível. Deus preparou o fim da história para um momento
exato (Osborne 2002, 379-80)
- os anjos são soltos para matarem ⅓ da humanidade. Os santos já foram selados e agora o julgamento vem
sobre aqueles que não tem o selo de Deus. Já vimos que na 3ª. trombeta muitos morreram e que na 5ª. as
pessoas querem morrer e não conseguem. Aqui ⅓ da população morre, mais do que 2 bilhões de pessoas. Os
efeitos dos selos foi a morte de ¼ da população. Agora isso intensifica para ⅓. O propósito dessa destruição em
massa é redentivo. É um alerta para aqueles que não morreram: eles precisam acertar as contas cm Deus ou
sofrem as conseqüências. Esse julgamento é dado sobre os habitantes da terra. Os santos são protegidos desse
julgamento (Osborne 2002, 380-81)
- imediatamente depois de soltos os anjos são transformados de alguma forma em 200 milhões de cavaleiros
fortes. Mesmo que o número possa ser uma referência para o incontável, os romanos tinham ciência do tamanho
do seu exército (125.000 soldados + um exército auxiliar com número parecido). Aqui temos uma descrição que
111
é 1.000 vezes maior. A ênfase na cavalaria era muito importante para a guerra naqueles dias. Os partas eram
conhecidos por sua habilidade na cavalaria. O leitor original seguramente deve ter pensado neles. Assim temos
uma cavalaria demoníaca invencível. Somente Deus pode restringir as mortes a ⅓ da população (Osborne 2002,
381)
- João acrescenta: eu ouvi o número, possivelmente dando ao leitor a clara idéia que não se trata apenas de algo
que ele inventou. Ele afirma claramente que viu e ouvir. Ele não inventou os detalhes (Osborne 2002, 381)

18. Que similaridades há entre a descrição dos gafanhotos acima e da cavalaria demoníaca?
- existem similaridades entre a descrição da nuvem de gafanhotos e a descrição da cavalaria demoníaca. Em
ambas a figura central do cavalo de guerra e a aparência grotesca sobrenatural do seres. Ambos são
sobrenaturais e com inclinação para atormentar e destruir com o sofrimento vindo de suas caudas.
Possivelmente tanto os cavalos como os cavaleiros tinham couraças sobre seus peitos. Os gafanhotos como
cavalos tinham couraças e aqui parece que temos uma descrição que intensifica aquela visão. Aliado a isso o
exército dos partas também usava couraças brilhantes para os cavalos e seus cavaleiros. Aqui temos couraças
vermelhas como fogo, azuis como o jacinto e amarelas como enxofre. Pode ser que as cores correspondem a
fogo, fumaça e enxofre (9:17-18) e descrevem a natureza aterrorizadora dessa cavalaria demoníaca. Seu
propósito é fogo e destruição (Osborne 2002, 382)
- os dentes dos gafanhotos eram como dentes de leão, mas as cabeças dos cavalos eram como cabeças de leão.
O seu poder está em sua boca e sua cauda. O leão arrebenta as vítimas com a boca. A figura majestosa e terrível
do leão é a imagem natural para esse exército incrível, já que era o animal mais feroz conhecido dos povos do
Mediterrâneo. Da boca dos cavalos lançavam fogo, fumaça e enxofre. Isso demonstra que realmente vêm das
profundezas do inferno. No AT, fogo, fumaça e enxofre se tornam o sinal do julgamento divino (Sl 11:6; Is
30:33; Ez 38:22) da mesma forma como Sodoma e Gomorra (Lc 17:29; Jd 7). No restante do Apocalipse,
enxofre sempre se refere ao fogo eterno do julgamento (14:10), especialmente o lago de fogo de enxofre (19:20;
20:10; 21:8), e fumaça também significa o julgamento de Deus (14:11; 18:9, 18; 19:3). Aqui o julgamento de
Deus é enviado através das hordas demoníacas que se tornaram seus instrumentos de julgamento. Existe uma
grande ironia aqui em que estes lançam fogo, fumaça e enxofre, o mesmo que vai consumi-los no fogo eterno
(19:20; 20:10). Num certo sentido isso sumariza os outros julgamentos das trombetas, pois os 3 primeiros
envolveram fogo (8:7, 8, 10), enquanto o 5º. envolveu fumaça (9:2, 3). Ao mesmo tempo temos aqui uma
imitação de Cristo, i.é., a espada que procede de sua boca em julgamento (1:16; 2:16; 19:15, 21). As hordas
demoníacas copiam o método de julgamento de Jesus. Esse é outro tema dominante no livro em que o dragão e
a besta e suas hordas demoníacas imitam a obra de Deus e do Cordeiro (Osborne 2002, 383)

19. Como os demônios atuam? Existe algum simbolismo interessante aqui? (veja Lc 10:19; Ap 12:9)
- João considera fogo, fumaça e enxofre castigos separados. João seguramente pensa na devastação causada
pelas máquinas de guerra dos seus dias e não sobre os correspondentes modernos. A devastação causada por
essa cavalaria demoníaca é muito grande já que ⅓ da população da terra morre (Osborne 2002, 383-84)
- Deus deu poder a esses demônios através de sua boca e cauda. Da boca sai fogo, enxofre e fumaça e a causa
atua como uma cobra que fere as pessoas. Parece que a cauda fere as pessoas, enquanto a boca mata. Isso seria
uma réplica da obra dos gafanhotos que ferem as pessoas com a cauda e continua o tema da cobiça demoníaca
para torturar e matar todos os que foram criados à imagem de Deus. Aqui vemos uma inversão muito
interessante. Em Lc 10:19 Jesus deu aos discípulos a autoridade para pisar cobras e escorpiões, enquanto aqui
Deus dá aos escorpiões e cobras a autoridade para ferir os habitantes da terra (Osborne 2002, 384)
- além disso, Satanás é chamado de “antiga serpente” (12:9). No Éden a serpente enganou Eva. Mesmo que o
texto não equaciona a serpente com Satanás, a literatura judaica equacionava ambos. Serpentes tinham força
demoníaca nas religiões egípcias e persas. Assim a presença da cobra na ponta da cauda que fere as pessoas era
a imagem universal da atividade demoníaca no mundo antigo. Pode até haver uma ligação com Gogue e
Magogue (Ez 38-39), pois ali também temos uma invasão externa que causa devastação terrível. Mesmo que
não haja dependência literária, essa opção é viável (Osborne 2002, 384)

20. Qual o resultado final dessas trombetas? Isso nos surpreende?


- aqui temos a conclusão da 6ª. trombeta e de toda essa seção. Cada um dos julgamentos mostrou a soberania de
Deus sobre os deuses deste mundo e demonstrou às nações que elas não podem depender das coisa do mundo,
pois estas se voltam contra eles. As alusões às pragas do Egito e ao dia do Senhor de Joel 1-2 mostram que
somente Deus tem o poder supremo e é digno de fidelidade. No entanto, a depravação humana é tão grande que
a mensagem é rejeitada. João nos diz que os humanos que não morreram por estas pragas se recusam a se
arrepender. Eles preferem adorar os ídolos que são os instrumentos das forças demoníacas que os torturam e
matam. A idolatria era um dos pontos principais das 7 cartas, especialmente o movimento dos nicolaítas que
112
envolvia participação na idolatria (2:14, 20). Isso seria um alerta claro contra aqueles que se dizem cristãos
contra essas práticas (Osborne 2002, 384-85)
- “essas pragas” possivelmente se refere ao fogo, fumaça e enxofre (8:18). Essas pragas mataram ⅓ da
humanidade, mas não conseguem levar as pessoas ao arrependimento que Deus queria que houvesse. Os
demônios demonstraram seu ódio e desprezo pelas nações, mas ao invés de buscar a misericórdia divina os
descrentes buscam outra vez os seus ídolos e práticas pecaminosas (Osborne 2002, 385)
- o termo “nem assim se arrependeu” deveria ser traduzido por “se recusam a se arrepender”. O chamado ao
arrependimento ocorre freqüentemente nas cartas onde é endereçado aos crentes que precisam acertar as suas
contas com Deus (2:5, 16, 21, 22; 3:3, 19). Ele ocorre somente em 9:20, 21; 16:9, 11 fora das cartas endereçado
para que os incrédulos se arrependam e encontrem a salvação. Um dos propósitos dos julgamentos é dar mais
uma oportunidade para a salvação das nações (esse ponto é contestado por outros estudiosos, que acham que o
arrependimento aparece no contexto da rejeição, sendo que ele somente contrasta que eles não se arrependem –
Beale, Aune, Schnabel) e para demonstrar a depravação das pessoas que rejeitam essa oferta. Eles não se
arrependem porque preferem “as obras de suas mãos” = possivelmente os ídolos que eles mesmos fizeram para
si mesmos, conforme usado no AT (Deut 4:28; 27:15; 2 Rs 19:18; Sl 115:4; Is 2:8; 17:8; Jer 1:16; Miq 5:13)
(Osborne 2002, 385-86)
- freqüentemente as Escrituras chamam idolatria de culto aos demônios. Deut 32 fala da infidelidade de Israel:
“16 Eles o deixaram com ciúmes por causa dos deuses estrangeiros, e o provocaram com os seus ídolos
abomináveis. 17 Sacrificaram a demônios que não são Deus” (Deut 32:16-17; cf. Sl 106:37). Paulo constrói
sobre isso e diz duas coisas sobre a idolatria: o ídolo não é nada em si, ou seja, não tem vida dentro e de si
mesmo (1 Co 8:4); e por outro lado “os pagãos sacrificam é oferecido aos demônios e não a Deus” (1 Co
10:20). Mesmo que o ídolo está morto, os poderes atrás da idolatria são demoníacos em sua natureza. Esse é o
paradoxo atrás da idolatria que permeia o período bíblico. De um lado os ídolos são seres sem vida feitos de
outro, prata, bronze, pedra ou madeira. Esses eram os materiais usados para fazer os ídolos. Esses ídolos
estavam por toda a parte onde João andava. Esses deuses “não podem ver, nem ouvir, nem andar”. Diversos
textos do AT mostram que apesar das bocas, eles não podem falar, etc. (Sl 115:4-7). Por outro lado, por trás
desses ídolos sem vida estão forças cósmicas de poder atemorizante, pois são subordinados aos deus deste
mundo (2 Co 4:4; Ef 2:2). Estes se voltaram contra as pessoas que os seguem. Mas as pessoas do mundo
preferem adorar aqueles que os maltrataram tão severamente a se voltar para o Deus de amor e se arrepender
(Osborne 2002, 386)
- a adoração aos ídolos de Ap 9:20 é seguida de uma descrição das ações (9:21). Essas listas eram comuns no
mundo judaico e helenista. Paulo as usa para demonstrar a depravação do mundo pagão e alertar os crentes dos
perigos de tais práticas (Rom 1:29-31; 13:13; 1 Co 5:9-11; Gal 5:19-21; Ef 4:25-32; 5:3-5). Aqui no Apocalipse
a intenção aqui e em 22:15 é enfatizar a depravação daqueles que não se arrependem e alertar os membros
covardes da igreja (21:8). A lista segue alguns dos 10 mandamentos além de falar sobre idolatria e imoralidade,
os maiores problemas do movimento dos nicolaítas (Ap 2:14. 20-22) (Osborne 2002, 386-87)
- João menciona as feitiçarias. A palavra usada era para as porções mágicas usadas nos rituais do mundo greco-
romano. Ele não usa simplesmente o termo comum para feitiçaria, mas o termo que descreve também os
apetrechos usados nessas práticas. Assim João condena não somente a prática geral da mágica, mas também o
rito em si mesmo. A mágica era um dos problemas centrais para o cristianismo primitivo. Uma vitória sobre o
paganismo ocorreu quando os livros dos mágicos foram queimados em Éfeso. Paulo coloca a idolatria e
feitiçaria juntos como atos da natureza pecaminosa (Gal 5:19-20), pois a maior parte os atos de feitiçaria
ocorriam no culto idólatra. No Apocalipse Babilônia usa a mágica para levar as nações par ao caminho errado
(Ap 18:23) e todos que a praticam serão lançados no lago de fogo (21:8; cf. 22:15). No séc. I a mágica era
baseada sobre a crença que tanto bons como maus espíritos se envolviam na vida diária das pessoas. Usando
rituais religiosos as pessoas tentavam usar os “deuses” para trabalhar por eles, dando a eles sucesso nos
negócios, esporte, relacionamentos ou curas (Osborne 2002, 387)

21. O que mais te chamou a atenção no julgamento das trombetas?


- Deus vai fazer justiça no seu tempo. Quando ele resolve agir, torna-se patente que é terrível cair nas mãos de
um Deus vivo
- justiça é um atributo de Deus que não é o seu lado negro. Faz parte do seu ser assim como os outros atributos e
não está em conflito com seu amor
- as pessoas são obstinadas e tendem a interpretar os fatos de maneira errada. Elas não conseguem enxergar que
Deus está dando uma oportunidade para elas se voltarem para Deus
113
Ap 10:1-11:19 – O 2º. Interlúdio: o recado doce e amargo para a igreja

1. Faça um resumo de algumas linhas sobre o conteúdo dessa passagem.


- um anjo poderoso traz o rolo dizendo que o fim não vai demorar
- João deve comer o livro: doce na boca (triunfo da igreja) e amargo no estômago (tribulação para os cristãos)
- João deve medir o templo, o tempo em que os cristãos serão perseguidos
- 2 testemunhas têm um ministério profético. São odiadas e ameaçadas, mas derrotam os inimigos. Finalmente
são mortas para alegria dos habitantes da terra. Depois de alguns dias ressuscitam e sobem aos céus. Segue um
terremoto na terra onde 1/10 da cidade é destruída e 1/10 dos habitantes morre (julgamento limitado, ainda)
- quando as pessoas ouvem e vêem isso, muitos se arrependem

2. Ap 10:1-11:13 é o interlúdio entre a 6ª. e 7ª. trombeta. Qual seria a função principal desse interlúdio? O
final dessa passagem nos dá uma dica mais clara de tudo isso.
- estamos diante de mais um interlúdio. Da mesma forma como o cap.7 esse interlúdio esclarece o papel dos
crentes nos eventos dos selos, trombetas e taças. Esse interlúdio tem duas partes: o comer do pequeno rolo
(10:1-11) e o ministério das 2 testemunhas (11:1-13). O tema que conecta toda essa passagem são as ações
proféticas de 10:8-10 e 11:1-2. Aqui Deus está chamando João para participar de sua atividade reveladora,
chamando-o para participar de sua missão para o mundo, a missão que as 2 testemunhas também participam em
sua atividade profética (11:3, 6, 10). O 2º. tema é o pequeno rolo (livro) no cap.10 que recapitula e continua o
tema do “rolo” do cap.5 (veja que o anjo poderoso aparece em 5:2; 10:1 assim unindo ainda mais esses
capítulos). É provável que o rolo do cap.5 e do cap.10 sejam o mesmo (Osborne 2002, 390). Segundo
Bauckham que elabora sobre o tema do testemunho profético, há 4 temas nos cap.4-9 que nos prepararam para
esse interlúdio (in Osborne 2002, 390-91):
a. Com base na soberania de Deus no cap.4, o rolo relata o estabelecimento do reino de Deus sobre a terra
b. A vitória do Cordeiro levou à constituição da igreja como “reino de sacerdotes” (5:9-10) e assim a
igreja estará envolvida no estabelecimento do reino de Deus
c. A igreja é constituída de pessoas de “todas as nações” (7:9) e é liberta do mundo através do martírio. O
cap.10 vai mostrar mais sobre esse chamado ao martírio
d. Já que os julgamentos limitados dos selos e trombetas falharam em levar a humanidade ao
arrependimento (9:20-21), o rolo vai providenciar uma estratégia mais eficiente para alcançar o mundo
Osborne acha que Bauckham exagerou no lugar do martírio nessa abordagem, já que é a igreja testemunhadora
e não somente a igreja martirizada que é vitoriosa. Mas concorda que o maior propósito desse interlúdio é a
conversão das nações. Muitos se convertem em 11:13, o único lugar nesse livro onde isso acontece (Osborne
2002, 391)
- o foco dessa passagem são os crentes, simbolizados aqui pelas 2 testemunhas. Eles testemunham e sofrem,
levando à vindicação e vitória. Em 7:1-8; 9:4 eles foram selados e protegidos dos julgamentos lançados sobre a
terra, mas em 11:7 as testemunhas são derrotadas/conquistadas pela besta (o Anticristo), o mesmo termo usado
em 13:7, onde a besta recebe permissão para vencer os santos. Assim, vemos que os crentes são protegidos da
ira de Deus, mas não da ira da besta. Mas isso não é derrota, pois o martírio é vitória nesse livro. A besta acha
que está derrotando os santos, mas na verdade ela é derrotada pelos santos, pois “diante da morte, não amaram
a própria vida” (12:11) (Osborne 2002, 391)
- vemos também que esse texto introduz a chamada grande tribulação, mencionada pelo nome somente em 7:14,
mas descrita inicialmente aqui. A grande tribulação é o período onde os cristãos serão perseguidos pelos
seguidores da besta. Também a besta aparece aqui a 1ª. vez, mesmo que a explicação vem somente mais tarde
(Osborne 2002, 391)

3. João vê um anjo poderoso. A descrição do anjo nos lembra de quem (veja Ap 1:13; 4:6)? Por que o autor o
retrata dessa maneira?
- João vê outro anjo poderoso que desce dos céus. O 1º. anjo poderoso apareceu em 5:2 perguntando quem era
digno de abrir o rolo. Existe uma ligação próxima entre os cap.5 e cap.10, pois o rolo que foi aberto
gradativamente com a abertura dos selos (6:1-8:1) agora esta aberto na mão desse anjo poderoso (é outro anjo,
não o mesmo). O 3º. anjo poderoso aparecem em 18:21 jogando uma pedra enorme no mar simbolizando a
destruição violenta da Babilônia. Os anjos descem dos céus enquanto a besta (11:7) sobe do abismo. Ambos os
anjos são seres gloriosos com a “face como o sol” iluminando toda a terra com seu esplendor (18:1) (Osborne
2002, 393). Mas quem é esse anjo. Algumas opções dos estudiosos (Osborne 2002, 393)
114
a. O anjo Gabriel baseado no paralelo em Dan 12:7 onde ele faz um juramento parecido com Ap 10:6 e
o significado do seu nome (anjo poderoso de Deus). Isso é possível, mas especulativo, já que não temos
o nome do anjo
b. Cristo por causa da similaridade de sua descrição aqui com a descrição de Cristo em 1:12-16. Mas aqui
se chama de outro anjo poderoso e não há razões muito boas para ligar essa descrição a Cristo
c. Seria o anjo que revela (Ap 1:1; 22:6) porque o rolo contem o conteúdo da revelação dada em 1:1. Isso
é possível, mas não pode ser provado
d. Outro anjo poderoso como aqueles que temos em 5:2 e 18:21. Esta a preferida de Osborne
- a descrição do anjo é a mais elaborada e majestosa de qualquer anjo no Apocalipse e é paralela à descrição de
Cristo em 1:13-16 e Deus em 4:3.
a. Ele está vestido com uma nuvem. Em 1:7 vemos que Cristo vem nas nuvens (cf. Dan 7:13; Mt 24:30;
26:64; At 1:9-11), e em 1 Ts 4:17 o crente vai se encontrar com os queridos que já partiram nas nuvens.
No AT Deus aparece nas nuvens como sinal de sua glória (Ex 16:10; Lev 16:2; 1 Rs 8:10; Ez 10:4) e o
anjo, como seu representante, também “se veste” de nuvem como sinal da presença de Deus e de suas
glória escatológica (alguns vêem essa nuvem como sinal de julgamento, pois aparece em outras
ocasiões como julgamento, mas não é provável visto que esse texto fala sobre os cristãos).
b. Tem um arco-íris sobre sua cabeça da mesma forma que Deus (4:3) tem um arco-íris ao redor do seu
trono, mas aqui o arco-íris está sobre sua cabeça, de forma parecida como uma coroa. Assim a glória de
Deus e sua misericórdia estão representados no anjo
c. Tem a face como o sol, em paralelo com Cristo, cuja face é como o sol (1:16) (veja também Mt 17:2
onde o rosto de Jesus brilhou como o sol na transfiguração). A exaltação de Cristo também é refletida
no anjo
d. Suas pernas são como colunas de fogo, da mesma forma que Cristo em 1:15. O background se encontra
na peregrinação no deserto onde Deus enviou uma coluna de fogo para guiar os israelitas de noite e uma
nuvem durante o dia (Ex 13:21). Isso não somente guiava, mas protegia e libertada o povo de Deus (Ex
14:24). Assim o anjo não significa somente glória e poder, mas também libertação para o povo de Deus.
Assim vemos que esse anjo não é Cristo, mas um mensageiro especial dele e partilha de sua glória e
missão (Osborne 2002, 393-94). Mesmo que a descrição acima se encaixa muito bem com Cristo (Beale
1999, 522-25), em nenhum lugar no Apocalipse a designação de um anjo poderoso indica que se trata
de Cristo, o que favorece a interpretação de ser um mensageiro especial dele (Osborne 2002, 406)

4. O que o anjo segura em sua mão? Poderia haver alguma similaridade com a visão de Ap 5:1 e seu
cumprimento em 6:1-8:5? Comente.
- o anjo segura um livrinho (rolo) aberto em sua mão. Os estudiosos discutem se esse rolo é o mesmo do cap.5.
A palavra aqui é o diminutivo (diferente), além de que o conteúdo do 1º. rolo é a visão de 6:1-8:5, enquanto que
o conteúdo do 2º. rolo se restringe a 11:1-13. Mas outros acham que se trata do mesmo rolo. Já que o rolo do
cap.5 apresenta o plano divino para o término dessa era e não somente os selos e o anjo com o incensário. Além
disso, o conteúdo de Ap 5:1 bem com de Ez 2:9-10 e o conteúdo de Ap 10:2-3 vem de Ez 3:1-3, ambos fazendo
parte do chamado de Ezequiel (Osborne 2002, 394-95)
- o rolo foi colocado na mão direita de Deus (cap.5) e aberto progressivamente à medida que o Cordeiro abria os
selos do cap.6 e agora está aberto na mão do anjo poderoso do cap.10. Este também contém o plano para o fim
dessa era. Agora João vai ver como esse plano está relacionado com os crentes que ainda estão sobre a terra.
Assim parece que temos uma unidade entre os 2 rolos, mas não uma unidade absoluta. Esse rolo (cap.10) é uma
porção pequena de todo rolo contendo o plano de Deus para o término da era perversa presente e a introdução
dos “novos céus e nova terra”, e descrevendo o lugar da igreja nesses eventos. Esse é o tema de 10:1-11 com os
aspectos doces e amargos desses eventos para o povo de Deus e 11:1-13, a atividade testemunhadora da igreja
durante esse tempo. Cap.6, 8-9 descrevem a relevância desses julgamentos para as nações do mundo e os 2
interlúdios (7:1-17; 10:1-11:13) descrevem sua relevância para os crentes (Osborne 2002, 395)

5. Qual é a postura do anjo poderoso? O que poderia indicar?


- o anjo, segurando o rolo coloca o pé direito sobre o mar e o esquerdo sobre a terra. Certamente os leitores
originais pensaram no Colosso de Rodes, uma das 7 maravilhas do mundo antigo, uma estátua de bronze de
35m de altura do deus Chelios (padroeiro da cidade), construída em 280 AC e destruída por um terremoto em
224 AC. Um mito popular dizia que seus pés estavam sobre 2 piers enormes que guardavam o porto, sendo que
os barcos passavam entre suas pernas. Na verdade ela estava sobre um morro de onde se tinha uma vista do
porto. O que restou da estátua ainda era visível no tempo de João. Enfatizando que tem um pé no mar e outro na
terra João quer mostrar o domínio do anjo sobre todo o mundo e a importância da mensagem do livro para todo
115
o mundo. Um conquistador colocava o seu pé sobre a terra conquistada para mostrar a sua posse sobre esta
terra. Essas pernas são como colunas de fogo (10:1) enfatizando a libertação para os crentes e o julgamento para
os incrédulos (Osborne 2002, 295-96)

6. Que descrição temos de sua voz? O que poderia indicar? Qual o resultado do brado do anjo? Por que tudo
isso deve ser selado ao invés de divulgado?
- o anjo deu um brado alto como rugido de leão. Yahweh ruge como leão (Os 11:10; Am 3:8) assim enfatizando
que o anjo poderoso fala com a voz forte de Deus. Quando o anjo grita, os 7 trovões respondem. Possivelmente
temos alusão a Sl 29 onde Deus fala como trovão 7 vezes. Nesse Salmo Deus é celebrado como tendo poder
sobre a criação, o que se encaixa aqui como senhor sobre a terra e mar. No Apocalipse o trovão ocorre no
contexto de um Deus incrível (4:5; 11:19; 14:2), a libertação do seu povo (19:6) e o julgamento dos incrédulos
(6:1; 8:5; 16:18). Aqui possivelmente temos a junção dos 3 temas. Quando João ouve os trovões ele começa a
escrever o conteúdo das visões (de acordo com a ordem de 1:11, 19). Antes que possa escrever João ouve uma
voz do céu, vinda possivelmente diretamente do trono de Deus, que tem precedência sobre os trovões. Da
mesma forma como no cap.5 João deve selar a mensagem para manter das pessoas do mundo, aqui ocorre com
a mensagem dos 7 trovões (Osborne 2002, 396-97)
- a discussão sobre esses 7 trovões é muito grande. Alguns acham que alguns julgamentos foram cancelados ou
deixados de ser revelados, ou silenciados já que não estão levando as pessoas ao arrependimento. Talvez a
melhor solução seja ver os 7 trovões, não como um julgamento específico, mas geral, de acordo com o Sl 29.
Além disso, o conteúdo poderia estar selado até o dia em que os cristãos saberão do seu conteúdo. Mas por
enquanto a igreja precisa aguardar sua vontade. Deus está no controle de tudo, e os cristãos não precisam saber
de todos os detalhes (Osborne 2002, 397-98)
- depois João repete que o anjo estava em pé sobre o mar e a terra para enfatizar a soberania de Deus. O anjo
levanta a mão direita, ação comum para um juramento. Dan 12:1-4 prediz que o fim dos tempos o verdadeiro
povo de Deus será ressuscitado para a vida eterna e os malfeitores serão ressuscitados para o castigo eterno.
Depois disso o anjo diz que Daniel deve selar o rolo até o fim dos tempos. O juramento de 12:7 (“Haverá um
tempo, tempos e meio tempo”) (= 3 anos e meio cf. Ap 12:14) é uma resposta à pergunta: quanto tempo vai
demorar até que isso tudo aconteça? (12:6). Essa pergunta vai ser respondida sempre da mesma forma: Quando
o Deus soberano escolher, acontecerá. Espere nele (Osborne 2002, 398)

7. O que Ap 10:5-7 acrescenta ao retrato que estamos vendo?


- o anjo jurou por aquele que vive para todo o sempre. No AT quem fazia esse juramento se colocava debaixo
do poder e julgamento de Yahweh, que era invocado e reconhecido como testemunha para a validade da
promessa. A eternidade de Deus é a base para a certeza de suas proclamações. Ele está no controle (Osborne
2002, 398-99)
- o juramento se baseia no Deus criador. O Deus que criou vai trazer destruição para a sua criação. O autor
enfatiza que ele criou os céus, a terra e o mar, mostrando a sua soberania sobre tudo e todos nesse mundo. Se
antes o anjo desceu do céu e tinha um pé no mar e um na terra, mostrando o seu domínio sobre eles, agora
vemos que ele criou tudo que existe nessas dimensões (Osborne 2002, 399)
- em Dan 12:5-7 a pergunta é quanto tempo ainda vai demorar. A resposta é que somente Deus sabe e depois
fala em tempo, tempos e meio tempo. Aqui afirma que não haverá mais demora, indicando que o tempo do final
dos tempos chegou e nada pode impedi-lo. A designação de 3 anos e meio aparece aqui a 1ª. vez, mas vão
aparecer com freqüência adiante do Apocalipse. Deus instigou os eventos do final dos tempos e nada pode
restringi-los (Osborne 2002, 399)
- Dan 12:5-10 pergunta quanto tempo vai durar até o fim (v.6) e qual vai ser o resultado (v.8). Um homem
vestido e linho responde que a resposta a ambas as perguntas não pode ser dada “até o tempo do fim” (v.9).
Agora esse tempo chegou. Ela também reponde à pergunta dos mártires (6:10). O tempo de espera terminou e a
vindicação dos santos sofredores está à mão (Osborne 2002, 400)
- o tempo vai ocorrer na 7ª. trombeta (11:15-19). O anjo poderoso afirma (10:7) que o fim vai ocorrer “nos dias
em que o sétimo anjo estiver para tocar sua trombeta”. Não se refere somente à volta de Cristo, mas também ao
dia de Yahweh. Isso possivelmente inclui os eventos de Ap 19-21: parousia, Armagedom, milênio, o grande
trono branco, julgamento e a descida do novo céu e nova terra (Osborne 2002, 400)
- isso ocorre quando ele estiver para tocar sua trombeta. Esses eventos ocorrem imediatamente antecedendo a
7ª. trombeta, assim se referindo à tribulação (cap.8-18). Quando isso ocorrer o mistério de Deus vai se cumprir.
Os mistérios foram escondidos no passado e agora são revelados ao povo de Deus nos últimos dias. Ao que tudo
indica são os eventos inaugurados pela 7ª. trombeta. O plano de Deus desde a fundação do mundo agora vai se
cumprir. Isso já tinha sido anunciado aos profetas, que eram escravos de Deus. Isso possivelmente se refere aos
116
profetas tanto do AT quanto do NT. Os profetas do AT receberam a mensagem do irromper do reino de
Deus, mas não entenderam quando isso poderia ocorrer (1 Pe 1:10-12) e os profetas do NT recebem a revelação
final desse mistério e aguardam a sua consumação (Osborne 2002, 400-1)

8. O anjo fala outra vez com João, comissionando-o para o seu ministério. O que João deve fazer com o rolo?
O que significa? O que essa comissão implica para o próprio João?
- depois do juramento do anjo (10:5-7) retomamos o tema do pequeno livro de 10:1-4. Isso também volta para a
conexão com Jesus pegando o rolo (5:1-8) e com a comissão de Ezequiel (Ez 3:1-3). Assim temos 2 níveis de
significado aqui. João comendo o livro significa que está recebendo a revelação para ele (como Ezequiel) e sua
própria comissão para profetizar (10:11). Ao mesmo tempo a mensagem está relacionada com o lugar da igreja
no mistério de Deus prestes a se consumar: será amargo porque envolve muito sofrimento, mas doce porque a
igreja vai triunfar (Osborne 2002, 401-2)
- em 10:4 João deveria selar o que ouviu sem escrever e agora deve levar o rolo para a mão do anjo poderoso.
Temos aqui uma progressão na revelação dos conteúdos do rolo. O rolo estava na mão do Deus entronizado no
céu (5:1); o Cordeiro toma o rolo da mão de Deus (5:7-8); O Cordeiro abre os 7 selos (6:1-14; 8:1); o anjo
poderoso trouxe o rolo para a terra onde estava aberto em sua mão (10:1-2). Agora João deve replicar a ação do
Cordeiro (5:7) tomando o livro da mão do anjo (Osborne 2002, 402)
- aqui também temos um eco da comissão de Ezequiel (Ez 2:8-3:3) e assim se torna a comissão de João. Depois
que recebeu a sua missão para uma nação rebelde (Ez 2:3-8) Ezequiel vê um rolo na palma da mão e recebe a
ordem de comer o rolo (3:1). Assim é comissionado para um ministério profético. A voz celestial diz a João
para repetir a ação de Ezequiel e toma o rolo da mão do anjo. Aqui a ênfase está sobre o rolo que está aberto na
mão do anjo, implicando que a mensagem agora está aberta para a igreja. O plano de Deus para a consumação
deste mundo agora foi revelado através do ministério profético de João que escreve essas visões (Osborne 2002,
402)
- depois disso pela 3ª. vez somos lembrados que o anjo está parado sobre o mar e sobre a terra. Nas 2 aparições
anteriores o anjo simbolizava o domínio de Deus sobre o mundo e essa idéia continua aqui. Deus é soberano e
onipotente sobre o mundo e a revelação do papel da igreja nesse drama escatológico é parte de seu controle
soberano sobre estes eventos (Osborne 2002, 402-3)
- João reponde imediatamente (10:9). Ele vai até o anjo e pede pelo rolo. João toma o rolo e recebe a ordem de
tomar o rolo e comê-lo. A idéia de consumir a palavra de Deus ocorre freqüentemente no AT: “Como são doces
para o meu paladar as tuas palavras! Mais que o mel para a minha boca!” (Sl 119:103; cf. Sl 19:10; Prov
24:13-14); “Quando as tuas palavras foram encontradas, eu as comi; elas são a minha alegria e o meu júbilo”
(Jer 15:16). Assim, comer o rolo significa tomar a mensagem a sério para internalizar a profecia e fazê-la
trabalhar na própria vida. Isso segue o modelo da ação de Ezequiel de forma muito próxima. Em Ez 3:2-3 ele
deve comer o rolo que recebeu daquele que tinha “a aparência da figura da glória do SENHOR” (1:28),
implicando sua comissão para profetizar a mensagem de Deus. Aqui João é comissionado a proclamar o
conteúdo do pequeno rolo (Osborne 2002, 403)
- ele é lembrado que quando consumir o livro este será amargo em seu estômago e doce como o mel em sua
boca. Ezequiel descobriu que o livro era doce como o mel (Ez 3:3), mas não se faz menção de que fosse
amargo. Mas o rolo em si contém “palavras de lamento, pranto e ais” (Ez 2:10) e Deus falou a ele que sua
mensagem seria rejeitada (Ez 3:4-7) deixando assim “com o meu espírito cheio de amargura e de ira” (Ez
3:14). Esse mesmo verbo é usado em Ap 8:11 quando as águas se tornam amargas ou envenenadas por causa do
absinto, sendo que é uma metáfora muito forte aqui. Fala de uma experiência muito amarga e extremamente
dolorosa (Osborne 2002, 403)
- o alerta se cumpre na vida de João (Ap 10:10). Existe grande discussão com relação ao doce e amargo nesse
contexto. Beale acha que é doce por ser a palavra de Deus, mas amarga porque é uma mensagem de julgamento
(Beale 1999, 552), ou porque envolve rejeição de alguma forma como experimentadas por Ezequiel e Jeremias
(Swete in Osborne 2002, 403). Essa interpretação é muito ampla. É melhor ver aqui que as duas reações ao rolo
não se limitam a João somente. A chave está em lembrar que o contexto do interlúdio em 10:1-1:13 envolve a
igreja de maneira intensa. É doce porque a soberania de Deus sempre beneficia o seu povo: eles serão
vindicados e recompensados por seus sacrifícios. Eles podem saber que Deus está no comando e nada pode
acontecer sem que ele o saiba e que seja a sua vontade. É amarga porque envolve grande sofrimento e
perseguição, até martírio para os santos (6:9-11). Da mesma forma como em 1 Pedro o sofrimento é o caminho
para a glória (1 Pe 1:11; 4:1, 12-19) (Osborne 2002, 403-4)
117
9. Em 10:11 João é comissionado a profetizar para as nações. O que ele deve profetizar? Que elementos
estariam incluídos nesse ministério?
- depois dessa ação parabólica, João recebe diretamente a comissão para profetizar (10:11). De forma
interessante a ordem não vem de um dos seres angelicais, mas ocorre no plural: eles dizem (não aparece no
português – foi dito). Poderia ser o anjo poderoso (10:1-3, 5-7) e a voz celestial (10:4, 8), mas possivelmente é
um plural indefinido se referindo a Deus como a fonte da comissão. João precisa profetizar de novo. Esse
ministério é necessário, dada a importância da mensagem: Deus a ordenou. Deus já tinha dado ordens antes para
que profetizasse. Em 1:11, 19 ele é comissionado a escrever o que vê e o que vai ocorrer mais tarde. Depois em
4:1 ele é chamado para o céu para que seja mostrado o que vai acontecer depois disso. A comissão para
profetizar de novo é construída sobre essas ordens e assim é recomissionado para o ministério profético. João é
lembrado por Deus de seu ministério com base nessas visões e se relaciona em especial ao restante do livro
(cap.12-22). Com base no que Deus vai revelar a ele, João precisa de força que receberia por saber que sua
comissão é paralela com a de Ezequiel (Osborne 2002, 404)
- é necessário que profetize “profetize de novo acerca de muitos povos, nações, línguas e reis”. Se for traduzido
como “acerca” = temos uma mensagem positiva endereçada à igreja em sua missão às nações. Se for traduzida
“contra” se torna uma mensagem de julgamento contra elas. Se olharmos para o texto de 11:3-6 temos o
ministério de julgamento das 2 testemunhas (Osborne 2002, 404). Além disso, na LXX essa palavra aparece de
forma predominante no contexto do julgamento (Beale 1999, 554). Schnabel acha que a lista das nações olha
para 11:1-14 onde elas são julgadas (11:9). Mas também existe o aspecto positivo ressaltado por Bauckham. A
expressão “povos, nações, línguas e reis” aparece 7 vezes no Apocalipse. Em 5:9; 7:9 se refere aos cristãos que
foram convertidos nas nações. Do cap.11 em diante se referem à lista das nações em rebelião contra Deus e seu
povo (11:9; 13:7; 17:15), mas mesmo assim objetos da missão redentora (14:6). Como uma transição de 10:1-10
até 11:1-13 a lista aqui poderia olhar para a igreja em sua missão profética de sofrimento para o mundo. Parece
que a tradução “acerca” é melhor, mas precisa englobar tanto o aspecto positivo como o negativo. Advertência e
testemunho não são categorias exclusivas no ministério profético. Tanto 11:1-13 como cap.12-18 contém
julgamentos e chamados ao arrependimento. O julgamento das trombetas usa o julgamento para chamar pessoas
ao arrependimento. Assim o ministério profético de João possivelmente contém os 2 elementos mesmo que o
elemento do julgamento é predominante nos selos, trombetas e taças (Osborne 2002, 405)
- esse texto também menciona que são “muitas” nações, possivelmente fazendo alusão ao testemunho universal
nesse contexto. Seria um termo para descrever as multidões incontáveis (5:11; 8:11; 9:9). Aqui parece se referir
ao povo que não pode ser contado que deve ser advertido e desafiado pelo ministério profético de João e de sua
igreja. Essa lista também contém reis, uma referência provável dada a presença dos “reis da terra” em 6:15;
16:14; 17:10-11 como governantes das nações e perseguidores dos crentes (Osborne 2002, 405)

10. João agora recebe uma vara para medir. O que ele deve/não deve medir? O que poderia significar?
- no início do cap.11 João recebe (edothe = foi dado) uma vara de medir, um caniço oco leve que era reto, usado
freqüentemente para medir o comprimento de objetos. Tinha quase 3 metros de comprimento. Possivelmente
recebe essa vara de Deus e de Cristo, já que ambos agem em comunhão no livro. João deve medir o templo os
objetos ao redor. Isso é muito similar à visão de Ezequiel 40:3, 5 que deve medir o templo. Pela 2ª. vez (10:8-
10) João deve recriar uma das visões de Ezequiel. Em Ez 40-42 medir o templo significa a posse e proteção de
Deus do seu povo. Deus está presente com seu povo e eles pertencem a ele. Da mesma forma em Zac 2:1-5 um
homem com uma linha de medir vai medir Jerusalém para mostrar a proteção de Deus da cidade santa. Assim
sendo, Deus vai restaurar o templo para o seu povo (Osborne 2002, 409). Há diversas hipóteses para o
significado dessa medição:
a. Reconstruir ou restaurar a igreja (cf. Ez 40:3-5). Essa visão é possível, mas não parece ser a ênfase
desse texto
b. Destruição dos apóstatas (Am 7:7-9). Improvável, pois esse contexto trata de uma perseguição dos
gentios e não um julgamento de Deus.
c. Preservação do povo de Deus de danos físicos. Problemático porque em 11:2 os gentios têm permissão
para perseguir os cristãos
d. Preservação dos santos de danos espirituais. É a preservação dos crentes durante a grade perseguição
(Osborne 2002, 409-10)
- João deve medir 3 coisas: o templo, o altar, e os adoradores que lá estiverem
a. O templo. Se refere à construção e não toda a área do templo. Mas no Apocalipse tem a conotação do
templo celestial e não o templo terreno. Assim possivelmente temos a medição do templo celestial aqui
b. O altar. Deve se referir ao altar de incenso (6:9; 8:3) (Osborne) ou o altar do holocausto apontando para
os mártires que se sacrificaram para a glória de Deus (Beale). Mas o altar celestial combina tanto a
imagem das ofertas queimadas (6:9) como a imagem do incenso (8:3). Pode ser que João esteja
118
juntando as 2 imagens. A combinação de templo e altar possivelmente se refere ao santuário interior
ao invés de todas as construções da área do templo. A grande discussão é se devemos ver isso
literalmente como uma reconstrução do templo nos últimos dias ou de modo figurado para a igreja
nesse período final ou por toda a história da igreja. Já que a imagem do templo é celestial em todo o
livro devemos ver aqui de forma primária os santos dos últimos dias, mas de modo secundário a igreja
em todas as épocas. Muitas vezes no NT o templo significa a igreja (cf. 1 Co 3:16-17; 2 Co 6:16; Ef
2:19-22; Hb 3:6; 1 Pe 2:5)
c. Os adoradores presentes. Se refere aos crentes individuais na igreja. Quando são medidos, são
identificados como pertencendo a Deus e debaixo de sua proteção. Isso retrata os crentes dentro da área
do templo/igreja adorando a Deus e vencendo o mundo (veja cap.2-3). Eles não tem parte com o
mundo, mas o “conquistam/vencem” “pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho que
deram”. Mas devemos entender o que significa essa proteção. Em 6:9-11 muitos serão martirizados e
em 13:7 que Deus dará à besta “poder para guerrear contra os santos e vencê-los”. Assim fica claro
que Deus protegerá os crentes não do mal físico, mas do mal espiritual. Essa é a conotação dos
paralelos com relação à proteção de Deus sobre o seu povo (3:10; 7:3-4; 9:4; 12:6. 14, 16) (Osborne
2002, 410-11). Isso mantém o padrão do cumprimento de Ez 40-42 onde a medição protegeu o templo
da abominação da adoração idólatra do templo. Aqui significa que Deus vai proteger seu povo da
contaminação com influências idólatras (um problema sério dada a seita dos nicolaítas; cf. 2:2; 6, 14-
15. 20-24). Mesmo que a igreja sofrerá perseguições terríveis nas mãos dos inimigos (11:2; 6:9-11),
Deus vai estar com os “vencedores” e estes sairão dessa de forma vitoriosa. A vitória é vista como
paralela a 21:15-21, onde o anjo mede a Nova Jerusalém – a cidade, seus portões e suas muralhas. No
cap.21 não se exclui o pátio externo, já que o tempo da perseguição passou e Deus estará presente com
seu povo por toda a eternidade. Assim essa medição aqui é uma antecipação profética da vitória final da
igreja (Osborne 2002, 411-12)
- esse é o significado de excluir o pátio exterior. O termo usado é forte, de expulsar algo. Possivelmente se trata
do pátio dos gentios. O templo de Salomão tinha o pátio interno e o pátio externo. O templo de Herodes dividiu
o pátio interno em pátio dos sacerdotes, dos homens israelitas, e das mulheres israelitas. Um pórtico separava os
3 do pátio dos gentios onde havia uma placa avisando que qualquer gentio que ultrapassasse essa porta seria
morto. Logo a imagem aqui pode ter sido construída sobre os gentios que tinham acesso somente ao pátio
externo. Eles eram incentivados a adorar a Deus ali, mas como eram impuros, não podiam entrar a área do
templo. Assim João não deve medir essa área. O pátio externo aqui deve simbolizar os crentes que são
perseguidos. Toda a área do templo, incluindo o pátio externo era considerado terreno sagrado que pertence a
Deus. Aqui o pátio externo significa que a igreja é entregue aos gentios/às nações por um tempo (Osborne 2002,
412)
- por outro lado João pode ter em mente o templo de Ezequiel onde o pátio interno não estava dividido. Talvez
essa seja ainda mais próxima, já que tanto o pátio interno como externo foram medidos. A mensagem é a
mesma. A parte interna tem a proteção de Deus enquanto o pátio externo que é entregue para os gentios que
a pisam por 42 meses, já que é possível que a cidade santa também seja a representação do povo de Deus. A
mão de Deus está sobre seus seguidores, mas ele os entregou nas mãos dos pecadores por um tempo (paralelo
de Cristo em Mc 9:31). A figura é de um exército que passa por uma cidade conquistada. Eles não tomam
cuidado com nada e se aproveitam e abusam da cidade. Os crentes vão sofrer muito, mas por causa da mão de
Deus que os protege eles sairão vencedores. Deus está no controle e assim como em 3:10; 7:3-4 selou os crentes
como seus. Os poderes do mal podem vencê-los fisicamente, mas Satanás será vencido por eles no sentido
espiritual que é o mais importante (12:11). Isso será exemplificado pelas 2 testemunhas (11:3-13), que são
mortos pela besta e mesmo assim ressurgem como vitoriosos (Osborne 2002, 412-13)
- por trás desse texto temos a influência de Dan 8:11-14 sobre a imagem de Deus dando o pátio externo para
aqueles que o pisam. Na visão de Daniel o pequeno chifre pisa as hostes do céu (possivelmente os seguidores de
Deus, Dan 8:9-10) e depois por causa da rebelião de Israel, Deus entrega o santuário e o sacrifício para ele
(8:11-12), seguido a pergunta “quanto tempo” similar a 12:6 (8:13-14). Acrescentando Zac 12:3 que fala das
nações pisando Jerusalém à alusão de Daniel (Dan 8:11-14 e Zac 12:3 podem também estar por trás de Lc 21:24
onde Jerusalém será pisado pelos gentios até que se cumpra o tempo dos gentios – que é paralelo de Ap 11:2),
João pode estar vendo isso como uma indicação extra do conteúdo do rolo (10:5-10). O aspecto doce do rolo se
refere a 11:1 onde Deus está presente com seu povo (o santuário) e os protege (através de sua medição) e a parte
amarga do rolo se refere a 11:2 onde Deus permite que as nações pisem o seu povo por um tempo (Osborne
2002, 413)
- os 42 meses é uma das maneiras de expressar os 3 anos e meio no Apocalipse (1260 dias que usa um tempo
idealizado de meses de 30 dias de Ap 11:3; 12:6. Dan 12:11 tem o tempo correto de 1290 dias). Daniel não usa
a expressão de 42 meses o que possivelmente faz alusão a outros textos do AT, à seca de 3 anos e meio no
tempo de Elias (1 Rs 17:11ss; 18:1; cf. Lc 4:25; Tg 5:17) e a peregrinação no deserto (com 42 acampamentos).
119
Ambas as histórias do AT simbolizam um tempo de tribulação e julgamentos e isso se encaixa com o uso em
Daniel. Se refere a um tempo limitado em que Deus permite que o Anticristo e seus seguidores triunfem (Ap
13:5-8) e o povo de Deus é perseguido e martirizado. Alguns acham que esse período seria o período entre as 2
vindas de Cristo, mas Osborne crê que se trata do período final dos julgamentos escatológicos (Osborne 2002,
414)
- os 3 anos e meio são um tempo limitado que está debaixo do controle de Deus de acordo com Mt 24:22 “Se
aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria; mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão
abreviados”. Esse período está ligado com a última metade da semana 70 (Dan 9:27) o que comumente se
chama de grande tribulação. Se trata de um tempo de perseguição violenta e proteção espiritual e testemunho
dos cristãos (Osborne 2002, 414-15)

11. Depois disso o texto fala em duas testemunhas. Quem poderiam ser as testemunhas? O que fazem?
- em 10:1-11 a igreja é avisada que vai sofrer de modo muito intenso (rolo amargo), mas vai emergir de forma
triunfante (rolo doce). Em 11:1-2 a igreja é lembrada que pertence a Deus e será protegida por ele (através da
medição do santuário = igreja), mas que Deus permitira que as nações pisem o povo de Deus por um tempo
curto (11:2). Vemos essa combinação de vitória e derrota sendo demonstrada no ministério das 2 testemunhas
(11:3-13). As sugestões na história têm sido diversas (Ford in Osborne 2002, 417):
a. Enoque e Elias (Hipólito, Tertuliano e quase todos os pais da igreja depois deles)
b. Jeremias e Elias (Victorino)
c. Tiago, o bispo de Jerusalém e o apóstolo João (Bacon)
d. Duas testemunhas cristãs martirizadas por Tito
e. Pedro e Paulo martirizados por Nero
f. Dois profetas individuais modelados por Josué e Zorobabel
g. As duas oliveiras de Zac 4:1-2 ligados com o Messias sacerdotal (Arão) e com o Messias leigo (Israel
de Qumran)
h. A igreja testemunhadora da mesma forma como o altar, o pátio externo, e a Cidade Santa de 11:1-2.
- já que se encontra o interlúdio (10:1-11:13) torna mais provável que se trata da igreja sofredora e triunfante
(como em 10:8-10; 11:1-2). Temos diversas razões para identificar as testemunhas com a igreja
a. Os 2 candelabros (11:4) seriam 2 igrejas (1:20)
b. A besta que os vence (11:7) aponta para Dan 7:21 e a nação de Israel (= a igreja)
c. Em 11:9-13 toda a igreja vê a derrota e ressurreição das testemunhas e no contexto do séc. I isso
significa que se encontram em todo o mundo
d. Os 1260 dias ligam essa testemunha profética com as experiências da igreja em 11:2
e. O testemunho é paralelo à igreja testemunhadora em outras partes do livro (6:9; 12:11, 17; 19:10;
20:4)
f. Ambas as testemunhas funcionam como Moisés e Elias, assim a ênfase não está sobre o indivíduo,
mas sobre o grupo (Beale 1999, 574-75)
- a natureza simbólica aponta para a igreja testemunhadora, mas não podemos descartar a aparição de 2 profetas
no final dos tempos (Osborne 2002, 418)
- as 2 testemunhas recebem poder para profetizar durante 3 anos e meio, possivelmente de Deus.
a. Deus dá a elas a capacidade de testemunhar e realizar grandes milagres durante esse tempo. A igreja é
dada para ser pisada pelas nações. Ao mesmo tempo Deus dá para a igreja (= as testemunhas como
símbolo da igreja) autoridade para sair vitoriosa através do seu testemunho em meio ao sofrimento
(11:3).
b. Toda a idéia do testemunho é construída sobre o modelo de Jesus como “testemunha fiel” (1:5; 3:14) e
a igreja testemunhando tanto verbal (12:11; 17:6) e perseverando nesses tempos difíceis (6:9; 20:4)
c. São 2 testemunhas porque o Deuteronômio exige isso (Deut 17:6; 19:15; cf. Num 35:30). Assim o seu
ministério é legal provando a culpa do mundo diante de Deus (em paralelo com o ministério judicial do
Espírito Santo em Jo 16:8-11) (Osborne 2002, 419-20)
- essas testemunhas profetizarão por 1260 dias, uma variante dos 42 meses. Nesse sentido seu ministério não
tem a conotação do tempo entre as vindas de Jesus, mas um período no final na história quando o Anticristo vai
“vencer” a igreja (13:7) e ser “vencido” pela igreja (12:11). Vemos que o seu testemunho é acompanhado de um
ministério profético. Já que está ligado intimamente com a ordem de João para profetizar, precisamos entendê-
lo nesse contexto. É mais do que simplesmente proclamar o evangelho. Possivelmente eles proclamam às
nações a mensagem de Deus para os últimos dias (cf. 10:10) construída sobre o pequeno rolo do cap.10.
(Osborne 2002, 420)
120
12. O que a vestimenta das testemunhas diz acerca de sua mensagem? Pense em personagens que se
vestiram dessa forma.
- as testemunhas estão vestidas de pano de saco, uma ação profética parecida com a de Elias (2 Rs 1:8) e João
Batista (Mc 1:6). Tanto no AT (Jl 1:8; Am 8:10) como no NT, pano de saco significa lamento pelo pecado da
nação e julgamento que vai resultar (veja também Ap 6:12, onde o sol se torna negro como saco de crina).
Também é possível que o pano de saco seja um chamado para lamentar o pecado, como ocorre às vezes no AT.
Em Jon 3:5-9 todos os ninivitas, incluindo o rei vestiram pano de saco para indicar o seu arrependimento e sua
promessa de abandonar os maus caminhos. Diante do ministério de julgamento da parte das testemunhas (11:3-
6) e do fato de que muitos habitantes da terra se arrependem (11:13), ambos os aspectos estão presentes aqui.
Isso também este em paralelo com João Batista, cujo ministério foi primariamente de arrependimento. Isso
significa que nesse período final as 2 testemunhas (e a igreja) não se escondem da besta e seus seguidores, mas
se envolvem em pregação sem temor envolvendo um chamado para que as nações se arrependam (Osborne
2002, 420)
- depois João identifica as testemunhas (11:4) com as imagens tiradas de Zac 4:2-6, onde Zacarias recebe uma
visão de um “um candelabro de ouro maciço, com um recipiente para azeite na parte superior e sete lâmpadas
e sete canos para as lâmpadas. 3 Há também duas oliveiras junto ao recipiente, uma à direita e outra à
esquerda” (Zac 4:2-3). Na visão de Zacarias o candelabro é o templo, e as 7 estrelas sobre ela são “os olhos do
SENHOR, que sondam toda a terra” (4:10, com base no v.6 [“não por força nem por violência, mas pelo meu
Espírito”], possivelmente uma referência ao Espírito de Deus); e as 2 oliveiras se referem à “são os dois homens
que foram ungidos para servir ao Soberano de toda a terra” (4:14), i.é., a Josué o sumo sacerdote e a Zorobabel
o governador. A mensagem como um todo era que Deus estava encarregado de reconstruir o templo e seu
Espírito iria derrotar seus oponentes (através de Zorobabel o Espírito iria “nivelar” a montanha poderosa [4:7],
possivelmente a oposição descrita em Esd 4-5) e guiar os 2 líderes para completar a tarefa. Assim, aqui também,
João quer que o leitor tire de Zacarias o background que o Espírito Santo como os olhos do Senhor estão sobre
as 2 testemunhas/igreja e que os oponentes serão “nivelados”. Note que Zac 4:2-3 foi importante para
interpretarmos os 7 espíritos (Ap 1:4; 3:1; 4:5; 5:6) como o Espírito sétuplo de Deus. Assim a presença do
Espírito é provável aqui (Osborne 2002, 420-21)
- João reinterpreta as imagens, fazendo um candelabro se tornar 2 e ligando ambos com as 2 testemunhas. As 2
oliveiras podem retratar as testemunhas/igreja em sua função sacerdotal (Josué) e real (Zorobabel). Em 1:6;
5:10; 20:6 a igreja é descrita como “um reino de sacerdotes”. Em Ap 1:20 e nas 7 cartas o candelabro se refere
às 7 igrejas. As oliveiras também poderiam representar a unção e comissão oficial para estes profetas. Os
candelabros são as 2 testemunhas que representam a igreja. É significativo que elas “permanecem diante do
Senhor da terra”. O Senhor da terra vai cuidar delas já que controla tudo o que acontece. Já que a imagem é
pega de Zac 4:1-14 João poderia estar ligando as 2 testemunhas com o trabalho do Espírito Santo. É no poder
do Espírito que as testemunhas exercem seu testemunho profético no mundo (Osborne 2002, 421-22)

13. Ap 11:5-6 nos lembram de personagens do AT com as características das duas testemunhas. Você consegue
identificá-los?
- essas testemunhas que diante de Deus são sacerdotes e reis nesse período final da história da humanidade
agora iniciam (11:5) seu ministério profético de proclamação (função sacerdotal) e julgamento (função real). A
mão de Deus está sobre eles e mais uma vez (cf. 3:10; 7:3-4; 9:4, 20; 11:1) podemos ver a sua proteção sobre o
seu povo. Três cenas que restabelecem os ministérios proféticos de Elias e Moisés demonstram isso (11:5-6). Os
habitantes da terra vão tentar matá-los assim como fizeram com os mártires (6:9-11). Mais uma vez vemos a
soberania de Deus e os princípios da lex talionis toma conta. Aqueles que tentam matar as testemunhas são
mortos por eles pelo fogo que sai da boca deles e os devora. Até que o seu ministério seja completo Deus não
permite que ninguém os faça mal (veja a similaridade com a “hora” do destino de Jesus em Jo 7:30; 8:20). A
cena de fogo destruindo os inimigos é uma alusão a 2 Rs 1 no conflito entre Elias e os soldados de rei Acazias.
Acazias mandou 2 agrupamentos de 50 soldados para trazer Elias e este invocou o fogo dos céus sobre os
soldados que foram consumidos. O 3º. capitão caiu aos pés diante de Elias e assim Elias foi e condenou
Acazias, quem Deus matou por causa de sua idolatria. Aqui o fogo não vem do céu, mas da boca das
testemunhas. Segundo Aune isso é uma metáfora para a proclamação da Palavra de Deus numa situação de
repreensão e julgamento (Jer 5:14) (Osborne 2002, 422)
- provavelmente temos aqui um paralelo com a “espada afiada de 2 gumes” que “procede” (o mesmo termo
usado aqui) da boca de Jesus (1:16) e falou da proclamação de Jesus sobre o julgamento. Aqui o fogo que sai da
boca possivelmente significa a proclamação de julgamento sobre os habitantes da terra. Essa palavra de fogo
consome os culpados (Jer 5:14; cf. Sl 39:3). 4 Esd 13:10 descreve um homem do mar cuspindo de sua boca um
fato de fogo e de sua língua uma tempestade de faíscas. Nesse sentido o fogo pode também pressupor o
julgamento de fogo vindouro (Ap 20:11-14). Assim aqui temos uma lex talionis literal (na seca e na prega que
121
seguem) e simbólica (proclamação do julgamento) acrescentada a essa visão. Os mártires (6:9-11)
receberam a promessa que seus sofrimentos seriam vingados. A resposta de Deus à sua oração imprecatória
ocorre em diversos estágios no livro:
a. Logo após a abertura do 6º. selo quando os sinais cósmicos levam os habitantes da terra a pedir que os
montes os cubram da ira de Deus e do Cordeiro (6:15-17)
b. As orações dos santos chegam até Deus (8:3-5) e o levam a lançar os julgamentos das trombetas sobre
os incrédulos
c. As 2 testemunhas executam o julgamento divino sobre os inimigos de Deus e do seu povo (11:5; ver
também 16:5-7) (Osborne 2002, 422-23)
- “se alguém quiser causar dano às testemunhas” parece indicar que se eles quiserem fazer mal às testemunhas
serão mortos. Esse julgamento não procede das testemunhas, mas de Deus (Osborne 2002, 423)
- os próximos 2 julgamentos são pragas paralelas às trombetas e taças, seguindo o padrão de céus, águas e terra
nos primeiros 4 julgamentos de cada. É possível que tenhamos aqui a transformação dos julgamentos das
trombetas onde as 2 testemunhas se tornam os cumpridores dos julgamentos divinos. A história de Elias
fechando os céus (1 Rs 17-18) é a base para a estiagem que ocorre durante o tempo que profetizam. 1 Rs 18:1
nos diz que foram 3 anos, mas a tradição judaica representava isso como 3 anos e meio para manter a imagem
apocalíptica de Dan 9:27; 12:7 (cf. Lc 4:25; Tg 5:17) e isso se encaixa com os 1260 dias de Ap 11:3. Em 1 Rs
17 a situação era a idolatria de Israel sob liderança de Acabe que leva ao julgamento, o que poderia ser um
paralelo aqui para a idolatria de Ap 9:20-21 (Osborne 2002, 423)
- da mesma forma como Moisés, as testemunhas podem transformar água em sangue (1ª. praga – Ex 7:20-21) e
da mesma forma na 2ª. trombeta (Ap 8:8) e a 2ª. e 3ª. taça (16:3-4). Para os romanos a água (assim como para
os egípcios no tempo de Moisés) era o símbolo da vida. Para os romanos, as rotas marítimas eram o sangue da
vida do império. Assim a água se tornando sangue significaria que a vida seria trocada pela morte. Finalmente
todas as pragas egípcias são replicadas já que as 2 testemunhas têm o poder de Deus para “ferir a terra com
toda sorte de pragas, quantas vezes desejarem” (11:6). Isso funciona virtualmente como o sumário das
primeiras 4 trombetas e taças, também chamada de praga (cf. 9:18, 20; 16:9, 21). Da mesma forma como as
pragas do Egito provaram que os deuses dos egípcios não tinham poder, aqui as pragas provam que as forças
demoníacas e os deuses terrenos não têm poder e somente Yahweh controla as forças da natureza. Deus e seus
agentes são soberanos e toda oposição é fútil além do que Deus permite (Osborne 2002, 423-24)

14. O que ocorre depois do tempo determinado para o ministério profético das duas testemunhas?
- depois de 3 anos e meio as testemunhas terminaram com seu testemunho e agora Deus permite que as forças
do mal triunfem por um tempo. Isso se refere aos mártires que perderam as suas vidas por causa do seu
testemunho (6:9). É o seu testemunho que trouxe julgamento sobre seus perseguidores. Deus não vai permitir
que Satanás tenha esse pequeno triunfo até que o seu testemunho (e o testemunho da igreja) seja completo
(similar à espera até que o número dos mártires seja completado, 6:11). Isso também mostra que o seu
ministério profético tem 2 aspectos: testemunho e julgamento. A tarefa das 2 testemunhas (igreja) durante esse
período da história é manter o seu testemunho mesmo durante a perseguição terrível. Assim eles mantêm a
perseverança “conquistadora” e o testemunho mesmo diante da morte (cf. 12:11) (Osborne 2002, 424)
- quando sua função terminou Deus permite que a besta os ataque e os mate. A besta ainda não apareceu no
livro, e João provavelmente quer que eles a interpretem como o Anticristo (Ap 13:1), indicando que seria aquele
que sobe do Abismo; a origem da praga de gafanhotos (9:3-4) e a morada do anjo do Abismo (9:11). No
mínimo, a besta é uma figura demoníaca. A besta vai guerrear contra as testemunhas, possivelmente falando da
besta de 10 chifres e do pequeno chifre de Dan 7:7-12 que guerreia contra o povo de Deus. Em Daniel a besta
sobe do mar e luta contra os santos e os vence (Dan 7:21). As 4 bestas de Daniel 7 profetizam de 4 impérios que
dominariam o povo judeu no período intertestamentário: Babilônia, Medo-persa, Grécia e Roma, culminando no
pequeno chifre que seria Antíoco Epifânio que em 167 AC forçou os judeus a sacrificarem aos deuses gregos e
ele mesmo sacrificou um porco no altar do templo (essa figura representando o Anticristo aparece em Ap 13).
Em Dan 7:21-25 o pequeno chifre irá lutar contra os santos e vencê-los (7:21) e falar contra o Altíssimo e
oprimi-los (7:25). Deus vai entregar os santos nas mãos dele por um tempo, tempos e meio tempo (7:25)
(Osborne 2002, 424-25)
- em Ap 11:7 temos a re-encenação da cena de Daniel onde a besta não somente guerreia contra os santos, mas
os vence e mata. Essa linguagem se repete em 13:7 onde a besta guerreia e vence os santos, mas somente o faz
porque Deus permite (outra vez pegando o gancho com Dan 7:21, 25). Aqui se trata do martírio descrito em 6:9
e a besta terá o seu momento de triunfo. O tema de guerrear aparece muitas vezes no Apocalipse, mas sempre
mostra a futilidade dessas ações de rebelião contra Deus e o seu povo. Na verdade não existe uma guerra final,
mas um último ato de rebelião/desafio da parte de um inimigo que já foi vencido e a morte dos santos, na
verdade, é a sua vitória sobre Satanás (12:11). O martírio passa a ser um privilégio, dados os “ais” messiânicos
122
dos últimos dias (veja Ap 6:9-11). Em seu sofrimento e morte, as testemunhas (os crentes) replicam a paixão
de Jesus e se juntam na comunhão de seus sofrimentos (Fp 3:10). Na verdade é isso que transforma a rejeição
(9:20-21) em arrependimento (11:13) (Osborne 2002, 425-26)

15. Além de matar as testemunhas, quais as ações da besta e de seus seguidores? O que isso mostra?
- depois que a besta matou as testemunhas, seus cadáveres ficam expostos são deixados na rua da grande cidade.
Recusar o sepultamento dos mortos era um insulto muito grande no mundo antigo. Isso enfatiza o desprezo e
zombaria sobre as testemunhas depois que são martirizados. A grande cidade no Apocalipse praticamente
sempre se refere à Roma = Babilônia, mas aqui possivelmente se trata de Jerusalém, já que 11:8 a descreve
como o local onde Cristo foi crucificado e em 11:13 a população da cidade era de 70.000, que corresponde a
Jerusalém e não Roma. Pode até ser que Roma e Jerusalém estejam combinadas simbolicamente como a capital
do novo império incrédulo liderado pelo Anticristo. Na verdade qualquer cidade se trata de qualquer local que
troca a dependência do Criador por auto-suficiência, arrependimento por sucesso, fé por opressão, o Cordeiro
pela besta e testemunho de Deus em favor de assassinato (Osborne 2002, 426-27)

16. Onde ocorrem estas atrocidades? O que João quer nos dizer com essa descrição da cidade?
- espiritualmente (e não somente figuradamente) se trata de Sodoma e Egito, apontando para a natureza
espiritual da situação. Aqueles que têm discernimento espiritual vão perceber o que está querendo dizer.
Bauckham e Aune traduzem como profeticamente, indicando que o Espírito da profecia está falando com a
igreja através dessa imagem. Jerusalém é ligada com Sodoma em (Is 1:9-10, os líderes de Jerusalém são
chamados de líderes de Sodoma); Jer 23:14 (são como Sodoma para Deus e sua incredulidade); Ez 16:46-49
(Jerusalém é como sua irmã, Sodoma). Jerusalém é como Sodoma em sua depravação e rebelião contra Deus e
como o Egito em sua escravidão e opressão (Os 8:13; 9:3; Jl 3:19). Assim Jerusalém apóstata será como o Egito
em sua perseguição ao povo de Deus. Finalmente a grande cidade, como Sodoma em sua rebelião e como Egito
em sua escravidão e derramamento de sangue que caracterizava seu ódio contra o povo de Deus é o lugar onde
o Senhor foi crucificado. O martírio das testemunhas está intimamente ligado com o martírio do seu Senhor. O
verdadeiro discípulo é aquele que está disposto a tomar a sua cruz sobre si e seguir a Jesus até a morte, caso seja
necessário (Mc 8:34). A grande cidade matou Jesus e agora matou as 2 testemunhas (Osborne 2002, 427-28)

17. Qual é a reação dos habitantes da terra? Por que agem dessa forma?
- os habitantes da terra vão olhar para os seus cadáveres e se alegrarão (11:9). É óbvio que todo o mundo
incrédulo vai participar na celebração. Agora temos a descrição quádrupla (5:9; 7:9 de forma positiva) e (10:11;
11:10 de forma negativa) indicando que pessoas de todos os povos, tribos, línguas e nações contemplarão os
cadáveres. A recusa de sepultamento indica o desprezo e a indignidade que irão sofrer, da mesma forma como
ocorreu com Jesus. Os 3 dias e meio correspondem aos 42 meses (=3 anos e meio) de 11:2 e outra vez
mencionam um tempo curto debaixo da soberania de Deus. Deus permite à besta e a Satanás um tempo para seu
último gesto de desafio. Mas precisamos notar que 3 dias e meio (tempo de celebração) é bem menor do que 3
anos e meio (o tempo do ministério das 2 testemunhas) (Osborne 2002, 428)
- essa situação se torna motivo para uma celebração religiosa para os habitantes da terra (que vivem somente
para a vida aqui sobre a terra) e adoram os deuses terrenos (9:20-21). As 2 testemunhas re-encenaram os
ministérios de julgamento de Moisés e Elias e proclamaram a salvação [somente através de Jesus] e o
julgamento de Deus sobre aqueles que rejeitam essa oferta. A luz ilumina a escuridão e as trevas não podem
extingui-la. Mas as pessoas amam mais as trevas do que a luz (Jo 1:5; 3:19-20). Agora os habitantes da terra
pensam que a luz finalmente foi extinta, assim se alegram e celebram. O termo usado para a alegria aqui e
freqüentemente usado para alegria cúltica ou escatológica. Aliado ao conceito de dar presentes uns aos outros
pode indicar que se trata de uma festa com caráter religioso. Na festa do Purim os judeus davam ofertas uns aos
outros, o que também ocorria entre gregos e romanos. Existe uma comparação interessante entre a alegria dos
habitantes da terra, que aqui dura por pouco tempo, comparado com a alegria dos crentes que será eterna
(12:12) (Osborne 2002, 428-29)
- os habitantes da terra celebram porque esses profetas tinham atormentado a sua vida sobre a terra por um
tempo tão longo. Esse tormento é um arauto de um julgamento pior que vem pela frente. A celebração por
poucos dias é uma ironia quando visto da perspectiva do que vai ocorrer logo em seguida. O termo atormentar
aponta adiante para o julgamento final (14:10-11; 20:10) mostrando a lex talionis do livro, visto também em
18:4-8 onde receberão a mesma quantidade de tormento que deram aos outros. Aqueles que atormentaram os
santos serão atormentados pelos seus pecados (Osborne 2002, 429)
123
- o tormento sobre os habitantes da terra possivelmente é a profecia sobre a destruição da terra em que
confiam (6:12-17; 21:1). A terra não vai durar e conseqüentemente não vai dar proteção contra o julgamento de
Deus. Essa declaração atormentava os habitantes da terra já que a terra era vista por eles como sua segurança.
Aliado a isso parte do julgamento sobre a terra já iniciou. Quando essa declaração cessa por causa da morte das
testemunhas, isso é visto como consolo para os idólatras. Já que aqueles que anunciam essas coisas morreram,
eles entendem que suas profecias não se cumprirão (Beale 1999, 596)

18. Mas a história muda muito rapidamente. Que acontecimento acaba com a previsibilidade da história? Que
reação isso provoca?
- mas depois que acabam os 3 dias e meio (mencionados outra vez para ênfase), um tempo curto, encurtado por
Deus para mostrar a sua soberania sobre as forças do mal. Talvez haja também uma alusão à ressurreição de
Jesus no 3º. dia. Da mesma forma como o tempo da estiagem foi aumentada na tradição de 3 anos para 3 anos e
meio, aqui a ressurreição de Jesus está ligada com 3 dias e meio. Nessa ocasião um sopro de vida da parte de
Deus entrou neles, uma alusão direta a Ez 37: “o espírito [sopro] entrou neles; eles receberam vida e se
puseram em pé” (Ez 37:10). Na visão de Ezequiel, Israel no exílio é parecido como um vale cheio de ossos
secos de pessoas mortas. Sua volta do exílio é retratada como uma ressurreição onde Deus sopra vida para
dentro dos ossos secos (= Israel) (frase que faz alusão à criação da humanidade em Gen 2:7: soprou nele o sopro
da vida) e são repatriados à suas terra natal. Aqui as 2 testemunhas são ressuscitadas e a vida é restaurada pelo
Espírito. Possivelmente isso indica que temos o Espírito que dá vida às pessoas e ao mesmo tempo à nova vida
que foi soprada dentro deles (Osborne 2002, 429-30)
- quando as 2 testemunhas se levantam a alegria e celebração dos habitantes da terra se torna em grande terror.
Não se trata de reverência à intervenção de Deus, mas terror do poder de Deus. Esse termo medo/terror ocorre
somente mais 2 vezes (18:10, 15) onde os reis e mercadores estão cheios de terror por causa da destruição da
grande cidade, Babilônia (cf. 11:8). Mas esse terror leva à conversão em 11:13. O terror que o incrédulo sente
na presença do poder de Deus vai levar ao julgamento (18:10, 15) ou ao arrependimento (11:13; 15:4)
dependente de sua resposta ao chamado de Deus ao arrependimento (implícito nos selos, trombetas e taças bem
como os atos proféticos de julgamento realizados pelas 2 testemunhas em 11:3-6) (Osborne 2002, 430)
- depois que as 2 testemunhas são ressuscitadas, elas são levadas imediatamente aos céus (11:11). As pessoas
que estão vendo a cena ouvem uma voz forte dos céus, podendo ser a voz de Deus. Outros crêem que poderia
ser a voz de Cristo ou de outros anjos, mas parece que aqui temos uma alusão a Dan 7:13 sobre o retorno de
Cristo (Osborne 2002, 430-31)

19. Para onde as testemunhas são levadas? O que significa?


- a voz ordena que as 2 testemunhas subam para cá = céus. Eles sobem aos céus numa nuvem, talvez indicando
a nuvem com a qual Cristo deve retornar em breve (1:7) ou a nuvem que envolveu o anjo poderoso em 10:1.
Dado o contexto de nuvem na literatura apocalíptica e do NT possivelmente se refere a sua ressurreição ao céu.
Mas será que isso se refere ao arrebatamento dos crentes? Para responder precisamos olhar outra vez para o
conceito de nuvem no AT. Ali a nuvem pode indicar
a. A presença de Yahweh, como na presença shekinah na nuvem de dia e na nuvem de fogo à noite no
êxodo (Ex 13:21)
b. Uma aparição teofânica de Deus (Ez 1:4) em que a nuvem o circunda em sua majestade (Ez 1:28; Dan
7:13). Em ambos os casos existe o senso da glória de Deus e a libertação do seu povo
c. Transportar pessoas da terra para o céu ou de uma parte do céu para outra
d. Transportar do céu para terra, freqüentemente associada com a vinda do Filho do Homem
e. Uma maneira de entronização
À medida que o tema se desenvolve no NT fica ligado mais com a ressurreição e com a 2ª vinda (construindo
sobre Dan 7:13). Assim a nuvem aqui parece indicar a vindicação através da ressurreição/arrebatamento
(Osborne 2002, 431)
- precisamos nos questionar se a ressurreição das 2 testemunhas significa a ressurreição da igreja. O problema
está na seqüência dos eventos. A ressurreição ocorre no final dos 3 anos e meio que é seguida do terremoto
escatológico e a conversão de muitos espectadores (11:13). Mas fica claro que a parousia ocorre no final da
história (19:11-12) restando somente a batalha do Armagedom e a ressurreição da igreja ocorre na volta de
Cristo (Mc 13:24-27; 1 Ts 4:16-17). Assim nos parece que a ressurreição das testemunhas seria uma
representação atual do arrebatamento da igreja no futuro ao invés do arrebatamento propriamente dito. A
seqüência parece ser: a ascensão das testemunhas, o terremoto escatológico, a conversão de muitos habitantes
da terra, o retorno de Cristo e ao arrebatamento da igreja, o julgamento final e depois o que resulta disso (o
milênio, o grande trono branco de julgamento, e a vinda dos novos céus e nova terra). A morte e a ressurreição
das testemunhas pode ocorrer simultaneamente com o ajuntamento dos exércitos para o Armagedom (a 6ª. taça,
16:12-14) (Osborne 2002, 432)
124
20. O que mais chama a atenção em Ap 11:11-13?
- as 2 testemunhas sobem e os inimigos olham. João os caracteriza claramente como inimigos. Esse termo
ocorre ainda em 11:5 onde denota que fogo devora os inimigos de Deus e de suas testemunhas. Aqui esses
inimigos vêem o poder de Deus que inverte sua vitória muito curta a vinga as 2 testemunhas. Também é
interessante ver como os termos ver e ouvir estão ligados nesse relato. Os habitantes da terra virão os cadáveres
e se alegraram (11:9). Agora vêem as testemunhas sendo ressuscitadas pelo Espírito. Em 11:12 eles ouvem a
voz e depois vêem as testemunhas ascendendo aos céus. No evangelho de João o termo teoreu = ver
freqüentemente é o prelúdio para a fé. Os inimigos de Deus observam à medida que seu poder é demonstrado na
ressurreição e no poder destrutivo do terremoto e assim muitos se convertem (11:13) (Osborne 2002, 432)
- depois que as testemunhas ascendem ao céu, ocorre um grande terremoto. Isso ocorre 3 vezes no Apocalipse
(6:12; 11:13; 16:18; terremotos também ocorrem nas teofanias da tempestade em 8:5; 11:19) e todas as 3 se
referem ao terremoto final no fim dos tempos. Aqui um décimo da grande cidade é destruída e em 16:19 a
cidade é dividida em 3 partes. A grande cidade deve ser um ajuntamento de Roma com Jerusalém para se tornar
a capital do Anticristo. Os detalhes são um eco de diversas passagens do AT. Aqui 1/10 da cidade é destruída e
7000 pessoas morrem, em torno de 1/10 de Jerusalém nessa época. Aqui temos uma inversão interessante. NO
tempo de Elias, Deus disse que 7000 não tinham dobrado seus joelhos diante de Baal. Aqui 7000 morrem por
causa de sua idolatria e rebelião. Mas a ênfase está sobre o julgamento parcial similar a ¼ da população morta
nos selos e 1/3 nas trombetas. Naqueles julgamentos o derramar da ira vinha acompanhado com um chamado ao
arrependimento e isso também ocorre aqui. Tanto o triunfo das 2 testemunhas diante dos seus inimigos e o
julgamento limitado devem ajudar as pessoas a pensar seriamente (Osborne 2002, 433)

21. O que significa o termo “dar glória ao Deus dos céus”?


- o resultado é que “os sobreviventes ficaram aterrorizados e deram glória ao Deus dos céus” (11:13). Aqui
temos uma grande discussão se temos um arrependimento sincero ou a submissão forçada de um inimigo
derrotado como Fp 2:10: “ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra”. Em
favor de um arrependimento sincero estão o temor e dar glória ao Deus dos céus/ Em 14:6-7 ao anjo com o
evangelho eterno chama os habitantes da terra para que “temam a Deus e glorifiquem-no” e em 15:4 e 16:9 isso
significa oferta de salvação. Em diversas passagens do AT, dar glória a Deus é usado para chamar pessoas ao
arrependimento (Jos 7:19; 1 Sam 6:5; Is 42:12: Jer 13:16). Finalmente em 19:5 os escravos de Deus são
definidos como aqueles “que o temem” e em 19;7 a grande multidão do céu canta: “Vamos alegrar-nos e dar-
lhe glória” (Osborne 2002, 433-34). Outros estudiosos argumentam que os mágicos do Egito confessaram que
suas pragas tinham ocorrido debaixo do dedo de Deus (Ex 8:19), mas não se arrependeram e não temeram a
Deus, o que no AT se refere às vezes àqueles que são forçados a reconhecer a soberania de Deus (Prov 1:24-32;
Jon 1:9-10, 16; cf. At 12:23). Em Dan 4:34 Nabucodonosor “honrou e glorificou” a Deus, mas tanto antes como
depois se voltou aos ídolos e tentou forçar os judeus a se juntar a ele. Já que o “Deus dos céus” ocorre 3 vezes
em Dan 4:37, Beale argumenta que pode haver uma alusão a esse texto aqui nessa passagem indicando que João
queira nos mostrar que estas pessoas reconhecem a soberania de Deus, mas permanecem incrédulas (Osborne
2002, 434). Da mesma forma Schnabel nos dá 4 razões para tomar “dar glória a Deus” de forma negativa:
a. No AT a expressão freqüentemente fala de Deus exigindo a glória sem qualquer referência à conversão
(1 Sam 6:5; Sl 96:7-8; Is 42:12) ou mesmo num contexto de julgamento (1 Enoque 62:6-13; 63:2-12)
b. A glorificação de Deus não resulta de proclamação missionária, mas de julgamento, assim se trata de
uma doxologia de julgamento
c. O paralelo de Nabucodonosor mostra que não houve arrependimento verdadeiro (Dan 4)
d. O grande terremoto de Ap 11:13 é de julgamento (in Osborne 2002, 434)
No entanto, segundo Osborne, o contexto do Apocalipse indicam que se trata de arrependimento sincero aqui. O
julgamento de Deus nos selos, trombetas e taças são parte da oferta final de arrependimento para as nações. Em
15:4 quando as nações “vem e adoram a Deus” temos: “Quem não te temerá, ó Senhor? Quem não glorificará o
teu nome?” Da mesma forma em 16:9 a nações “recusaram arrepender-se e glorificá-lo” e naquele contexto,
“dar glória” significa conversão, i.é, “recusaram-se ao arrependimento e à conversão” (Osborne 2002, 434-35)
- essa conversão de muitas pessoas ainda não quer dizer que todos serão salvos. A grande cidade não se refere a
todos os habitantes da terra, mas à capital do império. Além disso, as testemunhas não são necessariamente toda
a igreja, mas poderiam ser 2 personagens reais nessa época. O relato que continua no Apocalipse indica
claramente que o julgamento continua o que seria ridículo se todos tivessem se arrependido. Enquanto a maioria
continua no seu caminho, alguns se arrependem se voltando ao evangelho eterno (14:6) (o termo “os
sobreviventes” não necessariamente representa todos, mas uma hipérbole rabínica de efeito indicando que
muitos se convertem) (Osborne 2002, 435)
- eles se convertem ao Deus dos céus, expressão usada para diferenciar dos outros deuses do mundo pagão (Gen
24:7; 2 Cro 36:23; Ne 1:4-5; Dan 2:18-19; Jon 1:9; 4 Esd 5:12; 6:10) (Osborne 2002, 435)
125
Ap 11:14-19 – A 7ª. trombeta

22. O que se espera que aconteça quando soar a 7ª trombeta? O que de fato acontece?
- o texto nos diz que o 2º. “ai” passou e que o 3º. está para ocorrer. Mas o que encontramos a seguir não parece
uma descrição de um “ai”. Depois do 2º. “ai” (9:13-21) tivemos um grande interlúdio (10:1-11:13). Agora nos
preparamos para o 3º “ai”, mas parece que não é isso que vemos a seguir. Isso tem levado os estudiosos a
procurar por uma solução para este problema. Alguns acham que o 3º. “ai” seria o interlúdio propriamente dito
(cap.12-13), ou as 7 taças do cap.16, ou ainda os eventos dos cap.12-20. Possivelmente João queria que o
interlúdio fosse parte do 2º. “ai”, já que narra a experiência do povo de Deus durante o período de julgamento
do 1º. e 2º. “ai”, e de forma implícita sinalizou para o julgamento divino sobre os habitantes da terra por causa
de sua perseguição aos cristãos (lex talionis). Assim o 2º “ai” somente pode ser finalizado quando todo o
cenário estava posto. Mas agora vemos que o 3º “ai” vem em breve, enfatizando que a parousia está prestes a se
concretizar. Possivelmente temos o 3º. “ai” proclamado nessa narrativa ao invés de descrito. Essa descrição
contempla a conclusão da ira de Deus e a chegada da atividade tripla: julgar, recompensar e destruir (v.18).
Aqui outra vez estamos no fim do mundo, outra prova para ver os selos, trombetas e taças de modo cíclico.
Vemos que o mistério de Deus chegou ao final pelos hinos cantados em 11:15-18. Nada mais vem depois disso.
O 3º. “ai” se encontra no julgamento final que é celebrado nessa passagem. Logo aqui não temos esse texto
olhando para frente para o que ocorre no cap.20, mas o cap.20 elabora sobre o que temos aqui (Osborne 2002,
438-40)
- esse texto finaliza essa seção do Apocalipse (4:1-11:19). Até agora tivemos o reino de Deus, agora veremos o
reino da besta (cap.12-13). Aqui temos a descrição da vinda do Reino de Deus. Os 24 anciãos apareceram no
início do cap.4 e agora aparecem outra vez (inclusio) (Osborne 2002, 438)
- quando o 7º. anjo toca a sua trombeta, algo impressionante ocorre. Os leitores contam com um julgamento
terrível, mas ao invés disso ouvem um coro angelical, seguindo o modelo de 7:9-12 com uma afirmação de
vitória e um refrão elaborando sobre o tema. Uma surpresa similar houve no 7º. selo quando tivemos um grande
silêncio do céu (8:1). Agora o silêncio é quebrado por uma grande sinfonia quando vozes celestiais anunciam a
virada pela qual toda a Bíblia ansiava: a chegada do Reino. Em 11:15 o coro anuncia as boas novas, enquanto
11:16-18 amplificam essa mensagem com louvor. A expressão “fortes vozes” ocorre 19 vezes no Apocalipse,
mas as únicas vezes que são usadas para um grupo ocorre num contexto de adoração (5:12; 7:10; 11:15; 19:1) e
no pedido imprecatório dos mártires (6:10). Aqui é a única vez que esta palavra ocorre no plural e enfatiza o
brado incrível do coro celestial celebrando a vitória escatológica de Deus. João não menciona uma multidão ou
grande grupo de anjos, mas “vozes fortes” para enfatizar o hino ao invés do grupo que canta. Baseado no
conteúdo do hino, será cantado no fim do mundo quando Cristo retorna (19:11-12). Essas vozes estão no céu e
nos forçam mais uma vez a mudar a nossa perspectiva da terrena (10:1-11:13) para a celestial. Na vinda de
Jesus houve um coro angelical (Lc 2:2:13-14) e agora em sua volta temos o coro outra vez. Não sabemos quem
canta, mas é provável que sejam anjos e humanos (Osborne 2002, 440)

23. Qual é o conteúdo do hino que é cantado? O que quer nos mostrar?
- esse hino celebra a inversão da situação trágica sobre a terra durante o tempo do pecado. Finalmente o reino
desse mundo é trocado pelo reino de Deus. O reino não é mais deste mundo, mas do Senhor para todo o sempre.
Vemos também aqui outra vez a união entre Deus e Cristo, já que o reino pertence a ambos. Os reinos deste
mundo estão derrotados de uma vez por todas pelo Senhor e o seu Messias (Osborne 2002, 440-41)
- em Jo 18:36 Jesus disse a Pilatos que o seu reino não era deste mundo. A gora o reino celestial substituiu o
terreno como a verdadeira realidade. A verdadeira realidade é celestial e não terrena. Será a única realidade.
Finalmente o reino messiânico está aqui. O reino temporário do pecado e da natureza temporal da vida nesse
mundo pecaminoso será trocada por um reino da divindade, um reino eterno para os filhos fiéis de Deus
(Osborne 2002, 441)

24. Qual a participação dos 24 anciãos nessa celebração? Que diferença existe entre esse hino e o hino cantado
em Ap 4:10-11?
- os 24 anciãos que são seres celestiais juntam-se nessa adoração. Eles estão assentados sobre tronos e se
prostram diante de Deus. Eles submetem seus tornos a Deus e deixam todo louvor a ele. A submissão desses
seres a Deus mostra a soberania e majestade de Deus. O imperador romano tinha reis que obedeciam às suas
ordens, mas Deus é um ser bem superior diante do qual as autoridades se curvam (Osborne 2002, 442)
- o hino de 4:10-11 celebra a Deus criador e sustentador do mundo. Aqui o hino celebra a Deus que terminou
com a vida no mundo e iniciou o se reino eterno. Os seres dão graças a Deus por completar o seu plano de
salvação, terminando com o mundo mau e introduzindo a eternidade. O agradecimento inicia com o título
primário de Deus no Apocalipse: Senhor Deus todo-poderoso (ocorre 9 vezes). Deus como Yahweh reina sobre
126
o seu cosmos e sua onipotência é enfatizada. Isso tudo somente ocorre porque deus é o Senhor do universo
(Osborne 2002, 442)

25. Que descrição temos de Deus no v.17? Veja que a idéia já apareceu em 1:4, 8; 4:8. Por que temos uma
mudança aqui? Que aspecto está sendo enfatizado? Por que isso é importante?
- em seguida tocamos na descrição de Deus que já ocorreu diversas vezes: o Deus que controla o passado,
presente e futuro (1:4, 8; 4:8) – que era, que é e que há de vir, enfatizando o controle soberano de Deus sobre
toda a história. O Deus que era soberano no passado também o será no futuro (a mensagem do Apocalipse), e é
soberano no presente, mesmo que pareça que o mal prevalece. Tanto aqui (e 1:4) o aspecto presente é colocado
em 1º. lugar para ênfase (o aspecto questionado por aqueles que sofriam). Mas o aspecto futuro foi omitido
nessa passagem (“que há de vir”). Já não há mais futuro, pois já estamos no futuro, no reino final de Deus. Deus
assumiu o seu grande poder e começou a reinar. Seu poder soberano é visto em que ele vence toda a oposição e
estabelece o seu reino final. Ele vence as forças do mal, julga definitivamente esses poderes e seus seguidores e
estabelece o seu reino eterno. Esse evento todo é descrito no cap.18-22, mas está implícito atrás da 7ª. trombeta.
O hino do coro celestial celebra o verdadeiro conteúdo da 7ª. trombeta: a vinda do dia do Senhor (Osborne
2002, 443). Existem muitos Salmos que falam sobre o reinado de Deus (47:8; 93:1; 96:10; 97;1; 99:1). Em Is
52:7 e Zac 14:9 esse reinado é aplicado para o reinado escatológico final de Deus (Beale 1999, 614, 932)

26. O que o v.18 acrescenta a esse hino? Será que isso se encaixa dentro de um hino de louvor?
- a 2ª. parte do hino começa com uma referência ao Sl 2:1 “Por que se amotinam [enfurecem LXX] as nações e
os povos tramam em vão?”. O objeto da ira e das tentativas fúteis é “contra o Senhor e contra o seu ungido” (Sl
2:2). A resposta de Deus em Sl 2 está por trás de Ap 11:18: “chegou a tua ira”. Primeiramente “do seu trono
nos céus o Senhor põe-se a rir e caçoa deles” (Sl 2:4) e depois “em seu furor os aterroriza” (2:5). As nações
são os “habitantes da terra” (Ap 11:9-10), os “inimigos” de Deus e dos santos (11:5, 12). Existe um jogo de
palavras entre a ira das nações e a ira de Deus (temos outra instância da lex talionis, onde a ira dos humanos
recebe a resposta da ira de Deus). O mesmo ocorre com a ira das forças malignas (12:17) e o substantivo para a
ira de Deus (6:16, 17; 14:10; 16:19; 19:15). Talvez a ira das nações seja uma ação de loucura vista como ações
especificas em oposição a Deus e seu povo, enquanto a ira de Deus é parte do seu caráter, visto especialmente
em seu julgamento do mal (Osborne 2002, 444)
- a ira se encaixa num hino, se achamos que tudo o que Deus faz é bom. Do nosso ponto de vista a ira é negativa
e não se encaixa, mas do ponto de vista de Deus, a ira é a resposta da justiça de Deus

27. Como se demonstra a ira de Deus no julgamento final?


- agora chegou o tempo escatológico de Deus, um tempo repleto do julgamento de Deus sobre aqueles que
fazem o mal e sua salvação para os justos. A ira de Deus chegou, ou seja, o tempo de julgar. A ira de Deus é
vista de modo especial em seu julgamento final (Osborne 2002, 442-43):
a. Os mortos são julgados. O julgamento dos mortos ocorre de forma explícita somente em Dan 12:2:
“Multidões que dormem no pó da terra acordarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha,
para o desprezo eterno”, mesmo que já existia uma dica em Is 26:19: “Mas os teus mortos viverão”
(sem qualquer menção sobre os maus); e Is 66:24: “Sairão e verão os cadáveres dos que se rebelaram
contra mim; o verme destes não morrerá, e o seu fogo não se apagará”. Essa é uma extensão do tema
do AT sobre o julgamento das nações (Am 1:3-2:16; Jl 3:1-19; Sof 2:4-15; 3:8). Ao mesmo tempo é um
tema do NT (Mt 13:36-43; 25:31-46; Jo 5:22, 30; 9:39; 12:31; At 10:42; 17:31; Rm 1:32; 1 Pe 4:5) e no
coração do Apocalipse, especialmente no julgamento final de 20:11-14, que usa linguagem similar: “Vi
também os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono. ... Os mortos foram julgados de acordo
com o que tinham feito ... a morte e o Hades entregaram os mortos ... e cada um foi julgado”. Os
“mortos” aqui possivelmente são os não-crentes, já que os crentes são mencionados logo a seguir
(Osborne 2002, 443)
b. Recompensar os fiéis. A idéia de recompensa para os fiéis ocorre somente em 22:12: “Eis que venho em
breve! A minha recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com o que fez”. Mas a
recompensa do vencedor ocorre em cada uma das 7 cartas, e a vingança dos mártires é prometida em
6:9-11. A questão da recompensa era um componente crítico do pensamento cristão, baseado em
passagens como Gen 15:1-2; 30:18; Prov 11:21; Is 40:10; 62:11). Jesus também ensinou que haveria
uma grande recompensa no céu para aqueles que são perseguidos (Mt 5:11-12) e a recompensa é
somente para aqueles que são fiéis em sua conduta (Mt 6:1-18). Paulo ensina que o fogo final no dia do
julgamento vai testar a obra de cada pessoa para ver se vai haver recompensa (1 Co 3:5-15). O conceito
de recompensa de acordo com as obras é uma parte importante do Apocalipse (2;23; 14:13; 18:6; 20;12;
22:12) (Osborne 2002, 445-46). Há diversos grupos de pessoas que serão recompensados. Alguns vêem
que se trata de uma descrição geral da igreja, mas é melhor ver como categorias distintas:
127
i. Escravos. Se trata daqueles que se tornaram escravos de Deus. Freqüentemente estão ligados
com os profetas. Mesmo que para os romanos, ser escravo era repugnante [a influência da cultura
latina é sentida entre nós no Brasil], para o mundo judeu ser escravo de Yahweh designava uma
lealdade especial e um relacionamento com Deus (Lev 25:55). Líderes cristãos consideravam o
título “escravo de Deus” como honra (Fp 1:1; Tg 1:1; 2 Pe 1:1; Jd 1) (Osborne 2002, 446)
ii. Profetas. Os líderes da igreja, possivelmente profetas do NT e não do AT (Ef 4:11) que recebem
revelações de Deus para a igreja e assim funcionam como líderes da igreja. O termo escravo
também se refere aos profetas como aos santos (Osborne 2002, 446)
iii. Santos. Aqueles que entregam sua vida ao controle de Cristo, como visto na designação de escravos
que também se aplica a eles
iv. Tementes a Deus. Isso encontra paralelo em Sl 115:13: “abençoará os que temem o Senhor, do
menor ao maior”. No início do Sl 115 o salmista contrasta os ídolos mortos com o Deus o céu e
depois em 115:9-18 exalta a alegria de confiar em Deus e temê-lo. (Osborne 2002, 447)
v. Grandes e pequenos. Esse termo aparece freqüentemente no Apocalipse para designar que todos
estão diante de Deus como iguais. Não há distinção entre reis e escravos, pois Deus não mostra
favorecimento a nenhum deles no julgamento ou na recompensa (Deut 10:17; 2 Cro 19:7; Mc
12:14; At 10:34; Rm 2:11; 1 Pe 1:17) (Osborne 2002, 447)
c. Destruir os que destroem a terra. Essa linguagem aparece outra vez em Ap 19:2 descrevendo o
julgamento sobre a grande prostituta que destruiu/corrompeu a terra. Assim é provável que se trate aqui
do julgamento da Grande Babilônia, a grande prostituta composta daqueles que seguem a besta (cap.17-
18). Existe uma alusão a isso em Jer 51:25: “Estou contra você, ó montanha destruidora, você que
destrói a terra inteira”. Nesse contexto “a terra” possivelmente se refere aos crentes no mundo todo.
Para aqueles que matam os justos, o principio divino da lex talionis exige um castigo correspondente ao
crime. Assim os destruidores serão destruídos (Osborne 2002, 447)

28. O que acontece depois da adoração dos 24 anciãos? O que significa?


- se em 4:1 uma porta no céu foi aberta, aqui a porta do templo nos céus foi aberta. Em 4:1 temos uma
antecipação do final da história que ocorre aqui. Aqui se abre o Santíssimo Lugar, o local no templo onde Deus
habitava. Podemos ter aqui algo parecido com o véu se rasgando no templo. Tanto a arca da aliança (2 Sam 6:2;
S; 80:1; 99:1) quanto a tempestade (Ex 19:16-19; Sl 18:13; Is 30:30) são símbolos da teofania no AT. Deus está
presente em sua misericórdia (a arca) e julgamento (a teofania da tempestade) para trazer essa era pecaminosa
ao fim e introduzir o reino eterno de alegria (Osborne 2002, 447-48)
- quando a porta do templo se abre, é vista a arca da aliança. Foi visto = aparições importantes revelando
verdades espirituais profundas. A arca era um dos símbolos mais importantes do AT, a essência da religião de
Israel. Ela continha as 2 tábuas da lei, um jarro com maná e a vara da Arão que floresceu. Assim simbolizava a
aliança de misericórdia (a cobertura da arca era chamada de assento da misericórdia ou local de expiação). A
arca era o símbolo central da presença de Yahweh com Israel, o coração da expiação para a nação e a base para
sua vitória sobre seus inimigos. Assim, essa passagem está ligada intimamente com Ap 21:3 que de uma forma
explica o significado da arca da aliança aparecendo de forma visível: “Agora o tabernáculo [habitação] de
Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e
será o seu Deus”. A arca era tão sagrada que estava escondida atrás de um véu do contato humano. Somente o
sumo sacerdote entrava uma vez por ano no Dia da Expiação e somente porque representava todo o povo de
Deus. O véu foi rasgado (Mc 15:38), no entanto, dando acesso a Deus de forma direta (Hb 9:8-10, 12; 10:19-
21). Agora a arca está visível a todos (Osborne 2002, 448)
- a arca pode ter sido destruída quando a guarda imperial de Nabucodonosor destruiu Jerusalém e o templo em
586 AC (2 Rs 25:8-10). Mesmo que várias peças do templo são descritas como sendo levadas pelos soldados (2
Rs 25:13-17), o texto não menciona a arca. A tradição judaica dizia que Jeremias ou um anjo carregou a arca e a
escondeu no Monte Nebo para aguardar o ajuntamento final do povo de Deus. Havia a expectativa do
reaparecimento da arca no final dos tempos (Osborne 2002, 449)
- essa é a 3ª. das 4 vezes que temos uma teofania da tempestade: “relâmpagos, vozes, trovões, um terremoto e
um grande temporal de granizo”. Com seu background no Sinai (Ex 19:16) está relacionado com a majestade
de Deus (Ap 4:5, a visão do trono), mas especialmente com a soberania de Deus sobre o fim dos tempo (8:5, o
7º. selo; 11:19, a 7ª. trombeta; 16;18-21, a 7ª. taça). Também está conectado com o abalar dos céus no 6º. selo
(6:12-14, que também contém um grande terremoto), um sinal do fim. Aqui se acrescenta que temos um grande
granizo à lista de 4;5 e 8:5, que intensifica a tempestade de Ex 19;16 e acrescenta a imagem da tempestade
granizo de Ex 9:13-26 (a 7ª. praga do Egito); Ez 38:22 (Gogue) e Jos 10:11 (os reis dos amorreus). Essas
tempestades significam não somente a majestade de Deus, mas também seu julgamento, sumarizando os
julgamentos das 7 trombetas (Osborne 2002, 449)
128
12:1-14:20 – O 3º. interlúdio: A descrição do grande conflito

- a 1ª. parte dos selos, trombetas e taças focou sobre a soberania de Deus e sua adoração (cap.4-5). Nessa seção
(12:1-16:21) focaremos sobre o trono e a adoração do dragão (13:2, 4, 8, 12, 14-15). Temos a grande batalha
entre Deus e a falsa trindade (16:13). Enquanto os crentes são caçados e mortos (13:7) a morte é sua vitória
sobre Satanás (12:1; 15:2-4) e o julgamento sobre as forças do mal é certa (14:17-16:21). Assim, Satanás
assume o poder de forma pretensiosa, mas o poder de Deus continua central. Fica claro que somente acontece
aquilo que Deus permite. Diversos temas continuam da seção anterior (4:1-11:19) como a lex talionis, o
chamado ao arrependimento nos julgamentos, a depravação total dos habitantes da terra, o chamado à
perseverança dos santos e especialmente o controle absoluto de Deus (Osborne 2002, 451)

1. Fazendo uma leitura rápida sobre o texto acima, qual é o tema desse texto maior?
- mesmo que não interrompa os julgamentos sétuplos como ocorreu nos outros interlúdios, esse texto
interrompe a passagem do julgamento das trombetas para as taças. Esse é o último interlúdio e descreve a
atividade da igreja nesses tempos finais. O interlúdio anterior (10:1-11:13) estabelece o chamado da igreja para
proclamar e sofrer. Nesse interlúdio vemos como esse chamado faz parte de um conflito mais amplo entre o
povo de Deus e as forças do mal (Satanás e o mundo) (Osborne 2002, 452)
- até agora somente tínhamos algumas indicações de um ser supremo do mal: trono/sinagoga de Satanás (2:9,
13; 3:9; cf. 2:24); morte e Hades (6:8); o anjo do abismo (9:11), a besta (11:7). Aqui temos uma descrição mais
detalhada do propósito e estratégia e o triunvirato do dragão, da besta e do falso profeta (cap.12-20). O tema da
futilidade de Satanás se torna central
a. Ele é retratado como já derrotado no céu (12:7-12) e na cruz (12:11-12; cf. 5:6) e sua ira não resulta
somente de sua ira contra Deus, mas também de sua derrota diante de Cristo
b. Tudo o que ele faz é simplesmente uma imitação daquilo que Deus já fez. Suas coroas são uma cópia
das coroas de Cristo (19:12); a ferida mortal da besta foi curada (13:3) imitando a ressurreição de
Cristo; os sinais grandes e milagrosos da 2ª. besta (13:13; 16:14) imitam os sinais-milagres do
evangelho de João; e a marca da besta (13:16) imita o selo dos crentes (7:3). Além disso, os crentes
participam na grande vitória sobre Satanás mesmo através do seu sofrimento. Toda vez que Satanás os
conquista através da perseguição (13:7) eles o conquistam “pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do
testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida” (12:11). O destino dos crentes é
o sofrimento (12:13-17; 13:10), mas em sua perseverança fiel há vitória e vindicação (14:1-5, 13)
(Osborne 2002, 452-53)

- dentro da mitologia é muito comum encontrar a luta entre o bem e o mal, entre um dos deuses e o dragão. Em
algumas passagens do AT a Bíblia usa alguns títulos para Yahweh como “aquele que cavalga sobre as nuvens”
(um título de Baal) em Sl 68:4 para mostrar que Deus conquistou os outros deuses e tomou os seus nomes. A
história de Jesus que encontra os 2 discípulos no caminho para Emaús (Lc 24:13-35) é contada de forma similar
ao mito de Apolo. O propósito seria mostrar aos gregos que aquilo que somente conheciam como mito agora se
tornou real na história. É como se usasse o mito dos gregos como ponte para suas mentes. O que os pagãos
ansiavam em seus mitos, agora se tornou realidade em Jesus, fazendo uma ponte redentora com os seus anseios
e ensinos atingindo o interesse e coração do não-crentes (Osborne 2002, 454). Além disso, João acrescenta
elementos do AT para complementar os detalhes da história (Beale 1999, 454). Fica muito claro que agora
temos a história do combate presente em diversas religiões (Osborne 2002, 455)

2. Ap 12:1-3 compara sinais. Qual a diferença entre eles? O que os sinais querem indicar? O que nos ensinam
sobre a verdadeira grandeza?
- fica evidente o contraste que temos entre um grande sinal no céu (12:1) – a mulher e um outro sinal (12:3) o
dragão. O termo “grande” aparece 194 vezes no NT, com 82 vezes no Apocalipse, descrevendo tanto os
incríveis atos poderosos de Deus como da falsa trindade. As forças do mal são chamadas de “grande/enorme
dragão” (12:3, 9), “a grande cidade” (11:8; 16;19; 18:16-17), “grande Babilônia” (14:8; 16;19; 17:3; 18:2-3), e
“a grande prostituta” (17:1; 19:2). Mas aqui a aparição da mulher é o “grande sinal”, não a aparição do dragão.
O dragão é grande (12:3), mas é caracterizado por poder maligno, mas o “sinal” do dragão não é grande porque
não existe um bem celestial nele, ao contrário do sinal da mulher. No Evangelho de João o termo semeion =
sinal é um indicador da pessoa, indica sua natureza que desafiada os leitores e chamava à fé. Os “sinais” são
similares no Apocalipse, se referindo aos símbolos enviados por Deus ou para os grandes dramas retratando a
realidade divina (primariamente a mulher em 12:1; os 7 anjos com os julgamentos das taças, 15:1; mas também
o dragão, 12:3) ou à imitação dos milagres de Cristo através dos quais o falso profeta engana seus seguidores
(13:13, 14; 19:20). Aqui a mulher e seu adversário, o dragão, são “sinais” que alertam o leitor para o conflito
129
chave do livro. Há um outro contraste entre a mulher e a grande prostituta (17:1; 19:2) que somente dá a
impressão de majestade e grandeza (Osborne 2002, 455-56)
- tendemos a ver grandeza pelos padrões humanos. Muitas coisas são grandes no Apocalipse, dependendo de
qual perspectiva estamos falando. Mas a verdadeira grandeza somente pode ser vista e medida por valores
eternos, por aquilo que é real quando o ilusório passar. Isso deve nos fazer refletir sobre as nossas prioridades
aqui sobre a terra. Se não estágio não valorizamos o que vamos fazer no verdadeiro emprego depois, o estágio
pode ser tempo perdido

3. Como a mulher está vestida? Isso nos ajuda a entender a sua identidade?
- a mulher está “mulher vestida do sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a
cabeça”. Essa descrição procede do sonho de José (Gen 37:1-9). No 1º. sonho os feixes de grãos amarrados
pelos irmãos se curvam diante dele (37:7) e no 2º., sol lua e estrelas se curvam diante dele (37:9). Normalmente
é aceito que o sol e a lua se referem aos pais de José, Jacó e Lia, enquanto as estrelas representam os irmãos.
Mas na literatura judaica freqüentemente as 12 estrelas se referem aos 12 patriarcas ou às 12 tribos (Osborne
2002, 456). Segundo Beale em diversas passagens o sol radiante, a lua e as estrelas se referem ao Israel fiel
(Beale 1999, 625-26). Assim é provável que a mulher aqui represente Israel, o povo de Deus (juntamente com
12:7 onde representa a igreja, podemos concluir que ela representa todo o povo de Deus, tanto Israel quanto a
igreja). No imaginário do AT, sol, lua e estrelas têm um espectro bastante grande de conotações, centrando
primariamente no controle de Yahweh sobre as constelações (Jer 31:35): eles louvam e testemunham sobre
Deus (Sl 19:1-4; 148:3), simbolizam a perseverança (Sl 72:3), e são escurecidos no dia da ira (Is 13:10; Jl 2:10,
31; 3:15). Em Sl 104:2 Yahweh se veste com sua luz como sua vestimenta, mostrando que a mulher “vestida
com o sol” conota majestade. No AT a lua significa beleza (Can 6:10) e glória (Is 24:23; 30:26). O sol estando
“debaixo dos seus pés” enfatiza o reino ou domínio. A coroa é usada do Apocalipse para mostrar o reino de
Cristo (14:14), o domínio dos 24 anciãos (4:4, 10) ou o reino futuro do seu povo (2:10; 3:11). Para o cavaleiro
do cavalo branco (6:2) ou os gafanhotos demoníacos (9:7), a coroa é o governo temporal que Deus
soberanamente permitiu às forças do mal. Assim, da mesma forma como a lua debaixo dos pés, a coroa de 12
estrelas significa a vitória e glória que Deus deu ao seu povo, as 12 estrelas são vistas como as 12 tribos ou as
12 tribos com os 12 apóstolos, ou a igreja. Como em 1:20 as estrelas representam as igrejas, aqui as 12 estrelas
possivelmente representam todo o povo de Deus. Pode até ser que as 12 estrelas estejam ligadas com a coroa da
vida (2:10) que é um sinal da conquista escatológica que Deus garante ao seu povo (Osborne 2002, 456-57)
- essa mulher está grávida. Muitas interpretações têm sido dadas:
a. Deusa mãe
b. Maria, a mãe do Messias
c. Maria como a incorporação da igreja
d. A figura arquétipa da mãe sofredora
e. A mãe lutadora do Messias, sendo tanto a filha de Sião como a mãe da igreja
f. O povo de Deus que vai dar à luz ao Messias
g. O povo perseguido de Deus de onde virá o Messias
Essa última se encaixa bem, já que existe forte ênfase sobre a dor antes do parto. Isso mostra os “ais”
messiânicos da comunidade de Deus e de Cristo. O termo usado para a dor antes de dar à luz é usado também
para a angústia do povo de Deus em sua perseguição. Assim temos um significado duplo aqui: o nascimento do
Messias e os “ais” messiânicos do povo de Deus em toda a sua história à medida que gritam para dar à lua à era
messiânica. Em Is 26:18 a mesma linguagem é usada para Israel em dores de parto tentando sem sucesso dar à
luz à salvação da terra. Assim João pega a imagem mal-sucedida de Isaías trazendo a solução com a vinda do
Messias. A libertação de Israel é descrita em Is 27:1 com Yahweh matando Leviatã, a serpente. Essa imagem
pode estar por trás do imaginário que temos aqui em 12:1-3. O que Israel não pode fazer, Deus vai fazer através
do Messias. A ênfase aqui é sobre a mulher como a igreja perseguida (Osborne 2002, 457-58)

4. Em seguida temos a imagem do dragão. O que lemos sobre ele? Isso nos ajuda a identificá-lo?
- a imagem do grande dragão tem um background bem complexo. Havia antecedentes tanto no judaísmo, como
nas outras religiões de um dragão = serpente ou monstro do mar que normalmente estava conectado com
poderes demoníacos no mundo antigo. No oriente médio o monstro do mar simbolizava a luta entre o bem e o
mal, entre os deuses e o caos. Para os povos do Mediterrâneo, o mar representava o caos da morte. Assim o
Leviatã, ou dragão veio a representar todos os terrores do mar e a presença do mal e da morte. O Leviatã é visto
como inimigo de Deus e representativo do caos e da morte, sendo normal associar o dragão com Satanás.
Talvez seja o próprio João que fez a ligação entre a imagem da serpente, Leviatã, o dragão e Satanás, já que não
existe indício na literatura judaica dessa junção antes de Rom 16:20 onde Paulo parece que junta Gen 3:15
(serpente) com Sl 74:13 (Leviatã): “Em breve o Deus da paz esmagará Satanás debaixo dos pés de vocês”. No
NT o termo dragão aparece somente no Apocalipse onde é a designação primária para Satanás (12:3, 4, 7, 9, 13,
130
16, 17; 13:2, 4, 11; 16:13; 20:2). Certamente a serpente como enganador-mor é o pano de fundo principal. O
dragão é vermelho, uma cor associada com os dragões nos textos egípcios e babilônicos. Simboliza Satanás
matando (cf. o Cordeiro que foi “morto”, 5:6) o povo de Deus, como no cavalo vermelho (6:4) e o derramar do
“sangue dos santos” (16:6; 17:6; 18:24) pelos seguidores de Satanás. Jesus chamou Satanás de “homicida desde
o princípio” (Jo 8:44) e o dragão é personificado na “Morte e Hades” (Ap 1:18; 6:8; 20:13, 14) (Osborne 2002,
459)
- o dragão tem 7 cabeças e 7 chifres. A imagem com 7 cabeças vem de Sl 74:13 e do ser de 7 cabeças da
apocalíptica judaica. Possivelmente o significado das 7 cabeças seja a pretensão de soberania sobre a terra. Isso
pode ser visto adiante em suas 7 coroas e da imitação de Satanás das coroas de Cristo em 19:12. Satanás é
chamado de “príncipe desse mundo” (Jo 12:31; 14:30; 16:31); o príncipe/governador do poder do ar (Ef 2:2); o
“deus deste mundo” (2 Co 4:4). Mas o Apocalipse deixa claro que o reinado de Satanás é temporário e ele é
soberano somente sobre os seus seguidores. Sua derrota na cruz foi derradeira, e ele sabe que tem pouco tempo
(Ap 12:12). Seu reinado é temporário, finito e ilusório. Os 10 chifres fazem alusão à 4ª. besta de Dan 7:7-8, 20,
24. Em Daniel os chifres são 10 reis vindo do 4º. império, e 3 deles são conquistados pelo “pequeno chifre”
(v.20, 24). Em Ap 17:12-14 os “10 chifres” também são 10 reis, que recebem autoridade da besta (o pequeno
chifre de Daniel) e dão essa autoridade de volta a ele. No mundo antigo, o chifre simbolizava força,
especialmente destreza militar. Em 5:6 o Cordeiro é descrito como tendo 7 chifres como o cordeiro
conquistador, assim os 10 chifres do dragão são outra imitação da força militar de Cristo (Osborne 2002, 460)

5. O que o dragão faz?


- esse dragão agora vai à guerra contra as hostes celestiais (no céu) e depois contra a mulher e seu filho (guerra
na terra)
a. Ele usa sua cauda de forma parecida como foi usada a cauda dos escorpiões para torturar os habitantes
da terra por 5 meses (9:10). No mundo antigo a cauda da serpente freqüentemente era uma arma, como
ocorre aqui. Com a cauda ele arrasta 1/3 das estrelas. Arrastar é um termo forte para arrastar peixes ou
indivíduos sempre para um fim negativo. Isso é um eco de Dan 8:10 onde o pequeno chifre “cresceu até
alcançar o exército dos céus, e atirou na terra parte do exército das estrelas e os pisoteou”. Esse
pequeno chifre era Antíoco Epifânio cuja guerra contra o povo judeus foi retratada por Daniel como
uma guerra contra a hoste celestial (Osborne 2002, 460). Há diversas interpretações para esta cena
i. Não teria significado especial, seria somente uma representação no céu. Mas certamente existe algo
mais do que isso (Osborne 2002, 461)
ii. Um drama astrológico com os planetas indo para a guerra contra as estrelas, resultando na queda
das estrelas. Não existe muita evidência do zodíaco dessa guerra como o contexto dessa passagem
(Osborne 2002, 461)
iii. A imagem de Daniel usada aqui implica que as estrelas não são celestiais, mas terrenas, i.é., o povo
de Deus que pisou Satanás e seus seguidores. Beale argumenta que em Daniel os anjos
freqüentemente representam os santos (10:20-21; 12:1, 3) e assim o ataque de Antíoco sobre Israel
(Dan 8:10) é representado como um ataque no exército celestial. Assim a queda das estrelas em Ap
12:4 não se refere a anjos caídos, mas à perseguição do povo de Deus pelo dragão (Beale 1999,
635). Mas, mesmo que Dan 8:10 retrata o ataque sobre Israel como uma guerra contra a hoste
celestial, crê-se de modo geral que as estrelas nessa passagem são primariamente anjos ao invés de
pessoas (ver Goldingay 1989, 209-10). Enquanto Dan 12:3 diz que os justos/sábios “reluzirão ...
como as estrelas, para todo o sempre”, ainda não diz que eles são estrelas. Além disso, no
Apocalipse sempre que falamos em estrelas estamos nos referindo a seres, seres angelicais (1:16,
20; 2:1; 3:1; 9:1; 22:16 [Cristo como a estrela da manhã]). Não há situação onde as pessoas são
chamados de anjos (Osborne 2002, 461)
iv. Essa imagem de Satanás arrastando 1/3 dos anjos possivelmente se refere à queda original no céu.
Naquele evento primordial, Satanás e seus seguidores (1/3 das hostes celestiais) se rebelaram contra
Deus. Em Ap 12 essa batalha é vista de 2 pontos de vista. O dragão os lançou sobre a terra. Aqui o
dragão é o agressor e isso parece indicar uma vitória rápida na guerra. Mas em 12:7-9 que
possivelmente expande o que vimos aqui, Satanás e seus anjos foram jogados fora (12:4 e 12:9
usam o mesmo verbo) do céu para a terra por Miguel e a hoste celestial. Possivelmente 12:4 se
refere à vitória inicial quando Satanás convenceu 1/3 da hoste celestial a se juntar a ele em sua
rebelião contra Deus e 12:7-9 se refere à batalha em si quando eles foram jogados para fora do céu
(Osborne 2002, 461)
b. O dragão vai à guerra contra a mulher e seu filho. Depois da expulsão do céu o dragão se colocou
diante da mulher para devorar seu filho assim que nascesse. A idéia de uma serpente/dragão parado
esperando para devorar era comum no mundo antigo. Existem diversas instâncias de motivações ruins
com crianças do AT (Gen 12:10ss; 26:1ss; Ex 1:15-16; Lev 18:21; 2 Rs 16:3; 2 Cro 22:10; 28:3; Ez
131
16:20). No entanto o paralelo mais importante está na morte das crianças inocentes de Belém (Mt
2:16). Alguns vêem nessa passagem a perseguição aos cristãos, mas fica mais claro ver isso como a
tentativa de Satanás de matar Jesus logo após o seu nascimento, como depois nas artimanhas dos líderes
judeus para matá-lo (Mc 3:6; Jo 7:30, 44-48; 8:58-59). O filho que está prestes a nascer da mulher é
Jesus, o Messias, não o povo de Deus (Osborne 2002, 461-62)

6. Que detalhes esse trecho apresenta sobre Jesus? Que detalhes ele omite? Por que o autor faria isso?
- agora a narrativa oculta todos os detalhes sobre a vida de Jesus, pulando do nascimento para a sua ascensão.
Isso era comum na época e deve ser visto como intencional aqui, pois o seu reinado está ligado de maneira
intima com a ascensão e exaltação. A ênfase sobre o filho é o sexo masculino. Possivelmente isso faz alusão a Is
66:7 onde significa o renascimento de Israel da angústia do cativeiro. A salvação e libertação do povo de Deus
está centrada sobre a vinda do Messias, podendo até ter uma alusão a Sl 2:7 com o termo “filho” o que daria
uma conotação messiânica ao contexto (Osborne 2002, 462)
- o filho homem está destinado para governar todas as nações com cetro de ferro. Essa é uma citação de Sl 2:9
citada também em Ap 2:27 para a igreja que reina com Cristo e em Ap 19:15 para a vinda de Cristo para “ferir
as nações”. Trata-se do cajado do pastor que quebra as nações como potes. Assim caminhamos do nascimento
para a ascensão e para a parousia numa pancada, pois fica claro em 19:15 que isso não vai ocorrer antes do fim
do mundo. As nações são os habitantes da terra, os habitantes da Grande Babilônia, que seguirão e adorarão a
besta (13:7-8; 14:8; 17:15; 18:3, 23). Eles serão destruídos pela espada da boca de Cristo (19:15). Mas antes
disso se tornarão o meio pelo qual o dragão persegue a mulher = todo o povo de Deus, a igreja (Osborne 2002,
463)

7. O que ocorre quando o dragão quer matar o filho da mulher? O que significa? Como o dragão continua a
sua ofensiva?
- quando o dragão quis executar sua missão mortal, o filho foi arrebatado ao céu. Esse termo indica ser tirado de
forma brusca e veemente. Aqui descreve a ressurreição de Cristo. Essa passagem fala sobre o conflito cósmico.
Na batalha Satanás tentou devorar a Cristo (12:4), mas Deus o arrebatou em vitória através de sua ressurreição.
A tentativa de devorar a Cristo foi a morte de Jesus, mas o seu plano foi derrotado pela ressurreição. Ele foi
arrebatado para junto de Deus e de seu trono dando suporte à idéia que Cristo vai reinar todas as nações (veja
5:6 onde o Cordeiro está no trono e 22:1 para o trono de Deus e do Cordeiro) (Osborne 2002, 463)
- pressupõe-se que o dragão agora volta a sua atenção para a mulher, já que esta foge para o deserto. Não
devemos ver nessa imagem a fuga de Jerusalém quando foi destruída, já que se trata de imagem cósmica.
Outros vêem aqui Deus cuidando da igreja durante a perseguição, talvez inclusive a grande tribulação. No NT o
deserto não simboliza apenas a provação e o teste da fé, mas também conforto divino e proteção. Enquanto o
povo de Deus foi testado por Deus durante 40 anos, ele foi cuidado por Deus também durante esse tempo (Ex
16:32; Deut 1:31; 8:3; Sl 78:53; cf. Jo 6:31; At 7:36). Esse tema do cuidado no deserto que vem do êxodo se
tornou um tema comum como visto em Davi (1 Sam 22:1-2), Elias (1 Rs 19:3-9) e Jesus (Mc 1:12-13). Os 2:14
descreve a restauração de Israel nesses termos: “Portanto, agora vou atraí-la; vou levá-la para o deserto e
falar-lhe com carinho”. Jesus freqüentemente ia para o deserto para ficar sozinho com Deus (Mc 1:35; Mt
14:13; Lc 4:42; 5:16). Kittel inclusive menciona uma tradição judaica em que a fuga para o deserto vai iniciar a
vinda do reino final (Kittel 1968, 2:659). Isso pode nos trazer um pano de fundo interessante aqui. Assim
devemos ver aqui a igreja no período final de sua história quando Satanás e seus agentes lideram a perseguição
terrível final como visto em Ap 11:13-13:18 (Osborne 2002, 463-64)
- quando o dragão persegue a mulher ela é levada a um lugar preparado por Deus. É uma ação soberana de Deus
onde vai dar alimento e proteção para esse povo importunado. Ali o povo é sustentado = cuidado contínuo da
igreja durante esse período. Podemos ter uma alusão aqui ao Sl 23 e 78 onde Deus alimenta os santos numa
mesa na presença dos inimigos. Deus alimenta seu povo no meio da oposição terrível. Isso não significa
proteção da tribulação, mas proteção e cuidado durante esse período. Satanás vai matá-los, mas ser derrotado
por eles (12:11). Os 1260 dias é a 3ª. das 5 vezes que aparece (11:2; 13:5 [42 meses]; 11:3; 12:6 [1260 dias]; e
tempo, tempos e meio tempo [12:14]). Se refere a Dan 7:25; 12:7 e a predição do último ato de desafio contra
Deus. Aqui significa que o dia do mal é curto, temporário, completamente controlado por Deus. O dragão
recebe autorização para se rebelar uma última vez por tempo limitado, mas o povo de Deus vai ser cuidado por
Deus em todo o tempo. Satanás terá permissão para matar o corpo, mas não a alma (cf. Mt 10:28) (Osborne
2002, 464-65)

8. Ap 12:7-8 expande a visão de 12:4. O que realmente aconteceu?


- agora temos a descrição da guerra no céu expandindo o que vimos em 12:4 quando o dragão arrastou 1/3 das
estrelas do céu e as lançou sobre a terra. Ali a história foi vista da perspectiva do dragão. Aqui temos toda a
história narrada. A ênfase está sobre a batalha cósmica no céu. Sabemos que Miguel e seus anjos lutaram contra
132
o dragão e que houve o revide. O AT nunca fala sobre a queda de Satanás, mesmo que a tradição judaica
contém a história da queda primordial. Além disso, Jesus disse que viu Satanás caindo como relâmpago (Lc
10:18) usando o “tempo passado” possivelmente descrevendo a expulsão original do céu. Em diversos escritos
intertestamentários, a expulsão ocorreu na criação com a derrota de Leviatã e para outros ocorreu em Gen 6:1-4.
Temos 3 possíveis alusões à derrota do dragão
a. Na mitologia existe a batalha celestial entre Miguel e Satanás que resulta da derrota e expulsão de
Satanás e seus anjos do céu (12:7-9) é narrada como evento escatológico em 12:9, mas como um evento
primordial e protológico acontecido no passado, baseado em Is 14:12-15
b. A morte e ressurreição de Cristo
c. A vitória de Cordeiro que ocorre no fim dos tempos
É possível que as 3 imagens estejam unidas aqui em Ap 12. A imagem da queda original parece que nos dá o
pano de fundo mais forte para essa descrição, mesmo que tenha implicações para todas elas (Osborne 2002,
468-69)
- devemos observar que os adversários são Miguel e o dragão e não o dragão e Deus, pois não ocorre batalha
entre Deus e o dragão. Mesmo o arcanjo Miguel é mais poderoso que o dragão. É Miguel e os anjos que saem
para lutar contra o dragão. No AT Miguel somente é mencionado em Dan 10:13, 21 e 12:1 onde é um príncipe
supremo (aparentemente das hostes celestiais) que irá lutar contra o príncipe da Pérsia (provavelmente um anjo
mau). Sua função na Escritura é militar, lutar contra as forças cósmicas através da Pérsia em favor de Israel
(10:13, 21) e salvar o povo fiel de Israel da “angústia” dos últimos dias (12:1). Ali ele é o grande príncipe que
protege Israel e no v.2 liberta todos cujos nomes estavam escritos no livro. Esse é o livro da verdade (10:21) (cf.
Ex 32:32; Deut 29:20; Sl 9:5; 51:1; Ml 3:16), sendo paralelo ao livro da vida em Ap 3:5; 20:12; 21:27. Assim
na literatura judaica Miguel se torna o anjo guardião/padroeiro de Israel, o comandante do exército celestial que
irá derrotar os inimigos de Israel; o intercessor em favor de Israel diante de Deus; o mediador que se opõe ao
reino do inimigo e o advogado legal que derrota o diabo na corte celestial. Ele lutou contra Satanás por causa do
corpo de Moisés (Jd 9), possivelmente porque Satanás exigia o corpo já que Moisés tinha assassinado um
egípcio (Ex 2:12). Finalmente, ele é o primeiro de 4 arcanjos (com Rafael, Gabriel e Fanuel) que estão diante do
trono de Deus (1 Enoque 40:9-10) e que tomarão os reis da terra e os lançarão na fornalha ardente (1 Enoque
54:6) (Osborne 2002, 469)
- a guerra entre as forças de Deus e as forças do dragão têm uma história interessante. Existem diversos relatos
da derrota de Leviatã em diferentes pontos da história de Israel. A 1ª. ocorre na criação (Sl 74:13-14 e outras
literaturas judaicas), depois a expulsão dos demônios do céu também está ligada com a relação entre os anjos e
os “filhos dos homens” de Gen 6 e ainda depois no êxodo (Is 51:9-10). O dragão do caos foi simbolizado nos
inimigos de Israel: Egito (Ez 29:4-5; 32:3-8) e Babilônia (Jer 51:34), mas também como as forças mais
poderosas do mal atrás de toda oposição a Deus. É possível que a queda do rei da Babilônia (Is 14:12) tenha
buscado parte de sua linguagem na queda do dragão, assim como foi interpretado no judaísmo mais tardio. A
idéia da luta contra as forças do mal continua no NT. Paulo descreve a vitória de Cristo na cruz como vitória
cósmica, utilizando a imagem romana do triunfo que ocorria depois da vitória (Col 2:15). A vitória de Cristo na
cruz e dos santos em sua luta contra o mal reflete a vitória primitiva contra Satanás aqui em Ap 12:7-9 e
culminará na vitória final na volta de Cristo que está no cerne do Apocalipse (cap.17-20) (Osborne 2002, 469-
70)
- há 2 motivos pelos quais a teoria de uma expulsão original de Satanás do céu no início da história seja
preferível: o ensino do AT da derrota de Leviatã/a serpente na criação e a tradição judaica da expulsão original
mantendo o incidente de Gen 6:1-4. Dentro desse contexto a afirmação de Jesus poderia representar essa queda
original: “Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago” (Lc 10:18) (Osborne 2002, 470-71)

9. Compare os textos abaixo que descrevem 2 batalhas cósmicas. Que diferenças podemos ver entre elas?
- na batalha cósmica (12:8) o dragão não foi forte o suficiente para manter sua posição. Existem alguns
paralelos interessantes aqui
Dan 10:20 “Então ele me disse: 'Você sabe por que vim? Tenho que voltar para lutar contra o príncipe da
Pérsia e, logo que eu for, chegará o príncipe da Grécia”. Aqui o filho do homem acompanhado por Miguel
faz guerra contra o príncipe da Pérsia
Dan 7:21 “Enquanto eu observava, esse chifre guerreava contra os santos e os derrotava”. Aqui o pequeno
chifre (= besta) guerreia contra os santos e os derrota (é forte demais para eles)
Ap 12:7-8 “7 Houve então uma guerra nos céus. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os
seus anjos revidaram. 8 Mas estes não foram suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar nos
céus”
Enquanto Dan 7:21 fala da derrota dos cristãos para a besta (= o pequeno chifre de Daniel), o texto de Ap 12
inverte o texto de Daniel e retrata a derrota do dragão por Miguel. Num certo sentido Dan 7:21 mostra a besta
vencendo os santos (= Ap 13:7) enquanto Ap 12:11 mostra que o dragão já foi vencido em favor dos santos.
133
Isso continua com o tema da futilidade de Satanás. Mesmo que ele é o “deus deste mundo” (2 Co 4:4) e o
“príncipe das potestades do ar” (Ef 2:2), ele já está vencido e o seu destino está certo (Ap 12:12). Ele não foi
forte o suficientes para Miguel e sua derrota dos santos se trata meramente da destruição do seu corpo físico, o
que leva para a sua própria derrota nas suas mãos (Ap 12:11) (Osborne 2002, 471)

10. Qual foi o resultado da batalha? Como João identifica o dragão?


- por causa de sua derrota, não se encontrou mais lugar para eles nos céus. Beale acha que isso se refere a Dan
2:35 em que uma pedra acerta e destrói os 4 reinos, tidos por muitos judeus como profecia messiânica (Beale
1999, 646). O dragão e seus seguidores são destruídos e não tinham mais lugar no céu. Isso possivelmente
ocorre na expulsão original do céu, na ressurreição de Cristo e na destruição final de Satanás e dos seus anjos no
lago de fogo (Osborne 2002, 471)
- assim o grande dragão foi expulso do céu (uma alusão a 12:3 – o dragão vermelho com 7 cabeças e 10 chifres)
(12:9). Possivelmente temos aqui mais um passivo divino afirmando que Deus estava por trás de Miguel
expulsando Satanás do céu. O dragão foi lançado fora, da mesma forma que o dragão lançou 1/3 das estrelas
sobre a terra (lex talionis). O que Satanás fez para os anjos foi feito a ele agora. Agora João identifica o anjo:
a. A antiga serpente, identificando Satanás com a serpente que tentou Eva para comer do fruto proibido
(Gen 3:1-15). A serpente era mais astuta (Gen 3:1) que os outros animais, uma esperteza que engana as
pessoas. Hoje pensamos que Satanás é uma força, mas a sua força está limitada. Ele não tem poder
sobre o povo de Deus. A antiga serpente é caracterizada por sua enganação engenhosa e por sua
oposição implacável contra o povo de Deus. Essa oposição pode ser vista em sua maldição depois da
queda: “este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar” (Gen 3:15). Num certo sentido
representa uma luta desigual onde a serpente tenta ferir o calcanhar, mas é ferida na cabeça. Em outro
sentido representa o conflito continuo entre o bem e o mal. No AT a serpente está ligada com o Leviatã,
o monstro marinho do caos (Jó 26:13; Is 27:1), mas somente no judaísmo mais tardio que a serpente foi
equacionada com Satanás. No NT essa identificação é completa (2 Co 11:3; Ap 12:9; 20:2) (Osborne
2002, 471-72)
b. O diabo e Satanás. Os termos significam adversário ou oponente malvado. Na sua raiz aparece o
aspecto legal se referindo a um acusador na corte. Foi dessa forma que Satanás apareceu em Jó 1:6-12 e
2:1-6 acusando Jó diante de Deus bem como em Zac 3:1-2 onde Satanás acusa Josué o sumo sacerdote.
Mas um grande número de estudiosos vê no termo hassatan (Jó 1-2) não um nome, mas uma descrição
de um acusador ou anjo da promotoria. Assim não seria um titulo até Zac 3. No período
intertestamentário. Satanás é freqüentemente ligado ao impulso maligno que tenta as pessoas ao pecado.
Ele não somente acusa as pessoas diante de Deus, mas tenta destruí-las (combinando as idéias de acusar
e tentar). Essas idéias continuam no NT, mas a linguagem usada para Satanás é elevada. Ele é o
príncipe deste mundo (Jo 12:31; 14:30; 16:11) e o deus deste mundo (2 Co 4:4) a potestade sobre a
humanidade que não foi redimida (At 26:18; Col 1:13) bem como seu pai (Jo 8:44; 1 Jo 3:10). No cerne
ele é mentiroso (Jo 8:44; 1 Jo 3:8) e um enganador (Ap 20:3, 8) bem como destruidor (1 Pe 5:8) e
assassino (Jo 8:44) (Osborne 2002, 472)
c. Enganador de todo o mundo. Satanás e suas hostes freqüentemente estão enganando tanto crentes (Jesus
[Mt 4:1-11]; os santos [Mt 6:13; 24:24; 2 Co 11:3 (Eva) como os não crentes (At 26:18; 2 Co 3:12-18;
4:4). Seu trabalho de enganar as pessoas é expresso em palavras como tentação (1 Co 7:5; 1 Ts 3:5),
fraude (Ef 6:11) e se disfarçando de anjo de luz (2 Co 11:14). Talvez não seja exagero afirmar que o
método principal de Satanás para destruir o plano de Deus é através do engano (como em Gen 3).
Dentro da Bíblia ele somente é poderoso sobre o seu mundo. Acima de tudo ele é descrito como
enganador. Ele engana “o mundo todo” = habitantes da terra, os não-convertidos que adoram a besta e
fazem suas vontades (Osborne 2002, 472-73)
Resumindo, o dragão foi lançado sobre a terra juntamente com seus anjos. Assim a história da expulsão de
Satanás e de seus anjos está completa. Agora entendemos como caíram, porque caíram e que tipo de pessoas
eles são (Osborne 2002, 473)

11. O hino de Ap 12:10-12 funciona como celebração e interpretação de 12:7-9 para o povo de Deus. Quais são
as características deste hino?
“Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi lançado fora o
acusador dos nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus, dia e noite. 11 Eles o venceram pelo sangue
do Cordeiro e pela palavra do testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida. 12
Portanto, celebrem-no, ó céus, e os que neles habitam! Mas, ai da terra e do mar, pois o Diabo desceu até
vocês! Ele está cheio de fúria, pois sabe que lhe resta pouco tempo”
- durante o Apocalipse os hinos funcionam como celebração e também, interpretando as narrativas. O hino que
vem agora interpreta 12:7-9 para o povo de Deus
134
- a grande voz no céu possivelmente vem da corte celestial ao redor do trono. A voz celebra a vinda do reino
messiânico de Deus e Cristo. Deus derrotou o dragão e agora a salvação está aí. Aqui temos as 3 partes da
vitória interligadas. A ênfase sobre o “agora” mostra que ela aconteceu no contexto imediato, ou seja, a vitória
final celebrada em 11:15-19. O poder se refere ao poder usado na derrota do dragão. O dragão somente tem
poder sobre a terra. Quando da volta de Cristo ele é impotente. O reino de Deus é um presente para os seus
seguidores e enfatiza o aspecto real que eles compartilham com ele. No seu reino final Deus vai trocar o reino
deste mundo (11:15) com a realidade eterna dos novos céus e nova terra (21:1-2). Beale acha que se trata aqui
do reino que resulta da morte e ressurreição de Cristo, baseado sobre sua interpretação que a expulsão do dragão
ocorreu na morte e ressurreição de Cristo (Beale 1999, 657-58). Mas é preferível ver o sangue de Jesus como a
vitória dos crentes sobre o dragão. Também temos aqui a “autoridade do seu Cristo” = a autoridade que Jesus
recebeu do seu pai sobre as nações (2:27; cf. Mt 28:18; Jo 5:27; 17:2) em contraste com a autoridade terrena do
reino maligno da besta (13:2, 4, 5, 7, 12) bem como a autoridade dos poderes demoníacos que torturaram os
habitantes da terra (6:8; 9:3, 10, 19). Atrás disso temos outra vez Dan 7:14 alguém como o filho do homem que
recebeu “autoridade, glória e o reino ... Seu domínio é um domínio eterno que não acabará, e seu reino jamais
será destruído”. Essa autoridade também foi passada para os santos e testemunhas (2:27; 11:6) (Osborne 2002,
474)
- o motivo para essa celebração é que o acusador foi lançado fora do céu. O acusador = Satanás que acusa os
irmãos (ênfase sobre sua função). Se trata de um termo legal da promotoria na corte. Satanás primeiramente
acusa Jó de servir a Deus de modo interesseiro (Jó 1:6-12; 2:1-6) e depois Josué o sumo sacerdote
possivelmente pelos pecados da nação (Zac 3:1-2). No Judaísmo tardio Miguel e Satanás eram retratados como
oponentes legais, sendo Miguel o advogado do Israel justo. Existe diversos paralelos na literatura sobre essas
acusações. Não sabemos se eles se aplicam, mas a ênfase é que a vitória cósmica também se tornou uma vitória
legal. Satanás não pode mais acusar os irmãos, já que ele foi jogado para fora do céu (Osborne 2002, 474-75)
- os acusados venceram o dragão (12:11). A vitória de Satanás sobre os crentes é tanto terrena quanto
temporária (cf. 13:7) enquanto que a vitória dos causados sobre ele é final e eterna. A celebração no céu é
motivado pelo fato de que o dragão foi lançado fora e foi conquistado pelos santos. Em 11:7 e 13;7 a besta
temporariamente vence o povo de Deus na batalha e em 17:14 os reis da terra vão para guerra contra o Cordeiro
e seus seguidores fiéis. Mas aqui e em 17:14 a besta e seus seguidores são vencidos por aqueles contra quem
eles lutam. Em 15:2 os vitoriosos estão diante do trono com harpas e cantam o Hino de Moisés. Tudo isso é
construído sobre os dizeres vitoriosos das 7 igrejas (2:7, 11, 17, 26; 3:5, 12, 21) que prometiam recompensas
escatológicas para aos fiéis nas igrejas que perseveraram e venceram as forças preparadas contra eles. As duas
imagens de vitória são a corte legal e a vitória militar que se encontram em 12:7-10 (Osborne 2002, 475-76)
- a vitória é alcançada pelos santos de 2 maneiras:
a. Eles vencem Satanás baseados no sangue do Cordeiro. A base para a vitória é sempre a cruz de Cristo e
não a própria força. O poder do inimigo não é vencido com poder superior, mas pelo sangue do
Cordeiro. João dá uma outra conotação à batalha. O guerreiro é o servo sofredor. O Cordeiro vencedor
(com chifres) é o Cordeiro que foi morto, pois “com teu sangue compraste para Deus gente de toda
tribo, língua, povo e nação” e os “constituíste reino e sacerdotes” (5:9-10). Os santos foram tornados
brancos no sangue do Cordeiro (7:14). A mensagem é clara: Satanás já foi derrotado na cruz e a vitória
dos santos está assegurada. Ap 12:12 nos diz que ele já sabe que perdeu. O sangue de Cristo é a base
para toda vitória alcançada pelo povo de Deus (Osborne 2002, 476)
b. Eles vencem pela palavra do seu testemunho. O testemunho de Cristo se torna a base para o testemunho
dos crentes. Jesus foi a testemunha fiel (3:14; cf. 1:5; Jo 18:37) e o crente é chamado de testemunha fiel
(19:10). O martírio dos santos ocorre por causa do seu testemunho (6:9; 12:17; 20:4) como
exemplificado nas 2 testemunhas (11:3-7). O testemunho dos crentes é primeiramente um estilo de vida
de fidelidade a Cristo e em segundo lugar um testemunho verbal durante esse período de sofrimento.
Fica claro que a igreja nesse período final de perseguição terrível não se esconde para evitar a ira da
besta, mas mantém sua postura evangelística até o final. Assim João esclarece a atitude atrás desse
testemunho: “diante da morte, não amaram a própria vida” (12:11). Eles se recusaram a viver para si
mesmos e se comportar de uma maneira a evitar a perseguição. Jesus ensinara que o discípulo precisa
estar disposto a colocá-lo acima de tudo: “Se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher,
seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu
discípulo” (Lc 14:26). Cristo deve ser uma prioridade tão alta que mesmo as afeições humanas mais
altas – amor pela família e por nós mesmos – sejam virtualmente “odiados” em comparação. Jesus
também falou: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”
(Mc 8:34). Para imitar a Cristo é necessário carregar a cruz, uma prontidão para morrer por Cristo.
Jesus explica o que isso quer dizer: “Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a
sua vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará” (Mc 8:35). Aqui os verdadeiros discípulos não
amaram a sua vida nessa era. Eles acharam que era mais valioso manter o testemunho mesmo que isso
135
implicasse em martírio. Essa é a 2ª. vez que temos a expressão “até a morte”. Na 1ª. (2:10) os
crentes de Esmirna foram incentivados: “Não tenha medo do que você está prestes a sofrer. O Diabo
lançará alguns de vocês na prisão para prová-los, e vocês sofrerão perseguição durante dez dias. Seja
fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida”. Fica claro nessas passagens que nem todos serão
martirizados. Todos serão perseguidos, mas nem todos martirizados. Os cristãos devem estar dispostos
a morrer se necessário, e isso vai ocorrer com muitos, mas não com todos (Osborne 2002, 477)
- a 3ª. parte do hino (12:12) relata o resultado para o céu e para a terra. O “portanto” do v.12 se refere aos v.10-
11. Por causa da vinda do reino que envolve a vitória sobre Satanás e a vitória dos fiéis, os habitantes do céu são
chamados para celebrar e os habitantes da terra para lamentar. No AT tanto o céu como a terra normalmente são
chamados para celebrar juntos. Mas aqui a terra se rendeu ao controle dos poderes malignos e precisa agüentar
as conseqüências. Os habitantes da terra celebraram antes quando as 2 testemunhas foram mortas.
Freqüentemente há um tom religioso nesse termo com implicações para a adoração: todos os céus são chamados
para celebrar com alegria por causa da grande vitória de Cristo e dos santos. Tanto o céu quanto aqueles que o
habitam são nomeados. Não são entidades separadas, possivelmente “os céus, i.é., aqueles que nele habitam”.
Possivelmente se trata tanto dos seres celestiais como dos santos (6:9-11) (Osborne 2002, 477-78)
- enquanto os céus regozijam, a terra e o mar lamentam (representando as regiões do mal). As 2 bestas do
cap.13 emergem do mar e da terra. A ira do diabo está diretamente direcionada contra os não crentes sobre a
terra, mas não é somente esses que ele tem em mente já que sua ira se manifesta contra toda a terra em 12:13-17
(Osborne 2002, 478-79)

12. Por que a terra deve lamentar? O que significa?


- eles devem lamentar porque o diabo foi até eles. Se antes o diabo foi lançado para a terra por Deus, agora o
diabo toma a iniciativa de ir para a terra, de forma similar a 12:4 quando o diabo lançou 1/3 das estrelas sobre a
terra. Em 11:7 a besta sobe do abismo enquanto o diabo descende para a terra. O diabo está cheio de fúria. Esse
o único local onde o diabo tem fúria. Em uma passagem as nações tem fúria (11:18) e nas outras é Deus que
tem fúria e ira. Mas a fúria de Satanás não é uma ira justa, mas fúria e frustração resultando da derrota final dos
seus planos. Ele vai descarregar essa fúria sobre os habitantes da terra, seus seguidores. Isso já ocorreu na 5ª. e
6ª. trombetas (9:1-19) quando os gafanhotos demoníacos torturavam os habitantes da terra por 5 meses e depois
os cavaleiros demoníacos mataram 1/3 dos seus adoradores (9:19-20) (Osborne 2002, 479)
- há 2 motivos para a fúria do diabo:
a. Ele perdeu o seu lugar no céu (12:7-10)
b. Seu tempo é curto. Sua derrota é iminente. Satanás sabe que não pode vencer e que somente tem um
pequeno espaço de tempo até que seja lançado no lago de fogo (20:10). A mesma iminência acompanha
a expectativa da parousia no NT (Mt 16:27; 1 Co 1:7; Ap 22:7, 12, 20), mesmo que Jesus disse que
somente o Pai sabe o dia e a hora (Mt 24:36). Enquanto os crentes são caracterizados por boas obras
durante o seu tempo sobre a terra, o diabo quer fazer o máximo de obras más sobre a terra porque o seu
tempo é curto. Seu julgamento é inevitável e iminente, assim deve aproveitar ao máximo o seu tempo.
Por que Satanás odeia os seus seguidores, os habitantes da terra? Os não-crentes também são criados à
imagem de Deus e assim são objetos do amor de Deus (Jo 3:16). Assim se tornam os objetos da ira de
Satanás. Fica claro nos evangelhos que possessão demoníaca tem somente um objetivo: torturar e matar
aqueles que são feitos à imagem de Deus (veja Mc 5:1-20; 9:14-29) (Osborne 2002, 479)

13. Em Ap 12:13-17 a ira do diabo é direcionada diretamente contra os crentes. O que acontece com a igreja
nesse período e que armas do diabo usa?
- agora a ira do diabo (12:12) é direcionada especificamente contra os santos. Enquanto que 12:7-9 era uma
expansão de 12:4, aqui temos uma expansão de 12:6, detalhando a ação do dragão (o retorno à utilização desse
titulo para Satanás quer levar o leitor de volta para a história básica de 12:1-6) que forçou a mulher a fugir para
o deserto. A mulher foge para o deserto por causa dessa perseguição. É interessante notar que o dragão percebeu
que havia sido lançado sobre a terra. Isso indica que sua expulsão foi uma ação instante de um poder bem
superior a ele (Deus e Miguel em 12:9). Num momento Satanás estava no céu lutando contra Miguel e no outro
se encontrava na terra. Nesse momento volta sua ira para a mulher e a perseguiu. A mulher foge do dragão da
mesma forma como Israel fugiu das carruagens de faraó (Is 51:9-10; cf. Sl 74:13-14) (Osborne 2002, 481-82)
- a mulher foge para o deserto para o local preparado por Deus para ele. “Foram dadas” à mulher (outro passivo
divino) 2 asas da grande águia. Isso possivelmente indica as águias do AT enviadas por Deus para libertar. Ela
não somente é carregada por uma águia, recebe asas da águia. Existe uma tipologia do êxodo aqui fazendo
alusão a Ex 19:4: “os transportei sobre asas de águias e os trouxe para junto de mim” e Deut 32:10-11: “10
“Numa terra deserta ele o encontrou ... como a águia que desperta a sua ninhada, paira sobre os seus filhotes,
e depois estende as asas para apanhá-los, levando-os sobre elas”. Essa idéia de um salvamento através de uma
águia se tornou o motivo padrão no pensamento judeu. O paralelo mais próximo é Is 40:31 onde se diz que os
136
fiéis “voam alto como águias”, i.é., vão voar acima de suas provações terrenas através da nova força que
recebem das provisões de Deus (Osborne 2002, 482)
- com as asas a mulher voa para o local preparado por Deus (v.6) para ela no deserto. Nesse local ela é
sustentada por Deus. Freqüentemente no AT o deserto é o local de refúgio e da provisão divina. Ali ela vai ser
nutrida por 1260 dias (3 anos e meio), literalmente tempo, tempos e meio tempo, uma alusão direta a Dan 7:25;
12:7 onde também se refere aos últimos dias quando os santos serão entregues para o pequeno chifre que vai
oprimi-los (7:25). Eles serão oprimidos fisicamente, mas sustentados espiritualmente por Deus (veja a discussão
de 3:10; 6:9-11; 7:3-4, 14-17; 10:9-10; 11:1-2; 12:6). Ali a mulher estará fora do alcance/presença da serpente.
Usando o termo serpente aqui pode se referir a estar protegido das armadilhas da serpente de forma similar ao
Pai Nosso, “e não nos deixes cair em tentação” = dá nos forças para vencer as tentações, mas livra-nos do
maligno (Mt 6:13). Satanás poderá matá-los, mas não vencê-los (Osborne 2002, 482-83)
- em 12:15 temos um exemplo da proteção da mulher contra a serpente. A conexão do AT entre a serpente e
Leviatã está por trás desse exemplo. A serpente envia uma enchente para tentar afogá-la. Deve ser uma
enchente de mentiras e engano bem como perseguição nesse contexto. Houve uma inundação do Jordão no ano
de 68 AD impedindo os judeus de fugirem do exército romano, resultando em grande matança. Mas
possivelmente a interpretação metafórica deva ser preferida. Satanás usa mentiras e engano na tentativa de
enganar os crentes: “aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas
para, se possível, enganar até os eleitos” (Mt 24:24; cf. Mc 13:6); “Satanás pediu vocês para peneirá-los como
trigo” (Lc 22:31); “A vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás, com todo o poder, com sinais e com
maravilhas enganadoras. Ele fará uso de todas as formas de engano da injustiça para os que estão perecendo,
porquanto rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar” (2 Ts 2:9-10); e os sinais milagrosos do falso
profeta (Ap 13:13-15; 16:14). Também poderia haver uma alusão aos falsos mestres nas 7 igrejas (2:2, 14-15,
20-23). Há diversas passagens do AT que descrevem a enchente como perseguição (Sl 18:4; 32:6; 69:2; 124:4;
Is 43:2) (Osborne 2002, 483)
- quando Satanás tenta afogar a mulher outro milagre ocorre (12:16): ele é salva, possivelmente outro passivo
divino. Deus faz com que a terra engula a enchente. Pode haver uma alusão aqui à perseguição de Israel da parte
de faraó, ou do incidente quando a terra engoliu os filhos de Coré. Em todo o AT essa imagem fala tanto do
julgamento de Deus como da proteção divina daqueles que querem levar o povo pelo mau caminho (filhos de
Coré) e destruí-los (egípcios). No Apocalipse as águas da enchente ou o mar figuradamente retratam os poderes
do mal. Assim aqui a terra é o instrumento de Deus mais uma vez para libertar seu povo das artimanhas do
diabo (cf. 1 Co 10:13; Ef 6:10-12) e da tentativa do diabo de devorá-los (1 Pe 5:8-9) (Osborne 2002, 483-84)
- isso irritou o dragão especificamente contra a mulher. Em 12:12 o dragão tinha se irritado contra os povos da
terra. Agora ele se volta contra a mulher/povo de Deus, guerreando contra o restante de sua descendência. Há 3
derrotas do dragão no cap.12:
a. Em 12:5 o dragão está frustrado quando Deus tira o menino Jesus do seu alcance
b. Em 12:7 o dragão e sua hoste de anjos caídos guerrearam contra Miguel e seus anjos e perderam o seu
lugar no céu (12:8)
c. Em 12:15-16 sua tentativa de destruir a mulher também é frustrada
Por isso sua ira é baseada nessas derrotas. Agora ele luta contra a descendência da mulher. Possivelmente se
trata da igreja em todas as eras bem como a igreja nos últimos 3 anos e meio da história [se houver essa divisão
tão clara]. Aune e Michaels vêem aqui uma alusão a Gen 3:15 por causa da única utilização da palavra sperma
no Apocalipse. A igreja via isso cumprido neles como em Rom 16:20: “Em breve o Deus da paz esmagará
Satanás debaixo dos pés de vocês” (Osborne 2002, 484-85)
- as pessoas da igreja que são o objeto da ira do dragão se tornam vitoriosas quando “obedecem aos
mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus” (12:17). Os ptc. pres. indicam a perseverança
contínua da igreja obedecendo a Deus e mantendo o testemunho. A fidelidade da igreja se torna possível por
causa da fidelidade de Jesus e é modelada por ele. A obediência e o testemunho fiel são as chaves para a vitória
da igreja em todos os períodos, inclusive nesse período final de guerra cósmica. Logo em seguida temos algo
parecido: “Aqui está a perseverança dos santos que obedecem aos mandamentos de Deus e permanecem fiéis a
Jesus” (14:12). Outra vez a perseverança e a obediência fazem com que os crentes escapem do final terrível
previsto para os seguidores da besta (14:9-11). É também a obediência e a fidelidade que provêem as soluções
chave para as 7 igrejas (2:10, 25-26; 3:3, 10-11). A obediência aos mandamentos é central nas Escrituras. O
cristão deve obedecer aos mandamentos até o final (Osborne 2002, 485-86)

14. Em Ap 12:18-13:10 temos a descrição da besta “o filho do dragão” que sai do mar. Que características nos
chamam a atenção sobre ela?
- aqui temos a expansão final da visão-história de 12:1-6. Agora nos diz como o dragão foi à guerra e descreve
os agentes satânicos na guerra. O tema central continua sendo a soberania de Deus. As bestas somente podem
137
fazer aquilo que Deus permite. As bestas tentam imitar o que Cristo já fez e conseguem enganar muitas
pessoas, convencendo as pessoas a adorá-los (Osborne 2002, 487)
- o ataque de Satanás contra a mulher e sua descendência está centrado sobre a besta que surge do mar (um
símbolo do mal no livro). Fica claro que a besta assume a imagem do próprio dragão (com 10 chifres e 7
cabeças, 12:3 = 13:1) e tem a mesma autoridade do dragão (13:2). Assim a besta é o “filho” do dragão, uma
outra imitação de Cristo, e essa imitação continua à medida que a ferida mortal é curada (13:3-4), uma imitação
da morte e ressurreição de Cristo. Parece óbvio que a besta é construída sobre a imagem do Anticristo no NT.
Assim ele conduz a batalha final contra Deus e o seu povo (13:5-8) e exige adoração universal (13:4, 8),
possivelmente fazendo alusão à exigência ao culto do imperador (Osborne 2002, 488)
- o dragão se coloca em pé na areia do mar para chamar o seu agente para a batalha final. O dragão é o Leviatã,
o monstro do fundo do mar, sendo que no Apocalipse o mar representa a esfera do mal. À medida que o dragão
está em pé na praia a besta lentamente sai do mar. Ela vai saindo devagar, primeiros os chifres, depois as
cabeças com as coroas e finalmente o corpo com semelhanças do reino animal. O que temos aqui é a 1ª. besta,
já que em 13:11 teremos a 2ª. Em 9:1 tivemos a besta que saía do abismo e aqui a besta sai do mar. O abismo =
profundezas do mar, assim as 2 imagens são sinônimas. Esse versículo faz alusão a Dan 7:3 onde 4 bestas
sobem do mar no sonho de Daniel. Da mesma forma como o dragão no cap.12 a besta está ligada com o
Leviatã, ou monstro do mar do AT. Da mesma forma como o dragão que chama essa criatura das profundezas, a
1ª. besta é o inimigo e Deus e do seu povo. Da mesma forma como o dragão, essa besta tem 10 chifres e 7
cabeças. As cabeças são a característica principal do dragão e os chifres a característica principal da besta. As
10 coroas estão sobre as cabeças. Essa imagem indica que a besta está unida com o dragão, mas tem uma função
separada. Isso inicia outra imitação. Enquanto o dragão usurpa o papel de Deus, a besta do mar usurpa o função
de Cristo (com a 2ª. besta ou o “falso profeta”, os 3 se tornam a falsa trindade de 16:13). As coroas nas cabeças
indicam que enquanto o dragão é o rei do império maligno, a besta é o braço militar do rei, uma imitação dos 7
chifres do Cordeiro (5:6) (Osborne 2002, 489-90)
- essa imagem faz alusão a Dan 7. Diversos estudiosos acham que as 7 cabeças são a soma das cabeças das 4
bestas de Dan 7 (a 3ª. besta tinha 4 cabeças). As 10 coroas sobre os 10 chifres se referem aos 10 chifres da 4ª.
besta, e os 10 chifres são 10 reis que o seguem (Dan 7:7, 20, 24). Em Dan 7 as 4 bestas 1 os 10 reis representam
nações que atacam e perseguem Israel; em Dan 7:23-25 os 10 reis e o outro rei (o pequeno chifre de Daniel),
também representando o Anticristo) ambos blasfemam “o Altíssimo” e perseguem “os santos”. Veja o paralelo
com Ap 17:12-14 onde o anjo interpreta os 10 chifres da besta como 10 reis. Por um curto espaço de tempo
(uma hora) esses 10 reis receberão autoridade de Deus para “lutar contra o Cordeiro”. Mas o seu destino final
está certo. A besta do mar é o Anticristo que irá se posicionar contra Cristo e tentar usurpar a sua autoridade e
poder. Mas somente Cristo é o “Rei dos reis, o Senhor dos senhores” (Ap 19:16) (Osborne 2002, 490-91)
- a besta também tem o nome de blasfêmia escrito em cada cabeça. Dan 7:25 fala do pequeno chifre que “falará
contra o Altíssimo”, e aqui a besta segue o modelo. Sua afirmação blasfema de divindade e sua exigência de ser
adoração no lugar de Deus e de Cristo formam a essência do seu trabalho medonho. Diante da situação do culto
ao imperador discutido nos cap.2-3 possivelmente esses nomes blasfemos fazem alusão a títulos de divindade
atribuídos ao imperador romano (“senhor”, “salvador”, “filho de Deus”, “nosso senhor e deus”). Enquanto os
gregos davam status divino para os governadores, os romanos tradicionalmente não declaravam os imperadores
deuses até depois de sua morte. No entanto, as províncias freqüentemente deificavam os imperadores vivos,
possivelmente para implicar a presença do imperador em suas terras. A província da Ásia era conhecida por
proliferar esses templos aos imperadores. Mas o senado romano restringia a utilização desses títulos, reservando
“deus” para os imperadores já falecidos. Mas Domiciano mudou as regras e exigiu esses títulos para si mesmo,
chegando a ponto de pedir sacrifícios a si mesmo em Roma. O templo ao imperador em Éfeso tinha imagens de
deuses nas colunas do 2º. andar. Cria-se que e imperador unia os deuses e os cultuadores. Assim o imperador
era o ponto forma de união entre o humano e o divino. O Anticristo irá renovar essas práticas, mas mesmo aqui
a besta somente faz essas alegações blasfemas porque Deus permite que o faça, o que implica que a blasfêmia é
controlada por Deus (Osborne 2002, 491)
- à medida que a cabeça e o tronco da besta aparecem, transparecem características animais (13:2). João não
está tentando descrever um animal específico, já que tem 7 cabeças e uma única boca. Os detalhes são
apocalípticos e devem ser vistos individualmente. Ele procura apresentar um animal muito medonho,
horripilante, pois é a encarnação de tudo que é mau. Estão construídos sobre Dan 7:4-7 onde 4 impérios
sucessivos são profetizado como semelhantes ao leão, urso, leopardo/pantera e uma besta com dentes de ferro e
a boca de leão. Em Daniel eles eram impérios consecutivos e aqui descrevem um ser. A besta é uma junção de
todas as bestas ou impérios da história humana que se posicionaram contra Deus e seu povo (mesmo que o
Anticristo é uma pessoa e não somente um império, mas uma encarnação de todos). A combinação pode indicar
a velocidade ou crueldade do leopardo, o poder do urso (os pés), e o rugido aterrorizante do leão (a boca), mas
isso seria especulativo. O ponto principal é que a besta resume tudo que veio antes dele (Osborne 2002, 492)
138
15. O que o dragão entrega para a besta? O que significam?
- a conexão íntima entre o dragão e a besta do mar é óbvia dado que o dragão deu a ele 3 de suas posses e
atributos mais essenciais. Outra imitação de Deus é vista em que o dragão deu autoridade para a besta, já que no
livro Deus dá autoridade para as coisas. Essa usurpação da autoridade divina é a característica básica do dragão
e da besta nesses capítulos
a. Satanás dá à besta seu poder, o poder de realizar milagres (como em 13:3) e realizar grandes sinais aos
olhos do mundo
b. A besta recebe seu trono, ou seu domínio, a soberania sobre o mundo do “deus deste mundo” (2 Co 4:4)
c. O dragão dá à besta grande “autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação” (13:7). Essa autoridade
é um eco da 3ª. besta (o leopardo) de Dan 7:6) que “recebeu autoridade para governar”. É essa
autoridade que leva os habitantes da terra a adorar primeiramente o dragão (13:4) e depois a besta (13:4,
12-13). Também existe uma progressão da autoridade do dragão para a 1ª. besta (13:2, 4) para a 2ª.
besta (13:12) e depois para os 10 reis que servem a besta (17:12-13). Mesmo assim Deus continua
soberano, pois o poder de dar autoridade é dele e a autoridade do dragão é temporária (13:5) e
sobrepujada pela autoridade que Deus dá para os seus anjos (14:18; 16:8) especialmente par ao anjo
com “grande autoridade” que destrói a Grande Babilônia (18:1) (Osborne 2002, 492-93)

16. O que a Bíblia fala sobre o Anticristo?


- perto do retorno de Jesus teremos a aparição do anticristo – alguém que mostrará toda a fúria de Satanás contra
as pessoas que são fiéis a Deus. Mas em nenhum lugar nas Escrituras somos incentivados a esperar pelo
aparecimento do anticristo. Devemos esperar a volta de Cristo. Mas também não somos incentivados a ignorar
essa parte negra da história humana (Ewert 1994, 68)
- a figura do anticristo tem suas origens no Judaísmo. Cria-se na luta entre Deus e o diabo – entre os anjos bons
e maus. Assim temos também Cristo X anticristo (Ewert 1994, 68-69; Watson 1997, 51)
- a luta contra os poderes do mal também pode ser vista da dominação de povos estranhos que perseguem os
justos. Por muitos anos Israel era dominado pelas outras nações. O Messias viria e acabaria com todo esse
problema
- as únicas referências do NT para o Anticristo aparecem em 1 João [mesmo que a idéia do anticristo aparece
em outras partes do NT (Watson 1997, 51)]. Em 1 Jo 2:18 João faz alusão ao ensino da igreja primitiva: “vocês
ouviram que o anticristo está vindo”. Isso nos mostra que havia um ensino desenvolvido sobre esse ser na igreja
primitiva, mas o NT não nos traz esse ensino de forma explícita. João continua: “já agora muitos anticristos têm
surgido” se referindo aos falsos mestres nas igreja. Esse termo ocorre ainda em 1 Jo 2:22; 4:3; 2 Jo 7 se
referindo aos falsos mestres. Esses heréticos eram precursores do Anticristo final e eram o “espírito do
anticristo” (1 Jo 4:3) operando no mundo. Fica claro que a função principal do Anticristo será do ensino falso
enganoso que levará muitos para o caminho errado resultando na apostasia de muitos cristãos professos (Mt
24:10-12; 2 Ts 2:3) (Osborne 2002, 493)
- a idéia do “anti” = agindo no lugar de + em oposição a (Ewert 1994, 68)
- existem 2 conceitos sobre o anticristo que precisam ficar claros
a. Em 1 João, João está falando de muitos anticristos, uma série de falsos cristos que iriam aparecer para
afastar as pessoas da adoração do verdadeiro Cristo. Esse também é o sentido dos falsos cristos dos
evangelhos (Mc 13:21-23). Muitos falsos cristos apareceram antes ou logo depois de 70 AD.
b. Em 2 Ts 2, Paulo está falando sobre o Anticristo, que vai além dos anticristos em que insiste em ser
adorado ele próprio (Bruce 1982, 180)
- talvez a 1ª. referência ao Anticristo ocorra quando Jesus fala do “sacrilégio terrível” (abominação da
desolação) como se fosse uma pessoa: “Quando vocês virem ‘o sacrilégio terrível’ no lugar onde não deve
estar quem lê, entenda então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes” (Mc 13:14). Isso se refere a
Dan 9:26-27 (cf. Dan 11:31; 12:11) onde se aplica a Antíoco Epifânio e esse sacrilégio no templo em 167 AC.
Essa sacrilégio de Antíoco IV como profetizado por Daniel se tornou o precursor do tema do Anticristo no
ensino judaico. Antíoco IV é chamado de “Epifânio” porque ele se via como uma manifestação do seu deus
padroeiro Zeus, e montou um altar para Zeus no topo de altar do templo de Jerusalém. Antíoco, o pequeno
chifre de Daniel se tornou o protótipo do tema do Anticristo ou oponente supremo de Deus na terra. Adiante em
Mc 13:22 Jesus fala daqueles que são os falsos cristos, os que pretendiam ser o messias no séc. I (Osborne
2002, 493)
- depois o Anticristo é mencionado em 2 Ts 2:1-12, onde se fala sobre o “homem sem lei”. No ano 40 AD (10
anos antes que 2 Ts foi escrito) o imperador Calígula ameaçou edificar uma estátua dele mesmo no templo de
Jerusalém porque os judeus não aceitavam o seu status divino. Essa “abominação da desolação” (Mc 13:14) em
potencial poderia estar na mente da Paulo quando escrevia. Mesmo que Calígula foi assassinado em 41 AD,
acabando com seus desejos insanos, outro viria cujas vontades malignas não seriam cerceadas até a volta de
Cristo. Da mesma forma como Nero se tornou o modelo para a besta de Ap 13, Calígula se tornou o modelo
139
para o “homem sem lei” (2 Ts 2). Paulo fala ali sobre a remoção do “poder que o restringe” (possivelmente o
governo e seu controle da lei e ordem) permitindo a aparição do “homem sem lei”, o Anticristo. Da mesma
forma como o pequeno chifre de Daniel: “falava com arrogância” (7:8); “com o intuito de prosperar, ele
enganará a muitos e se considerará superior aos outros” (8:25); “ele se exaltará e se engrandecerá acima de
todos os deuses e dirá coisas jamais ouvidas contra o Deus dos deuses” (11:36), esse homem sem lei “se opõe e
se exalta acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração, chegando até a assentar-se no
santuário de Deus, proclamando que ele mesmo é Deus” (2 Ts 2:4). Como em Ap 13:13-14 ele irá demonstrar
diversos milagres baseado na “obra de Satanás” para provar suas alegações e irá trabalhar com o engano
(Osborne 2002, 493-94)
- no judaísmo intertestamentário temos duas figuras anti-Messias:
a. Um líder religioso (falso mestre/profeta) que participa da comunidade judaica, não-político, que engana
as pessoas. Seria parecido com Moisés e faria sinais e maravilhas (Deut 18:18-22)
b. Um tirano que vem de fora que se opõe a Deus e oprime os justos nos últimos tempos, construído sobre
o pequeno chifre de Daniel (Watson 1997, 51; Osborne 2002, 494)
Essas 2 pessoas são combinadas no homem sem lei de 2 Ts 2, mas separados em 2 bestas em Ap 13. Aqui a
“besta do mar” (13:1-10) é o tirano militar, e a “besta da terra” (13:11-18) é o falso profeta (ele é chamado
assim em 16:13; 19:20; 20:10). Da mesma forma como no caso do dragão, atrás da “besta do mar” temos o
Leviatã, o monstro do caos das profundezas que foi derrotado por Deus na criação (Sl 74:14) mas ainda
freqüentemente representava impérios que oprimiam Israel e se colocavam contra Deus (Is 30:7; Jer 51:34; Ez
29:3). No livro Assunção de Isaías 4:1-13 Beliar ascenderá na forma de um homem, o rei da iniqüidade e irá
perseguir o povo de Deus a afirmar que ele é o Senhor. Nessa situação esse Beliar encarnado é sem sombra de
dúvida Nero o “assassino de sua mãe” (havia especulação ampla que ele tinha matado sua mãe). Da mesma
forma Qumran espera um ser “de Beliar” que se tornaria um terror e tornaria Jerusalém num “bastião da
impiedade/ateísmo”. Os Oráculos Sibilinos (3:36-74) descrevem a vinda de Beliar para realizar milagres
sedutores e levar para o caminho errado inclusive alguns dentre os fiéis. O “filho sem lei” irá derrubar o sol e a
lua se tornará em sangue; ele irá realizar muitos milagres falsificados e se apresentar como o falso messias
(Apocalipse de Elias 3:5-13). Assim o tema do Anticristo se desenvolveu tarde no período intertestamentário e
não estava completo até a era cristã. Não existe muita evidência, mas é possível que essa ênfase iniciou com
Jesus (Mc 13:14) e de tornou uma doutrina desenvolvida no tempo em que João escreve suas cartas (1 Jo 2:18).
As únicas passagens claras sobre o assunto são 2 Ts 2 e Ap 13, mas certamente era um tema muito importante
na igreja primitiva (Osborne 2002, 494-95)
- nas cartas de João o anticristo aparece como um espírito, ou como o poder coletivo do mal nos últimos dias (1
Jo 2:18). Anticristos é plural, significando todos aqueles que possuem uma visão errada de quem Cristo era.
Essas pessoas já estavam presentes na igreja no tempo de João. Eles são apresentados como os falsos mestres
(Watson 1997, 51), que ensinam heresias no meio da igreja. Eles normalmente estavam na igreja e depois
ensinavam doutrinas erradas e levavam uma parte da igreja junto com eles
- 2 Ts 2:1-12 – fala sobre a vinda do iníquo nos últimos tempos. Ele vai tomar o lugar de Deus se colocando no
templo e exigindo adoração. Ele vai realizar sinais e maravilhas pelo poder e dentro do plano de Satanás. Isso se
converge numa pessoa. Talvez Paulo estivesse pensando em Calígula que queria ser adorado como deus
querendo colocar uma estátua em Jerusalém para ser adorado em 40 AD (Watson 1997, 51).
- o anticristo virá depois da apostasia (2 Ts 2:3). Antes que ele venha muitos abandonarão a sua fé e aí será
revelado o homem do pecado (perdição). A apostasia aqui parece representar uma revolta política a nível
mundial e apostasia religiosa (Bruce 1982, 166).
- ele é chamado de o “homem sem lei” – talvez com menção a ele como o mais forte toma a lei nas suas mãos e
faz o que bem entende (anarquia)
- no momento está sendo restringido. Está sendo restringido (restrained/delayed) por enquanto (quando foi
escrito) para que seja revelado no seu devido tempo. Não sabemos o que o está detendo por enquanto. Com
certeza os leitores da carta sabiam, mas nós somente podemos adivinhar. Quando aquilo que o impede for
removido, então ele se manifestará. Ele será revelado na hora certa.
- provavelmente o anticristo será um sistema, um poder e uma pessoa que é hostil a Deus (Wanamaker 1990,
252). Talvez a melhor descrição desse homem da perdição em Tessalonicenses seja o sistema de governo que na
época era o império romano e a figura do imperador. As leis são criadas para evitar o caos, mas somente
conseguem limitar o problema, já que não atacam a raiz do problema (Morris 1993, 593). Pode significar uma
revolta contra qualquer governo, qualquer lei estabelecida pelos governantes que estão lá porque foram
instituídos por Deus (Bruce 1982, 167). Os governos com suas políticas sociais negam os princípios
estabelecidos por Deus e se opõem a eles (Wanamaker 1990, 248).
- seu espírito já está em ação. O “mistério da iniqüidade” já está operando (2 Ts 2:7); o espírito do anticristo já
opera (1 Jo 4:3). Atrás dos sistemas econômicos, políticos e sociais desse mundo está um poder satânico que
atua através das pessoas (Ewert 1994, 71)
140
- no Apocalipse, João usa o imperador juntamente com o sistema imperial de Roma como uma figura do mal
que recebe o poder de Satanás. Estes exigiam adoração e perseguiam os cristãos que se recusavam a fazê-lo. Da
mesma forma o anticristo vai exigir adoração
- aqui chegamos ao último anticristo (o mesmo mencionado por Daniel e Paulo). Essa descrição acontece em
Ap 13. Ele é descrito como uma besta com 10 chifres e 7 cabeças. Essa besta teve um ferimento fatal que foi
curado (Ap 11:7; 13:1-10; 16:12-16; 19:20-21). Essa besta recebe o poder do dragão (Satanás; Ap 12:3, 9),
blasfema contra Deus e exige a adoração das pessoas. Exigindo a adoração das pessoas ele se torna o rival de
Cristo. Somente Cristo é o Senhor (Watson 1997, 52).
- o anticristo recebe o poder para lutar contra a igreja e matar muitos deles. Ele terá um reinado sobre todo o
mundo (Ladd 1993, 675).
- Ap 17 nos mostra que a 1ª. besta é o anticristo e simboliza o império romano. As várias cabeças representam
os vários imperadores romanos que adotaram nomes divinos e exigiram a adoração das pessoas. A cabeça
curada representa Nero. Nero foi visto como o anticristo, pois foi o 1º. a perseguir os cristãos. Em 68 AD Nero
se suicidou enfiando uma espada no seu pescoço. Havia rumores de que ele havia morrido, mas tinha
ressuscitado dos mortos. A 2ª. besta (o falso profeta) tem 2 chifres como um cordeiro e fala como o dragão.
Esse faz milagres e exige a adoração da 1ª. besta sob ameaça de morte (Ap 13:11-18; 16:13; 19:20-21). Essa
besta representa o culto ao imperador. No final, Cristo vai jogar ambas as bestas no lago de fogo para erradicar
o mal da criação (19:20-21) (Watson 1997, 52). As primeiras gerações posteriores a Paulo consideravam que o
último anticristo seria Nero que haveria de voltar (Nero redivivus) (Bruce 1982, 182) de acordo com a crença de
que ele havia morrido e ressuscitado (ou que sobrevivera o suicídio) e depois fugira e haveria de retornar. Outra
opção seria a reorganização do império romano que aconteceu com Vespasiano (69-79 AD) após o caos e a
revolução que começara 2 anos antes de terminar o reinado de Nero (Mounce 1977, 253). Para João que escreve
bem depois desses acontecimentos, o anticristo era o sistema imperial romano. Para Paulo, aparentemente o que
está detendo (atrasando) a atuação total do anticristo é o próprio império romano. É possível que as leis do
império apesar de não serem perfeitas permitiam que o evangelho se espalhasse. Esse próprio poder que deita o
anticristo poderia se tornar o anticristo quando a anarquia tomasse conta do mundo e aí valia tudo (Bruce
1982b, 188). Outras interpretações para o que o detêm que têm sido usadas são: o evangelho que está sendo
pregado; o próprio Deus; o Espírito Santo e a igreja (Wanamaker 1990, 250ss, Stott 1991, 169ss). Wanamaker
acha que o mais provável seria uma pessoa maligna com poder satânico, o próprio imperador romano
(Wanamaker 1990, 252, 256-57)
- Paulo menciona que esse homem na iniqüidade virá pouco antes da volta de Cristo. Logo é pura especulação
tentar identificá-lo (Morris in Ewert 1994, 73). Ele estará presente no mundo e quando chegar o momento certo
será revelado. Provavelmente João não limita o anticristo ao império romano.
- o anticristo sempre foi a deificação da autoridade secular (Mounce 1977, 251). Todas as pessoas vão adorá-lo
a não ser aqueles cujo nome está escrito no livro da vida (Ap 13:8). Os que o adoram recebem uma marca na
testa ou na mão. Essa marca pode ter sua origem na escravatura que marcava com brasa os escravos fugitivos.
Tatuagens para pessoas que eram fiéis a uma divindade também era uma prática comum, e outras especulações
(Mounce 1977, 262). A marca é o símbolo da submissão ao imperador. Aqueles que se recusam a esta prática se
tornam mártires. É uma maneira de provocar e abusar dos cristãos. O número na testa ou na mão é o 666
(Mounce 1977, 263). O que esse número significa, hoje ninguém sabe. Já no século II AD os pais da igreja não
sabiam a que se referia esse número. As letras do alfabeto grego e também hebraico tinham valores
correspondentes. Tentativas tem sido feitas, mas nenhuma tem provado ser satisfatória. Talvez a melhor
explicação é de que é a trindade humana 666 que tenta, mas nunca chega à marca da perfeição 777 (Beale 1999,
722).
- uma das coisas que mais preocupa as pessoas é o sinal da besta na testa ou na mão direita. Ap 13:16-17 diz
que estas pessoas não poderão fazer nenhuma transação comercial sem ter o sinal da besta. Isso contrasta com o
selo que os cristãos receberam nas suas testas (7:2-4). É uma cópia do que Deus faz com o seu povo. Esse selo
de Deus não impede as pessoas de sofrerem, mas assegura a elas que vão ter a vida eterna. Com relação a um
sistema onde as pessoas não poderão comprar ou vender isso parece mais como uma forma de judiar/torturar
dos cristãos durante essa época, já que muitos serão martirizados mesmo
- existem muitas especulações sobre quem poderia ser o anticristo. No passado o papa tem sido sugerido, como
também Lutero, Calvino, etc. Outros pensam que poderia ser o Islamismo que cresce muito forte no mundo, ou
ainda um sistema de computadores
- o que parece mais razoável para mim é um reinado mundial – globalização está levando a isso – onde os ricos
e poderosos vão ditar as normas. As normas são eles mesmos – a sua vontade. As regras são flexíveis de acordo
com as suas vontades. Com o seu dinheiro e poder poderão controlar todo o mundo (isso também é somente
especulação). Se na época o anticristo era interpretado como o império romano, hoje temos um outro império
que procura dominar o mundo – talvez seja o anticristo
141
- em Ap 13:5 e 11:2 temos referência a um período de 42 meses em que o Anticristo estará agindo e que o
templo estará em poder dos gentios. Esses 42 meses também aparecem como 1260 dias em 11:3 e 12:6. Esse
tempo se refere a um tempo, tempos, e meio tempo (12:14). A referência principal é para o período de
dominação de Antíoco Epifânio em 167-164 AC. Esse período também já aparece como o tempo em que não
choveu no tempo de Elias, bem como a caminhada de Israel no deserto (40+2 anos [antes do castigo dos 40
anos]); ou ainda os 42 acampamentos no deserto (Num 33). Acabou se tornando um símbolo convencional para
designar um período limitado onde o mal terá um reinado com menos restrições. As diversas ocorrências no
Apocalipse podem indicar que o testemunho final, a proteção divina e o antagonismo dos pagãos podem ocorrer
simultaneamente (Mounce 1977, 221; Beale 1999, 565). Os 42 meses mostram que o povo de Deus sofrerá
tribulação (Ap 11:2; 12:14; 13:5-6), mas estão protegidos do mal espiritual supremo (Beale 1999, 566). Esses
42 meses começaram com a ressurreição de Cristo e vão terminar quando Jesus voltar (Ap 12:5-6) (Beale 1999,
567)
- diversas pessoas supõem que o Anticristo seria não uma pessoa, mas um império já que as bestas em Daniel
são impérios. Eles identificam a besta com o Império Romano, visto por sua dominação do mundo e pelo culto
imperial tomando sobre si as prerrogativas de Deus (Osborne 2002, 495). Bauckham sugere que João focaliza
na pessoa de Nero e o poder imperial. O foco não estaria sobre a pessoa de Nero, mas na sucessão de
imperadores que funciona como um paralelo da morte, ressurreição e volta final de Cristo. Nesse sentido Nero,
e outros imperadores, bem como Hitler, Stalin e outros se tornam símbolos do poder do estado que vai além dos
limites estabelecidos para tentar ser o que somente cabe a Deus (in Beale 1999, 725). Nesse sentido o Anticristo
seria o poder do estado que procura ser deus. Mas existem diversas indicações que o Anticristo será uma pessoa
que é a encarnação do império maligno. Enquanto a besta sumariza as bestas de Daniel, ele também e o
cumprimento do pequeno chifre de Daniel, Antíoco Epifânio. Se o dragão é um ser pessoal, a besta também
deve ser, já que é seu descendente. A descrição das 2 bestas no cap.13 se encaixa com um indivíduo e não um
império, e o restante do NT espera uma pessoa: ele está parado (Mc 13:14), o “homem sem lei” (2 Ts 2);
“muitos anticristos” (1-2 João) são os falsos mestres individuais, antecipando o Anticristo final (1 Jo 2:18).
Assim é provável que o Anticristo esperado no NT, será a pessoa que irá conduzir os império da Grande
Babilônia (14:8; 17:5; 18:2, 10) (Osborne 2002, 495)

17. O que aconteceu com uma das cabeças da besta? Que conseqüências provocou?
- uma das cabeças da besta parecia ser morta (lit. morto até a morte). Outra vez uma imitação do termo
esfagmenen usado em 5:6 para o Cordeiro que “foi morto”. A ênfase dupla no termo “morte” enfatiza a
realidade dessa morte (ferimento mortal) que sabemos de 13:14 que se trata de um ferimento trazido pela
espada (espada = símbolo da autoridade romana que executou Jesus) [o ferimento pode ser trazido por Deus, já
que sempre no Ap. o termo plege = castigo dado por Deus (Beale 1999, 687-88; contra Osborne 2002, 495 que
acha que isso seria forçar uma conexão longe demais)]. Assim a imitação da paixão de Cristo ocorre em
diversos níveis. Além disso, o termo etherapeuthe = foi curado, que diz que a besta voltou a viver depois do
ferimento mortal é uma imitação da ressurreição de Cristo. Em 13:14 diz que a besta ezesen = viveu, o mesmo
termo usado para a ressurreição de Jesus em 2:8. Assim temos aqui mais uma das grandes imitações que
dominam desses capítulos e demonstram que o dragão e a besta somente podem imitar o que Deus e Cristo já
realizaram. Ao mesmo tempo temos aqui uma alusão a Gen 3:15 onde se diz para a serpente: “ele vai esmagar a
sua cabeça”. Ali a derrota da serpente/dragão é profetizada, mas aqui a besta faz de conta que revive do
desastre. Sabemos que esse “fazer de conta” somente dura pouco tempo, já que a besta e o falso profeta serão
lançados no lago de fogo (Ap 19:20) (Osborne 2002 495-96)
- mas aqui somente uma cabeça morreu. Em 17:9-11 vemos que as 7 cabeças da besta são 7 montes que
simbolizam 7 reis e que a besta é “é o oitavo rei. É um dos sete [pertence aos sete], e caminha para a
perdição”. Fica claro que os 7 reis são imperadores romanos, o que nos leva a perguntar qual rei João tem em
mente. Aqueles que sugerem uma visão corporativa da besta vêem aqui o caos que reina em 68-69 AD depois
do suicídio de Nero, quando a guerra civil iniciou e 3 pessoas reivindicaram o império em um ano. A
reconquista do império por Vespasiano parecia milagrosa. Aqueles que consideram a besta um indivíduo vêem
2 possibilidades: Calígula contraiu uma doença séria e se recuperou, mas a maioria liga com a lenda do Nero
redivivus (Nero revivido dos mortos) (Osborne 2002, 496)
- por causa do seu reinado terrível, Nero foi censurado pelo senado em 8 de junho de 68 AD e declarado o
inimigo de Roma. No próximo dia em sua casa de campo nos subúrbios de Roma ele se matou enfiando uma
faca em seu pescoço (cf. Ap 13:14). Muitos se recusaram a admitir que ele tinha morrido (achando que se
tratava de um conspiração dos seus inimigos [Wilson 2002, 326]), e no final dos anos 80 uma lenda se tornou
popular que ele estaria vivo (alguns diziam que ele voltaria dos mortos) e vivendo em Pártia, preparando um
exército de partas para invadir e retomar o trono. Diversos impostores tentaram tomar o poder afirmando ser
Nero (veja Wilson 2002, 326). Durante o reinado de Domiciano, um deles quase teve sucesso, mas Domiciano
convenceu os partas e executar essa pessoa (Osborne 2002, 496) depois de muita relutância da parte deles
142
(Wilson 2002, 326). Dio Chrysostom, nativo da Bitínia resumiu as expectativas no final do séc. I: “Mesmo
agora todos ansiavam que ele (Nero) estivesse vivo, e a maioria acredita que ele está” (in Wilson 2002, 326). O
problema com essa visão seria que João teria acreditado nesse mito e pensado que Nero fosse o Anticristo. Mas
isso não é necessário. Da mesma forma como Deus retratou a visão da mulher, do dragão e da criança (12:1-6)
com base na lenda de Apolo, ele desenhou a visão da besta baseado na lenda de Nero. Nenhuma delas é
verdadeira, mas se torna uma analogia redentora para mostrar para os leitores que aquilo que eles conheciam
como sendo lenda haveria de se tornar história. A besta não era Nero, mas alguém como Nero. Além disso,
mesmo que foi uma das cabeças que morreu (13:3) em 13:14 a própria besta foi ferida pela espada e mesmo
assim viveu. Assim é o próprio Anticristo e não somente um dos reis que morreu (Osborne 2002, 496-97).
Beale acha que isso não se trata de um evento do final dos tempos, mas do ferimento mortal na cruz e da
ressurreição de Cristo (Beale 1999, 676). Mas ali temos a derrota de Satanás e não do Anticristo, além de não se
encaixar tão bem com a passagem (Osborne 2002, 497)
- o mundo ficou maravilhado com a ressurreição enganosa. Fica maravilhado, um termo usado para a multidão
que ficava maravilhada com os milagres de Jesus e o seguiam (Mt 8:27; 9:33; 15:31; Mc 5:20). O termo “todo o
mundo” = habitantes da terra, paralelo com 17:8 onde ficam maravilhados com a besta e são descritos como:
“cujos nomes não foram escritos no livro da vida”. Estes são enganados pelos milagres (veja também 13:13-14;
16:14) e fazem aquilo que não fizeram durante o ministério de Jesus: adoram a besta. Eles ficam maravilhados e
como conseqüência seguem a besta como seus discípulos (Osborne 2002, 497)
- o seguir leva à adoração (13:4). O coração da idolatria do AT era adorar um outro deus no lugar de Yahweh
(Ex 20:3; 34:14; Deut 6:4; Sl 44:20; Jer 1:16; 11:13). A igreja no tempo de João teria pensado outra vez no
culto ao imperador, “o trono de Satanás” (Ap 2:13), e de imperadores como Calígula, Nero e especialmente
Domiciano que exigiam ser adorados como deus. Eles também teriam pensado na seita dos nicolaítas com sua
participação nesse culto maligno (2:6, 14-15, 20-25). Além disso, adorar a besta (ou o imperador) significa
adorar o poder satânico atrás dele. Eles adoram o dragão porque este “tinha dado autoridade à besta” se
referindo a 13:2 e Dan 7:6 (onde a 3ª. besta recebe autoridade para reinar). O tema da adoração idólatra da besta
se torna um refrão e separa os verdadeiros adoradores (14:7; 15:4; 19:4, 10; 20:4; 22:9) dos falsos (13:8, 12, 15;
14:9, 11; 16:2; 19:20) (Osborne 2002, 497)

18. Quais são as afirmações litúrgicas que fazem para a besta? Elas nos lembra de algo (Ex 8:10; 15:11; Sl
71:19; 89:8; Is 44:7; 46:5; Miq 7:18)?
- os adoradores idólatras fazem 2 afirmações litúrgicas
a. “Quem é como a besta?”, uma imitação da aclamação de Yahweh (Ex 8:10; 15:11; Sl 71:19; 89:8; Is
44:7; 46:5; Miq 7:18). Somente Deus e incomparável, e a besta está mais uma vez usurpando o que
pertence somente a Deus
b. “Quem pode guerrear contra ela?” É a mesma linguagem de 12:7 onde Miguel e seus anjos
“guerrearam” contra o dragão. Logo já temos a resposta a esta pergunta: as forças de Deus podem
guerrear contra a besta e em 12:11 os santos “vencem” o dragão (em 13:7 Deus permite à besta
“vencer” os santos por um tempo). Aqui estamos no cerne da blasfêmia (13:1, 5) da besta, enganando as
nações para adorá-la como Deus (cf. 2 Co 4:4 onde o deus deste século cegou as mentes dos descrentes)
(Osborne 2002, 497-98)

19. O que chama a atenção em Ap 13:5-8? Qual é o tema que se repete e o que quer indicar?
5 À besta foi dada uma boca para falar palavras arrogantes e blasfemas, e lhe foi dada autoridade para agir
durante quarenta e dois meses. 6 Ela abriu a boca para blasfemar contra Deus e amaldiçoar o seu nome e o
seu tabernáculo, os que habitam nos céus. 7 Foi-lhe dado poder para guerrear contra os santos e vencê-los.
Foi-lhe dada autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação. 8 Todos os habitantes da terra adorarão a
besta, a saber, todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto
desde a criação do mundo.
- fica patente aqui é que a palavra chave é edothe = foi dado que vemos tão freqüentemente (6:2, 4, 8, 11: 7:2;
8:2, 3; 9:1, 3, 5; 11:1, 2; 12:14) como um passivo divino demonstrando o controle divino sobre todas as coisas,
incluindo as forças do mal. Nem Satanás, nem a besta podem fazer nada sem a permissão de Deus. O verbo
ocorre em 4 situações nesse texto, nas 3 atividades principais da besta e Deus a permite: que blasfeme, que
conquiste os santos e controle as nações levando-as a adorá-lo
a. Deus permite a blasfêmia e calúnia (13:5-6)
- se antes vimos que a besta tinha uma boca como de leão (13:2) agora vemos que essa boca blasfema. Isso
ecoa o pequeno chifre de Dan 7:6 com relação à 3ª. besta que recebe autoridade e Dan 7:8 onde o pequeno
chifre tem uma boca que diz coisas grandiosas. João combinou essas 2 imagens à medida que Deus dá à
besta uma boca e autoridade. O pres. ptc. laloun = falando enfatiza a continuidade da blasfêmia. O falar
soberbo era uma das características primárias do pequeno chifre (Dan 7:11, 20) e focava em especial sobre
143
sua fala contra o Altíssimo (7:25). Alem disso, o rei maligno “se exaltará e se engrandecerá acima de
todos os deuses e dirá coisas jamais ouvidas contra o Deus dos deuses ... até que o tempo da ira se
complete” (Dan 11:36). As palavras arrogantes e blasfemas = caluniar o nome de Deus e se refere à besta
reivindicando o nome de Deus para si mesma e exigindo que as nações a adorem ao invés de Deus (13:6).
As palavras arrogantes (lit. grandes palavras) indica a pretensão de grandeza, pois no Apocalipse esse
termo é usado para os grandes atos de Deus (8:8, 10; 12:14; 18:21; 19:17; 20:11) e as grandes vozes dos
mensageiros angelicais (1:10; 5:2, 12:7:2, 10:8:13; 10:3). Em contraste as forças do mal reivindicam
grandeza para si mesmos (14:8; 16:19; 17:1; 19:2), especialmente o grande dragão (12:3, 9). Assim são
palavras grandes e arrogantes (Osborne 2002, 498-99)
- à besta também foi dada autoridade. Isso é irônico já que em 13:2 o dragão já tinha dado ao seu
descendente, a besta “o seu poder, o seu trono e grande autoridade”. Fica claro que a autoridade da besta
somente parecia vir de Satanás. Na verdade ela vem de Deus. Deus permite que essa autoridade seja
exercida somente por tempo limitado, 42 meses (cf Dan 7:25; 12:7), os 3 anos e meio finais da história
humana (Ap 11:2, 3; 12:6, 14). Juntando essas referências vemos que nesse período final a besta recebe
autoridade para pisar a cidade santa (11:2) e perseguir os santos (13:7) mesmo quando estão protegidos por
Deus (12:6, 14) e as 2 testemunhas profetizam e triunfam sobre as forças do mal (12:3). A morte das 2
testemunhas e a conversa de alguns entre as nações irá terminar esse tempo determinado por Deus e então
virá o fim (veja 11;11-13). Fica claro que Deus está no controle e não o Anticristo. Isso está de acordo com
Dan 7:6, 25 onde o rei maligno “falará contra o Altíssimo, oprimirá os seus santos” e “os santos serão
entregues nas mãos dele por um tempo, tempos e meio tempo” (Osborne 2002, 499)
- conforma Bauckham existe uma ligação próxima entre a Ascensão de Isaías 4:2-13 que está centrado
sobre Nero como Anticristo e Ap 13. Essa passagem diz que Beliar irá descer na forma de homem como
um rei sem lei (cf Ap 13:1) e perseguirá a planta que os 12 apóstolos plantaram (cf 13:7). Ele dirá: "Eu sou
o Senhor e antes de mim não houve ninguém” (cf Ap 13:6). O resultado será que todas as pessoas do
mundo crerão nele (cf 13:8) e reinará por 3 anos e 7 meses e 27 dias (cf 13:5, 12). Assim havia uma
tradição apocalíptica na igreja primitiva que mostrava que o Anticristo iria reivindicar a divindade para si
mesmo, mas ter autoridade somente por um curto espaço de tempo conforme Deus determinou (Osborne
2002, 499)
- quando a besta abre a boca para blasfemar contra Deus ela blasfema de Deus, do seu nome e dos
habitantes do céu.
i. Caluniar o nome de Deus é usurpar o nome dele e exigir adoração que pertence somente a ele
(13:8). Profanar o nome de Deus e a maior blasfêmia de todas. Em Dan 8:9-12 o pequeno chifre
que “cresceu até alcançar o exército dos céus” (o mesmo objetivo da Torre de Babel) e “tanto
cresceu que chegou a desafiar o príncipe do exército”. Nesse processo “a verdade foi lançada por
terra” como ocorrerá quando a besta chegará ao poder (Osborne 2002, 499-500)
ii. Blasfema contra o tabernáculo de Deus = aqueles que habitam o céu. Poderia se referir aos anjos,
mas mais provavelmente se refere aos santos na terra e no céu em contraste com “aqueles que
habitam a terra” (13:8, 12). O tabernáculo celestial não é somente um lugar, mas pessoas.
Blasfemar contra o local = blasfemar contra as pessoas. A blasfêmia normalmente se dirige contra
os membros da trindade. Mas também ocorre que ela é dirigida contra aqueles que carregam o
nome de Deus/Cristo. Isso se refere ao abuso verbal e físico do Anticristo e seu seguidores
enquanto perseguem os cristãos (Osborne 2002, 500). Beale nos lembra que isso ecoa Dan 8:10-13
onde o tirano do fim dos tempos causou alguns das hostes celestiais e algumas estrelas a serem
lançadas sobre a terra e derrubou o lugar do seu santuário (Beale 1999, 697). Aqui a besta direciona
suas palavras blasfemas contra os poderes celestiais e contra os santos (Osborne 2002, 501)

b. Deus permite à besta que vença os santos (13:7)


- em 11:7 a besta ascende do abismo e guerreia contra as 2 testemunhas vencendo e matando-as. A mesma
linguagem é usada aqui, à medida que Deus permite que a besta lute contra os santos e os vença. Em Dan
7:21-22 o pequeno chifre “guerreava contra os santos e os derrotava, até que o ancião veio e pronunciou a
sentença a favor dos santos do Altíssimo; chegou a hora de eles tomarem posse do reino”. Isso se repete
aqui. Mesmo o abuso direcionado contra o povo de Deus pela besta está debaixo do seu controle soberano.
Somente em 11:7 e 13:7 a besta vence o povo de Deus e isso é por tempo determinado. Na ação que
determina a sua alegada vitória, os santos o vencem pela palavra do seus testemunho, não amando a vida
mais do que o seu compromisso com Cristo. Esse é um dos paradoxos do livro: à medida que o dragão e a
besta vencem os santos, são vencidos por eles. Isso é uma réplica da derrota de Satanás por Cristo. Quando
Satanás planejou a morte de Cristo e entrou em Judas para colocar Jesus na cruz, estava selando seu próprio
destino. À medida que venceu a Cristo foi vencido por Cristo. Quando os cristãos entram “na comunhão do
sofrimento” (Fp 3:10) eles participam da vitória final através da aparente derrota (Osborne 2002, 501)
144
c. Deus permite à besta receber a adoração universal (13:7-8)
- a autoridade temporária que a besta recebeu de Deus em 13:5 agora é definida como autoridade “sobre
toda tribo, povo, língua e nação”. Se trata das nações que não crêem em Cristo, que seguem a besta, se
opõem a Deus e perseguem os santos. A besta terá controle total sobre elas e elas obedecerão a suas
vontades. Se antes a limitação do poder era de 42 meses, aqui a autoridade se limita aos habitantes da terra.
Ele não tem poder final sobre o povo de Deus. Ele pode perseguir e matá-los (13:7), mas sua autoridade
somente se estende para as nações que o adoram. Seu poder sobre os crentes é físico e não espiritual. Ele
não pode vencê-los, somente enganá-los através de mentiras e tentações. Isso também se aplica à besta
(Osborne 2002, 501-2)
- os habitantes da terra o adoram. O termo habitantes da terra ocorre 11 vezes no Apocalipse, mas somente
aqui a ênfase está que todos o adorarão. O futuro mostra que isso ainda não tinha ocorrido no culto ao
imperador, mas vai ocorrer no futuro quando o reinado da besta vai incluir todo o mundo conhecido.

20. Veja a comparação entre Ap 13:7-8 e Dan 7:10-14 e veja o que quer nos mostrar
Ap 13:7-8: “7 Foi-lhe dado poder para guerrear contra os santos e vencê-los. Foi-lhe dada autoridade sobre
toda tribo, povo, língua e nação. 8 Todos os habitantes da terra adorarão a besta, a saber, todos aqueles
que não tiveram seus nomes escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo”
Dan 7:10-14 “10 De diante dele, saía um rio de fogo. Milhares de milhares o serviam; milhões e milhões
estavam diante dele. O tribunal iniciou o julgamento, e os livros foram abertos. ...13 “Em minha visão à
noite, vi alguém semelhante a um filho de homem, vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do
ancião e foi conduzido à sua presença. 14 Ele recebeu autoridade, glória e o reino; todos os povos, nações
e homens de todas as línguas o adoraram. Seu domínio é um domínio eterno que não acabará, e seu reino
jamais será destruído.”
De acordo com Beale Ap 13:7-8 são uma imitação e Dan 7:14 (1999, 699)
Dan 7:10-14 Ap 13:7-8
A quem se refere Jesus Besta
Receber autoridade Ele recebeu autoridade, glória e o reino Foi-lhe dada autoridade sobre toda
suprema (7:14) tribo, povo, língua e nação (13:7)
Todos na terra todos os povos, nações e homens de Todos os habitantes da terra adorarão a
oferecerão adoração todas as línguas o adoraram (7:14) besta (13:8)
Tudo está associado O tribunal iniciou o julgamento, e os Todos aqueles que não tiveram seus
diretamente com o livros foram abertos (7:10) nomes escritos no livro da vida do
“livro” cósmico Cordeiro (13:8). O livro passa a ter
implicações para o julgamento final
A besta imita a glória, a autoridade e a adoração dos quais somente Cristo é digno (Osborne 2002, 502). Assim
a autoridade e a adoração da besta é um prelúdio irônico e desafiador da vitória vindoura do Filho do homem
(Beale 1999, 700)
- o tempo futuro do Apocalipse mostra que isso ainda não ocorreu no tempo de João, mas aguarda o fim dos
tempos. A besta procura de todas as formas aparecer diante das nações como o Messias para enganá-las e
conseguir a sua fidelidade para realizar os seus próprios propósitos para depois descartá-los e matá-los. Mas a
curto prazo promete recompensas e engana as pessoas. É incrível ver que por pouco tempo Deus permite que
seja imitado pela besta e leve pessoas a se afastar do verdadeiro Deus

- o texto nos chama a atenção para o fato que aqueles que adoram a besta são aqueles cujos nomes não estão no
livro da vida. Nenhum deles tem o nome no livro da vida. O livro da vida se trata do registro divino para os
verdadeiros crentes. No Apocalipse esse livro se refere à segurança do cristão, que é um cidadão do céu
independente do que as forças o mal irão fazer. Esse texto se refere aos habitantes somente da terra que não têm
acesso ao céu por causa de se rebelião e rejeição do evangelho. O background vem de Dan 7:9-10 onde o ancião
de dias está sentado no trono e os livros foram abertos e em 12:1 onde Miguel vai libertar todos os que estão
escritos no livro (Osborne 2002, 502-3)

20. Mas a besta não vai vencer. O livro da vida do Cordeiro é aberto e vai definir o futuro das pessoas. O que
nos chama a atenção sobre o livro da vida? O que poderia significar?
- aqui temos o livro da vida do Cordeiro. Foi o sangue do Cordeiro que venceu o dragão em favor dos santos
(12:11). Foi através da cruz que o Cordeiro morreu e venceu. A vitória final ocorreu na cruz e não irá acontecer
no Armagedom (Osborne 2002, 503)
- a frase “desde a fundação do mundo” é altamente debatida, sendo a dúvida que ele modifica: o Cordeiro que
foi morto, ou o livro da vida escrito. As opiniões divergem, mas por causa da seqüência normal do texto seria
145
melhor ver que o plano redentor de Deus está pronto desde a fundação do mundo. Isso se confirma em 1 Pe
1:18-20 “vocês foram redimidos ... pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem
defeito, conhecido antes da criação do mundo”. Isso não exige uma visão que Deus determinou a queda já que
tinha predeterminado seu Filho para morrer na cruz, já que o Cordeiro morto desde a fundação do mundo se
baseia no conhecimento e não na predeterminação da queda (Osborne 2002, 503-4)

21. João outra vez nos chama a atenção para estarmos atentos para o que vem a seguir. O que ele quer que
ouçam?
- João interrompe a descrição da guerra entre a besta e o povo de Deus para alertar os crentes. Ele inicia com a
chamada profética para ouvir e obedecer: “Aquele que tem ouvidos ouça”. Os leitores devem ouvir atentamente
13:1-8 e em especial 13:10. Isso pode implicar que nem todos os crentes estejam ouvindo, como era o caso com
as 7 igrejas. Se refere aos crentes do tempo de João e dos tempos finais da história humana. Creio que isso se
aplica para os crentes nos dias de João, para os crentes dos dias de hoje e para aqueles que estiverem presentes
na tribulação final. No tempo de grande perseguição a igreja precisa abrir os ouvidos para ouvir o que Deus
quer falar. Se recusar a ouvir convida o julgamento divino (Osborne 2002, 504)
- eles devem ouvir o dizer proverbial: “Se alguém há de ir para o cativeiro, para o cativeiro irá. Se alguém há
de ser morto à espada, morto à espada haverá de ser”. Possivelmente a idéia é que se for da vontade de Deus
que alguém vá para o cativeiro, ele irá. Esse texto faz alusão a Jer 15:2: “Os destinados à morte, para a morte;
os destinados à espada, para a espada; os destinados à fome, para a fome; os destinados ao cativeiro, para o
cativeiro” (veja também Jer 43:11). O contexto de Jeremias é diferente, já que são castigos sobre a nação por
causa do pecado e apostais, enquanto no Apocalipse se trata do ataque da besta sobre os seguidores de Cristo.
Ali a questão é infidelidade e aqui fidelidade a Cristo. Assim o oráculo de Jeremias foi transformado em
chamado profético para o povo de Deus se ajuntar a Cristo na “comunhão do sofrimento” (Fp 3:10) e estar
disposto a seguir o modelo de Jesus: “Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas
entregava-se àquele que julga com justiça” (1 Pe 2:23) (Osborne 2002, 505)
- os cristãos de Esmirna ouviram: “O Diabo lançará alguns de vocês na prisão para prová-los, e vocês
sofrerão perseguição durante dez dias. Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida” (Ap 2:10).
Cativeiro e morte sempre foram o destino dos crentes e nos dias finais debaixo da influência do Anticristo essa
se tornará a experiência universal da igreja. No discurso de despedida de Jesus ele alertou: “eles os entregarão
para serem perseguidos e condenados à morte, e vocês serão odiados por todas as nações por minha causa”
(Mt 24:9) e acrescentou “haverá então grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até
agora, nem jamais haverá” (Mt 24:21). É possível que Jesus estivesse falando da destruição de Jerusalém como
antecipação profética dessa grande tribulação final. O martírio é uma imagem freqüente no Apocalipse (2:13;
6:9-11; 7:14; 11:2, 7; 13:7; 14:13; 16:6; 17:6; 18:24; 20:4) e aqui vemos as instruções de Deus para a resposta
correta dos cristãos a seus perseguidores – pacifismo. Nesse momento os cristãos se recusam a aceitar a marca
da besta e passivamente aceitam sua parcela de sofrimento. A ação dos cristão seria o testemunho fiel e
perseverança seguindo a Cristo. Eles devem se submeter à besta e ainda mais à providência divina. Como no
AT é Yahweh que vence as guerras em favor do seu povo e a mensagem é clara: não lutem contra a besta, pois
esse é o trabalho de Deus. Vivam de maneira fiel e perseverem no testemunho e deixem a batalha com Deus
(Osborne 2002, 505-6)
- João ainda acrescenta o significado ético dessa visão: “Aqui estão a perseverança e a fidelidade dos santos”,
possivelmente indicando que isso exige perseverança e fidelidade dos cristãos. Essas palavras são muito
freqüentes no livro, provendo a dimensão horizontal do livro: as exigências éticas dos cristãos em meio à
perseguição. Os crentes vencem a Satanás submetendo-se à morte (12:11) e confiando em Deus para vencer as
forças do mal em seu favor (6:11) (Osborne 2002, 506-7)

22. Em Ap 13:11-18 aparece a 2ª. besta. Qual é a sua função?


- agora vai aparecer a 2ª. besta. Ela ascende da terra, ecoando Dan 7:17 (lembrando que a 1ª. besta ecoava as 4
bestas de Dan 7:3 e ascendeu do mar). Em Dan 7:17 um dos anjos interpretou as 4 bestas como 4 reinos, assim
as 2 bestas de Ap 13 estão intimamente conectadas uma à outra. Como uma besta, da mesma forma que a outra
besta e o dragão, essa criatura está construída sobre o tema do Leviatã, o que cimenta o relacionamento íntimo
entre os 3 seres malignos. Em Ap 16:13 eles acabam formando a falsa trindade. De acordo com Mounce, temos
uma imitação da divindade: da mesma forma como Cristo recebe autoridade do Pai (Mt 11:27), o Anticristo
recebe autoridade do dragão (Ap 13:4) e da mesma forma como o Espírito Santo glorifica a Cristo (Jo 16:14), o
falso profeta glorifica o Anticristo (Ap 13:12) (Osborne 2002, 511)
- a outra besta imita a descrição de Cristo como Cordeiro de 7 chifres (5:6). Ele tem 2 chifres como cordeiro
lembrando o alerta de Jesus contra os falsos profetas: “Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por
dentro são lobos devoradores” (Mt 7:15). O fato que tem 2 chifres e não 10 mostra a sua subordinação, mas
também faz alusão a Dan 8:3 onde um cordeiro de 2 chifres representa o império medo-persa em sua oposição a
146
Deus. Os chifres do dragão, da besta e do falso profeta retratam a força dos poderes malignos que controlam
este mundo em seu desafio a Deus e sua vontade. Assim essa besta também fala como o dragão. Como o
Anticristo, o falso profeta é agente do dragão e fala com sua voz. Outra imitação de Cristo que fala com a voz
do Pai (Jo 5:25-30; 7:16-18). A voz possivelmente indica que ele mente como a antiga serpente para levar o
mundo para o mau caminho (12:9). Ao Anticristo foi dada “uma boca para falar palavras arrogantes e
blasfemas, e ... abriu a boca para blasfemar contra Deus e amaldiçoar o seu nome” (13:5-6). A 2ª. besta falará
com a mesma voz. O falso profeta derradeiro possivelmente ascenderá de dentro da igreja e liderará a grande
apostasia de 2 Ts 2:3. 1 Jo 2:18; 4:1-3 falam de muitos anticristos ou falsos profetas que surgiram dentro da
igreja e espalharam heresias. A 2ª. besta será o falso profeta definitivo que resume todos os outros (Osborne
2002, 511-12)

23. Em Ap 13:12-16 temos a ação do falso profeta em favor do seu mestre. Aqui temos 9 ocorrências do verbo
poieu = fazer/realizar. O que isso quer nos mostrar?
- nos v.12-16 vemos a ação do falso profeta em favor do seu mestre. Nesses poucos versículos temos 9
ocorrências do verbo poieu = fazer/realizar:
12 Exercia toda a autoridade da primeira besta, em nome dela, e fazia a terra e seus habitantes adorarem a
primeira besta, cujo ferimento mortal havia sido curado. 13 E realizava grandes sinais, chegando a fazer
descer fogo do céu à terra, à vista dos homens. 14 Por causa dos sinais que lhe foi permitido realizar em
nome da primeira besta, ela enganou os habitantes da terra. Ordenou-lhes que fizessem uma imagem em
honra à besta que fora ferida pela espada e contudo revivera. 15 Foi-lhe dado poder para dar fôlego à
imagem da primeira besta, de modo que ela podia falar e fazer que fossem mortos todos os que se
recusassem a adorar a imagem. 16 Também obrigou todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e
escravos, a receberem certa marca na mão direita ou na testa,
Devemos observar a cadeia de autoridade: o dragão dá autoridade para a 1ª. besta (13:2), e esta besta dá
autoridade para a 2ª. Aqui, no entanto temos toda a autoridade sendo dada do Anticristo para seu agente para
realizar o seu trabalho abominável (Osborne 2002, 512)
- a 2ª. atividade do profeta é “fazia a terra e seus habitantes adorarem a primeira besta”. Em 13:3-4 uma das
cabeças tinha recebido um ferimento mortal, mas foi curada. Isso poderia parecer um dos reis mencionados em
17:10 (a interpretação das 7 cabeças da besta) foi morto. Isso é verdade, mas esse versículo nos diz que o 8º. rei
de 17:11, o próprio Anticristo, que foi morto e depois ressuscitou dos mortos é outra “grande imitação” de
Cristo. Aqui o ferimento mortal foi sofrido pela 1ª. besta. O falso profeta toma esse evento e faz os habitantes
da terra adorar o Anticristo. Na época havia a chamada “Commune da Ásia”, um conselho que representava as
maiores cidades da Ásia. Esse grupo promovia o culto ao imperador e exigiam que os cidadãos participassem
nele. Em especial o imperador Domiciano incentivou muito essa adoração chamando a si mesmo de Dominus et
Deus noster (nosso Senhor e Deus). Esse conselho não era o “falso profeta” mas providenciava o pano de fundo
para a demonstração das práticas idólatras, assim como Nero o fazia para o Anticristo. Os leitores originais
certamente iriam ter visto esse paralelo (Osborne 2002, 512-13)
- o falso profeta vai realizar grandes sinais, milagres enganosos que imitam aqueles de Elias e Cristo bem como
das 2 testemunhas de 11:5-6. Moisés foi descrito como profeta que realizava milagres espetaculares como estes
(Ex 4:17; 7:9-10; 10:1-2) e Elias e Eliseu tinham fama por milagres espetaculares que Deus realizava através
deles. Jesus era o profeta messiânico arquétipo e o Evangelho de João é construído sobre os seus “sinais”
milagrosos que providenciavam uma explicação teológica para o significado de Jesus como o Cristo. Aqui
sinaliza para a pretensão da falsa trindade que afirma que a besta é o Cristo. Deut 13:1-4; 2 Ts 2:9 fala dos
milagres enganosos e dos sinais e maravilhas típicos de falsos mestres e profetas em toda a história, mas
especialmente desse protótipo do mal no final da história. Esse tipo de milagres enganadores fazia parte da
tradição da apocalíptica judaica, bem como do NT (Mt 7:15; 24:5-6, 23-24; 2 Ts 2:9; 2 Pe 2:3). De forma
especial o falso profeta imita Elias que chamou fogo do céu tanto no Carmelo (1 Rs 18:36-39) como sobre os
soldados enviados para prendê-lo (2 Rs 1:10-14). No Apocalipse esse milagre é realizado pelas 2 testemunhas
(11:5) e pelo próprio Deus na destruição do exército de Satanás (20:9). Mas o falso profeta pede fogo do céu
diante das pessoas. Não é um ato religioso, mas de relações públicas para intensificar a adoração da falsa
trindade. Um dos testes de um falso profeta é verificar se ele usa o poder profético para se auto-engrandecer,
para ser visto e adorado pelas pessoas (e.g., Jer 23:9-14; Ez 13:1-23) (Osborne 2002, 513-14)
- esses milagres falsificados de Ap 13:14 estão debaixo do controle de Deus (“foi permitido”), e tem a intenção
de enganar os habitantes da terra. Satanás é o grande enganador cósmico, a “antiga serpente” (12:9) e o
“enganador das nações” (20:3, 8, 10). Deus dá ao falso profeta o poder de enganar as nações com seus milagres
falsificados (13:14; 19:20). Em Rom 1 Deus permite que as pessoas sejam dominadas por seus desejos. O
mesmo ocorre aqui. Os habitantes da terra rejeitaram a oferta de salvação divina e se recusam ao
arrependimento (9:20-21) e por isso Deus permite que a besta e o falso profeta os enganem. Deus os entrega
para a decepção que eles mesmos escolheram. Eles optaram por adorar os poderes demoníacos que os
147
torturaram e mataram (9:1-19). De uma certa forma Deus os entrega nas mãos de Satanás. Tendo em vista
que Mateus e 2 Tessalonicenses falam de uma grande apostasia é possível que muitos dentre a igreja também
são enganados, quando se juntam aos habitantes da terra (Osborne 2002, 514)

24. O que os habitantes da terra fazem como resultado do seu engano?


- por causa do engano, os habitantes da terra obedecem às ordens e constroem uma imagem da besta, ecoando
Dan 3:1-6 onde Nabucodonosor edificou uma imagem de ouro de uns 30m de altura e ordenou as nações para
adorá-la. De acordo com a “Assunção de Isaías” 4:11 Beliar vai colocar uma imagem dele mesmo em todas as
cidades. Essa imagem também era muito comum por causa das estátuas dos imperadores no culto ao imperador.
A proliferação dessas estátuas fazia parte do culto imperial. Éfeso, por exemplo tinha templos para Júlio César,
Augusto, Domiciano e mais tarde Adriano. Havia estátuas imperiais nos edifícios, fontes, portos da cidade e nas
ruas. Muitas estavam em locais sagrados onde era objetos de veneração: queimava-se incenso, e vinho e até bois
era sacrificados para selar um casamento, por exemplo. Em Éfeso um grande templo foi dedicado a Domiciano ,
com uma estátua de 7 metros nela. O Anticristo será o 8º. rei. Ele vai construir sobre as práticas idólatras de
Roma e levá-las às últimas conseqüências. A luta dos judeus e cristãos contra a idolatria certamente está na
mente de João (Osborne 2002, 514-15)

25. João volta a falar sobre o ferimento fatal (13:3, 12) que foi curado (13:14). O que acontece em seguida?
- pela 3ª. vez João menciona o ferimento fatal de 13:3, 12. Aqui vemos que o ferimento foi causado por uma
espada e que a besta viveu. Isso pode ligar com a lenda de Nero já que cometeu suicídio enfiando uma
espada/punhal em seu pescoço. Mas também poderia representar a espada do julgamento divino que vem da
boca de Cristo (1:16; 2:12, 16; 19:15, 21; cf. Is 27:1). Talvez a utilização da palavra plege = ferida/praga nos
v.3, 12, 14 possa indicar a noção de julgamento divino (cf. 9:18-19; 11:6; 15:1-2; 16:9, 21; 18:4, 8; 21:9;
22:18). O fato que viveu é uma imitação da ressurreição de Cristo sendo que significa “tornou a viver” como em
2:8; 20:4-5. Em 13:3, 12 a besta é curada, mas aqui tornou a viver (Osborne 2002, 515)
- depois que o ídolo é erigido Deus permite (edothe) que o falso profeta dê fôlego à imagem de modo que possa
falar (13:15). A idéia por trás disso não é o somente o ventriloquismo usado na época por alguns profetas e
feiticeiros para dar a impressão que os ídolos estavam vivos, mas possivelmente se trata de algo semelhante ao
“sopro da vida” que foi dado às 2 testemunhas quando foram levantadoss dos mortos (11:11). Em outras
palavras a estátua idólatra recebeu vida e começou a falar. Como resultado que recebeu vida passou a falar. A
maior parte dos gregos inteligentes cria que os ídolos não eram deuses em si mesmos, mas representantes deles.
Mesmo assim a crença popular era que eles eram deuses. Havia muitos rituais mágicos para animar os ídolos e
fazê-los falar para receber os seus oráculos. Um grupo de mágicos colocavam materiais mágicos (pedras, ervas
ou odores que continuam a fagulha do divino nelas e que eram apreciadas pelos deuses) na cavidade da estátua
para induzi-la a falar. Isso levaria a discurso oracular através do sacerdote ou a “lançar sortes” que se cria era
orientada pelo deus. Havia muitos deuses desse tipo no séc. I. Diversos exemplos poderiam ser citados. O
mundo romano estava enamorado com mágicos e milagres desse tipo. Mas o Anticristo irá além dessas ações.
Ele mesmo será ressuscitado dos mortos e seu “ministro de propaganda” irá trazer vida para a estátua e fazê-la
falar (Osborne 2002, 515-16; Bruce 1969, 653)
- o 2º. resultado do sopro de vida na estátua é que ela causou a morte de todos os que se recusaram a adorar a
estátua. Nabucodonosor (Dan 3:6, 11, 15) também tinha exigido a adoração de sua estátua de ouro sob pena de
morte. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego se recusaram e foram lançados na fornalha ardente. Nos escritos
judaicos a fornalha ardente se tornou o protótipo dos mártires judeus, Não existe evidência que Domiciano
tenha feito um decreto desses (mesmo que Antipas foi morto em Pérgamo), mas uns 15 anos mis tarde Plínio
escreveu uma carta para Trajano (112 AD) que tinha executado cristãos que tinham se recusado a oferecer
vinho e incenso diante de uma estátua do imperador (Osborne 2002, 516). Segundo Beale essa exigência de
morte daqueles que não adoravam a imagem é coerente diante do templo de Domiciano em Éfeso com sua
grande estátua. Exigia-se que toda a província participasse nos ritos e as cidades tinham adoração paralelas em
seus templo, exigindo a participação de todos os cidadãos. Não existe evidência que a pena de morte era exigida
para aqueles que não participassem durante o reinado de Domiciano, mas a pressão pública para participar
estava aumentando, e providenciaria o background para esta profecia (Beale 1999, 712; Osborne 2002, 516)

26. Finalmente a besta coloca a sua marca sobre todos os adoradores. O que significa?
- depois disso a besta faz com que cada pessoa receba uma marca para identificar sua fidelidade com o
Anticristo. A ênfase está sobre “todos”, tanto crentes como descrentes. As categorias sociais são listadas para
deixar claro que cada subgrupo da humanidade está incluído (o artigo diante de cada coloca ênfase sobre os
grupos individuais)
a. Pequenos e grandes. Insignificantes e importantes socialmente. Essa distinção ocorre 3 vezes no livro
(6:15; 13:16; 19:18) cada vez num contexto negativo enfatizando os não-crentes
148
b. Ricos e pobres. Também ocorre 3 vezes (11:18; 19:5; 20:12) cada vez num contexto positivo
enfatizando os crentes
c. Livres e escravos. Essas eram as classes sociais do império romano, com uma quantidade muito grande
escravos vindos dos povos conquistados nas guerras
O propósito em cada contexto é enfatizar que toda a humanidade está em jogo e que Deus não em favoritos.
Não há distinção entre aqueles que têm e aqueles que não têm diante de Deus e da esfera satânica (Osborne
2002, 516-17)
- a exigência da marca indica posse. Certamente é a imitação do selo sobre os crentes em 7:2-4, é outra das
grandes imitações que caracterizam o cap.13. Temos 2 textos do AT que provêem o background para isso. Em
Deut 6:8 Deus pediu que os judeus colocassem o Shema (v.4) nas suas mãos e testas, a base para os filactérios
(bolsas de couro contendo passagens bíblicas) usados por judeus ortodoxos no tempo de Cristo e até hoje
(mesmo que usavam do lado esquerdo e não direito como ocorre aqui). É possível que João e seus leitores
vissem uma imitação disso aqui. Além disso, em Ez 9:4 Yahweh exigiu que a letra hebraica tau fosse colocada
na testa de todos os que se arrependeram da idolatria da nação, indicando que pertenciam a ele. Em “Salmos de
Salomão” 15:6-9 a marca do crente (indicando salvação) é contrastada com a marca do não-crente (indicando
destruição). Em Roma tatuagens e marcas eram colocadas nos escravos para indicar posse bem como em
soldados e membros de certas seitas que se devotavam a um deus em particular. Também havia certificados
similares aos documentos do cidadãos que poderiam identificar as pessoas como seguidores fiéis do imperador.
O selo poderia ser o símbolo do imperador usado para autenticar esses certificados. Diante do contexto parece
mais próximo como uma tatuagem. Em 2 Mac 2:28-29 o rei Filopater 1 (217 AC) forçou os egípcios a se
registrarem num censo e depois marcados com uma folha da hera o símbolo de Dionísio. Quem se recusava era
morto. O propósito de uma marca como estas era para rejeitar as antigas alianças e a aceitação absoluta de uma
nova aliança de fidelidade. Fica claro que a humanidade se divide em 2 grupos: os crentes recebem o selo de
Cristo (Ap 7:3-4; 22:4) e os não-crentes a marca da besta (13:16-17). Não há como permanecer neutro nessa
guerra. Não pertencer a Cristo significa pertencer à besta (Osborne 2002, 517-18)

27. João acaba identificando a pessoa com um número. O que ele quis com isso?
- as pessoas não podem comprar ou vender sem a marca da besta = nome da besta = o número do seu nome.
Outra vez a imitação: os crentes têm o nome de Cristo em suas testas (22:4) enquanto os não-crentes têm o
nome da besta em suas testas. A prática antiga de gematria era baseada sobre o fato que as letras do alfabeto
também eram usadas como números. Assim cada letra hebraica tinha o seu número correspondente e os rabinos
fariam conexões interessantes entre palavras e frases com o mesmo valor numérico. Parece certo que os
números se referiam a um nome e não a uma frase, e possivelmente era conhecido dos leitores de João, o que
torna bastante improvável as tentativas atuais de ligar o número com um personagem contemporâneo (Osborne
2002, 518-19)
- talvez nenhum versículo na Bíblia tenha recebido maior especulação que Ap 13:18. Na história o número da
besta tem sido ligado com centenas de possibilidades. A frase inicial de João: “Aqui há sabedoria”, ou “isso
exige sabedoria” tem sido ignorada. Diante desse número os leitores precisam de sabedoria, e logo em seguida
temos “entendimento”. Esse chamado faz alusão a Dan 12:10: “Nenhum dos ímpios levará isto em
consideração, mas os sábios sim”, o que se refere ao conhecimento do fim dos tempos que Deus dará a seu
povo. Esse chamado está em paralelo com Mc 13:14; Mt 24:15 que profetiza sobre a “abominação que causa
desolação” e acrescenta: “que o leitor entenda” um chamado similar à sabedoria nesse momento apocalíptico
crítico. Esse é um ponto crítico na passagem e por isso João chama seus leitores a exercerem cuidado e
sabedoria na interpretação desse número. Ele também conta que os leitores entenderão do que se trata,
indicando que se trata de uma solução para o séc. I e não para o séc. XXI (Osborne 2002, 519)
- das soluções apresentadas para resolver o dilema do número sugerimos:
a. Os nomes dos vários líderes mundiais (papa, Hitler, Mussolini), já que os Oráculos Sibilinos 5:1-51
fazem alusão a imperadores de Alexandre até Adriano através da gematria; e as iniciais dos
imperadores romanos de Júlio César até Vespasiano (omitindo Otho e Vittelius) é igual a 666;
b. Cronológico. Calculando a duração do reinado do Anticristo e ligando-o com o império (e.g., Roma,
Islã, Nazismo)
c. Enigmas apocalípticos com significado simbólico, como Oráculos Sibilinos 1:324-30 onde o nome
Jesus = 888 (I = 10; h = 8; s = 200; o = 70; u = 400; j = 200), um contraste interessante com o número
da besta, 666 (Walwoord, Ladd)
d. Um símbolo para o Anticristo ou poderes anti-cristãos, no qual 666 é o número final para a humanidade
em rebelião contra Deus, simbolizando o número incompleto (o número 7 significa perfeição ou o
número completo no livro) e pecado (Beale, Morris)
e. Um número triangular, especialmente a soma dos números 1-36 (= 666) com o próprio 36 o número
triangular dos números inteiros 1-8 (= a besta como o 8º. rei, 17:11) (Lohmeyer, Farrer, Bauckham.
149
f. Ireneu menciona ainda 3 outras possibilidades que eram aceitas pela igreja primitiva: Euanthas
(desconhecido) Teitan (os titãs na mitologia ou talvez Tito que destruir Jerusalém em 70 AD e mais
tarde se tornou imperador); Lateinos (o império romano) (Osborne 2002, 519-20)
Com todas essas possibilidades devemos olhar o texto e ver que se trata do número de uma pessoa (alguns
acham que poderia ser uma entidade coletiva). O nome citado com maior freqüência é “Nero César”
transliterado para o hebraico teremos !wrn rsq que somado daria 666 (q = 100; s = 60; r = 200; n = 50; r =
200; w = 6; ! = 50). Isso recebe suporte pela variante textual 616 (ou então pode ter sido usado para identificá-
lo com Calígula, cujo nome “Gaius César” em grego daria 616). O maior problema é que a forma latina normal
de “César” transliterado para o hebraico seria rsyq o que acrescenta mais um yodh o que somado daria 676.
Mas Aune indica um documento aramaico que translitera Nero César sem o yodh, assim essa opção permanece.
Mas ainda há outros problemas com a interpretação de “Nero César”. Temos que assumir que a transliteração
do grego para o hebraico e a utilização da gematria era algo comum e que havia judeus suficientes nessas
igrejas para justificar essa prática. Bauckham mostrou que a prática de usar palavras gregas transliteradas para o
hebraico também se encontra em 3 Bar 4:3-7 e este foi escrito na época do Apocalipse o que demonstra que essa
prática não era incomum. O maior problema em ligar o 666 com Nero César e a ausência dessa interpretação
nos pais da igreja. Mas a presença de 616 nos escritos posteriores poderia representar um entendimento desses.
Outros fatores que poderiam indicar nessa direção é o fato que o Apocalipse era um livro grandemente
disputado na igreja antiga e assim foi negligenciado pelos pais da igreja e a tendência era interpretar o livro em
termos dos eventos contemporâneos (Osborne 2002, 520-21)
- a melhor opção continua sendo Nero César, mas não passa de uma possibilidade. Se adotarmos essa postura,
isso não significa que João cria na lenda do Nero redivivus e contava que Nero voltaria em breve. Antes, a
vinda do Anticristo seria de uma figura como Nero que seria o antítipo do anti-cristão maligno. Assim a
utilização do 666 como correspondente do “santo, santo, santo” de Ap 4:8 para o número completo 7 e a
perfeição absoluta de Jesus como 888 poderia ser intencional. Na verdade não sabemos quem é o 666. Ao que
tudo indica os leitores originais sabiam do que se tratava, mas também disso não temos certeza absoluta
(Osborne 2002, 521)

14:1-5

28. Faça um pequeno resumo da mensagem do Apocalipse até aqui, pois isso se torna o pano de fundo para o
cap.14.
- esse capítulo contrasta o futuro dos santos com o futuro dos pecadores. Todo o livro foi organizado numa serie
de justaposições das cenas contrastando a esfera celestial centrada na presença de Deus, do Cordeiro e dos
santos, com a esfera terrena, na qual as forças do mal parecem triunfar contra os santos:
Cap.1 – retrata Cristo andando entre os candelabros, protegendo e no controle das igrejas
Cap.2-3 – mostram a perseguição e os movimentos heréticos alistadas contra a igreja.
Cap.4-5 – mostram a majestade da visão da sala do trono em contraste com o culto ao imperador (cap.2-3)
Cap.6-7 – retratam os julgamentos dos selos e contraste com o selo dos santos e a alegria das multidões no céu
Cap.8-10 – retratam os julgamentos das trombetas, que são respondidos com uma promessa para a igreja que o
rolo (o plano de Deus para o final dessa era) vai envolver sofrimento (amargo) mas resultará em sua
vindicação (doce) do cap.10
Cap.11 – mostram o lugar da igreja nos tempos finais o que pode ser visto quando o templo é medido e o
ministério das 2 testemunhas que vai envolver sofrimento e vindicação
Cap.12-13 – comparando 12:11 com 13:7 vemos que a morte dos santos será sua vitória sobre Satanás, e sua
vitória aparente, na verdade é sua derrota. A guerra da falsa trindade contra o povo de Deus monta o placo
para o que vem no cap.14: a vitória dos santos e o castigo eterno daqueles que de modo intencional se
tornam instrumentos das ações do dragão contra os santos

29. Faça um pequeno resumo do cap.14 como um mapa para entender o que é dito nesse capítulo.
- cap.12-13 estão focados sobre a guerra da falsa trindade contra Deus e contra o seu povo
- cap.14 focaliza sobre as ações de Deus e do seu povo em resposta a essa guerra
14:1-5 – fala sobre a glória dos santos que fielmente respondem ao mal que os oprime e tenta (cf. 13:9-10). Eles
precisam optar entre a marca de Deus (7:3-4) e da besta (13:16-18) e isso significa a escolha entre morte e vida
neste mundo (rejeitar a marca da besta = morrer) e entre vida e morte no mundo celestial (aceitar a marca da
besta = morrer para a eternidade). Aqueles que optam pela fidelidade a Deus são agora vistos e sua vitória e
alegria (Osborne 2002, 523-24)
14:6-20 – fala do julgamento dos pecadores. Nessa passagem temos as mensagens de 3 anjos:
6-7 – os habitantes da terra têm o evangelho eterno oferecido a eles
8-13; 14-20 – depois são advertidos da destruição total iminente
150
Assim os habitantes da terra passam por esse período final da história carimbados pela marca do Anticristo
em sua testa, mas os 144.000 têm o nome do Cordeiro e de Deus e assim cantam uma nova canção de alegria e
triunfo (Osborne 2002, 523-24)

30. De que forma os 144.000 (14:1) são contrastados com as pessoas de 13:16-17?
- o contraste entre a besta e o Cordeiro é paralelo com o contraste entre os seguidores da besta com sua marca
estampada em suas testas (13:16-17) e os seguidores do Cordeiro com o nome do Cordeiro e do seu Pai escrito
em suas testas. Enquanto o dragão está em pé nas margens do mar esperando pelo aparecimento da besta
(12:17-18), o Cordeiro está próximo do monte Sião esperando os santos vitoriosos. Existe grande dúvida se
temos aqui uma cena terrena ou celestial. O fato que cantam um cântico novo (cf. 5:9) e o paralelo em Hb 12:22
indica uma interpretação celestial. Mas o fato que se ouve um “som dos céus” (14:2) favorece uma interpretação
terrena, pois diferencia entre o monte Sião e o céu. Além disso, o Cordeiro em outras passagens está no céu e
não vem à terra até a parousia (19:11-16). Assim podemos ter uma visão profética do reino milenar do Cordeiro
e dos redimidos, ou a Nova Jerusalém (21:1-2). Parece que temos aqui o “já e ainda não”, com a visão de Sião
no fim dos tempos, juntando aspectos passados, presentes e futuros. Parece que temos uma cena terrena que
antecipa a realidade futura (Osborne 2002, 524-25)
- assim o Cordeiro os 144.000 estão em triunfo no monte Sião. Na tradição profética o monte Sião era não
somente o monte onde estava o templo, mas o local onde o Messias iria libertar seu povo e os ajuntar para si.
Como Jerusalém era a capital de Israel, o monte Sião deve ser visto como a capital do reino renovado de Deus
que será estabelecido pelo Messias (Jl 2:32; Sl 48:2-11; Is 2:2; 24:23; Miq 4:1-8; 4 Esd 13:35-40; 2 Bar 40:1-2).
- estar em pé é uma metáfora militar e ilustra o Cordeiro como guerreiro divino pronto para aniquilar o inimigo.
Os santos são visto como participantes nesse vitória jubilosa (Ap 2:26-27; 17:14). Assim temos aqui o local de
libertação e glória, celebrando a vitória dos santos sobre a falsa trindade. Como visto em 7:1-8 os 144.000 são a
igreja, aqueles que permaneceram fiéis a Cristo em meio à grade adversidade. Em 1º. lugar temos aqui os santos
da grande tribulação e em 2º. o povo de Deus de todos os séculos. Os vencedores do período da tribulação
tomam seus lugares ao lado dos santos glorificados e todas as eras. De acordo com Schüssler Fiorenza os
144.000 são a anti-imagem da besta e de seus seguidores (Osborne 2002, 525)
- os 144.000 têm em suas cabeças o seu nome e o nome do seu Pai, um contaste óbvio com a marca da besta
(13:16). Em 2:17 os vencedores de Pérgamo foram prometidos uma pedra branca com um nome nove escrito
sobre ele, conhecido somente daqueles que o recebem, e em 7:3 Deus colocou um selo na testa dos 144.000.
Isso combina as promessas e prepara para 22:4 onde “seu nome estará sobre suas testas”. A mensagem é de
pertencer a Cristo e estar seguro: Deus vai proteger aqueles que carregam o seu nome, eles são o seu povo.
Como é uma cena sobre a terra, poderia retratar o início desse período final e significar seu status vitorioso
diante de Deus e a glória que os aguarda (Osborne 2002, 525-26)

31. O que os santos estão fazendo? O que significa?


- outra vez João vê e ouve (14:1-3). À medida que os santos estão com o cordeiro no monte Sião, João ouve o
cântico glorioso do céu. Harpas e cantar se encontram em 5:8-9; 14:2-3; 15:2-3, o que mostra a conexão. Esse
som do céu é muito alto, “como o de muitas águas e de um forte trovão. Era como o de harpistas tocando seus
instrumentos”. Na bacia do Mediterrâneo, as “muitas águas” retratariam o rugir do mar batendo na praia. Em
6:1 o ser vivente chamou o 1º. cavaleiro com voz de trovão e em 19:6 a grande multidão gritou aleluia como
som de muitas águas e grande som de trovão. O hino de 19:6 celebra as bodas do Cordeiro com a igreja (cf.
19:7) um paralelo natural para esta celebração. Existe uma progresso natural nos 4 hinos: 5:9 celebra a compra
das pessoas pelo sangue de Cristo; 14:2-3 celebra a vitória dos santos sobre a besta; 15:2-3 (o hino de Moisés e
do Cordeiro) celebram a justiça de Deus nos julgamentos finais; 19:6-7 celebra as bodas messiânicas do
Cordeiro. A ênfase sobre o canto “forte” aqui e em 19:6 marca essas duas situações como celebrações
barulhentas (Osborne 2002, 526)
- o som que João ouviu foi como o som de harpistas. A harpa era um instrumento de 10 ou 12 cordas usada
freqüentemente nos cultos do templo (Sl 33:2; 57:8). No Apocalipse as harpas são mencionadas em 5:8; 14:2;
15:2; 18:22. Os 3 primeiros são hinos, e 18:22 diz que as harpas e a música nunca mais vai ser tocada na
Babilônia. A combinação do canto forte e das harpas enfatiza a tremenda alegria e adoração que ocorre no céu
(Osborne 2002, 526-27)
- o coro celestial está cantando um novo cântico, possivelmente o mesmo de 5:9 já que o contexto e o conteúdo
é parecido. O conteúdo do hino é louvor ao Cordeiro que comprou os redimidos com seu sangue e os tornou
reino e sacerdotes. Nos Salmos um novo cântico (33:3; 40:3; 96:1; 98:1; 144:9; 149:1) é um hino de louvor pelo
fato que o Deus da criação libertou seu povo e ao mesmo tempo um chamado para os santos confiarem
totalmente nele. Possivelmente são os redimidos que cantam esse hino (pois precisam aprendê-lo), mas outros
pensam que seria o coro angelical (Osborne 2002, 527). Na tradição judaica, louvar a Deus com harpas e um
novo cântico estava especialmente ligado com o mundo futuro (Beale 1999, 735)
151
- o cântico é cantado diante do trono e diante dos seres viventes e dos anciãos, enfatizando tanto o trono
como aqueles que estão em volta. Esse cântico pertence à corte celestial (os círculos concêntricos do trono,
seres viventes e anciãos, 4:3-6). Assim esse cântico é a adoração mais alta no céu e isso explica porque somente
pode ser aprendida por 144.000 que foram redimidos da terra (eco do novo cântico de 5:9,
“comprados/redimidos de toda tribo, língua, povo e nação”), os habitantes do céu vitoriosos que venceram os
enganos da falsa trindade. Isso nos dá uma descrição do verdadeiro discipulado: vitória através do sacrifício.
João ouviu o cântico do céu (e parece que o entendeu) e este foi ensinado para os redimidos no monte Sião.
Pode até ser que o novo cântico celebrou a emancipação dos crentes da escravidão realizada pelo Cordeiro (cf. 1
Co 6:20; 7:23) (Osborne 2002, 527-28)

32. Quais são as características dos santos?


- os redimidos são descritos dando um modelo e ao mesmo tempo uma advertência para os cristãos das 7 igrejas
que estão sendo importunados pela perseguição judia e romana além dos falsos mestres. As qualidades são
apresentadas em 3 pares:
a. Não se contaminaram, pois se conservaram castos (virgens). A prostituição tem a conotação sexual e
espiritual (idolatria/adultério). Sua vida é caracterizada por uma recusa de se contaminar com
imoralidade, o que resulta em sua castidade como virgens. A pureza dos 144.000 é afirmada
negativamente depois positivamente. Não se trata de alguns celibatários que denigrem o casamento,
mas uma conotação figurada identificando aqueles que se recusam a participar na imoralidade e nos
desejos mundanos do modo geral. Israel era a virgem de Yahweh no AT (2 Rs 19:21; Is 37:22; Lam
2:13; Am 5:2) e 2 Co 11:2 fala do crente apresentado a Cristo como a virgem pura (imaculada de ensino
falso). Isso também explica porque virgem é usada aqui tanto para homens como para mulheres. Aqui
temos a forma masculina parecendo restringir o termo especialmente para os homens. Por causa da
imagem masculina muitos crêem que se refere aos soldados numa guerra santa, dos quais se exige que
permanecem castos (Deut 23:9-10; 1 Sam 21:5; 2 Sam 11:8-11. Isso se encaixaria com diversas
afirmações no livro:
i. Os seguidores escolhidos e fiéis de Cristo o acompanharão à medida que ele vence as forças do mal
(17:14)
ii. Os exércitos do céu estarão vestidos de linho fino, branco e limpo (19:14)
iii. O vencedor quebrará as nações em pedaços como vasos de barro (2:27)
A idéia da guerra santa é comum no Apocalipse e isso poderia se encaixar bem já que a guerra
contra os santos foi tão proeminente no cap.13 (especialmente 13:7). Um bom soldado não se
envolve com os assuntos desta vida, mas sempre busca agradar o seu superior (2 Tim 2:3-4). Fica
difícil optar entre a metáfora da “noiva de Cristo” e a metáfora da “guerra santa”. Talvez a 1ª.
ênfase sobre não se contaminar se encaixe melhor com a guerra enquanto se manter casto se
encaixe melhor com a noiva. No livro de 1 Enoque os anjos caídos coabitaram com mulheres e se
contaminaram, desobedecendo o mandamento divino de permanecer virgens. As palavras que João
usa contrastam os crentes fiéis com os anjos infiéis de Gen 6:1-4. Não podemos ter certeza desse
paralelo, mas se encaixa bem com a visão da guerra santa (Osborne 2002, 528-29)
b. Seguem o Cordeiro em todos os lugares e foram comprados dentre os homens e ofertados como
primícias a Deus e ao Cordeiro. Seguir a Cristo está no coração do discipulado nos Evangelhos (Mc
1:18; 8:34; 70 vezes nos evangelhos), e João descreve Jesus como o bom pastor que “chama as suas
ovelhas pelo nome e as leva para fora ... e estas o seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10:3-4).
Seguir por todos os lugares = imitação de Cristo, discipulado que envolve sofrimento e morte (tomar
sua cruz sobre si, Mc 8:34). Seguir = aderir às instruções de Jesus e promover sua causa, uma ênfase
encontrada somente nos Evangelhos e em Ap 14:4. A idéia de seguir até a morte também ocorre em Mt
10:38; Lc 17:33; Jo 12:25-26; 13:36; 1 Pe 2:21; Ap 12:11. Os redimidos foram comprados da
humanidade. Essa frase é construída sobre: “com teu sangue compraste para Deus gente de toda tribo,
língua, povo e nação” (5:9) e “os cento e quarenta e quatro mil [= a igreja que vem de toda tribo,
língua, povo e nação] que haviam sido comprados da terra” (14:3). Essa linguagem é de redenção e
descreve a morte de Cristo como pagamento pelo pecado, comprar os santos e apresentá-los para Deus.
Veja o contraste com 13:17 onde o mesmo verbo é usado para os habitantes da terra “comprando” bens
terrenos com a marca da besta. Além disso, os 144.000 são apresentados a Deus e ao Cordeiro como
primícias. Isso é linguagem sacrificial, pois no AT as primícias eram os primeiros e melhores frutos
oferecidos a Deus para significar que a colheita era dele e que o fazendeiro estava grato a Deus pela
oferta da colheita. Na LXX traduz diversos elementos se referindo aos sacrifícios dos primogênitos ou
primícias dos animais e colheitas a Yahweh ou aos sacerdotes e levitas como oferta de gratidão a Deus.
Algumas pessoas são chamadas de primícias. O NT segue a idéia do AT com o significa que Deus
continuará a abençoar a colheita (das almas). Em passagem similar (1 Co 15:20) Cristo ressurreto “as
152
primícias dos que morreram/dormiram” (veja também Rom 8:23). Ele era a garantia que todos os
redimidos o seguiriam. Em Rom 11:16 a conversão dos gentios é vista como a primeira e grande
colheita: “Se é santa a parte da massa que é oferecida como primeiros frutos, toda a massa também o
é; se a raiz é santa, os ramos também o serão”. Assim aqui os 144.000 são os santos do período da
tribulação vistos como uma oferta a Deus garantindo a colheita final dos crentes (a colheita de 14:14-
16) (Osborne 2002, 530-31)
c. Nenhuma mentira encontrada em suas bocas, pois são imaculados. Aqui temos a dimensão ética.
Nenhuma mentira foi encontrada em sua boca. Os apóstolos nicolaítas foram provados como falsos e os
perseguidores judeus eram mentirosos (3:9). Os mentirosos são excluídos do reino eterno e jogados
dentro do lago de fogo (21:8, 27; 22:15). Esse termo é mais amplo do que somente falar a verdade e se
refere à proclamação fiel das verdades divinas bem como da recusa de render-se aos enganos de Satanás
(12:9; 13:14) apresentados através de mentirosos como Jezabel (2:20) e o falso profeta (16:13; 19:20).
Os 144.000 são imaculados, o que não implica em perfeição absoluta, mas uma caminhada total com
Cristo e um compromisso total com ele (Osborne 2002, 531)
- a mensagem de 14:1-5 é a vindicação dos santos, mas também contém uma promessa e uma advertência para
os santos. Aqueles que estarão em pé no monte Sião com o Cordeiro e cantarão um novo cântico são aqueles
que mantiveram sua pureza espiritual, as virgens, que se mantiveram puras se recusando a participar no culto
pagão. Eles se alegrarão eternamente como as primícias oferecias a Deus e ao Cordeiro. Mas aqueles que não se
mantiveram puros (2:14-16, 20-23) a advertência é muito severa. A imoralidade e o culto pagão dos dias de
João é paralelo ao problema entre os cristãos hoje: a prontidão de muitos crentes de se chamar de cristãos, ir aos
cultos regularmente para se encharcar em prazeres egoístas e hedonistas do mundo à sua volta. O culto pagão de
nossos dias, os ídolos de muitos crentes são o dinheiro, o sucesso, e desejos egoístas. Esses crentes podem ficar
de fora da alegria eterna (Osborne 2002, 531-32)

33. O que faz o “outro anjo” (14:6-7)?


14:6-13
- então vi = introduz outro aspecto da visão de João (Osborne 2002, 534)
- não sabemos quem é o outro anjo. Em 7:2; 8:3; 10:1 a referência a outro anjo está numa série de anjos que
executam o julgamento de Deus. Possivelmente essa referência a outro anjo aqui seja para chamar o leitor de
volta para os 7 anjos que introduziram os julgamentos das 7 trombetas, pois estes introduzem os julgamentos
divinos. O anjo voa pelo céu e fala com “alta voz”, similar à águia que anuncia os 3 “ais” (8:13). Isso conecta a
mensagem desse anjo com aquelas proclamações de julgamento. Voar pelo céu = anúncio feito para todo o
mundo (Osborne 2002, 534)
- mas o 1º. anúncio é bem diferente dos outros. Esse anjo carrega o “evangelho eterno”. No grego não há artigo
“um evangelho eterno” enfatizando o caráter teológico dessas boas novas. Essa é a única vez que o termo
“evangelho” aparece no Apocalipse. É um evangelho diferente, pois não menciona Jesus nem um chamado ao
arrependimento como em 9:20, 21; 16:9, 11. Aqui as nações são chamadas a “temer a Deus e glorificá-lo” por
causa do julgamento vindouro. Diversos estudiosos acham que não se trata de oferta de salvação, mas
proclamação de julgamento (Mounce, Beale, Schnabel). Essa interpretação é possível já que se encaixa com o
contexto de 8:13; 10:7; 14:6-13 (o julgamento sobre as nações por causa do que fizeram ao povo de Deus) e já
que o “evangelho” é endereçado aos que estão assentados sobre a terra = os habitantes da terra que escolheram
Satanás ao invés de Deus (11:10; 13:8, 14) e receberam a mensagem de condenação (8:13). Além disso, eles são
descritos como “toda nação, tribo, língua e povo”, como aqueles em 10:11; 11:19; 13:7 que também seguem a
besta e participam em suas ações malignas. Assim aqui pode ser que eles são forçados a se submeter a Deus ao
invés de uma oferta de salvação (Osborne 2002, 534-35)
- mas é mais provável que se trata de uma última oportunidade para o arrependimento das nações. Em todos os
locais onde aparece o termo “evangelho” no NT implica numa oferta graciosa de salvação. De acordo com
Michaels temos aqui um paralelo com o resumo da mensagem do reino de Jesus em Mc 1:14-15: “O Reino de
Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas!”. Também em Ap 5:9; 78:9 a expressão “nação,
tribo, língua e povo” é usado para aqueles que se converteram dentre as nações e em 21:24, 26 as nações trazem
“glória e honra” para dentro da Nova Jerusalém. Aune chama isso de um apelo ao arrependimento e conversão
para o Deus que criou os céus e a terra no contexto do julgamento iminente (Osborne 2002, 535). Além disso
a. Em 15:4 os santos vitoriosos cantam no céu: “Quem não te temerá, ó Senhor? Quem não glorificará o
teu nome?”, uma referência óbvia para a conversão. Logo em seguida temos “Todas as nações virão à
tua presença e te adorarão”
b. Em 16:9 os pecadores “recusaram arrepender-se e glorificá-lo”, definindo arrependimento para a
salvação como “dar glória a Deus”
c. Em 19:5 os “escravos” de Deus são definidos como “vocês/aqueles que o temem”, e em 19:7 a grande
multidão canta: “Regozijemo-nos! Vamos alegrar-nos e dar-lhe glória!”.
153
Assim fica claro que no Apocalipse “temer a Deus e dar-lhe glória” são palavras que definem
arrependimento e conversão. Bauckham vê aqui uma alusão a Sl 96:2 “cada dia proclamem a sua salvação”,
especialmente porque na linha seguinte temos: “Anunciem a sua glória entre as nações, seus feitos
maravilhosos entre todos os povos!” (Sl 96:3). O contexto do Salmo se encaixa bem com a ênfase que temos
aqui. Além disso, um “evangelho eterno” enfatiza a natureza eterna da mensagem, pois é parte da natureza
eterna do próprio Deus. O julgamento se refere aos eventos dos cap.19-20 e dificilmente se chamaria de
evangelho eterno. Assim quando os santos vitoriosos celebram que “todas as nações virão à tua presença e te
adorarão”, eles cantam o resultado dessa oferta de salvação. A decisão se aqui temos um chamado ao
arrependimento ou uma proclamação de julgamento depende de 2 perguntas anteriores: se 9:20, 21 e 16:9, 11 se
referem à oferta real de arrependimento ou simplesmente para a depravação das nações em sua recusa ao
arrependimento e se as pessoas que são “atemorizadas e dão glória” (11:13) são convertidos dentre as nações
(Osborne 2002, 535-36). Segundo Osborne parece pouco provável que todo esse material seja usado
simplesmente para enfatizar o julgamento. Além disso, quando os perseguidores (16:9) se recusam a se
“arrepender e dar glória a Deus” possivelmente se refere a “arrependimento e conversão”. Assim concordo com
Osborne que possivelmente temos uma oferta de salvação aqui (Osborne 2002, 536)
- a mensagem do evangelho eterno é proferida em alta voz para que todos os habitantes da terra ouçam. Os
primeiros 2 elementos são uma réplica da reação dos sobreviventes do terremoto de 11:13: “temam a Deus e
glorifiquem-no”. Esse chamado é muito comum no AT e resume o AT e chamado para a salvação. Mas também
é uma ênfase do NT resumindo a resposta adequada para a salvação de Deus. Em Ap 15:4 os santos triunfantes
cantam louvando a Deus: “Quem não te temerá, ó Senhor? Quem não glorificará o teu nome?”. Assim temos
aqui um chamado ao arrependimento e para entrar na esfera dos santos (Osborne 2002, 536)
- as pessoas devem se arrepender “pois chegou a hora do seu juízo”. A hora do juízo é agora. Essa iminência é a
base para essa chance final de arrepender-se e crer no evangelho. O termo “hora” = hora do destino como no
evangelho de João (Jo 2:4; 7:30; 8:20). No Apocalipse freqüentemente se refere à hora final do derramamento
do julgamento (3:10; 9:15; 14:15; 18:10, 17, 19). O juízo está à porta o que torna o chamado ao arrependimento
ainda mais crítico – não haverá outra oportunidade e somente sobraram 2 opções: arrependimento ou enfrentar o
juízo final (Osborne 2002, 536-37)
- as pessoas também são chamadas para adorar a Deus que “fez os céus, a terra, o mar e as fontes das águas”.
Em 21 ocorrências do verbo “adorar” se refere não a uma submissão forçada, mas a culto e louvor dado a Deus
(4:10; 5:14; 7:11; 9:20; 11:1, 16; 15:4; 19:4, 10; 22:8, 9) ou à falsa trindade (13:4, 8, 12, 15; 14:9, 11; 19:20).
Em 20:4 ambos aparecem juntos quando os santos vitoriosos são descritos como “não tinham adorado a besta
nem a sua imagem”. As nações precisam optar entre adorar a Deus e receber a salvação ou adorar a besta (14:9,
11) e receber o julgamento. O anjo convoca todos a adorar o criador. Deus criou todas as coisas e as sustenta vai
acabar com o mundo baseado e sua vontade soberana. Os 4 elementos mencionados “os céus, a terra, o mar e
as fontes das águas” como em 10:6 reitera as vitimas das 4 primeiras trombetas (8:6-12) e taças (16:2-9). Assim
sumarizam os efeitos da ira de Deus e provam outra vez que um dos propósitos dos julgamentos sétuplos é
provar a onipotência de Deus, mostrar que os deuses são falsos e dar às nações uma chance final para o
arrependimento. Isso está lado a lado com o chamado da igreja primitiva para o mundo pagão para que se
“afastem dessas coisas vãs e se voltem para o Deus vivo, que fez os céus, a terra, o mar e tudo o que neles há”
(At 14:15; cf. At 17:24-27; Rom 1:19-20). Um dos componentes essenciais na pregação da igreja primitiva para
os pagãos era o fato de que Deus tinha criado o universo (Osborne 2002, 537)

34. Qual é a mensagem do 2º. anjo?


- mesmo que a queda do império do mal está no futuro aqui é representada como acontecendo no passado:
“Caiu! Caiu a grande Babilônia” (14:8). A dupla afirmação enfatiza a certeza absoluta da destruição vindoura
(cf. 10:7). O 2º. anjo “seguiu” – a 1ª. conexão entre os 2 anjos. Nesse sentido 14:8 descreve o que foi
mencionado em 14:7. A linguagem vem de Is 21:9 onde Isaías profetiza sobre a destruição da Babilônia: “Caiu!
A Babilônia caiu! Todas as imagens dos seus deuses estão despedaçadas no chão!”. O julgamento do império
inclui a destruição de seus ídolos. Isso também faz parte da mensagem aqui no “vinho da sua prostituição”. A
grande Babilônia vem de Dan 4:30 onde Nabucodonosor exclama: “Acaso não é esta a grande Babilônia que eu
construí ... com o meu enorme poder e para a glória da minha majestade?”. Naquele momento o julgamento de
Deus caiu sobre ele. Da mesma forma Roma, a Babilônia daqueles dias estava prestes a se encontrar com o seu
criador por causa de sua própria arrogância e crimes. Roma era usada para representar a Babilônia de forma
relativamente comum, porque Roma conquistou Israel da mesma forma que a Babilônia e destruiu o templo e
liderou o mundo na imoralidade. Babilônia aparece diversas vezes no Apocalipse e se incluímos “a grande
cidade” o número aumenta ainda mais. Se referindo a Roma como Babilônia sugere que ela terá o mesmo
destino da antiga Babilônia (veja as profecias sobre a destruição da Babilônia: Is 13:19-22; 14:20-23; Jer 25:12-
14; 50:35-40; 51:24-26) (Osborne 2002, 537-38)
154
- o julgamento vem sobre a Babilônia porque “fez todas as nações beberem do vinho da fúria da sua
prostituição!”. Todas as nações foram levadas à imoralidade e idolatria de Roma. Beber o vinho = participação
no estilo de vida ou destino. Em Mc 10:38-39 Jesus fala que os discípulos beberão o cálice que ele bebe
indicando o sofrimento que experimentariam. Aqui as nações bebem o vinho da imoralidade de Roma (Osborne
2002, 538)
- é difícil traduzir o genitivo “fúria”
a. o vinho que enlouquece
b. a imoralidade apaixonada
c. o vinho que é a sua paixão imoral
d. o vinho que leva à ira de Deus
e. o vinho não sendo o julgamento final mas o processo da ira humana que freqüentemente é o resultado
do vinho
f. a ira das nações à medida que perseguem os santos
g. no Apocalipse existe o vinho/cálice da imoralidade (17:2, 4) e o cálice da ira de Deus (14:10; 16:19;
19:15). Pode haver um significado duplo. A alusão a Jer 51:7 indica que a “a Babilônia era um cálice
de ouro nas mãos do Senhor; ela embriagou a terra toda. As nações beberam o seu vinho; por isso
enlouqueceram”. A 2ª. idéia recebe suporte das outras 8 ocorrências de “ira/fúria” no Apocalipse onde
fala da ira de Deus ou da ira da besta. O paralelo próximo é Ap 16:19: “Deus lembrou-se da grande
Babilônia e lhe deu o cálice do vinho do furor da sua ira”. Assim a ira divina está implícita aqui e se
torna explicita em 14:10: a ira/fúria de Deus. Assim aqui temos o vinho produzindo uma paixão pela
sua imoralidade e levando à fúria de Deus pela depravação da Babilônia (Osborne 2002, 538-39)

35. Qual é a mensagem do 3º. anjo?


- aparece ainda o 3º. anjo. Em 13:15-17 o falso profeta força todos a aceitar a marca da besta sob pena de
sanções econômicas e morte. Aqui a pena prometida é maior: tormento eterno, baseado na adoração contínua da
besta e a recepção da marca. Assim as nações são colocadas na parede para decidir se irão adorar a Deus (13:15
= 20:4 [“se recusar a adorar a besta”]; 14:7; 15:4; 19:4, 10) ou a falsa trindade (13:4, 8, 12; 14:9, 11; 16:2;
19:20) junto com o contraste entre os castigos (perda da vida sobre a terra ou tormento eterno) provêem um dos
temas maiores da 2ª. metade do livro (Osborne 2002, 539-40)
- quem beber o vinho da imoralidade também vai beber o vinho do furor de Deus (lex talionis). 14:9 foi a
prótase: se alguém adorar a besta ... agora a apódose: este vai enfrentar o furor de Deus (14:10). Se antes o
vinho era a imoralidade, agora o vinho é o furor de Deus. Os escritos judeus freqüentemente retratam a ira de
Deus como um copo de vinho que literalmente embebeda os culpados. Deus força os inimigos a beber uma dose
completa de sua ira a ponto de se tornarem embriagados e depois caírem para não se levantar mais (Jer 25:15-
18, 27-28; Jó 21:20; S; 60:3; 75:8; Is 51:17; Zac 12:2) (Osborne 2002, 540)
- era comum na época que se misturasse água ao vinho. O vinho puro era consumido somente quando as
pessoas queriam se embriagar. Deis dá as pessoas o vinho sem mistura para que se embriaguem do seu furor. Os
efeitos, no entanto, não vão se dissipar à medida que o efeito da bebida passa. Eles cairão e não se levantarão.
Furor e ira aqui são usados como sinônimos para intensificar a ira de Deus (Osborne 2002, 540-41)
- a ira de Deus agora é definida como tormento eterno. Os inimigos de Deus serão atormentados com fogo e
enxofre. A idéia do julgamento de fogo ocorre muitas vezes no livro com o enxofre sendo acrescentado para
intensificar a imagem. O enxofre era um tipo de asfalto encontrado nas encostas dos vulcões e produzia calor e
odor intensos. É a imagem usada na Bíblia para sofrimento terrível debaixo do julgamento de Deus (Gen 19:24;
Deut 29:23; Jó 18:15; Is 30:33; Ez 38:22). Isso ocorre na presença dos anjos e do Cordeiro. Parece até que eles
assistem ao tormento por toda a eternidade. Possivelmente se trata da proclamação judicial da sentença e
também da execução da pena. Nos escritos judaicos os anjos participam na adoração e no julgamento. Também
consta que os maus no inferno seriam capazes de ver a alegria e glória dos justos, para piorar ainda mais o seu
tormento. Os santos não estão presentes aqui, mas são mencionados em Ap 2;27; 17:14; 20:4 (Osborne 2002,
541)
- o tormento é tão severo que “a fumaça do tormento de tais pessoas sobe para todo o sempre”. Isso faz alusão
à profecia da destruição de Edom: “9 Os riachos de Edom se transformarão em piche, em enxofre, o seu pó; sua
terra se tornará betume ardente! 10 Não se apagará de dia nem de noite; sua fumaça subirá para sempre” (Is
34:9-10). Essa imagem é aplicada agora para as nações. A fumaça também aparece junto com fogo e enxofre
(Ap 9:17-18; 18:9, 18) e também nas ofertas de incenso (8:9; 15:8). Assim pode ser que a fumaça aqui seja o
sinal do seu tormento, e ao mesmo tempo aroma agradável a Deus. Essa fumaça sobre para todo o sempre =
eterno. Isso é repetido em 19:3: “Aleluia! A fumaça que dela vem, sobe para todo o sempre”. Falar da morte
como aroma agradável a Deus pode soar ofensivo. Mas temos que lembrar o contexto do livro onde eles
mataram os santos (6:9-11), adoraram a besta (13:4, 8, 12, 15; 14:9) e rejeitaram o arrependimento oferecido
por Deus (9:20-21; 14:6-7, 9-10). O julgamento não somente é merecido como exigido pelos habitantes da terra.
155
Essa também é a vindicação dos santos prometida em 6:11 e a resposta às orações imprecatórias de 6:9; 8:3-
4 (Osborne 2002, 542)
- aqueles que se posicionaram contra Deus não tem descanso nem de dia nem de noite. Isso está em paralelo
com o castigo eterno do versículo anterior. Também existe o paralelo com o castigo das nações que não se
arrependeram aqui e o tormento eterno da falsa trindade em 20:10. Ao mesmo tempo existe um contraste entre
“dia e noite” aqui e a mesma expressão sobre a adoração dos 4 seres viventes (4:8) e o serviço dos santos
triunfantes diante do trono (7:15) (Osborne 2002, 542)

36. Qual deve ser a reação dos santos diante desse quadro? Como isso pode ser bênção para eles?
- diante desse quadro os santos devem perseverar = esperar no Senhor e vencer o mal. Essa perseverança é
descrita de 2 formas:
a. Os cristãos são aqueles que obedecem aos mandamentos de Deus. São as mesmas palavras que
terminam a seção sobre a guerra do dragão contra a igreja (12:17). O termo tereo = guardar é uma das
palavras chaves para perseverança no livro. Significa seguir e obedecer aos mandamentos de Deus e
guardar as verdades de Deus num mundo que optou pela escuridão ao invés da luz. Aqui esse termo
governa 2 idéias: obedecer aos mandamentos de Deus e manter a fé em Jesus. Obedecer aos
mandamentos se refere em especial às exigências éticas
b. Permanecem fiéis a Jesus. A fé/fidelidade em Jesus, possivelmente significa manter a fidelidade a
Jesus. Muitos daqueles que perseverarem serão mortos por sua fidelidade a Cristo (Osborne 2002, 543-
44)
- uma voz do céu acaba reafirmando que isso vai ocorrer. Temos aqui uma bênção para os mártires. Imitar a
Cristo envolve a prontidão para morrer por ele. Como na história da igreja, o sangue dos mártires é a semente da
igreja. Isso também ocorre no período final da história. O martírio é a vitória sobre Satanás pela participação
nos sofrimento de Jesus (Fp 3:10). Mas essa bênção não se restringe aos mártires, mas a todos que morreram no
Senhor. Aqueles que seguem a besta significa o tormento eterno. Para aqueles que morrem no Senhor significa
vida eterna. Isso ocorre desde agora em diante. Isso também implica que o tempo de provação estava iniciando.
Eles seriam perseguidos e deveriam se propor agora mesmo a permanecer fiéis (14:12) (544-45)
- agora o Espírito acrescenta um comentário tornando a exortação mais concreta e acrescentando uma promessa.
Esse trecho iniciou com uma palavra direta do céu [14:6] e agora conclui com uma palavra do Espírito. O
Espírito diz “sim” = amém afirmando a verdade das bênçãos especiais aguardando aqueles que morrem no
Senhor. Eles descansam de suas obras, contraste com o tormento que não dá descanso nem de dia nem de noite
(14:11). Em 6:11 eles deveriam descansar/esperar por um tempo curto até que o número dos mártires se
completasse. Com isso se prepararam para o descanso final na eternidade. Eles descansam de suas obras/fadigas
em favor de Cristo, o testemunho fiel e a perseverança sob perseguição que caracterizam o povo de Deus de
agora em diante. A igreja de Éfeso foi elogiada por suas obras e perseverança, porque não tinha se cansado.
Aqueles que morrem no Senhor recebem a promessa que suas obras serão terminadas e que o seu descanso
eterno no Senhor se iniciou (Osborne 2002, 545)
- eles também serão recompensados por tudo que fizeram e sacrificaram. Suas obras os seguirão. Seu trabalho
árduo = suas boas obras e sua fidelidade na perseguição serão recompensados por Deus. A idéia de ser julgado
de acordo com as obras é muito comum nas Escrituras e na literatura judaica. No Apocalipse se aplica tanto
para os não-crentes (18:6; 20:13) como para os crentes (2:23; 14:13; 20:12; 22:12). É a lei romana do lex
talionis. Aquilo que fazemos para ou contra Deus, recebemos dele. Para os não-crentes será o tormento eterno, e
para os crentes que seguiram o Cordeiro, suas obras seguirão atrás deles (Osborne 2002, 547-46)
- enquanto a besta e os seu seguidores estão perseguindo e matando os crentes, os crentes não se escondem nem
se rebelam contra a besta (13:10), mas se envolvem no testemunho profético juntamente com as 2 testemunhas
(11:3-6). Haverá missão nesse tempo e diversos serão salvos (11;13), mesmo que a maioria rejeita essa
oportunidade (9:20-21; 16:9, 11). Essa e a missão universal que precisa ser pregada para todos os povos. As
nações são chamadas a temer a Deus e dar glória a ele como resultado natural dos julgamentos sétuplos, já que
provam que os deuses não têm poder diante de Yahweh. Esse é o último chamado ao arrependimento. Se não
ouvirem coisas terríveis os aguardam. Mas aqueles que rejeitam essa oferta vão experimentar coisas bem piores
do que os julgamentos sobre a terra. Eles beberão a ira de Deus e o tormento eterno. Dentro desse contexto os
cristãos são chamados a perseverar, pois no céu vão descansar de seu labor (Osborne 2002, 546-47)

37. Em 14:14 João vê alguém semelhante ao filho do homem. Que características ele tem? O que isso pode
afirmar sobre a sua identidade?
14:14-20
- agora vamos ter a descrição do julgamento a quem 14:8, 10-11 fizeram alusão, usando o linguajar de uma
colheita de grãos e de uvas
- começamos outra vez com “e eu vi” mostrando uma nova seção
156
- João vê diante “uma nuvem branca e, assentado sobre a nuvem, alguém ‘semelhante a um filho de homem’
”. Existe dúvida sobre esse personagem se seria um anjo ou Jesus. O v.17 fala em outro anjo dando suporte à
idéia que esse seria o 1º. anjo sendo que o 2º. anjo ordena o 1º. a fazer a colheita sobre a terra. Mas parece óbvio
que temos aqui uma alusão ao filho do homem de Dan 7:13 que vem com as nuvens do céu. As outras
passagens do Apocalipse onde usa esse termo (1:7, 13) se referem claramente a Jesus o filho do homem. O
“outro anjo” (14:15) toma o termo de 14:6, 8, 9 e isso continua em 14:17-18. Trata-se de um artifício literário
que une 14:6-20 e não significa que o personagem de 14:14 seja um anjo. Além disso, já que o 2º. ano traz a
ordem do templo/Deus não é problemático que ele ordene a Jesus para ceifar a terra (Osborne 2002, 550)
- o filho do homem tem 3 características:
i. Está assentado sobre a nuvem. Em Dan 7:13 ele vem com as nuvens e 3 vezes aqui é visto sobre a
nuvem (14:14, 15, 16), o que é enfatizado fortemente. Em 14:14 fala da nuvem branca. No Apocalipse a
cor branca simboliza pureza (6:11; 7:9, 13), sabedoria (1:14), glória (4:4) e vitória (19:11,14). A nuvem
aqui não é tanto um meio de transporte como um trono sobre o qual ele está assentado. Pode ser um eco
de Joel 3:12: “ali me assentarei para julgar todas as nações vizinhas” (Joel 3:12-13 é o pano de fundo
de toda essa seção). A dúvida é se a nuvem branca significa julgamento (1:7) ou salvação (10:1; 11:12).
O branco poderia ser pureza ou vitória. Como o julgamento está em evidência nesse trecho devemos
pensar na nuvem branca como a vitória gloriosa de Cristo sentado sobre a nuvem à medida que se
prepara para ceifar a terra (Osborne 2002, 550-51)
ii. Tem uma coroa de ouro na cabeça. Os 24 anciãos e os gafanhotos demoníacos também vestem coroas
de ouro no Apocalipse (4:4; 9:7). A coroa era sinal de vitória (guirlanda) nos jogos e um sinal de
soberania de um governador. No Apocalipse a soberania é enfatizada. Assim temos a autoridade real e
glória divina. O filho do homem é o soberano que está prestes a julgar o mundo (Osborne 2002, 551)
iii. O juiz soberano tem uma foice afiada na mão. Tanto a parábola da semente (Mc 4:29) como as 7 vezes
que aparece a foice (Ap 14:14-19) ela representa julgamento de Deus na colheita final. A ênfase está
sobre “afiada”, apontando para o poder e o caráter final do julgamento (Osborne 2002, 551)

38. Depois aparece “outro” anjo. Qual é a sua função?


- depois outro anjo [1º. anjo] vem do templo, aparentemente do local onde Deus tem o seu trono. O templo de
Deus está ligado com o julgamento (11:19; 15:5-8; 16:1, 17). Esse também é o caso aqui onde as 2 colheitas
estão conduzidas pelo templo celestial. A santidade de Deus exige justiça e misericórdia. Se 14:14-16 se refere
aos crentes, então a ênfase está sobre a misericórdia, e 14:17-20 sobre os não-crentes onde a ênfase está sobre a
justiça (Osborne 2002, 551)
- a voz forte enfatiza a importância da mensagem. Cristo deve tomar a foice a iniciar a colheita já que a safra
está madura (alusão a Joel 3:13). Em Joel se trata das nações que perseguiram o povo de Deus e colherão o
julgamento prometido. Mas a 2ª. parte de Joel 3:13 fala sobre pisar as uvas no lagar, sendo que aqui [a 1ª. parte]
é apresentada de forma positiva. A descrição da colheita aqui não contém outros elementos como: queimar os
galhos (Jo 15:6); nem o malhar dos grãos (pisar, Jer 51:33; Hab 3:12; queimar, Mt 3:12; Lc 3:17), nem peneirar
(Sl 1:4; 35:5; Is 17:13; cf. Mt 3:12; Lc 3:17). Não há nenhuma indicação para a destruição final que segue a
colheita das uvas em 14:19-20. Assim é provável que tenhamos aqui a colheita dos redimidos e em 14:17-20
dos não-salvos (veja detalhes em Beale 1999, 774-75) (Osborne 2002, 552)
- Cristo, assentado sobre as nuvens, enfatizando sua autoridade, obedece à ordem e passa sua foice pela terra.
Ele lança sua foice = um ato decisivo, coerente com a idéia do julgamento final (Osborne 2002, 552-53)

39. Ainda outros 2 anjos aparecem (14:17-20). Qual é a função desses anjos?
- ainda outro anjo [o 2º. anjo] (14:17) não tem uma coroa de ouro, distinguindo-o daquele como o filho do
homem e vem do templo, com a autoridade dada a ele por Deus. Ele tem uma foice e vai realizar a 2ª. colheita.
Temos ainda um outro anjo [3º. anjo] (14:18) que vem do altar ao invés do templo. Como já vimos o altar no
Apocalipse conecta o altar do incenso e do holocausto. Aqui pode estar conectado com as orações dos santos
por vingança. Essas orações chegaram até Deus e ele está enviando seu anjo para iniciar mais uma vez (veja
8:3-5) sua resposta enviando o julgamento sobre os opressores. Esse anjo tem autoridade sobre o fogo =
julgamento de fogo. A literatura judaica fala de anjos a quem Deus tinha dado autoridade sobre o vento, água,
terra e fogo. Aqui pode haver uma alusão a Ap 8:3-5 onde depois que as orações dos santos ascenderam a Deus
o anjo enche o incensário com fogo e o lança sobre a terra, iniciando os julgamentos das trombetas. Isso sugere
que este anjo está encarregado do julgamento de fogo sobre as nações incrédulas como em Ap 8 (Osborne 2002,
553)
- da mesma forma como em 14:15 o anjo clama com alta voz e ordena ao 1º. anjo que tome a foice e inicie a
colheita. Mas agora temos uma colheita de uvas. Logo ele deve colher as uvas da videira = terra. Terra aparece
5 vezes em 14:15-19 deixando muito claro que esse julgamento ocorre na terra. Agora as uvas devem ser
pisadas, da mesma forma que Joel 3:13: “Venham, pisem com força as uvas, pois o lagar está cheio e os tonéis
157
transbordam, tão grande é a maldade dessas nações”. A utilização da colheita de uvas como metáfora para
o julgamento divino também ocorre em Is 5:5; 63:2-3; Lam 1:15 (Osborne 2002, 553-54)
- o anjo responde de maneira violenta passando a foice pela terra, colhendo as uvas e as lançando no lagar da ira
de Deus. O “grande lagar da ira de Deus” é um eco de Is 63:2-3: “Sozinho pisei uvas no lagar... Eu as pisoteei
na minha ira e as pisei na minha indignação; o sangue delas respingou na minha roupa, e eu manchei toda a
minha veste”. O lagar consistia de 2 compartimentos, o superior onde as uvas eram pisadas e o inferior onde o
suco era coletado. A colheita da uva era uma grande festa, o mesmo que temos aqui. O julgamento divina
também é vindicação e redenção para o povo de Deus e seus inimigos estão recebendo a justiça. É difícil
imaginar uma cena mais forte do julgamento final do que aqui onde o sangue sobe como o suco de usas pisadas
no lagar (Osborne 2002, 554-55)
- parece que é o próprio Deus/Cristo que pisa as uvas aqui (19:15). A cidade não é identificada mas poderia ser
Jerusalém. A tradição dizia que os inimigos de Deus e do seu povo seriam destruídos nas imediações de
Jerusalém (Joel 3:2, 12; Zac 14:4-5; etc.). Ser executado fora da cidade significava ser excluído do povo de
aliança. Em Hb 13:12 Jesus se auto-sacrificou tomando os nossos pecados sobre si fora da cidade, enquanto
aqui a nações são julgadas fora da cidade. Em Ap 22:14-15 os fiéis entram pelos portões da cidade santa
enquanto os pecadores ficam de fora. Assim o julgamento dos incrédulos fora da cidade enfatiza sua rejeição
absoluta por Deus e contraste com o estado abençoado dos fiéis (Osborne 2002, 555)
- à medida que Cristo pisa as uvas surge grande derramamento de sangue, ao ponto de chegar ao nível dos freios
dos cavalos. Existe diversas imagens na literatura de cavalos andando em meio ao sangue para descrever o
massacre do julgamento divino e da batalha final (Osborne 2002, 555-56)
- esse banho de sangue correu por uma distância de cerca de 300km (1600 estádios). Diversas possibilidades
foram sugeridas:
a. Literalmente seria a distância entre a Palestina da fronteira da Síria (Tiro) até o Egito. Assim seria a
maior carnificina da história, cobrindo toda a Terra Santa com sangue
b. Simbolicamente seria 4² X 10² e simbolizaria o julgamento completo de Deus (o significado de 4 e 10
no livro como símbolos da integralidade) ou então o mundo inteiro, se referindo aos 4 cantos da terra
c. Seria o equivalente a 40² se simbolizaria o julgamento divino (40 anos no deserto, Num 14:33; o
criminoso sofre 40 chicotadas, Deut 25:3)
Uma combinação de “a” e “b” é mais provável. Os números 4 e 10 são importantes do Apocalipse. No todo a
ênfase está sobre o caráter completo do julgamento divino sobre aqueles que maltrataram o povo de Deus
(Osborne 2002, 556)
158
15:1-16:21

1. Leia rapidamente esse trecho e faça um resumo em algumas frases para entender o todo.
- cap.12-14 é o interlúdio que inicia com o grande conflito entre Satanás e o povo de Deus (cap.12-13) e termina
com o fim do mundo com a colheita tanto de justos como dos perversos (14:14-20). Agora vamos voltar para os
julgamentos através dos quais Deus vai fazer a destruição final do mal. A ênfase agora está outra vez sobre a
soberania de Deus à medida que ele controla mesmo as tramas das forças satânicas para seus próprios fins. A
introdução para o septeto das taças (15:1-8) focaliza sobre a preparação dos 7 anjos à medida que se preparam
para deixar o templo celestial e trazer as pragas finais para a terra (15:1, 5-8) e na alegria da vitória dos mártires
à medida que celebram os atos salvíficos do Deus todo-poderoso (15:2-4). As primeiras 4 taças estão em
paralelo com as 4 primeiras trombetas, mas agora afetam toda a terra e provam a soberania derradeira de Deus
sobre os poderes terrenos bem como a depravação das pessoas à mediada que mais 2 vezes rejeitam a oferta de
arrependimento (16:9, 11). As últimas 3 taças continuam com o tema da depravação à medida que as pessoas
não somente se recusam a se arrepender, mas amaldiçoam a Deus (16:11). O julgamento sobre o trono da besta
(16:10-11) leva ao ato final de desafio dos poderes do mal à medida que chamam as nações para Armagedom
(16:16). Finalmente, a teofania da tempestade (16:12-14) é intensificada e os sinais cósmicos mostram que o
fim chegou (16:17-21). Os julgamentos das taças diferem dos selos e trombetas pelo fato que não temos
interlúdios para definir o conflito e o local do povo de Deus nesses eventos. Já que o fim está aí não deve haver
interrupções à medida que Deus conduz essa era ao seu final (Osborne 2002, 558)

2. O que 15:1 tem em comum e diferente com 12:1; 12:3? O que significa?
- em 12:1 apareceu um grande sinal: a mulher vestida com o sol. Em 12:3 apareceu outro sinal, o grande dragão
vermelho. Agora João vê outro sinal, no céu. Este é o único que é designado como “grande e maravilhoso”.
Essa frase também ocorre em 15:3 onde descreve as obras de Deus todo-poderoso. Aqui a ênfase está sobre a
soberania de Deus que está levando a história ao seu final. Trata-se de 7 anjos com as últimas pragas. Na
verdade esses anjos vão aparecer somente no v.8. O termo “praga” já apareceu antes enfatizando a conexão
desses julgamentos com as pragas do Egito. Ali eram um sinal para os egípcios do poder de Deus no julgamento
e para Israel um sinal da misericórdia e libertação. Ambos os aspectos são enfatizados aqui da mesma forma
(Osborne 2002, 560-61)
- mas estes julgamentos não são somente os últimos, mas também os últimos da história, “pois com elas se
completa a ira de Deus” (contra Beale que acha que são os últimos que na seqüência cronológica que João viu,
1999, 786). Agira a ira de Deus vai se completar, mesmo que Armagedom ainda esteja pela frente. Irá terminar
os 3 julgamentos sétuplos que trazem o fim da história. O termos “ira de Deus” normalmente tem a conotação
da ira no fim dos tempos (Mt 3:7; Rom 2:5, 8; 5:9; Ef 5:6; Col 3:6). No AT a ira tinha ligação com a aliança de
Deus com o povo e não a noção de ira irracional dos deuses no mundo pagão. Era direcionada contra Israel
quando desobedecia à aliança (1 Sam 6:19; 1 Cro 13:10; Sl 95:10-11; Sof 1:15) ou contra as nações quando
estas se voltavam contra o povo da aliança (Is 13:3-4; Jer 50:13-14; Sl 110:5). Aqui também existe a idéia da
aliança já que o tema do êxodo aparece em 15:1, 3. Aqueles que desobedecem às leis de Deus e desprezam a
sua vontade e do seu povo irão se deparar com a ira de Deus (Osborne 2002, 561)

3. O que João viu em 15:2? O que quer dizer com isso?


- João vê a visão dos santos no céu. Eles estão parados junto a algo como um mar de vidro. Em 4:5-6 João viu
algo parecido diante do trono de Deus. Isso implica que temos aqui os santos parados diante do próprio trono.
Ali o mar de vidro fazia alusão ao firmamento das águas (Gen 1:7), ao mar de bronze do templo de Salomão (1
Rs 7:23-26) e ao firmamento impressionante (Ez 1:22). É uma metáfora para a majestade de Deus. Mas aqui
está misturado com fogo, uma imagem do julgamento como o lago de fogo. Deus julga as pessoas do seu trono
e essa imagem olha para esta situação no futuro. Poderia significar o mar Vermelho como no êxodo, ou o mal
vencido pela presença soberana de Yahweh (Beale), mas é mais provável que se refira à majestade de Deus. Os
santos estão parados juntos (ou sobre) o mar como vencedores “os que tinham vencido”. Eles venceram a besta,
a sua imagem e o número do seu nome. No Apocalipse os santos vencem a tentação, as pressões do mundo e os
poderes cósmicos do mal. Mesmo que a besta vença os santos, matando-os (11:7; 13:7), ele está sendo vencido
pelos santos (12:11) e pelo Cordeiro (17:14) (João mostra um interesse grande por aqueles que são martirizados,
mas isso não exclui os outros que pertencem ao Cordeiro (14:4). Pertencer à comunidade escatológica não
requer o martírio, mas a fidelidade). Sua morte é a sua vitória final. Assim os santos regozijam com sua vitória
(15:2-4) e herdam o novo céu e a nova terra (21:7). Essa herança já apareceu nas 7 cartas:
a. comer da árvore da vida (2:7)
b. libertação da 2ª. morte (2:11)
c. o maná escondido (2:17)
d. autoridade sobre as nações (2:26)
159
e. vestes brancas e seu nome escrito no livro da vida (3:5)
f. a honra de se tornarem pilares do templo de Deus com o nome de Deus escrito sobre eles (3:21)
g. a honra de sentar com Cristo no seu trono (3:21) (Osborne 2002, 562-63)
- os aspectos do Anticristo sobre os quais o vencem são tirados de Ap 13:1-2 (a besta), 13:14 (sua imagem) e
13:17-18 (o número do seu nome). Eles unem todos os pactos do império maligno através do qual o Anticristo
via forçar as nações a adorá-lo ao invés de Deus. Assim enfatizam o conflito pessoal (com a besta), a pressão
religiosa (com sua imagem) e a perseguição econômica (com o número do seu nome) (Osborne 2002, 563)

4. O que os cristãos estão fazendo ali? Qual a conteúdo de sua ministração?


- parados sobre o mar de cristão eles têm harpas dadas por Deus, ou então as harpas de Deus. A cena da
adoração está sendo enfatizada aqui. Da mesma forma como com os anciãos (5:8) e os 144.000 (14:2) as harpas
acrescentam o conceito do AT e nos mostram a cena de modo mais claro (Osborne 2002, 563)
- com as harpas estavam cantando o cântico de Moisés. Cristo os libertou do dragão com seu sangue (12:11) e
Deus os deu vitória sobre a falsa trindade. Logo, da mesma forma como Moisés depois do êxodo do Egito, eles
cantam um cântico de vitória. O Cântico de Moisés se encontra em Ex 15:1-19 ou talvez em Deut 31:30-32:43
(ambos são chamados de Cântico de Moisés). Como o linguajar não é semelhante com nenhum deles, diversos
estudiosos acham que esse cântico seria a concatenação de diversos temas do AT. Moisés é chamado de
servo/escravo de Deus freqüentemente no AT. Aqui Moisés é chamado de escravo de Deus como um paradigma
para todos os escravos de Deus que são fiéis no Apocalipse (1:1; 7:3; 10:7; 11:18; 19:2, 5; 22:3, 6). Aqueles que
servem a Deus serão vitoriosos (Osborne 2002, 563-64)
- o fato que acrescenta o cântico do Cordeiro é problemático, pois não vemos indicação de 2 cânticos aqui.
Assim poderia ser o cântico de Moisés, que é o cântico do (sobre o) Cordeiro. Isso implica que a vitória deles
foi alcançada pelo Cordeiro, o que seria similar a 12:11. Pode ser que temos o cântico de Moisés vindo de Deut
32:4-5 e o cântico do Cordeiro vitorioso de Sl 85:9-10 (Osborne 2002, 564)
a. Grandes e maravilhosas são as tuas obras. Isso reflete Sl 111:3; Deut 28:59-60. Mas também pode ser
que se siga aqui a tradição judaica de interpretar textos chaves via ligações verbais (veja Osborne 2002,
565). O Deus soberano e onipotente controla todas as coisas no céu e na terra (Osborne 2002, 564-65)
b. Justos e verdadeiros são os teus caminhos (Sl 145:17). A despedida de Moisés focaliza sobre a justiça
soberana de Yahweh e uma advertência para o Israel rebelde sobre sua justiça e ira. Deut 32 pode ser
visto como um processo judicial e pode ser organizada através de uma aliança com testemunhas (v.1-2),
titulo de Deus (v.3-4), revisão histórica (v.5-14), indiciamento (v.15-18), julgamento (v.19-29), certeza
de salvação (v.30-38) e o juramento divino (v.39-42). Os povos do mundo quebraram a sua aliança com
Deus e assim enfrentarão a sua ira eterna. Esses julgamentos são maravilhosos e justos. Ainda se
acrescenta em 16:5, 7; 19:2 a lex talionis no derramar das taças. O julgamento de Deus é visto como
legalmente justo e moralmente verdadeiro (Osborne 2002, 565)
c. Rei das nações. As nações virão para adorar a Deus. Logo temos um movimento do julgamento
soberano para a promessa salvífica. A idéia de Deus julgar as nações é comum no AT. No Apocalipse
somente Deus é o rei das nações (15:3) e comente Cristo é o “Rei dos reis, Senhor dos senhores”
(17:14; 19:16; cf. 1:5). O cântico de Moisés termina com “O SENHOR reinará eternamente” (Ex
15:18). Assim o tema do reinado eterno de Deus está conectado intimamente com o cântico de Moisés
(Osborne 2002, 565-66)
d. Quem não te temerá? É uma pergunta retórica enfatizando que nunca, em nenhuma situação alguém
deixará de perceber sua soberania e poder. Essa frase bem de Jer 10:7: “Quem não te temerá, ó rei das
nações?”. Jeremias 10 conclui a mensagem do templo com uma denúncia violenta contra a idolatria
(10:2-26), uma profecia do julgamento iminente por causa da apostasia de Israel (10:17-22), e uma
oração por justiça e a destruição das nações (10:23-25). Assim a frase, “quem não te temerá?” está
colocada em contraste com os deuses tolos e sem sentido dos pagãos e na nação apóstata.
Imediatamente antes de 10:7 temos “Não há absolutamente ninguém comparável a ti, ó Senhor; tu és
grande, e grande é o poder do teu nome” (10:6). De forma interessante Jer 10:6 é similar a Ex 15:11 no
Cântico de Moisés: “Quem entre os deuses é semelhante a ti, SENHOR? Quem é semelhante a ti?
Majestoso em santidade, terrível em feitos gloriosos, autor de maravilhas?”, a ponto de que Bauckham
crê que seja o denominador comum entre as alusões do restante desse cântico (Jer 10:6-7; Sl 86:8-10). É
a incomparabilidade de Deus que domina a última parte do cântico em 15:4. Isso é significativo à luz do
culto ao imperador dos idas de João e os deuses terrenos vencidos nas pragas das trombetas e taças
(Osborne 2002, 566)
e. Quem não glorificará o teu nome? Tirado de Sl 86:9. Sl 86 tem o pedido de socorro quando cercado
pelos inimigos e o cerne da adoração de Davi é a imcomparabilidade de Deus em 86:8-10: “8 Nenhum
dos deuses é comparável a ti, Senhor, nenhum deles pode fazer o que tu fazes. 9 Todas as nações que tu
formaste virão e te adorarão, Senhor, e glorificarão o teu nome. 10 Pois tu és grande e realizas feitos
160
maravilhosos; só tu és Deus!”. Isso é virtualmente igual a Ex 15:11; Jer 10:6-7 e mostra a
continuidade entre as passagens. Quando vemos o tema duplo de julgamento e adoração no Apocalipse
somos lembrados do tema da missão. As nações experimentarão a ira de Deus, mas ao mesmo tempo
alguns irão temer e glorificar (que são os 2 temas do evangelho eterno de 14:6-7) a Deus se referindo à
conversão (Osborne 2002, 566-67). Logo em seguida temos 3 motivos pelos quais glorificarão o nome
de Deus
i. Tu somente és santo. Seria a conclusão natural das 2 perguntas anteriores. Ele continua com o tema
da incomparabilidade de Deus. Essa afirmação é um eco de Sl 145:17: “O Senhor é justo em todos
os seus caminhos e é bondoso em tudo o que faz” (similar a Ex 16:5 no cântico de Moisés).
Somente Deus entre os deuses é santo, separado deste mundo e está sobre o mesmo. Ele é único e
está sobre todas as forças terrenas. Aqui não se trata da ênfase sobre ser sem pecado, mas sobre sua
majestade e poder inigualáveis (Osborne 2002, 567)
ii. Todas as nações virão para adorar a Deus. Isso é impressionante diante do contexto do Apocalipse,
mas como já vimos julgamento e salvação estão unidos. Zac 12:10 é um eco dessa passagem em Ap
1:7: “todos os povos da terra se lamentarão por causa dele” com um significado duplo: julgamento
para aqueles que rejeitam a oferta de salvação, e misericórdia para aqueles que a aceitam. Em Ap
5:9 o Cordeiro é adorado porque comprou pessoas de toda tribo, língua, povo e nação. Em 14:6-7
antes de proclamar o julgamento, o anjo com o evangelho eterno chama as nações a “temer a Deus
e dar glória a ele” muito similar ao que temos aqui. A idéia é que pela reação ao chamado de
arrependimento (um dos propósitos mais importantes dos julgamentos) as nações enfrentarão o
julgamento ou a salvação (Osborne 2002, 567-68). A conversão das nações e a sua peregrinação a
Jerusalém é freqüente no AT. Sl 86:9-10 é a passagem central: “Todas as nações que tu formaste
virão e te adorarão, Senhor, e glorificarão o teu nome. 10 Pois tu és grande e realizas feitos
maravilhosos; só tu és Deus!”. Mas esse tema também se encontra em Sl 46:10; 47:9; 102:15; Is
2:2-4; 14:1-2; 45:23; 60:1-3; 66:18-23; Jer 16:19; Zac 8:20-23. No AT, a vinda das nações a Sião
seria a prova final da glória e poder de Yahweh. Isso não implica em universalismo, pois a maior
parte das nações se recusa ao arrependimento (Ap 9:20-21; 16:9, 11) e enfrentará o julgamento final
(20:13-14) (Osborne 2002, 568)
iii. Seus atos de justiça se tornaram manifestos. Isso poderia ser visto de forma negativa (o julgamento)
ou de acordo com o contexto de adoração aqui de forma mais positiva: suas ações justas. Isso pode
combinar Sl 86:9-10 com Sl 98:2 “O Senhor ... revelou sua justiça às nações”. Celebra a revelação
dos atos justos de Deus derramando seus julgamentos e assim chamando as nações ao
arrependimento, resultando em muitas conversões (11:13) (Osborne 2002, 568)

5. Depois disso João volta a ver o templo e os 7 anjos. O que isso poderia significar?
- depois disso = introduz uma nova seção da visão, ou nova visão
- se abre o templo/tabernáculo/santuário/tenda. Isso já apareceu antes e pode se referir ao véu do templo que foi
rasgado (Mc 15:38), em si um símbolo de julgamento. Em 11:19 essa cena simboliza a volta de Cristo, mas aqui
nos conduz para o grupo final dos julgamentos preliminares que preparam o caminho para a volta de Cristo.
Esse templo é o tabernáculo da aliança (do testemunho). Isso liga o templo celestial com o tabernáculo no
deserto e acrescenta o “testemunho” = as 2 tábuas com as leis como um testemunho para a centralidade da
Torah na vida de Israel. O Santíssimo lugar no tabernáculo era chamado de “o Testemunho” no AT (Ex 16:34;
27:21; Lev 16:13; Num 1:50; 17:4, 10). O propósito dessa descrição é acrescentar a idéia da aliança juntamente
com as bênçãos e maldições que a acompanham. As nações quebraram a sua aliança com Deus e precisam
enfrentar as conseqüências. Em 11:19 a arca pode ter sido um sinal de misericórdia, mas aqui é sinal de
julgamento (Osborne 2002, 568-69)
- do templo saíram 7 anjos com 7 pragas se referindo de volta aos 7 anjos de 15:1. Eles carregam as 7 pragas, a
sentença judicial de Deus sobre os pecadores. Enquanto não recebem as taças com a ira de Deus (que ocorre
somente no v.7). Eles estão preparados com as taças prontas em suas mãos. Com o nome de pragas, estão
ligadas com os pragas do Egito. Assim demonstram a soberania de Deus sobre os outros deuses e chamam os
habitantes da terra para se submeter a ele (Osborne 2002, 569)
- os anjos estão vestidos de linho puro, vestimenta geralmente usada por sacerdotes (Lev 16:4, 23) como
também por anjos (Ez 9:2-3, 11; Dan 10:5; 12:6-7). Parecem que os anjos têm uma função sacerdotal aqui. O
linho é puro e resplandecente, a mesma descrição do linho que recebe a noiva do Cordeiro em 19:8, e o exército
do céu (19:14). Isso enfatiza a pureza e glória dos 7 anjos. Além disso, os anjos têm cinturões de outro ao redor
do peito. Essa descrição é próxima da descrição daquele como Filho do Homem (1:13). Isso simboliza realeza
ou status elevado e poderia indicar que esses anjos são emissários de Cristo, derramando sua justiça penal sobre
os malfeitores (cf. 1:13) (Osborne 2002, 569-70)
161
- os 4 seres viventes formavam o círculo mais interno junto ao trono de Deus (4:6-7). Combinando as
funções dos querubins (Ez 1) e dos serafins (Is 6) eles aparentam ser líderes da corte celestial como vimos sua
função do Apocalipse: eles lideram a adoração celestial (5:6-7); enviaram os 4 cavaleiros (6:1-8) e participaram
na adoração (7:11; 14:3). Sua aparição final vai ser quando vêm diante de Deus e clamam: Amém, aleluia
(19:4). Aqui são mensageiros celestiais mediante a justiça penal de Deus sobre os incrédulos (Osborne 2002,
570)

6. As taças já apareceram antes (5:8). Isso teria alguma ligação?


- as 7 taças aqui estão conectadas com as taças de outro cheias de incenso e das orações dos santos em 5:8. Isso
enfatiza que:
a. O derramamento do julgamento é uma oferta sagrada para Deus, vindicando seu nome e trazendo-lhe
glória
b. Eles vêm em resposta à oração dos santos (5:8; cf. 8:3-5). Assim as taças de outro ligam a oração com a
retribuição divina (Osborne 2002, 570)
- aqui as taças estão cheias da ira de Deus (em 5:8 estavam cheias de incenso). Poderiam ser as taças usadas
para aspergir o sangue dos sacrifícios o que deixam a imagem do derramamento dos julgamentos como uma
oferta sagrada a Deus. Segundo Beale também poderia se referir à cálice da ira de Is 51:17, 22 que tinha sido
derramada anteriormente sobre o Israel desobediente e agora iria ser derramada sobre seus atormentadores = a
Babilônia (veja Ap 16:19 onde Deus dá à Babilônia a cálice cheio com o vinho de sua fúria). A ira de Deus e do
Cordeiro dobrou os habitantes da terra em 6:15-17, caiu sobre as nações em 11:18, foi bebida totalmente por
aqueles que adoraram a besta em 14:10, 19. Nas 7 pragas de 15:1 a ira de Deus está completa (cf. 16:1, 19;
19:15). O Deus da ira é descrito adiante como “aquele que vive para todo o sempre”, uma referência à adoração
dos seres viventes e anciãos em 4:9-10 onde está intimamente ligado com sua majestade como “aquele que
senta no trono”. Essa expressão faz parte dos hinos e declarações sobre Deus e o Cordeiro (5:13; 7:12; 11:15;
22:5) (Osborne 2002, 570-71)

7. O que acontece com o templo quando os 7 anjos são comissionados? Existe alguma figura do AT que
poderia nos ajudar a explicar o que está acontecendo aqui?
- à medida que os anjos são comissionados para sua missão de julgamentos e as taças estão cheias da ira de
Deus, o templo está cheio de fumaça. A taça está cheio da ira e o templo cheio de fumaça. A fumaça vem da
glória de Deus e do seu poder = majestade e soberania onipotente. No AT a fumaça simboliza a presença
incrível de Deus, como na nuvem de fumaça no Sinai (Ex 24:15-16, onde a nuvem também estava ligada com a
glória de Yahweh) e a nuvem que se tornou a presença Shekinah de Deus no êxodo (Ex 13:21; 14:19, 24).
Algumas passagens do AT são especialmente úteis aqui:
a. Quando o tabernáculo é montado: “34 Então a nuvem cobriu a Tenda do Encontro, e a glória do
SENHOR encheu o tabernáculo” (Ex 40:34-35)
b. Quando a arca é trazida para o templo (1 Rs 8:10-12), a nuvem negra que simboliza a presença de Deus,
enche o templo com sua glória
c. Na grande visão do Deus entronizado de Is 6:1-4 os serafins aclamam a santidade de Deus e afirmam:
“a terra inteira está cheia da sua glória” (6:3-4), o que significa a presença gloriosa de Deus à medida
que chama Isaías para proclamar sua mensagem de julgamento
d. O julgamento de Israel quando a glória de Deus sai do templo (Ez 10:2-4) e nuvem enche o pátio
interno e o templo com a glória do Senhor (Osborne 2002, 571)
Essas 3 imagens: fumaça, glória e poder, são combinadas para fazer do derramamento do julgamento (Ap 16)
um ato de adoração. O nome de Deus vai ser vindicado e sua glória é demonstrada nessas taças da ira (Osborne
2002, 571-72)
- a centralidade da glória divina é vista no aspecto final da cena: ninguém podia entrar no santuário. Isso
também ocorreu em Ex 40:35 onde Moisés não pôde entrar no tabernáculo e 1 Rs 8:11 onde os sacerdotes não
puderam realizar os seus serviços porque a glória do Senhor encheu o templo. Aqui a razão é a presença de
Deus e a iminência do julgamento. As interpretações são diversas:
a. O templo está fechado porque não há mais lugar para a intercessão, nem para a misericórdia em favor
das nações, nem para a vindicação e vingança dos santos
b. Ninguém pode se aproximar de Deus até que sua ira seja completada
c. O templo está fechado por causa da sua santidade, majestade e poder incríveis
As opções b e c são as mais prováveis. Deus está terminando o seu julgamento. Esses são os eventos finais do
rolo dos cap.5 e cap.10 e trazem o plano da volta de Cristo para o seu estágio final (Osborne 2002, 572)
162
16:1-21
8. Quais são algumas das diferenças entre os julgamentos dos selos e trombetas para as taças?
- existem algumas diferenças para os julgamentos anteriores. Os selos destruíram ¼ da terra e as trombetas 1/3.
Agora as taças afetarão toda a terra. Se antes as pessoas eram afetadas indiretamente, agora são afetadas
diretamente: produz feridas nas pessoas, o sol queima as pessoas, etc. Essas são as pragas finais que trazem a
volta de Cristo. Não temos um interlúdio entre a 6ª. e 7ª. taça, mas um hino doxológico justificando o
julgamento divino (16:5-7), a trindade falsa convocando as nações para a batalha final (16;:13-14) e a
advertência que Jesus volta como um ladrão, assim os crentes precisam estar preparados (16:15) (Osborne 2002,
576)

9. Quais são as conseqüências do derramamento da 1ª. taça?


- em seguida temos uma voz forte que vem do templo. É provável que seja a voz de Deus e tenha ligação com Is
66:6 onde Isaías instrui o remanescente fiel dentre a nação para que “ouçam ... o som que vem do templo! É o
Senhor que está dando a devida retribuição aos seus inimigos”. Já que é somente Deus que está no templo
(15:8) deve ser ele que está falando. A voz ordena que os 7 anjos derramem as 7 taças contendo a ira de Deus
sobre a terra. O derramar tem a conotação cúltica de derramar ofertas de bebidas a Yahweh (Ex 30:18; Lev 4:7,
18, 30; Num 19:17) ou o derramar do sangue no ritual da aliança (Ex 24:6, 8) (Osborne 2002, 578-79)
- o anjo foi e derramou – indicando a linguagem das ofertas da libação. O julgamento é uma oferta derramada
perante o Senhor. Essa taça é derramada sobre a terra, sobre os habitantes dela, aqueles que têm o sinal da besta
e não estão selados com o selo de Deus, continuando a imagem das pragas do Egito onde o povo de Deus era
poupado de sua ira (Osborne 2002, 579)
- o resultado são feridas malignas e dolorosas, réplica da 6ª. praga do Egito. Essas feridas são similares às
feridas que afligiram Jó (Jó 2:1-13), mas ali é o sofrimento injusto. Trata-se de uma ferida como um abscesso
freqüentemente causada por infecção. Imaginando o número de pessoas afligidas, a medicação acabaria
rapidamente e aqueles afligidos não poderão caminhar, sentar ou deitar sem dor, como qualquer pessoa que já
teve uma ferida desse tipo pode atestar (Osborne 2002, 579-80). Estas feridas não necessitam ser físicas
necessariamente (Beale 1999, 814)

10. Qual é a 2ª. praga e que conseqüências traz?


- na 2ª. trombeta uma montanha queimando caiu no mar e “um terço do mar transformou-se em sangue, morreu
um terço das criaturas do mar e foi destruído um terço das embarcações” (Ap 8:8-9). Aqui a taça é muito mais
severa já que o mar “se transformou em sangue como de um morto, e morreu toda criatura que vivia no mar”.
Na 1ª. praga do Egito todos os peixes do Nilo morreram. Aqui todo ser vivente morre. Temos que lembrar que o
mar era o sangue que mantinha o Império Romano. Não somente a comida, mas o comércio dependia das rotas
marinhas. Essa praga é o equivalente à destruição da civilização. Essa é uma hipérbole querendo dar essa
impressão. Isso acaba quebrando o sistema econômico do mundo (Osborne 2002, 580)

11. Qual é a 3ª. praga?


- na 3ª. trombeta uma estrela queimando caiu sobre as águas fluviais transformando-as em veneno, com muitas
mortes (8:10-11). Aqui não se descreve as conseqüências do julgamento, simplesmente que elas se tornaram em
sangue. Isso implicaria em afetar severamente a economia. Possivelmente toda a vida animal dos rios morre,
mesmo que o texto não afirme isso (Osborne 2002, 580-81)

12. Após a 3ª. praga temos um hino doxológico. Qual é a essência desse hino e como se encaixa nesse
contexto?
- esse hino enfatiza a justiça de Deus ao julgar as pessoas (Osborne 2002, 581)
- o anjo que derramou a taça sobre as águas é designado como o anjo que quem autoridade sobre as águas, uma
designação apocalíptica normal onde normalmente os anjos controlam os elementos da natureza (Osborne 2002,
581)
- o anjo canta que Deus é justo, enfatizando sua santidade e justiça em seus julgamentos. Depois o título dado a
Deus é: que eras e que és, sendo que o futuro foi omitido porque o ato final de Deus já está ocorrendo. Isso
implica que a última série de julgamentos que alavancam os eventos da volta de Cristo iniciaram. A santidade
de Deus se mostrou pelo julgamento que executa sobre estas coisas (Osborne 2002, 582-83).
- Deus é chamado de “o Santo”, dando a idéia que Deus está separado e acima de todos os eventos que ocorrem
neste mundo (Osborne 2002, 583)
- agora o texto deixa ainda mais claro a razão do julgamento sobre “estas coisas”: “pois eles derramaram o
sangue dos teus santos e dos teus profetas”. Outra vez temos a lex talionis enfatizando a justiça divina. As
pessoas que derramaram o sangue dos servos de Deus terão a ira de Deus derramada sobre eles. Jesus usou o
assassinato dos profetas como motivo para o julgamento divino (Mt 23:31, 37; cf. Mt 5:11-12) e deixou isso
163
implícito na parábola dos servos maus (Mc 12:3-5) (veja também At 7:52; Rom 11:3; 1 Ts 2:15; Hb 11:35-
37). A igreja primitiva via o seu sofrimento era um compartilhar não somente dos sofrimentos de Jesus bem
como do sofrimento dos profetas (possivelmente profetas do NT cujo sofrimento está ligado com o sofrimento
dos profetas do AT). Os profetas são um grupo de pessoas dentre os santos, por isso temos a ordem, santos e
profetas. Os líderes sempre são o alvo preferencial dos opositores – aqui os habitantes da terra (Osborne 2002,
583-84)
- os habitantes da terra que mataram os crentes agora bebem o sangue (do mar e dos rios) como retribuição pelo
sangue derramado. O anjo termina dizendo que esse castigo é merecido. Enquanto os santos merecem vestes
brancas de vitória (Ap 3:4) os infiéis merece o julgamento divino (Osborne 2002, 584)
- o altar (alguém) responde. Como tivemos os mártires clamando debaixo do altar por vingança (6:9),
poderíamos ter a voz deles aqui, ou então a voz dos chifres do altar (9:13) o que seria a voz do anjo que
apresentou as orações dos mártires a Deus (8:3-5) (Osborne 2002, 584-85).
- essa voz afirma com um Sim enfático, confirmando a verdade divina. O Senhor, Deus todo-poderoso lembra o
guerreiro divino onipotente e o Senhor do universo. É o Senhor todo-poderoso que está executando o seu
julgamento sobre os opressores. Os julgamentos de Deus são verdadeiros e justos. Isso é construído sobre o
conceito de fidelidade do AT cujo significado é digno de confiança ou confiável e quando usado para Deus se
refere à sua fidelidade à aliança. No Apocalipse o termo verdadeiro se refere à fidelidade à aliança de Deus e a
absoluta confiabilidade de suas ações e julgamentos (Osborne 2002, 585)

13. Qual é a 4ª. taça? Será que a reação das pessoas pode ser pior que a dor? Comente.
- aqui Deus envolve o sol para castigar os pecadores. Em 8:12 o sol, lua e estrelas são escurecidos, mas aqui o
efeito é o contrário. Aqui o calor do sol é mais intenso, além da imaginação. Outra vez devemos notar o “foi
dado”. Isso acaba invertendo a promessa feita aos santos em 7:16 que o sol nunca mais iria afligi-los, pois agora
os opressores serão afligidos com o sol ardente. No AT o sol é usado como julgamento de Deus sobre Jeoaquim
(Jer 36:30) e na aflição de Jó (Jó 30:21, 30; cf. Jer 17:8). A figura literal aqui não é somente de queimaduras
solares, mas de línguas de fogo queimando as pessoas. Não sabemos se é literal, mas o leitor deve imaginar o
efeito literal e sentir o poder dessa imagem (Osborne 2002, 585-86)
- a reação das pessoas é de fato muito pior que o castigo físico. Como Deus os julga, o seu castigo é merecido.
À medida que são queimados pelo forte calor, ao invés de se arrependerem, eles amaldiçoam o nome de Deus.
O fogo é a arma básica do julgamento divino, terminando com o lago de fogo. Esse julgamento de fogo é uma
advertência muito severa. Quando as pessoas rejeitam essa advertência, sua culpa é especialmente óbvia
(Osborne 2002, 586)
- eles amaldiçoaram/blasfemaram o nome de Deus. Isso ocorre quando participam da blasfêmia do Anticristo,
caluniando o nome de Deus através da idolatria (em especial adorando a besta) e desprezam o seu nome através
da rejeição. Além disso, Deus tem autoridade/domínio sobre as pragas. Assim tanto em 9:20-21 quanto aqui, o
derramamento dos julgamentos leva a uma rejeição absoluta de Deus que provou seu poder e justiça nos
julgamentos. Eles não se arrependeram e não o glorificaram (também em 9:20-21). Dar glória a Deus = se
arrepender. Em 14:7 o anjo chama as nações a temer a Deus e dar glória a ele e em 11:13 depois do grande
terremoto muitos “deram glória ao Deus do céu”. Aqui, no entanto, eles se recusam a se voltar ao Deus da
misericórdia e redenção final (Osborne 2002, 586-87)

14. O que nos chama a atenção na 5ª. taça?


- em 13:2 o dragão deu seu poder e trono e grande autoridade para a besta. Aqui temos a menção do trono do
Anticristo e está contrastado com a voz do trono de Deus que exclama: “está feito” (16:17). A mensagem é
clara: a besta tem autoridade limitada e seu trono é temporário e logo será vencido pelas ações de Deus. Existe
um outro contraste: o reino da besta em contraste com o reino dos santos que foram feitos “uma nação de
sacerdotes para servir a Deus e Pai” (1:6; 5:10). Em breve “o reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do
seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre” (11:15; cf. 12:10). Os leitores originais veriam esse trono e reino
como o império romano e assim devemos imaginar que o reino do Anticristo será um reavivamento do império
romano imundo (Osborne 2002, 587)
- o ato preliminar desse reinado é jogar o seu reino nas trevas, similar à 9ª. praga do Egito, onde a escuridão
esteve sobre o Egito por 3 dias. Isso intensifica o julgamento da 4ª. trombeta onde os luminares foram
escurecidos a terça parte (Ap 8:12). A escuridão implica em julgamento e morte. Em Ex 10 a praga da escuridão
era direcionada contra o deus do sol, Rá, para mostrar que Deus e não Rá estava no controle. O dia de Yahweh
será de trevas e não de luz (Am 5:20; cf. 8:9; 1 Sam 2:9; Is 8:22; Jl 2:2, 10, 31). A escuridão também é usada
para descrever o local do julgamento final onde vai haver choro e ranger de dentes (Mt 8:12, etc.). No
Apocalipse as trevas sempre representam julgamento. Aqui a escuridão produz agonia a ponto de as pessoas
morderem suas línguas por causa da dor. A imagem de morder a língua por causa da dor e a imagem de choro e
164
ranger de dentes está conectada e possivelmente liga o julgamento com o sofrimento do castigo eterno que
vem pela frente (Ap 14:10-11; 20:13-15 (Osborne 2002, 588)
- a reação das pessoas é a blasfêmia contra o Deus dos céus. Da mesma forma como o faraó endurecia o seu
coração cada vez mais, os habitantes da terra se tornam mais obstinados em suas rejeição a Deus à medida que
os julgamentos continuam. Eles amaldiçoam a deus por causa da dor e das feridas. As feridas se referem à 1ª.
taça, mostrando que aqui temos aqui um resumo dos julgamentos anteriores. As pessoas amaldiçoam a Deus por
todos os julgamentos das taças que suportaram. Ao invés de se arrependerem eles rejeitam Deus mais ainda
provando a sua depravação total (Osborne 2002, 588-89)
- a expressão Deus dos céus = soberania sobre céu e terra. Existe um contraste interessante na utilização dessa
expressão (Ap 11:13; 16:11). Em 11:13 as pessoas dão glória ao Deus dos céus (conversão) e aqui blasfemam
contra o Deus dos céus. O Deus dos céus demonstra misericórdia (11:13) e julgamento (16:10-11). As pessoas
precisam escolher quem vão seguir, pois essa escolha determina o seu futuro (Osborne 2002, 589)
- mas as pessoas não querem se arrepender de suas obras, possivelmente se referindo a adorar a besta (cf. 15:2-
4) e assassinar os santos (cf. 16:5-6) (Osborne 2002, 589)

15. O que temos de interessante na 6ª. taça?


- aqui seca-se o rio Eufrates, um milagre parecido com o Mar Vermelho secando para a passagem do povo (Ex
14:21-22), e a passagem pelo Jordão com os pés secos (Jos 3:13-17; 4:23). Isaías via na passagem do Mar
Vermelho uma profecia sobre o final dos tempos em que o Eufrates iria secar para permitir ao remanescente
escapar dos seus inimigos (Is 11:15-16; 44:27; 50:2; 51:10; cf. Jer 51:36; Zac 10:11) uma profecia parcialmente
cumprida quando Ciro (Is 44:28; Jer 50:38; 51:36) desviou o Eufrates, cruzou o rio e capturou a Babilônia. O
Eufrates era a divisa do território de Israel, bem como do império romano, separando-os dos temidos partas
(Osborne 2002, 589-90)
- os cavaleiros demoníaco de 9:13-19 são substituídos pelos reis do oriente. Osborne cita diversas interpretações
que foram dadas para o significado disso (Osborne 2002, 590):
a. O secar do Eufrates literalmente abre as portas para uma coalizão entre os governadores orientais e os
reis de toda terra (16:14) para perseguir os santos
b. Uma invasão dos partas a Roma
c. Os reis do oriente vão à guerra contra os reis do mundo todo preparando para a destruição do império
romano imundo de Ap 17-18., com os partas como pano de fundo
d. A imagem seria universalizada em que Ciro e seus aliados, os reis do oriente são incrementados para
serem os reis da terra (16:14) e depois incrementados para Gogue e Magogue (20:28) para descrever os
“ais” de todo período entre as vindas de Cristo
É pouco provável que se trate de que o Eufrates seque literalmente, já que a água é usada de modo figurado no
livro e a importância estratégica disso hoje é bem menor. Isaías e Jeremias falam da passagem do Mar
Vermelho de modo figurado, e João deve fazer o mesmo aqui. Não sabemos, no entanto, se os reis do oriente
vão se juntar com os reis do mundo todo ou lutar contra eles. Possivelmente se trata dos partas se juntando com
os reis que se opunham a Roma (como era o seu desejo durante o reinado de Domiciano). Assim, possivelmente
os reis do oriente se juntam aos reis de toda a terra e se preparam para o Armagedom. Da mesma forma como
em Ez 38-39, a guerra de Gogue e Magogue contra o povo de Deus (veja Ap 19:17; 20:28) forma o pano de
fundo. Da mesma forma como Gogue e Magogue, as barreiras naturais entre as nações e tribos estão
desaparecendo e existe uma governo mundial centrado na besta. Assim o “secar” é a antítese do secar do Mar
Vermelho, à medida que os santos são atacados ao invés de libertados (Osborne 2002, 590-91)
- em seguida a falsa trindade reage aos julgamentos divinos derramados sobre os seus seguidores. Aqui os 3
estão juntos a 1ª. vez. O dragão = Satanás, apareceu em Ap 12:3ss como o opositor da mulher e seu filho. A
besta = Anticristo aparecem no cap.13 e recebe seu trono e autoridade do dragão. A besta da terra é chamado de
“falso profeta” para indicar os milagres falsificados e profecias que o caracterizam (13;13-14; 16:14; 19:20;
20:10). Como falso profeta, ele engana (13:14; 19:20) as nações e as seduz para seguir Satanás. Ele também
lidera a grande apostasia dos que se dizem crentes (Mc 13:6, 22; 2 Ts 2:3). Os falsos profetas foram preditos por
Jesus como sinais do fim dos tempos (Mt 24:11, 24). Em 2 Pe 2:1 eles são falsos mestres e em 1 Jo 4:3 são
chamados de anticristos. A igreja primitiva cria que os falsos mestres/profetas eram arautos do Anticristo final e
do falso profeta que trariam o fim desta era. Esses 3 seres são uma imitação da Trindade divina. De sua boca
saem (compare com Cristo, de cuja boca sai uma espada afiada, 1:16; 19:15) 3 espíritos imundos como rãs.
Espíritos imundos são usados nos evangelhos para descrever sua impureza. São mensageiros demoníacos como
rãs, conhecidos por animais impuros na Torah (Lev 11:10-11). As rãs também nos lembram da 2ª. praga do
Egito, o que poderia indicar uma peste sobre a terra, enganando a nações e conduzindo-as para o julgamento de
Deus (Osborne 2002, 591)
- eles são chamados de espírito de demônios, ou espíritos que são demônios. Atrás da oposição política e
blasfêmia religiosa do império romano nos dias de João e do império da besta no final da história estão forças
165
demoníacas liderando os pagãos para adorar os deuses errados. Eles conseguem isso realizando sinais
miraculosos (vivificar a imagem, 13:13-15; sinais do falso profeta, 19:20). São milagres que enganam as
pessoas e as levam para adorar a besta. Esses espíritos demoníacos vão aos reis de todo o mundo = habitantes da
terra. Esse evento é o mesmo de 13:3-4, 14 onde todo o mundo se junta para adorar a besta (cf. todo o mundo,
v.3; e os habitantes da terra, v.14). Esses são os reis da terra que cometem adultério com a grande prostituta
(17:2) e reinam debaixo do seu reinado (17:18). Eles são os 10 chifres (17:12-114) que “dão seu poder e
autoridade para a besta” (17:13) (Osborne 2002, 592)
- o objetivo dessa missão demoníaca é reunir as nações para a batalha do Armagedom. Trata-se da batalha final
predita pelos profetas. Será o grande dia do Senhor todo-poderoso, o grande dia da sua ira. Será o grande dia
porque culminará o plano de Deus que existe antes da criação do mundo (At 25:34; Ef 1:4; Hb 4:3; Ap 13:8;
17:8). Será neste dia que o Senhor todo-poderoso irá mostrar sua soberania e trazer essa era ao seu final. A
batalha terminará de forma repentina quando a espada sair da boca de Cristo (19:15) e aniquilar os inimigos
(14:20; 19:15, 21) (Osborne 2002, 592-93)

16. No meio da 6ª. taça temos uma advertência de Cristo. Qual seria a função dessa advertência?
- depois disso temos uma advertência de Cristo (16:15)
- diante da reunião das forças do mal o povo de Deus está em grande perigo. Eles precisam estar alerta. Assim,
da mesma forma que em 21:7-8 a narrativa é interrompida para alertar os leitores sobre os perigos da falta de
perseverança. Trata-se de uma mensagem do próprio Cristo (1ª. pessoa) alertando: “Eis que venho como
ladrão!”. Quem não estiver vigiando pode sofrer uma grande perda. É a vigilância que domina a 3ª. das 7 bem-
aventuranças no livro (1:3; 14:13; 16:15; 19:9; 20:6; 22:7, 14). Deus vai abençoar aqueles que permanecerem
acordados. Depois o texto acrescenta que a pessoa conserva-se vestida. É uma metáfora estranha podendo
significar: manter o seu compromisso espiritual com Cristo. É e pessoa que está vestida com a prontidão para o
retorno de Cristo (Osborne 2002, 593)
- quem tira as suas vestimentas espirituais acaba andando nu e exposto de forma vergonhosa. Isso continua a
imagem do AT onde a nudez é símbolo de julgamento e vergonha significa ser vulnerável ao julgamento. Um
membro da policia do templo se pego dormindo era despido das roupas que então eram queimadas e ele era
mandando embora nu e em desgraça (Osborne 2002, 593-94)

17. Qual seria o significado de Armagedom?


- agora os reis são reunidos pela falsa trindade no vale de Armagedom, em hebraico a montanha de Megiddo.
Mas não existe montanha de Megiddo. Assim as tentativas de explicar esse nome são inúmeras
Interpretações geográficas
a. Seria uma referência mais ampla para a região, incluindo os morros que circundam a planície e
combinando Megiddo com o monte Carmelo. Mas é uma região relativamente grande para esta pequena
referência e há pouca evidência para isso
b. Seria uma referência literal a Megiddo, já que a cidade foi construída sobre uma elevação artificial de
30m. Logo seria o local da batalha final. O problema é imaginar como exércitos tão numerosos iriam
conseguir batalhar em um local tão pequeno
c. Se refere ao monte Carmelo perto de Megiddo, sendo uma referência para a região, mas isso seria
obscuro demais, além do que Carmelo nunca recebe o nome de Megiddo na Bíblia
d. Seria uma referência à cidade de Megiddo e não a um monte. Isso seria uma possibilidade muito vaga

Interpretações baseadas na etimologia


a. O hebraico atrás de har moed (montanha da assembléia) e assim se refere ao monte Sião ou ao trono de
Deus ao qual o rei da Babilônia e sua arrogância quer ascender. Mas isso exige uma mudança no texto
sem qualquer evidência dos manuscritos
b. Se refere à etimologia hebraica atrás da palavras magedon, i.é., gadad cujo substantivo pode significar
montanha do despojo ou montanha da destruição (Jer 51:23) e um outro nome para a Babilônia ou um
lugar para se juntar as tropas para a batalha. Assim teríamos uma alusão ao ajuntamento nas nações para
a batalha final (Jl 3:2, 12)
c. Outra etimologia seria o significado de montanha frutífera, uma referencia a Jerusalém como a cena da
batalha final
d. Associado de maneira muito solta com o mito pagão a batalha dos deuses com a montanha mitológica
- todas essas tentativas encontram um significado específico para Armagedom, sendo literal ou simbólico, mas
não convencem. É mais provável que se trata de uma batalha do AT em Megiddo. Essa batalha tem como pano
de fundo a tradição de Gogue e Magogue onde fala da batalha final contra os inimigos de Deus (Osborne 2002,
595-96)
166
18. O que ocorre na 7ª. taça?
- a 6ª. taça não foi uma praga em si, mas a preparação para a 7ª. praga. Continuando com a natureza cíclica dos
selos, trombetas e taças, essa 7ª. taça traz a história ao seu final. O 6º. selo foi a teofania da tempestade que
sinalizava a volta de Cristo e o 7º. selo o silêncio de ½ hora enfatizando a expectativa o julgamento vindouro de
Deus. A 7ª. trombeta celebrava a chegada do reino final e o reinado eterno de Deus bem como o julgamento
final, seguido de outra teofania da tempestade. A maior parte dos detalhes também se encontra aqui: a teofania
da tempestade, o terremoto escatológico e o julgamento divino (Osborne 2002, 596)
- a 7ª. taça é derramada no ar. De acordo com a ciência grega havia 4 elementos da esfera natural: terra (16:1-2);
água (16:3-4, 12); fogo (16:8) e ar (16:17). Uma voz forte do céu anuncia que o plano divino chegou ao fim:
está feito/aconteceu. Terminou o que foi iniciado na cruz: está consumado (Jo 19:30). Aqui indica que o
julgamento já ocorreu e que o reino definitivo de Deus já chegou (Osborne 2002, 597)
- a teofania da tempestade já apareceu em outras passagens (4:5; 8:5; 11:19; 16:18; cf. Ex 19:16-18) com as
últimas 3 tendo um terremoto no final e as últimas 2 também uma chuva de pedras. Essa última parece
sumarizar as outras. Essa é a 1ª. vez que um terremoto é chamado de grande, mesmo que a chuva de pedras
também foi chamada de grande em 11:19. Isso lembra que a tribulação prometida seria maior do que qualquer
outra na história. O terremoto é tão grande que divide a cidade em 3 partes. Isso é reminescente do terremoto de
6:12-14 que moveu toda montanha e ilha do seu lugar. Possivelmente a referência é a Roma, a grande cidade.
Divisão em 3 partes indica a totalidade da devastação. As cidades das nações se desmoronaram, indicando uma
profecia sobre a queda da grande cidade (18:21-24) aplicado para todas as cidades que a seguiram. A indicação
é de um terremoto mundial onde as cidades do mundo cairiam da mesma forma que Roma caiu (14:8; 18:2-3)
(Osborne 2002, 598-99)
- Deus se lembrou da Babilônia. Deus se lembrou dos seus crimes. Similar a At 10:31 onde Deus se lembrou de
suas orações e atos de misericórdia. A expressão sugere que um anjo traz as orações diante de Deus e o lembra
das ações dos seres humanos (Ap 8:3-5). Deus lhe deu o cálice do vinho que é o furor de sua ira. Isso implica
em retribuição (Osborne 2002, 599)
- o resultado é que todas as ilhas fugiram e as montanhas desapareceram. Esse é um motivo apocalíptico comum
associado com o dia do Senhor. Aliado a isso temos ainda a chuva de pedras, implicando no julgamento de
Deus. As pedras pesam cerca de 35kg cada uma, seguramente o maior de toda a história (Osborne 2002, 599-
600)
- mas isso também não levas as pessoas ao arrependimento. Eles blasfemam contra Deus por causa dos
julgamentos que está mandando. Eles não ouvem a mensagem que Deus está querendo passar para eles,
somente culpam a Deus ao invés dos seus pecados. Não há mais oportunidades para se arrepender, assim esse
parece o evento final antes da volta de Cristo (Osborne 2002, 600-1)
167
17:1-20:15 – O Julgamento Final e a volta de Cristo

1. O que nos lembra 17:1? Isso quer indicar alguma ligação com o capítulo anterior?
- essa é uma seção grande que vai focalizar primeiramente na grande prostituta
- a conexão entre o cap.16 e 17 é vista em que o anjo que convida João para ver o julgamento da grande
prostituta é um dos anjos que tinha as 7 taças. Assim o julgamento que veremos é uma extensão dos
julgamentos das taças, possivelmente uma elaboração das últimas 2 taças que levaram à destruição da Grande
Babilônia. Grande parte do cap.17 está lidando com a interpretação dos símbolos dada pelo anjo e o julgamento
em si não é executado até 17:16 e depois no cap.18 (Osborne 2002, 607)

2. O que o anjo mostra a João? (17:1-2)


- essa é a 3ª. vez que aparece “eu lhe mostrarei” (1:1; 4:1; cf. 21:9, 10; 22:1, 6, 8) e sempre se refere à revelação
divina em visão por seres angelicais mediadores (com exceção de 1:1). Aqui o anjo promete: “mostrarei o
julgamento da grande prostituta”. É Babilônia, a Grande, um símbolo para Roma e o império da besta.
Prostituta ocorre em 17:1, 5, 15, 16; 19:2 (uma referência a 17:2) é representa Roma (mesmo que poucos
estudiosos acham que poderia se referir à Jerusalém) que levou o mundo para a imoralidade e apostasia/idolatria
religiosa. A figura da prostituição para retratar tanta a imoralidade e idolatria é freqüente no AT.
Freqüentemente é aplicada para Israel. Não se trata simplesmente de cometer fornicação, mas levar outros a
fazer o mesmo, ou seja, atuar como prostituta. Roma levou outras nações à imoralidade (Osborne 2002, 608)
- possivelmente a imagem aqui é tão geral que representa a deusa Roma, cunhada na moeda em 71 AD na Ásia
durante o reinado de Vespasiano sentada sobre as 7 colinas de Roma segurando uma espada. Não sabemos se
esta é a figura, mas seria uma possibilidade. De qualquer forma aqui temos a depravação de Roma que leva
outros a se depravar (Osborne 2002, 608-9)
- essa prostituta está sentada sobre muitas águas, possivelmente alusão a Jer 51:13 onde a Babilônia vive sobre
muitas águas, uma alusão a sua localização junto ao rio Eufrates cercada de muitos canais de irrigação do
grande rio. As muitas águas são definidas em 17:15 como “povos, multidões, nações e línguas”, se referindo às
muitas nações controladas por Roma. Sentar sobre eles = conquistar e controlar (Osborne 2002, 609)
- os reis da terra cometeram adultério com ela, o que vai ser a razão pelo qual o julgamento vem sobre elas
(18:3, 9). Os reis levaram o povo para o mau caminho, mas todas as pessoas também participaram. Os
habitantes da terra se embriagaram com o vinho da sua prostituição. Eles perderam o controle e são dominados
por influência externa. As pessoas se ajuntaram aos reis da terra em sua prostituição religiosa. Em Jer 51:7
Babilônia é condenada por embriagar toda a terra a ponto de enlouquecer. Diversos comentaristas acham que
isso seria a subversão econômica e política onde Roma seduz as nações com promessas de luxo e poder. Isso se
torna mais evidente em 18:3, 7, 9, 11-16, 19, 23, mas é implícita também aqui) (Osborne 2002, 609)

3. O que a descrição da prostituta (17:3-4) está mostrando sobre ela?


- João agora é levado no Espírito para um deserto (17:3), um local que é usado nas Escrituras para o local de
conforto e revelação, ou local de provações e devastação. No Apocalipse o deserto é relativamente positivo e,
12:6, 14, onde a mulher encontra local de refúgio do dragão no deserto, mas negativo aqui, onde é a localização
da Grande Babilônia, que se torna a habitação de demônios (18:2). No deserto João vê uma mulher montada
numa besta vermelha. Certamente essa é a prostituta de 17:1 e o fato que senta sobre a besta pode indicar um
certo tipo de controle, enfatizando a influência do império da Babilônia sobre a besta. Enquanto a besta é o
governador político do império, a mulher representa a religião blasfema que seduz as nações e o sistema
econômico que atrai as pessoas para o luxo terreno. A cor vermelha para a besta pode indicar o luxo incrível do
império, vista nas cores azul e vermelho (17:4). As outras descrições da besta “estava coberta de nomes
blasfemos e que tinha sete cabeças e dez chifres” é tirada de besta que vem do mar (13:1). As cabeças e os
chifres serão interpretados como nomes de blasfêmia (17:9-14), não aparecem mais nesse capítulo, mas a
calúnia do nome de Deus permeia a atmosfera de toda a seção, indicando que a besta se apresenta como o deus
deste mundo (13:4, 8, 14-15) (Osborne 2002, 610-11)
- a mulher é descrita em seu luxo incrível e corrupção moral (17:4). A descrição aqui é similar a 18:16 onde
descreve a lista de luxos que caracterizam a grande cidade (18:12-13, 16). Somente a realeza e os muito ricos
poderiam se vestir de púrpura (a cor da realeza) e vermelho (a cor da riqueza), mostrando a incrível
prosperidade comercial do império romano. Eram tinturas muito caras e assim usadas somente pelos muito ricos
e poderosos. Além disso, ela estava “adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas”. Essa vestimenta é
explicada logo a seguir quando ela “segurava um cálice de ouro, cheio de coisas repugnantes e da impureza da
sua prostituição”. Toda sua riqueza é repugnância aos olhos de Deus e está ligada com sua imoralidade. Essa
imagem é tirada de Jer 51:7 onde Jeremias profetiza sobre a destruição da Babilônia e a chama de “um cálice de
ouro nas mãos do Senhor” que “embriagou a terra toda”. Em Jeremias a Babilônia é o cálice, aqui a
depravação da Babilônia é o conteúdo do cálice. A riqueza da Babilônia intoxica as pessoas da terra que as leva
168
à ira de Deus. O termo bdelygmaton = coisas repugnantes, abominações, é religioso descrevendo aquilo que
é detestável aos olhos de Deus e incita a sua ira. Trata-se das práticas detestáveis diante de Deus, especialmente
ídolos, freqüentemente chamadas de abominações no AT. Depois fala da impureza, um termo cúltico
descrevendo a imoralidade e blasfêmia diante de Deus. Esses termos descrevem o quão detestável a riqueza e
imoralidade do império romano são diante de Deus (Osborne 2002, 611-12)

4. Em outras passagens já vimos algo sobre uma marca na testa. Aqui temos uma descrição da prostituta. O
que João está querendo nos mostrar?
- depois disso temos uma descrição mais clara da mulher: “MISTÉRIO: BABILÔNIA, A GRANDE; A MÃE DAS
PROSTITUTAS E DAS PRÁTICAS REPUGNANTES DA TERRA”. Era costume que os pais desses nomes aos
filhos com base na esperança que tinham para eles (é possível resumir o conteúdo de cada um dos profetas
menores estudando o significado dos seus nomes). Cortesãos romanos podem ter colocado seu nome nos
turbantes que usavam sobre a cabeça para divulgar sua verdadeira identidade. O nome sobre a testa já apareceu
diversas vezes para os seguidores da besta (13:16; 14:9; 17:5; 20:4) e 4 vezes para o povo de Deus (7:3; 9:4;
14:1; 22:4) (Osborne 2002, 612)
- não se sabe muito bem o significado do termo mistério. Pode ser a forma misteriosa em que o reino que
domina o mundo começa a ser derrotado: o reino se volta contra si mesmo e a autodestruição inicia antes da
volta de Cristo. O mistério é a Babilônia que representa o império da besta. Ela é descrita depois como “mãe
das prostitutas e das práticas repugnantes da terra”. A mãe reproduz suas características nos outros. Assim o
império romano do Anticristo seduziu as outras nações para a imoralidade e idolatria e ela mesma cometeu os
mesmos pecados. Pode ser uma referência às passagens do AT onde Israel apóstata é descrita como a mãe que
se prostitui (Os 2:2-7; cf. Is 50:1) (Osborne 2002, 612-13)

5. O v.6 nos retorna a um tema conhecido no Apocalipse. Como a descrição da embriagues ajuda a entender a
ação da prostituta?
- se antes ela estava embriagada com a idolatria e imoralidade, agora vemos que está embriagada também com
“o sangue dos santos, o sangue das testemunhas de Jesus”. A imagem de se embriagar com o sangue já ocorre
no AT e nos escritos antigos. Representa a grande alegria em que os exércitos depravados aniquilavam famílias
inteiras, bem como exércitos inimigos. Em 14:8; 17:2 Babilônia se embriagou com sua imoralidade, mas aqui
estão embriagados com o sangue dos santos. Deus permitiu que a besta vencesse os santos (13:7). Assim aqui
temos 4 coisas em mente: idolatria, imoralidade, luxo e perseguição. Tácito descreve a situação do tempo de
Nero, onde os cristãos eram vestidos de peles de animais e estraçalhados pelos cães, pregados na cruz,
destinados para as chamas e queimados para servir de iluminação noturna. Os cristãos são testemunhas de Jesus
e isso os leva a serem martirizados. Mas eles não se escondem temendo pela própria vida, mas testemunham
diante da morte (Osborne 2002, 613-14)

6. Qual a reação de João diante desse quadro?


- João fica admirado. Ao invés de ver o julgamento da Babilônia, ele viu o seu luxo e aparente triunfo. Mas João
não deve ficar admirado porque esse triunfo aparente já foi predito no cap.13. Agora o anjo vai descrever em
maiores detalhes as 7 cabeças e 10 chifres. A explicação é sobre a besta e não sobre a mulher. Sua queda em
17:16 é um replay da guerra civil que vimos no 2º. selo (6:3-4) com a besta e os reis se voltando contra ela e a
destruindo. A temática é a mesma dos 4 cavaleiros (6:1-8): o mal precisa se completar, se virar contra si mesmo
e se auto-destruir (Osborne 2002, 614-15)

7. O que nos chama a atenção na descrição da besta?


- agora termos a explicação da visão que João viu. Em muitas passagens Deus é descrito como aquele que era,
que é e que há de vir. Agora a besta é descria como “era e já não é” e “está para subir do Abismo e caminha
para a perdição”. Ficou claro que a besta exige adoração como o deus deste mundo (2 Co 4:4). Da mesma
forma a expressão “era e já não era” imita a morte e ressurreição de Jesus. Essa frase também indica o 8º. rei
(17:11), o Anticristo que era com Satanás, não está aqui agora, mas virá no final da história. O Anticristo vai
assumir o poder tomar sobre si atributos divinos, mas é o oposto da divindade (Osborne 2002, 615)
- aqui temos a 3ª. vez que a besta sobe do Abismo. Ela ascendeu para matar as 2 testemunhas (11:7) para se
tornar parte da falsa trindade e conduzir a guerra do dragão (13:1). Aqui ele ainda não subiu, mas vai ocorrer
logo, indicando a ascensão do Anticristo no final da história, mas caminha para a perdição. Segundo Beale
temos aqui o padrão de subir e ser destruído que encontramos 3 vezes com o pequeno chifre (Dan 7:11, 17-18,
23, 26). Em Daniel, como aqui, os poderes demoníacos atrás do pequeno chifre prevalecerão temporariamente
sobre o povo de Deus (Ap 9:1-2, 11; 11:7; 13:7). Mas seu destino predeterminado é a destruição. Como visto
em 12:12 a besta sabe que o seu tempo é curto e que está predestinado para a destruição. Ele luta para matar os
169
cristãos, mesmo sabendo que isso não alivia o seu futuro. Ele vai destruir tantos cristãos quanto conseguir,
mas somente pode matar o seu corpo. Sua destruição será eterna (20:10) (Osborne 2002, 615-16)
- os habitantes da terra ficarão admirados com a besta. São as pessoas cujos nomes não estão escritos no livro da
vida desde a eternidade. Os nomes indicam os cidadãos do céu e a segurança que Deus dá para estas pessoas e
ao mesmo tempo a rejeição dos incrédulos. Isso mostra a soberania e onisciência de Deus. Eles ficam admirados
quando vêem a ressurreição falsa. A besta era, não é, e virá, mostrando a certeza da sua ressurreição. Esse
evento foi mencionado 6 vezes (13:3, 12, 14; 17:8a, 8b, 11) e assim é crítico para a ascensão do Anticristo ao
poder (Osborne 2002, 616-17)

8. João alerta para pessoas que chegam a uma conclusão de maneira precipitada sobre a interpretação da visão.
Como ele faz isso? Qual seria a interpretação possível para esta situação?
- para interpretar essa narrativa se requer uma mente sábia. As pessoas precisam se voltar para Deus para
entender essas imagens e eventos futuros. As 7 cabeças são 7 colinas, uma frase usada para Roma, pois era
construída sobre 7 colinas. Em 17:1 a mulher estava sentada sobre muitas águas, o que é visto como os
habitantes do império (17:15), indicando que ela os controla. Ela está sentada sobre as 7 colinas, indicando que
o seu trono está em Roma. Ambas imagens mostram o poder do império da besta (a mulher). Adiante as 7
colinas são identificados com 7 reis (Osborne 2002, 617)
- normalmente identifica-se esses reis com imperadores romanos, mas os detalhes são complicados, já que 5 já
caíram, um ainda existe e o outro ainda não surgiu. Quando vier ficará por pouco tempo. A besta que era e não é
no momento será o 8º. rei. Ele é um dos 7 e caminha para a perdição. Se são imperadores 5 já morreram e o
atual logo será sucedido. Se a lenda do Nero redivivus está em mente, a besta é morta e ressuscita dos mortos,
levando as nações a ficar admirados e adorá-lo como seu deus (13:3-4, 8, 14-15). Ao mesmo tempo esse rei faz
parte dos 7 reis implicando que ele surge de alguma forma entre os 7. Assim temos a numeração 5+1+1+1 . Mas
quem seriam esse reis? Uma lista dos imperadores romanos pode ajudar:
Júlio Cessar (44 AC)
Augusto (27 AC – 14 AD)
Tibério (14-37)
Calígula (37-41)
Cláudio (41-54)
Nero (54-68)
Galba, Otho, Vitelius (68-69)
Vespasiano (69-79)
Tito (79-81)
Domiciano (81-96)
Nerva (96-98)
Trajano (98-117)
A solução desse dilema depende da datação do livro, se colocamos a escrita do livro durante o reinado de Nero,
Vespasiano ou Domiciano. Também depende se Júlio César ou Augusto é o 1º. imperador. Algumas tentativas
para solucionar esse problema:
a. Se o livro foi escrito durante o reinado de Nero ou logo depois, Nero seria o 6º. imperador que agora
está no trono e o Nero redivivus seria o 8º. imperador que volta como o Anticristo. O 7º. imperador
seriam os 3 pretendentes visto como um único imperador ou pulá-los e ir para Vespasiano (Osborne
2002, 618-19)
b. Alguns crêem que a visão foi recebida durante o reinado de Vespasiano, mas escrita durante o reinado
de Domiciano. Vespasiano seria o 6º. imperador (contado a partir de Augusto) e Tito o reinado curto e
Domiciano (ligado com Nero em termos de maldade por escritores romanos [mesmo que não da Ásia])
seria o Anticristo. Isso exige que os 3 pretendentes, que eram considerados imperadores em grande
parte do império romano sejam omitidos (Osborne 2002, 619)
c. Outros crêem que deveríamos iniciar com Calígula como o 1º. imperador anti-cristão, o 1º. a assumir o
poder depois da morte e ressurreição de Cristo. Os 5 que caíram (menos os 3 pretendentes) todos
perseguiram os cristãos, e Domiciano seria o 6º. rei no trono. As perguntas seriam porque não iniciar
com Tibério, o imperador que reinava quando Cristo foi morto? (Osborne 2002, 619)
d. Poderíamos iniciar com Nero, incluir os 3 pretendentes e tornar Vespasiano o 5º. Depois disso Tito e
Domiciano, o 7º. Mas datar o livro no tempo de Tito seria problemático, pois não existe evidência para
isso. Além disso, a profecia estaria errada porque Domiciano teve um reinado longo (Osborne 2002,
619)
e. Outros ainda acreditam que os reis que caíram, seriam aqueles que tiveram uma morte violenta (Júlio
César, Calígula, Cláudio, Nero e Domiciano) assim que aquele que estava no trono agora seria Nerva
170
com Trajano sendo o 7º. rei que reinaria por um tempo curto e depois Nero voltaria. Mas nem todos
tiveram uma morte violenta (Osborne 2002, 619)
f. Outros acham que se trata de impérios e não reis (talvez o Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia e Grécia) e
Roma seria o 6º. reino. O 7º. e 8º. reino ainda seriam futuros. Isso depende se vemos a besta como uma
pessoa ou um império. Se for uma pessoa essa opção fica complicada, além do que ficaria difícil
estabelecer que império seria de curta duração (7º.) na história (Osborne 2002, 619-20)
g. Muitos crêem que os números não deveriam ser conectados com reis ou impérios, mas com simbologia
apocalíptica onde 7 representa que os impérios mundiais estão completos. Isso estaria em linha com a
utilização do número 7 no livro e com a literatura extra-bíblica. Essa possivelmente é a melhor opção.
Mas devemos acrescentar a isso a posição de Bauckham (confirmada por Osborne) que existe referência
aos imperadores romanos e que tanto João como seus leitores pressupunham que o imperador que
reinava era Domiciano. A numeração não seria para imperadores específicos, mas simbólicos
mostrando que o império romano era temporário e estava prestes a terminar o seu tempo e levaria para o
retorno de Cristo (Osborne 2002, 620)
Assim a besta é o 8º. imperador (17:11) que ainda não apareceu na época em que o livro foi escrito. O
Anticristo é um dos 7 no sentido que seguirá a oposição contra Deus e perseguir o seu povo. Ele não vai ser um
imperador romano, mas terá a mesma função deles. Não se refere ao Nero redivivus afirmando essa lenda, mas
lembrando que a pessoa a ser lembrada na história por sua crueldade contra o povo de Deus era Nero. Ele será
como Nero em seu caráter e destino. A referência ao número 8 pode ser uma imitação da ressurreição de Cristo.
Da mesma forma como Jesus foi ressuscitado no 8º. dia (1º. dia da semana), assim a besta será levantada para
enganar as nações para adorá-lo como deus (Osborne 2002, 620-21)

9. Que interpretação João dá para os chifres?


- agora temos a interpretação dos chifres. Estes são construídos sobre os 10 chifres de Daniel 7:7-8, 20-25 entre
os quais apareceu no pequeno chifre. Em Daniel são reis que surgem do reino final e preparam o pequeno chifre
para tomar o poder. Já que Roma dividiu o seu reino em 10 províncias, é comum que se interprete como os
governadores das 10 províncias. Mas é melhor ver aqui o pano de fundo da prática romana de estabelecer reis-
dependentes em territórios conquistados. Eram títulos honorários, mas considerados mais altos
hierarquicamente que governadores das províncias. Eles prestavam contas a Roma e trabalhavam debaixo de
sua autoridade. Herodes, o Grande, foi feito rei em 42 AC e seus filhos tentaram competir para manter o título,
mas somente seu neto e bisneto foram chamados de reis. Esses 10 reis ainda não apareceram, mas têm as
características desses reis-dependentes. Eles tomam sua autoridade de um poder maior e entregam à besta. Estes
o seguem para a guerra (Osborne 2002, 621)
- os eventos narrados a seguir são tirados de uma série de passagens do livro. Em 7:1 os 4 anjos nos 4 cantos da
terra retêm os 4 ventos da destruição. Quando esses ventos são liberados, fica evidente que o julgamento de
Deus chegou. Em 16:12 os Eufrates é secado (talvez com os ventos de 7:1) para permitir aos reis do oriente vir
e dar suporte à besta em sua preparação para a guerra. A trindade falsa envia seus espíritos imundos como rãs
para chamar os reis de toda terra (governadores das nações) para juntá-los para a batalha (16:14) no
Armagedom. A passagem expande essas cenas. Eles “ainda não receberam o seu reino”, o que os liga com os
reis do oriente (imagem dos governadores dos partas que vêm para invadir) que aparecem no final da história
para apoiar as forças da besta. Os leitores originais entenderiam que seus antigos inimigos (os reis do oriente)
agora se juntam com os reis do imperador (da besta). Eles darão autoridade para a besta da mesma forma que
ele recebeu a autoridade do dragão (13:2). Mas a verdadeira fonte de autoridade é Deus, que concede essa
autoridade por 1 hora. Eles recebem autoridade por um tempo curto de perseguição sobre os santos antes da
batalha final, durante o período da grande tribulação (7:14). Eles reinam durante os 3 anos e meio por
autorização divina, lembrando a autorização que a besta recebeu para suas ações malignas (13:5-8) (Osborne
2002, 621-22)

10. O que nos chama a atenção sobre o propósito dos reis? Seu propósito é alcançado?
- esses reis têm um único propósito – dar sua autoridade para a besta. Eles dão apoio a ele e concordam com
tudo o que faz. Eles receberam autoridade, e agora devolvem a autoridade e poder. Assim temos aqui 4 grupos:
o Anticristo, os habitantes da terra que o adoram; os 10 reis que dão total apoio a ele, e os restante dos reis da
terra que se juntam nessa coalizão (16:14, 16) (Osborne 2002, 622)
- o seu propósito único é guerrear contra o Cordeiro. Em 12:17 e 13:7 o dragão e a besta lutam contra os santos,
se referindo ao período da perseguição que ocorre antes da volta de Cristo. Aqui os reis se aliam a eles e lutam
contra o Cordeiro, se referindo à batalha final inaugurada em 16:12, 14 e executada em 19:19 onde “a besta, os
reis da terra e os seus exércitos reunidos para guerrearem contra aquele que está montado no cavalo”, i.é.,
Armagedom (16:16). A ênfase sobre o Cordeiro aqui é construída sobre o Cordeiro que tem 7 chifres (5:6)
transformando-o no Cordeiro conquistador e a “ira do Cordeiro” (6:16) focaliza sobre a vitória que essa
171
passagem descreve. Os reis guerreiam, mas o Cordeiro vence. Da mesma forma como em 19:19-20 a
impressão é que a vitória é instantânea. Podemos ter aqui uma inversão de Dan 7:21 onde o pequeno chifre
vence os santos, enquanto aqui o Cordeiro vence a besta e seus seguidores (Osborne 2002, 623)
- a razão para a vitória é que o Cordeiro e não o Anticristo é “o Senhor dos senhores e o Rei dos reis”. O
imperador romano era chamado de “rei dos reis” já que presidia sobre os outros reis do império. Mas seu reino
absoluto era somente uma pretensão à luz da soberania absoluta do Cordeiro, o verdadeiro “Senhor dos
senhores”. Esse título era usado normalmente para Deus na LXX e na literatura intertestamentária (Osborne
2002, 623)

11. Qual a participação dos santos na vitória?


- em Ap 2:26-27 Cristo prometeu aos “vencedores” que iriam ter autoridade sobre as nações e “as governará
com cetro de ferro”, uma referência a Sl 2:9, reproduzida em Ap 19:15 onde o cavaleiro sobre o cavalo branco
brande uma barra de ferro. Os santos participarão da batalha final: “os seus chamados, escolhidos e fiéis”. Isso
também faz parte de sua oração pedindo vingança em 6:9-11. Deus respondeu parcialmente a sua oração nos
julgamentos das trombetas e taças. Agora continua respondendo permitindo que participem da grande vitória
sobre aqueles que os martirizaram. Eles já tinham vencido o dragão “pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do
testemunho que deram”, ou seja, pela seu martírio (12:11; cf. 15:2-3) e agora eles o vencem acompanhando o
“Senhor dos senhores, o Rei dos reis” no “grande dia da sua ira [de Deu e do Cordeiro]” (6:17; cf. 16:14)
(Osborne 2002, 623-24)
- nos textos do AT e na literatura apocalíptica temos 2 imagens: o povo de Deus participando ativamente na
batalha (Ap 2:26-27) e outro onde acompanham a Deus que vence a batalha sozinho (Ap 17:14; 19:14). Parece
que aqui eles não participam ativamente da batalha (Osborne 2002, 624)
- eles são “seus chamados, escolhidos e fiéis” (17:14). Eles pertencem a Deus e precisam perseverar. Somente
aqueles que permanecem fiéis até o final participarão do exército divino de Deus (Osborne 2002, 624)
- agora o anjo vai descrever alguns detalhes sobre a prostituta. As águas sobre as quais a prostituta está sentada
são “são povos, multidões, nações e línguas”. Isso implica que a prostituta reina sobre as nações da terra
(Osborne 2002, 624-25)

12. O v.16 nos choca com uma virada da mesa. Isso deveria nos chocar?
- mas agora vemos como a besta se sente com relação à prostituta (17:16). O tema da guerra civil de 6:1-8 volta
à tona quando a besta e os reis se voltam contra a prostituta e a destroem. Veja o poder auto-destrutivo do mal.
O ódio que os poderes do mal têm contra seu seguidores já foi visto na 5ª. e 6ª. trombeta, onde os gafanhotos
demoníacos torturam seus seguidores por 5 meses e depois os cavaleiros demoníacos matam 1/3 da
humanidade. Isso se encaixa com a descrição das possessões demoníacas nos Evangelhos onde os demônios
tentam torturar e matar aqueles que possuem. Satanás e seus anjos não amam os humanos criados à imagem de
Deus e amados por ele. Assim torturando aqueles a quem Deus ama, estão de forma indireta ferindo a Deus.
Esse é o pano de fundo quando os reis vassalos se voltam contra Roma e a destroem (Osborne 2002, 625)
- a besta e os 10 reis odiarão a prostituta. Essa é uma imagem que lembra o Nero redivivus que volta com o
exército dos partas para destruir Roma. É o ódio que causa a traição. Um dos grandes temores de Roma é que
seus reis vassalos pudessem se voltar contra ela e realizar o que Aníbal não conseguiu: invadir e destruir Roma.
Eles a levarão à ruína é uma descrição geral que resulta do restante das atividades descritas. Uma cidade
arruinada fica deserta. Eles “e a deixarão nua, comerão a sua carne e a destruirão com fogo”. A imagem é
construída sobre Ez 23:25-29 onde a cidade apóstata de Jerusalém é destruída. Ezequiel 23 apresenta a história
de duas irmãs prostitutas: Oholah = Samaria (23:5-10) e Oholikbah = Jerusalém (23:11-35) que são indiciadas
por seus pecados e depois punidas (cf. Jer 3:6-11, onde Israel e Judá são retratadas como esposas adúlteras de
Yahweh). Essa passagem aqui junta as 2 passagens lidando com o castigo da prostituta Jerusalém (Ex 23:22-27,
28-35) quando seus amantes prévios agora se voltam contra a prostituta de modo que ela será consumida pelo
fogo e a deixarão nua (23:25-29). A essas imagens cruéis de Ezequiel, João acrescenta que irá devorar a sua
carne, uma referência à destruição total da cidade. A profecia de Ezequiel se cumpriu na conquista de Judá pela
Babilônia. Aqui os reis do oriente que se juntaram às forças da Grande Babilônia (Ap 16:12-16) agora se voltam
contra ela e a devoram. Deus causa os reis vassalos a se voltarem contra o império romano como um prelúdio
da vinda do Cordeiro vencedor. Os 3 elementos: traição, pragas, parousia – são parte do plano soberano de
Deus e acabar com a história e depravação da terra (Osborne 2002, 625-26)
- são imagens fortes de julgamento. Lembra Laodicéia que deveria cobrir a sua nudez vergonhosa. A imagem da
nudez lembra a exposição dos seus pecados. A imagem da carne devorada lembra Jezabel cujo corpo foi comido
pelos cães (2 Rs 9:36-37) e também lembra as aves que se alimentarão da “carne de reis, generais e poderosos,
carne de cavalos e seus cavaleiros, carne de todos livres e escravos, pequenos e grandes” (Ap 19:17-18, 21).
Temos um paralelo aqui onde Deus entrega a prostituta Jerusalém nas mãos da Babilônia para a destruição. A
ironia é que a Babilônia que destruiu, aqui é destruída. Depois será consumida pelo fogo. A filha de um
172
sacerdote que se tornasse uma prostituta deveria ser “queimada com fogo” (Lev 21:9). Isso lembra que o
fogo lembra o lago de fogo onde as pessoas serão atormentadas eternamente (20:10) (Osborne 2002, 626-27)
- talvez a imagem aqui também se refira à igreja apóstata e não somente aos habitantes da terra. Isso seria um
paralelo para as igrejas da Ásia que lutam contra a apostasia (Beale 1999, 885-86)

13. O que o v.17 está querendo nos mostrar?


- Deus nunca perdeu o controle. É interessante que o texto nos mostra que “Deus colocou no coração deles o
desejo de realizar o propósito que ele tem” (17:17). O poder pertence somente a Deus que permite que as forças
do mal se juntem e realizem os propósitos que Deus mesmo estabeleceu para levar ao ato final de rebelião
contra Deus (Osborne 2002, 627)
- isso tudo ocorre para que se cumpram as palavras de Deus. Deus já prometeu através das profecias o que vai
ocorrer, e agora chegou a hora. O Anticristo e seus subordinados participarão em sua própria derrota da maneira
como Deus planejou há muito tempo (Osborne 2002, 627-28)

14. Quem seria a Roma atual?


- agora ficamos sabendo o que já estava claro em todo o tempo: Roma é a capital do mundo. Não se trata de
tentar encaixar o ataque dos bárbaros sobre Roma, anos mais tarde. Refere-se ao que vai ocorrer no final dos
tempos, usando Roma como a capital do império dos seus dias. No entanto, como afirma Mounce, cada grande
centro de poder que prostitui sua riqueza e influência restaura à vida o espírito da antiga Babilônia. A
imoralidade repulsiva da Babilônia, a idolatria, o luxo, a utilização errada do poder que caracterizou Roma tem
sido reproduzida muitas vezes na história e podemos reconhecer a mesma depravação nos dias de hoje (Osborne
2002, 628)

18:1-24
15. Quem aparece no início do cap.18 e o que faz?
- depois disso aparece um outro anjo que desce dos céus em contraste com a besta que sobe do mar (17:8). Ele
tem grande autoridade, comparado com a autoridade derivada da besta (que recebeu do dragão [13:2] e de Deus
[13:5]). Toda a terra foi iluminada por seu esplendor (glória), enquanto os membros da falsa trindade não têm
glória. Somente aqui um ser angelical tem glória, podendo ser um reflexo da glória de Deus, com a implicação
que vem direto de sua presença (Osborne 2002, 634)
- esse anjo, da mesma maneira como em 10:1 tem autoridade sobre o que ocorre sobre a terra. Alguns crêem
que se trata de Cristo e não de um anjo. Mas não existe muita evidência que um anjo possa representar a Cristo
no Apocalipse. Assim é provável que seja um ser angelical (Osborne 2002, 634-35)
- é possível que tenhamos Ez 43:2 aqui como pano de fundo: “a terra refulgia com a sua glória.”. Ali a
medição do templo tinha terminado (42:15-20) e agora ocorre uma procissão solene onde Yahweh entra no
templo restaurado (43:1). A glória do Senhor volta ao templo (43:2-9) e ilumina toda a terra. Nessa narrativa
Israel é lembrado dos julgamentos passados e advertidos sobre os julgamentos do futuro se persistir no seu
pecado (43:3, 7-9). A presença gloriosa de Yahweh e a advertência sobre o julgamento também estão presentes
aqui. Assim é provável que João queria que víssemos esses paralelo (Osborne 2002, 635)
- o anjo bradou com voz poderosa = pronunciamento com autoridade que a Babilônia caiu (= 14:8). Isso alude a
Is 21:9 onde Isaías profetizou a destruição da Babilônia: “Caiu! A Babilônia caiu! Todas as imagens dos seus
deuses estão despedaçadas no chão!”. O julgamento do império inclui a destruição dos ídolos, especialmente
do Anticristo que levantou um ídolo de si mesmo (Ap 13:14-15). Aqui não teríamos uma nova profecia, mas
aquela predita por Isaías, baseado no decreto eterno de Deus (Osborne 2002, 635)

16. O que ocorrer com a Babilônia? Qual é o motivo desse julgamento?


- Babilônia vai ficar desolada. Temos diversas repetições poéticas aqui. A descrição da cidade deserta, habitada
por demônios e aves impuras vem de Is 13:21-22 (Babilônia); 34:11-14 (Edom); Jer 50:39; 51:37 (Babilônia);
Sof 2:14-15 (Assíria). Todos retratam a destruição das cidades que não deram a mínima para os mandamentos
de Deus e caíram debaixo do seu julgamento:
a. Habitação de demônios = os demônios agora fazem a sua casa ali, o oposto de Ef 2:22 onde os cristãos
são a habitação de Deus. Freqüentemente na Bíblia, os demônios habitam lugares desertos ou solitários
(Is 34:14; Mt 12:43). O significado disso é descrito em seguida
b. Prisão dos maus espíritos. Algumas traduções utilizam habitação ao invés de prisão, mas o uso hebraico
seria de uma casa para aprisionar
c. Prisão de toda ave impura e detestável, construída sobre a imagem das aves de rapina (detestáveis) (Is
13:21) e preparando para as aves que se alimentarão dos corpos do exército do Anticristo (Ap 19:17-18,
21) (Osborne 2002, 636)
- a razão para este julgamento terrível é o pecado dos perversos:
173
a. As nações beberam do vinho da fúria de sua prostituição (similar a 14:8; 17:2). O anjo tinha
anunciado que todas as nações caíram por causa do vinho que as leva à paixão pela sua imoralidade. As
nações serão destruídas juntamente com o império mau porque participaram livremente de sua
libertinagem. Em 17:5 Roma é “a mãe das prostitutas e das práticas repugnantes da terra”, levando
seus descendentes, as nações a cair na mesma depravação. Agora ambos são destruídos por causa
daqueles atos perversos. Num jogo de palavras interessante: “beberem do vinho da fúria da sua
prostituição” (14:8) leva a “beberá do vinho do furor de Deus” (14:10). Os resultados desse furor
divino são agora descritos. Como em 14:10 possivelmente faz alusão a Jer 25:15-18, 27-28; Is 51:17;
Zac 12:2 onde Deus ordena que as nações se embriaguem de sua ira depois que beberam o cálice do
pecado. No Apocalipse, a imoralidade se refere tanto a imoralidade sexual, como apostasia religiosa,
especialmente a apostasia (Osborne 2002, 636-37)
b. Os reis da terra se prostituíram com ela = lideraram seu povo na imoralidade e idolatria (repete a frase
anterior). A prostituição aqui se refere mais ao aspecto espiritual e não ao econômico como alguns
afirmam
c. O luxo excessivo é condenado. Os mercadores eram negociantes do atacado que viajavam vendendo
suas mercadorias. Eles enriqueceram do seu negocio. Os romanos tinham enriquecido com os bens das
nações conquistadas. Eles exploravam as nações para proveito pessoal, enriquecendo sobremaneira. A
economia romana vivia da extração dos bens e impostos para suportar a burocracia imperial e da
movimentação dos bens das províncias para abastecer a elite. Assim, todo o comércio se movia para
Roma com o intuito de apoiar a estrutura de poder. Mesmo o culto ao imperador era parte disso quando
escolhiam os sacerdotes honoríficos dentre a elite. Os ricos tinham o poder sobre toda a agricultura e
bens comerciais e os usavam para o bem das cidades. O povo comum vivia de subsistência e sobrevivia
com empréstimos à medida que suas dividas aumentavam (Osborne 2002, 637-38)
- muito do material desse capítulo está relacionado com Ez 27, o lamento por Tiro. A cidade renomada por seu
comércio é como um navio carregado de produtos do mundo, mas vai naufragar no alto mar. Esse é um modelo
perfeito para a destruição de Roma. Aqui os mercadores se enriquecem por causa do poder do seu luxo. Roma
seduziu as nações por causa de sua riqueza e de sua vida luxuosa. Isso atraía as pessoas a Roma de forma
voluntária [e não forçada]. Aqui vamos ver os pecados econômicos de Roma e sua ostentação exuberante que
traz a ira de Deus (Osborne 2002, 638)

17. Depois disso aparece outra voz. O que esta diz? O que significa?
- outra voz do céu diz. As vozes do céu são mensagens diretas de Deus/Cristo. Essa voz ordena que o povo de
Deus deve sair da cidade. Diversas vezes a Bíblia ensina que os cristãos devem se separar da sociedade
depravada. Mas é mais do que fugir fisicamente da cidade. Em Ap 18 significa que devem fugir para não ser
destruídos juntamente com os pagãos. Isso possivelmente se refere à dimensão espiritual. Os santos devem se
separar (o significado de santidade) das coisas do mundo. Esse é o cerne da fidelidade ética e perseverança no
Apocalipse (16:15; 21:7-8). Os cristãos devem “fugir das paixões da mocidade” (2 Tim 2:22) para que não
participem dos seus pecados e que as pragas não os atinjam (Ap 18:4). Aqueles que participam dos seus
pecados vão compartilhar do seu castigo. Ló deveria sair da cidade para não perecer junto com ela, o que
acabou ocorrendo com sua esposa (Gen 19). As pessoas devem fugir da Babilônia, pois Deus vai destruí-la (Jer
50:8-9) (Osborne 2002, 638-39)
- o motivo para o castigo é que os pecados da Babilônia chegaram até o céu, uma imagem forte lembrando a
torre de Babel onde as pessoas queriam chegar ao céu (Gen 11:4). Mas aqui temos uma alusão a Jer 51 onde o
julgamento da Babilônia “chega ao céu, eleva-se tão alto quanto as nuvens” (Jer 51:9). Os pecados das nações
foram empilhados e chegarão ao céu até Deus. Deus lembrou dos seus crimes, lembrou das transgressões da
Babilônia e vai agir por causa disso – uma ação criminal (Osborne 2002, 639-40)

18. Que tipo de retribuição Roma recebe?


- agora Roma/império da besta recebe a retribuição legal por suas ações. Tudo ocorre pela lei da retribuição
(tanto romana quanto bíblica)
a. A descrição da severidade do castigo = retribuição na mesma moeda. Isso pode vir de diversas
referências da Bíblia onde a lex talionis fica evidente (Sl 28:4; Prov 24:17; Is 3:11; Jer 50:29; Lam
3:64; Rom 2:6; 2 Co 11:15; 2 Tim 4:14). Isso pode inclusive se referir a Deut 19:16-19 onde a
testemunha falsa (no caso aqui a Babilônia) sofrerá a punição que sua calúnia queria forçar sobre as
outras pessoas (Osborne 2002, 640-41)
b. Paguem-lhe em dobro pelo que fez. Inicialmente parece que a justiça foi ralo abaixo e Deus resolve se
vingar de maneira desordenada. Alguns tomam isso como sendo uma recompensa completa ao invés de
dupla. Por outro lado o pagamento dobrado também era um tema comum. Em Ex 22:4, 7, 9 certas
transgressões exigiam o pagamento em dobro e os profetas enfatizavam a retaliação em dobro (Is 40:2;
174
Jer 16:18; 17:18). Salmo 79:12 chama por uma retaliação sétupla. Em Ex 22 a penalidade em dobro
por roubo poderia ser um paralelo interessante por causa da exploração econômica que fica evidente
nesse capítulo, ou por causa da severidade dos pecados das nações.
c. O cálice do qual o texto fala é o cálice “cheio de coisas repugnantes e da impureza da sua prostituição”
(Ap 17:4) que se referia ao cálice que ela “fez todas as nações beberem do vinho da fúria da sua
prostituição” (14:8). Ela que seduziu as nações a beberem o cálice do seu pecado, agora precisa beber o
cálice da ira de Deus em sua íntegra (14:10) (Osborne 2002, 641)
- agora vemos exemplos do cálice do pecado e a recompensa completa que segue
a. Ela glorificou a si mesma ao invés de Deus. Essa arrogância é ridicularizada na Bíblia: “Pois todo o que
se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado” (Lc 14:11). Aqueles que buscam sua
própria glória não somente perdem toda a glória na vida após a morte, como também enfrentarão o
julgamento de Deus (Osborne 2002, 642)
b. Ela viveu num luxo sensual. A sensualidade é expressa na imoralidade e vida abundante. Tanto a
sensualidade e o materialismo fluem da ganância egocêntrica que é a antítese da santidade. Por causa do
estilo de vida sensual, o anjo vingador dará a ela tormento e aflição. O tormento aguarda aqueles que se
opõem a Deus. A aflição descreve o luto que vem com o julgamento da Babilônia. O luto/dor é
resultado do tomento, mas é tarde demais. Se tivessem lamentado pelos seus pecados antes e se
arrependido, o tormento não teria ocorrido (Osborne 2002, 642)
c. A atitude egocêntrica fica ainda mais clara em sua vanglória: “Estou sentada como rainha; não sou
viúva e jamais terei tristeza” (v.7). O contraste é de uma prostituta afirmando ser rainha. Isso nos
lembra Messalina, a esposa de Cláudio, cujo apetite sexual era tão grande que ela se tornava uma
prostituta cultual em alguns dos templos. Ser viúva era complicado no mundo antigo. Essa era uma das
situações mais temidas pelas mulheres dos seus dias. No mundo pagão, a viúva não deveria se casar
novamente e freqüentemente tinha que ficar com a família do seu marido – uma situação muito ruim.
No mundo judaico, ela herdava propriedades somente se não tivesse filhos e não teria quem a
protegesse, tornando-se totalmente vulnerável a fraudes. No NT, o ministério para viúvas era
considerado um sinal de religião pura (Tg 1:27) havendo inclusive uma “ordem de viúvas” para cuidar
das suas necessidades (1 Tim 5:3-16). Isso tudo é tirado da profecia de Isaías contra a Babilônia (Is
47:7-8): “7 Você disse: ‘Continuarei sempre sendo a rainha eterna! ... Somente eu, e mais ninguém.
Jamais ficarei viúva”. O julgamento se encontra em 47:9-11: “Estas duas coisas acontecerão a você
num mesmo instante, num único dia ... uma catástrofe que você não pode prever cairá repentinamente
sobre você”. Os paralelos com Ap 18 são evidentes. Seu orgulho e segurança serão reveladas como
sendo ilusão e a dor/luto que jurou nunca ter, logo virá sobre ela. Toda essa arrogância vai acabar
(Osborne 2002, 642-43)
d. Suas pragas a alcançarão, as mesmas pragas que foram o motivo pelos quais os cristãos deveriam fugir
(18:4). As pragas virão num só dia (Is 47:9). Isso se cumpriu quando Dario matou Belsazar e destruiu a
Babilônia num único dia (Dan 5:30). A idéia é que a destruição virá de modo repentino (Osborne 2002,
643)
e. As pragas são “morte, tristeza e fome e fogo”. A tristeza ocorre em Ap 18:7 como o julgamento de Deus
sobre a Babilônia. Morte e fome são encontradas do resumo do 4 primeiros selos. Já que os 4 cavaleiros
do Apocalipse focalizam sobre os ressaltados da guerra, essa é uma imagem natural da destruição da
grande Babilônia. O fogo faz alusão a 17:16 e a destruição da grande prostituta pela besta e seus reis
(cf. Is 47:14). Deus prometeu a Noé que nunca mais destruiria a terra pela água. Vai ser pelo fogo (2 Pe
3:10, 12) e aqui temos o precursor dessa purificação ardente (Osborne 2002, 643)
- Deus está no controle e causa a depravação da Babilônia a cair sobre ela mesma e destruí-la. Essas imagens
funcionam como em 6:1-8 onde a ganância pela conquista e poder completa o ciclo da autodestruição. Essa é a
história da humanidade desde o início. O ponto final dessa seção aponta para a causa de tudo isso: “pois
poderoso é o Senhor Deus que a julga”. Não é a besta ou seus aliados que são poderosos, mas somente Deus, e
isso é provado na destruição repentina do império maligno (Osborne 2002, 643-44)

19. Diversas pessoas lamentam pela destruição da Babilônia. Qual é o primeiro grupo? Como é descrito o seu
envolvimento com a Babilônia?
- em seguida temos 3 lamentos sobre a Babilônia pelos 3 grupos que mais se beneficiaram da liberalidade de
Roma: os reis que enriqueceram dela; os mercadores que tinham parte da sua expansão comercial; e os donos de
navios que levavam o cargo para todo o mundo. Agora eles vêem a destruição e lamentam e ao mesmo tempo
“ficarão de longe” para não ter que participar do seu julgamento. Aqueles que se aproveitaram da cidade agora a
deixam na hora de sua agonia. Esses lamentos são construídos sobre Ez 27, o lamento sobre Tiro, a gigante
marítimo e comercial dos dias de Ezequiel. Nessa época a Babilônia era o maior poder e um símbolo natural
para o poder e glória de Roma. Mas Tiro era o poder comercial e marítimo, se tornando um símbolo natural para
175
esse aspecto de Roma. O propósito é mostrar o fim daqueles que participam no mal, o grande lamento por
tudo que se perde. Também vemos a dureza que a depravação produz. Esses grupos não lamentam pelo seu
pecado, somente o luxo que perderam. Eles permanecem egocêntricos até o seu final triste. Na verdade não
lamentam pela Babilônia, mas por aquilo que perderam (Osborne 2002, 644-45)
a. Lamento dos reis da terra (18:9-10).
i. Eles se prostituíram com ela, se referindo à imoralidade e idolatria que compartilharam com Roma
(14:8; 17:2, 4; 18:3; cf. 2:14, 20-21 o que incluiria os membros do culto licencioso dos nicolaitas;
9:21; 19:2). Eles perderam o seu amante e estão desolados (Osborne 2002, 645)
ii. Participaram do seu luxo. Seria alusão a seu luxo sensual (18:7). Nunca houvera uma extravagância
tão grande como a que se desenvolveu na Pax Romana, e os reis da terra compartilharam dessa
riqueza juntada às custas do povo. Grande parte desse capítulo vai focar sobre esse pecado
(Osborne 2002, 645)
- os reis vêem a fumaça da cidade em chamas. Existe o contraste no Apocalipse sobre a fumaça que representa o
incenso e oração (8:2-3) e a fumaça do julgamento (9:17-18; 18:9, 18). Ambos aspectos estão combinados em
14:11 onde “a fumaça do tormento de tais pessoas sobe [como incenso] para todo o sempre”. Aqui os reis
lamentam e choram por Roma, similar às pessoas que lamentam pela destruição de Tiro (Ez 27:35). Ao mesmo
tempos eles “ficarão de longe” da cidade queimando. Isso não é por respeito, mas interesse. Eles não querem
nada com o julgamento. Eles estão “amedrontados por causa do tormento dela”, com medo de serem
atormentados juntamente com ela. Eles também eram culpados dos mesmos pecados dela e tentaram sair de
fininho, pois estavam com medo que eles eram os próximos da lista (e estavam certos) (Osborne 2002, 645-46)
- os “ais” dos reis, mercadores e donos de navios repetem os 3 “ais” dos julgamentos das trombetas (8:13; 9:12;
11:124) bem como o “ai” pronunciado sobre a terra na chegada do dragão enraivecido (12:12). Mas ali o
pronunciamento era de julgamento, enquanto aqui é um grito de dor e horror pelo julgamento que já chegou
sobre a Babilônia, a grande cidade, em contraste com aquele que realmente é poderoso – Deus (18:8). Os
governantes da terra forma seduzidos pelo poder terreno e o poder de Roma e ignoraram as evidências que
indicavam que esse poder era temporário e o esplendor terreno era parcial (Osborne 2002, 646)
- o julgamento vem muito rápido, podendo ter alusão a Dan 4:17, 19 onde Nabucodonosor é avisado que Deus o
castigaria temporariamente para que as pessoas “saibam que o Altíssimo domina sobre os reinos dos homens”.
Roma, da mesma forma de forma arrogante se colocou como deus e se recusou a aceitar a soberania de Deus.
Por isso o seu julgamento vem de forma repentina (Osborne 2002, 646)

20. Qual é o 2º. grupo que lamenta? O que sabemos sobre eles?
b. Lamento dos mercadores/negociantes (18:11-17)
- os mercadores enriqueceram com o comércio no atacado e agora choram e lamentam. É um lamento profundo.
Faz alusão a Ez 27:27 onde os mercadores e todos a bordo no grande navio Tiro naufragam. O motivo do
lamento não é o amor a Roma, mas pela perda do comércio. Quase todo o comércio entrava em Roma por via
marítima. Os mercadores não tinham status social alto, já que a nobreza controlava os ganhos, mas se tornou
rica. Roma desenvolveu um comércio internacional com grandes lucros. Existe uma lista grande de mercadorias
citadas, valorizadas pela elite romana. O propósito dessa lista é mostrar porque a ira de Deus vem sobre a
cidade: ostentação, materialismo egocêntrico. A lista é organizada em grupos de 4-6 itens, com 6 categorias de
produtos: pedras preciosas e metal, tecidos de luxo, madeiras caras e materiais de construção, especiarias e
perfumes, alimentos, animais e escravos (Osborne 2002, 647)
i. Pedras preciosas e metal. O ouro era o metal mais preciosos, importado inicialmente da Espanha e
depois dos Balcãs. Na metade do séc. I se tornou tão prevalecente como símbolo de riqueza que os
romanos ricos começaram a optar pela prata. Países com possíveis reservas de ouro se tornavam o
alvo da conquista de Roma, tal era o apetite por este metal. A prata também vinha da Espanha, se
tornou a moda em meados do séc. II. Sofás, banhos, e travessas eram feitas desse metal. Se tornou
símbolo de status. Pedras preciosas vinham da Índia. Elas eram usadas nos colares das mulheres,
mas também nas taças e os anéis dos homens. As pérolas eram consideradas as jóias mais preciosas
(juntamente com diamantes) e vinham do Mar Vermelho (as mais comuns) e do Golfo Pérsico (as
mais caras), e da Índia. As mulheres começaram a usar pérolas em quantidades tão grandes que se
tornaram o símbolo da decadência de Roma (Osborne 2002, 648)
ii. Tecidos de luxo. O linho fino se refere à vestimenta dos ricos. Uma túnica de linho custava 7.000
denários. O tecido de cor púrpura era muito caro, pois o tintura venha de um pequeno molusco em
quantidades muito pequenas (precisava-se de uma quantidade muito grande desses moluscos para
tingir uma única túnica). Somente os ricos poderiam comprar a seda, linho ou vestimentas de
algodão. Plínio chamou os moluscos (fontes de pérolas e tintura) como a maior fonte de corrupção
moral porque seu alto custo tinha uma demanda alta pela Roma opulenta. A seda era importada da
China. Somente as mulheres deveriam vestir seda, mas os soldados a vestiram em sua marcha
176
triunfal de Vespasiano e Tito. Se tornou muito popular entre as classes mais altas. O tecido
vermelho foi produzido na Ásia Menor e era o preferido da realeza (veja que a prostitua usava
vermelho e púrpura [17:4]) (Osborne 2002, 648)
iii. Madeira preciosa e materiais de construção. Plínio dizia que a cidreira que vinha do norte da África
era a madeira mais cara. Conhecida pelos desenhos que formava, foram usadas muito para as
mesas, chegando a preços assustadores (2,5 a 5 milhões de dólares por uma mesa). O marfim se
tornou tão popular que o elefante da Síria foi praticamente extinto. Era usado em esculturas e
ídolos, pratos, carruagens e moveis. A madeira seria usada para móveis, esculturas, etc. Usava-se
cipreste, cedro, bordo. O bronze era usado para escudos ou móveis, mas especialmente para
estátuas. O bronze de Corinto era o melhor e as estatuas feitas com esse material eram muito caras.
O ferro da Grécia e Espanha era usado para facas e espadas, mas também para estatuas e
ornamentos. O mármore vinha da África, Egito e Grécia e era usada para construções e estatuas,
mas também para pratos, vasilhas e banhos. Também era muito caro e foi colocado debaixo da
posse imperial, para restringir o seu uso somente para os romanos (Osborne 2002, 648-49)
iv. Especiarias e perfumes. A canela vinha da África ou do Oriente e era cara, usada para perfume,
incenso, remédio e para dar sabor ao vinho. As especiarias era uma especiaria fragrante que vinha
da Índia, freqüentemente usada para dar fragrância para o cabelo. Incenso era feito de diversos
ingredientes e usado os ritos religiosos dando um aroma agradável ao local. Mirra vinha da Somália
e era um dos perfumes mais caros e desejados. Também era usado como remédio ou tempero.
Perfume também vinha da Somália e era a metade do preço da mirra. Era usada freqüentemente em
funerais para abafar o cheiro dos corpos em decomposição. Ouro, incenso e mirra foram dados a
Jesus no seu nascimento mostrando que era considerado um rei (Osborne 2002, 649)
v. Alimentos. De uma forma geral não se trata aqui de itens extremamente extravagantes. Roma era
conhecida por seus banquetes extravagantes. Conta-se que Vitellius gastou em um ano o
equivalente a U$ 20 milhões e comidas, especialmente banquetes. Os romanos importavam
comidas de todas as partes do mundo, servindo iguarias como as línguas de rouxinol ou peito de
pombas, O vinho vinha da Sicília e Espanha e trazia bom lucro, a ponto que muitos romanos ricos
plantavam uvas ao invés de grãos em suas propriedades. Azeite de oliva era feito em muitas partes
do Mediterrâneo, mas vinha especialmente da África ou Espanha. Trigo vinha do Egito e era dado
gratuitamente para em torno de 200.000 cidadãos. Nessa época Roma tinha em torno de 1 milhão
de habitantes, o que mostra que a cidade sofria para abastecer a todos. O resultado era amargura,
havendo protestos violentos por falta de pão na Ásia Menor nessa época. A farinha fina somente
estava disponível para os ricos por causa do seu preço (Osborne 2002, 649)
vi. Animais e escravos. Os animais citados aqui não são aqueles usados como comida. Os gado era
usados para trabalho e para extrair o leite. As ovelhas parcialmente para comida, mas mais para a
lã. Os animais eram importados para melhorar a raça e para as propriedades ricas. Os cavalos eram
usados para corridas de carruagens, que eram muito populares em todo o império. Também eram
usados pelo exército e para o trabalho. Havia um grande comércio de cavalos. As carruagens eram
usadas para o transporte. Os ricos tinham carruagens ornamentadas com prata ou marfim (Osborne
2002, 649-50). Os corpos e almas de seres humanos, se refere aos escravos. O fato que acrescenta
alma, mostra que não eram simplesmente animais, ou poderia ser negativo afirmando que eram
meros seres vivos. Colocado no final da lista possivelmente a conotação é negativa, pois os
romanos importavam muitos escravos (estimativa de 10 milhões no império), cerca de 20% da
população do império. O status dos ricos era medido em parte pelo número de escravos que
possuíam. Os escravos vinham da guerra, dívidas, pais que vendiam os filhos por dinheiro,
seqüestro, castigo pelos crimes, ou crianças indesejadas que eram deixadas para morrer (comum no
mundo antigo). A Ásia Menor era a fonte principal de trigo e escravos para Roma, enfatizando a
cobiça deles por bens de consumo e exploração das outras nações do império (Osborne 2002, 650)
- agora os mercadores resumem a lista do que perderam: “Foram-se as frutas que tanto lhe apeteciam! Todas as
suas riquezas e todo o seu esplendor se desvaneceram; nunca mais serão recuperados” (18:14). Trata-se de um
lamento poético
i. Lamentam que perderam o fruto, o desejo da alma. O fruto = luxo e os produtos vistos acima. Roma
era notória pelo consumo exagerado dos produtos. O desejo da alma = o que lhe apetecia, se foi
embora
ii. As riquezas e o esplendor foram embora. O luxo extravagante e o esplendor dele que apelava aos
sentidos foi embora. Eles foram embora e não vão voltar. Temos aqui uma advertência contra
aqueles que se entregam para a vaidade desse consumo (isso descreve a quase todos nós). Jesus
alertou que devemos buscar os tesouros do céu e não da terra (Mt 6:19-20)
177
- em 18:15 voltamos aos mercadores que enriqueceram. Eles também são culpados juntamente com Roma,
pois foram a causa principal da ostentação de Roma e eles mesmos participaram dela. Eles agora ficam à
distância para não ser atormentados juntamente com ela. Eles somente lamentam o que perderam e tem medo de
sofrer o mesmo que a cidade está passando agora (e eles passarão pelo mesmo destino) (Osborne 2002, 651)
- agora eles lamentam a destruição da grande cidade. Ela é descrita como vestida de linho fino, a mesma
descrição da grande prostituta (17:4 “A mulher estava vestida de azul e vermelho, e adornada de ouro, pedras
preciosas e pérolas”). Um paralelo interessante se encontra em Ez 16 onde Deus adornou Israel com “ouro,
prata ... e linho fino” e a alimentou com “farinha fina, mel e azeite de oliva” (16:13) somente para ver ela depois
se prostituir (16:15). Assim Deus declara: ai, ai de você (16:23). Mas também está ligado com a lista
apresentada acima do luxo com que Roma vivia. Ela vive no luxo às custas dos seus clientes (Osborne 2002,
651-52)
- eles lamentam que a destruição ocorrem em somente uma hora. A riqueza é tirada em questão de um espaço
de tempo muito pequeno. Tg 5:2-5 descreve uma situação parecida, que poderia se aplicar para a grande
Babilônia: “A riqueza de vocês apodreceu ... o ouro e a prata de vocês enferrujaram, e a ferrugem deles
testemunhará contra vocês e como fogo lhes devorará a carne. Vocês acumularam bens nestes últimos dias. ...
Vocês viveram luxuosamente na terra, desfrutando prazeres, e fartaram-se de comida em dia de abate”
(Osborne 2002, 652)

21. Qual é o 3º. grupo? O que sabemos sobre eles?


c. Lamento dos capitães do mar e dos marinheiros (18:17-19)
- esse grupo que também fica de longe lucrou muito com Roma. A lista inclui “todos os pilotos, todos os
passageiros e marinheiros dos navios e todos os que ganham a vida no mar”.
i. Os capitães, a pessoa que pilota ou comanda o navio ao invés do seu dono
ii. Os passageiros (na sua maioria) e também os mercadores
iii. Os marinheiros
iv. Os que ganham a vida no mar, pescadores ou mercadores
- da mesma forma como os reis, eles vêem a fumaça da cidade queimando. Eles reagem: “Que outra cidade
jamais se igualou a esta grande cidade?” As cidades que vivem sem Deus estão todas fadadas ao mesmo
destino: destruição. Eles lançam pó sobre a cabeça e lamentam de maneira ainda mais veemente. Roma tornou
possível que os mercadores que usavam as rotas marítimas enriquecessem. Eles participaram nos pecados
econômicos da Babilônia e também participaram em seu destino. Eles também lamentam que tudo ocorrem em
uma hora. Toda a glória, a extravagância, e exuberância se foram num piscar de olhos. Os mercadores percebem
que o seu futuro foi embora com ele (Osborne 2002, 653)

22. Qual a reação dos santos diante de tudo isso?


- enquanto aqueles que participaram nos pecados da Babilônia lamentam, aqueles que permaneceram fiéis a
Deus se alegram que o nome de Deus triunfou e seu povo foi vindicado. Assim tanto o céu quanto os crentes se
regozijam. Temos um contraste entre a alegria dos habitantes da terra pela morte das 2 testemunhas (11:10) e a
alegria dos santos pela derrota do dragão e seus seguidores (12:12; 18:20) [“quem ri por último, ri melhor”]. O
regozijo pela derrota dos inimigos parece estranho, mas não podemos esquecer no tema da justiça que é central
nesse livro, já que os opressores estão finalmente recebendo o que merecem: “Deus a julgou, retribuindo-lhe o
que ela fez a vocês” (18:20) (Osborne 2002, 654). A alegria não brota de um espírito egoísta de vingança, mas
de uma esperança cumprida que Deus defendeu a honra do seu nome justo punindo o pecado e mostram ao seu
povo que eles estavam certos e que o veridito dado pelos incrédulos aos santos estava errado (Beale 1999, 916-
17)
- tanto o céu (anjos, e toda a corte celestial) deve celebrar quanto os santos (os crentes da terra). Os apóstolos
devem ser os 12 e os profetas possivelmente os profetas do NT. Assim santos, apóstolos e profetas
possivelmente se refere aos cristãos em geral e aos líderes da igreja; apóstolos e profetas (Osborne 2002, 654)

23. Mais uma vez aparece um anjo poderoso. O que ele tem a dizer?
- essa é a 3ª. e última vez que aparece um anjo poderoso no livro (5:2; 10:1-2). Em ambas o anjo era o arauto
que segurava o grande rolo que descrevia o final dessa era. Aqui a sentença naquele rolo é executada. Ele pega
uma pedra grande de moinho, que precisava ser movida por um burro. Era usada para moer grandes quantidades
de grãos e pesava diversas toneladas (Osborne 2002, 655)
- o anjo jogo essa pedra no mar. Jer 51:63-64 mostra como Jeremias deveria amarrar uma pedra no rolo e lançar
no Eufrates: “Assim Babilônia afundará para não mais se erguer”. Dessa forma a grande Babilônia será
destruída com grande violência. Isso mostra que esse acontecimento ainda é futuro. Ela ocorre em 2 estágios:
primeiro temos a guerra civil (17:16) e depois a destruição final no retorno de Cristo (19:11-21). Cap.17-18
celebram o veridito oficial com a sentença sendo iminente. Babilônia é julgada e depois lançada ao mar por
178
caluniar o nome de Deus e assassinar os santos. Com a mesma violência que a grande pedra foi lançada ao
mar, a ira de Deus vai “lançar” o império da besta. O resultado é que a cidade nunca mais será encontrada. Uma
pedra de moinho lançada ao mar não mais será vista, o mesmo acontecendo com a Babilônia (Osborne 2002,
655-56)

24. Existe uma série de “nunca mais” no texto. O que querem mostrar?
- em seguida temos uma seqüência de “nunca mais”.
a. O som dos harpistas, músicos, flautistas e tocadores de trombeta. São os artistas que embelezam o dia-
a-dia e trazem momentos de alegria. Sem eles qualquer cidade se torna desolada. A música estava
sempre presente em especial nas cidades ricas. Assim aqui temos um julgamento que também é
econômico
b. Não haverá mais artífices. Não há mais pessoas que fazem as coisas, o que equivale a sair da cidade.
Sem eles não existe vida na cidade, não existe comércio, etc. Babilônia viveu para o prazer, mas este
agora foi tirado por Deus
c. Não haverá comida. Não se ouvirá mais o som de uma pedra de moinho, possivelmente se referindo aos
grandes moinhos
d. Não haverá mais a luz da candeia. Não haverá luz que iluminam as casas durante a noite. Os elementos
que definem a vida do dia-a-dia não existem mais
e. Não haverá mais a voz do noivo e da noiva, uma metáfora para alegria (Jer 25:10). Enquanto para os
habitantes da terra não há mais a alegria do casamento, a igreja se torna a noiva de Cristo (Ap 19:7-8;
21:2, 9) (Osborne 2002, 657)

25. João descreve mais uma vez o motivo do julgamento. Qual é?


- o autor especifica mais uma vez o motivo do julgamento. Nas cortes antigas, os crimes sempre eram lidos
quando a sentença era executada. Assim aliado aos outros crimes de 18:2-3, 7, temos mais um. Em resumo,
existem 3 pecados principais: tirania econômica, feitiçaria e assassinado. As bases judiciais para o julgamento
são:
a. Os mercadores são descritos como os grandes do mundo. Isso resume as ênfases sobre riqueza, luxo e
ganância nesse capítulo. Roma conquistou o mundo tanto pelo exército como pelo comércio. Roma
dominou e explorou as nações. Da mesma forma como em Tiro, os mercadores aqui se exaltam como
os governadores da terra e excluem Deus do páreo. O propósito da vida é servir a Deus e se alegrar com
suas ofertas, não servir a si mesmo e tomar tudo para o seu prazer pessoal. Assim o império maligno
precisa ser destruído (Osborne 2002, 658)
b. Todas as nações foram seduzidas por sua feitiçaria. Mesmo que a mágica era um problema sério em
Israel, aqui temos uma figura de linguagem para o engano demoníaco das nações pela Babilônia.
Babilônia seduziu as nações, uma palavra usada para Jezabel que seduz os crentes para a imoralidade e
idolatria (2:20) e a falsa trindade enganando as nações (12:9; 13:14; 19:20; 20:3, 8, 10) para adorar a
besta. Idolatria e imoralidade estão ligadas. A idolatria está freqüentemente ligada a influência
demoníaca e a idolatria freqüentemente incluía a imoralidade como parte dos ritos pagãos (Osborne
2002, 658)
c. Babilônia assassinou os santos. Essa recebe ênfase especial no grego. Ele matou os profetas e os santos,
parecido com 18:20. Ali os profetas e santos se alegram (v.20) porque Deus vingou aqueles que
derramaram o seu sangue (v.24). Depois ele menciona todos os que foram assassinados na terra,
possivelmente indicando não somente os santos, mas todos os assassinados, sejam crentes ou
incrédulos, que morreram nas mãos do império mau. Parece que Roma é culpada da morte de todo ser
vivo em toda a história da humanidade. Mas possivelmente se trata de uma alusão a Jer 51:49: “A
Babilônia cairá por causa dos mortos de Israel, assim como os mortos de toda a terra caíram por
causa da Babilônia”. Isso é parecido com Ap 11:18 onde os anciãos louvam a Deus que o tempo
chegou para destruir aqueles que destroem a terra. O que a Babilônia fez com o resto da terra, agora
será feito a ela (Osborne 2002, 659)

19:1-5
26. Que contraste o início do cap.19 demonstra com o cap.17-18?
- agora temos um contraste deliberado com os lamentos pela destruição da Babilônia. Os cristãos cantam aleluia
porque Deus os julgamentos de Deus são verdadeiros e justos (19:1-2), além dos resultados do julgamento
(Osborne 2002, 663)
- depois disso = da destruição da Babilônia (cap.17-18), João ouve a voz de grande multidão nos céus.
Possivelmente se trata dos santos e não dos seres celestiais (Osborne 2002, 663)
179
- o termo aleluia vem dos Salmos, em especial dos Salmos que estão relacionados com a Páscoa e as alusões
ao êxodo. Esse termo fazia parte da celebração judaica expressando alegria jubilosa no Senhor, da mesma forma
que Hosana na entrada triunfal (Mc 11:9-10). Essa palavra é colocada no final do livro como hino de louvor
cantado tanto por seres celestiais como os santos como resposta exuberante do julgamento soberano de Deus
sobre o mal (Ap 19:1, 3, 4) e sua vitória final (Ap 19:6). Ela é expressa porque “a salvação, glória e poder
pertencem ao nosso Deus”. A vitória de Deus foi realizada com seu poder onipotente e resulta em sua glória. É
o privilégio dos santos, não somente celebrar essa vitória, mas também participar dela (2:26-27; 17:14; 19:14)
(Osborne 2002, 664)

27. Qual é o motivo para essa celebração?


- seus julgamentos são verdadeiros e justos. A justiça de Deus é verdadeira porque se baseia em sua própria
aliança e justa porque é baseada em seu caráter santo. Os julgamentos são moralmente verdadeiros e legalmente
justos. Babilônia está sendo destruída porque suas ações exigem uma punição extrema. Isso pode ser visto
quando fala que a grande prostituta é condenada porque corrompia a terra com sua imoralidade. O termo
“corromper” = destruir. Babilônia corrompeu e destruiu a terra com sua perseguição aos santos. A corrupção foi
vista quando ela forçou as nações a beberam o vinho que levava à imoralidade (14:8; 17:2; 18:3; 18:9). Ela
seduziu as nações utilizando a grande arma de Satanás, o engano (12:9; 20:3, 8, 10). Agora precisa pagar pelos
seus atos malignos (Osborne 2002, 664-65)
- além disso, Deus respondeu à oração dos santos por justiça (6:10). Os selos, trombetas e taças já ocorreram em
resposta à oração dos santos e agora a destruição da Babilônia também ocorre pelo mesmo motivo. Deus está
cobrando da Babilônia o sangue dos seus servos mortos por ela (Osborne 2002, 665)

28. O que nos chama a atenção em 19:3 sobre o castigo que vem sobre a cidade?
- em 19:3 aparece o 2º. aleluia, como um refrão, celebrando o julgamento. A fumaça dela sobe para todo o
sempre (veja também 14:11). No cap.18 falamos sobre a fumaça da cidade, se referindo a sua destruição
possivelmente causada pela guerra. Mas aqui o que temos é o fogo eterno. Esse fogo do tormento está em
contraste com a fumaça do incenso, as orações dos santos (8:4) e a fumaça da glória de Deus que enchia o
templo (15:8). O tormento eterno está em contraste com Deus que vive eternamente e reina para todo o sempre
e em especial para a recompensa eterna aguardando os justos (22:5) (Osborne 2002, 665)

29. Quem mais se envolve no louvor a Deus? Quem mais é chamado a participar disso?
- os anciãos e seres viventes são os líderes da adoração no Apocalipse. Outra vez eles se prostram e adoram a
Deus assentado no trono. Se prostrar = adorar = submissão total a Deus. Essa cena lembra os cap.4-5 e o tema
da majestade de Deus que aparece ali. Aqui eles não cantam outra canção, mas repetem de forma solene:
Amém, aleluia. Essa seqüência aparece em Sl 106:48 onde segue a oração pela libertação das nações, um
contexto que se aplica aqui onde se celebra a realidade da libertação. Em virtude de tudo o que Deus fez, temos
aqui o reino celestial respondendo com louvor e adoração a Yahweh (Osborne 2002, 665-66)
- o 3º. grupo chamado a participar desse louvor são os santos sobre a terra (depois da multidão celestial, e os
seres viventes). Não sabemos de quem é esta voz, mas ela chama os escravos a louvar a Deus = cantar aleluia.
Aqueles que louvam a Deus são chamados de escravos = pessoas que pertencem a Deus. Eles também são
descritos como aqueles que temem a Deus = respeito por Deus que julga e recompensa a cada um de acordo
com suas obras. São os grandes e pequenos, aqueles que possuem status diante da sociedade e aqueles que não o
possuem (Osborne 2002, 666-67)

30. Que evento é descrito em Ap 19:7-8?


- nos. v 7-8 temos a parte final do hino. A 1ª. parte era a convocação para louvar a Yahweh (aleluia), a 2ª.
falando o motivo pelo louvor (o Senhor reina), 3ª. as ações divinas que motivam para louvar (19:7-8). A grande
multidão que iniciou o aleluia (19:1-5) agora começa a 2ª. parte. Aqui a voz forte = voz de muitas águas e de
fortes trovões. A voz forte = mensagem estupenda que provê. Esse é o aleluia final e proporciona um tema
muito importante: “pois reina o Senhor, o nosso Deus, o Todo-poderoso”. Deus começou a reinar. Com base
nisso toda a multidão chama o povo de Deus, tanto celestial como na terra para se alegrar. Esse chamado
também ocorre em Mt 5:12 onde os santos perseguidos devem se alegrar porque a recompensa deles é grande
no céu. Muitas passagens do AT também lembra que o povo de Deus deve se alegrar. Especialmente relevante é
1 Cro 16:31 “Ressoe o mar, e tudo o que nele existe; exultem os campos, e tudo o que neles há!”. O chamado
para glorificar a Deus era uma parte importante do chamado para a salvação em 14:7 e 15:4 e aqui é o resultado
natural do reinado de Deus e especialmente de fazer parte da “noiva” de Cristo (Osborne 2002, 672)
- o motivo para essa alegria não é tanto o início do reinado eterno de Deus, mas que o casamento do Cordeiro
está prestes a ocorrer. É o grande evento que se aproxima. O contraste entre a grande prostituta e a noiva de
Cristo é evidente. A imagem de Israel como a noiva de Yahweh e a igreja como a noiva de Cristo ocorre
180
freqüentemente na Bíblia. Nessas passagens se enfatiza o noivado como ocorria no mundo da época. O
contrato de casamento eram feitos e assinados antes do noivado. Entre o noivado e o casamento, eles eram
considerados marido e mulher. Se houvesse problemas nesse estágio era necessário o divórcio, mesmo que o
casamento ainda não tivesse ocorrido. Logo o noivado e o casamento são combinados nas Escrituras como
descrevendo o povo de Deus (Osborne 2002, 672-73)
- já que o dia do casamento chegou, a noiva se aprontou. Isso se refere a estar preparado para a volta do Senhor
através da fidelidade e perseverança. Os cristãos se preparam permanecendo fiéis (2:10, 13; 13:10; 14:12;
17:14), mantendo o seu testemunho em favor de Jesus (1:9; 6:9; 12:11, 17; 20:4), suportando dificuldades (1:9;
2:2-3, 19; 3:10; 13:10; 14:12) e obedecendo às ordens de Deus (12:17; 14:12) (Osborne 2002, 673-74)
- em outra demonstração da soberania de Deus, foi-lhe dado (passivo divino) o vestido por Deus. Deus está no
controle desse casamento entre a igreja e o Cordeiro. Aqui vemos que Deus e a igreja trabalham juntos: Deus
providencia as roupas e a igreja se prepara (Osborne 2002, 674)
- ela recebe linho fino, brilhante e puro para vestir. Esse é um material de luxo, usado pela prostituta e a
Babilônia. O aspecto brilhante e puro enfatiza a pureza e vitória de sua caminhada com o Senhor. Isso
demonstra que a noiva chegou e se completou o plano divino de salvação (Osborne 2002, 674)
- o linho fino = atos justos dos santos. Pode se referir aos atos justos realizados pelos santos, ou os atos justos
realizados por Deus pelos santos (Osborne 2002, 674-75)

31. Como são descritos os convidados para o casamento do Cordeiro? Como João reage ao ouvir estas
palavras?
- sempre que João é exortado a escrever temos uma parte chave do livro. Agora ele deve escrever: “Felizes os
convidados para o banquete do casamento do Cordeiro!”. Os santos são a noiva, mas também os convidados.
No mundo antigo era comum misturar essas metáforas para enriquecer a figura de linguagem. Deus está no
controle: ele providencia as roupas para a noiva e convida as pessoas a participar da festa. Não sabemos se isso
se refere à eleição, ou simplesmente a um convite, talvez ambos. A imagem da festa de casamento com muitos
convidados de muitas nações para as bodas do Cordeiro é comum no AT e no NT, se referindo à festa
messiânica (Osborne 2002, 675-76)
- estas são as palavras verdadeiras de Deus = usado para afirmações especialmente importantes. Aqui
possivelmente se refere às bodas do Cordeiro (Osborne 2002, 676)
- João cai aos seus pés para adorá-lo, mas é impedido, pois não se trata de Deus, mas de um mensageiro
celestial. Os anjos não estão acima dos humanos, mas são iguais a eles, já que servem a Deus e estarão lado a
lado na eternidade. Ambos são servos. Os cristãos se mantêm fiéis ao testemunho de Cristo em meio à
perseguição. É o testemunho fiel que coloca os santos e os anjos no mesmo nível (Osborne 2002, 677)
- “O testemunho de Jesus é o espírito de profecia”. Há muitas tentativas de explicar essa frase complicada. Na
época do 2º. templo havia forte ênfase sobre a profecia inspirada pelo Espírito. No Apocalipse o Espírito Santo
está presente de forma forte no livro. A profecia é um componente essencial nas visões e sua transmissão. Os
profetas são mencionados como tendo uma função definida na igreja. Assim temos aqui provavelmente a
profecia inspirada pelo Espírito = à medida que os cristãos mantêm o seu testemunho acerca de Cristo, o
Espírito está os inspirando da mesma forma que ele inspira os profetas. Segundo Bauckham, o Espírito fala
através dos profetas para as igrejas e através das igrejas para o mundo (Osborne 2002, 678)

32. A ênfase se volta para o Cordeiro conquistador. Como ele é descrito em 19:11-13?
- toda a ênfase sobre Cristo como o Cordeiro conquistador e guerreiro divino culmina nessa passagem. Aqui a
volta de Cristo é vista da perspectiva do Rei conquistador que vem para destruir os inimigos e estabelecer o seu
Reino (Osborne 2002, 678-79)
- aqui temos os céus abertos mais uma vez = Deus está prestes a agir de uma maneira decisiva. Aqui temos
Deus agindo para terminar com a história humana sobre a terra. Depois temos outra vez a descrição de um
cavalo branco e o cavaleiro. O branco indica pureza, mas também a conquista. Depois disso temos 7 descrições
do Messias conquistador em sua parousia:
a. É chamado de fiel e verdadeiro. Construído sobre o caráter de Cristo, testemunha fiel (1:5; 3:14). Sendo
fiel, Jesus é o modelo para os cristãos que são chamados para serem fiéis em um mundo hostil. Jesus é
verdadeiro em seu chamado e propósitos da mesma forma como Deus é verdadeiro em suas ações e
julgamento. Aqui implica que a guerra final é necessária porque Cristo é fiel ao seu chamado e
verdadeiro em sua justiça (Osborne 2002, 680)
b. Como o guerreiro divino ele julga e guerreia com justiça. Deus executa justiça com base nos seus
padrões justos, ele sempre faz o que é correto. Ele julga e guerreia com justiça. Se em qualquer situação
já houve uma guerra justa, será esta. Se baseia na lex talionis, tão prevalecente nesse livro (Osborne
2002, 680)
181
c. Seus olhos são como chama de fogo. Isso vem de Dan 10 onde temos uma série de profecias com
relação à grande guerra. Os olhos como fogo indicam a visão penetrante através da qual Deus discerne
todos e o julgamento de fogo que resulta desse discernimento de quem vê todas as coisas. A idéia
central e sua onisciência e seus julgamento justo sobre justos e injustos (Osborne 2002, 680-81)
d. Há muitas coroas sobre sua cabeça. Há 2 tipos de coroa no Apocalipse: a coroa da vitória (os louros)
usada pela mulher (12:1), por Cristo (14:14) e pelos santos vitoriosos (2:10; 3:11; 4:4); bem como a
coroa do governante usada pelo dragão (12:3) a besta (13:1) e Cristo (nesta passagem). Fica evidente o
contraste entre Cristo e a falsa trindade. Satanás e o Anticristo tentam imitar a Cristo fazendo de conta
que têm a coroa que nunca terão. As muitas coroas se referem ao Rei dos reis. César reinava sobre
muitos reis e assim tinha muitas coroas, mas somente Cristo é o rei dos reis (Osborne 2002, 681)
e. Ele tem um nome que só ele conhece. Construído sobre Ap 2:17 onde os santos vitoriosos de Pérgamo
recebem “uma pedra branca com um novo nome nela inscrito, conhecido apenas por aquele que o
recebe”. Ambas as passagens utilizam: “você será chamada por um novo nome que a boca do Senhor
lhe dará” (Is 62:2). Além disso, aos vitoriosos de Filadélfia é prometido: “Escreverei nele o nome do
meu Deus e ... o meu novo nome” (3:12). Não sabemos exatamente o que vem a ser esse novo nome.
Jesus recebe o nome que está sobre todo o nome (Fp 2:9), fazendo alguns crerem que o nome seria
Yahweh, mas é pouco provável, pois Jesus como Yahweh já é bem conhecido nas Escrituras. Mas se o
“novo” não aponta para o nome em si, mas para um novo nível de significado (assim como “Babilônia,
a Grande, como mistério”, 17:5) então Yahweh é possível. O nome é conhecido, mas o verdadeiro
significado e relacionamento inerente nele não pode ser conhecido até a sua vinda (Osborne 2002, 681-
82). A outra possibilidade é que o nome fica oculto até a vinda de Jesus. Era comum naqueles dias de
crer que todos os seres, tanto celestiais como terrenos tinham um nome escondido que continha sua
verdadeira essência. Era isso que os demônios estavam fazendo quando chamavam Jesus “o Santo de
Deus” (Mc 1:24) e outros títulos. Eles estavam tentando conseguir poder sobre Jesus falando seu
verdadeiro nome. Assim o novo nome seria reservado para a eternidade, o nome que vai revelar a
verdadeira natureza da divindade de uma forma além de nossa capacidade de entender. Da mesma
forma como Moisés não podia ver a face de Deus e viver (Ex 33:20), não podemos agora saber a
verdadeira essência de Deus. Isso aguarda a revelação final. Quando Jesus vier saberemos e verdadeiro
nome dele (19:12) e receberemos um novo nome (2:17) (Osborne 2002, 682)
f. Está vestido com um manto tingido de sangue. Não sabemos se o sangue é de Jesus, do seu sacrifício
expiatório (1:5; 5:9; 7:14; 12:11); o sangue dos mártires (6:10; 16:6; 17:6; 18:24; 19:2); ou o sangue
dos seus inimigos (14:20). Todos os 3 são possíveis, mas o contexto é militar. Pode ser a verdadeira
vitória sobre as forças do mal que Cristo venceu na cruz. Ainda não lemos os detalhes da batalha final
sobre os inimigos, mas no Apocalipse a cronologia é sacrificada em favor da retórica. A ordem aqui não
é tão importante. Logo parece que se trata do manto tingido com o sangue dos inimigos, uma referência
a Is 63:1-3 que combina a imagem do lagar (cf. Ap 19:15): “Sozinho pisei uvas no lagar ... o sangue
delas respingou na minha roupa, e eu manchei toda a minha veste”. O Deus da justiça vai demonstrar
sua justiça derramando o sangue dos inimigos até os freios dos cavalos (Ap 14:20). A natureza horrenda
da imagem precisa ser entendida à luz do princípio da lex talionis. Os crimes terríveis dos habitantes da
terra precisam ser respondidos com retribuição divina (Osborne 2002, 682-83)
g. Seu nome é Palavra de Deus = a Palavra autoritativa da Revelação/Apocalipse. O termo Palavra de
Deus se refere ao testemunho cristão e a proclamação do evangelho. Jesus proclama o julgamento de
Deus e dá a ordem para a execução do julgamento. Assim está ligado com a espada “de sua boca” (Ap
19:15, onde a espada e a palavra afiada bem como instrumento de morte (Osborne 2002, 683)

33. Quais são as ações de Cristo em 19:14-16?


- baseado no caráter de Cristo (19:11-13), Cristo faz 4 coisas militares e judiciais: proclama o julgamento sobre
a humanidade pecadora e executa a sentença de Deus sobre eles. Como ele é fiel e verdadeiro e também a
Palavra de Deus, ele precisa agir com base no seu caráter como juiz e como Messias guerreiro (Osborne 2002,
683)
a. Os exércitos do céu o seguem quando vem para o julgamento. Não sabemos se o exército consiste de
anjos ou santos, ou até ambos. No AT e no período intertestamentário as hostes celestiais são retratadas
diversas vezes como o exército de Deus (Gen 32:1-2; Jos 5:13-15; 2 Rs 6:17; Sl 103:20-21; 1 Enoque
1:4; 2 Enoque 17) que executa o julgamento de Deus (Joel 2:2; 11:1). Zac 14:5 é especialmente
pertinente: “o SENHOR, o meu Deus, virá com todos os seus santos [as hostes angelicais]”. No NT o
tema das hostes angelicais acompanhando Jesus na parousia continua (Mt 13:41; 16:27; 25:31; 1 Ts
3:13; 2 Ts 1:7; Jd 14). Isso dá suporte para ver aqui o exército celestial (Osborne 2002, 684). Ao mesmo
tempo Ap 17:14 nos diz que na parousia “vencerão com ele os seus chamados, escolhidos e fiéis”.
Assim é possível que o exército celestial seja composto tanto de anjos como dos santos. Da mesma
182
forma como o Senhor (19:11) o exército também cavalga sobre cavalos brancos (de guerra)
retratando-os como uma força conquistadora. Ambos vestirão o “linho fino, branco e puro”, similar ao
“linho fino, brilhante e puro” que é usado pela noiva (19:8). No Apocalipse, tanto os seres celestiais
(4:4; 15:6) como crentes (3:4-5; 6:11; 7:9, 13-14; 19:8) vestem branco, logo é apropriado que tanto
seres celestiais como santos vistam essa cor como exército de Deus. O linho branco também era usado
pelo exército vitorioso no triunfo em Roma (Osborne 2002, 684). Na verdade não sabemos se o exército
celestial vai lutar. A maioria dos estudiosos presume que não, já que parece não haver batalha. Quando
as forças do Anticristo se reúnem para a batalha (19:19) a espada sai da boca de Cristo, (19:15) e a
batalha termina instantaneamente (19:20-21). Mas 2:26-27 diz que os vencedores receberão autoridade
para julgar [as nações] com vara de ferro, para quebrá-los como vasos. Essa é a mesma imagem usada
ara Cristo (Sl 2:9; Ap 19:15). Logo, parece que de alguma forma os santos e anjos participam na
destruição das forças do mal (Osborne 2002, 684)
b. Em 19:15 temos 3 imagens da vitória total e destruição de Cristo sobre as nações, construídas sobre
imagens anteriores do Apocalipse:
i. De sua boca sai uma espada afiada (1:16; 2:12, 16). A espada era símbolo da autoridade de Roma
sobre a vida e a morte, uma autoridade que somente estava em poder do imperador e dos seus
governadores (2:12). A mensagem aqui é que somente Cristo tem autoridade sobre a vida e a morte.
A linguagem aqui evoca Is 11:4; 49:2. Em Is 11:4 o ramo de Jessé “com suas palavras, como se
fossem um cajado, ferirá a terra”, se referindo à justiça com a qual vai julgar a terra. Em Is 49:2
Deus ungiu o servo de Yahweh e “fez de minha boca uma espada afiada” se referindo ao poder de
sua palavra para salvar Israel e “ferir as nações” (Is 11:4) para libertar seu povo. Esse tema continua
na apocalíptica judaica onde o Messias vai destruir as nações perversas com a palavra de sua boca.
Isso continua em 2 Ts 2:8 onde o Senhor vai derrotar o “homem sem lei” com o sopro de sua boca.
Aqui em Ap 19:15 essa idéia flui da descrição de Cristo como Palavra de Deus e se refere à
proclamação do julgamento de Jesus sobre as forças do mal. Assim pode ser um julgamento ao
invés de destruição militar. Mas é melhor ver o julgamento e a execução (Osborne 2002, 684-85)
ii. Ele governará as nações com cetro de ferro. Em Sl 2:9 diz que o Messias governará as nações com
cetro de ferro e as destruirá como potes. Aqui somente temos a primeira parte: Cristo pastoreando
as nações com cetro de ferro. O cetro de ferro, na verdade é o cajado do pastor que mata os
inimigos da ovelha. Assim essa imagem tem a mesma força da espada afiada. O “pastorear” não é
cuidar das ovelhas, mas a destruição dos seus predadores (como em 12:5 onde Sl 2:9 também é
usado) (Osborne 2002, 685)
iii. Ele pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus todo-poderoso. Isso combina duas passagens:
14:19-20 onde as nações são lançadas no grande lagar da ira de Deus e 16:19 onde Deus deu à
grande Babilônia a taça cheia de vinho, do furor de sua ira. O lagar de 14:19-20 é a imagem terrível
do julgamento à medida que as nações são pisadas a ponto que o sangue jorra até os freios dos
cavalos. Temos o eco disso em 19:13 onde o manto de Jesus está manchado com sangue. Em Is 63
Deus pisou o lagar de modo que suas vestimentas se mancharam e derramou o sangue na terra. O
derramamento de sangue é o pagamento justo por derramar o sangue dos santos. Esse julgamento
será executado pelo Deus todo-poderoso que garante que vai haver justiça (Osborne 2002, 685-86)
iv. O cavaleiro montado sobre o cavalo branco tem um nome escrito sobre seu manto, ou seja, sua
coxa. É o nome escrito sobre a parte do manto que cobre a sua coxa, o lugar onde estaria a espada,
o lugar visível para um guerreiro montado sobre o cavalo. Aqui aparece o título de Cristo: “REI
DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES”. Não é César que é o soberano, mas Cristo. O Anticristo
reina sobre os reis vassalos, mas Cristo reina sobre tudo. Esse título assegura a vitória do Senhor
sobre o exército do Anticristo. O guerreiro messiânico é o próprio Deus (Osborne 2002, 686)

34. Em 19:16-18 temos um convite estranho. Que convite é esse?


- a visão muda de Cristo retornando para os exércitos prontos para lutar contra ele. Cristo está descendo do céu
com o exército celestial feito de santos e anjos e agora a cena nos mostra a situação sobre a terra
- depois disso João vê um anjo que estava em pé no sol. Em 1:16 a face de Cristo é como o sol. Em 10:1 o anjo
tema a face como o sol e em 12:1 a mulher está vestida com o sol. Aqui é a 3ª. passagem onde os servos de
Deus têm um caráter radiante. Em 18:1 um anjo desce e ilumina a terra com sua glória. A conexão com 18:1-2
aumenta porque em ambos o mensageiro celestial é preenchido com o esplendor de Deus e proclama um
oráculo de julgamento associado a aves de rapina. Ocorre a desolação da grande Babilônia (18:1-2) e a
destruição total do exército da besta (19:17-18) (Osborne 2002, 686-87)
- a mensagem é cruel e poderosa, garantindo que o resultado da batalha está assegurado antes que as forças se
encontrem. O anjo ordena todas as aves que se reúnam. Ironicamente esse é o mesmo verbo usado em 16:14
para a falsa trindade reunindo as nações para a batalha final. Ao mesmo tempo em que as forças do mal se
183
reúnem no Armagedom, as aves de rapina são chamadas para o pós-batalha do massacre inevitável. As aves
estão voando pelo meio do céu, como a águia (8:13) e o anjo (14:6), todos os 3 sendo parte da mensagem de
Deus com relação ao julgamento vindouro terrível. O anjo convida as aves a participar do grande banquete de
Deus, uma imitação do convite aos santos para participar das bodas do Cordeiro (19:9). Haverá 2 grandes
banquetes na volta de Cristo: a festa com o Cordeiro para os santos e a festa sobre os pecadores pelas aves de
rapina. Os santos participarão do grande banquete e os pecadores serão o grande banquete. Essa imagem vem de
Ez 39:17-20 onde o julgamento contra Gogue é marcado por um convite às aves e animais selvagens para se
reunir para o grande sacrifício nas montanhas de Israel onde comerão a carne de homens valentes e beberão o
sangue dos príncipes da terra. A diferença é que em Ezequiel o chamado aos animais de rapina vem depois da
derrota e sepultamento de Gogue, enquanto aqui ocorre antes desses eventos. Isso acrescenta poder para essa
descrição. O convite agora vai listar aqueles que vão se tornar o alimento das aves (19:18). Enfatiza as
diferentes classes de pessoas para mostrar a universalidade do julgamento. A lista começa com líderes militares:
reis, generais, soldados poderosos, cavalos e cavaleiros e depois continua com as categorias sociais básicas:
“carne de todos livres e escravos, pequenos e grandes”. Possivelmente se trata da morte do exército do
Anticristo e não de todos os habitantes da terra, pois precisa haver alguns que vão seguir o dragão quando ele é
solto em 20:7. Logo mostra que todos os que participam em Armagedom serão destruídos (Osborne 2002, 687-
88)

35. A descrição da batalha é muito breve. O que chama a atenção nessa descrição?
- a falsa trindade iniciou sua preparação para o Armagedom na 6ª. taça (16:13-16) enviando seus anjos para
chamar os reis de toda a terra para se reunir para a batalha final. Agora temos a continuação daquele texto, pois
vemos “a besta, os reis da terra e os seus exércitos reunidos para guerrearem”. Agora os participantes da
batalha estão em montes de frente um para o outro aguardando o chamado para a batalha. Há muito material
sobre essa batalha final no AT e na apocalíptica judaica, mas menos no NT a não ser o Apocalipse. Esse é o
“dia do Senhor” profetizado em todo o AT (Osborne 2002, 688-89)
- entretanto, não há batalha (Ap 19:20). Parece que quando a espada sai da boca do Senhor (19:15) a batalha
termina no mesmo instante. Parece que o exército que segue o Messias Conquistador (19:14) não toma parte no
conflito, mas é difícil saber os detalhes. Em 12:5 a vida de Cristo é omitida do relato, pulando do nascimento
para sua ascensão. Em 2:26-27 os santos parecem participar na destruição das nações como potes de barro e
poderíamos contar com um exército em 17:14 e 19:14 com um papel na conquista do exército inimigo (17:14).
Além disso, a batalha entre Miguel e Satanás (12:7-9) é descrita de forma breve e pode ser que tenhamos o
mesmo padrão aqui especialmente já que a batalha final também é enfatizada no AT e na literatura apocalíptica.
Assim podemos ter uma batalha, que esta foi omitida para enfatizar a superioridade absoluta do “Rei dos reis,
Senhor dos senhores” (Osborne 2002, 689)
- o resultado da batalha final é a captura da besta e do falso profeta e a destruição do seu exército (19:20-21).
Eles foram presos (passivo divino) pelo Cristo conquistador. Eles são descritos como havendo realizado sinais
miraculosos para ganhar a adoração dos habitantes da terra (13;13; 16:14), depois os enganou (13:14) depois os
forçou a aceitar a marca da besta (13:16-17) e adorar sua imagem (13:14-15). Como em 17:2; 18:3, 5-7, 20, 24
essa lista de pecados providencia as acusações legais contra eles que exigem o julgamento que ocorre logo em
seguida (Osborne 2002, 689)

36. Qual foi a conseqüência para os opositores de Cristo nessa batalha?


- fica evidente que eles foram considerados culpados e a sentença é executada. Da mesma forma como o dragão
foi lançado sobre a terra (12:9) a besta e o falso profeta são lançados para dentro do lago de fogo que arde com
enxofre. Eles são jogados dentro “vivos”. Esse é o 1º. grupo que recebe o castigo eterno. Mas quando o diabo
(20:10) a morte e o Hades (20:14) e os incrédulos (20:14) são lançados dentro do lago de fogo, não existe
menção que estivessem vivos. A conotação é de um julgamento consciente no lago de fogo. É possível que para
os outros grupos isso fosse óbvio. Assim fica difícil ver que a aniquilação poderia fazer sentido (Osborne 2002,
689-90)
- o termo lago de fogo ocorre somente no Apocalipse e sua origem é difícil de estabelecer. Pode ser que a
imagem vem da destruição de Sodoma e Gomorra pelo fogo e o lago vindo da mitologia grega como descrição
do inferno. A conexão básica é com o Geena. Sheol ou Hades se refere ao túmulo, enquanto Geena ao castigo
de fogo eterno. Geena origina do Vale de Hinnom que se tornou notório durante os reinados de Acaz e
Manassés, quando seus filhos foram queimados como sacrifícios ao deus Moloque (2 Cro 28:3; 33:6). Situado
para parte sul de Jerusalém foi condenado e se tornou um símbolo de julgamento futuro (Is 66:24; Jer 7:30-33).
Geena simboliza o lugar do julgamento final, situado nas profundidades da terra e associado com o tormento
eterno. Nos dias de Jesus era o deposito de lixo e o fogo nunca acabava por causa da queima do lixo. No ensino
de Jesus Geena também era o símbolo do castigo do fogo eterno (Mc 9:43, 45, 47; Mt 10:28; 18:9; 23;15; cf.
25:46). Assim a idéia de uma castigo de fogo eterno tem uma história longa (Osborne 2002, 690)
184
- a descrição do lago de fogo como uma extensão do Geena também tem o seu pano de fundo nas idéias
apocalípticas. Dan 7:9-11 fala de um rio de fogo que flui do trono de Deus e a besta (o pequeno chifre, Dan
7:11) e morte e seu corpo jogado no fogo ardente. 1 Enoque fala de um vale profunda e queimando com fogo
onde os maus são lançados num abismo ardente e queimados. Assim o lago de fogo era uma extensão natural
dessas idéias (Osborne 2002, 690)
- conectado com a captura da besta e do falso profeta está a destruição do seu exército. Não se trata apenas de
uma sentença de morte que sai da boca de Cristo, mas uma imagem militar para a execução do exército inimigo.
Todo o exército inimigo é morto. A oração dos mártires foi atendida. O número dos mártires está completo e
agora a hora da vingança chegou. As aves se fartaram com os cadáveres. No AT ser comido por cães ou aves
era a degradação máxima e se torna uma maldição profética (Jer 7:33; 16:4; 19:7; 34:20). Aqueles que morrem
na batalha final não serão enterrados. Era a humilhação máxima para aqueles dias. Deus está dando aos
incrédulos o que eles fizeram aos santos (Osborne 2002, 691)

20:1-10
37. O que você já ouviu falar sobre o milênio e como se sente ao ouvir que somente temos alguns versículos de
Ap 20 falando claramente sobre o assunto?
- o texto que fala sobre o milênio é uma das passagens mais conhecidas do Apocalipse e que causam muita
divisão. O AT fala muito pouco sobre o milênio, mas tem diversas passagens sobre a vinda do reino de Deus
como um reino terreno (Sl 72:8-14; Is 11:6-9; Zac 14:5-17) que nos dão o pano de fundo para o conceito do
milênio sobre a terra. Alguns rabinos pegavam algumas indicações do AT para falar em um reino com tempos
diferentes de duração e mesmo os pais da igreja debateram muito sobre este assunto. Eles falavam sobre o
assunto, mas por causa de algumas posições questionáveis adotadas e em virtude da posição amilenista de
Agostinho que foi aceita quase que universalmente, esse assunto surgiu somente no séc. XVIII com os pietistas
e de lá para cá vem sendo discutido (Osborne 2002, 696)
- a partir desse ponto 3 posições têm dividido os cristãos
a. Os pré-milenistas crêem que Cristo retorna para a terra, destrói as forças do mal e estabelece aqui o
reino de 1.000 anos. Esse período termina com a rebelião e destruição final de Satanás seguido do
julgamento final e o início da era futura
b. Os amilenistas dizem que não haverá um reino terreno de Cristo antes da parousia. Eles afirmam que
esse reinado ocorre agora durante a era da igreja. Para eles Ap 20:1-10 é simbólico e descreve a
situação da igreja entre os adventos de Cristo
c. Os pós-milenistas crêem que o período de 1.000 anos será um tempo de triunfo do evangelho e um
período de paz que precede a 2ª. vinda de Cristo
- as questões são complexas e não se revolvem facilmente. Essa questão somente será resolvida quando Cristo
voltar. Não devemos nos degladiar sobre diferenças, mas aprender uns com os outros à medida que trabalhamos
juntos pelo reino (Osborne 2002, 696-97)
- a questão mais importante, no entanto, não é discutir teologicamente essas posições, mas ver o que o texto diz
e como se enquadra dentro do todo do livro. Essa passagem faz parte de uma passagem maior (17:1-20:15) que
fala sobre o julgamento final de Deus sobre as forcas do mal e a chegada do fim. Cap.17-18 falam sobre os
julgamento da grande prostituta e da grande Babilônia, os simbolos do império final romano, o reino da besta.
Isso é finalizado no início dos “aleluias” (19:1-5) louvando a Deus por seu julgamento justo e vindicando os
santos sofredores. Depois em 19:6-10 temos a introdução da seção sobre a parousia e as bodas do Cordeiro.
Depois a vindicação dos santos é completada quando se tornam a noiva de Cristo e aqueles convidados para a
festa de casamento. Esses temas se unem da derrota do dragão e na vindicação dos santos (Osborne 2002, 697)
- essa passagem vai resumir diversos temas do livro:
a. O julgamento do dragão, que é antecipado no livro, finalmente ocorre. Satanás foi visto em toda a sua
futilidade, foi lançado fora do céu (12:7-9), frustrado seguidamente tentando destruir o povo de Deus,
imitando tudo que Deus faz para ganhar uma certa supremacia. Ele não é uma figura de poder no livro,
mas de engano, e seu único triunfo é enganar as pessoas incrédulas para se opor a Deus e adorar a besta
e a si mesmo. Assim sua derrota ocorre em 2 estágios: ele é amarrado por 1.000 anos no abismo (20:1-
3) depois é lançado no lago de fogo por toda a eternidade (20:10)
b. O tema da teodicéia culmina aqui. Os habitantes da terra seguidamente rejeitam as tentativas de Deus
de levá-los ao arrependimento (9:20-21; 16:8-11) e agora muitos são forçados a experimentar o reinado
de Deus por 1.000 anos sem um diabo para enganá-los. Mas depois que é solto eles todos o seguem por
um espaço de tempo bem curto e se rebelam contra Deus. Um dos propósitos dessa passagem é mostrar
a necessidade do castigo eterno. Nem o espaço de 1.000 anos (tempo equivalente a 14 vidas, baseados
na expectativa de vida de 70 anos) é suficiente para quebrar sua fidelidade a Satanás. Assim, o lago de
fogo é necessário
185
c. A passagem também tem um aspecto positivo terminando com o tema da vindicação dos santos. De
18:20, 24; 19:2 sabemos que o império maligno foi destruído em resposta à promessa de 6:11 que no
tempo apropriado Deus iria vingar o sangue dos mártires. Aqui temos o lado oposto desse tema, à
medida que os santos reinam com Cristo por 1.000 anos cumprindo a promessa (2:26-27; 3:21). Eles
são sacerdotes de Deus (20:6) cumprindo 1:6; 5:10 servindo como reis (da mesma forma como Jesus
eles se tornam sacerdotes e reis) por esse período. Roma se via como o reino milenar, mas João declara
que o reino ainda não chegou, fazendo uma ponte de Roma para a Nova Jerusalém (Osborne 2002, 697-
98)

38. O que Ap 20:1 deixa muito claro?


- um anjo desce dos céus e traz a chave do Abismo e uma corrente. Parece o mesmo anjo de 9:1 que abriu o
Abismo e aqui ele o tranca para amarrar Satanás. O abismo é a casa-prisão dos espíritos demoníacos onde
aguardam o seu destino final. A chave é empunhada pelo guarda eterno da prisão. O anjo tem a chave e uma
corrente para amarrar Satanás mais seguramente. A função da grande corrente é intensificar a imagem da prisão.
Satanás não tem chance de sair (Osborne 2002, 699-700). Deus está no controle e Satanás não tem o poder de ir
contra os planos de Deus, se Deus não o permitir

39. Como Satanás é descrito em Ap 20:2?


- Satanás é mostrado aqui como “sem poder”. Da mesma forma que Miguel o expulsou do céu, aqui o anjo o
prende. Depois temos uma série de descrições de Satanás, quase uma cópia de 12:9
a. Dragão. Não existe uma descrição do dragão como um ser poderoso. As descrições do dragão (12:9;
20:2, 8, 10) estão centradas sobre seu papel de adversário (o real significado de “Satanás” e diabo) e seu
método = engano. Ele é o “acusador” dos crentes (12:10), mas nunca os vence. Eles os engana. Mas ele
já perdeu, pois a grande batalha no Apocalipse não ocorre no Armagedom, mas na cruz. O Cordeiro que
foi morto, venceu (5:6, 12) e o diabo sabe que tem pouco tempo (12:12) (Osborne 2002, 34). Ele é
retratado como já derrotado no céu (12:7-12) e na cruz (12:11-12; cf. 5:6) e sua ira não resulta somente
de sua ira contra Deus, mas também de sua derrota diante de Cristo. Tudo o que ele faz é simplesmente
uma imitação daquilo que Deus já fez. (Osborne 2002, 452)
b. Antiga serpente, identificando Satanás com a serpente que tentou Eva para comer do fruto proibido
(Gen 3:1-15). A serpente era mais astuta (Gen 3:1) que os outros animais, uma esperteza que engana as
pessoas. Hoje pensamos que Satanás é uma força, mas a sua força está limitada. Ele não tem poder
sobre o povo de Deus. A antiga serpente é caracterizada por sua enganação engenhosa e por sua
oposição implacável contra o povo de Deus. Essa oposição pode ser vista em sua maldição depois da
queda: “este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar” (Gen 3:15). Num certo sentido
representa uma luta desigual onde a serpente tenta ferir o calcanhar, mas é ferida na cabeça. Em outro
sentido representa o conflito continuo entre o bem e o mal. No AT a serpente está ligada com o Leviatã,
o monstro marinho do caos (Jó 26:13; Is 27:1), mas somente no judaísmo mais tardio que a serpente foi
equacionada com Satanás. No NT essa identificação é completa (2 Co 11:3; Ap 12:9; 20:2) (Osborne
2002, 471-72)
c. O diabo e Satanás. Os termos significam adversário ou oponente malvado. Na sua raiz aparece o
aspecto legal se referindo a um acusador na corte. Foi dessa forma que Satanás apareceu em Jó 1:6-12 e
2:1-6 acusando Jó diante de Deus bem como em Zac 3:1-2 onde Satanás acusa Josué o sumo sacerdote.
Mas um grande número de estudiosos vê no termo hassatan (Jó 1-2) não um nome, mas uma descrição
de um acusador ou anjo da promotoria. Assim não seria um titulo até Zac 3. No período
intertestamentário. Satanás é freqüentemente ligado ao impulso maligno que tenta as pessoas ao pecado.
Ele não somente acusa as pessoas diante de Deus, mas tenta destruí-las (combinando as idéias de acusar
e tentar). Essas idéias continuam no NT, mas a linguagem usada para Satanás é elevada. Ele é o
príncipe deste mundo (Jo 12:31; 14:30; 16:11) e o deus deste mundo (2 Co 4:4) a potestade sobre a
humanidade que não foi redimida (At 26:18; Col 1:13) bem como seu pai (Jo 8:44; 1 Jo 3:10). No cerne
ele é mentiroso (Jo 8:44; 1 Jo 3:8) e um enganador (Ap 20:3, 8) bem como destruidor (1 Pe 5:8) e
assassino (Jo 8:44) (Osborne 2002, 472)
- a lista dos nomes pode ser uma lista oficial na condenação do réu. O dragão é culpado porque é a antiga
serpente, Leviatã que introduziu o caos e o pecado no mundo. Ele é o grande adversário, o diabo, ou Satanás
que acusa o povo de Deus dia e noite (12:10). Por isso precisa ser aprisionado. Ele é amarrado da mesma forma
como o ministério de Jesus amarrou a Satanás. O pano de fundo para isso pode estar em Is 24:21-22 “21
Naquele dia o Senhor castigará os poderes em cima nos céus e os reis embaixo na terra. 22 Eles serão
arrebanhados como prisioneiros numa masmorra, trancados numa prisão e castigados depois de muitos dias”.
Esse texto mostra como Deus vai conquistar o mundo. Em Isaías o panteão de deuses será destruído, mas no
Judaísmo tardio isso era aplicado para os anjos caídos. O tempo que Satanás será preso é de 1.000 anos. Na
186
literatura judaica havia diversos períodos de castigo, com duração variada. Os 1.000 anos podem vir de Sl
90:4 onde para Deus mil anos são como um dia. Na literatura judaica (Jub 23:27-28) fala que no reino
messiânico as pessoas viveriam por 1.000 anos, baseado na tradição que Adão viveu 930 anos por causa do seu
pecado. Vemos que a idéia de um reino de 1.000 anos está baseado na tradição judaica. Isso nos leva a
questionar se devemos pensar nesse período de forma literal ou simbólico. Como já vimos muitos números
simbólicos no livro, também penso que se trata de um símbolo (Osborne 2002, 700-1)

40. Qual é o propósito da prisão de Satanás? O que isso significa?


- depois de prender Satanás, o anjo o lançou no Abismo, fechou a porta e a selou. O termo “selo” já apareceu
diversas vezes, aqui dando a conotação de que ele está realmente seguro no Abismo. Vejam a queda de Satanás:
caiu do céu para a terra (12:7-9); caiu da terra para o abismo (20:1-3), e caiu para dentro do lago de fogo
(20:10). O propósito de sua prisão é para que não possa mais enganar as nações. Até agora ele enganou as
nações mesmo com milagres. A tarefa das forças inimigas não é ter mais poder que as pessoas, mas enganá-las.
É interessante notar que ainda há nações que podem ser enganadas à luz de 19:19, 21 onde os reis e seus
exércitos foram destruídos. Mas ali os exércitos e não as nações que foram destruídas. Ainda existem nações
nesta altura do campeonato. Esse vai ser o grupo que entra no milênio, vai ser governado pelos cristãos (20:4, 6)
e depois segue Satanás quando este é solto (20:7) (Osborne 2002, 701-2)
- até que ponto Satanás está amarrado? Isso implica em cessação ou limitação da atividade demoníaca? Se 20:1-
10 se refere ao tempo da igreja, esse “amarrar” é uma restrição. Satanás não pode impedir o avanço missionário,
mas pode enganar os incrédulos, mas não impedi-los de se converter caso o Espírito os chame. O selo indica
que Deus está no controle. Assim o diabo está limitado, mas não sem poder. Mesmo que essa posição seja
possível, vimos que Satanás está restringido nessa era, mas somente com relação aos crentes. O NT apresenta
que ele tem o poder de cegar as pessoas (2 Co 4:4) e anda em derredor como leão (1 Pe 5:8). É difícil ver como
alguém na prisão diminuiria o seu poder de enganar as nações. Aqui ele não engana mais até 20:7-10 quando é
solto, pois precisa (necessário aos olhos de Deus) ainda terminar o seu trabalho. O texto não nos diz porque ele
precisa ainda ser solto. Por 1.000 anos as nações que adoraram a besta estarão debaixo do controle soberano de
Jesus e governado pelos santos. Eles não experimentarão Satanás nem serão enganados por ele. Todos
experimentarão o governo benevolente de Jesus. Depois do tempo equivalente a 14 vidas do bem ocorrendo por
determinação divina, toa logo Satanás é solto eles permitem ser enganados de novo e passam a segui-lo. O
propósito seria provar o poder da depravação total e demonstrar de uma vez por todas a necessidade do castigo
eterno. O milênio é a evidência judicial que vai convencer os habitantes da terra e provar que seu pecado eterno
exige um castigo eterno (Osborne 2002, 702-3)

41. Quem vai reinar em Ap 20:4? Sobre o que/quem vai reinar?


- em 20:4 lemos: “Vi tronos em que se assentaram aqueles a quem havia sido dada autoridade para julgar”.
Mas quem são eles?
a. Poderiam ser o tribunal celestial com os 24 anciãos sentados nos tronos (4:4; 11:16)
b. Seriam os mártires vitoriosos que agora são vingados (6:9-11; 16:6; 18:20, 24; 19:2) e sentam em
tronos para cumprir a promessa de Cristo: “29 E eu lhes designo um Reino, assim como meu Pai o
designou a mim, 30 para que vocês possam comer e beber à minha mesa no meu Reino e sentar-se em
tronos, julgando as doze tribos de Israel” (Lc 22:29-30)
c. Seriam todos os santos (baseado em Lc 22:30; 1 Co 6:2) com os mártires sendo um grupo especial entre
eles
d. Os mártires são descritos como almas (6:9) o que poderia se referir ao seu estado intermediário. Eles
tornam a viver mais tarde no versículo e iniciam o seu reinado. Assim muitos vêem aqui 2 grupos de
crentes: todos os santos (20:4a) e especialmente os mártires (20:4b-c) que são exaltados para os tronos
para cumprir (3:21)
- não sabemos exatamente, mas parece que temos os mártires aqui reinando, mas que os outros santos também
estão presentes no contexto maior (Osborne 2002, 703-5). Em 20:4 temos os mártires sendo focados. Mas em
20:9 fala-se no acampamento dos santos = todos os crentes estão presentes no milênio. Assim os mártires são
representativos de toda a igreja que resistiu fazer concessões, venceu a estado morno e perseverou em sua fé.
Todos os santos que perseveraram no AT, NT e na era da igreja e no tempo da tribulação estarão presentes
durante esse período final da história (Osborne 2002, 705)
- as pessoas nos tronos recebem autoridade para julgar (passivo divino). A idéia dos santos julgando era um
tema comum na apocalíptica. Mas o que significa o julgamento aqui? Possivelmente julgar e reinar andam junto
já que ao que tudo indica os cristãos reinarão e julgarão debaixo de Cristo as pessoas que adoraram a besta e
ainda não aderiram a Cristo. Pode haver também uma alusão à atividade do “ancião de dias” (Dan 7:22; 7:9, 26-
27) que iria julgar (Osborne 2002, 705)
187
42. João volta a falar nos mártires. Por que esse tema volta tantas vezes à tona?
- depois vemos uma parte do versículo que trata especificamente dos mártires e faz o que se fez com eles a
Satanás em 20:2. Eles foram decapitados, se recusaram a adorar a besta e se recusaram a aceitar a marca da
besta. A justiça romana usava 2 formas de punir os culpados: a mais vingativa (queimar vivo, crucificar ou
expor a animais selvagens) usada primariamente para estrangeiros e classes mais baixas; e a decapitação pela
espada ou machado para as classes superiores. As classes mais altas raramente eram executadas, mas eram
geralmente deportadas. As formas mais cruéis eram usadas para os cristãos, logo “ser decapitado”
possivelmente é um resumo para o martírio (Osborne 2002, 705-6)
- a razão para o seu martírio está conectada com sua perseverança (1:2, 9) repetida freqüentemente no livro (6:9;
12:17; 19:10; cf. 13:10; 14:12), por causa do seu testemunho acerca de Jesus e por causa da Palavra de Deus.
Isso significa o seu testemunho fiel no meio da perseguição terrível que acaba no martírio. Existe uma conexão
especial com 6:9. Em ambos as pessoas são mortas por causa do seu testemunho e por causa da Palavra de
Deus. Assim, sua glória e exaltação para tronos são vistas como vindicação e recompensa pelo seu sofrimento e
testemunho fiel. Eles conquistaram o direito de se sentar na corte de Cristo e ajudar a deliberar sobre as leis de
Deus durante esse período final de história sobre a terra. O texto continua falando daqueles que “não adoraram a
besta nem receberam a sua marca”. Parece que se trata do mesmo grupo, pois aqueles que se recusam a adorar a
besta são martirizados (Osborne 2002, 706)
- João volta a esse tema porque essa era a situação de algumas igrejas, e tem sido a realidade de igrejas em toda
a história. Precisamos nos preparar para isso. Além disso, ele quer mostrar que existe recompensa para a
fidelidade acima de qualquer preço

43. Quem faz parte da 1ª. ressurreição?


- agora entramos no coração do debate teológico do milênio. Diz que eles tornaram a viver e reinaram com
Cristo por 1.000 anos. O termo ezesan = tornaram a viver se torna central nessa discussão. Se a referência é a
ressuscitar precisa ocorrer no fim da história. Isso certamente é o significado do termo em 20:5: “O restante dos
mortos não voltou a viver até se completarem os mil anos” e outras passagens (Mt 9:18; Jo 11:25; Rom 14:9).
Em Ap 1:18; 2:8 e refere à ressurreição de Cristo dos mortos e em 13:14 é usado para a besta “que fora ferida
pela espada e contudo revivera”. Além disso, em Ap 20:5 ela é chamada de a 1ª. ressurreição e é para todos os
crentes e não somente para os mártires. Para os amilenistas se trata ou da nova vida espiritual dada aos crentes
após a conversão ou à exaltação celestial dos santos depois da morte no estado intermediário. Isso é possível,
mas temos que nos perguntar se esse texto e refere à era da igreja ou ao reinado literal de Cristo com os santos
sobre a terra depois de Ap 19. Este verbo se refere geralmente à ressurreição física e não espiritual, favorecendo
uma ressurreição física. Assim nos parece que os santos reinarão com Cristo durante o milênio. Essa seria uma
das razões para o milênio: a vindicação e exaltação daqueles que perderam tudo em favor de Cristo (Osborne
2002, 706-7)
- depois João nos diz que o restante dos mortos não tornaram a viver até que se completassem os 1.000 anos.
Quem seriam estas pessoas? Se 20:4 são os mártires, 20:5 se refere aos outros santos que morreram bem como
os incrédulos. Mas se 20:4 se refere aos crentes, o restante seriam os incrédulos. Parece que o mais provável é
esta opção baseado em 20:5-6 e no restante do Apocalipse. A 1ª. ressurreição certamente não exclui os santos
que não foram martirizados e a 2ª. morte em 20:6 dificilmente os incluiria. É melhor olhar para 20:5a como um
parêntesis que fala da situação dos pecadores que morreram. Isso implica que para os incrédulos que morreram,
o próximo momento será encarar a Deus no julgamento do trono branco. A passagem que fala sobre o estado
consciente dos incrédulos durante esse período é Lc 16:19-31 e se trata de uma parábola sem uma afirmação
teológica nesse sentido (Osborne 2002, 707-8)
- João agora volta para os santos e fala da 1ª. ressurreição. João não fala numa 2ª. ressurreição, porque esta na
verdade não existe, reservada somente para os crentes no NT. Os incrédulos experimentam a 2ª. morte (20:6).
João também não fala da 1ª. morte porque quando as pessoas morrem, os crentes continuam vivendo. A
ressurreição dos crentes é primeira no sentido temporal e também primeira em nível de importância. Existe
grande diferença no entendimento da 1ª. ressurreição. Alguns acham que se trata da morte seguida do estado
intermediário; outros como a ressurreição de Cristo, a base da 2ª. ressurreição (a ressurreição dos crentes e
incrédulos); ou ainda o batismo, ou seja, a ressurreição do crente na parousia. Mas é mais provável que se trata
da ressurreição dos crentes, que pode ser somente dos mártires, ou de todos os crentes. Favorecemos a 2ª. opção
(Osborne 2002, 708)

44. Quem é bem-aventurado segundo o texto? Como são descritos?


- em 20:6 temos a 5ª. bem-aventurança (1:3; 14:13; 16:15; 19:9) para aqueles que participam da 1ª. ressurreição.
Eles são bem-aventurados e santos. Os cristãos participaram da santidade de Cristo sobre a terra e agora
participarão da santidade da cidade santa (Osborne 2002, 708). Temos 3 características dessas pessoas:
188
a. A 2ª. morte não tem poder sobre eles. A 1ª. morte seria a morte física na vida e a 2ª. é a morte eterna
no lago de fogo (20:14; 21:8). Os crentes experimentam a 1ª. mas nunca a 2ª. morte (2:10-11): “Não
tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que
pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno” (Mt 10:28). Em Ap 6:8 a Morte e o Hades
mataram ¼ da população da terra, mas em 20:14 eles são lançados no lago de fogo. A morte é o último
inimigo a ser conquistado (1 Co 15:26; 54-55) e a 2ª. morte não tem autoridade sobre o crente. Deus
deu autoridade à Morte e ao Hades em 6:8; para os gafanhotos em 9:3, 10; para os cavaleiros
demoníacos (9:19); para a besta (13:5, 7, 12) e para os reis (17:12-13). Mas isso era temporário e poder
terreno somente sobre os habitantes da terra. Enquanto a besta tinha poder para vencer a matar os
santos, isso somente afetava a 1ª. morte, além do que a morte dos santos era sua vitória sobre Satanás
(12:11). A 2ª. morte não tem poder sobre os crentes que compartilham da santidade de Cristo e
perseveram (Osborne 2002, 709)
b. Eles serão sacerdotes de Deus e de Cristo (Ex 19:6; Ap 1:6; 5:10). Os santos vitoriosos estão diante de
Deus e o servem dia e noite (7:15); a função dos santos na Nova Jerusalém e servir a Deus (22:3).
c. Eles serão reino de sacerdotes e reinam com Cristo por 1.000 anos. Da mesma forma como Jesus é o
sacerdote-rei os santos compartilham de ambas as funções, tanto no milênio como no céu (Osborne
2002, 709)

45. Com que finalidade Satanás é solto depois de 1.000 anos preso?
- depois disso temos a cena de Satanás sendo solto e a batalha final (20:7-10). Não temos forças iguais aqui e a
batalha outra vez (19:17-21) parece que nem é um evento, pois Deus é soberano. Esse episódio é construído
sobre a noção de Gogue e Magogue (Ez 38-39) o modelo da guerra escatológica para a apocalíptica judaica.
Esse é o 2º. dos 3 estágios (19:20-21; 20:10, 14) pelo qual o mal é erradicado de toda a eternidade, preparando o
caminho para os novos céus e nova terra (21:1-22-5) (Osborne 2002, 710)
- João deixa claro que Satanás não é solto até que os 1.000 anos se completaram. É nesse estágio final que
Satanás não tem autoridade para enganar as pessoas durante esse período. Os amilenistas vêem isso se referir a
um período como em Atos quando apesar da oposição do inimigo, ele não consegue impedir o avanço do
evangelho (Beale 1999, 1022). Por outro lado pode ser que tenhamos um milênio literal onde a ação de Satanás
é impedida somente nesse estágio final. O Abismo é identificado claramente como uma prisão. Satanás agora é
solto. É difícil entende porque Deus o libertaria. 20:3 coloca essa soltura como uma necessidade divina, pois faz
parte do plano de Deus. Ele esteve preso, mas agora é solto para enganar as nações. Isso vai demonstrar que a
teimosia do coração humano não muda com o tempo, mostrando o nível da depravação do ser humano. Aqueles
que não fizeram parte do exército inimigo e não participaram da carnificina (19:17-21) passam pelo milênio
com Cristo sem os enganos de Satanás. Tao logo ele é solto, no entanto, eles esquecem todos os anos que
passaram com Cristo e imediatamente seguem a Satanás. Sua depravação está no controle e desta forma o
castigo eterno e a única opção (Osborne 2002, 710-11)
- tão logo é liberto Satanás sai da prisão da mesma forma que os 2 cavaleiros e os gafanhotos (6:2, 4; 9:3). Ele
quer enganar as nações e as ajuntar para a batalha. Satanás não força as pessoas, mas as engana. O poder de
Satanás e suas hostes vem de Deus (6:8; 9:3; 13:5, 7; 16:8; 17:12) e o poder de Satanás é totalmente terreno e
limitado comparado com o poder do Senhor todo-poderoso. Assim Satanás sai para enganar as nações para
atingir o seu propósito. O engano é o único verbo usado para descrever a ação de Satanás no Apocalipse, seja
enganar através dos líderes da igreja (2:20) ou liderando as nações para o caminho errado (12:9; 13:14; 18:23;
19:20; 20:3, 8, 10). Parece que Satanás engana as nações para levá-las à guerra. As nações são reunidas dos 4
cantos da terra para enfatizar que eles vêm de todos os cantos da terra, e tem tantos soldados quanto a areia do
mar = incontável (Osborne 2002, 711)
- as nações são identificadas como Gogue e Magogue (Ez 38-39) aonde Gogue (o rei das terras do norte) e
Magogue (a terra de Gogue) vêm para lutar contra o povo de Deus. Existe um paralelo interessante entre
Ezequiel e Apocalipse. Depois que a nação é ressuscitada e reconstituída (o vale de ossos secos Ez 36 = Ap
20:4-6), a coalizão das nações vem para destruí-los (Gogue e Magogue, Ez 38 = Ap 20:7-9), mas são eles
mesmos destruídos (Ez 39 = Ap 20:9-14) e depois o povo glorificado de Deus aproveitam o templo escatológico
(Ez 40-48 = Ap 21:1-22:5). Mas não devemos pensar que João montou os cap.20-22 baseados em Ezequiel, pois
também existem paralelos em Isaías, Jeremias e Daniel (Osborne 2002, 712)
- João vê 20:7-10 como o cumprimento da profecia de Gogue e Magogue. Essa profecia olha para o rei do norte
(Gogue) que decide invadir o povo pacifico e que não suspeita de nada (Ez 38:11) para roubar a terra. Eles
estabelecerão uma coalizão com muitas nações (38:5-6) para invadir a terra com o exército muito poderoso
(38:15-16). Mas Deus está no controle e permite que tudo isso aconteça para que as nações saibam que Deus é
Yahweh (38:16, 23; 39:6-7, 22, 28). Essa se torna a guerra escatológica, “depois de muitos dias” (38:8) e a idéia
do “mover dos céus” (38:18-23). O propósito de Deus é destruir a coalizão das nações e restaurar seu povo para
189
que reconheçam que ele é o Senhor (39:25-29). Alguns judeus interpretavam essa profecia como sendo
messiânica (Osborne 2002, 711-12)
- a visão aqui interpreta Gogue e Magogue como símbolos das nações reunidas em oposição a Cristo e seus
seguidores. Gogue está alinhada com a besta (cap.19) e com Satanás (cap.20). João pega essa imagem que foi
dada inicialmente para os judeus no cativeiro e aplica para o fim dos tempos. O que era uma esperança para os
judeus agora se torna esperança para todos o cristãos (Osborne 2002, 712)
- Satanás reúne as nações para a batalha. Será que esta batalha é a mesma de 16:14? As palavras usadas são as
mesmas. Podemos ter a mesma batalha, ou então uma 2ª. batalha. Se for uma 2ª. batalha, na batalha anterior
(19:17-21) tivemos somente a destruição do exército da besta, e aqui temos o restante do mundo sendo liderado
pelo próprio Satanás se ajuntando (lit. ascendendo) contra Cristo depois do milênio. O exército da 1ª. batalha foi
destruído pela espada que saiu da boca de Cristo e aqui o exército é destruído por fogo que vem do céu. No final
da 1ª. batalha, a besta, o falso profeta são lançados no lago de fogo, e aqui Satanás é lançado no lago de fogo.
Assim parece que temos uma 2ª. batalha ao invés de somente uma (Osborne 2002, 713)
- o grande exército que tinha vivido durante o milênio e foi imediatamente seduzido mais uma vez por Satanás
agora (20:9) marcham para a guerra dos 4 cantos da terra para atacar os santos. Usando a linguagem militar dos
seus dias, o exército inimigo cerca a sua cidade amada (Jerusalém). A cena é simbólica porque todos os santos
não cabem na Jerusalém. Jesus tinha predito algo parecido: “Quando virem Jerusalém rodeada de exércitos,
vocês saberão que a sua devastação está próxima” (Lc 21:20). Essa profecia foi dada com relação à destruição
de Jerusalém (70 AD), mas também temos alusão a ele aqui (Osborne 2002, 713-14)
- é interessante que Jerusalém é chamada aqui de cidade amada já que em Ap 11:8 ele é equacionada com
Sodoma e Gomorra e com Roma/Babilônia representando a nação apóstata. Alguns acham que isso se refere à
Nova Jerusalém (Ap 21:10). Durante o milênio Jerusalém foi novamente estabelecida como a capital do reino.
Na cidade os santos formaram o seu acampamento, possivelmente se referindo aos acampamentos das tribos ao
redor do tabernáculo em sua caminhada no deserto (Ex 33:7-11; Num 2:1-34). Foi nesses acampamentos que a
Shekinah brilhou (Ex 14:19-20) e a presença de Deus foi experimentada (Deut 23:14). A imagem do
acampamento poderia ser militar, mas é mais provável que seja eclesiológica: os santos são o povo de Deus
peregrino que agora encontraram um lar e estão protegidos por Deus mesmo de um exército invasor (Ez 38:9).
Aqui os santos não lutam, mas se acampam ao redor do Senhor e confiam nele (Osborne 2002, 714)

46. Como a batalha entre Cristo e as forças de Satanás é descrita?


- da mesma forma como em Ap 19:17-21 o inimigo vem para a batalha, mas não há batalha, pois fogo do céu
consome os inimigos. O fogo desce em comparação com a ascensão das forças inimigas. O fogo desce
consumindo aqueles que se opõem à sua vontade como em 2 Rs 1:10, 12. Agora todos os inimigos de Deus são
consumidos pelo fogo. Depois disso Deus volta a sua atenção para seu adversário principal, o diabo. A razão
para o seu juízo é a sua atividade enganosa. Outra vez não sabemos se temos aqui uma recapitulação da batalha
de 19:20-21 onde a besta, o falso profeta são lançados no lago de fogo, ou então temos 3 estágios aqui: a besta e
o falso profeta; depois o diabo, e finalmente os incrédulos sendo jogados no lago de fogo. Se olhamos para os
inimigos como instituições, eles ocorrem juntos (Beale 1999, 1029-30), mas se vemos neles pessoas, seria
melhor ver em situações separadas (Osborne 2002, 714-15)

47. O diabo e seus demônios sabem que o seu castigo é certo? Por que insistem na batalha?
- agora o diabo é lançado no lago de fogo e enxofre. Agora a trindade satânica está junta no lago de fogo.
Alguns textos indicam que o diabo e seus demônios sabem que o castigo sobre eles é inevitável
Mt 8:29 “Que queres conosco, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do devido tempo?”
Parece uma referência obvia para o castigo eterno que é descrito em Ap 20:10 (usa a mesma palavra)
2 Pe 2:4 “Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos
tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo”
Ap 12:12 “o Diabo desceu até vocês! Ele está cheio de fúria, pois sabe que lhe resta pouco tempo”
A grande derrota de Satanás ocorreu na cruz. Mesmo que se apresente como um leão que ruge procurando
pessoas para devorar (1 Pe 5:8) ele está derrotado. A trindade satânica será atormentada dia e noite por toda a
eternidade. São as mesmas frases usadas para descrever o destino daqueles que seguem a besta: “Será ainda
atormentado com enxofre ardente ... e a fumaça do tormento de tais pessoas sobe para todo o sempre ... não há
descanso, dia e noite” (Ap 14:10-11). Aquele que seduziu as nações agora sofre o mesmo castigo deles: eterno,
consciente no lago de fogo. “Eles serão atormentados dia e noite, para todo o sempre”, mostra a dupla ênfase
sobre o castigo. Já que o pecado é eterno, o castigo também precisa ser. Depois de 1.000 anos experimentando a
Cristo, as nações se voltam para Satanás na 1ª. chance que têm. Isso nos mostra que se tivessem outra
oportunidade fariam o mesmo, independente do tempo (Osborne 2002, 715-16)
190
- o diabo e seus demônios sabem que perderam. Mas estão tomados de ira, de coisa ruim que não permite
que pensem com clareza. Eles são inimigos de Deus e farão o possível e o impossível para conseguir desagradar
a Deus. Isso deve nos alertar para quando estamos tomados de ira, etc. Coisa boa não vai sair.

48. Depois da derrota das forças inimigas temos o julgamento. Segundo que critérios temos o julgamento?
Quem é julgado?
- depois da derrota das forças inimigas temos o julgamento. Aqui João vê o trono branco e aquele assentado
sobre ele que vai julgar. Pode ser uma referência a Deus como a Jesus, talvez inclusive ambos. Somente temos
um trono descrito como grande trono branco. O grande se refere à imensidão como da majestade do trono. O
branco se refere à pureza e santidade bem como de vitória. Antes que a nova era possa começar, a antiga precisa
cessar: “os céus desaparecerão como fumaça, a terra se gastará como uma roupa” (Is 51:6; veja também Is
13:10, 13; 34:4; Sl 102; 26; Ez 32:7-8; Joel 2:10); “A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os
filhos de Deus sejam revelados. 20 Pois ela foi submetida à inutilidade, não pela sua própria escolha, mas por
causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança 21 de que a própria natureza criada será libertada da
escravidão da decadência em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. 22 Sabemos
que toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto” (Rom 8:18-22); “a terra que agora
existem estão reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo ... Os céus desaparecerão com um grande
estrondo” (2 Pe 3:7, 10). A deterioração que hoje aprisiona a terra precisa ser destruída para que a criação possa
se juntar aos filhos de Deus no novo céu e nova terra. Assim João descreve isso como “a terra e o céu fugiram
da sua presença, e não se encontrou lugar para eles”. A fuga da terra se refere ao julgamento. Moisés não
poderia ver a presença de Deus e viver. Agora a criação foge de sua presença. Temos outras instancias no livro
onde as ilhas e montanhas não podiam ser encontradas (Ap 16:20; 6:14). A idéia aqui é de uma destruição
completa idêntica com a idéia de que não havia lugar para Satanás e seus anjos caídos no céu. O novo e a nova
terra podem descer dos céus porque a 1ª. terra já passou (Osborne 2002, 720-21)
- não sabemos se 20:12-14 se refere ao julgamento dos incrédulos ou se 20:12 se refere ao julgamento dos
crentes e 20:13-14 ao julgamento dos incrédulos. No v.12 nos diz que estão diante do trono, similar soa santos
vitoriosos de 7:9. Se Dan 12:1-2 está por trás dessa imagem possivelmente temos os crentes sendo julgados em
20:12. Ali o livro é aberto e “todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto ... para a vida eterna”.
Assim Ap 20:12 poderia apresentar o julgamento positivo de Dan 12:1-2 e Ap 20:15 o lado negativo. Mas não
temos certeza. Os estudiosos se dividem sobre isso (Osborne 2002, 721-22)
- os livros foram abertos. Nos escritos judaicos os livros registravam as ações tanto de justos como de injustos.
Aqui eles são julgados de acordo com suas obras, tanto justos como injustos (se temos esses 2 grupos aqui). Os
cristãos são salvos pela graça, mas serão julgados por suas obras. Não sabemos exatamente como vai ser este
julgamento. Sabemos que somos perdoados dos nosso pecados e seremos recompensados pelo bem que
fizemos. Seremos confrontados com nossas obras boas e más que fizemos e depois recompensados. Mas aqui
também temos a abertura do livro da vida. Da mesma forma como em Dan 12:1-2 os justos serão libertos para a
vida eterna. Nos seus dias esse livro era baseado no rol de cidadãos de uma cidade ou nação. Aqueles cujo nome
está no livro da vida são os cidadãos do céu (Osborne 2002, 722)

49. Qual é o resultado do julgamento?


- agora temos o julgamento claro dos incrédulos. O mar, a morte e o Hades são sinônimos no Apocalipse,
personificações da esfera do mal. Os céus e a terra foram destruídos, por isso é estranho falar aqui no mar. Mas
o imaginário apocalíptico permite essas coisas. Os mortos são ressuscitados para enfrentar o julgamento final.
Aqui temos a 2ª. ressurreição a que fez alusão 20:5. Os incrédulos são julgados de acordo com suas obras. Os
incrédulos fazem coisas boas e ruins e serão julgados por elas. No céu haverá diferentes graus de recompensa, o
que leva muitos a crer que isso também vai ocorre no inferno, mas a Bíblia não diz isso claramente (Osborne
2002, 722-23)
- depois do julgamento dos incrédulos, a morte e o Hades são lançados no lago de fogo. O que isso significa?
a. Descreve o último inimigo a ser vencido: a morte (1 Co 15;26; 54-55; Is 25:8; Os 13:14). Isso deve
significar a morte física, pois Ap 20:14 a identifica como a 2ª. morte
b. Morte e Hades são símbolos para forças demoníacas demonstrando que essa esfera é destituída do seu
poder
c. Poderia ser uma metonímia (o recipiente representa o conteúdo) se referindo aos incrédulos que são
lançados na perdição
d. Poderia indicar a morte física que é engolida e recebe um upgrade para a 2ª. morte, o tormento eterno
Possivelmente “a” ou “b” estão corretas, pois a morte e o Hades são personificações nas forças malignas e a
presença da morte e 2ª. morte se encaixam bem com 1 Co 15:26. A morte e o Hades se juntam à trindade
satânica no processo que Deus usa para erradicar o mal por toda a eternidade. A 2ª. morte não é morte no
sentido físico, como cessar a existência, já que se trata de castigo consciente eterno (Osborne 2002, 723-24)
191
- o estágio final para erradicar a era do mal é lançar os incrédulos no lago de fogo. Antes eles foram
descritos como aqueles que adoraram a besta e receberam a sua marca (14:9; 19:20), mas aqui a razão é que
seus nomes não estavam escritos no livro da vida. Essa imagem de um julgamento de fogo vem de Dan 7:9-11:
o pequeno chifre (a besta) foi “atirado no fogo”; Is 66:24 “o seu fogo não se apagará” e com referências
freqüentes na literatura judaica, bem como nos ensinos de Jesus (Mc 9:43-48; Mt 3:12; 24:51). Não sabemos o
quão literal o texto é (Osborne 2002, 724)
- aqui temos uma outra instância, como ocorre em todo o livro onde as escolhas das pessoas fazem a diferença
com relação ao seu destino eterno. Mas tudo isso ocorre debaixo da soberania de Deus. Tanto a escolha humana
como a soberania de Deus trabalham juntos para realizar o plano de Deus (Osborne 2002, 724)
192
21:1-22:5 – Novo céu e nova terra

- desde que o pecado entrou no mundo a Bíblia nos prepara para o momento onde o pecado finalmente vai ser
erradicado da terra. Tudo no Apocalipse caminha para os novos céus e nova terra, desde as advertências às 7
igrejas, passando pelos julgamentos sétuplos e depois a destruição da grande Babilônia. Está conectado em
especial às 7 igrejas, pois diversas das promessas feitas para os vencedores nas igrejas (2:7, 11, 17, 26-28; 3:5,
12, 21) são cumpridas na visão do novo céu e nova terra (Osborne 2002, 726). A perfeição da Jerusalém
celestial é contrastada implicitamente com as imperfeições das 7 cidades (Hemer 1986, 16). O novo céu vai
realizar as aspirações mais profundas das pessoas. Diversas dessas aspirações são manchadas pelo pecado (e.g.,
prosperidade material, status, prazer nesta vida), mas o que representavam somente pode ser cumprido com a
alegria e prosperidade celestial. O reinado dos santos durante o milênio é somente um precursor de uma
realidade maior da Nova Jerusalém. O milênio vai ser um antegosto da glória que nos aguarda. O Grand Finale
ainda nos aguarda (Osborne 2002, 726)

1. Segundo Ap 21:1-2 quais são as características da cidade celestial?


- Isaías concluiu sua profecia prometendo que Deus faria um novo céu e nova terra que perdurariam (Is 65:17;
66:22). Essa idéia foi continuada por 2 Pe 3:13 onde fala da destruição pelo fogo do velho céu e velha terra que
levaria a um novo céu e nova terra. Isaías 65:17-18 é construído sobre o relato da criação. Em Gen 1:1 Deus
criou os céus e a terra, enquanto em Is 65:17-18 (usando o termo bara 3 vezes comparado com uma vez em Gen
1:1) os céus e a terra são feitos novos. Se o pecado não tivesse entrado no mundo, a 1ª. criação teria sido o
suficiente. Já que se encontra aprisionada à decomposição por causa do pecado (Rom 8:21), precisa ser trocada.
Os principais temas de Is 65:17-22 são a alegria tanto de Deus quanto do seu povo e a remoção da dor e
sofrimento. A alegria de Deus não é mencionada em Gen 1-3, o que torna a alegria da nova criação ainda mais
marcante. Os temas de alegria e novidade de Isaías dominam o relato de João (Osborne 2002, 729)
- existe uma diferença entre kainos = novo (enfatiza a qualidade do novo) e protos = primeiro (novo temporal).
Haverá uma realidade totalmente nova, um novo modo de existência onde tudo o que o pecado estragou será
removido. Havia especulações no mundo judaico sobre essa nova ordem. Uma das idéias era que a ordem
presente seria totalmente destruída e teríamos um novo céu e nova terra, a outra era de uma renovação ou
transfiguração da terra. Os textos do NT parecem favorecer a idéia que o antigo vai passar e teremos algo novo
(2 Pe 3:13; Ap 20:11; 21:1; Mc 13:31; cf. Mt 5:18; Lc 16:17; 1 Co 7:31; Hb 12:27; 1 Jo 2:17), mas diversos
autores acham que se trata de uma renovação e não de algo totalmente novo. Com base no ensino da
ressurreição física (Lc 24:39; Rom 8:11; Fp 3:21) e da nova terra, alguma relação parece existir com a antiga
ordem. O que temos é que o céu e terra serão unidos em uma realidade mais ampla (Osborne 2002, 729-30)
- o texto diz que “não haverá mais mar”. O mar é símbolo do mal, e este não haverá mais. A trindade falsa e as
nações que causaram tanto sofrimento terão sido lançadas no lago de fogo, e assim tentação e dor não haverá
mais (Osborne 2002, 731-32)
- quando o novo céu e a nova terra estão no seu lugar a cidade santa, a Nova Jerusalém pode descer (21:2). A
Jerusalém histórica havia se profanado crucificando o Senhor (11:7) e se opondo às 2 testemunhas (11:2). Em
11:8 ela estava ligada com a Babilônia/Roma e foi chamada de “a grande cidade” porque se tornou apóstata por
sua descrença. Agora ela é chamada outra vez de Cidade Santa e se tornou a Nova Jerusalém, a cidade celestial
dos santos. Existe um forte contraste entre as cidades no livro (o passado – Babilônia; o presente – as 7 cidades
e Roma; o futuro – a cidade de Deus na eternidade). A idéia da Nova Jerusalém já está presente no AT. Em
Isaías ele se torna o centro do mundo dos seus dias onde Yahweh reina. Ela será a cidade santa, e finalmente o
novo céu e a nova terra. Em Ezequiel fala de um novo êxodo onde a terra será como o Jardim do Éden, o
santuário de Deus entre o povo. Essas idéias continuaram nos escritos intertestamentários, onde Deus
transformaria a antiga Jerusalém em algo novo. O NT fala da Nova Jerusalém como a cidade celestial e a liga
com a realidade escatológica. Assim a descida da Nova Jerusalém (Ap 21:2) é o cumprimento das profecias.
Diversas vezes no livro ocorre o termo “descer”. Agora finalmente o céu e a terra se unem. Depois de 21:2, 10
não há mais descer do céu para a terra, pois agora se tornaram um. O templo celestial desce do céu para a terra
na forma de uma cidade e se torna a morada eterna dos santos (Osborne 2002, 731-32)
- a cidade é como noiva adornada para o marido. A igreja é a noiva e se adorno são suas ações justas (Osborne
2002, 733)
- será que a Nova Jerusalém é o local de residência dos cristãos, ou um símbolo dos próprios cristãos? Quando
João fala da Babilônia ele se refere às pessoas e ao local, e é provável que isso ocorra também aqui. Logo
parece que se trata tanto dos santos que habitam nela, como o local onde habitam (Osborne 2002, 733)
193
2. O que João está fazendo buscando a idéia do tabernáculo em 21:3?
- outra vez temos uma voz forte do trono, possivelmente um anjo que vai explicar o significado da cidade para
os crentes. A promessa do Sinai se cumpriu: “Estabelecerei a minha habitação entre vocês ... Andarei entre
vocês e serei o seu Deus, e vocês serão o meu povo” (Lev 26:11-12). Essa promessa é repetida várias vezes no
AT como um conforto para o povo de Deus que sofre. A expressão “estabelecerei a minha habitação” =
shekinah de Deus tipificado pela coluna de nuvem e fogo no êxodo que simbolizado tanto no tabernáculo como
no templo. O termo shekinah normalmente representa a comunhão de Deus com seu povo e foi finalizada em 2
estágios: quando o verbo se tornou carne e tabernaculou entre nós (Jo 1:14) e aqui quando o shekinah habita
com seu povo. Em Cristo a shekinah se tornou encarnada e aqui a comunhão entre Deus e seu povo se torna
física e absoluta quando Deus vai habitar com seu povo. Deus não estará mais acima do seu povo, mas vai
tabernacular em seu meio (Osborne 2002, 733-34)
- “Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus”. Sempre o povo de Deus é
descrito no singular, mas aqui está no plural, indicando povos de todas as nações. Na eternidade todas as
distinções raciais e étnicas desaparecerão e seremos somente um povo. Isso pode refletir a promessa da nova
aliança: “Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo” (Jer 31:33; Ez 8:10). Essa promessa se cumpriu
parcialmente na nova aliança de Deus e finalmente na Nova Jerusalém. Também encontra apoio nos escritos de
Paulo: “somos santuário do Deus vivo. Como disse Deus: ‘Habitarei com eles e entre eles andarei; serei o seu
Deus, e eles serão o meu povo’ ” (2 Co 6:16). Paulo via o cumprimento dessa profecia no Cristianismo, mas
agora vemos que existe um cumprimento final quando o povo de Deus realmente vive com ele. Esse parece ser
o tema de Ap 21:1-22:5. O que conhecemos hoje como realidade espiritual, conheceremos como realidade física
(Osborne 2002, 734-35)

3. Quais são os benefícios que terão as pessoas que estiverem no céu com Jesus?
- depois da apresentação da aliança final os benefícios dos santos que habitarão o novo céu e a nova terra são
apresentados. Eles estão centrados sobre a paz e a alegra que Deus dará a seu povo:
a. Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos. O antecedente dessa passagem está em Ap 7:15-17 onde os
santos vitoriosos “estão diante do trono de Deus e o servem dia e noite em seu santuário; e aquele que
está assentado no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. 16 Nunca mais terão fome, nunca mais
terão sede. Não os afligirá o sol, nem qualquer calor abrasador, 17 pois o Cordeiro que está no centro
do trono será o seu Pastor; ele os guiará às fontes de água viva. E Deus enxugará dos seus olhos toda
lágrima”. São lágrimas de sofrimento e sacrifício (Osborne 2002, 735)
b. Deus vai remover as fontes de aflição: morte e tristeza, choro e dor. Haverá alegria e êxtase eternos, e
os efeitos debilitantes do pecado e do sofrimento foram retirados: a dor, o sofrimentos, as perdas, são
parte dessa vida no mundo pecaminoso. A criação geme no meio dessas enfermidades, mas nós também
“gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso
corpo” (Rom 8:22-23). João agora descreve o tempo quando ocorreu a redenção de nosso corpo. Isaías
já falava desse tempo: “alegria eterna coroará sua cabeça. Júbilo e alegria se apossarão deles, tristeza
e suspiro deles fugirão” (Is 51:11; 65:19). Essa tem sido a esperança universal que confortou os santos
em todos os tempos. A morte era o filho adotivo do pecado (Rom 5:12; Tg 1:15) e sempre é apresentada
nas Escrituras como uma força maligna atormentando a raça humana. Mas a Morte, o último inimigo
foi vencido (1 Co 15:26; Ap 20:14) e todos os seus precursores (lamento, choro, dor) foram juntos com
ela (Osborne 2002, 735)
c. Esse ponto resume os anteriores. Tudo isso ocorre porque “a antiga ordem já passou”, uma citação de
Ap 21:1 “pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado”. Todas as coisas (morte, tristeza,
choro, dor são parte do primeiro mundo e não tem parte no novo mundo. Esse novo mundo vem a nós
porque o “primeiro mundo” foi levado embora por Deus. Isso também resume as promessas para os
vencedores das 7 igrejas (2:7, 11, 17, 26-28; 3:5, 12, 21). Todas estão relacionadas com promessas que
se cumprem quando essa era terminou e a eternidade começou. Essa também é a ênfase dos heróis da fé
de Hb 11. Sua fé estava relacionada sempre com uma “cidade que tem alicerces, cujo arquiteto e
edificador é Deus” (Hb 11:10) levando-os a buscar “uma pátria melhor, isto é, a pátria celestial” (Hb
11:16) (Osborne 2002, 735-36)

4. Qual a função da voz de quem está no trono? O que ele está dizendo?
- agora aquele que está no trono fala. Essa voz vai ratificar possivelmente o conteúdo de todo o livro, já que
apontam para este momento. Há diversos elementos nessa palavra para a igreja
a. Atenção (idou). Eis que faço novas todas as coisas. Incentiva os fiéis a confiar no poder de Deus e
adverte os fracos quanto ao fracasso espiritual. É um futuro presente garantindo a futura re-criação do
novo céu e nova terra. Aqui Deus não fala somente para o futuro, mas para a igreja no presente. Deus
194
está fazendo uma nova criação. Não sabemos se estamos lidando com algo totalmente novo ou a
reforma do antigo (Osborne 2002, 734-35)
b. João é exortado a escrever uma mensagem direta para as igrejas. Possivelmente não se refere somente a
esta mensagem, mas a mensagem de todo o livro. As palavras são verdadeiras e dignas de confiança =
as verdadeiras palavras de Deus. Essa palavra é dita pelo próprio Deus. O leitor deve entender a
veracidade e importância dessa palavra. Não se trata de um oráculo que vem de qualquer pessoa, mas
do próprio Deus. Uma mensagem fiel, pois está ligada com a fidelidade de Cristo e dos seus seguidores
fiéis. A palavra é digna de confiança porque é verdadeira, um termo usado para Cristo e para Deus no
livro. O novo céu e nova terra é certo porque Deus que é fiel e verdadeiro a garante (Osborne 2002,
737)
c. No derramamento da 7ª. taça (Ap 16:17) havia uma voz que dizia: está feito, apontando para o
momento em que Deus iria finalizar os eventos do fim dos tempos que foram colocados em movimento
pela 7ª. taça. O tempo perfeito enfatiza o resultado da ação no passado, implicando que temos o final da
história da salvação e a era futura pode iniciar. Na cruz Jesus proclamou que estava terminado/
consumado (Jo 19:30) = o plano de redenção para sua morte sacrificial. Am Ap 16:17 a voz do trono
diz que está feito = os eventos do fim dos tempos que vão terminar a era presente terminaram. Agora
Deus diz: “está feito” = todos os eventos da história mundial, incluindo a destruição do mundo e a
inauguração da era final estão no fim (Osborne 2002, 737-38)
d. Tudo isso está ancorado sobre o caráter de Deus como o Alfa e o Ômega = o Princípio e o Fim. Esse
título já ocorreu no início do livro (1:8) e ocorre agora no final enfatizando que Yahweh é soberano no
início e também será no final (e também tudo que está no meio disso = soberano sobre toda a história).
Ele é a origem e propósito de todas as coisas. Ele controlou o passado e as profecias mostram que
controla também o futuro. Assim ele também controla o presente tempo de dificuldades (Osborne 2002,
738)
e. O controle de Deus sobre a história agora é estendido para bênçãos futuras para os seguidores fiéis: “A
quem tiver sede, darei de beber gratuitamente da fonte da água da vida”. Os que tiverem sede =
permaneceram fiéis a Cristo e perseveraram. Da mesma forma como no evangelho de João, os sedentos
buscam a Cristo ao invés do mundo para que Deus os sacie com a água da vida. Assim também é um
convite para os que ainda não beberam da água. Ap 7:17 nos mostra que “o Cordeiro que está no centro
do trono será o seu Pastor; ele os guiará às fontes de água viva”. Isso nos prepara para a água da vida
que temos aqui e em 22:17 = vida espiritual agora e vida eterna no novo céu e nova terra. Logo se trata
de um convite para aqueles que têm sede para que venham e bebam da água da vida gratuitamente. Os
que buscam em Cristo receberão sem custo, pois é presente da graça de Deus (Osborne 2002, 738-39)
- essa parte termina com um desafio para reconhecer a diferença entre aqueles que são fiéis e aqueles que não
são, decidir se querem ser vencedores (21:7) ou covardes (21:8). O vencedor é o termo usado no final de cada
uma das 7 cartas que continham as promessas escatológicas para os vitoriosos sobre o mundo com suas
tentações e sofrimento. Eles são os que tem sede que beberam gratuitamente da água da vida. Eles venceram
pelo sangue do Cordeiro e pelo seu testemunho (12:11), de forma irônica, à medida que a besta os vence
matando-os, eles o vencem dando suas vidas. Essa promessa aqui resume todas as promessas das 7 igrejas
dizendo que vai herdar todas essas coisas. As recompensas são descritas como herança que aguarda os fiéis
(Osborne 2002, 739-40)
- no entanto a maior recompensa é “e eu serei seu Deus e ele será meu filho”. Isso é o sumário da aliança de
Deus com Abraão: “Estabelecerei a minha aliança como aliança eterna entre mim e você e os seus futuros
descendentes, para ser o seu Deus e o Deus dos seus descendentes” (Gen 17:7) e especialmente da aliança com
Davi: “Eu serei seu pai, e ele será meu filho” (2 Sam 7:14). A relação entre Deus e o filho se reserva para Jesus
no Apocalipse. Mesmo que Paulo já fala que somos filhos adotivos (Rom 8:14-17, 23). Assim a adoção
completa aconteceria somente na volta de Cristo. Agora seremos parte de sua família no estado eterno. O
contraste daqueles que herdam as bênçãos são aqueles que são lançados no lago de fogo (21:8). Parece até que
esse versículo não se encaixa aqui, pois eles já foram lançados no lago de fogo (20:13-15). Mas temos que ter
em mente que João está falando aqui para os leitores levando-os a refletir se são vencedores ou covardes
(Osborne 2002, 740)

5. O que chama a atenção na lista de pecados narrada em 21:8?


- a seqüência de pecados narrados é parecida com aquela que encontramos nos escritos dos seus dias e no NT
(Rom 1:29-31; Ef 4:25-32; 5:3-5; Col 3:5-8; 1 Tim 1:9-10; Tg 3:14-16; 1 Pe 2:1; 4:3, 15; Ap 9:21; 21:8). Essa
lista, a mais longa do Apocalipse não é uma lista geral de pecados, mas resume os pecados do livro. O propósito
é resumir a depravação dos incrédulos, e cada termo reflete os pecados mencionados em outra parte do livro. A
descrença (incrédulos) é o pecado básico das nações para rejeitar as tentativas divinas da trazê-los ao
arrependimento. Esse também era o pecado dos falsos mestres e dos hereges (2:13-16). Os atos vis e
195
abomináveis (depravação) são enfatizados em 17:4-5 (as abominações da grande prostituta) e 21:27 (as
coisas vergonhosas que não são permitidas da Nova Jerusalém). Assassinato se refere aos habitantes da terra
que mataram os santos (6:9; 9:21; 13:7, 10, 15; 17:6; 20:4). Um exemplo forte ocorre quando os pecadores se
recusam a enterrar as 2 testemunhas (11:9) e se envolvem numa orgia celebrando em torno de seus corpos.
Imoralidade sexual fazia parte da seita dos nicolaitas (2:14, 20) e também era praticada pelos habitantes da
terra (9:21; 14:8; 17:2, 4; 18:3, 9; 19:2) e freqüentemente estava ligada com a idolatria por causa da prática
freqüente da prostituição ritual nas religiões greco-romanas. Feitiçaria ou mágica era uma parte essencial do
mundo dos seus dias (Ap 9:21; 18:23; 22:15). Idolatria é um dos principais temas do livro, iniciando como os
hereges (2:14, 20) e está no coração dos pecados das nações (9:20; 22:15). É o aspecto chave da religião
estabelecida pela besta (13:4, 8, 12, 14-15; 19:20). Muito do material do Apocalipse surge por causa do culto ao
imperador no final do séc. I e a idolatria é um dos problemas principais no livro. Mentirosos são condenados
freqüentemente. Eles são a antítese de Deus e Cristo, caracterizados pela verdade. A mentira é a perversão de
tudo que é verdadeiro e válido. Assim essa lista resume os pecados que enviam os incrédulos para o lago de
fogo, a 2ª. morte (Osborne 2002, 740-41)
- mas o 1º. nome da lista, os covardes, merece atenção especial. Ele é contrastado com os vencedores. Enquanto
a lista descreve os incrédulos, esta característica parece descrever aqueles que estavam dentro da igreja,
daqueles que deixaram de perseverar cedendo às pressões do mundo. Isso parece se encaixar em textos como
Hb 6:4-6; 10:26-31; Tg 5:19-20; 2 Pe 2:20-21; 1 Jo 5:16, ou seja, às pessoas dentro da igreja que são vencidas
pelo pecado e abandonam sua fé. Somos chamados a tomar uma decisão se seremos vencedores ou covardes,
sucumbindo às pressões do mundo, e tendo parte na perdição eterna (Osborne 2002, 741-42)

6. Qual é a aparência da cidade celestial?


- em 21:2 a Nova Jerusalém é comparada com a noiva (“como uma noiva”). Aqui o texto muda para uma
metáfora: Eu lhe mostrarei a noiva. Isso possivelmente indica que a cidade é composta de santos, mas não está
limitada aos próprios santos. O que se acrescenta aqui a 21:2 é que a noiva é a esposa de Yahweh. Isso significa
que agora o casamento sagrado ocorreu e Cristo e a igreja (Ef 5:25-27) e eles passarão a eternidade agora juntos
como marido e esposa. Das 29 vezes que o Apocalipse usa o termo Cordeiro, 7 ocorrem em 21:9-22:5. Isso
possivelmente que indicar que tudo isso está ocorrendo somente por causa da morte do Cordeiro e a vitória
sobre as forças do mal (Osborne 2002, 748-49)
- agora o anjo levou João em espírito para uma montanha alta. Seguramente Ez 40:1-2 está por trás dessa
passagem onde Deus deu uma visão a Ezequiel do templo. A tradição judaica colocava o novo templo sobre
uma montanha alta. As montanhas freqüentemente estão ligadas à revelação. Aqui a cidade santa desce de
Deus, indicando que os crentes não trazem o céu com suas boas obras, mas que sua origem é em Deus (Osborne
2002, 748)
- a característica principal da cidade é que contém a glória de Deus = presença shekinah de Deus entre o povo.
No AT freqüentemente temos a glória de Deus com o povo. Essa glória pode estar representada nos ornamentos
da noiva, bem como as obras justas (19:8) também fazem parte dos seus adornos. A beleza da cidade é descrita
denotando a luz da cidade e que é radiante. Sua beleza é comparado ao jaspe que brilha como o cristal. Como
essa pedra é opaca (pode ter sido opala ou diamante) a idéia é que brilha como o cristal e não a idéia de
transparência. Em 4:3 o trono de Deus tinha a aparência de jaspe, esta sendo a principal jóia no livro. As jóias
simbolizam a glória de Deus radiante e pura (Osborne 2002, 749)

7. Por que a cidade tem muros e portas?


- a cidade tem um grande e alto muro (21:10), mas este muro somente é descrito em 21:17-18. No mundo antigo
os muros existiam para proteger a cidade em tempos de cerco. Mas como não existem mais inimigos, esta não
pode ser a função aqui, mesmo que a segurança é parte do significado. O muro é enfatizado em 21:18 onde é
feito de jaspe, mostrando que o propósito é irradiar a glória de Deus e não a defesa. É um muro alto por causa
da grandeza da glória de Deus. Havia 12 portas na cidade, um número grande. Jerusalém tinha 5, mas como se
trata de uma mega-cidade tem mais, comparado com Roma ou Babilônia que tinham mais portas (Osborne
2002, 749-50)
- a idéia de 12 portas, 3 de cada lado vem de Ez 48:30-35. A diferença é que em Ezequiel cada porta é nomeada
baseado na tribo, e aqui “estavam escritos os nomes das doze tribos de Israel”. Em Ezequiel a porta abria para o
seu território tribal e aqui o acesso é para toda a humanidade, as pessoas que venceram o mundo (21:7) e
herdam a cidade de Deus (21:7). As 12 portas mostram que o acesso é grande e os nomes das 12 tribos se baseia
no símbolo dos 144.000 (7:1-8) significando que o povo de Deus provê acesso para as pessoas do mundo para
que possam se arrepender e entrar na cidade de Deus. As 3 portas de cada lado implicam que o acesso é de
todas as direções (Osborne 2002, 750)
- há 12 anjos junto às portas. É comum ligar esses anjos com as sentinelas, mas é melhor vê-los como os anjos
das 7 igrejas representando o novo relacionamento de Deus com o seu povo (Osborne 2002, 750-51)
196
8. Como é o fundamento do muro da cidade?
- o muro da cidade tem 12 fundamentos. O fundamento consistia de pedras enormes escolhidas por sua beleza e
resistência. Os nomes das tribos estavam escritos sobre as portas, aqui sobre o fundamento temos o nome dos 12
apóstolos do Cordeiro. Não se refere a apóstolos específicos, o que faz com que a discussão se Paulo e Barnabé
deveriam ser incluídos não faça sentido aqui. Eles foram chamados de “doze” mesmo quando não eram 12 (e.g.,
Jo 20:24; 1 Co 15:5). Assim os 12 apóstolos são um símbolo para a igreja. Os apóstolos eram vistos como o
fundamento da igreja juntamente com os profetas (Ef 2:20). Da mesma maneira como com as 12 tribos, não
temos dica aqui que em cada pedra do fundamento temos o nome de um apóstolo sobre ela. Antes, as 12 tribos
como um todo são as portas, e os 12 apóstolos como um todo são o fundamento (Osborne 2002, 751)
- o fato que temos 12 tribos e 12 apóstolos possivelmente enfatiza a unidade entre os 2 grupos da aliança divina
(Israel e a igreja), como todo o povo de Deus (Osborne 2002, 751-52)

9. Por que o anjo vai medir a cidade?


- em Ap 11:1-2 João deveria medir o templo de Deus, o altar e aqueles que adoravam dentro dele. Aqui é o anjo
das 7 taças (21:9) e ele usa uma vara feita de ouro para medir a cidade. Uma vara de ouro é apropriada para uma
cidade de ouro (21:18) cujas ruas são feitas de ouro (21:21). As varas de medir tinham em torno de 3m de
comprimento, o que é muito pequeno para uma cidade desse porte. O anjo deve medir a cidade, suas portas e
seus muros, mas de forma interessante os muros não são medidos. As portas possivelmente estão incluídas na
medição dos muros. Em Ezequiel 40-48 temos diversas medições do templo. Também em Jer 31:38-40; Zac
1:16; 2:1-2 a largura e o comprimento de Jerusalém são medidos implicando a restauração da terra. Em todas as
passagens a medição conota a posse de Deus e a proteção do seu povo. A cidade de Deus é garantida
eternamente pela presença e proteção de Deus. Em 11:1-2 a medição se referia à presença espiritual de Deus
com seu povo no meio das dificuldades. Aqui a medição é a presença final e eterna de Deus com seu povo e não
há mais dificuldades (Osborne 2002, 752)
- como o templo de Ezequiel (42:15-20; 45:2) o templo é apresentado como um quadrado. Em Ezequiel a
dimensão era em torno de 280m, a dimensão do templo de Herodes e a idéia era mostrar uma construção
perfeita para Yahweh. Aqui temos um propósito similar, mas todas as dimensões estão muito exageradas.
a. Em Ezequiel temos um quadrado (largura e comprimento) enquanto aqui temos um cubo com a
medição inclusive da altura. Aqui temos um elemento mais perfeito que em Ezequiel
b. Ezequiel descreve o templo, mas aqui temos a descrição da cidade celestial e não há necessidade do
templo (21:22) porque toda a cidade é o templo. O cubo é similar ao Santíssimo Lugar. Já que o
Santíssimo Lugar era onde a shekinah residia, isso é apropriado para a cidade celestial
c. As medidas de Ezequiel são multiplicadas muitas vezes já que temos 12.000 estádios (2.200km) em
cada dimensão. 12.000 estádios era a dimensão de Joppa (na Espanha) até o Eufrates. Mas aqui também
o número é simbólico. É uma cidade grande o suficiente para caber todos os santos em todos os tempos,
os santos de toda tribo, língua, povo e nação (Osborne 2002, 752-53)
- depois de medir a cidade o anjo mede o muro (21:17) que tem 144 cúbitos de largura (o equivalente a 65m)
(possivelmente, já que alguns autores acham que se trata da altura). Mesmo assim o muro é muito pequeno para
uma cidade desse tamanho, o que mostra outra vez que temos algo simbólico. Esse número deve estar
conectado com os 144.000 de 7:4 significando todo o povo de Deus. O propósito não é para proteger a cidade já
que os inimigos estão destruídos. Seu propósito é a beleza e a demarcação (Osborne 2002, 753-54)
- o anjo mede “segundo a medida humana”, com a implicação que não é uma medição celestial (Osborne 2002,
754)

10. Quais são os materiais de construção da cidade? O que significam?


- os materiais usados na construção da cidade são ouro, pedras preciosas e pérolas, um eco de Is 54:11-12 “eu a
edificarei com turquesas, edificarei seus alicerces com safiras. Farei de rubis os seus escudos, de carbúnculos
as suas portas, e de pedras preciosas todos os seus muros”. Isaías está descrevendo a restaurarão e
transformação da filha de Sião (52:2; 62:11) do abandono e medo para cumprimento e alegria. Isso é realizado
quando o Servo de Yahweh (52:13-53:12) se torna o servo da comunidade restaurada, a noiva, Sião. A cidade
desolada é transformada numa cidade decorada com ouro e pedras, a noiva de Yahweh (Osborne 2002, 754)
- isso simboliza a grandeza e majestade da Nova Jerusalém como a descrição da sala do trono (Ap 4:3-4). A
linguagem humana é inadequada para descrever a majestade e o esplendor de Deus e do céu, assim era comum
se usar metais preciosos e pedras para enfatizar sua glória. Já que o muro é medido (21:17) seria natural iniciar
com o muro descrevendo os materiais. Em 21:11 a cidade que desce do céu foi descrita como uma pedra
preciosa como o jaspe que brilha como cristal. Agora vemos que os muros são feitos de jaspe (opala ou
diamante). Isso denota o brilho e a beleza da cidade que participa da glória e majestade do próprio Deus (4:3).
Não sabemos se o muro é feito de jaspe ou se o jaspe foi acrescentado à estrutura, possivelmente feito de jaspe
(Osborne 2002, 754-55)
197
- a cidade é feita de “ouro puro, semelhante ao vidro puro”. Isso reflete 1 Rs 6:20-22 onde Salomão cobriu o
interior do santuário e o altar com ouro. Mas aqui não temos um revestimento, mas é feito de ouro puro. Esse
ouro não é como o ouro humano, pois é transparente. Possivelmente é transparente porque a sua própria glória
não é o suficiente, mas deve permitir a passagem da glória maior do próprio Deus (Osborne 2002, 755)
- os fundamentos são descritos como pedras preciosas. Antes vimos que as pedras retratavam Deus (4:3) em sua
habitação (21:11) simbolizando sua majestade e esplendor, contrastado com o falso esplendor terreno da
Babilônia/Roma (17:4; 18:12, 16). O mesmo ocorre aqui, mas agora aquela glória e majestade são estendidas
para seu povo. Antes as pedras de fundamento tinham inscritas nelas o nome dos 12 apóstolos do Cordeiro = a
igreja. Agora essas pedras são adornadas com todo tipo de pedra preciosa = o povo de Deus é descrito como
participando da glória divina. O termo adornado também aparece em 21:2 onde fala da noiva adornada para o
seu marido. Pode haver uma conexão entre os versículos, já que são pedras usadas para adornar a igreja como a
noiva de Cristo (Osborne 2002, 755-56)
- essas pedras possivelmente retratam a glória do povo de Deus (Osborne 2002, 756). Pode ser que representem
as pedras que se encontravam no peito do sumo sacerdote (8 das 12 se encaixam) e as outras seria equivalentes
semânticos por causa das muitas palavras usadas no rego para traduzir as palavras hebraicas (Beale 1999, 757).
No Êxodo as pedras representam as 12 tribos e aqui os apóstolos. Assim é possível que tenhamos essas pedras
com esse pano de fundo com sua ênfase na natureza sacerdotal da igreja. A igreja é vista como o Israel do fim
dos tempos e o sumo sacerdote busca o conceito dos santos como sacerdotes de Deus (Osborne 2002, 757-58)
- o Apocalipse constrói sobre uma tradição longa de retratar a majestade da cidade celestial, mas transforma
essas imagens numa descrição da glória que os santos receberão com base na presença de Deus e seu status de
sacerdote na cidade eterna (Osborne 2002, 758)

11. Como os fundamentos são descritos?


- agora temos a descrição dos fundamentos. Enquanto os fundamentos são várias pedras preciosas, cada porta é
feita de uma única pérola. As pérolas tinham um valor extraordinário no mundo antigo, e era considerada a mais
luxuosa das pedras. Se os muros têm 65m de altura, a pérola precisa ter a mesma dimensão. Isso mostra o valor
incrível das 12 tribos (21:12-13) na cidade celestial. Depois a grande rua da cidade, bem como a cidade como
um todo é construída de ouro puro como vidro transparente. Como na maioria das cidades isso se refere a sua
rua principal. Essa rua vai irradiar a glória de Deus e não refletir sua propria glória. Pode haver um contraste
aqui com a estrada da grande cidade (11:8) em que estavam deitados os cadáveres das 2 testemunhas. Ali o
propósito era mostrar que as ruas significavam o mal, e aqui irradiam a glória de Deus (Osborne 2002, 758-59)

12. Ap 21:22-27 descrevem a vida na cidade. O que mais chama a atenção?


- o restante do capítulo nos dá uma visão da santidade, glória e alegria que caracteriza a vida na cidade eterna.
Isso é feito mostrando que elementos terrenos não terão parte na esfera divina, proporcionando um motivo para
esta remoção. Aqui temos as principais características da cidade:
a. Não haverá templo. Os escritos judaicos tendem a enfatizar o templo escatológico na Nova Jerusalém.
Geralmente o templo está no centro da cidade. Mas aqui nos chama a atenção que não temos templo.
João esperava que houvesse templo, mas não o viu. A característica mais marcante do templo era a
presença de Deus no templo. O livro de Ezequiel termina com o novo nome da cidade escatológica: “O
SENHOR ESTÁ AQUI” (48:35). Era a presença de Deus que tornava o templo sagrado. Mas agora ele
reside fisicamente com seu povo e a cidade toda se tornou o Santíssimo Lugar. Da mesma forma que a
Nova Jerusalém é mais do que um lugar (denotando a comunidade do povo de Deus), o templo é mais
que um lugar (denotando a presença de Deus e do Cordeiro na comunidade do seu povo). Assim,
quando sua presença é final e eterna entre o seu povo, não há necessidade de um templo (Osborne 2002,
759-60). Já havia algumas pinceladas no AT que não haveria templo no reino final. Isso recebe uma
ênfase mais forte no NT. No Apocalipse o templo é celestial e no cap.21 o templo desce para a terra na
forma da Nova Jerusalém. Não há templo na cidade eterna, pois a cidade é o próprio Santíssimo Lugar
(Osborne 2002, 760). Outro motivo para não haver o templo, é que o próprio Deus e o Cordeiro são o
templo. Em todo o AT a glória de Deus enchia o templo. Agora na Nova Jerusalém essa glória permeia
a cidade de tal maneira a cidade que Yahweh se torna o templo. Com a presença física de Deus e do
Cordeiro não há mais necessidade de templo (Osborne 2002, 760). No AT a glória shekinah de Deus
estava conectada com a presença de Deus entre seu povo no templo. Assim o povo de Deus na cidade
eterna experimentam sua glória de uma forma final, pois “Agora o tabernáculo de Deus está com os
homens, com os quais ele viverá” (21:3). João diz que é o Senhor todo-poderoso que está no templo.
Deus é senhor sobre toda a história e sobre o mundo com autoridade total sobre as forças terrestres e
cósmicas. Além disso, não é somente Deus, mas também o Cordeiro que está no templo. Isso já vimos
em Ap 5:6 onde João viu um Cordeiro que fora morto. Jesus usou a imagem do templo que predisse sua
morte e ressurreição: “Destruam esse templo e eu o reconstruirei em 3 dias” (Jo 2:19). Foi sua morte
198
sacrificial que tornou um templo e seu culto desnecessário (Hb 9:1-15). Cristo o Cordeiro sacrificial
se torna o Cordeiro conquistador e toma seu lugar ao lado de Deus, o Pai como o templo da cidade
eterna (Osborne 2002, 760-61)
b. Não há necessidade de sol ou lua. Em Is 60:19 a glória da Sião escatológica e descrita como “O sol não
será mais a sua luz de dia, e você não terá mais o brilho do luar, pois o Senhor será a sua luz para
sempre; o seu Deus será a sua glória”. Se o Criador dos luzeiros aparece, as luzes criadas não têm mais
função. Oswalt diz que no séc. I os judeus consideravam este texto como representando a luz do
Messias que se cumpriu em Jesus. Eles não precisam de luz porque a glória de Deus ilumina a cidade.
O Cordeiro se torna a luz do mundo que ilumina (Jo 8:12). A luz de Deus e do Cordeiro é tão intensa
que as nações andarão em sua luz, finalizando o enfoque missionário do livro. Deus enviou o evangelho
eterno para as nações e as chamou para temer a Deus e dar-lhe glória (14:6-7). Um dos propósitos dos
selos, trombetas e taças era convencer as nações dos seus pecados e traze-los ao arrependimento.
Mesmo que a maioria se recusa a isso (9:20-21; 16:9, 11) alguns lamentaram o seu pecado e clamaram
a Deus (11:13). Então, “todas as nações adorarão” a Deus (15:4) uma passagem ligada diretamente com
essa. Ap 21:24-26 está ligado diretamente com Is 60:3, 5, 11:
Ap 21:24-26 “24 As nações andarão em sua luz, e os reis da terra lhe trarão a sua glória. 25 Suas portas
jamais se fecharão de dia, pois ali não haverá noite. 26 A glória e a honra das nações lhe serão trazidas”
Is 60:3, 5, 11 “As nações virão à sua luz ... a você virão as riquezas das nações. ... As suas portas
permanecerão abertas; jamais serão fechadas, dia e noite, para que lhe tragam as riquezas das nações,
com seus reis e sua comitiva.”
Isso finaliza a procissão nas nações em Isaías, quando Israel era “a luz para as nações” (42;6; 51:4) com
a intenção de “para que você leve a minha salvação até os confins da terra” (Is 49:6) e as nações eram
atraídas para esta luz (Is 55:5; 60:1, 3). Em Is 2:2 as nações correrão para o templo escatológico que
Deus estabelecerá nos últimos dias porque “o povo que caminhava em trevas viu uma grande luz” (Is
9:2). Eles trarão suas ofertas a Deus (Is 18:7) e se curvarão diante de Yahweh (Is 49:23). Em Ap 21:3
vemos que “Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá”. Isso agora
ocorre quando as nações entram na cidade celestial (Osborne 2002, 761-62). João transformou a
imagem de Is 60:1-2. Isaías nos diz: “a você virão as riquezas das nações ... para que lhe tragam as
riquezas das nações, com seus reis e sua comitiva” (Is 60:5, 11). Os reis lideravam a procissão triunfal
militar. Em suas procissões na Roma antiga, os reis mostravam o despojo da guerra. O clímax da
procissão ocorria quando o vitorioso em sua carruagem arrastava o rei vencido como seu escravo.
Parece que não foram os romanos que iniciaram essa prática. Agora João muda essa figura das riquezas
que os reis da terra vão trazer. João introduziu a glória nessa imagem. A glória no Apocalipse está
centrada sobre a glória de Deus e a conversão das nações. A implicação é que a glória que as nações
tinham agora está sendo devolvida para o único que a merece. Eles não estão trazendo riquezas
literalmente, mas a si mesmos como adoradores diante de Deus. Aqueles que se recusaram a se
arrepender foram derrotados pela espada que saiu da boca de Cristo e destruídos. Aqueles que se
arrependeram agora encontram seu lugar no céu. É interessante que os reis da terra lhe trarão glória
quando entram na Nova Jerusalém. Se antes eles se uniram à besta e lideraram os exércitos no
Armagedom, aqui vemos que a misericórdia de Deus redimiu mesmo alguns entre os reis da terra
(Osborne 2002, 762-63)
c. Não há necessidade de portas fechadas. Isso também vem de Is 60:11 “As suas portas permanecerão
abertas; jamais serão fechadas, dia e noite”. As portas da cidade eram fechadas a noite para impedir a
entrada de visitantes indesejados. Mas aqui elas nunca se fecharão. Deus está no controle e o mal foi
erradicado. Não há necessidade de fechar as portas porque todos são bem-vindos. Não haverá mais
noite, e como as portas ficavam abertas durante o dia, aqui elas permanecem abertas eternamente.
Como no evangelho de João, a noite é símbolo do pecado. O poder do pecado desapareceu e não há
mais perigo. Isso é paralelo com Ap 21:1 onde diz que não haverá mais o mar, significando que o mal
se foi para sempre. Agora as nações podem entrar livremente na cidade. Quando entram trarão a glória
e a honra das nações para a cidade santa. Em 21:24 eles trazem glória para dentro e agora trazem glória
e honra. Glória e honra no tempo antigo indicavam fama e reputação e talvez também para trazer
presentes valiosos para Deus, como na imagem da na imagem peregrinação a que faz alusão acima. A
glória e honra das nações indica que adoram a deus na cidade eterna. A glória e honra que pertencia a
eles na terra agora é devolvida a Deus no céu, da mesma forma que Cristo irá “entregar o Reino a Deus,
o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade e poder” (1 Co 15:24). Eles irão glorificar e
honrar a Deus por toda a eternidade (Osborne 2002, 763-64)
d. Nada impuro ou vergonhoso entrará na cidade. A cidade eterna é um local puro e sagrado. Aqueles que
poderiam trazer impureza não podem entrar. A idéia de entrar é o contrário de Ap 3:20 onde a pessoa
precisa ouvir a voz de Cristo, abrir antes que ele possa entrar. Somente podem entrar aqueles que
199
permitiram que Cristo entrasse em suas vidas. Somente aqueles que lavaram suas vestes poderão
entrar nas portas da cidade (22:14). Há algumas categorias que não entrarão na cidade:
i. Nada impuro entra na cidade. A impureza caracterizou o império da besta (Ap 16:13; 17:4; 18:2).
Em Marcos os demônios são chamados de espíritos imundos (1;23-24; 3:11, 30; 5:2, 8, 13) e o
nome se tornou associado com a esfera do mal. No AT a idéia de impuro era o posto da santidade
do templo ou da adoração a Deus. Manter a pureza ritual está conectado com as ordens de ser santo
(Lev 11:44-45) e vem da presença do Deus santo entre o povo. Como Yahweh é santo, seu povo
também deve ser. Coisas impuras são uma abominação para Yahweh (Lev 11:40-43; Deut 7:25-26;
14:3), pois ofendem a sua santidade. Assim nada impuro pode entrar na cidade santa (Osborne
2002, 765)
ii. Ninguém que pratique abominações (o que é vergonhoso) tem parte na cidade celestial. Isso está
ligado com as coisas impuras que são uma abominação para Deus. Em Ap 17:4-8 a grande
prostituta segurava uma taça cheia de abominações e tinha o seu nome escrito sobre sua testa: a mãe
das abominações da terra. Esse termo sumariza os pecados terríveis listados no livro (Ap 21:8) e
estes não têm parte na cidade eterna, pois santidade é a sua característica principal. Qualquer pessoa
que praticar essas coisas precisa ser excluído (Osborne 2002, 765)
iii. Ninguém que pratique a falsidade tem lugar na cidade. Em Ap 3:9 os judeus que perseguem os
santos são chamados de mentirosos e aqueles que mentem terão seu lugar com os cães, os
feiticeiros, assassinos e idólatras fora da cidade eterna. O falso profeta é caracterizado por mentiras
que enganam em contraste com os santos onde não foi encontrada mentira em sua boca (14:5).
Segundo Beale (1999, 1101) isso inclui aqueles que fizeram uma profissão de fé, mas cuja vida
contradizia isso pelo seu estilo de vida, o que os mostrava como mentirosos e falsos crentes.
Possivelmente inclui tanto os mentirosos pagãos como os cristãos falsos (Osborne 2002, 765)
- os únicos que podem entrar na cidade eterna são aqueles “cujos nomes estão escritos no livro da vida do
Cordeiro”. Esse livro contém o nome daqueles que são os verdadeiros crentes e é modelado no padrão do
registro dos cidadãos de Israel no AT (Osborne 2002, 765-66)

13. Agora João descreve o céu como um novo Éden. Que similaridades encontramos entre a antiga e a nova
cidade?
22:1-5
- em 21:9-10 o anjo mostrou a João, a noiva, a Nova Jerusalém. Agora mostra a João a realidade eterna final, o
novo Éden. Em Gen 2:10 um rio flui do Éden para irrigar o jardim, mas a vida estava restrita à árvore da vida
(2:9; 3:22-24). Aqui agora temos a árvore da vida e o rio da água da vida. Em Gênesis o rio fluía do Éden e aqui
o rio flui do trono. Éden se tornou um com a cidade. O pano de fundo vem de Gênesis e Ez 47:1-12, onde o rio
flui da parte sul do altar para o templo renovado e vira tudo o que encontra. Ez 47 provê o pano de fundo
primário para Ap 22:1-2 mostrando que a presença de Deus entre seu povo concede vida no templo renovado
como o rio parecido como do Éden flui do templo renovado. Esse rio traz vida eterna. Essa água é clara como o
cristão, simbolizando a pureza, santidade e glória transcendente de Deus. O mundo antigo também sofria com o
problema da poluição da água, sendo que falar de água pura era significativo também para eles (Osborne 2002,
769)
- enquanto o rio em Gen 2 flui do jardim e o rio de Ez 47 flui do templo, esse rio flui do trono de Deus e do
Cordeiro indicando que a fonte do rio é o próprio Deus. O trono é de Deus e do Cordeiro, mostrando como
trabalham unidos. O trono pertence a Deus mostrando a sua soberania. Esse trono agora está com o povo,
mostrando a proximidade de Deus com seu povo. Quando Cristo derrotar todos os inimigos, vai entregar o reino
a Deus (1 Co 15:24). Isso já ocorreu e agora Deus coloca Jesus como seu co-regente por toda a eternidade. O
reino espiritual inaugurado por Cristo em sua 1ª. vinda sobre a terra ele entrega para Deus enquanto no reino
eterno ambos vão reinar juntos (Osborne 2002, 770)
- esse rio da vida flui no meio da rua principal. Seguramente é a grande rua (21:21) construída de ouro puro
como vidro transparente. Não sabemos bem como fazer a pontuação aqui. Podemos ter um ponto no final do v.1
“fluía do trono de Deus e do Cordeiro. 2 No meio da rua principal da cidade. De cada lado do rio estava a
árvore da vida” ou então como está na NVI “fluía do trono de Deus e do Cordeiro, 2 no meio da rua principal
da cidade. De cada lado do rio estava a árvore da vida”. Logo a rua principal e o rio podem estar lado a lado
com a árvore da vida entre eles, ou a árvores da vida no meio da rua principal e o rio dividiu em 2 partes
deixando a árvore no meio. A melhor opção é deixar como está na NVI vendo que o essencial é a vida já que
temos o rio e a árvore da vida definindo a estrada principal da cidade eterna. O Éden foi restaurado. Agora as
árvores se tornam muito frutíferas (Osborne 2002, 770-71)
200
14. Qual a intenção de João com a menção da árvore da vida?
- em Gen 3:22 a árvore da vida era a fonte de vida eterna. Assim, Adão e Eva tiveram de ser banidos do jardim
para não se tornarem imortais em seu pecado. Isso pode estar conectado com o cedro esplêndido plantando
sobre a montanha (Ez 17:22-24). Ainda mais próximo é Ez 47:12 onde as árvores frutíferas crescem dos dois
lados do rio e cujas folhas não murcham nem seus frutos falham à medida que produzem cura. Em Provérbios a
árvore da vida se refere a bênçãos presentes quando ligadas com a sabedoria (3:18), o fruto da justiça (11:30),
um desejo realizado (13:12) e á língua que traz cura (15:4). Nos escritos judaicos essas árvores frutíferas
estavam baseadas na terra imortal, no fruto que não apodrece plantado no Paraíso que será dado aos justos do
dia do julgamento. Os santos comerão dessa árvore e terão o espírito de santidade para preenchê-los. Em Ap 2:7
Deus dá aos vencedores o direito de comer da árvore da vida que está no paraíso de Deus. Aqui essa promessa
se cumpre (Osborne 2002, 771)
- parece que temos somente uma árvore, mas poderia ser um coletivo se referindo a muitas árvores dos 2 lados
do rio. Isso se encaixa com a imagem de Ez 47:12 onde o rio do templo tem árvores frutíferas de todos os tipos
nos 2 lados do rio. A única árvore da vida (Gen 2:9) se tornou múltiplas árvores da vida no Éden final (Osborne
2002, 771-72)
- os rios produzirão frutas todos os meses, 12 tipos diferentes de frutos. Não haverá mais estações no novo Éden
e assim os frutos estarão presentes todos os meses. Todas as necessidades serão supridas por toda a eternidade.
Além disso, as folhas servem para curar as nações (outra alusão a Ez 47:12). Em Ezequiel é o Israel étnico que é
curado enquanto aqui as nações são curadas, outra referência para a conversão das nações. As nações que
rejeitam a oferta de arrependimento serão destruídas. Mas aquelas que se arrependeram entrarão na Cidade
Santa e serão curadas. Isso não implica que a cura ainda é necessária, mas simboliza a cura que já ocorreu na
volta de Cristo e na descida da cidade eterna. possivelmente se refere à cura física e espiritual (Osborne 2002,
772)

15. O que significa que não haverá mais maldição?


- ali não haverá mais maldição. Zac 14:11 diz: “Será habitada [Jerusalém]; nunca mais será destruída [não
haverá maldição]. Jerusalém estará segura”, uma promessa de paz perpétua e segurança no novo céu e nova
terra. Essa visão é um eco daquela promessa. Em Zacarias a maldição se refere à destruição total da nação
apóstata. Também pode haver referências às maldições colocadas sobre Adão e Eva (Gen 3:16-19), indicando
que a maldição colocada sobre a humanidade foi tirada. No restante do AT a maldição se refere ao julgamento
de destruição total pronunciada contra as nações e os israelitas apóstatas. Assim pode se referir também para a
remoção da maldição contra os arrependidos das nações que entram na cidade eterna. Como em 1:5; 5:9; 12:11
a maldição foi removida por causa do sacrifício do Cordeiro. Segundo Aune pode também implicar na remoção
da guerra e da perseguição já que Zac 14:1-11 se refere à tentativa das nações para destruir Jerusalém e a
intervenção de Deus em favor do seu povo. Assim, haverá segurança total na Nova Jerusalém (Osborne 2002,
772-73)

16. O que João quer dizer quando diz que o trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade?
- o trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade (futuro). Tudo o que a cidade significa para os santos: vida
eterna, provisões abundantes, cura completa, segurança absoluta, se tornam possíveis através da presença
soberana de Deus e do Cordeiro entre o seu povo. Além disso, já que o rei está aqui, é normal que seus escravos
o adorem e sirvam. O livro foi escrito para os escravos que agora o servem e adoram, realizando seu serviço
sacerdotal, já que são sacerdotes de Deus. Deus colocou Adão e Eva para trabalhar no Éden e talvez até com a
conotação de adorar e obedecer a Deus dentro dele. O Éden se tornou o protótipo do tabernáculo e os paralelos
do Éden com o templo são significativos. Assim João descreve a Nova Jerusalém como o Éden restaurado onde
os redimidos irão cumprir o plano original de Deus para a criação do ser humano. Eles servirão e adorarão a
Deus e ao Cordeiro cuja glória vai encher a cidade (Osborne 2002, 773-74)
- eles também o verão. Há 3 estágios em termos de ver a Deus
a. Moisés no podia olhar para a face de Deus, pois isso implicaria em morte (Ex 33:20)
b. Jo 1:18 diz: “Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o tornou
conhecido”.
c. Aqui na cidade eterna o povo de Deus finalmente será capaz de ver sua face. Jesus providenciou a
transição sendo o shekinah encarnado (Jo 1;14) que era a face de Deus sobre a terra. O termo “ver a
Deus” se tornou a palavra chave para descrever o que realmente significa conhecer a Deus e ter um
relacionamento correto com ele (Jo 33:26; Sl 17:15; 42:2; 3 Jo 11) e foi considerada uma bênção
escatológica especial (Num 6:25; Sl 84:7; Mt 5:8; 1 Jo 3:2; Hb 12:14). Assim era a culminação de uma
das maiores esperanças da Bíblia. No Éden transformado, o povo de Deus viverá eternamente com ele e
verá a sua face (Osborne 2002, 774)
201
- eles também terão o seu nome em suas testas. Em Ex 28:36-38 Arão vestia uma placa de ouro na frente do
seu turbante e sobre sua testa onde estavam escritas as palavras: “Santo para o Senhor”. Em Ap 3:12 Cristo
prometeu aos santos vencedores “Escreverei nele o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a
nova Jerusalém ... e também escreverei nele o meu novo nome”. Em 7:3 o anjo selou os escravos de Deus em
suas testas. Esse nome na testa denota posse, status e proteção. Os santos serão um povo que pertence a Deus.
Eles receberão um novo nome e esse nome será dado por Deus a eles e este estará em tuas testas: “seremos
semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (1 Jo 3:2) (Osborne 2002, 774-75)

17. Ap 22:5 resume toda a visão. Que elementos são enfatizados?


- resumindo toda a visão, João repete algumas das imagens dizendo que não haverá mais noite: os efeitos do
pecado, noite, portas fechadas, impureza, vergonha, engano, se foram para sempre. As portas estão sempre
abertas e não haverá mais noite. Não há necessidade de luz, pois Deus os iluminará. O texto também nos diz
que reinaremos para todo o sempre. Os cristãos já reinaram durante o milênio e agora vão reinar pela
eternidade. A Bíblia fala muito sobre o reinado futuro dos santos. Mas agora somente temos os santos, como
podemos reinar? Possivelmente participaremos do reinado de Cristo sobre o reino eterno da mesma forma como
Adão deveria governar sobre os seres viventes que se moviam sobre a terra (Osborne 2002, 775-76)

Ap 22:6-21 – Epílogo
1. Por que temos tanta ênfase sobre as palavras dignas de confiança e verdadeiras no Apocalipse? Qual a sua
função aqui no final do livro?
- um anjo fala com João e diz que as palavras são dignas de confiança e verdadeiras. A descrição da mensagem
profética é paralela ao caráter de Cristo. Aqui se fala que todas as palavras do livro são dignas de confiança e
não somente uma parte delas, já que foram reveladas por Deus e por Cristo. Quem revelou estas mensagens é
descrito como o Senhor = Yahweh, o senhor file da aliança. Deus enviou suas mensagens a João como profeta,
da mesma forma como aos profetas do AT e NT. A idéia dos espíritos dos profetas é similar a 1 Co 14:32. É o
Espírito que fala através das pessoas (Osborne 2002, 780-81)
- em sua soberania Deus enviou sua mensagem através de um anjo para mostrar aos seus escravos.
Freqüentemente as visões são mostradas a João ou reveladas a ele. Deus tirou o véu da história que ainda vai
ocorrer. Deus revelou o que iria acontecer através de Cristo para um anjo que passou para João que levou às
igrejas (escravos) (Osborne 2002, 781)

2. Qual o conteúdo das profecias?


- o conteúdo da profecia é o que deve acontecer em breve, apontando para a iminência do cumprimento das
profecias, mas pode se referir a acontecimentos que ocorrem rapidamente ou que vão acontecer em breve.
Possivelmente temos aqui que eles acontecerão em breve. O problema da demora da volta de Cristo já ficou
evidente no NT e por isso 2 Pe 3:8-9 nos adverte que um dia para Deus é como 1.000 anos, deixando claro que
para Deus ainda estamos no tempo “breve”. Deus em sua soberania determinou quando vai ser breve e nós
podemos somente nos agarrar às promessas e esperar pelo tempo determinado por Deus. A igreja em todos os
tempos deve aguardar a volta de Cristo em breve, mas deixar o tempo final com Deus. Na história da salvação o
próximo evento que aguardamos é o retorno de Cristo. João deixa claro que a questão da volta de Cristo é
urgente e deve ser assim em cada geração (Osborne 2002, 781-82)
- Jesus fala diretamente dizendo que vai voltar em breve (22:7), falando de sua 2ª. vinda, mesmo que na carta às
igrejas sua vinda pode ser para um julgamento em breve antes da 2ª. vinda. Feliz é o que guarda as palavras da
profecia desse livro. Guardar = perseverar e obedecer aos mandamentos de Deus. Os cristãos precisam estar
preparados para a volta de Cristo a todo instante. Estar preparado = viver de modo correto. Diversos textos do
NT falam sobre a necessidade de permanecer firme sobre os ensinamentos que foram passados para eles
(Osborne 2002, 782-83)

3. João tenta repetir um erro cometido anteriormente (19:10). Por que faz isso?
- João teve as visões que são descritas nesse livro. Ele tenta adorar o anjo que o mostrou as coisas querendo
adorá-lo, mas é impedido. João foi escolhido por Deus para receber essa revelação para passá-la para as igrejas.
Mas pela 2ª. vez ele tenta adorar o anjo que passou essas mensagens para ele (o que seria idolatria). Ele já foi
censurado por isso em 19:10, mas como muitos de nós ainda não aprendeu sua lição. Fica claro que a
experiência revelatória tinha deixado João maravilhado, de modo que esqueceu tudo (Osborne 2002, 783-84)
- o anjo precisa repetir as palavras de 19:10. Não faça isso, pois sou somente uma pessoa como você, sou um
escravo como você e seus irmãos e irmãs. Fica evidente que João está tomado tanto pelo poder de Deus como
dos anjos. Conseguimos entender João dentro desse contexto querendo adorar os anjos porque atuam em favor
202
de Deus e do Cordeiro. Mas o anjo lembra que ele também é um ser criado como os humanos e estão ao
nosso lado para servir a Deus, ao invés de acima de nós (Osborne 2002, 784)
- em 19:10 os escravos como ele eram os santos vitoriosos que perseveraram, mas aqui eles são identificados
como profetas e aqueles que guardam as palavras deste livro. Isso deve ser referir aos santos que perseveraram
em 19:10, mas os profetas poderiam ser o grupo ao qual João pertencia. Existe grande ênfase aqui sobre as
profecias autênticas dadas a João nessa seção (22:6-7, 9-10, 16, 18-19). Também grande ênfase para a
perseverança às palavras deste livro. Isso nos prepara para a advertência severa no final do livro contra aqueles
que acrescentam ou tiram partes do livro. Há somente um imperativo nessa passagem: “adore a Deus”, não ao
imperador ou ao Anticristo ou anos anjos, mas somente a Deus. Essa é a mensagem central do livro (Osborne
2002, 784)

4. Por que João não deve selar essas profecias?


- João não deve selar estas profecias (de todo livro). Elas devem ser vistas como revelação profética de Deus
através de João. O significado do termo revelação = apocalipse é tirar o véu das verdades escondidas que Deus
ocultou do seu povo até agora. Assim Cristo através do seu anjo está dizendo a João diretamente que este é o
tempo de desvendar esses segredos. Agora se tornam conhecidos de todas as pessoas. Isso é o contrário de 10:4
onde João deveria selar o que os 7 trovões disseram até o fim dos tempos. Isso mostra que agora o fim chegou.
Não há mais necessidade de esconder nada, pois este é o tempo para desvendar todas as coisas (Osborne 2002,
785)
- já que o tempo está próximo, todas as pessoas devem ouvir essas profecias. A imanência da parousia e do fim
dos tempos é enfatizada em todo epílogo. Por causa disso devem ouvir as profecias para poder guardá-las. A
ênfase continua na responsabilidade ética em face da realidade apocalíptica. A única resposta aceitável é adorar
a Deus (22:9) e viver de modo fiel ao Cordeiro (22:11) (Osborne 2002, 785)

5. Como explicaria Ap 22:11? O que poderia significar?


- o v.11 é interessante: “Continue o injusto a praticar injustiça; continue o imundo na imundícia; continue o
justo a praticar justiça; e continue o santo a santificar-se”. Ele se baseia em Daniel 12 onde temos uma
observação profética, mas no Apocalipse temos ordens. Mas baseado em que o anjo ordena os incrédulos a
continuar fazendo o mau? As ações boas ou más das pessoas não vão afetar o cumprimento dessa profecia. Mas
devemos entender isso como o anjo advertindo os incrédulos a pensar nas escolhas que fazem tendo em vista
que Cristo vai voltar em breve. As pessoas devem ouvir as mensagens às 7 igrejas e no restante do livro. Aqui
vemos um reflexo de Is 6:9-10 que deve profetizar contra uma nação apóstata que não vai receber a mensagem.
Isso também acontece com Jesus e assim se torna parte de um oráculo de julgamento. Os membros rebeldes e
apóstatas da igreja bem como os pagãos são exortados que logo vão partir para a eternidade e enfrentar um
Deus irado. Isso mostra que ainda há tempo para lavar suas vestes, ouvir e vir para a água da vida. Logo
devemos ver isso como advertência e não como predestinação (Osborne 2002, 786)
- ainda assim, João está dizendo que os perversos continuem dessa forma. Os termos “praticar a injustiça” e
“imundície” resumem as ações más em 21:8 e 22:15. Os incrédulos são perversos = não dão a mínima para as
ordens de Deus, e imundos = impureza moral. Tendo em vista a dureza de coração como nos tempos de
Ezequiel, Daniel e Jesus, João e os outros líderes da igreja não advertido que podem fazer pouco para represar o
mal. Sua função não é ser policiais morais, mas simplesmente proclamar as profecias (22:10) e deixar Deus
fazer o seu trabalho (Osborne 2002, 786-87)
- ao mesmo tempo devem encorajar os justos a praticar atos de justiça e os santos a continuarem santos. Os atos
justos de Deus e Cristo se tornam a base para os atos dos santos. Ao mesmo tempo a natureza santa de Cristo e
Deus proporciona a base para a santidade. Tendo em vista a presença tão terrível do mal neste mundo os santos
devem ser conhecidos por suas ações justas e sua vida santa (Osborne 2002, 787)

6. Em seguida temos diversos dizeres de Cristo. Veja se consegue descobrir a essência de cada um deles:
- agora temos diversos dizeres de Cristo enfatizando o viver correto o julgamento pelas obras, a separação entre
puros e impuros dentro da perspectiva de que Jesus está voltando logo
a. Ele volta logo com a recompensa. Jesus está voltando logo com sua recompensa. Essa é a maior ênfase
do epilogo. Também é a base para as advertências de 22:10, 14-15. O fato que Jesus volta logo tem
implicações éticas. Devemos estar prontos sempre para não sermos surpreendidos como as 10 virgens
(Mt 25:1-13) ou como o servo que não fez nada com seu talento (Mt 25:14-30). Quando Cristo voltar
ele trará consigo a recompensa. Isso é um eco de Is 40:10 “O Soberano, o Senhor, vem com poder... A
sua recompensa com ele está, e seu galardão o acompanha”. Em Is 40 Deus iria libertar o seu povo da
destruição e do exílio que viria sobre a nação e sua recompensa seria o retorno do exílio. No Apocalipse
a recompensa é escatológica e está relacionada com a recompensa eterna que será dada aos crentes por
sua caminhada fiel com Cristo como em Ap 11:18, onde os 24 anciãos falaram sobre “o tempo de
203
julgares os mortos e de recompensares os teus servos, os profetas”. Deus e o Cordeiro irão vindicar
e recompensar seu povo por tudo o que sacrificaram (veja 6:9-11; 21:4) e por tudo que fizeram para ele
(Osborne 2002, 787-88). A 1ª. parte da recompensa pode se referir somente aos fiéis enquanto a 2ª. a
expande para referir aos 2 grupos de 22:11 (os perversos e os justos), já que o critério é pagar a todos de
acordo com suas obras, possivelmente vindo de Prov 24:12: Deus “retribuirá ele a cada um segundo o
seu procedimento”. Todas as pessoas serão julgadas por este critério e não somente os crentes, pois
misthos pode se referir tanto a recompensa quanto a castigo. O conceito de julgamento de acordo com
as obras é comum no Apocalipse tanto para o crente como para o descrente. Esse tema já aparece
freqüentemente no AT, na literatura intertestamentária e no NT. A idéia da responsabilidade ética e suas
conseqüências escatológicas são ignoradas muitas vezes e precisa de maior atenção. Cristo volta para
julgar toda a humanidade. Isso é tanto uma promessa quanto uma advertência. Isso não significa ser
justificado pelas obras (Osborne 2002, 788)
b. A identidade daquele que vem (22:13). Jesus é identificado como o Alfa e o Ômega. Deus foi
identificado assim em 1:8 (Alfa e Ômega); depois o título se aplica a Cristo em 1:17; 2:8 (o Primeiro e
o Último). Depois em 21:6 se refere a Deus (Alfa e Ômega e o Início e o Fim) e em Cristo em 22:13
para Cristo (Alfa e Ômega, o Primeiro e o Último, o Início e o Fim). Isso aponta para a soberania de
Deus e Cristo sobre a história. Eles controlam o início e fim da criação e tudo o que ocorre no meio. Já
que esta é a única passagem que contém os 3 títulos, tem a maior ênfase de todos sobre o poder
absoluto de Cristo sobre a história humana. São os títulos perfeitos entre a ênfase sobre a vinda de
Cristo como juiz (22;12) e as advertências aos crentes e aos descrentes (22:14-15). Cristo é soberano
sobre tudo e por isso aquele que tem autoridade sobre o destino de todos (Osborne 2002, 788-89)
c. Bênçãos e advertências para os salvos e os não-salvos (22:14-15). Agora temos a última bem-
aventurança do livro, que, como as outras, enfatiza a perseverança na fé:
i. Em 1:3 a bênção de Deus cai sobre aqueles que lêem e guardam as exortações no livro
ii. Em 13:13 ele abençoa aqueles que morrem no Senhor
iii. Em 16:15 abençoado é aqueles que “permanece vigilante e conserva consigo as suas vestes”
iv. Em 19:9 a bênção pertence aos “convidados para o banquete do casamento do Cordeiro”
v. Em 20:6 são “os que participam da primeira ressurreição”
vi. Em 22:7 se refere “aquele que guarda as palavras da profecia deste livro”
vii. Em 22:14 temos “Felizes os que lavam as suas vestes”
O tema que une as bem-aventuranças é a necessidade de permanecer fiel ao Senhor para participar na
ressurreição para a vida eterna. Nessa última bem-aventurança a linguagem é parecida com 7:14 onde
os santos vitoriosos são descritos como aqueles que “lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue
do Cordeiro”. Ali também o lavar das vestes fala de reavivamento espiritual = livrar-se da sujeira
acumulada deste mundo e viver uma vida pura diante de Deus. Essa lavar (pres.) é uma atividade
contínua que aparece em diversos textos. Geralmente roupas brancas são usadas para os santos
vitoriosos. Em 7:14 as roupas são lavadas no sangue do Cordeiro, que é a base para a vida vitoriosa
(Osborne 2002, 789-90). Cristo dá àqueles que lavam suas vestes autoridade sobre a árvore da vida =
eles têm vida eterna. Adão e Eva tinham acesso a essa árvore, mas não a autoridade. Na eternidade os
santos terão acesso direto aos 12 tipos de frutos (22:2) e também para entrar na porta da cidade. As
portas da Nova Jerusalém nunca serão fechadas e através delas as nações trazem sua glória para dentro
da cidade. Por outro lado o impuro, o falso o abominável não pode entrar. Assim temos uma figura de
paz e segurança total (Osborne 2002, 790). Em contraste está o castigo dos maus (22:15). Os justos
entram na cidade pelas portas, enquanto os maus estão fora da cidade. Isso não significa que ficarão nos
subúrbios da cidade santa. Isso se refere a Jesus que foi crucificado fora da cidade e a necessidade para
ele sair do acampamento (Hb 13:12-13) o que no NT significava a maldição para o blasfemador que era
cortado da comunidade da aliança (Lev 24:14, 23; Num 15:36). Assim o conceito era de exclusão e
vergonha, talvez com a idéia do Vale de Hinom (Geena) onde o lixo era queimado fora dos muros de
Jerusalém (Osborne 2002, 790). Há alguns itens no catálogo dos pecados sendo que os últimos 5 (os
que praticam feitiçaria, os que cometem imoralidades sexuais, os assassinos, os idólatras e todos os
que amam e praticam a mentira) são encontrados na lista de 21:8 descrevendo aqueles cujo destino é o
lago de fogo. O destino daqueles que rejeitam a Cristo é vergonha (22:15) e castigo eterno (21:8).
Como em 21:8 essa lista sumariza os pecados nas nações (no Apocalipse) que trouxeram a ira de Deus
sobre eles. Primeiramente são descritos como cães, usado para os tolos (Prov 26:11) e os governantes
gananciosos (Is 56:10-11). No tempo de Jesus os judeus chamavam os gentios de cães e ele ordenou
que os discípulos não dessem as verdades sagradas do evangelho para os cães (Mt 7:6), para aqueles
que trataram o evangelho com desprezo. Paulo descreve os mestres judaizantes como cães (Fp 3:2) e
Pedro o usa para descrever os apóstatas (2 Pe 2:22). Aqui poderia se referir aos falsos mestres e seus
seguidores (Ap 2:14-15, 20-23), aqueles que se dizem cristãos, mas são mentirosos, mas provavelmente
204
se trata daqueles que resistem a vontade de Deus e se enrolam com demonismo e falsidade. Inclui os
cristãos falsos, mas não se restringe a eles. Pode até ser que a combinação entre cães e os imorais possa
se referir a prostitutos masculinos. O item final da lista é composto por aqueles que amam e praticam a
mentira/falsidade. Já que Satanás é o pai da mentira, estas pessoas estão ligadas com ele de maneira
especial. Os fiéis não mentem, pois não há espaço para isso na cidade celestial. Aqueles que amam e
praticam a falsidade não têm lugar no céu (Osborne 2002, 791)
d. Jesus envia revelação às igrejas (22:16). Esse é um paralelo a 1:1-2 onde Deus passou a revelação a
Jesus que enviou seu anjo com ela. Aqui Jesus diz que enviou seu anjo para os leitores. Um rei enviava
suas mensagens atraves de um mensageiro. Aqui o anjo autentica a mensagem que vem de Jesus. O
propósito é dar testemunho para as igrejas que sofrem na terra. O testemunho é dado a “vocês”, que
poderiam ser as próprias igrejas, ou então a um grupo de profetas que auxiliavam João a divulgar as
mensagens para as 7 igrejas e as outras nas imediações. Esta última parece melhor (Osborne 2002, 791-
92)
e. A continuação da identidade de Jesus. Já vimos que os títulos Alfa e Ômega e o Primeiro e o Último
apontam para o “eu sou”. Aqui temos mais um. Jesus se identifica como “sou a Raiz e o Descendente
de Davi”. Em 5:5 ele é a raiz de Davi uma metáfora militar que vem de Is 11:1, 10 que para os judeus
era o Messias Guerreiro que destruiria os inimigos. Essa imagem continua aqui onde Davi vai julgar os
maus (v.11, 15). Aqui também se fala que é o descendente de Davi, sendo o cumprimento da esperança
messiânica davidiana. Depois ele é identificado como “a resplandecente Estrela da Manhã”, também
um título messiânico que vem de Num 24:17. Esses títulos apontam para a natureza messiânica e glória
de Jesus, mas também do seu grande poder sobre os maus (Osborne 2002, 792-93)
f. O clamor pela parousia (22:17). Podemos ter um chamado do Espírito e da igreja para que Jesus volte
(se encaixa com o contexto maior do livro). Ou temos um chamado aos leitores que têm sede que venham
beber da água que Cristo dá. Esse é o recado missionário do livro. O Espírito e a igreja convidam o
leitor a vir a Jesus. O Espírito deve estar falando através dos profetas e a igreja de todos os tempos. Os
cristãos falsos e os incrédulos são chamados a vir a Jesus prontos para ouvir e tomar uma decisão
baseado no que ouvem (esse seria o contexto mais imediato), favorecido por Osborne. Os leitores são
chamados a avaliar se estão com sede e desejosos da água da vida que é oferecida gratuitamente.
Possivelmente se trata de um chamado dos incrédulos para vir a Jesus e dos crentes a um compromisso
mais sério com ele. Um dos objetivos do livro é chamar a atenção daqueles que estão se afastando de
Cristo para que voltem à comunhão com ele e evangelizar os perdidos (Osborne 2002, 793-94)
g. Advertência contra acrescentar ou tirar algo do livro (22:18-19). Possivelmente temos Jesus falando
aqui para autenticar as profecias e evitar que os falsos profetas fiquem modificando as profecias
contidas no livro. Provavelmente o pano de fundo é Deut 4:2 “Nada acrescentem às palavras que eu
lhes ordeno e delas nada retirem, mas obedeçam aos mandamentos do SENHOR, o seu Deus, que eu
lhes ordeno” e talvez Deut 12:32 “Apliquem-se a fazer tudo o que eu lhes ordeno; não acrescentem
nem tirem coisa alguma”. Ali as leis vinham diretamente de Yahweh e não deveriam ser suplementadas
ou reduzidas. Deveria ser aceito e obedecido no todo. Aqui Cristo adverte os falsos profetas que
distorcem o significado das profecias acrescentando seu próprio ensinamento ou removendo o ensino
que Deus colocou. Isso era voltado contra os problemas que as igrejas enfrentavam nos seus dias. Mas
como aplicar as penas impostas por Jesus. Isso certamente não pode se referir a interpretações
diferentes como as temos hoje, como as posições teológicas quanto à volta de Cristo. Trata-se dos
heréticos que usam o livro para reestruturar a vida cristã como fazem algumas seitas. A mensagem é
enviada a todos “todos os que ouvem as palavras da profecia”. Assim é um grande desafio ensinar algo
sobre este livro, mas também a cada pessoa que ouve a mensagem. Todos somos responsáveis por
interpretar a Bíblia. Para pessoas que interpretam a mensagem diferente da intenção divina existe uma
promessa: a reversão da bem-aventurança, da mesma forma como ocorria com a Torah (Num 5:23;
Deut 29:20). Trata-se de uma maldição condicional, similar a Gal 1:8-9 “Se alguém lhes anuncia um
evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado!” É Deus quem vai cumprir essa
promessa. Aqueles que entortam as profecias inspiradas por Deus para seus próprios fins sofrerão as
conseqüências de acordo com o seu pecado. Se acrescentarem algo, Deus vai acrescentar as pragas
descritas no livro, como os cavaleiros demoníacos (9:18, 20), etc. Eles serão tratados como incrédulos e
sofrerão os castigos prometidos a eles (castigo terreno). Se eles tirarem o significado de Deus, Deus
tirará deles a parte que têm na vida eterna. Isso significa morte eterna no lago de fogo (castigo eterno).
Isso implica que os membros das igrejas devem ser advertidos quanto a distorcer a palavra de Deus.
Aqui isso equivale à apostasia (Osborne 2002, 794-97)
h. Clamor pela volta de Cristo (22:20). Jesus é visto outra vez como aquele que dá testemunho, como a
fonte das profecias. Jesus diz que volta em breve. O livro todo fala dos eventos que se iniciam com
205
relação ao fim dos tempos e sua volta. Agora Jesus diz que voltará em breve. A resposta das pessoas
é Amém. Venha Jesus. A volta de Jesus é tanto uma promessa quanto uma advertência.

7. Qual o significado da bênção final do livro?


- a graça do Senhor vai capacitar as pessoas a obedecer às ordens e perseverar em suas situações complicadas. O
livro apontou os problemas pelos quais as igrejas estavam passando e as soluções de Deus para elas. Agora João
pede que a graça seja com todos, não somente para as 7 igrejas, mas para todos os ouvintes. A graça de Deus
está disponível para todos os que estão abertos para as verdades do livro, tanto cristãos, quanto não-cristãos
(Osborne 2002, 798)
206

Instruções de Sobrevivência (mantenha em local seguro para consultas futuras)

Não entre em PÂNICO ... quando num desses dias (ou noites) milhões de cristãos desaparecerem de forma repentina da
face da terra! Esse evento será o ARREBATAMENTO como descrito na Bíblia, a Palavra de Deus, em 1 Co 15:51-52 e 1
Ts 4:16-17. Será MUITO TARDE, para aqueles que ficarem sobre a Terra, para evitar os terríveis 7 anos do “Julgamento
da Tribulação”. O PÂNICO não vai ajudar! Se você ficou na terra depois do ARREBATAMENTO, você deve se
concentrar na sua SOBREVIVÊNCIA e de sua família, se eles também ficaram na terra.
1. PREPARE-SE PARA UMA GUERRA GLOBAL, possivelmente guerra nuclear e uma FOME GLOBAL (Mt 24:6-7;
Ap 6:4-8)
2. ABANDONE A CIDADE durante a Tribulação. Muitos, talvez a maioria das cidades será destruída (Ap 16:18-19)
3. EVITE MONTANHAS E ILHAS. Estas também serão destruídas (Ap 16:20)
4. EVITE OCEANOS. Todo ser que vive nos oceanos será morto (Ap 8:9; 16:3)
5. FAÇA PROVISÕES para um suprimento de 7 anos de comida e água (Ap 6:8; 16:4)
6. PREVINA-SE E PROTEJA-SE de pessoas famintas e animais selvagens (Ap 6:8; 9:20-21)
7. SUA MORADIA deve ser capaz de suportar calor intenso, terremotos severos e forte granizo, de até 40 kg cada pedra
(Ap 16:8-9, 18-20)
8. TOME CUIDADO COM PESSOAS CONTROLADAS POR DEMÔNIOS E OUTRAS CRIATURAS que circularão
pela terra para torturar a matar muitos, muitos milhões de pessoas (Ap 9:1-18)
9. NÃO ACEITE A MARCA DE IDENTIFICAÇÃO DO LÍDER MUNDIAL E NÃO O ADORE de modo nenhum! Isso
pode trazer um alívio temporário para a sua situação miserável, mas trará a você a DESTRUIÇÃO ETERNA (Ap
14:9-11)
10. DE ALGUMA FORMA, VOCÊ DEVE EVITAR EXPOSIÇÃO PÚBLICA! Sem a marca de identificação do líder
mundial você não pode comprar comida ou suprimentos mesmo. Se você for pego SEM a marca, tentando comprar
alimentos, etc., você será morto pelo líder mundial (Ap 13:13-18)
11. SE VOCÊ SOBREVIVER os 7 anos da Tribulação será um SUPER MILAGRE!!! Mesmo que sobreviva, mas aceitou
a marca do líder mundial E O ADOROU, você será morto e separado de Deus eternamente no lago de fogo (Ap 19:20-
21)
12. AVISE AS PESSOAS QUE AMA sobre esses EVENTOS VINDOUROS ... Deve ser óbvio para você agora, que a
SOBREVIVÊNCIA na Tribulação É PRATICAMENTE IMPOSSIVEL (Mt 24:21-22)

Os preparativos para sobreviver EM MEIO aos 7 anos vindouros da Tribulação são praticamente inúteis, mas há
ESPERANÇA ... SE você está lendo esse folheto ANTES do início dos eventos. A Bíblia não somente nos alerta sobre
esses eventos vindouros, mas também nos diz como EVITÁ-LOS. A ÚNICA SEGURANÇA é ter o perdão dos pecados e
um relacionamento correto com Deus ANTES do início desses eventos! (Survival Instructions da Bible Believers’
Evangelistic Association – Sherman, Texas)
207
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