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Memórias sobre o colonialismo

europeu na África
Sebastião André Alves de Lima Filho
ACHEBE, Chinua. A educação de uma
criança sob o protetorado britânico. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Preciso manter a pro- A promessa não cumprida


messa de não fazer um
contida neste excerto, escrita
discurso sobre o colo-
nialismo. Mas vou ex- pelo nigeriano Chinua Achebe
pressar, com palavras sobre as consequências do
simples, qual é a minha colonialismo europeu na África,
objeção fundamental ao
domínio colonial. A meu ecoa nos dezesseis ensaios que
ver, é um grave crime compõem a obra de sua autoria,
qualquer pessoa se im- intitulada A educação de uma
por a outra, apropriar-
-se de sua terra e de sua
criança sob o protetorado britâ-
história, e ainda agravar nico. A partir da descrição de
esse crime com a ale- eventos que experimentou, ou
gação de que a vítima é
presenciou na Nigéria domina-
uma espécie de tutelado
ou menor de idade que da pelos britânicos, os escritos
necessita de proteção. É ensaísticos de Achebe narram,
uma mentira total e deli- principalmente, as consequên-
berada. Parece que até o
agressor sabe disso, e é cias da interferência estrangei-
por essa razão que ele às ra no ritmo de vida social das
vezes procura camuflar populações africanas.
seu banditismo com es-
sa hipocrisia tão desca-
Chinua Achebe é
rada.” (Chinua Achebe). considerado um dos mais
importantes escritores de lite-
ratura africana do século XX.
Nascido na Nigéria em novem-
Sebastião André Alves de bro de 1930, cresceu testemu-
Lima Filho nhando os efeitos trágicos da
Professor Adjunto da UNILAB
e pesquisador do Observatório
Partilha da África pelas potên-
das Nacionalidades. cias europeias. Espectador

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atento dos dilemas da vida descobrimento do mundo e de


social em ebulição por conta socialização. Como já indicado,
da presença “dos brancos”, o cenário que define as frontei-
Achebe vivenciou as profundas ras das suas recordações é o
mudanças verificadas na estru- sistema colonial britânico, que
tura social na aldeia de Ogidi, avança lentamente, como o
na qual nascera, bem como Rio Níger, no território africano
assistiu, do lugar privilegia- nomeado de Nigéria.
do, a luta de independência da Assim, quando começa a
Nigéria encenada no palco da descrever a cultura e os traços
história montado pelos impe- de identidade da etnia à qual
rialistas britânicos. pertence – os igbo –, não deixa
De fato, a história de vida de lembrar o impacto do colo-
de Chinua Achebe desloca-se nialismo na vida da comunida-
próximo das transformações de. Achebe (2012) compara de
políticas, sociais, econômi- lampejo o casamento igbo com
cas e culturais que sacudiram o colonialismo.
a Nigéria e a África a partir
da segunda metade do século Os igbo não têm fanta-
XX, favorecendo o acúmulo de sias otimistas sobre o
conhecimentos e experiências mundo. Sua poesia não
celebra o amor român-
acerca da introdução de novas
tico. Eles têm um pro-
instituições e percepções nas vérbio, que minha mu-
sociedades africanas oriun- lher detesta, no qual a
mulher diz que não faz
das de sistemas sociais exóge-
questão de ser amada
nos. É com base nesse cabedal pelo marido, contanto
de informação acumulado ao que ele ponha inhame
longo da sua existência que na mesa do almoço to-
dos os dias. [...] O do-
Achebe preenche os ensaios mínio colonial foi mais
integrantes do livro A educação forte do que qualquer
de uma criança sob o protetora- casamento. Os igbo luta-
ram contra ele no campo
do britânico.
de batalha e perderam.
O primeiro ensaio, que é Ergueram todas as bar-
batizado com o título do livro, ricadas possíveis para
detê-los, e perderam no-
resgata cenas, lembranças e
vamente ( p. 16).
dilemas de vida do autor atra-
vés da sua jornada juvenil de

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O impacto do colonialismo da Igreja romana na Nigéria é


na vida dos africanos parece que apontada.
atormentou a pena de Chinua Foi pura desfaçatez mi-
Achebe quando escreveu nha sugerir, no início
os ensaios componetes da deste relato, uma com-
paração entre minha in-
obra. O tema da disputa de significante história e a
orientações de mundo entre história de Moisés. Seria
o colonizador e o colonizado como um pirilampo se
comparar à luta cheia.
baliza o conjunto dos escritos.
Peço desculpas. Eu me
No ensaio primeiro e no sétimo, deixei levar pelo entu-
intitulado “Dizendo nosso siasmo. Mas é verdade
que a aldeia de Ogidi
verdadeiro nome”, o papel que
me vigiava, de maneira
a religião cristã desempenhou sub-reptícia, através do
na sedução dos espíritos dos exílio do cristianismo.
povos autóctones da África, Meu rio, porém, não era
o Nilo, e sim o Níger. De
conduzidos no labirinto da vida fato, nosso título oficial
social por outros elementos de era “diocese no Níger”.
representação simbólica e ritual Não “do Níger”, mas
“no”. Nosso bispo era
que animavam a religiosidade
bispo no Níger ( p. 21).
africana, é mencionado.

É bem conhecida a discus- Em outras narrativas, o


são sobre a função da cruz e papel social da cristianização
dos evangelhos na estratégia dos africanos da aldeia de
de dominação dos europeus na Ogidi é detalhado a partir das
África. Embora Chinua Achebe sinuosas vias entre o que é
não descreva as características considerado sagrado e profano
da “personalidade cristã” nas e a assimilação do ethos cristão.
suas digressões sobre a influên-
Entre a igreja e a aldeia,
cia do cristianismo na África, de havia por vezes uma di-
maneira geral, e na Nigéria, em ferença de assunto na
particular, um traço não escapa linguagem falada, mas
não na maneira de se
das suas memórias: a persis- expressar. Em ambas
tência incansável em converter havia grandes oradores.
almas em nome de Roma. Os cristãos da geração
do meu pai, que prega-
Com efeito, em muitas passa- vam aos domingos na
gens de memórias, a descri- igreja de Saint Philip,
ção da presença e influência não eram oradores, mas

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um bom número de- os rituais sagrados praticados


les era. Embora a Igreja na metrópole. Introduziu,
Anglicana, numa tenta-
tiva equivocada de unifi- também, os “rituais profanos”,
cação, tivesse desferido como o Dia do Império.
um duro golpe contra
a língua igbo, impondo Chinua Achebe narra, em
a ela um mecânico dia- detalhes, quais foram suas
leto de união, essa lin- impressões no “seu primeiro
guagem híbrida assim
criada ficava confinada Dia do Império”. Lembra que
entre as duas capas da o evento mobilizava todo o
Bíblia, e não vinha co- distrito. As escolas preparavam
locar peias no estilo dos
pregadores mais sen-
desfiles, competições espor-
satos, depois que liam tivas eram travadas, danças
seu texto obrigatório e e músicas animavam as cele-
fechavam a Bíblia. Um
brações dos conquistadores
desses pregadores era
conhecido por subir ao diante do governador britâni-
púlpito na época das co da colônia, postado em um
festividades da aldeia e estrado elevado, vestido com
alertar os verdadeiros
crentes contra o mal de “seu uniforme cerimonial todo
aceitar doações de ali- branco, luvas brancas, capa-
mentos passados sub- cete emplumado e espada na
-repticiamente por cima
do muro por vizinhos
cintura”.
pagãos. Obviamente, O Dia do Império era come-
havia um trânsito inten- morado em 24 de maio. Nessa
so nessas passagens.
mesma data, celebrava-se o
Os cristãos tinham suas
próprias festas, é claro: a aniversário da rainha Vitória. A
grande, o Natal, e a pe- unificação dos dois eventos em
quena, a Páscoa, embo- uma só data expressava profun-
ra os ministros sempre
nos dissessem que era o do simbolismo na dinâmica de
contrário ( p. 23). poder do Estado britânico que
acompanhou o imaginário polí-
Achebe nos faz lembrar que tico daqueles que desenharam
o colonialismo impusera, por os quadrantes da administração
conta da evangelização, uma colonial do Império Britânico.
variedade de ritos sagrados. No Ao que tudo indica, a cons-
entanto, o escritor nigeriano trução da ideia de “império
anota que o colonizador britânico” aglutinou-se ao
britânico não importou apenas conceito de “os dois corpos do

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rei”, herança dos fundamen- se baseava apenas nos discur-


tos da monarquia inglesa que sos que enfatizavam a supe-
remonta aos tratados de teolo- rioridade racial e civilizacio-
gia política medieval. Como nal dos brancos. Orientava-se,
bem lembrou Kantorowicz também, pela difusão de tradi-
(1998, p. 23), ções que sustentavam a realeza
Na Inglaterra do século britânica.
XVI, uma questão legal O olhar de Chinua Achebe
relativamente simples recai sobre as práticas e as
podia, muitas vezes, le-
estratégias de poder usadas
var os juristas a discus-
sões que pareciam mais pelo colonialismo no intui-
apropriadas a um teó- to de garantir a dominação de
logo se não dissessem grandes regiões do continente
respeito à pessoa do rei,
ou, mais exatamente,
africano. O manejo de rituais,
aos dois corpos do rei. cerimônias, comemorações de
Segundo uma doutrina eventos cívicos que reforçavam
aceita por todos, o rei
a identidade nacional britâni-
possuía um corpo natu-
ral, como qualquer outro ca nas colônias, descritos por
homem, e, além disso, Achebe, favorecia a assimila-
um “corpo místico”, in- ção dos autóctones ao campo
visível e imortal, incapaz
de influência dos britânicos.
de qualquer imperfeição.
Os Dois Corpos do Rei, As memórias que Chinua
dessa forma, constituem Achebe narra em seu livro são
uma unidade indivisível, eventos que resultaram de um
sendo cada um inteira-
mente contido no outro.
prolongado processo de coloni-
Entretanto, não pode ha- zação e expropriação de gran-
ver dúvida em relação à des contingentes populacio-
superioridade do corpo
nais. As lembranças narradas
político sobre o corpo
natural. são fragmentos de contextos
sociais profundamente alte-
Nas impressões descritas rados em virtude da chegada
por Chinua Achebe acerca das de colonizadores europeus na
peculiaridades da organização África. Suas narrativas forne-
social e política do Protetorado cem elementos de compreen-
Britânico na Nigéria a busca são das engrenagens postas
de legitimidade dos coloniza- em movimento pelo colonialis-
dores britânicos na África não mo no intento de romper com

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as configurações sociais das da ideia de identidade nacional,


sociedades africanas. assimilado a partir das práticas
O conceito de “desencaixe”, políticas dos colonizadores.
de Anthony Giddens (1991), O paradoxo de Biafra
poderia ser utilizado para era que os próprios igbo
guiar o entendimento de como tinham, de início, defen-
dido a ideia de uma na-
o “choque de civilizações” ção nigeriana com mais
provocou profundas rupturas entusiasmo que outros
nas orientações de mundo dos nigerianos. Prova disso
é que os britânicos joga-
povos nigerianos descritas por
ram mais igbo na prisão
Chinua Achebe. Do mesmo por sublevação do que
modo, a noção de “desencra- qualquer outra etnia du-
rante as duas décadas
ve”, de Pierre Chaunu (1984),
de agitações e revol-
serve de amparo teórico no tas pré-independência.
sentido de compreender a dinâ- Assim, os igbo esta-
mica social a partir do conta- vam em primeiro lugar
na frente nacionalista
to entre europeus e africanos. quando a Grã-Bretanha
Ambos os conceitos indicam finalmente concedeu a
a desarticulação de crenças, independência à Nigéria
em 1960 – um gesto que,
valores e visões de mundo que
quando se olha para
sustentavam as estruturas das trás, parece um golpe de
organizações sociais dos afri- mestre: fazer uma retira-
da tática para conseguir
canos da Nigéria.
uma suprema vantagem
Todo processo de “desen- estratégica.
caixe” das relações sociais
E continua a descrever, com
fomenta a construção de novos
fortes tonalidades de decepção,
elementos de orientação no
as consequências de construir,
mundo social, provocando
na Nigéria, um Estado-nação de
“reencaixes” de crenças, valo-
acordo com a arquitetura políti-
res e percepções de mundo no
ca ocidental.
tecido social em redefinição.
Em uma passagem do ensaio Meu sentimento em re-
lação à Nigéria foi de
intitulado O que é a Nigéria
profunda decepção. Não
para mim?, Achebe (2012, p.48) porque havia gangues
descreve o traumático processo caçando e matando civis
de “reencaixe” no sistema polí- inocentes com a mais
brutal selvageria em
tico nigeriano com a introdução muitas partes do norte

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da Nigéria, mas porque colonialismo no intuito de legi-


o governo federal nada timar a ocupação da África,
fez, deixando isso acon-
tecer. Como o Estado com a finalidade de extorquir
não cumpriu sua obri- os recursos naturais do conti-
gação básica para com nente. Uma dessas estratégias,
seus cidadãos, a conse-
quência foi a secessão
já teorizada por Edward Said
do leste da Nigéria, ori- (2011), era o uso da literatu-
ginando a República de ra como meio de hierarqui-
Biafra. Naquele momen-
zar, inferiormente, as práticas
to, o colapso da Nigéria
só foi evitado pelo apoio sociais dos povos africanos.
ativo da Grã-Bretanha, Há várias alusões, por
diplomático e militar, exemplo, ao livro de Joseph
à sua colônia-modelo.
Foi a Grã-Bretanha e a Conrad, Coração das trevas. O
União Soviética que, jun- que objetiva Chinua Achebe ao
tas, esmagaram o nas- citar o livro do escritor inglês?
cente Estado de Biafra.
No fim dessa guerra de
Desconstruir a visão bárba-
trinta meses, Biafra era ra e selvagem que as palavras
um imenso monte de en- de Conrad lançaram sobre as
tulho fumegante. O cus-
sociedades africanas. Porém,
to em vidas humanas foi
escandaloso: 2 milhões Achebe não apaga o fundo de
de almas, em uma das verdade desenhado por Conrad
mais sangrentas guerras com base nas suas experi-
civis da história humana
( p. 51). ências, como marinheiro, no
Congo do rei Leopoldo.
Apesar do título, o livro de A descrição da violência
Chinua Achebe pouco descre- semeada na África pelo colo-
ve o papel da educação de nialismo, detalhada por Joseph
uma criança sob o protetorado Conrad em um estilo literário
britânico. O principal tema a totalmente oposto ao compor-
perpassar todos os ensaios é o tamento humano que presen-
da dinâmica da violência, física ciou nas margens do Rio Congo,
e simbólica, do colonialismo se tornou um dos mais conhe-
europeu na África. cidos testemunhos da maldade
De fato, a reflexão de Chinua humana no cobiçado conti-
recai, várias vezes, sobre as nente africano. Como anotou
estratégias de desumaniza- Hochschild (1999, p. 153),
ção dos africanos usadas pelo

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O coração das trevas é a perpassar todos os escritos, é a


experiência [...] levada questão de encontrar as respos-
um pouco (e muito
pouco) para além dos tas para os dilemas do “viver
fatos reais referentes africano”, em um mundo cada
ao caso. Quaisquer vez mais sitiado pelo modo de
que sejam os níveis de
significado que tenha o
vida do mundo ocidental.
livro, como literatura, É esta a nossa conclusão ao
para nossos propósitos o ler o ensaio intitulado A África
notável é a precisão e a
é gente de verdade. Talvez este
descrição detalhada dos
fatos reais referentes ensaio seja a síntese de todos
ao caso: o Congo do rei os outros. Nele, Chinua Achebe
Leopoldo, em 1890, as- ecoa “aos donos do mundo”
sim como a exploração
que o problema que mais asfi-
do território, tinha co-
meçado para valer. xia os africanos não é de matiz
econômica, política ou cultural.
Implicitamente, Chinua Pelos menos não compreendido
Achebe toma como ponto de separadamente. A África não
partida das suas reflexões, em deve ser vista como um conti-
quase todos os ensaios, as nente homogêneo de países,
consequências do momento em insensivelmente congelado no
que o colonialismo britânico tempo em mapas traçados arbi-
tinha começado na Nigéria. trariamente pelos colonialistas
É como se em cada ensaio do século XIX. Pelo contrário,
encontrássemos as digitais do é um lugar de indivíduos reais,
livro de Achebe O mundo se modos de vida cujos significa-
despedaça, no qual sintetiza os dos sociais que atribuem às
efeitos da conquista britânica suas ações jamais entendere-
da sua região. mos em sua totalidade, cujas
vidas são desperdiçadas pelos
Por isso nos ensaios, apesar problemas ora descritos, mas
de abordar um leque díspare de que não se resume a eles.
temas, como as peculiaridades Outro ensaio a chamar a
da cultura igbo, a importância atenção, e que complementa
ou não da língua inglesa para os demais, é O nome difamado
o reconhecimento da literatura da África, onde Chinua Achebe
africana, até a imagem deturpa- examina o legado histórico de
da da África em livros infantis, séculos de espoliação colonia-
o denominador comum, que lista, além de discorrer sobre

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a construção da imagem que e degradantes da África


realça o continente africano passou para o cinema,
o jornalismo, certos ra-
como um todo compacto, reco- mos da antropologia e
nhecido apenas pelo primitivis- até mesmo para o hu-
mo, guerras genocidas e misé- manismo e o trabalho
missionário.
ria que assola as sociedades
que habitam o continente. A importância do livro
O referido ensaio pode de Chinua Achebe reside na
ser compreendido como uma capacidade de desconstruir a
síntese dos eventos desenca- imagem da África como um
deados pelo processo histórico espaço de vida social alheio à
de longa duração, que fizeram dignidade humana. Os ensaios
da África um continente conde- são, também, fragmentos resu-
nado a representar, no palco midos de um quebra-cabeça
da história, apenas o lado mais que mostra o retrato fiel da
tenebroso das atitudes huma- cobiça do civilizado no percur-
nas. Achebe resume (2012, p. so de espoliação de milhões de
84) com as seguintes palavras: africanos.
O vasto arsenal de ima-
gens depreciativas da Referências
África que foram cole- ACHEBE, C.________________. O
tadas para defender o mundo se despedaça. São
tráfico de escravos e,
Paulo: Companhia das Letras,
mais tarde, deu ao mun-
do uma tradição literária 2012.
que agora, felizmente,
CHAUNU, P. Conquista
está extinta, mas deu
também uma maneira e exploração de novos
particular de olhar [ou mundos. São Paulo: Editora da
melhor, de não olhar] USP, 1984.
a África e os africanos
que, infelizmente, per- GIDDENS, A. As conseqüências
dura até hoje. Assim, da modernidade. São Paulo:
apesar de os impressio- Editora da UNESP, 1991.
nantes romances “afri-
canos”, tão populares HOCHSCHILD, A. O fantasma
no século XIX e início do rei Leopoldo. São Paulo:
do século XX, terem ra-
Companhia das Letras, 1999.
reado até praticamente
acabar, a obsessão se-
cular que revelam pelos
estereótipos escabrosos KANTOROWICZ, E. H. Os

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dois corpos do rei. Um


estudo sobre teologia
política medieval. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998.
SAID, E. Cultura e
imperialismo. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.

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