Resumo
PALAVRAS-CHAVE
INTRODUÇÃO
Um dos maiores desafios do designer digital no ciclo de vida de um projeto,
é a passagem entre os conceitos abstratos envolvidos e a materialidade; a forma, o
conteúdo, o projeto de navegação e interação. Quando esta proposição é apresentada
em sala de aula, em especial para alunos que estão iniciando o curso de graduação em
Design Digital1, é preciso articular estes conceitos, que podem ser os mais diversos,
com as demandas de um público alvo, e conformar soluções a partir dos limites e
especificidades do suporte digital. Neste processo, são apresentadas metodologias
projetuais e técnicas que os auxiliam a sistematizar e refletir para efetuarem escolhas
cada vez mais coerentes dentro do ciclo de vida deste projeto.
Neste artigo abordaremos algumas metodologias projetuais em design com o
intuito de contextualizar o projeto acadêmico desenvolvido com os discentes, sem
apresentar os requisitos técnicos necessários para a concepção de interfaces gráficas,
pois nos interessa expor a utilização de uma técnica específica para suporte da tradução
de conceitos abstratos verbais em discursos visuais.
O ensino da prática projetual, por meio dos paineis semânticos, visa organizar
as imagens referenciais coletadas (tomando como base palavras-chave) para então
estabelecer quais características visuais são relevantes e adequados ao projeto.
Embora esta técnica seja cada vez mais difundida entre designers, gostaríamos de
propor uma abordagem que auxilie especificamente os alunos que partem de algumas
premissas acadêmicas para a prática projetual.
Primeiramente abordamos a relação existente entre pesquisa científica e
metodologia projetual em design como etapas cruciais na conceituação do projeto. Em
seguida, discorreremos sobre o conceito de painel semântico, seus desdobramentos e
finalmente apresentamos um breve estudo de caso que reflete o uso desta técnica em
sala de aula.
1 Estudo realizado com alunos de 2º semestre em 2012 do Curso de Design Digital da Universidade Anhembi
Morumbi, na disciplina de orientação para o Projeto Interdisciplinar que reúne competências das disciplinas
correntes.
2 Adotaremos aqui, como definição o conceito de “que podemos deduzir o design como uma idéia, projeto
ou um plano para a solução de um problema determinado. O design consistiria então, na corporificação
desta idéia” (LÖBACH, 2001,p.16).
3 Sabemos que metodologias contemporâneas não abordam com rigidez etapas projetuais que se sucedem,
porém é necessário lembrar que o estudo de caso refere-se a alunos em início de curso e, portanto, optamos
por algo mais palatável a eles.
4 http://moodstream.gettyimages.com/
5 http://www.moodshare.co/
6 http://pinterest.com/
Este processo tem o caráter iterativo (Figura 1), onde após as definições
geradas pelo brainstorming, vem a coleta de imagens, seleção, organização visual no
painel e reflexão. Este processo cíclico promove refinamento e esclarecimento das
proposições das características do projeto.
É inegável as diferenças entre os envolvidos no painel semântico diante das
experiências pessoais, formações culturais e educacionais, e de acordo com com
Edwards, et al. (2009) este pode ser um ponto negativo da técnica pois,
Dentro da sala de aula, embora tenhamos equipes mais homogêneas este fato
pode também ocorrer, porém, cabe ao facilitador (neste caso o professor orientador)
conduzir este processo, que é iterativo, estimulando a reflexão sobre as imagens e
com isso procurando mediar as diferenças dentro da equipe, para que as mesmas
enriqueçam e complexifiquem o processo.
Descrevemos neste tópico a maneira mais difundida de conceber os painéis
semânticos, e no próximo item pretende-se discorrer sobre como este processo é
conduzido em sala de aula, juntamente com nossos alunos, a fim de suprir necessidades
pedagógicas específicas e tornando mais acessível o aprendizado da prática projetual
em sala de aula.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No ensino da prática projetual em design se faz crucial que os alunos percebam,
reflitam e incorporem as técnicas metodológicas utilizadas a fim de que, mais que
etapas a serem cumpridas, e sim que haja uma reflexão em cada uma delas para que
não haja uma automatização destes processos e com isso a atitude projetual se torne
apenas um check-list de tarefas.
Tenta-se evitar uma leitura literal das referencias visuais por parte dos alunos
pois estas podem induzí-los ao erro. Ao estabelecer relações diretas, pontuando a
obviedade formal das imagens corre-se o risco, por exemplo, de propor que a interface
gráfica seja monocromática ou sépia pois as imagens referenciais são antigas e
desgastadas pelo tempo, abandonando o conteúdo presente nas mesmas. Assim, o foco
estaria equivocadamente nas questões formais e não nas conceituais ou contextuais,
que julga-se mais fundamentais neste processo. O uso de painéis semânticos com base
em palavras-chave, que descrevem características formais em vez de conceitos, não
propiciam a abrangência e consistencia necessárias para a criação autoral.
Sabemos que as técnicas metodológicas podem gerar resultados variados
dependendo de alguns fatores como a composição da equipe de trabalho e as
características do objeto de estudo. Também, não propomos que haja um único
método ou uma única técnica metodológica ao longo da prática projetual. Desejamos
sim, refletir sobre a relevancia da construção dos painéis semânticos para garantir
projetual mais consistente.
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