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Manoel Luiz Salgado Guimaraes HISTORIA, MEMORIA E PATRIMONIQ 1. 0 PROBLEMA 1a repretntocién del prado que ve hace smayoria dela gente ew forme de vive el tempo preseoe (Ballart, 2002131) Numa noite fia de um sibado chavoso, ‘uma pequena multidio aguardava na fla ahora de entrar no mais recente muses criado na cidade de Berlin. Aquelas pessoas aproveitavam o evento bianual promovide pelo organismo de cultura da cidade, que permite até de madrugadaa entrada nas principaisinstituictes muscolbgicas a um reso tinico © com acesso irrestito, nele incluido o transporte exclusivamente direcionado aos éiferentes percursos ruscolégicos. A Longa Noite dos Muscus, ‘em sua 22° edigSo em janeiro de 2008, ‘eve come tema de time goer by... uma proposta de rfl sobre 6 tempo e sua [pessagem, em scus mais variados aspectos. A partir dos diversos acervos integrantes ddos museus da cidade, @ evento tem por objetivo sublinhar os aspectos relativos as rmudangas ¢ transformagiies implicadas pela passagem do tempo, desde a Antiguidade até of dias atuais. Um dia inteito dedicado A visita dos principais museus, alguns deles ccortamente referdncia mundial, no apenas por seu acervo, mas também pela concepsia :muscogrifica que expéem, Mas o visitante que se dspusesse a percorrer, nesse dia, 0 conjunto de acervos muscoldgicos da cidade rio teria o tempo necessirio para realizar tal empresa, tamanha a grandiosidade da oferta, O visitante experimentaria, na propria carne, os dilemas da passagem do tempo ~ sua falta impedindo-o de ver tudo, registrar tado, Contudo, a pequena multidio que aguarda na rua, sob condiges adversas, a entrada para © pequeno museu chama a atengio e nos leva a perguntar: 0 que parece atrair e despertar o interesse daquelas pessoas, diante da variedade de oferta de instituiges mais renomadas do que aquela? ‘Trata-se de um museu inteiramente dedicado antiga Repiblica Democritica Alem’ — 0 DDR Museum ~, que iniciou em 2006 suas atividades, oferecendo a0 vsitante um acervo voltado a reconstituir as condigdes de vida em sua acepgio mais completa — na antiga repiblica socalstaalem, O visitante levado a inteirarse da vida do outro lado do ‘Muro de Berlim a partir do eotidiano daquela sociedade: a escolarizagio, o mundo do trabalho, as formas de sociabilidade e de vida sob o regime socialista, Ponto alto do acervo, ‘um Trabant (ou Trabi, na linguagem popular) € 0 carro associado & imagem da Repitlica Democritica Alem, sonho de consumo no centio lado socialista. A diferensa: o visitante Revista po Parsimome HistOnico ¢ Aatistica NACIONAL a re ie ae ate Aaristico NACIONAL Isronico 9 Pus 2. ar ein pagent, om ge a pa eter 24 pS ae tn a dn pode toci-lo, sentar-se e mesmo ligar © automovel, “experimentando” un objeto dda“historia®, assim como pode fazé-lo em relagio 20 conjunto do acervo que tem diante de seus olhos. Menos do que sacralizados, ‘esses objetos parecem estar ali como sinais de um exotismo a que se pretende constranger as formas de vida e sociabilidade que conformando identidades coletivas ¢ formas 16 a Queda do Muro em 1989 esteve politicas (Figuras 1, 2 € 3), Ver o outro como exético nio necessariamente significa centendé-lo come historico, parece mesmo uma das formas de condeniclo a nio ser submetido a0 crivo eritico e interrogative da historia, Esse parece ser, no entanto, co atrativo maior do muscu em questio. a0 visitante, sobretudo para aqueles {que viveram a realidade de duas Alemanhas separadas por um muro, uma forma menos dolorida de lidar com uma ferida ainda aio cicatrizada, Perceptivel somente pelas austncias — © pouco espago conferido a0 periodo que correspondew & existéncia politica de dois estados alemies entre 1949 e 1989 no nove Musen de Histaria dda Alemanha a poucos metros do Museu da DDR —e pela presensa tornada exética ddesse passado recente com marcas visveis tna paisagem de uma cidade como Berlin Seria essa uma forma do “gosto pelos outros" ular de aque marcaria uma forma part stituigdo museologica, fundamentalmente aquelas voltadas para a exposigdo das cultaras extracuropeias? No caso especifica, esse outro tornado exético, objeto de um gosto possivel, era um cidadio de outro Estado, falante, contudo, de uma mesma lingua ¢ teoricamente tendo partilhaco um passado ‘igre dec ts de etn ema, eg ee cede. onde chenae oon dele Foetam, eis ‘Song rep ema ens) a ate ne Mas o que pretend exatamente essa instituigio dedicada a tornar o passado recente da Alemanka (de uma parte dela) um objeto muscoldgico e, por ‘esse caminho, uma forma de objeto das narrativas acerca do passado, 0 que nio implicaria necessariamente considers Ja uma narrativa de historia? F aqui um cesclarccimento que nos pareve necessiri: 4 distinso ora proposta nao esté baseada em uma pretensa maior cientificidade, objetividade e veracidade da narrativa historiea, em detrimento de outras formas proprias de nossa contemporaneidade de narrar o passado, Funda-se tio somente na distingZo necessaria entre formas de narrar, expor ¢ dar visibilidade a0 passado, que, certamente, guardam entre sirelagdes importantes e significativas uma ‘ver que nos remetem As interrogages sobre usos do passado, Retornaremos essa questio quando indicarmos algumas das importantes relagdes entre fo nascimento da histéria como disciplina académica, no séeulo XIX, ¢ @ patriménio ‘como preocupasio da politica dos estados nacionais modernos baseada em Revista po Parsimome HistOnico ¢ Aatistica NACIONAL intervengSes fundadas num conhecimento gue se tornou também disciplinar. “Escreva um pedago da Historia" so as palavras que encabesam um formulirio Py distribuido pelos organizadores aos visitantes, convidando-os a participar de ‘uma denominada “Historia”, elaborada ‘com relatos, memérias ou objetos que tenham qualquer relagio com a vida na antiga Repiblica Democritica Alems. Nas palavras dos responsiveis pela instituiso muscalégica, somente os dads ¢fatos do passado em sus forma bruta nlo seriam x ws ribo Sean tick Gates. DDR Mise”, formal ene os wares "DDR Mase, Geach ram Arden” (oe du DDR, A Hira twat) A podem pear dpe sige te ho cheter exponen panes de experiola tetra por pred vt, mat le eb, deve toca poe gue ve expos REVISTA D0 PATEIMGMIO HisTORICO € ARTISTICO NACIONAL 36 capazes de“apresentar” o passado, uma vez que nia seriam capazes de “espethat” 0 sentido © 0 significado que tiveram tals fatos para os envolvidos neles, Como masext de Historia do tempo presente — denominasio assumida pelos proprios organizadores a vantagem explicita do Museu da DDR seria poder contar com as memérias © lembrangas dos participantes dos fatos narrados e apresentados da “Weltgeschichte” (historia universal como modelo de historia vilida), quer como participantes quer como testemunhas, Desse modo, pretendem os organizadores e patrocinadores do Museu. preservar e tornar disponivel para as geragbes faturas esse conjunto de lembransas © ‘memérias denominadas todo 0 tempo de “Geschichte” (Historia). Ainda que de forma ino explicita, esse parece ser o caminho para sc atingir uma historia mais verdadeira, a {que ela é fundada na prépria experiéncia © vivéncia dos fatos. Isso, por si 83, jé garanti maior veracidade e densidade ao narrado, Um sintoma de nossos tempos ¢ dos usos do pastado que se fazem necessirios como demand coletiva, Matéria para reflexio do historiador interessado em pensar a historia nna sta historicidade, [Em seguida aos esclarecimentos sobre ‘8 objetivos do Museu da DDR, o visitante ‘encontra espago para fornecer seus dados pessoais, assinalando se tem experiéncia com ‘trabalho de“testemunho de um tempo! « se estaria disposto a relatar sua historia diante das chmatas, O formulirio solicia, ainda, ‘uma curta biografla com a indicagio dos “fatos histéricos" dos quais foi testemunho, ou em {que condliges esteve presente quando tais fatos ocorreram., A iltima questio sugere a0 visitante /historiador que ele relacione sa experiéncia de vida na DDR com suas Impressies pessoais.* Em suma, por todo 0 percurso, o visitante & cativado pela possibllidade de escrever a historia a partir de suas lembrangas © memérias, que parecer, assim, se confundir com a prépria ideia de Historia, © ator como a.um sb tempo autor fe testemunho, O patrimdnio histérico no parece mais distante e monumentalizado apenas em lugares especialmente pensados para ele, mas préximo ¢ integrado por bjetos do cotidiano acessivel a qualquer pessoa vivendo num tempo e em uma sociedad. Tudo, em principio, pode agora Jntegrar esse patriménio, como todos podem ser autores dessa nova historia universal Una observagio nos pareve importante para.a discussio aqui proposta e que toma ‘0 Museu da DDR apenas como um sinal, entre outros, que poderiamos indicar em nossa contemporaneidade, de uma mutagI0 sgnificativa com relagdo aos usos pretendidos ddo passado, Tanto na sua forma de uma narrativa académica da historia — como a formulada pelo projeto de uma bistiria do tempo presente —, quanto nas formas atuais de patrimonializacio do passado, operasio cenvolvendo nio apenas conhecimentos aualilicados e academicamente validados, ‘mas também politcas pibicas de organisms cestatais nacionais ¢ de organismos com atuasio 3.0 formal wlan terme" perslchen Stnwang™ que trou por preven € npr ge 1 slr Seng relatos nbn el de orl, ‘ected portato, sua forma de serves pte Ags qu detunds partipgi covolvneto de le, eo do att, qv gue eseora ac em ‘apne! pl elt de Hii, otand-e po es Forma, autor ea Wire sven reoreede nee tov mt. ‘e abrangéncia internacionais. © Museu da DDR, entidade privada, ocupa um local simbolicamente relevante, carregado de sentidos para a historia contemporinea da ‘Alemanha a partir do século XIX. A potca distancia que o separa da“Museusninsel” a famosa ilha dos Museus (Figura 4) no rio Spree, que banha a cidade de Berlim, denominada por isso aAtenas do Spree — sinaliza para um dos aspectos a ser considerado ‘com 0 projeto do Museu da DDR, Trata-se de sta conexio com a historia da Alemanha, simbolizada pelo conjunto de insituigdes ‘que, a partir de 1830 até o séeulo XX, foram localizads estrategicamente nesse espago. Fariam parte de um programa historico « patrimonial desenvolvido em distintos momentos ¢ com distintos propésitos sobre 1 usos do passado, pelo Estado prussiano, do nacional alemio a partir da unlicasio politica na segunda metade do séeulo XIX. Iniiado com 0 projeto do Altes Museum, inaugurado «em 1830 pelo rei Frederico Guilherme Il, ‘0 projeto dailha dos Muscus seria concluido ‘exatamente um século depois, em 1930, com «a inauguragdo do Museu de Pérgamo, a quarta insttuigio localizada nesse espaco, Transformar ‘num primeira momento, pelo es ailha dos Muscus progressivamente em uma“Acropole alema”, segundo as palaras do historiador da arte Thomas Gachtgens,* inscrevia-se numa forte tradigio dos letrados Met de Bein eri, lan on Aerio projon ‘etn car de pain Badri peor © ‘teat arse pede centre geogre “ciate em Fano Shale, 203 46-108),Asre ‘gil Grd pare cur Rte sem, coat Marc (200), © exami fori om ee ple Grice interlace peat de treated plo psd ergo alemies, que, partir de Winkelmann no século XVII, produzira a Grécia como modelo cviliztaro e referéncia de passado, asim como era parte da politica cultural do estado prussiano a partir das guerras de expulsio dos franceses em 1813, aps a ‘ocupagio napoleénica. A inaugurago do Ales ‘Museum, assim como a criagio da citedra de Historia na Universidade de Berl ocupada por Leopold Von Ranke, a partir de 1824.25, sinalzam para a importinciae centralidade que a histria ocuparia ness projeto palitico- cultural. ensar o passado transformava-se «cm condisio paraa construsio do presente apis a presenga estrngeira nos teritios slemies, Alim de seu significado para a historia da arte do patriménio, alba dos -Museus simboliza a representagio do poder do Estado por meio dessasinttuiges de coltura com as tenses que sio proprias is “dutas de representagi a tentaiva de introduzi representantes da pintura moderna em espagos museologicos para cles idealizadas. Assim, ailha dos Muscus ‘Como exemplo, 6 também expressio de embates travados em torno da definigio do patriménio e de seus objetos a serem preservados, ou sej, «em torno do que poderia, efetivamente, se cconstituir como parte da heranga coletiva do passado, Num primeiro momento, anterior & unificasio alems,o sentido dessa “aerdpole” berlinense estava mais voltado para a capital da Prisia, uma importante capital entre ‘outrasintegrantes dos territérios de lingua lem. Num momento posterior & unificagio © A fundagio do Império Alemio, 0 projeto rao de transformar Berlim numa capital centre outras de igual importincia europela (cobretude Londres e Pars). B, para isso, era Revista po Parsimome HistOnico ¢ Aatistica NACIONAL 9% REVISTA D0 PATEIMGMIO HisTORICO € ARTISTICO NACIONAL precito dar novo significado ao patriménio abrigado naitha dos Museus: um acervo que fosse capaz de expor a variedade de culturas Jhumanas, Uma forte relagio entre preservagio do passado — das diferentes culturas hurnanas =, conhecimento académico especializado politica cultural foi a caracterstia central do programa idealizado para esse espaso de ‘museus, repercutindo num crescimento de reas de conhecimento como a arqueologia, a ‘egiptologia e a historia da arte, entre outras, [Nesse sentido, esse agar estrategicamente localizado entre as principaisinstituiges representativas do poder de Estado prussiano ~o palicio imperial, catedral protestante ¢ catélica, a universidade, a 6pera—, is margens do cixo ligando ocidente e oriente da cidade, & sintomia das transformagaes historias ‘que possbiltaram os diferentes projetos arguitetémicos para abrigar o "passado” necessirio a cada momento especifico dessa historia, De um passado que deve ser fonte para “Bildung” (formagdo) do habitante da cidade a um passado, objeto de um ‘comheciimento especifico e academicamente ‘controlado por especialistas, as instituigBes da iha dos Museus, transformada em patriménio da humanidade pela Unesco em 2000, encenam possveis ¢ necessirios usos do pastado para uma sociedade, que como todas aquelas a partir do século XIX, necessitam dale como condigio de sua ex! de sentido, Portanto, 0 Museu da DDR ncia e produgio parece conectar-se a esse sentido mais geral, adequando 0 passado recente is demandas sociais contemporiineas sobre 0s usos do pasado, Mas, o que estaria send formulado ‘como demancda contemporinea especitica de ‘modo a nos voltarmos para o passado? 8 cee Fase Mp do io det Maeu nine. aca a Inge nf Sn congo ine rns moa sms. ri in ei Em recente einstigante livro sobre 08 desafios contemporineos para a escrita da histéria, o hstoriador francés Christophe Prochasson (2008) arguimenta que estarfamos sob um novo regime de escrita, Segundo ele, a0 historiador de oficio seria exigida cada vex mats uma escritasubmetida aos ditames dos aetos, sejam eles derivados de engajamentos politioas especitios, de crengas particulares, our mesmo derivados de um convite& individualidade do bistoriador. Este seria instado a mostrar- se por meio de seu texto, postura bastante diversa da que o obrigavaa esconcler-se por tris da pesquisa cientifica, Ese novo regime ‘mocional, conforme as palavras do historiador francés, supe determinados constrangimentos {snnarrativas do passado e fv. um apelo i dimensio cada ver mais autoral do texto historiogrifico, Como parte dessas mutagies proprias a0 campo de atuagio do historiador, «a biografia ganharia novo espago e significado para.a pesquisa historca, assim como am lugar que petdera como ginero leh da eserita histria, A ego-hitria encontrou,jgualmente, espago nese novo campo de stag para 0 histriador de ofco.O sujito pode volta cena da histriae& mestno convocado a esa tarefa como parece ser odesafoformulado pelo projeto do Museu DDR. © que o trabalho de Christophe Prochasson nos ajuda a refletir sobre os sos ¢ demandas contemporiness do passado, dlefinindo uma variedade de narrative sobre eventos pretritos consumidos pela sociedades contemporinets,iidae de lembrangas ¢ memorias de um tempo ritas vere ealzado como de certeras€ segorang. como parte destas demandas que deveinos cheater» interetecontsinporinee em toro do patritndnioe das tarefas de patrimonalzaso do passido. Com isto, queremos deixar claro que o estuda do patriménio s6 pode ser compreendido a partir de sua vinculasio com as problemiticas atuais que definem interesses especi com relagio a0 passado, Portanto, refletir sobre o patriménio pode e deve ser uma das preocupasdes do campo historiogrifica, ssubmetendo-o a uma investigagio que sublinhe a dimens hhistorica de sua invensio, Como toda escrita historica, a reflexio ‘em torno do patriménia deve considerar as situagies histricas de sua emergéncia ~ dos discursos e narrativas acerca do ppatriménio — como forma de compreender «4 patrimonializasio do passado, Como parte Alo esforge das sociedades humanas em tornar 2 experineia do transcurso temporal uma cexperitncia partlhivel sociale coletivamente, Nao nos parece mera coincidéncia temporal 1 fato de a emergéincia da disciplina histories ro cenério politico ¢ intelectual europeu: do Oitocentos vir a coincide com as preocupagzes relativas ao patriménio como politica publica quando assistimos também a0 nascimento de disciplinas e priticas voltadas 4 preservasio e restaurayio do legado material do passado, com o sig ccnirio da cultura historica Oitocentista ~ de ado agora — provas materiais da existéncia de um passado passivel de ser acessado, também, pela via esses restos materia, Se partirmos dessa primeira consideragio, a de que a reflexio em torno do patrimnio pode ser considerada uma forma de escrita do passado, teremos, necessariamente, que ‘watar essa escrita a partir de uma perspectiva, historia, Isso significa dizer que as formas assumidas por essa modalidade especifica de eserita do passado varia segundo as continggncias temporaise sociais sob as quais cla se reaiza, Néo se trata de pensar numa cevolusio das formas de escrita patrimonial, mas antes de pensar nas diferentes maneiras sob as quais esses restos materiais do o7 passado vieram a ser tratadas sob a forma de Revista po Parsimome HistOnico ¢ Aatistica NACIONAL patrimtinio hstrico, Nese sentido, tomamos dlistincia da tese de Jean-Michel Leniand,? aque pretende trata a questio do patriménio recuando no tempo para além dos marcos un 2002-5) nara ti questo da prisins"On ‘ontaearle elge,Se ilke re brig els at posable ss eee {Wehsne wtp nereet Hee Et te, Ae eft epee pe arte dates formes ‘arate Pq remorse, pe ‘ecto de egos enol, de ee eo ep ‘i pli vereton eat nso nce ul to Ee ie por, oa ole combo tes Forme nseanentalni"| Cees ie aor pone no es pari sir,» ge bo aoe ‘eon sendin pos ania de trots teas pase REVISTA D0 PATEIMGMIO HisTORICO € ARTISTICO NACIONAL 8 instiuldos pela Revolusdo Francesa sua politica de patrimonilzar o pasado. Adjetivar como hstrico um conjunto de bens © tacos db dpren petits pin jam operao pecular sb poatvel de ser compreendida a pattir do momento em que a histriainstiaida como dscplina parece invadir emanticamente Aiversos espagos da vida das socedades do steulo XIX. Como nos far vr Koselleck, ‘omoderno conceito de histria assume tal protagonismo no cenério poltco.ntlectal Ado Oitocentos, capar de transformar em "Vive? o conto da realiagesbntmanat thm tempo passado.E assim também aqueas a serem realzadas no faturo, Nada parece scapar& condo de histric, tormando natural o que & Bro de una eins histvin, Ji que esti submetid is conde de certo tempo. partir dessa consideraso, portant, ‘interest contemporineo pelo patriménio lee or interpetad segunda ws dematadea proprias ds nossssocedades contemporiness, segundo aquil que iniialmente apontaos, a partir de Christophe Prochason, como nema regime emacional sch o al not voltamos para o pasted so nio apenas fornece a moldura a partir da qual a questo ‘cups hoje centrale como emnpenho das pelts pilin, mas diferencia igualmente da forma como opatrimdnio velo a ser objeto desss politics pilicas no momento de inwengio das Nags modcenss ns csteira das transformasiescngendrads pla Revolusao Franca. como parte deste nove rgime mnocional que nova escrts se tornam posses enovessrias, ai como novas formas de patrimonialzago so demandas. Ta qual aque parce sintomatizar a eriago de ‘um museu come © Museu da DDR, capar de tornar o passado recente em objeto de fri imuitas vezesacrtica, mas, certamente, com forte apelo de piblico eee mia, 2. PATRIMONIO HISTGRICO E ESCRITA DO PASSADO © meu interesse nesta rea de rellexio Adecorre de minhas preocupagies sobre o tema da escrita da historia em suas diversas miodalidades possibilidades. Pretendo, portanto, sugerir que uma rellexio em torno do patrimnio pode ser compreendlida, ¢ acredito mesmo que deva ser feita,em suas estreitasvinculagies com o trabalho de produzir narrativas sobre o passado,oficio a que certamente os historiadores, mas no somente ¢ também nio exclusivamente, se dedicam, Assim, o ‘patrimno ¢ também uma ceserita do passado, submetida evidentemente 4 uma gramitica ea uma sintaxe esp Se esta airmasiio parece ser hoje de certa forma evidente, nem sempre as qu relacionadas a0 tema do patriménio no Brasil foram compreendidas como integrantes do rol de problemticas de natureza historiogrifica, AA geragio dos fundadores do patriménio, integrada basicamente por arquitetos de formagi 0 campo, cujos tragos ainda hoje se fazem presentes, Certamente a consideragio .imprimiu uma marea peculiar dessa especiicidade é importante para, compreendermos os rumos ¢ as diretrizes assumidas pela questio patrimonial em nosso pais. Longe de ser uma natureza, sua vinculagio ao campo da arquitctura deriva de uma historia peculiar da constituigio desse ‘campo entre n6s e, por isso, nfo parece ser cestranho um relativo distanciamento do Universo de interrogagBes propriamente historiogrificas, No entanto, nio apenas ‘entre nés, mas no panorama das discusses internacionais em torno do patriméaio, tem se observado uma aproximagdo entre diversos campos de atuasSo profssional, tornando 0 ‘tema do patriménio um lugar privilegiado para um didlogo entre historiadores, arguitetos, antropélogos, historiadares da arte, para ficarmos com apenas alguns desses campos que tém contribuido, de forma dlecsiva, para tornar complexas as discusses ce abordagens acerca do patriménio, da sva conservagio e relagio com as sociedades contemporineas, A semintica do termo jf znos sugere uma relaso com um tempo que nos antecede, e com 0 qual estabelecemos relagies medladas por intermédio de objetos que acreditamos pertencer a uma heranga ccoletiva. Assim, esses objetos que acreditamos pertencer ao patriménio de una coletividade, «hoje, até mesmo da humanidade, estabelecem nexos de pertencimento, metaforizam relagbes imaginadas, que parecem adquirir materialidade a partir da presenga desse conjumto de manumentas, (© termo patriménio supe, portanto, uma relagio com o tempo ¢ com 0 set ‘transcurso, Em outras palavras refletir sobre © patrimdnio significa, igualmente, pensar nas formas socials de culturalizagio do tempo, proprias toda e qualquer sociedad humana através dese trabulo de produrir sentido para a passgem do tempo que as sociedades humanasconstroem suas noses de pasado, presente fturo, como formas hstricas © sas de dar sentido para o ranscurso do ‘tempo, Uma ver que o tempo & matéria prima do trabalho do historiador,e elemento central sobre © qual se engendram formas de narri-to como condigio de o tornar sgnificativo para as coletividades humanas, pengunta ‘uma relaso com os problemas que afetam diretamente 0 seu oficio? Fé 0 tempo da historia aquele que mareard definiivamente ‘Como nio vermos nesse trabalho a experincia da modernidade, tomando 1 medida das ages humanas, como ade eseandir a marcagdo da propria passagem do tempo, Com a Modernidade, 0 tempo da historia torna-se o tempo hegeménico, ¢ fo nascimento da disciplina, no século XIX, deve ser visto como parte desse trabalho de narrar 6 tempo a partir da historia das ages bumanas, No mesmo cenirio de emergéncia dda histéria em sua forma disciplinar,asiste-se ao nascimento das preocupagies de natureza, patrimonial, tomando logo sua forma também disciplinar (Poulot, 1997/2006, Babelon & Chastel, 1994). Nao se trata de Revista po Parsimome HistOnico ¢ Aatistica NACIONAL ‘mera coincidéncia temporal, mas de solos de emergéncia similares, que tornaram as 99 preocupagies disciplinares com a historia ‘cas relativas a0 patriménio parte de uma coltura histrica que investe de mancira sistemaica em diferentes possbilidades de narrar o tempo passado, Stephen Bann aualificou esse interesse pela historia ‘como parte de una paixio das sociedades citocentistas pelo passado, paixio decorrente da experimentagio de uma irremediivel perda diante das profurndas transformagies aque caracterizaram o século XIX, Neste sentido, narrar o passade quer sob sua forma académica e dsciplinar, quer sob o signo da protegio do patriménio seriam formas de realizar o luto: por uma perda irreparsvel REVISTA D0 PATEIMGMIO HisTORICO € ARTISTICO NACIONAL do passado, definitivamente separado do presente, os espagos de experiéncia nso ‘guardando mais necessariamente uma relacio cestreita com os horizontes de expectativa, sobretudo, a partir de um evento fimpar ‘como a Revolugdo Francesa.* © interesse amplo e variado pelo passado ~ da pintura histories, passando pelos muscus de historia & alirmasdo académica da disciplina -, proprio dda cultura historica oitocentista, seria ainda visto como um “lenitivo para a angistia propria da modcrnidadc”(Ballart, 2002:165). Uma angistia derivada da inseguransa decorrente das profundas transformagies da ‘modernidade, que tornavam 0 pasado no ‘mais fonte da tradisio e dos modelos a serem ‘copiados no presente; mas que demandava novos significados para as experiéncias passadas, aticulando-as de maneira dstinta ‘com o presente dos homens em vida, Esse interesse pelo passado como um nove ppharmacon para os homens do presente no sbeulo XIX, is voltas com um mundo que parecia de ponta-cabesa, © argumento que procuro defender é 0 de que uma reflexio em torno do patriménio, dfinitivamente parte das agendas politcas ccontemporineas, deve aproximar-se de uma investigasio acerca da escrita da historia, nna medida em que podemos caracterizar 0 investimento patrimonial como uma escrita peculiar empenhada em narrar 0 tempo passado, segundo procedimentos também particulares, Perccher as articulases 8 da historia pode, segundo meu juizo, enriquecer nosso debate possiveis com a ars teri nossa compreensio acerca do patriménio, qualificando as necessiviase importantes politicas piblicas de produgio patrimonial. Da ‘mesma forma que uma escrita sobre o passado demands uma operagio que transforme uma ‘massa documental em fonte para a construsio ddesse passado, é também uma operacio, uma escolha ¢ um ato valorativo aquele que transforma objetos do pastado em patriménio cultural de uma coletividade humana. E Jgualmente a partir de tragos do passado que ‘© patriménio pode empreender sua tentativa de reconstrugio de uma cadeia temporal © hereditira, vinculando as geragbes presentes Aquelas que as precederam, estabelecendo, por esse meio, importantes lagos sociais nnecessirios i vida das coletividades humans E aguas relagdes entre patriménio e meméria tas, A simples sobrevivéneia a0 tempo nio assegura por ssa condigio de ‘ransformar em patrimdnio historico wm ‘objeto, um vestigio material ou win acervo arquitetonica, E nem mesmo todo 0 conjunto de restos que sobreviveram & passagem do tempo vieram a se constituir em patriménio historic de uma coletividade. © patriménio 6, portanto, resultado de uma produsio rmarcada historicamente, E a0 fim de um trabalho de transformar abjetos, etirando- Thes seu sentido original, que acedemos 4 possibilidade de transformar algo em patriménio, Adjetivar um conjunto de tragos do passado como patrimni hierico & mais do que Ihes dar uma qualidade, é produriclos como algo distinto daguilo para © qual um dia foram produzidos ¢ criados. Da mesma forma que um conjunto de documentos #6 poderi se transformar em fonte historica pelo trabalho dd historiador, igualmente os objetos que aprendemos a ver como patriminto histrico sb ganharam essa qualidade a partir de uma operagio envolvendo diferentes esferas de produsio de saberes e poderes, 3. O PASSADO Como HISTORIA. HISTORIA E PATRIMONIO NA CULTURA HISTORICA OITOCENTISTA [Rome] Ce n'est pas simplesment un asemblage d'habitaions, c'est "histoire du monde, figuece par divers emblemes,e repréventée sous livers formes. (© significado de Roma para a cultura letrada oitocentista esta ligado ao papel ccontral que a Antiguidade assume como referéncia de autoridade, Desde a segunda ‘metade do século XVII as viagens & Itilia desempenharam papel relevante para a formagio [Bildung] de alguém que pretendesse reconhecimento no mundo das letras, Goethe em sua viggem & Iii entre fos anos de 1786-1788 assim se expresso ‘em seu didrio no dia 1 de novembro de 1786:"Sim, cheguei afinal a esta capital do mundal" Nio apenas entre os letrados pena eu sent de te Ea st do ru ged po met de vere ees (Matune de So 1948-136, 1. Goch (1999148), Nome di, ante Goethe dla 1 de tb de (76 ude deVeer "A auteurs ‘ergaes datub town opt do pated, tee ‘ur es enramenton co ode ede at eves tn anced xe Serpe pss ot 15) de Kingua alema esta cidade desempenhava papel referencial, na esteira de um carninho aberto por Winckelmann, mas também, entre os franceses 0 Grund Tour a viagem & cidade simbolo da Antiguidade ocupava un papel relevante.” Roma parecia reunir conjunto de vestigios do passado capazes de tornécla uma cidade singular e especial para os interessados pela historia, Na verdade, ‘ interesse renovado pela cidade de Roma « partir da cultura das Luzes insereve-se numa tradisio da cultura humanista, que desde o Renascimento sublinhava o papel central da cidade para a historia dos homens, Isso por duas razdes, segundo a anilise de Alain Schnapp; em primeiro lugar, pelo papel privilegiado da cidade quanto & cexistén ia de manuscritos gregos e latinos; Revista po Parsimome HistOnico ¢ Aatistica NACIONAL «em seguida pela possibilidade evidente de descobrir na paisagem mesma da cidade a presenga material da Antiguidade." Essa materialidade parecia conferir novas possibilidades de uma escrita da historia, transformando tais vestigios em documento vot para estudo de uma época, Assim, escrever a historia patrimonializar os vestigios do passado inscrevemse num mesmo movimento de valorizasio do passado Leeann ae ile cde Rete de ‘ee parley, par contradicts, oer Psnnées, sie ye Ura thr les Fran iennene& Rene a rechercbe net Agar, ae caureenore robe ue isl faces come dd de Ro rele ponerse vers cured, Genter dn igre on thera entero, nbc de ride rv at sd prin, ce wn cape gre {| Foran in Raion le Meg JOT: 104 Tao nim area deed oe reget o face Ren, 10. Ao tarde etd agua cle de Ro, Sepp (998) aoa “apa st ‘pvc Fl Facer vs Re a REVISTA D0 PATEIMGMIO HisTORICO € ARTISTICO NACIONAL partir da cultura das Luzes setecentistas e posteriormente ressignificado na cultura romantica oitocentista, Desse ponto de vista ‘compreende-se o papel singular de Roma, ‘uma vex que reunia nio apenas as fontes -manuscritas como indicios eloguentes do passado, ¢ também um conjunto de restos, ‘materiais agora monumentaliziveis como trago e prova da existéncia do passado, Sio ‘elementos indispensiveis para um novo projeto de conferir autoridade ao passado diante das demandas do presente. Tanto uma cescrita da historia académica, submetida As regras de um projeto de conhecimento tifico, quanto a formulagio de politicas piblices visando a preservagio do patriménio inscrevem-se nesse projeto © na deh do passado para o presente das sociedades shumanas oitocentistas, o de uma nova forma de autoridade Particularmente representativo nos parece o caso francés para llustrar essa profunda relagdo entre as preocupagdes com 1 escrita da historia em sua feigio disciplinar ‘© as politicas do patriménio como forma de preservagio dos restos ameagados do passado, Este se torna objeto por exceléncia de uma sedusio preservacionista pelas diferentes narrativas que se afirmam a0 Tonge do Oitocentos. Sobretudo a partir da revolusio de 1830 na Franga, a historia ocupa papel central na agenda politica do estado ‘monirquico, Nas palavras de Frangois Furet, Luis Felipe da dinastia de Orléans, que chega a0 poder com o movimento de julho de 1830, 60 primeiro monarea “de uma dinastia sera passado" (Furct, 1988), uma ver que busca Fandar a legi ‘existéncia atemporal de uma casa dinistiea dade de seu poder nio na cu nos direitos da aristocracia, mas numa constituigdo eserita que deve indicar as bases dese poder. O passado seré preocupasio por cexceléncta deste novo regime, voltado para fandar em tempos remotos a legitimidade de uma criagdo revente: a Nagio francesa sada da Revolugio de 1789, O rei é agora o rei dos franceses, tornanclo-se imprescindivel que estes mesmos franceses tenham e conhegam sua historia, ocupagio acalémica a ser administrada pelo Estado, mas também tarefa politica inadtivel com relagfo aos usos do pasado, Ao lado da criagio de instituigies ‘ocupadas em organizar 0 conhecimento sobre o passado, 0 historiador ministro, Guizot, que assume a pasta da Instrugio DPblica, faz a reforma do sistema escolar proposta no mesmo ano de 1833, em que so eriadas as duas insttuigBes na capital francesa, voltadas para esta finalidade. A reforma previa um maior controle laico sobre a educagio, ainda que sem desprezar fo trabalho © a presenga da Igrea, nao cbstante sua formagio religiosa protestante Esse exforgo em relagio ao cuidado com 0 passado se expressa ainda pela preocupayio relativa a outras instituigBes de meméria, aque sio reorganizadas a partir dos novos interesses com relagio a0 passado (Theis gpud Nora, 1986). © debate envolvendo saberes considerados indispensiveis pritica do oficio de historiador, como a diplomitica, 6 bem a medida de como antigas competéncias relativas aos manuscritos do passado assumem outros signlicados a partir das novas exigincias da ese Assim, 0 mesmo ministro Guizotincentiva fa de uma historia nacional 1 publicagdo da obra de Natali de Wailly Jnttulada Elemento de paleogeafia, como forma de difundir conhecimentos considerados indispensiveis para a leitura de manuscritos antigos inéditos sobre a historia da Franga, sobretudo, relativos & Idade Média (Wally, 1838). Do ponto de vista politico, a revolugdo de 1830 significou a possibilidade de rearticular a geragio de historiadores dos anos 20a partir de um conjunto de insttuigées voltadas a0 trabalho com o passado. Bem sucedida, tal estratéga foi captancada por Gauizot, que reunia em toro sihistoriadores renomados como Michelet, Mignet, Thierry. Igualmente, & com 0 movimento de 1830 que se eriou o cargo de inspetor dos Monuments Histbricos, ocupado, LudovieVitet c, em seguida, de 1834 a 1860, por Prosper Mérimée, Uma gerayio de cialmente por expecialistas sobre o passado reiine-se a partir do Ministério da Instrugio Piblica, que teve, indo casualmente, suas atribuigdies bastante alargadas sob a diresio de Frangois Guizot para além dos estabelecimentos escolares © dda Universidade, passaram & responsabilidade dda pasta da Instrugio Publica 0 Collage de France, o Museu, a Biblioteca Real, a Escola de Chartres (importante na formagao de especialistas para o trabalho com os arquivos) entre outros (Theis, 1986), ‘Como parte desse movimento, pelo qual ‘ahistriase transforma em poderosa arma politica, Guizot, no cargo de ministro da Instrugio Péblica, ¢ Aquela altura historiador ‘consagrado por scus trabalhos, encabesava ‘© Comité de membros fundadores de lade cultural voltada para as preocupasies com a historia: a Société de istoire de France, Do grupo fundador, além de Guirot, outros historiadores participaram come Barante eThiers © segundo 0 projeto inicial, a Sociedade teria como finalidade primeira a publicasio das Documentos originas da histéria da Franga, docamento, que registra 6 nascimento dessa sssociagio voltada para a edisdo e publicasio de fontes para a histria nacional fan favia questio de registrar a inovagio deste trabalho de coleta, organizagio, eritiea e publicidade para as fontes documentais. Diferentemente do trabalho dos eruditos © antiquirios, cuja importincia € reconhectda 20 longo de dois séculos de pesquisa, 0 trabalho da Sociedade ~ organizada de forma mais sistemdtica ~se vollaria para um piiblico maior. A Sociedade estara, assim, mais apta para o trabalho daqueles que se dlispunham a0 excrcicio da critica historia, A erudicio prépria dos beneditinos de Saint Mau, contrapuna-se uma aividade de profisionas da historia, cujo trabalho Revista po Parsimome HistOnico ¢ Aatistica NACIONAL dlveria nocessariamente visar a um pblico aque formlava demandas novase diferentes 4 pritica da historia, de acordo cor um ‘mundo politica e socialmente distinto,cujo 13 de 1789, As antigascolege, objeto da pritica do antiquarianismo ¢ vinda Ine a parti de critérios praprios da cultura desses eraditos, dleveriam agora ser reorganivadas segunda um divisor de guas era a experié claro critério, definido a parti dos principios formulados por uma gerasio voltada para ‘8 construgio politica e simbélica da nagio francesa, O ponto de referéncia continuava sendo a inovasio revolucionéria, que deveria, agora, integrar o passado pré-1789 a essa historia, num proceso em que a Revolusso pudesse se transformar definitivamente em historia © nio mais em objeto de disputas © projetos politicos contemporineos. REVISTA D0 PATEIMGMIO HisTORICO € ARTISTICO NACIONAL 04 ‘Ao se distanciarem dessa tradisio, apontando os seus limites, mas também formulando uma mancira propria de incorpori-la pela via da “iéncias auxiiares dda histria", os historiadores da geragdo romintica pretendem para o exerciio do oficio um novo estatuto, novas regras ¢ procedimentos, cujo vetor indica o sentido dessa atividade para as novas coletividades nacionais em formagio, Parece evidente a clara presenga do Estado na formulagio, na organizacio e na administrasio da historia, segundo as novas exigéncias. No primeiro Boltim da Sociedade & publicado «© projeto de Guizot, apresentado ao rei, para. 0 financiamento da pesquisa de fontes historias significativas para escrita da Istria da Franga, Esse mesmo volume ainda ‘stampa em seu titulo Rerue de PHinotre et des Aosiqutés Nationals, recuperand numa nova formulagio o termo antiguidades. Agora, merecem esse qualifieativo ni apenas 08 restos materias das cuturas clissias da Antiguidade, mas também as marcas do passado nacional, legtimadas pelo termo “antiguidade” e, por isso mesmo, igualmente merecedoras da atensio ¢ ceidado da pesquisa historica, Reclaboracio da tradisio, agora segundo novas demandas Esse novo sentido conferido ao trabalho ‘com a historia pode ser bem ilusteado pelas pginas de Augustin Thicery, um dos muitos historiadores da gerasio da primeira metade do século XIX, ¢ também colaborador de Guizot. De mancira clara, ele formula sua compreensio dessa tarefa afirmando: A histria nacional & para todoe os homens de um mesmo pais uma espécie de propriedade comum: uma poredo do patriménio moral que cada gras que desaparecelega aque que a substitu; nenkuma deve transmiti-la da mesma maneira que reccheu, mat todas tm por dever aerecentar algo a ese patrinnnio em trmos de crtera e em clareza De onde viemos, para onde ramos? Ess duas grandes interregases:o pasta eo faura politico preseypan-nos agora." © sentido politico conferida & histiria por essa geragio de historiadores-politicos & sais do que evidente; para além do passado, 1 que estava em jogo era a produsio de um sentido para o futuro dessa comunidade nacional. Una tenativa de ler neste passado certo destino possvel, garantindo a coesio sovial para o presente, Olbar o pastado com os olhos da nag fo a pra tarefaa que se Jangaram os especalstas do passado reunidos em torno da Estado, © documento que Guizot envia a0 rei Luis Felipe como justificativa do orgamento para o exercicio de 1835 do ministerio sob sia responsabilidad & esclarecedor «quanto a0 sentido que confere i tarefas de “administrago” do passado, Chamando a atengio para ofito de que os manuscritos «¢ monumentos originals ¢ desconhecidos pelo pilico superam em muito 0 que ji é conbecido, destaca que somente o Estado, com seu papel coordenador, poderia levar a cabo uma tarcfa daquela envergadura, Sem TH" Thne ato pest hm a se steep erate opti de pit re sr lear gilt pt dip Rigor lt ears ‘evr t dt Ist lle psy erat [rowley esr ee se on deo dla "Die eran ol lene Cod gr gti, Iepaste Fon poate am pret wit. (erry, 14102929) dlesprezar os esforsos anteriores relacionadas a0 trabalho de conhecimento desse passado, aponta o fato de as finalidades politicas dessa, tarefa requererem a presenga ativa do Estado para seu gerenciamento (Guizot, 1860), Interessante observar, no documento, a distingo que procura estabelecer entre os acervos necessirios& historia contemporinea ‘e sob a guarda da Biblioteca Real e aqueles integrados pelos arquivos do Reino, importantes para o esclarecimento do pasado, Para Guizot, os documentos para ‘os quais demanda uma politica do estado Francés sio “reflexo vivo de todos os séculos, rrepertorio dos julgamentos de cada época sobre ela mesma” (Guizot, 1860:397). 0 ministro-histariador define uma cronologia segundo a qual os documentos anteriores a0 reinado de Luis XV pertencem ji 4 historia, podendo, por iso, ganar a hur sem maiores inconvenientes, uma vex que no pertencem ao mundo da politica, Ou seja, info sio mais objeto de disputas presentes, foram pacificados pelo trabalho da narrativa historica, Guizot conclu afirmando que “a publicasio que tenho a honra de apresentar aVossa Majestade ser um monumento digno dela ¢ da Franca”, Sublinhe-se 0 uso do termo monumento para referirse a0 seu trabalho, que sugere claramente 0 ‘que estéimplicito: lembranga e adverténcia inecessirias i comunidade nacional em procesto de constituigio. O terme pode igualmente ser aplicado para designar um conjunto documental a ser preservado, ‘reunido e publicado como também aos restos 12.7 Tepito get Pheer ere Majo ein me fo gn Vale el rome, 1). materiais a ser objeto dessa mesma pol de administragso do passado para as geragies do presente, Ainda que 0s procedimentos scjam distintos, requerendo competéncias specifica — a coleta e pesquisa das fontes documentais nos acervos arquivisticas ou nas bibliotecas, ¢a viagem pelo territorio para o inspetor de monumentos —, 0 cuidado com o passado ¢ a tonica ea constante destes cesforgos do Estado, Num segundo documento dirigide 20 rei, Francois Guizot, jd com 0 seu pedido para o orgamento de 1835 accito rio sem grande debate, passa a expor as ‘medidas tomadas, considerando os fins propostos no documento anterior sabre a preservasio dos vestigios do passado francés. Dentre elas, a criagio de um Revista po Parsimome HistOnico ¢ Aatistica NACIONAL Comité de especialistas reconheciddos “pelo mérito de seus trabalhos historicos” (Guizot, 1860:400), com a finalidade de acompanhar o trabalho desenvolvide em. cada regio do pais a partir das instrugses formruladas e supervisionadas pelo ministro 105 da Instrugio Pablica, Em alguns casos, 0 rministério designava diretamente alguémn encarregado do trabalho de diagnostiear, im Ioeo, a situasio das biblioecas ¢arquives, ‘como foi o caso de Michelet, enviado para o sudoeste da Franga. Nas provinciat interessa-he especialmente a situagio das bibliotecas ¢ de seu acervo, assim como a atuagio das academias de letrados, que a partir do steulo XVI tornam-se frequentes no cenirio intelectual europeu cem goral, Lugar por exceléncia da tradicio antiquiria c colecionista, esas academias serio contatadas com a finalidade de se adequarem as novas demandas que estio REVISTA D0 PATEIMGMIO HisTORICO € ARTISTICO NACIONAL 106 sendo formuladas pelo estado nacional francés, Juntamente com o ministro, 0 Comité elabora uma lista com 0 nome de 87 possiveis colaboradores nas provincias © ‘trabalho a ser realizado por cles. Como cexemplo, a indicagio do que de significative para.a politica de preservasio existiria em sa regio, que seria submetida ao olhar ‘central em Paris, a quem caberia a decisio final. O primeiro balango da situagio nas diferentes regides da Franga no se mostra satisftério, uma ver que parece “reinar a desordem ¢a confusio" (Guizot, 1860:401) decorrentes de periade revoluciondeio, na avaliacio do ministro da Instrugio Pablica © documento &, ao mesmo tempo, am breve inventirio da situasio dos diversos arquivos e seus acervos espalhados pelo territério da Franga, com sua localizagio « indicasio das fontes neles preservadas, olhar educado pelas novas exigéncias da cescrita do passado esquadrinha © material, indicando, no mesmo movimento, seus possiveis usos para uma escrita da historia nacional, necessidade imperativa para ‘© novo regime. Guizot indica em seu texto alguns desses documentos, que io monumentalizados por meio desse procedimento que, uma vex publicados, terio maior publicidade, podendo ser usados ‘em pesquisa historiea Ao final, 0 documento dedica atengio {as medidas que estio sendo tomadas com relagio aos monumentos propriamente arquiteténicas, seu estude e sua preservagio, 8 que, segundo Guizot, este estudo & capar de revelar “mais vivamente 0 estado social e 0 verdadeiro espirito das gerasies precedentes" (Guizot, 1860:410), Para ‘o ministro, a arquitetura seria ao mesmo tempo o comeso eo resume de todas as artes e, dessa forma, uma entrada privilegiada para o estudo do passado das sociedades humanas, Historia c histéria da arte, entendida como historia da arquitetura, concetam-se nesse projeto em que o passado deve ser investigado em todos os seus aspectos ¢ por meio de conjunto dos indicios gue dele restou, Contudo, 0 ministro esta atento a0 fato de 0 trabalho com os _monumentos ser inovador em sua proposta, De natureza particular, ainda que relative 20 estudo e conhecimento do passade francés, possui especifieidade quanto aos trabalhos historicos relacionados com os acervos ceseritos, © que propée é enti a realizasio de uin inventirio completo e de um catilogo comentado dos monumentos das diferentes ‘épocas que existiram ou ainda existissem em territério francés. Um projeto de inventariar como forma de produgia de lum nove tipo de poder, fundamentado num saber © em competéncias especificas, que 20 conhecer, descrever, organizar © agrupar produ igualmente uma cocréncia que parece “desvelada” como natural quando, nna verdade, é produzida como componente central das formas modernas de poder, © poder que nio se exterioriza por meio do uso da forga, mas pelo dominio de saberes especi comunidade politica nacional em busca cas; 0 poder de uma nova de legitimagio ¢ fundamentagio para o exercicio desse poder (Foucault, 2005). Mostra-se inequivoco 0 sentido politico para os usos do passado envolvidos por esse projeto de conhecimento da “historia” dde uina Nagdo quando lemos as palavras Finais do ministro Guizot escritas a rei Luis Felipe. “Esta empresa nio deve ser um esforgo acidental e passageiro; sera uma longs homenagem, e por assim dizer, uma instituisGo duradoura em honra is origens, As lembrangas e& gloria da Franga” (Guizot, 1860:410). Por reunir um conjunto significative de historiadores de oficio em torno de uma politica de Estado veltada para a administragio do passado, 0 caso francés {6,em certa medida, exemplar. Mas nio & linico, Ao longo do século XIX, o interesse pelo passado se torna parte das preacupagiies uropeus, guardando as especificidades prprias que a discussio dos estados nacionais nacional tomou em cada pais, A preocupagioa ‘com a escrita da historia fuandada em rnovas bases, segundo os protocolos da disciplina em afirmasio, aliada ao interesse pelos restos materiais do passado, ests também presente no cenévio da cultura letrada portuguesa, Joio Pedro Ribeiro, professor com doutorado em Cinones pela Universidade de Coimbra, representa para Portugal este tipo de interesse, Sécio da Academia Real de Ciéncias de Lisbos, a servigo da qual visjara pelo interior do uciose levantamento reino para fazer dos acervos documentaisexistentes em, Portugal, foi o primeiro ocupante da citedra de Diplomitica, Sua nomeasio para ocupar a cadeira coroava uma trajetdria iniciada em 1784, quando fora designado para inventariar 6s titulos pertencentes a0 patriménio da Universidade de Coimbra, seguindo-re em 1789 sua indicasio para auxiliar 6 Dr Joie Antonio Salter de Mendonga no exame de alguns cartérios. Em 1802, 0 visconde de Balsemio o nomeia responsivel pela realizagSo de inventério circunstanciada de todos os documentos da real Arquivo da'Torre do'Tombo (Figuras 5, 6,7 8) “Torna-se referéncia para os assuntos ligados & documentagao do Estado portugues, 0 que the valew a nomeago, em 1807, de cronista do Ultramar, com ordenado de 2005000 réis, (© trabalho que realiza guarda semelhangas com o prajeto formullade por Guirot no Ambito do Estada francés, No caso de Joie Pedro Ribeiro, éa servigo de uma academia tipica das Luzes, rouninda diferentes ireas de conhecimento, que se [ard um mapeamento dos acervos portugueses dispersos pelo reino, muitos deles em péssimas condigdes de logibilidade, segundo correspondéncia de Jodo Pedro Ribeiro ao abade Correia da Serra (Baldo, 1934). Essa correspondéncia 107 REVISTA D0 PATEIMGMIO HisTORICO € ARTISTICO NACIONAL 108 ‘com 0 abade, um dos fundadores, com, ‘6 duque de Lafves, da Academia Real de Ciéncias de Lisboa, permite acompanhar as preocupasdes de alguém que reconhece anecessidade de a escrita da historia ser ‘undada em novos procedimentos, em grande ‘medida herdados da tradisSo erudita, mas 4a serem empreendidos agora pela cultura Tetrada das Luzes portuguesas.E importante, ‘contuido, salientar que Joo Pedro Ribeiro ino se considerava um historiador — trago distintive em relasio a Guizat, que era reconhecidamente ura praticante do oficio — © tampouco teve a pretensio de classificar sua ‘asta produgio escrita como uma obra de historia, Mas cla viria a se tornar referéncia ‘central para a gerasio dos primeiros denominados historiadores de além e aquén ‘mar, Tanto para Herculano, em Portugal, qu frequentara entre os anos de 1830-31 a Aula ge 5. ot Sb, ab. de Diplomitica na'Torre do Tombo, quanto para Varnhagen, que tivera sua formasio intelectual nos meios letradas em Portugal. Na década de 1880, A, C, Borges de Figueiredo e M. Alexandre de Sousa, Iniciam a publicagio da Revista Archeolagica « Histériea, uma publicagio mensal voltada para o tratamento de temas que poderfamos caracterizar como transversais, por articularem a historia, a arqueologia 0 patriménio historico, Nas palavras dos ceditores ao apresentarem 0 periédico, a importincia que conferem a estes estudas reafirma o lugar do passado para essa cultura oitocentista, “importa a arte, as recordagies, a meméria de nossos pais, a conservagio de coisas cuja perda é irremediivel, a gloria nacional, 0 passado © o futuro, as obras mais espantosas do entendimento humano, historia © a religiio”, (1887:1) 4, CoNcLUSAO E, portanto, no terreno da cultura stricaoltocentista que a emergtncla das aurrties moderns acbre o pasado —dentre clas a que se ocupa passado = deve ser compreendida. Ainda aque guardando suas especificidades, proprias de uma gramitica particular esas narrativas, ao representarem 0 passado sob diferentes formas, tornam esse tempo pretérito condigia para intcligibilidade do tempo presente, Seja ao representéclo pela via da eserita académica, seja pela via da patrimonializagio de objetos mat Reet sobre o patriménio é, a partir do stculo XIX, parte do esforgo das sociedades ‘em narrar o pastado, E, segundo entendo, obriga-nos a uma reflexia sobre uma forma especitica de as sociedades modernas e ccontempordneas lidarem com a experigncia do transcurso do tempo e seu resultado para o conjunto das realizages humanas. Significa também operar a partir de um “duplo incontornivel: a austncia € o sentimento que cla provocs”, sign tagos, de restos ¢ de indicios que nos chegam, © passado x6 pode ser interrogado por veis apenas por meio de intermédio destessinas e, por esse caminho, iganbar sentido para as sociedades num, determinado presente, Tragos que poderio assim ajudar na ressignificasio das construgées ‘materiais das sociedades passadas fazendo com aque seus objetos possam ser vistos como algo diferente daquilo que eram quando foram, criados,Trata-se, por conseguinte de uma nova forma de produsio de visibilidade, capar de transformar tais objetos do passado em algo diferente daquilo que um dia foram (Haetog, 2003). Os objetos dispostos para o olhar ‘igre 7. ete de St et, i! a eS et «seis ds epi Prana Lato Lal au stone dosnent Breton te ota rt mmc ers sane ma econ ms, batten 109 REVISTA D0 PATEIMGMIO HisTORICO € ARTISTICO NACIONAL do vistante do Muses da DDR, com o qual ‘comesamos este artigo, sdo assim algo distinto do sua materialidade, porque evocam, por meio da operasio muscogrifica, um tempo passado, dio a ver um invisivel para o vistante. (Opera-se claramente por esse caminko uma transformagio, que nos obriga a interrogar tal processo de produsio de uma nova reaidade para os referidos objetos:simbolos de algo para além de sua materialidade dada a0 olhar. uy Fc pl rede Fano fei Nace PFomzt de Unveanén ce lanes ef oo ede Essa nova realidade seria aquilo que daria propriamente a Conjunto monumental e que, nas palavras ndigio de histarico a um. dda Unesco, se trade por objetos dotados dde“valor excepcional”. Yale ressaltar que ime refiro& condigio de historfeo © no & natureza de um dado objeto do patriménio, Com isto, pretendo sublinhar o cariter de ‘operagio que torna possivel um determinado conjunto de abjetos do passado serem algados a conuigio de patriménio historico, (© que os faz aceder a essa categoria nie &, portanto, a natureza do objeto em si, masa ‘operasio que permite que sejam vistos como integrantes de um patrimfnio histrico e, assim, ganhem «que nem todos os restos e tragos de uma determinada época adquirem o estatuto de patriménio historico, mas somente aqueles sclecionados e produzides como tal poderio se integrar a um projeto de recordacio proprio da politica de patrimonializasio. ‘Tomando as sugestées de Frangoise Choay em seu clissico trabalho intitulado A alegoria do patriminio, a monumentalizagio do passado por meio de um trabalho de patrimonializagio de seus restos ¢ uma forma de elaborasio. coletiva da perda desse passado. E, sobretwdo ‘uma maneira de conjurar a experiéneia da Inexorabilidad do tempo e de seus efeitos destruidores sabre o homem, © retorno do drama faustiane que ‘marcou a experiéncia da modernidade parece rnovamente presente, apontando para os paradoxos do ser moderno: a nccessidade de preencher com certeras—e com lembransas = aquilo que é incerto por sua propria condigio — 0 tempo pretérito, REFERENCIAS BABELON, JP & CHASTE, A. tation de pstrincne, Pas: Eon Lia Let, 1994, AIAG, Antoni, 4nfinca da academia (1788-179), Vista aos arquvos do Reno, Correspondénci tal respeito de Jo Pero Ribeiro, Sats Res de Viterbo, tte Lisbon; Academi de Ciéncis, 194, BALLART, Josep El patrinine Bey argue: ‘lor y 110 Barelons: Ariel, 2002, CHOY, Frangose align de patindee, So Paul: Lnesp, 2006, DEL'ESTOILE, Bont. got dr tos De ep coli una premit. 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