interna, formada por aquilo que não lhe pertence, vou preencher
o pequeno quadrado interno com outro pedaço de sarrafo. ( Faço
uso de sarrafos porque muitas de suas formas, em Roma e no
Oriente, derivam desse tipo de casamento entre relações matemá
ticas e pensamento sobre a natureza. )
Temos, então, u m quadrado pela hipotenusa e , é claro, por
68
meio de cálculos, podemos relacioná-lo aos quadrados através Pitágoras provou um
dos lados menores. Mas essa operação iria ocultar a estrutura teorema geral não
apenas para o
natural da figura. Nenhum cálculo é necessário ; podemos dis triângulo 3:4:5 dos
pensá-lo. Uma pequena brincadeira, dessas apreciadas por egípcios ou
crianças e matemáticos, revelará muito mais do que cálculos. qualquer outro
triângulo particular
Transponham-se dois triângulos para novas posições. Assim. dos babilônios, mas,
Mova-se o triângulo que apontava para o sul, de modo que seu sim, para qualquer
triângulo que
lado mais longo se justaponha ao lado correspondente do triân contiver um ângulo
gulo que apontava para o norte. Repita-se a mesma operação reto.
Página de uma
com os triângulos que apontavam, respectivamente, para o leste versão árabe do
e para o oeste. ano 1 258" e uma
impressão chinesa
Dessa maneira construímos uma figura em forma de L, com a do teorema,
mesma área (evidentemente, uma vez que composta das mesmas associada à história
peças) , em cujos lados podemos identificar de pronto os lados da China pelo
contemporâneo de
menores do triângulo reto. Vejamos um meio de visualizar a Pitágoras, Chou Pei.
composição da figura em forma de L : isto se consegue colocan
do-se uma divisão ao nível superior do segmento horizontal do
L. E então ? Não fica claramente demarcado, na parte superior,
um quadrado com lado igual ao lado menor do triângulo? E a
parte inferior, não forma um quadrado, incluindo o ângulo reto,
com lado igual ao lado maior do triângulo?
Dessa forma, Pitágoras provou um teorema geral, válido não
apenas para o triângulo 3 :4 :5 egípcio ou para um dos triângulos
babilônicos, mas para qualquer triângulo que contenha um ângulo
reto. Isto é, desde que um triângulo contenha um ângulo reto,
o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos
cate tos (ou lados menores do triângulo) . Por exemplo, lados
na proporção 3 :4 : 5 formam um triângulo retângulo uma vez que
5 2 = 5x5 = 2 5
= 1 6 + 9 = 4x4 + 3x3
= 42 + 32 .
O mesmo acontece com os triângulos encontrados pelos
babilônicos, tanto o simples 8 : 1 5 :1 7 , como o inacreditável
3367 :34 5 6 :4 8 2 5 o que não deixa a menor dúvida em relação ao
160 fato deles terem sido ótimos e m aritmética.
\ I
\
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I" t 1
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A Escalada do Homem
1 00 + 1 00 + 1 00, X + X 1 0 + 1 0 e V 5 . O islamismo a
= =
J
A Música das Esferas
73
O Alhambra representa o
último e mais requintado
monumento da
civilização árabe na
Europa.
Galeria dos músicos
e sala de banhos do
harém.
A Escalada do Homem
1 72
A Música das Esferas
1 73
74
Simetrias impostas
pela natureza do
A Escalada do Homem espaço em que vivemos.
Cristais naturais de
jluorita púrpura,
rombóides da
Islândia e cubos de
pirita.
76
E m u m afresco de
Florença, pintado
por volta de 1 3 50,
não há nenhuma
intenção de
perspectiva, porque
o pintor se pensava
registrando as coisas
não da m aneira
como elas se
apresentavam, mas
como elas eram.
tamus dt1l1onfi'ation" ln,ne mcltiplic·ntut Se U�
..
i in rccund ú�un a � g: & c tncrum d: &: ntu.ha�
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bi in prima fi. �u,a. A ngulus cr;o h J q W I retn.s:
A Música das Esferas
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J,d q.1tqu�.hs arCUl ii g in pnmo circulo: [pu H p
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IlJinc dOhCia&DU$ iU'CUtn drc::uJ ,: ren.bit ergo b.
trabalhava inte nsamente ; seus olhos giravam tal qual uma mesa
f.�;"
giratória, a fim de explorar a forma cambiante do objeto, a
• �
elongação dos círculos e m elipses e , então, apanhar um instante
no tempo, na forma de uma pincelada no espaço.
Analisar as variações dos movimentos de um objeto, como eu
posso fazer com a ajuda de um computador, era uma atividade
totalmente estranha às mentes dos gregos e dos muçulmanos .
Estes procuravam sempre o imóvel, o estático, um mundo in
temporal de perfeita ordem. Para eles, a forma perfeita era
representada pelo círculo. O movimento tinha de progredir, suave
e uniformemente, em círculo ; aí estava a harmonia das esferas.
Essa é a razão pela qual, no sistema de Ptolomeu, as órbitas
eram circulares, pois, assim, o tempo podia transcorrer uniforme
e imperturbavelmente . Acontece, porém, não existirem movi
mentos uniformes no mundo real. Velocidade e direção variam a
cada instante , de modo que só puderam ser analisadas quando se
criou uma matemática na qual o tempo era uma variável. Este
problema pode ser teórico tratando-se dos céus, mas é prático e
de aplicação imediata na terra - na traje tória de um projé til, no
crescimento explosivo de uma planta, no simples cair de uma
gota de líquido, passando por variações abruptas de tamanho e
direção. A Renascença não dispunha de equipamento capaz de
fazer parar, de instante a instante , a imagem de uma cena em
movimento. Mas a Renascença havia conquistado o equipamento
intelectual : o olho penetrante do pintor e a lógica do matemático.
Dessa maneira, depois do ano 1 6 00, J ohannes Kepler se con
venceu de que o movimento de um planeta não é nem circular
nem uniforme . A órbita é uma elipse que o planeta percorre em
velocidades variáveis. I sso significava que a velha matemática dos
padrões estáticos já não era mais suficiente ; nem a matemática do
movimento uniforme. Havia a necessidade de uma matemática
capaz de definir e operar com movimentos instantâneos.
83
A matemática se
transforma em uma
maneira dinâmica
de pensamento, e
esse fato constitui
um dos grandes
passos na
escalada do homem.
Curva gerada por
compu tador da
trajetória de
partfcu/as
subatômicas.