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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

DEPARTAMENTO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Disciplina: Discursos de Poder em Segurança Pública

Professores: Lenin Pires e Evelyn Dan

Aluna: Fernanda Damasceno

1ª Avaliação

1. Ao tratar das unidades do discurso, Foucault (em sua obra Arqueologia do


Saber) inicialmente irá propor rupturas com as formas ou continuidades
irrefletidas, aceitas sem qualquer exame mais cuidadoso, ao se proceder
qualquer análise histórica. Quais seriam os procedimentos do método
arqueológico apresentados pelo autor? Explique e exemplifique.

"Arqueologia" é o termo usado por Foucault durante a década de 1960 para


descrever sua abordagem à história da escrita. A arqueologia trata-se de
examinar os traços discursivos e os pedidos deixados pelo passado para
escrever uma "história do presente". Em outras palavras, a arqueologia é sobre
a visão da história como uma forma de entender os processos que levaram ao
que é hoje.

Foucault começa argumentando que ocorreu uma mudança na história


intelectual recente, que se concentrou mais nas descontinuidades, enquanto a
própria história revelou crescente interesse em estruturas estáveis. Foucault
afirma que a história deve abandonar (e em parte já abandonou) sua relação com
as fontes: ao invés de insistir nas tentativas de ver através delas, como se fossem
transparentes, deveria examiná-las à medida que a arqueologia olha os
monumentos. A partir desse momento surge a "arqueologia do saber", uma
tentativa de examinar os documentos como monumentos, tentando encontrar
através de operações de descontinuidades de análise, rupturas, diferenças,
turnos (mas períodos mais longos), porque uma busca por eles permite retirar a
história artificial construções discursivas que lhe são impostas e dá uma ideia
de outras conexões que podem estar por trás da produção de discursos.
2. Bourdieu em sua obra “A economia das trocas linguísticas” traz
importantes reflexões sobre o uso da linguagem como matéria de discurso.
Qual seria sua compreensão sobre o “discurso de autoridade”?

Bourdieu garante que a cultura ou os sistemas simbólicos podem ser


idealizados de três formas. Primeira, como instrumentos de conhecimento e
construção do mundo dos objetos. A segunda forma consiste em compreender
a cultura como composições estruturadas, bem como um código. Além dessas
duas maneiras de conceber os sistemas simbólicos, o autor entende também os
sistemas culturais como instrumentos de dominação. Para ele a linguagem é
mais que um instrumento de comunicação, é também de ação e poder. Todos
os atos comunicativos, não estão propostos apenas a serem compreendidos, são
também signos a serem estudados, signos de autoridade que devem ser
obedecidos. Segundo o autor, quem tem o poder de falar em público confirma
sua fala como legítima, dá realidade ao discurso. A autoridade do sujeito que
tem o poder de fala é uma autoridade inabalável, pois objetiva e legitima o seu
discurso. Tem legitimidade de impor um sentido e um conteúdo a todos.

Dessa forma então, não há de existir discursos neutros. Quando se


conquista o poder da fala, naturalmente quando se impõe as categorias de
percepção, impõe-se também a estrutura de um pensamento, uma forma de
perceber o mundo. Desta maneira, acabam por ficar em segundo plano as
funções de conhecimento ativo e integrador dos universos culturais e, ao tratar
da terceira forma de conceber a cultura, destaca-se as funções políticas dos
sistemas simbólicos, apontando os usos da função de comunicação. Entretanto,
não são todos que podem ter direito à fala. As mensagens são sempre emitidas
por um agente que possui de autoridade e são sempre legitimadas por todo um
corpo de agentes e instituições culturais.

Dessa maneira, é possível perceber que o discurso de autoridade pode ser


utilizado como maneira de manipulação de massa. Segundo um texto
recentemente liberado, Bourdieu afirma que a opinião pública é uma forma de
discurso de autoridade, pois seria “demandada” através de especialistas e
pessoas influentes, que poderiam contaminar e difundir sua opinião para toda
uma população, tornando a opinião deles como uma opinião geral, tornando-a
pública.
3. W. Benjamin ao tratar da “crítica da violência” pela perspectiva do Direito
faz alusão sobre um dogma fundamental presente tanto na abordagem
dada pelo direito natural quanto do direito positivo. De que dogma se
trata? Explique.

A crítica da violência só pode ser realizada através da filosofia da história


da violência, argumenta Benjamin. Em sua "desconstrução" da relação entre
violência, direito e justiça, Benjamin ergue vários pares de oposição. O primeiro
desses pares de oposições é a lei natural e o direito positivo, que, embora em
geral sejam entendidos como antitéticos (a lei natural está preocupada com a
justiça dos fins, o direito positivo está preocupado com a justificação dos meios)
compartilhar um dogma fundamental, a saber, que existe uma relação de
justificação entre meios e fins. Por esta razão, as duas teorias concordam que a
violência pode ser justificada como um meio se estiver de acordo com a lei.

Benjamin levanta as seguintes objeções contra este dogma: se a relação de


justificação entre meios e fins é pressuposta, não é possível levantar uma crítica
de violência e ipso, mas apenas aplicações de violência. Por isso, a questão de
saber se a violência, em princípio, pode ser um meio moral mesmo para um fim
justo, é impossível abordar. Ao insistir em criticar a violência em si mesmo,
Benjamin desafia o dogma fundamental da jurisprudência, a saber, que a justiça
pode ser alcançada se os meios e os fins forem equilibrados, ou seja, se os meios
justificados forem usados apenas para fins.

4. Em “Da Violência” a filósofa Hannah Arendt estabelece um diálogo com o


pensamento weberiano para indicar as possibilidades e limites para o uso
da força nas sociedades democráticas de direito. Explique como a autora
apresenta suas reflexões e como ela concebe a legitimação da autoridade
estatal.

Arendt faz uma crítica à ideia ou consenso dos teóricos políticos de que a
violência é uma manifestação de poder, ou seja, de que o poder político é
manifestação de violência. Neste contexto cita Max Weber, para quem "o
Estado é o domínio de homens sobre homens com base nos meios de violência
legítima, isto é, supostamente legítima"; assim como Voltaire, onde o poder está
presente onde quer que se tenha a chance de se impor à própria vontade, contra
a resistência dos outros. Na sequência, a autora lembra a análise de Hobbes, de
que muitos fracos unidos se tornam tão fortes ou mais que aquele que exerce o
domínio pela força, e reafirma que o poder não pode continuar existindo pela
força, uma vez que ele para quando a força acaba. Logo, para a autora, o poder
é diferente de força. Arendt lamenta o fato da ciência política moderna não
conseguir diferenciar os conceitos "poder", "força", "autoridade" e "violência",
fenômenos estes diferentes entre si. Ela apontou que não é violência, mas poder
que é a essência do governo.

Arendt conclui então que Weber realmente entendi a diferença entre poder
e violência. A violência pode destruir o poder antigo, disse ela, mas nunca pode
criar a autoridade que legitima o novo. A violência é, portanto, a base mais
pobre possível para construir um governo.

5. Discorra sobre o conceito da “banalidade do mal”, cunhado por Hannah


Arendt, apresentando as condições nas quais a mesma pôde ser formulada,
considerando a trajetória intelectual da filósofa.

Hannah Arendt cunhou o termo "banalidade do mal" enquanto cobre o


julgamento de 1961 de Adolf Eichmann, um oficial nazista encarregado do
extermínio ordenado dos judeus da Europa. A própria Arendt era uma judia
exilada lutando de todas as formas para enfrentar a destruição total da sociedade
europeia. Suas conclusões foram profundas. As pessoas que fazem o mal não
são necessariamente monstros; às vezes são apenas burocratas. O Eichmann que
ela observou no julgamento não era brilhante nem um sociopata. Ele foi descrito
pelo psiquiatra do tribunal como um "homem completamente normal." O mal,
sugere a Arendt, podem ser atos extraordinários cometidos por pessoas de outra
forma não dignas de destaque.

O termo “banalidade do mal” é utilizado para mostrar a falta de


profundidade que caracterizou o culpado, de forma que o mal inegável e
extremo ao qual organizou seus atos não podia ser conferido nem às suas
ideologias. A banalidade para Arendt está no fato do mal não possuir
profundidade nem dimensão demoníaca. Sendo assim, conclui-se com base no
caso Eichmann e na análise da banalidade do mal que o abandono da
necessidade e afastamento da realidade, em conjunto, preparam o caminho para
um mal tão banal, que chega a ser cometido por indivíduos comuns. Dessa
forma, a “ausência de pensamento” dos indivíduos os levam a sujeitar-se
incapazes de resistir ao mundo que a ideologia constrói, levando tais pessoas a
basearem-se em regras de conduta de determinadas sociedade e época,
caracterizando a idéia da autora de que o mal não possui profundidade ou
dimensão maligna.

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