Você está na página 1de 5

Primórdios da Música Popular Brasileira e o

reconhecimento do Choro enquanto manifestação cultural

Profa. Dra. Cibele Palopoli


@cibelepalopoli | cibele.palopoli@gmail.com

RESUMO

Há um consenso entre os pesquisadores em atribuir ao início do século XX - mais


especificamente, à obra de Pixinguinha - como o marco cronológico em que o gênero musical
choro foi estabelecido. Não obstante, a palavra “choro” comporta uma série de outras
acepções, às quais discutiremos nesta exposição, baseando-nos em fontes primárias e no
discurso verbal e textual dos próprios chorões. Como conclusão, verificamos que o Choro tem
exercido múltiplas funcionalidades, as quais legitimam o seu enquadramento enquanto
manifestação cultural. Esta oficina é derivada do capítulo “Em outros tempos, era assim:
Choro no sentido lato e estrito”, da tese de doutorado “Violão velho, Choro novo”, defendida
por Cibele Palopoli em 2018.

A) CHORO: REMINISCÊNCIAS DOS CHORÕES ANTIGOS (PINTO, 2014 [1936])

Contemplando um período cronológico aproximado entre 1870 e 1930, apresenta o perfil de


cerca de 285 músicos, entre violonistas, flautistas, cavaquinhistas, oficleidistas, pianistas,
trombonistas, bombardinistas, pistonistas, clarinetistas, saxofonistas, bandolinistas,
violinistas, oboístas e fagotista.

1
B) ORIGENS HISTÓRICAS DA PALAVRA “CHORO” (PALOPOLI, 2018: 37-39)

2
C) A CONSOLIDAÇÃO DO GÊNERO CHORO ATRAVÉS DE PIXINGUINHA

“Quando eu fiz o Carinhoso era uma polca. Polca lenta. Naquele tempo tudo
era polca, qualquer que fosse o andamento. Tinha polca lenta, polca ligeira,
etcétera. O andamento do Carinhoso era o mesmo de hoje, e eu o
classifiquei de polca lenta ou polca vagarosa. Mais tarde mudei para
chorinho. Outros o classificaram de samba. Alguns preferiram choro
estilizado. Houve uma quinta classificação – samba estilizado – que eu
coloquei para fins comerciais. Se eu fizesse o Carinhoso hoje, o chamaria
de choro lento. Não tem nada demais. É preciso esclarecer que naquela
época não havia choro, e sim música de choro, música que fazia chorar.
Nesse aspecto, polca também podia ser choro. É o caso do iê-iê-iê, nos
tempos atuais. Toda música que aparece logo é chamada de iê-iê-iê, fato
que muitas vezes não corresponde à realidade”

Depoimento de Pixinguinha sobre Carinhoso, composto em 1917 (PALOPOLI, 2018: 44).

“E quanto ao gênero choro, criado por esses conjuntos, nele se incluem


várias formas de música instrumental, como polcas, tangos, xótis, mazurcas,
valsas, lundus e maxixes, cuja técnica de composição, via de regra, não
dispensa o uso de modulações imprevistas, armadas com o propósito de pôr
à prova a capacidade ou o senso polifônico dos acompanhadores”

Verbete “Choro” na Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular (1977), assinado
pelo musicólogo Mozart de Araújo. Foi alterado na segunda edição, de 1998 (PALOPOLI, 2018: 46).

D) SENTIDO LATO, SENTIDO ESTRITO

“Em dois anos de trabalho, levantei cerca de 3 mil choros, e creio que novas
pesquisas poderão ampliar muito esse número. Claro, quando me refiro
aqui a choro, emprego o termo no sentido lato de música instrumental que
formava, basicamente, o repertório dos chorões: polcas, tangos brasileiros,
valsas, mazurcas, maxixes, xotes, choros (aqui no sentido estrito) e, em
casos excepcionais, até mesmo sambas e marchas. Em princípio, toda a
música popular instrumental brasileira, desde que contenha, pelo menos,
alguns elementos de brasilidade, poderia ser considerado choro. O frevo,
por exemplo, não deixa de ser um choro pernambucano”

Prefácio do livro Carinhoso etc.: história e inventário do Choro (1984), de Ary Vasconcelos
(PALOPOLI, 2018: 44-45).

E) SÍNCOPAS NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Tresillo Síncopa característica Ritmo de habanera

3
F) O “UNIVERSO DO CHORO”

Possíveis levadas rítmicas de alguns gêneros musicais que fazem parte do Choro – este simbolizado
enquanto “universo” (PALOPOLI, 2018: 49).

G) ACEPÇÕES PARA A PALAVRA “CHORO” (PALOPOLI, 2018: 56).

Clássicos em Choro (1979) The Beatles ‘In’ Choro Choro meets Bach (2011)
(2002-2005)

H) POSSÍVEL SOLUÇÃO

Grafar a palavra Choro com a inicial maiúscula nas suas mais variadas acepções, salvo quando
esta fizer referência específica ao gênero musical. Este, portanto, passará a ser denominado
por choro (com "c" minúsculo).

4
CONTINUE ESTUDANDO... ALGUMAS SUGESTÕES:

ALMADA, Carlos. Harmonia funcional. 2a ed. Campinas: Editora da


UNICAMP, 2013.

______. A estrutura do Choro: com aplicações na improvisação e no


arranjo. Rio de Janeiro: Da Fonseca, 2006.

BESSA, Virgínia de Almeida. A escuta singular de


Pixinguinha: história e música popular no Brasil dos anos
1920 e 1930. São Paulo: Alameda, 2010.

CASA DO CHORO. Acervo memória do Choro. 2013. Disponível em:


<http://www.casadochoro.com.br/acervo/Works>. Acesso em: 22 jul. 2019.

CAZES, Henrique. Choro: do quintal ao Municipal. 3a ed. São Paulo: Editora 34, 2005 [1998].

INSTITUTO MOREIRA SALLES. Ernesto Nazareth 150 anos. 2012. Disponível em:
<https://www.ernestonazareth150anos.com.br/>. Acesso em: 22 jul. 2019.

KFOURI, Maria Luiza. Discos do Brasil: uma discografia brasileira. Disponível


em: <http://www.discosdobrasil.com.br/>. Acesso em: 22 jul. 2019.

KIEFER, Bruno. Raízes da Música Popular Brasileira: da


modinha e lundu ao samba. 2 ed. Porto Alegre, Editora
Movimento, 2016 [1977/1979].

MACHADO, Cacá. O enigma do homem célebre: ambição e


vocação de Ernesto Nazareth. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2007.

PALOPOLI, Cibele. Violão velho, Choro novo: processos composicionais de


Zé Barbeiro. Tese (Doutorado em Música) – Escola de Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo, 2018. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/
27/27157/tde-11092018-162324/pt-br.php>. Acesso em: 28 jan. 2019.

PINTO, Alexandre Gonçalves. Choro: reminiscências dos chorões antigos. 3.


ed. comentada, revisada e ilustrada. Rio de Janeiro: Funarte, 2014 [1936].

SÈVE, Mário. Fraseado do Choro: uma análise de estilo por padrões de


recorrência. 2015. 250 f. Dissertação (Mestrado em Música) – Centro de
Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2015.

SEVERIANO, Jairo. Uma história da música popular brasileira: das origens à


modernidade. São Paulo: Editora 34, 2008.

TINHORÃO, José Ramos. Pequena história da música popular: segundo seus


gêneros. 7a ed. São Paulo: Editora 34, 2013 [1974].

Você também pode gostar