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A PALERMO
1. Resumo
2. Abstract
This article aims to study the representation of the female figure in the novel
"Voltar a Palermo", from the brazilian author Luzilá Gonçalves Ferreira.
This is an investigation that reveals the representation of the female character in the
text of fiction, analyzing the work from the point of view of the technical and
structuring elements of the narrative, regarding the building of the character.
Moreover, the results should provide subsidies for the understanding of the female
imagery within the Brazilian literature, as notably the female representation is few
studied within the national novels, hardly taking main or representative-differential
roles in the most prominent frames, as these ones are usually intended to male
characters.
Keywords:
3. Introdução
1
Uma das características fundamentais para a existência dos romances históricos é a utilização de
dados verídicos para a constituição ambiente. Segundo Lucáks(visto em WEINHARDT, 1994): “O
romance histórico não é um gênero ou subgênero,funcionalmente distinto do romance. Sua
especificidade, que é a de figurar a grandeza humana na história passada, deve resolver-se nas
características gerais da forma romanesca, o que inclui também a possibilidade de apresentar as
figuras históricas em momentos historicamente decisivos. A arte do romancista consiste em colocá-
las na intriga de modo que essa situação decorra da lógica interna das ações.
2
Teoria vista em CÂNDIDO, 2011. Vemos uma teoria semelhante formulada por FORSTER,
publicada em 1921, lida em BRAIT, 2010, onde os três elementos essenciais estruturadores do
romance são: Intriga, história e personagem. Para ambos, notamos que o romance é um sistema,
onde os elementos não se sobrepõem, mas se inter-relacionam.
Seguindo-se na técnica de estruturação do romance, a necessidade da
verossimilhança3 – a criação do sentimento de verdade – a partir do ficcional para
causar impressões no leitor real, além das questões teóricas de composição das
personagens (femininas) em Voltar a Palermo, analisaremos no presente artigo as
questões de gênero trazidas no romance, criando relações de verdade entre as
mulheres ficcionais e possíveis representações femininas reais, ajudando a
estabelecer a identificação leitor-romance, e como é feita a composição/formação da
personagem literária caracterizada no universo feminino.
4. Enredo
3
Conceito formulado por Aristóteles, na Poética, verossimilhança é a qualidade que faz a arte, no
caso, literária, parecer verdadeira, apesar de todas as coisas impossíveis que ela possa dizer. A arte
não é verdadeira, não é verídica, ela é verossímil, é semelhante à verdade. A arte desperta a ilusão -
tem como referencial a impressão da verdade. Mesmo com todas as improbabilidades no mundo
físico, uma obra deve respeitar sua verossimilhança interna, o sentimento de verdade causado a
partir da lógica interna da narrativa. “Com efeito, não diferem o historiador e o poeta, por escreverem
em verso ou prosa (...) – diferem sim em que um diz as coisas que sucederam, e o outro as coisas
que poderiam suceder.” (ARISTÓTELES, apud, BRAIT, 2006, p. 30)
Maria, ao retornar, continuou sua vida, sem saber o que acontecera a Nino. Quase
vinte anos depois de ter deixado a Argentina, encontra um bilhete de Nino dentro de
um livro, que a inspira a procurá-lo.
Voltando a Argentina, não sem dificuldades, descobre o que acontecera com
Nino e sua família nesses vinte anos e conhece Mercedes e Pablo. Os três se
tornam amigos e juntos, continuam a busca. Morales já havia morrido.
Passado algum tempo, Nino reaparece, encontrado em um cativeiro, desmemoriado
e com problemas psicológicos. Sessões de terapia recuperam sua memória e eles
vivem momentos felizes.
Ao ver aquela família feliz e completa Maria decide então voltar ao Brasil,
prometendo um dia retornar à Palermo, bairro onde se situava o apartamento onde
viveu com Nino, e que passou a viver com Mercedes enquanto buscavam-no.
5. Definições
7. Maria
4
Determinadas funções, ações, atitudes, que são reservada para mulheres e outras para os homens.
Ver o capítulo 7 do livro de Daniela Auad.
espaço no enredo do romance a partir do desejo do reencontro com Nino, amante
com quem se relacionou durante os dois anos da sua estadia na Argentina, e
deixou-o para voltar ao Brasil enquanto o país sofria com a ditadura, depois de
passados 20 anos. Ainda segundo os estudos dos autores referidos anteriormente,
Nino ocupa a classificação de Objeto desejado – força de atração; fim visado;
objeto de carência; elemento que representa o valor a ser atingido (IDEM, 2010).
A busca por Nino contribui não somente para o deslocamento geográfico de
Maria no enredo, mas também para que a protagonista passe a fazer auto-reflexões
e tenha mudanças internas, até mesmo de caráter. As memórias de uma vida
anterior incitam a volta para Buenos Aires e o reencontro de si mesma.
Apesar de ser o desejo do reencontro com Nino o desencadeador de toda a
situação, ele resiste na trama quase toda apenas como um fantasma, uma
lembrança, não sendo ele próprio o responsável por quase nenhum dos
acontecimentos internos na protagonista, mas sim os caminhos que Maria percorre
pra chegar até ele. Nós praticamente só o conhecemos a partir da visão de passado
da protagonista.
A partir da teoria de classificação das personagens de Forster, temos Maria
como personagem redonda, evoluindo de comportamento durante a obra.
“Personagens classificadas como redondas, por sua vez, são aquelas definidas por
sua complexidade, apresentando várias qualidades ou tendências, surpreendendo
convincentemente o leitor” (BRAIT, 2010, p.41)
As mudanças em Maria começam a ocorrer com sua nova chegada à
Argentina. Ela passa a se auto-perceber e afirmar, fazendo uma retrospectiva
interior de todos os acontecimentos da vida, e analisando-os sob uma perspectiva
agora mais madura. “O vento da realidade nunca havia de fato soprado sobre
mim?”(VP, p.146)
Na busca pelo objeto desejado, ela se depara com acontecimentos a alguns
conhecidos na resistência à ditadura, trazendo-a a consciência de quem fora, e
sentindo-se culpada:
E me senti culpada, não sabia exatamente de quê, e que deveria ser porque
fora poupada, e o fora porque nunca tivera coragem de viver até o fim minhas
opções como fizera Maurício, e não apostara a vida toda numa idéia. E
Maurício ferido e sangrento e agonizante crescia inda mais aos meus olhos.
(VP, p.76)
A protagonista termina por perceber e reconhecer a condição de comodidade
do passado, onde poderia a qualquer momento retornar ao país de origem, como
terminou por fazer, ao sentir medo do desenrolar violento da ditadura na Argentina,
mesmo com a existência de Nino, e do romance entre eles:
Depois da trágica morte dos filhos na guerra, sentimos Amparo como uma
mulher forte, mas que novamente sufocada pelos costumes, e pela ausência de
seus dos soles, se anula até o fim da vida:
Amparo Soler fora buscar os dois corpos, transportara-os um sobre o outro,
na charrete onde colocavam os tonéis de óleo de oliva para ir vender no
povoado. [...] Depois se cobrira de preto e pelo resto da vida fora uma mulher
silenciosa, o rosto semicoberto por um véu, um indefectível rosário nas mãos.
(IDEM, p. 50)
5
Construção social do conjunto de expressões daquilo que se pensa sobre o masculino e o feminino.
Modo como as pessoas percebem o gênero.
6
Estrutura Patriarcal: conjunto de relações hierárquicas entre homens e homens, mulheres e
mulheres, homens e mulheres, caracterizadas pela opressão das mulheres
de experiência e resignação mas que, ao longo dos anos, dos séculos,
soubera formar aquelas gerações de homens secos como troncos de árvores,
de mulheres ativas, trabalhadeiras e que davam à luz em silêncio, orgulhosas
do seu sofrimento calado, de sua capacidade de levar adiante a vida, tal qual
o haviam feito suas antepassadas. (IDEM, p.45)
Também em:
11. Conclusão
Referências
FERREIRA, Luzilá Gonçalves. Voltar a Palermo. Rio de Janeiro, Ed. Rocco, 2002
ATAÍDE, Vicente de Paula. A Narrativa de Ficção, São Paulo, McGraw-Hill do Brasil,
1974
GANCHO, Cândida Vilares. Como Analisar Narrativas. Ed. Ática, São Paulo, 1993,
AUAD, Daniela. Feminismo: que história é essa? Rio de Janeiro, DP&A, 2033
BRANCO, Lucia Castello & BRANDÃO, Ruth Silviano. A Mulher Escrita. Rio de
Janeiro, Lamparina, 2004