CAPÍTULO 7.

1 – Procedimento de cálculo para consolos curtos e muito curtos

Este procedimento visa levantar considerações e recomendações de cálculo para

consolos curtos, muito curtos e para o caso especial de consolo com altura infinita.

As principais referências utilizadas são:

 F. LEONHARDT; E. MÖNNIG – Construções de Concreto Vol. 2 -2ª Edição

 F. LEONHARDT; E. MÖNNIG – Construções de Concreto Vol. 3 -2ª Edição
 NBR 6118 – Projeto de Estruturas de Concreto – 2014 – Capítulo 22.5
 NBR 9062 – Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado – 2017 –
Capítulo 7.3.2
 ACI 318M – Structural Concrete Building Code – 2014 – Capítulo 16.5 e 22.9
 PCI – Precast and Prestressed Concrete – 2004 – 6ª Edição – Capítulo 6.8

As nomenclaturas utilizadas neste documento serão as seguintes:

Letras minúsculas

 a = braço da força solicitante do consolo

 b = base do consolo
 c = cobrimento das armaduras
 d = altura útil do consolo
 h = altura total do consolo
 𝑓𝑐 = resistência a compressão do concreto
 𝑓𝑦 = resistência de escoamento do aço da armadura passiva

Letras maiúsculas

 𝐴𝑓 = Parcela da armadura referente ao momento gerado pelas forças no consolo

 𝐴𝑛 = Parcela da armadura referente a força horizontal aplicada no consolo
 𝐴𝑣𝑓 = Parcela da armadura referente ao Shear Friction (Atrito-Cisalhamento)
 𝐴𝑠𝑐 = Armadura de flexão do consolo (tirante)
 𝐴ℎ = Armadura de costura do consolo
 𝐴𝑎𝑢𝑥 = Armadura auxiliar para do modelo de Biela-Tirante (Strut-and-Tie)
 𝑉𝑘 = Solicitação vertical característico (nominal – ACI e PCI)
 𝑉𝑑 = Solicitação vertical majorada
 𝐻𝑘 = Solicitação horizontal característica (nominal – ACI e PCI)
 𝐻𝑑 = Solicitação horizontal já majorada

Letras gregas

 𝛼 = Ângulo relativo entre a superfície de ruptura e a armadura principal do consolo

 ∅ = Fator de redução da resistência do aço da armadura passiva (ACI e PCI)
 𝜇 = Coeficiente de atrito
1º Passo - Definição do tipo de consolo
São considerados consolos os elementos nos quais a distância “a” é menor ou igual a “d” e
que não sejam solicitados por uma força horizontal “H” maior do que a força vertical “V”.

(NBR 9062 e ACI 318 adaptados)

Os consolos serão divididos em três grupos:

- Consolo curto é definido por: 0,5 ≤ 𝑎/𝑑 ≤ 1

- Consolo muito curto é definido por: 𝑎/𝑑 < 0,5

- Consolo de altura infinita é definido por: 𝑎/𝑑 ≤ 1 𝑐𝑜𝑚 𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑡𝑒𝑛𝑑𝑒𝑛𝑑𝑜 𝑎𝑜 𝑖𝑛𝑓𝑖𝑡𝑛𝑖𝑡𝑜

2º Passo - Dimensionamento pelo ACI-318/PCI - método do Shear Friction

O método do Shear Friction (ou Cantilever Beam Method) é descrito por completo no
capítulo 22.9 do ACI-318M-14 e no capítulo 6.8.1 no PCI 6ª edição. A NBR 6118 por sua vez, faz
somente uma menção ao método, porém não entra no mérito de cálculo do mesmo. Portanto,
o método de cálculo do Shear Friction irá fazer uso de coeficientes vindos do ACI-318M-14,
assim como recomendações e restrições.

 ∅ deve ser sempre 0,75 para consolos

 𝑓𝑦 não deve exceder 420 Mpa
 Para concretos de peso normal monolíticos ou concretados contra concretos com
superfície tratada, 𝑉𝑘 não deve exceder o menor dos seguintes valores:
o 𝑉𝑘 < 0,2 ∙ 𝑓𝑐 ∙ 𝑏 ∙ 𝑑
o 𝑉𝑘 < (3,3 + 0,08 ∙ 𝑓𝑐 ) ∙ 𝑏 ∙ 𝑑
o 𝑉𝑘 < 11 ∙ 𝑏 ∙ 𝑑
 Para demais tipos de concreto, 𝑉𝑘 não deve exceder o menor dos seguintes valores:
o 𝑉𝑘 < 0,2 ∙ 𝑓𝑐 ∙ 𝑏 ∙ 𝑑
o 𝑉𝑘 < 5,5 ∙ 𝑏 ∙ 𝑑
3º Passo – Cálculo de 𝐴𝑣𝑓 – Parcela de armadura referente ao Shear Friction
Para uma armadura em uma direção genérica em relação ao plano de ruptura, temos a
equação apresentada no ACI-318M-14 item 22.9.4.3 (adaptado):
𝑉𝑑
𝐴𝑣𝑓 =
∅ ∙ 𝑓𝑦 ∙ (𝜇 sin 𝛼 + cos 𝛼)

Sendo “α” o ângulo formado entre o plano de ruptura e a armadura de reforço,

conforme figura abaixo.

 No caso de consolos curtos, este ângulo geralmente é próximo de 60°~70°.

 No caso de consolos muito curtos, este ângulo é assumido como 90°.
 No caso de consolos de altura infinita, este ângulo pode variar de 50°~80°.
o O motivo desta variação será demonstrado mais adiante neste
documento.

O coeficiente de atrito “μ” deve seguir conforme o item 22.9.4.2 do ACI-318M-14:

 Concreto monolítico - 𝜇 = 1,4 ∙ 𝜆

 Concreto concretado contra concreto endurecido com superfície tratada de
forma rugosa - 𝜇 = 1,0 ∙ 𝜆
 Concreto concretado contra concreto endurecido sem superfície
intencionalmente rugosa - 𝜇 = 0,6 ∙ 𝜆
 Concreto ancorado a estrutura de aço laminado por “head studs” ou barras de
aço para reforço - 𝜇 = 0,7 ∙ 𝜆

Onde “λ” é um coeficiente adimensional determinado pelo tipo de concreto:

 𝜆 = 1,0 para concretos de peso normal
 𝜆 = 0,75 para concretos leve
 Para demais casos, λ deve ser determinado baseado na proporção de volume
entre agregados de peso normal e leve, porém nunca maior que 0,85.
4º Passo – Cálculo de 𝐴𝑓 – Parcela de armadura referente ao momento
A armadura referente ao momento não é apresentada de forma direta no ACI-318M-
14, porém pode ser vista tanto no ACI-318M-11 item 11.8.3.3 quanto no Leonhardt Vol.2 -
capítulo 2.7. Esta armadura leva em consideração o momento gerado pela carga vertical
somado ao pequeno momento gerado pela carga horizontal.
𝑉𝑑 ∙ 𝑎 + 𝐻𝑑 ∙ (ℎ − 𝑑)
𝐴𝑓 =
∅ ∙ 𝑓𝑦 ∙ 𝑑

5º Passo – Cálculo de 𝐴𝑛 – Parcela de armadura referente a força horizontal

A armadura para suportar a força horizontal aplicada no consolo é determinada
basicamente de uma forma direta, como visto no ACI-318M-14 item 16.5.4.3:
𝐻𝑑
𝐴𝑛 =
∅ ∙ 𝑓𝑦

O ACI-318 também impõe que “𝐻𝑑 ” não deve ser considerado menor do que
“0,2 ∙ 𝑉𝑑 ”, exceto no caso em que provisões forem tomadas para impedir os esforços
horizontais atuantes no consolo.

6º Passo – Cálculo de 𝐴𝑠𝑐 – Armadura de flexão do consolo (tirante)

A armadura do tirante não deve ser menor do que o maior dos seguintes valores:

𝐴𝑠𝑐 > 𝐴𝑓 + 𝐴𝑛
2
𝐴𝑠𝑐 > ∙ 𝐴𝑣𝑓 + 𝐴𝑛
3
7º Passo – Cálculo de 𝐴ℎ – Armadura de costura
A área total de armadura de costura deve ser distribuída uniformemente dentro do
espaçamento de 2d/3 paralelamente a armadura de flexão do consolo.

𝐴ℎ ≥ 0,5 ∙ (𝐴𝑠𝑐 − 𝐴𝑛 )
8º Passo - Verificação do somatório de armaduras
A somatória das áreas da armadura de flexão do consolo (tirante) e das armaduras de
costura devem obedecer aos seguintes critérios.

𝐴𝑠𝑐 + 𝐴ℎ > 𝐴𝑣𝑓 + 𝐴𝑛 (𝑎)

𝐴𝑠𝑐 + 𝐴ℎ > 1,5 ∙ 𝐴𝑓 + 𝐴𝑛 (𝑏)

Se o caso (a) for dominante, então:

2
𝐴𝑠𝑐 > ∙ 𝐴 + 𝐴𝑛
3 𝑣𝑓
𝐴𝑣𝑓
𝐴ℎ >
3
Se o caso (b) for dominante, então:

𝐴𝑠𝑐 > 𝐴𝑓 + 𝐴𝑛
𝐴𝑓
𝐴ℎ >
2
9º Passo - Armadura mínima
A armadura mínima de flexão do consolo (tirante) é dada conforme o item 16.5.5.1 (c)
do ACI-318M-14.
𝑓𝑐
𝐴𝑠𝑐 𝑚í𝑛 = 0,04 ∙ ∙ 𝑏 ∙ 𝑑
𝑓𝑦

10º Passo – Armadura de suspensão

Deve-se calcular a armadura de suspensão para a força que atua no consolo. Para esta
armadura é necessário considerar a força atuando diretamente sobre a armadura.
𝑉𝑑
𝐴𝑠𝑢𝑠𝑝 =
∅ ∙ 𝑓𝑦

Como neste caso a armadura de suspensão é solicitada por tração direta, o coeficiente
de redução da resistência do aço pode ser considerado como 0,9.

CAPÍTULO 7.2 - Caso de Consolo Curto de altura infinita

Como visto anteriormente, a armadura de flexão no consolo depende diretamente das
parcelas de armadura 𝐴𝑣𝑓 e 𝐴𝑓 .

𝐴𝑣𝑓 por sua vez, depende do ângulo “α”, conforme a equação abaixo.
𝑉𝑑
𝐴𝑣𝑓 =
∅ ∙ 𝑓𝑦 ∙ (𝜇 sin 𝛼 + cos 𝛼)

Em consolos curtos o ângulo “α” é no máximo 90˚ (consolo muito curto) e pode chegar
em um mínimo de 45˚, pois o ângulo acaba sendo limitado também pela definição de consolo
curto “𝑎/𝑑 ≤ 1,0”.
 Portanto para os valores possíveis do coeficiente de atrito “μ” e considerando λ=1,0
(concreto normal), temos:

μ (coef. de atrito)
1,4 1 0,7 0,6
ang μSen + Cos μSen + Cos μSen + Cos μSen + Cos
90 1,40 1,00 0,70 0,60
80 1,55 1,16 0,86 0,76
70 1,66 1,28 1,00 0,91
60 1,71 1,37 1,11 1,02
50 1,72 1,41 1,18 1,10
45 1,70 1,41 1,20 1,13

Em um caso geral, vemos que o valor de “(𝜇 sin 𝛼 + cos 𝛼)” tende a aumentar
conforme o ângulo “α” diminui, portanto 𝐴𝑣𝑓 tende a diminuir quando o “α” se aproxima de
45˚ e aumenta conforme “α” atinge um valor próximo de 90˚.

No caso de 𝐴𝑓 vemos que a armadura depende de “d” e consequentemente de “h”.

𝑉𝑑 ∙ 𝑎 + 𝐻𝑑 ∙ (ℎ − 𝑑)
𝐴𝑓 =
∅ ∙ 𝑓𝑦 ∙ 𝑑

Considerando os valores possíveis de “α”, temos os seguintes valor de “h” para um

comprimento de consolo unitário (1,0m).

ang tan h (m)

90 - -
80 5,67 5,67
70 2,75 2,75
60 1,73 1,73
50 1,19 1,19
45 1,00 1,00

Pela tabela é possível concluir que quanto maior o ângulo “α” maior será a altura de
ruptura do consolo, logo maior será a sua altura útil “d”. Como a diferença “(ℎ − 𝑑)” tende a
ser constante, temos que quanto maior a altura útil “d” menor a armadura 𝐴𝑓 .

Correlacionando com o ângulo vemos que, quanto maior “α” menor o valor de 𝐴𝑓 .

Em resumo:

𝛼 ↑ => 𝐴𝑣𝑓 ↑ ; 𝐴𝑓 ↓

𝛼 ↓ => 𝐴𝑣𝑓 ↓ ; 𝐴𝑓 ↑

Em consolos curtos de altura infinita é necessário verificar qual a parcela de armadura

dominante. Caso 𝐴𝑓 for dominante é recomendável adotar um ângulo “α” mais baixo
(50°~60°), desta forma não há o risco de estar diminuindo a maior parcela de armadura.

Em casos gerais, quando o braço “a” possui um valor elevado, a parcela 𝐴𝑓 tende a ser
mais dominante que o Shear Friction.
 No caso de 𝐴𝑓 dominante, se a altura “h” for maior do que 1,0m mesmo adotando um
ângulo “α” entre (50°~60°), recomenda-se limitar a altura a 1,0m e calcular o ângulo “α” para
esta altura.

No caso em que a parcela do Shear Friction é dominante, é recomendável adotar um

ângulo “α” mais alto (70°~80°), garantindo que a parcela 𝐴𝑣𝑓 tenha um valor conservador.

Relembrando que para consolos muito curto (𝑎/𝑑 < 0,5) o ângulo “α” deve ser 90°.

Teste 1

𝑏𝑤 = 1,0 𝑚
ℎ = 0,6 𝑚
𝑑′ = 10 𝑐𝑚
𝑉𝑘 = 300 𝑘𝑁. 𝑚
𝑓𝑐 = 20 𝑀𝑃𝑎
𝑓𝑦 = 420 𝑀𝑃𝑎

𝜇 = 1,4
𝛾𝑑 = 1,4
𝛼 = 70°

Conferência de respostas

𝐴𝑣𝑓 = 8,04 𝑐𝑚2 /𝑚

𝐴𝑓 = 8,38 𝑐𝑚2 /𝑚

𝐴𝑛 = 2,67 𝑐𝑚2 /𝑚

𝐴𝑠𝑐 = 11,05 𝑐𝑚2 /𝑚

𝐴ℎ = 4,19 𝑐𝑚2 /𝑚
𝐴𝑠𝑢𝑠𝑝 = 11,11 𝑐𝑚2 /𝑚