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Meu nome é Lívia Giolo Taverna. Sou graduada em Nutrição pela Universidade Estadual Paulista –
UNESP (2011), pós-graduada em Nutrição Esportiva pela Universidade Estácio de Sá, Mestre em Inves-
tigação Biomédica pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – FMRP/USP. Atualmente sou pós-
graduanda em Gastronomia – Cozinha Profissional pela Universidade Anhembi Morumbi. Tenho expe-
riência na área clínica e consultoria na área de alimentos. Sou docente desde 2016.
E-mail: liviagiolo@claretiano.edu.br
Lívia Giolo Taverna
Batatais
Claretiano
2018
© Ação Educacional Claretiana, 2018 – Batatais (SP)
Trabalho realizado pelo Claretiano – Centro Universitário
Cursos: Graduação
Disciplina: Nutrição da Gestação ao Envelhecimento
Versão: jul./2018
(Original do Autor)
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Eduardo Henrique Marinheiro
Camila Maria Nardi Matos Filipi Andrade de Deus Silveira
Carolina de Andrade Baviera Rafael Antonio Morotti
Cátia Aparecida Ribeiro Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Vanessa Vergani Machado
Josiane Marchiori Martins
Projeto gráfico, diagramação e capa
Lidiane Maria Magalini
Bruno do Carmo Bulgarelli
Luciana A. Mani Adami
Joice Cristina Micai
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Patrícia Alves Veronez Montera
Luis Antônio Guimarães Toloi
Raquel Baptista Meneses Frata
Raphael Fantacini de Oliveira
Simone Rodrigues de Oliveira
Tamires Botta Murakami
Videoaula
André Luís Menari Pereira
Bruna Giovanaz
Marilene Baviera
Renan de Omote Cardoso
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrô nico ou mecânico, incluindo fotocópia,
gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana.
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
Conteúdo
O estudo da Nutrição da Gestação ao Envelhecimento visa no contexto do curso de nutrição contribuir para o entendimen-
to do futuro profissional a aplicação da nutrição da gestação ao envelhecimento. Portanto, esta disciplina irá estudar a
fisiologia e nutrição nas diferentes fases da vida e situações fisiológicas especiais: gestação, lactação, infância, pré-
escolar, escolar, adolescência, adultos e geriatria. A capacitação do aluno no atendimento a estes clientes/pacientes pos-
sibilita o futuro nutricionista ter domínio no atendimento nutricional.
Bibliografia Básica
VITOLO, Márcia Regina. Nutrição: da gestação à adolescência. 1 ed. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores,
2003.
WEFFORT, V. R. S.; LAMOUNIER, J. A. Nutrição em Pediatria. 1 ed. São Paulo: Manole, 2009.
YONAMINE, G. H. [et. al]. Alimentação no primeiro ano de vida. 1 ed. São Paulo: Manole, 2013.
Bibliografia Complementar
ACCIOLY, E. Nutrição em obstetrícia e pediatria. 1 ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2005.
CIAMPO, L. A. D. Aleitamento materno: passagens e transferências mãe-filho. 1 ed. São Paulo: Atheneu, 2004.
MAHAN, L. K. (Ed.); ESCOTT-STUMP, S. (Ed.). Krause: alimentos, nutrição & dietoterapia. Traduzido do original: Krause's
food,nutrition & diet Theraphy. Andréa Favano (Trad.). 11 ed. São Paulo: Roca, 2005.
NÓBREGA, F. J. Distúrbios da nutrição: na infância e na adolescência. 2 ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2007.
SALGADO, J. M. A alimentação que previne doenças: do pré-natal ao 2º ano de vida do bebê. 1 ed. São Paulo: Madras,
2003.
E-referências
PALMA, D., ESCRIVÃO, M. A. M. S., OLIVEIRA, F. L. C. Guia de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da EPM – UNIFESP
– Nutrição Clínica na infância e adolescência. Barueri, SP: Manole, 2009. (Biblioteca Digital Pearson).
RAMOS, L. R., CENDOROGLO, M. S. Guia de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da EPM – UNIFESP – Geriatria e Ge-
rontologia. 2 ed. Barueri, SP: Manole, 2011. (Biblioteca Digital Pearson).
SILVA, M. L. N., MARUCCI, M. F. N., ROEDINGER, M. A. Tratado de nutrição e gerontologia. Barueri, SP: Manole, 2016.
(Biblioteca Digital Pearson).
TERRA, N. L.A nutrição e as doenças geriátricas. 1. reimp. Porto Alegre: Edipucrs, 2016. (Biblioteca Digital Pearson).
YONAMINE, G. H., NASCIMENTO, A. G., LIMA, P. A., ZAMBERLAN, P., SILVA, A. P. A. Alimentação no primeiro ano de
vida. Barueri, SP: Manole, 2013. (Biblioteca Digital Pearson).
Palavras-chave _________________________________________________________________
Nutrição, fisiologia, fases da vida
_______________________________________________________________________________
1. INTRODUÇÃO
O processo de transformação do ser humano desde seu início até o fim da vida pode ser sub-
dividido em ciclos específicos. Em todas as fases da vida dos seres humanos a alimentação deve ser
variada e equilibrada. Uma boa nutrição é condição fundamental para promover o bem-estar físico,
mental e social de crianças, jovens e adultos, garantindo, em condições normais de saúde, uma boa
qualidade de vida.
Nutrição da Gestação ao Envelhecimento abordará conteúdos que nos façam compreender as
características dos sujeitos e demandas específicas de cada fase da vida, determinar as necessidades
nutricionais e, assim, garantir uma alimentação e nutrição adequadas, requisitos básicos para pro-
moção da saúde e prevenção de doenças
Primeiramente, na Unidade 1, conheceremos as principais alterações fisiológicas que ocorrem
durante a gravidez e como essas mudanças interferem nas necessidades nutricionais da mulher.
Este é um período de grande vulnerabilidade nutricional, com aumento das necessidades energéti-
cas, proteicas, de vitaminas e minerais. Ofertar uma alimentação adequada nesta fase garante não
só a saúde da mãe, como bom o desenvolvimento da criança. Ainda nessa unidade, conheceremos
as mudanças fisiológicas e recomendações nutricionais da nutriz durante o período de amamenta-
ção, além claro, de abordar assuntos relativos ao aleitamento materno.
Seguiremos nossos estudos com o foco agora na infância. A Unidade 2 inicia-se com os aspec-
tos fisiológicos dos lactentes e suas recomendações nutricionais. Falaremos da introdução alimen-
tar, fase de muitas dúvidas, que carrega ainda muita influência de crenças populares, socioeconômi-
cas e culturais. Passaremos depois às fases pré-escolar e escolar, que possuem aspectos fisiológicos
específicos, que influenciam diretamente no comportamento alimentar das crianças. Uma ingestão
adequada de energia e nutrientes nessa fase é importante para garantir o crescimento e desenvol-
vimento adequados. Para finalizar a Unidade, conhecermos os aspectos fisiológicos dos adolescen-
tes e as recomendações nutricionais para essa fase.
Já na Unidade 3 abordaremos assuntos relacionados à fase adulta. Assim como nas outras
unidades estudadas, começaremos com o estudo da fisiologia dessa faixa etária, para depois focar-
mos nas recomendações nutricionais. Nessa unidade, em especial, é importante compreender todos
os aspectos fisiológicos do indivíduo adulto, pois esses conceitos serão úteis na Unidade 4, momen-
to em que estudaremos o processo de envelhecimento e seu impacto no organismo, suas alterações
fisiológicas e demandas nutricionais específicas para se adequar à essas novas condições.
Convido você a percorrer as unidades de estudo com o objetivo de contribuir para a realização
e o desenvolvimento de seus estudos, assim como para a ampliação de seus conhecimentos e habi-
lidades na área da Nutrição.
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e precisa das definições conceituais,
possibilitando um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento
dos temas tratados.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VITOLO, Márcia Regina. Nutrição: da gestação à adolescência. 1 ed. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores, 2003.
5. E-REFERÊNCIAS
FERREIRA, M. B.G., SILVEIRA, C. F., SILVA, S. R., SOUZA, D. J., RUIZ, M. T. Assistência de enfermagem a mulheres com pré-eclâmpsia
e/ou eclâmpsia: revisão integrativa. Rev Esc Enferm USP 2016;50(2):324-334.
BRIOSCHI, J, GONÇALVES, D. C., CARNEVALI JÚNIOR, L. C., TRIGO, E. L. Relação entre picacismo em gestantes e deficiência de
micronutrientes. Nutrição Brasil - Ano 2015 - Volume 14 - Número 2.
MS – Ministério da Saúde. Normas gerais para bancos de leite humano. 2ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; 1993.
OLIVEIRA, L. C., PACHECO, A. H. R. N., RODRIGUES, P. L., SCHLÜSSE, M. M., SPYRIDES, M. H. C., KAC, G. Fatores determinantes da
incidência de macrossomia em um estudo com mães e filhos atendidos em uma Unidade Básica de Saúde no município do Rio de
Janeiro. Rev Bras Ginecol Obstet. 2008; 30(10):486-93.
Objetivos
Compreender as alterações fisiológicas que ocorrem durante a gestação.
Relacionar as condições fisiológicas da gestante com as necessidades nutricionais.
Conhecer as necessidades nutricionais para o período gestacional.
Compreender as alterações fisiológicas que ocorrem na nutriz.
Relacionar as condições fisiológicas da nutriz com as necessidades nutricionais.
Conhecer as necessidades nutricionais para o período da amamentação.
Conteúdos
Aspectos fisiológicos da gestação
Recomendações nutricionais na gestação
Aspectos fisiológicos da nutriz
Recomendações nutricionais para nutriz
1. INTRODUÇÃO
A gravidez e o parto são eventos que integram a vivência reprodutiva de homens e mulheres
(BRASIL, 2001), além de promover maior vínculo afetivo não só entre o casal, como também entre
familiares e amigos.
A gravidez induz o organismo materno a uma série de transformações, necessárias para a re-
gular o metabolismo da mulher durante as fases da gravidez, bem como garantir o desenvolvimento
saudável do embrião (ACCIOLY, 2005; BARROS, 2006).
Essas alterações devem ser acompanhadas de perto pelos profissionais de saúde, que devem
identificar essas adaptações e propor estratégias para que as suas consequências não interfiram nas
atividades e na qualidade de vida da mulher durante esse período (SILVA, 2008).
Para o profissional nutricionista, o entendimento dessas variações é de extrema importância
para a realização de uma assistência nutricional adequada, que supra as necessidades tanto da mu-
lher quanto do feto.
Placenta
É um anexo fetal, de alta complexidade metabólica, essencial para garantir a proteção, nutri-
ção, respiração, excreção e produção de hormônios. Ela transporte oxigênio e nutrientes da mãe
para o feto, elimina os metabólitos decorrentes do metabolismo fetal e produz hormônios necessá-
rios para o desenvolvimento e crescimento fetal (ACCIOLY, 2005; VITOLO, 2008). É altamente vascu-
larizada e qualquer alteração na circulação materna ou fetal pode comprometer o desenvolvimento
do feto (ACCIOLY, 2005).
Principais hormônios e suas funções
Os hormônios produzidos nesse período são responsáveis pelas modificações corporais na
mulher, que garantirão o desenvolvimento fetal, adaptações para o parto e lactação (ACCIOLY,
2005).
As ações dos principais hormônios estão listadas no Quadro 1:
Quadro 1 Ação dos hormônios sobre o organismo materno durante a gestação
Hormônios Fonte primária de Efeitos principais
secreção
Gonadotrofina Células do trofoblasto Detectável no sangue oito dias após a fecundação;
Coriônica Humana e placenta impede a rejeição imunológica do embrião; inibe a
(hCG) contratilidade espontânea do útero, importante para
a manutenção inicial da gestação.
Progesterona Placenta Reduz musculatura lisa do útero e motilidade gas-
trointestinal; favorece a deposição materna de gor-
dura; aumenta a excreção de sódio; interfere no
metabolismo do ácido fólico; estimula apetite na
primeira metade da gestação; participa da mamogê-
nese.
Estrógeno Placenta Aumenta elasticidade da parede uterina e do canal
cervical; reduz proteínas séricas; aumenta proprieda-
de hidroscópica dos tecidos; afeta função da tireóide;
interfere no metabolismo do ácido fólico; modifica
metabolismo glicídico; altera tecido conjuntivo e
vascular; diminui apetite na segunda metade da
gestação.
Hormônio lactogê- Placenta Antagoniza a ação da insulina (eleva a glicemia pela
nio placentário glicogenólise); promove lipólise, diminuição do con-
sumo de glicose e glicogênio; ação mamotrófica.
Insulina Pâncreas Reduz a glicemia para promover a produção energé-
tica e síntese de gordura. As gestantes têm resposta
de insulina norma à glicose no início da gravidez,
porém com o avanço de gestação é necessária mais
insulina para transportar a mesma quantidade de
glicose.
Glucagon Pâncreas Eleva a glicemia pela glicogenólise.
Tiroxina Tireóide Regula as reações oxidativas envolvidas na produção
de energia (taxa metabólica basal).
Fonte: adaptado de Accioly (2005).
Sistema circulatório
Ocorre aumento de 50% do volume plasmático, que acarreta em aumento no débito cardíaco,
que sobe cerca de 30 a 40%. Há também aumento de 20% no número de hemoglobina devido a
maior necessidade de transporte de oxigênio. Essa diluição fisiológica promove queda na concentra-
ção plasmática de hemoglobina, que pode evoluir para quadros de anemia, que também podem se
instalar por deficiência de ferro e ácido fólico (ACCIOLY, 2005; VITOLO, 2008).
Sistema urinário
Ocorre aumento da taxa de filtração glomerular, assim como do fluxo renal, que auxilia na
eliminação de resíduos metabólicos. Nessa fase, as mulheres têm maior predisposição à infecções
urinárias devido à um retardo do fluxo urinário (gerado pela obstrução dos ureteres, que por sua
vez é causado pela dilatação das veias ovarianas) (ACCIOLY, 2005).
Sistema respiratório
Há aumento na ventilação pulmonar devido à ação da progesterona e do estrógeno, que au-
mentam a sensibilidade e a vascularização dos centros respiratórios. Essa alteração visa suprir o
aumento de 20% na demanda de oxigênio pelo organismo materno. Além disso, ocorrem alterações
anatômicas que melhoram a troca gasosa nos pulmões (ACCIOLY, 2005; VITOLO, 2008).
Sistema digestivo
No primeiro trimestre é comum náuseas, enjoos e vômitos matinais (decorrentes de altera-
ções hormonais, que interferem no olfato e no paladar). Tais mudanças podem levar ao quadro de
anorexia, que consequentemente pode ocasionar perda de peso nos primeiros meses da gestação.
Devido a ação da progesterona, o peristaltismo fica reduzido, retardando o esvaziamento gás-
trico e acarretando em constipação intestinal (ACCIOLY, 2005; VITOLO, 2008).
As alterações fisiológicas acima citadas estão sintetizadas no quadro 2 a seguir:
Quadro 2: alterações fisiológicas
Alterações fisiológicas
Volume plasmático
Volume de células vermelhas do sangue
Débito cardíaco
Taxade filtração glomerular
Motilidade intestinal
Fonte: adaptado de Accioly (2005).
Importante: os fatores fisiológicos que exercem maior força durante a gestação são o aumento do fluxo sanguíneo e elevação dos níveis de estrógeno e
progesterona. O impacto dessas alterações recai sobre os níveis de lipídios, colesterol, carotenoides, vitamina E e fatores coagulantes sanguíneos (VITOLO,
2008). De acordo com o Ministério da Saúde, as causas mais comuns para complicações durante a gestação são: hipertensão arterial; diabetes melito;
cardiopatias; infecção urinária; distúrbios nutricionais e distúrbios tireoidianos.
As leituras indicadas no Tópico 3.1. tratam sobre as alterações fisiológicas mais presentes du-
rante o período gestacional, além de tratar sobre a diabetes gestacional e as síndromes hipertensi-
vas. Neste momento, você deve realizar essas leituras para aprofundar o tema abordado.
Avaliação antropométrica
A avaliação antropométrica é o meio mais acessível e mais recomendado para o acompanha-
mento da evolução nutricional, pois é de rápida execução e não invasiva.
É importante conhecer o peso pré-gestacional da mulher e também sua estatura, para realiza-
ção do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). Após sua classificação, é possível calcular e pro-
gramar o total de peso que ela deverá ganhar durante a gravidez.
Atualmente no Brasil, a avaliação do estado nutricional da gestante é feito através das reco-
mendações do Institute of Medicine, que preconiza o cálculo de ganho de peso ponderal segundo o
IMC pré gestacional e da Organização Mundial de Saúde, seguindo proposta do estudo feito por
Atalah et al. (1997).
No momento da primeira consulta, o profissional deve realizar o cálculo do IMC:
Com o resultado em mãos, a classificação do IMC deve ser realizada seguindo os parâmetros
indicados no quadro 4. Também a partir desse quadro já é possível programar o ganho de peso total
da gestação.
Importante: caso a gestante não recorde seu peso pré-gestacional, utilizar o peso da primeira consulta, que é recomendado que seja realizada antes da 14ª
semana gestacional. Vale ressaltar que, independente do estado nutricional pré-gestacional, a gestante deve começar a ganhar peso apenas a partir do 2º
trimestre.
Nas consultas seguintes, o acompanhamento pode ser feito utilizando-se o quadro 5, que foi
baseado na curva de IMC proposta por Atalah et al. (1997) ou a própria curva, representada na figu-
ra 1. Nesse momento, o cálculo do IMC deve ser realizado com o peso atual da gestante.
Quadro 5: avaliação do estado nutricional da gestante segundo o índice de massa corporal por se-
mana gestacional.
Avaliação alimentar
Investigar o hábito alimentar da gestante, já na primeira consulta, é de extrema importância,
pois é a partir dessas informações que possíveis erros podem ser identificados (VITOLO, 2008).
As ferramentas mais utilizadas para essa avaliação são:
1. Recordatório de 24 horas: quando o paciente informa ao profissional tudo aquilo que
consumiu no dia anterior à consulta;
2. Inquérito de frequência alimentar: o paciente relata a frequência com que consome
determinados alimentos (diariamente, semanalmente, mensalmente). É uma avaliação
do ponto qualitativa;
3. Inquérito por registro: produzido pela própria paciente, que anota os alimentos à
medida que eles são consumidos.
lembrar que os valores de referência para as mulheres gestantes diferem dos valores para mulher
adulta não –gestante. Alguns dos parâmetros mais importantes estão listados no quadro 6.
Quadro 6: Valores laboratoriais para mulheres adultas e gestantes.
Avaliação clínica
Nessa tapa é importante investigar sinais e sintomas digestivos, funcionamento intestinal, pa-
tologias e intercorrências associadas à carências nutricionais, como mostra o quadro 7.
Quadro 7 sinais clínicos de carências nutricionais
Recomendações Nutricionais
Em todas as fases da vida, o atendimento às recomendações nutricionais é essencial para ga-
rantir um bom desenvolvimento e promoção de saúde e qualidade de vida. Na gestação em especi-
al, essa adequação tem grande influência no ganho de peso gestacional e no desenvolvimento sau-
dável do feto (ACCIOLY, 2005).
Recomendação de energia
O requerimento energético materno está aumentado durante a gestação, devido principal-
mente ao aumento da taxa metabólica basal (TMB), que está aumentada devido ao aumento da
massa de tecidos metabolicamente ativos (feto, placenta, líquido amniótico), aumento do trabalho
cardiovascular, renal e respiratório e síntese de novos tecidos (ACCIOLY, 2005).
Durante o primeiro trimestre gestacional, a recomendação energética é semelhante à do
período pré-gestacional, afinal nesse período é esperado que ela não ganhe peso (vide quadro 4).
ERR = 135,3 – (30,8 x idade [a]) + PA x (10,0 x peso [kg] = 934 x estatura [m]) + 25kcal
Em que PA é o coeficiente de atividade física:
PA = 1,00 para sedentárias.
PA = 1,16 para pouco ativas.
PA = 1,31 para ativas.
PA = 1,56 para muito ativas.
ERR = 354– (6,91 x idade [a]) + PA x (9,36 x peso [kg] = 726 x estatura [m]) + 25kcal
Em que PA é o coeficiente de atividade física:
PA = 1,00 para sedentárias.
PA = 1,12 para pouco ativas.
PA = 1,27 para ativas.
PA = 1,45 para muito ativas.
Recomendação de proteína
As proteínas dietéticas são fundamentais para a síntese proteica e para outras várias funções
metabólicas, como formação de enzimas e hormônios, sistema imune e transporte de nutrientes.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (1998), níveis seguros de ingestão proteica giram
em torno de 1,2g; 6,1g; 10,7g no 1º, 2º e 3º trimestre, respectivamente. Com isso, a necessidade
proteica deve ser aumentada em média 6g/dia durante a gestação (ACCIOLY, 2005; VITOLO, 2008).
Ou seja, considerando que uma dieta normoproteica varia entre 0,8 e 1,0g/ dia.
Apresentamos a seguir um exemplo de cálculo para uma mulher que pesa 60 kg.
Importante: a tabela completa das DRI está disponível para download no site: https://www.nal.usda.gov/fnic/dietary-reference-intakes.
A leitura indicada no Tópico 3.2. trata sobre as recomendações nutricionais para a gestante.
Neste momento você deve realizar essas leituras para aprofundar o tema abordado.
LACTAÇÃO
A lactação é um processo complementar à gestação e está sob o controle de hormônios,
principalmente os de origem hipofisária. As vantagens do aleitamento materno são inúmeras, tanto
para a saúde e desenvolvimento do bebê quanto para a saúde da mulher (nutriz). Por isso os profis-
sionais de saúde devem reconhecer sua importância e trabalhar sempre visando a conscientização
da importância da amamentação e do impacto negativo no desmame precoce.
A mama é composta internamente por ductos lactíferos, alvéolos, células mioepiteliais, lóbu-
los, tecido conjuntivo e externamente por mamilo, aréola (área hiperpigmentada) e corpúsculos de
Montgomery (produz secreção que lubrifica e protege aréola contra ação bacteriana) (ACCIOLY,
2005; VITOLO, 2008).
O colostro é o leite secretado até cerca de sete dias após o parto. No período que compre-
ende do sétimo ao décimo quinto dia pós-parto, é liberado o chamado leite de transição e, a partir
daí é liberado o leite maduro.
O colostro é um líquido amarelado e espesso, com concentração proteica maior que no leite
maduro, porém com menor quantidade de gordura e lactose. As proteínas presentes não colostro
são não-nutricionais, predominando as imunoglobulinas, responsáveis pelo amadurecimento do
sistema imune do recém-nascido. O colostro ainda é importante para o crescimento da flora bacte-
riana e para a eliminação do mecônio (primeiras fezes do bebê). Fornece 67 kcal/dL, o volume varia
de 2 a 20 mL por mamada, possui alta concentração de vitaminas lipossolúveis (os carotenoides con-
ferem a cor amarelada). É importante que a criança o receba nas primeiras 48 horas pós-parto, para
aproveitar todos os seus benefícios (VITOLO, 2008).
O leite maduro (liberado a partir do décimo quinto dia), apresenta composição mais estável.
Fornece 71 kcal/dL, quantidade de proteína que varia entre 1,2 a 1,5g/dL (60% proteínas do soro e
40% caseína); apresenta 7,0g/dL de lactose, seu carboidrato mais predominante (que atua na dimi-
nuição do pH intestinal, sistema nervoso, além de colaborar na absorção de cálcio, fósforo e magné-
sio); fornece 3,5g/dL de lipídios (97% na forma de triglicerídios), componente energético mais im-
portante do leite humano. Além disso, possui todos ao micronutrientes em quantidade suficiente
para atender às necessidades do lactente (VITOLO, 2008).
O leite materno pode, ainda, sofrer variações na sua composição. A principal variação ocorre
durante a mamada. O leite que sai no início, chamado de anterior, é mais aquoso e com menos gor-
dura, por isso é menos calórico. Já o posterior possui maior quantidade de gordura, ou seja, fornece
mais energia. Por isso é de grande importância que a criança esvazie por completo a mama antes de
trocar pela outra. Dessa forma, garante-se que a criança receberá tanto a água, importante para
hidratação, como a energia, necessária para ganho de peso.
O estado nutricional materno também pode influenciar na composição do leite. Na tentativa
de sustentar a lactação, o organismo sofre diversas alterações, como maior absorção intestinal e
diminuição do gasto energético nos tecidos. Assim a concentração de macronutrientes fica mantida,
porém pode ocorrer deficiência de algumas vitaminas e diminuição do volume de leite produzido
(VITOLO, 2008).
Amamentação
Apesar das inúmeras campanhas desenvolvidas para o incentivo ao aleitamento materno pe-
lo Ministério da Saúde, o Brasil ainda apresenta uma grande incidência de desmame precoce. Para
reverter esse quadro, os profissionais de saúde têm papel fundamental nessa empreitada, inclusive
o nutricionista. Eles devem estar preparados, pois, por mais competente que sejam, o seu trabalho
de promoção e apoio não será bem-sucedido se ele não tiver um olhar atento, abrangente, sempre
levando em consideração os aspectos emocionais, a cultura familiar e a rede social de apoio à mu-
lher (BRASIL, 2009).
Tipos de Aleitamento
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o aleitamento materno pode ser classificado da
seguinte maneira:
1) Aleitamento materno exclusivo: a criança recebe somente leite materno, direto da
mama ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos ou sólidos.
2) Aleitamento materno predominante: a criança recebe, além do leite materno, água
ou bebidas à base de água (água adocicada, chás, infusões), sucos de frutas.
A ilustração da pega correta e incorreta pode ser observada nas figuras 3 e 4 respectivamente.
Para o cálculo da necessidade proteica, pode-se considerar o recomendado pela DRI, que esti-
pula um consumo médio de 71g/dia, ou calcular da mesma maneira que para as gestantes, segundo
a OMS. Nesse caso, em cada trimestre é preciso somar um adicional proteico à necessidade diária
(entre 0,8 e 1,0g/kg/dia):
1º semestre + 16g/dia
2º semestre + 12g/dia
3º semestre + 11g/dia
Importante: a tabela completa das DRI está disponível para download no site: https://www.nal.usda.gov/fnic/dietary-reference-intakes.
SKILLS IN MEDICINE. Mudanças anatômicas e fisiológicas durante a gestação: anatomia
e fisiologia da reprodução. Disponível em:
<https://simbrazil.mediviewprojects.org/index.php/mudancas-anatomicas-e-
fisiologicas-durante-a-gestacao/anatomia-e-fisiologia-da-reproducao>. Acesso em: 15
jul. 2018.
SKILLS IN MEDICINE. Mudanças anatômicas e fisiológicas durante a gestação: mudan-
ças no organismo materno. Disponível em:
<https://simbrazil.mediviewprojects.org/index.php/mudancas-anatomicas-e-
fisiologicas-durante-a-gestacao/mudancas-no-organismo-materno>. Acesso em: 15 jul.
2018.
A fim de aprofundar o conhecimento sobre a diabetes gestacional e as síndromes hipertensi-
vas leia os seguintes artigos:
WEINERT, L. S.; SILVEIRO, S. P.; OPPERMANN, M. L.; SALAZAR, C. S.; SIMIONATO, B. M.;
SIEBENEICHLER, A.; REICHELT, A. J. Diabetes gestacional: um algoritmo de tratamento
multidisciplinar. Arq Bras Endocrinol Metab. 2011;55/7. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/abem/v55n7/02.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2018.
ZANATELLI, C.; DOBERSTEIN, C.; GIRARDI, J. P.; POSSER, J.; BECK, D.G.S. Síndromes hi-
pertensivas na gestação: estratégias para a redução da mortalidade materna. Revista
Saúde Integrada, v. 9, n. 17 (2016). Disponível em:
<http://local.cnecsan.edu.br/revista/index.php/saude/article/viewfile/320/293>. Aces-
so em: 15 jul. 2018.
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se
encontrar dificuldades em responder as questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estu-
dados para sanar as suas dúvidas.
1) Buscando uma gravidez mais saudável, com ganho de peso adequado, A.B.C, 25 anos, procurou por uma
nutricionista para orientá-la durante esse período. Dentre as alternativas a seguir, qual seria o primeiro item a
ser avaliado para a realização de uma conduta adequada?
a) IMC pré-gestacional
b) Presença de alergias alimentares
c) Consumo de frutas e hortaliças
d) Ausência de carboidrato simples na dieta
e) Baixo consumo de fibras
2) Preencha a lacuna e assinale a alternativa correta. Paciente feminina, 3ᵃ semana de gestação, iniciou
acompanhamento de pré-natal em Unidade Básica de Saúde. Após consulta, o médico prescreve a
suplementação de __________________ para prevenção de defeitos no tubo neural.
a) ômega 3
b) ferro
c) ácido fólico
d) vitamina D
e) selênio
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas:
1) a.
2) c.
5. CONSIDERAÇÕES
Esta unidade apresentou alguns aspectos básicos envolvidos na Nutrição na Gestação e Lacta-
ção, com foco nas alterações fisiológicas e adequação das recomendações nutricionais para a mu-
lher em ambos os períodos.
O tema é extremamente amplo e, portanto, o ideal é que você complemente seus estudos por
meio das referências bibliográficas citadas e das sugestões de leitura feitas no decorrer da unidade e
no Conteúdo Digital Integrador. Como continuação do assunto, a próxima unidade tratará das alte-
rações fisiológicas e recomendações nutricionais para crianças e adolescentes.
6. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1: Índice de massa corporal segundo semana de gestação. Disponível em: Atalah et al. (1997).
Figura 2: Anatomia da mama humana. Disponível em: https://pediatriadescomplicada.com.br/anatomia-da-mama/. Acesso em: 15
Jul. 2018.
Figura 3: pega adequada ou boa pega. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_nutricao_aleitamento_alimentacao.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2018.
Figura 3: pega inadequada ou má pega. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_nutricao_aleitamento_alimentacao.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2018.
Sites pesquisados
USDA. United States Departament of Agriculture. Disponível em: <https://www.nal.usda.gov/fnic/dietary-reference-intakes>. Acesso
em: 15 Jul. 2018.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACCIOLY, E. Nutrição em obstetrícia e pediatria. 1 ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2005.
ATALAH, E., CASTILLO, C., ALDEA, A. Propuesta de um nuevo estándar de evaluación nutricional em embarazadas. Rev Méd Chile,
125(12): 1429-1436, 1997.
BARROS, S. M. O. Enfermagem no ciclo gravídico puerperal. São Paulo: Manole, 2006. 1ª ed.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Parto, aborto e puerpério. Assistência à mulher. Brasília, DF, 2001.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil:
aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 112 p.: il. – (Série A. Normas e
Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n. 23).
SILVA, S. C. F. Ansiedade da mulher durante o último trimestre de gravidez. Trabalho de conclusão de curso, Universidade Fernando
Pessoa, Porto, 2008.
VITOLO, Márcia Regina. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. 1 ed. Rio de Janeiro: Ed. Rubio, 2008.em: 15 Jul. 2018.