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Atual classificação das

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E
R
doenças periodontais

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DO
NT
IA
Lenize Zanotti Soares DIAS1
Sarah Anderson Costa PIOL2
Cynthia Santos Lorencini de ALMEIDA2

RESUMO

Com o intuito de analisar a atual classificação das doenças periodontais, data- Palavras-chave:
da de 1999, que contou com a participação de pesquisadores internacionais, Classificação. Doenças
foi realizada uma comparação desse sistema com as classificações de 1989, Periodontais.
elaboradas pela Academia Americana de Periodontologia, e a de 1993 do
Workshop Europeu. A padronização dos sistemas de classificação até então
existentes partiu da necessidade de uma organização dos trabalhos clínicos
e científicos e com a finalidade de acompanhar os conhecimentos adquiridos
sobre a etiologia e a patogênese da doença periodontal. Esse novo sistema
representa o consenso de pesquisadores europeus, americanos e asiáticos Data de recebimento: 24-7-2006
Data de aceite: 21-8-2006
e apresenta-se com critérios simples, claros e de fácil modificação, à medida
que os avanços científicos forem acontecendo.

Doutora em Odontologia pela UFRJ.


1

Especialista em Periodontia pela ABO-ES.


2

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Atual classificação das doenças periodontais L. Z. S. DIAS, S. A. C. PIOL e C. S. L. ALMEIDA

INTRODUÇÃO sóficas de diversas escolas.


No Workshop Mundial de 1977, promovido pela Aca-
O termo “doença periodontal” é usado num sentido demia Americana de Periodontologia, duas formas
amplo para abranger todas as condições patoló- de periodontite foram reconhecidas: a periodontite
gicas que acometem as estruturas do periodonto juvenil e a periodontite marginal crônica. Porém, com
de proteção e/ou sustentação. A etiologia e a pato- o desenvolvimento científico, demonstrou-se que a
gênese das doenças periodontais têm sido objeto periodontite compreende uma família de doenças
de muitos estudos na última década. Com isso, os que difere na etiologia, história natural, progressão e
conceitos vêm sofrendo grandes alterações devi- resposta à terapia (FLEMMIG, 1999). Reconhecen-
do aos novos de conhecimentos e técnicas cien- do esse desenvolvimento, a Academia Americana de
tíficas. Diante desse fato, a classificação das do- Periodontologia adotou, em novembro de 1986, uma
enças precisa ser constantemente redefinida para classificação mais atual, que foi, posteriormente, re-
acompanhar os avanços e as novas descobertas visada e modificada, em 1989 (Quadro 1), durante o
na área (NOVAK, 2002). Workshop Mundial em Periodontologia Clínica.
Uma padronização destes sistemas de classifica- Quadro 1 - Classificação das doenças periodontais, da
ção é necessária tanto para uma satisfação das academia americana de periodontologia, 1989
necessidades clínicas, possibilitando um correto
diagnóstico, plano de tratamento e previsão de I. Periodontite do Adulto
prognóstico, quanto para uma ordenação dos es- II. Periodontite de Estabelecimento Precoce
tudos científicos, já que a falta de padronização di- A. Periodontite Pré-Puberdade
ficulta, ou até mesmo impossibilita, a comparação 1. Generalizada
dos resultados obtidos entre estudos. 2.Localizada
As classificações de 1989 da Academia Americana B. Periodontite Juvenil
de Periodontologia (AAP) e a de 1993 do Workshop 1. Generalizada
2. Localizada
Europeu de Periodontologia têm sido amplamente
C. Periodondontite de Rápida Progressão
aceitas e usadas em todo o mundo. Com o intuito
III. Periodontite Associada a Doenças sistêmicas
de revisar os Sistemas de Classificação, a Acade- IV. Periodontite Ulcerativa Necrosante.
mia Americana de Periodontologia organizou um V. Periodontite Refratária
comitê, em 1997 e, em 1999, durante o Workshop
Internacional para a Classificação das Doenças Fonte: Proceedings of the World Workshop in Clinical Peri-
Periodontais, foi elaborada a nova classificação odontitis, 1989
(ARMITAGE, 1999). Em 1993, Ranney publicou uma classificação mais
A proposição deste trabalho é apresentar ao cirur- simplificada e também baseada em princípios cien-
gião-dentista uma breve revisão de literatura sobre tíficos. Essa classificação foi adotada no Workshop
as antigas classificações e comparar as classifica- Europeu desse mesmo ano (Quadro 2).
ções desenvolvidas em 1989 e em 1993 com a Tanto a classificação de 1989, apresentada no
nova classificação, justificando cada modificação, Workshop Mundial promovido pela Academia Ame-
remoção ou adição proposta pelos revisores. ricana de Periodontologia, quanto a de 1993, ado-
tada pelo Workshop Europeu, foram amplamente
aceitas e utilizadas pela comunidade científica e
REVISÃO DE LITERATURA clínicos em todo o mundo (ARMITAGE,1999).
Durante o Workshop Mundial de 1996, foi enfati-
No século XVIII, surgiu a primeira classificação da zada a necessidade de uma revisão dos Sistemas
doença periodontal. Considerava os aspectos clí- de Classificação. Em 1997, a Academia Americana
nicos das doenças, dividindo-as em doenças de de Periodontologia formou um comitê, com a par-
ocorrência na gengiva e aquelas de ocorrência no ticipação de pesquisadores europeus e asiáticos,
osso alveolar (CONDE, 2003). para a organização de um novo Seminário Inter-
Durante o século XX, entre as décadas de 20 e nacional. No período de 30 de outubro a 2 de no-
70, surgiram várias classificações, que refletiam vembro de 1999, foi realizado o Workshop Mundial
os conhecimentos mais recentes sobre a doença para a Classificação das Doenças e Condições
e eram adotadas de acordo com as afinidades filo- Periodontais (ARMITAGE,1999). Como resultado

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dessa reunião, surgiu a nova classificação das doenças periodontais (Quadro 3).
Quadro 2 - Classificação das doenças periodontais, segundo Ranney 1993

I. Gengivite II. Periodontite


A. Gengivite por placa bacteriana A. Periodontite do Adulto
1. Não agravada 1. Não agravada
2. Agravada sistemicamente 2. Agravada sistemicamente
Hormônios sexuais B. Periodontite de Estabelecimento Precoce
1. Localizada
Doenças sistêmicas
Anormalidade do neutrófilo
Drogas
2. Generalizada
B. Gengivite Ulcerativa Necrosante Anormalidade de neutrófilo
1. Determinantes sistêmicos Imunodeficiência
2. Realacionada com o HIV 3. Relacionada com doenças sistêmicas
C. Gengivite não relacionada com placa 4. Determinantes sistêmicos desconhecidos
1. Associada a doenças dermatológicas C. Periodontite Ulcerativa Necrosante
2. Alérgica 1. Determinantes sistêmicos
3. Infecciosa 2. Relacionada com o HIV
3. Relacionada com a nutrição
D. Abcesso Periodontal
Fonte:Conde, 2003
Quadro 3 - Classificação das doenças periodontais,1999
Doenças Gengivais
I. Induzidas por placa II. Não induzidas por placa
1. Doenças gengivais associadas apenas à placa 1. Doenças gengivais de origem bacteriana
A. Sem fatores locais A. Associada à Neisseria gonorrhea
B. Com fatores locais B. Associada a Treponema pallidum
2. Doenças gengivais modificadas por fatores sistêmicos C. Associada à Streptococcus sp
A. Associada ao sistema endócrino D. Outros
Puberdade 2. Doenças gengivais de origem viral
Ciclo menstrual A. Infecções por herpes
Gravidez B. Outros
Diabetes Mellitus 3. Doenças gengivais de origem fúngica
B. Associada à discrasias sanguíneas A. Infecções por Cândida sp
Leucemia B. Eritema gengival linear
Outros C. Histoplasmose
3. Doenças gengivais modificadas por medicamentos D. Outros
A. Hiperplasias influenciadas por drogas 4. Lesões gengivais de origem genética
B. Gengivites influenciadas por drogas A. Fibromatose gengival hereditária
Associada a contraceptivos orais B. Outras
Outros 5. Manifestações de condições sistêmicas
4. Doenças gengivais modificadas por desnutrição A. Alterações mucocutâneas
A. Deficiência de vitamina C B. Reações alérgicas
B. Outros 6. Lesões traumáticas
7. Reações de corpo estranho
8. Outras não especificadas

Doenças Periodontais
1. Periodontite Crônica 4. Doenças Periodontais Necrosantes
2.Periodontite Agressiva A. Gengivite Ulcerativa Necrosante
3. Periodontite Como Manifestação de Doenças Sistêmicas B. Periodontite Ulcerativa Necrosante
A. Associada a discrasias sanguíneas 5. Abcessos Periodontais
Neutropenia adquirida A. Abcesso Gengival
Leucemias B. Abcesso Periodontal
Outros C. Abcesso Pericoronário
B. Associada a distúrbios genéticos 6. Periodontite Associada a Lesões Endodônticas
Neutropenia cíclica e familiar 7. Condições e Deformidades Congênitas
Síndrome de Down ou Adquiridas
Deficiência de adesão leucocitária A. Fatores modificadores locais da doença gengival ou
Síndrome de Papillon-Lefèvre periodontal, relacionados com dente
Síndrome de Chediak-Higashi Fatores anatômicos dentais
Síndrome de histiocitose Restaurações/ Aparelhos dentais
(continua)

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Quadro 3 - Classificação das doenças periodontais,1999 (continuação)

Doenças Periodontais
Doença de acúmulo de glicogênio Fraturas Radiculares
Agranulocitose infantil genética Reabsorção radicular cervical e deslocamento do ce-
Síndrome de Cohen mento
Síndrome de Ehlers-Danlos B. Deformidades e condições mucogengivais ao redor do
Hipofosfatasia dente
Outras C. Deformidades e condições mucogengivais em rebordos
C. Outras não especificadas edêntulos
D. Trauma oclusal

Fonte: Novak, 2002

DISCUSSÃO portante da nova classificação é a inclusão da ses-


são “nenhuma outra especificada”, que indica que
De acordo com os conhecimentos atuais, ficam eviden- podem existir outras formas de gengivite que não
tes algumas necessidades de modificações das antigas foram relacionadas mas que, no futuro, podem ser
classificações. Os sistemas de classificação de 1989 adicionadas a esta categoria, mediante resultados
e1993 não apresentavam critérios de diagnóstico claros de estudos científicos (HOLMSTRUP, 1999).
e as categorias das doenças eram sobrepostas. Havia,
também, demasiada ênfase à idade de início e à taxa
de progressão da doença, que são freqüentemente di- B) Substituição do termo “Periodontite do Adulto”
fíceis de determinar. Além disso, detalharam de modo por “Periodontite Crônica”
insuficiente as várias manifestações periodontais en-
contradas clinicamente. Na classificação de 1989, por O termo “Periodontite do Adulto” foi utilizado tanto
exemplo, um dos pontos mais criticados foi a ausência na classificação de 1989 como na de 1993. Estas
de um tópico para as doenças gengivais (WIEBE; PUT- utilizavam como critério o início da doença após
NINS, 2000) e, na classificação Européia de 1993, não os 35 anos de idade. Entretanto, a idade em que
existia uma categoria para a periodontite associada a o paciente se apresentava para o tratamento não
lesões endodônticas. reflete necessariamente a idade em que a doença
se iniciou. Finalmente, esse tipo de periodontite,
comumente encontrada no adulto, também pode
AS PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES DA CLASSIFI- ser observado em crianças e adolescentes (FLEM-
CAÇÃO DE 1999 SEGUNDO A ACADEMIA DE MING,1999).
PERIODONTOLOGIA FORAM:
Os participantes do Workshop concluíram que o
termo “Periodontite do Adulto” era incorreto e de-
A) Inclusão das Doenças Gengivais veria ser substituído por “Periodontite Crônica”,
que é inespecífico para as características histopa-
Esta categoria não foi incluída na classificação de
tológicas e não está relacionado com a idade de
1989, porém estava presente no Workshop Eu-
início da doença. É importante enfatizar que o ter-
ropeu de 1993, embora não tão detalhada como
mo “Periodontite Crônica” não deve ser interpreta-
nesta atual classificação.
do como uma doença incurável. As suas principais
As doenças gengivais estão classificadas em dois características foram definidas como tendo taxa de
tipos, aquelas induzidas pela placa dental e aque- progressão leve a moderada, podendo ter perío-
las não associadas primariamente à placa dental. dos de progressão rápida, presença de irritantes
Uma característica importante da subdivisão “in- locais compatíveis com a severidade da doença e
duzida pela placa bacteriana” é o reconhecimento de ocorrência maior em adultos, porém podendo
de que fatores sistêmicos podem modificar a ex- acometer crianças e adolescentes (WIEBE; PUT-
pressão clínica da gengivite. Esses fatores são: NIS, 2000).
alterações do sistema endócrino, medicamentos e
desnutrição (ARMITAGE, 2000). Outro ponto im-

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C) Substituição do termo “ Periodontite de Início tais, a resposta deficiente do hospedeiro e o tipo


Precoce” por “Periodontite Agressiva” de terapia empregada (FLEMMING, 1999). Diante
desses fatores, ficou decidido ser mais apropria-
O termo “Periodontite de Início Precoce” foi utili-
do o termo “Periodontite Refratária” para indicar o
zado tanto nas classificações de 1989 como na
retorno da periodontite, ao contrário de ser usada
de 1993. Esse grupo de doenças tinha como ca-
como uma entidade de doença separada. Então,
racterísticas a idade de início menor que 35 anos,
concluíram que, em lugar de uma única catego-
rápida taxa de progressão da doença, defeitos na
ria, a designação refratária poderia ser aplicada
resposta do hospedeiro e associação com uma mi-
a todas as formas de periodontites, classificadas
croflora específica (NOVAK, 2002).
no novo sistema como: periodontite crônica refra-
Os participantes do Workshop concluíram que o tária, periodontite agressiva refratária, periodontite
termo “Periodontite de Início Precoce” era muito como manifestação de doença sistêmica refratária
restritivo e que, apesar de acometer indivíduos (CASTRO; DUARTE, 2000).
com idade menor que 35 anos, também afetava
pacientes mais velhos. Foi, então, recomenda-
da a substituição do termo “Periodontite de Início E) Periodontite como Manifestação de Doenças
Precoce” por “Periodontite Agressiva” (WIEBE; Sistêmicas
PUTNINS, 2000). Dessa forma, a “Periodontite
Na classificação de 1989, existe a categoria “Pe-
Agressiva” compreende um grupo de lesões ca-
riodontite Associada a Doenças Sistêmicas”, en-
racterizadas por ocorrer em indivíduos geralmente
quanto na classificação de 1993 essas doenças
saudáveis, com tendência à agregação familiar,
são enquadradas como subclasificações de outros
cujas manifestações clínicas são caracterizadas
tipos de periodontite, não existindo uma seção se-
por rápida perda de inserção e destruição óssea,
parada para tais doenças. A exemplo: a periodonti-
que não condizem com a quantidade de acúmulo
te do adulto possuía a subclassificação periodonti-
de placa (KINANE; LINDHE, 2003). A classificação
te do adulto agravada sistemicamente.
de 1989 apresentava a categoria Periodontite Pré-
Pubertal. A forma generalizada dessa doença era A nova classificação manteve essa categoria, devi-
caracterizada por extensa destruição tecidual na do ao fato de que a doença periodontal destrutiva
dentição decídua e estava normalmente relacio- pode ser decorrente de certas doenças sistêmicas.
nada com alterações sistêmicas, como dificulda- No entanto, algumas modificações foram realiza-
de de aderência de leucócitos, imunodeficiência das. A alteração mais importante foi a não inclusão
primária congênita, hipofosfatasia, defeitos crôni- do Diabetes Mellitus e do fumo nessa seção. Na
cos dos leucócitos e neutropenias cíclicas. Essas visão coletiva dos participantes deste Workshop, o
alterações sistêmicas interferiam na resistência a diabetes e o fumo são modificadores de todas as
infecções bacterianas, inclusive periodontais. Por formas de periodontite e não estão relacionadas
isso, os pacientes são agora classificados como com uma forma específica de doença. A justificati-
portadores de “Periodontite como Manifestação de va para a inclusão da “Gengivite Associada a Dia-
Doença Sistêmica” (KINANE, 1999). betes Mellitus” foi de que a gengivite, associada à
placa, foi considerada uma entidade única pelos
D) Eliminação da categoria “Periodontite Refratária”
participantes do Workshop de 1999. É importante
Na classificação de 1989, existe uma categoria à salientar a inclusão da sessão “Outras Não Espe-
parte para as “Periodontites Refratárias” que cons- cificadas”. Essa seção é destinada à inclusão de
tituíam um grupo de doenças que não respondia outras condições sistêmicas que podem ser fu-
ao tratamento, apesar da colaboração do paciente turamente adicionadas mediante comprovações
e da realização de uma terapia adequada (CAS- científicas. Como exemplo, esse é o caso da oste-
TRO; DUARTE, 2000). oporose que ainda está sob investigação científica
(KINANE, 1999).
Uma das dificuldades dessa classificação é que o
seu diagnóstico só poderia ser concluído após a
fase ativa do tratamento. Além disso, vários fato-
F) Substituição do termo “Periodontite Ulcerativa
res interferem no resultado da terapêutica, como o
Necrosante” por “Doenças Periodontais Necrosan-
fumo, os níveis elevados de patógenos periodon-
tes”

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Tanto a classificação de 1989 como a de 1993 pos- tegoria foi incluída. A importância dessa inclusão
sui a categoria “Periodontite Ulcerativa Necrosan- está no diagnóstico diferenciado para os quadros
te”. Ainda não existem evidências que comprovem que envolvem a polpa e o periodonto, que pos-
se gengivite ulcerativa necrosante e periodontite suem tantas particularidades clínicas (KINANE;
ulcerativa necrosante são duas entidades de doen- LINDHE, 2003).
ça pertencentes a um mesmo processo patológico
ou se seriam duas condições totalmente distintas.
Os participantes do Workshop de 1999 acreditam I) Adição da categoria relacionada com deformida-
ser mais apropriado, no presente momento, com- des e condições sistêmicas
biná-las em um único grupo de doenças, descritas Esta categoria inclui fatores locais associados a
como “Doenças Periodontais Necrosantes”, apesar dentes, restaurações, deformidades mucogengi-
de reconhecer que sejam duas condições clínicas vais ao redor do dente e trauma oclusal. Esta nova
identificáveis (NOVAK, 1999). Se estudos poste- categoria refere-se a importantes fatores modifica-
riores comprovarem que são entidades distintas, dores da susceptibilidade do indivíduo em desen-
as duas condições poderão ser futuramente se- volver a doença periodontal (WIEBE; PUTNINS,
paradas em duas categorias por uma subseqüen- 2002).
te revisão da classificação de 1999 (ARMITAGE,
1999). Outro fator a ser considerado é que tanto a
gengivite como a periodontite ulcerativa necrosan- CONCLUSÃO
te podem ser manifestações de problemas sistê-
micos, como a infecção por HIV. Por isso, poderia
ser mais apropriado classificá-las como manifesta- O sistema de classificação de 1999 representa o
ções de doenças sistêmicas. A razão para que isso consenso de um grupo de pesquisadores euro-
não fosse concluído é que outros fatores, além dos peus, asiáticos e norte-americanos. Com o intuito
sistêmicos, poderm predispor o indivíduo à perio- de elaborar um sistema de classificação que pu-
dontite e à gengivite ulcerativa necrosante, como o desse ser utilizado na maior parte do mundo, os
estresse e o fumo (ARMITAGE, 1999). participantes do Workshop desenvolveram esse
novo sistema, sendo atualmente reconhecido pela
Academia Americana de Periodontologia como a
G) Adição da categoria “Abscessos Periodontais” terminologia oficial.
A classificação de 1989 não contém uma categoria Essa classificação vem atender aos avanços cien-
para abscessos periodotais. Ranney (1993) incluiu tíficos e aos conhecimentos adquiridos ao longo
em sua classificação uma seção para abscessos da década de 90. O novo sistema, apesar de ex-
periodontais. Em 1999, a discussão sobre a colo- tenso, baseia-se em critérios simples e é de fácil
cação ou não de uma seção para os abscessos modificação. É importante enfatizar que novos co-
focou sobre o fato de que abscessos periodontais nhecimentos sobre a etiologia e a patogênese da
possuem diagnóstico específico e tratamento dife- doença periodontal irão ser adquiridos e com isso
renciado em relação a outras doenças periodon- revisões futuras serão necessárias.
tais, justificando, assim, a inserção dessa catego-
ria na nova classificação. Dentro dessa categoria,
ainda foram acrescentadas três subdivisões, que ABSTRACT
foram relacionadas de acordo com a sua localiza-
ção em abscesso gengival, abscesso periodontal Actual classification of the
e abscesso pericoronário (NOVAK, 2002). periodontal disease and conditions

H) Adição da categoria “Lesões Periodontais-En- In 1999, the American Academy of Periodontol-


dodônticas” ogy organized a Workshop with the international
researchers’ participation for the elaboration of a
Em 1989 e em 1993, não havia uma categoria es- new classification of the periodontal disease and
pecífica que relacionasse as lesões endodônticas conditions. Until then the classification systems
e as periodontais. No Workshop de 1999, essa ca-

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more used was it of 1989, of the American Acad- Correspondência para/Reprint request to:
emy of Periodontology, and the one of 1993, of Eu- Lenize Zanotti Soares Dias
ropean Workshop, in other words, there was not a Rua Abiail Carneiro, n° 191, Gr.313/315
standardization of the classification systems, what ED. Arábica, Enseada do Suá, Vitória, ES
29050-220 Tel.: (27) 3227-4184
hindered the clinical and scientific works. Besides, e-mail: lenize.zanotti@terra.com.br
with the scientific development and with the acqui-
sition of new knowledge on the etiology and the
pathogenesis of the periodontal disease became
necessary a revision of the classification systems
to accompany the new discoveries. It will be made
a comparison among the classifications of 1989
and 1993 with the new classification justifying each
modification proposed by the reviewers.
Keyswords: Classification. Periodontal Diseases.

REFERÊNCIAS
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