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Coleçao Estudos HistOricos

.4 .

4 1
6 Vb
Através desta nova coleçao,. visa-se a dar major divulgaçao as mais
, . recents pesquisas realizadas entre nos, nos dominios de Glib, bern

4
como, através de cuidadosas traducOes, por ao alcance de urn major
pñblico ledoras mais significativas produçoes da historiografia rnun-
A
PAUJLM
dial. No primeiro caso, ja temos selecionadas várias teses universitá-
rias, que vinham circulando em edicoes mirneografadas; no segun-
. j do, preparam-se' traducoes de autores coma Perry Aiderson, P.
Mantoux, ou M. Fraginals. Entre uns e outfos, isto é, entre a histo-
riografia brasileira e a estrangéira, a colecao tambEm procurará di
.' 4 . vulgar trabaihos de estrangeiros sobre o Brasil, isto 6, de <<brasilia-.
nistas>, bern como estudos brasileiros mais abrangentes, que ex-
. . pressem a nossa vjc do mundo. Em outras etapas, projeta-se cole- 4
tnea de textos para o ensino superior. A metodologia da historia de
vera ser devidaniente contemplada. Conio evê, o projeto e ambicio-
- so, e se endereça:nao apenas aos aprendizes é mestres do ofIcio. de
: historiador, mas ao pñblico cultivado em geral, que. cada vez mais
vai sentindo a necessidade e importância dos estudOs históricos.
Nem poderia ser de outra forma conhecer o passado e a unica ma
neira de nos libertarmos dele, isto e, destruir Os seus mitos.

L ... . . ..... . .

NP

Este livro foi editado em convênio corn o Instituto Nacional dJ


AS FERROVIAS DE SAO PAULO 1870-194A

FLAYIO AEQ
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• EDITORA HUCITEC . • .. • •• • .
em convênio corn 0
INSTITUTO NACIONAL DC) LIVRO
MINIST1RIo DA EDUC4çAOE CVLTXRA
äo Paths, 181

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-r.r .- . 1

(C) D1relt' cta -I9B4" 'M1 do Saes.


Direltos de pubhlcacáo reservados pela Editora de Humanismo,
Ciëncla e Tecnologia "Hueltec" Ltda., Rua Simão Alvares, 687
São Paulo, Brash. Capa: Luis Diaz (criação) e Estüdlo Hucitec
(montagem).

--
CIO
Prefâcio .. ... .. ...
CiJAL, Cent nif!
c;bt. . .•
Origen: . Corn pra;
Coube a um jovem historiador e econornista, urn es-
treante em. .pesquisa ljistórica, o exame de algumas ques-
toes sobre o comportamento de três ferrovias paulistäs,
para ilumind-las corn nova ref lexdo, e. enriquecer, corn
pesquisa original, a visdo dos problemas e perspectivcrs
corn respeito ao transporte ferrovidrio. ..
0 assunto, as ferrovias, é urn cldss-ico na bibliografia
histórica brasileira. Dc . urn lado, dispomos das obras de
•:T: ) .J .- \) Ribeiro Pessoa Junior, Chrockatt de Sá, Pereira da Silva,
( Adolfo P. Pinto, Palmanho de Jesus, entre outros. que de-
ram ordem ao amontoado dc fatos, em si.stematisaçdo e
CIP-Brasil. sintese descritivas e .cronológicas. Dc outro, estdo as and-
Uses de fecunda contribuiqdo interpret ativa quanta aos
Sals, Flávlo Azeveclo Marques de, 1948. fatores do melo fIsiço, social e econOmco, nos quais se
8151f As ferrovias de So Paulo, 1870-1940 : expans.o e comvóe a ctivicJ,ace ferroviária, sea em trabaihos espe-
deellnio do transporte ferrovlárlo em Sä.o Paulo / Flávlo
Azevedo Marques de Saes. - São Paulo HUOITEC cialisa4os como os de Duncan oz Nogucira de Matos, ou
IBrasilla] : INL, 1981. as perspect7vas mais abrangentes, corno as de Monbeig,
(Ooleçäo estudós históricos) Ribeiro de Aradjo, Sunkel. . Outros qutores, coino Cipollari,
trouxeram para o campo de andlise a visdo do economista,
Bibliograf Ia. interessado especialmente em compreender os fenómenos
1. Ferrovlas - Brash - S.o Paulo (Estado) I. Ins- do declinio e dos deficits operwionais das ferrovias. corn
tituto Naclonal do Livro. II. Titulo. base nos principios teóñcos da Ciência Ec.onOmicct. 0 hIs-
tórioo de nina via, em particular, reali2ado, entre outros,
por Fernando de Asevedo, por Debes, aldrn do interesse
CD]D:385.098155 qup merecé o assunto por si vróprio. ?)rolorciona a exem-
CCF/CBL/SP-81-0384 .... . •. . CDU:385(81) (816.1)
ptificaçdo aprorimativa de alguns problemas mais gerais,
)?iI comuns as estradas de ferro.
I j••
•f .
fndices para çátalogo sistemático (CDD) No momento presente, no qual os problemas de trans-
porte snscitados 'pela questao da energia, colbcarn-se aca-
1. São Paulo : Estado : -. Estradas de ferro Transportes
385.098155
7
2. São Paulo : Estado Ferrovias Transportes 335.098155
7oradamente dentre as mais vivas preocupacöes naclonals, café; crises do café, que nAo desestimuharam o crescimento
Fldvio Aevedo Marques de Saes, corn sua tese de mestra. de suas culturas que as ferrovias inipulsionam.
do, nos proporciona uma análise muito den.sa sobre o fun- Outro fator, externo a este processo, é posto em evidên,-
cionamento das ferrovias, no contexto this condiçôes cZa r cia. A taxa de cdmbio, de fundamental irnportdncicz, é urn
economia paulisia e na clin4mica do tempo, sob perspec- dos principais elementos que instrui urn marco cronolO-
tiva histórica. Urna andlise original, que busca, Infatiga- gico, estabelecido pelo Autor, no processo histórico das
velmente, esciarecer a trilka de vivência percorrida no ferrovias paulLstas, como urn divisor de águas - a cZécada
tempo pelas ferrovias, corn o objetivo de responder as de 90. Nos primeiros vinte amos da implantaçdo e funcio-
perguntas cruciais sobre o declInio do tran.sporte ferro- iiamentó das ferrovias, coexistia perfeita solidariedade en-
vülrio, após urn passado de prosperidade. Concentrou-se tre o mercado cafeeiro e a pros peridacie ferroviária, que
em três via.s importantes - a Pauli.sta, a Mojiana e a So-- se comprova peki proporcionalidade entre os divid1endos e
rocabana, as quais, em 1892, abrangiam 787o dii rede fer- 0 nioitante transportado em toneladas de café. A. partir
rovIdna do Estado. Partiu dii década dos 70 do sécuØ da década dos 90, a violenta queda cia taxa cambial, o pro-
passado, marco cronológico do estabelecim.emto daqueha3 cesso inflaczondnió clesde os primeiros anos cia Repi2blica,
vias, e encerrou em 1940, corn a Segunda Guerra Mundial. reperctem intensarnente sobre as ferrovias, ao mesmo
Entre estes dois momentos, a motivar o historuaclOr, estd tempo em que se tornam mais vulnerdveis ao caráter dcli-
o processo dinâmico que se desenvolve entre a conquista Co cia mercado cat eeiro. Estabelece-se, deste modo, nos
do Oeste paulista, favOrecida pelos trilhos de jerro, e 0 anos 90, nztida contradzçdo entre os interesses dos produ-
reconhecido declImio do transporte ferrovidrio tones dc café, que se favoreciam corn o aurnento do preço
• Veihas auirmaçoes foram revigoradas, outras nAo resis- do produto no mercado interno, provocado pela desvalori-
iram d objetwidade corn que foram novamente testadas. zaçdo cia moeda, e os interesses das emprescis ferroviárias,
A importdncua do café é uma con.stante na compreensdo pesadamente oneradas pelo rnaior custo do material impor-
de todo c processo, ainda que vane, no tempo, sua cono tado,indispensdvel a sua atividacie, pelo serviçode divida
taçao. Consagrou-se, mais uma vez, neste estv4o, a co&e no exterior, corn a elevaçdo dos salcinios sob a press&7 in
cida afirmaçdo qu. quauifica as ferrovias pauiista.s como flaciondnia. Ainda que significadamente cresca - a Soroca-
"estnadas do café", seja pelos interesses dos produtoreà I bana também se torna uma ferrovia do café - ao volume
comerciantes que orientaram suas diretrizes, seja peha im- dc mercadonias transportadas ndo se pode mais atnibuir C
sentido subacente de prosperldacie estdvel.
portdncia do produto no trdf ego, a conclictonar esLrezta-
mente 'ua rentabilidade. • 4 década dos 90, urn mornento histórico a atencdo à"os
pesquisadores, Sc, por urn lado, acumulou, na sua proble-
Tais 'sdo, contudo, recOnhecimentOs introdut6ri6i para rndtica, cincunstdncias tran.sitóruas, por outro levou a uma
cizegar ao tnato do âmago do problema central, rentabi- percepçdo mais aguda das sin gulanidades que presidiram ci
idade, como categonia explicativa cia pros peridade e do lmplantaçdo e desenvolvimento das ferrovias, em desvio
dechnio Ambos passam a ser inventaniaclos, sob outra aos padröes ordindrios, para servir a uma economia pen-
perspectiva, a dos fluxos de transportes, em correlaçao corn fénica, estre?tarnente vinculada ao proczuto de exportaçdo,
os desenvoliizmentos cia economia paulista, e o nivel ctas corn o mercaclo interno insuficiente para ihe dan apoio, scm
tanif as. Observadas a funcionar como elementos do sistema cargas de retorno do porto de destino, e que se revelon
econômico, como urn toclo, as ferrovias revelam grande •também canente de fontes internas de poupanca para fi-
88flszbilidade corn respeito as flutuaçöes que identificam nanciar os prolongamentos e a modernizaçdo. Talves em
as fa;es :Oe prospenidade e de recessao Andlises de Jiuxos e conseqüência, descie 1910 o catálogo dos acionistas acusa
de tanifas que nvamente confirmarn a importdncua do a participacdo crescente de grupos estnangeiros.
Sob outro aspecto, nos anos 90, o emergir, da consciência ainda ndo haviam siclo objeto de análises mais pormenori-
quanto a necessiclade de diversificar a economia, a qual sadas.
vinha servir o prOprio desenvolvimento ferroviário, signi- Contudo, o Autor ndo é urn singelo arquiteto de tabelas.
ficava novos rumos para a economia paulista, tImidos a de se notar a pertindcia corn que investiga os ntmeras,
princIplo, a desabrochar plenamente no ano 30. Contudo, a Interrogar a nature2a dos fatos que as cifras qualificam,
na cZécada dos 90 encerrava-se o periodo áureo da rentabili- as variag6es de sua importância no tempo, coma ref lexos
dade dos ferrovias. ............... . . . do amplo processo histórico. 0 nilmero ndo sobreleva a
palavra: depoimentos, correntes do opiniâo, debates e and..
Em face desse quadra, da com'plexidade dos probiemas Uses coevas, se entretecem corn os estudos dos autores
que aftam as ferrovias, o Autor reavalia o veTh.o chai'ffo da precedentes, e ddo equilIbrio ao material nutriente utili-
ineflciência dessas empresas, quando associadas d admnis-
trac do estatal, avontadas. de ordindrio. corno rvre.enta- zaclo.
tivas de uma poiltica de desperdIcio e diiapidaçdo. A and- A exposiçdo conclu2 a leitor, mum fio lógico, as proposi-
use da despesa e da eficiência operacional das ferrovias çöes e hipóteses anunciadas em seqüência, cada uma estu-
estudadas mostrou que vdrios fatores one elevam a desvesa dada sob vdrios dnguios, e, esgoktcla a argumentaçdo, tor-
situam-se fora do controle par parte de swa admi&straçdo, na-se o fundamento e o elo corn ref erên.cia as seguintes.
e nem a pecha do empreguismo se austa a evidência dos Trata-se de uma tese, ndo .simplesmente• de uma mono gra-
dados corn respeito a Sorocabana, nica ferrovia do Esta- fia, no sentido de que se estrutura corn o comando da
do, no perlodo. De modo geral, a ferrovia cronicamente de- comprovacdo, sempre presente. Esta percorre cada argu-
ficitdria, em declInio, somente pode manter-se sob a tutela mento, conferindo ao toclo grande solidee. Na&t fci lança-
do Estado. 0 papel social da via de comunicaçdo nco pocle do ao acaso nenhuma generaiisaçâo e fortuita. 0 racio-
ser negligenciaclo. dm10 e llmpido, incisivo, tranqi2ilo na sna forca; o estilo
agradável e escorreito, a linguagem simples e concreta.
• Estes delineamentos marcam alguns dos principais ca- Trabaiho de urn estreante, dissemos de inIcio, do cuja
minhos percorridos pelo Autor, no estudo dos fatores con- ref eréncia, novos estudos sobre ferrovias ndo poderdo pres-
dicionantes do declInio do tran.sporte ferroviário. Situamo- cindir. Urn estreante que surpreende pela maturidade in-
'-nos no piano das idéias gerais; contuclo, urn dos caracte.. telectual e se revela admiravelmente bern dotado, corn in..
risticos metodoiógicos que distinguem este trabaiho, é jus- vulgar capacidade para a investigaçdo inteligente no cam-
tamente o esforco para traser d investigaçdo toclos os ele- p0 da Ilistoria.
mentos que chegam ao nIvel da rndquina adrnin.istrativa,
desde que se consideram significativos para o diagnóstico Alice Piffer Canabrava
do desempenho da empresa, observados dentro do proces- Novembro, 1979
so histórico. Grande parte da evidência empirica consta
dos relatórios das estradas de ferro, urn conjunto expres-
sivo de 212 pecas documentais. A massa de dados quantita-
tivos foi enriquecida corn elementos izauridos em outras
fontes, e pacientemente sistematisada em tabelas e vdrios
quadros, que constituem parte muito importante do em.-
basamento de toda a argurnentaçdo. Esta intimidade esta-
tistica permitin a observaçdo de vdrios problemas, em. sua
vatlaçcio no tempo, sublacentes no processo históricO, èle-
mentos sempre referenclais em estudos sobre ferrovias, que

10 11
Nota explicativa

A pesquisa que .deu origem a este traballio fol Inlciada


em 1972 e resultou em dlssertaço de mestrado apresen-
tada a Faculdade de Economia e Admlnistraçâo da tThl-
versidade de Sâo Paulo (USP) em 1974. Como tal, reflete-
-so no texto 0 conjunto de problemas que ainda domina-
yam as polêmicas a respelto do desenvolvimento brasilel-
ro nesses anos.
Desde então, houve conslderável nmero de contribul-
çöes a HIstórla Econôinlca do Brasil que vieram modlficar
a perspectiva sob a qual so observava o desenvolvlmento
braslleiro. Caberla leinbrar. em especial. Os livros de Sér10
Silva (Expan.s&, Cafeeira e Origens &z Indt2stria no Erasil,
Alfa-Omega, S. Paulo, 1976) e de Wilson can- o" (Raises da
Concentracôo Industrial em S. Paulo, Difel, Rio de Janeiro/
S. Paulo, 1977).
Entre a alternatFva de manter o texto original e a de in-
corporar novas contrlbulçôes, preferi a primeira. Crelo que,
se Incorporasse estas novas contribuiçôes, no alterarla a
essêncla dos argumentos apresentados neste trabaiho, em-
bora, é claro, pudesse enrlquecê-lo ao colocar as ferrovias
no quadro do desenvolvlmento do capitalismo no Brasil,
como fazem, por exemplo, Sérglo Silva e Wilson Cano. Por
outro lado, penso que as conclus6es apresentadas manténi-
-se corretas e também que a pesquisa, na forma atual, tern
algum lnteresse para os que estudam a história da econo-
mia paulista.
As modllficacöes quanto ao texto primitivo limitaram-se,
pois, a forma, em especial no sentido de tornar a infor-
maço quantitativa mats slntética. Series anuals foram
13
substituldas por Informaçóes qüinqüenais que permitern
observar as tendéncias mais importantes. Muitas tabelas
tiverani seus dados principals incorporados ao texto a fim
de tornar a leitura menos truncada. Apesar dessas altera-
côes, manteve-Se a estrutura do trabaiho e Os argurnentos
bá&cos.
Finalmente, devo registrar o reconhecimento devido a
todos Os que, de algum modo, participaram da elaboraço
deste trabaiho.
A orientadora da dissertaco, Prof. Dr 8 Alice P. Cana- Abreviaturas utilizadas
brava devo o estImulo constante e Os cOnselhos sobre como
enfrentar as fontes primárias de modo a compor urn todo
coerente e significativo. Aos Profs. Drs.- Eduardo d'Oliveira 1. R. C. P. E. F. - RelatOrio da Corn panhia Paulista de Estradas
Franca .e José Francisco- de Camargo, membros., dR banc.a do .Ferro para a sessdo do Assernbléia Geral.
exarninadora, aradeco Os comentários sobre vários pontós
problemáticos da análise. . 2. R. D. C. M. E. F. - RelatOrlo da Diretoria da Corn panhia Mo-
Os colegas do Departamen.to de Econornia, iigados ao fiana do Estradas de Ferro para a Assein-
bléla Geral.
conj unto dc disciplinas de Hstória Econômica, na. Facul-
dade de Econornia e Administraco da USP, permitiram, 3. R. C. E. F. S. - Relatório da Corn panhia Estrada do Ferro
por rneio de leitura e critica- frequente do texto., precisar Sorocabana apresentado a Assembléia Geral..
certos argurnentos obscuros. Dirijo este agradecirnento a
Ibrahin Joâo Elias, Antonio Carlos R. Xavier, Antonio E. 4. R. C. U. S. I. - Reiatório da Companhia União Sorocabana e-
Muniz Barreto, Iraci del Nero da Costa, Françsco VitIal Ituana apresentado a Assembléia Geral.
Luna e Nelson H. Nozoe. 0 trabaiho. de. coleta e elaboraço
dos dados contou corn a participaco .ativa e eficiente ,do l. R. D. S. R. C. - RelatOrlo apresentado a Diretorla da Soro-
ento aluno da FEA-UP, José Francisco.. Dourado -' cabana Railway Company por scu Superinten--
A pesquisa tIe fontes primárias foi realizada no.. Depar- dente Geral.
tameno..do Arquivo do Estado de. So Paulo, na Bibliote- 6. R. E. F. S. - RelatOrio da Estrada do Ferro Sorocabana.
ca de Ferrovias Paulistas S.A. - FEPASA e no - Instituto
de Ciências,. Letras e Artes (Campinas). A. estas institul-
ç6es e a seus funcionários .agradeco o auxillo na busca, de
fontes e as facifldades para sua consulta. .... -
Ao interesse de Décio Saes, Tamás Szmrecsányi e ,Fer
nando Novais devo a presente publicaco. A. tantos outros
que também colaborararn na elaboraçâo deste trabaiho,
registro met, reconhecimento e as excusas por no citá-los
norninalmente, ao mesmo tempo em que eximo a todos dos
erros remanescentes.
I I
Flávio A. M. de Saes Nota: As datas quo seguem as abreviaturas nas referénclas in-
• dicam a data da Assembléia Geral cu 0 ano a que se refere o Re-
• Novembro de 1979 IatOrio.

14
Sumário

Prefáco, Alice Pffer Canabrava . 7


Nota explicativa. ................................. 13
Abreviaturas utillzadas .............. 15
Introducäo...................................... 19
-
CapItvio I Café, populaco e ferrovias de So Paulo:
o estabelecimento das diretrizes das estradas de ferro 37
-
Capiti.zlo II 0 fluxo de transportes das estradas de
ferro e o 1esenvo1vimento da economia paulista .. 69
-
Capftulo III Despesas e eficiência das ferrovias .. 127
Capitulo IV -0 capital das ferrovias: crescimento e
fontes de financiamento ......................... 149
ConclusAo....................................... 181
Apéndice........................................ 189
Bibilografla ....................................... 195

17

I
• . .. :..,
is

Introdirào .
OTEIVIA

o contraste entre a importância das estradas de ferro no


desenvolvimento do café em São Paulo e o estado recente
das mesmas ferrovias define as Whites estabelecidos para
este estudo. E claro que eztes dois aspectos, já haviam sido
tratados em alguns trabaihos. Por urn lado, a, estreita
relação entre a conquista do Oeste paulista ,e o crescimento
da rede ferrovária e, por outro, o. dec1Iiio da importância
das estradas •de ferro mereceram. análies possivelmente
definitivas. .
Desta forma, nosso objetivo fol p de.1 estabelecer uma
"ponte" entre aqueles dois momentos; em outras pala-
vras, procuramos observar, sob perspectiva histórica, o pro-
cesso dinâmico que teria precipitaclQ ta, mudança. no papel
e na prosperidade das estradas de ferro.;
Para tanto, limitamos o objeto do • estudo a três empre-
sas ferroviárias de São Paulo: a . Cornpanhia Paulista, a
Companhia Mojiana e a Estrada. de Ferro Sorocabana,
num perlodo de setenta anos. Nesta introdução procura-
nios justificar a relevância destas estradas para o estudo
a ser realizado.
Limitamos, também, no tempo, ti perlodo de análise:
1870 a 1940. A data inicial dectirre da própria época de
surgimento das ferrovias. A. Paulista tern sua linha inau-
gurada em 1872, a Mojiana e a Sorocabana em 1875. 0
retorno a 1870 permute captar debates . importantes que
cercam a época de concessâo das linhas férreas.
0 encerramento do estudo em 1940 fol assim definido
por dais motivos: primeiro, pretendlamos detectar os efei-
tos da crise de 1930 sabre as ferrovias. Os efeitos mais
.19
Importantes - a incIustria11zaco dos anos 30 e mudan. Gerais, Rio Grande do ,Sul L. Bahia. Era uma lej corajosa
gas no setor agricola - so ocorrem em meados na década. o patriOtica, embora não oportuna. .
Portanto, o ano 1940 nos pareceu o mInimo necessário 0 Brasil se tornara independente cia Metrópole em 1822
para avallar aquelas mudanças. Ao mesmo tempo, julga.. e tinha apenas treze anos de vida autônorna,era desco-
mos pouco convenlente avançar além de 1940: a Segunda nhecido sem recursos. Esta primeira tentativa certamen-
Guerra Mundial e as concLcöes especlais dos primeiros te näo seria bern suceclida." (2)
arias da década de 1950 cert.amente introduziriam urn vies Somente em 1854, quase vinte nnos depois cia Lel de 31
na análise. de outubro de 1835, 0 concluldo io primeiro passo na con-
Apesar de definido a marco eronológlco do traballio, no secução dos objetivos claque1a lei-, a 30 de abril de 1854
podemos nos eximir do fazer algumas referências & histO- foram inaugurados Os 1415 km da pnimeira se9do da Es-
na anterior das ferrovias no. Brasil. trada de Mauá.
Entretanto, antes quo isso ocorresse várias tentativas
faiharam, Quanto.a SAO Paulo, háanotar dois casos: em
ALGUMAS NOTAS SOBR- AS rERROVIAS NO BRAS]L 1838 é concedido o pnivilOgio de dortrução de tuna estra-
da de ferro do Santos ate a on äetitral do Estado de
A construço das primeiras estradas de ferro na Europa São Paulo a Companhia de Agular, Vua, Filhos & Comp
ref lete-se rapidamente no Brasil, Como observa Ashton, o Platt e Reid Não so conseginu, coritudo, conclthr sequer
"so em 1829, quando O Foguete de Stephenson venceu a o pnimeiro passo o de organizar a companina
corrida em Rainhill no caminho de ferro, construldo havia A segunda tentativa rnalogra5a .envolve Twrnaz Cochra-
pouco tempo, eritre Liverpool e Manchester, é que as po- ne oue obteve, em 1840, aonqesão o Govenno Imperial
tenciaUdades do transporte a motor foram plenamente para a construção de uma estrada 4e erro do. Rio de Ja7
compreendidas."(') No Brash, já em 1835, surge a pnimel- neiro a Provincia de Sao Paulo. As dificuidades pro longa-
ra lei referente a ferrovias: autoniza a concessâo de privi- ram-se no tempo, tendo sido declarada sem efeito a con-
légios para construir Iluhas para ligar o Rio de Janeiro as cessão em 1853.(9 f' •'

capitais das ProvIroias da Bahia, Minas Gerais e Rio Gran- Apesar do maloro de Codkiè.stis téntatis do Sal- I I
de do Sul. Entretanto, a legislacao por Si flO se fez sufi- var o
ciente para que a construção de estradas de ferro fosse :a
efetivada. Quanto A ,16i,assim se refenia, em 1893, o então
inspetor Geral das Estrdas do Ferro no Brasil,. Chrockatt a
de Sá. d
"Em 31 de ou.tubro 1835, exatamente quando au-
mentavam as hesitaçöes 0 oposiçôes nos Estados Unidos da
America do Norte,, França e Bélgica; urn grande impulso i% some o capital empregacto na construç , straaa.
foi dado aos camiithos:de fero pela prOrnulgação da prf- •:'-.
meira lei no Brasil, autonizando o Governo a conceder pri- (2) Ohrockatt de Sá, 0. E. Brazilian Railways. Their Historj',
vileglo, por quarenta: anos, para companhias que construl- Legislation and Development. Tip. de G. Leuzinger, Rio, 1893, p. 7.
(3) Sobre as primeiras tentativas ver: Batista, José Luis. '0
riam linhas férreas do Rio d6.,-.Janeiro as capitais de Minas Surto Ferrovlárlo e seu Desenvolvlmento" in Ana.is do III Con-4
gresso da História Nacionat. TrnprensaNaclonal, Rio, 1942, p.
431-586; Palmanho de Jesus, 3. "Rãplda Noticla sobre as Estra-
• (1) Ashton, Me S. 4:Revouão.fndu8trjal 1760-1830, 2a ed., Pu- clas de Ferro" in DicciondriO Historico, Geogrdfico e Ethnogra-
bilcaçOes Europa-Améifca, Usbo 197.1. Traduço e notas do Prof. phico do Brasil. Imprensa Naç1qna1 RiQ. de Janeiro, 197, Vol.
Jorge de Maëedo, p. 1l1/. IX, p. 723756. i,; • .. .

20 :..j 21
•H
Esse sistemä dá garantia. do juros vál vigorar ate o ml-. iosso estudo tern por objeto três Companhias de- Estra-
0~r,Qli cio do século XX e marcá, portanto, 0 perIodo de implan-. das de Ferro que começam a operar na década de 1870 a .

y' .tação do .grandepaXte das estradas de ferro no Brasil. (J


. Companhia Paulista, a Companhia Mojiana e a Compà-
ç •Além da garantiá de J'uros, as concessSes implicavam em
. nhia Sorocabana. Embora não constituarn o conjunth de
isenção de lmpostos na irnportação de materials para a Was as ferrovias de São Paulo parece-nos quo, como pro-
estrada de ferro e no priviléglo da zOna de cinco léguas de 0/ 1 curamos justifcar adiante, a sua análise pode representar
InAa lado daiinha férrea. (4) Agarantiadejurosde5% '1' uma smntese da evolucão ferroviária de São Paulo quer
/ .concedidapoGyno Imperial somaram-se, auasesei sem- por constituirem a major parte da rede ferroviária de São
iferencials pagói geralda or- Paulo, quer por sua pos4ção estratégica, ao canalizar os
fluxos de transporte de todo o Interior paulista (exceção
As estradas do .fero do So Paulo foram implantadas, -°fr felta ao Vale do Paraiba) .

Antes disso, porém, devemos colocar a posicão que as


entâo, dentro. do. 4adr aCima esbocado. A primetra delas ferrovias de São Paulo ocupam no todo da rede ferroviárla
a Estrada', de Ferro I). Pedro II que- . liga Rio. de. Janeiro do Brash.
a Cachoelra em Säo Paulo - tern sua construcão inicjada
por .conta 4o:Tes646 Nacional em 1855. Entretanto, essa
,estrada de ferroéstá. vincua.da mais ao Rio de Janeiro do AS FERROVIAS PA[JLISTAS E A REDE FERROVIARIA
qtie a São Paulo. 0' fato 6 denotado inclusive pela garan- DO BRASIL
tia adicional do juros quo a Provincia do Rio de Janeiro lJma primeira aproximação pars avallarmos a impor-
da a Companl'ua ate a encampação das açSes não perten tftncia relativa das estradas de ferro de São Paulo é apre-
centes ao Tesouro Naclonal quo ocorre em 1865 Cabe sentada na Tabela 1: at ternos as extensSes de linhas fér-
notar amda, a estrada dø ferro alcanca Cacl-ioeu-a somente reas (em qullôrnetros) do Brazil e do São Paulo desde 1854
em 1875 W 1940, e a relacão percentual representada pela exten-
Asegunda estrada do ferro do São Paulo é objeto da con- são das estradas de ferro de São Paulo dentro do Brasil.
ce$ão feita em .1858 ao $arão do Maui, Marques de Monte Flea evidenciado pela Tabela que, a exceçäo do alguns
Alegre. 0; J. A. Pirnenta Bueno, para a construção do uma anos iniclais, o percentual representado por 5. Paulo não
estrada do. ferro. - de, Santos a São Paulo e a Jundial. O, fol menor do que 201yo. Por outro lado, na dcada de 1870-
.prlég1os concedidos eram. os habituals. inclusive a a- -80 o rápido crescimento da rede ferroviária de São Paulo
iantia. eleva aquele percentual a nIveis superiores a 35% Parece,
.

e portanto, ficar clara a importância das ferrOvias paulistas


-
estrada fot conciüidar em 1867, já transferida a conces- dentro do Brasil.
são para, a companhia -liglesa. Este fato rnarca o inicio da Ha a notar ainda urn fato signifcativo: o rápido cres-
ligacão ferrovlâria.. do. Oeste paulista ao porto de .Santos e cimento da redo do ferrovias em São Paulo tenderla a al-
continua na década dos 70, quando so dâ a expansão das cancar urn limite imposto pela area de seu território. Tal
linhas em várias direçSes a partir do Jundial. ]imite para o Brazil como urn todo deve representar restri-
ção pouco atuante. A penetração de estradas de ferro nas-
cdas em São Paulo no território de outros Estados como
-

a Mojana em Minas Gerais e a Noroeste em Mate Grosso


(4) 0 privllégio de zona impedia a qua lquer outra empresa 0 - dá a medida de come a participacão das ferrovias pau-
estabelecimento cia estaçôes, na area cornpreendlda por cinco lé- listas na extensâo total das estradas de ferro do Brash
guas (trinta quilOrnetros) para cada lado da linha e contados
. aumentaria se o critérlo adotado fosse, não o territorial,
èTidjcularmente a essa linha. mas outro que considerasse os casoscitados.
23
TP
Portanto, esta seria a primeira indica$o da relevância \5} / trafego,e eaverdadeani návepete
das ferrovias de 8o Paulo na rede de estradas de ferro
do Brash. a quanticladee
i
Tabela 1 - DESENVOLVIMENTO PA REDE FERROVIARIA NO çajna esi usao desAni
BRASUj E EM SAO P.AJJLO
Melh queereira da Silva, J. S. Duncan caracte-
(Extensão da11nhas f6rreas em quilOmetros) Ipriza essa distinçâo ao analisar o desenvolvimento das fer-
Ano Brasil São Paulo São Paulo/Brasil
rovias na segunda metade do século XIX.
"A construco de ferrovias começou na década de ciii-
quenta do século XIX. Ao construirem estas estradas, Os
1854 14 - - brasileiros se defrontaram corn várias dificuldades. A topo-
1860 223 - - grafia oferecia problemas especlais ( ... ). Pesadas tempes-
.1865 498 - -
1870 745 139 18,7
tades durante a estaço chuvosa tornavam onerosa a cons-
1875 1801 655 36,4 truço e a manutencão. Não era fácil abrir a vegetacâo
1880 3398 1212 35.7 tropical que cobria grande parte do pals. A febre amarela
1885 8930 1640 23,7
1890 e outras doenças tropicais consurniam vidas e energia.
9973 2425 24,3
1895 12.967 2962 22,8 Nem mesmo havia uma ünica mercadorla importante
1900 15.316 3373 22,0 para dar a base da prosperidade ferroviária. 0 café, o
1905 22,9
1910
16.781 3842 inais uniportante Item atual do trá:fico das ferrovias brasi-
21.467 5204 ---------------------24,2
1915
26.647 8293 23,6 leiras, crescia entêo em pequena escala. No começo, o trá-
1920 28.535 6616 23,2 fico . era tao pequeno que näo cobria nem mesmo zeus
1925
1930
30.731 6823 22,2 custos correntes". (6)
32.478 7101 21,9 Conthnuan.do, comentou Duncan:
1935 33.331 7366 22,1
1940 34.252 7540 22,0 "Entretanto o café fol se tornando mais e mais impor-
tante. 0 Brasil passou a ser o major produtor mundial. 0
It ontes: Coluna (1)
40. IEGE, RIO, a/d,
.'4fludrjo Estatistico do Brash, Ano V - 1939/ valor do café exportado alcançou mais de metade do total
1336 Anuário EstatIstico do Brasilj, Ano VI exportado pelo pals (...). 0 café naturalmente tornou-se
- 1941/45. IEGE, Rio, 1946
p. 148. Coluna (2) - Secretarla de o elemento principal de transporte para as ferrovias. Como
Estado dos NegOclos da Viaçao e Obras Pilbileas do Estado de S.
Paulo. Ano de 1938. ftelatórjo apresentado ao exmo. snr. inter- regra geral, aquelas estradas que transportam grandes
ventor federal no Estado pelo eng.° Guilherme Ernesto Winter - quantidades de café sao prósperas e aquelas que transpor-
RelatárjQ N. 10. Tipogrj Brash, S. Paulo, 1941, P. 35. tam pequenas quantidades de café tern receita lIquida
.Entretanto, Trials do que essa indicacâo quantitativa, ha baixa ou deficits. 0 capital privado reteve as Jinhas ren-
outro aspecto que tornou as ferrovias paulistas distintas távels. 0 resto, cedo ou tarde, caiu nas mäos do Govenno
das outras do Brash. Vejamos como dois autores . colocarn Central ou do estadual". (7)
L
tal dstinçâo; lnicieos corn Clodomiro Pereira da Silva:
"Para que as estrades de ferro ossam viver é preciso, • (5) Pereira da Silva, Olodomiro. Politica e Legislação de Es-
quëlii a tradas de Ferro. Primeira parte. Volume I. Tip. Laemmert & Comp.,
pu acao seja ativa,ue produza. Sem estes requisitos S. Paulo, 1904, p. 746.
(6) Duncan. Julian Smith. Public and Private Operation of
Railways in Brasil. Columbia University Press, New York, 1932,
menos em Sao Paulo, p. 8.
E para compensacaQesta Denüria. clue traduz-se em urn (7) Duncan, J. S. Op. cit., p. 9/10.

24 . 25
A clicotomia que se estabelece entre ferrovias pauustas
ou ferrovias do café - e as restantes do Brasil parece mao espalmada', para repetir a expressâo feliz que - Tea-
ficar bern definida. Mais uma vez é Duncan que sintetiza doro Sampalo empregou quando se referlu aos
tal dicotomia corn precisão. J sores destas vias modernas na antiga capitania. ar-oi..
"A regra no Brasil é que uma alta porcentagem de café deste, servindo o Vale do Paraiba, é a Central do Brasil,
significa lucros e uma baixa porcentagem de café, o resto para a zona de Atibaia e Bragança, a Bragantina; para
'tojjl permanecendo igual, se traduz em deficits," (8) NNO, percorrendo a faixa que fca ao norte do Tietê, e onde
(1" Para nosso trabatho, esta distinção é irnportante por se concentra a major populaçâo e riqueza do Estado, as
Companhias Paul'sta e Mojiana; entre o Tietê e o Agua-
mostrar que, em muitos casos, a passagem de administra- pef, a Noroeste do Brash (designação esdrüxula e sem sen-
cáo das ferrovias para o Governo decorreu da já precária tido real), entre este ültiino rio e o do Peixe, a chamada
conclição operacional dessas estradas de ferro. E, ernbora - Alta Paulista (que sendo urn simples ramal sern nome
nâo seja argumento conclusivo, indica que a administra- próprio, recebeu esta denominaçáo convencional para se
cáo estatal ineficiente talvez não deva arcar corn toda a diferenchar da estrada a que pertence, a Paulista); e final-
responsablidade pelos deficits ferroviários quase crônicos. mente, entre o Peixe e o Paranapanema, a Sorocabana.
Tal hipótese, entretanto, é obj eta de major estudo no pre Estas estradas são quase independentes entre si, e não se
sente trabalho. - articularn efetivamente senâo na regiâo central do Esta

Por outro ]ado, ainda que o estudo dás ferrovias paulis- do, onde está a Capital. Alérn elas se separam- cada vez
tas seja atfpico face as do Brash, talvez possamos obter mais, a ponto de nenhum rarnal, a não ser excepelonal-
algirnas indicaçôes pelo seu estudo: se as estradas de mente, permitir a passagem de uma para outra, fato este
ferro de São Paulo, antes prósperas, sentirem mais tarde que reflete muito bern o caráter de faixas bern diferencia-
1gum impacto pelo decréscimo do transporte de café. te- das em que se distribul o povoarnento que margeia as suas
remoc urn argumento adh&onal de apolo a hipótese de que linhas respectivas." (9)
a existéncia de uma mercadori a a ser transportada em A caracterizacáo de Calo Prado nos permite identificar
grande volume (no caso. o café) condiciona a rentabili- urn prim&ro grupo de ferrovias que .nâo estudarernos no
dade da empresa ferroviária.
presente trabaiho: Central, Bragantina e Noroeste. Deve-
mos acrescentar a estas a Santos—Jundiaf e a Araraqua-
rense (além de outras pequenas companhias). Apesar dis-
PAULISTA, MOJIANA E SOROCABANA NA REDE FERROVIARIA so, julgamos que o grupo de ferrovias estudado é suficien.
PAULISTA
ternente relevante, como pretendemos demonstrar pelas in-
Como dissemos anteriormente, a estudo náo abrange dicaçôes que se seguem.
toda a rede ferroviárja de São Paulo, mas apenas três de - Corneçarnos nossa avaliaçáo pela análise da Tabela 2.
suas principals ferrovias: a Paulista. a Mojiana e Soroca- Temos af a extensáo em quflômetros da rede ferroviária
bana. A fim de avaliar a relevârtcja das tr8s, ferrovias cabe de São Paulo e a extensâo, em território paulista, das
situá-jas dentro da rede de estradas de ferro de São Paulo. linhas da Paulista, Mojiana e Sorocabana. Coma vemos
A cars cterizacáo feita por Cato Prado Junior nos permite na ültirna coluna, a extensão conjunta das linhas das três
UM primeiro passo nesse sentido: companhias é sempre significativa, cerca de 50% a partir
"A rede de estradas de ferro paulistas, bern como a de • e 1880. 0 ano de 1892 marca, ainda, urn salto para o nivel
rodagem, desenha-se na carta de S. Paulo 'como uma vasta
(9) Prado Junior, Caio. "Contribujço para a. GeograIla Ur
(8) Duncan, T. S. Op. cit., p. 156. bana da ciclade de São Paulo" in Evolução Poiltica do Brasil e-
Outrôs Estuclos, 2.ft ed., Braslijense, S. Paulo, 1957, 122. -
p.
RE-
- 27
de 78% decorrente de ois fatos: a compra da Companhia
Rio £Jaro (que Jigava.,Rio Claro a Araraquara) pela Corn-
panhia Paulista; e a fuso da Sorocabana e Ituana em uma
ünica Companhia, fato que se reflete no &do de 1895.
0 decréscimO desse percentual, particularment1 acen-
tuado após 1910,espelha o esotamento de areas para
6iar s l4 nhas dentro de Sâo Paulo; no caso da Mo- (Extens5.o das linhas férreas em qullômetros)
jiana tal )imitaçào Imolica na constância da sua extensão
em So Paulo aijós 1915 (perlodo em que a Comoanhia (1) (2) (3) (4) (2) +()-4--()
procura a area do sul de Minas Geras); para a Paulista BSo Paulo PuIIBta Mojiana Sorocabana (5)
Mo
tal restric5o se faz menos intensa da mesma forma que
para a Sorocabana; poréxn devernos reconhecer que a im-
plantaco da Araraquarense na ültima década do século
XIX e da Noroeste na prmera década deste século coar-
1867
1870
1875
139
139
855
--
58 106
-- 108
- --
41,5
1880 1.212 224 203 145 47,2
tam a.% tentativas do desenvolvimento da Paulista e da 1.640 243 368 186 48,6
1885
Sorocabana rumo ao Oeste paulista (nos sentidos adotados 1890 2.425 250 784 340 56,7
pela Araraquarense e Noroeste). Apesar dsso, a partici- 1895 2.982 791 833 636 76,3
paco percentual das trés companhias no total de linhas 1900 3.373 807 909 905 77,7
1905 3.843 1.055 1.048 940 79,2
férreas do Estado continua sendo, ate o .fim do perlodo 1910 5.204 1.151 1.194 1.310 70,2
analis ado, significativa. 1915 6.293 1.161 1.341 1.466 63,2
Mats do que a evidência quantitativa acima apresenta- 1920 6.616 1.245 1.347 1.707 65,0
da. parece-nos exist1r outro conjunto de arumentos pára 1925 6.823 1.283 1.347 1.864 65,9
7.101 1.475 1.347 1.867 66,0
justificar a relevância das trés ferrovias. Esses argumen- 1930
1.347 2,100 66,3
1935 7.366 1.497
tos dizem respeito a posicâo estratégica em que se encon- 1940 7.540 1.512 1.347 2.144 66,4
tram tais estradas do ferro em relaçâo aos transportes do
Interior para a Capital e o litoral do Estado. Obs.: (1) Náo se considerou a extensäo das linhas fluvlals. (2) Na
Se tomarmos como base a divisâo regional estabelecida Mojiana, considerou-se apenas a extensäo de linhas férreas em
S5o Paulo, não se computando a quilometragem da parte mineira.
por Serglo Mullet (10) em sete zonas: Norte, Central, Mo- Fontes: Coluna (1): ver Tabela 1; Coluna (2): RelatOrio da Dire-
jiana, Paulista, Araraquarense, Noroeste e Alta Paulista e toria da Companhia Paulista do Estradas de Ferro, 23/4/1941.
Sorocabana, apenas uma delas independe totalmente das Tip. Slquelra, S. Paulo, 1941. Anexo: Quadro Sindtico do Tráfego.
ferrovias em estudo: a Zona Norte que engloba o Vale do Coluna (3): 1875 a 1901: Pinto, A. A. Op. cit., p. 238; 1902 a 1940:
RelatOrlos da Diretorla da Companhia Mollana, de 1903 a 1940;
Paraiba e o Iltoral Norte. Na zona Central apenas Jundiaf Coluna (4): Relatórios da Estrada do Ferro Sorocabana, de 1872
e a reglo de Bragança no se servem daquelas estradas a 1940.
(já que se ligarn a Capital e a Santos pela Bragantina e
Santos-.--Jundiai). As demais zonas ou esto diretamente Portanto, corn as ressalvas já apresentadas, Paulista,
vinculadas àquelas ferrovias (Mojiana, Paulista, Alta Pau- Mojiana e Sorocabana mostrariam uma espécie de sIntese
lista e Sorocabana) ou delas dependem - caso da Noroeste dos fluxos de transporte entre o interior e a Capital e lito-
e Araraquarense - porque o fluxo de mercadorias no sen- raL Na medida em que tal fato seja verdadeiro, talvez
possamos obter, por meio da observaçao do transporte das
(10) Costa e Silva, Sérglo Mullet. Roteiro do Café a Outros companhias, indicaçôes a respeito das transformaçôes .,seto-
Cnsaios, Co1ec5o Departamento de Cultura, Sfto Paulo, 1939. riais da economia paulista no perfoclo em estudo.
28 1 29
HIPOTESES DIRETRIZES ferrovia acompanlia de perto as plantaçôes de café.:.;:. eti.
Sao Paulo.
Ate aqui procuramos justificar, em termos gerais, a rele- Entre os trabalhos sobre estradas de ferro no Brasil, o
vância do objeto do estudo: as estradas de ferro Paulista, livro de Julian Smith Duncan (17), de 1932, Ira vállosa
Mojiana e Sorocabana. Cabe agora fixar as hipóteses dire- contribuiçâo. Seu objetivo é o de comparar as ferrovias
trizes do estudo e avaliar, em funço dessas hipóteses, a operadas pelo Governo corn aquelas sob a responsabilidade
adecuaço das ferrovias escoihidas. de empresas prlvadas. 0 critério de efictência que o autor
No intuito de definir a problemática geral, lancamos adota engloba tanto a rentabilidade efetiva quanto a qua-
mao dos trabalhos existentes sabre ferrovias. lidade dos serviços prestados (corn base na regularidade
Encontramos, em primeiro lugar, alguns trabalhos do dos horários, no nümero de acidentes e de mortes em ad-
começo deste século: sua caracterIstica é de apresentar a dentes). Apesar de seu objetivo parecer, a princIplo, res-
descriçao factual do estabelecimento das primeiras fer- trito, Duncan. analisa corn cuidado as condiçôes econômi-
rovias no Brasil. As obras de Clodomiro Pereira da Sil- cas das principais enipresas ferroviárias do Brasil. E nao
va(") e de Adolfo Augusto Pinto(12 ) sao exemplos tIpi- encontra, ao conluir, razöes para julgar a administraçao
cos deste grupo de trabalhos. Embora de valor inestimável püblica menos eliciente do que a privada.
pelo volume de informaçôes que condensam, tais obras Os trabalhos recentes discutern, quase sempre, o declf-
pouco penetravam na compreensao dos fenômenos econô- nio da importancia das ferrovias como meio de transporte
rnicos das ferrovias. e o estado precário a que chegaram muitas destas empre-
Outro grupo de trabalhos sabre as estradas de ferro sas. Coma economista, Pedro Cipollari, autor de trabalho
surge conjugado corn a análise do desenvolvimento do culdadoso sobre o assunto, assim coloca o problerna:
café em Sao Paulo. Estes trabalhos procuram mostrar que "Nos iMtimos anos, o transporte ferroviário brasileiro
o café, a populacâo e as ferrovias canrinham juntos na tern sido objeto de grandes preocupacôes por parte de
conquista do Oeste de Sao Paulo, Milliet,(18) Monbeig(14) todos aqueles que se interessam pelos problemas nacio-
e Carnargo (15) sao autores que, cada urn sob perspectiva nais. Isto, par dois motivos principais: primeiramente,
diferente, acentuam a relaçao anotada. Dentro deste gru- porquè sua participaçâo no total dos bens transportados
po, a obra de Nogueira de Matos (16) trata especificamente no Pals tern declinado persistentemente; em segundo lugar,
da evoluçao ferroviária que, para os outros autores, surgia porque os deficits operacionais das ferrovias tern Se. eleva-
como interesse paralelo. E mostra, de forma clara, como a do além dos lirnites toleráveis." (18)
Cipollari conclul sua análise (que tern par base apenas
(11) Pereira da Silva, Clodomiro. PolItka e Legislaçdo de Es- as estradas da Recle Ferroviária Federal e exclui, portanto,
tradas de Ferro, Laemmert & C., S. Paulo, 1904.
(12) Pinto, Adolfo Augusto. História da Via co P71btca de Paulista, Mojiana e Sorocabana) par identificar a origem
Sdo Paulo (Brasil), Vanorden & Cia., S. Paulo, 1903. dos deficits ferroviárlos na dierença entre as tarifas cobra-
(13) Mullet da Costa e Silva, S. Roteiro do Café e outros en- das e o custo marginal de cada servico realizado. Todavia,
saiçs, Coleçäo Departamento de Cultura, S. Paulo, 1939.
(14) Monbelg, Pierre. Pionniers et Planteurs de Sao Paulo, Ar- nao julga vlável a simples elevaçao das tarifas pals esta
mand Cohn, Paris, 1952. levaria ao menor usa dos serviços das estradas. Para o
(15) Camargo, José Francisco. Crescimento da Popuhacdo no autor, haveria a necessidade de eliminar certos servicos
Estado de Sdo Paulo e seus aspectos econômlcos, Faculdade de improdutivos, e, ao mesmo tempo, meihorar a qualidade
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, São
laulo, 1952.
_(16) Matos. Odilon Nogueira de. "A Evoluço Ferrovlária de (17) Duncan, Julian Smith. Public and Private Operation of
Sao Paulo" In Anais do IX Congresso Brasileiro de Geografia, Railways in Brash, Columbia University Press, Nova York, 1932.
1944; Café e Ferrovias, Alfa-Omega/Soclologia e Pohitica, São (18) Clpohiarl, Pedro. 0 Problema Ferrovidrio no Brash, FEA-
Paulo, 1974. TJSP, São Paulo, 1968, p. I.

,00 31
dos deifials a flrn de poder au.mentar as tarifas sem perda sas. Taivez possamos indicar Férnandó'do .AZerey cotno
de clienteS. representante desta corrente.
Este rápido balanco da bibliograf îa nos permite definir "A politica de desperdlc!o e dilapidaçâo, o ni.mero,.exces..
o ponto de partida de nosso trabaiho: as ferrovias, de ml- sivo e o salário de seus empregados e funclonáriOs, a éle
do próSperaS e em rápido crescimento (junto corn as plan- vaâo dos precos de transporte (tarif as e passagens) para
tacôes de, encontram, mats tarde, periodo de declinlo. acudir a necessidades crescentés em cada exerciclo, tern
Ècontrar as razöes deste decllnio é o objetivo que preten- mantdo grande parte dessas estradas em perrn.anente regi-
demos alcancar. me defl&tário e, obrlgados a recorrer a empréstimos que
AceltO este probletna como ponto de partida, cabe de- flies agravam cada vez mats a situação mas a que não
terminar as hipóteses que procuraremos testar no decor- podem fugir, para no interromper os servlços normals. A
rer do estudo. Podemos nos basear em duas coiocacöes intervencão da politica na indüstria ferrovlária tern sdo,
extremas da questho. Temos, em primeiro lugar, aqueles em várlas estradas, a cancro avassalador que corról todo a
que vêem na caracteristica do sistema ferroviárlo voltado, sistema. retardando-ihe o desenvolvimento e afastando as
como a própria atividade agricola, para Os portos de ex- perspectivas de uma politica de vacão."(20 )
portaco, a causa básica da 1nadequaço desse sistema para Anda que as duas exnlicaçöes não sejam mutuamente
a economia mats diversificada que emerge após a crise do exciusivas, parece evidente que a ênfase em urn ou outro
1929. Sunkel nos fornece uma clara smntese desta posiço: asp°cto caracteriza cada autor que dlscut6 o problerna fer-
"Em todos OS casos, trata-se do desenvolvimento da infra- rovlário.
-estrutura orientada essencialmente para o exterior e cuja Coma hipóteses não tao extremas como as anteriores,
funçäo é dr&nar a produçâo de determinada locaildade do podemos nos basear em mats dots setores.. Prirnetro, P. Mon-
beiv lembra que:
pals para 0 Porto que comunica a atividade produtora corn 0 desenvolvimento das vias férreas. não obedeceu pots
os centros consumidores de ultramar. E isto gera uma 11

caracteristica muito peculiar nos sistemas de transporte a urn piano sistemático: ele fol comandado pelos interes-
que tais palses herdaram do periodo de expanso expor- ses de administradores, produtores e comerciantes de Ca-
tadora: esses sistemas de transportes apresentam a singu- fé." (21)
laridade de levar carga praticamente num so sentido - Ao reforçar essa proposicão, Monbeig .já sugere seu re-
da area produtora ao Porto de exportaço. 0 volume de sultado:
carga que percorre caminho inverso é de minima Impor- "As novas vias férreas são as vias férreas do: café;. seu
tância porque, coma logo veremos, a populaco desse tipo tracado, pOr vezes caprichoso e què fdi preciso math tarde
de paises tende a concentrar-se nos portos de exportaçäo corrigir ou suportar penosamente, depende da posicão das
ou nas cidades principals. maiores fazéndas e da localização das cidade do café." (22)
Como vemos, Monbeig traça urn quadro que se aproxhia
BOa parte da falência dos sistemas de transporte da Amé- da posição de Sunkel, mostrando as implicaçôes que tern,
rica Latina - caracterizados pelo baixo grau de aprovei- no futuro, o sistema ferroviarlo traçado corn base em into-
tameñto da capacidade instalada - deve ser atribuida a eases imediatos do café. Sob a mesma .perspectiva, Cinci-
este vicio de origem." (19) nato Braga nos traz ottras hipótese passiveis de teste:
A segunda posiçäo procura expilcar 0 declinlo das fer-
rovias corn base na administraçäo ineficiente das empre. (20) Azevedo, Fernando de. Um, Trem Corre para 0 Oeste,. L.
Martins, Editora, S. Paulo, 1950, p. 63/5. -
(21) Monbeig, Pierre. Pionniers et Planteurs de Sao Paulo, Ar-
(19) Sunkel Oswaldo. 0 Marco HistOrico do Processo Desen- mand Cohn, Paris, .1952, p. 157. .
volvimento-Subdesenvolvimento, Forum Editora, Rio, 1971, p. 25. (22) Monbeig, Pierre. Op. cit., p. 158. . ...

32 AA 33
•"0 nosso Dorto de Santos é urn porto a que chaniarel volta para dentro das ferrovias: a receita das estradas dé
'de luxo'. Está servido por linhas férreas tarnbém 'de luxo' ferro é vista, entâo, como reflexo da conjuntura e do de-
0 capital elevadIssimo, destas e daquele, reclama tarifas e senvolvimento da economia paulista. No terceiro capftulo,
taxas altIssimas. A razão deste está em que pOrto e linhas pro curamos testar a segunda htpOtese dretriz: a eficlOncia
férreas foram construidos sob a perspectiva de uina eco- administrativa das empresas ferroviárias. 0 quarto capf-
nomia pdblica fundada sobre a monocultura do cafeeiro, tulo avança em outro sentido: a análise do desenvolvimen-
cujo produto -a café i- é mercadoria de luxo, de relati- to do capital das estradas de ferro, aparentemente des-
vamente alto valor comercial em pequeno volume, supor- vinculada do objetivo inicial do trabalho, acaba por nos
tando fretes e taxas thais pesadas do que suporta qual- trazer importantes subsfdios a explicaçâo do declinio das
quer outro produto de nosso Solo." (23) empresas.
Cincinato Braga mostra que, antes mesmo da crise de As fontes primárias a que recorps,principa1mente
1929, a economia paulista já arcaria corn urn onus bastante para a reconiiiä Luantitativos, foram Os Re..
grande - representado pelos altos custos de transporte - latórios_sernestrais ou annals das ferroviaAperspectiva
porque o próprio sistema de transporte fora construIdo em ilateral impllcita nos r6os1evouaindaabus
função do produto de exportacâo - o café. car a imprensa da enoca no sentido cle confirmar certas
Parece-no, portanto, cam as indicaçöes acima, ser pos- Ou
sivel formular nossas hipóteses diretrizes para o - estudo
a ser realizado.
o objetivo essencial do estudo consiste em determJnar,
nurna perspectiva histórica, as condiçôes que levaram o
sistema ferroviário de São Paulo - no caso, representado
pelas trés estradas de ferro escoihidas - a passar do estado
de prosperidadé inicial para aquele em que sua receita se
torna insuficiente para garantir a rentabilidade da em-
presa.
As hipóteses diretrizes sistematizam as duas correntea já
referidas:
1. 0 declinlo das estradas de ferro decorre da mudan-
ça do comportamento da economia? As crises do café e a
crescente diversificação da economia paulista são motivos
suficientes para determinar o declInfo ferroviário?
2. 0 declfnio das estradas de ferro teria decorrido da
administraçäo ineficiente das empresas (e, especialmente,
das empresas püblicas)?
A tentativa de responder a tais questOes nos propOs a
elaboração de quatro capitulos. No primeiro, estüdamos
a movimento conjunto do cafe, da populaçäo e das ferro-
vias rumo ao Oeste de São Paulo. 0 segundo capItulo se
(23) Braga, Cincinato. Magnos Problemczs EconOmicos de São
Paulo, 2.a ed. Livraria Zenith, Säo Paulo, 1924, p. 50.

34• 35
CARtTULO I
Café, popu1aäo e ferrovias em So Paulo:
-. - o estabelecimento das dfretrizes das
estradas de ferro

o estudo dos fatores determiñantes da diretriz dada as


ferrovias em São Paulo já encontrou- expllcaç6es definiti
vas: as obras de 96rgio MUllet, (I ) : Pierre Monb6ig,(2 ) José
Francisco de Oamargo(3) e Odilon Nogueira de Matos,(4 )
entre outros estabelecem, sob diversas :persperjtivas,. a es-
treita relacão existente entre o. desenvOlvinetito- -da produ-
cão de café o crescimento da populaco e as ferrovias em
São Paulo. Estes trés elernentos carnthbamjuntos a partir
da segunda metade do século XJX;. qualquer tentativa de
explicar o desenvolvimento de. urn deles sern ref erência
aos outros dois mostra-se incompleta. Talmotivo ã seria
suficiente para justificar a presença cle urn capltulo dedi
cado ao tema
Entretanto, uma de nossas hlpóteses de trabaiho edge
que a relação acima apresentada fiqie bastante Clara:
como procuramos testar a influêncla .dp çlécllniQ do trans-

(1) Costa e Silva, Sergio Mullet,. Rotefro do Cafée outros, en-.


saios. Coleção do Departamento de Cultura, 86o Paulo, 1939.
(2) Monbeig, Pierre. Pionniers et Planteurs de Edo Paulo. LI-
brairie Armand Colin, Parts, 1952— -. .. . .., .......
(3) .Camargo, José Francisco. Cresclrnento da Populaçda . do
Estado de Edo Paulo e seus aspectos econOmicos: enalo sobre as
relaçôes entre a demografia e a economia Faculdade.-de 'fl
sofia, Clénclas e Letras, Slo Paulo, 1952.
(4) Matos, Odilon Nogueira de. "A Evolução. Ferrovlária do
São Paulo" In Anals -do II Congresso- Brasfleiro de Geograjia,
1944. , iv:...........
Porte do produto de exportacâo - no caso, a café sobre • T&S fatos levam a admitir que a perrnanência do siste-
as ferrovias, faz-se necessário demonstrar, de inicio, a sua ma de tropas de mula representaria obstáculo absoluto ao
relevâncja para essas estradas de ferro. desenvolvimento do café rumo ao Oeste paulista. Monbei.g
indica a plausibilidade via hipót 1eV tada;::;
Neste capitulo procuramos estudar a desenvolvimento
11 0 desenvolvimento da agrcultura. caeeira em . tamp
Conjunto de café, populaco e ferrovtas sob duas formas.
de Campinas e mesmo além coloca uma dupla dificuldade:
A primeira tenta relacionar as três elementos no tempo e
era preciso vencer mats de 200 km em tropas de mulas e
no espaço par me10 de dados estatIsUcos. Temos, dessa
era preciso que a Porto de Santos fosse .equipado para a
forma, a perspectva mais ampla do movimento de café, manutencâo de uma tonelagem crescente. Urn viaj ante
População e ferrovias rumo ao Oeste de So Paulo. A Se- alern.o, Tschudi, natou, em 1860, que era impossIvel plan-
glinda tantativa busca a' evi dêñca nas dsputas que cer- tar além de Rio Clara pois a distância a veneer era muito
cam o. estabelecirnnto. da dlretriz dos prolongamentos das grande. Alguns anos antes, em 1855, urn governaclor do
ferrovias O Interesses de zonas de So Paulo ou mesmo Estado calculou que 500. 000 arrobas de gêneros exportá-
Pessoals - envodoslvi em tais disputas. vêm confirmar, vets pern-ianeciam no lugar de produco par causa do custo
principalmente, a dependência entre café e ferrovias. muito alto do transporte." (6)
Uma terceira forma de estudar o mesmo problema cons-
ta do segundo capitulo deste trabaiho: al observamos a "A viação na Provincia nem sequer é regular. Poucas senão
Particpaçäo do café no volume de transporte realizado iaras, são as estradas que tenham sido feltas corn observância
pelas estradas de ferro em estudo. dos preceltos da arte e nas cond1es precisas para facllldade de
trãnsito e duracão das obras." Relatório a Assernbléia Legisla-
tiva Provincial de São Paulo pelo Presidente da Provincia. 0
o ]DESENVOLVIMENTO DO CAFE E DAS FERROVIAS E 0 Ex.'° Sr. Dr. José Fernandes da Costa Pereira J1nior em 2 de
CRESCflfl'O DAPOPULAQAO fevereiro de 1872. Tlpografla Americana, São Paulo. 1871, p. 42.
"A economla paulista, a economia do planalto, quando se in-
tegrou na mundlal, sofreu o impacto das dificuldades de trans-
As estradas de' ferro éOnstruIdas na segunda metade do porte decorrentes, por urn lado, da ma conservaçäo de todas as
SéCulo XIX em Sd Paulo sübstituIram o antigo sistema estradas e, por outro, dos obstáculos Inerentes a descida da
serra do Mar que, para os recursos da época, era vencida corn
de transporte: as tropas de mula. A incapacidade deste dificuldade". Petrone, Maria Thereza S., A Lavoura Canavieira
sistema para atender as crescentes necessidades da econo em São Paulo. Expansdo e DeclInio (1765-1851). Dlfusão Euro-
flhia paulista mostra-se por urn lado, a capacidade péla do Llvro, S. Paulo, 1968, p. 187.
"Seria demasiado longo e levarla a nos afastar dos nossos ob-
lilnitada, o alto custo e a clemora do transporte par mulas jetivos em relação ao problema do transporte do algodão, a des-
A estimulavam a biicà de novas formas de superar o cricão do estado precârio de conservaçäo em que se encontra-
problema. Alérn disso, o .estaclô precário das estradas de vain em geral as estradas da Provincia.
A freqttêncla das reclamacoes sobre o estado precário das vlas
rodagem e, especificamnte, a dificil descida da serra do freqtientemente interrompidas pelos lamaçais produzidos pelas
Mar fazam mais niticla a fragilidade do transporte que chuvas, pela queda de pontes, e ate pela Invasão da vegetação
Sustentava a crescente ecOnonua paulista (6) quando se negligenciavam por alguns anos Os trabalhos de des-
cortinamento. nos leva a admitir que o mau estado das estradas
era situação normal. Essas condiçes que caracterizavam os
(5) As .referênclas s precárias condiçôes do transporte em So meios de comunicaçOes da época dificultavam o major incremento
Paulo repetern-se corn 'freqüêncla. Vejamos alguns exemplos: da cultura do algodao, além da area central da provincla, nas
"Em geral, as vias de comutiicaç.cj do Interior da Provincia, tern •regiOes pioneiras, onde a precardade dos investimentos finan-
0 lastimâvel préstimo de Incutir terror aos viajantes e fazer ceiros poderia ter propiciado seu major desenvolvimento." Cana-
admirar a coragem de sua população". Relatório apresentcido a brava, Alice P., 0 Desenvolvimento da Cultura de Algodão na
Provincia de São 'Paulo. Gráflca Siquelra, São Paulo, 1951; p.
Assembléja Legislativa 'Frovinclél de São Paulo pelo Presidente 113/4.. • • • • •
da Provincia no did 15 de feveriro de 1871. Tlpografla Ameri-
cana, São Paulo, 1871, p. 91. (6) Monbelg, Pierre. Op. cit., p. 86. :

:39
Be o custo do transporte Impedia realmente a exportaço unam a Infra-estrutura do sistema. Mas a irradiaco dos
de produtos do interior paulista, (7) podemos concluir que cafezais crlou enormes dlsth.ncias entre as lavouras e o
as ferrovias foram indispensâveis ao continuo deslocarnen- porto de Santos, dificuldade a que se aliam a volume cres-
to do Café rumo ao Oeste. (8) Esta é urna das faces do cente das safras e o elevado preco do transporte animal.
problerna. Ocupa a outra face a hipótese de que Os Inte- Este se tornou antieconômico. Em ta a regiäo centro-sul
resses ligados ao café foram os propulsores diretos do de- os interesses do café exercerg,rn presso sobre as autorida-
senvolvirnento ferroviério. Efetivamente, salvo urna exce-
ção, o vmnculo ferrovia-café apresenta-se nitido. Tal vin- em
culo acentua-se a partir de 1870 corn a cobonizaço do Oeste urn
paulista:
"Essa conquista do espaco, e a cobonizaçäo pelo café' no lavouras e pelos roteiros que levam ao porto de embarque
Oeste paulista, processa-se nurn meio econômico e social em direçâo ao mercado exterior." (9)
mais complexo do que o prevalecente nas três décadas an Entre as estradas objeto deste estudo encontramos,. en-
teriores. Ao ralar a década dos 70 as tropas de mula for- tretanto, uma que. nâo teve no café a base para a sua• orga-
nizaço: a Sorocabana surge para servir os produtores e
(7) Dais estudos enquadrados na "New Economic History" dis-
cornerciantes de algodo da area de Sorocaba:
cutem, pára o caso norte-americano, a hipOtese de se as ferrovias "... a cultura se manteve graças, sobretudo, a ampla
teriam sido indlspensáveis ao ciesenvolvirnento. A eventual su- perspectiva de negócios que possuIa Luis Mateus Maylasky,
gestäo de se realizar tal estudo para a caso brasileiro parece-nos a fundador da estrada de ferro Sorocabana. Esta, em cons-
desprovido de major sentido porque, entre outras objeçöes, o cr1-
t6rlo para Julgar a "indispensabilidade" das ferrovias exige a truçao, dependia basicamente do transporte de algodao, a
comparacão das estradas de ferro corn urn sistema de transporte principal produto da zona.
alternativo; nos Estados Unidos já existia o sistema de canals que Sabemos que em 1876 a ferrovia Sorocabana passou por
dava . navegaçáo alguma condicão de concorrer corn as ferrovias.
No caso de São Paulo, parece-nos ocioso querer comparar ef 1- crise muito grave em conseqüência da própria crise do al-
clência, custos e tarif as de ferrovias e de tropas de mulas. A na- godao mas este havia se mantido, ate entäo, se no em
vegação fluvial em São Paulo surge depols das ferrovias, mas é progresso, pebo menos corn a vita]idade necessária para
efémera e reduz-se a certas areas do interior do Estado.. Sabre a
controvérsia americana consultar: Fishlow, Albert. American Rail- servir. de base aos cálcubos para a construção da estra-
road an the Transformation of Ante-Bellum Economy. Harvard da." (10)
University Press, Cambridge, 1965; Fogel. Robert, W., Railroads Como procuramos mostrar neste trabaiho, mais tarde
and American Economic Growth. The Johns Hopkins Press, Bal-
timore, 1964. também a Sorocabana obtém do café a major parte de
(8) Sobre o custo de transporte do sistema de tropas, duas re- sua receita. Dessa forma, Paulista, Mojiana e Sorocabana
ferências nos Indicam o quanta podia constituir-se num obstA- podem, corn a ressalva acima, rec,ber o rótulo de estradas
culo a clrculacão de mercadorias: do café.
"Basta dizer que o transporte, que entäo se fazia por melo de
tropas de muares, custava cerca de 440 réls por arroba de café, 0 crescimento da populaco completa o quadro ate aqui
ao passo que pela via férrea a despesa poderia baixar a 140 réls, esboçado. Obviamente, para que novas lavouras pudessem
permitlndo asslrn a economla de mais de 60% em beneficlo do produzir, fazia-se necessário supri-las de mao-de-obra. Mais
produtor." R. C. P. E. F. - 30/6/1918, Casa Vanorden, São Paulo,
1918, p. 6..
• "Os preços dos meios de transporte foram também considera- • (9) Canabrava, Alice P., "A Grande Lavoura" in Holanda, S6r-
dos muito onerosos para o algodao procedente dos municiplos que gio B., HistOria Geral da CIvllisaçdo Brasileira. Tomo II - 0
sO podlam se servir do transporte animal, mas apontou-se tam-. Brasil Mondrquico, 40 volume. Decllnio e Queda do Império. DI-
bern a necessidade de dotar a provincia de melhores vias de co- fusão Européla do Livro, São Paulo, 1971, p. 92.
munlcaçAo e reduzir as tarif as das ferrovias." Canabrava, Alice (10), Can Alice P., 0 Desenvolvlmento da Cultura do Al-
P., 0 Desenvolvimenf a da Cultura de Algoddo na Provinef a de gociao na Provincia do Sdo Paulo. Gráfica Siquetra, São Paulo,
Sao Paulo. Gráflca Slqueira,. São Paulo, 1951, p. 259. 1951, p. 243/4.

-40 41
urna vez, Os cafeicultores criam as condiçôes para que' k. ferroviária nas datas em que. temos Os dàdoà demográficos
obtivesse o contingente popu1aciona sufciente. De par ti- e de producão de café. Evidentemente, nossa conclusâo não
cülar releväricia é a po1Itca de incentivo a imigraçãö, já pocleria dtferir daquela já estabelecida. Nas pálavras de
que Os imigrantes representam, mesmo antes de 1888, par- Camargo:
cela. importante da mão-deobra das fazendas de café. Tam- 'Pela observação verifica-se, no caso do Estado de São
bern neste aspecto Se manifesta a solidariedacle das empre- Paulo, existirem relacôes estreftas entre o Impulso demo-
as 1erroviárias corn os arcu1tores: desde 1882, passa- gráfico das suas diversas zonas, a seu desenvolvimento
gens gratuitas são forne&clas aos imigrantes, como meio econômico e a expansão da via f6rea.13 _
de facilitar o deslocarnento da mão-de-obra Dotenca1 para ó ano de 1874. A pri-
as zonas em que se fazia necessária. (11) Este fato vem, m&ra linha férrea fora inaugurada em 1867 (Santos a
apenas, reafirmar o papel diretor que os interesses caféei- Jundial) e estabelecia a ligação fundamental do transpor-
ros exerciam na época. Monbeig observa corn propriedade Lte paulista entre o porto e o p]analto.
que: öüiãção. em 1874 ãüNde forma mais densa três
~Iip
"Ate a ültima década, os grandes !azendeiros forarn de zonas: a sègunda (Vale do Paraiba), a terceira (Centrl)
algum modo os dirigentes de São Paulo, o interesse cole- e a quarta (Mojiana): quase 80% dos habitantes de São
tivo era confundido corn o seu interesse de classe. Este Paulo al estâo. Evidentemente tal presença não é aleatória,
fato snci.06icr) se liga a aeografla do rriovimento pioneiro. mas deve-se ao fato de cue nessas zonas também se con-
Os problemas de rnão-de-obra e consectienteinente o ovoa- centra a produção de café. Embora não tenhamos os dados
mento, o das vias de cornunicação, a dos preco.s foram cOn- para a ano de 1874, podemos chegar a conclusão acima
sideraclos e tratados antes de tudo em funcão dos interes- observando a tendência entre os anos de 1854 a 18a6. A
ses de fazendefros; a marcha pioneira fol antes de mais tendência declinante da produção na segunda zona, sobre-
nedci 0 SCU neócio." (12) poem-se os extraordináros crescimentos verificados na ter-
A prim&ra forma de confirmar as observaçöes anter i o- ceira, quarta ê quinta zona. Portanto, o primeiro vInculo
Tpq con&ste em observar o caminho nróximo aue sepilem já surge claramente: pppacãoeca!esegueni iadoalado.
café, populacão e ferrovias no temno e no eoaeo. Pra Se passarmos, agora, a análise do mã thetamos o
tornar possIvel esse estudo, utilizarnos a divisão em zona quadro: as ferrovias buscararn exatamente as regi6es de
de São Paulo proposta por José Francisco de Camargo. maior prodticão de café e populacão. (14) E claro que a zona
Fse autr,r identifca dez, zonas em São Paulo corn base, da Capital (primeira) tinha de ser cortada pelas ferrovias
principalmerite, na influência das ferrovias dominantes em como meio de atingir as areas cafeeiras. Feita esta ressal-
cada zona. C) confronto do desenvolvimento de café, popu- va, a mera observação do mapa nos mostra a linha férrea
lação e ferrovias parte dos dados de populacão e de pro que penetra a segunda zona a partir do Rio de Janeiro,
dução de café apresentado por J. F. Camargo, que repro- servindo a mais antiga zona cafeeira; a terceira zona já
duzirnos nas Tabelas 1.1 e 1.2. Comparamos, então, tais está vendo urna. verdadeira rede ferroviária se desenhar:
dados corn os mapas anexos que mostram o estado darede Paulista, Ituana, Sorocabana e Mojiana inauguram no co-
meço I da década dos setenta os trechos iniciais de suas
(11) "Como 6 sabldo, foi a Companhia Paulista que lniciou, em
1882, a transporte gratuito de lrnigrantes e suas bagagens. Nos linhas; na quarta zona a Mojiana atinge 0 primeiro ponto
trinta e cinco anos decorrjdos dessa época ate 31 de dezembro de
1917, tern eLa dado passagem em seus- trens, muitos dos quals for-
mados exciusivamente para esse fim, a 700.765 Indlviduos, cujo (13) Camargo, José Francisco, Op. cit., p. 27.
transporte teria custado 3.445.334$170 réls." R. C. P.- E. F. (14), Para elaborar a mapa tomarnos o ano de 1875e nâo a de
301611918,1 Casa -Vanorcien, São Paulo, 1918, p. 20. 1874 porque -cm 75 foram InaugUrados trechos da Paulista, Mo-
(12) Monbeig, Pierre, Op. cit., p. 123/4. liana e Ituana e Sorocabana que se correlacionam, claramente,
multo mais corn -a populaçäo de 1874 do que corn a de 1886.
42 - 43
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da linha Moji-Mirim. ComO vemos pelo esboço, ha ainda em 1905 sus produção de café, ésuperto,r à. .da decadente
tendência a se atingir a quinta zona pelo prolongamento segunda zona; e, em 1900, sua populacâo já ultrapassou a
da Paulista a partir de Cámpinas. casa dos cern mil habitantes, embora nâo detenha grande
Passemos, agora, ao segundo momento: em 1886 obser- parcela da populaçâo total do Estado. be 'qusiquer oa
varnos a seqit&icla natural das tendências esboçadas em são Indices de que o café caminlia nesse sentido, levando
1874. Na segunda zona completa-se a linha férrea entre junto o povoamento e as ferrovias.
São Paulo .e Rio de Janeiro; porém, os sinais de decadén- 0 perlodo de 1900 a 1920 niarca o estabelecimento do
cia do café já se znantfestain claramente, (15) apesar de que praticamente constitul a rede ferroviária definitiva de
ainda contar corn o, maior contingente populacionaL
0 café parte:agprapara as zonas 3, 4 e 5, corresponden- São Paulo. Todas as zonas conseguem o assen'tamento de
urn tronco ferrovário bás!co: a partir de então, somente
do a esse mo'crirnénto o crescLrnento demográfico nessas ramais de importância secundária são 'construidos. Entre-
zonas. Como eaperamos, nesse sentido também vai a estra- tanto, parece surgir urn fato novo na histórta das ferro-
da de ferro: natercera zona, apenas alguns prolongamen- vias pauPstas, poque pelo . menos urn .desses troncos corta
tos das linhas, existentes; porém, na quarta e na quinta Areas de escassa população. 0 caso mats nitido 6 o da
zonas começam a apärecer os "ramos" de linhas férreas a sétima zona: a Noroeste do Brasil athg- e-ff-7ffff-r-g
ffe—
m__ffo—
rip
partir dos troncos básicos. Tais troncos sâo a linha de Rio 1ëm191O essjona tinha apenas 8.000
Claro e Araraquara na quinta, zona e a de Moji-Mirim e
Ribeiräo Preto na quarta. :
De 1886 a 1900,, u desénvôl'virnento de café, ferrovias e Sc fez .por —
quase
populaço indilca duas, direçes distintas: por urn lado ha
A conquista de novas areas pelas ferrovias em sequência 0 mesmo deve ter ocorrido, 'em menor grau, na oitava
nasural as antiaa linhas. .ESse e o caso da quarta zona, em
zona, em que a Sorocãbana leva seus trflhos ate Presidente
que a Moj iana atinge a frontelra e penetra em Minas Ge- Prudente. Entre os troncos' construidos no perlodo. cabe
rais; da mesma forma,. na quinta zona, a Paulista estende ressalf,ar aindq o ramal de Itararé que atravessa a zona 9
suas J.inhas ate Jabuticabal. 0 crescimento da populacäo e a linha de Santos a Jtiquiá, ambas em areas de pouca
é mais significaUvo iessas duas zonas do que na terceira ininortância econôxnca (pelo menos, em termos de produ-
e na segunda; e também o café tern nas zonas 4 e 5 os ção de café). Portanto, parece-nos que 'entre 1900 e 1920
maiores produtores em São Paulo.. a estrada de ferro se coloca, em algumas areas. é. frente do
A segunda direçäo.;das Jinhas. fOrreas no perlodo se defi- cef4 P da ponulaão. Por iso mesmo, o desempenho dessas
ne "pek busca.cte noVas' areas:. na Sorocabana, dois novos estradas, como empresas, nâo poderia ser dos mais brilhan-
ruñios: o ramal de Xtapetininga para o Sul do Estado e o tes, e justifica o caráter estatal de tats ferrovias.
proiongamento para a Oeste mchcando a conquista da 01- 0 ültmo periodo, de 1920 a 1940, aprèsënta apenas dois
ava zona, a (Jompanhta Paulista, corn seu novo ramal de prolongamentos dignos 'de nota. 0 primeiro é a linha da
Jau, abre possibiiidacles de cammhar pela sexta zona Efe- Paulista que parte de Jai'i, passa por Bauru e vai servir a
tivamente, são esas as duas novas zonas que despontam zona de Marilia. No caso, releva menos dvulto do empreen-
dimento dn que a importância da área'aVngida. 0 segundo
é a conclusão da linha Mayrink--Santos de propriedade da
(15) Admitthóso declinlo da roduão de café na zona do Va- Sorocabana. Esta linha pretencUa romper o monopólo da
;e do Paraiba peia comparaao ':dq.dados reterentes a 1854 e São Paulo Railway entre São. Paulo e 'Santos. No'entanto,
1886. Em arrobas ternos, respectivam'ente; 1854 2.737.639 ar- concebida na década de 1890 so consegue: ser, conclulda na
robas; 1886 --. 2.117.134 arrobas•

52 53
•de 1930, e. corn pouco sucesso quanto ao objetivo prétencu-
da(16 )
Quanto a relçâo postuladade inIclo -, entre café, po-
voamento e ferovia $ no cabe mais procurar identi-
ficá-la. A crise de 1930 619s. pbster!ores transformaçöes da
economia paulista nab conferem mais ao café o papel de
elemento dinârnico.: Indicio desse fato é o crescimento p0-
•pulacional da primeira I zona entre 1920 e 1940: como a "E incontestável que a viaçao férrea no Estado tern pro-
gredido bastante; mas 0 estudo minucioso dos fatos mos-
primeira zona.é constitulda pela Capital e municipios vizi-
nhos, a justificativa para este crescimento se encontra no tra bern que ela podia estar mais desenvolvida, se houvesse
processo de industrializacâo acelerado na década de 1930. orientação mais patriôtica das respectivas empresas, que
1 . • •i ..
: ..............
se limitam a acompanhar 0 processo da agricultura -
INTERESSES LOCAlS .9 INDfl7IDUATS E AS DIREThIZES
buscando a producao onde já existe, e negando sèmpre
corn oposição inaudita quaisquer vantagens aos produto-
DAS RODOVIAS res, mesmo corn hiiqüidade rnanifesta, e exercendo prepo-
tência a poder das riquezas que acumularam, ate par rneio
Observamoa, ate aciui, coino a estrada de ferro acorrrna- de fretes ilegais e proveitos extorquidos ao püblico." (17)
nha o café e a popi.laçao em sua martha para o Oeste Pereira da Silva apresenta os motivos pelos quais a pü-
paulista Porém 0 f1zemo em ampla perspectiva, apenas blico se ressentiria dos serviços ferroviários. Mas também
p&a anáUse dth daclôs reT evantes. Cabé agora chegar mais entre as empresas os cant litos existern. 0 presidente da
próximo da realiclade para perceber em que medida as Provincia reconhece e lamenta 0 surgimento de tais con-
•homens da época tinharn clara a relacao por nós levanta- ulitos porque:
•da. Para tanto buscamos a evidénôia necessãria em algu-
•mas disputas sobre as diretrizes dos prolongamentos das "Se todas as empresas houvessem seguiclo o ponto obje-
linhas férreas; Tais disputa.s; ao ensejarern a apresentaçao tivo que tiveram em vista, e que constam das bases de sua
de argurnentos para a defesa de uma au outra diretriz, incorporaçao, as quatro companhias organizadas em pri-
revelam o• jiigamento que, na época, se fazia das èstradas meiro lugar - Paulista, Ituana, Sorocabana e Mojiana -
de ferro. De certa . forma, obtemos por este meio a confir- poderiam t8-lo alcançado independente de lutas. A Paulis-
•maçäo da hipótese inicil, poIs, ao observar as argumentos ta estenderie sua linfla ate Araraquara,prolongando-a de-
• apresentadosi . vemos ciaramente a veemência corn que in- p015 ate onde julgasse conveniente. A Ituana seguiria o
dividuos ou represent antes, der zonas reclamam a aproxi- Vale do Tietê. A Sorocabana procuraria Itapetininga e a
lnaçâo da,, linha férrea para suas propriedades A proximi- Paranapanema, servindo àquelas fertilIssimas regies por
dade da. linha frrea tei porr objetivo. reduzir a. custo de eles banhados. A Mojiana, depois de atingir ao seu obje-
•transporte pa, as pro4uto gricoias de ecportaco (em tivo, - o Rio Grande -, levaria seus trilhos ate onde
especial ó caf)., . mais vantajoso Ihe fosse.
y . . • •.• . Entre estas Companhias haveria acordo corn a audiên-
• Entretanto, naa mesras disputs, pod em. os: observar a cia do presidente da ProvIncia, sobre Os ramais que, em
dependêpeia das errovias :para corn 0 transporte de café. regra geral, foram as causas das lutas e das questôes.

(16) Vo1aremesadiscussa&doirOb1ethado monopólió do trajis- (17) Pereira da Silva, Clodomiro. Poiltica e Legislaçâo de Es-
portes entre planalto. e.p partoce Santos pela S. P. :R. no üI- tradas do Ferro. Primeira Parte. Volume I. Tip. Lae.mmert &
timo capitulo deste trabaiho. Comp., S5o Paulo, 1904, p. 585.
54 • 55
CriOu-se poteriorrnente a Companhia Rio Claro, que exigia o estudo para futuros prolongamentos. Campos
veio ficar colocada entre a Ituana e a Paulista, compli- Sales acreditava na necessidade e na viabilidade de novas
cando o estado de coisas." (18) empresas:
0 tipo de disputa entre as companlilas (a busca de van- 110 vigor corn que se desenvolve nesta provincla o espi-

tagens junto ao Governo) parece-nos decorrer, em parte, rito de associaçâo vantajosamente iniciado corn a incorpo-
do monopóLio que cada linha férrea desfruta no Brasil. (19) xação da Companhia Paulista, convida ao estudo e exame
Como ja virnos, entre os direitos que as ferrovias obtinharn dos meios que possam levar a obra do prolongarnento da
quando da concessão de urna linha, havia o "privilég!o de estrada de ferro ate onde chegarern Os nossos recursos.
zona" que impedia a outra empresa estabelecer estaçôes a ponto incontrovertido que a estação desta linha ficará
distãncia de 30 quilôrnetros de cada lado da linha. Limi- em Campinas so enquanto não for conhecida a possibili-
tada, por esse modo, a concorrência direta que era possf- dade de levá-la adiante." (20)
vel (e, talvez, sem interesse), a ação das diretorias das Convém notar que para Campos Sales, nessa época, era
empresas junto ao Governo corn o firn de obter novas con- também "ponto incontrovertido" 0 destino da linha férrea
cesaôes surge como a melo de aumento da area de influên- - dal a titulo do artigo "Estrada de Ferro Campinas ao
cia de urna empresa ferroviária. Por isso, no poucas vezes, Rio Claro". Na vérdade, so urn problema o preocupava:
o Governo se ye acusado de proteger determinadas empre- "A questão, portanto, é saber-se se e já tempo de pensar
sas quando da concessão de novas linhas ou ramais. em urn cometimento major do que aquele que por enquan-
Para comprovarmos estas observaçôes, selecionamos dois to está nas vistas da Companhia Paulista; se é posslvel o
mornentos crucials para o desenvolvimento do sistema fer- levantamento de capitals para o prolongamento ate o Rio
roviário de São Paulo: o primeiro, no inIcio da década de Claro; Se os capitals empregados terão as vantagens dos
1870 quando, já definida a linha de Jundial a Campinas, juros e a devida compensacão nos lucros que aufere a
discute-se qual a diretriz mais conveniente para a linha lavoura." (21)
que partisse de Campinas; o segundo momento situa..se em A forma definitiva como se colocava o problerna do. pro-
torno de 1880 quando se observa a polêmica sobre a con- longamento para Rio Claro levanta os protestos dos fazen-
cessão da linha que, a partir de Rio Claro, fosse atingir São deiros da zona de Moji-Mirim. A Gazeta de Campinas pa-
Carlos do Pinhal e Araraquara. rece ter sido o foro dos debates que se prolongam de 1869
A chegada dos trilhos da Companhia Paulista a Campi- a 1871.(22) Porérn as argumentos econômicos dos represen-
nas nao assumiu o caráter de empreendimento definitivo:
foi apenas urn passo que, mesmo antes de completado, já (20) Campos Sales, M. F. "Estrada de Ferro de Campinas ao
Rio Claro" In Gazeta do Campinas de 7/11/1869, p. 1/2.
(18) Jlelatório apresentado a Assernbléla Legislativa Provincial (21) Id., Ibidem.
do São Paulo polo Presidente da Proviyicia Barão do Parnaiba no (22) Os artigos abaixo Indicados defendem, ora uma orlenta-
dia 17 do janeiro do 1887. Tipografia a Vapor de Jorge Seckler & çäo, ora a outra: Gazeta do Campinas - 13/1211869, "Estrada de
Comp., São Paulo. 1887, p. 67. ferro de Campinas—Rio Claro", p. 1; Gazeta do Campinas -
(19) A tentativa de soluclonar os conflitos entre as ferrovias 9/1/1870, "Prolongamento daestrada de ferro de Campinas," p..
3evou ao estabelecimento de urn monopOlio legal pois: 1/2; Gazeta do (.'ampinas - 20/1/1870, "Prolongamento da via
"A Lei n.0 25 do 19 de marco de 1887, fez terminar toda luta férrea", p. 1; Gazeta do Campinas - 30/1/1870, "Estrada de Ferro
porque delimitou a respectiva zona as três estradas então exis- de Campinas ao Rio Claro", p. 1; Gazeta do Campinas - 13/2/
lentes. Coube a Ituana a esquerda do rio Tietê, A Paulista a re- 1870, "Prolongamento da Via Férrea", p. 1/2; Gazeta de Campinas
glão compreendida pelos rios Tietê e Moji-Guacu e a Mojiana a - 27/7/1871, "Nova linha férrea", p. /2; Gazeta de Campinas -
direita deste iMtijno grande curso d'água." Rolatörio da Estrada 2418/1871, "As estradas de ferro e especlalmente 0 projeto do
do Ferro Sorocabana e Estrada do Ferro. Funilense ref erente ao' Sr. Galvo", p. 1/2; Gazeta do Campinas - 13/8/1871, "As es-
ano de 1923. Casa Vanorden, So Paulo, s/d p. 4. Esta lei nAo tradas de ferro e especlalmente o projeto do Sr. Galvão", p. 1/2;
foi, entretanto, plenamente cumprida pois a Paulista transpe 0 Gazeta do Campinas - 24/8/1871, p. 1/2 e Gazeta do Campinas
rio Tletê em direcão a Bauru no começo deste século. -,2V8/1871 p. 1/2 "As estradas de ferro e especlalmente 0 pro-

56 57
-iIvw
tantes de Moji logo logo cedem lugar a defesas. de caráter - linha pender a esquerda, passar por Lfrneira-e ség±iit ni
"emocional" come a que se segue: direco ao Rio Claro."(24 ) ............................ 15
:........

"Tern-se tornado notável, que, em se falando em meiho- Flea patente, pelo desenrolar dos debates, a iriferioridade......
-rameitos para 0 lado das povoacöes que confinarn corn a de Moji para encaminhar os fatos de acord6
provincia de Minas, apareçam logo os senhores d'Oeste resses. Aos poucos abandonam a defesa da primeira posi-
clamando contra esses projetos, corn o intuito de evitar ço, ou seja, aquela que garantia ser mais conveniente -
esses -melhoramentos! Nâo sei que mal lhes causam esses construir a estrada para Moji do que para Rio Claro. A
mellioramentos, ou que mal Ihes tenhamos nós causado, tentativa conciliatória discutida acima - a estrada que
para, por todos os modos, pretenderem que no partilhe- servisse ao mesmo tempo a Moji e a Rio Claro conti-
mos os beneficios do progresso, que estej amos sempre esta- xivava a receber a oposiQo do "Oeste" porque, ao alongar
cionários! !" (28) o percurso, elevaria tambérn os fretes a pagar pelo trans-
Evideñternente, o problema que gera tais disputas é a porte.
eventual impos&biPdade de construir duas Iinhas. Se uma Nova proposta dos mojianos - agora admitindo uma
so linha fosse factIvel, ento "o mal que esse meihora- estrada de bitola estreita para a zona de Moji - confirma -
mento causaria" a outra zona seria evidente. For isso, ten- o reconhecirnento da prioridade dada a estrada do Rio
tativas de conciliar interesses da zona de Moji corn a de Claro. Também esta proposta é alvo de crItcas:
Rio Claro tambérn no faltam. Ainda é Campos Sales que "... pretende-se levar de Campinas a Moji-Mirim urn
faz a sintese e comenta a proposta dos representantes de carninho de trilhos estreitos, de modo a despedir, de certa
1V[oji: I fl leitura, urn rarnal para o Amparo. -
"Sustentel, auxiliado por opiniöes muito autorizadas, No ha razo nenhurna para se começar corn esta trio-
que a linha principal de nossa estrada deve prolongar-se déstia exagerada, que pode ate acarretar prejuizos - muito
de modo a tocar na cidade de Rio Claro, pasando. pr reals. Sem dilvida alguma que o movimento de cargas e de
Limeira. Demonstrei que é esta a direço mais natural, mais passageiros venceria desde logo este sistema de viaço pon-
ütil aos principals municipios agricolas desta parte da do-o naturalmente de parte a Urn de procurar 0 verdadeiro
provIncia -e conseqüentemnte mais vantajosa aos inte- objetivo de todos os sonhos hoje.
esses e créditos da linha. E depois as dificuldades maiores neste gênero de trans-
Julio d'Arouce, em quern reconheço urn amigo de subido porte, os seus embaracos irnagináveis e fáceis de prever, por
mérito, constestou-me corneçando por pretender demons- - ültirno quem sabe as despesas mais pesadas e portanto os
trar que a estrada deve ser levada a Moji-Mirim, e con- fretes mais Lcaros trariam o desengano e o abandono de
cluindo -por pedir urn meio-terrno entre a sua e a minha semeihante serviço." (25) -

opiniâo; isto é, entendo afinal que depois de chegar ao


110 dos Couros, três léguas aquem daquela cidade, deve a
(24) Campos Sales, M. F. "Estrada de Ferro de Campinas ao Rio
Claro" in Gaeta de Campinas - 30/1/1870, p. 1.
jeto do Sr. Galväo"; Gazeta de Campinas - 21/9/1871, p. 1/2 e (25) Santos, Francisco Quirino dos. "Estradas de Ferro" in Ga-
Gaeta de Campinas 24/9/1871, p. 1/2, "As estradas de ferro e zeta dë Campinas - 19/10/1871, p. 1/2. Quirino dos Santos levanta
especialmente o proj eto do Sr. Ga1vo"; Gazeta de Campinas - urn problema que, mais tarde, gerou discussão: o da diversidade
28/9/1871, p. 1/2; Gazeta de Campinas - 1/10/1871 e Gazeta de de bitolas. Para ele a bitola estreita (que, auinal prevaleceu) cria-
Camp inas - 5/10/1871, p. 1/2, "As estradas de ferro e especial- na obstáculos por sua menor ôapacidade de transporte.. Entre-
mente o projeto do Sr. Ga1vo"; Gazeta de Campinas - 12/10/1871, tanto, mais do que tal problema, a impossibiliclade do tráfego mu-
-"As estradas de ferro e especialmente o projeto do Sr. Ga1v.o", tuo, a exiglr baldeaçOes, contava contra. a bitola estreita. Embora
P, 1: Gazeta de Campinas - 19/10/1871, "Estradas de Ferro", p. 1. a quest.o de bitolas possa apresentar relevância em aigunscasos,
- (23) Gazeta de Campinas - 31/8/1871, p. 1. - Colaboraco: preferimos lixnitar-nos a esta referenda, jâ que seu estudo ribs le-
"Estrada de Ferro de Campinas a Moji-Mirim e Casa Branca". varla além dos objetivos do trabaiho. -

fig
Apesar das criticas, prevalece a estrada de bltola estrel- mera possibilidade. Se as duas empresas acaso se puderem
ta Para Moji-Mirirn ao passo que Para Rio Claro prolon- realizar simultaneamente, tanto meihor Para a lavoura e o
gou-se o tronco da Companhia Paulista corn a mesma bito- comércio da provincia." ()
la de 1,60 m. Estes problernas foram resolvidos em 1872)e 0 longo trecho transcrito fornece elementös importan-
1873: porém, já em fns de 1871, a possibilidade de con- tes Para apoio it hipótese que temos em vista. Pica ço
cretizar as duas estradas parecia bastante grande. De- que a produça,o de uma certa zona deve ser o fator deci-
preendemos tal concluso a partr do artio de Campos ctiretriz da ferrovia. E,
Sales que parece pretender encerrar a polêrnica:
"Acaba de ser sustentada na imprensa uma forte dis- iavo e a rato cle eampos sales opor-se a qualquer impedi-
cusso corn relaço a este assunto de aue por vezes temos mento Para a construço da linha Para Moji. 2 evidente
nos oeipado A luta se empenhou ainda desta vez no ter- que näo podlamos esperar, na época, outra atitude. Entre-
reno da preferência sabre a diretriz que deva tomar a tanto, parece existir urn motivo muito forte Para Campos
linha dq prolongamento a partir de Campinas. De urn lado Sales adotar essa posiço: se Moji produz e pode obter recur-
sustentou-se que a cidade de Rio Claro deverla ser prefe- sos Para financiar a ferrovia, entäo o Governo no deve
rida como ponto objetivo, e de outro opinou-se pela malor obstar tal empreendirnento. Par outro lado, o fato de que no
vantagern que neste sentido oferece o municIpio de Moji- ano seguinte a zona de Moji consiga a concesso Para a es-
-Mirim. trada de ferro demonstra o interesse e a capaciclade de orga-
A nosa opinio, embora sem muito peso no ânimo dos nizaçâo dos fazendeiros daquela area. Curiosaménte, a in-
ilustres contendores, é que nestes termos a questo foi mal corporaçâo da empresa Para a construçâo da linha do Rio
interreirada. Pretender tornar comum, embora ate certo Claro £01 bern mais acidentada do que a da Mojiana. Em
ponto, esta linha de prolongamento parece-me, pole, uma parte, tal fato pode ser explicado pelo próprio interesse
idéa pouco acertada. que esta linha gerava: a jogo de influências Para conse-
So duas veredas distintas: uma deverá seguir pelo mu- guir a concesso acaba retardando a licença definitiva.
nicIpio de Moji-Mirim, cortando de futuro toda a zona de Já em 1870 organizou-se a Companhia d'Oeste corn a
terras que se coloca a, direita do rio GuaQu; outra se enca- objetivo de obter a concesso e construir a linha Campi-
minhará Para o Rio Claro, mais ao lado do municipio da nas—Rio Claro.(27) Esta companbia será, entretanto, des-
Constituiço, proiongando-se mais tarde em rarnais que feita: a Incapacidade de conseguir captar o elevado capi-
atravessem essa regão imensa, a mais fértil talvez da pro- tal proposto (5.200:000$000) e a demora do Governo em
vfncia, entre os rIos Guacu e Tietê. decidir a concesso da linha, acabam par obrigar o seu fe-
Ha so uma diferença que convém assinalar. A producào chamento. (28)
atual da linha traçada Para Rio Claro no nosso piano, Novas dificuldades aparecem quando, ante várias propos-
comporta desde ja uma estrada que, oferecendo presente- tas Para construir a estrada, surge ordem do Governo Im-
mente grandes vantagens aos acionistas, torna ao mesmo perial Para a provincia sustar Os estudos Para firmar o
tempo nominal a responsabilidade pelos juros garantidos
pela provfncia.
(26) Campos Sales, M. F. "Estrada de Ferro para 0 Oeste" in Ga-
E outro tanto poder-se-á dizer da linha que se dirige a zeta de Campinas - 9/11/1871, P. 1.
Moji-Mirim? (27) Gazeta de Campinas - 1/5/1870 - uNoticlas - Rio Cla-
Mas, nem por isso nos devemos ernbaraçar corn a ques- ro", p. 2.
tao da preferéncia. De parte a parte, cada urn sustenta que (28) Gazeta de Campinas - 26/11/1871 - "Companhia do Oes-
te", P. 1; Gazeta de Campinas - 25/4/1872 - "Estrada do Oeste,"
pode realizar o seu prolongamento. A questo, pole, é de p.2.

60 1 61
contrato de concesso. (29) Agora, acusaçöes dirigem-se ao posição em que se achar o Governo Imperial, em
Governo Imperial: a necessidade de autonomia da provIn- qualquer das provinczct do Imperzo ou a seusiiwOR afzlhad,
•cia e o possIvel "apadrinhamento" na Concessâo da linha Não ha divida, se em emprèss de estradas •d ferto
Campinas—Rio Claro däo a tônica dos artigos do monento. aparecerem Os Melo Morals e Henrique 0aai.ffi'
"As nossas palavras vêm a propósito da projetada Com- tern o governo pano para mangas; é senhor de fazer 1av
panhia do Oeste. res ou de pregar cabotes." (32) •
--..Quando e.stavarnoS em pé de fazer uma escoiha acerta- Entretanto, em fevereiro de 1873, as queixas da Gaeta
da, veio ordern para Se paralisarem todos os passos, porque de Campinas terminam porque o Governo Imperial debra
o poder supremo Ia intervir na questo e deu a senha para a decisão corn a provincia:
a marcha, como centro ilnico de toda a aco possIvel no "Fez-se a Juz.
Brasil. A decisão do Ministérlo da Agricultura, autorizando o
0 que ha, e 0 que natura]mente ocupa o empenho da presidente da Provincia a contratar o probongarnento da
nossa inimitável administraçao, é saber-se como e a quem estrada de ferro de Campinas ao Rio Claro, Importa a so.
deva ser distribuido o prêmio do priviléglo." (°) lução definitiva da questo." (33)
As acusaçöes, sempre mais diretas, (31) acabam por cob- Esta linha fol, finalrnente, concedida a Companhia Pau-
car nomes dos possiveis contemplados: lista. (34) Entetanto, ficou nItido a interesse que desper-
"Geraimente se disse, e corn boas razöes, que o Gabinete tava a estrada de ferro do urna zona que já produzia café
tinha afItiado a quem queria fazer a doaão da empresa. em grande volume, reafirmando a dependéncia que as
Agora, depois de tao grande demora no estudo da intrin- ferrovias tinham para corn o café.
cada questäo, al vern a circular do Ministério da Agricul- • 0 outro momento escolhido para revelar tendéncias un-
tura de 16 do corrente, aos presidentes, estabelecendo Os portantes é o da concessäo da linha de Rio Claro a Säo
principios que devem 'prevenir os conflitos de competn- Carlos e a Araraquara. A discórdia entre Governo Provin-
cia entre os poderes gerais e Os provinciais sobre a conces-. cial e Companhia Paulista surge por causa do traçado pro-
säo de priviiégio ou ce1ebraço de contratos para a cons- posto pela Paulista (já corn a concessão da linha), que no
truçâo de estradas de ferro'. seguia o estudado pelo Eng.° Pimenta Bueno, . alguns anoa
A dehniçäo dos casos em que compete aos poderes ge- antes, em trabaiho realizado para a ProvIncia. (35) AG
rais e provinclais a construçäo de tais estradas, pode ser observar Os Iatos da época, três conflitos emergem clara-
de novo definida. Dependë isto da situagão ou da boa cUs-
• • (32) Gazeta do Campinas - 23/1/1873 - "0 Governo Imperial
e as estradas de ferro", p. 1.
(29) 0 atraso na construçäo da linha para o Rio Claro provoca • (33) Campos Sales, M. F. "Estrada do Oeste" in Gazeta do Cam-
a reação da populaçäo de Limeira e Rio Claro, quo envia repre- pinas - 13/12/1873, p. 1.
entação ao Governo Imperial. Gazeta de Campinas - 15/12/1872 (34) Apesar da certeza de lucro na nova linha de Campinas ao
"A estrada do Rio Caro", p. 1. Rio Clara (ver R. C. P. E. F. - 20/2/1876, Tip, do Correio Paulls-
(30) Gaeta de Campinas - 7/11/1872, "Estrada do Oeste", p. 1. tano, São Paulo, 1876, p. 24) alguns antigos aclonistas da Compa-
(31) Compare-se, por exernplo, a nota anterior corn a trecho se- nhia Paulista hesitavam em participar, corn seus capitals, do nova
guinte: "Esse zelo do governo Imperial em chamar a al a corn- empreendimento: "0 que queremos corn este artigo é pedir escia-
petêncla de conhecer e julgar a quest.o não signlflcou 0 desejo recimentos, que mostrem claramente clefinida a posicão dos ado-
st
de eudá-la convenientemente e decidi-la em atenç5o aos Inte- nistas, que nAo podem ou não querem concorrer para a nova em-
resses piibllcos. • presa." Gazeta do Campinas - 1/5/1873, Seçäo Particular: "Es-
Se não é verdade, pelo merios ëorreu corn sOlidos fundamentos trada do Rio Claro", p. 1.
a boato do pretender o miriistro celebrar 0 contrato corn pessoas (35) Uma descriçäo dos eventos quo marcarn a disputa entre a
altamente colocadas da Corte, a quem qüeria. beneficlar." Gazeta Companhia Paulista e a Governo Provincial sabre a tracado desta
de Campinas -. 12/12/1872, "0 Governo e a linha férrea do Rio Jinha efeita por Pinto' Adolfo A. HistOria da Viacdo Pziblica do
Claro", p. 1. São Paulo (Brasil), Vanorden,
' 8, Paulo, 1903. Como a autor es-

62 1 63
mente - prirneiro, conflito entre empresas que querem
reservar areas de inf1unc1a; segundo, conflito de interes- 0 traçado preferido pelo Governo fol o definitivo, após a
ses individuals e locals que procuram orientar a linha para desistência da Companhia Paulista; entretanto, não fol tal
mudança suficiente para garantir a
próxrnO de suas propriedades terceiro (o de menor impor- sabre Brotas e Jaü. Este fato traz a luzItuana a influência
tncia para nós), confute entre a imprensa conservadora o Segundo conflito
e a liberal sobre as estradas de ferro que deve refletir o que emerge par causa do prolongarnento de Rio Claro a
Araraquara: são as interesses pessoais que procurarn defi-
próprio conflito partidário. fir a diretriz das ferrovias. Neste momento, tanto a Gaze-
o primero conflito - entre empresas - a própria dire- ta de Campinas quanto o Correio Paulistano
toria da Companhia Paulista o revela: acusam o Ba-
râo do Pinhal como responsável pelo embargo do traçado
"0 presidente da ProvIncia opöe-se ao traçado da Corn-
panhia Paulista porque é preciso dar auxillo eficaz a Com- proposto pela Companhia Paulista. Lembremos que o tra-
panhia Ituana, salvando-a das condicôes precárias em quo çado da Paulista aproximava a linha do Morro Pelado, ao
se acha. Qual a recurso por ela descoberto? passe que o Barão do Pinhal procura trazé-la para junto
do Cuscuzeiro onde se encontram suas terras. A polêmica
it 0 de garantir-lhe 0 prolongamento natural de sua es- da época traz a tona a disputa:
trada de ferro a Brotas e Jaü."(36 ) "Seria urn
o presidente da Provincia, Laurindo de Brito, confirma- m, grande erro que cometer-se-ja, so para
va essa versão: corno o Governo arcava corn a garantia de poupar uma légua de born caminho a lavoura do Cuscuzei-
ro se dirigisse a estrada de ferro por urn terreno impró-
Juros para a Companhia Ituana era seu interesse promo- prio, afastando-a de sua diretriz natural e da vila de Bro-
v-er a prosperidade da empresa como forma de elirninar o tas. que dista seis léguas do Morro Pelado.
Onus para a Provincia. A oposicäo de Laurindo de Brito ao verdade que por tal modo se removeria a linha férrea
traçado da Paulista tinha, ainda, outro motivo: o virtual de junto da fazenda do Sr. Barão do Pinhal; porém o card-
monopólio que aquela empresa teria dos transportes para ter elevado e patri6t1co de s.ex.a e 0 interesse revelado
o Oeste Paulista se prevalecesse o seu traçado: pela estrada de Sâo Carlos não nermitem super que seja
"A Companhia Paulista no intuito do chamar a si toda lsso urn dos mOvels da questão." (39)
a produco compreendida entre os rios Moji-Guaçu e Tieté, 0 Correio Paulistano revela menor sutileza no tratar o
procurou tornar o Morro Pelado ponto obrigado de seu tra- assunto:
çado, e dal aproximar-se a Brotas para exclur a Compa- "No dla 22 do més findo fol batida na vila de São Caries
nh[a Ituana da concorrêncla a esse objetivo." (37) do Pinhal, a iiltima estaca, simbolizando a conclusão do
"Assim ficaria a Companhia corn o monopOlio de quase traçado.
toda a regiâo do Oeste. Nenhuma outra empresa se aventu- Nesse ate, 0 ex.mo sr. Barâo do Pinhal, em breve aiocuâo,
raria a construlr estradas de ferro em prolongamento de saudou a Companhia Paulista e muitos outros cidadãos
qualquer das direçöes mencionadas, porque nao encontra- par ver realizaclo o tracado. Consta que, antes ou logo
na renda para seus capitals." (38) clepois do fato mencionado, s.ex.a secundado pelo ex.mo Sr.
teve envolvido nos acontecimentos - acabou sendo urn dos con- Vicconde do Rio Claro, representara ao presidente da Pro-
cesslonários da linha apOs a desistência da Companhia Paulista -vincia, contra grande parte parte do traçado
• que s.ex.a
-, seu depoimento deve ser encarado corn reservas. reconhecera concluldo.
• (36) R. C. P. E. F. - 29/8/1880, Tlpograf Ia do Correio Paulis- Serâo nobres, serâo elevados os motivos que demoveram
• tanO, B; Paulo, 1880, P. 5. s.ex.a a assim proceder?
(37) Correio Paulistano - 3/8/1880, P. 1.
(38) Relatório apresentado c Assembléia Legislativct Provincial Parece-nos quo nâo.
de Sáo Paulo pelo Presidente da Provincia Laurindo Abelardo de
• Brito no dia 13/1/1881, Tip. a Vapor do DlOrio de Santos, Santos, (39) Gazeta de Cam pinas - 9/1/1880, Seção
1881, p. 134. Industrial: 'Pro-
longamento para S. Carlos do Pinhal", P. 1/2.
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Diz.seque s.ex.a sempre manifestara desejos que o tra- nesta concessâo apenas a forma de ele fica1Jj
çado pasase pelos campos do Cuscuzeiro, próxirno dos uma empresa que, na realidade, era sua:
quals estâo situacs as fazenda do ex-0 sr. Visconde do "Não ha como contestar, que o Sr. do Pinhal é
Rio Claro e seus filhös." (40) suserano deste feudo, que se chama Provincia de 9Pi1
0 .Governc da ProvICia, ao examinar a representaçäo preciso que perante sua vontade clobrem.se
do Barâo do Pinhal designou urn engenheiro para o estudo res püblicos, é forçoso que seus interesses sobrepujem as
dos traados alternativos. Tal atitude basta para que o conveniências püblicas, é necessário que seus caprichos
governo seja acusado de conivência corn o Barão do Pinhal: passern antes de tudo." (43)
"Que os srs. Visconde do Rio Claro e Barão do Pinhal Evidentemente, nâo nos interessa aqui julgar as atitudes
representassem contra o aluddo tracado da Companhia Pau- das partes envolvidas nas disputas, nem qual das diretri..
lista, embora sern funclarnento, ainda se compreende. ' zes teria sido a mais conveniente. Também não podemos,
iVias que viessem dizer a administraçäo o que esta devia é óbvio, ace tar textualmente as criticas acima apresenta..
fazer, oferecendo-ihe ate o traçado que urn engenheiro da \ das. Na realidade, muitas dessas criticas devem emergir
confiança cornum tinha de levantar para ser adotado pela face ao terceiro conflito que havlamos anotado de inicio:
Companhia Paulista, e que 0 presidente da Provincia se LP a conflito \entre liberals e conserva or
curvasse submisso a serneihante imposico - els o que
causou pasnio, ainda mesmo aos que já conheciam o atual meto do Corregç
administrador... £°
No falta por isso quem diga que os embaracos levan- tigarJonstituinte ( jornal lgdo aos liberals) : toda a
tados a Companhia Paulista nesta questho do prolonga- cussao gira em torno dos mériöide liberais e conserva-
mento tern este alcance sui generis: fazer corn que a mes- dores no desenvolvimento da viaçâo férrea em So Pau-
ma Companhia desista da empresa a que se propôs, del- 10. (44)
xando o campo aberto aos dois representantes ou a seus 0 que nos importa dentro desta disputa é comprovar a
prepostos, que corn a mesma facilidade que da presidência hipótese antes enunciada: a cUretriz das ferrovias, tanto
alcançaram tudo quanto pretenderam, obtero da assem- ao nIvel local quarito ao nivel de zonas, se via influenciada
bléla provincial urna garantia de juros para o seu futuro (ou talvez determinada) pelos interesses do café. Vale
contrato." (41) repetir a incisiva observaçäo de Monbeig pois ela prite
concluir este capitulo reafirmando que:
A desisténcia da Companhia Paulista segue-se nova con- "0 desenvolvimento das, vias férreas nâo obedeceu a urn
cessäo feita aos srs. Adolfo Augusto Pinto e Luis Augusto piano sisternático; ele fol comandado pelos interesses do
Pinto. Porém os opositores do Baräo de Pinhal (42) vêem administradores, produtores e comerciantes de café." (45)

(40) Correio Paulistano - 8/1/1880, Seçäo Livre: "0 prolonga-


mento da Estrada de Ferro Paulista e o Expo Sr. Barão do Pi-
nhal", p. 2.
(41) Correio Paulistano - 27/1/1880, p. 1. na apenas corrigir o traçado da Companhia Paulista, segundo os
(42) 0 primelro argumento para o embargo do traçado da Pau- interesses individuals de seus amigos, ou em favor clestes afastar
lista fora de quo este irla absorver as zonas da influência natu- a concorrência daquela empresa". Correio Paulistano - 3/8/18804
rals da Ituana: Brotas e Jaü. No entanto, na concessão aos srs. P. I.
A. A. Pinto e L. A. Pinto, Brotas e Jaü são pontos de futuros (43) Correio Paulistano - 4/8/1880. p. 1.
ramais da nova estrada. 0 Correio Paulistano ye, nesse fato, a (44) Correio Paulistano - 29/1/1880, p. 1. 0 editorial deste cia
lnfluência do Baräo do Pinhal: "Não erám Os direltos da Compa- serve como exemplo tipico da disputa entre liberals e conserva-
nhia Ittiana, näo era a repugnnc1a de sua violaçäo, que armava cores.
a caprichosa oposicão de S.Ex.a a Presidente da Provincia que- (45) Monbeig, Pierre. Op. cit., p. 157.

66 67
CAP1TTJLO II
0 fluxo de transportes das estradas de ferro e 0
desenvolvirnento da economia paulista

A anáilse da primeira hipótese diretriz do etudo -- 0


decllnio da importância do transporte ferroviário em de-
corréncia de nâo mais se adequar As novas necessidades de
transporte - constitul a essência deste caplttilo. 0 mate-
rial emplrico sabre o qual trabalhamos foi elaborado a
partir de quadros analIticos da composição daReceita das
ferrovias conticlos nos relatórios anuals ou semestrais das
empresas.
Para podermos testar a bip6tese, pretendemos fixar-nos
no estudo das relaçöes existentes entre as fertovias e a eco-
nomia paulista. Basicamente, dais tipos de influência de-
vem ser identificados:
a) Como foram as ferrovias afetadas por rnudanças na
economia paulista? Parece-nos de particular. interesse 0
estudo de dais momentos caracterlsticos: (I) Os anos dc
crise de exportação (quer par queda da demanda externa,
quer par crise agrIcola que reduza a produto do setor) que
\ levam a manor volume de transporte nas estrao4s de ferro;
(II) a mudança, no tempo, da procluçâo par zonas de Sâo
Paulo. E conhecido o fato de qép 1-
\i\ - -Se de ser lantado nas terras
jP já cansa as. Procuramos observar coma a aio
fé11easáreas afeta a receita da ferrovia at insta1ada..
b) Como pode o prolongamento .da ferrovia modificar
a produçâo nas areas agora atingidas? Se a inflnéncia da
ferrovia foi decisiva, talvez ela tenha servido como instru-
69
1. Receita proveniente dos fretes de mercadorias trans-
mento de redistribuicäo da atividade econômica de São portadas;
Paulo. ..
Além dos aspectos acma, como os estudarnos por melo 2. Receita do transporte de animais em trens de car-
da análise da receita das ferrovias nos encamnhamos gas. . if
necessariarnente para urn terceiro problerna: o do nIvel das c) Receitas diversas: lnclui receitas que, embora não
tarifas cobradas pelas ferrovias que, junto ao volume fIsico decorram do tráfego, estão ligadas as instalaçöes e equipa-
de transporte, determina a Receita em termos monetário. mentos necessários para tanto, tais como: armazenagens,
As tarifas podem representar, ainda, instrumento de in- aluguel de estaçôes e suas dependências, comissão por ar-
centvo a determnadas atividades e/ou regiôes na medida recadar impostos.
em que se estabeleçam diferen&ais em seu favor. Além dos dados de receita (portanto, em termos mone-
Por melo dessa anâllse dvemos encontrar os primeiros tários) utilizamos dados de quantidades fIsicas de trans-
motivos que 4etemLiam o dc1Inio da .importãncia das porte, tais comb:
ferrovias. 1. Nümero de passageiros transportados;
2. Volume de mercadorias transportadas (em tonela-
A1'ALISE DOS FLUXOS DE TRANSPORTE: REI1AçES ENTRE das);
A ECONOMIA E A RECEITA .DAS FERROVIAS
3. Transporte de animals (n1mero de cabecas). (1)
As variacöes no transporte realizado pelas ferrovias p0- Estes dados são particularmente üteis na análise das
dem apresentar-se como ref lexo bastante próximo da con- series de tempo, já que os dados de receita (em termos mo-
juntura e do •desenvolvimento da economia. Tal relação netárlos) nâo se mostram plenamente comparáveis no tem-
procurarnos explorar neste tópico, buscando adconar algu- po em virtude da acentuada variaçâo do valor da moeda
ma evidênciv para a discussäo da hipótese diretriz: a ma- nacional no periodo em estudo. Poderlamos superar tal
dequacão das ferrovias As necessidades de transporte da dificuldade se existissem indices de precos, desde 1870, que
economia paullsta. refletissem mudancas nos custos das ferrovias. Porém, pa-
Antes de passarrnos a análise dos dados empiricos cabe rece-nos mais prudente buscar a evidência necessária em
fazer urna nota sobre eles. dados de maior confiança, sem fazer uso de Indices de
A Receita Operacional das estradas de ferro, do poato
de vista contábil e anailtico, pode ser divdda nos seguin- (1) Do ponto de vista do transporte realizado pela 1 errovia, 0
tes componentes: . Receita do Tráfego de Passageiros, Re- indice mais ittil seria aquele que relaciona quantidade por dis-
ceita do Tráf ego de Mercadorias e Receitas Diversas, in- tncla percorrida. Especiflcamente, terIamos: 1. passageiros/km;
2. ton/km de mercactorias; 3. ton/km de animals (estabelecido
cluindo cada uma das categorias: urn peso rnédio por cabeça transportada). Estes indices forne-
cern, de forma mais clara, a idéla de volume de transporte efeti-
a) Recezta do Traf ego de Passageiros vamente realizado. Entretanto, flão Os utilizaremos sistematica-
1. Receita do transporte de passageiros propriamente mente por motivos de duas ordens: em primeiro lugar, porque
não são disponIveis para todo o perlodo estudado e, nem mesmo,
dta; . ..: para todas as ferrovias nas épocas . mais recentes. Corn Isso, a
2. Receita obtida por fretes de eneomendas e baga- sua adoção levaria a perda de homogeneidade na série utilizada;
em segundo lugar, porque, como nosso interesse malor estã nas
gens; . relacOes economia-ferrovias, o volume absoluto do transporte (es-
3. Receita do transporte de animals em trens de pas- peclalmente toneladas de mercadorias) nos permite uma vlsäo
sageiros. . mais fácll da produçäo escoada pelas ferrovias, não sendo to
sOria, portanto, a perda representada pela näo-existêncla do In-
b) Reoëita dó TráftiO de MercadOrias; dice quantidade-distaneja.
preços que, certamente, incluem urn vies quanto ao nosso N N U) C) N i CO CO C') 4
estudo. (2) i I))0 NU)INNCONNC),lC),I CV)
C)
CO
I-f

0 tráfego de passageiros e a receita das ferrovias U)


0
C) U) C) C) C) 'CS
o transporte de passageiros no assume, nas estraj N CV) U) N ,-i CO CO
C) -4 U) CO Co N N Cd
U)
ferroestududas, papel de importância primordial. Ta '- CV) C) C) CO C') CO ji C) N N 03 C) C)
NC N
CV)
0
cluso surge do exame da Coluna (4) da Tabela 11 -t
LOC)03C) to

que se apresenta a percentagem da receita total de


do tráfego de passageiros. Esta participacao situa-se sem- 0
pre, em torno de 20 %, mostrando o caráter secundá C) I:- ,..4 C5 .- C) Co CO N N U)
" J C)C CQC)CO
formaçâo da receita. t- CO CO C C) N U) CO CO N LV) C)
0 a>
Vale notar o contraste corn o caso norte-americano: '.4
a>
CA despeito dos sonhos inicials do comércio inter-regio- U)

'U) N C)
03 0 N N C) CC N
U) CO
nal seguindo as linhas férreas, a orientaço primitiva das C) N
')
C) C) N CV) CO 03 C) C)
-C
rL1
estradas de ferro americanas, como a das inglesas, foi mais ) C)N C)
CO C) N
, C) -f 00 CO ,4 N 0
CO C) C) 1 CV) C) -i ,4
prosaica. Passageiros mais do que carga dirigiram-se a mo- U) C N-i C)C) C'C) CO
l
,-4 ') N 03 Co U)
vaçâo em todo lugar em que ela fol adotada. A fadilidade C) N CO
-1 C') C') ci
C)
CO N C ' 0
e a caráter decisivo desta conquista aparecem em contraste tj
Corn a mais prolongada disputa por carga." (3) ,
V) C) CO N jl N C') CO ') C O 1 4
PV
Já em S. Paulo, a orientaço inicial das estradas de ferro' C) CC CO'OV)
C') '-4 -4 C') I-' . -4 N N N C") N C. E0
C"
para o transporte de carga explica-se pela precariedade
dos meios de transporte alternativos, como já 'crimos ante- CO -.4CoU)C)CONU)COC')C) '-I
riormente. Isso não implica que as passageiros no se res- 0o C5
U)
C) CC IC) CV) C')
C') C)NNC)U)
C') C) LV) 0
''
sentissem de meihores condiçöes de transporte: é provâvel 44
C- CO CO 0 C") 00IC),
C) N '-( N C') CO
I'4 C) .,
C') .-
0
ter ocorrido usa intenso do transporte !erroviário por pas- ."I CV) 1 CO C) Co ,-4 Q C') N C) IV) C) Cl N I
CV 0
sageros desde a irnplantaço das estradas de ferro. -INNC) 'CS
0
13
C) 't l N MLV) LV) C) 4 'IV CO CV) N 1-4
o a>
fupSAo areas produtorjciaImeede café. ,-
CO14,
N 0
Secundáric,iiircia para as estradas de ferro, o 0 t03
U)I_
U) CO C) C) 'd1 C- CO
COU)COCOU)COC) _NC)03C). 1
C') '
- C') C' C') ')' ,-i C C CV) C) CO '))
tráfego de passageiros acompanha, em suas flutuaçôes, a NCc')U)
U)
'
tráfego de mercadorias. Na verdade, o ni'imero de passa- I
0 E-4 I
I C') C' C) C) N CO Co CO N CV) C- CO I
''.4 H I " C) C) C C) U) C LV) N
(2) 0 vies a que nos referimos decorrerla do fato do Os Indices J C) C) C) ,-•I CV) C) CV) V) N CO C) N
de preços lnvarlavehnente se ref erirem a bens de consurno. 3 U)c,C)COcjdcodI o
C) ClC) N N C)2NC)C)N 1 I — Cd
Como, para as lerrovias, Os itens fundamentals s.o equipamentos, I
-
combustiveis, lubrificantes e salários, os Indices de preços usuals I C)4O30
N C') U) CC
levarlam a introdução de urn vies na sérle da receita que fosse Cl) C') C) C) CV)
por eles corrigida. U)
Cl) 0 C) U) U) U) C) LV) C) LV) C' Z
(3) Fishlow, Albert. American Railroads and the Ante-Bellum Nw C)
C) C' C) NN C)
Economy. Harvard University Press, Cambridge (Mass), 1965, p. -I
I Cl Co .1 CO -4 CO f Co CO 4 CO CO
N N CO CO C) C) C) I ,CO
> 0 I CC' C) C) C) C) 3) C) C) C) C) C) C.
..j -I ,-. i-i -1 ,-I ...4 I Q

72
AM 40'
'd1 c'i 03 - 03 03 C) 03 1- geiros transportados parece variar de acodO
cc cc cc , - 03 03 03 de crescirnento ou declinio da econornia. :ExemPlo
diagnóstiCO que Os diretores da Sorocabana faziam
decllnio verificado em 1899:
"A diminuiçâo de passageiros de primeira classe qué se
03 03 CD 03 03 03 03 C') 03 03 nota na tabla acima, deve ser atrtbuIda a diversas cauas
C) 03 03 N '-4 C)
O 03
'-4 c C') Cb N N oLC) CD
que a nosso ver atrofiam a indüstria agrIcola, tas como:
C') CD
-
CO C) 03 CC 03 Cq CO c
-4 ji C) I CD C') a) a estado de desânimo pela caresta de vida que obri-
ga o retrairnento geral.
b) o imposto duplô que as vias férreas so obrigadas a
C) I 0 C)C)
C') 03 c N C)
03
COcc -c •')t
CD
C') cobrar para os Governos da Unio e do Estado, que se eleva
cc cc
CO N C) N
C')
CO CO N C- N em muitos casos a percentagem exagerada sabre as pas-
sagens.
as epklemias e as tempestades que reinaram duran-
03
,-4 N N
C)
C) 03 CC CC 03 -
te uma parte do ano." (4)
Vemos, portanto, que se atribuia em parte a atrofia da
CO CD C') 03 C') N CD t)
03 N N 03 N 03 CD N C')
03
C')
03 -
CO CC
•')1
N ,dl CD CD C') CD
C') 0)03 C)N C') C) 03 "lndüstria" agrIco'a a queda do nümero de passageiros.
-H CC C' CC 03 N 03 CC o CC C) Dada essa relaçäo oueda do námero de passa€ros
-

tranCportadOs derivada do declInio da atividade agrIcola


03 4CC CO
C') C C')
C') N
C C)
- C')
C C')
C') C)
CO, — observarnos três perlodos nitidos de dec1ino de trans-
C- C') C) 71 N c'i' CC CD
C') 'N C') ') C4CN. porte de pssageiros: 1898-1905, 1914-1918 e 1930-1932.
04 C') C') C'J -' -,

Este fato se reflete nos dados qüinqüenais pela relativa


estagnaço ou mesmo pelo declInlo cia nimero de passagei.
C) 03 'Jl CD CD f C) - ,4 N CD
- ros transportados nos perlodos corresDondentes, que se
03 C C
CCD C -

C) 03 C') 0 CC 0) CC 03 1 - CO O C')
corn 'eases de recesso econômica. A de 1898-
0) N CC I!) LI) '-4 C4) N .-i C') C) " C)
-1905 ligada a poltitica deflacionsta de Campos Sales e Joa-
C') CC C') CC tO CD C')LOCD (C)
'l ,-i 4 quim Murtnho; a de 1914-1918 derivada dos efeitos da
C') C') C)
Primeira Guerra MuncVal e a de 1930-32 como conseqüên-
C') Cl - CD C') C)
C)
CD C) -1 CO N .'-4 N CO 03
03030) NC) (C) CO
-
CDC") CD LI)
C') C) cia da Grande Depressäo. Convém notar, ainda, que todas
C") NC') C N 030)03 IC) O3C-Nu essas recessöes afetam diretamente o setor cafeeiro e, é
CC CD CO N 0) '-4 N CO N
C') C'- C') C') CO (C) claro, o setor agricola como urn todo sofre reduço em sua
,-4 C') C') CC CC C') C')
r') 4
renda.
Urn segundo aspecto emerge da análise da Tabela 11.1 e
3) CO
CO
-4 0) CC CD -4 CD 03 C—
CC CD qq (C) 0) -1 CD '
03 N Co
CO C) refere-se a variaçäo do transporte de passageiros quando
CI 03 03 LI) IC) C') das crises conjunturais: alérn de haver reduçäo do nümero
LI) CD
.44 LI)
C') C')
to cr~
CD LI) C') '44
C') C)
-4 CD
-4 C) C) CC CD
I CO CD
19 C') CO
C) de passageiros transportados, observamos regularmente o
N .4
-4 C' ,CDCOCC N .4403) decréscimo do percentual da Receita do TrMego de Pas-
-4 1-4 --4 Cl C') .44LO
ageiros na Receita Total das Companhias. Poderlamos con-
C)
CO LI) CD IC) CD IC) CD LO CD L C) 03 CD
CO Co 0) 0) C) CD
CO _1"C '-4 CC
16/8/1900. Tip. do Jornal do Comérclo, Rio
"- -"-
CO CD
N Cl 03 C') Co
CI) C) C) C)
(4) R. C. U. S. I. —
03 CO CO 0) CO C) C) C) C)
'.4 -4 —( _.l •-4 •4 -4 de Janeiro, 1900, p. 7.
76
cluir, entâo, que o tráfego de passagelros apresentava
malor sensibilidade a periodos de crise do que 0 tráfego de c'• I I I ,-- .-1
mercadorias, talvez por ser, na margem, menos essencial
para inanter o nivel de atividade econômlca.
Mais clara do que a variacO conjuntural do tráfego de C) C) 03 ,-1 U CO CO .I
passageiros, aparece o seu desenvolvimento no longo prazo: CO
CO
C-
0) 03 CD C) CO CO CO C--
IC903C).C)03
este apresenta tendência nitidamente crescente (em nimer CO
I I I
C- 03 C

de passageiros transportados). A exceco a tal tendénci a l 1000C))CO


CO CO CO CO
dá-nos a Mojiana na década de 1930, pois o nümero de pas- 1-4
sageiros no mais atinge os niveis de meados da década
dos vinte. 0 decréscimo populacional que segue a crise de CO
C)
CO 10 C'1 C) 0 03 10 ,-1 C) 14
CO tO 03 C- C) CON C- 03 C)
1929 na zona da Mojiana nos permite entrever 0 motivo CO J CO C- CO C-- CD CO CO CO CO C--
para o declinio no nümero de passageiros. Efetivamente
entre 1934 e 1940 a populaco da zona declina de 871.000
C) CD 03 0 03 0) 0
para 843. 000 habitanteS. () CO
C)
C) -$
C!
C) 03
0) CO LC)
£0 C) C)
1000
C)
A partir dessa observaço podemos propor uma relaçäo CO 10 '44CC C) 10 c- 10
C) CC
CC CO
0) 03 C)
simples para explicar a tendência no longo prazo do trá- 1
CO ,- C- C-
CC CO 03 C) - cd
fego de passageiros: variaria de acordo corn o volume de - 'I ,-i CC tO CC) 0)
populacâo da area servida pela ferrovia. Neste caso, para 04 CO CO U) CO CO CC) ,-1 C) 04
C'-
confirmar a tendência crescente efetiva, devemoS ponderar CO
C)
CO C0 CT 0), C0 03 IC) IC) CC
C') C-- N CO CO CO ,- cc'
0)

o nümero absoluto de passageiros por alguma yariável que CC CO 03 l .' Cl C') CC Cl Cl -I

se aproxime do volume de populaco da zona servida pela


ferrovia. Tal Indice é apresentado na Tabela 11.2 em que
O nimero de passageiros é dividido pela extensão da fer-
C)
to
0)
C) CO
C) -i C) cc9COCCC)
cc C- C)
,-'I
04

rovia: temos, dessa forma, a relaço PASSAGEIROS/KM C


J 03 - CO
t-C)c CD u)e CO
CD
04u)C-
l) ,-.i CO
CO C- 0) (:D C- C- tO
CO C C) N CO
DE LINHA que permite verificar a tendência no tempo, e, 03003
0304
C)

tanibém, comparar o tráfego de passageiros entre as estra- Cq

das de ferro estudadas corn base em urn critérlo homogê- C-- C-- U) 04 10
04
0) C) 10
CC)
C)
C- ,i CC)
CC CO
CO 03 CD
C) CO
Co
Cq 0
neo. CO CO '-I CO CO CO t 03 CO CO IC) CO C)
ICC
0) CO .— CC
Ao anailsarmos a Tabela 11.2 no sentido horizontal, ye- C)
0 C') CO 10 CO CO CC) U) 0) CO
C')
C' IC)
cC
rificamos, de imediato, a diferenQa entre o transporte de 9 CC
'CO
0
passageiros da Paulista face a Mojiana e Sorocabana: a 0CC
densidade de tráfego da Paulista supera, em todo o perlodo, 0 CC C) 04 00
CO C) 04 C,) CO '-I C) 04
U)

a das outraq estradas. Tal fato deve ser explicaclo pelo vo- 9 C- .-1 C) 04 ,-i 03 ' CO CO C) CO 03 CO C)

lume de população servido pela Companhia Paulista (quan- CO


CO
C- C-
CO
CC
C')
CO cc CO CO c
C— 1 C) -4 C)
CO CO CC) C-
03 CC C) C)
CO 0303 CC) C) C-- 04
do comparado corn o das outras ferrovias). Lembre-se, am- 03 CC) 0) CD CC
CO CO CO 4 CC) IC) C') C)
C)CO
..' 4.) .ol
- 1 - C') 04 C'- Co CO '.4

(5) Conforme Camarga, José Francisco. 0 Crescimento da Popu- 0 C)


CO
CC)
03 03
0 to 5 U)
0) 03 0
0 CC) C) IC)
'• .4 C') C')
C)
03
CO
CO
C)
04
lação do Estado do São Paulo e seus aspectos ecOfl6fl2-iCOS. Facul 0
"a CO
dade de Filosoffa, Cléncias e Letras, São Paulo, 1952, Vol. II, Ta.- cC
C-
CO
CO CO C) 0) C)
03 CO CO CO C)
(5
0) 0) 0) C) Q) C) C)
,—1 '-1 1;
bela 22.

76
da, o fato de a ligação Campinas—São Paulo ser feita pela Portanto, o caráter derivado do tráfego de passagefros..j
Companhiia Paulista (via tráfego mütuo corn a São Paulo caso de São Paulo parece evidente. 0 povoamento, feito :en
Railway): é provável encontrar-se aqui grande parte de função do café, define 0 potenCial de passageiros para a
clife.eiça na densidade de tráfego de passageiros das três ferrovia. Se emerge a crise (e afeta o setor cafeeiro), dtrá-
• ferrovias. fego de passageiros dimnui. Se a zona etagna (como a
0 confronto da densidade de tráfego da Mojiana corn a Mojiana) também diminui o nümero de passage'ros. Como
i-? cia reafirrna a nossa bipótese: na década de argumento final: a lavoura prec!sa de trabaihadores e pro-
1920, o nümerci de passageiros por quilômetro de iinha. na move a imigração: as estradas de ferro fornecem passa-
Sorocabana supera a da Mojiana, possivel reflexo da estag- gens gratuitas para esses imigrantes que vêm nutrir as
• nação que atinge a zona de Moji. Ao mesmo tempo, os fazendas tie café. Ou seja: para as empresas ferroviárias
trilnos da Sorocabana penetram novas zonas (Alta Soro- vale a pena abrir mao das passagens se isso favorece o'
cabana) em quo a populacão é crescente. crescimento da producão de café.
Ao observarmos, agora, a Tabela 11.2 no sentido vertical
' (ou seja, no tempo para cada ferrovia), confirmarnos a pf
0 trdf ego de mercadorias nas ferrovias iR$ S °
c hipótese levantada: as crises econômicas tern reflexo dire-
qj sobre 0 trafego de passageiros. Os três momentos de 0 transporte do mercadorias (inclusive gado) constitul
crise citados apresentam declinio da densidade de trãfego a base da receita das estradas do ferro em estudo. 0 simples
nas três ferrowas. E apenas a Mojiana, após a crise de exame da participacâo na receita total nos mostra percen-
, ? 1930, não so recupera: parece evidente existir, neste caso, tuais que se situam por volta de 70%: o minimo observado
processor mais profundo do que a crise conjuntural a deter- é de 59% (Sorocabana, 1893) e o máximo de 87% (Pau-
minar a permanência longa dos efeitos depressivos. lista, 1909), o que denota a importãncia preponderante
desse tipo de serviço para a renda das estradas dferr –J
'N Tabela II. 2 - DENSIDADE DE TRAFEGO DE PASSAGEIROS
(nümero do passageiros por km de linha - media anual do no
periodo indicado) preocupamos em observar as mudancas dentro do trans-
porte de mercadorias. Talvez possamos, dessa forma, en-
Ferlodo PauUsta Moiana Sorocabana contrar alguns motivos para o declInlo das ferrovias.
N '-J
Uma prirneira nota que se faz necessária quanto ao'
1872/75 1.373,8 - - transporte de mercadorias diz respeito a clisparidade exis-
1876/80 962,8 529,3 158,1 tente entre o vclüme da carga 'despachado no sentido inte-
1881/85 671,2 375,2 208,1
1.080,0 370,6 323,0 nor—São Paulo (ate o porto de Santos) e no sentido inverso.
I 1886/90
181/95 1.638,3 785,8 654,9 Dadas as próprias caracterIsticas da economia (voltada
1896/900 1.592,5 1.170,3 716,9 exportacão) o malor volume da carga é transportado das
1901/05 1.057,7 1.034,9 626,7 zonas produtoras no Oeste paulista em busca do porto de
' 1 1906/10
1911/15
1.025,3
1.708,3
1.1931 5
1.512,2
729,2
.999,5 exportacão (ou seja, o porto de Santos por meio da Estrada
I 1.300,1 974,8 de Ferro Santos----JundiaI); no sentido inverso, o volume
1916/20 1.680,6
.1921/25 2.656,4 1.874,2 1.454,8 transportado aparece sempre em volume bern menor. Tal
• 1926/30 2.800,7 1.589,1 1.600,1
2.473,5 1.086,1 1.767,7 fato já implica certa ineficiência das ferrovias, derivada
1931/35
1936/40 3.939,8 1.435,9 2.694,3 da necessidade de tracionar vagôes vazios a fim de realizar'
o embarque de cargas no interior.
• Fonte: Nümero de passageiros, cf. Tabela II. 1; QuilOmetros de Os próprios dirigentes das ferrovias percebiam este pro-
hnha. cf. Tabela 2 (Introdução). blema: corn frequência surgeni referências ao fraco mow-

Ilk 78 79
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wiJ -/GZf// i'I4/ iof k( 'c 5ci1 cPce" sy PO,r fry
mento. de InipDrtaäo - como as estradas de ferro conven- A Importância do transporte do sal é rèafirndagjja
cionam chamar a fluxo de transporte que busca o Interior • pela Companhia Paulista em 1885.............. ....................... ..•••.
rncontraste corn o de exportação. Em 1931 o problema "Ninguém ignora, 0 que entâo se fez para esanjmar.a
ainda se faz sentir em certas areas: Compaithia Paulista, de inodo a poder continuar dthono.
em virtude de ter diminuldo a importância de polio no transporte do sal, nâo sO para as confis desta
mercadbrias de São Paulo para o interior do Estado que, coma para as provincias lirnItrofes." (8)
-.corno se sabe, são as mercadorias de meihores fretes, utili- Alérn do sal, a ünica mercadoria especificada coma da
zando os trens da Estrada, no sentido de retorno para a Importacão nas fontes consultadas ate o fim do século XIX,
interior, sern acarretar mais despesas para a Estrada, por- é 0 açücar, que surge, no entanto, em proporçôes bern me-
quanto, na Sorocabana corno em todas as zonas recente- nores do que o sal.
mente povoadas e abertas ao tráfego ferroviário, a exporta- As exportacôes pelas ferrovias, nas iiltimas, décadas do
ção sobrepuja inteiramente a importação." (6) século XIX, também se caracterizam por pequena diver-
Tal tendência, por vezes, se anula quando a construção sidade: o café predomina; o algodão aparece na Soroca-
de novas linhas férreas, mais ao oeste, exige a transporte bana corn importâxicia e o fumo 0 indicado separadamente,
de materials (trilhos, dormentes) em grande volume. En- embora em volume reduzido. 0 transporte de animals,
tretanto, em regra, 0 movimento de importação apresenta- basicamente de exportação, também secundário de inicio,
-se bastante inferior ao de exportaçâo e caracteriza-se pelo torna-se importante quando adentrarmos o século XX.
transporte de apenas algumas poucas mercadorias, pelo Nas secôes seguintes apresentamos evidência que denota,
.menos nas décadas iniciais do estudo: a principal destas é, por urn lado, a declinlo relativo da importãncia do café e,
sem düvida o sal que gera, coma vemos adiante, algurnas por outro, a crescente complexidade dos fluxos de trans-
disputas entre as empresas de transporte e é motivo de porte de importacão e exportação.
preocupacão para seus diretores. Em 1877, assim se rfere
a diretoria da Mojiana, ao analisar urn perlodo de crse.
"Além destas causas gerais, para a nossa companhia
deu-se uma especial, e que se tornou sobremodo saliente.
ão ignorais que uma das fontes importantes da nossa
rece1 ta é o frete do sal importado. pela nossa linha para o cipal do Rio de Janeiro corn, pelo menos, 50% da came neces-
sul de Minas. edna ao consumo da cidade. 0 gado senla trazido de Santa Ca-
tarina, Parand, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, e Berlink se
Tendo o governo geral feito o contrato conhecido par comprometia a fornecer a came ao preço mdximo estipulado de
contrato Berlink, para abastecimento de carnes verdes da acordo corn o Governo. No caso de haver pressäo para aumento
dos preos (pelos fornecedores dos outros 50%) o Governo podia
capital do Impérlo, suas principals disposicôes veram ferir obrigar Berlink a fornecer major volume de came.
de morte a lndüstria da criaçäo do gado, e o desãnimo dos 0 contrato, de 14 de setembro de 1876, fol cancelado a 12 de
criadores chegou a seu auge. Felizmente está rescindido Janeiro do ano seguinte sem ser curnprido. Apesar disso, tal con-
'ease contrato; alguns males, porém já deixou." (7) trato ja teria, de acordo corn o depolmento da diretorla da Mo-
jiana, depnimido a atividade pecudria. Para tanto, deve ter con-
corrido a expectativa de fixação dos preços da came ao consu-
midor e, em conseqdência, do gado.
(6) R. E. F. S. - 1931. Tipograf Ia Brasil de Rothschild & Cia., Sobre o Contrato Berlink consultar: Relatório apresentado a
SAO Paulo, 1932, p. IX-X.
Assembtéia Geral Legislativa na Primeira Sessäo da Décima Sexta
(7) R. A C. M. E. F. - 25/2/1877. Tip. do Dlário, S. Paulo, Legislatura palo Ministro a Secretdrio cia Estado dos Negócios do
1877, p. 1/2. Ao celebrar o contrato Berlink, o Governo Imperial Impérlo, Conseiheiro Dr. José Bento da Cunha Figuelredo. Tipo-
tinha o objetivo de combater os aumentos do preco da came ver- grafla Naclonal, Rio, 1877, p. 79/82 e Anexo F.
•de no Rio de Janeiro. 0 contrato, flrniacjo corn Eudoro Brasileiro (8) R. C. P. F. F. - 14/3/85. s/d. Anexo n.° 6. Relatónlo do Ins-
Berlink, estabelecia que este devia abastecer 0 matactouro mimi- petor Geral, p. 3.

81
1. C desenvolt4inento do transporte de café e siia im- sumidor estrangeiro) sem que.se reciuzjsse, a :odu
portánca para as ferrovias cafe
A dependência estreita que as ferrovias mantêm em rela- Portanto, as próprias estradas de ferro, conjugadas-
ção ao café durante várias décadas surge coma fato claro o declfnio da taxa de cãrnbio, ampUavam. a mareni
desenvolvirnento do café para 0 Oeste paulista.
pelo volume e pela forma das referências observadas.
Entretanto, cabe notar, a época na qual se implantam Apesar disso, as crises no mercado cafeeiro sucedem-se
as ferrovias- em estuclo nâo apresenta, em termos de precos, e levam os seus efeitos ate as ferrovias. Entretanto, ate a
a crescimento firme que justficaria o investirnento sern década dos 90, as crises não chegam a afetar integralmente
risco. Como observa Delfim Netto corn referenda aos efel- a rentabilidade das Companhias. A esse respeito, a obser..
tos da crise européia de 1866: vacão do Sr. Walter Hammond (inspetor geral da Compa-
"Aparentemente, a baixa dos preços internos era insufi- nhia Paulista) mostra-se elucidativa:
ciente para desestimular as novas plantaçôes que começa- "Pode-se dizer que o divdendo é exatamentè em propor-
yam a se desenvolver no interior paulista, gracas as facili. cão ao nümero de toneladas de café transportado, porque
dades proporcionadas pela construçâo das estradas de fer- a renda de outros ramos do tráfego dá suficientemente
ro." (9) para todas as despesas; assim, como no semestre finclo
A década seguinte, marcada pela Grande Depressão de foram transportadas menos 20.000 toneladas de café do
1873, deveria levar a diminuição do ritmo de expansão do que no semestre correspondente, a rexida caiu proporcio-
café e das ferrovias. No entanto, exatamente a década de nalmente." (11) -

70 mostra a firme estabelecimento dos principals ramos V8-se, pos, admitir-se a época que -a rentabilidade da
de estradas de ferro. Dois motivos parecem-nos justificar ferrovia dependia do volume de café transportado, acen-
a persistência da expansão: em primeiro lugar, o deôlfnio tuando a caráter de dependéncia que haviamos identifi-
da taxa de câmbio que se observa no perlodo permite par- cado quanto ao seu estabelecimento.
cial compensaçâo ao produtor de café (na medida em que 0 exame dos dados disponIveis na Tabela 11.3 nos mos-
a queda do preco externo se via "amortecida" pela queda tra, para o perfodo ate 1890, o crescimento relativamente
da taxa camb'al). Se lembrarmos que Os investimentos em firme do volume de café transportado nas Companhias
ferrovias na época são realizados principalmente por lavra- Paulista e Mojiana. Em relação a Sorocabana, o café é
dares (10) então o efeito amortecedor da taxa de cãmbio pouco relevante neste periodo, já que não mais de 3% do
assume malor relevância. Em segundo lugar, o desenvolvl- volume de mercadorias correspondia ao peso de café trans-
mento do café era auto-alimentado pela própria constru- portado. -. -

çâo de ferrovias, pois o declInio no custo de transporte Apesar do crescimento do volume de transporte, vemos
criava margem adicional de resistência a queda de precos: freqUentes queixas a respeito de resultados fracos de trá-
a diferencial do custo de transporte poderia, face a retra- f ego. Na verdade, isso decorre, em parte, da concentração
ção da demanda, ser transferido ao importador (ou ao con- do transporte de café no segundo semestre de cada ano;
em conseqüCncia, a primeiro semestre invariavelmente seth
de fraco movimento (e enquanto os dividendos são semes-
(9) DelIlm Netto, AntOnio. 0 Probiema do Café no Brasil. trais, o primeiro semestre 6 o de menor quota par acão).
FCEA-USP, S. Paulo, 1959, p. 16. Porém, a que importa acentuar, por ora, é que a flutua-
(10) "Aclonistas espaltiados por diversos municipios, a mator cão do volume de café transportado imputa-se toda a res-
parte lavradores, e residindo em seus estabelecimentos rurais, não
podlam ser encontrados corn facilidade, em nCmero suficiente,
que representassem as açOes tomadas, pelo menos a metade do (11) R. C. P. E. F. - 10/10/86. Tipografla a vapor do Jorge
capital social". R. D. C. M. E. F. - 30/3/1873. Tlpografia do Seckler, S. Paulo, 1886. Anexo n.° 6 RelatOrio do Inspetor Geral,
Progresso, Moji-MIrim, 1873, p. 4. P. 23/4. -- - - -

82 1 83
pOnsabiliclacte pelos bons ou maus resultados das ferro- remetida em três meses apenas, em coneq
vias. Por exemplo: rio segundo semestre de 1876 a receita guinte:
liquida da MoJiana flo atinge Os 7% garantidos pelo Go- 1.0) born preco no mercado;
verno Imperial e Provincial; a justificativa assume a forma 2.01 born estado dos caminhos;
caracterlstica no periodo: 3.0) grande aumento de máquinas para beneficiar; e
"Diversas causas atuaram para esse resultado. A prime!-. 4.0) major desenvolvimento das estradas de lena." (16)
ra, por sem düvida a mais poderosa, toi a pequena e dimi- Como vemos, já a partir dessa época estabelece-se a dese-
nuta safra de café do ano findo. quilibrio entre o tráf ego de cada semestre, o quo leva a
Em segundo 1ugaj a crise porque passa todo o Impérlo, observaço de que "qualquer aumento de tráfego nos meses
e que tern feito parjjar o comércio, contribulu poderosa- de abrl a setembro é de grande vantagem, visto quo naque-
mente." (12)
les meses o trem rodante é inenos empregado."(1 )
E a expectativa de meihores rendas assim se explicava: 0 inlcio de urn novo ciclo (17) em 1886 reflete-se, de imé-
"Como sabeis, desde .a abertura de nossa linha ao tráfego, diato, sabre o movimento das estradas de ferro.
as safras de Café Win sido diminutas; felizmente, para a "1 o presente semestre (segundo de 1886) o do malor mo-
nossa companhia, C Para a provincia, a pendente promete
cimento de transporte na exportacao devido, além de oii
ser abundaxite, e assini ciesde ja se pode contar corn uma tras causas, a subida rápida e quase Inesperaft do preçO
próspera recefla e consequenternente corn born dividen- do café. A falta de confiança na duraco desses prècos,
do." (13)
prineipalmente por parte dos negoclantes que, em grandé
No periodo COflslclerjo os anos 1876 e 1878 nâo se reve- escala, f'zeram no interior avultadas compras dêsáe género,
lam dos mais prOsper (14) Porém, já em 1879, a dificul- ocasionou a afluência de cargas para as estaçôes da linha,
dade surge por xnotty0 bern diierente: todas a urn tempo, tornando-se ento dificultoso o'sell
"0 tráfego tern flarchado corn toda regularidade, em- transporte. Por esta razo apareceram .algumas reclama-
bora as vezes corn dillcu1da, proveniente da grande aglo- çöes na lrnprensa." (is)
rneração na reznessa de café, que neste semestre sofreu no No ano seguinte, entretanto, a Paulista seiite, os efeitos
costume, que era do remeter gradualmente durante os me- negativos da safra pequena em uma das regiöes podu-
ses do setembro e znao. Neste, porém, a major parte foi toras:
"Sendo a lthlia Paulista a artéria principal pea qual
(12) R. D. C. M. E. F. - 25/2/77. Tip. do Dlãrlo, S. Paulo, 1877, passa.m as pro dutos agrIcolas da Provincia, qualquer per-
P. 1. turbaço i-ia lavoura é senticla. no seu trãfego, assim tarn-
(13) R. D. C. M. E. F. 25/2/77. Tip. dc Diárlo, S. Paulo, 1877, bern recebendo grande parte'de tráfego vthdo dds seus con-
p.3.
(14) Sobre 0 prlmetro seinestre do 1876: "Pot bern sensIvel no fluentes, as Companhias Mojiana, e R'o 'Clard, o estado do
semestre do quo trata o presente relatório, o decrescimento da prosperidade destas empresas é rCflètidó no tráfego da
renda da Estrada do Juzidjal a Campinas, devldo a diminuta ex- Comparthia Paulista. 0 valor, porém, de cáda'tOnelada rec6
portação, flao COmpensada pelo pequeno acréscimo, que a impor-
tação teve, COmparada corn a de outros semestres" R. C. P. E. F.
1/9/76. Tipografla do Correlo Paulistano, S. Paulo, 1876, p. 4. (15) R. C. P. E. F. - 29/02/80. Tipografiado Correio Pau14
Sobre 0 primeiro semestre de 1878: "Sendo este 0 prlrneiro semes- tano, São Paulo, 1880. RelatOrio do Inspetor Gera], p. 4.
tre decorrido deppis .da abertura do prolongarfleflto ao tráfego, e (16)a C. P. E. F. - 29/02/80. Tipografla do Corretó Paulista-
tendo Os lavractores retrajdQ suas remessas do nosso principal no, São Paulo, 1880. !lelatOrlo do Inspetor Geral, p; 4.
ramo de lavoura, em Vista do baixo preco em que se conservou (17) Cf. Delfirn Netto, A. 0 problema do Cafe no Bras. FCA1,
no correr do ntesrn0 zeznestre, tornou-se deste modo a exportacäo USP. São Paulo, 1959, p. 21.
conslderavelmente menor do que devia ser." R. D. C. M. E. F. -
25/8/78. (18) R. D. C. M. E. F. - 314/87. Tlpografia a vapor de Jorge
Tipografta. do Djárjo, Campinas, 1878, p. 3/4. Seckler, São Paulo, 1887, p. 7/8.
84 85
ii
bida da ]inhaRio Claro 6 três yezes daquela que e recebida do o niercado (externo) jA, dava sinais de linutes de de-
em Campinas da Companhia Mojiana. Acontece que na manda.
zona da 'Rio Claro' houve muito pouco café no ano de 1887 4 Cabe passar, agora, a segundo questão: qual o efjt.
ao passo que, na zona da .Mojiana, houve boa safra." (19) queda da taxa de câmbio sobre as ferrovias? Ora....sr
Podemos concluir, portanto, sobre o perlodo ate 1890, ünica conseqUência fosse a acirna observada crescimento
que a preocupaco fundamental da adrninistracâo ferro- da produçao de café - as ferrovias se veriam, pelo menos
viarla 6 o volume de café transportado, variável que define de inIcio favorecidas. Entretanto, o declinlo do valor da
a própria rentabifldade da empresa. Todos os outros fato- moeda nacional implica no aumento do custo de proclutos
res, como "a crise que tern feito paralisar o comérc4o", vem importados: como as ferrovias dependem de importaç6es
em segundo .Iugar e apenas como exp1icaço adicional. (equipamentos e, principalmente, combustiveis), a seu
Dal acreditarrnos haver perfeita solidariedade entre mer- custo operacional eleva-se corn o declinio cambial. Além
caclo cafeeiro e prosperidade das ferrovias, que, rio se via disso, como o movimento da taxa de câmbio relaciona-se
afetada por condiçdes outras da economia. corn o processo inflacionário interno, o outro elemento
A década dos 90 marca. o rompimento dessa relaçâo: básico do custo operacional das ferrovias - total de salá-
novos fatos interp6em-se entre o mercado cafeeiro e as fer- rios pagos ao pessoal - também tende a elevar-se. Vé-se
rovias de modo que as condiçôes favoráveis aos produtores dessa forma, que as despesas das ferrovias tendem a ares-
de café poclern criar urn estado insustentável para as em- cer em estreita correiaçâo corn o declInio cambial.
.presas de estradas de ferro. A essência dessa discordância Entretanto, a receita das ferrovias não cresce correspon-
vat decorrer da violenta queda da taxa de câmbio verifi- dentemente, porque as tarifas eram fixadas em termos mo-
cada a partir dos primeiros anos da Repübl'ca. Para corn- netários.
preendermos como surge o conflito entre interesses de pro- Surge, aqui, o primeiro ponto de confilto, qual seja o da
dutores de café e de empresas ferroviárias devemos respon- elevaçâo das tarifas que, para as ferrovias, apresenta-se
der a duas questöès:: .como condiço básfca para manterern sua rentabilidade.
Qual o efeito da queda da taxa de cârnbio para as pro- Efetivamente, a modficaçao da tarifa 6 concedida e seus
dütores de cafie qual o efeito para as empresas de estra- efeitos sobre a receita das ferrovias em estudo se fazen
das de fêrro?....... • sentir a partir de 1894. (21) Como frisa Chrockatt . de Sá,
A primeira questo tern resposta imecliata: o declfnio da havia condiçôes de suportar o aumento das tarifas pots:
taxa dec biÔ aumenta 0 preco interno do café (ou seja, • "Como a cârnbio tern grande influência nos precas de
o preco do café exportado em moeda nacional) se o preço • materiais ixrportados e nos de produtos nacionais que sâo
internacicinal permanecer fixb, os principals artigos de exportacao, como café, açücar,
•Como observa Delfim Netto, (20) na década de 90 o dec11- erva-mate, algodao, borracha, cacau, acreditava-se QP e,
no extrernamente rápido da taxa de câmbIo, levaria ao como Os gastos cresciam enormemente, poderia haver uma
aumento. co preco interno do café, apesar de a preco inter- compensaçao pelo aumento das tarifas sabre produtos na
nacional estar em declInio. 0 resultado dessa discordncia medida em que aumentassem seus preços." (22) No entanto,
entre os movimentos do preço interno e do preço interna- a e1evaço das tarifas semnre vat provocar urna reaçáo
cional era urn incent,ivo ao crescimento da produço quan- contrária por parte dos usuários. • •

(19)R. C' P: E. 1/4/88. Tipografla a vapor de Jorge Seek (21) A djscussáo especlflca sabre tarifas seth realizada em tO-
ler, Sao Paulo; 1888 Anexo nY 6; nelatOrio do Inspetor Geral, pled separado neste mesmo capitulo.
P. 18. (22) Chrockatt de Sá, C. E. Brazilian Railways. Their History,
ip.) Delfim Netto. A. 0: 'problema do café no Brasil. FCA-TJSP Legislation and Development. Tip. de G. Leuzinger, Rio de Ja-
o iPaulo, 1959, p. 29. . neiro, 1893, p. 27.

01 87
I -
.Além das dificuldades decorrentes da desvalorizaçâo cam- Também para a Sorocabana, o ano de 1893 levá aitt;
bial (e que Se tornam menos graves corn a adocao da tarifa çâo dffcjl,
móvel em fins de 1893), a década dos 90 apresenta outro "Como sabels, o ano de 1893, já sob a pressão do-aconteLw
fatos que afetam o tráfego das ferrovas. 0 primeiro deles cimentos que abalaram 0 créclito e a confiança, criando a
resulta do próprio aumento do volume de transporte. malores dificuldades ao cornérco e a indistria, em geral,
11 0 progressivo aumento da importaco e exportaçâo ex- viu no ültirno trimestre, ainda mais agravar-se a situaçâo,
cedendo a .expectativa geral neste Estado veto surpreender pela antipatriótica revolta de uma parte da Armada Na-
todas as empresas de transporte e criar a crise que no cional.
poderá ser evitada, e cujos efeitos já se faz sentir. Assim, deu-se pelo pânlco quase completa estagnaçao no
Todos esto hoje convencidos que a crise que atraves- cornér&o irnportador, em prejuizo dos interesses gerais,
sam as empresas de transporte cujas consequências preju- corn o que muito sofreu a nossa Companha, . tanto mals,
dicam altarnente ao cornér&o e a lavoura, provém princi- por ter sido também diminuta a exiortaçao." (25)
palmente da grande aglomeraçäo de cargas em Santos que Finalmente, os ültimos anos da década assinalaram o
Impede e estorva todo 0 movimento para a estaçâo da Com- lnlcio da poltica deflacionista de Joaquirn Murtinho,,
panhia Inglesa, cujo armazém colocado em lugar aperta- criando mais motivos para a instablidade das estradas de
do, a seu turno, dificulta a chegada e salda de carro- ferro dentro do quadro de recessao econômica que atráves-
ças" (28) sa todo o pals.
Como vemos, ante o aumento da produçâo, tanto as fer- "Como revelam os dados expostos, o movimento do ano'
rovias quanto o porto de Santos se véem incapazes de aten- de 1898, em todos os departamentos de tráfego, foi mais
der as necessidades de transporte. Apesar disso, as crises fraco que o dos doig anos anteriores, acentuando-se a de-
de produçao repetem-se ciclicamente sendo mais urn motivo press.o especialmente no movimento de passageiros. 0 fato'
de dificuldades para as empresas. Acrescente-se a isso a tern uma causa geral e causas particulares. A causa geral
Revolta da Armada e teremos o ano de 1893 como uma está na crise que o pals vem atravessando de tempos a esta
sintee, certamente mais dramática, da década dos 90. Os parte a qual parece ter entrado em sua fase aguda. Des-
dfretores da Companhia Paulista cornentam Os aconteci- valorizada como se acha a producao nacional em seu mais:
mentos . . "que nos obrigam a vfr apresentar-nos hoje os importante ramo e, por outro lado, depreciada a moeda
mais francos e completos esciarecirnentos, sobre o estado corrente ao ponto de ter chegado a valer. apenas dezessete'
geral da Companhia, em face de uma situacâo como a por cento do padrâo oficial, compreendendo-se a grave
atual, em que se ye pela primeira vez dizimada a sua perturbação que estes dols fenôrnenos devem ter levado
receita ao ponto de quase ser absorvida completamente a economla geral do pals, atrofiando as suas grandes
pelos encargOs que sobre ela pesam. fontes de vida: a lavoura, o comércio e a indiistria." (26)
Quatro f9tores principals, todos de caráter transitório, A recessâo geral de 1898 via-se ampliada, para as fer-
resumem os elernentos que, durante o ano próximo findo, rovias, pela safra de café.
atuaram simultaneamente sobre a economia da Compa- "Corn respeito particularmente ao movimento de merca-
nhia, perturbando-ihe o regime normal, o câmbio, 0 porto dorias, a dlnitnulção foi devida ao fato de ter sido a safra.
de Santos, a escassez da safra de café, a revoluçâo." (24) de café do ültimo ano, menor do que a do ano anterior,,
p015, ao passo que, em 1897, transportaram-se 284.370 to--
(23) R. A C. M. E. F. - 25/10/91. Tlpografia da Companhia (25) R. C. U. S. I. - 15/12/94. Tipo-Lit. Correia e Martins, Rio'
Industrial de S.o Paulo, B. Paulo, 1891, p.- 15/9. de Janeiro, 1894, p. 5/6. -
(24) R. C. P. E. F. - 29/4/94. Tlpografia da Companhia Indus- (26) R. C. P. E. F. - 30/6/99, 'T'ip. a vapor de Vanorden, Sao.
trial de São Paulo, S. Paulo, 1894, p. 6/7. Paulo, 1899, p. 5.
RM 89
neladas de café, o movimento desse artigo nas linhas da Acresce que oscilaçöes de gratide. . àthl1tric
Companhia, em 1898, desceu a 260.557 toneladas provindo café, tendo-se reproduzdo em v&ias époc.as r
a dffeença para menos quase inteiramente da produco sendo crises, e como tais transitórias, oS
da zona servida pela linha Rio Claro, que fol no iiltirno reclamam para corrigir seus efeitos devetiI
ano menos abundante que no anterior." (27) esse caráter.
Iarece claro, portanto, que a década dos 90 representa, A medida sugerida pela Associaç.o Comercial de San
.-.para as fer.rovias, urn perlodo de extrema instabilidade em da adocao de uma tarifa móvel segundo a cotaç5o do cafe,
que o aumento do tráfego, alterna-se corn crises ligadas parece corresponder justamente as circunstâncias atuai..
não so a queda do volume de transporte, .como também a E posta em prática corn outras indicaclas pela mesma cot-
recesso geral da economia.
Outro aspecto que convém anotar é a emergência do poraço poderá concorrer para atenuar as dificuldades
conflito entre ferrovias e plantadores de café a partir do corn que luta a lavoura." (28)
aumento do nivel taritário: enquanto a taxa de câmbio' Se observarmos a década dos 90 em sua tendéncia math
dedina esse conflito pode ser mascarado; porém, a partir. ampla (e corn base, apenas, em dados quantitativos da
de 1898, corn a estabilidade e valorizaçäo do câmbio, Os Tabela 11.1 e da Tabela 11.3) a nossa impress.o seth de
produtores de café ressentem-se do menor preço em moeda crescimento significativo do transporte realizado: em todas
nacional e procuram compensaçâo em menores tarif as. Na as ferrovias o aumento do nümero de passageiros e de vo-
verdade, as ferrovias, dada sua dependência do café, no lume de mercadorias (ou toneladas) atinge altos niveis;
podem opor-se integralmente a tal desejo: na Paulista, o nümero de passageiros multiplica-se pot trés
"Nâo pode ser indiferente a admi.nistraçâo de uma em- entre 1890 e 1899; o volume de rnercadorias dobra no mes-
presa ferroviária a depreciacao da mercadoria que math mo perlodo, sendo que o café transportado aumenta 2,5
avulta no seu trafego. Tanto mais quanto, desde que se vezes; na Mojiana, entre 1890 e 1900 as três variáveis men-
manifestou a baixa progressiva do preco do café, e que a cionadas multiplicam-se pot trés; e na Sorocabana o mes-
situaco da lavoura tornou-se precária, no se tern ces- mc fenOmeno se repete. No entanto, como vimos, o cresci-
sado de reclamar reducão nas taxas de transporte.. das mento do volume de transporte nao representa situação de
estradas de ferro, como se fossem exageradas e represen- permanente prosperidade; pelo contrário, a década dos 90
tassem o principal fator do custo da produco_ do gênero caracteriza-se, exatamente, pelas frequentes crises pot que
ate o Porto de exportaçäo. E no Se cogita da situaço das passam as estradas de ferro.
próprias empresas de transportes e nem se calcula se as Finalmente devemos anotar duas mudancas importantes
reduç6es possIveis de tarifa serao capazes de compensar marcadas pela década de 1890. A primeira delas dis respel-
ou mesmo atenuar os efeitos da desvalorizaçao da merca- to a Sorocabana que passa a ter, agora, no café o elemento
doria devida a causa mültiplas e especialmente a especula- fundamental de sua receita operacional, como indica a
'çao. observaço seguinte.
f

Isto não quer dizer que nada se deva fazer no sentido "Entretanto, pode acontecer que no corrente ano a resul-
de uma modificacao razoável e equitativa das tarif as, mas tado seja inferior, devido não sO a faiha do café, principal
se deve ir ate o ponto de paralisar fatalmente 0 fator de boa receita, como também a constante alta dos
senvolvimento de uma indüstria como rne1o, de éficácia preços de materials, principalmente do carvo em conse-
duvidosa, de amparar a outra contra dificuldades demo- •qttência do baixo câmbio." (29)
.meuto.
(28) R. D. C. M. E. F. - 16/10/1901. Tipogratia da Industrial
de Säo Paulo, S. Paulo, 1901, p. 5/6.
(27) R. C. P. E. F. -a-- 30/6/99. Tip. a vapor de Vaiiorden So (29) R. C. U. S. I. - 25/11/93. Companhia Inipressora, Rio de
Paulo, 1899, p. 6. Janeiro, 1894, Anexo 5, p. 27.
9O 91
ESTRADA DE FERRO SOROOABANA
Tabela H. 3 - TRANSPORTE DE CAF2 NO TRA11 EGO DAB
FERROVIAS
(Valores em mil-réls; quantidades em ton; médias anuals para Perlodo (I) (II) (III) (IV) (Ti')
o perlpdo indicado)
COMPANHIA PAULISTA 1875/80 14.146 278
--- - 1,95

--
1881/85 23.691 770 3,25
14 W6-
(I)
Tjoume total
de mercado-
(II)
Café
(III)
Receita do
(ton) transporte
(IV)
%da
receita
IV)
%da
quant.
1886/90
1891/95
1896/900
81.210
140.672
248.394
9.462
20.961
44.914
-
3.666.607 39,69
15,46
14,90
18,08
rias transpor- cia café total total 1901/05 269.598 74.138 4.261.997 42,91 27,50
tadas (ton) 1906/10 411.883 97.791 4.773.155 36,14 23,74
1911/15 588.709 83.528 3.680.451 22,15 14,19
1872/75 56.432 1916/20 838.267 74.559 3.496.730 14,44 8,89
1876/80 87.214 1921/25 1.076.403 87.883 5.358.256 11,81 8,16
1881/85 131.854 83.353 63,22 1926/30 1.442.270 162.878 11.671.942 15.45 11,29
1886/90 208.721 104.696 50,18 1931/35 1.683.891 209.098 14.450.021 17,39 12,42
1891/95 520.855 195.189 4.488.773 38,31 37,47 1936/40 2.887.845 286.111 20.103.271 14,39 9,91
1896/900 727.669 315.391 9.643.133 47,57 43,34
1901/05 784.972 404.338 12.525.400 57,53 52,15
1906/10 1.018.185 531.774 14.524.019 59,28 52,23 Obs.: Näo foram comDutados no cálculo das médlas os dados dos
1911/15 1.355.558 505.783 12.219.670 41,83 37,31 anos: 1882 a 1885, 1894, 1896, 1898, 1901 e 1902 por n.o serem
1916/20 1.497.414 415.869 11.395.710 33,39 27,77 disponivels.
1921/25 1.762.391 413.148 15.230.932 25,77 23,44 Fonte: Ver Apêndlce.
1926/30 2.251.159 501.830 23.264.220 24,75 22,29
1931/35 2.304.875 757.239 35.188.106 35,57 32,85
1936/40 3.131.134 534.596 26 .254 .492 20,08 17,07 Dessa forma também a Sorocabana pode, a partir de
então, ser enquadrada no rótulo de "ferrovia do café".
Obs.: NAo foram computados no cé.lculo das médlas os anos de A segunda transformaçâo de relevo corresponde a duas
1893, 1897 e 1900 por näo serem disponIvels Os dados. transaçôes que vâo concentrar, ainda mais, .0 sistema fer-
rovário de São Paulo, nas mãos das três empresas em es-
COMPANHIA MOJIANA
tudo.
Perlodo (I) (II) (III) (IV) M. 0 ano de 1892 asslste a compra de linila Rio Claro-Ara-
raquara pela Paulista e a fusão das Companhas Sorocaba-
-
-- --
1876/80 32.422 14.588 44,99 na e Ituana em uma so empresa. Sabre as motivos dessas
1881/85 57.213 36.556 63,89 transaçöes, Pereira da Silva nos fornece informaçöes ütels:
1886/90 110.968 48.158 43,40
1891/95 215.706 80.270 3.438.591 29,70 37,21 "As negociaç6es que se entabularam, desde mais de três
1896/900 395.391 165.814 6.976.746 43,25 41,94 anos (desde 1888), eram prenüncio de que a Companhia
1901/05 531.413 261.357 8.278.699 48,85 49,18 Paulista não podia, ou não queria, ficar na dependêncla em
1906/10 720.705 314.191 9.384.013 49,54 43,59'
1911/15 1.106.425 329.180 9.277.208 39,57 29,75 que estava. 0 contrato de 12 de maio de 1873, de conces-
1016/20 1.233.312 271.656 7.655.689 29,90 22,03 são da linha de Campinas ao Rio Claro, The tinha dada
1921/25 1.398.055 253.314 10.158,469 23,85 18,12 ,preferência para prolongamentos e ramais; as circunstãn-
1926/30 1.799.618 291.376 13.714.268 23,95 16,19'
1931/35 2.136.634 344.625 15.300.622 33,43 16,1
cias, porém, tinlaam tornado precária semeihante concessão,
1936/40 2.340.508 188.774 10.400.425 18,51 8,07 pots não usou dela nas ocasiôes que se apresentaram. Que..
rendo possuir mats vastos domInios, como sot acontecer
Obs.: Näo foram computados no cálculo das médlas os anos de corn todas as empresas, via-se então, a Companhia Paulis-
1879, 1891 a 1893, 1897, 1898 e 1939 por falta dos dados nos re-
latórlos. ta, ezitalada por todos Os lados: nos extremos as linhas da

92 93
Companhia Rio Claro e São Paulo Railway, e pelos flancos ferrovias, ErLtretant0, esse crescimento nâo se
a Mojiana a leste e a Ituana a oeste, to firme, particularmente na Sorocabana em que so ra
Nestas condiçöes, e prevalecendo o intuito de estender os década de 20 o transporte de café atinge o nivel de 1906.
seus donilnios, so the restava urn alvitre - que era corn- Neste momento, novamente prevalece a distnoão cie fi.
prar as linhas que the tolhiam o passo, e que podiam arnea- mos entre Paulista e Mojiana coma estradas do café e a
car a integridacte do seu tráfego."(30 ) Sorocabana estrada em que o café tern psrticipaqão
Por outro lado, a fusão Sorocabana e Ituana via-se coma não préponderante: enquanto Paulista e Moiiana anrs-
uma necessidade para a sobrevivéncia de ambas. senthm volume crescente de transporte de café, a Soroca-
"A inauguração de Botucatu e Tatul, em 1899, foi 0 ül- bana não consegue nIveis superiores ao de 1906.
timo esforço que por essa época pôde fazer a companhia Importa notar. entretanto, aue narece surr urn con..
(Sorocabana), para a desenvolvimento de sua rede, do senso em relação a necessidade de diversificação dos fluxos
mesmo modo que a abertura da linha do Porto Martins em de transporte coma iinica forma de superar O caráter ci-
1888, tinha sido para a Ituana, o ültirno empreendimento clico do mercado cafeefro. Certamente, a Sorocabana mos-
que pôde concluir. tra-se mais sensivel em relação ao problema.
Ambas as companhas lutavam corn dificuldades finan- "A méd'a de transporte de café na Sorocabana nos onze
ceiras; ambas cobiçavam a excelente zona de São Manuel anos em questão fo! de 1.314.458 sacas contra 9.347419
do Paraiso, LencOis e Agudos; ambas jâ se disputavam 0 sacas entradas em Santos, apresentando uma porcentagem
transporte de sua produção, e Laziam-se mal pela concor- de 14,06.
réncia. Eses dados demonstram a posico favorável da Soroca-
A fusão das duas foi a solução methor que encontraram bana, porquanto, cam uma crise que surja na producão
para as seus interesses, em 1892." (31) quase exciusiva do Estado de So Paulo no seth ela afeta-
Os primeiros anos do século XX nâo modificam, em da corn a msma intensidade que as demais vias de trans-
muito, o quadro da exportação cafeeira. 0 mercado em porte deste Estado." (33)
retração ref3ete sabre o transporte de café pelas ferrovias: Porém, também a Paulista valoriza a diversifcaco quan-
apOs urn pico atingido em 1901, o nümero de toneladas de do acentua "a notável expansão que se vem manifestando
café declina ate o ano de 1905. TIpico do perIodo, o co- nas forças vivas do Estado, não obstante ter declinado
naentário abaixo sintetiza a situacão das fronteiras: sensivelmente, no ano próximo findo, o preco de seu prin-
"Em conseqüéncia da inenor exportação do café e da cipal produto de exportacão, o café, em relacâo as cotaçSes
aplicacäo das tarif as reduzidas, houve na receita uma dimi- que vgoram em 1912." (34)
nuicão do rs.707.714.$686 comparada corn a de 1903, em A Primeira Guerra Mundial lança as ferrovias em riovo
parte compensada pela severa economia observacla em perlodo de crise, face a retração das exportacôes. 0 ano de
todos as ranios de servico." (2) 1914 representa mais urn momento de crise que advinha,
A recuperação do café associada a Operacão Valorizado- entretanto, não sO da )Jrnitação do mercado externo, coma
ra de 1906, estimula novamente o transporte de café nas tambérn da situação econômica interna.
Assim era vista, na época, a crise:
(30) Pereira da Silva, Clodomiro. Ref orma das Tarifas. Lae-
mert & C., S. Paulo, 1901, p. 41.
(31) Pereira da Silva, Clodomiro. Politica e Legislação de Es- (33) Relatório apresentado it Diretoria da Sorocabana Railway
tradas de Ferro. Primeira Parte. Vol. I. Tip. Laenimert & Comp. Company por seu superintendente - 1914. São Paulo, Casa Va-
São Paulo, 1904, P. 549. norden, 1915, p. 14.
(32) R. D. C. M. E. F. - 25/6/1905. Tip. vapor Livro .Azul, (34) R. C.. P. E. F. - 30/6/1914. Casa Vanorden, São Paulo,
Campinas, 1905, p. 8/9. 1914, p. 6.
94 95
"As dificuldades financeiras que 0 pals teve de suportar
durante o ano, resultantes da crise econômica própria, de Observa-se, em todas as estradas de ferro, o declinlo da
muito agravada corn a anormalidade produ-zida pela con- - importância do café: a Tabela 11.3 fornece os dados para
!lagracäo européla, exerceram natural influência na vida essa conclusão. Vemos, entâo, que depois de 1918 a percen-
da Companhia, que registrou a maior depressäo havida em tagem representada polo café, tanto na receita quanto no
suas rendas relativamente as de ano anterior." (35) volume de mercadorias transportadas apresenta queda sig-
0 resultado da Mojiana, comentado acima, repetla-se na nificativa: para a Paulista tais niveis, que se situavam em
Paulista que justificava: torno de 40% na década de 1910-20, apresentam na décacla
dos 20 apenas 20 a 25% (tanto da receita quanto da tone-
"0 fato não é de surpreender a ninguém, conhecidas lada de mercadorias transportadas). 0 comportamento da
como so as mültiplas causas gerais que concorreram para Mojiana e relativamente semeihante ao da Paulista, mas
semeihante resultado. Corn efeito, o exercl&o de 1914 já
na Sorocabana aqueles niveis recluzem-se ainda mais, fl-
vinha senclo trabaihado por grandes perturbaçôes na vida xando-se por volta de 107.'o.
econômica e financeira do Estado de No Paulo e de todo
Essa mudança na composiçáo do tráfego de ruercado-
o pals, quando sobrevelo a conflagraçäo européia, agravan-
do sobremodo a crise. rias no rellete apenas a queda absoluta do transporte -do
Se o movimento de lmportaçâo já se apresentava consi- café; se esta efetivamente ocorre ate 1923, de 1924 em
deravelmente enfraquecido em conseqüência da ma situa- dante, temc's, em nümero de toneladas de café, niveis tao
cáo Interna dos negócios, a guerra européia, determinando altos quanto os da década anterior, sem que haja, entre-
tanto, a elevação correspondente do percentual da receita
a prineipio a quase absoluta paralisaçâo do comércio inter- e do peso. Dessa forma, parece estar ocorrendo urn pro-
nacional, vem trancar por algum tempo o nosso niercado cesso de diversifcaçáo no transporte (que seth estudado
de café, dali resultando a suspensâo temporária do servlço
de transporte do principal artigo de exportaçâo de Säo em seguida), diversificaçáo esta que já estaria indepen-
dendo da própria expansáo do café.
Paulo, como aconteceu no mês de agosto, para 56 se resta-
belecer em condiçöes normals nos ültlmos meses do ano, o Apesar dessa diversificaçâo, o café continua a ter papel
que fez deslocar-se para o corrente exerciclo grande parte de relevo na formaçâo da receita.
da safra que devia ser carregada em -1914." (36) F, ainda aqul, as crises do café merecem -a atenço dos
Se 0 periodo da Primeira Guerra Mundial apresenta, dir,gentes ferroviários, como vemos em reiacáo ao ano de
1928.
para as ferrovias, movhnento instãvel em funçäo das pro-
prias condiçöes de inercado, (37) os anos posteriores mar- "A depressâo da renda bruta, entretanto, nada mais é do
cam alteraçäes importantes no quadro do transporte fer- que o resultado do maior represamento do café destinado
ioviário. ao porto de Santos, pois a exportaçáo desse produto em
1928, pelas nossas linhas, fol inferior a do ano antecedente
em 585.863." (38)
(35) R. D. C. M. E. F. - 28/6/1915. Tip. Llvro Azul, Capinas,
1915, P. 10. Certamente, os anos de 1929 e 1930, em que a Grande
(38) R. Cl. F. E. F. - 30/6/1915. Casa Variorden, SilomI Paulo, Depressâo estende seus efeitos sobre o Brash, náo podiam
191b, P. 5. deixar de afetar as estradas de ferro. Curiosamente, entre-
(37) 0 ano de 1918 asslnala a ocorrêncla de uma geada ale- tanto, nesses anos o café aumenta sua participaçao na
tando a pro ducão agricola do Estado. "Eis sen.o, quando, longe
de toda a prevlsAo por ja desleinbradas em nossa vida agricola, receita e no transporte de mercadorias: isso decorre dos
enormes geadas caem sabre todo o nosso Estado, reduzlndo de pianos colocados em prática pelo novo governo (depois de
.multo a produço penclente das rvores e Inutilizando por coin-
plato quase dais terços das lavouras, ainda na véspera tiorescen-
-tes e promissoras de resultados ate então nLo atingidos". (38) R. D. C. M. E. F. - 22/6/29. Tip. Livro Azul, Campinas,
M. E. F. - 28/6/1919. Tip. Llvro Azul, Campinas, 1919, p.R.5.D. C. 1929, P. 7.
96 97
1930) em relaçâo ao café que favoreciam, pela mecânlca 2.408.075 provinham de ieglôes de rôdud.régi
adotada, o transporte ferroviário. (09) vel, como o htoral e a serra do Mar, 357.077.260 da zoi
Se a crise de 1930 é superada já nos anos seguintes a antigas e 188.484.645 das regiöes novas."(41). . . ..
1933, (40) ela deixa marcas mais permanentes na re1aço Esse fato afeta principalmente a Mof anal que..
café-f errovias. Integralmente das zona.s antigas, já percebe o problema em
Como ressalta Monbeig: 1936: 11-1

"Ao todo no Estado, foram destruIdos voluntaria- "A Companhia Moi4ana encontrou-se, como dise ante-
mente de 1935 a 1944, 547.969.980 cafeeiros. Desta cifra, riormnte, a frente do Droblema da crise ocasionada nor
fatores imprevistos e nela gravados, por nâo nosuir gonas
(39) A crise de 1930 val assistir ao retorno da defesa do café novas de produc5o é por ter o café, como mercadoria de
para o Governo Federal, por melo do Conselho Nacional do Cafe. maior percentagem, enorme reduco no transporte, por
For contrato de 28 de janeiro de 1932 entre o CNC e as estradas
de ferro paulistas, estabeleciam-se condicôes para a liquldação motivos largamente conhecidos." (42)
dos fretes relativos ao transporte de café comprado pelo Governo. Este quadra enforma a periodo que encerra nosso etndo
As cláusulas que definem Os aspectos de major Interesse, para o café a4 ndc dá a base do trãfego de mercadorlas. Entre-
nOs, são as seguintes: tanto, já nan pode garantir as estradas de terra alta renta-
"I. 0 Conselho Nacional do Café pagará as Estradas de ferro
O frete do cafe que se acha retldo nos Armazéns Reguladores b'Prlae e, mutto menos, dar novas perspectivasde desenvol-
(objecto da compra decorrente dos Decretos ns. 19. 688 de 11 de vimento. .. .
fevereiro e 20.760 de 7 de Dezembro do ano passado) correspon-
dente ao transporte effectuado, desde as estacOes de despacho Como observamos, ao lado do declinio da importftnca
ate as dos ditos armazéns, pelas tarifas normals, inclusive as ta- relativa do café temos a crescente presenca de outras me±-
xas accessorias, expediente, carga, descarga ou baldeação, e ex- cadorias. Pretendernos agora identificar as formas desse
Cluida a taxa de vlação, considerando findo, nesses pontos de
Interrupção, o contracto de transporte. processo de diversificaçao
do transporte das ferrovias cOrn
II. 2 assegurada ao Conselho a faculdade de despachar parcélla- especial preocupaçâo quanto a possibl]idade dé essé no'o
damente, dos Armazéns Reguladores para São Paulo ou para caráter do transporte ferroviáriO garantir a ,rentábilidade
Santos, o café a que se refere o n.° I, gosando de direlto de pa-
gar, no destino, apenas a diferença entre o frete total prlmitivo afetada pelos problemas cafeelros.
e a parte já paga ate aos Reguladores. Estas as questôes tratadas no tópico Seguinte.
(b) A parte do café que for despachada para São Paulo, ou
qualquer outro ponto, pars fim comprovado de ser elimiriada pelo 2. Piversficaç&, no transporte do mercadorias.
Conselho, pagard do Regulador ao destino, a metade do frete corn- Ate aqui procurainos observar a impOrtância do café na
plementar a que se refere esta clãusula.
III. 0 pagamento de fretes ate os Reguladores serã effectuado formacao da renda das terrovias.. Cabe, agora, verificar
Integralmente, por meio de promissOrlas emitidas pelo Conselho, como se distribui a restante fluxo de transporte de inr-
corn vencimentos mensals a partir de 2 de Janeiro de mil no-. cadorias e tentar avallar as relaç6es entre a seu compor-
vecentos e trinta e clnco". R. C. P. E. F. - 23/6/32. Casa Vanor-
den, São Paulo, 1932, p. 6/9. tamento e a renda das empresas ferrovárias.
Como vemos, apesar da Crise, o contrato garantla as ferro- E preciso, no entanto, fazei algumas dbservaöes préviá
vlas o transporte de café em razoável volume. Por Isso, Os eteltos a respeito das limitaçôes impostas a andliso pelos dadOs
da crise näo seräo tao graves para as estradas de ferro na me- estatfsticos disponiveis. Para a café tivemos acesso a infor-
dlda em que o café fornecla, ainda, a .base da recelta ferroviârla.
Evidéncla ditto temos jã cm 1932, quando Os dirigentes da Pau- mação freqüente e homogênea: quando se passa para as
lista procuram explicar a origem do saldo operaclonal veriflcado: demais mereadorias nao se tern. para cada uma a série esta-
"Pars esse saldo concorreu, en- grande parte, a llquldaão dos
fretes retidos nos armaséns reguladores. adqulridos pelo Conselho
Nacional do Café". R. C. P. E. F. 23/6/1933. Estabel. Gráfico • (41) Monbelg, Pierre. Pionnbers e Pla-nteurs de Sdo Paulo. Li-
Cruzeiro do Sul, S. Paulo, 1933, p.. 10.
T
bralrle Armand Cohn, Paris, 1952, 235.
(40) Cf. Furtado Celso. Formação EconOmicci do Brash. 8. edi- (42) B. D. C. M. E. F. - 10/6/3 Casa Llvro Awl, Campinas,
cão. Companhia Editors Nacional, São Paulo. 1968, P. 208. 1937, p. 3.

98 1 LH . 9.9
tIstica compieta. Muita8'mercadorias importantes nos anth doria-base para a operacãO fertoviárià 0 1 crélentodo
trinta não eram sequer registradas no século XIX. Inver- volume de sal transportado é bastante peqüeñô &xnaradO
sarnente, algumas mercadorias registradas de iniclo, dei- corn o do total de mercadorias Tal fato leva ao constante
xam de s&lo nos anos mais recentes. Além disso, as series declmnio de sua participacão tanto na 'ecita qttant
das diferentes estradas não são hornogêneas de modo a im- total de toneladas de mercadorias transportadas. Entre-
pedir a adequada comparacão entre elas. E certo, o nâo- tanto, além de ser usado coma bern de .consumo, o sal vat
-registro de. uma determinada inercacboria pode significar também destinar-se a pecuária; talvez por Isso apareca de
•que ela pouco representa no todo do transporte da empre- forma mais nItida na Mojiana desde o inlcio, pois, como
sa, mas também pode ser o resultado de critérios contábeis vimos, esta companhia vat servir a area nineira de.criacão
•especIficos que nada tenham a ver corn o caráter do fluxo de gado. 0 mesmo vinculo a pecuária talvez explique, tam-
•de transporte. Diante desses problemas, optamos por ape- bern, o acréscimo verificado no transporte de sal pela Corn-
nas apresentar as tendências gerais do trafego de merca- pan.hia Paulista a partir de 1918. Os anos posteriores a
dorias e registrar. os dodos mais significativos, abrindo mo 1915 apresentam crescimento significativo do nitmero de
da tentativa de reconstruir as series estatisticas comple- animais transportados, o que deve retletir o desenvolvi-
tas por mercadoria. mento da pecuária na zona da Faulista.. •
For outrolado h4 urna distinção clara eritre dois grupos Urn aspecto final a ser anotado dtz respeito : peqüena
de mercadorias: o primeiro é constituldo por proclutos que sensibthdade do transporte de sal aos perlqdos de crtse ou
marcam presença desde os primeiros anos das ferrovias: de expansãc: observa-se o crescimento lento, porém Vrme,
por exeiñplo;. áçücar, sal, algodão. Outras mercadorias pa- de seu transporte por todo .0 perloclo. 0 carãter de bern•
recem ser cara6t9rIsUca de perlodo mais recente, a refle- essencial do produto deve responderp, por. essa tendéncia,.
tir transforrnação ocorrida na própria econornia paulista: uma vez que, mesmo em graves prises . conjunturais,. seu
neste caso estâö principalmente Os gêneros alimentIcios consumo no permute reduçôes sensiveis. :
comó.os cereals.. Este o quadro geral da exposicão a ser Os daclos disponiveis, embora, esparsos, permitem confir-
féita. mar essas tendéncias. Na Companlila 'aulista,. as primei-
Comecenios pelas mercadorias registradas desde o inIcio ras informaçöes referem-se a clécada cle:1880: as quantida-
de cada ferrovia. Aquela que sobressal nitidamente é o sal. des transportadas variavam de urn mlnirno do 1.0. 000 tone-',
Como já notarnos, osalaparece como mercadoria chamada ladas em 1887 ao máximo de 13.000 em 1882 e respondiam
de. irnpprtaçâo, ou seja, percorre a llnha da ferrovia no por 7 a 101jo da quantidade de mercadorias transportadas.
senticjo lioral—interAor. For este motivo, o sal surge como des transportadas variavam de urn mliiiino de! 10.000 tone-
importante fator na receita das ferrovias em seu inIclo, não do peso de mercadorias transportadas, vemos que pouco
so pelo que rppresenta comp percen.tual desta receita, mas restava além desses dots tipos de tiansporte. Na década
por dar origem ao transporte no sentido em que Os trens de 1910, quando a Companhia Paultsta volta a registrar
tern de .viajar, quase vazios. (43) Dessa forma, a constância o sal coma mercadoria éspeclfica, as uantidades trans-
do frete gerado. pelo transporte de sal aparece, para as portadas no sofreram grandes alteraçôs: ate 1917 elas
ferrovias, como importante fator na formaçäo de sua re- oscilam de 10.000 a 13.000 toneladas; porém represen-
ceita. ,. . tam pequenas porcentagens das mercadorias transportadas
Se notarthos, entetazito, a tendéncia no tempo do traiis (sempre menos de 1 % do peso total) e geram receita tam-
porte de sal verificamos, de imediato, que o sal não apre- bern reduzida (em tomb de 1% da receita do transporte
senta perspc,tivas malores para se constituir em merca- de mercadorias). A partir de 1918 ha, no entanto, substan-
cial aumento do transporte de sal na Paulista: as quanti-
(43) Ver nas (6) e (7) deste capitulo. dades ascendem a 43.000 toneladas em 1918, a 50.000 tone-

ioo 10i
Was em 1919e na décadade 1920 e na de 1930 oscilam em que 0 açucar aparece - nos termos das estradas de fjrr
torno de 60. 000 toneladas (corn o máximo de 68.000 tone- - como mercadoria de importaçao Desta forma, o açlicar
ladas em 1937). Apesar disso, como parcela da receita do exerce, para as ferrovlas emestudo, papel semelhante aa
transporte de mercadorias, o sal no contribui corn mais do sal na medida em que propicia fretes ito sentfd IW
de 3%. ral—izterior. Além disso, o açücr ad.mite retorno superiót
Na Companhia Mojiana e na Sorocabana, embora Os A- med a das mercadorias: podemos notar tal fato compararj..
valores séjam diferentes, as tendências permanecem as do a percentagem da receita e do volume de mercadorias
inesmas: na Mojiana, a participacão relativa do sal é major. gerados pelo aücar - a participacäo na receita é sempre
superior a na quantidade.
Ate 1895, as quantidades atingem de 10% a 2017o do total
(7.800 toneladas em 1880 equivalern a 22% do total trans- Ate a Primejra Grande Guerra nao ha grandes diferen-
portado e em 1895, 27.600 toneladas equivalem a 10%). ças no transporte de açücar das três estradas de ferro con-
Ate 1920, as quantidades crescem para nIveis de 60.000 sideradas. Atéo fim dos anos oltenta, as quantidades trans-
toneladas, reduzindo no entanto sua participaço relativa portadas s5u da ordem de 1.000 a 4.000 toneladas e repre-.
para nivels pródmos de 5%. Quanto ao frete, gera nestes sentam cerca de 2 a 4% do transporte de mercadorias.
anos de 3 a 57o' da receita do transporte de mercadoria Apenas na Sorocabana este percentual atinge valores supe-
na Mojiana. riores (em media 57o, no máximo 127o). Nos anos noventa,
as quantidades crescem para a casa de 10.000 toneladas e
Na Srocabana repete-se o mesmo comportamento: 0 plo, em 1914: Paulista: 24.000 toneladas; Mojiana: 29.760
trescimento absoluto das quantidades transportadas é no pré-guerra atingem a de 20.000 toneladas (por exem-
acompanhado pela reduço da participac5o relativa no toneladas; Sorocabana; 25.570 toneladas). Estes valores
transporte de mercadorias. Ate 1885, transportavam-se do pré-guerra representavam cerca de 2110 da quantidade
anualmente de 2.000 a 4.000 toneladas que ocupavam de e 5% da receita do transporte de mercadorias (na Soroca-
10 a 15% da carga transportada. Na década de 1936 as bana estes valores eram superiores: 4% da quantidade e
quantdades ascendemate 30.000 toneladas mas passam a 10% da receita).
ocupar apenas 17o da carga total de mercadorias. Também
do ponto de vista da recelta a participação é pequena: cer- No pós-guerra, como já ocorrera corn o transporte de sal,
2

ca de 1 a 2% do total. gerado pelo transporte de merca- ha signlficativo aumento dos valores absolutos que atin-
dorias. gem, na Paulista, quantidades médias de 80.000 toneladas
anuaja na década de 1920 e 1930; na Mojiana, 44.000 to-
Portanto, podemos concluir admitindo, por urn lado, o neladas em 1920 (o que faz supor seu crescimento posterior
caráter passivo do transporte de sal na medida em clue no quando nao sâo mais disponIveis as dados) e cerca de
será mercadoria responsável por qualquer possibiliclade de 40.000 anuais na Sorocabana. As razôes deste aumento
expans.o ferroviária; por outro lado, o sal surge como devem situar-se, como no caso do sal, nas mudanças mi-
elemento estável na formacâo da receita, a que certamente ciadas durante a Primeira Guerra Mundial. Para a cres-
era apreciado por empresas tao sujeitas a flutuaçöes nos cente transporte de sal, importa a estabeleàimenth de fri-
outros itens de seu transporte. gorIficos que impulsionavam a criação de gado. Para o
A segunda mercadoria que participa dos quadros de transporte de açücar, importa a expansao das exportaçôes
transporte desde cedo é o açiicar. Evidentemente, no pe- do produto e o crescimento das plantaçöes de cana, fenô-
rlodo em qu'e Iniciamos nosso estudo, o açücar já deixara meno que, coma sabemos, acorre a partir dos anos vinte.
de ter a importftncia de algumas décadas antes: a café Embora corresponda a ease crescente transporte de açi-
substituIra boa parte das p]antaç6es de açücar, principal- car, 8ua major participaçao na receita do transporte de
mente na zona central de Säo Paulo. Releva notar, entao, mercadorjas, esses valores so chegaram a 107o em alguns
102 103
anos, estabillzandose nos anos trinta em torno de 5%. lana, zona algodoeira mals antiga, os valores Indicani:
Portanto, em termos gerais, 0 acücar no é mercadoria 1905: 7.600 toneladas; 1910: 9.700 toneladas; 1913: 12.600
que vá contribuir particularmente a diversificaçao do toneladas; 1919: 54.700 tonelãdas. Esta ültima quantlda-
transporte; do mesmo modo que o sal, o crescimento do de, no entanto. so é superada em 1934 (74.000.toneladas).
volume transportado no periodo se faz em ritmo inferior Alias, a dOcada de trinta reafirnaa a importância do trans
ao total de mercadorias. porte de algodo nestas duas ferrovias: na Paulista as
Ainda dentre as mercadorias que surgem desde os pri- quantidades transportadas atingem a casa das 200.000 to-
meiros anos de operacâo das ferrovias, devemos agora co- neladas a partir de 1938, representando de 5 a 77o da quan-
mentar o desenvolvimento do algodão. tidade transportada e de 8 a 10% da receita do transporte
Na verdacle, a algodâo nâo aparece, de inicio, em todas de mercadorias; na Sorocabana, temos cerca de 100. 000 to-
as ferrovias. Prepondera apenas na Sorocabana. 0 que se neladas anuais de algoclo, 37o da quantidade e 51yo da
explica porque: receita de mereadorias.
"A cultura de algodo, surgia, portanto, em Sorocaba, As razOes deste crescimento do transporte de algodâ
I

corn urn rarno de exploraço que vinha, providencialmente, na década de 1930, após a reducâo ocorrida nos anos vinte,
substituir o comércio de animals que a estrada de ferro sâo indicadas a segufr.
parecia destinar irremediavelmente ao desaparecimento Mesmo no caso da Mojiana, embora no dispuséssemos
total." (44) dos dados sobre o total de transporte de algodo, podemos
A diferença das ferrovias quanto ao transporte de alga- notar o salto par meio de outra variável: o volume de
dao aparece corn absoluta nitidez: somente a Sorocabana mercadorias entregues a Companhia Paulista em Campi-
o tern corno item importante de inIclo: na Paulista ns.o ha nas. Como vemos, esta variável so pode subestimar o total
registro algum ate 1908, quando pequenas quantidades do transporte; as dados disponiveis, comparados corn os
comecam a ser transportadas e na Mojiana todas as quan- anos anteriores a 1915, também indicam claramente a mu-
tidades registradas sâo Infimas. Porém, mesmo para a So- dança na ordem de grandeza desse transporte:
rocabana, o algodo nâo atua corno elemento de prosperi-
dade por muito tempo: os dados disponiveis nos mostram COMPANHIA MOJIANA
claramente os altos e baixos do volume transportado 0 que Quantidade de algodäo baldeada para a Companhia Paulista em
vinha refletir, de resto, o próprio estado do mercado: Campinas
"A zona de major produção de algoclâo, fol servida por -
vias féreas somente na época de decadência do produto Ano Quantidade de algocido (toneladas)
(Sorocabana e Ituana) ." ()
Existe, poréni, já no século XX uma espécie de ressurgi- 1919 5.593
1920 5.845
mento de algodäo. Se normalmente se identifica o surto 2.881
dos anos 30 voltado a exportaçâo, nossos dados já mostram 1921
2.274
que após 1918 ha urn claro salto no volume de transporte 2.413
1923
do produto. Assim, a Paulista que registrava de 1908 a 1915 1924 2.430
quantidades de 200 a 450 toneladas, transporta, em 1919, 1925 2.895
5.000 toneladas, em 1925, 13.000 toneladas. Na Soroca- 1926 1.800
1927 2.183
(44) Canabrava, A. P. 0 Desenvolvimento da Cultura do Al-
goddo na Provincla de São Paulo (1861-1875). Gráfica Siqueira, Fonte: RelatOrlo n.° 75 da Diretoria da Companhia Mojiana del
São Paulo, 1951, p. 66. Estradas de Ferro para a dssembléia Geral de 28 de Junho de
(45) Canabrava, A. P. Op. cit., p. 269. .1928. Tip. Livro Azul, Campinas, 1928, p. 26.

104 105
Portanto, comparando corn a media de 100 toneladas ye-
rificada na década de 1910, os novos volumes de transporte lada pelo mercado externo e pela necessidade de substituir
de algodao (sempre superiores a 1.800 toneladas), cres- o café, a cultura do algodão expande-se em Sao Paulo. Os
cern significativamente. dados mostram cI ararnente tal mudança, principalmente
A explicaço para este crescimento encontra-se, pelo me- na Companhia Paulista.
nos em parte, nos efeitos das geaclas de 1918. Acompanhando de perto o desenvolvimento do transpor-
"E de lembrar que tendo as extraordinárias geadas de te do algodâo temos o de caroco de algodao. Qualquer co-
junho de 1918 causado graves danos as plantaçöes de café mentário implicaria em repetir o que já foi dito quanto
do Estado, dali resultou empreenderem os lavradores uma ao a]godao: Os anos posteriores a Primeira Guerra Mun-
larga cultura de algodo, para de certo modo se ressarci- dial assinalam Os primeiros registros significativos e a dO-
rem dos prejuIzos sofridos corn a falta do café. cada dos trinta o seu maior crescimento.
Desenhando-se entâo, a perspectiva de urna grande safra 0 fumo tambérn pertence a categoria de mercadorias
de algodo, suscetIvel de tornar difleil senão impossfyel o registradas desde ceclo pelas ferrovias. No entanto, sua
seu regular transporte pelas estradas de ferro, principal- participaçao será secundária - inferior a 117o tanto no
mente no caso de ser o artigo despachado tal qual fosse volume quanto na receita do tráfego de mercadorias. Isso
coihido, julgou a Diretoria convenente adotar medidas no nos leva a concluir que, se o fumo pode ter importância
intuito de fomentar e desenvolver o descarocamento e a para determinados locals ou regiöes, do ponto de vista das
prensagern do produto, no so para facilitar a mobilizaço estradas de ferro seu transporte apresenta perspectivas bas-
da safra corno para valorizá-la, tornando-a facilmente cx- tanle pobres. 0 prOprio crescimento, no tempo, do, volume
portável na parte excedente as necessidades do consumo de transporte de fumo confirma essa observaço, pols em
interno. nenhurna das ferrovias se aproxima do acréscimo do total
Infellzmente, como se sabe, as esperanças que se funda- de mercadorias. .
ran-i nas grandes plantaçôes feitas se desfizeram em gran- 0 comportarnento verificado no transporte de fumo re-
de parte, sob a açao das terrIveis pragas que devastaram pete-se no caso de banha e toucinho. Embora o cresci-
as culturas reduzindo enormemente a safra algodoel- mento em termos ahsolutos seja major do que no caso
Ta." (46) anterior, a participaco no total de mercadorias mantérn-se
0 retrocesso no transporte de algodo, na década dos 20, sempre a niveis pouco representativos (quantidade maxima
'deve estar vinculado a própria recessão do setor têxtil na- transportada: 20.000 toneladas na Sorocabana em 1938
,clonal nesse periodo. Porque, como observa Fishlow: gerando, no entanto, apenas 0,77o' da receita de mercado-
"A década dos vinte nâo fol muito propicia a propagaçao rias).
da industrializaçâo limitada que o Brazil havia atingido em Os dois ültimos itens de mercadorias especificadas desde
1919. A produção têxtil continuou a se expandir apenas antes do inicio do século XX säo materiais de construçäo
ate 1922-1923, corn o restante do perlodo marcado por cres- e couros.
cente participaçào estrangeira no mercado local." (47) .Materiais de construçâo surgem, desde iniclo, so na So-
Esta situação inverte-se, quanto ao transporte do algo. rocabana, e sao responsáveis por parcela importante do
'duo, na década dos trinta quando, principalmente, estimu- peso total de mercadorias transportadas. Isso se deve a
dois aspectos referentes a classificacao adotada: em pri-
(48) R. C. P. E. F. - 26/6/1920. Case. VanOrden, S. Paulo, 1920, meiro lugar, estäo ineluldos nesse item ate 1914, todos os
p. 24/5. tipos de materlais (nâo so os especificos como cal, cirnento,
(47) Fishlow, Albert. "Origens e Conseqüêncjas da Substitulço tijolos, teihas etc. como também todos os tipos de madel-
de Importaçoes no Brash". Estudos Econômicos, vol. 2, 1972, fl.0 6. ras, dormentes e trillios, para a própria construçâo da es-
Paculdacle de Economja e Adminfstracão-Instjtuto de Pesquisas trada de ferro); o segundo aspecto decorre do critério que
EconOmlcas_USp, Säo Paulo, p. 26.
define o item: como nos primeiros anos a ferrovia ainda
.O6
107
está em constante crescimento, Os trens transportam gran-' englobaria, de modo geral, Os géneros alimentfcios. - A .esse
de volume dos materials especificos para a construço da grupo voltamos nossa atencão agora, procurando analisar
terrovia, o que eleva, naturalmente, a participaço desse cada urn de seus elementos. Uma dificuldade se apresenta
item no todo. Em contrapartida, temos a participaçâo na na medida em que as discriminaçôes apresentadas no so
receita do trálego de mercadorias sempre reduzida, o que perfeitamente homogêneas. Ainda assim, acreditamos que
denota a impossibilidade de impor tarif as de altos nhveis os dados disponiveis permitem identificar as tendências
nos materials de construço dado o seu baixo valor por mais importantes.
unidade de peso. Desse modo, enquanto a Sorocabana As primeiras indicaçöes a respeito do grupo aparecem
computa o transporte de materials para uso próprio, sua sob o termo genérico de gêneros abmenticios. tlma obser-
participaçäo na quantidade atinge ate 58% (em media 30 vacäo feita em 1889 pela diretoria da Companhia Moyana
a 40%). Ao comparar Paulista e Sorocabana nos anos de mostra como se encarava, entâo, esse tipo de transporte.
1908 a 1914 vemos a clara diferença: media anual na Pau- "Apesar de fretes baixos e diferenclais, a tráfego de gê-
lista: 178.000 toneladas equivaliam a cerca de 141 7o da neros alimentIcios é pequeno, como também o de algodo,
quantidade transportada e a 2,71yo da receita; na Soroca- acücar e fumo. Será talvez conveniente fazer uma reduço
bana: 210.000 toneladas equivaliam a 40% da quantidade nestes gêneros, se o governo também par sua parte auxiliar
e a 11% da receita. em suspender os impostos e taxas, ate que o tráfego esteja
Do ponto de vista do desenvolvimento desse transporte, bern estabelecido, pois a provincia e as estradas de ferro
a década dos vinte marca a época de major crescimento, lucrariam muito e muito, se fosseni bern desenvolvidos estes
e que seth interrornpida pela Grande Depressão de 1930. (48) ramos de tráfego." (49)
A recuperaço se faz sentir, entretanto, já no ano de 1934, Corn base nos dados da Mojiana notamos, entretanto, na
reafirmando a hipótese de que a economia brasileira rea• década dos noventa, razoável acréscimo no item, que passa
gira mais rapidamente ao depois da Crise. No caso, o argu- a participar em mais de 10% do total de mercadorias trans-
mento se torna mais relevante porque o item "materials de portadas. Porém, as fretes se mantêm a baixos nIveis:
construcâo" está estreitamente correlacionado corn a for- observa-se esta relaco no caso da Sorocabana em que a
maco de capital, Cu seja, corn o elemento fundamental ao percentagem da receita é sempre bastante inferior a per-
processo de crescimento econômico. centagem da quantidade transportada. De certa forma,
Entretanto, para as estradas de ferro, o transporte de essa caracterlstica se repete na Paulista, embora as dife.
materials de construço não surge como dos mais compen- renças sejam significativas: no tempo estamos alguns anos
sadores justamente par sua pequena capacidade de absor- A frente; e quanto aos produtos al incluIdos, a relação da
ver tarifas. Paulista é mais restrita já que vários outros produtos alt-
Finalmente, o item "couros" também pouca contribul menticios so especfficados separadamente.
para a renda das ferro-vias. A participaço tanto no peso o primeiro item espeeffico dentro do grupo gêneros aU-
de mercadorlas quanto na receita desse tráfego no supera menticios é o de "cereals" (incluindo os itens arroz, ml-
117o do total. Portanto, apesar do crescimento do transporte iho, feijo e cereais diversos).
de couros verificado no tempo, nâo se poderia atribuir a Os indicios de sua importncia crescente começam a
essa mercadoria a reaponsabilidade por uma eventual ex- surgir na segunda década do sécula XX. Assim, em 1912,
pansäo das ferrovias. afirma-se:
As mudanas mais importantes nos fluxos do transporte "No aurnento das mercadorias diversas figuram princi-
efetuado pelas estradas de ferro se deram num grupo que palmente as de importacäo e as de exportaço de cereais,
cuja cultura tern tido grande incremento na zona cortada
(48) 0 decllnjo verificaclo de 1914 para 1918 na Sorocabana
decorre da mudança na cIassificaçci, principalmente pela sepa- - (4) .R. C. P. E. If'. - 27/10/1889. Tlpografia a vapor de Jorge
raçao de madeiras em urn item distinto. Seckler, So Paulo, 1889, p. 39. -

108. ..109
co.-.4Cq
.pelas iinhäs' dä Companhia Paulista." (50) No ano seguinte c6 cS v6
a. mesma. lmpresso 6 reafirmada:
O ectraorclinárO acráscimo havido no nimero dos via- • t- C) C' CO C' ... ......U)U)
jantes tansportadoS, no tráfego de animals, principalmen- CO CO IC) CO C'
I IC)Oc)
•te de gado bovino despachado de Bebedouro e Barretos corn
destino a Sâo Paulo, bern corno no movimento geral de mer- IC)
030-C)
C) CO It)
0)

eadorias, tanto importadas como de produco do Estado, - 0- 03


avultando entre estas, depois do café, os cereals, as ma- U) 03
C) CO
COO)
000-03 in
deiras e outros materials de construço, assinala bern a 0
tritensa expanso que se vem manifestando nas forças vivas I
U)

to
do Estado." (51) v
I I IIC)COi'0)'l'
Se pareCe seguro 0 aumento do transporte de cereals, cc 0) CO
'-4
C) 03
4 C.) COCO
0>

para as empresas tal fato não 6 plenamente satisfatório: PC>


"A certo que o transporte de cereals e de gado vern em
aumento progressivo, mas as tarifas adotadas para tais U) I' II 0•
Cd 91
artgos so tarifas minimas, destinadas a protege-los quan.
do ainda em experléncias e de cotaço pequena nos mer- 'chin
• CO
cit
C' ,-4 0)03
-)J j do
cacios.
Agora, porém, que a produco atinglu a elevadas pro-
tv
U
porcöes e que seus precos subiram extraordinariamente, CO Cq
no e justo que a respectivo transporte se faça pela mesma 0) ± '.4 I
tarifa de anos atrás." (52) '-4 xd
Se o aumento do tráfego de cereals acima referklo é 03
perfeitamente claro na série da Tabela 11.4, a década de 00 CO It) C'
0 CD to Cq
CO COi O
CO
vinte val marcar, pelo menos na Páulista, uma certa re-
gresso: o máximo atingido em 1920 nunca mais voltará a w El
ser alcançado. Explica-se o decréscimo do ano 1921, par-
CO M
que: I
'-I 4cLtcOo C'
"A escassez da safra de café motivada pela extraordinâ-
na seca de 1921, correspondeu, em conseqüência da mesma Cd P4
IC) C') C' C.)
causa, uma diiniiiuta exportacâo de cereals." (53) C') ,)COcCOr
Se na Paullsta a transporte de cereals se retral, na Soro-
cabana sua tendência 6 crescente. Talvez possamos admitir, CO C)
03
03 0) 03
03 03 0- L
0
id o
. CO p.
ante este fato, alguma forma de especiallzacáo regiolial iS
concentrando na zona da Sorocabana a producäo de cereals.
- -C) -4

(50) R. C. P. E. F. - 30/6/1912. Casa Vanorden, Sáo Paulo, CID


1912, p.. 5. t3 It3
CC) 10 0) 0) 0
(51) R. C. P. E. F. — 30/6/1913. Casa Vanorden, Säo Paulo, d04
ch I I 03 '.4
CO .,f4 C') 0-
1913, p. 4. & qq4 CD C,
(52) R. D. C. M. E. F. - 28/6/1918. Tip. Llvro Asul, Campinas,
1918. P. 6. C' CO C' It) 03 1t C 10 03
(53) R. C. P. E. F. — 22/6/1923. Casa Vanorden, o Paulo,
1923, p. 6. . . 0 C) C' C' 03 03 > C,
c 03 03
1)4 '.4 '.4 '.1 '.4 '.4 '.4
A anlise dos cereals especificos repete a tendência industrial ou comercial, ganha dia a dIanotáve1vigor, corn
geral: arroz, feijo e milho mostram na Paulista o mesmo inestlmáveis benefIcios para a economia de nossa via fér-
crescimento apOs 1918, para retroceder, entretanto, na rea." (54)
década dos vinte e sem se recuperar nos trinta. Evidentemente, o aumento do transporte de farInhade
Também a Sorocabana apresenta-se nos mesmos moldes trigo associa-se ao crescimento da populaçao e a introdu-
do observado no total de cereals, ou seja, crescimento con- çao de hábitos de consumo diferenciados. Entretanto, n5o
tinuo ate a década dos trinta marcado apenas por declinios podemos, dadas as limitaçöes estatisticas, estabelecer essas
eventuais. relacöes via transporte de farinhas pelas ferrovias. ()
Importa notar, ainda, o fato de que os cereals passam a Cabe notar, anda, o peso que assume o item farinhas
constituir urn elernento importante de transporte o que na forrnaçäo da Receita de Mercadorias, destacando-se
justifca a crescente preocupacao vérificada quanto ao como elemento de importância no transporte ferrovlário.
nivel dos fretes. Outro grupo de mercadorias que assume relevância
No grupo gêneros alimenticios encontramos novo item maior é o constituldo por frutas; agora a modtficação irn-
que passa a ser registrado em 1912 na Paulista e em 1934 portante se dá na década de 1930. Mullet já observara tal
na Sorocabana: batatas. Seu transporte n.o apresenta transformação em 1935 na Zona Central do Estado (espe-
uma tendência bern definida já que, na Paulista, a expan- cialmente Campinas, Sorocaba e Piracicaba) como reflexo
o verificada no fim da década dos vinte, segue-se acen- do deslocamento do café para terras virgens ao Oeste. (56)
tuado declinio que faz o nivel voltar
' ao ponto de partida. Entretanto, se o volume transportado cresce substancial-
Na Sorocabana, apesar do pequeno nürnero de anos regis- mente, a participaço na receita se mantém sempre atrás.
trado, o volume de transporte e a participacäo na receita Tal fato reflete, por urn lado, o baixo nivel do frete para as
mostram-se mais relevantes. mercadorias e, por outro, o fato de as zonas produtoras
situarem-se próximas da Capital - já o grande centro
Tambérn o transporte de farinhas passa a ser registrado o que implica pequeno nümero de quilô-
como item especifico de modo a denotar sua crescente irn- de consumo
portância. Nesse grupo, destaca-se a farinha de trigo como metros para efetuar o transporte.
elemento principal. Mais uma vez, o ano de 1918 surge Ao finalizar a análise do grupo a que charnamos "gêne
como urn marco pois o transporte cresce sensivelmente a ros alimenticios", devemos nos referir a algumas merca-
!partir desse ano. Deixando de lado o periodo de guerra, 0 dorias que se distinguem das anteriores por implicarem em
crescmento do tráfego de farinhas diversas entre 1919 e alguma forma de elaboraçao industrial: charque, carnes
1913 (o de malor tráfego ate entäo) fol de aproximada- congeladas e conservas alimenticias.
zmente 807o. A tendência ao crescimento prevalece ate 0 charque so aparece na Companhla Paulista a partir
1940, marcada por urn salto negativo na época da crise. de 1922. Embora sua participcão no tráfego total seja pe-
Essa tendência ao crescimento nas décadas de vinte e quena, cabe notar o crescimento firme no periodo obser-
trinta se faz mais clara e firme no caso da Sorocabana. Al vado.
os efeitos da crise se mostram bastante brandos, em parte
pela própria expansao das atividades na Alta Sorocabana, (54) R. E. F. S. - 1935. Tlpografla Brasil de Rothschild, Säo
como já se notava em 1935. Paulo, 1936, p. VIII.
(55) Como se sabe, o consumo de farinha de trigo está asso-
"Excepcional, porém, fol o surto registrado no periodo clado b, lmlgracäo (principalmente de italianos). Em nosso caso,
a que se refere o presente relatório. Esse inopinado acres- n5o podemos Identificar de maneira precisa esta relação, pois 0
•cimo de rendas responde a causas várias, que, alias, jâ se Item "farinha de trigo" só passa a ser especificado a partir de
vinham fazenclo sentir desde o ano de 1933. Urna delas, a 1912, ao passo que o fluxo migratOrlo de Italianos se inicla e In-
tensifica nas ültimas décadas do século XIX.
mais frisante, e o surto de prosperidade da chamada "Alta (56) Costa e Silva, Sérglo Millet. Roteiro de Café e outros en-
Sorocabana", cuja expanso, de todo o genero agricola, sales. Departamento de Cultura, Sao Paulo, 1939, p. 48.
o sufimento de carnes congeladas coma urn item es-
pecifco a partir de 1922 deve decorrer do próprio cresci-
mento desse setor da indi'istda de alimentaço durante a
Primeira Guerra Mundial. Sabemos que entre 1915 e 1919
foram fundados eels dos olto estabelecimentos frigorIficos 4.1
existentes em 1919. (57) Por outro lado o perlodo marca
tambérn o aumento das exportaçöes de carnes congela-
das. (58) Iw 00
-
Cyt
o transporte de carnes congeladas se revela mais im-
portante para a Sorocabana do que para a Paulista, em-

I
bora, em re1aço a receita, em nenhum dos casos sua par-
ts t3 CD CO to
ticipaco sej a extremamente relevante. Cc M C11
C
o mesmo ocorre corn conservas a1imenticas: a sua mdi-
cacao revela mais a crescente complexidade das operaçôes C-00&OC-W,
0 r.0 cq -84
CD
de transporte do que o surgirnento de mercadorla de real (8
importãncia para o transporte ferroviário. 4.4
CC
0
p4.
p4 ('2
o item seguinte -álcool e bebidas -surge, na verda- (8
de, já no século XIX par mdc de outra mercadoria - a Cd 03(6
10
03)
00 M
0
CO
aguardente que predornina no lnIcio. Todavia, quando
adéntramos o século XX a importância maior desloca-se H fl
1l• 0) U
C
03
03
l
C')
C1
10.
CC
para o grupo de cervejas. Male uma vez, é na década dos 0'
4,
vinte, na Companhia Paulista, que temos acréscimo signi- d (8 1- to 0 0
03 03
1-4
ficativo no transporte e, em especial, na participaçaona L'ozi
03'UO3IL)
•0
p4.
I
Receita do Tráfego de Mercadorias. 0 mesmo ocorre em I ,;
... '4.3.
C)
relacao a Sorocabana, reafirmando a alta participaçâo na Cd
receita e o declinio verificado na década dos trinta.
Dentre as novas mercadori as que se impôem no trans- .o -4 0
- _4 1-4
03
- VI
porte ferroviário, a item madeiras destaca-se entre os de- U)
male. De certo xiodo na Paulista, mas especialmente na 00
'CC
Sorocabana, as madeiras passam a constituir, ao lado do 4(8 10
() (8
I. (8
.$.
C-. 4 03 C- p.4 C') ..'
U) U) (4) IC)
.
café, cc principals elementos do transporte. No entantO, c8 • '43 C- co C -
, (.4 4 (0(4)030310.
irials uma vez, as madeiras sao obj eto de tarifas conside- (0c.j,033:03'
to
A C1 (8,.
radas baixas pelas ferrovi as: o .,-40303 a(8l.
"Verificou-se urn acréscimo sensivel no transporte de c
p4
madeiras, transporte esse que é dos menos remunerados
da Estrada (...). Verifica-se, assim, a conveniêneia de se
Id .1
• CC C) •,-I C') 03' C- . .
'(8 to 0 03 (0 to 'C)
(57) Mlnistérlo da Agricultura, Inddstria e Comérclo. Diretorla I Cq 03 '-4 C') p.
Geral de Estatistica. Recenseamerito do Brasil realisado cm 1 de
setembro de 1920. Volume V. Indüstria. Tipogratia da Estatistica, o
Rio de Janeiro, 1927, p. 36/46.
(58) Vulela, Anibal, V. "Surto Industrial durante a Guerra de ('3
0 CO 0 U) 0 U) 0 '
- '(8 C) ,1 C') C") (4) 03 4,.,
1914-1918". Ensalos Econôm.icos Homenagem a Otdvo Gouvela. '-4 (0 -4 .40 u5 (0
de Bulhes. APEC, Rio, 1972, p. 543/5. CC -I 11 C') •
C') 03 (4)
• ',..- .................-''-4 ..........0• k'.

114
proceder a uma rev1so das tarifas de certas mercadorias, Para encerrar estas notas sobre a dlversiflcaçao do trans...
Para se cobrirem• os 'deficits' nos respectivos transportes e Porte ferroviário devemos fixar-nosno transpöte "e
esta situaço mats se justifica corn relaçâo a madera que mais (que consiste, basicarnente, de gado. bovino)
está gozando de uma sltuaçao pr!vilegiada corn relaçâo aos -nos que a atitude dos dirigentes ferroviárlos denota a
demais transportes, aos quals se poderiarn aplicar, por sua convJcço tie que 0 café já nAo serviria tie base Para o
vez, tarfas menos onerosas."(59 ) desenvolvimento das estradas de ferro, inipondo-se, por-
Como na Sorocabana a receita de transporte de madei- tanto, 0 estfmu]o a ocupacâo de novas areas .e ao desen-
ras ultrapassa a do café, podemos compreender a preo- volvimento de novas atividades econômieas.
cupaç8o em obter maiores retornos por este novo tipo de Como bern frisa Monbeig:
transporte que .cresce continuarnente, sornente corn a in- "Corn efeito, a construçâo tie Iinhas férreas nas regiôes
terrupçäo observada durante os anos de crise. ainda pouco povoadas no tot estancada pela crise cafeeira.
Os dots Itens seguintes apresentarn comportamento in- Em dreçäo ao Paranapanema, em dllreção ao Rio Grande
verso, "Gaso'ina e lubrificantes" constituern parcela irn- e ate o Rio Paraná, Os trilhos cram colocados mats adiante.
portante da recelta e so tipicamente mercadorias cujo Atinglu-se, dessa forma, regiôes mats próprias a' pecuária
transporte vat crescer na década dos vinte corn a utiliza- do que ao cal'é. Os paulistas puderam, entao, valorizar uma
ço dos veiculos a gas&lIna; lenha e carväo, tipicamente nova possibilidade - as zonas novas. A chegacla da linha
utlizados pelas próprias estradas de ¶erro como fonte de térrea a Barretos, a eonstrnção tie urn frigortlico marca-
energia, apresentam partc1pação extremamente ba4xa na ram uma orientaçâo nova. Nao deixa tie ter interesse obser-
receita em parte por ser transportada gratuitarnente pela var que Antonio Prado, drigente da companhia ferroviâria
próprla ferrov-la (Para seu uso). que chega a Barretos, fol também fundador do frtgorIfco;
Temos, •por tim, 'dots itens que nos rernetem mais ao sendo ao mesmo tempo urn dos malores fazendeiros." '(a) .1
futuro da economla brasileira do que as suas caracterIsti- it na déCada tie 1910 'A`1920'-que podemos verificar a
cas tradlclonals: tecldos e manufaturados diversos. Curio- nitida mudança da importancia dogado Para as ferrovias.
samente, o transporte de tee' dos no revela, nem mesmo Em ter mos quantitativos observa-se o crescimento do nct.
no final da década dos trinta, uma tendência crescente.
Como nao podemos identificar' na época (a exceçâo de mero absoluto de animals transportados, porém, mats irn-
1929 e 1930) urn decréscimo na producão nacional (60), a portante, ha urn aumento çorresppndente no percentual
explicaçao deve delocar-se Para o lado da demanda, ou tie participacao da receita total das ferrovias' tie urn nive]
seja, as regiöes servidas pelas ferrovias teriam restringido prOximo a 1% Para niveis entre 4 e 5%. Essa participa
o seu consurno de tecidos. ço tende a se manter na Paullsta..e na Sorocabana, mas
Quanto ao item nanufaturados diversos, apesar da he- declina na década de 1930,' no caso da. Mojiana.
terogeneldade das mercadorias al relacionadas, devexnos Além da evidência quantitativa, dévemos anotár a preo-
identificar, no caso da Paulista, a séria queda verificada cupacao da diretoria das estradas tie terre em estimular
a partir de 1930. Apesar dlsso, o grupo, conic urn todo, man- tráfego tie animals.
tern sua lmportância conic fonte geradora da receita. Urn indIcio de tal preocupaçâo registra-se em 1911:
"0 estabelecimento del uma tarifa especial para o trans-
(59) R. E. F. S.. - 1928. Socledade Impressora Paulista, 85.o
porte tie 'gado em trens completOs tie 180 cabeças fez au-
Paulo, 1929, p. 2..,
(60) Dados sobre a produc5.o têxtll naclonal encontram-se em LI-
Vilela A. V. e Suzigan, W. Poiltica do Governo c Crescimento da (61) Monbeig, Pierre. Pionniera et Planteurs de Sdo Paulo.
Economia Brasjetra 1889-1945. IPEAJINPES, Rio, 1973, P. 438. brarle Armand Colin, Paris,. 1952, p. 100.

116 ' - 117


I
• % cow 4 CO '4 cq 4 i CO -1 CO CO CO mentar de muito eSSe movimento corno claramente de-
monstram Os algarismos do quadro supra." (62)
Em 1912, novo acréscirno no transporte de animals é . re-
V3 cd
03 CO ,-c CO CO CO t- N 10 gistrado:
N (01 Co c CO o CO CO CO ••
Ce3 CO 0' (0 (n
t ci 0
91 110 extraordinário acréscimo havido no nümero dos via-
Cd) CO
U) U) CO CO N N U) L_ CO c rJ3 CO jantes transportados, no tráfego de animals, principal-
01. COCOCOCOC--l 1 .-4 000
0
mente de gado bovino despachado de Bebedouro e Barretos
0 CO
corn destino a São Paulo, bern como no movimento geral
'd CO
de mercadorias, assinala bern a intensa expansão que se
C)U)iCO4005COCoCO ' vem manifestando nas forças vivas do Estado." ()
• o .rn
C (C) CO 0) C') C) to C) 14 0 0)
0'
CO 0) 0) Co CO CO It) (00' 0' Thente a essa nova possibilidade de transporte aberta As
i")4 It) ,I'U) CO 03
cd ferrovias, a Companhia Paulista apresenta uma represen-
• . 00
tacão ao CongressO Legislativo do Estado, a fim de anotar
I I W( a necessidade de construcão de uma estrada de rodagern
que posslbllitasse a chegada do gado do Oeste Paullsta ate
0 cd 4:0 o terminal ferrovlário de Barretos. (64)
03 .03 CO CO 0) CO CO CO C) to C') N '03 C')
Novamente, em 1916, registra-se o aumento do tráfego
4.) C'IQOCONCOCOC')COC')
0')1 de animals. •
I (CO0)OU)'d4 C00000-4
0-. I I I I tOtO100000)COCOCOCO
1132 grato constatar especialmente o notável desenvolvi-
04 clco mènto que teve em 1916 a tráfego de animals, cuf a total
0 Se elevou a mais do dobro do ano, anterior, em virtude do
-coCq0)(oco.-40)cqco
canideráve1 aumento havido, sobretudo no transporte do
I I E:
gado bovino." (65)
41 tW Em 1920. a i,ecuária á parecla, aos diretores da Paulls-
cc
0 to ta, uma ativiclade definitivamente Instalada e de desen-
- volvimento garantido. Talvez por isso, Antonio Prado, urn
dos diretores da Companhia Paulista, deixa os quadros da
o • .
& .. •• 0 cO'03 Companhia Frigorifica e Pastoril (a que Monbeig se refere
0
1 cOc6
- -•- CO 0 0) CO na citaço acima) e passa a dtreço da empresa a Roberto
03:. C. Simonsen, Conde Sicillano e Bras Altierl. (66) • -•
03
L ca
0'CO1000COC")
pI. . 0'CI),I4C
(62) R. C. P. E. F. - 30/6/1912. Casa Vanorden, São Paulo,
03
cl ca cd W 1912, p. 5. 7
.G3 CC)
(63) R. C. P. E. F. - 30/6/1913. Casa Vanorden, SAo Paulo,
O•0'•c 1913, p. 4.
••C') If fi9 (64) R. C. P. E. F. - 30/6/1912. Casa Vanorden, São Paulo,
•icd .. ..•. - 4'344IX) 'Q • 1912, P. 10.
(85) R. C. P. E. F. - 30/6/1917. Casa Vanorden, São Paulo,
0.' 01000(000COL0 1917, p. 5. -
..., '(3 10CO 00 Cl) C) C) CO '-4 ,-4,LO CO10O
CO CO CO CO Cd)
0 •- (66) R. C. P. E. F. - 26/6/1920. Casa Vanorden, $o Paulo, • -•
03
.--'-.--
CO. 11 ...--
'C)03 CO '-4 (0
CN N CC CO C) C)4 (0 .-4 .-4 (0 4 CO •-4 CO
44
- 4 ,-.i C)
CO CO Cd) CO 1920, p. 54/5.
rl 4 1-4 0 P. 0 s)
CO 0)
CO Co .4
CC) CO 0) Co Cl) C) C)
, -4 .l r 1 1..4
0) 0) 0)
Entretanto, como já vimos anteriormente, para as fer. Portanto, procuramos, apenas, anotar dois aspectos fun-
rovias o frete para animais surgia como pouco atrativo. damentals para 0 estudo: a diferenca das tarifas para as
Repetindo parte da nota 51: mercadorias; a mudança do valor absoluto das tarifas nu
" certo que 0 transporte dos cereals e do gado vem em tempo.
aumento progressivo, mas as tarifas adotadas para tals A Tabela II.? nos traz as tracos mais significativos da
artigos säo tarifas mInimas, destinadas a protege-los quan- evo1uço das tarifas. Tais dados norteiam o que se discute
do ainda em experiências e de cotacâo pequena nos mer- a seguir.
cados." (67)
Completa-se, portanto, corn a análise do desenvolvimento Examinemos, de inIclo, as diferenças tarifárias para as
do transporte de animals, o quadro de diversificaçäo do diversas classes de mercadorias. Tomando cacla ano apre-
tráfego de mercadorias pelas estradas de ferro. sentado, conclui-se, de imediato, pela importhncia que o
E, dentro desse quadro, começam a se esboçar algumas café assumia para as ferrovias: sua tarifa ascénde a mais
tendências que podem definir os problemas sentidos pelas do dobro do que a das outras mercadorias importantes
ferrovias: ao declInio do café (que suporta altas tarifas) para as estradas de ferro. Por exemplo, em 1874 o café
val se sobrepor a ascenso de alguns novos elementos de paga 206 réls por tonelada-quilômetro de transporte, ao
tráfego - prncipalmente cereals, algodâo e animais - passo que os gêneros alimenticios (no destinados a expor-
que por seus baixos fretes implicam em menor potencial tacäo) pagam apenas 100 réls por tonélada-quilômetro. El
de rentabilidade. claro, portanto, que 0 retorno por serviços semelhantes se
Se tal observaço é correta, cabe, ento, cliscutir o nivel inodificava muito conforme prevalecesse urn ou outro tip
de tarifas. de mercadoria.
As tarifas estipuladas para os novas produtos so real- Na verdade, esta hipótese nâo apresenta mera possibi-
mente baixas? lidade teórica, mas pode ser comprovada, como no exemplo
seguinte:
Ou a necessidade de elevaço das tarifas decorre da "Resulta desse quadro que houve acréscimo no total de
lnefi& ência empresarial implicando em altos custos ope- mercadorias transportadas em 1926. Esse acréscimo final
rac!onais? resultou porém de reduçöes sofridas pelos transportes de
• Estes os problemas que devemos discutir em seguida. mercadorias de tarifas altas e que foram contrabalançadas,
0 NXVEL DAB TARIFAS por grandes aumentos verificados nos transportes de fretes
baixos, em alfafa, arroz, feijo, milho, e nos transportes em.
A análise das tarifas, dentro deste trabaiho, tern objeti- conta de capital, provenientes dos servicos de remodela-
ço da Estrada," (69)
vos bastante limitados, em primeiro lugar porque tal aná- Esse cliferencial de tarifas entre mercadorlas se manténi
use vem apenas completar o estudo da receita ferroviária. no tempo. Em 1936, por exemplo, o café paga no máximo
Além disso, a complexidade das classes de mercadorias
adotadas para o estabelecimento de tarifas dificulta o apro- 480 réis por toñelada-quilôrnetro e Os gêneros alimenticios.
no maxima 290 réls (na Paulista o diferencial se acentua:
fundamento desta análise. (68) 460 réls para o café e 140 réis para os gêneros alimentl-
dos).
(67) B. D. C. M. E. F. - 28/6/1918, Casa Vanorden, S. Paulo,
1918, P. 6.
(68) As clfficuldades pareciam já existir na próprla época para estado de colsas vexames ao comêrclo. Relatório apresentado a
Assembléa Legislativa de So Paulo pelo Presidente da Provmn-
aplicar as tarifas. 0 presidente da Provincia, em 1887, lnslstla na cia Barão do Parnaiba no dia 17 de Janeiro de 1887. Tipografia
"necessidade de revialo das pautas e tarifas, no sentido de redu- a vapor de Jorge Seckler, Säo Paulo. 1887, p. 66.
zir-se ao terço as dezolto classes ora em vigor, visto trazer 0 atual (69) B. E. F. S. - 1926. Casa Vanorden, S. Paulo, s/d, p. 5.
120
121
$ 1 I
C's
Tal fato sugere a explicaç.o possivel para 0 declinlo
0 CD 0 0 0
Cd da rentabilidade das ferrovias: o café é substituldo por
'?Jl CO
Co
Idl
'-
C') C?)
CO
,- novas mercadorias (ou, pelo menos, responde por -menor
C.)
69 (9 (9 69 0, proporco do transporte total). Estas novas mercadorias
Cd so objeto de tarifas reduzidas comparadas as do café.
0 fj vi 95
Dessa forma, o mesmo volume de serviço realizado (e corn
C?) 0 CO
0)
C?)
o
C•?)
• -CO CO Cd custo aproximadamente igual) iniplica em menor receita
69 91 69 6. para as ferrovias quando o café tern menor participaço
no total.
Uu t0)'- '--
0 0 ..
Entretanto, talvez no tenha sido este o ünico efeito das
to 141 00 Ile C)
tarifas no sentido de deprimir a rentabilidade das fer-
En 43) wd
69 (9 69 69
Cd
rovias. Au observarmos as mudancas, no tempo, das tarifas,
p1
estas parecem elevar-se menos do que o custo de 'vida em
perlodo correspondente.
tO C?)
Co
0 - 0
C's I
Ate meados dos anos 90, as tarifas so praticamente
* 69 69 69 Q,_..
—4
*t)
fixas em termos monetârios. As mudanças que a Tabela
o
C.) E
C)
#5C.)0
11.7 regstra ate ento so de caráter secundário.
Somente em 1893, sob a pressâo do decllnio cambial, o
.
Icd
C,)
Governo autoriza o reajuste automático das tarifas de acor-
Co C)•-4 000
- •4_.% ' C-
CO CO 0
do corn a taxa de cftmbio vigente. Tendo como base o cam-
(9 69 blo. de 20 dlnheiros por mil-réls, a cada I ci. a menos na
Cd taxa de cftmblo, as ferrovias podiam aumentar 5% em suas
CO
0
IL) U) U) Co tarifas. 0 aumento máximo permitido era de 40% (ou seja,
C?) 0 0 ate o llmite do cftmbio de 12 ci.) Parece-nos que a adoçao
g cc's
00
00 69 61) 49 49. 49
to Cd da tarifa móvel vthha atender a real necessidade das es-
CD 0 10 4Oto tradas de ferro, já que seus custos (de materials lmporta-
C4 ,-
69 49. 69 * dos) subiarn, mas as tarifas permaneclam fixas em mil-
Cd
-réls. Apesar da tarifa móvel, no longo prazo, o nlvel das
tarifas não parece ter acompanitado a desvalorizacao .da
Ce to bo moeda. (70)
EM
(10) Sobre a tarifa rnóvel, convém comparar a que dlzem Adolfo
A. Pinto e Clodomiro Pereira da Silva. A derena das op1nles
parece ter origeni na forma distinta pela qual os dols autores
o :j- encararn a Inf1aç.o da década de 1890.
"... se a capital enipregado em I azendas agricolas, em Imó-
c'sCOCod vets urbanos, em Industrials diversas, näo sofreu prejuizo corn a
'-4 °) depress.o cambial, porque todos esses bens se valorizaram na
03w to C's, .'s mesma proporão da depreciaço da moeda corrente, o mesmo
não se pode dizer do dinbeiro empregado em titulos dc estradas
' C
d CID de ferro. Todo aquele que at tinhas seus fundos, desde que o -ca-
I WD pital das estradas de ferro näo fol aumentado na proporc.o de-
' terminada pela queda do cambio, em verdade sofreu urn primeiro
{0 grande prejuizo sé pelo I ato dc continuar a possuir a mesma so-
'-I I Cd

123
A seg&r comparamos as tarifas das principals classes de cia por falta de consciência do problema. (71) Por ôütro
mercadoras corn o custo de vida e corn a taxa de cxnbio. lado, é claro que qualquer aumento de tarifa provocava
)Jesse confronto, parece ficar claro que as tarifas perma- reação contrária por parte do piThlico. (72)
necem atrás no processo de reajustamento. No entanto, parece-nos que a razão que origina tal dèfá-
agem é a própria incapacidade de as mercadorias supor-
TARIFAS, CUSTO DE VIDA E TAXA DE CAMBIO tarern tarifas mais elevadas.
Quadro comparativo da evolução entre 1874 e 1936, Se o custo de transporte torna impossIvel a exportação
Em nñmeros-indices: 1874 = 100,00
(Cu mesmo o consurno interno) do produto, talvez a esco-
1874 1900(1) 1938
iha da ferrovia não seja entre tarifas maiores Cu meno-
res: a escoiha seria entre realizar o transporte corn tarifas
Tarif as Para o transporte de:
inferiores ou, simplesmente, não realizá-la (pois a tarifa
Café ........................ 100.00
impediria o transporte das mercadorias). Esta forma ex-
139,80 223,30
Géneros alimenticlos ........ 100,00 75,00
trema de colocar o problema talvez näo reflita a realidade
140,00
Animals ....................... 100.00 152,72 254,54
pereitamente; entretanto, ressalta a dificuldade impilcita
Madeiras .................... 100,00 140,00 291,66 em tentar qualquer soluçâo para as ferrovias pelo lado das
tarifas.
Indice do custo de vida .........100,00 260,56 809,20(2)
Varlacão de taxa de câmblo 100,00 272,04 627,95
baixa do câmblo. Todas as classes socials tiveram 0 grande tn-
Nota.: (1) Tarifa móvel Para 1900 ao câmblo de 12 d.; (2) tndlces buto a pagar, e sO as estradas de ferro conseguirarn mals urn
de custo de vida referente a 1930. Não dispomos de dados homo- grande prlviléglo: o de näo sot rerern corn a baixa do camblo.
géneos Para o ano 1936. Esta e a situacäo que lhes creararn a tarifa mOvel e acrésci-
Fonte3: Tarif as: vet Tabela ILl - Custo de vida: Lobo, Eulália, mos fixos." Pereira da Silva, Clodomiro. PolItica e Legislaçdo de
Estradas de Ferro, Primeira Farte, Volume I, Laemmert, S. Paulo,
M. L. "Evolução dos precos e do Padräo de Vida no Rio de Janeiro, 1904, p. 748/50
1820-1930: resultados preliminares" In Revista Brasileira de Eco- it evidente, pelos trechos achna, que Pereira da Silva Ignora
nomia, vol. 25. n.o 4, out/dez. 1971, p. 260/2. por completo o charnado "efeito amortecedor da taxa de cârnbio",
Obs.: utilizarnos a ponderaço de 1919; Taxa de câmblo: Anud- quanto aos precos dos produtos de exportaço (ou seja, a café).
rio Estatistico do Brasil, no ano VI-1945, IBGE, Rio, 1946, p. 1354. Parece-nos que, por isso, critica a tarifa móvel. Esse problema
fjca mals claro corn A. A. Pinto, apesar do trecho ser bastante
Os dados são eloquentes, por si, 'em mostrar o atraso das confuso quanto aos efeitos da desvalorizaçäo do cambio sabre a
tarifas em seu reajustarnento. Evidenternente, tal no Se "valor do capital".
(71) A Revista Brasil Ferro-Carril chama a atençäo Para o
.atraso do reajuste das tarifas ferrovlárias.
ma de dinheiro nominalmente, mas realmente urn valor inuitô "Em xnagnIfica conferêncla que fez, o Dr. Eugénlo Gudin mos-
inferior ao que empregara. trou que urn aumento razovel das tarifas n.o pesaria absoluta-
Mas além do prejuizo conseqüente a diminu1ço real do valor mente sobre os artigos, transportados." Brasil Ferro-Carril, Ana
de sua fortuna, estavam os possuidores de acöes de estradas de XVI, 19/2/25, Vol. XXVIII, n.° 386, p. 177.
ferro ameaçados de prej ulzo ainda major, qual 0 resultante de Ver também Brasil Ferro-Carril, Ano XI, 29/2/1920, Vol. XVIII,
flcar o seu capital, depois mesmo de reduzido a urn terco do que n.° 206, "Perspectivas de Crise dos Transportes Ferrovlárlos", p.
valla poucos anos antes, sem nenhuma renda, em conseqUência 105/6.
de ser a receita das linhas férreas absorvidas quase pot completo
pelo custelo enormemente agravado por efeito da baixa cambial." (72) Os jornais n.o se mostram contrárlos, em geral, as pre-
Pinto, Adolfo A. HistOria da Via ção Füblica em Sao Paulo (Brasil), tenses das ferrovias quanto a tarifas. A acusaco que surge em
Vanorden, S. Paulo, 1903, P. 160. 1880 na Gazeta de Campinas ilustra esse fato: "... 0 flOSSO jor-
nalismo é urn tanto quieto, conivente corn esse estado de coisas,.
"0 inovlmerito de tráfego atualmente é pouco superior ao que pois nem sempre apresentarn o que é preciso melliorar ou modi-
era alto anos atrás. Entretanto, o frete teve alta geral em 1893,
ficar Para a regularidade do respectivo servico." Gazeta de Cam-
nas principals ferrovias brasileiras. Acentuou-se nesse ano a plmas, 23/7/1880. Communicado "As nossas Estradas de Ferro", p.
124 125
Neste caso, so a maior eficiência das ferrovias poderia
permitir a reduço do nIvel das tarifas. Embora seja dif 1-
cii avaliar a eficiência em termos absolutos, procuramos,
no capItulo seguinte encontrar aiguns indicios sobre a pos-
sibilidade de reduzir Os custos e, em conseqthência, o nlvel
das tarifas.

CAPTULO III
Despesas e eficiência das ferrovias

No capltulo anterior procuramos discutir Os possivel


efetos da mudanca na composicâo dos fluxos de trans..
porte sobre a rentablildade potencial das ferrovias. Ao pas-.
sarmos a anáttse da despesa, tentamos avaliar em que
medida poderlamos responsabilizar a ineficiência adminis-
trativa pelo declinlo na rentabilidade. Eviclentemente, a
lneficiência admthlstrativa nào precisa ref letir-se apenas
em despesas mais altas: a empresa que näo consegue apro-
veitar as fontes de renda potencials (gerando aumento do
tráfego e, portanto, da receita) pode ser qualificacla de
ineficiente, embora tal fato no se reflita na despesa. Por
outro lado, o aumento dos custos pode decorrer de fatores
fora do controle da empresa: nesse caso, a admin1straço
dificilmente pode ser responsabilizada pelo aumento dos
custos. Entretanto, a análise cuidadosa .da despesa pode
nos fornecer indlcios claros da eficiência relativa das em-
presas em estudo.
A hlpOtese de que os dirigentes ferrovirios serlam res-
ponsáveis pelo declInio da importância das ferrovias surge,
quase sempre, ligada a idéia de intervenço do Estado nes-
sas ferrovias: a ref erência de Fernando de Azevedo it "po-
utica de desperdIcio e dilapidaç.o" 6 tIpica dessa postura
face a administraçâo estatal de empresas. (1) E claro que,

1. 0 artlgo, assinaclo por C. Henrlque, se disla o primeiro de nina (1) Outro exemplo tipico é ø de Pereira da Silva: "De longa
sérle. Aparentemente, a sérle sO constou desse artigo. data apurou-se o fato da Incapacidade dos poderes püblicos bra-
Algumas quelxas contra aumento de tarifas surgem no Diana sileiros para administrar diretamente. E a causa universal de que
de Campinas em 1894. Ver: Didrlo do Campinas, 1/4/94, "Corn a as funcOes politleas s.o absorventes, e nos palses novos, forinados
Mojlana" p. 1; Diana de Campinas, 6/4/94, "Corn a Mojiana", sobre a influêncla da decadência das naçOes matrises, elas sao
P. 1. atrofiantes.

126 12'
em parte, essa perspectiva sob a qual se ye o Estado coma
administrador decorre da prevalência do liberalismo. C) tfst¼as de Paulistá, Mojiana è Soroóabaná rib sécaiaj
cuidado que cerca as raras defesas de empresas adminis- temos a possibifidade de realizar o teste da .hlpóteso,. ainda
tradas pelo Estado nos indica a força daquele conceito: que de forma Indireta. Paulista e Mojiana, no erkd.o.d.
terminado, foram de propriedade particular e
"A administracäo do Estado, exercida dretarnente, bern par particulares. A Sorocabana, entretanto, a partir de
se pode dizer, pelos ministros e corn a interlerência diana 1902 passa a ser propriedade estatal, embora entre 1907
dos politicos que transformam a administração em ver- e 1919, tivesse siclo arrendada ao grupo estrangefro de Per-
dadeiro logo de interesses eleitorais, tern dado, infelizrnen- cival Farquhar. (3) Dessa forma, ao comparar a efic!êncja
te, resultados tao conhecidos que julgamos inOtl quaisquer de Paulista e Mojiana corn a da Sorocabana estamos tes~
consderaçöes a respeito. Ha entretanto, uma solução já tando em que medida o Estado como adminlstrador terla
experimentada corn vantagern incontestáveis. Ha anos, vi- prejudicado a rentabifidade das ferrovias.
cissitudes várias levaram a Sorocabana ao descalabro ex-
tremo quando fol afinal ter as mãos do Governo do Estado Por outro lado, talvez possamos tomar a Paulista como
de São Paulo, que a entregou a rara competência profis- nosso padrâo de efcência, pois ainda em 1954 urn ana-
sional e administrativa do saudoso Alfredo Mala. Corn in- ]ista das ferrovias afirmava que "a Paulista é a estrada de
t&ra liberdade de açäo e responsabilidade ilimitada, em ferro corn meihor admlnistraçâo no Pals. Ela consistente-
prazo relativamente curto e sem os recursos das grandes mente mostrou interesse nâo so em gerar lucros para as
linhas paulistas, aquele ilustre engenheiro a transtormou seus acionistas mas também preocupou-se corn a desenvol-
em apareiho igual a São Paulo Railway e a Paulista, pro- vimento econômico no Brash." (4)
porcionando assim ao Estado de São Paulo a recebimento Portanto, comparar os Indices de Mojiana e Sorocabana
'de avultada quota por ocasiâo do seu arrendamento. De corn os da Paulista constitui critérlo adlc4 onal que pode
então para cá a situacão da Sorocabana é bern outra, infe- se mostrar ilustrativo em alguns casos. Em particular,
lizrnente." (2) procuramos verificar a possibilidade de a adminlstraçâo
Entretanto, a teste da hipOtese proposta apresenta dill- estatal Impilcar em "empreguismo".
uldades: so podernos determinar a ineficência de uma em- Para que possamos realizar essa anállse, cabe, pnimeiro,
presa comparando-a corn a padräo escoihido. Porérn, como determinar os condicionantes básicos da despesa das fer-
escoiher a padrão? A eventual proposta de comparar corn rovias. A primeira parte do capItulo é dedicada a este urn.
urn padrão internacional de eflciêncla não nos parece con
veniente: estariamos esquecendo a especificidade geográ- A DESPESA DAS FERROVIAS: COMPONENTES E VARIAçOEB
Llca e histórica das ferrovias em estudo. Face as caracte-
A despesa de custelo das ferrovias apresenta dais ele-
mentos báslcos: primeiro, as pagamentos ao pessoal que
Nos ültimos treze anos, a incapacidade administrativa da Naço absorvem, em geral, parcelas próxirnas ou supeniores a
tern-se revelado demais para não assustar Os homens que se In-
teressam pelas colsas pátrias. Os deficits de custelo, as despesas 50% do total da despesa de custeio das ferrovias. 0 segun-
extraordlnánlas que nào so representadas em obras, e multos ou-
tros fatos que as estradas de I erro do Estado (em particular as
da Unio) apresentavam e apresentam constantemente, nS.o del- • (3) No Capitulo IV tratamos corn mals culdado da mudança na
xaram a menor divida de que a alienacão de tals propriedades da propriedade e administraçäo das ferrovias.
Naço sendo medida de boa poiltica financeira, mormente cluando (4) Duncan, Julian S. "The Improvement of Railroad Transport
a bancarrota batla a porta, era e e também uma medida de quase in Brazil" in Inter-American Economic Affairs, VII. 8, 1954, fl.0 3,
moralidade administrativa". Pereira da Silva, Clodomiro. A Re- p. 87. Talvez não seja urn critérlo válido Invocar a autoridade do
forma das Tan/as, Laemmert & C., S. Paulo, 1901, p. 699. autor para justiflcar alguma pstura nossa. No eritanto, no caso
(2) Brasil Ferro-Carril, Ano VU, 15 de I evereiro de 1910, fl.0 111, de Duncan, parece-nos que, como observador de longa data dos
P. 59. problemas ferroviários brasileiros, sua opinlão seja ponto de re-
feréncla bastante seguro.

129
dompdflente importante da despesa do custelo é o gasto .neno do. câmbio. Relqmbo,a y1çização da moe-
eui combustivel que, na despesa de material, ocupa apro- cia nacional elevava bs custos ferroviários (principaiment
ximadamente 50% da verba. Dessa forma, em media, salá- as importacöes), ocorrendo ..:yerc cQi .a inelhora do
rios e combustlVeis respondem por 75% das despesas de câmbio.
custelo das ferrovias; por isso, mudanças no valor dos
alários e no custo de combustiveis assumern o principal Tabela ill 1 - DESPESAS DE CUSThIO D/S FERROVIAS
papel para determinar 0 nivel das despesas ferroviárias. (Valores em mil-rOls; mdla atitmética da despea dos anós
indicados)
EntretantO, face as peculiaridades da economia brasi..
leira no periodo estudado, a variável que marca as ulutua- Anos Companhid Cornpanha T. de Ferro
cöes da despesa (pelos efeitos exercidos sobre 0 nIvel de Paulista . Mojiana. . ; Sorocabana
salários e, princpalmente, sobre o custo do combustivel) 6
a taxa de câmbio. A desvalorizaço da moeda brasileira 1872/75 275.084 . .. .... . .. . -
acarreta, de imediato, o aumento dos preços dos produtos 1876/80 651.707 363,710 .; . 60.204
importados: como o combustIvel básico é o carvo obtido 1881/85 1.067;714 ;;; ...'765944 ;.:, ......392.409
externamente, (5) a queda do valor da moeda levava ao 1886/90 1.407.688 1.902.262 ... 624.962
aumento do gasto corn combustIvel. Mas o declmnio da taxa 1891/95 4.957.212 7.783.770; . . 2.493.644
de câmbio, mesmo quando derivado exelusivamente do 1896/900 9.257.032 i0.q40.873 ,. . .083.163
estado do mercado de divisas, anunciava a necessidade de 1901/05 9.703.354 . 9.109.172. . ;. 6;.600542(1)
reajuste, salarial: na medida em que grande parte dos 1906/10 10.476.046 10.200.620 . 7.024.352
bens de consumo vem do exterior, a desvalorizaçâo da 1911/15 14.438.498. . ..i3..'792.176
11 .. ..... 8.715.970
moeda implicava no aumento do custo de vida do ferro- 1916/20 21.039.782 15.377..:870 ., ..6.087.638
viârio que deve pressionar no sentido de obter maior salá- 1921/25 42.609.787 ,2235.422. . 32.325.415
rio.(6 ) . 1926/30 62.412.527 . 41.,644684 .....56.794.947
Os dados da Tabela 111.1 permitem acompanhar as 1931/35 57.677.934. 35.09320. .. •;; 3444.973
iinhas gerais do comportamento da despesa nas ferrovias. 1936/40 83.673.583 , .45.322.O1'7 112.30,7
Sem dthida, vários fenômenos esto al presentes, urn do
quais a flutuacâo do câmbio. Outros so o próprio cresci- Obs (1) A media refere-se apenas aos anos 903 104 e 905 po;
mento das .empresas ferroviárias, as ..flutuacôes de tráfego. não serem disponlvels os dados de 1901 e 1902 I
Mesmo assim, os dados quinqüenais dessa Tabela sâo ex- Fonte: Ver Apêndice. : •.' . ...
pressivos, fato que seria rnelhor comprovado por dados
anuais. 0 extraordinário crescimento da despésa no perlo- Pouco expressiva, entretanto, é a evdêicia quantitativa
do 1891/95 no poderia ser atribuldo apenas as demais cau- diante das seguiclas referênclas que.dfinem a preocupaco
sas, assim como a estahilizaçäo dos gastos (e mesmo redu- dos dirigentes ferroviârios. corn .o prq lema .carnbial..
ço :na Mojiana) ne perIodo 1901/05 se prende ao movi- A década de 1890 mrca. a emergência do problema cam-
bial para as ferrovias.. 0 ,ano de enseja os seguintes
(5) Náo se utiliza o carväo naclonal sen5o quando adentramos cornentários por parte da diretoria da Mojiana;
o século XX. Prefere-se, mesmo, o uso de lenha ao do carvo na- "0 aumento das despesas no corrente ano nâo se con-
clonal.. Somente depois de 1930, sua uti11zaço passa a ser coin- servou na proporçâo do aumento da renda, devdo, primei-
puleOria.
(6) Se a tnflaç5o derivasse da em1ss5o de moeda no Brash, o ro, ao câmbio que elevou ó custo dc todo o material de con-
efeito sobre Os salárlos se faria, de inicio, independente da taxa sumo extraordinariamente; segundo, a grande despesa que
de càmblo. De qualquer forma, no segundo momento, a lnflaçäo fol a Companiiia obrigada a fazer. em Santos, pagando
Interna levaria ao declinlo cambial o que completaria o circuito estadias enormes; terceiro, ao aiimcnto de ordenados e sa-
antes apreseritado. .

130
iários, 1evadoS a niala do dobro do que nos anos ariterlo-
(7) para as necessidades da indiistria de t.ransportes no Brash,
tanto em terra como no mar.
o ano segulntO encohtra a Sorocabana corn a mesma Depois da guerra, pode-se dizer, tudo periianeceu na
dificuldade: mesma porque a especulaçS.o comercal tornou-se athda
"A despesa do tráfego aurnentou de rs.391:597$115 o mais feroz e o Governo ficou Indiferente a calamidade que
que nâo pode surpreender atento as causas ja indicadas
que anormalizaram a vida do Estado, elevando salários e os sufoca o tráfego das nossas estradas de ferro e justifica a
aurnento dos fretes marl timos, desde que no mercado de
precos dos materials princlpaLrnente os estrangeiros devldo carvâo estrangeiro no nosso pals, somente se pode, par
a descomunal baixa do câmbio." (8) enquanto, contar corn as Estados Unidos.
Esta tônica domina os anos iniclais da .década dos 90,
mas começa a se desfazer no Em do século, quando o novo Para agravar a situaçao velo a greve dos mineiros na
7n-1atE'rra perturbar desastradamente a vicla Industrial cia-
estado do mercado cambial abre melhores perspectivas quele pals e dificultar a exportaçao do carvao para o Era-
para as ferrovlas. 0 relatório da Paulista de 1900 reflete €11 animando ainda mais a avldez dos Intermedidrios des-
bern este momento de transiçäo ses negOcios ac,ui e no estrangeiro." (10)
"Para o corrente ano de 1900, é de se esperar resultado o ano de 1920 já mostra, novamente, as queixas das fer-
financeiro alnda meihor. 2 que nâo so a safra de café rov4 as contra o declInio cambial: .
parece näo ser Inferior A ültima colliida, como, já em vir- "Nâo fosse a instablidade do c&.n'iblo, 0 desorganizador
tude da alta de seu preço em relaçâo a miserável cotaçâo máxinio da vida financeira de nosso pals. e Os srs. adonis-
qué caira, 14 pela melhora na situacäo cambial, a impor- tas teria.m meihor renda para a sen canital, no obstante o
taçào deve desenvolver-se, ao mesmo tempo que, por outro desendido corn os melhorarnentos." (11)
lado, os encargos da divida externa sero menores, bas- Os problemas surgidos pela desvaiorizaçao da moeda e
tando que Se mantenha a atual taxa de câmbio de 9 5/16 a falta de combustivel levarn as ferrovlas a, procura do
para que o serviço dos luros do empréstimo de 1892 custe soluçöes aiternativas. A primeira delas é o usa de lenha
500:000$000 menos do que custou no ano passado." (9) como combustfvel em lugar do carvao: tal rnudança, em-
Os primeiros anos do século XX apresentam relativa bora possivel, nao se apresenta coma Ideal poraue, do ponto
estabildade cambial, graças a, polItica de valorizaçâo do de vista técnico, o rendimento no chega a satisfazer e exi-
café (que também procura manter o nivel da taxa de cam- ge, mesmo, modificar as caldeiras das locômotivas. Aléni
bio) e da entrada de capitals que cresce no perIodo. disso, a custo da lenha apesar de obtida Internamente, n5o
Corn o colapso da Caixa de Estabilizaço logo após 0 é baixo, inclusive pela necessidade de transporte das areas
iniclo da Grande Guerra em 1914, novarnente Se verifica a de florestas ate as ferrovias.
queda do valor cia rnOeda brasileira. Porém, na década dos A segunda possibhlidade consiste em eletrifcar as linhás
20 esse declmnio se acentua; e a desva1orizaço da moeda férreas: tal soluçao adota a Paulista em prim&ro lugar.
vem somar-se novo problema que leva ao aumento da des- Em 1922 é Inaugurado o prirneiro trchO eletrificado, de
pesa das ferrovias: a esassez do carva,o importado. Jundial ate Campinas, que se prolonga na mesma década
"Val em auinento assustador a falta de combustivel em W Rio Claro e Rincâo. Entretanto, tal soluço nao era
condiçöes razoávels de preco e em quantidade suficiente viável para todas as ferrovias e, nem mesmo, para todos os
ramais de uma ferrovia. 0 vultoso investlmento necessário
(7) R. C. M. E.F. -. 14/5/1893, Tipografia da Coinpanhia Indus- A eletrificaçâo exigia planejamento financeiro cuidado.
uriai, S, Paulo, 1ti, p. 20.
(8) R. C. U. S. I. -.- 15/12/1894, Correia e Martins, Rio de Ja-
ieiro, 1894, p. 15.. (10) Brasil Ferro-Carrjl, Ano XI, 30 de 8etembro de 1920, n.° 220,
9) R. C. F. E. F.—. 30/671900, Vanorden & C., S. Paulo, 1900, p. 580.
P. 4. .- (11) B. C. M. E. F. -28/6/1921, Tip.. Llvro Azul. Campinas, 1921,
P. 6.

133
tho (12) e, eth espta keuehirego - apenas nos treclios de 0 aumento da despesa é ø ±esultante da 'aridrfrza
malor densidade de trafego. . . . .. lidade binda reinante no mercado cambiário e tathbérñ
Vemos, poitntc!que a1tenativs ao uso do carvão convém acentuar-se, da aplicação das leis de caráter soe'al,
nãopermitiarn ireVeruamso1uçãc) definitiva ao problel-na. que, dé tempos a esta parte, vêm sendo eéc1btada déo.i-
'Por isso as qüelxas . 'e6iitra o...deèlinio cambal qué, salvo denadarnente e seni a indspensáve1 preparo ara toritraba-
alguns anoseièee1o1ai,marca as década de 1920 e lançar a majoraçâo das despesas, e a diminuição do liquido
1930, continuam reenes. .......... ...... 'é ø que diretamente afeta os srs. acionistas, retardando o
"No fora, iIáTh, a Pérsistenté depressãd camba1, tudo reinIcio da distribuição do justo prêmio de. seus capitais,
encarecendopel' dlñthiüição do valor aquisitivo da nossa urn dos principals objetivos que temos em vista, como já
'moeda, e • desenvolvimento desta estrada ser!a maior, par vezes acentuamos em relatórios anteriores.” ()
como expoente que é do créscirnento ininterrupto das for-
-gas produtivas. de flsso interior." (15) .HFICTMCIA OPERACIONAL DAS ESTRADAS DE FERRO
A década d6 tiintä lbs tiaz urn fator adicional para o
acrésçirno das des'pMü: o surgmento de encargos socials A tentativa de avaliar a eficiéncja das ferrovias se faz de
impostos pelá lé 1ão trabalhista daquela década tarn- modo lirnitado atendendo, par urn lado, ao critério estabe-
•bern dá margeni a. quebths da dfreção das elnpresäs ferro iecido e, par outro, a dificuldade de obter alguns dados.
viárias. As rêfërêricia segulntes sintetiam as condiçöes Procuramos mostrar, ate aqui, a relevância de gastos
que levam a flutuãçãOdades.pesa, especialniente na iiltima corn pessoal e corn combustIvel em determinar . a despesa
década de Iiosdoestido; . .... total das estradas de ferro. Caberia, então, verflcar corno
as gastos nesses dois itens poderiani implicar em custos, rela-
"Cumpre notar que, em 1931, tivernos ainda uma grave
causa de perturbaçäo nos resultados financeiros, decor- tivamente mais altos para uma ou outra ferrovia. No entan-
iente da situação caxibial, agravando os preços dos mate- to, as dados relativos a combustIvel mostraram-se dificeis
nals de importaço estrangeira, principalmente do car- de e]aborar para chegar a resultados cornparáveis entre as
- vão." (14) estradas. Como a h!pótese de ineficiên&a está ligada mais
Os aumentos salarigis tambem são objeto de queixas A idéa de empreguismo, neste capitulo apenas nos refer!-
"Devemos tambén deixar .registrado que cerca de 50% nios. aos aspectos relacionados corn malor ou menor nümero
de empregados.
do aumentonas, deapèsas provierarn da elevaçâo do salário
.de nossos fuicionári,os que .aincla nâo haviam sklo benefi- Também no tempo, a análise deste capltulo fol restrita:
ciados corn a alta ' entãO geralmente verificada nas gran- somente utilizarnos series corn inicio em 1900. Dols. moti-
des empresas e W nas r.eparticôespAblicas." (15) vo justificam tal limjte: mais uma vez, os dados anterlo-
O Relatorlo da Mojiana d6 :10361 resume os problemas quo res a 1900. mostraramse esparsos e heterogéneos. Porém,
procurarnos . situar:, ....... . .. pelo próprio critérfo adotado para avaliar eficiência, s6 ,'a
.. partir de. 1902 podemos comparar a ferrovia estatal (Soro-
cabana) corn as particulares (Paulista e Mojiana).
(12) Para é1tHf1car süa Iiiha Paiillsta contral em 1922 em- A hipótese particular que procuramos testar decorre do
iiréstlmö de 4.000000'de'd6laresem Nova York. No fim do pe- argumento correntemente aventado para explicar. as altos
'riodo estudadG . ainda. restavam, desse empréstisno, 2.500.000 dO- :nIveis de despesa das ferrovias: a participação do Estado
lares .a ainorIz,, •. ....•.........„...,....
(13) R. C. M. E. F.. — 25/6/1925, Tip. Livro Azul, Campinas, como dirigente de empresas £erroyiárias que implicaria,
1925, P. 8. pr'ncipalmeñte, em maior gasto corn pessoal. Duncan co-
;(14) 1 R. Ri FS, 931, Vix. Brasil de Rothschild, S.. Paulo, 1932, menta a tese, sem endossa la plenamente
P. Ix.
i5) R. C Mi 4-.7/6/193o, rip. Livro AuL Campinas, 1930,
P.8. (16) R. C. M. E. F. 28/5/1936, Ljvro 7.

i35
A
ai: r
IS
730 1•.
"Ha fundarnentos .paa acreditar que os efeltos de abusos Tabela In. 2 -N'àMERO DE EMPEEGADOS FOR QULLoMTIThO
• politicos na administraco das ferrovias do goveriio sâo
91 DE LINHA FRREA
(media aritinética dos anos indicados)
cumulat'ivos corn a passagern do tempo." (17) Tais abusos
consistiriam no chamado empreguismo politico. Dal con- ? 1.
clui Duncan: Anos Paulista Moiana Sorocabana
"Houve uma revolucâo bern sucedida em 1930: esta revo- 4,21 2,81 3,01
1uço representou 0 crescente ressentimento cIa popu1aço : 1901-05
1906-10 3,69 2,83 2,69
em geral contra 0 caráter cumulativo dos abusos da adml- 4,33 3,18 2,55
nistracão anterior. Toda a estrutura se tornou insuportá- H 191145
1916-20 4,59 2,69 3,01
vel." (18) 1921-25 6,02 2,80 4,25
• Para 0 teste cIa hipótese, utilizamos alguns Indices. Os 1926-30 7,55 3,24 5,04
dois prlmeiros encontram-se nas Tabelas 111.2 e 111.3. Na 1931-35 6,97 3106 5,01
Tabela 111.2 temos a série do nümero de empregados por 1936-40 8,88 3,44 6,15
quilômetro de linha em cada ferrovia: evidentemente, deve
haver relaço entre as duas variáveis desse Indice -quan-
to malor a extenso da linha férrea malor o nimero de Obs,: Os dados são as médlas qilnclüenais dos perlodos indicados,
exceto quando o dado de algum ano não era disponivel. Não
empregados necessários para conservar a linha, maior 0 obtivemos os seguintes dados: Paulista: 1900, 1933 e 1934; Mojiana:
nümero de estaçôes (e, portanto, do ni.'imero de emprega- 1900, 1917 e 1924; Sorocabana: 1900 a 1903, 1906, 1923 e 1930.
dos no tráfego). Dessa forma, podemos admitir a existên- Fonte: Ver Apênclice.
cia de urn valor mmnimo para esse Indice: desvios para va-
lores maiores indicariam a possibilidade de ocorrência de
"empreguismo" na ferrovia. A Tabela 111.2 nos mostra
que, em todos Os casos, o Indice cresce no tempo. Entre-
•? j tanto, o que parece mais relevante, na empresa operada Tabela III. 3 - NMERO DE EMPREGADOS FOR 1,000.000 DE
pelo Estado de São Paulo - a Sorocabana - 0 iiümero TON/KM DE TRANSPORTE REALIZADO
•;• 'médlo de empregados por quilôrnetro de linha é menor do (media aritmética dos anos Indicados)
que na Comparihia Paulista.
A Tabela 111.3 completa a análise anterior: al temos o Anos Paulista Mojiana Sorocabana
numero de empregados por tonelada-quilômetro de trans-
• porte realizado. Também aqui existe relaçäo direta entre 1901-05 38,29 41,57 39,40
as duas variáveis: quanto malor o volume de transporte 1906-10 22,68 34,90 32,16
• malor o nümero de empregados necessários a tracao e a 1911-15 18,92 34,41 26,80
•• locomocão dos trens e também para armazenagem e em- 1916-20 16,12 27,84
27,72
20,57
25,51
barque de mercadorias. Este indice conhirma o observado 1921-25 21,56
• anteriormente: a Companhia Paulista, privada, registra 192640 22,30 25,99 19,24
maior ni'imero de empregados (por unidade de transporte) 1931-35 20,67 26,85 17,42
do que a Sorocabana, no periodo em que esta e operada 1936-40 19,12 21,85 13,70
pelo Estado de São Paulo (a partir de 1920).
• ________________ Obs.: Não disponiveis as dados referentes aos seguintes anos:
Paulista: 1900, 1933 e 1934; Mojiana: 1917, 1924, 1925, 1939 e 1940;
• (17) Duncan, Julian S. Public and Private Operation of Railways Sorocabana: 1900 a 1903, 1906, 1923, 1930.
in Brazil, Columbia University Press, Nova York, 1932, p. 13.
(18) Idem1 ibidem. Fonte: Ver Apéndice.

137
Conio tbxnamosaPaulista par padro de efthiêiiá' relá- 'posathos, a partir da análise . de Duncan, cómreender os
tiva, chegarnos a concluso de que na empresa estatal no motivos da tnsistência sabre essa hipótese:
podemos observar a exstência de empreguisrno. A empresa "Resta a questao de saber em que medida as 'condicôes
.privada, reconhecidamente bern administrada, utliza major destas duas estradas (Central e Paulista) sO 'tipicas da
riiimero de empregados por unidade de serviços realiza- operação governamental e priva'das das ferrovias no. Bra-
dos. .sil. Certos aspectos da operacão governamental da Central
Cabe, ainda, comparar as Indices relativos a Mojiana e so provavelmente tipicos da administraco federal. A Pau-
Sorocabana: o nmero médio de empregados par quilorne- lista e uma das duas ünicas ferrovias de primera classe
tro de linha é maior na Sorocabana, o que poderia induzfr operadas e de propriedade de capital brasileiro, financeira-
A conf!rmaço da hipótese de ernpreguismo. Entretanto, mente bern sucedidas. Podemos duvidar que a administra-
quando observamos 0 segundo lndce, notamos que, na
Mojiana, a nümero de empregados por volume de trans- Tabela M. 4 - PARTICIPAcAO DA DESPESA DE PESSOAL NO
porte. realizado é bastante superior. Conclulmos, portanto, "TOTAL DA DESPESA DE OUSTEIO
(Valores percentuals inédios para o perlodo)
que a Mojiana, par apresentar densidade de tráego rela-
tivarnente baixa, pode subsistir corn pequeno ntrnero de Despesas de pessoal/Desp. total (%)
empregados par qui]ômetro de linha; porérn, esse minimo Paulista Mojian.a, Sorocabana
já e suficiente para fazer a relaço entre niimero de em-
pregados e volume de transporte ser a mais elevada. 1900-05 64,56 63,38(1)
A mesma hipótese dá margern a outro teste. A Tabela 1906-10 62,38 63,64
111.4 contérn a evidência que vem confirmar nossas con- 1911-15 61,72 59,27
clusöes anterores: registra-se ai a participaco percentual 1916-20 58,09 59,74
das despesas corn pessoal no total da despesa de custeio 1921-25 50,13 50,53 44,04(2)
das ferrovias. Mais uma vez, na Sorocabana, os gastos corn 1926-30 61,66 48,18 47,67
pessoal representam parcela menor do que na Paulista 1931-35 65,54 57,28 52,99
mesmo nos anos posteriores a passagem da Sorocabana 1936-40 63,21 56,05 51,44
para a administracão do Estado de So Paulo. Da mesma
forma, tambem na Mojiana os gastos corn pessoal absor- Obs.: (1) N5o disponlvel o daclo de 1904 para a Companhia Mo-
vern parcela malor da despesa total do que na Sorocabana. jlana. (2) Para a Sorocabana Loram calculados Os valores a partir
Ha, portanto, evidência aclicional de que a administrac5o dc 1923 quando se estabelece a admlnistracãO. estatal (do Estado
estatal das ferrovias no leva necessariamente ao empre- dc São Paulo) na empresa.
guismo - ou, no rninmo, que se ha ernpregusmo, este no
Se relete de forma nitida na análise dos dados empiri- ço da Paulista fosse satisfatória na Central a menos que
cos. (19) as tarif as para a tráfego suburbano aumentassem radical-
A evidência acima nos leva a concluir que as argurnen- inente." (20)
tos. sobre a ine:ficiência administrativa do Estado coma 0 que podemos induzir do trecho acirna é que a hipótese
empresário no so confirmados no caso estudado. Taivez da ineficiênca ernpresarial do Estado surgia como prolon-
gamento do caso da Central do Brasil em que, talvez, hou-
vesse motivos para aceitarmos a hipótese. Porérn, na pro-
(19) Também a Revista Brasil Ferro-Carrl conflrmava esse pria Central, a razo dos deficits era maLs profunda; dal
ponto de vista áo. ressaltar que 'Apesar do excelente funclonalis- Duncan admitir que o padräo administrativo cia Paulista
mo têcnlco e admlnistrativo da. E. F. Sorocabana, 'a s1tuaäo
atual. . ." Brasil Ferro-Carril, Ano XXV, 15 de agosto de 1934, fl.0
.814, p. 53. 00): Vufican 3. S. Op. cit., p 146.
aplicado a, Central nAt, elirninaria Os problemas financel- de empregados das ferroviasse dA, pflnolpalñiénte, no sêtbr
ros desta, a menos que houvesse mudanças nas tartrag. Vol- de tráfego. (21)
tamos, dessa forma, A primeira hipótese diretriz deste As despesas de locomocAo e traçAo tambéin apresentarn-
trabalho: o declInlo da importAncia das ferrovias e de sua -se estreitamente correlaclonadas corn o:vd1urne de tráfe-
rentabilldade situa-se ao nhvel das condiçöes de tráf ego. go: consistindo de gastos com 0 material necessário a tra-
Este aspecto seth, em seguida, objeto de discussAo especi- çAo dos trens (principalmente combustivel) e corn os salá-
fica que procura estabelecer relaçöes entre o tráfego e o rios do pessoal responsável por conduzir e conservar o ma-
nivel das despesas das ferrovias. terial (locomotivas e vagöes), é possivel reduzir esses gastos
quando o volume de tráfego declina.
CONDIçOES DO TRAFEGO E EF[TOS SOME A DESPFA Estas notas iniciaig devem ser completadas corn outras
referentes a relaçâo entre custos e densidade de trâfego.
Para tanto, nos. baseamos em Pedro Cipollari:
Identificados os condicionantes da despesa cabe estudar "Grande parcela do equfpamento de transportes e prin.-
as relaçôes entre o tráfego e o nIvel de despesa. Este as. cipalmente o leito da estrada so indivisiveis, no sentido de
pecto parece-nos importante pelas caracteristicas determi- que reduçôes na quantidade de servicos prestados no sig-
nantes dos custos das ferrovias. A contabilidade das empre- nificam reducóes proporcionais na utilizaço de fatores de
sas dividia seus custos em despesas: 1. de administraçAo; 2. produçAo. Na maioria das vezes, pequenas reduç6es na
de conservaäo da linha; 3. de trafego e 4. de locomoço e quantidade de serviços produzidos nào envolvem qualquer
traço. Sua anâlise sugere as seguintes relaçöes: poupanca no pagarnento de recursos produtivos." (22)
a) As despesas rotuladas como de admin1straçAo e de Mostra-se, também, pertinente relevar o problema da
conservaçAo da linha devem ser menos sensiv&s as varia- densidade de trAfego:
çôes no volume de tráfego; as de administraçäo porque de- "A densidade de tráfego, isto é, a quantidade de tonela-
pendem mais do apareiho administrativo instalado e que das que transitam num certo periodo de tempo, em deter-
nAo pode ser eliminado a curto prazo; por outro lado, as minado trecho de estrada, tern influência sobre o custo de
despesas de conservaço da linha apresentam certa Inde- duas formas. Quando a densidade 6 elevada, épossIvelapa-
pendência do tráfego porque o desgaste da linha férrea se recer especializacAo. Em outras palavras, determ4nados
faz, muito mais pelo tempo (trilhos e dormentes deteria- itens passam a representar parcela Importante do tráfego
rados, necessklade de substituir o lastro). Portanto, quanto entre dots terminals, diminuindo assm oS custos. Da mes-
menor o tráfego, malor o peso que este grupo de despesas ma forma, quanto mals toneladas passarem nurn trecho
assume no total. dentro de urn perlodo, o custo de conservaçAo da via, por
b) As despesas de tráfego, locomoçAo e traçâo correla-
cionam-se mais diretamente corn o volume de tráfego. (21) Tomemos por exemplo, Paulista e Mojiana entre 1928 e
As despesas corn o rOtulo de Tráfego dizem respeito aos 1931.
custos necessárjos aos trabaihos de embarque e desembar- Nimero de Pauiista Mojiaa
que, armazenagem de mercadorias, manutençAo de esta- empregados 1928 1931 1928 1931
côes. Importa notar que o gasto no trá!ego compôe-se, bash-
camente, de salários: na medida em que os contratos de Tráfego 4.550 3.568 2.942 2.642
trabaiho permitam a dispensa de empregados sem dificul- Total 12,406 9.675 6.310 6.120
dades, a possibilidade de ajustar as despesas ao nivel de trA- Como vemos, grande parte da reduco do total do empregados
fego torna-se bastante grande. E, efetivamente, isso ocor- se concentra na seçäo de tráfego.
re: o côrnputo do nilmero de empregados por setores nos (22) Oirrn1Iri, P—ro. 0 'oroblema ferrovidrio no Brasil, FCEA-
leva a concluir que, nos anos de crise, a reducAo do nümero -USP, S. Paulo, 1968, P. 83.

140 141
eemp1o, no aumenta proporcionalmente ao acréscimo da origem do comportamento diverso de Paulisa, Mojiana e
densidade. Mas, por outro lado, 0 aumento da densidade Sorocabana Entretanto, essa evicléncia é mais explorada
de tráfego pode contribuir para causar ineficências. Nor na sego seguinte deste capitulo.
malmente, nos trechos de tráf ego denso, aparecem corn
maior freqüência picos que em dados momentos congestici- Tabela III. 5 - DENSIDADE DE TAFEGO
nam a linha, causam reduçães de velocidade e, portanto, (1.000 ton/km anuais por quilOmetro de linha; mdla para o
aumento no custo." (28) perioclo).
Reconhec.da a existéncia de relaçöes entre o volume de
tráfego e os custos operacionais, cabe clef inir alguns crité- Anos Paulista Mojiana Sorocabana
rios que nos auxillem a identificar, nos casos em estudo, 1900/05 114,09 68,12 75,85
tais relaçôes. 1906/10 163,08 81,42 84,78
O prime. ro critério énvolve o Indice chamado de Densi- 1911/15 229,69 87,52 95,36
dade de Tráfego: corresponde ao total de serviços de trans- 1916/20 286,07 93,06 146,14
porte realizados (em toneladas-quilômetros) dividido pela 1921/25 280,80 98,77 169,09
1926/30 338,83 125,52 261,81
extensão da linha férrea. Tal mndice procura mostrar o 1931/35 346,57 114,79 291,55
quanto está sendo utilizada a linha férrea por perlodo de 1936/40 464,94 157,97 454,00
tempo consiclerado. Em termos de custos, podemos admitir
que quanto maior a densidade de tráfego, major será a efi- Obs.: Por não serem disporveis, no cálculo das médiasanuals não
ciência potencal da ferrovia no uso de seus recursos (corn foram computados Os dados dos seguintes anos: Mojiana: 1900,
1917, 1924, 1925 e 1939; Sorocabana: 1900, 1901, 1902 e 1906.
a ressalva feita anteriormente sobre o congestionamento Fonte: Ver Ap5ndice.
da linha).
Os dados de Densidade de Tráfego estão contidos na
Tabela 111.5. Os aspectos dignos de nota reerem-se, em Outro Indice utilizado é a Disthncia Media percorrida
primeiro lugar, a tendência crescente do Indice no tempo: por tonelada e mercadorias transportadas. A idéia 1mph-
as exceçöes aparecem apenas nos anos de crise (da Primei- cita na análise desse Indice é de que 0 custo do transporte
ra Guerra Mundial e da Grande Depresso). A concluso tende a diminuir, em media, corn o aumento da distância
xiecessária da série observada é de que näo ha declmnio abso- percorrida. Dessa forma, uma carga transportada por Ion-
luto da densidade de tráfego: portanto, tal fato no pode. ga distância traria, para a empresa ferroviária, urn major
na ser invocado para explicar a menor rentabilidade das retorno.
empresas. 0 Induce de Distância Media encontra-se na Tabela
o segundo aspecto refere-se a comparaço da densidade 111.6. Aqui, as diferencas se fazem mais claras: curiosa-
de tráfego entre as empresas: a Mojiana, jâ na segunda rnente, a Mojiana apresenta reduço, em termos absolu-
década deste século, começa a manifestar a relativa debili- tos, na distância media percorrida. Tal fato denota mu-
dade da zona por eia servicla, enquanto a Paulista man.- dança no tipo de servico fornecido: o transporte pode estar
tern-se corn alto fndice de densidade de tráf ego; a Soro- sendo reahiado mais entre areas próximas, ou as zonas
cabana apresenta o crescimento mais significativo, espe mais distantes diminuem o embarque de mercaclonias. Na
cialmente no fim do periodo analisado quando chega a Paulista, o. mndice apresenta-se bastante estável a partir de
superar a própria Paulista. Tais diferenças já indicam a 1910, sem que se note tendência crescente. Somente na So-
rocabana a distância média cresce; tal fato talvez possa ser
explicada pela abertura, ainda na década de 1930, de novas
(23) Iaem, ibidem, p. 83. A obra de Cipollari, especialmente no zonas pioneiras na Alta Sorocabana.
Capltulo 4, "0 Custo Ferroviãrio", dá inclicacSes mais precisas
sobre as relaçOes discutidas. Baseamo-nos, em parte, nesse ca- Se a re1aço postulada entre distância media e custo
pitulo. . médlo for correta, então a Sorocabana estaria, particular-
142
Tabela III. 6- DISTANCIA MEDIA PEECORRIDA Tabela UI. 7- PESO MEDIO POR QUILOMETRO DE PERCUBSO
(Ton/km de transporte/ton de mercadorla; media Pt 0 perlodo)T (Ton./km de transporte/km de percurso; media anual para o
periodo)
Anos PauUsta Moicina Sorocabana
Anos Faulista Mojiana Sorocabana
) 1900/05 136,44 164,64 259,19
1906/10 173,30 158,75 242,33 44,18 26,51 39,59
1900/05
1911/15 195,81 136,58 221,38 57,22 29,17 39,40
1906/10
1916/20 236,91 142,65 286,17 39,65
1911/15 55,69 28,37
I 1921/25 199,85 143,64 280,18 1916/20 61,31 29,89 51,82
1. 1926/30 214,47 138,59 338,96 1921/25 55,52 35,11 47,68
1931/35 221,24 105,84 354,30
1935/40 1926/30 62,85 39,60 56,51
224,15 130,50 333,87 83,33
1931/35 69,14 39,58
1936/40 75,03 44,67 17,43
? Obs.: Dados não disponiveis e no computados no cálculo das
médias: Mojiaria; 1917, 1924, 1925 e 1939; Sorocabana: 1900, 1901,
1902. 0b8.: Por näo serem disponiveis n5o foram computados os dados
Fonte Ver Apendice dos seguintes anos: Paulista: 1918, 1921 e 1933; Moflana: 1912,
1913, 1915, 1917, 1924, 1925, 1939 e 1940; Sorocabana: 1900 a 1904.
Fonte: ITem Apêndice.
mente na décacla de 30, ganhando em termos relativos da
Paulista e especialmente da Mojiana. o COEtCIENTE DE TRAFEGO E A RENTABILIDAD
Finalmente a ültima relaçâo explorada consta da Tabela POTENCIAL DAS FERROVIAS
111.7 e apresenta a media de toneladas transportadas por
quilômetro de percurso realizado (par trens). A base para o Coeficiente de Tráfego, Inclice desle cedo usado pelas
utilizar ease fndice é de que deve existir certo custo básco ferrovias, apresenta a razo entre a Despesa e a Recelta
pot quilômetro de percurso, de trens. Dessa forma, quanto derivadas exciusivamente das operacöes de transporte. No
malor a média de toneladas transportadas, malor deve ser Capitulo II deste trabaiho procuramos estudar a Receita
o retorno proveniente desse serviço. (24) das ferrovias e, neste, a Despesa. Desse modo, ao observar-
A observaço dos dados nos encaminha, no'cramente, a con- mos o coeficiente de tráfego devemos ter em mente os fato-.
cluir que a Mojiana mais sofre corn a relativa estagnaç o res que explicavam as variaçöes da receita e da despesa.
no volume médlo de toneladas transportadas e corn os Nesse sentido, esta seçâo nada acrescenta ao que Já fol
niveis especialmente baixos de toneladas por quilômetro de estudado. Entretanto, 0 tratamento especial do coeficiente
percurso. Na PauJ.ista e na Sorocabana, o major peso pot de tráfego se justifica, pois ele nos traz a perspectiva main
quilômetro percorrido pode ter possibilitado maior coefi- nitida do declinio da rentabilidade das ferrovias.
ciente de tráfego, ou seja, major saldo da receita sobre as E óbvio que, para empresas ferroviárias, o saldo da re-
despesas do trâfego. ceita sobre a despesa das operaçöes de trátego constitul a
principal (e talvez a ünica) fonte de renda. Assimn, a ren-
tabilidade potencial das ferrovias flea limitada pelo saldo
(24) Tal custo básico no precisa necessariamente ser uixo; do tráfego (ou, sob outra forma, do coeficiente de tráfego).
pode varlar conforme o total do percurso a ser efetuado, do nü-
mero de carros e vagOes que compOe o trem, do prOprio trecho a Os valores do coeficiente de tráfego das trés estradas do
ser percorrido, ferro encontra-se na Tabela 111.8.
144 . . 145
Tabela III. 8 -- COFICIENTE DE TRAFEGO (RELAçAO DES. crise ligada ao declInlo do algodo em Sorocaba se mani-
PESA/RECEfl'A) festa no alto valor do coeficiente de tráfego. Corn base em
(méLia anual para o perlodo) dados anuais, de 66 anos observados, apenas cinco apre-
sentam coeficiente de tráfego inferior a 501yo
Anos Paulista Mojiana Sorocabana Dessa forma, a análise do coeficiente de trafego vern con-
firmar o antes estabelecido. Se tomarmos o percentual de
1876/80 37,576 55,488 89,933 café transportado pelas ferrovias, veremos que seu declinio
1881/85 39,109 52,473 77,721 implica em malor coeficiente de tráfego. 0 motivo para tal
1886/90 36,981 56,476 62,530 mecanismo se encontra na diferença de tarifas entre 0 café
1891/95 44,496 76,065 59,853 e as outras mercadorias. As mercadorias que vérn substituir
1896/900 43,862 62,181 56,591 o café levam a mesma ou maior despesa (se a especializa-
1901/05 44,628 54,004 66,447 cão for menor) corn receita menor do que a do café. Desse
1906/10 40,933 53,976 53,450 modo, 0 menor percentual de café (mesmo que se mante-
1911/15 45,877 58,239 52,386 nba Cu eleve o valor absoluto de café transportado), pro-
1916/20 56,128 60,063 65,943 voca 0 aumento do coeficiente de trafego.
1921/25 67,962 65,478 71,233, O segundo fator importante no determinar a rentabili-
1926/30 83,655 1 72,786 75,633 dade (ao atuar sobre a despesa) é a taxa de câmbio. Sua
1931/35 56,639 76,897 76,881 ação é evidente nos anos de 1892 e 1893 (quando 0 coefi-
1936/40 62,938 79,826 80,250 ciente de tráfego sobe, na Paulista, de 30 para 51 e 57;
na Mojiana de 60 para 87 e 97; e na Sorocabana de 50 para
Obs.: For näo serern disponivels no foram computados Os dados 66 e 74). Depois de 1893, adotada a tarifa cambial, 0 efeito
de: Mojiana: 1939;-Sorocabana:. 1901 e 1902. do câmbio se faz rnenos presente. Mesmo assirn, como
Fonte: Ver Apêridice.
vimos, continua sendo objeto das queixas dos dirigentes das
empresas ferroviárias. Além de seu peso na despesa de
custeio, o câmbio afetava as despesas financeiras (relati-
A prmeira conc1uso que emerge da análise do coefi- vas a empréstirnos externos), fato que observaremos no
ciente de tráfego 'e o aumento de seu valor no tempo, como, proximo capitulo.
de resto, devia ser esperado. Se tomarmos corno base a
década de 1880, o aumento do coeficiente de trâfego é supe-
rior a 257o. Evidentemente, o peso deste declInlo da renta-
bilkiade potencial das ferrovias se £az sentir, pois parcelas
cada vez maiores da receita eram absorvidas pelas despe-
sas necessárlas a própria operação.
A análise do coeficiente de tráfego mostra, em segundo
lugar, a clara diferença no c.omportamento das três fer-
rovias: a Paulista surge, invariaveirnente, como a de menor
coeficiente de trafego (0 que justifica a sua relativa pros-
peridade) . Para a Mojiana e a Sorocabana o •quadro se
mostra bern menos brithante: a Mojiana ainda alterna
fases de major rentabiliclade (ate o anode 1890 e entre
1900 e 1920) corn épocas criticas (a década de 1890 , e 08
anos posteriores a 1920). Para a Sorocabana praticarnente
näo existem fases longas. de prspéridade já o• inicio, a

i4 - L47
CAPtTULO IV
0 capital das ferrovias: crescimento e fonte
de finaneiainento

A possbilidade de, por melo do éstudo do capital das fer-


rovias, retomarmos alguns dos problemas antes analisa-
dos parece-nos justificar este eapitulo final. 0 desenvol-
vimento do capital ref lete, em parte, as perspectivas de
tumento de tráfego ou do avanço por zonas pioneras Mas,
além disso, o estudo do capital permite Identificar urn novO
fator explicativo das dificuldades por qtie passani as fer-
I

rovas: o encargo de juros è hiAottiftc6eg da dIvida (espe-


cialmente corn o exteriOr) 'influi pöclërosamOnte sobre a
rentabilidade efetiva das empresas Portanto, completamos,
desta forma, a análise dos fatorèS' determinantés do dec11-
nb das ferrovias.
Entretanto. as dificuldades concentu5 encontrádas
tratamento dos dados sobre capital (1 Iliultam a aicance
deste estudo. Apresentamos,: raidarnênte, this dificulda-
des.
Em primeiro lugar, a própria eseolha da variável repre-
sentativa do capital apresenta problemas. Teflos duas sé
ries alterriativas: no ativo, o custo das Jinbias férreas (in-
cluindo no so a linha mas também edificios, lnstalaçes e
material rodante); no passivo, a srie do capital propria-
mente dita que considera o capital integralizado em açôes
ou o capital autorizadô por assernbléia mesmo que não

(1) Lltilizamos aqui a conceito èmpresarial de capital, ou seja


0 concelto empregado na defin1ço contábil das empresas. No
pretendomos aqul colocar nenhuina coñotaco do capital como
relacao tie producfto.
149
tenha sdo totalmente integralizado). Como ha diferenças "Na instalaçao das ferrovias que servem as lavouras ca-
significativas entre as duas series, preferirnos utilizar am •feeiras, a participacao da iniciativa, tecnologia e capital
bas, procurando explicar a motivo da diferença. estrangeiro sâo de grande imp ortância (...). Uma das
0 problema mais grave quanto ao uso das duas series principals linhas, que percorre a primeira grande zona
surge porque so podemos contar corn valores norninaj (e produtora de café do planalto paulista, a Companhia Pau-
no reais). Tanto a série de custo das linhas quanto a de lista de Estradas de Ferro 6 de inciativa e capital locals,
capital foram construldas por meio da soma anual do precisamente de urn grupo de fazendeiros de Campinas,
montante gasto em cada conta. Por exemplo, se no ano de centro geográfico daquela zona.
1890 urna companhia gastasse 5.000.000$000 em linhas, A outra linha de especial importância, pois dá acesso
esse valor seria somaio 9 total da conta "Custo das Li- ao litoral, ligando Santos a Jundial, que é a 'porta' do
nhas" ate 0 ano anterior. Como a valor do mil-réis, entre- planalto cafeicultor, é a. Sao Paulo Railway, de iniciativa
tanto,.no Se znaii:tóm. estávèl no tempo, o "valor real" (em de Mauá, que conta corn os banqueiros ingleses seus as-
termos de equipameztos, trijhos, dormentes...) dos cinco sociaclos para levar adiante o . empreendirnento. A S.P.R.
ml contos de réls em 1890 é totalmente diferente do "valor será alias propriedade inglesa ate depois da Segunda Guer-
real" de outros cinco mil contos de réis, por exemplo, no ra MundiaL
ano 1889 urjoi 19OEL Par isso, a sentido quantitativo As demais ferrovias: salvo a D. Pedro II, depois Central
rigoroso das séries, dea de existir: seria urna temeridade do Brash, que é do Governo Imperial — SãO de iniciativa
realizar, qualqueri etimativa. corn base em tais dados. (2) e capital estrangeiros."()
.Dessa forma, ao utilizarmos os dados referentes ao capi
tal .das compah.ias ferroviárias procuramos concluir ape- 0 confronto dessa afirmativa corn as casos por nós estu-.
( rias a respeito; de,, fatos absolutamente evidentes. Embora
dados serve de ponto de partida para esta nota sabre a
•menos .precisas, as, conclusöes. ganham em segurança. propriedade das ferrovias, que encerra a capitulo.
Alérn do A , expiostoi.;o . presente capitulo procura explo-
ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO DO CAPITAL
rar a polmica a. respeito do dorninlo do capital estran- DAS FERROVIAS
geiro solDre as ferrqvias brasileiias. Em parte: .tal domlnlo I.
pode faz?r-e, sertir.'por meio; la lependência de emprés- Acompanhar o desenvolvimento do capital das ferrovias
timos. Este aspecto é examinado junto corn os efeitos do significa, quase sempre, observar a construçâo de prololi-
erviço da.ciiyida sbre a:reitabii.dade; Porém, a polêrnica gamen.tos e novos ramais da linha. Tal fato decorre da
se torna, mais acirrada: face • a propriedade das . ferrovias mecanica adotada pelas emprèsas: as aumentos de capital
pelo capitaL strangeiro. Cao Prado Junior traca as linhas (autorizados Cu realizados) se destinm àqueles novos em-
gerais do problema.. . . preendimentos. Nos vinte anos iniciais, essa mecânica foi
imposta pelos contratos corn o Governo sobre "Garantia
(2) :Adolf .APlnto cthflrmaa exist.ência desse problema quan- de Juros". .. . . . .
do. procura Justff1or. a .aumento de taIf as: "E de notar que a
crise, que asimmnflesava feria . em chelo as empresas de • A Garantia de Juros estabelecia, caso a renda lIqulda
transpore 1lo sO desvalorjzando-nos a recelta como desvalo- da ferrovfa nâo fosse suficiente para distribuir dividendos
rizartdo-lhêS'o capital. (.. .)as açöes deestradas de ferro, apesar •de ? To ao anO; que '0 governo completaria' a renda para
de representarem dlnheirb P.mpregado a câmbio médiô no In- chégar àquéle nIvel. (4) Entretanto, o capital sobre o qual.
(ferior a taa .de p0.. dinleiros, por nill-réls,
o sO no po.dlam
ter sua cotaçao acompanhauck, a mesma alta geral do preço das
coisas, conic se achavam ameaçadas de näo perceber renda al- (3) Prado Jnior, Cab. HistOria e: Desenvolvimento. Editora
gUm,..memo par p capital noxrijnalqie ent.o representavam, .Erasljiense, São Paulo, 1972, p. 61 (Obs.: Grifo nosso).
redusido aum vlor. qae.pouco antes tiveraim" Pinto,
A..., flzstpza..cl,a Viaç&. P2bUc - ' (4) ,0 percentual podia variar conforme 0 contrato. No' caso
rn Sao Paulo (Brasil), Vanor- das ferrovias em estudo, a taxa de 7% a.a. fol a estabelecida;
den, So Paulo, 1905, p. 160. - destes 7% o Governo Imperial "garantia" 5010 e 0 Provincial 2%,

Ap 151
gdrava a Garantla de Juros tinha de ser reconhecido pelo rnlna a Garantia de Juros para Os nov08 contratos(8) e ao
Governo: para cada trecho de linha era definido urn de- mesmo tempo procura dimlnuir o controle estatal sobre
terrn1nado valor (em mil-réls) sobre a qual se contava o as ferrovias. (9)
percentuai de 7%. Desta forma, aumentos de capital, en- Todavia, apesar tie não mats vigorar a garantia de juros,,
quanto vigora a Garantia de Juros, representam sempre O signtficado dos aumentos de capital parece continuar o
contratos reaVzados corn o Governo para construir novos mesmo. Por Isso, nosso estudo do capital é feito, para todo
trechos de linha. o perIodo, corn base na relaçAo irilcialmente apresentada:
No entanto, a regime de Garantia do Juros fot sendo urn acréscimo no capital tern a objetivo de construir novo
gradativamente ellminado. Os primeiros interessados nessa prolongamentos ou ramais.
mudança eram as próprios dirigentes de ferrovias, pots: Sob tal perspectiva podemos observar, nas Tabelas IV. 1
"a medida que a estrada do ferro ganha a confiança do e IV. 2, o desenvolvimento do capital e do custo das linhas
fazendeiros e capitalistas, vat dspensando, gradativamen-
te, os favores e Os privilegios ate 0 regime de liberdade da Paulista e da Mojiana. (10) 0 primeiro aspecto relevante
que caracteriza a ültirna fase." () Este é, entretanto, ape- diz respeito ao I ato de que o custo das linhas supera, na
nas urn aspecto do problema: os contratos de garantia de malor parte dos anos, o capital (realizado em açöes ou
juros estabeleciam também que, da renda llquida superior mesmo a autorizado). Explica-se tal duferença pela existên-
a 9% do capital autorizado, metade seria destinado aô Go- cia de empréstimos que permitiam adiantar as investimen-
verno. Esta cláusula visava, em parte, o reembolso dos juros tos (e, portanto, aumentar o custo da linha) antes tie rea-
pagos polo Governo as ferrovias; porém, como nâo havia
urn 14mite ao seu funcionamento, as ferrovias nassaram a (8) As ferrovias que tinham contratos de garantia de juros an-
restituir ao Governo rnais do que haviam recebido na fase teriores a 1892 continuam a gozar de seus direitos. De urn mode
de baixos rendirnentos. E c1aro, portanto, a motivo pelo geral, todas as ferrovias fora de So Paulo continuavam atnda
a obter recursos do Governo pois sua renda não era suficlente
qual as ferrovias tinham lnteresse em "desistir" da Ga- para distribuir dividendos de 7% a.a. No começo do século XX
rantia de Juros. a maior parte dessas estradas to! encampada (justamente para
tlrar do governo o encargo da Garantia de Juros), e posterlor-
A Companhia Paulista, por contrato corn o Governo da mente arrendada.
Provinca em 12 de junho de 1877 inicia a nova fase. (6) (9) 0 resultado dessa let parece ter sldo a de reiforçar o mo
Mais tarde, Mojiana e Sorocabana também desistem da nopólio das grandes empresas como conseqiXncla da politica de
Garantia de Juros das linhas estabelecidas par contrato liberdade empresarial determinada pela let. Pelo menos, asslrn
pensa Pereira da Silva: "Para coroar a obra de desatlnos em ma-
corn o Governo do São Paulo. () térla de viacão férrea, veto uma let da administracAo republi-
Além do Interesse das Companhias em desistirem da cana interpor-Se ao progresso em urn dos mats futurosos Es-
tados, aquele que no presente se tern avantaj ado a todos as au-
garantia de juros, a Governo Republicano também cam!- tros: a Estado de São Paulo.
nba no mesmo sentido. A let de 13 tie jurtho de 1892 eli- Todas as linhas construldas no Estado de São Paulo, no regime
da tel de concessées estäo mostrando que sO na dependêncla dl-
reta ou inthreta das companhias detentoras da grande zona
(5) Uattos, Odflon Noguelra de. "Evo1uço TIerrovIALrIa de 85o privileglada existente, podem ser construidas novas Urthas tér-
Paulo", in Anais do IX Congresso Brasileiro de Geografia, 1944, reas, corn seguranca.
P. 55& E é Isto que se chama o regime de llvre concorrêncla que alias.
(6) R. C. P. E. F. - 26 /8/1877; Tlpografia do Correlo PauUs-. fol sempre assim, acabou sempre no manopóllo dos mats esper-
tano. B.o Paulo, 1877. p. 27. tos, mats audazes ou menos escrupulosos. . .' Pereira da Silva,
(7) A Mojana abre mLo da garantia de Juros em 1888 quandó Clodoiniro. PolIticcz e Legis?acão de Estradas de Ferro, Volume I
uniflea a contabifidade da linha Carnpinas—MoJt-MlrIzn, da linha Tip. Laemmert, São Paulo, 1904, p. 693/4.
de RthelrAc, Preto e do Ramal da Penha (Itapira); a Sorôcaba- (10) Coma justificamos adiante, no caso da Sorocabana mos-
ha a f as quando da fusfto corn a Ituana em 1892. trou-se lmpraticãvel reconstruir essas series.

152 153
-31a
l

lizar ô capital em açôes. 0 volume e a natureza destes 03 CO


03
03 CD 03 03 CO 03 V 03 Co 03 ,-1 t-
0) 0) C) CO N 03 IC) 03 C- -i 03 03 • 0
CD 03 CD 03 .-i N CD '-I CD 03 09 C') CO
ernpréstimos sâo objeto de anállse especifica no tópico ri C) C') l C' 03 CD C) 03 CO N 03 CD Ii)
10 IC) CO 03 CO IC) N I N IC) Co CD
segiiinte deste capItulo. C)
0 segundo aspecto a observar e o proprio crescimento do .-4 4 CO C- CO IC) 03 C- C- IC) ,-I ••C• C3
- 03 CI) i 00 ri CO Co
capital. Apesar de não termos "valores reais" das series, as
te'ndênc!as mais significativas poclem 8cr apreendidas.
Taitô Paulista como na Mojiana, a conclusão da
linha inicial (Jundial—Campinas e Campinas—Moji-Mrim) 00 CO CD CO '-1 (3 L_
LO C') C) rI IC) IC) CO CO
seguem-se os prolongamentos ate Rio Claro e Ribeirão 03 C CO C Cl) ri 0) 00 IC)
Preto respectivamente. Por isso notamos o aumento de ca- I I CC- C COC)
I I 0) CO 03 CI) 03 03 N IC) Cl)
03 N C- CO CD 03CO
pital nas duas empresas: em 1874 na Paulista e em 1877 C Cl) CO 4 N
- 030300
na Mojiana. Na década de 1880 a mesma tendência se
inanifesta: a conquista de novas zonas pelas ferrovas cxi-
ge a busca de recursos para aumento do capital. No en-
tanto, o ritmo nesta década é bem mais lento na Paulista: 0
após desistir da linha de Rio Claro a Araraquara, ela se 0 M C- CO CO CO 03 0300 CD
03 '.4 '.4 0) 0) IC)
CO 0) 0-) CO -
Cl) 0) CI) If) C 03
W impedida de expandir suas linhas. A Mojiana, apOs con- I ICdsj; 00 0-,d4 C- .44 0303
C- C') N .LC) CO
cluir a linha ate Ribeirão Preto, continua a se expandir I CO 0)C- IC) C) IC) '-I C- 03 C- CO
rapidamente rumo a Minas Gerais: em 1886 asslna 0 con- riCo CI) 0) 03 CO 03 CO C- C-
- •N -, C'-)
trato para construlr a linha do Rio Grande que parte de
Ribeirão Preto e atinge a fronteira de São Paulo em RI-
faina.
03 03 03 ,.4 03 0303 03 03 CD 03 03
A década seguinte — a de 1890 - Inverte Os papéis para 03 03 03 03 03 .44 03 03 03 03 If) 0303 CD
C- '-I C) CO
CD - 03 ' -1I C 0) CD 03
Paulista e Mojiana: a primeira, após comprar a Compa- 003 030303000 03
.41 .-s N CO .4' CD 0) CD cD N 0-) CI) if) .41
nhia Rio Claro abre a possibilidade de explorar as areas 0303LO ,.4 03030)03 03030 ,-i 9
CO C') CO C .4l 03.40C 030303 00
do Oeste paulista; a Mojiana, entretanto, já esgotou 0 ,-I r- .-I .41 CO Cl.0) CO 0) CO 0) Of)
'.4 0-) 0-)
potencial na zona que the era reservada; por isso procura
novos empreendimentos em Minas (conclui a linha ate
Araguari em 1896).
Esta década apresenta ainda dois problemas importan- C) 10 Cl) IC) 00 IC) Cl) .4 .44 t. Cl) CI) 0) C-
if) C) if4 CD ,-4 C- .-t CI) 0) .44 C') .-4 C') '-I -
tes. Dc inlcio, devemos notar que se caracteriza pela infla- CO C- C-j) Co 03 CO CO

ão decorrente da nova poiltica monetária. Tal fato nos -1CD 0) 03 C- -oji 0- 03 if) c CO CI) U) a 03
CO .-I C) CO CO N CO C') CD 0) CD 03 CC) ,-4 C-)
- CO -I CO .44 C- Cq .44 0') 0) 03 0') CO
'obriga a ponderar Os valores absolutos do acréscimo de
COCO CO 0) 00
capital: urn aumento de 10.000.0 00$000 após 1892 flãO -I C') if' if' IC)
tern o neàrno significado real (em termos dé. equip amen-
•tos). que o mesmo acréscimo uma década antes. Portanto, Se
•ha nos anos 90 sensIvel aumento no capital nominal das
ernpresas, do ponto de vista do capital fislco 0 arscimo C') 03 CD If) CD If) 03 U) CD CL) CD IL) CD IC) CD
flâo se dá na proporção sugerida pelos valores monetarios 03 CO Co CO CO CO C) 0) 0) 0) C) C) C) 0)0)
.4 '.1 .4 r4 '.4 .-i '-' ,-( '.4 ,-I p.4 -1 .-4 .-i

154
• '-
1-4
N
tCCto
CO C) C) Co o segundo problema da decada de 1890 é a reducão do
C) N to C) C) C) C) C)
capital autorizado da Mojiana.(11) 0 aumento de capital
rd o0ooc9ec1
C C) (0 C) C) C) C) para 80 mil cantos de réis tivera como objetivo realizar os
C CS3
estudos e construir nova linha que llgasse a porto de San-
C' Co Co Co Co
tos ao Interior. 0 fracassO desta iniciativa logo é reconhe-
0
cido. ?or urn lado, a traçado proposto pela Mojiana Lena
a privilégic de zona da São Paulo Railway, que logo con-
testa a pretensâo da Mojiana. Porém, além do problema
.2 03
0 Z P. to N N 0) N CO Co .fl C)
legal, fracassa a aumento de capital pela própria dificul-
dade de obter Os recursos necessánios para tanto. Assim
o Co Co & Co Co C) N CO viam o problema, os diretores da Companhia:
o CoC)l•VNC)
xd
Co ' to
C)
to
"Ora, tendo sido aumentado o capital, por deliberac.o
0 da Assembléla Geral, as respectivas açôes deveriam ser,
C) necessanlamente, subscnitas pelos senhores acionistas, cum-
P.
prindo assim, o preceito do Art. 7•6 dos Estatutas.
0
Mas, par motivos de diferentes ordens, todos justificados
) C)
pela medonha crise econômica que sobressaltandO a espI-
C) C) CO to to CO 1 C) N to
C) 0) C) N a) Co
C)
CO to 'd
C)
.-f CO CO CO CO U) CO U) N
rita pübl!co, devia, fatalmente, produzir tao perniclosos
I Co rd N
C) 0 (C)
CO
C)
,-
Co
CO
'd
(0 to C)
co 0) 0
C)
CC)
.-C
Co
10 efeitos, entre muitos, o de tentar abalar a confiança em
cn ,-IC) uma "Companhia,, que, em todos os tempos, ha de ser
C) considerada como a melbor colocacão de capital, pelas ga-
rantias que oferece, como será de fácil compreensãO, desde
que baja conhecimento pleno de todos as seus complexos
C) C)
C) C)
C)
C)
'0 C) C) C) '0 '0
C) C) C) 8
C) C) C) C) C) C) C) C)
negócos." (12) Como resultado, de 200.000 açôes, apenas
C)
'0 '0 '0 '0 '0 C) C) C) C) C 67.469 haviam sido subscritas três anos após a Assem-
V 44 C) C) C') CD C) C) C) C) '0
8 bléia ter autorizado o aumento de capital.
C)
A partir de então, a desenvolvimento do capital da Mo-
CO
CO CO N N Co co CO CQ CO CO
jiana mostra-se pouco brllhante: apenas em 1910 urn novo
aumento que restabelece a nIvel pretendido em 1893. Como,
ao mesmo tempo, a custo das linhas cresce continuarnente,
podemos concluir pela Incapacidade da Mojiana para cap-
tar recursos a urn de elevar a seu capital. Dessa forma,
OC)
C) C)
• to
N C)
CO C) N
0- 0- CO N 'd "N C')
CO
CO pelo endMdamentO, a Mojiana pode realizar as evetuaiS
C) C) CO CO CO C N a) Co CO CO

C) to to CO .-t c
,-4 C) N C') (11) Observe-se a diterenca existente na sérle de capital da
CO '4
co to C') 'd to
to
U) CO Co
N Q
N
N Companhia Paulista e da Companhia Mojiana: na primelra f az-se
o cômputo do capital realizado em açOes (ou seja, ages efeti-
vamente subscrltas e Integralizadas); na Mojiana reglstra-Se 0
capital autorizado pela Assexnbléia de Acionistas (mesmo antes
que ele esteja subscrito). Par Isso é possivel o decrOsclmO de ca-
CO0 C; pital no caso da Mojiana.
N Co CO C) C) C) C) ,-1 '-4 C') C) C') C) LC)'0
Co Co 'd4 (12) R. C. M. E. F. - 5/5/95, Tlpografla da Industrial de São
0)l 03
co4 Co4 Co CO4 CO C) C)
p.4 ,C) C)
p.4 C).4• P.4 ,-4 Paulo, 1895, p. 9/10.
157
novas construçôes e nielhoramentos que I necessita; entre-
"Não é possivel coiher a parte histórica das transac6es,
tanto, o encargo da divida crescente se Iaz sentir sobre a nem a sua ordem eronológica, e nem sequer a marcha dos
rentabilidade da empresa.
trabalhos e operaçOes da Companhia.
Portanto, para a Mojiana, a década de 1890 representa Concorre poderosamente para aumentar as dlficuldadés
o momento crItico de seu desenyolvjmento• sua zona natu- do exame o método confuso e aglomerado de parcelas e
ral já está completamente explorada; novas tentativas cifras da embruihada escrituração nas diversas contas de
(como a da linha para Santos) se vêem frustradas. Tern debentures." (13)
ela de se contentar corn o que já alcançara ate ento; o A mudança da diretoria parece pouco ter alterado o corn-
que, de resto, não representava potencial muito grande a portamento em relacäo ao sistema de contas. Após liqui-
ser explorado. Se o declinio absoluto da rentabifidade da dacão I orcada da Companhia, a relatório do representante
Mojiana so se verifica apOs 1930, as dificuldades malores ao do Governo Federal W. pouca margem a düvidas:
seu desenvolyimento já exam claras no começo deste sé- "A escrita de Sorocaba é urn acümulo de algarismas
cub. representando uma mistificação geral no fundo e na for-
Para a Paulista o futuro, visto de 1890 no se mostrava ma." (14)
dlfIcil como o da Mojiana. Conseguira, corn a compra da A partir de 1904, deixa de existir a contabilidade patri-
Rio Claro, a quase monopólio de amplas areas do Oeste monial. Para tanto, concorrem as mudanças na proprie-
Paulista, as quals sero exploradas no decorrer do século dade e na operacão da estrada.
XX. No entanto, também aqul as aumentos de capital "A 5 de agosto de 1904, a Governo da lJnião adquiriu,
mostram-se mais espaçaclos no tempo, denotando a pos- em leilão judicial, pela quantia da Rs. 60.000:000$000 as
sfvel dificuldade que a Paulista sentiria para captar recur- concessöes, linhas, material fixo, rodante e de consumo,
SOS. Ha a notar, ainda, a diferença entre o custo da Iinha existente nos depósitos, e mats bens pertencentes a Com-
e o capital: a Paulista lança mao de empréstimos externas panhia.
que cobrern aquela diferenca. Dessa forma, as dificuldades Dessa transação fat lavrada escritura püblica, no Te-
da Mojiana também Se faziam sentir, em menor grau, no souro Nacional, a 21 dc setembro, ficando a União inves-
caso da Paulista. tida na posse dos bens, adquiridos, desde essa data, e pas-
Cabe, finalmente, justificar a ausência da Sorocabana sando a corrér por sua conta a athninistração da Estra-
nos comentários acima. Se, em parte, a ausência decorre da." (15)
da dificulciade para a coleta de clados, o fato mais impor- Porém:
tante consiste da própria inexistência da conta de capital "Em principio de janeiro dc 1905,a União ajustou a
naquela estrada. venda da Estrada Sorocabana corn o Governo de São Pau-
lo, par ;E3.250.000, cperação que foi efetuada par escritu-
Ate 1903 a Estrada de Ferro Sorocabana fol uma corn- ra de 18 de janeiro de 1905, na qual ficou estabelecido que
panhia por ages. Como tal, consta de balanços a capital
autorizado. No entanto, as padröes administratvos e con- o Estado assumiria a gestão da Estrada a partir de 1.0 de
janeird de 1905." (10)
tábeis da Sorocabana pouco recomenclam a confianca nez-
ses daclos. Algumas referéncias bastam para compreender-
inos esses problemas. (23) R. E. F. S. 11/12/1882, Tip. a yap. Soares & Niemeyer,
Rio de Janeiro, 1882,,p. 5/6.
Em 1880, a diretoria presidida por Luis Mateus Maylas- (14) R. C. U. S. I. - 11/1/1902, Tipografla A Tribuna, Rio de,
ky e substitulcia por decisão da Assembléia Geral. 0 pare- Janeiro, 1902, P. 6.
cer da Comissão que examina 0 estado da Sorocabana afir- (15) R. E. F. S. - 1904, Tips a yap. Rosenhaim & Meyer, São
maya: Paulo, 1905, P. 3.
(16) Idem, p. 4.
158
i5
ma dferente da Paulista e da Mojiana. Desde que psá a...............
o Estado de Säo Paulo, por sua vez, contrata, a 22 de propriedade do Estado, Os recursos para aumentos de capl.
maio de 1907, a arrendamenta da Sorocabana corn Percival tal (consideradOs como os gastos necessários a novos equi-
Farquhar e Hector LegriX. (17) Esse fato cria uma dicoto- pameiitOS, linhas etc.) provêm do orçamento 4o.. -nstadQ.
mia: os Relatórios dos arrendatários no se preocuparn Dessa forma, a limitaçao de recursos seria esabelec1da%
corn o "capital" da empresa; e o Estado de São Paulo, em- não pelo estado do "mercado de capitals", mas pelo inte-
bora fosse 0 proprietário do patrirnônio da Sorocabana, não resse do Estadô em lnyestir na estrada e pelas dispoiibffl-
estabelece uma conta de capital em seus documentos (es- dades do Orçamento. Armando de Sales Qlivéiia,aà épocá
pecialmente no Relatório da Secretarki da Agricultura, Go- interventOr do Estado de São Paulo, já identifica a pro-
mércio e Obras PzZblicas a que a Sorocabana estava subor-
dinada). blema:
"Preocupado em conhecer a verdade a respito da siva-
Corn o final do arrendarnento, em 1919, ha tentativa no ção financeira cia Sorocabana, detern*iëi 0 levantamento
sentido de estimar o capital da Sorocabana (ainda que de séu capital, de modo a se poder esciarécer ó pae1 que
sornente pelo seu passivo): tevè a nossa grande Estrada na agravaçäo do déflëit que
110 capital da Sorocabana é constituldo pelo compromis- val aog poucos esgotándo as veias do o±çaméntci paulista.
so tornado pelo Estado corn o Dresdner Bank de 3.800.000 Os algarismos que you revelar provarn que esse papel fol
Libras esterlinas, para a sua aquisicão, em 105; pelo de dos mais importantes." (20) E conclui: . .
48.694.982$283 corn a Sorocabana Railway Company pela " evidente a necessidade de 8e separar A contabilidade
rescisão de seu contrato em 1919; e mais pelas despesas da Sorocabana da do TesourO. Nos futuros orçamefltos es-
feitas pelo Estado corn Os prolongamentos e meihoramen- taduais, a Estrada deverá entrar corn a estirnativa de sia
tos introduzidos na Estrada." (18) renda 1l4üid., consignando-Se rigorosamente as-verbas corn
Porém, tal tentativa não é seguida pelo estabelecimento (21)
que se satbsfará as necessidades de novas capitals"
de uma conta de capital; e, novamente em 1936, o mesmo Parece-nos, portanto, ficar clara a Impossibilidade de,
problems volta a tona:
"Nâo se pode, infelizmente, apreciar e ajuizar a situa- dentro deste trabaiho, identifIcarmOs. os acréç1fl19$
pital da Sorbcabana e sdus 6ondicionatieS Al$l1rs dpec-
cão econômica da Sorocabana como empresa industrial. tO dc àMètha dO ëiidividathëffth d quoestu
Faltam-nos elementos, porque a nossa contabilidade, mol- dafiió a suir, ifrèfn, ëth pane, a di1d&ae 1á
dada em normas arcaicas e aincla a operacäo simples de
receita e despesa, não está apareihada para fornecer a diitda.
Administração Os indices pelos quais se ajulze, corn preci-
são, a integral prosperidade econômica da Estrada. b"O i
No possui a nossa Contabilidade, devidamente escritu- OIát1Ô
rada, a sua conta patrimonial, que acreditamos girar em Ao tüdarthàs ö aeeoi nent8 do i&p1ai
torno de urn mitháo de contos." (19) élimös que parté Mghilkiiii4a, dos in,stimëñtOS era
Portanto, parece-nos impossivel tentar reconstruir a s& finanada
ci por empréstillios. Obviamellte, cdmô p'1the1ro
ne de capital da Sorocabana; cabe notar, contudo, que o objetivo desta secão deveinos colocar d fbrtha ñrnls preci-
AO me5tno
problema de capital na Sorocabana caracteriza-se de for- sé. Os arguirleiltos de apdid Lqueia hipóteSe.
tempo, cabe analisar em que medida tais empréstimO p0-
(11) Primeiro Traslaclo da Escritura de Arrendamento da Es-
diam comprometer a rentabilidade das ferrovias. .
trada de Ferro Sorocabana. Augusto Slquelra & C., São Paulo,
1907.
(18) R. E. F. S. 1920, Casa Vanorden, So Paulo, aid, p. 18. Ano XXV, 15/8/19g. 8141
(19) R. E. F. S. - 1936, Tlpografla Brasil de Rothschild & CIa., 66 flrcièii Ferro-CcXrril,
(21) Idem, p. 63.
São Paulo, 1937, p. XXIII.

160
Entretanto, O tema abre a perspectiva de penetrarmos I Entretanto, na medida,em .que.os1nvstimentos da Pau-
em outro problema: a dependência do capital estrangeiro. 'lista e da .Mojiana nascem, o problema de financiamento
Na verdade, os empréstimos mais importantes contrataclos também surge: por isso, já em finsda década- de 1870 e nas
pelas ferrovias so feitos corn bancos estrangeiros (qtlase décadas seguintes, o apelo ao empr6st4mo. externo surge
sempre ingleses). 0 estudo deste tipo de dependência -srve quando urn novo projeto é implementado.
como prelüdio a seçäo seguinte em que observainos' a' en- Cabe notar que, 'A mesma época (década de 1880), o
rada direta do capital estrangeiro nas ferrovias. setor cafeeiro observa mudança semeihante: a "banquel-
Procuremos, de inIclo, identlficar o momento em que se ro" do cafeicultor -era. -o comisário de café, em decorrên-
Iniciam os empréstimos e quals os fatores que os deter- cia de suas mültplas funçôes (exportador. de café, impor-
rninam. tador de produtos para Os fazendeiros). Entretanto, espe-
Podemos dizer que a incorporaço ini&al das empresas cialmente corn a Iibertaçâo dos escravos em 1888, as nece-
sidades de capital "de giro" para os fazendeiros ampiam
em estudo se fez praticamente sem o uso do crédlto. 0 caso -Se. 0 comissárib nâo tern, agora, recursos para fazer frente
nas evdente é o da Paulista: antes do inI&o da constru- As novas necessidades e, como resultadO, acaba cedendo seu
çâo já fora Integralizado o capital que, colocado na Casa lugar aos representantes -de casas importadoras e bancos
Mauá, passa a render juros para a Companhia. eEtrangeiros. (23)
A Mojiana toma empréstimo corn o Banco Mercantil de Se nos voltarmos agora para 0 sistemal ferroviário que
Santos ern 1873; porém, logo o resgata corn recursos pro- buscava recursos junto aos cafeicultores, devemos notar
venientes da segunda chamada de capital. que a década de 1880 marca forte declinio dopreco externo
A Sorocabana, entretanto, no consegue completar sua do café. Tal decllnbo, assoc1ado ao p6pr10 ftmo rápido
linha So Paulo_-Sorocaba sem usar o crédito: em 7 de de crescimento das ferrovias, déve ser responsável polo es-
abril de 1874 contral empréstimo corn o Deutsch Brasi- gotamento dos recursos :.passiveis de trãnsferência para as
lianische Bank no valor de 600.000$000. ferrovias. . .. .
'Eta hipótese - esgotamento dos rèdursos internos dà
Em primeira aproximaçâo, poclemos sugerir o porquê setor cafeeiro - tern a seu favor freqüentes referênciàs
desse comportamento d'ferenc!al: Paulista e Mojiana per- dos dirigentes sobre a escaez de.. ait1 t& Brasil.-(24)
tencem. a zona cafeeiras; na década de 1870, embora o pre- Além disso, a dificuldade encontrada para obter tals em-
co internacional do café decline, o Brasil consegue aumen- pestmos e a insisténcia das- Coipanhas,rfOrçaa bip&
tar seu volume de exportaçâo e receita de divisas. (22) Por tese 'de esgotamento dos recursos internos. Ao tentar, em
isso, no se viram Paulista e Mojiana impossibiIltadas de 1885,, empréstimo na Inglaterra,..a dirt91ada. Mojiana
captar Os recursos em suas próprias zonas. Porém, para a airmava que "D2fIcil era esta tarefa, porque mielizinente
Sorocabana, o momento se revelava adverso: os anos 70 já par alguns insucessos, os eniprés•timosjara as empresa
znarcam o declfnio. dos precos do algodo, a base eëónô-
mica da area de Sorocaba. Portanto, captar. recursos junto (23) Sobre 0 declinlo da lmportância dos. corniss6.rios ver, entre
A atividade algodoeira parece pouco viável naquele mo- outros depolmentos: Relatório. da Associaçao Cornercial :de São
'Paulo. Ano de 1895. Tlpografia da Industrial de S. Paulo, S. Paulo,
menta, e determina as dificuldades enfrentadas pela So- 1896, p. 54/5; Taunay, At onso de E. HistOria do Cafe no Brasil.
rocabana. Volume Duodécimo. Edição do Departamento Na.1onaI do Cafe,
Rio de Janeiro, 1941, p. 277. .. . . :
(24) Sobre a empréstlnio de 1878 da CompaiThla.Paullsta: "con-
(22) Delfim Netto, AntOnio. 0 Problemcz do Cafe no Brasil.-Fa- trato que nos garante o dinheiro por prazo largo por juro cO-
niodo - e que nos abre relaçôes corn o mercaclo europeu, onde
culdade de Econonfla e Admin1straco da US?, Sáo Paulo, 1.959 no Ihá escassez de capitals como no nosso pafs".. R. C. P. E. F. -
P. 16/8.
31/8/1878, Tlpografia do Correlo Pauljsano, São. Pulo, 1878, p. 9.
162 1 163
äfrI±i in tles±éditd na praça de Löndres, libas, o tomador ó recebia 90. ( - rev1sta- Brasil Ferro..
concorréñdö par &èté rëtiltádo algumas apreciaçöes me- Carrzl chama a atenção para 0 problema
atas cia iraptensa." (2) "Analisando o que tern aontcic10 ul namente .com a
As dficuldades para tomáda de empréstimos aparecem, emissão dos empréstimos, lançadQs por empiesas ferroviá-
as vezes, mais plaras. 0 exemplo da Mojiana, em 1893, traz rias, cujo tipo 101 profundameite ihate, chegando
A toná urn indiclô importante: mesmo em urn deles a hear 80 par perito ca émjssão em
"Desde, porém, que fol conhecdo em Londres a tim cu poder dos banqueiros em ssores, scm encontrar apesar de
apjicacão do eqpr6,8t1tho projetado, ó gru.po de banqueiros, tipo tao baixo, subseritores que nele depositassem con-
que tern graides capitais empregados na São PauJo Rail- hiança, somos naturalmente impelidos a, procurar desco-
way, recéándo que o ,prolongamento da Mojiana a Santos brir quais as razôes deste frapassp." ()
viesse prejuclicat os Interesses daquela empresa, lange de 0 diagnéstico e a terapêutica propostas pela revista pa-
favorêer aquela pretenäo, procurou criar dificuldades a recem-nos bastante simplistas. Após identificar a raiz do
sUa realização." () hracasso na presença de intermedários os banqueiros que
Ao md car a relacionamento dos banqueiros ingleses corn Iançam as debôntures no mercado europeu), conclui:
a São Paulo Railway, a dirétoria da Mojiana acentua a im- "For quo razäo nos colocarnos assm na dependência
portância que a linha çle Santos a Jundial tinha no slate- dos financeiros? Para que pagar-lhes t&p caro serviços que
in férroviârib dê Sã.b Paulo. Além de monopolizar o trans- nos são inteiramente desnécessários, serviços que nós mes-
re para o porto de Santos ha soLidarmedade de interes- mos podemos fazer? • .
ss entre a threco cia ferrovia mglesa e dos banqueiros que A resposta é simples: a razão par sue. recorremos a esses
financiam as outras Lerrovias de São Paulo A este proble- intermediãrios, reduz-se puramente a nossa ingeimiclade
ma voltamos na secão segu!nte em supor muito dificil e córnplicáda uma engrenagern
Inaporta notar, agora, que, se as dificuldadea não impe- que os financeiros se tm aplicado u embruihar para
diamatorna4ado ernprésthno, pelo menos implicavarn em afastar concorrentes, mas que s6b complicada na aparén-
condiçôes pouco vantajosas para as ferrovias A principal cia, as pecas fundamentals são simples, de compreensão
forma, .de: etthir,rma1or. retorno do empréstimo era pela extremamente fácil." (28)
±eduç 40 ipo" por exemp10 urn empréstimo feito ao Parece-nos, como dissernos, muito simpiista tanto o diag-
.tipo; 90 implica cjue, do compromisso no de 100 nOstico do problema quanto a terapêutica proposta. Antes
de mais nada, porque subestima 0 poder de monppOlio do
capital financeiro: se Os mecanismos cI . Jançarnento de
27/9/1885 Tip de drge Sek1er, São debentures são "de compreensão extremarnenté Mcii", cer-
PátUo, 1885. P. 11 Tmbiii a Paiiit'a enfiehtáva éssè t10 de tamente mais d'fIcil seria romper o iporop6i1q exerpido
problerna. "Jã, de.Qutojcio c10 Mceano, .0.. capita11ta lnglês não
pode th erdia procèdôncla. ou Improcedêncla do ruido q.ue the par banqueiros estabelecidos ha longo tempo. Par outro
chegara aos ouvidos, e corn bastante razAe e prudência dis quo lado, o problema do tipo do emprestlmo não aparecia, em
em suas (i1tlnias cornuracac6eg- ttanqüillzai vossa vldá in-
Y.
geral, de forma tao grave como a esbocadai no próprio
tna .e contal depois, coin O nOsso dlnhelro". R. C. P. E. F. ana de 1911, a Mojiana obtém empréstimo do London and
2518/1877, Tlpogrdfla d6. Corréld Páulitano, São Paulo, 1877, p. 26.
•(2&) R C; M. ,E.'.. F. - 2C7511894, Tip. da Ola. Industrial de São Brazilian Bank Limited (em Londres) ao tipo de 95. E. vi.-
Paulo, S dtüö 1894, : 617. Este erapréstimo acabou não bO dentemente, se coinpararmos corn a tipo de 86 (do emprés-
reahzando pots ".. tendo. srlo desenvolvimento a revolução no
Rio Grande, qiãaba1ou a êrédito' de todas as empresas brasi- timo obtido pela Mojiana em 1885) e corn o tipo de 20 (su-
leira naquela praa novas dlfjêuldades apareceram provenientes gerido pela revista Brasil Ferro-CarriZ no trecho acma
do legjtmnvn desconftança para emprego de capntai em urn Pals re-
Voiuononado conlo s .acha. a nos5b". R. C M. E. F. - 20/5/1894 (27) Brasil Ferro-Carril, dezembro de 1911, 24, p.1.
}pdala Industt}ãl-jth Sãd.Paijió; São Pauld, l894 P. 8: (28) Iclenr. p. 1/2. - -

16 a65
transcrito), no nos' parecTe que' se' situasse al 'o principal o problema a ser estudado é o de saber em que medida
problema da dependência do capital estrangeiro por meio os empréstimos comprometiam o desenvolvimentO futuro
de empréstlflios, pe10 menos para as ferrovias em estudo. das ferrovias ao exigirein parcelas da renda para paga-
Nosso especial interesse consiste em estudar, os reflexos mento de juros.
que tern, para a empresa, a necessidade- de. lancar mao As Tabelas IV. 1 e IV. 2 nos mostram os dados necessá-
de empréstimos. Para tanto, baseamo-nos nos casos de rios a análise.
Paulista e Mojiana. A Sorocabana, fazemos. ref erência pos- Para a Paulista, observamos relativo equillbrio na distri-.
teriormente. buiçao da renda entre pagamento de juros e dividendos.
Podemos, de in!cio, apresentar o quadio dos emprésti- A nao ser em alguns anos da década de 1890, no vemos
mos externos obtidos polat Côm.panhiaPaulista e pela Corn- - maior comprometimento dos dividendos por causa dos
panhia Mojiana. juros devidos. E a causa mais uma vez, das difiCuld?.dCS é
o declfnlo cambial:
Companhia Paulista: "A diferença para menos no saldo do ano de 1896 sobre
1878 - £150.000 O de 1895 é devida principalmenté a ter o servico da divida
1892 - £2.750.000 externa custado no ano de 1896, em conseqtiência da baixa
do câmbio, rs962 :753$086 mais do que eustara em
1922 - US4.000.000
1895." (29)
Companhia Mojiana: Portanto podemos admitir que, para a Paulista, Os em-
préstmos obtidos no representaraul carga insuportávei.
.1885 - £483.700 Talvez Duncan, ao avaliar o estado do transporte ferrovié.-
1911 - £2.500.000 rio no Brasil na década de 1950, tenha conseguido sinte-
1914 - £1.500.000 tizar corn clareZa
1927 - £800.000 "A Paulista e a mats bern administrada empresa ferro-
viária do Brash ( ... ). Ela foi a prhmeira estrada de ferro
a dernonstrar a economia, eficléncia e poupanca de divisas
A princIplo, pddemos admitir que Os empréstimos flo estrargeiraS resultantes da eletrificacao. A ferrovia fol tam-
sAo freqüentes. Entretanto, o fato de serem necessários bern a primeira no pals a introduzir vagöes de passageiros
para os pianos de construcao de novos ramais denota. a em ago." (80)
inexistência de qualquer forma de autofinanciarnentopeiäs: No caso da Mojiana, entretanto, os encargos derivados
empresas. Na Companhia Paulista, realiza-se o empréstimo dos empréstimos tornam-se absolutamente insuportáveis
de 1892 para a compra da Companhia Rio Claro que segula Na verdade, ate 1911, quando a Mojiana contral o emprés-
o rumo natural da Paulista, de Rio Claro em direco a timo de f2.500-000, seu estado tinha side pouco afetado
Sao Caries e Araraquara. 0 empréstimo de 1922 destinou-. pelas oscilaçes camblais: a divida externa não assumia, a
-se a eletrific.çäo da linha de Jundiaf a Campinas. essa epoca, a proporco da divida da Companhia Paulista.
Tanibém na Mojiana, os empréstimos tern destine, fixa-- Porém, depois de 1911, o crescente endividamento começa
do: em 1885, a construçâo da linha do RioGrande.. (deRl. a pesar na distribulçao da renda. Na década de 1920 a
beiräo Preto, ate, Igarapava); os de 1911 e 1914, além de quantia destinada ao pagamento de juros ultrapassa, quase
saldar a divida anterior, deviam. financiar. construçöes no.
Sul de Minas.'. .. . (29) R. C. P. E. F. - 30/6/1897, Tip. a vapor de Vanorden & -
Portanto, parece dare, qualquer esfôrço inalôr. dé: hives -. Cia. S5o Paulo, 1897, p. 6.
(30) Duncan, J. S. "The Improvement of Railroad Transport In
timento deflmia :' necessidade de obter empréstimos exter - nraztl" In Inter-American Economic Affairs, Vol. 8, 1954, 3,
nos para conseguir realiar tals objetivos. Washington (D. C), p. 87.
'.67
166
sempre, o total de dIsridendos. A partir da crise de 1930, a o major credor e o malor acionista da Sorocabana. Bin
Companhia dexa de pagar dividendos. A evidente, tal fato 1905, 0 Governo do Estado de São Paulo compra a Soroca-
nâo decorre apenas da carga representada pela divida ex- bana do Governo Federal: para tanto, contrai dIvida corn
terna: já vimos que a Mojiana fora a ferrovia mais afetada o Dresdner Bank no total de f-3.800,. 000. Ao arrendar, em
pelo declInlo do transporte após a crise. Porém, os 8ncar- 1907, a estrada a Farquhar e Legrft, estes assumem o ser-
gos da divida se fazem cada vez mais pesados pela própria viço da divida. (32)
politica adotada após a crise, p015 esta levava a continuas Em 1919 o arrendamento terruina e a Sorocabana volta
desvalorizaçôes da moeda nacional. a ser administrada pelo Estado de São Paulo. Entretanto,
Finalmente, a Sorocabana merece nossa atencao. 34 arlo- àgora, Os eventuais recursos necessários para a Sorocabana
tamos, anteriormente, a impraticabilidade de se reconsti- saem cia Tesouro do Estado. Em conseqüência, perdemos
tuir, corn os documentos disponiveis, as transaçóes finan- a possibilidade de avaliar em que inedida a estrada de ferro
ceiras da Sorocabana. De qualquer forma, os indIcios de- exigia meios nào gerados por sua prOpria atividade. No
monstram que, desde cedo, a Sorocabana teve serbs pro- entanto, a análise de Armando de Sales Oliveira indica,
blemas no sentido de cumprir os compromissos assumi- cláramente, que a Sorocabana absorvia volume significati-
dos. 19m 1875, ano da inauguracão cia linha ate Sorocaba, vo de recursos do Estado de São Paulo:
Os problemas financeiros já se faziam sentr. Para Pereira
da Silva, "começaram por essa época (marco de 1873) ... determinel a levantamento do capital cia Soroca-
os grandes embaraços financeiros da Companl$, que per- bana, de modo a se poder esclarecer o papel que teve a
duraram pelo espaco de 30 anos, e .conduzira-na m em noss. gran-de Estrada na agravacao do défcit que vai aos
1902 a 1iquidaço judicial." (51) poucos esgotando as veias do orçamento paulista." (33)
• A divida inicial de 600:000$000 em 1874, já ascendia a
2.600:000$000 dois anos depois. Para liquidar a divida corn o CAPITAL ESTRANGEIRO NA PAULISTA, NA MOJIAA B
O Deutsch Brasilianische Bank, a Sorocabana lanca, por
SOROCABANA
rneio do New London Brazilian Bank, 4.600 debentures de
50 libras ao tipo 85 em 1877. Interpretadas rigorosamente, as palavras de Calo Pra-
A manifesta incapacidade de a Sorocabana solver seus do, reproduzidas na introdução deste capitulo, nos leva-
compromissos apresenta-se pela necessidade de novo em- riam a concluir que, das ferrovias em estudo, Mojiana e
préstimo da ordem de 2.000.000$000 em 1880. As décadas Sorocabana seriam "de iniciativa e capital estrangeiro"
de 80 e 90 apenas agravam o estado financeiro da Soroca- ao passo que a Paulista fora organizada par fazendeiros da
bana: o aumento da densidade de trafego (corn o cafe região de Campinas. A hipótese impilcita naquela asserti-
depois de 1890) no é suficiente para contrapor-se, princi- ya impôe, portanto, a diretriz geral desta nota final.
palmente, a queda do valor da moeda nacional. 0 declinio A primeira ferrovia no sentido de Santos ao Oeste pau-
cambial dos anos 90 vinha aumentar a divida (em moeda lista fol a São Paulo Railway, de indiscutIvel propriedade
nacional) quando o saldo do tráfego se via tambrn dimi. inglesa ate 1946. A Companhia Paulista, seqüência natu-
nuldo. ral da S. P.R., fol organizada pelo capital nacbonal. Entre-.
A divida da Sorocabana em 1900 consistia de doi5 itens: tanto, tal fato so ocorre após Os dirigentes da companhia
em ouro: £326.500; em papel: 44.274.600$000.
Em 1902, o Governo Federal toma posse da Companhia,
ja que a Tesouro Nacional e o Banco da Repüblica cram (32) Primeiro traskido de Esoritura de Arrendamento da Es-
trada de Ferro Sorocabana, Augusto Siqueira & Cia., So Paulo,
(31) Pereira. cla Silva, Clodomiro, Poiltica e Legislacäo de Es- 1907, C1áus1a X. •
tradas de Ferro, Tip. Laeminert & Cia., Säo Paulo, 1904, p. 545. (33) Brasil Ferro-Carrll, Ano XXV, 15/8/1934, 814, P. P-
169 •169
inglesa recusarein construir a linha.f6rrea,de-Jundial a silfros. Par outro lado, o capital estrangeiro aparenté- -.
Campinas. mente-näo via problemas em aparecer como acionista das
Tal recusa abre a possibilidade de capitals naciollajs to ferrovias: tal fato se torna claro mats tarde; e reforça a
marem o encargo do empreendimento. 0 presidente da hipOtese de näo existirem "testas de fërro" nas décadas -
provincia, Saldanha Marinho, anuncia a organizaçâo da inicials.
Compaithia Paulista usando torn nacionalista: Resta fazer, ainda, referenda a urn problema: como era
"1 o primeiro exemplo desta ordem no Pals. E a prinieira - possfvel aos brasileiros reunirem capital suficiente para;
coinpanhia brasliefra que, em ponto tâoelevado, abstrai de na mesma época, incorporarem quatro ferrovias de rela-
capitals estranhos, e se liberta do jugo estrangeiro. 1 urn tiva importância como a Paulista, a Mojiana, a Sorocabana
fato de alcance enorme para o futuro." (34) e a Ituana? Na secão anterior já propusemos a resposta:
0 caso da Paulista, incorporada por capitais nacionais, a possibilidade deriva das condiçôes especiais do mercado
se repete corn Mojiana, Sorocabana e Ituana. Esta afirma- cafe&ro nos anos 70 do século passado. Apesar da crise
tiva tern por base, em primeiro lugar, . Os zseguidos teste- econômica (cujo marco é a grande depresso de 1873), o
munhos que afirmam o dominic dessas ferrovias por bra-. Brasil tern anipliado o sen mercado pela quebra da produ-
slleiros. () Entretanto, evidéncia mais. significativa, nos çäo de Java. Desta forma, a receita de divisas do café au-
surge ao compulsarmos as listas de acionistas das Compa- mentava ao mesmo tempo em que, por utilizar novas ter-
(36) Por meio destas listas, podemos observar , que,
ras, mats férteis, e pelo declInlo do custo de transporte,
no infcio, as ferrovias no contam, entre as acionistas de gracas as ferrovias, o lucro por unidade poderia manter-se
major importncia, corn grupos estrangeiros. Além de os . ou mesmo elevar-se. Portanto, a década de 1870 parece- -.
maiores acionistas serem individuos brasileiros, a caracte- reunir condicôes especais para o acirnulo de capitals' no
rlstica disperso do capital entre grande nümero de peque- - setor cafeeiro e sua transferência para as ferrovias.
nos acionistas parece diminuir a possibilidade do dominio Tal possibilidade logo se desfaz e criaa necessidade de
pelo capital estrangeiro, por inelo de representantes bra- empréstimos para financiar as novas investimentos, como
já caracterizamos. Ac mesmo tempo, os aumentos de capi-
(34) Debes, Cello, A Camlnlio do Qeste — Primeira Parte — tal se tornam mats problemáticos pela dificuidade de cap-
(1832-1869), Ind. Oral lea Bentivegna Editora, Sào Paulo, 1968
p.98. tar Os recursos internamente.
No mesmo sentido "nacionalista" apontam as observaçes de Apesar disso, cabe ressaltar mats uma vez que, ate a
nangel Pestana: "Ate agora parecla que os brasileiros eram in- primeira década do século xx, a capital estrangeiro xo-
capazes de, por si sos, sern capitals estrangeiros lazer alguma participa como proprietário importante de açôes de fer-
coisa nesse sentido (...).
0 lath memorável, entre nOs, da incorporaç5.o das Companhias rovias. Be alguma forma de dependência se estabelece, esta
Campineira e Ituana corn capitals prOprios sem recurso as praças é por zneio de empréstimos.
estrangeiras e nern mesmo as outras do pals prova que a pro- A década de 1910 marca radical mudanca neste quadro.
vincla de Säo Paulo ha de em breve pesar multo na balança po- E tal mudança e confirmada, também, aos dois niveis antes
utica do Irnpérlo". Rangel Pestana, F. "Assoclaçäo e progresso
in Gazeta de Campinas, 10/2/1870, p. 1. apresentados: as testernunhos indicam de forma clara a -
(35) Na nota anterior nos relerimos ao capital naciQnal na tendência de dominic do capital estrangeiro sobre as. três
Paulista e Ituana. Fernando de Azevedo vem confirmar 0 caso ferrovias em estudo; encontram contrapartida nas liStas de
da Paulista e acrescenta ao grupo a Mojiana: "Essas -duas es-
tradas (Paulista e Mojina), organizadas por iniclativa particular acionistas em que se ye claramente a presenca de grupos
dos paulistas, corn capitals nacionais e administradas -por- bras!- estrangefros.
leiros, sào as malores e as mats antigas:.." Azevedo, Fernando Coma explicar essa mudança ocorrida na década de
de. Urn trem corre para o Oeste, L. Martins Editora, So Paulo,
1950, p. 71. Sobre a Sorocabana, ver nota 10 do Capitulo I. 1910? A revista Brasil Ferro-CarriZ propôe que "nâo era
(36) No apêndice apresentamos sürnuias dos principals aCIQflis-. - este fato motivo para maiores surpresas nem comentários,
tas das frrovjas em alguns anos escoihidos. - téndo-se em consideraço, per urn lado, os efeitos da pro
17O 171
paganda. econôrnica que do Brasil Oe,vinha fazendo. e, por
outr lado, a siüacao dàs rnercados monetárjos do Vel.ho
mundo, ávdos por encoxltrarem Was e garantj thic otham
racoes ferrovjárias
empregar Os
e ten itoria flos quals pudessemexplob o já
capitals dlsponivejs (37) en-, ea'p1j por
sentarn fl mera ccxlndjdêflcia Mojlana e Pauijsta apre.
o se
Quando aprofundamos a analjse da tas déca de 1910, gru
tas estrngejros reveJame Coincidêentrada de acjonj3 baétante semelhantês Poréth, qüan jortárfo de ácibi,j
do docünetôs
Politica de certos grupo3 no ncias que sugere de
pea, acionistas passamos para as opinjöes régist
polio sentido de Paulo
Consegujr o mono
a iiEz u
podenio
terndeixar
do transporte ferroário em Sâo trust Este trust de acejtr a existêndia de
Bm prirneiro lugar, a Sorocabaa que já flguay
a SUa entêPercjv
a Percival Parqu e cOñj0 arre1 Farguhar
e IXector Legr (38)arrefl em 1907 ro da Sorocabanao
tarde, comecam a surgir Pou 0 longo trcho que abaixo transcreb
lista anos mais liar poder que Parquha permite ava-
das e da Mogian enipresas nas Iistas dos acionistas da Pau no Bras]] Ar1 deeneavolt,
CO1fl va E cth eusngocios
Pay$ Bas, Caisse Généraj de Rep o Banque de Paris et a ref'rênôta fazia quest0 raszi FerroCari
Banca Prancese e Italiana per l'Amerjca del et de Depots de di nuir suM de onde retlranios
te a Farguhar daquela adotada pela "lmpresa Post tXa, freñ-
Pouco znais tarcie a Brazji Railway Company eSud também o
e urn ni "
Equitable Trust of New misntIao d Egrup0
no entanto, o quadro tracadk chavj.
comprovar as York. Em princfpj0 flão h6 corno sobre os trnsportes. clMrà d dó
ligaço entre tais ernpresas Entretanto La "0 sndc0 Faquhar
ind1c08 que nos levam a acreditar na edstêncja de urn , vendo periga Os eu néi
flistas grupo por trâ5 das vajas empresas estrangeiras acio
11nico procura aiiancas que o torn em extraordinariament. mais
Poderoso, lflvulflerável; os aliados que
Ma: nclas at ferrovias Dojs exemp10 trazem a -los-a; proouva, consegul..
da Cornpaj cIaMojjanaAssernb]éja Geral de 28 de uho 1u ode proble
1911 de Passe dedoàoncentraco
quase totalfcjade sul do dMs lin'has feirovjárjas da
corrjo procurador, a urn so o Sr. Paulo Bozzano se qUaljfjc mos to poderos05 elemetosBrash, da que enfejxou em suas
traz1gej3. Ba e
tempo, de quatro ernpresas es- m futuro no remoto o gupo cheffado grande e pelos
DrospejdacIe,
Sr, Far-
P'rgncese e Italia
Sud, Banque per "America
Généraidel quIar e Pearson encontráá bem facUrnénte quë ]hes
Rêpor et de de Paris et des Pays Bas, Casse
Depots
de asSista nas dfficuldades da liora prese1te
CIO
exemplo ainda se re e Brazil Railway Company
o segun
nistas propern rnudancg Z1Oa Mojia: em 1913, sete ado- 0 frac0 cia aquIsiç0 da So Paulo Ra'Iway por eite
grup0 arrojado trouxè urna segür
adionistas. Antc5njo estatutos da Companha Os desjiusäo desfese em breve. aaree rñj a
Lobo (tuna ago); Santa Casa de Ao
Pinto
campina (3.479 acöes); Artur Levy (167 acoes); Joaquim
de Morals slndfcato Farquhar, Ue sur maj oderoso do que
(5 acôes). anterjorrnente, pouco faith. para quase cornDjetameflte
del SucI (20 acoe Banca Francese e Itaijana per absorver o nosg0 apareiharnento edonômjeo; alérn de aTu.
Banque de Paris et des Ps) Joaquim Villac (156 acöes) e 'nas ernpresas t1aciona, bern
ays Bas (100,000
acôes). (89) de certos servicos a cargo j4 pouco eguras a1iás; alérn
da tTnf0,
(37) Brasil FerroCarrji N.° 37, opini contra cula absorço a
15/1/1913 "0 azlo de 1912: plThllea epela
inglês constituldo 1flsurge v:io]entarnente aIén dO
(38) En- tern, que encontramos flOs? Leopoldjna Railway e Great g±'up
trada cie
Prime iro Traslado cia Escrjtuya de Arrendamto
Fei70 Wes-
1907, cia e- 0 $ndicato Farquar, ee s6, em campo
(39) R. C, Soroeana Aug0 Siquer & Cia., São Paulo,
Z F. do, agindo sern pehas, pairando livre, donilnan..
1914, p. 52/3rn A 27/6/1914 vasto
. teritórjo brasejro abe proietancio obre
68 Corjtra p, Lyro tod a
Propo8 foj aprovada: 14.262
votos a
CampIa
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pcderoso bnoténen 40 ) soi rnensa do Sou guänte
172
40) brasit Ferro.Carrti Au0 IT,
ábril de

173
A presenca do grupo Farquharparece, portanto, bern Apesar desta análIse.pouco profunda, duas conclöes
clara nas trés ferrovias em estudo e em grande nmero possfveis emergem da evidência. Primeira: nâo se pode
de outras empresas. 0 volume de referências sobre tal pre- considerar o avanço do grupo Farquhar coma mero refle-
• sença vem confirmar 0 que já se esboçava par observar as xo das condiçôes do mercado do capital europeu. A ampli-
listas de acionistas. (41) tude dos negóclos de Farquhar(44) denota a interesse de
Entretanto, sun permanência no se faz muito longa no criar prolundas raIzes nos mais diversos setores da eco-
caso da Companhia Paulista: a domfnio verificado na nomia. Segunda conclusâo: o fracassode Farquhar (polo
• década 1910-20, torna-se menos intenso no correr dos arias • menos corn a Brazil Railway Co.)' dove .ter decorrido do
20 e' desfaz-se na clécada de 1930, quando Farquhar, alias, próprio momenta e das ferrovias por elé dominadas. A em-
já se desligara da Brazil Railway. presa ferroviária no Brash - ressalva feita as ferrovias
Na Companhia Mojiana o capital estrangeiro permanece paulistas no máxlmo ate 1930 - poucas vezes representou
por mais tempo: por meio do Banque de Paris et des Pays investimento de alta rentabi]idade.
Bas e, mais tarde, pela Brazil Railway Company e Equita- Se as conclusôes acirna forem corretas, do imedlato nOvo
ble Trust de Nova York, ele consegue deter, em geral, 25% • problema se coloca: por que apenas em moniento já não
das açäes. Esse percentual cresce em relevância quando no- muito favorável o capital estrangeiro procura o dominlo
tamos as restantes 75% dispersas entre mais de mil ado- das ferroviás de São Paulo? E, de modo especial, par que a
nistas. Portanto, a possibilidade. de dominio da empresa São Paulo Railway, corn priOridade contratual para prolon-
fica patente. gar a linha de Jundiaf ate 0 Rio Claro, recusa-se a tomar
0, grupo, de Iniclo poderoso, acaba por fracassar em sun parte nos novos empreendirnentos?
atividãde empresarial. Rippy explica o declin1 0 do rendi- Parece-nos diflcil, dentrd desta nata final, encontrar
niento de ingleses no Brasil par meio' de suas llgaçôes corn respostas plenamente conclusivas. Entretanto, a evidéncia
Farquhar. pode indcar-nos certas possibilidades bastante plausiveis.
"Entre 1910 e 1913, entretanto, as ingleses investiram Cello Debes revela duas hipóteses:
imprudentemente em algumas das piramidais empresas "A São Paulo Railway contentara-se corn tocar Jundial,
ferroviárias de Percival Farquhar, de modo que a retorno nicleo onde as terras não mais se prestavam para a lavou-
médio anual nominal sabre o capital logo começou a ra. Reconheciarn seus mentores ser necessário segulr, polo
• cair." (42) menos, ate Campinas. Para mais distante, sem düvida,
o afastamento do grupo Farquhar das ferrovias em es- reputavam aconselhável prolongar a linha. Tanto que a
tudo é de fácil ldentificacão : a Sorocábana volta a ser ope- concéssäo que Me outorgara a Governo Imperial, assegura-.
rada pelo Governo do Estádo de São Paulo em 1919 quan-
do foi rescindido a contrato de arrendamento; no caso da
Paulista, ha a venda e transferência das açöes de empresas Railway Co. (Itima representante do grupo Farquhar). A Mo-
jiana, considerada pelo decreto entre aquelas companhlas, re-
do grupo para outras empresas ou individuos; e na Mo- clama e consegue a reconhecimento do Governo de que a Brazil
jiana, em que permanece por mais tempo, tern seu desapa- Railway Co. j& näo detlnha o controle actonário da MojianaL
recimento no fim da décáda de 1930. (48) CF. R. C. M. B. F. - 29/4/1941, Estab. Gráflco/Casa Livro Azul,
Campinas, 1941, p. 7/8.
(44) Farquhar näo se Ilmita 80 setor de transporte. A defesa
(41) Brasil .Ferro-Carril, Ano IV, 15/5/1913, ri.0 45, p. 158; Brasil dos pianos de Farquhar em outro setor - a exportaçAo de ml-
Ferro-Carril,.Ano IV, 15/9/1923, n.° 53, p. 405. nêrio de I erro por melo da Itabira Iron é felta por Pelaez, C. M.
(42) Rippy, J. F. "A Century and a Quarter of British Invest- • "Itabira Iron e a exportaço do mlnêrlo de ferro do Brash" in
ment In Brazil" In Inter-American Economic Affairs, Vol. 6, 1952, Revista Drasileira do Economia, vol. 24, n.° 4, out/dez. 1970. Tam-
fl.0 1, Washington (DC) p. 86/7. Mm conhecemos as ligaçes de Farquhar corn a Light e sua pro-
(43) 0 Decreto-Lei n.° 2436 de 22 de juiho de 1940 lncorporou sena em diversos portos e outras empresas de servlços püblicos
A Unifto os .bens de todas as companhias dependentes da Brazil • no Brasil.
:_174 1 175
-ihé1bridIe pat atingir a vila de Sâo Joäo do Rio
Claro. Por outro lado, o caráter monopolista da linha Santos a
• 1 Nobbtantë, o ing1ëses - quer fosse rea' a álegaçdo Jundial criou, para as outras empresas que dela depen-
difindiam de em Londres, arrefecera o mercado diam, obstáeulos ao seu desenvolvimento. Cozxio observa
Q èapitcds; quer poT que o trecho que construiran estava Pereira da Silva:
strategt&zmente locali2ado, tornando todos Os caminhos "0 sistema de tarifas, os valores das respectivas tabelas,
& i2teror para o litoral seus tributdrios inevitdveis desin- o tráfego mütuo, a construcão de novas linhas de pene-
teressaram se por dilatar suas llnhas." (46) tração, tudo constitui uma cadeia de resistencia singular,
b rithefro argumento - o árrefecimènto do mercadó que exige uma solidariedade permanente entre a São Paulo
dë capitals em Londres - merece alguma qualificaçao. Railway e toda a rede complementar da grande zona que
N.d ha düvida que, a partir da Grande Depressäo de Ihe é tributâria.
1873, verifica-se a tendéncia de retorno dos capitals para Os problemas serbs a que pode dar lugar a dependên-
a Inglaterra. (46) Dessa forma, nos meados da década dos cia econômca de toda a zona industrial do Estado para
10, seria dii leil imaginar o investimento inglês nas fërro- corn a São Paulo Railway, são muito mais importantes do
vias paulistas. Entretanto, ate 1873, ha grande fluxo de que se pensa." (49)
capitals da Inglaterra para vários palses em thisca de fer- Dede inlcio, a S .P.R. pro cura dii icultar o tráfeo
rovias a construir. Como a polêmica. sobre o prolongamento mütuo corn a Companhia Paulista.(50) Mais tarde, na dé-
Jundial—Campinas se situa nos anos de 1867-8, talvez o ar- cada de 1890, os prejuIzos decorrem da incapacidade da
gumento de escassez de capitals deva sr abandonado. E
abandonadd em favor do segundo argumento; a linha de S.P.R. para atender ao crescente volume de transporte.
Santos a Jundiaf acha-se ettegicamente Idealizada no A chamada "Crise de Transportes" passa a ser objeto de
.sentido de rnonopOlizar todo o transporte entre ô interior inümeros comentários que apontam a São Paulo Railway
e o porto de Santos. corno responsável pela crise.
certà, èsa I1ZTh privilegladà' pethiitiu a èstràdá de "A insuficiéncia do tráfego da estrada inglesa continua
fèrrd inglesa ser ó invéMimrito britânico mais rëntável ña a prejudicar o servico da exportaçâo do caf6."(51) Tal insu-
America Latlna. (47) Pddethos admitir, ëntão, qti ; ante a ficiência, determinada pela restrita capacidade de tráfego
aita tabilidade da linha del Santos a Jundial, os prolon- no trecho da serra do Mar, não permltia o escoamento das
gamnto para 0,Am ''pids, e Rio Cltr Se 1Tiotrassm pouco
at±attvbL (49 Entretanto o valor real desse dividendo é bastante inferior por-
que no correr do periodo a moeda brasileira desvalorizou-se (em
(45) Debes, GélJo, Op,. cit., p. 12, (Pbs.: grito nosso). 1876, a taxa de càrnblo era de 25 dinhelros por mil-rels; em
(48) Cf Dobb Maurice A EtoZtdo do Capitalinio, Zahat, Rio 1930, apenas 5 dinheiros por mil-réls).
1971, ed., P. 372)4. (49) Pereira. da Silva, Clodomiro. A Ref orma das Tan! as, Laem-
(47) "A empresa ferrovjárla mals rentável (dos 1riglees) no mert & Cia., 1901, p. 156/7.
• rasil .ou en qualquer outro lugar da Mriérlca Latina fol a S. (50) "Interpreta-se sofisticamente a letra do contrato cele-
Paulo Railway Co. Ltd., orgarilzada em 1858 para côntru1r, opé- brado corn o nosso Governo, que garante a trânsito de outras
rar a linha da cidade de S. Paulo sobre a serra ate o po'rto dé Coinpanhias pela linha de Santos a Jundial, e dos láblos sardO-
café. cle Santos. Por urn perloclo de 55 anos, começando em 1876 nicos dos malévolos Intérpretes caem as seguintes paiavras: 'Trãn-
e terminancid em 1930, a taxa de dividendO médla anual sobré 0 alto quer dizer passagem: a linha férrea inglesa al está franca:
1or ab pr de sUs aöes ordlnárlas fol de aproxlmadarnente nOs respeitamos o vosso direlto, passai por ela Companhia Pau-
10,6%". Rlppy, J. P. "A Centuiy and a quarter, f British Invest- lista'. 0 veneno da mof a está escondido no embaraco que iria-
ment In Brazil" in Inter-American Economic Affairs, vol. 6, 1952, mos encontrar nos pianos incllnados da serra, onde não pode-
n.° 1, p. 86/7. riamos passar corn as nossas locornotivas", R. C. P. E. F. -
(48) 0 divfdendö nominal media da Companhia Paulista entre 28/1/1872, Tipografia do Correjo Paulistano, São PaUlo, 1872, p. 9.
1876 e 1930 fol de 10,34%, bastante prOxjrno dos 10,6% cia 8.; P. R. (51) 0 Estacio de S. Paulo, 1/9/1894, "A Crise de Transportes",
P. 1.

177
de empréstimo, o fato de os banqueiros serem também
mercadorias no sentido do porto de Santos. (52) A sintese acion.istas da S .P.R. Embora a evidência não permita
da perspectiva pela qual se via a crise viitha em rápida ermos conclusivos, o indicio de solidariedade de interes-
palavras do Diário de Cam.pinas: ses da S.P.R. e dos banqueiros ingleses (que financiam
"Das nossas lndagaçôes apurou-se que grande responsa- as ferrovias paulistas) flOs leva a admitir que o capital
bilidade, a maior, talvez a ünica, cabe a Companhia ingle- britânico podia ter razoável dominlo sabre o sistexna fer-
sa." () roviário de São Paulo por meio do controle dos emprésti-
A sugestão, aparentemente lógica na é.poca, para solver mos.
a - "Crise de Transportes" era construir novas linhas para
Santos. 0 Estado de S. Paulo defendia essa idéia:
"Hoje toda a imprensa, o comércio importador e expor
tador,, a indüstria, a lavoura,. enfim a populaço toda de
São Paulo, ..., pede aos pocieres competentes uma, duas
ou mats estradas de ferro, que vão a Santos, sejam dadas
a empresas ou a particulares, lucrem ou percam as con-
cessionários, contanto que sejam feitas o mais depressa
possIvel." (54)
0 interesse das companhias se mantfesta rapidamente:
Mojiana e Sorocabana obtêm concessöes para novas linhas
rumo a Santos e a Paulista para o porto de São Sebastiâo:
Entretanto, tais projetos se mostraram prematuros: ape-
nas urn deles (a linha Mayrtnk—Santos da Sorocabana)
chegou a ser conclulda, porém so 40 anos depois do proje-
to inicial. Em parte, a crise tern sua solução pela duplica-
çäo da linha na serra do Mar pela prOpria São Paulo Rail-
way.
A crise de transportes rèvela, porém, outra face do domI-
nb do capital estrangeiro: segundo consta na nota 26
cteste capItulo, a diretoria da Companhia Mojiana conside-
rava, coma prinôipal motivo para 'a recusa a seu pedido
(52) "Naerdade, apareihada coma se acha atualinente, é certo
que a estrada de ferro de Santos a JundiaI, segundo declaracao
de seu LUgno superintendente, nãO pode transportar norinalmen-
te, por dia, mais de 1.666 toneladas de exportaçäo e outras tantas.
de irnportaçäo,
Corn semeihante capacidade de tráfego, determinada princi-
pahnente pelas condlçes e especlais de sua linha no trecho da.
Serra, mal pode a estrada r.le Santos a •Jundiai atender ao ser-
vico do trâfego do corrente ano, e absolutamente' n5o poderá dat
vazão ao tráfego dos anos seguintes, progressivamente em au-
mento". 0 Estaclo de S. Paulo, 26/9/1894, "Crise de Transportes",.
P. 1.
(53) Didrjo de Camp inas, 20/9/1894, "Crise de Transportes", p. 1.
(54) 0 Estacjo de S. Paulo, 1/1/1892, "SoluçS,o a Crise do trá-
fego", P. 2.
. ci
179
Vi8
Conc1uso

A definlr o tema do trabaLho, partimos do que Pedro


Cipollarl observara recentemente: o declinlo da partici-
paco das ferrovias no total do transporte do Pals (1) e a
incapacidade de as ferrovias gerarem recursos para cobrir
suas despesas operaclonais.

(1) 0 deelinio da particlpacão das ferrovias no volume total


de transporte da economla nos levarla a urn problema que não
fol analisado no trabaiho: a concorrncia entre ferrovias e ro-
dovias. Não podemos negar a existência de tal fato no periodo
analisado. Como anota Monbeig:
"São Paulo descobrlu o autoinóvei a partir de 1920. Ate então
so fora utilizado nas grandes cidades ou para viagens individuals
entre São Paulo e Rio de Janeiro, SS.o Paulo e Santos: mals ex-
ploraçôes esportivas do que exper1nc1as concretas. Nas reglöes
de cafeicultura, o transporte de café entre as fazendas e as es-
taçes era assegurado pelos mesmos procedimentos de clnqüenta
anos antes: seja por tropas de mulas, seja nos. lentos e pesados
carros de bols.
Os informantes indicam em todas as zonas ploneiras que o pri-
meiro caminhão apareceu em 1924". Monbelg, Pierre. Pionn.iers et
Planteurs de São Paulo Armand Cohn, Paris, 1952, p. 178/9.
Somente na década de 1930 as Companhias registram os efeltos
da concorrência rodoviária. Entretanto tais efeitos devem ter
sido bastante himitados: em primeiro lugar porgue o estado das
rodovias e o porte dos caminhOes da época não favoreelam 0
transporte a longas dIstnc1as. For isso, a concorrência deve se
ter dado quanto aos transportes entre localidades prOximas em.
que os custos de transbordo assumem major 1mportncia. Porém,
os efeltos devem ter sido limitados porque pelo menos duas das
ferrovias (Sorocabana e Mojiana) estabelecem servicos rodovlá-
rios paralelos aos ferrovlãrio& Dessa forma, as prOprias einpresas
de estradas de ferro se aproveitam da lnovaçäo. For isso, os des-
vios de transporte ferrovlárlo para o rodovlário não parecem ter
provocado, ate 1940, malores perdas para as empresas de estradas
de ferro.
A problemática geral, acrescentamos duas h1p6tes di-
retrizes. A primeira via a origem dos problemas das fer- de café em relaçâo ao total dos serviços realizados. Ha,
rovias nas próprias bases de seu estabelecimento: as estra- ainda, outro motivo pelo qual o volume de café transpor-
das, que visavam servir a atividade exportadora. tinham o tado (em termos relativos) tenclia a diminuir: em 1924,
traçado definido pela diretriz "areas de produçao-portos". dentro do programa de valorizaçao se estabelece a prática
de reter parte da .safra de café em armaMns régüla, ôrés
Tal fato limitava OS fluxos potenciais de transporte e im- no interior do Estado. Se a safra fosse levada ate o porto,
plicava em baixo grau de aproveitamento da capacdade Os importadores teriam major poder para pressionar os
instalada. Em conseqüéflcia, riotamos a baixa rentabilida-
precos para baixo. Por isso, somente é transportado pára o
de das empresas. porto de Santos o volume de café necessário, dc imedilato,
A segunda hipótese responsabilizava a politica adminis- as exportaçôes. 0 resultado de tal politica para as ferro-
trativa das ferrovias - ou, talvez, a administraçao poiltica vias é óbvio: o servico de transporte de café reduz-se igxii-
das empresas estatais - pela virtual falência do sistema ficativamente.
ferrovJário (em especial, pelo nümero excessivo de empre- Explicadas as raz6es do declInlo do percentual de trans-
gados). portes de café, Cabe identificar a forma pela qual tal fato
A evidência empIrica, proporcionada pelo estudo das es- implicava em menor rentabilidade para as ferrovias. Como
tradas de ferro Paulista, Mojiana e Sorocabana, nos apro- as tarifas cobradas pelo transporte de café erarn superiores
xima da primeira hipOtese, como já sugerimos no correr As das novas mercadorias, a receita total tendia a ;3er
do traballio. menor para dado volume de servicos realizados. Além disso,,
Todavia, o processo de declinio da rentabilidade das fer- o transporte de café nâo gerava malores custos (pelo con-
rovias não Se apresenta tao simples quanto o postulado por trário, a especializaçäo possIvel neste serviço devia dar
Surikel. Na verdacie, de inico as empresas lerroviárias margem a economias de escala e, portanto, menor custb
surgem como investimentos compensadores. E evidente, por unidade de transporte). Desta forma, surgem os ele--
no havia plena utilizaço da capacidade instalada: como mentos suficientes para justificar o declinio da rentabili-
vimos, o fluxo de transporte do litoral para o interior é dade das ferrovias.
relati'cramente reduzido. No entanto, tal fato xião anulava Entretanto, parece-nos que a própria dinâmica do mer-
a receita produzida pelo café e esta garantia a rentbil1- cado cafeeiro acabaria por levar àquele resultado, indepen-
dade da ferrovia. Tal situaçao, contudo, näo tern carãter dente das circunstâncias acima delineadas. Consideremos,,
permanente. E não se mantérn como reflexo das próprias primeiro, o freqiente prolongamento das linhas férreas.
niudancas no mercado cafeeiro em seu relacionarnento corn Tais prolongamentos se fizeram, mesmo neste século, com
as ferrovias. Tentamos, em seguida, formular a sIntese de base nas perspectivas criadas pelo café. Nao queremos afir-
tais mudanças: mar que se esperasse surgir, em todas as zonas servidasi
a) 0 primeiro fator que responsabilizamos pelo deell- por ferrovias, plantaçôes de café. No entanto, a expectativa
nio da rentabilidade das ferrovias fol a queda, no tempo, de rentabilidade do investimento devia fundar-se nas linhas
do percentual do transporte total representado pelo caf& já. existentes, ou seja, riaquelas em que o café prepondera.
o momento critico desta mudança parece se situar em E claro, pois, ao penetrar por zonas nao cafeetras o per-
torno de 1918. Como observamos no Capitulo II, o percen- centual de transporte de café tende a dedlinar, assim como
tual de café sobre 0 peso total de mercadorias transpor- a rentabilidade efetiva das ferrovias.
tadas reduz:se a metade apos 1918. Os efeitos da geada Cabe notar, contudo, que a diversificaçâo no transporte
deste ano levararn a substituiçâo de plantacöes de café por de mercadorias nâo surge independente do estado de mer-
outras (por exemplo de algodao) . Este primeiro ensaio de cado cafeeiro: em parte, tal diversificaço responde aos
diversificaçao na agricultura reduzia é, claro, o transporte estimulos do mercado interno criado a partir do setor
cafeeiro; e .mais tarde surge como opçâo
rii -t,guj:iL3 .)
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zaço chegou a aurnentar 0 preco do café em moedar
plantaçöes de café, quando do declinio deste produto no jonal (quando o preco externo declinava); porém, as fer-
rnercado internacional. Este caso é tfpico da Mojiana: al rovias vêem a receita absorvida integralmente pelas despe
a queda do preco do café se soma ao esgotamento das sas crescentes. 0 reajuste das tarifas (proporcional ao
terras da zona; como resultado, o volume de café se reduz declinio do câmbio) alivia o estado das estradas de ferro.
(inclusive em termos absolutos) e cede lugar a novas mer- Como o reajuste é concedido ate o nivel de câmbio de
cadorias. 12 dinheiros, logo as problemas reaparecem para as ferro-
Desta forma, a dversificaçâo do transporte de mercado- vias. Par isso, em todo o periodo, o declinio cambial cria
rias se impbe as ferrovias como decorrência da própria dificuldades para as empresas.
dinâmica do mercado cafeeiro que, ao estimular a produ- Define-se, desta forma, urn conflito entre Os interesses
çao brasileira acima do nivel de consumo mundial, deter- de cafeicultores e de estradas de ferro: o declinio cambial
ininava o seu declinio em futuro nâo muito distante. E, garante a renda do fazendeiro de café e reduz o saldo ope-
conseqüência da diversificaço, a rentabiliclade das ferro- racional das ferrovias. Aparentemente, estas ültimas sal-
vias diminula. ram perdendo porque, coma vimos, o reajuste de tarif as se
b) Ao mesmo tempo em que o efeito acima analisado fez sempre em escala inferior ao da queda do câmbio ou
reduzia a receita real das ferrovias, a despesa passa a agra- da elevaçâo do custo de vida e, também, corn atraso no
var o saldo potencial de cada periodo. 0 aumento da des- tempo.
pesa se fas, principalmente, por melo da queda do valor Quanto 4 4espesa cab, par urn, notar, os fatores que a
da moeda nacional. As estradas de ferro dependem de vá- elevam se colocavam fora do controle das empresas. A
rios produtos importados: equipamentos (locomotivas, Va- maior eficiência administrativa no conseguiria influir
goes, trilhos), combustiveis e lubrificantes (pois o carvão sobre a taxa de câmbo, o preco do carvâo ou o nivel do
nacional se mostra pouco conveniente ao uso em loccmoti- salários. Em conti'apartida, não encontramos evldêncla
vas). Portanto, a cada desvalorizaço da moeda nacional, que sustente a hipótese de "empregulsmo" na empresa es-
a despesa das estradas de ferro cresce, sem que haja au- tatal - a Sorocabana. Dessa forma, a segunda hipótese
mento correspondente do lado da receita. (2) dretriz - a falêncla do slsterna ferrovlárlo decorrente da
Também neste caso, os interesses ligados ao café desem- politica administrativa - nâo pode ser comprovada no
penham importante papel, porque a queda do câmbio se caso estudado.
insere na lôgica do próprio setor cafeeiro. 0 declinio do c) Depois de analisadas as duas hlpóteses diretrizes
preco externo do café reduz a receita de divisas (dada a me- nos depararnos corn outra possibilidade para expllcar o
Jasticidade da demanda do café quanto ao preco). Para res- declinio da rentabilidade das ferrovias: as ençargos dos
tabelecer a equilibrio do Balanco de Pagamentos, a desva- empréstimos externos necessários para novas investirnen-
lorizaçäo da moeda nacional se impOe. Por outro laclo, tam- tos mostraram-se, em alguns momentos, bastante pesados.
bern os cafeicultores podem pressionar no sentido da queda Tas empréstimos se fizeram necessários na medida em
do camblo pois, dessa forma, sua renda (em moeda nacio- que as recursos internos já nâo satisfaziam ao ritmo de
nal) se ye afetada. construco das estradas de ferro. Mais uma vez, reaparece
A déçacta de 1890 revela esteproblema de forma intensa: a café: de Iniclo, as cafeicultores subscrevem rapidarnente
aodeclfnio do preço externo do ëafé se adiciona o processo as açOes e fornecem o capital para constru.ir tals linhas.
iflacionário desencadeado pelo Encilhamento. Como re- No entanto, este processo nâo se repete nas duas iMtimas
sultado, o câmbio declina de 22 dinheiros por mil-réis em clécadas do século XIX. Dessa época em diante, as em-
1890 para 7 dinheiros por mil-réls em 1898, Esta desvalori- presas tern de lançar mo de empréstimos, principalmente
no exterior. E o encargo da divida (juros e arnortizacoes),
(2) Evidentemente a tatha movel elimina em parte o pro- em moeda estrangeira, agrava-se para as ferrovias cada
blema ate que a taxa de cmbio atinja o nivel de 12 d.
vez que a moeda nacional é desvalorizada. Este problem
emerge na década de 1890 e se repete em todo o perIodo nacional, caracteristica do perlodo, tra'z ismesrnOs efeito
posterior. Nos anos trinta, porém, seu efeito é tao sério sabre as despesas e o encargoda divida das ferrovias. Deste
que Paulista e Mojiana suspendem, por alguns anos, o modo, já pouco podia restar da prosperldáde inicial das
pagamento do serviço da divida. Para a Mojiana, esse empresas de estradas de ferro.
encargo acaba por dizimar a renda lIquida (já reduzida Poclemos, portanto, afirmar que nossas conc1uses nos
pela crise econômica): na década de trinta, esta empresa aproxmam da idéia de Sunkel: Os sstemas ferroviários
nâo consegue distribu!r dividendos aos seus acionistas. surgidos na America Latina na segunda metade do século
Ao observarmos, portanto, o periodo de 70 anos - do XIX se viam comprometidos pelas prprias bases de seu
1870 a 1940 - somos levados a concluir que a prosperi- estabelecimento. Apesar dos reparos já feitos, a essência da
dade das estradas de ferro so fol plena nas duas primeiras explicaçâo permanece: as ferrovias paulistas foram cons-
décadas: ate entâo, as crises c1clicas da oferta ou da de- truidas para exportar café. Enquanto 0 café se expande de
manda de café ainda afetavarn pouco a rentabilidade das modo firme, tanibém o fazeni as ferrovias. Porém as pri-
empresas. meiras crises cafeeiras começam a revelar as dificuldades
A década de 1890 revela os primeiros conflitos entre as que as ferrovias tern de enfrentar. A partir de então, a
necessidades das ferrovias (para nianter sua rentabilida- própria caracterIst!ca do desenvolvimento do mercado Ca-
de) e as condiçôes da economia em que se inserem: o dec11- feeiro compromete a rentabilidade das empresas ferroviá-
nio do câmbio acentua a divergêncla dos interesses, mas rias.
-no cômputo final as empresas ferroviárias saem perdendo A principal diferença do caso paulista e da hipótese de
por não conseguirern o reajuste tarLfário propOrcioñal ao Sunkel é o surgmento de novas mercadorias que substi-
aumento de seus gastos. Como anotamos, o custo dos pro tuem a café como objeto de transporte. (8) Ao nosso ver, o
dutos importados e o do serviço da divida são prebeupa- próprio processo de industrial!zação, ao concentrar na Ca-
çöes constantes, daf em dianté, para os dirigentes das es- pital grande contingente populacional, substitul em parte
tradas de ferro. Todos estes fenômenos marcam a impor- o mercado externo como polo de atração da ativdac1e eco-
tãnca dos anos noventa na história das ferrovias. nômica do interior. Desta forma, criam-se Os flOVOS fluxos
0 programa de valorização do café, iniciado em 190 6, de transporte (alimentos e matérias-primas) a que nos
consegue mascarar os problemas das ferrovias: a estabiij- referimos. Embora estes novas fluxos.não sejam tao remu-
dade relativa do cãmbio e os altOs niveis de produção de neradores quanta o do café, pelo menos as estradas tern
café garantem a rentabilidade das estradas. Esta possibi- algum serviço a realizar. Entretanto, a fase de prosperi-
Udade começa, contudo, a se desfazer nos anos da Primeira dade das Camp anhias de Estradas de Ferro já passara.
Guerra Mundial: em 1914, o esquema de suporte do câmbio Agora, a necessidade de manter estes serviços (ainda essen-
•(a Caixa de Conversäo) é romp- do e d. margem a novo cia4s para a economia) leva, mats cedo ou mats tarde, a
perlodo de declIno cambial. A partir de 1918, notamós a estat'zação das ferrovias: a Mojiana no começo da década
continua diversificação dos fluxos de transporte que acaba de 1950 e a Paulista no fim da mesma década. Em suma, 0
or comprometer a rentabilidade das ferrovias. Desta Estado passa a administrar o sistema de transportes já em
forma, acreditamosque 0 ano de 1918 aparece comb outrO franca declInio: obviamente não se poderia esperar de tal
Inomento significatiyo no desenvolvimento däs estradas sistema a obtenção de grandes saldos operacionais. Por isso
de ferro.
A crise de 1930 vem recolocar Os mesmos problemas já
enfrentados, porém corn intensidacle malor. Novas plan- (3) Sunkel parece se referir as ferrovias que servem regies de
taçôes substituem as de café e acelOrarn a diveréiuicaçâo do mineração. Neste caso ao esgotamento das mines não teria su-
cediclo nenhuma forma de atividade econômlca, principaJinente
transporte de mercadorjas. A desvalorização da rnoeda pelo pequeno volume populacional necessário a tais empresas
no estimular a criaço de urn mercado na area.
186
i8
inesmo, noso esudq mostra que nas ferrovias anaiisadas
fleste traballio nâo se pode responsabilizar a adminitra-
cão estatal pela condlçâo precária de tais empresas.
Se nossa conc1uso for correta, a aná,Iise feita talvez
possa constituir uma contribuição para o diagnóstico do
mesmo proceso em outras ferrovias brasi1eras: o declInio
das empresas (derivado das condiçOes do tráfego) precede
e determina a estatizaçäo das empresas. Portanto, o Estado
terla passado a administrar estradas de ferro das quals
nada se poderla esperar alérn do "permanente regime defi- Apndice
citãrio" que aa caraçterizou.
1. Reaçöes dos prncipaIs acioistas da .Com panliia PanUsta e
da Companhia Mojiana em anos divei'.is

MOJIANA
Acionlsta . n.° acoes. % do total
AntOnio A. Carnargo .......• 4.170 . £09
Banco dos Lavradores .... . 6.893 . 3,45 ...
José Estanislau do Amaral 9.178 4,59
-. 20.41 .. 10,13
Nümero total de açSes: .. 200 600, NiimerO deacionIstas: 916.
Fonte R. D. M. F - 25/W/91. Cia Thd.e São Paulo,'
Paulo, 1891.
MOJLA : 7 15
AntOnio A L Penteado , 4 105 1,11
Joaquim N T Alinelda 10 379 2,96
Teles Qulrino e Nogueira 9.0 77 2,59 ........
Teresa de Jesus Aguirre 12.112 .3,63 .
Nümero total de açOes: .. ..350.0;0,0;.,. Nümero de aelonlstas: 2.007.
Fonte: R. D. C. M. E. F. —15/6f19O, Tip. Livto Azul, Campinas.
1902. : .f .,..' ....
MbJIANA - 1.916
AntOnio A. L. Penteado .. . 5.537 ,58
Eufrásia T. Lelte ............... 4.019
Francisco F. Souza . . .... 4.200
Inkio Penteado .....; 7.145 2,04 . . .
Joaquirn N. T. Almeida 6.238 • 1198
London & Brazilian Bank' 25.889 ....1,40
Luis Delamain ........... 4.17.5 :1136 :
57.801 16,15
Nmero total de ,Wes! 350.000; . Nrne'a de acionlstas: 2.715.
Fonte: R. D. C. M. E. F. - 26/6/191. .Tip.' Llvro Azul, Campinas,
1910.

189
MO,TIANA - 1911
• Ant6nio A. L. Penteado 5.003 1,25 PAULISTA .-' 1900
Banque de Paris et des
: Pays Bas ...........100.000 25,00 AntOnio Monteiro de Barros 9.064 3,02
Cajsse Gênérale do Rap- Banco Comérclo e Indds-
Ports ...............6.704 1,67 tria de S. Paulo .... 10.000 3,33
Joaquim N. T. Almeida 7.129 1,78 Eduardo da S. Prado' .... 9.144
Luis Delamain ...........5.457 3,05
1,36 Elias Pacheco Jordäo ... 5.501 1,83
London & Brazilian Bank 9.747 3,25
124.293 31,06 Viscorjde de Verguefro . ... 5.070 1,69
Nümero total de açOes: .. 400.000; Nü.mero de acionlstas: 2.420.
Fonte: R. D. C. M. E. F. - 28J6/1911, Tip. Livro Azul, Campinas, 48.526 16,17
1911. . .. NCjmero total de aç5es: . 300.000; Nimero de acionlstas: 1.328:
MOJIANA 1920 .Fonte: R. C. P. E. F. - 30/6/1900. Vanorden, S. Paulo, 1900.
Banque dc Paris et des
Pays B' : .... '.. 100.000 25,00 PAULISTA -1909 '
Empire Trust Co., N. York ':7.093 ' . 1,77 Banque do Paris et des
107.093: .26,77 Pay Bas. ............ 45.000 11,25
Nümero total de ce8: ,. 00.000; Nümero dc aclonistas: 2.783. Domingos Luis Neto 6.000 1,50
Fonte: R. .D. C. M. .' F. -'28/6/1920. Tip. Livro Azul, Campinas,' Eduardo Prates .......... 12.000 3100
'1920. ufrás1a T. Lélte .......... 5.000 1,25
Williaxi Lidgerwood 15.028 3,76
"MOJIANA -L 1928 .
Banque de Paris et_-',' .. 97.800 24,45 83.028 '209 76
Santa Casa do Campinas . 4.569 1114 Nümero total de açOes: . 400.000; Nilmero de aclonistas: 2.03,
Fonte: R. C. P. E. F. 30/611909. Vanórdeñ;'$. Paulo, 1909.
102,369 2559
Fot:, R. F. ?8/'611998- Tip. I4vro Azul, Campinas,
19. . PAULISTA - 1918
Banca Francese e Italia-.
MOJIAA: -. 1935 us per l'America del Sucj 10.858 2,36
Brazil Railway Co. 33643 8,41
Cristlano de Oliveira Banque de Paris et des... 50.000 12,50
.. 6.085' 1,52 Empire Trust Go., N. York 79.380 17,26
Equitable Trust, N. York' , 11,04
Miguel R.inaldj ..........,.... 44.53
4.941 : 1,24
London Country and West- .
minster Bank ........20.087 . 4,3
London&Rjver Plate Bank 6.213 1,35
88827 2221
Nümero total de açöes: .. 4o0.o0o; Nümero do aclonistas: 2.763. 166,538 36,21
Fonte: R. D. C. M. E. F.. 27/5/35. Tip. Livro Azul, Campinas, Nwnero total de açOes 60 000
460.000;'
1935. Numero do acionistas 1.885
.' Fonte: R. C. P. E. F. - 30/6/1918. Vanorden, 'S. Paulo, 1918.
MOJIANA - 1940
Banco F. Barreto . ;.. 5.000. 1,25 PAULISTA - 1925
Crlstjano Oliveira . . . L'... 7.585." 1,90
Atillo Mattarazo ........:... 7.847 1,9 Bank of London & South
E. G. Fontes e Cia. ,1.,.. 40.000 . ' 10,00 America .............10.391 1,48
Equitable Trust ......':.. 8.782 2,20. Banque de' Paris et des;.. 50.000 7,14.
PrOcOpio A. Carvalho ... 21.013 3,00
69.214 . 17,31 Westminster Bank .......16.011 2,43
NUrner'to'tà'i 0 0.000; l ürnero dc acloth8tás;2.376.
Fonte 'R. L'.. C M.. E P.L-,4'29/4/0. . CasaLjvro Azul, Oampina; 101.491 14,48
•Nüniero total de acOes: . 700.000; Nüinero de aclonistas: 2.918.
Fozte: R. C. P. E. F. - 30/6/1925. Vanorden, S. Paulo, 1925
.19O
191
PA'tJLISTA - 1892 mesmos relatórios referidos. Além dessa Intormac5o bástca, para
a elaboração de alguns Indices, utilisaram-se informaçes do trá-
Baro de Arari 3.426 2,28 fego (nO.mero de passageiros, extensäo da linha, nO.mero de fun-
Baräo de Sousa Queirós 3.286 2,19 cionárlos) que tern a mesma origem.
Eduardo Prates ..........5.259 3,51 Finalmente, para a construcão das tabelas do Capitulo IV fol
Martinho Prado JOnlot 3.578 238 usado a Balanco das ernpresas ferroviárlas também publicado nos.
Veridlana S. Prado .......5.070 3,38 Relatórlos. Vale lembrar, compulsamos relatOrios das três em-
presas ferroviárias no periodo de 1869 a 1940, num.total de 211
20619 13,74 volumes.
NUmero total de ages: .. 150.000; Ndmero de aclonlstas: 890.
Fonte: R. C. P. E. F. -
30/4/1892. Cia. Industrial, S. Paulo, 1892.

Bento J. Carvatho
PAULISTA
23.325
- 19301,75
Carlos Pals de Barros 26.547 2,00
Equitable Trust, N. York 30.725 2,31
ProcOpio A. Oarvalho 39.986 3,01
120.583 9,07
.
Nümero total de ages: 1.330.000; Nmero de acionistas: 3.849.
Fonte: R. .C. P. E. F. .'- 12/8/1930. Vanorden, S. Paulo, 1930.

Arftàn10 A. ?enteado
PAULISTA
25.000
- 19401,17
Banco AletnS.o Transa-
tläntico ..............24.500 1,14
Olimpia M. Carvaiho .... 52.200 2,44
Westminster Bank .......20.087 0194
121.787 5,69
Nümero total de açes: 1140.000; Nümero de acl6nlsta8: 6i93,

2. Uma nota sobre os dados utUizados no texto


Alérn das fontes explicitaniente Indicadas nas tabelas, todas as
demais Inforrnaôes tm a mesma origem, qual seja, os relatOr!o
semestrals ou anuals das empresas ferrovlárias coma indicadô na
bibliografia.
Para o Capitulo II, o docuinento báslco 6 0 quadro discrirni-
nativo da Recelta das ferrovias que registra, embora sein grande
homogeneldade, para perloclos semestrais ou anuals as seguintes
intormaçOes relativas ao tráfego: Tráfego cle passageiros (nO.-'
mero de passageiros, bagagens c encomendas, receitas diversas e
recelta total do .trMego de passageiros); TrMego de Mercada-
rias (Volume e Receita total e especificada por mercadorlas
transportadas); Receitas diversas do trãfego em geral. Esses da-
dos brutos foram consolidados em urn certo padräo para se ter
urn minima de homogeneidade qtie garante a posslbllldade de
atingir algumas conclusôes.
Para 0 Capitulo III, o documento utilizado mats Intensamente
fol o Balancete de receita e despesa das ferrovias publicado nos

12 193
I; FONTES PRIMARJA8
1. 1. Relatórlos das companhias de estradas de ferro.
RelatOrlo da Diretoria da Corn panhia Paulista de Estradas de
Ferro para a sessão de Assernbléia Geral. (Relatórlos semestráls
on annals num tdfal de 86 volumes de 1869 a 1941.)
RelatOrlo da Diretoria da Companhia Moliana de Estradas dé
Ferro para a Assembléja Geral. (RelatOrlos semestrals on anuals
num total de 74 volumes de 1873 a 1940)
Relatórlo apresentado pela Diretoria da Companhia Sorocabana
a Assembléia Geral de acion.istas. (RelatOrlos semestrals e anuals
num total de 18 volumes de 1812 a 1891.)
Relatdrio apresentado a Assembléla Geral dos acionistas da
Corn panhia União Sorocabana e Ituana. (RelatOrlos anuals num
total de 6 volumes de 1892 a 1901.)
Relatório apresentado aDiretorla da Sorocabana Railway Com-
pany pelo Superintende-ate. (Relatórios anuals num total de 4
volumes de 1907 a 1912.)
• RelatOrio da Estrada de Ferro Sorocabana. (Relatérlos. anuals
num total de 21 volumes de 1919 a 1940.)
1.2. RelatOrlos de presldentes de provincla.
RelatOrjo apresentado a Assembléia Legislativa Provincial de S.
Paulo pelo Presidente da Provincla o Ex.— Sr. Dr. AntOnio da
Costa Pinto Silva no dia 5 de feverereirode 1871. Tip. Americana,
S. Paulo, 1871.
Re!atórlo apresentado a Assembléia Legislativa Provincial de
S. Paulo pelo Presidente da ProvIncia, o Ex.— Sr. Dr. José Fer-
nandes da Costa Pereira JUnior em 2 de feverereiro de 1872. Tip.
Americana, S. Paulo; 1871.
RelatOrio corn que o Ex.° Sr. Dr. José Fernandes da Costa Pe-
reira passou a Administracäo da Provincla ao Ex.tno Sr. Conse-
Zlielro Francisco Xavier de Pinto Limo. Tip. Americana, S. Paulo,
1872.

195
RelatOrlo apresentado it Assembldla Legislativa Provincial polo 4.
Ex." Sr. Dr. Joao Teodoro Xavier - Presidente da Provincia -
no dia 5 do feverereiro do 1873. Tip. Americana, S. Paulo, 1873. Caso quo nãc fol 0 ndo é sério (Arrendarnento da E. F. Soro..
RelatOrio apresentado a Assembléia Legisbativa Provincial do cabana a Ituana), Tip. do Jornal do Comrnerclo, Rio de Janeiro,
S. Paulo polo Presidente da Provincia Laurindo do Brito no dia 1912, 2 vols.
13 de Janeiro de 1881. Tip. . vapor do Diárlo de Santos, 1881. Lassance Cunha, Ernesto AntOnio. Estudo Descritivo da Viaciba
Relatórlo corn que o Conseiheiro Joibo Alfredo Correia do Oil- Férrea do Brash, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1909.
veira passou a adrninistragdo da Provincia do Sdo Paulo, ao l. "0 Contrato" Polmica entre a Redator d"O Estado do S.
vice-presldente Baribo do Parnaiba no dia 26 do abril do 1886. Paulo" e os Advogados do Estado na liquidaçdo torcada da Cia.
Tip. a vapor de Jorge Seckler, S. Paulo, 1886, Sorocabana, Drs. Aevedo Marques e Teodoro Carvaiho ou ainda:
Rolatório apresentado a Assembiéia Legislativa de Sibo Paulo Corn péndlo de Contradiqöes, de Erros e do Calinias irrogadas por
polo Presidente da Provincia Baribo do Parnaiba no dia 17 do urn lornal contra gonte ho-nosta. Escola Tlpográflca Saleslana, S.
Janeiro do 1887. Tip. a vapor de Jorge Seckler, S. Paulo, 1887. Paulo, 1903.
Exposiqäo corn quo a Ex.- Sr. Visconcle do Parnaiba passou a Pessoa Junior, Ciro Diocleclano Ribeiro, Estudo Descritivo das Es-
administraçibo da Provincia do S. Paulo ao Ex.- Sr. Dr. Fran- tradas de Ferro do Brasil prececlido da respectiva legislacibo, Im-
cisco do Paula Rodrigues Alves no dia 19 do novembra do 1887. prensa Nacional, Rio de Janeiro, 1886.
Tip. a vapor de Jorge Seckler, S. Paulo, 1887. Primoiro Traslado de Escritura do Arrendamento da Estrada
do Ferro Sorocabana, Augusta $lquelra, S. Paulo, 1907.
1.3. Out-toe relatórios
Relatdrio apresëntado a Assernbléia Geral Legislativa na -Fri. U. FONTES SECTJNDARIAS
meira -Sessibo do Décima Soxta Logislatura polo Ministro e Secre-
tdrio de Estado dos NegOcios do Império, Conselhoiro Dr. ,h a) Obras especializadas em ferrovias
Bento da Cunha e Figuoiredo. Tipografia Nacional, Rio, 1877.
Secretaria do -Estado dos NegOcios da Vlaqao e Obras Püblicas ---------- -- Azevedo, Fernando de. Urn Trem corro para o Oosto. Estudo so-
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199
ME

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