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ANÁLISE LITERÁRIA DO POEMA “REVOLUÇÃO”

REVOLUÇÃO

Como casa limpa Como


chão varrido Como porta
aberta

Como puro início Como


tempo novo Sem mancha
nem vício

Como a voz do mar


Interior de um povo

Como página em branco


Onde o poema emerge

Como arquiíectura Do
homem que ergue Sua
habitação
Vamos analisar o texto “Revolução”, de Sophia de Mello Breyner Andresen, considerando três
elementos:
1 - biografia resumida da autora do poema “Revolução3;
2 - contexto sodopolítico de Portugal na época da produção do poema “Revolução”;
3 - análise literária do poema “Revolução”, “Revolução” é um texto poético da escritora portuguesa
Sophia de Mello Breyner Andresen, uma das mais significativas poetas da Literatura Portuguesa
Contemporânea, nascida a seis de novembro de 1919, em Porto, e faleceu com oitenta e quatro anos,
em dois de julho de dois mil e quatro, em Lisboa.
Sophia foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX, A primeira mulher
portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prêmio Camões,
em 1999. Além desse prêmio, recebeu o Prêmio Max Jacob (2001) e o Prêmio Rainha Sofia de
Poesia Ibero-Americana, em 2003 entre outros prêmios. Entre 1944 e 1997 publicou catorze livros de
poesia, nos quais privilegiou temas como a Natureza - com destaque para o mar, a beleza e seus
mitos - a procura da justiça, a civilização grega, a importância da poesia,

entre outros. Dedicou-se também à prosa. Casou-se em 1948 com o jornalista político e advogado
Francisco Souza Tavares, sendo mie de cinco filhos, para quem começou a escrever contos infantis,
Além da literatura infantil, escreveu obras narrativas e também peças de teatro. Em suas escrituras
poéticas, observa-se que Sophia estabelece relação entre poesia e os problemas sociopolíticos, uma
vez que ela se mostrou totalmente contrária às injustiças cometidas durante a ditadura em Portugal,
de maneira a se tornar um dos grandes expoentes de resistência ao governo totalitário.

Em 1997, Sophia Andersen lança o livro “O nome das coisas”, no quai está uma de suas poesias por
nome “Revolução”. Tal poema, escrito dois dias após o 25 de Abrii de 1974 (Revolução dos Cravos),
reflete o sentimento de renovação que perpassou grande parte dos lusitanos que se libertou das
amarras de um regime totalitário e repressivo. Esse texto poético constitui uma das grandes marcas
de Sophia Andersen, que é revelar o engajamento político da escritora em relação à História e à
política de seu país, pois ela viveu sob um regime ditatorial em terras portuguesas, com duração de
aproximadamente 50 anos. Nesse regime, duas entidades caracteristicamente dominadoras, Estado e
Igreja, uniram-se a fim de controlar todas as esferas da vida portuguesa e, para isso, utilizaram-se de
mecanismos como a censura e a opressão, que obrigavam a todos os cidadãos a se submeterem a
tal política. A força lírica ressalta uma nova situação emergente, é como se a Revolução sorrisse para
Portugal, apontando-lhe novas possibilidades que surgiríam a partir daquele momento. Esse texto
reflete a realidade do que seria a libertação do seu povo, sua gente, traçando novos caminhos para
sonhar, se expressar e para resgatar a grandeza de Portugal por meio dos seguintes elementos
comparativos já presentes na primeira estrofe: “casa limpa”, “chão varrido", "porta aberta”, “tempo
novo”. São expressões comuns e universais, compreensíveis a todos. De forma especial, o universo
feminino abarca essas sensações agradáveis de uma casa limpa, um chão varrido e uma porta
aberta, entrando sol e ventilação. O pós-revoiução traria esses bons sentimentos e sensações. Na
segunda estrofe há o olhar do pós-revolução;

Como puro início


Como tempo novo
Sem mancha nem vício
As expressões “puro início”, “tempo novo” e “sem mancha nem vido” dão ideia de recomeço diferente,
com esperança. Então, Sophia deixa transparecer a crença na libertação e ordem de um país por
meio de uma alteração violenta nas instituições políticas de uma nação, cujo nome é “revolução”. Em
“Revolução” há o sentimento revolucionário diante da realidade sociopolítica portuguesa do século
XX.

Esse texto poético possui cinco estrofes, versos livres, sendo as duas primeiras com três versos, as
duas seguintes com dois versos e, novamente, a última com três versos. A grande marca
preponderante nelas é que todas começam com a conjunção comparativa COMO, representando

o segundo elemento da comparação. O primeiro elemento, no texto, seria a Revolução, considerada,


no texto, como a redentora. Mas, também nesse texto há uma mistura de memória individual.
Individual, no sentido de que suas lembranças têm lugar no contexto de sua personalidade ou de sua
vida pessoal; quando, na terceira estrofe refere-se ao mar:

Como a voz do mar


Interior de um povo .
Inspirada na cultura grega e seguindo claramente o ideal helênico, Sophia busca “recomeçar sem
cessar a partir da página em branco" (4a estrofe). O branco da página também relaciona-se ao ideal
de claridade buscado na poética andreseniana, como um lugar estático, proporcionador da tentativa
de edificar-se um plano perfeito, Para tanto, Sophia incumbe a si própria o dever de poeta enquanto
alguém que através da escrita empreende uma reconstrução do mundo, algo que um seguidor do
ideal helênico jamais deixará de fazer, a não ser quando houver uma união perfeita entre ser humano
e universo, entre o nome e as coisas.

Então, como se observa, no texto “Revolução" há dois tipos de memória, a individual e a coletiva.
Individual, no sentido de que suas lembranças têm lugar no contexto de sua personalidade ou de sua
vida pessoal; e coletiva, considerando-se que ele se comporta como pertencente a determinado
grupo, com o qual contribuiu evocando e mantendo lembranças impessoais,

A última estrofe encerra o poema, fazendo novamente alusão aos elementos comuns da vida
humana, assim como na primeira estrofe:

Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação
O projeto de uma casa, representado na quinta estrofe pela paiavra "arquitetura” retoma os ideais da
vida humana, ao referir-se ao erguimento da habitação. Casa limpa, varrida, erguida são indícios de
um tempo novo da história de um país, após a revolução, como se fosse uma página em branco.

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