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FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
Salvador
2012
MOISÉS COSTA PINTO
Salvador
2012
2
Dedico aos meus Pais.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus. Ele nem sempre me entendeu, tenho certeza, mas também nem sempre o
compreendo. Ficamos empatados.
Agradeço, em segundo lugar, à minha família, meus pais, seu João e dona Cremilda, meus
irmãos, Elias e João Marcelo, meus tios, com um carinho especial para tia Martide, tio Bidego, tio
Pedro, tia Eva, tia Eliene, tio Lourinho e tantos outros, além dos meus padrinhos Eliziáro, Isabel e
Neuza. Agradeço, também, aos muitos primos. Somos bem compactos e temos nossos contratempos
mas ,eu não iria querer ter nascido em outro ventre. Esse é o meu lugar no mundo: minha família. É,
também, o único lugar para onde sempre vou querer voltar.
Agradeço aos amigos de infância por ainda povoarem minhas lembranças e terem ajudado
na formação do meu caráter. Caçadas, aventuras, jogos memoráveis até meia noite, fugas
sensacionais dos chinelos voadores de nossas mães, brigas e sorrisos: tudo isso sempre vai existir.
Denis, Robinho, Neguinho e Etinho, obrigado!
Agradeço a Dona Dora, minha vizinha na rua Osvaldo Amâncio, em Coité, de onde tiro
muita inspiração. Agradeço à Keu, também minha vizinha, que é um ser humano maravilhoso!
Não posso esquecer de meus professores de Sizenando Ferreira de Souza (onde tinha o pé de
tamarindo e a menina com um “u” na bochecha - Clealine), Polivalente (que para mim é sinônimo
de Diclá), Manoel Novaes (lugar das ótimas professoras de história, apesar de serem de esquerda, e
de “grandes” amigos) e, por fim, Facom, lugar incrível e com professores maravilhosos, pelos
conhecimentos e experiências que compartilharam comigo: Obrigado!
Aos amigos de Facom, às vezes tão malucos que eu me perdia, mas que até hoje me fazem
rir e crer em coisas boas.
É incrível como o tempo passa muito rápido e nos leva para lugares diferentes todos os dias.
Agradeço aos que ainda não conheci.
4
“A simplicidade é o último grau de sofisticação.”
Leonardo Da Vinci
***
“É mais de oito mil!”
Vegeta
5
RESUMO
Este trabalho parte da premissa de um estudo inicial, por meio de uma pesquisa empírica
quantitativa, sobre o desenvolvimento das relações entre marcas e pessoas nas redes sociais a partir
da presença de ambos nos sites de redes sociais. Utilizaremos aqui conceitos de marketing e
branding para constituir uma visão sobre o que são e como se relacionam as marcas com
indivíduos. A relação pessoas-marcas, como veremos, molda as identidades de ambos em um
processo sem fim, uma vez que essa é uma característica da identidade pós-moderna, de ser
descentralizada e sempre mutável. É o que ocorre com as marcas que têm mecanismos como
monitoramento de conversações/interações nas redes sociais, como forma de obtenção de caminhos
para sua personalidade. Portanto, o ato de interagir já conforma as identidades das marcas.
6
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico1 Gráfico com as principais redes sociais digitais ocidentais até fevereiro de 2012.............28
Figura 8 Imagem do site TweetStats, ferramenta que consegue analisar os dados dos perfis no
Twitter..................................................................................................................................42
Figura 9 Exemplo de mensagem publicada em sites de redes sociais que foi coletada pelo
Scup.....................................................................................................................................43
7
Gráfico 4 Tempo de uso dos usuários (em %)....................................................................................51
Gráfico 7 Um dos motivos para entrar nas redes sociais é fazer amizades?......................................54
Gráfico 10 Grau de importância das redes sociais digitais na vida das pessoas (em %)...................58
Gráfico 12 Gráfico sobre seguir/interagir marcas por indicação de um amigo (em %).....................60
Gráfico 13 Grau de prioridade dos usuários para interagirem com marcas nas redes sociais............61
Gráfico 16 Motivos que levam usuários a interagirem com marcas nas mídias sociais....................64
8
Gráfico 19 Como as marcas entram em contato com usuários nas redes sociais?(em %).................67
Gráfico 20 Impressão sobre as marcas que mais interagem nas mídias sociais (em %)....................68
Gráfico 21 Reação das pessoas quando uma marca posta conteúdos nas mídias sociais..................70
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................12
1.1 ESTRUTURA DO TRABALHO...........................................................................................12
1.2 ABORDAGEM TEÓRICA....................................................................................................13
2 MARCAS...............................................................................................................................15
2.1 HIPÓTESE.............................................................................................................................15
2.2 METODOLOGIA...................................................................................................................15
3 A MARCA CONTEMPORÂNEA.......................................................................................17
3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS MARCAS CONTEMPORÂNEAS....................................17
3.2 OS ÚLTIMOS 150 ANOS DAS MARCAS...........................................................................19
3.3 O CONSUMO DA MARCA POR MEIO DA INTERAÇÃO................................................21
3.3.1 Consumo: identidade, integridade e imagem da marca....................................................22
3.4 COMUNICAÇÃO DAS MARCAS.......................................................................................24
4 REDES SOCIAIS..................................................................................................................26
4.1 REDES SOCIAIS E INTERAÇÕES.....................................................................................26
4.2 SITES DE REDES SOCIAIS.................................................................................................27
4.3 A PRESENÇA DAS MARCAS NAS REDES SOCIAIS......................................................30
4.3.1 A presença das marcas nas redes sociais.............................................................................30
4.3.2 Os personagens das marcas.................................................................................................31
4.4 FACEBOOK: O SITE DE REDE SOCIAL MAIS PROEMINENTE EM
POTENCIALIZAR INTERAÇÕES....................................................................................34
4.4.1 Barra de atualizações do Facebook.....................................................................................36
4.4.2 Fan Pages do Facebook........................................................................................................37
4.4.3 Interação efetiva no Facebook e nas redes sociais.............................................................40
4.5 MONITRAMENTO DE REDES SOCIAIS: OBSERVANDO AS MARCAS.......................40
5 PESQUISA EMPÍRICA.......................................................................................................48
10
5.1 DADOS DEMOGRÁFICOS..................................................................................................48
5.2 USO DE SITES DE REDES SOCIAIS..................................................................................52
5.3 RELACIONAMENTOS COM AS MARCAS.......................................................................58
5.3.1 Relacionamento de empresas e pessoas..............................................................................60
5.4 INTERAÇÕES COM AS MARCAS......................................................................................64
5.4.1 Conteúdo chapa-branca.......................................................................................................68
5.4.2 Eficácia da presença das marcas nas redes sociais............................................................69
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................71
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................73
7. ANEXOS................................................................................................................................80
11
1 INTRODUÇÃO
O ser humano sempre usou de tecnologias para interagir com o mundo. E com os sites de
redes sociais não é diferente. O Facebook, por exemplo, um dos mais notáveis sites de redes sociais
da atualidade, é uma ferramenta tecnológica que tenta organizar as interações entre as conexões
sociais dos indivíduos estabelecidos com perfis na rede e, também, das marcas estabelecidas com
suas fan pages1, com as pessoas. O Facebook tem uma relevância significativa na vida de seus
usuários por unir indivíduos a partir de turnos conversacionais e de múltiplas formas de interações
como jamais foi vista em nenhuma outra ferramenta de sociabilidade digital até hoje.
Nesse contexto, as redes sociais digitais ou sites de redes sociais – grupo que o Facebook faz
parte - criam uma nova experiência de relacionamento entre marcas e pessoas. Marcas são
compreendidas aqui como a personificação de qualquer instituição/organização simbólica e não
humana.
As marcas expandem seus valores e interagem diretamente com as pessoas em uma relação
nunca antes vista. Este é o foco principal deste trabalho de pesquisa: a relação, por meio das
interações, entre marcas e pessoas nas redes sociais.
Sobre a estrutura do trabalho, dedicaremos um capítulo (item 3) para dar uma breve
abordagem sobre o que representam as marcas contemporâneas, instituições de significados que
1 Fan pages ou páginas de marcas são espaços exclusivos para corporações de qualquer natureza manterem uma
presença dentro do Facebook e se relacionarem com as pessoas, chamadas aqui de “fãs”.
12
sempre comunicam algo, como os produtores/serviços que representam ou assuntos/temas
relevantes.
No capítulo seguinte (item 4), abordaremos o papel das redes sociais digitais na construção
das relações entre pessoas e marcas. Com o surgimento dessas novas mídias, como os sites de redes
sociais, se criou um novo cenário que possibilita a aproximação entre seres corpóreos e incorpóreos,
como são os humanos e as marcas (representações de personalidades de empresas),
respectivamente. Para facilitar a observação do objeto interacional entre humanos e marcas, optei
por utilizar como recorte o exemplo do Facebook, o site de redes sociais mais relevante nacional e
internacionalmente atualmente. Aqui, analisei o Facebook apenas como uma ferramenta que
potencializa interações, não só entre pessoas, mas, também, entre os atores já citados: humanos e
marcas.
Finalmente, no último capítulo (item 5), abordaremos os dados obtidos em uma pesquisa
quantitativa sobre a relação entre pessoas e marcas nas redes sociais, entre os usuários brasileiros de
diversos sites de redes sociais. Neste capítulo, vamos abrir questões iniciais sobre como os usuários
vislumbram a presença e as abordagens das marcas em suas redes. A pesquisa, um questionário
online distribuindo nas redes sociais digitais, contou com respostas de indivíduos de todos os
lugares do Brasil.
A ideia de estudar a relação entre pessoas e marcas, que são, comumente, representações de
empresas ou instituições “não humanas”, surge para tentar abrir caminhos para responder como as
pessoas se identificam ou observam a presença das marcas, que não estão mais distantes do contato
direto e personificam sua presença em redes sociais digitais.
As abordagens teóricas passam pelo campo dos estudos de marketing, que se estabelece no
'novo' marketing 3.0, tema aprofundado por Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010), que argumentam,
dentre outras coisas, que a relação que se desenrola entre marcas e seus “fãs” (a priori
consumidores que podem se transformar em evangelizadores e clientes) é a de domínio mútuo,
propiciado pela abertura de relações. No marketing 3.0 os consumidores não compram mais
produtos, mas “sentimentos”.
13
marketing, para recriar o que é a marca na pós-modernidade e como se dá o seu consumo pelos
indivíduos. Segundo Andrea Semprimi (2010), pesquisador de marcas, o consumo passa a ser muito
mais descentralizado e pautado tão somente pelos desejos dos indivíduos. São esses desejos que vão
formar novas identidades multifacetadas (HALL, 2002).
Tanto o marketing 3.0 quanto os novos conceitos de branding são possíveis por meio do
estudo de como as redes sociais, por meio dos sites de redes sociais, influenciam esta liberação, não
somente do polo de emissão, mas também de reorganização social, onde as marcas constroem
identidades com características humanas para melhor se relacionarem com eles. Esse é tão somente
um processo comunicacional, todavia, um processo importante para a formação de um novo cenário
de formação das marcas, um cenário pós-moderno que coloca o consumo de produtos/serviços em
segundo plano para que a comunicação com consumidores seja priorizada. Essa comunicação, a
partir de seu fluxo informacional, também participa ativamente da formação de identidades de
indivíduos e marcas.
14
2 PESQUISA COM USUÁRIOS E MARCAS DA INTERNET NO BRASIL
O problema a ser abordado neste trabalho é o da interação entre pessoas, usuários comuns
das redes sociais digitais2, e marcas, que também passaram a manter perfis e páginas em sites de
relacionamentos para se aproximarem do seu target, seu público alvo3. Essa aproximação se deu ao
passo do rápido crescimento e adoção das novas mídias de comunicação digital. Mais
especificamente, o problema que será abordado neste trabalho reside em como as redes sociais
podem contribuir para que pessoas e marcas interajam e estabeleçam novas formas de
comunicações e relacionamentos. Outra ideia central é abordar como as pessoas veem a presença
das marcas nas redes sociais, suas implicações, benefícios e problemas.
2.1 HIPÓTESE
Testaremos aqui a hipótese de que as redes sociais digitais abrem novos caminhos e
perspectivas para compreendermos a relação entre pessoas e marcas.
Tentaremos esclarecer que as redes sociais fazem com que as pessoas se aproximem cada
vez mais das marcas, lhes atribuindo papéis identitários e culturais. E que a relação com pessoas nos
sites de redes sociais faz com que as marcas sejam “forçadas” a também criar e recriar identidades a
todo momento, como se fosse uma pessoa comum. Essas identidades das marcas devem ser
moldadas a partir do desejo das pessoas, de como elas veem as marcas e sua presença, além de seus
interesses em interagir com tais instituições.
2.2 METODOLOGIA
Para tentar encontrar insumos para responder essas e outras questões, realizei uma pesquisa
2 Neste trabalho usaremos redes sociais digitais como sinônimo para sites de redes sociais (ferramentas que
potencializam redes sociais; mídias sociais aqui são entendidas como toda e qualquer ferramenta que possibilite
sociabilidades entre atores (desde mídias tradicionais, passando por smartphones até a internet) ; e redes sociais
como todo e qualquer espaço com dois ou mais atores que interagem entre si, trocando informações por meio de
laços sociais.
3 “Outro conceito implícito na definição de marketing […] é o de público-alvo (target), ou seja, em quem os esforços
de marketing enfocam para satisfazer necessidades ou desejos. O público-alvo é a parte mais importante da equação
de marketing, pois toda e qualquer estratégia de marketing deve ter como início e origem um público-alvo e os
objetivos a serem alcançados com esse público, ou seja, as necessidades e/ou desejos aos quais se pretende atender.”
(GABRIEL, 2010, pg. 33)
15
quantitativa, por meio de um questionário online, usando a ferramenta Google Docs4, entre os dias
12 de setembro e 3 de novembro de 2011. Foram sugeridas 24 questões e o total de respostas dos
usuários de internet de todas as regiões do Brasil foi de 3295. O questionário foi distribuído por
redes sociais, com seeding6 no Twitter, Facebook e Orkut7, até então, os três mais importantes sites
redes sociais brasileiros. Essa pesquisa quantitativa será confrontada com bibliografia específica de
estudos de redes sociais e de marcas.
A pesquisa quantitativa foi escolhida por ser mais adequada para apurar opiniões e ações
implícitas em parcelas da população, sendo objetiva quanto ao método experimental de questionário
de perguntas e resposta, que podem testar as hipóteses levantadas para a pesquisa ao mesmo tempo
em que fornecem dados que podem ser comparados com outros. (QUEIROZ, 2006)
4 Segundo o Wikipédia m português (Google Docs, online) “o Google Docs, é um pacote de aplicativos do Google
baseado em AJAX. Funciona totalmente on-line diretamente no browser. Os aplicativos são compatíveis com o
OpenOffice.org/BrOffice.org, KOffice e Microsoft Office, e atualmente compõe-se de um processador de texto, um
editor de apresentações, um editor de planilhas e um editor de formulários”, que foi usado nesta pesquisa).Seu
endereço é : www.docs.google.com.
5 A expectativa era a da obtenção de, no mínimo, 500 respostas ao questionário, mas foram obtidas apenas 329. A
quantidade de perguntas, 29, pode ter inibido aos usuários em responderem completamente o survey.
6 O Seeding é, nada mais, que a inserção de conteúdos, geralmente, para promover algo ou alguém em comunidades
digitais.
7 Disponíveis, respectivamente, em: www.twitter.com; www.facebook.com e www.orkut.com;
16
3 A MARCA CONTEMPORÂNEA
As marcas, em seu sentido mais restrito e simbólico, foram “criadas” não para distinguir,
como a princípio pode parecer, mas, ao contrário, foram “desenvolvidas” para agrupar.
As marcas são ferramentas que agregam à medida que podem excluir outros conteúdos
significantes e têm a capacidade de unir apenas os conteúdos e significados que interessam para sua
imagem. Para tanto, é preciso, somente, que os signos da marca sejam compreendidos pelos agentes
envolvidos em sua comunicação: as pessoas.
Dessa forma, por um lado, atualmente, há o valor econômico da marca, chamado pelos
profissionais especializados de brand equity, traduzido livremente como 'equidade de marca', e
definido como sendo o valor agregado a produtos e serviços pelo nome de marca (SALES, online,
2011), e por outro há o valor semiótico. Esse último é construído pelas diferenças entre as marcas, e
estabelecendo oposições, diferenças. Uma das maneiras mais fortes de instituir diferenças é o modo
de narração (GREIMAS e COURTÉS, 2008; JENKINS, 2009). A estratégia de narração da marca
17
vai instituir signos e significados próprios para cada marca, sendo este um dos fatores mais
importantes de constituição das identidades das mesmas.
Por trás de toda marca, ou signo/símbolo, há um significado, uma história que a diferencia
das outras e a torna socialmente única. Sua maior importância, contudo, está no 'conhecimento
sobre a marca', brand knowledge, nos rastros das histórias contadas pela marca dentro de cada
indivíduo.
Aqui é importante lembrar que uma boa história não existe sem a presença de algum
obstáculo que adie o alcance do objeto de valor. E é precisamente o obstáculo que
estabelece a oposição em que se fundamenta o valor semiótica da marca. "A narração
nos surge [então] como um conflito de valores, que superintendem a todo o processo ou
a alguma de suas partes e se concretizam nesta ou naquela personagem, num ou noutro
momento" (VOLLI, 2003, p. 115 apud SALES, online, 2011)
Mas, somente inserir e ter conteúdos não lhe dará uma identidade própria. Existem outros
fatores que “moldam” as identidades das marcas nas redes sociais a partir da produção de
conteúdos. Entre esses fatores há um muito peculiar que diz respeito à maneira como os conteúdos
são inseridos nas redes sociais. Os conteúdos precisam se adequar às marcas, suas identidades e
identificações com seus públicos-alvos. Os conteúdos se caracterizam como adornos e, como se
fossem peças de roupas, identificam uma tribo, como uma camisa de Che Guevara 9 ou um par de
orelhas do Mickey Mouse10. Mesmo estando em um mundo de identidades fragmentadas, em uma
era da pós-modernidade (HALL, 2005) onde tudo pode ser remixado, essas peças de vestuários
carregam significados diferentes que associam conhecimentos e ideologias a depender de quem usa
e no contexto que usa.
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Outros pontos que podem influenciar e conformar as identidades das marcas nas redes
sociais:
a) O que é consumido, em termos de conteúdo, pelos usuários (amigos, seguidores, fãs, etc);
b) O tipo de conteúdo postado em cada mídia em que a marca tem uma presença digital
(cada mídia pode conformar um tipo de identidade digital – este fator faz com que as
empresas precisem administrar múltiplas identidades de uma mesma marca em múltiplas
plataformas);
c) As interações dos usuários e seus tipos – o conjunto e a soma das interações sempre dirá
para onde as identidades das marcas deverão ir, mesmo o trabalho de comunicação da marca
sempre puxando para outro lado, por via de regra, mais “favorável”;
Nos últimos 150 anos, com o desenvolvimento industrial em larga escala, por todo o mundo,
e a diminuição das distâncias com o avanço da globalização (KOTLER, KARTAJARA E
SETIAWAN, 2010; SANTOS, 2000), houve uma massificação das marcas, uma polarização dos
seus usos que estão na maioria, se não em todos, os produtos que consumimos atualmente. As
pessoas estão cada vez mais compelidas a consumirem as marcas (SEMPRIMI, 2010), que, ao
passar do tempo, foram ganhando cargas de significados mais densos e picotados na cultura das
sociedades em que estão submersas. Mas, essa mudança também partiu de demandas dos próprios
consumidores (KOTLER, KARTAJARA E SETIAWAN, 2010), individualmente, que inseridos no
contexto global da técnica informacional, não mais observam estagnados e em posição local suas
demandas (SANTOS, 2000).
"No caso do mundo atual, temos a consciência de viver um novo período, mas o novo
que mais facilmente apreende-se diz respeito à utilização de formidáveis recursos da
técnica e da ciência pelas novas formas do grande capital, apoiado por formas
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institucionais igualmente novas. Não se pode dizer que a globalização seja, semelhante
às ondas anteriores, nem mesmo uma continuação do que havia antes, exatamente
porque as condições de sua realização mudaram radicalmente. É somente agora que a
humanidade está podendo contar com essa nova realidade técnica, providenciada pelo
que se está chamando de técnica informacional. Chegamos a um outro século e o
homem, por meio dos avanços da ciência, produz um sistema de técnicas da
informação. Estas passam a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e
assegurando a presença planetária desse novo sistema técnico."(SANTOS, 2000)
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3.3 O CONSUMO DA MARCA POR MEIO DA INTERAÇÃO
Em uma lógica econômica reduzida, para o pesquisador francês Jean-Noël Kapferer (2003) a
função primordial da marca contemporânea é tornar o produto “escondido” do consumidor final, ao
passo que mostra, por meios de significações da marca, as qualidades deste produto. Ou seja, para
ele, “a marca transmite ao consumidor o benefício principal de um produto, de dentro de uma
embalagem, através da qual o comprador não consegue ter uma experiência prévia” (DAMBRÓS,
2008) do que está levando. Talvez a única experiência prévia do consumidor seja por meio das
propagandas difundidas nos meios de comunicação, onde as qualidades são, às vezes, expostas.
Contudo, este trabalho não pretende entrar no mérito das associações de marcas por meio das
publicidades, mas, apenas, em suas associações nos meios digitais, onde “interagem” com as
pessoas. No entanto, a evolução da publicidade, no contexto contemporâneo, é o relacionamento
por meio de conteúdos em redes sociais como aponta Kottler, Kartajaya e Setiawan em “Marketing
3,0” (2010).
Esses valores simbólicos, apropriações em sua essência, foram tomados no mundo pós-
moderno e são reafirmadas cotidianamente. Não por acaso existe uma “aura” em cima dos produtos
da fabricante de hardwares e softwares Apple. Tal aura confere valores de cool e contemporâneo aos
donos dos aparelhos fabricados pela empresa, e não a toa ter um carro da marca italiana Ferrari
confere status de “sucesso” ao seu dono, etc.
Ter um produto de uma determinada marca significa algo que é buscado pelo indivíduo para
constituir seu “eu”. Neste momento, quando a marca já está presente dentro da mente das pessoas,
ela já criou vínculos de paixão com os indivíduos por meio de suas histórias contadas pelos meios
transmidiáticos.
21
No mundo atual é possível que as pessoas não tenham muitas opções a não ser consumirem
marcas e seus significados de ordens sociais (SEMPRIMI, 2010), o que explica porque o ''sistema
marca'' continua a se desenvolver, especialmente nos ambientes digitais, apesar de inúmeras crises
financeiras, que são cada vez mais frequentes. Todavia, “as marcas nos oferecem um espelho
formidável, nos reenviam uma visão charmosa, ora impiedosa de nós mesmos, de nossas escolhas,
de nossos desejos” (SEMPRIMI, 2010) mostrados por meio de nosso consumo. Esse consumo não
precisa ser necessariamente de produtos ou serviços, mas pode ser da comunicação das marcas.
Em resumo, a busca por qualidade e até mesmo identificação pode levar indivíduos a
consumirem e até interagirem com determinadas marcas, que, por seu lado, buscam relações sociais
com os indivíduos para constituírem suas próprias redes de defensores e fãs. As marcas não buscam
mais vender, buscam relacionamentos, como se fossem pessoas (KOTLER, KARTAJAYA,
SETIAWAN, 2010). Ou seja, as marcas, em algum momento da história, fixaram-se na sociedade
como um fenômeno social (SEMPRIMI, 2010). Este sentido nunca foi novo, mas foi reforçado a
partir da disseminação industrial e do desenvolvimento da técnica informacional. As marcas
passaram a serem observadas, em contrapartida, mais em seu sentido sociológico do que industrial,
mais histórico do que comercial e mais semiótico do que econômico.
“as marcas continuam a dar segurança, cumprindo sua função de referência, fator de
identificação. Diante de uma hiper escolha desconcertante, o consumidor pode decidir
se orientar graças a clareza do discurso ou da familiaridade de uma marca conhecida.
Nesse sentido, pode-se dizer que a multiplicação da oferta torna ainda mais necessária a
presença das marcas.” (SEMPRIMI, 2010)
Para nós, as prateleiras não são os únicos lugares onde as marcas são consumidas – as redes
sociais também o são. Kotler, Kartajara e Setiawan (2010), todavia, concordam com Semprimi no
novo papel das marcas e sintetizam os pontos em que elas precisam trabalhar, a partir do
desenvolvimento das redes sociais como fatores de influência, para poderem estar perto das
pessoas, como se fossem seres humano. São eles: identidade, integridade e imagem da marca.
22
Figura 1 O modelo dos 3Is, muito usado no chamado marketing 3.0.
Nesse modelo, a identidade da marca reside na forma que surge na mente dos consumidores
e tem a ver com seu posicionamento singular nas redes sociais. Elas também precisam ser
relevantes às necessidades e desejos racionais das pessoas. Sua integridade tem a ver com cumprir
promessas e conquistar a confiança dos indivíduos. O alvo da integridade é o espírito dos
consumidores. E é com a manutenção de uma imagem íntegra e virtuosa que a marca conquista as
emoções dos consumidores e os evangeliza em torno de si.
As marcas conquistam pessoas nas redes sociais digitais no momento que lhes atribui
seguranças de identidades, integridade e imagem. Identidade se as marcas simbolizam valores de
interesse dos indivíduos; integridade se as marcas transmitem idoneidade; e imagem se a soma dos
valores anteriores é positiva para serem associadas aos perfis das pessoas nos sites de redes sociais,
segundo Kotler, Kartajara e Setiawan (2010). Pessoas só associam-se à imagens de marcas que
formem valores positivos para sua própria identidade em seus perfis de sites de redes sociais. O
“associar-se”, em si, a um determinado conteúdo ou página (curtir uma página no Facebook ou
participar de uma determinada comunidade no Orkut) já pode se caracterizar como um
tagueamento que representa e diferencia.
No livro “The Tuning of Place: Sociable Spaces and Pervasive Digital Media”, Richard
Coyne, entre outras proposições, concebe o conceito de tag como o de “movimentos” que moldam
características sociais dos indivíduos e também servem como ferramentas mnemônicas que deixam
claros quais são os contextos sociais onde o indivíduo está inserido – ou que, pelo menos, deseja ser
23
reconhecido. Em outras palavras:
As redes sociais digitais permitem que as pessoas usem seu relacionamento com marcas
como formas de tagueamento de seus interesses sociais. Usam-nas como forma de “moldar” o seu
“self” que é visto por sua rede.
A comunicação das marcas sempre esteve presente em seus logotipos, slogans e nomes, na
maioria das vezes contextualizadas em campanhas publicitárias (SEMPRIMI, 2010). Eles sempre
asseguraram um discurso que fazia com que a marca fosse ouvida e entendida claramente.
Mesmo assim, como compreendemos neste trabalho, só com a chegada de novos suportes
tecnológicos digitais, como a internet e as redes sociais digitais, as marcas passam a ter o real
desafio de comunicar diretamente com seu público, em um contato de primeiro grau; as marcas, por
meio de seus perfis, conversam diretamente com as pessoas, comunicam-se de modo diferente para
públicos diferentes em diferentes suportes heterogêneos. A comunicação direta é a nova forma das
marcas fazerem-se mais conhecidas pelas pessoas.
As redes sociais permitem que as marcas consigam criar identidades individuais a partir das
interações com:
a) Cada rede social digital: cada site de redes sociais pode demandar um tipo diferente de
conteúdo pelas ferramentas disponíveis (por exemplo, o Youtube12 é diferente do Twitter em
termos de conteúdos postados);
b) Cada indivíduo: a partir do relacionamento com os indivíduos em sua rede, as marcas
podem "aprender" as demandas comunicacionais de cada um e, a partir desse aprendizado,
interagir da maneira que os indivíduos mais prezam.;
11 Tradução nossa para: “ The existence of tags provides further evidence for the presence of small moves, temporal
shifts, and nudges by which infl uences and potentials ripple through social organization and social practices,
processes abetted in no small part by the presence of ubiquitous digital devices.”
12 Disponível em: www.youtube.com
24
c) Para cada grupo/comunidade: assim como a marca aprende a se comunicar para cada
indivíduo, as redes sociais oferecem a possibilidade de ela produzir conteúdos específicos
para públicos diferentes (que podem estar em mídias diferentes) e assim criar multifaces de
uma mesma identidade de marca.
Na comunicação digital das marcas, mais uma vez, é preciso esclarecer que o desafio, em si,
não é apenas convergir e “falar” em múltiplos canais (heterogêneos), como acontecia em peças
publicitárias para o rádio, que eram adaptadas para a TV, e vice-versa, mas o de agir com
interatividade, tão natural aos meios digitais do século XXI. Dessa forma, as marcas passam do
estágio publicitário (informativo) para o estágio comunicativo (interativo), de vez, mas nunca
abandonando o primeiro (SEMPRIMI, 2010) e, sempre, criando caminhos ente ambos,
independente dos espaços que ocupam pela comunicação transmidiática. Afinal de contas, a
existência de uma comunicação que possibilite a interação entre as partes, não significa que a velha
publicidade vai desaparecer (SEMPRIMI, 2010). Ela só deixa de ser protagonista, como apontado
em nossa pesquisa (item 5), onde as pessoas buscam mais informações em meios digitais que
tradicionais, mas não deixam os primeiros.
Entretanto, as novas tecnologias passam a ter mais valor.
A tecnologia não apenas conecta e impele países e empresas rumo à globalização, como
também conecta e impele consumidores rumo à comunicação. O conceito de
comunicação está intimamente relacionado ao conceito de tribalismo […]. As empresas
que desejam abraçar essa nova tendência devem abrir espaços para essa necessidade e
ajudar os consumidores a se conectarem uns aos outros em comunidades. (KOTLER,
KARTAJAYA, SETIAWAN, 2010)
O sucesso das marcas, suas imagens, integridades e identidades, requer o apoio das
comunidades. São elas que, também, vão determinar como as marcas são vistas ao fim do processo
de comunicação nas redes sociais. As marcas nas redes sociais, portanto, precisam, como está em
sua genealogia, unir pessoas em torno de suas identidades e de suas histórias.
25
4 REDES SOCIAIS
Segundo Castells (2003), as redes sociais digitais surgiram com os primórdios da internet.
Todavia, as redes sociais, propriamente ditas, existem desde os primórdios da humanidade. A
princípio, segundo a pesquisadora Raquel Recuero (2009), as redes sociais são lugares de fala de
“atores” de onde lançam e trocam interações por meio de conexões. Para André Lemos (2002),
esses são lugares de “narração do eu”. Recuero (2009) concorda, mas acrescenta que a construção
de um “ator”, nas redes sociais, se dá justamente a partir da marcação do território do “outro”. Para
Castells (2003), isso acontece quando as comunidades moldam processos que, por sua vez, visam à
manutenção de liberdades para seus componentes.
Redes sociais, portanto, são ligações, conexões entre pessoas. Essas ligações moldam o
“self”, o “eu” de seus componentes, a partir das interações e trocas informacionais entre os
indivíduos que a compõem. Dessa forma, grande parte do processo de sociabilidade (DONATH,
1999, apud RECUERO, 2009) nas redes sociais se garante a partir das impressões dos atores
quando iniciam uma interação por meio de suas conexões. Essas impressões são partes do seus
papeis sociais (GOFFMAN, 1975, apud RECUERO, 2009), em parte construídas e em outra parte
percebidas.
26
Ora, as conexões são perseguidas para se manter interações e criar redes. Mas, acima de
tudo, podemos considerar que o principal ponto procurado com a manutenção, em tempos e lugares
diferentes, dentro de redes, por meio de interações, é o capital social.
Embora seja um conjunto de recursos coletivos, como salientado por Putnam e por
Bertolini e Bravo, são recursos estes que estão embutidos nas relações sociais e, ao
mesmo tempo, são definidos e moldados pelo conteúdo destas relações. Portanto, o
capital social poderia ser percebido, pelos indivíduos, através da mediação simbólica da
interação (a partir de Bourdieu) e, igualmente, através de sua integração às estruturas
sociais. Por conta disso, o capital social pode ainda ser acumulado, através do
aprofundamento de um laço social (laços fortes permitem trocas mais amplas de
íntimas), aumentando o sentimento de grupo. (RECUERO, 2009)
A princípio, quanto mais se interage, mais se aprofunda o capital social em redes sociais.
Entretanto, os laços fracos, que se veem ao longo de turnos conversacionais estendidos em cauda
longa, não procuram desenvolver grandes capitais sociais. Os laços fracos geram apenas o capital
social necessário para a sobrevivência daquela conexão. A sobrevivência desse laço e o capital
social que ali transita pode ser um fator influenciador na hora do consumidor exercer seu poder de
compra e, por estar engajado e ter conhecimento de marca (brand equity), escolher a marca com que
já interage nas mídias sociais, com quem tem alguma identificação e que está mais presente
positivamente em sua memória.
Sites de redes sociais são sítios / ferramentas online que potencializam e facilitam a
existência de redes sociais na internet.
Primeiro,
A cibercultura “chama” os indivíduos e suas redes sociais para o digital, para espaços
digitais onde possam socializar com suas conexões sociais. Esses espaços, como já foi dito, são as
27
mídias sociais, como o caso da própria internet, e sites de redes sociais, onde as conexões se tornam
públicas e exibem interações entre amigos / usuários (RECUERO, 2003) de onde se criam novos
capitais sociais.
Entretanto, esses laços só se tornam públicos a partir da criação de perfis nos sites de redes
sociais – fato característico destes. Nos perfis as pessoas colocam informações pessoais que podem
ser usadas em seu “benefício” dentro de suas redes sociais (Boyd e Ellison, 2007, apud RECUERO,
2009).
28
Gráfico 1 : Gráfico com as principais redes sociais digitais ocidentais até fevereiro de 2012 13. Como se pode observar,
existem “n” sites de redes sociais para os mais diversos fins. Esses sites só existem porque há demanda dos usuários,
que usam tais ferramentas para socializar com seus pares ou, simplesmente, compartilhar informações.
Para Dorring (2002, apud RECUERO 2009), a apropriação dos perfis em sites, propiciada
pela liberação do polo de emissão (LEMOS 2002), se dá dentro da construção permanente do “eu”
em redes sociais.
As interações dentro dessas comunidades virtuais também podem ser vistas em um processo
assíncrono (RECUERO, 2009), quando os atores podem resgatar aquilo que já foi dito,
compartilhado e, por sua vez, acentuam novas conversações. Lembrando que essa é uma
característica particular das redes sociais, especialmente as digitais, de se trabalhar em um processo
de long tail (GABRIEL, 2010; Brasil Acadêmico, online)15, com possibilidades de resgates das
13 Disponível em < http://www.ethority.net/blog/social-media-prism/ >. Acesso em 16/04/2012.
14 Tradução de Recuero para: Common to concepts such as "patchwork identity," "narrative identity," "multiple self,"
"dynamic self," and "dialogical self" is a focus on constructedness, change and diversity. Precisely these aspects are
to be found on personal home pages: The home page is always "under construction;" it can be regularly updated to
reflect the latest self-conceptions.
15 A Long tail, como é chamada em inglês, desenvolvida por Chris Anderson, em 2006, sinaliza que existe sempre uma
procura por processos/produtos que não estão necessariamente no topo ou em evidência naquele momento por
29
conexões e do aproveitamento, em larga escala, dos laços fracos ( GRANOVETTER, 1973), que, por
sua vez, possibilitam um maior retorno à criação de capital social nas redes sociais (fato que
interessa às marcas – em detrimento de laços fortes, mais efêmeros, do ponto de vista temporal e de
relacionamentos).
Sim, precisamos interpretar o computador também como agente nas interações, como já foi
públicos de nicho. Anderson demonstrou, por meio do estudo de causa longa, que a procura por opções menos
populares geram um volume maior de procura que os mais populares e que estão em evidência. Por exemplo, se uma
marca publica conteúdo em uma mídia social este é um conteúdo com potencial interacional a qualquer momento do
tempo, não ficando restrito a apenas o momento em que foi publicado.(GABRIEL, 2010; Brasil Acadêmico, online)
16 Aquele que agrega valores positivos para a imagem das pessoas/marcas e que tende a influenciar decisões mais
rapidamente.
30
dito, por seu papel decisivo para que elas ocorram. Os computadores, bem como as redes sociais,
são facilitadores do processo comunicativo e intermedeiam a relação entre marcas (objetos
simbólicos inanimados) e pessoas.
As marcas também precisam ser estudadas como atores ativos na rede, pois não são apenas
transmissores de uma mensagem, mas interagem com ela, apesar de não serem humanos. A
diferença, entretanto, entre marcas e pessoas nas redes sociais, como apontado pelo pesquisador de
marcas Heber Sales (online, 2012), em seu blog pessoal, é que ela é incorpórea.
Ainda assim, ao assinar mensagens publicitárias e branded content, ela faz de conta,
num caso típico de emissão delegada, que tem uma identidade social, que é
culturalmente "existente". E nós, enquanto audiência, fazemos de conta que assim o é,
apesar de sabermos muito bem que o emissor empírico de tais mensagens é outro:
profissionais de comunicação, criativos e produtores culturais. (SALES, online, 2012)
Apesar de ter sua identidade assinada por outros, a marca ainda comunica por meio dos seus
conteúdos nas redes sociais. Essa produção de conteúdo é chamada de branded content ou,
representada pelo marketing de conteúdo e relacionamento, que muito se vale do conceito de
“Marketing 3.0” de Philip Kotler, Hermawan Kartajaya e Iwan Setiawan (2010). Segundo os
pesquisadores o “marketing 1.0” se valia, somente, do produto. No chamado “2.0”, baseada na era
informacional, o centro era o consumidor (a frase representativa para esta fase é “o cliente é Rei”).
Já o “marketing 3.0”, que se cria a partir do “2.0”, valoriza a colaboração, características e ânsias
humanas, crê na emoção e vai para onde as pessoas indicam. Esse, portanto, é um marketing de
valores. Nesse novo campo de marketing, as marcas criam opções de valores para as pessoas com
quem se relacionam nas redes sociais. As marcas representam valores humanos e criam
personagens, com características e emoções humanas, para interagir com as pessoas. Esses valores
formam seu corpo nas redes sociais, sua personificação.
Essa personificação das marcas pode ser observada em seu posicionamento de
relacionamento e produção de conteúdos para seus perfis em sites de redes sociais.
Algumas instituições, entretanto, não ficam apenas na criação intrínseca dos personagens
para suas marcas, vão além e o trazem para a vida personagens, que representam literalmente sua
personalidade. Este é o caso do pássaro azul do Twitter chamado de Larry17, que representa as ideias
31
da empresa de tecnologia. Larry, entretanto, não é ativo na construção da representação da marca ao
interagir com usuários da rede. Por outro lado, há exemplos de personagens que passam a interagir
em nome da marca. Este é o caso do “Syenito”, o mascote da empresa baiana Syene
Empreendimentos18. O Syenito tem seus próprios perfis das redes sociais e interage com
consumidores e clientes da marca com uma identidade própria e valores de baianidade (Syenito, por
exemplo, gosta de Axé e de ir ao teatro local - essas “dicas” de sua baianidade são dadas em suas
postagens nas redes sociais). Syenito tem perfis no Twitter, Facebook, Orkut e também no Google
Mais19, além de escrever para o blog da Syene, onde interage diretamente com seus amigos (que não
são fãs necessariamente da fan page da Syene20) sobre os mais diversos assuntos da atualidade.
em-ex-jogador-do-boston-celtics/ >
18 A Syene Empreendimentos é uma construtora e incorporadora.
19 Disponível, respectivamente em: www.twitter.com/syenito, www.facebook.com/syenito,
20 Disponível em: http://www.facebook.com/syeneonline
32
Figura 2: Perfil do Syenito no Facebook.
Com o Syenito, a marca da Syene ganha corpo e uma personalidade, que não é
necessariamente a da própria Syene, mas uma que a represente em todas as situações possíveis e
mostra aos consumidores seus valores e identidades por meio das redes sociais, interagindo com
uma personificação com características humanas.
33
4.4 FACEBOOK: O SITE DE REDE SOCIAL MAIS PROEMINENTE EM POTENCIALIZAR
INTERAÇÕES
Atualmente, apesar das centenas de sites de redes sociais (veja Gráfico 1 na página 27 ), um,
em especial, se destaca, o Facebook. Esta ferramenta potencializa as interações entre pessoas e
entre pessoas e marcas.
Fundado em 2004, o Facebook começou suas operações com uma ferramenta para interligar
estudantes de diferentes universidades norte-americanas. Rapidamente foi se expandindo e ganhado
novos adeptos até chegar à marca de 5 milhões de estudantes e, posteriormente, ser aberta para
todos os usuários com acesso à internet. Em março de 2012 o site alcançou, aproximadamente, 901
milhões de usuários cadastrados em todo o mundo (PROTALINSKI, online, 2012). No Brasil são
45 milhões de usuários, 5% do total de indivíduos presente no Facebook (UNIVERSITÁRIO,
online, 2012). Para efeitos de comparação, a segunda rede social com mais usuários no Brasil é o
Orkut, com 34,4 milhões de usuários conectados. O Facebook ultrapassou o Orkut em números de
usuários em dezembro de 2011, segundo dados do IBOPE (2011).
O grande atrativo do Facebook, em relação às outras mídias, como o Orkut, são as
ferramentas que potencializam as interações entre os usuários, como o botão “curtir”, botão
compartilhar e a possibilidade de fazer comentários diretamente nas postagens feitas pelos usuários.
34
Ao interagirem, por meio de qualquer uma dessas formas, essas interações ficam disponíveis nas
timelines21 (linhas do tempo em português) dos usuários. Este fato faz com que outros indivíduos
visualizem e também possam interagir na mesma postagem, criando e expandindo potencialidades
de turnos conversacionais.
Figura 4: Em cada postagem de usuários ou fan pages no Facebook, o botão “curtir”(like) fica disponível para os
“amigos” ou fãs interagirem com a postagem. Além do “Curtir”, o “Comentar” e o “Compartilhar” são as formas
primárias de interações na redes social digitais.
• Criação de listas de interesses para acompanhar as atualizações, por exemplo, dos amigos de
trabalho, colégio, etc;
• Criação de grupos de interesses (fechados, semipúblicos ou públicos);
• Criação de eventos (como festas de aniversários, lançamentos de livros, etc.) em que se pode
convidar amigos na rede;
• Criação de aplicativos (como jogos, feed de notícias, etc.).
35
isso, as pessoas podem abrir turnos conversacionais ao postar mensagens públicas no “Mural” 22
(“timeline”) das páginas das marcas.
Em meio a tantas atualizações, provindas de interações entre as redes sociais dos usuários, o
Facebook disponibiliza, como padrão, uma barra de tarefas, em sua parte superior. Tal barra de
tarefas é responsável por gerenciar as atualizações em três categorias:
a) Adição de novos amigos: quando um usuário adiciona outro como amigo essa atualização
surge na barra de tarefas do segundo, que pode optar por responder a solicitação de amizade
ou não. No caso das fan pages, o indicador é de perfis que curtiram a página;
b) Mensagens: aba onde se pode visualizar as conversas privadas de cada usuário com seus
respectivos amigos. O sistema é similar para as páginas de empresas, como já foi
mencionado;
c) Atualizações triviais: “curtir”, comentários, compartilhamentos e outras atualizações
(como solicitações de aplicativos, marcações em postagens e fotos, jogos, atualizações de
listas e grupos) são mostrados nessa aba.
Como se pode ver, o Facebook é uma ferramenta social que potencializa interações à medida
que oferece inúmeras ferramentas dentro de sua interface, que impulsiona o relacionamento entre
36
indivíduos e, também, entre indivíduos e marcas por meio das fan pages.
Com a ajuda da barra de atualizações ou ferramentas, o Facebook cria uma
hiperorganização23 que faz com que os usuários permaneçam muito tempo dentro da ferramenta.
Segundo pesquisa da ComScore (online, 2012), em dezembro de 2011 o usuário médio brasileiro
passou em torno de 4,8 horas conectado no Facebook diariamente, contra apenas 37 minutos em
dezembro de 2010, o que dá um crescimento de 655%. O salto de usuários brasileiros no período foi
de 12 para 36 milhões, um crescimento de 192%. Hoje são mais de 45 milhões de brasileiros
conectados.
Ao usarmos a ferramenta, ficamos ávidos por uma atualização nova que surja na barra de
ferramentas. Outro ponto importante é o fato da ferramenta oferecer a possibilidade do estudo direto
de cada público conectado em fan pages.
Diferente de outras mídias, como o Twitter, onde usuários têm acesso às mesmas
funcionalidades que empresas, o Facebook oferece páginas exclusivas para empresas, que se
diferenciam dos perfis públicos dos usuários comuns. Essas páginas oferecem diversas
funcionalidades, dentre as quais a obtenção de dados sobre o engajamento da marca no Facebook:
números de “curtis”, compartilhamentos, postagens com mais visualizações, número de pessoas que
estão falando sobre a marca na rede. Esses dados podem ser decisivos para que a marca mude sua
estratégia de conteúdo e de relacionamento com seus fãs. Outra funcionalidade que as páginas para
marcas apresentam é a possibilidade de se criar aplicativos para serem inseridos em “abas” dentro
da página. O resultado é que se pode criar sites dentro das fan pages. Esses sites funcionam como
ambientes de contato das marcas com seus fãs, sem a necessidade dele sair da fan page. Um
exemplo de aproveitamento dessas funcionalidades é possível ser observado na página da marca
Red Bull24 (Figura 6).
23 Quando falo em hiperorganização, estou me referindo a categorização das informações relevantes para os usuários
por meio da barra de ferramentas e da timeline.
24 Disponível em: < http://www.facebook.com/redbull >
37
Figura 6: Página de fãs da fabricante de energético Red Bull. A Red Bull moldou sua página no Facebook para que o
usuário tivesse uma experiência de navegação similar a um site. A Red Bull aproveitou o sistema de abas do Facebook e
criou páginas dentro de diversas abas.
A página é dotada de algumas abas, cada uma com sistemas de páginas internas, muito
semelhantes às organizações de sites convencionais.
Tal é a adoção das fan pages por empresas, que algumas até deixam seus sites de lado e
migram toda sua comunicação institucional digital para a página no Facebook. Um bom exemplo
desta tendência é o que fez a Agência África, uma das maiores agências de comunicação
publicitária no Brasil, que transportou seu site para uma página do Facebook25, se tornando um dos
exemplos de sucesso de adoção das redes sociais.26 .
25 Disponível em: < www.facebook.com/agenciaafrica >
26 Existem outros casos da adoção de redes sociais digitais como sites corporativos. Alguns casos conhecidos: são o de
de uma agência argentina que mudou seu site para o Twitter ( http://portal3.com.br/wp/agencia-abandona-site-e-
migra-para-twitter ) e outra agência agência de comunicação australiana que passou todo seu conteúdo institucional
http://www.hypeness.com.br/2012/04/o-primeiro-site-de-agencia-no-pinterest/ ) para o a redes social Pinterest
(http://pinterest.com/ ), febre na internet no fim de 2012 e começo de 2012.
38
Figura 7: Página sobre a Agência África dentro da fan page da marca em seu Facebook.
39
4.4.3 Interação efetiva no Facebook e nas redes sociais
A partir do que foi visto, as interações com as marcas no Facebook podem acontecer de duas
maneiras:
Se a relação das marcas com os indivíduos começa com o marketing de conteúdo e depois
passa para o marketing de relacionamento, é no monitoramento que a eficácia dos dois primeiros é
analisada.
Na verdade, o monitoramento, geralmente, é iniciado antes de se constituir o
posicionamento estratégico digital de qualquer marca. É, pois, no monitoramento que serão
definidos as redes, o tipo de conteúdo e as abordagens de interações que serão feitas com os target
espalhados pela web. Por isso, o monitoramento é feito em algumas categorias principais:
40
a) Monitoramento de marca;
b) Monitoramento de público;
c) Monitoramento de Concorrência e;
d) Monitoramento de tendências (cool huting, em inglês).
Por exemplo, um monitoramento prévio serve exatamente para determinar como uma marca
pode ou deve entrar nas redes sociais. Esse processo de monitoramento e inteligência competitiva, é
claro, não é exclusivo para as novas mídias, podendo ser adotado na construção de um
planejamento para a comunicação tradicional. O diferencial do monitoramento de marcas nas redes
sociais, entretanto, é a velocidade e quantidade de dados que podem ser coletados. Dessa forma,
estudos de monitoramento podem ter um paralelo com estudos netnográficos.
A netnografia, ou etnografia digital, nada mais é que a adaptação da etnografia tradicional
para os ambientes, as comunidades online. A etnografia é um método usado nas ciências sociais,
como antropologia, para estudar características e hábitos de determinadas comunidades, com a
presença de um observador passivo ou ativo. Na netnografia, assim como no monitoramento,
aplicado como uma ação de marketing, se realiza o estudo de comunidades, de públicos.
O monitoramento pode ser feito de diversas formas, desde o uso de ferramentas gratuitas,
chamadas no mercado de marketing como “parciais” (por não oferecerem uma gama rica de dados)
e gratuitas, e plenas, geralmente pagas 27 e que organizam os dados de formas mais vantajosas. O
TweetStats,28 por exemplo, é uma ferramenta parcial que organiza os dados de atualizações de
interações de um perfil no Twitter, como o total de publicações, os dias da semana com maior
publicações, organização das publicações por horários, os perfis que mais replicaram a mensagem,
nuvem de termos mais usados nas postagens no micromensageiro29, etc.
27 Ferramentas de monitoramento pleno, geralmente, cobram por mensalidades em seus plano de dados.
28 Ferramenta que organiza informações importantes sobre contas de Twitter ( www.tweetstats.com )
29 A pesquisadora Raquel Recuero considera o Twitter um micromensageiro e não mais um microblog. Recuero
pondera que as pessoas não usam mais (ou apenas) o Twitter para falar sobre seu dia – objetivo inicial da ferramenta
-, mas, o usam para conversar.
41
Figura 8: Imagem do site TweetStats, que promete coletar informações públicas dos perfis do Twitter, como número de
postagens por dia e mês e número total de replicações. A ferramenta consegue analisar os dados dos perfis no Twitter,
mas não fornece dados da influência desses perfis.
Apesar dessa riqueza de dados, o Tweetstats não se compara, por exemplo, com as
funcionalidades do Scup30, uma ferramenta de coleta e análise de dados plenos em redes sociais,
cujas funções são mais ricas, como a análise individual de cada publicação em um site rede social,
capacidade de coletar mensagens em diversos sites de redes sociais diferentes (como Twitter,
Facebook, Foursquare31, Orkut, Instagram32, Google Mais, etc), polarização dos dados,
estratificação dessa polarização por períodos de tempo, categorização de cada publicação, alcance
estimado de cada publicação, nuvem de termos mais completa – com o número de ocorrências de
cada termo -, assuntos mais publicados pelos perfis, usuários que mais interagem positivamente e
negativamente, etc.
30 http://www.scup.com.br/
31 Disponível em: www.foursquare.com
32 Disponível em: www.instagram.com
42
Figura 9: Exemplo de mensagem publicada em sites de redes sociais que foi coletada pelo Scup. A ferramenta, como se
pode ver, oferecer a possibilidade de diversos tipos de análises da citação, como a análise da polaridade (negativa,
positiva ou neutra), categorização, dos termos mais usados (palavra-chave), etc.
Figura 10: Após serem coletados e analisados (conforme fig. 9) as citações coletadas no Scup transformam-se em
dados, que podem ser visualizados em formas de gráficos que compõem a análise, por exemplo, da imagem da uma
marca nas redes sociais a partir das interações de usuários.
43
No Facebook, apesar da rede social ceder alguns dados para ferramentas de monitoramento
plenas, como o próprio Scup, existe uma ferramenta própria de monitoramento, na verdade
estatística: o Facebook Insights. Essa ferramenta só pode ser usada em fan pages. E como seu nome
sugere, a ferramenta oferece estatísticas que podem servir para que as páginas de marcas nas redes
sociais digitais possam organizar sua produção de conteúdo a partir dos insights apontados pelas
métricas da ferramenta.
Figura 11: Exemplo de página de estatísticas do Facebook fornecida para fan pages. Na imagem pode-se ver o número
de pessoas que curtiram a página no período de um mês, o número total de amigos dos fãs que curtiram a fan page, o
número de pessoas que estão interagindo diretamente com a página e o total de pessoas que viram as atualizações da
página. O gráfico cruza o número de publicações da página, o número de usuários que estão interagindo e o alcance
total. Coleta do screenshot em 12/05/2012.
Entre os dados fornecidos pela página de estatísticas do Facebook, as empresas podem obter
o alcance direto da marca na rede, ou seja, sua penetração no Facebook. Para tanto, o Facebook tem
duas métricas específicas para esta análise: o “alcance” e o “pessoas falando sobre isto”. O alcance
é medido a partir do número de pessoas que viram qualquer conteúdo relacionado à página. Já a
segunda métrica é a análise da quantidade de “histórias” criadas por pessoas nas páginas – essas
histórias se baseiam no número de “curtições” dos usuários nas publicações da página, postagens no
44
mural da página, comentários em publicações, compartilhamentos das publicações, respostas às
perguntas, resposta de eventos, menções à página, marcações da página em fotos e chek-ins em
locais “marcados” ou recomendados pela página. Ou seja, “pessoas falando sobre isto” são as
interações orgânicas entre marcas e pessoas no Facebook. Quanto mais “pessoas falando sobre
isso”, mais capital social.
Voltando ao centro da discussão para o monitoramento, efetivamente, é ele que vai dar
insumos se a comunicação digital da marca nas redes sociais está ou não sendo efetiva. Como já foi
dito, o monitoramento permite a captação de métricas, seja por ferramentas parciais ou plenas,
definidas por cada empresa para analisar seu sucesso. No Facebook, por exemplo, uma instituição
pode definir como métricas de sucesso de seu posicionamento na rede:
Há inúmeros dados que podem ser usados para determinar o sucesso de uma marca ou não
45
nas redes sociais, no caso analisado, no Facebook. Todas essas métricas se baseiam em formas de
interações dos usuários com a marca, a maioria delas se dá a partir do marketing de conteúdo e
marketing de relacionamento.
Se a saúde da marca nas redes sociais, evidenciada pelas métricas, for positiva, tiver bons
números de engajamentos em seus conteúdos, a marca tende a manter a linha editorial que lhe
confere identidade na rede. Se os indivíduos não ligam para o tipo de conteúdo ou não
“compreendem” como é feito o relacionamento da marca nas redes sociais, fatalmente, ela terá que
mudar sua posição e criar uma nova identidade que acompanhe as tendências mostradas pelos dados
de monitoramento.
Dessa forma, são as pessoas que “moldam” as identidades das marcas nas redes sociais, pelo
menos das marcas que valorizam métricas de seu posicionamento digital. Algumas empresas
estabelecem posicionamentos em redes sociais, mas não fazem mensurações, seja quantitativas ou
qualitativas, de sua identidade fornecida pelo conteúdo e maneira como se relacionam com
indivíduos. Por isso, mais uma vez, o monitoramento se assemelha à netnografia. A priori,
monitoramento e netnografia partem do pressuposto de estudo de uma comunidade.
A etnografia estuda uma comunidade tradicional fechada, enquanto a netnografia passa a
estudar comunidades onlines (AMARAL, FRAGOSO e RECUERO, 2011). Ambas são tipos de
comunidades que se voltam para estudos de agrupamentos que “criam” seu próprio interesse, seja
em um vilarejo africano, uma comunidade virtual no Orkut ou os fãs de uma página no Facebook.
O monitoramento, por outro lado, apesar de sempre estar ligado ao interesse temáticos dos
indivíduos, estuda comunidades que “surgem” a partir do posicionamento de identidades de marcas
em redes sociais. O monitoramento, em outras palavras, estuda a identidade de um indivíduo, a
marca, no meio do cruzamento de interações da comunidade que a rodeia. Não é somente a
comunidade, é, também, o estudo de um “não-humano” e como se influencia a partir do contato
com a primeira.
46
O monitoramento também pode ser usado para determinar como as pessoas podem ser
influenciadas pelas marcas (SILVA, 2011). Nossa pesquisa quantitativa (item 5) poderia ser usada
para determinar, por exemplo, o que as marcas precisariam fazer para melhor se relacionarem com
comunidades de usuários brasileiros nas redes sociais, já que aponta algumas ideias importantes,
como o fato de que conteúdos voltados para o entretenimento têm maior aceitação pelo público.
Este seria, portanto, um monitoramento de públicos e tendências – apesar de não ser diretamente
ligada à interações em redes sociais e sim um survey. Segundo Martha Gabriel (2010), esses estudos
de monitoramento de marcas tanto podem ser usados para satisfazer como para tentar manipular o
público. Dessa forma, os dados podem fazer parte de uma “engenharia social” que são “práticas que
se referem a esforços para influenciar atitudes e comportamentos dos indivíduos por meio da
obtenção e análise dos dados pessoais deles” (GABRIEL, 2010).
A priori, o primeiro a ser atingido por um “ajustamento de arestas” é a marca que se propõe
a alcançar, influenciar e “manipular” o público. No momento em que está recriando estratégias de
conteúdo e relacionamento, as marcas estão, também, se recriando, refazendo sua imagem para o
público. O motivo principal dessa mudança é, justamente, o comportamento dos indivíduos nas
redes sociais.
O ciclo marcas - redes sociais – interações modifica o modo de ser das marca o tempo todo.
Entretanto, são, também, os indivíduos que preservam a marca nas redes sociais. Os consumidores
são os novos donos da marca na era das redes sociais digitais.
Nas redes sociais, no chamado marketing 3.0, as marcas não são donas de si, do seu “eu”.
Na verdade, as pessoas com quem interagem, seus fãs, seguidores, amigos, etc, são os moldes e, ao
mesmo tempo, seguranças da marca.
47
5 PESQUISA EMPÍRICA
As perguntas aqui propostas foram sugeridas com base em minha experiência em trabalho
de marketing, branding33 digital e relacionamento com usuários em redes sociais. As questões
procuraram abordar, em linha crescente, as formas de interações entre pessoas e marcas a partir do
desenvolvimento tecnológico e das redes sociais. As indagações foram divididas em três grupos,
para melhor organizar os dados:
a) Questões demográficas;
b) Questões sobre redes sociais e, finalmente;
c) Questões sobre interações com marcas nas redes sociais.
A primeira parte deste trabalho de pesquisa se valerá das impressões dos usuários das redes
sociais. Em um segundo momento, passaremos a estudar diretamente o papel das redes sociais e, em
uma terceira parte, o papel das marcas nesses ambientes.
A maior parte dos usuários respondeu que reside no estado da Bahia, estes são 51% do total.
O estado de São Paulo é o segundo, com 11% das respostas. O terceiro estado que mais contribui é
Minas Gerais, com 6% do total. Veja mais detalhes das regiões que mais colaboraram no gráfico a
seguir:
48
Gráfico 2: Divisão demográfica da pesquisa por estados da federação.
Fora do Brasil
Tocantins
Sergipe
São Paulo
Santa Catarina
Roraíma
Rondônia
Rio Grande do Sul
Rio Grande do Norte
Rio de Janeiro
Piauí
Pernambuco
Paraná
Paraíba
Pará
Minas Gerais
Mato Grosso do Sul
Mato Grosso
Maranhão
Goias
Esperíto Santo
Distrito Federal
Ceará
Bahia
Amazonas
Amapá
Alagoas
Acre
0 10 20 30 40 50 60
Na amostra, 27% dos pesquisados dizem que têm entre 21 e 24 anos, seguindo de perto pela
faixa de 18 a 21, com 26% do público alcançado. Usuários da faixa dos 14 aos 17 anos são 17%.
49
Gráfico 3: Idade dos participantes da pesquisa (em %)
3 2
17 5
5 Entre 14 3 17 anos
Entre 18 e 21 anos
Entre 21 e 24 anos
Entre 24 e 27 anos
14 Entre 27 e 30 anos
Entre 30 e 35 anos
Entre 35 e 40 anos
26 Entre 40 e 50 anos
27
Dessa forma, os dados mostram que a maior parte dos usuários das redes sociais digitais tem
menos de 27 anos, formando 84% da amostra. Portanto, essas pessoas podem ser 'enquadradas'
como parte da geração y - nascidos a partir do final dos anos 70, apesar de não haver uma
concordância sobre o ano exato de surgimento dessa geração. A geração y, ou “echo boomers, ou
“geração net”, ou “geração Why” (VASCOCELOS, MERCHI, GOULART, SILVA, 2010), é a
primeira geração conectada globalmente. Em teoria, essa geração desconhece barreiras e fronteiras
globais, já que a possibilidade de conexão com qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, por
meio das novas tecnologias de comunicação, já não é mais um sonho utópico.
Em outras palavras, a geração y é uma geração conectada e que leva aspectos importantes de
sua vida para os meios digitais, seja para se comunicar ou prover soluções para problemas pessoais
ou coletivos.
Do total de usuários que responderam a pesquisa, 64% se declararam do gênero masculino e
50
35% do feminino. Uma porcentagem não representativa, em termos percentuais, não declarou seu
gênero.
Na amostra, 50% dos pesquisados afirmam usar a internet e redes sociais há mais de seis
anos, 22% há menos de cinco anos, 16% até seis anos e apenas 8% há menos de quatro anos.
Mais de 6 anos
22
Até 6 anos
Menos de 5 anos
Até 4 anos
50
16
51
Gráfico 5: Uso de redes sociais (em horas por dia)
21
19
1 hora de uso
10 2 horas de uso
3 horas de uso
4 horas de uso
Mais de 5 horas de uso
15
35
A pesquisa também mapeou os principais sites de redes sociais que os usuários brasileiros
usam no seu dia a dia. Segundo os dados coletados, os sites mais acessados são: Orkut (98%),
Facebook (92%), Messenger – MSN (79%), e Twitter (72%); veja as demais ferramentas de rede
sociais mais usadas no gráfico.
52
Gráfico 6: Sites de Redes Sociais mais usadas pelos usuários.
6
Facebook
18
Twitter
17 Orkut
Menssenger -MSN
19 MySpace
Google Plus
Mídias Sociais 40
Linkedin
20 Flickr
Tumblr
79 Sonico
Instagran
98
72
92
0 20 40 60 80 100 120
Podemos observar que, até este momento, o Orkut mantém sua relevância mesmo frente ao
crescimento do Facebook. Outro dado interessante é o aparecimento de uma mídia social locativa
de compartilhamento de imagens, o Instagram, disponível apenas para usuários de smartphones,
com sistemas iOS34 e Android35. A relevância dessa mídia, que foi vendida por 1 bilhão de dólares
para o Facebook em abril de 2012 (O GLOBO, online, 2012), mesmo sem ainda ter um plano de
monetização36., está no fato de mostrar um novo cenário para as redes sociais, o avanço do mobile.
Quando perguntado se a criação de novas amizades é um fator decisivo para as pessoas
“estarem” em sites de redes sociais, 32% dos entrevistados responderam que sim, fazer novas
53
amizades é um fator importante. Entretanto, 22% dizem que este é valor “intermediário”, enquanto
46% afirmam que criar novas amizades foi o que menos lhes motivou a entrar em sites de redes
sociais.
Essencial 19
Importante 13
Razoável 22
Não importante 18
Insignificante 28
0 5 10 15 20 25 30
Essa questão aborda o centro de valor dos sites de relacionamentos: o contato entre os
indivíduos. Os dados coletados apontam que nem sempre as pessoas participam das redes sociais
digitais a procura de novos amigos. Os usuários, em sua maioria, criam perfis para estreitarem laços
com “amigos” já existentes no mundo offline.
Quando foi feita outra pergunta de natureza semelhante à anterior, mas com o foco na
manutenção de relacionamento preexistentes nas redes sociais, 83% dos usuários assinalam como
sendo este um fator relevante e apenas 8% dizem que esta é uma opção pouco importante ou
insignificante.
54
Gráfico 8: Grau de prioridade para manutenção de relacionamentos nas redes sociais
Dispensável 3
Pouco importante 5
Eventual 9
Importante 19
Prioridade 64
0 10 20 30 40 50 60 70
Dessa forma, os dados confirmam o que foi apontado pela questão anterior, que o papel
principal das redes sociais requerida pelos usuários brasileiros é a manutenção de conexões com
suas redes preliminarmente existentes, as pessoas e interesses onffline.
Muitas empresas já sabem disso e usam táticas, como promoções, uso de aplicativos e
criação de concursos culturais, voltados para as redes sociais, para conquistar novos fãs / seguidores
e ampliar seu alcance, em termos de números de pessoas conectadas entre os que já conhecem a
marca de outras mídias. Um exemplo dessa tentativa de conseguir mais alcance ao arriscar usar as
conexões de seus fãs pode ser observada em uma promoção recente da Nestlé que, ao comemorar
90 anos, dentre muitas ações, criou um aplicativo no Facebook por onde seus fãs poderiam criar um
número “90” a partir de fotos de perfis de seus amigos no site. Os amigos eram “marcados” na
montagem e avisados da marcação e poderiam, por outro lado, curtir ou não a página da empresa e,
mesmo assim, continuar participando da promoção marcando novos indivíduos no aplicativo.
55
Figura 12: Imagem da página promocional da Nestlé,37 que tenta ampliar seu alcance entre os amigos de seus fãs a
partir do engajamento dos segundos com a marca.
Tal exemplo de ação reforça a tentativa das marcas de espalharem para o seu target,
existente em diversos lugares da web, que elas têm presença naquele “ciberlugar”, ou mesmo fazer
com que prospects38 (consumidores) se transformem em clientes a partir do marketing de conteúdo
e relacionamento (GABRIEL, 2010) nas redes sociais. A ação da Nestlé, por exemplo, ativa, por
assim dizer, o empowerment do consumidor, sua capacidade de criar alcance e engajamento, citado
por Philip kotler, Hermawan Kartajaya e Iwan Setiawan no livro “Marketing 3.0” (2010):
Isso é captado pela Lei de Reed, que muitas vezes é usada para explicar o fenômeno da
mídia social. De acordo com Reed, o poder de uma rede em um ambiente de muitos-
para-muitos de n membros é igual a 2 n. Sempre que n é maior ou igual a 5, o poder da
rede muitos-para-muitos é maior do que o da rede um-para-um. Esse cálculo simples é o
conceito central do empowerment do consumidor. (KOTLER, KARTAJAYA,
SETIAWAN, 2010, pg 71)
56
O conceito de empowerment, que poderia ser sintetizado como sendo o grau de influencia de
um capital social voltado para o consumo, mostra que a rede de relacionamentos dos consumidores
é poderosa. Nas redes sociais digitais, uma marca não significa nada se não há
indivíduos/consumidores falando sobre ela39. Dessa forma, como a conversa entre pessoas sobre a
história contada pela marca é a nova propaganda (KOTLER, KARTAJAYA, SETIAWAN, 2010, pg
72). Essa propaganda em nada tem a ver com a publicidade tradicional ( ver capítulo 3).
Quanto à manutenção de relacionamentos amorosos nas redes digitais, apenas 17% dos
entrevistados assinalaram como essencial. Por outro lado, 69% responderam que este tipo de
relacionamento não era o foco de sua vida digital.
Dispensável 53
Pouco importante 16
Eventual 14
Importante 8
Prioridade 9
0 10 20 30 40 50 60
39 No site de redes sociais Facebook há uma métrica que se empenhar, exatamente, em estabelecer as pessoas que
estão falando sobre a marca.
57
Sobre o grau de relevância dos sites de redes sociais na vida das pessoas, 51% dos
pesquisados declaram que estes são essenciais ou importantes em suas vidas; outros 41% afirmam
que sua importância é “regular” e apenas 8% dizem que são pouco significativos ou não são
importantes em seu dia a dia.
Gráfico 10: Importância das redes sociais digitais na vida das pessoas (em %)
Insignificante 1
Pouco importante 7
Razoável 41
Essencial 51
0 10 20 30 40 50 60
O dado apresentado, de que 92% das pessoas consideram os sites como importantes ou
essenciais em suas vidas, é um número interessante e que pode constituir mais uma resposta para
explicar o porquê as marcas e empresas precisam/tentam se relacionar e entender, cada vez mais, as
redes sociais digitais e os indivíduos que as ocupam, uma vez que os sites de redes sociais têm
papel central no dia a dia das pessoas, fazendo-as ficar horas à fio na frente das telas de desktops,
notebooks ou smartphones.
O terceiro grupo de perguntas, que compõem o questionário aplicado aos usuários de redes
sociais digitais no Brasil, diz respeito ao relacionamento direto de pessoas com marcas. Todavia, ele
foi dividido em duas partes. Na primeira parte serão apresentadas questões de relacionamento de
usuários com as marcas e em uma segunda camada questões que problematizam as interações entre
marcas e pessoas.
Em uma das primeiras perguntas, como foco no primeiro ponto, indagamos aos usuários
qual é o primeiro lugar onde costumam buscar informações sobre uma marca que acabaram de
conhecer, onde quer que tenha sido ou pelo motivo que for. A maior fonte de informações, para a
58
amostra analisada, é a internet, com 96% das respostas. Apenas 3% afirmam que buscam
informações em outros meios de comunicação.
Gráfico 11: Meios onde as pessoas buscam informações sobre marcas (em %)
1 12
Internet
TV
Impresos
Outro
96
Este é mais um fato que comprova e valida a importância das marcas apresentarem uma
comunicação digital consistente na internet. Se 79,9 milhões de brasileiros têm acesso à internet e a
maior parte deles tem algum perfil em redes sociais, manter uma presença online, que tem valor de
custo inferior ao de se produzir peças publicitárias para meios tradicionais, pode oferecer mais
oportunidades de visibilidade para as marcas. Contudo, caso não faça seu nome já estará
caminhando nas redes sociais, pois os usuários, com certeza, já estão falando de suas experiências
com produtos e serviços que oferece. Experiências boas e/ou ruins. Caso a marca não tenha um
posicionamento de produção de conteúdo e marketing de relacionamento nas redes sociais, é
provável que os internautas que estiverem procurando referências sobre a marca passem a ler as
experiências postadas por outros usuários e a partir daí formem suas opiniões sobre o que procuram.
É importante lembrar que a maioria dos usuários vão buscar informações sobre a marca na
internet e em redes sociais digitais depois de terem algum tipo um contato inicial, em meios offline,
como apontou nossa pesquisa, seja com produtos/serviços ou mesmo uma campanha publicitária.
A publicidade em meios tradicionais é limitada em termos de espaço e tempo de exposição,
ao contrário dos sites redes sociais, onde as empresas podem expor suas marcas por longos períodos
e espaços ilimitados. Para atrair as pessoas para esses espaços onde há maior exposição das marcas,
muitas empresas fazem campanhas transmedia (JENKINS, 2009). Para Henry Jenkins, em seu livro
59
“Cultura da Convergência”, transmedia se desenrola em diversas plataformas, simultaneamente, e
com uma mensagem diferente em cada uma delas, mas que se ligam em uma só história, um todo.
Um exemplo clássico são as incursões do George Lucas, um dos pioneiros em transmedia, nos anos
80, ao criar histórias paralelas para diferentes formatos, como cinema, TV, quadrinhos, games, etc.,
mas que faziam sentido ao juntar-se no todo, formando as histórias que integram o “Universo Star
Wars”. George Lucas sabia que seu público não se contentaria em fruir seu produto apenas nos
cinemas e procurou convergir estratégias de conteúdo para as principais mídias onde ele se
encontrava. Se há transmedia, há uma “cultura da convergência” que se envolve a partir da
facilidade do público em andar em diversas mídias ao procurar novas histórias para consumir,
portanto um processo sócio-econômico-cultural. “A convergência representa uma transformação
cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer
conexões em meio a conteúdos midiáticos dispersos” (JENKINS, 2009).
Sim
Não
47
53
60
Este é um dado importante e, claro, mais uma vez, evidencia o poder de influência de cada
indivíduo dentro das redes sociais. O exemplo da Nestlé comprova esse “poder”. As pessoas
confiam na opinião de outras pessoas. Os indivíduos passam a ter um papel de curadores de
conteúdos/temas para seus amigos.
Posteriormente perguntamos sobre o que leva as pessoas a usarem sites de redes sociais,
dessa vez o foco da indagação foi se o intuito era o de interagirem com marcas/empresas que
gostam. Os usuários que afirmaram que fazem isso como prioridade são 31%. 47% afirmam que
esta é uma atividade de pouco valor quando estão online.
Gráfico 13: Grau de prioridade dos usuários para interagir com marcas nas redes sociais
Dispensável 24
Pouco importante 23
Eventual 22
Importante 16
Prioridade 15
0 5 10 15 20 25 30
A maior parte dos usuários afirma que interagir com marcas nas redes sociais não é
prioridade. Mas, este já é um número esperado, uma vez que as pessoas priorizam seus laços fortes
e de amizades pessoais, como vimos anteriormente. Pode-se dizer que as marcas estão em um
patamar de laços fracos e “distantes”, na maioria dos casos. Interagir com elas é prioridade somente
para uma minoria, que, provavelmente, desenvolve ou já tem algum afeto (vindo de suas
experiências offline) e capital social e, assim, afunilam seus laços no online.
O pouco interesse por parte dos usuários também pode ser visto pela frequência com que as
pessoas interagem com as marcas. A maioria dos usuários brasileiros, 65%, apontam que a interação
com as empresas acontece esporadicamente e apenas 35% do público interage com uma maior
frequência com alguma marca.
61
Gráfico 14: Periodicidade de interações com as marcas (em %)
Raramente 37
Eventualmente 28
Periodicamente 20
Sempre 15
0 5 10 15 20 25 30 35 40
É importante frisar que, mesmo com um número limitado de conexões de primeiro grau, elas
ainda podem influenciar um número de maior de pessoas: em algumas mídias sociais, como o
Facebook e Twitter, quando se interage com alguma marca, essa interação “aparece” na timeline da
pessoa que está interagindo, seja em sua fan page, aplicativo, etc. Essa “atualização”, então, fica
disponível para os amigos do usuário, que podem interagir com a mesma, sem necessariamente ter
contato direto com ela – usando indiretamente seu empowerment. Com este feed na timeline das
pessoas, a marca pode obter um alcance maior. O alcance nada mais é que o quanto a rede social
pode disseminar e influenciar informações entre indivíduos que estão em primeiro grau de sua rede
ou nos subsequentes.
Entre os tipos de marcas mais seguidas pelos usuários40, as que estão no topo envolvem o
ramo musical (cantores e bandas), com 75% das respostas, entretenimento (celebridades diversas e
de televisão, programas de TV, cinema, etc.) vem logo em seguida, com 65% das respostas
assinaladas, e marcas de moda ficam em terceiro, com 24%.
62
Gráfico 15: Tipos de marcas seguidas nas mídias sociais
Música 75
Entretenimento 65
Moda 24
Instituições públicas 23
Viagens e Transpostes 23
Estabelecimentos comerciais 20
Bebidas 19
Calçados 17
Alimentos 16
Automobilismo 12
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Tais resultados indicam que o uso das redes sociais para o consumo de marcas de mídia de
entretenimento é prioridade dos usuários. Essas respostas do questionário podem ter um paralelo
com questões apresentadas pelo Instituto Gartner de Tecnologia (CAR SALE, online, 2012), que
apontou que jovens norte-americanos preferem ganhar um iPhone41 ao invés de um carro. Como
veiculado pela edição online do Jornal New York Times (2012, online), no passado, os automóveis
representavam a ideia máxima de liberdade para os jovens. Esse objeto foi substituído, hoje, pela
ideia de conectividade em qualquer lugar e com qualquer um por meio das novas tecnologias,
especialmente as mobile. A opção dos jovens daquele país é por um aparelho que tenha
conectividade online e mobilidade de comunicação e não uma licença para dirigir. A mobilidade
41 Smartphone da fabricante de computadores Apple.
63
digital significa a liberdade que um dia foi representada pelos automóveis. Talvez por isso as
marcas de automobilismo são as de piores desempenhos na pesquisa realizada para este trabalho,
obtendo apenas 12% das lembranças dos usuários.
Gráfico 16: Motivos para interagir com marcas nas mídias sociais
Esperam Beneficios(prêmios) 30
Gostam da Marca 29
0 10 20 30 40 50 60 70
As formas de interações entre pessoas e marcas também foram questionadas. Exatos 50%
dos entrevistados afirmam que a forma mais usada para se comunicar com as marcas é por meio de
64
texto escrito; 22% dos usuários dizem que interagem postando links (para páginas que falam sobre
algo da marca); 9% compartilham fotos e; 7% da amostra pesquisada afirma que usa vídeo para se
comunicar.
Gráfico 17: Formas de conteúdos mais usados nas interações com as marcas
11
7
Texto
Troca de links
Imagens
9
Vídeos
50
Outras formas
22
A próxima questão tenta dar conta do sentimento dos usuários quando se veem envolvidos
em um turno conversacional, seja por texto, imagens, vídeos e demais formas, com uma marca.
Os turnos conversacionais são resultados diretos das interações entre atores nas redes
sociais. Muitas vezes esses turnos não acontecem em tempo real, mas surgem a partir da resposta de
perguntas feitas; na boa comunicação face a face sempre há um interlocutor e um ouvinte, mas nos
turnos conversacionais das redes sociais, muitas vezes, dois ou mais atores podem conversar
simultaneamente sem respeitar a vez da comunicação (MODESTO, online).
Quando foi questionada a satisfação em relação às interações diretas das marcas, 20%
afirmam ficarem surpresos. Apesar disso, 26% dos entrevistados se dizem satisfeitos e alegres com
o contato e 14%, geralmente, não ligam para a abordagem feita pela marca e somente 8% não
gostam quando há algo do tipo. Se as pessoas buscam relacionamentos nas redes e são atendidas, o
65
valor de satisfação com as marcas é maior, aparentemente. A tendência, inclusive, é que o indivíduo
volte a interagir no futuro com a marca.
Não gostam 8
Não ligam 19
Surpreso 20
Satisfeito 26
0 5 10 15 20 25 30
Já os motivos que fazem com que as marcas entrem em contato com usuários nas redes
sociais variam, segundo respostas da pergunta específica para este tema. Ao todo, 40% dos
entrevistados acreditam que o contato da marca é feito de maneira indesejada, se configurando
como spam; ou seja, o usuário não fez nada, nem ao menos segue a marca nas redes sociais, para
ser abordado sem sua “permissão” prévia. Outros 36% dos entrevistados dizem que a interação
aconteceu por meio de mensagens de boas vindas, quando passaram a fazer parte das redes das
marcas. Já 29% dos entrevistados afirmam que a interação se deu a partir da resposta por alguma
pergunta específica feita sobre a marca / produto / serviço nas redes em que ela, a marca de sua
preferência, estava participando.
66
Gráfico 19: Como as marcas entram em contato com usuários nas redes sociais. (em %)
16
22
29
Como se pode observar, a maioria das interações entre marcas e usuários nasce a partir de
iniciativas dos próprios usuários, uma vez que podemos desconsiderar os spans enviados pelas
empresas, sendo que elas não tinham a “permissão” (ser amigo, ser seguido, ter como fã, etc.) dos
usuários. A prática de spam, dessa forma, se configura com uma antipropaganda para as empresas.
Quando uma pessoa passar a ser fã de um marca em sua fan page no Facebook ela está fazendo um
opt-in42 e aceitando receber atualizações daquela página em sua timeline na rede social. O opt-out
também está de fácil acesso para os consumidores de conteúdo das redes sociais bastando dar um
deslike ou um unfollow.
Nossa pesquisa aponta, todavia, que 68% dos brasileiros consideram que as marcas que
interagem constantemente nas mídias sociais fazem isso acertadamente, em termos de assiduidade.
Somente 29% dos entrevistados acreditam que não faz muita diferença se a marca interage muito ou
42 Opt-in e Opt-out são práticas desejáveis para o marketing digital, ou seja, as pessoas precisam ter facilidade em
assinar e requerer sair da assinatura a qualquer tempo que desejar, respectivamente. O Opt-in também “permits use
of personal information within the organization but requires the opt-in consent before personal information could be
disclosed to third parties outside the organization. […] Under opt out, a firm that intends to share non-public
customer information with third parties ... must give consumers an opportunity to deny them permission to do so, or
opt out” (BOUCKAERT, DEGRYSE, 2006).
67
não, enquanto 3% deles afirmaram que as marcas não deveriam interagir ou postar conteúdos com
muita frequência nas redes.
Bom 68
Ruim 3
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Os usuários acreditam que a maioria das marcas, que têm bom conteúdo e sabem como
interagir com seu banco de “amigos”, deveriam permanecer com tal estratégia, pois este é um bom
posicionamento. Essa estratégia não é custosa, mas baseada em bons conteúdos (marketing de
conteúdo) e relacionamentos (marketing de relacionamento) respeitosos nas redes. Entretanto, essa
comunicação, principalmente de conteúdo, não pode ser “chapa branca”.
Em minha experiência com o trabalho de comunicação digital de marcas nas redes sociais,
que desempenho desde 2009, notei que indivíduos não interagem com o que chamamos de
comunicação chapa-branca, rasa ou sem “provocação”. Uma comunicação chapa-branca é tão
somente o envio de conteúdos sem o estudo do público que se quer atingir, é a publicação de
conteúdos institucionais durante toda a presença nas redes sociais, é a comunicação que não
estimula a participação dos usuários. Tal comunicação, que podemos chamar de “preguiçosa”, não
assimila valores das marcas ao seu conteúdo. Por exemplo, imaginemos que a Coca Cola lança no
mercado um novo refrigerante baseado em Açaí43, e na sua página do Facebook a empresa poste
apenas “Estamos lançando este novo produto de Açaí.” É possível que tal postagem não alcance
muitas interações por parte dos fãs. Não há sentimento da marca na postagem e nem ela vai
68
despertar sentimentos nos usuários. A Coca Cola é uma marca que vende uma imagem de juventude
e busca nesse prospect criar e engajar consumidores em clientes. Se a empresa decidir que a
postagem para o lançamento de seu produto for um vídeo de um jovem pulando de paraquedas no
meio da Floresta Amazônica ou surfando a Pororoca44 do Rio Amazonas, com uma latinha do novo
refrigerante, provavelmente o uso dessa nova linguagem, jovem, expressiva e apelativa, que tenta
induzir uma personalidade que aproxime marca e fã45, fará mais efeito entre seu público, que irá
engajar-se com a causa do lançamento e, fatalmente, irá influenciar suas redes sociais com aquela
novidade.
O conteúdo provocador faz mais sentido do que um conteúdo “chapa-branca”, morno e que
não produz sentimento. A marca precisa conquistar o coração das pessoas nas redes sociais (HOLT,
2005; KOTLER, KARTAJARA e SETIAWAN, 2010). O bom conteúdo abre a marca para as
possibilidades de interações e turnos conversacionais com usuários.
Sobre a opinião dos usuários quanto à eficácia da presença das marcas nas redes sociais
digitais: 77% dos entrevistados apontaram que acreditam que esta é uma boa prática para as
empresas se aproximarem das pessoas, já 22% afirmaram que “talvez” e apenas 2% não acreditam
nessa eficácia. Portanto, manter uma presença digital, onde as pessoas possam interagir diretamente
com as marcas, é desejável pela maioria das pessoas.
Quando uma marca insere conteúdos nos sites de redes sociais, a maioria, 76%, dos
entrevistados asseguram que dão atenção imediata, seja lendo, vendo e ouvindo. Já 22% costumam
responder imediatamente e 14% dos usuários chegam a replicar o conteúdo postado, se gostarem.
69
Gráfico 21: Reação das pessoas quando uma marca
posta conteúdos das mídias sociais
4,3
15
Dão atenção (lêem, vêem ou
ouvem)
Respondem imediatamente
14 Replicam imediatamente
Ignoram a postagem
Linha 4
76
22
Já sobre a questão própria de cada posicionamento das marcas nas mídias sociais, a maioria
das pessoas pesquisadas, 60% delas, acredita que manter um posicionamento claro é eficaz para
uma boa imagem da marca. Já os que também creem que as marcas devem, antes de qualquer coisa,
respeitar o espaço do cliente nas redes sociais são 78% do total. É interessante notar que 32%
acreditam que as marcas devem se mostrar como “sustentáveis”. E 23% acreditam que as marcas
devem tentar evidenciar que têm os melhores produtos e serviços nas redes sociais. Apenas 19%
responderam que se deve pensar, em primeiro lugar, em evidenciar suas responsabilidades sociais e
ambientais. E, ainda, 26% ficam satisfeitos e alegres quando uma marca interage diretamente –
quando há uma mensagem direta ou ela publica algo personalizado em seu mural, por exemplo.
70
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a coleta de dados, análise bibliográfica e teórica, faremos aqui uma breve reflexão
sobre o resultado do trabalho. O caminho de entrada das marcas em uma rede social, onde irá
buscar aproximações com seu público-alvo, é feito pelos sites de redes sociais. Neste espaço social
as marcas podem interagir livremente com pessoas comuns. Este é um fator importante, uma vez
que a pesquisa empírica apontou que 92% dos brasileiros consideram as redes sociais digitais como
essenciais em suas vidas. E que estas representam 96% dos meios onde as pessoas vão buscar
informações sobre marcas que lhes despertem algum interesse, seja por produtos/serviços ou
questões de identidade.
Por parte das marcas, a atividade de interação é fomentada por seu branding, processo de
construção de identidades a partir da produção de conteúdos e relacionamentos com as pessoas – tal
processo não é exclusivo, mas se potencializa nas redes sociais, principalmente nos sites de redes
sociais, onde a marca pode comunicar-se diretamente com as pessoas por meio de perfis. O
branding é contínuo e não fixado em apenas uma característica, uma vez que a marca passa a levar
em conta diversos tipos de interações com atores para construir continuamente sua personalidade
nas redes sociais. Segundo Stuart Hall (2005), ter uma identidade volátil, fragmentada e sempre em
construção é uma característica humana. As marcas nas redes sociais também passam a adotar esses
preceitos, mesmo que intrinsecamente em seus processos de 'publicização'.
Entretanto, tais conformidades de identidades das marcas só podem ser observadas a partir
da coleta e análise de dados da comunidade que a circula quando já estabelecida em perfis e páginas
de sites de redes sociais. Nos sites de redes sociais as informações de interações são mais facilmente
coletadas, podendo ser aproveitadas a qualquer momento em ferramentas de coletas de dados. O
Facebook, por exemplo, oferece uma ferramenta própria para se analisar como se dá o engajamento
de pessoas com as fan pages, páginas próprias para as marcas dentro do site que se diferencia dos
perfis – nas fan pages as pessoas não adicionam marcas como amigas, mas se tornam fãs das
mesmas ao “curtirem” as páginas. Tais ferramentas de monitoramento permitem que as marcas
saibam quais são as características de sua personalidade que mais fazem sucesso entre seus fãs ou
quais características dos perfis das pessoas, com quem interagem, devem adotar. Assim, em um
processo de inteligência competitiva para manter sua relevância e capital social alto, elas moldam
suas personalidades nas redes a partir dessas demandas.
Dessa forma, as redes sociais digitais podem ser vistas como ferramentas de mão dupla,
71
onde conformam identidades tanto de pessoas quanto de marcas. Se o consumo de produtos muda a
identidade das pessoas (HALL, 2005; SEMPRIMI, 2010;) a todo instante, a partir da rápida
evolução da técnica informacional, as interações também mudam seus aspectos individuais nas
redes sociais.
Quando há interações pessoas-marcas, essa é feita entre humanos, seres corpóreos, e marcas,
seres incorpóreos (SALES, 2012), criam-se laços/conexões por onde ambos podem se relacionar no
mesmo nível horizontal. Tal ponto está no desejo das pessoas quando veem uma marca se
posicionar assertivamente nas redes sociais, principalmente quando interagem com ela, fato que
apontado na pesquisa quantitativa com usuários das redes sociais digitais no Brasil, onde os dados
mostram que 26% dos brasileiros simpatizam quando uma marca interage /responde diretamente,
contra apenas 8% que não gostam de tal fato.
Entretanto, é importante lembrar, o relacionamento com marcas não é prioridade para
usuários dos sites de redes sociais no Brasil, como foi apontado pela pesquisa: sua prioridade é
conservar laços de amizades com outras pessoas.
Para aquelas pessoas que interagem com marcas, seu desejo é de se relacionar com marcas
conhecidas previamente do que passar a conhecer novas nos sites de redes sociais, apesar de que
tendem a interagir com uma nova a partir da indicação de um amigo. Tal possibilidade faz valer o
capital social das pessoas e o seu empowerment para disseminar a cultura de uma marca. O
Facebook, por ser uma mídia com hiperorganização de dados de interações, faz com que esse
empowerment seja ampliado (com atualizações de amigos sempre presentes na timeline das pessoas)
e que possibilita interações continuas entre marcas e indivíduos, seja pela abertura de turnos
conversacionais e outras interações diretas (como “curtições” de conteúdos ou compartilhamentos,
etc) ou interações do tipo seguir/curtir – onde o que as pessoas buscam obter capital social a partir
do tagueamento da reputação das identidades das marcas em suas fan pages, mesmo sem interagir
em turnos conversacionais com as mesmas. Por outro lado, o desejo da marca é conseguir um
mínimo de atenção dispensada pelos atores humanos nos sites de redes sociais, e que as pessoas
passem a se relacionar com elas e usem seu empowerment digital para influenciar outras em prol da
marca.
Este estudo se estabeleceu na busca por uma contribuição para as questões das identidades
das marcas-pessoas nas redes sociais digitais e ciberespaço. Muitas outras questões ainda podem ser
abordadas sobre este ponto. Espero, por fim, que essa pesquisa possa auxiliar a abertura que
questões futuras sobre o assunto já que a demanda de relacionamentos entre tais atores só cresce
72
mais e mais a cada dia.
73
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2006.
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organização da web. In: E-Compós, Vol. 9. 2007. Disponível em:
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BOUCKAERT, Jan. DEGRYSE, Hans. Opt In Versus Opt Out: A Free-Entry Analysis of
Privacy Policies in The Fifth Workshop on the Economics of Information Security. Junhode
2006. Robinson College, University of Cambridge, England. Disponível em: <
http://weis2006.econinfosec.org/docs/34.pdf >;
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74
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