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INADIMPLEMENTO DA SEGURADORA => DEFEITO DO SERVIÇO

Excelência o objeto do seguro em questão é o adimplemento em caso de sinistro


- a prestação do segurador. No presente caso não há como a prestação não ser em espécie,
pois houve o desembolso em espécie por parte da requerente.
Portanto, o atraso no pagamento, ou ainda o não pagamento é inadimplemento
da obrigação - “adimplemento defeituoso” - deve ter conseqüências meramente financeiras, com
a incidência de correção monetária, juros de mora e multa moratória que forem pactuados.
Quando o segurador nega o pagamento de indenização ao segurado,
configurado está o serviço defeituoso; por conseguinte, tal negativa gera dano ao segurado, e a
infração da seguradora está capitulada no art. 14, caput, do Código de Defesa do Consumidor.
Ao não pagar a indenização, a seguradora frustra a expectativa do cliente
em ser ressarcido pelo sinistro ocorrido, não obstante haver cumprido com sua obrigação de
pagar em dia as parcelas do seguro.
Portanto, pelo princípio da especialidade, é inevitável a aplicação do artigo 27 do
código consumerista, onde se lê ser de cinco anos o prazo prescricional para a pretensão à
reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço.
Tal princípio expressa, cabalmente, que a norma especial (Código de
Defesa do Consumidor) sobrepõe sobre a norma geral (Código Civil).
O Código de Defesa do Consumidor predispõe duas grandes órbitas de proteção
do consumidor: a primeira se ocupa com os chamados acidentes de consumo e vem detalhada nos
artigos 12 a 17; a outra, constante nos artigos 18 a 24, tem por objeto a responsabilidade por vício do
produto e do serviço.
Excelência, a prestação nos contratos de seguro deve ser fornecida com a
devida qualidade, com a devida adequação de forma que o contrato (o serviço-objeto) possa atingir
os fins que razoavelmente dele se espera.
O aleas presente nesse contrato de consumo leva a conclusão que incerto é o
“quando”, e não “se deve” ou "não deve" ser prestada a obrigação principal. Rizzato Nunes conceitua
tal diferenciação:
"O vício é uma característica inerente, intrínseca do produto ou serviço em si. O defeito é um vício
acrescido de um problema extra, alguma coisa extrínseca, que causa um dano maior que
simplesmente o mau funcionamento, o não funcionamento, a quantidade errada, a perda do valor
pago – já que o produto ou o serviço não cumpriram o fim ao qual se destinavam"1. (g.n.)

Assim, quando a anomalia resulta apenas em deficiência no funcionamento do


serviço, mas não coloca em risco a saúde ou segurança do consumidor não se fala em defeito, mas
em vício; fato do serviço está ligado a defeito, que está ligado a dano.
Há preponderante importância do Código de Defesa do Consumidor para a
ampliação dos direitos nas relações contratuais de consumo, distribuindo de forma mais equilibrada
os riscos entre o consumidor e o fornecedor; tanto que o Código de Defesa do Consumidor adotou a
responsabilidade objetiva mitigada.2
Em síntese, vício significa imperfeição que acarreta a inservibilidade ou a
diminuição do seu valor, posto que a reparação é possível nos moldes dos incisos do art. 18 do
Código de Defesa do Consumidor.
Já no caso de defeito, como no caso em tela, não há como enquadrar nos
incisos do art. 18. Por conseqüência o inadimplemento da seguradora é DEFEITO, e não vício,
estando regulado pela "SEÇÃO II" do Código de Defesa do Consumidor; art. 27 do mesmo diploma.

1 NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 2000.

2 MARINS, James. Responsabilidade da Empresa pelo Fato do Produto: Os Acidentes de Consumo no Código de Proteção e Defesa do
Consumidor. São Paulo: RT, 1993. p. 108.
SEGURO = OBRIGAÇÃO DE FAZER
No contrato de seguro a prestação do serviço é o objeto; portanto, o serviço é o
pagamento do valor contratado; se a empresa seguradora simplesmente não paga ou paga menos
do contratado, sem qualquer justa excludente, verifica-se que o serviço contratado foi prestado com
defeito, porque o serviço é, tão-somente, o pagamento do valor da apólice.
O não pagamento caracteriza serviço defeituoso pelo modo de seu fornecimento,
pois retira a segurança do consumidor que contratou espera receber o contratado. É imperativo ter
que a segurança referida na lei não é somente aquela física, mas também e principalmente, a
relação de confiança do consumidor na relação de consumo decorrente do contrato de prestação de
determinado serviço.
Responsabilidade pelo fato do serviço, que é a do caso sob exame, não se
confunde com aquela por "vício de qualidade", também responsabilidade do fornecedor, mas prevista
no artigo 20 e incisos; esta reverte-se em obrigação de dar (coisa certa), pois decorre de bem
específico, literal, sendo irrelevante quem dá; passível de gerar crédito (dar sem fazer).
Já a obrigação de fazer, não é literal, e seu inadimplemento resolve-se em
perdas e danos, podendo ser efetuado por substituto ("faz para dar").
O Código de Defesa do Consumidor, em matéria contratual, é vasto e
diferenciado, pois a lei estabelece parâmetros tanto para os contratos envolvendo obrigações de dar,
quanto para os contratos envolvendo obrigações de fazer, denominados genericamente de contratos
de prestação de serviços3.
Assim, o contrato de seguro tem por objeto o cumprimento da "obrigação de
fazer" cabível o art. 84 do CDC.

3 MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: O Novo Regime das Relações Contratuais. São Paulo: RT,
1999. p. 146.

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