26/10/2009
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Categoria: História
Cód. 01.12101.0507.2
Tradução
Eliseu Pereira
Revisão
Irene Pereira
Maria Isabel C. Dutra
Coordenação Editorial
Oswaldo Paião
Impressão
Gráfica Sumago
ISBN 978-85-85931-58-2
E permitida a reprodução de partes
desse livro, desde que citada a fonte
e com a devida autorização escrita dos editores.
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Conteúdo
Prefácio
PARTE UM
O FUNDO CULTURAL E LITERÁRIO
2. O Povo do Livro
1. A Religião da Torah
A. Do templo à Torah
B. O Ponto de Levante da Revolta
C. A Santa Aliança
2. A Torah e as seitas
A. Os Fariseus
B. Os Saduceus
C. Os Essênios
D. Os Zelotes
E. Os Pactuantes de Qumran
3. Os Escritos Sagrados
1. As Sagradas Escrituras
A. O Cânon Hebraico
B. As Escrituras na Dispersão
2. A Tradição Oral
A. Sua Origem e Desenvolvimento
B. Sua Forma e Conteúdo
4. A Literatura Apócrifa
1. Os Livros Comumente Chamados "Apócrifos"
A. Sua Identidade
B. Seu Conteúdo e Gênero Literário
C. Seu Valor Histórico e Religioso
PARTE DOIS
Os APOCALÍPTICOS
2. Os Apocalípticos e a Profecia
A. A Unidade da História
B. As Últimas Coisas
C. A Forma de Inspiração
3. Pseudonímia
A. Um Recurso Literário
B. Extensão de Personalidade
C. O Significado do "Nome"
2. A Natureza da Sobrevivência
A. Sheol, a Morada das Almas
B. Distinções Morais no Sheol
C. Mudança Moral na Vida Além
D. A Alma Individual e o Julgamento Final
A. Os Gregos e os Romanos
A palavra "helenismo" é comumente usada para
descrever a civilização dos três séculos aproximadamente
desde o tempo de Alexandre, o Grande (336-323 a.C.)
durante os quais a influência da cultura grega era sentida
de Leste a Oeste. Era o forte desejo desse imperador
fundar um império mundial associado à unidade da
língua, costume e civilização e, em suas grandes
conquistas militares, ele se empenhou em concretizar tal
idéia. Após sua morte, quando seu Império no Leste foi
dividido entre os Selêucidas na Síria e os Ptolomeus no
Egito, o processo de helenização continuou rapidamente
nos países sobre os quais eles governaram.
Desde o início, os judeus devem ter sentido o
impacto dessa cultura sobre seu estilo de vida e
particularmente sobre sua religião. A exceção de uma área
comparativamente pequena ao redor de Jerusalém, eles
não constituíam um Estado, pelo contrário, uma
Dispersão, espalhados não apenas por toda a Palestina,
mas por todas as regiões do Império. Eles ficaram
especialmente vulneráveis à influência do helenismo por
intermédio dos negócios e das trocas comerciais. A política
de Alexandre e de seus sucessores era enviar os colonos
gregos no rastro de seus exércitos e plantá-los como
comerciantes nas terras conquistadas. Nessas terras,
particularmente no leste, viviam muitos judeus que
haviam sido exilados da Palestina muitos anos antes, e
outros que, até mesmo antes do tempo de Alexandre,
haviam emigrado e se instalado em cidades gregas no
extremo oeste. Muitas comunidades judias podiam ser
encontradas em lugares tais como Síria, Antioquia,
Damasco, Ásia Menor, Macedónia, Grécia, Chipre, Cirene
e Roma. Onde quer que os judeus estivessem, sob o
governo dos Selêucidas ou dos Ptolomeus, eles haviam
desfrutado por muito tempo das bênçãos da liberdade
religiosa sob uma política de tolerância religiosa que, sem
dúvida, os deixaria abertos à influência sutil da cultura
helenística. Os romanos, por sua vez, continuaram a
estimular o desenvolvimento dessa cultura, especialmente
nas províncias orientais, e buscaram por esses meios
realizar os sonhos de Alexandre, o Grande. Nesse sentido,
não houve um verdadeiro rompimento entre o regime
grego e o romano, ou, realmente, entre os anos antes de
Cristo e os anos depois de Cristo. A cultura e a civilização
helenísticas foram características de todo o período greco-
romano e é com esse amplo fundo histórico e cultural que
vamos estudar as reações do povo judeu e sua fé religiosa.
_______________________
1
A palavra "Targum" (no grego) significa uma tradução ou paráfrase
da Escrituras Hebraicas na língua do povo. Nas regiões de fala aramaica, a
leitura das Escrituras na sinagoga era acompanhada por uma repetição oral
(veja p. 63 ss). Acredita-se que esse costume reportava aos tempos de
Esdras (cf. Ne 8.8). No segundo século d.C. os Targuns aramaicos
passaram a existir na forma escrita.
Os judeus de Alexandria viam nesse tipo de
literatura um excelente meio de propaganda. Por meio de
alterações e acréscimos discretos, eles usaram a estrutura
dos oráculos pagãos para propagar a fé no "único Deus
vivo e verdadeiro".
De muito maior significado é o livro Sabedoria de
Salomão, escrito no primeiro século a.C. por um judeu de
Alexandria que, ao apresentar sua fé, demonstra que havia
sido profundamente influenciado, em seu pensamento,
pela perspectiva e filosofia do mundo grego gentio e que
ele era, sem dúvida, muito versado nesse campo. Por
exemplo, essa influência pode ser percebida ao tratar da
idéia de "sabedoria" que ele personifica de modo
semelhante ao ensinamento estóico referente ao conceito
amplamente conhecido de Logos ou Verbo4. Neste ponto,
de fato, trata-se de uma forte tentativa de reunir a piedade
do judaísmo ortodoxo e a forma de pensamento grego da
época. De acordo com outros escritos judaicos daquele
tempo, ele incorpora uma forte polêmica contra os gentios
e exalta a verdadeira religião que Deus revelou a seu servo
Moisés.
Um bom exemplo de Judaísmo helenístico pode ser
encontrado no escritor judeu alexandrino Philo, que foi
contemporâneo de Jesus e de Paulo. Ele era bem versado
não apenas nas Escrituras em hebraico, como nos escritos
judaico-helenistas, e também em filosofia grega.
_____________________
2
Este também era o tema de outros livros judeus, oriundos da
Palestina, que no devido tempo foram traduzidos para o grego, e
finalmente, acharam lugar na Septuaginta, como I Macabeus, Bel e o
Dragão, Judite, o Resto de Ester, Tobias e Susana (veja pp. 78 ss).
3
Ver R. H. Pfeiffer, History of New Testament Times, with a
Introduction to the Apocrypha (História dos Tempos do Novo Testamento,
com uma Introdução aos Apócrifos), 1949, p. 200 ss.
O objetivo de seus escritos era demonstrar a relação
entre a religião das Escrituras e a verdade das filosofias
gregas. Ele fez uso livre da alegoria, prática comum em
Alexandria, e através dela demonstrou, por exemplo, que
Moisés estava em consonância com os filósofos gregos. A
posição de Philo não era aceita pelo Judaísmo ortodoxo de
seus dias, mas sua abordagem da religião e da filosofia, e a
relação entre elas, teve uma influência considerável no
desenvolvimento da teologia cristã nos anos que se
seguiram.
_______________________
6Jerusalem under the High Priests (Jerusalém sob a Liderança dos
Sumos Sacerdotes), 1920, p. 35.
________________________________
10
Ver p. 50.
11
Compare particularmente o rolo intitulado 'The War of the Sons of
Light and the Sons of Darkness" (A Guerra entre os Filhos da Luz e os
Filhos de Trevas).
12
Por exemplo, Isaías 24-27; 65.17 ss.
13
Ver p. 94, 107 ss, 120 ss.
14
Ver p. 130 ss.
15
Ver capítulo 7.
16
Verp. 50,112.
Ainda mais importante do que o helenismo sírio foi
o helenismo egípcio que tomou forma sob os Ptolomeus.
As antigas tradições religiosas e místicas do Egito e da
Babilônia entraram em contato com a nova ciência e
cultura gregas, produzindo um sistema de pensamento
muito mais abstrato em forma do que o ramo sírio de
helenismo. Muitos judeus, especialmente os da Dispersão,
foram grandemente influenciados pelo tipo filosófico de
religião que acompanhava essa forma particular da cultura
grega.
Este ponto é bem ilustrado pelo autor de Sabedoria
de Salomão , cuja familiaridade com o pensamento grego é
evidente, por exemplo, no ensino referente à "sabedoria".
A idéia de "sabedoria" é bem familiar para os leitores do
Antigo Testamento em livros como Provérbios, Jó e
Eclesiastes, mas em Sabedoria de Salomão a influência da
filosofia grega está mais claramente demonstrada. "O
ensino do autor referente à sabedoria divina e humana",
escreve B. M. Metzger, "é uma explicação das idéias
primitivas sobre esse tema expressadas no Livro de
Provérbios, com uma distorção metafísica emprestada da
concepção estóica do Logos universal, aquele mediador
impessoal entre Deus e a criação." Tendo "criado o mundo
a partir da matéria informe" (11.17, cf. Gn 1.2), Deus envia
à criação uma alma que, para o escritor desse livro, é nada
menos que a própria sabedoria. O espírito de sabedoria vem
de Deus (7.7, etc.) e é "uma clara efluência da glória do Todo-
Poderoso" (7.25). Deus criou todas as coisas por Sua palavra
(9.1), mas a sabedoria estava presente antes da criação (9.9).
Desde então, ela tem sido "o artífice" (7.22), o renovador (7.27),
o ordenador (8.1) e o realizador (8.5) de todas as coisas.
_____________________
17 Ver também IV Macabeus que mostra um conhecimento íntimo da
filosofia grega, especialmente 1.13 - 3.18, 5.22-26, 7.17-23.
18An Introduction to the Apocrypha (Uma Introdução aos Apócrifos), 1957,
p. 73.
____________
Ver pp. 49, 54 s.
B. A Vingança de Antíoco
Logo tornou-se óbvio que, embora ele tivesse o
apoio dos helenistas em Jerusalém, sua política de
helenização era violentamente contrária à maioria das
pessoas que, além disso, recusavam-se a reconhecer
Menelau como Sumo Sacerdote. Assim, Antíoco
determinou exterminar completamente a religião judaica
(168 a.C). Optou por destruir as próprias características
distintivas da fé judaica (cf. I Macabeus 1.41 ss), assim
consideradas desde o tempo do Cativeiro. Todos os
sacrifícios dos judeus foram proibidos; o rito da
circuncisão teve que cessar, o Sábado e os dias de festas
não podiam mais ser observados. A desobediência a
qualquer desses mandamentos acarretaria a pena de
morte. Além disso, os livros da Torah (ou Lei) foram
desfigurados ou destruídos; os judeus, forçados a comer
carne de porco e a oferecer sacrifícios em altares idólatras
erigidos por todo o país. Então, para coroar suas ações de
infâmia, Antíoco erigiu um altar a Zeus do Olimpo com
uma imagem do deus (provavelmente com as
características do próprio Antíoco) sobre o altar de ofertas
queimadas no interior do átrio do Templo (I Mac 1.54). É
esse altar que o escritor do Livro de Daniel chama "a
abominação desoladora" (Dn 11.31).
Esses eventos foram seguidos de severa perseguição
na qual muitos foram condenados à morte (I Mac 1.57-64).
A esse período pertencem as histórias, em parte lendárias,
contadas em II Macabeus 6-7 sobre o martírio de Eleazar e
os Sete Irmãos. Muitos abandonaram as cidades e
superlotaram as aldeias onde eram perseguidos pelos
agentes do governo, cuja intenção era extinguir a fé
judaica.
_______________
22
A History of Israel (Uma História de Israel), vol. 2, 1934, p. 259.
C. Os Macabeus e a Revolta dos Macabeus
Logo, a resistência passiva abriu caminho à agressão
aberta. A faísca para a revolta veio da vila de Modein,
noroeste de Jerusalém, onde um sacerdote, Matarias, da
Casa de Hasmon, vivia com seus cinco filhos (I Mac 2.1 ss).
Quando um oficial sírio chegou a Modein para obrigar à
realização de sacrifícios pagãos, Matarias não apenas se
recusou a concordar, mas também matou um judeu
apóstata que prestava sacrifícios e ao mesmo tempo matou
o oficial sírio. Esse foi o motivo para Matatias e seus filhos
fugirem para as montanhas, onde a eles se uniram muitos
judeus zelosos (I Mac 2.23-28). De particular importância
foi a adesão a suas fileiras dos Hasidim (I Macabeus 2.42
ss), para quem toda a cultura helenística e a influência
estrangeira eram anathema, porque a presença deles "deu
plena sanção religiosa à revolta." Eles não poderiam ser
considerados um partido dentro do Judaísmo, mas
formavam um grupo de opinião muito poderoso. Eram
oriundos, em maior parte, das classes mais pobres e dos
distritos rurais, mas havia entre eles alguns homens
proeminentes. Sua evidente devoção e zelo religioso
viriam a ser vitais para o futuro da nação. A atitude deles é
vividamente expressa no Livro de Daniel que, em sua
forma presente, de algum modo, foi composto, no tempo
de Antíoco, por um dos Hasidim.
A Revolta que se seguiu foi liderada sucessivamente
por três dos filhos de Matarias: Judas (165-160 a.C.)
cognominado Macabeus ("Martelador"?), Jonatas (160-143
a.C.) e Simão (142-134 a.C). Em suas campanhas obtiveram
notável sucesso. No dia 25 de casleu (dezembro), 165 a.C,
no mesmo dia em que o templo havia sido profanado três
____________________
23
H. Wheeler Robinson, The History of Israel {A História de Israel),
1938, p. 176.
anos antes (I Mac 4.54), eles o purificaram e o
rededicaram, sob a liderança de Judas, e a adoração foi
restabelecida (I Mac 4.36 ss; cf. II Mac 10.1-7). Esse evento
tem sido comemorado desde então na Festa judaica de
Hanukkah (Dedicação), às vezes conhecida como a Festa
das Luzes. As lutas continuaram, mas em 162 a.C. Lisias,
regente de Antíoco V, ofereceu condições generosas ajudas
e concedeu perdão total aos rebeldes, e plena liberdade
religiosa (I Mac 6.58ss; II Mac 13.23s). Para convencê-los à
conciliação, ele ordenou que Menelau fosse condenado à
morte. Os Hasidim, cujos propósitos, por esse tempo, eram
religiosos e não políticos, viram seus alvos atingidos e
retiraram seu apoio aos Macabeus. Isso é indicado pelo
apoio que deram a Alkimus, a quem Demétrio I (sucessor
de Antíoco V), indicou como Sumo Sacerdote. Ele foi
reconhecido pelos Hasidim como um legítimo Sumo
Sacerdote da linha de Aarão. Judas, porém, não ficou
contente com apenas a liberdade religiosa, já que buscava
a independência política. Depois de relativo sucesso
inicial, os judeus foram derrotados e o próprio Judas foi
morto em Elasa em 160 a.C. (I Macabeus 9.18s). Alkimus
morreu pouco tempo depois, e pelos próximos sete anos
Jerusalém ficou sem Sumo Sacerdote.
Jonatas sucedeu a seu irmão Judas como líder dos judeus
nacionalistas com a ajuda de seu outro irmão, Simão. Foi
um tempo de intriga no qual vários rivais passaram a
reivindicar o trono sírio. Em 153 a.C. Demétrio I (162-150
a.C.) teve de lidar com tal rival na pessoa de Alexandre
Balas que afirmava ser filho de Antíoco IV.
__________________
24
No sentido exato o nome "Macabeus" deveria ser aplicado apenas
a Judas, mas em geral também é usado em referência a seus irmãos.
25
Cf. João 10.22 onde se faz referência à "Festa da Dedicação".
Ambos tentaram cortejar a amizade de Jonatas, e no
fim, Balas (150-145 a.C.) sobrepujou Demétrio designando-
o Sumo Sacerdote em 152 a.C. (I Macabeus 10.15-17).
Deve-se observar que o partido ortodoxo não elegeu o
Sumo Sacerdote, mas quando muito, simplesmente aceitou
a indicação feita pelo rei. Mais tarde, Jonatas foi
confirmado no ofício de Sumo Sacerdote por Trifon, que
estava agindo em nome do filho mais novo de Alexandre
Balas. Mas Trifon, suspeitando cada vez mais do poder de
Jonatas, matou-o em 143 a.C. (I Macabeus 12.48; 13.23).
Simão, que sucedeu a seu irmão Jonatas, começou a
solidificar sua posição. Em 142 a.C. ele ganhou de
Demétrio II (145-138 a.C.) imunidade de impostos e os
judeus proclamaram sua independência (I Mac 13.41). Em
141 a.C. deram um passo a mais. Um decreto em bronze
foi apregoado no Templo conferindo-lhe o ofício de Sumo
Sacerdote com direitos hereditários: "Os judeus e os
sacerdotes haviam consentido que Simão se tornasse seu
chefe e sumo sacerdote, perpetuamente, até a vinda de um
profeta fiel... e Simão aceitou. Prontificou-se a ser sumo
pontífice, chefe do exército, governador dos judeus'* (I
Mac 14.41-47). O Sumo Sacerdote outrora hereditário na
Casa de Onias e que havia sido usurpado desde a
deposição de Onias III, agora voltava a ser hereditário na
linha de Hasmoneu .
Aqui, então, nós vemos o surgimento de um estado
judeu independente no qual o chefe civil e líder militar era, ao
mesmo tempo, o Sumo Sacerdote. Essa união iria perdurar por
toda a vida da Casa de Hasmoneu. A Simão, porém, não seria
permitido morrer em paz. Em 134 a.C. ele foi traiçoeiramente
assassinado por seu genro Ptolomeu. Seu filho, João Hircano,
agora assumia o Sumo Sacerdócio (I Macabeus 16.13-17).
_______________
26
Para o significado deste nome, ver a seção seguinte.
Os Macabeus, em nome do judaísmo, haviam
conquistado uma ressonante vitória, não apenas sobre
seus inimigos externos, mas também sobre toda a cultura
que esses iriimigos estavam determinados a impor sobre
eles. Mas seria falso imaginar que a vitória decisiva havia
sido ganha.
D. A Casa de Hasmoneu
A palavra Hasmoneu é derivada do nome da família
de Mavatias e seus filhos que pertenciam à Casa de
Hasmon. Por este nome os Macabeus eram conhecidos
mais tarde na literatura judaica, mas é conveniente
reservar a expressão "Macabeus" para Judas e seus dois
irmãos e usar o título "Hasmoneu" para descrever seus
descendentes, ao todo cinco, sob os quais os judeus
experimentaram quase setenta anos de independência
(134-63 a.C). Por pouco tempo, durante o reinado de João
Hircano (isto é, Hircano I, 134-104 a.C.) a Judéia tornou-se
um estado vassalo, mas recuperou a independência em
129 a.C. com a aprovação do Senado de Roma. Hircano
imediatamente começou a estender seu território. No sul,
por exemplo, ele anexou a Iduméia, compelindo os
habitantes a se circuncidarem; no norte, ele se apossou do
território de Samaria, destruindo o Templo rival do Monte
Gerizim.
Esses atos de Hircano mostram que ele tinha ideais
evidentemente religiosos, mas durante todo esse período
havia um crescente descontentamento, principalmente da
____________________
27
Para pontos de vista destes eventos sobre a esperança
messiânica, ver p. 123 s.
28
Este Templo havia sido construído provavelmente em alguma
época do IV século.
parte dos Hasidim e dos judeus ortodoxos em geral, contra
os Macabeus e a Casa de Hasmoneu. Esses não apenas
haviam tomado o Sumo Sacerdócio, mas estavam se
tornando cada vez mais mundanos e irreligiosos. No
tempo de João Hircano, o ramo crescente dentro do
Judaísmo havia-se materializado em dois partidos, cujos
nomes agora emergem, pela primeira vez, como Fariseus e
Saduceus. Primeiro, Hircano tomou o partido dos fariseus,
mas quando um de seus membros exigiu que ele
renunciasse ao ofício de Sumo Sacerdote, ele rompeu com
estes e uniu forças com o partido dos Saduceus.
O Dr. Oesterley afirma que uma das principais
razões por que os fariseus se opunham aos Hasmoneus era
que eles falavam de si mesmos como reis, embora não
fossem da linhagem de Davi, e ele indica que até Hircano
assumiu esse ofício real. Se as coisas eram assim ou não,
Josefo informa que o sucessor de Hircano, Aristóbulo I
(103 a.C), foi o primeiro a assumir o título de rei, embora
isso não seja indicado em suas moedas. Esse fato,
associado ao apoio do partido dos Saduceus, seu amor
pela cultura grega e o fato de estar implicado no
assassinato de sua mãe e de seu irmão Antígono,
aumentou ainda mais o antagonismo dos fariseus.
Essas questões, porém, chegaram a um ponto crítico
no tempo de seu sucessor, Alexandre Janeus (102-76 a.C).
Desde o início, ele irritou profundamente os fariseus ao se
casar com a viúva de seu irmão Aristóbulo, embora fosse
contra a lei um Sumo Sacerdote fazê-lo. Além disso, ele
negligenciou seu ofício espiritual e dedicou-se como
guerreiro a conquistar e a engrandecer a si mesmo por
meio da guerra.
________________
29
Ver p. 49 ss.
30
Op. Cit, p. 285 s.
31
Antiquities (Antiguidades) 13. 301; Bellum Judaicum 1. 70.
Usava o título de "rei", anunciando o fato em suas
moedas em caracteres tanto gregos como hebraicos, assim
revelando sua ligação com o estilo de vida grego,
demonstrando um passo à frente na secularização do
Sumo Sacerdócio. Sua impopularidade entre o povo é
ilustrada por um incidente por ocasião da Festa dos
Tabernáculos. Com total desprezo pelas responsabilidades
com seu ofício de Sumo Sacerdote, ele propositalmente
escarneceu das exigências rituais ao derramar a água da
libação no chão e não sobre o altar. As pessoas ficaram tão
furiosas que bateram nele com os ramos de cidreira que
haviam trazido para usar no ritual. Em um acesso de
cólera, ele deu ordens a seus soldados que mataram
muitos dos judeus dentro do pátio do Templo. Mais tarde,
a situação ficou tão ruim que estourou a guerra civil de
seis anos. Quando, afinal, a paz foi restabelecida, registra-
se que ele levou oitocentos judeus que haviam lutado
contra ele, à morte por crucificação.
Durante o restante de seu reinado, os fariseus e os
ortodoxos permaneceram em paz. Mas o partido dos
fariseus estava se tornando tão poderoso que Janeus,
próximo ao final de sua vida, viu nisso um grave perigo
para a casa real. Assim, aconselhou sua esposa Alexandra,
indicada rainha por sua ordem, a entrar em acordo com
eles dando-lhes mais autoridade no Estado. Quando
Alexandra (75-67 a.C.) subiu ao trono após a morte do
marido, ela agiu conforme ele havia orientado e designou
seu filho mais velho, Hircano II, como Sumo Sacerdote.
Hircano era bem disposto com os fariseus e, por sua
influência, o poder deles aumentou consideravelmente em
força. Com forte poder civil e religioso nas mãos, eles
puderam impor, ao povo, suas próprias convicções. Em
particular, eles tornaram as coisas muito difíceis para seus
oponentes saduceus, os quais encontraram um defensor no
filho mais novo de Alexandra, Aristóbulo, que deixou
claro que sua intenção era o trono. Após a morte de sua
mãe, Aristóbulo reuniu um exército e derrotou seu irmão
perto de Jericó. Hircano foi forçado a deixar o ofício e
Aristóbulo (66-63 a.C.) tornou-se rei e Sumo Sacerdote,
permanecendo no poder até 63 a.C.
A história dos Hasmoneus chegou ao fim por causa
de um Antipater, governador da Iduméia, que encorajou
Hircano, no exílio, a remover seu irmão do ofício. Com
ajuda de um governador árabe, Aretas III, ele atacou
Aristóbulo em Jerusalém. Foi nesse momento que Roma
decidiu interferir nas questões da Palestina. Pompeu
enviou seu general, Scaurus, para sufocar o levante e ele,
mediante suborno, apoiou Aristóbulo. No ano de 63 a.C, o
próprio Pompeu, temendo os desígnios de Aristóbulo,
atacou Jerusalém e a conquistou, entrando pessoalmente
no Templo e no Santo dos Santos. Aristóbulo foi levado
cativo para Roma. Hircano foi confirmado no Sumo
Sacerdócio e designado etnarca da Judéia, então
acrescentada à província da Síria.
E. Herodes e os Romanos
Em 163 a.C, então, os judeus perderam sua indepen-
dência quando Pompeu, mais uma vez, os submeteu ao
"jugo dos pagãos". Desse momento em diante, o espírito
do nacionalismo judeu transformou-se em revolta e
continuou até a completa destruição de Jerusalém e do
Estado judeu em 70 d.C.
Os anos que se seguiram a 63 a.C. realmente foram
muito atribulados, e as complicações não podem ser
mencionadas aqui a não ser ligeiramente. Antipater, cujo
nome é proeminente na história dos judeus nos vinte anos
seguintes, a princípio deu forte apoio a Pompeu, mas em
48 a.C; quando Pompeu foi derrubado, ele transferiu seu
apoio para o rival, César. Como resultado, César concedeu
muitos consideráveis privilégios aos judeus, não apenas na
Judéia, mas também na Dispersão. Antipater foi nomeado
governador da Judéia, recebendo também a cidadania
romana. Mas, apesar de todos os benefícios decorrentes de
sua amizade com César, Antipater era amargamente
odiado pelos judeus, sem dúvida justamente por causa de
sua dependência de Roma e por ser idumeu (isto é,
edomita) de nascimento. Esse ódio se intensificou quando,
depois da morte de César em 44 a.C, o procônsul Cassius
entrou na Síria e, com extrema severidade, impôs pesados
tributos ao povo. No ano seguinte, Antipater foi
envenenado por seus inimigos.
Quando Antônio subiu ao poder, após a batalha de
Filipos em 42 a.C, ele nomeou os dois filhos de Antipater,
Fasael e Herodes, tetrarcas sob o governo do etnarca
Hircano II, a quem ele confirmou no Sumo Sacerdócio.
Mas logo surgiram sérios problemas. Antígono, filho de
Aristóbulo, o Hasmoneu, ganhou o apoio de Partiano, que
apoiava suas reivindicações ao trono. Fasael e Hircano
foram feitos prisioneiros; o primeiro cometeu suicídio e o
outro foi levado ao exílio. Porém, Herodes escapou e foi
direto para Roma, onde assegurou uma entrevista com
Antônio. Ali, para sua própria surpresa, ele foi designado
rei da Judéia (40 a.C). Porém, ele ainda tinha que enfrentar
Antígono, que havia tomado posse da Judéia. Com ajuda
dos romanos, ele derrotou seu rival em 37 a.C, após um
cerco de três meses a Jerusalém. Antígono foi condenado à
morte e assim começou o reinado de Herodes, o Grande.
Sob o governo de Herodes (37-4 a.C.) e de seus
filhos, a política de helenização propagou-se rapidamente.
Ele queria, tanto quanto possível, ser "tudo para todos os
homens" - para os judeus, um judeu, para os pagãos, um
pagão. Seu casamento com Mariane, a neta de Hircano, era
uma indicação de seu desejo de agradar aos judeus como
foi, por exemplo, a construção do novo Templo de
Jerusalém, iniciada no ano 20 a.C. Porém, mesmo assim,
não foi possível conciliar o povo com sua origem iduméia
e com seus planos de helenizar o reino. Num aspecto
importante, ele perdeu a simpatia de muitos de seus
súditos judeus: na dinastia hasmoneana, o Sumo Sacerdote
e o rei eram a mesma pessoa; Herodes, sendo idumeu, não
poderia ser o Sumo Sacerdote, e assim ele adotou a política
de, tanto quanto possível, degradar esse ofício. Com isso
em vista, ele quebrou o princípio hereditário no qual o
sumo sacerdócio estava baseado e aboliu o direito vitalício
desse ofício. Depois disso, o Sumo Sacerdote passou a ser
designado por ele e mantinha o ofício enquanto agradasse
ao rei.
A política de helenização que Herodes empreendeu
era devida, pelo menos em parte, à própria natureza de
seu reino, que abrangia muitas cidades gregas e incluía
inúmeros gregos entre os cidadãos. Ele tem sido chamado,
às vezes, de "patrono do helenismo" e esse título pode ser
plenamente justificado em muitos sentidos. Por exemplo,
ele fez pouco uso do Sinédrio judeu e em seu lugar
estabeleceu um conselho real nos moldes helenísticos;
substituiu a antiga aristocracia hereditária por uma nova
aristocracia de serviço e elevou essa nova classe de acordo
com as práticas helenísticas. Sua política de administração,
de natureza burocrática fortemente centralizada, seguia
também as linhas do helenismo. O historiador Josefo nos
diz que "ele indicou jogos solenes a serem celebrados a
cada cinco anos em honra a César, e construiu um teatro
em Jerusalém, como também um imenso anfiteatro na
planície" (Ant., 15.8.1, seção 267-69). Era um partidário
liberal dos Jogos Olímpicos e "foi declarado nas inscrições
do povo de Elis para ser um dos atdministradores
permanentes destes jogos" (Ant, 16.5.3, seção 149). Suas
extensas operações de construção provam a alegação de
que ele encorajava o culto ao Imperador, porque todos os
muitos templos que construiu por toda a Palestina eram
dedicados a César. Os fariseus, particularmente, ficaram
horrorizados quando souberam que Herodes realmente
havia permitido que os pagãos erigissem estátuas a ele, em
seu reino. Lemos sobre certos homens, sucessores
legítimos dos antigos Maca-beus, que entraram em santa
aliança para impedi-lo, até mesmo sob risco de morte, de
perpetrar sua política de helenização.
Mesmo quando eram capturados e torturados e
condenados à morte, havia outros prontos a tomar seus
lugares.
Em seguida à morte de Herodes em 4 a.C,
irromperam tumultos na Galileia, que desse tempo em
diante ficou conhecida como berço do nacionalismo
judaico. Josefo nos diz que um certo Judas, o Galileu,
associado a Zadoque, fariseu, rebelou-se contra Roma e
fundou uma nova seita em 6 d.C. Esse é presumivelmente
o partido que mais tarde veio a ser conhecido como
Zelotes (em grego) ou Cananeus (em aramaico) ou Sicaris
(em latim) e que passou a ser um espinho na carne dos
romanos por muitos anos. Com matança, a rebelião na
Galileia foi sufocada por Arquelau, filho de Herodes (4
a.C. — 6 d.C.) que o sucedeu como governador da Judeia,
apenas para ser banido anos mais tarde pelos romanos
como resultado de uma apelação contra ele por judeus e
samaritanos. A exceção de um curto período de três anos,
nos quais o neto de Herodes, Agripa I (41-44 d.C),
governou como rei da Judéia, o país foi dirigido por uma
sucessão de procuradores romanos (6 d.C. -66). Durante
todo esse período, o nacionalismo judeu foi crescendo em
intensidade e encontrou uma expressão particularmente
perigosa nas atividades dos Zelotes, que consideravam o
governo estrangeiro dos romanos como uma situação
intolerável. Essas atividades eram motivadas não apenas
por propósitos políticos, mas também por profundas
convicções religiosas, porque aparentemente os Zelotes
consideravam a si mesmos como a verdadeira linha
sucessória dos antigos Macabeus.
É interessante notar que pelo menos um dos
discípulos de Jesus pertenceu, ou havia pertencido, a esse
partido. Ele é chamado Simão, o Zelote (Lucas 6.15, Atos
1.13) ou Simão, o Cananeu (Mateus 10.4, Marcos 3.18).
Tem sido discutido que outros também podem ter
pertencido, como Judas Iscariotes (do latim sicarius,
"assassino"?), Simão Barjonas (do acadiano barjona
"terrorista"?) e Tiago e João, os "filhos do trovão" (Marcos
3.17). Em pelo menos uma ocasião, pensa-se que Paulo era
um Zelote (Atos 21.38) e o próprio Jesus foi associado aos
líderes do movimento Zelote pelo mestre Gamaliel (Atos
5.36,37). Jesus não era um Zelote, mas, sem dúvida, alguns
de seus contemporâneos judeus e dos romanos o
consideravam como tal.
Os Zelotes eram essencialmente homens zelosos
para com Deus — agentes de Sua ira contra os caminhos
idólatras dos pagãos. Eles criam que eram chamados por
Deus para se engajarem em uma Guerra Santa contra o
"poder das trevas". Nesse particular, compartilharam as
crenças de muitos outros judeus patrióticos, incluindo os
Pactuantes de Qumran. De fato, a esse respeito, à exceção
dos colaboracionistas saduceus, não há, às vezes, uma
linha clara de demarcação entre uma seita e outra.
_________________
32
Cf. O. Cullmann, The Slate in the New Testament (O Estado no
Novo Testa-mento), 1956, p. 15 ss.
Mesmo Josefo, que cuida em isolar os Zelotes e
imputar a eles a vergonha da Guerra dos Judeus, em pelo
menos uma ocasião, associa os Zelotes aos Essênios, e,
como temos visto, associa-os aos fariseus em sua origem.
Seu patriotismo era, sem dúvida, mais obviamente
expresso do que o dos outros, e seu zelo por Deus os
tornou bem preparados para empunhar a espada como
um instrumento de salvação apontado por Deus, mas
como oDrWR. Farmer diz: "Quando as coisas ficaram
claras, toda a nação foi chamada a uma luta de vida ou
morte entre o povo de Deus e seus inimigos. Todos os
judeus patriotas, quer fariseus, essênios ou zelotes, seriam
chamados a dar todo o seu empenho na Guerra Santa." O
mesmo escritor-observa que os Zelotes eram, sem dúvida,
considerados por muitos de seus compatriotas como
"extremamente zelosos" e "um tanto rápidos no gatilho",
em comparação com os outros partidos do país. O que é
certo é que eles contribuíram muito para começar a guerra
com Roma que assolou de 66 a 70 d.C. e terminou com a
destruição de Jerusalém e de todo o Estado judeu. Apenas
mais uma vez, em 132 d.C, houve uma tentativa de lutar
pela independência do Judaísmo em uma revolta liderada
por Ben Kosebah, comumente chamado de Bar Kochba,
ajudado pelo influente Rabino Akiba. Três anos mais
tarde, a rebelião foi esmagada e Jerusalém foi remodelada
como cidade pagã.
A batalha entre o judaísmo e o helenismo havia
terminado e por todas as aparências a batalha fora
perdida. Mas, assim como o helenismo não se pôde resistir
apenas
________________
33Ver p. 54 ss.
34Ver p. 37.
35Maccabees, Zealots and josephus (Macabeus, Zelotes e Josefo),
1956, p. 183.
pela força, assim também o judaísmo não pôde ser
extinto pelo poder das armas. O Estado judeu caiu, mas o
judaísmo prevaleceu, porque quando a conquista foi
negada e o acordo proibido, ao contrário do cristianismo,
que se expandiu para o mundo helenístico para "pensar
melhor, viver melhor e morrer melhor" os pagãos, o
judaísmo escolheu para si o caminho da separação. Esse
passo significativo foi dado por Jonatas ben Zakkai que,
enquanto a batalha assolava a vida de Jerusalém, pouco
antes de sua queda, partiu para a cidade de Jamina no
litoral da Palestina e fundou uma escola que iria marcar o
início de uma nova era para o povo judeu. Eles já não
tinham Jerusalém; eles já não tinham o Templo; mas lá em
Jamina eles tinham o estudo da sagrada Lei de Deus, e isso
para eles era mais do que a própria vida. Por ela seus pais
haviam lutado e morrido; por ela seus filhos iriam viver.
2
O Povo do Livro
A luta entre o judaísmo e o helenismo descrita no
último capítulo não pode ser explicada tendo como
referência o desejo dos judeus, seja de "liberdade política",
seja de "liberdade religiosa". De fato, havia luta até mesmo
quando eles desfrutavam de liberdade política; e a
"liberdade religiosa", no sentido dos direitos de cada
homem seguir os princípios de sua própria consciência,
não era tolerada pelos judeus. "Durante todo este período",
escreve o Dr. T. W Manson, "os judeus estavam lutando,
não por ideais modernos como estes, mas pela
sobrevivência de 'Israel', onde 'Israel' representa um todo
orgânico complexo, que inclui a fé monoteística, os cultos
no Templo e nas sinagogas, a lei e os costumes
personificados na Torah, as instituições políticas que
haviam surgido no período pós-exüio, a reivindicação de
propriedade da Terra Santa, e qualquer sonho do que
pudesse ter sido um mundo governado por Israel para
substituir o governo dos impérios gentílicos".36
A nova ordem das coisas contida nesses ideais,
pelos quais o judaísmo estava disposto a lutar até a morte,
já haviam encontrado expressão perto do início do século
III a.C. em algumas palavras do Sumo Sacerdote Simão, o
Justo. No tratado judaico Pirke Aboth 1.2 está escrito: "Ele
dizia: sobre três coisas o mundo está fundamentado: na
Torah, e no Serviço (Templo), e em praticar o bem". Essas
três coisas representam "revelação, adoração e simpatia,
isto é, a palavra de Deus para o homem, a resposta do
______________
36
T. W. Manson, The Servant-Messiah (O Servo Messias), 1956, p.
5.
1. A RELIGIÃO DA TORAH
O Dr. G. F. Moore define a palavra "Torah" como "o
termo amplo para a revelação divina, escrita e oral
baseados na qual os judeus possuíam o padrão e a norma
singulares de sua religião".38 A palavra significa
"instrução" ou "ensino" e indica a revelação dada por Deus
a Israel por meio de seu servo Moisés. A palavra é
freqüentemente traduzida como "Lei", mas isso pode
conduzir a um equívoco, porque seu significado está mais
próximo de "revelação" do que de "legislação". Mas, uma
vez que essa "revelação" encontra expressão escrita no
Pentateuco, o nome 'Torah" é aplicado comumente aos
"cinco livros de Moisés". Como vamos ver, o nome poderia
ser aplicado não apenas ao registro escrito dessa revelação, mas
também à tradição não escrita que buscava explicitar o ensino
implícito na Torah escrita.
Ao longo de todo o período de Antíoco IV (175-163 a.C.)
a Vespasiano (d.C. 69-79) e Tito (d.C. 79-81), o nacionalismo
judeu estava arraigado e fundamentado na Torah. Nessa
palavra estavam os germes da revolta que iriam declarar morte
ao helenismo e a tudo aquilo que a cultura estrangeira estava
introduzindo na nação judaica. E assim, o Livro, o veículo e a
____________________
37
R, H. Charles, Apocr. And Pseud. (Apócrifos e Pseudônimos),
1913, p. 691.
38
]udaism (Judaísmo), vol. 2,1927, p. 263.
C. A Santa Aliança
Esse zelo que os judeus demonstravam pela Torah
ao longo de todo o período helenístico era, contudo, não
simplesmente zelo por um Livro, mas pela Aliança sobre a
qual o Livro testemunhava, uma Aliança feita por Deus na
qual ele havia separado a nação judaica para ser seu povo
particular. Menosprezar a Torah era trair a Aliança que
Deus havia feito com seus pais. Isso ajuda a explicar a
lealdade fanática que muitos judeus demonstravam para
com os ritos de sua fé ao longo daqueles dias difíceis.
A circuncisão, por exemplo, era um sinal visível de
que um homem era um membro da Aliança (I Macabeus
1.48, etc), e assim, sujeitar-se à "incircuncisão" era negar
completamente a Aliança (I Macabeus 1.15). Comer carne
de porco era fazer o que a Torah proibia, e assim a isso se
devia resistir sob a penalidade de morte (cf. I Macabeus
1.62,63; II Macabeus 6.18, 7.1 para ver histórias de bravo
heroísmo). O Sábado sagrado era, igualmente, uma marca
da Aliança que o Helenismo procurou profanar (ITMac
6.6); os judeus observavam isso tão rigorosamente, que
muitos deles preferiam a morte a levantar os braços,
mesmo para se defender, no dia do Sábado (II Macabeus
6.11; I Macabeus 2.29-38). A Torah era inflexível em sua
proibição de idolatria de qualquer tipo ou forma; daí o
ódio amargo dos judeus por qualquer coisa que lembrasse
o culto ao Imperador; daí também sua violenta oposição
àquelas construções em estilo grego, decoradas com
figuras idólatras de arrimais e homens; até mesmo os
troféus que adornavam os teatros eram olhados por
muitos como imagens, e então, eram anátema para os
judeus, que adoravam um "Deus ciumento" que não
toleraria nenhum rival ao seu trono.
O lugar que a Torah ocupava e ainda ocupa, na vida
do Judaísmo, é bem resumido nestas palavras do Dr. H.
Wheeler Robinson: "A Lei era a escritura do Judaísmo, a
fonte verdadeira de sua força durante muitos séculos. As
instituições que a lei prescrevia, em grande medida,
acabaram em 70 d.C; mas a Lei mostrou seu poder pela
criação de um novo judaísmo, capaz de resistir sem terra,
cidade ou templo. Através da leitura da Lei, suplementada
pelos escritos dos profetas, nas sinagogas espalhadas da
Dispersão, o conhecimento de um Deus santo e de sua
Aliança com Israel foi mantido vivo nos corações de
todos".42
2. A TORAH E AS SEITAS
O Judaísmo do período de que estamos tratando, era
um sistema mais complexo, contendo dentro de si mesmo
muitos partidos, grupos e seitas diferentes, cujos nomes e
crenças distintas nem sempre ficaram registrados na
história. Josefo declara que "os judeus tiveram, por um
grande período de tempo, três seitas de filosofia" (uma
expressão mais enganosa) - os Fariseus, os Saduceus e os
Essênios, aos quais ele acrescenta o partido fundado por
Judas e Zadoque, mais tarde chamado de "Zelotes" (cf.
Ant. 18.1.1-6, seção 9-23). Indubitavelmente esses partidos
foram muito influentes dentro do Judaísmo durante esse
período, mas para manter a questão na devida proporção,
temos que nos lembrar de que eles eram uma minoria
muito pequena na Palestina. Calcula-se que Fariseus,
Saduceus e Essênios juntos somariam apenas trinta mil -
trinta e cinco mil de um total de quinhentos mil -seiscentos
mil no tempo de Jesus. Os Fariseus somariam
aproximadamente cinco por cento da população total e os
Saduceus e os Essênios juntos, aproximadamente dois por
cento.43
Alguns dos muitos grupos no Judaísmo tinham
mais afinidades com essas três seitas principais do que
com outras, mas é uma exagerada simplificação do caso
supor que, quando essas seitas foram denominadas, as
únicas restantes eram as assim chamadas "Am ha-aretz” ou
"povo da terra".
_______________
42
Religious Ideas of the Old Testament (Idéias Religiosas do Antigo
Testamento), 1913, p. 128.
A descoberta da literatura dos Pactuantes do
Qumran, próximo da costa do Mar Morto, ajudou a
esclarecer melhor essa situação. Têm sido feitas tentativas
de identificar essa comunidade com uma ou outra das
principais seitas e, o que é bem possível, a Seita de
Qumran poderia muito bem representar um grupo
influente dentro da nação em muitos aspectos diferentes
daqueles partidos cujos nomes nos são familiares. Para
citar as palavras de R. H. Pfeiffer: "O Judaísmo no período
em que está sendo considerado era tão vivo, tão
progressivo, tão agitado por controvérsias, que sob seu
espaçoso telhado as visões mais contrastantes puderam ser
mantidas".44
Contudo, todos esses grupos ou seitas,
aparentemente, têm uma coisa em comum: todos eles
prestavam submissão à Torah. E completamente errôneo
destacar, digamos, os fariseus e denominá-los "o partido
da Torah" ou atribuir a eles os escritos vagos desse período
que exaltam "a Lei de Deus". A Torah era o grande
fundamento do Judaísmo e o alicerce de sua
nacionalidade. Porém, não se deve dizer que todos os
partidos concordavam com o significado da Torah ou com
sua interpretação. De fato, havia opiniões muito
divergentes sobre esse assunto, de forma que,
considerando que a lealdade deles à Torah era um laço de
união, sua concepção dela era uma causa constante de
divisão entre eles.
A. Os Fariseus
De acordo com Josefo {Ant., 13.5.9, seção 171-3), os
fariseus já existiam no tempo de Jonatas (160-143 a.C), mas
em outro lugar (Ant., 13.10.5-7, seção 288-99) ele afirma
que eles são mencionados pela primeira vez na história em
conflito com João Hircano45 (134-104 a.C).
_____________________________
B. Os Saduceus
Se os fariseus, como um todo, pertenciam à classe
média, os saduceus eram representados pela rica
aristocracia e particularmente pelo poderoso sacerdócio
em Jerusalém. Provavelmente a maioria dos saduceus era
de sacerdotes, mas eles não devem ser identificados com
todo o corpo do sacerdócio. Eles contavam em suas fileiras
com comerciantes ricos, funcionários do governo e outros.
Em sua origem, então, eles não eram um partido religioso,
embora fosse nisso que eles pretendessem tornar-se; em
vez disso eles eram um grupo de pessoas compartilhando
uma posição social comum e unidos informalmente
apenas por uma determinação comum de manter o regime
existente. Na verdade, o Dr T. W Manson afirma que o
nome se origina na palavra grega syndikoi, que na história
ateniense significa aqueles que defendem as leis existentes
contra a inovação.49 Além disso, em assuntos religiosos
eles adotaram a posição de um grupo distintamente
conservador. O Sumo Sacerdote e seu círculo eram
membros do partido dos saduceus quase até 70 d.C,
embora alguns anos antes os fariseus, e mais tarde os
zelotes, tivessem obtido controle do Templo. Sua
influência havia sido determinada por sua posição no
estado, e quando essa posição foi perdida, a influência
deles cessou.
Como os fariseus, eles acreditavam na supremacia
da Torah, mas ao contrário daqueles, os saduceus se
recusavam a reconhecer a autoridade vinculante da lei
oral. Eles tinham, é verdade, tradições e costumes de seus
_________________
48Cf. Mateus 9.14; 15.10-20; 16.6; 23passim [N.T.: do latim aqui e
acolá]; Marcos 12.38-40; Lucas 11.37-54; 16.14 ss; 18.10 ss; 20.46 s. etc.
próprios rituais e leis, mas como a origem desses não
datava de Moisés, não eram considerados no mesmo nível
que a Torah. Além disso, eles acreditavam que
principalmente no Templo é que as palavras da Torah
podiam ser obedecidas, e que as ordenanças provenientes
dos sacerdotes, investidos em sua própria autoridade,
eram um guia suficiente para as pessoas cumprirem. Com
efeito, ainda apoiando a autoridade da Torah escrita
contra a autoridade da tradição oraL os saduceus
consideravam-na pouco mais que uma relíquia do
passado.
Se para os fariseus a Torah era o centro de sua fé,
para os saduceus era a circunferência dentro da qual
podiam ser nutridas convicções e práticas estranhas ao
judaísmo. Daí a habilidade deles para inserir dentro de seu
sistema muitas influências helenísticas que eram odiosas a
seus companheiros judeus.
C. OsEssênios
O nome Essênio provavelmente deriva de uma pala-
vra aramaica que significa "santo" ou "piedoso" e
corresponde ao hebraico hasid. Relativamente pouco se
sabe sobre os essênios, mas o historiador romano Plínio
fala sobre um povo com esse nome que formava uma
comunidade asceta firmemente unida, que vivia perto da
costa ocidental do Mar Morto. Josefo e Philo oferecem
informações adicionais de que havia cerca de quatro mil
essênios que, em sua maior parte, vivia em aldeias,
embora alguns deles vivessem em cidades. Esses últimos
eram, sem dúvida, considerados por seus irmãos como
membros associados da comunidade que vivia em regiões
desérticas, sob uma disciplina mais rígida. O nome essênio
_________________
49
Op cit., pp. 15 s.
provavelmente abrange vários grupos cujas convicções e
práticas, embora talvez não fossem idênticas, ainda eram
semelhantes.
O que é significante para o nosso propósito é o fato
registrado de que os essênios dedicavam muito tempo ao
estudo e interpretação da Torah e de outros livros
sagrados, com os quais eles tomavam o maior cuidado
possível. Josefo nos fala que eles estudavam
intensivamente as Escrituras e indica que certo número
deles era capaz de predizer o futuro através da leitura dos
livros sagrados. Philo se refere ao método deles de estudo
em grupo e afirma que um membro do grupo lia uma
passagem em voz alta para os outros e um irmão mais
experiente, então, ia explicando o significado. E óbvio que
a Torah escrita e seu estudo formavam a base da vida
comum deles e era a inspiração de seu movimento. Em sua
perspectiva religiosa, eles tinham muito em comum com
os fariseus, mas em alguns aspectos, pelo menos, pareciam
ser bem mais rígidos do que aqueles na interpretação da
Torah.
D. Os Zelotes
Já observamos anteriormente que Josefo traçou a
origem dos zelotes até o ano 6 d.C; mas na realidade suas
raízes vão muito além do período pré-romano, porque eles
podem, justificavelmente, ser considerados como
verdadeiros filhos espirituais dos macabeus. O Dr. R. H.
Pfeiffer coloca a situação resumidamente nestas palavras:
"Como os fariseus são os herdeiros dos Hasidim, assim os
zelotes são os herdeiros dos Macabeus".50
Eles são descritos por Josefo como bandidos, ladrões
e coisa semelhante, mas bem podem igualmente ser
descritos como patriotas, de acordo com o ponto de vista
do escritor; e Josefo era um tanto parcial! Entretanto, é
errôneo considerá-los simplesmente como um grupo
político radical dentro do estado, que provocava conflitos
com os romanos. Sem dúvida, os zelotes atraíram para si
muitos do populacho de seus dias com tendência a
"gangsters", mas eles eram essencialmente uma companhia
de patriotas judeus motivados por profundas convicções
religiosas. E interessante notar que Josefo descreve os
sucessivos líderes do movimento dos zelotes pela palavra
"sofista", que bem pode indicar que dentro do partido
havia um programa planejado de ensino que ia além do
interesse meramente político que Josefo insinua.
Na verdade, sabemos que a oposição dos essênios a
Roma estava arraigada em seu zelo para com a Torah. Foi
esse zelo e não simplesmente o "amor ao país" que gerou
seu patriotismo e fanatismo, o que fez que passassem a ser
temidos tanto pelos amigos como pelos inimigos. Josefo
continua dizendo (Ant., 18.1.6, seção 23) que eles tinham
"uma fixação inviolável pela liberdade"; eles se recusavam
a chamar qualquer homem de "senhor" ou pagar tributo a
qualquer rei, pois Deus era seu único Rei e Senhor;
desprezavam a dor e davam pouca importância à morte;
nem sequer o sofrimento de parentes e amigos os demovia
de seu propósito. Por trás de tudo isso estava sua devoção
apaixonada pela Torah, pela qual eles estavam dispostos
não apenas a lutar, mas quando chamados, até mesmo a
sacrificar suas vidas.
________________
50
Op. cit., pp. 36.
E. Os Pactuantes de Qumran
Já fizemos menção dos Hasidim que, no tempo de
João Hircano (134-104 a.C), apareceram como partido dos
fariseus. Porém, nem todo Hasidim se identificou com esse
partido. Parece haver razão para acreditar que, durante o
curso do segundo século a.C, um grupo de pessoas da
verdadeira tradição hasídica decidiu se retirar para o
deserto da Judeia sob a liderança de quem eles chamavam
o "Mestre da Justiça". Este formou seus seguidores em uma
comunidade religiosa bem organizada, ensinou-lhes uma
nova interpretação das Escrituras e uniu-os em uma "nova
aliança" que os levou à obediência à lei de Deus até o
surgimento da era messiânica. A descoberta em 1947 desse
quartel general dos Pactuantes, em Qumran, perto da
costa do Mar Morto, e de um vasto número de escritos de
suas bibliotecas, muito acrescentou à nossa compreensão
sobre o estado das coisas na Palestina durante o período
interbíblico.
Desde então, a opinião sobre a descoberta desses
"rolos do Mar Morto" tem estado dividida como também
em relação à identidade da comunidade de Qumran.
Alguns estudiosos têm argumentado a favor de uma data
pré-macabeus, e outros por uma identificação com os
zelotes no primeiro século d.C. Talvez os argumentos mais
fortes, entretanto, possam ser apresentados ao associá-los,
se não identificá-los, com um ramo dos essênios da época
de Alexander Janaeus (102 a.C.)*ou um pouco antes. Nesse
mesmo período há evidências de uma grande comunidade
de essênios e uma comunidade igualmente grande de
Pactuantes, ambas vivendo ao redor do Vádi Qumran
(NT.: vádi: denominação árabe dos rios intermitentes do
norte da África e do Oriente próximo; denominação do
leito desses rios — Dicionário Webster.), e a indicação é de
que eles provavelmente formavam uma única
comunidade. Essa convicção é fortalecida por uma
comparação dos costumes, ritos e crenças dessas duas
seitas que indica que eles pertenciam ao mesmo tipo geral.
É um fato de particular interesse que ambas as seitas
tenham dedicado muito tempo ao estudo e interpretação
da Torah e de outros livros sagrados. Entre os Pactuantes,
sempre que os membros efetivos do Conselho se reuniam
em grupos de dez, como era costume, os assuntos eram
ordenados de modo que algum membro do grupo sempre
se ocupava do estudo ou exposição. Os membros
ordinários da comunidade deviam dedicar a primeira
terça parte de todas as noites à leitura do livro', estudando
a lei e respondendo com as bênçãos apropriadas. Como os
essênios, os pactuantes tinham muito em comum com os
fariseus, mas eram mais rígidos do que eles na
interpretação da Torah, como, por exemplo, na
observância do dia do Sábado. Eles acreditavam que sua
fidelidade como remanescente representativo de Israel,
causaria uma expiação vicária para sua nação e ajudaria a
anunciar a nova era de que os profetas haviam falado. Essa
fidelidade encontrou sua expressão no estudo meticuloso e
na prática da lei, e foi com esse propósito que eles foram
os primeiros a se retirarem para o deserto da Judéia.
O líder dessa comunidade, o Mestre da Justiça,
ensinou a seus seguidores uma nova interpretação das
Escrituras que tornou clara a parte que eles deveriam
desempenhar no cumprimento do propósito de Deus para
sua geração. De particular significado eram os escritos dos
profetas que, como se acreditava, não escreviam
simplesmente sobre seus próprios dias, mas sobre os
tempos do fim. Na profecia de Habacuque, os pactuantes
viam uma predição dos dias que eles mesmos estavam
então vivendo. O fim estava próximo. O "mistério"
(hebraico: raz cf. Dn 2.18, etc.) que foi transmitido por
Deus a Habacuque, mas cujo significado foi dele
escondido, recebeu sua interpretação (hebraico: pesher)
pelo Mestre da Justiça, que demonstrou que a antiga
profecia fora escrita com referência, não ao passado, mas
às pessoas e aos acontecimentos de seus próprios dias. O
Dr. F. F. Bruce mostrou51 que esse mesmo método de
interpretação é, em muitos aspectos, semelhante ao
adotado pelos cristãos primitivos e que várias passagens
no Novo Testamento podem facilmente ser traduzidas
para a língua-pescher em que a interpretação da profecia é
dada em termos dos próprios dias do escritor ou em
termos do fim dos tempos.52
Entre os escritos encontrados no Qumran há um
chamado "A Guerra dos Filhos da Luz contra os Filhos das
Trevas" onde são descritos planos para a execução de uma
Guerra Santa que conduziria ao tempo do fim. Parece
certo que, na ocasião da guerra com Roma (66 d.C),
segundo o espírito desse livro, os Pactuantes foram
prontamente favoráveis aos zelotes e, como resultado, suas
instalações em Qumran foram destruídas, como as
evidências arqueológicas indicam, em 68 d.C. E se, como
parece provável, eles devem ser identificados como um
ramo dos essênios, isso explicaria o relato de Josefo,
segundo o qual naquela época muitos dos essênios foram
cruelmente torturados.
As seitas do judaísmo diferiam umas das outras em
muitos aspectos; contudo, à exceção dos saduceus, elas eram
unidas por uma única coisa em sua luta contra o inimigo
comum; não era a devoção pelo partido nem mesmo pela
pátria, mas pela Torah sagrada e pela santa Aliança do
Senhor seu Deus.
_________________
51
New Testament Studies (Estudos do Novo Testamento), vol. 2, n°
3, pp. 176 ss, artigo sobre 'Qumran and Early Christianity' ('Qumran e o
Cristianismo Primitivo').
52
Ele ilustra isso ao associar Habacuque 1.5 com Atos 13.66 ss
como interpretação; Habacuque 2.3 s com Hebreus 10.37 s, Romanos 1.17
e Gálatas 3.11; Amós 5.25 ss com Atos 7.42 s; Salmos 95.10 com Hebreus
3.9 s.
3
Os Escritos Sagrados
Não há limite para fazer livros, e o muito estudar é
enfado da carne" (Ec 12.12). Essas palavras, sem dúvida,
têm uma qualidade atemporal, mas provavelmente o
escritor tinha em mente os livros de origem grega escritos
no início do segundo século a.C. ou um pouco mais tarde,
e que refletiam a cultura helenística prevalecente naquela
época. Esses escritos não estão diretamente ligados ao
nosso contexto, mas sua citação nos ajuda a lembrar que
na própria Palestina, do primeiro quarto do segundo
século a.C. ao primeiro século d.C, havia também muitos
escritos judaicos, de diversos tipos que tiveram uma
influência duradoura, se não sobre o Judaísmo em si, então
sobre o cristianismo, que reivindicava ser o "novo Israel"
de Deus.
Tem sido prática comum classificar a literatura dos
judeus desse período como canónica, rabínica, apócrifa e
pseu-depígrafa. Contudo, como G. F. Moore indicou,53 tal
classificação era bem desconhecida para os judeus daquela
época e é, na verdade, muito enganosa. Melhor
classificação, ele sugere, seria de livros canónicos,
"normativos" e "irrelevantes" (ou "excluídos"). Por
"canónico" entenda-se o conjunto das Sagradas Escrituras
reconhecido como autorizado; "Normativo" significa a
literatura, ou mais corretamente a tradição oral que
posteriormente encontrou expressão na literatura do
judaísmo rabínico; e "irrelevante" significa escritos não-
canônicos, aos quais os rabinos davam o nome de "livros
excluídos".
_____________
53
Op. dt., vol. I, pp. 125 ss.
I. As SAGRADAS ESCRITURAS
A. O Canon Hebraico
De acordo com os costumes judaicos, as Escrituras
Hebraicas são divididas em três grupos conhecidos como
Torah (Lei), Nebi'im (Profetas - Anteriores e Posteriores) e
Kethubim (Hagiógrafo ou Escritos). Consistem em vinte e
quatro livros que, por divisão diferente, aparecem na
Versão Autorizada como trinta e nove. Desses livros,
considerados inspirados e sagrados e que possuíam a
autoridade "canónica", os judeus diziam que "tornam as
mãos sujas" — frase cuja origem está perdida na
obscuridade, mas que "pretendia provavelmente prevenir
descuidos e manuseio irreverente dos livros sagrados,
particularmente pelos sacerdotes".54 Nem todos os livros
das Escrituras Sagradas eram considerados de igual
autoridade, como também, nem, de fato, constavam nas
três seções em que as Escrituras estavam divididas. Eles
eram classificados em três níveis, por assim dizer; o
primeiro lugar representando a Torah, em seguida, os
Profetas e o último, os Escritos.
Desde o tempo de Esdras em diante, o judaísmo que
gradualmente se desenvolveu atribuiu a maior
importância possível à revelação da Thorah dada por Deus
a Moisés no Sinai, e considerou a história subseqüente
como de menor importância; dessa maneira a Thorah
recebeu um lugar de suprema autoridade escriturística
dentro da igreja judaica. Parece provável que em cerca de
400-350 a.C, a Torah ou o Pentateuco, como nós o temos
agora, foi concluído; mas é mais difícil apurar a que ponto
ele foi considerado como tendo obtido autoridade
canónica.
________________
54
G. F. Moore, ibid., vol. III, p. 66.
B. As Escrituras na Dispersão
Sabemos que, por volta do ano 250 a.C, o Pentateuco
já havia sido traduzido para o grego, para o uso dos
judeus da Dispersão, e o prefácio para a versão grega de
Ben Sira indica que, por volta daquela data (132 a.C.) os
Profetas
________________
55
Esses dois livros juntamente com o livro de Ester, não são
mencionados em nenhuma parte do Novo Testamento. Para a influência
dos livros apócrifos no Novo Testamento e na história da Igreja Cristã veja
pp. 88ss.
2. A TRADIÇÃO ORAL
Durante o período interbíblico, como temos visto, a
Torah tornou-se para os judeus a suprema autoridade
religiosa e o judaísmo se estabeleceu como a religião do
Livro. Mas como H. Wheeler Robinson nos faz lembrar
"toda religião que se edifica com base em um livro é
compelida a criar meios de reinterpretar esse livro de
modo a adaptar seu significado original às mudanças
necessárias de sucessivas gerações. Assim aconteceu que,
paralelamente à Torah escrita, surgiu um conjunto de
interpretação, natural ou artificial, que se constituiuna
Torah não-escrita, 'a tradição dos anciãos' (Marcos 7.3)".1
57Um dos muito raros exemplos sobreviventes deste método pode ser encontrado no tratado de
Mishnah, Sotah, viii. 1,2. Cf. a tradução de Herbert Danby do Mishnah, 1933, pp. 301 s, e R.
Travers Herford, op. at., 1933, pp. 48 s, onde a passagem é determinada claramente.
da Torah não era clara; então seu significado devia ser
explicado e sua verdade aplicada. Às vezes, é verdade, as
leis que surgem dos costumes prevalecentes podem se
estabelecer, as quais talvez não encontrem justificação na
Torah, mas adquiriam autoridade com base no fato de que
elas formavam uma "cerca em redor da Torah" (Pirke
Aboth 1.1). Essa "cerca" consistia em regras cautelares, tais
como as que proíbem não apenas o uso, mas até mesmo o
manuseio de ferramentas no dia do sábado. Assim, um
homem seria detido antes que ele se encontrasse perto de
uma brecha da lei de Deus. Desse modo, a Torah foi alçada
cada vez mais ao centro da vida das pessoas.
Essa tarefa, tão bem iniciada pelos soferins, foi
continuada e desenvolvida pelos mestres, que depois se
tornaram os rabinos, cujo trabalho fez muito mais do que
moldar e determinar a forma do judaísmo dos anos que
viriam. Registra-se que a tradição dos soferins foi
transmitida por Simão, o Justo, a um certo Antígono de
Socho, e que depois disso foi transmitida a uma série de
mestres cujos nomes são citados em pares de José ben
Joezer e José ben Joanan, que viveram em cerca de 160 a.C,
seguindo a linha de sucessão até Hillel e Shammai, no
tempo de Jesus (cf. Pirke Aboth 1.1-12). Como os soferins
antes deles, esses mestres se propuseram a tarefa de
interpretar a Torah para o povo e de regular suas vidas de
acordo com essa orientação.
Mas durante esse período, houve um
desenvolvimento em conexão com o status de leis extra-
escriturísticas, que passariam a ter efeitos de longo
alcance. Como vimos, oscostumes e tradições,
principalmente de natureza religiosa, que haviam surgido
no decurso dos anos, passaram a ser aceitos como
autoridade na prática do judaísmo, muito embora não
houvesse nenhuma justificação para tal na Torah. No
devido tempo, surgiu a pergunta concernente à relação
entre a autoridade da tradição e a autoridade da Torah
escrita. Estava claro que não poderia haver duas
autoridades independentes. E assim surgiu a
importantíssima crença de que a Torah era mais do que
simplesmente a palavra escrita das Escrituras, mas incluía
também a tradição que havia sido passada de geração a
geração. A Torah de Deus era dividida em duas partes,
escrita e oraL e cada uma delas tinha igual autoridade. E
não apenas isso; cada parte era de igual antigüidade,
porque o próprio Moisés havia recebido a Torah, escrita e
oraL no Sinal a partir de onde a lei tem sido transmitida
através das sucessivas gerações de homens fiéis (Pirke
Aboth 1.1). Foi, sem dúvida, a formulação dessa convicção
que levou à cisão no Sinédrio no tempo de João Hircano
(134-104 a.C.) e ao aparecimento dos dois partidos dos
fariseus e saduceus.3 Os fariseus eram firmes defensores
da autoridade da tradição oral ao que os saduceus eram
amargamente contrários. Estes, por sua vez, embora tives-
sem suas próprias ordenanças a respeito das questões dos
sacrifícios e outros rituais, consideravam a Torah escrita
como a única autoridade.
Os perigos inerentes em tal desenvolvimento da
Torah nào-escrita são óbvios, especialmente quando ela se
dissociou do texto da Torah escrita e não mais requeria
base justificativa nas Escrituras. Mas deve-se reconhecer
que isso livrou o judaísmo daquele estado moribundo que
deveria ter sido seu destino, se a nação tivesse seguido a
orientação dos conservadores saduceus. Por meio da
Torah nào-escrita, a religião e a vida, o trabalho e a
adoração, foram integrados de um modoque seria antes
impossível, e Deus e seus mandamentos foram
58Ver pp. 32 2 49 s.
apresentados como reais na vida comum das pessoas
comuns.
59Ver pp. 64 s
parte contém muitas lendas e miscelâneas do folclore
israelita. Mas juntamente com esses relatos, há um
considerável volume de material ético ereligioso. O
Haggadah se refere freqüentemente ao discurso dos
pregadores nas sinagogas e dos mestres nas escolas e
muitas vezes os menciona pelo nome. Esse material era de
grande valor, mas não tinha a mesma autoridade do
Midrash Halakah no judaísmo.
O Midrash era o interesse dos rabinos antes da
destruição do segundo Templo, e depois dessa data
tornou-se sua maior preocupação. A função, apresentação
e ampliação da tradição oral eram as principais
características de seus estudos. Sua tarefa então, como
sempre, era de estudar a Torah escrita e sua tradição oral e
transmiti-las aos outros. Esse processo de estudo, a
repetição da Torah escrita e de sua tradição oraL era
chamado shanah ou "repetição", e o resumo da repetição
era conhecido como Mishnah.5
Essa palavra Mishnaò é o nome dado à segunda
fonte rabínica. Ela tem sido descrita como "uma
classificação sistemática (tópica) das discussões e decisões
dos rabinos durante os séculos anteriores como a
interpretação e expansão da Torah".6 Trata-se de um
código de lei que consiste em Halakah, com elementos
ocasionais do Haggadah, cuja formação e codificação se
deram desse modo. Após a destruição do Templo em 70
d.C, em vez de elaborar um versículo das Escrituras de
cada vez, os rabinos começaram a organizar o halahot
(plural de halakah), ou leis religiosas individuais de tipo
prático, em uma ordem especiaL de acordo com o assunto
e não de acordo com o texto bíblico. Uma orientação sobre
60Emaramaico shanah torna-se tena'. Os rabinos dos dois primeiros séculos d.C, que estavam
comprometidos com esta repetição dos Mishnah, eram conhecidos, e ainda o são, como
Tanna'im.
61H. Wheeler Robinson, op. dl. pp. 313 s
esses assuntos foi dada por Joanan ben Zakkai e seus
discípulos em Jamnia. No começo do segundo século, o
Rabino Akiba (morto em 135 d.C.) ordenou o ha/akotem
uma forma mais elaborada, emboraainda oralmente. Um
de seus discípulos, o Rabino Meir (após 135 d.C.)
elaborou-a novamente e esclareceu alguns pontos
obscuros. Então, o Rabino Judá (o Patriarca), que morreu
logo depois de 200 d.C, fez uma recensão final do
Mishnah, embora não saibamos se ele realmente o fez por
escrito. Outras alterações foram feitas depois de seus dias,
mas o principal é resultado de sua obra. Em sua forma
escrita, o Mishnah é dividido em seis ordens conforme o
assunto-matéria, cada uma contendo vários tratados (63 ao
todo) e pode ser datado em cerca de 200-230 d.C. Depois
da Bíblia, o Mishnah é a base da literatura judaica até
nossos dias e é o fundamento do Talmude.7 Com os
escritos do Mishnah, os judeus se estabeleceram como "o
povo do Livro".
A. A Literatura Não-Canõnica
Já se mencionou o fato de que durante o período
interbí-blico surgiram, principalmente na Palestina, mas
também na Dispersão, uma literatura judaica bem extensa
que é significativa não apenas para o judaísmo, porém
muito mais para o cristianismo.8 Por um lado, esses
escritos oferecem uma interessante visão da história dos
judeus e da religião do judaísmo formada nas escolas
62
O Talmude (lit. "aprendizado") é uma compilação que consiste do Mishnah, ou o corpo da lei
tradicional aceita, juntamente com as discussões ou tradições subseqüentes ( a Gemara, lit.
"complementação"), que diz respeito ao que surgiu nas "escolas" judaicas. Há dois Talmudes, o
palestino e o babilónico. Em referência de uso comum, o Talmude babilônio é mais completo
que o palestino. Ele adquiriu substancialmente sua forma atual em cerca de 500 d.C.
Ver p. 16.
rabínicas, e por outro lado lança luz sobre as origens da fé
cristã. E difícil dizer o quanto esses livros se difundiram,
mas aparentemente havia uma quantidade considerável
deles em circulação.
O nome dado a esses livros na literatura rabínica é
hisonim que significa "externo" ou "fora" e quer dizer que
esses livros não pertenciam ao Cânon das Escrituras
reconhecidas. Um indício de sua identidade é fornecido no
tratado de Tosefta, Yadaim ii, 13, que diz: "Os livros [sic] de
Ben Sira e todos os livros que foram escritos desde então
não mancham as mãos", isto é, não são canónicos. A
literatura aqui referida é presumivelmente aquela de todo
o grupo ao qual o próprio Ben Sira pertencia, ou seja, a
literatura apócrifa e cognata (inclusive muitos escritos do
tipo apocalíptico). No tratado de Mishnah, Sinédrio x, 1, é
registrado pelo influente Rabino Akiba (cerca de 132 d.C.)
que entre aqueles que não tinham "parte no mundo por
vir" está "aquele que lê os livros excluídos". A primeira
vista, isso pode ter passado a significar que a leitura de
todos os livros nào-canônicos era proibida, mas na
realidade a referência é presumivelmente à reátação pública
deles tanto na liturgia dos cultos como na disciplina do
estudo.
Baseado em quais fundamentos essa literatura era
considerada nào-canônica? W. D. Davies sugeriu9 quatro
critérios para determinar a aceitação ou a rejeição de
qualquer livro:
1. A visão de que as profecias cessaram em Israel
após Daniel no período persa e que, portanto, todos os
livros escritos após esse tempo não devem ser
considerados.
66Ver p. 67.
corresponder com maior precisão às da literatura
apocalíptica. Se pudermos constatar que o argumento de
que os pactuantes do Qumnran eram, de fato, um ramo
dos essênios, então poderemos, talvez, dar muito mais
crédito ao argumento a favor da possível influência dos
essênios nesse tipo de literatura, pois o pensamento
messiânico e apocalíptico dos rolos do Mar Morto têm
muito em comum com os escritos apocalípticos nos "livros
excluídos".
Para concluir, a existência dessa literatura não-
canônica, apocalíptica ou não, confirma a observação feita
anteriormente de que, durante o período interbíblico, o
Judaísmo era um sistema complexo, que abrangia muitas
seitas, partidos e classes, pois a própria literatura
desvenda muitas visões diferentes, interesses e crenças que
nem sempre podem ser identificadas com qualquer um
dos partidos reconhecidos dentro do Judaísmo. Como R
Travers Herford diz: "A existência de escritores tais como
os dos livros apócrifos tendem mais à complexidade do
que à simplicidade nas atividades literárias da época.
Também, a presença de muitos elementos no Judaísmo
contemporâneo,de modo algum implica que havia
interação íntima e influência mútua entre eles".12 Nós nos
voltaremos agora para um exame mais detalhado dessa
literatura "apócrifa".
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distribuidos gratuitamente, não havendo custo
algum.
Caso você tenha condições financeiras para comprar,
pedimos que abençoe o autor adquirindo a versão
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80
A Literatura Apócrifa
No jargão comum a palavra "apócrifo"
freqüentemente traz um sentido de "falso" ou "espúrio",
mas em sua origem e em seu uso eclesiástico o significado
é completamente diferente. Ela tem o mesmo sentido da
expressão hebraica "livros excluídos" e se refere àqueles
livros que não foram inseridos no Cânon das Escrituras.
Etimologicamente, a palavra "apocrypha" (plural do grego
apocryphon) designa coisas ocultas aos olhos, escondidas
ou secretas. Tem-se sugerido13 que a razão por que os
"livros excluídos" passaram a ser chamados de "(livros)
ocultos" pode ser encontrada em certas referências de II
Esdras. Nesse livro, Esdras recebeu a ordem de reescrever
todos os livros sagrados de Israel que haviam sido
destruídos. Vinte e quatro desses (os livros canónicos), ele
teve que publicar, e setenta (os livros excluídos) ele teve
que esconder (cf. 14.6,45 ss). Esses livros "escondidos" ou
"apócrifos", uma vez excluídos do Cânon, eram, contudo,
A Sua Identidade
Os livros do Antigo Testamento apócrifo são mais
conhecidos dos leitores modernos como aparecem na
Versão Autorizada, onde são reunidos para formar um
bloco de literatura entre o Antigo e o Novo Testamento.
São doze livros ao todo e um deles (II Esdras) não é
incluído na Septuaginta grega mas aparece na Vulgata.
1. I Esdras
2. II Esdras
3. Tobias
4. Judite
5. O restante dos capítulos de Ester
6. Sabedoria de Salomão
7. Sabedoria de Jesus, filho de Siraque,14 ou
Eclesiástico
8. Baruque (com a Epístola de Jeremias como
capítulo 6).15
9. Acréscimos ao livro de Daniel
(a) O Cântico dos Três Jovens Santos
(b) A História de Susana
(c) Bel e o Dragão
10. A Oração de Manasses
11. I Macabeus
12. II Macabeus
69"Esta é a forma dos nomes em grego. A forma hebraica T3»n Sira' (filho de Sira) é usada em
todo esse livro.
70A versão Apócrifa RSV (Versão Revisada Standard) separa a Epístola de Jeremias do livro de
Baruque. Em alguns códices gregos eles são separados por outro livro.
13; 11.2-12.6; 13.8-18; 14.1-19; 15.1-16, a História de Susana,
Bel e o Dragão, a Epístola de Jeremias, II Esdras).
73R. H. Pfeiffer em The Interpretoá Bibk (O Intérprete da Bíblia), voL 1,1952, p. 399.
era que ainda estava por vir. Uma abordagem mais
completa sobre o significado desse livro será reservada
para outro capítulo quando a literatura apocalíptica será
considerada como um todo.18
C. Seu Valor Histórico e Religioso
Já fizemos referência ao valor de I Macabeus como
uma fonte indispensável da história do segundo século
a.C. e conseqüentemente das crenças e práticas religiosas
do período de que ele trata. Porém muitos outros livros
além desse têm uma contribuição importante a fazer nessa
mesma conexão e juntos apresentam um quadro
inestimável da vida e da religião judaica nos anos que
antecederam o nascimento do cristianismo.
O respeito para com o Templo de Jerusalém é
demonstrado não apenas pelas narrativas históricas (por
exemplo I Mac 7.37), mas em outros textos, como no livro
de Tobias, ele é tratado em alta estima e é aprovada a
peregrinação a Jerusalém e o pagamento de dízimos no
Templo (1.4-8; 5.13). Em Ben Sira, também, os ritos do
Templo (cf. 35.4ss) e o sacerdócio aarônico (45.6ss) são
honrados e, em particular, o Sumo Sacerdote Simeão é
exaltado (50.1 ss).
Complementar ao Templo era a Torah sagrada, cuja
localização e prestígio iriam tornar-se cada vez maiores à
medida que os anos passassem. Tobias, por exemplo,
coloca ênfase na obediência à Lei de Moisés, enquanto que
em Ben Sira, como nós já vimos, a Torah é descrita como a
epítome da própria sabedoria (24.23). Já estava sendo
lançada a fundação para o tempo em que os judeus
estariam dispostos a morrer em defesa da bendita Torah
(cf. I Macabeus 2.27).
74Ver cap. 5.
Em todos esses escritos, há ênfase sobre a
importância das exigências legalísticas. Tobias, por exemplo,
refere-se à purificação após o contato com cadáveres, ao
lavar-se antes das refeições, à observância das festas, o
pagamento dos dízimos aos sacerdotes e às contribuições
para o sustento de órfãos, viúvas e estrangeiros. O ato de
dar esmolas, em particular, é considerado como um dever
sagrado a ser praticado igualmente por ricos e pobres. Em
I Macabeus é dada ampla evidência da grande importância
do rito da circuncisão (cf. 1.15,48; 2.46) e da observância do
sábado (2.34, 41). Outra observância quase tão importante
é a das leis relacionadas às comidas. Tobias diz que
quando foi levado cativo para Nínive, ele se recusou a
comer "o pão dos gentios" (1.10-11). Judite, também,
recusou-se a receber a comida e o vinho que Holofernes
lhe ofereceu (12.2). De fato, o sucesso de seu plano para
libertar a nação, aparentemente, dependia de seu
cumprimento da lei até nos menores detalhes da
observância das dietas (8.4-6; 12.1-9; cf. também II
Macabeus 6.18-7.1). A perspectiva religiosa dos judeus é
resumida nas palavras de Baruque: "Este é o livro dos
mandamentos de Deus e a lei que subsiste para todo o
sempre. Todos aqueles que a cumprem fielmente são
destinados para a vida, mas os que a abandonam,
perecerão" (Baruque 4.1).
Mas o legalismo não era a única coisa que a Torah
religiosa nutriu. Ela encorajou em muitos uma profunda
devoção pessoal que achou expressão nas boas obras e no
serviço aos outros. Em todo o livro de Tobias, por
exemplo, há um sentido de reverência e respeito
demonstrado aos pais, que indica um verdadeiro espírito
de piedade que prevalecia em muitos círculos familiares
judaicos daquele tempo; em particular, as orações de
Tobias e Sara pela libertação de seus problemas são, sem
dúvida, típicas de muitas orações de seus dias. Ben Sira
também exala o espírito de oração em várias passagens
que muito se assemelham aos Salmos em sua atmosfera
devocional (cf 2.1-18; 17.24-18.14; 22.27-23.6). Sua
perspectiva religiosa é bem resumida nestes palavras:
"Riquezas e força animam o coração;
E o temor do Senhor está acima de ambos:
Não há carência de nada no temor do Senhor,
E quanto a isso, não é necessário buscar ajuda"
(40.26).
Aquele que observa a Lei, faz muito mais aos olhos
de Deus do que se oferecesse muitos sacrifícios: "Aquele
que guarda a Lei multiplica as ofertas; Aquele que cumpre
os mandamentos oferece uma oferta pacífica;
Aquele que retribui uma boa ação oferece flor de
farinha; E aquele que dá esmolas oferece um sacrifício de
ação de graças." (35.1-2)
Multiplicar ofertas não é suficiente:
"O Altíssimo não tem prazer nas ofertas dos ímpios;
nem perdoa os pecados pela multidão de sacrifícios"
(34.19).
Toda essa passagem, de fato, exala o espírito de
Amós, que requer misericórdia para os pobres e justiça
para os oprimidos (cf. 4.1-6; 34.18-26).
Durante todo esse período, houve um grande
desenvolvimento na concepção dos judeus das últimas
coisas e isto é bem ilustrado nesses escritos. Em Baruque,
por exemplo, há uma promessa para o povo judeu de que
eles verão seu triunfo sobre seus irárnigos e que Deus os
restabelecerá em sua própria terra (2.30-35, etc). Tobias
declara que o tempo virá quando Jerusalém será
reconstruída e o Templo será restabelecido à sua glória
anterior e até mesmo superior àquela; as tribos se reunirão
mais uma vez em Jerusalém e os pagãos adorarão ao
Senhor como seu Deus (13.1ss; 14.4-7). Em ambos esses
livros há referência à escatologia da nação, mas não há
nada sobre a escatologia do individual. E aos
apocalípticos, representada nos apócrifos por II Esdras 3-
13, que devemos uma síntese dessasduas escatologias por
meio de sua crença na doutrina da ressurreição dos
mortos. Por sua influência, o escritor de II Macabeus, por
exemplo, expressa sua crença na ressurreição dos justos,
que serão levantados dentre os mortos para herdar a vida
eterna (7.9,11,14,23,29,36;12.3-45). Nisso ele difere de outro
livro alexandrino, a Sabedoria de Salomão, que, sob
influência do pensamento grego, ensina sobre a
imortalidade da alma (2.23; 3.4;5.15;6.18;8.17;15.3). Esse
ensino de Sabedoria, junto com sua crença na pré-
existência da alma (8.19-20), que está aprisionada ao
"corpo corruptível" (9.15), é estranha não apenas ao
pensamento hebraico, mas também às expectativas
apocalípticas dos judeus.19 Os apocalípticos estavam
alinhados à tradição hebraica e, por seu discernimento
espiritual, prepararam o caminho para o cristianismo, não
apenas em sua doutrina da ressurreição, mas também em
sua crença no Reino de Deus e do Messias que um dia
viria para reinar.
A. Sua Identidade
Não há consenso sobre a lista desses outros livros
apócrifos que se encontram excluídos dos "Apócrifos" e
aos quais se atribui, às vezes, o nome de "pseudepígrafos".
Eles representam vários tipos de literatura, mas, sem
75Ver pp. 24 s.
dúvida o mais comum e mais importante é esse do
apocalíptico. Alguns deles são apocalipses, propriamente
ditos, enquanto outros, embora não predominantemente
apocalípticos, possuem em si elementos apocalípticos bem
consideráveis. De fato, há poucos, se houver algum, que
não entram nessa categoria. Mais tarde trataremos de seu
método e ensino. Aqui relacionamos uma lista de tais
livros, geralmente aceitos como pertencentes a essa
classificação, juntamente com sua data aproximada de
composição.
De origem palestina:
I. 1 Enoque 6-36, 37-71, 83-90, 91-104 (c. 154 a.C.)
2. O Livro dos Jubileus (c. 150 a.C.)
3. Os Testamentos dos Doze Patriarcas (140-110 a.C.)
4. Salmos de Salomão (c. 50 a.C.)
5. O Testamento de Jó (primeiro século a.C.)
6. A Assunção de Moisés (7-28 d.C.)
7. As Vidas dos Profetas (primeiro século d.C.)
8. O Martírio de Isaías (1-50 d.C.)
9. O Testamento de Abraão (1-50 d.C.)
10. O Apocalipse de Abraão 9-32 (70-100 d.C.)
II. II Baruque ou O Apocalipse de Baruque (50-100
d.C.)
12. Vida de Adão e Eva ou Apocalipse de Moisés
(80-100 dC.)
De origem helenística:
13. Os Oráculos Sibilinos: Livro Hl (150-120 a.C.)
Livro IV (c. 80 d.C.)
Livro V (antes de 130 d.C.)
14. III Macabeus (próximo do fim do primeiro século
a.C.)
15. IV Macabeus (próximo do fim do primeiro
século a.C. ou início do primeiro século d.C.)
16. II Enoque ou livro dos Segredos de Enoque (1-50
dC.)
17. III Baruque (100-175 d.C.)
B. Na Comunidade deQumran
Esse número de livros foi aumentado consideravel-
mente pelas descobertas no Qumran, perto da costa do
Mar Morto. Entre os milhares de fragmentos encontrados,
há muitos de caráter apócrifo e, em particular,
apocalíptico; alguns são escritos em hebraico e outros em
Aramaico, e outros, segundo informações, em uma escrita
secreta. Aparentemente esses escritos eram muito
populares entre os membros da comunidade de Qumran e
talvez alguns deles tenham sido, de fato, escritos lá.
Muitos fragmentos de escritos apocalípticos
relatados no Livro de Enoque têm vindo à luz, escritos em
hebraico e aramaico. Um deles tem muito em comum com
I Enoque 94-103, com sua narrativa das admoestações aos
justos e infortúnios aos pecadores, e faz referência, em
várias ocasiões, ao "segredo futuro"20 por meio do qual os
mistérios da presente era, enfim, serão revelados. Essa é
uma idéia bem comum entre os apocalípticos como, por
exemplo, em II Esdras. Outra série de fragmentos contém
uma narrativa do nascimento de Noé, conhecida
previamente apenas em I Enoque 106. E possível que esses
façam parte de escritos perdidos há muito tempo, o assim
denominado "Livro de Noé", reconhecido por muitos
como sendo uma das fontes do Livro de Enoque.21 No
entanto, encontrou-se outra coleção de fragmentos, escrita
em aramaico, que descreve uma visão da Nova Jerusalém
e demonstra um interesse particular no templo e em seu
A. No Novo Testamento
Ao ler o Novo Testamento, torna-se bem óbvio que
seus escritores e leitores dos primeiros dias estavam
familiarizados com, pelo menos, alguns dos livros
apócrifos, não apenas aqueles que eles herdaram dos
judeus na Septua-ginta, mas também com uma coleção
mais ampla de escritos. A referência mais clara pode ser
encontrada em Judas, versículos 14-16, onde o autor faz
uma citação, sem dúvida de memória, de Enoque 1.9,
lembrando a profecia de "Enoque, a sétima geração depois
de Adão". A exceção dessa citação mais ou menos direta,
muitas alusões à literatura apócrifa. As palavras,
"Mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos.
Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate",
registradas em Hebreus 11.35, nos faz lembrar o martírio
de Eleazar e dos Sete Irmãos em II Macabeus 6 e 7, e
"foram... serrados pelo meio" de Hebreus 11.37 é, sem
dúvida, uma alusão ao Martírio de Isaías, enquanto as
frases "o resplendor da glória" e "a expressão exata de seu
Ser" em Hebreus 1.3 nos lembra forçosamente o Livro de
Sabedoria 7.26. Ecos do Livro de Sabedoria provavelmente
podem ser ouvidos também nas palavras dos principais
sacerdotes em relação a Jesus, em sua agonia, em Mateus
27.43: "Pois venha livrá-lo agora, se de fato lhe quer bem;
porque disse: Sou Filho de Deus" (cf. Sabedoria 2.18);
assim também nas cartas de Paulo, tais como Romanos
1.20-32 (Sabedoria 14.22-31), Romanos 9.21 (Sabedoria
15.7), II Coríntios 5.4 (Sabedoria 9.15) e Efésios 6.13-17
(Sabedoria 5.18-20). Além disso, certos sentimentos e
frases familiares ao leitor cristão nos Evangelhos têm seu
paralelo direto no Testamentos dos Doze Patriarcas,
expressões como perdoar o próximo (Mateus 18.21, cf.
Testamento de Gade 6.3,7), amar de todo o coração
(Mateus 22.37-39, cf. Testamento de Dã 5.3), e retribuir o
mal com o bem (Lucas 6.27s, cf. Testamento de José 8.2).
Isso demonstra como o conteúdo dos ensinamentos morais
de Jesus estava próximo do ideal moral do judaísmo.
A disputa entre Miguel e o diabo, pelo corpo de
Moisés em Judas 9, deriva de A Assunção de Moisés, e a
doutrina dos espíritos aprisionados em I Pedro 3.19 é
baseada em Enoque 14-15. A Epístola de Tiago tem muito
em comum com os livros apócrifos; o escritor certamente
estava familiarizado com Ben Sira, de cujo pensamento e
experiência ele compartilhava (cf. por exemplo, Tiago 1.19
e Ben Sira 5.11). O Novo Testamento faz referências a
escritos desconhecidos (cf. I Coríntios 2.9; Efésios 5.14; I
Timóteo 3.16) e faz citações de fontes desconhecidas
(Mateus 23.34,35; cf. Lucas 11.49-51), enquanto em uma
passagem (II Timóteo 3.8) faz alusão a Janes e Jambres,
cujos nomes foram usados para o título de um livro
apócrifo, do que temos conhecimento a partir de escritos
que surgiram posteriormente.
Sem dúvida, os cristãos primitivos consideravam
esses livros religiosamente edificantes, não apenas em suas
devoções pessoais, mas também no ensino dos
catecúmenos. A questão da canonicidade não era sequer
cogitada a essa altura. Esse problema ainda seria suscitado
e resolvido pela Igreja em expansão.
B. Na História da Igreja
Entre os primeiros Pais da Igreja, os livros
"Apócrifos" geralmente eram considerados como parte das
sagradas Escrituras, mas essa opinião não deixou de ser
contestada por vários dos mais influentes dentre eles.
Orígenes (185-254), por exemplo, como membro do clero,
aceitava os "Apócrifos" mas como erudito limitava as
Escrituras do Antigo Testamento ao Cânon hebraico. Cirilo
de Jerusalém (morto em 386) ensinava seus catecúmenos
com base no Cânon hebraico, mas aceitava o uso comum
de outros escritos. Jerônimo (morto em 420) formulou sua
opinião de que apenas os livros do Cânon hebraico
deveriam ser considerados autorizados e, portanto,
canónicos. Ele fazia distinção entre o que chamava de abri
canoniá e libri eccksiastiá. Estes últimos, que não eram
incluídos no Cânon hebraico, deveriam ser considerados
"inter-apócrifos" entre os escritos apócrifos, uma expressão
que já havia sido empregada (aparentemente pela primeira
vez) por Cirilo de Jerusalém. Na prática, porém, Jerônimo
incluiu os livros "Apócrifos" na tradução latina, que veio a
ser conhecida como Vulgata, a versão católica romana
oficial da Bíblia. Com base na Vulgata, a igreja católica
romana declarou os Apócrifos como canónicos no
Concílio de Trento em 1546 e no Concílio Vaticano
em 1870.
A atitude dos reformadores em relação aos
Apócrifos foi amplamente determinada pelo uso que a
Igreja Católica Romana havia feito, desde muito tempo,
desses escritos, para defender doutrinas tais como
salvação pelas obras, mérito dos santos, purgatório e
intercessão pelos mortos. Isso, juntamente com um
renovado interesse pela língua hebraica, estabeleceram os
livros do Cânon hebraico como uma classe à parte.
Martinho Lutero (1534) separou os Apócrifos (a exceção de
I e II Esdras) do Cânon hebraico e colocou-os em um
apêndice do Antigo Testamento, descrevendo-os como
"livros que não podem ser considerados como livros
canónicos, porém são úteis e bons para leitura". Coverdale
(1535) também apensou os Apócrifos ao Antigo
Testamento, omitindo a Oração de Manasses (incluída
posteriormente na "Grande Bíblia", 1539) e acrescentando I
e II Esdras. Os Apócrifos, seja no corpo do Antigo
Testamento, seja como apêndice, portanto, apareciam na
"Bíblia de Mateus" (1537), na Grande Bíblia (1539), na
Bíblia de Genebra (1560), na Bíblia do Bispo (1568) e na
Versão Autorizada de Tiago I (1611). Mas a velha
controvérsia permaneceu e já em 1629 os "Apócrifos"
foram omitidos de algumas edições da Bíblia Inglesa e,
desde 1827, das edições da Sociedade Bíblica Britânica e
Estrangeira, com exceção de algumas Bíblias de púlpito.
Hoje, aos olhos dos protestantes, o valor dos "Apócrifos"
vai desde "edificante" a "sem valor religioso".
Parte Dois
Os APOCALÍPTICOS
5
1. A TRADIÇÃO APOCALÍPTICA
A literatura apocalíptica judaica que floresceu de
165 a.C. a 90 d.C, deve muito à preparação dos profetas do
Antigo Testamento e à influência de idéias estrangeiras,
especialmente as relacionadas à escatologia do
Zoroastrismo do Império Persa. Mas é verdadeiro dizer
que ela tomou raízes no tempo da perseguição sob Antíoco
IV (Epifânio) e prosperou na atmosfera da opressão,
tortura e ameaça de morte que prevalecia na Palestina ao
longo de todo o reinado desse monarca. A semente já
havia sido lançada, por assim dizer, em passagens tais
como Ezequiel 38-39, Zacarias 9-14, certas partes de Joel e
Isaías 24-27, que, de forma muito interessante, estão elas
próprias embutidas na profecia; mas nos eventos que
conduziram à Revolta dos Macabeus, essa semente chegou
ao pleno florescimento. O primeiro, e indubitavelmente o
maior dos escritos apocalípticos, é o Livro de Daniel,
escrito sobre um fundo de perseguição, terror e morte.
Desde o início ele deve ter conquistado um lugar de honra
entre aqueles para quem foi escrito e deve ter causado
uma profunda impressão no povo judeu como um todo;
apenas o Livro de Daniel, dentre todos aqueles que se
seguiram, conquistou para si um lugar no Cânon hebraico
das Escrituras.
82Cf. I Enoque 71.1. As palavras "subi para aqui", em Ap 11.12, ditas ajoão na ilha de Patmos,
Baruque 6.3; II Esdras 14.9. Isso nos lembra das palavras de Paulo em II Co 12.2-4, onde ele
relata como foi arrebatado para o terceiro céu, "se no corpo ou fora do corpo, não sei".
84Cf. I Enoque 14.9-17; 71.7-9; II Enoque 20.3; 22.1, etc. Há muitas histórias lendárias,
especialmente na literatura grega, da alma do homem viajando pelo Hades ou pelo céu, seja após
a morte, seja em um estado de transe. Os apocalípticos, contudo, podem ter sido mais
profundamente'influenciados pela idéia do Antigo Testamento de um Conselho Celestial
presidido por Deus e assistido por anjos e às vezes por homens. Cf. I Reis 22.19 ss; Jó 1.6 ss; Is
6.6 ss; SI 89.7; Jr 23.18 ss. Essa mesma idéia é desenvolvida a um grau extravagante no Judaísmo
mais recente (cf. Sanhedrin (Sinédrio) xxxviii. 6).
aptos a preparar a recompensa dos justos e dos ímpios (cf.
103.2; 106.19; 108.7).
Essa mesma idéia está presente no Livro de Jubileus
(cf. 1.29; 5.13; 23.30-32; 30.21-22, etc.) e nos Testamentos
dos Doze Patriarcas, nos quais acredita-se que as tábuas
celestes prevêem os eventos futuros (cf. Testamento de
Aser 7.5) e coloca-se ênfase sobre o determinismo dos
eventos futuros29 (cf. Testamento de Aser 2.10; Testamento
de Levi 5.4).
Tais segredos, embora não se relacionem particular-
mente às "últimas coisas", relatam todo o propósito de
Deus para o universo desde a criação até o final dos
tempos. A compreensão de tais segredos ajuda os justos a
discernir os sinais da aproximação do fim e os estabelece
em sua santa fé.86 Muito freqüentemente a revelação
concedida ao eleitos antigos consiste em um relato da
história do mundo, culminando no Reino do Messias e a
Era Vindoura. Falando em termos gerais, o relato dado é
muito claro, sob os aspectos simbólicos, bem ajustado à
época na qual o próprio autor estava vivendo; e então,
inevitavelmente, o relato se torna obscuro, porque embora
o relato todo pareça ser uma predição em nome dos
videntes antigos, a predição, propriamente dita, começa,
de fato, a partir dos dias do próprio autor. Desse ponto em
diante, o tempo dos eventos é rapidamente precipitado,
porque o fim está próximo. A natureza do fim e os
detalhes de sua vinda demonstram uma grande
diversidade de pensamento, mas normalmente o escritor
retrata a ruína dos ímpios e o triunfo dos justos, seja neste
mundo ou na vida vindoura, seja num reino terreno ou
num celestial, em corpo físico ou em corpo "espiritual"
renovado; o Reino Messiânico, temporal ou eterno, é
B. A Linguagem do Simbolismo
Toda essa literatura é abundante em imaginação de
gênero fantástico e estranho, a tal ponto que o simbolismo
pode ser considerado como a linguagem apocalíptica.
Parte desse simbolismo é originado diretamente do Antigo
Testamento, cujas figuras e metáforas são adaptadas e
usadas como material para representação figurativa.
Porém, grande parte dela tem origem na mitologia antiga.
Essa influência pode ser traçada mesmo no próprio Antigo
Testamento, mas nos apocalípticos é muito mais
plenamente desenvolvida. Alguns desses quadros e
alusões, sem dúvida, surgiram juntamente com os
próprios escritores apocalípticos sob a influência de idéias
estrangeiras e tornaram-se parte de seu repertório comum.
De particular interesse é o antigo mito babilónico de
um combate entre o divino Criador e um grande monstro
marinho. Esse mito encontra eco em diversas passagens do
Antigo Testamento, nas quais o monstro é muitas vezes
descrito como Dragão, Leviatã, Raabe ou Serpente.30 Em
forma babilónica e hebraica igualmente simboliza o
88Dragão (Jó 7.12; SI 74.13; Is 51.9; Ez 29.3; 32.2), Leviatã Qó 41.1; SI 74.14; 104.26; Is 27.1),
Raabe Qó 9.13; 26.12; SI 89.10; Is 30.7; 51.9), Serpente (Jó 26.13; Is 27.1; Amós 9.3).
89Cf. Jó 7.12; 26.12; 38.8; SI 74.13; Is 51.10; Hc 3.8; Amós 7.4. Para o poder de Deus sobre o
abismo, ver também SI 33.7 s; 93.1 ss; 107.23-32; Jonas 2.5-9, etc. Em Gn 1.2, 6 ss, Deus o
Criador salva o mundo do poder do caos em forma de oceano antigo.
abismo caótico ou oceano cósmico (do hebraico Tehôm; do
babilónico Tiâmatf que é considerado como um lugar de
mistério e mal. Em outro lugar eleé identificado com o
Egito (cf. Salmos 87.4), que em vários lugares é descrito
sob a figura de um grande monstro marinho (cf. Salmos
74.13ss; Ezequiel 29.3; 32.2).
Esse mesmo monstro reaparece nos apocalípticos
em vários escritos de diversas datas. No Testamento de
Aser, por exemplo, o escritor fala sobre a vinda do
Altíssimo à terra e que ele "rompeu a cabeça do dragão na
água" (7.3; cf. Salmos 74.13). Há uma tradição de que esse
dragão, descrito como Behemoth e Leviatã, será devorado
no Banquete do Messias por aqueles que permanecerem
na Era Messiânica (II Esdras 6.52; II Baruque 29.4)31 Nos
Fragmentos de Zadoque, a mesma figura é usada para
descrever "os reis dos gentios" (9.19-20), enquanto que em
Salmos de Salomão a referência é ao general romano
Pompeu (2.29), sem dúvida, sob a influência de Jeremias
51.34, onde se faz referência a Nabucodonosor, rei de
Babilônia, em termos semelhantes.
Toda a literatura apocalíptica emprega
extensamente figuras de animais de todas as espécies para
simbolizar homens e nações. A figura do touro, por
exemplo, já familiar no Antigo Testamento como símbolo
da presença e do poder de Deus,32 aparece particularmente
em I Enoque 85-86 como símbolo dos patriarcas de Adão a
Isaque. Em uma passagem, ele representa o Messias
humano e os membros de seu reino que se tornam touros
brancos, assim como Adão (I Enoque 90.37-38). Os justos
que seguem os patriarcas são descritos sob a figura de
92Cf. também SI 74.1; 79.13; 100.3; Jr 23.1, nos quais Israel é citado como ovelha das pastagens
de Deus.
93Cf. Ap 5.5 onde o Messias é chamado "o Leão da tribo de Judá".
identificado aqui com Roma. Na visão de Daniel, saem do
mar quatro grandes bestas que não-pertencem a nenhuma
espécie conhecida. A primeira é como um leão com asas de
águias (7.4); a segunda é como um urso, tendo três costelas
em sua boca (v. 5); o terceiro é como umleopardo com
quatro asas (v. 6); o quarto é uma besta com dez chifres e
grandes dentes de ferro (v. 7). Por meio desse estranho
simbolismo, cujas raízes remontam à antiga mitologia, o
autor descreve os quatro grandes Impérios da Babilônia,
Média, Pérsia e Grécia.
Assim como homens e nações são simbolizados por
animais, assim também os anjos bons são simbolizados por
homens35 e os anjos caídos por estrelas.36 Este último é
encontrado particularmente em I Enoque 85-90, onde
Enoque, em visão, vê uma estrela, representando Azazel, o
príncipe dos anjos caídos, caindo do céu, seguido por
muitas outras estrelas, representando todas as suas hostes
(85.1 ss). Outra versão dessa história conta como os anjos
caídos coabitaram com as filhas dos homens que geraram
uma raça monstruosa de gigantes (I Enoque 7.1 ss; 15.1 ss;
86.1 ss).37 Esses gigantes foram destruídos pelo Dilúvio,
mas seus espíritos foram deixados soltos como demônios
para corromper todo o gênero humano (15.8 ss). Os anjos
caídos, chamados de "Vigilantes" (o nome é usado para o
primeiro grupo em Daniel 4.13,17, 23), serão punidos antes
mesmo do Juízo Final, mas a punição dos demônios será
reservada até aquele Grande Dia (cf. I Enoque 10.6; 16.1;
19.1).38
94Cf. I Enoque 87.2 ss; 89.59; 90.21; Testamento de Levi 8.2; II Enoque 1.4, etc. Para um uso um
pouco similar no Antigo Testamento, ver Gn 18.2 ss; Ezequiel 9.2, etc.
95Cf. Ap 1.20 em que essa linguagem é usada para descrever "os anjos das sete
igrejas".
96Cf. Gn 6.1 ss para um relato bíblico sobre esse velho mito em que o mal é relacionado aos
anjos caídos.
Outra forma de simbolismo que pode ser
encontrada nos escritos apocalípticos é o dos números,
especialmente os números 3, 4, 7, 10 e 12 ou seus
múltiplos.39 Cada um delestem um significado religioso
peculiar no Antigo Testamento e pelo menos alguns deles
aparecem muito freqüentemente nas fontes babilónica e
persa. Uma importância especial é atribuída ao número 7,
denotando compleição ou perfeição, que aparece nos
escritos apocalípticos de todo o período interbíblico em
passagens numerosas demais para mencionar."
C. A. Eenda de Esdras
Um bom esclarecimento é dado sobre a tradição
dessa literatura apocalíptica pela suposta lenda de Esdras,
contida no capítulo 14 de II Esdras, mas sem dúvida,
extraída de uma fonte independente. Ela nos diz como, ao
sentar-se debaixo de um carvalho, Esdras ouviu uma voz
chamando-o de um arbusto, convidando-o a guardar em
seu coração os sinais que Deus lhe mostraria, da mesma
maneira como se havia feito a Moisés no passado; a ordem
mundial presente eslava chegando rapidamente a um fim
e ele em breve deveria ascender para estar com o Messias.
Por isso, foi-lhe ordenado separar quarenta dias nos quais,
sob inspiração «divina, ele deveria ditar a cinco
companheiros escolhidos "tudo o que aconteceu no mundo
desde o início, mesmo as coisas que estavam escritas na
tua lei". Esdras fez como lhe foi ordenado e em quarenta
dias ditou aos cinco homens noventa e quatro livros.40 O
Todo-poderoso, então, deu-lhe esta injunção: "Os vinte e
quatro livros que tu escreveste proclamam o que o digno e
97Essa crença é expressa também em Jubileus 10.5-11 e é sugerida em Mt 8.29: "Vieste aqui
de Moisés 1.16; 10.11; 11.1, onde Moisés recebe a ordem de preservar os livros celestiais que
Deus havia entregado a ele.
o indigno podem ler (nesse lugar); mas os setenta restantes
tu deves guardar, entregá-los aos sábios entre o povo"
(14.45-46).
Essa narrativa é uma reaplicação da tradição
familiar
de que Esdras foi o restaurador da Lei de Moisés
que, segundo se acreditava, havia sido queimada (14.21)
quando Jerusalém foi destruída por Nabucodonosor. No
Monte Sinai, Moisés havia recebido uma revelação divina
em que Deus "disse a ele muitas coisas assombrosas,
mostrou-lhe os segredos dos tempos, declarou a ele o fim
das estações" (14.5). As palavras da Lei ele deveria
anunciar abertamente, mas a tradição secreta concernente
às crises da história do mundo, ele deveria guardar para si
(14.6). Parece óbvio que o escritor tinha em mente aqui a
tradição apocalíptica que se acreditava ter sido recebida de
Moisés junto com a sagrada Lei e agora restaurada por
Esdras, sob a inspiração de Deus. Os vinte e quatro livros
que deveriam ser anunciados abertamente eram os livros
da Escritura canónica, e os setenta que seriam mantidos
em segredo e entregues apenas aos sábios, eram os escritos
apocalípticos esotéricos. O número setenta é, sem dúvida,
usado simbolicamente para significar uma figura
compreensiva e provavelmente com o objetivo de incluir
não apenas esses livros apocalípticos, conhecidos e
desconhecidos, que aparecem sob o nome de Moisés, mas
também uma coleção mais ampla de escritos apocalípticos,
incluindo o próprio livro, em que esses eventos são
registrados.
Essa lenda de Esdras, então, reivindica, na prática,
para a tradição apocalíptica, um lugar de valor e
autoridade no Judaísmo. Indubitavelmente, ela reflete a
crença conscienciosa em certos círculos apocalípticos
______________
99
A popularidade do número 7 é óbvia no Livro de Apocalipse, onde
ele ocorre 54 vezes.
daquele tempo, de que esse tipo de literatura, como a
própria Tradição Oral (cf. Pirke Aboth 1.1), poderia
remontar sua origem à revelação dada por Deus a Moisés,
no Monte Sinai. Tem-se sugerido que "Em Esdras e seus
cinco companheiros pode haver uma alusão oculta ao
grande rabino Joana ben Zakkai - o reformador do
judaísmo depois de cerca de 66-70 d.C. - e seus cinco
famosos discípulos".41 Nesse caso, fortalece ainda mais o
argumento deque o autor está aqui reivindicando para a
tradição apocalíptica um lugar essencial na vida do
Judaísmo reformado.
2. O APOCALÍPTICO E A PROFECIA
Os escritores apocalípticos acreditavam que se
mantinham na verdadeira tradição profética das Escrituras
do Antigo Testamento e estavam convencidos de que,
como aqueles profetas, eles também tinham uma
mensagem de Deus.42 Em particular, preocuparam-se com
o elemento prognóstico que encontravam na profecia e que
havia sido grandemente negligenciado nos métodos
rabínicos de seus dias. Seu método era examinar as
predições feitas no passado, que não haviam sido
cumpridas no sentido literal das respectivas passagens, e
ver nelas significados ocultos e simbólicos que eles
passavam a reorganizar e reinterpretar. Assim ao
reinterpretar e reaplicar a mensagem de uma profecia às
sucessivas gerações, eles mostraram que ela era não
apenas uma "previsão" mas uma "predição" da palavra de
Deus. Por essa razão, o apocalíptico tem, às vezes, sido
A. A Unidade da História
O Dr. R H. Charles afirma que foram os
"apocalípticos e não a profecia que primeiro apreendeu o
importante conceito de que toda a história, humana,
cosmológica e espiritual, constitui uma unidade", que
"Daniel foi o primeiro a ensinar a unidade de toda a
história humana, e que toda nova fase dessa história era
um estágio a mais no desenvolvimento do propósito de
Deus".45 Mas, ao escrever assim, o Dr. Charles, em seu zelo
103Verp. 100.
104Uma interpretação similar é dada para Dn 7.23 no Talmude Babilónico "AbodaZara" \ b.
105'Commentary on Daniel (Comentário sobre Daniel), 1929, pp. xxv, cxiv-cxv.
pelos apocalípticos, não faz muita justiça aos profetas. A
crença no monoteísmo e no propósito universal de Deus
são correlativas e podem ser encontradas implicitamente
em Amós e explicitamente em Deutero-Isaías. O olhar
desses profetas percorre, iniscriminadamente, todo o
passado, presente e futuro, unindo toda a história em um
único plano, concebido e controlado por Deus. Talvez seja
verdade, como diz o Dr. Charles, que "visto que a profecia
incidentalmente tratou do passado e devotou-se ao
presente e ao futuro como originado organicamente do
passado, os apocalípticos, embora seu interesse esteja
principalmente no futuro, como contendo a solução
dosproblemas do passado e do presente, consideram, em
seu campo de visão, as coisas do passado, do presentes e
do futuro".46 Isso, porém, não implica necessariamente que
os profetas não compreenderam, do mesmo modo, o
conceito da unidade da história; de fato, a evidência de
seus escritos implica que eles compreenderam tal conceito.
Mas se os profetas foram os primeiros a apreender esse
conceito, ficou para os apocalípticos completarem sua
lógica.
Seguindo a orientação dos profetas, os apocalípticos
começaram a relacionar os dados da história uns com os
outros e traçaram uma conexão entre eles no propósito
divino da história subjacente. Eles viam e interpretavam os
eventos da história sub specie aeter nitatis, observando em
sua aparente confusão uma ordem e um alvo. "Os
apocalípticos criam em Deus e criam que Ele tinha alguns
propósitos para o mundo que havia criado, e que Seu
poder era totalmente suficiente para realizá-los. De fato, a
fé dos apocalípticos vai além da fé no controle divino da
coisas invisíveis".
segunda, o grande deus Ahura-Mazda cria o mundo
material e o homem; durante a terceira era, Angra-
Mainyu, o grande espírito mau, assume o poder sobre os
homens; durante a quarta, os homens gradativamente se
aproximam do estado de perfeição por meio da obra de
Shaoshyant, o salvador. Os escritores iranianos, dividem a
história em duas grandes épocas mundiais e formulam
esquemas complexos e sistemas de medida bem semelhan-
tes aos apocalípticos judeus. Não resta dúvida de que esses
apocalípticos foram muito influenciados pelo pensamento
iraniano nesse aspecto particular. Não deixa de ter
significado, por exemplo, que o número 12, que representa
um símbolo tão importante no Zoroastrismo, aparece tão
freqüentemente nas divisões da história feitas pelos
judeus. Os escritores apocalípticos judeus, então, adotaram
essa concepção iraniana das • grande épocas do mundo.
Eles a empregaram para tornar mais vívida e mais
abrangente a idéia que receberam dos profetas,de uma
unidade da história conduzida pelo infalível propósito do
Deus Todo-Poderoso.
O segundo fator que influenciou esses escritores foi
a natureza das crenças prevalecentes e as condições da
Palestina. Desde os tempos da Revolta dos Macabeus em
167 a.C, até a destruição do Templo em 70 d.C, o povo
judeu existiu como nação, em muitos aspectos bem
semelhantes a outras pequenas nações da Palestina. Mas
eles eram muito mais conscientes das diferenças entre eles
mesmos e os outros do que de quaisquer semelhanças. A
nação judaica não podia ser comparada em poder material
com os grandes impérios dos Selêucidas e dos Ptolomeus;
apesar disso, eles criam que tinham um papel imperial a
desempenhar na história da civilização. Essa é a impressão
que o livro de Daniel transmite, por exemplo, ao
contemplar o pleno cumprimento do propósito de Deus
através de seu povo, os judeus. Aqui "os grandes reinos
dos gentios, como a supremacia grega dos Selêucidas e dos
Ptolomeus, que parecia tão soberana e terrível, são
mostrados como fases de um processo mundial, cujo fim é
o Reino de Deus".52 Nas visões registradas nos capítulos 2,
7 e 8 o escritor vê a queda dos grandes impérios da
Babilônia, Média, Pérsia e Grécia. Os pronunciamentos de
julgamento divino não são mais, como em Jeremias e
Ezequiel, feitos em partes; aqui em Daniel nós temos, nas
palavras do Dr. E C. Burkitt, "uma filosofia da história
universal".53 A nação judaica, embora pequena, vê a si
mesma contra o pano de fundo de forças poderosas; essa
perspectiva havia se tornado realmente cosmopolita. Ela
não é inferior às grandes nações; pelo contrário, é superior,
porque elas podem perecer, mas Israel herdará o reino
preparado por Deus. Esse panorama dos eventos
mundiais, nos quais a nação deveria desempenhar um
papel tão vital, possibilitou aosapocalípticos uma visão
mais ampla da unidade da história do que havia sido
possível aos profetas antes deles.
O propósito divino que percorreu toda a história
não iria, contudo, cessar com o clímax da história, porque
"o Altíssimo não planejou uma Era, mas duas" (II Esdras
7.[50]). O cosmos não pode ser reduzido a um todo
harmonioso; há um contraste marcante entre esta era
presente de impiedade e a era futura de justiça.54 Contudo,
há uma ligação entre as ordens temporal e eterna que não
pode ser rompida; é o propósito de Deus que une as duas
ordens e elas afinal serão vindicadas na vindicação de seu
povo. E assim o estudo apocalíptico da história passa pela
escatologia; o propósito de Deus, que encontra sua
112E. Bevan, ap. cit., p.86.
113Op. cit., pp. 6-7.
114Cf. Apocalipse de Abraão 29,31,32. Esse dualismo provavelmente deve muito à influência do
B. As Últimas Coisas
O Dr R. H. Charles acertadamente salienta que as
profecias e os apocalípticos, cada um tem sua própria
doutrina das "últimas coisas", e enfatiza a diferença entre
elas;55 mas deve também ser lembrado que as linhas gerais
da escatologia profética foram assumidas pelos
apocalípticos e permaneceram como parte essencial de seu
ensino, apesar das modificações e desenvolvimentos que
se deram por meio desse ensino. Como veremos mais
adiante no próximo capítulo,56 prevaleceu em certos
círculos apocalípticos, a idéia de um reino pertencente a
este mundo, no qual os judeus triunfariam e os gentios
seriam destruídos. Essa esperança na restauração de Israel
estava em harmonia com muitos ensinos proféticos do
Antigo Testamento.57 Em outros lugares, entretanto, a
influência do pensamento persa *foi profundamente
percebida com sua visão dualística do mundo e sua visão
transcendente do Messias.58 Porém mesmo então, os
apocalípticos eram conscientes de seu lugar na tradição
profética, porque eles continuavam a ler os profetas
antigos à luz da futura esperança e a interpretar suas
profecias em termos das novas expectativas escatológicas.
A crença dos apocalípticos na vida após a morte ia
além de qualquer coisa que pudesse ser encontrada nos
profetas e foi, sem dúvida, também nesse caso, novamente
influenciada pelo pensamento persa. Porém mesmo assim
essa crença era fundamentada na esperança profética da
1150p. Cit., pp. 177 ss.
116Ver capítulo 6.
117Cf.Sf 3.8-13; Naum 1-3; Is 13.1 ss; 52.3 ss; Ml 3.2 ss; Joel 3.1 ss, 12 ss; Zc 14.1 ss, etc
118Verpp. 21 s e l 3 0 s s .
restauração — não apenas da nação, em um reino terreno,
mas também do indivíduo, em um reino celestial.59
De particular interesse nesse contexto é a concepção
apocalíptica do Dia do Juízo Final que pode ser descrita
como uma especialização do profético Dia do Senhor. H.
Wheeler Robinson vê neste "Dia" profético quatro
características - julgamento, universalidade, intervenção
sobrenatural e proximidade. Além disso, ele observa
quatro aspectos contidos nesse dia — ele enfoca a
manifestação do propósito de Deus na história; é um dia
no qual Deus age e não simplesmente fala; é um dia em
que Deus vai se revelar vitorioso na ordem do mundo
presente e estar em cena na história humana; é um dia que
introduzirá uma nova era na terra.60
E interessante observar que todas essas
características e aspectos podem ser identificados no Dia
do Juízo Final dos apocalípticos. Há diferenças, é verdade,
algumas das quais podem ter sido causadas por
influências estrangeiras; mas na grande maioria dos casos,
essas diferenças aparecem comodesenvolvimentos da idéia
profética. Por exemplo, a ênfase passa gradativamente a
ser colocada, não tanto no juízo de Deus restrito no tempo
e no plano da história, como no julgamento de Deus além
do tempo e acima da história; a idéia de julgamento não
estava mais confinada aos vivos, mas se estendia para
incluir também os mortos; em vez de tomar a forma de
uma grande crise ou crises na história, determinando o
destino das nações, o Juízo Final tendia a assumir um
caráter definitivamente forense, em que os homens seriam
julgados individualmente.61 Então, embora fossem
influenciados por idéias estranhas à tradição hebraica, os
119Para uma abordagem mais completo desse assunto, ver capítulo 7.
120Cf. Inspiration and Revelation in the Old Testament (Inspiração e Revelação no
Antigo Testamento), 1946, pp. 137 ss.
121Verpp. 153 ss.
apocalípticos não perderam a visão do ensino profético
concernente à esperança futura, mas a expandiram e a
enriqueceram a partir de seu próprio discernimento e
experiência religiosos.
C. A Forma de Inspiração
Tem-se sugerido, às vezes, que o apocalíptico é
simplesmente uma imitação da profecia, uma tentativa de
cumprir a palavra das Escrituras, por um meio que não
tem relação com o presente, porque se origina da reflexão
literária. Certamente é difícil determinar até que ponto eles
tiveram uma experiência genuína de inspiração e até que
ponto foi uma inspiração convencional do tipo literário.
Mas os apocalípticos não eram meros plagiários, copiando
e reproduzindo em estilo formal o que os profetas haviam
falado. Eles eram homens profundamente religiosos que
acreditavam que, como os profetas antes deles, sua
mensagem era de Deus e que escreviam por compulsão
divina.
Como os profetas, os apocalípticos também
compartilhavam da crença popular de que o Espírito de
Deus tem pleno ' acesso à natureza do homem, e
desenvolveram essa crença para incluir os espíritos do
mal, que como o Espírito de Deus, são invasivos, isto é,
podem tomar posse de um homem e exercer controle
sobre ele. Segundo todas as probabilidades, as descrições
de inspiração na qual um homem se tornou "possuído"
passaram a ser, em grande parte, uma convenção este-
reotipada nesse tipo de literatura; mas é possível que nos
livros apocalípticos essa descrição reflita uma experiência
pessoal do próprio escritor. Em II Esdras 14, há uma
tentativa de racionalizar idéias prévias de inspiração, que
representavam a natureza do homem como aberta à
incursões ou "possessões" do Espírito de Deus. Nessa
passagem, o espírito é considerado (como nos tempos pré-
exílicos) de maneira muito material. O profeta recebe a
ordem de beber uma taça "cheia de líquido como água,
mas sua cor era como a do fogo" (14.39). Essa é a taça da
inspiração, cheia do espírito santo, por meio da qual ele
pôde ditar os vinte e quatro livros das Escrituras e os
setenta escritos apocalípticos. Ao contrário dos profetas do
Antigo Testamento, que entravam em êxtase, Esdras
descobre que suas faculdades são fortalecidas e não
enfraquecidas, e em particular, sua mente é esclarecida, de
maneira que ele pode se lembrar perfeitamente dos
escritos sagrados.
Essa literatura faz muitas referências à possessão de
demônios - ocasião em que, a demonologia, de fato, passa
a ser reconhecida - e considera os espíritos malignos como
seres enviados para invadir a vida dos homens (cf.
Testamento de Dã 1.7; Testamento de Zebulom 2.1; 3.2; O
Martírio de Isaías 3.11; etc.) Essa personalização de
poderes malignos, sem dúvida, encorajada pela influência
persa, reflete as crenças desses escritores e afirma sua
própria consciência sobre a realidade dos poderes
invasivos, tanto do bem quanto do mal.
Esses escritos fazem freqüentes menções a
instrumentos tais como sonhos, visões, transes e audições,
por meio dos quais Deus transmite sua revelação aos
anciãos justos, em nome de quem o autor escreve. Na
grande maioria dos casos, é quase impossível dizer
quando a experiência anormal retratada é algo mais que
um mero dispositivo literário ou convenção. O que o Dr.
Charles diz é, sem dúvida, verdadeiro. "Assim como, às
vezes, o profeta usa as palavras: Assim diz o Senhor',
mesmoquando não havia experiência física real em que ele
ouviu uma voz, mas quando ele desejava relatar a vontade
de Deus que havia alcançado através de outros meios,
assim também o termo Visão' passou a ter um uso
convencional semelhante em ambos, tanto na profecia
como no apocalíptico".62 Ao mesmo tempo, entretanto, não
deve ser esquecido que a inspiração pode influenciar o
convencional e o clichê. Não há garantia de que a
mensagem inspirada será transmitida em sua forma
original. O fato de os profetas, por exemplo, fazerem uso
de uma forma convencional comum, isto é, versificação
rítmica, de modo algum afeta a inspiração final; e dizer
que os apocalípticos, em suas elocuções, fazem uso de
alguma forma de convenção literária, não necessariamente
implica que eles eram menos inspirados por fazerem isso.
Muitas dessas convenções literárias bem podem ter
experiências psicológicas por trás.
Na verdade, muitas das experiências registradas
aqui, concernentes ao suposto escritor do livro, são tão
verdadeiras psicologicamente que é difícil ver nelas algo
mais que a expressão da convenção literária. Ao receber a
divina revelação, ele se deitava no chão como um morto (II
Esdras 10.30; cf. Daniel 8.17 s; etc), ele ficava tão dominado
que mal conseguia descrevê-la adequadamente (II Esdras
10.32, 55 s; cf. II Co 12.4), ele está não apenas alarmado em
seus pensamentos (Dn 7.28), mas está até mesmo
fisicamente doente (Dn 8.27) e perde completamente a
consciência (Dn 8.18); às vezes ele é até mesmo insensível a
todo sofrimento físico, como também vê seu próprio corpo
à distância (O Martírio de Isaías 5.7). Nesses exemplos e
em muitos mais, somos tentados a ver uma projeção da
própria experiência física do apocalíptico. É assim que o
escritor pensava que se recebia a inspiração, e então há
pelo menos um argumento a prioripara a possibilidade de
ele tarnbém compartilhar tal experiência. Ele atribui tais
3. PSEUDONÍMIA
Em um aspecto importante os apocalípticos diferiam
dos profetas na tradição que seguiam. Os profetas falaram
do ponto de vista de seus próprios dias e, segundo a
orientação de Deus, proclamavam seus oráculos em seu
próprio nome; os apocalípticos escreveram do ponto de
vista de uma era anterior e, ainda segundo a orientação de
Deus, escreveram seus oráculos em nome de outro.
Falando de forma geral, é verdadeira a afirmação de que
os apocalípticos são pseudonímicos. Os autores
escreveram em nome de algum homem notável do
passado a quem foi dada uma revelação das coisas
vindouras; ele era incumbido de selar essa revelação e
mantê-la em segredo até o tempo designado. De acordo
com o livro, chegaria a hora em que o segredo seria
revelado, porque o fim estava às portas. Esse fenômeno de
pseudonímia já era conhecido há muito tempo pelos
egípcios e também era popular entre os gregos. Mas a
forma particular que ela assumiu na Palestina parece
indicar um desenvolvimento inato e uma expressão do
pensamento nativo hebraico.
A. Recurso de Literatura
Uma explanação bem conhecida sobre a origem da
pseudonímia judaica é sugerida pelo Dr. R. H. Charles, ao
afirmar que, desde o tempo de Esdras em diante, a Lei
reivindicava uma auto-suficiência que não deixava espaço
para novas revelações da verdade além dela mesma. A
inspiração estava morta; a voz da profecia estava
emudecida. Porém, os apocalípticos acreditavam que eles
eram os portadores de novas revelações de Deus. "Para o
recebimento de nova fé e nova verdade, a Lei era um
obstáculo, a menos que os livros que as contivessem,
fossem apresentados sob a égide de certos grandes nomes
do passado. Em relação à reivindicação e autoridade de
tais nomes, os representantes oficiais da Lei foram, em
parte, reduzidos ao silêncio".63 Em apoio a esse ponto de
vista, ele afirma que em cerca de 200 a.C, o Cânon
profético foi definido e assim nenhum livro de caráter
profético pôde ser incluído depois. Além disso, à medida
que a Hagiografia (a terceira seção do Cânon) crescia e se
cristalizava, um teste para qualquer livro ser admitido era
que ele fosse pelo menos do tempo de Esdras, quando a
inspiração foi considerada encerrada. Se, então, os
apocalípticos desejavam obter aceitação, era necessário
que publicassem seus livros em nome de alguma pessoa
pelo menos contemporânea de Esdras.
Porém, mais que o fato de a Lei não exercer a
"autocracia incontestada" que o Dr. Charles atribui a ela,
essa explanação acusa os apocalípticos não apenas de
B. Extensão de Personalidade
E perfeitamente possível que a adoção de um
pseudônimo por parte de alguns desses escritores era de
fato um recurso literário, que foi subseqüentemente
copiado por outros, e que a gênese da pseudonímia possa
ser traçada até os escritos do Livro de Daniel, do modo
como H. H. Rowley descreve. Mas no caso de certos deles,
125 A. R. Johnson, The Vitality of the Individual in the Thought of Ancient Israel, (A
C. O Significado do "Nome"
E possível encontrar fundamento para essa idéia nos
próprios pseudônimos que os apocalípticos escolheram
para si mesmos e na importância que o pensamento
hebraico associava ao nome da pessoa. Conhecer o nome
de um homem era o mesmo que conhecer a própria
substância de seu ser; seu caráter estava relacionado a seu
nome, e a alteração deste poderia requerer mudança
daquele. O nome era essencialmente um conceito social.
Ele podia ser herdado e sua substância dependia em
grande parte do conteúdo já conferido por aqueles que o
haviam dado; normalmente essa hereditariedade era
restrita às próprias relações familiares da pessoa, mas isso
era possível mesmo fora desses limites. Em poucas
palavras, o nome representava a extensão da
personalidade de um homem, particularmente nos
relacionamentos do grupo ao qual ele pertencia.
Se é possível aplicar esse raciocínio ao problema da
pseudonímia, então os apocalípticos, ao se apropriarem do
nome de um vidente antigo, estavam fazendo muito mais
do que meramente assumir um título; eles estavam, de
fato, associando a si mesmos com tal vidente como uma
"extensão de sua personalidade" dentro da tradição
131S. Mowinckel, He That Cometh (Aquele que Vem) (traduzido por G. W Anderson), 1956, p.
271.
essa futura esperança a que ele está associado. A posição é
resumida pelo Dr. S. Mowinckel nestas palavras: "Os
conceitos Messiânicos de certos círculos produziram o
quadro de um Messias que é predominantemente "deste
mundo", nacional e político, considerando que as visões de
outros círculos produziram o quadrode um Messias
predominantemente transcendental, eterno e universal...
Esses dois conjuntos de idéias são, em parte, representados
por diferentes nomes: "Messias" e "Filho do Homem".72 Em
alguns escritos esses dois conceitos são claramente
distintos; em outros, se confundem; contudo, em nenhuma
parte estão completamente fundidos. Juntos formam parte
daquele complexo escatológico que é o pano de fundo da
literatura interbíblica e também da fé do Novo
Testamento.
132
Ibid, p. 467.
referências aos Sumo Sacerdotes Josué e Onias III
respectivamente. Semelhantemente, a figura do Messias
não é citada em I e II Maca-beus, Tobias, Sabedoria de
Salomão, Judite, Ben Sira, Jubileus, I Enoque 1-36, 91-104, a
Assunção de Moisés, I Baruque e II Enoque. O fato é que
durante o período persa, a esperança de um Messias
Davídico havia retrocedido ao pano de fundo e a ênfase
passou a ser colocada cada vez mais sobre o governoreal
de Deus no reino futuro, e sobre a necessidade primordial
de manter sua santa Lei. Além disso, a sucessão dos
Sumos Sacerdotes, que assumiam o papel de príncipe, não
era do tipo que inspirava os homens a esperarem uma
liderança da mesma fonte que o reino vindouro.
B. O Messias Levítico
Mas tal esperança comovia profundamente muitos
corações durante o período dos Macabeus e Hasmoneus,
descendentes da Casa de Levi, quando parecia que
finalmente a era messiânica estava para ser realizada. Em
particular, as esperanças do povo passaram a centrar-se
em Simão, sucessor de Judas Macabeus. Em 141 a.C, Simão
foi reconhecido pelo povo como "rei e sumo sacerdote para
sempre", o primeiro Macabeu a ser reconhecido dessa
maneira.73 Alguns estudiosos encontraram no Salmo 110.1-
4 um acróstico em seu nome, indicando a consideração
com que ele era tido, mas isso é improvável. A bênção
sobre seu reinado é descrita em termos caracteristicamente
messiânicos em I Macabeus 14.8 ss. Mas nem aqui ou em
qualquer outro lugar se faz referência a ele como o
Messias. As glórias da Casa de Levi foram continuadas no
reinado de seu filho, João Hircano, sobre quem alguns
estudiosos vêem referência no Testamento de Levi 8.14:
C. O Messias Davídico
A esperança em um Messias Davídico é vista mais
claramente em dois escritos desse período, os Testamentos
dos Doze Patriarcas e os Salmos de Salomão. Os
Testamentos suscitam sérios problemas de natureza crítica
que é impossível aqui abordar. Mas em pelo menos três
passagens que tem sido arguidas,74 a crença no Messias
Davídico pode ser atestada. Esses são os Testamentos de
Judá 17.5-6; 22.2-3; 24.1 ss. Na última dessas passagens,
lemos com referência a Judá:
E. Jesus e o Messias
No início da era cristã a vasta maioria dos judeus
compartilhava a crença na vinda de um poderoso Messias
guerreiro da linhagem de Davi. Os Pactuantes de Qumran
esperavam ansiosamente o tempo quando o tal Messias os
lideraria à grande batalha final entre os "filhos das trevas"
e os "filhos da luz". Os zelotes também estavam prontos
para, a qualquer momento, se reunirem sob sua bandeira e
lutarem ao seu lado com aespada desembainhada.
Não é surpreendente que Jesus, desde o tempo de
sua tentação, tenha não apenas se recusado a proclamar a
si mesmo como o Messias, como também desencorajado
outros de usarem esse título em relação a ele. Jesus sabia
que era o Messias, e depois seus discípulos também
souberam (cf. Marcos 8.29), mas não até perto do fim da
vida de seu Mestre, quando ele se levantou diante do
Sumo Sacerdote e reconheceu abertamente sua
messianidade (Marcos 14.61 s).77 Fazê-lo antes teria levado
m
De acordo com o Quarto Evangelho, porém, a messianidade de Jesus é reconhecida desde o
início de seu ministério público (João 1.41, 49).
a um completo mal-entendido não apenas por parte do
povo, mas até mesmo por parte de seus próprios
discípulos. A interpretação de Jesus em relação ao Messias
era completamente diferente da interpretação do povo de
seu tempo. O Messias não tinha o papel de poderoso
guerreiro, estabelecendo seu reino por meio de
derramamento de sangue e de guerra. Seu reino não veio
para tomar a vida, mas dar a vida. Em Cesaréia de Filipos,
em resposta às palavras de Pedro "Tu és o [Messias]
Cristo", ele explicou claramente que sua messianidade
somente seria plenamente cumprida em termos do Servo
Sofredor que daria "a sua vida em resgate por muitos"
(Marcos 10.45).78 A correlação de tais idéias era algo novo
no Judaísmo. Na verdade, o "Servo Sofredor" e o "Messias
Rei" podem ter tido raízes comuns nos ritos majestosos do
templo, como refletido, por exemplo, no Saltério, como
alguns estudiosos têm sugerido; mas como H. H. Rowley
observa: "Não há evidência séria da associação dos
conceitos de Servo Sofredor e Messias Davídico antes da
era cristã... os dois conceitos foram associados no
pensamento e no ensino de Jesus".79 Aqui havia um
imperativo divino do qual ele não poderia se esquivar.
"Jesus não cria que ele próprio fosse o Messias, embora
tivesse que sofrer. Ele cria ser ele próprio o Messias,
porque Ele tinha que sofrer".80Essa mensagem de um
Messias crucificado era para os judeus pedra de tropeço e
para os gentios loucura, mas para "os que foram
139Para uma afirmação mais completa concernente à relação do Servo Sofredor com o Filho do
144cf. The Teaching of Jesus (O Ensino de Jesus), T edição, 19,35, pp. 228 s.
145Cf. Bulletin of the John Rylands Library (Boletim da Biblioteca John Rylands), xxxii. 1949-
50, pp. 178 ss.
146The Relevance of the Apocalyptic (A Relevância dos Apocalípticos), 1944, p. 57. Ver
também The Suffering Servant and the Davidic Messiah (O Servo Sofredor e o Messias
Davídico) in The Servant of the Lord (O Servo do Senhor),! 952, p. 76.
Oráculos Sibi-linos, livro V, ambos os quais são
influenciados pela visão e pela linguagem de Daniel 7.13
ss. Aqui a figura do Filho do Homem está, em muitos
aspectos, em harmonia com a que é apresentada em
Similitudes de Enoque. Ele é apresentado, contudo, como
o Messias; mas essa não é a figura humana da linhagem de
Davi; ele é uma figura pré-existente, transcendente que um
dia vai aparecer diante dos justos em toda a sua glória.
Como em Similitudes de Enoque, também aqui, tudo que
pertence ao "Homem", como ele é chamado, é um segredo
divino, porque "assim como ninguém pode sondar ou
conhecer o que está no fundo do mar, assim também
ninguém sobre a terra pode ver meu Filho, a não ser no
tempo de seus dias" (II Esdras 13.52). Naquele dia, ele virá
voando com as nuvens do céu (13.3 s) ou emergirá das
profundezas do mar (13.51 s). Nele os mistérios do
propósito de Deus estão ocultos, mas quando ele se sentar
no trono da glória de Deus o que está escondido será,
afinal, revelado.
A popularidade dessa figura transcendente era, sem
dúvida, muito mais restrita do que a nova escatologia da
qual ela constituía uma parte, mas sua influência seria
percebida além do restrito círculo apocalíptico ao qual
pertencia. Até que ponto, contudo, essa influência foi
percebida, é impossível dizer. No curso do tempo da era
cristã, ela foi considerada com crescente desfavor nos
círculos judeus ortodoxos, certamente em parte por causa
de seu uso entre os cristãos, e praticamente não encontrou
nenhum espaço na teologia judaica subseqüente.
150Cf. 13.33 ss; também II Baruque 29.3; 30.1; 39.7; 40.1; 70.9; 72.2.
151Apocalipse 20.4 menciona também uma primeira ressurreição no início do reino milenar de
Cristo.
152Ver também pp. 150 s.
1530p. cit., p. 29.
necessariamente o identificam com o Messias davídico
terreno, e de fato todo o quadro exclui isso, mas elas
podem indicar que desde bem cedo o título "Filho do
Homem" adquiriu um sentido messiânico. Porém, mesmo
que seja assim, essa relação entre Filho do Homem e o
Messias seria estritamente confinada ao pequeno círculo
de apocalípticos representado pelo escritor desse livro.
D. Sofrimento e Morte
Alguns estudiosos afirmam que as visões de Daniel
eram originalmente dependentes das passagens do Servo
em Deutero-Isaías e que o Filho do Homem citado em um
é representativo do Servo Sofredor referido no outro. Em
cada caso se faz referência ao "sábio" (Isaías 52.13; Daniel
12.3) que justificará a "muitos" (Isaías 53.11; Daniel 12.3) e
que sofre em obediência à vontade de Deus (Isaías 53.3 ss;
Daniel 11.33). O Dr. F. F. Bruce argumenta93 que os
Pactuantes de Qumran, por exemplo, interpretavam sua
missão em termos de "exegese unitiva" de Deutero-Isaías e
Daniel. Eles descreviam a si mesmos como "o sábio" (do
hebraico, maskilim) e "os santos do Altíssimo" (cf. Daniel
7.18) que, por submissão e resistência, efetuariam a
expiação pelo pecado do povo à maneira do Servo
Sofredor do Senhor. Mas em sua interpretação, o "Filho do
Homem" e o "Servo do Senhor" continuavam sendo figuras
coletivas, porque a obra da expiação que eles ambuíam a si
mesmos não era obra de um membro, nem do Messias em
seu meio, mas de toda a comunidade. Além disso, há
evidência de que a interpretação messiânica do Servo pode
ser intencional na versão singular do texto de Isaías 52.14
no rolo de São Marcos (A): "Eu tenho ungido (do hebraico
mashachtí) a face dele mais do que de qualquer homem".
154New Testament Studies (Estudos do Novo Testamento), voL 2, n° 3, pp. 176 ss.
Nesse caso, o contexto indica que a referência
provavelmente é ao Messias sacerdote e não ao Messias rei.
E verdade que em I Enoque as expressões dos
Poemas do Servo de Deutero-Isaías são usadas para
descrever a glória do Filho do Homem, como em 48.4 onde
está escrito que "ele será luz para os gentios" (Isaías 42,6;
49.6; cf. Lucas 2.32). Mas essa influência não vai além do
uso das frases; o conteúdo de Cânticos do Servo, em
nenhum lugar diz respeito ao caráter e obra do Filho do
Homem. O quadro do Servo que está por trás do Filho do
Homem na literatura apocalíptica é um conceito
totalmente diferente daquele encontrado em Deutero-
Isaías, onde o Servo, por meio de seu sofrimento vicário e
morte, justifica a muitos e toma sobre si as iniquidades
deles (Isaías 53.11).
A esta altura pode-se mencionar a interpretação do
Servo no Targum de Isaías 52.13-53.12. Nesse escrito o
Servo é identificado com o Messias, mas toda a passagem é
reinterpretada de tal maneira que é impossível reconhecer
a figura do texto do Antigo Testamento. Seus sofrimentos,
dor e morte são transferidos para os inimigos de Israel, e o
Messias-Servo aparece como o poderoso conquistador que
triunfa sobre todos os seus inimigos!
Em II Esdras 7.29, lemos sobre a morte do Messias
no final do reino interino; isto é natural, porque o Messias,
como todos os demais seres criados, deve morrer. Mas não
se faz nenhuma referência aqui ou em outro trecho do
livro, a uma morte vicária ou expiatória. A libertação que o
Filho do Homem traz não é salvação do poder do pecado,
mas libertação da opressão de seus inimigos. Ele é o
terrível juiz dos pecadores, não o Salvador das almas dos
homens.
156
156Comparar, porém, o argumento de T. W Manson que afirma que, mesmo nos lábios de Jesus,
a expressão "Filho do Homem" deve ser compreendida em um sentido coletivo e significa uma
figura ideal que se levanta para "a manifestação do Reino de Deus sobre a terra no povo
completamente devotado ao seu Rei celestial" (The Teaching of Jesus [O Ensino de Jesus], p.
227). Mas durante o curso de seu ministério essa figura passou a ser individualizada de modo que
o título se tornou uma designação para ele mesmo.
particularmente significante o ensino dos apocalípticos
concernente à ressurreição dos mortos.
De acordo com a antiga "psicologia" hebraica, a
natureza do homem é produto de dois fatores, o "fôlego-
alma (do hebraico nephesh) que é o princípio da vida, e o
complexo de órgãos físicos que este anima. Separe-os e o
homem deixa de ser, em qualquer sentido real de
personalidade".96 Quer dizer, o homem não é constituído
de três "partes" chamadas corpo, mente e espírito ou
corpo, alma e espírito; nem é constituído simplesmente de
duas "partes", corpo e alma. Ele é uma unidade de
personalidade cuja dissolução significa o fim da vida em
todo o sentido real da palavra. Durante algum tempo, um
homem, é verdade, pode concebivelmente viver dos
elementos de seu corpo que possuem propriedades
psíquicas e não meramente físicas. Mas com a retirada de
seu nephesh a vida do homem desaparece e ele deixa de
viver como "pessoa". O que sobrevive à morte não é a alma
ou o espírito do homem, mas sua sombra ou espectro, um
tipo de "sósia" do homem outrora vivo, conservando uma
imagem espectral de sua réplica outrora vivente, mas
desprovido de sua existência pessoal que uma vez
caracterizara o homem.
Por longos séculos prevaleceu a crença de que ao
morrer, a sombra ou o espectro do homem ia para o Sheol,
situado abaixo da terra ou abaixo do grande oceano
cósmico sobre o qual a terra está fundamentada, uma terra
de esquecimento, escuridão e desespero, não tendo
nenhuma conexão com a vida sobre a terra (cf. Jó 10.21 s).
Em uma fase posterior do pensamento hebraico,
manifestou-se a crença de que o poder e a influência de
Deus podiam ser sentidos mesmo no Sheol (SI 139.8), mas
Wheeler Robinson, Religious Ideas of the Old Testament (Idéias Religiosas do Antigo
157.
C. Desenvolvimentos Subseqüentes
Ambas as concepções bíblicas de ressurreição são
encontradas também nos livros apocalípticos extrabíblicos;
mas no desenvolvimento subseqüente ocorrem muitas
variações, nem todas estão claras para o leitor, ou talvez
nem mesmo para os próprios escritores.
O pensamento de Isaías 24-27 é seguido em grande
parte em I Enoque 6-36 (cf. também 37-71, 83-90, etc), onde
somente os justos, presumivelmente os Israelitas,
ressuscitarão para tomar parte no Reino Messiânico (25.4
ss). A vida ressurreta é um desenvolvimento orgânico da
presente vida de justiça (90.33). Aqui os perversos que
receberam punição em sua vida, permanecerão no Sheol
eternamente (22.13), mas os perversos que não receberam
sua devida punição na terra serão transferidos como
espíritos desincorporados do Sheol para Gehena,97 o lugar
de tormento.
Uma variação sobre o tema de Daniel 12.2 pode ser
encontrada nos Fragmentos Noélicos em I Enoque, em que
está, pelo menos implicado, que o justo ressuscitará para
compartilhar as bênçãos dos justos vivos no Reino
Messiânico (10.7, 20), e que os perversos, ou alguns deles
(67.8), ressuscitarão para o julgamento e sofrerão nas
chamas de Gehena em corpo e em espírito (67.8-9). No
Testamento de Benjamim, os patriarcas ressuscitam
primeiro para compartilhar do reino terrestre (10.6) e
então os doze filhos de Jacó, cada um à frente de sua
própria tribo (10.7). "Então também todos os homens se
levantarão, uns para glória e outros para vergonha" (10.8).
Essa concepção é ainda mais desenvolvida em II Esdras
que declara . que haverá uma ressurreição geral seguida
por um julgamento que será universal e final. As almas
dos justos' e dos ímpios, agora unidas com o corpo, serão
158Verp. 153, n° 1.
julgadas; "e a recompensa seguirá e o galardão será
manifesto" (7.35).
Já temos destacado98 que em certos livros apócrifos,
particularmente em Sabedoria de Salomão, os escritores
expressam uma crença na imortalidade da alma e não na
ressurreição do corpo. Entre os escritos apocalípticos, o
Livro de Jubileus é de grande importância a esse respeito,
como por exemplo em 23.31: "E seus ossos ficarão sobre a
terra, e seus espíritos terão muita alegria". Jubileus, neste
sentido, então, marca o ponto de partida de uma firme
convicção da tradição apocalíptica.
160Verp. 153, n ° l .
serão transformados em semelhança de anjos (51.10).
Outros tomam isso como referência à vinda do Messias
para a terra, na hipótese de que a ressurreição será
compartilhada em seu reino terreno.
O escritor de II Esdras aponta para a vinda de um
reino temporário aqui nesta terra, para ser seguido pela
eternidade, se em uma terra renovada ou no próprio céu, é
difícil dizer. O Messias aparecerá com aqueles que não
provaram a morte e viverá quatrocentos anos na terra, ao
final dos quais ele e todosos homens morrerão; pelos
próximos "sete dias" o mundo se transformará em um
silêncio primitivo; então ocorrerá a ressurreição de todos
os homens a serem apresentados para serem julgados no
Grande Julgamento (cf. 7.29 ss).
Além desse padrão quase sempre confuso, surge a
esperança certa e segura de uma ressurreição para a vida
eterna, seja ela no Reino Messiânico terreno ou no glorioso
céu por vir. Sob a estranha e fantástica imagem em que o
quadro é freqüentemente descrito, existe uma profunda
convicção religiosa de que o homem é feito para a
comunhão eterna com o Deus vivo.
2. A NATUREZA DA SOBREVIDA
162Mesmo quando os apocalípticos pensavam no espírito e na alma dos mortos, ainda tinham que
pensar em termos de corpo, porque acreditavam que esse espírito ou alma desencarnados
possuíam forma ou aparência. E muito diferente, contudo, dizer que ele tem um corpo no
sentido do que se pode dizer dos espíritos ou almas que tomaram parte na ressurreição.
do relacionamento com Deus, cuja jurisdição era suprema,
até mesmo no próprio Sheol.102
As almas ou espíritos dos mortos não apenas experi-
mentam a consciência, eles são capazes de reações
emocionais. Choram e fazem lamentações, sendo
conhecedores das transgressões dos homens na terra (I
Enoque 9.10). Mais particularmente são capazes de sentir
dor ou prazer na forma de punição ou recompensa. A
passagem mais significativa nessa relação é II Esdras 7.
[80] ss, na qual o escritor diz como os ímpios vão vagar
nos "sete caminhos'' ou graus de tormento (7. [80]),
enquanto os justos vão descansar dentro nas "sete ordens"
ou dispensações de paz (7. [ 91]). A sorte deles será o
tormento ou o repouso, o remorso ou a gratidão, o medo
ou a certeza de paz. No que diz respeito a suas emoções ou
processos mentais, aparentemente há muito pouca
diferença entre suas capacidades na vida após a morte e as
que eles possuíam durante sua vida na terra.
Mas tomando a literatura como um todo, o leitor
fica com a impressão de que a vida vivida pelas almas dos
mortos na morada intermediária do Sheol (ou do Paraíso,
uma extensão e especialização da mesma idéia) não é tão
plena e completa como a que viveram na terra. Isso pode
ser visto especialmente na natureza limitada do
relacionamento das almas com Deus, que pode se tornar
completo apenas após a ressurreição. Ela é ainda, até certo
ponto, uma "vida espectral", vivida nessa fase
102É bem possível que os apocalípticos fossem influenciados, no uso que faziam da palavra
equivalente grego era usado pela Septuaginta para traduzir o "jardim" do Eden. Na
literatura apocalíptica ele significa a morada dos espíritos dos justos. Ele ocorre três
vezes no Novo Testamento (Lucas 23.43; II Coríntios 12.4; Apocalipse 2.7).
A idéia de inferno como um lugar de tormento aparece pela primeira vez
em I Enoque 22.9-13. Intimamente associado com ela, está o termo 'Gehena' que
deriva do hebraico Ge Hinnom, que quer dizer "o vale de Hinnom". Nesse lugar é
que as crianças eram "passadas pelo fogo" como sacrifício ao deus Moloque (cf. II
Reis 16.3; Jeremias 7.31, etc). Na literatura apocalíptica o termo é usado para
descrever o lugar de tormento ardente reservado para os ímpios após a morte (cf.
também Mateus 5.22; 13.42).
eterno"103 (capítulo 11). II Baruque registra que o
Juízo Final apenas intensificará aquilo que as almas dos
ímpios já têm experimentado no Sheol (30.4-5). Sobre isso
está escrito: "E agora reclina em angústia e permanece em
tormento até vosso último momento chegar, em que vós
vireis novamente e sereis atormentados ainda mais". (36.
11)
E porque essas distinções morais podem sem feitas,
que o Juízo Final é possível. Cada homem será julgado de
acordo com o que fez de justiça ou impiedade, e os valores
morais são os critérios do julgamento. Em II Enoque é
170Cf. I Coríntios 15.42 ss: "Semeia-se [o corpo] em desonra, ressuscita em glória. Semeia-se em
171Cf. I Coríntios 15.35: "Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm?" O relato da
174Cf. Apocalipse 3.4: "Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram
as suas vestiduras, e andarão de branco comigo, pois são dignas". Cf. também 16.15.
Que o corpo espiritual já é um com a pessoa para quem é preparado é esclarecido no "Hino da
Alma", em siríaco, que diz: "Eu vi as vestes como se fossem uma comigo, como se ela estivesse
em um espelho. E eu contemplei nela a mim mesmo, e soube e vi a mim mesmo através daquelas
vestes, que nós fomos divididos em partes, sendo um, e novamente feitos um em uma só figura."
(cf. M. R. James, The Apocryphai'New Testament [O Novo Testamento Apócrifo] 1924, p.
414).
175 Op. át., volume 1, pp. 187-188.
Bibliografia Selecionada
HISTÓRIA E RELIGIÃO
Literatura Apócrifa
R H. Charles, The Apocrypha and Pseudepigrapha of the
Old Testament (Os Apócrifos e os Pseudepigrafos do Velho
Testamento), 2 volumes. (Oxford, 1913).
R T. Herfod, Talmud and Apocrypha (O Talmude e os
Apócrifos) (Soncino Press, 1933).
Bruce M. Metzger, An Introduction to the Apocrypha
(Uma Introdução aos Apócrifos) (Oxford, 1957).
H. H. Rowley, The Relevance of Apocalyptic (A
Relevância dos Apocalípticos) (Lutterworth Press, 1944).
H. H. Rowley, Jewish Apocalyptic and the Dead Sea
Scrolls (Os Apocalípticos Judaicos e os Rolos do Mar
Morto) (The Athlone, 1957).
R H. Pfeiffer - como acima. Ver também uma boa
introdução em The Apocrypha according to the Authorised
Version, with an introduction by Robert H. Pfeiffer (Os
Apócrifos de Acordo com a Versão Autorizada, com uma
introdução de Robert H. Pfeiffer) (New York, Harper,
1953), e em The Interpreter's Bible (A Bíblia do Intérprete),
vol. 1 (New York, Abingdon-Cokesbury Press; atual,
Thomas Nelson and Sons).
Muitas outras referências poderão ser encontradas
em notas de rodapé deste livro.
MACABEUS E HASMONEUS
Arquelau 4 a.C. - 6 dG
Procuradores romanos 6-41 d.G
Herodes Agripa I 41-44 d.C
Procuradores romanos 44-66 d.G
EVENTOS IMPORTANTE
Profanação do Templo por Antíoco Epifânio 168 a.C.
Revolta dos Macabeus 167 a.G
Rededicação do Templo 165 a.G
Indicação de Jonatas como Sumo Sacerdote 152 a.G
Conquista da Independência 142 a.C. Indicação de
Simão como sumo Sacerdote hereditário e Etnarca 141 a.C.
Ascensão de João Hircano I e o surgimento dos Fariseus e
Saduceus 134-104 a.C. Perda da Independência:
Pompeu toma Jerusalém 63 a.C.
Ascensão de Herodes 37 a.C.
Morte de Herodes 4 a.C.
Guerra dos Judeus 66-70 a.C.
Destruição de Jerusalém por Tito 70 aG.
Parabéns!
Você terminou a leitura de mais um bom livro.
Esperamos que você esteja se sentindo encorajado,
fortalecido e melhor informado. Gostaríamos de saber sua
opinião sobre este livro, para que possamos aprimorar a
qualidade do nosso trabalho. Nossa missão é publicar
livros que contribuam para sua felicidade. Qo 10.10) Por
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