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Coordenação Didático-Pedagógica

Stella M. Peixoto de Azevedo Pedrosa

Redação Pedagógica
Tito Ricardo de Almeida Tortori

Revisão
Alessandra Muylaert Archer

Projeto Gráfico
Fundamentos do direito público e privado : apostila 3 DPP /
Romulo Freitas
coordenação didático-pedagógica: Stella M. Peixoto de Azevedo
Diagramação Pedrosa ; redação pedagógica: Tito Ricardo de Almeida Tortori ;
Luiza Serpa revisão: Alessandra Muylaert Archer ; projeto gráfico: Romulo Freitas
; coordenação de conteudistas: Fernando Velôzo Gomes Pedrosa ;
Coordenação de Conteudistas conteudistas: Antônio Augusto Rodrigues Serpa, Fernando Antonio
Fernando Velôzo Gomes Pedrosa Cury Bassoto, Lúcio Fernandes Dias ; revisão técnica: Otávio Bravo ;
produção: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro ; realização:
Conteudistas EsIE – Escola de Instrução Especializada [do] Exército Brasileiro. – Rio de
Antônio Augusto Rodrigues Serpa Janeiro : PUC-Rio, CCEAD, 2013.
Fernando Antonio Cury Bassoto
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais – CHQAO.
Lúcio Fernandes Dias
176 p. : il. (color.) ; 21 cm.
Revisão Técnica Inclui bibliografia.
Otávio Bravo 1. Direito público - Brasil. 2. Direito privado – Brasil. I. Pedrosa,
Stella M. Peixoto de Azevedo. II. Tortori, Tito Ricardo de Almeida. III.
Produção Serpa, Antônio Augusto Rodrigues. IV. Bassoto, Fernando Antonio Cury.
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro V. Dias, Lúcio Fernandes. VI. Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro. Coordenação Central Educação a Distância. VII. Brasil. Exército.
Realização Escola de Instrução Especializada.
EsIE – Escola de Instrução Especializada CDD: 342
Exército Brasileiro
CHQAO
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais

FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO


Unidade 6
Direito Penal Militar - Parte especial
APRESENTAÇÃO
O Curso de Habilitação ao Quadro de Auxiliar de Oficiais (CHQAO),
conduzido pela Escola de Instrução Especializada (EsIE), visa habilitar os
subtenentes à ocupação de cargos e ao desempenho de funções previstas
para o Quadro Auxiliar de Oficiais.

A disciplina Fundamentos do Direito Público e Privado, possui carga


horária total de 90 horas.

Os objetivos gerais desta disciplina são:

• Conhecer conceitos constitucionais relacionados às instituições do


direito público e privado.

• Analisar o papel do cidadão diante da Constituição Federal, de fatos


relacionados à administração das instituições de direito público e
privado.

• Diferenciar atos e fatos jurídicos das instituições de direito público e


privado associados às noções de direito na administração pública.

• Descrever o Direito Internacional Humanitário e fornecer elementos


para identificação de sua problemática.

• Identificar as principais regras e convenções relacionadas ao Direito


Internacional Humanitário.

• Conhecer as principais regras da legislação penal militar brasileira.

• Conhecer as principais regras da legislação processual penal militar


brasileira.

• Empregar de maneira correta a legislação vigente.

Será apresentada agora a Unidade VI – Direito Penal Militar - Parte


Especial, cujos objetivos – que acompanham o especificado no PLADIS –
estarão especificados por capítulo.

Boa leitura!
conteudistas

Antônio Augusto Rodrigues Serpa é bacharel em Ciências Militares pela Academia


Militar das Agulhas Negras (AMAN). Possui mestrado em Biodireito, Ética e Cidadania
pelo Centro Universitário Salesiano São Paulo (UNISAL) e em Operações Militares pela
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO). É doutorando em Ciência Política e Re-
lações Internacionais no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ).
Possui as seguintes especializações: Direito Militar pela Universidade do Sul de Santa
Catarina (UNISUL), Relações Internacionais pela Universidade Cândido Mendes (UCAM),
Magistério Superior em Direito pela Universidade Estácio de Sá (UNESA), Processo Penal
pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e Atualização Pedagógica e Supervisão Escolar,
ambas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente é professor
titular e Coordenador Geral da Cadeira de Direito na Academia Militar das Agulhas
Negras (AMAN) e membro do Grupo de Análise e Prevenção de Conflitos do Centro de
Estudos das Américas (CEAs/UCAM) pesquisando a normatização internacional da não-
-proliferação de armas nucleares.

Fernando Antonio Cury Bassoto é bacharel em Ciências Militares pela Academia


Militar das Agulhas Negras (AMAN) e em Direito pela Universidade de Barra Mansa
(UBM). É pós-graduado em Ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais (EsAO) e em Supervisão Escolar pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Possui o Curso de Extensão em Relações Internacionais pela AMAN de Inter-
venções no pós-guerra fria. É professor do magistério do Exército há mais de 20 anos,
tendo ministrado na AMAN aulas de Topografia e de Introdução ao Estudo do Direito
durante oito anos. Ainda na AMAN, foi chefe da Assessoria Jurídica e há dez anos exer-
ce a coordenação e o magistério da disciplina Direito Penal e Processual Penal Militar,
tendo ministrado, também, Direito Constitucional. Nas Faculdades Dom Bosco (AEDB)
ministra aulas de Introdução ao Direito para os cursos de Economia e de Tecnologia em
Gestão Pública; Legislação Tributária para os cursos de Administração e de Tecnologia
em Gestão Pública; e de Legislação Trabalhista para os cursos de Administração e de
Tecnologia em Gestão de RH.

Lúcio Fernandes Dias é bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das
Agulhas Negras (AMAN) e em Direito pela Universidade de Barra Mansa (UBM). É
mestre em Ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO) e
pós-graduado em Direito Civil, Processual Civil e Magistério Superior pela Universidade
de Barra Mansa (UBM). Possui os Cursos de Direito Internacional Humanitário Militar
em Sanremo, Itália, e em Buenos Aires, Argentina. É professor da Cadeira de Direito
da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), onde leciona Direito Penal e Direito
Processual Penal Militar há mais de 12 anos.
Índice

1. Crimes militares em tempo de paz 09


1.1 O conceito de crime militar 10
1.2 A transgressão disciplinar, o crime comum e o crime militar 10
1.3 Crimes militares em tempo de paz 12
2. Tipos de crimes militares 19
2.1 Crimes propriamente militares 21
2.2 Crimes impropriamente militares 24
3. Crimes contra a segurança externa do país 25
3.1 Distinção entre crimes militares e políticos 26
3.2 Crimes contra a segurança externa do país 28
4. Crimes contra a autoridade ou disciplina militar 37
4.1 Título II – Dos Crimes Contra a Autoridade ou Disciplina Militar – Descrição 37
5. CRIMES CONTRA O SERVIÇO MILITAR 47
5.1 Abandono de posto (Art. 195 do CPM) 47
5.2 Descumprimento de missão (Art. 196 do CPM) 51
5.3 Retenção indevida (Art. 197 do CPM) 52
5.4 Omissão de eficiência da força (Art. 198 do CPM) 52
5.5 Omissão de providências para evitar danos (Art. 199 do CPM) 53
5.6 Omissão de providências para salvar comandados (Art. 200 do CPM) 53
5.7 Omissão de socorro (Art. 201 do CPM) 53
5.8 Embriaguez em serviço (Art. 202 do CPM) 54
5.9 Dormir em serviço (Art. 203 do CPM) 56
5.10 Exercício de comércio por oficial 59
6. Insubmissão 61
6.1 Descrição do crime de insubmissão 62
6.2 Jurisprudência sobre o crime de insubmissão 64
6.3 Crimes correlatos contra o serviço militar inicial 68
7. Deserção 69
7.1 Crime de deserção 69
7.2 Crimes correlatos ao crime de deserção 73
7.3 Jurisprudência 74
8. Crimes contra o patrimônio 79
8.1 Furto de uso (art. 241 do CPM) 79
8.2 Chantagem (art. 245 do CPM) 80
8.3 Dano simples (art. 259 do CPM) 80
8.4 Outros crimes de dano 82
8.5 Usura pecuniária (art. 267 do CPM) 82
9. Crimes contra a incolumidade pública 85
9.1 Crimes de perigo comum 85
9.2 Crimes contra a saúde 87
10. Crimes contra a Administração Militar 89
10.1 Desacato a superior, ou militar no exercício de função militar,
ou funcionário civil no exercício funcional (art. 298 ao 300 do CPM) 89
10.2 Desobediência (art. 301 do CPM) 92
10.3 Ingresso clandestino (art. 302 do CPM) 93
10.4 Peculato (art. 303 do CPM) 94
10.5 Concussão (art. 305 do CPM) 97
10.6 Corrupção (art. 308 e 309 do CPM) 98
10.7 Participação ilícita (art. 310 do CPM) 100
10.8 Prevaricação (art. 319 do CPM) 101
10.9 Violação do dever funcional com o fim de lucro (art. 320 do CPM) 102
10.10 Condescendência criminosa (art. 322 do CPM) 103
11. Crimes contra a Administração da Justiça Militar 105
11.1 Desacato (art. 341 do CPM) 105
11.2 Denunciação caluniosa (art. 343 do CPM) 105
11.3 Comunicação falsa de crime (art. 344 do CPM) 105
11.4 Falso testemunho ou falsa perícia (art. 346 do CPM) 108
11.5 Desobediência à decisão judicial (art. 349 do CPM) 110
12. Crimes praticados em tempo de guerra 113
12.1 Guerra e conflitos armados – diferenciação 114
12.2 Delimitação dos crimes militares em tempo de guerra – art. 10 do CPM 116
13. Do favorecimento ao inimigo 119
13.1 Da traição 119
13.2 Da cobardia 120
13.3 Da inobservância do dever militar 121
13.4 Do dano 122
13.5 Da insubordinação e da violência 123
13.6 Da deserção e da falta de apresentação 124
14. Da hostilidade e da ordem arbitrária 125
14.1 Ordem arbitrária 125
15. Bibliografia 127
1 Crimes militares em tempo de paz

Objetivo específico

• Descrever o artigo 9º do CPM.

Todas as situações apresentadas a seguir, como deve ser de seu conhecimento,


constituem hipóteses de eventos que usualmente podem ocorrer nas organiza-
ções militares:

• Uma instrução de tiro onde ocorre disparo acidental e um militar se fere


ou morre;

• A viatura que se acidenta, por culpa do condutor, com danos pessoais e


materiais;

• Um material da Fazenda Nacional que é subtraído, danificado, destruí-


do, ou inutilizado;

• Um militar que se ausenta sem motivo justificado do quartel por certo


período de tempo;

• O desrespeito a um superior;

• O descumprimento de ordens;

• O ato de dormir em serviço;

• O consumo de bebidas alcoólicas ou de drogas por militares, em serviço


de escala ou não.

Cabe aos oficiais de serviço – ou que estejam no desempenho de certos car-


gos e funções – medidas no sentido de apurar tais fatos nos seus detalhes, de
forma a oferecer instrumentos para a propositura de eventuais ações penais,
por parte do Ministério Público Militar e perante a Justiça Militar.

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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
1.1 O conceito de crime militar

O conceito de crime tem, segundo cada um dos diversos juristas que o estu-
dam, a ênfase em uma ou outra peculiaridade. Dentro do escopo desse texto,
escolhemos a percepção de Magalhães Noronha (1968) por ser simples e
completo. Segundo esse autor, crime “é a conduta humana que lesa ou expõe
a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal” (NORONHA, 1968, p. 94).

Contudo, ao considerarmos o crime militar é preciso levar em conta os bens


jurídicos tutelados pela norma penal militar. Tal requisito torna obrigatória a
referência ao artigo 142, caput, da Constituição Federal, que nos informa os
parâmetros fundamentais de sustentação e controle das Forças Armadas, já
abordados no contexto dessa disciplina: a hierarquia e a disciplina.

Fundamentado em tais pilares, o legislador elencou os deveres, valores e a


ética militar, traduzidos no texto dos artigos 27 ao 33 do Título que aborda “as
Obrigações e dos Deveres Militares” na Lei 6.880/80, que definiu o Estatuto
dos Militares (E-1).

Assim sendo, qualquer violação de tais deveres, valores e componentes da éti-


ca militar constitui uma séria ameaça àqueles pilares. Tais infrações, conforme
sua gravidade e complexidade, podem constituir uma transgressão da disci-
plina militar ou um crime militar. A relação de transgressões e normas gerais
relativas a esse assunto encontram-se disciplinadas no RDE (R-4), instituído
pelo Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002. Já os crimes militares estão
definidos pelo Código Penal Militar (CPM), instituído pelo DL Nº 1.001, de
21 de outubro de 1969.

Sendo assim, assumimos o conceito de crime militar, que a partir do ensi-


namento de Assis, pode ser descrito como: “[...] toda violação acentuada ao
dever militar e aos valores das instituições militares. Distingue-se da transgres-
são disciplinar porque esta é a mesma violação, porém na sua manifestação
elementar e simples” (2007, p. 42).

1.2 A transgressão disciplinar,


o crime comum e o crime militar

Devemos considerar que o primeiro problema com que um oficial pode se


deparar é tomar conhecimento ou presenciar alguma conduta humana que

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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
aparenta constituir infração aos regulamentos militares ou violação à lei penal
militar ou comum.

Por lei penal comum entenda-se toda e qualquer norma penal


brasileira, exceto o CPM, tais como o Código Penal e demais
leis extravagantes como a lei antidrogas, estatuto da criança e
do adolescente, código de trânsito brasileiro, código eleitoral,
código ambiental, estatuto do idoso e outras tantas do ordena-
mento jurídico pátrio.

Vejamos o que afirma o artigo 243 do Código de Processo Penal Militar


(CPPM) ao impor um procedimento obrigatório ao militar.

Art. 243 – Qualquer pessoa poderá e os militares deve-


rão prender quem for insubmisso ou desertor, ou seja
encontrado em flagrante delito (grifo nosso).

Além disso, nos casos de flagrante delito, quem presidirá a lavratura do auto
de prisão em flagrante delito (APFD) será um oficial (o comandante ou a
quem ele delegar competência). Nos dias sem expediente ou após o término
do expediente será, via de regra, o oficial de dia ou fiscal de dia.

Portanto, para decidir se lavra ou não um APFD, o oficial deve saber distinguir
se o fato em questão constituiu uma transgressão disciplinar ou um crime e, se
houver indícios de crime, deve ter condições de diferenciar entre um crime de
natureza comum ou militar.

Se a situação configurar uma transgressão, o assunto será tratado discipli-


narmente por quem tem atribuição funcional para analisar o fato e punir o
transgressor. Mas, se o crime for de natureza militar, o oficial deverá tomar
providências, quer seja para prender o suposto infrator, quer seja para instruir
o comandante da OM na instauração de um IPM.

Por fim, se o crime for de natureza comum, deve encaminhar informações e, se


houver, o suposto infrator para a autoridade de polícia judiciária comum (esta-
dual ou federal), ou seja, para o Delegado de Polícia Civil ou para o Delegado de
Polícia Federal. Ainda poderá acontecer do fato ser considerado criminoso − da
esfera da justiça militar ou da justiça comum. Se o suposto infrator for menor
de 18 (dezoito) anos; o encaminhamento será feito para o Juizado que tenha
competência para tratar de atos infracionais cometidos por menores de idade.

11
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
Para ajudá-lo a compreender este assunto, é importante fornecer ferramentas
Deslinde: apuração, para o [deslinde] de eventuais situações do dia a dia da caserna. Vamos anali-
esclarecimento.
sar o artigo 9º do CPM, que trata dos crimes militares em tempo de paz.

1.3 Crimes militares em tempo de paz

Preliminarmente, é preciso que identifiquemos como a lei penal militar foi cons-
truída. O CPM se compõe de uma Parte Geral, montada em um Livro Único, que
vai do artigo 1º ao artigo135. E de uma Parte Especial, composta por dois Livros:

• Livro I: que trata dos crimes militares em tempo de paz (artigos 136
ao 354)

• Livro II: que aborda os crimes militares em tempo de guerra (artigos


355 ao 408).

Sobre a parte geral é importante destacar que Romeiro (1994,


p. 94) considera que “Os arts. 9º e 10º do CPM são os mais
importantes de sua Parte Geral [...]”.

O artigo 9º do CPM informa em quais situações uma determinada conduta


humana, positiva ou negativa, terá o condão de disparar o sistema de apura-
ção, instrução e julgamento dos crimes militares em tempo de paz, envolvendo
atos e procedimentos das autoridades militares, do Ministério Público Militar
e da Justiça Militar; bem como, eventualmente, de outros órgãos e sistemas
públicos e privados. É importante salientar, contudo, que sua construção não
é das mais claras, podendo-se afirmar que o legislador não foi de todo feliz ao
determinar seu conteúdo. Está dividido em três incisos, os quais se diferenciam
entre si pela natureza dos institutos penais incriminadores, pela qualidade dos
agentes ativos e passivos dos crimes ou pelo local, tempo ou situação em que
os crimes são cometidos. Veremos cada um deles de per si.

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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
crime previsto
crime previsto
crime militar no CPM e na
somente no CPM
legislação penal

Praticado por Praticado por


militar da ativa civil, reformado
ou reservista
Contra militar
da ativa Contra o patrimonio
ou a administração
Contra o patrimônio crime militar militares
ou a administração
militares Contra funcionário
de Ministério Militar
Contra civil, ou da Justiça Militar
reformado ou
reservista Contra militar
da ativa

Em lugar sujeito
Manobras ou à administração
exercício militar

Em lugar sujeito Contra militar


em formatura,
à administração prontidão,
militar vigilânicia, etc.
Militar em serviço, Contra militar
comissão ou em função
formatura militar ou na
proteção da
ordem pública

Quadro1 - Quadro analítico do artigo 9º do CPM

1.3.1. Inciso I do artigo 9º do CPM

O inciso I do artigo 9º dispõe que são crimes militares aqueles que só es-
tão previstos no CPM ou que, embora também tratados na legislação penal
comum, se encontram no CPM com redação diversa (tais crimes são tratados,
na melhor doutrina, como ‘crimes tipicamente militares’ ou ‘crimes militares
típicos’) - não importando, nestes casos, quem seja o agente do crime (um
militar ou um civil). Então, podemos citar, a título de exemplo, o crime de de-
serção (artigo 187) como um crime que só está previsto no CPM; enquanto o

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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
crime de estupro (artigo 232 do CPM e artigo 213 do CP) é descrito de forma
diversa, nos dois Códigos Penais.

O termo final “qualquer que seja o agente, salvo disposição especial” diz res-
peito a que determinados crimes são de autoria necessária, como o de dormir
em serviço (artigo 203), que requer a condição de militar do agente; ou o
crime de exercício de comércio (artigo 204), em que somente o oficial pode ser
o agente ativo; ou ainda o crime de insubmissão (artigo 183), que só pode ser
cometido por civil convocado para o serviço militar.

Se o exercício de comércio for cometido por praça ocorre


transgressão disciplinar (nº 112, do Anexo I do RDE).

1.3.2. Inciso II do artigo 9º do CPM

O inciso II do artigo 9º considera que serão crimes militares todos aqueles que
estão previstos no CPM, embora também estejam previstos no CP, mas impõe
a condição de que o agente do crime seja militar da ativa.

Isso significa que, normalmente, tais condutas criminosas seriam consideradas


crimes comuns, mas quando praticadas por militar da ativa e nas situações que
estão enumeradas nas alíneas de “a” até a “e”, passariam a ser considerados
crimes militares e da competência da Justiça Militar.

É importante notar que a alínea “f” do inciso II do artigo 9º do


CPM foi revogada pela Lei nº 9.299/96. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9299.htm

Nesse inciso ainda são destacados os objetos da ação criminosa:

• Um militar em situação de atividade;

• Um militar da reserva ou reformado;

• Um civil;

• O patrimônio sob a responsabilidade da administração militar, seja ele


público ou privado;

• A ordem administrativa militar.

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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
É importante sinalizar alguns pontos que podem suscitar dúvidas:

a. Militar em situação de atividade

Aquele que está no serviço ativo, nos termos do artigo 6º do E-1; não
importando que esteja agregado, de folga, à paisana, de licença, férias, ou
ainda fora de local sob a administração militar. Se estiver incorporado às
Forças Armadas é considerado militar em situação de atividade (vide artigo
3º, §1º, alínea “a”, do E-1).

b. Assemelhado:

Figura jurídica referente à determinada categoria de servidor público, que


se sujeitava aos regulamentos disciplinares das Forças Armadas, apesar de
não existir mais no serviço público. Embora haja posicionamentos isolados,
é quase unânime o entendimento de que não existe mais, no direito penal
militar brasileiro, a figura do ‘assemelhado’ ”.

c. Militar da reserva

Aquele que tendo servido nas Forças Armadas, pertence ao rol de militares
inativos, remunerados ou não; mas ainda são considerados mobilizáveis
nos termos da lei. Note-se que o militar da reserva ou reformado, quando
empregado na administração militar, equipara-se ao militar da ativa, para
fins de aplicação da lei penal militar (artigo 12 do CPM).

d. Militar reformado

Aquele que tendo pertencido aos efetivos das Forças Armadas foi enquadrado
em uma das hipóteses previstas no artigo 106 do E-1. Estão definitivamente
dispensados de prestação de serviço na ativa, mas continuam a receber remu-
neração da União (vide artigo 3º, § 1º, alínea “b”, inciso II, do E-1).

e. Lugar sujeito à administração militar

Todo e qualquer lugar onde unidades ou frações das Forças Armadas reali- Consulte a respeito do Acór-
dão do Conflito de Compe-
zam suas atividades, tais como quartéis, navios, aeronaves, campos de prova
tência nº 11.358-SP, do Supe-
ou de exercício e de instrução, estabelecimentos de ensino militar, estabe- rior Tribunal de Justiça em:
lecimentos industriais militares, de saúde, de suprimento ou manutenção h t t p s : / / w w 2 . s t j . j u s. b r /
processo/jsp/ita/abreDocu-
(arsenais, parques, depósitos de subsistência ou de material). Neste conceito,
mento.jsp?num_registro=
não estão incluídos os próprios nacionais residenciais localizados nas 199400346476&dt_
vilas militares (ou fora delas), distribuídos a militares e civis, os quais têm a publicacao=18-03-
1996&cod_tipo_documen-
proteção constitucional da inviolabilidade do domicílio (artigo 5º, inciso XI, to=1
da CF/88). Isto, contudo, não significa que eventuais crimes cometidos no seu
interior ou contra o patrimônio estatal não possa configurar um crime militar.

15
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
Um exemplo disso é a situação em que um militar agride outro militar no
interior do PNR, causando-lhe lesão corporal (artigo 209 do CPM); ou no
caso do militar, usuário e responsável por determinado PNR, que danifica o
imóvel que lhe foi distribuído (artigo 259 do CPM).

Os navios mercantes e as aeronaves civis, quando emprega-


das em serviço militar são considerados como “sob adminis-
tração militar”.

f. Patrimônio sob a administração militar

Devem ser entendidos como patrimônio sob a administração militar não só


a imensa variedade de bens públicos distribuídos à administração militar
para desempenho de sua atividade-fim ou atividade-meio, bem como aque-
les que sejam privados, mas que cedidos ou locados para determinados
fins, tais como imóveis, máquinas e equipamentos.

g. Ordem administrativa militar

Nesse caso, o bem jurídico tutelado é a administração pública, seja ela admi-
nistração militar ou a administração judiciária militar. São os crimes descritos
nos Títulos VII e VIII do Livro I da Parte Especial do CPM (artigo 298 ao 354).

1.3.3. Inciso III do artigo 9º do CPM

O inciso III do artigo 9º do CPM trata dos militares da reserva ou reformados e


dos civis como agentes ativos do crime e inclui, como hipóteses de incidên-
cia penal, as situações abrangidas pelos incisos I e II desse artigo.

Isso significa dizer que um militar da reserva reformado ou um civil poderá


praticar um crime militar que esteja descrito:

• Apenas no CPM;

• Tanto no CP como no CPM, embora descrito de forma diversa em um


dos Códigos;

• De forma idêntica tanto no CP como no CPM, mas que se enquadre


em uma das hipóteses listadas nas alíneas de “a” até “d” do inciso III
do artigo 9º.

As diversas situações descritas nas alíneas do inciso III que podem suscitar
algum tipo de dúvida já foram abordadas anteriormente no item 1.3.2.

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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
1.3.4. Parágrafo único do artigo 9º do CPM

É importante, para concluir a análise e reflexão dos fundamentos do artigo 9º


do CPM, fazer algumas considerações sobre o parágrafo único dessa norma.

A edição inicial do CPM não continha um parágrafo único no seu artigo 9º,
mas a lei nº 9.299/96 trouxe uma novidade, ou seja, a inclusão de um disposi-
tivo de ordem processual em norma substantiva. Isso causou espécie e ampla
discussão técnica a respeito de ser o dispositivo constitucional ou não. Naquela
oportunidade, ficou assentado que os crimes dolosos contra a vida e pratica-
dos por militares contra civis passariam a ser da competência jurisdicional da
justiça comum e não mais da justiça militar.

O STF, a partir da reação de renomados juristas, a favor e contra tal dispo-


sitivo, considerou a norma constitucional e de plena eficácia a partir da sua
entrada em vigor.

Sobre os crimes dolosos, o artigo 33, inciso I do CPM, o qual


trata da culpabilidade do agente ativo do crime, nos informa
que um dado crime é doloso quando o agente quer um dado
resultado, ou assume o risco de produzir um resultado.

Então, a partir daquela data, nos crimes que se enquadram nas hipóteses do
artigo 9º − se dolosos contra a vida de civis − será competente para julgar a
suposta [ação delitiva] a justiça comum; valendo dizer, caso a denúncia seja Ação delitiva: atitude
em que se caracteriza um
aceita, a submissão do acusado a um tribunal do júri.
delito.
Contudo, a lei nº 12.432/11 trouxe uma nova redação ao parágrafo único
do artigo 9º, excepcionando seus efeitos originários, para devolver à justiça
militar a competência jurisdicional nos casos de uma ação militar praticada nos
estritos limites do artigo 303, §2º do Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei nº
7.565/86). Isso se refere, especificamente, ao uso de meios extremos contra
aeronaves hostis que violem o espaço aéreo brasileiro e não se submetam à
ordem de pouso em aeródromo nacional. Nesses casos, a lei autoriza o tiro de
destruição e, para tais casos, o parágrafo único do artigo 9º do CPM foi modi-
ficado. Permanece, nas demais situações de ação dolosa contra a vida de civis,
a competência da justiça comum para conduzir o processo e o julgamento.

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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
2 Tipos de crimes militares

Objetivos específicos

• Identificar o conceito de crime propriamente militar de acordo com o


artigo 5º, inciso LXI, da Constituição da República.
• Diferenciar o conceito doutrinário de crime propriamente militar dos
crimes impropriamente militares.

Ao longo do tempo, a subdivisão dos crimes militares em propriamente ou


impropriamente militares tem suscitado acaloradas discussões doutrinárias e
nas cortes nacionais e estrangeiras.

Como a lei é omissa em tal distinção, o tema tem sido objeto de variada e rica
abordagem. Na verdade, todas as teorias existentes, ainda que merecedoras
de consideração e respeito, não atendem de forma satisfatória e plenamente
às inúmeras facetas que o assunto comporta. Todos os entendimentos, sem
exceção, quando transitam na tentativa de enquadrar os diversos tipos penais
em uma ou outra classe, assomam aqui e acolá inconsistências que trazem
certo grau de insegurança para aqueles que efetivamente deverão tratar dos
inúmeros casos concretos na prática castrense. Faremos uma abordagem des-
critiva, elencando, ao final, aquela posição que consideramos a mais adequada
e segura para o oficial no desempenho de atividades ligadas ao assunto.

A partir desse contexto é possível perguntar por que seria importante sa-
ber distinguir a diferença entre um crime propriamente militar de um crime
impropriamente militar? Tentando responder a esse questionamento é preci-
so destacar que a nossa Constituição em vigor trouxe à baila o assunto, com
fundamental reflexo na atividade de polícia judiciária militar. Considere o que o
inciso LXI do artigo 5º da CF/88 informa:

Art. 5º, LXI - ninguém será preso senão em flagrante


delito ou por ordem escrita e fundamentada de autorida-
de judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.

19
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
É possível perceber que a parte final do dispositivo confere à autoridade militar
a capacidade de prender quem comete transgressão disciplinar (o que não
nos traz qualquer dificuldade, à luz do RDE); mas, também, de prender quem
comete crime propriamente militar. Porém, nem a CF/88 e tampouco a lei
penal (CPM) ou processual penal militar (CPPM) informa o que vem a ser crime
propriamente militar.

O artigo 18 da norma processual penal militar (CPPM), construído sob a égide


normativa e política vigente em 1969, autoriza (em tese) a detenção de indi-
ciado em IPM, durante o período de investigação policial e por um prazo inicial
de trinta (30) dias. Este prazo é, por autoridade de Comando Regional (Cmt
RM no âmbito do Exército), prorrogável por até mais 20 dias.

A leitura atenta do citado dispositivo permite concluir que a decisão de pren-


der caberá à autoridade de polícia judiciária militar que conduz as investiga-
ções, ou a quem tiver sido delegada tal atribuição, vale dizer os encarregados
de IPM. Porém, o artigo 18 do CPPM não distingue, na possibilidade de prisão
sem ordem judicial, a hipótese de crime própria ou impropriamente militar,
mas tão somente no gênero “crime militar”.

O inciso XLI do artigo 5º da CF/88, destacado anteriormente, não recepcionou de


todo o artigo 18 do CPPM, mas, contudo, possibilitou sua eficácia para os casos
de crimes propriamente militares. Portanto, é de fundamental importância que o
oficial investido de encargos de polícia judiciária militar saiba distinguir se deter-
minado crime se enquadra como propriamente militar ou impropriamente militar.

Se for propriamente militar poderá realizar a detenção do


indiciado e posteriormente comunicar a prisão ao juiz compe-
tente. No caso contrário, se o crime for impropriamente mili-
tar, só poderá prender o indiciado depois de solicitar e obter
o competente mandado de prisão. Se o oficial se equivocar
nesta classificação e recolher indevidamente alguém à prisão,
poderá vir a responder pelo abuso cometido quer nas esferas
penal, civil, e/ou administrativa.

Também no artigo 64, II do CP, temos comando que impõe distinção entre
crime propriamente e impropriamente militar. Tal norma dispõe que não serão
consideradas, para efeito de reincidência, condenações passadas por come-
timento de crimes propriamente militares. Desse modo, por exemplo, alguém

20
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
condenado pelo crime propriamente militar de dormir em serviço (artigo 203
do CPM) não será considerado reincidente perante a justiça penal comum,
mesmo que ainda não reabilitado perante a justiça castrense.

Sendo assim, é importante analisar a percepção dos juristas, confrontando-


-a com os interesses das instituições militares, mas também com a segurança
jurídica de quem, eventualmente, terá que praticar a detenção de indiciado,
segundo os atos previstos no artigo 18 do CPPM. Obviamente, o oficial deverá
ter como fator limitador fundamental o comando restritivo do inciso LXI do
artigo 5º da CF/88, que determina:

Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e funda-
mentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.

2.1 Crimes propriamente militares

Como já ressaltado, existem muitas teorias a respeito da classificação dos cri-


mes militares. Os juristas e jurisconsultos, a partir da lacuna da lei que deveria
suprir e complementar o comando constitucional do inciso XLI do artigo 5º
apresentam suas convicções sobre o tema.

Alguns autores se referem aos crimes propriamente militares


também como puramente, essencialmente, ou meramente
militares; e os crimes impropriamente militares também como
acidentalmente militares.

Certos autores − notadamente estudiosos do direito penal comum − preferem


adotar uma teoria mais simples, usando a própria construção do CPM para
realizar a classificação dos crimes militares. Para estes, seriam crimes propria-
mente militares aqueles que se enquadram nas hipóteses do inciso I do artigo
9º do CPM. E, portanto, impropriamente militares os abrangidos pelos incisos
II e III do mesmo dispositivo. Não é a melhor posição, pois aumentaria muito
a relação de crimes propriamente militares, uma vez que, atualmente, temos
muitos tipos penais descritos no CPM que diferem pouco de tipos penais des-
critos no CP, quando, na verdade, o bem jurídico tutelado é o mesmo.

21
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
Bandeira, citando o direito na Roma antiga, nos ensina que “[...] crime propria-
mente militar é aqquele (sic)que só o soldado pode commetter. (sic)” (1915,
p.18). Lobão oferece o esclarecimento a seguir:

Entre nós é usual e corrente a divisão de tais crimes em


própria ou puramente militares; e em impró-
pria ou acidentalmente militares... Os primeiros
supõem, a um tempo, qualidade militar no ato e caráter
militar no agente. São os crimes que, conforme ensi-
namento de certa doutrina, constituem um resíduo de
infrações irredutíveis ao direito comum. Os segundos
são crimes intrinsecamente comuns, mas que se tornam
militares já pelo caráter militar do agente, já pela nature-
za militar do local, já pela anormalidade da época ou do
tempo em que são cometidos (LOBÃO, 1999, p. 67).

Célio Lobão transcreve, também, parecer do antigo Procurador da República


e Ministro Guimarães Natal, que usa a terminologia de essencialmente e
acidentalmente militares, que parece perfeitamente alinhado com a visão
de Bandeira:

Essencialmente são os que, de sua natureza militar, têm


por agente um militar; acidentalmente militar os que
de natureza comum, praticados por militares, assumem
o caráter de militares pelas circunstâncias especiais do
tempo ou lugar em que são cometidos, pelo dano que,
dadas circunstâncias, causam à administração, à hie-
rarquia, ou à disciplina militar, como o crime praticado
por militar, dentro do quartel, suas dependências, etc.
(LOBÃO, 1999, p. 69).

Ainda Lobão, citando Virgílio Carvalho, informa sobre acórdão do STF de


1925, o qual decidiu que “o crime propriamente militar é o que só por milita-
res pode ser cometido, isto é, o que constitui uma infração específica e funcio-
nal da profissão de soldado” (1999, p. 69).

Como Bandeira, e tantos outros autores citados, nos parece consolidado nas
posições exaradas, bem como pautado na jurisprudência, vincular o conceito
de crime propriamente militar como sendo aquele próprio da profissão militar,
que só pode ser cometido pelo profissional militar e que viole bens jurídicos
vinculados às instituições militares.

22
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Por fim, Lobão aponta um conceito definitivo, no qual dispõe:

Como crime propriamente militar entende-se a infração


penal, prevista no Código Penal Militar, específica e fun-
cional do ocupante do cargo militar, que lesiona bens ou
interesses das instituições militares, no aspecto particular
da disciplina, da hierarquia, do serviço e do dever militar
(LOBÃO, 1999, p. 69).

Jorge César de Assis, em renomado trabalho de doutrina, alinha-se com o pen-


samento de Lobão, em relação à Teoria Clássica, quando ensina que:

Crime militar próprio é aquele que só está previsto no Có-


digo Penal Militar e que só pode ser praticado por militar,
exceção feita, ao de INSUBMISSÃO, que, apesar de só
estar previsto no Código Penal Militar (art.183), só pode
ser cometido por civil (ASSIS, 2007, p. 43).

Dentro deste tópico, não podemos deixar de citar o ministro aposentado do


STM, já falecido, Jorge Alberto Romeiro, que nos oferece uma nova “teoria
processual” para fazer a distinção, que é o objeto deste estudo. O jurista
Romeiro (1994, p. 73) nos ensina que “crime propriamente militar seria aquele
cuja ação penal só pode ser proposta contra militar”. Neste novo enunciado
estaria incluído, também, o crime de insubmissão, visto que, pelo comando da
norma processual, o acusado por tal crime só pode ser processado se adquirir
a condição de militar (é pressuposto de ordem processual).

Concluindo, temos que as teorias apresentadas, embora muito bem formula-


das, umas e outras apresentam lacunas que não nos autorizam a elencá-las
como perfeitas ou que esgotam o assunto. Tal problema só será resolvido quan-
do o legislador definir quais seriam os crimes propriamente militares. Contudo,
a Teoria Clássica oferece segurança e tranquilidade ao ser adotada, protegendo
ainda a autoridade militar contra desenganos ou cometimento de eventuais
abusos e suas inevitáveis consequências penais, administrativas e cíveis.

Crime propriamente militar é aquele que só está previsto no


CPM e que só pode ser praticado por militar, exceto o crime de
insubmissão, que só pode ser cometido por civil, mas que exige
a condição de militar para o início da ação penal.

23
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
2.2 Crimes impropriamente militares

Uma vez caracterizados os crimes propriamente militares, a tarefa de definir os


crimes impropriamente militares fica mais fácil.

Em primeiro lugar, vale trazer a ideia de que os agentes ativos de tais crimes
podem ser tanto civis, quanto militares. Em segundo, que tais crimes, em sua
Legislação extravagan- maioria, estão previstos tanto no CPM, quanto na [legislação penal] comum
te: relação de normas legais
(CP ou legislação extravagante); mesmo que descritos de forma diversa, mas
existentes no ordenamento
jurídico, vinculadas a deter- com o objetivo de tutelarem bens jurídicos idênticos.
minado ramo do direito, mas
que se situam fora da codi- Bandeira informa que os crimes impropriamente militares:
ficação disponível. A Lei nº
7.170/83, Lei de Segurança São crimes intrinsecamente communs(sic), mas que se
Nacional (LSN), por exem- tornam militares, já pelo caráter militar do agente, já pela
plo, que lista crimes contra
natureza militar do local, já pela anormalidade da épocha
a segurança externa do país
e que não está inserida no (sic) ou do tempo em que são commettidos(sic).(BANDEI-
Código Penal. RA, 1915, p. 13).

Assim, considerando o artigo 9º do CPM, os crimes impropriamente militares


seriam todos aqueles que só estão previstos no CPM ou estão previstos de
forma diversa no CPM em relação à legislação penal comum, e que admitem
qualquer pessoa como agente ativo do crime (artigo 9º, inciso I do CPM).

Os previstos de forma idêntica tanto no CPM como na legislação penal co-


mum, que têm como agente ativo um militar da ativa, nas hipóteses listadas
nas alíneas do inciso II do artigo 9º do CPM.

Os que têm como agente ativo do crime um militar da reserva ou reformado;


ou um civil, quer seja o crime previsto apenas no CPM, ou previsto de forma
diversa no CPM em relação à legislação penal comum, ou ainda previsto de
forma idêntica, tanto no CPM como na legislação penal comum, desde que
praticados nas hipóteses listadas nas alíneas do inciso III do artigo 9º do CPM.

Crimes impropriamente militares são aqueles que, previstos


no livro I da parte especial do CPM, podem ser praticados
indistintamente por militares da ativa, da reserva, reformados
ou civis, desde que se enquadrem em uma das hipóteses do
artigo 9º do CPM.

24
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
3 Crimes contra a
segurança externa do país

Objetivos específicos

• Descrever e distinguir os crimes contra a segurança externa do país dos


crimes políticos.

Inicialmente, para buscarmos um entendimento maior dos crimes em espécie,


é necessário abordarmos o conceito de tipo penal.

O tipo penal é um modelo de conduta humana injusta, positiva ou negativa,


abstratamente definida em lei que, uma vez adaptado perfeitamente a uma
ação concreta (ocorrida na vida real), caracterizará o crime, desde que estejam
presentes os demais requisitos de antijuridicidade e a culpabilidade.

Assim, quando certa conduta humana se amolda perfeitamente a um tipo


penal, diz-se que é uma conduta típica, que tem tipicidade.

Neste sentido, a atipicidade significa que um determinado fato real não


caracteriza o fato típico porque não se amolda a nenhum tipo penal anterior-
mente previsto em lei. Então, atipicidade significa que determinado fato da
vida real não encontra identidade em nenhum dos comportamentos típicos
previstos na lei penal, sendo-lhe indiferente para fins criminais.

Os elementos do fato típico, segundo Mirabete (1986), são a conduta


(ação ou omissão); o resultado; a relação de causalidade entre a conduta e o
resultado e a tipicidade.

• Conduta típica: sempre será caracterizada por um verbo que é de-


nominado de núcleo do tipo. Assim, a conduta humana será típica se
estiver perfeitamente adequada ao verbo que descreve o crime.

• Resultado: é a consumação do fato típico descrito na norma penal. O


resultado de uma conduta pode ser doloso ou culposo.

25
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
• Causalidade: também conhecida como nexo causal. Ocorre quan-
do determinado resultado injusto é consequência direta de uma
conduta humana.

• Tipicidade: é o ajuste de uma dada conduta humana a um modelo


típico, contido na lei penal.

Após essas considerações fundamentais sobre o tipo penal, a seguir vamos


abordar os crimes contra a segurança nacional.

3.1 Distinção entre crimes militares e políticos

Os crimes militares descritos nos artigos 136 ao 148 do CPM são aqueles aten-
tatórios à segurança externa, à independência e à soberania do país. Sendo a
defesa da pátria uma missão das Forças Armadas, pode-se considerar razoá-
vel que alguém que atente contra esses bens jurídicos esteja cometendo um
crime militar.

Assim, alguns juristas entendem que tais ilícitos penais constituem uma cate-
goria especial de crimes – os crimes políticos – terminologia acatada pelo
constituinte originário.

No entanto, o tema provoca divergências e Mirabete (1986) afirma que os cri-


mes políticos, assim como os crimes militares, também podem lesar ou por em
perigo a própria segurança interna ou externa do Estado. Ora, na parte especial
do CPM temos a descrição de tipos que põem em perigo tais bens jurídicos;
mas também temos tipos penais da mesma ordem na Lei nº 7.170/83 − Lei de
Segurança Nacional (LSN). Por outro lado, Lobão (1999) entende que apenas os
crimes que atentam contra a segurança interna constituiriam crimes políticos.

É importante ressaltar, então, que a LSN e o CPM contêm alguns tipos penais
semelhantes entre si. Isso pode suscitar um conflito aparente de normas e de
competência jurisdicional; pois a Constituição em vigor não recepcionou o
artigo 30 da LSN, que previa competência da Justiça Militar para julgar os de-
litos contra a segurança nacional. A competência para julgar os crimes contra
a segurança nacional − considerando que atualmente a Justiça Militar só é
competente para julgar os crimes militares definidos em lei (artigo 124/CF-88)
− foi deslocada para a Justiça Federal (artigo 109, IV, 1ª parte/CF-88).

26
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Sendo assim, apesar da duplicidade ou semelhança entre os tipos descritos
tanto no CPM como na LSN e a divergência de opinião entre os autores sobre
a competência da JMU para julgar os tipos descritos dos artigos 136 ao 148
do CPM; a doutrina recente − preponderante no magistério de Assis (2007) e
Coimbra Neves e Streifinger (2012) − informa que os crimes contra a seguran-
ça externa do país, descritos no CPM, quando praticados por militares serão
considerados crimes militares e julgados pela Justiça Militar.

Os crimes contra a segurança externa do país descritos no


CPM, serão considerados crimes militares e julgados pela Justi-
ça Militar quando praticados por militares.

Por outro lado, esses crimes, descritos na LSN em duplicidade ou semelhança


com o CPM, quando cometidos por civis, serão considerados crimes políticos,
sendo a Justiça Federal o órgão competente para o seu julgamento.

Obviamente que nos tipos penais exclusivos da LSN, quando o agente ativo for
militar, cometerá crime político e será julgado pela Justiça Federal. Da mesma
forma, quando o crime só estiver previsto no CPM, mesmo o agente sendo
civil, caberá à Justiça Militar da União (JMU) o seu processo e julgamento.

De qualquer forma, na hipótese de violação de um dos tipos penais listados


dos artigos 136 ao 148, quando também previstos na LSN, de forma idêntica
ou não, é de se supor a ocorrência de conflitos de competência entre a JMU e
a Justiça Federal, cabendo ao STJ ou STF (em última instância) decidir a respei-
to (artigo 102, I, “o” e artigo 105, I, “d”, ambos da CF/88).

É interessante ressaltar, ainda, que os bens jurídicos tutelados neste Título são tão
fundamentais que o legislador considerou a mera ação de tentar como bastante
para a consumação do delito, como nos casos dos artigos 140 e 142 do CPM.

Cumpre destacar, também, a peculiaridade do artigo 145, que contém vários


verbos caracterizadores de condutas ilícitas. Tais tipos penais são denomina-
dos de conteúdo variado, ou seja, se o agente realiza um deles (ou alguns, ou
todos) comete apenas um crime.

27
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
3.2 Crimes contra a segurança externa do país

3.2.1. Hostilidade contra país estrangeiro

Este tipo de crime só está previsto no CPM e de autoria necessária, ou seja, só


pode ser praticado por militar da ativa, constituindo um crime militar próprio.

A descrição do tipo não é clara, pois deixa, ao critério do intérprete, a defini-


ção do que vem a ser hostilidade, além de não delimitar o grau de hostilidade
capaz de expor o país ao perigo de guerra.

A doutrina tem admitido que somente atos materiais e exteriorizados podem


configurar atos de hostilidade, tais como queimar bandeiras e ofender repre-
sentante diplomático ou chefe de Estado. Já a exposição ao perigo de guerra
seria averiguada post fact, mensurando-se a reação do país hostilizado. Portan-
to, é uma condição necessária e imprescindível para configurar a tipicidade da
conduta hostil que o nosso país tenha ficado, de forma concreta e real, em
perigo de conflito armado com o país ofendido.

Esse é tipo de crime que admite o instituto da tentativa, visto que o ato hostil
poderá ser interrompido antes de sua consumação por fatores alheios à vonta-
de do agente ativo.

A pena variará de acordo com as hipóteses de reação elencadas no caput do


artigo 136, ou nos parágrafos 1º e 2º, nos quais as condições qualificadoras da
conduta criminosa são descritas segundo o resultado do ato hostil praticado.

3.2.2. Provocação a país estrangeiro

Este também é um crime militar próprio, uma vez que exige como condição
necessária que o agente ativo do crime seja militar. Além disso, esse tipo de
crime só é previsto no CPM.

É um tipo penal de conteúdo variado, admitindo sua consumação em três


modalidades de reação a uma provocação feita:
Soberania, segundo Sahid
a. Declaração de guerra;
Maluf, é uma autoridade su-
perior que não pode ser limi- b. Hostilidades contra o nosso país;
tada por nenhum outro poder
(1990, p.29). c. Interferência em questão de soberania nacional.

28
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
O crime se consuma quando ocorre a provocação da qual advém uma das
reações descritas no tipo penal. Caso não ocorram, então o enquadramento
poderá ocorrer no artigo 136, caput (tipo penal reserva). Admite a tentativa,
visto que o ato de provocar pode ser obstado, de início, pela ação de terceiros.

3.2.3. Ato de jurisdição indevida

O ato de jurisdição indevida também é um crime militar próprio que possui as


mesmas características do crime anterior.

Assis (2007) lembra que atos de jurisdição constituem condutas privativas dos Há posicionamentos doutri-
nários que entendem que a
juízes de direito, não entendendo como poderia um militar ou qualquer outra
expressão “jurisdição” foi uti-
pessoa praticar tais atos. Destaca, também, como totalmente inadequado e lizada inadequadamente pelo
que deve ser desconsiderado o termo “indevidamente”, visto que não se pode legislador na redação desse
tipo penal e teria desejado ele
admitir a prática “devida” de ato de soberania de outro país em território bra- se referir a “ato de exercício de
sileiro (2008, p. 294). soberania”. No entanto, a não
se admitir interpretação ex-
De qualquer forma, poderiam caracterizar atos de jurisdição: tensiva em direito penal, não
há como se estender o concei-
• A apreensão de bens de devedor junto a outro país; to além do proposto por Assis.

• Oitiva ou inquirição de pessoas em favor de governo estrangeiro;

• Prisão e entrega de pessoas a agentes de outro país.

Também admite a tentativa, consubstanciada no início da prática do ato de


jurisdição indevida (oitiva, apreensão de coisas ou pessoas), que é interrompida
antes de se consumar, por interveniência de terceiros.

Compete ao Superior Tribunal de Justiça homologar efeitos de


sentença estrangeira em território nacional, bem como auto-
rizar a execução de cartas rogatórias em território nacional
(artigo 105, I, “i”, da CF/88).

Um dado relevante é que o crime tem que ser praticado em território nacional,
sendo como tal considerado o seu espaço físico-geográfico, as ilhas oceânicas
onde o Brasil exerce soberania; bem como o espaço aéreo e o mar territorial.
Tem-se, ainda, o território nacional por extensão, que são as aeronaves e em-
barcações militares, ou mesmo as civis a serviço de Força Armada, em qualquer
lugar onde estejam (vide artigo 7º, §1º do CPM).

29
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
3.2.4. Violação de território estrangeiro

É um crime propriamente militar, visto que somente previsto no CPM e que im-
põe para a realização do tipo penal a condição de militar para o agente ativo
do ilícito penal.

O que se guarda neste crime não é a integridade de país estrangeiro, mas sim
o risco que correria o Brasil caso um militar das Forças Armadas viesse a violar o
território de outro país, com a finalidade de praticar ato de interesse jurisdicio-
nal brasileiro. Daí que a doutrina enquadra tal crime como de perigo abstrato,
bastando para sua configuração a mera possibilidade de reação do país violado.

Pode-se imaginar um exemplo de como se configuraria o crime quando, na hi-


pótese, um militar nacional, comandando ou não fração de tropa, adentrasse
em território de país que faz fronteira com o Brasil, com a exclusiva finalidade
de praticar uma apreensão de coisa ou prisão de pessoa, cumprindo decisão
de órgão jurisdicional brasileiro.

O crime se consuma com a violação do território alienígena, não importan-


do se o ato de jurisdição visado vier a se realizar. Também admite a tentati-
va, quando, por exemplo, o agente ativo é surpreendido durante os atos de
ingresso no território estrangeiro, como ultrapassando obstáculo físico que
delimita a fronteira internacional (barreira, muro, rio).

3.2.5. Entendimento para empenhar o Brasil à neutralidade ou à guerra

A declaração de guerra ou É um crime propriamente militar, por exigir a qualidade de militar para o agen-
celebração da paz é compe-
te ativo do ilícito e só estar previsto no CPM.
tência da União, que a ins-
trumentaliza por ato privativo
do Presidente da República,
Este tipo penal nos traz uma novidade, que consiste na hipótese de consuma-
após autorização do Congres- ção com a mera tentativa. O legislador optou por considerar tanto o entendi-
so Nacional (artigo 21, II; 84,
mento feito com outro país, bem como a tentativa de fazê-lo como suficientes
XIX e XX; e Art. 49, II; tudo da
CF/88, respectivamente). para configurar a realização do ilícito penal, não se aplicando ao caso a dispo-
sição contida no artigo 30, II, do CPM.

Afinal, devemos considerar que um militar − comprometido perante a Ban-


deira Nacional com a defesa da Pátria − possa entrar (ou tentar entrar) em
acordo com outro país para levar o Brasil a um conflito armado, ou mesmo se
esquivar de ato hostil contra sua soberania nacional, sem que para isso te-
nha recebido qualquer autorização ou delegação de autoridade competente,
constitui grave violação ao rol de deveres castrenses, previstos no Estatuto dos
Militares e que deve ser severamente punido.

30
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
3.2.6. Entendimento para gerar conflito ou divergência com o Brasil

Este é um crime impropriamente militar, pois não exige a condição de militar


para o agente ativo do crime, podendo ser cometido por qualquer pessoa.

Caracteriza-se pela combinação, acerto ou qualquer outra tratativa com outro


país ou organização nele existente, pública ou privada (agremiação política,
sindicato, ONG, etc.) com o objetivo de provocar conflito grave entre o Brasil e
outro país qualquer; ou desestabilizar suas relações diplomáticas.

Apesar de crime de conduta, admite-se a tentativa quando o agente não con-


segue sucesso em seu intento de entender-se com outro país, ou por falha no
meio empregado, ou por recusa do país visado para entendimento.

O crime pode ser qualificado pelo resultado do entendimento, agravando a


pena, caso ocorra o rompimento de relações diplomáticas (§1º) ou guerra
(§2º). Tais situações qualificadoras irão ensejar a cominação de penas mais
gravosas para o agente ativo.

Cabe a observação de que a LSN tutela o mesmo bem jurídico em seu artigo
8º, podendo ocorrer um conflito positivo de competência entre a JMU e a Jus-
tiça Federal quanto aos acusados não militares da ativa, conforme observação
lançada no item 3.1.

3.2.7. Tentativa contra a soberania do Brasil

É um crime impropriamente militar, que pode ser praticado por qualquer Para o assunto de prática de
crime em concurso de agentes
pessoa e que é consumado com a mera tentativa de praticar os atos descritos
e “cabeças” da ação criminosa,
nos incisos do artigo 142 do CPM. Em suma, o que se cuida é de preservar a vide artigo 53 e §§, do CPM.
soberania nacional em relação ao território do país.

Em relação ao inciso I, imagina-se que a submissão ocorreria por força de mo-


vimento armado. Quanto ao inciso II, fica evidente que o desmembramento do
território nacional, quer por meio da força, quer por tumultos, ofende flagran-
temente a segurança do país e sua própria soberania, que vem a ser funda-
mento constitucional do Estado brasileiro, sendo sua integridade territorial
pressuposto da própria República Federativa (vide artigo 1º e 34, I; da CF/88).

Já em relação ao inciso III, é difícil encontrar hipótese mais atual contra a


soberania brasileira quando organismos internacionais e até autoridades es-
trangeiras fazem questão de afirmar que consideram nossa soberania sobre

31
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
a Amazônia limitada e sujeita às necessidades mundiais sobre meio ambiente
e recursos naturais, advogando sua internacionalização, ou, no mínimo, uma
soberania compartilhada.

Por constituir o próprio núcleo do tipo a tentativa, não há que se considerar a


hipótese de incidência do comando normativo do artigo 30, II; do CPM.

A pena prevista distingue a figura dos líderes da ação (cabeças) dos demais
agentes envolvidos, considerando pena mais gravosa para os primeiros. O
legislador previu na hipótese um concurso de agentes eventuais, visto que o
crime pode ser cometido por apenas uma pessoa, não sendo considerado de
Crime plurissubje- concurso necessário, como ocorre nos [crimes plurissubjetivos] próprios, como
tivo: aquele de concurso
o de motim ou revolta.
necessário ou de concurso de
agentes (artigo 53 do CPM) é
aquele que, por sua concei-
Por derradeiro cabe a observação de que a LSN contém tipos semelhantes na
tuação típica, exige dois ou espécie, o que poderá suscitar conflito de competência jurisdicional entre a
mais agentes para a prática da
Justiça Militar da União e a Justiça Federal, em relação, apenas, a eventuais
conduta criminosa (MIRABE-
TE, 1986, p.129). envolvidos civis ou militares inativos.

3.2.8. Consecução de notícia, informação ou documento para fim


de espionagem

A espionagem é um crime impropriamente militar, podendo ser praticado quer


por militar, quer por civil ou militar inativo.

Para que ocorra tal crime é preciso que o agente ativo obtenha acesso a qual-
quer documento ou informação sigilosa, acessível apenas a algumas pessoas
categorizadas funcionalmente, cujo conhecimento indevido poderá afetar
negativamente a segurança externa do país.

O crime se consuma pela mera obtenção do conhecimento com fim de espio-


nagem, não importando se os dados sigilosos obtidos chegam a ser repas-
sados a outrem. Somente a mera obtenção indevida deve ser bastante para
deprimir a segurança nacional. Se, no entanto, ocorrem as condições qualifica-
doras descritas no §1º, será aplicado um novo patamar da pena, pelo resulta-
do ou resultados advindos.

O legislador admitiu a modalidade culposa, que é a ocorrência do dano aos


interesses da segurança externa do país por imprudência, negligência ou
imperícia do agente que, mesmo não tendo intenção criminosa, contribuiu de

32
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
alguma forma para a ocorrência do crime. Caso ocorra a hipótese descrita no
artigo 143, §1º, I; a pena será mais gravosa que nas demais hipóteses (artigo
143, caput; e §1º, II e III).

A ocorrência da tentativa de consumação é admissível, visto que o agente


pode não ser bem sucedido no seu intento criminoso por fatos ou fatores
alheios à sua vontade.

Como o crime pode ser praticado por qualquer pessoa, aplicam-se os comen-
tários sobre conflito de competência, descritos no item 3.1.

3.2.9. Revelação de notícia, informação ou documento

Também uma modalidade de crime impropriamente militar, podendo ser co-


metido por qualquer pessoa que, tendo acesso a qualquer dado, informação,
documento sigiloso que seja de interesse da segurança do país, o repassa para
outrem, expondo a soberania nacional a perigo. Se o repasse for com finalida-
de de espionagem, o crime se qualifica impondo novo patamar de pena. Da
mesma forma, se o repasse da informação ou documento deprime a eficiência
das Forças Armadas ou prejudica sua preparação, o crime se qualifica pelo
resultado alcançado, aplicando-se, neste caso, penas mais gravosas.

A tentativa é possível apenas na hipótese da revelação se dar por meio escrito


ou eletromagnético, quando o documento escrito pode não chegar ao seu
destino; ou a transmissão pode, por falha técnica do meio empregado, não ser
recepcionada pelo destinatário.

Por outro lado, se a revelação ocorre por falta de diligência ou cuidado do


agente, ficando evidenciado que não queria o resultado e nem assumiu o risco
de produzi-lo, mas que por imprudência, negligência ou imperícia acaba ocor-
rendo, aplica-se a pena de detenção de seis meses a dois anos, na hipótese da
ocorrência do caput do artigo 144; ou de seis meses até quatro anos quando
os resultados forem os descritos nos §§ 1º e 2º do artigo em questão.

Por admitir à ação criminosa de qualquer pessoa e a previsão de dispositivos


semelhantes na LSN, pertinentes às observações lançadas no item 3.1 (dis-
tinção entre crimes militares e políticos ) a respeito de eventual conflito de
competência jurisdicional.

33
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
3.2.10. Turbação de objeto ou documento

Este é um crime impropriamente militar de conteúdo variado (ou múltiplo), em


que cada um dos verbos descritos caracteriza a conduta ilícita.

A LSN não contém dispositivo semelhante, portanto o julgamento do agente


ativo, mesmo que civil, ocorrerá no âmbito da Justiça Militar Federal.

Os verbos que compõem o núcleo do tipo penal e seus significados são:

• Suprimir (eliminar, extinguir, dar sumiço);

• Subtrair (furtar, surrupiar, retirar);

• Deturpar (desvirtuar, desfigurar);

• Alterar (mudar, adulterar, modificar);

• Desviar (mudar a direção, deslocar de uma determinada rota).

Sendo assim, o agente, ao cometer uma das ações previstas, mesmo que por
breve tempo, perturba a boa ordem das coisas (objetos ou documentos) rela-
cionadas com a segurança externa nacional, consumando a conduta criminosa.

Caso a turbação venha a comprometer a segurança do país ou a eficiência


de suas Forças Armadas, ocorrerá a qualificação da conduta (§1º), impondo
a aplicação de pena mais severa. Por outro lado, por envolver bem jurídico
relevante para a segurança externa do país e a eficiência operacional das
Forças Armadas, mesmo que a conduta ocorra por desleixo, descuido, ou seja,
culposamente, ainda assim aplica-se uma pena, no entanto mais branda, quer
na sua natureza, quer na sua amplitude (§2º). É possível a tentativa, exceto na
modalidade culposa.

3.2.11. Penetração com o fim de espionagem

Neste tipo penal temos, também, que o agente pode ser qualquer pessoa,
militar ou civil, caracterizando um crime impropriamente militar, porém, por
omissão da LSN, sob a égide e jurisdição da JMU.

Esse crime se caracteriza pela entrada sem a permissão, ou de forma sorrateira


ou ardilosa, de indivíduo em local sob a administração militar (quartéis, par-
ques, depósitos) − ou indústria que desenvolva empreendimento de interesse
da segurança nacional e que esteja submetida à fiscalização militar − com a
finalidade de colher informações para país ou agente estrangeiro.

34
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Admite a tentativa, visto que a entrada clandestina pode se ver frustrada pela
ação de terceiros.

Deve-se ter a cautela de não confundir com o crime descrito no artigo 302 do
CPM – ingresso clandestino – que seria crime para o ilícito do artigo 146, visto
que trata de entrada irregular e não autorizada, nos mesmos moldes do artigo
sob análise, porém destituída de finalidade específica (espionagem).

O tipo prevê um interessante abrandamento da penalização para o caso de o


ingresso indevido e não autorizado ocorrer com o agente portando máquina
fotográfica ou qualquer outro instrumento com capacidade para a prática de
espionagem. A primeira vista nos parece incoerente, mas aqui basta o ingresso
com tal material, não importando se o agente tem a intenção de praticar a es-
pionagem ou não. Se tiver, enquadra-se no caput do artigo 146, caso contrá-
rio, aplica-se a norma subsidiária descrita em seu parágrafo único.

3.2.12. Desenho ou levantamento de plano, planta de local militar ou


de engenho de guerra

Caracteriza um crime impropriamente militar que admite civis e militares como


sujeitos ativos do crime, cabendo à JMU seu processo e julgamento.

O tipo se concretiza pelo desenho, manual ou mecânico, e pela obtenção de


fotografias ou filmes de plano ou planta dos objetos descritos, quer estejam
prontos e em uso, quer estejam em construção, e desde que submetidos à
administração ou fiscalização militar.

Cabe definir cada um dos locais ou engenhos citados para caracterizar o ilícito:

• Fortificação é toda e qualquer construção que se destina à defesa de


um local (praça de guerra, cidade, posição defensiva organizada);

• Quartel é toda e qualquer instalação física, permanente ou não, onde


se encontrem reunidos efetivos militares e suas respectivas organizações
administrativas;

• Fábrica é o local onde se montam ou industrializam equipamentos


destinados à defesa do país;

• Arsenal é o local onde se fabricam, são manutenidos ou guardados


materiais, munições, explosivos ou aparelhamentos de guerra;

• Hangar é o local onde ficam abrigadas aeronaves de emprego militar;

35
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
• Aeródromo é toda e qualquer instalação destinada ao pouso, decola-
gem e operação de aeronaves militares;

• Navio é toda e qualquer embarcação sob comando militar (artigo 7º,


§3º do CPM);

• Engenho de guerra motomecanizado é todo e qualquer veículo


motorizado cuja destinação seja exclusiva para emprego em operações
militares e que aumenta o poder de fogo da tropa e a sua velocidade de
deslocamento (carros de combate em geral, sobre rodas ou lagartas).

Admite a tentativa, visto que a ação pode ser impedida por terceiros.

Por interpretação da pena cominada, deve- se notar que o tipo não exige que
as condutas descritas tenham alguma finalidade. Basta que se pratique uma
das ações previstas para que se configure o ilícito. Se, na verdade, a conduta
tem por finalidade a prática de espionagem, aplicável à espécie o enquadra-
mento no artigo 146, que vem a ser uma ação com muito maior potencial
ofensivo à segurança externa do país.

3.2.13. Sobrevoo em local interdito

Crime impropriamente militar, visto que pode ser cometido por qualquer pes-
soa, mas está sujeito à jurisdição da JMU por não encontrar previsão na LSN.

Configura o crime, o mero voo de aeronave em espaço aéreo interditado ou


proibido no interesse da segurança externa do país. No entanto, para que se
configure a conduta ilícita, a proibição ou interdição de espaço aéreo em área
de interesse da segurança deve estar prevista em norma legal, plenamente
divulgada à população em geral, e aos pilotos em particular, por meios ade-
quados e suficientes.

Por ser um crime formal, de mera conduta, não admite a tentativa.

36
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
4 Crimes contra a autoridade
ou disciplina militar

Objetivos específicos

• Descrever os crimes contra a autoridade e a disciplina militar.

Alguns dos crimes descritos neste Título II, do Livro I, da Parte Especial do CPM,
apesar de protetivos da autoridade e disciplina castrense, poderão ser pratica-
dos por civis e, por isso, caracterizam crimes impropriamente militares. São os
previstos nos artigos 154; 155; 156; 158; 164; 165; 166; 172; 177; 178; 180;
181; e 182. Os demais são crimes propriamente militares.

4.1 Título II – Dos Crimes Contra a Autoridade


ou Disciplina Militar – Descrição

4.1.1. Motim (artigo 149)

Reunião ilícita de dois ou mais militares com a finalidade de agir contrariamen-


te à disciplina e à hierarquia, conforme as hipóteses descritas nos incisos do
artigo 149; com aplicação de pena majorada em 1/3 para os líderes do motim.

Para os critérios definidores de líderes (cabeças) de um crime


de concurso de agentes, veja o artigo 53 do CPM.

4.1.2. Revolta (artigo 149, parágrafo único)

É o crime de motim, porém com emprego de armas.

37
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
4.1.3. Organização de grupo para a prática de violência (artigo 150)

Sobre o crime de motim, ver a Reunião de no mínimo dois militares, com material bélico de propriedade mili-
seguinte notícia ilustrativa: tar, praticando violência contra pessoas ou coisas (públicas ou privadas).
h t t p : / / w w w. s t m . j u s . b r
/publicacoes/noticias/noti-
cias-2012/controladores-de- 4.1.4. Cumulação de penas (artigo 153)
-voo-sao-condenados-a-qua-
tro-anos-de-reclusao-por-pa- Nos casos previstos nos artigos 149 e 150, também se aplicam as penas rela-
ralisacao-em-2007
tivas à lesão corporal, à morte, ou ao dano material, eventualmente ocorridos,
nas formas dolosas ou culposas.

4.1.5. Omissão de lealdade militar (artigo 151)

Militar que não leva ao conhecimento de superior a notícia de preparação de


motim ou revolta de que tem conhecimento; ou, estando presente ao ato de
motim ou revolta, não usa os meios de que dispõe para impedi-los.

4.1.6. Conspiração (artigo 152)

Combinação de dois ou mais militares para a prática de motim ou revolta.


Note-se o instituto da delação premiada, isentando de pena aquele que, tendo
participado da conspiração, denuncia a preparação do motim a superior hie-
rárquico, antes de sua execução.

4.1.7. Aliciação para motim ou revolta (artigo 154)

Convencer (recrutar) militar para a prática dos crimes descritos nos artigos 149
ao artigo 152.

Atenção: Apesar do nome jurídico do crime indicar apenas o aliciamento para


a prática de motim ou revolta; devem ser considerados para configuração do
crime os elementos objetivos do tipo penal, quais sejam, todos os crimes cons-
tantes do Capítulo I (Parte Especial, Livro I, Título II, do CPM).

4.1.8. Incitamento (artigo 155)

Instigar verbalmente ou pelos meios e ações descritos no parágrafo único do


artigo 155 a prática de desobediência, indisciplina ou de crime militar.

38
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
4.1.9. Apologia de fato criminoso ou do seu autor (artigo 156)

Louvar (exaltar) fato considerado criminoso ou elogiar o seu autor pelo crime
cometido. A conduta criminosa de exaltação a crime, ou de elogio ao seu
autor, deve ser cometida em local sob a administração militar para que fique
plenamente configurada.

4.1.10. Violência contra superior (artigo 157)

Praticar violência (empurrões, tapas, chutes, socos, agressões com objetos)


contra superior. É fundamental que ocorra o contato físico e agressivo do
autor contra o superior. A pena muda de patamar (qualifica o crime) se o
superior é comandante da OM a que pertence o autor do crime; ou é oficial-
-general; ou se ocorre a morte da vítima. Se da violência resulta lesão corporal
na vítima, aplica-se, cumulativamente, também, uma das penas descritas no
artigo 209 (conforme a gravidade da lesão). A pena é aumentada (majorada)
se a violência é praticada com arma; ou se o crime ocorre em serviço.

4.1.11. Violência contra militar de serviço (artigo 158)

Violência contra oficial de dia, oficial de serviço, sentinela, vigia ou plantão. Se


ocorrer morte, a pena muda de patamar (qualificadora do crime). Se o autor usa
arma a pena é aumentada. Se ocorrer lesão corporal somam-se as penas previs-
tas no artigo 209 do CPM. Somente se admite a ocorrência deste crime militar
para as vítimas que estejam na execução dos serviços expressamente descritos
no tipo penal. Se a violência for contra militar em serviço de outra natureza (Sgt
Dia, Adj Of Dia, Cmt Gda,...), deve-se procurar o enquadramento em outros ti-
pos penais, tais como os dos artigos 157; 175; 176; 205; ou 209, por exemplo.

4.1.12. Ausência de dolo no resultado (artigo 159)

Nos casos de violência descritos nos artigos 157 e 158, se resultar em lesão
corporal ou morte e ficar comprovado que o autor da violência não queria o
resultado e nem assumiu o risco de produzi-lo, ficará caracterizada a ocorrên-
cia de um crime [preterdoloso] e a pena do crime contra a pessoa (artigo 205 Preterdoloso: dolo na
ou artigo 209) será diminuída de metade. ação de praticar a violência e
culpa no resultado final

39
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
4.1.13. Desrespeito a superior (artigo 160)

Desconsiderar por gestos, palavras, ou escritos um superior hierárquico, na


presença de outro militar. Se o superior é o comandante da OM, oficial-general
ou oficial de dia, a pena é aumentada da metade.

4.1.14. Desrespeito a símbolo nacional (artigo 161)

Militar que perante a tropa ou em lugar sujeito à administração militar pratica


ato ultrajante (por meio de gestos, palavras, escritos, gravações, imagens) à
bandeira, ao hino, às armas, ou ao selo nacionais.

Sobre os símbolos nacionais vide artigo 13, §1º da CF/88; e


artigo 1º da Lei 5.700/71.

4.1.15. Despojamento desprezível (artigo 162)

Despojamento aviltante significa despir-se, desnudar-se de modo aviltante, que


Menoscabo: menospre- evidencia desconsideração, [menoscabo] e falta de respeito pelo simbolismo
zo, depreciação.
e significado intrínseco, tanto para o militar, como para a instituição a que
pertence, do uniforme e das peças que o adornam, como os distintivos, as
insígnias e as condecorações militares.

4.1.16. Recusa de obediência (artigo 163)

É um crime de insubordinação. É a negação taxativa e expressa em cumprir


ordem legal e direta, emanada de autoridade militar competente (superior),
Vídeo ilustrativo sobre a práti- que seja relativa a assunto, ou matéria de serviço, ou dever imposto por norma
ca de dança do Hino Nacional
ao ritmo de funk por militares: em vigor (lei, regulamento ou instrução).
http://globotv.globo.com/
rbs-rs/jornal-do-almoco/v/
4.1.17. Oposição à ordem de sentinela (artigo 164)
militares-que-dancaram-um-
-funk-do-hino-nacional-sao-
Não cumprir determinação de sentinela em matéria relativa ao serviço, e que
-condenados/2561437/
Ver também: foi dada por quem exerce direção e autoridade sobre a sentinela.
http://www.stm.jus.br/
publicacoes/noticias/noti-
4.1.18. Reunião ilícita (artigo 165)
cias-2013/ex-soldados-que-
-dancaram-hino-nacional-
-em-ritmo-de-funk-tem-con-
Promover ou tomar parte em reunião de militares para discutir ato de superior
denacao-mantida-no-stm (crime que somente militar pode cometer); ou promover ou tomar parte em

40
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
reunião de militares para discutir assunto relativo à disciplina militar (crime que
pode ser cometido por qualquer pessoa).

4.1.19. Publicação ou crítica indevida (artigo 166)

Dar publicidade sem autorização legal e por qualquer meio hábil de ato ou
documento oficial; ou criticar em público ato de superior, ou assunto relativo à
disciplina militar, ou a qualquer decisão do governo federal.

4.1.20. Assunção de comando sem ordem ou autorização (artigo 167)

Militar que assume, sem ordem ou permissão, comando de OM ou direção de


estabelecimento militar e pratica atos próprios e exclusivos de comandante ou
diretor. Exclui o crime se a assunção se dá para enfrentar grave emergência que
exige pronta e imediata atitude, quer para preservar a ordem, a hierarquia e a
disciplina, quer para preservar a vida ou integridade física de pessoas e coisas.

4.1.21. Conservação ilegal de comando (artigo 168)

Crime que se configura pelo fato do militar que se encontra na situação fun-
cional de comandante ou no exercício de função militar não se afastar de tais
atribuições funcionais após receber ordem superior para fazê-lo.

4.1.22. Operação militar sem ordem superior (artigo 169)

Configura o crime o comandante que ordena o deslocamento indevido da


tropa sob seu comando; ou o empreendimento de ação militar, sem deter-
minação ou autorização superior. Deslocamento é mover a tropa de um local
para outro. Ação militar, no caso, é o emprego da tropa com uma finalidade
pré-definida. No entanto, não há crime se o deslocamento da tropa ou a ação
militar se deve a atividades corriqueiras, tais como marchas, desfiles e exercí-
cios previstos nos programas de instrução; ou, ainda, nos casos de urgência e
emergência, em que se torna impossível obter, com antecedência, a permissão
ou ordem superior. A conduta se torna mais grave se o descrito no tipo penal
ocorre em território estrangeiro ou contra forças militares estrangeiras, impon-
do um patamar de pena com maior gravidade a ser aplicada ao infrator, tendo
em vista os riscos de retaliação ao Brasil. Se houver retaliação, o crime será ab-
sorvido, conforme o caso, pelos tipos descritos nos artigos 136 e 137, do CPM.

41
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
4.1.23. Ordem arbitrária de invasão (artigo 170)

Crime que se consuma quando um comandante ordena, sem ordem ou


permissão para tal, que seus comandados adentrem em território estrangeiro.
Pode ser com tropa a pé, motorizada, mecanizada ou blindada, navio, ou ae-
ronave. Por território estrangeiro se entende o espaço físico terrestre, aquático,
ou espacial, onde um país exerce sua soberania.

4.1.24. Uso indevido por militar de uniforme, distintivo ou insígnia


(artigo 171)

Configura o crime o militar que faz uso indevido (sem ter direito para tal) de
uniforme (farda); distintivo (de curso, arma e outros); ou insígnia (de posto,
graduação ou sargento-brigada), desde que exclusivos de posto ou graduação
superior ao agente ativo do crime. Não configura o crime o uso de tais peças
com a finalidade de instrução ou apresentação teatralizada.

4.1.25. Uso indevido de uniforme, distintivo ou insígnia militar por


qualquer pessoa (artigo 172)

Crime que pode ser cometido por qualquer pessoa; difere do descrito no artigo
anterior, porque neste caso o agente militar o comete se usar uniforme, distin-
tivo ou insígnia de posto ou graduação igual ou inferior ao seu, porém a que
não tenha direito. Inclui a possibilidade do uso indevido de tais peças, exclusi-
vas dos militares, por civis, ou militares inativos.

4.1.26. Abuso de requisição militar (artigo 173)

Requisição significa solicitação a que não se pode negar, sob pena de ilega-
lidade. De acordo com o artigo 22, III, da CF/88, cabe à União legislar sobre
requisições militares (não há norma legal em vigor a respeito do assunto). Por
outro lado, a CF/88 considera a hipótese de requisições de bens na vigência do
Estado de Sítio (artigo 139, VII). Pode ser em relação a bens móveis ou imó-
veis, inclusive consumíveis e/ou perecíveis, tais como alimentos e combustível.
Portanto, o militar que abusar do poder de requisitar bens, extrapolando os li-
mites impostos por eventual norma legal; ou definidos no decreto que instituir
um Estado de Sítio, consumará o delito.

42
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
4.1.27. Rigor excessivo (artigo 174)

É a extrapolação na reprimenda disciplinar do infrator subordinado, ultrapas-


sando os limites definidos pelo RDE. Só pode ser cometido por quem exerce
comando e tem poder punitivo-disciplinar, de acordo com atribuições e limites
do RDE. É um crime praticado com abuso de poder. E é por esta razão que a
pena a ser imposta é a suspensão do exercício do posto, caso não se configure
lesão jurídica mais grave. Caracteriza o crime deixar o subordinado preso sem
água, alimento, agasalho, ou sem condições de higiene. Mas também configu-
ra o crime dirigir-se ao subordinado com palavras, orais ou escritas, ou mesmo
gestos ofensivos à sua dignidade, atingindo sua honra.

4.1.28. Violência contra inferior (artigo 175)

Também é um crime de abuso de poder. É a violência física (vis corporalis).


Se ocorrer lesão corporal ou morte, aplicam-se, cumulativamente, as penas
de lesão ou de morte, com as cautelas previstas no artigo 159, sempre que
ficar evidenciado que o superior não agiu com dolo no resultado final. Para
configurar o crime basta que o superior toque o corpo do subordinado com
intenção criminosa, mesmo que não ocorra nenhuma lesão física. Os comen-
tários expendidos em relação ao crime de rigor excessivo; o de violência contra
superior; e contra militar de serviço se aplicam também neste caso. Cumpre
destacar que para configurar o crime, o superior tem que saber que o violenta-
do ocupa a posição hierárquica de subordinado.

4.1.29. Ofensa aviltante contra inferior (artigo 176)

Crime de abuso de poder. É, também, um crime de violência contra subordi-


nado, porém praticada de modo aviltante, que se possa considerar ofensiva. O
ato aviltante é aquele que humilha, diminui e oprime a dignidade do subordi-
nado; configurando a conduta chacotas, tapas no rosto ou nádegas, cuspara-
da, puxar as orelhas ou apertar o nariz, “croques” na cabeça, deixar desnudo
em público e outros. Também admite a ofensa com resultado físico grave
(parágrafo único do artigo 176), com as ressalvas do artigo 159.

4.1.30. Resistência mediante violência ou ameaça (artigo 177)

Resistência é oposição à realização de ato legal, a ser praticado por agente


público (e eventual auxiliar), no interesse da administração militar. Pode ocorrer
mediante ameaça, que significa promessa, atual ou futura, de provocar ao

43
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
agente público (ou eventual auxiliar) algum mal; ou mediante violência, que
é o ato físico ou moral dirigido contra alguém e que pode causar constrangi-
mento ou consequências corporais. Se a resistência for bem sucedida, aplica-se
a pena da forma qualificada. E, se for o caso, aplica-se a pena deste crime em
cumulação com as correspondentes à violência.

4.1.31. Fuga de preso ou internado (artigo 178)

As OM podem ter sob seu encargo a guarda de presos à disposição da Justiça.


E as OM de saúde podem ter entre seus internados alguém submetido à medi-
da de segurança detentiva. Quem patrocina ou ajuda na fuga destas pessoas
comete o crime em questão. A conduta se agrava, impondo novo patamar
de pena, nas hipóteses qualificadoras dos §§ 1º e 3º do artigo 178. Se for o
caso, além das penas previstas neste artigo, aplicam-se, também, as relativas à
violência praticada contra pessoa ou coisa.

4.1.32. Modalidade culposa (artigo 179)

Comete o crime na modalidade culposa aquele que, por imprudência, negli-


gência, ou mesmo imperícia, deixa preso que estava conduzindo escoltado, ou
que estava sob sua guarda, empreender fuga.

4.1.33. Evasão de preso ou internado (artigo 180)

É a fuga (ou tentativa de fuga), por preso à disposição da Justiça. O crime só


se caracteriza se o agente ativo usa de violência contra a pessoa (caso contrá-
rio será atípico). O crime se qualifica se ocorre arrombamento da prisão. E se
ocorre a deserção e/ou lesão, morte, ou dano à coisa, as penas são somadas.

4.1.34. Arrebatamento de preso ou internado (artigo 181)

Arrebatar aqui tem o significado de tomar à força preso à disposição da Jus-


tiça, ou internado que esteja submetido à medida detentiva, com a finalidade
de infligir-lhe maus tratos. Se for o caso, somam-se às penas relativas à violên-
cia (lesão corporal, morte, ou dano material).

4.1.35. Amotinamento (artigo 182)

Crime de autoria coletiva necessária que exige, para sua prática, a ação de
no mínimo dois presos, que podem ser civis ou militares. Aqui se tem uma

44
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
inconsistência legislativa, pois o tipo prevê uma possível ação delitiva de um
internado, mas, incoerentemente, em uma prisão militar (o que é incompatível
com a figura do internado). Amotinar significa rebeldia e resistência à ordem
normal das coisas no interior de prisão militar (algazarras, queima de colchões,
negação coletiva de retorno às celas). A pena para os líderes é mais severa. A
norma prevê, ainda, a mesma punição para aquele que, não sendo preso (ou
internado), participa da ação delitiva; ou, sendo oficial e estando presente,
se omite e não age no sentido de controlar os amotinados ou de impedir as
consequências do amotinamento (materiais ou disciplinares).

45
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
5 Crimes contra o serviço militar

Objetivo específico

• Descrever os crimes contra o serviço militar, com estudo da jurispru-


dência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal Militar.

Neste assunto trataremos dos crimes contra o serviço e o dever militar; que
contém crimes próprios e impróprios, destacando-se os crimes de insubmissão
e de deserção, bem como seus correlatos e afins; os quais, por sua relevância,
serão comentados em tópico exclusivo.

5.1 Abandono de posto (artigo 195 do CPM)

Reiterada jurisprudência do Este crime se consuma por meio das seguintes condutas:
STM tem considerado o de-
lito como de mera condu-
ta (por exemplo: a decisão 5.1.1 Abandono do posto ou lugar de serviço
na Apelação nº 0000212-
54.2012.7.01.0301-RJ, jul- Posto é um local determinado em que se cumpre, normalmente, missão de
gada em 03 de setembro de
vigilância, podendo ser fixo ou móvel. Admite outros tipos de missão, como
2013, relator o Ministro Luis
Carlos Gomes Mattos). a de permanência e telefonista, por exemplo. Já o lugar de serviço é um local
mais amplo do que o posto, no qual o militar tem o dever de permanecer, por
força de ordem legal, no desempenho de alguma atividade de interesse do
serviço; pode ser um quartel, hospital, acampamento.

São alguns exemplos de serviço que, se abandonados, configuram o tipo pe-


nal: guarda do quartel e das subunidades; rondante; motorista de dia; médico
e enfermeiro de dia; permanências; cozinheiro de dia; entre outros.

5.1.2 Abandono do serviço:

A segunda conduta que poderá caracterizar a figura delitiva é a do militar que,


após assumir o serviço, abandona-o antes de sua conclusão. Exemplo: motoris-
ta de dia que se ausenta do quartel antes de terminado o serviço.

47
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
5.1.3 Jurisprudência comentada sobre crime de abandono de posto

STF - HABEAS CORPUS HC 108811 PR Data de publicação: 20/03/2012

Ementa: HABEAS CORPUS. DELITO MILITAR. ABANDONO DE POSTO. MILITAR


ESCALADO PARA O SERVIÇO DE SENTINELA. ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE PENAL
PELA INEXPRESSIVIDADE DA CONDUTA. MODELO CONSTITUCIONAL DAS FORÇAS
ARMADAS. HIERARQUIA E DISCIPLINAS MILITARES. ORDEM DENEGADA.

STF - HABEAS CORPUS HC 94904 RJ Data de publicação: 18/12/2008

Ementa: HABEAS CORPUS. DELITO MILITAR DE ABANDONO DE POSTO. ALEGA-


DO ESTADO DE NECESSIDADE. EXAME INCOMPATÍVEL COM A VIA DESTA AÇÃO
CONSTITUCIONAL. QUADRO FÁTICO DESTOANTE DA PRETENSÃO DEFENSIVA.
CRIME DE PERIGO. EFETIVA POSSIBILIDADE DE LESÃO AO BEM JURÍDICO TUTELA-
DO. ORDEM DENEGADA. 1. O quadro empírico assentado pelas instâncias judican-
tes competentes é contrário à pretensão defensiva do reconhecimento do estado
de necessidade. Pelo que, considerado o pressuposto fático, não há como, nesta via
processualmente contida do habeas corpus, chegar a conclusão diversa. 2. O delito
increpado ao paciente é formal e de perigo, aperfeiçoando-se com a prática da con-
duta incriminada. No caso, presente a clara possibilidade de lesão ao bem jurídico
tutelado, não há como afastar a tipicidade material da conduta. Ordem denegada.

Tratam-se habeas corpus impetrados contra condenações do STM pelo crime de


abandono de posto, que foram indeferidos.

STM - APELAÇÃO AP
1284520117030103 RS 0000128- Data de publicação: 25/02/2013
45.2011.7.03.0103 (STM)

Ementa: APELAÇÃO. ABANDONO DE POSTO. CONSUMAÇÃO. INEXIGIBILIDADE


DE CONDUTA DIVERSA. NÃO COMPROVAÇÃO. O momento da consumação do
delito ocorre com o abandono de posto, sendo irrelevante o tempo de ausência.
As alegações de cunho familiar não caracterizam o estado de necessidade, se as
provas dos autos não coincidirem com a tese apresentada. Decisão unânime.

Neste caso o STM considerou que, para caracterizar o crime, basta que o militar
de serviço se afaste do local em que deve estar presente, não importando o
tempo de ausência.

48
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
STM - EMBARGOS (FO) Embfo 7442 RJ
Data de publicação: 19/06/2008
2007.01.007442-6

Ementa: DENÚNCIA. REJEIÇÃO. ABANDONO DE POSTO. TROCA DE SERVIÇO. MA-


NUTENÇÃO DA DECISÃO. Réu foi denunciado pelo crime previsto no art. 195 do
CPM, por ter se ausentado sem autorização de seu posto, deixando outro militar
em seu lugar; II - A denúncia foi rejeitada ao argumento de que o posto não ficou
desguarnecido, não havendo prejuízo para as tarefas; III - A circunstância de, ao
sair do local de trabalho, ter se preocupado em deixar um colega em seu lugar re-
tira o caráter de abandono; IV - A rigor, houve permuta de serviço sem autorização
do superior competente, fato previsto como contravenção disciplinar e como tal
deve ser analisado. Embargos infringentes acolhidos. Decisão majoritária.

Neste caso a denúncia foi rejeitada porque o militar escalado de serviço se fez
substituir por outro colega. Em sendo assim, em nenhum momento o serviço ou
a segurança do quartel estiveram sob risco. Conduta atípica, caracterizando uma
transgressão disciplinar.

STM - APELAÇÃO AP
110420097040004 MG 0000011- Data de publicação: 24/05/2012
04.2009.7.04.0004

Ementa: ABANDONO DE POSTO. ABSOLVIÇÃO. ATIPICIDADE. NECESSIDADE DE


NORMA REGULATÓRIA DAS ATRIBUIÇÕES DO POSTO DE SERVIÇO. REFORMA DA
SENTENÇA. CRIME DE MERA CONDUTA. NORMA REGULATÓRIA DESNECESSÁRIA.
COMPROMETIMENTO DA SEGURANÇA DA OM PELO DESFALQUE DA EQUIPE DE-
SERVIÇO. O crime de abandono de posto não exige para a sua consumação a exis-
tência de norma regulatória das atribuições do militar de serviço, configurando-se
o delito pela mera ausência desautorizada da OM, ainda que no período de des-
canso noturno. É necessária a integralidade da equipe de serviço para a garantia da
segurança no aquartelamento, pois, mesmo não estando em seu quarto de hora,
o militar deve permanecer em prontidão, em plenas condições de acionamento.
Materialidade e autoria comprovadas. Apelação integralmente provida. Sentença
reformada, condenando-se o Acusado. Maioria.

Aqui o autor do crime não estava de sentinela da hora, mas em horário de descan-
so, tendo se ausentado o quartel, quando consumou o crime em tela; tendo ficado
evidenciada a falta de exigência que, para configurar o delito, o militar deva estar no
seu quarto-de-hora. Ficou, todavia, caracterizado o abandono do lugar de serviço.

49
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - EMBARGOS EMB
186320097050005 DF 0000018- Data de publicação: 16/05/2011
63.2009.7.05.0005

Ementa: EMENTA: EMBARGOS INFRINGENTES OPOSTOS PELA DEFESA. ABANDO-


NO DE POSTO. PREVALÊNCIA DO VOTO VENCIDO. IMPOSSIBILIDADE. PERMANÊN-
CIA NO QUARTEL. NECESSIDADE ATÉ A RENDIÇÃO. - O crime de abandono de
posto tem consumação instantânea, e ocorre no momento exato em que o militar
se ausenta do posto ou do lugar de serviço. - Não compete ao militar escalado
tomar a iniciativa de deixar o serviço, sem autorização dos superiores e antes da
chegada da nova equipe, mesmo que já tenha cumprido os seus quartos de hora e
que o lapso temporal de 24 horas de jornada tenha se esgotado. - As provas car-
readas são plenas para demonstrar a ilicitude perpetrada pelo agente. EMBARGOS
REJEITADOS. DECISÃO MAJORITÁRIA.

Aqui temos o militar que tendo cumprido sua jornada de serviço normal, ainda
não foi liberado porque a nova equipe de serviço não o assumiu e mesmo assim se
ausenta, cometendo o delito do Art. 195 do CPM.

STM - APELAÇÃO (FO) Apelfo 51217 RJ


Data de publicação: 28/04/2009
2008.01.051217-9

Ementa: APELAÇÃO. MPM. ABANDONO DE POSTO. PROVIMENTO. Para a configu-


ração do crime de Abandono de Posto não importa qual a natureza do serviço que
está sendo prestado pelo Agente, posto que insuperável é a premissa de que todos
os militares submetidos à escala são indispensáveis para o funcionamento e a segu-
rança da OM. Impossibilidade de se afastar a responsabilidade penal do Acusado
com base na justificativa de que se trata de dependente químico, vez que, in casu,
não há a menor prova técnica de que tenha agido com um mínimo de perturbação
em sua consciência vontade.

Este acórdão deixa evidente que qualquer tipo de serviço, desde que serviço de
escala, tem a proteção do tipo penal em questão.

50
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
STM - APELAÇÃO (FO) Apelfo 50146
Data de publicação: 03/04/2007
PE 2005.01.050146-0

Ementa: ABANDONO DE POSTO - CRENÇA RELIGIOSA alegação, de que um


embaraço de ordem religiosa impediria o Agente de trabalhar nos fins-de-semana
a partir do pôr do sol de sexta-feira, o que teria levado o ora Apelante a praticar
o delito de abandono de posto, não merece prosperar, dado que o art. 143 , §
1º , da CF , estabelece que “Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir
serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperati-
vo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de
convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencial-
mente militar.” II - Recurso não provido por decisão unânime.

A alegação de crença religiosa para justificar abandono de posto não tem o poder
de evitar a condenação. Se sua crença o impedia de prestar o serviço militar
em sua totalidade e servidão deveria ter solicitado a dispensa do serviço militar,
habilitando-se para a prestação de serviço alternativo.

STM - APELAÇÃO (FO) Apelfo 49907


Data de publicação: 14/08/2006
CE 2005.01.049907-5

Ementa: EMENTA: ABANDONO DE POSTO. DESVIO DE ITINERÁRIO DE VIATURA


NÃO-AUTORIZADO. Apelo da Defesa. Atipicidade. Inocorrência. Militares escalados
para o serviço de Sargento de Dia e Motorista de Dia saem em missão (render a
guarda em residência de comandante) às 8h30 só retornando ao quartel às 20h00,
alegando problemas com o pneu da viatura e socorro a um familiar. Desvio de
itinerário da viatura ocorrido à revelia dos superiores. Ausência do local do serviço.
Falta de autorização. Caracterizado o delito de abandono de posto previsto no art.
195 do CPM. Apelo improvido. Decisão por maioria.

À evidência de que um motorista e seu chefe de viatura, escalados de serviço e


com um itinerário determinado, que se ausentam por quase 12 horas, cometem o
delito de abandono do lugar de serviço.

5.2 Descumprimento de missão (artigo 196 do CPM)

Nesse crime propriamente militar, o agente do crime deixa de cumprir dolosa-


mente uma missão em matéria de serviço que lhe fora confiada. Não se confun-
de com a recusa de obediência (artigo 163), que se caracteriza por um ato co-
missivo de recusa em obedecer; enquanto no descumprimento de missão há um
ato omissivo e intencional em não executar a missão. Na recusa de obediência
(insubordinação), o militar se nega taxativamente a cumprir uma ordem dada.
Já no crime de descumprimento de missão, o militar não se nega em cumprir
dada missão, no entanto, esgotado o tempo para sua execução, não a cumpre,

51
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
e sem que apresente justificativa para tal, faltando com o seu dever e com a
disciplina. Como exemplo, podemos citar o fato de um sargento receber a mis-
são de preparar alvos para um exercício de tiro da subunidade. Caso se negue a
realizar a preparação dos alvos, comete o crime de recusa de obediência (artigo
163); se não se negar, mas, também, não realizar a tarefa recebida, sem motivo
justificado, tem-se o descumprimento de missão (artigo 196). Se, ao contrário,
realizar a preparação dos alvos, mas de forma parcial ou incorreta, então se
apresenta a transgressão disciplinar prevista no nº 17, do anexo I do RDE.

Os §§ 1º e 2º do artigo 196 preveem causas especiais de aumento de pena (ma-


jorantes) nas hipóteses do agente do crime ser oficial ou no exercício funcional
de comandante (Cmt GC, Cmt Peça, Cmt Pel, Cmt Seção, Cmt SU, Cmt Btl); ou
seja, comandante em qualquer nível; e de qualquer posto ou graduação.

Cabe destacar o crime de descumprimento de missão culposo (artigo 196,


parágrafo único), que se caracteriza por um não cumprir missão recebida sem
que se tenha intenção para tal.

5.3 Retenção indevida (artigo 197 do CPM)

Comete o crime o oficial que deixa de devolver qualquer tipo de documento


(conforme os citados no tipo penal) que lhe fora confiado provisoriamente; ou,
ainda, quando transmite função militar a seu substituto sem repassar-lhe os
documentos inerentes à função transmitida. A pena prevista é de suspensão
do exercício do posto; que pode ser exasperada se o documento retido envolve
conhecimento sigiloso relativo à segurança nacional. Em qualquer das hipó-
teses de apenamento, tem-se a ressalva do crime ser absorvido por outro de
maior gravidade, como o de espionagem, por exemplo.

5.4 Omissão de eficiência da força (artigo 198 do CPM)

Crime omissivo que se caracteriza pela falta de diligência de um comandante


de tropa (oficial) em treinar e adestrar adequadamente seus comandados para
as ações operacionais próprias e específicas da força que comanda. Isso signi-
fica manter a tropa apta a cumprir suas destinações legais e constitucionais,
quais sejam a defesa da Pátria, a garantia dos poderes constitucionais, e a lei e
a ordem (artigo 142, caput, da CF/88); bem como aquelas atribuídas subsidia-
riamente pela Lei complementar 97/99.

52
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
5.5 Omissão de providências para evitar danos
(artigo 199 do CPM)

Crime de omissão também ocorre quando o comandante, de qualquer ní-


vel hierárquico, se esquiva de tomar todas as medidas que estiverem ao seu
alcance para evitar a perda, destruição, ou inutilização de instalações militares,
navio, aeronave, ou qualquer meio de deslocamento terrestre que tenha exclu-
siva finalidade bélica que estejam sob risco. Admite a modalidade culposa com
mudança na natureza e quantidade da pena.

5.6 Omissão de providências para salvar comandados


(artigo 200 do CPM)

Aqui se preserva o dever militar de proteger e guardar a saúde e integridade


de subordinados por parte do chefe militar, bem como do patrimônio público
sob sua responsabilidade. O tipo penal cuida de responsabilizar o comandante
de qualquer nível que abandona seus comandados por ocasião de sinistros
de qualquer espécie; ou que não se utilize de todos os meios e providências
pertinentes para minorar consequências materiais ou salvar as vidas sob sua
responsabilidade. Prevê a modalidade culposa se ficar provado que agiu com
imprudência, imperícia, ou negligência.

5.7 Omissão de socorro (artigo 201 do CPM)

Comete o crime, o comandante (oficial, tendo em vista a pena aplicável) que


deixa de prestar auxílio ou socorro a quem dele precisa, ou a quem o tenha
solicitado, seja embarcação avariada, náufragos, ou vítimas de acidente aéreo,
estando dentro de suas possibilidades fazê-lo, e sem que tenha justificativa
plausível para a omissão.

À primeira vista, se pode inferir que estaria sujeito à norma penal apenas
o militar da Marinha, mas é importante lembrar que existem inúmeras OM
localizadas à beira dos rios no Planalto Central e na Amazônia Legal. Além
disso, muitas vezes, os acidentes aéreos ocorrem na área de responsabilidade
de batalhões, companhias e pelotões de fronteira que, na maioria das vezes,
constituem a única presença estatal na região. Essa modalidade penal prevê a
hipótese de reforma judicial do agente que for condenado.

53
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
5.8 Embriaguez em serviço (artigo 202 do CPM)

É um crime que só pode ser cometido por militar que já está de serviço, ou que
se apresenta para assumi-lo, em ambas as situações em estado de embriaguez.
Serviço aqui deve ser entendido como serviço de escala, ordinário ou extraordi-
nário, interno ou externo, e cuja escalação tenha advindo de documento legal
(boletim interno, aditamentos) e não da mera atividade de expediente diário
nas organizações militares. Pode ser qualquer serviço, mesmo os de manuten-
ção ou faxina, desde que tenha havido a escala prévia.

Leia, a esse respeito, o Nº 110, do Anexo I do RDE, que pre-


vê transgressão disciplinar para o comparecimento a ato de
serviço embriagado (ou nele se embriagar).

Não se deve confundir ato de serviço (formaturas, instrução, exercícios, expedien-


te diário, representação) com serviço de escala. No primeiro caso é transgressão
disciplinar; no segundo, configura crime. Outro ponto fundamental é saber que a
embriaguez pode advir não só da ingestão de bebida alcoólica, mas de qualquer
outra que tenha potencialidade para causar dependência e alterar o estado psico-
físico e neurológico de uma pessoa, tais como drogas e entorpecentes.

A ingestão do produto e o estado de embriaguez têm que ser intencional. Con-


tudo, se o estado de embriaguez ocorre por fatores alheios à vontade do agente,
a conduta é atípica, visto que o tipo penal não admite a modalidade culposa.

Um ponto que pode apresentar-se como determinante na ocorrência do tipo


seria a prática da conduta criminosa por quem é alcoólatra ou viciado em dro-
gas, quando, atualmente, a medicina considera tais estados como doença.

A questão fundamental a ser definida neste espaço é como auferir se determi-


nada pessoa se encontra embriagada. A embriaguez pode ser constatada por
observação, por exame clínico, por testes e por exame de dosagem alcoólica.
Na justiça militar tem sido aceito o exame clínico feito por médico, mesmo que
não seja médico-perito e/ou o depoimento de testemunhas que atestem ter
presenciado o estado de embriaguez.

54
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
5.8.1 Jurisprudência sobre embriaguez em serviço

STM - APELAÇÃO AP
371520117110011 DF 0000037- Data de publicação: 14/02/2013
15.2011.7.11.0011

Ementa: APELAÇÃO. DEFESA. EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO. AUSÊNCIA DE LAUDO


DE DOSAGEM ETÍLICA. O Laudo de dosagem etílica é prescindível, havendo outros
meios para se atestar o estado de embriaguez do acusado. A alegação de que o
militar não mais se encontrava em serviço não é acolhida quando demonstra que
se encontrava cumprindo serviço de Cabo da Guarda e abandonou o serviço antes
da parada diária, quando se dá a passagem do turno de serviço. A conduta de
militar que consome bebida alcoólica, embriagando-se no interior do quartel, não
pode ser considerada insignificante, já que é extremamente perigosa, colocando
em risco a incolumidade física de outros militares e até mesmo a si próprio, vez
que presta serviço armado. Apelo desprovido. Unânime.

Ressalte-se que o STM considerou que se pode provar o estado etílico por outros
meios que não o exame de dosagem alcoólica.

STM - APELAÇÃO AP
107420087030103 RS 0000010- Data de publicação: 06/06/2012
74.2008.7.03.0103

Ementa: EMENTA: APELAÇÃO. EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO. NÃO COMPROVAÇÃO.


RECURSO DEFENSIVO. ABSOLVIÇÃO. PROVIMENTO. Não obstante a gravidade da
conduta de consumir bebida alcoólica no interior do quartel, a norma capitulada
no art. 202 do CPM pune a embriaguez em serviço, e não apenas a ingestão de
álcool em área sujeita à Administração Militar. Na espécie, os laudos periciais não
indicam, com o necessário grau de certeza, se a conduta dos apelantes efetiva-
mente alcançou o estágio da embriaguez e, após a realização de exames clínicos
nos recorrentes, não se vislumbrou o inebriamento em nenhum deles. Ademais,
a prova testemunhal não é uníssona quanto ao aparente estado de embriaguez
dos ex-militares. Diante desse quadro, não resta alternativa senão a incidência do
princípio do in dubio pro reo, corolário do princípio constitucional da presunção
de inocência. Por decorrência lógica, em relação à conduta mais gravosa, consubs-
tanciada na introdução da bebida alcoólica no aquartelamento e no fornecimento
aos companheiros de caserna, restou prejudicada a condenação do autor às penas
do art. 202, c/c o art. 53 ,ambos do CPM , considerando a inocorrência da prática
delituosa atribuída aos demais acusados. Apelação provida, à unanimidade.

Agora, o STM absolve em sede de apelação porque a prova juntada aos autos
(laudos e depoimentos) não foram suficientes para convencimento dos ministros.
E por outro lado, considera atípica a ingestão de bebida alcoólica em área sob a
administração militar que, por sinal, pode configurar transgressão disciplinar (vide
Nr 109 do Anexo I do RDE).

55
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - APELAÇÃO (FO) Apelfo 50557
Data de publicação: 19/05/2009
DF 2007.01.050557-1

Ementa: - APELAÇÃO - CONDENAÇÃO DE MILITAR COMO INCURSO NO ART. 202


DO CPM (EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO) - SUBSTITUIÇÃO DE PENA POR MEDIDA DE
SEGURANÇA - TRATAMENTO AMBULATORIAL. - praça com histórico familiar de
alcoolismo - Exame de sanidade apontou síndrome de dependência - Inconclusivo
quanto à capacidade de entendimento ou de autodeterminação do acusado no
momento da prática do crime. - 2 (dois) anos decorridos entre a sentença e a data
atual, sem a execução da medida de segurança, o que a torna ineficaz. - Provimen-
to ao recurso defensivo. - Decisão por maioria.

Aqui se verifica o posicionamento do STM em desconsiderar a conduta criminosa


e impor medida de segurança, com determinação de tratamento ambulatorial,
tendo em vista histórico familiar de alcoolismo.

5.9 Dormir em serviço (artigo 203 do CPM)

Conhecido como “delito do sono”, o ato de dormir em serviço é um crime de


perigo abstrato, pelo risco que corre determinada instalação ou equipamento
se o responsável por sua vigilância ou operação deixa-se dominar pelo sono.
Não é o sono em si, natural resposta fisiológica do organismo ao cansaço que
se pune, mas o fato do militar, que está de serviço, deixar-se dominar pelo
sono, descurando de seus deveres de alerta e cuidado. Por outro lado, tem
sido recorrente a absolvição daquele que, no serviço de sentinela, dorme em
seu quarto de hora quando, durante o serviço, foi submetido a vários traba-
lhos nos períodos de folga e que deveriam ser utilizados para descanso, tais
como faxina, sessões de ordem unida e treinamentos, conforme decidido pelo
STM em acórdão transcrito a seguir.

O sono que se pune é aquele que ocorre durante a execução de serviços de


escala, como os descritos no tipo penal, e de outros de natureza semelhante,
em que se exige a prontidão de alerta dos sentidos da visão e audição.

56
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Vejamos a jurisprudência:

STF - RECURSO EXTRAORDINÁRIO


PROCED. : AMAZONAS
COM AGRAVO 731.930 (992)

ORIGEM : APCRIM -
481420117120012 - SUPERIOR TRIBU- RELATOR :MIN. LUIZ FUX
NAL MILITAR

“[...] Dormir em serviço. Crime de mera conduta, cuja consumação reside na


própria execução da conduta, segundo a doutrina. Os autos atestam a vontade
livre e consciente de os militares praticarem a conduta típica de dormir, quando em
serviço, consoante o ilícito descrito no art. 203 do CPM. Materialidade, autoria e
culpabilidade comprovadas pela confissão, na fase inquisitorial e em juízo, de um
dos Apelantes, bem como pelas provas testemunhais e pelo documento que atesta
estarem os militares designados para o serviço de sentinela, no dia dos fatos. A
conduta dos Apelantes importou em prejuízo significativo para o dever militar e
colocou em risco a segurança do Quartel, devido ao fato de o posto ter ficado
desguarnecido. O elemento subjetivo do tipo foi evidenciado pelo animus livre e
consciente dos Apelantes ao assumirem o risco de dormir em serviço em vez de
buscarem meios de evitar a sonolência.”

STM - APELAÇÃO AP
925720097070007 PE 0000092- Data de publicação: 16/09/2011
57.2009.7.07.0007

Ementa: APELAÇÃO. DORMIR EM SERVIÇO. DOLO CARACTERIZADO. Dormir em


serviço. Crime de mera conduta, cuja consumação reside na própria execução da
conduta, segundo a doutrina. Os autos atestam a vontade livre e consciente de os
militares praticarem a conduta típica de dormir, quando em serviço, consoante o
ilícito descrito no art. 203 do CPM. Materialidade, autoria e culpabilidade compro-
vadas, pelas confissões, em juízo, dos Apelantes, bem como pelas provas testemu-
nhais e pelo documento que atesta estarem os militares designados para o serviço
de sentinela, no dia dos fatos. A conduta dos Apelantes importou em prejuízo
significativo para o dever militar e colocou em risco a segurança do Quartel, devido
ao fato de vários postos terem ficado desguarnecidos. O elemento subjetivo do
tipo foi evidenciado pelo animus livre e consciente dos Apelantes ao assumirem o
risco de dormir em serviço ao invés de buscarem proporcionar meios de evitar a
sonolência. Apelo desprovido. Decisão unânime.

57
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - APELAÇÃO AP
1052720107030203 RS 0000105- Data de publicação: 13/10/2011
27.2010.7.03.0203

Ementa: APELAÇÃO. DORMIR EM SERVIÇO. AUSÊNCIA DE DOLO. SONO. FENÔ-


MENO FISIOLÓGICO NATURAL. FALTA DE DESCANSO. REFORMA. ABSOLVIÇÃO.
No chamado delito do sono (art. 203 do CPM), conforme a jurisprudência castren-
se, o dolo reside na omissão do militar de serviço em valer-se de todos os meios
possíveis para evitar que adormeça.O militar em serviço de sentinela ou vigia
necessita de tempo para descanso entre um quarto de hora e outro, para execu-
ção de serviços dessa natureza. Não se pode exigir uma conduta diversa do militar
que dorme em serviço após excessivos exercícios físicos. Apelo defensivo provido.
Decisão unânime.

Neste caso o acusado foi absolvido porque fora submetido a exercícios físicos inde-
vidos durante a execução do serviço.

STM - APELAÇÃO (FO) Apelfo 49849


Data de publicação: 16/08/2006
SP 2005.01.049849-4

Ementa: SOLDADO DO EXÉRCITO. ABANDONO DE POSTO. DORMIR EM SERVIÇO.


SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. REFORMA POR ESTA CORTE. PROVIMENTO PARCIAL
AO APELO DO MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR. 1. ABANDONO DE POSTO. Pacífica
a Jurisprudência do STM no sentido de que a Sentinela que dorme em serviço, no
próprio local a que fora destinado, não comete o crime de abandono de posto pre-
visto no artigo 195 do CPM, por não se ausentar do lugar em que estava obrigada
a permanecer. 2. DORMIR EM SERVIÇO. Pratica o crime de “Dormir em Serviço”,
descrito no artigo 203 do CPM, o militar que, estando de plantão ao alojamento
de cabos e soldados de sua subunidade, é encontrado na cama deitado e adorme-
cido, exatamente no horário em que deveria estar vigilante. Provido parcialmente
o apelo do MPM, condenando-se o apelado pelo crime do artigo 203 do CPM.
Decisão majoritária.

Neste caso fica evidente que aquele que dorme em serviço, comete o crime
previsto no artigo 203 do CPM; e não comete abandono de posto, descrito no
artigo 195 do CPM. Por outro lado, aquele que se afasta do posto e é encontrado
dormindo em outro local, comete o crime de abandono de posto (artigo 195 do
CPM), e não o crime de dormir em serviço (artigo 203 do CPM).

58
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
5.10 Exercício de comércio por oficial

Crime que só pode ser cometido por oficial, visto que a mesma conduta confi-
gura apenas transgressão disciplinar para as praças (vide artigo 29 do E-1; e nº
112 do Anexo I do RDE).

Configura o crime o exercício de comércio, fazer parte da administração, ge-


rência, ser sócio, ou participar de sociedade comercial (ou dela ser sócio). Não
configura o delito se o oficial é apenas acionista em sociedade anônima ou em
sociedade por cotas de responsabilidade limitada.

Com a entrada em vigor do novo Código Civil (lei nº 10.406/02), a partir de


2003, com novas denominações para as sociedades em geral, surgiram discus-
sões entre os juristas e nas cortes sobre se o tipo penal restaria insubsistente,
por inadequações de seus elementos descritivos com a nova norma; situação
que até o presente momento não se mostra plenamente esclarecida.

Vejamos a jurisprudência:

STM - APELAÇÃO (FO) Apelfo 49255 RS


Data de publicação: 26/02/2004
2003.01.049255-0

Ementa: EMENTA: APELAÇÃO. EXERCÍCIO DE COMÉRCIO POR OFICIAL. CONDI-


ÇÃO DE SÓCIO-GERENTE. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA REFORMADA. Condição do
Réu de sócio-gerente de sociedades por cotas de responsabilidade limitada é o
bastante para preencher o tipo penal do art. 204 do CPM. Demonstrado que o Réu
exercia atividades típicas de administração, com habitualidade, tornando impositiva
a condenação, “maxime” porque é farto o conjunto probatório e não há qualquer
excludente de ilicitude a amparar sua conduta. Comprovadas autoria e materialida-
de do delito. Apelo ministerial provido para condenar o Réu nas penas do art. 204
do CPM. Unânime.

STM - RECURSO CRIMINAL (FO) Rcrimfo


Data de publicação: 08/03/2007
7315 RJ 2005.01.007315-4

Ementa: Recurso Criminal. Exercício de comércio por oficial. Rejeição da denúncia.


O fundamento da decisão, tendo por base o tipo de objeto social, não se constitui
como elemento primordial a amparar o argumento de atipicidade da conduta,
com o advento do novo Código Civil. A aparente tipicidade da conduta do oficial,
cujo nome consta do contrato social como sócio-gerente de sociedade prestadora
de serviços, e a evidente complexidade em se conceituar e delimitar a abrangência
da expressão “sociedade comercial”, prevista no art. 204 do CPM, por exigirem
um exame aprofundado, impõem o prosseguimento da ação penal para o perfeito
deslinde da questão. Recurso ministerial provido. Decisão unânime.

59
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM – Embargos 1998.01.048005-0-
Data da Publicação: 20/01/1999
AM

Ementa: Atos de comércio praticados por oficial da ativa. Delito comprovado.


Condenação mantida. A compra e venda de veículos, realizadas habitualmente e
com a finalidade de lucro, por oficial da ativa, configura o delito de exercício de
comércio, nos termos do Estatuto Repressivo Castrense. Rejeitados os embargos.
Decisão majoritária.

60
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
6 Insubmissão

Objetivo específico

• Descrever o crime de insubmissão, sua história, controvérsias e análise da


jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal Militar.

O crime de insubmissão remonta aos tempos da Roma antiga. No início, a


conduta que se punia não era para aquele que se furtava à convocação militar,
mas ao indivíduo que, pertencendo a classes excluídas de tal serviço, fraudu-
lentamente e contra as normas em vigor, entrava para o serviço militar. Isso por
que o serviço militar só era permitido a certas classes privilegiadas, tendo em
vista que a passagem pelo serviço militar era condição primária para ser alçado
a funções públicas mais importantes e para obter honrarias.

Quando o cidadão das tribos Durante o Império, com a decadência dos costumes e a desagregação moral
romanas se recusava a atender
dos romanos, muitos já não queriam arriscar a vida nas guerras empreendidas
a uma convocação do côn-
sul para a guerra perdia seus para ampliar ou manter os domínios de Roma, ou se submeter à vida castrense
bens, era “inútil” para a Re- de privações e dificuldades; tendo se acentuado tais ilícitos e a consequente
pública. Era declarado indig-
no de ser considerado cida- venda dos infratores, denominados tenebrios (refratários). Ainda, para se es-
dão de Roma, sendo vendido quivar de tais servidões militares, também era comum a automutilação e a dos
como escravo.
filhos, decepando-se os polegares (ou parte deles), o que impedia o manuseio
da espada e do punhal e impunha a dispensa do serviço militar.

As penas aplicadas eram cruéis e severas, consistindo em castigos corporais, a


declaração de infâmia, a perda de bens e a morte. Com o tempo, o crime se tor-
nou vulgar pela grande quantidade de pessoas que o cometiam, o que levou a
um abrandamento dos castigos, reduzindo-se à imposição de trabalhos pesados.

Então, àquela época, insubmisso era aquele cidadão romano que deixava de
atender ao chamado do cônsul para o serviço militar, seja na paz ou na guerra.
Também era considerado insubmisso aquele que se mutilava (ou aos filhos) ou
tentava o suicídio para se esquivar dos serviços castrenses.

61
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
O Imperador Constantino baixou a primeira lei para a punição de tal crime, a
qual, posteriormente, foi agravada e estendida a quem se mutilasse ou ajudas-
se um insubmisso (BANDEIRA, 1915, p. 323).

No Brasil, o antigo Código Penal da Armada e a lei nº 1.860 de 1908 tratavam


do delito em si, mas também do crime de quem criava ou simulava impedi-
mento físico, ou prestava auxílio a insubmisso. O CPM revogado (DL 6.227/44)
manteve a ideia, cuja redação com poucas e irrelevantes mudanças chegou até
os dias presentes, constando do CPM em vigor, à exceção da pena prevista,
que antes era de detenção e passou a ser de impedimento.

6.1 Descrição do crime de insubmissão

Art. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à incorpo-


ração, dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, apresen-
tando-se ausentar-se antes do ato oficial de incorporação.

A insubmissão é um crime propriamente militar que somente é cometida por


civil, muito embora tenha que estar na condição de militar para ser processa-
do, à exceção de todos os outros, cometidos por militar.

Crimes impropriamente militares são aqueles que, previstos


no livro I da parte especial do CPM, podem ser praticados
indistintamente por militares da ativa, da reserva, reformados
ou civis, desde que se enquadrem em uma das hipóteses do
artigo 9º do CPM.

O jovem brasileiro, no ano em que completar 18 anos, deverá alistar-se na


Junta do Serviço Militar mais próxima de sua residência, recebendo um Certifi-
cado de Alistamento Militar (CAM). Após o alistamento, agora na condição de
conscrito, será submetido ao processo de seleção inicial constante de exame
médico, odontológico e de aptidões, aplicado por uma comissão de seleção
designada para esse fim. Aquele que não se apresenta para a seleção durante
a época prevista para o contingente de sua classe (regula-se pelo ano de nasci-
mento) ou que, tendo-o feito, se ausentar sem a ter completado, será consi-
derado refratário (artigo 24 da LSM). Se o alistado for aprovado em todos os
exames estará apto para a convocação.

62
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Convocação, segundo o artigo 3º, nº 7 do Regulamento da Lei do Serviço Mi-
litar (RLSM), é o “ato pelo qual os brasileiros, após julgados aptos em seleção,
são designados para a incorporação ou matrícula, a fim de prestar o Serviço
Militar, quer inicial, quer sob outra forma ou fase”.

Infere-se deste dispositivo regulamentar que, após a seleção inicial, haverá um


ato de designação para a incorporação. A designação, por sua vez, é o ato
oficial pelo qual o convocado toma ciência da Organização Militar em que de-
verá se apresentar para a incorporação ou matrícula, apondo o seu ciente em
lista apropriada; além do que, faz-se lançamento específico em seu Certificado
de Alistamento Militar.

Desse modo, só importará para a caracterização do crime de insubmissão a


concretização regular do ato de designação, haja vista que se o alistado deixar
de comparecer a qualquer fase da seleção, portanto antes da designação, será
considerado apenas refratário, sendo sua conduta atípica para fins de enqua-
dramento na legislação penal militar.

Todavia, se o convocado tomar ciência da designação, assinando a listagem


própria e não se apresentar no local que lhe for designado; ou, apresentando-
-se, ausentar-se antes do ato oficial de incorporação, cometerá a conduta
delitiva do artigo 183 do CPM (vide artigo 25 da LSM).

O comandante da Unidade da designação, a partir da consumação do crime


de insubmissão, lavrará o competente Termo de Insubmissão, remetendo-o
à Auditoria de jurisdição, para que seja feita a autuação do processo, aguar-
dando, para o seu prosseguimento, a captura ou apresentação voluntária do
insubmisso.

O Termo de Insubmissão tem o caráter de Instrução Provisória (IPI) e sujeita Após a captura ou apresenta-
desde logo o insubmisso à captura (artigo 463 do CPPM). ção voluntária do insubmisso,
este será submetido à inspeção
de saúde e, se julgado apto,
Cabe ressaltar que o insubmisso ficará impedido de sair do quartel até que
será imediatamente incorpo-
haja uma decisão da Justiça Militar, mesmo que seja ele julgado incapaz para rado às fileiras das Forças Ar-
o serviço do Exército. Se decorridos 60 (sessenta) dias de sua captura ou madas e processado, na forma
da lei penal. No entanto, se for
apresentação e o processo ainda não tiver sido encerrado, será colocado em julgado incapaz para o serviço,
liberdade, sem prejuízo da continuidade do processo e julgamento. será isento do processo.

Enquadra-se também no mesmo delito aquele que, dispensado temporaria-


mente da incorporação, deixa de se apresentar no prazo marcado (artigo 183,
§ 1º do CPM), caracterizando um caso assimilado à insubmissão, com a mes-
ma pena prevista para o crime de insubmissão.

63
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
A pena do crime de insubmissão (e para seu caso assimilado) é única e exclusi-
va. Nenhum outro crime descrito no CPM tem a previsão da pena de impedi-
mento, cujos efeitos práticos são idênticos à punição de impedimento discipli-
nar descrita no RDE. Essa pena determina que o condenado tenha o seu direito
de ir e vir restringido aos limites do aquartelamento, porém ele deverá fre-
quentar as instruções, cumprir missões de serviço e até participar das missões
ou exercícios que ocorram fora dos limites do quartel (vide artigo 63 do CPM).

O tipo admite três hipóteses que, se presentes, impõem a diminuição da pena


em 1/3, quais sejam a ignorância (desconhecimento) das implicações e conse-
quências dos diversos atos da convocação para o serviço militar; ou a compre-
ensão equivocada de tais atos quando plenamente desculpáveis; e a apresen-
tação voluntária do insubmisso em até um ano depois de consumado o crime
(artigo 183, §2º do CPM).

6.2 Jurisprudência sobre o crime de insubmissão

6.2.1. Súmulas do STM

Não constituem excludentes da culpabilidade nos cri-


Súmula nº 3 mes de deserção ou insubmissão, alegações de ordem
particular ou familiar desacompanhadas de provas.

O crime de insubmissão, capitulado no art. 183 do


CPM, caracteriza-se quando provado de maneira
inconteste o conhecimento pelo conscrito da data e do
Súmula nº 7 local de sua apresentação para incorporação, através de
documento hábil constante dos autos, A confissão do
indigitado insubmisso deverá ser considerada no quadro
do conjunto probatório (substituiu a Súmula Nº 4).

O desertor sem estabilidade e o insubmisso que, por


apresentação voluntária ou em razão de captura, em
inspeção de saúde, para fins de reinclusão ou incor-
Súmula nº 8
poração, incapazes para o Serviço Militar, podem ser
isentos do processo, após o pronunciamento do repre-
sentante do Ministério Público.

64
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
6.2.2. Acórdãos do STF e STM

STF - RECURSO EM HABEAS CORPUS


Data de publicação: 06/11/1998
RHC 77272 MG

Ementa: I. Defensor Público: a intimação da decisão denegatória de habeas corpus


há de fazer-se ao Defensor Público impetrante - que é parte - e não somente a
outro acaso designado para servir junto ao Tribunal. 2. Crime militar: insubmissão:
falta à matrícula em Tiro de Guerra: inexistência do crime, dada a revogação pelo
C.Pen.Militar de 1969 do art. 25 da Lei do Serviço Militar (L. 4.735/64), de modo
a reduzir a incriminação à falta de apresentação do convocado para incorporação,
mas não para a matrícula.

STM - HABEAS CORPUS HC 33314 MG


Data de publicação: 09/04/1998
1998.01.033314-2

Ementa: HABEAS CORPUS. INSUBMISSÃO. MATRÍCULA. TIRO DE GUERRA. LEGA-


LIDADE. Bem jurídico tutelado pelo art. 183 do CPM é a preservação do serviço
militar. Furta-se à prestação do serviço militar, de igual modo, o convocado que
não se apresenta à incorporação na Organização Militar da Ativa e o que não
se apresenta para a matrícula no Órgão de Formação de Reserva. Não ofende o
princípio constitucional da legalidade a proposição do art. 25 da Lei nº 4375 de
1964, que dispõe sobre a insubmissão do convocado que não se apresenta para a
matrícula em Órgão de Formação de Reserva dentro do prazo marcado. A Lei do
Serviço Militar, embora sancionada na vigência do Código Penal Militar de 1944,
foi, no particular, recepcionada pelo diploma penal de 1969. Há a consumação do
delito do art. 183 quando o convocado não se apresenta para matrícula em Tiro de
Guerra, na data aprazada. Ordem denegada. Unânime.

Como se constata da análise dos acórdãos acima, O STF, por suas Turmas, em pelo
menos três oportunidades, se manifesta no entendimento que a falta de compa-
recimento para matrícula em Tiro de Guerra, por não caracterizar “incorporação”,
não se enquadra nas hipóteses previstas no artigo 183 do CPM, tendo considerado
a conduta atípica penalmente, visto que o parágrafo único do artigo 25 da LSM
faz referência ao artigo (159) do CPM de 1944, já revogado. Opinião da qual o
STM não compartilha, muito embora Lobão (1999, p. 312) se alinhe com a dire-
ção adotada pelo STF.
E surge a pergunta: o que fazer caso ocorra tal situação? Deve-se fazer o que a lei
manda, procedendo nos atos previstos, tais como lavratura do Termo de Insubmis-
são; captura do insubmisso (se possível); comunicação ao Juiz-auditor competente;
submissão à inspeção de saúde e, caso apto para o serviço; inclusão. Não cabe ao
militar analisar se este ou aquele dispositivo legal está ou não em vigor. Se não há
norma específica revogando-o, nem expressa determinação judicial, e nem, tam-
pouco, conflito de natureza constitucional, aplique-se a lei e se aguarda a manifes-
tação de quem de direito (Ministério Público e Justiça Militar).

65
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - HABEAS CORPUS HC
Data de publicação: 24/08/2009
2009010346449 PE 2009.01.034644-9

Ementa: EMENTA: HABEAS CORPUS. PACIENTE PRESO ACUSADO DE INSUBMIS-


SÃO. REVOGAÇÃO DE PRISÃO. ARQUIVAMENTO DE IPI. AUSÊNCIA DE ILEGALI-
DADE. ORDEM DENEGADA. O paciente é médico, portanto pessoa muito bem
esclarecida, assinou a relação de designação, com local e data de apresentação
para prestação do Serviço Militar Inicial e foi orientado sobre a obrigatoriedade do
comparecimento, sob pena de responder por crime de insubmissão. Logo, prima
facie, a conduta descrita representa, em tese, o delito de insubmissão. Havendo
indícios do crime, não configura constrangimento ilegal a instauração da respectiva
Instrução Provisória de Insubmissão. Ausência de ilegalidade a justificar o arquiva-
mento da IPI. Habeas corpus conhecido. Ordem denegada. Unânime.

Não importa a idade ou o momento de vida profissional que experimenta o


agente do delito. Neste caso, um médico, que deve ter sido dispensado de in-
corporação, tendo em vista estar matriculado em faculdade de medicina, sujeito,
portanto, à convocação após formar-se. Foi convocado, tomou ciência da desig-
nação e não compareceu para o início da prestação do Serviço Militar, cometen-
do o crime de insubmissão.

STM - APELAÇÃO (FE) Apelfe 48579


Data de publicação: 23/10/2001
AM 2000.01.048579-3

Ementa: EMENTA: INSUBMISSÃO. DELITO PATENTE “IN CASU”. CIÊNCIA PLENA


DE DATA E LOCAL DE APRESENTAÇÃO. MANTENÇA DE CONDENAÇÃO “A QUO”.
Infringência cristalina do Art. 183 do CPM. Conscrito que, “in casu”, se encontrava
devidamente ciente quanto à data e ao local de apresentação para cumprimento
do Serviço Militar. Hipótese de que trata a Súmula nº 7 do STM. Improvido o cola-
cionado apelo defensivo. Decisão por unanimidade.

STM - APELAÇÃO (FE) Apelfe 48658 DF


Data de publicação: 02/04/2001
2000.01.048658-7

Ementa: INSUBMISSÃO. Apelado assinou a Relação de Designação e Distribuição de


Conscritos, onde consta a data e o local da apresentação, circunstância esta que alia-
da a de não ter-se apresentado até o termo final do prazo estabelecido pelo Órgão
competente do Serviço Militar, configuraram o delito de Insubmissão. As alegações
da Defesa não foram de molde a elidir o crime. Recurso provido. Decisão uniforme.

66
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
STM - APELAÇÃO(FE) Apelfe 46607 RJ
Data de publicação: 05/08/1992
1992.01.046607-1

Ementa: INSUBMISSÃO (art. 183, CPM ). Preliminar. Rejeição. Delito não compro-
vado. Absolvição. 1. Não sendo provada a existência do erro material contra o qual
se insurgiu a defesa, impõe-se a rejeição da preliminar suscitada. 2. O crime de
insubmissão só é tipificado quando provado, de maneira inconteste, que o conscri-
to tinha conhecimento da data e do local de sua apresentação para incorporação
ou matricula e, na data aprazada, deixa de cumprir com seu dever. Inteligência da
súmula numero 04/stm. Rejeitada a preliminar e, no mérito, provido o apelo da
defesa, absolvendo-se o réu da acusação que lhe e feita. Decisão unanime.

Os três acórdãos acima transcritos demonstram que é condição fundamental


para configurar o crime de insubmissão que o convocado tenha ciência completa
do dia e local em que deve se apresentar para a incorporação, caso contrário
inexistirá o crime.

STM - APELAÇÃO (FE) Apelfe 49500


Data de publicação: 25/05/2004
AM 2003.01.049500-4

Ementa: INSUBMISSÃO. INCAPACIDADE DEFINITIVA. Sobrevindo incapacidade


definitiva para o serviço militar, fica insubmisso isento do processo e julgamento, a
teor do art. 464 do CPPM, devendo os autos serem arquivados por falta de condi-
ção de procedibilidade para a persecução penal.

Aqui fica evidente que aquele que comete o crime de insubmissão só pode ser
processado se adquirir a situação de militar, e para isso tem que estar apto para o
serviço, aferida em inspeção de saúde; caso contrário ficará isento do processo e
do julgamento.

STM - HABEAS CORPUS HC 33625 RS


Data de publicação: 13/08/2001
2001.01.033625-7

EMENTA: Habeas Corpus; Insubmissão; Constrangimento ilegal; Concessão da


Ordem. 1. O não comparecimento para participar de Exercício de Mobilização não
configura, nem sequer em tese, o delito recortado no art. 183, do CPM. 2. Hipóte-
se que se caracteriza como falta administrativa, na forma do art. 202, do Decreto
nº 57. 654/66. 3. Termo de Insubmissão e Mandado de Busca e Apreensão Domici-
liar, cuja lavratura e expedição, sem justa causa, constituem constrangimento ilegal
sanável pela via do remédio heróico. 4. Concessão da Ordem. 5. Unânime.

Comete o crime de insubmissão apenas aquele convocado para a prestação do


serviço militar inicial e obrigatório. O reservista (que já prestou o serviço militar)
que não atende ao chamamento para participar de um exercício de mobilização
comete falta administrativa e não crime militar.

67
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - HABEAS CORPUS HC 33370 SP
Data de publicação: 06/10/1998
1998.01.033370-3

Ementa: HABEAS CORPUS. NULIDADE DE TERMO DE INSUBMISSÃO. Não apre-


sentação do conscrito decorreu de força maior, por se encontrar preso em distrito
policial, desde data anterior à designada para apresentação, cujo fato era do
conhecimento do Comandante da Unidade, mesmo antes da lavratura do equivo-
cado Termo de Insubmissão. Embora não se inspire justa causa para a ação penal,
continua o Termo referido a ensejar receio de prisão, por ser o “instrumento legal
autorizador da captura do insubmisso” (artigo 463 § 1º CPPM). Pedido conhecido.
Ordem concedida. Decisão unânime.

6.3 Crimes correlatos contra o serviço militar inicial

São crimes relacionados ao dever da prestação do serviço militar inicial, descri-


tos nos artigos 184 ao 186 do CPM, conforme as situações abaixo:

a. O que cria ou simula incapacidade física que o inabilite para o serviço


militar (artigo 184 do CPM), com pena privativa de liberdade de deten-
ção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

b. O convocado que se deixa substituir na apresentação para a seleção


inicial, ou na inspeção de saúde; e quem o substitui nestes atos (artigo
185 do CPM), com a mesma pena descrita acima.

c. Aquele que dá asilo a convocado; ou o toma a seu serviço; ou propor-


ciona-lhe transporte ou meio que obste ou dificulte a incorporação,
desde que saiba ou haja razão para saber que o beneficiado cometeu
qualquer dos crimes descritos nos artigos 183 a 185 do CPM; com pena
de 3 (três) meses a 1 (um) ano de detenção; sendo isento de pena se for
parente ascendente ou descendente do insubmisso, sua esposa ou irmão
(artigo 186 do CPM).

68
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
7 Deserção

Objetivo específico

• Descrever o crime de deserção, sua história, controvérsias e análise da ju-


risprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal Militar.

Na Roma antiga se distinguia O crime de deserção remonta aos tempos da Roma antiga. Caracterizava o
duas figuras: o emansor, que
delito aquele que se ausentava do campo, visto que as tropas de Roma sempre
se ausentava, mesmo que por
largo lapso temporal, mas que estavam acampadas, nunca adentrando os muros da cidade.
retornava por livre e espontâ-
nea vontade e o desertor, que A pena imposta ao desertor era a capital; e a tentativa de desertar tinha a
se ausentava, mas só retornava
mesma gravidade de sua consumação. Já a pena a ser imposta ao ausente
reconduzido à força.
era menor, visto que não se ausentava com espírito definitivo, sem o dolo ou
ânimo de não voltar ao cumprimento de seus deveres castrenses.

7.1. Crime de deserção

O delito vem descrito no artigo 187 e casos semelhantes no artigo 188 do


CPM, verbis.

Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade


em que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por
mais de oito dias:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a


pena é agravada.

Casos assimilados

Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que:

I - não se apresenta no lugar designado, dentro de oito


dias, findo o prazo de trânsito ou férias;

II - deixa de se apresentar a autoridade competente,


dentro do prazo de oito dias, contados daquele em que

69
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
termina ou é cassada a licença ou agregação ou em que é
declarado o estado de sítio ou de guerra;

III - tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, den-


tro do prazo de oito dias;

IV - consegue exclusão do serviço ativo ou situação de


inatividade, criando ou simulando incapacidade.

7.1.1. O crime de deserção propriamente dito (artigo 187 do CPM)

Esse crime se tipifica quando o militar se ausentar, sem licença, por mais de 8
(oito) dias, da Unidade onde serve ou do lugar em que deveria permanecer.

O prazo de 8 (oito) dias de ausência antes da consumação do crime é deno-


minado “prazo de graça”. A falta injustificada do militar durante o período do
prazo de graça é considerada mera transgressão disciplinar e sancionada à luz
do RDE. Nesse período, não há que se falar em crime tentado, pois a deserção
é um crime de mera conduta, que se consuma após o decurso do referido
prazo; e de efeitos permanentes, porque autoriza a prisão do desertor sem a
necessidade de mandado judicial (artigo 452 do CPPM).

O início do “prazo de graça” é contado a partir da zero hora


do dia seguinte em que se verificar a ausência, de acordo
com o artigo 451, § 1º, do CPPM.

Considere o exemplo hipotético a seguir, de um militar que falta ao quartel no


dia 2 (dois) de um mês qualquer.

1 Falta 2 3 4 5 6 7
início
contagem
prazo
8 9 10 11 12 13 14
extrapolou
o “prazo de
graça”

15 16 17 18 19 20 21

22 23 24 25 26 27 28

29 30

70
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Em relação à esse exemplo, a cronologia da situação em relação ao crime de
deserção seguiria a seguinte dinâmica:

a) O militar faltou ao expediente do dia 2 (dois).

b) À zero hora do dia 3 (três) iniciou-se a contagem do prazo de graça.

c) À zero hora do dia 4 (quatro) completou vinte e quatro horas de ausência.


Durante o expediente do dia 4 (quatro), o Cmt SU ou autoridade competente deu
sua Parte de Ausência, por estar o militar faltando ao quartel por mais de 24 horas
e sem justificativa.

d) O Cmt OM mandou publicar a Parte de Ausência em boletim interno e determi-


nou que fossem inventariados os bens públicos e privados deixados pelo ausente
(normalmente feito pelo Cmt SU, um oficial subalterno e o Encarregado de Mate-
rial da SU – vide artigo 456 do CPPM).

e) A contagem de tempo seguiu seu curso e quando a extensão temporal da au-


sência ultrapassou a zero hora do dia 11 (onze), o ausente extrapolou o “prazo de
graça”, consumando o crime de deserção.

f) Durante o expediente do dia 11 (onze) o Cmt SU deu sua Parte de Deserção,


denominada Parte Acusatória, que teve por anexo o Inventário dos Bens deixados
pelo desertor, e a encaminhou ao Cmt OM.

g) O Cmt OM mandou lavrar o respectivo Termo de Deserção e mandou que


fossem publicados em boletim interno a Parte Acusatória do Cmt SU e o Termo
de Deserção. Do mesmo boletim interno constou a agregação do desertor (se for
oficial ou praça com estabilidade); ou a exclusão do estado efetivo da OM e do
serviço ativo (se praça especial ou praça sem estabilidade).

h) Em seguida, todos os documentos foram remetidos à Auditoria competente


para as providências processuais decorrentes.

O prazo de oito dias conta-se corrido e os procedimentos administrativos vin-


culados são praticados em dia com expediente.

O Termo de Deserção tem o caráter de Instrução Provisória de Deserção (IPD) e


sujeita desde logo o desertor à prisão. Os tópicos processuais relativos à deser-
ção são encontrados entre os artigos 451 ao 457 do CPPM.

Se o militar, preso ou apresentado voluntariamente, for oficial ou praça com


estabilidade ocorrerá sua reversão. Se for praça especial ou sem estabilidade
será submetido à inspeção de saúde e, se julgado apto, será reincluído. Em
qualquer desses casos o Sistema Judiciário Militar terá um prazo de 60 dias
para proceder ao julgamento, findo os quais o desertor será posto em liberda-
de, sem prejuízo para o transcurso regular do processo.

71
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
Cabe destacar que a condição de militar da ativa é pressuposto essencial para
que o desertor (também o insubmisso) seja julgado. Por isso, quando preso ou
apresentado voluntariamente, a primeira medida administrativa que se toma
é a submissão do suposto infrator a uma inspeção de saúde (somente para
praças especiais ou sem estabilidade), para que, se julgado apto, seja incluído
no estado efetivo da OM.

7.1.2. Casos assimilados (artigo 188 do CPM)

As condutas descritas no artigo 188 do CPM são consideradas similares ao


crime de deserção e impõem, também, um prazo de 8 (oito) dias para o seu
cumprimento (exceto na última hipótese) e, consequentemente, as mesmas
penas. São elas:

a. Deixar de se apresentar ao final do período de trânsito, de férias, ou por


término de cumprimento de pena no local que lhe foi designado.

b. Deixar de se apresentar à autoridade competente quando do término


(ou cassação) de licença ou de agregação; ou por ocasião de estado de
sítio ou estado de guerra.

c. Conseguir a exclusão do serviço ativo ou a passagem para a inatividade


por ter simulado ou criado incapacidade; crime que se consuma sem
prazo e a partir da obtenção da meta criminosa.

7.1.3. Minorante e majorante nos crimes de deserção

O artigo 189 do CPM prevê causa minorante de pena para os crimes do arti-
go 187 e 188, se o agente se apresenta voluntariamente em até 8 (oito) dias
após a consumação do crime, diminuindo-a da metade; e a diminuição de
1/3 (um terço) da pena se a apresentação se dá entre o nono e o sexagésimo
dia após a consumação.

Por outro lado, se o crime ocorreu em OM situada em fronteira ou em outro


país, a pena é aumentada (majorante) em 1/3 (um terço).

• Atenuante especial ou minorante (artigo 187, inciso I, do CPM) – essa


atenuante poderá ocorrer de duas formas:

1. Quando o agente se apresentar voluntariamente em até 8 (oito) dias


após a consumação, a pena poderá ser diminuída de 1/2 (metade);

2. Quando o agente se apresentar voluntariamente entre 8 (oito) e 60

72
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
(sessenta) dias da consumação, a pena poderá ser diminuída de 1/3
(um terço).

• Agravante especial (artigo 187, inciso II, do CPM) – a pena será majo-
rada em 1/3 (um terço), quando o agente praticar o crime em unidade
estacionada na fronteira ou em país estrangeiro.

7.2 Crimes correlatos ao crime de deserção

Os crimes a seguir configuram-se como correlatos ao crime de deserção, po-


rém com suas particularidades.

7.2.1. Deserção especial (artigo 190 do CPM)

A deserção especial ou instantânea ocorrerá quando o militar deixar de se


apresentar no momento da partida de navio ou aeronave da qual é tripulante;
ou quando ocorrer o deslocamento da Unidade ou Força em que serve.

A pena variará, aumentando, conforme o tempo que o agente do crime levar


para se apresentar à autoridade militar do local, ou, na falta de autoridade
militar, à autoridade policial (§§ 1º; 2º; e 2º-A do artigo 190 do CPM).

Por outro lado, se o agente do crime é sargento ou subtenente, a pena será


majorada em 1/3 (um terço) e, se for oficial, a pena aumentará em 1/2 (meta-
de), conforme dispõe o §3º do artigo 190 do CPM.

7.2.2. Concerto para deserção (artigo 191 do CPM)

O concerto para a deserção é a combinação ou ajuste para a prática de deser-


ção. Não necessita, para sua consumação, que ocorra a deserção, bastando para
configurá-la apenas que os envolvidos combinem a sua prática, com pena de de-
tenção entre 3 (três) meses e 1 (um) ano. Se, contudo, a deserção consumar-se,
tem-se o crime em sua forma complexa, com graves danos para o serviço e para
com os deveres militares, e a pena será de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

7.2.3. Deserção por evasão ou fuga (artigo 192 do CPM)

Esta modalidade ocorre quando o agente do crime, que está recolhido como
preso à disposição da justiça foge de escolta que o conduz; ou do recinto
onde se encontra recolhido. Também configura o crime aquele que se evade

73
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
em seguida à prática de outro crime, com a finalidade de se furtar à prisão,
ficando ausente por mais de 8 (oito) dias.

7.2.4. Favorecimento a desertor (artigo 193 do CPM)

Nos mesmos moldes do artigo 186 do CPM, a norma penal militar prevê como
crime a conduta de quem favorece de algum modo a desertor, quer dando-lhe
guarida, emprego, meio de transporte ou esconderijo, desde que saiba (ou
deva saber) que o favorecido tenha cometido qualquer dos crimes descritos
nos artigos 187, 190, 191 e 192. Fica isento de pena somente aquele que,
tendo dado auxílio a desertor de alguma forma, tenha com ele laços de paren-
tesco na linha reta (ascendente ou descendente); ou é seu cônjuge ou irmão.

7.2.5. Omissão de oficial (artigo 194 do CPM)

Comete este crime o oficial que tem entre seus comandados um desertor, sabe
desta situação, e não toma nenhuma medida legal a respeito, conforme o
artigo 243 do CPPM.

Nos dias presentes, com as ferramentas que a informática disponibiliza e com


as exigências formais para a incorporação em uma OM, julgamos praticamente
inviável que determinado desertor, caso tenha cometido o crime em outro local
e OM, consiga ser incorporado em uma nova Unidade, salvo se usar docu-
mento falso. Constituiria em cumplicidade e, apesar de improvável, é possível.
Interessante que a conduta só é reprovável em relação ao oficial, considerando
atípica para as praças.

7.3 Jurisprudência

7.3.1. Súmulas do STM

Não constituem excludentes de culpabilidade, nos


Súmula Nº 3 crimes de deserção e insubmissão, alegações de ordem
particular ou familiar desacompanhadas de provas.

O desertor sem estabilidade e o insubmisso que, por


apresentação voluntária ou em razão de captura,
forem julgados em inspeção de saúde, para fins de
Súmula Nº 8
reinclusão ou incorporação, incapazes para o Serviço
Militar, podem ser isentos do processo, após o pronun-
ciamento do representante do Ministério Público.

74
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Não se concede liberdade provisória ao preso por de-
Súmula Nº 10 serção, antes de decorrido o prazo previsto no artigo
453 do CPPM.

A praça sem estabilidade não pode ser denunciada por


deserção sem ter readquirido o ‘status’ de militar, con-
Súmula Nº 12 dição de procedibilidade para a ‘persecutio criminis’,
através da reinclusão. Para a praça estável, a condição
de procedibilidade é a reversão ao serviço ativo.

7.3.2. Acórdãos do STF e STM

STF - HABEAS CORPUS HC 90838 SP Data de publicação: 21/05/2009

Ementa: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL MILITAR. CRIME DESERÇÃO. PERDA


DA CONDIÇÃO DE MILITAR ANTES DO JULGAMENTO DA APELAÇÃO PELO SUPE-
RIOR TRIBUNAL MILITAR. AUSÊNCIA DE CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE. IMPOS-
SIBILIDADE DE SE PROSSEGUIR NA EXECUÇÃO DA PENA. 1. Em razão da ausência
de condição de procedibilidade, o art. 457, § 2º, do Código de Processo Penal
Militar e a Súmula n. 8 do Superior Tribunal Militar impedem a execução da pena
imposta ao réu incapaz para o serviço ativo do Exército, que não detinha a condição
de militar no ato de julgamento do recurso de apelação. 2. Ordem concedida.

O acusado ou o condenado nos crimes de insubmissão ou deserção, que deixa


de ter a condição de permanecer no serviço por incapacidade física, não pode ser
submetido ao processo de julgamento, ou mesmo cumprir a pena, tendo em vista
que a condição de militar é imprescindível em todas as fases do processo, e até
mesmo durante o cumprimento da pena.

STF - HABEAS CORPUS HC 92990 RS Data de publicação: 30/04/2008

Ementa: EMENTA Habeas corpus. Penal militar e processual penal militar. Crime de
deserção. Erro na contagem do prazo para a consumação do crime de deserção.
Possibilidade de renovação do procedimento administrativo militar. Constrangi-
mento ilegal não configurado. Precedente. Ordem denegada. 1. Tendo o paciente
permanecido ausente por período além do dia em que se consumou o crime de
deserção, justifica-se a ressalva feita no acórdão questionado, que, ao trancar a
ação penal por falta de justa causa, possibilitou à Justiça de 1º grau renovar o pro-
cedimento administrativo militar para punição dele, levando-se em conta a data
correta da consumação. Seria diferente o cenário se tivesse o paciente retornado
às suas funções antes de consumado crime. 2. Ordem denegada.

75
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STF - HABEAS CORPUS HC 87213 RS Data de publicação: 06/11/2006

Ementa: HABEAS CORPUS. CRIME MILITAR. DESERÇÃO. ARTIGO 187 DO CÓDIGO


PENAL MILITAR. PRAZO DE GRAÇA. CONTAGEM. Não procede o argumento de
ausência de justa causa para a lavratura do termo de deserção do paciente, uma
vez esclarecida a correta contagem do prazo de graça, realizada, a princípio, equi-
vocadamente nos autos da instrução provisória de deserção. Ordem denegada.

Muito embora o chefe militar deva adotar todas as cautelas na montagem admi-
nistrativa do processo de deserção, a contagem equivocada não impede que o
agente do crime seja processado e julgado, desde que retificadas as irregularida-
des, perfeitamente sanáveis em sede administrativa.

STM - APELAÇÃO AP 706520117090009


Data de publicação: 02/10/2012
MS 0000070-65.2011.7.09.0009

Ementa: EMENTA: DESERÇÃO. ESTADO DE NECESSIDADE. ALEGAÇÃO DE OR-


DEM PARTICULAR. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DE ATENUANTES. 1.
Comete o crime de deserção o militar que se ausenta, sem licença, da unidade em
que serve ou do lugar que deve permanecer, por mais de oito dias. 2. A simples
alegação de ordem pessoal, desacompanhada de provas, é incapaz de afastar a
condenação no crime de Deserção. Incidência da Súmula nº 3 desta Corte. 3. Im-
possibilidade de reconhecimento de atenuantes genéricas para fins de aplicação da
pena aquém do mínimo legal. Inteligência da Súmula nº 231/STJ e Precedentes do
STF. Recurso conhecido e não provido. Decisão unânime.

STM - APELAÇÃO AP 518720117010201


Data de publicação: 06/06/2013
RJ 0000051-87.2011.7.01.0201 (STM)

Ementa: APELAÇÃO. DESERÇÃO. ARTIGO 187 DO CPM. O Apelante faltou ao


quartel desde a revista do recolher do dia 09 de fevereiro 2011 e, completados
os 08 dias de ausência que a lei estabelece para a consumação do crime capitula-
do no artigo 187 do CPM, foi lavrado, em 18 de fevereiro de 2011, o respectivo
Termo de Deserção. A exclusão do Serviço Ativo da Força Aérea Brasileira ocorreu
em 28 de fevereiro de 2011. Capturado em 05 de abril de 2011 e submetido à
inspeção de saúde, foi considerado apto para o serviço militar e, consequente-
mente, reincluído às fileiras da OM. Demonstrada nos autos de forma inconteste a
configuração do fato típico, antijurídico e culpável, em face da conduta voluntária
do Apelante, descrita no artigo 187 do CPM. Não há violação dos princípios cons-
titucionais da proporcionalidade, da razoabilidade e da individualização da pena,
em face da aplicabilidade do artigo 88, II, a, do CPM. Precedentes do STM e STF.
Negado provimento ao recurso de Apelação. Unanimidade.

Exemplo de contagem do prazo para consumação da deserção.

76
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
STM - APELAÇÃO (FE) Apelfe 50377 RJ
Data de publicação: 25/04/2007
2006.01.050377-5

Ementa: DESERÇÃO. SOLDADO DO EXÉRCITO. LIBERDADE PROVISÓRIA CONCEDI-


DA ANTES DE EXAURIDO O PRAZO DO ARTIGO 453 DO CPPM. VEDAÇÃO LEGAL.
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA RECORRIDA. 1. “Não se concede
liberdade provisória a preso por deserção antes de decorrido o prazo previsto no
art. 453 do CPPM” (Súmula nº 10/STM). 2. A concessão de liberdade provisória a
desertor somente é admitida quando o mesmo não for julgado dentro do prazo de
60 dias depois da prisão, salvo se tiver dado causa ao retardamento do processo
(artigo 453 do CPPM ). 3. A prisão processual, aplicada ao desertor, é medida previs-
ta não só na legislação processual penal militar, mas na própria Constituição Federal
(artigo 5º, inciso LXI) que excepcionou a prisão nos casos de crime propriamente
militar definido em lei, como é a hipótese da deserção. Precedente do STF: HC nº
84. 330-1/RJ. 4. Restando o crime de deserção caracterizado, provado e confessado,
inexistindo, em favor do réu, qualquer causa excludente de culpabilidade e/ou de
ilicitude, não há que se falar em absolvição. É o caso dos autos. Negado provimento
ao apelo da Defesa, para manter a Sentença “a quo”. Decisão unânime.

STM - APELAÇÃO AP 1155020097010401


Data de publicação: 23/03/2011
RJ 0000115-50.2009.7.01.0401

Ementa: DESERÇÃO. PRELIMINAR DE NULIDADE. ERRO NA PUBLICAÇÃO DO ATO


DE AGREGAÇÃO. INCOMPATIBILIDADE DE DATAS. INÍCIO DA AGREGAÇÃO COM-
PUTADO NO PERÍODO DE GRAÇA. INOBSERVÂNCIA DE REGRA PROCESSUAL (ART.
456, § 4º). AUSÊNCIA DE CONFIGURAÇÃO DO CRIME MILITAR. O Boletim Interno
Reservado Especial nº 15, da Companhia de Defesa Química, Biológica e Nuclear,
de 21 de agosto de 2009, traz a publicação da Agregação do desertor datada de
10 de setembro de 2009. Além da estranheza da publicação de ato futuro, verifica-
-se ter o desertor mantido o status de militar em todo o período de ausência. Outro
erro constatado, considerado de maior gravidade, foi o termo inicial do período de
agregação lançado na Portaria, ao considerar a consumação do delito em 12 de
agosto de 2009. Segundo o Termo de Deserção, o militar passou a ausentar-se do
quartel em 4 de agosto de 2009, iniciando-se a contagem do período de graça a
partir da zero hora do dia imediatamente seguinte, culminando na consumação o
delito em 13 de agosto de 2009, data que deveria coincidir com a da publicação
do ato de agregação do militar, e não a do dia 12, como consta da Portaria nº 99
-DCEM, impossibilitando a consumação do delito. Acolhida a preliminar para anular
o feito, nos termos do inc. IV do art. 500 do CPPM, com o consequente arquiva-
mento.Decisão unânime.

Aqui se constata o quanto se torna prejudicial para a aplicação da lei penal militar
a inobservância e o desconhecimento por parte de integrantes da administração
militar do correto manejo dos atos administrativos que, cometendo vários equívo-
cos no processo de um crime de deserção, frustram a pretensão punitiva do Esta-
do, ensejando o arquivamento de um determinado feito perante a Justiça Militar.

77
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - APELAÇÃO (FE) Apelfe 49970 DF
Data de publicação: 03/10/2005
2005.01.049970-0

Ementa: Apelação. Deserção (CPM, art. 188). Militar que após o término de suas
férias, não retorna ao Quartel, deixando transcorrer o prazo previsto em lei para
que se consume o crime de deserção. Alegação de que a ausência foi motivada por
dificuldades financeiras. Embora tenham sido deferidos vários pleitos para apresen-
tação de prova documental, nenhuma providência foi efetivada pela Defesa. De
acordo com o enunciado da Súmula 3/STM, meras alegações de ordem particular
desacompanhadas de provas não têm o condão de excluir a culpabilidade do acu-
sado de deserção. Apelo improvido. Decisão unânime.

Neste caso o crime de deserção ocorreu porque o agente do crime não retornou
ao serviço após o término do período regulamentar de férias, tendo permanecido
ausente por mais de 8 (oito) dias.

STM – HABEAS CORPUS (HC)


Data da publicação: 19/12/2005
2005.01.034118-8

Ementa: ‘Habeas Corpus’. Deserção. A ameaça de prisão que recai sobre o pa-
ciente não decorre de ilegalidade ou abuso de poder, mas de termo de deserção
desprovido de vício. A falta de apresentação do paciente, após o término e não
revogação do período de Licença para Tratamento de Saúde (LTS) própria, mesmo
que ainda perdure a necessidade de tratamento médico, não elide a consumação
do delito de deserção nem invalida o termo de deserção lavrado. Ordem denega-
da. Decisão por maioria.

78
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
8 Crimes contra o patrimônio

Objetivo específico

• Descrever os crimes contra o patrimônio que existem somente no CPM.

Os crimes contra o patrimônio descritos no Título V, Livro I, Parte Especial do


CPM (artigo 240 ao 267) são, em sua imensa maioria, os mesmos que cons-
tam do Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/40) e outras leis penais. E se não
são idênticos em sua totalidade, pois diferem em aspectos irrelevantes, quer
quando impõem a condição de militar para o sujeito ativo do delito; quer
quando ocorrem em local sob a administração militar; ou contra o patrimônio
sob a administração militar. Contudo, em ambos os Códigos (CPM e CP), há a
proteção de bens jurídicos de mesma natureza, quando não idênticos. Sendo
assim, são todos crimes impropriamente militares, porque não são exclusivos
da profissão militar, ou porque podem ser cometidos, muitas vezes, também
por civis. Vejamos os crimes contra o patrimônio que só têm previsão no CPM.

8.1 Furto de uso (artigo 241 do CPM)

Crime impropriamente militar que se configura quando alguém se utiliza de um


bem móvel que não é seu, sem a autorização e ciência do proprietário, mas com
ânimo de uso temporário e com a prévia intenção de devolução após a utilização.

Para que se caracterize o crime é necessário que a coisa mo-


mentaneamente subtraída seja devolvida, após sua utilização,
no mesmo local de onde fora retirada e nas mesmas condições
em que estava antes da subtração utilitária; vale dizer, sem
nenhum dano ou prejuízo.

79
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
O tipo prevê circunstâncias majorantes, em que a pena será aumentada de 1/2
(metade) se o objeto usado é veículo motorizado (qualquer tipo); ou aumento
de 1/3 (um terço) se for animal de montaria (de sela), ou de tração (de tiro), po-
dendo ser qualquer tipo de animal que se utilize para uma ou outra finalidade.

8.2 Chantagem (artigo 245 do CPM)

Crime impropriamente militar, visto que não traz exigibilidade de autoria ne-
cessária, podendo ser cometido por qualquer pessoa.

O tipo visa proteger o patrimônio, a liberdade individual das pessoas e sua


honra objetiva (ou de pessoa a que tem afeição). Para realização do tipo não
importa se, de fato, ocorre indevida vantagem econômica, visto que mera
tentativa de obtê-la aperfeiçoa sua consumação. Difere da extorsão (artigo 243
do CPM) porque naquele crime ocorre violência ou ameaça de violência e na
chantagem (artigo 245 do CPM) ocorre a ameaça de revelação de fato desa-
bonador. Cabe lembrar que o conceito de reputação diz respeito ao juízo que
outras pessoas (ou grupo social) fazem de alguém.

O parágrafo único traz uma causa especial de aumento de pena (majorante)


caso a ameaça seja de abalar a reputação por meio da imprensa escrita, tele-
visiva ou falada. O quantum do aumento será entre 1/5 (um quinto) e 1/3 (um
terço), conforme o artigo 73 do CPM.

O contido no artigo 245 do CPM não abrange o crime de chantagem, visto


que contempla apenas os crimes cometidos com violência, o que não é o caso
da chantagem.

8.3 Dano simples (artigo 259 do CPM)

Este tipo penal tem a mesma previsão no CP, no entanto, com o acréscimo de
um verbo, qual seja o fazer desaparecer, que não consta no artigo 163 do CP.
Os demais núcleos são idênticos. Trata-se de crime impropriamente militar, no
qual qualquer pessoa pode cometê-lo.

Cuidaremos apenas da hipótese do fazer desaparecer, que significa sumir com o


objeto sem que, contudo, importe em destruição, inutilização ou deterioração.

80
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Desaparecer significa sumir das vistas e das possibilidades de se saber onde se
encontra. Aproveitando o exemplo de Coimbra e Streifinger (2012), se alguém,
dolosamente, derrama ouro em pó alheio em alto-mar, o ouro em questão não
foi nem destruído, tampouco inutilizado ou mesmo deteriorado, mas, certa-
mente, nunca mais será recuperado em sua totalidade, prejudicando, assim, o
patrimônio de alguém.

O tipo prevê uma qualificadora. Se o bem danificado for público, ocorrerá uma
exasperação na pena a ser aplicada.

O artigo 260 do CPM contempla a figura do dano atenuado. Quando a coisa


danificada for de pequeno valor; o agente do crime é primário; ou repara o
dano provocado antes de instaurada a ação penal (arrependimento posterior).
Nesses casos o juiz poderá atenuar a pena ou considerá-la mera transgressão
disciplinar. Entretanto, é difícil delimitar o que seria “pequeno valor”, já que al-
guns juristas entendem que a CF/88 (artigo 7º, IV) veda a utilização do salário-
-mínimo como parâmetro para qualquer fim.

A dificuldade de definir o que seria “pequeno valor” tem leva-


do alguns juízes, que não são poucos, a extrapolar os limites
dos 10% relativos ao maior salário-mínimo vigente no país.
Assim, a limitação da adoção do princípio da insignificância
ficaria ao juízo discricionário do magistrado.

Por outro lado, o artigo 261 do CPM prevê o dano qualificado, com aplicação
de pena mais gravosa para os casos de dano praticados com violência, grave
ameaça, emprego de substância inflamável, substância explosiva, por motivo
egoístico ou com muito prejuízo. Nesses casos, se houver lesão corporal ou mor-
te em função da violência praticada, será aplicada, também, e cumulativamente,
a pena de violência contra a pessoa (lesão corporal ou morte). Por outro lado,
se o dano foi praticado sem prática de violência ou ameaça contra pessoas,
mas, mesmo assim, vier a ocorrer lesão ou morte, ocorrerá o concurso formal de
crimes, com resultados em tudo semelhantes quanto à pena final unificada.

81
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
8.4 Outros crimes de dano

O CPM ainda prevê outras hipóteses para o crime de dano, que importam em
variação das penas, conforme os bens jurídicos danificados.

8.4.1. Dano específico (artigo 262 ao 264 do CPM)

O dano será específico quando:

a. For causado em material ou aparelhamento de guerra ou de utilidade


militar.

b. Causar perda, destruição, inutilização, encalhe, colisão, alagamento,


ou avaria em embarcação de guerra ou mercante, que esteja a serviço
de força militar.

c. For praticado em aeronave, hangar, depósito, pista ou instalações de


campo de aviação, engenho de guerra motomecanizado, viatura em
comboio militar, arsenal, dique, doca, armazém, quartel, alojamento ou
em qualquer outra instalação militar.

d. For praticado em estabelecimento militar sob regime industrial, ou cen-


tro industrial a serviço de construção ou fabricação militar.

8.4.2. Dano assimilado (artigo 265 do CPM)

Considera-se como dano assimilado o fato de fazer desaparecer, consumir ou


extraviar combustível, armamento, munição, peças de equipamento de navio
ou aeronave ou de engenho de guerra motomecanizado.

8.4.3. Dano culposo (artigo 266 do CPM)

Esta modalidade de dano caracteriza uma conduta criminosa propriamente


militar, porque só prevista no CPM e só se aplica aos delitos previstos nos arti-
gos 262 ao 265 do CPM, com penas alternativas para praças e oficiais; e com
previsão de concurso de crimes nos casos de lesão corporal ou morte culposas.

8.5. Usura pecuniária (artigo 267 do CPM)

Trata-se de crime impropriamente militar, que se configura quando uma pes-


soa, abusando da necessidade, falta de experiência ou imaturidade da vítima,
empresta-lhe quantia em dinheiro, mediante cobrança abusiva de juros. Esse

82
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
crime pode ter como agente ativo e passivo qualquer pessoa, civil ou militar.
Para saber se o crime é da alçada da Justiça Militar, deve-se inquirir o enqua-
dramento nos incisos do artigo 9º do CPM.

Delimitar qual taxa de juros pode ser considerada abusiva é um problema que
tem suscitado discussão na esfera judicial, tendo em vista lacuna de norma le-
gal estipulando a respeito. Por vezes, o [egrégio] STM tem se valido do artigo Egrégio: aquilo ou
aquele que inspira grande
161, §1º do Código Tributário Nacional, que prevê a taxa de 1% (um por cen-
admiração.
to) ao mês; por outra, a taxa básica do Banco Central (SELIC), que varia confor-
me os humores da política econômica. O certo é que a norma está viva e tem
sido aplicada, particularmente quando militares ou civis realizam empréstimos
a juros extorsivos a outros militares ou civis (servidores).

O §1º do artigo, sob exame, traz hipótese de pouca utilidade com o advento A taxa SELIC é o índice que
rege as taxas de juros cobradas
dos instrumentos de pagamento eletrônico e via agência bancária. Em tempos
pelos bancos e instituições de
idos, quando os pagamentos eram feitos em espécie e por meio dos tesourei- crédito do mercado no Brasil.
ros das OM, seria plenamente ativo. É uma taxa básica utilizada
como parâmetro de referên-
cia pela política monetária do
O §2º do artigo 267 impõe um agravamento da pena (vide artigo 73 do CPM)
Banco Central do Brasil.
caso o agente ativo do crime seja superior hierárquico da vítima; ou servidor
civil que atue no sistema de pagamento de pessoal da OM.

83
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
9 Crimes contra
a incolumidade pública

Objetivo específico

• Descrever os crimes contra a incolumidade pública que existem


somente no CPM.

Neste assunto se destacam os crimes de perigo que atentam contra a inte-


gridade de pessoas e coisas; ou mesmo daqueles que ofendem tal integrida-
de. São crimes que se consumam pelo simples fato de colocarem em risco a
Incólume: seguro, ileso [incolumidade] das pessoas, mesmo que nada de grave venha a ocorrer. Se
ou inalterado. Podemos atri-
houver lesão corporal, morte ou dano patrimonial haverá um novo aumento
buir o estado de se estar em
segurança e sem perigo. de patamar da pena; ou o agravamento da pena prevista na conduta simples.

São situações que envolvem o uso de combustíveis, explosivos de qualquer


ordem, ou mesmo substâncias químicas, ou aparatos fumígenos e de gases.

Esses crimes envolvem situações que podem ocorrer normalmen-


te nas atividades militares diárias, seja na instrução, em exercí-
cios, etc. Portanto, essas situações devem servir de alerta para
que sejam observadas, rigorosamente, as regras de segurança e
de manuseio previstas nos manuais técnicos e de instrução.

9.1. Crimes de perigo comum

Vamos abordar a seguir apenas aqueles crimes que existem, exclusivamente,


no CPM.

9.1.1. Abuso de radiação (artigo 271 do CPM)

Crime militar impróprio, só estando previsto no CPM e que qualquer pessoa


pode ser agente ativo do crime. Para configurar a conduta ilícita é preciso que

85
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
o fato ocorra em área sob administração militar. Trata de manuseio doloso ou
culposo de substância radioativa (ou de provocar radiação) que venha a expor
a perigo a vida ou a integridade física de pessoas.

9.1.2. Fatos que expõem a perigo aparelhamento militar (artigo 276


do CPM)

É um crime impropriamente militar que, para se aperfeiçoar exige a configura-


ção de um dos crimes de perigo, descritos nos artigos 268 ao 275 do CPM.

Sendo assim, esse tipo penal trata da exposição a perigo de instalações, navio,
aeronave, material ou engenho de guerra, mesmo que ainda estejam em
construção ou fabricação, mas que se destinam às Forças Armadas ou são
usados por estas; pelos fatos de causar incêndio, inundação, desabamento,
desmoronamento ou explosão; usar gás tóxico ou asfixiante; abusar de radia-
ção ionizante ou de substância radioativa; subtrair, ocultar ou inutilizar mate-
rial destinado a socorro ou salvação em situações de desastre ou calamidade;
ou, ainda, impedir ou dificultar o serviço de socorro e salvamento em situações
de desastre ou calamidade. Admite a modalidade culposa e não exige local
específico para a sua prática.

Como para se configurar exige a consumação de outro crime (pré-condição),


haveria um concurso formal de crimes, com a incidência do comando previsto
no artigo 79 do CPM.

9.1.3. Perigo resultante de violação de regra de trânsito (artigo 280


do CPM)

A violação de regra de trânsito é tratada em vários artigos do Código Brasileiro


de Trânsito (Lei 9.503/97), mas configura infração administrativa, impondo ao
infrator mera multa ou imposição de medida restritiva de direito, não havendo
clara necessidade de perigo concreto, senão em abstrato. No CPM, contudo,
essa conduta é considerada crime, desde que o autor do crime esteja na condu-
ção de veículo sob administração militar e que exponha, efetivamente, a grave
perigo a incolumidade de outra pessoa, ou seja, é um crime de perigo concreto.

É um crime impropriamente militar, podendo ser praticado por militar ou civil,


desde que estejam na direção de viatura sob a administração militar.

86
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
9.2 Crimes contra a saúde

9.2.1. Tráfico, posse ou uso de substância de efeito similar

É um crime impropriamente militar porque não impõe a exclusividade de autoria,


pode ser praticado até em local que não esteja sob a administração militar, e que
encontra certa similaridade com dispositivos da Lei Antidrogas (Lei nº 11.343/06).

A conduta delitiva do tipo penal aqui exposto exige a concreta existência de


substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica
(mensurável por perícia técnica de toxicidade) e que a ação seja cometida em
lugar sujeito à administração militar, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar.

É importante estar atento aos verbos relacionados com o delito:


receber, preparar, produzir, vender, fornecer (ainda que gratuita-
mente), ter em depósito, transportar, trazer consigo, ainda que
para uso próprio, guardar, ministrar ou entregar de qualquer
forma a consumo.

Cabe ressaltar que, diferentemente da Lei nº 11.343/2006 (Lei Antidrogas), a


Lei Penal Militar, em seu artigo 290 do CPM tanto pune o traficante como o
usuário no mesmo dispositivo e cominando as mesmas penas.

É um tipo de conteúdo variado ou misto (tem onze verbos) e, se configurado


um dos núcleos do tipo, consumado estará o crime. Se presentes mais de um
núcleo, não há que se falar em concurso de crimes. Também é uma norma
penal em branco porque depende, para sua configuração, da norma com-
plementar ou de reenvio consistente na relação de substâncias consideradas
entorpecentes ou capazes de determinar dependência física, expedida e atuali-
zada regularmente pelo Ministério da Saúde.

O tipo penal admite as seguintes modalidades:

1. Simples (artigo 290, caput, do CPM).

2. Assimilados (artigo 290, §1º do CPM) – são considerados assimilados,


mesmo que ocorram fora do lugar sujeito à administração militar, nos
seguintes casos:

87
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
a. Militar que fornece substância entorpecente ou que determine de-
pendência física ou psíquica, de qualquer forma, para outro militar.

b. Militar que, em serviço ou em missão de natureza militar, no país


ou no estrangeiro, pratique qualquer dos fatos constantes do artigo
290, caput, do CPM.

c. Quem fornece, ministra ou entrega, de qualquer forma, substância


entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica a
militar em serviço ou em manobras ou em exercício.

3. Qualificada (artigo 290, § 2º, do CPM) – qualifica a conduta quando o


agente é médico, farmacêutico, dentista ou veterinário.

Cabe ressaltar que sobre qualquer quantidade de droga encon-


trada de posse do infrator, incidirá os rigores da norma penal
militar, não cabendo a aplicação do princípio da insignificância,
muito utilizado na Justiça Comum, mas plenamente descartada
sua aplicabilidade nos crimes afetos à Justiça Militar, haja vista a
consolidada jurisprudência do STF e STM.

9.2.2. Receita ilegal (artigo 291 do CPM)

Sobre a decisão do Pleno do Vinculado ao crime do artigo 290 do CPM, tem-se o crime descrito no artigo
STF, no HC nº 94.685/CE, jul-
291 também crime impropriamente militar. Esse crime trata da conduta de
gado em 11 de novembro de
2010, relatora a Ministra Ellen médico ou dentista militar em prescrever, ou do farmacêutico militar em aviar
Gracie. Disponível em: receita ou fornecer substância entorpecente, ou que determine dependência
http://redir.stf.jus.br/pa-
física ou psíquica, fora dos casos indicados pela terapêutica, ou, ainda, em
ginadorpub/paginador.jsp?
docTP=AC&docID=621832 quantidade superior do que a necessária, ou mesmo dos casos assemelhados
descritos no parágrafo único do citado artigo. Note-se que no artigo 290, §2º
do CPM, o profissional de saúde comete quaisquer das condutas descritas no
caput do artigo 290 do CPM e seu §1º. Já no crime do artigo 291, a conduta
delituosa se caracteriza por um ato do ofício profissional, praticado por médi-
co, dentista ou farmacêutico, porém fora dos casos indicados para tratamento;
ou em quantidade superior à necessária para este tratamento.

Os casos similares às condutas descritas no artigo 290, caput, do CPM, previs-


tos no seu parágrafo único, alargam as hipóteses de ilícitos penais, nos casos e
hipóteses que enumera, cominando-lhes as mesmas penas.

88
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
10 Crimes contra
a Administração Militar

Objetivo específico

• Descrever os crimes contra a Administração Militar, bem como a juris-


prudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal Militar.

Neste tópico, considerando o tempo disponível e a quantidade de crimes


descritos no CPM (43 crimes), daremos ênfase aos tipos penais mais relevantes
que podem ser cometidos em detrimento da Administração Militar.

10.1 Desacato a superior, ou militar no exercício


de função militar, ou funcionário civil no
exercício funcional (artigo 298 ao 300 do CPM)

O desacato a superior (artigo 298) − crime militar próprio − é o desrespei-


to grave, cuja ofensa ultrapasse a pessoa do desacatado e ofende a própria
instituição militar, visto que visa deprimir a autoridade, em grave agressão aos
princípios da hierarquia e da disciplina. Geralmente confundido com o crime
de desrespeito a superior (artigo 160), no crime de desacato ocorre o me-
nosprezo, o insulto, a ofensa grave, que deprime a autoridade, conduta mais
grave que o crime de desrespeito propriamente dito. Mas, quis o legislador
diferenciá-los. Na forma branda considerou crime de desrespeito e afronta à
autoridade militar (artigo 160); já no crime de desacato considerou o crime
uma afronta grave à própria administração militar, representada em seus prin-
cípios basilares pela autoridade do superior hierárquico.

Os dois tipos são em tudo semelhantes, diferenciando-se


apenas na gravidade da ofensa ou desrespeito, e variando,
assim, a natureza da pena e sua quantidade.

89
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
Se o desacato é cometido contra oficial-general ou comandante da Unidade
incide a majorante do parágrafo único do artigo 298.

Já no desacato a militar (artigo 299) e a funcionário público, vale dizer servidor


civil (artigo 300), o que se busca é proteger a autoridade de um militar qual-
quer ou funcionário civil que estejam no desempenho regular de suas funções
específicas. Pode ser cometido por civil ou militar, inclusive superior hierár-
quico, e está previsto, também, na lei penal comum, constituindo um crime
impropriamente militar.

Nestes dois tipos, o que se tutela é a própria administração militar, represen-


tada por seus dois integrantes, tanto o militar como o servidor civil, os quais
ocupam cargos em uma Organização Militar, e são desacatados em razão de
seu desempenho funcional. Os tipos se realizam em duas situações:

1. Ou o militar e o civil sofrem o desacato no exercício de suas funções;

2. Ou o militar e o civil sofrem o desacato em razão das funções que exercem.

A ofensa surge com o insulto, o ultraje, o menosprezo, o vilipêndio, gestos e


palavras ofensivas ou de baixo calão, a humilhação, a agressão sem caracteri-
zar lesão corporal, tapas no rosto, o desafio, entre outros.

10.1.1. Jurisprudência

STF - HABEAS CORPUS HC 113430 SP Data de publicação: 29/04/2013

EMENTA Habeas corpus. Constitucional. Processual penal militar. Crime de desa-


cato praticado por civil contra militar em situação de atividade em lugar sujeito à
administração militar. Circunstância que atrai o art. 9º, inciso III, alínea b, do Có-
digo Penal Militar. Conduta que se enquadra no art. 299 do Código Penal Militar.
Competência da Justiça castrense para processar e julgar. Incidência do art. 124
da Constituição Federal. Precedente. Ordem denegada. 1. Cuida-se, na espécie,
de crime de desacato praticado por civil contra militar em situação de atividade
em lugar sujeito à administração militar, uma vez que praticado na enfermaria do
5º Batalhão de Infantaria Leve, localizado em Lorena/SP, atraindo, na espécie, a
forma prevista no art. 9º, inciso III, alínea b, do Código Penal Militar. 2. À luz das
circunstâncias, considerando que a conduta da paciente se enquadra no art. 299
do Código de Penal Militar, a competência para processá-la e julgá-la é da Justiça
castrense, por força do art. 124 da Constituição Federal. 3. Ordem denegada.
STM - APELAÇÃO AP 1645020117110011
Data de publicação: 31/05/2013
DF 0000164-50.2011.7.11.0011

Ementa: APELAÇÃO. DESACATO A SUPERIOR. ABSOLVIÇÃO. IRRESIGNAÇÃO DO


PARQUET. OFENSA À AUTORIDADE DE SUPERIOR HIERÁRQUICO. Cabo da Aero-
náutica que dirige a superior hierárquico palavras ofensivas e de baixa calão, com
franca intenção de desqualificá-lo e menosprezar-lhe a autoridade, comete o delito
tipificado no art. 298, caput, do CPM. O aperfeiçoamento da tipicidade, em todas
as suas nuances, autoriza a imposição da pena cominada ao delito. Sentença abso-
lutória cassada. Apelo ministerial provido, em parte. Decisão majoritária.

STM - APELAÇÃO AP 1258120117030203


Data de publicação: 06/08/2013
RS 0000125-81.2011.7.03.0203

EMENTA. APELAÇÃO. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME. DESACATO A SUPERIOR.


PUBLICAÇÃO DE CRÍTICA INDEVIDA. [...]. 2. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME.
REPRESENTAÇÃO INDEVIDA CONTRA SUPERIOR. DOLO. DELITO CONFIGURADO.
Inadmissível alegação do Apelante, Bacharel e Mestre em Direito que, declarando-
-se achar vítima de atos ilegais, representou indevidamente contra superior
imputando-lhe a ocorrência de crime que sabia não ter se verificado. Presença da
vontade livre e consciente em incriminar indevidamente. Dolo caracterizado. 3.
DESACATO. ATITUDE REFLETIDA. MENOSPREZO CONTRA SUPERIOR. CONDENA-
ÇÃO. Diante das provas colhidas nos autos, não há que se falar em mera descom-
postura ou arrogância do agente que em atitude refletida menosprezou superior
proferindo palavras injuriosas. Induvidosa a prática do delito do art. 298, parágrafo
único do CPM. 4. PUBLICAÇÃO DE CRÍTICA INDEVIDA. CONFISSÃO DO ACUSADO.
Comprovada a incidência do agente no tipo previsto no artigo 166 do CPM, que
confessou ter veiculado em blog pessoal e sites da internet matérias com conteúdo
crítico a superior hierárquico e à disciplina da organização militar.

STM - APELAÇÃO AP 1098120117010301


Data de publicação: 27/06/2012
RJ 0000109-81.2011.7.01.0301

EMENTA. APELAÇÃO. DESOBEDIÊNCIA E DESACATO A MILITAR. O Réu estava en-


volvido num tumulto em bar localizado próximo ao Largo do Terço, Nova Brasília,
Inhaúma, no Rio de Janeiro. Descontente com a ação da Patrulha que atuava na
Força de Pacificação do Morro do Alemão, deixou de obedecer à ordem de se reti-
rar da frente do veículo militar, impedindo-o de sair do local. Detido pela desobedi-
ência, passou a proferir palavras de baixo calão contra Soldado do Exército. Autoria
e materialidade comprovadas. Manutenção da Sentença condenatória. Unânime.

91
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
10.2 Desobediência (artigo 301 do CPM)

Crime impropriamente militar, sob a condição especial de ser cometido contra


autoridade militar (a lei penal comum fala do crime cometido contra funcio-
nário público), não pode ser confundido com o crime de recusa de obediência
(artigo 163); ou com o crime de descumprimento de missão (artigo 196).

Conforme o ensinamento de Sílvio Martins Teixeira:

Na insubordinação, a recusa de obediência é contra a


ordem do superior sobre assunto ou matéria de serviço,
ou relativamente a dever imposto em lei, regulamento ou
instrução. E faz parte do capítulo dos crimes contra a au-
toridade militar. Já a desobediência é somente para casos
de ordem administrativa (1946, apud Assis, 2007, p.655).

10.2.1. Jurisprudência

STM - EMBARGOS EMB 883020107020102 Data de publicação:


DF 0000088-30.2010.7.02.0102 11/04/2013

Ementa: EMBARGOS INFRINGENTES. DESOBEDIÊNCIA - Art. 301 do CPM. Comete


o crime de desobediência, previsto no art. 301 do CPM, civil que, ao receber ordem
de parar o veículo, inicia procedimento de fuga. Houve ordens taxativas, recebida
pelo Embargante, de que deveria aguardar enquanto fosse verificada a situação
de seus documentos e, em seguida, de parar o veículo ao iniciar procedimento de
fuga, configurando de maneira inconteste desobediência à ordem legal, emana-
da por autoridade militar. Improcedente a alegação do Embargante de falta de
correlação entre a Denúncia e a Sentença condenatória. Pedido de absolvição por
atipicidade da conduta e ausência de prova sobre a suposta ordem legal emanada
inconsistente. Embargos rejeitados. Maioria.

STM - APELAÇÃO AP 85920107090009 MS Data de publicação:


0000008-59.2010.7.09.0009 25/08/2011

EMENTA: APELAÇÃO. MPM. LESÃO CORPORAL E DESOBEDIÊNCIA. 1. Caracteriza-


da a lesão corporal como levíssima, em face da inexpressiva lesão jurídica provoca-
da, há que se considerar o fato como transgressão disciplinar, nos termos formu-
lados pelo colegiado a quo. 2. Incorre no crime de desobediência Soldado que,
após discutir em uma confraternização militar, causa lesão corporal levíssima em
companheiro de farda e, advertido quanto à necessidade de permanência no local,
empreende fuga em seu veículo particular, saindo da Organização Militar, mesmo
após receber ordem legal de parada emitida pelo Sargento do Corpo da Guarda. 3.
As circunstâncias em que foi cometido o delito autorizam a fixação da pena-base
acima do mínimo legal. Recurso Parcialmente Provido. Decisão Unânime.

92
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
STM - APELAÇÃO AP 192220117030203
Data de publicação: 06/08/2012
RS 0000019-22.2011.7.03.0203

EMENTA: APELAÇÃO. RECUSA DE OBEDIÊNCIA. DESOBEDIÊNCIA. DESCLASSIFI-


CAÇÃO. NEGATIVA DE APRESENTAÇÃO AO COMANDANTE DO DISTRITO NA-
VAL. INFRAÇÃO À ORDEM DE AUTORIDADE MILITAR NÃO AFETA A MATÉRIA DE
SERVIÇO. REDUÇÃO DA PENA IMPOSTA. Amolda-se à figura típica do art. 301 do
CPM (desobediência), e não àquela prevista no art. 163 do mesmo Codex (recusa
de obediência), a resistência passiva de Sargento que, após sua transferência para a
reserva remunerada, ao ser instado a se deslocar até o Comandante da Área Militar
para prestar esclarecimentos acerca de sua relutância em restituir imóvel funcional,
não cumpre a rigor a ordem recebida. Necessário dar nova capitulação jurídica à
abstenção apurada, uma vez que violou a ordem administrativa, não se afigurando
caracterizada eventual insubordinação de militar quanto à ordem ligada à matéria
de serviço ou a dever imposto por lei ou regulamento. Recurso defensivo provi-
do em parte, apenas para promover a reclassificação tipológica da conduta para
“desobediência”, rebaixando, por via de consequência, a pena imposta ao infrator.
Decisão majoritária.

STM - APELAÇÃO (FO) AP(FO)


Data de publicação: 22/10/2009
2008010511555 RJ 2008.01.051155-5

EMENTA: CRIME DE DESOBEDIÊNCIA (ART. 301 DO CPM). DESCUMPRIMENTO A


ORDEM DEMILITAR NO SERVIÇO DE SENTINELA. TIPICIDADE. DOLO COMPROVA-
DO. Pratica o crime de desobediência o militar que impedido de adentrar a Vila
Militar, por falta de documento de identificação, o faz aproveitando-se da liberação
da cancela para passagem de outro veículo. Alegado desentendimento quanto á
ordem do sentinela derrubado pelo depoimento da testemunha presente no local
dos fatos. Dolo que se revela na intenção de desobedecer à ordem recebida. Apelo
improvido. Unânime. (sic)

10.3 Ingresso clandestino (artigo 302 do CPM)

Crime impropriamente militar, visto que pode ter como agente ativo tanto o
militar quanto o civil.

Visa proteger a ordem administrativa militar, em face do interesse mais do que


justificado de que o ingresso em instalação militar só se opere por lugares pre-
viamente autorizados e controlados, com o objetivo de segurança da instalação.

É a penetração por local proibido, ou por onde não haja passagem regular, ou,
ainda, quando ocorre por local permitido, é feita com burla sobre a vigilância
do pessoal de serviço.

93
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
Cabe ressaltar que sobre qualquer quantidade de droga encon-
trada de posse do infrator, incidirá os rigores da norma penal
militar, não cabendo a aplicação do princípio da insignificância,
muito utilizado na Justiça Comum, mas plenamente descartada
sua aplicabilidade nos crimes afetos à Justiça Militar, haja vista a
consolidada jurisprudência do STF e STM.

10.3.1. Jurisprudência

STF - HABEAS CORPUS HC 116124 SP Data de publicação: 30/08/2013

Ementa: Habeas corpus. 2. Crime de ingresso clandestino (art. 302 do CPM). Delito
praticado por civis. 3. Competência para processo e julgamento. 4. A conduta
de ingressar em território das Forças Armadas afronta diretamente a integridade
e o funcionamento das instituições militares. Subsunção do comportamento dos
agentes ao preceito primário incriminador consubstanciado no art. 9º, inciso III,
“a”, do CPM. Submissão à jurisdição especializada. 5. Reconhecida a competência
da Justiça Militar da União para processar e julgar o crime de ingresso clandestino
em quartel militar praticado por civis. Ordem denegada.

STM - APELAÇÃO AP 997120107010301


Data de publicação: 02/05/2012
RJ 0000099-71.2010.7.01.0301

EMENTA: APELAÇÃO. DEFESA. INGRESSO CLANDESTINO. 1. Comete o crime de


ingresso clandestino o civil que, tendo conhecimento de que a área está sob a
administração militar, invade o local sem autorização. 2. O crime é de mera condu-
ta, não exigindo motivação ou resultado lesivo. Recurso conhecido e desprovido.
Decisão unânime.

10.4 Peculato (artigo 303 do CPM)

Crime impropriamente militar, é o delito funcional de quem se apropria de


dinheiro ou qualquer outra coisa móvel, pública ou particular, do qual tem a
posse ou detenção em razão do cargo ou função que exerce; ou ainda a con-
duta de desviar o bem em proveito próprio ou de outrem.

É o caso, por exemplo, do Encarregado de Material da Subunidade (SU), que


tem a posse legal (detentor direto) de inúmeros materiais de emprego ou uti-
lidade militar, tais como barracas, marmitas, talheres, toldos e se apropria ou

94
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
os subtrai valendo-se de sua função. Ou do Oficial de Munições da OM, que
sendo responsável pelo paiol da Unidade dali subtrai cartuchos de munição ou
explosivos, ou granadas e lhes dá destino não conforme com o serviço.

A lei ainda prevê o crime de peculato-furto (artigo 303, §2º do CPM), que é
o crime de subtração de bens móveis por alguém que, embora não tenha a
posse ou detenção legais da coisa, consegue com facilidade acessá-las pelo
cargo ou função que desempenha. Nesse sentido, aproveitando o exemplo da
reserva de material da subunidade acima citado, comete o crime de peculato-
-furto o auxiliar do encarregado de material que, embora não seja o detentor
da carga, por trabalhar na Reserva de Material da SU tem facilidade de ingres-
so no local e, com isso, subtrai, para si ou para outrem, os materiais ali guar-
dados. Então, temos que: o detentor da carga, o encarregado de material, se
subtrair, comete o crime de peculato; já seu auxiliar, que não é detentor, mas
também frequenta a instalação, se subtrair comete o peculato-furto.

10.4.1. Jurisprudência

STM - APELAÇÃO AP 173220097030103


Data de publicação: 11/03/2013
RS 0000017-32.2009.7.03.0103

Ementa: APELAÇÃO. PECULATO. ENCARREGADO DE PRÓPRIOS NACIONAIS


RESIDENCIAIS. DESPESAS DE SERVIÇOS DE FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRI-
CA, GÁS E ÁGUA REPASSADAS POR USUÁRIOS. APROPRIAÇÃO INDEVIDA. NÃO
EFETIVAÇÃO NA CONTA DA UNIÃO. RESSARCIMENTO DO PREJUÍZO NO CURSO
DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. IRRELEVÂNCIA. DELITO DOLOSO. FUNÇÃO DE ENCAR-
REGADO PREVISTA EM ATO NORMATIVO DO EXÉRCITO BRASILEIRO (PORTARIA Nº
631/2001). Incorre no crime de peculato o graduado que, no exercício da função
de encarregado da Seção dos PNRs, deixa de recolher aos cofres públicos valores re-
passados por usuários dos imóveis pertencentes à União referentes às despesas pelo
fornecimento de energia elétrica, gás e água, deles se apropriando indevidamente.
Alegadas causas excludentes da culpabilidade e da antijuridicidade, consubstancia-
das em supostas ameaças sofridas pelo acusado, não comprovadas nos autos. Em se
tratando de crime doloso, é irrelevante o ressarcimento do dano no curso da ação
penal, podendo, todavia, tal iniciativa favorecer o agente apenas em relação ao
abrandamento da pena. Desprovido o apelo defensivo.Decisão majoritária.

95
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - APELAÇÃO (FO) AP(FO)
Data de publicação: 19/08/2009
2008010511610 SP 2008.01.051161-0

EMENTA: PECULATO. CONDENAÇÃO EM 1ª INSTÂNCIA. RECURSO DA DEFE-


SA. MANTENÇA DO “DECISUM” CONDENATÓRIO. Militar graduado do Exército,
valendo-se da facilidade que tinha em razão do cargo, apropriou-se de bens que
estavam sob a responsabilidade da Administração Militar e utilizava-os como se
fosse o legítimo proprietário. Tese defensiva que não prospera, eis que, além de ser
réu confesso, restaram comprovadas a autoria e materialidade do delito. Mantida
a condenação “a quo”, reduzindo-se a pena imposta ao acusado para 03 anos
e 06meses de reclusão, como incurso no Art. 303 do CPM, c/c o Art. 71 do CP,
com apena acessória de exclusão das Forças Armadas nos termos do Art. 102 do
mesmo”codex”. Decisão por unanimidade.

STM - APELAÇÃO (FO) AP(FO) 92720057120012 Data de publicação:


AM 0000009-27.2005.7.12.0012 12/07/2010

EMENTA: APELAÇÃO. PECULATO (CPM, art. 303 ). Oficial da Marinha que, durante
a gestão administrativa, na função de agente fluvial, age com falta de zelo pela
coisa pública e de fidelidade com a Administração Pública, vendendo e permutan-
do combustível pertencente à Marinha do Brasil, bem como de recursos destina-
dos a reparos em PNRs e à manutenção de viaturas, causando prejuízo ao Erário.
Robustez das provas documentais, testemunhais e periciais comprovando as ações
delituosas do acusado. Desprovimento do apelo defensivo. Unânime.

STM - APELAÇÃO (FO) AP(FO) 487420077010201 Data de publicação:


RJ 0000048-74.2007.7.01.0201 24/05/2011

EMENTA. APELAÇÃO. PECULATO CULPOSO. ART. 303, § 3º DO CPM. Militar que


contribui, ainda que culposamente, pela forma negligente com que cuidava do
Paiol, oportunizando, por essa razão, que outrem subtraísse bem que, sem qualquer
dúvida, estava sob sua guarda, causando prejuízo à Administração Militar, incorre no
crime previsto no § 3º do art. 303 do Código Penal Militar. É irrazoável entender-se
que o acusado agiu com as cautelas exigidas, em face às circunstâncias diante das
contínuas e sucessivas subtrações. Apelo Ministerial provido. Decisão Unânime.

96
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
STM - APELAÇÃO (FO) AP(FO) 25920037070007 Data de publicação:
PE 0000002-59.2003.7.07.0007 25/02/2011

Ementa: PECULATO-FURTO. CONCURSO DE AGENTES. COMUNHÃO DE DESÍG-


NIOS. GÊNEROS ALIMENTÍCIOS. PENA ACESSÓRIA DE EXCLUSÃO DAS FORÇAS
ARMADAS. Graduado que exerce a função de auxiliar de aprovisionador, uma
vez responsável pelo controle e escrituração dos gêneros alimentícios na Unidade
Militar, passa a compartilhar com um civil, mediante prévio acordo de vontades, o
produto do furto de considerável quantidade de mantimentos vendida às escusas
para terceiros. Evidenciada a intenção de aquinhoar valores advindos da venda não
autorizada de bens pertencentes à Fazenda Nacional, valendo-se da facilidade pro-
piciada pela função que exercia no quartel. Em se tratando de réus primários e de
bons antecedentes, deve a pena-base ser fixada em seu mínimo legal. A imposição
de pena privativa de liberdade superior a 2 (dois) anos a militar implica impor a
pena acessória de exclusão das Forças Armadas, ex vi legis (artigo 102 do CPM ).
Recurso Ministerial provido. Decisão majoritária.

10.5. Concussão (artigo 305 do CPM)

Crime impropriamente militar, consiste na concussão em que o agente ativo,


em razão da função que desempenha ou desempenhará, exige para si ou para
terceira pessoa uma vantagem econômica indevida. É o caso do sargenteante
encarregado da escala de serviço que, por exemplo, exige dinheiro de alguém
para tirá-lo da escala de serviço ou do membro de Comissão de Seleção para o
serviço militar inicial, que exige do alistado importância em dinheiro para colocá-
-lo no excesso de contingente ou para considerá-lo incapaz para o serviço militar.

10.5.1. Jurisprudência

STM - APELAÇÃO AP 56920097010201 RJ


Data de publicação: 24/05/2012
0000005-69.2009.7.01.0201

EMENTA: APELAÇÃO. CONCUSSÃO. SUBOFICIAL MESTRE D’ARMAS DA BASE


NAVAL DO RJ. EXIGÊNCIA. VANTAGEM ILÍCITA. APELO DEFENSIVO DESPROVIDO.
UNANIMIDADE. SENTENÇA CONDENATÓRIA INTEGRALMENTE MANTIDA. Pratica
o crime de concussão o Suboficial que, na função de Mestre D’Armas da Base
Naval do RJ, incumbido de identificar avarias no material, promover a manutenção
e relatar a eficiência dos serviços prestados por Empresa contratada, desta exige
vantagem ilícita, sob a ameaça de prejudicá-la em futuras avenças. Diante do
metus publicaes potestatis, o particular cedeu, depositando a quantia imposta. O
crime de concussão é formal, de resultado cortado ou de consumação antecipada,
assim, tão logo o réu exigiu a vantagem ilícita, restou consumado, sendo o paga-
mento mero exaurimento da conduta típica. Crime contra a Administração Pública,
punindo o agente que, ao invés de bem representá-la por dever de ofício, obtém
vantagem mediante o temor de causar mal ao particular.

97
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - APELAÇÃO (FO) Apelfo 48557
Data de publicação: 30/04/2001
MS 2000.01.048557-0

Ementa: CONCUSSÃO. Comprovado, de maneira inconteste, no universo proba-


tório dos autos, que o Apelado exigiu, diretamente, vantagem indevida em razão
de sua função, configurando, com essa conduta, o delito previsto no art. 305, do
CPM. Recurso provido. Decisão majoritária.

10.6 Corrupção (artigo 308 e 309 do CPM)

Tratamos aqui dos crimes impropriamente militares da prática da corrupção


ativa e passiva.

10.6.1 Corrupção passiva (artigo 308)

Comete a corrupção passiva (artigo 308) o civil ou militar que recebe, para
si ou para outrem, mesmo que fora da função, mas sempre em razão dela,
vantagem indevida, ou aceita promessa de tal vantagem. Se, em razão da van-
tagem ou promessa indevida, o agente do crime retarda ou deixa de praticar
qualquer ato de ofício, ou o pratica infringindo o seu dever funcional, ocorre
a incidência da causa especial de aumento de pena, prevista no §1º do artigo
308. Por outro lado, se o agente deixa de praticar ou retarda ato de ofício, ou
o pratica em violação a dever funcional, mas em atendendo pedido ou influên-
cia de terceiro, aplica-se pena de menor peso (§2º do artigo 308).

10.6.2 Corrupção passiva (artigo 308)

No reverso, pratica a corrupção ativa (artigo 309) o civil ou militar que dá,
oferece, ou promete dinheiro ou vantagem indevida para a prática, omissão
ou retardamento de ato funcional. Configura o crime a simples conduta de
oferecer, dar ou prometer. Se em função da vantagem, dádiva ou promessa
é retardado ou omitido o ato, ou praticado com infração do dever funcional,
ocorre a majorante prevista no parágrafo único do artigo 309.

Da mesma forma que na corrupção ativa, se o agente que ocupa cargo ou


função, em razão da vantagem ou promessa indevida, retarda ou deixa de
praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo o seu dever funcional,
ocorre a incidência da causa especial de aumento de pena, prevista no pará-
grafo único do artigo 309.

98
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Se um soldado oferece dinheiro para o cabo auxiliar do sar-
genteante alterar a escala de serviço, a fim de não tirar serviço,
comete o crime de corrupção ativa; e se o dito cabo receber
tal quantia com a finalidade de alterar a escala de serviço, terá
cometido o crime de corrupção passiva.

10.6.3. Jurisprudência

STM - APELAÇÃO AP 51120097100010


Data de publicação: 14/02/2012
CE 0000005-11.2009.7.10.0010

EMENTA: APELAÇÃO. CORRUPÇÃO PASSIVA. RECEBIMENTO DE VANTAGEM IN-


DEVIDA. AUTORIA E MATERIALIDADE. COMPROVAÇÃO. MAJORAÇÃO DA PENA.
GRAVIDADE CONCRETA DO DELITO. EXTENSÃO DO DANO E CIRCUNSTÂNCIAS DE
TEMPO E LUGAR DESFAVORÁVEIS. A autoria e a materialidade do delito restaram
incontroversas em face da quebra do sigilo bancário, depoimento do corréu e
das provas testemunhais juntadas aos autos, todas confirmando o recebimento
da vantagem indevida. A lei penal militar visa proteger a moralidade do serviço
público, em conformidade com os vetores éticos da sociedade brasileira. Exige-se
do servidor, e particularmente do militar, o cumprimento do seu dever legal e um
desvio da função de tamanha extensão deve ser punido. A gravidade concreta do
delito restou evidenciada, principalmente em virtude de o crime ter sido praticado
em desfavor da União que atuava em situação de emergência pública. O Exército,
representando o Estado Brasileiro, foi incumbido de guarnecer de água potável as
populações carentes do agreste do Ceará. O réu, aproveitando-se dessa conjuntura
social de penúria e locupletando-se da miséria humana, não titubeou em auferir
vantagem indevida à custa da infelicidade do seu semelhante. A majoração da
pena-base revela-se necessária em face da gravidade do delito, da maior extensão
do dano, bem como das circunstâncias de tempo e lugar do seu cometimento.
APELO DEFENSIVO NEGADO. APELO MINISTERIAL PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME.

STM - EMBARGOS (FO) Embfo 6891 RJ


Data de publicação: 11/12/2002
2002.01.006891-4

EMENTA. EMBARGOS INFRINGENTES DO JULGADO. CORRUPÇÃOATIVA E COR-


RUPÇÃO PASSIVA. Prática de trocar o serviço nas Unidades Militares mediante
paga em dinheiro é deletéria para a disciplina e a ordem administrativa militar.
Compromete a compreensão do dever militar por parte daqueles que precisam
nele pautar sua conduta e a lealdade devida às regras que disciplinam as relações
desenvolvidas no âmbito da caserna, atributos que dizem respeito à própria coesão
dos corpos militares. Nada há a ser reparado no Acórdão embargado que recebeu
a denúncia e determinou o prosseguimento do feito no Juízo “a quo”. Embargos
Infringentes do Julgado rejeitados. Maioria.

99
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
10.7 Participação ilícita (artigo 310 do CPM)

Comete este crime militar impróprio, o indivíduo, militar ou civil que, fazendo
parte de processo licitatório como agente ou fiscal, participa de forma ostensiva,
ou por interposta pessoa, da licitação de qualquer serviço ou fornecimento que
aproveite a administração militar. O dito preceito encontra perfeita identidade
com os princípios constitucionais da administração pública da legalidade, im-
pessoalidade, moralidade e publicidade; bem como com a Lei de Licitações (Lei
8.666/93), particularmente o seu artigo 9º e demais dispositivos da citada norma.

10.7.1. Jurisprudência

STM - EMBARGOS(FO) Embfo 46842


Data de publicação: 24/05/1995
RS 1994.01.046842-4

Ementa: EMBARGOS INFRINGENTES. CRIME DE PARTICIPAÇÃO ILICITA (ART. 310,


PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPM). AÇÃO PENAL MOVIDA CONTRA UM MILITAR E
DOIS CIVIS, JULGADA IMPROCEDENTE NO PRIMEIRO GRAU. APELO PARCIALMENTE
PROVIDO NO STM, COM A CONDENAÇÃO DO MILITAR, MANTIDA A ABSOLVIÇÃO
DOS CIVIS. EMBARGOS DA PGJM PARA A CONDENAÇÃO DOS ACUSADOS CIVIS E
AGRAVAMENTO DA PENA IMPOSTA AO MILITAR; E, DA DEFESA, PARA A ABSOL-
VIÇÃO DO SENTENCIADO. NA TIPIFICAÇÃO DO CRIME DE PARTICIPAÇÃO ILICITA O
AGENTE ADQUIRE O BEM, COM AS CARACTERISTICAS DESCRITAS NA DEFINIÇÃO
LEGAL, DE MODO OSTENSIVO OU SIMULADO, DIRETAMENTE OU POR INTERPOSTA
PESSOA. ‘IN CASU’, COOPERARAM PARA O ATO SIMULADO OS TRES ACUSADOS,
CONFIGURANDO-SE, DESSA MANEIRA, UM CONCURSO NECESSARIO DE AGENTES
(APLICAÇÃO DO ART. 53 DO CPM ). TRATA-SE DE CRIME TIPICAMENTE MILITAR. O
FATO DE O AGENTE SER MILITAR É CIRCUNSTÂNCIA ELEMENTAR DO TIPO, QUE SE
COMUNICA AOS CO-REUS CIVIS. (ART 53, PARÁGRAFO PRIMEIRO, DO CPM).

STM - APELAÇÃO (FO) Apelfo 49201


Data de publicação: 16/12/2003
PE 2002.01.049201-1

Ementa: CRIME DE PARTICIPAÇÃO ILÍCITA. CONTINUIDADE DELITIVA. MANUTEN-


ÇÃO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA RECORRIDA. 1. Restando comprovadas nos
autos a autoria, a materialidade e a culpabilidade do Réu diante dos fatos a ele
atribuídos, inexistindo, em seu favor, qualquer causa excludente de ilicitude, não
há que se falar em absolvição. 2. Tem-se por consumado o crime de Participação
Ilícita, na modalidade prevista no artigo 310, Parágrafo único, do CPM, o militar
que, sendo Comandante, Chefe ou Diretor de uma Organização Militar, entra em
especulação de lucro ou interesse em relação aos bens em cuja administração,
fiscalização e exame, deveria intervir em razão da função. É o caso dos autos. 3.
Demonstrando o conjunto probatório que o crime praticado pelo Acusado o foi
em continuidade delitiva, a Jurisprudência do Superior Tribunal Militar é pacífica no
sentido de se aplicar, subsidiariamente, ao artigo 80, do CPM, a regra do artigo 71,
do CPB, por ser esta mais benéfica ao condenado. Negado provimento ao apelo da
Defesa, para manter a Sentença “a quo”. Decisão unânime.

100
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
10.8 Prevaricação (artigo 319 do CPM)

Crime impropriamente militar. Se enquadra nesta conduta típica o civil ou mili-


tar que, tendo o dever de praticar ato inerente ao seu cargo e função, retarda
o ato ou deixa de praticá-lo, contra expressa disposição de lei, com a finalidade
de satisfazer interesse ou sentimento pessoal. É o caso do Cmt SU que tomando
ciência de crime de maus tratos cometido pelo Cmt Pel contra subordinados,
deixa de encaminhar a ocorrência ao comando da OM, a fim de não expor a
situação de sua SU no concerto das demais, e sua falta de ação de comando,
no sentido de coibir tais atitudes. Ou ainda o Cmt SU que deixa de prender o
soldado desertor porque tem interesse em namorar a irmã do desertor.

10.8.1. Jurisprudência

STM - RECURSO CRIMINAL (FO) Rcrimfo


Data de publicação: 07/03/2002
6899 PA 2001.01.006899-1

EMENTA. RECRUSO CRIMINAL. LESÃO CULPOSA. ARMA DE FOGO. PREVARICA-


ÇÃO. REJEIÇÃO DE DENÚNCIA. Ao rejeitar a denúncia o Magistrado exerce a com-
petência que lhe confere o art. 30, inciso i, da LOJM. A exordial há de ser apreciada
à luz dos arts. 77 e 78 do CPPM, o que não significa exame de mérito. Se ao ma-
nusear a arma o militar toma todos os cuidados necessários, empregando a cautela
e a atenção a que estava obrigado, é atípica a conduta e falta justa causa para a
persecução penal por crime de lesão culposa, pois ausente o requisito da previsibi-
lidade. A autoridade militar deve instaurar inquérito sempre que constatar indícios
de crime militar. Mas, somente se deixar de instaurá-lo para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal é que terá praticado, em tese, o delito de prevaricação. Recurso
ministerial improvido, confirmando-se a rejeição da denúncia. Unânime.

STM - EMBARGOS (FO) Embfo 7403 PE


Data de publicação: 12/06/2008
2007.01.007403-5

Ementa: Embargos Infringentes contra Acórdão proferido em Recurso em Sentido


Estrito. Rejeição de Denúncia. Prevaricação (Art. 319 do CPM). Denúncia rejeitada
pelo Juízo “a quo” e recebida por esta corte. Militar lotado em serviço de protocolo
que retém documento (Parte) destinado a apurar possível transgressão disciplinar
por ele cometida pratica o tipo descrito no art. 319 do CPM, por retardar ato
determinado como de sua atribuição. Inexistência de qualquer ofensa a preceitos
constitucionais. Rejeitados os embargos infringentes do julgado. Mantido o acór-
dão embargado. Unânime.

101
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
10.9 Violação do dever funcional com
o fim de lucro (artigo 320 do CPM)

Comete este crime propriamente militar aquele que viola seu dever como
encarregado de negócio em proveito da administração militar, com o fim de
obter especulativamente qualquer tipo de vantagem pessoal, econômica ou
não, para si próprio ou para terceiro. É o caso do membro de comissão de
licitação que privilegia indevidamente um dos licitantes a troco de importância
em dinheiro. Ou aquele que tendo que receber gêneros de certa qualidade ou
quantidade, dá quitação indevida de tê-los recebido na qualidade e/ou quanti-
dade especificada em contrato, mediante recebimento de uma viagem turística
gratuita para si e sua família.

10.9.1. Jurisprudência

STM - REPRESENTAÇÃO P/DECLARA-


ÇÃO DE INDIGNIDADE/INCOMPATI-
Data de publicação: 22/06/2011
BILIDADE - 1564920107000000 DF
0000156-49.2010.7.00.0000

EMENTA: REPRESENTAÇÃO DE INDIGNIDADE. VIOLAÇÃO DO DEVER FUNCIONAL


COM O FIM DE LUCRO. DECLARAÇÃO DE INDIGNIDADE E PERDA DO POSTO E
DA PATENTE. 1. O cometimento de crime de violação do dever funcional com o
objetivo de obter vantagem indevida, em detrimento da própria Instituição à qual o
militar serviu por décadas, por sua própria natureza, afronta de maneira inequívoca
os princípios da ética e do pundonor militares. 2. Quando esse crime é cometido
por Oficial Superior que, a princípio, deveria ser o exemplo a ser seguido por seus
subordinados, sua conduta torna-se ainda mais repreensível. DECISÃO: Declarada a
Indignidade do Oficial e decretada a Perda do Posto e da Patente. Decisão Unânime.

STM - APELAÇÃO (FO) Apelfo 50975


Data de publicação: 21/05/2009
DF 2008.01.050975-5

Ementa: VIOLAÇÃO DO DEVER FUNCIONAL COM O FIM DE LUCRO. FISCALIZA-


ÇÃO DE PRODUTOS CONTROLADOS. REALIZAÇÃO DE VISTORIAS EM ARMAS DE
FOGO. CLIENTELISMO. Graduado responsável pelo serviço de produtos controlados
junto a órgão militar que passa a angariar clientela para sua esposa, omitindo a
condição de ser sua cônjuge, apresentando-a como advogada credenciada junto
ao órgão, a qual passa a angariar clientela para realização de serviços relativos a
apostilamento e vistoria em armas de fogo, com oferecimento de diversas facilida-
des, especialmente no que diz respeito à tramitação de documentação e à reali-
zação de vistorias de armamentos na própria residência dos interessados. Recurso
defensivo improvido. Decisão majoritária. (sic)

102
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
10.10 Condescendência criminosa
(artigo 322 do CPM)

Crime militar impróprio, o crime se caracteriza quando o militar, superior


hierárquico, deixa de imputar a subordinado infração cometida em matéria de
serviço e de acordo com as atribuições do cargo que tal subordinando ocupa;
ou faltando-lhe competência funcional para a atitude correta, deixa de comu-
nicar o fato a quem de direito.

Pode configurar o crime a indulgência, que significa o “bom-mocismo”, a to-


lerância, a complacência, benevolência, com pena exasperada; e a negligência,
com pena mais branda, que significa uma inação, um não fazer, a displicência,
a preguiça, o desleixo, a incúria, a desatenção. No entanto, a par da redação
imprecisa do tipo, o que se tem é uma modalidade dolosa caracterizada pela
indulgência; e uma modalidade culposa identificada na negligência, uma das
formas clássicas da culpa em sentido estrito. Sendo assim, age com condes-
cendência criminosa o superior hierárquico que sabe da existência de desvio de
gêneros do rancho da OM e não toma nenhuma providência por indulgência
(crime doloso) ou preguiça (crime culposo).

10.10.1. Jurisprudência

STM - RECURSO CRIMINAL (FO) Rcri-


Data de publicação: 24/03/2006
mfo 7327 RJ 2006.01.007327-8

EMENTA. RECURSO CRIMINAL. FURTO PRATICADO POR MILITAR E CONFESSADO


A UM COLEGA DE CASERNA. DENÚNCIA ADITADA PARA INCLUIR O COLEGA
COMO INCURSO NO DELITO DE CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA, SENDO REJEI-
TADA PELO JUIZ “A QUO”. MANUTENÇÃO DA DECISÃO RECORRIDA. Não incorre
na conduta típica de condescendência criminosa o militar que, sem guardar relação
de autoridade com o outro militar, ouve por parte deste a confissão de um crime, e
deixa de comunicar o fato às instâncias competentes. Para a caracterização do deli-
to do art. 322 do CPM é necessária a existência de subordinação entre aquele que
pratica a infração e aquele que tem a obrigação de responsabilizar o infrator. Se o
superior hierárquico não tem competência para responsabilizá-lo, deve levar o fato
ao conhecimento da autoridade competente, sob pena de responder pela indul-
gência ou negligência, conforme o caso. Improvido o recurso ministerial. Unânime.

103
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - APELAÇÃO(FO) Apelfo 48039 PA
Data de publicação: 20/05/1999
1997.01.048039-0

Ementa: CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA. INOBSERVÂNCIA DE INSTRUÇÃO RE-


GULADORA DE CONCURSO. 1. Comprovando a instrução criminal que o superior
hierárquico foi tolerante com seu subordinado, deixando de repreendê-lo e/ou de
responsabilizá-lo por infração cometida no exercício do cargo, caracterizado está
o crime previsto no artigo 322, do CPM, por indulgência. 2. Restando indubita-
velmente demonstrado pelo conjunto probatório que o militar, no exercício da
função que lhe foi atribuída, deu causa direta à prática de ato que causou prejuízo
à Administração Militar, merece ser mantida a condenação que lhe foi imposta pela
Sentença “a quo”, como incurso no artigo 324, da Lei Substantiva Castrense. Por
unanimidade de votos, rejeitadas as preliminares suscitadas e, no mérito, provido o
apelo do MPM e negado provimento ao recurso da Defesa do oficial. Por maioria,
negado provimento à apelação do sargento, para manter o “decisum” hostilizado.

104
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
11 Crimes contra a Administração
da Justiça Militar

Objetivo específico

• Descrever os crimes contra a Administração da Justiça Militar, bem


como a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior
Tribunal Militar (STM).

Os crimes listados no Título VIII do Livro I, Parte Especial do CPM ofendem o bom
andamento dos assuntos afetos à Justiça Militar, bem como à ordem e às ativida-
des que se desenvolvem na instrução e julgamentos que nela se desenvolvem.

Pela premência de tempo, não serão abordados todos os tipos penais (quinze
crimes), razão pela qual trataremos dos mais emblemáticos.

11.1 Desacato (artigo 341 do CPM)

Crime impropriamente militar e que pode ser cometido por qualquer pessoa
que, por palavras, gestos ou escritos, sinais obscenos, ou qualquer outra forma
de se manifestar, provoque humilhação, falta de respeito, vergonha, desconsi-
deração a juiz, seja ele juiz-auditor, juiz militar ou ministro do STM.

Para que se configure o crime é necessário que o ofendido esteja no exercício


de suas atribuições e que as atitudes de desacato sejam praticadas em razão
do exercício funcional da vítima.

11.2 Denunciação caluniosa (artigo 343 do CPM)

Crime impropriamente militar, que se caracteriza pela imputação a alguém,


que o autor sabe inocente, de fato certo e determinado, o qual caracteriza, em
tese, a prática de crime militar; e cuja denúncia falsa faz com que seja instau-
rado IPM, ou que se inicie processo criminal perante a Justiça Militar. Se não

105
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
for instaurado IPM ou processo judicial, o autor da imputação comete o crime
de calúnia, previsto no artigo 214 do CPM; no caso contrário, pelo princípio da
consunção, o crime previsto no artigo 343 absorve o crime descrito no artigo
214, ambos do CPM.

11.2.1. Jurisprudência

STM - APELAÇÃO AP 541520097080008


Data de publicação: 12/03/2013
PA 0000054-15.2009.7.08.0008

Ementa: APELAÇÃO. DEFESA. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA. Comete o crime de


denunciação caluniosa, capitulado no art. 343 do CPM, aquele que dá causa à
instauração de inquérito policial militar ou processo judicial militar contra pessoa
que sabidamente não cometeu os fatos criminosos que se lhe imputou. Recurso
conhecido e não provido. Decisão unânime.

STM - APELAÇÃO AP 85420067040004


Data de publicação: 06/08/2013
MG 0000008-54.2006.7.04.0004

Ementa: APELAÇÃO. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA. CONCURSO DE AGENTES.


[...]. DOLO. INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO PENAL MILITAR. FALSA IMPUTAÇÃO
DE DELITO MILITAR. CONDENAÇÃO. PENA ACESSÓRIA. EXCLUSÃO DAS FORÇAS
ARMADAS. NECESSIDADE DE AGUARDAR O TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO
CONDENATÓRIA. Não prospera a preliminar defensiva de nulidade, a pretexto de
eventual situação de inimputabilidade do recorrente, uma vez que o exame pericial
atestou que, embora outrora interditado civilmente, o acusado detinha capacidade
de compreensão do viés de ilicitude que recaia sobre a conduta. Preliminar defensiva
rejeitada por decisão unânime. Comete o delito de “denunciação caluniosa” Sargento
que provoca a instauração de IPM, mesmo estando ciente de que a imputação feita
contra Comandante de Unidade Militar não condiz com a verdade dos fatos. Recurso
defensivo desprovido, mantendo-se a sentença condenatória atacada, por decisão
unânime. A tese de inconstitucionalidade da norma prevista no art. 102 do CPM não
comporta discussão antes de transitar em julgado a decisão condenatória, uma vez
que trata de pena acessória e sua efetivação ocorre em momento posterior.

106
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
STM - APELAÇÃO (FO) AP(FO) 28420057030303 Data de publicação:
RS 0000002-84.2005.7.03.0303 28/09/2011

Ementa: PECULATO. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA. OFICIAL DA AERONÁUTICA.


PREFEITO DA BASE AÉREA DE SANTA MARIA. APROPRIAÇÃO DE RECURSOS DES-
TINADOS AOS COFRES DA ADMINISTRAÇÃO CASTRENSE. QUANTIA REFERENTE A
RESSARCIMENTO DE LIGAÇÕES TELEFÔNICAS PARTICULARES PELO COMANDANTE.
Incorre no crime de peculato, tipificado no art. 303 do CPM, o Oficial encarregado
da Prefeitura da Base Aérea de Santa Maria que, de posse de cheque do seu Co-
mandante, destinado ao ressarcimento das ligações telefônicas particulares, as quais
já haviam sido pagas pela OM, o desconta na respectiva agência bancária e utiliza a
quantia em benefício próprio. Insere-se nas atribuições do apelante, como Prefeito
da Base Aérea, o recolhimento das despesas referentes às ligações particulares dos
militares ocupantes de imóveis funcionais, e o repasse à conta bancária da respecti-
va Organização Militar. Igualmente, pratica o crime de denunciação caluniosa, tipi-
ficado no art. 343 do CPM, o Oficial que, ciente da inexistência do fato, faz chegar
ao Órgão do Ministério Público Militar a falsa informação de ter o Comandante da
BASM providenciado o pagamento das referidas ligações telefônicas particulares
com recursos públicos, dando ensejo à instauração de inquérito policial. Rejeitada a
preliminar de nulidade por ilegitimidade ad causam. No mérito, desprovido o apelo
defensivo para manter in totum a Sentença hostilizada. Decisão unânime.

STM - HABEAS CORPUS HC 34656 DF


Data de publicação: 30/06/2009
2009.01.034656-2

Ementa: HABEAS CORPUS. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA. PEDIDO DE TRANCA-


MENTO DE AÇÃO PENAL. Paciente denunciada no art. 343 do CPM por ter, no
ato do interrogatório, declarado ser vítima de assédio moral por parte de superior
hierárquico, que a ameaçou de prisão caso faltasse ao expediente e dava tratamen-
to diferenciado a outra militar médica que comparecia ao HFA somente duas vezes
na semana. Inquérito instaurado por requisição ministerial para apurar conduta
da médica referida pela Paciente. Inépcia da denúncia e falta de justa causa para
a ação penal, eis que não houve imputação de crime militar. Eventual constrangi-
mento não foi objeto de IPM, nem foi indiciado o superior hierárquico citado. As
declarações da Paciente foram prestadas no exercício da autodefesa, relatando
impressões para justificar delito pela qual era acusada e porque ausente o pressu-
posto subjetivo. Ordem concedida. Unânime.

11.3 Comunicação falsa de crime (art. 344 do CPM)

Crime impropriamente militar, que se caracteriza pelo fato do agente provocar


autoridade, seja ela militar, judicial, ou do Ministério Público, no sentido de to-
mar providências efetivas diante de uma notícia, que sabe ser inverídica (falsa)
de fato certo e determinado, a que a lei penal militar considera como crime.

107
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
11.3.1. Jurisprudência

STM - APELAÇÃO AP 1258120117030203


Data de publicação: 06/08/2013
RS 0000125-81.2011.7.03.0203

Ementa: APELAÇÃO. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME. DESACATO A SUPERIOR.


PUBLICAÇÃO DE CRÍTICA INDEVIDA. [...]. 2. COMUNICAÇÃO FALSADE CRIME.
REPRESENTAÇÃO INDEVIDA CONTRA SUPERIOR. DOLO. DELITO CONFIGURADO.
Inadmissível alegação do Apelante, Bacharel e Mestre em Direito que, declarando-
-se achar vítima de atos ilegais, representou indevidamente contra superior
imputando-lhe a ocorrência de crime que sabia não ter se verificado. Presença da
vontade livre e consciente em incriminar indevidamente. Dolo caracterizado. 3. DE-
SACATO. ATITUDE REFLETIDA. MENOSPREZO CONTRA SUPERIOR. CONDENAÇÃO.
Diante das provas colhidas nos autos, não há que se falar em mera descompostura
ou arrogância do agente que em atitude refletida menosprezou superior proferin-
do palavras injuriosas. Induvidosa a prática do delito do art. 298 , parágrafo único
do CPM . 4. PUBLICAÇÃO DE CRÍTICA INDEVIDA. CONFISSÃO DO ACUSADO.
Comprovada a incidência do agente no tipo previsto no artigo 166 do CPM , que
confessou ter veiculado em blog pessoal e sites da internet matérias com conteúdo
crítico a superior hierárquico e à disciplina da organização militar.

STM - HABEAS CORPUS HC


Data de publicação: 15/12/2009
2009010347089 RS 2009.01.034708-9

Ementa: HABEAS CORPUS. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME. PEDIDO DE TRAN-


CAMENTO DE AÇÃO PENAL. Paciente denunciado no art. 344 do CPM por ter
imputado a superiores os delitos de tortura, enriquecimento ilícito, prevaricação,
inobservância de lei, regulamento ou instrução, maus tratos, constrangimento
ilegal e abuso de autoridade. A Denúncia descreve, em tese, um fato típico, aponta
a autoria e encontra-se formalmente perfeita. Diz, com base em investigação feita
por membro do Ministério Público Militar, que o Paciente comunicou à Procura-
doria a ocorrência de crimes que sabia não terem existido. Trata-se de matéria de
mérito e eminentemente probatória, inviável de verificação pela via estreita de
habeas corpus. O feito mostra-se bastante complexo, cabendo ao Juízo a quo,
sob o crivo do contraditório, perquirir a veracidade dos fatos. Inexistindo qualquer
ilegalidade ou abuso de poder praticado em desfavor do Paciente, é de negar-se a
ordem pretendida. Unânime.

11.4 Falso testemunho ou falsa perícia


(artigo 346 do CPM)

Crime militar impróprio, também conhecido por perjúrio, pode ser cometido
por qualquer pessoa que, na qualidade de testemunha, perito, tradutor ou
intérprete, em inquérito ou processo judicial, faz afirmação falsa, não diz a
verdade, ou a nega.

108
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
A testemunha e as demais figuras citadas no tipo penal sempre prestam o
compromisso de dizer a verdade quando chamadas a intervir em IPM ou pro-
cesso judicial; e, se assim não agem, quebram o compromisso dado, incorren-
do no crime de falso testemunho ou falsa perícia.

Se o crime foi cometido mediante paga ou promessa de van-


tagem econômica, a pena aumenta em um terço. Se o agente
do crime se retrata ou diz a verdade antes da sentença final, o
crime deixa de ser punível.

Cabe destacar que o artigo 354 do CPPM traz o rol das pessoas que estão
desobrigadas de depor, em razão de laços de parentesco consanguíneo, civil
ou de afinidade com o acusado; e o artigo 355 do CPPM lista aquelas pessoas
que estão proibidas de atuar como testemunhas, pois, em razão da atividade
que exercem devam guardar segredo profissional, salvo se dispensadas desta
restrição pela pessoa interessada.

Vinculando-se ao tipo penal do perjúrio, destacamos o crime militar impróprio


de corrupção ativa de testemunha, perito ou intérprete, descrito no artigo
347 do CPM, que se caracteriza pela oferta ou promessa de dinheiro ou outra
qualquer vantagem econômica para que alguém pratique a conduta prevista
no artigo 346 do CPM; mesmo que a oferta não seja aceita.

11.4.1. Jurisprudência

STF - HABEAS CORPUS HC 75037 SP Data de publicação: 20/04/2001

Ementa: HABEAS CORPUS. COAUTORIA ATRIBUÍDA A ADVOGADO EM CRIME DE


FALSO TESTEMUNHO. POSSIBILIDADE. Advogado que instrui testemunha a apre-
sentar falsa versão favorável à causa que patrocina. Posterior comprovação de que
o depoente sequer estava presente no local do evento. Entendimento desta Corte
de que é possível, em tesem atribuir a advogado a coautoria pelo crime de falso
testemunho. Habeas Corpus conhecido e indeferido.

STF - RECURSO EXTRAORDINÁRIO RE 91519 Data de publicação: 07/11/1980

Ementa: FALSO TESTEMUNHO. RETRATAÇÃO. A retratação, em virtude da qual o


fato deixa de ser punível, é a verificada, antes de proferida a sentença, no processo
em que foram prestadas as falsas declarações e não a manifestada, posteriormen-
te, no processo pelo delito de perjúrio; caso contrario, a punição deste fica ao
alvedrio do respectivo réu, em hipótese de ação pública, indisponível tanto para a
acusação quanto para a defesa. Recurso extraordinário conhecido e provido.

109
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - APELAÇÃO (FO) Apelfo 50512 RJ
Data de publicação: 08/11/2007
2007.01.050512-1

Ementa: APELAÇÃO. DEFESA. FALSO TESTEMUNHO. EX-NAMORADA. MANUTEN-


ÇÃO SENTENÇA CONDENATÓRIA. Ré foi condenada à pena de 02 (dois) anos de
reclusão, como incursa no artigo 346 do Código Penal Militar; II - Suas versões no
IPM e na instrução criminal são diametralmente opostas. Para se justificar afirmou
que foi coagida a assinar o depoimento sem ler, o que foi totalmente afastado; III -
O delito de falso testemunho é crime contra a Administração da Justiça, tutelando
o interesse que se tem na seriedade e confiabilidade das decisões; IV - De acordo
com o STF e com o STJ, o fato de ser ex-namorada do réu não desconfigura o
crime, ainda mais quando ela mesma fez questão de negar tal condição e prestar o
compromisso legal; V - Apelação conhecida, mas improvida. Decisão unânime.

11.5 Desobediência à decisão judicial


(art. 349 do CPM)

Trata-se de crime que pode ser cometido por qualquer pessoa e, portanto, é
classificado como impropriamente militar.

Caracteriza a conduta um “não fazer” o que a autoridade judiciária determina


ou “um fazer” o que por ela fora proibido; ou, ainda, frauda o cumprimento
da determinação ou retarda o seu cumprimento.

O crime ocorre, por exemplo, quando o juiz expede alvará de soltura de preso
à disposição da justiça e o comandante responsável não cumpre a determina-
ção; ou quando ocorre a determinação de medida de segurança que não são
cumpridas porque de direito.

110
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
11.5.1. Jurisprudência

STM - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO RSE Data de publicação:


1072820127100010 CE 0000107-28.2012.7.10.0010 27/08/2013

Ementa: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR. ARTIGO


349 DO CPM. CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. NÃO COMPARECIMENTO DE TESTE-
MUNHA À AUDIÊNCIA DE INQUIRIÇÃO. REJEIÇÃO DE DENÚNCIA. Somente se
caracterizaria o crime de desobediência se a testemunha, devidamente notificada
para comparecer à determinada audiência em dia e hora previamente ajustados,
deixasse de se apresentar, não justificando o motivo pelo qual não compareceu
e, ato contínuo, fosse expedida nova ordem judicial para que fosse conduzida de
maneira coercitiva pelo Oficial de Justiça ou, em caso de resistência, pela polícia
judiciária militar ou polícia civil. Ao revés, não houve qualquer manifestação do
Juízo nesse sentido e, por consequência, inexistiu recusa por parte da testemunha
de descumprimento de ordem judicial, bem como para com o dever de prestar
compromisso com a Justiça Militar. Denúncia rejeitada para manter na sua totalida-
de a Decisão do Juízo a quo. Unânime.

111
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
12 Crimes praticados
em tempo de guerra

Objetivo específico

• Descrever o artigo 10 do CPM e definir o que seria tempo de guerra,


diferenciando as guerras dos conflitos armados.

Para se estudar os crimes militares de tempo de guerra, é necessário que se


defina, preliminarmente, a extensão do termo tempo de guerra.

De acordo com o artigo 15 do CPM, considera-se tempo de guerra aquele


intervalo de tempo entre a declaração ou do reconhecimento do estado de
guerra; ou, ainda, com o decreto de mobilização para a guerra, se neste estiver
compreendido, também, o reconhecimento do estado de guerra; e o de cessa-
ção das hostilidades, que pode ocorrer por meio do armistício ou da celebra-
ção da paz. O artigo 709 do CPPM dispõe que o conceito de força em opera-
ção de guerra pode se referir a qualquer tropa de uma das Forças Armadas,
desde o momento em que inicia seu deslocamento para o Teatro de Operações
até o seu retorno, mesmo que já encerradas as hostilidades. Esse entendimen-
to é confirmado pelo contido no parágrafo único do artigo 90 da Lei 8.457/92
que trata da Organização da Justiça Militar da União (LOJM).

A CF/88 dispõe que é da competência privativa do Presidente


da República, ouvido o Conselho de Defesa Nacional, declarar
a guerra, decretar a mobilização nacional (total ou parcial) e
celebrar paz, em todas as situações, desde que autorizado (ou
referendado) pelo Congresso Nacional (artigo 49, II; 84, XIX e XX;
e 91, §1º, I, tudo da CF/88).

113
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
Outro dado importante é que os crimes militares em tempo de paz, quan-
do praticados em tempo de guerra, terão suas penas majoradas em 1/3 (um
terço), conforme dicção do artigo 20 do CPM. Exceção daqueles crimes que
encontram previsão tanto para tempo de paz, como para tempo de guerra
como, por exemplo, o de motim ou revolta, previstos nos artigos 149 e 368,
do CPM, respectivamente, mas com penas diferenciadas.

Por fim, o CPM contém em certos tipos penais para o tempo de guerra a ele-
mentar do tipo que se refere à conduta criminosa praticada em “presença do
inimigo”; situação que se resolve pelo contido no artigo 25 do CPM, no qual
se verifica que esta situação se apresenta, particularmente, nas zonas de efeti-
vas operações militares, ou seja, nos teatros de operações, que constituem as
zonas de combate e as zonas de administração do combate, seja em território
nacional ou estrangeiro. No entanto, tendo em vista o avanço da qualidade
dos meios de combate e de apoio ao combate, tal delimitação se tornou um
tanto quanto vaga e, atualmente, tem-se que o teatro de operações se tor-
nou fluido, descontínuo e global, visto que envolve manipulação dos meios
de combate à longa distância, e mesmo remotamente; sem desconsiderar a
amplitude e incerteza de local quanto à guerra cibernética.

12.1 Guerra e conflitos armados – diferenciação

De acordo com a melhor doutrina, a guerra é um tipo de conflito armado.


Atualmente, se entende que conflito armado é toda e qualquer situação em
que se posicionam, em polos opostos, forças minimamente organizadas; e que
a situação de hostilidades e embates seja real, concreta, e que algum organis-
mo internacional (ou país fora do conflito) tenha reconhecido tal estado de
coisas; podendo envolver um ou mais Estados, como também forças organiza-
das em torno de posições ou ideologias políticas, religiosas, étnicas, geográfi-
cas e outros. Portanto, as guerras caracterizam-se como conflitos armados.

Pode-se citar como exemplo de guerra no seu sentido exato aquela em que o
Brasil, por meio de ato formal, declarou perante o Eixo formado pela Alemanha,
Itália e Japão (Segunda Guerra Mundial) e como exemplo de conflito armado
aquele que envolveu os antigos componentes da extinta Iugoslávia, cuja situa-
ção beligerante foi reconhecida por organismos internacionais, provocando até
a intervenção bélica de outros países.

114
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Sendo assim, o conflito armado guerra, como já informado no item 12.1, pres- A situação que envolveu a Co-
supõe uma atitude formal e legal, que exige procedimentos obrigatórios, neces- lômbia e as Forças Armadas
Revolucionárias da Colôm-
sários e imprescindíveis do chefe do Poder Executivo nacional e dos membros bia (FARC) não se enquadra
do respectivo parlamento. Os demais conflitos armados (exceto as situações de nem como conflito armado,
e muito menos como estado
guerra declarada), sejam internos ou externos, não têm tal conotação, visto que de guerra, tendo em vista que
não envolvem governos soberanos em litígio formal e declarado. Porém, porque nenhum Estado ou organismo
internacional reconhece e le-
os embates entre os oponentes são de tal gravidade e violência e porque provo-
gitima as FARC em seu litígio
cam enorme prejuízo para as pessoas e para o patrimônio econômico e cultural contra o Estado colombiano.
dos envolvidos, a comunidade internacional, por meio de seus países soberanos
ou por organismos internacionais, reconhece e empresta o status de conflito
armado, o que sujeita aos diretamente envolvidos medidas repressivas, econô-
micas ou bélicas. Além disso, impõe aos litigantes toda a estrutura normativa
do Direito Internacional, particularmente o relativo aos Direitos Humanos.

Na hipótese do Brasil se envolver em conflitos armados, mesmo que envolven-


do forças minimamente organizadas e que um ou mais dos oponentes seja um
Estado soberano, e onde varie a amplitude e gravidade dos confrontos, não há
que se falar em “estado de guerra”, mas sim, em conflito armado propriamen-
te dito. Nestes casos são inaplicáveis os tipos penais descritos no Livro II da Par-
te Especial do CPM. Em tais situações, vigem plenamente o sistema de cons-
titucionalidade e os tipos penais previstos para o tempo de paz, sejam tipos
penais militares ou comuns. Por outro lado, caso venha a ocorrer um conflito
armado precedido por uma declaração formal do estado de guerra, aplicam-se,
nas hipóteses previstas, o que prescreve o artigo 10 do CPM e, se for o caso,
as diversas legislações internacionais que regem a matéria, como a Carta dos
Direitos da ONU e as Convenções de Genebra e seus protocolos, as quais per-
tencem ao campo do Direito Internacional dos Conflitos Armados (DICA) e do
Direito Internacional Humanitário (DIH), ou como quer parte da doutrina, em
simplesmente Direito Humanitário (DH).

115
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
12.2 Delimitação dos crimes militares
em tempo de guerra (artigo 10 do CPM)

Para que se configure a prática de um crime previsto para o tempo de guerra,


não basta que o mesmo esteja descrito no Livro II da Parte Especial do CPM (ar-
tigo 355 ao 408); há que se verificar se uma das situações previstas no artigo
10 do CPM estão presentes, o que alarga em muito o conceito de crime militar
em tempo de guerra; tendo em vista que os crimes comuns, ou seja, aque-
les descritos no Código Penal Brasileiro e nas demais leis penais existentes no
ordenamento jurídico, também podem, conforme a situação que se apresente,
ser considerados crimes militares em tempo de guerra. Então, de acordo com o
artigo 10 do CPM são considerados crimes militares em tempo de guerra:

a. Os previstos no Livro II da Parte Especial do CPM (artigo 355 ao 408);


como, por exemplo, os crimes de traição, covardia, espionagem,
saque e rapto, e outros (artigo 10, inciso I, do CPM).

b. Todos os crimes previstos para o tempo de paz, quais sejam dos artigos
136 ao 354 do CPM, tais como dormir em serviço, insubmissão,
violência contra militar de serviço, entre outros (artigo 9º e artigo
10, inciso II do CPM).

c. Todos os crimes previstos com igual definição tanto no CPM como nas
leis penais comuns ou especiais (LSN), qualquer que seja o agente do
crime, desde que praticados em território militarmente ocupado; ou se
comprometem ou podem comprometer a preparação, a eficiência, ou as
operações militares; ou, ainda, se, por qualquer forma, atentam contra a
segurança externa ou expõem a perigo a segurança externa do Brasil, tais
como o FURTO, ESTELIONATO, HOMICÍDIO (artigo 10, inciso III, do CPM).

d. Todos os crimes definidos na lei penal comum ou especial (LSN), embora


não previstos no CPM, quando praticados em zona de efetivas opera-
ções militares ou em território estrangeiro militarmente ocupado, tais
como o ABORTO, VIOLAÇÃO DE SEPULTURA, VILIPÊNDIO A CADÁVER,
ASSÉDIO SEXUAL e outros (artigo 10, inciso IV do CPM).

Em síntese, os crimes militares em tempo de guerra, afora os específicos descri-


tos no Livro II da Parte Especial do CPM e os enquadrados na Lei de Segu­rança
Nacional (lei especial), são os mesmos para o tempo de paz, tanto na legisla-
ção penal comum como na militar, desde que se enquadrem, os primeiros, nas
hipóteses dos incisos III e IV do artigo 10, com suas penas aumentadas em 1/3.

116
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Artigo 10o do Código Penal Militar

Crime previsto Crime previsto Crime previsto Crime previsto


no CPM para o no CPM para o e na legislação somente na
tempo de guerrra tempo de paz penal legislação penal
(art. 9 o CPM) comum

Crime militar Crime militar Em zona de operações


militares ou em
território militarmente
Em território ocupado
militarmente
ocupado

Crime militar Crime militar

Quando atentar contra


as operações militares
ou segurança externa

117
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
13 Do favorecimento ao inimigo

Objetivo específico

• Descrever os crimes militares em tempo de guerra de favorecimento


ao inimigo.

Os crimes descritos no Título I do Livro II da Parte Especial do CPM tratam das


inúmeras condutas que possam, de alguma forma, favorecer ao inimigo no
seu objetivo de sobrepujar as forças nacionais em guerra.

Ao todo, são mais de 40 (quarenta) crimes, razão pela qual, por delimitação
do tempo disponível, nos prenderemos aos mais emblemáticos e significativos,
mesmo porque alguns deles já foram estudados anteriormente, por também
estarem previstos para o tempo de paz.

Cabe destacar que muitos dos crimes deste título, por sua imensa gravidade,
trazem cominadas penas de morte no seu grau máximo.

Quando a lei penal militar se refere ao termo nacional, significa que trata do
brasileiro nato ou naturalizado, conforme dispõem os artigos 12 da CF/88 e o
artigo 26 do CPM.

13.1 Da traição

A traição, prevista no artigo 355 do CPM, é um crime militar impróprio, que


se caracteriza pelo fato de um nacional combater contra o Brasil ou contra
um Estado que seja aliado do nosso país ou prestar serviços em Força Armada
de um país que esteja em guerra contra o Brasil.

13.1.1. Favor ao inimigo

Ocorre o crime impropriamente militar de favor ao inimigo (artigo 356 do CPM)


quando um brasileiro favorece ou tenta favorecer o inimigo, prejudica ou tenta

119
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
prejudicar o sucesso das operações militares empreendidas por forças nacionais
ou, ainda, compromete ou tenta comprometer a eficiência bélica do Brasil, por
meio das práticas ou omissões listadas nos incisos de I a V do artigo 356.

13.1.2. A coação a comandante (artigo 358 do CPM)

Crime impropriamente militar é um crime que se consuma em uma das hi-


póteses descritas no tipo penal, quais sejam, a conspiração (no mínimo duas
pessoas); a prática de violência, ameaça, tumultos, ou desordem; tudo com
a finalidade de obrigar um comandante a não iniciar ação militar (ou cessar
aquela já iniciada); recuar; ou, ainda, a render-se.

13.1.3. Prestar informação ou auxílio ao inimigo

De acordo com o artigo 359 do CPM também é um crime impropriamente mi-


litar, visto que pode ser praticado por qualquer brasileiro que venha a fornecer
informação ou prestar ajuda ao inimigo, de forma que lhe torne mais fácil uma
determinada ação militar.

13.1.4. A aliciação de militar

Descrita no artigo 360 do CPM, é o crime militar impróprio em que um nacional


recruta (ou auxilia) um militar brasileiro a passar para as fileiras do inimigo.

13.1.5. Ato prejudicial à eficiência da tropa

Crime impropriamente militar previsto no artigo 361 do CPM. Comete esse


crime o brasileiro que, perante o inimigo e tendo por finalidade causar confu-
são ou desânimo em tropa ou guarnição, provoca sua debandada, impede sua
reunião ou lhe causa alarme.

13.2 Da cobardia

O militar que, perante o inimigo e por medo, esquiva-se (ou tenta esquivar-
-se) ao cumprimento do dever militar, comete o crime propriamente militar de
cobardia, descrito no artigo 363 do CPM.

120
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
13.2.1. Cobardia qualificada

No entanto, se por medo e perante o inimigo, o militar provoca a debandada


de tropa (ou guarnição), impede sua reunião, ou lhe causa alarme, tendo tais
ações a finalidade de causar confusão ou desânimo, comete o crime propria-
mente militar de covardia qualificada, previsto no artigo 364 do CPM.

13.2.2. Fuga em presença do inimigo

O militar que, estando na presença do inimigo, foge ou instiga companheiros à


fuga, comete o crime propriamente militar de fuga em presença do inimigo,
conforme o comando do artigo 365 do CPM.

13.3 Da inobservância do dever militar

O crime propriamente militar de rendição ou capitulação descrito no artigo


372 do CPM se configura quando um comandante, em qualquer nível, apesar
de ainda ter condições materiais e humanas de prosseguir no combate, depõe
as armas e se rende ao inimigo.

Também comete a conduta delituosa, o comandante que, após


a deposição geral das armas (capitulação), não se comporta de
acordo com a ética e o dever militar, deixando de atender as
suas responsabilidades previstas nas leis, regulamentos e con-
venções internacionais.

13.3.1. Omissão de vigilância

Quando um comandante é surpreendido por uma ação militar inimiga porque


não teve o cuidado e a precaução em guarnecer postos adequados e suficientes,
ou porque não ativou adequadamente seu sistema de inteligência (patrulhas,
coleta de informações), comete o crime propriamente militar de omissão de
vigilância, descrito no artigo 373 do CPM. Se o fato compromete o desenrolar
das operações militares, a conduta se qualifica com novo patamar de pena.

13.3.2. Falta de cumprimento de ordem

Quando um militar ou civil não atende a uma ordem legal recebida que verse
sobre matéria de serviço, dando causa, assim, à ação militar do inimigo, comete

121
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
o crime impropriamente militar de falta de cumprimento de ordem, previs-
to no artigo 375 do CPM. Se o fato expõe a perigo concreto qualquer elemento
destinado à ação militar, a conduta omissiva se qualifica com um novo patamar
de pena previsto.

13.3.3. Entrega ou abandono culposo

Quando um civil ou militar, por imprudência, imperícia ou negligência, enseja


o abandono ou a entrega ao inimigo de posição, navio, aeronave, engenho de
guerra, provisões de qualquer ordem, ou qualquer outro material destinado às
ações militares, comete o delito impropriamente militar de entrega ou aban-
dono culposo, conforme o artigo 376 do CPM.

13.3.4. Captura ou sacrifício culposo

Se um comandante, agindo com imprudência, imperícia ou negligência, dá causa


à perda ou captura da tropa sob seu comando, comete o crime propriamente
militar de captura ou sacrifício culposo, de acordo com o artigo 377 do CPM.

13.3.5. Separação reprovável

No caso de capitulação, se um comandante se separa de seus comandados,


oficiais e praças, abandonando-os à própria sorte e não comungando com eles
as agruras e desconfortos próprios dos vencidos, deixa de observar seu dever
militar e incide no delito propriamente militar de separação reprovável,
capitulado no artigo 378 do CPM.

13.4 Do dano

Comete o crime impropriamente militar de dano em bens de interesse militar,


configurado no artigo 384 do CPM, aquele militar ou civil que danifica qual-
quer tipo de serviço público, meio de comunicação, meio ou via de circulação,
depósito de qualquer espécie, fábrica, plantação, criações de animais para
consumo, ou qualquer estabelecimento que produza artigos necessários à de-
fesa nacional, ou imprescindíveis ao bem-estar da população, caso a conduta
praticada comprometa ou possa comprometer a preparação, eficiência, ou as
operações militares ou, ainda, por qualquer outro meio ou forma, que venha
atentar contra a segurança externa do país em tempo de guerra.

122
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
13.4.1. Envenenamento, corrupção ou epidemia

Qualquer pessoa que, em tempo de guerra, envenena ou estraga água para


consumo humano, gêneros alimentícios, ou alimento para rebanhos; ou causa
epidemias pela propagação de germes; caso tal conduta comprometa (ou pos-
sa comprometer) a preparação, eficiência ou o curso regular das operações mi-
litares, ou, ainda, de qualquer outra forma atenta contra a segurança externa
do Brasil, comete o crime militar impróprio de envenenamento, corrupção
ou epidemia, descrito no artigo 385 do CPM.

13.5 Da insubordinação e da violência

Quando uma pessoa, militar ou civil, coage física ou moralmente com violência
ou ameaça, oficial-general ou comandante de unidade a não cumprir com seus
deveres como militar e comandante, está praticando o delito de coação con-
tra oficial-general ou comandante, de acordo com o artigo 388 do CPM.

13.6 Da deserção e da falta de apresentação

Nos crimes de deserção em tempo de guerra, o prazo de graça fica reduzido à


metade (quatro dias). E a pena prevista para o tempo de paz é aumentada da
metade (artigo 391 do CPM). Se for praticada em presença do inimigo, a pena
em grau máximo passa a ser a de morte (artigo 392 do CPM).

13.6.1. Falta de apresentação

Se um civil convocado em ato de mobilização nacional não se apresentar no


prazo que lhe foi marcado ou no local que lhe foi indicado, comete o crime de
falta de apresentação, de acordo com o artigo 393 do CPM. Se for oficial da
reserva, a pena é majorada em 1/3 (um terço).

123
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
14 Da hostilidade
e da ordem arbitrária

Objetivo específico

• Descrever os crimes militares em tempo de guerra de hostilidade e da


ordem arbitrária.

O comandante que sabe por meios oficiais (cadeia de comando, declaração de


autoridade legal), qualquer que seja o meio utilizado (escrito, verbal, meios de rá-
dio e teledifusão) de que já foi celebrada a paz; ou que foi combinado armistício
(suspensão das atividades de guerra); e que, ainda assim, continua com hostilida-
des (ações de combate, bombardeios, e outros), incide no crime militar próprio
de prolongamento das hostilidades, capitulado no artigo 398 do CPM.

A conduta se assemelha em tudo ao crime descrito no artigo 136


do CPM, diferindo apenas no momento da hostilidade praticada.
No caso do artigo 136, a hostilidade ocorre em momento ante-
rior à guerra, podendo até vir a provocá-la; já no caso do artigo
398 do CPM, a hostilidade é cometida após ser combinada a paz,
podendo até vir a cancelá-la.

14.1 Ordem arbitrária

O comandante de tropa em qualquer nível que, sem permissão legal, deter-


mina a pessoas naturais ou jurídicas contribuições de guerra; ou, ainda, tendo
autorização para determinar tais contribuições, extrapola os limites que lhe
foram impostos, comete o crime propriamente militar de ordem arbitrária,
capitulado no artigo 399 do CPM.

O termo contribuição de guerra deve ser entendido como todo e qualquer


bem de valor patrimonial que é subtraído compulsoriamente do particular,
nacional ou estrangeiro, tendo em vista o esforço e as ações de guerra.

125
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
15 Bibliografia

Referências bibliográficas

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co. 6ª ed. Curitiba: Juruá, 2007.

BANDEIRA, Esmeraldino. Curso de Direito Penal. 1ª ed. Rio de Janeiro: Frei-


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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso
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_____. Decreto 4.346/2002. Regulamento Disciplinar do Exército (R-4).


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.
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_____. Decreto-Lei 1.001/1969. Código Penal Militar Brasileiro (CPM). Dis-


ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del1001.htm>.
Acesso em: 10 de julho de 2013.

_____. Decreto-Lei 1.002/1969. Código de Processo Penal Militar Bra-


sileiro (CPPM). Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/de-
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_____. Lei 7.170/83. Lei de Segurança Nacional (LSN). Disponível em:


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LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar atualizado. Brasília: Brasília Jurídica, 1999.

MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 20ª ed. ver. e atual. pelo prof. Miguel
Alfredo Maluf Neto. São Paulo: Saraiva, 1990.

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. v. 1, 2ª ed. São Paulo:


Atlas, 1986.

127
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
NEVES, Cícero Robson Coimbra e Streifinger, Marcello. Apontamentos de
Direito Penal Militar. Volume 2. São Paulo: Saraiva, 2007.

NORONHA, Magalhães E. Direito Penal. 1º vol. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 1968.

ROMEIRO, Jorge Alberto. Curso de Direito Penal Militar: Parte Geral. 1ª ed.
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Bibliografia complementar

BANDEIRA, Esmeraldino. Direito, Justiça e Processo Militar. 1º e 2º Volu-


mes. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1919.

PRATES, Homero. Código da Justiça Militar. 1ª edição. Rio de Janeiro: Frei-


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REICHARDT, H. Canabarro. Código Penal Militar. 1ª edição. Rio de Janeiro:


A. Coelho Filho Editor, 1945.

128
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CCEAD – Coordenação Central de Educação a Distância

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