Redação Pedagógica
Tito Ricardo de Almeida Tortori
Revisão
Alessandra Muylaert Archer
Projeto Gráfico
Fundamentos do direito público e privado : apostila 3 DPP /
Romulo Freitas
coordenação didático-pedagógica: Stella M. Peixoto de Azevedo
Diagramação Pedrosa ; redação pedagógica: Tito Ricardo de Almeida Tortori ;
Luiza Serpa revisão: Alessandra Muylaert Archer ; projeto gráfico: Romulo Freitas
; coordenação de conteudistas: Fernando Velôzo Gomes Pedrosa ;
Coordenação de Conteudistas conteudistas: Antônio Augusto Rodrigues Serpa, Fernando Antonio
Fernando Velôzo Gomes Pedrosa Cury Bassoto, Lúcio Fernandes Dias ; revisão técnica: Otávio Bravo ;
produção: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro ; realização:
Conteudistas EsIE – Escola de Instrução Especializada [do] Exército Brasileiro. – Rio de
Antônio Augusto Rodrigues Serpa Janeiro : PUC-Rio, CCEAD, 2013.
Fernando Antonio Cury Bassoto
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais – CHQAO.
Lúcio Fernandes Dias
176 p. : il. (color.) ; 21 cm.
Revisão Técnica Inclui bibliografia.
Otávio Bravo 1. Direito público - Brasil. 2. Direito privado – Brasil. I. Pedrosa,
Stella M. Peixoto de Azevedo. II. Tortori, Tito Ricardo de Almeida. III.
Produção Serpa, Antônio Augusto Rodrigues. IV. Bassoto, Fernando Antonio Cury.
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro V. Dias, Lúcio Fernandes. VI. Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro. Coordenação Central Educação a Distância. VII. Brasil. Exército.
Realização Escola de Instrução Especializada.
EsIE – Escola de Instrução Especializada CDD: 342
Exército Brasileiro
CHQAO
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Boa leitura!
conteudistas
Lúcio Fernandes Dias é bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das
Agulhas Negras (AMAN) e em Direito pela Universidade de Barra Mansa (UBM). É
mestre em Ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO) e
pós-graduado em Direito Civil, Processual Civil e Magistério Superior pela Universidade
de Barra Mansa (UBM). Possui os Cursos de Direito Internacional Humanitário Militar
em Sanremo, Itália, e em Buenos Aires, Argentina. É professor da Cadeira de Direito
da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), onde leciona Direito Penal e Direito
Processual Penal Militar há mais de 12 anos.
Índice
Objetivo específico
• O desrespeito a um superior;
• O descumprimento de ordens;
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
1.1 O conceito de crime militar
O conceito de crime tem, segundo cada um dos diversos juristas que o estu-
dam, a ênfase em uma ou outra peculiaridade. Dentro do escopo desse texto,
escolhemos a percepção de Magalhães Noronha (1968) por ser simples e
completo. Segundo esse autor, crime “é a conduta humana que lesa ou expõe
a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal” (NORONHA, 1968, p. 94).
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
aparenta constituir infração aos regulamentos militares ou violação à lei penal
militar ou comum.
Além disso, nos casos de flagrante delito, quem presidirá a lavratura do auto
de prisão em flagrante delito (APFD) será um oficial (o comandante ou a
quem ele delegar competência). Nos dias sem expediente ou após o término
do expediente será, via de regra, o oficial de dia ou fiscal de dia.
Portanto, para decidir se lavra ou não um APFD, o oficial deve saber distinguir
se o fato em questão constituiu uma transgressão disciplinar ou um crime e, se
houver indícios de crime, deve ter condições de diferenciar entre um crime de
natureza comum ou militar.
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
Para ajudá-lo a compreender este assunto, é importante fornecer ferramentas
Deslinde: apuração, para o [deslinde] de eventuais situações do dia a dia da caserna. Vamos anali-
esclarecimento.
sar o artigo 9º do CPM, que trata dos crimes militares em tempo de paz.
Preliminarmente, é preciso que identifiquemos como a lei penal militar foi cons-
truída. O CPM se compõe de uma Parte Geral, montada em um Livro Único, que
vai do artigo 1º ao artigo135. E de uma Parte Especial, composta por dois Livros:
• Livro I: que trata dos crimes militares em tempo de paz (artigos 136
ao 354)
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
crime previsto
crime previsto
crime militar no CPM e na
somente no CPM
legislação penal
Em lugar sujeito
Manobras ou à administração
exercício militar
O inciso I do artigo 9º dispõe que são crimes militares aqueles que só es-
tão previstos no CPM ou que, embora também tratados na legislação penal
comum, se encontram no CPM com redação diversa (tais crimes são tratados,
na melhor doutrina, como ‘crimes tipicamente militares’ ou ‘crimes militares
típicos’) - não importando, nestes casos, quem seja o agente do crime (um
militar ou um civil). Então, podemos citar, a título de exemplo, o crime de de-
serção (artigo 187) como um crime que só está previsto no CPM; enquanto o
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
crime de estupro (artigo 232 do CPM e artigo 213 do CP) é descrito de forma
diversa, nos dois Códigos Penais.
O termo final “qualquer que seja o agente, salvo disposição especial” diz res-
peito a que determinados crimes são de autoria necessária, como o de dormir
em serviço (artigo 203), que requer a condição de militar do agente; ou o
crime de exercício de comércio (artigo 204), em que somente o oficial pode ser
o agente ativo; ou ainda o crime de insubmissão (artigo 183), que só pode ser
cometido por civil convocado para o serviço militar.
O inciso II do artigo 9º considera que serão crimes militares todos aqueles que
estão previstos no CPM, embora também estejam previstos no CP, mas impõe
a condição de que o agente do crime seja militar da ativa.
• Um civil;
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
É importante sinalizar alguns pontos que podem suscitar dúvidas:
Aquele que está no serviço ativo, nos termos do artigo 6º do E-1; não
importando que esteja agregado, de folga, à paisana, de licença, férias, ou
ainda fora de local sob a administração militar. Se estiver incorporado às
Forças Armadas é considerado militar em situação de atividade (vide artigo
3º, §1º, alínea “a”, do E-1).
b. Assemelhado:
c. Militar da reserva
Aquele que tendo servido nas Forças Armadas, pertence ao rol de militares
inativos, remunerados ou não; mas ainda são considerados mobilizáveis
nos termos da lei. Note-se que o militar da reserva ou reformado, quando
empregado na administração militar, equipara-se ao militar da ativa, para
fins de aplicação da lei penal militar (artigo 12 do CPM).
d. Militar reformado
Aquele que tendo pertencido aos efetivos das Forças Armadas foi enquadrado
em uma das hipóteses previstas no artigo 106 do E-1. Estão definitivamente
dispensados de prestação de serviço na ativa, mas continuam a receber remu-
neração da União (vide artigo 3º, § 1º, alínea “b”, inciso II, do E-1).
Todo e qualquer lugar onde unidades ou frações das Forças Armadas reali- Consulte a respeito do Acór-
dão do Conflito de Compe-
zam suas atividades, tais como quartéis, navios, aeronaves, campos de prova
tência nº 11.358-SP, do Supe-
ou de exercício e de instrução, estabelecimentos de ensino militar, estabe- rior Tribunal de Justiça em:
lecimentos industriais militares, de saúde, de suprimento ou manutenção h t t p s : / / w w 2 . s t j . j u s. b r /
processo/jsp/ita/abreDocu-
(arsenais, parques, depósitos de subsistência ou de material). Neste conceito,
mento.jsp?num_registro=
não estão incluídos os próprios nacionais residenciais localizados nas 199400346476&dt_
vilas militares (ou fora delas), distribuídos a militares e civis, os quais têm a publicacao=18-03-
1996&cod_tipo_documen-
proteção constitucional da inviolabilidade do domicílio (artigo 5º, inciso XI, to=1
da CF/88). Isto, contudo, não significa que eventuais crimes cometidos no seu
interior ou contra o patrimônio estatal não possa configurar um crime militar.
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
Um exemplo disso é a situação em que um militar agride outro militar no
interior do PNR, causando-lhe lesão corporal (artigo 209 do CPM); ou no
caso do militar, usuário e responsável por determinado PNR, que danifica o
imóvel que lhe foi distribuído (artigo 259 do CPM).
Nesse caso, o bem jurídico tutelado é a administração pública, seja ela admi-
nistração militar ou a administração judiciária militar. São os crimes descritos
nos Títulos VII e VIII do Livro I da Parte Especial do CPM (artigo 298 ao 354).
• Apenas no CPM;
As diversas situações descritas nas alíneas do inciso III que podem suscitar
algum tipo de dúvida já foram abordadas anteriormente no item 1.3.2.
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
1.3.4. Parágrafo único do artigo 9º do CPM
A edição inicial do CPM não continha um parágrafo único no seu artigo 9º,
mas a lei nº 9.299/96 trouxe uma novidade, ou seja, a inclusão de um disposi-
tivo de ordem processual em norma substantiva. Isso causou espécie e ampla
discussão técnica a respeito de ser o dispositivo constitucional ou não. Naquela
oportunidade, ficou assentado que os crimes dolosos contra a vida e pratica-
dos por militares contra civis passariam a ser da competência jurisdicional da
justiça comum e não mais da justiça militar.
Então, a partir daquela data, nos crimes que se enquadram nas hipóteses do
artigo 9º − se dolosos contra a vida de civis − será competente para julgar a
suposta [ação delitiva] a justiça comum; valendo dizer, caso a denúncia seja Ação delitiva: atitude
em que se caracteriza um
aceita, a submissão do acusado a um tribunal do júri.
delito.
Contudo, a lei nº 12.432/11 trouxe uma nova redação ao parágrafo único
do artigo 9º, excepcionando seus efeitos originários, para devolver à justiça
militar a competência jurisdicional nos casos de uma ação militar praticada nos
estritos limites do artigo 303, §2º do Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei nº
7.565/86). Isso se refere, especificamente, ao uso de meios extremos contra
aeronaves hostis que violem o espaço aéreo brasileiro e não se submetam à
ordem de pouso em aeródromo nacional. Nesses casos, a lei autoriza o tiro de
destruição e, para tais casos, o parágrafo único do artigo 9º do CPM foi modi-
ficado. Permanece, nas demais situações de ação dolosa contra a vida de civis,
a competência da justiça comum para conduzir o processo e o julgamento.
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
2 Tipos de crimes militares
Objetivos específicos
Como a lei é omissa em tal distinção, o tema tem sido objeto de variada e rica
abordagem. Na verdade, todas as teorias existentes, ainda que merecedoras
de consideração e respeito, não atendem de forma satisfatória e plenamente
às inúmeras facetas que o assunto comporta. Todos os entendimentos, sem
exceção, quando transitam na tentativa de enquadrar os diversos tipos penais
em uma ou outra classe, assomam aqui e acolá inconsistências que trazem
certo grau de insegurança para aqueles que efetivamente deverão tratar dos
inúmeros casos concretos na prática castrense. Faremos uma abordagem des-
critiva, elencando, ao final, aquela posição que consideramos a mais adequada
e segura para o oficial no desempenho de atividades ligadas ao assunto.
A partir desse contexto é possível perguntar por que seria importante sa-
ber distinguir a diferença entre um crime propriamente militar de um crime
impropriamente militar? Tentando responder a esse questionamento é preci-
so destacar que a nossa Constituição em vigor trouxe à baila o assunto, com
fundamental reflexo na atividade de polícia judiciária militar. Considere o que o
inciso LXI do artigo 5º da CF/88 informa:
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
É possível perceber que a parte final do dispositivo confere à autoridade militar
a capacidade de prender quem comete transgressão disciplinar (o que não
nos traz qualquer dificuldade, à luz do RDE); mas, também, de prender quem
comete crime propriamente militar. Porém, nem a CF/88 e tampouco a lei
penal (CPM) ou processual penal militar (CPPM) informa o que vem a ser crime
propriamente militar.
Também no artigo 64, II do CP, temos comando que impõe distinção entre
crime propriamente e impropriamente militar. Tal norma dispõe que não serão
consideradas, para efeito de reincidência, condenações passadas por come-
timento de crimes propriamente militares. Desse modo, por exemplo, alguém
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
condenado pelo crime propriamente militar de dormir em serviço (artigo 203
do CPM) não será considerado reincidente perante a justiça penal comum,
mesmo que ainda não reabilitado perante a justiça castrense.
Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e funda-
mentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
Bandeira, citando o direito na Roma antiga, nos ensina que “[...] crime propria-
mente militar é aqquele (sic)que só o soldado pode commetter. (sic)” (1915,
p.18). Lobão oferece o esclarecimento a seguir:
Como Bandeira, e tantos outros autores citados, nos parece consolidado nas
posições exaradas, bem como pautado na jurisprudência, vincular o conceito
de crime propriamente militar como sendo aquele próprio da profissão militar,
que só pode ser cometido pelo profissional militar e que viole bens jurídicos
vinculados às instituições militares.
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Por fim, Lobão aponta um conceito definitivo, no qual dispõe:
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
2.2 Crimes impropriamente militares
Em primeiro lugar, vale trazer a ideia de que os agentes ativos de tais crimes
podem ser tanto civis, quanto militares. Em segundo, que tais crimes, em sua
Legislação extravagan- maioria, estão previstos tanto no CPM, quanto na [legislação penal] comum
te: relação de normas legais
(CP ou legislação extravagante); mesmo que descritos de forma diversa, mas
existentes no ordenamento
jurídico, vinculadas a deter- com o objetivo de tutelarem bens jurídicos idênticos.
minado ramo do direito, mas
que se situam fora da codi- Bandeira informa que os crimes impropriamente militares:
ficação disponível. A Lei nº
7.170/83, Lei de Segurança São crimes intrinsecamente communs(sic), mas que se
Nacional (LSN), por exem- tornam militares, já pelo caráter militar do agente, já pela
plo, que lista crimes contra
natureza militar do local, já pela anormalidade da épocha
a segurança externa do país
e que não está inserida no (sic) ou do tempo em que são commettidos(sic).(BANDEI-
Código Penal. RA, 1915, p. 13).
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
3 Crimes contra a
segurança externa do país
Objetivos específicos
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
• Causalidade: também conhecida como nexo causal. Ocorre quan-
do determinado resultado injusto é consequência direta de uma
conduta humana.
Os crimes militares descritos nos artigos 136 ao 148 do CPM são aqueles aten-
tatórios à segurança externa, à independência e à soberania do país. Sendo a
defesa da pátria uma missão das Forças Armadas, pode-se considerar razoá-
vel que alguém que atente contra esses bens jurídicos esteja cometendo um
crime militar.
Assim, alguns juristas entendem que tais ilícitos penais constituem uma cate-
goria especial de crimes – os crimes políticos – terminologia acatada pelo
constituinte originário.
É importante ressaltar, então, que a LSN e o CPM contêm alguns tipos penais
semelhantes entre si. Isso pode suscitar um conflito aparente de normas e de
competência jurisdicional; pois a Constituição em vigor não recepcionou o
artigo 30 da LSN, que previa competência da Justiça Militar para julgar os de-
litos contra a segurança nacional. A competência para julgar os crimes contra
a segurança nacional − considerando que atualmente a Justiça Militar só é
competente para julgar os crimes militares definidos em lei (artigo 124/CF-88)
− foi deslocada para a Justiça Federal (artigo 109, IV, 1ª parte/CF-88).
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Sendo assim, apesar da duplicidade ou semelhança entre os tipos descritos
tanto no CPM como na LSN e a divergência de opinião entre os autores sobre
a competência da JMU para julgar os tipos descritos dos artigos 136 ao 148
do CPM; a doutrina recente − preponderante no magistério de Assis (2007) e
Coimbra Neves e Streifinger (2012) − informa que os crimes contra a seguran-
ça externa do país, descritos no CPM, quando praticados por militares serão
considerados crimes militares e julgados pela Justiça Militar.
Obviamente que nos tipos penais exclusivos da LSN, quando o agente ativo for
militar, cometerá crime político e será julgado pela Justiça Federal. Da mesma
forma, quando o crime só estiver previsto no CPM, mesmo o agente sendo
civil, caberá à Justiça Militar da União (JMU) o seu processo e julgamento.
É interessante ressaltar, ainda, que os bens jurídicos tutelados neste Título são tão
fundamentais que o legislador considerou a mera ação de tentar como bastante
para a consumação do delito, como nos casos dos artigos 140 e 142 do CPM.
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
3.2 Crimes contra a segurança externa do país
Esse é tipo de crime que admite o instituto da tentativa, visto que o ato hostil
poderá ser interrompido antes de sua consumação por fatores alheios à vonta-
de do agente ativo.
Este também é um crime militar próprio, uma vez que exige como condição
necessária que o agente ativo do crime seja militar. Além disso, esse tipo de
crime só é previsto no CPM.
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
O crime se consuma quando ocorre a provocação da qual advém uma das
reações descritas no tipo penal. Caso não ocorram, então o enquadramento
poderá ocorrer no artigo 136, caput (tipo penal reserva). Admite a tentativa,
visto que o ato de provocar pode ser obstado, de início, pela ação de terceiros.
Assis (2007) lembra que atos de jurisdição constituem condutas privativas dos Há posicionamentos doutri-
nários que entendem que a
juízes de direito, não entendendo como poderia um militar ou qualquer outra
expressão “jurisdição” foi uti-
pessoa praticar tais atos. Destaca, também, como totalmente inadequado e lizada inadequadamente pelo
que deve ser desconsiderado o termo “indevidamente”, visto que não se pode legislador na redação desse
tipo penal e teria desejado ele
admitir a prática “devida” de ato de soberania de outro país em território bra- se referir a “ato de exercício de
sileiro (2008, p. 294). soberania”. No entanto, a não
se admitir interpretação ex-
De qualquer forma, poderiam caracterizar atos de jurisdição: tensiva em direito penal, não
há como se estender o concei-
• A apreensão de bens de devedor junto a outro país; to além do proposto por Assis.
Um dado relevante é que o crime tem que ser praticado em território nacional,
sendo como tal considerado o seu espaço físico-geográfico, as ilhas oceânicas
onde o Brasil exerce soberania; bem como o espaço aéreo e o mar territorial.
Tem-se, ainda, o território nacional por extensão, que são as aeronaves e em-
barcações militares, ou mesmo as civis a serviço de Força Armada, em qualquer
lugar onde estejam (vide artigo 7º, §1º do CPM).
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
3.2.4. Violação de território estrangeiro
É um crime propriamente militar, visto que somente previsto no CPM e que im-
põe para a realização do tipo penal a condição de militar para o agente ativo
do ilícito penal.
O que se guarda neste crime não é a integridade de país estrangeiro, mas sim
o risco que correria o Brasil caso um militar das Forças Armadas viesse a violar o
território de outro país, com a finalidade de praticar ato de interesse jurisdicio-
nal brasileiro. Daí que a doutrina enquadra tal crime como de perigo abstrato,
bastando para sua configuração a mera possibilidade de reação do país violado.
A declaração de guerra ou É um crime propriamente militar, por exigir a qualidade de militar para o agen-
celebração da paz é compe-
te ativo do ilícito e só estar previsto no CPM.
tência da União, que a ins-
trumentaliza por ato privativo
do Presidente da República,
Este tipo penal nos traz uma novidade, que consiste na hipótese de consuma-
após autorização do Congres- ção com a mera tentativa. O legislador optou por considerar tanto o entendi-
so Nacional (artigo 21, II; 84,
mento feito com outro país, bem como a tentativa de fazê-lo como suficientes
XIX e XX; e Art. 49, II; tudo da
CF/88, respectivamente). para configurar a realização do ilícito penal, não se aplicando ao caso a dispo-
sição contida no artigo 30, II, do CPM.
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
3.2.6. Entendimento para gerar conflito ou divergência com o Brasil
Cabe a observação de que a LSN tutela o mesmo bem jurídico em seu artigo
8º, podendo ocorrer um conflito positivo de competência entre a JMU e a Jus-
tiça Federal quanto aos acusados não militares da ativa, conforme observação
lançada no item 3.1.
É um crime impropriamente militar, que pode ser praticado por qualquer Para o assunto de prática de
crime em concurso de agentes
pessoa e que é consumado com a mera tentativa de praticar os atos descritos
e “cabeças” da ação criminosa,
nos incisos do artigo 142 do CPM. Em suma, o que se cuida é de preservar a vide artigo 53 e §§, do CPM.
soberania nacional em relação ao território do país.
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
a Amazônia limitada e sujeita às necessidades mundiais sobre meio ambiente
e recursos naturais, advogando sua internacionalização, ou, no mínimo, uma
soberania compartilhada.
A pena prevista distingue a figura dos líderes da ação (cabeças) dos demais
agentes envolvidos, considerando pena mais gravosa para os primeiros. O
legislador previu na hipótese um concurso de agentes eventuais, visto que o
crime pode ser cometido por apenas uma pessoa, não sendo considerado de
Crime plurissubje- concurso necessário, como ocorre nos [crimes plurissubjetivos] próprios, como
tivo: aquele de concurso
o de motim ou revolta.
necessário ou de concurso de
agentes (artigo 53 do CPM) é
aquele que, por sua concei-
Por derradeiro cabe a observação de que a LSN contém tipos semelhantes na
tuação típica, exige dois ou espécie, o que poderá suscitar conflito de competência jurisdicional entre a
mais agentes para a prática da
Justiça Militar da União e a Justiça Federal, em relação, apenas, a eventuais
conduta criminosa (MIRABE-
TE, 1986, p.129). envolvidos civis ou militares inativos.
Para que ocorra tal crime é preciso que o agente ativo obtenha acesso a qual-
quer documento ou informação sigilosa, acessível apenas a algumas pessoas
categorizadas funcionalmente, cujo conhecimento indevido poderá afetar
negativamente a segurança externa do país.
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
alguma forma para a ocorrência do crime. Caso ocorra a hipótese descrita no
artigo 143, §1º, I; a pena será mais gravosa que nas demais hipóteses (artigo
143, caput; e §1º, II e III).
Como o crime pode ser praticado por qualquer pessoa, aplicam-se os comen-
tários sobre conflito de competência, descritos no item 3.1.
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
3.2.10. Turbação de objeto ou documento
Sendo assim, o agente, ao cometer uma das ações previstas, mesmo que por
breve tempo, perturba a boa ordem das coisas (objetos ou documentos) rela-
cionadas com a segurança externa nacional, consumando a conduta criminosa.
Neste tipo penal temos, também, que o agente pode ser qualquer pessoa,
militar ou civil, caracterizando um crime impropriamente militar, porém, por
omissão da LSN, sob a égide e jurisdição da JMU.
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Admite a tentativa, visto que a entrada clandestina pode se ver frustrada pela
ação de terceiros.
Deve-se ter a cautela de não confundir com o crime descrito no artigo 302 do
CPM – ingresso clandestino – que seria crime para o ilícito do artigo 146, visto
que trata de entrada irregular e não autorizada, nos mesmos moldes do artigo
sob análise, porém destituída de finalidade específica (espionagem).
Cabe definir cada um dos locais ou engenhos citados para caracterizar o ilícito:
35
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
• Aeródromo é toda e qualquer instalação destinada ao pouso, decola-
gem e operação de aeronaves militares;
Admite a tentativa, visto que a ação pode ser impedida por terceiros.
Por interpretação da pena cominada, deve- se notar que o tipo não exige que
as condutas descritas tenham alguma finalidade. Basta que se pratique uma
das ações previstas para que se configure o ilícito. Se, na verdade, a conduta
tem por finalidade a prática de espionagem, aplicável à espécie o enquadra-
mento no artigo 146, que vem a ser uma ação com muito maior potencial
ofensivo à segurança externa do país.
Crime impropriamente militar, visto que pode ser cometido por qualquer pes-
soa, mas está sujeito à jurisdição da JMU por não encontrar previsão na LSN.
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
4 Crimes contra a autoridade
ou disciplina militar
Objetivos específicos
Alguns dos crimes descritos neste Título II, do Livro I, da Parte Especial do CPM,
apesar de protetivos da autoridade e disciplina castrense, poderão ser pratica-
dos por civis e, por isso, caracterizam crimes impropriamente militares. São os
previstos nos artigos 154; 155; 156; 158; 164; 165; 166; 172; 177; 178; 180;
181; e 182. Os demais são crimes propriamente militares.
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
4.1.3. Organização de grupo para a prática de violência (artigo 150)
Sobre o crime de motim, ver a Reunião de no mínimo dois militares, com material bélico de propriedade mili-
seguinte notícia ilustrativa: tar, praticando violência contra pessoas ou coisas (públicas ou privadas).
h t t p : / / w w w. s t m . j u s . b r
/publicacoes/noticias/noti-
cias-2012/controladores-de- 4.1.4. Cumulação de penas (artigo 153)
-voo-sao-condenados-a-qua-
tro-anos-de-reclusao-por-pa- Nos casos previstos nos artigos 149 e 150, também se aplicam as penas rela-
ralisacao-em-2007
tivas à lesão corporal, à morte, ou ao dano material, eventualmente ocorridos,
nas formas dolosas ou culposas.
Convencer (recrutar) militar para a prática dos crimes descritos nos artigos 149
ao artigo 152.
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
4.1.9. Apologia de fato criminoso ou do seu autor (artigo 156)
Louvar (exaltar) fato considerado criminoso ou elogiar o seu autor pelo crime
cometido. A conduta criminosa de exaltação a crime, ou de elogio ao seu
autor, deve ser cometida em local sob a administração militar para que fique
plenamente configurada.
Nos casos de violência descritos nos artigos 157 e 158, se resultar em lesão
corporal ou morte e ficar comprovado que o autor da violência não queria o
resultado e nem assumiu o risco de produzi-lo, ficará caracterizada a ocorrên-
cia de um crime [preterdoloso] e a pena do crime contra a pessoa (artigo 205 Preterdoloso: dolo na
ou artigo 209) será diminuída de metade. ação de praticar a violência e
culpa no resultado final
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
4.1.13. Desrespeito a superior (artigo 160)
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Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
reunião de militares para discutir assunto relativo à disciplina militar (crime que
pode ser cometido por qualquer pessoa).
Dar publicidade sem autorização legal e por qualquer meio hábil de ato ou
documento oficial; ou criticar em público ato de superior, ou assunto relativo à
disciplina militar, ou a qualquer decisão do governo federal.
Crime que se configura pelo fato do militar que se encontra na situação fun-
cional de comandante ou no exercício de função militar não se afastar de tais
atribuições funcionais após receber ordem superior para fazê-lo.
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FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
4.1.23. Ordem arbitrária de invasão (artigo 170)
Configura o crime o militar que faz uso indevido (sem ter direito para tal) de
uniforme (farda); distintivo (de curso, arma e outros); ou insígnia (de posto,
graduação ou sargento-brigada), desde que exclusivos de posto ou graduação
superior ao agente ativo do crime. Não configura o crime o uso de tais peças
com a finalidade de instrução ou apresentação teatralizada.
Crime que pode ser cometido por qualquer pessoa; difere do descrito no artigo
anterior, porque neste caso o agente militar o comete se usar uniforme, distin-
tivo ou insígnia de posto ou graduação igual ou inferior ao seu, porém a que
não tenha direito. Inclui a possibilidade do uso indevido de tais peças, exclusi-
vas dos militares, por civis, ou militares inativos.
Requisição significa solicitação a que não se pode negar, sob pena de ilega-
lidade. De acordo com o artigo 22, III, da CF/88, cabe à União legislar sobre
requisições militares (não há norma legal em vigor a respeito do assunto). Por
outro lado, a CF/88 considera a hipótese de requisições de bens na vigência do
Estado de Sítio (artigo 139, VII). Pode ser em relação a bens móveis ou imó-
veis, inclusive consumíveis e/ou perecíveis, tais como alimentos e combustível.
Portanto, o militar que abusar do poder de requisitar bens, extrapolando os li-
mites impostos por eventual norma legal; ou definidos no decreto que instituir
um Estado de Sítio, consumará o delito.
42
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
4.1.27. Rigor excessivo (artigo 174)
43
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
agente público (ou eventual auxiliar) algum mal; ou mediante violência, que
é o ato físico ou moral dirigido contra alguém e que pode causar constrangi-
mento ou consequências corporais. Se a resistência for bem sucedida, aplica-se
a pena da forma qualificada. E, se for o caso, aplica-se a pena deste crime em
cumulação com as correspondentes à violência.
Crime de autoria coletiva necessária que exige, para sua prática, a ação de
no mínimo dois presos, que podem ser civis ou militares. Aqui se tem uma
44
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
inconsistência legislativa, pois o tipo prevê uma possível ação delitiva de um
internado, mas, incoerentemente, em uma prisão militar (o que é incompatível
com a figura do internado). Amotinar significa rebeldia e resistência à ordem
normal das coisas no interior de prisão militar (algazarras, queima de colchões,
negação coletiva de retorno às celas). A pena para os líderes é mais severa. A
norma prevê, ainda, a mesma punição para aquele que, não sendo preso (ou
internado), participa da ação delitiva; ou, sendo oficial e estando presente,
se omite e não age no sentido de controlar os amotinados ou de impedir as
consequências do amotinamento (materiais ou disciplinares).
45
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
5 Crimes contra o serviço militar
Objetivo específico
Neste assunto trataremos dos crimes contra o serviço e o dever militar; que
contém crimes próprios e impróprios, destacando-se os crimes de insubmissão
e de deserção, bem como seus correlatos e afins; os quais, por sua relevância,
serão comentados em tópico exclusivo.
Reiterada jurisprudência do Este crime se consuma por meio das seguintes condutas:
STM tem considerado o de-
lito como de mera condu-
ta (por exemplo: a decisão 5.1.1 Abandono do posto ou lugar de serviço
na Apelação nº 0000212-
54.2012.7.01.0301-RJ, jul- Posto é um local determinado em que se cumpre, normalmente, missão de
gada em 03 de setembro de
vigilância, podendo ser fixo ou móvel. Admite outros tipos de missão, como
2013, relator o Ministro Luis
Carlos Gomes Mattos). a de permanência e telefonista, por exemplo. Já o lugar de serviço é um local
mais amplo do que o posto, no qual o militar tem o dever de permanecer, por
força de ordem legal, no desempenho de alguma atividade de interesse do
serviço; pode ser um quartel, hospital, acampamento.
47
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
5.1.3 Jurisprudência comentada sobre crime de abandono de posto
STM - APELAÇÃO AP
1284520117030103 RS 0000128- Data de publicação: 25/02/2013
45.2011.7.03.0103 (STM)
Neste caso o STM considerou que, para caracterizar o crime, basta que o militar
de serviço se afaste do local em que deve estar presente, não importando o
tempo de ausência.
48
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
STM - EMBARGOS (FO) Embfo 7442 RJ
Data de publicação: 19/06/2008
2007.01.007442-6
Neste caso a denúncia foi rejeitada porque o militar escalado de serviço se fez
substituir por outro colega. Em sendo assim, em nenhum momento o serviço ou
a segurança do quartel estiveram sob risco. Conduta atípica, caracterizando uma
transgressão disciplinar.
STM - APELAÇÃO AP
110420097040004 MG 0000011- Data de publicação: 24/05/2012
04.2009.7.04.0004
Aqui o autor do crime não estava de sentinela da hora, mas em horário de descan-
so, tendo se ausentado o quartel, quando consumou o crime em tela; tendo ficado
evidenciada a falta de exigência que, para configurar o delito, o militar deva estar no
seu quarto-de-hora. Ficou, todavia, caracterizado o abandono do lugar de serviço.
49
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - EMBARGOS EMB
186320097050005 DF 0000018- Data de publicação: 16/05/2011
63.2009.7.05.0005
Aqui temos o militar que tendo cumprido sua jornada de serviço normal, ainda
não foi liberado porque a nova equipe de serviço não o assumiu e mesmo assim se
ausenta, cometendo o delito do Art. 195 do CPM.
Este acórdão deixa evidente que qualquer tipo de serviço, desde que serviço de
escala, tem a proteção do tipo penal em questão.
50
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
STM - APELAÇÃO (FO) Apelfo 50146
Data de publicação: 03/04/2007
PE 2005.01.050146-0
A alegação de crença religiosa para justificar abandono de posto não tem o poder
de evitar a condenação. Se sua crença o impedia de prestar o serviço militar
em sua totalidade e servidão deveria ter solicitado a dispensa do serviço militar,
habilitando-se para a prestação de serviço alternativo.
51
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
e sem que apresente justificativa para tal, faltando com o seu dever e com a
disciplina. Como exemplo, podemos citar o fato de um sargento receber a mis-
são de preparar alvos para um exercício de tiro da subunidade. Caso se negue a
realizar a preparação dos alvos, comete o crime de recusa de obediência (artigo
163); se não se negar, mas, também, não realizar a tarefa recebida, sem motivo
justificado, tem-se o descumprimento de missão (artigo 196). Se, ao contrário,
realizar a preparação dos alvos, mas de forma parcial ou incorreta, então se
apresenta a transgressão disciplinar prevista no nº 17, do anexo I do RDE.
52
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
5.5 Omissão de providências para evitar danos
(artigo 199 do CPM)
À primeira vista, se pode inferir que estaria sujeito à norma penal apenas
o militar da Marinha, mas é importante lembrar que existem inúmeras OM
localizadas à beira dos rios no Planalto Central e na Amazônia Legal. Além
disso, muitas vezes, os acidentes aéreos ocorrem na área de responsabilidade
de batalhões, companhias e pelotões de fronteira que, na maioria das vezes,
constituem a única presença estatal na região. Essa modalidade penal prevê a
hipótese de reforma judicial do agente que for condenado.
53
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
5.8 Embriaguez em serviço (artigo 202 do CPM)
É um crime que só pode ser cometido por militar que já está de serviço, ou que
se apresenta para assumi-lo, em ambas as situações em estado de embriaguez.
Serviço aqui deve ser entendido como serviço de escala, ordinário ou extraordi-
nário, interno ou externo, e cuja escalação tenha advindo de documento legal
(boletim interno, aditamentos) e não da mera atividade de expediente diário
nas organizações militares. Pode ser qualquer serviço, mesmo os de manuten-
ção ou faxina, desde que tenha havido a escala prévia.
54
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
5.8.1 Jurisprudência sobre embriaguez em serviço
STM - APELAÇÃO AP
371520117110011 DF 0000037- Data de publicação: 14/02/2013
15.2011.7.11.0011
Ressalte-se que o STM considerou que se pode provar o estado etílico por outros
meios que não o exame de dosagem alcoólica.
STM - APELAÇÃO AP
107420087030103 RS 0000010- Data de publicação: 06/06/2012
74.2008.7.03.0103
Agora, o STM absolve em sede de apelação porque a prova juntada aos autos
(laudos e depoimentos) não foram suficientes para convencimento dos ministros.
E por outro lado, considera atípica a ingestão de bebida alcoólica em área sob a
administração militar que, por sinal, pode configurar transgressão disciplinar (vide
Nr 109 do Anexo I do RDE).
55
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - APELAÇÃO (FO) Apelfo 50557
Data de publicação: 19/05/2009
DF 2007.01.050557-1
56
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Vejamos a jurisprudência:
ORIGEM : APCRIM -
481420117120012 - SUPERIOR TRIBU- RELATOR :MIN. LUIZ FUX
NAL MILITAR
STM - APELAÇÃO AP
925720097070007 PE 0000092- Data de publicação: 16/09/2011
57.2009.7.07.0007
57
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - APELAÇÃO AP
1052720107030203 RS 0000105- Data de publicação: 13/10/2011
27.2010.7.03.0203
Neste caso o acusado foi absolvido porque fora submetido a exercícios físicos inde-
vidos durante a execução do serviço.
Neste caso fica evidente que aquele que dorme em serviço, comete o crime
previsto no artigo 203 do CPM; e não comete abandono de posto, descrito no
artigo 195 do CPM. Por outro lado, aquele que se afasta do posto e é encontrado
dormindo em outro local, comete o crime de abandono de posto (artigo 195 do
CPM), e não o crime de dormir em serviço (artigo 203 do CPM).
58
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
5.10 Exercício de comércio por oficial
Crime que só pode ser cometido por oficial, visto que a mesma conduta confi-
gura apenas transgressão disciplinar para as praças (vide artigo 29 do E-1; e nº
112 do Anexo I do RDE).
Vejamos a jurisprudência:
59
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM – Embargos 1998.01.048005-0-
Data da Publicação: 20/01/1999
AM
60
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
6 Insubmissão
Objetivo específico
Quando o cidadão das tribos Durante o Império, com a decadência dos costumes e a desagregação moral
romanas se recusava a atender
dos romanos, muitos já não queriam arriscar a vida nas guerras empreendidas
a uma convocação do côn-
sul para a guerra perdia seus para ampliar ou manter os domínios de Roma, ou se submeter à vida castrense
bens, era “inútil” para a Re- de privações e dificuldades; tendo se acentuado tais ilícitos e a consequente
pública. Era declarado indig-
no de ser considerado cida- venda dos infratores, denominados tenebrios (refratários). Ainda, para se es-
dão de Roma, sendo vendido quivar de tais servidões militares, também era comum a automutilação e a dos
como escravo.
filhos, decepando-se os polegares (ou parte deles), o que impedia o manuseio
da espada e do punhal e impunha a dispensa do serviço militar.
Então, àquela época, insubmisso era aquele cidadão romano que deixava de
atender ao chamado do cônsul para o serviço militar, seja na paz ou na guerra.
Também era considerado insubmisso aquele que se mutilava (ou aos filhos) ou
tentava o suicídio para se esquivar dos serviços castrenses.
61
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
O Imperador Constantino baixou a primeira lei para a punição de tal crime, a
qual, posteriormente, foi agravada e estendida a quem se mutilasse ou ajudas-
se um insubmisso (BANDEIRA, 1915, p. 323).
62
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Convocação, segundo o artigo 3º, nº 7 do Regulamento da Lei do Serviço Mi-
litar (RLSM), é o “ato pelo qual os brasileiros, após julgados aptos em seleção,
são designados para a incorporação ou matrícula, a fim de prestar o Serviço
Militar, quer inicial, quer sob outra forma ou fase”.
O Termo de Insubmissão tem o caráter de Instrução Provisória (IPI) e sujeita Após a captura ou apresenta-
desde logo o insubmisso à captura (artigo 463 do CPPM). ção voluntária do insubmisso,
este será submetido à inspeção
de saúde e, se julgado apto,
Cabe ressaltar que o insubmisso ficará impedido de sair do quartel até que
será imediatamente incorpo-
haja uma decisão da Justiça Militar, mesmo que seja ele julgado incapaz para rado às fileiras das Forças Ar-
o serviço do Exército. Se decorridos 60 (sessenta) dias de sua captura ou madas e processado, na forma
da lei penal. No entanto, se for
apresentação e o processo ainda não tiver sido encerrado, será colocado em julgado incapaz para o serviço,
liberdade, sem prejuízo da continuidade do processo e julgamento. será isento do processo.
63
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
A pena do crime de insubmissão (e para seu caso assimilado) é única e exclusi-
va. Nenhum outro crime descrito no CPM tem a previsão da pena de impedi-
mento, cujos efeitos práticos são idênticos à punição de impedimento discipli-
nar descrita no RDE. Essa pena determina que o condenado tenha o seu direito
de ir e vir restringido aos limites do aquartelamento, porém ele deverá fre-
quentar as instruções, cumprir missões de serviço e até participar das missões
ou exercícios que ocorram fora dos limites do quartel (vide artigo 63 do CPM).
64
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
6.2.2. Acórdãos do STF e STM
Como se constata da análise dos acórdãos acima, O STF, por suas Turmas, em pelo
menos três oportunidades, se manifesta no entendimento que a falta de compa-
recimento para matrícula em Tiro de Guerra, por não caracterizar “incorporação”,
não se enquadra nas hipóteses previstas no artigo 183 do CPM, tendo considerado
a conduta atípica penalmente, visto que o parágrafo único do artigo 25 da LSM
faz referência ao artigo (159) do CPM de 1944, já revogado. Opinião da qual o
STM não compartilha, muito embora Lobão (1999, p. 312) se alinhe com a dire-
ção adotada pelo STF.
E surge a pergunta: o que fazer caso ocorra tal situação? Deve-se fazer o que a lei
manda, procedendo nos atos previstos, tais como lavratura do Termo de Insubmis-
são; captura do insubmisso (se possível); comunicação ao Juiz-auditor competente;
submissão à inspeção de saúde e, caso apto para o serviço; inclusão. Não cabe ao
militar analisar se este ou aquele dispositivo legal está ou não em vigor. Se não há
norma específica revogando-o, nem expressa determinação judicial, e nem, tam-
pouco, conflito de natureza constitucional, aplique-se a lei e se aguarda a manifes-
tação de quem de direito (Ministério Público e Justiça Militar).
65
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - HABEAS CORPUS HC
Data de publicação: 24/08/2009
2009010346449 PE 2009.01.034644-9
66
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
STM - APELAÇÃO(FE) Apelfe 46607 RJ
Data de publicação: 05/08/1992
1992.01.046607-1
Ementa: INSUBMISSÃO (art. 183, CPM ). Preliminar. Rejeição. Delito não compro-
vado. Absolvição. 1. Não sendo provada a existência do erro material contra o qual
se insurgiu a defesa, impõe-se a rejeição da preliminar suscitada. 2. O crime de
insubmissão só é tipificado quando provado, de maneira inconteste, que o conscri-
to tinha conhecimento da data e do local de sua apresentação para incorporação
ou matricula e, na data aprazada, deixa de cumprir com seu dever. Inteligência da
súmula numero 04/stm. Rejeitada a preliminar e, no mérito, provido o apelo da
defesa, absolvendo-se o réu da acusação que lhe e feita. Decisão unanime.
Aqui fica evidente que aquele que comete o crime de insubmissão só pode ser
processado se adquirir a situação de militar, e para isso tem que estar apto para o
serviço, aferida em inspeção de saúde; caso contrário ficará isento do processo e
do julgamento.
67
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - HABEAS CORPUS HC 33370 SP
Data de publicação: 06/10/1998
1998.01.033370-3
68
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
7 Deserção
Objetivo específico
Na Roma antiga se distinguia O crime de deserção remonta aos tempos da Roma antiga. Caracterizava o
duas figuras: o emansor, que
delito aquele que se ausentava do campo, visto que as tropas de Roma sempre
se ausentava, mesmo que por
largo lapso temporal, mas que estavam acampadas, nunca adentrando os muros da cidade.
retornava por livre e espontâ-
nea vontade e o desertor, que A pena imposta ao desertor era a capital; e a tentativa de desertar tinha a
se ausentava, mas só retornava
mesma gravidade de sua consumação. Já a pena a ser imposta ao ausente
reconduzido à força.
era menor, visto que não se ausentava com espírito definitivo, sem o dolo ou
ânimo de não voltar ao cumprimento de seus deveres castrenses.
Casos assimilados
69
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
termina ou é cassada a licença ou agregação ou em que é
declarado o estado de sítio ou de guerra;
Esse crime se tipifica quando o militar se ausentar, sem licença, por mais de 8
(oito) dias, da Unidade onde serve ou do lugar em que deveria permanecer.
1 Falta 2 3 4 5 6 7
início
contagem
prazo
8 9 10 11 12 13 14
extrapolou
o “prazo de
graça”
15 16 17 18 19 20 21
22 23 24 25 26 27 28
29 30
70
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Em relação à esse exemplo, a cronologia da situação em relação ao crime de
deserção seguiria a seguinte dinâmica:
71
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
Cabe destacar que a condição de militar da ativa é pressuposto essencial para
que o desertor (também o insubmisso) seja julgado. Por isso, quando preso ou
apresentado voluntariamente, a primeira medida administrativa que se toma
é a submissão do suposto infrator a uma inspeção de saúde (somente para
praças especiais ou sem estabilidade), para que, se julgado apto, seja incluído
no estado efetivo da OM.
O artigo 189 do CPM prevê causa minorante de pena para os crimes do arti-
go 187 e 188, se o agente se apresenta voluntariamente em até 8 (oito) dias
após a consumação do crime, diminuindo-a da metade; e a diminuição de
1/3 (um terço) da pena se a apresentação se dá entre o nono e o sexagésimo
dia após a consumação.
72
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
(sessenta) dias da consumação, a pena poderá ser diminuída de 1/3
(um terço).
• Agravante especial (artigo 187, inciso II, do CPM) – a pena será majo-
rada em 1/3 (um terço), quando o agente praticar o crime em unidade
estacionada na fronteira ou em país estrangeiro.
Esta modalidade ocorre quando o agente do crime, que está recolhido como
preso à disposição da justiça foge de escolta que o conduz; ou do recinto
onde se encontra recolhido. Também configura o crime aquele que se evade
73
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
em seguida à prática de outro crime, com a finalidade de se furtar à prisão,
ficando ausente por mais de 8 (oito) dias.
Nos mesmos moldes do artigo 186 do CPM, a norma penal militar prevê como
crime a conduta de quem favorece de algum modo a desertor, quer dando-lhe
guarida, emprego, meio de transporte ou esconderijo, desde que saiba (ou
deva saber) que o favorecido tenha cometido qualquer dos crimes descritos
nos artigos 187, 190, 191 e 192. Fica isento de pena somente aquele que,
tendo dado auxílio a desertor de alguma forma, tenha com ele laços de paren-
tesco na linha reta (ascendente ou descendente); ou é seu cônjuge ou irmão.
Comete este crime o oficial que tem entre seus comandados um desertor, sabe
desta situação, e não toma nenhuma medida legal a respeito, conforme o
artigo 243 do CPPM.
7.3 Jurisprudência
74
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Não se concede liberdade provisória ao preso por de-
Súmula Nº 10 serção, antes de decorrido o prazo previsto no artigo
453 do CPPM.
Ementa: EMENTA Habeas corpus. Penal militar e processual penal militar. Crime de
deserção. Erro na contagem do prazo para a consumação do crime de deserção.
Possibilidade de renovação do procedimento administrativo militar. Constrangi-
mento ilegal não configurado. Precedente. Ordem denegada. 1. Tendo o paciente
permanecido ausente por período além do dia em que se consumou o crime de
deserção, justifica-se a ressalva feita no acórdão questionado, que, ao trancar a
ação penal por falta de justa causa, possibilitou à Justiça de 1º grau renovar o pro-
cedimento administrativo militar para punição dele, levando-se em conta a data
correta da consumação. Seria diferente o cenário se tivesse o paciente retornado
às suas funções antes de consumado crime. 2. Ordem denegada.
75
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STF - HABEAS CORPUS HC 87213 RS Data de publicação: 06/11/2006
Muito embora o chefe militar deva adotar todas as cautelas na montagem admi-
nistrativa do processo de deserção, a contagem equivocada não impede que o
agente do crime seja processado e julgado, desde que retificadas as irregularida-
des, perfeitamente sanáveis em sede administrativa.
76
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
STM - APELAÇÃO (FE) Apelfe 50377 RJ
Data de publicação: 25/04/2007
2006.01.050377-5
Aqui se constata o quanto se torna prejudicial para a aplicação da lei penal militar
a inobservância e o desconhecimento por parte de integrantes da administração
militar do correto manejo dos atos administrativos que, cometendo vários equívo-
cos no processo de um crime de deserção, frustram a pretensão punitiva do Esta-
do, ensejando o arquivamento de um determinado feito perante a Justiça Militar.
77
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - APELAÇÃO (FE) Apelfe 49970 DF
Data de publicação: 03/10/2005
2005.01.049970-0
Ementa: Apelação. Deserção (CPM, art. 188). Militar que após o término de suas
férias, não retorna ao Quartel, deixando transcorrer o prazo previsto em lei para
que se consume o crime de deserção. Alegação de que a ausência foi motivada por
dificuldades financeiras. Embora tenham sido deferidos vários pleitos para apresen-
tação de prova documental, nenhuma providência foi efetivada pela Defesa. De
acordo com o enunciado da Súmula 3/STM, meras alegações de ordem particular
desacompanhadas de provas não têm o condão de excluir a culpabilidade do acu-
sado de deserção. Apelo improvido. Decisão unânime.
Neste caso o crime de deserção ocorreu porque o agente do crime não retornou
ao serviço após o término do período regulamentar de férias, tendo permanecido
ausente por mais de 8 (oito) dias.
Ementa: ‘Habeas Corpus’. Deserção. A ameaça de prisão que recai sobre o pa-
ciente não decorre de ilegalidade ou abuso de poder, mas de termo de deserção
desprovido de vício. A falta de apresentação do paciente, após o término e não
revogação do período de Licença para Tratamento de Saúde (LTS) própria, mesmo
que ainda perdure a necessidade de tratamento médico, não elide a consumação
do delito de deserção nem invalida o termo de deserção lavrado. Ordem denega-
da. Decisão por maioria.
78
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
8 Crimes contra o patrimônio
Objetivo específico
79
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
O tipo prevê circunstâncias majorantes, em que a pena será aumentada de 1/2
(metade) se o objeto usado é veículo motorizado (qualquer tipo); ou aumento
de 1/3 (um terço) se for animal de montaria (de sela), ou de tração (de tiro), po-
dendo ser qualquer tipo de animal que se utilize para uma ou outra finalidade.
Crime impropriamente militar, visto que não traz exigibilidade de autoria ne-
cessária, podendo ser cometido por qualquer pessoa.
Este tipo penal tem a mesma previsão no CP, no entanto, com o acréscimo de
um verbo, qual seja o fazer desaparecer, que não consta no artigo 163 do CP.
Os demais núcleos são idênticos. Trata-se de crime impropriamente militar, no
qual qualquer pessoa pode cometê-lo.
80
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Desaparecer significa sumir das vistas e das possibilidades de se saber onde se
encontra. Aproveitando o exemplo de Coimbra e Streifinger (2012), se alguém,
dolosamente, derrama ouro em pó alheio em alto-mar, o ouro em questão não
foi nem destruído, tampouco inutilizado ou mesmo deteriorado, mas, certa-
mente, nunca mais será recuperado em sua totalidade, prejudicando, assim, o
patrimônio de alguém.
O tipo prevê uma qualificadora. Se o bem danificado for público, ocorrerá uma
exasperação na pena a ser aplicada.
Por outro lado, o artigo 261 do CPM prevê o dano qualificado, com aplicação
de pena mais gravosa para os casos de dano praticados com violência, grave
ameaça, emprego de substância inflamável, substância explosiva, por motivo
egoístico ou com muito prejuízo. Nesses casos, se houver lesão corporal ou mor-
te em função da violência praticada, será aplicada, também, e cumulativamente,
a pena de violência contra a pessoa (lesão corporal ou morte). Por outro lado,
se o dano foi praticado sem prática de violência ou ameaça contra pessoas,
mas, mesmo assim, vier a ocorrer lesão ou morte, ocorrerá o concurso formal de
crimes, com resultados em tudo semelhantes quanto à pena final unificada.
81
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
8.4 Outros crimes de dano
O CPM ainda prevê outras hipóteses para o crime de dano, que importam em
variação das penas, conforme os bens jurídicos danificados.
82
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
crime pode ter como agente ativo e passivo qualquer pessoa, civil ou militar.
Para saber se o crime é da alçada da Justiça Militar, deve-se inquirir o enqua-
dramento nos incisos do artigo 9º do CPM.
Delimitar qual taxa de juros pode ser considerada abusiva é um problema que
tem suscitado discussão na esfera judicial, tendo em vista lacuna de norma le-
gal estipulando a respeito. Por vezes, o [egrégio] STM tem se valido do artigo Egrégio: aquilo ou
aquele que inspira grande
161, §1º do Código Tributário Nacional, que prevê a taxa de 1% (um por cen-
admiração.
to) ao mês; por outra, a taxa básica do Banco Central (SELIC), que varia confor-
me os humores da política econômica. O certo é que a norma está viva e tem
sido aplicada, particularmente quando militares ou civis realizam empréstimos
a juros extorsivos a outros militares ou civis (servidores).
O §1º do artigo, sob exame, traz hipótese de pouca utilidade com o advento A taxa SELIC é o índice que
rege as taxas de juros cobradas
dos instrumentos de pagamento eletrônico e via agência bancária. Em tempos
pelos bancos e instituições de
idos, quando os pagamentos eram feitos em espécie e por meio dos tesourei- crédito do mercado no Brasil.
ros das OM, seria plenamente ativo. É uma taxa básica utilizada
como parâmetro de referên-
cia pela política monetária do
O §2º do artigo 267 impõe um agravamento da pena (vide artigo 73 do CPM)
Banco Central do Brasil.
caso o agente ativo do crime seja superior hierárquico da vítima; ou servidor
civil que atue no sistema de pagamento de pessoal da OM.
83
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
9 Crimes contra
a incolumidade pública
Objetivo específico
85
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
o fato ocorra em área sob administração militar. Trata de manuseio doloso ou
culposo de substância radioativa (ou de provocar radiação) que venha a expor
a perigo a vida ou a integridade física de pessoas.
Sendo assim, esse tipo penal trata da exposição a perigo de instalações, navio,
aeronave, material ou engenho de guerra, mesmo que ainda estejam em
construção ou fabricação, mas que se destinam às Forças Armadas ou são
usados por estas; pelos fatos de causar incêndio, inundação, desabamento,
desmoronamento ou explosão; usar gás tóxico ou asfixiante; abusar de radia-
ção ionizante ou de substância radioativa; subtrair, ocultar ou inutilizar mate-
rial destinado a socorro ou salvação em situações de desastre ou calamidade;
ou, ainda, impedir ou dificultar o serviço de socorro e salvamento em situações
de desastre ou calamidade. Admite a modalidade culposa e não exige local
específico para a sua prática.
86
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
9.2 Crimes contra a saúde
87
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
a. Militar que fornece substância entorpecente ou que determine de-
pendência física ou psíquica, de qualquer forma, para outro militar.
Sobre a decisão do Pleno do Vinculado ao crime do artigo 290 do CPM, tem-se o crime descrito no artigo
STF, no HC nº 94.685/CE, jul-
291 também crime impropriamente militar. Esse crime trata da conduta de
gado em 11 de novembro de
2010, relatora a Ministra Ellen médico ou dentista militar em prescrever, ou do farmacêutico militar em aviar
Gracie. Disponível em: receita ou fornecer substância entorpecente, ou que determine dependência
http://redir.stf.jus.br/pa-
física ou psíquica, fora dos casos indicados pela terapêutica, ou, ainda, em
ginadorpub/paginador.jsp?
docTP=AC&docID=621832 quantidade superior do que a necessária, ou mesmo dos casos assemelhados
descritos no parágrafo único do citado artigo. Note-se que no artigo 290, §2º
do CPM, o profissional de saúde comete quaisquer das condutas descritas no
caput do artigo 290 do CPM e seu §1º. Já no crime do artigo 291, a conduta
delituosa se caracteriza por um ato do ofício profissional, praticado por médi-
co, dentista ou farmacêutico, porém fora dos casos indicados para tratamento;
ou em quantidade superior à necessária para este tratamento.
88
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
10 Crimes contra
a Administração Militar
Objetivo específico
89
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
Se o desacato é cometido contra oficial-general ou comandante da Unidade
incide a majorante do parágrafo único do artigo 298.
10.1.1. Jurisprudência
91
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
10.2 Desobediência (artigo 301 do CPM)
10.2.1. Jurisprudência
92
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
STM - APELAÇÃO AP 192220117030203
Data de publicação: 06/08/2012
RS 0000019-22.2011.7.03.0203
Crime impropriamente militar, visto que pode ter como agente ativo tanto o
militar quanto o civil.
É a penetração por local proibido, ou por onde não haja passagem regular, ou,
ainda, quando ocorre por local permitido, é feita com burla sobre a vigilância
do pessoal de serviço.
93
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
Cabe ressaltar que sobre qualquer quantidade de droga encon-
trada de posse do infrator, incidirá os rigores da norma penal
militar, não cabendo a aplicação do princípio da insignificância,
muito utilizado na Justiça Comum, mas plenamente descartada
sua aplicabilidade nos crimes afetos à Justiça Militar, haja vista a
consolidada jurisprudência do STF e STM.
10.3.1. Jurisprudência
Ementa: Habeas corpus. 2. Crime de ingresso clandestino (art. 302 do CPM). Delito
praticado por civis. 3. Competência para processo e julgamento. 4. A conduta
de ingressar em território das Forças Armadas afronta diretamente a integridade
e o funcionamento das instituições militares. Subsunção do comportamento dos
agentes ao preceito primário incriminador consubstanciado no art. 9º, inciso III,
“a”, do CPM. Submissão à jurisdição especializada. 5. Reconhecida a competência
da Justiça Militar da União para processar e julgar o crime de ingresso clandestino
em quartel militar praticado por civis. Ordem denegada.
94
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
os subtrai valendo-se de sua função. Ou do Oficial de Munições da OM, que
sendo responsável pelo paiol da Unidade dali subtrai cartuchos de munição ou
explosivos, ou granadas e lhes dá destino não conforme com o serviço.
A lei ainda prevê o crime de peculato-furto (artigo 303, §2º do CPM), que é
o crime de subtração de bens móveis por alguém que, embora não tenha a
posse ou detenção legais da coisa, consegue com facilidade acessá-las pelo
cargo ou função que desempenha. Nesse sentido, aproveitando o exemplo da
reserva de material da subunidade acima citado, comete o crime de peculato-
-furto o auxiliar do encarregado de material que, embora não seja o detentor
da carga, por trabalhar na Reserva de Material da SU tem facilidade de ingres-
so no local e, com isso, subtrai, para si ou para outrem, os materiais ali guar-
dados. Então, temos que: o detentor da carga, o encarregado de material, se
subtrair, comete o crime de peculato; já seu auxiliar, que não é detentor, mas
também frequenta a instalação, se subtrair comete o peculato-furto.
10.4.1. Jurisprudência
95
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - APELAÇÃO (FO) AP(FO)
Data de publicação: 19/08/2009
2008010511610 SP 2008.01.051161-0
EMENTA: APELAÇÃO. PECULATO (CPM, art. 303 ). Oficial da Marinha que, durante
a gestão administrativa, na função de agente fluvial, age com falta de zelo pela
coisa pública e de fidelidade com a Administração Pública, vendendo e permutan-
do combustível pertencente à Marinha do Brasil, bem como de recursos destina-
dos a reparos em PNRs e à manutenção de viaturas, causando prejuízo ao Erário.
Robustez das provas documentais, testemunhais e periciais comprovando as ações
delituosas do acusado. Desprovimento do apelo defensivo. Unânime.
96
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
STM - APELAÇÃO (FO) AP(FO) 25920037070007 Data de publicação:
PE 0000002-59.2003.7.07.0007 25/02/2011
10.5.1. Jurisprudência
97
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - APELAÇÃO (FO) Apelfo 48557
Data de publicação: 30/04/2001
MS 2000.01.048557-0
Comete a corrupção passiva (artigo 308) o civil ou militar que recebe, para
si ou para outrem, mesmo que fora da função, mas sempre em razão dela,
vantagem indevida, ou aceita promessa de tal vantagem. Se, em razão da van-
tagem ou promessa indevida, o agente do crime retarda ou deixa de praticar
qualquer ato de ofício, ou o pratica infringindo o seu dever funcional, ocorre
a incidência da causa especial de aumento de pena, prevista no §1º do artigo
308. Por outro lado, se o agente deixa de praticar ou retarda ato de ofício, ou
o pratica em violação a dever funcional, mas em atendendo pedido ou influên-
cia de terceiro, aplica-se pena de menor peso (§2º do artigo 308).
No reverso, pratica a corrupção ativa (artigo 309) o civil ou militar que dá,
oferece, ou promete dinheiro ou vantagem indevida para a prática, omissão
ou retardamento de ato funcional. Configura o crime a simples conduta de
oferecer, dar ou prometer. Se em função da vantagem, dádiva ou promessa
é retardado ou omitido o ato, ou praticado com infração do dever funcional,
ocorre a majorante prevista no parágrafo único do artigo 309.
98
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Se um soldado oferece dinheiro para o cabo auxiliar do sar-
genteante alterar a escala de serviço, a fim de não tirar serviço,
comete o crime de corrupção ativa; e se o dito cabo receber
tal quantia com a finalidade de alterar a escala de serviço, terá
cometido o crime de corrupção passiva.
10.6.3. Jurisprudência
99
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
10.7 Participação ilícita (artigo 310 do CPM)
Comete este crime militar impróprio, o indivíduo, militar ou civil que, fazendo
parte de processo licitatório como agente ou fiscal, participa de forma ostensiva,
ou por interposta pessoa, da licitação de qualquer serviço ou fornecimento que
aproveite a administração militar. O dito preceito encontra perfeita identidade
com os princípios constitucionais da administração pública da legalidade, im-
pessoalidade, moralidade e publicidade; bem como com a Lei de Licitações (Lei
8.666/93), particularmente o seu artigo 9º e demais dispositivos da citada norma.
10.7.1. Jurisprudência
100
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
10.8 Prevaricação (artigo 319 do CPM)
10.8.1. Jurisprudência
101
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
10.9 Violação do dever funcional com
o fim de lucro (artigo 320 do CPM)
Comete este crime propriamente militar aquele que viola seu dever como
encarregado de negócio em proveito da administração militar, com o fim de
obter especulativamente qualquer tipo de vantagem pessoal, econômica ou
não, para si próprio ou para terceiro. É o caso do membro de comissão de
licitação que privilegia indevidamente um dos licitantes a troco de importância
em dinheiro. Ou aquele que tendo que receber gêneros de certa qualidade ou
quantidade, dá quitação indevida de tê-los recebido na qualidade e/ou quanti-
dade especificada em contrato, mediante recebimento de uma viagem turística
gratuita para si e sua família.
10.9.1. Jurisprudência
102
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
10.10 Condescendência criminosa
(artigo 322 do CPM)
10.10.1. Jurisprudência
103
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - APELAÇÃO(FO) Apelfo 48039 PA
Data de publicação: 20/05/1999
1997.01.048039-0
104
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
11 Crimes contra a Administração
da Justiça Militar
Objetivo específico
Os crimes listados no Título VIII do Livro I, Parte Especial do CPM ofendem o bom
andamento dos assuntos afetos à Justiça Militar, bem como à ordem e às ativida-
des que se desenvolvem na instrução e julgamentos que nela se desenvolvem.
Pela premência de tempo, não serão abordados todos os tipos penais (quinze
crimes), razão pela qual trataremos dos mais emblemáticos.
Crime impropriamente militar e que pode ser cometido por qualquer pessoa
que, por palavras, gestos ou escritos, sinais obscenos, ou qualquer outra forma
de se manifestar, provoque humilhação, falta de respeito, vergonha, desconsi-
deração a juiz, seja ele juiz-auditor, juiz militar ou ministro do STM.
105
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
for instaurado IPM ou processo judicial, o autor da imputação comete o crime
de calúnia, previsto no artigo 214 do CPM; no caso contrário, pelo princípio da
consunção, o crime previsto no artigo 343 absorve o crime descrito no artigo
214, ambos do CPM.
11.2.1. Jurisprudência
106
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
STM - APELAÇÃO (FO) AP(FO) 28420057030303 Data de publicação:
RS 0000002-84.2005.7.03.0303 28/09/2011
107
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
11.3.1. Jurisprudência
Crime militar impróprio, também conhecido por perjúrio, pode ser cometido
por qualquer pessoa que, na qualidade de testemunha, perito, tradutor ou
intérprete, em inquérito ou processo judicial, faz afirmação falsa, não diz a
verdade, ou a nega.
108
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
A testemunha e as demais figuras citadas no tipo penal sempre prestam o
compromisso de dizer a verdade quando chamadas a intervir em IPM ou pro-
cesso judicial; e, se assim não agem, quebram o compromisso dado, incorren-
do no crime de falso testemunho ou falsa perícia.
Cabe destacar que o artigo 354 do CPPM traz o rol das pessoas que estão
desobrigadas de depor, em razão de laços de parentesco consanguíneo, civil
ou de afinidade com o acusado; e o artigo 355 do CPPM lista aquelas pessoas
que estão proibidas de atuar como testemunhas, pois, em razão da atividade
que exercem devam guardar segredo profissional, salvo se dispensadas desta
restrição pela pessoa interessada.
11.4.1. Jurisprudência
109
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
STM - APELAÇÃO (FO) Apelfo 50512 RJ
Data de publicação: 08/11/2007
2007.01.050512-1
Trata-se de crime que pode ser cometido por qualquer pessoa e, portanto, é
classificado como impropriamente militar.
O crime ocorre, por exemplo, quando o juiz expede alvará de soltura de preso
à disposição da justiça e o comandante responsável não cumpre a determina-
ção; ou quando ocorre a determinação de medida de segurança que não são
cumpridas porque de direito.
110
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
11.5.1. Jurisprudência
111
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
12 Crimes praticados
em tempo de guerra
Objetivo específico
113
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
Outro dado importante é que os crimes militares em tempo de paz, quan-
do praticados em tempo de guerra, terão suas penas majoradas em 1/3 (um
terço), conforme dicção do artigo 20 do CPM. Exceção daqueles crimes que
encontram previsão tanto para tempo de paz, como para tempo de guerra
como, por exemplo, o de motim ou revolta, previstos nos artigos 149 e 368,
do CPM, respectivamente, mas com penas diferenciadas.
Por fim, o CPM contém em certos tipos penais para o tempo de guerra a ele-
mentar do tipo que se refere à conduta criminosa praticada em “presença do
inimigo”; situação que se resolve pelo contido no artigo 25 do CPM, no qual
se verifica que esta situação se apresenta, particularmente, nas zonas de efeti-
vas operações militares, ou seja, nos teatros de operações, que constituem as
zonas de combate e as zonas de administração do combate, seja em território
nacional ou estrangeiro. No entanto, tendo em vista o avanço da qualidade
dos meios de combate e de apoio ao combate, tal delimitação se tornou um
tanto quanto vaga e, atualmente, tem-se que o teatro de operações se tor-
nou fluido, descontínuo e global, visto que envolve manipulação dos meios
de combate à longa distância, e mesmo remotamente; sem desconsiderar a
amplitude e incerteza de local quanto à guerra cibernética.
Pode-se citar como exemplo de guerra no seu sentido exato aquela em que o
Brasil, por meio de ato formal, declarou perante o Eixo formado pela Alemanha,
Itália e Japão (Segunda Guerra Mundial) e como exemplo de conflito armado
aquele que envolveu os antigos componentes da extinta Iugoslávia, cuja situa-
ção beligerante foi reconhecida por organismos internacionais, provocando até
a intervenção bélica de outros países.
114
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Sendo assim, o conflito armado guerra, como já informado no item 12.1, pres- A situação que envolveu a Co-
supõe uma atitude formal e legal, que exige procedimentos obrigatórios, neces- lômbia e as Forças Armadas
Revolucionárias da Colôm-
sários e imprescindíveis do chefe do Poder Executivo nacional e dos membros bia (FARC) não se enquadra
do respectivo parlamento. Os demais conflitos armados (exceto as situações de nem como conflito armado,
e muito menos como estado
guerra declarada), sejam internos ou externos, não têm tal conotação, visto que de guerra, tendo em vista que
não envolvem governos soberanos em litígio formal e declarado. Porém, porque nenhum Estado ou organismo
internacional reconhece e le-
os embates entre os oponentes são de tal gravidade e violência e porque provo-
gitima as FARC em seu litígio
cam enorme prejuízo para as pessoas e para o patrimônio econômico e cultural contra o Estado colombiano.
dos envolvidos, a comunidade internacional, por meio de seus países soberanos
ou por organismos internacionais, reconhece e empresta o status de conflito
armado, o que sujeita aos diretamente envolvidos medidas repressivas, econô-
micas ou bélicas. Além disso, impõe aos litigantes toda a estrutura normativa
do Direito Internacional, particularmente o relativo aos Direitos Humanos.
115
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
12.2 Delimitação dos crimes militares
em tempo de guerra (artigo 10 do CPM)
b. Todos os crimes previstos para o tempo de paz, quais sejam dos artigos
136 ao 354 do CPM, tais como dormir em serviço, insubmissão,
violência contra militar de serviço, entre outros (artigo 9º e artigo
10, inciso II do CPM).
c. Todos os crimes previstos com igual definição tanto no CPM como nas
leis penais comuns ou especiais (LSN), qualquer que seja o agente do
crime, desde que praticados em território militarmente ocupado; ou se
comprometem ou podem comprometer a preparação, a eficiência, ou as
operações militares; ou, ainda, se, por qualquer forma, atentam contra a
segurança externa ou expõem a perigo a segurança externa do Brasil, tais
como o FURTO, ESTELIONATO, HOMICÍDIO (artigo 10, inciso III, do CPM).
116
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Artigo 10o do Código Penal Militar
117
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
13 Do favorecimento ao inimigo
Objetivo específico
Ao todo, são mais de 40 (quarenta) crimes, razão pela qual, por delimitação
do tempo disponível, nos prenderemos aos mais emblemáticos e significativos,
mesmo porque alguns deles já foram estudados anteriormente, por também
estarem previstos para o tempo de paz.
Cabe destacar que muitos dos crimes deste título, por sua imensa gravidade,
trazem cominadas penas de morte no seu grau máximo.
Quando a lei penal militar se refere ao termo nacional, significa que trata do
brasileiro nato ou naturalizado, conforme dispõem os artigos 12 da CF/88 e o
artigo 26 do CPM.
13.1 Da traição
119
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
prejudicar o sucesso das operações militares empreendidas por forças nacionais
ou, ainda, compromete ou tenta comprometer a eficiência bélica do Brasil, por
meio das práticas ou omissões listadas nos incisos de I a V do artigo 356.
13.2 Da cobardia
O militar que, perante o inimigo e por medo, esquiva-se (ou tenta esquivar-
-se) ao cumprimento do dever militar, comete o crime propriamente militar de
cobardia, descrito no artigo 363 do CPM.
120
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
13.2.1. Cobardia qualificada
Quando um militar ou civil não atende a uma ordem legal recebida que verse
sobre matéria de serviço, dando causa, assim, à ação militar do inimigo, comete
121
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
o crime impropriamente militar de falta de cumprimento de ordem, previs-
to no artigo 375 do CPM. Se o fato expõe a perigo concreto qualquer elemento
destinado à ação militar, a conduta omissiva se qualifica com um novo patamar
de pena previsto.
13.4 Do dano
122
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
13.4.1. Envenenamento, corrupção ou epidemia
Quando uma pessoa, militar ou civil, coage física ou moralmente com violência
ou ameaça, oficial-general ou comandante de unidade a não cumprir com seus
deveres como militar e comandante, está praticando o delito de coação con-
tra oficial-general ou comandante, de acordo com o artigo 388 do CPM.
123
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
14 Da hostilidade
e da ordem arbitrária
Objetivo específico
125
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
15 Bibliografia
Referências bibliográficas
ASSIS, Jorge Cesar de. Comentários ao código penal militar. Volume úni-
co. 6ª ed. Curitiba: Juruá, 2007.
_____. Lei 6.880/1980. Estatuto dos Militares (E-1). Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6880.htm>. Acesso em: 22 de julho de 2013.
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar atualizado. Brasília: Brasília Jurídica, 1999.
MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 20ª ed. ver. e atual. pelo prof. Miguel
Alfredo Maluf Neto. São Paulo: Saraiva, 1990.
127
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u6
NEVES, Cícero Robson Coimbra e Streifinger, Marcello. Apontamentos de
Direito Penal Militar. Volume 2. São Paulo: Saraiva, 2007.
NORONHA, Magalhães E. Direito Penal. 1º vol. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 1968.
ROMEIRO, Jorge Alberto. Curso de Direito Penal Militar: Parte Geral. 1ª ed.
São Paulo: Saraiva, 1994.
Bibliografia complementar
128
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
CCEAD – Coordenação Central de Educação a Distância
Coordenação Geral
Gilda Helena Bernardino de Campos
Gerente de Projetos
José Ricardo Basílio
Equipe CCEAD
Alessandra Muylaert Archer
Alexander Arturo Mera
Ana Luiza Portes
Angela de Araújo Souza
Camila Welikson
Ciléia Fiorotti
Clara Ishikawa
Eduardo Felipe dos Santos Pereira
Eduardo Quental
Frieda Marti
Gabriel Bezerra Neves
Gleilcelene Neri de Brito
Igor de Oliveira Martins
Joel dos Santos Furtado
Luiza Serpa
Luiz Claudio Galvão de Andrade
Luiz Guilherme Roland
Maria Letícia Correia Meliga
Neide Gutman
Romulo Freitas
Ronnald Machado
Simone Bernardo de Castro
Tito Ricardo de Almeida Tortori
Vivianne Elguezabal