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CONSÓRCIOS COM COQUEIRO NO SUL DA BAHIA

JOSÉ INÁCIO L. MOURA1 & JOSÉ BASILIO V. LEITE2


1
CEPLAC/ESMAI, Km Zero, Rod. Una-Colonia-BA, 45690-000, Brasil Email: jinacio@uol.com.br
2
CEPLAC/SEFOP, Km 22, Rod. Ilhéus-Itabuna-BA, 45600-970, Brasil Email: basilio@cepec.gov.br

INTRODUÇÃO

O tempo decorrido entre o plantio e a primeira produção do coqueiro é, no

mínimo, 5 anos para a variedade anã verde e 10 anos para a gigante. Pequenos e

médios produtores de coco, geralmente, não conseguem custear o investimento do

plantio e manter o pomar durante a fase improdutiva. Desse modo, a transformação

de monocultivos em sistemas policulturais poderá gerar receitas com culturas

intercalares, tanto de ciclo curto quanto semiperenes e perenes. Alvim et al (1993)

citam que o emprego de culturas intercalares de ciclo curto em caráter subsidiário,

bem como consorciação permanente com outras perenes são estratégias eficazes

para amenizar o manejo insuficiente que, muitas vezes, ocorre nas monoculturas.

Isso ocorre com os plantios de coco, principalmente com a variedade gigante, onde

são usados espaçamentos amplos e geralmente não recebem, ou pouco recebem,

insumos modernos. Diversas combinações de intercultivo com o coqueiro são

empregadas empiricamente pelos produtores regionais, destacando-se o

cupuaçuzeiro, pimenta-do-reino, café, banana, acerola, maracujá e outros cultivos

temporários. No entanto, nesses sistemas de consórcios há possibilidades de

interações negativas entre os consortes, principalmente relacionados com pragas e

doenças. O presente trabalho apresenta resultados obtidos em Una, Bahia, Brasil,

que revelam vantagens e desvantagens de sistemas policulturais praticados com o


coqueiro na região cacaueira da Bahia. Pragas e doenças envolvidas com os

consortes são também comentadas.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo teve início em julho de 1992 e foi concluído em dezembro de 2000,

na Estação Experimental Lemos Maia - CEPLAC, no Município de Una, Bahia,

latitude 150 17´ S e longitude 390 04´ W. O clima da região é do tipo Af, segundo

classificação de Köeppen, isto é, quente e úmido sem estação seca definida. O

pomar está instalado em uma área com altitude de 15 metros, em solo classificado

como Latossolo Vermelho com predominância de argila 1:1 (Silva et al 1975).

Os consórcios foram instalados em julho de 1992 em coqueirais da

variedade anã-verde em 7 hectares com 1.428 plantas, 7 anos de idade e

espaçamento 7,5 x 7,5 metros em disposição espacial de triângulo eqüilátero e com

a variedade Gigante do Oeste Africano com 4 hectares, 493 plantas, 12 anos de

idade e espaçamento de 9 x 9 metros com disposição espacial também em

triângulo eqüilátero.

As culturas consorciadas com os coqueiros da variedade anã e suas

quantidades foram: Café Conilon (Coffea canephora Pierre ) 48 ; Banana prata

(Musa sp.) 170; Acerola (Malphigia glabra L.) 42 ; Pimenta-do-reino (Piper nigrum

L.) 80. Com o coqueiro Gigante foi consorciado o Cupuaçu (Theobroma

grandiflorum Schum) 430. Os consortes foram plantados em aléias, isto é, no meio

das entrelinhas dos coqueiros.

O espaçamento do cafeeiro e bananeira entre os coqueiros foram de 6,5 x

3,0 metros. As pimenteiras e aceroleiras tiveram espaçamentos de 6,5 x 2,0 m e 6,5


x 4,0 m, respectivamente. A pimenta-do-reino teve como suporte o tutor vivo

Gliricidia sepium Jacq . O tamanho das covas de todas as culturas consorciadas

com ambas variedades de coqueiro foi de 50 x 50 x 50 cm. As adubações de cova

também foram similares para todos os consórcios com as variedades anã e gigante,

que constaram de 600 gramas de superfosfato simples e 10 litros de esterco de

curral. Nos consócios com o coqueiro anão, os coqueiros receberam 4 kg da

formulação 11-30-17/planta/ano, enquanto os consortes receberam adubações com

a mesma formulação, totalizando 6 kg do adubo/planta no período estudado (1994

a 1999) em doses crescentes com a idade dos cultivos.

No consórcio coqueiro gigante x cupuaçu o espaçamento adotado para o

cupuaçuzeiro foi de 9 x 5 m. Os coqueiros receberam 4 kg da mesma formulação

por planta/ano, perfazendo assim, um total de 24 kg/planta, enquanto os

cupuaçuzeiros receberam, em média, 12 kg da formulação até a conclusão deste

estudo. As produtividades das culturas consorciadas com os coqueirais foram

avaliadas. Concomitantemente avaliou-se também as perdas e danos com pragas

e doenças nos consortes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A produção e produtividade dos consórcios do coqueiro anão verde com

pimenta-do-reino, aceroleira, bananeira e cafeeiro obtidos no presente estudo são

mostrados no quadro 1. No quadro 5 encontram-se os resultados obtidos do

cupuaçu consorciado com o coqueiro gigante.

Tomando-se por base a produtividade alcançada pelos consortes do

coqueiro anão verde, estima-se uma produção anual, em 01 ha de consórcio, de


1.684 kg de pimenta-do-reino; 5.130 kg de banana; 513 kg de café e 1.774 kg de

acerola. Quanto aos coqueirais poderiam ser obtidos até 24.480 frutos por hectare

quando admitida uma produtividade de 120 frutos/pé/ano, o que é perfeitamente

possível quando todos os tratos culturais são realizados. As interações entre

alguns consortes apresentaram resultados negativos, principalmente os

relacionados com pragas e doenças. O comportamento de cada consórcio será

discutido abaixo.

Quadro 1 – Produção e produtividade em diversos consórcios com o coqueiro anão,


em Una, Bahia no período de 1994 a 1999.

Produtividade Produção média de


Produção Produção
Consorte estimada (1) coco
(kg) média/planta (kg)
(kg/ha/ano) (frutos/planta/ano)

Pimenta-do-reino 175 2,2 1.684 61

Banana 1.700 10,0 5.130 92

Café 48 1,0 513 60

Acerola 273 6,5 1.774 59

(1)
- Produtividade estimada em 01 ha de consórcio com o coqueiro

COQUEIRO X CAFEEIRO

A produção média de café/planta na primeira produção foi de 1,0 kg/planta;

comparando-se à produção média regional em café solteiro de 1,4 kg, verifica-se

que o consórcio com o coqueiro é viável, apesar da produtividade menor. No

sistema de plantio adotado em aléias com uma linha de café nas entrelinhas do

coqueiral observou-se sobra de espaço e luminosidade, em função do


desfolhamento ocasionado pela incidência da lixa-pequena do coqueiro, causada

pelo fungo Phyllachora torrendiella (Batista). Assim, poder-se-ia plantar 4 linhas

quando da implantação do coqueiral e, à medida que os coqueiros forem

crescendo, deixar apenas duas linhas de café.

A ferrugem, doença causada pelo fungo Hemileia vastatrix Berk atacou de

forma generalizada os cafeeiros, exigindo pulverizações sistemáticas com fungicida.

A elevada umidade relativa do ar (> 84 %) e altas temperaturas são fatores que

favorecem a incidência desta doença. Provavelmente as formações de microclima

favoráveis ao fungo sob o coqueiral influenciaram o elevado ataque da doença. A

única praga entomológica registrada nos cafeeiros foi o bicho-mineiro

(Perileucoptera coffeella (Guérin-. Mèneville, 1842) Lepidoptera, Lyonetiidae) com

baixa incidência de ataque

COQUEIRO X BANANEIRA

Foram colhidos 1.700 kg de cachos em 170 plantas no primeiro ciclo, dando

uma produtividade de 10 kg/planta. Essa produtividade é considerada baixa quando

comparada à média de 15 kg/planta obtidas em ensaio com bananeira solteira na

mesma estação. Tal fato pode estar relacionado ao elevado ataque da Sigatoka

amarela (Mycosphaerella musicola R. Leach ) ocorrido nas bananeiras, pois a

variedade prata é altamente suscetível. Provavelmente os fatores climáticos

associados ao microclima formado sob os coqueirais tenham influenciado

decisivamente nesse ataque, portanto, o uso de variedades resistentes ou

tolerantes é preponderante no sucesso desse consórcio.


A produtividade média dos coqueirais consorciados com a bananeira foi de

92 frutos/plantas/ano enquanto que nos coqueirais consorciados com as outras

culturas a produtividade média foi de 60 frutos/planta/ano, portanto, representando

um aumento de 53 % na produtividade. Provavelmente esse ganho de produção

seja devido à colocação de pedaços de pseudocaule ao redor do coqueiro quando

os cachos eram colhidos, acarretando assim, maior umidade do solo no período

seco, aumento de matéria orgânica e, conseqüentemente melhoria nas

propriedades físico-química do mesmo e, finalmente incorporação de potássio em

sua forma natural. Entre os vários benefícios que a cobertura com os restos de

cultivo de bananeira trazem, citam-se o aumento do teor de nutrientes e o

incremento significativo da atividade biológica do solo.

COQUEIRO X ACEROLEIRA

A produtividade média das aceroleiras obtida foi de 6,5 kg/planta,

considerada muito baixa em relação à média de 20 kg/planta/ano obtidos em

pomares comerciais solteiros. Provavelmente por serem propagadas através de

sementes de polinização aberta, registrou-se elevada variação na produção por

planta, isto é, algumas plantas produziram bem mais do que outras, acarretando

baixa produtividade média da aceroleira. Desse modo, sugere-se que as aceroleiras

sejam enxertadas de clones produtivos. Embora não tenha sido registrada

ocorrência de pragas e doenças, o cultivo da acerola tem como restrição a alta

perecibilidade, exigindo assim, o seu rápido processamento.


COQUEIRO X PIMENTA-DO-REINO

A produtividade média de pimenta-do-reino obtida no consórcio foi de 2,19

kg/planta/ano, dentro da faixa de produção comercial solteira atual de 2 a 3

kg/planta/ano. Assim, considerando a possibilidade de 01 hectare de coqueiro

poder abrigar 769 plantas de pimenta, estima-se uma produtividade de até 1.684 kg

de pimenta.

Embora nos últimos anos o valor comercial da pimenta tenha desestimulado

seu cultivo, o valor atual de mercado é bom (cerca de US$ 3,00/kg) e tem gerado

boa rentabilidade. Aliado ao bom desempenho econômico, a pimenteira apresenta

como vantagem a facilidade de comercialização na região e também, por ser um

produto não perecível, permite assim sua estocagem e, com isso, a escolha do

momento mais favorável à sua comercialização. Entretanto, apresenta como

desvantagem à suscetibilidade a doenças, principalmente a fusariose (Meloidogyne

incognita (Kofoid & White) e o elevado valor das estacas de madeira de lei,

normalmente utilizadas para o seu tutoramento. O item tutoramento pode ser

minimizado através da substituição das estacas de madeira de lei por tutores vivos

como G. sepium, observando-se a necessidade de efetuar podas sistemáticas dos

ramos para evitar sombreamento nas pimenteiras. Durante a condução do presente

estudo, foram efetuadas quatro podas nas gliricídias. A limitação para o uso da G.

sepium como tutor é a disponibilidade de matéria prima, que poderia ser contornado

através de plantios locais, segundo a necessidade de cada produtor.

Outra possibilidade de tutorar a pimenta-do-reino é através do próprio tronco

do coqueiro. As desvantagens seriam a baixa produtividade por hectare e o uso


obrigatório de escadas para retirada dos cocos, pois uma vez que o estipe do

coqueiro é o tutor, impossibilita a subida neste através de peia.

COQUEIRO X CUPUAÇUZEIRO

A floração dos cupuaçuzeiros ocorreu aos 2 anos e 7 meses após o plantio

das mudas no campo, dando início à sua primeira produção que ocorreu após 3

anos do plantio com 383,51 kg de frutos/ha. A evolução da produtividade pode ser

verificada no quadro 2 acompanhando o crescimento e desenvolvimento das

plantas, chegando a 9.267,15 kg/ha em 1999, correspondente a sua quinta safra.

O rendimento médio de polpa obtido foi de 39 %, tendo atingido uma produção

média de 9,04 kg de polpa/planta.

Tomando como base o rendimento de polpa de 39% obtido neste estudo e

considerando a produtividade média obtida na quinta safra (23.17 kg/planta) e o

preço médio pago ao produtor de R$ 2.00 por kg de polpa, o produtor poderá obter

uma receita bruta adicional de R$ 4013,00 em 01 hectare de consórcio com

coqueiro. Com exceção da região Amazônica, o cupuaçu é comercializado na forma

de polpa para produção de sucos, sorvetes e doces. Por isso, haverá necessidade

de investimentos para aquisição de freezers ou câmaras frigoríficas para verticalizar

a produção.

O cupuaçuzeiro é uma planta de baixa produtividade. Estudos conduzidos

por (Falcão & Lera, 1983 ) mostraram que em cupuaçuzeiros de 7 anos de idade,

para se produzir uma média de 17 frutos, são necessárias 3500 flores. No entanto,

constatou-se no intercurso desse trabalho plantas com até 70 frutos. Verificou-se

também uma grande variabilidade de produção, forma e tamanho dos frutos entre
plantas, caracterizando a variação genética, provavelmente por serem propagadas

através de sementes de polinização aberta. Assim, estudos sobre melhoramento

genético visando selecionar plantas com elevada produtividade e qualidade de

frutos são recomendados.

Quadro 2 – Produção anual coco, cupuaçu e rendimento de polpa de cupuaçu no


período de 1995 a 1999, no município de Una, Bahia.
Ano Produção estimada (2) Cupuaçu Polpa de Cupuaçu Coco
(kg/ha) (kg/planta) (kg/planta) (Frutos/planta/ano)

1995 212,85 0,96 0,37 33

1996 239,91 1,32 0,52 27

1997 1.230,13 5,54 2,16 31

1998 3.301,53 14,87 5,80 35

1999 5.143,27 23,17 9,04 28

Quanto aos aspectos agronômicos, o cupuaçuzeiro se mostrou bastante

indicado para consórcio com o coqueiro na região cacaueira, pois além de adaptar-

se muito bem ao sombreamento, a região apresenta aspectos mesológicos ideais

para seu desenvolvimento. Apesar de ser hospedeira da vassoura-de-bruxa

(Crinipellis perniciosa (STAHEL) SINGER, não se registrou durante a condução

deste trabalho a presença desta doença e/ou outra praga que comprometesse seu

desenvolvimento. A incidência de vassoura-de-bruxa em cupuaçuzeiros na região

cacaueira da Bahia é baixa, tendo sido observado o máximo de 5 vassouras/planta,

permitindo assim, um controle relativamente fácil através da poda fitossanitária

(Lopez, 2000). Quanto às pragas, registrou-se ataque de besouro da família


Chrysomelidade e lagarta da família Stenomidae. O besouro alimenta-se da folha

deixando-a rendilhada. Já a lagarta alimenta-se do limbo foliar e tem o hábito de

viver sobre as folhas, enrolando-as. Entretanto, os dois insetos não causaram

danos econômicos aos cupuaçuzeiros.

6 00 0 60 0 0

5 00 0
PRODUTIVIDADE E RENDIMENTO DE POLPA DO

PRODUTIVIDADE DO COCO (FRUTOS/ha)


4 00 0 50 0 5 50 0 0
CUPUAÇÚ (kg)

47 1 9
F RU T O S
3 00 0 P O LP A
44 3 3
COCO

2 00 0 4 00 4 40 0 0
3 86 1

1 00 0

0 30 0 0
19 9 5 1 99 6 1 99 7 19 9 8 1 99 9
AN O S

Figura 5 - Produção de frutos e polpa (kg) de cupuaçuzeiro e cocos em 01 hectare


de consórcio coqueiro gigante do oeste africano x cupuaçuzeiro, em Una,
Bahia

No mesmo período a produção média de cocos na área variou de 27 a 35

frutos/planta/ano. Essa produtividade é considerada baixa, mesmo para os

coqueiros gigantes que normalmente são menos produtivos que os anões .

Provavelmente fatores climáticos e ocorrência de pragas e doenças, tenham

contribuído para a diminuição da produtividade dos coqueiros.


OUTROS TIPOS DE CONSÓRCIO

COQUEIRO CONSORCIADO COM CACAU

Após a conclusão do presente estudo foi instalado na Esmai um experimento

de coqueiro anão consorciado com cacau. Ambos consortes foram adubados com a

formulação 11-30-17 apresentando excelente aspecto vegetativo por vários anos.

Todavia, surgiram problemas com fitomonas no coqueiro que dizimaram

praticamente todos coqueiros e portanto, inviabilizando sua avaliação.

TRONCO DE COQUEIRO COMO ESTACA NO PLANTIO DE MARACUJÁ

O tronco do coqueiro (com idade acima de 10 anos) pode servir de suporte

para o plantio de maracujá em substituição a estaca de madeira. O arame condutor

das hastes é amarrado ao tronco e, no meio, ou seja, entre um coqueiro e outro se

planta o maracujazeiro. Embora a produtividade dos maracujazeiros não tenha sido

avaliada, constatou-se expressiva frutificação. Entre os fatores de restrição

observados, citam-se: a queda de folhas do coqueiro sobre as hastes do maracujá

e itenso ataque da broca-da-haste (Philonis passiflorae L)

CONSÓRCIO COM OVINOS

O consórcio de carneiros da raça Santa Inês com o coqueiro só é possível

depois do terceiro ano de idade do plantio do coqueiro, pois neste estágio os ovinos
não alcançam mais as folhas. Pode ser uma boa opção para o pequeno produtor

pelas seguintes razões:i) fonte de proteína; ii) retenção do esterco para adubação

do coqueiral. A fonte de matéria orgânica pode ainda ser potencializada com a

colocação de folhas secas e cascas do coco trituradas sob o piso do aprisco

(curral); iii) limpeza da área.

Entre os fatores de restrição, tem-se o baixo nível cultural do produtor. De

maneira geral não são receptivos a inovações tecnológicas tais como:

mineralização adequada, vermifugação, construção de abrigos, bons reprodutores,

banco de proteína como complemento alimentar (p.ex. leucena) e desconhecimento

de plantas tóxicas. Soma-se a esse quadro, os gestores públicos, que por

ignorância e/ou conveniência deixam na maioria das vezes o produtor desassistido

pela ausência de médicos veterinários.

CONSÓRCIO COM FLORES

Em virtude da morte precoce das folhas inferiores do coqueiro em

decorrência ao ataque de fungos, a luz solar invade amplamente o substrato inferior

permitindo assim o consórcio com flores tropicais de forma adensada (p.ex.

heliconias e alpinias). Entre as vantagens agronômicas nesse tipo de consórcio com

o coqueiro, tem-se a retenção da água das chuvas e deposição de matéria orgânica

pela queda de folhas das flores ali consorciadas

Entre as desvantagens tem-se o risco de proliferação da doença resinose

causada pelo fungo Thielaviopsis paradoxa (de Seynes) v. Hohnel ). O fungo de

maneira geral instala-se na base do estipe do coqueiro. O ambiente úmido formado

pelo adensamento das flores pode favorecer o alastramento da doença.


DOENÇAS E PRAGAS NOS COQUEIRAIS

Após conclusão dos experimentos no ano de 1999, constatou-se nos anos

subseqüente alto índice de mortalidade tanto de coqueiros consorciados como

solteiros. A doença fitomonas, também conhecida como “hartrot” no coqueiro foi

responsável pela mortalidade. O protozoário tripasonomatídeo Phytomonas staheli

McGhee & McGhee está constantemente associado às palmeiras doentes, devendo

ser, portanto o agente causal da doença. Várias espécies de percevejos

pertencentes à família Pentatomidae são vetores do protozoário, tais como Lincus

croupius e L lethifer (Louise et al. 1986; Perthuis et al. 1985). No Estado da Bahia,

L. lobuliger foi a única espécie encontrada e comprovada como vetor do protozoário

(Resende et al. 1985). O inseto é de hábito noturno e vive sobre a liteira da floresta.

Desse modo, plantios quando implantados próximos de florestas correm sério

risco de sofrerem ataque de fitomonas. Acreditamos que as bananeiras formaram

um ambiente favorável ao desenvolvimento de L. lobuliger pois sob a cobertura dos

restos de cultivo das bananeiras foram encontrados ovos, ninfas e formas adultas

do percevejo. Como forma de controle recomenda-se a imediata retirada dos

coqueiros doentes da área, seguida de controle químico e cultural (Souza et al.

2000).

O consórcio com frutíferas perecíveis tais como abacaxi e mamão quando

mal manejados, poderá trazer problemas fitossanitários para o coqueiral. Como

exemplo, cita-se uma plantação de coqueiro na região de Itabela, no Sul do Estado

da Bahia, consorciada com mamão (Carica papaya). Neste plantio registrou-se um

alto índice de anel-vermelho em plantas que ainda não tinham emitido


inflorescência. Provavelmente, pedaços de caule dos mamoeiros deixados junto

com os coqueiros quando da renovação das plantações, entraram em processo de

fermentação e liberaram odores atraindo o Rhynchophorus palmarum L.vetor do

nematóide Bursaphelencus cocophilus (Cobb) Baujard 1989., causador da doença

anel-vermelho.

Nas regiões onde a doença foliar conhecida como lixa-pequena do coqueiro,

causada pelo fungo P.torrendiella ocorre intensamente, cerca de 50% das folhas da

planta apresentam-se infectadas; secam prematuramente deixando os cachos sem

suporte físico e nutricional, prejudicando a maturação normal dos frutos os quais,

muitas vezes caem ao solo ainda imaturo (Warwicck, 1997). Esse quadro foi

observado nos coqueirais de forma generalizada, tanto nos cultivos solteiros quanto

nos consorciados, favorecidos pela excelente condição climática para o

desenvolvimento desse fungo, demonstrando não haver interferência decisiva

relacionada ao consórcio. Para o controle do patógeno sugere-se o controle

cultural. O controle cultural consiste na podas das folhas atacadas seguidas de

queima das mesmas. Naturalmente dependerá do valor da produção do coco.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

O uso de culturas intercalares com o coqueiro será, em alto grau, função das

condições locais, devidos principalmente aos fatores climáticas. Porém, o coqueiro

por sua configuração permite da idade zero até o estádio adulto, o consórcio

seqüenciado de várias culturas. Assim, até 2,5 anos pode-se consorciar de forma

adensada cultivos de ciclo curto, tais como feijão, abacaxi, abóbora, maxixe,

maracujá e leguminosas. O consórcio em adensamento tem a vantagem de

proteger o solo contra a incidência direta de raios solares e erosão. Acrescente-se


ainda a incorporação de matéria orgânica com os restos de folhagens. Caso o

produtor não opte por cultivos de valor econômico, recomenda-se o consórcio com

leguminosas, pois além de possibilitar aumento na disponibilidade de nitrogênio

para o coqueiro, apresentam, como vantagem, a elevação dos teores de matéria

orgânica e maior proteção contra a erosão.

O consórcio de cultivos intercalares com o coqueiro em aléias, é uma prática

agronômica viável para a região cacaueira, devido principalmente à boa distribuição

das chuvas. Todavia, a associação de culturas com o coqueiro dependerá do

espaçamento. Assim, quanto maior for o espaçamento entre os coqueiros, maior

será a possibilidade de consórcio ou então ao uso de espécies tolerantes à sombra.

Embora Nair (1993) recomende o consórcio de cultivos perenes com o coqueiro

quando este atinge a idade de 20 anos, pois nesta idade a passagem de luz é

maior, tem-se que considerar que nos coqueirais do Sudeste da Bahia esta

recomendação não condiz, tendo em vista a morte precoce das folhas inferiores por

doenças fúngicas, permitindo assim passagem de luz a partir dos cinco anos de

idade.

Entre os intercultivos, o cupuaçuzeiro além de adaptar-se bem

agronomicamente quando consorciado com o coqueiro, possibilita a agregação de

receitas adicionais significativas para o produtor. Acrescente-se ainda que a

produtividade do coqueiro gigante não foi afetada negativa ou positivamente pela

ação do consórcio. Produtores que tiverem condições de maximizar sua receita em

sistemas policulturais com o coqueiro , deveriam optar pelo coqueiro híbrido pois

possue dupla aptidão, ou seja, pode ser comercializado na forma de coco verde

para o consumo in natura e coco seco para industria.


O resultado obtido com a pimenta–do-reino nos permite concluir que esta

cultura apresenta boas possibilidades agronômicas e econômicas quando

consorciada com o coqueiro, pois como já foi dito, possibilita liquidez local

permitindo assim seu rápido escoamento. Entretanto, a utilização de estacas para o

tutoramento da pimenta poderá ser inviável e proibitiva no decorrer do tempo, pois a

escassez de madeira, aliada ao desmatamento indiscriminado que vem ocorrendo

na mata atlântica, certamente obrigará ao agricultor a buscar novas alternativas.

Desse modo, o uso de gliricídia poderá ser uma alternativa para o pequeno

agricultor em substituição às estacas. Estando os coqueirais com altura acima de 6

metros, o produtor poderá também maximizar sua receita utilizando o próprio

tronco do coqueiro como tutor da pimenta .

Quanto ao consórcio de bananeira com o coqueiro, não é recomendável em

locais próximo de florestas devido a problemas com fitomonas. Entretanto, em

locais distantes de vegetação silvestre não há nenhum impedimento nesse tipo de

consórcio. A banana-da-terra em vez da prata poderia ser uma melhor opção para o

pequeno produtor, pois além de ser tolerante ao mal de sigatoka tem bom valor de

mercado local.

Ainda é cedo para predizer qual será o comportamento do café na região

cacaueira em relação a pragas e doenças. Segundo Guharay et al ( 2001) o

ambiente sombreado dos cafezais ajuda a manter pragas como Hypothenemus

hampeii e P. coffeella a níveis baixos. No entanto, os autores citam que os fungos

Mycena citricolor e Hemilea vastatrix prosperam em ambientes úmidos. Alguns

produtores utilizam produtos granulados à base de Triazóis mais Disulfoton para o

controle da ferrugem. Caso a utilização destes produtos seja imprescindível, não é


recomendado o consórcio do café com o coqueiro, pois o produto poderá ser

absorvido pelas raízes do coqueiro e, por ter ação sistêmica contaminar a água e

copra dos frutos.

BIBLIOGRAFIA

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2 ed. rev. ampl.. Aracajú: Embrapa – CPATC, 34p. 1997.

Figura 1- Coqueiro consorciado com banana-da-terra.


Figura 2 - Coqueiro consorciado com mamão.

Figura 3 - Pimenta-do-reino X coqueiro com tutor de gliricidia e o tronco do coqueiro


Figura 4 - Café conilon consorciado com coqueiro.

Figura 5 - Tronco dos coqueiros substituindo estaca em plantio de maracujá.


Figura 6 - Cacau consorciado com coqueiro anão.

Figura 7 - Cupuaçu consorciado com coqueiro.


Figura 8 - Carneiro da raça Santa Inês consorciado com coqueiro.

Figura 9 - Flores (heliconias e alpinias) consorciadas com coqueiro anão

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