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Pratica dos 21 dias
l

MESTRES ANDINOS

A Melodia da Felicidade

Editorial Pachamama
33ª Edição
Setembro de 2019
Mística Andina

Licensed to paula - Email: paularaquelborges@gmail.com


ISBN: 978-85-93987-19-9

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Índice
Despertar..............................................................................................................................5
Estou gorda..........................................................................................................................6
Olhando onde colocamos os pés..........................................................................................7
O Jardim dos carinhos.........................................................................................................9
Uma vida expansiva............................................................................................................11
Fazer tempo........................................................................................................................12
Ensaiar o sorriso de humildade..........................................................................................13
A boca do inferno................................................................................................................15
Uma aposta no Nada?.........................................................................................................17
Canção de ninar..................................................................................................................18
Estás em teu lar...................................................................................................................19
A arte de sorrir...................................................................................................................20
Expressar a vida.................................................................................................................22
Caminhar nutrindo-nos.....................................................................................................24
Oração, meditação, contemplação.....................................................................................26
Perdoa-nos, assim como nós perdoamos..........................................................................28
Reverdecer..........................................................................................................................30
Que legado deixas?.............................................................................................................32
Kriya do despertar à felicidade..........................................................................................34
Nutrir-se para brilhar.........................................................................................................35
Desintoxicar-se em alegria.................................................................................................37
1o Dia...................................................................................................................................44
2o Dia..................................................................................................................................47
3o Dia...................................................................................................................................48
4o Dia...................................................................................................................................50
5o Dia...................................................................................................................................51
6o Dia...................................................................................................................................53
7o Dia...................................................................................................................................54
8o Dia...................................................................................................................................57
9o Dia...................................................................................................................................59
10o Dia.................................................................................................................................60
11o Dia.................................................................................................................................62
12o Dia.................................................................................................................................63
13o Dia.................................................................................................................................64
14o Dia.................................................................................................................................66
15o Dia.................................................................................................................................67
16o Dia.................................................................................................................................69
17o Dia.................................................................................................................................70
18o Dia.................................................................................................................................72
19o Dia.................................................................................................................................74
20o Dia................................................................................................................................75
21o Dia.................................................................................................................................78

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De tantas cosas, nos quedó el sentido:
precisamente de lo suave y tierno
hemos sacado un poco de saber;
como de un secreto jardín,
como de un almohadón de seda,
que se nos ha metido bajo el sueño,
o de algo, que nos quiere
con ternura desconcertante…

Rainer Maria Rilke

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Despertar
Despertar à vida real resulta incômodo, tedioso, em meio de uma civilização orientada a
fugir através dos mil jogos da tecnologia e da ilusão, para ser e viver vidas de filme.
Porém a vida é real e o verdadeiro jogo, a dança poética profunda é viver dentro de uma
nutrição verdadeira e não dentro de comida cheia de calorias vazias, que te farão sentir-te
ilusoriamente satisfeito.
É que, querido amigo, está bem ser como somos. É tão belo não ter a figura ideal nem ser
tão talentoso como Picasso ou ter o gênio de Einstein.
É ao ver e aceitar este prato vegetariano, quando começamos de verdade a alimentar-nos
de vida. A princípio, quando saímos das lógicas idealistas, resulta doloroso, como o come-
ço de toda a verdadeira mudança de alimentação, e terás a tentação de deixá-lo. Porém, se
persistes por 21 dias, teu corpo, sim, teu corpo e tua sensibilidade consciente despertarão
potentes e cheios de vida real. E a pressão de viver, lutando por teus sonhos, será uma aven-
tura que vale a pena.
Não precisarás provar a ti mesmo nem ao espelho que és um pouco estranho a ti mesmo.
A aceitação de tua natureza humana, verdadeira, te liberará energias profundas para que
alcances o que realmente importa, sem julgamentos, nem comparações, nem projeções nos
outros, e, claro, sem expectativas inalcançáveis.
Soa a sermão?
É porque a humanidade que fez diferença, que nos deixou algum legado foi extraordinária.
Mas a beleza da nuvem é simples e ordinária, e isso é o que importa, existe, assim como é e
em sua dança com todo o complementar da existência, sem ruído nem brilho falso, cumpre
muito bem com seu propósito. E com isso basta.
Se segues o outro caminho, sempre te sentirás inadequado, insatisfeito e te compararás e
talvez projetarás teu fracasso (produto de expectativas exageradas) nos outros, enchendo de
rancor teu coração.
Mas se desde que despertas, vives neste agora, apreciando a experiência natural de ti mes-
ma, com uma amizade sincera contigo e a vida, criarás algo bom e belo, na medida justa.
Ajudarás com o exemplo, terás tempo de ler bons livros, ver filmes com teu amor e rirás com
os amigos que te importam.
Porém isso, o que tem a ver com a espiritualidade?
Tudo. A verdadeira espiritualidade está na vida comum. Não em uma vida falsa e estereoti-
pada, na qual imitamos iogues, santos e um pouquinho de cada livro que lemos, imaginando
algo que não somos.
A maravilha existe. Está no ver, desde uma mente simples e vazia ao que se apresenta. Esta
arte poética não é uma impostura, senão um rio fluido e natural. Esta nova filosofia de ser
um gênio dos negócios, a mais bela, o merecedor da grandeza é uma falácia. Ninguém é mais
que ninguém, todos alçamos o copo de vinho pela Vida. Somos um animal sagrado, viemos
desde o mandril, bebendo desse escuro continente santo, a África, caminhando sem preten-
são de ser extraordinário, somos seres humanos comuns, mortais e belos.
O ideal de êxito total, de estar acima da média, é tão enfermo que desenvolveu este caos
em que vivemos.
Se tu queres realmente experimentar a vida, e ser por momentos verdadeiramente feliz,
estás no caminho certo e podes volver-te profundamente humano sem que te proponhas a

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isso, desde a sabedoria de saber e sentir que és um mais entre todos os humanos.
Nós somos estupendos humanos quando deixamos de intentar sermos outras pessoas. Po-
deríamos ser melhores e estamos tentando, porém com a certeza de nossa mortalidade, de
nossa humanidade que erra e erra, comendo a Vida e sendo comidos por Ela, como um ali-
mento são e saudável.
Te oferecemos um pouco de realidade para ser feliz dentro do que podemos ser como hu-
manos, e isso traz a serenidade madura de saber e ser quem somos. Não raios de luz, mas
sim seres de Pachamama, naturais, simples, crianças terrestres que ignoram quase tudo,
mas com bom coração, com boas intenções e que fazem o que podem, ou seja, o melhor, e
não esperam ganhar o Oscar nem ser o primeiro, senão ser ajuda à vida, à natureza sagrada
deste planeta e à família e amigos, e assim sorrir contentes por estarmos vivos e, entre lágri-
mas e risos, passar por esta vida, deixando um legado de sabedoria verdadeira.
Sai agora de nosso peito um fundo suspiro de alívio, de ampla felicidade laranja.

Estou gorda
— Estou gorda. — me disse, olhando-me nos olhos, buscando confirmação.
— Estás muito bem assim como estás. — disse-lhe enquanto a olhava com doçura. Uma
ternura natural de ver um ser humano desde a consciência.
Olhou-me como se eu mentisse ou dissesse algo para conformá-la, cheia de dor.
— Não, estou gorda. — disse aborrecida. E se foi, agarrada com unhas e dentes a uma ideia
de beleza ideal a qual ela não atendia.
Isso nos passa em muitas situações, então saímos a buscar desesperados a perfeição, em
livros, em cursos, em exercícios, em profissões, esforçando-nos até o infarto ou o divórcio.
Mas não há nada mal em nós. Não há nada que te impeça sentir-te plenamente integrado a
esta vida, agora. Tua cabeça diz: — Sim, estás correto —. Solta isso também. Não se trata de
outra ideia. Trata-se de sentir-te, abraçada pela Vida.
Esse heroísmo poético traz inspiração, e, se vem sofrimento não há problema, há sofri-
mento. Observa-o, também é tu. Não há oposição. Quando resistes, te divides em medo, em
rancor, em subúrbios sujos de culpa, negação, orgulho, fechada à Vida.
Estás viva, isso é tudo. Não intentes agregar mais altura a tua altura. Faz-te una com tua
cor de pele. Faz-te una com as dificuldades de tua infância. Esta é tua jornada intensa e ver-
dadeira. Quando dói, dói, quando estás alegre, gozas.
Já és o que estás buscando, podes melhorar, claro, mas isso é só melhorar, não mudarás
de pessoa. Só transformarás tua percepção ilusória de ti mesmo. A Vida te deu o destino, o
corpo e as dificuldades perfeitas para ti. És teu melhor legado.
Sem negação, nem comparação, nem projeção no que não posso controlar nos outros ou
no karma, aqui e agora resplandece suave esse pequeno instante, que não tem nada mais do
que o extraordinário que o canto de uns pássaros marrons na janela. Que belo é! Nada espe-
cial neles, mas estamos despertos às maravilhas comuns, naturais desse saboroso copo de
água transparente. Que formosa qualidade pôs Pachamama à água, tão simples e humilde.
É transparente! Nos emociona serenamente esse descobrimento…
Nos incomodamos tanto, por tudo. Quando a vida não coincide com o que pensamos, ufa!

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Colocamos o traje de banho e o tempo ficou horrível. Como pode ser? Justo comigo!
A vida segue fluindo sem dar explicações, absurda, ri de nossas lógicas. Como o rio de He-
ráclito, flui, e se és rígido lutarás batalhas em que não tem sentido lutar.
Tem sentido lutar, claro, mas as batalhas que tu escolhes.
A vida muda de instante a instante, não tem sentido linear, nem segue um padrão perfeito.
Dança curiosamente, simples e aberta, sem fixar morada em nada. Aceitamos isso como é e,
de repente, nos sentimos aliviados com que venha o que venha, somos uno com este agora.
Essa flexibilidade, já a conheces, mas a praticas?
Não te demores nas ideias da realidade. Põe energia e luta no que é importante e podes,
sim, transformar. Podes, sim, acalmar tua mente e estar saudável. Podes, sim, ser criativo e
jovial. Podes tomar a vida com o coração de uma criança, sem fazer disso um ideal perma-
nente.
Podes, sim, deixar essa cabeça de abóbora que tem todos os dados, toda a informação, mas
te enche de medo a amar.
Aqui e agora, a vida está te levando e convidando à plenitude de amar.
Sê esta nuvem que és. A vida é o Mestre e seu coração bondoso dá o que precisas, ainda que
venha em forma de dolorosa lição. É uma bela dor. Abraça-a, deixa que te encha e te libere
do peso. E destrua todo o erro.
Assim como a enfermidade, as desgraças ou aquilo que não queremos e evitamos, vivendo
uma vida sem graça para não ter problemas, a vida destrói esses castelos seguros e te dá o
que necessitas, justo no momento que precisas, não por castigo, karma ou algo assim, senão
por amor a tua compreensão consciente.
Se danças com atenção e fluis, não necessitas de arquivos políticos, sociais, religiosos nem
de nenhum tipo, porque a vida não se deixa pegar nem codificar… segue sendo uma surpre-
sa!
É simples e teu coração o sabe desde que eras criança. Retorna a casa, volta agora a mover
tua cintura com o que venha, sem aborrecer-te tanto, sem ofender-te, a vida não é pessoal.
O que importa é a missão e não o pessoal, e a missão é não parar e fluir aceitando felizmente
essa surpreendente vida.
A busca do tesouro é verdadeira, no entanto, o tesouro não está escondido, resplandece
neste bosque de instantes como o sol. Abre os olhos do coração e sente, toma alento e des-
fruta agora do frescor do simples e precioso. Essa tigela de água transparente veio da terra,
sabemos que em nosso amor não há falha.

Olhando onde colocamos os pés


Estás aqui, neste instante, lendo. E desde cada vazio do mistério, colam-se em tua reali-
dade miríades de cores, situações, texturas que se alinhavam maravilhosamente, formando
uma realidade aparentemente compacta.
E criam uma trama de um destino, de deveres, de tarefas pendentes, de pessoas que te
amam ou não, de situações que te agoniam ou que te estimulam.
Não é estranho?

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Nesse instante, a vida é o extraordinário, nós somos apenas uma chispa de uma explosão
de surpresas.
Aceita-o!
Estar desperto é viajar como uma aranha pelos fios invisíveis dessa trama que não criamos
nós.
A vida vem ampliando-se desde que nasceste, te chama, te suga, adentra em ti, e sucedem
situações em ti das quais não tinhas nem ideia. Assim chegam os bebês, a morte, os impostos
atrasados, o amor, a primavera.
É um rumor na consciência. Fecha tuas pálpebras uns instantes e sente, aberto, essa incon-
tida vida, sob o azul do céu.
Algo em nós nos mede com os outros, não solta algo guardado como fracasso, frustração,
ou coisas piores de dez anos atrás. E dói.
Levamos estas cruzes, choramos, nos lambemos as feridas para mantê-las abertas e vivas,
numa brutal autocompaixão que parece dar sentido e emoção a nossa vida.
Sob que padrão te medes?
Nossa falta de atenção e objetividade faz termos valores que determinam parâmetros nos
quais nos avaliamos como um professor faz com uma criança, com crueldade, rudeza, e nos
torturamos.
Tens revisado os valores pelos quais te avalias?
Te sugerimos, durante estes dias tão valiosos, revisar teus valores, porque a partir deles te
considerarás um fracassado ou um ser que flui com uma vida amável e criativa.
E com base neles tomarás decisões que influenciarão em parte do teu destino, porque a
outra parte da trama, misteriosa e poética, quem a cria é a Vida.
Sente este instante, é real, e uma parte do que ele traz não podes controlar. Porém, se te
responsabilizas totalmente por ele, abraçando-o com todas tuas células e aspectos, te reve-
lará seu doce presente.
Sempre seremos os protagonistas do momento em que cruzamos a vida. Teus valores te
farão interpretar o evento que chega.
E assim, chegamos ao ponto desta lição, tens que revisar teus valores e te fazer responsá-
vel, não te entregar à facilidade da culpa ou de achar culpados.
Ainda, nos eventos graves, tu és responsável de como o tomas.
Temos uma querida amiga que sofreu um tremendo acidente de carro, com feridas graves
em suas pernas, com múltiplas fraturas e operações, e em vez de culpar a alguém e transferir
a responsabilidade, assumiu ver esse evento grave e doloroso com o valor de um guerreiro
e ainda luta. Não fez disso um evento virtual de autocompaixão nem criou um universo ao
seu redor de lástima, senão que, com responsabilidade, assumiu um longo tratamento e es-
colheu seguir vivendo feliz com essa situação dolorosa.
Os valores como honestidade contigo mesmo e com a Vida, responsabilidade, esforço sin-
cero, transparência, bondade, compaixão, lealdade, etc. são uma escolha feliz que te fará
fluir com lucidez na realidade.
Na Tradição Andina sobem-se com grande esforço altas montanhas, onde cuidam as al-
pacas e lhamas. Ao longo dos anos, este esforço é bonito por muitas razões, não somente
econômicas, mas também pelo silêncio e pela contemplação da pacífica presença desses ani-

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mais, que é algo que embeleza e fortifica o caráter, formado por valores.
Há valores que são destrutivos e outros que são orgânicos, e baseiam-se na realidade e,
ainda que deem um pouco mais de trabalho, dão uma bênção a longo prazo.
Educar um neto é uma escolha baseada num valor, melhor que deixá-lo com a empregada
enquanto se assiste a partida de futebol. Nestes dias revisa teus valores, teus parâmetros e
sê honesto. É simples e verdadeiro.
Alguns exemplos de bons valores que podemos te dar: discernir porque lutar, honestidade
depois de tomar uma decisão, criatividade, vulnerabilidade, escutar o outro, defender os
frágeis, sejam pessoas ou animais, curiosidade, caridade, humildade, abertura a aprender e
a devoção à Vida em ti e no todo.
Se te treinas nesse exercício, teu ver dissipa-se e chegam as crianças, as dores, os proble-
mas, os êxitos e tens um ver lúcido e compassivo que te vinculará com a totalidade da Vida e
não somente com o efêmero e imediato.
Ao aprender a valorar, surge a gratidão, aprendes a dar importância ao essencial e não ao
que não é. E isto está no plano afetivo, assim claro que terás problemas, porém eles valerão
a pena, e tua vida se vestirá de momentos de felicidade que são reais e não prazer imediato.
Ser responsável e não viver como uma vítima virtual, buscando apoio e gerando lástima,
está simplificado em algo que nos Andes se aprende no princípio: “Olha bem onde colocas
os pés”.
Se colocas atenção plena em cada passo, tua vida será diferente. Observarás o céu, escu-
tarás o som do silêncio, compreenderás o que traz cada acontecimento, e agradecerás ter
aprendido que não nasceste com uma estrela na testa, somos homens e mulheres normais,
naturais, silvestres. Porém, quando aprendemos a ser responsáveis, e nos sentamos quietos,
a vida dentro e fora se acende como uma lâmpada de sabedoria.

O Jardim dos carinhos


Escuta, peregrino do afeto, há em teu interior um Jardim secreto. Está descuidado porque
cultivamos a lixeira emocional, as memórias do desafeto, venenosas e pantanosas.
Mas nestes tempos de reverdecer, podemos trabalhar, suar e assumir uma vocação íntima
pelo delicado das memórias de todo o belo emocionalmente que recebemos. Que não foi
pouco.
O culto ao que doeu separado das felicidades humanas, da mão quente do papai, do café
com leite da mamãe antes de ir à escola, o qual tomávamos enquanto ela nos arrumava a fita
do cabelo, — borboleta de sonhos — é o gérmen do rancor cancerígeno, do ódio que é uma
motivação autodestrutiva, e dessa visão de vítima chique que está tão na moda.
Convido-te à envergadura de jardineiro (santo ofício), que em sonhos vai resgatando da
memória os momentos do afeto, e dedica um espaço e um tempo para dar forma a um Jar-
dim maravilhoso.
Põe em forma de flores as histórias infantis, quando no colo da mamãe ou da avó recebias
o alento sagrado do afeto, do carinho.
Que não seja ao acaso, mas sim procura em ti um espaço de confiança e de desejo. Sim, o
desejo de escolher ver-te como afortunado por tanto cuidado que a Mãe Vida, a linhagem
feminina e masculina, tiveram contigo.

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Dá forma de árvores de diferentes tipos às memórias de alegrias e festivais de riso, com
família, amigos, companheiros de estudo.
Põe em teu Jardim tudo o que tua fantasia delicada queira, que represente aqueles mo-
mentos em que foste feliz, amada, cuidada, que, sem pensar nem raciocinar, o afeto abrigou
tua fragilidade.
E põe um sol entardecendo ou amanhecendo, criando cores nas belas nuvens, que repre-
sente todos os teus amores, falidos ou não. Sem importar o final, mas sim esse momento
em que o Amor utilizou teu canal para manifestar-se na vida, fascinando, maravilhando tua
consciência.
Não faças um estudo dos resultados, a vida sempre resulta ao final em algo conhecido…
tudo decai, isso não é novidade, no entanto, precisamos, para que o raio feliz chegue a nós,
um espaço de sonhos belos, de memórias do afeto e do cuidado para que a cosmovisão seja
equilibrada.
Recorda as mãos trabalhadoras de teu avô, de tua avó, que tanto cozinharam para ti, e dá
a elas a forma de belos lótus em uma lagoa plena de peixes de cores, com um arroiozinho de
cantos e jogos infantis e adolescentes.
Sente os momentos em que algum amigo socorreu-te e dá a ele a forma de um arroiozinho
de montanha, dando de beber a todos os seres deste Jardim.
Se quiseres, põe alguns animais, uns cervos, umas aves que encham de canto e alegria o
bosque dos afetos.
Põe neste Jardim dos afetos todos os instantes em que tua pele se abriu ao desejo e comes-
te da maçã do amor e do ardor.
Coloca ervas medicinais, onde depositarás todas as memórias e momentos em que a saúde
retornou pelo cuidado de mães, amigos, esposas, irmãs, médicos afetuosos.
Não te esqueças de fazer uma pequena casa, onde reparas todos os móveis quebrados pelos
espinhos da indiferença, do desengano e também onde levarás todas as casas amadas que
habitaste, teus quartos de jogos infantil, adolescente, maduro, que tanta inspiração e sonhos
guardaram, e também as lágrimas que agora estás sanando.
Cria uma rede, um balanço onde guardar todos os jogos, de todas as idades, que te fizeram
divertir, rir, entusiasmar-te. Um balanço onde tomar o chá com teus amores proibidos.
No meio do Jardim dos carinhos, cria uma bela estátua de Vênus, de Pachamama, de Nos-
sa Senhora, da Amada Moreneta, de alguma representação de nossa cuidadora Universal, da
Divina Presença, que te vem amando e cuidando desde que eras desejo em teus pais.
E ora, agradecendo por todo o cuidado e afeto recebidos. Perde-te na oração agradecida.
Não te esqueças de fazer, junto à casa, um poço de água fresca e sagrada, aí está esse cui-
dado que tem “o outro”, essa realidade inconsciente que nos cuida e faz com que tudo flua,
funcione e seja. Bebe desse poço sempre que visites o Jardim, e agradece a essa parte de tua
vida que trabalha incansável sem que saibas em tua consciência mental, para que o coração
funcione, para que sonhes de noite, para que o filme de tua vida contenha esperança, terror,
amor…
Mantém vivo teu Jardim com intensidade. Porque é a intensidade de reconhecer todo o
belo e amoroso que recebemos o que faz compreender o Sentido dessa absurda vida. Ab-
surda se não tens compreendido o sentido, plena de compreensão se te abres à clara luz de
compreender.
O Jardim nos foi regalado por poetisas de arroio de altas montanhas nevadas, e a elas por

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outras, em uma longa linhagem de tradição de sonhadores e cantoras do campo.
Refloresta teu Jardim, dá-lhe vida e será teu céu quando deixes este corpo.
Terminamos de pôr uma inscrição em uma pedra no estilo tibetano de talhar pedras, é
simples, mas belo. Polimos por longo tempo essa pedra, que traz em mim o amor de nossa
mãe, e sobretudo a mão quente e calosa de nossos avôs e avós, e o odor a suor bom de nosso
primeiro cavalo.
Quando sintas o frio das situações dramáticas que sempre chegam, refugia-te em teu Jar-
dim e segue trabalhando nele, quando estejas feliz leva alguma chispa de luz desses momen-
tos a ele, quando o amor te visite, compartilha com teu Jardim essa melodia do eterno.
Na intensidade deste momento, o Jardim dos carinhos nos reverdece.

Uma vida expansiva


Fomos educados em matérias em que se necessita apenas uma parte do cérebro para apren-
dê-las. Mas nós temos três cérebros: o que atende as funções mecânicas, o que planeja e o
que sonha e imagina. E para sentir, viver e aprender, precisamos educar-nos na linguagem
secreta das flores emocionais que somos.
As emoções são essenciais porque não as controlamos, mas podemos aprender com elas e
assim, sem as controlar, como uma torrente de água, podemos conduzir seu poder para criar
e para construir um humanismo com bondade.
Como na escola não nos ensinaram, por exemplo, a diferença entre ansiedade e medo,
quando enfrentamos uma prova o medo nos envolve e paralisa, bloqueia e nos faz sofrer
antes do tempo, usando o cérebro que imagina toda uma série de catástrofes antes que ocor-
ram.
A ansiedade, sim, é normal antes de uma prova e podemos deixar que aconteça, pois nos
ajudará a estudar mais, a escolher ler o texto em vez de sair com os amigos para beber. Mas
o medo de fracassar dói, desnecessariamente.
Damos esse exemplo porque é fácil de compreender. E não sabemos quase nada de nossas
emoções.
Não pretendemos dar um curso de gestão emocional, apenas colocar um mínimo de ênfase
em que, nesse tempo, dediques tua atenção às emoções e como afetam tua percepção sobre
a vida. Elas são as que, “alquimizadas”, catalisam a felicidade.
Como esse é só um texto pequeníssimo de um tema muito profundo, pretendemos dar-te
apenas os elementos básicos para trabalhar, para criar a plataforma de sentir e viver mo-
mentos de felicidade consciente.
Existem dois tipos de emoções. As que te reprimem e contraem e as que te expandem.
O ódio, a inveja, o rancor, o ciúme, a avareza, o medo, te contraem e surgem de uma parte
do teu cérebro que é a mesma de onde nascem as emoções que te expandem, mas são des-
trutivas, e inclusive são referenciais de futuras doenças.
Uma vida de covardia e prudência baseada em nunca ter problemas, mas não viver aventu-
ras nem correr riscos sagrados, te fará morrer suavemente na tua cama, mas te negará essa
felicidade inspiradora do profeta, do poeta, do construtor de civilização, do que se arriscou a
mudar os padrões de interação social. Essa emoção da covardia, que chamamos prudência,

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é socialmente muito respeitável, mas te nega essa felicidade que sacia a fome de infinito que
a humanidade traz em seu centro mais íntimo.
As emoções expansivas são saudáveis e trazem algo do infinito gozo que a vida é. Refiro-me
ao carinho, a aventura sagrada, a alegria, o entusiasmo, a criatividade, a bondade, a solida-
riedade, o sentir o outro, o valorizar o outro, a liberdade de permitir-se cruzar cercas e viajar
ao desconhecido que deu nascimento a tantos inventos magníficos.
Esse movimento expansivo dá ao coração um sentimento de esperança, de fé poética, solta
a imaginação e assim a humanidade cria novas soluções, originais e inovadoras.
Um dos descobrimentos mais importantes que compreendemos nos Andes é que as emo-
ções estão em nós, são como convidados a jantar na mesa da casa do coração. São vozes que
formam parte de nós. E podemos nutrir desde a consciência aquelas que aceitemos como
sementes para uma vida em que a felicidade brote do Jardim dos carinhos.
Uma emoção expansiva bem nutrida sairá com mais frequência que uma emoção enfra-
quecida e débil. É simples e não é!
Porque quiçá levemos muitos anos para descobrir algo como isso.
A vida expansiva, liberada de repressão emocional, inclusive sentindo as emoções que,
contraídas com aceitação e respiradas com entusiasmo, transformam-se como no velho so-
nho da alquimia de chumbo em ouro. Que maravilhoso descobrimento!
Uma vida de expansão emocional, intelectual e de interação com pessoas diferentes, não
de forma virtual, mas ao vivo, abraçando a diversidade é a que dá ao coração a permissão de
abrir-se para dentro e deixar entrar o chi, o raio de eternidade, isso que chamamos felicida-
de.
A fragilidade que somos deixa de sentir-se ameaçada e relaxa-se. Os olhos do coração mag-
netizados pela expansão da bondade, imprudente mas feliz, nos vão cantando e encantan-
do no profundo, sem palavras, sem diálogo racional, mas brotam em sentimentos nobres
e belos, humanos, totalmente de homo sapiens que integrou todos os seus cérebros e atua
expandindo a Vida, sendo um pincel nas mãos da Deusa.
E as pessoas, longe dos seus celulares, vão emaranhando-se como as ramas da madres-
silva, criando a tela multicultural com mensagens verbais, e brota limpo o rastro de aroma
e perfume nos olhos da Alma que tem sabor a choro, choro feliz, harmonioso de aceitar a
diferença de cada um, e é um manjar inesquecível que vai pintando a vida de alegria.

Fazer tempo
Não são deliciosas as expressões da nossa língua? “Fazer tempo” é um fruto que cresce na
sombra patriarcal das árvores. Convida-nos a uma miragem bonita, a uma ausência de fazer,
é, de repente, algo que se desmorona e sonhamos.
Nele podemos, a nosso livre arbítrio, tecer minutos, horas, dias.
Bisbilhotamos livros, os gestos da vida, o cotidiano, e sentimos dentro de onde chega o
afeto, e os dedos da alma nos tocam.
Essa é a hora bonita, tudo volta ao seu lugar, transparente momento, como uma risada do
Infinito. Fazer tempo, perdê-lo tem cheiro a manjericão, e nos acercamos a espaços interio-
res com silhuetas que já não habitam esta paisagem, e ressuscitam os amados, as amadas, e

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nos liberamos dos limites.
Sem filtro, regressa o amor, como os pássaros na aurora, ressurreição, nome querido, e o
ar enche-se de sinos, e nascemos para a ternura, vencendo a morte cotidiana.
Abrem-se as portas da vida e a criança do coração corre feliz pela praça sempre rústica
deste instante.
Amor que nasce na espera, amor que salta alegre de dentro, em festa com o sangue.
Perder tempo, fazer tempo, dispor de tempo contemplativo e brincar nele dá a ressurreição
da alma.
Com este grande andar, rumo de pedra e areia, vai a vida conosco, às vezes penando, às ve-
zes rindo. Na imensidão da nossa ignorância, quando paramos, quando fazemos tempo algo
se afrouxa de dentro e saem as antigas melodias enamoradas, e no fogo do instante cresce a
voz verdadeira, curando a ferida do silêncio.
A pele ardida do instante nos rodeia e a distância encurta-se, entre a consciência e a Vida
vibrante, somente no tempo contemplativo voltamos a ser o que somos e deixamos os brin-
quedos com os quais nos entretemos, preocupamos, angustiamos, robotizamos, deixamos
de ser anjos, “desangelamos”, desaparecem nossas asas em brinquedos para adultos, cor-
rendo atrás de nada, tratando de controlar o destino.
Desculpem essa frase tão longa, mas é tão vital esta revolução de desconstruir a necessida-
de de fazer e achar que quanto mais fazemos, melhor somos. E as lógicas corretas por trás
disso.
No entanto, os anjos se afligem, em tanta tristeza não podem trazer consolos, suas melo-
dias não chegam ao nosso coração. Como o fariam nessa correria?
A beleza deixa-se cortejar, na quietude sem pressa, em um doce flerte acaricia-nos, toca-nos
a alma e assim entramos no Jardim da Deusa, e reverdecemos no bosque dos abraços sem
limites, sob um sol de aromas crianças.
Oramos desde as comunidades andinas, no nevado espaço, para que os seres humanos
deem-se tempo, presenteiem-se entre eles permissão para sentir a ternura de viver, de sen-
tir os amigos, de acariciar os cães, os gatos, de regar o jardim, de amassar o pão, de dar de
comer à família sem pressa, e esperar na beira do rio os namorados, enquanto escrevemos
essa poesia impossível de orvalho e humanidade.
Celebremos porque o dia está chegando à vida, em que deixaremos morrer essa enfermi-
dade da correria, juntando brinquedos caros, e perdendo a oportunidade de celebrar este
breve, porém intenso instante de humanidade...

Ensaiar o sorriso de humildade


Estaremos equivocando-nos ao começar com uma pergunta o parágrafo? Sim, certamente.
Estar equivocado tem sido a constante da nossa evolução como seres humanos.
Acreditávamos que o sol girava em torno da Terra, que o planeta era um cubo, que quando
nos deixou nossa primeira namorada nunca mais amaríamos, que nunca aprenderíamos
logaritmos e nos equivocávamos.
A consciência é uma gota de um oceano em contínuo movimento expansivo. Nos transfor-
mamos todos os dias, todas as horas, todos os instantes. Pode ser que ao estar inconscien-

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tes, não nos demos conta que tentamos rigidamente congelar a Vida de acordo com nossas
ideias. Mas se move, transforma, expande, e o saber consciente que podemos estar equivo-
cados abre a possibilidade de mudar. Compreender nosso erro nos permite crescer, criar,
inovar e encontrar nosso estilo enriquecendo nossa voz autêntica.
Em vez de resguardar-te nas certezas, deverias estar em busca contínua de questionar as
crenças absolutas. Em vez de esperar que chegue a namorada perfeita, abrir-te a amar uma
mulher imperfeita e romântica. E buscar em que área estás equivocado, porque estás.
Assim como vês o adolescente que foste e como sofrias pela acne e estavas tão errado, den-
tro de alguns anos verás o ser humano que és hoje e rirás do sofrimento ilusório, da tensão
inútil, da vaidade, da correria. Vais rir dos medos infantis de hoje, de tuas superstições e das
batalhas fantasiosas que tens. Entenderás as verdades sobre este que és agora e que ainda
não és consciente.
E esse que verás no futuro, também estará de alguma forma misteriosamente equivocado.
E com isso, o que te queremos sugerir?
Que não te aferres aos significados presentes, sejam aparentemente positivos ou negativos.
Teu cérebro cria essa aparente realidade, em busca de sorrir a partir da certeza. A partir do
controle.
Muitas de nossas crenças estão erradas. Quando aceitas isso, um enorme alívio se abre em
teu SER. Porque a vida transforma tudo, não deixa nada em pé. E se sabes disso, é fabuloso
viver dentro da onda “trans”.
Se a Vida, esse organismo divino, se e te “transforma”, o que hoje é Deus, amanhã serão
nuvens que passaram. Podemos estar mais ou menos errados, depende da nossa rigidez ou
flexibilidade.
Mas teu cérebro tenta em vão controlar a vida que TRANS forma tudo em cada instante,
e ao tentar vencer a vida, cria uma confusão, um caos maiúsculo, emocional, mental e de
escolhas.
Se te fechas nas certezas de tua memória, errarás muitíssimo, a memória não é fiel, o cé-
rebro é funcional, não exato, as certezas deram espaço ao racismo, já viste? Um racista tem
certeza de sua superioridade genética. Os fanáticos religiosos voam cercados por bombas
e matam dezenas de pessoas porque têm certeza de seu próprio lugar no céu. Os homens
violam as mulheres porque têm certeza do seu direito superior. Os adultos maltratam as
crianças com base em suas seguranças de educação.
A felicidade surge de viver feliz que estás mudando e o fazes dentro de uma melodia ma-
ravilhosa. Somente na fragilidade da mudança, na incerteza percebemos a maravilha. Tanta
injustiça tem sido feita baseada em que o cérebro afirma que essa mulher é uma bruxa, ou
que tal pessoa abusou de tal, ou as milhares de seguranças que nos autorizam a ser justicei-
ros e cruéis, quando essa certeza é imaginária.
É como o ciumento que olha o celular de seu companheiro, e é claro que algo encontra que
confirme a sua busca de certezas.
Te convidamos a viver no bosque de sorrisos que aceitam que estamos mudando e não pre-
cisamos de crenças absolutas e sabemos que estamos nos equivocando quase continuamen-
te. Quanto mais trates de viver com certeza sobre algo, mais duvidoso e inseguro te sentirás.
Mas quanto mais te abras para o efêmero, o belamente inseguro, vulnerável e frágil de
viver, mais cômodo te sentirás ao saber que não sabes e que estás em boas mãos. A Essên-
cia Transformadora está agora aqui e está bem, flui lucidamente. É dessa compreensão que

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surge a arte, a criatividade, a ilusão de amar sem ciúme, sem esperar algo que nenhum ser
humano ou a vida pode oferecer-te.
A felicidade brota de teu coração quando aceitas a mudança contínua e não tenta impor
tua certeza.
Neste tempo, muda de bairro, vem ao da incerteza, assim evitas julgar e sentir rancor
pelos demais, não estereotiparás desnecessariamente alguém quando o vires, só porque é
diferente, ou porque erra. Também a incerteza te torna mais pacífico contigo mesmo, mais
carinhoso com teu ser e, assim, nos abrimos à dignidade de amar de verdade, sem expecta-
tivas ilusórias.
Essa abertura, a podes fazer neste tempo maravilhoso de aceitar que és um filho da Divina
Transformação Contínua. Para isso, deixa de render culto à certeza de teus valores e sabe
que os está polindo através dos erros, tu e a humanidade.
Não é belo?
A felicidade não é algo a alcançar, e sim algo a deixar sair. Sai quando nos libertamos das
rochas de ar psicológico que criamos para nos dar uma identidade inventada e a vivemos
afirmando, definindo e defendendo, claro.
Pergunta-te: Que tal se estou equivocado? E o que faço é para preservar uma identidade
que aparenta me dar certezas?
Aprende a observar-te e ser honesto, sincero contigo. Rasga em pedaços essa armadura na
qual te refugiaste e vem para o rio da vida, que tudo transforma para que possas viver mil
vidas em uma só. Se te sentes miserável ou infeliz, talvez estejas equivocado em algum lugar.
E o que significa em realidade se eu estiver equivocado?
Nada! É um maravilhoso descobrimento que te permitirá olhar para o desconhecido e in-
certo de te reinventar.
Nos Andes aprendemos felizmente a saber que, entre que os outros se equivoquem e nós
nos equivoquemos, há uma grande diferença. A experiência nos demostrou que muitas vezes
somos nós que temos que mudar o ponto de vista e isso dá espaço a um aspecto da felicidade.
A felicidade do coração é humilde. É tão, mas tão agradável a sensação de humildade. Não
é eu contra o mundo, o mais provável é que seja eu contra mim mesmo, de uma forma es-
condida.
Estamos grávidos de dons, e a humilde felicidade é a parteira. Que breve e verdadeira gló-
ria é não se esconder na estátua da crença rígida e fanática. Nesse humilde barro da huma-
nidade há um feliz sorriso que dura pouco, mas cria a partir da consciência a vida vibrante
que dura toda a vida, em humilde felicidade. Que bondoso é o universo!

A boca do inferno
A mente não acredita no inferno, entretanto, o abusador interior te mete dentro e te retor-
ce em sofrimento imaginário, em linguagens de miséria, desesperança e “victimitis”.
Esse espaço está centrado, transcorre ao redor de uma identidade imaginada, criada por
convenções sociais, palavras gastas, valores emprestados.
O inferno tem muitas bocas, mas todas são confusas emoções que trazem a opaca resistên-

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cia à vida, o sabor a esse medo que, voraz, come toda possibilidade de celebrar este instante.
Quisemos negar essa porta ao espaço de sofrimento, porém está aí, ilusório, e influi com
um campo de energia lúgubre e intensa, é um templo ao miserável, vivem aí nossas hienas,
que querem devorar os instantes de vida com fervor lascivo.
Sim, a isso o chamamos também ego, personagem construído, um constructo social, perso-
nalidade, etc., entretanto, não importa o nome, antigamente o chamavam inferno, o querido
padre Pio dizia o demônio, os psicólogos terão nomes terapêuticos a partir de Freud, mas é
um emblema abstrato, que não existe, porém que dirige nosso olhar, cria em nós diálogos
internos, nos influi ao tomar decisões, nos afoga, asfixia, enferma, mata, enreda e confunde.
Entretanto, não é um inimigo, só algo que não visitamos com a lâmpada da consciência.
Porque dali, dessa energia densa vêm também nossas melhores páginas de arte. Quantos
poemas nasceram da pena, da raiva, da impotência, do desespero.
A ferida, a trazemos, esse território de sofrimento existe, não te dediques a fugir dele, se-
não recebe-o como um amável dono de casa que dá hospitalidade a um desgraçado. A ferida,
a portamos todos. Esta porta, a trazemos, por ignorância, por medo de senti-la em toda sua
beleza escura e sombria.
Nestes dias, recebe com ternura a inveja, não a disfarces se a sentes. A inveja, a angústia,
os ciúmes ou a raiva os respiramos desnudos, abraçados com eles, e de repente o sofrimento
é um lago onde navega elevada a barca da lua, e a seguir: a Graça.
É este o segredo dos antigos místicos e iluminados, negar-lhe a existência malvada ao so-
frimento, à sombra, e integrá-la com carinho, compreender que ela nos faz escrever nossas
páginas menos falsas.
Porque todos podemos abrir o coração para que emane dele a luz da felicidade crística,
quando deixamos de negar e fugir da sombra, do inferno, de nossos parentes que perderam
suas asas.
Se te entreténs negando o que sai de ti, isso se converte em astúcia, em algo mais que en-
ferma e que cria desigualdade social, exclusão social e envenena o planeta.
Abraça a sombra desde o coração, porque viverás no exílio de tua casa, de teu jardim da fe-
licidade se não assumes com carinho essa tua parte ilusória que, entretanto, às vezes explode
e tenta enganar-te e tomar conta de tuas palavras.
Te sugiro a militância compassiva com as cicatrizes, mas só que em vez de convertê-las
em enfermidades, deixa que sejam Baudelaire, Breton, Byron e que contem escuras cartas
iluminadas.
Por que Pachamama nos regalou a sombra, a neurose, a hipocrisia? Para que desde essa
nossa mais escura e instintiva energia lúgubre olhemos a luz e levemos para o vazio cons-
ciente esta sede de vítima, esta voracidade ambiciosa de ter razão, este orgulho que se hu-
milha se não ganha, e se transforme em diáfanas sombras que refresquem a inspiração e
voltemos a sentir-nos filhos de Deus, sementes vivas de Pachamama, flores do Jardim dos
amores.
Podes, sim, com leve ternura e engenho nascido do bom humor, respirar a sombra, comer
bocados de sombra e digerir poemas, pinturas, música e embelezar um pouco esta sociedade
tão rígida por negar a natural fumaceira da psique humana.
Todavia é possível reflorestar uma infância de abusos e desamparo, isso dá nascimento a
uma nova biografia inspirada e poética, que tenha espaços vazios para que o riso possível
chegue, ISSO brota quando estamos inteiros, humanos.

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No escândalo febril do mundo, há ainda possibilidade de viver com a eloquência da felici-
dade nos instantes que nos chegam, só se trata de despertar a levar todo o Jardim, incluso
as plantas venenosas.
Assim começa a nova biografia da humanidade de longo alento, que com diáfanas som-
bras, com uma consciência militante das chagas, compassiva segue adiante, aprendendo a
visitar o inferno e ver que também aí esses animais são sagrados, ainda que sejam só som-
bras, vagas deformações, desorganizações inconscientes, mas que precisam de um pouco de
carinho para serem transformados em poemas da alma que feliz ressuscita entre os mortos.

Uma aposta no Nada?


Um segredo da abertura para sentir felicidade, inspiração e genialidade é deixar-se ir…
sentir-se disponível… deixar que chegue e que leve… soltar-se, deixá-lo entrar… deixar que
aninhe e saia.
Sobretudo, no dormir.
Se aprendemos a dormir, aprendemos a estar despertos.
Dormimos na superfície, sem entregar-nos ao Santo Nada. E o Nada, que é o nível pro-
fundo de dormir, libera-nos do eu-medo, eu-preocupação, eu-rancor, etc., senão seguem
projetando sua tensão em forma de filmes nos níveis superficiais de dormir.
Para isso, nestes dias vamos, ao dormir, deixar ir, soltar tudo como se fosse uma meada de
fios enredados que se vão indo, levados pelo rio onírico e vamos desenredando-nos do caos,
até chegar ao quarto nível que é o Nada.
Aí, no Infinito, está a inspiração.
Dormir profundo e bastante nestes 21 dias é parte do quebra-cabeças de abrir-se a ser feliz,
a ser o melhor de nós e de abrir-se à camada mais silenciosa e unificada da Vida.
Dormimos apurados. Dormimos preocupados com o que temos amanhã para fazer, com o
despertador do celular ao lado. Dormimos sem descansar e despertamos cansados.
Aprender a dormir é uma arte tão sutil e bela como aprender a estar desperto, aberto, lúci-
do e disponível a que a Vida nos viva.
E, assim, deixar chegar as rajadas de consciência cósmica plena.
Deita-te bem limpo, com teu quarto ordenado e com poucos objetos. Visitaste alguma casa
japonesa? Não contém nada mais que o tapete e alguma bela pintura.
Recorda antes de dormir, ora agradecendo o dia e, enquanto oras, recorda cada momento
feliz, cada momento sincrônico, cada instante de gozo.
Esfuma a sensação corporal, relaxando todos os músculos, o sistema nervoso, o coração
(sorri a ele e agradece), o baço, o pâncreas, o fígado, os intestinos, os rins, a bexiga, teu útero
ou tua próstata, tuas glândulas, os pulmões e o cérebro, relaxa e agradece aos olhos.
Desarma o discurso de imagens mentais e deveres futuros, solta o medo, a ansiedade e
todas as emoções e pensamentos… solta com a expiração…
Sorri às estrelas e segue orando, pedindo ser conduzido ao coração, onde não se sonha,
onde não há eu irreal, onde descansamos verdadeiramente.
Deixa-te ir com a intenção para trás de tudo, em direção ao Nada.

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O Nada é maravilhoso, perde o medo a ele pois viverás tua eternidade nesse maravilhoso
oceano de totalidade inspirada e criativa.
Cada noite, sê o sorriso que chega a casa. Ninguém para testemunhar, ninguém para con-
tar nada.
Dorme tudo o que necessites. Põe bem escuro o quarto e dorme bem cedo.
Escolhe um pijama limpo, ou melhor ainda, dorme despida, entrega-te à casa-útero do
escuro oceano da consciência sem formas, palavras, imagens. Morre cada noite para ressus-
citar nova.
Dormir é outra história de amor e, como boa história de amor, só pode narrar-se desde
dentro, deixa-te ir em direção ao Nada. Não há tapete mais fofo e terno.
Dorme em um floco de neve, no ventre azul de uma gota de chuva, no Nada com cheiro a
lavanda, tomilho, sálvia e encontra no Nada o sol da meia-noite.
Deixa-te ir, aposta no Nada. Sê a oração da criança que descansa sem medo.

Canção de ninar
Temos uma criança desamparada na casa do coração. A abandonamos, buscando ser reco-
nhecidos e aceitos socialmente por ter diplomas, cuidar da família, pelo trabalho, as férias,
as roupas, a figura, a concorrência, as batalhas vãs, por defender ideologias, sentir-se ofen-
dido e humilhado se não nos dão razão.
Para que neste tempo recuperes o perfume da felicidade, te sugerimos cantar
a teu pequeno ser canções de ternura, de afeto desmedido, e cantar com teu confu-
so adulto que se sente estranho fazendo atos de magia do coração.
Voltar a enamorar o poço do Ser, encantar-se com essa chispa livre e amorosa que há em
ti. É esta a nova biografia a que te convidamos, e que a Vida, a Presença Divina te abre como
possiblidade a cada instante.
Canta uma cantiga de ninar a esse pequenino que ainda és, brincalhão, cheio de entusias-
mo e criatividade, afetuoso e imaginativo, que sabe e sente o Anjo da Guarda e sua doce
companhia. Que continua vivendo no mundo mágico, onde a aventura sagrada escreve seu
poema de amor e luta pela vida.
Assim sairás do exílio onde vives, assim retornarás como o filho pródigo a casa. A feliz casa
do coração, onde se recupera a dignidade.
A dignidade que esta sociedade se organiza para que a percas nos mil truques do poder e da
astúcia. A dignidade tem a felicidade de criança jogando despida de todo falso ouro na terra,
imaginando universos enquanto seus pais fazem contas e olham o celular.
Canta todos os 21 dias ao coração e SORRI-LHE.
Sim, sorri a ele como sorrias a teus filhos quando eram bebês, como sorris a todo bebê que
quando chega ao mundo tira de ti a ternura e o sorriso do coração.
Não percas a oportunidade de cantar a canção de ninar à Alma, à chispa divina, ao filho de
Deus que no presépio interior é ninado por todos os animais, pastorzinhos e magos chega-
dos de longe; só faltas tu, a consciência que vive na superfície.
Canta companheira e recupera a pacífica amizade e conexão com a essência. Faz-te amigo

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de ti mesmo com benevolência, ao longo de teus dias foste sendo educado na hostilidade e
desconfiança e tua cabeça se encheu de espinhos.
Ninguém te trouxe a esta Vida para ser um mártir. Como a mãe que cuida de maneira
especial ao filho mais desvalido, amarás e cantarás belas canções afetuosas a teu coração,
sorrindo a tua fragilidade e envolvendo-o em um abraço de ternura.
É em tua fragilidade que se desnudará a maravilha.
As coisas são como são, as estrelas brilham frias no escuro céu, o inverno é frio, o verão
quente, e tu tens as dificuldades e temores que te visitam, gostarias de brilhar, mas ainda
não podes, ainda não consegues, gostarias de ser tão bela como aquela ou tão inteligente
como esta, em resumo, gostarias de ser outra pessoa, isso é a fumaceira...
Para que aumentar a ferida?
Desperta!
És como és, e estás sendo transformado pela Vida de instante a instante, aceita e celebra.
Ainda que teus monstros te digam que és isto ou aquilo, és uma maravilhosa criatura vi-
vente. Canta ao ser que és. Sê o melhor amigo de ti mesmo, sê feliz porque há um universo
de bons instantes chegando, e milhares esperam voltar a acender sua chama em tua chama
inocente e alegre acesa.
Ao cantar e sorrir, a chama se acende e podem teus amigos voltar ao santo ânimo, o pre-
cursor da felicidade.
Se vive uma só vez, amiga, amigo, não desperdices esta única oportunidade. Enche tua
casa de cantos de ninar, e a felicidade brotará fresca e diáfana. Não aquela fantasiosa dos
livros, senão a real satisfação de sentir desde o coração o valor de um alento, a poesia do
destino, o privilégio de viver na vertigem de não saber.
Cultiva a plantinha do coração com sorrisos e cantos de ninar, e de repente, sem dar-te
conta, em meio do cotidiano, sentirás a autêntica fragrância do contentamento, da felicidade
de estar vivo, e a criança de teu coração deixará de chorar.
Sim, seguirão as pequenas desorientações, mas o leitmotiv da passagem de tua vida será
humano e feliz, com essa alegria leve do que sabe que não está só, senão que é uma onda em
um oceano de consciência feliz.

Estás em teu lar


Estamos no lar deste instante. Podes contar contigo. Estás exatamente onde estás. Não
estás vivendo a experiência errada, estás vivendo o que o Pai, o coração da Vida traz, é real,
e o medo, imaginário.
Aterrissar nesse momento, soltar o peso da exageração do medo, da desesperança, da ob-
sessão, do viver no passado ou no futuro é tão apaziguador. Desce a terra!
O amanhã é uma ilusão. Mostra-nos! Somente és agora, as postergações para receber a
bênção deste alento provêm do medo.
Agora estás em teu lar, sente teu coração, põe a mão nele, fecha os olhos, recebe cons-
ciente o alento. Não há erro! Neste instante estás completo. Abre-te! Nessa abertura desde
o interior-exterior floresce a felicidade. Somente é necessário descer a terra, à Santa Terra,
deixar de cultivar as feridas passadas há tanto tempo, deixar ir as ofensas do passado ou os
Apocalipses futuros.

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Somos um com a Vida, sem tempo. Situa tua atenção no presente, não há nada de mal te
espreitando. És este instante, és vulnerável, frágil e se te abres descobrirás que és um filho de
Deus que, como uma onda imensa, abraça toda a Existência em um amor indivisível.
Entra, penetra profundamente nesta verdade, sentindo agora. Sente, fecha os olhos muitas
vezes ao dia, voltando ao lar, voltando a sentir a Presença, à casa do coração onde a criança
te faz voltar a brincar, a rir, a sentir esperança e te faz compreender que não és a envoltura
física nem o resíduo psicológico.
E nada nem ninguém pode afetar tanto. Nem as perdas, nem os lucros, sejam econômicos,
sociais ou de saúde, são parte do aprendizado. Porque tu, tua verdadeira e original natureza,
a que ninguém pode lastimar, está incorruptível na camada mais real de ti, como um arroio
de onde flui leite e mel.
E se assim te entregas à alegria de ser agora, a vida cuida-te com a ponta de seus dedos
tão doces e amorosos, e descobres que voltas a nascer, que és pela primeira vez, recebes o
batismo do Amor. Essas não são simples palavras bonitas, são experiências mais vitais que
comer ou trabalhar.
Ainda que custe crer. Ainda que pareça um disparate.
Vive intensamente na plataforma do “não sei agora o que segue”, porém sente a Presença, a
Onda que cobre toda a vida e que provém do coração da Mãe. Há doçura nessa simplicidade.
Há uma felicidade de rancho e alpargatas, de suor na horta e saudação ao irmão sol, à irmã
lua, que é a via pequena de poetas humanos que erram, caem, que reabrem suas feridas,
porém seguem arrumando o Jardim dos afetos.
Às vezes, durante o dia, sentirás pequenas desconexões, não te preocupes. A mente ego-
cêntrica leva-te ao inferno, ao lixão, e as hienas devoram-te um pouco, até que despertas e
voltas a acariciá-las e delas saem asas e tornam-se doces.
Não sejas dura contigo mesma nem com os outros. Sê humana.
Somente situa a atenção agora, e canta a canção do arroio purificado do veneno do medo,
da separatividade a tua criança do coração, e sente, celebra esse instante.
É tão, mas tão breve esta passagem na Divina Pachamama que não podes desperdiçar dias
ou meses em guardar rancores apodrecidos dentro de ti, solta-os, deixa-os ir, esquece.
O tempo corre rápido, e somente podes encontrar o caminho de retorno ao Jardim feliz se
paras e te sentas a sentir a Presença da Vida agora.
Não te deixes enganar com escusas intermináveis, apenas faz.
Então, quando a vida te toque o ombro e convide-te a ir, partirás no tapete feliz, porque
viveste tudo, e amaste os que te aborreceram e os que te amaram. E como um coro, te sau-
darão as árvores, este céu tão azul para todos, os rios, o canto alegre dos pássaros e empre-
enderás a bela viagem na melhor companhia.

A arte de sorrir
Na celebração de um novo dia, escolhe desde teu coração sorrir, assim o Jardim da ternura
floresce e perfuma o dia que começa.
Se és dos que se levantam acelerados, espera respirando em tua caminha, e sorri. A prin-
cípio será um exercício, logo fluida leveza, e mais tarde, terminando os 21 dias, será uma

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lucidez feliz, experimentarás a serena placidez de ser uma filha de Pachamama.
Se és dos que se despertam cansados, sorri quieto e respira profundamente levando ener-
gia feliz, alegre a todo o corpo, devagar como uma suave dança de nuvens chegando alegres
a todos os órgãos, músculos, nervos, ossos, glândulas e fluidos.
Se és dos que despertam pensando, solta esse processo mecânico e sorri enviando teu chi,
teu sorriso enérgico a todos teus órgãos e fá-lo circular por tua coluna para cima, e pela parte
da frente de teu corpo para baixo, inspirando e expirando, e sorrindo com todas as células,
com todos os chacras.
Começa o dia sorrindo, segue sorrindo todo o dia e termina sorrindo. Assim te transformas
em um expedicionário viajando nas limpas nuvens de Belém, onde estás nascendo de novo.
Estás no lugar justo e no tempo exato, é hora de deixar que a sábia infância devolva-te os
bons hábitos para saborear a vida como música de violino em dias de chuva.
Persiste, e ao final desta epopeia sentirás a música celestial da felicidade humana, suave e
simples e o sutil pentagrama da chuva feito luz em tuas mãos.
Segue sorrindo durante a meditação matutina, fá-lo quando te percas na oração de grati-
dão, ou de pedido, ou de fervoroso louvor. Ao Sagrado, lhe encanta o sorriso das criaturas, é
o perfume da devoção.
Sorri às flores do dia, mas também às formigas que caminham em tua mesa, atrevidas e
trabalhadoras, ao feliz som do motor de teu automóvel, ao céu que azul abençoa a todos os
que estão despertos a sua presença celestial ou aos que não veem, sorri às luas de Júpiter à
noite, aos despojos e ruínas dessa sociedade, às notícias do jornal, sorri a tua família querida.
Sorri a teu Anjo da Guarda, que toma corpo em todos os anjos que te sorriem, que te bei-
jam, que te cuidam, que são a rede de carinho humano deste bosque de ternuras e de lágri-
mas. Sorri às lágrimas de espanto que às vezes chegam, elas também se conjugam com teu
sorriso.
Sorri à irmã água, cristalina e mansa, ao irmão fogo, luminoso e ardente, ao irmão vento
que nos renova, à irmã terra, menina sagrada da Vida.
Sorri aqui e agora a tua linhagem, todos teus caminhos percorridos estão aqui e agora.
Todo o sorriso de Jesus te abraça e teu sorriso o roça de gratidão.
A beleza da cotovia, a algaravia das andorinhas, o canto sutil do canário, tudo sorri junto
às árvores e nuvens, e a Santa Terra que sorri para dentro fertilizando tudo.
Não aceites em tua mente nutrir a péssima ideia de que tudo está perdido, não analises a
tua vida, não a rechaces, sorri desde o coração a teu destino, deixando-o passar, vivendo com
esse ar de alegre criança que em um sábado de Natal sai a brincar sem tempo.
Sorri à chaga, à sombra de onde saem as emoções doloridas, sorri com compreensão e afe-
to, porque elas também vêm para que sejamos nEle.
Sê um obreiro da alegria, devolvendo sorrisos aos que sempre trazem más notícias, aos
pessimistas, aos sabe-tudo que trazem as lógicas materialistas do fracasso e da desconfiança,
se ao final nos espera a morte a todos, sorri, este é um tempo de louvor, de danças e poesia
de afetos.
Sorri ao Sol, flor do céu. Sorri à avó Lua que nos regala o mistério e nos ajuda a pintar es-
trelas para sonhar.
A flor do contentamento, da felicidade sutil está agora em tuas mãos. Agora.

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O Cosmos todo cabe em teu sorriso, ISSO se expande a toda a Vida aqui e agora em teu
sorriso suave de humano que compreende sem palavras aqui agora.
Esse corpo que te leva, celebra-o, é a terra mais pura que conheces. Os pássaros sorriem,
cantam, celebram e louvam a Mãe da Vida, a terra celebra a pronta chegada da primavera.
Sente! Teu espírito celebra como uma criança apesar dos muros medrosos da mente, não há
separação nem distância, não há tempo.
Um instante, só um instante — este — onde ISSO sorri através de toda esta efêmera pelícu-
la, esta eterna ilusão, aqui agora.

Expressar a vida
Aonde vais com tanta pressa?
A nenhuma parte. Nem que chegues tarde, nem dentro de três anos, nem nunca. Não va-
mos a nenhuma parte porque não há aonde ir. Vás aonde vás, sempre estás contigo, receben-
do a Graça do alento. Nesse corpo, sentindo as surpresas da vida, mudando, não há modo de
escapar, sempre esse instante está aqui e agora.
Então o que fica?
Voltar ao hábito infantil de expressar-se, pintando, cantando, assoviando, tocando um ins-
trumento, escrevendo contos, poemas, fazendo cerâmica, cozinhando novos inventos, aven-
turando-se em deixar sair de nós o que nos passa agora.
— Não vês que não tenho tempo!
Sim, disseste isso a tudo aquilo que te convida ao novo, aos hábitos criativos que desenvol-
vem sensibilidade e inteligência.
O comum das pessoas está alheio à Arte, maçã do paraíso tão clara e simples. Creem que
não têm talento. É como crer que não sabes ou não podes respirar.
Que te parece se, nesta viagem de transformar hábitos em 21 dias, cultivas alguma arte que
te permita expressar-te?
Porque ao expressar, deixas sair a fumaceira, a sujeira do mundo, sua escandalosa super-
ficialidade e a transformas em beleza. Assim, aprenderam os alquimistas. Assim, brincarás
com tudo, verás uma mesquita onde há uma fábrica, um palácio onde há um sítio baldio,
uma música de Mozart onde há som de buzinas histéricas e a felicidade chegará assobiando
baixinho e te convidará a entrar em cena.
Acaso a singularidade de teu SER não merece ser escrita em lâminas de ouro?
Cada dia, escreve algo, agarra os lápis de cores e desenha sem analisar o que fazes, canta
em teu chuveiro como se fosses Pavarotti, faz um ramalhete de amor com flores, reinventa
tua casa, aprende a cozinhar comidas vietnamitas ou peruanas, mantém viva a caminhada
no bosque e quando estejas só desnuda-te e dança com todo teu SER, vibra tocando um ins-
trumento que sempre sonhaste aprender, começa agora.
Abandona o celular que contamina o subconsciente com milhões de opiniões difamatórias
e falsas, intenta ser um artista, porque já és.
Todos os seres vivos chegaram para expressar algo do Infinito. Somos o VERBO dos Deuses,
que chegou a esse precioso planeta para expressar a surpresa de estarmos vivos. Teu intento

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não só será algo bom para ti, senão será um bom exemplo para teus amigos, para tua família.
Não deixes passar um dia sem intentá-lo.
Não te compares nem te julgues, és um aprendiz, como em tudo o que fazes. Somos todos
aprendizes na vida.
A mente sempre vai dizer: — Não posso, não tenho tempo, não gosto. —. Solta-os! Uma
respiração e solta-os. As formigas, este calor, nós, o que viaja a teu lado no ônibus, a Santa
Terra que nos sustenta, o céu que nos cobre, a Pachamama que nos envolve, Deus que nos dá
a Graça do alento, tudo é parte desta bola azul que nos dá vida e não há forma de sair dela,
mantém-nos porque através de nós quer expressar beleza, harmonia.
A Arte é a mais alta expressão da humanidade e agora que estamos entrando nesta nova
era, está chegando a nova expressão divina. Já chegou o pai com seu empurrão e seu pro-
gresso, a mãe com seu cuidado e celebração dos ritmos lunares e solares, agora chega a
irmandade dos filhos com aspecto de celebrar tudo, sorrindo e tocando um instrumento,
dançando e escrevendo louvores índios à Vida, à Pachamama.
Shih-Tao, em seu célebre discurso sobre a pintura, dizia: “as colinas e os rios designaram-me
para que fale por eles. Eles estão em mim e eu neles. Busco os cumes extraordinários e os
ponho sobre o papel. Nos encontramos e compreendemos uns aos outros espiritualmente”.
Belo! A arte é o ato humano por excelência: faz possível o potencial, exteriorizando-o. Res-
gata-nos de um mundo desencantado e devolve-nos o desejo e a vitalidade. A arte é abertura
e uma oferta à Felicidade do coração para que cante sua melodia através do pincel, da pena,
das pernas e do corpo, das mãos do oleiro.
O trabalho criador move-se intuitivamente no caos, na inevitável obscuridade do terreno
desconhecido. Por isso, o cineasta ou o diretor de teatro criativo tem que estar aberto ao
imprevisto, integrando-o no processo, ao mesmo tempo que, desde sua própria incerteza,
tem que ser capaz de tomar decisões e coordenar a considerável equipe que sempre requer o
recibo de uma obra. O desafio está em poder habitar o mistério do não saber desfrutando a
busca em si, vivendo o processo como o único resultado possível.
Por que te sugerimos que te empenhes em desenvolver teu potencial artístico para que a
felicidade se manifeste?
Porque o objetivo da arte é saber o SER e, assim, saborearmos a felicidade de beber dEle.
É uma via de autoconhecimento e de sabedoria vital. Desde o esvaziamento de si, desde um
silêncio profundo, em uma ação sem autor, o artista flui em dinâmica sintonia com os ritmos
e processos da natureza, deixando que a emergência criativa suceda através dele, espontane-
amente e em harmonia com a totalidade.
A catarse emocional do artista permite sanar a ferida profunda, ao expressá-la em cores,
em sons, em palavras, em linguagem teatral, nas mil tonalidades da arte. A arte compartilha
características com o místico, com o xamã sanador da alma.
Te convidamos com fervor total a não resistir a aprender um ofício artístico, sem importar
a fama ou o reconhecimento, mas adquire esse hábito, por favor, a sociedade precisa da Arte
para sair da técnica racional.
A arte é um aspecto da criatividade, então se te desenvolves em uma arte, te enriquecerás
em todas as tuas áreas, o trabalho te oferecerá um amplo campo de criatividade, a família, a
busca espiritual, etc.
Não te angusties pelos resultados de teu ofício artístico diário, o que importa é que isso
é um exercício dentro de um buquê de intentos de mudar a melodia de tua vida, para dar

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espaço à felicidade. A essa expressão da Alma em meio do caos, da dor, das lágrimas desse
escandaloso mundo. Não busques resultados ou excelência, isso é uma brincadeira infantil
empresarial. Somos humanos.
Quando perguntaram a Michelangelo como havia feito a Pietà, disse que era muito fácil: o
único que havia feito era tirar do bloco de pedra tudo o que lhe sobrava. É algo parecido ao
que te propomos aqui, se a arte que escolhes é a costura, sai o que sai. Mas nós passamos a
vida retirando da pedra de nosso SER o que lhe sobra.
Quando compreendes com teu corpo esse princípio, a felicidade já tem outro canal por
onde chegar a namorar com a consciência.
E, por último, queremos incentivá-los à arte porque nela descobrimos certos momentos de
criação pura em que o “eu” desaparece e o instante inspirador aflora. Isso é propiciado pelo
próprio esquecimento, nos relaxamos e, felizes, flutuamos no ofício.
Terminamos recordando aquele momento vivido pelo querido García Lorca que o levou a
dizer: “Entre os juncos e a baixa tarde, que raro que me chame Federico!”

Caminhar nutrindo-nos
Perdemos a possibilidade de saborear a felicidade porque carecemos de energia suficiente.
A felicidade é uma emanação da consciência de elevada frequência. Nosso funcionamento
ordinário nos faz entrar em uma adesão cega a todas as suas palavras de ordem, nenhuma
das quais está vinculada com a energia.
A fim de alcançar a façanha poética de viver momentos de felicidade consciente, é necessá-
rio nutrir-nos de energia refinada em quantidades abundantes.
Tal tarefa é um dos objetivos destes 21 dias. E todas as indicações deste manual estão des-
tinadas a aumentar tua energia para perceber a validade da afirmação de que tens em ti um
rio contínuo de felicidade do qual não bebes nem te banhas jogando com teus amigos por
falta de energia para chegar a abrir-te a sentir essa sutil energia.
Indicaremos várias modalidades para nutrir teus centros de energia ou chi, este que te
oferecemos aqui é um dos nossos preferidos.
A prática da caminhada de poder transforma o andar em arte: a arte de vagamundear, sen-
tindo os fios vivos de Pachamama.
A princípio caminhar é só um exercício físico, logo é algo com que captas energia, depois
caminhar é sentir com a consciência corporal os fios com que Pachamama vai criando pai-
sagens e circunstâncias e então com lentidão, ou seja, com ritmo adequado a tua respiração
e sensibilidade, os instantes se debulham, gotejam como chuva sobre a pedra e este estira-
mento do tempo aprofunda a percepção do espaço.
Andar não é um esporte. O esporte é a busca de resultados e isso contrai e não expande.
Entre a guerra e o esporte há um parentesco íntimo.
Colocar-te umas alpargatas ou sapatos confortáveis, amaciados, queridos e sair de tua casa
é um poema, uma aventura sagrada, é um convite à abertura do coração, base para sentir
felicidade.
Se criou um mercado de meias, calçados e calças especiais, mochilas ergonômicas, criando
uma cultura esportiva. Não é a isso que te estamos convidando. Não é a fazer caminhadas

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com bastões. Só necessitas as pernas, os pés e teu coração atento e aberto. O resto é só vai-
dade do ego.
Andamos pelo caminho para voltar a casa. A esse Jardim dos afetos onde nos espe-
ram para livrar-nos da carga da memória, das nuvens da preocupação, para esquecer o “eu”.
Andar libera-te da ilusão do indispensável. Não é necessário sair com rumo fixo, nem com
horários, nem com GPS.
Andar é liberar-se do tempo e espaço e do controle, e isso nos afasta da velocidade.
Então, um caminhante é um peregrino. Sem uma rede de referências, a liberdade é um pão
saboroso que começamos a saborear com o coração aberto e assim a percepção da felicidade
apresenta-se de repente em uma emanação de sorrisos.
Ser peregrino, dia após dia, é uma ruptura, não uma liberdade provisória. A esse respeito
há que sentir como os índios, nossos avós sábios que abriram caminhos, conhecendo com
seus pés e corações as paisagens vivas e cheias de energia de Pachamama. E esse “grande
afora”, como nos ensinaram Kerouac ou Snyder, acaba com as convencionais saídas sempre
por um mesmo lugar com o relógio na mão e essa “roupa de caminhar”, uniformizados como
soldados, e não viajando como peregrinos pelos fios de luz de Pachamama.
Romper com o tédio do idêntico, a segurança letárgica, o ódio à mudança é parte do flores-
cer em felicidade.
Andar é uma felicidade simples, pequena e bela.
Caminhamos livres e pudemos descobrir paisagens plenas de silvestre energia, de beleza
delirante, e ébrios de energia escrevemos poemas no vento.
Caminhar acaba por despertar em nós o índio, o espírito arcaico, e uma torrente de inspi-
ração, criatividade e felicidade nos embriaga.
Ao andar com poder, ou seja, parando a conversa da mente, e atendendo o que chega no
agora, sentindo o alento, os pés, as mãos, nos liberamos da velha identidade, esse que sem-
pre anda buscando ser alguém.
Começa a andar, e não escutes a tua mente, se o corpo quer subir uma montanha, continua,
se toma um sendeiro estreito, continua, isso te levará a estar atento, sensível e descobrirás a
energia de Pachamama.
Há sendeiros que desvitalizam, servem só para fazer ginástica e outros que te vitalizam,
são os que interessam.
Percebe em ti a capacidade de receber a inspiração que algumas paisagens têm, que alguns
sendeiros exalam.
Sente a liberdade que dá caminhar assim. A liberdade quando se caminha é a de não ser
ninguém, porque o corpo que caminha não tem história, tão só um fluxo lúcido de vida ime-
morial.
Sente que ainda há possibilidade de ser e viver como um vagabundo do Dharma, cami-
nhando e sentindo as marés poéticas e energéticas de Pachamama.
Somos índios, saibas ou não. Nosso destino é caminhar. Caminhar e cantar. Caminhar,
cantar e sonhar com desafios que nosso coração sinta.
Ao caminhar assim, voltamos a ser um animal arcaico, livre de máscaras sociais, sem mais
fortuna que nossos pés marchando, sem mais carga que uma leve e simples mochila, com
água, alguma fruta, pão integral feito por nós, algum livro de poemas, lápis de cores, papel

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para pintar ou escrever e nada mais, o celular ficou em casa e quiçá algum tapete para sen-
tar-se a meditar, ou contemplar, ou perder o tempo, ou dormir.
Nas etapas finais de teu caminhar, abre teu cosco, teu hara, o centro etérico-energético que
está localizado quatro dedos abaixo do umbigo, e sente-o, como se fosse um olho ou uma
língua, saboreia a terra com a percepção.
Há meridianos de força em Pachamama, e tu és um órgão de percepção. Busca perto de
tua casa o bosque de anjos, onde eles dançam e fazem rodar a energia para reverdecer tudo.
Busca as linhas de energia e percorre-as devagar, sentindo, até dar com as huacas (lugares
onde o poder telúrico brota).
E aí, senta-te tranquilo para respirar, escrever teus poemas, desenhar, tocar um instru-
mento, para sentir o coro de anjos felizes porque um ser humano os escuta cantar e pintar
as flores de cores.
E assim perceberás a felicidade como uma energia especial, a mais intensa das energias de
Deus, a que antecede a sua Presença.
Em longas caminhadas é onde se pode perceber a essência profunda da vida, por isso te
sugerimos fazer caminhadas diárias de uma hora ou algo assim, e uma bem longa no fim
de semana. Quando perdeste a noção das horas que levas caminhando, sentes que poderias
seguir até chegar a Jerusalém, ou até Shamballa, ou até Q’eros.
Então, perde-se o propósito e vive-se essa rara felicidade de fazer por SER, deixa de impor-
tar-nos o porquê, o para quê, o para onde, o quanto falta, e os antigos símbolos de sabedoria
revelam-se limpos, frescos e as sílabas da felicidade escrevem suas notas risonhas em nossos
passos...

Oração, meditação, contemplação


Neste momento podes soltar-te, relaxar-te, deixar ir tudo o que está tenso em tua mente e
dissolver-te no que há agora?
De que te serve tudo isso pelo que lutas tanto? São lutas de teu coração, ou de teu status,
ou das necessidades do progresso?
Para responder de coração e mudar o nosso rumo e caminhar com coração aberto e feliz é
preciso encontrar a porta que nunca está fechada dentro de nós.
Para isso, vamos mostrar-te só um modelo de trabalho sobre tua mente, emoções e corpo,
há milhares, mas este é o da Terra, o de Pachamama.
Antes de meditar, é bom sempre alinhar-te com o mais alto e belo, e com o mais determi-
nado e comprometido, ou seja, estar bem enraizado na Santa Terra e aberto ao Céu, unindo
o Pai Sol e a Mãe Terra. Isso se pode traduzir à linguagem cristã como o Pai que está no Céu
e a Santa Virgem, mas estamos falando do mesmo.
Antes de entrar no que não tem forma, nos preparamos e cruzamos pela forma, pela dua-
lidade do devoto e sua Senhora ou Senhor.
Em outras tradições se cantam mantras ou sutras, ou salmos para levar a mente a essa
disponibilidade e unificá-la alinhada com a corrente sutil e elevada.
Então, busca uma boa posição e diz à Mãe Pachamama, colocando tuas mãos sobre teu
peito:

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TAYTA INTI MEU PAI
PACHAMAMA MINHA MÃE
MUNAY EU SOU
Ou seja, te colocas sob a energia masculina, feminina e tu te reconheces como o espírito em
que se unem essas Essências Cósmicas.
Se te cai melhor a fórmula cristã, utiliza-a:
EM NOME DO PAI, DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO, AMÉM.
E logo visualiza dentro de teu peito, no SER, em um altar imaginário à Divindade a que
rezas. Se és devoto de Pachamama, imagina um campo cheio de trigo, com as alpacas e o céu
azul com o Sol, e um arroiozinho de água fresca e cristalina e a montanha nevada vibrando
amor e bênção. Se és devoto da Virgem, visualiza Ela no teu coração como se estivesse viva,
olhando-te com amor. Ou podes ver o Jardim dos Afetos com a Deusa Universal, a Mãe que
tem todos os Nomes no centro, sentada sob uma macieira e sorrindo, cuidando de todos e
tudo.
E começa a orar, coordenando a oração com a respiração:
Inspiro… Mãe Divina
Expiro… derrama tua Graça em minha vida.
Esse é um pedido de Graça, como exemplo, podes fazer algum outro que tu consideres que
precisas, ou uma oração de interseção por algo ou alguém, mas sincroniza a oração com a
respiração e perde-te na prece, pondo todo teu amor, tua fé, teu apreço à Mãe Vida por tudo
o que nos dá.
E quando sintas em teu coração um sopro de energia especial, sutil, passa à oração de gra-
tidão.
Inspiro… Mamita amada
Expiro… gracias por todos os dons recebidos.
E podes também ir movendo as palavras segundo tua inspiração. Mas mantém o propósito
pelo qual estás rezando.
A oração é essencial na Vida, quando oramos conversamos pacificamente com o mais ín-
timo da Vida, com Deus, com o Senhor, com a Senhora da Vida e da Morte. Ela nos trouxe
a este misterioso mundo e Ela nos levará, é íntima, porque tu és uma chispa dessa Flama
Cósmica de Criação, Conservação e Destruição. Tu és uma expressão dEle, dEla, és seu filho
amado, sua filhinha amada e és cuidada com precisão.
Ora longamente, e se o fazes com entrega, amor e devoção, as lágrimas te visitarão, isso é
maravilhoso, são lágrimas de amor e gozo, que lavam a Alma suja de ego e atos egocêntricos.
Quando ores, podes acender um incenso, uma vela, oferecer algumas flores e frutas, água
pura em uma taça bela.
Esse momento de oração ardente leva-te a uma conversa pacífica com a Alma e a alinhar-te,
pouco a pouco vai deixando de orar com palavras e mantém só a respiração e a intenção.
Isso por uns minutos, sentindo que ainda há dualidade, logo sente que essa dualidade co-
meça a se fundir em unidade.
E mantém a respiração na Unidade entre a forma e a essência divina.
Durante um bom tempo.

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Logo desvanece ainda essa sensação de Unidade, e, quieto e vazio, deixa a atenção fluindo
no alento aqui agora. Sem buscar, sem orar, sem imaginar, só nesse momento, na mais in-
tensa atenção e quietude, a vida respira.
O cérebro vai tentar levantar ondas de palavras, não as atenda, mantém a quietude e a
atenção ao vazio silencioso. Tudo está aqui e agora, está tudo bem e não falta nada. Não há
dentro, não há fora. Se chega uma memória emocional, solta, libera-te. Porque este instante
agora é mais que suficiente. Neste instante só a Vida flui sem divisão. Não estás separado de
nada nem de ninguém, não há nenhum eu. Se volta a chegar uma imagem ou desejo, solta-o,
exala, deixa ir, aceita-o sem lutar.
Fica aqui, agora, conosco, os Andes nevados, o condor magnífico, o colibri, o puma, a Mãe
Vida e sua música silenciosa. Se chega uma mosca ela também faz parte da totalidade vazia.
Sem ideias que te aferrem, não te aferres a elas, ainda que sejam geniais.
Solta-as.
Às vezes o exercício é belo, fácil, reluz em serenidade, às vezes não. NÃO importa, insiste,
persiste em manter a atenção educada, enfocada, a luz da atenção unida ao alento sem prin-
cípio nem fim.
São momentos de grande intimidade, se persistes em duas sessões de 20 minutos de ma-
nhã e duas ao começo da noite, a conexão contigo mesmo será amorosa, pacífica, mansa,
clara, lúcida.
Intimidade significa que toda distância, separação se desvaneceu. Não há dois, mas sim
está um e, mais ainda, até esse um se dissolveu no fluxo lúcido da consciência.
Vai te incomodar a dor das pernas, a coceira nos braços, rosto, tuas costas vão doer, porque
estão separadas, unifica essa dor com a atenção ao todo. Faz-te íntimo dessa dor, não esca-
pes. Aquieta-te, observa o milagre da respiração e toda divisão desaparece.
Esta é a vida agora, pulsa na barriga de Pachamama escura e profunda, respirando, respi-
rando, junto aos pássaros, às pedras, e deixamos ir essa ideia também, regressando uma e
outra vez ao vazio lúcido, à intimidade fresca e úmida da Vida Una.
Ao terminar, une tuas mãos e volta a agradecer aos anjos, aos Mestres, à terra, ao fogo, à
aguinha, ao vento, e a teu misterioso e fresco ser.
E… sorri feliz. A dignidade da disciplina te veste de humano, tudo sorri para ti e tu para
tudo.
Agora relaxa a postura, come uma fruta das que ofereceste, toma a água fresca e mansa,
benzida pela Presença, e contempla ainda sem pensar, sem propósitos, sem busca alguma,
contempla o Ser. Se tens uma janela abre-a e deixa que teu amor pela vida acaricie toda a
paisagem, seja urbana ou seja rural. Sente a felicidade de estar aqui agora, comendo esta
maravilha de fruta e sentindo o sol, a noite e as estrelas, o fresco vento e esse amor de pri-
mavera.

Perdoa-nos, assim como nós perdoamos


Quantas feridas e facas há no Coração para uma só manhã de Vida! Por que guardamos
tanto rancor, por que cultivamos as memórias dolorosas e não as felizes?
Nos séculos de sombras, a dor cresce e cresce e nossa sensibilidade vai morrendo pouco a

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pouco, substituída por bem-estar e conforto. Viagens e prazeres substituem a necessidade
do coração de felicidade, de plenitude.
A rede de rancor humano unifica-se e faz nascer guerras que são a expressão do ódio indi-
vidual, o culto inútil aos feitos que nos ofenderam ou nos fizeram sentir dor.
O irmão corpo registra tudo e os ossos podres que guardamos vão sendo pais de emoções
de raiva, rancor, ódio e um sentido tão acabado de vítima. Pequenas sementes de um ato de
injustiça ou de indelicadeza vão crescendo ao mastigar e nutri-las até criar bosques de dor.
Racionalizar esta situação é o que fizemos durante muito tempo, sem solucionar, sem libe-
rar toda essa obscura fumaceira que nos asfixia e nos faz ver o outro com olhos exagerados
de medo, ódio, e julgamos e julgamos.
Que recomenda o coração? Que mobiliza o amor ante estas situações?
É muito difícil encontrar a inocência quando no coração nos aferramos a ideias, imagens,
emoções de sofrimento causado por outros, seja real ou imaginário ou uma interpretação.
Neste tempo de ressurreição, devemos compreender que um dos presentes do Infinito é o
Perdão. O ego não pode perdoar e não o faz. Mas o ego, maduro e associado à consciência
pode abrir-se ao Espírito da Vida, esse Eu Sou Universal e ser porta aberta ao vento suave e
terno do perdão.
Portanto, se puderes, revisa teu coração, onde, em algum espaço, o estás tingindo de ódio
e mal-estar com as memórias de injustiça, de dor, de sofrimento, e compreende, sim, com-
preende que não és tu quem deve guardar isso que não está no agora. E abre por dentro tua
essência à Presença. E espera ser lavado. Para reencontrar a inocência perdida.
Isso vale para ti, para os outros, para a história familiar que somos. É curioso como a men-
te gosta de encontrar culpáveis à medida que cresce e não vê em si mesma quanto ofende,
quanto provoca feridas.
Só a Presença perdoa e podemos lavar a memória de tanta história de sofrimento que se
guarda dentro e se guarda no corpo.
Nestes 21 dias, liberta teu Ser dessa contração. E deixa que a Divina Mãe em sua Misericór-
dia Infinita possa dançar em teu coração, em sua vibração de perdão.
Se não libertas, estes blocos escuros terminam obcecando-te e influenciam teus valores,
teu caráter, também estarão presentes em tua partida. São fixações baseadas em alguma
falta de trabalho interior sobre o caráter, o ego, a sombra.
Começa a liberar-te dessas estátuas velhas. Que influem no presente e te impedem de amar
em liberdade. Geram desconfiança, medo e a penumbra do reviver e nutrir essa dor que cres-
ce e vai modificando-se até converter-se em obsessão.
Se avanças com paciência, dia trás dia, nestes 21 dias podes voltar a recuperar o paraíso
da inocência, a calma e serenidade de um coração que não tem úlceras sombrias e, assim, a
felicidade perfumará teu dia e o reino da alegria e a paz universal será na Santa Terra.
Te sugiro o seguinte:
Cada dia toma algum incidente que guardas em tua memória e como se fosse um pacote,
dobra seu feroz poder emocional, suas imagens e imagina que pões nesse pacote todas as
energias que gastaste em voltar a sentir e repetir e interpretar esse evento, também as sen-
sações corporais.
Vai ao Jardim do carinho e visualiza a Deusa Mãe da Vida, que tem em seu coração o ma-
nancial do Perdão. E entrega esse pacote a um fogo, uma pequena fogueira que esteja aos

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seus pés. E pede por perdão para ti, entrega nesse pacote todo o rancor e pede pelo outro ou
os outros que te ofenderam ou feriram e para a Vida toda…
Espera orando, em silêncio, sentindo até que vejas e sintas que do coração da Mãe Divina
sai um manancial de água pura, clara e brilhante que te banha da cabeça aos pés e penetra
teu coronário, teu chacra frontal, teu laríngeo, teu cardíaco, teu plexo solar, teu sexual e teu
chacra básico e segue até Pachamama, levando toda a sujeira.
Olha nos olhos da Deusa e agradece-lhe, pede perdão por ter guardado isso durante tanto
tempo dentro, e diz Amém… por três vezes, e volta a tua sensação corporal.
Não interessa se foste tu o que ofendeu ou te lastimaram ou és parte de uma linhagem que
feriu os índios, as mulheres ou o ecossistema em seu afã de riqueza. Perdoa e pede perdão e
sê um filho de Pachamama, sendo lavado, batizado no arroio fresco do Perdão.
Revisa dentro de ti e entrega-te diariamente ao exercício de entregar e pedir o manancial
do Perdão, para ti e para todos os implicados… e libera teu SER dessa memória ofendida ou
ofensora.
Deixa ir e se a mente quiser voltar a ressuscitar essa situação, atento, volta à frase da ora-
ção que Jesus ensinou:
“Pai, perdoa nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofendem”.
Deixa ir, solta e volta a sorrir com afeto a essas pessoas ou situações, ou à vida em ti mes-
mo. Ninguém em realidade é vítima, sofreste um ato de ignorância ou fizeste um ato de
inconsciência e de cada dor nasce, se é tratada com sabedoria, uma nova flor no Jardim dos
afetos.
Assim, queridas e queridos, voltamos a sentir a inocência perdida e batizados no Jordão da
Misericórdia, caminhamos novamente na dignidade e na compaixão.

Reverdecer
Tão vazio como quando ainda não era. Assim é o coração humilde, o coração de primavera,
em que reverdece a Vida e floresce a Graça.
A humildade nos é desconhecida numa sociedade cheia de cursos para empoderar-se, para
sermos excelentes, para a perfeição. Cheios de razão e si mesmos superficiais e efêmeros,
nos empoderamos de quê?
De separatividade, orgulho e razão. Porém, a criatura que somos é um ancião que já nada
quer, e uma criança que somente quer brincar de arte, sonhos e amiguinhos.
Nestes dias, pequena andorinha, volta a intentar sentir a fragilidade humilde que somos.
Somos seres de barro e sonhos. Esvazia tua mente e coração de imagens de poder.
O poder é que tem feito morrer tantas espécies, o que enche de plástico os oceanos, o que
justifica as guerras, é o poder o que maltrata as mulheres, o que impede a alegria de viver em
um planeta tão belo.
Não precisamos disso, precisamos esvaziar-nos de ego para que no templo vazio flua a
chama da Felicidade Divina, onde há equilíbrio, complementariedade, delicadeza e cuidado
gentil com tudo, todas e todos.
Cada manhã, sente tua fragilidade e também tua Luz Divina. Sente a mortalidade real da

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vida no corpo, porém a eternidade da Vida Toda.
A humildade é quase desconhecida entre nós, e é o canto mais necessário.
Quando dizes que não tens capacidade para a arte, és orgulhoso; a exageração em menos-
prezar-se ou em engrandecer-se afasta-nos de nossa natureza de terra, de sol, de estrelas, de
passarinhos molhados depois da chuva.
Em humildade afirmamos, desde esta comunidade nos Andes, que devemos retornar a
casa. A humildade é a chave para abrir a porta da felicidade humana de viver nessa bendita
Pachamama.
Jesus disse: “Aprendam de mim que sou manso e humilde”; é tão bela essa afirmação, é um
poema de Pachamama, um canto de árvore, de nuvem, de entardecer silencioso. Aprende
de tua intimidade amorosa contigo mesma, és pacífica e humilde em teus erros e em tuas
virtudes, em teu ser de argila e em teu ser de luz.
Adquirimos na astúcia da educação social a máscara da modéstia e os hábitos manipula-
dores de parecermos humildes, e esses hábitos debilitam-nos. Impedem de conhecer-nos na
totalidade e amar.
A inteligência resplandecente da humildade nos humaniza e através dessa transparência
nos imantamos de Deus.
A humanidade humilde será magnânima com todos os excluídos sociais, abarcando nisso
os animais, os ecossistemas, os diferentes e os que erram também.
Essa magnanimidade vem de sentir a abundante Graça da Presença de Pachamama em
nosso coração, isso é real, não é autoestima ou orgulho. Surge de sentir o Nada que somos,
de esvaziar o templo do coração de razão e pensamento qualificado de autoridade.
A humildade é compassiva, é um canal da misericórdia divina, tem o poder de regenerar
tudo em nós, e é a mãe da dignidade, esse amor próprio de ser uma vasilha de barro que
contém a melodia do Universo.
Aceitar esse Nada que somos é a porta para sentir o Todo. Aí se manifesta a felicidade da
luz crística.
Babilônia, a Matrix cultiva e nutre o orgulho, e impulsa os seus filhos a serem orgulhosos
de ideais e morrer por eles ou matar por eles, a serem vaidosos de ganhar, de serem triunfa-
dores e de submeterem os que merecem justiça como pequenos demiurgos ou faraós.
Isso é o que faz que vivamos entre tanto medo e dor.
Oramos e oferecemos à Pachamama nossas pequenas pérolas de orações para que nasça
em ti a vocação da humildade, para esvaziar-te de opiniões, de juízos, de sede de ser um jus-
ticeiro ou do orgulho de sê-lo (não há maior debilidade). Sonha e ora pedindo compreender
a humildade, porque o humilde pode amar desde o SER.
E é para sonhar, amar e aprender a amar para que viemos. Aqui, desde onde escrevemos,
desde o abismo do coração pulsa Deus. Voltar a ser pequeno e humilde, de barro e luz abre-nos
a percepção de ver a beleza no cotidiano, e assim a felicidade não pede quase nada para sair
e perfuma tudo. E o ser humano reverdece!
No supremo amor somos nada, somos terra que permite florescer a vida. Te permites essa
Graça?
É em tua fragilidade onde se revela a poesia que és, uma vasilha de barro contendo a água
do céu infinito de amor.

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Que legado deixas?
Estamos partindo, cada dia nos acercamos mais ao último alento. Mas não te preocupes, a
viagem não tem fim. Este corpo mortal e efêmero está mudando todos os dias, o essencial é
que sentido damos à viagem.
Que legado deixarás à Vida da tua passagem por ela?
Um legado implica que alguém o escute. E é importante escutar e ser escutado, mas para
isso tu tens que dizer algo vinculado com o que fizeste.
As pessoas deixam campos, casas, dinheiro ou educação para seus filhos, ou alguns des-
ses lugares comuns com os quais nos conformamos. Mas um legado é algo diferente. É ter
passado por este belo planeta, com os dias que nos couberam, e ter feito algo para que ao
partir esteja melhor. E deixar a casa comum mais sã, mais limpa, mais harmônica e a seus
habitantes, com consciência de habitar nesta casa.
Esta casa comum nos Andes chamamos de Pachamama. Pacha: pedra, ou terra, ou tempo
também e mama, a Mãe que nos dá alimentos, roupa, medicina, e o sopro de vida que nos
mantém no jogo de instante a instante.
Mas, em algum momento do caminho, a humanidade perdeu o sentido de conexão amo-
rosa com Pachamama e estamos em risco de entrar no sinal vermelho, na emergência do
impacto que nossa forma de gerar ganhos produziu no biossistema tão sensível e orgânico.
Somos gente grande e nos impulsiona uma urgência derivada do conhecimento teórico e
empírico de que nossa geração provocou um desastre ecológico que vai crescendo.
Em tempos antigos, oferecíamos sacrifícios aos deuses, aos seres mitológicos como dra-
gões, demônios, monstros. Para aplacar sua fúria, sua raiva, oferecíamos ouro, joias, sacri-
ficávamos animais ou seres humanos. Abandonamos isso, faz tempo. Contudo, a tendência
continua. Hoje a economia passou a ser considerada uma entidade real, uma Deusa super-
poderosa, ante a qual devemos sacrificar milhões de pessoas, continentes inteiros e, claro,
bens de valor inestimável como o ar, os bosques, a água, os animais de todo tipo, como as
abelhas agora, e os ecossistemas.
O capitalismo, o mercado, os índices de risco-país, o preço da moeda Deus: o dólar, nossos
medos todos nos levam a oferecer os recursos da Amazônia, por exemplo, para acalmar algo
criado por ilusões de super-homens, e no oceano seguem-se formando ilhas do tamanho de
um pequeno país, com resíduos plásticos, que poluem e matam milhões de espécies.
Ainda assim, os políticos e homens de negócio, gente racional e sóbria, são “realistas”, não
aceitam como verdadeiro o diagnóstico dos cientistas mais autorizados, somente pensam na
economia. Se ajoelham idolatrando as altas ou quedas do índice Dow Jones, sem sentir o que
está sucedendo na biosfera.
Eles tomam as decisões de que imensos barcos pesqueiros arrasem com toda a fauna ma-
rinha, para uns poucos países. Ou que aceitem que não é possível reduzir o efeito estufa
porque tal mudança teria efeitos catastróficos na economia mundial.
Se substituímos o amor a Pachamama e o respeito pelas suas leis equilibradas e simples
pela Economia, talvez seja porque nos anima uma psicologia de onipotência. Este modelo
econômico que globalizamos já trouxe um perigo iminente de autodestruição.
Um legado de uma vida dedicada com simplicidade e harmonia a Pachamama é necessá-
ria em indivíduos e em grupos conscientes e sensíveis, para que se vá expandindo até que o
modelo mude.

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Um legado de uma defesa aberta dos bosques e selvas amazônicas e de todo o planeta, dos
arrecifes de corais ou dos pântanos, enfrentando as indústrias do gado e da mineração e da
indústria química ou florestal.
Já crucificamos Cristo, agora estamos crucificando Maria, Pachamama, a árvore que nos
dá oxigênio, os rios, formando diques que explodem como em Brumadinho (Brasil), ou pe-
quenos insetos que polinizam.
O sistema econômico se sustenta em inseticidas, em fertilizantes químicos que se pulveri-
zam para controlar pragas, em sementes híbridas, e mil exemplos mais, mas que pela razão
de não ser este um estudo de ecologia não vamos colocar, mas te convidamos a te informar
do que acontece no teu espaço, na área onde vives, e sejas parte do legado da nossa geração.
Um legado de consciência que se desperta para o que está acontecendo e não fica passiva.
Os dons que nos dá Pachamama deveriam ser a prioridade de nossa luta, de nosso fervor
amoroso pela vida. O lixo que se joga nos aterros ou as grandes cidades que jogam seus re-
síduos no mar, nos rios, têm um efeito total em nossas vidas, e começarão a afetar a vida de
nossos filhos.
Nossa vida depende de manter limpa e sã a casa comum, a água limpa, o solo limpo e sau-
dável, o ar limpo e respirável, a energia limpa e usada com sobriedade e a biodiversidade
dançando em abundância. Se não prestamos atenção, é porque em alguma parte de nossa
psique há um resíduo mal trabalhado, autodestrutivo.
A tragédia é uma oportunidade, depende de cada ser humano sobre a Terra. Somos oti-
mistas porque confiamos no espírito humano, filhos de Pachamama e do Pai Céu. Confiamos
porque sabemos que há uma consciência pura, uma chispa divina em nós, mas devemos
afirmar nosso compromisso com deixar um legado de ressurreição da antiga aliança entre a
humanidade e a natureza.
Não somos uma superespécie, somos frágeis e precisamos de ar, de água, de comida, de
vestimenta, de muitíssimas coisas e todas provêm do solo. Devemos respeitosamente pousar
nossa testa na Santa Terra, oferecer nosso pedido de perdão e resgatar os valores da bon-
dade e sobriedade para mudar de Deus, a economia não é a divindade baixada no monte
sagrado, apenas são regulações para gerar bens.
Te convido a despertar o Amor pela Vida em todas as suas formas, incluídas as bactérias
tão necessárias para formar o solo, e deixar um legado de esforço individual e familiar de
mudança de hábitos e de perspectiva com respeito à Mãe Vida.
Te convido a sonhar acordado, levantando teu coração ao horizonte e sentindo: que tipo de
mundo gostarias de deixar para as gerações seguintes?
Podemos imaginar um futuro em que nas cidades se possa caminhar de noite, admirando
as estrelas, bebendo a vida com ar puro, sentindo os animais próximos, livres e sem medo,
adaptando-nos nós às estações e paisagens selvagens e não destroçando tudo.
Este sonho e outros mais avançados são possíveis com a bondade de todos os corações.
Assim a felicidade chegará a todos os seres vivos e este planeta será um lar feliz para mui-
tas gerações de humanos sensíveis, humildes e sóbrios.

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Kriya do despertar à felicidade
A dinâmica do mundo é tão poderosa. A hipnose que exerce é tão fatal que passamos a vida
com terror de viver, atordoados e inconscientes, pensando todos os dias nesse “mim mes-
mo” que muda de instante a instante por ser efêmero e uma construção social.
Kriya ou Pampachay são apenas palavras, na realidade o que ensinamos aqui é uma redis-
tribuição de energia e um aumento da consciência do chi, para assim romper com o padrão
normal de percepção e crenças.
As crenças debilitam o ser humano e o enchem de razão. Quando juntamos e organizamos
a energia podemos romper com os padrões debilitantes, compulsivos e esse universo de
expectativas que geram idolatria que frustra, e os sentimentos confusos que pensamos que
são amor.
Acumular energia é complementário com desintoxicar-se de energia venenosa e densa.
Isso te situará em um nível de percepção em que poderás mudar as premissas de vida, para
soltar tudo o que te apressa e assim possas amar, ser livre e estar centrado em qualquer si-
tuação, sem depender do elogio, da vitimização ou de fundir-te à ideologia de moda para ser
parte de um globo de crenças que te empoderam.
Esta práxis é melhor fazê-la com os pés sobre a terra. Se vives em um apartamento, vai a
um lugar com alta energia, como uma comunidade ou uma huaca, e traz um saco de terra à
tua casa, faz um espaço sagrado sobre um tapete e faz a prática com teus pés desnudos sobre
a Santa Terra.
Afirma-te bem sobre teus pés, sentindo o centro na planta dos pés, onde se conecta Pacha-
mama com teu corpo energético. Abre agora também teu centro coronário, os centros das
palmas das mãos e teu centro cardíaco. Faz com lentidão, suavidade, e sente o Jardim de
carinho aí, neste espaço sagrado.
Antes de começar revisa tua psique, observando-te para não ter nada de autocompaixão.
Isso impede qualquer trabalho energético.
Se encontrares essa atitude, respirando, solta-a por teus pés à Pachamama até sentir-te
centrada, limpa, inocente.
Chama a Mãe Divina sentindo teus pés e sentindo teu entorno, as árvores, os micro-orga-
nismos que estão trabalhando na terra, as minhocas que comem e defecam vida, os milhões
de habitantes da vida que te rodeiam e estão vivendo junto a ti, amando estar vivos. Sente-os
como aspectos da Deusa, da Virgem Sagrada da Vida e da Morte e expande tua devoção à
Senhora Sagrada, a Vida Una.
Logo, com teu coronário e com o coração orientados para cima, sente o Infinito Céu, o
Universo e a Fonte de tudo, o Pai que nos dá Luz e Vida. Sente todas as criaturas que estão
vivendo dEle, como tu. Expande tua devoção e amor a Ele, Tayta Inti segundo os andinos, o
Senhor ou Pai segundo os cristãos, não tem importância o nome.
Logo, sente o Jardim em teu Coração, onde a Chispa Livre de Amor e Gozo vibra emanan-
do sua Presença em ti, rumo a todo o Universo, assim como o Universo o faz rumo a Ela. E
goza em sua Presença amando pacificamente estar contigo mesma.
Eleva teus braços ao Céu inspirando, enquanto mentalmente dizes:
“Tayta Inti (Pai Meu ou Amado Senhor) vem a meu coração a nutrir-me de
compreensão e felicidade“. E visualiza que através do chacra da palma das mãos captas
uma bola poderosa de energia, dourada por dentro e violeta por fora, e ao expirar, baixa tuas
mãos passando-as do coronário ao coração. Faz esse movimento 7 vezes.

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Logo faz uma pausa sentindo como a Luz crística chegou ao Jardim, e aumentou seu bri-
lho, seu poder luminoso, sua lucidez.
Logo, baixa tuas mãos à terra, o máximo que possas, rogando com devoção à Pachamama:
“Mãe Terra, te peço que venhas ao meu coração para nutrir-me de energia e
felicidade”. E junto com os chacras de tuas mãos e de teus pés inspira a energia sagrada
da Mãe da Vida, sentindo que sobe por tuas pernas uma bola verde-esmeralda por dentro e
dourada por fora, passando por teus chacras básico, sexual e plexo solar rumo ao Coração,
preenchendo de energia telúrica, gozo e felicidade o Jardim. Faz esse movimento por 7 vezes.
Faz uma pausa sentindo e vendo como teu Jardim se enche de vida, de fertilidade, de cores
e variedade.
Agora sente a Deusa no centro do Jardim, como uma Deusa mesmo ou como uma Chama
de Vida, Lucidez e Amor em liberdade. E sente como inspiras e expiras profundamente,
sincronizado com Ela. Quando Ela inspira o fazes tu, e quando ela expira o fazes tu, quando
tenhas sincronizada a respiração, diz quando inspiras: “Sou um Sol”, e quando expiras:
“irradiando felicidade e alegria amorosa”.
Tu e Ela se expandem e se contraem irradiando, distribuindo.
Quando inspiras, sente que conectas com o mais essencial do Amor Lúcido em ti, a Infinita
fonte de Amor Incondicional Cósmico, e quando expiras, que sai por todos teus poros físicos,
emocional e mental, em direção a todo o Universo… como faz o Sol.
Faz essa respiração pelo tempo que tu sintas, e ao finalizar, agradece ao Senhor do Alto e
à Senhora da Terra e à Chispa Infinita em ti, com tuas palavras ou sem elas. Termina can-
tando, se podes, e movendo teu corpo lentamente com as mãos em teu coração e os olhos
fechados, amando a Criança Santa do Coração, fonte de todo o gozo e sabedoria.
Logo, sorri a todo o corpo, a teu quarto, aos que vivem contigo, à Vida, ao dia, aos proble-
mas, a tua inteligência, à criatividade, à sagrada imaginação e a tudo o que sintas… sorri
enviando um pouco dessa essência sagrada… reparte o pão de Deus.
E continua consciente, sentindo que és um Sol de felicidade e alegria amorosa durante
todo o dia.
Se tiveres sentido uma elevação de energia ou uma felicidade sem causa que te visita, não
a conserves, é como conservar um beijo, deixa que o agora desfrute do agora, vive intensa-
mente o dia, sendo um alegre e amoroso filho de Deus e sorri a tudo o que passa.

Nutrir-se para brilhar


Brilhar é uma função natural de todos os seres vivos. Viste uma estrela, ou uma acácia, ou
esse pássaro glutão que nos visita a cada manhã? Resplandecem, como o sorriso da terra
quando chove logo depois de um longo tempo de seca. Mas nós depositamos o brilho nos
dispositivos tristes, mecânicos e chatos.
Somos energia, um poema que resplandece na brevidade efêmera do silêncio deste instan-
te.
Não te preocupes tanto, não julgues o socialmente inadaptado, mantém-te bebendo de teu
SER, vazio e escuro, e libera as toxinas de teus corpos.
Sim, estamos envenenados e não é por casualidade. Alimentamos a cadeia de produção
farmacêutica mais venenosa da história da humanidade.

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Porque a água está envenenada, assim como os alimentos, os hábitos espirituais, emo-
cionais é que decidimos desde o medo optar pela busca de segurança, e a feroz e brilhante
poesia do agora nos escapa.
Padecemos de aventuras de amor, de comunhão com o sagrado. Não caminhamos descal-
ços, não andamos perdidos olhando as estrelas, e bebemos e comemos mal. E ninguém diz
nada, porque mantemos uma indústria que está matando a terra, os bosques, a sutil e úmida
poesia da selva virgem.
Hoje soubemos que derrubaram uma avó árvore de 2.000 anos, a indústria madeireira
clandestina em reservas indígenas.
O que podemos fazer?
Começar pelo que somos e consumimos.
Liberando-nos de todo esse lixo que nos excita, adormece, entontece, apaga a energia na-
tural brilhante e bela que somos, para comprar cosméticos, cirurgias.
Não precisas dessas cirurgias nem de toda essa beleza comprada se tomas as rédeas de tuas
decisões e voltas ao silvestre, ao fio de sol que és, cálido e profundo para curar o planeta.
Nossa alma está sedenta de aventuras, de caminhadas em grupo cantando à Pachamama,
sentindo e abraçando as árvores, criando uma alma grupal de sonhos, desses que, ao desper-
tar em ti, despertam-se em tua família.
É tão simples mudar o hábito de beber, de comer, de respirar, de andar, de perceber a
beleza, de estar vivos neste agora, sem seguir cegos a razão educada em desconfiar e subes-
timar-se ou superestimar-se.
Notaste o bem que sentes quando tomas sol? Quando meditas e respiras ar puro de mon-
tanha? Quando, em vez de ser tão egocêntrica, és generosa? Quando soltas o consumo de
tóxicos e venenos?
Saem rosas dos poros abertos de teu coração, ali onde as ondas de felicidade chegam e
acariciam a praia da consciência.
E teus suspiros agitam a vida, em ondas de bênçãos.
Solta já o tóxico e experimenta de novo como uma criança. Reinventa-te deixando de co-
mer carne, de comer pão com químico, de beber álcool, de beber refrescos saturados de açú-
car e aditivos, de colocar para dentro desse órgão de sensibilidade e percepção que é o corpo,
substâncias ofensivas ao natural.
Para que seja nossa Alma lábios vivos beijando a existência através dos sentidos purifica-
dos de toxinas mentais, de maus hábitos, de comidas pré-fabricadas.
Volta à terra, de alpargatas ou descalça, faz teu pão cantando teu amor à Virgem, a Deus,
à Deusa Pachamama. Volta a todas aquelas frutas que com suas cores e sabores elevam-te
a um animal sagrado, onde o céu azul e o ouro do sol bastam para que a felicidade chegue à
superfície e sorrias com todos teus órgãos limpos.
Nasce o sol e com ele nasce o canto agreste e doce de todas as criaturas aladas, em louvor a
vida, e tu, cantas? Danças no alento fresco da manhã? Nestes dias e nos que seguem em tua
vida, escolhe não comer carne, não tomar nada que te tire da livre sensação de viver sóbrio
e feliz. Ao final chegarás de olhos bem abertos e entrarás pela porta que te leva ao infinito,
sadio, brilhando na escuridão como uma estrela humana.
Nasces cada dia de forma nova e, então, cada dia podes escolher como viver. No velho e se-
guro estilo de comer, de beber, de correr, de inconsciência, de imagem social ou podes viver

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como um ser humano livre e feliz, em simplicidade profunda, na beleza de ser um animal
sagrado livre de venenos, ajudando os seus a desintoxicarem-se da hipnose química e espi-
ritual, assim aprendemos a amar e reverdecer no Jardim dos afetos.

Desintoxicar-se em alegria
Pachamama, a Mãe que nos acolhe, nossa amada mamita, está repleta de formas, cores,
sabores, sim, e está todos os dias pronta a nos surpreender, nos oferece tudo o que comemos
e bebemos com esse amor de Mãe cuidadora e nutritiva.
Cuidar de nosso corpo com uma alimentação diversificada e cheia de energia vital, beber
abundante água solarizada e sucos naturais, agradecer tudo que chega a nós, significa reve-
renciar a Pachamama! Se comemos e bebemos de forma automática, estamos deixando de
surpreender-nos e de expressar nossa gratidão a todas as possibilidades que ela nos dá para
que desfrutemos sorrindo em cada agora.
O alimento é sagrado e se estamos presentes, fazendo escolhas conscientes do que come-
mos, os alimentos nos nutrem e vitalizam.
Queridas, queridos, somos tão abençoados por ter uma mesa farta, sejamos gratos com
tanta abundância que a Vida nos oferece aqui, neste agora!
Vamos redescobrir a sagrada alquimia de cozinhar como um ritual que traz a magia de nu-
trir-nos e nutrir nossos queridos, colocando AMOR em forma de temperos e deixando que
Pachamama se manifeste em cada ingrediente, num fluxo de alegria consciente.
Temos nesses 21 dias a oportunidade de despertar esta consciência e colocar atenção a que
alimentos escolhemos. Sentir as suaves nuances dos sabores, cores e aromas. A textura do
cru, do cozido ou o meio-termo, do germinado e do fermentado. Os vibrantes aromas das
ervas temperando a vida, nos inspirando ao puro deleite, despertando os nossos sentidos
mais escondidos, relembrando as nossas avós na cozinha preparando o almoço de domingo.
Este ato simples de preparar o alimento nos vincula intimamente à Deusa, pois dela vem
tudo, e nós, humildemente, somos suas mãos! E há tanta variedade de temperos, ervas, flo-
res, aromas, sabores... tudo Ela nos dá generosamente.
Se nos entregamos e nos colocamos a serviço do amor, nosso alimento se carrega de LUZ e
nutre mais e mais corações! E a Deusa dança feliz! Pachamama se alegra com nosso intento,
pois cozinhar é um ato de amor.
Então, com nossa cozinha limpa, o coração da casa, que tal experimentar cozinhar? Sim, é
uma doce aventura viajar por este caminho de nutrição que é a culinária... podemos colocar
um mantra, acender uma vela para nosso querido Kuntur Mamani, o Deva da casa, colocar
um lindo vaso de flores, um incenso... criar uma conexão com os elementos (água, ar, fogo
e terra) e trazer o sagrado para este momento... transformando assim este preparo do ali-
mento em meditação intensa e amorosa, em conexão profunda com o Sagrado da vida, com
a criação. É como cuidar de um jardim, retirando as ervas daninhas que são os agrotóxicos
e produtos químicos, e adubando com alimentos orgânicos frescos, germinados, repletos de
vida, repletos de amor.
O que colocamos em nossa boca e como o preparamos mostra nossa relação com a Vida,
com o amor, com todos os seres, com nossa mamita Pachamama. Vamo-nos alimentar com
mais consciência, cores, formas, texturas e aromas, e pura água, lembrando que somos ca-
minhantes, libertando-nos de toxinas e poluição.

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Então, aqui algumas sugestões:
S Começa a cozinhar com todos os sentidos. Experimenta! Não confies apenas no pa-
ladar durante o romance que se estabelece no ato de cozinhar. Confia no olhar para saber
se um alimento está pronto. Valoriza o teu poder de sentir os aromas, usa e abusa do olfato
para acertar o sal e os temperos da comida. Usa o tato para saber se está cozido. Interage
com todos os teus sentidos em harmonia durante a magia do ato de cozinhar e te mantém ali,
atento, entregue, presente. E dança, pois a dança sensualiza o fazer e coloca graça e leveza
na preparação dos alimentos.
S Ao cozinhar uma verdura ou hortaliça, utiliza fogo baixo e a menor quantidade de
água possível, para que os nutrientes sejam mantidos. Se puderes cozinhar no vapor, melhor
ainda. Ou cozinha dentro do arroz e/ou do feijão, assim alguns nutrientes são mantidos no
caldo. Experimenta o alimento cru, talvez seja muito prazeroso, pois assim não perdemos
nenhuma de suas propriedades.
S Utiliza a menor quantidade possível de SAL. O sal precisa ser apenas um toque sutil
em nossa comida. Hoje a sociedade sofre com vários males pelo seu excesso. Aposta e arrisca
com os temperos: as pimentas, o curry, o açafrão, a páprica, o cominho, o cheiro-verde, o
alecrim, o orégano, a hortelã, o manjericão e tantas outras ervas. Assim o sal deixará de ser
tão necessário. Dá preferência ao sal marinho ou ao sal dos Himalaias ou de altas monta-
nhas, que são puros e ricos em nutrientes. O sal refinado altera a pressão arterial, sobrecar-
rega os rins, causando retenção de líquidos em nosso corpo. Podes pesquisar, como algo que
te deleite, e preparar alguns temperos que possas guardar por um certo tempo para tê-los à
mão, te facilitando nos momentos de mais atividades.
S Deixa o açúcar refinado de lado. Nós não precisamos dele. Experimenta e te excita
com os sabores das frutas, dos sucos e dos chás sem açúcar. Existe uma infinidade de sabores
a serem descobertos sem açúcar. Até mesmo o limão é encantador sem açúcar, sente o poder
do sabor ácido se for necessário. Limpando nosso paladar dos excessos, voltamos a SENTIR
os sabores com intensidade. E o açúcar se torna cada vez mais desnecessário. Experimenta!
S Caso necessites muito acentuar o sabor doce, utiliza açúcar demerara ou mascavo,
um pouco de melado ou mel. Hoje existe açúcar mascavo orgânico, opta por ele. Mas, nada
em excesso. Às vezes precisamos arriscar e sentir novos sabores é um risco interessante.
Corre-o.
S Grãos germinados: utilizá-los é colocar em tua alimentação vida pulsante, energia
vital pura! Energia de recém-chegado! Germina grãos de lentilha, feijão, ervilha, grão-de-bi-
co. Além das sementes: girassol, gergelim, alfafa, rabanete, linhaça. Germinar é presenciar o
milagre da vida acontecendo em tua casa. É sentir a água despertando os grãos e sementes,
convidando-os a ver o que se passa do lado de fora da casca. Germinar é muito fácil: deixa
os grãos ou sementes de molho por 12 horas e depois deixa-os escorrendo. Molha, eventual-
mente, caso o ar esteja muito seco ou esteja muito calor. Em dois ou três dias já verás a vida
brotando...
S Aposta no poder mágico dos leites vegetais. Não precisamos de leite animal. Fazer
bebidas deliciosas e nutritivas com sementes e castanhas é fácil e mágico. Estas bebidas
são conhecidas como “leites vegetais” por ser o leite da Mãe Terra e servem para preparar
vitaminas com misturas de frutas. Usa amêndoas, avelãs, nozes, castanhas-do-brasil, amen-
doins, pepitas de girassol. Basta deixar de molho por 12 horas com água pura e depois bater
no liquidificador. Coa e já terás o leite que pode ser tomado puro ou batido com frutas, como
maçã, mamão, banana, pêssego e ainda aveia ou o que a criatividade pedir. O que sobra
durante o processo de coar pode ser usado como base de patês, misturando azeite de oliva
e condimentos – deliciosos para comer com torradas e pão devocional. Em média, com 10

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unidades das oleaginosas podes preparar 300 ml de leite. Não deve ser aquecido ou fervido,
pois assim se perde a riqueza das vitaminas e minerais.
S Utiliza o kefir diariamente. Essa bebida fermentada carbonatada ácida tem um sabor
particular devido a presença benéfica do ácido lático, e é considerada um alimento probióti-
co, pois aporta micro-organismos benéficos para a flora intestinal. Experimenta com cons-
tância e desfruta de suas qualidades preventivas e curativas.
S Escolhe teus alimentos com cuidado, com amor devoto. Lembra que estarás cuidando
de teu jardim interno. Legumes, frutas e verduras da estação, orgânicos, de preferência da
tua região, fortalecendo teu vizinho, o mercadinho da esquina, mesmo que seja um pouco
mais caro, experimenta comprar dos pequenos comerciantes e produtores fortificando esta
rede de pequenos!
S Especialmente, opta por alimentos naturais, não processados. Lembra-te do que co-
miam nossos avós e segue-os. Não usavam produtos industrializados. Comiam a fruta intei-
ra e não somente seu suco e muitos faziam hortas e as cuidavam com a sabedoria inspirada
pela própria terra e seus ciclos.
S Faz saladas deliciosas variando as folhas, usando vegetais ralados, inclusive a abó-
bora e a abobrinha. Mistura frutas como laranja e maçã e também as oleaginosas, como
amêndoas e castanhas e ainda podes usar coco ralado. Assim, terás saladas nutritivas e que
sustentam. Podes temperar com limão, azeite de oliva, mostarda, pimentas e cheiro-verde.
Experimenta fazer um molho com tahine e suco de limão, enriquecendo o sabor das folhas.
S Deixa de molho por 24 horas grãos de trigo e depois cozinha-os. Ficam deliciosos
para enriquecer saladas e o arroz. Fonte saudável e abundante de fibras.
S Cozinha quinoa e faz saladas, acompanhada de brotos e folhas. Assim terás uma fonte
de proteínas e minerais importantes.
S Faz do teu desjejum um ato sagrado de conexão com o novo. Então, prepara sucos
verdes e oferece ao teu corpo e aos teus queridos órgãos uma bebida rejuvenescedora. To-
mar sucos vibrantes em jejum é um presente para o corpo. Sê criativo, bate cenoura e/ou
beterraba, com maçã, pepino e limão e/ou laranja, agregando folhas verdes, especialmente,
as ricas folhas de rúcula, de couve e a salsinha, aipo e espinafre. Se tiveres outras frutas, uti-
liza-as e confia em teus instintos.
Durante os teus 21 dias de Prática faz alguns dias de alimentação VIVA. Bebendo sucos
verdes e das cores que vibram no teu coração. Faz saladas coloridas e com grãos germinados.
Assim, poderás sentir teu corpo sutil e pronto para fluir.
Usa e abusa da água solarizada (exposta ao sol para absorver sua luz por algumas horas),
abençoada e de sucos de todas as cores e sabores. A solarização retira o excesso de cloro e
flúor da água.
E, quem sabe, poderias aproveitar e compartilhar com os companheiros de prática um
alimento curativo e cheio de energia. Então, que tal colocar a mão na massa e preparar um
delicioso pão devocional, cantando mantras, agradecendo a Pachamama, a Tayta Inti e aos
quatro elementos, e carregando de amor e carinho esse alimento sagrado? Tenta, aventura-te!
Desfrutar de uma mesa farta, colorida, cheia de alimentos saudáveis e saborosos com os
nossos queridos é um momento de comunhão no qual o coração se alegra e celebra essa
imensa graça de estar juntos. Nesse momento de união mística, expressamos a gratidão por
termos alimentos em nossa mesa. Sim, por esse privilégio de comer de forma abundante.
Então, nas refeições, como um pequeno ritual, vamos abençoar nossa comida, agradecendo
a Pachamama por esse presente que estamos recebendo, levando nossa atenção ao coração

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e dizendo com carinho e devoção:
Gracias, Pachamama por esta comidinha. Te pedimos, mamita, que não faltem alimentos
a nenhum de teus filhos e que esses alimentos se transformem em consciência.
Podemos também agradecer a quem preparou, a todos os seres e elementais e também ao
momento presente por estarmos juntos compartilhando essa dádiva divina.
O agradecimento também pode vir em forma de uma música, especialmente se temos
crianças participando da refeição.
Para que estejamos alertas ao que é interessante e ao que deveríamos por 21 dias deixar
de lado, seguem duas listinhas de alimentos, a primeira está composta pelos alimentos que
recomendamos e a outra pelos que devemos evitar para ajudar em nossa desintoxicação.

Alimentos que nos enchem de energia:


a água pura em abundância;
a chás e caldos de frutas cozidas. Usa as cascas como as da laranja e da maçã para pre-
parar deliciosos caldos;
a sucos frescos que misturem frutas com legumes, brotos e folhas;
a suchás que combinam chás (usa as ervas naturais ao invés das em saquinhos) com
suco natural de frutas ou alguma folha; aproveita e estuda para ver suas propriedades e as-
sim compor os suchás que são ótimos para o lanche da tarde;
a água saborizada com gengibre, hortelã, alecrim e o que mais gostares, experimentan-
do as composições, lembrando que não substituem a água pura.
a legumes, verduras e frutas. Valoriza os da época cuja oferta é mais abundante e o pre-
ço mais acessível, procurando sempre os orgânicos;
a cereais integrais em grão ou farinha como: arroz, quinoa, aveia, centeio. Se for usar
farinha de trigo branca, enriquece-a com a adição de farelo e gérmen de trigo;
a pães integrais e massas integrais, de preferência sem glúten;
a grãos em abundância, como: feijão, soja, lentilha, ervilha, grão-de-bico, favas;
a frutas frescas, dando preferência às da época;
a frutas secas e sementes como: nozes, castanhas, amendoim, amêndoas, avelãs, uva-passa,
ameixa, damasco, linhaça, chia, girassol, abóbora, etc. São fáceis de carregar e servem como
um pequeno, rápido e nutritivo lanche;
a ervas aromáticas e temperos frescos ou secos; servem para enriquecer a comida e
ajudam na diminuição do consumo do sal;
a ghee (manteiga clarificada);
a azeite de oliva extravirgem para temperar as saladas e passar no pão;
a óleo de coco para cozinhar. Fica atento para não consumir os óleos transgênicos;
a leite de soja natural (extrato ou proteína isolada), sem conservantes, aromatizantes e
não transgênicos. Dá preferência ao extrato (leite em pó de soja), assim evitas os conservan-
tes e podes bater com frutas;
a iogurte natural preparado em casa, que pode ser utilizado no preparo de molhos para
saladas e cremes para passar no pão e para consumo com cereais como a granola;

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a leite fermentado ou kefir;
a para adoçar: mel, melado de cana ou açúcar mascavo em quantidades moderadas.
Ousa experimentar os sabores naturais;
a prefere sempre os alimentos naturais aos industrializados como, por exemplo, ervi-
lha e milho fresco/congelado ao invés de enlatados. Molho de tomate preparado em casa no
lugar de molhos prontos. Prefere os alimentos de procedência conhecida, evitando assim os
agrotóxicos. Evita os processados que são ricos em açúcar, gordura, aditivos químicos e sal.

Alimentos que nos desvitalizam:


w café, chimarrão, chá preto, por serem excitantes;
w leite e seus derivados, como: queijos, manteiga, requeijão, margarina, etc.;
w arroz branco e pães brancos;
w massas e farinhas não integrais;
w carnes de todos os tipos: carnes vermelhas, frangos, peixes;
w embutidos e enlatados;
w refrigerantes de todos os tipos, bebidas alcoólicas e sucos industrializados (ricos em
açúcar);
w açúcar branco;
w sal refinado;
w ovos e alimentos preparados com ovos, como, por exemplo, maioneses...
w chocolates, balas, sorvetes;
w salgadinhos e batatas fritas de pacote; frituras em geral;
w evitar produtos industrializados e processados.

Mas lembremos sempre que existem momentos e casos especiais. Às vezes, determinado
alimento é necessário em certos momentos, ou então pode haver restrições alimentares.
Nesses casos é importante consultar o médico ou nutricionista para avaliação da dieta.
Temos um grupo virtual chamado Mamas Nutritivas, onde tratamos de nutrição, dicas de
alimentação e compartilhamos receitas e muito carinho. Se quiseres fazer parte, envia um
e-mail para a gente solicitando tua inclusão e informando que estás participando da Prática
dos 21 dias. Podes pedir também o caderno virtual de receitas da Prática, rico em cores e
sabores.
Essas receitas, junto às sugestões que estamos compartilhando, podem ajudar-te a fluir e
a desintoxicar teu corpo. Se tiveres alguma dúvida, comentário ou alguma delícia para com-
partilhar, basta escrever para pratica21dias@gmail.com.

PÃO DEVOCIONAL
O pão faz parte da cultura universal do homem e foi o primeiro alimento que produziu a
unidade grupal que conhecemos como família. É o símbolo do alimento, nutre o corpo, mas
também o espírito, pois representa a vida, a renovação, abundância, humildade.

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Ao longo dos anos, esse ritual de amassar o pão foi se perdendo, junto com a chegada da
modernidade.
É este ato sensual, amoroso e criativo a essência de nossa maternidade, pois quando amas-
samos o pão com amor, nossas mãos deixam de ser nossas e se convertem nas mãos da Mãe
Divina, e, assim, Pachamama chega como um alimento sagrado ao centro de nossas mesas e
une a família, nutrindo nossos corpos e nossos corações.
Fazer o pão, portanto, é mais do que preparar um alimento; é uma oportunidade de servir
e de expressar nossa gratidão e nossa reverência a este Ser que nos brinda com sua graça e
com ingredientes e elementos necessários para preparar esse alimento sagrado.
Vamos preparar também o ambiente: a mesa limpa, para termos à mão todos os ingredien-
tes, e o lugar onde vamos amassar o pão, acendendo uma vela para trazer luz e um incenso,
que também será absorvido pelo Kuntur Mamani — o espírito da casa que mora no fogão
— junto com o aroma inconfundível e gostoso do pão. E coloca flores e ervas frescas num
vasinho e deixa por perto, para trazer beleza ao ritual. E estejamos preparados, centrados e
com leveza para essa atividade, colocando no pão a energia que vai nutrir-nos física e espi-
ritualmente.
E se quiseres conectar ainda mais amorosamente com esta mágica alquimia, podes fazer a
pasta madre, ou fermento natural! A receita está no livrinho de receitas da prática.
O fermento é como a alma do pão, ele penetra a massa e dá vida a ela!

Receita do pão
Iniciamos colocando todos os elementos sobre a mesa:
S 2 xícaras de farinha de trigo integral;
S 2 xícaras de farinha de trigo branca;
S ½ xícara de farinha de aveia, aveia ou farinha de centeio (opcional);
S 1 colher (sopa) rasa de sal;
S 2 colheres (sopa) de linhaça;
S 1 colher (sopa) de gergelim (opcional);
S 1 colher (sopa) cheia de fermento biológico;
S 1 ½ xícara de água morna;
S 2 colheres (sopa) de óleo de milho ou girassol;
S 2 colheres (sopa) de açúcar mascavo;
S 1 colher (sopa) de mel (opcional);

Para deixar o pão mais nutritivo, podemos acrescentar frutas cristalizadas, uvas-passas,
pedacinhos de castanha, ervas aromáticas e canela. Segue a tua intuição e tempera a vida
com novos sabores!
Preparo:
Colocamos os ingredientes secos (farinha de trigo branca e integral, aveia ou farinha de
centeio, sal, linhaça, gergelim e fermento) em uma vasilha grande, tendo o cuidado de adi-
cionar o fermento por último, misturando bem.

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Em uma caneca à parte, misturamos 1 ½ xícara de água morna, 2 colheres (sopa) de óleo
de milho, 2 colheres (sopa) de açúcar mascavo e 1 colher (sopa) de mel, se quisermos dar
um toque a mais de doçura e alegria. Adicionamos essa misturinha aos poucos sobre os
ingredientes secos, até formar uma massa que possa ser sovada com as mãos, que devem
estar bem limpas. Se a massa estiver muito molhada, podemos adicionar um pouco mais de
farinha, ou um pouquinho mais de água morna, se estiver muito dura ou pesada.
E sovamos bem a massa por uns 10 minutos, em uma bancada ou mesa polvilhada com
farinha, sentindo que nossas mãos a envolvem em uma dança viva, interagindo com intensi-
dade com ela até que fique bem unida e lisinha e pegue levemente nas mãos.
Neste momento, enquanto amassamos o pão, podemos cantar músicas devocionais, convi-
dando os devas da música para estar conosco. Recitamos mantras, sentindo que uma ener-
gia luminosa flui do cardíaco às mãos, envolvendo e enchendo o pão de luz, e, também,
colocando ali a intenção de que seus átomos se encham de energia harmoniosa, vibrante,
curativa e amorosa.
A seguir, colocamos a massa para crescer em uma vasilha delicadamente coberta com um
guardanapo de algodão úmido por cerca de uma hora, de preferência, dentro de um forno ou
em local onde fique protegida do vento. Enquanto isso, podemos meditar, cantar mantras,
dançar, praticar yoga andino, caminhar ou fazer a kriya.
Depois que a massa estiver crescida, em uma mesa polvilhada com farinha, sovamos sua-
vemente, sentindo essa interação com a vida. Neste momento, podemos também adicionar
uvas-passas, pedacinhos de castanha, nozes, sementes de girassol, ervas aromáticas. Depois
damos forma ao pão e colocamos em uma assadeira ou forma untada com óleo. Deixamos
o pão descansar (na assadeira) por mais 1 hora (ou até que ele dobre de tamanho), coberto
com um pano úmido. Logo que cresceu, levamos ao forno, que já deve estar preaquecido
(210 a 240º C), por aproximadamente 45 minutos, onde continuará crescendo no calor des-
te útero sagrado, até estar pronto para nascer e nutrir a todos e tornar-se um ponto de união
da família. Então, o retiramos do forno e desenformamos com cuidado.
E está pronto para ser compartilhado, nosso pão curativo, saboroso e cheio de amor e de-
voção, que faz o coração feliz!

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1o Dia
¡Qué santidad
La del hombre que ante un relámpago
No comprende la Realidad!
Basho

Bom dia, amiga, amigo, bom dia, Sol, bom dia, mãe Terra, bom dia, sagrada aguinha, bom
dia, formosa brisa, bom dia, Amada Senhora, Senhor da Vida, bom dia, formoso corpo!
Despertamos ao amanhecer e bebemos o ar de ouro da manhã. Os pássaros e nós celebra-
mos a dança dos começos.
Heroico dia!
Bebemos e bebemos, alento após alento, gratos e quietos. Manso, mantém o ócio delicioso
e com as mãos em teu peito, sente a Vida. Terra, Sol, canto de pássaros, brisa fresca, leite da
alvorada que bebemos sorrindo como bebês.
Sorrimos e bebemos o leite luminoso que chega em cada alento, o violino deste instante
canta por pássaros, raios de sol e sensações de despertar. Ah... Heroico dia! Sem necessidade
de compreender, sorrimos ao coração, brincamos de sorrir ao baço, ao pâncreas, ao fígado,
aos rins, aos pulmões, à bexiga, aos intestinos, aos muros de teu cérebro, às tuas memórias
dolorosas, às tuas memórias felizes e à Deusa em teu Coração.
Sorrimos ao céu azul para todos, aos restos de sono em nós, às belas sensações de desper-
tar, sorri e sente teu Coração Espiritual. E sintoniza a frequência da Felicidade! Ainda que a
mente resista, sintoniza as amenas melodias da Felicidade simples, do gesto, do significado
misterioso de estar vivo, bebendo desta manhã.
Divertida e simples, a Vida se infiltra desde teu Coração à consciência pura. Expressa com
lentidão, em unidade de células, órgãos, mente e Alma:
GRACIAS VIDA PELA VIDA, SOU UM RAIO LUMINOSO DE FELIZ GRATI-
DÃO E EXPANDO COM MEU SORRISO ESTA COMUNHÃO.
E expande, com tua imaginação e sentir, a felicidade que, como mel nutritivo, como azeite
de alegria, fluidifica toda a vida, as relações, e traz compreensão, compaixão e encontro feliz.
Sentiste?
Despertamos poeticamente. Aprender a dormir e a despertar, sem imagens inconscientes
nem desejos adolescentes, é vital para mudar hábitos de começar e terminar sem a Presença.
Desperta feliz, ainda um mínimo instante de sentir a beleza para impregnar o dia dessa
misteriosa Graça, que sem permissão te visitará nos instantes que te serão presenteados
hoje.
É um despertar heroico porque a mente leva muitos anos com hábitos de despertar acele-
rada, olhando o celular, presa as horríveis notícias do escandaloso mundo e assim adquiri-
mos um rumo interno de baixa vibração.
E se podes, toma uma ducha breve e começa tua prática espiritual. Nas indicações te fa-
lamos dois períodos de 20 minutos de meditação, mas não precisas começar com todo esse
tempo, o essencial é orar com fervor e abertura humilde à Divina Vida e logo silenciar e re-

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ceber a purpúrea Graça, no esquecimento de si mesmo.
Com o coração aceso como um sol, junto a Tayta Inti (Sol) percorre o dia, consciente de que
estás em um treinamento de viver uns momentos de felicidade na cotidianidade.
Agora, a desjejuar. Mmmmmm... que gostoso! Que momento! Hoje, neste primeiro dia.
Que doce alegria! Tomar um suco de fruta lentamente, sentindo todo esse sol verde, verme-
lho, amarelo entrar em teu corpo-templo. E esse chá de ervas do campo, tão cheiroso como
a manhã de teu primeiro dia, quando sentiste a vida pela primeira vez. Estás renascendo!
E se a pressa ou o celular te chama a responder mensagens, espera. Sim, espera.
Faz o tempo do deleite!
Desfruta ainda com ansiedade mental, desfruta pleno desse vazio de tecnologia. Deixa ir!
Solta esse hábito de celular. Abre-te a deixar entrar em ti o bosque de sensações e delícias
que há em tua mesa, e agradece a Pachamama por essa comidinha.
Sente-nos, não estás só em teu apartamento, sente a fraternidade que vem desde os Andes
e de todos os continentes, estamos nesta Onda turquesa-safira de Carinho Consciente e de-
voção ao Coração.
Enquanto comes esse pão cheio de grãos e amor que vem da Santa Terra para ti, como uma
oferenda de abundância, cerra os olhos e imagina que somos um grupo de crianças felizes jo-
gando no Jardim da Vida nossos arabescos inocentes, junto às flores, aos amigos, à família,
aos rios frescos e cristalinos, e todos os animais, estamos preparando-nos para a chegada da
primavera, para reverdecer o sentir a vida.
Ao terminar ordena tudo e busca algo para presentear a algum ser que encontrarás em teu
dia hoje. Algo querido, bonito, de que gostes, assim aprenderás que a felicidade também se
convida desde a bondade, desde o desprendimento.
E visita teu coração um momento e visualiza tuas memórias felizes tomando forma de
Jardim, essas gargalhadas infantis se transformam em tílias, em salgueiros, em pinheiros,
em carvalhos, esses momentos dos primeiros beijos em verdes pradarias, em reservatórios
alimentados por arroios com peixes coloridos, sente também as memórias de dor e se te
sentes culpável, entrega-as como oferenda à Deusa e entrega teu pedido de perdão, e perdoa
tua personalidade por ser infantil e egocêntrica e libera todo esse espaço.
Assim começamos o dia. Com uma continuidade que vai forjando a ponte entre o Coração
feliz de criança que SOMOS e a mente dolorida e apressada de adulto que se acredita algo
que não é nem será. Não somos umas supermulheres, nem super-homens, nem tampouco os
piores de nossa geração ou família. Somos o que somos e isso é suficiente para ser e dançar
feliz com o que nos toca viver.
Parece um sonho, mas não é. É um renovar os hábitos, em romper os diques tristes e
sombrios, em visitar as sombras chatas e medrosas e resgatar esse pedaço de ser para que
se integre como uma gota de mercúrio à totalidade de amor e gozo que somos. Assim nos
graduamos como humanos.
Hoje, caminha em algum momento por teu bairro ou por algum lugar ao ar livre, respira
e sente o perfume da terra, a espuma branca dos instantes enquanto teu corpo goza cami-
nhando. As chagas estão dentro, porém ao fim as estás curando com momentos de plenitude
e integração de sombras, luzes e mistério poético de viver.
É um dia heroico. Terás nestes primeiros dias que romper muitos costumes, mas tem pa-
ciência, e se falhas, ri, sorri à mente que exige perfeição. Somos criaturas filhas do Sol, da
Terra, de Deus. Não se espera de nós perfeição, senão uma visão sincera de que queremos
lutar por nossos sonhos. Ainda sem alcançar tudo o que queremos no caminho, esse cami-

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nhar para o horizonte é suficiente para ser feliz e grato. Então a vida se enche de cores e a
bondade, o carinho humano florescem em primavera.
Passarão nestes primeiros dias flechas de dúvidas se isto é para ti, dá-te uma chance de fa-
zer o que sempre quiseste. Ser o que teu coração sabe que é. És muito mais inteligente, belo,
amoroso e bom do que a mente e as pessoas e os julgadores disseram. Trata-te com doçura,
és tudo o que tens, és teu lar, tua eterna companheira, teu terapeuta, tua mãe, tua filha, teu
amante, tua melhor amiga. Para que te tensionar tanto? Relaxa agora, sente onde estás, põe
toda tua atenção a este agora, sente o alento, isso é sinal que estás sendo abençoado pela
Deusa da Vida, e faz o melhor possível o que te toque fazer e não fazer. Faz o melhor possível,
isso é tudo.
É tão delicioso receber de presente “um dia”!
Abandona, solta os julgamentos, os rancores, os ódios, a tristeza vã, a “victimitis”, a recor-
dação dos males passados, perdoa tudo e a ti mesmo e abre tua mente e teu sentir para o
agora-coração, sente a felicidade azul que vem chegando como uma brisa, como uma suave
onda, em sua doçura de mãe, de amante feliz.
Que belo é viver!
QUE BELO QUE ESTOU VIVO E ME PERMITO SER FELIZ E SORRIR!
No carrossel deste dia, ao longo de suas horas, vai fazendo o equilíbrio, se estás baixo de
energia, para e respira com os olhos fechados, sentindo a Vida, o agora, teus pés, todo teu
corpo expandindo-se e contraindo-se, relaxa teus mundos emocionais com a respiração e
a exigência mental. Solta a angústia da mente e volta a começar, não passa nada. Solta os
pensamentos obsessivos, tendemos tanto a obcecar-nos, é como se nos sentíramos seguros
em pensamentos mecânicos e repetitivos que vão agregando material a algo que talvez seja
ilusão.
Solta e celebra sorrindo a teu computador, teu automóvel, tua queridíssima família, teus
amigos queridos, alguém que não anda bem e precisa de afeto.
E presenteia teu obséquio de amor a quem sintas. Sente, é um retorno carinhoso a tudo o
que recebeste. Não é pessoal, ainda que seja a uma pessoa, é uma oferenda ao Espírito da
Vida.
Já sem ventos de medos, sem imaginações de perigo, vem ao entardecer e canta, celebra só
ou com amigos, e come alguma fruta, alguma comidinha e vai preparando-te para a aventura
de dormir cedo.
Ora e medita antes de terminar o dia. Janta leve, com o estômago leve poderás dormir
profundo e abrir-te à camada silenciosa e unificada da vida. Antes de dormir, se podes, toma
um banho curto e sente o belo e heroico dia. Um dia branco, um dia radiante no qual substi-
tuímos átomos velhos por fragrantes átomos plenos de sabores e cores.
Estamo-nos reverdecendo, regenerando, nutrindo-nos do mais sagrado e elevado da vida,
nós em nosso melhor intento humano. E se falhaste em algo da comida ou da disciplina,
sorri feliz e sem julgar-te. Amanhã o farás melhor, vamos dia por dia sem fazer disso uma
competição perfeccionista.
Manso e humilde, entrega tua mente, teu corpo bem relaxado para fluir por trás da men-
te que segue trabalhando, atrás das emoções que seguem fluindo irritadas ou tensas. Mais
além, além do fazer, do preocupar-se. Onde nasce o arco-íris, ali onde o SER é e resplandece.
A forma corporal, emocional e cerebral quieta, nas asas do sonho voa à fonte original para
beber do poço escuro e vazio de “eu” do SER, e assim a argila humilde de ser humano se enche
do canto do universo, como um perfume levado pela brisa da primavera. Que maravilhoso dia!

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2o Dia
La fuente de todo es una plenitud, todo lo que ha surgido es esa plenitud, de lo pleno
lo pleno surge; si se quita lo pleno de lo pleno: lo pleno pleno permanece.
Upanishad

Bom dia com alegria! Despertamos ao alento pleno, vazio, inspiro e expiro e nesse mistério
começa a vida e este dia heroico. A gratidão desperta com o dia. É tão amável a luz. É tão
sutil a Presença da Vida em tudo. A melodia da plenitude chega agora. Sente-a! Sim! É essa
sutil Presença que sentes apenas! Deixa que cresça em teu Sentir. Agradece com tuas mãos
em teu peito, dando graças pela doação de Vida. Essa dádiva sagrada, única.
Agradece a todos os teus órgãos, às células, enviando teu sorriso solar. E também à existên-
cia fora, ao vento, ao Sol, ao céu azul, às nuvens, à água que corre embaixo da terra e à Santa
Mãe Terra. Fora da casa estende-se um mundo de seres, umedece-os com tua carícia espiri-
tual, energética. Estende fios a toda a criação, que surge agora. Toda uma rede silenciosa de
Vida, com o silêncio dentro e dentro do silêncio — O quê? —
A Sagrada Presença da vida que é teu corpo, o quarto, os órgãos, o sentir, a consciência, a
energia, a rede de fios viventes que conecta tudo e aquilo que não sabemos, mas sentimos
pulsar de felicidade de ser sentido.
Faz tuas práticas agora. Sem pressa, menina, menino. Devagar como o dia, sem correr,
sem tecnologia.
Louva com tua oração o Outro, a Mãe do Instante, o Oceano escuro e sem forma, pleno de
existência desde onde surgem todos os poemas do momento.
Louva quieto e vazio a misteriosa e misericordiosa Mãe Divina no profundo de ti… embria-
ga-te Dela. E, ébrio, abençoa tudo e ressuscita as sombras, entregando à Deusa no Jardim
toda essa confusão e também as culpas, a raiva, as recordações ofendidas, com ou sem razão,
entrega tudo, com amor e perdão, lava teu coração antes de começar o dia e vive na inocência
de ser humano.
Pleno, desjejua abundante e sorridente. Recorda os antigos conselhos: desjejua como um
rei, almoça como um príncipe e janta como um mendigo.
Busca algo em tua casita para presentear, entre os teus melhores objetos. É um novo hábi-
to, o de cultivar em tua mente a generosidade contínua.
E mantém durante o dia, presente, a atenção ao agora. Com gratidão e louvor, orando,
pedindo e agradecendo. Mantendo uma vida de mudança de hábitos, santificando a vida.
Se podes fazer algo por Pachamama, melhor. Ou se podes fazer sorrir um coração ferido,
melhor.
Sorri com gratidão a este instante, é um presente redondo e gordinho.
SORRIO FELIZ E AGRADECIDO POR ESTE INSTANTE. ESTOU VIVO!
Que esse seja o mantra do sorriso do coração, durante todo o dia. É um intento, vais dormir
muitas vezes tomado pelos hábitos velhos de preocupação, correria e vício de tecnologia.
Não julgues, sorri à inconsciência e, consciente, volta a esvaziar-te de hábitos insalubres,
sentado debaixo de uma velha árvore, depois de ter caminhado alguns quilômetros e beber
água fresca e comer umas frutas. A sagrada prática do peregrino, pintar uma paisagem, com-
por uma música ou um poema, dançar para ninguém.

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Hoje é um dia para ser a criança feliz que tu és!
Ainda nos mais escuros espaços de desafio psicológico, podes recorrer ao Jardim da alegria
e carinho em teu coração e deixar sair o perfume alquímico da felicidade e embriagar-te,
reforçar teu chi, tua energia e seguir adiante fazendo possível o impossível.
Usa tua imaginação vestindo de amor alegre os ofendidos, os irritados, os que resistem a
desfrutar dessa vida. Irradia silencioso teu perfume de amor e gozo.
E come em silêncio, gozando lento e tranquilo de cada bocado, mastigando e enchendo de
saliva cada alimento. Sente como é diferente comer assim. Santificas a comida, a transfor-
mas em néctar e é saudável para o corpo.
Não deixes de ninar o menino de teu coração hoje. Com tantas mudanças a mente se es-
tressa e fica longe da aura do amiguinho interior. Põe tuas mãos no peito e canta ou sussurra
alguma canção ou melodia de ninar as crianças, dá teu amor a essa desnutrida e brincalhona
menininha ou menininho, que na gruta de Belém está esperando teu carinho, tua presença.
A consciência quando se sente conectada com sua essência de criança é feliz. Sabias?
Se podes, ora agradecendo e pedindo mais força de vontade, mais atenção sustentada ao
agora e agradece por esse dia de tanta aprendizagem. E medita, mergulha no vazio escuro,
funde a consciência na SuperConsciência e desfruta de instantes de infinito.
Que paz!

3o Dia
Deja que todo te ocurra a ti: belleza y terror.
Sólo sigue adelante: ningún sentimiento es un error.
No dejes que te corten de mi fuente.
Cerca está el país
llamado Vida.

Lo reconocerás
por su gravedad.

Dame tu mano.
Rainer Maria Rilke

Bom dia, amadas flores humanas!


Sem apertar os dentes, sem tensionar nada, relaxados e abertos recebamos a dádiva deste
dia. Solta a mente que se apressa! Manso, pacífico, tranquilo reserva estes minutos para ti.
Para nós, os navegantes da Vida. Sem mais rumo que viver conscientes, abertos ao que che-
ga, aceitando o que sentimos, sabendo que a felicidade é um estado natural de Ser, que vem
de dentro, natural, espontânea.

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Esta espiritualidade de despertar a gratidão, o louvor campesino pelo vento, pelo sol, por
este ir acercando-nos à primavera é a nota mais alta no coração humano, não a percas hoje.
Agora, entrega-te ao deleite da energia que chega a ti, no alento, nos sentidos, em teu estado
de ânimo, em teu saber. Assim te sentirás parte de uma epopeia solar. Este é o 3º dia, estás
na parte difícil, vê sem exigências ciclópicas. Tranquilo, que esta é uma via para os simples
campesinos andinos.
Descansa do ego perfeccionista, e desfruta mais de orar longamente, sentindo, jogando
com a oração, com a sensação, com a existência. Recorda, somos crianças jogando no Jar-
dim da Deusa.
Mantém-te atento que é isso o que conta. Estar consciente neste agora, aceitando com bom
ânimo, com muito bom humor o que chega de fora e de dentro. Muda tua altura angustiar-te?
Ou o atraso por estressar-te? Em vez de tensionar-te, de estressar-te, aceita essa emoção
mecânica e respira, toma consciência de estar consciente e relaxa, solta, deixa ir.
Viemos a louvar, a dar graças, a completar o poema que somos. “Deixa que tudo suceda a
ti, beleza ou terror… nenhum sentimento é um erro”, nos ensina Rilke, são tão mágicas essas
palavras, são uma porta ao Jardim. Deixa de assustar-te tanto, e joga com o tempo, com os
medos, com o pânico de viver algo novo, desfruta deste novo dia. Há um grande regalo espe-
rando-te, instante a instante.
Hoje mantém a atenção firme na consciência grata, feliz, aceitando e dançando com o que
chega, de dentro, de fora, e diz para tua mente:
AQUIETA-TE E SABE, EU SOU DEUS.
E solta a tensão, a ansiedade e todos os sentimentos de repúdio à vida. Estamos aqui, ago-
ra, não se trata de resistir senão de viver. Nessa intensidade que traz a vida encontrarás o se-
gredo simples de estar no ponto justo da felicidade. Fazendo o melhor, com toda a atenção,
porém sem tensionar-te, sabendo que és um instrumento da melodia divina, do céu, que és
uma nuvem que passa cambiando e dançando.
Hoje medita com profundidade. No silencioso coração há sílabas sagradas que te acaricia-
rão, que te roçarão a consciência. Não as busques, elas chegarão na medida de tua entrega
feliz. A percepção se transforma na oração e tudo o que chega é parte de uma imensa paisa-
gem de teofania.
Desfruta de ti mesmo, de tua beleza, de tua inteligência, da sensibilidade que se está pu-
rificando, dos amigos novos de prática, da Vida que te toca viver. E não te enredes em falar
demais nem te encher de histórias ilusórias e vãs que não fazem mais que te debilitar. Há
algo magnífico ocorrendo dentro e fora de ti, enquanto vais no carro escutando mantras,
sentindo a suavidade do volante, não escutes as notícias, não escutes as pessoas falando de
outras pessoas, te enchem de sujeira, intoxicam tua atenção e enchem-te de juízos, opiniões,
histórias superficiais de outros, evita isso.
Mantém-te sorrindo, consciente e poeticamente feliz. Em que te ajudará saber o último es-
cândalo? Ou o índice Dow Jones? Silencia-te e esvazia-te de toda essa frequência baixa e que
adormece na novidade superficial. Hoje é um dia chave para despertar e substituir os áto-
mos que formam a estrutura de hábitos mecânicos e velhos por átomos gordinhos, redondos
de alegria e esperança, que darão estrutura a hábitos de caráter humanos, belos, felizes.
Simplifica teu dia, não dês atenção aos compromissos sociais, assim te sobrará tempo para
caminhar, para contemplar paisagens, para sentir sem pressa tua humanidade e a bela Pa-
chamama que te rodeia. Em toda paisagem há beleza escondida, não se tratam de mudanças
espetaculares, mas sim de mirar com olhos de criança, de poeta, de pintor.

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Tu podes fazê-lo, não escutes as vozes que te minimizam, com “não posso”. Escuta teu co-
ração, esperando uma vida simples, porém plena de descobrimentos, de beleza simples, de
gestos de bondade e generosidade, de humanidade úmida de carinho.
Este é o tíquete para viver o céu na vida cotidiana, e se chega Dom Medo, pois respira-o e
deixa-o ir, entrega-o à vida, que se vá com os instantes, e de novo no agora, sulca o caminho
da humanidade aliada com Pachamama.
Há um dia incrível esperando-te, não o percas por conversas ou por visitas dos duendes
da desesperança ou o mecanismo de defesa das feridas. Perdoa e perdoa-te, e segue vivendo
essa viagem de deleite pela energia do agora. Neste dia não te esqueças de fazer bondades a
alguém ou a todos, e sorri, sorri sem medo, e que tua passagem pelo dia seja de embriaguez
e canto por viver.
Ao entardecer observa as nuvens, levam uma trajetória que não decidem, igual a ti. Para
que te cansar no intento por controlar tudo? Solta esse ego tão cansativo e volta ao lugar
amado de teu coração, desfrutando da mão sábia da Deusa, que te leva de beleza em beleza,
de terror em terror, e nesse caminho despertamos ao segredo.
O segredo de saber que somos as testemunhas de uma obra-mestra, não os pintores, ape-
nas o pincel agradecido, irradiando felicidade.

4o Dia
Un trueno,
el hombre despierta
de su ilusa magnitud.
Tanawa

Bom, boníssimo dia! Com esse deleite de intensa energia te abraço, minha companheira,
meu companheiro. Sentimos com tranquilidade como vai chegando a lúcida sensibilidade
e com gratidão consciente irradiamos a cada órgão, a todas as células deste belo corpo, e a
toda a vida, os seres, as situações.
Mansos e atentos, enfocamos em estarmos abertos ao alento, ao seu doce chegar e ir-se,
isso é tudo, tão simples, só se trata de sentir. E assistir, maravilhados, a esse magnífico show
da vida despertando junto a nós, saindo em cena juntos. Unidos a toda a existência. Que
delícia!
ME DELEITO NAS GOTAS DE INSTANTES QUE CHEGAM COM O ALENTO.
SOU FELIZ COM A CONSCIÊNCIA DE ESTAR VIVO, FELIZ, FELIZ.
Sim, com isso que parece nada, mas é tudo. O que seria de nós sem o presente da percepção
da Vida? Que magnânima é a vida, que afortunados somos nós, não estamos entusiasmados
com sermos super-humanos ou querermos ser, estamos entusiasmados com sermos agrade-
cidos, felizes como crianças por podermos estar brincando de viver um dia mais.
Um dia de cores, de sabores, de texturas, de palavras suaves e carinhosas. De escuta em
que filtramos o que serve à Vida e o que é só escândalo virtual ou que não está em nós. De-

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vagar vamos aprendendo esse novo estilo que é o que nos levará a nossa verdadeira voz, a
esse canto original que guardamos no coração e que se vai debulhando em momentos de
felicidade, até romper o dique de medo à Vida e soltar toda sua torrente de amor, gozo e
compreensão.
Que momento nos espera!
A canção que a Vida canta a ti, na mesa do desjejum através desta maçã, não é para afer-
rar-se a alguma conclusão ou conceito, senão é uma dádiva, é só SER, é Amar este instante
recebendo-o com gozo, sem resistir, sem julgar nem comparar, assim a canção desta maçã
comida lentamente nos une à Santa Terra e às estrelas.
Devagar, lento, atento, deixando ir, soltando o obstáculo, perdoando as recordações e per-
doando-nos e pedindo perdão, lavando todo o dia a alma de tanto apego inútil ao que nos
doeu. Assim, amadas, amados, assim vamos renascendo, recebendo o batismo da maçã do
Jardim.
Hoje mantém a vigilância ao que chega à casa da mente. Não lutes com o fluxo de pensa-
mentos nem intentes matá-los, simplesmente observa-os, não dividas a mente em bons e
maus pensamentos. Logo observa o que observa os pensamentos e sorri e segue dançando,
fluindo lúcido como uma nuvem, como a umidade que chega ao morro. Não se pode aniqui-
lar a mente. Aquieta, aquieta-te, sem esforço, solta o pensamento “eu”.
Assim aprenderás que há em ti espaços íntimos de liberdade, em que não te agarras a nada,
deixando que os pensamentos fluam, não te aferras a nenhum deles. E menos às circuns-
tâncias do passado nem aos problemas do mundo. O passado não existe mais, mas este belo
instante resplandece.
É tão profundo e doce ser quieto, sem buscar, sem esforço, olhando adentro, mais adentro,
mais, até chegar ao Jardim, à alma do Jardim e simplesmente ris de felicidade em meio do
caos e o escândalo do mundo, que não te toca nem te estressa. Que bela é a paz!

5o Dia
¡Ha llegado la primavera!
Monte anónimo
Entre fina hierba.
Basho

Om, irmãs, irmãos, Om! Que recebamos as bênçãos violetas do Bem-Amado com corações
abertos, em simples quietude como flores receptivas da Luz Divina.
Aquieta-te! Desperta sabendo isto, que nessa quietude começa a magia embriagante deste
novo e casto dia. Desde a abertura de percepção sente, com todas tuas células, com a totali-
dade de tua sensibilidade nesta manhã sagrada, a Totalidade que não tem partes nem níveis,
que chega como brisa fresca, como canto inocente e feliz de pássaros, como luz que te acari-
cia pela janela. Deixa sair o canto sem palavras da gratidão, da devoção à Vida:
UM DIA PLENO DE VIDA ESPERANDO PARA DANÇAR CONTIGO!

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Somos muito, muito afortunados! Ah… quanta bênção chega em cada alento. A Vida te
ama em cada alento, abre tua sensibilidade e sente o que chega em cada alento, em cada
instante desta gloriosa manhã. Todos os sons, todas as cores, todas as texturas e sensações
são uma mesma voz da Mãe Divina dizendo: “Te amo, pequenina, pequenino”… sente a
Criança Sagrada de teu Coração e sorri para toda a Vida, e deixa que a Vida te envolva em
seu abraço de ternura. Assim, começa o dia, com um romance com Pachamama. ISSO que
tu és, que a Vida É pulsa e resplandece de consciência em cada instante. Desde todas as pe-
dras, desde todas as árvores, desde todos os cantos de pássaros te diz: ”Jogamos a Dança de
alegria e gozo?“
Solta tuas ilusórias dúvidas, tuas inquietantes vacilações e sente com fervor este dia e esta
Vida que te foi emprestada, e celebra quieto, em silenciosa devoção.
Faz tuas práticas de meditação, kriya e carrega de magnetismo teu Ser para que, ébrio de
aromas do Jardim, comeces misteriosamente o dia. Que presente inesperado! Que intenso
regozijo!
ME REGOZIJO NESTE DIA, A CADA INSTANTE SORRIO A TUDO O QUE PAS-
SA, TUDO É A DEUSA JOGANDO COM TUDO. QUE INTENSA FELICIDADE ME
INVADE!
Sim, deixa que a felicidade chegue, ao princípio como um sorriso, um deleite por algum
sabor de frutas ou chá de ervas, depois como um suspiro por alguma flor ou um abraço e vai
abrindo passagem como um puma pela floresta, chegando devagar e limpa com seu sabor
crepuscular.
Hoje, depois do desjejum, informa a tua mente:
O JOGO COMEÇOU, A MÚSICA ESTÁ SOANDO, VAMOS DANÇAR!
Sim, e flui lúcido e lento. Devagar, sem que essa pícara mente te dê estresse. Vamos pelo
dia, com o coração aberto!
Hoje é um dia-porta, atravesse-a! Do outro lado está a aventura de Viver, o que sempre
buscaste no fundo de teu coração. A Divina sensação de Amor de primavera. Mantém tua
atenção somente neste agora, não deixes que a mente te faça viajar ao passado ou te preocu-
par pelo futuro. Não existe, nem passado, nem futuro!
Despertar a este presente, e aberto sentir a Presença de quem nos cuida, esse nosso Anjo
maternal e devoto, é a Maravilha chegando de alento em alento.
Ah… que belo é!
Ao meio-dia, se quiseres podes receber a energia espiritual dos Andes visualizando a cha-
cana dourada sobre fundo violeta e abrindo teu sentir a receber todo o carinho dos altos cer-
ros nevados e dos avôs e avós que, sentados, mascando suas folhinhas de coca, enviam-nos
ondas graciosas de bênçãos.
Sente a felicidade que chega, a Graça de sentir dentro a Irmandade do Silêncio Andino
impregna-te com sua suave calidez.
Hoje é um dia para ser generoso e perdoar a todos os que te feriram, sê paciente com a
mente que se acostumou a hábitos de rancor, de ódio, de vítima, e liberta esses sentimentos
densos e dança como “Zorba, o grego”, a vida livre e feliz que existe aberta para ti. Sim! E
convida teus amigos a dançar música grega ao entardecer ou a algum “rezabaile”, em que
danças orando grato e compassivo por todas as criaturas que sofrem.
Façamos um trato, companheira, companheiro, hoje não é qualquer dia, é um dia único. É
um dia para voltar a Amar e comprometer-se com a Vida.

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Solta a flacidez, é tão belo saber que há gente viva, alerta, compassiva, companheira. Na-
mora com tudo, com o carro, a cama, a casinha, o trabalho, os companheiros e companhei-
ras de trabalho, as amigas e amigos, a família, os animais, as árvores, as nuvens, o céu azul
vistoso, o Sol que não para de caminhar contente, e a consciência que és ao observar tudo.
Sabes que podes contar com os Mestres Andinos. Conta conosco! Aqui estamos no Jardim
do Coração, ou em tua vida cotidiana. De olhos abertos, diz muitas vezes hoje: Gracias, te
amo, e olha com doçura a vida toda, e ressuscita corações.
Assim, floresces no Jardim dos carinhos e descansa feliz e sem sonhos, na profunda caver-
na onde a Criança Sagrada te espera para jogar na luz crística e assim desbaratamos a morte
gris e tediosa.
Num abraço cúmplice, somos essa brisa de amor no Jardim!

6o Dia
Con viento
recoger ramas secas
Caminar...
Santoka

Feliz Dia! Simples… simples, tão fácil é sentir a Vida que chega em sua totalidade, poética
e doce até nós, em forma de luz, de brisa, de calor de cama, de alento celeste.
Sem pensar, solta esse vício inútil, deixa que a Vida nos ame. A salvo do “eu”, jaz no deleite
do recém-chegado dia enquanto as células recebem teus sorrisos que as nutrem, e os órgãos
também. Tudo chega e recebe teu carinhoso sorriso. Um quadro divino, tu na caminha quie-
ta, nesta suntuosa manhã, e teu sorriso simples e carinhoso completando o quadro.
A cor desta manhã cheira a flor de laranjeira, e entre alento e alento brinca a Vida com a
Consciência do alento. Escuta um segredo: essa consciência que tu És é a mesma totalidade
da Vida, doce e eterna. Ah… como é doce esse segredo.
Sabes, se segues celebrando a vida assim, cada manhã a vida te fará poeta, pintor, cantor,
músico, ceramista, cozinheiro, a arte chegará naturalmente e tuas mãos pintarão estrelas
entre os dias.
ABERTA E RECEPTIVA, ACEITO O QUE CHEGA COM UM SORRISO, GOSTE
OU NÃO GOSTE A MENTE, TUDO CHEGA DA MESMA FONTE ORIGINAL QUE
O AMOR E O ALENTO.
Sim, aberta e receptiva, SORRI a tudo o que chega. De onde vem este instante e aonde vai?
Ao vazio original, à fonte de tudo, vem de Deus e volta à Deusa. Que jogo magistral!
A Vida é estranha, sim, porém é uma obra magistral, e tua vida está escrita pelo mais hábil
escritor, pela poetisa mais lúcida e profunda, há tanta trama poética em tua vida que tua
mente tem que fazer esforços obsessivos para sofrer.
Hoje não sofras inutilmente, se te dói a cabeça é real, porém se te dói as associações psico-
lógicas ou as recordações, respira e solta-as, deixa-as ir, não vale a pena gastar um segundo
nelas.

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Hoje, escreve emotivos versos, cantos do ser humano à terra, inspirados na meditação si-
lenciosa, no verde dos prados, nas flores vermelhas, na gargalhada cristalina de tuas amigas.
Sente o aroma das flores, é a alma das flores, nos chega nele o calor da infância e dos abra-
ços primeiros, sente e desfruta do simples, com gestos carinhosos.
Gestos carinhosos é o que falta em teu trabalho, não te parece? Que tal se os surpreendes?
Levando umas flores ou umas cartinhas com poemas. Que vão dizer? Que enlouqueceste
com isso dos 21 dias? Sim, claro, porém crias um costume belo e feliz. Em ambientes cinzas
é humano plantar flores coloridas e aromáticas.
Surpreende hoje a muitas pessoas que faz tempo que não cumprimentavas, sê amável, su-
percarinhoso e abraça bastante.
Ao sair a caminhar, se alguém te olha, saúda. Diz com alegre voz: que você tenha uma linda
tarde! E segue como um cachorrinho feliz. Como uma criança feliz, que sorri a todos os que
passam.
E se podes, com humildade, ajuda os que menos têm, junto a tua família ou amigos, leva-lhes
roupa, comida, brinquedos, assim o coração apaga um pouco a dor das pessoas esquecidas
por todos.
Dá de beber água a tuas plantas e fala com elas, recita teus versos e canta para elas, são tuas
amigas e seres vibrantes.
Assim vamos passando um dia de aventuras românticas e felizes, na simplicidade do alen-
to, com o perfume da devoção à vida.
Parece ingênuo? A ingenuidade é o mais próximo à inocência, não te envergonhes dela.
Uma vida de romantismo ingênuo, de seguir cultivando teus hábitos gentis e bondosos não
é bobo, é inspirador. O mundo escandaloso e rude precisa dessa delicadeza.
Assiste ao entardecer como se fosse a primeira vez, porque é. Agradece a Tayta Inti por seu
labor de hoje, te iluminou para que assistas ao show da Vida.
Gracias, Tayta Inti, por toda tua luminosa carícia!
E chega ao fim do dia cansado e feliz por ter estado presente cada instante, dorme profun-
damente, viaja ao mais profundo, onde a Criança que És te espera para a Sagrada Comu-
nhão. Para brincar feliz!

7o Dia
Cogí una rosa con prisa
Tuve miedo al jardinero
entonces oí Su suave voz,
“¿cuánto vale una rosa?”
—Te doy todo el jardín—
Rumi

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Bendita Luz que nos desperta, obrigada, obrigada! Em louvores despertamos à Luz do
amanhecer. Quietos recebemos este amor, não temos nada mais que amor, chega neste alen-
to suave e puro. Aqui nos encontramos com a vida para dançar no inspirar e expirar, no sen-
tir como vão despertando todas as criaturas vivas, que são como nós, encarnações do Amor
e Gozo do Oceano de Consciência.
Sente! Ainda que te pareça mui distante esta compreensão, aquieta-te e sente. Deixa que a
mente se vá silenciando ante a formosa manhã, bebe destes momentos tão preciosos. Sorri
com todo teu ser, com tua empatia mais profunda a teu coração que bate para que ames, a
teu baço, ao pâncreas querido, aos intestinos tão trabalhadores, ao belo fígado verde e fértil,
aos rins, fonte de vida, aos pulmões onde se transforma a energia, ao cérebro tão gentil e
laborioso, à bexiga e aos órgãos sexuais, bela fonte de vida, aos ossos, aos sistemas nervoso,
circulatório, linfático, aos músculos e tendões, à pele, às glândulas e aos órgãos dos sentidos,
dá um bom desjejum a todo este veículo maravilhoso com que dançarás neste dia.
DANÇO E SORRIO A CADA INSTANTE. NÃO PROCURO RAZÕES PARA AMAR,
O AMOR FLUI EM TORRENTES ATRAVÉS DOS POROS!
Como um torvelinho de assombros, senta-te em profunda meditação. Intensa e sem di-
retor de meditação, ela ocorre quando desaparece o “eu medito”. Entra na aurora do amor
profundo, e o Amado se revelará como tua mesma natureza. Resplandece!
E assim, com essa sensação de paz e gozo, desjejua tranquilo, sem tocar o celular, sem ligar
a TV, sem nada mais que palavras carinhosas a teus queridos ou em silêncio escutando man-
tras e mergulhando na deliciosa abundância de sabores que Deus te oferece, isso é também
cuidado e amor dEle por ti.
Agradece sempre a comida, fá-lo com sinceridade e humildade, é um dom, não é algo que
compras, parece que compras com dinheiro, e a razão te diz essa lógica, mas isso é falso,
chega a teu destino pela Graça.
Romper com a lógica capitalista de ser devoto da Economia é também convidar a felicidade
a visitar-te, não sempre estarás com dinheiro e se não está bem tua economia, ainda assim,
podes desfrutar do Amor de Deus e essa disposição gera abundância real, profunda e sim-
ples, sem essa loucura e medo do capitalismo.
Trabalhar é tão delicioso quando o fazemos por amor, não por dinheiro. Quando nossas
mãos laboriosas e nossa inteligência servem à sociedade desde o carinho e com criatividade,
de cada ato de trabalho saem chispas de afeto que chegam às pessoas e as despertam, as
nutrem.
Porém não vejas o dinheiro como fonte de segurança nem como medida de teu valor prin-
cipal, é o Amor e sempre será o que te distingue como um ser humano bem enraizado, bem
educado, bela pessoa.
Assim não estaria mal hoje, enlouquecer de amor! Ora para que tua consciência se abra a
Amar apesar de tudo o que a memória diga, ou a sociedade diga.
Apesar de tudo, amar segue e seguirá sendo nossa melhor obra, o legado mais brilhante.
Que digam de ti: “Amou como uma chama, ardentemente!”.
Ainda que tenhas a consciência anestesiada por muito tempo sem amar, podes começar
devagar sendo afetuoso e alegre com teus amigos, com teus animais, com teus objetos que-
ridos, devagar o carinho vai limpando os canais de teu corpo energético e chega o momento
em que o Amor chega em torrentes, e teus vizinhos não poderão dormir por tuas gargalhadas
de alegria, por teus cantos felizes. Não te assustes, enlouquecer de amor dá sobriedade, não
neurose! O amor é consciência, não é um sentimento de adolescente embasbacado e excita-

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do. Embriaga-te de consciência aberta e em comunhão com o mais profundo de ti mesmo.
Somos uma Alma em um corpo com grandes dons, potenciais e muitíssimas ferramentas
para o gozo de viver, e nos privamos disso porque a mente interpretou alguns intentos como
falhas e fechou a conexão com o Jardim de Amor.
A fonte de Amor está hoje aberta, sim, é o 7º dia. Sim! Sim, amada Pachamama! Hoje
podes voltar a sentir essa glória que é Amar. Só te diremos um segredo dos Andes. Deus, ou
seja, a vivência profunda de Amor consciente é como tocar a água, não se pode aprisionar,
não o intentes porque escapa, deixa que flua. Não pretendas fazer uma possessão do Amor,
não se pode densificar como um celular. Todas as definições ou ideias do Amor são como
densificações, como querer congelá-lo, e assim te frustras.
O amor, a vivência da Deusa, de Deus é fluido, nosso cérebro é compacto.
Este 7º dia te traz a lição de Amar. Para isso não te compactes, tudo o que estás fazendo é
volver-te água, umidade, fluidez lúcida.
A felicidade, o amor, Deus não é alguém que possa ser apreendido, é um Jardim para dis-
solver-se e refrescar-nos, reverdecer, enamorar-nos.
Tu e nós sabemos que os momentos mais felizes de tua vida foram quando te enamoraste.
O medo que te congelou, o medo ao desconhecido nos tornou desconfiados, contraídos, po-
rém aqui estás, nessa travessia para relaxar-te e soltar as resistências, descongelar-te sob o
sol do carinho grupal e ter novas oportunidades de Amar.
Hoje observa como o medo te infecta, te faz perder amigos, oportunidades de viver, de
amar, de aprender, de desfrutar, de aceitar. E converte a tua humanidade em uma estátua
de coração de pedra.
Deixa que hoje a vida te descongele e voltes a ser fluido e aberto a ser tocado pela varinha
mágica de Pachamama e enamorar-te do Amor.
Este dia é o começo da 2ª fase desta travessia, a felicidade de Amar chega a ti, aceita-a, des-
fruta de amar, aceita que vais morrer e sabe que se amas, a morte não te tocará, só congelará
o corpo, mas não a ti que com asas de amor voarás pelo infinito.
Te convido ao ÁGAPE de Amor. As pessoas têm medo de Amar, porque é perigoso, é revo-
lucionário, nos dá sonhos, nos convida a saltar muros, a romper costumes e usos habituais,
porém é o que verdadeiramente nos faz crescer e enriquecer-nos.
Cristo era uma fonte inesgotável de Amor, por isso incomodou tanto os rígidos sacerdotes
e políticos. Sem tomar partido amava sem diferenças todas e todos, incluídos os politica-
mente incorretos. Era fluidez amorosa. Nos ensinou a Amar em liberdade consciente.
FLUO AGORA EM AMOR SEM LIMITES, SEM FRONTEIRAS, SEM MEDOS.
A consciência fluida de amor ao presente e a Presença da Mãe da Vida nos faz leves e bon-
dosos, nos traz essa felicidade do Amor que é a comida mais saborosa nesta Vida. Assim te
enches de pneuma, de Espírito Sagrado, de fluido amor por todas e todos os seres vivos e
aparentemente não vivos.
Desconstrói essa separação com a Vida, com as pessoas, com as criaturas, com esse vício
de tornar tudo objeto. Tudo é Vida!
Relaxado, agarrado na cintura da Vida caminha cada instante do dia, caminha e acaricia
com teu olhar, com tua escuta, com tua pele, com teu sorriso a todos, todas e com um pouco
de ternura e bom humor, e humildade sincera passarás gloriosamente à 2ª fase, aonde o
Ágape te espera. A felicidade de voltar a Amar é a chegada da Maravilha, recebe-a fluida e
leve, sem querer aprisioná-la nem a transformar em propriedade privada, deixa-a que dance

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e jogue contigo, assim fica por toda a eternidade.
Sem rótulos, nem ideias, nem diagnósticos, sem categorias flui com o dia e ao anoitecer
põe as mãos sobre teu coração e sorri feliz de sua capacidade de afeto e viaja ao Jardim das
delícias. Aí na não forma, em silêncio escuro de Amor sem pressa, agradece por essa cascata
de sorrisos, por lágrimas de amor deste 7º dia, e se podes, hoje envia tua história de amor
desses dias e vai às reuniões de dança, alegria e comidas saborosas que teremos.
O Ágape nos espera, uma boa dose de ternura nos aguarda. Que delícia!

Por favor, escreve aos mestres andinos contando tua experiência nestes primeiros sete
dias — como texto da mensagem e não como anexo — coloca no assunto o teu nome e tua
cidade e envia para o e-mail: relato21dias@gmail.com

8o Dia
Este amor meu é como um rio; um rio
Noturno interminável e tardio
A deslizar macio pelo ermo

E que em seu curso sideral me leva


Iluminado de paixão na treva
Para o espaço sem fim de um mar sem termo.
Vinicius de Moraes

Om, feliz dia, Om! Vamos despertando em fluida lucidez, alegres como meninos plenos de
energia por viver. Mas tranquila, companheira, companheiro, é preciso começar em louvor
manso. Sorri à vida com amor, à vida desse corpo fantástico, à Existência, à família, aos
amigos. Dá sentido ao começo e tudo irá melhor durante o dia, o sentido de pintar tudo com
Amor e sorrisos. Assim o Jardim emana desde o Coração a Felicidade. Brinca, hoje, de amar
desde que despertas. Humilde e delicada contigo e com toda a vida.
Hoje não te distraias em ilusões de sofrimento, nem medos, nem raivas, nem impaciência.
Aceita humilde e põe um pouco de amor em tua vida, como nos ensina Vinícius, assim ven-
cemos as miragens do eu e florescemos neste dia, transbordando vida.
Somos nós a geração que chegou para resgatar a consciência simples e sagrada de Pacha-
mama, mas vamos fazê-lo desde a plataforma do carinho, do aceitar a diferença de tudo;
acariciando a humanidade nos humanizamos. Sem preferências, como Jesus fez com todos.
Bendiz hoje o dia com o sentimento de gratidão pela dádiva de um novo dia para Amar a
todos, negros, índios, animais, brancos, os que erraram, os que são sensíveis e os que não,
a todos e todas bendiz agora, visualizando que de teu coração sai um mel dourado que im-
pregna de felicidade, de gozo de viver, de amor pela vida a todas e todos, nutrindo-os nesse
Amor que nos traspassa, nos atravessa, nos usa como janelas abertas.

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SOMOS JANELAS ABERTAS AO PURO E ALEGRE AMOR DE DEUS, DOAN-
DO-O A TODAS E TODOS.
Te parece simples? Sim, Senhor! É simples viver, o difícil é pensar e dar categorias e esti-
mar a uns e não a outros. Mas se sais dessa ilusão é simples, tão simples que parece mentira.
Agora, se podes passar cada instante na vertigem consciente de todo um dia de aventuras
de carinho, delicadeza, de humilde bondade, neste instante essa humanidade te ensinará
tantas lições que pouco a pouco irás florescendo na grande poesia de dar-lhe sentido, focan-
do tudo a partir da terna compreensão.
Assim, a vestimenta de conceitos é tirada, essa desnudez é tão necessária como revolucio-
nária, ainda que de conceitos new age, ou de qualquer tipo… A vida é como um rio sempre
novo de convites a amar sem modelo, sem estrutura, porém, com ética, com delicadeza, com
amor ao outro.
Nos ensinaram a defender uma pequena parcela de verdade, que é a nossa, mas, querida,
querido amigo, te convido hoje a sair desse cercadinho e abrir teu peito ao presente, sem
conceitos aceita a sempre nova vida toda, sem absolutos, sem Deuses estátuas. Te parece
débil ou ambíguo?
Não é, é real. Viver no Jardim nos impulsiona a humanizar-nos, a viver esta vida paradoxal
e desfrutar sua medula indefinida e sempre nova, sem propriedade privada da verdade. A fe-
licidade chega assim, na ética crística da humildade do vazio não saber e sim aberto a amar,
toda a singularidade de uma árvore sem sombra fresca no verão, ou um rio que corre tão
forte que não podemos banhar-nos, ou animais selvagens, ou seres que pensam diferente ou
o que se apresente. A dimensão do Amor profundo é o que dá sentido ao ambíguo e relativo
de tudo.
Essa qualidade tão gloriosa de humanidade humilde, que não julga, não mete em catego-
rias, nem define em absolutos a nada nem ninguém, é o suficientemente fluido para Amar e
ser feliz.
Caminha hoje sem palavras, com o Amor ardendo gozoso em teu peito, abençoando tudo
o que apareça em teu andar. Que teu andar seja líquido, fluido, sem lugar de chegada, sem
rigidez, que o rio da primavera te leve aonde queira. Assim, saímos da idolatria da ideologia,
das verdades absolutas onde projetamos nossa insegurança.
A única certeza é que a Vida passa e passa e leva o presente e o traz novo e fresco, poético
e na mais santa paz.
Ele, Ela deslizam-se Agora e nós somos expressões dEle ou dEla, não te preocupes por sa-
ber o que é verdade, vive o Amor, deixa isso para a Vida que sabe, nós somos apenas gotas
amando o Oceano do Amor em movimento.
Hoje, deixa que tua mão escreva versos de amor ao Amor, canta e dança, só ou com amigos,
comendo essas comidas tão saborosas dos 21 dias que são tão deliciosas como saudáveis.
E te mantém na plataforma humilde do não sei, desde aí, ou seja, agora, se pode voltar a
subir à nave do Amor e sorrir de novo, florescendo e perfumando a vida.

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9o Dia
Esta es la hora más inadvertida.
Es la hora vacilante, deslumbrada,
en que unas manos transparentes
han comenzado a tallar el cielo.
Ángel Zapata

Bom dia! O rio de luz e canto do dia chega, e aqui nós quietos sorrimos como se chegá-
ramos à ponte em chamas do infinito. Neste instante desaparece a ansiedade e floresce a
camélia branca do coração, sempre esteve aqui, agora. Sentes?
Às vezes, nestes momentos aparecem, desde as profundas marés escuras, tormentas emo-
cionais. Não as reprimas, deixa-as sair, só não te aferres a elas, não faças uma casa nessas
emanações, só deixa passar, sem deter-te nisso.
Neste instante de cantos inocentes como auroras, como beijos redondos do céu, chega a
teu peito com o alento o diáfano dia que explode em cantos inesperados.
Dissolvendo ”ecos“, vamos curando as chagas e os fios de luz voltam a fazer circular o chi,
a energia essencial que vem dentro do alento.
Neste tempo, vais experimentar sensações percorrendo teu corpo energético. Sê testemu-
nha, mas não te detenhas nisso, permanece fiel ao Jardim da Gratidão por estes instantes de
surpresa da aurora.
A luz apaga as estrelas e resplandece em ti, pacífico e sorridente, e contigo a todas as cria-
turas.
Irradia a todas tuas células amigas que trabalham tanto para que tu, a consciência sem ida-
de nem forma, vivas a felicidade de amar, de sentir a misteriosa maravilha do alento. Agora
impregna de saborosa alegria todos os órgãos e segue sorrindo ao repertório completo de
louvores deste instante.
É tão curioso amar, é indefinido, igual a uma rosa no deserto, esplêndida e maravilhosa
perfuma tudo com seu milagre.
ME ABRO A SER FELIZ, A ESTAR ALEGRE E A AMAR COM TODO O SER.
Sim! Nossa inocência nos dá a permissão da primavera de florescer na máxima expansão.
E o que faremos com a tristeza, a angústia de viver, a raiva pela injustiça social, a impotên-
cia, a indignação? Não se trata de fazer, senão de deixá-las que também sejam parte da flor
da vida; e, no entanto, que não nos arrastem a pôr categorias absolutas a nada nem a nin-
guém, vivemos neste agora, essas emoções são parte da paisagem onde floresce a vida, mas
não são o único nem o que nos define. Não as busques, se chegam, bem-vindas.
Somos filhos do vento, indefinidos, nos refazemos em cada rajada de instantes. É azul a
manhã, com sabor a menta ao meio-dia, em tom de ré menor à meia-tarde, de textura a lã ao
entardecer, e com perfume a rosas de noite. É isso impiedoso? Não, é que a Vida nos afina de
instante a instante, na melodia que sempre muda segundo o que o rio traga.
Não te preocupes, não estás louco nem nada parecido, és um ser humano frágil e efêmero
que muda e muda. Nada a que se aferrar, mas sim uma contínua visão amorosa, compassiva
e mansa. Algo mais?

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Sim! A sobremesa deste dia é saborosa, se trabalhaste em ti, em teu intento de viver atento
ao agora, prepara-te para receber o contentamento do coração. Hoje se correrão as cortinas
que estão esticadas, pulcras e quietas e entrará a suave luz crepuscular.
Na suave tarde, caminha pela grama verde do campo e sente o crepúsculo inflamado de
acesas metáforas.
Hoje, por favor, mantém teu ritmo suave, tranquilo, amável contigo mesmo, não te exijas
demais, sê um menino travesso também. Tu entendes!
Esse equilíbrio entre a tensão, a intenção e a realidade é sabedoria.
E para amar, tem que se viver nesta sabedoria do não saber, porém sentir.
Escreverás uma poesia hoje? Uma poesia que ilumine a alma, que recorde as estrelas, que
nos tire da sordidez do mundo, humildemente sê uma rosa perfumada para teus queridos.
E sabe que muitas companheiras e companheiros estão regando o Jardim contigo, unidos
ao longo rosário branco da Via Láctea e na hora do parto de uma nova humanidade. Sentes?
Não está nas grandes catedrais, senão nos bosques, no monte, entre os animais, nas pedras
molhadas pelo arroio, entre as ervas silvestres, é aí onde se esconde a Vida. Ela nos traz a
energia para receber o alento, que é suficiente para estar plenamente satisfeitos, felizes de
ser amados por Pachamama.

10o Dia
Primavera en el hogar
No hay nada
Y sin embargo hay todo.
Masaoka Shiki

Bom dia, DIA! Saudamos com gratidão e louca alegria o dia, com um sorriso laranja, ver-
de, que empape o coração da Vida com a carícia de nossa surpresa agradecida por um dia
completo.
Silêncio na mente, quietude e atenção sorridente. Aberto como um campo de girassóis a
tudo o que chega. Sucedem milagres essa manhã. Percebes? A primavera anuncia já a sua
proximidade, ardem as sementes debaixo da terra, é um dia de lirismo vibrante este que
chega, uns instantes como ondas sabor de maçã, de canto de pintassilgo feliz, e nós quietos,
abertos, soltando todo esse Amor do Jardim dos afetos.
Que gratidão despertar assim! Intenta, amiga, amigo, amar todo o Universo nem bem des-
pertes, não desde a atividade, senão desde o vibrar feminino da alma, como na primavera o
faz Pachamama.
Hoje vamos cantar e meditar como um firmamento de rubores enamorados da quietude e
do vazio, que se move em marés com o alento.
Como um velho Amauta Andino, faz a primeira refeição do dia devagar, sentindo as leis se-
cretas e indefinidas do amor, da vida, do destino, e aceita o que chega com abertura e inocên-
cia. É tão saboroso o suco de frutas de manhã, até parece que entramos no paraíso silvestre.

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Tudo volta a ser criança nessa manhã, quase com desdém, magnânima a vida regala-nos
um dia e em calma elevamos nossa gratidão à Mãe, que nos cuida amorosa.
SOU UMA CHAMA DE GRATIDÃO QUE CONSOME TODA QUEIXA E MAU
HUMOR. SOU UMA CASCATA DE SORRISOS PARA TODA A VIDA.
Olha esse céu azul, é um festejo ver as nuvens como cálices de leveza e fluidez. Assim,
assim, queridas, queridos, sejamos hoje. Leves, sem aferrar-nos a nenhuma emoção nem
pensamento, deixando ir, soltando, respirando o intenso agora. Ligeiros, mansos, pacíficos,
sorrindo às emoções densas, sorrindo às emoções sutis. Não se aferrando a nenhuma delas.
Assim, chega a nós o canto do cisne do coração, e por surpresa nos toma uma vibração fe-
liz por nada, e de novo somos seres humanos íntegros, crianças felizes no pátio de jogos da
Deusa. Sem a máscara canalha do ego que, hipócrita, adapta-se, porém não aceita.
Meditamos como anciãos morros andinos, quietos, profundos, serenos, na brancura do
vazio, sentindo a dança suave do alento em todo o ser, na vida, tudo respira conosco, o Uni-
verso respira.
A relação mais importante é contigo mesmo. Ao meditar visitas teu aspecto mais essen-
cial e verdadeiro. Com verdadeiro apreço e bom ânimo medita, visita tuas entranhas mais
profundas e sem palavras agradece sua eterna companhia. Tua melhor amiga, tua eterna
companheira.
Manter a consciência de estar consciente é abrir a porta a descobrir nosso próprio canto;
assim abre-se o infinito poço da felicidade de seres quem és, e descobres o Sentido.
O sentido aflora e a vida deixa de ser uma ferida absurda. Têm sentido tuas chagas, teus
pais, tua história, tuas caídas e dons. O sentido de teu destino se abre quando te fazes mais
e mais amigo de ti mesmo, meditando.
O mundo ensina que tuas características superficiais são tu, isso não tem nada que ver com
o Si Mesmo. São cores cambiantes do ego. Cristalizadas em alguma velha história. São uma
couraça, como diz a psicologia. Através da meditação poética, elas vão atravessando as cou-
raças e dissolvem-se no que são: nada, histórias velhas. O Si Mesmo, a natureza verdadeira,
a criança essencial está aí desde antes de nascer. Não aumenta nem diminui. Quiçá te resulte
tedioso meditar, porém essa dimensão profunda descongela as couraças, e a plenitude de
ti mesmo estende-se clara e limpa ante tua percepção. E quando despertas, tudo desperta
contigo.
Aqui e agora a vida te convida a viver sem interferir com opiniões, ou com referências que
definem, deixando que a Vida derreta o egoísmo. Então, o que resta?
Celebrar com nosso corpo, com nosso espírito a inquietude do ego, e em quietude sorri-
dente saber, por fim, que nossa amizade, nossa aliança com a vida, com seu cuidado e amor
por nós não pode ser quebrada. Em cada instante chega a bênção celestial.
Deixa de escapar e de buscar obsessivamente ser alguém, através do desejo de ter razão, de
ter a lógica que dão os argumentos; a vivência do Amor não é um argumento, é uma amizade
pacífica, fértil, profunda que nos desperta a confiança e assim a felicidade, a plenitude nos
envolve em seus braços de infinito.
Talvez tua vida esteja complicada, quiçá estás cheia de medo, então senta-te e na vibrante
quietude de todo teu ser alcança o ponto zero, deixa que o alento seja o capitão do barco, e
que tua atenção esteja persistente nisso, solta tudo, e a lucidez total chegará como um ladrão
na noite e te embriagarás de claridade e de amor, ao fim livre e solto.
Neste dia não te esqueças de estar presente, sorrindo e com o espaço de tua atenção aberto
para que a felicidade chegue e te torne de novo a criança bondosa e alegre que és.

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11o Dia
De día es un fruto este nombre,
gotas de miel endulzan las encías.
De noche sus letras son estrellas
que señalan los viajes de los sueños.
Elena Garro

Ommmm, Dia feliz — Feliz dia, Ommm! Te abraçamos, quietos e atentos nesta alvorada.
Chegou a Luz e o canto insone dos meninos pássaros louvando Pachamama, a brisa suave
e fresca entrando pela janela aberta a toda a vida e, quietos, sorrimos a todos os habitantes
desse belo SER.
O dia, como nós, nasce do grande Oceano e volta ao grande Oceano, tarda um dia em vol-
tar, como nós uma vida, mas está pleno de instantes. Transbordando de possibilidades de
aprender, discernir, lutar pelo que vale a pena; saborear o instante que se desfia ante nós
suavemente se estamos atentos. E deixando claro o Sentido, começamos o dia com a sau-
dável gratidão de sentir esse mágico presente. De instante a instante, se estamos atentos,
realizamos a ação justa, com o Sentido, com a Presença abençoando tudo.
Prática e realização são uma. Não serve a teoria, a prática é tudo. Na teoria não se resolve
uma vida de medo e superficialidade. Nesse modo, tudo é insatisfação. Mas se praticas com
intensidade, sentirás a Luz em meio da mais aguda dor e angústia.
Hoje, esquece desse tirano mental que é o ego e sente o que perdeste esses anos, e desfruta
deste dia.
DESFRUTO DESTE INSTANTE. AQUI E AGORA SOU UMA CÉLULA DO OR-
GANISMO PLANETÁRIO QUE AMA E DESFRUTA DE SER.
Ao sentar-te para meditar clareia-se a mente. Meditar é um gesto não verbal, que nos co-
munica com a Essência, a forma é importante, é o gesto, a chave que abre a porta ao Jardim.
Uma boa postura, dá-lhe tempo, mantém a atenção onde tem que estar, com o queixo reco-
lhido, relaxado o rosto, fluida a mente, o corpo e o espírito tornam-se um.
Desfrutar não é só prazer, é algo muito profundo e essencial, nesse gesto há forma, gosto,
sabor, mas também participa o Universo, a Essência.
Saboreia com todo teu SER, superfície e essência este dia, no altar do instante resplandece
simples a Vida e nós Nela. O ritmo tranquilo e desacelerado, deixando o celular tranquilo,
apagado o maior tempo possível, surpreende-te a vida e suas lições de caminhar em amor e
lucidez.
É tão simples e fácil. Passa assim este dia, adorando viver. Só se trata de seguir o capitão do
barco, o alento que só ocorre no presente. Abre teus olhos ao presente, os olhos de teu rosto
e os da consciência. Com os de fora sente toda Pachamama exterior e com os da consciência
sente o fluxo lúcido da alma da Vida, pulsando vida.
A pulsão da Vida é para desfrutar, é uma maçã vitoriosa, que vence o rígido e cinza, sobe e
sobe pela colina do agora e roça-nos com sua calidez.
Ah… minha querida, meu querido, se podes sai a fazer um piquenique com tua família ou

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com amigos ou só, e DESFRUTA, DESFRUTA e, relaxado, apoia todo o peso da consciência
no aqui e agora.
À noite ceia leve e sente as estrelas, caminha um pouco sentindo o mistério desse Universo
chegando desde todos os espaços que te rodeiam e agradece à Vida em ti, nesse amado co-
ração e em tudo.

12o Dia
Gozando de lo continuo
llenándose de lo continuo
sin sentir monotonía
atesorando el silencio
acumulando lo no expresado.
Henri Michaux

Bom dia, coração! Com muita alegria te saudamos, quietos, unidos na rede verde-esmeralda
de Pachamama, abrindo os olhos da Alma ao novo dia. Sentindo este amplo sorriso que se
expande com a gratidão por estar vibrante, em simples silêncio receptivo. É nesses minutos
que ganhamos da mecanicidade egoísta, que te faz sofrer e te faz defender a imagem. Assim,
querida amiga, amigo, com coração desfrutando o indefinido do Amor Grato, sente o alento
sorrindo e envia a primeira refeição do dia a cada célula, aos órgãos, expirando seu cansaço
e toxinas psíquicas.
Estamos aqui na porta de um novo dia, dá vontade de ficarmos eternamente nessa bela
placidez de sentir a Vida manifestar-se natural e silvestre.
Úmido alento de terra e céu chega e conecta alma e existência, na Comunhão Sagrada da
Vida na Vida. Os vinhedos dos sentidos soltam o vinho do amor e em gratidão embriagamo-nos
de Amor por essa vida dentro de nós, que nos vem acompanhando desde antes de nascer,
somos nós mesmos, confiamos e soltemos toda dúvida e temor, não fazem falta, somos a
onda apoiada no Oceano da existência.
SOU PLENA CONFIANÇA NO CORAÇÃO E NA VIDA, QUE DANÇAM NA MES-
MA FREQUÊNCIA DE FELICIDADE, BONDADE E AMOR.
Sim, abandona essa desconfiança nos outros, porque é uma projeção das dúvidas em ti.
Confia que tudo tem sentido. Ainda que tua mente não possa entender. A confiança é real, a
dúvida, fantasia, e deixa marcas dolorosas e hábitos mecânicos de defesa que te impedem de
abrir os poros psíquicos da Alma à Vida Total.
Ah, que alegre dia nos espera. Hoje vamos fazer greve geral de queixas, e de mau humor
e impaciência. Hoje é um dia para beber o suco do bom humor, do otimismo, da indomável
alegria.
Sim, Senhor! Alegra-te e alegra a todos, isso é um serviço planetário que desintoxica os
vínculos. Em nossa ignorante idolatria, projetamos nossa confiança nos outros e quando
algo não é como esperamos, entramos na desconfiança e perdemos seres de amorosa pre-

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sença. Idolatrar é ignorante, amar é belo.
Amar não precisa ser reforçado com imagens, é real.
Medita assim hoje. Desde a alegria da quietude, da boa postura, da atenção firme e susten-
tada para dentro, com a consciência como lâmpada sempre acesa.
Nesse intento de pintar um dia com alegria, descobrirás grandes poderes em ti, os quais
ignoravas. Há muita alegria reprimida em teu coração, há lagos imensos de gargalhadas, de
sorrisos, de abraços amistosos, de beijos inesperados, de gentileza otimista.
Se somente te abres e te dispões a soltar essa canção, teu coração cantará feliz, porque à
criança de tua alma, encantam-na a alegria, o entusiasmo, o bom humor, o alto ânimo, por-
que é dessa substância luminosa que está feita a casinha da Alma.
Hoje é um dia para transbordar de bondade ao acaso. Pequenos gestos que podem alegrar
o dia de outra pessoa, nos referimos a atos espontâneos, como abrir a porta para alguém,
ou ajudar com a sacola de compras, ou limpar algo que não é teu. Ter a coragem de sair do
armário e alegre e bondoso ser essa lâmpada acesa que volta a ativar a esperança no coração
dos outros. Se sentes alguém belo, dize-o sem pensar tanto, não importa o que aconteça, a
Vida te multiplica as oportunidades da bondade ao acaso.
Ao fazer feliz os outros, por Ayni, por reciprocidade essa felicidade volta a teu coração e te
sentes sorrir por nada, na poética estação da alma em primavera…

13o Dia
Quantas vezes um homem precisará olhar para cima
Até que ele possa ver o céu?
Sim, e quantas orelhas um homem precisará ter
Até que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim, e quantas mortes ele causará até saber
Que pessoas demais morreram?

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento


A resposta está soprando ao vento.
Bob Dylan

Bom dia, peregrina, peregrino! Como uma ânfora sagrada, teu sentir consciente recebe o
que chega aos sentidos e do profundo Coração agradece sem palavras, como um gesto não
verbal, este instante de Graça.
Amanhece! Auroras de delicadas cores chegam à percepção quieta e sorridente. E todas as
células recebem seu carinho alegre, para que todo o dia trabalhem felizes e gordinhas. Na
bênção do alento vem Ela, na escura e vazia caverna secreta do coração vem Ele, Menino
Sagrado e Feliz, não somos mais que ISSO, a expressão, a onda na superfície resplendece em
alegre jogo e chega desde a Essência Divina.

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Ah... esta manhã solta tua aspiração devota à Vida, a ti mesma, tu és uma Deusa, tu és uma
Chispa da Luz Original.
Esse que respira, que vê e sente também é Ela. Somos o secreto tesouro de Deus, um oce-
ano de luzes coloridas movendo-nos em um destino em que nos perdemos na superfície
mental, hipnotizados em opiniões e posturas emocionalmente infantis. Amadureçamos!
Esta oportunidade de estar vivo é uma Graça, não uma conquista própria, é um espaço
para viver na sábia felicidade de vapor azul, de ser pequenas e humildes ânforas onde se
guarda o vinho secreto do Amor.
Nesta manhã, com sua claridade avermelhada, suas mil chispas de ouro, perde-te em Deus.
Ele, Ela é a fonte de toda a poesia, de todo o fluxo de carinho, de toda a saúde, de toda alegria
e bênção e também nos traz as lições para aprender a voltar a SER o que já Somos: Filhos do
Bem-Amado.
As partículas ínfimas da Vida dançam todas na mesma música, e nós com elas, brilhando
em sorrisos ébrios de gratidão.
No forno de nosso coração, há pão fresco e crocante para compartilhar, hoje dedica-te à
bondade ao acaso. Essa bondade espontânea e que é um jogo de Amor, de vencer a escura
mente coletiva perdida em notícias tecnológicas e opiniões superficiais. Vem, vamos conta-
giar a Vida de alegria por estar vivos!
SOU UM DÍNAMO DE ENTUSIASMO E BONDADE. CADA PESSOA QUE EN-
CONTRO É UMA OPORTUNIDADE DE DOAR UMA PARTÍCULA SAGRADA DE
AMOR.
Sim! Este é um exercício que flexibiliza a consciência e a faz dar-se conta de sua riqueza,
temos tanto e nos cuidamos de tudo, para guardar dinheiro para fazermos uma plástica ou
comprar uma TV nova, ou reformar o exterior, a aparência. Aceita em tua vida o modelo de
Pachamama de simplicidade e te sobrará tempo, dinheiro e ânimo para ser bondoso.
Ser bondoso também é ser comprometido com a tomada de consciência ecológica e de in-
clusão dos grupos que foram historicamente infravalorizados, humanos, animais e de ecos-
sistemas.
Sê bondosa em todos os sentidos, e com um sorriso pintando de Mona Lisa teu rosto, re-
parte teu Amor Divino, compartilha um pouco de Deus entre as pessoas, os seres todos.
Hoje é um dia para observar o temor a dar, a abrir-se revolucionariamente a comparti-
lhar e assim deixar menos pesada a vida de todos. O planeta precisa de corações purpúreos
bondosos. O medo a dar — a dádiva — não é só ruim para os outros, senão para ti, perdes a
alegria de fazer sorrir o menino do coração dos demais que faz que o menino do teu coração
ria e seja feliz ao ter amiguinhos para jogar a viver.
Estamos desnudos no barro, subindo para a porta de saída. As horas se vão febris, e em ân-
gulos bizarros nos cuidamos de viver, desconfiando de todo o novo que a vida nos traz para
desfrutar, crescer e enriquecer-nos em todos os sentidos, não aceitamos a bondade de Deus.
Os fios se endurecem e a solidão nos resulta tão comum que parece felicidade, mas não é, o
natural é viver em bosque humano, em Ayllu, em comunidade de seres vivos diferentes que
nos obriguem a polir nossas rigidezes e assim voltar a ser crianças líquidas.
Estes dias podem ser a oportunidade de vencer a preguiça, de voltar a sentir a expansão ex-
tática, gozosa desta vida. Vestidos de aurora, desnudos de medo e máscara sociais, jogando
fora todos esses vícios das salas de jogos.
As espumas de amor em simplicidade, como cintas de fogo, consomem toda a superficia-
lidade medrosa e nos animam a viver na bondade que dá medo à mente, a bondade que é a

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rosa do deserto, o campo de trigo dourado onde a Deusa dança e ri.
Se saímos da comodidade, em brinde com o espírito da vida, somos parte da Onda revolu-
cionária que está salvando o planeta de nós mesmos.
Que bênção deixar-se viver pela Divina Mãe! Nos abandonamos nos suspiros de sentir o
perfume de um maço de flores que passa levado por uma menina debaixo da janela do ran-
cho, a vemos ante uma pequeníssima capela onde há uma imagem da Virgem, se agacha e
deixa um lírio azul à sua frente, ah... suspiros que se confundem com o rumor das folhas que
dançam com o vento. Que podemos saber? Que os milagres simples nos chegam um atrás do
outro e esta chama de Amor é um fruto no porvir. Aceitamos tudo no profundo silêncio que
há nos Andes, o amplo poder dos nevados nos traz o grito de um longínquo condor em sua
galhardia sobrevoando o vale. No coração desse grupo de amigos, só germina a esperança.

14o Dia
Los invisibles átomos del aire
en derredor palpitan y se inflaman,
el cielo se deshace en rayos de oro,
la tierra se estremece alborozada.

Oigo flotando en olas de armonías,


rumor de besos y batir de alas;
mis párpados se cierran... ¿Qué sucede?
¿Dime?
¡Silencio! ¡Es el amor que pasa!
Gustavo Adolfo Bécquer

Bom dia, peregrino da Alma! Aquieta-te, e silencioso põe tua atenção em não cair na em-
boscada do ego. As doces notas dos instantes dormem no Jardim do Amor, como o pássaro
dorme nas ramas esperando a mão da Luz de Tayta Inti para despertá-lo e louvar a Vida.
Todo um dia para brincar!
Assim dorme o gênio no fundo profundo e sereno de tua Alma, esperando que abras espaço
para que, com a quietude, levante-se e ande pela vida de hoje. Sim, há genialidade em teu
coração esperando para sair e inovar, para dar à vida teus dons secretos. Hoje é um imenso
e mágico dia para soltar tuas inspiradas genialidades.
Confia em tua Chispa secreta. Há uma Divina Presença em ti e todos esses dias a trouxeste
para tuas bochechas, para tua pele, para tua inteligência, agora solta-a como uma chuva de
pétalas carmim renovando tudo.
É tão belo ver florescer um ser humano, os olhos brilham, o sorriso perfeito como um bos-
que na primavera solta sua emanação de genialidade e enriquece a vida.

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ESTOU ATENTO ÀS IDEIAS FELIZES E INSPIRADAS QUE DO JARDIM DE
CARINHO CHEGAM À CONSCIÊNCIA ATENTA. CONFIO NA GENIALIDADE
DO MEU SER.
És a cor que falta e espera a vida!
Confia em ti. Te educaram para desconfiar de todos e encontras erros em tudo, e isso o
trazes a tua vida, e claro te conformas com ser mais um na manada, com tua genialidade
sem brilhar. Esforça-te, hoje é o dia de descobrir teu Dom principal. És uma singularidade
de Deus. Todos somos filhos de Deus, mas Ela não se repete, em cada um pôs algo único, e
isto é genial, não algo comum que é suficiente para ser aceito como bom pela sociedade, isso
é nada, e até é pernicioso.
Solta tua genialidade e assume totalmente a missão que trouxeste para salvar, redimir,
reescrever algo do livro da vida.
Deixa nascer essa flor da genialidade em ti. Rompe a ideia nefasta de acomodar-te e dei-
xar-te levar pelo prazer imediato de uma casa, comida saborosa, risadas superficiais e redes
sociais. Nada substitui o gozo e a aventura do argonauta, de saber de tua missão, de des-
cobrir teu gênio e deixá-lo sair e expandi-lo com estudo, com esforço, com paixão. Assim
florescemos como seres humanos.
Enquanto hoje caminhes sentindo o vento suspirar entre as copas das árvores, a água sor-
rindo no rio, as andorinhas lançando gritos agudos de alegria, deixa-te embeber de silêncio
e sente profundo em teu coração, aí te garantimos, te afirmamos que te está esperando o
sonho que vieste realizar e a genialidade que ele precisa.
E ao entardecer, agradece a Vida em ti, a teu SER, a ti mesma por esta genialidade em fral-
das que está crescendo, florescendo e despede-te do Sol com gratidão de menina feliz.
A bendita noite chegou, sai ao ar livre e deleita-te com as irmãs estrelas, e sem pensar agra-
dece a elas por seus raios de luz espiritual que nutrem a genial estrela que há em ti. Vamos,
resplandece!

Por favor, escreve aos mestres andinos contando tua experiência nestes sete dias — como
texto da mensagem e não como anexo — coloca no assunto o teu nome e tua cidade e envia
para o e-mail: relato21dias@gmail.com

15o Dia
Me celebro y me canto a mí mismo.
Y lo que yo asuma tú también habrás de asumir,
Pues cada átomo mío es también tuyo.
Vago al azar e invito a vagar a mi alma.
Vago y me tumbo sobre la tierra,
Para contemplar un tallo de hierba.
Walt Withman

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Bom dia de Fervor pela Vida! Sem vagar pelo futuro nem pelo passado, em comunhão
santa com o Agora, com o sorriso manifestado como um sol de primavera, abençoamos tudo
neste belo corpo. Este aroma da manhã tem uma força bendita solta, que nos chega por
todos os poros, e dos centros interiores evoca o melhor em nós, esse entusiasmo por ser e
viver no perfume da bem-aventurança. Somos esta presença serena, alegre e clara, quase de
primavera. Escutas os cantos dos pássaros pequeninos? Um coro de anjos verte suas águas
nos corações de pedra para abrandá-los em risos eternos, e as lágrimas velhas são lavadas, e
dizemos adeus às tristezas e aos mitos de vítimas da história. Somos filhos de Deus, somos
geniais! É necessária muita humildade para dar espaço à genialidade. Com lábios de crian-
ças, a canção desta manhã libera de confusão e sabemos o que fazer, e quem somos. A fonte
aproximou-se tanto que sentimos canções genuínas de um algo que não tem nome, mas seu
roçar nos diviniza.
Agora, meditar com paixão e alegria, em boa postura, com abandono de toda conversa,
sem entrar em nenhuma fantasia, agora recebendo assombrado o alento silvestre e doce que
chega a toda a Vida. A taça do coração, neste silêncio atento, brinda seu néctar de devoção à
quieta contemplação da manhã. Não é deliciosa uma vida de disciplina e serviço?
É a esta vida, de abandono dos interesses superficiais e imaginários do ego, que te convi-
damos hoje, na realidade do agora, vivamos desde a plataforma do não sei, deixando sair
humildemente nossa genialidade inovadora, criativa e feliz.
SOMOS UM SOL QUE IRRADIA GENIALIDADE HUMILDE E SEM EGO, QUE
CHEGA EM CADA AGORA PARA SOLUCIONAR TUDO, E NESTA BONDADE,
CANTAR E DANÇAR ALEGRES.
Sim, porque esta genialidade encontra solução a qualquer impossível. Na lamúria coletiva,
nós, os humildes servidores da ecorrevolução vamos dando soluções, varrendo o pó do capi-
talismo e a cinza avarenta do egoísmo.
Sem deixar de sorrir e vibrando mantras de amor e bênção, hoje vive um dia de serviço e
bênção. Sim, bendiz em nome do Silencioso Jardim a todos, sem palavras, sem gestos reli-
giosos, em gentil sorriso.
Essa alegre e sutil bênção desperta uma corrente nova de heroísmo coletivo e influencia a
sociedade para despertar a humanidade da hipnose coletiva de sofrimento inútil, de descon-
fiança viral, de polarização superficial manipulada. Sê essa genial filha da Deusa, e junto aos
condores e colibris e oceanos e arroios cantantes vem entregar teu melhor beijo à amargura
social.
É essa a glória impessoal que buscamos, a oportunidade de estar conscientes que somos
uma partícula de Pachamama, acesa, flamígera, que põe fogo à amargura, e reparte a alegre
canção de uma aurora pura de humilde genialidade.
Hoje podes dedicar um pouco de tempo à reunião fraternal com teus amigos de intento, e
compartilhar comidinhas, abraços, sorrisos, e energia sutil, e assim ir aprendendo a viver a
partir dos erros, que são presentes de Deus para aprender a criar a nova humanidade, sem
autoritarismo nem exclusão e que ama e defende todos os excluídos, os que se sentem sós e
maltratados, distanciados…
Sê parte do começo da regeneração da humanidade. Sê parte desta epopeia de genialidade
humilde e generosa, que se entrega a compartilhar sua inteligência, sua humanidade com-
passiva e feliz.

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16o Dia
Levántate y mira el sol por las mañanas
y respira la luz del amanecer.
Tú eres parte de la fuerza de tu vida,
ahora despiértate, lucha, camina,
decídete y triunfarás en la vida;
nunca pienses en la suerte,
porque la suerte es:
el pretexto de los fracasados…
Pablo Neruda

— Om, força de luz, vem a nós, Om —


Bom dia, companheira, companheiro de travessia. Soam os sinos da alvorada, em humilde
devoção recebemos a bênção de uma nova oportunidade de aprender o Sentido de viver e
Amar com felicidade. O humilde sorriso humano, simples, derrama sobre toda a vida seu
pão quente de carinho e entusiasmo otimista. São como flores vibrantes, como um orvalho
de pérolas.
No teu quarto interior, no Jardim do coração, sente neste instante o Amor que é um pulsar
de luz e também de ternura, somos esta fusão de mortalidade e eternidade, um abismo de
grandeza e pequenez. Rodamos pelo destino dos momentos para o assombro da consciência,
sem buscar explicação, escolhemos ver e aceitar a beleza em todo ser e situação.
O alento chega sempre disponível, e flutua nele a Vida. É humilde, não precisa nem pede
elogio, e ainda assim neste instante o reconhecemos como vento de ouro, onde o Sagrado
chega a nós.
Amadas, amados, deixemos de gastar a vida em perseguir sombras de imagem, de desejos
supérfluos de seguir sendo jovens, de lutar por ideias. Não gastes a vida na mente racional,
usa este momento breve de vida, ao entoar o hino de glória à Simples e Intensa Vida.
A fonte está hoje a teu alcance, sente Ela. A Fonte, a Origem, o Manancial das inspirações
de genialidade aproximou-se o suficiente neste dia 16, só para que, em gargalhadas sonoras,
percebas o Sentido e ao compreender a simples e contundente Verdade, percebas esta com-
preensão que não são argumentos, senão uma Luz de Compreensão do que chega. Tudo é
verdadeiro ao compreender o Sentido. A consciência relaxa-se em Deus, e assim, relaxada,
dá espaço para que a felicidade chegue, esse estado que éramos em um princípio. Somos esta
menina alegre e que compreende por fim, sabe e sente em seu coração a Verdade que não é
conhecimento, mas Luz Interior, Amor incondicional e Sentido sem palavras.
Aqui e agora, com persistência, dá-te permissão para penetrar todas as couraças e dissol-
ver essas estátuas de medo e encontra tua verdadeira natureza. Esse é o Sentido de destino.
És um com tudo o que existe, vazios dessa identidade que te meteram a fogo. Esvazia o cân-
taro, e deixa que a melodia da compreensão o preencha, inspirando e expirando.
A humilde meditação, alegre e fervorosa. Saboreia esse vazio e a presença sem te apegar a
ninguém nem a nada, assim Deus pode atuar.

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Afirma hoje, sem opinião mental:
SOU LIVRE PARA SER UM PERFUME ALEGRE E FELIZ EM TODA CIRCUNS-
TÂNCIA E COM TODOS OS SERES.
És livre para sofrer, e também para escolher sentir a felicidade de estar em simplicidade
no presente.
Hoje presta atenção a esse vício de tensionar-te, de contrair-te, de estressar-te continu-
amente. O Ser sem forma, eterno e completo, traz o que precisas passar como cenário de
aprendizagem, e assim esvaziar o cântaro do Ser de crenças, de ideias, de posições, de pos-
ses, da própria imagem que criamos em função do que queremos que os outros vejam de
nós. Todo este processo pode-se esvaziar hoje, assim desvanece-se o personagem. Isso foi
chamado pureza de espírito por Jesus. A ruptura com a identidade e o pertencimento do eu.
É essa a revolução mais radical, simples e devota.
E ao caminhar pela tarde, assobia alegre canções infantis, e vazio de tudo, desfruta de cada
amiga árvore, pedra, tudo é um amigo, uma sílaba do canto Universal, e também tudo é um
rosto de ti mesmo.
Relaxa-te hoje, cada vez que te tensiones. Solta, respira no presente, em silêncio e na pro-
fundidade abre o cântaro e derrama tudo ao vazio, e deixa que a REAL natureza se manifes-
te. Não é este Ser algo individual mas sim somos Universais, sem limites, sem separação de
nada nem de ninguém.
Ah... em alegre sintonia despede com gratidão o Irmão Sol, e recebe a Irmã Lua, as belas
estrelas, e talvez escreve uma canção, um poema, ou desenha com lápis de cores este instan-
te que é como um clarão de compreensão.
E deixa ao final do dia que o menino buliçoso, travesso e incorrigível solte sua graça na tua
casa, e fascine a consciência de como ainda tens essa vitalidade, esse gênio de menina que
segue indomável no Jardim dos afetos. O melhor de tudo é esta possibilidade de viver em
meio de uma vida complicada, mas com a chance de que o coração tenha seu protagonismo,
com equanimidade, e para isso tens que treinar manter a conexão viva com o alento agora.
Como um rumor leve, e em profunda calma, observamos nesses nevados Andes o espetá-
culo do Condor voando sem esforço. Assim sentimos o que é viver em felicidade.

17o Dia
En llamas, en otoños incendiados,
arde a veces mi corazón,
puro y solo. El viento lo despierta,
toca su centro y lo suspende
en luz que sonríe para nadie:
¡cuánta belleza suelta!
Octavio Paz

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Feliz dia, peregrina, peregrino! No misterioso amanhecer, somos nós mesmos, o original.
Somos flores abrindo ante a Luz do dia recém-nascido. Demos nutrição e desintoxicação às
células, aos órgãos e aos diferentes mundos que são uno com este corpo maravilhoso. O som,
a Vida chega, não distingas entre os pássaros e o som dos carros, são parte junto às luzes
maravilhosas, e as sensações corporais todas UNA, um Universo que não tem identidade
individual. Na pobreza de espírito, sem mais que a atenção sem expectativa, sem o peso do
passado cobrando nem o futuro preocupando, vivamos em alegre devoção o alento e a totali-
dade do Agora. Livre de todo desejo, aberto a Deus, à Presença, a esta Vida, em extrema po-
breza de identidade, de opinião, de exigência do personagem, somos modelados de instante
a instante pela Divina Presença.
Hoje não te preocupes por nada.
LIVRE DE TENSÃO, SALTO AO CORAÇÃO DO INSTANTE E ME ENCHO DE
AMOR PARA DISTRIBUÍ-LO LIVREMENTE.
SALTA! Em quietude e em silêncio, simplesmente em humildade SÊ. Sem nome, sem uma
ação de controle, respirando a manhã, assim tocamos o eterno. Nos mantemos na essência
enquanto dure a atenção.
O caminho é passar da identificação a não identificação. Liberdade de todo este peso. Tra-
zemos tanta carga na mente! Como um homem caminhando na praia molhada, com um saco
imenso, cheio de “por que eu?”, “e agora o que será?”, “e se faço isto que pensarão?” e todo
esse peso… e de repente chega uma criança e empurra o saco e ele cai, e sentimos a leveza
de ser nós mesmos.
Solta o saco, salta dele!
É difícil fazer uma transmissão de algo tão simples e tão sutil, sente em teu coração este
soltar todo esse peso de ilusão boba.
Meditemos sem peso, com despreocupação, com abandono e apoiados em Deus, ninguém
mais pode dar-nos a Verdadeira Luz da Verdade, que não é um conhecimento de algo ou
alguém.
Desde a experiência profunda de esvaziamento nos moveremos em liberdade e assim com-
preenderemos o sentir o Amor desinteressado, a comunhão verdadeira com todos os seres.
Faz a primeira refeição do dia escutando a música de inspiração, sente o regalo das frutas,
é tão grande o obséquio de ervas que curam e de frutos selvagens, de sabores e cores para
que desfrutemos e nos desintoxiquemos, que somente resta agradecer sorrindo e dizendo
com todo o corpo: Mmmmm…
A vida corre como todos os rios e segue propondo alguma outra atividade, porém com
atenção plena no fazer para não te perder e que a mente não comece de novo a posicionar-se
no controle ilusório da vida.
Hoje façamos jejum de preocupação. Por quê?
É como numa comida caseira, em algum momento se frita a cebola e em outro se agrega
a pimenta. Bom, esta é a oportunidade em que te dás um dia sem preocupação, é picante e
assim sobe ao céu nosso sorriso e leva beijos de amor para todos.
Um bando de pássaros, passa agora gritando: — Sim, sim, sim! — É tão maravilhoso como
uma maçã, como o presente de uns sapatos novos, nos colocamos este instante de pássaros
dando voltas ao redor de nossas cabeças cantando, o coração canta: dá-nos todas as dores,
todas as angústias, e as transformaremos em esperança! Esse é nosso voto.

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18o Dia
Ítaca

Quando saíres a caminho de Ítaca,


faz votos para que seja longo o caminho,
cheio de aventuras, cheio de conhecimentos.
Os lestrigões e os ciclopes,
o zangado Poseidon não temas,
coisas assim no teu caminho não acharás nunca,
se o teu pensamento permanecer elevado, se emoção
requintada o teu espírito e o teu corpo tocar.
Os lestrigões e os ciclopes,
o selvagem Poseidon não encontrarás,
se com eles não carregares na tua alma,
se a tua alma não os colocar à tua frente.

Faz votos para que seja longo o caminho.


Para que sejam muitas as manhãs de verão
nas quais com que contentamento, com que alegria
entrarás em portos vistos pela primeira vez;
para que pares em feitorias fenícias,
e para que adquiras as boas compras
coisas de nácar e coral, de âmbar e de ébano,
e essências de prazer de qualquer espécie,
as mais abundantes que puderes;
para que vás a muitas cidades egípcias,
para que aprendas e aprendas com os letrados.

Deves ter sempre Ítaca na tua mente.


A chegada ali é o teu destino.
Mas não apresses em nada a tua viagem.
É melhor durar muitos anos;
e já velho fundeares na ilha,
rico do que ganhaste no caminho,
sem esperares que te dê Ítaca riquezas.

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Ítaca deu-te a bela viagem.
Sem Ítaca não terias saído ao caminho.
Agora, já nada tem para te dar.
E se um tanto pobre a encontrares, Ítaca não te enganou.
Sábio como te tornaste, com tanta experiência,
já compreenderás o que significam Ítacas.
Constantino Cavafis

Este é o ponto de partida do dia. Tiremos do meio tudo que nos impede SENTIR a Ma-
ravilha do dia. Bom dia, hermanita, hermanito! Nada extraordinário, estar aqui. Quietude,
presença. Por que despertar assim? Para fazer o que não fazemos durante o dia, produzindo
tanto ruído de construção, nesses minutos românticos com a vida tomamos a decisão de
estar na pureza da Alma, sem necessidade de justificá-la por uma ação. Nesse não fazer está
toda a Vida, nesse sorriso estão todos teus sorrisos da vida. Nasceste para este dia!
Não imagines mais que alimentar às células. Logo só quietude, receptividade, é esta a ex-
pressão de flor, de nuvem, de pedra, de árvore:
SOMOS PRESENÇA, SOMOS ESTE MOMENTO SEM PASSADO, SEM DESEJO,
SEM EXPECTATIVA DO FUTURO, DANÇAMOS COM O ALENTO.
Este momento, este momento, este momento. Ser a Essência, estar aqui, radical e profun-
damente comprometidos com este momento onde se expressa a Vida, aqui, agora. Deus se
sente, no profundo, no Jardim do coração desperta-se o melhor de nós e irradia seu sorriso
feliz à superfície, à pele da vida. Recebe em quietude a Vida, consciente.
Sê esta escuta, só escuta com todos teus sentidos e consciência, sem esforço, seguindo o
inspirar e expirar. Sê tão só o ver, desaparece o que vê e o objeto, só vê. Assim, unificado,
experimentas o Jardim sem separação, o Amor te arrasa em um gozo sem limites por uns
minutos.
Hoje toca colocar a atenção na desatenção. Está atento até que desapareça a separação en-
tre o que vê e o que é visto. A distração é tremenda, fomos educados na busca de estímulos e
esta era é de tal oferta de estímulos sensoriais que é difícil não estar distraído. Não te caias
pendurado com a distração, não te apegues à desatenção. Se te pões a roupa, põe-te a roupa,
se diriges, dirige e aprofunda para que todos teus sentidos estejam comprometidos, todas
tuas potências estejam presentes.
O caminho do dia é claro. Incorpora a atenção sustentada à vivência de cada momento. E
nesse intento poderás dar o salto, romperás os limites da separação.
E aí, se apresenta a nova fronteira poética, as musas dançam, chega-se a Ítaca, como bem
disse Cavafis. Se usas palavras, utiliza a linguagem para que transforme o que queres trans-
mitir em um som suave e consciente. Não fales por falar, não chames por telefone por ne-
cessidade pessoal de carência, observa a busca de distração, isso afasta-nos do intento de ter
uma experiência verdadeira de Vida.
Hoje medita vazio de tudo e respira sendo respirado.
Não há muito, ainda que usemos muitas palavras é uma radicalidade neste ser presente
no presente, se há som, sou som, se o cachorro te late, és esse latido, se estás na mesa, estás
comendo.

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Trabalhemos hoje com entusiasmo, sem tensão, com intenção, nas emoções também, nos
pensamentos, nas confusões.
Essa atenção é compromisso com a Vida. É uma abertura poética do ser com o SER, assim
a genialidade pode viver. Assim ocorre o Fiat Lux, Faça-se a Luz. Se faz a luz, se revela a
verdade de quem és e qual é o sentido.
Não busques no passado, nem carregues com as distorções do ego sobre o passado, nem te
preocupes pelo futuro, a Vida é uma maravilha que ocorre só aqui e agora, mantém o silêncio
humilde, escutando o canto calado do momento. Tira o suco desta vida! E chegarás a Ítaca,
com leveza, mas rico em luz, em beleza sem personagem a interpretar.
Sem controle, sem planificar, sem justificação, sem projeção, o presente volta a surpreen-
der-nos, porque nessa coragem de entregar-se à Vida, respiramos o Amor Incondicional,
deixando de querer, deixando de perseguir. Sem comparação surge espontânea a música
completa da Realidade, tal como é, sem esperar algo diferente e exclusivo.
Somos humildes paisanos da terra, de alpargatas, mortais que estamos com muita cora-
gem processando a mentira de ser algo que parecemos e voltar a casa, a Ítaca, despidos de
imagem social, despidos de polarização ideológica, plenos de amor a todos e todas, flores-
cendo no crepúsculo de neve e ouro deste dia.

19o Dia
Eu quero desaprender para aprender de novo.
Raspar as tintas com que me pintaram.
Desencaixotar emoções, recuperar sentidos.
Rubem Alves

Amado Dia, dá-me as alegrias, as lutas, o que Tu trarás segundo o necessário para flores-
cer. Tudo o que chegue será nosso canto, nosso amável sorriso, assim com todos os seres
humanos caminharemos juntos para a glória desta nova era.
BOM DIAAAAAAA! Em abraços cálidos recebemos em tranquilo silêncio o novo dia, com
suas sensações, sons, aromas. Quietos e receptivos, respirando suave e tranquilo em nossa
caminha.
Sem buscar nada, somente recebendo o que o dia nos traz.
Neste dia afirmaremos nossa aceitação gozosa e amaremos tudo o que chega
SOU UMA FLOR AMOROSA QUE RECEBE A BÊNÇÃO DE VIVER DESPERTA
E ATENTA. ENTREGO AOS SERES HUMANOS A DÁDIVA DO SORRISO TER-
NO E COMPREENSIVO.
Sim, compreende todos hoje. Compreende o que serve e o que é indiferente e individualis-
ta, sem julgá-los, com amor. Compreende o que, obcecado, vive pelas redes e o campesino
que, de alpargatas, mora na terra, plantando esperanças.
Hoje vamos compreender, ou seja, abraçar desde o coração todos e todas, com suas singu-
laridades e diferenças e igualdades.

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Somos todos filhos do Sol e da Terra e das Estrelas.
Como bem diz Rubens Alves, cada momento é uma sinfonia, uma sonata, por efêmero que
seja. Se dura um instante já é suficiente, a plenitude mostra-se de instante a instante, não
queiras prendê-la porque escapará.
Deixa que chegue a bênção esta manhã. É beleza sem limites.
Desaprende esse vício do personagem de separar em categorias as pessoas, de separar por
ideologia, em separar em parecidos a nós ou não, não existe isso, somos todas e todos apenas
umas criaturas da Terra intentando manter um alento mais.
Sejamos humildes, compreendendo todos. E se vês que alguém atua indelicadamente, com
suavidade dá teu parecer sem insistir, somente um suspiro e deixa ser.
E compreendamos a profunda solidão do ser humano refugiado em opiniões, em posições
rígidas e em julgamentos inquisitoriais, como recursos de crianças incompreendidas. Pre-
senteia à vida humana tua compreensão silenciosa, sem separar ninguém por opinião nem
por raça, ou credo ou posição social, ou verdade, ou mentira.
Vamos humanizar-nos hoje.
Este é o tempero de hoje, compreensão compassiva.
A compreensão compassiva dilui em nós essa rigidez justiceira de um ser que não foi
bem-amado. Nós somos amados plenamente pela vida, não precisamos descarregar a frus-
tração das experiências nos outros.
Mantém o passo, um a um, com sorriso alegre, e abre espaço na atenção para experimen-
tar essa felicidade suave e diáfana que chega do coração por experimentar este momento de
compreensão profunda e que abre canais novos de amorosa comunicação com nosso amado
eterno.
A dialética do Amor é tão simples, não é linear, aparece, desaparece, chega como a prima-
vera e se vai como o inverno, porém chega novamente, confiemos na Vida.
Sentir esse momento e aceitá-lo como é, sem tentar compará-lo nem colocá-lo em catego-
rias é um belo desafio à consciência profunda, porque assim florescemos na mais expandida
expressão de um ser humano.
Assim floresceu Francisco de Assis, ou Ramakrishna, ou Francisco Quispe quando nos
disse que ser um revolucionário é viver com um coração bom.
Um coração bom, sábia simplicidade poética dos Andes profundos.
Sente esta noite o tão belo e tremendo dia, e escreve tua poesia, teu verso iluminado, pinta,
compõe uma nova canção, dá ao teu coração a possibilidade de expressar-se.
E entrega todos os dons do teu amor em silenciosa irradiação enquanto viajas ao mundo
mais profundo do sonho, onde despertarás.

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20o Dia
“Ven al jardín en Primavera”, dijiste.
“Alí están todas las bellezas, el vino y la luz”.
¿Qué puedo hacer con todo esto sin ti?
Y, si estás Tu allí, ¿para qué lo necesito?
Rumi

Chega em Ondas Graciosas. Quieta e aberta, recebes da Vida o úmido alento. Recebes tran-
quila, satisfeita com só este alento? Se a mente te tenta a buscar ansiosa, desapega-te dela,
vem ao presente em que a Vida é um canto de louvor campesino, pleno de trinos silvestres
das criaturas livres por sentirem-se felizes na larga espuma do dia. É este o dia! Sim, é este
o dia!
Salta ao Jardim! Solta teu medo e salta! Nos acompanhas?
Somos um povo de índios amazônicos, andinos, silvestres e inocentes voltando à casa do
Pai, da Mãe, da humanidade aliada com a Mãe Natureza.
Aqui não há o que temer. Voltas a ti mesma. Neste instante o alento é uma feliz marejada
que cheira a primavera. É ao Silêncio escuro e belo que Saltas. Sem medo, sem desconfiança,
volta aos braços cálidos da Mãe. Tudo, tudo o que fizeste foi por sentir saudades desses braços,
por não os sentir, por buscar essa felicidade primitiva.
É o tempo do Ágape. Do amor do encontro em teu Coração que sorri para toda a Vida.
O vento se estremece, a indomável aurora da alegria chega em convites insistentes nesta
manhã gloriosa. Salta! Não como um esforço, senão como um abandono, uma caída em que
perdes o ego orgulhoso, rígido, sabichão, que busca justificativas para seguir no caminho da
comodidade, que te freia a amar, que escolhe desde o lixo do subconsciente.
É tão bonito e sonoro esse momento de entrega! Em amor e humildade, nos abrimos e sal-
tamos para criar um novo universo de possibilidades para nós, para a família querida e para
o Planeta Amado, merecemos viver vivos e felizes, como ursos gordinhos, como peixes na
água. Antes de sair de teu estado de gozo, olha tudo o que te molesta, e sorri aos que te cri-
ticam, aos que desconfias, ao que te dói, e foca tudo desde o Jardim, compassiva e humilde,
compreendendo tudo. E SORRI!
És um copo que contém um coração pleno. Agora faz um gesto com tuas mãos, com tuas
células e diz muitas vezes:
— Agradeço a Deus, ao Universo, à Vida por permitir-me chegar aqui, onde se encontra a
encruzilhada do Amor e da Felicidade, com humildade aceito reverdecer.
E afirma todo o dia:
BRILHO E ALEGRIA SÃO MEU ROSTO NESTE DIA. SORRIO LUZ! PRESEN-
TEIO SORRISOS LUMINOSOS, ASSIM COMO O SOL PRESENTEIA LUZ PARA
TODAS E TODOS.
Sabes, és extraordinária por ter chegado a este momento, neste dia sente teu SER, a Exis-
tência. Dá-te tempo para valorizar esse evento tão mágico e bonito.
Te enviamos agora nesta manhã, enquanto te sentas para meditar, condores portando a

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mais elevada Luz Alegre dos Andes de neve e ouro. Medita e abre-te a recebê-los enquanto
sorris, sentindo a Vida entrar através do alento.
Estás no dia 20, teu coração unido às sementes que estão debaixo do solo vibra na ânsia sa-
grada de brotar. Sente-as! São parte de tua humanidade, as sementes das mil flores e frutos
que te alegrarão no verão. E teu coração florescido que te levará de viagem pela Eternidade
unido ao Bem-Amado Senhor.
Te familiarizaste com essa palavra tão maravilhosa: GRACIAS?
AGRADECE SEM PARAR HOJE, SENTINDO COMO UM ATO REVOLUCIONÁRIO E
POÉTICO.
Ao agradecer o chá, as frutas, o pão caseiro, o trabalho, os teus companheiros, o teu com-
putador, os teus problemas e aparentes infernos, a tua família e amigos tão queridos moves
isso que nos Andes chamamos Kausay, a força da Vida.
O Chi, o pneuma, esse amado Espírito Santo torna-se amável e leve como uma abelha
de luz, move-se trazendo os presentes que te negaste: uma vocação verdadeira, reconheci-
mento do Sentido de teu destino, apropriação de teus dons e liberação do Sonho ou Missão
Cósmica que encarnas.
Solta teus “Gracias” desde a camada mais profunda e agradece a tudo, a todas e todos: o
semáforo que te atrasa, o celular que ficou sem bateria, tudo isso permite escutar os mantras
e cantar ou ver essa borboleta que, bela e sustentada pelo branco alento de Pachamama,
passa em frente ao teu automóvel sem respeitar nenhum semáforo.
A essa altura da prática, o sorriso sairá espontâneo e teu coração fará muitas ações es-
pontâneas, permite que a Vida viva através de teu veículo. Deixa a consciência vazia de ego
encher de Alma a Vida, espontaneamente. Sabes, isso é o viver iluminado. És a Alma que,
como uma magnólia vermelha, enche de paixão viva a existência de seres humanos bons,
mas adormecidos em seus subconscientes.
Hoje, a primavera desliza-se diante de ti, diante de todas as criaturas, todas a recolhem e a
guardam como o pão mais amado em seu coração. Abre tua sensibilidade e sente esse evento
tão romântico e poético e recolhe a primavera com teu sorriso e tua humilde aceitação, sem
importar os eventos da mente.
Somos vulneráveis, frágeis; são pequenos nossos dias e mínimo nosso alcance de influir no
mundo, mas com nossa pequenez podemos recolher a cascata brilhante, esse coro de sinos
que hoje a vida traz, esse fragrante pão que a Vida pôs em tua mesa agora e que podes com-
partilhá-lo.
Diz à vida:
“GRACIAS, AMOR DE MINHA VIDA, GRACIAS.”
És uma pequena estrela dançando entre instantes, alguns são para as lágrimas, outros para
as gargalhadas, mas não vejas as diferenças ou as igualdades, recebe cada um que se desliza
diante de ti, como um perfeito argumento, uma rima alada para sorrir ao Sol, às pessoas, a
tua Vida amada, ao Universo sem tempo.
Temos vencido as diferenças de dentro, agora sim és livre. Livre de permanecer florescen-
do indefinidamente, sem definições, sem te opor nem te polarizar.
Redonda compreensão, rosa perfumada líquida, que nos faz ver que em nós há um ânimo
secreto de seguirmos conscientes e felizes apesar de tudo. Apesar de tudo, aqui uma estrela
segue brilhando e amando!
Sem necessidade de caramelos emocionais, sem necessidade de elogios ou de que algo dê

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certo, em infernos ou céus, livres como pardais seguimos sorrindo e agradecendo a possibi-
lidade de Amar a Vida.
Nessa compreensão vive a fragrância mais pura e inocente da Vida, é este o pão consagrado
que compartilhamos desde os Andes.

21o Dia
¡Oh día pleno,
oh fruto
del espacio,
mi cuerpo es una copa
en que la luz y el aire
caen como cascadas!
Pablo Neruda

Desde a melodia plena somos recebidos pelas novas sensações da Alba. A consciência vazia
e atenta não se deixa de maravilhar. E ao fim se escuta a doce melodia do Menino gritando
de felicidade em nossos corações. A boca da vida, como um longo beijo, nos roça de alento
em alento. E todos nós abraçados nos dizemos:
Bom dia! Feliz dia, Primavera!
— RECEBO EM MEU SER QUANTO EXISTE —
As sílabas celestes do alento nos animam a sorrir espontaneamente a tudo. A espontanei-
dade fluida voltou, — amo e sou amada. Sou um fluxo lúcido de Amor em liberdade.
Percebes? Chegou o dia de fazer os votos de compromisso de Amor com a Vida em ti, de
fazer votos de amar-te e cuidar-te e ser feliz.
JUNTO A RIOS E ESTRELAS, COM O CORAÇÃO ABERTO E HUMILDE, SEM
MÁSCARA, NEM EGO, NEM AMBIÇÃO, NEM RANCOR, FAÇO VOTOS DE PER-
MANECER ESPONTÂNEO NESTA ESTAÇÃO DE PRIMAVERA. FAÇO VOTOS
JUNTO A JESUS, MARIA E TODOS OS ANJOS DE BRILHAR EM HUMILDE
AMOR PELA VIDA TODA. SOU FELIZ E VIVO AMANDO E SENDO AMADO.
Que estes sejam teus votos eternos. Todas as manhãs e entardeceres, junto a pumas e al-
pacas, com os condores e beija-flores, com magnólias, rosas e madressilvas, com toupeiras
e borboletas, une-te à fraternidade dos que vivemos em sorriso espontâneo de carinho pela
Vida, sendo santificados e santificando tudo.
Não são só as palavras altissonantes, é sangue que derramaram povos inteiros de avôs e
avós, no compromisso de viver a vida em Pachamama, junto a todas as criaturas, em respei-
to e carinho por toda a Existência.
Sem liturgias nem cerimônias, afirmamos que vale a pena viver assim. Que vale muito a
pena a disciplina de sorrir, no princípio é forçado, logo flui lúcido e espontâneo.

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Ao sair do controle do ego, surge a silvestre espontaneidade. A que te permite fluir em to-
dos teus movimentos tal e como chegam em teus lábios, em teu olhar doce e carinhoso, em
soltar o cálculo de agir, de falar, do sorriso ou do abraço. Ao chegar de novo à espontaneida-
de com um coração inocente serás julgado, mas influirás também em muitos corações que
estão prontos para despertar e viver.
Porque estamos rodeados de gente que, ainda estando desperta e fazendo muitas questões
complexas, segue dormindo no subconsciente, comandada pelos mandatos sociais ou cultu-
rais, sem escolher livremente.
A espontaneidade é feliz e inocente, encontra os caminhos do bem comum e é o sorriso
da melodia da vida. Não te deixes aprisionar pelo medo de perder, somos todos do bairro
dos perdedores, vimos perdendo juventude e dias, não é este o ponto. O ponto é deixar uns
sorrisos ao partir, um traço de felicidade verdadeira, profunda, essencial, que seja semente
de árvores humanas comprometidas com a Pachamama, com os que sofrem, com os que não
têm voz, com os que são desalojados ou encarcerados por ser diferentes ou ser livres.
Diz obrigada, hoje, a ti mesma, muitas vezes, por haver encontrado o caminho a tua pró-
pria Genialidade. Sente tua voz, sê leal a ela, mantém-te no caminho do coração.
Eis aqui tua Menina ou teu Menino interno que hoje grita sua felicidade de primavera.
Sente tua energia, é alta e vibra de total alegria, descobriste o rosto do Anjo da Guarda, o
sorriso.
Sorri a teu corpo tão querido, caminha com ele, dando-lhe bons alimentos, longas cami-
nhadas ao sol, liberdade de ficar em ócio criativo, dá-lhe paz. Saca de teu ser o rancor, a
ansiedade, a busca de perfeição e a timidez. Solta, deixa ir e verás teu SER florescer junto a
toda a Vida nesta primavera gloriosa. Primeira e última em que caminhamos juntos.
Dá-te permissão de sentir tuas emoções densas e solta-as.
Diz a tua mente e à Mãe Vida:
Quero uma vida de aventuras, alegrias e loucuras! Quero uma saga de Amor!
E escreve este propósito, esta intenção em um papel e lê-o todos os dias da primavera. E
logo comprova como se confirma o que Jesus disse:
“Pede e te será dado.”
Agradece a Deus pela melhoria da qualidade de tua consciência de Viver, escuta novas can-
ções, aprende novas artes e ofícios, enriquece tua mente com conversas doces e poéticas, ri
muito, que este seja o pão nosso de cada dia.
VOLVE-TE AMOROSA CONTIGO MESMA E COM OS DEMAIS, E PERDOA E
PERDOA-TE.
Recebe este último e primeiro dia da nova vida. Sente como floresce em teu peito, como
entra em tuas células, junto ao vento, às nuvens e à água mansa, abre as janelas de teu apar-
tamento, de tua casa e de teu coração e deixa entrar a luz crepuscular do Infinito a todos os
rincões onde guardas escuros tesouros, velhos e podres. Libera tua casa de toda essa antiga
raiva e vem à mesa do Dia, este último dia de louvores e florescer, a comer o pão nosso, a
tomar o vinho alegre, temos muitas batalhas que vencer na renovação de nosso angustiado
planeta.
Somos poucos e a tarefa é árdua, devemos dançar pelas ruas, repartindo sorrisos, abraços
e clareza para que as pessoas despertem à beleza frágil desse formoso planeta e o cuidemos
entre todos. Para que a luz chegue a todas e todos. Nessa delicadeza dissolveremos a falta de
consideração pelos mais pobres, pelos ecossistemas esquecidos e vendidos às mineradoras,

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pelas crianças de rua, pelos que perderam sua liberdade, equivocados ou não, pelos que
choram de solidão, por todos os que de alguma maneira estão confusos ou se entregam ao
ódio cotidiano da distração da política, com delicadeza e bondade, lutemos cada dia para que
despertem ao fraterno sorriso do coração. Até que a alegria reine na terra, e a vida dos seres
humanos seja um ágape de amor, liberdade e fraternidade.
Com isso nos despedimos de ti. Seguiremos desde teu coração. Não sabemos se voltaremos
a escrever esta epopeia dos 21 dias, mas seguramente podes contar conosco em tua Alma
quando estejas angustiada. Somos pobres campesinos poetas, vagabundos do Dharma, se-
res pequenos, sem mais luzes que as do coração agradecido por esta Santa Terra que nos dá
alento e consciência.
Não é fácil para ninguém, mas vale a pena o voo silencioso do Amor, do sorriso cálido, da
amizade com todas e todos.
Brindamos por ti, por teu destino e lar, por tua família e por teu voto de viver em amor e
felicidade compartilhada.
Somos apenas umas chispas andinas, aves pequenas, pardais que dizem pequenas suges-
tões, nada de mais, não somos avatares, nem mestres cósmicos, nem nada, só aspiramos a
dar ao longo de nossa vida um verso que se una com o teu e construa uma oportunidade de
viver uma vida de águas puras, ar puro, de comida sã e de alegria para nossos netos.
Com amor, respeito e gargalhadas cósmicas te abraçamos, oxalá voltemos a nos encontrar
e compartilhemos o pão redondo, e gritemos para todas e todos: A mesa está posta e a
honra da humanidade recuperada.
Humildemente,
Caminhantes Andinos

Por favor, escreve aos mestres andinos contando tua experiência nestes sete dias — como
texto da mensagem e não como anexo — coloca no assunto o teu nome e tua cidade e envia
para o e-mail: relato21dias@gmail.com

UMA GERAÇÃO VAI, E OUTRA GERAÇÃO VEM;


MAS A TERRA PARA SEMPRE PERMANECE.
Eclesiastes 1:4 - Livros Sapienciais

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