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Redator-chefe: Nirlando Beirão
Consultor editorial: Luiz Gonzaga Belluzzo
Editor especial: Mauricio Dias
Editores: Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa, Carlos Drummond e Rodrigo Martins
Repórteres: André Barrocal (Brasília) e Gianni Carta (Paris)
Secretária de redação: Mara Lúcia da Silva
Diretora de arte: Pilar Velloso
Chefes de arte: Daniele Doneda, George B. J. Duque Estrada (Fundador), Mariana Ochs
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Designer: Milena Branco
Fotografia: Wanezza Soares (Produtora Editorial)
Revisores: Áli Onaissi (coordenador) e Hassan Ayoub
Colaboradores: Afonsinho, Antonio Delfim Netto, Carlos Leonam, Claudio Bernabucci (Roma),
Djamila Ribeiro, Drauzio Varella, Eduardo Graça, Eduardo Nunomura, Gabriel Galípolo,
Guilherme Boulos, Hélio de Almeida, José Genulino Moura Ribeiro, Jotabê Medeiros, Luiz
Roberto Mendes Gonçalves (Tradução), Marcos Coimbra, Nivaldo de Souza, Oliviero
Pluviano, Paulo Nogueira Batista Jr., Pedro Alexandre Sanches, René Ruschel, Riad Younes,
Rogério Tuma, Rodrigo Casarin, Thomaz Wood Jr. e Ubirajara Correia
Ilustradores: Eduardo Baptistão e Venes Caitano
Secretária: Ingrid Sabino
Carta on-line
Editor executivo: Miguel Martins
Editores: Dimalice Nunes, Felipe Corazza Tatiana Merlino
Editor de vídeo: Cauê Gomes
Repórteres: Ana Luiza Rodrigues Basilio (CartaEducação), Carolina Servio Scorce e Gabriel
Bonis
Analista de mídias sociais: Vitório Tomaz
Estagiários: Laura Castanho Cerqueira e Victoria Martins Damasceno
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ÍNDICE
18 de Abril de 2018 - Ano XXIII - Nº 999
Cartas Capitais
Alternativa à esquerda
Brasiliana
Silva volta do inferno
Especial
A glória da chicaneira
Especial
Uma multidão de Lulas
Especial
Autoritarismo e resistência
Especial
Preso político
Especial
O novo patamar do golpe
Especial
As masmorras da liberdade
Especial
Lembranças de outro país
Especial
Exército de ocupação
Bravo!
Para ler, ver e ouvir
QI "O sonho é realidade"
É só o começo, continuemos o combate
QI Saúde
Cadê o médico que estava aqui?
QI Design
Quando o futuro ditou a estética
Afonsinho
Decisões
Vara
Por Venes Caitano
É
DE
CHORAR DE RIR
O STF AMEDRONTADO?
A ministra Rosa Weber não pode ser chamada de “Maria vai com as
outras”, pois, quando deu seu voto, nenhuma maioria estava formada, ao
contrário do que falou. Em vez de seguir a Constituição, os juízes
brasileiros seguem sua convicção. Prisão em segunda instância é
inconstitucional.
Maria Lídia Gomes
Belo Horizonte, MG
(Enviado via carta)
Os indivíduos traem sua própria consciência. Sabem que a ministra Rosa
Weber compactuou e se vendeu aos poderosos, fazendo a vontade do
presidente mais corrupto que tivemos: Michel Temer. Armaram para Lula.
Ele era o candidato que ganharia as eleições, contra a vontade da elite, da
mídia e do empresariado. Aqueles que aprovaram sua prisão sofrerão as
consequências políticas e sociais de sua ação.
Hosanas Moura
(Enviado via Facebook)
O voto da ministra Rosa Weber deveria servir de prova a favor de Lula. Foi
prolixo para disfarçar a injustiça.
Fabíola Alencar
(Enviado via Facebook)
Não deveríamos nos surpreender. Romero Jucá disse que isso aconteceria
quando falou do “grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo”.
E, se alguém for contra a decisão do STF, o general Eduardo Villas Bôas
deu o recado por meio da ameaça feita às vésperas do julgamento.
Flávio de Almeida Felinto
(Enviado via Facebook)
O julgamento do STF sobre o habeas corpus do ex-presidente foi
comprado. A única intenção é afastá-lo das eleições presidenciais. Mais
uma vez a história se repete como farsa.
Heitor Hugo da Silveira
(Enviado via Facebook)
CORONELISMO DIGITAL
ALTERNATIVA À ESQUERDA
Ciro sobre Lula: “Deus sabe o quanto eu gostaria de não ter de testemunhar esse momento”
ÍNDICE
CRÉDITO DA PÁGINA: Wikimedia
CAPA: Fotos: Heuler Andrey/AFP e Nelson Jr/STF
Animação: Regina Assis
Silva volta do inferno
Um ex-PM supera diversas tragédias e reencontra no trabalho e na família o sentido
de viver
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Paraplégico há 17 anos
A notícia de que não voltaria a andar abalou o PM. Para piorar, três meses após
receber alta, a mulher abandonou-o. Silva entrou em depressão. Ficou um ano sem
sair de casa. Como muitos em situação parecida, procurou consolo na bebida e no
jogo para diminuir a dor da perda. Chegou a ficar três dias seguidos no carteado,
sem voltar para casa. “Minha vida não fazia mais sentido. Não podia mais andar,
perdi minha mulher. Não tinha mais vontade de viver.”
As coisas sempre podem piorar e, no caso de Silva, de fato pioraram. Dois anos
depois, durante um curso de reciclagem da PM, a brincadeira de um colega, que
sacou a pistola, mirou na cabeça de Silva e disparou por acidente, lhe custaria a
visão do olho direito. Enquanto estava internado, o irmão foi morto a tiros por
assaltantes em um ponto de ônibus. Em 2003, o cunhado mataria a irmã do PM por
ciúmes.
A vida de Silva começaria a mudar de rumo, para melhor, a partir de 2005, quando
um vizinho o indicou para o trabalho de atendente de ocorrências de uma empresa
de guincho. Sua função é anotar as demandas dos funcionários e repassar ao
chefe. “Minha história aqui na firma é melhor do que na polícia. Lá só foi sofrimento.
Estou até hoje aqui, graças a Deus e aos amigos. Minha autoestima é elevada.”
Com o tempo, foi promovido e transferido para o plantão do serviço do guincho,
onde recebia ligações dos motoristas que solicitavam o serviço. Por último, passou
para o setor de almoxarifado. “Depois que fica na cadeira de rodas, a polícia acha
que você não vale mais nada. Aqui, ao contrário, fui muito bem acolhido”, afirma,
voz embargada e lágrimas nos olhos. “O pessoal aqui sempre pergunta se estou
precisando de alguma coisa. Às vezes, você precisa de apoio moral. Sou muito
grato a eles.”
Fibra. Silva ao lado da mãe, Benedita, que criou sozinha 11 filhos desde a morte prematura do
marido. Ela recorda o período difícil logo após a tragédia do ex-policial: “Cuidei dele como se
fosse criança”
Silva retribui o apoio com sorrisos. Jamais fica taciturno ou claudicante. Está
sempre a postos. “Saí do fundo do poço e estou na beira da praia me divertindo”,
compara. Sua mãe, a baiana Benedita Santos da Silva, de 85 anos, fiel da igreja
Assembleia de Deus, atribui a Deus a reviravolta do filho. “Ele foi desenganado
pelos médicos”, recorda. Ela lembra daquela noite como se fosse hoje: “Achei que
ia perder ele”. Dona Benedita recebeu a notícia quando voltava da igreja.
Hipertensa e diabética, venceu as limitações físicas e tornou-se a “mulher heroína”,
apelido que ganhou dos vizinhos na rua por ter criado sozinha o ex-PM e mais dez
crianças, desde a morte prematura do marido, também assassinado. “Sou uma
mulher muito abençoada por Deus, que me deu força de criar os filhos e depois
cuidar do Júlio como se fosse uma criança. Pegava no colo, ajudava a dar banho”,
recorda.
Ela gaba-se do fato de os filhos serem honestos, apesar das dificuldades da vida e
da vizinhança violenta. “Tem gente que coloca muita coisa à frente do dinheiro,
Deus acima de tudo. Só Jesus Cristo dá sabedoria para a gente. Eu louvo a Deus
por ter aparecido gente boa para ajudar o meu filho.”
Um dos irmãos do ex-PM, o agente operacional André Luiz da Silva, mora no
mesmo bairro e trabalha com ele. Lembra da época que jogavam bola e empinavam
pipa em um campo de terra que deu lugar a uma oficina e a quatro casas. “O Júlio
me ensinou muita coisa, a dar valor à vida. Tem gente que reclama de coisas tão
pequenas. Ele é um cara alegre que ajuda os outros, nunca o vi triste. Ele é lição de
vida. Eu olho para o Júlio e enxergo nele uma vontade de viver enorme.” •
ÍNDICE
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O
ódio
a
Lula, hoje divisor dos brasileiros estabelecido pela elite política e social, é extensão
do preconceito a um metalúrgico que, após três derrotas eleitorais, tirou do poder
um partido debilitado, cujo líder é um sociólogo da classe média, o dito FHC.
Lula tornou-se presidente da República com uma inédita agenda de programas
sociais em um país onde 10% da população concentra quase a metade da renda,
como atesta o IBGE em informação recentíssima.
Presidente por duas vezes, Lula arrombou a porta do chamado “Clube dos Eleitos”,
em 2002. Havia por lá uma lei, não escrita, segundo a qual só se entrava com um
diploma de bacharel ou com uma espada na cinta. Advogados, militares, médicos,
economistas, um sociólogo e, de forma dissonante, um metalúrgico cujo pai foi
enterrado como indigente. Ele não ligava para isso.
A partir do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a mídia não mudou a roupagem.
Reagiu ao intruso. Houve, inicialmente, momentos de armistício. O novo presidente,
por exemplo, saiu de Brasília e chegou ao Rio de Janeiro para assistir ao velório na
estupenda mansão de Roberto Marinho. Leonel Brizola também esteve lá. Lula e
Brizola, dois políticos de esquerda, devem ter se surpreendido com os dois
flamingos presenteados por Fidel Castro ao poderoso dono da casa. Não demorou
muito para “o pau comer na casa de Noca”.
O cientista político João Feres Júnior, do Laboratório de Estudos de Mídia e de
Políticas Públicas, é autor de um estudo insuperável sobre Mídia e Democracia no
Brasil, a partir da leitura de Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo, O Globo, Estado
de Minas e Jornal Nacional. É um flagrante da relação entre Lula e a mídia,
realizado de 2014 a 2016. Trata-se de um massacre que também se estende ao
Partido dos Trabalhadores.
João Feres tem uma imagem primorosa ao dizer que testou a “hipótese do papel de
cão de guarda da grande mídia brasileira” e usa como base o período que conduziu
ao impeachment de Dilma Rousseff.
Do fim de 2014, quando a conspiração reacionária avançou, até o golpe contra a
presidenta, Lula atuava intensamente (tabela). Tiraram Dilma do governo, mas Lula
reapareceu para voltar ao governo. Foi preso agora com base na mera convicção
dos procuradores e do juiz Sergio Moro.
Os repórteres e apresentadoras da Globo News, apêndice da TV Globo, reiteram
um falso privilégio oferecido pela Polícia Federal ao ex-presidente: quarto de 15
metros quadrados, banheiro com pia, cama, além de uma sala conexa para receber
advogados. Ele poderá tomar sol por duas horas isoladamente dos outros presos da
Lava Jato. Quanta generosidade.
Orientados, os funcionários da Globo escondem que Lula está preso numa solitária.
Ninguém poderá devolver a ele a perda da liberdade. •
ANDANTE MOSSO
Lula no Ibope I
Qual será o impacto da prisão de Lula nas próximas pesquisas de intenções de voto
para presidente da República? Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope,
sustenta que as coisas “continuarão as mesmas”. Ou seja, ninguém ganhará e
ninguém perderá. Segundo ele, nos últimos oito meses, os números das pesquisas,
uma a cada mês, estão praticamente congeladas nos seguintes porcentuais:
Lula mantém-se na liderança, em torno de 33% das intenções de voto. É seguido
por Bolsonaro com, aproximadamente, 14%. Marina Silva tem 12%. Em seguida
estão Alckmin e Ciro Gomes, ambos com 9%. Fernando Haddad gira em torno de
5% (tabela). Álvaro Dias tem 3%, Rodrigo Maia soma 2% e Henrique Meirelles,
Paulo Rabelo, Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila estão empatados com 1%. “A
maioria dos eleitores ainda não sintonizou a eleição de outubro”, diz Montenegro.
Lula no Ibope II
Em contraponto com o instituto Datafolha, o Ibope não vai retirar o nome de Lula
das pesquisas. Isso só acontecerá caso o registro da candidatura dele, em agosto,
seja rejeitado pelo Superior Tribunal Eleitoral. O TSE é presidido pelo fagueiro
ministro Luiz Fux.
Ventos do Sul
O nordestino Lula não tem muita simpatia dos sulistas. Tem, por exemplo, apenas
20% dos eleitores no Rio Grande do Sul. No STF, Lula ficou sem os votos dos
ministros gaúchos Edson Fachin e Rosa Weber. Outro gaúcho, Claudio Lamachia,
presidente da OAB, não se manifesta sobre a prisão de Lula. Resiste à pressão.
Lamachia argumenta que a instituição não deve ser utilizada para fazer a defesa
“dos interesses de clientes dos advogados”.
Maia filho...
Um velho conhecido de Rodrigo Maia, em conversa recente com o presidente da
Câmara dos Deputados, perguntou o que ele faria diante de uma terceira denúncia
contra Michel Temer. Maia respondeu: “Serei obrigado a trabalhar para essa
denúncia não ir adiante. Se Temer sair e eu assumir, poderia ser candidato à
Presidência. Hoje, finjo que sou, mas não sou. Para ser novamente candidato a
deputado, não poderia assumir nenhum outro cargo. Nem eu nem o Eunício,
presidente do Senado, que precisa disputar a reeleição”. Sem que o interlocutor
perguntasse, Maia fez uma observação com expressão sorumbática: “Imagine
entregar a Presidência a Cármen Lúcia”.
Aposentado da política?
Maia pai
Cesar Maia, pai de Rodrigo, vereador carioca, desistiu de disputar o governo do Rio
de Janeiro. Depois de ficar por 12 anos na prefeitura, disputou o Senado em 2014.
Perdeu a cadeira para Romário. O ex-craque da bola é, agora, um político
inexpressivo. Maia parece ter se aposentado da política.
ÍNDICE
CRÉDITOS DA PÁGINA: Márcio José Moraes
A inquisição cria o mártir
Desde a sinistra noite de 7 de abril, Lula está preso em Curitiba enquanto o país
precipita no abismo do estado de exceção. E dias piores virão...
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Noite sinistra, nunca sairá da memória de quem a viveu, ou mesmo aos olhos e
sentimentos de quem acompanhou aquele longo enredo pela televisão. Cenário
plúmbeo, rasgado pelo lampejo dançante de faróis e semáforos, agitado pelas
hélices dos helicópteros, sulcado por gritos e buzinas e pela procissão fúnebre
daqueles reluzentes carros negros. Enfim, o voo do mesmo monomotor que já
transportou Fernandinho Beira-Mar. A uma TV chinesa, o inquisidor Sergio Moro
dissera ter reservado ao ex-presidente condenado sem prova o mesmo tratamento
dispensado a criminosos sentenciados.
Quando vi Lula sair do helicóptero pousado no teto da sede central da PF
curitibana, descer uma escada à vista de assistentes divididos em dois grupos
distintos, enquanto fogos iluminavam a noite a saudar o desastre do País, e o vi sair
de cena a caminho da cela, imaginei cidadãos conscientes a caírem em profundo
desconforto igual ao meu, diante de tanta prepotência e insensatez.
Naquela manhã, Lula havia pronunciado um forte e altivo discurso durante a
cerimônia religiosa celebrada no dia do aniversário da esposa falecida, a
inesquecível Marisa, que ainda o deixa em lágrimas quando a recorda. De
improviso, como de hábito, mas muito bem urdido em torno de uma ideia mestra: o
momento e a memória do seu governo metamorfosearam o líder com uma ideia, e
ideias não podem ser enjauladas. A imagem é bela e expõe, em primeiro lugar, o
problema central do país da casa-grande e da senzala: o monstruoso desequilíbrio
social. O discurso me diz que Lula clareou seu pensamento, percebeu os
verdadeiros inimigos e repudiou a contemporização.
Os
Este é um cidadão de apostas altas
golpistas atingiram seu maior objetivo, alijaram das eleições o grande favorito. Em
compensação, criaram o mártir, o Mandela, o Mujica brasileiro. Nem por isso
garantiram a continuidade do estado de exceção a resultar do golpe de 2016, à falta
de um candidato potável. As tensões sociais, que serpenteiam debaixo da
aparência de normalidade, têm condições de agravar a crise de todos os pontos de
vista e de levar, até o fim do ano, a uma conjuntura ainda mais assombrosa do que
o cancelamento do pleito a bem da paz nacional.
Depois das mais recentes declarações do general Villas Bôas, inequivocamente a
favor da condenação de Lula, logo aprovadas por muitas vozes militares, o futuro
comportamento das Forças Armadas é uma incógnita a turvar pesadamente o
panorama. Arrisco-me a dizer que dias piores virão. Precipitamos no abismo e a
queda não promete um pouso feliz.
A partir de 40 anos atrás, as três greves (1978, 79 e 80) deflagradas por Lula
representaram um vigoroso desafio à ditadura. Tanto desassombro engatilha graves
riscos. O tempo não era, porém, de desalento. No começo de abril de 1980,
Raymundo Faoro, amigo fraterno, acaba de deixar a presidência da OAB e me pede
para levá-lo ao palanque de Lula na Vila Euclydes. De lá, o líder comanda a greve.
Assim conto aquele dia nas páginas de O Brasil, meu penúltimo livro (Editora
Record, 2013).
“Ali somos aguardados por uma conferência de mochos soturnos (...) À cabeceira
senta-se o prefeito e a sua direita é reservada a Fernando Henrique, o qual,
pressinto, deu uma aula prévia sobre Faoro. Quem é este Faóro, ou Faoro? Ou não
seria faraó? Fernando Henrique perora a sua causa com denodo e busca o apoio
dos mochos: Faoro não deve subir no palanque. Digo que vou partir para o campo
apinhado. Faoro ergue-se em toda a sua imponência e me segue. A massa sobre o
gramado abre-se diante daquele gigante engravatado, não sabem quem é, mas o
entendem graúdo, vindo para emprestar seus poderes, quiçá mágicos, ao líder de
uma greve também rebelião.”
Singular figura, FHC, acima do bem e do mal, blindada, para usar uma expressão
cara aos jornalistas, perdão, propagandistas nativos. Nesta quadra trágica da nossa
história, o ex-presidente atribui-se o papel de grilo falante do Brasil. Vive em
sossego, aparentemente à larga, morador de um apartamento de 400 metros
quadrados de construção em área dita nobre da capital paulista e ainda dispõe de
uma fazenda em Minas com pista de pouso ao lado, construída pela Andrade
Gutierrez, para servir também à fazenda fronteiriça de Aécio Neves. E mais, de
outro apartamento senhorial, para variar de 400 metros quadrados. Espaço, muito
espaço, para o pensamento do príncipe dos sociólogos, na Avenue Foch, recanto
dos mais chiques de Paris, próximo do hotel dos lordes e príncipes árabes, o Plaza
Athenée.
19 de abril de 1980: Mino entre Lula e Meneghelli quando a polícia está para chegar
No
O LÍDER E A IDEIA
Eu não os perdoo por ter passado para a sociedade a ideia de que eu sou um
ladrão. (...) nenhum deles dorme com a consciência tranquila como eu durmo.
O que eu não posso admitir é um procurador que fez um PowerPoint e foi para a
televisão dizer que o PT é uma organização criminosa nascida para roubar o Brasil
e que o Lula, por ser a figura mais importante desse partido, por ser o chefe e,
portanto, se é o chefe, diz o procurador, “eu não preciso de provas, eu tenho
convicção”.
Não adianta tentar me impedir de andar por este país, porque têm milhões e
milhões de Boulos, de Manuelas, de Dilmas Rousseffs para andar por mim. Não
adianta tentar acabar com as minhas ideias, elas já estão pairando no ar e não tem
como prendê-las. Não adianta parar o meu sonho, porque, quando eu parar de
sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês e pelos sonhos de vocês.
Não adianta eles acharem que vão fazer com que eu pare, eu não pararei porque
eu não sou um ser humano, sou uma ideia, uma ideia misturada com a ideia de
vocês. E eu tenho certeza que companheiros como os sem-terra, o MTST, os
companheiros da CUT e do movimento sindical sabem que a morte de um
combatente não para a revolução.
ÍNDICE
CRÉDITOS DA PÁGINA: Paulo Pinto/FotosPúblicas, Nelson Jr/STF, Fábio Motta/Estadão Conteúdo, Hélio
Campos Mello, David Turnley/Corbis e Wanezza Soares
A glória da chicaneira
Delícias e desventuras da juíza amiga do presidente encrencado e carrasca do ex-
presidente encarcerado. Temer vai ao Peru falar sobre corrupção (?) e Cármen Lúcia
o substitui por dois dias
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É a glória para Carminha. A segunda mulher a presidir o Brasil, ainda que de forma
relâmpago. E no lugar de um grande amigo. Seus sentimentos por Temer ganharam
as ruas em 7 de março, no evento de 25 anos da AGU, o time de advogados
defensores das decisões do governo. Luís Roberto Barroso, o juiz do Supremo
condutor do inquérito portuário contra Temer, deu meia-volta ao saber da presença
do investigado. E Cármen? Em 10 minutos de discurso, citou Temer seis vezes, a
sorrir na direção dele, parecia que o presidente era o centro da festa. Chamou-o de
“meu professor”, contou ter aprendido muito com ele ao tornar-se procuradora de
Minas, em 1983, época em que Temer chefiava os procuradores paulistas. Houve
até um momento confessional. “Agora, senhor presidente, eu fiquei com uma pena
de mim, porque eu não tenho mais 25 anos...”
Presidência por dois dias talvez seja vista pelos antipetistas como um prêmio
merecido a Cármen, por ela ter facilitado a prisão de Lula com lances ardilosos.
Recusou-se, e não mudou de ideia, a pôr em julgamento duas ações prontas desde
dezembro contrárias à prisão de condenados em segunda instância, decisão com
mais chance de vitória para o petista. Preferiu pautar o habeas corpus dele,
enquanto despistava amotinados colegas de corte. Quem deve achá-la digna da
recompensa é o cafetão de luxo Oscar Maroni, dono do bordel Bahamas, de São
Paulo. Em 2016, Maroni prometeu cerveja grátis quando Lula fosse em cana.
Cumpriu a palavra. Na hora da comemoração, o Bahamas exibia um cartaz com a
foto de Cármen e do juiz Sergio Moro.
Celso de Mello, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio Mello contestam sua presidente
Se não se importa, Cármen candidata-se a uma carapuça jogada pelo juiz Ricardo
Lewandowski no dia do julgamento do HC lulista. Ao votar a favor do petista, disse
que “esses magistrados” que hoje tanto falam de combate à corrupção nem sempre
“emprestam a mesma ênfase a outros problemas igualmente graves, tais como o
inadmissível crescimento da exclusão social, o lamentável avanço do desemprego,
o inaceitável sucateamento da saúde pública e o deplorável esfacelamento da
educação estatal”. Quando Temer, o amigo de Cármen, tomou posse em definitivo,
havia 12 milhões de desempregados, agora são 13 milhões. De 2016 a 2017, a
renda média dos 50% mais pobres caiu de 773 para 754 reais e a dos 5% mais
miseráveis, 40% segundo o IBGE. De um ano a outro, a miséria ganhou 1,5 milhão
de pessoas no País.
Etchegoyen apressou-se ao solidarizar-se com Carminha
Dois dos juízes do STF mais revoltados com ela são Marco Aurélio Mello, o vice-
decano, e Gilmar Mendes, o terceiro mais antigo. No dia do HC de Lula, Cármen
tomou várias cotoveladas de Marco Aurélio, chamada de “toda poderosa, no tocante
à pintura da pauta”. Por não ter levado adiante aquela questão de ordem que
poderia tê-la derrotado como jamais aconteceu, ele declarou que, “se
arrependimento matasse, eu seria hoje um homem morto” e que só não tinha ido
adiante em respeito à cadeira de presidente da Corte, não à ocupante. “Em síntese,
presidente, que isso fique nos anais do tribunal: vence a estratégia.” O triunfo dos
que se fingiram de “espertos” e criaram um grave problema, diria Mendes em
Lisboa no dia seguinte. A vitória da “chicana”, disse à reportagem Eugênio Aragão,
ex-ministro da Justiça. Está lá, no Dicionário Houaiss: chicana é abuso dos
recursos, sutilezas e formalidades na Justiça, é manobra capciosa, e por aí vai.
O dono do bordel Bahamas, à vista dos seus heróis, serviu cerveja grátis quando Lula foi preso
Na prisão desde 7 de abril, Lula lê o livro A Elite do Atraso e tem uma tevê, única
concessão de Sergio Moro. Na terça-feira 10, nove governadores amigos dele, a
maioria do Nordeste, tentaram, mas não puderam visitá-lo, pois o juiz não deixou.
Saíram dali a anunciar que iriam a Cármen contra os “abusos” de Moro. Adianta?
Entre antipetistas, a mineira é vista quase como uma versão feminina do juiz de
Curitiba, ao menos no caso Lula. Quando Lula decolava em um avião da PF do
Aeroporto de Congonhas rumo a Curitiba, alguém disse na frequência de rádio da
Aeronáutica: “Leva e não traz nunca mais”. Na chegada ao destino, outra pérola:
“Manda esse lixo janela abaixo”. Os áudios são autênticos, mas, segundo a FAB, as
frases não foram ditas por controlador de voo, a frequência é aberta e pode ser
acessada por estranhos. Esquisito. Após o comentário sobre o “lixo”, uma voz
feminina pede cuidado e que fosse usada a “fraseologia” padrão, pois a gravação
da conversa poderia ser usada contra todos ali.
Na
As autoridades barradas por Sergio Moro pretendem recorrer a Carminha. Adianta?
Mas até que Carminha pode ser dura com conterrâneo – ao menos se for petista.
Acusado de corrupção na Operação Acrônimo, o governador Fernando Pimentel
conseguiu do STJ, em outubro de 2016, uma decisão que impunha autorização
prévia da Assembleia Legislativa ao andamento de processos contra ele. A
oposição a Pimentel achava o contrário e foi ao Supremo, com uma ação que, para
vencer, precisava de no mínimo 6 dos 11 votos, regra em questões constitucionais.
A ação foi julgada em março de 2017, com dois juízes ausentes. Houve 5 votos a
favor da ação e 4 para ela ser arquivada com base em um argumento da PGR.
Cármen poderia ter encerrado o julgamento, e Pimentel venceria. Resolveu tirar o
caso de pauta e esperar um dia sem desfalques. Quando isso ocorreu, Pimentel
perdeu. “Foi vingança da Cármen”, afirma um advogado que transita nas cortes de
Brasília. O motivo, diz, é que na época em que Lula a indicou ao STF, em 2006,
Pimentel apoiava outra procuradora mineira, Misabel Derzi.
Terminal de Libra: para Temer, os problemas no Porto de Santos avolumam-se
Libra tinha um contrato de 1998 com o Porto que foi renovado em setembro de
2015. Ao mesmo tempo, as duas partes fizeram um acordo para resolver fora dos
tribunais uma disputa de 2,8 bilhões de reais em valores de hoje. A solução da briga
através de arbitragem foi possível graças à parceria Temer-Cunha na votação, em
2013, de uma medida provisória baixada por Dilma Rousseff em 2012. A
autorização para a arbitragem foi dada nessa lei. Para ir à arbitragem, Libra e o
Porto teriam de concordar em tirar da Justiça as ações movidas contra o outro lado.
Agora se sabe que o Porto se esqueceu, digamos assim, de retirar uma delas. A
única que perdia, uma lambança – se é que foi lambança – de mais de 2 milhões de
reais.
Fornazari Jr. dispunha-se a investigar Aécio. Logo desistiu. O ministro Edinho, nomeado por
Dilma, prometia salvar Temer
Esse caso começou em 2008 na 2a Vara Cível de Santos. O Porto processou Libra,
mas errou o nome de Libra na ação. A barbeiragem bastou para o juiz Claudio
Teixeira Villar arquivar o assunto. Os advogados de Libra queriam seus honorários
mesmo assim. Convenceram o juiz e este, em junho de 2015, determinou ao Porto
que pagasse 1,3 milhão de reais, mais 1% de multa e um adicional de 10% adiante.
Naquele momento, Libra, o Porto e o Ministério dos Portos negociavam os termos
da arbitragem. Era a chance de os órgãos públicos matarem a ação de 2008 e
pouparem o Erário. Em 2 de setembro de 2015, saiu o acordo quanto aos termos da
arbitragem. O primeiro a assinar era o então ministro dos Portos, Edinho Araújo.
Que Temer havia pressionado para Dilma nomear, pois era a garantia de salvação
de Libra. Pelo acordo, nove ações seriam retiradas da Justiça. A da 2a Vara Cível
não estava na lista.
Em dezembro de 2016, o juiz Villar fixou os valores finais que o porto teria de pagar
aos advogados de Libra: 2,1 milhões de reais. O pagamento foi feito, e o caso
acabou em junho de 2017. Quem recebeu a grana foi o escritório do advogado
Daltro de Campos Borges Filho, defensor de Libra na arbitragem. “Com esse valor,
e dado o pouco trabalho que o escritório teve nessa ação, foi como se o Porto
tivesse antecipado os honorários dos caras para a arbitragem”, diz uma pessoa
participante da disputa arbitral entre Libra e Santos. Será que Edinho e o Porto
deixaram a ação de 2008 de fora para ajudar Libra a custear os advogados? É de
4,5 milhões o honorário da banca que atende o Porto, Wald Advogados. Com esse
tipo de rolos a cercá-lo, que cara e discurso Temer levaria dias 13 e 14 à Cúpula
das Américas sobre corrupção, desfalcada de última hora de Donald Trump e sem
Nicolás Maduro, da Venezuela, contra quem, parece, o encontro seria usado? E aí,
presidente da República Cármen Lúcia, qual o palpite sobre o desempenho do
amigo? •
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CRÉDITOS DA PÁGINA: Wilson Dias/ABr, Douglas Magno/AFP, Nelson Jr/STF, Rosinei Coutinho/STF, Bob
Duarte/Fotoarena, Antonio Cruz/ABr, Joka Madruga/Ag. Pt, José Patrício/Estadão Conteúdo, Marcelo Camargo/Abr,
Gerdan Wesley e Rovena Rosa/ABr
Uma multidão de Lulas
Quem são e o que pensam os acampados nas imediações da Superintendência da
Polícia Federal em Curitiba
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“Não tenho dúvidas de que ele é um preso político e lutar por sua
liberdade é lutar pela nossa liberdade”, diz o jornalista uruguaio
Gabriel Mazzarovich
A professora Claudia Schmidt distribui roupas e providencia banho para quem precisa
Na
Ari Xavier e outros 109 pequenos agricultores saíram de Pinhão para a vigília em Curitiba
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A análise desse caso emblemático tem sido feita por inúmeros juristas, inclusive
pelos que reuniram seus pontos de vista no livro Comentários a uma Sentença
Anunciada: O processo Lula, para o qual contribuí com o texto “A sentença de Lula
como medida de exceção”.
O processo penal contra Lula serviu apenas para maquiar a persecução política da
qual é vítima, o que se evidenciou do começo aos últimos momentos do processo
antes da sua prisão. O ex-presidente foi julgado por uma acusação logicamente
incongruente e condenado por uma causa criada na hora da sentença, deslocada
da acusação original contra a qual se defendeu.
Depois, seguiram-se a rejeição do pedido de habeas corpus pelo STF e a forma
abrupta como se deu a ordem de prisão, descumprindo decisão da própria Corte,
que determinava que a execução da pena ocorresse somente após o fim do
processo em segunda instância.
O que talvez não estivesse previsto é que trabalhadores e militantes, por meio da
sua mobilização e comovido apoio, recuperariam a ideia de dignidade política do ex-
presidente, gerando solidariedade em todo o ambiente da esquerda democrática no
mundo.
Quando Lula disse que não era mais uma pessoa, mas uma ideia, traduziu essa
percepção. Ao defender sua vida simbólica com um ato de aparente desobediência
civil, que não foi de fato uma desobediência, pois ele não se contrapôs à máquina
judiciária do Estado, Lula mostrou que as arbitrariedades lançadas contra si não
foram suficientes para aniquilá-lo. Antes, o simbolismo do ato no sindicato dos
metalúrgicos, onde o ex-presidente se viu cercado pela proteção e pela resistência
dos trabalhadores, demonstrou que Lula está vivo e, ao menos no campo das
ideias, ainda mais forte. •
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No sábado 7 o juiz Sergio Moro realizou seu último ato espetacular ao prender o ex-
presidente Lula. Foi o dia D da Operação Lava Jato. Consumou-se a farsa judicial,
marcada por uma condenação sem provas, um processo repleto de irregularidades
e o flagrante desrespeito da maioria do Supremo Tribunal Federal à Constituição,
no que tange à prisão sem trânsito em julgado. O processo do triplex era, de longe,
o mais frágil de todos os movidos contra Lula, ao ponto de fazer lembrar O
Processo, de Franz Kafka. Mas era o único capaz de inviabilizar sua candidatura,
dados os prazos judiciais.
Foi uma condenação sob encomenda, com viés casuístico e eleitoral. Manteve-se a
aparência do rito judicial, em alguns momentos nem isso, mas as cartas estavam
marcadas. Visivelmente, Moro e os trigêmeos do TRF4 tinham pronto o juízo
condenatório antes mesmo de qualquer audiência. A defesa não era escutada,
apenas tolerada ritualmente. Lula é, portanto, um preso político.
No caso dos militares, a situação é ainda mais preocupante. Não por se tratar da
enésima bravata anacrônica e corporativista, recorrentes nas últimas décadas, de
algum general de pijama. Desta vez, atentando diretamente contra o próprio código
disciplinar das Forças Armadas, quem se colocou politicamente foi o próprio
comandante do Exército Brasileiro, o general Eduardo Villas Bôas. O que deveria
ser tratado como uma questão de Estado, para o golpista Michel Temer e seu
ministro da Defesa tratou-se de mera questão de liberdade de expressão.
O efeito mais deletério dessa espiral antidemocrática e fascista seria revelado,
porém, no seio da sociedade brasileira, com uma escalada de ódio, sectarismo e
intolerância. A intervenção militar no Rio de Janeiro seria sua expressão
institucional. Os ataques à Caravana de Lula, a coroação social de acosso
e censura experimentados nos últimos meses. Lembremos das exposições culturais
fechadas por razões ideológicas, com manifestos episódios de agressões físicas e
intolerância, como aqueles que sucederam recentemente em São Paulo nas
palestras da filósofa americana Judith Butler. A maior e mais grave expressão foi o
bárbaro assassinato da nossa companheira Marielle Franco, que, apesar de
comover o País, passado um mês de sua morte, continuamos sem saber quem
disparou os tiros.
A situação obriga a nós, democratas, a uma reflexão profunda. Se não for por
disposição política, que seja então por uma questão de sobrevivência: contra o
fascismo, contra a barbárie, não se brinca. Ou nos unimos ou morremos. Quantos
mais de nós necessitam ser presos? Quantos mais de nós necessitam ser mortos?
Quem diria que 30 anos após a Cons-tituição que selou o fim da ditadura no Brasil,
ainda teríamos de continuar a assistir à morte de quem defende o que acredita e
outros serem presos por decisão política.
Diante dessa situação, urge uma Frente Democrática e Antifascista. Nesses
momentos nos quais a História se acelera, não existe espaço para dúvida. A besta
do fascismo pôs suas garras para fora. É nosso dever nos unir para enfrentá-la, nas
ruas e nas urnas.
Enfrentá-la por justiça no caso de Marielle Franco, pela liberdade de Lula... E pelo
resgate da democracia e pelo respeito à vontade soberana do povo. •
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Estive entre aqueles que achavam que havia espaço para Lula
resistir por mais tempo em São Bernardo. Respeito, no entanto, sua
decisão
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Agressões não se justificam, tampouco o fato de a mídia ser bastante agradável para uns e
desagradável com outros
Os
A mídia realimenta simplificações no afã de manipular a massa informe dos Homer Simpsons,
confessou Bonner
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O problema é que aportar recursos dessa forma não daria poder de voto adicional
ao Brasil no FMI. A reforma da instituição caminhava devagar. Havia sido aprovada
a reforma de quotas e governança de 2008, que melhorara um pouco a posição
relativa do Brasil e de outros países em desenvolvimento em termos de poder de
voto. Mas a segunda etapa da reforma, que prometia avanços mais expressivos,
estava ainda em negociação.
Manifestei ao governo brasileiro a minha avaliação de que seria melhor obter
avanços em termos de reforma da governança do FMI antes de fazer qualquer
empréstimo. O presidente Lula não aceitou as minhas ponderações e autorizou a
abertura de uma linha de crédito de 10 bilhões de dólares ao fundo.
Não demorou muito para que ficasse claro para mim que ele estava certo e eu
errado. O tino político do presidente valeu mais do que os cálculos do economista.
O impacto da decisão foi enorme, tanto fora quanto especialmente dentro do País.
O Brasil, devedor contumaz, e às vezes relapso, estava agora na condição de
credor da mais importante instituição financeira multilateral. Foi um verdadeiro tiro
de canhão no nosso proverbial complexo de vira-lata.
Além disso, a operação se revestia de características especiais. O FMI é um risco
de crédito sólido, a remuneração não era muito inferior à rentabilidade média das
nossas reservas internacionais e qualquer desembolso feito ao abrigo da linha de
crédito tinha liquidez total assegurada pelo FMI e poderia, portanto, continuar a ser
contabilizado como parte das reservas brasileiras. Mudava a composição, não o
nível das reservas.
Outro traço notável de Lula: o poder nunca lhe subiu à cabeça e nunca o afastou
das suas raízes. Passei os últimos dez anos no exterior, primeiro em Washington e
depois em Xangai, mas sempre que vinha ao Brasil procurava fazer uma visita a
ele. Numa dessas visitas, aconteceu algo curioso.
Ao final do nosso encontro, ele me perguntou se eu não gostaria de participar da
próxima reunião na sua agenda, que era com as lideranças de catadores de lixo.
Aceitei e acabei presenciando um diálogo muito interessante. Vieram lideranças do
Brasil inteiro, homens e mulheres, pessoas articuladas e inteligentes,
representantes de um movimento social organizado. Lula conhecia todo mundo e
mostrou impressionante domínio dos detalhes do trabalho dos catadores, da história
do movimento e das suas reivindicações.
O que mais me ficou na lembrança foi, porém, a natureza da relação entre Lula e as
lideranças de um movimento popular. A relação era de respeito, mas não de
veneração e muito menos adulação. As lideranças questionavam, sem
constrangimento, algumas das afirmações de Lula, que aceitava as contestações
com toda naturalidade. Era o diálogo franco e substantivo de um líder político
natural, autenticamente democrático, com integrantes da sua base social.
Saí dali energizado, confiante de que o Brasil estava entrando em nova etapa da
sua história. •
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Na intervenção francesa em Argel, a casbah sofreu o mesmo cerco que agora agride as favelas no
Rio
O que mudou desde aqueles dias? Hoje não há mais a União Soviética, mas o
Exército está sendo treinado para defender interesses que não são os do povo
brasileiro. Em plena Guerra Fria, em 1963, a convite do presidente John Kennedy,
que conhecia a experiência dos franceses em duas guerras coloniais (na Indochina
e na Argélia), oficiais franceses foram enviados aos Estados Unidos para ministrar
aos americanos as lições da Batalha de Argel. Entre os oficiais estava o então
coronel Paul Aussaresses, que escreveu dois livros sobre suas experiências
naquelas guerras e a quem entrevistei longamente para meu livro A Tortura como
Arma de Guerra, da Argélia ao Brasil.
As técnicas dos interrogatórios sob tortura eram o cerne da doutrina francesa, para
combater a “guerra revolucionária” teorizada por Mao Tsé-tung. Confrontados aos
vietcongues na então Indochina francesa e, posteriormente, aos independentistas
na Argélia, então departamento da França, os franceses desenvolveram a chamada
“guerra moderna” teorizada no livro homônimo do coronel Roger Trinquier.
A Indochina foi um verdadeiro laboratório para os franceses. Nessa primeira guerra
de libertação nacional que enfrentavam, os militares franceses se depararam, como
ensinariam depois, com “um inimigo sem uniforme, extremamente móvel,
disseminado na população civil, combatendo através de táticas de guerrilha”.
As
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O médico Eugênio Scanavino, um dos fundadores da ONG Saúde & Alegria, que
atua no oeste do Pará, conta ter se mudado para a região para trabalhar em postos
de saúde. Nos últimos anos, transformou-se, porém, em especialista em projetos de
saneamento básico. “Quando chegava no trabalho pela manhã ia fazendo a
separação na fila, a maior parte dos casos era de diarreia, doença causada pelo
consumo de água contaminada.” Segundo ele, crianças que sofrem de forma
recorrente com diarreias podem ter sua capacidade intelectual comprometida. “O
cérebro é o órgão que mais demanda água nas crianças.” Desde então, a ONG sob
sua direção tem se especializado em implantar sistemas de tratamento de água em
comunidades ribeirinhas na região do Rio Tapajós.
Para zerar o déficit de saneamento até 2032, o Brasil precisaria de 317 bilhões de
reais em investimentos, ou cerca de 16 bilhões por ano, além de melhorar o
planejamento e a gestão nessa área, segundo a organização Trata Brasil, que
compila e analisa informações sobre água e saneamento. Há ainda questões como
o modelo de gestão, baseado principalmente em grandes obras de captação e
transposição de águas, mas pouco vinculados aos ciclos na natureza.
O coordenador do Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos da
Unesco, Stefan Uhlenbrook, que esteve no Fórum Mundial da Água, em Brasília,
alertou para a necessidade de maior aprendizado com a natureza, como a
preservação de nascentes e outras providências de controle da poluição e
degradação de mananciais.
“É preciso observar como a natureza amplia a produção de água de qualidade”,
disse Uhlenbrook, e alertou que a maior oferta de produtos agrícolas nos próximos
anos vai depender de uma gestão não apenas como um elemento isolado, mas
como parte integrante de um processo natural complexo que envolve evaporação,
precipitação e absorção pelo solo.
O Brasil não é um ponto fora da curva, quando se trata de falta de saneamento e
poluição das águas. A ONU alerta que a situação tem piorado em 20 países e que a
universalização dos serviços de coleta e tratamento de esgotos está muito lenta em
outros 89. Em apenas 14 nações a cobertura de saneamento avança para a
universalização em até 12 anos.
Os números podem ser entendidos de maneira mais clara. São 2 bilhões de seres
humanos sem acesso à água potável no mundo e quase 1 bilhão sem instalações
sanitárias. Os dados constam do rascunho do relatório de monitoramento global da
ONU para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, que prevê garantir a
disponibilidade e a gestão sustentável da água e do saneamento para todo o
planeta até 2030. •
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A Reinaldo Canto
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O Conselho Mundial da Água não é um órgão das Nações Unidas, como alguns
podem imaginar, mas uma organização com forte lastro na sociedade civil e
apoiada por governos e empresas com visões integradas. De sua sede na
mediterrânea cidade francesa de Marselha, um brasileiro coordena a realização do
Fórum Mundial nas mais diversas partes do mundo.
O Banco Mundial estima que, para o mundo ter acesso ao abastecimento de água e
saneamento até 2030, seriam necessários investimentos em torno de 50 bilhões de
dólares anuais (165 bilhões de reais, aproximadamente).
Benedito Braga, presidente do conselho desde 2012, integra um seleto time de
brasileiros que participam da grande política global, entre eles Roberto Azevedo,
diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, e José Graziano, diretor-geral
da FAO, órgão das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
Braga é autoridade no assunto. Foi diretor da Agência Nacional de Águas e
presidente do Conselho Brasileiro do Programa Hidrológico Internacional da
Unesco. É também secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de
São Paulo e professor da USP.
CC: O Brasil tem algo a compartilhar com o mundo quando o assunto é água?
BB: O País tem um aparato legal institucional muito sofisticado, com a participação
da sociedade civil nos comitês de bacia para a tomada de decisão. Foi importante
compartilhar essas experiências com o resto do mundo. Temos aqui uma das
maiores reservas de água doce do planeta, mas em cenários muito distintos. Hoje,
além da escassez em grandes centros urbanos como São Paulo e Brasília, os
gestores têm de lidar com excessos de chuvas e locais onde a seca é histórica.
Esses fatores têm ajudado a avançar na governança, na engenharia e a estimular a
pesquisa.
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contaminação da Hydro
Ao menos nove rios e igarapés do estado do Pará estão com níveis de metais
tóxicos acima do limite legal, após o vazamento de um depósito de rejeitos da
mineradora Hydro, em Barcarena. A informação consta no segundo relatório técnico
do Instituto Evandro Chagas sobre denúncias de impactos ambientais e riscos à
saúde humana nas atividades de processamento de bauxita dessa empresa de
mineração, divulgado no início de abril.
De acordo com o relatório, há níveis consideráveis de arsênio, chumbo, manganês,
zinco, mercúrio, prata, cádmio, cromo, níquel, cobalto, urânio, alumínio, ferro e
cobre. O médico e pesquisador do Instituo Evandro Chagas, Marcos Mota, destacou
que ainda é preciso investigar mais os danos provocados à saúde dos moradores
das comunidades atingidas.
Marco regulatório
A criação de um marco regulatório brasileiro para a água, a envolver governos,
setor privado e sociedade civil, é a principal recomendação do relatório final do
Water Business Day, que condensa as discussões do evento realizado durante as
atividades do Fórum Mundial da Água, em Brasília.
Os esforços da Rede Brasil do Pacto Global, da Confederação Nacional da Indústria
e do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável,
responsáveis pelo diálogo entre as empresas, pretendem fazer com que o Objetivo
do Desenvolvimento Sustentável 6 (água potável e saneamento) seja parte de uma
linguagem comum compartilhada entre as companhias e sua rede de
colaboradores. As discussões passaram por três eixos temáticos: Negócios
circulares, Riscos e Monitoramento e Gestão.
O glossário da ONU
O
Lombardo, da Unesco
Notícias falsas
A
principal notícia falsa sobre a água que tem circulado nas redes sociais destaca
uma suposta privatização ou venda do Aquífero Guarani, reserva subterrânea de
água que tem 1,2 milhão de quilômetros de extensão. Ao todo, 70% do aquífero
está em solo brasileiro e corta oito estados. O aquífero está protegido por acordos
internacionais. Os quatro países abastecidos (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai)
assinaram documento que estabelece um projeto conjunto. O boato começou em
janeiro do ano passado e baseia-se em um encontro de Michel Temer com
executivos da Nestlé em Nova York. Retornou depois na versão de que um
conglomerado formado pela Coca-Cola, AmBev, PesiCo e Nestlé estariam
tramando para comprar a reserva. Mais falso do que nota de 3 reais.
Nobel
Água para o futuro é o desafio mais urgente que o mundo deve enfrentar. O alerta
foi feito pelo especialista holandês Pavel Kabat, CEO do Instituto Internacional de
Análises de Sistemas Aplicados. Kabat é um dos ganhadores do Prêmio Nobel da
Paz, em 2007, pelo trabalho de suporte para o relatório do IPCC sobre mudanças
climáticas. “Quando meus colegas cientistas argumentam que precisam pesquisar
mais e buscar mais dados, respondo que isso é uma desculpa, pois temos
condições de traçar modelos direcionados a países ou regiões para oferecer
soluções que garantam a segurança hídrica necessária ao desenvolvimento e à paz
mundiais.”
Kabat afirma ter feito um alerta em 2012, na Rio+20, a respeito da crise de energia
e em menos de um mês foram arrecadados 500 bilhões de dólares para promover o
acesso universal. Porém, ele faz um alerta: “Talvez a água não tenha o mesmo
apelo para a solidariedade global”. •
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Requisitos. Vargas fez a CSN com capital dos EUA, mas estabeleceu condições e só assumiu a
FNM porque o empresariado local não se interessou
Banidas. Kasinski e Mindlin deram padrão mundial à Cofap e à Metal Leve, mas tiveram de
vendê-las quando FHC valorizou artificialmente o real
industrial sofreu as consequências do aprofundamento do abismo entre as
condições de operação das empresas brasileiras em comparação às das suas
concorrentes nos países avançados. Fundou a Filtros Fram em 1964 e comandou-a
até 1991, quando vendeu o controle ao grupo britânico Sogefi Filtration. “Não
tínhamos a mínima condição de continuar. Onde obter recursos para crescer, fazer
fábricas para o mundo? Os nossos ícones eram a Cofap e a Metal Leve, todo
mundo queria ser como eles. Mas nem eles aguentaram.” A Metal Leve, fundada
por José Mindlin, foi vendida à alemã Mahle em 1996 e, no ano seguinte, a Cofap,
criada por Abraham Kasinski, teve o controle adquirido pela italiana Magneti
Marelli.
Por que, questiona Fonseca, a burguesia brasileira, que tinha vencido heroicamente
as etapas iniciais da industrialização, quando chega nos anos 1950 resolve aceitar
a internacionalização? Por que o Brasil não tem uma indústria automobilística
nacional, se mesmo países com mercados menores como a Itália, a Suécia e o
Japão, entre outros, implantaram o setor? Ele mesmo responde: “Vargas tentou
fazer a Fábrica Nacional de Motores e o País tinha todas as condições para
desenvolver o setor. Automóvel não era mais uma tecnologia impossível de
dominar, mas os empresários locais não foram adiante nisso. Repare, o Estado teve
de bancar a própria FNM porque eles ou não tinham interesse, ou não tinham
fôlego, ou achavam mais fácil se associar ao capital estrangeiro.” Kubitschek,
prossegue Dutra, queria, entretanto, acelerar, avançar 50 anos em 5 (era seu lema),
e aí tinha de ser com o capital estrangeiro, que já vem com a tecnologia pronta. Ao
passo que, se fosse investir em tecnologia, fazer pesquisa, levaria mais tempo.
Outras nações optaram por esse caminho mais demorado, de desenvolver sua
própria tecnologia.
Ao
Imediatismo. Os 50 anos em 5 de JK só seriam viáveis com capital e tecnologia estrangeiras, mas
ao acelerar, o País abriu mão de influenciar seu futuro
Fica
Alicerces. Com um povo pobre o Brasil jamais sairá do atraso, alertou Simonsen. A Hyundai de
Chung é exemplo de sucesso com importante papel do Estado
Simonsen alertava também que, enquanto o País tivesse um povo pobre, mal
remunerado, jamais conseguiria sair do atraso. Costumava repisar os objetivos da
Conferência de Teresópolis, das classes produtoras, realizada em 1945, por ordem
de importância: combate à pobreza, aumento da renda nacional, desenvolvimento
das forças econômicas, implantação da democracia econômica e obtenção da
justiça social.
Os empresários de hoje, salvo raras exceções, querem distância dessas reflexões.
Em suas pesquisas para a biografia Roberto Simonsen Prelúdio à Indústria, Luiz
Cesar Faro e Mônica Sinelli constataram o quanto é profunda a ojeriza das
chamadas classes produtoras de hoje ressalvadas as exceções aos ensinamentos
do primeiro presidente da CNI. Os autores vasculharam entidades de classe,
entrevistaram partidários da industrialização, buscaram obter registros, comentários
e opiniões sobre o biografado, mas o resultado foi frustrante: “Não tivemos êxito. O
silêncio do empresariado sobre Roberto Simonsen é ensurdecedor. Ele ressoa o
abandono do ideário de entrega e luta em prol do desenvolvimento nacional. É o
depoimento mais expressivo: o que não figura na obra”. •
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Isso
ajuda a explicar a dramática queda de humor dos últimos seis anos. Creio que ela
se deve à frustração dos resultados sociais e econômicos das últimas duas
décadas. A tabela mostra o torturado caminho da economia brasileira a partir do
magnífico Plano Real, que nunca terminou... FHC fez um bom governo para o
“andar de cima”, que vê melhor o longo prazo. Pôs fim à inflação, mas o aumento
da disponibilidade de bens e serviços foi medíocre. Deixou uma relação dívida
bruta/PIB de 78,8%. A “sociedade” avaliou-o, na saída do governo, com uma
sinalização de ótimo/bom de 26% no Datafolha. Lula, beneficiado por uma
conjuntura externa, foi direto ao “andar de baixo”: o PIB per capita cresceu 3,6
vezes mais do que seu antecessor. Terminou fiscalmente bem com uma redução da
dívida/PIB para 63,0%. Saiu consagrado. O Datafolha deu-lhe 83% de aprovação
ótimo/bom. Graças a isso elegeu Dilma, que, infelizmente, dissipou, anualmente,
0,5% do PIB per capita. Transformou os superávits primários em déficits e deixou
uma dívida/PIB de 78,3%. Uma tragédia que lhe deu, no final, uma apreciação
ótimo/bom de apenas 13% no Datafolha.
Para entender o mau humor atual basta olhar o gráfico, onde se registra um índice
de bem-estar social (o PIB per capita que dá a disponibilidade de bens e serviços)
multiplicado pelo complemento do Índice de Gini (que sugere como ela se distribui).
A partir de 2014, ele praticamente despencou e voltou ao nível de 2008. Se você é
do povo, tem razão de estar de mau humor. •
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Mistério. Por que Assad teria usado armas químicas e causado uma crise quando rebeldes e suas
famílias já pegavam os ônibus para Idlib?
Não é a primeira vez que um ataque com gás venenoso, cujos efeitos foram
aparentemente registrados em vídeo e testemunhados por médicos e socorristas
ligados à oposição síria e ao Jaysh al-Islam, ouvidos pela Organização Mundial da
Saúde, é posto em dúvida, não só pelos governos sírio e russo, como também por
muita gente séria no Ocidente. Escaldou a todos o episódio das “armas de
destruição em massa” de Saddam Hussein, construído em torno de mentiras
conscientes de George W. Bush, Tony Blair e respectivas equipes de governo,
como hoje ninguém duvida.
A maior das razões para o ceticismo é a falta de lógica do suposto ataque do
sábado 7. A batalha por Ghouta Oriental estava praticamente decidida. Douma é
apenas um pequeno e insustentável resíduo do antigo enclave rebelde, quase todo
retomado pelas forças de Damasco desde fevereiro. A grande maioria dos
militantes das organizações islâmicas que ali haviam resistido desde 2012 aceitara
o acordo para sua evacuação e tomava os ônibus para o reduto rebelde de Idlib
com suas famílias. Por que Assad arriscaria sua vitória em Ghouta e talvez o
próprio regime usando desnecessariamente uma arma que serviria de pretexto a
uma intervenção internacional? A mesma dúvida pairava em agosto de 2013,
quando outro suposto ataque químico em Ghouta, nos povoados de Ein Tharma e
Zamalka (hoje controlados pelo governo) serviu de justificativa a Barack Obama e
Hillary Clinton para articular uma intervenção na Síria, afinal frustrada pela oposição
de Moscou e substituída por um acordo para a destruição do arsenal químico sírio
(ou de sua parte mais perigosa) até junho de 2014.
O andamento da guerra nesses mais de sete anos não confirma a tese de que
Assad ou seus generais pressionados a liquidar rapidamente a fatura sejam tão
estúpidos. O grupo sitiado em Douma, o Jaysh al-Islam, dispõe de armas químicas
e em 2016 admitiu seu uso contra curdos em Alepo. Entretanto, Estados Unidos e
Rússia torpedearam as propostas uns da outra no Conselho de Segurança da ONU
para investigar a questão por divergências sobre a formação da comissão e seus
poderes para responsabilizar culpados.
Entre outras coisas, a crise serve de pretexto a Donald Trump para distrair a
atenção da política interna. Na segunda-feira 9, o FBI fez buscas na casa e
escritório do seu advogado Michael Cohen em Nova York, nas quais apreendeu
documentos sobre vários assuntos, inclusive pagamentos à atriz pornô Stormy
Daniels e à modelo Karen McDougal por relações sexuais e seu encobrimento. Isso
sinaliza a convicção de juízes federais e investigadores de alto nível sobre a
probabilidade de encontrar evidências de crimes sérios. Cabe a analogia com o
ataque gratuito de Bill Clinton a uma suposta fábrica de armas químicas no Sudão
(que mais tarde se comprovou ser apenas uma indústria farmacêutica) em agosto
de 1998, às vésperas de uma eleição legislativa e da fracassada tentativa
de impeachment por falso testemunho quanto ao caso extraconjugal do presidente
com a estagiária Monica Lewinsky.
Nos
dois
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No teatro de guerra brasiliense, Dilma recebe flores de mulheres anônimas, em abril de 2016; em
maio de 2017, Temer devolve as flores aos manifestantes em forma de bombas
Os jogos de espelhos são muitos, e todos perturbadores. Seja por ideologia ou pela
contingência dar voz privilegiada ao lado dilmista (ou por ambos os motivos), O
Processo faz-se palco de inúmeras denúncias contra o cerceamento de defesa de
Dilma numa engrenagem artificial, de encenação e de exceção. Cada uma das
denúncias pode se espelhar com assustadora simetria aos cerceamentos que hoje
cercam o processo contra o ex-presidente Lula e com a prisão dele em 7 de abril.
Na derrubada de Dilma estavam em primeiro plano os atores legislativos, como hoje
os atores judiciários são protagonistas da tentativa de retirar Lula da disputa
presidencial de 2018. A mídia hegemônica, ativista dos dois momentos (e de todo o
processo), está quase totalmente ausente do filme de Maria Augusta. O Processo
foi bancado pela produtora da cineasta, NoFoco Filmes, com coprodução do Canal
Brasil, um canal de tevê por assinatura resultante da associação da Globosat com o
Grupo Consórcio Brasil, formado por Luiz Carlos Barreto e outros produtores e
cineastas nacionais. O pingue-pongue entre o passado recente da queda de Dilma
e o presente da prisão de Lula se torna evidente quando o ex-presidente aparece
pela primeira vez em O Processo, ao lado de Chico Buarque, para acompanhar o
depoimento de Dilma aos carcereiros legislativos do Senado. Lula entra mudo e sai
calado de O Processo.
O
A acusadora Janaina: personagem patético derretendo em público por 45 dinheiros
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CRÉDITOS DA PÁGINA: Roberto Stuckert Filho/Pr, Andressa Anholete/AFP e Edilson Rodrigues/AG. Senado
FOTOGRAFIA E o Brasil abraçou Lula
A história de uma foto que vai ficar para a história, tirada por um fotógrafo
autodidata de 18 anos
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Ele
não
usou drone. A foto da década foi feita do segundo andar do prédio do Sindicato dos
Metalúrgicos de São Bernardo com uma câmera Canon 6D fixa e lente de 35 mm.
Fotógrafo autodidata de 18 anos, Francisco Proner foi o autor da imagem mais
disseminada do universo político brasileiro nos últimos anos, publicada no Le
Monde, El País, New York Times, Página 12 e, a contragosto, em alguns dos
principais jornais brasileiros. Um abraçaço gigantesco em torno do presidente Lula
no momento em que este saiu do sindicato, no último sábado, dia 7.
CC: Por que você faz fotojornalismo? É um momento de crise, tenho muitos amigos
fotógrafos que reclamam da profissão, e você tem 18 anos. O que o levou a
escolher essa linguagem?
FP: Eu não sei como te responder isso. O que eu queria deixar explícito é que o
fotógrafo não pode ser mais importante do que a foto e o que ela representa. Essa
foto subverteu a lógica da Lava Jato e ajudou a mudar a forma como a Operação é
vista pela opinião pública nacional e internacional.
Se é possível uma nesga de luz na treva, Edson Luís (que em 2018 poderia se
chamar Marielle) Teles entrega-a a uma filósofa alemã morta em 1975, quando seu
pai ainda estava na prisão: “Neste abismo entre o passado e o futuro é sempre bom
lembrar de Hannah Arendt, para quem os ‘tempos sombrios’ podem ser uma
abertura para processos criativos”.
Elis, Vanusa, Elba Ramalho: a música de Belchior sempre alcançou com grande
impacto as mulheres cantoras brasileiras, que a impulsionaram à frente para
diversos públicos. Agora, no mês em que se completa um ano da morte do cantor e
compositor cearense, as cantoras Ana Cañas (paulistana), Karina Buhr
(pernambucana) e Taciana Barros (paulistana, ex-Gang 90), de gerações
diferentes, fazem uma leitura muito especial do repertório do artista.
Num contraponto literário e cênico, a atriz Martha Nowill faz a “amarração” do show
lendo trechos de letras de canções e da biografia do compositor, Belchior: Apenas
um rapaz latino-americano (Editora Todavia), de 2017. Além das cantoras, também
participam os músicos Igor Brasil e Thiago Barromeo.
TEATRO Um Mundo De Utopias
Por Eduardo Nunomura
O DEUS DINHEIRO
De Karl Marx, com ilustrações de Maguma.
Boitatá/Boitempo. 64 págs. 69 reais.
O dinheiro é um deus onívoro com cara de porco (ou PIG), à moda dos capitalistas
como eram representados pelos Panteras Negras norte-americanos dos anos 1960.
O autor do livro infantil O Deus Dinheiro é um tal Karl Marx (1818-1883). “A minha
força é tão grande quanto a força do meu dinheiro”, proclama o filósofo em poucas
palavras, aqui destinadas mais a servirem de moldura para as ilustrações do
espanhol Maguma. A editora Ivana Jinkings busca atingir com esse título e com O
Capital para Criançasum público livre do movimento Escola sem Partido, porque
ainda nem chegou à escola.
CartaCapital: Qual a ideia por trás de lançar O Deus Dinheiro pelo selo infantil da
Boitempo?
Ivana Jinkings: O lançamento deste título, assim como o de O Capital para
Crianças, é parte da programação da Boitempo no bicentenário de Karl Marx. O
Deus Dinheiro é baseado em extratos do célebre texto de Marx sobre o dinheiro
nos Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844. Já O Capital para Crianças segue
os moldes desses livros de “pequenos filósofos”, em que uma ideia de um grande
pensador é apresentada de forma simplificada às crianças, sem qualquer tipo de
julgamento ou “doutrinação”.
CC: Como foram selecionados os trechos do jovem Marx que iriam compor a
narrativa?
IJ: Tudo começou quando Maguma, Marcos Guardiola, o ilustrador do livro, foi
aceito para participar de uma residência artística de dois meses para ilustradores da
Tara Books. O desabafo raivoso do jovem Marx sobre o consumismo desenfreado e
o poder do dinheiro sobre a sociedade pareceu-lhes um ótimo ponto de encontro.
Na residência artística na Índia, Maguma teve a chance de visitar cinemas,
conhecer a arte de rua e expressões populares, e justamente por isso as ilustrações
mesclam tão bem referências europeias (há algo de Bosch no caos representado)
com elementos visuais indianos, como as referências explícitas a divindades
hindus.
CC: Trata-se de um conto de terror para crianças? De um conto de fadas com final
infeliz para adultos?
IJ: Não! Com base no relato bíblico da Queda, Maguma cria um mundo surreal, no
qual existe a mesma desigualdade entre ricos e pobres, no qual o dinheiro, o
pecado original, se conecta com o mundo globalizado. É indicado para crianças dos
12 aos 102 anos de idade.
Marx – Uma biografia em quadrinhos é outra publicação que chega para simplificar
o que parece complicado, e muitos fazem questão de nem entender. O livro, no
formato de história em quadrinhos, apresenta a vida do filósofo alemão e como suas
ideias foram sendo concebidas. Com linguagem simples, a HQ mostra a visão de
Marx sobre a luta de classes e como ela era a forma possível para resistir ao
avanço do capitalismo. Episódios relevantes, como a escrita do Manifesto
Comunista ou de O Capital, estão presentes. “Sou um capitalista ruim, mas espero
ser um bom revolucionário”, reflete o pensador, referindo-se ao fato de seu livro ter
demandado tantas horas de trabalho, mas tão poucos se interessarem por ele.
A autora suíça Corinne Maier, psicanalista e economista, parece ter encontrado a
fórmula do sucesso dentro do capitalismo do século XXI. Também com a ilustradora
francesa Anne Simon, já publicou no mesmo formato os livros Einstein (inédito no
Brasil) e Freud (Companhia das Letras). Em 2004, Corinne lançou Bom Dia,
Preguiça (Campus Elsevier), um best seller mundial, no qual ela tece críticas à vida
corporativa.
LULAS
Para as Marias
“Diretor musical” da missa inter-religiosa para Marisa Letícia que antecedeu sua
prisão, Lula selecionou para início de conversa Maria, Maria (1978), uma
homenagem de Milton Nascimento às Marias do Brasil, imortalizada por Elis
Regina.
Amanhã há de ser
A despedida foi com Apesar de Você (1971), de Chico Buarque, lançada por Clara
Nunes e por Benito Di Paula, “cafona” cujo LP de estreia foi apreendido pela
ditadura, devido aos versos antimilitares apesar de você/ amanhã há de ser/ outro
dia.
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No Quartier Latin sublevado, os flics só tinham know-how para bater em operário
Nem mesmo os franceses sabem como definir aquela explosão que sacudiu o país
no primeiro semestre de 1968. Até hoje se referem, com a cautela do eufemismo,
aos événements de mai – “os acontecimentos de Maio”. Não falam em levante, ou
rebelião, ou revolução em sentido pleno, como gostariam de intitular os enragés.
Tampouco chienlit, a orgia desenfreada, como a definiu desdenhosamente o
general Charles de Gaulle, que havia deixado seu desterro de Colombey-les-Deux-
Églises para se reeleger presidente com o propósito de “salvar a República” e de
restaurar a “ordem pública”.
A terminologia ambígua – événements – dilui um momento dramático em que os
sublevados, de pedras na mão e slogans nos muros, viveram um sonho e
o establishment burguês e reacionário pressentiu um pesadelo. A França tremeu e
ondas concêntricas de turbulência propagaram-se mundo afora, com especial
ênfase nos Estados Unidos, onde a luta já em marcha pelos direitos civis de negros
e mulheres foi engrossada pelo protesto dos estudantes contra o recrutamento
obrigatório para a carnificina inglória do Vietnã (a “ofensiva do Tet”, empreendida
pelos vietcongues, atestava para os agressores que aquela era uma guerra
perdida). Na outra mão, a Primavera de Praga, em desafio ao ranço stalinista,
também faz parte do contexto.
mundo todo andava inquieto, é verdade, mas foi em Paris, muito adequadamente,
que prorrompeu um estilo de revolta – ou uma revolta com estilo. A espontaneidade
vertiginosa das ações violentas contrabalançou-se, nos muros do Quartier Latin,
com uma súbita poética do graffiti, coisas do tipo “é proibido proibir”, “a imaginação
no poder”, ou “o dever de todo revolucionário é fazer a revolução”. A polícia,
perplexa, não sabia o que fazer. Os flics tinham a expertise da repressão contra
operários, mas não contra aqueles filhinhos de papai.
“Não somos nem idealistas nem utopistas, nós vivemos as ideias”, proclamava
um affiche no bairro de Saint-Germain. Na geleia geral de uma sublevação não
programada, onde se aglomeravam maoístas, trotskistas e anarquistas, a doutrina
importava menos do que a ação. O voluntarismo, a energia da praxis, é que açulava
o orgasmo coletivo das ruas. A juventude tomava a palavra, ainda que não
soubesse bem o que dizer além do refrão “É só o começo, continuemos o
combate”.
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Apesar de o número de médicos atuando no país ter aumentado nas últimas cinco
décadas 666% e a população 120%, a má distribuição de profissionais continua a
mesma. Mais da metade dos médicos estão nas capitais, e os estados mais ricos
têm até cinco vezes mais médicos proporcionalmente do que os estados mais
pobres. O estado que menos médicos tem é Roraima, com 816, mas o mais
desprovido proporcionalmente é o Maranhão, que possui apenas 0,9 médico para
cada mil habitantes. Quem tem mais médicos proporcionalmente é o Distrito
Federal, à razão de 4,35/mil.
O índice médio de médicos por mil habitantes no Brasil chegou a 2,18. Porém, a
variação entre cidades continua muito grande: nas 27 capitais, o índice chega a
5,07 médicos e nas cidades do interior a média é de apenas 1,28 médico por mil
habitantes. As regiões Norte e Nordeste, além de menos médicos, têm uma
concentração descomunal no confronto capital e interior, chegando a quase 30
vezes mais, como ocorre com Sergipe.
A cidade de São Paulo tem 28% dos médicos que atuam no país.
Em toda Roraima há 816 médicos
Cidades pequenas são muito mal servidas: as mais de 1,1 mil cidades com menos
de 100 mil habitantes acolhem 10% da população brasileira e muitas delas não têm
médico algum.Já a cidade de São Paulo, com mais ferramentas de trabalho para os
médicos e melhores salários, possui 28% de todos os médicos que atuam no Brasil.
São cinco por mil habitantes.
As decisões de carreira mudaram, antigamente o médico ficava onde se formava e
tinha uma carga de trabalho acima de 60 horas semanais. Recém-formados
preferem a cidade onde nasceram para trabalhar em 44,5%; 20,4% escolhem o
local em que se formaram e 12,7 % preferem o lugar onde concluíram a residência
médica. A grande maioria, 80%, prefere trabalhar em hospitais. A expectativa de
renda mensal da maioria dos formandos é de 20 mil reais em uma jornada de
trabalho flexível, onde se pode equilibrar a dedicação ao trabalho e a vida pessoal.
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CRÉDITOS DA PÁGINA: Istockphoto
Quando o futuro ditou
uma estética
STEAMLINE O estilo que cultivava a urgência acelerada e as linhas da
aerodinâmica chega ao museu
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velocidade foi um dos fetiches recorrentes do século XX. Rimava, desde os tempos
de Marinetti, Boccioni e Carrà, com modernidade. O futuro seria vertiginoso e o
mundo fabril haveria de se moldar aos ditames da estética da urgência acelerada.
Na verdade, o estilo steamline, ou steamform, acabou por contaminar os mais
diferentes itens do dia a dia, utensílios domésticos, artefatos de uso pessoal,
ferramentas de trabalho, equipamentos audiovisuais, brinquedos, peças gráficas,
bicicletas, como mostra a exposição Design Aerodinâmico – Metáfora do Futuro,
que o Museu da Casa Brasileira, de São Paulo (www.mcb.org.br), abre no próximo
dia 21 e dura até 3 de junho.
Naquele momento do século XX nascia a profissão de designer
industrial
Do nosso lado, a luta continua, como sempre, a sina de quem precisa se libertar
das novas-antigas correntes que voltam a querer nos impingir, apertando mais o
laço com outro escravismo agora ajustado aos tempos modernos. Seguimos em
frente.
A propósito, “influência externa” foi o que mais sobressaiu no fim de semana de
decisões dos campeonatos estaduais por todo o Brasil, por conta da vitória do
Corinthians no campo do Palmeiras, em jogo de torcida única, lástima num jogo tão
disputado que deu ao Lula um momento de alegria.
No Rio de Janeiro, a disputa entre Vasco e Botafogo foi um espetáculo para servir
de referência a todos nós; o jogo que registrou o maior público deste ano, mais de
64 mil pessoas, não foi bom em termos técnicos, embora disputado com entrega
total pelos dois times.
Em domingo radiante de outono, período em que o clima mostra um equilíbrio que
exibe claramente o sentido de “Cidade Maravilhosa” atribuído a este pedaço
sufocante “da beleza e do caos”, os torcedores construíram o exemplo do que deve
ser um espetáculo de esporte*.
Até o futebol brasileiro saiu beneficiado pela atuação brilhante do Douglas Costa,
que, escalado em outra função, fez acender as saudades do Canhoteiro, meu ídolo
de infância, e do mano Edu do Santos, talvez o único entre tantos e tão bons
ponteiros-esquerdos a ele comparado. •
*Esse mesmo Rio de Janeiro está sofrendo uma ameaça criminosa por parte da
administração Crivella, que insiste em ocupar o tradicional campo de futebol do
Everest de Inhaúma, tombado como vários outros pela extraordinária ação do
deputado Otavio Leite, o qual vem defendendo causas intrincadas, como o
batalhado projeto que equacionou as dívidas dos clubes brasileiros (Profut).
Socorro.
**Um prazer enorme, mesmo porque tão raro, elogiar uma arbitragem do nosso
futebol, como a do Wagner Nascimento Magalhães na decisão carioca, uma chama
de esperança.
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