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Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

Luiz Felipe Prata Ribeiro

Comparativo entre métodos de execução de contrapiso


tradicional e com argamassa fluida – estudo de caso em obra da
empresa Eztec

São Paulo
2017
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

Luiz Felipe Prata Ribeiro

Comparativo entre métodos de execução de contrapiso


tradicional e com argamassa fluida – estudo de caso em obra da
empresa Eztec

Monografia apresentada à Escola


Politécnica da Universidade de São
Paulo para obtenção do título de pós-
graduação lato-sensu em Tecnologia
e Gestão na Produção de Edifícios

Orientador: Prof. Dr. Mércia Maria


Semensato Bottura de Barros

São Paulo
2017
Catalogação-na-publicação

Ribeiro, Luiz Felipe Prata


Comparativo entre métodos de execução de contrapiso tradicional e com
argamassa fluida – estudo de caso em obra da empresa Eztec / L. F. P. Ribeiro
-- São Paulo, 2017.
96 p.

Monografia (Especialização em Tecnologia e Gestão na Produção de


Edifícios) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Poli-Integra.

1.Contrapiso 2.Argamassa semisseca 3.Argamassa fluida I.Universidade


de São Paulo. Escola Politécnica. Poli-Integra II.t.
AGRADECIMENTOS

Aos colegas da turma de pós-graduação em Tecnologia e Gestão da Produção de


Edifícios da USP pelas experiências compartilhadas durante estes 3 anos de
dedicação e estudo.

À minha orientadora, professora doutora Mércia Barros, pela grande contribuição


na elaboração deste trabalho, pela paciência e por todo conhecimento que nos foi
passado.

Às engenheiras Juliana e Ariane e toda sua equipe de obra pela disponibilidade,


contribuição e assistência durante a aquisição de dados e discussões sobre este
trabalho.

À Eztec pelo apoio no desenvolvimento desta pesquisa, em especial ao


engenheiro coordenador de obras Alexandre Fonseca, pela compreensão e
incentivo.

Ao arquiteto Silvio Iamamura pelo grande incentivo, disposição de ajuda e pelo


mentoring profissional e pessoal.

À minha família, em especial aos meus pais, Cida e Major, pela educação, apoio
e incentivo durante toda minha jornada.

À minha esposa Natalia, pela parceria, colaboração, incentivo e apoio durante


todo esse tempo desprendido para elaboração e muitas noites em claro para
concretização deste objetivo.

À Deus.
RESUMO

A construção civil brasileira vem passando por transformações e grandes


dificuldades, com isto tem se acirrado a competição entre empresas. Assim, a
exemplo de outros segmentos industriais, as empresas vêm investindo mais em
novas tecnologias visando se manterem competitivas, seja pelo aumento da
produtividade, seja pelo aumento da qualidade ou do desempenho de seus
produtos. Neste cenário, insere-se o método de execução de contrapiso com
emprego de argamassa fluida, muito utilizado em países desenvolvidos e recém
difundido no Brasil. Trata-se de uma tecnologia com enorme potencial de reduzir
prazos de execução e, principalmente, contribuir para um trabalho menos
desgastante dos operários envolvidos com a produção, quando comparado ao
método mais conhecido de contrapiso tradicional que faz uso de argamassa
semisseca.

Entretanto, este método executivo é pouco conhecido no mercado e pouco


discutido em publicações técnicas. Assim, este trabalho tem por objetivo
apresentar um comparativo quanto à qualidade, custo, prazo de execução e,
ainda, vantagens e desvantagens entre os métodos de execução de contrapiso
tradicional com argamassa semisseca e o produzido com argamassa fluida
bombeada até o pavimento. O método de pesquisa consistiu primeiro em um
estudo bibliográfico sobre o contrapiso, inserindo-o no contexto do elemento piso;
as funções, propriedades e classificações dos contrapisos e, ainda, as duas
técnicas de execução de contrapiso, analisando-se as características dos
materiais empregados (argamassas) e métodos construtivos. Para o comparativo
foi feito um estudo de caso em dois edifícios construídos pela empresa Eztec, no
empreendimento Cidade Maia, localizado em Guarulhos, São Paulo.

O estudo de caso possibilitou, para ambos os métodos de execução, levantar


dados acerca de quesitos de controle da qualidade, não conformidades
encontradas, preços de execução para materiais e mão de obra e prazos de
execução.

Palavras-chave: contrapiso, argamassa semisseca, argamassa fluida.


ABSTRACT

The brazilian construction is passing through transformations and difficulties, this


way, the competition has been stimulated among the construction companies. So,
in example of others industrial segments, these companies are investing more in
new technologies aiming to keep them competitive, either by rising productivity or
rising quality or performance of their products. In this scenario, comes the screed
execution method using fluid mortar, very used on developed countries and
recently spread in Brazil. That’s about a technology with a high potential to reduce
execution deadlines and, mainly, contribute to a less stressful work of the
employees involved in the production compared to the most known and traditional
screed execution method, that uses a semi-dry mortar.

However, that execution method is not very known inside the market and little
discussed in technical publications. So, this monograph intends to presents a
comparison in quality, costs, execution deadlines and advantages and
disadvantages between the screed execution methods traditional with a semi-dry
mortar and that one produced with fluid mortar pumped to a high level. The
research method consists, first of all, in a bibliographic study about screeds,
inserting it in the context of the element floor, the functions, properties and
classifications of screed and, still, both screed execution technics, analyzing the
characteristics of mortars and constructive methods. For comparison, a case study
has been done in two buildings built by Eztec, on the enterprise Cidade Maia,
located in Guarulhos, São Paulo.

These study case became possible, to both methods, to bring up some data about
quality control, non-compliances found, materials and labor prices and execution
deadlines.

Keywords: screed, semi-dry mortar, fluid mortar.


SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ............................................................................................. 3

RESUMO................................................................................................................ 4

ABSTRACT............................................................................................................ 5

SUMÁRIO .............................................................................................................. 6

LISTA DE FIGURAS .............................................................................................. 9

LISTA DE GRÁFICOS ..........................................................................................11

LISTA DE TABELAS ............................................................................................12

LISTA DE ABREVIATURAS.................................................................................14

1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................14

1.1 JUSTIFICATIVA .................................................................................................................... 14

1.2 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 15

1.2.1 Objetivo geral ............................................................................................................... 15


1.2.2 Objetivos específicos ................................................................................................... 16

1.3 MÉTODO DE PESQUISA ..................................................................................................... 16

1.4 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO ...................................................................................... 17

2. O CONTRAPISO COMO ELEMENTO DO PISO ...........................................18

2.1 O ELEMENTO DE VEDAÇÃO PISO..................................................................................... 18

2.1.1 Camadas do Elemento Piso ........................................................................................ 18


2.1.2 Propriedades do Elemento Piso .................................................................................. 22

2.2 A CAMADA DE CONTRAPISO ............................................................................................. 23

2.2.1 Funções do contrapiso ................................................................................................ 23


2.2.2 Propriedades do contrapiso ......................................................................................... 24
2.2.3 Tipos de contrapiso ..................................................................................................... 24

2.3 O CONTRAPISO COM ARGAMASSA FLUIDA .................................................................... 27

3. PRODUÇÃO DO CONTRAPISO ....................................................................29

3.1 ARGAMASSAS DE CONTRAPISO ...................................................................................... 29

3.1.1 Composição ................................................................................................................. 29


3.1.2 Produção da Argamassa ............................................................................................. 31
3.2 TÉCNICAS DE EXECUÇÃO DE CONTRAPISO .................................................................. 32

3.2.1 Contrapiso com argamassa semisseca....................................................................... 32


3.2.2 Contrapiso com argamassa fluida ............................................................................... 35
3.2.3 Critérios para escolha do método de execução de contrapiso ................................... 35

3.3 CONTROLE DA QUALIDADE DA PRODUÇÃO DE CONTRAPISO .................................... 36

3.3.1 Qualidade na Produção da Argamassa Semisseca de Contrapiso ............................ 36


3.3.2 Qualidade na Execução de Contrapisos ..................................................................... 37

3.4 CUSTOS DE PRODUÇÃO DE CONTRAPISO ..................................................................... 38

3.5 PRAZOS DE EXECUÇÃO DE CONTRAPISO ..................................................................... 39

3.6 PROJETOS DE CONTRAPISO ............................................................................................ 39

3.7 CONTRATAÇÃO DO SERVIÇO DE CONTRAPISO ............................................................ 41

4. ESTUDO DE CASO........................................................................................42

4.1 DADOS DA OBRA ESTUDO DE CASO ............................................................................... 42

4.2 CONTRATAÇÂO DO SERVIÇO DE CONTRAPISO ............................................................ 46

4.2.1 Serviço de mão de obra de execução ......................................................................... 46


4.2.2 Fornecimento de argamassa ....................................................................................... 47

4.3 PROCEDIMENTO DE EXECUÇÃO DO CONTRAPISO COM ARGAMASSA FLUIDA ....... 48

4.3.1 Limitação do perímetro do contrapiso ......................................................................... 49


4.3.2 Preparação da base .................................................................................................... 51
4.3.3 Definição do nível ........................................................................................................ 52
4.3.4 Preparação para execução ......................................................................................... 54
4.3.5 Aplicação da argamassa fluida .................................................................................... 56
4.3.6 Cura do contrapiso ...................................................................................................... 57

4.4 CONTROLE DE QUALIDADE DO CONTRAPISO EXECUTADO COM ARGAMASSA


FLUIDA .............................................................................................................................................. 59

4.5 ENSAIOS REALIZADOS ....................................................................................................... 61

4.6 PROBLEMAS PATOLÓGICOS APRESENTADOS PELO CONTRAPISO E SEUS


TRATAMENTOS ............................................................................................................................... 66

4.7 CUSTOS DE PRODUÇÃO DO CONTRAPISO .................................................................... 73

4.8 PRAZOS DE PRODUÇÃO DO CONTRAPISO .................................................................... 75

5. ANÁLISE COMPARATIVA DOS DADOS COLETADOS ..............................77

5.1 SOBRE A QUALIDADE DO CONTRAPISO ......................................................................... 77

5.2 SOBRE OS CUSTOS DE EXECUÇÃO DO CONTRAPISO ................................................. 79

5.3 SOBRE O PRAZO DE EXECUÇÃO DO CONTRAPISO ...................................................... 80


5.4 CONCLUSÃO/SINTESE DO ESTUDO ................................................................................. 81

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................87

REFERÊNCIAS .....................................................................................................88

ANEXO A - ENSAIO DE RESISTÊNCIA DE ADERÊNCIA À TRAÇÃO DA


ARGAMASSA DE CONTRAPISO ........................................................................91

ANEXO B – ENSAIO DE RESISTÊNCIA DE ADERÊNCIA À TRAÇÃO DO


SISTEMA DE PISO ...............................................................................................92

ANEXO C - FICHA DE VERIFICAÇÃO DE MATERIAL PARA ARGAMASSA DE


CONTRAPISO AUTONIVELANTE .......................................................................95

ANEXO D – FICHA DE VERIFICAÇÃO DE SERVIÇO DE CONTRAPISO COM


ARGAMASSA FLUIDA .........................................................................................96
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Camadas do sistema de piso ...............................................................19

Figura 2 – Colocação das taliscas no contrapiso convencional ............................33

Figura 3 – Execução das mestras no contrapiso convencional .............................34

Figura 4 – Área de contrapiso de áreas secas (Residencial Jardim torre Orquídea)


..............................................................................................................................43

Figura 5 – Área de contrapiso de áreas secas (Residencial Jardim torre Bromélia)


..............................................................................................................................43

Figura 6 - Área de contrapiso de áreas secas (Residencial Reserva torre Atlântica)


..............................................................................................................................45

Figura 7 - Área de contrapiso de áreas secas (Residencial Reserva torre Flora) .45

Figura 8 – Contenção da área da sala com a cozinha sendo executada ..............49

Figura 9 – Preenchimento da fresta entre a contenção e a laje com areia ...........50

Figura 10 – Contenção da área da sala com a cozinha (área seca / área molhável)
..............................................................................................................................50

Figura 11 – Contenção da área do quarto com o banheiro (área seca / área


molhável) ...............................................................................................................51

Figura 12 – Resíduos gerados na produção das contenções para o contrapiso ...52

Figura 13 – Laje de concreto limpa e umedecida ..................................................52

Figura 14 – Mapeamento da laje de concreto .......................................................53

Figura 15 – Distribuição das niveletas ...................................................................53

Figura 16 – Niveleta antes e após o lançamento da argamassa ...........................54

Figura 17 – Preparação da bomba e da argamassa .............................................55

Figura 18 – Dosagem do aditivo superplastificante ...............................................55

Figura 19 – Bombeamento da argamassa fluida ...................................................56


Figura 20 – Adensamento e acabamento do contrapiso .......................................57

Figura 21 – Cura química da argamassa de contrapiso ........................................58

Figura 22 – Aspecto do contrapiso após a cura química .......................................58

Figura 23 – Ensaio de resistência de aderência à tração no contrapiso ...............62

Figura 24 – Forma tipo D de ruptura no ensaio de resistência de aderência à


tração para um sistema de revestimento sem chapisco ........................................64

Figura 25 – Protótipo C do ensaio de resistência de aderência à tração ..............65

Figura 26 – Rugosidade no contrapiso ..................................................................68

Figura 27 – Acabamento do contrapiso que causa rugosidades/ondulações .......68

Figura 28 – Fissura profunda no contrapiso ..........................................................69

Figura 29 – Fissuras superficiais no contrapiso ....................................................70

Figura 30 – Tratamento de fissuras superficiais ....................................................70

Figura 31 – Tratamento de som cavo em contrapiso ............................................71

Figura 32 – Falhas no contrapiso ..........................................................................71

Figura 33 – Juntas de dessolidarização e de movimentação ................................84


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Problemas detectados no contrapiso com argamassa fluida ..............67

Gráfico 2 – Problemas detectados no contrapiso com argamassa semisseca .....72

Gráfico 3 – Número absoluto de ocorrências por tipo de critério de qualidade .....77

Gráfico 4 – Relação de problemas detectados por metro quadrado .....................78

Gráfico 5 – Dados de assistência técnica da Eztec – Grupo Revestimentos ........81

Gráfico 6 – Dados de assistência técnica – Subgrupo Contrapisos ......................82


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Requisitos do usuário conforme ABNT NBR 15575:2013 ....................22

Tabela 2 - Comparativo da composição das argamassas .....................................30

Tabela 3 – Tabela de aditivos das argamassas e suas funções ...........................31

Tabela 4 - Dados do SINAPI para execução de contrapiso ..................................38

Tabela 5 - Área de contrapiso com argamassa fluida do residencial Jardim ........44

Tabela 6 - Área de contrapiso com argamassa semisseca do residencial Reserva


..............................................................................................................................46

Tabela 7 - Escopo de contratação para execução de contrapiso com argamassa


fluida ......................................................................................................................47

Tabela 8 - Composição e dosagem da argamassa fluida .....................................48

Tabela 9 - Verificações e tolerâncias da qualidade na produção de contrapisos ..60

Tabela 10 - Dados do primeiro ensaio no contrapiso ............................................62

Tabela 11 - Valores para a resistência de aderência do contrapiso conforme


Barros (1991) ........................................................................................................63

Tabela 12 – Critérios e resultados dos ensaios de aderência ...............................65

Tabela 13 - Custos de produção para o contrapiso com argamassa semisseca ..73

Tabela 14 - Custos de produção para o contrapiso com argamassa fluida ...........73

Tabela 15 - Preços de referência para contrapiso do SINAPI para mão de obra ..74

Tabela 16 - Preços de referência para contrapiso do SINAPI para material .........74

Tabela 17 - Cronograma normal de execução de contrapiso com argamassa


semisseca .............................................................................................................75

Tabela 18 - Cronograma normal de execução de contrapiso com argamassa fluida


..............................................................................................................................76

Tabela 19 - Comparativo entre preços dos métodos de execução de contrapiso .79


Tabela 20 - Vantagens e desvantagens dos métodos de execução de contrapiso
..............................................................................................................................86
LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

CBIC Câmara Brasileira da Indústria da Construção

CEF Caixa Econômica Federal

CNI Confederação Nacional da Indústria

EFNARC European Federation of National Associations Representing


specialists for Concrete

FVS Ficha de Verificação de Serviço

SINAPI Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção


Civil

PIT Programa de Inovação Tecnológica do CBIC


14

1. INTRODUÇÃO

1.1 JUSTIFICATIV A

O setor da construção civil brasileira, nas últimas décadas tem sido marcado por
diferentes cenários e fortemente influenciado pelo quadro político-econômico
vivenciado no país (CBIC, 2016). Há, pois, um adverso cenário para o segmento
de edificações no país, com ausência de estímulo à compra de imóveis seja pela
dificuldade de crédito imobiliário, altas taxa de juros ou mesmo pelas elevadas
taxas de desemprego. Alia-se a isto o aumento do custo dos insumos e tem-se a
péssima situação que encerrou o ano de 2015 (CBIC; CNI, 2015) e que, pode-se
afirmar, ainda permanece.

Neste cenário, toda essa instabilidade tem acarretado desestímulos quanto a


grandes investimentos em tecnologias inovadoras de grande impacto,
sobressaindo-se a busca pela racionalização do processo tradicional de
produção, principalmente devido ao pouco investimento necessário em
equipamentos, ferramentas e adaptações nos métodos construtivos (Fabricio 1,
2008, apud CBIC, 2016).

Segundo CEOTTO (2012, apud CASTRO, 2013) o ritmo sustentável de


crescimento da indústria da construção deve ser continuado através da
modernização e da industrialização.

Neste contexto, a argamassa fluida, também denominada argamassa


autonivelante é uma tecnologia que vem sendo utilizada para a produção de
contrapisos em muitos países na Europa, Estados Unidos e América Latina
(RUBIN, 2015). Trata-se de um material formulado à base de cimento, areia, água
e aditivos químicos que apresenta como principal característica a elevada fluidez,
o que permite preencher os espaços vazios e se auto adensar nos locais de
aplicação de contrapiso (RUBIN, 2015).

1
FABRICIO, M. M. Industrialização das construções: uma abordagem contemporânea. 2008. Tese (Livre-
Docência em Arquitetura e Urbanismo) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo,
São Carlos, 2008.
15

O contrapiso é um dos elementos do piso e é de grande importância para a


qualidade do produto final, pois serve de suporte para os revestimentos de piso
ou de acabamento (Roque, 2008). Além disso, consome muitos recursos
materiais e humanos para a sua produção. E, como parte constituinte da
edificação, está sujeito a critérios de qualidade, custo e prazo de produção.
Situando-o no ambiente do gerenciamento da construção, o processo de
produção do contrapiso está presente na sequência construtiva adotada pela
empresa, ou seja, existe tempo certo para ser executado (após o serviço
antecedente finalizado e depende da sua finalização para início do serviço
posterior). Qualquer alteração neste encadeamento de serviços pode gerar
antecipações ou atrasos no cronograma da obra. Da mesma forma, com relação
ao custo do contrapiso, também pode gerar prejuízo ou economia para o
orçamento da obra.

Analisando todo este cenário, este trabalho tem por finalidade aprofundar o
estudo sobre o método de execução de contrapiso com argamassa fluida como
uma inovação adotada na empresa. Apesar de não ser a primeira obra da Eztec a
utilizar a argamassa fluida para execução de contrapiso, um estudo analítico e
comparativo nunca foi realizado para se poder concluir sobre a eficiência deste
método na empresa. Portanto, este estudo de caso auxiliará na definição das
vantagens e desvantagens deste método de execução de contrapiso em relação
ao tradicional.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Apresentar, comparar e analisar os dados obtidos na obra Cidade Maia da


construtora Eztec, a qual utilizou tanto o contrapiso com argamassa semisseca
quanto o contrapiso com argamassa fluida, fazendo um comparativo de
qualidade, custo e prazo de execução.
16

1.2.2 Objetivos específicos

A partir do estudo de caso, para os métodos construtivos tradicional e com


argamassa fluida:

o Apresentar, a partir da compilação de dados de Fichas de Verificação de


Serviços (FVS), por meio de tabelas e gráficos, os dados obtidos sobre a
qualidade;

o Detalhar e apresentar dados financeiros comparando custos de material e


mão de obra por meio de tabelas e gráficos;

o Apresentar dados de prazo de produção de cada tipo de execução;

o Apresentar vantagens e desvantagens de ambos os métodos construtivos.

1.3 MÉTODO DE PESQUIS A

O método de pesquisa consistiu primeiro em um estudo bibliográfico sobre: o


contrapiso, inserindo-o no contexto do elemento piso; as funções, propriedades e
classificações dos contrapisos; e, ainda, as duas técnicas de execução de
contrapiso, analisando-se as características dos materiais empregados
(argamassas) e métodos construtivos. Projeto, critérios de qualidade, composição
de custos e prazos e formas de contratação da execução do contrapiso também
foram temas abordados a partir da revisão bibliográfica.

Para o comparativo foi feito um estudo de caso que envolveu dois edifícios do
empreendimento Cidade Maia, localizado em Guarulhos, São Paulo, incorporado
e construído pela empresa Eztec. Os dois edifícios apresentavam área de
contrapiso semelhantes. Em um deles, o contrapiso foi executado com argamassa
semisseca e, no outro, com argamassa fluida.

O estudo de caso possibilitou, para ambos os métodos de execução, levantar


dados acerca de quesitos de controle da qualidade, não conformidades
encontradas, preços de execução para materiais e mão de obra, prazos de
execução e produtividade dos funcionários.
17

1.4 ESTRUTURAÇ ÃO DO TRAB ALHO

O trabalho está estruturado em seis capítulos. O primeiro capítulo, de introdução,


é de caráter introdutório ao tema; nele se apresenta a justificativa ao trabalho,
objetivos, métodos de estudo e estruturação do trabalho. O segundo capítulo, o
contrapiso como elemento do piso, apresenta o sistema de piso, abordando as
partes que o compõem. O enfoque desta parte é para a camada de contrapiso e
sua inserção no sistema piso. No terceiro capítulo, produção do contrapiso,
aborda-se a produção do contrapiso, desde a forma de contratação, como
propriedades da argamassa, técnicas de execução, controle de qualidade e
custos de produção.

Introduzida a teoria sobre contrapisos, no quarto capítulo apresenta-se o estudo


de caso em questão, apresentando informações sobre a obra e a construtora e
também os dados obtidos durante o acompanhamento da execução do
contrapiso, tais como aquisição de dados de qualidade do contrapiso com
argamassa fluida. O quinto capítulo traz a comparação com o método tradicional,
descrevendo separadamente sobre qualidade, custos e prazo. E, por fim, tem-se
a conclusão do trabalho. As referências consultadas para o desenvolvimento
deste trabalho são apresentadas ao final.
18

2. O CONTRAPISO COMO ELEMENTO DO PISO

Este capítulo aborda aspectos técnicos sobre o piso e, principalmente, o


contrapiso. É feita uma introdução sobre o sistema piso e a camada de contrapiso
como parte dele. Assim, a abordagem será focada no contrapiso, discutindo-se
sobre sua constituição, funções, propriedades e características. Os tipos de
contrapiso utilizados na obra em estudo também são abordados, o contrapiso
com argamassa convencional e com argamassa fluida, com ênfase neste último,
devido a ele ser considerado inovação tecnológica na Eztec.

2.1 O ELEMENTO DE VEDAÇÃO PISO

O elemento de vedação horizontal chamado de piso é produzido a partir de


diversas camadas que devem cumprir adequadamente certas funções. Cada
camada deve satisfazer um conjunto de requisitos de desempenho que lhe cabe.
Portanto, é importante saber quais são estas camadas e as características da
base sobre a qual será executada (BARROS, 1991).

2.1.1 Camadas do Elemento Piso

A ABNT NBR 15.575:2013 define o sistema de piso como sendo o sistema


horizontal ou inclinado composto por um conjunto total ou parcial de camadas
destinado a cumprir funções de estrutura, vedação e tráfego, considerando-se
critérios definidos nesta norma. A mesma norma diz que as camadas podem ser
laje estrutural, contrapiso, fixação ou acabamento, podendo possuir camadas
intermediárias com funções de impermeabilização e isolamento térmico ou
acústico como se pode ver na figura 1.
19

Figura 1 – Camadas do sistema de piso

Fonte: ABNT NBR 15575:2013

A camada estrutural do sistema piso constitui-se do elemento que resiste às


diversas cargas do sistema da edificação. Elder; Vandenberg2 (1977) apud Barros
(1991) enfatizam que a camada estrutural tem por função transmitir ao restante da
estrutura portante as sobrecargas a que o piso está sujeito distribuindo-as
adequadamente. Desta forma, esta camada deve apresentar resistência
mecânica de acordo com as cargas previstas em projeto estrutural e, também,
deve apresentar boas condições superficiais compatíveis com as demais
camadas do piso que irá receber.

A camada de impermeabilização pode ou não fazer parte do contrapiso. Ela é


usual nas áreas internas molhadas e nas áreas externas. Na construtora em que
este estudo de caso foi realizado também é habitual realizar impermeabilização
somente nas áreas molhadas e molháveis3. Esta camada pode ser realizada com

2
ELDER, A. J. VANDENBERG, M. Construcción: manuals AJ. Madrid: H. Blume, 1977. P. 280-341.
3
Áreas molhadas são áreas da edificação cuja condição de uso e exposição poderá resultar na formação de
lâmina de água (por exemplo, banheiros com chuveiro, área de serviço e áreas descobertas). Áreas molháveis
são áreas da edificação que recebem respingos de água decorrente de sua condição de uso e exposição e que
não resulte na formação de lâmina de água (por exemplo, banheiros sem chuveiro, cozinhas e sacadas
cobertas) (ABNT NBR 15.575: 2013 – Parte 3).
20

diversos tipos de materiais podendo ser asfálticos, poliméricos etc., sendo o mais
comum a utilização da impermeabilização polimérica devido à sua reduzida
espessura.

A camada de isolamento térmico é comumente utilizada em locais muito frios,


cuja temperatura ambiente é baixa na maior parte do ano. Segundo Barry4, 1980
apud Barros (1991), nestes casos torna-se essencial para auxiliar na conservação
do calor interno, comumente gerado por sistemas de calefação. Também em
situações de elevada temperatura a camada de isolante térmico é empregada
como é o caso, por exemplo, das lajes de cobertura no Brasil que recebem
intensa insolação, particularmente quando não recebem cobertura em telhado.

A camada de isolamento acústico é utilizada para minimizar a transmissão de


ruídos entre pavimentos. Segundo Barros et al. (2010), para obter essa
minimização, pode-se utilizar isolantes acústicos entre o contrapiso e a camada
estrutural, o que, neste caso, torna o contrapiso não aderido.

Barros (1991) define contrapiso como sendo a camada lançada sobre a laje ou
sobre uma camada intermediária (de impermeabilização ou de isolamento térmico
ou acústico), devendo apresentar características tais como espessura,
regularidade superficial, resistência mecânica, compacidade e durabilidade
adequadas ao atendimento de suas funções, cujas principais são:

 Possibilitar a colocação de revestimento de piso;

 Transmitir as cargas de utilização à laje suporte;

 Proporcionar os desníveis necessários entre ambientes contíguos e a


declividade nas áreas molháveis; e

 Permitir o eventual embutimento de instalações.

A camada de contrapiso é a camada do sistema piso usualmente colocada logo


acima da laje (camada estrutural) sobre a qual se aplicará um determinado
acabamento final, podendo ou não ter uma camada de fixação entre eles

4
BARRY, R. The construction of building. 4ª ed. London: Granada, 1980.
21

(SOUZA, 2013). Esse autor complementa ainda que a camada de contrapiso tem,
entre outras funções, a de nivelar a superfície da laje e absorver deformações,
servindo também para melhorar a acústica e para embutir instalações,
corroborando assim, as colocações de Barros (1991).

Tratando-se do objeto de estudo deste trabalho, as funções e as características


do contrapiso serão abordadas detalhadamente no item 2.2.

A camada de ligação é a que faz a união entre o contrapiso e a próxima camada,


a de acabamento. A camada de ligação geralmente é constituída por argamassas
de base cimentícia ou adesivos de base polimérica. A camada de acabamento é a
última e mais externa camada do conjunto do piso e consiste no acabamento do
piso, podendo ser constituída por placas cerâmicas, por componentes de
madeira, mantas têxteis, placas de rocha, ou componentes vinílicos,
emborrachados, entre outros. A camada de ligação pode ser suprimida em alguns
tipos de revestimentos, como pisos feitos a partir de argamassas ou emulsões
poliméricas aplicadas diretamente sobre o contrapiso ou ainda aqueles flutuantes
como alguns laminados, por exemplo (BARROS, 1991).

Essa última camada possui importante papel no desempenho de todo o conjunto,


pois está todo o tempo em contato com o ambiente e com os usuários. Segundo
Elder; Vandenberg5, (1977) apud Barros (1991), o revestimento deve apresentar,
de modo geral, os seguintes requisitos de desempenho:

 Resistência ao desgaste pelo uso: principalmente às solicitações por


choque, abrasão e puncionamento;

 Resistência às deformações do conjunto: não apresentar fissuras que


comprometam o desempenho nem se destacar do substrato;

 Estanqueidade: quando aplicáveis em áreas molháveis desprovidas de


camada impermeabilizante;

5
ELDER, A. J. VANDENBERG, M. Construcción: manuals AJ. Madrid: H. Blume, 1977. P. 280-341.
22

 Resistências aos ataques de agentes químicos: produtos químicos de


limpeza como detergente, água sanitária etc.;

 Aspecto agradável;

 Capacidade de amortizar o som produzido pelo tráfego em sua superfície;

 Segurança na utilização: comodidade ao andar, antiderrapante ou


antideslizante, incombustibilidade etc.;

 Durabilidade compatível com as condições de utilização.

2.1.2 Propriedades do Elemento Piso

A ABNT NBR 15.575:2013 estabelece requisitos e critérios de desempenho


aplicáveis às novas edificações habitacionais, tanto para o edifício como um todo
como para cada sistema específico de forma isolada. Essa norma apresenta uma
lista de requisitos dos usuários da edificação, que servem como referência para o
cumprimento destes requisitos e critérios. São eles:

Tabela 1 - Requisitos do usuário conforme ABNT NBR 15575:2013

QUESITO REQUISITOS
Segurança estrutural
Segurança Segurança contra fogo
Segurança no uso e na operação
Estanqueidade
Desempenho térmico
Desempenho acústico
Habitabilidade Desempenho lumínico
Saúde, higiene e qualidade do ar
Funcionalidade e acessibilidade
Conforto tátil e antropodinâmico
Durabilidade
Sustentabilidade Manutenibilidade
Impacto ambiental
Fonte: ABNT NBR 15.575:2013
23

2.2 A CAM ADA DE CONTRAPISO

Contrapiso é a camada de argamassa lançada sobre uma base, que pode ser laje
estrutural ou lastro de concreto para regularização (Cichinelli, 2009). Segundo
Barros (1991), o contrapiso pode ser constituído de uma ou mais camadas de
material lançado sobre a laje estrutural ou sobre uma camada intermediária (de
impermeabilização ou de isolamento térmico e acústico), devendo apresentar
características tais como espessura, regularidade superficial, resistência
mecânica, compacidade e durabilidade adequadas ao atendimento de suas
funções.

2.2.1 Funções do contrapiso

A norma de desempenho, ABNT NBR 15.575:2013, em sua parte 3 – Requisitos


para os sistemas de pisos, define contrapiso como sendo a camada que possui as
funções de regularizar o substrato, proporcionando uma superfície de apoio
uniforme, coesa, aderida ou não, e adequada à camada de acabamento, podendo
eventualmente servir como camada de embutimento, caimento ou declividade.

Os contrapisos podem possuir, dependendo da sua localização, várias funções,


segundo Barros e Sabbatini (1991). São elas:

 Regularização da base para posterior revestimento;

 Permitir suporte e fixação do revestimento;

 Embutir instalações de piso;

 Criar desníveis entre ambientes;

 Possibilitar declividades para caimento de água;

Pode, ainda, ter outras funções como:

 Servir como barreira impermeável;

 Isolamento térmico e acústico.


24

2.2.2 Propriedades do contrapiso

Em um sistema, todas as partes necessitam que suas funções sejam cumpridas


suficientemente para que todo o conjunto possa ter o desempenho estabelecido
em projeto. O contrapiso, como parte do sistema piso, necessita também
desempenhar uma série de requisitos e, para isso, precisa apresentar algumas
propriedades sintetizadas por Barros (1991) e apresentadas a seguir:

a. condições superficiais: responsável pela aderência piso-revestimento;

b. aderência: capacidade que as interfaces piso-contrapiso e base-contrapiso


têm em absolver deformações decorrentes das solicitações de uso;

c. resistência mecânica: refere-se à capacidade de manutenção da


integridade física do contrapiso quando solicitado por ações durante as
fases de execução e utilização;

d. capacidade de absorver deformações: é a capacidade que o contrapiso


deve apresentar em se deformar sem apresentar fissuras que
comprometam o seu desempenho;

e. compacidade: determina a capacidade do contrapiso em resistir ao


esmagamento. É definida pela relação entre volume de vazios da
argamassa e seu volume total;

f. durabilidade: função das condições de exposição do contrapiso e da


compatibilidade entre ele e o revestimento de piso.

2.2.3 Tipos de contrapiso

Segundo Barros (1991), os contrapisos podem ser classificados pelo número de


camadas, pela aderência e pela função dos materiais que o constituem. Amorim
(2015) atualiza a proposta inicial de Barros (1991), classificando os contrapisos da
seguinte forma:
25

A) Segundo o número de camadas: nesta classificação divide-se o contrapiso


em dois grupos, os de camada única e os de múltiplas camadas.

 contrapiso de camada única: a execução deste contrapiso é feita em


uma única etapa ou em etapas realizadas consecutivamente
utilizando-se a mesma argamassa, a qual se incorpora à argamassa
anterior formando uma camada única, sem qualquer superfície de
separação entre elas.

 contrapiso de múltiplas camadas: A execução deste contrapiso é


feita em diversas camadas, ou seja, existe uma separação entre
estas camadas. Nestes contrapisos podem ser utilizados um ou
mais tipos de argamassa.

B) segundo à aderência: esta classificação leva em consideração a


intensidade com que as camadas de contrapiso e base se unem. A efetiva
ligação entre estas camadas ocorre quando os esforços atuantes e as
deformações sejam, gradativamente, transferidos de um para o outro.
Assim, segundo Barros (1991), considerando-se esta propriedade pode-se
classificar o contrapiso como aderido, não aderido e flutuante.

 contrapiso aderido: segundo a norma alemã DIN 13318 (2000),


considera-se o contrapiso aderido quando este está efetivamente
integrado à base, desta forma, segundo Barros (1991), há contato
efetivo com a laje de modo que a transmissão de ações estáticas e
dinâmicas é garantido. Conforme Amorim (2015), este método de
execução do contrapiso sobre a laje é o mais difundido na
construção civil brasileira.

 contrapiso não aderido: conforme Barros e Sabbatini (1991) neste


caso a aderência com a base não compromete o desempenho do
contrapiso e não deve possuir espessura inferior a 35mm. Entende-
se que, neste caso, a existência de uma camada intermediária não é
obrigatória como no contrapiso flutuante. Esta camada intermediária
deve ser não compressível ou de compressibilidade
desconsiderável, como as mantas asfálticas, por exemplo.
26

 contrapiso flutuante: segundo a DIN 133318 (2000), o contrapiso é


considerado flutuante se está assentado sobre uma camada
compressível (usualmente uma manta térmica e/ou acústica) e,
desta forma, completamente separada de outros elementos
construtivos como paredes ou tubulações e da própria base. Amorim
(2015) complementa destacando que estas camadas, incluindo as
impermeáveis, desvinculam o contrapiso da laje, de forma que
possibilita redução de aparecimento de patologias provenientes da
deformação ou variação dimensional destes elementos como
tubulações ou vedações. Segundo Barros (1991) a espessura
mínima neste caso é variável em função da classe de
compressividade da camada abaixo do contrapiso.

C) segundo os materiais constituintes: a classificação dada por Barros (1991)


considerava a composição da argamassa, basicamente entre algum
aglomerante e agregado miúdo. Podemos citar as argamassas feitas com
cimento, anidrida ou cloreto de magnésio como aglomerante. Amorim
(2015) foca apenas as argamassas de cimento e areia por serem
predominantes no Brasil, classificando-as conforme a sua plasticidade em:

 argamassa plástica: são argamassas com teor de umidade entre


20% e 25%, semelhante à argamassa de revestimento de alvenaria;

 argamassa semisseca: é a argamassa também de cimento e areia,


porém, com teor de umidade baixo (por volta de 12%). Esse baixo
teor de água facilita a compactação e reduz a retração da camada
de contrapiso durante a secagem da argamassa.

 argamassa fluida: é a argamassa composta por cimento, areia, água


e aditivos químicos, podendo ter ou não aditivos minerais. A
principal característica desta argamassa é a alta fluidez, sendo que
seu espalhamento acontece naturalmente e não há a necessidade
da compactação, fato que torna a execução com esta argamassa
mais rápida. Por ser este o foco desta dissertação será detalhado no
próximo item.
27

2.3 O CONTRAPISO COM ARG AM ASS A FLUIDA

O contrapiso produzido com argamassa fluida, conhecido no mercado da


construção civil brasileiro como “contrapiso autonivelante”, é um elemento
produzido a partir de uma argamassa fluida de base cimentícia sobre uma base
adequadamente preparada. A argamassa deve apresentar características como
fluidez, potencial de resultar na espessura definida em projeto e, após endurecida,
capacidade de apresentar resistência mecânica e durabilidade compatíveis com
as necessidades de projeto (SOUZA, 2013). O contrapiso com ela produzido deve
atender as funções inerentes do contrapiso destacadas no item 2.2.1.

Este método de execução de contrapiso com argamassa fluida foi desenvolvido


na Europa na década de 80, inicialmente para recuperação e nivelamento de
bases de concreto, mas no Brasil foi introduzido no mercado no início dos anos 90
(AMORIM, 2015). Ainda segundo a autora, ele se diferencia dos demais métodos
de execução devido à facilidade e rapidez de execução em função das
características da argamassa no estado fresco.

A EFNARC (2002) ressalta que a utilização de “concretos auto compactáveis”


com alta fluidez foi originalmente desenvolvido para suprir a crescente falta de
mão de obra qualificada e se mostrou economicamente vantajosa devido a vários
fatores, dentre eles:

 Rapidez na construção;

 Redução da mão de obra;

 Facilidade na execução;

 Melhor acabamento da superfície;

 Espessuras reduzidas;

 Ambiente de trabalho mais seguro.

Outro fator que motivou o desenvolvimento do sistema bombeável para


argamassas de contrapiso foi a dificuldade em se transportar os insumos
necessários à produção da argamassa de contrapiso convencional, o que
geralmente acontece através de elevador cremalheira (EGLE, 2010).
28

O contrapiso com argamassa fluida pode ser executado a partir de duas formas
diferentes, com argamassa usinada, entregue em caminhões betoneira e
bombeada até o local de execução, ou com argamassa industrializada ensacada
(seca) e, neste caso, a mistura é feita no local de aplicação.

As vantagens do emprego de argamassa fluida para execução de contrapiso são:

 Alta produtividade;

 Transporte vertical facilitado através do bombeamento da argamassa;

 Redução da área de armazenamento de materiais ensacados ou a granel;

 Redução do desgaste dos trabalhadores sem a necessidade de


compactação com soquete (peso aproximado de 10kg).

As desvantagens da utilização deste método de execução são:

 Impossibilidade de execução em locais com declividade para escoamento


de água;

 Requer disponibilidade de fornecimento das concreteiras;

 Atrasos no fornecimento da argamassa gera perda do material.

No mercado já existem equipamentos de bombeamento de argamassas


semisseca ou insumos como areia, porém, como trataremos do comparativo entre
o método de produção de contrapiso com argamassa fluida bombeada e o
tradicional com argamassa semisseca transportada por elevadores cremalheira,
que foram os dois utilizados neste estudo de caso, as vantagens e desvantagens
foram feitas entre estes dois métodos.

A produtividade do método de execução de contrapiso com argamassa fluida é


um dos maiores benefícios da utilização desta tecnologia (AMORIM, 2015).
Porém, para que as vantagens deste método possam prevalecer e serem
exploradas nas obras, sua aplicação deve ser estudada durante as fases de
desenvolvimento de projetos e planejamento das obras, continua Amorim (2015).
29

3. PRODUÇÃO DO CONTRAPISO

Basicamente, as técnicas mencionadas neste trabalho diferem-se devido ao


estado da argamassa no seu estado fresco. Devido a isso, as particularidades de
cada método executivo vão gerar vantagens e desvantagens, as quais foram
mencionadas anteriormente. A seguir serão apresentados os tipos de contrapiso e
os fatores determinantes na escolha do método executivo de contrapiso e na
produção do contrapiso nas obras.

3.1 ARG AM ASS AS DE CONTRAPISO

Em 1991, Barros concluiu que o avanço no processo de produção do contrapiso


deve partir necessariamente da produção da argamassa. Portanto, comparar
processos de contrapiso exige comparar as argamassas de contrapiso.

3.1.1 Composição

Conforme a ABNT NBR 13281:2005, argamassas são misturas homogêneas de


agregados miúdos, aglomerantes inorgânicos e água, contendo ou não aditivos,
com propriedade de aderência e endurecimento, podendo ser dosada em obra ou
em instalação própria (industrializada).

As argamassas utilizadas para contrapiso quando do trabalho de Barros (1991)


eram de dois tipos: as de consistência plástica e as de consistência semisseca.
Mais recentemente essa classificação sofreu mudanças e, segundo a norma
alemã DIN 13318: 2000 as argamassas são classificadas de acordo com sua
consistência em:

 Semisseca: a consistência da argamassa no estado fresco é aquela que


possui água apenas em quantidade suficiente para permitir a compactação;

 Fluida: a consistência da argamassa no estado fresco é aquela na qual a


argamassa ocupa sua posição sem necessidade de compactação.
30

A tabela 2 apresenta um comparativo entre a composição dos dois tipos de


argamassa objeto deste trabalho.

Tabela 2 - Comparativo da composição das argamassas

Composição das
Argamassa Fluida Argamassa semisseca
Argamassas
Aglomerante (cimento) 25 a 45% 20 a 25%
Agregado miúdo 40 a 60% 60 a 75%
Água 20 a 30% 7 a 9%
Aditivos 10 a 15% -
Fonte: Nakakura, Bucher (1997); Barnbrook6 (1982) apud Barros (1991)

A argamassa semisseca, também conhecida como “farofa”, é basicamente


constituída por uma mistura de cimento e areia numa proporção que, dependendo
da sua utilização, geralmente varia entre traços em volume de 1:3 a 1:6 (Barros,
1991). Segundo Barnbrook (1982) apud Barros (1991), a quantidade de água a
acrescentar deverá ser a mínima necessária para proporcionar trabalhabilidade
suficiente para o lançamento e a compactação adequada.

As argamassas fluidas são basicamente feitas de cimento, areia e o restante é


formado por água e uma série de aditivos químicos e minerais destinados a
modificar as características reológicas no estado fresco e as propriedades físico-
mecânicas no estado endurecido, de modo a atender aos requisitos de
desempenho, durabilidade, carga e solicitação (NAKAKURA, BUCHER, 1997).

Para atenderem requisitos de autonivelamento e fornecerem as propriedades de


trabalhabilidade e escoamento, alguns autores afirmam que é necessária a adição
de cerca de 10 a 20 componentes químicos diferentes na mistura (Anderberg 7
(2007); Guimarães8 (2013) apud Rubin (2015).

6
BARNBROOK, G. Floor Screeds. Concrete. London, P. 27-29. Mar, 1992. (Practice Sheets n. 73)
7
ANDERBERG, A. Studies of moisture an alkalinity in self-levelling flooring compounds. Doctoral thesis.
Division of building materials, Lund Institute of Technology. Lund, 2007.
8
GUIMARÃES, M. B. Polímeros dispersíveis para argamassas autonivelantes. X SBTA – Simpósio
31

Sobre os tipos de aditivos comumente adicionados à argamassa fluida, eles


possuem funções específicas no contexto da aplicação da argamassa. Os mais
comuns são apresentados na tabela 3.

Tabela 3 – Tabela de aditivos das argamassas e suas funções

Aditivos Função na argamassa


Aumentar o tempo de trabalhabilidade e o acabamento
Retardador de pega da superfície e redução da retração, pois promove a
melhor distribuição do calor de hidratação do cimento. ¹
Reduzir a água de amassamento mantendo, a fluidez
Plastificante e
da argamassa e o abatimento (trabalhabilidade), o que
superplastificante
facilita no bombeamento e no adensamento. ¹
Minimizar a tensão decorrente da saída de água de
Antiretração amassamento por evaporação, reduzindo assim a
fissuração. ¹
Dificultar a propagação das fissuras na estrutura interna
da pasta de cimento, onde ocorrem as tensões internas.
Fibra de polipropileno
Podem aumentar a resistência à tração, a capacidade
de deformação e da tenacidade. ²
Fonte: ¹ Junior (2013); ² Silva (2006)

3.1.2 Produção da Argamassa

A argamassa semisseca é geralmente produzida em obra, com auxílio de um


misturador mecânico para homogeneizar a mistura. Os materiais são colocados
no traço desejado e misturados. Após misturada e com aspecto de farofa, a
argamassa pode ser aplicada no local.

Brasileiro de Tecnologia de Argamassas. Fortaleza, 2013.


32

A argamassa fluida pode ser industrializada ou usinada. No primeiro caso, ela


vem ensacada e basta homogeneizar a mistura, seguindo as recomendações do
fabricante, próximo ao local de aplicação. No caso de a argamassa ser usinada
ela é recebida praticamente pronta quando, por vezes, realiza-se alguma adição
de aditivo antes da mistura, e pode ser bombeada através de tubulações até o
pavimento de aplicação, o que torna o processo de transporte mais simples e
rápido.

3.2 TÉCNICAS DE EXECUÇÃO DE CONTRAPISO

As diferentes técnicas de execução de contrapiso serão mostradas e explicadas


passo-a-passo na sequência para melhor entendimento e diferenciação.

3.2.1 Contrapiso com argamassa semisseca

O processo de produção de contrapiso convencional que será descrito a seguir foi


baseado em procedimento interno da empresa em que o autor atua, elaborado a
partir do procedimento descrito por Barros e Sabbatini (1991).

A execução do contrapiso com argamassa semisseca tem início adotando-se uma


referência de nível para o contrapiso a partir da referência de nível da estrutura,
sendo que, após o mapeamento de toda a laje, considera-se uma espessura
mínima de 2cm do ponto mais elevado de toda a laje, aceitando-se espessuras
pontuais de 1,5cm para áreas de até 1m². Na definição da espessura procura-se
seguir as referências de projeto, que normalmente indicam espessura média de 3
cm.

Definida a cota acabada para o contrapiso, é feita limpeza da laje, retirando-se


excessos de argamassa ou qualquer outro material aderido no concreto.
Posteriormente, varre-se a poeira e lava-se toda a área com lavadora de alta
pressão.

O próximo passo é assentar as taliscas, atividade que é feita, de preferência, um


dia antes do início da aplicação da argamassa. Nas áreas de box de banheiro, o
33

caimento necessário é considerado na talisca com valores de 1,5% a 2,5% em


direção ao ralo. O espaçamento entre taliscas deve ser de, no máximo, 2m, para
apoio da régua. Para colocação das taliscas utiliza-se a mesma argamassa de
contrapiso (Figura 2).

Figura 2 – Colocação das taliscas no contrapiso convencional

Fonte: Procedimento interno de execução de contrapiso convencional da


construtora Eztec

Iniciando-se a execução, é feita a aplicação de mistura de água e aditivo adesivo


à base de poliacetato de vinila (PVA), na proporção de 1:6 (uma parte de água
34

para seis partes de aditivo), e espalhado com vassoura. Sobre esta mistura é
polvilhado cimento, num consumo aproximado de 0,5kg/m², para criar uma
camada de ligação entre a base de concreto e a argamassa semisseca que será
aplicada.

Com a argamassa semisseca produzida como mostrado anteriormente, ela é


distribuída sobre a ponte de aderência e compactada com soquete de madeira
contra a base. Em seguida, sobre duas taliscas consecutivas é sarrafeada a
argamassa em movimentos tipo "vaivém”. As taliscas devem ser removidas e
devem ser preenchidos os espaços vazios com argamassa. Assim são feitas as
mestras, faixas de argamassa aplicada entre taliscas na cota acabada (Figura 3).

Figura 3 – Execução das mestras no contrapiso convencional

Fonte: Procedimento interno de execução de contrapiso convencional da


construtora Eztec

Feitas as mestras, com a ponte de aderência ainda úmida, é aplicada argamassa


entre elas. Segue-se com o adensamento com o soquete de madeira, sempre de
35

modo a obter o máximo adensamento da camada de argamassa e é feito o


sarrafeamento com régua para regularizar o piso final.

O acabamento final é feito polvilhando-se cimento, também em consumo


aproximado de 0,5kg/m², e feito o alisamento da superfície com desempenadeira
de madeira nas áreas frias e com desempenadeira de madeira e de aço nas
áreas secas.

Um dia após a execução do contrapiso, deve-se iniciar a cura úmida e mantê-la


por dois dias, regando-se o piso duas vezes ao dia. Posteriormente, verifica-se a
ocorrência de falhas, realizando-se a devida correção. Para preservação do
serviço realizado deve-se bloquear o acesso de pessoas e equipamentos sobre a
argamassa recém-aplicada até a finalização da cura.

3.2.2 Contrapiso com argamassa fluida

A execução de contrapiso com argamassa fluida consiste em uma técnica


específica que se baseia em bombear e espalhar a argamassa fluida no local de
aplicação recém preparado para receber a argamassa. Por ser o objeto específico
deste trabalho, a execução do contrapiso com argamassa fluida será
detalhadamente registrada no item 4.4.

3.2.3 Critérios para escolha do método de execução de


contrapiso

Para definirmos o método de execução a ser utilizado para a produção de


contrapisos deve-se estudar o contexto em que este sistema está inserido.
Segundo Barros e Sabbatini (1991), o contrapiso deve considerar sobre as
seguintes questões:

 Características da base: é determinante para se ter a definição do tipo de


contrapiso a ser projetado, devendo-se conhecer a resistência, a
deformidade, o acabamento superficial e o nivelamento da base;
36

 Características dos materiais constituintes: são fundamentais para a


definição de uma argamassa racional, devendo-se considerar a
granulometria, o teor de finos e a natureza do inerte e do aglomerante;

 Solicitações de obra: é necessário que se conheça a época de execução


do contrapiso e como se relaciona às demais etapas da obra, verificando-
se o tempo e o grau de exposição a que o contrapiso está submetido, a fim
de determinar a resistência superficial necessária e, consequentemente, a
técnica de execução a ser empregada.

 Características do revestimento de piso: os revestimentos de piso a serem


utilizados determinam: os desníveis entre os contrapisos dos diversos
ambientes, interferindo, assim, nas suas espessuras; e as condições
superficiais e de aderência que devem apresentar os contrapisos, em
função da fixação prevista para o revestimento.

3.3 CONTROLE DA QUALIDADE DA PRODUÇÃO DE


CONTRAPISO

Discute-se, neste item, sobre o controle da qualidade da produção de contrapisos,


os requisitos e a aceitação do serviço executado com argamassa semisseca. O
controle da qualidade do contrapiso com argamassa fluida será discutido no
capítulo 4 deste trabalho.

3.3.1 Qualidade na Produção da Argamassa Semisseca de


Contrapiso

Segundo Barros (1991), por falta de material que trate especificamente da


produção da argamassa, a recomendação que se faz para verificar a qualidade é
sobre os materiais empregados e o controle de resistência mecânica da
argamassa.

Esta recomendação baseia-se no recebimento dos materiais, em que o cimento


recebido deve respeitar as especificações do tipo e classe de resistência
37

conforme foi comprado e, para a areia, avaliação visual de granulometria e a


presença de componentes prejudiciais à argamassa.

Com relação ao controle de resistência da argamassa, Barros (1991) diz que esta
verificação consiste na determinação da resistência à compressão, aos 28 dias,
de corpos de prova cúbicos, moldados com a argamassa, antes de sua utilização,
caso a argamassa exija classe de resistência maior que 55 N/mm², sendo que
para limites inferiores a este, recomenda-se realizar este ensaio somente quando
a empresa não possua prática suficiente para dosar corretamente a produção das
argamassas.

3.3.2 Qualidade na Execução de Contrapisos

Barros e Sabbatini (1991) dizem que o controle de execução de contrapiso deve


ser contínuo para todos contrapisos produzidos na obra e que deve compreender
a verificação das condições iniciais de trabalho, verificação dos níveis de taliscas
e acompanhamento e verificação da execução do contrapiso. Outras verificações
como controle da dosagem, tempo de mistura da argamassa, limpeza da base,
aplicação da ponte de aderência também costumam ser feitos durante a
execução de contrapisos.

Barros (1991), diz que, para verificação da aderência, deve ser feito ensaio de
percussão com barra metálica em todo o contrapiso, e que a ocorrência de som
cavo indica que não houve aderência com a base ou que esta ocorreu
parcialmente. Lembrando que, este ensaio de percussão é válido somente para
contrapisos aderidos.

Ainda segundo Barros (1991), outra característica a se verificar é a espessura e a


regularidade superficial. A espessura deve apresentar uma tolerância mínima em
relação ao especificado em projeto. Com relação à superfície final, a
horizontalidade e a planeza são itens usualmente avaliados, sendo que o estado
final deve estar isento de saliências, sendo liso, fino e regular. A tolerância deve
ser medida com régua de 2m com flechas máximas de 3mm conforme a NBR
15575-3 (2013).
38

3.4 CUSTOS DE PRODUÇÃO DE CONTRAPISO

Neste item do trabalho serão discutidas definições sobre os custos de produção


de contrapiso nas obras, os custos diretos e indiretos.

Segundo Dias9 (2001) apud Pinho (2015), os custos diretos são os custos obtidos
pela soma dos insumos que foram incorporados ao produto, e cita como exemplo
escavação, fôrmas, armação instalações elétricas e hidráulicas etc. Já os custos
indiretos, ainda segundo o autor, são todos os custos que não são facilmente
mensuráveis, e cita como exemplo, engenheiro, mestre de obras, contas de água,
energia, telefone, este e outros, que são calculados por mês, ou sobre o custo
total ou sobre o preço final da obra.

Os dados publicados pelo SINAPI no mês de março de 2017 mostram os preços


médios que servem de referencial para orçamentos e licitações de obras públicas.
Para a execução de contrapiso foram divulgados os dados apresentados na
tabela 4.

Tabela 4 - Dados do SINAPI para execução de contrapiso

Tipo Descrição Preço


Argamassa usinada autoadensável e autonivelante
Insumos R$ 313,85/m³
para contrapiso (inclui bombeamento)
Contrapiso em argamassa traço 1:4 (cimento e
areia), preparo mecânico com betoneira 400L,
R$ 30,17/m²
aplicado em áreas secas sobre laje, aderido,
Serviço
espessura 3cm
Contrapiso autonivelante, aplicado sobre laje,
R$ 20,09/m²
aderido, espessura 3cm
Fonte: SINAPI da CEF do mês de março de 2017 para o estado de São Paulo

9
DIAS, P. R. V. Engenharia de Custos. 3ª edição. Rio de Janeiro: CREA-RJ. IBEC, 2001.
39

3.5 PRAZOS DE EXECUÇÃO DE CONTRAPISO

Segundo Ackoff10 (1970) apud Palhota (2016), planejamento é algo que se faz
antes de agir, isto é, a tomada antecipada de decisões. O autor ainda destaca a
necessidade do planejamento de um empreendimento, ao afirmar que o
planejamento é necessário quando a consecução do estado futuro que se deseja
envolve um conjunto de decisões interdependentes. Além disso, o planejamento é
parte essencial para o processo de implantação de inovações (Tavares, 2015).

De acordo com Souza e Agopyan (1996), serviço de construção pode ser descrito
como um processo que transforma recursos (entradas) em produtos (saídas), de
forma que a produtividade da mão de obra pode ser medida por meio de um
índice parcial denominado de razão unitária de produção (RUP), que relacionam
hora-homens despendidos à quantidade de serviço executada.

O prazo de produção de contrapisos considera a quantidade da produção por um


período de tempo, e varia de acordo com o planejamento da construção de cada
empreendimento ou empresa.

3.6 PROJETOS DE CONTRAPI SO

A elaboração de projeto para execução de contrapiso é uma dinâmica necessária


para que se obtenha um produto de qualidade, com custos compatíveis, no prazo
programado e que empregue adequadamente os materiais equipamentos e
técnicas disponíveis (BARROS, 1991). No desenvolvimento do projeto é que
devem ser definidas as soluções, tecnologias e os procedimentos de execução do
contrapiso da obra sendo que, projetistas e construtores, em função de custos,
prazo de execução e viabilidade técnica é que decidirão o melhor método de
execução (AMORIM, 2015).

Conforme Barros (1991), os projetos de contrapiso devem conter informações


sobre:

10
ACKOFF, R. L. A Concept of Corporate Planning. John Wiley & Sons: New York, 1970.
40

 Argamassa: composição, dosagem, teor de aglomerante por m³ de


argamassa e características dos materiais;

 Especificação dos procedimentos de execução;

 Espessuras de contrapiso dos ambientes;

 Caimentos e declividade com locação dos ralos;

 Tipos de ensaios necessários;

 Parâmetros de aceitação do contrapiso;

 Detalhes construtivos e informações de compatibilização com outros


sistemas como impermeabilização, instalações e esquadrias através de
representações gráficas;

 Memorial descritivo.

Para projetos de contrapiso com argamassa fluida, Amorim (2015) sugere que
sejam inclusos também:

 Parâmetros de aceitação da argamassa de contrapiso;

 Presença de barreiras de contenção, juntas de dessolidarização ou


movimentação e espessuras das mesmas;

 Indicação do posicionamento dos níveis móveis (ou niveletas).


41

3.7 CONTRAT AÇ ÃO DO SERVI ÇO DE CONTRAPISO

Geralmente, o serviço de contrapiso é contratado por área, independentemente


do método de execução. Porém, no custo de produção podem considerar
algumas variáveis como método de execução, área do apartamento, método de
transporte vertical e horizontal dos materiais, espessura do contrapiso, se o
contrapiso é aderido ou não, presença de caimento, traços especiais de
argamassa, entre outros.

No caso do método convencional de produção do contrapiso é contratada a mão


de obra para execução e os materiais para produção são comprados
separadamente, a areia por volume, cimento ensacado e aditivos por litro. No
método com argamassa fluida, a contratação da argamassa é feita por volumee o
serviço de bombeamento, nivelamento, adensamento e cura são feitos por
empreitada por metro quadrado de área produzida.
42

4. ESTUDO DE CASO

4.1 DADOS DA OBRA ESTUDO DE CASO

A obra foco deste estudo de caso é o empreendimento Cidade Maia, localizado


na cidade de Guarulhos, em São Paulo. O residencial Cidade Maia é um
complexo formado por 5 condomínios que, juntos, somam um total de 1969
unidades habitacionais, divididos em 9 torres de 28 pavimentos tipo e 4
sobressolos cada. Os apartamentos, somados às áreas de lazer dos condomínios
e à praça central, que é comum a todos os condôminos e visitantes do
empreendimento, resultará num total de 293.745 m² de área construída.

Destes 5 condomínios, serão usados para efeito comparativo deste estudo de


caso os residenciais Jardim e Reserva, onde o primeiro utilizou a argamassa
fluida para execução de contrapiso de áreas secas, enquanto o segundo utilizou a
argamassa semisseca.

O residencial Jardim, cuja entrega aos proprietários está planejada para julho de
2017, possui 2 torres e 4 sobressolos, totalizando 45.262m² de área construída. A
torre Orquídea (A) possui 112 apartamentos de 122m², sendo 4 apartamentos por
andar, e a torre Bromélia (B) possui 168 apartamentos de 86 ou 87 m², sendo 6
unidades por andar. A obra possui prazo de execução de 35 meses.

Este empreendimento utilizou o método de execução de contrapiso aderido e não


armado a partir do emprego de argamassa fluida nas áreas secas (salas e
dormitórios) dos apartamentos e halls sociais dos pavimentos tipo, ou seja, toda a
área onde não existe inclinação nem impermeabilização previstas em projeto. As
figuras 4 e 5 e a tabela 5 mostram a área executada com argamassa fluida das
torres A (Orquídea) e B (Bromélia) e a metragem de contrapiso de áreas secas,
respectivamente.
43

Figura 4 – Área de contrapiso de áreas secas (Residencial Jardim torre Orquídea)

Fonte: projeto elaborado pelo autor

Figura 5 – Área de contrapiso de áreas secas (Residencial Jardim torre Bromélia)

Fonte: projeto elaborado pelo autor


44

Tabela 5 - Área de contrapiso com argamassa fluida do residencial Jardim

Área de contrapiso de áreas secas – Residencial Jardim


Área unitária Área total
Local Ambiente
(m²) (m²)
Apartamentos 122m² 65,27 7.310,43
Torre Orquídea Hall social 5,34 149,60
Hall serviço 8,31 232,87
Apartamentos 86m² 48,67 5.450,68
Torre Bromélia Apartamentos 87m² 48,66 5.449,94
Hall social 31,85 891,88
Soma total (m²) 19.485,40

O residencial Reserva, cuja entrega está programada para novembro de 2017,


possui também 2 torres e 4 sobressolos, totalizando 50.567m² de área construída.
A torre Atlântica (A) possui 112 apartamentos de 154m², sendo 4 apartamentos
por andar. A torre Flora (B) possui 112 apartamentos de 122m², sendo 4
apartamentos por andar. A obra possui prazo de execução de 35 meses. As
figuras 6 e 7 e a tabela 6 mostram a área executada com argamassa fluida das
torres A (Atlântica) e B (Flora) e a área de contrapiso de áreas secas,
respectivamente.
45

Figura 6 - Área de contrapiso de áreas secas (Residencial Reserva torre Atlântica)

Fonte: projeto elaborado pelo autor

Figura 7 - Área de contrapiso de áreas secas (Residencial Reserva torre Flora)

Fonte: projeto elaborado pelo autor


46

Tabela 6 - Área de contrapiso com argamassa semisseca do residencial Reserva

Área de contrapiso de áreas secas – Residencial Reserva


Área unitária Área total
Local Ambiente
(m²) (m²)
Apartamentos 154m² 81,84 9.166,04
Torre Atlântica Hall social 7,36 206,08
Hall serviço 8,08 226,24
Apartamentos 122m² 63,96 7.163,52
Torre Flora Hall social 10,68 299,04
Hall serviço 8,46 236,88
Soma total (m²) 17.297,84

A opção por se utilizar o contrapiso com argamassa fluida no residencial Jardim


foi tomada devido à dificuldade de recebimento de materiais nos acessos à obra.
De forma que, ao invés de receber grandes cargas de cimento e areia, a
execução dos contrapisos foi feita somente com uma tubulação para
bombeamento da argamassa da rua até as torres, facilitando a logística do
canteiro de obras.

4.2 CONTRAT AÇ ÂO DO SERVI ÇO DE CONTRAPISO

4.2.1 Serviço de mão de obra de execução

Para o serviço de execução do contrapiso com utilização de argamassa fluida foi


contratada empresa especializada, cujo escopo de contratação está detalhado na
tabela 7.
47

Tabela 7 - Escopo de contratação para execução de contrapiso com argamassa


fluida

Escopo da contratada Escopo da contratante

Limpeza da laje, removendo-se


Nivelamento a laser outros materiais aderidos à laje e
lavagem

Lançamento, aplicação e acabamento


Contenção das áreas vazadas
superficial do contrapiso

Programação e logística dos caminhões


betoneira

Equipe para execução, cura e reparos


necessários

Umedecimento prévio da laje com lavadora


de alta pressão

Cura úmida de 3 dias ou mais se necessário

4.2.2 Fornecimento de argamassa

Foi contratada uma empresa conhecida no mercado para o fornecimento da


argamassa de contrapiso. Este contrato estava vinculado ao da empresa
executora, ou seja, era contratada da mesma, de forma que esta empresa
executora era incumbida de realizar as programações junto à usina para
fornecimento de material.

Escopo da contratada:

 Fornecimento de argamassa segundo composição e dosagem definidas


pela contratante e apresentadas na tabela 8.
48

Tabela 8 - Composição e dosagem da argamassa fluida

Composição e dosagem da Argamassa Fluida (1 m³)


Cimento CP II E 40 Votoran Santa Helena 300 kg
Água 290 litros
Areia artificial (pó de pedra) 1050 kg
Quartzo 600 kg
Aditivo antiretração Grace Tecfix 2 litros
Aditivo retardador de pega Grace Recover 0,5 litro
Aditivo polifuncional Maxment 2 litros
Aditivo superplastificante Grace EXP3 1 a 3 litros (em obra)
Fibra de polipropileno 1,37 kg
Fonte: fornecedor contratado

4.3 PROCEDIMENTO DE EXECUÇÃO DO CONTRAPISO C OM


ARG AM ASS A FLUIDA

Como não existia procedimento para este tipo de execução de contrapiso na


Eztec, tomou-se como referência o procedimento cedido pela empresa contratada
para realizar o contrapiso com argamassa fluida, criando-se um procedimento
próprio baseado nos conceitos e critérios adotados pela empresa.

Os serviços antecedentes recomendados para a execução do contrapiso são:

 Alvenarias internas e externas executadas;

 Instalações elétricas embutidas finalizadas.

Assim que liberado para o início da execução do contrapiso, inicia-se a


preparação da área para o recebimento da argamassa. Os procedimentos estão
listados e detalhados a seguir.
49

4.3.1 Limitação do perímetro do contrapiso

Anteriormente à liberação para início do contrapiso, o seu perímetro deve ser


fechado, colocando-se contenções de madeira feitas com sarrafos de pinus nas
áreas vazadas e limitantes do contrapiso nivelado. Estas fôrmas de contenção
eram colocadas na divisão da sala para o terraço, na sala com o hall do
pavimento e nas divisões de áreas secas com áreas úmidas, o que acontecia na
sala com a cozinha e nos quartos com os banheiros, como pode-se observar nas
figuras 8 a 11 a seguir.

Figura 8 – Contenção da área da sala com a cozinha sendo executada

Fonte: foto tirada pelo autor em 29/01/16


50

Figura 9 – Preenchimento da fresta entre a contenção e a laje com areia

Fonte: foto tirada pelo autor em 29/01/16

Figura 10 – Contenção da área da sala com a cozinha (área seca / área molhável)

Fonte: foto tirada pelo autor em 29/01/16


51

Figura 11 – Contenção da área do quarto com o banheiro (área seca / área


molhável)

Fonte: foto tirada pelo autor em 29/01/16

4.3.2 Preparação da base

Assim como os serviços antecedentes ao contrapiso, o próprio serviço de


contenção das áreas vazadas e limitantes geram alguns resíduos como pregos,
restos de madeira, serragem de madeira e areia, que podem prejudicar a
aderência do contrapiso na base. Portanto, primeiramente, deve-se realizar a
limpeza, com vanga ou talhadeira e marreta removendo os excessos de
argamassa aderidos na laje, que possam ser resultante dos serviços de execução
da alvenaria. Posteriormente, com vassoura e água, retiram-se os detritos e
sujeiras, como na foto abaixo, deixando-se a laje limpa e úmida, condição
essencial para execução do contrapiso.
52

Figura 12 – Resíduos gerados na produção das contenções para o contrapiso

Fonte: foto tirada pelo autor em 29/01/16

Figura 13 – Laje de concreto limpa e umedecida

Fonte: foto tirada pelo autor em 29/01/16

4.3.3 Definição do nível

Toda a laje do pavimento deve ser mapeada para se observar o ponto mais
crítico, isto é, o ponto mais alto da laje. A partir deste ponto crítico, adota-se o
nível do contrapiso como 2,5cm acima do ponto mais crítico. Em alguns pontos
isolados e com área máxima de até 1m², aceita-se o contrapiso com 2cm de
espessura.
53

Figura 14 – Mapeamento da laje de concreto

Fonte: foto tirada pelo autor em 01/02/16

Definido o nível do contrapiso, este nível é transferido por toda o pavimento


colocando-se as niveletas nas cotas finais da camada de contrapiso, espaçadas
entre si de 1 a 4m. O ajuste da niveleta é feito de forma que o limite inferior da
vareta ficará no limite superior do contrapiso.

Figura 15 – Distribuição das niveletas

Fonte: foto tirada pelo autor em 01/02/16


54

Figura 16 – Niveleta antes e após o lançamento da argamassa

Fonte: fotos tiradas pelo autor em 01/02/16

4.3.4 Preparação para execução

No dia agendado para se realizar o bombeamento da argamassa fluida, a bomba


e a tubulação são previamente preparadas. A tubulação é preparada para se
alcançar o pavimento ou os pavimentos a serem executados e a bomba para
receber a argamassa.

O recebimento da argamassa deve ser feito pelo almoxarife conforme


procedimento específico de recebimento de argamassa melhor descrito no item
4.4 deste trabalho. Conforme o mesmo, o tempo de aplicação da argamassa
desde a saída dela da usina não deve exceder em 3 horas. A figura 17 abaixo
mostra a preparação para o início do bombeamento da argamassa.
55

Figura 17 – Preparação da bomba e da argamassa

Fonte: foto tirada pelo autor em 01/02/16

Autorizado o recebimento, deve-se adicionar o aditivo superplastificante Grace


EXP3 em proporção de 1 à 3 litros por metro cúbico de argamassa e misturar a
argamassa até completa homogeneização. A proporção aproximada do aditivo
era avaliada pelo motorista pelo tempo na hora da chegada, de forma que se
tivesse um tempo quente, adicionava-se mais aditivo, e se estivesse mais frio, se
adicionava menor quantidade. Nenhum tipo de ensaio de espalhamento era
realizado na argamassa. Após isso, é iniciada a descarga e o bombeamento da
argamassa até o local.

Figura 18 – Dosagem do aditivo superplastificante

Fonte: foto tirada pelo autor em 01/02/16


56

4.3.5 Aplicação da argamassa flu ida

A aplicação da argamassa fluida é feita do ponto mais distante da porta até o


menos distante, de forma que o mangote vai sendo recolhido para fora das
portas, até que se finalize o apartamento.

Figura 19 – Bombeamento da argamassa fluida

Fonte: foto tirada pelo autor em 01/02/16

Assim que a argamassa é espalhada até o nível definido nas niveletas, com a
argamassa ainda líquida, é feito o adensamento da argamassa com o auxílio da
membreta - espécie de rodo metálico - de forma moderada e, em seguida, é
passado a membreta na superfície do contrapiso para deixa-lo liso. Apesar da
argamassa ser “autonivelante” este procedimento de alisamento da superfície é
necessário para manter a planicidade da argamassa recém bombeada.

Após a execução, o local onde foi aplicada a argamassa deve ser interditado
evitando-se tráfego de pessoas, equipamentos ou materiais, durante 24 horas.
57

Figura 20 – Adensamento e acabamento do contrapiso

Fonte: foto tirada pelo autor em 01/02/16

4.3.6 Cura do contrapiso

Um dia após a execução, devem-se iniciar os procedimentos de cura do


contrapiso executado. Inicialmente foi realizada a cura úmida, que consistia em
molhar o contrapiso mantendo uma lâmina d’água quantas vezes fossem
necessárias durante 3 dias. Devido a problemas com a mão de obra para
executar a cura durante esses 3 dias, a qual realizava somente no primeiro dia,
acarretando elevado número de ocorrências de fissuração, alterou-se o
procedimento para cura química, que se realizou no dia após a aplicação,
realizando o espalhamento do aditivo Grace Curatec diluído em água, no traço de
1:1 (volume), por meio de pulverizador manual até que se formasse uma camada
uniforme e branca, devido à cor do aditivo. Como o aditivo de cura é a base de
acetato de polivinila (PVA), não há a necessidade de se remover a película
formada na superfície do contrapiso, não implicando no desempenho da
aderência do revestimento que será colocado sobre o contrapiso.
58

Figura 21 – Cura química da argamassa de contrapiso

Fonte: foto tirada pelo autor em 02/02/16

Figura 22 – Aspecto do contrapiso após a cura química

Fonte: foto tirada pelo autor em 02/02/16


59

4.4 CONTROLE DE QUALIDAD E DO CONTRAPISO EXECUT ADO


COM ARG AMASS A FLUIDA

O controle da qualidade na execução do contrapiso com argamassa fluida


realizado na Eztec inicia-se antes mesmo do início da aplicação da argamassa,
desde a liberação do local para início do serviço até a conferência mensurada e
visual do contrapiso.

A conferência da qualidade é dividida em duas partes, antes e após a execução.


Antes da execução são conferidos liberação do local, limpeza, contenções,
referência de nível e umedecimento da base. Após a execução, são conferidos
cura, preservação do serviço, acabamento, nivelamento, planeza e aderência com
a base. A tabela 9 mostra os itens de conferência do contrapiso com argamassa
fluida do sistema de gestão da qualidade da Eztec.
60

Tabela 9 - Verificações e tolerâncias da qualidade na produção de contrapisos

Item de verificação Método de Verificação Tolerância


Presença de entulhos, escoras
Deve estar
Liberação do local metálicas ou fôrmas de madeira
desimpedido
que impeçam o início do serviço
Limpeza com jato de alta pressão
feita e presença de restos de
Limpeza Deve estar limpo
argamassa ou outro material
aderido
Delimitação da área A área de aplicação da Anteparos devem
de aplicação da argamassa deve estar delimitada estar posicionados
argamassa por anteparos adequados nos locais corretos
Verificar as niveletas, partindo de
Niveletas devem estar
um ponto de referência pré-
Referência de nível ajustadas conforme
estabelecido, com nível a laser e
RN do pavimento
trena metálica
Umedecimento da Verificar visualmente se a base
Deve estar úmida
área de aplicação está úmida
Verificar visualmente a execução
da cura em toda a área de Toda a área deve ser
Cura
aplicação por 48 horas a partir do curada
dia seguinte a execução
Preservação de Verificar o isolamento total da Toda a área deve ser
serviço acabado área executada durante a cura isolada
Não pode haver
Verificar visualmente a presença rugosidade,
Acabamento de rugosidade, desagregação, desagregação, falha,
falha, buraco e fissuramento buraco ou
fissuramento
Verificar com nível alemão ou
Desvio máximo 5 mm
Nivelamento nível a laser ou mangueira de
(por apartamento)
nível e trena metálica
Verificar com régua de alumínio Desvio máximo 3mm
Planeza
de 2m (por apartamento)
Não pode haver
Após 14 dias da cura, verificar a
rugosidade,
presença de rugosidade,
Acabamento final desagregação, falha,
desagregação, falha, buraco e
buraco ou
fissuramento
fissuramento
Não pode haver som
Após 28 dias da cura, verificar
cavo em áreas
Aderência com a através de batidas no piso com
superiores a 900cm²
base peça metálica, madeira, ou
ou em beiradas com
martelo de inspeção
áreas frias
61

Após a execução do serviço de contrapiso, a equipe de engenharia é encarregada


de conferir a qualidade dos serviços prestados. Desta forma, é realizada a
inspeção em todos os locais em que foram executados contrapiso e registrados
conforme FVS específica, que pode ser vista no anexo D.

Assim como a execução, o recebimento da argamassa também é analisado e


registrado em ficha. As verificações são das informações na nota fiscal, volume,
horários de saída da usina, chegada na obra e término da aplicação, lacre do
caminhão betoneira e local de aplicação, procedimento semelhante ao de
concretagem de estrutura. A ficha de verificação de material para argamassa
fluida para contrapiso pode ser vista no anexo C.

4.5 ENS AIOS RE ALIZADOS

A fim de se analisar o desempenho do contrapiso executado, foram realizados


dois ensaios de resistência de aderência à tração. O primeiro foi realizado
somente no contrapiso para avaliar a aderência deste no substrato, ou camada
estrutural. O segundo foi realizado no sistema de piso completo de áreas secas,
ou seja, com revestimento cerâmico assentado sobre o contrapiso.

O primeiro ensaio, realizado no contrapiso executado com argamassa fluida, foi o


de resistência de aderência à tração sem o revestimento final, ou seja, só o
contrapiso, como pode-se ver na figura 23. O ensaio foi realizado pela empresa
Conteste Engenharia, em junho de 2015, conforme a ABNT NBR 13.528:2010. Os
dados do ensaio e os resultados estão mostrados na tabela 10. O ensaio na
íntegra pode ser consultado no anexo A.
62

Tabela 10 - Dados do primeiro ensaio no contrapiso

Item Descrição
Tipo de argamassa Industrializada
Tipo de substrato Estrutura de concreto sem chapisco
Fornecedor Polimix
Idade 39 dias
Espessura 30 mm
Área da seção da pastilha 1963,50 mm²
Umidade 1,2%
Média de resistência 0,4 MPa
Desvio médio 0,1 MPa

Figura 23 – Ensaio de resistência de aderência à tração no contrapiso

Fonte: foto tirada pelo autor em 03/02/16

Conforme o resultado demonstrado no ensaio, a média de resistência da tensão


foi de 0,4 MPa neste ensaio. Além disso, 11 das 12 amostras obtiveram valor
acima do limite mínima da norma. Por não se possuir um valor normativo de
referência para contrapiso, os ensaios tomaram como referência valores limite de
resistência para revestimentos de parede e teto de argamassas inorgânicas,
referência normativa existente mais adequada a este cenário do contrapiso com
63

argamassa fluida por também ser uma camada de revestimento de argamassa


inorgânica, apesar das diferentes solicitações.

Considerando que o limite mínimo de resistência de aderência à tração para


revestimentos de parede e tetos é de 0,30 MPa, conforme ABNT NBR
13749:2013, a média das resistências ficou acima da mínima. A mesma norma
exige também que no mínimo 8 das 12 amostras atinjam valores acima. Neste
ensaio 11 das 12 amostras alcançaram este valor mínimo.

Por outro lado, Barros (1991) indica em sua tese valores de resistência de
aderência do contrapiso, mostrados na tabela 11.

Tabela 11 - Valores para a resistência de aderência do contrapiso conforme


Barros (1991)

Resistência de Resistência de
Idade
aderência à base aderência superficial
7 dias 0,3 MPa 0,7 MPa
14 dias 0,5 MPa 1,0 MPa

Se considerarmos estes números indicados por Barros (1991), a resistência teria


sido reprovada uma vez que a média de aderência à base foi de 0,4 MPa aos 39
dias. Analisando-se o tipo de ruptura da pastilha do ensaio (tipo D), que é a
ruptura que acontece na interface argamassa/cola, conforme a figura 24, nota-se
que o valor de ruptura da interface laje/contrapiso é maior do que o valor de
ruptura da interface contrapiso/cola da pastilha, o que pode indicar problemas de
resistência superficial do contrapiso.
64

Figura 24 – Forma tipo D de ruptura no ensaio de resistência de aderência à


tração para um sistema de revestimento sem chapisco

Fonte: ABNT NBR 13528:2010

O segundo ensaio realizado foi o da resistência de aderência à tração com o


revestimento final, ou seja, sobre o contrapiso foi assentado revestimento
cerâmico com argamassa colante. O ensaio foi realizado pela empresa Tecmix
Engenharia e Tecnologia de Argamassas em abril de 2016. Neste ensaio foram
realizados 3 protótipos de forma que o sistema de piso e os ensaios ficaram
organizados de acordo com a tabela 12.

A cura química foi realizada por meio da pulverização do agente de cura para
concreto Curatec sobre o contrapiso até que se formasse uma camada
esbranquiçada, conforme procedimento adotado na obra e descrito anteriormente.
A cura úmida é feita por meio da aplicação de lâmina d’água sobre a superfície do
contrapiso e posterior colocação de manta úmida para manter a umidade do
contrapiso. Este ensaio pode ser consultado no anexo B.
65

Tabela 12 – Critérios e resultados dos ensaios de aderência

Protótipo A Protótipo B Protótipo C

Argamassa
Fluida Semisseca Fluida
de contrapiso

Método de
Cura química Cura úmida Cura úmida
cura

Argamassa
AC I Quartzolit AC I Quartzolit AC I Quartzolit
colante

Revestimento Incepa Nórdico Snow Incepa Nórdico Snow Incepa Nórdico Snow
cerâmico Fit 60x60cm Fit 60x60cm Fit 60x60cm

Resistência
média de 0,37 MPa 0,43 MPa 0,47 MPa
aderência

Figura 25 – Protótipo C do ensaio de resistência de aderência à tração

Fonte: foto constante no relatório do ensaio


66

Os protótipos A e C (argamassa fluida) apresentaram valores de resistência à


aderência maior que 0,3 MPa em pelo menos 4 das 6 amostras realizadas,
conforme ABNT NBR 13753:1996. Já o protótipo B (argamassa semisseca)
apresentou valores de resistência à aderência maior que 0,3 MPa somente em 3
das 6 amostras realizadas, em desacordo com a mesma norma citada. Com
relação à cura do contrapiso, pelo resultado do ensaio, nota-se que para o
contrapiso com argamassa fluida, a cura úmida estimulou maior resistência de
aderência à tração.

4.6 PROBLEMAS PATOLÓGICO S APRESENTADOS PELO


CONTRAPISO E SEUS TRATAMENTOS

A fim de se analisar a qualidade dos contrapisos executados, foram compilados


os dados de todas as FVS de contrapiso dos dois empreendimentos, cada um
com duas torres. O primeiro empreendimento chamado Reserva, possui
17.297,84 m² de contrapiso de área seca, que foi todo executado com argamassa
semisseca. O segundo empreendimento chamado Jardim, possui 16.760,25 m²
de contrapiso de área seca, que foi todo executado com argamassa fluida.

Os dados das FVS foram compilados de forma a somar quantos problemas foram
apontados nas fichas e o total foi somado para elaboração dos gráficos. Os
números obtidos neste estudo estão no gráfico abaixo.

O contrapiso executado com argamassa fluida apresentou problemas como som


cavo, fissuras, rugosidades, falhas, falta de nivelamento e planicidade. Estes
problemas foram observados e registrados nas FVS de contrapiso com
argamassa fluida do sistema de gestão da qualidade da Eztec, conforme anexo D.
Os dados quantitativos referentes aos problemas podem ser vistos no gráfico 1.
67

Gráfico 1 – Problemas detectados no contrapiso com argamassa fluida

Falhas Aderência
3% 6%
Nivelamento
9%

Planeza
4%

Rugosidade
42%

Fissuras
36%

A rugosidade foi o problema de maior ocorrência observado no contrapiso. Ela é


resultado do mau acabamento com a membreta, em que se observa ondulações
no piso. É claramente um problema de execução e compromete o efeito visual do
contrapiso, já que a entrega para o cliente é sem a camada de acabamento. A
solução deste problema é trabalhosa, pois a empresa executora é chamada
novamente ao local para fazer o lixamento daquela região. Desta forma, deve
haver deslocamento de equipamentos pesados até o local e além de formação de
poeira. A ocorrência da rugosidade e o acabamento com a membreta que o
resulta podem ser vistos nas figuras 26 e 27, respectivamente.
68

Figura 26 – Rugosidade no contrapiso

Fonte: foto tirada pelo autor em 02/02/16

Figura 27 – Acabamento do contrapiso que causa rugosidades/ondulações

Fonte: foto tirada pelo autor em 02/02/16

Como visto no gráfico, as fissuras também ocorreram em grande escala. As


fissuras por vezes eram profundas, como na figura 28, e por vezes superficiais,
como na figura 29.
69

Figura 28 – Fissura profunda no contrapiso

Fonte: foto tirada pelo autor em 02/02/16

Nestes casos eram feitas as correções retirando a camada fissurada de


contrapiso com serra elétrica e reaplicando argamassa semisseca de contrapiso
no local. No caso das fissuras superficiais, eram provocadas por efeito de
retração da argamassa, como observada na figura 29. Elas apresentam formatos
curvos e ondulados e são resultantes da evaporação da água pelo calor de
hidratação do cimento, apesar da presença de aditivos para evitar tal situação.
70

Figura 29 – Fissuras superficiais no contrapiso

Fonte: foto tirada pelo autor em 02/02/16

As fissuras superficiais eram tratadas fazendo uma pintura no piso para


preenchimento da fissura com uma mistura de cimento e resina polimérica diluída
em água, como na figura 30.

Figura 30 – Tratamento de fissuras superficiais

Fonte: acervo da obra


71

Por vezes as fissuras vinham acompanhadas de som cavo na região, indicando


que houve separação da camada estrutural. A ocorrência de som cavo, com ou
sem a presença de fissuras, era corrigida recortando a região com serra elétrica,
limpando, colocando a ponte de aderência e reaplicando argamassa semisseca
compactada, como na foto 31.

Figura 31 – Tratamento de som cavo em contrapiso

Fonte: acervo da obra

As falhas são pequenos buracos no contrapiso ou beiradas quebradas que são


tratadas removendo a sujeira, umedecendo e aplicando argamassa nos buracos
com espátula, como na figura a seguir.

Figura 32 – Falhas no contrapiso

Fonte: foto tirada pelo autor em 02/02/16


72

Todas as ocorrências no contrapiso executado com argamassa fluida que eram


de origem da execução ou do processo executivo, como som cavo, nivelamento,
planeza e rugosidades eram corrigidas pela empresa executora. No caso de
falhas, fissuras ou outros problemas gerados após a execução do contrapiso e
por motivos que não fosse por falha da executora eram corrigidos pela equipe de
mão de obra da construtora.

O contrapiso executado com argamassa semisseca também


apresentouproblemas como falhas, som cavo, rugosidades, falta de nivelamento e
planicidade. Estes problemas também foram observados e registrados nas FVS
de contrapiso com argamassa semisseca do sistema de gestão da qualidade da
Eztec. Os dados quantitativos referentes aos problemas podem ser vistos no
gráfico 2. As soluções dos problemas eram feitas da mesma forma que o
contrapiso com argamassa fluida.

Gráfico 2 – Problemas detectados no contrapiso com argamassa semisseca

Aderência
Nivelamento Planeza
8%
2% 3%
Fissuras
0%

Rugosidade
0%

Falhas
87%
73

4.7 CUSTOS DE PRODUÇÃO D O CONTRAPISO

Os custos de produção dos contrapisos com argamassa fluida e semisseca que


são os valores monetários para produção dos insumos e execução do serviço
foram obtidos no estudo de caso, tanto o preço da argamassa quanto o preço da
mão de obra de execução. O preço da argamassa semisseca foi obtido pela
composição unitária dos insumos no traço da argamassa, já que estes insumos
são comprados separadamente. Para efeito de comparação foi pesquisado o
preço do índice do SINAPI da CEF como referência de custo para o estado de
São Paulo. As tabelas 13 e 14 mostram os custos de produção dos dois métodos
de execução dos contrapisos estudados.

Tabela 13 - Custos de produção para o contrapiso com argamassa semisseca

Execução de contrapiso com argamassa semisseca Preço


Mão de obra (m²) R$ 19,00
Material (m³) R$ 285,36
TOTAL (m² de contrapiso para espessura de 3cm) R$ 27,56

Tabela 14 - Custos de produção para o contrapiso com argamassa fluida

Execução de contrapiso com argamassa fluida Preço


Mão de obra (m²) R$ 19,50
Material (m³) R$ 270,00
TOTAL (m² de contrapiso para espessura de 3cm) R$ 27,60

Nos custos de mão de obra inclui o transporte do material da área de recebimento


até o pavimento, do transporte manual através de elevador cremalheira para a
argamassa semisseca e do transporte bombeado para a argamassa fluida.

Os dados do SINAPI foram retirados do documento oficial constante no site da


CEF na internet. Assim como os preços discriminados nas tabelas acima, os
74

dados do SINAPI são base de dezembro de 2015 e para o estado de São Paulo.
A tabela 15 mostram os dados obtidos no SINAPI para mão de obra.

Tabela 15 - Preços de referência para contrapiso do SINAPI para mão de obra

Descrição do item Preço Unidade


87630 - Contrapiso traço 1:4 (cimento e areia),
preparo mecânico com betoneira 400L, aplicado em R$ 29,48 m²
áreas secas sobre laje, aderido, espessura 3cm
88477 - Contrapiso autonivelante, aplicado sobre
R$ 18,97 m²
laje, aderido, 3cm
Fonte: SINAPI, referência dezembro de 2015

Para a referência de material, no documento do SINAPI não constava nenhuma


referência para a argamassa no traço 1:4 (cimento e areia) feita em obra. Para a
argamassa fluida obtivemos do SINAPI os preços relacionados apresentados na
tabela 16.

Tabela 16 - Preços de referência para contrapiso do SINAPI para material

Descrição do item Preço Unidade


38546 - Argamassa usinada autoadensável e
R$ 301,44 m³
autonivelante para contrapiso, inclui bombeamento
25950 – Serviço de bombeamento de concreto com
R$ 26,84 m³
consumo mínimo de 40m³
Fonte: SINAPI, referência dezembro de 2015

Como o preço da argamassa fluida, constava incluído o bombeamento, fizemos a


subtração do item de bombeamento, de forma que o preço da argamassa usinada
autoadensável e autonivelante para contrapiso resultou em R$ 274,60.
75

4.8 PRAZOS DE PRODUÇÃO D O CONTRAPISO

Os prazos de produção do contrapiso obtidos no estudo de caso foram baseados


no formato de trabalho de gestão da construtora. Este formato de administração
exige das contratadas que elas cumpram os cronogramas exigidos pela
construtora independentemente do número de funcionários. De forma que, neste
formato, a produtividade apresentada em hora-homem ou na razão de produção
m²/hora não importa. Então, os prazos de produção dos contrapisos foram obtidos
no ciclo baseado no planejamento da obra, que é de um pavimento por semana,
independente do procedimento executivo.

A execução do contrapiso com argamassa semisseca seguiu em sua maioria o


cronograma de 5 dias para a execução de um pavimento tipo, cuja área era de
617,78 m² de contrapiso de área seca. O cronograma de execução de contrapiso
com argamassa semisseca está na tabela 17.

Tabela 17 - Cronograma normal de execução de contrapiso com argamassa


semisseca

Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5


- Transferência de - Ponte de aderência - Cura úmida
nível - Aplicação da
- Limpeza e lavagem argamassa
- Taliscamento

A execução do contrapiso com argamassa fluida seguiu em sua maioria o


cronograma de 3 dias para a execução de um pavimento tipo, cuja área era de
598,58 m² de contrapiso de área seca. O cronograma de execução de contrapiso
com argamassa fluida está na tabela 18.
76

Tabela 18 - Cronograma normal de execução de contrapiso com argamassa fluida

Dia 1 Dia 2 Dia 3


- Preparo da - Transferência de - Cura
superfície: limpeza, nível química
lavagem e contenções - Aplicação da
argamassa

Em ambos os métodos de produção, em 24 horas após a finalização da cura, o


contrapiso está apto para receber cargas e, consequentemente, apto para o
serviço posterior.
77

5. ANÁLISE COMPARATIVA DOS DADOS COLETADOS

Apresentados os resultados no capítulo anterior, a comparação entre os métodos


de execução de contrapiso estudados nos quesitos de qualidade, custos e prazos
de execução está feita nesta parte. E, por fim, a conclusão do trabalho
apresentado.

5.1 SOBRE A QUALIDADE DO CONTRAPISO

Os dados de qualidade apresentados no item 4.6 mostraram a quantidade e a


proporção entre os tipos de problemas de cada tipo de contrapiso
individualmente. O gráfico 3 mostrado abaixo mostra, em números absolutos,
para os dois tipos de contrapiso e separados por critérios, o total de problemas
apresentados no estudo de caso.

Gráfico 3 – Número absoluto de ocorrências por tipo de critério de qualidade

700 659

600 551

500

400

300 248

200
145
93
100 61 46
21 5 9 0 1
0
Aderência Nivelamento Planeza Fissuras Rugosidade Falhas

Contrapiso com argamassa semisseca Contrapiso com argamassa fluida

Do gráfico acima podemos verificar que, para o contrapiso com argamassa


semisseca, o problema de maior impacto foram as falhas, que são pequenos
78

buracos no contrapiso ou beiradas quebradas. Estes problemas eram corrigidos


aplicando o mesmo tipo de argamassa com espátula. A falha é de fácil correção
em relação aos outros e é originado principalmente posterior à execução, quando
deveria estar protegido, portanto trata-se de um problema de preservação do
serviço acabado.

Com relação ao contrapiso com argamassa fluida, os problemas mais expressivos


foram as rugosidades e as fissuras. As rugosidades foram, claramente, problemas
de execução, como mostrado no capítulo 4, foram tratadas fazendo o lixamento
da região afetada com máquina de polir.

Como foi visto, em comparação entre os dois procedimentos de execução de


contrapiso, em números gerais, o contrapiso com argamassa fluida apresentou
muito mais problemas do que o contrapiso com argamassa semisseca.

Como as torres possuem áreas de contrapiso de área seca diferentes, para


compararmos de forma equivalente, a proporção de problemas por tipo de
processo executivo, o gráfico mostra a relação de problemas detectados pela
metragem quadrada analisada.

Gráfico 4 – Relação de problemas detectados por metro quadrado

0,100 0,093
0,090

0,080

0,070

0,060

0,050

0,040

0,030

0,020 0,016

0,010

0,000
Contrapiso com argamassa semisseca Contrapiso com argamassa fluida
79

Desta forma, afirma-se que a ocorrência de problemas no contrapiso com


argamassa fluida, com 0,093 ocorrências por metro quadrado, foi superior ao
contrapiso com argamassa semisseca, com 0,016 ocorrências por metro
quadrado, aproximadamente 5,81 vezes mais problemas no contrapiso com
argamassa fluida do que com semisseca.

5.2 SOBRE OS CUSTOS DE E XECUÇÃO DO CONTRAPIS O

Os custos de produção apresentados no item 4.7 deste trabalho, estão


organizados na tabela 19 de forma que nos permita comparar os dois tipos de
procedimentos executivos.

Tabela 19 - Comparativo entre preços dos métodos de execução de contrapiso

Contrapiso com argamassa Contrapiso com argamassa


Preço semisseca fluida
Obra SINAPI Obra SINAPI
Mão de obra
R$ 19,00 R$ 19,50 R$ 18,97
(m²)
R$ 29,48
Material
R$ 8,56 R$ 8,10 R$ 8,24
(m²)
Material
R$ 285,36 - R$ 270,00 R$ 274,60
(m³)
Total (m²) R$ 27,56 R$ 29,48 R$ 27,60 R$ 27,21

Os preços de material em metros quadrados são calculados pelo preço em


volume para a área de 1 metro quadrada e espessura média de 3 centímetros.
Todos os preços do Sinapi estão na base de dezembro de 2015, os preços
aplicados na obra para a execução do contrapiso com argamassa semisseca e
com argamassa fluida foram de dezembro de 2015 e janeiro de 2016,
respectivamente.
80

Como podemos analisar, os preços executados na obra para o contrapiso com


argamassa fluida estão bem próximos à referência do SINAPI, tanto para material
quanto para mão de obra. Já o preço da mão de obra para execução do
contrapiso com argamassa semisseca está abaixo da referência do SINAPI. Isso
pode ser devido ao fato da negociação que foi feita graças à grande quantidade
de serviço de execução de contrapiso, juntamente com a contratação dos demais
serviços de mão de obra civil além do contrapiso, como alvenaria, revestimentos
de argamassa, assentamento de cerâmica, entre outros. Além disso, as empresas
possuem parceria antiga.

Já em comparação entre os dois métodos executivos aplicados no


empreendimento, o preço da execução do contrapiso com argamassa semisseca
foi maior, mais precisamente 5,13% maior do que o preço do contrapiso com
argamassa fluida.

5.3 SOBRE O PRAZO DE EXECUÇÃO DO CONTR APISO

Os prazos de produção de contrapiso apresentados no item 4.8 mostraram o ciclo


de produção de cada processo. Desta forma, a produção de contrapiso com
argamassa fluida é mais rápida, com ciclo de 3 dias para um pavimento tipo,
enquanto o pavimento executado com argamassa semisseca possui ciclo de 5
dias.

Estes dois dias de diferença e antecipação por parte do contrapiso com


argamassa fluida, geraram a possibilidade de antecipação dos serviços
posteriores ao contrapiso. Porém, devido à grande quantidade de problemas
detectados e demonstrados anteriormente, esta antecipação de tempo acabou
sendo gasta para realizar o tratamento das patologias, que como mostradas,
eram de difícil execução, as quais necessitavam transporte de entulho ou de
maquinário para lixamento de piso.

Portanto, neste estudo de caso em específico, a antecipação gerada pelo método


de contrapiso com argamassa fluida bombeada não garantiu antecipação do
cronograma.
81

5.4 CONCLUS ÃO/SINTESE DO ESTUDO

As empresas de construção civil buscam constantes melhorias na qualidade e no


desempenho dos edifícios e a redução de custos e prazos para aumentar as
vantagens competitivas. Na Eztec não é diferente e, desta forma, este trabalho
procurou estudar o método de execução de contrapiso com argamassa fluida e
compará-lo ao método tradicional, como forma de se alcançar os objetivos
anteriormente citados e, principalmente, desenvolver e aprimorar a execução
deste sistema.

Os contrapisos executados pela construtora não costumam gerar problemas no


pós-obra, de forma que os chamados de assistência técnica mostram que o
contrapiso não costuma ser um grande problema no grupo dos revestimentos. Os
gráficos 5 e 6 mostram a incidência de problemas relacionados ao contrapiso no
período de junho de 2014 a agosto de 2016.

Gráfico 5 – Dados de assistência técnica da Eztec – Grupo Revestimentos

Contrapisos: 31 Cerâmica: 11
Componentes dry- Outros: 60
wall: 41
Rejunte: 58
Paredes externas:
82

Pisos: 244 Paredes internas:


820

Azulejos: 403

Fonte: Departamento de Assistência Técnica da Eztec


82

Gráfico 6 – Dados de assistência técnica – Subgrupo Contrapisos

Piso estufado
Empoçamento de 3%
água
19%
Contrapiso ou laje
desnivelado
36%

Degrau de escada Contrapiso


com acabamento trincado,
irregular esfarelando e/ou
26% solto
16%

Fonte: Departamento de Assistência Técnica da Eztec

Observa-se que as técnicas de produção de contrapisos devem ser pensadas


previamente na etapa de orçamento e planejamento para que se possam extrair
ao máximo as vantagens dos métodos definidos. Da mesma forma, os
procedimentos de controle de qualidade devem ser executados de maneira
sistêmica. Lembrando que a qualidade abrange desde o desenvolvimento dos
projetos, que devem ser bem detalhados, até a execução e a preservação dos
serviços executados.

Na obra deste empreendimento, o objetivo principal de se executar o contrapiso


com argamassa fluida foi cumprido, pois aliviou, em grande parte, a logística do
canteiro de obras, diminuindo grandes volumes de recebimento de materiais,
especificamente de areia e cimento, em relação ao que seria necessário para se
executar o contrapiso com argamassa semisseca. Lembrando, que isto não
eliminou completamente o recebimento de areia e cimento, pois as áreas
molhadas (cozinha e área de serviço) e as áreas molháveis (terraço e banheiro)
ainda assim foram executadas com argamassa semisseca devido aos caimentos
e à impermeabilização.
83

O procedimento de execução de contrapiso com argamassa semisseca é uma


técnica já dominada pela empresa, porém isto não implica que o projeto de
contrapiso não seja necessário. Para a execução de contrapisos com argamassa
fluida é ainda mais recomendável o projeto de produção de contrapiso para que
se definam alguns parâmetros básicos, que ficaram ausentes na execução deste
empreendimento, como por exemplo, o traço da argamassa a utilizar, presença ou
não de juntas de dessolidarização e/ou de movimentação e ensaios da
argamassa fluida. Desta forma, o projeto para a execução de contrapisos tende a
evitar a incidência de patologias além de dar base para o controle de qualidade da
argamassa.

O projeto de contrapiso deve conter as especificações da argamassa fluida


(abatimento, resistência mecânica) para controle da argamassa no estado fresco
e no estado endurecido. As especificações dos aditivos para que se obtenha o
melhor desempenho também é importante. Além disso, o projeto deve especificar
os ensaios a se realizar.

As juntas de dessolidarização ou perimetral e as juntas de movimentação ou de


controle, conforme exigência da ABNT NBR 13753 (1996), são os espaços cuja
função é aliviar tensões provocadas pelas movimentações da base ou do próprio
revestimento, por isso, devem ser previstas já na etapa de projeto.
84

Figura 33 – Juntas de dessolidarização e de movimentação

Fonte: Foto cedida pelo eng° Alexandre Britez da Cyrela Construtora (2017)

Com os resultados mostrados, pode-se observar que a qualidade dos contrapisos


foi melhor no contrapiso com argamassa semisseca, no qual a incidência de
manifestações patológicas foi inferior, e de menor complexidade de correção.

Com relação aos custos de produção, os dois processos construtivos resultaram


em valores muito parecidos, com ligeira vantagem do contrapiso com argamassa
fluida.

A principal vantagem do contrapiso com argamassa fluida ter, potencialmente,


prazo de produção bem menor do que o com argamassa semisseca, não foi de
fato aproveitada. As correções que tiveram de ser feitas no contrapiso, acabaram
tomando muito tempo, de modo que o tempo ganho durante a execução foi gasto
corrigindo os problemas.
85

A tabela 20 mostra vantagens e as desvantagens dos dois métodos de produção


de contrapisos compiladas a partir da experiência do autor no desenvolvimento
deste trabalho e, principalmente, a partir dos resultados do estudo de caso
realizado.
86

Tabela 20 - Vantagens e desvantagens dos métodos de execução de contrapiso

Vantagens Desvantagens
Contrapiso Contrapiso
Contrapiso com Contrapiso com
com com
Quesito argamassa argamassa
argamassa argamassa
semisseca fluida
semisseca fluida
Impossibilidad
e de se realizar
Possível fazer
declividades
Produto pisos nivelados e
para o
com caimentos
escoamento de
água
Maior
Menor incidência
Qualidade incidência de
de patologias
patologias
Controle de
produção Mais
Mais preciso
do traço da rudimentar.
argamassa
Prazo de Alta Baixa
produção produtividade produtividade
Controle de Controle de
Controle de
qualidade é feito qualidade
qualidade
na rastreabilidade exige ensaios
do material
dos insumos, não para aceitação
no estado
necessitando do material
fresco
ensaios recebido
Necessita
Redução da área
grandes áreas
Armazenam de
para
ento armazenamento
recebimento e
de materiais
armazenamento
Otimização do
transporte Dificuldade de
horizontal e transporte
Transporte vertical no horizontal e
canteiro de obras vertical devido
por ser ao peso
bombeado
Insumos são Requer
Disponibilid comuns e fáceis disponibilidade
ade de achar no de concreteira
comércio na região
87

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando-se a busca constante na racionalização dos processos construtivos


no mercado da construção civil, este trabalho procurou analisar o processo de
execução de contrapiso com argamassa fluida como alternativa do método
tradicional com argamassa semisseca.

Este trabalho apresentou as características de cada método construtivo de


contrapisos, com enfoque para aquele executado com argamassa fluida, pois é
inovação na empresa. Foram mostrados os resultados segundo os critérios de
qualidade, custo e prazo de produção, e as vantagens e desvantagens de ambos.
Desta forma, considera-se que o objetivo inicialmente estabelecido para este
trabalho tenha sido atingido.

Este trabalho buscou dados reais obtidos no campo para que os futuros
processos de execução, contratação, sistema de gestão da qualidade, entre
outros processos internos relativos ao contrapiso, possam ser aperfeiçoados na
empresa.
88

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13528 –


Revestimento de paredes de argamassas inorgânicas – Determinação da
resistência de aderência à tração. 2010. 15p.

______. NBR 13749 – Revestimento de paredes e tetos de argamassas


inorgânicas – Especificação. 2013. 14p.

______. NBR 13753 – Revestimento de piso interno ou externo com placas


cerâmicas e com utilização de argamassa colante – Procedimento. 1996.
19p.

______. NBR 13754 – Revestimento de paredes internas com placas


cerâmicas e com utilização de argamassa colante - Procedimento. 1996. 11p.

______. NBR 13755 – Revestimento de paredes externas e fachadas com


placas cerâmicas e com utilização de argamassa colante – Procedimento.
1996. 11p.

______. NBR 15575 – Edificações Habitacionais – Desempenho - Parte 1:


Requisitos gerais. 2013. 71p.

______. NBR 15575 – Edificações Habitacionais – Desempenho - Parte 3:


Requisitos para os sistemas de pisos. 2013. 42p.

AMORIM, J. R. R. Contrapiso de edifícios executado com argamassa fluida:


parâmetros para desenvolvimento de projeto, execução de obra e controle
de qualidade. 2015. 155 p. Dissertação (Mestrado em Habitação: Planejamento e
Tecnologia) – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, São Paulo, 2015.

BARROS, M. M. S. B. Tecnologia de Produção de Contrapisos para Edifícios


Habitacionais e Comerciais. 1991. 265p. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Civil) – Departamento de Construção Civil, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1991.

BARROS, M. M. S. B.; SABBATINI, F. H. Tecnologia de Produção de


Contrapisos para Edifícios Habitacionais e Comerciais. Boletim Técnico n° 44
da Escola Politécnica da USP/Departamento de Engenharia de Construção Civil.
São Paulo, 1991.

BARROS, M. M. S. B.; BERNARDES, M.; NAKAMURA, L. Contrapiso Flutuante.


Revista Téchne. São Paulo. Ed. 164, novembro. 2010. Editorial. Disponível em:

< http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/164/artigo286762-2.aspx >

Câmara Brasileira da Construção Civil. Catálogo de inovação na construção


civil. 2016. 137 p. Brasília, 2016.
89

CBIC; CNI. Sondagem da Indústria da Construção. 2015. Publicação n° 12,


dezembro, 2015. Disponível em <www.cbic.org.br>. Acesso em 12/02/16.

CASTRO, L. O. da C de O. Cooperação Tecnológica para Inovação no setor


da Construção Civil. 2013. 204 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil),
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2013.

DIN – DIE EUROPÄISCHE NORM - DIN EN 13318 – Estrichmörtel und


Estriche. 2000. 14p.

EGLE, T. Contrapiso autonivelante. Revista Téchne. São Paulo. Ed. 164,


novembro. 2010. Editorial. Disponível em:

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EUROPEAN FEDERATION OF NATIONAL ASSOCIATIONS REPRESENTING


PRODUCERS AND APPLICATORS OF SPECIALIST BUILDING PRODUCTS
FOR CONCRETE (EFNARC). Specification and Guidelines for Self-
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JUNIOR, J. A. F. Materiais de Construção: Aditivos para Concreto. 2013.


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NAKAKURA, E. H. BUCHER, H. R. E. Pisos autonivelantes: Propriedades e


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ROQUE, M. Controle de Qualidade na Execução do Contrapiso. 2008. 57 p.


Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia Civil) – Departamento de
Engenharia Civil, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2008.

RUBIN, A. P. Argamassas autonivelantes industrializadas para contrapiso:


análise do desempenho físico-mecânico frente às argamassas dosadas em
obra. 2015. 205 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola de
Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015.

SILVA, R. P. Argamassas com adição de fibras de polipropileno – Estudo do


comportamento reológico e mecânico. 2006. 191 p. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Civil) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2006.

SOUZA, C. S. Análise de desempenho do contrapiso autonivelante em


relação ao sistema tradicional.2013. 118p. Dissertação (Mestrado em
Construção Civil) – Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2013.

SOUZA, U. E. L.; AGOPYAN, V. Estudo da Produtividade da Mão-de-obra no


Serviço de Formas para Estrutura de Concreto Armado. Boletim Técnico n°
90

165 da Escola Politécnica da USP/Departamento de Engenharia de Construção


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TAVAREZ, J. A. M. Implantação de inovações tecnológicas na produção de


edifícios: estudo de caso. 2015. 72 p. Monografia (Pós-graduação lato-sensu
em Tecnologia e Gestão na Produção de Edifícios) – Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015.
91

ANEXO A - ENSAIO DE RESISTÊNCIA DE ADERÊNCIA À


TRAÇÃO DA ARGAMASSA DE CONTRAPISO
92

ANEXO B – ENSAIO DE RESISTÊNCIA DE ADERÊNCIA À


TRAÇÃO DO SISTEMA DE PISO
93
94
95

ANEXO C - FICHA DE VERIFICAÇÃO DE MATERIAL PARA


ARGAMASSA DE CONTRAPISO AUTONIVELANTE
96

ANEXO D – FICHA DE VERIFICAÇÃO DE SERVIÇO DE


CONTRAPISO COM ARGAMASSA FLUIDA

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