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ASSOCIAÇÃO CARUARUENSE DE ENSINO SUPERIOR - ASCES

FACULDADE ASCES
BACHARELADO EM DIREITO

A IMPORTÂNCIA DAS AÇÕES AFIRMATIVAS ENQUANTO


INSTRUMENTO PARA EFETIVAÇÃO DA IGUALDADE
SUBSTANCIAL. “ANÁLISE ACERCA DAS COTAS RACIAIS NAS
UNIVERSIDADES”

CARUARU – PE
2013
EDMAR DJHENENSON DA SILVA

A IMPORTÂNCIA DAS AÇÕES AFIRMATIVAS ENQUANTO


INSTRUMENTO PARA EFETIVAÇÃO DA IGUALDADE
SUBSTANCIAL. “ANÁLISE ACERCA DAS COTAS RACIAIS NAS
UNIVERSIDADES”

Trabalho de conclusão de curso


Apresentado à Faculdade ASCES como
requisito parcial, para a obtenção do grau
de Bacharel em Direito, Sob a orientação
do Professor Msc. Glauco Salomão Leite.

CARUARU – PE
2013
DEDICATÓRIA

Aos meus amados pais: Heleno Urbano da


Silva e Dulcilene Alves de Araújo da Silva,
esses que foram essenciais para minha vida,
me educaram com muito amor e carinho, e
sempre acreditaram em mim e no meu
potencial. A Deus que sempre me deu força
para continuar mesmo enfrentando as
adversidades e tantos obstáculos.
AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais e irmã que


construíram o alicerce da minha vida, que são
meu porto seguro, que me passam a
tranquilidade necessária pra vive, pessoas que
posso contar por resto dos meus dias.
Deus que sempre me deu força e sabedoria
nas minhas decisões, que iluminou meus
caminhos mesmo quando esses estiveram
rodeados pelas trevas. Que me protegeu com
seu amor daqueles que desejavam meu
fracasso.
A meu orientador, profº Glauco Salomão,
que me auxiliou na construção do
conhecimento para a elaboração do presente
trabalho e a todos os professores que fizerem
parte da minha história na Faculdade ASCES.
Aos meus familiares em geral, minha avó
que tanto amo, minhas tias e tios, minha
madrinha, meus primos e primas que formam a
melhor família do mundo.
Aos meus amigos que caminharam e
desfrutaram das alegrias, tristezas e de todos
os momentos da minha vida acadêmica.
É muito melhor lançar-se em busca de
conquistas grandiosas, mesmo expondo-se ao
fracasso, do que alinhar-se com os pobres de
espírito, que nem gozam muito, nem sofrem
muito, porque vivem numa penumbra cinzenta,
onde não conhecem nem vitória, nem derrota.

(Theodore Roosevel)
Resumo

Por meio do presente estudo, foi feito uma análise teórica acerca do instituto das
ações afirmativas, concernente às cotas raciais no ensino superior, sua importância
para o desenvolvimento social e a efetivação da igualdade substancial no Brasil. Em
um primeiro momento, as ações afirmativas são apresentadas, em sua origem
histórica, nos Estados Unidos, com ênfase no contexto enfrentado pelos
americanos negros, os quais, na época, eram vítimas de um racismo descontrolado.
Ainda de maneira incipiente, analisa-se o surgimento do instituto e da sua
relevância no Brasil, visto que, devido à complexidade do tema para o nosso país,
as Ações Afirmativas permaneceram durante muito, sendo alvo de diversos
questionamentos, que tinham como principal argumento a afronta ao princípio
constitucional da Igualdade. Em seguida, este trabalho acadêmico analisa a
importância da educação para o desenvolvimento social do país, evidenciada, de
forma sintética, por meio de observações históricas no transcorrer do tempo,
tornando-se um instrumento essencial para o avanço da sociedade. Em
contrapartida, percebeu-se uma acentuada desigualdade para o acesso à educação,
sendo que, nesta abordagem, restrinjo-me à acessibilidade daquela de nível
superior, seja por problemas relacionados a condições econômicas, seja por
distorções originadas pelo preconceito racial. As ações afirmativas, no tocante
a cotas raciais, têm sido eficaz para o ingresso de negros e pardos nos
estabelecimentos de ensino, uma vez que são esses os membros da sociedade os
quais, estatisticamente, menos se beneficiam da educação, por representarem um
alto percentual da parcela mais pobre da sociedade e do calculo entre os vitimados
do racismo. O Supremo Tribunal Federal decidiu que as cotas não afrontam
o Princípio da Igualdade, embora, ainda seja motivo de muita discussão em nossa
sociedade. Por fim, surge uma nova legislação que passou a fundamentar o tema
em debate na seara do ensino superior, cristalizando a importância do instituto
jurídico para que ações sejam efetivamente promotoras da Igualdade Material e do
desenvolvimento societário.

Palavras - chave: Ações afirmativas; Cotas raciais; Igualdade material; Educação.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 09

CAPÍTULO I – PANORAMA GERAL ACERCA DAS AÇÕES AFIRMATIVAS.

1.1 Panorama Evolutivo Acerca das Ações Afirmativas. ................................... 11

1.2 Análise do Instituto das Ações Afirmativas. ................................................. 16


1.3 As Controvérsias Acerca do Instituto das Ações Afirmativas....................... 19

CAPÍTULO II – COTAS RACIAIS E O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL.

2.1 Breve Histórico da Educação como Instrumento do Desenvolvimento


Social............................................................................................................24
2.2 Direito à Educação e o Problema da Inclusão Racial no Ensino
Superior........................................................................................................29
2.3 Cotas Raciais como Instrumento no Ingresso ao Ensino Superior..............39

CAPÍTULO III – A NECESSIDADE DA PERMANÊNCIA DAS COTAS RACIAIS NO


ENSINO SUPERIOR.

3.1 As Cotas Raciais e a Busca pela Igualdade Material...................................45


3.2 Os Avanços Jurídicos Referentes às Cotas Raciais....................................49
3.3 A Importância da Permanência das Cotas Raciais no Ensino Superior.......55

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................58

REFERÊNCIAS..........................................................................................................59
8

INTRODUÇÃO

Durante muito tempo os negros sofreram o peso de um racismo exacerbado,


a escravidão foi com certeza o período mais difícil para esse povo, mesmo após a
abolição o pesadelo não acabara por completo, o preconceito continuou perseguindo
aquele povo até os dias atuais impedindo o desenvolvimento social e econômico de
parte dessas pessoas surge às ações afirmativas com o intuito de amenizar esse
problema, porém, parte da sociedade se pôs contra o instituto que por meio de cotas
raciais de certo modo privilegiava aquele povo.
A afronta ao princípio da isonomia sempre foi o principal argumento dos que
se contrapuseram as ações afirmativas que em forma de cotas raciais concedem a
negros e pardos acesso ao ensino superior possibilitando de certo modo uma
reserva de vagas para essas pessoas. Desse modo, provocando acaloradas
discussões sobre até onde iria à igualdade material e formal no nosso ordenamento
jurídico da vez que esse princípio é encontrado no artigo 5º caput da Constituição
Federal de 1988.
O presente trabalho tem como objetivo analisar a importância das ações
afirmativas enquanto cotas raciais para o desenvolvimento social e econômico dos
negros e pardos do nosso país, demonstrando que o fato dessas pessoas serem
privilegiadas com a reserva de vagas no ensino superior podem com certeza se
desenvolver enquanto cidadãos e principalmente obter maiores oportunidades no
mercado de trabalho.
Organizamos nossa pesquisa em três capítulos.
No primeiro capítulo, explana-se um panorama evolutivo acerca das ações
afirmativas mostrando a origem do instituto e demonstrando o contexto histórico
daquele momento, em seguida se faz uma análise de forma geral levando-se em
consideração as controvérsias que surgiram.
No segundo capítulo, se faz uma rápida abordagem histórica da história da
educação como instrumento do desenvolvimento social, mostrando que o direito a
educação nem sempre é respeitado de forma efetiva da vez que muitos cidadãos
brasileiros em sua maioria de origem negra ou parda não conseguem acesso ao
ensino superior por vários motivos, desse modo, observamos que as cotas raciais
9

são de certo moto uma forma de possibilitar um maior acesso as instituições de


ensino superior.
No terceiro capítulo, analisou-se a necessidade das cotas raciais no ensino
superior demonstrando que as cotas raciais na verdade não afrontam o principio da
isonomia e que na verdade elas auxiliam na efetivação da igualdade material em
nosso país a ponto do poder executivo e legislativo chegar a um consenso que
resguarda esse instituto na legalidade.
A metodologia utilizada para a efetivação da pesquisa foi o estudo da doutrina
referente ao assunto essa tornando-se base para a estruturação de todo trabalho.
Por fim, verifica-se que as ações afirmativas enquanto cotas raciais no ensino
superior são de extrema importância para o desenvolvimento social de negros,
pardos e de forma geral de um todo, pois, um país em que seus cidadãos sejam eles
de que raça ou cor for tem acesso a uma educação de qualidade tende a crescer em
todos os aspectos.
10

CAPÍTULO I – PANORAMA GERAL ACERCA DAS AÇÕES


AFIRMATIVAS

1.1 PANORAMA EVOLUTIVO ACERCA DAS AÇÕES AFIRMATIVAS

Em um primeiro momento, pode-se vislumbrar a utilização da expressão,


“ação afirmativa”, pelo presidente americano, John Fitzgerald Kennedy, no ano de
19611. Neste período, o país passava por uma grande inquietação, advinda de uma
série de manifestações iniciadas um ano antes. Essas manifestações tinham como
finalidade a busca pela concretização dos direitos civis e a supressão da segregação
racial, que era bastante arraigada na época, pois, apesar da abolição da escravidão
fazer parte da vida dos americanos há cerca de nove décadas, uma vez que, em
1865, o país libertou definitivamente seus escravos. Contudo, essa “libertação”
parecia estar presente apenas no plano formal, pois, na realidade, os negros
americanos ainda teriam um grande caminho de superação. 2
Dentro deste cenário, John Kennedy, tenta amenizar o problema da
segregação racial por meio da ordem Executiva número 10.952, a qual proibia que
os fornecedores do governo federal cometessem discriminação racial. Instituiu
também o Comitê Presidencial para a Igualdade de Oportunidades no Emprego
dando assim poderes para o “Committee on Equal Employment Opportunity” (EEOC)
ou Comissão para a Igualdade de Oportunidade no Emprego, na época presidida
pelo então vice Presidente Lyndon Baines Johnson. Entre os poderes adquiridos
pela comissão estava à autoridade de impor sanções àqueles que violassem a
referida ordem executiva. Mais tarde, esses poderes tratariam apenas de receber as
reclamações (sempre denuncias feitas por vitimas do preconceito ou segregação

1
Consultas para aprofundamento: STURION, Alexandre de Paula. Ação Afirmativa: instrumento de
cidadania ou discriminação reversa? Disponível em:
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/3809/3067. Acesso em: 17 de agosto
de 2011.
2
AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p.
146
11

racial), investigá-las e tentar conciliá-las.3


Mesmo após a iniciativa da ordem executiva, as reivindicações com o objetivo
de melhorar a qualidade de vida e a superação do preconceito continuaram e de
forma cada vez mais intensa. As medidas tomadas por Kennedy se mostraram
ineficazes e insuficientes, no sentido que eram muito tímidas perto do alto grau de
discriminação que existia. De todo modo, já era o ponto de partida do que se
tornariam as “affirmative actions” nos Estados Unidos.
Em 1963, os protestos e manifestações já atingiam o ápice das revoltas
4
contra a discriminação racial. O mundo assistiu as manifestações nesta época se
intensificarem, de tal forma que mesmo manifestações pacíficas como vigílias e
orações poderiam ser motivos para prisões e julgamentos.5
Como é sabido um dos grandes defensores da igualdade de direitos foi o
ativista Martin Luther King que nessa época organizava e liderava algumas
manifestações políticas que tinham como finalidade a concretização do direito a
igualdade, e foi em 28 de agosto de 1963 que ele fez o tão famoso discurso “I have
a dream” em resumo que ele afirmava que sonhava com uma sociedade em que os
negros e os brancos vivessem igualdade, e que os homens não fossem tratados ou
julgados pelo tom ou cor de pele mais sim pelo caráter. 6
Meses depois, John Kennedy, Presidente americano, foi assassinado e
Lyndon B. Johnson assumiu o papel de concluir o processo iniciado por seu
antecessor conseguiu a aprovação no ano seguinte da nova lei de direitos civis e a
partir deste momento o país teve uma legislação mais abrangente que tratou dos
direitos civis e daquilo que os manifestantes tanto almejavam que consistia
basicamente, em leis que possibilitassem melhorias no desenvolvimento social e
econômico. O chamado Ato de Direitos Civis de 1964 foi um ponto muito importante
para aquilo que viria ser a concretização futura dos direitos a igualdade uma vez que

3
Consultas para aprofundamento: REIS, Cristiane de Souza; SOUSA, Carlo Arruda. Breve análise
sobre a ação afirmativa. Disponível em: http://jus.com.br/revista/texto/6050. Acesso em: 5
dezembro. 2011.
4
Consultas para aprofundamento: REIS, Cristiane de Souza; SOUSA, Carlo Arruda. Breve análise
sobre a ação afirmativa. Disponível em: http://jus.com.br/revista/texto/6050/breve-analise-sobre-a-
acao-afirmativa. Acesso em 06 de março de 2011
5
Consultas para aprofundamento: AYRES, Paulo Mattos. A trajetória de Martin Luther King Jr. Uma
obra inacabada. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-
ims/index.php/CA/article/view/1195/1214. Acesso em 25 de maio de 2011.
6
Consultas para aprofundamento: Discurso de Martin Luther King (28/08/1963) Disponível em:
http://www.palmares.gov.br/sites/000/2/download/discursodemartinlutherking.pdf. Acesso em: 16 de
Setembro de 2011.
12

proibia toda e qualquer discriminação nas instituições de ensino superior. 7


Carla Bertucci e José Guilherme dissertando sobre o assunto expõem que
parte da lei aqui comentada tornava ilegal:

(...) deixar de contratar, recusar emprego ou demitir um indivíduo, ou de


outra forma discriminar qualquer indivíduo com respeito a salário, termos,
condições ou privilégios de emprego por causa da raça, cor, religião ou
8
origem nacional do indivíduo.

Depois de uma verdadeira batalha onde parte da sociedade americana


(geralmente negros, e simpatizantes da causa desses) buscava uma legislação
rígida quanto às discriminações e benéfica em relação à garantia de direitos iguais,
a nova lei dos direitos civis representou avanços na busca pela igualdade de
oportunidades, ademais essa nova lei foi apenas algumas de tantas outras que
surgiram com os demais sucessores do Presidente Lyndon B. Johnson que
objetivavam sempre diminuir as desigualdades sofridas por aqueles que foram
discriminados por décadas.
Essas foram, portanto, as primeiras iniciativas que desencadearam a origem
das ações afirmativas. Todavia elas serão aperfeiçoadas no decorrer de sua
trajetória.
O instituto das ações afirmativas surgiu no momento em que uma parte
considerável da população sentia na pele os reflexos da segregação racial e da
discriminação, que se tornaram um entrave para aqueles que foram oprimidos,
maltratados e tiveram sua liberdade tolhida por séculos de escravidão, e tudo isso
pelo simples fato de ter nascido com a pele negra.
Numa dimensão mundial, os fatos relatados acima são os que merecem
maior atenção para os objetivos pretendidos com o presente estudo. Em outros
países também podem ser vislumbradas situações com o objetivo de diminuir o
preconceito e a discriminação entre as pessoas. Contudo, conforme explicitado
acima no que concerne especificamente as ações afirmativas, a sua origem é
principalmente destacada nos Estados Unidos da América.
7
Consultas para aprofundamento: SOMERS, Patrícia; JONES, Catherine. Ações afirmativas na
Educação Superior: O que acadêmicos brasileiros podem aprender da experiência americana.
Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/viewFile/5770/4207.
Acesso em: 28 de Setembro de 2011.
8
BERTUCCI, Carla Barbieri; GUILHERME, José Carneiro. Da Constitucionalidade das Cotas para
Afrodescendentes em Universidades Brasileiras. In: PIOVESAN, Flávia; IKAWA, Daniela. Direitos
Humanos; Fundamentos, Proteção e Implementação Perspectivas e Desafios Contemporâneos. V. II,
Ed. Curitiba: Juruá, 2010, p. 685.
13

Dentro de um plano nacional, para tratar acerca das ações afirmativas é


imprescindível considerar algumas matizes históricas que fizeram surgir um povo
altamente diversificado, em que determinados grupos estavam sempre a margem da
sociedade.
Esses grupos encontravam grandes obstáculos para desenvolver-se,
principalmente no mercado de trabalho. Assim, aos poucos podia ser percebida a
necessidade da criação de leis e a execução de políticas públicas que viabilizassem
a criação de melhores oportunidades.
Walber Agra comenta que:

No Brasil, o termo ação afirmativa foi mencionado pela primeira vez em


1968 quando os técnicos do Ministério do Trabalho e do Tribunal Superior
do Trabalho se manifestaram a favor de uma lei que viesse a obrigar as
empresas privadas a estimular um percentual de empregados de cor de
9
acordo com a atividade e com a demanda.

Contudo, o tema ações afirmativas propriamente dito, só vai ganhar respaldos


na década de noventa, embora as primeiras manifestações tenham ocorrido em
meados de 1968. Conforme salienta, Sabrina Moehlecke:

(...) técnicos do Ministério do Trabalho e do Tribunal Superior do Trabalho


manifestaram-se favoráveis à criação de uma lei que obrigasse as
empresas privadas a manter uma percentagem mínima de empregados de
cor (20%, 15% ou 10%, de acordo com o ramo de atividade e a demanda),
como única solução para o problema da discriminação racial no mercado de
10
trabalho.

Porém, as manifestações feitas pelos técnicos do Ministério do Trabalho e do


Tribunal Superior do Trabalho não foram aceitas pelo poder legislativo brasileiro e
aquela que poderia ser a primeira lei que trataria da discriminação no trabalho não
chegou a ser nem elaborada, porém, mesmo não surtindo efeito, já representava de
todo modo um grande avanço na história nacional, pois, demonstra que as mais
altas cortes do país não estavam alheias ao problema que se arraigava com o
decorrer do tempo. Assim, nesta mesma década o Brasil ratificou alguns tratados
internacionais que tinham conteúdo de grande importância quanto à supressão ou
diminuição da discriminação.
9
AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p .
146.
10
MOEHLECKE, Sabrina. Ação afirmativa: História e debates no Brasil. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/cp/n117/15559.pdf. Acesso em: 25 de agosto de 2011.
14

Carla Bertucci e José Guilherme mencionam esses tratados:

Convenção 111 da Organização Internacional do Trabalho – OIT, relativa à


Discriminação em Matéria de Emprego e Profissão (1968); a Convenção
Relativa à Luta contra a Discriminação no Campo do Ensino (1968); e a
Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de
11
Discriminação Racial (1969).

É importante ressaltar que todos esses tratados ratificados pelo governo


brasileiro viviam o contexto da ditadura militar no país.
Em 1988 com a promulgação da atual Constituição Federal, por muitos
referida como Constituição cidadã, uma nova gama de direitos surgiu, ressaltando-
se especialmente aqueles direitos voltados para a garantia de melhores condições
de vida para os que se enquadravam no rol dos discriminados, sejam esses
mulheres ou portadores de deficiência, e referiam-se geralmente as relações de
trabalho. Inicialmente, não vamos encontrar dispositivos legais que favoreçam
especificamente os negros, embora possa ser interpretado que no rol dos
discriminados eles encontrem-se presentes.
Na década de noventa foi sancionada a primeira lei que usou o termo, Ações
Afirmativas, Lourdes Carmo Moreira em artigo dispõe que:

(...) sob forma de ação afirmativa a Lei 9.100/95 estabeleceu cota mínima
de 20% para candidatura feminina nas eleições. Posteriormente a lei
9504/97 alterou a redação da lei anterior não mais estabelecendo cotas
para as mulheres, mas sim para gênero. Desta forma os partidos não
poderiam lançar candidaturas sem ter no mínimo 30% ou no máximo 70%
12
das candidaturas para cada sexo.

Desta forma o instituto das Ações afirmativas deu seus primeiros passos aqui
no Brasil. No decorrer da nossa pesquisa observaremos que o referido instituto
ganhará espaço cada vez mais relevante na legislação e que as cotas raciais se
tornaram um dos instrumentos mais utilizados, tendo como finalidade diminuir as
desigualdades presentes na sociedade brasileira e assim proporcionar a igualdade
substancial, que tem como principal objetivo possibilitar a todos os indivíduos a

11
BERTUCCI, Carla Barbieri; GUILHERME, José Carneiro. Da Constitucionalidade das Cotas para
Afrodescendentes em Universidades Brasileiras. In: PIOVESAN, Flávia; IKAWA, Daniela. Direitos
Humanos; Fundamentos, Proteção e Implementação Perspectivas e Desafios Contemporâneos. V. II,
Ed. Curitiba: Juruá, 2010, p. 682.
12
CARMO, Lourdes Moreira. As Mulheres nos Espaços de Decisão Política. Disponível em:
http://www.observatoriodegenero.gov.br/menu/publicacoes/as-mulheres-nos-espacos-de-decisao-
politica-ha-mulheres-nos-espacos-de-decisao-politica. Acesso em 26 de setembro de 2011.
15

oportunidade necessária para o exercício pleno de suas capacidades. Este tema,


contudo, suscita grandes debates acerca da possível afronta ao princípio da
isonomia. Posteriormente, este tema será tratado de forma mais aprofundada.

1.2 ANÁLISE DO INSTITUTO DAS AÇÔES AFIRMATIVAS

Dentro da literatura, é possível encontrar vários conceitos e definições para o


instituto das ações afirmativas.
Walber de Moura Agra, dissertando sobre o assunto, explica que:

As ações afirmativas ou affirmative actions da doutrina americana são


remédios processuais para amparar direito dos hipossuficientes. Sua
finalidade é concretizar a isonomia e fortalecer a democracia, impedindo
13
que a maioria possa prejudicar direitos da minoria.

O autor traz o termo “minorias” explicando que uma das finalidades do


instituto das ações afirmativas seria de fortalecer a democracia, no sentido de
impedir que a maioria prejudique os direitos da minoria. Com o intuito de possibilitar
uma melhor compreensão achamos necessário analisar a expressão acima citada
afinal é praxe o termo “minoria” nos remeter a um sentido de menor quantidade de
determinado grupo social, porém, não devemos nos ater apenas a essa
interpretação, pois o verdadeiro sentido da palavra é dar forma jurídica aos
hipossuficientes e atingir aqueles que culturalmente tiveram dificuldades de acesso
aos seus direitos, entre eles os negros, mulheres, deficientes físicos e etc.
Dissertando sobre o assunto Cármen Lúcia Antunes Rocha explica que:

Na verdade, minoria, no direito democraticamente concebido e praticado,


teria que representar o número menor de pessoas, vez que a maioria é a
base de cidadãos que compreenda o maior número tomado da totalidade
dos membros da sociedade política. Todavia, a maioria é determinada por
aquele que detém o poder político, econômico e inclusive social em
determinada base de pesquisa. Ora, ao contrario do que se apura, por
exemplo, no regime da representação democrática nas instituições
governamentais, em que o número é que determina a maioria (cada cidadão
faz-se representar por um voto, que é o seu, e da soma dos votos é que se
contam os representantes e os representados para se conhecer a maioria),
em termos de direitos efetivamente havidos e respeitados numa sociedade,

13
AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
p.145.
16

a minoria, na prática dos direitos, nem sempre significa o menor número de


pessoas. Antes, nesse caso, uma minoria pode bem compreender um
contingente que supera em número (mas na prática, no respeito, etc.) o que
14
é tido por maioria.

Por estas considerações, podemos entender a relevância prática do nosso


estudo, no sentido que a minoria que necessita ser beneficiada em face da maioria
não é assim denominada por estar em número pequeno de pessoas, uma vez que a
soma das minorias que sofrem com os desequilíbrios sociais acaba formando uma
grande parcela da população brasileira, devemos assim observar na verdade as
condições históricas e sociais para assim entender quem faz realmente parte dessa
chamada minoria.
Arabela Campos traz uma abordagem interessante quando explica que:

O termo Ação Afirmativa refere-se a um conjunto de políticas públicas


para proteger minorias e grupos que, em uma determinada sociedade,
tenham sido discriminados no passado. A ação afirmativa visa remover
barreiras, formais e informais, que impeçam o acesso de certos grupos
ao mercado de trabalho, universidades e posições de liderança. Em
termos práticos, as ações afirmativas incentivam as organizações a agir
positivamente a fim de favorecer pessoas de segmentos sociais
discriminados a terem oportunidade de ascender a postos de
15
comando.

Arabela Campos traz de forma bastante didática o verdadeiro significado do


instituto por ora estudado, a final sabemos que as minorias que sofreram tanto no
passado sentem os reflexos dessas discriminações e opressões até os dias atuais,
as ações afirmativas se apresentam como manifestação da própria sociedade que
entende que erros foram cometidos e devem ser reparados, mesmo que essa não
seja a ideia comungada por todos.
Ainda no que se refere a uma definição o Ministro Joaquim Barbosa Gomes
em estudo sobre o instituto define as ações afirmativas como:

Conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo


ou voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação racial, de

14
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Ação afirmativa – o conteúdo democrático do princípio da
igualdade. Disponível em: http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/176462/1/000512670.pdf.
Acesso em: 28 de agosto de 2011.
15
CAMPOS, Arabela Oliven. Ações afirmativas, relações raciais e políticas de cotas nas
universidades: Uma comparação entre os Estados Unidos e o Brasil. Disponível em:
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/viewFile/539/375. Acesso em: 28 de
setembro de 2011.
17

gênero, por deficiência física e de origem nacional, bem como para corrigir
ou mitigar os efeitos presentes da discriminação praticada no passado,
tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a
16
bens fundamentais como a educação e o emprego.

Esse conceito se coaduna com o nosso entendimento na medida em que


percebemos as Ações Afirmativas como uma série de políticas públicas ou privadas
direcionadas a amenizar as desigualdades sociais e econômicas sofridas por grupos
ou indivíduos que são discriminados, seja, pela raça, cor, gênero, religião, opção
sexual ou condição econômica. Essas ações afirmativas teriam, assim, a finalidade
de concretizar o princípio constitucional da isonomia. Tomando como pressuposto
uma idéia de diferenciar para consequentemente igualar.
Dissertando acerca do instituto Walber Agra explica que:

As ações afirmativas têm dois sentidos: o de reparação e o de


redistribuição. O primeiro exige que os grupos atingidos tenham estado sob
uma situação de opressão, de cerceamento de seus direitos, e que o
indivíduo faça parte do grupo minoritário. O segundo não necessita que
tenha havido uma situação de opressão, nem seu beneficiário precisa fazer
17
parte de qualquer grupo marginalizado.

Podemos perceber que o instituto das ações afirmativas evoluiu de forma a


beneficiar não só aqueles que sofreram ou sofrem preconceitos relacionados à cor
da pele, mais sim aqueles que tenham seus direitos cerceados seja por qual for o
motivo.
O Brasil é conhecido por ser um dos países com os maiores índices de
desigualdade social e econômica do mundo. A produção de riqueza está
concentrada nas mãos de poucos, e uma grande parte da população vive abaixo do
nível de pobreza.18 As medidas de ação afirmativa vêm paliativamente diminuindo
esses índices, entre essas medidas está o programa do governo bolsa família que
concede um valor mensal para famílias quem se enquadram nas características do
programa e assim possam ao menos ter renda para comprar alimento. Todavia, esse
instrumento está sendo capaz de movimentar e aquecer a economia (esse que seria
16
BARBOSA, Joaquim Gomes. A recepção do instituto da ação afirmativa pelo direito constitucional
brasileiro. Disponível em: http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/705/4/r151-08.pdf. Acesso em:
01 de outubro de 2011.
17
AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p.
147.
18
Consultas para aprofundamento: WLODARSKI, Regiane; ALEXANDRE, Luiz Cunha. Desigualdade
Social e Pobreza como Consequências do Desenvolvimento da Sociedade. Disponível em:
http://www.uel.br/grupoestudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais9/artigos/workshop/ar
t15.pdf. Acesso em: 17 de outubro de 2011.
18

um dos fundamentos para geração de riquezas e diminuição das desigualdades


sociais e econômicas) e retirar parte da população da linha de pobreza. Assim, é
notório que o instituto das ações afirmativas sempre estará relacionado à
possibilidade de fornecer igualdade de oportunidade para as minorias ou para os
menos favorecidos, afinal não é suficiente pensar em igualdade jurídica, configurada
em um plano formal. Esta nem de longe seria a forma mais justa de possibilitar uma
igualdade efetiva para todos, acreditamos que não é difícil encontrar exemplos que
justifiquem nosso estudo e comprovem nossas alegações.

1.3 AS CONTROVÉRSIAS ACERCA DO INSTITUTO DAS AÇÕES


AFIRMATIVAS

As ações afirmativas são vistas por parte da sociedade como instrumento


capaz de afrontar a Constituição Federal mais especificamente o princípio da
isonomia alguns doutrinadores chamam o instituto de discriminações positivas já que
tentam amenizar uma desigualdade sofrida por hipossuficientes e minorias. Assim, o
que se observa é que o instituto por ora estudado sofre tanto ataques de caráter
jurídico sendo o principal argumento a afronta a princípio constitucional quanto
ataques políticos quando os próprios tentam por meios processuais extinguir essas
ações afirmativas.
Nos Estados Unidos, por exemplo, se travou uma verdadeira batalha no que
tange o assunto, e um dos argumentos dos que defendiam a supressão era que
essas ações afirmativas que dava direito as minorias a participar de cotas nas
universidades daquele país é que o nível da educação estaria caindo por dar a
oportunidade a pessoas sem a qualificação adequada no ingresso ao ensino
superior.
Ronald Dworkin afirma que:

Grande parte dos ataques políticos e jurídicos à ação afirmativa tem-se


concentrado em suas consequências: segundo os críticos, ela baixou os
padrões educacionais ao admitir alunos que não estão qualificados para
beneficiar da formação que recebem, e isso exacerbou, em vez de aliviar, a
19
tensão racial.

19
DWORKIN, Ronald. A virtude soberana; A teoria e a prática da igualdade. Tradução de Jussara
19

Ainda falando sobre os Estados Unidos foram feitas pesquisas com a


finalidade de explicar o impacto que as ações afirmativas poderiam ter no ensino
superior, e observou-se que por algum motivo aqueles que eram beneficiados (esses
geralmente negros, indígenas e em alguns casos pessoas de origem latina) por
cotas que ajudavam no ingresso a universidade geralmente tinha notas inferiores
(principalmente pessoas de cor negra) aqueles que não precisavam dessas
(pessoas caucasianas).
A pergunta que ficou sem resposta nessas pesquisas foi. Porque os negros
que ingressavam nessas universidades, que implantavam as ações afirmativas na
modalidade cotas para ingresso no ensino superior não tinham o mesmo
desempenho dos demais?
Ainda tratando das pesquisas feitas pelos americanos, Ronald Dworkin
explica que:
Os autores não conseguiram responder a todas as questões que seus
dados levantaram. Admitem que não conseguiram explicar totalmente, por
exemplo, o fato especialmente preocupante de que os alunos negros, em
grupo, têm desempenho menor nas notas quando comparados aos brancos
20
da mesma instituição que tiveram as mesmas notas no SAT.

Seria realmente difícil entender como pessoas que viveram a sombra do


racismo e discriminações por tanto tempo tinham dificuldades em atingir o mesmo
nível intelectual daqueles que possivelmente tenham participado desse racismo e
discriminação?
Já vislumbramos o contexto histórico em que essas pessoas sofreram
bastante para conseguir certos direitos, esses que deveriam e devem ser inerentes a
qualquer ser humano independentemente de raça, cor e sexo, ou seja, não sendo
deste modo necessário os conflitos e violência em certo momento da história, para
alcançar esses direitos.
O que se observou é que o simples fato de tentar amenizar todo o sofrimento
causado por anos de segregação racial, através do instituto das ações afirmativas
não vai mudar tudo que aconteceu no passado. Não se cura feridas de séculos de
uma hora pra outra.
Em discurso na universidade de Harvard no ano de 1965 o Presidene Lyndon

Simões. São Paulo: Martins Fontes. 2005. p. 546.


20
DWORKIN, Ronald. A virtude soberana. A teoria e a prática da igualdade. Tradução de Jussara
Simões. São Paulo: Martins Fontes. 2005. p. 548.
20

Johnson explicou de forma aceitável a situação em que se encontravam os


beneficiados das ações afirmativas naquela época. Pois, ele entendia que anos de
21
sofrimento e humilhação não poderiam ser apagados tão facilmente.
Comungamos da ideia do Presidente americano, pois podemos citar os
exemplos do inicio da abolição da escravatura no Brasil, os escravos do país, já
estavam tão acostumados com a vida difícil nas fazendas que quando foi assinada a
tão conhecida Lei Áurea pela princesa Isabel, que abolia a escravatura no Brasil por
completo, ou essa era a intenção. No entanto sabemos que isso não ocorreu
rapidamente, pois, a maioria dos escravos ficou trabalhando nas fazendas dos seus
antigos senhores em um regime praticamente idêntico ao anterior a escravidão já
que não sabia fazer outra coisa, a final eram pessoas sem nenhuma qualificação
muitos eram analfabetos. Assim, aqueles que tentavam se desvincular das fazendas
e do trabalho na agricultura tinha que concorrer com os imigrantes que chegavam de
outros países, e deste modo sendo obrigados a aceitar os trabalhos mais pesados.
Assim, enfatizamos o pensamento do Presidente americano Lyndon, pois,
mesmo sabendo que parte das sociedades em que há a implementação das ações
afirmativas, são contrários ao instituto por ora estudado, devemos apontar as
dificuldades de desenvolvimento social que essas pessoas passam até os dias
atuais, pois, como fora comentado acima os negros sempre tiveram poucas
possibilidades de ascensão social e econômica a começar pelo fato de que a
séculos atrás faziam parte da mão de obra escravista.
Liandra Lima traz alguns dados no que tange as questões das desigualdades
entre brancos e negros:

(...) população negra brasileira, constituir 48% da população brasileira e


possuir os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano: 0,680, em
comparação com o da população branca que de 0,799; de Expectativa de
Vida ao nascer, 64 anos, em comparação com o da população branca que é
de 70 anos; de educação, em especial a da Proporção da População com
25 anos ou mais de idade com 12 anos ou mais de estudo, que equivale ao
Ensino Superior, que é de 5%, em comparação com a da população branca
que é de 15,25%; e de Renda Mensal que é de R$ 370,30, em comparação
com a da população branca que é de R$ 737,60, representando quase o
dobro; embora sejamos possuidores de uma Constituição, conhecida como

21
BAINES, Lyndon Johnson: Discurso do Presidente Americano na Universidade de Howard em
quatro, de Junho de 1965. Disponível em:
http://us.history.wisc.edu/hist102/pdocs/johnson_commencement.pdf. Acesso em: 27 de agosto de
2011.
21

“Cidadã”, que traz uma série de preceitos que buscam garantir a igualdade
22
entre todos e a não discriminação por qualquer motivo.

A mesma autora ainda faz menções à escravidão como um dos fatores para
que a população negra tenha um baixo índice de desenvolvimento social e
econômico. Ela explica que:

Uma das características da sociedade brasileira é a desigualdade social, ao


pensarmos essa situação relacionada entra a população branca e a
população negra brasileira. Esse cenário atual e seus rebatimentos tem
23
origem no passado escravocrata brasileiro.

Comungamos da opinião de Liandra, pois, o Brasil é um exemplo claro


quando o assunto é escravidão, foi o ultimo país a abolir a escravidão. E, mesmo
depois da Lei Áurea sancionada em 13 de Maio de 1888, percebeu-se que após a
tão sonhada liberdade que era almejada pelos negros, esses enfrentaram
dificuldades para conseguir sobreviver já que não tinha habilidades ou capacidade
técnicas para trabalhar fora do campo ou em trabalhos mais complexos na indústria,
infelizmente a grande maioria era analfabeta.
Alexandre Sturion tratando do assunto em análise explica que:

Durante séculos, houve discriminações abertas contra a população negra,


quando não perseguições legais e sistemáticas contra brancos que se
24
unissem ou apoiassem em qualquer sentido um homem negro.

Apoiamos os comentários de Sturion, pois, sabemos que essas


discriminações ainda existem, talvez não de forma exacerbada como antes da
abolição mais existem. Mesmo sabendo de tudo isso ainda existe pessoas que
acham que as ações afirmativas podem prejudicar mais que ajudar.
Ronald Dworkin explica de forma didática os motivos para que parte da
sociedade veja com maus olhos as ações afirmativas, quando menciona que:

22
LIMA, Liandra Carvalho: Negro: de escravo a cidadão? Um estudo sobre a cidadania na população
negra brasileira. Disponível em:
http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinppIII/html/Trabalhos/EixoTematicoD/035fe64a111cd2257165LIA
NDRA%20LIMA_CARVALHO.pdf. Acesso em: 12 de Janeiro de 2012.
23
LIMA, Liandra Carvalho: Negro: de escravo a cidadão? Um estudo sobre a cidadania na população
negra brasileira. Disponível em:
http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinppIII/html/Trabalhos/EixoTematicoD/035fe64a111cd2257165LIA
NDRA%20LIMA_CARVALHO.pdf. Acesso em: 12 de Janeiro de 2012.
24
STURION, Alexandre de Paula: Ação Afirmativa: instrumento de cidadania ou discriminação
reversa? Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/3809/3067.
Acesso em: 13 de janeiro de 2012.
22

A ação afirmativa prejudica os negros porque os insulta ou constrange, ou


destrói seu auto-respeito, ou envenena a imagem dos negros? Os
argumentos mais comoventes contra a ação afirmativa provem dos negros
que se sentem ofendidos ou prejudicados pelo pressuposto de que eles
precisam de favores especiais. Qualquer pessoa seja um graduado negro
ou o filho bem-sucedido de pais ricos ou famosos de qualquer raça,
magoar-se-á com desconfianças que desvalorizem suas realizações, e o
fato de que muitos negros importantes acreditem que a ação afirmativa
tenha incentivado tal suspeita é o preço indubitável e lamentável de tal
25
política.

Mas não é apenas por parte de negros que se sentem constrangidos ou


discriminados pelas ações afirmativas, uma pequena parcela da população de cor
branca sente que o principio da isonomia é afrontado quando negros e pardos são
favorecidos por alguma política de ação afirmativa. Ora, sabemos que grande parte
da população brasileira não tem conhecimento sobre direito e quando se fala em
direito a igualdade a maioria entende apenas a parte literal da lei que seria todos são
iguais, assim, não compreendem que para que alguém, seja, contemplado com uma
ação afirmativa deve se enquadrar em um grupo especifico.
Walber Agra explica que:

Com a atuação das ações afirmativas, pessoas inocentes podem ser


chamadas a suportar o ônus do processo para assegurar uma maior
intensidade ao princípio da isonomia, como no caso de se fixar um
determinado percentual de estudantes das escolas públicas para terem
acesso às universidades governamentais. Dessa forma, aqueles estudantes
que apenas não entraram na universidade pública por causa do limite
estabelecido são prejudicados. Todavia, é o preço a ser levado em conta
para que se possibilite o acesso a direitos a uma maior diversidade de
26
segmentos sociais.

É claro que comungamos com o entendimento do autor acima citado, pois,


mesmo sabendo que parte da sociedade entende que as ações afirmativas podem
ferir o princípio da igualdade e essa seria umas das maiores entraves encontradas
pelo instituto é necessário entender que para que haja uma maior igualdade social
as ações afirmativas aparecem como um mecanismo capaz de diminuir as
desigualdades que assolam o nosso país.

25
DWORKIN, Ronald. A virtude soberana; A teoria e a prática da igualdade. Tradução de Jussara
Simões. São Paulo: Martins Fontes. 2005. p. 564.
26
AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p.
148.
23

CAPÍTULO II – COTAS RACIAIS E O ACESSO AO ENSINO


SUPERIOR NO BRASIL

2.1 BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO DO


DESENVOLVIMENTO SOCIAL

Tendo em vista as grandes desigualdades que assolam a sociedade,


debatemos no capitulo anterior sobre a premente necessidade de buscar meios que
visem equilibrar as possibilidades do acesso de todos os indivíduos aos direitos
inerentes a dignidade humana que constitucionalmente garantidos ainda não se
fazem realidade na vida de muitos brasileiros.
Dentre esses direitos sobreleva destacar o direito à Educação, sobre o qual
se volta de forma mais especifica este capítulo com o fim de demonstrar a
viabilidade das ações afirmativas como meio de possibilitar aos socialmente menos
favorecidos o acesso ao ensino de qualidade.
Deste modo, entendemos por bem iniciar o estudo trazendo alguns
delineamentos sobre o conceito de Educação.
Definir ou conceituar Educação é uma das tarefas mais difíceis que se pode
imaginar, são tantas as formas de se entender educação que podemos nos perder
em tantas abordagens, deste modo, acreditamos que uma explanação simples e
didática pode tornar a compreensão do estudo mais fácil. Assim, é importante nos
auxiliarmos dos conhecimentos de Émile Durkheim que explica que:

A educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre aquelas as


gerações que não se encontrem ainda preparadas para a vida social; tem
por objeto suscitar e desenvolver. Na criança, certo número de estados
físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu
conjunto, e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se
27
destine.

A educação é o instrumento essencial para o desenvolvimento da vida em


sociedade, esse desenvolvimento só é possível porque as gerações mais velhas
passam os conhecimentos adquiridos no decorrer das suas vidas para as gerações

27
DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. 11ª Ed. São Paulo: Melhoramento - Ministério da
Educação e Cultura, 1978, p. 41.
24

mais novas, isso possibilitará a evolução dos mais jovens. E não é difícil exemplificar
essa situação, pois não é difícil nos depararmos com crianças de poucos anos de
vida com habilidades em manejar aparelhos eletrônicos, que em outra época não se
afigurava possível por se tratar de um aparelho de certa complexidade para
manusear.
Ainda na busca por um conceito sobre educação nos valemos dos
entendimentos de Rosilene Martins que traz a seguinte abordagem:

A educação é vital para o homem como o próprio ato de sobreviver, no


sentido de preservar sua frágil existência e assegurar sua evolução. Com a
educação, o homem adapta-se ao meio em que vive a ponto de ser ela tão
importante e fundamental quanto o ato de procriar o de desenvolver-se na
28
vida social. Neste sentido, a educação é a própria humanidade.

A educação é inerente ao ser humano, pois, é através dela que o individuo


desenvolve suas habilidades e competências para a vida social, e assim torna-se
imprescindível para a evolução da humanidade. Esse instrumento é tão importante
que é capaz de elevar o ser humano ao topo da cadeia alimentar, possibilitando
burlar as fragilidades físicas herdadas por natureza.
Deste modo, se faz necessário um entendimento histórico acerca da evolução
da educação essa que foi fundamental para o desenvolvimento das civilizações. É
sabido que todos os países que alcançaram certo desenvolvimento social e
econômico fizeram e fazem grandes investimentos na educação de sua população,
pois, essa é o alicerce das conquistas da humanidade, tanto no que se refere às
novas tecnologias quanto ao próprio desenvolvimento e o bem viver da sociedade.
Fazemos um apanhado histórico com a teleologia de entendermos essa
evolução e iniciamos essa trajetória com a seguinte indagação: Como seria feita a
educação dos povos primitivos?
Nelson e Claudino Pillete respondem essa pergunta explicando que:

Uma das formas pelas quais a criança adquire os conhecimentos


necessários entre os povos primitivos é a imitação. Nos primeiros anos de
vida a imitação é inconsciente. As crianças brincam com pequenas
reproduções dos instrumentos utilizados pelos adultos. Como uma tora na
água, por exemplo, aprendem a equilibrar-se e a remar. Assim, mais tarde,
saberão manejar uma canoa. As meninas, por sua vez, brincam de preparar
29
comida.

28
MARTINS, Rosilene Maria Solon Fernandes. Direito à Educação. Rio de Janeiro: Letra Legal, 2004,
p. 09.
29
PILETTI, Nelson; PILETTI, Claudino. História da Educação. 7. ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 13.
25

Essa explicação tem bastante lógica, pois, isso acontece também nos dias
atuais, uma vez que percebemos quando uma criança nos observa enquanto
fazemos algum trabalho manual, a mesma tende a repetir aquela situação como se
tivesse querendo fazer igual, quantas vezes não nos pegamos a solicitar que uma
criança de poucos meses de vida fale determinada palavra? Provavelmente ela
venha a repetir mais não saiba o que significa, pois, como foi citado acima nos
primeiros anos de vida a criança imita inconscientemente, o que os adultos fazem.
Nelson e Claudino Pillete continuam a explicação afirmando que:

Numa segunda etapa a imitação torna-se consciente. As crianças participam


das atividades dos adultos e aprendem por imitação. Essa segunda etapa
tem início quando se começa a exigir trabalho da criança. Ela vai
aprendendo, pouco a pouco, as diversas ocupações da tribo: construção de
utensílios; a pesca e a caça, entre os povos caçadores; guarda do gado,
30
entre os pecuaristas; trabalhos agrícolas, entre os povos sedentários.

A educação teve avanços no decorrer do tempo, com o surgimento das


escolas e dos professores, esses tinham como objetivo essencial conduzir
determinadas situações, mostrar e/ou ensinar, aqueles que viessem a participar
desses rituais ou cerimônias primitivas, hoje a função do professor é essencial para
o desenvolvimento do individuo enquanto cidadão. Com o passar do tempo os
métodos de ensino foram tomando formas mais acentuadas, havendo assim, uma
evolução da educação primitiva para aquela que daria moldes a uma educação
civilizada. Surgindo ai a escrita e formas de linguagens mais complexas por
exemplo.
Acredita-se que foi na Grécia antiga que a educação tomou formas mais
complexas e talvez esse seja o motivo para que Piletti faça a seguinte afirmação: “A
Grécia é considerada o berço da civilização ocidental, da qual nós fazemos parte e
cuja cultura assimilamos desde o nascimentos”.31 Não é por acaso que conhecemos
tantos filósofos importantes para a história da humanidade e esses são em sua
grande parte filhos da Grécia antiga, entre eles podemos citar Aristóteles, Sócrates e
Platão.
Como em qualquer sociedade as desigualdades também atingiam aquela
região onde existiam praticamente duas classes sociais os homens livres e os
escravos, e não diferentemente das sociedades contemporâneas os mais pobres

30
PILETTI, Nelson; PILETTI, Claudino. História da Educação. 7. ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 13.
31
PILETTI, Nelson; PILETTI, Claudino. História da Educação. 7. ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 26.
26

tinham poucas oportunidades para adquirir o conhecimento típico transmitido em


uma escola. Daí se percebe que a busca pelo direito a educação vem desde os
primórdios da humanidade.32
Em cada região do mundo existem formas e métodos diferentes no que se
refere à forma de educar, pois, observamos que a educação vai caminhar atrelada a
cultura de um povo e é com base nessa cultura que a educação se desenvolverá em
determinado lugar.
Como a sociedade é dinâmica se faz necessário que suas ciências
acompanhem esse dinamismo, uma das situações que possibilitaram esse
dinamismo foi a reforma protestante na idade média, já que a educação da época
era controlada pela igreja católica e tinha como objetivo ensinar os servos a seguir a
vontade de Deus e consequentemente da própria igreja já que os membros do clero
interpretavam as chamadas escrituras sagradas e com base nessas interpretações
era transmitido o conteúdo didático das instituições de ensino daquela época.
Nelson e Claudino Piletti afirmam que:

Durante toda Idade Média a educação foi controlada pela igreja e tinha
como principal finalidade educar o individuo segundo os ensinamentos das
33
Sagradas Escrituras, interpretados pelas autoridades eclesiásticas.

A reforma protestante trouxe uma mudança significativa para a educação,


com as novas ideias de Martinho Lutero que discordava das regras da igreja católica
que de certo modo controlava os métodos de ensino da época e os conteúdos que
eram ensinados.
Marcio Ferrari discorrendo sobre o assunto explica que:

Movido pela indignação e pela discordância com os costumes da igreja de


seu tempo, o monge alemão Martinho Lutero (1483-1546) foi o responsável
pela reforma protestante, que originou uma das três grandes vertentes do
cristianismo (ao lado do catolicismo e da Igreja Ortodoxa). O nascimento do
protestantismo teve profundas implicações sociais, econômicas e políticas.
Na educação, o pensamento de Lutero produziu uma reforma global do
sistema de ensino alemão, que inaugurou a escola moderna. Seus reflexos
34
se estenderam pelo Ocidente chegam aos dias de hoje.
O contexto vivido por Martinho Lutero refere-se a um ponto da história onde a

32
Consultas para aprofundamento: PILETTI, Nelson; PILETTI, Claudino. História da Educação. 7. ed.
São Paulo: Ática, 2007. p. 27.
33
PILETTI, Nelson; PILETTI, Claudino. História da Educação. 7. ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 75
34
FERRARI, Márcio. Martinho Lutero, o autor do conceito de educação útil. Disponível em:
http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/autor-conceito-educacao-util423139.shtml.
Acesso em: 18 de setembro de 2011.
27

Igreja Católica detinha poder imaginável, aqueles que se voltavam contra os


ensinamentos dela sofriam a ira dos seus comandantes. Deste modo o monge
alemão sofreu perseguições.
Com a reforma protestante Martinho Lutero trouxe novas ideias no que se
refere à educação.
Nelson e Claudino Piletti discorrendo sobre o assunto explica que:

Para Martinho Lutero (1483-1546), a educação deveria se libertar das


amarras que a prendiam à igreja e subordina-se ao Estado. Só assim o
ensino poderia atingir todo povo, nobres e plebeus, ricos e pobres, meninos
e meninas. Caberia ao Estado tornar a frequência à escola e obrigatória e
cuidar para que todos os seus súditos cumprissem a obrigação de enviar
35
seus filhos à escola.

Essas ideias trazidas por Lutero possibilitaram um avanço na educação e


digamos que elevou a sociedade da época a um novo nível de conhecimento, não é
por um acaso que até hoje suas ideias são mencionadas na história da educação.
O novo formato de ensino e organização escolar se mostrava totalmente
adverso com a típica educação oferecida pela igreja católica da época e demonstra
que a reforma protestante trazia de certo modo esperança de libertar o povo das
ordens severas daqueles que monopolizavam as instituições de ensino da região.
“Sob orientação protestante, vários Estados da época começaram a organizar
sistemas próprios de escola, transferindo para seu controle as antigas escolas
monacais e paroquiais.” 36
O que percebemos é que no transcorrer do tempo à educação foi tomando
cada vez mais espaço na vida dos cidadãos e se mostrando ferramenta cada vez
mais importante para o desenvolvimento social e econômico da sociedade e para o
desenvolvimento do ser humano enquanto cidadão. Porém, observaremos que
durante toda essa trajetória e mesmo no contexto atual o Estado não conseguirá
proporcionar essa ferramenta para todos os seus cidadãos infelizmente são
encontrados várias entraves que impossibilita o acesso pleno de toda a população
ao ensino de qualidade, podemos citar problemas como preconceito racial,
desigualdade social e econômica que ainda assolam nossa sociedade e que muitas
vezes inviabiliza o ingresso do individuo na escola, podemos exemplificar a situação

35
PILETTI, Nelson; PILETTI, Claudino. História da Educação. 7. ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 75.
36
PILETTI, Nelson; PILETTI, Claudino. História da Educação. 7. ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 75.
28

em que um garotinho precisa trabalhar para ajudar o sustento de sua família e por
esse motivo. Devemos ainda lembrar que historicamente os menos favorecidos
economicamente no país são negros e pardos acentuado ainda mais o preconceito
racial no Brasil.
A educação será vista como alicerce do desenvolvimento social e econômico,
e podemos afirmar que principalmente o Ensino Superior por ter a função de formar
novos profissionais. Assim, o Estado deverá investir nesta ferramenta, abrindo a
possibilidade das novas gerações terem mais oportunidades de obter conhecimento
técnico e científico e se aperfeiçoarem como profissionais extremamente
qualificados para o mercado de trabalho que sugira com o dinamismo dos sistemas
econômicos.

2.2 DIREITO À EDUCAÇÃO E O PROBLEMA DA INCLUSÃO


RACIAL NO ENSINO SUPERIOR

Como instrumento tão vital a sociedade e ao ser enquanto pessoa humana a


educação se tornara direito de todo cidadão.
Nelson e Claudino Pilleti tratando do assunto explicam que:

O direito à educação é reconhecido mundialmente e está expresso na


Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Organização
das Nações Unidas (ONU) em 1949. Apesar disso os fatos mostram que em
geral, uma minoria de pessoas usufrui desse direito. A Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
elaborou, no início da década de 1970, uma estratégia de 21 pontos a ser
seguida por todos os países que pretendem fazer do direito à educação
37
uma realidade.

Tendo em vista a importância da Declaração Universal dos Direitos do


Homem para a humanidade, podemos perceber o quanto a educação é vital para o
desenvolvimento social e econômico de um povo, a ponto de se tornar um artigo
nesta declaração.
O artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem estabelece que:

1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos
nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será

37
PILETTI, Nelson; PILETTI, Claudino. História da Educação. 7ª. ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 123.
29

obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem


como a instrução superior, esta baseada no mérito.
2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao
reforço dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve
favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e
todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das
atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.
3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o gênero de
educação a dar aos
38
filhos.

Esse artigo se mostra um verdadeiro marco na história da humanidade, pois,


transformaria o futuro de muitos homens e mulheres e porque não dizermos de
algumas sociedades, não só pelo fato de possibilitar a essas pessoas a chance de
aprender e dominar a leitura, escrita e tantos outros conteúdos que seriam expostos
nas salas de aula, mas também por propiciar qualificação mínima para os novos
postos de trabalhos que estariam para surgir.
Na história da sociedade moderna percebemos uma verdadeira luta pelo
direito à educação de qualidade, pois, como visto antes será oferecida pelo Estado,
e para isso foram criadas leis com o intuito de garantir esse direito aos cidadãos,
porém, sabemos que nem sempre o Estado cumpriu efetivamente com seu papel.
No Brasil esse direito é assegurado pela Constituição Federal de 1988 que
estabelece que:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
39
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Ao Estado cabe a efetivação dos direitos transcritos na Constituição Federal,


desse modo entendemos que o direito à educação deve ser concretizado em sua
plenitude.
Ainda tratando do direito à educação a Constituição Federal de 1988 em seu
artigo 208 estabelece que:

Artigo 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
I - ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua
oferta gratuita para todos os que a ele não tiverem acesso na idade própria;
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito;

38
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM. Disponível em:
http://www.comitepaz.org.br/download/Declara%C3%A7%C3%A3o%20Universal%20dos%20Direitos
%20Humanos.pdf. Acesso em: 08 de Outubro de 2012.
39
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE1988. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/CON1988.pdf. Acesso em:
08 de Outubro de 2012.
30

III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,


preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco)
anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de
programas suplementares de material didático-escolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
40
pela frequência à escola.

O Direito à educação está assegurado pela Constituição Federal em dois


artigos como já podemos observar, além de legislação especifica direcionada para
crianças e adolescentes como é o caso do artigo 53 do Estatuto da Criança e do
Adolescente.

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – direito de ser respeitado por seus educadores;
III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;
IV – direito de organização e participação em entidades estudantis;
V – acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo
pedagógico, bem como participar da definição das propostas
41
educacionais.

Com uma legislação especifica com o intuito de resguardar e amparar o


direito à educação deveríamos viver a plenitude desse direito. Porém, sabemos que
na prática a realidade é diferente, escolas sem estrutura física para comportar os
alunos, muitas vezes falta merenda, material didático e até carteiras para que os
estudantes possam assistir às aulas sentados, são muitas as greves de professores
reivindicando reajustes salariais para a categoria, e sabemos que os professores
fazem um papel de suma importância no processo de aprendizagem, são eles que

40
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE1988. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/CON1988.pdf. Acesso em:
08 de Outubro de 2012.
41
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Disponível em:
http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/785/estatuto_crianca_adolescente_7ed.pdf?se
quence=10. Acesso em: 08 de Outubro de 2012.
31

usam os métodos pedagógicos criados por vários pensadores da educação para


melhorar o aprendizado, no entanto a classe trabalhadora não é valorizada como
deveria. Esses são alguns dos problemas devem ser enfrentados pelo Estado para a
concretização do direito a educação. Motivos para que esses problemas apareçam
são muitos e poderíamos citar como um dos principais a corrupção que faz com que
os investimentos sejam desviados e não cheguem às escolas. Todavia entendemos
que mesmo enfrentando tantas entraves para a efetivação do direito à educação o
Estado tem o dever de concretizá-lo e viabilizar a educação para seus cidadãos.
Flávia Piovesan explica que:

A implementação de programas sociais de incentivo à assiduidade escolar e


prevenção da evasão é de extrema importância para que o direito à
educação não seja apenas uma ficção jurídica ou seja usufruído apenas por
uma parcela minoritária da população, mas se constitua efetivamente em
direito garantido a todos. As dificuldades enfrentadas pelas famílias de baixa
renda para manter os filhos na escola não devem torna-se uma forma de
42
discriminação quanto ao acesso e gozo do direito à educação.

Comungamos do entendimento da autora, pois, os programas sociais que


visão a permanência do aluno na escola se torna uma ferramenta capaz de expurgar
situações como a obrigação daquela criança de ir trabalhar para ajudar no sustento
da família quando na verdade deveria estar na escola obtendo conhecimento para a
efetivação da cidadania.
A educação é ferramenta capaz de transformar o ser humano, o
conhecimento adquirido através dela pode criar e modificar a história de muitos
homens, e por isso a importância de todo cidadão ter efetivado o seu direito a
educação.
Jean Piaget explica que:

Afirmar o direito da pessoa humana à educação é, pois assumir uma


responsabilidade muito mais pesada do que assegurar a cada um a
possibilidade da leitura, escrita e do cálculo: significa, a rigor, garantir para
toda criança o pleno desenvolvimento de suas funções mentais e a
aquisição dos conhecimentos, bem como dos valores morais que
correspondam ao exercício dessas funções, até a adaptação à vida social
atual. É antes de mais nada, por conseguinte, assumir a obrigação –
levando em contas a constituição e as aptidões que distinguem cada
individuo – de nada destruir ou malbaratar das possibilidades que ele
encerra e que cabe à sociedade ser a primeira a beneficiar, ao invés de
43
deixar que se desperdicem importantes frações e se sufoquem outras.

42
PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva 2012. p. 370.
43
PEAGET, Jean. Para onde vai a educação? 4ª Ed. Tradução de Ivette Braga. Rio de Janeiro:
32

A afirmação do autor nos remete a pensar na educação como fonte para a


concretização e autoafirmação da dignidade da pessoa humana, ela possibilita ao
homem a evolução mental e consequentemente o desenvolvimento do cidadão, que
pode fazer a diferença para uma sociedade.
É a partir dos esforços, estudos e pesquisas que surgem grandes ideias e
quando se detém conhecimento prévio (esse geralmente é adquirido nas instituições
de ensino) torna-se mais fácil um estudo específico, para que aquela ideia saia do
campo teórico para mudar a vida de muita gente no campo fático, afinal foram a
partir dessas simples ideias que a humanidade deu vários saltos para os avanço
tecnológicos seja no campo da medicina, física ou tantas outras ciências que fazem
da vida do ser humano mais fácil, surge novos meios de comunicação, novos meios
de transporte no transcurso da história o homem superou a barreira do espaço,
construiu veículos espaciais, desenvolveu a cura para muitas doenças. E todos
esses avanços foram possíveis porque a educação esteve presente na história da
humanidade, foi através do conhecimento adquirido nas instituições de ensino ou
onde o conhecimento era transmitido que o homem pode avançar social, econômico
e politicamente.
O relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI
dispõe que:
A relação entre o ritmo do progresso técnico e a qualidade da intervenção
humana torna-se, então, cada vez mais evidente, assim como a
necessidade de formar agentes econômicos aptos a utilizar as novas
tecnologias e que revelem um comportamento inovador. Requerem-se
novas aptidões e os sistemas educativos devem dar resposta a esta
necessidade, não só assegurando os anos de escolarização ou de
formação profissional estritamente necessários, mas formando cientistas,
44
inovadores e quadros técnicos de alto nível.

O progresso de uma sociedade só é possível se seus cidadãos obtiverem


instrução necessária para a ocupação dos novos postos de trabalho que o sistema
econômico faz nascer, por este motivo a educação se mostra a ferramenta mais
importante para o desenvolvimento social e econômico de uma sociedade.
Infelizmente a desigualdade social enfrentada pelo brasileiro é uma das mais
absurdas do mundo. O Estado não consegue alcançar a plenitude do serviço

Livraria José Olympio. 1976. p. 40.


44
DELORS, Jacques; AL-MUFTI, In’am; AMAGI, Isao; et al. Educação um tesouro a descobrir:
Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI.Disponível
em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000009.pdf. Acesso em: 19 de abril de 2012.
33

prestado a todos seus cidadãos, pois, são muitas as adversidades enfrentadas pelos
mais pobres, e geralmente fica a escolha, trabalhar e comer ou estudar e dormir com
fome, quantas crianças não vai para escola com o intuito de merendar, e essa
merenda muitas vezes é a única refeição que aquela criança tem durante todo o dia.
Claro que isso prejudica e muitas vezes inviabiliza o processo de aprendizagem do
individuo.
O governo cria várias políticas públicas com o intuito de melhorar essa
situação , programas como bolsa escola, e bolsa família são concedidos àqueles
que se enquadram no perfil de determinada renda familiar, entre as regras da
concessão do beneficio está à frequência escolar dos filhos menores e o
descumprimento dessa regra pode acarreta no desligamento da família do
programa. Com isso o Estado tenta amenizar as desigualdades sociais e possibilitar
aos menos favorecidos economicamente a chance de ter uma formação educacional
e profissional.
Ricardo Paes e Rosane Mendonça discorrendo sobre os investimentos em
educação explicam que:

Uma das grandes dificuldades em se avaliarem os impactos de


investimentos em educação advém do fato de que estes não apenas
influenciam as condições de vida daqueles que se educam (efeitos privados
da educação), mas, também, geram uma série de externalidades sobre o
bem-estar daqueles que os rodeiam. Do ponto de vista privado, a educação
tende a elevar os salários via aumentos de produtividade, a aumentar a
expectativa de vida com a eficiência com que os recursos familiares
existentes são utilizados, e a reduzir o tamanho da família, com o declínio
no número de filhos e aumento na qualidade de vida destes reduzindo,
portanto, o grau de pobreza futuro. No entanto, acreditamos que as
externalidades geradas pela educação podem, em geral, superar em grande
medida os seus efeitos privados. A magnitude dos efeitos externos da
45
educação é, contudo, bem pouco conhecida e difícil de estimar.

Nessa perspectiva encontramos fundamentos na afirmação do pesquisador


acima que alicerça seus argumentos explicando que aqueles que investiram em
educação tendem a ter retorno em forma de salários melhores, maior perspectiva de
vida, produtividade no que se refere ao trabalho, entre outros fatores. Contudo, o
que consideramos de maior interesse e importância no sentido de que seria o bem
estar social, aqueles que conseguem uma boa educação no decorrer de sua história

45
PAES, Ricardo de Braga; MENDONÇA, Rosane. Texto Para Discussão Nº 525, Investimentos em
educação e desenvolvimento econômico. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/pub/td/td0525.pdf.
Acesso em: 17 de novembro de 2011.
34

são gratificados com uma melhor qualidade de vida, levando em consideração o


ponto de vista do desenvolvimento para o individuo e o ponto de vista de um país
que investe em educação de qualidade para sua sociedade, o que torna possível os
avanços nos vários ramos das ciências e tecnologias, uma que vez que um país
com uma população qualificada tende a produzir mais e tornar a economia mais
forte.
Ana Paula de Barcellos reforça nosso entendimento explicando que:

Não é preciso repisar que a educação constitui, modernamente,


pressuposto básico para a participação no âmbito do Estado, para o
exercício da cidadania e para o ingresso no mercado produtivo. A decisão
consciente a respeito do voto em cada eleição, a informação acerca dos
direitos mais elementares –– e.g., direito do consumidor, e até mesmo o
direito de ação ––, o acesso ao mercado de trabalho, tudo isso depende
46
hoje, em boa parte da educação formal.

Deste modo entendemos que investir em uma educação de qualidade, ou


seja, permitir a efetivação do direito à educação permitindo aos cidadãos acesso a
uma formação eficiente pode determinar avanços sociais, econômicos, políticos e
tecnológicos para o país, pois, o dinamismo do mercado capitalista força uma maior
e melhor produtividade dos bens de consumo e serviço e para atender ao mercado
de trabalho é necessário que seu povo tenha conhecimento técnico, isso se adquire
nos institutos de ensino.
É importante explicar que quando falamos em educação como ferramenta
para qualificação profissional nos referimos principalmente ao Ensino Superior
entendemos que se trata do terceiro grau de instrução da educação, após, o diploma
universitário temos as pós-graduações, mestrados e doutorados, se formos analisar
a formação educacional em uma perspectiva vertical e hierarquizada acreditamos
que seria infinita, afinal educação e aprendizado andam interligados e subir um
degrau na escala da educação seria aprender algo mais, deste modo, entendemos
que sempre vai haver algo a se aprender e acreditamos que o Ensino Universitário é
um grande passo para qualquer indivíduo que pretende se firmar profissionalmente
na dinâmica do sistema capitalista, ora, com os novos avanços tecnológicos e com
tanta concorrência para ocupar as vagas desse mercado que tenta atender as
necessidades do mundo globalizado, quem é portador de diploma universitário tem

46
PAULA, Ana de Barcellos. A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais, O Princípio da
Dignidade da Pessoa Humana. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Renovar. 2011. p. 303 e 304.
35

vantagens perante aqueles que não possuem em seu currículo o nível superior da
educação, este que não é garantia de emprego, porém, auxilia na busca por um bom
emprego.
Clarissa Eckert explica que:

Há uma demanda crescente por educação superior e um reconhecimento


sobre sua importância estratégica para o desenvolvimento econômico e
social. Sem dúvida, a educação superior vem dando amplas demonstrações
de sua importância para promover transformações na sociedade, por isso
passou a fazer parte do rol de temas considerados prioritários e estratégicos
para o futuro das nações. Generaliza-se a convicção de que o
desenvolvimento requer cada vez mais a ampliação dos níveis de
escolaridade da população; e que as necessidades do desenvolvimento e
consequentemente o novo perfil da demanda exigem flexibilidade, agilidade,
alternativas de formação adequadas às expectativas de rápida inserção
47
num sistema produtivo em constante mudança.

Analisando esta situação entendemos que ser portador de diploma


universitário aumenta consideravelmente as chances de se inserir no mercado de
trabalho. Todavia, lembramos que vivemos em um dos países com altíssimos índices
de desigualdade social, ser universitário até algumas décadas atrás significava ser
de certo modo ser membro de família abastada, já que entrar em uma universidade
pública era tarefa difícil, pois, a educação básica em quase sua totalidade sempre foi
deficitária, tornando praticamente impossível um aluno que viesse da escola pública
passar no vestibular dessas faculdades, no que se refere às faculdades do setor
privado sempre tiveram como foco aqueles que pudessem pagar, claro os mais
humildes ficavam de fora. 48
Clarissa Eckert em estudo acerca do assunto menciona alguns dos problemas
enfrentados pelo nosso país e explica que:

Os grandes desafios da educação superior estão relacionados a inúmeras


questões, tais como: a ampliação do acesso e maior equidade nas
condições do acesso; formação com qualidade; diversificação da oferta de
cursos e níveis de formação; qualificação dos profissionais docentes;
garantia de financiamento, especialmente para o setor público;
empregabilidade dos formandos e egressos; relevância social dos
49
programas oferecidos; e estímulo à pesquisa científica e tecnológica.

47
Consultas para aprofundamento. ECKERT, Clarissa Baeta Neves. Desafios da educação superior.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/soc/n17/a02n17.pdf. Acesso em: 05 de maio de 2012.
48
MARIA, Eva Miranda. Ensino superior: novos conceitos em novos contextos. Disponível em:
http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/tek/n8/v5n8a08.pdf. Acesso em: 18 de Janeiro de 2012.
49
ECKERT, Clarissa Baeta Neves. Desafios da educação superior. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/soc/n17/a02n17.pdf. Acesso em: 05 de maio de 2012.
36

A autora menciona a ampliação do acesso e maior equidade nas condições


do acesso ao ensino superior e comungamos desse entendimento, afinal a
desigualdade em nosso país é um problema histórico. Infelizmente percebemos que
muitas vezes essa desigualdade está associada a preconceitos de natureza racial.
O Brasil é conhecido como um país mestiço, pois, a diversidade racial é
notória, a quantidade de imigrantes de outros países a séculos atrás fez do Brasil
uma nação de várias raças, africanos, europeus, asiáticos chegaram ao país com o
intuito de tentar uma nova vida, porém, boa parte dos africanos que aqui chegaram
entravam no país como escravos. Além de todo sofrimento causado pela escravidão
o preconceito se mostra como reflexos ainda daquela época.
Alessandra Galli tratando sobre o racismo e discriminação no Brasil expõe
que:

A discriminação que se iniciou na época da abolição, infelizmente


permanece evidente até os dias atuais. Ainda que o Brasil não conte com
uma situação de apartheid aberta e declarada, é manifesto e inconteste que
a cor ou a “raça” das pessoas sempre lhe impôs um diferencial no que
50
tange aos seus direitos e expectativas sociais.

O preconceito enfrentado pelos negros durante toda a trajetória da escravidão


permanece em forma menos arraigada nos dias atuais, afinal hoje existe lei
especifica que proíbe o preconceito racial, porém, mesmo com legislação que trata
do assunto os problemas sociais percebidos no Brasil tendem a afetar os negros
com maior frequência. Com explica Galli:

O conglomerado de referências sociais de que se dispõe atualmente indica


que são os negros afetados por toda a sorte de problemas sociais,
violências, discriminações e transgressões de direitos. As mulheres negras
se encontram em situação mais desfavoráveis – posto que por elas
perpasse ainda a questão de gênero – ao longo de toda a história, e até
hodiernamente, tiveram e têm que se submeter à remuneração pelo
trabalho que desenvolvem em condições de desvantagem não apenas em
relação aos homens e mulheres brancos, mas também em relação aos
51
próprios homens negros.

50
GALLI, Alessandra. Ações Afirmativas – Possíveis Soluções para o Racismo no Brasil. In:
PIOVESAN, Flávia; IKAWA, Daniela. Direitos Humanos; Fundamentos, Proteção e Implementação
Perspectivas e Desafios Contemporâneos. V. II, Ed. Curitiba: Juruá, 2010, p. 720.
51
GALLI, Alessandra. Ações Afirmativas – Possíveis Soluções para o Racismo no Brasil. In:
PIOVESAN, Flávia; IKAWA, Daniela. Direitos Humanos; Fundamentos, Proteção e Implementação
Perspectivas e Desafios Contemporâneos. V. II, Ed. Curitiba: Juruá, 2010, p. 721.
37

Concordamos com a afirmação acima citada ora são várias as reportagens vistas
nos meios de comunicações fazendo referência a problemas sociais enfrentados
pelos negros, principalmente aqueles que fazem alusão à violência, baixo nível
educacional e pobreza, claro entendemos que são os reflexos de preconceitos
contra uma raça que foi estigmatizada como inferior.
No que se refere ao acesso ao nível superior da educação perceberemos que
os negros encontram mais dificuldades do que os brancos ou caucasianos, pois, no
Brasil ser universitário a alguns anos atrás era privilégio dos mais abastados, não
era difícil escutar no cotidiano pessoas falarem que os acadêmicos representavam a
elite brasileira, se pensarmos dessa forma podemos fazer umas analise se pra ser
universitário era necessário ser de família abastada, e um dos problemas que
assolavam ou assolam as comunidades negras é a pobreza, logo o acesso a o
ensino superior era privilégio daqueles que não se enquadravam com o tom de pele
negra ou parda.
Em estudo sobre o assunto Alessandra Galli menciona que:

No que tange ao ensino superior, percebe-se um acesso mais expressivo


dos jovens de cor branca às faculdades e universidades, o que ocorre
devido à inserção diferenciada dos grupos de cor ao longo dos ensinos
fundamental e médio, associada também a diversos outros fatores
socioeconômicos condicionantes. Em 2004, 47% dos estudantes de 18 a 24
anos de cor branca frequentavam o ensino superior, uma proporção quase
três vezes superior à encontrada para os estudantes de cor preta e parda.
52

Os dados trazidos pela autora acima nos demonstram que a população negra
e parda do Brasil está em uma situação desfavorável em relação à população que
pele branca, ora, em um mundo globalizado onde o grau de instrução colabora na
busca por um bom emprego está na faculdade ou ter um diploma universitário pode
auxiliar na efetivação de um cargo ou função, porém, o preconceito ainda causa
danos a essas pessoas que são assolados por problemas de caráter social e
econômico, pra termos uma ideia os negros e pardos brasileiros apresentam menor
grau de escolaridade se for comparar aos brancos.
Alessandra Galli explanando sobre essa situação expõe que:

52
GALLI, Alessandra. Ações Afirmativas – Possíveis Soluções para o Racismo no Brasil. In:
PIOVESAN, Flávia; IKAWA, Daniela. Direitos Humanos; Fundamentos, Proteção e Implementação
Perspectivas e Desafios Contemporâneos. V. II, Ed. Curitiba: Juruá, 2010, p. 723.
38

É óbvio que o grau de estudo adquirido por brancos, pretos e pardos, de


forma evidentemente diferenciada – como não poderia deixar de ser –
acaba por se refletir no mercado de trabalho. As pessoas de cor branca que
estão trabalhando possuem, em média, em 2004, 8,4 anos de estudo e
recebem mensalmente 3,8 salários mínimos. Em contrapartida, a população
preta e parda ocupada, apresenta, respectivamente, 6,2 anos de estudo e 2
53
salários mínimos de rendimento.

Esses dados reforçam o nosso entendimento, pois, demonstram que as


populações negras e pardas além de possuir menor grau de instrução tendem a
receber proventos menores que os brancos, alias analisando melhor a afirmação
acima percebemos que no que se refere aos proventos, esses tendem a ser bem
menores quando confrontados aos dos brancos. Essa desigualdade tem em suas
raízes o preconceito racial. Todavia, acreditamos que o fato de uma pessoa ter
acesso ao ensino superior seja ela de que cor for tem mais chances de crescer tanto
socialmente quanto economicamente. A educação se torna uma ferramenta
poderosa na formação dos cidadãos e também dos profissionais do país esses
últimos quando bem qualificados tendem a ajudar o país crescer não sou
sociamente mais também economicamente.

2.3 COTAS RACIAIS COMO INSTRUMENTO NO INGRESSO AO


ENSINO SUPERIOR

O acesso ao ensino superior tende a ser um sonho de boa parte dos jovens
do Brasil independentemente de cor, raça, religião, orientação sexual ou condição
econômica, afinal sabemos que hoje o sistema capitalista praticamente obriga a
população a se qualificar profissionalmente para que assim tenha chances de
ingressar no mercado de trabalho, assim, ser detentor de diploma universitário de
certo modo ajuda na busca e efetivação de um emprego. E como já foi dito no
capítulo anterior observamos que entrar na faculdade é tarefa mais árdua para os
negros, e sabemos que são muitos os problemas enfrentados por essas pessoas.
Deste modo entendemos que se faz necessário observar alguns dados que

53
GALLI, Alessandra. Ações Afirmativas – Possíveis Soluções para o Racismo no Brasil. In:
PIOVESAN, Flávia; IKAWA, Daniela. Direitos Humanos; Fundamentos, Proteção e Implementação
Perspectivas e Desafios Contemporâneos. V. II, Ed. Curitiba: Juruá, 2010, p. 723.
39

fortalecem ainda mais o nosso entendimento.


Segundo dados expostos no Relatório Anual das Desigualdades Raciais no
Brasil; 2009-2010. No que se refere à segurança alimentar 71,8% da população
branca estaria na chamada segurança alimentar, enquanto a população negra e
parda seria 47,6% aqui podemos perceber que a população branca está em
situação mais confortável em comparação aos negros e pardos. Quanto à
insegurança alimentar leve os brancos são 15% e negros e pardos 21,3% da
população, insegurança alimentar moderada brancos 9,2%, negros e pardos 19,5%,
insegurança alimentar grave brancos 4,1% negros e pardos 11,6% é importante
ressaltar que esses dados se referem a pesquisas feitas no ano de 2004, lembramos
que segurança alimentar se trata de ter ou não restrição alimentar, ou seja,
preocupação com uma possível falta de alimentos no cotidiano.54 Podemos analisar
que de certo modo os brancos estão em vantagem quando confrontados com os
negros e pardos, ora se observarmos a segurança alimentar mais de 70% da
população branca se enquadraria nesta modalidade enquanto os negros seriam
menos que 50% quando analisados os dados da insegurança alimentar
independentemente do grau os negros sempre estão em maior percentual. Esse tipo
de informação nos remete a entender que negros e pardos enfrentam maiores
problemas financeiros em relação aos brancos.
Já percebemos que para enfrentar dificuldades com alimentação a renda do
negro tende a ser menor que a do branco e esse seria um dos problemas
enfrentados pelos negros para o ingresso na universidade, pois, o Estado não
oferece uma educação pública de boa qualidade para que esses indivíduos possam
frequentar uma universidade gratuita já que não conseguem nota suficiente nos
vestibulares dessas universidades.
As ações afirmativas na modalidade cotas raciais vêm a ser um instrumento
para o acesso ao ensino superior, surgem com o intuito de diminuir o problema
enfrentado pelos negros no que se refere ao ingresso no ensino superior.
Gilmar Ferreira Mendes afirmar que:
Entre as Universidades, as primeiras a instituírem cotas para negros, em
2002, foram a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a
Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), não por iniciativa

54
Consultas para aprofundamento: PAIXÃO, Marcelo; ROSSETTO, Irene; et al. Relatório Anual das
Desigualdades Raciais o Brasil; 2009-2010, Constituição Cidadã, segurança social e seus efeitos as
assimetrias de cor ou raça. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000009.pdf. Acesso em: 19 de outubro de 2012.
40

própria, mas por meio de uma lei aprovada em 2001 na Assembleia


Estadual do Rio de Janeiro. Mais uma vez foi decisivo o trabalho, do
movimento negro, dos pré-vestibulares e outros setores, não apenas na
proposição da Lei, mas também com ações judiciais e participações em
todas as audiências públicas e debates internos que aconteceram nas duas
Universidades. Ainda em 2002, a Universidade Estadual da Bahia (UNEB)
adotou cotas na graduação e na pós-graduação a partir de uma decisão do
55
seu Conselho Universitário.

Quanto as federais a Universidade de Brasília (UnB) foi uma das pioneiras a


conceder essas cotas aos negros e pardos no ano de 2004, onde davam a
possibilidade desses indivíduos ingressarem na universidade pelo sistema de cotas
raciais, para isso os candidatos deveriam se declarar negros ou pardos e no
momento da inscrição do vestibular ser fotografado para avaliação da comissão.56
Acreditamos que inicialmente as cotas raciais oferecidas pela Universidade
levavam aquele que se declarava negro ou pardo a certo constrangimento
principalmente pelo fato de ter que se submeter a fotografia e depois a análise da
comissão da UNB, ora esses já se declaravam negros ou pardos, não haveria
necessidade de fotografia e analise por uma comissão.
Marcos Chor e Ricardo Ventura explicam que:

A comissão da UnB, constituída por cientistas sociais, representantes de


entidades do movimento negro e uma estudante universitária, foi
estabelecida com o objetivo de conduzir uma atividade técnico-burocrática,
ou seja, homologar ou não a auto-atribuição pelo candidato do status de
“negro”. Essa operação estaria embasada em conhecimento considerado
científico no escrutínio de características como cor da pele, textura do
cabelo, formato do nariz, etc., discerníveis a partir do exame das fotografias,
com vistas à classificação racial. A presença na comissão de membros do
movimento negro estaria coerente com o processo de construção de
identidades, afeito à “pedagogia racial” introduzida no vestibular da UnB.
Contudo, essa representação por si só não garantia a legitimidade dessa
comissão, que demandava a autoridade da ciência, ainda mais em um
espaço universitário. A dimensão de cientificidade incluía a presença de
“especialista em raça”, no caso representado pelo antropólogo, alçado à
condição de repositório de conhecimentos e técnicas da classificação racial.
Nessa situação, poderia se aventar a hipótese de que a presença de
cientistas sociais especializados em análises de dinâmicas identitárias
afinadas com as “políticas de identidade”, que norteariam a ação dos

55
FERREIRA, Gilmar Mendes. 120 Anos da Luta pela Igualdade Racial no Brasil: Manifesto em
Defesa da Justiça e Constitucionalidade das Cotas. Disponível em:
http://www.mp.pe.gov.br/uploads/LRNGbNvHBr3F0UG0zTkNhQ/bmIWFc3Zw8SPJ67IfyLHg/MAnifest
o_Cotas_-_STF.pdf. Acesso em: 02 de Novembro de 2012.
56
Consultas para aprofundamento: CHOR, Marcos Mais; VENTURA, Ricardo Santos. Políticas de
Cotas Raciais, os “olhos da sociedade” e os usos da antropologia: O caso do vestibular da
Universidade de Brasília (UNB). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ha/v11n23/a11v1123.pdf.
Acesso em: 19 de outubro de 2010.
41

movimentos sociais, permitiria atender aos requisitos ditados pelo programa


57
da UnB.

Entendemos que inicialmente a Universidade de Brasília tinha um objetivo


louvável que seria aumentar o ingresso de negros e pardos na universidade uma vez
que pelas vias tradicionais essa tarefa parecia ser difícil, todavia se formos analisar
pela forma utilizada, observamos certa classificação “discriminatória” no tocante a
averiguação feita pela comissão e a fotografia. E sabemos que a discriminação
tende a inferiorizar o individuo de alguma forma o que não deveria acontecer.
Dworkin explica que:

A discriminação racial expressa desprezo, e é profundamente injusto e


prejudicial ser condenado pelas características naturais; a discriminação
racial é, sobretudo, destruidora da vida de suas vitimas - não lhes rouba
uma ou outra oportunidade que esteja acessível a outrem, mas os prejudica
em quase todas as perspectivas e esperanças que possam imaginar. Em
uma sociedade racista, as pessoas são de fato rejeitadas pelo que são e é,
portanto, natural que as classificações raciais sejam encaradas como
capazes de infligir um tipo de dano especial. Seria, contudo, cruel
desaprovar o uso de tais classificações para combater o racismo, que é a
58
verdadeira e constante causa de tais danos.

Concordamos com o autor e acreditamos que a discriminação é o verdadeiro


problema no que tange essa situação e não a forma pela qual foi feita a seleção
daqueles que se escreviam pelo regime de cotas raciais, essas que foi motivo de
muitas e acaloradas discussões entre a sociedade brasileira gerando até mesmo
uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental - (ADPF-186) que
questionava a constitucionalidade das cotas raciais, felizmente o STF decidiu pela
constitucionalidade das cotas raciais tornando este tipo de ação afirmativa válida
para o ordenamento jurídico.
No mesmo ano em que as cotas raciais da UnB estreavam no vestibular da
Universidade o Brasil iniciava uma reforma no Ensino Superior e com essa reforma
surgia o Programa Universidade Para Todos (PROUNI) esse que tinha o papel de
conceder mais oportunidade para os jovens do país proporcionando acesso ao
ensino superior por meio de bolsas de estudos nas universidades particulares.59

57
CHOR, Marcos Mais; VENTURA, Ricardo Santos. Políticas de Cotas Raciais, os “olhos da
sociedade” e os usos da antropologia: O caso do vestibular da Universidade de Brasília (UNB).
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ha/v11n23/a11v1123.pdf. Acesso em: 19 de outubro de 2010.
58
DWORKIN, Ronald. A virtude soberana; A teoria e a prática da igualdade. Tradução de Jussara
Simões. São Paulo: Martins Fontes. 2005. p. 577.
59
Consultas para aprofundamento: MENDES, Afrânio Catani; PAULA, Ana Hey; SOUSA , Renato de
42

Essa reforma iniciada pelo governo do Presidente Luis Inácio Lula da Silva foi
de grande importância para a democratização do Ensino Superior uma que só os
mais abastados de certo modo tinham o privilegio de frequentar uma boa faculdade,
com as novas medidas tomadas a reforma se ampliava o número de universidades
federais e com o novo programa (PROUNI) estimulava a criação de faculdades
privadas. 60
Afrânio Mendes explanando sobre o assunto explica que:

O MEC pretendia instituir o Prouni por meio de Medida Provisória. No


entanto, a decisão do governo foi encaminhar Projeto de Lei (PL) ao
Congresso em maio de 2004. Inicialmente, o PL previa apenas bolsas de
estudo integrais concedidas a “brasileiros não portadores de diploma de
curso superior e cuja renda familiar não exceda a um salário mínimo per
capita” (BRASIL. MEC, 2004, Art. 1º, § 1º). As bolsas atenderiam a cerca de
80 mil alunos, sendo destinadas apenas a concluintes do ensino médio em
escolas públicas e à formação de professores da rede pública em cursos de
licenciatura ou pedagogia. Os critérios para selecionar os beneficiários
foram dois: a nota e o perfil socioeconômico do estudante no Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem), com exceção para os professores da
rede pública. Os ingressantes em nível superior através do Prouni seriam
dispensados do processo seletivo específico das instituições privadas. O
programa destacou-se por incluir políticas afirmativas, por meio da oferta de
bolsas aos autodeclarados negros e indígenas.

Comungamos do entendimento do autor quando afirma que o programa se


destacou por incluir políticas de ações afirmativas por ofertar bolsas de estudos
aqueles que se declaravam negros e indígenas, e percebemos aqui a inserção das
cotas raciais no ensino superior e pra termos uma ideia do quanto isso foi importante
para o acesso do negro e do pardo ao universidade podemos fazer uma análise da
quantidade de negros e pardos que hoje frequenta ou frequentou a faculdade
graças ao Programa Universidade Para Todos - PROUNI e em parte as Cotas
Raciais adotadas pelo programa.
Segundo dados do PROUNI entre 2005 a 2011 foram ofertadas cerca de
919.551 bolsas de estudos entre todas essas bolsas 437.991 alunos se declararam
brancos, 325.051 alunos se declararam pardos, 115.109 alunos se declararam
negros, 16.905 alunos se declararam amarelos, 1.403 alunos se declararam índios e

Porto Gilioli. PROUNI: democratização do acesso às Instituições de Ensino Superior? Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/er/n28/a09n28.pdf. Acesso em: 20 de Outubro de 2012.
60
Consultas para aprofundamento: MENDES, Afrânio Catani; PAULA, Ana Hey; SOUSA , Renato de
Porto Gilioli. PROUNI: democratização do acesso às Instituições de Ensino Superior? Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/er/n28/a09n28.pdf. Acesso em: 20 de Outubro de 2012.
43

23.093 não informaram a raça.61


É importante salientar que os dados acima citados não demonstram um
número exato de alunos que ingressaram na universidade via PROUNI por meio das
cotas raciais já que alguns alunos pardos e negros preferem não concorrer à vaga
pelo sistema de cotas, todavia, podemos perceber um número expressivo se
somarmos a quantidade de alunos negros a de alunos pardos que os dados
apresentam, seria um número quase igual ao de alunos brancos que ingressaram na
faculdade pelo Programa Universidade Para Todos.
No ano de 2010 o então Ministro da Educação Fernando Haddad baixa a
Portaria Normativa Nº 2, De 26 De Janeiro De 2010, criando o Sistema de Seleção
Unificada (Sisu) onde as Universidades Públicas adotariam o Exame Nacional do
Ensino Médio como porta de entrada na faculdade. Nessa portaria encontramos
artigos que tratam das políticas de ações afirmativas que aumenta a possibilidade de
indivíduos negros e pardos entrem nas universidades.

Art. 11. Ao efetuar a sua inscrição, o candidato poderá optar por concorrer
às vagas destinadas às políticas de ações afirmativas eventualmente
62
adotadas pelas instituições participantes do SiSU.

O referido artigo trata é claro das políticas de ações afirmativas que são
aceitas pelas universidades públicas que participam da seleção unificada entre
essas ações encontram-se as cotas raciais. Deste modo possibilitando ainda mais
que os jovens negros e pardos tenham mais chances de ingressar no ensino
superior. Assim, entendemos que as cotas raciais são instrumento de suma
importância para o acesso ao Ensino Superior.

61
ANEXO 1, PDE/PROUNI, Programa Universidade Para Todos. Disponível em:
http://siteprouni.mec.gov.br/images/arquivos/pdf/Representacoes_graficas/bolsistas_por_raca.pdf.
Acesso em 20 de Agosto de 2012.
62
PORTARIA NORMATIVA Nº 2, DE 26 DE JANEIRO DE 2010. Disponível em:
http://sisu.mec.gov.br/static/data/Portaria_Normativa_n2_de_26_de_janeiro_de_2010.pdf. Acesso em:
21 de outubro de 2012.
44

CAPÍTULO III – A NECESSIDADE DA PERMANÊNCIA DAS COTAS


RACIAIS NO ENSINO SUPERIOR

3.1 AS COTAS RACIAIS E A BUSCA PELA IGUALDADE MATERIAL

Com o surgimento das cotas raciais iniciou-se uma discussão sobre a


constitucionalidade das ações afirmativas mais especificamente no que diz respeito
as cotas raciais no ensino superior, pois um dos maiores argumentos utilizados por
aqueles que se contrapõe a sua utilização refere-se a possível afronta ao princípio
da isonomia assegurado no artigo 5º da CF, alegando que o beneficio dado àqueles
que ingressam na universidade por meio das cotas raciais representa na verdade
uma afronta à igualdade formal.
O artigo 5º. Caput da Constituição Federal de 1988 estabelece que:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
63
propriedade, nos termos seguintes.

Entendemos que numa percepção literalista da lei, as cotas raciais poderiam


em determinadas circunstancias trazer uma conotação de afronta a Constituição
Federal no momento em que atribui tratamento diferenciado a determinados
segmentos sociais, a exemplo dos negros e pardos que ingressam na universidade
por meio dessas ações afirmativas. Persiste a seguinte indagação: Ora se o texto
Constitucional estabelece que todos são iguais perante a lei, porque os negros e
pardos teriam cotas destinadas ao ingresso no ensino superior? Poderíamos nos
questionar sobre essa situação e fazer uma relação com a igualdade tratada no
artigo 5º da carta magna.
Cumpre salientar que a literatura brasileira tem estudos valiosos a respeito do
tema e deste modo é possível compreender que não se vislumbra na prática um
ideal de igualdade. Na verdade as diferenças de uma pessoa para outra fazem parte
do próprio gênero humano, na medida em que cada indivíduo possui as suas
63
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE1988. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/CON1988.pdf. Acesso em:
08 de Outubro de 2012.
45

particularidades no que pertine ao seu modo de ser, o seu aspecto físico, etc. Assim,
os seres humanos não são produtos que fabricados em larga escala possuem
sempre as mesmas formas e características. Portanto, políticas que visem uma
igualdade formal de apenas tratar de forma isonômica todas as pessoas sem
considerar as suas particularidades tende ao fracasso, pois é como se tomasse
como pressuposto uma igualdade que não é real.
A almejada igualdade tem, na verdade, uma conotação jurídica de não tratar
desigualmente cidadãos que se encontrem em semelhantes condições. Isto não
impede que haja tratamentos distintos quando estes tenham por objetivo amenizar
uma disparidade verificada no campo prático. Deste modo, a quebra da igualdade
jurídica tem por escopo o alcance de uma igualdade fática, pois nas circunstancias
que se apresentam tratar do mesmo modo pessoas que estão em situações
antagônicas seria aumentar ainda mais essas diferenças. 64
A lei trata de uma igualdade formal que não pode ser compreendida na forma
literal da lei, como um instrumento limitador da busca pela justiça social e
consequentemente vir a aumentar as desigualdades já existentes no nosso país. O
que se busca na verdade é uma igualdade substancial ou fática como mencionado
acima.
Neste diapasão, há um especial interesse de que os esforços perpetrados na
busca pela igualdade, não se restrinjam apenas a uma isonomia formal, já
consagrada pelo liberalismo clássico, mas que voltem-se com maior esforço para
uma igualdade material que consubstancia-se no tratamento igual aos iguais e
desigual aos desiguais, considerando a medida de suas diferenças. 65
Assim, acreditamos que a igualdade que a Constituição estabelece deve ser a
que possibilite ao cidadão a efetividade dos seus direitos, situação esta que ainda
encontra muitos desafios no campo prático pois sabemos que nesta seara muitas
vezes não existe esta tão almejada concretização. Cumpre indagar: Quantos dos
nossos compatriotas negros ou pardos não buscam o acesso pleno a uma educação
de qualidade? Este questionamento é fruto da analise de situações em que os dados
refletem que os negros e pardos encontram mais dificuldades no que se refere ao
ingresso na universidade e consequentemente na busca por um bom emprego,

64
Consultas para aprofundamento: AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 6ª Ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 141.
65
Consultas para aprofundamento: LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14ª Ed. São
Paulo: Saraiva. 2010. p. 751.
46

quantas vezes não ouvimos na TV que os negros mesmo que tenham trabalhos
iguais aos brancos ainda recebem valor inferior? Já demonstramos anterior as
diferenças salariais de negros e brancos.
As ações afirmativas por meio das cotas raciais se mostram instrumentos
auxiliares na busca pela igualdade material, pois, permite aos negros e pardos ter
maiores chances de ingressar na universidade e ter deste modo uma melhor
perspectiva com relação ao futuro profissional.
Piovesan expõe que:

As ações afirmativas, enquanto políticas compensatórias adotadas para


aliviar e remediar as condições resultantes de um passado discriminatório,
cumprem uma finalidade pública decisiva ao projeto democrático, que é a
de assegurar a diversidade e a pluralidade social. Constituem medidas
concretas que viabilizam o direito à igualdade, com a crença de que a
igualdade deve-se moldar pelo respeito à diferença e à diversidade. Por
meio delas transita-se da igualdade formal para a igualdade material e
substantiva. Tais medidas devem ser apreendidas não pelo prisma
retrospectivo, no sentido de significarem uma compensação a um passado
discriminatório, mas também pelo prisma prospectivo, no sentido de
apresentarem alto grau de potencialidade para uma transformação social
66
includente.

As ações afirmativas se mostram um instrumento auxiliar na efetivação da


almejada igualdade material, pois, tem como objetivo diminuir as desigualdades
raciais que assolam nosso país, dando maiores oportunidades aqueles que por
muitos anos sofreram e sofrem com a discriminação racial.
Uma vez que é perfeitamente compreensível que para o alcance da almejada
igualdade material, que visam de fato trazer para a realidade das pessoas uma
situação de equiparação entre as mesmas é preciso se valer de alguns mecanismos
que acabam criando certo paradoxo, pois se destinam a criação de meios que
distinguem os cidadãos entre si para que posteriormente os mesmos experimentem
uma condição de igualdade de oportunidades e acesso a determinados segmentos
sociais. Há, portanto, um sacrifício da igualdade formal em nome de uma justiça
distributiva e equitativa. 67
Assim entendemos que não basta que a lei estabeleça que todos são iguais,
pois, sabemos que essa igualdade de fato não existe. Sobreleva destacar que numa

66
PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2012. p. 265,266.
67
Consulta para aprofunddamento: PEREIRA, Maurício da Silva. Acesso ao Serviço Público Mediante
Cotas Raciais: O fundamento no direito internacional dos direitos humanos e questões de
constitucionalidade no direito brasileiro. In: PIOVESAN, Flavia. Direitos Humanos. V. I Ed. Curitiba:
Juruá, 2010, p. 444.
47

compreensão mais filosófica sobre as diferenças há de se perceber que é da


natureza do ser humano ser diferente isso em todos os aspectos nunca
encontraremos pessoas totalmente iguais, seja fisicamente, seja socialmente e
assim por diante. Portanto, pode-se afirmar que a sociedade se enriquece com os
diferentes tipos de pessoas que fornecem as mais variadas formas de vida e de
comportamento, mas não pode tolerar um tratamento que não leve em consideração
as necessidades particulares de determinado grupo.
Com o intuito de reforçar nosso entendimento nos valemos dos ensinamentos
de Flávia Piovesan que dissertando sobre a promoção da igualdade explica que:

A implementação do direito à igualdade é tarefa essencial a qualquer projeto


democrático, já que em última análise a democracia significa igualdade - a
igualdade no exercício dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e
culturais. A busca democrática requer fundamentalmente o exercício, em
68
igualdade de condições, dos direitos humanos elementares.

O Brasil como país que adota um regime democrático de direito deve por
meios de seus governantes prezarem pela democracia e consequentemente pela
igualdade entre seus cidadãos.
De modo que, a implementação de uma real democracia, que embora
consagrada no texto da Carta Magna ainda enfrenta inúmeros desafios para seu
pleno exercício, passa necessariamente pela percepção de que a efetivação do
direito a igualdade é ao mesmo tempo fundamento e consequência do regime
democrático, pois o mesmo nem se forma e muito menos sobrevive quando os
cidadãos estão divididos em classes que os distingue na fruição dos direitos e
garantias que por todos devem ser exercidos de forma indiscriminada.
Concordamos com o entendimento da autora ao afirmar que para acabar com
a desigualdade é necessário suprimir qualquer forma de discriminação, Todavia,
acreditamos que essa seria uma tarefa bastante difícil, porém, não impossível.
Na busca pela implementação do direito a igualdade a autora acima citada
esclarece a respeito de duas vertentes que devem ser contempladas, tendo em vista
que se apresentam indissociáveis. Trata-se da combinação de estratégias
repressivas e promocionais que já foram inclusive mencionadas em duas
Convenções ratificadas pelo Brasil, a que trata sobre a eliminação de todas as
formas de discriminação racial e a que se ocupa das formas de discriminação sobre

68
PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2012. p. 268.
48

a mulher. 69
No que tange as estratégias repressivas e promocionais para a busca pela
igualdade, acreditamos que a primeira trate de leis mais rígidas que tenham como
finalidade a proibição do preconceito racial, a respeito do qual pode ser mencionada
a lei antirracismo na qual o país busca alcançar uma situação de menos
discriminação que dificulta um tratamento igualitário não somente por parte do
governo, mas também entre os cidadãos que devem ser reprimidos quando assim
se comportarem. A estratégia promocional, por sua vez, está ligada a políticas
públicas na modalidade de ações afirmativas que visem proporcionar uma efetivação
dos direitos sociais, promovendo um equilíbrio entre os diversos grupos que
compõem o corpo social.
Neste diapasão, acreditamos que as ações afirmativas na modalidade cotas
raciais para o acesso ao ensino superior podem equiparar às chances de negros e
pardos em relação aos brancos no acesso a universidade e com isso diminuir as
desigualdades raciais e sociais, já que compreendemos o nível de instrução de um
determinado indivíduo como fator determinante para fazer a diferença na busca por
espaço no mercado de trabalho, e assim aquele que possuir conhecimento
específico em determinada área possivelmente encontrará boas oportunidades de
emprego, que será compensado por um valor considerável em vista dos seus
serviços prestados e com isso ajudará a diminuir as desigualdades sociais e
econômicas do Brasil.

3.2 OS AVANÇOS JURÍDICOS REFERENTES ÀS COTAS RACIAIS

As cotas raciais foi assunto de muita discussão, em questão sempre esteve a


sua legalidade como já citamos anteriormente, os defensores dessas ações
afirmativas sempre tiveram como base para a sua legalidade a igualdade material e
o fim do preconceito racial, enquanto aqueles que discordam usam como argumento
a igualdade formal.
Ao tratar deste assunto, no entanto, é preciso considerar o panorama histórico
no qual estivemos e estamos envolvidos, de modo a constatar que já houveram

69
Consultas para aprofundamento: PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. 5ª Ed. São
Paulo: Saraiva. 2012. p. 268.
49

mudanças significativas no processo de inclusão dos negros no ensino superior.


Sobre este prisma, sobreleva destacar o magistério de Gilmar Mendes que assevera
“A história se baseia em um processo concreto de luta pela igualdade após um
século inteiro de exclusão dos negros do ensino superior, e não mais na controversa
ideologia do mito de uma ‘democracia racial’ que, de fato, nunca tivemos”. 70
Ainda dentro deste processo, é importante observar a experiência de outros
países que também vivenciam na sua história um longo caminho de superação da
discriminação. Deste modo, o renomado autor Gilmar Mendes continua afirmando
que:
“Todos esses avanços nos habilitam inclusive, a iniciar um diálogo
horizontal e uma troca de experiências com outros países que também
encontraram seus próprios caminhos de superação do racismo popular e
institucional, da discriminação e da segregação, como a Índia, os Estados
71
Unidos, a África do Sul e a Malásia”.

Na esteira deste posicionamento, compreende-se que é um processo longo e


gradual que ainda não está aperfeiçoado, mas que deve continuar caminhando para
que cada dia seus efeitos tornem-se mais visíveis e concretos. Neste diapasão,
Gilmar Mendes aponta que “hoje o debate é público e aberto, mas há cerca de duas
décadas atrás o tema das ações afirmativas e do acesso dos negros ao ensino
superior era um tema tabu para a elite brasileira. Tal avanço junto à opinião pública
é notável, e não deve ser desprezado. 72
Comungamos com o autor e entendemos que as cotas raciais se prestam a
algo de extrema importância para uma “liberdade democrática” quando aumenta as
chances daqueles jovens negros que geralmente são de origem humilde de ter a
chance de um futuro promissor ao ingressar uma universidade de boa qualidade
gratuita e obter uma boa qualificação profissional. Acreditamos que os negros por
meio dessas cotas raciais no ensino superior merecem ter essas oportunidades para
que apaguemos da memória todo sofrimento que essa raça sofreu séculos atrás.

70
FERREIRA, Gilmar Mendes. 120 Anos da Luta pela Igualdade Racial no Brasil: Manifesto em
Defesa da Justiça e Constitucionalidade das Cotas. Disponível em:
http://www.mp.pe.gov.br/uploads/LRNGbNvHBr3F0UG0zTkNhQ/bmIWFc3Zw8SPJ67IfyLHg/MAnifest
o_Cotas_-_STF.pdf. Acesso em: 02 de Novembro de 2012.
71
FERREIRA, Gilmar Mendes. 120 Anos da Luta pela Igualdade Racial no Brasil: Manifesto em
Defesa da Justiça e Constitucionalidade das Cotas. Disponível em:
http://www.mp.pe.gov.br/uploads/LRNGbNvHBr3F0UG0zTkNhQ/bmIWFc3Zw8SPJ67IfyLHg/MAnifest
o_Cotas_-_STF.pdf. Acesso em: 02 de Novembro de 2012
72
FERREIRA, Gilmar Mendes. 120 Anos da Luta pela Igualdade Racial no Brasil: Manifesto em
Defesa da Justiça e Constitucionalidade das Cotas. Disponível em:
http://www.mp.pe.gov.br/uploads/LRNGbNvHBr3F0UG0zTkNhQ/bmIWFc3Zw8SPJ67IfyLHg/MAnifest
o_Cotas_-_STF.pdf. Acesso em: 02 de Novembro de 2012.
50

Por óbvio, a inclusão dos negros na Universidade por si só não apaga todos
os anos que a população afro descendente enfrentou de exclusão e discriminação.
Quando houve a abolição da escravatura, os negros deixaram de pertencer aos
seus senhores como propriedade, mas ainda precisam conquistar o seu espaço
dentro do corpo social que não os acolhia com o respeito e dignidade que merece
todo ser humano.
Atualmente nos encontramos em um momento crucial de nossa história, pois
não podemos dizer ainda que há uma situação confortável que não precisa ser
melhorada, contudo já é possível vislumbrar alguns avanços no que diz respeito a
quantidade de negros que hoje ocupam as cadeiras da Universidade, mesmo com
todo o racismo e exclusão ainda existente no ensino superior temos mais negros e
pessoas de baixa renda no ensino superior do que podíamos encontrar nos anos
anteriores. 73
O autor na época Presidente do Supremo Tribunal Federal junto com vários
outros intelectuais, entre eles políticos, jornalistas, juristas e etc. manifestam-se a
favor da constitucionalidade das cotas raciais, porém, sabemos que algumas
pessoas se mostraram contrários à implantação das cotas raciais nas universidades
o partido democrata, por exemplo: ingressou com uma ADPF - Arguição de
descumprimento de preceito fundamental, afirmando que as cotas raciais na
Universidade de Brasília afrontavam o princípio da isonomia, da legalidade, da
dignidade da pessoa humana, da proporcionalidade, além de outros princípios
constitucionais. A tão comentada Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental 186 foi julgada pelo supremo tribunal federal que decidiu por
unanimidade a constitucionalidade das cotas raciais.
Em trecho do voto de Marco Aurélio o mesmo afirma que:

Tem relevância a alegação de que o sistema de verificação de quotas


conduz à prática de arbitrariedades pelas comissões de avaliação, mas não
consubstancia argumento definitivo contra a adoção da política de quotas. A
toda evidência, na aplicação do sistema, as distorções poderão ocorrer,
mas há de se presumir que as autoridades públicas irão se pautar por
critérios razoavelmente objetivos. Afinal, se somos capazes de produzir
estatísticas consistentes sobre a situação do negro na sociedade, e, mais
ainda, se é inequívoca e consensual a discriminação existente em relação a
tais indivíduos, parece possível indicar aqueles que devem ser favorecidos

73
Consultas para aprofundamento: FERREIRA, Gilmar Mendes. 120 Anos da Luta pela Igualdade
Racial no Brasil: Manifesto em Defesa da Justiça e Constitucionalidade das Cotas. Disponível em:
http://www.mp.pe.gov.br/uploads/LRNGbNvHBr3F0UG0zTkNhQ/bmIWFc3Zw8SPJ67IfyLHg/MAnifest
o_Cotas_-_STF.pdf. Acesso em: 02 de Novembro de 2012.
51

pela política inclusiva. Para tanto, contamos com a contribuição dos


cientistas sociais. Descabe supor o extraordinário, a fraude, a má-fé,
buscando-se deslegitimar a política. Outros conceitos utilizados pela
Constituição também permitem certa abertura – como os hipossuficientes,
os portadores de necessidades especiais, as microempresas – e isso não
impede a implementação de benefícios em favor desses grupos, ainda que,
74
vez por outra, sejam verificadas fraudes e equívocos.

O Ministro Marco Aurélio faz menção ao fato de as comissões de avaliação


talvez agir de forma arbitrária no momento da aplicação do sistema de cotas raciais
a final lembramos que a UnB foi uma das pioneiras na implantação dessas ações
afirmativas e é comum que aqueles que tentam o novo possam cometer erros
mesmo que essa não seja a intenção ora a causa a qual essas cotas raciais se
destinam e infinitamente superior a erros iniciais.
Na conclusão de seu voto Marco Aurélio reafirma o seu entendimento no
sentido de que é possível corrigir as desigualdades quando tivermos como meta o
alcance dos objetivos traçados na Constituição e a coragem para promover as
mudanças necessárias, sem acomodar-se a realidade já traçada. Em suas palavras
“façamos o que está ao nosso alcance, o que está previsto na Constituição Federal,
porque, na vida, não há espaço para arrependimento, acomodação, misoneísmo,
75
que é a aversão, sem se querer perceber a origem, a tudo que é novo”.
Entendemos que as cotas raciais são uma forma de corrigimos o problema da
desigualdade racial e social que assola nosso país a final no momento que damos
mais oportunidades no campo da educação aos negros e pardos damos ao mesmo
tempo a possibilidade de sucesso profissional.
Sobreleva destacar, portanto, que além do aspecto concreto de aumentar as
chances de determinados negros e pardos terem acesso ao ensino superior, ainda
existe um aspecto simbólico de aumentar as perspectivas de todos aqueles que
integram o seu grupo ou meio social, na medida em que uma criança vê um dos
seus pares ocupar um lugar de destaque na sociedade projeta-se também ao
alcance dessa realidade, na expectativa de que os seus sonhos também poderão
ser alcançados, através do exemplo que pode ser vislumbrado daquele que

74
ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 186 Distrito Federal.
Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF186MMA.pdf. Acesso
em: 03 de novembro de 2012.
75
Consultas para aprofundamento: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL 186 Distrito Federal. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF186MMA.pdf. Acesso em: 03 de
novembro de 2012.
52

conseguiu seus objetivos. 76


Quando menciona-se como exemplo um criança negra que ao ver seu
semelhante em cargo de destaque na sociedade aumenta suas esperanças e
anseios é possível perceber que as ações afirmativas podem elevar a possibilidade
de negros e pardos obterem cargos de relevância no contexto atual de nossa
sociedade.
A esse respeito, Ricardo Lewandowshky argumenta explicando que:
A histórica discriminação dos negros e pardos, em contrapartida, revela
igualmente um componente multiplicador, mas às avessas, pois a sua
convivência multissecular com a exclusão social gera a perpetuação de uma
consciência de inferioridade e de conformidade com a falta de perspectiva,
lançando milhares deles, sobretudo as gerações mais jovens, no trajeto sem
volta da marginalidade social. Esse efeito, que resulta de uma avaliação
eminentemente subjetiva da pretensa inferioridade dos integrantes desses
grupos repercute tanto sobre aqueles que são marginalizados como
naqueles que, consciente ou inconscientemente, contribuem para a sua
77
exclusão.

Sabemos que o ambiente acadêmico é capaz de elevar o nível intelectual


daqueles que o frequenta, sabemos também que tempos atrás ser universitário no
Brasil era privilégio da elite econômica brasileira. Hoje com a implementação das
ações afirmativas que visam integrar os negros e pardos no ambiente acadêmico os
números são diferentes e percebemos uma elevação da quantidade de negros e
pardos nas universidades, assim, acreditamos que aquela criança negra que vê um
semelhante em papel importante na sociedade pode se espelhar e ter a certeza que
poderá alcançar aquele mesmo “status”.
É interessante mencionar que a Universidade de Brasília, através de uma
política de ações afirmativas, considerada proporcional e razoável, dentro dos
patamares estabelecidos pela Constituição Federal, reserva 20% de suas vagas
especificamente para estudantes negros e deste percentual um número para os
estudantes índios dentro de um período de 10 anos. Esta iniciativa demonstra a

76
Consultas para aprofundamento: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL 186 Distrito Federal. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF186RL.pdf. Acesso em 03 de novembro
de 2012.
77
ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 186 Distrito Federal.
Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF186RL.pdf. Acesso em
03 de novembro de 2012.
53

importância do tema, bem como a sua plausibilidade dentro das universidades


78
brasileiras que tem papel fundamental neste processo de inclusão.
Acreditamos que o julgamento da ADPF-186 em favor da constitucionalidade
das cotas raciais na universidade nacional de Brasília foi de extrema importância
para os avanços jurídicos no que se refere à aceitação dessas ações afirmativas.
Podemos afirmar que o maior avanço jurídico no sentido de promoção das
ações afirmativas enquanto cotas raciais no ensino superior surge com a Lei nº
12.711 de 29 de agosto de 2012 que vai tratar sobre o ingresso nas universidades
federais.
O artigo 1º da lei 12.711/2012 estabelece que:
Art. 1º As instituições federais de educação superior vinculadas ao
Ministério da Educação reservarão, em cada concurso seletivo para
ingresso nos cursos de graduação, por curso e turno, no mínimo 50%
(cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que tenham cursado
integralmente o ensino médio em escolas públicas.
Parágrafo único. No preenchimento das vagas de que trata o caput
deste artigo, 50% (cinquenta por cento) deverão ser reservados aos
estudantes oriundos de famílias com renda igual ou inferior a 1,5
salários mínimo (um salário-mínimo e meio) per capita. 79

Em análise do mencionado artigo podemos afirmar que o fato de 50% das


vagas nas instituições federais de ensino superior ser destinado aos alunos que
tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas de certo modo
beneficia os negros e pardos que como já vimos anteriormente fazem parte da maior
parcela pobre do Brasil, pois acreditamos que só frequenta uma escola de ensino
médio mantida pelo governo aqueles que não possuem renda necessária para pagar
uma escola privada, pois, sabemos que as estruturas das escolas públicas são em
sua grande maioria deficitárias. Assim, mesmo que um negro ou pardo não queira
ingressar na universidade pelas cotas raciais pode entrar com o fundamento de ter
frequentado todo ensino médio em uma escola pública.
O artigo 3º da lei 12.711/2012 estabelece que:

Art. 3º Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas de que trata


o art. 1º desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por autodeclarados

78
Consultas para aprofundamento: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL 186 Distrito Federal. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF186RL.pdf. Acesso em 03 de novembro
de 2012.
79
LEI Nº 12.711 DE 29 DE AGOSTO DE 2012. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12711.htm. Acesso em: 03 de
novembro de 2012.
54

pretos, pardos e indígenas, em proporção no mínimo igual à de pretos,


pardos e indígenas na população da unidade da Federação onde está
instalada a instituição, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de
80
Geografia e Estatística (IBGE).

Esse artigo trata especificamente das vagas que devem ser resevadas e
destinadas para negros, pardos e indígenas e reforça nosso entendimento quando
afirmamos que a lei 12.711/2012 se torna o maior avanço jurídico no que se refere
às cotas raciais no ensino superior afinal acreditamos que por muito tempo os
negros e pardos sofrem discriminações raciais e sociais e essa nova lei vem a dar
uma maior esperança na busca por uma retratação por todos esses séculos de
discriminação.

3.3 IMPORTÂNCIA DA PERMANÊNCIA DAS COTAS RACIAIS NO


ENSINO SUPERIOR

As ações afirmativas enquanto cotas raciais no ensino superior se mostram o


remédio mais adequado na tentativa de suprimir as desigualdades raciais e
consequentemente o preconceito racial, pois, é sabido que infelizmente esse mal
ainda existe de forma arraigada em nosso país, cuja segregação e discriminação
ainda permeia sua história. Por outro lado, já experimentamos avanços significativos
na busca de uma sociedade mais igualitária.
Neste diapasão, compreendemos que o ensino superior representa de certo
modo a chance de um futuro promissor para o individuo que for portador de um
diploma desse grau de escolaridade, que traz em si o peso dos esforços perpetrados
em busca do objetivo almejado, ainda mais quando o individuo provem de uma
classe socialmente menos favorecida ou de um grupo que historicamente sempre
esteve à margem da sociedade. Assim, acreditamos que é de suma importância a
permanência das cotas raciais no ensino superior.
Antonio Carlos em estudo sobre as cotas para negros na universidade explica
que:

80
LEI Nº 12.711 DE 29 DE AGOSTO DE 2012. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12711.htm. Acesso em: 03 de
novembro de 2012.
55

A necessidade de justiça distributiva e mobilidade social do negro brasileiro


estão demasiadamente atrasadas em pelo menos 118 anos, se contados
desde a abolição da escravatura, e enquanto não houver a concretização
dessa justiça distributiva com relação a essa parcela expressiva da
população, enquanto a universidade e o mercado de trabalho,
especialmente aquele que exige formação universitária para o exercício de
profissões de maior prestígio social, permanecer sem representar a
verdadeira face multirracial da população brasileira, enquanto a base de
nossa pirâmide social for esmagadoramente preta/parda e do meio para o
topo for predominantemente branca, justifica-se a adoção das cotas raciais
na academia, bem como de outras medidas de ação afirmativa, sem
81
qualquer afronta ao princípio constitucional da igualdade.

Nesta perspectiva consiste a justificação para a adoção de cotas em razão da


cor, pois infelizmente após várias décadas de abolição da escravatura, os negros
ainda não tem um percentual representativo nas profissões de maior interesse social
que seja proporcional a população afro descendente. Deste modo, enquanto
vivermos em um país onde as desigualdades sociais e o preconceito racial
impossibilitam o desenvolvimento dos mais pobres (esses em sua maioria são
negros e pardos) as cotas raciais trarão esperanças aos jovens brasileiros negros e
pardos de origem humilde e que sonham com um futuro profissional de sucesso,
pois, o Sistema de Seleção Unificada - SISU e programas como o Programa
Universidade para Todos - ProUni reservam uma boa quantidade de vagas para
aqueles que se declaram negros e pardos.
Petrônio Domingues em estudo sobre as ações afirmativas para negros
explica que:
As políticas que estabelecem cotas raciais devem respeitar o percentual de
negros na composição populacional dos diversos estados da nação. Elas
têm sempre de ser proporcionais, correspondendo à realidade local. Por
exemplo, a cota para São Paulo deve ser menor do que para a Bahia, o
estado com maior concentração da população negra do país. Desse modo,
o corpo discente da universidade vai representar mais fielmente a
82
composição racial do estado no qual estiver inserido.

Comungamos do entendimento do autor acima citado e destacamos no trecho


de sua obra a importância de um olhar diferenciado para cada região do país, pois
embora possamos comungar de aspectos comuns que abrangem toda a nação, é
preciso considerar também que as diversas regiões do Brasil apresentam diferentes

81
CARLOS, Antonio Costa Santos. Cotas para negros na universidade: Uma análise
constitucionalidade em confronto com o princípio da igualdade recepcionado pela Constituição
Federal de 1988. Disponível em: http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/141335/1/R173-01.pdf.
Acesso em 05 de outubro de 2012.
82
DOMINGUES, Petrônio. Espaço Aberto Ações afirmativas para negros no Brasil: o início de uma
reparação histórica. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n29/n29a13.pdf. Acesso em 18 de
Maio de 2012.
56

patamares de desenvolvimento que merecem ser observados quando do


planejamento das politicas publicas que serão implementadas, acreditamos que a lei
12.711/2012 respeita essa perspectiva quando menciona que deve ser analisados
dados populacionais baseados no IBGE.
Alfredo Prado afirma que:

Estudos de várias entidades, entre elas o PNUD, revelam que em todos os


estratos a proporção de negros é inversamente proporcional à riqueza:
quanto mais alta a faixa de rendimento, menor é o percentual de negros que
a integra. Embora sejam quase 45 por cento da população total do país, os
negros são 70 por cento entre os dez por cento mais pobres e não passam
de 16 por cento entre os dez por cento mais ricos. A situação da população
negra é particularmente grave, não só no plano econômico e social, mas
também cultural. A passagem do esclavagismo para a liberdade, no século
XIX, não foi, na época, acompanhada de políticas que disponibilizassem
aos escravos, sobretudo aos que viviam nos meios rurais, nas grandes
fazendas, mecanismos de sobrevivência. Não houve uma reforma agrária -
como, aliás, ainda continua por fazer - que disponibilizasse aos negros
83
libertos terras para trabalhar, nem programas de escolarização.

Como pode ser observado, o tema analisado no decorrer deste estudo tem
como plano de fundo uma sociedade que precisa urgentemente voltar-se para os
socialmente excluídos através de medidas concretas que beneficiam a parte mais
pobre da população, que sofre a carência de muitos direitos que embora positivados
na Constituição Federal ainda não mostram-se efetivados na vida de muitos
brasileiros. A defesa das cotas no ensino superior é uma das nuances que perfazem
esta premente necessidade de melhoria das condições de vida da população.
Por esse motivo entendemos que as cotas raciais são de extrema importância
para a busca por uma igualdade material afinal percebemos que após a implantação
dessas ações afirmativas um maior número de negros e pardos conseguiu ingressar
no ensino superior alguns chegam a obter notas maiores que os brancos se for
analisado o histórico escolar dessas pessoas, o que prova a capacidade natural que
todos temos de nos desenvolver quando há oportunidade para tanto.
Finalmente, concluímos que os negros e pardos merecem uma retratação por
tanto tempo de perseguição e de injustiças e assim conceder oportunidade aos
negros e pardos no ingresso a faculdade é com certeza um excelente modo de
retratação e a melhor forma de possibilitar o avanço social desse povo.

83
PRADO, Alfredo. Cotas raciais nas universidades provocam polêmica. Disponível em:
http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2010/11/Cotas-raciais-nas-universidades-provocam-
pol%C3%AAmica.pdf. Acesso em: 19 de outubro de 2012
57

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação é instrumento essencial para o desenvolvimento social e


econômico de qualquer país, com o Brasil não é diferente, porém, percebemos que
o fato de termos a sexta maior economia do mundo não necessariamente quer dizer
que os serviços do Estado conseguem alcançar todos os cidadãos, infelizmente os
menos beneficiados com serviços essenciais para qualquer ser humano são os
compatriotas de origem humilde, ou seja, os pobres são os que mais enfrentam
problemas com a violência com o analfabetismo e assim por diante.
Através da análise feita no presente trabalho monográfico foi possível
perceber que os pobres brasileiros em sua grande maioria são negros e pardos que
sofrem preconceitos até os dias atuais e que por tantos outros motivos encontram
dificuldades no ingresso ao ensino superior.
No decorrer da pesquisa, foi possível vislumbrar que as ações afirmativas
enquanto cotas raciais para o ensino superior mesmo sendo alvo de acaloradas
discussões sobre a afronta ao princípio da isonomia são na verdade instrumentos de
grande importância para o desenvolvimento social e econômico de negros e pardos,
pois, são é através desse instituto que muito negros e pardos conseguiram entrar
em uma boa faculdade e conseguir sucesso profissional.
Por fim, ficou evidenciado através do nosso estudo e dos avanços jurídicos
(julgamento da ADPF 186 e sanção da Lei nº 12.711/2012) que as cotas raciais não
afrontam o princípio da isonomia e sim busca a efetivação da igualdade substancial,
a final é sabido que vivemos em um dos países com maior desigualdade social no
mundo e o instituto das ações afirmativas por meio das cotas raciais nasce com o
intuito de diminuir essa problemática.
58

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