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1,2
CANA-DE-AÇÚCAR. I – TIRIRICA
RESUMO
Com o objetivo de estudar períodos de chuvoso iniciou-se apenas quatro meses após o
interferência entre plantas daninhas e a cultura da plantio. O resultados obtidos no experimento
cana-de-açúcar, foi instalado um experimento no permitiram concluir que a cana-de-açúcar suportou
município paulista de Pradópolis, numa área um pequeno período de convivência inicial, de
pertencente à usina São Martinho, onde a cana-de- zero aos 41 dias após o plantio (DAP), sem sofrer
açúcar foi plantada no mês de abril de 1995 e interferência significativa de diminuição da
colhida quinze meses depois. As condições produção. No entanto, o controle da tiririca
climáticas no estado de São Paulo após o plantio por um período curto (dos aos 22 dias após o
deste experimento (época normal de plantio da plantio da cana-de-açúcar foi suficiente para
cana-de-açúcar no estado de São Paulo) são assegurar a produção.
caracterizadas por deficiência hídrica e Palavras chave: Saccharum officinalis,
temperaturas amenas, sendo que o períodos competição, Cyperus rotundus.
ABSTRACT
The objective of this research was to study nutsedge (Cyperus rotundus) was the major
interference periods between weeds and sugarcane infesting weed, sugarcane tolerated only 41 days,
culture in a experimental area located in after planting, without interference by the weed,
Pradópolis, São Paulo State, Brazil. In these due to probably a greater competitive ability and
experiment, sugarcane was planted in May of allelopathic effect that have been attributed to this
1995, and harvested 15 months later. The climatic weed during the earlier stages of sugarcane
conditions in São Paulo State during the months development, interference starts right after initial
that follow sugarcane planting in the experiment sugarcane sprouting. On the other hand, purple
(normal time when growers plant sugarcane), are nutsedge is very sensible to crop canopy
characterized by negative balance of rain and shading, and low temperature, so the
evapotranspiration and mild temperatures, and the competition ended at only 22 days after planting
rainy season starting only four months after (DAP).
planting time. According to the results, it was Key words: Saccharum officinalis, weed,
concluded that, in the experiment where purple competition, Cyperus rotundus.
1
Recebido para publicação em 23/08/99 e na forma revisada em 07/12/99.
2
Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor a ser apresentada à ESALQ/USP.
3
Pós-graduando, MS, Depto de Horticultura, ESALQ/USP. C.P. 9, CEP: 13418-900, Piracicaba/SP.
4
Profo Livre-Docente do Dept o de Biologia Aplicada a Agropecuária, FCAVJ/UNESP, CEP: 14870-000, Jaboticabal/SP.
5
Profo do Depto de Horticultura, ESALQ/USP. C.P. 9, CEP: 13418-900, Piracicaba/SP.
6
Profo Assistente Dr. do Depto de Biologia Aplicada a Agropecuária, FCAVJ/UNESP, CEP: 14870-000, Jaboticabal/SP.
e as principais características físicas e químicas dois colmos lado a lado no sulco, com
encontram-se descritas na Tabela 1. A cana-de- linhas de plantio espaçadas de 1,50 metro e
açúcar, variedade RB806043, foi plantada no colhida após quinze meses de desenvolvi-
dia 1o de abril de 1995, numa densidade de mento.
TABELA 1. Principais características químicas e físicas de uma amostra composta de solo da área
experimental localizada no município de Pradópolis, SP, 1995.
análise química
pH M.O. P K Ca Mg H + Al SB T V
CaCl2 g/dm3 mg/dm3 cmolc/dm3 %
4,9 35,8 25,2 0,62 4,25 1,19 4,81 52
análise física
areia grossa areia fina argila silte classe textural
7% 4% 78% 15% argilosa
10,0 A1
9,5
9,0
8,5
Y
8,0
7,5
7,0
6,5
2 4 6 8 10
X
( A 1 A 2)
Y ( X X 0 ) / dx
A 2
1 e
FIGURA 1. Representação gráfica e matemática do modelo sigmoidal de Boltzman Utilizado no ajuste
dos dados de produção da cana-de-açúcar.
Onde:
Y = produção de cana-de-açúcar em função dos períodos de controle ou de convivência.
X = limite superior do período de controle ou de convivência.
A1 = produção máxima obtida nas parcelas mantidas no limpo durante todo o ciclo.
A2 = produção mínima obtida nas parcelas mantidas no mato durante todo o ciclo.
(A1 – A2) = perda de produção
X0 = limite superior do período de controle ou de convivência, que corresponde ao valor intermediário entre a produção
máxima e mínima.
dx = parâmetro que indica velocidade de perda ou ganho de produção (tg no ponto X 0).
140
CYPRO
120 total
Den sidade (p la nta s/m )
2
100
80
60
40
20
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Convivência (dias)
FIGURA 2. Densidade de plantas de tiririca (CYPRO) e da comunidade infestante ao final dos períodos de
convivência com a cana-de-açúcar. Pradópolis, SP, 1995.
40
35
30
Precipitação (mm)
25
20
15
10
0
0-14 14-28 28-42 42-56 56-77 77-98 98-119 119-140
Períodos (dias)
A ocorrência de um período seco, com precipitações (35 mm), mas, a população de tiririca
9 mm dos 42 aos 77 DAP, associado a queda de não emitiu novas brotações. indicando que nesta
temperatura (dados não apresentados) e ao início do época do ano outros fatores limitam o
sombreamento das entre-linhas pela cultura, causou desenvolvimento desta espécie de planta daninha. A
a mortalidade de manifestações epígeas e a biomassa seca das manifestações epígeas de tiririca
paralização na brotação de tubérculos, reduzindo decresceu, a partir dos 56 DAP, em função do
a população para 25 M.E./m2. Dos 77 DAP aumento do período de convivência com a cana-de-
aos 98 DAP registrou-se a ocorrência de novas açúcar, conforme pode ser observado na Figura 4.
110
100
CYPRO
90
total
80
Bio massa (g M.S. /m2)
70
60
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Controle (dias)
FIGURA 4. Biomassa seca das plantas daninhas e da tiririca (CYPRO) ao final dos períodos de
convivência com a cana-de-açúcar. Pradópolis,SP,1995.
Levantamento da flora infestante antes da daninha, motivo pelo qual os resultados não foram
colheita da cana-de-açúcar revelou que, apresentados.
independentemente da extensão dos períodos de As condições climáticas e o sombreamento
pela cana-de-açúcar não só inibiram a brotação,
controle no início do ciclo da cana-de-açúcar, não
como aceleraram a mortalidade das manifestações
haviam manifestações epígeas de tiririca nem a epígeas presentes. A tiririca é uma espécie bastante
presença de qualquer outra espécie de planta sensível ao sombreamento e, provavelmente, a
baixas temperaturas. Segundo resultados obtidos redução de produtividade foi de apenas 20%. A
por Nemoto et al. (1995) com 30% de produção obtida com a cana livre da convivência
sombreamento da tiririca, houve efeito significativo com a comunidade infestante durante todo o ciclo
sobre o desenvolvimento, reduzindo a densidade de foi de 159 t/ha e decaiu para 128 t/ha quando a
manifestações epígeas e o número de bulbos e convivência com a comunidade infestante ocorreu
tubérculos. durante todo o ciclo. Esses resultados coincidem
As condições de baixa temperatura e com as citações feitas por Keeley (1987), que
umidade que ocorrem no inverno são propícios para situou as reduções de produtividade resultante da
a incidência de doenças foliares da tiririca, interferência desta espécie entre 0 e 45 %. Tais
causadas principalmente por fungos do gênero reduções de produtividade não estão restritas
Puccinia spp. e Cercospora spp. (Charudatan 1991) apenas a competição pelos fatores físicos de
e que contribuem para o desaparecimento da tiririca crescimento, mas também pela presença de
a partir do mês de maio. compostos de natureza alelopática. Lorenzi (1983)
Os resultados de produção obtidos podem observou redução de 20% na produção de cana-de-
ser analisados observando-se a Figura 5, que açúcar infestada pela tiririca o que atribuiu quase
apresenta as curvas obtidas pelo ajuste matemático. que totalmente à alelopatia. Bacchi et al. (1984)
Comparando as produções obtidas nas condições de relatou que os efeitos negativos da tiririca sobre a
ausência total das plantas daninhas com as obtidas cana ocorrem principalmente devido a inibição da
na presença das mesmas durante todo o ciclo, a brotação e crescimento inicial dos mesmos.
105
A
100
105
100
B
95
Produç ão (t/ha)
95
P ro dução (t/ha)
90
90 85
80
80
Na Índia, segundo Bhardwaj & Verna reduções máxima de 5%, a produtividade da cana-
(1968), durante os 7 meses de maior prolificidade, a de-açúcar passou a ser afetada negativamente a
tiririca foi capaz de absorver do solo 95,6 Kg de partir de 41 dias de convivência. Por outro lado, foi
N/ha, 11,6 Kg de P2 O5 /ha e 49,3 Kg de k2O/ha, necessário controle da comunidade infestante por
sendo que mais de 50% desses nutrientes estavam apenas 22 dias após o plantio para que a produção
presentes nos tubérculos. atingisse 95% da produção máxima (Figura 5).
Cabe ressaltar que a eliminação das plantas Visto que esta situação não requer períodos
de tiririca com capina manual não é total, pois o residuais de controle, a aplicação de herbicidas
sistema subterrâneo se mantém, e pode permanecer seletivos em área total na pré-emergência ou pós-
extraindo quantidades variáveis de água ou emergência das plantas daninhas não se constitui na
nutrientes, ou ambos. Entretanto, mesmo única opção de controle. Aplicações de herbicidas
eliminando-se somente parte do potencial não seletivos em jato dirigido, ou mesmo a
competitivo desta espécie a redução de utilização de capina manual, desde que realizadas
produtividade somente atingiu 20 %, com elevadas próximo dos 41 DAP, também podem ser
produtividades, acima de 128 t/ha. A utilização de utilizados. Com a implantação da colheita
herbicida de translocação para eliminar tiririca mecanizada da cana-de-açúcar, tornou-se necessária
poderia acarretar em maiores menores perdas de a operação de nivelamento das entre-linhas “quebra
produtividade. lombo”. Esta operação, se realizada antes dos 41
Os parâmetros obtidos para a equação de DAP, poderia assegurar a produção,
Boltzman encontram-se na Tabela 3. Tolerando independentemente da aplicação de herbicidas.
TABELA 3. Parâmetros da equação de Boltzman obtidos com a análise dos dados de produção de cana-
de-açúcar. Pradópolis, SP, 1995.
Não se obteve correlação significativa entre tolerância para 2% observou-se que o este período
a biomassa das manifestações epígeas da população se estreitou, passando para um limite máximo de
da tiririca com a produção da cana-de-açúcar, 13 dias.
mesmo na fase crescente da biomassa das Ainda pela Tabela 4 pode-se observar o
manifestações epígeas. intervalo de tempo de convivência ou controle
A Tabela 4 apresenta a estimativa dos necessário para que a redução de produtividade
valores do limite superior do período anterior à passe de 2 para 10% e vice-versa. Para que as
interferência (PAI) e do período total de prevenção reduções de produtividade da cana-de-açúcar
à interferência (PTPI) em função da tolerância de passasse de 2 para 10 % foi necessário um
redução de 2, 5 e 10% na produtividade da cana- acréscimo de 51 dias no período de convivência.
de-açúcar. Tolerando 10% de redução de Por outro lado, para aumentar a produtividade de
produtividade, o período anterior à interferência 90 para 98% foi necessário um acréscimo de 13
foi de zero aos 64 dias. Reduzindo os níveis de dias nos períodos de controle.
PAI PTPI
2% 5% 10% 2 – 10% 2% 5% 10% 10 – 2%
0 – 13 0 - 41 0 - 64 51 dias 0 - 33 0 – 22 0 - 10 13 dias