Brasilia - DF , 2019
Sumário
1 Introduçao ………………………………………………… 03
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2 Brasil colônia ……………………………………………………... 05
2.1 Período jesuítico
2.2 Marquês de Pombal
2.3 Dom joão VI e coroa portuguesa
10 Referencias ……………………………………………………….. 20
Introdução
A elaboração deste trabalho surge no intuito de analisar alguns momentos da
Educação de jovens e adultos ao longo da história do Brasil. Desde o início é
importante lembrarmos que a EJA não foi criada para ser uma educação de jovens
e adultos, e sim para modelar e corrigir uma sociedade, que por muitos séculos
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sofreu com descaso e o esquecimento, apenas voltados aos interesses políticos do
estado, os da produtividade.
Em nenhum momento vemos o interesse de governantes ou da própria elite em
construir uma sociedade com valores ou cidadãos pensantes , com um senso crítico
e político. Acompanhando esse processo histórico , vemos que a cultura e a
sociedade brasileira estão ligadas a distinção e a discriminação de grupos sociais .
Os Jesuítas dedicaram-se a duas coisas principais: a pregação da Fé católica e o
trabalho educativo. Através do seu trabalho de catequizar, com intuito de salvar as
almas, abrindo caminho para a entrada dos colonizadores, com seu trabalho
educativo, na medida em que se ensinavam as primeiras letras, ao mesmo tempo
ensinavam a doutrina católica e os costumes europeus.A expulsão dos jesuítas,
desorganizou o ensino até então estabelecido. Novas iniciativas sobre ações
dirigidas e educação de adultos somente ocorreram na época do Império.
A constituição Imperial de 1824 garantia a todos os cidadãos a instrução primária
gratuita. Contudo, a titularidade de cidadania era restrita às pessoas livres, saídas
das elites que poderiam ocupar funções na burocracia imperial ou no exercício de
funções ligadas a política e o trabalho imperial.
No Brasil Império, começaram a abrir escolas noturnas para trabalhar com esses
alunos e possibilitar o acesso dos mesmos no meio escolar. O ensino tinha pouca
qualidade, normalmente com duração curta,o único interesse do governo era
alfabetizar as camadas baixas com intuito de aprender a ler e escrever, pois se
essa consciência crítica fosse despertada, isso seria prejudicial ao governo.
Com o fim da ditadura de Vargas em 1945, o país começou a viver uma grande
ebulição política, onde a sociedade passou por momentos de grandes crises. Pois
houve momentos de muitas críticas quanto aos adultos analfabetos
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Em 1947, buscava no primeiro momento, uma ação extensiva que previa a
alfabetização em três meses, para depois seguir uma etapa de ação, voltada para
a capacitação profissional e para o desenvolvimento comunitário.
Período jesuítico
no período jesuítico a educação brasileira era um obrigação da igreja e não do
estado , onde tinham como o objetivo principal a propagação da fé cristã mantendo
a moral de uma sociedade católica .
além dos índios os filhos dos colonizadores também eram educados por eles, uma
educação rigida e que quando se descumpria algo os alunos eram punidos ate
mesmo com castigos físicos .
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com os índios os jesuítas precisaram abandonar seus castigos físicos e muitos
hábitos pois residiam com muitos indígenas já que suas missões eram mudar seus
hábitos como ter uma família com pai, mãe e filho, que aprendessem a língua
portuguesa para se ler versículos da bíblia e que se fixassem em um local onde
esse processo ficou conhecido por Aculturação.
foi necessário nessa época criar uma comunicação entre os padres e os nativos,
os padres criaram manuais e usam a língua geral que mesclava do português com
as línguas nativas, além do ratio studiorum
De acordo com o autor ARANHA, 2006: A Companhia Missionária de Jesus tinha
a função de catequizar iniciação à fé e alfabetizar na língua portuguesa os
indígenas que viviam na colônia brasileira durante o processo de colonização, após
a chegada dos padres jesuítas, em 1549. Estes se voltaram para a catequização e
instrução de adultos e adolescentes, tanto de nativos quanto de colonizadores,
diferenciando apenas os objetivos para cada grupo social, escolas de ordenação
criadas pelo Padre Manoel da Nóbrega. No séc. XVIII, os jesuítas contavam com
17 colégios e seminários, 25 residências e 36 missões, além dos seminários
menores e das escolas de alfabetização presentes em quase todo o território. Os
colégios de formação religiosa abrigavam os filhos da elite; frequentavam também
os que não queriam se tornar padres, mas que não tinham outra opção a não ser
seguir as orientações jesuíticas, que evoluíram para o plano de estudos da
Companhia de Jesus, que articula um curso básico de Humanidades ordenado;
com um de Filosofia seguido por um de Teologia, dependendo dos recursos que
culminou, com a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, após esse
episódio ocorreu uma desorganização do ensino, somente no Império o ensino
voltou a ser ordenado.
Marquês de pombal
A evolução da educação Pública no brasil está extremamente ligada com as
reformas educacionais empreendidas pelo Marquês de pombal , com o banimento
dos jesuítas e necessidade da implantação de um novo modelo educacional no
Brasil.
Em 1753, Pombal acabou com a escravidão dos índios no Maranhão, onde ela era
mais comum que no resto da colônia. Em 1755, proclamou a liberdade dos
indígenas em todo o Brasil, indo ao mesmo tempo contra os proprietários de
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escravos índios e os jesuítas, que dirigiam a vida das comunidades indígenas nas
missões . Pombal proibiu a discriminação aos índios e elaborou uma lei
favorecendo ou casamento entre eles e portugueses. Finalmente, criou o Diretório
dos Índios para substituir os jesuítas na administração das missões. Pombal criava
as aulas régias ou avulsas de Latim, Grego, Filosofia e Retórica, que deveriam
suprir as disciplinas antes oferecidas nos extintos colégios jesuítas.
As aulas régias instituídas por Pombal para substituir o ensino religioso
constituíram, dessa forma, a primeira experiência de ensino promovido pelo
Estado na história brasileira. A educação a partir de então, passou a ser uma
questão de Estado. lembrando que este sistema de ensino cuidado pelo Estado
servia a uns poucos, em sua imensa maioria, filhos das incipientes elites coloniais.
De acordo com o relato do autor Stephanou (2005, p.104) em 1759 a identidade da
educação brasileira foi sendo marcada então, pelo o elitismo que restringia a
educação às classes mais abastadas as aulas régias que seria na época latim,
grego, filosofia e retórica, ênfase da política pombalina, eram designadas
especificamente aos filhos dos colonizadores portugueses brancos e do sexo
masculinos, excluindo-se assim as populações mulheres, negras e
indígenas.Durante todo o período imperial houve diversas discussões nas
assembleias provinciais, acerca do modo como se dariam os processos de inserção
das denominadas classes inferiores homens e mulheres pobres livres, negros e
negras escravos, livres e libertos da sociedade nos processos formais de instrução.
O Ato Adicional de 1834 delegou a responsabilidade da educação básica às
Províncias e reservou ao governo imperial os direitos sobre a educação das elites
nessa estrutura, a exceção ficou com o Colégio Pedro II; este, sob a
responsabilidade do poder central, deveria servir de modelo às escolas provinciais
(ARANHA, 2006).
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de acordo com o relato de Luccock (1975, p. 86) – viajante alemão que permaneceu
no Brasil entre 1808 e 1818 – logo no ano de sua chegada, a educação era um
aspecto ainda pouco propagado na sociedade fluminense:
[...] a educação e o cultivo de espírito ficavam [...] para trás
do conforto caseiro, apesar de ser este tão falho. [...] não
havia nenhum dos estabelecimentos comuns para a
primeira educação da infância. A grandíssima maioria das
pessoas entravam na vida sem que possuíssem o mais leve
conhecimento dos primeiros rudimentos da instrução.
A partir de 1808, a abertura de colégios passou a ser uma prática comum entre
homens e mulheres que tinham certa instrução e queriam oferecer seus serviços
aos jovens. Esses colégios eram tanto destinados para ambos os sexos, quanto
somente para meninos ou meninas, instrução designada às meninas possuía um
caráter muito mais ligado às boas maneiras de uma jovem abastada, como ter
conhecimento sobre as prendas domésticas, do que à educação de fato, uma
vez que o ensino da escrita e leitura ficava em segundo plano.
Importante ressaltar que a Carta Magna vigente não garantia a todos os brasileiros
o acesso à educação primária, posto que negros e escravos alforriados não eram
considerados cidadãos
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estavam organizados em aulas avulsas. embora a Carta Magna previsse a
educação como direito, assegurando inclusive que a educação elementar seria
gratuita, o direito à educação não se constituiu em possibilidade prática, pois a
população continuou sem qualquer oportunidade de acesso ao ensino formal.
Assim, à população em geral restava e poucos indivíduos conseguiram alcançar
base da leitura e da escrita, sem grandes avanço no processo educativo.. Àqueles
que realmente trabalharam na construção do país em formação, pouco ou quase
nada lhes foi assegurado em matéria de direitos e àqueles que enriqueceram às
custas da exploração do trabalho escravo de negros, índios e dos desprovidos de
qualquer bem material, tudo poderiam conseguir, graças ao poder que detinham na
sociedade da época.A educação nos primeiros anos da República manteve-se
inalterada, pois a dualidade de sistemas continuou como no Império.
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Tratava-se de um currículo vasto para uma época em que a maioria da
população vivia na zona rural, era analfabeta e a população da zona urbana
mal terminava o ensino primário. A Reforma Francisco Campos criou um
verdadeiro “ponto de estrangulamento” com os decretos referentes ao
ensino secundário, uma vez que dificultava o acesso e a continuidade dos
estudos devido à rigidez das normas, ocorrendo o desinteresse dos alunos,
resultando disso, muitas vezes, a evasão escolar.(p.18)
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A Constituição Federal de 1934,influenciada por uma conjuntura internacional
voltada para a democracia social, trouxe uma nova concepção de Estado, com uma
legislação trabalhista que garante a autonomia sindical, a jornada de trabalho de
oito horas, a previdência e os indicativos de medidas protetivas a famílias em
vulnerabilidade social.
Art. 149 – A educação é direito de todos e deve ser ministrada, pela
família e pelos Poderes Públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a
brasileiros e a estrangeiros domiciliados no País, de modo que
possibilite eficientes fatores da vida moral e econômica da Nação, e
desenvolva num espírito brasileiro a consciência da solidariedade
humana (BRASIL, 1934).
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legislações, a alfabetização de jovens e adultos e o ensino técnico-
profissionalizante passam a equivaler ao curso secundário. Várias campanhas
nesse período em prol da escola e do professor , sendo algumas de âmbito
nacional, como a CADES (Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino
Secundário); a CAEC (Campanha de Aperfeiçoamento e Expansão do Ensino
Comercial); e a CEA (Campanha de Erradicação do Analfabetismo). Tais
campanhas simbolizaram as lutas pela escola pública.
A pedagogia da libertação de Freire foi interrompida com o golpe de 64, onde Freire
foi preso e exilado. Seu primeiro país em exílio foi no Chile, onde Freire prosseguiu
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seus estudos, divulgando a pedagogia do oprimido e debatendo com grandes
intelectuais da época a situação da educação no Brasil.
Ditadura de 64 e o Mobral
Através da Lei nº 5.379, de 15 de dezembro de 1967, foi criado o Movimento
Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que tinha como meta alfabetizar 11,4
milhões de adultos até 1971 ,com foco na população urbana de 15 a 35 anos, “ [...]
é a população urbana que mais padece de carências educacionais, (...) os adultos
e adolescentes alfabetizados são elementos importantes na produtividade do
sistema econômico” (BRASIL, 1973, p.13) . Entretanto o MOBRAL só começou a
funcionar efetivamente em 1970. O programa frisava sempre alternativas
econômicas, funcionais e que descentralizaram a responsabilidade da União :
(...) o programa custou apenas um terço do que seria orçado pelos critérios
internacionais Procuramos ser realistas e, nesse sentido, a primeira
preocupação foi a de assegurar a solidez financeira do Movimento,
conseguindo receitas da Loteria Esportiva e do Imposto de Renda;
procuramos ser econômicos, aproveitando a capacidade ociosa das
escolas e das estruturas municipais de ensino fundamental para
alfabetização de adultos em cursos noturnos; procuramos ser funcionais,
descentralizando os nossos critérios de ação e confiando as principais
tarefas executivas da alfabetização às Comissões Municipais.
(BRASIL,1973, p.3)
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O movimento se organizou pedagogicamente por etapas, propostas, orientadas e
supervisionadas pelo MOBRAL central, responsável por firmar convênios,
fiscalizar, fornecer todo material didático, avaliar os resultados obtidos e tomar
todas as decisões em âmbito nacional , firmar convênios, fiscalizar, fornecer todo
material didático, avaliar os resultados obtidos e tomar todas as decisões em âmbito
nacional (BRASIL,1973), impossibilitando abertura para discussões e decisões com
os agentes pedagógicos do programa.
Os eixos do mobral eram a funcionalidade e a continuidade, dentro desses dois
eixos, aparece um novo que também influenciou as práticas pedagógicas e
burocráticas do MOBRAL, a aceleração. O conceito de funcionalidade diz respeito
a adaptação do sujeito às exigências da sociedade moderna e de sua relação com
o sistema de produtividade e consumo (PESSOA, p.8) . Esse formato do programa
nesses eixos fazia parte da estratégia militar de controle, para que não existisse
conscientização dos educandos, existindo apenas uma educação acrítica, anti
reflexiva, funcional.
Período de redemocratização
A Constituição Brasileira de 1988 trata da educação de jovens e adultos nos artigos
208 e 206 :
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“O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia
de: I- ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele
não tiveram acesso na idade própria“. - art 206:” O ensino será ministrado
com base nos seguintes princípios: I- igualdade de condições de acesso
e permanência na escola” - art 3: “ Constituem objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil: IV- promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer formas de
discriminação” (BRASIL,1988)
O artigo 60 também dispõe sobre a erradicação do analfabetismo no país em 10
anos, como responsabilidade do estado e da sociedade civil. A Fundação Educar foi
a principal responsável pela coordenação da execução desta tarefa, juntamente com
o MEC, em 1989, convocando pesquisadores e especialistas no campo da EJA, para
que discutissem a preparação do Ano Internacional da Alfabetização, definido para
1990 pela UNESCO. Esta comissão denominada acaba sendo desarticulada com a
extinção da Fundação Educar pelo governo Collor (1990). Mais um passo no
descontínuo processo das políticas em EJA. (MACHADO, p.2)
Além da extinção da Fundação Educar, a ordem econômica das orientações dos
órgãos financistas internacionais da educação brasileira priorizaram o ensino
fundamental para crianças, na educação regular, transferindo a EJA para a esfera
privada (empresas e ONG’s) utilizando-se do discurso da parceria, vinculando os
objetivos da EJA a lógica do capital.
Em 1990, o Governo Collor lança o PENAC (Programa Nacional de Alfabetização)
que pretendia reduzir em 5 anos 70% o número de analfabetos no país, ou seja,
12.433.840 pessoas sendo alfabetizadas. O PENAC era composto por uma
comissão de especialistas em programas de alfabetização,meses depois verificou-
se uma completa desvinculação do PENAC com a Comissão, pois vários recursos
eram liberados para diversas instituições e empresas que muitas vezes não tinham
nenhuma preocupação na área de alfabetização (MACHADO,p.3)
Em 1993 é lançado o I Plano Decenal de educação para todos. No mesmo ano são
realizados alguns eventos importantes referentes à educação de jovens e adultos,
como o Encontro latino americano sobre Educação de Jovens e adultos
trabalhadores.
Em 1994 são publicadas as Diretrizes de política nacional de educação de jovens e
adultos (HADDAD e DI PIETRO). Pensadas desde 1985, baseada em 12
documentos, que apesar de analises diversas, apresentavam os mesmos
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diagnósticos da educação de jovens e adultos, indicando que as ações
governamentais não foram efetivas ao longo da história. As diretrizes demarcaram
linhas de ação para a educação de jovens e adultos, dentro das relações jovens e
adultos e sociedade, chamando a atenção para a organização do poder de
participação desses sujeitos, “ a política setorial de educação deve ser parte de uma
política maior que promova o emprego, em satisfatórias condições de remuneração
do trabalho, assegurando também respostas às demais demandas do bem-estar
social” (Haddad e Di Pietro, 1994, p.8).
A nova Lei de Diretrizes e bases é publicada em 1996, dispõe na seção V sobre a
educação de jovens e adultos.Do artigo 37 ao 38:
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não
tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e
médio na idade própria.
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos
adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular,
oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características
do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante
cursos e exames.
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência
do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares
entre si.
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que
compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao
prosseguimento de estudos em caráter regular
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de
quinze anos;
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito
anos.
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por
meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames.
(BRASIL,1996)
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ficava incubida de capacitar e avaliar o trabalho dos alfabetizadores,através de um
encontro mensal no município de sua responsabilidade. As empresas parceiras
responsáveis pelo pagamento das bolsas dos alfabetizadores, coordenadores e
alimentação dos alunos. O MEC pelo fornecimento e reprodução do material
didático e de apoio, seleção do coordenador do município.E os municípios pela
viabilização do espaço físico e mobilização dos alunos. A Comunidade Solidária
coordena e articula as ações do Programa. (MACHADO, p.6). O estado fica como
espectador do processo, as alfabetizadoras têm uma formação e atuação limitada,
e o programa carece de uma articulação geral.
O Discurso neoliberal volta a ganhar espaço nas políticas para EJA no final da
década de 90 e início dos anos 2000, o tom dos documentos, encontros e
conferências tem se tornado os mesmos, o de libertar a EJA de suas raízes
políticas. No contexto de avanço tecnológico e da divisão social do trabalho no
mundo globalizado dá se a ênfase na qualificação da massa trabalhadora para
atender ao mercado capitalista.
Segundo Machado (1998) ,
“O que se vê concretizando em termos de políticas públicas para a EJA,
pode se resumir em duas frentes: uma primeira que se refere à
descentralização das responsabilidades , promovendo uma ampla
participação de todos os setores da sociedade, que, no entanto, não vem
seguida de uma proposta clara quanto à definição dos recursos que
viabilizarão isto, sua origem, gastos e prestação de contas. A segunda se
refere à proposta de educação à distância, com a utilização intensa da
teleducação” (p.9)
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Em 2002 é criado o Encceja (Exame nacional para Certificação de Competência
de Jovens e Adultos). Esse exame certifica o jovem ou adulto a conclusão do
ensino fundamental e médio. De acordo com o censo educacional do Inep , no ano
de 2018, a Educação de Jovens e adultos apresentou 1,5% de matriculados a
menos do que o ano anterior, totalizando 3,5 milhões de estudantes. 30 % dos
matriculados são jovens. Tais dados têm demonstrado a fragilidade da educação
de jovens e adultos, dada por diversos fatores, como conflito geracional, a
reprodução de métodos que não contemplam os sujeitos da EJA, as ofertas
limitadas em vários lugares do país, etc.
Sujeitos da EJA
O perfil predominante do sujeito da EJA é o da mulher negra. As categorias gênero
e raça marcam a trajetória educacional do educando da EJA. Estudos de gênero
têm apontado as responsabilidades domésticas e familiares das mulheres,
sobretudo se forem negras, pobres e moradoras de zona rural, como um dos
principais motivos de evasão das mulheres adultas da escola. A divisão sexual do
trabalho é um obstáculo para a autonomia e o lugar de poder das mulheres em
sociedade e o conhecimento se constrói por relações de poder.
Considerações finais
Observa-se no decorrer da história do Brasil a subtração de direitos de grupos
sociais, desde sempre marginalizados, as mulheres, os negros,os indígenas e a
classe pobre trabalhadora.
Constata-se a subtração do direito à educação (que só é considerada um direito
de todos em 1946) ao observar, por exemplo, a quem eram destinadas as reformas
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educacionais na era vargas, onde o ensino secundário e superior sempre foi voltado
às elites brasileiras.
Começou a se pensar em educação pública somente na década de 30, com os
pioneiros da educação nova. A história da educação de jovens e adultos é marcada
por várias interrupções. Paulo Freire na década de 60 desenvolve um trabalho de
alfabetização em Recife que começa a delinear os primeiros passos do movimento
por uma educação popular, trazendo o pensamento crítico, a problematização dos
mitos da sociedade e a alfabetização através da vivência dos educandos.
Entretanto o “método” Paulo Freire é interrompido pelo golpe de 64, Paulo Freire é
preso e exilado, e na década de 70 é implantado o MOBRAL (Movimento Brasileiro
de Alfabetização).
O mobral foi um movimento de alfabetização funcional, ou seja, preparava a classe
trabalhadora para os interesses do capital, e não para a formação cidadã e crítica
desses sujeitos, que tiveram educação negada enquanto direito por todos esses
anos.
A educação para as camadas populares no Brasil sempre apareceu em um caráter
técnico, voltado para a produtividade, o ensino superior sempre destinado a elite.
A educação de jovens e adultos é um efeito dessa história, aparece como
modalidade de ensino na década de 90, como possível reparadora histórica,
entretanto sempre interrompida por interesses de grupos políticos. A EJA também
é palco de luta de movimentos sociais e campanhas de docentes , movimentados
principalmente na década de 90, embasados por legislações que garantem tal
direito à educação, mas sempre negligenciada no sentido de destinação de
recursos. Por ser palco de lutas está sempre em conflito, nos últimos anos a evasão
na educação de jovens e adultos tem aumentado, as investidas neoliberais têm
voltado, trabalhando nos eixos de aceleração, educação a distância, supletivos, e
certificações rápidas, atendendo a lógica do mercado capitalista.
Referências
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