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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

CENTRO DE PSICOLOGIA APLICADA


CAMPUS PARAÍSO
RELATÓRIO PARCIAL

DISCIPLINA: Intervenções Clínicas Breves


ÁREA: Cognitiva
ESTAGIÁRIA: Luciana Tedesco Andreazza Costa - RA: T67639-8
SUPERVISORA: Profa. Dra. Yuristella Yano – CRP: 39060/06
Sessão 01 – Data: 05/04/2019

1. Identificação:

Prontuário Nº:
Nome: Alice
Idade: 19 anos
Escolaridade: superior incompleto
Profissão: estudante

2. Descrição da demanda:

Paciente chegou à psicoterapia reclamando de dificuldades para tomar


decisões, irritação, impaciência, mal humor, insônia e dificuldades relacionais com a
avó materna.

3. Transcrição da Sessão:

T: Oi, Alice. Sente-se, fique à vontade. Meu nome é Luciana, eu sou estagiária de
psicologia.
C: Oi.
T: Você já conhece o serviço de psicologia da Unip?
C: Já ouvi falar, eu estudo na Unip, em outro Campus e me falaram que aqui é muito
bom.
T: Eu não tive acesso ao seu prontuário ainda, então você poderia me contar um
pouco sobre quando e porque você procurou o CPA?

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C: Sim. Eu procurei no semestre passado porque eu estava vivendo uma crise no meu
relacionamento e estava precisando tomar uma decisão. Estava sofrendo muito com
tudo aquilo. A gente namorava já há um ano e meio.
T: E hoje, como você está?
C: Hoje eu estou bem, mas eu acho que a terapia vai me ajudar com algumas coisas,
eu sou muito indecisa, tenho dificuldade pra tomar decisões.
T: Você disse “namorava”. Vocês terminaram?
C: Sim, eu estava incomodada terminamos no início do ano.
T: Entendi, você estava incomodada e resolveu terminar. O que estava te
incomodando?
C: Eu achava ele muito acomodado. Eu acho que é super importante estudar,
crescer...pra poder realizar meus sonhos, ter uma vida segura. E ele não pensa assim,
e também não trabalha...quer dizer, trabalha de Uber, mas nada certo, garantido.
T: Você disse que faz faculdade aqui na Unip...
C: Sim, faço o 3º período de farmácia. Eu participo também de um programa de
pesquisa científica da USP, vou ficar nesse projeto por um ano na área de análises
bioquímicas.
T: Como você se sentiu quando terminou o namoro?
C: Fiquei triste, mas passou rápido. Não foi difícil. Foi muito difícil decidir, mas quando
terminei sofri por uns três dias e, na verdade, foi a melhor coisa que eu fiz! Foi um
peso que tirei das minhas costas. Fiquei aliviada, sabe?
T: Como você se sente hoje em relação a esse fato?
C: Tá tudo tranquilo. Não sinto nada por ele. Ficou tudo bem resolvido.
T: Me fale um pouco mais sobre você. Com quem você mora?
C: Moro com minha mãe e com minha avó. Foi sempre assim. Desde que nasci. Meu
pai morreu quando eu tinha 9 anos.
T: Até os 9 anos você morava com seu pai também?
C: Não. Quando eu nasci meus pais já eram separados. Eles viveram juntos por quatro
anos. Ele não era um bom marido.
T: Como você sabe disso?
C: Minha mãe conta. Ele bebia muito e não era presente. Não tem nenhuma foto deles
juntos quando ela estava grávida de mim. Mas com os amigos tem um monte! Minha

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mãe ficava muito sozinha e sofreu muito com isso. Daí resolveu se separar. Mas ele
sempre foi um ótimo pai, sempre estávamos juntos, temos muitas fotos.
T: Como é seu relacionamento com sua mãe e com sua avó?
C: Eu me dou bem com minha mãe, a gente briga às vezes, mas tem muito amor! Eu
não me dou bem com a minha avó. Minha mãe também não se dá bem com ela. Elas
brigam muito. Minha avó reclama muito, de tudo. E minha mãe está ficando igual a
ela. Por isso que a gente briga.
T: Entendi. Sua mãe trabalha fora?
C: Não, ela parou de trabalhar faz uns anos já. Ela teve trombose no braço direito, era
professora e como precisava escrever muito na lousa, teve que parar. A gente vive
com a pensão do meu pai. É por isso que sempre moramos com minha avó. Minha
mãe diz que não consegue nos sustentar pra morarmos sozinha. Quando eu me
formar vou trabalhar pra podermos ser independentes.
T: Será muito bom! No momento você está se relacionando com alguém?
C: Não, estou sozinha. O Vinícius foi o único relacionamento sério que tive. Depois
que a gente terminou a gente se encontrou algumas vezes pra devolver umas coisas
um pro outro.
T: E como você se sentiu?
C: Eu chorei um pouco, agente se abraçou. Mas foi só isso...(silêncio). Os outros
relacionamentos não foram sérios...
T: Você teve outros relacionamentos. Quer falar um pouco sobre isso?
C: O último, antes do Vinícius, não foi bom. Ele abusou de mim. Ele era mais velho,
eu tinha 16 e ele 23.
T: Entendo. Acredito que tenha sido difícil. Você quer falar um pouco sobre isso?
C: Eu conheci ele no Terreiro, sou Umbandista, a gente era do mesmo centro. Por ele
ser do centro, e lá a gente se sente como uma família, eu confiei que era uma pessoa
boa. Confiei nele! Mas com o tempo ele me pressionava. Ele não me estuprou, nada
disso, mas forçava a barra. Eu me sentia forçada a ceder. Daí me afastei dele...
(silêncio)...Eu me senti muito mal com isso, e o pior é que as pessoas do Terreiro
começaram a falar mal de mim, gente que eu conhecia, que eu confiava...Resolvi sair
do Terreiro. Isso me abalou muito, abalou até a minha fé. Porque eu confiava naquelas
pessoas, até o Pai de Santo disse que eu fiz bem em sair, fiquei muito
decepcionada...(silêncio)...

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T: O que mais você sentiu, além de decepção?
C: Fiquei muitos meses sem conseguir deixar ninguém chegar perto de mim, sem
vontade de sair, não sentia mais alegria e nem conseguia dormir direito. Daí conheci
o Vinícius. Ele foi importante pra mim nisso aí. No começo eu não sentia vontade de
beijar, abraçar...ele teve muita calma e as coisas foram melhorando. A sensação ruim
que eu sentia por causa do outro foi passando. Nas primeiras vezes que tentamos
transar eu caía no choro e ficava muito descontrolada. Ele ficou assustado. Com o
tempo foi fluindo e isso tudo passou. Eu nem lembrava mais do que tinha acontecido.
Não sentia mais nada de ruim.
T: bem, você me disse que terminou um relacionamento recentemente e que se sente
bem em relação a isso. Também me contou um fato desagradável anterior ao seu
último relacionamento e eu entendi que não tem tido problemas relacionados a esse
fato também, certo?
C: Sim, certo.
T: Com você e sua mãe está tudo correndo bem, algumas brigas, mas nada sério, é
isso?
C: Sim.
T: E com sua avó você não está se dando bem...
C: Minha avó é muito difícil. Ela reclama muito, e depois que meu pai morreu ela
passou a me tratar mal. Ela diz que queria ter tido um neto e não uma neta. Ela fez
umas coisas feias comigo na época. Eu era só uma criança e tinha perdido meu pai.
Não sei porque ela fez isso. Daí eu sempre me afastei dela. Eu não queria sofrer.
T: Você disse que ela fez umas coisas feias com você. O que ela fez?
C: Quando meu pai morreu, só tinha minha mãe e minha avó pra cuidar de mim. Minha
mãe ia trabalhar e eu ficava com ela, daí ela me ameaçava.
T: Como ela te ameaçava?
C: Ela dizia que minha mãe não ia voltar e que se ela voltasse ela não ia deixar entrar
em casa. Quando minha mãe saía com as amigas também me deixava com ela e ela
dizia a mesma coisa. E eu era só uma criança, ficava com medo porque eu já tinha
perdido meu pai. Eu ligava toda hora pra minha mãe, não deixava ela em paz então
ela percebeu que estava acontecendo alguma coisa, parou de trabalhar pra cuidar de
mim. Quando ela tentou voltar a trabalhar não deu mais certo.
T: Você tem convivência coma família do seu pai?

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C: Não, nem do meu pai nem da minha mãe.
T: Tem amigos? Costuma sair, se divertir?
C: Sim, tenho amigos da faculdade, mas eu saio pouco porque estudo muito, não
sobra muito tempo. Eu faço academia também e lá tenho amigas. Até lembrei de um
fato...Eu tenho me sentido muito irritada, mal humorada mesmo, sem paciência.
T: O que te fez lembrar disso?
C: Esses dias fui na academia, a sala estava cheia. O professor chegou do lado de
uma menina e afastou o colchonete dela pra colocar o meu. Daí a menina disse que
eu não cabia lá. Fiquei tão nervosa que comecei a tremer de raiva.
T: E o que você fez? O que pensou?
C: Nem conseguia pensar, menina sem noção! Eu fiquei com vontade de bater muito
nela, de matar, mas não fiz nada, eu não sou de falar, brigar...peguei minhas coisas e
fui embora chorando de tanta raiva.
T: Você sempre guarda pra você suas insatisfações?
C: Quase sempre. Não gosto de falar, brigar, prefiro ficar quieta.
T: Voltou à academia?
C: Voltei e a menina está lá, na minha turma (risos)...mas eu sou meio vingativa. Se
um dia ela precisar de mim vou dar o troco.
T: Em que outras situações você tem se sentido irritada e sem paciência, de mal
humor?
C: Em casa com frequência, por causa das brigas da minha mãe com a minha avó. É
estressante. Acho que eu poderia tomar remédio pra melhorar meu humor.
T: Nós podemos trabalhar suas oscilações de humor aqui, o que você acha?
C: Tem como?
T: Tem sim. Você já fez psicoterapia alguma vez? Sabe como é?
C: Não, mas sempre quis fazer. Acho importante pra me ajudar em algumas coisas
que sinto dificuldade, dúvidas que eu tenho. É uma “horinha” pra cuidar de mim.
T: Sim, a psicoterapia é um atendimento clínico, no nosso caso, aqui no CPA, com
sessões de 50 minutos, uma vez por semana, com a finalidade de tratar questões
emocionais que possam estar te causando sofrimento ou algum tipo de dificuldade.
Tudo que é falado aqui fica em sigilo. Nós entendemos que o que causa o sofrimento
não são os fatos em si, mas sim o que pensamos sobre esses fatos; e são esses

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pensamentos que vão determinar as nossas emoções e comportamentos. Nos nossos
próximos encontros podemos nos aprofundar nesses conceitos.
C: Entendi...
T: Como estão as suas outras atividades: comer, dormir...?
C: Eu como bem, tenho um problema com o meu corpo, imagem corporal, mas hoje
eu não quero falar disso. Eu não durmo bem faz muito tempo, muito tempo mesmo.
T: Faz mais ou menos quanto tempo, sabe me dizer?
C: Não sei bem, mas faz mais de um ano.
T: Qual sua maior dificuldade com o sono?
C: Eu deito, penso muito, demoro um pouco pra dormir. Até aí tudo bem. Mas eu
acordo todas as noites umas 2 ou 3 vezes no mínimo. Não demoro muito pra voltar a
dormir, mas como acordo muitas vezes, já acordo cansada.
T: Você quer colocar mais alguma coisa? Algo que você ache importante contar?
C: Não, hoje não. Mas eu vou voltar. Tenho muita coisa pra falar. Acho que vai ser
bom, vai me ajudar.
T: Ok, então vamos marcar para a próxima semana. Pode ser na quinta-feira à tarde?
C: Pode sim.
T: Caso você não possa comparecer, surgir algum imprevisto, é importante que você
ligue avisando que não virá. As faltas injustificadas podem fazer com que você perca
a vaga.

4. Procedimento

Nesse primeiro encontro procurei fazer uma entrevista semidirigida deixando


que a paciente falasse sobre o que escolhesse inicialmente, tentando buscar maiores
esclarecimentos, clarear alguns pontos para ampliar as informações acerca da
queixa/demanda e de áreas da sua vida.

Estabeleci o contrato de trabalho (enquadre), tentando ser clara e


objetiva. Iniciei a psicoeducação para informar a paciente acerca do funcionamento
da terapia cognitivo-comportamental.

5. Análise do Caso

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Ainda não está bem claro qual a demanda da paciente. Ela me pareceu bem,
sem questões urgentes, mas com bastante curiosidade acerca da psicoterapia.

No início da sessão falou pouco e no decorrer da mesma ficou mais à vontade.


De qualquer forma respondeu sempre somente o que lhe foi perguntado, com exceção
de quando se lembrou que ficou irritada na academia e quando falou que gostaria de
tomar medicação para regular seu humor.

Alice não esboçou nenhum tipo de emoção ao falar do fim do relacionamento,


fato que a levou a procurar o Plantão Psicológico no semestre passado. Também não
demonstrou emoção quando falou sobre o suposto abuso sofrido por ela em um
relacionamento anterior.
O fato de não estar dormindo bem e se sentir irritada e de mal humor há alguns
meses pode estar relacionado ao término do namoro, embora ela diga que está tudo
bem, que não sente mais nada em relação ao ocorrido. Já a dificuldade em manter o
sono durante a noite, coincide com o período que sofreu abuso no relacionamento
com o rapaz 9 anos mais velho que ela, e também neste caso, ela afirma que não a
incomoda, que está tudo resolvido. Alice parece reprimir ou ignorar suas emoções em
relação a esses dois fatos.
A paciente menciona um problema com sua auto-imagem, mas rapidamente
diz que que quer deixar esse assunto para a próxima sessão. Esse fato me chamou a
atenção, me pareceu que ela está “ensaiando” para entrar na questão, mas busca se
sentir mais à vontade e segura para falar sobre isso.

6. Evolução
A paciente chegou bastante tímida. Procurei estabelecer um rapport,
proporcionar um clima acolhedor, demonstrando interesse e empatia para iniciarmos
uma relação de confiança a fim de facilitar a Alice a expressão de seus pensamentos
e emoções. No decorrer da sessão percebi que Alice foi se sentindo mais à vontade
para se expressar, começou a falar um pouco mais, esboçando um sorriso no rosto
em alguns momentos. Ao final da sessão Alice demonstrou estar disponível para a
continuação da psicoterapia e apresentar novas questões quando afirma “tenho muita
coisa pra falar. Acho que vai ser bom, vai me ajudar”. Commented [l1]:

7. Referências Bibliográficas

7
Beck, J. S. (1997). Terapia cognitiva: Teoria e prática. Porto Alegre: Artes
Médicas.

Knapp, P. (2004). Princípios fundamentais da terapia cognitiva. Em Knapp, P.


(org). Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre:
Artmed.

Assinaturas:

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Luciana Tedesco Andreazza Costa – RA T67639-8

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Profa. Dra. Yuristella Yano – CRP 39060/06
Supervisora

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