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Organizadores:
Maria Cláudia S. L. de Oliveira
Diva Maria Albuquerque Maciel
Jane Farias Chagas
Maristela Rossato
Mônica Neves Pereira
Patricia Maria Campos Ramos
Sylvia Regina Magalhães Senna De 12 a 15
de Novembro
de 2011
C749 Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
(8. : 2011 : Brasília).
Anais do VIIII Congresso Brasileiro de Psicologia do De-
senvolvimento / Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira ...
[et al.], organizadores. – Brasília : Associação Brasileira de Psi-
cologia do Desenvolvimento, 2011.
1352 p. ; 21 cm.
ISSN 2177-1413
CDU 159.922
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
Sumário
Apresentação ..................................................................................... 5
Comissões........................................................................................... 7
Estrutura do evento............................................................................ 8
Programação Científica....................................................................... 9
Domingo, 13/11.................................................................................. 9
APRESENTAÇÃO
Prezados Participantes do
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento,
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ESTRUTURA DO EVENTO
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tural para buscar o contato e a proteção mudanças durante a vida, de acordo com
de um adulto, seja ele a mãe ou a figura outras experiências vividas pelo indivíduo.
de um outro cuidador. O tipo de cuida- O desenho tem sido usado há muito tem-
do oferecido pela mãe ou cuidador, ou po pela psicologia como forma de acessar
seja a figura de apego primária, oferece as representações do indivíduo acerca de
um protótipo de relacionamento sobre o si mesmo e do mundo que o cerca. Par-
qual a criança é capaz de construir suas tindo do mesmo pressuposto o desenho
expectativas diante de relacionamen- da família foi estudado por diversos au-
tos outros que surgem ao longo da vida. tores de forma a classificar características
Ainsworth (1978), em seu experimento no mesmo que tivessem correlação com
“Situação Estranha” observou três estilos os estilos de apego (Kaplan, May, 1986;
de apego, que se desenvolviam na crian- Fury, Carlson, Sroufe, 1997; Attili, Ruby,
ça conforme os critérios de sensibilidade 2000; Maddigan, Ladd, Golberg, 2003).
desta figura primária para responder aos Mais recentemente Roazzi, & cols., (2011)
sinais do bebê e a quantidade e a nature- também verificaram a possibilidade de
za da interação entre os mesmos. Assim, acessar as representações acerca das re-
crianças com estilo de apego seguro (B) lações afetivas por meio do desenho da
apresentam um bom equilíbrio entre au- família em crianças de educação infantil e
tonomia e proximidade, sendo capazes de ensino fundamental. Tal pesquisa, já rea-
utilizar a figura de referência como base lizada na Itália, está sendo trazida para o
segura. A qual é percebida pela criança Brasil por meio deste trabalho, tendo em
como positiva, sensível e sempre dispo- vista a necessidade de pesquisas com o
nível às suas requisições de ajuda. Nas tema, contextualizadas nesta realidade
crianças com apego evitante (A) há uma específica. Analisar a correlação entre as
ênfase na autonomia e independência, características do desenho da família e os
mostram-se indiferentes à figura de ape- Modelos Internos de Funcionamento, to-
go, a qual é percebida como impaciente, mando como base os estudos anteroires.
negativa e rígida. As crianças com apego Prover uma base para futura validação
ambivalente (C), por sua vez, apresentam do desenho como uma representação
excessiva ativação do sistema de apego, do apego por meio do uso de um instru-
buscando uma contínua confirmação da mento já conhecido. Avaliação de uma
presença e proteção da figura de apego. amostra composta por 25 alunos do 1º
É interessada, mas não consegue estabe- ano do Ensino Fundamental de uma es-
lecer rotinas sincronizadas, apresentando cola pública do Recife com relação aos
incoerências. Está convencida de não ser estilos de apego por meio de uma versão
amável, enquanto que o outro é percebi- modificada (Attili, 2001) do Separation An-
do como confiável e positivo. Os estilos de xiety Test, de Klagsbrun e Bowlby (1979).
apego discriminados por Ainsworth (op. Aplicação individual do teste do desenho
Cit.) sofreram uma evolução no sentido da família validado para classificação dos
de não serem mais vistos como formas es- estilos de apego por Fury e colaboradores
tanques de relacionamento. Os modelos (1997). A versão italiana do presente estu-
Internos de funcionamento (MIF), como do demonstrou que o desenho da família
agora são denominados, podem sofrer pode ser considerado um método válido
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para assessar os estados atuais de apego A, C; ʤ2 (2)= 2.78 n.s.). Também desenha-
em crianças. Por meio de testes estatísti- ram mães com expressões faciais positivas
cos tradicionais, utilizando o SSA (Smallest (B>A, C; ʤ2 (2)= 8.2 p<0.05). Crianças evi-
Space Analysis - Bloombaum, 1970; Gutt- tantes desenharam com maior probabili-
man, 1965; Shye, 1985; or Similarity Struc- dade barreiras entre os representantes da
ture Analysis - Borg & Lingoes, 1987), mui- família (A > B, C; ʤ2 (2)= 8.7 p<0.05). Assim,
tas características do desenho mostraram temos fortes evidências que nos embasam
relação com as tipologias de apego. Dados no sentido de que os resultados do pre-
obtidos por meio de simultâneas inercor- sente estudo têm contribuições similares,
relações lançaram luz sobre as complexas porém respaldadas pela singularidade da
estruturas representacionais da criança cultura brasileira. De forma que se apre-
acerca de seus laços familiares. As seguin- sente como uma contribuição relevantes
tes variáveis dimensionais mostraram-se no aprofundamento da temática da Teoria
relevantes: Crianças coma pego ambiva- do Apego no país.
lente demonstraram maior probabilidade
de situar seu próprio desenho mais pró- Palavras-chave: desenho da família;
ximo do desenho da mãe que os segura- representação interna; teoria do apego.
mente apegados (os quais se desenhavam
a uma distância equilibrada da mesma:
C < B, A; ʤ2 (2)= .28 p<0.05), além disso LT01-1329 - WALLON E BOWLBY:
localizavam o desenho da família a uma AFETIVIDADE EM DISCUSSÃO
distância maior da borda inferior da folha
que as crianças seguras (C > B; ʤ2 (2)= 5.4 Fabíola Lira Gonçalves - UFPE
p<0,001), seus desenhos cobriam uma fmsgoncalves@ig.com.br
pequena área da folha em comparação Débora Matos - UFPE
comos desenhos das crianças com apego debkrm@gmail.com
seguro (C < B; ʤ2 (2)=2.81 p<0.05).As crian- Financiamento: CNPq
ças seguras se desenharam mais ao centro
da folha que as crianças de apego evitante O ponto de partida deste ensaio deu-se
(B<A; ʤ2 (2)=3.8 p<0.01). Variáveis catego- pela articulação entre teorias psicológicas
riais relevantes: Houve uma tendência por do desenvolvimento humano que tratam
parte das crianças inseguras , em compa- da afetividade. Neste sentido, propõe-se
ração às seguras, de desenharem figuras um diálogo entre as abordagens teóricas,
incompletas (B < A, C; ʤ2 (2)=3.41 p<0.05). a saber: a teoria psicogénetica de Wallon
No desenho de crianças ambivalentes ha- e a teoria do apego de Bowlby, já que es-
via ausência de chão em maior proporção tes autores defendem uma concepção in-
que no desenho das demais (C < A, B; ʤ2 tegrada do ser humano em seus aspectos
(2)= 10.9 p<0.05) e frequentemente suas cognitivos e afetivos. Historicamente, as
figuras estavam flutuando (C > B, A; ʤ2 teorias psicológicas têm gerado uma visão
(2)= 13.3 p<0.001). Crianças seguramen- dicotômica entre cognição e afetividade.
te apegadas mostraram maior probabili- A teoria psicogenética de Piaget (2007)
dade, embora não significativamente, de ressalta o aspecto cognitivo no desenvol-
desenhar figuras com braços abertos (B > vimento do indivíduo. Por outro lado, se
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contempla na psicanálise a ênfase na sin- vas emoções que surgirão durante toda a
gularidade do sujeito, tendo a afetividade existência. Por essa via explicativa, o pres-
um papel central na constituição deste. suposto integrador entre os aspectos bio-
Na teoria walloniana as emoções e o afe- lógicos, cognitivos e afetivos funcionam de
to, tem papel fundamental na constituição modo sincrético, portanto indissociáveis.
da pessoa. A emoção teria primeiramente Wallon ressalta dois mecanismos regula-
a função biológica calcada na concepção dores do desenvolvimento psicogenético,
evolutiva de Darwin, tendo em vista que a a saber: alternância e preponderância,
espécie humana, em geral, tem um único estes se articulam num jogo interacional
filho por gestação, e um longo período de intenso entre os componentes biológicos
dependência deste em relação aos cuida- e sociais do psiquismo humano. À medida
dos do adulto para o seu desenvolvimento que as interações entre os indivíduos vão
pleno. A primeira manifestação de emo- ocorrendo, vão surgindo novas formas de
tividade na vida humana, conforme esta afetividade, por exemplo: o sentimento e
abordagem é o choro, que é concebido a paixão que podem se manifestar tanto
como a garantia de que as necessidades de modo verbal, pois há palavras que a
do bebê serão prontamente atendidas expressam, bem como gestos e atitudes
pela mãe. Daí tem-se uma emoção, car- motoras que podem expressá-las do mes-
regada de sua característica contagiosa mo modo, sem que haja uma hierarquia
e epidêmica, sendo à base da relação na forma escolhida pelo sujeito para ex-
eu-outro. Esta manifestação emotiva se pressar a afetividade. O que demarca a
constitui na relação entre os aspectos escolha da expressão afetiva é o contexto
biológico e social, pois o choro também interacional instaurado entre os sujeitos
é considerado por Wallon como uma ex- envolvidos no ato comunicacional. Para
pressão de linguagem, uma vez que a mãe Bowlby, o vínculo da criança à sua mãe é,
ouve o choro do bebê, é contagiada por também, um comportamento inicialmen-
sua reação emocional de desconforto e te de ordem primária e instintiva, cuja
reage atendendo às suas solicitações. Para função adaptativa seria a preservação da
Dantas (1992), na teoria walloniana, cuja vida. Assim a criança tem uma tendência
orientação filosófica é o materialismo dia- natural para buscar o contato e a proteção
lético, a emoção é simultaneamente bio- de um adulto, seja ele, a mãe ou a figura
lógica e social, circunscrita em um tempo de outro cuidador. Essa busca de contato,
historicamente situado, a premissa básica manifestada primeiramente pelo choro,
é da unicidade do sujeito nas dimensões provoca determinado tipo de reação na
que o integram. Desse modo, a emoção mãe, que a partir de então, se configura
humana, se constitui por meio das mani- como cuidadora. Constitui-se, assim, um
festações de linguagem verbais e não ver- estilo de relacionamento primário entre
bais que só acontecem em função da me- mãe e filho, ou cuidador e criança. O tipo
diação cultural e social entre sujeitos. As de cuidado concedido por este, oferece
etapas do desenvolvimento humano em um protótipo de relacionamento sobre o
Wallon não são estanques. O sujeito não qual a criança é capaz de construir, por
perde, ou substitui totalmente as emo- meio de generalização, suas expectativas
ções primárias, elas coexistirão com as no- diante de relacionamentos que surgem ao
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longo de sua vida. Há, assim, duas condi- indissociável, afetando todas as esferas da
ções que contribuem na formação ou não vida do indivíduo. Assim as duas teorias
do apego a uma figura primária, ou ainda integram a base orgânica e contato com o
ao estilo de apego proveniente desta re- outro, com o social, os quais impulsionam
lação: a) a sensibilidade desta figura para o afeto e a cognição. Este homem comple-
responder aos sinais do bebê; b) a quan- to e total tem todos estes componentes
tidade e a natureza da interação entre os constantemente interagindo entre si. Ele
componentes do par. Conforme estas va- está, ao mesmo tempo, se adaptando ao
riáveis, três padrões básicos de apego po- meio, aprendendo o mundo ao seu redor,
dem se desenvolver (Ainsworth, 1978): a) significando o mesmo e se relacionando
Crianças com estilo de apego seguro apre- com o outro a partir de suas experiências.
sentam um bom equilíbrio entre autono- Todas estas atividades coexistem e se nu-
mia e proximidade, sendo capazes de uti- trem mutuamente.
lizar a figura de referência como base se-
gura, a qual é percebida pela criança como Palavras-chave: Afetividade, Psicogênese da
positiva, sensível e sempre disponível às Pessoa Completa, Teoria do Apego.
suas requisições de ajuda; b) Nas crian-
ças com apego evitante há uma ênfase na
autonomia e independência, mostram- LT01-1373 - O DESENVOLVIMENTO DO
-se indiferentes à figura de apego, a qual OLHAR NO BEBÊ E SUA RELAÇÃO COM
é percebida como impaciente, negativa e O DESENVOLVIMENTO POSTURAL:
rígida; e c) As crianças com apego ambiva- REFLEXÕES SOBRE RELAÇÃO, CULTURA E
lente, por sua vez, apresentam excessiva COMPLEMENTARIDADE
ativação do sistema de apego, buscando Natália Meireles Santos - FFCLRP/USP
uma contínua confirmação da presença e nmeireles@aluno.ffclrp.usp.br
proteção da figura de apego. É interessa- Kátia de Souza Amorim - FFCLRP/USP
da, mas não consegue estabelecer rotinas katiamorim@ffclrp.usp.br
sincronizadas, apresentando incoerên-
cias. Está convencida de não ser amável, O primeiro ano de vida é uma etapa de
enquanto que o outro é percebido como grandes transformações no desenvolvi-
confiável e positivo. Estes estilos de apego mento humano, em que inúmeras habili-
tornam-se relativamente estáveis entre o dades são adquiridas (Pio, 2007). Estudar
primeiro e o segundo ano de vida e se ma- o bebê é uma forma de aprender sobre
nifestam como uma “tendência geral” que quem somos e como somos constituídos
influencia as relações do sujeito consigo, (Bussab, Carvalho & Pedrosa, 2007). O
com o outro e com o meio. Estes estilos, bebê apresenta formas particularizadas de
porém, podem ser alterados a partir de interação, reveladas por episódios “mais
outras experiências significativas ao lon- fugazes, desordenados, pouco estrutura-
go da vida. Autonomia, autoconfiança, dos e pouco intencionais” (Anjos, Amorim,
confiança para explorar e conhecer, são Rossetti-Ferreira & Vasconcelos, 2004).
características intimamente relacionadas Apesar disso, o bebê apresenta formas de
a um apego seguro. Percebe-se uma rela- expressão significativa, (gestos, expres-
ção entre afetividade e cognição, de forma sões faciais, vocalizações, postura corpo-
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21 bebês, em uma creche universitária. gociação do olhar por parte da mãe que
Acredita-se que esses contextos permitam suscita reflexões sobre a inserção desse
evidenciar processos de desenvolvimento recurso em nossa cultura e como o bebê
significados de diferentes maneiras, pelas se apropria deste na interação, inclusive
particularidades de organização dos espa- quando não há pontos de encontro; nem
ços, bem como pelas práticas discursivas sempre Marina retribui o olhar à mãe, mas
do contexto e das pessoas no entorno e antes se volta para seu próprio corpo. Cha-
em interação. As gravações dos bebês es- ma ainda a atenção o contato e manejo
tão sendo vistas e algumas cenas, transcri- corporal do bebê realizado pela mãe em
tas. Nessas são buscadas particularidades uma relação também negociada. Marina
nos processos de olhar e da postura corpo- não é simplesmente subjugada às ações da
ral. As cenas são analisadas microgenetica- mãe , mas esta também reage à comunica-
mente (Goes, 2000), de modo a apreender ção do bebê (choro, movimento corporal,
mudanças ao longo do tempo, através de olhar), numa relação de complementarida-
recortes de episódios de diferentes mo- de (Seidl de Moura & Ribas, 1999).
mentos do desenvolvimento postural e do
olhar no bebê. A partir do mapeamento Palavras-chave: olhar, comunicação,
realizado, foi recortado um episódio inte- desenvolvimento postural
rativo no ambiente domiciliar: Júlia leva
Marina (quatro meses) para o quarto para
dar-lhe banho. Deita-a virada para cima LT01-1435 - A COMPREENSÃO
na cama. Marina começa a choramingar. INTERDISCIPLINAR DA RELAÇÃO
Júlia senta Marina na cama, segurando-a MÃO-BEBÊ: UMA APROXIMAÇÃO DE
de modo que ambas ficam frente a fren- WINNICOTT À NEUROCONCIÊNCIA DO
te (Júlia abaixa-se ao lado). Marina olha e DESENVOLVIMENTO
passa a mexer nos pés. Começa um movi- Célia Regina de Souza Cauduro - USP/SP
mento em que Júlia insistentemente tenta crcauduro@uol.com.br
chamar a atenção de Marina, utilizando-se Vera Silvia Raad Bussab - USP/SP
de vários recursos auditivos e táteis. Nem vsbussab@gmail.com
sempre Marina retribui com o olhar, mas
quando o faz ambas sorriem. Júlia levanta- Na teoria psicanalítica de Donald W. Win-
-se então e pega Marina no colo, e leva-a nicott ((1983; 1988 a, b, c, d; 1990; 1994;
para frente de um espelho, com ambas 1997; 1999 a, b, c, d, e) sobre a constitui-
voltadas para o mesmo. Enquanto isso, a ção do sujeito e nos trabalhos da Neuro-
pesquisadora passa por detrás com a câ- ciência do Desenvolvimento, existem afir-
mera, chegando a aparecer no espelho. O mações sobre a importância da qualidade
olhar de Marina volta-se para a imagem da experiência vincular nas primeiras eta-
da pesquisadora. Marina movimenta-se e pas da vida pós-natal. A correspondência
esforça-se para virar-se para trás. Quando entre estas duas teorias se organiza por
a mãe o percebe, vira seu próprio corpo, meio do conceito winnicottiano de expe-
tornando possível que Marina olhe direta- riência intersubjetiva: “o bebê no colo da
mente para a pesquisadora. No episódio, mãe, que precisa crescer, isto é, consti-
fica evidente a insistente e custosa ne- tuir uma base para continuar existindo e
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integrar-se numa unidade” (Loparic, 2008, tas não verbais dos comportamentos do
p.145). Segundo Loparic (2008), “Winni- bebê, crucial para o estabelecimento de
cott introduziu um novo modelo ontoló- um vínculo seguro (Schachner, Shaver, &
gico do objeto de estudo da psicanálise, Mikulincer, 2005). A autoregulação emo-
centrado no conceito de tendência para cional é a habilidade para controlar esta-
a integração, para o relacionamento com dos internos ou respostas relacionadas
pessoas e coisas e para a parceria psicos- aos pensamentos, emoções, atenção e
somática“ (p.145). Esta afirmação de Lo- desempenho. Os mecanismos neurais que
paric (2008) é apoiada pelas pesquisas sustentam os processos regulatórios po-
neurocientíficas sobre o desenvolvimento dem ser os mesmos que fundamentam os
humano que afirmam que o corpo ma- processos cognitivos superiores. Existem
terno é a principal fonte de provisão das processos complexos pelos quais a emo-
informações ambientais, e funciona como ção relaciona-se à cognição e ao compor-
um regulador externo que organiza os tamento, que, conseqüentemente, inter-
sistemas neurológico, perceptual, emo- ferem no processo de desenvolvimento
cional e relacional pela sua presença físi- (Bell & Wolfe, 2004; Bell & Kirby, 2007).
ca e pelo seu comportamento interativo A autoregulação emocional desempenha
(Feldman, 1996; 1999; 2003; 2006; 2007). um papel central na socialização e no de-
A Neurociência do Desenvolvimento - As senvolvimento do comportamento moral,
conclusões dos estudos da neurociência depende do desenvolvimento do córtex
do desenvolvimento descrevem como as pré-frontal; está associada ao desenvolvi-
experiências vividas na interação entre a mento de diferentes estratégias de adap-
criança e o cuidador primário no período tação durante as etapas subseqüentes do
neonatal, podem alterar o processo de ciclo vital (Levesque, A., 2004; Lewis &
desenvolvimento do sistema nervoso. Os Stieben, 2004). As situações de negligên-
bebês, ao nascerem, apresentam consi- cia e maus tratos, eventos traumáticos
derável individualidade, são sensíveis aos que quando duradouros, representam
estados afetivos do outro e mobilizam res- risco ao desenvolvimento psiconeurobio-
postas em seu meio ambiente. Tal capaci- lógico infantil; estas situações podem es-
dade requer um grau significativo de inter tabelecer uma vulnerabilidade ao estresse
coordenação pré-funcional entre o cére- pós-traumático (PTSD), e uma predisposi-
bro e o corpo. Atualmente, existe grande ção à violência na idade adulta. Situações
evidência que a organização do cérebro de privação ou trauma que promovem
do neonato é altamente dependente da interrupções no processo de formação do
estimulação dos cuidadores, e que estas vínculo, causadas por fatores maternos
interações quando validadas por experi- (ex. depressão pós-parto) e/ou relaciona-
ências adequadas, constituem um regula- das ao bebê (doenças hereditárias, congê-
dor da epigênese social da mente infantil, nitas ou adquiridas), podem desorganizar
isto é, promovem as condições necessária a regulação psicobiológica e neuroquímica
para a autoregulação emocional. Estas ex- no desenvolvimento cerebral, conduzindo
periências adequadas são proporcionadas à neurogênese, sinaptogênese e diferen-
por um cuidador primário (mãe) sensível ciação neuroquímica anormais.Os dados
capaz de decodificar ou entender as pis- da pesquisa de Chelini et al., (2010) inclu-
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ída no Projeto Ipê -Temático FAPESP no. sutis interações emocionais alteram os ní-
06/59192-2, que estuda possíveis efeitos veis da atividade cerebral e exercem um
da Depressão Pós-Parto (DPP) no desen- papel importante no estabelecimento e
volvimento numa população atendida manutenção dos circuitos do sistema lím-
pelo sistema público de saúde apontam bico (Ziabreva, I., Poeggel, P., Reinhild, S.,
que “ a resposta do cortisol a um estres- Braun, K., 2003; Wilkinson,2004; Cirulli,
sor leve foi maior em filhos de mães de- Berry, Alleva, 2003; Bradshaw, Schore,
primidas (análise de medidas repetidas; Brown, Poole, & Moss, 2005; Fonagy &
t = 2,44, 94df, p = 0,0166). Este resultado Target, 2005; Ovstscharoff e Braun, 2001;
indica que aos quatro meses após o parto Balbernie, R.(2001); Graham, et al.,1999;
o eixo HPA pode ter sido afetado pela DPP Schore, 2005). “A “mãe suficientemente
materna, já que filhos de mães deprimidas boa” tambem não existe sem os outros.
não mostraram a esperada supressão da Ela não existe sem um campo sociocul-
resposta do cortisol comumente observa- tural, que lhe dê possibilidades de exer-
da em torno de três meses”. Em concor- cer suas funções” (Safra, 2002).Coerente
dância com Ovstscharoff e Braun (2001), com afirmação de Fonseca, V.R.J.R.M. et
a interação diádica entre o recém-nascido al. (2010) - Projeto Ipê -Temático FAPESP
e a mãe funciona como um regulador do no. 06/59192-2, “A sensibilidade materna
desenvolvimento da homeostase inter- é influenciada por fatores sócio-cognitivos
na infantil. Interferem no funcionamento e afetivos”. As conclusões da pesquisa de
normal do eixo HPA (Hipotálamo-Pituitá- Defelipe, (2009) - Projeto Ipê -Temático
ria-Adrenal) resultando na alteração do FAPESP no. 06/59192-2: “A DPP1 parece
ritmo circadiano, elevando os níveis ba- capaz de perturbar os arranjos interativos
sais e reduzindo o volume cerebral. Os tornando-os menos consistentes. Porém,
efeitos podem ser de longo prazo, con- apesar desta possível limitação, por vezes,
duzindo a uma intensa resposta do eixo mães com DPP podem interagir adequa-
HPA a qualquer situação desafiadora, damente com seus bebês. Por fim, a DPP
atrofia hipocampal e prejuízos no desem- por não se tratar de um fenômeno capaz
penho cognitivo na vida adulta. Winnicott de incidir linearmente sobre a interação
e a Neurociência do Desenvolvimento: a mãe-bebê, e sobre o desenvolvimento
construção de uma hipótese interdiscipli- posterior, deve ser investigada em asso-
nar - A hipótese formulada a partir desta ciação com outros fatores psicossociais
aproximação é que a relação de mutuali- de risco.” Confirmam a compreensao de
dade entre o biológico, o emocional e o Aitken & Trevarthen (2001) que conside-
social (e não o emocional enquanto uma ram o vínculo como resultado de um con-
conseqüência linear da condição biológi- junto complexo de fatores individuais e
ca, ou o biológico como condição direta ambientais que interagem de uma forma
do emocional) apontada pela neurociên- não linear.
cia, no processo de desenvolvimento hu-
mano, é estabelecida por meio de uma Palavras-chave: Psicanálise, Neurogênese,
relação intersubjetiva fundada em uma Vínculo
maternagem que Winnicott (1988) cha-
mou de “mãe suficientemente boa”.Estas 1
DepressãoPós-Parto.
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tação, olhar e ser acalmado pelo contato (19.9 ± 3.3 nmol/L vs 9.3 ± 1.8 nmol/L), aos
com a mãe). Dados dos recém-nascidos 4 meses antes (8.2 ± 2.3 nmol/L vs 2.7 ±
foram obtidos dos prontuários. Análise es- 0.5 nmol/L) e depois do evento estressor
tatística: Utilizamos testes t e chi quadra- (11.1 ± 2.3 nmol/L vs 4.0 ± 0.6 nmol/L).
do entre os grupos com e sem DPP para Discussão: O nível de cortisol dos bebês
identificar possíveis variáveis de confusão. aos 4 meses é semelhante entre os grupos,
Depois, foi formulado e ajustado um mo- contradizendo alguns resultados (Brennan
delo linear misto (LMM), descrevendo a et al., 2008) mas consistente com Azar et
concentração do cortisol dos bebês como al. (2007). Diferentemente de Azar, não
função da condição da mãe (DPP) e do foram encontradas diferenças na variação
tempo (Demidenko, 2004). Foram então do cortisol frente ao estresse, entretanto,
testados efeitos possíveis de variáveis do observou-se maior variação interindividual
recém-nascido e dos escores de relação no grupo filhos de deprimidas, sugerindo
mãe/bebê sobre cada medida de cortisol. reação mais heterogênea ao estresse. A
O nível de significância adotado foi < 0,05. análise mostrou uma explicação possível,
Resultados: Foram consideradas deprimi- evidenciando correlação entre maior res-
das 16 mulheres (23,8%). Não houve dife- posta endócrina ao estresse e menores es-
renças da interação avaliada para mães e cores de interesse materno apenas no gru-
bebês entre grupos, nem para nenhuma po com DPP. A análise inferencial mostrou
variável de confusão. O LMM mostrou efei- também diferença entre os grupos nas
to do tempo no cortisol (F2/71 = 25.52, p < concentrações basais de cortisol. Os níveis
0.0001). Nos dois grupos, a concentração de cortisol estimados depois do controle
de cortisol era maior na alta que na linha de para efeito do interesse materno sugerem
base aos 4 meses e aumentou após o exa- que a qualidade da interação materna de-
me clínico. Não houve efeito da DPP nem pois do parto pode tamponar o efeito da
da interação DPP e tempo sobre os níveis depressão no eixo HPA dos bebês, mesmo
de cortisol. Verificou-se, contudo, um coe- apenas 2 dias após o nascimento, quando
ficiente de variação (CV) maior na resposta a DPP ainda não é detectável. Efeitos si-
endócrina de filhos de mães deprimidas milares foram reportados (Gunnar, 1998;
em resposta ao estressor (CV = 124.54) do Kaplan et al., 2008). Nossos resultados su-
que no outro grupo (CV = 75.47). O modelo gerem que intervenções visando melhorar
mostrou interação no tempo entre escore a qualidade dos cuidados maternos, suge-
de interesse materno e DPP apenas entre ridas em estudos prévios (Gunnar & Don-
filhos de mães deprimidas (F1/51 = 4.18, p = zella, 2002; Wachs et al., 2009) podem ser
0.046). Especialmente, foi evidenciada cor- implantadas desde os primeiros momen-
relação negativa entre escore do interesse tos de vida do bebê.
materno e variação do cortisol do bebê
após o evento estressor apenas no grupo Palavras-chave: Depressão pós-parto; cortisol;
com DPP (Pearson r = -0.904, p = 0.005). interação mãe-bebê.
Com o modelo, foi possível controlar as Contato: Departamento de Psicologia
concentrações de cortisol pelo interesse Experimental, Instituto de Psicologia,
materno, que então se mostraram maio- Universidade de São Paulo, São Paulo
res em filhos de mães deprimidas na alta marodiche@gmail.com
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condição DPP, especialmente no caso dos indivíduo, devido às influências que pode
meninos. De um modo geral, a constata- exercer em seu comportamento. Os pais
ção deste tipo de efeito da DPP no desen- são considerados como a fonte primária
volvimento da criança contribui para uma que o ser humano possui de contato com
compreensão mais ampla do processo. o mundo, e desempenham um papel im-
Além disso, a constatação destes efeitos portante no comportamento e desenvol-
ligados à inserção social da criança confe- vimento da criança e adolescente, como
re importância adicional à prevenção e à mediadores entre eles e a sociedade. Di-
intervenção. versos estudos ressaltam que a convivên-
cia das crianças com mães que apresen-
Palavras-chave: depressão pós-parto, tam transtornos psiquiátricos, incluindo a
cooperação infantil, interação mãe-bebê. depressão, configura-se como um fator de
Contato: Laura Cristina Stobäus risco para o desenvolvimento dos filhos.
e-mail: stobaus@usp.br Nesse sentido, este estudo busca correla-
cionar sintomas depressivos de mães com
problemas de comportamentos internali-
LT01-957 - CORRELAÇÃO ENTRE zantes e externalizantes de seus filhos. Os
SINTOMAS DEPRESSIVOS MATERNOS participantes do estudo foram 21 sujeitos,
E PROBLEMAS DE COMPORTAMENTOS sendo 42% do sexo feminino e 58% do
EM CRIANÇAS COM DESENVOLVIMENTO sexo masculino, com idade média de 8,90
TÍPICO anos (dp=0,91) entre 7 e 11 anos, que fre-
Ana Ribeiro Santana - UFRB/CCS quentam uma escola pública da cidade de
ana.ribeiro_22@hotmail.com Santo Antônio de Jesus-BA. Os instrumen-
Gustavo Marcelino Siquara - UFRB/CCS tos utilizados foram a Escala de Depressão
gustavosiqura@hotmail.com Beck e a Lista de Verificação Comporta-
Thiago da Silva Gusmão Cardoso - UFRB/CCS mental (Child Behavior Checklist – CBCL),
thiago_gusmao1@hotmail.com versão para pais. O Inventário de Depres-
Mariângela Santos de Jesus - UFRB/CCS são de Beck (IDB) é um instrumento de au-
mariangela.santos@msn.com torrelato constituído por 21 grupos de afir-
Patrícia Martins de Freitas - UFRB/CCS mações de múltipla escolha em que a pes-
pmfrei@yahoo.com.br soa deve responder qual a opção que esta
Financiamento: FAPESB e CNPq de acordo com o seu estado na naquela
determinada situação. Os itens estão rela-
A família é uma instituição primária, na cionados aos sintomas depressivos como
qual, o indivíduo tem contato com as pri- desesperança, irritabilidade, culpa além
meiras interações sociais. Esse sistema de sintomas físicos como fadiga, perda de
pode ser compreendido como grupo de peso e diminuição da libido. Já o CBCL é
pessoas que interagem a partir de vín- um questionário que avalia a competência
culos afetivos, consanguíneos, políticos social e problemas de comportamento em
e que estabelecem uma rede infinita de crianças e adolescentes em duas versões
comunicação e de mútua influência. A fa- uma de 1 ano e 6 meses até 5 anos e ou-
mília consolida-se como um importante tra de 6 a 18 anos, a partir de informações
nicho para o desenvolvimento global do fornecidas pelos pais. As escalas do CBCL
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durante a gravidez torna-se real e ambos por um bom tempo o lugar onde mãe e fi-
estão agora vulneráveis, inseridos em um lho irão conviver no limiar entre a vida e a
ambiente desconhecido que irá separá- morte. A partir de agora, terão que “tecer
-los ainda muito cedo. O recém-nascido de fios”, criar laços, construir vínculos que po-
risco, também chamado de prematuro ou derão estar fortemente abalados a partir
bebê pré termo, é aquele que nasce com daquele momento. Neste sentido, a pre-
uma idade gestacional menor que 37 se- sente pesquisa tem por objetivo analisar
manas e em casos extremos os que nas- como se dá a qualidade da relação e vín-
cem com menos de 28 semanas de ges- culo entre mães e seus bebês pré-termos
tação. Alguns bebês prematuros podem que estão internados em uma Unidade de
nascer com complicações ou alterações Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), ou seja,
orgânicas, além do baixo peso e respiração conhecer e analisar como a prematuridade
deficitária, necessitando assim de apare- e o ambiente artificial de cuidados iniciais
lhos especializados para a sobrevivência. ao recém-nascido podem trazer dificulda-
Pesquisas revelam que atualmente no des ao estabelecimento deste vínculo ini-
mundo 20 milhões de bebês nascem pre- cial da mãe com o bebê e que recursos e
maturamente, sendo que desses, um ter- estratégias são criados por estas mulheres
ço morre antes de completar um ano de para enfrentar tais adversidades. OBJETI-
idade (Romanoli & Moreira, 2008). A pre- VOS: (1) Identificar e analisar os sentimen-
maturidade traz em seu bojo significativas tos vivenciados pelas mães em relação
consequências emocionais que são marca- ao nascimento prematuro e à internação
das pela perda desse bebê imaginado du- de seus bebês na UTI neonatal; (2) Identi-
rante a gestação. A perda do bebê idealiza- ficar as estratégias de enfrentamento ado-
do, o berço que estará vazio, as roupas que tadas pelas mães em relação à situação de
a princípio não serão usadas, a cobrança hospitalização do bebê e na busca de cria-
da família e do meio social, podem colocar ção de vinculo afetivo com o filho; (3) Ve-
em risco uma relação (mãe-bebê) que ain- rificar que tipo de conhecimentos as mães
da se constrói. A internação de um bebê têm em relação à importância de se man-
em uma Unidade de Tratamento Intensivo ter um vínculo afetivo com o bebê, mesmo
Neonatal (UTIN) contribui para o afasta- que internado na UTI neonatal. MÉTODO:
mento entre a mãe e o bebê, interferindo Trata-se de uma pesquisa qualitativa e
significativamente na relação de vínculo e descritiva, realizada através de entrevistas
apego. A separação, que não poderia ser individuais, com roteiro semiestruturado
de outra forma, traz consigo sentimentos em uma Unidade de Terapia Intensiva Ne-
de culpa, incompetência e luto pelo bebê onatal (UTIN) do Hospital Dr. Alzir Bernadi-
idealizado, o que dificulta ainda mais o no Alves (HIMABA) no município Vila Ve-
estreitamento dos laços parentais (Raad, lha-ES. Fazem parte da pesquisa 10 mães
Cruz & Nascimento, 2006). Assim, pode de bebês prematuros e de baixo peso in-
ocorrer uma ruptura no processo de vincu- ternados na UTIN desde o nascimento e
lação já que muitas mães sentem-se rece- que participam do Grupo Psicoterapêutico
osas de tocar ou conversar com seu filho, de mães da UTIN. Após aceite do convite,
o que pode gerar stress psicológico para as mães serão esclarecidas quanto à sua
ambos (Schumacher, 2002). A UTIN será participação na pesquisa e assinarão o Ter-
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de efeito da ordem de .373 e .622, respec- tenha um impacto maior. Importa salien-
tivamente. Com o objetivo de discriminar tar que os conflitos familiares e conjugais
o efeito da DPP de possíveis efeitos de DA, mostraram-se significativamente associa-
os dados foram analisados separando-se dos à DPP, independentemente da DA,
os casos de DPP associados ou não à DA. o que apóia a compreensão de relações
Esta análise fortaleceu a idéia do efeito es- peculiares da DPP com o conflito. Contu-
pecífico da DPP, pois, na ausência de DA, do, pelo fato de as associações verificadas
houve associação significativa com conflito acima serem encontradas somente na au-
conjugal aos 4 (X²=12.213, p=0.007 e V de sência de DA, é possível que esta atue de
Cramer=.440) e aos 8 meses (X²=12.095, forma diferente na constituição da DPP,
p=0.011 e V de Cramer=.438); e com com outras associações entre as variáveis.
conflito familiar aos 8 meses (X²=12.813, Há outra interação complexa entre apoio
p=0.009 e V de Cramer=.451), no mesmo social (afetado por conflitos) e a DPP a ser
sentido dos resultados gerais. Na presen- considerada: as ligações entre baixo apoio
ça de depressão anterior, não houve as- e DPP sugerem causalidade, mas, ao mes-
sociações significativas em nenhum dos mo tempo, a própria DPP poderia evocar
momentos. As associações entre DPP e apoio social no cuidado com a criança.
conflito corroboram a idéia da importân- Evidentemente, deve-se considerar ainda
cia do contexto conjugal e familiar para uma possível bidirecionalidade de efeitos
a compreensão do quadro. Os valores da entre conflitos conjugais e familiares com
magnitude do efeito relativamente bai- a DPP, pois os conflitos podem propiciar o
xos, como frequentemente acontece nos desenvolvimento da DPP, e esta, por sua
dados da literatura, são compatíveis com vez, intensificar os conflitos. As relações
a interpretação de um fenômeno multide- entre DPP e aspectos gerais de harmonia
terminado: ao que tudo indica, um con- e apoio social têm se revelado importan-
junto de variáveis associa-se à DPP, sendo tes para a compreensão da origem e das
uma parcela destas representada pelo conseqüências da DPP e tem merecido
conflito conjugal e familiar. Considerada atenção especial no presente projeto,
a multideterminação, esta magnitude de tanto pelo interesse teórico quanto pelo
efeito passa a representar participação re- interesse em termos de prevenção e de
levante destes conflitos no quadro da DPP. políticas públicas.
A associação entre os conflitos conjugal e
familiar sugere dependência entre essas Palavras-chave: depressão pós-parto, relação
variáveis, conforme previsto. O maior va- conjugal, família
lor do quiquadrado aos 8 meses sugere Contato: julia.m@itelefonica.com.br
aumento da associação com o passar do
tempo. De forma similar, aos 4 meses, os
valores mais altos do qui-quadrado para a
associação entre a DPP e o conflito con-
jugal do que para o conflito familiar suge-
rem que nos primeiros meses após o parto
(coincidentemente com o pico da DPP aos
3 meses após o parto) o conflito conjugal
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que o corpo ainda que marcado pelos si- que ingressam em cursos de informática.
nais de envelhecimento e limitações pode Foi feita uma pesquisa quantitativa do tipo
continuar sendo alvo de investimentos su- correlacional, junto a 23 idosos que se
ficientemente significativos que possibili- matricularam em cursos de informática,
tam realizações e reconhecimento. utilizando-se uma escala de autoeficácia
geral e outra de autoeficácia de memória.
Palavras-chave: Envelhecimento. Corpo. UATI Os resultados indicam elevado escore de
Contato: Vilma Valéria Dias Couto - autoeficácia geral e um baixo escore da
Universidade Federal do Triângulo Mineiro autoeficácia de memória. Permitem su-
Departamento de Psicologia Clínica e por que a baixa crença desses idosos em
Sociedade relação ao próprio potencial cognitivo de
vilmacouto@psicologia.uftm.edu.br memória deve estar associada a estereóti-
pos negativos sobre a velhice, todavia, os
resultados da autoeficácia geral são indi-
LT01-1343 - INFLUÊNCIA DA cativos de condições favoráveis ao ajusta-
AUTOEFICÁCIA GERAL E DA MEMÓRIA mento desse público às novas condições
EM IDOSOS QUE BUSCAM CURSOS DE pessoais e contextuais. Com o aumento
INFORMÁTICA da expectativa de vida populacional am-
Laina Jacinto Couto - UNITAU pliam-se as possibilidades de um processo
laina_couto@hotmail.com de envelhecimento ativo e de uma vivên-
Fernanda Rabelo Prazeres cia da velhice como uma fase da vida de
fernandaballet@gmail.com autonomia, independência e qualidade de
Marluce Auxiliadora Borges Glaus Leão - UNITAU vida (Neri, 1995). Frente ao atual progres-
mgleao08@gmail.com so tecnológico, adultos maduros e idosos
buscam se ajustar às demandas da vida
As possibilidades de um processo de en- cotidiana por meio da educação continu-
velhecimento ativo e de uma vivência de ada. A procura por cursos de informática,
velhice com autonomia, independência para além de uma estratégia educativa de
e qualidade de vida tem conduzido ido- inclusão social do idoso, exige um equa-
sos a se ajustarem às demandas da vida cionamento entre seus potenciais e limi-
cotidiana, principalmente aquelas rela- tes biológicos e psicológicos, que por sua
cionadas ao progresso tecnológico atual, vez, pode gerar desequilíbrios em relação
como o domínio sobre conhecimentos de às capacidades do indivíduo para produzir
informática. O enfrentamento de situa- resultados. Fazer esse curso envolve uma
ções novas como essa exige um equacio- avaliação das habilidades sociais necessá-
namento entre seus potenciais e limites rias para o alcance dos resultados. O cons-
biológicos, psicológicos e sociais, mobili- tructo psicológico da autoeficácia tem sua
zando o senso de autoeficácia do idoso, origem na Teoria Social Cognitiva, a partir
ou seja, a crença que tem em relação às de uma visão do homem constituído pelos
suas capacidades para produzir resulta- sistemas sociais, e que por meio das trocas
dos. Este estudo teve como objetivo in- vão ocorrendo adaptações e mudanças no
vestigar a influência da autoeficácia geral comportamento, sendo essa relação de
e da autoeficácia de memória em idosos indivíduo com o meio, denominada reci-
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para idosos situada em Vitória/ES. Trata-se tituição sofrem de Alzheimer, doença que
de instituição privada, que se dedica ao traz muitos prejuízos à memória. Entre as
atendimento ao idoso, oferecendo servi- várias atividades desenvolvidas ao longo
ços especializados, e para tanto conta com do estágio, pode-se citar: exibição de fi-
uma equipe composta por enfermeiras guras/imagens que trouxessem aos ido-
gerontólogas, técnicos de enfermagem, sos lembranças de momentos variados de
geriatra (acompanhamento mensal) e fi- suas vidas para compartilharem com o gru-
sioterapeuta (acompanhamento semanal). po; audição de músicas antigas, da época
O estágio, desenvolvido numa perspectiva da juventude e fase adulta dos participan-
psicossocial, teve início em Julho de 2010, tes, com a descrição do que lhes vinha à
e contava com uma carga horária prática memória; leitura de contos e sua repetição
semanal de 04 horas, cumpridas na casa pelo idoso para exercitar a memória; exe-
de repouso por um grupo de três estagi- cução de dinâmicas de grupo que oportu-
árias do quarto período do curso de Psi- nizassem conhecer um pouco mais da vida
cologia. Nessa época a instituição estava de cada idoso e favorecer a interação entre
atendendo, em média, 35 idosos, de ida- o grupo; realização de entrevistas semies-
des variadas. Num primeiro momento, foi truturadas sobre temas relacionados à
realizado estudo bibliográfico referente ao história de vida dos idosos; realização de
tema, e após esse período inicial, foi reali- trabalhos manuais, como a confecção/
zada a entrada no campo, que, inicialmen- ornamentação de um diário pessoal para
te, consistiu em observação participante, cada idoso, buscando o desenvolvimento
visando conhecer a dinâmica institucio- da criatividade e a possibilidade de ex-
nal, levantar as demandas da instituição, pressarem suas emoções e sentimentos
os temas de trabalho a serem explorados diários. Houve situações em que algumas
e o estabelecimento de vínculo com os atividades programadas acabaram não
idosos e funcionários. Posteriormente fo- sendo desenvolvidas em virtude do pouco
ram organizadas atividades que visavam interesse ou indisposição dos idosos. Na
potencializar a interação social do grupo instituição, os idosos eram divididos pela
de idosos que tinham condições físicas e enfermeira responsável para participar das
cognitivas de participar, bem como o es- atividades grupais, geralmente, de acordo
treitamento de vínculo – ressaltando que com o nível de comprometimento físico e
a necessidade de maior interação entre os cognitivo. Nem todos os idosos participa-
idosos foi a principal demanda identifica- vam sempre de todas as atividades, o que
da. Moura, Passos e Camargo (2005) res- variava de acordo com o estado de saúde
saltam que a comunicação é essencial para do idoso naquele dia e de sua disposição
a sobrevivência do homem, em especial para participar. Além de promover a inte-
para o idoso, garantindo a manutenção de ração social entre os idosos, o estágio tam-
suas relações sociais e evitando a carência bém trouxe a possibilidade de criação de
afetiva e emocional. Também foram de- um espaço para acolhimento das questões
senvolvidas atividades grupais que tive- individuais que não emergiam nas ativi-
ram como objetivo a reabilitação cognitiva dades grupais, assim como de um espaço
(exercícios para a memória, por exemplo), permanente de contato com a equipe e
já que muitos dos idosos residentes na ins- com os familiares (realização de encontros
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estrutura (forma e conteúdo) das narrati- vida”. Participantes com altos escores no
vas sobre suas próprias vidas. Estudo qua- estilo ruminativo produziram narrativas
litativo e exploratório com uma etapa de que focalizavam características pesso-
coleta de dados quantitativa. Participaram ais negativas como, por exemplo: “... Sou
do estudo onze idosas com idades entre uma pessoa muito insegura... A ansieda-
sessenta e dois e oitenta e três anos, que de, muitas vezes me impede de viver feliz
apresentaram condições de se expressar e fazer a felicidade dos outros.” Enquanto
verbalmente através da escrita. Para a ob- participantes com altos escores no estilo
tenção dos dados utilizamos o Questioná- reflexivo produziram narrativas com ca-
rio de Ruminação e Reflexão (QRR) e um racterísticas pessoais positivas como, por
protocolo de redação com o tema “Conte exemplo,” Gosto de ser quem eu sou por
sua história”. A aplicação do instrumento ter realizado minhas aspirações...” Esses
foi realizadas individualmente na casa da dados confirmam nossas hipóteses de que
participante. Inicialmente os dados foram pessoas com o estilo reflexivo compreen-
tratados estatisticamente (média e desvio dem sua vida de maneira mais positiva re-
padrão). A partir dos escores fornecidos latando sentirem-se mais felizes. Enquan-
pelo QRR foram definidos os pontos de to as de estilo ruminativo interpretam os
corte: Reflexivo alto= 42; Reflexivo mé- acontecimentos de forma mais negativa.
dio= 39; Reflexivo baixo= 36; Ruminativo Sete participantes apresentaram o estilo
alto= 43; Ruminativo médio= 36 Rumina- reflexivo ruminativo médio ou alto. O es-
tivo baixo= 29. Os idosos apresentaram tilo ruminativo por ter como característica
cinco estilos de reflexividade: 1. Rumina- um tipo de pensamento mais repetitivo,
tivo baixo+Reflexivo médio (duas partici- faz com que a pessoa rememore, e pense
pantes) ; 2. Ruminativo médio+Reflexivo mais freqüentemente em acontecimentos
baixo (duas participantes); 3. Ruminativo do passado. Isto pode estar relacionado
médio+Reflexivo alto (três participan- com o fato de cognitivamente idosos te-
tes); 4.Ruminativo médio+Reflexivo mé- rem uma diminuição na capacidade de
dio (três participantes); 5. Ruminativo armazenamento de informações e memó-
alto+Reflexivo alto (uma participante). rias recentes, aumentando, assim, o uso
As narrativas apresentaram os estilos de da memória de longo prazo é a mais uti-
gênero gramatical descritivo (predomi- lizada. Assim, acredita-se que os escores
nância de substantivos e adjetivos na nar- do estilo ruminativo na população idosa
rativa – ocorrência em cinco narrativas) tenha sido mais alto. A terceira idade, é
quanto dinâmico (predominância de ver- por muitas vezes, associada sociocultu-
bos e advérbios – cinco narrativas). Uma ralmente como um período de sabedoria,
narrativa não teve predominância de ne- formada por uma vida de experiências,
nhum dos dois estilos de gênero grama- esses indivíduos são vistos como pessoas
tical. Os temas abordados nas narrativas sábias pela sua capacidade de lembrar de
foram “breve relato sobre a história de fatos, fazerem análises éticas e morais, e
vida”, “características pessoais”, “família”, oferecerem soluções e alternativas para
“preocupação com os outros”, “religião” problemas cotidianos. Atividades estas,
e a “importância em manter-se ativa”. Na que exigem muita reflexão, análise e ru-
categoria “breve relato sobre história de minação de algumas idéias, colaborando
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também para um possível desenvolvimen- ro, 2004). Optou-se, então, por trabalhar
to do estilo ruminativo de reflexividade. com as narrativas produzidas por adoles-
centes em interação, mediante a realiza-
Palavras-chave: Idosas; estilos reflexivos; ção de grupos focais em formato virtual,
narrativas. já que a internet vem sendo um dos con-
Contato: Petra Paim Ehrenbrink, UFES, textos de interação privilegiados pelos
petra@intervip.com.br adolescentes (Subrahmanyam, Green-
field, Kraut & Gross, 2001). Os chamados
grupos focais online síncronos são grupos
CO 16 - LT02 em que os participantes interagem via in-
ternet em tempo real (Walston & Lissitz,
Novas tecnologias 2000). Esbarrou-se, contudo, na ausência
de trabalhos científicos nesses moldes, na
área da psicologia. Diante disso, foi neces-
LT02-693 - GRUPOS FOCAIS ONLINE
sário basear-se em alguns procedimen-
SÍNCRONOS EM PESQUISA QUALITATIVA:
tos utilizados por outras áreas da ciência,
ASPECTOS COMUNICACIONAIS
selecionando aquilo que se aplicaria aos
Gabriela Sagebin Bordini - UFRGS objetivos da pesquisa em questão. Em re-
charlestonbordini@yahoo.com.br lação às entrevistas virtuais, por exemplo,
Tania Mara Sperb - UFRGS Nicolaci-da-Costa, Romão-Dias e Di Luccio
sperbt@terra.com.br (2009) sublinham que, comumente, as
Financiamento: CNPq conversas online apresentam rupturas.
Isso pode decorrer do intervalo que existe
O grupo focal é uma técnica de coleta de entre o envio de uma mensagem – que é
dados que vem sendo largamente utili- realizado somente quando o participante
zada em pesquisa desde os anos 80, so- terminou de redigi-la e optou por postá-
bretudo como técnica de investigação -la – e o recebimento da resposta relativa
qualitativa (Schneider, Kerwin, Frechtling à mensagem enviada. Dado que, também
& Vivari, 2002). Comumente, essa técnica nos grupos focais online síncronos, as par-
é usada em seu formato tradicional, isto ticipações de cada um dos membros iriam
é, presencialmente. Sua utilização é usu- aparecer na tela de acordo com a ordem
al principalmente entre os pesquisadores em que tivessem sido enviadas, e não se-
que têm interesse pela coleta de dados ria possível interromper a escrita de cada
por meio da interação grupal (De Antoni um, esperava-se que a comunicação nes-
et al., 2001). Este era o caso da pesquisa ses grupos ficasse fragmentada. Provavel-
aqui relatada, cujo objetivo era conhecer mente as discussões seriam descontínuas,
as concepções de adolescentes sobre o intercaladas com outras discussões ou
que é ser homem e o que é ser mulher na com outros assuntos. Por outro lado, Sch-
atualidade. Tinha-se como base, o pressu- neider et al. (2002) explicam que a alta ve-
posto de que os significados atribuídos ao locidade em que se dá a postagem dos co-
masculino e ao feminino são culturalmen- mentários escritos na comunicação virtual
te construídos e transmitidos socialmente permite que a discussão não pare apenas
através da interação (Diamond, 2002; Lou- porque um dos participantes está escre-
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vendo sua mensagem. Por isso, os compo- te que os fizera apareciam na tela de cada
nentes de grupos focais online síncronos, membro, de acordo com a ordem em que
em comparação com aqueles dos grupos tinham sido postados. As interações nos
presenciais, fariam comentários mais cur- grupos focais online síncronos foram dis-
tos, emitindo pequenas frases simples- cutidas com base na literatura já existente
mente para expressar concordância com sobre o tema. A realização online dos gru-
opiniões já apresentadas, propiciando pos focais pareceu ter influenciado a pro-
uma discussão menos elaborada. Diante dução dos componentes. Confirmando os
disso, esperavam-se dificuldades quanto apontamentos de Schneider et al. (2002),
à profundidade das discussões nos grupos em geral, as participações foram curtas
focais online síncronos e em relação à ob- e os comentários, não muito elaborados
tenção de narrativas longas e individuais. e emitidos rapidamente. A comunicação
O presente trabalho visa colaborar com o entre o grupo mostrou depender da velo-
avanço da pesquisa qualitativa em psico- cidade na qual cada componente era ca-
logia no Brasil, por meio do relato e da dis- paz de escrever suas mensagens e acom-
cussão das especificidades comunicacio- panhar as dos outros. Isso tornou difícil a
nais encontradas nos grupos focais online manutenção de uma sequência de intera-
síncronos realizados.Participaram 41 ado- ções por parte do grupo, pois a comunica-
lescentes com idades entre os 14 e os 15 ção não ocorria de maneira linear. Assim,
anos, estudantes de uma escola estadual também se confirmou a hipótese baseada
e de uma escola particular de Porto Alegre em Nicolaci-da-Costa et al. (2009). A in-
(RS), selecionados por conveniência. Com dependência entre as participações dos
os adolescentes devidamente autorizados componentes dos grupos realizados não
pelos responsáveis, foram realizados 6 foi vantajosa à elaboração de narrativas
grupos focais online síncronos, através do longas ou detalhadas. Ocorreu com fre-
programa de bate-papo MSN, que possi- quência que, enquanto um participante
bilita conferências online. Todos os grupos escrevia uma mensagem mais longa ou
tiveram 7 participantes, exceto um que em resposta a alguma mensagem postada
contou com 6. Dois grupos foram compos- anteriormente, outros já escreviam men-
tos por adolescentes do sexo masculino, sagens relacionadas a outros assuntos. As
2 por adolescentes do sexo feminino, e 2 narrativas produzidas ao longo das discus-
eram mistos. Os grupos tiveram lugar na sões foram, na sua maioria, fragmentadas
sala de informática das escolas em que os e entrecortadas por assuntos diversos do
participantes estudavam e foram mode- tópico proposto. Portanto, a utilização
rados pela pesquisadora. Esta e todos os de grupos focais online síncronos não se-
adolescentes tinham um computador à ria aconselhável quando o pesquisador
sua disposição, conectado ao MSN. A dis- pretende obter as tradicionais narrativas
cussão era realizada por escrito e iniciava longas e sequenciadas. Este método seria
com a questão de abertura, proposta pela mais adequado às investigações que têm
moderadora: “Contem histórias que vocês como foco a interação entre os participan-
acham que mostram bem o que é ser ho- tes. A pesquisa realizada mostrou que gru-
mem ou o que é ser mulher hoje.”. Os co- po focal online síncrono não é uma mera
mentários e a identificação do participan- transposição do grupo focal presencial
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plexas e sutis” (p. 219); e como cognição interação com pessoas, objetos, eventos,
implica num sistema representacional, valores, crenças e atitudes culturalmente
a linguagem acaba assumindo um papel desenvolvidas e historicamente constituí-
importante, se observamos o conteú- das (Vigotski, 2001, 2007; Vigotski & Luria,
do representacional, simbólico, de uma 2007). Para Vygotsky (2007) era impor-
produção cultural digital (Costa, 2008). tante “entender o papel comportamental
Fonseca (2007) explica que o desenvolvi- do signo em tudo aquilo que ele tem de
mento cognitivo não se dá somente pela característico” (p. 53). Vigotski (1991) afir-
autoregulação da estrutura, mas também ma que o signo tem um papel importante
pelo envolvimento do indivíduo em “sis- nos processos coletivos, interpsicológicos,
temas de mediatização interindividual sendo meios de comunicação e de influ-
que se co-constroem em contextos sócio- ência. Para Vygotsky (1991), “todo signo,
-históricos” (p. 36). A Cibercultura abarca si tomamos su origen real, es un medio
essa noção e implica situações de inter- de comunicación e podríamos decirlo más
subjetividade. A intersubjetividade tem ampliamente, un medio de conexión de
importante papel nas relações sociais face ciertas funciones psíquicas de carácter
a face (Berger & Luckmann, 2004). Mas, social.” (p. 78). De acordo com Vygotsky
como acima mostrado, na Cibercultura ela (1991a), a função de comunicação do
possui a mesma importância psicológica, signo endossa processos interpsicológi-
dado o caráter transcendente da lingua- cos, direciona a atenção, define papéis na
gem (que independe de tempo e de espa- comunicação e contribui para a internali-
ço), e suas relações cognitivas. No uso de zação do que foi socialmente significado.
computadores, por exemplo, as interfaces A intersubjetividade, na perspectiva vi-
permitem a mediatização tecnológica nas gotskiana, está imbricada nesses fatores.
interações, e ainda afetam nossas formas Wertsch (1995) comenta que a intersub-
de criar e comunicar. Segundo Johnson jetividade é um processo de comunicação
(2001), “os seres humanos pensam atra- humana que transcende o mundo privado
vés de palavras, conceitos, imagens, sons, dos participantes por meio da conduta
associações” (p. 17). O computador lida comunicativa (situações de fala). Wertsch
com representações e sinais, permitindo (1995) coloca que, na teoria vigotskiana,
formas de interação à distância (Johnson, esse é essencialmente um processo semi-
2001). Nas redes sociais, as interações ótico numa dada situação. Entendemos
também assumem um caráter intersub- que em interações sociais produzidas em
jetivo muito importante na medida em ambientes virtuais, tais premissas são
que os indivíduos podem organizar suas válidas, mas, queremos enfatizar suas
ações em rede, em espaços mais infor- possibilidades dialéticas. Nesse sentido,
mais (Marteleto, 2001). A psicologia histó- mencionamos Molón (2010) quando ex-
rico-cultural de Vygotsky traz importantes põem a perspectiva de Smolka e colabo-
contribuições para essas discussões; entre radores sobre intersubjetividade na teo-
elas a importância da mediação simbólica. ria de Vygotsky, ao colocarem ênfase na
Segundo Vygotsky, a mediação simbóli- relação dialética das dimensões intra e
ca tem origem social e assume destaque interpsicológica. Smolka e colaboradores
na formação psicológica e na relação/ comentam que “sendo a palavra e o sig-
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tos. Os signos são representados pela lin- ais de aprendizagens (AVA). Consideramos
guagem oral e gestual, pela escrita, pelos que o uso de tecnologias possibilita o de-
números, não modificando o objeto das senvolvimento das funções psicológicas
operações psicológicas, mas dirigindo-se como também contribui para a formação
para o controle do próprio individuo. Já os da “Inteligência Coletiva”. Nosso objetivo
instrumentos sofrem mudanças humanas foi identificar e descrever os significados
sobre o objeto e são orientados externa- construídos nas narrativas de dois profes-
mente. As relações dialéticas entre as fun- sores da Educação a Distância em relação
ções psicológicas percepção, atenção e as às interações professor-aluno mediadas
operações sensório-motoras são afetadas pelo uso de tecnologias na EAD. Esse tra-
pelo uso de instrumentos quando rela- balho é um recorte de uma pesquisa re-
cionados à fala, auxiliando no desenvolvi- alizada com professores de EAD de uma
mento das funções psicológicas. A partir universidade privada de Aracaju, SE. As
do entendimento do desenvolvimento entrevistas narrativas e de histórias de
das funções psicológicas, vamos tratar do vida foram gravadas, transcritas e realiza-
uso das tecnologias no desenvolvimento das na própria instituição de ensino. Após
psicológico. Lévy (2007) criou o termo “In- as transcrições construímos o mapa de
teligência coletiva”, onde as inteligências significados para cada professor por meio
individuais são somadas e compartilhadas do qual identificamos e descrevemos os
por toda a sociedade a partir do surgimen- significados construídos a partir das en-
to das novas tecnologias possibilitando trevistas sobre as interações entre Pro-
trocas de conhecimento e aprendizagens fessor-aluno na Educação a Distância. Nas
coletivas. "Ela possibilita a partilha da me- entrevistas os professores nos contaram
mória, da percepção, da imaginação. Isso sobre as novas experiências obtidas nas
resulta na aprendizagem coletiva, troca de relações professor-aluno mediadas pelo
conhecimentos". Só existe “Inteligência uso de tecnologias. Para um deles não há
Coletiva” se houver cooperação compe- como falar da Educação a distância sem
titiva (relacionada às relações sociais) ou comparar com o ensino presencial por
competição cooperativa (relacionada à causa do contato físico, visual existente
liberdade). Fazendo uma relação entre os no presencial. Uma forma de esse contato
conceitos de Vigotski e de Levy utilizados ocorrer na EAD é a partir da maior dedi-
neste trabalho, podemos dizer o seguinte: cação do professor ao aluno, dando mais
o desenvolvimento das funções psicoló- atenção para que ele aprenda, identifican-
gicas superiores pode ocorrer a partir da do e re-significando formas de ser e agir
internalização de aprendizagens, da me- no processo dialógico com o aluno. Tam-
diação semiótica nas interações professor- bém foi narrado sobre o desenvolvimen-
-aluno e o uso de tecnologias interfere no to de relações de afetividades a partir do
processo de desenvolvimento da Zona de uso de emails, chats e fóruns, como nos
Desenvolvimento proximal (ZDP) mediado contou um dos professores que recebeu
pelo professor quando abordamos a EAD. emails de agradecimentos pelo aprendi-
O professor propicia a aquisição de novos zado. Para ele, é um reconhecimento que
conhecimentos ao aluno através de ativi- muitas vezes não acontece no ensino pre-
dades desenvolvidas nos ambientes virtu- sencial. Outro ponto refere-se a melhora
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dedicar ao curso e ter disciplina para tal” comportamento e que variáveis contex-
(Behar, 2009, p. 26). Pela faixa etária dos tuais influenciam para que se perceba,
alunos, podemos situá-los na fase inicial em um dado momento, a consecução de
da vida adulta (Papalia e Olds, 2000). A algumas como sendo mais viáveis do que
definição de adulto somente pelo fator outras” (p. 162). Motivação é um compo-
idade é uma questão complexa, porque o nente pedagógico fundamental na EAD.
desenvolvimento depende de diversos fa- Paralelo a isso, a Andragogia (ensino de
tores físicos e psicológicos que variam de adultos) considera que os alunos adultos
indivíduo para indivíduo, e entre contex- apreciam ter certo controle e responsabi-
tos socioculturais (Rogoff, 2005; Feldman, lidade pessoal sobre o que está aconte-
Papalia e Olds, 2009). Mas, o fator idade cendo; preferem definir o que é relevante
ajuda a situar estatisticamente os alunos para suas necessidades; preferem tomar
de EAD num determinado momento do decisões sozinhas ou pelo menos serem
desenvolvimento, cujas características consultados; têm muita vivencia e gostam
gerais permitiriam pensar sobre as ou- de utilizá-la no aprendizado; preferem
tras variáveis do perfil. Assim, uma inter- adquirir informações ou conhecimen-
-relação entre EAD, desenvolvimento hu- to relevantes para resolver problemas
mano e aprendizagem, pode ser notada, no presente; geralmente tem motivação
especialmente se tratarmos a EAD como intrínseca para aprender (Moore e Ke-
meio para formação continuada ou atu- arsley, 2008, p. 173-174). Essas caracte-
alização profissional. Abordando forma- rísticas podem ter impacto no processo
ção continuada com alunos adultos, Al- de aprendizagem na EAD, que valoriza
varado Prada (1997) assinala que “o que muito a autonomia do estudante frente
caracteriza as pessoas adultas são suas ao seu programa de formação. Segun-
experiências, sua história de vida, seus do Moore e Kearsley (2008) autonomia
saberes” (p. 76). Papalia e Olds (2000) do aluno de EAD significa que o mesmo
comentam que o aluno adulto costuma deve tomar decisões a respeito de seu
empregar mais a experiência de vida, en- aprendizado, organizando os recursos dis-
riquecendo com isso sua aprendizagem. ponibilizados. Contudo, toda autonomia
Para o aluno adulto no contexto social é relativa. Assim o sistema também tem
atual, a aprendizagem formal continuada responsabilidades com essa autonomia,
“é uma maneira importante de desenvol- e compreender aspectos relacionados ao
vimento de seu potencial, bem como de desenvolvimento humano e à aprendiza-
acompanhar as mudanças no mundo do gem, contribui nesse sentido. Em termos
trabalho” (Papalia e Olds, 2000, p. 453). de psicologia da aprendizagem, Brans-
Assim, o aluno de EAD, adulto, trabalha- ford, Brown e Cocking (2007) mostram
dor, casado, tem prerrogativas pessoais e que conhecimentos, habilidades, crenças
sociais que podem representar boa parte e conceitos prévios influenciam o modo
de sua motivação para os estudos e o que como se percebe um ambiente educa-
espera deles. Segundo Tapia e Garcia- cional e a organização do conhecimento.
-Celay (1996), a motivação na aprendiza- Essas questões afetam as “capacidades de
gem envolve “que tipo de metas os alunos recordação, raciocínio, solução de proble-
perseguem, de que modo influem em seu mas e aquisição de novo conhecimento”
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social. O modelo que tem evidenciado da história. Para a seleção das perguntas
mais resultados empíricos é o de Dodge mais pertinentes a investigação realizou-
e Crick (1994); por meio do modelo em -se uma análise textual e das ilustrações
questão é possível compreender como a do livro selecionado para o levantamento
informação social se processa. dos indicadores verbais e visuais de pistas
sociais, internas e externas, em cada pá-
Teglasi e Rothman (2001) aplicaram o gina. Com base nessa análise, as pergun-
modelo à exploração do conteúdo de his- tas para a sondagem sociocognitiva foram
tórias infantis, com base em seis passos organizadas em categorias de acordo com
mentais que se expressam nas seguintes os seis componentes propostos por Tegla-
questões: - o que está acontecendo? - o si e Rothman (2001). Sendo assim, tem-se
que os personagens estão pensando e 23 itens investigando o que está aconte-
sentindo? - quais são as intenções e me- cendo; 24 itens investigando o que os per-
tas dos personagens? - o que os persona- sonagens estão pensando e sentindo 12
gens alcançam com suas ações? - como os itens investigando as metas e intenções
personagens executam e monitoram seus dos personagens; 6 itens para o que os
comportamentos? - quais as lições apren- personagens alcançam com suas ações;
didas? No presente estudo, os seis passos 12 itens para como os personagens exe-
do processamento da informação social cutam e monitoram seus comportamen-
propostos por esses autores são empre- tos; e 3 itens para as lições aprendidas.
gados para avaliar o desenvolvimento Para a investigação propriamente dita,
sociocognitivo de crianças. Seu objetivo cada criança era retirada, individualmen-
é verificar se há diferenças desenvolvi- te, da sala de aula e participava da leitura-
mentais na qualidade das respostas de -dialogada da história com base no rotei-
crianças pré-escolares e escolares, ao se- ro de perguntas. A avaliação, com dura-
rem questionadas, com as seis perguntas ção média de 20 minutos, era gravada e
exploratórias, sobre uma história infantil posteriormente transcrita para a análise
rica em pistas sociais. Método – Sujeitos de dados. Após todas as avaliações trans-
- Participaram do estudo 49 crianças, 19 critas, realizou-se uma junção de todas as
crianças de 5-6 anos, pertencentes a uma respostas a cada item, tanto para crianças
escola de educação infantil e 30 crianças de 5-6 anos quanto para crianças de 8-9
de 8-9 anos, pertencentes a uma escola anos. As respostas foram organizadas em
de ensino fundamental. Ambas as esco- níveis de reflexão sócio-cognitiva estabe-
las são de rede pública e situam-se em lecidos por três juízes mediante consen-
uma cidade do interior de Minas Gerais. so. Resultados - Para o componente o que
Materiais e procedimentos - Para a inves- está acontecendo? Em que a investigação
tigação sociocognitiva selecionou-se um direciona-se para a codificação e interpre-
livro de história infantil, rico em pistas tação das pistas sociais, nota-se que as
sociais, pertencente à pesquisa de Rodri- crianças de 8-9 anos captam mais pistas
gues e cols. (2007). A fim de sistematizar se comparadas às crianças de 5-6 anos.
a investigação foi elaborado um roteiro de Estas últimas também são capazes de de-
aplicação, estruturado em 80 perguntas, codificar pistas e algumas delas apresen-
que visa explorar e discutir o conteúdo tam respostas ricas em detalhes, no en-
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ças já tinham previamente e dos indica- tribuir para a articulação entre diferentes
dores de apropriação de conhecimentos eventos, todos relacionados aos “danos
pelas crianças, buscando problematizar a ao solo”, tendo o adulto atuado de forma
identificação de articulação de conceitos a propiciar essa busca de articulação. Os
e descolamento da realidade imediata, episódios analisados permitiram identifi-
na construção de conceitos cotidianos e car exemplos de apropriação de conceitos
científicos. Como parte dos resultados, científicos pelas crianças, muitas vezes,
um dos episódios do estudo é apresenta- enunciados de forma não canônica e rela-
do para exemplificar a análise realizada, o cionados a conceitos cotidianos. A partir
Episódio 3-3, em que o adulto apresenta dos estudos apresentados foram permi-
questões relacionadas a noções já apre- tidas reflexões acerca das competências
sentadas. e capacidades das crianças participan-
tes. Observou-se que a apropriação dos
Cecília (ad): O que estraga o solo?
conceitos nem sempre é completa, mas,
Evandro: Produtos químicos, matadores foram evidenciadas construções e apro-
de insetos artificiais. priações por parte das crianças, sendo
Camila explica o perigo dos pesticidas e que cada criança apresentou sua própria
agrotóxicos e continua as perguntas. maneira de demonstrar a apropriação de
um conceito. A participação dos adultos
Camila (ad): Por exemplo, quando chove mostrou-se importante, uma vez que as
muito e não tem planta em cima? O que crianças apoiaram-se, constantemente,
acontece com o solo? nas relações por eles apresentadas entre
Tamara: Entra dentro. (referindo-se ao as experiências cotidianas e os conceitos
deslocamento do solo) apresentados, durante o processo de ela-
boração de conceitos. Desta forma, os da-
Camila (ad): A professora mostrou uma dos indicaram capacidades e competên-
foto, vocês lembram? O que aconteceu cias nas crianças participantes, cada uma
com a estrada que estava em cima do a seu modo. Foi possível, assim, evitar a
solo? cristalização de incapacidades e queixas,
Tamara: Rachou. possibilitando mudanças significativas
nas formas de lidar com o aprendizado da
Celso: Rachou.
criança e contribuindo para o seu desen-
Nesse episódio, o adulto retoma uma per- volvimento.
gunta apresentada duas aulas antes (1).
Evandro responde com elementos não Palavras-chave: desenvolvimento humano,
apresentados em aula (2). O adulto ex- necessidades especiais, grupos de
pande a resposta e detalha mais a pergun- convivência
ta inicial (3). Tamara inicia a resposta (4) Contato: Cecília Guarnieri Batista, UNICAMP,
e o adulto concorda e completa, fazendo cecigb@fcm.unicamp.br
referência à aula expositiva (5). Então, Ta-
mara (6) e Celso (7) respondem, apropria-
damente. Considera-se que, no episódio,
as crianças participaram de forma a con-
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(89,4%). Ser casado legalmente foi va- dade, um aumento no número dos divór-
lorizado por 49,5%. A conjugalidade, na cios e de recasamentos, bem como o sur-
maioria da população entrevistada, possui gimento da não obrigatoriedade da coabi-
características contemporâneas, ou seja, tação como regra conjugal. Para estudos
homens e mulheres estão envolvidos com prospectivos, pode-se pensar em analisar
o desenvolvimento profissional, a satisfa- os resultados do questionário utilizado sob
ção afetiva na relação com o outro e, no égide do gênero, pois é fato que teríamos
geral, compartilham a preocupação com a definições e percepções diferentes da fa-
o bem-estar do mútuo. O espaço familiar mília e casamento.
é, por conta disso, propiciador de cresci-
mento para todos os envolvidos. Nessa Palavras-chave: conjugalidade, família, laços
pesquisa, observou-se que existe uma conjugais
preocupação com a satisfação do parceiro Contato: Cristiane Cavalcanti, UCSal/FTC,
e uma tentativa de conciliar individualida- cristiane.fisio.ssa@gmail.com
de com conjugalidade, apesar de ser uma
tarefa difícil nos dias atuais. O panorama
social contemporâneo apresenta múltiplas LT05-811 - GÊNERO E GERAÇÃO:
formas de conjugalidade e um crescente DESCONTINUIDADES NAS INFÂNCIAS
aumento de dissoluções conjugais, suce- EM FAMÍLIAS DE UMA COMUNIDADE
didas ou não de recasamentos, tornando- LITORÂNEA
-se cada vez mais importante o desenvol-
Angelina Nunes de Vasconcelos - UFPE
vimento de pesquisas que aprofundem a
vasconcelos.angelina@gmail.com
compreensão sobre as questões relacio-
Heliane de Almeida Lins Leitão - UFAL
nadas ao laço conjugal, pois atualmente o
helianeleitao@uol.com.br
casamento, não necessariamente envolve
Gabriel Fortes Cavalcanti de Macêdo - UFAL
um projeto de filiação e descendência.
fortes-gabriel@hotmail.com
Podem-se observar, da mesma forma,
múltiplas facetas do desejo de procriação, Financiamento: CNPq, FAPEAL
representadas seja pela busca de um filho
quando não existem possibilidades bioló- A família se apresenta como cenário privi-
gicas de concepção, seja por seu inverso, a legiado para a investigação dos processos
escolha voluntária por não ter filhos. Esse de constituição da subjetividade em sua
cenário de dissociação, aliado aos avanços indissociabilidade do contexto relacional
da medicina, permitiu, além de uma sexu- e sociocultural. O estudo de questões de
alidade sem procriação, seu reverso. Isso gênero no contexto familiar é de grande
ocorre graças à outra característica da con- importância, pois é na família que ocor-
jugalidade contemporânea, que diz respei- rem as primeiras experiências de relações
to à busca de satisfação dentro da relação de gênero e da transmissão intergera-
e a garantia do espaço para a individuali- cional de atribuições e papéis de gênero
dade, marcando bem a igualdade dos gê- na cultura. Além disto, é na família que
neros, e não mais o casamento como uma se estabelecem as relações afetivas pri-
condição natural. Pode-se observar, como márias, a partir das quais se constroem
efeito, uma explicitação da homossexuali- importantes processos de identificação
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artesanato para as mulheres. Estas experi- riência feminina, sendo esperado que as
ências promovem profundas modificações meninas estejam mais familiarizadas com
na vida familiar, causando estranhamento estas situações e apresentem um repertó-
nos adultos. As mães relatam que acompa- rio mais amplo de estratégias de soluções
nhavam suas mães nas atividades domés- aos dilemas fictícios apresentados. Expec-
ticas, assumindo-as como suas principais tativas diferenciadas de quais emoções
responsabilidades. Constatam, entretanto, são apropriadas para cada gênero podem,
que as meninas de hoje vivenciam roti- de fato, produzir diferentes níveis de acei-
nas diferentes daquelas vividas por elas, tação, enfrentamento e integração de de-
priorizando a experiência na escola e as terminadas experiências emocionais. Ob-
decorrentes expectativas com relação ao servamos que nestas famílias predominam
futuro. As falas das meninas corroboram papéis, funções e atitudes ligadas a um
esta realidade, revelando que a escola se modelo tradicional de organização fami-
constitui em importante ambiente de refe- liar, os quais são transmitidos através das
rência e pertencimento no seu cotidiano. conversas, das práticas disciplinares e da
Por outro lado, numa clara reprodução dos organização do ambiente doméstico e co-
estereótipos de gênero, observou-se que munitário. Como resultado, as crianças exi-
os meninos são mais “livres”, gozando de bem comportamentos consistentes com
maior permissão para explorar o espaço os estereótipos de gênero. Por outro lado,
da rua, enquanto as meninas sofrem res- constata-se a valorização da escolarização
trições, devendo permanecer no espaço das crianças que, gerando rupturas com a
da casa, geralmente cuidando das tarefas tradição, tende a igualar as experiências de
domésticas. Verifica-se aí a manutenção meninos e meninas quanto ao acesso a no-
da tradição e das desigualdades que carac- vos conhecimentos, experiências sociais e
terizam os espaços aos quais se vinculam expectativas para o futuro.
homens e mulheres adultos. Entretanto,
contrariando a expectativa de que mais Palavras-chave: família, gênero,
liberdade geraria maior autonomia dos intergeracionalidade
meninos, sugere-se sua maior dependên- Contato: Angelina Nunes de Vasconcelos,
cia emocional. Os homens, em suas res- UFPE, vasconcelos.angelina@gmail.com
postas às histórias semiprojetivas retratam
os filhos como menos autônomos do que
as filhas, recorrendo muito mais aos pais, LT05-820 - TEMPO DA CRIANÇA
principalmente à mãe, para a solução dos NO LITÍGIO PARENTAL NA JUSTIÇA:
problemas emocionais apresentados. Esta REFLEXÕES SISTÊMICAS
diferença se confirma nas respostas dos Marcia Regina Ribeiro dos Santos - TJDFT
próprios meninos às histórias em compa- marciarrsantos@gmail.com
ração com as das meninas. Uma possibi- Liana Fortunato Costa - UnB
lidade de compreensão dessa diferença lianaf@terra.com.br
estaria baseada numa concepção estere-
otipada destes pais de que sentimentos Trata-se do recorte de uma pesquisa qua-
de tristeza, medo, fracasso e culpa sejam litativa realizada em mestrado acadêmico
mais aceitáveis e “apropriados” à expe- cujos dados foram coletados em um Tribu-
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nal de Justiça. O estudo versou sobre as lúdico junto aos seus familiares durante o
significações do tempo entre as decisões período da entrevista. O espaço utilizado
em ações que envolvem litígio em Varas foi uma das salas do setor psicossocial que
de Família, na perspectiva dos vários par- estava equipada com os seguintes recur-
ticipantes envolvidos durante a execução sos: brinquedos, papéis, lápis coloridos,
do processo judicial: família, advogado, mesinha e cadeirinhas, dentre outros.
juiz de direito, promotor público e psicó- Depois que todos os componentes da fa-
logo – profissional do setor psicossocial da mília responderam às indagações formu-
Justiça. Tendo como objetivo discutir o sig- ladas, a pesquisadora se dirigiu à criança
nificado do tempo dado pela criança, foi e lhe fez perguntas que são apresentadas
selecionada uma dada família cujo proces- nos resultados. A primeira pergunta feita
so retornou para estudo psicossocial pela a criança foi se ela se lembrava a idade
segunda vez. O primeiro havia sido reali- que tinha quando o processo teve início.
zado há um ano. O processo era referente Ela respondeu que tinha seis ou sete anos.
à disputa de guarda da filha em comum, Foi perguntado como ela esperava que o
em que a mãe era a requerente e o pai, o processo terminasse e ela disse que não
requerido. Para a realização da pesquisa, sabia. E, tal como seus familiares, aguar-
obteve-se aprovação do Conselho de Ética dava a decisão judicial. A exemplo de sua
e todos os participantes tiveram acesso ao família materna, ela se queixou do tempo
Termo de Compromisso Livre e Esclareci- que passava com a mãe – fins de sema-
do-TCLE. Para identificar o significado do na quinzenais e quartas-feiras com per-
tempo para cada participante das decisões noite – considerando-o pouco. Por fim,
ao longo da tramitação processual, foram verbalizou o desejo de ficar mais tempo
realizadas entrevistas semiestruturadas com a mãe. Ela não fez referência ao pai
direcionadas a cada um dos membros par- nem aos familiares desse senhor durante
ticipantes da família envolvida. Além des- a realização da pesquisa. A despeito disso,
ses, realizou-se entrevista com o juiz que observou-se boa interação entre ela e o
encaminhou os autos para o setor psicos- núcleo familiar do pai. A análise e a dis-
social, com o promotor que se manifestou cussão tiveram como base as expressões
no decorrer do processo, com os advoga- da criança e o padrão interacional familiar
dos da requerente e do requerido e com o observado. Depreendeu-se que os pais e
psicólogo que efetuou o estudo no referi- os outros membros da família percebiam
do setor. Apesar de a criança participante o sofrimento da filha. Eles, no entanto,
(sexo feminino, nove anos de idade) estar não conseguiam evitar que a criança parti-
incluída durante a realização da entrevista cipasse dos desentendimentos existentes
com os componentes da família presentes e, para amenizar as tensões, delegavam
– pai, mãe, avó materna e companheira a ela o papel decisório. O litígio parental
do pai – não foi elaborada entrevista ex- envolveu delegacia de polícia e documen-
clusiva para ela. A criança tinha estabele- tos que buscavam comprovar a incompe-
cido vínculo de confiança com a psicóloga tência de um e de outro no exercício dos
e com a pesquisadora, demonstrando es- papéis materno e paterno. Lembranças
tar à vontade no ambiente oferecido para oriundas do convívio interrompido gera-
a realização da pesquisa. Ela teve espaço vam desconfianças e também contribuíam
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para dificultar a livre prática das funções as relações existentes foram fundamen-
parentais. A partir das intervenções reali- tais para a sugestão da psicóloga do setor
zadas pela psicóloga do setor psicossocial psicossocial para subsidiar o processo de-
que acompanhou o estudo, a família pas- cisório do julgador. Entendeu-se que para
sou a aguardar a decisão do juiz, evitando a criança, o tempo mensurável, isto é, a
sobrecarregar emocionalmente a criança. quantidade de tempo que lhe era dispo-
Do ponto de vista sistêmico, depreendeu- nibilizada a passar com a mãe era consi-
-se que os conflitos que permeavam as derada reduzida, preferindo aumentá-la.
relações afetavam a todos, em especial a O desejo da mãe e da avó em acolhê-la
criança, por ainda depender emocional e por mais tempo no ambiente doméstico,
financeiramente de adultos responsáveis. poderia ser traduzido pela criança como
Os resultados mostraram que o tempo de espaço de segurança, proteção e afeto.
tramitação processual, três anos, era o A noção de sociedade, evidenciada pela
tempo que a criança lembrava, ao se re- criança, foi representada em sua fala
ferir à idade que tinha quando este teve quando mencionou que o juiz decidiria
início. Observou-se que, do mesmo modo sobre sua guarda.
que faziam seus familiares, ela passou
a transferir para o juiz a decisão de sua Palavras-chave: tempo, criança, Justiça
residência principal. A criança, ao fazer Contato: Marcia Regina Ribeiro dos Santos,
referência ao juiz como participante im- TJDFT, marciarrsantos@gmail.com
portante naquele momento de sua vida,
evidenciou que tinha noção de sociedade
e que dela fazia parte. Ademais, por ser LT05-945 - O CRACK E A FAMÍLIA: UM
leal ao afeto materno, a criança verba- ESTUDO SOBRE A DINÂMICA FAMILIAR
lizou o desejo de residir com ela. Parece DO USUÁRIO VICIADO
que no entendimento da criança, o sofri- Heron Flores Nogueira - UCB
mento da mãe e da avó diminuiria a partir heronfn@uol.com.br
dessa nova organização familiar. A criança Maria Alexina Ribeiro - UCB
demonstrou ter noção de tempo ao fazer alexina@solar.com.br
menção de sua idade quando do início do
processo judicial e de medida temporal ao A droga sempre existiu e é normatizada de
dizer que era pouco o tempo que passava acordo com compreensão legal de cada
com a mãe. Ela demonstrou também no- país, tornando a lícita e/ou ilícita. Pesqui-
ção de espaço, ao indicar o local em que sando a temática droga verifica-se que ela
gostaria de permanecer por mais tempo. e o seu consumo são assuntos historica-
A expressão da criança foi fundamental mente antigos na discussão política, social
para subsidiar o relatório da psicóloga que e cultural, além disso, sabe-se que a moti-
realizou o estudo. A profissional concluiu vação para o uso de drogas sofreu modifi-
pela sugestão da casa materna como resi- cações no decorrer do tempo, pois antiga-
dência principal, modificando a sugestão mente, as drogas eram utilizadas em situ-
fornecida no primeiro estudo psicossocial ações e ocasiões específicas e com grupos
realizado, que era a casa paterna. Depre- determinados. Autores como Ribeiro e
endeu-se que as expressões da criança e Laranjeira (2010) dizem que a característi-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
ca comum das drogas com potencial para reira (2004), se propuseram a ampliar o
induzir adicção é o fato de terem a capa- olhar para a problemática das drogas no
cidade de alterar o comportamento ao ali- ambiente familiar buscando uma compre-
viarem sintomas desagradáveis como dor, ensão transgeracional dessa temática e
ansiedade, ou estresse ou, no pólo opos- automaticamente retirando o foco da re-
to, ao promoverem sensações de extremo lação linear descrita acima da tríade. Nes-
prazer e bem-estar. Com relação a estudos se sentido, objetivou-se com esta pesqui-
envolvendo o crack no Brasil não há dados sa compreender numa perspectiva trans-
precisos sobre quando e como essa droga geracional a dinâmica familiar de usuários
chegou ao país e tomando os dados epi- de crack. Os objetivos específicos deste
demiológicos feitos com a população em estudo foram: investigar como ocorriam
situação de rua, eles demonstram não as relações intrafamiliares entre membros
são apontados uso do crack até o ano de nos diferentes subsistemas; identificar
1989. O primeiro estudo sobre o consumo possíveis padrões de heranças transgera-
de crack no Brasil aconteceu em São Pau- cionais; descrever os principais aspectos
lo com um grupo de 25 usuários. O perfil da dinâmica e estrutura familiar como pa-
descrito pelos autores sobre esse grupo péis, fronteiras, limites, autoridade, afeti-
estudado: homens desempregados, com vidade; investigar o significado atribuído
menos de 30 anos de idade, baixa esco- pela família à droga; descrever a expecta-
laridade e poder aquisitivo, provenientes tiva dos membros sobre o futuro da vida
de famílias conflituosas. Os primeiros es- familiar. Participaram desta pesquisa três
tudos mostram que, de um grupo de 131 famílias, todas com um membro usuário
pacientes internados como dependentes de crack com pelo menos dois anos de uso
de crack, 18% morreram nos cinco anos da droga e em tratamento de internação
que sucederam a alta, sendo homicídio a numa clínica de reabilitação psicossocial
causa mais frequente. Tanto em São Paulo no Distrito Federal. Esta foi uma pesquisa
quanto em Belo Horizonte, onde foram fei- qualitativa na modalidade de Estudo de
tas pesquisas, o resultado apontou a mes- Caso e foi adotada como aporte teórico
ma relação intrínseca entre homicídios e a Teoria Sistêmica. Para coleta dos dados
crack, correlacionado ao tráfico de drogas. foram utilizados três instrumentos con-
De acordo com Penso et. al. (2004) nos úl- siderados por autores sistêmicos como
timos anos foram realizados estudos que fundamentais para a compreensão da di-
objetivavam compreender como as famí- nâmica familiar: entrevista semiestrutu-
lias de dependentes químicos se estrutu- rada do ciclo de vida familiar, construção
ram e como as relações se constituem. Es- do Genograma e colagem em família. O
tas autoras ressaltam que a compreensão contato inicial com os participantes se deu
era focada na tríade família - pai, mãe e o por meio de um convite verbal e pessoal
filho dependente de droga. O pai foi a figu- para a participação na pesquisa, obede-
ra vista como desatento e distante e a mãe cendo aos critérios de disponibilidade de
como super protetora e envolvida com a toda a família nuclear em participar da
vida do filho. No entanto, recentemente, pesquisa nas duas etapas. O contato ini-
estudiosos como Penso, Costa e Sudbrack cial possibilitou o agendamento dos dois
(2008), Trindade e Bucher (2008) e Fer- encontros que ocorreram separadamen-
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te e tiveram uma duração média de uma zar os sentimentos gerados pelos conflitos
hora e meia cada. No primeiro encontro familiares; “Uma vida sem drogas”, ape-
os participantes responderam ao ques- sar de diversos estudos apresentarem a
tionário semiestruturado e construíram o devastação que o crack representa para a
Genograma familiar. No segundo encon- saúde do usuário e as dificuldades apre-
tro foi realizada uma colagem familiar. Os sentadas pelo adicto de manter-se abs-
dados foram coletados no próprio local tinente, as famílias preservam otimismo
de internação, sendo cada encontro gra- quando o assunto é o futuro, acreditam
vado em áudio e seu conteúdo transcrito que a droga deixará de fazer parte de sua
na íntegra. Para compreensão das respos- realidade ao mesmo tempo em que dele-
tas adotamos o enfoque da Epistemologia gam essa responsabilidade apenas para o
Qualitativa, numa postura de produção de usuário.
conhecimento construtivo-interpretativo.
Foram construídas Zonas de Sentido que Palavras-chave: crack, família, dinâmica
são categorias representadas aqui por me- familiar
táforas relacionadas ao conteúdo obtido Contato: Heron Flores Nogueira, UCB,
durante a coleta das informações. Como heronfn@uol.com.br
principais resultados apresentamos aqui
algumas categorizações: “O uso do crack:
uma herança familiar”. Onde é discutida LT05-1030 - MEU TEMPO, SEU TEMPO:
a transmissão geracional do uso do crack, REFLEXÕES SOBRE O RELACIONAMENTO
existente no sistema familiar como uma ENTRE AVÓS E NETOS A PARTIR DO
possibilidade de herdar os “valores” fami- DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA
liares; “Relações violentas: o carinho da INTERGERACIONAL NO CONTEXTO
família é a chibata”, apontada pelos par- ESCOLAR
ticipantes a violência aparece como uma Jacqueline F. C. Marangoni - GDF
das maneiras dos subsistemas se relacio- jac.marangoni@gmail.com
nar, é também interpretada como uma Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira - UnB
forma de comunicação e de transmissão claudia@unb.br
de “afetos”; “O filho-pai”, os filhos usu-
ários acabam assumindo o papel de pai A importância da família no desenvolvi-
da própria família, invertendo papéis, ao mento humano é inegável. Esta consiste
mesmo tempo, sendo “esposo” da própria no primeiro espaço de convivência e cons-
mãe, onde há ausência do genitor e super trução de significados do ser humano,
proteção da genitora. Essa dinâmica difi- promovendo a transmissão de valores e
culta o processo de desenvolvimento do práticas socioculturais por meio dos rela-
sistema familiar; “Crack: uma maldição ou cionamentos entre as gerações. Ao longo
uma salvação?”, uma visão contraditória é da história as famílias mudaram e na con-
encontrada quando as famílias atribuem temporaneidade, não se pode falar em um
um significado para a droga. Para uns ela é modelo familiar único, devido à flagrante
vista como uma maldição que acaba com heterogeneidade das configurações fa-
a harmonia e com a saúde, para outros ela miliares encontradas no cenário social.
é considerada uma salvação para ameni- Novos modelos familiares se apresentam,
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ram reconhecer os avós como pessoas ati- às representações que uma geração atri-
vas no processo de desenvolvimento dos bui à outra, assim como influenciam os re-
netos e esteio emocional e financeiro da lacionamentos entre elas. Ficou evidente
família; 2) conflitos intergeracionais - Foi também que para entender as relações
possível perceber que o relacionamento intergeracionais é preciso atentar-se para
entre avós e netos se dá em um movimen- temas como a violência no contexto urba-
to dinâmico, marcado por atritos, con- no, a relação de codependência afetiva e
frontos e conflitos que tendem, em alguns financeira entre as gerações de no con-
momentos, a distanciá-los. Os netos apon- texto familiar, as dificuldades socioeconô-
taram as lacunas históricas que estabele- micas e educativas na relação avós-netos,
cem diferenças de gerações (“meu tempo, a negociação entre valores tradicionais e
seu tempo”) e a insistência dos avós em modernos, as representações sobre ve-
tratar de questões atuais a partir de valo- lhice e adolescência na perspectiva dos
res coerentes com a lógica sociomoral de envolvidos e aquelas presentes no imagi-
sua época como fatores que dificultam a nário social mais amplo. Por fim, o estudo
relação com os avós; 3) realidade sociocul- indica a necessidade de pesquisas sobre
tural contemporânea marcada pelo medo os relacionamentos intergeracionais, em
- O sentimento de medo foi sustentado especial, a relação avós-netos, no mundo
discursivamente por avós e também por contemporâneo e reitera a importância da
netos. O temor e a sensação de inseguran- escola como contexto para a realização de
ça atravessaram as narrativas coerente- programas de integração entre gerações.
mente com a cultura do medo que marca
a atualidade, de modo a alterar a vida dos Palavras-chave: relação avós-netos,
participantes, restringindo a convivência programas intergeracionais, escola
nos espaços sociais e tornando-se alvo Contato: Jacqueline Ferraz da Costa
recorrente das preocupações dos avós na Marangoni, GDF, jac.marangoni@gmail.com
educação de seus netos; 4) realidade so-
ciofamiliar dos avós marcada por dificul-
dades - A experiência em grupo suscitou CO 41 - LT07
uma série de recordações por parte dos
avós que remeteram às suas relações com Violência/Gênero
os seus próprios avós, na infância, assim
como trouxeram a experiência do começo
de suas vidas conjugais e do nascimento LT07-895 - VIOLÊNCIA E GÊNERO: O
de seus filhos e de seus netos. As narra- PODER DAS MULHERES NA REDE DO
tivas dos avós contextualizaram situações TRÁFICO DE DROGAS
e condições sociais, econômicas, históri- Dayane Martins José dos Santos - UFF
cas e culturais marcadas por dificuldades day_martinss@hotmail.com
e sofrimento que influenciam a relação Financiamento: FAPERJ
que estabelecem com seus netos. A aná-
lise das narrativas de avós e netos permite O presente trabalho tem por objetivo dis-
pensar que os valores da sociedade atual cutir as relações de poder estabelecidas
se mostram, intimamente, relacionados pelas internas em um presídio feminino.
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A pesquisa é realizada com mulheres que do Rio de Janeiro. Essa instituição abrange
cumprem penas por envolvimento com o a maioria maciça de mulheres sentencia-
tráfico de drogas em um presídio na re- das pelo envolvimento com a atividade do
gião norte fluminense, no Rio de Janeiro. tráfico de drogas. Outros dados analisados
Na pesquisa, a literatura foucaultiana é to- na pesquisa foram coletados no Presídio
mada a fim de conceituar o poder nos dias Nelson Hungria, localizado no município
atuais e diferenciá-lo da concepção de po- do Rio de Janeiro. Esses dados fazem par-
der tanto do Estado absolutista quanto da te do grupo de pesquisa “Violência e Gê-
teoria marxista. Foucault (1979) vai dizer nero”, que iniciou suas atividades no ano
que o poder é disperso e é encontrado em de 2007. Os dados a serem analisados são
todas as relações e campos sociais. Tais re- as entrevistas abertas em profundidade
lações de poder assumem formas distintas realizadas com as internas do presídio ci-
nos contextos intra e extramuros em um tado acima. Todas as mulheres entrevista-
presídio. No encarceramento, por exem- das foram condenadas por tráfico de dro-
plo, o poder pode ser refletido no com- gas. A metodologia utilizada para analisar
portamento de algumas mulheres que se os dados é a Análise do Discurso Crítica
“transformam” em homens e assumem o (FAIRCLOUGH, 1992), que prima pela cen-
papel tradicional masculino numa relação tralidade das relações do poder evidencia-
homossexual. O poder é visto aqui como das pelos relatos das participantes. A aná-
atrelado ao gênero. Fora do encarcera- lise do discurso possibilita analisar as falas
mento, a menção ao poder é recorrente que atravessam a constituição subjetiva
quando analisamos as motivações expres- de tais mulheres, emergindo assim sua
sas por essas mulheres para o ingresso no contradição, submissão e os discursos que
tráfico de drogas. Tais mulheres almejam são produzidos pela própria instituição.
a obtenção de dinheiro a fim de satisfazer De início, podemos desmistificar a ideia
seus desejos de consumo de bens mate- de que tais mulheres se inserem nas ativi-
riais, fomentados pela mídia e pela própria dades do tráfico exclusivamente como um
sociedade, além de almejarem o poder de meio de sustentabilidade. A atualidade se
ser bandida, que é um poder reconheci- caracteriza pela produção de necessida-
do socialmente como um poder masculi- des que não se referem à sobrevivência
no. Nosso objetivo no presente trabalho biológica do corpo, mas, principalmente,
é discutir as relações de poder estabele- à sobrevivência num contexto social em
cidas pelas internas em contextos intra e que o consumo é altamente valorizado
extramuros de um presídio. Em um pri- e possibilita a inserção em espaços mais
meiro momento, abordaremos o contexto privilegiados. A ditadura de mercado é in-
extramuros prisional, analisando como as centivada cotidianamente, seja pelo meio
relações de poder influenciam na inserção midiático, seja pela própria sociedade,
dessas mulheres no tráfico de drogas. Pos- modificando e produzindo necessidades
teriormente, iremos problematizar a mes- pessoais. Os dados coletados nos mos-
ma questão em contexto prisional. O tra- traram que a maioria das mulheres entre-
balho de campo está sendo conduzido no vistadas inicia as atividades ilícitas com o
Presídio Feminino Carlos Tinoco da Fonse- propósito de obter dinheiro para gastar
ca, na região norte fluminense do estado com roupas, acessórios, carros, etc. Tendo
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não atribuiu devida importância às lutas foram convidadas a contar suas histórias
das mulheres contra aos valores andro- de vida. O interesse maior foi em relação
cêntricos que historicamente pautavam às formas pelas quais elas (re) criavam
as relações humanas. Acreditamos que é suas histórias, considerando os lugares
estratégia estatal a segregação dos gru- que ocupavam nos seus grupos sociais
pos sociais, para despolitizá-los. Um olhar (intramuros e extramuros) e o lugar que
atencioso para as questões de gênero se esse grupo ocupava na sociedade global.
faz urgente para intervir nas práticas e As participantes foram avisadas do cará-
discursos que colocam as mulheres como ter voluntário de sua participação e pude-
“minorias sociais” ou minorias políticas. ram interromper a gravação ou mesmo a
Em relação à prisão, o que se tem visto é a entrevista em qualquer momento. Os da-
reclusão de certos grupos sociais despro- dos foram analisados a partir da Análise
vidos de riqueza econômica e que se per- Institucional do Discurso (Guirado, 2010).
cebem com pouca visibilidade e poder so- Considerando as participantes como “su-
cial (Ciarallo, 2009). O lugar ocupado pela jeitos institucionais” (Galvão e Serrano,
mulher criminosa é traçado nesse contex- 2007), buscamos compreender os lugares
to de estigmas socialmente construídos, que as mulheres ocupavam a partir de
associados à classe e, principalmente, ao regras socialmente construídas e o papel
gênero. As representações sociais acerca que as práticas institucionais possuíam na
do feminino constituem certos modos de construção da subjetividade. O sujeito é
se envolver afetivamente com o outro e objetivado por práticas institucionais, pois
com o trabalho. Essas representações são é regulado e normatizado a partir dos mo-
fortemente impulsionadas pelas práti- dos de funcionamento das instituições. O
cas prisionais, que acabam constituindo processo de subjetivação se refere à for-
formas de se existir pautadas no que se ma pela qual o sujeito apropria tais expe-
espera de uma mulher na sociedade em riências (Foucault, 2009). As entrevistas
geral. Este trabalho objetiva conhecer mostram que os lugares ocupados pelas
os lugares ocupados pelo feminino na mulheres criminosas são construídos a
prisão e fora da prisão no que se refere partir do conflito de conciliar os relacio-
aos contextos de trabalho e família, dian- namentos amorosos, familiares e o traba-
te da fusão de valores que caracterizam lho. Fora dos muros prisionais, os lugares
a contemporaneidade. Entendemos que ocupados não se restringem ao espaço
as relações nesses contextos são perme- privado do lar, mas são lugares marcados
adas por relações de poder e de tensão. A por estigmas sociais de gênero. Na prisão,
busca das mulheres por visibilidade e po- elas ocupam o lugar máximo de privação,
der é constante, sendo o protagonismo, a abandono, exclusão e humilhação social.
intencionalidade das ações das mulheres Sobre as perspectivas para a vida pós-
e a centralidade de gênero, norteadores -encarceramento, algumas mulheres não
de suas relações sociais (Barcinski, 2009). vêem possibilidade de construir seu lu-
No presente estudo foram entrevista- gar no mundo fora da ilegalidade. Outras
das cinco mulheres encarceradas em um cogitam a possibilidade de “sair da vida
presídio do Rio de Janeiro. As entrevistas do crime”, mesmo que isto signifique o
foram qualitativas, em que as mulheres exercício de menos poder social. Dentro
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dade destes atores (ARIÉS, 1981). O obje- caberia àquela sustentá-la na união. Era
to deste trabalho é apresentar um estudo tratada como inferior e incapaz de prover
de caso sobre violência entre um casal suas próprias necessidades. Você é burra,
homoafetivo do sexo feminino. O fato das pobre, incompetente e incapaz de apren-
uniões estáveis entre pessoas do mesmo der qualquer coisa [...] ela tem 3 carros,
sexo ainda não serem plenamente reco- eu tinha que andar de ônibus porque ela
nhecidas, ainda que já legalizadas, pode não me deixava pegar nenhum. Era eu
fazer com que casais vivam à margem que dirigia sempre, mas só podia dirigir se
da sociedade e com que o preconceito e fosse pra sair com ela do lado (sic). A des-
a falta de informações de parcela da so- peito do cenário de violência, V não ten-
ciedade incitem estes membros a perma- tou estudar ou trabalhar por acreditar-se
necerem escondidos como casais, muitas incapaz para qualquer atividade exceto as
vezes, obturando violências. O caso em obrigações de casa. Os atos de violência a
foco é o de Vitória (V), residente de uma que era exposta apareceram como inibi-
capital brasileira, sexo feminino, 38 anos dores da construção de seu autoconceito
de idade, divorciada, desempregada, sem e tornar-se sujeito em desenvolvimento
filhos. Caçula de três irmãs, aos 18 anos constituía um desafio quase impossível
perdeu o pai e até seus 23 anos não pode e desnecessário, desvelando o quanto
casar-se, pois cuidava da mãe. Seis meses M subtraia qualidades e capacidades de
depois do falecimento da genitora, após V, mantendo uma relação de domina-
7 anos de namoro, casou-se com José (J), ção, de provedora e detentora da razão.
negro, 5 anos mais velho que ela, com O relacionamento ruiu. Com o término
quem viveu junto por 9 anos. Segundo da relação, V procurou ajuda psicológica.
seu relato, nunca precisou (não lhe foi Encontrava-se em estado de sofrimento
permitido) trabalhar, pois J era muito ciu- profundo, queixando-se de depressão,
mento e não me deixava sair de casa para falta de vontade de viver e sensação de
trabalhar ou estudar (sic). Ainda casada, culpa, além da preocupação do que os ou-
conheceu Maria (M), 63 anos, funcionária tros vão pensar de mim por ter terminado
pública aposentada, de alto poder aquisi- com ela (sic). Por ser constituída através
tivo, integrante de um círculo de amigas das relações sociais, a subjetividade é en-
homossexuais, todas com elevado poder tendida como uma realidade do ser hu-
sócio-econômico. M incitou V a separar- mano; como um sistema de significações
-se de J e, apesar da diferença de idade, e sentidos constituídos nas relações que
mantiveram um relacionamento estável o indivíduo estabelece em seus mais va-
durante 6 anos, morando na casa de M. riados estágios de desenvolvimento (REY,
V relatou que, durante o relacionamen- 1999). Qualquer forma de violência pode
to, M a tratava com desdém, utilizado modificar, interferir, inibir, prejudicar ou
expressões ofensivas e menosprezando até evitar o processo de desenvolvimen-
todo esforço de desenvolvimento pesso- to da subjetividade, que está inserida
al e/ou profissional: você é um resto de em um contexto histórico sócio-cultural
preto, não sabe fazer nada direito (sic). único; o sujeito se torna um ente datado,
À semelhança de J, M afirmava que V histórico. V busca a psicoterapia e inicia a
não precisava trabalhar ou estudar, pois ressignificação de ser e estar no mundo.
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no deste poder. O objetivo deste trabalho, violentos (Walker, 2003). Sob esta mesma
portanto, é compreender como mulheres perspectiva, Goetting (1988) sugere que a
traficantes definem a sua participação na falta de atenção em relação aos crimes fe-
rede do tráfico de drogas e de que forma mininos se deve, em grande parte, ao fato
a descrição desta participação – desde a de as expectativas sociais sobre os papéis
motivação para a entrada até os papéis de- desempenhados pelas mulheres legitima-
sempenhados na atividade – está permea- rem a posição das mesmas como vítimas,
da pela tentativa de saída da invisibilidade mas nunca como perpetradoras de vio-
que marca determinado grupo socialmen- lência. Além das características associadas
te marginalizado, especialmente as mu- ao feminino servirem teoricamente como
lheres que o compõem. O engajamento elementos protetivos à prática criminosa,
de mulheres em atividades criminosas, a socialização feminina, com sua ênfase no
notadamente no tráfico de drogas, é des- espaço privado como domínio privilegiado
crito de maneira geral na literatura como de atuação das mulheres, seria a origem
subordinado à participação dos homens da participação subalterna das mulheres
nessas mesmas atividades. Sem ignorar o em atividades ilícitas e da característica
fato de que parecem, de fato, ser os ho- não violenta dos crimes femininos. A invi-
mens os maiores motivadores para a en- sibilidade das mulheres nas teorias acerca
trada das mulheres na rede do tráfico de da criminalidade seria, então, justificada
drogas (Zaluar, 1993), a ênfase quase que pelo caráter atípico dos crimes por elas
exclusiva na criminalidade feminina como cometidos. Através da análise discursiva
decorrente de suas relações afetivas retira sistêmica (Falmagne, 2004) de entrevistas
o protagonismo e reforça a invisibilidade com duas mulheres com uma história pas-
feminina na prática de crimes violentos e sada de envolvimento no tráfico de drogas,
atividades ilícitas. Ao ignorar as especifici- o presente trabalho discute a forma como
dades dos crimes cometidos por mulheres, o envolvimento das participantes na ativi-
a própria literatura atesta ou reforça a in- dade representou uma estratégia de saída
visibilidade feminina no que se refere aos da invisibilidade que marca a existência
fenômenos sociais da violência e da trans- de mulheres nas favelas. Através do de-
gressão. A partir de uma perspectiva de sempenho de tarefas reconhecidamente
gênero podemos compreender que, para masculinas, como carregar armas, entrar
além da reduzida relevância social atribu- em confrontos armados com a polícia e
ída à criminalidade feminina, a ausência com facções criminosas rivais e gerenciar
de estudos sobre mulheres envolvidas em pontos de venda de drogas em suas co-
atividades criminosas se deve também ao munidades, tais mulheres marcaram uma
fato de a violência, da agressividade e da distância significativa em relação a outras
transgressão não estarem previstas nos mulheres ao seu redor. Tal diferenciação,
discursos acerca do feminino. As explica- e especialmente o reconhecimento social
ções tradicionais para a diferença entre do caráter atípico de suas atividades como
as taxas de criminalidade feminina e mas- traficantes, representou na história de vida
culina baseiam-se na imagem da mulher dessas duas mulheres a saída (mesmo que
como naturalmente dócil, passiva e menos temporária) da invisibilidade feminina na
suscetível à prática de comportamentos favela. Os dados analisados no presente
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PRONEX, quais sejam: a relevância de pro- ao longo dos módulos de trabalho. Este
postas de capacitações como essa, espe- trabalho busca descrever dados iniciais,
cialmente, para trabalhadores do interior referentes a uma proposta de intervenção
do estado, para quem o acesso a cursos e junto a uma amostra de 30 profissionais da
capacitações é mais limitado; a relevância rede de proteção às crianças e adolescen-
das estratégias de avaliação do impacto tes vítimas de violência da Região Noroes-
e do processo da tecnologia proposta; e, te do RS. Especificamente, busca-se com
por fim, o importante papel multiplicador esse trabalho: descrever a capacitação
que estratégias desse tipo podem ter, ao realizada nessa primeira etapa do PRONEX
criarem um espaço nos quais os profis- e apresentar dados qualitativos acerca do
sionais da rede local podem se encontrar, processo de avaliação da mesma. A inter-
discutir temas relevantes ao seu cotidiano venção foi planejada a partir de três mó-
e identificar estratégias que venham a for- dulos, os quais contemplam os temas dos
talecer a rede. direitos de crianças e adolescentes, mulhe-
res e minorias étnicas e sociais (6 horas);
maus-tratos contra crianças, consequên-
DESCREVENDO A CAPACITAÇÃO PARA cias da violência, fatores de risco e de pro-
PROFISSIONAIS DA REDE DE PROTEÇÃO teção, resiliência, comportamento infrator
À INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NO e uso de drogas na adolescência (16 ho-
INTERIOR DO RS ras); bem como mediação de conflitos (4
Jeane Lessinger Borges - SETREM horas). Além disso, um turno de trabalho
jeanepsico@yahoo.com.br (4 horas) foi dedicado à montagem de um
Normanda Araujo de Morais - UFRGS projeto de intervenção pelos participan-
normandaaraujo@gmail.com tes, a partir das demandas percebidas no
seu cotidiano. A intervenção totalizou 30
Trata-se de um recorte de um projeto de horas, e buscou-se avaliar a efetividade
pesquisa multicêntrica, sobre a efetividade desta através de um levantamento pré e
de uma tecnologia social junto a 1.200 pro- pós-teste. Além disso, foram adotados di-
fissionais da rede de proteção no estado ários de campo para o registro de dados
do Rio Grande do Sul (RS), realizado atra- qualitativos, os quais foram elaborados
vés do Programa de Apoio a Núcleos de Ex- pela equipe de psicólogas palestrantes e
celência (PRONEX). O objetivo da pesquisa bolsistas de iniciação científica. Os partici-
mais ampla é o de capacitar profissionais pantes são, predominantemente, do sexo
das áreas da saúde, da educação e da rede feminino (93,3%), sendo que 40% têm en-
de proteção de crianças e adolescentes sino superior completo e 46,7% têm pós-
para a identificação de indicadores de vio- -graduação. A idade média da amostra era
lência, futuros encaminhamentos e acesso de 38 anos (DP=10,93). Os participantes
à rede de atendimento, bem como avaliar desta amostra incluem profissionais da
o impacto e o processo da capacitação. Psicologia (30%), do Serviço Social (23,3%),
Visa-se que, ao final da intervenção, os da Enfermagem (26,7%) e da Educação
participantes possam instrumentalizar-se (15,3%), representantes de cinco muni-
e serem multiplicadores dos conhecimen- cípios da referida região. A renda mensal
tos adquiridos e da vivência desenvolvida variava de R$ 600,00 a 5.000,00 (M = R$
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mais cansado (M = 2,21; DP = 0,98) e sen- ta por Ana Luiza Bustamante Smolka, uma
tir-se mais frustrado (M = 2,28; DP = 1,03). das pesquisadoras vygotskianas do Brasil
Análises de correlação dos itens dessa de maior proeminência, com destaque
escala com variáveis sociodemográficas nos cenários nacional e internacional; pelo
mostraram apenas uma correlação po- professor Bernd Fichtner, da Universidade
sitiva, a saber: o tempo de trabalho com de Siegen na Alemanha, que repensa a
direitos da criança esteve correlacionado teoria de Vygotsky no contexto da produ-
com o item “sentir-se mais otimista quan- ção das ciências humanas; pela professora
to ao sucesso do trabalho” (r = 0,48; p < Marta Sforni, pesquisadora ativa na área,
0,05). Em síntese, os resultados sugerem com enfoque na Teoria da Atividade; e,
a importância da experiência profissional por fim, Zoia Prestes, tradutora das obras
na prática cotidiana dos participantes. de Vygotsky que levanta questionamentos
Inclusive, eles ressaltam a busca pelo co- atuais acerca da interpretação da teoria
nhecimento na área como um passo que vygotskiana no Brasil.
deram desde que começaram a trabalhar
com a temática de direitos da criança e do
adolescente. Há, ainda, por parte dos par- VYGOTSKY NA CONTEMPORANEIDADE:
ticipantes, uma visão positiva da sua práti- CONTRIBUIÇÕES, INSPIRAÇÕES E
ca, a qual é relacionada a sentimentos de PROVOCAÇÕES
felicidade e realização. Ambos os aspectos Ana Luiza Bustamante Smolka - UNICAMP
(busca de conhecimento técnico, senti-
mento de felicidade e realização) ficaram L. S. Vygotsky nos deixou uma obra ex-
visíveis nos depoimentos e na forma como tensa, densa e inacabada, repleta de in-
se mostraram engajados na capacitação. tuições fecundas. Ao mesmo tempo em
que nos inspira e nos fornece as bases
Palavras-chave: profissionais, rede de de uma consistente sustentação teórico-
proteção, infância e adolescência -metodológica, a obra se abre a múltiplas
Contato: Normanda Araujo de Morais, UFRGS, interpretações. Vygotsky privilegiou em
normandaaraujo@gmail.com seus estudos o desenvolvimento cultural
da criança, chamando a atenção para a
história do desenvolvimento cultural do
MR LT02 - Mesa Redonda ser humano. Apontando insistentemente
Convidada para a importância de se considerar a his-
tória – das funções mentais superiores, da
atividade humana, do desenvolvimento
MR LT02-1503 - VIGOTSKI NA do gesto de apontar, dos signos, da lingua-
ATUALIDADE, UMA DISCUSSÃO gem, da consciência -, ele argumentava
TEÓRICO-METODOLÓGICA sobre a constituição social da personalida-
de individual forjada numa história de re-
A mesa redonda tem por objetivo reunir lações sociais. Vygotsky dizia que a histó-
especialistas em Vygotsky que trazem uma ria do desenvolvimento cultural nos leva,
perspectiva atual na leitura dos textos e de cheio, aos problemas da educação.
na prática de pesquisa. A mesa é compos- Suas preocupações se orientavam, assim,
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ímos sempre conhecimento novo sobre o ”Nenhum vôo é permitido, exceto aquele
nosso presente quer dizer a nossa com- que obedece às regras do que é requerido
preensão da psicologia de desenvolvimen- para a construção de novos enunciados”.
to torna-se quase mais transparente nas Uma polícia discursiva (ou, uma polícia
suas estruturas, seus contornos, suas das ciências disciplinares) está pronta
fronteiras e, sobretudo nos seus aspectos para voltar ao já firmado, ao já previsto,
problemáticos. As ciências humanas se es- ao já estatuído, ainda que estivesse lá por
forçam – com maior ou menor êxito – para ser dito. E há que fazer isso com rigor.” Sa-
conseguir aproximações cada vez mais bemos realmente o que é o desenvolvi-
precisas à realidade pesquisada. Com essa mento de uma criança, de um adolescente
lógica as ciências humanas acreditam que – ou mais geral o que é uma criança, o que
essa realidade na sua essência já é enten- é um adolescente? Nas Arte e Filosofia en-
dida e compreendida. Assim a psicologia contramos que o conhecimento não tem
de desenvolvimento pode-se afirmar o nem uma acumulação linear nem uma
que é desenvolvimento psíquico. A psico- hierarquização desse conhecimento. Alei-
logia de desenvolvimento define também jadinho não é mais avançado do que Ve-
o que é uma criança ou o que é um adoles- lásquez e Cézanne não é mais avançado
cente. As crianças são pesquisadas há do que Aleijadinho. Espinosa não é mais
mais de cem anos. Encontramos uma acu- avançado do que Descartes. Nem Hegel
mulação impressionante de conhecimen- que Descartes. A filosofia e a arte estão
to cientifico. Nessa lógica com certeza sa- indicando que esta ideia de uma “aproxi-
bemos hoje mais sobre crianças do que se mação a realidade” é uma ilusão. Mas, o
sabia na época de Vygotsky. Porém, en- que arte e filosofia realmente têm em co-
contramos aspectos sobre este tema que mum? Na lógica de uma obra de arte ou
ainda não são plenamente compreendi- de um conceito fundamental de filosofia
dos. Como exemplo podemos questionar se encontra “a Perspectiva do Novo/o
o pouco que realmente se sabe sobre os Ponto de Vista do Novo”. Isso significa ver
adolescentes e suas ligações com as novas e olhar um fenômeno, uma realidade
tecnologias de informação e comunica- como se os olhássemos pela primeira vez.
ção, a mudança atual de valores morais e No olhar da filosofia e no olhar da arte, a
éticos destes adolescentes, etc. Na pers- realidade nunca é já totalmente compre-
pectiva linear da lógica da pesquisa cienti- endida. Ao contrário, ela é indeterminada,
fica como aproximação cada vez mais pre- aberta. Nesse sentido uma obra de arte e
cisa à realidade todos os problemas apa- um conceito fundamental de filosofia são
recem resolvíveis. Uma conseqüência dis- sempre pressupostos e tematizam uma
so: a importância dos métodos e da meto- relação formal com a realidade. A relação
dologia (metodologia: a avaliação e a com essa realidade ou com esse fenôme-
análise do sistema dos métodos a respeito no é precisamente e absolutamente de-
da sua “objetividade”, de sua “reliabilida- terminada pela forma enquanto, que a
de” e sua “validade”). Wanderley Geraldi realidade, o fenômeno fica aberto e inde-
(2005) critica esta direção e orientação, terminado. O formal, a representação
mais ou menos técnica, para os métodos e possibilita aqui a escolha de uma perspec-
para a metodologia com estas palavras: tiva: conceitos teóricos e obras de arte
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como modelos de um diálogo com a reali- acaba por introduzir e apontar caminhos
dade mediando uma relação. “A Perspecti- para todas as ciências humanas. Gostaria
va do Novo/o Ponto de Vista do Novo” de mostrar como nas obras de Vygotsky a
exige aceitar o metafórico no processo de lógica geral de arte e de filosofia atua con-
olhar e de ver, o que significa ver algo cretamente nas disciplinas humanas, so-
como algo (isso é isto). A metáfora não re- bretudo na psicologia do desenvolvimen-
flete semelhanças; não apresenta algo to. No centro da metodologia vigotskiana
que seja comum entre objetos, como fe- encontra-se o “Método Histórico” ou tam-
nômenos e processos; algo que está já bém o assim chamado “Método Genéti-
pronto, disponível e preestabelecido. A co” ou “Método Histórico” pelo qual
metáfora cria e constrói fundamentalmen- Vygotsky tematiza o seu pressuposto fun-
te relações. Metáforas são como crianças: damental: entender cada fenômeno vivo
impressionam o seu ambiente de uma exige entendê-lo no seu início e também
maneira específica. Elas portam o novo, o no processo do seu desenvolvimento. A
não previsto. Representam enfoques de este método está incorporado o famoso
relevâncias junto com uma orientação lema de Hegel: "O inteiro é sempre o resul-
para o futuro. Como uma criança é uma tado compreendido junto com o processo
promessa de vida, vida que não é preesta- de seu desenvolvimento". Este lema foi as-
belecida em seus passos. Metáforas não sumido por Vygotsky como um principio
têm só uma função constitutiva na forma- universal metodológico. Este problema
ção cítrica de nossa experiência, mas tam- principal do desenvolvimento foi analisa-
bém para as mudanças, transformações e do e pesquisado através de três perspecti-
reestruturações delas. As fronteiras e limi- vas metodológicas: (1) A abordagem de
tes de uma área preestabelecida de expe- Vygotsky apresenta uma perspectiva mo-
riências podem ser destruídos, quebrados nística, quer dizer, toda separação entre
e alargados. Uma relação estandardizada indivíduo e sociedade, corpo e mente, en-
e automatizada pode ser assim rompida. tre cognição e emoção, entre físico e espí-
Muitas obras de Vygotsky se caracterizam rito, entre ações exteriores e ações inte-
pela confrontação e ruptura com o esta- riores foram rigorosamente negadas. (2) A
belecido, com o sistema estereotipado, abordagem de Vygotsky apresenta uma
fechado e fixado. O seu trânsito por e o perspectiva holística, que se opõe a qual-
interesse pela Arte e Filosofia lhe propor- quer reducionismo, ou seja, processos
cionaram condições de ter uma visão mais complexos não se podem reduzir a pro-
ampla das questões psicológicas, incorpo- cessos elementares. Por exemplo, um pro-
rando contribuições dessas outras áreas cesso psíquico não se pode explicar redu-
de conhecimento. Encontra-se na aborda- zindo-o a processos físicos ou químicos.
gem de Vygotsky uma enorme riqueza e Segundo Vygotsky se deve encontrar ou
diversidade de temas, passando pela neu- construir unidades de análise que permi-
ropsicologia, pela linguagem, pela educa- tam considerar os processos complexos.
ção, nomeadamente quando enfrenta (3) A abordagem histórico-cultural apre-
problemas de deficiências, pelas questões senta uma perspectiva interdisciplinar ou
semióticas do cinema, aliando questões multidisciplinar. A base desta perspectiva
teóricas e metodológicas, de modo que são sempre problemas sociais ou proble-
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uma média de 400 páginas. Além de proi- Mais recentemente, em 2001, no Brasil,
bidas na URSS por quase 20 anos, as obras foi publicada pela mesma Martins Fontes
de L.S. Vygotsky nem sempre tiveram um a versão completa de Michlenie e retch,
destino digno. Ao analisarmos detalha- sob o título A construção do pensamento
damente o percurso de algumas de suas e da linguagem, traduzida diretamente do
publicações, pode-se afirmar, sem medo, russo por Paulo Bezerra. Na ficha técnica
que foram muitas as adulterações, os cor- do livro não está indicada a edição russa
tes, as censuras que sofreram ao longo da da qual foi traduzida para o português,
história, tanto em sua pátria como fora mas, ao comparar com a edição russa in-
dela. Desde a publicação de seus primei- tegral de 2001, pode-se afirmar que é o
ros livros nos Estados Unidos e de tradu- texto completo, pois contém todos os tre-
ções para o português a partir das versões chos suprimidos na edição soviética reta-
norte-americanas, já se passaram mais de lhada de 1956 (González, 2007, p. CXXXI).
30 anos. Sem dúvida, essas primeiras ini- Mas parece que não foi somente a obra
ciativas de trazer para o Brasil os estudos de Vygotsky que sofreu adulteração. Sua
de um dos mais importantes pensadores vida também é cercada de mistérios e fa-
soviéticos do século XX merecem reco- tos pouco esclarecidos. As divergências
nhecimento. No entanto, atualmente, a entre as interpretações de fatos importan-
própria Rússia reconhece que muitos tex- tes de sua vida permanecem ainda como
tos do autor, para que fossem publicados um campo bastante nebuloso na história
ainda no fim dos anos 50, foram cortados da psicologia soviética. Se forem feitas
e alterados pelos editores (Zaverchneva, comparações entre textos biográficos pu-
2009, 2010). É desconcertante descobrir, blicados na União Soviética (por exemplo,
por exemplo, que o livro Michlenie i retch Levitin, 1990), na Argentina (por exemplo,
(traduzido como Pensamento e lingua- Blanck, 1984) e nos Estados Unidos (por
gem) teve alguns parágrafos cortados e exemplo, Kozulin, 1990) é possível detec-
que, somente em 1996 (González, 2007, tar discrepâncias acerca de fatos impor-
p. CXXXIV), foi publicada a primeira edição tantes da vida e obra do autor. Assim, o
do texto original que se encontra microfil- estudioso de Vygotsky vê-se diante de in-
mado na biblioteca da Universidade Esta- formações, por vezes, até contraditórias e
tal de Moscou. Mais perturbador ainda é a melhor alternativa na busca de um qua-
o fato de que, no Brasil, uma mesma edi- dro mais coerente da vida e obra do autor
tora publica duas versões (Vygotsky, 1987 é a realização de exames comparativos
e 2001) dessa obra de Vygotsky como se das diferentes biografias disponíveis. Atu-
fossem livros diferentes. Na verdade, até almente, além das biografias citadas, há a
são, já que uma delas, a edição resumida, escrita por sua filha, em colaboração com
não pertence de fato à pena do pensador, T. M. Lifanova e encontra-se publicada em
mas sim aos seus editores que a adultera- russo e em inglês (1996, 1999 a, b, c), esta
ram, atribuindo a autoria a Vygotsky. Essa última não totalmente na íntegra (faltam
edição apareceu em 1987 pela editora fotos e fac-símiles de alguns documentos).
Martins Fontes traduzida do inglês por Je- A outra biografia é de autoria de Iaroche-
fferson Luiz Camargo, a partir da edição do vski (2007) e foi publicada somente em
Instituto Tecnológico de Massachusetts. russo. Além disso, em 2011, foi publicada
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vêm sendo alcançados o que justifica a sua dos recursos significativos para enfrentar
continuidade e propõe uma agenda de as vulnerabilidades originadas nessa fase
pesquisa para adaptação de procedimen- de transição. Sugere-se que esse modelo
tos, novas formas de avaliação e aprimora- breve de intervenção seja investigado em
mento desse modelo preventivo. Esse es- um número maior de sujeitos e em outros
tudo teve como objetivo testar e aprimorar ambientes organizacionais.
os procedimentos e estratégias de uma in-
tervenção breve no planejamento da apo- Palavras-chave: envelhecimento bem
sentadoria. Utilizou-se para esse fim uma sucedido, programa de preparação para
oficina breve com técnicas psicoeducativas aposentadoria, intervenção preventiva breve.
pré-estabelecidas. Participaram da pesqui-
sa 09 trabalhadores, com a idade entre 22
e 63 anos, sendo 03 homens e 06 mulhe- MR LT01 - Mesa Redonda
res. Para coleta dos dados foram utilizados
os seguintes instrumentos: Questionário Convidada
Sociodemográfico para trabalhadores em
situação de pré-aposentadoria e a Escala
de Estágio de Mudança em Comportamen- MR LT01-717 - “AS MELHORES COISAS
to de Saúde. A intervenção ocorreu em DO MUNDO” COMO ESTÍMULO
sessão única, em grupo, com aproximada- EVOCATIVO AOS DESAFIOS DA
mente 180 minutos de duração. Consistiu JUVENTUDE NA UNIVERSIDADE
na utilização de estratégias psicoeduca- Francisco Silva Cavalcante Junior - UFC
tivas e teve como base o modelo “FRA- fscavalcantejunior@gmail.com
MES” (Feedback, Responsability, Advice,
Menu de Option, Empathy, Self-eficacy). Utilizando-nos do filme “As melhores coi-
Para tratamento dos dados, utilizou-se a sas do mundo” (BODANSKY, 2010) como
técnica de análise conteúdo de Bardin. O estímulo evocativo, os trabalhos propos-
tratamento dos dados permitiu identificar tos por esta Mesa Redonda apresenta um
que os preditores de uma aposentado- conjunto de autores que se debruçam so-
ria promissora envolvem sentimentos de bre suas experiências docentes em cursos
persistência, iniciativa, suporte familiar, de graduação para refletir sobre os desa-
busca de uma nova carreira e continuar os fios da juventude com a qual convivem em
estudos. Como fatores de risco destacam- suas aulas. Uma análise das condições de
-se as doenças, solidão, diminuição nas valia introjetadas por jovens universitários
relações sociais, pouco dinheiro, condi- que os impedem de seguirem um cami-
ções de trabalho inapropriadas, ausência nho de desenvolvimento autônomo de
de políticas públicas para esse segmento suas trajetórias de vida é o primeiro tema
populacional e falta de apoio da família e abordado. Inovações metodológicas apli-
amigos. A segunda categoria investiga o cadas na disciplina de Psicologia da ado-
que a intervenção breve possibilitou aos lescência, vida adulta e velhice permitem
participantes descobrir, pensar e sentir que professora e estudantes estudem, de
sobre a transição para a aposentadoria. forma autobiográfica, as condições valora-
A terceira categoria abrange a descrição tivas que os impedem de navegarem em
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
fluxo vital pleno pelos estágios da vida. Na do sujeito como pessoa. E, desde muito
sequência, o professor visa compreender pequenina, a criança percebe que espe-
fenômenos das expressões e linguagens ram algo dela. Ao mesmo tempo em que
adolescentes que são expressas no cibe- começa a sentir a necessidade de consi-
respaço, a partir da exibição do filme “As deração positiva de seus pais e de outras
melhores coisas do mundo”, em sala de pessoas significativas. Passa a perceber o
aula, abordando o crescente uso dos ser- comportamento de aprovação ou repro-
viços das novas tecnologias por jovens vação daqueles que aprecia e a necessi-
universitários, assim como os variados dade de aceitação é tão importante que
“novos” fenômenos que se desdobram passa a guiar seu comportamento a partir
a partir desse espaço virtual que passa a dessas experiências. Isso sugere que a ex-
ser amplamente utilizado e propagado. periência poderá não mais estar seguindo
Narrativas adolescentes em redes sociais um fluxo natural de aperfeiçoamento de
são registradas e analisadas neste estudo. nosso organismo, mas caminhando em
Por fim, o desafio da tríade da neurose direção ao valimento do amor de nossos
coletiva que se apresenta na juventude pais e aceitação da sociedade. Essas ex-
atual, ao matar, se matar ou se drogar, pectativas, essas condições para ser aceito
é ampliado, quando a morte passa a ser e amado é o que chamamos de condições
apresentada por adultos jovens na univer- de valia. É uma valoração do amor a ser
sidade como a única liberdade encontra- recebido. E todos nós trazemos condições
da, tema também evocado e densamente de valia assinaladas em nossas vidas, que
trabalhado no filme “As melhores coisas foram passadas por pais, professores, ins-
do mundo”. Orientados por uma perspec- tituições, sociedade e por tudo que impõe
tiva da Abordagem Centrada na Pessoa algo a partir de um apreço condicional,
cuja aprendizagem significativa emerge da que leva a pessoa mudar o curso de nos-
experiência, os professores universitários sas escolhas para podermos ser aceitos ou
aqui reunidos compartilham transforma- amados e que frustra a nossa força moti-
ções que se constroem em suas práticas vadora em direção ao crescimento. Deno-
docentes, de forma espontânea, com uma minei essas condições de rodinhas da bici-
capacidade transformadora de mobiliza- cleta emocional. Neste momento, preten-
ção de todos os envolvidos no processo de do lançar mão dessa metáfora que venho
ensino e aprendizagem do adulto jovem desenvolvendo a partir de uma pesquisa
no contexto da universidade brasileira. realizada com uma jovem em final de ado-
lescência, que buscava irromper com as
condições de valia impostas pelo meio e
PEDALANDO NAS TRILHAS DA VIDA que disparava uma luta pelo seu próprio
Terezinha Teixeira Joca - UNIFOR crescimento, tomando como abordagem,
terezinhajoca@unifor.br para o estudo, a etnográfica centrada
na pessoa, proposta por Harry Wolcott
Desde a concepção, o bebê carrega uma (1999). Ampliei esse estudo através de mi-
bagagem impregnada de expectativas de nhas observações e das impressões apre-
seus pais. Dessa forma, a família e o meio sentadas pelas pessoas ao lerem o texto,
exercem forte influência na constituição utilizado em sala de aula para jovens uni-
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las de aulas, cada uma com uma média de gem do filme remeteu os estudantes (em
quarenta estudantes, que foram convida- sala de aula) a lembranças, pensamentos
dos a escreverem as reações ao filme por e sentimentos (Cavalcante Jr, 2001) acerca
meio de textos-sentidos (Cavalcante Jr, da escrita de si. Pode-se, então, conside-
2001). O filme citado apresenta cenas que rar que as histórias de vidas são carrega-
demonstram situações específicas dos das de particularidades e modos singula-
usos do ciberespaço: um blog em que um res de perceber a existência. Sendo assim,
jovem registra escritos acerca de si e uma podemos verificar momentos em que as
jovem que sofre agressividades e precon- histórias de vidas permitem às pessoas
ceitos por ter imagens íntimas expostas fazerem um processo retrospectivo: olhar
na Internet. “As melhores coisas do mun- a um caminho percorrido, para aconte-
do” foi apresentado a estudantes do En- cimentos, situações, atividades, pessoas
sino Superior da cidade de Fortaleza (CE). significativas que encontraram, destacan-
Destacaram-se, como pontos de reflexão, do que tudo o que é dito é importante,
neste estudo: 1) Manifestação da escrita no sentido de descobrir a riqueza interior
de si – pensamentos e emoções; 2) Ma- da experiência. Entende-se, assim, que se
nifestações da linguagem do preconceito, deve somar novas ferramentas estético-
intolerância e agressividade. Em ambas as -crítico-culturais no exercício pessoal e
manifestações, com características e refle- engajado de tornamo-nos sujeitos em-
xões peculiares, observam-se em comum poderados (Olinda, 2010). Recordações
a exposição da vida privada por meio das evocadas pelas pessoas mostram-se como
novas tecnologias (especificamente blo- ricos materiais para que os sujeitos enten-
gs). Tendo em vista que os serviços tecno- dam o que são (presente), porque são o
lógicos são utilizados de modo crescente, que são (passado) e para onde querem
nota-se também que a interioridade e as direcionar as vidas (futuro). Dessa forma,
vidas íntimas ganham espaço e repercu- os estudantes envolveram-se em uma
tem entre os adolescentes, de modo veloz atitude de reflexividade crítica acerca do
e ágil, propagando informações privadas mundo que nos rodeia, também escreven-
de modo amplo: tanto reflexões diárias do sobre si (Brandao, 2008). Ocorreu uma
acerca da vida e morte, como informações interação propiciada por um grupo reflexi-
da vida íntima e sexual que ganham noto- vo em sala de aula, no qual se contou, ou-
riedade pública na comunidade escolar. viu-se e representou-se imageticamente,
A possibilidade de uma hipervisibilidade conduzindo a aprendizagens biográficas.
(intencional ou não) parece haver em am- Desse modo, verificou-se a relevância de
bos os casos. Também é pertinente pensar compartilhar experiências autobiográfi-
acerca das motivações acerca das histórias cas, proporcionando reflexões e relações
dos outros (a espetacularização da vida em que as pessoas descobrirão nelas a ca-
pública, assim como um modo de anun- pacidade de utilizarem essas relações para
ciar publicamente uma importante deci- crescerem e se transformarem. Conforme
são pessoal). No primeiro ponto discutido, Delory-Momberger (2006), a história de
“1) Manifestação da escrita de si – pensa- vida é a ficção verdadeira do sujeito: é a
mentos e emoções”, percebeu-se que as história que o narrador tem como verda-
experiências de escrita do jovem persona- deira, e ele se constrói como sujeito no
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ato de sua enunciação. O sujeito é objeto teriza-se como uma violência psíquica na
incessante de sua própria construção. Ve- qual se destacam atitudes intimidadoras
rifica-se que o ato de registrar por escrito conscientes com caráter de ridicularizar.
as experiências e percepções, inscreve-se Nesse caso, discutiu-se o quanto pode ser
na dinâmica do projeto de si e concretiza extremamente negativo a publicação de
uma forma particular dele, compreenden- si no ciberespaço. Neste estudo, perce-
do a vida contada como uma construção bemos um movimento que Josso (2004,
de si, sempre aberta e sempre a refazer. p. 171) denomina de uma “estranheza do
Nessa primeira discussão, percebeu-se a outro” e “estranheza de si”, ou seja, diante
publicação de si como algo transformador de relatos de experiências de vida, somos
e útil aos sujeitos. No segundo ponto tra- levados a reflexões acerca de nós mesmos.
balhado, “2) Manifestações da linguagem A partir das descrições das cenas do “As
do preconceito, intolerância e agressivi- melhores coisas do mundo”, compreen-
dade”, verificou-se a relevância de sen- de-se outras situações semelhantes que
sibilizar criativamente os estudantes em ocorrem na vida cotidiana, possibilitando
relação às questões psíquicas relaciona- assim uma significativa reflexão acerca
das ao bullying, fenômeno conhecido vul- desse tema. Espera-se, assim, promover
garmente como assédio moral e físico em reflexões nas quais o saber psicológico
ambientes escolares, que vem crescendo possa contribuir ao entendimento desses
em vários ambientes; desde o doméstico, fenômenos.
empresas , escolas, universidades , peni-
tenciárias, forças armadas e mais recen- Palavras-chave: sala de aula, psicoeducação,
temente nos meios virtuais (ciberespaço), filme brasileiro.
onde a intolerância, discriminação e as
minorias são alvos de ataque a indivíduos
reconhecidos como mais frágeis. O filme QUANDO A MORTE É A ÚNICA
retrata exatamente o “cyber bullying”, LIBERDADE NA JUVENTUDE: “NINGUÉM
quando uma jovem é submetida a vários ESCUTA A MINHA DOR”
constrangimentos públicos. O bullying Francisco Silva Cavalcante Junior - UFC
é um problema social que deixa fissu- fscavalcantejunior@gmail.com
ras, muitas vezes, irreversíveis no sujeito André Feitosa de Sousa - FANOR
(Antunes, 2008; Bandeira, 2010; Zaine, asousa3@fanor.edu.br
2010). Tratando-se de uma pesquisa-ação
qualitativa, convidaram-se os estudantes A tríade da neurose coletiva que se agrava
do Ensino Superior pro que expressarem nos dias atuais é um problema que ocupa
reações ao filme (Cavalcante Jr, 2001), os estudos da Psicologia Humanista há
emergindo as seguintes discussões: a) longo tempo. Em uma trilogia de ações
pensar sobre o assunto, não refletido an- que findam a vida ou subtraem os anos
teriormente; b) atenção para a gravidade de existência, o ser humano mata, se
do problema social; c) mobilizar-se com as mata ou se droga (Frankl, 2010). De todos
situações vividas pela jovem personagem. os tipos de morte, o suicídio é analisado
Considerou-se, no filme, que o (cyber) como o problema mais alarmante da vida
bullying sofrido pela adolescente carac- (Hillman, 2009). Entretanto, em nenhuma
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caracteriza por articulações que diversi- condição de poder desejar, e é a essa sa-
ficam, integram e ampliam os cuidados tisfação que podemos relacionar uma éti-
oferecidos, tem se expandido abarcando ca, uma vez que a dependência do ser hu-
a mãe e a relação mãe-bebê, bem como a mano de outro ser humano para a satisfa-
relação educador-criança. Contudo, essa ção de suas necessidades é um fato. Isso
rede ordinariamente tão necessária, me- implica uma responsabilidade de atender
rece cuidados ela própria, pois, em alguns ao que o bebê necessita de uma maneira
casos pode alterar-se rapidamente, asse- que favoreça o desenvolvimento de suas
melhando-se mais a outro tipo de rede tendências herdadas, que lhe possibilite a
(de pesca) com uma característica apri- sua pessoalidade. Este estudo pretende,
sionadora, imobilizadora e sufocante, do portanto, discutir a natureza e a qualida-
que a um apoio efetivo que leve em conta de do cuidado ao indivíduo, as caracte-
as reais necessidades dos envolvidos. A rísticas do ambiente cuidador, a relação
ideia de que se pode ter um método, uma deste com a cultura em que se insere e
técnica, ou um saber mais certo e perfeito da qual sofre influências, que são impor-
que outros tende a se implantar com incrí- tantes para o desenvolvimento de suas
vel facilidade. Isso nos faz pensar sobre a tendências herdadas ou geneticamen-
questão ética envolvida nos cuidados que te determinadas. Tem por base a teoria
são oferecidos, pois chama a nossa aten- do amadurecimento de D. W. Winnicott,
ção sobre os equívocos gerados a partir bem como experiências em atividades de
de determinados saberes. A psicanálise, extensão realizadas com profissionais da
em suas várias escolas ou abordagens, educação infantil e familiares de crian-
discute a questão ética relacionada à na- ças na primeira e segunda infância, que
turalização das necessidades humanas e apresentavam alto grau de agressividade.
a proposição de cuidados universalizada e Para tanto, foram realizadas leituras de
utópica, que retira a dimensão subjetiva textos winnicottianos e outros autores,
daqueles que recebem e fornecem cuida- bem como observações dos ambientes
dos. De acordo com Motta (2011), “a éti- da criança, encontros com educadores e
ca do cuidado,” [pensada pela psicanálise, cuidadores, que possibilitaram diálogos
...] é a do cuidado enquanto experiência importantes para a troca de conhecimen-
essencialmente humana, se tiver por di- tos, dúvidas e angústias próprias ao edu-
reção a localização subjetiva”, “não se re- car/cuidar. Sem um reconhecimento das
fere a nenhum código [...] se refere ao su- questões inconscientes envolvidas no cui-
jeito, enquanto sujeito do desejo incons- dado, uma ênfase em instruções técnicas
ciente (p. 149)”. Winnicott (1989/1994), para este é cada vez mais realizada, ob-
entretanto, considerou-se “a figura de jetivando o atendimento às necessidades
proa do movimento no sentido de um da criança para um desenvolvimento inte-
reconhecimento da satisfação da neces- gral saudável. As atividades de extensão
sidade como mais inicial e fundamental realizadas permitiram ver que, se por um
que a realização de desejos” (p. 357), sem lado, a partir do momento que essa no-
deixar de considerar o bebê necessitado ção de cuidado é difundida, mais e mais
como uma pessoa. É essa satisfação que pessoas reconhecem o seu valor e se em-
irá possibilitar ao ser humano chegar à penham em oferecer cuidados adequa-
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dos aos bebês e crianças pequenas, como sempre esses ambientes serão possíveis.
também apoio às mães e às famílias; por Correlatamente, podemos entender a im-
outro lado, vê-se crescer a construção de portância de várias políticas públicas, que,
projetos de “escolas de pais”, “educação apesar de não serem ideais, podem aten-
em saúde”, “orientações aos pais”, que der minimamente às necessidades das
passam a exigir condutas adequadas por crianças e de suas famílias, o que é essen-
parte das mães e dos pais, sem considerar cial, mas o que não quer dizer conseguir
seus contextos de vida e seus padrões de que elas alcancem um amadurecimento
defesas individuais. Além disso, a “mãe psicossomático. Para esse alcance, é ne-
suficientemente boa”, pensada por Win- cessária a presença de alguém que esteja
nicott (1988/1990), perde sua condição física e emocionalmente bem, “vivo”, ca-
de adequação às necessidades de seu paz de ver e ouvir este bebê, ou criança,
próprio bebê e se torna uma mãe pa- como uma pessoa que tem necessidades
dronizada, repleta de instruções a serem próprias e preferências, podendo atendê-
seguidas, ignorando individualidades e -las; e não é raro o fato de que esse al-
subjetividades. Esse tipo de vivência, em guém não seja a própria mãe, até porque
graus variados, pode ser frequentemen- a esta pode estar faltando o apoio e a
te encontrada. Crianças rotineiramente sustentação emocional necessários a um
estimuladas e obrigadas a dar conta do cuidador. O cuidado essencial não pode
que não conseguem entender ou que não ser automático ou mecânico e, como bem
conseguem dar um único sentido sequer, disse Winnicott (1988/1990), desde que
fomentando a criação de novos diagnós- seja um cuidado propiciado por um am-
ticos psiquiátricos, que abarquem sua biente humanamente envolvido, pode até
desorganização. Os pais e os educado- ter falhas. O ambiente pré-escolar espe-
res, enquanto crianças que, muitas vezes, cialmente pode complementar bem esse
cresceram sob esse tipo pressão, se vêm papel. Contudo, compreender as ques-
agora pressionados a cuidar/educar, sem tões das relações primárias da criança,
uma base da qual possam se sentir segu- que afetam o seu desenvolvimento e de-
ramente apoiados. As reações de negati- sempenho escolar, não retira a importân-
vidade não são incomuns, e os cuidados cia de se pensar sobre as multidetermina-
que poderiam ser naturalmente intuídos ções dos problemas encontrados tanto no
a partir de uma sustentação emocional cotidiano familiar quanto escolar, ou seja,
adequada, não são realizados por recusa, sobre as características macrossociais e
negligência ou indiferença. E então, os culturais também na constituição desses
profissionais responsáveis pela “educação problemas, para que mudanças sejam
em saúde”, ou “pela educação continua- promovidas.
da”, não entendem, e se perguntam por
que os pais e os educadores não realizam Palavras-chave: ética do cuidado;
as orientações dadas e aprendidas. Por agressividade; ambiente.
mais que tenhamos consciência da im-
portância de ambientes suficientemente
bons para o amadurecimento emocional
de nossas crianças, sabemos que nem
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que cada membro da família tenha seus “à medida que eu aceito melhor ser eu
próprios sentimentos e seja uma pessoa mesmo, descubro que me encontro mais
independente. Em se tratando, especifi- preparado para permitir ao outro ser ele
camente das relações familiares, pode- próprio, com tudo o que isso implica. Isso
mos dizer que a família é um contexto significa que o círculo familiar tende a
único e dinâmico para o desenvolvimento encaminhar-se no sentido de se tornar
do ser humano. Portanto, para se falar em um complexo de pessoas independentes
desenvolvimento é necessário compreen- e únicas, com valores e objetivos indivi-
der o indivíduo nesse contexto. A família dualizados, mas unidas por verdadeiros
é algo singular e complexo, especialmen- sentimentos – positivos e negativos – que
te se for considerado a forma como as existem entre elas, e pela satisfação do
relações acontecem nesse conjunto. Po- laço da compreensão recíproca de, pelo
deríamos dizer: famílias – meio ambien- menos, uma parte do mundo particular
te/cultura - problemas/conflitos - possibi- de cada um dos outros. É desse modo
lidades de soluções. A condição familiar, que as pessoas descobrem maior satisfa-
por mais complexa que seja, nos remete ção nas relações familiares, o que facilita,
ao sentimento de pertencer a um grupo, em cada membro da família, o processo
nos tirando da solidão, que, segundo Ca- de descobrir-se e de vir a ser ele mesmo.”
mon (1993), “na maioria das vezes, é di- (Rogers, 2009). No que se refere às rela-
retamente associada com desespero, so- ções familiares é fundamental discutir so-
frimento e com o suicídio.” Segundo este bre contexto histórico, social e econômico
autor, é como se, suportar a questão de em que as pessoas estão inseridas, enfim,
ser só, fosse dicifil ou desesperador para a analisar a diversidade cultural existente.
maioria das pessoas. Camon, ainda com- Pois as alianças e os conflitos existentes
pleta que a solidão distancia quando se nas relações familiares, influenciam, sig-
mantem um relacionamento estreito ou nificativamente, no comportamento e
íntimo com uma pessoa que se ama, com desenvolvimento das pessoas, especial-
a qual se tem proximiadade e afinidade. mente, crianças e adolescentes. Assim,
E a conclusão inevitável a que se chega pode-se dizer que a família, enquanto um
é “cada um é um”, porém, como parte espaço em que se pode desenvolver uma
de um grupo ou de uma família (Camon, comunicação aberta entre os membros e
1993). De acordo com Rogers (2009), ve- eles podem expressar seus desejos e pre-
rifica-se que um indivíduo pode encontrar ocupações, favorece sobremaneira a coe-
satisfação em exprimir atitudes emocio- são do próprio grupo familiar.
nais fortes no contexto em que surge, no
caso, no contexto familiar. Dessa forma, Palavras-chave: Família. Conflito.
para este autor, a pessoa descobre que Compreensão.
é melhor viver em condição mais real do
que numa relação dissimulada, exprimin-
do mais livremente, renunciando atitudes
defensivas e ouvindo o outro. Compreen-
dem, assim, o que a outra pessoa sente e
porque é que sente. Salienta, ainda que,
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homem como chefe de família e provedor nas se esforçam para aprender, mas “não
–os sujeitos defendem melhores salários, têm o raciocínio matemático desenvolvi-
não pelo magistério em si, mas por serem do”. Levando tais premissas para a discus-
homens e provedores (Fávero & Salgado, são com alunos da 9ª série, entre 14 e 15
2007). Estes dados confirmam a análise anos, obtivemos concepções distintas: “as
de Abramo (2004) e Anzorena (2008). Ou meninas são mais inteligentes na mate-
seja, um sistema de diferenças como o gê- mática”; “elas são mais maduras”; “elas
nero, torna-se um princípio organizador estudam mais”; “aprendem com mais fa-
das relações sociais: como os homens e cilidade”; “a maioria dos meninos só quer
mulheres mantêm intensa interação, seja ‘vadiar’” (Alves & Fávero, 2010). Por outro
no contexto privado, como nos contextos lado, nossas pesquisas de intervenção com
públicos, o gênero difere de outras formas estudantes com dificuldade em matemáti-
de desigualdade; esta interação constrói ca (Fávero, 2007 c) apontam como Dweck
experiências que confirmam, ou poten- (2007) que, ver a competência em mate-
cialmente determinam as crenças sobre mática como um dom fixo e “natural”, leva
as diferenças e desigualdades de gênero os estudantes a questionarem sua própria
(Ridgeway e Smith-Lovin, 1999; Ridgeway capacidade e perderem a motivação quan-
e Correl, 2004). Portanto, defendemos que do encontram dificuldades; ver a compe-
a escolha profissional é uma construção tência como um processo de desenvolvi-
vinculada a uma socialização gendrada. mento leva-os, diante de dificuldades, a
Estas questões nos permitem focar duas procurar procedimentos ativos e efetivos.
questões particulares: 1. A desigualdade Nossos estudos têm nos permitido ampliar
da participação de homens e mulheres nas esta discussão para a questão mais ampla
áreas de ciências e tecnologia; 2. O ensi- da relação entre conhecimento e cidada-
no e a aprendizagem da matemática como nia e de trazer à pauta de discussão, “no
um filtro crítico na manutenção desta de- contexto das diferentes áreas do conheci-
sigualdade, já que está no centro das cren- mento científico, a relação entre ensino, fi-
ças parentais sobre as escolhas ocupacio- losofia e cidadania, com o intuito de tornar
nais tidas como “apropriadas” aos papéis explícita a possibilidade efetiva de conside-
de gênero (Watt e Eccles, 2008). Igualmen- rar a responsabilidade humana e cidadã e
te, os professores e professoras têm ex- pleitear que a instituição escolar assuma,
pectativas diferentes para alunos e alunas por princípio, educar o cidadão e prover
particularmente no caso da matemática e educação para a cidadania” (Fávero, 2009,
isto se inicia muito cedo na escolarização p.16). Por isto mesmo concluímos, parti-
(Mosconi, 2001). Comprovamos isto em lhando os aspectos consensuais dos es-
um estudo sobre as concepções de profes- tudos da linha de pesquisa que focamos
sores e professoras de matemática: para as aqui: 1. Pleitear uma educação que funda-
professoras, as alunas têm bom desempe- mente, por meio de sua prática, uma rela-
nho em matemática porque se esforçam; ção entre igualdade de gênero, pedagogia
os alunos estão prontos para o raciocínio e cidadania (Arnot, 2006; Enslin e Tjiattas,
matemático; para os professores, as alu- 2006); 2. Conquistar justiça social, tanto no
nas tendem naturalmente para as áreas nível doméstico como no nível global (Ho-
humanas e os alunos para as exatas; as alu- well, 2007); 3. Sustentar a tese segundo
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a qual a afirmação dos direitos humanos ofreciendo así, subsidios para la Psicología
universais caminha junto com a decisão de cognitiva y educativa (ver Watson & Mor-
desafiar a distinção entre público e privado ritz, 2001). Presentamos los resultados de
(Kaplan, 2001). estudios en lo que hemos propuesto tare-
as sobre el contenido de dos conjuntos de
Palavras-chave: psicologia critica; socialização cajas de fósforo de diferente marca (X e
gendrada e escolha profissional; cidadania. Y), que involucra en su solución la media
aritmética, la mediana y la moda, a estu-
diantes de ambos sexo, de quinta y octava
LA RESOLUCIÓN DE PROBLEMAS: serie de enseñanza fundamental, de una
INDICIOS ACERCA DE EL PROCESO DE escuela de Brasilia, DF (150 estudiantes) y
CONSTRUCCIÓN DE LA ESCOGENCIA DE de dos escuelas de Popayán, Colombia (85
UNA PROFESIÓN estudiantes). En cada una de las 3 tareas
Yilton Riascos Forero - UNICAUCA/COLÔMBIA se buscaba que los estudiantes determi-
yirifo@gmail.com naran la marca de fósforos que, segundo
Maria Helena Fávero - UnB/DF los datos presentados tendrían más con-
fáveromh@unb.br. tenido en sus cajas: “Las empresas X e Y,
fabrican fósforos que venden en cajitas.
La literatura nacional e internacional en- Todas las cajas presentan una etiqueta que
fatiza la importancia de la relación entre indica 40 fósforos de contenido. Se sabe,
género, ciencia y matemática y la relación por observación y conteo que algunas ca-
entre desarrollo psicológico, conocimiento jas no siempre tienen el mismo número
y género (Fávero, 2010 a). Se trata de una de fósforos. Algunas veces ellas presentan
cuestión de punta que compara la igual- más o menos cantidad de fósforos; otras
dad en el acceso al conocimiento entre los veces, presentan efectivamente la canti-
géneros; sobre todo las áreas de ciencia dad indicada (40)”.Se evidenció diversos
y tecnología y su relación con las creen- comportamientos en el desarrollo de es-
cias culturales sobre género. Defendemos trategia para la resolución, encontrando
como Fávero (2010 b) que las instituciones que las estrategias de mayor complejidad
educativas, lugar donde tales creencias las desarrollaron los estudiantes brasile-
están en juego, deben ser consideradas a ros. De las estrategias identificadas, se en-
través de la articulación entre a psicología contró con más frecuencia la de sumar los
del desarrollo, la psicología del género y la valores; pocos estudiantes utilizan divisi-
psicología del conocimiento. La resolución ón y tablas de frecuencias.Se identificó un
de problemas se presta para esto porque comportamiento diferente entre las alum-
evidencia las interacciones entre regula- nas de 5ª serie y las de 8ª serie, contrario
ciones cognitivas y regulaciones sociales y al de los estudiantes hombres respecto al
expone el papel de la mediación semiótica número de tareas no resueltas. En el caso
en el desarrollo psicológico (Riascos & Fá- de los alumnos brasileiros, todos los de
vero, 2010). En particular, la resolución de sexo femenino de la 5ª serie procuraron
problemas estadísticos evalúa la lectura, desarrollar una estrategia para resolver
análisis e inferencia sobre la distribución el problema, mientras que el 18,42% de
de los datos y los conceptos estadísticos, los de sexo masculino no lo hicieron; este
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nais de diferentes naturezas, vêm sendo Leontiev (s.d./2004) seus maiores expo-
reconhecidos como campos legítimos de entes, concebe o homem como um ser
inserção do psicólogo escolar (Marinho- ativo, social e histórico, e assume que
-Araujo, 2009; Oliveira & Marinho-Araujo, ele se constitui a partir das interações
2009; Soares & Marinho-Araujo, 2010). sociais que são mediadoras da constru-
Alguns destes contextos são as creches, ção de suas características, sentimentos,
orfanatos, abrigos, asilos, organizações pensamentos, crenças, conhecimentos e
não governamentais, cursinhos pré-ves- concepções, enfim, da sua subjetividade.
tibular, Instituições de Educação Superior, Essa perspectiva incita-nos a pensar sobre
entre outros. Nesses diferentes espaços os espaços contemporâneos do trabalho
tem sido recorrente a preocupação e educativo como lócus para a elaboração
compromisso, sobretudo dos psicólogos de processos formativos e de mediação
escolares, com as múltiplas possibilidades de competências que busquem favorecer
de mediação em prol do desenvolvimento o desenvolvimento, tanto individual quan-
humano, particularmente o desenvolvi- to coletivo, sob uma perspectiva sistêmi-
mento humano adulto, o qual é um tema ca, dinâmica e relacional (Araujo, 2003;
lacunar na Psicologia de forma geral (Fá- Marinho-Araujo & Almeida, 2005). Nessa
vero & Machado, 2003; Marinho-Araujo, perspectiva, a mesa redonda aqui propos-
2009). Por conseguinte, têm crescido as ta apresenta relatos e pesquisas que dis-
discussões em torno das competências cutem contribuições da Psicologia Escolar
dos profissionais que atuam na educa- ao desenvolvimento humano adulto em
ção, cujo trabalho deve comprometer-se diferentes espaços educativos e almeja
com o desenvolvimento e aprendizagem suscitar reflexões sobre os desdobramen-
(Marinho-Araujo & Almeida, 2005; Soa- tos das ações interventivas do psicólogo
res & Marinho-Araujo, 2010). Com base escolar junto aos profissionais desses con-
em ações contextualizadas e ampliadas a textos. Assim, o primeiro trabalho apre-
outros atores e instâncias institucionais, senta e discute uma proposta de atuação
a Psicologia Escolar tem investido no de- para os Serviços de Psicologia Escolar na
senvolvimento humano adulto por meio Educação Superior. O segundo, apresenta
de ações que visem à formação de com- experiências de intervenção do psicólogo
petências profissionais dos agentes da escolar em espaços de trabalho cotidiano
educação, sejam os próprios psicólogos e de formação continuada. Na sequência,
escolares ou outros atores (coordenado- serão abordadas possibilidades de media-
res, professores, pais e alunos) envolvidos ção da Psicologia Escolar junto a educa-
no processo educativo. Como campo de dores sociais em organização não gover-
reflexão teórica, os pressupostos concei- namental, visando o desenvolvimento de
tuais e metodológicos que orientam a competências profissionais.
prática dos psicólogos escolares têm se
alicerçado, especialmente, nas proposi-
ções da abordagem histórico-cultural do
desenvolvimento humano. Essa aborda-
gem, que tem em Vygotsky (s.d./1999,
s.d./2003, s.d./2009), Luria (s.d./2008) e
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constituição do conceito científico: apre- mento de crianças com DI, Vygotsky (2002)
sentação, desenvolvimento e conclusão. analisa que elas apresentam certa dificul-
Foi realizada, também, com cada profes- dade em constituir o pensamento abstra-
sora uma entrevista semiestruturada para to, e que se o conteúdo e as situações de
investigar aspectos da ação pedagógica aprendizagem não forem mediadas, isso
no decurso da apresentação de um con- fica mais difícil. Nesta direção é que a esco-
teúdo novo. Os dados apontam que entre la e professores devem assumir a iniciativa
as estratégias utilizadas pelas professoras e a intervenção no processo de aprendiza-
para introduzir um novo conceito científi- do de forma competente e consciente, na
co estão: contextualização do conteúdo e medida em que os esforços devem se focar
vivências por meio de dinâmicas variadas; para estágios de desenvolvimentos ainda
o processo de aplicar, avaliar, fortalecer e não alcançados. O trabalho educativo deve
reavaliar os conteúdos programados; o uso fomentar novos conhecimentos, habilida-
da leitura pausada do material seleciona- des e competências, reconhecendo o nível
do. Quanto aos recursos acionados, são real de desenvolvimento do aluno. Os pro-
identificados: material concreto, música, cedimentos utilizados pelas professoras e
figura/imagem, poemas, material do tipo o modo como elas os justificam corrobo-
impresso e cartazes. As professoras elabo- ram a perspectiva teórica histórico-cultural
ram materiais diversificados para permitir ao passo que elas buscam introduzir um
e imprimir diferentes modos de abordar conceito paulatinamente, ressaltando sua
o assunto, evidenciando considerar o pro- construção social. Das quatro professoras,
cesso como diferenciado para cada um de três salientaram empregar estratégias di-
seus estudantes, o que possibilita a todas versificadas para atender especificamente
as crianças com ou sem DI a construção as crianças com DI. Ao serem planejadas
de conhecimentos e de modos de funcio- estas atividades levam em consideração
namento para lidar com o desenvolvimen- a necessidade e o direito de adaptação
to dos conceitos. Alternam momentos curricular e isso pressupõe o emprego de
de atendimento individual ao aluno com situações de aprendizagem em pequenos
aprendizagem colaborativa, buscam em- grupos ou duplas, considerando os níveis
pregar atividades lúdicas e de fixação de de aprendizagem e as dificuldades apre-
conteúdos, de forma a motivar os estu- sentadas, frente a um dado conteúdo. As
dantes e levá-los a perceber a vinculação professoras relatam fragilidades variadas
entre certos elementos estruturantes do no decorrer do processo, especialmente
conceito. São promovidas condições para com relação à aprendizagem das crianças
o desenvolvimento de competências e in- com DI, como manter a concentração, tra-
ternalização dos conceitos científicos, por balhar a memória e otimizar o tempo de
intermédio de jogos, reálias, que, para elas a realização das atividades; a não fixação
contribuem para promover as funções psi- dos conceitos e informações; a não com-
cológicas superiores como memória téc- preensão e acompanhamento das ativi-
nica, criatividade, raciocínio, comparação, dades, como acontece com o restante da
discriminação e generalização de idéias, turma. Tal posição corrobora os achados
além do pensamento abstrato. Ao discu- de Bogoyavlensky e Menchisnskaya (1991)
tir o processo de construção do conheci- que sustentam não existir uma relação
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outro moral em mim? Ele é simplesmen- apenas ser uma obrigação. Impor leis e pu-
te ignorado? O profissional da educação, nições para pessoas que não respeitam a
ao tornar-se o detentor da verdade, não faixa pode ser uma medida imediata, mas
dificultaria o desenvolvimento do aluno não a solução quando para o desenvolvi-
enquanto sujeito? Na perspectiva de Gon- mento humano, o que significa não apenas
zález Rey (2006) o desenvolvimento do obedecer às fiscalizações, mas respeitar os
sujeito somente é possível pela aprendiza- direitos do outro.
gem, o que implica em envolvimento do
aluno no processo de educação e, portan- Palavras-chave: desenvolvimento moral,
to, na mudança deste status quo. subjetividade, faixa de pedestres.
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25 crianças de 5-6 anos, matriculadas no dos junto aos professores, antes e depois
Pré III de uma escola de educação infantil da intervenção, de modo a aferir os seus
filantrópica, no interior de São Paulo. Ma- efeitos. Para avaliar as habilidades sociais
teriais e procedimentos - Para implemen- das crianças, foi utilizado o Questionário
tar a intervenção, foram selecionados 25 de Respostas Socialmente Habilidosas -
livros ilustrados de histórias infantis, ricos QRSH-RP (Bolsoni-Silva, Marturano & Lou-
em pistas sociais, com base na pesquisa reiro, 2009), composto por 24 itens agru-
de Rodrigues e cols. (2007). A intervenção pados em três fatores - Sociabilidade e
foi conduzida durante três meses, em 25 Expressividade Emocional, Iniciativa Social
sessões, com cerca de 50 minutos cada, e Busca de Suporte. Para avaliar proble-
em grupos com até 9 crianças. Em cada mas de comportamento, empregou-se o
sessão, a interventora lia um livro de his- Questionário de Capacidades e Dificulda-
tória interativamente, visando explorar e des – SDQ (Fleitlich, Cortázar & Goodman,
discutir o seu conteúdo com as crianças, 2000), composto por 25 itens em cinco
de acordo com o modelo de seis compo- escalas: sintomas emocionais, problemas
nentes do processamento da informação de conduta, hiperatividade, problemas
social. Na exploração do primeiro compo- de relacionamento e comportamentos
nente - o que está acontecendo? - as crian- pró-sociais. Um procedimento de avalia-
ças observam e interpretam as pistas so- ção sócio-cognitiva também foi utilizado,
ciais. No segundo - o que os personagens porém seus resultados ainda não estão
estão pensando e sentindo? - as crianças disponíveis. Os resultados das avaliações
são incentivadas a observar o “mundo pré- e pós-intervenção foram comparados
interno” dos personagens por meio das por meio do teste de Wilcoxon. Resulta-
ilustrações e leitura. No terceiro compo- dos e discussão - Os resultados apontaram
nente - quais são as intenções e metas incrementos significativos (p < 0,05) da
dos personagens? - relacionam-se os sen- pré para a pós-avaliação nos escores to-
timentos e pensamentos, já identificados, tais de dois fatores do QRSH-PR. No fator
com os objetivos e as metas. No quarto sociabilidade e expressividade emocional,
- o que os personagens alcançam com com 14 itens, aumentaram os escores nos
suas ações? - Discute-se com as crianças itens comunica-se positivamente, cumpri-
a relação entre os objetivos e metas dos menta, expressa carinhos, expressa dese-
personagens e os resultados alcançados. jos, expressa frustração e desagrado de
No quinto - como os personagens execu- forma adequada, faz elogios e tem rela-
tam e monitoram seus comportamentos? ções positivas. No fator iniciativa social (6
- as ações dos personagens são avaliadas itens), houve incremento nos itens toma
levando em consideração as consequên- a palavra, participa de temas de discus-
cias do comportamento. O sexto e último são, negocia. Os itens usualmente está de
componente - quais as lições aprendidas? bom humor e toma iniciativas mostraram
- abre para a criança a oportunidade de tendência a aumento (p < 0,10). No SDQ,
estabelecer relações entre as experiências houve melhora da pré para a pós-avalia-
vivenciadas pelos personagens da história ção nas escalas relativas a problemas de
e aquelas vividas por ela própria em seu relacionamento e comportamentos pró-
dia a dia. Dois instrumentos foram aplica- -sociais. Os resultados demonstraram
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uma redução de problemas de relaciona- Os projetos sociais são hoje uma realida-
mento e aumento nas taxas de compor- de muito comum à sociedade brasileira.
tamentos pró-sociais. Não tendo havido São iniciativas individuais ou coletivas
mudança nos indicadores de busca de que visam a proporcionar a melhoria da
suporte (QRSH-PR), sintomas emocionais, qualidade de vida de pessoas e comuni-
hiperatividade e problemas de conduta dades. A sociedade se mobiliza, por meio
(SDQ), pode-se supor que os resultados de contribuições voluntárias, organizando
refletem a especificidade do programa e desenvolvendo projetos e ações sociais
para promover comportamentos social- para transformar determinada realidade
mente habilidosos e reduzir problemas de para o bem comum. A arte e a música,
relacionamento. A evolução encontrada mais especificamente, representam a ma-
nos referidos resultados denota que com nifestação cultural de um povo e contri-
o programa de leitura de histórias infantis buem para qualificar a vida das pessoas,
as crianças se tornam mais colaboradoras, na medida em que, através da arte, o ser
empáticas, atenciosas e, provavelmente, humano manifesta sua cultura e, correla-
mais capazes de analisar as consequên- tivamente, suas emoções, ou seja, aquilo
cias de cada comportamento (Rodrigues, que compartilha socialmente e seu mun-
2009; Rodrigues & Oliveira, 2009), o que do subjetivo. Sendo assim, elas se tornam
pode contribuir para a melhora da con- uma importante ferramenta para que os
vivência na escola (Borges & Marturano, projetos sociais atinjam seus objetivos.
2009). Conclusão - Programas promotores Os resultados de pesquisas anteriores
de habilidades infantis são de grande va- (Kebach, 2003; 2008) evidenciam que a
lia para favorecer o relacionamento inter- educação musical nos espaços informais
pessoal; a literatura infantil vem se mos- demonstra ser algo bastante produtivo
trando benéfica dentro desta proposta. em termos de musicalização e de trocas
Por meio dos livros de história as crianças sociais, o que motivou a realização da
esclarecem de modo interativo, contex- pesquisa atual. Diante disso, o objetivo
tualizado e reflexivo o processamento da desta pesquisa é investigar no âmbito de
informação social tornando-se cada vez projetos sociais no Vale do Paranhana/RS,
mais ajustadas ao meio social. como ocorrem as práticas musicais para
compreender de que modo estes espaços
Palavras-chave: desenvolvimento podem contribuir para a construção mu-
sociocognitivo, livros de histórias infantis, sical, para a inclusão e resgate da cultura
educação infantil local dos sujeitos envolvidos neste proces-
so. Através da pesquisa, poder-se-á mape-
ar a Educação Musical informal na região
LT04-744 - A MUSICALIZAÇÃO NO de estudo e sua repercussão na sociedade
CONTEXTO DOS PROJETOS SOCIAIS DO local, legitimando-se este espaço. Pre-
VALE DO PARANHANA/RS tende-se também contribuir para que os
Alexandre Herzog - FACCAT atuantes nos projetos sociais aprimorem
alexandre.herzog@hotmail.com seu trabalho e pensar na implantação da
Patrícia Fernanda Carmem Kebach - FACCAT educação musical, obrigatória nas escolas
patriciakebach@yahoo.com.br a partir de 2011, em função da lei 11.769
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jogos que sejam basicamente pautados na tuição, visando analisar, em nível microge-
cooperação, no envolvimento e na diver- nético, como três educadoras promovem
são (Brotto, 2002). São jogos que aceitam ou inibem a cooperação entre seus alunos
as diversidades e as limitações dos partici- (4 a 6 anos), utilizando como recurso pe-
pantes promovem o exercício da confian- dagógico os jogos cooperativos. O estudo
ça pessoal e interpessoal, cumplicidade, inclui: 1) Registro das atividades diárias re-
solidariedade, respeito mútuo (Correia, alizadas com as crianças (protocolo espe-
2006), uma vez que ganhar e perder são cífico); 2) Entrevistas (inicial e final) com as
apenas referências para um contínuo educadoras (roteiro semiestruturado); 3)
aperfeiçoamento de todos, vislumbrando Planejamento dos jogos para orientar as
um verdadeiro exercício educativo para a professoras a reconstruírem e adaptarem
paz (Brotto, 2002). Neste sentido, o me- jogos a uma concepção não competitiva
lhor momento para introduzir os jogos co- ou cooperativa (categorização de Orlik,
operativos para o exercício da cultura da 1989, apud Correia, 2007); 4) Registro em
cooperação é a educação infantil, consi- vídeo de atividades de jogos cooperativos
derando que a criança ainda foi pouco ex- estruturados pelas educadoras. Como re-
posta a experiências de competição (Soler, sultado parcial, os registros das atividades
2003). Acreditamos que as possibilidades diárias têm revelado um grande volume
e os limites dessa proposta no contexto da de “atividades livres” sendo promovidas
educação infantil contribuirão à análise do às crianças fora da sala de aula, onde pre-
complexo processo construtivo de sociali- domina as instruções das educadoras sem,
zação entre professores e alunos inseridos contudo, considerarem o interesse das
em espaços educacionais que tem por crianças pelas brincadeiras. Quando se
base um contexto heterogêneo e dinâmi- trata de atividades sendo estruturadas no
co, ancorado em diferentes aspectos rela- contexto da sala de aula, as educadoras se
tivos à interdependência humana, aí con- orientam pelo objetivo de obter a atenção
vivendo, em princípio, orientações múlti- das crianças na realização de tarefas indivi-
plas e diversificadas. O presente trabalho duais ou em grupo, com a atenção orienta-
é fruto de estudo anterior sobre o tema lu- da para a professora, desestimulando-as a
dicidade e formação de educadores infan- interagirem entre si. Tais atividades, geral-
tis realizado em um Centro de Educação mente, se reduzem às educadoras contan-
Infantil do município de Londrina-PR. Uma do uma estória para as crianças, repetidas
oficina de Jogos Cooperativos foi promo- vezes por um período determinado e, na
vida a quinze educadoras, as quais reco- seqüência, as instruem para a produção
nheceram a necessária promoção de ati- individual de trabalhinhos (pintura, dese-
vidades verdadeiramente cooperativas na nho, recorte, colagem). Neste caso, não se
educação infantil, e, ao mesmo tempo, re- observa preocupação das professoras com
velaram desconhecer como este tipo de vi- atividades estruturadas para as crianças
vência pode ser promovido nas atividades interagirem cooperativamente que façam
lúdicas que desenvolvem com as crianças com que aprendam novos conceitos e
no dia-a-dia da instituição. Dentro deste experimentem algo novo no contexto da
contexto se insere o presente estudo (em sala de aula. Questiona-se o pouco espaço
fase inicial), desenvolvido na mesma insti- para a criação de um ambiente propício a
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própria literatura. Refletindo sobre os re- de terem idéias e hipóteses originais so-
sultados, é possível dizer que para realizar bre aquilo que buscam desvendar” (Rc-
uma prática pedagógica pautada na lite- nei,1998, p.21) Compreender, conhecer e
ratura, mais especificamente na literatura reconhecer a forma particular das crian-
infantil, é preciso ir além dos fantoches e ças serem e estarem no mundo é um dos
dramatizações e sim viver a leitura da pala- grandes desafios da educação infantil. A
vra com encantamento e prazer. escola é uma instituição social privilegiada
e responsável por promover este encon-
Palavras-chave: Literatura infantil; Educação tro com as mais diversas áreas do conhe-
infantil; Criatividade; Imaginação. cimento, dentre elas, a da cultura corporal
de movimento pela qual a Educação Física
é diretamente responsável. Cultura corpo-
LT04-1422 - O CIRCO: UMA PROPOSTA ral são todas as manifestações corporais
DE AÇÃO INCLUSIVA EM EDUCAÇÃO humanas que são geradas na dinâmica
FÍSICA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA. cultural, são conhecimentos historicamen-
Vivianne Flávia Cardoso - UnB/UAB te acumulados e socialmente transmitidos
vfcardoso@gmail.com (PCN EF, 1992, 1998). Segundo o PCN EF
Juliana Eugênia Caixeta - UnB (1992, p. 27) “É preciso que o aluno en-
eugenia45@hotmail.com tenda que o homem não nasceu pulando,
saltando, arremessando, balançando, jo-
Nesse trabalho, discutimos a inclusão de gando etc. Todas essas atividades corpo-
alunos deficientes nas aulas de educação rais foram construídas em determinadas
física, entendendo que a escola deixa de épocas históricas, como respostas a deter-
ser uma instituição social com forte apelo minados estímulos, desafios ou necessida-
seletivo e passa a ser o lugar em que as des humanas”. Assim, o aluno deficiente
potencialidades devem ser vistas, as difi- deve ser atendido em suas necessidades e
culdades superadas e os resultados apro- desafiado em suas potencialidades como
veitados em prol de uma sociedade me- todas as outras crianças, pois o objetivo
lhor. O processo de aprendizagem aciona das aulas de educação física é a inclusão
vários processos de desenvolvimento do aluno na cultura corporal de movimen-
que sem este estímulo poderiam não vir to por meio da participação e reflexão, de
a acontecer (Vygotsky, 1994). Quando fa- um conjunto de vivencias que contribuam
lamos de inclusão de pessoas deficientes, para seu desenvolvimento global. Descre-
o que temos que fazer é descobrir como ver e analisar o processo de inclusão de
promover zonas de desenvolvimento alunos deficientes nas aulas de Educação
proximal que estimulem estas crianças Física na educação infantil que foram re-
a adquirir e formar o pensamento abs- alizadas em uma escola pública de Vitória
trato. Sabemos que a mediação do mais durante os meses agosto a novembro de
experiente impulsiona o desenvolvimento 2010. Nesse trabalho, realizamos a união
do menos experiente. “No processo de da abordagem qualitativa de pesquisa
construção do conhecimento, as crianças com a pesquisa-ação em um estudo de
se utilizam das mais diferentes linguagens caso. Participaram do estudo 25 crianças
e exercem a capacidade que possuem na faixa etária de 4 anos, incluindo uma
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
criança com Síndrome de Down, uma es- se balançar no balanço de pneu. Quanto
tagiária, a professora de Educação Física, a relações mediadas, trabalhamos, além
a professora regente da turma 4A e a pes- da cooperação, soluções de problemas e
quisadora, que também atuou como me- a tomada de decisões, pois assim nossos
diadora das atividades. Como técnicas e alunos poderiam acessar seu repertório
materiais para coleta de dados foram utili- motor, além de ressignificar movimentos
zados observações e composição de diário culturalmente construídos e historica-
de campo, filmagens, fotografias. Como mente acumulados. De acordo com Melo
procedimento foi adotado a implantação (2010, p. 29), “na perspectiva em que o
do planejamento da proposta pedagógica contexto da ação assume papel central
Circo em que cada dia havia uma atividade no processo de desenvolvimento motor, o
diferente. Na medida em que as atividades sujeito é considerado ator do seu próprio
eram avaliadas, o planejamento inicial so- desenvolvimento”. Dentro da temática do
fria ajustes. O tema circo foi escolhido por Circo, realizamos intervenções variadas na
apresentar um universo lúdico muito rico turma, de forma que João tivesse oportu-
para a criança, porque permite o trabalho nidade de ser atendido em suas necessi-
com músicas, com personagens, como: o dades individuais, vindas principalmente
palhaço e o mágico e com diferentes ex- da hipotonia, uma das características da
pressões corporais, como: malabarismo, Síndrome de Down. Esta experiência mos-
acrobacias (como cambalhotas), equili- trou que a Educação Física contribui para
brismo, trapézio, corda bamba, dentre ou- a construção de uma escola inclusiva à
tros. A intervenção foi planejada visando medida que integra saberes e fazeres di-
vivenciar com as crianças práticas corpo- ferentes dentro de um mesmo contexto,
rais atreladas à temática do circo de forma quando tece reflexões sobre os significa-
lúdica e prazerosa. Durante a intervenção dos e sentidos que as ações corporais têm
foi possível observar que todas as crianças dentro da escola e na vida dos indivíduos
participaram ativamente, inclusive João, envolvidos. Acreditamos que intervenções
portador da síndrome da Down. Todos os como as apresentadas nesse estudo evi-
alunos demonstraram parceria e coopera- denciam o papel da educação física como
ção. O processo de mediação professor/ promotora do desenvolvimento integral
aluno foi muito importante para promo- das crianças, integrando o desenvolvimen-
ver um ambiente inclusivo, pois à medida to cognitivo, afetivo e motor. Percebemos
que pensávamos um processo de aprendi- que a intervenção na educação física pode
zagem que incluísse todas as crianças bus- ir além dos “muros” da quadra e integrar
camos também uma prática voltada para ações da escola como um todo. Adultos e
competências dos sujeitos e que contri- crianças, crianças e crianças vivenciaram
buísse para superar as limitações impos- e evidenciaram, neste estudo, as possibi-
tas pela deficiência. Quanto à mediação lidades que se abrem no trabalho coletivo,
aluno/aluno: das relações espontâneas, contextualizado à cultura infantil e, tam-
citamos a cooperação, esta acontecia toda bém, à cultura corporal de movimento.
vez que um colega ajudava o outro a re-
alizar determinada atividade, como: virar Palavras-chave: Inclusão Escolar, Educação
cambalhota, alcançar o trapézio, subir e Física, Cultura Corporal.
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deiras de faz-de-conta e como as mesmas instante (Simão, 2002, 2004). O estudo re-
contribuem para o processo de constitui- velou momentos de tensão presentes nos
ção cultural das crianças que participavam diálogos entre as crianças, que as exigiam
das interações. O estudo faz parte de uma reconstruções afetivas e cognitivas cons-
pesquisa maior realizada durante o ano de tantes. É evidente na análise, que embo-
2005 e teve como participantes dez meni- ra tenha sobressaído o investimento das
nos e seis meninas, com idade entre qua- crianças na negociação de conflitos para
tro e cinco anos e a professora da classe garantir o processo interativo do brincar,
de uma escola localizada na Ilha do Com- longe de ser um ambiente harmônico,
bu, no município de Belém, Pará. O pro- este era um espaço marcado por tensões,
cedimento de coleta constou de gravações desencontros e disputas. Verificou-se res-
em vídeo das brincadeiras que ocorreram significações de princípios de classificação
no cotidiano da classe. As informações fo- dos sujeitos, presentes no contexto socio-
ram coletadas quinzenalmente, perfazen- cultural das crianças, tais como: mais ou
do um total de 16 registros. Os episódios menos competente; mais velho e mais
de faz-de-conta foram transcritos e exami- novo; adulto e criança; homem e mulher
nados do ponto de vista microgenético, de e feio e bonito. Tais ressignificações esta-
acordo com a forma concebida pela psico- vam na origem de diversas experiências
logia histórico cultural. A análise centrou- inquietantes. Na análise ficou evidente
-se na dinâmica do processo de constru- que o processo de constituição cultural
ção de significados pelas crianças. Ficou ocorre da diferenciação de elementos ini-
evidente na análise dos episódios que as cialmente indiferenciados. Tal diferencia-
experiências inquietantes vividas pelas ção só é possível, por intermédio do dis-
crianças, durante as brincadeiras, contri- tanciamento psicológico crescente, pos-
buíam para a tomada de consciência da sibilidade que as crianças encontram no
diferenciação entre o si mesmo e o outro. faz-de-conta, que as exige uma maior des-
Isso pode ser observado pelo uso frequen- centralização do si mesmo e uma menor
te dos pronomes pessoais e possessivos e contextualização. No faz-de-conta, na me-
pela diversidade de formas de ocupação dida em que a criança discorda da outra,
do lugar do outro da cultura, durante a ela instaura um distanciamento entre o si
representação de diversos papeis sociais. mesmo e o outro. Isto a possibilita tomar
Tais achados confirmam a proposição de consciência cada vez mais abrangente de
Góes (2000), de que a brincadeira de faz- seus contextos, de si mesma, dos outros
-de-conta é um excelente campo para e de suas relações com eles e a participar,
investigar os indícios da construção do si de formas cada vez mais diferenciadas do
mesmo e do outro, pelo fato, da criança, processo de construção da sua subjetivi-
nessa atividade, manejar, constantemen- dade e da sua cultura.
te, imagens de si e dos outros da cultura.
A análise mostrou também como as crian- Palavras-chave: Brincadeira de Faz-de-Conta;
ças estavam constantemente significando Educação Infantil; Crianças Ribeirinhas.
e ressignificando a sua relação com os par-
ceiros, figuras cognitivo-afetivas a quem
alimentavam expectativas diversas a todo
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como a aparição de um policial, a prisão, ção da criança cega (ex: permitir o contato
o lobo chegando de carro. Na Interação com os brinquedos utilizados pelos ou-
adulto-criança, observou-se que o adulto tros). Quanto às crianças com baixa visão,
apresentou Sugestão para integração das o adulto orientou à exploração de objetos
atividades e, depois que foi observada na (ex: pistas para aproximação, exploração
Atividade conjunta das crianças, passou tátil e comparação entre objetos). Os re-
a apresentar Comentários e Avaliações sultados trazem subsídios para a interven-
Positivas. Na sessão “Mãe, pai e filho” ção educacional, com um modelo voltado
(Grupo 2), quanto à Interação criança- para a facilitação das aquisições das crian-
-criança,observou-se predomínio de Ação ças; apontam, também, para aspectos es-
conjunta. No que se refere ao Uso de ob- pecíficos, relativos a possíveis obstáculos
jetos, as crianças criaram uma Cena de faz para participação na brincadeira de faz de
de conta entre quatro crianças, de “fazer conta por parte de crianças cegas e com
comidinhas”, com papéis de pai, mãe e baixa visão mais severa; descrevem, ain-
filhos, cada um assumindo um papel com- da, soluções propostas pelo pesquisador,
binado entre eles. E quanto à Interação de forma a propiciar brincadeiras em ní-
adulto-criança, a atuação foi semelhante veis crescentes de elaboração e de supe-
à da sessão já descrita. No final da sessão ração dos obstáculos identificados.
surgiu a necessidade, explicitada pelas
crianças, de registro escrito da brincadeira Palavras-chave: brincar, deficiência visual,
para poderem dar continuidade à mesma Educação Especial
na sessão seguinte. Também foi observa- Contato: Letícia Coelho Ruiz, CEPRE/FCM-
do que, nessa sessão, uma das crianças UNICAMP, letsruiz@yahoo.com.br
pegou algumas caixas de alimento e leu
os registros das caixas. É interessante
destacar esses aspectos, pois, indicaram LT04-986 - A CONDIÇÃO
a compreensão da função da escrita, sen- UNDERACHIEVEMENT NO FENÔMENO
do que a maior queixa de aprendizagem ALTAS HABILIDADE/SUPERDOTAÇÃO:
desses alunos estava relacionada à leitura DESDOBRAMENTOS EMPÍRICOS
e escrita. A análise das sessões permitiu Fernanda do Carmo Gonçalves - UnB
identificar estratégias das crianças para a fernandajfmg@yahoo.com.br
exploração dos objetos e elaboração de Vanessa Terezinha Alves Tentes - SEDF
faz de conta. Foi possível identificar alguns psivan@terra.com.br
obstáculos na interação com a criança Denise de Souza Fleith - UnB
cega e alguns exemplos em que a inter- fleith@unb.br
venção do adulto pôde promover melhor
interação entre as crianças. No grupo com Conceber o indivíduo superdotado, en-
a criança cega, o adulto descreveu a locali- xergar o seu potencial e ao mesmo tempo
zação dos brinquedos, aproximou objetos reconhecer suas limitações é um exercício
e deu pistas verbais de direcionamento desafiador, presente nos estudos sobre
para que a criança realizasse deslocamen- a condição de baixa performance acadê-
tos. O adulto também orientou as outras mica ou underachievement (McCoach &
crianças para que facilitassem a participa- Siegle, 2003; Montgomery, 2009; Neihart,
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
2002; Ourofino, 2005, 2007; Ourofino & tem cerca de dois milhões de estudantes
Fleith, 2005; Reis & McCoach, 2002). A superdotados e a prevalência de undera-
baixa performance acadêmica em indiví- chievers pode chegar a 50% dos alunos
duos superdotados refere-se, portanto, a identificados no contexto educacional.
uma condição concomitante a de super- Mais recentemente, o Davidson Institute
dotação, que interfere no desenvolvimen- for Talent Development (2009) divulgou
to do indivíduo, em consequência da dis- que a população de superdotados abran-
crepância entre o potencial previamente ge 2.392.300 indivíduos, ou seja, 5% dos
revelado e a performance atual exibida. estudantes norte-americanos. Desse total,
A condição antagônica vivenciada pelo mais da metade é considerada underachie-
superdotado o coloca em situação de ris- ver. Esses dados reforçam a preocupação
co, de vulnerabilidade social e emocional, dos estudiosos da área de superdotação e
acentuando ainda mais suas necessida- confirmam a prevalência de underachie-
des educacionais especiais. As Diretrizes vers em vários países, conforme verificado
Nacionais para a Educação Especial na em estudos conduzidos na Espanha por
Educação Básica reconhece o aluno su- Olivarez (2004), na Áustria por Schober
perdotado, como aquele que apresenta (2004), na Alemanha por Sparfeldt (2006)
“grande facilidade de aprendizagem que e mais recentemente por Doeschot-Bults
o leve a dominar rapidamente conceitos, e Hoogeveen (2010), na Turquia por Bas-
procedimentos e atitudes” (Ministério da lanti e McCoach (2006), em Hong Kong
Educação, 2001, Art. 5°, III). A Política Na- por Phillipson (2007), na República Tche-
cional da Educação Especial, no que tange ca por Dvorakova (2008) e Holesovska
às altas habilidades/superdotação, define (2010), na França por Villatte e Leonardis
o superdotado como aquele que demons- (2010) e na Inglaterra por Montgomery
tra “potencial elevado em qualquer uma (2009), além da extensa produção verifi-
das seguintes áreas, isoladas ou combi- cada nos Estados Unidos da América e no
nadas: intelectual, acadêmica, liderança, Canadá. No Brasil, os estudos sobre de-
psicomotricidade e artes, além de apre- sempenho escolar abarcam os alunos de
sentar grande criatividade, envolvimento modo geral (Pinheiro-Cavalcanti, 2009; Li-
na aprendizagem e a realização de tarefas bório, 2009). No que tange especificamen-
em áreas de seu interesse” (Ministério te à performance acadêmica de indivíduos
da Educação, 2008, p.15). Superdotação superdotados, não foram encontrados es-
e insucesso escolar não se complemen- tudos brasileiros que investigassem esse
tam mutuamente, pois se encontram em fenômeno. No entanto, chamam atenção
extremos opostos no espectro do ensino. os dados oficiais apresentados no Censo
No entanto, apesar da dissonância cogni- Escolar 2010 demonstrando que no país
tiva que essa condição suscita, a realidade existem 53.791.142 estudantes matricu-
mostra que muitos superdotados exibem lados na Educação Básica, sendo que des-
baixo rendimento escolar. Ao longo dos te total, 398.155 são alunos da educação
últimos trinta anos a preocupação com especial, 5.186 alunos são considerados
superdotados underachievers tem ganha- superdotados e, entre estes, apenas 465
do força e espaço de investigação. Para estão matriculados no Distrito Federal
Heacox (1991), nos Estados Unidos exis- (Ministério da Educação, 2010). Diante
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síveis ao sistema de ensino e estão de, al- ciais posteriores. Nessa perspectiva, o
gum modo, excluídos dos processos edu- autismo é caracterizado por prejuízos bio-
cacionais. É imperativo que a sociedade se lógicos primários acarretando déficits nas
mobilize para criar alternativas alinhadas interações sociais. Esta pesquisa aborda o
com o movimento de educação inclusiva, transtorno autista que abrange um espec-
a fim de reverter essa realidade paradoxal. tro heterogêneo de quadros comporta-
mentais envolvendo desvios no desenvol-
Palavras-chave: Educação, Superdotação, vimento desde os primeiros anos de vida
Underachievement nas áreas de interação social, comunica-
Contato: Fernanda do Carmo Gonçalves, UnB, ção e imaginação. Inúmeras pesquisas são
fernandajfmg@yahoo.com.br realizadas e muitos aspectos permanecem
inconcludentes, sobretudo em relação à
etiologia, as possibilidades terapêuticas e
LT04-1036 - INCLUSÃO DE CRIANÇAS inserção em escolas regulares. A inclusão
AUTISTAS: UM ESTUDO SOBRE escolar dessas crianças é questionada por
CONCEPÇÕES E INTERAÇÕES NO alguns educadores devido aos prejuízos
CONTEXTO ESCOLAR inerentes às características da síndrome,
Emellyne Lima de Medeiros Dias Lemos - mas este trabalho se apóia em estudos
UFPB que admitem que embora seja uma prá-
emellyne@gmail.com tica difícil, é também realizável e possível,
Nádia Maria Ribeiro Salomão - UFPB considerando os benefícios das vivências
nmrs@uol.com.br escolares tanto em termos de interações
Financiamento: CNPq sociais quanto do desenvolvimento de
habilidades cognitivas nas crianças do
A interação social é de grande relevância espectro. A falta de clareza quando aos
no processo de desenvolvimento infantil benefícios da inclusão escolar dessas
entendendo que o sujeito, inserido em crianças traz implicações às concepções
um contexto histórico-social, é um ser sobre os indivíduos autistas. Nesse senti-
ativo em suas interações desde a mais do, destaca-se a importância de conhecer
tenra idade. Nesse processo destaca-se as concepções de pais e educadores visto
a importância do ambiente interpessoal que tais idéias apresentam implicações
para a aquisição de habilidades comu- nas práticas e nas interações estabeleci-
nicativas ressaltando a convivência com das com a criança. Dada à importância da
outras crianças, assim como o suporte do interação social e a influência dos contex-
adulto, uma vez que, sensível às necessi- tos situacionais e interacionais o presente
dades conversacionais da criança é capaz estudo tem como objetivos principais ana-
de adequar seu comportamento comu- lisar as interações sociais entre as crianças
nicativo às capacidades desta última. O com espectro autista e as demais crianças
presente estudo adota uma perspectiva nos contextos de escolas regulares con-
desenvolvimentista que concebe o desen- siderando a mediação das professoras,
volvimento típico a partir da articulação assim como, analisar as concepções dos
entre capacidades biológicas iniciais para pais e professores acerca da criança e do
o engajamento social e as interações so- processo de inclusão escolar com ela rea-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
lizado. Participaram deste estudo crianças mo, alguns abordando que as dificuldades
e professoras de duas escolas regulares na interação social diferiam de preferên-
particulares da cidade de João Pessoa - cia ao isolamento; satisfação com o pro-
PB; sendo analisadas duas turmas de uma cesso de inclusão escolar realizado com
escola e três de outra, totalizando cinco seus filhos e reconhecimento da impor-
professoras, como também cinco crianças tância do papel da família nesse processo.
com diagnóstico do espectro autista, com Outro aspecto foi que embora atribuíssem
idades variando entre 3 e 5 anos, de classe expectativas mais voltadas à socialização,
sócio-econômica média e seus respectivos a maioria enfatizou as diferentes habili-
pais. Para a coleta dos dados, foram uti- dades adquiridas pelos seus filhos após a
lizadas entrevistas semiestruturadas com entrada na escola. Quanto às professoras
os pais e professoras registradas através a maioria demonstrou estar reformulando
de um mini-gravador, como também, fo- suas concepções a partir das experiên-
ram realizadas duas filmagens em cada cias estabelecidas com estas crianças no
turma contemplando 20 minutos em cada cotidiano escolar, adotando concepções
uma das situações de pátio e sala de aula, que embora abordem as dificuldades das
dos quais foram transcritos e analisados crianças, partem de aspectos positivos
10 minutos. Com o objetivo de caracte- que envolvem as possibilidades e os re-
rizar as crianças deste estudo também sultados dos esforços dispensados com o
foi utilizada a escala de avaliação CARS trabalho de inclusão. No que diz respeito
(Childhood Autism Rating Scale). Quanto às interações estabelecidas no contexto
à análise dos dados, as entrevistas foram escolar foram observadas categorias de
transcritas e analisadas a partir da técnica comportamentos verbais e não verbais
de análise de conteúdo, as filmagens fo- em três áreas: comportamentos da crian-
ram transcritas e foram analisadas através ça com espectro autista, comportamentos
de categorias pós-formuladas tendo em da professora e comportamentos das de-
vista a bidirecionalidade nas interações mais crianças. Na primeira área emergi-
estabelecidas nos contextos escolares de ram as seguintes categorias e subcatego-
pátio e sala de aula, assim como, a parti- rias: Olhar, sendo este dirigido a pessoas,
cipação dos membros em termos de fre- ações ou objetos; Iniciativa, sendo esta
quência e duração do comportamento. Os dirigida a pessoas, ações ou a objetos;
resultados apresentados neste trabalho Resposta adequada; Interação passiva;
contemplam parte dos resultados da pes- Imitação; Demonstração de afeto; Sorriso;
quisa de dissertação de mestrado. Em re- Esquiva e Isolamento. Já na segunda área
lação à análise das verbalizações dos pais foram observadas as categorias: Mostrar;
das crianças com espectro autista, embo- Gesticular; Apoio físico; Modelo; Demons-
ra considerando apenas 5 participantes tração de afeto; Diretivos, sendo estes de
alguns aspectos foram encontrados, quais atenção, de instrução e de controle de
sejam: percepção dos filhos como crianças comportamento; Informação e Feedback.
carinhosas e afetuosas, atribuindo a difi- Por último, sobre os comportamentos das
culdade em comunicar-se como sendo a demais crianças emergiram as categorias:
principal característica de criança autista; Olhar; Iniciativa; Esquiva e Demonstração
relatos de dificuldades em definir autis- de afeto. Nos contextos de pátio foram
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várias tentativas de suicídio, os fatores de tem três filhos: duas meninas, uma de 14
risco relacionados e a validade do Zulliger e outra de 27 anos de idade e um meni-
nesse contexto. Foram participantes duas no, de 18 anos. A baixa hospitalar deu-se
mulheres, de 41 e 47 anos de idade, di- pelo consumo de 18 comprimidos de dia-
vorciadas, uma auxiliar de serviços gerais zepam, sua quarta tentativa de suicídio,
e outra de indústria, com ensino funda- sendo uma anterior ao tentar atirar-se
mental e médio, respectivamente. Utili- do quarto andar de um prédio. O início
zaram-se como critérios de inclusão: (a) desses episódios foi relacionado com o
tentativas de suicídio anteriores; (b) hos- excesso de trabalho, quando também co-
pitalização em decorrência da tentativa meçou a apresentar sintomas psicóticos.
de suicídio, por um período de no mínimo Dados da família de origem revelaram a
três dias; (c) não fazer uso de medicações presença de irmãos usuários de drogas,
que pudessem interferir na fidedignidade sendo um deles morto por overdose, e
dos achados. Como instrumentos utiliza- de morte por suicídio nos dois avôs, tanto
ram-se a entrevista clínica semiestrutura por parte de pai quanto de mãe. O Caso
e o teste Zulliger no Sistema Compreensi- “B” pensa em se matar porque não tem
vo ZSC. Os dados foram analisados quanti outra opção; além de querer morrer quer
e qualitativamente, trazendo elementos matar seus filhos. A análise comparativa
sobre a leitura da realidade, defesas psi- dos protocolos de entrevista permitiu ve-
cológicas, autopercepção, percepção in- rificar que ambas as pacientes apresen-
terpessoal e história de vida. A entrevista taram cinco tentativas de suicídio cada
semiestruturada revelou que o Caso “A”, uma, sobretudo pela ingestão de medi-
de 41 anos, é divorciada, mas vive, atual- camentos; possuíam, em seu desenvol-
mente, com um companheiro; é mãe de vimento, histórico familiar disfuncional
um menino de 15 anos e de uma menina e de perdas traumáticas; foram diagnos-
de 25 anos. A baixa hospitalar deu-se pela ticadas com transtorno de personalida-
intoxicação por ingestão de 20 comprimi- de borderline e participam de grupos de
dos de carbamazepina e de amitriptilina, atendimento psicoterápico individual em
sendo sua terceira tentativa de suicídio ambulatório de saúde mental. A inter-
por consumo de medicamentos. As duas pretação dos protocolos do ZSC, por sua
tentativas anteriores foram: uma aos 20 vez, possibilitou confirmar a história do
anos de idade, por ingerir veneno, oca- desenvolvimento pessoal por meio dos
sião em que começou a sentir vontade de dados de personalidade e a identificar
se matar e, a outra, quando tentou cortar prejuízos na apreensão da realidade, de si
os pulsos por sua perícia ter sido negada. mesmo, do outro e nas interações sociais,
O início desses episódios foi relacionado por meio de atribuições de aspectos sub-
com a morte de seus dois irmãos, que fo- jetivos, distorcidos e falhos. Os dois casos
ram assassinados com tiro na cabeça. O apresentaram dificuldades de controle
Caso “A” pensa em se matar porque acre- emocional, impulsividade, instabilidade
dita que irá para um lugar melhor, mas, nos relacionamentos e isolamento. Esses
ao mesmo tempo em que quer morrer, resultados podem ser úteis para ampliar
quer melhorar para cuidar de seu neto. a compreensão de pacientes com tenta-
O Caso “B”, de 47 anos, é divorciada e tivas de suicídio, para predizer as possi-
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fim de se compreender como estes inter- maioria, pelo modelo nuclear (65%), em-
ferem na resiliência de adolescentes. Para bora 17,5% vivessem numa família mono-
tanto, foram entrevistados 40 adolescen- parental, chefiada pela figura da mãe. O
tes (52,5% meninos e 47,5% meninas), relacionamento com os pais foi avaliado
com idades entre 11 a 17 anos (M=12,97; de forma positiva (70,7%), sendo que mo-
DP=1,10), residentes na área urbana e nitoramento (63,4%), afeto (56,1%) e es-
periférica de um município gaúcho ca- tabelecimento de regras (61%) foram ava-
racterizado, eminentemente, pela agri- liados pelos adolescentes como aspectos
cultura familiar. Os adolescentes foram importantes na relação pais-filhos. Os
convidados a participarem da pesquisa, relacionamentos com amigos e professo-
tendo sido autorizados por seus pais, que res também foi avaliado de forma positi-
assinaram o Termo de Consentimento Li- va (78,0% e 56,1%, respectivamente). Em
vre e Esclarecido. Foi aplicado um Ques- relação às estratégias de enfrentamento
tionário com 16 questões estruturadas, utilizadas pelos adolescentes frente às
sobre variáveis individuais e do contexto situações adversas, os itens “continuar
familiar e escolar, que pudessem estar tentando resolver o problema” (75,6%),
associadas à resiliência. Este questionário “acreditar em si mesmo frente às dificul-
foi elaborado a partir dos dados de Assis dades que a vida lhe apresenta” (48,8%)
et al. (2006) e aplicado de forma coletiva. e “pedir ajuda a alguém” (46,3%) foram
Os dados foram tabulados e analisados no os mais citados pelos adolescentes en-
programa SPSS versão 13.0. Foram reali- trevistados. Nesse sentido, os resultados
zadas análises estatísticas descritivas e de apontam que, apesar da presença de fa-
frequência simples, bem como cálculo de tores de risco ao desenvolvimento destes
correlação de Spearman. Os resultados adolescentes, sobretudo pela exposição
apontaram que a trajetória de vida des- a eventos estressores, os participantes
tes adolescentes foi caracterizada pela apresentaram boa autoestima e elevada
exposição a eventos estressores (56,1%), satisfação de vida. Observou-se, ainda,
incluindo separação dos pais, morte de um predomínio de estratégias de enfren-
um ente querido, uso de drogas por um tamento adaptativas por parte dos ado-
familiar e violência doméstica. Os parti- lescentes frente a situações adversas. A
cipantes relataram vivenciar algum sofri- presença de fatores de proteção na famí-
mento psíquico frente a estas diferentes lia e no contexto comunitário (grupo de
situações adversas (41,5%). No entanto, pares e escola) pode ser considerada uma
estes adolescentes se percebiam como variável importante para o processo de
tendo uma autoestima alta (58,5%) e uma resiliência. Conclui-se que uma maior in-
elevada satisfação de vida (82,9%), além vestigação da interação de características
de terem planos para o futuro (82,9%). individuais e do contexto de desenvolvi-
Foi encontrada uma correlação positiva mento do adolescente podem dar subsí-
entre alta autoestima e monitoramento dios para os estudos sobre resiliência em
parental (r=.50; p<0,01), bem como entre jovens, na tentativa de potencializar os
satisfação de vida e relacionamento com aspectos saudáveis destes indivíduos e de
os pais (r=.64; p<0,01). A família destes sua capacidade de superação das dificul-
adolescentes caracterizava-se, em sua dades e adversidades da vida.
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tar mais viver e a querer terminar com o tentando, sendo que começou há mais ou
sofrimento de sua família. É usuária de menos 6 anos, quando ela se mudou para
cocaína injetável e de medicações anesté- o interior onde não há vizinhos e ela fica
sicas injetáveis (morfina e dolantina). En- sozinha o dia todo. Hortência relata que
contra-se em tratamento no CAPS AD e já fizeram “mal feito” na casa onde ela mora,
apresenta sintomas psicóticos (paranóia, pra separar ela e seu marido, porque ela
alucinações). Orquídea foi hospitalizada diz que fica “possuída” e faz essas coisas.
em decorrência da ingestão de 18 com- Seu marido trabalha de motorista; já mo-
primidos de diazepan e para ser encami- raram em várias cidades, porque ele troca
nhada para uma clínica psiquiátrica, pois, de emprego seguidas vezes. O resultado
tem diagnóstico de transtorno borderline. do teste HTP apresentou características
Encontra-se em tratamento psiquiátrico comuns, considerando-se a localização
e psicológico há, aproximadamente, dois dos desenhos (esquerda), a linha de solo,
anos. Relata que segue o tratamento cor- os detalhes na casa como na porta (aber-
reto até certo ponto: “é que nem criança ta). Na figura da pessoa, detalhes como a
quando ganha chocolate e dizem pra ela presença de dedos indicaram atuação e
comer um pedacinho por dia e ela segue detalhes no pescoço, impulsividade. Essas
isso, mas, de repente, come tudo de uma características são consonantes com as-
vez só... eu faço a mesma coisa, eu tomo pectos relacionados às características de
certinho um comprimido por dia, mas tem personalidade de indivíduos que cometem
dias que dá vontade e eu tomo um mon- tentativas de suicídio, especialmente, no
te pra testar até aonde eu aguento”. Fre- que diz respeito à incapacidade de tolerar
quentemente, faz ameaças, dizendo que frustrações, impulsividade, intolerância e
vai matar seus filhos. Bromélia foi interna- atuação. Na realização do HTP, as narra-
da devido à intoxicação de medicamentos tivas das participantes sobre os desenhos
(20 comprimidos de carbamazapina e de revelaram idéias de morte, sentimentos
amitriptilina); é sua terceira tentativa de de frustração, carência afetiva e evidencia-
suicídio utilizando medicamentos, sendo ram a utilização de mecanismos de defesa
que teve outra tentativa, quando estava como identificação projetiva, o que é, co-
com 20 anos, ingerindo veneno. Bromé- mumente, empregado por pacientes com
lia relata que desde essa idade pensa em Transtorno Borderline. Apesar da amostra
se matar, acreditando que “lá em outro reduzida do estudo, esses resultados au-
lugar vai ser melhor”. Nessa época esse xiliam na melhor compreensão das carac-
sentimento foi agravado com a morte de terísticas de personalidade de indivíduos
um de seus irmãos, assassinado com um que apresentam risco de suicídio e na ca-
tiro na cabeça e, há mais ou menos 8 anos, pacitação de profissionais que atuam nes-
outro irmão foi assassinado da mesma for- se contexto.
ma. Hortência teve baixa hospitalar por-
que queria tentar se matar de qualquer Palavras-chave: tentativa de suicídio, teste
jeito; tentou enforcar-se, atirar-se da ja- HTP, características de personalidade
nela e cortar-se com facas. A família não Contato: Luana Gasparetto Fontanella,
sabe dizer quantas tentativas Hortência Fundação Hospitalar Santa Terezinha,
já teve, sua filha diz que ela esta sempre Erechim/RS, luluzinhagf@erechim.com.br
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ra (2001), indica a necessidade de pesqui- Único de Saúde (SUS), tem como objetivo
sas interdisciplinares que possam tornar a expansão de estratégias de prevenção e
visíveis os determinantes e impactos do tratamento relacionadas ao consumo de
trabalho precoce. As instituições de ensi- álcool e outras drogas, mediante ações
no superior têm responsabilidade ímpar intersetoriais, ou seja, ações integradas
nessa tarefa. Os artigos aqui apontados de setores como saúde, justiça, assistên-
sinalizam para algumas respostas e fazem cia social, educação, cultura, esporte e la-
emergir a urgência e seriedade necessá- zer, tanto na esfera governamental como
rias no tratamento dessa questão. não-governamental, com prioridade para
os cem maiores municípios brasileiros,
Palavras-chave: Trabalho Infantil, Crianças, abrangendo todas as capitais. Visa a am-
Trabalho Infanto-juvenil. pliação do acesso, qualificação dos profis-
sionais, prevenção, promoção da saúde e
redução de danos relacionados ao consu-
LT03-906 - PROJETO CONSULTÓRIO mo de substâncias psicoativas e, ainda, o
DE RUA DO MUNICÍPIO DE GOIÂNIA: resgate dos direitos humanos e de cida-
CONQUISTANDO A CIDADANIA dania da população usuária. Os dispositi-
Elaine da Cunha Fernandes Mesquita - SMSG vos consultórios de rua no SUS tem como
elainefmesquita@yahoo.com.br princípios a garantia dos direitos huma-
Helizett Santos de Lima - SMSG/UnB nos, combate ao preconceito e estigma,
helizettlima@yahoo.com.br inclusão e reinserção social, baseadas em
Marcelo Santos Ribeiro - SMSG ações de redução de danos e integradas
olecramribeiro@hotmail.com a outras políticas públicas de saúde no
Rôzi-Mayry Oliveira Soares Duarte - SMSG campo da saúde mental. É composto de
capsgirassol@gmail.com equipe volante multiprofissional, com
Sheila Alves da Cunha - SMSG técnicos da saúde mental, atenção básica,
sheilacunha.mt@gmail.com educadores sociais, oficineiros e reduto-
Roberto Vaz de Abreu - SMSG res de danos que desenvolvem trabalho
robevaz@hotmail.com extramuros nos locais onde se encontram
as pessoas que vivem em situação de rua
O uso de substâncias psicoativas por pes- e fazem uso de substâncias psicoativas,
soas em contexto de vulnerabilidade so- prioritariamente a população jovem. Es-
cial, em situação de rua, tem preocupado ses dispositivos devem integrar a rede de
a sociedade brasileira. No município de saúde mental local, trabalhar com ações
Goiânia esta realidade não é diferente voltadas para a intra e intersetorialidade,
e percebe-se a necessidade de ofertar o para possibilitar aos usuários o acesso aos
acesso aos serviços de saúde existentes diversos serviços de saúde disponíveis e,
para essa parcela da população que se en- ainda, outros serviços como da assistência
contra excluída da sociedade e em condi- social de acordo com as demandas espe-
ções precárias de sobrevivência. O Plano cíficas apontadas pela clientela atendida.
Emergencial de Ampliação do Acesso ao Entre os projetos da rede especializada
Tratamento e Prevenção em Álcool e ou- em saúde mental de Goiânia, que foram
tras Drogas (PEAD 2009-2010), do Sistema aprovados recentemente pelo Ministério
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muitas vezes necessitando de mais trocas o TDAH, a partir de dois eixos principais:
e experiências com o meio. No caso do 1) o estudo do desenvolvimento de crian-
TDAH, a literatura demonstra que crian- ças com este transtorno, com ênfase na
ças com tal diagnóstico apresentam um construção de noções operatórias, em
desempenho em baterias neuropsicoló- especial na noção de tempo; 2) a diferen-
gicas comparável aos resultados de crian- ciação entre aspectos estruturais e proce-
ças mais novas não diagnosticadas. Outra dimentais das ações, suas interrelações e
importante característica é a dificuldade funções no desenvolvimento das noções
em “pensar antes de agir”, entendida no operatórias. Em relação ao desenvolvi-
campo da Neuropsicologia como uma mento das referidas noções, pesquisas
dificuldade em inibir pensamentos ou demonstram que, em provas operatórias,
atitudes impulsivas, justamente por uma crianças hiperativas apresentam uma ten-
dificuldade em antever suas consequên- dência em emitir julgamentos e respostas
cias. Portanto, acreditamos que o próprio típicos do período pré-operatório de de-
campo de pesquisas sobre o TDAH aponta senvolvimento, no qual ainda não estão
a necessidade de uma investigação mais construídos aspectos importantes para o
detalhada a respeito do desenvolvimen- desenvolvimento da inteligência opera-
to das crianças diagnosticadas com este tória, como a conservação, interiorização
transtorno. A partir da teoria de Jean da ação em pensamento, flexibilidade
Piaget, temos um referencial teórico que mental e reversibilidade. Os sintomas de
permite realizar pesquisas sobre o TDAH impulsividade podem ser compreendidos
à luz da Psicologia do Desenvolvimento. de forma mais detalhada diante desses
A teoria piagetiana procura responder a indícios de defasagens no desenvolvi-
questão de como é possível a construção mento. Para que a criança consiga “pen-
de conhecimento. Por meio de um pro- sar antes de agir”, é necessário que ela
cesso dialético de interação e adaptação consiga coordenar os eventos passados,
ao mundo, os indivíduos desenvolvem- à luz dos acontecimentos presentes, para
-se progressivamente, em seus aspectos tomar uma decisão acertada, prevendo
cognitivos, afetivos e morais. Embora Pia- as consequências futuras. Para Piaget, a
get não tenha estudado especificamente construção da noção de tempo é o aspec-
crianças diagnosticadas com algum tipo to necessário para a coordenação desses
de transtorno, suas contribuições podem eventos, e, em consequência, para a pos-
ser aplicáveis a este campo de pesquisa, sibilidade do estabelecimento das rela-
já que, na teoria piagetiana temos como ções causais. Portanto, o tempo, para este
foco o sujeito epistêmico e suas ações autor, é compreendido como uma noção
no mundo. Assim, as particularidades e o cognitiva, estruturante do real e organi-
contexto social não são descartados, mas zadora das experiências do indivíduo. O
procura-se entender as regularidades e tempo pode ser apreendido de maneira
semelhanças dos processos de desenvol- objetiva ou subjetiva, e, a respeito dessa
vimento em diferentes contextos. Com questão, Piaget distingue o tempo físico,
base na teoria piagetiana, temos como que se refere à duração métrica do tem-
objetivo realizar reflexões que contribu- po, e o tempo vivido, que seria a duração
am para uma maior compreensão sobre psicológica do tempo, ou seja, a sensa-
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ção dos sujeitos em relação à passagem esta construção teórica com dados de
do tempo. Serão apresentados dados de pesquisa em andamento, que busca rea-
pesquisa realizada com 62 crianças, que lizar intervenções em crianças com TDAH
investigou as noções temporais em crian- a partir de jogos e situações problema.
ças com TDAH, e os possíveis efeitos das Assim, esperamos que tais pesquisas e
medicações psicoestimulantes utilizadas apontamentos teóricos possam contribuir
para o tratamento do transtorno no de- para um melhor entendimento de crian-
senvolvimento das noções operatórias. ças TDAH, e contribuir para a elaboração
Crianças com TDAH tenderam a apresen- de estratégias de intervenção no campo
tar dificuldades em mensurar intervalos da Psicologia e da Educação.
de tempo, e demonstraram, em suas res-
postas às perguntas feitas na aplicação Palavras-chave: desenvolvimento atípico;
das provas piagetianas, uma noção tem- TDAH; teoria piagetiana.
poral não dissociada da noção de espaço. Contato: Camila Tarif Ferreira Folquitto.
Em relação ao uso do metilfenidato na Instituto de Psicologia da Universidade de São
amostra clínica, não foi observada dife- Paulo
rença entre o desempenho de crianças E-mail: ctarif@usp.br
com TDAH medicadas e não medicadas.
Portanto, por meio destas pesquisas po-
demos pensar que crianças com TDAH LT01-969 – A MEDIAÇÃO AFETIVA NO
possuem sintomas que as impedem de PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR DO
focar a atenção em estímulos importan- ALUNO COM TRANSTORNO GLOBAL DO
tes; em decorrência disso, as trocas com DESENVOLVIMENTO - TGD – UM ESTUDO
o meio, que possibilitam construções cog- DE CASO.
nitivas essenciais, ficariam prejudicadas, Érika Goulart Araújo - UAB/UnB
acarretando um atraso no desenvolvi- erikagoulart@hotmail.com
mento, na apreensão de noções abstra- Geane de Jesus Silva - UAB/UnB
ídas das relações dos objetos do mundo enaeg@hotmail.com
físico. A partir desses resultados, realiza-
remos uma discussão teórica a respeito O estudo levanta uma inquietação cientí-
da interação entre os procedimentos, fico-pedagógica e constitui-se num estu-
isto é, as ações pontuais que os sujeitos do de caso evidenciado no contexto de
realizam para atingir determinado fim, e uma escola pública do Distrito Federal na
as estruturas, que dizem respeito ao con- perspectiva de uma criança do sexo femi-
junto das implicações necessárias para a nino diagnosticada com Transtorno Glo-
realização das ações, que são atemporais bal do Desenvolvimento – TGD portado-
e interiorizadas. Refletir sobre as relações ra de Autismo atípico, matriculada no 2°
entre o par procedimentos/estruturas Ano do Ensino Fundamental. A pesquisa
nos permite pensar a respeito da qualida- teve como principal problemática: enten-
de das ações e procedimentos de crianças der até que ponto a mediação afetiva no
com TDAH, sobre o que “sabem fazer” e contexto escolar pode contribuir com o
o quanto elas “compreendem as razões” processo de inclusão educacional de um
destes procedimentos. Exemplificaremos aluno com TGD. Para isso, como objetivo
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do Programa de Educação Precoce, tam- vel, por que o preconceito ainda não está
bém tendo participado do mesmo Pro- cristalizado, e as crianças que convivem
grama em Centro de Ensino Especial. A com a diferença na escola tendem a ser
condição definida para esta participação mais compreensivas com a diversidade. A
foi que todos estivessem envolvidos com criança em situação de necessidade espe-
o programa, direta ou indiretamente. As cial, inserida na escola desde cedo e que
entrevistas foram realizadas por meio de faz parte do alunado, aos poucos vai con-
procedimentos similares e pautadas por quistando seu espaço, interagindo com
referenciais teóricos e pressupostos me- funcionários e outras crianças, com os
todológicos comuns. Os três instrumen- próprios colegas em sala de aula e partici-
tos foram idealizados para entrevistas pando das atividades coletivas da escola.
semiestruturadas, sendo que o primeiro Outro aspecto trazido nas entrevistas foi
era destinado ao gestor da instituição que o impacto na percepção dos pais ao leva-
já atuava na escola antes do Programa de rem seus filhos para serem atendidos no
Educação Precoce se iniciar lá. O segundo Programa de Educação Precoce e se depa-
instrumento era aplicado em professores rarem com crianças, jovens e adultos nos
e coordenador do Programa. O terceiro, Centros de Ensino Especial que apresen-
destinado à entrevista com a família da tam um desenvolvimento muito aquém
criança. Buscamos, com isto, valorizar o do esperado, podendo comprometer a
ambiente natural, bem como o significa- frequência da criança no Programa de-
do que as pessoas participantes deram vido ao preconceito, o que pode levar a
e dão à inclusão e à educação. O estudo própria criança a não se desenvolver de
foi realizado em uma escola de Educação forma adequada. Outro aspecto trazido
Infantil localizada em uma Região Admi- nas entrevistas foi relativo à dificuldade
nistrativa de Brasília, no Distrito Federal. no processo de inclusão como as barrei-
As entrevistas foram transcritas em sua ras arquitetônicas, falta de monitor, res-
integridade e foram considerados temas peito à estratégia de matrícula, a qualifi-
recorrentes para a definição das catego- cação profissional, a resistência e a acei-
rias utilizadas para análise. Os entrevista- tação do profissional com a criança com
dos trouxeram, em suas verbalizações, a necessidades especiais. Apesar de tudo,
importância do processo de inclusão e as- foi relatado que com o Programa em fun-
pectos que favorecem o desenvolvimento cionamento na escola comum os profes-
infantil dentro da escola comum, além dis- sores estão mais sensíveis ao processo de
to, salientaram a importância da presença inclusão. Também é reconhecida, pelos
de outras crianças no processo de desen- participantes deste estudo, a importân-
volvimento das crianças em situação de cia do Programa para o desenvolvimento
necessidade especial, como referências das crianças com necessidades especiais
uma para as outras. Segundo eles, esse e sua futura inclusão na rede pública de
processo é uma via de mão dupla, pois as ensino regular. Os trabalhos desenvolvi-
crianças (com ou sem necessidades espe- dos nos Programas de Educação Precoce,
ciais) aprendem com as diferenças. Ainda tanto nos Centros quanto em escolas re-
para os participantes, é importante que gulares, objetivam a inclusão. No entanto,
este processo ocorra o mais cedo possí- através dos relatos, foi possível concluir
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dora. Viu-se como essencial proporcionar (1994) postulam que a brincadeira parece
às agentes um momento de reflexão e ser importante para diversos aspectos do
conhecimento sobre as diferenças entre desenvolvimento, e essas vivências lúdi-
a Tradicional e a Integradora, bem como, cas são necessárias para que a criança se
a relevância de se ter clareza dos concei- desenvolva normalmente. Como as agen-
tos de cada abordagem e seguir cons- tes estão constantemente em contato
cientemente uma teoria escolhida. Pois, com as crianças, principalmente nos mo-
segundo Almeida (2002), ao oportunizar- mentos das brincadeiras, é imprescindível
-se uma formação de qualidade aos pro- que elas compreendam a importância do
fissionais de Educação Infantil, estaremos momento lúdico para o desenvolvimen-
subsidiando-lhes na construção de suas to da criança e, com isso, possam pro-
práticas, proporcionando-lhes consciên- porcionar-lhes um ambiente agradável e
cia das opções teórico-práticas que fazem criativo. Na atividade com as professoras
e, assim, podendo oportunizar que se li- foram realizados encontros grupais e in-
bertem das amarras impostas pelas inse- dividuais. O encontro grupal foi realizado
guranças originárias do desconhecimento mensalmente no turno vespertino, com
de seu objeto de trabalho – a infância. grupo fixo, na sala dos professores. Para
No segundo encontro foram trabalha- a realização do primeiro encontro foi
dos os objetivos da Educação Infantil: o abordado as diferenças entre duas abor-
cuidar e educar. O cuidado e a educação dagens em Aprendizagem: a Tradicional e
são indissociáveis, pois a instituição deve a Integradora. Já para os demais encon-
promover práticas de educação e cuida- tros os temas foram definidos tendo-se
dos, que possibilitem a integração entre como base os encontros individuais com
os aspectos físicos, emocionais, afetivos, as professoras. Os encontros individuais
cognitivos/lingüísticos e sociais da crian- foram realizados semanalmente, tanto no
ça, entendendo que ela é um ser com- período da manhã como no da tarde, com
pleto e indivisível. Já no terceiro encon- duração de aproximadamente uma hora,
tro o tema proposto para discussão foi o sendo que os horários dos encontros fo-
desenvolvimento infantil. Darezzo (2004) ram combinados com as próprias profes-
afirma que algumas informações sobre o soras. Tanto com os encontros individuais
desenvolvimento infantil, as fases que ca- e grupais pode-se perceber a abertura
racterizam seu desenvolvimento em ter- das professoras para novos conhecimen-
mos de habilidades, limites e descober- tos e discussão das dificuldades enfrenta-
tas, ajudam muito o adulto nas decisões das em sala de aula, foi discutido sobre
frente a problemas que surgem no dia a a construção de propostas pedagógicas
dia. Portanto, pode-se dizer que o conhe- e curriculares, que espelhe as conquistas
cimento sobre o desenvolvimento infantil e saberes já existentes nestas práticas, e
permite realizar aconselhamento de pais também sejam capaz de vislumbrar en-
e formação de programas educacionais caminhamentos futuros. O trabalho do
mais eficazes. Por último, no quarto en- professor de educação infantil exige a
contro, foram levados para o debate três mobilização de muitos conhecimentos
conceitos da educação infantil: o brincar, para cuidar e educar as crianças, interagir
a brincadeira e o brinquedo. Sylva e Lunt com as famílias e lidar com as exigências
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mento bem abaixo do esperado para seu ao passo que, em situações aversivas, em
nível de desenvolvimento, escolaridade e que consideram não ter capacidade para
capacidade intelectual. O transtorno de desenvolver as atividades, não apresen-
aprendizagem pode ser suspeitado em tam gosto, nem real interesse, apenas re-
um aluno que apresente uma inteligência alizam-nas, pois lhe é solicitado (Dell’agli;
normal, habilidades motoras e sensoriais Caetano; Castanho, 2009). Quando um
de acordo com o esperado, bom ajuste estudante experimenta situações de difi-
emocional e um nível socioeconômico e culdades de aprendizagem, o sentimento
cultural mínimo (Rotta; Ohweiler; Riesgo, é de fracasso, pois, por não obter êxito
2006). As dificuldades de aprendizagem nas atividades escolares, sente-se inca-
são de difícil solução já que são de cau- paz, gerando sentimentos de frustração
sa multifatorial. Dell’Agli, Caetano e Cas- e comportamentos disfuncionais, entre
tanho (2009) sugerem que a chave para outros (Carneiro; Martinelli; Sisto, 2003).
estudarmos uma solução estaria em unir A criança que apresenta dificuldades de
os aspectos cognitivos aos afetivos, pois, aprendizagem, então, encontra-se diante
segundo elas, não podem ser avaliados de um problema de circularidade causal,
separadamente. A afetividade pode ace- quando sua baixa crença de autoeficácia
lerar ou retardar a aprendizagem, pois é a deixa menos motivada e atenta às ati-
considerada o combustível, a motivação vidades acadêmicas, gerando de fato um
para aprender, sendo a inteligência, a mau desempenho e, assim, confirmando
estrutura, a organização. Portanto, para sua ideia de que não é capaz. Há uma for-
aprender o sujeito necessita de uma es- te relação entre o desenvolvimento inte-
trutura de inteligência, mas ainda de lectual e as crenças autorreferenciadas.
um motor que a impulsione, sendo esta Apenas ter habilidades cognitivas, por-
a afetividade (Dell’agli; Caetano; Casta- tanto não explica um sucesso ou fracasso
nho, 2009). Outros estudos também têm escolar. Assim, profissionais da educação
apontado a relação entre afetividade e precisam buscar desenvolver, além dos
inteligência. Alunos que apresentam um conteúdos de cada disciplina, autoper-
alto senso de autoeficácia são capazes de cepções de capacidade positivas (Souza;
realizar atividades utilizando mais estra- Brito, 2008). Este estudo buscou avaliar a
tégias cognitivas e metacognitivas, persis- percepção de autoeficácia de alunos com
tindo por mais tempo do que os alunos dificuldades de aprendizagem e de alunos
com baixa percepção de autoeficácia sem dificuldades de aprendizagem. Para
(Medeiros et al. 2003). Já os alunos que tanto, utilizou-se o Roteiro para a avalia-
apresentam um rendimento escolar fraco ção da autoeficácia (Medeiros; Lourei-
e atribuem isso à incompetência pessoal ro,1999 apud Medeiros et al., 2000) em
distanciam-se das atividades intelectuais, 38 alunos, sendo 19 alunos com dificulda-
demonstrando problemas emocionais e des de aprendizagem e 19 alunos sem di-
comportamentos internalizados (Roeser; ficuldades de aprendizagem. Objetivou-se
Eccles, 2000 apud stevanato et al. 2003). investigar se há relação entre a percepção
Quando os estudantes pensam serem de autoeficácia e dificuldades de apren-
capazes de realizar a tarefa, vivenciam o dizagem, através da comparação entre
momento como prazeroso e interessante, os dois grupos de alunos. Encontrou-se
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considera as crianças como eixo da inves- jeitos que dela participam e o pesquisador
tigação sociológica, com vistas não ape- se definem ao mesmo tempo como obje-
nas à produção de conhecimento sobre a to de investigação, à medida que se tem
infância, mas sobretudo à compreensão como foco a produção discursiva que se
da sociedade em seu conjunto (Sarmen- processa nesse contexto, e como postu-
to, 2005). Nesta pesquisa, constituem- ra metodológica, haja vista a intervenção
-se como parâmetros de análise tanto os que se efetiva na deflagração dessa produ-
discursos dos adultos (professores) sobre ção discursiva. Nessa dupla dimensão da
a infância vivida pelas crianças hoje (seus pesquisa, os sujeitos que dela participam
alunos) quanto os discursos das próprias não são apenas informantes de dados a
crianças sobre as experiências que reve- serem traduzidos pelo texto analítico do
lam e assumem como legítimas de suas in- pesquisador, posto que constroem conhe-
fâncias. Trata-se, portanto, de analisar as cimentos e refletem sobre suas próprias
tensões entre os modos como os adultos concepções, valores e práticas. Para que
atribuem sentidos à infância vivida pelas as relações entre as crianças e os profes-
crianças nos dias atuais e os modos como sores não sejam capturadas pelas amarras
elas próprias definem as experiências que institucionais da escola, o locus da pesqui-
marcam seu tempo de vida. Nesse diálogo sa é o Laboratório Especial de Ludicidade
de temporalidades e valores, destacam-se (Brinquedoteca) do Campus de Rondo-
os discursos que historicamente atraves- nópolis da Universidade Federal de Mato
sam o conceito de infância e se materia- Grosso. Trata-se de um Laboratório que
lizam em valores para os adultos e aque- funciona, desde 2008, como um programa
les que se apresentam como referências de extensão e tem oferecido atendimento
simbólicas às crianças para a constituição a instituições de Educação Infantil da rede
de experiências próprias de seu tempo de pública municipal de Rondonópolis, situ-
vida. Este estudo, em particular, como um adas nas imediações do Campus. Como
dos subprojetos da pesquisa abordada, as turmas de crianças que frequentam a
enfatiza as experiências da infância con- Brinquedoteca estão sempre acompanha-
temporânea sob a ótica dos professores. das por seus professores, é válido afirmar
Seus objetivos consistem em analisar os que esse espaço oferece condições favo-
sentidos que os professores atribuem às ráveis para que ambos os sujeitos possam
suas experiências de infância e àquelas compartilhar suas experiências, tendo
vividas pelas crianças hoje e compreen- como mediação o brincar. Atualmente,
der, nas interlocuções entre professores e a Brinquedoteca tem atendido três ins-
crianças, os contrapontos em relação aos tituições com o perfil acima descrito. Os
sentidos que atribuem à infância. Além sujeitos participantes desta pesquisa são:
disso, busca-se delimitar como eixo teó- as crianças, de 5 a 6 anos, de três turmas
rico-metodológico a alteridade presente do 2º agrupamento da Educação Infantil,
nessa produção discursiva, uma vez que a sendo duas de uma escola e uma de outra;
criança se apresenta como o outro situa- e os professores responsáveis por essas
do no passado do adulto (Bakhtin, 1992). turmas. Como estratégia metodológica,
Trata-se de uma pesquisa-intervenção, em temos a realização de grupos de discus-
que as relações estabelecidas entre os su- são com as crianças e os professores, or-
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imagens e discursos sobre a infância, so- infância; o que uma criança pode ou não
bretudo aqueles que, produzidos no cam- saber/fazer. Busca-se, com esta pesquisa,
po da psicologia do desenvolvimento, vão desconstruir, tanto teoricamente quanto
ganhar corpo no pensamento e na prática metodologicamente, a idéia de uma infân-
pedagógica, sem a confrontação com os cia apartada da vida, das experiências e
modos como as crianças concretas vivem das culturas produzidas pelas crianças, no
e significam suas próprias experiências. A sentido de redimensioná-la como um tem-
pesquisa, em sua abordagem metodoló- po da vida humana cujo valor e significado
gica, define-se como uma pesquisa-inter- não se efetivam prospectivamente, mas se
venção, na qual as relações estabelecidas configuram no próprio exercício de vivê-lo.
com as crianças são, ao mesmo tempo, Assim, objetiva-se identificar nos discur-
foco de análise e uma postura diante da sos das crianças as experiências que elas
realidade investigada, posto que são ins- próprias assumem como legítimas de seu
tauradas situações desencadeadoras dos tempo de vida. Nas oficinas desenvolvidas,
discursos em torno do objeto em questão até então, observou-se que as crianças,
– a infância. Desse modo, as crianças não diante de figuras de objetos e imagens,
são apenas informantes de dados, mas se que, em grande parte, poderiam ser consi-
apresentam como sujeitos que constroem deradas como próprias do universo adulto,
conhecimentos e refletem sobre suas pró- as definem, na maioria das vezes, como
prias concepções, valores e experiências pertencentes tanto à infância quanto à
no processo de pesquisa. O locus da pes- vida adulta, quando instigadas a situá-las
quisa é o Laboratório Especial de Ludicida- como “coisas” de crianças, de adultos ou
de (Brinquedoteca) do Campus de Rondo- dos dois. Estamos diante de um estreita-
nópolis da Universidade Federal de Mato mento das fronteiras entre esses mundos.
Grosso, que tem oferecido, desde 2008, na Cada vez mais, torna-se evidente a parti-
condição de programa de extensão, aten- cipação das crianças em situações sociais
dimento a instituições de Educação Infantil antes não acessíveis a elas, construindo
da rede pública municipal de Rondonópo- experiências e conhecimentos não previ-
lis, Mato Grosso, situadas nas imediações síveis em décadas passadas. Diante disto,
do Campus. Atualmente, participam da perguntamo-nos: que implicações éticas
Brinquedoteca três escolas municipais de e educativas esse novo mapeamento da
Educação Infantil, que atendem crianças infância em sua relação com a vida adulta
na faixa etária de 4 a 6 anos. Entretanto, nos traz? Como estabelecer, no campo da
da pesquisa participam apenas três turmas educação, um diálogo entre as gerações
de 2º agrupamento, com crianças de 5 a marcado pelo reconhecimento do outro,
6 anos, sendo duas de uma escola e uma ao mesmo tempo, como singular e legíti-
de outra. Consistem em estratégias meto- mo? Estas são questões que mobilizam a
dológicas a observação participante das pesquisa que aqui se apresenta.
brincadeiras e das interações das crianças
no contexto da Brinquedoteca e a realiza- Palavras-chave: infância, contemporaneidade,
ção de oficinas, como espaços de discus- relações intergeracionais
são sobre questões como: o que significa Contato: Rayssa Karla Dourado Porto, UFMT/
ser criança; o que é ou não próprio da Rondonópolis, rayssa90@gmail.com
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des vividas pelos mesmos, afim de elaborar não envolvem apenas o professor, mas, a
um planejamento e um programa de inter- família, a criança e toda a comunidade es-
venção acertada. O docente deve, também, colar. Por isso, a interação entre essas par-
saber utilizar a comunicação assertiva; dar tes é de extrema importância, uma vez que
ordens de modo cortês, mas com firmeza e ela reflete diretamente no fracasso ou su-
sempre olhar para a criança antes de emitir cesso escolar do educando.
uma frase ou advertência. Além disso, ele
deve ser democrático, compreensivo, ami- Palavras-chave: Transtorno de Déficit de
go e empático. É importante, portanto, que Atenção e Hiperatividade; Professor; Trabalho
o professor desenvolva recursos de ensino Pedagógico.
para descobrir o estilo de aprendizagem de Contato: Helen Tatiana dos Santos-Lima;
cada sujeito, de modo que possa favorecer FACITEC/ SEEDF; helen.tatiana@hotmail.com
um desempenho escolar mais satisfató-
rio. Sabendo disso, este estudo se propôs
a identificar a forma pela qual o professor LT04-1480 - FOTOGRAFIA E FAZ DE CONTA
trabalha com os alunos que tenham esse Aline do Carmo Oliveira - IESB
transtorno. Para isso, foi realizada uma alinecarmo1@yahoo.com.br
pesquisa qualitativa, por meio de entrevis- Emanuelle Mendes das Chagas - IESB
tas com 3 professoras dos anos iniciais do psicoeste@gmail.com
Ensino Fundamental de uma escola da rede Alice Araujo Costa - IESB
pública de ensino do DF. Os resultados da psicoeste@gmail.com
pesquisa evidenciaram que as professoras Rafael dos Reis Braga - IESB
identificam a necessidade do desenvolvi- psicoeste@gmail.com
mento de estratégias pedagógicas específi- Anaí Haeser Peña - IESB/UnB
cas para com o aluno com TDAH para que anai.hp@gmail.com
haja uma aprendizagem favorecida. Pode-
-se pensar que, na dinâmica pedagógica, Muitas vezes conhecida como uma das
tais concepções são colocadas em prática, formas mais comuns do comportamento
pois elas relatam que sua ação é norteada humano, especialmente durante a infância,
pelo trabalho diversificado, em que usam a brincadeira marca a vida de muitas crian-
recursos diferentes para promover a apren- ças em diferentes sociedades, constituindo
dizagem deste aluno, imagens, movimen- uma prática cultural típica dessas crianças.
tos, histórias, brinquedos lúdicos, músicas Criatividade e espontaneidade casam-se
e jogos. Entretanto, elas denunciam as di- na brincadeira, ao mesmo tempo em que
ficuldades encontradas para trabalhar com regras sociais e morais são exercitadas e
esse aluno, dentre as quais citam a falta de testadas e aprendizagens são construídas.
apoio da instituição escolar, o pouco recur- Segundo Siaulys (2005), a brincadeira per-
so didático disponível e o grande número mite à criança vivenciar o lúdico e desco-
de alunos em sala. Assim, pode-se concluir brir a si própria, pois nessa atividade ela
que ensinar a criança com esse transtorno apreende a realidade ao mesmo tempo em
pode ser uma tarefa difícil se as posturas que se desenvolve. Dito de outra maneira,
e medidas necessárias não forem tomadas. através do brincar a criança se humaniza,
Entretanto, entende-se que estas medidas no sentido de constituir uma forma de
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responda a uma psicologia geral, uma ci- participação ativa de um sujeito concreto
ência de amplitude e reunião dos conhe- que produz. Nessa perspectiva de subje-
cimentos fragmentados. Uma teoria que tividade cultural-histórica a motivação
conjuga a epistemologia e a metodologia não vai estar na atividade, nem na tarefa
necessárias à integração lógica do fazer proposta, muito menos no professor e na
ciência em psicologia. Com González Rey sua simpatia. A motivação está no sujeito
temos uma maneira interessante de en- que aprende e a aprendizagem acontece
tender a aprendizagem, e também o de- quando o conteúdo passa a fazer sentido
senvolvimento, pois ambos passam a ser para o sujeito, implicando nisso também a
concebidos como processos subjetivos. sua emocionalidade. Para a teoria da sub-
Não exclusivamente cognitivo, não uma jetividade existe uma integração complexa
simples interiorização, mas de produção entre o sentir, o pensar e o agir; e existe o
de sentidos subjetivos que reconfiguram a sujeito. Os atos mecânicos de memoriza-
subjetividade da pessoa. Ou seja, o apren- ção não significam aprendizagem, ou seja,
diz irá aprender na medida em que pro- aprender é um processo subjetivo com-
duzir novos sentidos, que são unidades plexo que passa por um sujeito concreto e
subjetivas formadas pela total integração todo e qualquer processo de massificação
entre o simbólico e o emocional. A per- do ensino anularia esse sujeito e sua ca-
sonalidade, entendida como uma confi- pacidade singular de aprender. O próprio
guração de configurações subjetivas, se conceito de desenvolvimento ganha ou-
transforma no processo de aprendizagem tro caráter ao conjugar não só o "andar
e, com isso, aquele que entrou na sala para frente" na aprendizagem e também
de aula será diferente daquele que sair. o "adquirir conhecimentos", mas também
Esse entendimento do humano e de seu as contradições, os processos cíclicos e as
desenvolvimento explica a aprendizagem ambiguidades inerentes ao complexo sen-
como um processo complexo que implica tido da subjetividade humana.
a subjetividade individual da pessoa, seja
criança ou adulto; a sua subjetividade so- Palavras-chave: subjetividade,
cial, pois essa pessoa está subjetivamente desenvolvimento, aprendizagem, sujeito.
imersa no tempo e no espaço e seu con-
texto histórico e social são relevantes;
implica também a tensão entre sua emo- A PRODUÇÃO SUBJETIVA DA VIOLENCIA
cionalidade e sua racionalidade, onde a NAS ESCOLAS
aprendizagem se dá nas contradições e Vannuzia Leal Andrade Peres - PUC/Goiás
não só nas linearidades e nas transmis- vannuzia@terra.com.br
sões diretas de informação; e também na
produção do sujeito, pois, para González Já não é mais novidade que a violência
Rey esse processo acarreta a produção de nas escolas é um fenômeno mundial. Para
sentidos subjetivos e as reconfigurações isso é só observar as notícias veiculadas
subjetivas e não exclusivamente a inte- nos meios de comunicação de massa,
riorização de algo externo e alheio. Para especialmente a televisão. O problema
a teoria da subjetividade não existe de- é que pouco se sabe, de fato, como essa
senvolvimento e aprendizagem sem uma violência tem sido constituída na com-
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de aula. Pode-se dizer que, com base na cas que atendam à diversidade da sala de
Psicologia Histórico-Cultural da subjeti- aula quanto na educação para uma con-
vidade de González Rey buscaram fazer vivência pacífica e respeitosa entre eles.
uma leitura das realidades das escolas
e desenvolver ações compatíveis com a Palavras-chave: subjetividade, escola,
proposta de uma psicologia escolar/edu- violência
cacional que visa à aprendizagem e ao
desenvolvimento humano, considerando
a diversidade desses processos em cada A CRIATIVIDADE INFANTIL NA
sujeito concreto. A realização das ações PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL DA
interativas os ajudaram a compreender: SUBJETIVIDADE
1) que a diversidade não é um empecilho Geisa Nunes de Souza Mozzer - PUC/Goiás
para o desenvolvimento do cenário da geisamozzer@hotmail.com
sala de aula, mas a sua riqueza; 2) que o
diálogo deve ser uma prática cotidiana da Esta pesquisa teve como objetivo central
sala de aula para que alunos e professo- buscar compreender como se expressa a
res desenvolvam uma reflexão sobre suas criatividade nas crianças na Educação In-
histórias e necessidades; 3) que as práti- fantil, privilegiando a atividade de ouvir
cas pedagógicas devem atender à diver- e contar histórias, entre crianças de 3 a 6
sidade do processo de aprendizagem e à anos de idade. Para tanto, é apresentado
necessidade de desenvolvimento da ima- um breve levantamento bibliográfico sobre
ginação criativa e da inventividade, ora o conceito de criatividade e criatividade in-
relegadas a segundo plano na maioria das fantil abordando como esses temas estão
escolas, o que torna invisíveis as crianças sendo discutidos na literatura especializa-
e os adolescentes concretos; 4) que a pro- da. Durante a comunicação da pesquisa,
dução subjetiva, possibilitada pelo exercí- buscou-se responder as seguintes ques-
cio da imaginação criativa, ajuda a supe- tões: Por que estudar criatividade? Como
rar as barreiras das condições objetivas ela se expressa? Como a criatividade é
das relações entre professores e alunos, concebida à luz da teoria Histórico-Cultural
tais como o mau humor, a impaciência, da Subjetividade? Com quais recursos sub-
a falta de atenção e a indiferença. Com- jetivos/personológicos a criatividade das
preenderam, ainda, a necessidade que há crianças está relacionada? Quais as maio-
das crianças e adolescentes poderem ex- res barreiras para o seu desenvolvimento?
pressar a realidade social das escolas, nas Como a criatividade se relaciona com a
suas relações com a realidade social mais Literatura Infantil nesta fase inicial da vida
ampla, mediadas por suas emoções mui- da criança? Buscou-se também analisar os
tas vezes contraditórias. Afinal, pudemos, elementos contextuais que podem interfe-
todos nós, vivenciar o desafio da psico- rir na expressão da criatividade das crian-
logia histórico-cultural da subjetividade, ças na Educação Infantil, sempre privile-
isto é, de buscar ultrapassar o pensamen- giando a atividade de conto, reconto, cria-
to da causalidade clássica e considerar ção e interpretação de histórias, a partir
a subjetividade de alunos e professores, da Teoria Histórico-Cultural da Psicologia,
tanto na realização de práticas pedagógi- inaugurada por Lev Vigotski (1896-1937), e
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ação dos diversos participantes desse pro- mento humano. De acordo com Moreira
cesso. Consideramos que seus resultados (apud Dessen & Weber, 2009), tanto a
representaram uma importante contribui- família como a escola podem trazer situ-
ção para a organização do trabalho peda- ações que incentivem o crescimento da
gógico da escola e da sala de aula, uma vez criança, como também podem contribuir
que possibilitaram um exercício reflexivo para o desencadeamento de situações
sobre a prática educacional inclusiva, tan- adversas que podem prejudicar a crian-
to para os pesquisadores em formação ça no seu desempenho educacional. Esse
como para os contextos educacionais nos trabalho pretendeu, portanto, compre-
quais as pesquisas foram desenvolvidas. ender atitudes positivas para a inclusão
nos dois sentidos, ou seja, da família e da
escola. Na visão de Bronfenbrenner, famí-
A INCLUSÃO ESCOLAR DOS ALUNOS lia e escola são microssistemas, entendi-
COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS dos como contextos de maior influência
ESPECIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E para o desenvolvimento de uma criança
SUAS FAMÍLIAS (apud Dessen & Silva, 2004). A família é
Albenira Alves Rodrigues Soeira - SEE/DF o primeiro local de convivência de uma
nirasoeira@gmail.com criança e deveria ser o maior incentivador
Mírian Barbosa Tavares Raposo - UnB de quebra de preconceitos, em se tra-
rmirian@unb.br tando da criança com necessidades edu-
cacionais especiais. Já o papel da escola
O contexto atual em que vivemos, na é o de incluir e criar estratégias para o
sociedade, incentiva o movimento de in- crescimento dessa criança. Aranha (apud
clusão. Esse movimento parte da idéia de Barbosa, Rosini & Pereira, 2007) ressalta
que gozamos dos mesmos direitos e que que a educação inclusiva é um projeto a
todos os cidadãos têm garantias e direitos ser construído por todos os envolvidos na
primordiais para a sua vida, como: saúde, comunidade escolar, e que só terá êxito
educação, segurança, trabalho, previdên- quando as atitudes em relação à inclusão
cia social e lazer (Brasil, 1988). A inclusão escolar forem positivas. Ao se falar de fa-
deve partir da inserção do indivíduo na mília, escola e pessoa com necessidades
sociedade e da garantia de seus direitos. especiais ou com deficiência, tem-se em
De acordo com Madeira Coelho (apud Kel- mente as palavras diversidade, respeito
man, 2010), a inclusão é um termo inte- e igualdade de oportunidades. De acor-
ressante, e serve de bandeira globalizada do com Glat e Duque (2003), o papel dos
para os grupos ditos minoritários e margi- profissionais é fundamental para mini-
nalizados da sociedade. No tocante a edu- mizar os sentimentos de superproteção
cação, o dever do Estado de proporcionar ou segregação e promover orientações
o direito à educação encontra-se em seu e esclarecimentos sobre as capacidades
artigo 205: "Educação direito de todos e do filho com necessidades especiais, bem
dever do Estado" (Brasil, 1988). Bronfen- como provocar um olhar dos pais sobre si
brenner (1996 apud Kelman, 2010) afirma mesmos. Ainda com Glat (2004) uma vez
que a família e a instituição escolar são orientados e sensibilizados para a nova
ambientes que promovem o desenvolvi- situação, os pais podem influenciar, posi-
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não tivermos mente aberta para aceitar e dizagem; sendo a escola um ambiente
incentivar não somente o aluno NEE, mas que reúne diversidade de conhecimen-
todo o excluído. tos, atividades, regras e valores, permea-
dos por conflitos, problemas e diferenças
Palavras-chave: inclusão, necessidades (Mahoney apud Dessen & Polonia, 2007),
educacionais especiais, relação família-escola ela se transforma em espaço privilegiado
de desenvolvimento. Ressaltando a im-
portância da educação na diversidade,
PROGRAMA DE ATENDIMENTO cabe à escola criar meios que superem
EDUCACIONAL ESPECIALIZADO as dificuldades, assegurem o desenvolvi-
COMPLEMENTAR mento e promovam ações que conduzam
Ana Ester Soares Oliveira - SEE/DF a atividades que transcendam a educação
anahadassa@hotmail.com informativa. O estímulo a atividades des-
Mírian Barbosa Tavares Raposo - UnB portivas, recreativas e culturais aproxima
rmirian@unb.br os diferentes, rompendo com as barreiras
do monoculturalismo (Kelman, 2009). A
Atualmente, o grande desafio da educação Secretaria de Educação Especial, por meio
tem sido o de promover o desenvolvimen- dos seus programas e ações, apresenta
to da aprendizagem, onde a diversidade possibilidades para viabilizar o processo
constitui um traço marcante no contexto inclusivo e apoiar os sistemas de ensino
escolar. Diante desta realidade, diversas com programas de formação continuada
ações são sugeridas, a fim de contemplar de professores na educação especial, pro-
as peculiaridades do processo de aprendi- grama de implantação de salas de recursos
zagem dos alunos com necessidades edu- multifuncionais e demais programas que
cativas especiais. A Secretaria de Estado buscam implementar a educação inclusiva
de Educação do Distrito Federal, a partir e o direito à diversidade. Segundo o De-
das Diretrizes Pedagógicas, disponibiliza creto nº 6571/2008, entende-se por aten-
atendimentos educacionais especializados dimento educacional especializado todo
complementares, aos alunos inclusos em o conjunto de recursos de acessibilidade
escolas regulares, a fim de complementar e pedagógicos organizados institucional-
o processo de desenvolvimento da apren- mente, ofertados de forma complementar
dizagem. Hoje, atendimentos como: Edu- ou suplementar à formação dos alunos no
cação Física adaptada, Artes, Informática ensino regular. Este documento enfatiza,
adaptada, Jardinagem e Argila são reali- ainda, a importância da transversalidade
zados pela SEE-DF, em centros de ensino das ações do ensino especial no ensino re-
especial, com caráter complementar, no gular, no intuito de viabilizar e consolidar
horário contrário ao de aula. O Programa o processo inclusivo. Diante destas con-
de Atendimento Educacional Especializado cepções, as diretrizes pedagógicas do DF
Complementar visa contemplar as particu- contemplam o processo inclusivo, ao apre-
laridades e necessidades dos alunos e au- sentarem orientações para a realização do
xiliar no processo inclusivo. A diversidade atendimento educacional especializado na
de conhecimentos é elemento propulsor perspectiva inclusiva. Dentre os programas
do desenvolvimento humano e da apren- apresentados, o Programa de Atendimen-
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que vivemos construindo uma sociedade A proposta apresentada é parte das dis-
melhor? Ansiamos por educadores que cussões e reflexões realizadas no Núcleo
sejam capazes de desencadear ações que de Estudos da Infância: Pesquisa & Exten-
tornem os seres humanos melhores, que são (NEI:P&E) e na Linha de Pesquisa In-
pensem no outro e no futuro do planeta, e fância, Juventude e Educação do Progra-
que utilizem, para isso, criatividade, dispo- ma de Pós-Graduação em Educação, da
sição e, como falou o diretor, sentimento. Universidade do Estado do Rio de Janei-
Acredita-se que este estudo possa ofere- ro (ProPEd/UERJ). Com foco nas Políticas
cer importantes contribuições quanto à Públicas busca estabelecer um trabalho
inclusão escolar de qualidade e propor- profícuo de parceria com a Secretaria Mu-
cionar, aos professores, oportunidade de nicipal de Educação da Cidade do Rio de
reflexão quanto a sua prática pedagógica, Janeiro (SME/RJ), onde a pesquisa Agente
com um novo olhar e uma nova postura, Auxiliar de Creche: Educadores da Infância
em relação à educação inclusiva. Carioca é desenvolvida. Visa, entre outros
objetivos, apoiar a implementação das
Palavras-chave: inclusão/avaliação/ políticas públicas do governo municipal
adequações curriculares, relação família- na formação em serviço dos agentes au-
escola, formação de professores xiliares de creche, aprovados no concurso
Contato: Mirian Barbosa Tavares Raposo, UnB, público realizado em 2007 (Edital nº1 de
rmirian@unb.br 04/08/2007) e dos Professores de Educa-
ção Infantil (Edital nº 91, de 25 de outu-
bro de 2010). A pesquisa está situada nas
SP LT04 - Simpósio áreas de Educação Infantil e Desenvolvi-
mento Humano e visa influenciar na pro-
dução de discussões sobre as questões de
desenvolvimento e formação de subjetivi-
SP LT04 1293 PSICOLOGIA DO
dade de crianças (0 a 42 meses) e adultos
DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS
(educadores da infância e familiares), num
PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL NO
ambiente educacional específico (creche).
MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Articula temas de pesquisa, valorizan-
Vera Maria Ramos de Vasconcellos - ProPEd/ do a produção nacional da Psicologia do
UERJ Desenvolvimento em interlocução com a
vasconcellos.vera@gmail.com Educação da Infância. Este Simpósio apre-
Fátima Veról Rocha - SME/RJ sentará quatro pesquisas interrelaciona-
fverol@globo.com das, são elas: (i) Formação de Educadores
Maciel Cristiano da Silva - ProPEd/UERJ e de Creche: Compartilhando Experiências;
SEMED/NI (ii) Infância & Inclusão: Olhares sobre as
mcs.pesq@yahoo.it Práticas Pedagógicas e o Desenvolvimento
Flávia Maria Cabral de Almeida - ProPEd/ Humano; (iii) Diálogo entre Família e Edu-
UERJ cadores de Creche; e (iv) De um Concurso
psi.flaviamaria@yahoo.com.br a Outro: a trajetória de um município na
Marcia Gil - ProPEd e SME/RJ Construção de Identidade do Educador
marciagil@globo.com Infantil.
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adotamos como procedimentos metodoló- rais e gestuais não eram consideradas for-
gicos: observações com registro e entrevis- ma de linguagem valida para que houvesse
tas semiestruturadas, com a mãe adotiva13 processo comunicativo. O Dr Itard compre-
do menino e cinco educadores. As entrevis- endia tais manifestações como primitivas
tas aconteceram no decorrer das ativida- e, portanto, um obstáculo ao aprendizado
des de acompanhamento e observação da da verdadeira linguagem: a fala. Sobre essa
criança na creche. Nas análises dos escritos relação Banks-Leite & Souza(2001) escla-
de Itard, percebemos que o médico tinha recem que o fato do jovem Victor usar a
por propósito desenvolver os sentidos de linguagem da ação e através dela ser en-
seu jovem pupilo, dando grande importân- tendido, evidencia que o convívio social
cia aos aspectos sensoriais. A prática desse não lhe era estranho. Como bem é desta-
médico era baseadas na concepção filosó- cado pelas autoras o gesto de apontar só
fica empirista de Condillac (1715-1780), na é entendido como tal, como efeito de um
qual o sujeito era entendido como despro- ato de interpretação por outrem. Passan-
vido de experiência. Dr. Itard intencionava do agora à descrição das observações das
moldar e controlar o comportamento de cenas cotidianas do menino na creche (Es-
seu aprendiz a partir de estímulos senso- tudo de Caso), destacamos a presença de
riais e uso de recompensas e punições. No alguns indícios de interação social que para
que tange ao desenvolvimento de Victor, seus educadores, de forma similar ao mé-
deve-se considerar que enquanto vivera dico-educador Itard, não eram valorizadas.
isolado nas Florestas de Avyeron, não pre- O menino observado mantinha-se, muitas
cisara de nenhum recurso de comunicação vezes, próximo de outras crianças e adul-
humana para satisfazer suas necessidades tos, independente de estar numa atividade
fisiológicas, dependia tão somente de sua de relacionamento com elas. Nos relatos
astúcia física na superação dos obstáculos dos educadores é enfatizado um peculiar
da natureza. Em sua nova fase de vida, Vic- interesse da criança por água, assim como
tor necessitava de da mediação de sujeitos os relatados pelo médico-educador, sobre
sociais para o mundo que lhe era apresen- o menino de Avyeron. No trabalho com
tado. Somente imerso num contexto hu- os educadores buscamos valorizar o que a
mano, poderia atribuir sentido e sentir ne- criança conseguia apresentar. Por exemplo,
cessidade do uso da fala oral. Vale destacar constatamos que seu relacionamento com
que mesmo com um universo interpessoal outros sujeitos ocorria em forma de gestos,
restrito e pela necessidade de comunica- ou seja, a partir do que os outros conse-
ção com os outros sujeitos, Victor desen- guiam perceber na ação dele. Tal fato era
volve o que é chamado de “linguagem da muitas vezes interpretada como agressão.
ação”, constituída de gestos e mímicas Verificamos também que a participação do
(Banks-Leite & Souza, 2001). Tais recursos menino nas atividades da creche era redu-
de comunicação que foram apropriados zida propositalmente pelos educadores,
pelo menino eram ignorados por seu tutor pois solicitavam que o menino chegasse
que só objetivava o desenvolvimento da um pouco mais tarde e saísse sempre antes
fala. Para o médico, as linguagens corpo- das demais crianças. Esta decisão prejudi-
cava a participação da criança em foco nas
13
A biológica faleceu durante o parto. atividades pedagógicas orientadas, ou seja,
246
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14
DE UM CONCURSO A OUTRO A No ano de 2005, o poder executivo do município do Rio de
Janeiro, através da Lei 3985 de 08 de abril, criou a catego-
TRAJETÓRIA DE UM MUNICÍPIO NA ria funcional de “Agente Auxiliar de Creche”, que passou
CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DO a integrar o Quadro de Pessoal de Apoio à Educação. O
EDUCADOR INFANTIL ingresso ao cargo, deu-se através de concurso público re-
alizado em 2007, constituído de provas e provas de títulos,
Márcia de Oliveira Gomes Gil - PROPED/UERJ sendo exigido a formação mínima em nível fundamental
e carga horária de 40 horas semanais. A seleção ocorreu
marciagil@globo.com regionalmente, isto é, pelas Coordenadorias Regionais de
Daniele Vieira de Azevedo - FE/NEIPE/UERJ Educação (CRE).
15
daniele.vieiraazevedo@ig.com.br Projeto de de lei nº 701/2010, cria no quadro permanente
do poder executivo do Município do Rio de Janeiro a cate-
goria funcional de professor de Educação Infantil.
16
RESUMO Coordenadoria Regional de Educação – a cidade do Rio de
Janeiro está divididas em 10 Coordenadorias
17
O presente artigo apresenta um breve his- Em desacordo com a LDBEN 9394/96, que no seu artigo 62
define “a formação mínima para o exercício do magistério
tórico da trajetória de organização do cor- na educação infantil [...] é o nível médio, na modalidade
po docente e de apoio que atuam junto à normal”.
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oferta de 1424 vagas regulares e 76 para no; um professor regente articulador, tam-
pessoas com deficiências). A chegada dos bém professor da rede; cozinheiro ou me-
agentes auxiliares de creche às instituições rendeira; lactaristas, para as creches com
buscava substituir o recreador - profissio- berçário; auxiliar de serviços gerais e recre-
nal contratado junto às Organizações da adores. Estes últimos, mesmo depois de
Sociedade Civil (OSC)18. Também trouxe al- 2008, com a chegada dos agentes auxilia-
guns questionamentos pertinentes à nos- res de creche dependendo da localização
sa discussão. Para começar, as funções dos da unidade, permaneceram nas creches
agentes auxiliares de creche são descritas até junho de 2011. A Professor(a) Regente
no edital do concurso e envolvem ações Articulador(a) tem a responsabilidade de
pedagógicas19, tais como: disponibilizar e coordenar o trabalho pedagógico de toda
preparar os materiais pedagógicos a se- a creche.. Assim, os fazeres cotidianos jun-
rem utilizados nas atividades; auxiliar nas to às crianças ficam centrados no recrea-
atividades de recuperação da autoestima, dor/agente auxiliar de creche ou seja, em
dos valores e da afetividade; observar as profissional sem formação específica para
alterações físicas e de comportamento, de- tal função. Enfatizamos a importância de
sestimulando a agressividade; estimular a uma formação anterior àqueles que se
independência, educar e reeducar quanto dedicam ao trabalho educativo, sem des-
aos hábitos alimentares, bem como con- considerar a formação que ocorre no co-
trolar a ingestão de líquidos e alimentos tidiano das ações. Segundo Vasconcellos
variados. Ainda de acordo com o edital e (2001) a formação de professores e outros
pela própria nomeclatura do cargo, estava profissionais para o trabalho nas institui-
descrito com função esse profissional atu- ções de educação infantil só são possíveis
ar em apoio pedagógico a um professor. pela construção coletiva e reconstrução
Participar da execução das rotinas diárias, pessoal de sentidos, significados e valores
de acordo com a orientação técnica do referentes a uma filosofia de educação in-
educador; Colaborar e assistir permanen- fantil para todas as crianças, independente
temente o educador no processo de desen- de raça, religião ou etnia.(p.?) As questões
volvimento das atividades técnico-peda- apontadas acima contrariam diretamente
gógicas; Receber e acatar criteriosamente a legislação, e parecem demonstrar um
a orientação e as recomendações do edu- caráter de precariedade no atendimento
cador no trato e atendimento à clientela. oferecido às crianças. Com a posse de uma
Na realidade, não havia um educador para nova gestão na Cidade, algumas mudanças
cada grupamento. Um olhar mais aten- tiveram curso, e estão sendo analisadas
to ao documento20 que ainda norteava o nesta pesquisa. Dentre elas está a criação
funcionamento dessas instituições, aponta do cargo de Professor de Educação Infan-
que a estrutura técnico-administrativa da til, com realização de concurso público em
creche conta com: um diretor, professor ou 2010. Desta vez, o edital exigiu a formação
especialista de educação da rede de ensi- mínima Normal Médio (na modalidade
normal), Normal Superior ou Pedagogia
18
Resolução SME nº 816/2004
(com Licenciatura Plena, com habilitação
19
Edital conjunto SME/SMA nº8 de 24 de julho de 2007 para docência na Educação Infantil e anos
20
Resolução SME nº 816/2004 iniciais do Ensino Fundamental ou especí-
250
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membros da família, bem como a respon- & Meireles, 2005). As informações coleta-
sabilidade de gerenciar os cuidados com das na avaliação foram analisadas quanti-
a criança doente em um ambiente hostil, tativa e qualitativamente, de acordo com
no qual a tomada de decisão sobre esses as normas dos instrumentos. Em relação
cuidados está centrada em pessoas até aos comportamentos apresentados pelas
então desconhecidas (Weisz, McCabe crianças durante a hospitalização, obtidos
& Dennig, 1994). Assim, uma vez que o a partir do AEH, verificou-se o predomí-
comportamento da criança pode afetar nio de comportamentos facilitadores (M
o modo como ela lida com a hospitaliza- = 1,93) sobre os comportamentos não-
ção, interferindo no curso da recupera- -facilitadores (M = 0,77). A análise por
ção, e que o contexto adverso associado tipo de comportamento destaca a média
à hospitalização é suficiente para gerar maior dos comportamentos: assistir TV e
reações de stress e sofrimento, exigindo a tomar remédio. Os comportamentos que
necessidade de enfrentamento da situa- apresentaram menor média foram buscar
ção para a eliminação ou minimização do informações e cantar. Entre os compor-
estressor; este estudo buscou investigar tamentos não-facilitadores, verificou-se
as estratégias de enfrentamento de crian- uma pontuação média maior na prancha
ças hospitalizadas e de seus cuidadores, pensar em milagre e desanimar. Escon-
bem como verificar a presença de proble- der não foi referido por nenhuma crian-
mas de comportamento entre as crianças ça como um comportamento emitido no
estudadas. Para tanto, realizou-se um hospital. A pontuação média superior no
estudo descritivo, de corte transversal, comportamento de assistir TV pode ser
com 15 crianças: 7 meninos e 8 meni- justificada pelo fato de ser o único recur-
nas, com idades entre 6 anos e 3 meses so de distração disponível para a criança
a 12 anos e 11 meses (média de 9 anos durante a internação, mostrando a rele-
e 5 meses), internadas em hospital pú- vância de ações institucionais que pro-
blico de Vila Velha/ES, que responderam movam o brincar nesse contexto. Quando
ao Instrumento de Avaliação do Enfren- se analisam as justificativas das crianças
tamento da Hospitalização (AEH) (Motta para suas respostas, a fim de obter a es-
& Enumo, 2004, 2010), que fornece infor- tratégia de enfrentamento que está sen-
mações sobre os comportamentos duran- do relatada, foi verificada uma proporção
te a hospitalização e permite verificar as maior da estratégia de distração (40,5%),
estratégias de enfrentamento da hospi- seguida da estratégia de ruminação
talização, a partir do relato das crianças; (31,1%), busca por suporte (25,7%) e so-
e ao Child Behavior Checklist (CBCL/6-18 lução do problema (20,3%). A estratégia
anos) (Achenbach & Rescorla, 2004), que que apresentou menor proporção foi re-
avalia a competência social e problemas gulação da emoção (1,3%). A estratégia
de comportamento anteriores à hospita- de distração tem sido predominante em
lização. Para a análise do enfrentamento outros estudos com crianças hospitaliza-
dos familiares, 15 cuidadores - sendo a das por doenças crônicas, como o câncer,
maioria mães - responderam à Escala Mo- mas a freqüência da estratégia de rumi-
dos de Enfrentamento (EMEP) (Faria & nação é um indicador da necessidade da
Seidl, 2006; Seidl, Rossi, Viana, Meneses inclusão do psicólogo na equipe de saúde,
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que levavam sempre a criança para con- interferir (7), bater (3) e não dar atenção
sultas com médico, fisioterapeuta e ou- (2). Observou-se que em G1 houve maior
tras especialidades que fossem necessá- frequência de comportamentos pouco
rias. Costumavam, também, estar muito assertivos, ligados, sobretudo, a ajudar a
presentes na vida dessas crianças, dando criança por achá-la frágil (5), tentar dis-
carinho e apoio, fatores que elas acredita- trair a criança (4) e não interferir, mesmo
vam ser fundamentais para o desenvolvi- nervoso (3). Diante dos resultados obti-
mento de seus filhos. Uma pequena parte dos, é possível concluir que as mães de
das mães (20%) acreditava que a PT-BP crianças PT e BP acreditam que esses fato-
influenciava o desenvolvimento de seus res podem não afetar o desenvolvimento
filhos, mas, todas concordavam que a es- da criança, a partir do momento em que
timulação era essencial. Todas as mães elas se disponibilizam ao cuidado. Sugere-
falaram sobre a importância de sua aju- -se que o sentimento de culpa frente ao
da no desenvolvimento da criança; essa nascimento de risco, porventura, expe-
ajuda foi traduzida, em 72,5% das mães, rimentado pelas mães e demais familia-
em cuidados com a saúde, como acom- res, pode contribuir para a manutenção
panhamento com profissionais de saúde, de repertório comportamental que con-
boa alimentação, uso de remédios e vita- temple a superproteção, como forma de
minas; dar atenção, carinho e cuidar foi compensar a vulnerabilidade apresenta-
relatado por 62,5% das mães; e realiza- da pelos filhos e o desconforto frente aos
ção de atividades lúdicas, por 37,5% das problemas apresentados. G1 apresentou
mães. Foram relatadas outras atividades discurso relacionado à superproteção e
com baixos índices, tais como levar para ao cuidado não assertivo, e teve maior
escola e creche, com 15%, e também pra- frequência de crianças com problemas
ticar natação, com 7,5%. Com relação às comportamentais externalizantes. Os
atividades que realizavam juntos, as mais dados presentes confirmam a literatura
citadas foram: passeio no parque ou pra- quanto à vulnerabilidade de crianças nas-
cinha, visita aos parentes e atividades cidas PT-BP para a manifestação de pro-
realizadas em casa, tais como brincar. Ve- blemas comportamentais, sobretudo, os
rificou-se que, enquanto a frequência de de padrão externalizante, e a presença de
menção às visitas a parentes diminuiu de cuidados familiares pouco assertivos, in-
G1 a G3, a menção de atividades lúdicas dicando a necessidade de apoio aos pais,
e de lazer aumentou. De acordo com as com treinamento de habilidades ligadas à
mães, os pais tiveram um papel secundá- estimulação dos filhos.
rio no cuidado dos filhos, desenvolvendo
atividades voltadas à vigilância e às ativi- Palavras-chave: risco ao desenvolvimento,
dades lúdicas. Na perspectiva das mães, prematuridade, avaliação do
os familiares costumavam lidar com as desenvolvimento
dificuldades externalizantes, demons- Contato: Schwanny Roberta Costa
trando os seguintes comportamentos, em Rambalducci Mofati Vicente, Universidade
ordem decrescente de frequência: tentar Federal do Espírito Santo,
distrair a criança (11), ajudar a criança schwannyv@hotmail.com
por achá-la frágil (9), mesmo irritado, não
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so, a maioria afirmou ter “gostado muito da inteligência dos surdos é uma ativida-
do grupo” (n= 31) e 27 mães também con- de muitas vezes relevante para decidir
sideraram que o grupo “ajudou muito” a quanto ao encaminhamento e/ou planos
enfrentar a internação do bebê na UTIN. de intervenção para a efetividade dos
Os sentimentos e percepções maternas processos inclusivos. As escalas Wechsler
acerca da participação no grupo indicam de inteligência, em suas diversas edições,
uma avaliação positiva da proposta de in- são amplamente utilizadas na avaliação
tervenção psicológica adotada, capaz de de crianças e adolescentes, estimando a
promover estratégias mais adequadas de capacidade intelectual geral em função
enfrentamento da hospitalização do bebê, dos domínios das habilidades verbais e
a partir do conhecimento adquirido, bem não-verbais. Encontram-se vários estudos
como do suporte psicossocial e da troca que utilizam estas escalas também com
de experiências que o grupo proporcionou surdos, administrando, principalmente,
às mães. o conjunto de subtestes não-verbais, os
quais não exigem respostas que envolvam
Palavras-chave: grupo de mães, estratégias de a linguagem oral do examinando. Devido
enfrentamento, prematuridade e baixo peso ao atraso no desenvolvimento da
Contato: Cristiane Tonnensen Rocha, linguagem, os surdos, geralmente, têm
Universidade Federal do Rio de Janeiro, desvantagens nos subtestes verbais. As
equipe-psicologia-pediatrica@googlegroups.com aplicações costumam ser administradas
de maneira informal (gestualização), oral
(leitura labial) e mesmo, no caso de utili-
CO 17 - LT02 zar a Língua de Sinais, não há referências
de estudos de adaptação. Os resultados
Surdez apontam para escores médios na escala
não-verbal e médios inferiores a limítrofes
na escala verbal. Além de problemas rela-
LT02-1382 - COGNIÇÃO E LINGUAGEM cionados à falta de adaptação do instru-
DOS SURDOS: UM ESTUDO mento, outros fatores podem justificar o
EXPLORATÓRIO COM BASE NO TESTE baixo desempenho dos surdos nos subtes-
WISC-III tes verbais das escalas Wechsler. Segundo
Tharso Meyer - UCPel-RS a literatura, as oportunidades limitadas de
tharso.psico@gmail.com ouvir informações e a falta do reforço au-
Vera Figueiredo - UCPel-RS ditivo prejudicam a aquisição e o aumento
verafig@terra.com.br do vocabulário dos surdos. A limitação em
compreender conceitos científicos pode
Considerando o número cada vez maior estar associada à ausência de algumas
de surdos inseridos na comunidade aca- aprendizagens do cotidiano, previamente
dêmica/escolar, surge uma demanda de adquiridas. A dificuldade ao acesso a uma
profissionais especializados, metodolo- língua que seja oferecida de forma natural
gias e instrumentos adequados para aten- pode levar a criança surda a um tipo de
der às necessidades dessa população com pensamento mais concreto. Os pais de 90
características tão específicas. A avaliação a 95% dos surdos são ouvintes, a maioria
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
dois argumentos diferentes nos itens que como uma deficiência que deve ser repa-
exigem duas respostas, sugerindo pensa- rada. Esta perspectiva está referida a um
mento mais concreto e dificuldade para conceito fixo de normalidade. É uma ten-
expressar as ideias. No subteste Dígitos, dência, neste modelo, atribuir-se ao sur-
o examinando deve repetir uma série de do desvantagens maturativas, sejam elas
números, sinalizados pelo examinador. de origem neurológica ou psicológica. Na
Identificou-se dificuldade sequencial vi- psicologia, a concepção clínico-terapêuti-
sual e limitações na memória imediata. ca foi dominante especialmente entre os
No subteste Aritmética que exige cálculos anos 50 e 60, dando origem à Psicologia da
a partir da sinalização do examinador de Surdez, que atribuía ao surdo dificuldades
problemas matemáticos, os participan- de ordens motora, intelectual e compor-
tes evidenciaram dificuldade de executar tamental. (Bisol, Simioni & Sperb, 2008;
cálculo mental, e déficit de atenção. O de- Solé, 2005). Em oposição a esta corrente,
sempenho nos subtestes verbais, que en- surge o modelo socioantropológico, que
volve domínio e aprendizagem da língua e se desenvolve em interface com os Estu-
raciocínio teórico-reflexivo, demonstrou dos Culturais, as antropologias de grupos
pouca qualidade na elaboração das res- minoritários, políticas de educação, polí-
postas. Pode-se concluir que, apesar das ticas identitárias, entre outros. Este con-
limitações em algumas habilidades cogni- junto de estudos é denominado Estudos
tivas dos surdos e restrições na comuni- Surdos. Ele parte de uma compreensão da
cação familiar, a falta de recursos léxicos surdez como diferença, cultural e lingüís-
da própria Língua de Sinais e a estrutura tica, e propõe a construção de saberes e
inapropriada dos subtestes verbais dificul- práticas que considerem as particularida-
tam o processo de avaliação deste grupo des da aquisição da linguagem e constru-
clínico, por meio do teste WISC-III sem um ção do conhecimento pelos surdos como
processo de adaptação. qualitativamente diferentes dos ouvintes.
(Skliar, 2010; Bisol et al, 2008; Solé, 2005).
Um terceiro grupo de trabalhos sobre a
LT02-1448 - OS EFEITOS DO surdez pode ser identificado, ainda que
NASCIMENTO DE UMA CRIANÇA não se constitua como um modelo. São
SURDA EM UMA FAMÍLIA OUVINTE – os trabalhos que se constroem a partir da
CONSIDERAÇÕES DESDE A PSICANÁLISE teoria psicanalítica. Segundo Solé (2005),
Letícia Silveira Vasconcelos - UFBA só recentemente este tema tem sido es-
www.ufba.br tudado por psicanalistas e ainda há um
Sônia Maria Rocha Sampaio - UFBA número pequeno de artigos publicados.
www.ufba.br Esses estudos devem ser considerados
como um grupo a parte, não se alinhando
Duas correntes principais e opostas sobre com nenhuma das correntes citadas ante-
a surdez são encontradas na psicologia e riormente. Em um artigo no qual analisam
nas demais áreas que se ocupam do tema. a produção da psicologia brasileira sobre
A mais antiga, vinculada a um modelo mé- a surdez, Bisol et al (2008) também situ-
dico, denominada modelo clínico-terapêu- am os estudos de concepção psicanalítica
tico, se alinha a uma concepção da surdez como um terceiro grupo. Dos 34 artigos
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
encontrados, seis foram identificados pe- ativando áreas corticais relevantes para a
las autoras como pertencentes ao modelo linguagem. Também Kuhl (2007) mostra
clínico-terapêutico, 24 ao socioantropo- que o uso do manhês por adultos encoraja
lógico e quatro à concepção psicanalítica. a reciprocidade nas crianças e demonstra
Desde a psicanálise, a surdez vai ser toma- que mesmo recém-nascidos preferem as
da a partir da forma como se inscreve na falas dirigidas aos bebês, ainda que não
história do sujeito e daqueles com quem sejam produzidas por suas próprias mães
vai estabelecer seus primeiros laços. Des- e mesmo que não sejam ditas em sua lín-
se modo, como afirma Solé (2005, p.35), gua materna. Os estudos sobre a aquisição
a psicanálise “não se atém à normalização da linguagem ressaltam a importância de
e não busca a cura”, mas vai se perguntar que a criança seja, desde seu nascimento,
sobre as especificidades da estruturação inserida em um ambiente lingüístico natu-
subjetiva de cada sujeito marcada pela ral, em que a língua lhe seja apresentada
surdez. Este trabalho parte da idéia de que cotidianamente. Esta compreensão se sus-
a surdez se apresenta para a teoria psica- tenta no entendimento de que a língua e a
nalítica, de cara, como um desafio, uma linguagem são adquiridas em relação com
vez que vai demandar um repensar sobre o outro e com o meio. De modo geral, os
algumas questões centrais à psicanálise, trabalhos sobre a surdez definem a língua
em especial àqueles que trabalham com de sinais como língua natural, ou língua
a psicanálise e o desenvolvimento infan- materna, dos surdos, justamente por ser
til. Porém, justamente por isso, que é na essa uma língua que o surdo pode apre-
própria psicanálise que se poderá produzir ender naturalmente. No entanto, entre
contribuições importantes sobre o tema. 90 e 95% das crianças surdas nascem em
Entre estes pontos destaca-se a centrali- famílias ouvintes, que não dominam a lín-
dade incontestável da linguagem para esta gua de sinais. Algum tempo se passa até
teoria e sua conseqüente importância para que a família possa se adaptar às neces-
a estruturação subjetiva; a importância sidades lingüísticas deste novo membro e
atribuída pela psicanálise, desde Freud, que possa escolher que caminho vai tomar
às primeiras experiências da criança com no que diz respeito à inserção de seu filho
a linguagem, mediada pelo Outro Primor- na língua. Diante do exposto perguntamos
dial; e o papel fundamental da voz mater- o que pode nos dizer a psicanálise sobre
na, e do manhês, para o enlaçamento do os efeitos do nascimento de uma criança
bebê à linguagem. Neste trabalho, busca- surda em uma família de ouvintes. Três
mos artigos empíricos de outras áreas de grupos de efeitos são analisados: os efei-
pesquisa para verificar essas idéias. Entre tos na entrada do bebê na linguagem, os
outros, Beauchemin, González-Franken- efeitos na alienação e separação entre os
berger, Trembla et al., (2010) ressaltam corpos da mãe e do bebê e os efeitos na
a importância da voz, em detrimento de apresentação do mundo ao bebê. Enten-
outros estímulos sonoros, para o córtex demos que, embora apresentados de for-
auditivo, em especial de vozes familiares. ma separada, estes são eventos essenciais
Este estudo demonstrou que bebês não ao processo de estruturação subjetiva. A
só reagem à voz materna de forma mais análise destes três eixos, a partir de arti-
ativa, como reagem de forma diferente, gos teóricos, relatos de casos e experiência
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
profissional com crianças surdas e suas fa- ser e o modo como se quer viver” (Puig,
mílias, demonstrou que a surdez, enquan- 1998, p. 26). La Taille (2006) diferencia
to ausência de percepção do estímulo moral de ética, sendo moral referente
auditivo, não impede o processo de estru- aos deveres e ética relacionada às refle-
turação subjetiva. No entanto, ela coloca xões acerca da felicidade. Nesse contex-
algumas barreiras, especialmente por con- to, é possível emergirem perguntas como
ta da diferença lingüística entre o bebê e “quem eu quero ser?” (La Taille, 2006, p.
sua família. Não é a lesão real, mas a lesão 46) e “que vida eu quero viver?” (p. 36),
fantasmática (Bergès, 1988b) que pode instigando a investigação sobre projetos
trazer efeitos mais nocivos e permanentes de vida. Para Damon (2009), o projeto de
para o sujeito surdo. Sob todos os aspec- vida, em uma perspectiva ética, é “uma
tos, ficou bastante clara a necessidade de intenção estável e generalizada de al-
um diagnóstico o mais precoce possível da cançar algo que é ao mesmo tempo sig-
surdez. Do lado estrutural, o saber sobre a nificativo para o eu e gera consequências
surdez e o poder elaborar o luto pelo filho no mundo além do eu” (p. 53). Pesquisas
idealizado é que vão dar início à constru- sobre projetos de vida em tal perspecti-
ção de um novo lugar para o bebê. Do lado va destacam a escassez de projetos de
instrumental, um acompanhamento inter- vida em que o outro comparece de forma
disciplinar poderá ajudar a família a lançar central (D'Áurea-Tardeli, 2005; La Taille
mão de diferentes possibilidades lingüísti- & Madeira, 2004; Miranda, 2007). Para
cas, ainda nos primeiros momentos de sua investigar a relação entre moralidade e
entrada na linguagem. legitimação de atos violentos, La Taille e
Madeira (2004) analisaram projetos de
Palavras-chave: surdez, psicanálise, vida de adolescentes e observaram que,
estruturação subjetiva em linhas gerais, o uso da violência não
Contato: Letícia Silveira Vasconcelos – UFBA – foi condenado moralmente pelos partici-
leticiasvasconcelos@gmail.com pantes. Os autores ressaltam que "grande
parte dos adolescentes justificam hipote-
ticamente a violência [...] e, no plano éti-
LT03-1004 - PROJETOS DE VIDA DE co, não inclui outrem como parceiro nos
UNIVERSITÁRIOS SURDOS EM UMA seus projetos de vida." (p. 30). Em sua
PERSPECTIVA ÉTICA pesquisa, D'Áurea-Tardeli (2005) verificou
que somente 29,55% dos participantes
Alline Nunes Andrade - UFES apresentaram aspirações solidárias em
lineandrade@gmail.com seus projetos de vida. Por sua vez, Miran-
Heloisa Moulin de Alencar - UFES da (2007) também considerou as justifica-
heloisamoulin@gmail.com tivas dos projetos de vida de adolescentes
Financiamento: FAPES em conectados, nos quais outras pessoas
eram incluídas como protagonistas e par-
A moral passa por desenvolvimento (Pia- ticipantes, ou desconectados, quando
get, 1932/1994; Kohlberg, 1992) e se ori- outras pessoas eram consideradas, mas
gina da indeterminação, que “obriga o ser de modo instrumentalizador. As princi-
humano a construir o modo como quer pais justificativas (66,7%) caracterizaram
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O ‘cuidado com o outro’ foi mencionado zação dos projetos de vida apresentavam
apenas pelas mulheres, principalmente justificativas do tipo autocentrado, se-
em relação ao cuidado e à educação dos guido por argumentos conectados. Esse
filhos já existentes. As justificativas das dado parece indicar a valorização que os
estratégias foram categorizadas em ‘au- participantes atribuem a si próprios, mas
tocentrado’ (n=103), ‘conectado’ (n=79) que também assinalam o lugar do outro
e ‘desconectado’ (n=45). As referências em suas aspirações, de forma conectada;
às próprias habilidades, necessidades e sendo que esta última forma foi pouco en-
características foram novamente consi- contrada noutros estudos (La Taille & Ma-
deradas pelos participantes, à frente dos deira, 2004; D’Áurea-Tardeli, 2005; Miran-
argumentos que remetem à conexão com da, 2007). Pretendemos contribuir para a
a comunidade surda, com pessoas pró- ampliação das pesquisas sobre projeto de
ximas e com a sociedade. Argumentos vida em Psicologia da Moralidade, tendo
desconectados foram mencionados pelos pessoas surdas como público-alvo, a res-
participantes, em especial a desconexão peito de quem existem poucas pesquisas
de pessoas próximas e a sociedade des- realizadas.
conectada dos surdos. Logo, se parte das
estratégias eram conectadas devido ao Palavras-chave: surdos; expectativas;
desejo de criar oportunidades de desen- estratégias
volvimento aos surdos, de proporcionar Contato: Alline Nunes Andrade, UFES,
o desenvolvimento intelectual e moral lineandrade@gmail.com
dos filhos e de favorecer a inclusão pro-
piciando o relacionamento entre ouvintes
e surdos, as estratégias desconectadas LT07-1429 - SURDEZ E
sugerem o uso de pessoas próximas – HOMOSSEXUALIDADE: ASPECTOS DA
nesse caso, intérpretes e filhos -, como FORMAÇÃO IDENTITÁRIA DE SUJEITOS
meio para a realização dos seus projetos. SURDOS NO ENFRENTAMENTO DO
Outro tipo de desconexão aparece em ar- DUPLO PRECONCEITO
gumentos nos quais a sociedade está des- Fabrício Santos Dias de Abreu - FE/UnB
conectada dos surdos. Logo, o fato de as fabra201@hotmail.com
políticas de inclusão educacional serem Daniele Nunes Henrique Silva - UnB
criadas sem considerar a opinião dos sur- daninunes74@gmail.com
dos, o mercado de trabalho local não pro-
piciar a inclusão de trabalhadores surdos Aqueles considerados deficientes fogem
e os participantes não saberem como será aos padrões normatizados de desenvol-
seu futuro profissional após a formatura vimento e são concebidos culturalmente
exemplificam essa desconexão. Lembra- como sujeitos incapazes de viverem am-
mos que a indefinição do perfil profissio- plamente em sociedade. No que tange às
nal foi apontada por alguns autores (Gon- limitações sociais impostas a essas pes-
dim, 2002; Bardagi, Lassance, Paradiso, soas, a expressão da sexualidade é uma
Menezes, 2006) como aspecto negativo temática não problematizada; um lugar
da expectativa futura. Constatamos que de negação da dimensão erótica. Em ge-
as expectativas e as estratégias para reali- ral, prevalece a ideia de que as pessoas
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a ação do sujeito em favor de outro. Seu relação ao CT. Composta de nove pergun-
sentido se fundamenta em fazer surgir tas transcritas em folha de papel. Os cinco
efeito em outros, planejada, consciente ou temas mencionados anteriormente foram
inconscientemente. O Conselho Tutelar é abordados em questões abertas e os ou-
uma instituição mediadora entre as vidas tros quatro em questões fechadas. Os
da criança e do adolescente e a vida coleti- contatos nas escolas foram feitos através
va, institui, portanto, uma nova prática en- dos diretores ou coordenadores pedagó-
tre outras que podem ser consideradas no gicos. As entrevistas foram respondidas
tratamento das questões da infância. Cabe por escrito por grupos de professores. O
a seguinte pergunta: Em que medida a es- propósito inicial era realizar entrevistas in-
cola receberá a intervenção desta nova dividuais. Contudo, a rotina escolar a que
prática? Este trabalho tem como hipótese: estão submetidos os professores impediu
a cultura solidificada das instituições esco- por falta de tempo de responder individu-
lares torna-se um empecilho para o pleno almente às entrevistas. Como alternativa
desenvolvimento das práticas sociais tute- metodológica, as perguntas foram ofereci-
lares. Professores que lecionam em esco- das transcritas e o registro dos dados foi
las da rede pública estadual e municipal de feito em uma folha de papel onde se en-
ensino fundamental e médio da zona nor- contravam registradas as nove perguntas.
te, subúrbio e periferia da cidade do Rio No primeiro contato com os professores,
de Janeiro Dez participantes são do sexo pedia-se a colaboração voluntária e infor-
masculino, idade: 28 e 52 anos e 48, do mava aos participantes sobre o objetivo e
sexo feminino, idade 23 e 60 anos. Média o tema da pesquisa. Pedia-se também que
de idade, 40 anos (DP=10,16). Exercem o assinassem um termo de consentimento
magistério em média a 15 anos (DP=9,43) informado. O anonimato e a confidenciali-
e residem no subúrbio e da zona norte des- dade dos dados obtidos eram assegurados
ta cidade. A escolaridade varia do segundo a todos. Em cada escola visitada, entrega-
grau à pós-graduação: 4 professores pos- va-se a grupos de professores a entrevista
suem apenas segundo grau, 41, superior que respondiam na presença do psicólogo,
completo e 13, pós-graduação. O nível por escrito, e devolviam a seguir. Conhe-
socioeconômico a partir do grau de esco- cimento do que é Conselho Tutelar- 62%
laridade, embora não homogêneo, pode conhecem; 38% desconhecem o conceito
ser avaliado variando entre o nível mé- de Conselho Celular. Causas de encami-
dio baixo, médio e médio alto. Entrevista nhamentos ao CT- Para 31% da amostra,
visando atender os objetivos subjacentes o CT é uma alternativa para solucionar
considerados pertinentes aos temas cen- problemas de mau comportamento esco-
trais do estudo. O instrumento foi desen- lar, esgotadas todas as possibilidades de a
volvido no sentido de obter informações escola resolver com a família. Para 29%,
dos professores sobre o conceito de con- a causa é o comportamento inadequado
selho tutelar (CT); a relação, dificuldades e na escola provocado por transtornos fa-
barreiras encontradas no relacionamento miliares Relação Conselho Tutelar versus
entre escola e o CT; os encaminhamentos, Escola - Para 28%, o relacionamento com
suas principais causas; credibilidade na o CT é ineficiente, os conselheiros des-
atuação do CT; as atitudes, crenças com preparados, omissos e desinteressados e
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negativos que podem ter. Segundo Caplan brincadeiras ofensivas e demasiadas têm
(apud Casas 1998), a prevenção primária sido protagonistas nas interações escola-
caracteriza-se por ter um enfoque comu- res e relações em geral. Diante disto, em
nitário, por ser interdisciplinar e proativa, 2010, foi iniciado o projeto “Palavras e
interconectar os diferentes aspectos da ações que machucam”, surgido da vonta-
vida (orientação bio-psicossocial), utili- de da Equipe Pedagógica e professores da
zando técnicas educativas e sociais orien- Me Ninar Creche Escola (escola particular
tadas para dotar os indivíduos de recursos situada em Niterói-RJ) de trabalhar com
ambientais e pessoais, e assim enfrenta- as crianças (dos 6 aos 10 anos) questões
rem seus problemas e promoverem con- relacionadas aos valores éticos culturais e
textos sociais justos. A prevenção primária de convivência entre as pessoas. Para to-
dirige-se a grupos que não manifestam si- mar uma ação preventiva junto às crian-
nais evidentes de enfermidade ou proble- ças sobre o tema bullying, escolhemos po-
ma social, onde só existe a consideração tencializar as interações dentro da escola,
que alguns membros possam estar em desta com a família e da criança com a
risco. Partindo da teoria de Brofenbren- comunidade, considerando os diferentes
ner, detentora de uma visão bioecológica níveis ambientais de interação. Neste caso
do desenvolvimento humano, adotamos consideramos a escola como microssis-
uma visão sistêmica onde o desenvolvi- tema para as crianças e, a relação entre
mento se dá através de forças emanadas a escola e a família como mesossistema,
por múltiplos ambientes e das relações contudo não desconsideramos a influên-
entre eles, através da interação sinérgi- cia do mesossistema e do macrossistema
ca de quatro núcleos inter-relacionados: no seu desenvolvimento. Os principal
Processo, Pessoa, Contexto e Tempo (Nar- objetivo deste projeto foi diminuir episó-
raz & Koller). Naquele o destaque é dado dios comportamentais nas crianças que
para o conceito de processos proximais, possam interferir de forma negativa o de-
que são formas particulares de interação senvolvimento e as interações entre pares
entre organismo e ambiente que operam na escola. Para isto foi preciso repensar
ao longo do tempo. Em relação a Pessoa, (equipe e crianças) atitudes e palavras di-
parte-se do princípio que suas caracterís- tas no dia-a-dia, para atingir uma melhor
ticas são tanto produtoras, quanto produ- convivência, trabalhando valores como
tos do desenvolvimento. O conceito de respeito, cooperação, entendimento,
Contexto refere-se à interação recíproca compreensão, tolerância e fraternidade.
de quatro níveis ambientais interdepen- A idéia foi promover junto à comunidade
dentes estruturados de forma concêntri- acadêmica um entendimento de questões
ca: microssistema, mesossistema, exossis- sócio-culturais pertinentes à atualidade,
tema e macrossistema. O Tempo também para que percebam que idosos, portado-
influencia o desenvolvimento humano res de necessidades especiais, diferentes
através de mudanças e continuidades. No- etnias, classes sociais, culturais e credos
tamos uma crescente desvalorização de devem ser respeitados e compreendidos
atitudes gentis e cordiais entre as crian- em suas particularidades,e assim aumen-
ças. A busca pela perfeição, competiti- tar o respeito mútuo no ambiente esco-
vidade, intolerância com as diferenças e lar. A primeira ação foi a apresentação do
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vídeo “Palavras que machucam” (sessão pais e crianças sobre a importância da vi-
coletiva), em sequência, conversas com sita foi surpreendente, ficando evidencia-
professores e Equipe Pedagógica e ações da no cuidado que tiveram ao oferecerem
pontuais com as crianças (encontro quin- alimentos que condiziam com as limita-
zenal com a psicóloga da escola denomi- ções biofísicas dos idosos. Publicação de
nado “grupo de reflexão) e atividades em textos coletivos no Informativo Interno da
parceria com professores regentes. Outras escola. Por fim, acreditamos que houve
estratégias utilizadas foram: Leitura dos o despertar de um julgamento moral das
livros “A ovelha rosa da Dona Rosa” e “O atitudes e responsabilização em relação
colecionador de segredos”, e desenvolvi- ao respeito ao próximo, às diferenças e
mento de atividades a estes relacionados. aos seus iguais.
-Dinâmicas de grupos voltadas para o
respeito aos pares e aos demais; Elabora- Palavras-chave: prevenção primária, valores
ção de “combinados” (regras particulares sócio-culturais, bullying
para cada turma) referentes aos compor- Contato: Claudilene Francisco Pereira, Creche
tamentos; Autoavaliação individual das Escola Me Ninar, claudilenepereira1@hotmail.com
crianças; Reunião de pais promovendo
parceria no processo de conscientização
das crianças; Reunião junto à Equipe Pe- LT04-1507 - VALORES HUMANOS E
dagógica para discussão de textos sobre ATITUDES FRENTE À ESCOLA: UM
bulliyng e valores éticos e sociais; Visitas ESTUDO CORRELACIONAL
a espaços promotores de auxílio a idosos Patrícia Nunes da Fonsêca - UFPB
e portadores de necessidades especiais. patynfonseca@hotmail.com
É importante ressaltar que este projeto é Rildésia Silva Veloso Gouveia - UNIPÊ
uma ação preventiva que não se caracteri- rildesia.val@gmail.com
za por ter uma temporalidade determina- Deliane Macedo Farias de Sousa - UFPB
da, por isso buscamos atingir seus objeti- delianemfs@gmail.com
vos constantemente na dinâmica cotidia- Kátia Correa Vione - UFPB
na da escola. Entretanto, no seu período katiavione@gmail.com
de maior intensidade de ações, pudemos Larisse Helena Gomes Macedo Barbosa -
notar alguns resultados concretos: Iden- UFPB
tificação das atitudes e comportamentos larissehelena@hotmail.com
a serem repensados pelas crianças; Cons- Eugênia Lúcia Paiva de Oliveira - UFPB
cientização da equipe de professores acer- eugenia_gba@hotmail.com
ca dos resultados de suas falas e atitudes
frente às crianças; Exposição de trabalhos As pesquisas sobre as atitudes no con-
realizados pelas crianças sobre a temática texto escolar têm sido bastante diversi-
na mostra de Arte e Expressão da escola; ficadas e demonstram um novo foco de
Aumento da parceria entre as famílias e interesse na área escolar ou da educação.
a equipe pedagógica; Sucesso da visita a Por mais de vinte anos estas estiveram
Casa de Repouso Lar Esperança, onde as voltadas, predominantemente, a abor-
crianças propuseram atividades de leitura dar o desempenho acadêmico dos estu-
e ofereceram lanche. A compreensão de dantes de uma forma mais objetiva (isto
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é, notas nos exames escolares), o que os valores humanos, uma vez que estes
atendia ao interesse imediato de pensar e são entendidos como um construto que
modificar as políticas públicas de educa- influencia as atitudes e as ações humanas
ção. Entretanto, embora este tema ainda e servem como padrões avaliativos do
ocupe espaço importante na agenda da- comportamento (Gouveia, 2003). No pre-
queles que fazem a educação, aspectos sente estudo, parte-se do modelo acerca
mais subjetivos dos estudantes têm rece- dos valores proposto por Gouveia (1998,
bido cada vez mais destaque, a exemplo 2003; Gouveia & cols., 2008) que define
da satisfação do estudante com a escola, os valores como critérios de orientação
das experiências vivenciadas e das atitu- que guiam as ações do homem e expres-
des apresentadas frente ao contexto es- sam as suas necessidades básicas. Ainda
colar (Daly & Defty, 2001). Coerente com de acordo com este autor seria possível
esta linha de interesse, Willms (2003) observar seis subfunções valorativas, a
constatou, em pesquisa realizada pelo saber: interativa, normativa, suprapesso-
Programa Internacional de Assistência ao al, existência, experimentação e realiza-
Estudante, que os jovens que participa- ção. Deste modo, objetivou-se conhecer
vam mais das atividades oferecidas pela se e em que medida os valores humanos
escola parecem ter melhor relação com e as atitudes frente à escola estão relacio-
seus colegas e administradores da escola, nados.Para lograr tal objetivo, contou-se
além de apresentar um bom desempenho com uma amostra de conveniência (não
acadêmico. Por outro lado, aqueles que probabilística) composta de 291 estudan-
apresentam atitudes negativas, de desa- tes do ensino fundamental, sendo a maio-
feto com as pessoas inseridas na escola ria do sexo masculino (53%), de escolas
podem, gradualmente, vir a demonstrar públicas (53,5%) e com idades variando
comportamentos desajustados. Refor- entre 10 e 18 anos (m = 13,2; dp = 1,76).
çando este aspecto, Duarte (2004) indica Estes responderam a um livreto compos-
que a falta de envolvimento, interesse e to pelos seguintes instrumentos: Questio-
vontade por parte dos jovens refletem nário de Valores Básicos (QVB – Gouveia,
seu descompromisso total frente às ativi- 1998; 2003), Escala de Atitudes Frente
dades da escola, atuando como fator de à Escola (Cheng & Chan, 2003; Fonseca,
risco. Por outro lado, algumas pesquisas 2008), e por fim, questões demográficas
têm mostrado que as atitudes positivas (sexo, idade, tipo de escola). Inicialmente,
dos estudantes em relação à escola com- entrou-se em contato com as escolas, pro-
preendem um fator de proteção quanto curando obter a autorização para coletar
à delinqüência e ao uso de substâncias os dados. Em seguida, enviou-se o Termo
proibidas (Cheng & Chan, 2003). Deste de Consentimento Livre e Esclarecido para
modo, cogita-se que as atitudes apresen- os pais ou responsáveis assinarem, permi-
tadas pelos jovens frente à escola podem tindo a participação dos estudantes. Após
influenciar em seu engajamento na esco- essa etapa, os participantes responderam
la, bem como o seu desempenho acadê- ao instrumento individualmente, porém
mico. Mas a que fatores estariam associa- em ambiente coletivo de sala de aula, e
das essas atitudes? Um desses fatores, de em média, 30 minutos foram suficientes
acordo com Fonsêca (2008), poderiam ser para concluírem o preenchimento do
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gra, não se pautam pelo respeito mútuo ver o desenvolvimento moral dos acolhi-
e pelos laços de solidariedade, pelo con- dos. A proposta foi aceita pela instituição
trário, são relações de competição que se e encontra-se em sua etapa final no que
sobrepõem a essas relações. Suas noções diz ao trabalho de intervenção junto aos
de justiça se fundamentam no respeito à funcionários (reuniões que promova a re-
autoridade adulta e não em laços de co- flexão crítica das condutas entre adultos
operação entre iguais, de solidariedade e para com os acolhidos) e em andamen-
e respeito mútuo. Esses dados mostram to no trabalho de intervenção junto aos
que as relações que ocorrem no interior acolhidos. Podemos assim, expor os re-
da instituição (entre adultos e acolhidos sultados preliminares divididos em dois
e entre os próprios acolhidos) não esta- grupos: junto aos funcionários, e, junto
riam promovendo a autonomia moral e/ aos acolhidos. No primeiro grupo alguns
ou não estariam conseguindo alterar os funcionários já fazem reflexões críticas
efeitos das práticas educativas vivencia- a respeito de suas práticas colocando-
das com suas famílias e noutros centros -se no processo de educação moral das
educativos. Se para Piaget (1994) o de- crianças e adolescentes e nos problemas
senvolvimento da noção de justiça de um da instituição. Também apresentam inte-
indivíduo se estabelece, principalmente, resse em adquirirem novas posturas que
em função das relações estabelecidas em auxiliem no bom desempenho de seu
seu meio social, podemos afirmar que é trabalho enquanto educador, no entanto
fundamental o papel da educação moral ainda há os que não se enxergam como
motivada na autonomia e na reciprocida- tal e apresentam resistência em se colo-
de. “O alcance educativo do respeito mú- car nos problemas da instituição. Muito
tuo e dos métodos baseados na organiza- ainda devemos percorrer para a consti-
ção social espontânea das crianças entre tuição de um ambiente favorável ao de-
si é precisamente o de possibilitar-lhes senvolvimento moral, mas julgamos que
que elaborem uma disciplina, cuja neces- o principal que é a visão da necessidade
sidade é descoberta na própria ação, ao desse ambiente já tem alcançado grande
invés de ser recebida inteiramente pron- parte dos funcionários e o interesse de
ta antes que possa ser compreendida” alguns em se orientarem para estabele-
(PIAGET, 1973, p.77). Com isso, propo- cerem com as crianças e adolescentes
mos à instituição uma pesquisa de inter- uma relação de respeito mútuo. No se-
venção com o objetivo de constituir junto gundo grupo o trabalho tem sido bem
aos funcionários da casa e acolhidos um minucioso com o propósito dos acolhidos
ambiente favorável ao desenvolvimento perceberem qual o caráter que a regra
moral das crianças e adolescentes, esta- apresenta em sua convivência na institui-
belecendo em suas relações rotineiras o ção (preservar os princípios de respeito,
respeito mútuo. Assim, podemos refle- justiça, igualdade... e de sua reciprocida-
tir se um ambiente favorável à tomada de) e de perceberem que a regra em si
de consciência das regras, baseado no não é imutável, mas seguindo um princí-
princípio do respeito mútuo e na relação pio moral válido, ela pode ser modificada
de cooperação entre todos os membros e constituída pelo grupo. Para isso, traba-
dessa instituição adultos, possa promo- lhamos com brincadeiras, contos e con-
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-histórica, como bem aponta Ariès (1978), trabalho de extensão realizado em uma
e não contém, per se, todas as condições instituição de abrigamento no entorno do
que viriam a caracterizar um ambiente Distrito Federal. Esse trabalho é um proje-
saudável. As crianças quando retiradas to de extensão do Instituto de Psicologia
do seu seio familiar, ao serem abrigadas, da Universidade de Brasília, denominado
entram em contato com uma nova orga- Pintando e Bordando: desenvolvimento de
nização de espaço e tempo e passam a crianças e adolescentes em abrigos. Tem
conviver com novas pessoas, normas e por objetivo a criação de um espaço dife-
hábitos. Essas mudanças súbitas podem renciado de relações interpessoais, lazer
causar estranhamentos devido às origens, e comunicação. Utiliza-se a brincadeira
histórias, angústias e dificuldades tão di- como instrumento que favorece essas
versas de cada um. Sendo assim, reações relações, possibilitando o desenvolvimen-
vistas como de agressividade, de depres- to de recursos de personalidade como a
são e déficits podem aparecer em situa- criatividade e a autonomia. Por meio do
ções de abrigamento. No entanto, não brincar, as extensionistas criam um meio
são características inerentes das crianças, ativo de desenvolvimento afetivo e cog-
e sim expressões dos conflitos vividos. nitivo, em que transforma a criança e é
Apontamos, portanto, que a visão estáti- por ela transformado. Isso só é possível
ca desse processo apenas estigmatiza as a partir da disposição das extensionistas
crianças, impossibilitando o acolhimento em se colocarem como psicólogas em
e a ressignificação desses fenômenos. O constante atenção à escuta das demandas
presente trabalho não se propõe a quali- das crianças. Dessa forma, a brincadeira
ficar qual o melhor ambiente de desenvol- permite uma aproximação entre adultos
vimento, mas sim de propor uma reflexão e crianças e entre elas mesmas. Nesse es-
crítica dos conceitos de instituição familiar paço, a criança pode tomar a iniciativa e
e de abrigamento. Nesse sentido, visamos propor novas brincadeiras onde lhe é as-
não só descrever a situação da criança em segurado que possa colocar seus desejos,
abrigo, mas, a partir da construção de di- sendo acolhida nos limites constituintes. A
ferentes tipos de relações, oferecer possi- partir das atividades de brincadeira, cons-
bilidades de produzir novos sentidos para truímos com as crianças uma forma de se
seu desenvolvimento. Assim, o trabalho relacionar pautada no respeito, promo-
volta-se para a criança como sujeito de vendo o desenvolvimento de recursos de
direitos que se desenvolve imersa em re- personalidade que os tornem mais capa-
lações interpessoais. Estamos resgatando, zes de fazer suas próprias escolhas, lidar
portanto, uma visão de criança enquanto com contradições do cotidiano, perceber
sujeito ativo, que é construtor e constru- que existem diferentes tipos de relações
ído em um meio único e próprio. Sendo pessoais, elaborar a questão da separa-
assim, a infância é algo indeterminado, ção e do abandono entre outros. Reafir-
relativo e imprevisível (Larrosa, 2004) que mamos, portanto, a imprevisibilidade do
transforma seu meio em um constante vir sujeito que se constitui nas relações de
a ser. As considerações aqui resumidas a abrigamento, sendo impossível determi-
partir das reflexões dialógicas entre a te- nar a forma como irá ocorrer o desenvolvi-
oria e a prática são provenientes de um mento de cada criança. Sendo assim, nos-
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gumentar que o sentido de injustiça emo- crianças. Assim, serão abordadas questões
cional é um componente importante no específicas, relacionadas ao trabalho de in-
entendimento dos atos de fugir de casa. A vestigação com crianças pequenas - bebês
Profª. Normanda Araújo apresentará refle- -, considerando-as, a partir do referencial
xões acerca dos valores atribuídos por jo- da Sociologia da Infância, sujeitos sociais,
vens em situação de vulnerabilidade social portanto, que estabelecem relações com o
acerca de suas famílias a partir da pesquisa outro, grupo geracional ou não e, nessas
realizada com dois grupos de jovens. Um relações, tem um papel ativo na composi-
grupo que ainda mora com suas famílias e ção dos contextos em que estão inseridas.
que frequenta o Trabalho educativo e ou- O contexto eleito para o trabalho empírico
tro grupo que vive em situação de rua. Se- foi uma creche em Braga/Portugal e os re-
melhanças e especificidades dos contextos sultados apontaram para a importância das
familiares para os dois grupos são discuti- ações das crianças/ bebês na condução da
das. A Profª. Júlia Bucher-Maluschke apre- ação do(s) outro(s) e nas transformações
sentará a partir da pesquisa de histórias de de suas próprias ações. Aliando a perspec-
vida de jovens, filhos de pais “fora da lei”, tiva teórico-metodológica da Psicologia
como construíram e vivenciam seus valo- Sócio-Histórica às reflexões sobre as con-
res pessoais num contexto intrafamiliar e dições de exclusão/inclusão dos sujeitos
social contraditório. Esperamos suscitar sociais crianças, considerando, inclusive,
com esta mesa-redonda novos encami- aquelas que vivem em contextos onde a
nhamentos para a investigação nesta área violação de seus direitos se faz presente,
do desenvolvimento humano. a segunda exposição aborda a condição da
criança - e a persistente desconsideração
por essa condição - enquanto sujeito que
MR LT04 - Mesa Redonda produz sentidos e significados aos aconte-
cimentos de seu cotidiano, considerando
Convidada os contextos instituicionais e seus atores.
Assim, afirma a autora: “O reconheci-
mento da criança como sujeito concreto,
MR LT04-979 - REFLEXÕES TEÓRICO-
inserido num contexto que ajuda a produ-
METODOLÓGICAS EM PESQUISAS COM
zir e que o produz, leva a compreender a
CRIANÇAS
posição desse sujeito no contexto social,
Rosângela Francischini - UFRN a situá-lo numa realidade mais ampla e a
rfranci@uol.com.br tentar apreender o processo pelo qual ele
Angela Coutinho - UFSC (sujeito) se forma. Sem esse enfoque, tem-
gi_scalabrin@hotmail.com -se uma análise parcial do problema, uma
Sônia M. Gomes Sousa - PUC/Goiás espécie de ‘psicologismo’, uma abordagem
smgsousa@terra.com.br insuficiente, incapaz de dar conta do pro-
cesso de exclusão–inclusão social a que
O objetivo principal desta Mesa é apre- estão submetidos milhares de seres huma-
sentar trabalhos que se propõem a refletir nos. Portanto, é necessário compreender
sobre questões teórico-metodológicas que a realidade social como uma construção
perpassam a atividade de pesquisa com humana, e não simplesmente como um
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dado natural, pois é no processo de produ- bem como as possibilidades de diálogo en-
ção de sua realidade social que o homem tre diferentes áreas do conhecimento no
produz-se a si mesmo como ser histórico estudo de problemáticas interdisciplina-
e cultural.” A terceira exposição tem por res, como são as relacionadas às crianças
objetivo estabelecer um diálogo entre a e às suas infâncias. Para tanto, toma como
Psicologia Sócio-Histórica e a Sociologia da referência uma pesquisa de doutorado de-
Infância. A partir da constatação de que na senvolvida no âmbito de um programa de
bibliografia especializada em Sociologia da doutorado em Estudos da Criança. Trata-
Infância comparecem críticas recorrentes -se de um estudo com orientação etnográ-
à Psicologia do Desenvolvimento, princi- fica, que foi desenvolvido em um contexto
palmente, de vertente piagetiana, a autora de educação infantil do tipo creche, em
se propõe a sinalizar as possibilidades de Portugal, tendo como objetivo conhecer a
aproximação entre essas duas áreas do ação social dos bebês no contexto da cre-
conhecimento, considerando, no entanto, che e, especificamente, identificar a recor-
a Psicologia Sócio-Histórica representada rência e o modo como ocorrem tais ações
por Vygotsky, cujo desafio é pensar o de- sociais. As perguntas que orientaram o
senvolvimento do sujeito a partir do ma- estudo são: Como ocorre a ação social en-
terialismo dialético, das interinfluências tre os bebês, nas relações cotidianas no
e das transformações recíprocas sujeito- contexto da creche? Quais elementos são
-ambiente. Por seu lado, da Sociologia da constituidores de tal ação? As relações e
Infância é chamada à cena a tese da “re- as ações sociais são ideias e práticas simi-
produção interpretativa”, elaborada por lares? O que caracteriza a ação de bebês
Corsaro, que assume a capacidade e o po- na estruturação das suas experiências, no
der que as crianças têm de transformarem contexto da creche? Há uma ordem so-
os elementos de seu contexto, através das cial diferenciada para adultos e crianças,
interpretações que fazem desses elemen- no interior das instituições? Como elas
tos, sinalizando para a importância das re- são estruturadas? Quais indicativos para
lações intrageracionais. a formação das professoras de educação
infantil emergem do conhecimento da
ação social dos bebês na creche? A base
DESAFIOS METODOLÓGICOS PARA O teórico-metodológica selecionada encon-
ESTUDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS DOS tra-se na interface das Ciências Humanas
BEBÊS com as Ciências Sociais, nomeadamente
Angela Coutinho - UFSC a Sociologia da Infância, numa perspec-
gi_scalabrin@hotmail.com tiva que situa a criança como ator social
e a infância como construção histórica e
Financiamento: Alβan – Programa de bolsas cultural (Ariès, 1981; James & Prout, 1990;
de alto nível da União Europeia para América Pinto & Sarmento, 1997). Dentre os pres-
Latina supostos a serem abordados está a ideia
de que a infância deve ser estudada a
Esta comunicação tem por objetivo apre- partir de si própria, considerando que as
sentar algumas reflexões sobre os desafios crianças são as melhores informantes so-
metodológicos na pesquisa com bebês, bre as questões que lhe dizem respeito.
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sua expressividade, seja nas situações de lho, lazer, violência física, sexual e/ou psi-
brincadeira, no revelar das preferências cológica – é uma tentativa de romper com
por determinados pares, assim como da a concepção dominante, que vê a criança
sua condição social enquanto menina ou como o infante, ou seja, ‘aquele que não
menino pertencente a uma determinada tem fala’, para colocá-la num lugar de
classe e estatuto social. Os bebês agem protagonista, em defesa de seu status de
socialmente, determinando a ação de ou- sujeito de direitos. O estudo da infância e
tros, modificando a sua própria ação, as- da criança objetiva, assim, desvelar o real,
sim como atuando sobre a estrutura, que subvertendo a aparente ordem natural das
embora tenha um poder interferente, não coisas, pois, compreende que a criança fala
conforma as suas ações, dada a sua capa- não apenas de seu mundo e de sua ótica
cidade enquanto agente. infantil, mas, também, do mundo adulto
e da sociedade contemporânea (Kramer,
Palavras-chave: pesquisa com bebês, 1996). E, nessa perspectiva, pretende tam-
metodologias de pesquisa, estudos sociais da bém colaborar na elaboração de políticas
infância públicas não excludentes e que vejam a
infância não como risco, mas, fundamen-
talmente, como oportunidade (Rizzini et
O ESTUDO DA INFÂNCIA COMO alii, 2000). A opção por estudar/pesquisar
REVELADOR E DESVELADOR DA a infância parte do pressuposto de que a
DIALÉTICA EXCLUSÃO–INCLUSÃO criança, na vida que vive e nas diversas
SOCIAL formas de subjetivação que produz, reve-
Sônia M. Gomes Sousa - PUC/Goiás, la e desvela o mundo e expressa a história
smgsousa@terra.com.br dos homens. Assim, estuda-se a infância,
buscando captar a criticidade da criança
A psicologia sócio-histórica, que tem como sobre o mundo e a do pesquisador sobre
sujeito principal de investigação a criança a relação criança–mundo. Contudo, essa
ou o adolescente, têm produzido pesqui- perspectiva teórico-metodológica não é
ainda usual, pois, estudar a criança quase
sas que privilegiam aspectos ausentes
sempre parece ao adulto interessar-se por
das investigações em outros momentos
um ‘objeto’ menor. Uma prova disso é que,
históricos. Desse modo, ao voltar-se para
quase sempre, as teorias sobre a infância
temas como a violência contra crianças, o
estão profundamente marcadas pela óti-
abandono, a exploração sexual, o trabalho
ca do ajustamento da criança à sociedade
infantil etc, essas pesquisas contribuem
dos adultos, não apenas esquecendo a sua
para a construção de um campo investiga-
forma específica de ver e viver o mundo,
tivo que alcança e focaliza a dimensão da
mas, tentando transformá-la em adulto
exclusão–inclusão (Sawaia, 1995 e 1998)
idealizado. Geralmente, não se leva em
na vivência infantil. Investigar os sentidos
consideração que tal ajustamento deve
e significados que as crianças atribuem a ser o resultado de um processo histórico
diversos fenômenos da sua vivência co- e cultural e que a transmissão/assimilação
tidiana na contemporaneidade – família, cultural não se dá de uma forma comple-
convivência com os pares, escola, traba- ta, nem tampouco passiva e pacífica. Da
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foi a primeira crise enfrentada por ela. A familiar, entendida aqui, como a capaci-
família, na tentativa de adaptar-se a essa dade do grupo familiar de suportar crises
nova realidade, promoveu Eva à condição e adversidades acionando o potencial de
de filha parental. Ela, além de cuidar da reparação e superação. Dessa forma, a
mãe alcoolista, também cuidava dos seus estrutura familiar desligada pode ter difi-
irmãos, apesar de ser a filha mais nova. cultado o manejo da crise iniciada com a
Essa troca de papéis quando temporária morte do irmão e agravada pela doença
constitui a base de identificação da crian- materna, e gerado uma sobrecarga na fa-
ça com os pais e esse arranjo natural não mília nuclear, culminando no surgimento
acarreta, necessariamente, prejuízos para de um novo sintoma, o TCAP. Outras ca-
o funcionamento familiar. Mas se a paren- racterísticas identificadas similares quanto
talização tornar-se um modo habitual e ao funcionamento de sistemas com obe-
prevalente de relação, como no caso de sidade descritos na literatura foram: fron-
Eva, o filho parental é excluído do subsis- teiras internas difusas e externas rígidas;
tema fraterno e inserido no subsistema ênfase à lealdade familiar; forte ligação
parental, assumindo prematuramente entre alimentação, afetividade e pertenci-
uma considerável responsabilidade emo- mento e comunicação marcada por pouca
cional, que o obriga a desenvolver um expressão de sentimentos. Sobre o funcio-
falso-self de autonomia, independência e namento familiar de pessoas com TCAP,
autossuficiência. Esse filho fica triangula- também foi observado características rela-
do e fusionado com figuras parentais in- tadas na literatura, como vulnerabilidade
diferenciadas, transformando esse papel à obesidade e baixa coesão na família de
num aspecto de sua própria identidade. origem. Por outro lado, a pesquisa identi-
Provavelmente, a parentalização de Eva ficou aspectos da dinâmica que não foram
tenha dificultado o seu relacionamento encontrados nos estudos revisados e que
com seus irmãos, referidos por ela como podem estar relacionados com o desen-
“inimigos”, visto que sua permanência no volvimento de obesidade e TCAP: a pa-
papel parental a impediu de desenvolver rentalização do paciente com o sintoma e
uma relação de igualdade no subsistema uma comunicação familiar paradoxal. Com
fraterno. Já na fase adulta, quando Eva já base nesses resultados salientamos que a
era casada e suas filhas eram pequenas, obesidade não se limita ao indivíduo, ela
morre seu irmão mais próximo e em se- está intimamente ligada ao sistema fa-
guida sua mãe adoece gravemente. Nesse miliar e, portanto, precisa ser tratada de
momento de luto e de dificuldades finan- forma sistêmica. Se conseguirmos mudar
ceiras, Eva começa a desenvolver os sinto- o nosso olhar, do indivíduo para o con-
mas de compulsão alimentar. Nos seus re- texto, e incluir a família no tratamento da
latos refere não ter tido apoio dos irmãos obesidade e do TCAP, não como fonte de
para cuidar da mãe, o que demonstra o suporte, mas como agente primordial de
ambiente desligado de sua família de ori- mudança, possivelmente teremos melho-
gem. O desenvolvimento do TCAP parece res resultados ao longo prazo.
estar intimamente ligado a um sistema
familiar desligado. De fato, um baixo nível Palavras-chave: obesidade/TCAP; família,
de coesão familiar enfraquece a resiliência dinâmica familiar.
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cia “rica” e ativa, constatamos que o edu- educação, culminando em uma atuação
cador infantil, diretamente responsável coerente com a perspectiva que compre-
por este universo, se encontra sem espaço ende a criança como produtora de cultura.
para uma interlocução teórica-prática sis- A quarta fala será desenvolvida por uma
tematizada que o ajude a ampliar suas pos- pedagoga que compõe uma equipe de
sibilidades de intervenção neste contexto. apoio pedagógico da Educação Infantil de
Deste modo, a formação em serviço dos uma instituição privada, onde refletirá e
professores da educação infantil coloca-se explicitará as intervenções possíveis neste
em pauta na ordem da urgência, intiman- campo, delineando uma formação de pro-
do os profissionais que atuam na área da fessores que esteja voltada e comprometi-
educação a problematizarem e comparti- da com os processos de desenvolvimento
lharem suas práticas e fundamentações e aprendizagem das crianças.
teóricas. Assim, pretendemos articular
esta temática possibilitando legitimar as Palavras-chave: formação de professor,
diferentes vozes que compõem o cenário educação infantil, infância.
escolar, a saber: professores da educação PARANGOLÉS: Formação em Serviço de
infantil, pedagogo e psicólogo escolar. A Professores da Educação Infantil.
primeira fala abordará a formação em Paula Cristina Medeiros Rezende, UFU,
serviço do educador infantil, destacando lalamedeiros@netsite.com.br
a relevância da arte como ferramenta útil
no processo de ampliação dos sentidos O presente trabalho, desenvolvido a partir
sobre a atuação deste profissional no co- da experiência de uma psicóloga escolar
tidiano da educação infantil. Por meio da com um grupo de formação de educado-
metáfora do Parangolé, proposto pelo ar- res da educação infantil, inspira-se nos Pa-
tista Hélio Oiticica, pretende-se articular rangolés do artista plástico Hélio Oiticica
os recursos e as potências que o educa- quando convida o espectador a assumir
dor da infância pode desenvolver em sua um posicionamento ativo na constituição
prática diária. A segunda apresentação, da atividade criadora, abandonando o lu-
proposta por uma professora da educação gar de mero espectador. Parangolés são
infantil de uma Escola de Educação Básica, capas, estandartes, bandeiras para serem
versará sobre as perspectivas teóricas do vestidas ou carregadas pelo participante
campo da Educação e da Psicologia que de um happening. As capas são constituí-
sustentam as práticas educativas, dando das de tecidos coloridos estampados com
destaque às especificidades deste profis- palavras e imagens que aparecem com o
sional; a formação inicial e em serviço e movimento da pessoa que o carrega. Ao
as possibilidades de diálogos com a pro- vestir o parangolé o participante se consti-
posta educativa de Reggio Emilia. Em se- tui obra de arte e supera a ideia de supor-
guida, por meio das experiências de uma te para a capa. De acordo com Oiticica há
educadora infantil, também de uma Esco- uma “incorporação do corpo na obra e da
la de Educação Básica, pretende-se abor- obra no corpo”. De acordo com Salomão
dar a importância do desenvolvimento de (2003) a “relação artista-propositor com o
habilidades e competências necessárias participante que veste o parangolé não é
para instrumentalizar o profissional da a relação frontal do espectador e do espe-
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táculo, mas como que uma cumplicidade, fio condutor neste trabalho está de acor-
uma relação oblíqua e clandestina, de pei- do com a perspectiva sócio-histórica, que
xes do mesmo cardume”. A intenção do ar- considera o homem como um ser ativo,
tista é provocar o público, convidando-o a social e histórico; e a sociedade, como pro-
abandonar o lugar de espectador em atitu- dução histórica dos homens (Bock; Gon-
de meramente contemplativa e a ocupar o çalvez, Furtado, 2009). Assim, esse sujeito
lugar de participante ativo na constituição se constitui e constrói o mundo dialética
da atividade criadora, experimentado tam- e dialogicamente, não podendo ser com-
bém uma inundação sensorial vibrante no preendido independentemente de suas
corpo inteiro pela cor, tato e movimento relações e vínculos. Deste modo, adulto
rápido e improvisado. Assim, o conceito de e criança se constituem mutuamente du-
exposição de obra de arte para ser aprecia- rante a história e dentro de um contexto
da pelo público passa a ser problematizada, sócio-cultural. Juntos constroem sentidos
inserindo na questão a idéia de invenção e significados do mundo infantil e adulto,
criativa do espectador, agora participante. se opondo, contrapondo e complemen-
O objetivo da participação é oferecer ao tando; demarcando um campo de tensão
homem a possibilidade de experimentar, e confronto presente no cotidiano desses
de se descobrir na criação. A obra, como sujeitos (Prado, 2005). A criança se cons-
objeto de arte em si, não diz nada. Fica à titui e se constrói em relação com adultos,
espera do seu interlocutor para comungar jovens, idosos, não estando para vir a ser
no movimento a experiência artista. De um adulto. É um autor e ator social, um in-
acordo com Favaretto (1992) o interesse terlocutor que se relaciona com o mundo
de Oiticica, ao criar o Parangolé, não foi conversando, brincando, questionando e,
outro senão o de levar o indivíduo ao di- na medida em que realiza esse intercâm-
latamento de suas capacidades artísticas, bio, possibilita a construção de diferentes
para a descoberta de seu centro interior versões de sentido. Para Corsaro (1997),
criativo, de sua espontaneidade expressiva citado por Müller (2006), as crianças são
adormecida, condicionada ao cotidiano. responsáveis pelas suas infâncias, uma vez
A transposição das intenções de Oiticica que contribuem ativamente para a mu-
para a arena da Educação Infantil nos per- dança social e para a construção da cul-
mite refletir sobre como os educadores da tura a partir da interação com seus pares
infância tem se posicionado em relação a e com os adultos. Elas são agentes ativos
práticas educativas que legitimem os di- que constroem suas culturas e colaboram
reitos fundamentais das crianças e colabo- para a produção do mundo adulto, afetam
rem na construção de uma sociedade mais e são afetadas pela sociedade. Dahlberg,
democrática. Quais os espaços que este Moss e Pence (2003) aproximam-se desse
educador tem para dar continuidade ao pensamento à medida que apontam para
seu processo de formação que possibilite o reconhecimento de algumas caracterís-
exercer com autoria uma prática marcada ticas deste novo paradigma da infância, as
por experiências criativas, com sentidos quais são de suma importância para este
voltados para a formação da criança autô- estudo, tais como: a infância como uma
noma, também autora de suas experiên- construção social e sempre contextualiza-
cias? A visão de infância que temos como da; as crianças enquanto atores sociais que
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veria contribuir para uma ação docente professor acumulou na sua vivência pes-
que inclua, dentre outros aspectos: avaliar soal e profissional – o que é importante
cuidado e educação; planejar experiências para que ele também reconheça e valorize
diversificadas, que atendam aos vários as- o conhecimento da criança. Para desem-
pectos do desenvolvimento infantil; esta- penhar bem seu trabalho cotidiano, esse
belecer e manter uma relação cooperativa profissional precisa aprender a refletir
e amistosa com as famílias; aprender a sobre a sua prática, construindo um pro-
ser parceiro do desenvolvimento infantil, jeto educativo que leve em consideração
estimulando-o, mas não o apressando; a utilização de recursos que possam os
abordar as diferentes áreas de conheci- auxiliar na construção de uma educação
mento de maneira integrada; vincular a para a infância de maior qualidade como:
aquisição de novos conhecimentos e ha- a documentação, a avaliação, a pesquisa e
bilidades pelas crianças aos seus reais de- a observação, desde que não seja suprimi-
sejos e necessidades, promovendo uma da a importância de sensibilizar, de brin-
verdadeira aprendizagem significativa; dar car, de ler, dialogar e escutar a infância.
atenção privilegiada aos aspectos emo- Identifica-se em Dahlberg, Moss e Pence
cionais, especialmente durante o período (2003) que os desafios atuais diante da
de inserção a criança a creche ou a pré- formação do educador para a primeira in-
-escola; dar oportunidade e estímulo para fância referem-se em aceitar as limitações
a criança expressar os seus sentimentos, temporais e espaciais, de que não há con-
desenvolver a sua autonomia, ajudando- certos rápidos e nem projetos universais.
-a a desenvolver a sua identidade cultu- Mas há possibilidades de conhecimento
ral, racial e religiosa. Ao que se refere à e ações locais: o indivíduo interessado
formação inicial do educador, de crianças pode ler e refletir sobre temáticas relati-
pequenas, a autora defende que os cur- vas a sua formação e sobre a infância, bem
sos que cuidam dessa etapa da formação como outras que por ventura surgirem
deveriam repensar, sistematizar e enri- necessidades; o grupo, a equipe de uma
quecer dois conjuntos de informações, instituição, podem discutir e explorar di-
intimamente relacionados: as referentes ferentes recursos e possibilidades para o
ao desenvolvimento e a aprendizagem aperfeiçoamento da sua formação, como
infantil, focalizando a criança concreta, exemplo, a documentação pedagógica.
localizada histórica e socioculturalmente. Podendo assim aprofundar o seu entendi-
Aspectos fundamentais para que o profes- mento do trabalho pedagógico e levando
sor possa desenvolver com qualidade seu a refletir sobre as concepções que cons-
trabalho, contextualizá-lo e posicionar-se truímos sobre a criança e a infância, e nes-
diante dos problemas que a área enfren- ta discussões podemos buscar inspirações
ta, dentre eles: a constituição histórica da em trabalhos como o de Reggio Emilia, e
infância; as políticas públicas da Educação assim fortalecer uma formação docente
Infantil; a identidade profissional docente. de qualidade. Edwards, Gandini e Forman
Sobre a formação em serviço do professor (1999), a partir de suas experiências nas
as leituras indicam que a formação preci- escolas de Reggio, recomendam que os
sa ter como referência o saber docente, professores devem ter o hábito de ques-
o reconhecimento e valorização do que o tionar suas certezas, devem possuir uma
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sensibilidade imensa, devem ser conscien- compromisso que a sociedade deve assu-
tes e estar disponíveis, devem assumir um mir em relação à infância. Diante desde
estilo crítico em relação às pesquisas e quadro devemos encontrar novas formas
conhecimento continuamente atualiza- de se trabalhar com crianças, incluindo
do sobre as crianças, devem manter uma entre estas a valorização das múltiplas
avaliação enriquecida do papel dos pais, e linguagens infantis buscando o desenvol-
devem possuir habilidades para falar, ou- vimento integral das mesmas. Também
vir e aprender com. Contudo é fato que a exige um bom entendimento por parte
educação para a primeira infância é um di- do professor sobre este desenvolvimento
reito da criança. A criança não tem direito e aprendizagem das crianças, pois ofere-
apenas ao acesso a creche e/ou a pré-es- cer uma educação de qualidade demanda
cola, mas a uma experiência educativa de conhecimentos profissionais, estratégias
qualidade, que realmente seja prazerosa e cuidado únicos apropriados a infância.
e eficaz na promoção das suas múltiplas E para isso exige-se também uma boa for-
aprendizagens e desenvolvimento. Como mação do professor que atua na educação
o professor é a figura mais importante infantil, pois a qualidade do trabalho com
para a qualidade dessa experiência, é im- a criança é intrinsecamente vinculada à
prescindível que a sua formação inicial e formação e qualificação do profissional da
em serviço seja foco de atenção por parte área. Pensando em dialogar sobre estas
das políticas públicas e dos cursos de for- questões pretendo, a partir da minha ex-
mação desses profissionais. periência como educadora infantil da Es-
cola de Educação Básica da Universidade
Federal de Uberlândia, contribuir com a
DIÁLOGOS SOBRE A INFÂNCIA: reflexão sobre a formação do professor da
EXPERIÊNCIAS DE UMA EDUCADORA educação infantil, destacando a importân-
INFANTIL cia do desenvolvimento de habilidades e
Pâmela Faria Oliveira - UFU, competências necessárias para instrumen-
pamela8oliviera@hotmail.com talizar este profissional da educação para
um trabalho mais rico, prazeroso e efetivo.
Ao longo da história da infância percebe- A partir do diálogo rico entre a pedagogia e
mos uma história da marginalização que a psicologia, temos refletido e estruturado
abrange os mais diversos âmbitos, seja novas formas de compreender a infância
social, cultural ou econômico. As crianças e, por conseguinte, temos buscado expe-
precisavam viver sempre em um mundo rimentar em nosso cotidiano escolar uma
que não era o seu, que não estava feito a atuação coerente com esta perspectiva
sua medida, sendo vista como um adulto que se apresenta. Dahlberg, Moss e Pence
em miniatura. Contudo, atualmente, per- (2003) nos colocam que há muitas crianças
cebemos uma ampliação no modo como e muitas infâncias, a primeira infância é a
temos visto e interagido com a infância. base do progresso bem sucedido na vida
Inicia-se uma configuração de um mapa posterior. É o início de uma jornada de re-
de direitos da infância cada vez mais pre- alização da incompletude da infância para
ciso e comprometido com as novas teorias a condição humana plena da idade adulta.
e políticas educacionais, reafirmando o A infância deve ser entendida como uma
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construção social, elaborada para e pelas prático que nos mostra que a possibilidade
crianças, em um conjunto de relações so- de realizar um desenvolvimento e apren-
ciais, e a principal fase onde se constrói a dizagem significativos, valorizando uma
identidade infantil, portanto merece aten- prática pedagógica em sua dimensão li-
ção especial por parte dos educadores bertadora, criativa, participativa, inclusiva
que trabalham com a educação infantil. e democrática, por um processo de inte-
Faria e Mello (2005) nos mostra que hoje ração com o outro, mediado pela cultura,
temos um acervo bem denso de pesqui- uma prática pedagógica que contemple o
sas revelando infâncias diferenciadas, lúdico, a cultura, a formação humana e a
crianças curiosas e inventivas, capazes de construção de conhecimentos pela crian-
estabelecer múltiplas relações e levantar ça, são as escolas de Educação Infantil de
hipóteses de várias naturezas, derruban- Reggio Emillia. Edwards, Gandini e Forman
do por terra, portanto as concepções da (1999) referem que o respeito a coopera-
criança incompleta, incapaz, egoísta por ção, a solidariedade, a autonomia, a inclu-
natureza, assim desafiando o adulto pro- são, o direito de brincar a manifestação e
fissional da educação a trabalhar de acor- valorização da pluralidade cultural, social e
do com as múltiplas linguagens infantis. ética, ou seja a interação da criança com o
Teóricos como Vygotsky, Piaget e Wallon seu meio promove o desenvolvimento in-
também contribuem para os nossos estu- tegral da criança. Nas escolas de Reggio as
dos, trazendo uma melhor compreensão crianças são encorajadas a tomarem suas
do processo de constituição dos sujeitos, próprias decisões e a fazerem suas pró-
de seu desenvolvimento e de sua cons- prias escolhas. Os educadores exploram
trução de conhecimento. O estudo destes as múltiplas linguagens da infância, incen-
autores tem dado sustentação teórica ao tivam os relacionamentos e entendem as
trabalho do educador infantil e auxiliado crianças como promotoras do seu próprio
na compreensão do desenvolvimento in- desenvolvimento, abrindo as portas para
fantil. As contribuições destes teóricos nos as cem linguagens infantis. Charlot (2005)
fazem compreender que a aquisição de coloca que há uma grande diferença entre
conhecimento é um processo construído ensinar e formar, a idéia de ensino impli-
pelo indivíduo durante sua vida. Assim nós ca um saber a transmitir, e a idéia de for-
educadores devemos desenvolver práticas mação implica em dotar o indivíduo de
pedagógicas alinhavadas aos saberes in- competência. Assim formar o professor é
fantis, pois isto leva a situações privilegia- dotá-lo de competência que lhes permi-
das de aprendizagem infantil onde o de- tirão gerir tensões e construir mediações
senvolvimento pode alcançar níveis mais entre a teoria e a prática. Assim o autor
complexos, exatamente pela possibilidade defende uma formação de professores,
de interação entre os pares em uma situa- onde é necessário trabalhar saberes e prá-
ção imaginária e pela negociação de regras ticas em diversos níveis, e articular estas
de convivência e de conteúdos temáticos. com as lógicas de desenvolvimento da
Uma criança nunca pode perder a curiosi- criança na educação infantil. O professor
dade a respeito do mundo que a envolve, deve formar uma identidade profissional
e esse certamente há de ser um grande estruturada na sua relação com o mundo
objetivo da Educação Infantil. Um exemplo e com teorias. Edwards, Gandini e Forman
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1999). Foi entre os séculos XVI e XVIII, trução de ser criança é apresentada como
de acordo com Del Priore (1999), foi in- um sujeito com características peculiares,
troduzido a conceituação de infância, de- ela tem o brincar como atividade central
nominada por ela puerícia - período en- no seu comportamento social, onde tan-
tre o nascimento e os 14 anos de idade, to pode vivenciar de maneira espontânea
com a qualidade de ser quente e úmida quanto como fazendo parte da rotina de
- que corresponderia à primeira idade do aprendizagem na escola, mas essencial-
homem. A infância seria dividida em três mente ela é o brincar. Essa criança expres-
momentos: 1) entre o nascimento e a ida- sa uma forma de ser que se revela pela
de de 3 a 4 anos - amamentação; 2) entre sua forma de se sentir feliz e de ser alegre
os 4 e 7 anos - a criança acompanharia os quando se relaciona. Não tem medo do
pais durante as atividades diárias; 3) dos mundo, precisa estar nesse mundo para
7 anos em diante, quando a criança ou es- viver todos os momentos o mais intensa-
tudava, ou participava de atividades pró- mente possível e por isso mesmo se re-
prias a sua idade através do aprendizado conhece na possibilidade de dizer o não,
em escolas. É importante enfatizarmos a quando o sim também existe. Então a
participação da sociedade como fator pre- subserviência do início de nossa coloniza-
ponderante para a educação infantil, bem ção tem cada vez menos impacto na vida
como para a manutenção das relações dessas crianças. O aluno da pedagogia
afetivas na e entre famílias. O simbolismo reconhece o poder que a criança tem no
de absolvição ou purificação da alma da ambiente de escola e na vida cotidiana,
criança através do batismo e, ao mesmo sem perder com isso a inocência como
tempo, o apoio da religião católica, anun- inocente que é. Para esses discentes a
ciavam um sentimento de aprovação e/ou criança não tem preocupações, mas como
responsabilidade por parte da sociedade atributo dado pela sociedade é colocado
em ajudar na criação da criança, dividindo os estudos e o aprender que estão sob o
com os pais a responsabilidade educativa seu encargo. Dessa maneira entendemos
(Del Priore, 1999). Na contemporaneida- que o professor em formação se pauta na
de de nossa época podemos conhecer criança que tem muito mais domínio da
como as idéias a respeito do que significa construção de conhecimento e não é in-
ser criança está revelada nas representa- fluenciada de maneira rápida pelo adulto.
ções sociais dos alunos da pedagogia da Existe uma construção na relação criança
Faculdade Anhanguera de Brasília, onde e adulto que interfere significativamente
81 alunos puderam participar e tiveram na aceitação ou não da criança em com-
as suas resposta analisadas pelo software preender o mundo em que ela vive.
EVOCATION 2000 (análise de evocação).
As representações do que é “ser criança” Palavras-chave: Representações Sociais,
estão solidificadas, no núcleo central da Infância, Pedagogia
seguinte maneira: alegre (7), aprender Contato: Luciana Câmara Fernandes Bareicha,
(12), brincar (58), criança (8), estudar Faculdade Anhanguera de Brasília, luciana.
(8), feliz (35), inocente (8), inocência (9), bareicha@gmail.com
medo (12), mundo (11), não (35), poder
(12), ser (89), vida (9), viver (12). A cons-
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cia da violência sexual são: rede de apoio obras com o abuso de álcool e outras dro-
(amizades, escola e família); atendimento gas, e o envolvimento em comportamen-
profissional (engajamento na psicotera- tos sexuais de risco. No Brasil, pesquisas
pia) e aspectos individuais (elaborações anteriores demonstraram que esses tra-
sobre a sexualidade, culpa e escolhas). balhadores tendem a apresentar uma des-
Discute-se a relação entre atendimento, valorização da sua condição profissional.
vitimização e culpa, como processo de Essas pesquisas também identificaram
afastamento das vítimas do serviço espe- problemas de autoestima e aceitação de
cializado e uma dificuldade em planejar estereótipos negativos nesta população.
tratamento continuado. Os aspectos inerentes às condições de
trabalho em grandes obras afetam tanto
Palavras-chave: exploração sexual, os trabalhadores como as empresas e as
adolescência, sexualidade comunidades onde as obras se inserem.
Este trabalho teve como objetivo apre-
sentar um levantamento sobre quem são
ASPECTOS DE RESILIÊNCIA NA e como vivem os trabalhadores de gran-
PROFISSÃO DE TRABALHADOR DE des obras em atividade no Brasil, focali-
GRANDES OBRAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL zando aspectos de resiliência desta popu-
Diogo Araújo de Sousa - UFRGS lação frente às adversidades provenientes
diogo.a.sousa@gmail.com das condições de trabalho. Participaram
do estudo 288 trabalhadores de grandes
Trabalhadores da área de construção civil obras civis (todos homens), vivendo alo-
de grandes obras vivenciam condições de jados nas imediações de grandes constru-
trabalho que, muitas vezes, os expõem a ções, em cinco estados brasileiros: Goiás,
amplas situações de risco. Esses profis- Minas Gerais, Rondônia, Santa Catarina
sionais, responsáveis pela edificação e e São Paulo. A média de idade dos parti-
construção de hidrelétricas, barragens, cipantes foi de 32,78 anos (DP = 10,91),
montagens e outras grandes obras, no variando entre 18 e 64 anos. Dos entre-
Brasil, passam por períodos de emprego vistados, 51,9% eram casados ou estavam
e desemprego e levam boa parte de suas em um relacionamento estável, ao passo
vidas em alojamentos, mudando constan- que 42,9% eram solteiros. Quanto à esco-
temente de cidade, de acordo com o fluxo laridade, 37,5% dos trabalhadores cursa-
de construções pelo país, o que acarreta ram apenas o Ensino Fundamental incom-
no afastamento dos seus lares e famílias. pleto, outros 21,2% concluíram o Ensino
A alta mobilidade e os movimentos migra- Fundamental e 20,8% têm Ensino Médio
tórios são características marcantes dessa completo. A média da renda mensal fami-
profissão, bem como a falta de formação liar foi de R$ 1.497,13 (DP = R$ 1.452,59).
de redes sociais de apoio, o que os coloca Para a realização das entrevistas, os pes-
em uma situação diferenciada de vínculos quisadores inseriram-se no ambiente de
frágeis com as diferentes comunidades pesquisa (alojamentos de grandes obras
em que se inserem ao longo da vida. Es- no país), a fim de estabelecer uma relação
tudos internacionais relacionaram o estilo de maior proximidade com os participan-
de trabalho em construções de grandes tes. Os participantes foram entrevistados
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meu. Na C2, durante uma roda de histó- titutivo dos sujeitos, de suas identidades
ria, a menina repete seu ponto de vista (o por meio da preservação e afirmação do
anjinho sobe na serra) e o menino insis- eu. Estes movimentos de preservação e
te no seu (o anjinho sobe nas nuvens). A afirmação vão ocorrendo na medida em
disputa inclui alteração no tom de voz e que as atividades da criança vão se distin-
culmina com insulto. As posições antagô- guindo. As interações com outras crian-
nicas presentes na disputa verbal revelam ças e com o ambiente se tornam fatores
a afirmação de um eu pelas duas crianças. decisivos em seu desenvolvimento, por-
São dois pontos de vista, que se opõem que os conflitos gerados por meio destas
e se excluem um ao outro. Trata-se de interações que fazem com que o sujeito
um conflito constitutivo22, de acordo com reformule suas atividades e objetivos,
Wallon, ou seja, um conflito com uma caminhando rumo ao novo (Corsi, 2010).
função dinâmica no desenvolvimento. A Considerar o conflito constitutivo signi-
professora busca uma adesão à atividade fica reconhecer os diferentes pontos de
desenvolvida, criando uma atmosfera de vista das crianças em relação a tal objeto
curiosidade em relação ao livro, objeto da ou atividade e estabelecer a importância
roda. Tal atmosfera permite que as crian- da constituição de espaços permanentes
ças expressem suas hipóteses e favorece para reflexão sobre a prática pedagógica,
disputas desse tipo, considerando as ca- onde seja possível trocar idéias sobre as
racterísticas de constituição do eu. A dis- dificuldades enfrentadas e buscar apoio
puta é absorvida pela atividade, que se- para encaminhá-las. De acordo com Gal-
gue seu curso. Nas instituições de educa- vão (2001), “para que os conflitos tenham
ção infantil, os interesses das crianças são efetivamente um valor positivo, deve-
delimitados pela organização dos espaços -se assegurar que sejam compreendidos
e tempos e pelos recursos que são ofere- e bem geridos”, ou seja, “para definir o
cidos (brinquedos, livros, tinta etc), que valor de um conflito, se positivo ou nega-
oferecem maior ou menor possibilidade tivo, dever-se-ia levar em conta a forma
de exploração e uso. Segundo Wallon, a pela qual é gerido e menos o fator que o
partir dos deslocamentos possibilitados desencadeia.” (p.139) Por meio da refle-
pelo andar, “o espaço adquire para ela [a xão permanente, parece possível incor-
criança] uma realidade independente dos porar e integrar as ações das crianças aos
objetos que o povoam. É um campo livre- objetivos propostos, valorizando tanto a
mente aberto à sua atividade [...]” (1979, construção de um eu quanto a constru-
p.79). O movimento vai se integrando ao ção do conhecimento sobre o mundo,
pensamento, o que possibilita à crian- reforçando, assim, a função educativa da
ça prever a seqüência dos atos motores, instituição.
cada vez mais complexos. A ampliação da
dimensão cognitiva do movimento torna Palavras-chave: conflito, educação infantil,
a criança cada vez mais autônoma para Wallon
agir sobre o mundo exterior. O conflito
é compreendido como movimento cons-
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PEREIRA (1998) realizou um detalhado estudo sobre o tema.
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bir pela rampa da trilha, sem conseguir. da no objeto à tomada de consciência (da
Fernando abre a porta do armário em bai- criança) de sua próprias e novas habilida-
xo da pia e guarda um brinquedo lá. Fer- des e próprias forças, seja porque ela faz
nando vai para o escorrega (com ajuda de de seu próprio corpo o campo de tentati-
um adulto) A trilha sinuosa também vas de suas possibilidades. A fim de modi-
atuou como local focal, ponto de encon- ficar as relações, antes estabelecidas com
tro, oportunidade para crianças desenvol- o brinquedo ou com os coleguinhas, a
verem e partilharem suas habilidades mo- criança firma suas novas conquistas, con-
toras mais amplas. Objetos grandes com- testando as formas tradicionalmente utili-
portam-se como veículos para brincadei- zadas (transgressão).
ras envolvendo atividades motoras mais
amplas, tema que tem sido bastante dis- Palavras-chave: Interação de crianças,
cutido na literatura relativa à interação de percepção de si e a diferenciação eu-outro
companheiros. Porém, o tom emocional,
que aparece nas atividades de brincadei-
ras nesses espaços, tem sido menos estu- CO 02-LT01
dado, mas nem por isso são menos im-
portantes, pelo contrário, marcam e defi- Hospitalização Infantil
nem o uso do brinquedo. A dialética
walloniana esclarece a simultaneidade da
saída de um estado atual e o domínio de LT01-697 - A UNIDADE DE TERAPIA
uma tendência futura, que pode ser aqui INTENSIVA NEONATAL COMO
exemplificada: - muitas foram as situa- CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO E DE
ções em que a mesma criança, inicial- PROMOÇÃO DE SAÚDE
mente dependente do apoio seguro do Aline Melo de Aguiar - UERJ
adulto, vai, por tentantivas e erros, adqui- melodeaguiar@gmail.com
rindo a habilidade que antes não possuía, Deise Maria Leal Fernandes Mendes - UERJ
chegando ao domínio total de si e do ob- -deisefmendes@gmail.com
jeto. O ponto do prazer do brincar está na Maria Lucia Seidl de Moura -UERJ
transgressão à norma. Explicação comple- mlseidl@gmail.com
mentar é dada por Wallon (1942/2008); Talita Maria Nunes de Aguiar - UERJ
para ele a criança e as coisas estão, inicial- talita_aguiar@yahoo.com.br
mente, misturadas e a criança deverá, por
esforço próprio, separar-se delas. Ela as A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
deseja ou evita, é atraída ou rejeita, solici- (UTI-Neo) representa um cenário comple-
ta ou reprova e neste exercício dialético xo em que há o contraponto das moder-
de reconhecer-se diferenciando-se, vai nas tecnologias disponíveis e utilizadas a
compreendendo os objetos e as outras serviço do salvamento e manutenção da
crianças não como distintas dela, mas vida de bebês prematuros e com proble-
como complementares à perda de seu mas de saúde, mas, ao mesmo tempo,
ser/ter – não ser/não ter. A Criança per- apresenta todo tipo de problemas e pri-
manece associada às coisas através de vações que esse mesmo ambiente pro-
seus movimentos, seja porque está inseri- move. Esse ambiente marca uma ruptura
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avaliam o perfil de mediação, sendo que, no item 5 (“M faz uso de voz, gestos e mo-
para cada afirmação sobre o comporta- vimentos para vivenciar a apresentação
mento do mediador, o juiz deve marcar: dos conteúdos da sessão”) M obteve, na
nível 4, se o comportamento de M ocorrer sessão 1: NM= 3,95 e na sessão 2: NM= 4;
sempre; nível 3, se ocorrer muitas vezes; e no item 6 (“M especificamente aponta
nível 2, se ocorrer poucas vezes; ou nível características extras e elementos dos ma-
1, nunca, caso não ocorra na sessão. As- teriais e conteúdos que são importantes
sim, quanto maior a nota dada pelo juiz, de serem notados”) M obteve, na sessão
melhor o perfil de mediação nos critérios 1: NM= 3,71 e na sessão 2: NM= 3,66. O
avaliados. Foram analisados, neste traba- critério de mediação Transcendência teve
lho, oito dos 23 itens do GOTI, relaciona- IC = 61% (variação: 43%-81%), sendo ava-
dos aos três principais critérios citados da liado, no item 7 do GOTI (“M promove
EAM. O desempenho do mediador foi ana- pensamentos que associam o conteúdo
lisado separadamente por sessão, pois, a da sessão com experiências anteriores”),
intervenção era diferenciada em cada dia. na sessão 1: NM= 3,55; na sessão 2: NM=
Efetuou-se o cálculo das médias das notas 3,71; e no item 8 (“M promove pensamen-
atribuídas pelos três juízes aos níveis de tos que associam o conteúdo da sessão
mediação (NM), bem como do índice de com experiências futuras”) M obteve, na
concordância médio (IC) entre os pares de sessão 1: NM= 3,6; na sessão 2: NM= 3,61.
juízes (AB, BC e AC), para cada um dos três Para os oito itens avaliados, M obteve mé-
critérios da EAM, adotando-se IC ≥70% dia acima de 3 (ocorreu muitas vezes), com
(Fagundes, 1999). O critério de mediação menor IC no critério Transcendência, su-
Intencionalidade e Reciprocidade teve IC = gerindo possíveis problemas na definição
79% (variação: 43%-100%), sendo avalia- do comportamento a ser observado ou no
do em três itens do GOTI: no item 1 (“M treinamento dos observadores. Por ser a
produz uma mensagem clara aos partici- primeira adaptação do instrumento para
pantes do grupo, com objetivo de engajá- esse contexto, consideram-se necessárias
-los nas atividades da sessão”), M obteve, novas revisões para seu aprimoramento.
em ambas as sessões, NM= 4; no item 2 A adequação dos itens com menor IC po-
(“M consegue, com sucesso, manter a derá ser feita, posteriormente, baseada
atenção dos participantes ao longo da ses- em trabalhos que utilizaram a EAM em
são”) M obteve, na sessão 1: NM= 3,85; na outros conjuntos de mães (Cunha, Enumo
sessão 2: NM= 3,71; e no item 3 (“Quando & Canal, 2006), professores (Faria, Mara-
os participantes perdem a atenção, M pro- nhão & Cunha, 2008; Vectore, Alvarenga
cura meios eficazes de fazê-los retomar a & Gomide Jr., 2006) e terapeutas (Cunha
concentração nas atividades do grupo”) & Guidoreni, 2009). No geral, o estilo de
M obteve, na sessão 1: NM= 3,70; na ses- atuação do mediador mostrou-se coeren-
são 2: NM= 3,33. O critério de mediação te com os princípios da EAM e o uso da
Significação teve IC = 78% (variação: 52%- escala GOTI, adaptada para o contexto de
100%) registrando-se, no item 4 do GOTI UTIN, mostrou-se viável, fornecendo feed-
(“M produz suporte apropriado, visível e back à atuação do psicólogo na condução
concreto para o alcance dos objetivos da de grupos de mães. A realização desses
sessão”), em ambas as sessões: NM= 3,90; grupos, com base em uma adequada me-
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diação no período em que a mãe acom- Para alcançar esse objetivo torna-se fun-
panha a internação do seu bebê, pode se damental que o professor crie recursos,
constituir como um fator de proteção ao estratégias pedagógicas que considerem
desenvolvimento desses bebês em situa- as diferentes possibilidades de aprendiza-
ção de risco ao desenvolvimento. gem, que solicitem a construção de refle-
xões, posicionamentos críticos, bem como
Palavras-chave: mediação, grupo de mães, a construção de conhecimentos. Torna-se
riscos ao desenvolvimento infantil necessário, então, a consideração da cria-
Contato: Schwanny Roberta Costa tividade no trabalho pedagógico, compre-
Rambalducci Mofati Vicente, UFES, endida não como um fenômeno ou “dom
schwanny.vicente@gmail.com divino”, mas segundo abordagem teórica
de Mitjáns Martínez (2009a, 2008, 2004),
como um processo complexo da subjetivi-
CO 08 - LT01 dade humana, na qual participam proces-
sos e elementos diversos, tanto da subje-
Criatividade tividade individual, como da subjetividade
social. Fundamentando essa definição da
criatividade está a Teoria da Subjetividade
LT01-1055 – A CRIATIVIDADE NO na perspectiva Histórica-Cultural de Gon-
TRABALHO PEDAGÓGICO E O zález Rey. Esta proposta teórica acerca da
DESENVOLVIMENTO DA SUBJETIVIDADE criatividade, do ponto de vista da pesqui-
DO PROFESSOR sadora, integra dois aspectos centrais, os
Tatiana Santos Arruda - SEEDF e FE/UnB quais justificam sua escolha para a reali-
arruda.tatiana@gmail.com zação da pesquisa que tem como tema a
Albertina Mitjáns Martínez - FE/UnB criatividade no trabalho pedagógico e o
desenvolvimento da subjetividade do pro-
No contexto contemporâneo a diversida- fessor, que são a consideração do sujeito
de social e cultural marcam o contexto e da subjetividade social nos processos
escolar e as relações construídas nesse criativos. Rompe com as dicotomias pre-
espaço. Solicitam, cada vez mais, investi- sentes em diversas concepções de criati-
mentos na construção de estratégias pe- vidade que ora a definem como processo
dagógicas capazes de oportunizarem situ- individual, ora como processo social. Há
ações educativas que viabilizem a aprendi- a consideração do sujeito, compreendi-
zagem e desenvolvimento dos educandos. do como o indivíduo concreto, portador
As prerrogativas legais quanto à finalidade de personalidade e caracterizado por sua
da educação, expressas na Lei de Diretri- condição de ser atual, interativo, inten-
zes e Bases da Educação Nacional – Lei cional, emocional e consciente (González
8.384/1996, legitimam a necessidade Rey, 1995). É esse sujeito que atua, faz
de tais investimentos, ao afirmar no Art. escolhas, constrói representações da rea-
2º que a educação “tem por finalidade lidade e vivencia diferentes emoções em
o pleno desenvolvimento do educando, seus processos de interação nos contex-
seu preparo para o exercício da cidada- tos dos quais participa, segundo Mitjáns
nia e sua qualificação para o trabalho”. Martínez (2000). É ele que em sua função
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dizagem criativa considerando os proces- cendo para que o aluno posicione-se como
sos de desenvolvimento da subjetividade sujeito autor da própria aprendizagem,
individual, tendo em vista os contextos para que ele não seja passivo nesse pro-
de atuação e inter-relação do indivíduo. cesso e fique apenas repetindo, copiando,
Para contemplar tal objetivo frente a um transcrevendo informações, mas que ele
objeto de estudo tão complexo e pluri- possa se implicar efetiva e afetivamente
determinado, optamos pela perspectiva no processo de aprendizagem. O segun-
histórico-cultural do desenvolvimento da do aspecto nuclear para a constituição
subjetividade proposta por González Rey da aprendizagem criativa foi o desenvol-
(1995, 1999, 2008) e pela compreensão vimento de determinadas configurações
da criatividade como processo da subjeti- subjetivas, dentre elas, a aprendizagem,
vidade de Mitjáns Martínez (2005, 2006a, a leitura, a escrita, a autovalorização e o
2008). Desenvolvemos um percurso me- outro como ensinante. Compreendemos
todológico qualitativo em sintonia com a que tais configurações se constituíram em
Epistemologia Qualitativa (González Rey, função da articulação de uma rede que
2002, 2005) e realizamos três estudos de envolvia: a ação do indivíduo, sentidos
caso utilizando instrumentos como entre- subjetivos sociais, e um conjunto de sen-
vista, redação e análise documental. Além tidos subjetivos individuais que ganharam
desses, construímos novos instrumentos: estabilidade e se constituíram numa tra-
Construção da Linha de Vida Escolar, Baú ma simbólico-emocional favorecedora da
de Lembranças, Fotos e Frases e Túnel do aprendizagem criativa. O terceiro aspecto
Tempo para favorecer aos participantes diz respeito à produção de sentidos sub-
não apenas resgatar lembranças, mas, jetivos situacionais no espaço da aprendi-
principalmente, recordar emoções com o zagem escolar. Concordamos com Mitjáns
objetivo de alcançar as sutilezas do desen- Martínez (2006b) quando ela afirma que a
volvimento subjetivo. A análise integrativa constituição da aprendizagem criativa não
que desenvolvemos dos casos nos permi- diz respeito exclusivamente aos sentidos
tiu fundamentar a tese de que a constitui- subjetivos já constituídos que compõem
ção da aprendizagem criativa está vincula- as configurações subjetivas, mas está atre-
da a quatro aspectos nucleares. Primeiro lada também aos sentidos subjetivos que
o desenvolvimento da condição de sujeito o aluno produz no momento da aprendi-
que ocorre mediante vivências de auto- zagem. Identificamos na pesquisa um im-
nomia, momentos de enfrentamento, a portante sentido subjetivo produzido pe-
conquista paulatina da autoconfiança, o los participantes: a realização pessoal. Em
desenvolvimento da capacidade reflexiva, nossa compreensão tal sentido subjetivo
e o próprio exercício da condição de su- relacionava-se com uma satisfação pró-
jeito. No entanto, concluímos que apenas pria vinculada a uma expressão persona-
o desenvolvimento da condição de sujei- lizada no processo de aprendizagem. Per-
to não é suficiente para a constituição da cebemos que para eles a aprendizagem
aprendizagem criativa. Defendemos a im- não estava somente a serviço do outro,
portância primordial de que essa condição do professor, não era um processo vazio,
psicológica se desenvolva e se expresse no direcionado exclusivamente para o reco-
domínio da aprendizagem escolar favore- nhecimento e aprovação social. Eles im-
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indivíduo. A primeira etapa desta pesqui- homem está destinado a educar-se. Não
sa consistirá uma ampla pesquisa e aná- há saída. É no palco histórico-cultural que
lise bibliográfica nas áreas de educação os processos de aprendizagem e desen-
e aprendizagem em museus, e de criati- volvimento vão executar uma dança dia-
vidade. Em etapas posteriores, a pesqui- lética, promovendo o desenvolvimento
sa buscará, a partir de uma abordagem do sujeito e dotando-o de atributos típi-
metodológica construtivo-interpretativa, cos da condição humana. Também neste
baseada na epistemologia qualitativa de cenário sociocultural surge a escola como
González Rey (1997, 2002, 2005b) definir espaço privilegiado de desenvolvimento e
um grupo de profissionais em museus e aprendizagem e, consequentemente, pro-
analisar seus processos de constituição e moção do potencial criativo. O fenôme-
desenvolvimento de configurações sub- no criativo também será compreendido
jetivas que favoreceram a emergência de como originário na história do comporta-
suas condições de sujeitos de aprendiza- mento do homem, com destaque para as
gem em espaços museais. instâncias sociais e culturais que definem
os processos de subjetivação humana,
Palavras-chave: educação em museus, teoria sempre circunscritos ao tempo histórico e
da subjetividade, criatividade e aprendizagem seus respectivos contextos. Promover um
criativa diálogo sistemático, sistêmico, dialético e
profundo entre criatividade e cultura não
só é necessário como fundamental para o
LT04-1212 – CRIATIVIDADE E entendimento do fenômeno criativo, em
CULTURA: CONSIDERAÇÕES SOBRE especial na primeira infância. Dentre as
OS FATORES SOCIOCULTURAIS NO etapas de vida do sujeito, a primeira in-
DESENVOLVIMENTO DA CRIATIVIDADE fância revela-se um momento privilegia-
Mônica Souza Neves-Pereira - IP/UnB do para o fomento da criatividade e a es-
monicasouzaneves@yahoo.com.br cola destaca-se como cenário central das
Jonathas Nogueira da Rocha - IP/UnB interações entre as crianças, seus pares,
jonathasnr@gmail.com professores e educadores. O ambiente
escolar reveste-se de múltiplas caracterís-
As abordagens sociogenéticas do de- ticas da maior relevância para o pesquisa-
senvolvimento buscam compreender os dor interessado em investigar criatividade
processos de construção da natureza hu- como uma função psicológica humana.
mana partindo do pressuposto central de Ali estão presentes interações e relações
que a gênese das estruturas psicológicas definidoras de rotas desenvolvimentais,
do homem situa-se na dimensão histó- além dos ricos e imprevisíveis processos
rica, social e cultural onde os sujeitos se de mediação que canalizam as mensa-
inserem. A biologia, por si só, não é sufi- gens culturais, orientando processos de
ciente para definir um estatuto de huma- subjetivação. Na escola observamos a
nidade. Para alcançar as potencialidades criança construindo a si mesma, em toda
específicas da espécie homo sapiens, o a complexidade que este processo en-
ser humano necessita pertencer a grupos cerra. Porém, somente por meio de uma
sociais, precisa apropriar-se da cultura. O leitura complexa e abrangente é possível
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realizados quatro encontros com um gru- tam em sua capacidade e em sua autono-
po de 14 estudantes, entre 16 e 18 anos, mia para resolver problemas e conflitos.
de ambos os sexos, que se voluntariaram Voltando à questão inicial que mobilizou
para a pesquisa. Cada encontro, com du- a presente pesquisa, considero que os
ração aproximada de 60 minutos, foi co- elementos e reflexões apresentados ofe-
ordenado por um integrante da equipe de recem uma contribuição, mesmo que par-
pesquisa e acompanhado por outros pes- cial e provisória, para a compreensão so-
quisadores, que observaram e realizaram bre como os jovens pesquisados pensam
anotações para posterior discussão nas e buscam solucionar dilemas morais re-
reuniões do grupo. As discussões foram lacionados à justiça e às diversidades. Al-
registradas em áudio, transcritas e depois gumas lacunas, entretanto, permanecem
analisadas a partir do referencial teórico em aberto e são limites que estão por ser
que orientou a pesquisa. superados, bem como outras questões
Dentre as conclusões a que chegamos, que surgiram no percurso. Penso ser per-
merecem destaque: (1) os estudantes tinente caracterizar a compreensão que
pesquisados organizam seu raciocínio em os adultos (professores, gestores e de-
diferentes níveis e estágios de desenvolvi- mais profissionais da educação) possuem
mento moral, considerando os critérios de sobre as situações apresentadas pelos di-
Kohlberg (1992), o que não está em con- lemas, ainda que hipotéticos, e como as
tradição com sua teoria, pois os estágios enfrentam. No campo teórico, permanece
não são estáticos e não avaliam o desen- a inquietação sobre como a filosofia mo-
volvimento moral dos indivíduos, mas o ral e a teoria do desenvolvimento podem
modo como constroem seu raciocínio; (2) manter suas pretensões de universalida-
os estudantes vivenciam e têm consciên- de e, ao mesmo tempo, respeitar as di-
cia de que em seu ambiente escolar ocor- ferenças culturas, tomando como ponto
rem situações de injustiça, preconceito e de partida o cotidiano escolar e seus con-
discriminação em função das diferentes flitos. Essas são questões sobre as quais
características das identidades dos mem-
pretendo continuar me debruçando, na
bros comunidade escolar; (3) os jovens
tentativa de aprofundar a compreensão
participantes não hesitam quando desa-
das complexas relações entre os sujeitos
fiados a se posicionarem sobre problemas
envolvidos no cotidiano escolar, partindo
que envolvam suas vidas e crenças, o que
pode ser visto como sinal da pertinência e do pressuposto de que a escola deve cada
da importância que as temáticas aborda- vez mais se tornar um espaço em que as
das pela pesquisa possuíam para eles; (4) gerações mais jovens possam construir
os estudantes pesquisados possuem um suas diferentes identidades, reconhecen-
bom grau de maturidade e capacidade de do como riqueza a pluralidade presente
ouvir e respeitar as diferentes opiniões em seu interior.
de seus pares; (5) em geral os jovens pes-
quisados não confiam na capacidade dos Palavras-chave: educação moral, dilemas
adultos de assumirem sua responsabilida- morais, diversidade.
de na resolução de problemas e conflitos; Contato: Luiz Cláudio da Silva Câmara, PUC-
(6) os participantes da pesquisa acredi- -Rio, luizccamara@hotmail.com
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rando, pois muitos pais não conseguem o pai representa um sustentáculo afeti-
assumir as responsabilidades que esse vo para a mãe interagir com seu bebê, e
papel configura, sobrecarregando a mãe na adolescência ajudando na construção
que terá que assumir os dois papéis. Des- da identidade do filho (Gomes; Resende,
sa forma, pretendemos trazer contribui- 2004). A criança está sempre em busca
ções sobre como vem sendo modificado o do pai, em qualquer figura masculina, na
papel do pai, bem como suas implicações maioria das vezes, no avô. Quando da si-
para o desenvolvimento infantil, dando tuação da mãe encontrar outro parceiro,
ênfase para as conseqüências da ausência o afastamento do mesmo pode acarretar
paterna no desenvolvimento infantil. Luz na criança sentimentos de abandono, e
e Berni (2010) nos chamam a atenção a esta tem mais uma vez um sentimento
respeito da construção social sobre a pa- de culpa, como se ela fosse a responsável
ternidade. Segundo eles, a mesma é um pela separação. A criança tem um desejo
conceito relacional, pois a paternidade só incessante de conhecer seu pai biológico,
é exercida depois do nascimento da crian- o que se fortalece em algumas etapas da
ça, ao contrário da função materna, que é vida, como se fosse uma necessidade de
sentida e exercida desde a vida intra-ute- fechar sua história, saber sua origem (Ei-
rina. Apesar da importância da figura pa- zirik; Bergmann, 2004). Conclui-se que a
terna, o homem, em vias de se tornar pai, vida afetiva, cognitiva, emocional e social
tende a se fragilizar diante da nova res- da criança ou do adolescente pode so-
ponsabilidade. Para Corneau (1995, apud frer muitas transformações diante da au-
Dantas et al., 2004), o pai tem três papéis sência do pai. Já que o mesmo tem peso
a exercer com os filhos. Primeiro é o de significativo durante o desenvolvimento
“separar” a criança de sua mãe e vice- desta. A presente pesquisa trata de uma
-versa. O próximo papel segundo o autor revisão bibliográfica. Foram utilizados
é o de auxiliar na formação da identidade como descritores os termos: pai, paterni-
do seu filho. O terceiro papel do pai seria dade, relação pai-filho e desenvolvimen-
o de transmitir “a capacidade de receber to infantil. Foram excluídos os livros que
e de interiorizar os afetos, de carregá-los constavam dentro destes descritores, uti-
consigo” (Corneau, 1995, p.51, apud Dan- lizando-se apenas os artigos, de qualquer
tas et al., 2004). Essa aproximação entre natureza, qualitativa, quantitativa, estudo
pai e filho ocasionará cumplicidade e uma de caso ou revisão bibliográfica. Para fins
relação cheia de emoções, afetos e inti- de delimitação da pesquisa foram excluí-
midade, ocasionando um relacionamento dos os artigos que estudaram a respeito
simples, porém saudável. Com base em de pais adolescentes, o foco da pesquisa
uma leitura psicanalítica, é possível afir- foi com pais adultos, com filhos de 0 ano
mar que o pai representa a possibilidade até a adolescência. Sendo assim, treze ar-
do equilíbrio pensado como regulador da tigos foram obtidos na íntegra e utilizados
capacidade da criança investir no mundo com fonte para a pesquisa. Diante desses
real. A atuação paterna é decisiva em dois achados, é inegável a importância do pai
momentos do desenvolvimento da crian- no desenvolvimento infantil, seja exer-
ça, dos 6 aos 12 meses de vida na quebra cendo a função de autoridade, ou dando
da relação simbiótica com a mãe já que apoio às mães no cuidado com os filhos.
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relacionados com o modo que desejam conteúdo de Bardin, também está sendo
que seus filhos sejam. Os objetivos esta- aplicado um Inventário de Práticas Paren-
belecidos a longo prazo pelos progenito- tais – IPP, com 29 itens respondidos em
res em relação a seus filhos, influenciam uma escala tipo Likert, que servirá para o
as práticas de cuidados dos pais a partir estabelecimento de uma média global de
do conjunto de concepções e valores que envolvimento parental das mães de filho
são construídos culturalmente. A literatu- único e com mais filhos; e um Questio-
ra aponta que há diferença na criação dos nário Sócio-Demográfico para caracteri-
filhos e que o número da prole influencia zação das mães. 21 entrevistas já foram
tanto na quantidade quanto na qualidade realizadas e estão sendo gravadas e trans-
dos recursos e da atenção recebida por critas literalmente. Os dados obtidos es-
eles. Neste trabalho considera-se então o tão sendo tratados de forma a comparar
desenvolvimento humano como um con- os resultados dos dois grupos de mães. Os
junto de processos por meio dos quais as resultados iniciais têm demonstrado dife-
propriedades do indivíduo e do ambiente renças quanto as expectativas em relação
interagem e produzem contínuas mudan- à vida adulta dos filhos das mães de mais
ças nas características da pessoa durante de um filho para as mães de filho único.
toda sua vida. Portanto, o objetivo geral Os dois grupos de mães têm demonstra-
desta pesquisa é investigar quais são as do preocupação com a educação dos fi-
Metas de Socialização e as Práticas Paren- lhos primordialmente, porém, esse nível
tais Educativas em famílias com filho úni- educacional tem sido apontado de forma
co e famílias com dois a três filhos através diferenciada pelas mães com mais de um
do relato materno. Especificamente, ob- filho, que espera que a educação formal
jetiva-se investigar e comparar as metas, das crianças possa transforma-se em boas
as estratégias de socialização e práticas oportunidades de emprego e sustento na
parentais das famílias com filho único e vida adulta, demonstrando expectativas
com mais filhos, além de conhecer como de independência financeira. Além dis-
pai e mãe decidem a educação de seus fi- so, as qualidades que as mães descrevem
lhos e como o pai participa desse proces- como necessárias para atingir estas ex-
so educativo através do relato das mães. pectativas são a honestidade (mais cita-
Esta pesquisa está sendo realizada atra- da entre os dois grupos de mães), sendo
vés de visitas nas residências de mães de a cidadania e o reconhecimento de seus
nível sócio-econômico médio casadas ou direitos e deveres na sociedade citados
conviventes, com ao menos ensino médio frequentemente pelas mães com nível su-
completo e com 1 a 3 filhos; estes entre perior. A participação do pai tem sido re-
5 a 7 anos da cidade de João Pessoa-PB. latada pelas mães principalmente na área
Os dados serão obtidos através da aplica- do lazer, como brincar e passear com os
ção de instrumentos com 40 mães partici- filhos. Quanto ás práticas parentais edu-
pantes de forma não-probabilística e por cativas ressalta-se dentro das práticas ne-
conveniência. Estão sendo aplicados três gativas que 9% das mães utilizam de pal-
instrumentos: uma entrevista semies- madas para educar as crianças com frequ-
truturada sobre metas de socialização ência e 36,4 % das mães frequentemente
que será analisada através da análise de gritam com as crianças quando elas fazem
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LT05-1281 - FAMÍLIA E CULTURA: tas produções. Para isto são tecidas con-
A PATERNIDADE RETRATADA EM siderações acerca de algumas produções
DESENHOS ANIMADOS populares da mídia, assim como exami-
Zaíra Mendonça - UFAL nadas outras pesquisas sobre o tema. Em
zairalyra@gmail.com uma pesquisa sobre os programas infan-
Heliane Leitão - UFAL tis na televisão, as relações familiares e o
helianeleitao@uol.com.br exercício das funções parentais, Leila Brito
(2005) analisou os comportamentos de
Considerando-se as profundas mudanças personagens consagrados na televisão,
ocorridas nos modos de organização fami- indo dos seriados como “Papai Sabe tudo”
liar, constata-se a necessidade de reflexão aos super-heróis como “Super-Homem” e
acerca dos papéis e funções atribuídos aos “Zorro”. Como resultado, estabeleceu uma
seus membros na atualidade. O exercício relação entre estes personagens e as con-
da paternidade e suas atribuições, assim cepções de feminino e masculino vigentes
como sua relevância no desenvolvimento no momento de maior circulação de tais
das crianças, tem se tornado importante programas. Inês Hennigen (2003), investi-
alvo de investigação, sob a ótica de refe- gando paternidade e mídia, traça um para-
renciais teóricos diversos (Ramires, 1997; lelo entre a paternidade como construção
Lewis & Dessen, 1999; Levandowiski & social e a mídia na construção das posições
Piccinini, 2002; Resende & Gomes, 2004). de pai. A autora questiona que discursos
É evidente a importância da mídia na con- a mídia vem produzindo sobre e para os
temporaneidade enquanto veículo de in- pais, considerando que a forma de retra-
formação e transmissão de valores e ideais tar o pai se modificou profundamente nas
sociais, com grande inserção no cotidiano últimas décadas, como se pode constatar
das pessoas. A indústria cultural tende a através da comparação entre programas
refletir a realidade de uma época, ao tem- como a série “Papai sabe tudo”, nos anos
po em que é formadora de mentalidades 50/60, e “Os Simpsons” nos anos 90. Nes-
e catalizadora de mudanças sociais. O pre- ta mesma direção, Leitão e Stadtler (1998)
sente trabalho pretende estabelecer uma descrevem os modelos de pai presentes
interlocução entre as mudanças observa- em dois filmes de desenhos animados
das no exercício da paternidade e as ideias em momentos históricos distintos: “Bam-
veiculadas acerca do pai pela cultura da bi” (1945) e “O Rei Leão” (1994). Para as
mídia na atualidade. A mídia sendo aqui autoras, cada filme revela um modelo de
representada por programas televisivos paternidade consonante com a época em
e vídeos de desenhos animados dirigidos que foi produzido, considerando-se tanto
ao público infantil que trazem o tema da as condições psicoafetivas, como a identi-
paternidade como um de seus focos. O dade social de pai eleita como ideal para
objetivo principal deste estudo foi refletir aquele momento histórico. O pai dos anos
acerca de modelos de paternidade veicu- 90 se mostra afetuoso e próximo, em con-
lados pela mídia nas últimas décadas, bus- traste com o pai distante e formal dos anos
cando analisar como as efetivas mudanças 40. Na década de 1990 duas séries televi-
observadas no exercício da paternidade sivas obtiveram grande aceitação da popu-
vêm sendo incorporadas e retratadas nes- lação mundial: “Os Simpsons” e “A Família
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3º mês destacou-se a subcategoria depois segundo mês: 8%). Por sua vez, a atenção
de um ano (23%), e no 12º mês também a individualizada foi citada em um número
subcategoria idade indefinida (28%). Além crescente de respostas, aumentando de
disso, houve um aumento no número de 3% na gestação para 11% no 12º mês. Ape-
mães que tiveram suas falas classificadas sar da importância atribuída aos benefí-
na subcategoria não pretende na gestação cios para o bebê, as facilidades para a mãe
(4,5%) e terceiro mês (9%), em compara- também foram apontadas como um im-
ção com o décimo segundo mês (13%). portante motivo para deixar a criança em
Quanto aos motivos declarados pelas casa (32% das respostas na gestação, 26%
mães para colocar o bebê na creche, pre- aos 3 meses e 39% aos 12 meses), sendo
dominou, na gestação, a restrição ou falta que ter pessoas disponíveis para cuidar do
de provedores de apoio (55%), e no ter- bebê foi a facilidade mais citada. Em con-
ceiro e décimo segundo mês os benefícios junto, estes resultados parecem indicar
para o bebê (56% e 60%, respectivamen- que as mães preferem postergar a entrada
te). A restrição de apoio, na gestação, es- do bebê na creche para uma idade superior
teve relacionada principalmente à necessi- ao primeiro ano, e que diferenciam os cui-
dade da mãe trabalhar (37%). No entanto, dados disponibilizados nos diferentes am-
esta necessidade decresceu para 15% das bientes. O ambiente doméstico garantiria
respostas aos três meses, e para 5% aos 12 ao bebê intimidade e segurança, enquanto
meses, sugerindo que o ingresso na creche o ambiente de creche atenderia as neces-
nesta fase não está condicionado necessa- sidades de socialização e contato com es-
riamente ao emprego materno. Já quanto tímulos diversos. Essa distinção pode estar
aos benefícios da creche para o bebê, as relacionada às crenças maternas de que a
subcategorias socialização e estímulo para criança, em cada fase do desenvolvimento,
o desenvolvimento foram sendo gradati- possuiria diferentes necessidades. Mas, o
vamente mais valorizadas pelas mães: a que chama a atenção, é que as mães consi-
socialização, citada por 11% das gestantes, deram que cada cuidador possui um papel
foi para 27% no terceiro mês e para 22% distinto e atende somente algumas dessas
no décimo segundo; e o estímulo para o necessidades. Talvez, como forma de ga-
desenvolvimento, trazido por 11% das ges- rantir seu lugar na vida da criança depois
tantes, evoluiu para 14,5% aos três meses que ela passa a permanecer muitas horas
e 16% aos 12 meses. Por fim, em relação com outras pessoas, as mães deleguem a
aos motivos citados pelas mães para dei- si mesmas tarefas únicas que não pode-
xar o bebê em casa ou com familiar, des- riam ser supridas por outro cuidador. Isso
tacou-se a subcategoria benefícios para as auxiliaria a lidar de uma forma melhor
o bebê em todas as fases (gestação=63%; com as separações constantes do bebê e
3º mês=68%; 12º mês=57%). Dentre estes com eventuais ameaças ao apego ante-
benefícios, o motivo mais citado foi a ida- riormente estabelecido.
de do bebê, tanto na gestação (45%), como
no terceiro mês (34%). Também foi citada Palavras-chave: expectativas maternas,
a importância da família/lar/contexto co- cuidados alternativos, creche
nhecido em todas as fases de coleta (ges- Contato: Gabriela Dal Forno Martins, UFRGS,
tação: 10%; terceiro mês: 9%; e décimo gdalfornomartins@gmail.com
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educativas que utilizavam com seus pró- das na educação recebida pelos próprios
prios filhos. As respostas dos participantes pais (p<0,05), enquanto a combinação
às diferentes questões da entrevista foram de indutivas/coercitivas foi mais mencio-
transcritas e analisadas através da análise nada entre as práticas utilizadas com os
de conteúdo (Bardin, 1977), a partir de ca- filhos (p<0,01). A proporção de práticas
tegorias pré-definidas, baseadas em Hoff- coercitivas manteve-se estável entre as
man (1975, 1994) e adaptadas por autores gerações. A análise qualitativa indicou um
do presente estudo (Alvarenga & Piccinini, padrão mais claro de reprodução das prá-
2001; Marin, Piccinini & Tudge, no prelo): ticas coercitivas, ainda que estas fossem
práticas indutivas (negocia/troca, explica/ relatadas como evitadas, na medida em
fala, explica baseado em convenção/con- que eram relacionados à idéia de vivência
sequencia, organiza o ambiente/forma de sofrimento quando crianças. Por outro
hábito e comanda sem coerção), práticas lado, alguns genitores mencionaram que,
coercitivas (punição, ameaça, coação física mesmo tendo associado memórias desa-
e punição física), práticas de não interfe- gradáveis às práticas coercitivas, faziam
rência (não se intromete, segue o ritmo uso eventual das mesmas por acreditarem
da criança e cede a vontade da criança), e que se não foram nocivas a eles também
combinação de práticas indutivas/coerciti- não seriam para os filhos. A mudança in-
vas. Foram calculadas as frequências e pro- tergeracional das práticas educativas foi
porções totais em cada categoria e compa- associada à aprendizagem de práticas ou
radas as proporções de práticas recebidas habilidades parentais junto a outras figu-
e utilizadas através do teste Z. Além disso, ras que não somente os próprios pais, em
realizou-se uma análise qualitativa visan- especial o cônjuge, à busca pela correção
do avaliar especificidades da transmissão de experiências prévias na relação com os
intergeracional das práticas educativas filhos, e ao temperamento dos pais e/ou
caso a caso. Os resultados indicaram que das crianças. Em conjunto, os resultados
os participantes relataram ter recebido do presente estudo forneceram indícios
de seus próprios pais mais práticas coer- de que houve a semelhança no uso das
citivas (52%) seguidas das indutivas (40%), práticas coercitivas entre gerações e um
e, com menor freqüência, a combinação aumento na utilização com os próprios fi-
de indutivas/coercitivas (3,5%) e não in- lhos de práticas que combinam estratégias
terferência (4,5%). Tendência semelhante indutivas e coercitivas. Todavia, a análise
ocorreu em relação às práticas utilizadas caso a caso revelou que em apenas me-
com os próprios filhos, onde foram mais tade dos casos houve a transmissão dos
relatadas práticas coercitivas (60%) do que padrões interativos, o que fortalece a idéia
indutivas (26%). Já a combinação de práti- de que a forma como os pais educam seus
cas indutivas/coercitivas foi mais mencio- filhos trata-se de um processo complexo
nada (13%) entre as utilizadas. O teste Z e recíproco que envolve características de
indicou diferença significativa entre as ge- ambos (Belsky, 1984; Biasoli-Alves, 1997).
rações na proporção de práticas indutivas, Nesse sentido, é plausível supor que a
de não interferência e da combinação de transmissão intergeracional das práticas
indutivas/coercitivas. As práticas indutivas educativas não envolve somente a repro-
e de não interferência foram mais relata- dução para com os filhos dos padrões re-
384
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
cebidos quando criança, ainda que estes gico, o leitor poderá observar o seguinte
possam levar à construção de modelos so- exemplo na manchete: BOLSA FAMÍLIA
bre o que deve ser seguido ou evitado nas - “Beneficiários usam recurso para com-
relações posteriores (Ângelo, 1995). prar roupas e eletrônicos” Tocadores de
música MP4, celulares, aparelhos de DVD
Palavras-chave: práticas educativas, e brinquedos. Esses são alguns dos arti-
parentalidade, transmissão intergeracional gos adquiridos por famílias em situação
Contato: Gabriela Dal Forno Martins, UFRGS, de pobreza (R$60) ou de extrema pobreza
gdalfornomartins@gmail.com (R$120) beneficiadas pelo maior progra-
ma de transferência de renda direta do
País, o Bolsa Família, em cidades da RMC
LT04-1303 - PSICOLOGIA ECONÔMICA: (Região Metropolitana de Campinas).(
O ESTUDO DO DESEMVOLVIMENTO DO Reportagem jornal Todo Dia, 2008). A re-
COMPORTAMENTO ECONÔMICO portagem traz o fato de famílias que uti-
Maria A. Belintane Fermiano - UNICAMP lizam o benefício na compra de itens que
maria.belintane@gmail.com não são considerados como aqueles que
Sonia Bessa - Unasp/LPG-FE/UNICAMP o programa tem como objetivo. Reynaud
(1967) explicaria que a disponibilidade
O termo Psicologia Econômica ocorreu material (Bolsa-Família enquanto recurso
pela primeira vez em 1881, aplicado por provedor de necessidades) desenvolve
Gabriel Tarde e é pouco conhecido até os possibilidades psicológicas no indivíduo.
dias de hoje. Essa é uma área cujas pes- No exemplo, pressupõe-se que o estímu-
quisas se iniciaram no final do século XIX lo econômico (o recurso do Bolsa-Família)
e, em seu transcurso histórico, houve vá- seja direcionado para o consumo de bens
rios fatores que dificultaram sua constitui- de primeira necessidade, no entanto, não
ção como uma disciplina, bem como seu é utilizado como o esperado, sendo “des-
trânsito entre as áreas da Psicologia e da viado” para a satisfação de outros “dese-
Economia. A Psicologia Econômica busca jos” ou “necessidades”. Observa-se que
identidade e tem a contribuição de psi- tanto a primeira situação, consumo de
cólogos, economistas, neuropsicólogos, bens de primeira necessidade, como a se-
sociólogos, antropólogos e filósofos, que gunda, consumo de eletrônicos e roupas,
procuram explicá-la e localizá-la como fa- contribuem para a movimentação de dife-
zendo parte da vida do homem, desde os rentes setores da economia. Como esses
primórdios da sua história. Compreender objetos figuram na lista de outras tantas
seu conceito implica em estabelecer rela- pessoas, sob a ótica da Psicologia Eco-
ção entre os conhecimentos e peculiarida- nômica é possível elaborar os seguintes
des da Psicologia e da Economia. Reynaud questionamentos: “O que levam pessoas
(1967, p. 9,10) definiu a Psicologia Econô- a valorizarem tais objetos? O que poderia
mica como um “estudo da economia que ser considerado como essencial? Essen-
aborda aspecto subjetivo ou mental e en- cial para quem? Como pode ser avaliado
volve as necessidades, os valores e o bem- o desejo e o poder de compra? Como o
-estar”. Para contextualizar o significado desejo de possuir um determinado obje-
do comportamento econômico e psicoló- to surge e atinge, simultaneamente, pes-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
386
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
explicam que o estudo das questões que na infância, com o objetivo de obter pro-
envolvem as crianças na economia de hoje ximidade com a figura materna. Tal com-
é recente. E pressupõem que, se a econo- portamento continua durante toda vida,
mia tem influência no comportamento pois, é indispensável para a vida social,
individual, pode-se esperar que também favorecendo a capacidade de manter
tenha no comportamento econômico das relações. Segundo Barros e Fiamenghi
crianças. Os autores apontam pesquisas (2007), mães insensíveis e negligentes às
que demonstram a influência das crian- necessidades de seus filhos acabam por
ças nas decisões de compra de seus pais gerar insegurança nas crianças, tanto em
e outras pesquisas sobre a influência da relação à própria mãe, quanto em relação
propaganda nas crianças. E destacam a aos outros. Quando as crianças têm suas
importância e o compromisso em teorizar necessidades de afeto, trocas subjetivas
tais dados. As pesquisas nas áreas tiveram e cuidados com higiene e alimentação
grande avanço, a partir de 1982, as quais atendidas, tornam-se confiantes e desen-
descreviam “conceitos infantis sobre uma volvem-se emocional, física e intelectual-
série de fenômenos econômicos, desde o mente de forma saudável. O ECA, criado
de banco, até o de desemprego”. Desse em 1990, prevê a proteção integral da
modo, compreende-se que a Psicologia criança, assegurando o desenvolvimento
Econômica e, em especial, a Educação físico, mental, moral, espiritual e social
Econômica, apresentam grandes possibi- (Brasil, 2002). No entanto, segundo We-
lidades de pesquisas inovadoras. Tais te- ber (1995), a institucionalização - criada
mas fizeram parte do referencial teórico com intuito de proteger a criança - sim-
da pesquisa “Pré-adolescentes (“tweens”) plesmente efetiva, na prática, o afasta-
desde a perspectiva da teoria piagetiana à mento da criança ou adolescente do con-
da Psicologia Econômica”. vívio familiar e social. Mannoni (1995)
observa que crianças abrigadas apresen-
Palavras-chave: Psicologia econômica, tam a carência como marca importante
educação econômica, socialização econômica. em suas vivências afetivas e acrescenta
que, muitas vezes, seus efeitos são irre-
versíveis. Azôr e Vectoré (2008) observam
CO 39 - LT06 que, quando abrigadas, as crianças pas-
Acolhimento Institucional sam por um processo de ‘mutilação’ de
sua identidade, pois, a instituição afasta
o individuo da sociedade. Quando consi-
LT06-686 - AVALIAÇÃO DE SINAIS DE deramos o Transtorno de Apego Reativo,
TRANSTORNO DE APEGO REATIVO EM sua característica principal é uma “liga-
CRIANÇAS ABRIGADAS ção social perturbada e inadequada, com
inicio aos 5 anos de idade e associada ao
Renata Hottum Melani - UPM recebimento de cuidados amplamente
patológicos” (Apa, 1995, p. 384). Ainda
Bowlby (1990) afirma que o vínculo afe- segundo o DSM IV (Apa, 1995), tal trans-
tivo (attachment) se dá na atração vivida torno pode apresentar-se sob duas for-
por dois indivíduos e que se desenvolve mas: tipo inibido e tipo desinibido. Sua
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ambiente que tem outras características uma a uma das categorias comportamen-
físicas e sociais. Tomando como referência tais, percebe-se que o comportamento de
os benefícios da convivência da criança ajudar, quando emitido na escola (n=14;
institucionalizada em outros ambientes e 53.8%), apresentou freqüências maiores
da constatação do baixo número de pes- que no abrigo (n=7; 41,2%). Contudo, o
quisas que investigam a presença destas Teste Binomial indica que esta diferen-
crianças em mais de uma instituição infan- ça não é estatisticamente significativa
til, este estudo teve como objetivo investi- (p>0,05), sendo semelhantes os percen-
gar aspectos do ambiente que concorrem tuais referentes a ações de ajuda em am-
para a manifestação do comportamento bos os ambientes. O mesmo constata-se
de cuidado entre pares, observados em em relação ao comportamento de brincar
suas interações nos pátios da escola e de cuidar que, em termos percentuais,
do abrigo. Participaram do estudo cinco foi mais presente no abrigo (n=4; 23.5%)
crianças, com quatro a seis anos de idade, do que na escola (n= 2;7.7%); entretan-
que moravam há mais de um ano no abri- to, a análise estatística mostrou que não
go e freqüentavam regularmente a escola. houve significância estatística entre os
Para a coleta de dados, cada sujeito focal e ambientes. A descrição da freqüência do
suas interações com outras crianças foram comportamento estabelecer contato afe-
filmados nos dois ambientes, ao longo de tuoso mostra que este se apresenta com
dez sessões com duração de cinqüenta maior ocorrência na escola (n=7; 26.9%)
minutos cada, totalizando 500 minutos de do que no abrigo (n=6 ; 35.3%), porém, o
observação dos participantes da pesqui- teste mostra que não houve diferença es-
sa. Quanto aos resultados derivados da tatística entre ambos os ambientes. E, por
observação dos sujeitos focais, constatou- fim, verificou-se que o comportamento
-se que os cinco participantes manifes- de entreter não teve nenhuma ocorrência
taram comportamentos de cuidado nos no abrigo, tendo sido observado somente
ambientes da pesquisa. Ao todo, foram no ambiente da escola (n=3, 11.5%), não
registrados 43 eventos de comportamen- sendo possível, assim, a aplicação do teste
to de cuidado, organizados em torno das estatístico. A análise estatística dos dados
seguintes subcategorias: estabelecer con- mostrou que nenhuma das subcatego-
tato afetuoso, ajudar, brincar de cuidar e rias do comportamento de cuidado teve
entreter. Ao descrever a freqüência deste predomínio estatístico em ambos os am-
comportamento no pátio da escola (26) bientes (abrigo e escola). Os resultados do
e do abrigo (17), constata-se que os per- estudo revelam que a escola (n=26) teve
centuais que representam esse tipo de a maior ocorrência do comportamento
evento foram mais elevados no primeiro quando comparada ao ambiente de abri-
ambiente quando comparados aos do se- go (n=17), o que está, provavelmente,
gundo. Entretanto, a avaliação intragrupal relacionado às características sociais da
mostrou que não houve diferença estatís- instituição escolar, onde os profissionais
tica na diferença dos percentuais do com- buscam incentivar os alunos ao cuidado
portamento de cuidado observados nos recíproco, através de atividades grupais e
pátios da escola e do abrigo. Quando se da educação inclusiva de inserção de alu-
considera para análise o desempenho de nos com deficiência neste ambiente. Os
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
cuidada e não deseja depender por muito para com a adoção. Ressalta-se, ainda, a
tempo de quem possa abandoná-la. A ne- necessidade de uma ampliação da rede de
gação ao desenvolvimento também é uma Grupos de Apoio à Adoção em todo o país,
forma de se defender; essa defesa será com o objetivo de esclarecer, fortalecer e
criada se a criança não tiver se encontra- incentivar as futuras relações parentais
do com seu passado. “A criança é confron- derivadas da adoção.
tada com um medo do futuro, por conta
de um passado ignorado e concebido em Palavras-chave: adoção, família adotante,
sua fantasia como grotesco e ameaçador” desenvolvimento infantil
(Schettini, 2006). Outra defesa a ser con- Contato: Alessandra Themudo Lessa,
siderada diz respeito ao desenvolvimento Psicologia - FMU, dudalessa@uol.com.br
sexual; se há uma certeza que a criança,
agora já na puberdade tem, é de que ela
é resultante de um ato sexual de seus LT06-844 - CRIANÇAS EM ACOLHIMENTO
pais. Muitas vezes essa é a informação INSTITUCIONAL E SUAS DINÂMICAS
de maior relevância que tem de seus pais FAMILIARES
biológicos, e as crianças se apegam a ela Emmanuelle de Oliveira Ferreira - UFRN
gerando dois possíveis comportamentos: emmanuelle_of@yahoo.com.br
precocidade sexual, como identificação Rosângela Francischini - UFRN
do filho com os pais de origem, ou afasta- rfranci@uol.com.br
mento de sua sexualidade, por associá-la Financiamento: CAPES
a pais biológicos não confiáveis e “maus-
-modelos” (Levinzon, 2009). Sendo assim, O acolhimento institucional de crianças e
conclui-se que o desenvolvimento de uma adolescentes, no Brasil, e o (des)amparo
criança adotiva está intimamente ligado à destinado a eles e suas famílias são temas
relação parental e ao ambiente que essa de extrema relevância para a garantia do
criança estará inserida. Além disso, Winni- direito desses sujeitos. O Estado Brasilei-
cott (1953) revela que o grau de perturba- ro tem sua responsabilidade estabelecida
ção ambiental que a criança sofreu antes em lei sobre a proteção à família e, junta-
da adoção também influencia o seu de- mente com ela e com a sociedade, deve
senvolvimento: quando sua história inicial fazer valer os direitos das crianças e dos
não foi suficientemente boa em relação à adolescentes, o que é confirmado pelo
estabilidade ambiental, os pais adotivos discurso da Constituição Federal (Brasil,
têm que saber que, além de pais, serão 1988), do Estatuto da Criança e do Ado-
“terapeutas de uma criança carente”. É lescente (Brasil, 1990), do Plano Nacional
importante que os pais sejam alertados de Promoção, Proteção e Defesa do Direi-
sobre esse fato, pois, o cuidado da criança to de Crianças e Adolescentes à Convivên-
exigirá, deles, mais do que o simples ma- cia Familiar e Comunitária (Brasil, SEDH,
nejo comum. Com isso, ressalta-se ser de 2006), entre outros documentos do país.
fundamental importância o conhecimento Vicente (2005) expõe a dimensão política
prévio da história de vida dessas crianças do vínculo entre a criança e sua família de
pela família adotante, assim como a ve- origem afirmando que, para a proteção e
rificação das reais motivações da mesma desenvolvimento desse vínculo, é neces-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
sária a atuação estatal. Um suporte, como prias falas: vivência de rua, mendicância,
pode se pensar a partir de Vasconcelos, violência e uso de drogas por parte de
Yunes e Garcia (2009) e Cavalcante, Ma- familiares. A partir das interações com
galhães e Pontes (2009), que se faz mais as crianças foi possível destacar e anali-
veemente para as famílias que, muitas sar tais fatores, procurando observá-los
vezes, por enfrentarem toda a sorte de integrados a seus ambientes particulares
privações e situações indignas, também e entender como esses ambientes se ar-
expõem crianças e adolescentes a condi- ticulam à conjuntura geral, constituída
ções precárias, presentes desde antes do por problemas socioeconômicos de toda
nascimento desses sujeitos e culminando ordem, enfrentada por diversas famílias
no seu acolhimento institucional. Este es- no Brasil. Magali e Cascão abordam a vio-
tudo apresenta as percepções de suas di- lência de modo frequente, mesmo que de
nâmicas familiares por três crianças, dois formas distintas e, no caso de Cascão, em
meninos e uma menina: Cascão, Magali e situações hipotéticas/imaginadas, não
Cebolinha (os dois últimos irmãos) com, dizendo respeito diretamente ao seu nú-
respectivamente, oito, nove e sete anos, cleo familiar de origem, como na situação
em uma instituição estadual localizada imaginativa do procedimento com figu-
em Natal, Rio Grande do Norte. Nos pro- ras. Além da forte presença da violência
cedimentos realizados individualmente, nos discursos de Magali e Cascão, a vivên-
foram usados materiais de desenho e fi- cia na rua por parte das famílias compa-
guras. Ao todo foram cinco procedimen- rece nos discursos de ambos os sujeitos,
tos, além de uma conversa inicial com as ao criarem uma família (procedimento de
crianças, todos registrados com gravador imaginar e desenhar uma família que não
e no diário de campo. Cada criança fez: um a deles) e contarem um pouco sobre a
autorretrato, acompanhado ou seguido vida dela, o que pode refletir experiências
de conversa com a pesquisadora; o dese- de suas realidades antes do acolhimento
nho delas junto com sujeitos que estavam institucional, já que relatos de situações
na instituição onde se encontravam e com similares constavam em seus relatórios
outros que haviam sido desabrigados; o ou em falas acerca de suas famílias de
desenhado da própria família e o de outra origem. Cebolinha, quando questionado
que não a deles; além do procedimento sobre o porquê de estar em acolhimento
em que tinham imagens de crianças para institucional, responde de forma a con-
dar nomes, características e imaginar firmar discursos de Magali, pelo menos
suas vidas em contextos familiares e em no que se refere ao abuso de substâncias
instituições de acolhimento. O corpus foi químicas da mãe, relatado pela menina
analisado por meio da Rede de Significa- e, ainda, deixando clara a relação que
ções, perspectiva teórico-metodológica faz disso com sua condição atual. Cascão
adotada ao longo de todo o trabalho, e também aponta o uso de drogas por parte
da Análise de Conteúdo Temática. No cor- da sua mãe, fazendo uma relação dessa
pus constituído, destaca-se a presença de situação com a sua condição de abrigo, de
vários fatores de risco nos contextos de modo similar ao de Cebolinha, mas, adi-
suas famílias, constatados em relatórios ciona a circunstância em que se encontra
psicossociais dos sujeitos e em suas pró- seu pai, preso. Referente à temática que
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
emerge das falas das crianças, Vascon- tência aos membros de toda e qualquer
celos et al. (2009), coerentemente com família no Brasil, cabendo-lhe criar meca-
Cavalcante et al. (2009) e Azôr e Vectore nismos para coibir violências nas relações
(2008), afirmam que existe influência, nos entre eles contribuindo, enormemente,
grupos familiares do público de crianças para a garantia do direito à convivência
institucionalizadas, de numerosos fatores familiar e comunitária.
de risco, que são por eles enfrentados e
podem tornar vulneráveis crianças e ado- Palavras-chave: crianças, acolhimento
lescentes a ocorrências de negligência, institucional, famílias
vivência de rua, violência física, psicológi- Contato: Emmanuelle de Oliveira Ferreira,
ca, sexual..., as quais se ligam às dificulda- UFRN, emmanuelle_of@yahoo.com.br ou
des socioeconômicas, culminando com o manumousinho@yahoo.com.br
acolhimento institucional desses sujeitos.
Tais contextos tornam as possibilidades
de vida e desenvolvimento precárias e de- LT06-1012 - CRIANÇAS E ADOLESCENTES
terioradas, contribuintes do não cuidado AFASTADOS DA CONVIVÊNCIA
dos filhos por parte dos pais ou, melhor FAMILIAR: ANÁLISES A PARTIR DE UMA
dizendo, da não garantia dos cuidados INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO
mais básicos e essenciais a esses sujeitos. Rita de Cássia de Souza - UFV
Assim, tal conjuntura, que une à pobreza ritasouza@ufv.br
diversos outros problemas sociais, deve
receber mais atenção real do Estado e Esta comunicação propõe uma discussão
dos governos, pois, ao mesmo tempo em sobre os motivos que têm determinado
que os núcleos familiares tratados aqui a retirada de crianças e adolescentes de
não podem ser isentos da responsabili- suas famílias, e o que tem sido feito du-
dade pelas condições de risco impostas rante este período de afastamento. De-
a essas crianças quando sob os seus cui- fendemos que o papel das instituições de
dados, também, são vítimas da falta de acolhimento não se restringe a planejar
suporte social estatal, da ausência de po- o cotidiano das crianças e adolescentes,
líticas públicas eficientes e eficazes para mas, é muito mais complexo e relevan-
o cuidado e o atendimento às famílias te, consistindo em preparar-lhes para, o
que, como um todo (considerando todos quanto antes, realizar a reinserção destes
os seus integrantes), estão mais expostas no ambiente familiar ou a criação de no-
às desigualdades econômicas e a todas as vos vínculos sociais e afetivos. Algumas
dificuldades de sobrevivência que tais de- pesquisas mostram que o estabelecimen-
sigualdades, frequentemente, acarretam. to de vínculos sociais e afetivos é condi-
Para finalizar, é importante refletir, justa- ção fundamental para o desenvolvimento
mente, sobre o que é destinado às famí- humano. René Spitz (1887-1974), psica-
lias violadoras dos direitos dos seus filhos, nalista austríaco, estudou um orfanato e
nos casos apontados, e não ignorar que a um berçário de uma prisão de mulheres
Constituição (Brasil, 1988) - em seu artigo nos EUA e o resultado desta pesquisa foi
226, parágrafo oitavo - estabelece como publicado no livro O primeiro ano de vida
competência do Estado: assegurar assis- do bebê, em 1965. Nesta obra, Spitz rela-
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muitas vezes, se tornam incompatíveis tágio visa propiciar uma reflexão a partir
com as demandas exigidas pelo contexto da descrição das vivências e sentimentos
social. Segundo Bronfenbrenner (1996), sobre a inclusão no mercado de trabalho
a relação entre ambiente e desenvolvi- de aprendizes com DI de uma instituição
mento humano é marcada pelas intera- de educação especial da cidade de Bra-
ções da pessoa com os vários contextos sília. Com um total de quatro aprendizes
de desenvolvimento e em cada um em com DI, o presente relato baseou-se em
particular. De acordo com essa perspec- entrevistas com um roteiro semiestrutu-
tiva, o contexto ocupacional representa rado que objetivaram descrever a respei-
um dos contextos que pode proporcionar to da experiência de inclusão no merca-
à pessoa adulta com DI o desenvolvimen- do de trabalho. Tal roteiro foi adaptado
to de suas habilidades e competências a do estudo de Masson (2009) de acordo
partir das interações estabelecidas neste com as necessidades do presente estudo.
ambiente, bem como fora dele na sua re- Todos os participantes moravam em regi-
lação com outros ambientes, como o fa- ões administrativas do Distrito Federal e
miliar, o educacional e o comunitário. No tinham experiência de trabalho no ramo
caso das pessoas com DI, o contexto edu- do comércio. As idades variavam entre
cacional, tal como os Centros de Educação 19 e 32 anos. Três eram do sexo feminino
Especial são os principais locais de forma- e um do sexo masculino. A entrevista foi
ção profissional. Esta profissionalização é realizada individualmente, na própria ins-
realizada por meio de oficinas que visam tituição de capacitação e de acordo com
estimular a capacidade produtiva e o de- a disponibilidade dos entrevistados, com
senvolvimento de competências voltadas duração média de quarenta e cinco mi-
para o trabalho, tendo, ainda, objetivo nutos. As respostas foram transcritas de
de inclusão no mercado de trabalho ex- acordo com o roteiro de entrevista, sen-
terno, por meio do processo de emprego do analisadas posteriormente. As análi-
competitivo, ou a colocação em serviços ses das entrevistas demonstraram o sa-
internos na própria instituição profissio- lário recebido pelos participantes era de,
nalizante, por meio de emprego apoiado aproximadamente, um salário mínimo
ou trabalho protegido (Sassaki, 2003). A (R$ 465,00). Este valor, para maioria, era
inclusão vem se tornando um tema cada destinado para a compra de objetos pes-
vez mais relevante, especialmente, sob a soais e de interesse próprio, bem como,
perspectiva do desenvolvimento dessas para a ajuda no pagamento das despesas
pessoas (Lancillotti, 2003). Pode se con- domésticas. A administração desse salá-
siderar que investigar e descrever a visão rio, porém, na maioria dos relatos, era
das pessoas com DI, oferecendo dados de responsabilidade da família, principal-
empíricos para melhor compreensão e mente da mãe. Em relação ao sentimento
reflexão de seu processo de inclusão no de satisfação com o emprego, bem como,
mercado de trabalho pode ser um cami- com a realização das atividades que re-
nho promissor para subsidiar o planeja- alizavam no local de trabalho, todos os
mento de atividades na preparação do jo- participantes demonstraram contenta-
vem com DI para o mercado de trabalho. mento no início do emprego, perdendo-o
O presente relato de experiência de es- com o passar do tempo. A dificuldade de
400
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
engajamento no trabalho por parte das que a literatura já vem apontando sobre
pessoas com DI pode ser refletida nos a importância da inclusão no trabalho
dados dos participantes, pois dos qua- para a pessoa com DI, principalmente no
tro sujeitos, dois foram demitidos por pressuposto de que o trabalho para essas
justa causa e um pediu demissão. Para pessoas serve como uma via de inclusão
justificar esse processo os participantes social, permitindo ao indivíduo demons-
relataram motivos pessoais e dificulda- trar suas potencialidades e competên-
des em estabelecer vínculos de amizade cias, além do reconhecimento como
no ambiente de trabalho. Em relação ao cidadãos. O presente relato, também,
outro participante que se manteve no demonstra a necessidade de os serviços
emprego, o mesmo relatou que gostava profissionalizantes adaptarem seu currí-
de exercer sua atividade de trabalho, o culo no desenvolvimento de habilidades
que fez com que tivesse um bom rendi- sociais se adaptando ao real ambiente
mento na produção e, juntamente, com competitivo das empresas. É importan-
as boas condições socais do ambiente te que as empresas estejam dispostas a
da empresa garantiram sua permanência produzir no local de trabalho a acessibi-
no emprego. Como Jahoda et al (2009) lidade física e social. Além disso, que as
encontraram no seu estudo longitudinal empresas e as instituições profissionali-
que visava examinar a experiência das zantes estabeleçam um vínculo para que
pessoas com DI no trabalho, a carência possam conhecer suas necessidades e se
de oportunidades de relacionamentos adaptarem uma a outra. Ressalta-se, ain-
sociais e a ansiedade para atender às ex- da, a necessidade de estudos nessa área,
pectativas dos empregadores foram os que busquem uma maior compreensão
pontos negativos encontrados pelos seus do processo de inclusão no trabalho con-
participantes inseridos no mercado de siderando este como um contexto pro-
trabalho. Quanto às expectativas dos par- motor de desenvolvimento humano.
ticipantes, do presente estudo, em se in-
serir novamente no mercado de trabalho, Palavras-chave: inclusão no trabalho,
foi constatado que todos demitidos apre- deficiência intelectual, profissionalização.
sentavam expectativas de retornarem ao Contato: Adelaine Vianna Furtado.
mercado de trabalho competitivo. Isso Universidade Federal de Juiz de Fora.
demonstra que as dispensas, até mesmo ane_vf@yahoo.com.br
as voluntárias, não acarretaram implica-
ções danosas aos entrevistados. Como
Meletti (1997) ressaltou em seu estudo
com pessoas com DI com e sem experi-
ência no mercado de trabalho, a conquis-
ta de um emprego representa mais que
uma alternativa ao ócio, mas também
uma via de reconhecimento pessoal e
profissional. Portanto, as reflexões alcan-
çadas, com a análise das entrevistas do
presente relato, nos remetem a questões
401
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402
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
sexo, membros que a compõem, estado mães de bebês com mais de seis meses e
de saúde dos pais e do bebê. As avaliações 57% das mães de bebês com menos de seis
do desenvolvimento dos bebês foram re- meses apresentaram estresse. Os resulta-
alizadas mensalmente, sempre em datas dos apontam para a presença de estresse
próximas ao do aniversário dos mesmos, na amostra estudada, sendo mais presente
utilizando o Inventário Portage Operacio- em mães com menos de 30 anos, com boa
nalizado (Williams; Aiello, 2001). As ava- escolaridade, de família nuclear e com um
liações foram conduzidas na presença das único filho. Quanto às variáveis do bebê
mães, que serviram como mediadores e (sexo e idade), os dados apontam para a
informantes, sendo que o comportamento influência da idade do bebê (mais velhos)
do bebê foi observado a partir da estimu- do que o sexo na presença de estresse. To-
lação ambiental, emissão de comporta- davia, a amostra é reduzida (n=25), o que
mentos espontâneos e, também, obser- dificulta a generalização dos achados.
vações relatadas pelos pais. Entre o sexto
e o décimo terceiro mês, as mães foram Palavras-chave: estresse, mãe de bebê e
convidadas a responderem o Inventário de saúde mental.
Sintomas de Stress de Lipp (ISSL), sendo a Contato: Elisa Rachel Pisani Altafim – altafim.
participação voluntária e conforme dispo- elisa@gmail.com
nibilidade da mesma. O ISSL é um instru-
mento validado por Lipp e Guevara (2004),
que avalia os sintomas físicos e psicológi- LT01-800 - AMIZADE E SUPORTE SOCIAL:
cos vivenciados pelos sujeitos nas últimas DIFERENÇAS DE GÊNERO ENTRE JOVENS
24 horas, na última semana e no último ADULTOS
mês e possibilita realizar um diagnóstico Diogo Araújo de Sousa - UFRGS
da ocorrência do estresse, da fase em que diogo.a.sousa@gmail.com
esse se encontra e também, identificar se Elder Cerqueira Santos - UFS
os sintomas são predominantemente fí- eldercerqueira@yahoo.com.br
sicos ou psicológicos. Os resultados mos-
traram que dezesseis (64%) das 25 mães Na psicologia do desenvolvimento, desta-
apresentaram estresse, sendo que, delas, ca-se a análise de relacionamentos de lon-
12 (75%) apresentarem resistência e qua- ga duração, entre os quais se encontram
tro (25%) exaustão. A presença/ausência as amizades íntimas. A literatura é con-
de estresse foi associada, também, às vari- sensual quanto ao fato de que amizades
áveis sociodemográficas da mãe e do bebê desempenham importante papel ao longo
mais frequentes. Observou-se a presença do ciclo vital; na maior parte do tempo,
de estresse em 76% das mães de bebês para melhorias em habilidades sociais,
com menos de 30 anos, em 62% das mães saúde e qualidade de vida. Estudos apon-
com Ensino Médio completo, em 55% das tam que os relacionamentos de amizade
mães de famílias nucleares e em 69% das constituem entre 60 a 80% da rede social
mães de filhos únicos. Quanto às variáveis de uma pessoa. O suporte social se refe-
do bebê, 69% das mães de meninos e 62% re aos recursos materiais e psicológicos
das mães de meninas mostraram-se es- aos quais as pessoas têm acesso através
tressadas. Considerando a idade, 66% das de suas redes. Assim, relacionamentos de
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
amizade têm grande valia no provimento lidade manter o caráter de rede social pro-
de suporte social. O suporte social facilita movido pelo RDS. Foram percorridas cinco
o enfrentamento de crises e a adaptação ondas na amostra. Foram utilizados dois
a mudanças na vida e pode ser dividido instrumentos: um questionário sobre ami-
em: suporte emocional, incluindo apego, zades e uma escala sobre percepção de
conforto e poder confiar e acreditar em suporte social. Foram realizadas análises
uma pessoa; e suporte instrumental, en- estatísticas descritivas (frequências, mé-
volvendo ajuda direta, como empréstimos dias e desvios-padrão), e inferenciais (qui-
ou presentes, e serviços como cuidar de -quadrado, teste t de student e correlação
alguém que está doente, fazer um tra- de Pearson). Os resultados apontaram
balho para a pessoa, bem como o provi- a existência de uma homogeneidade de
mento de informações, orientações e con- características entre amigos íntimos, prin-
selhos. Este trabalho teve como objetivo cipalmente para o gênero. Dos homens
investigar relações entre características participantes, 74,1% foram indicados por
das amizades nas redes sociais de jovens outros homens, enquanto que 71,4% das
adultos e sua percepção de suporte social, mulheres foram indicadas por outras mu-
focalizando diferenças de gêneros entre lheres (p<0,001). Além disso, homens de-
os jovens, tanto para o gênero da pessoa monstraram possuir mais amizades mas-
quanto para o gênero das suas amizades. culinas do que as mulheres e vice-versa
Participaram 98 jovens adultos (45,9% ho- (p<0,001). Foram encontradas diferenças
mens), com idades entre 18 e 30 anos (M significativas entre as melhores amizades
= 23,01 anos; DP = 6,57). Quanto à escola- de homens e mulheres para as funções de
ridade, a maioria possuía ensino superior segurança emocional e intimidade, sendo
incompleto (75,5%). A amostragem se deu que as mulheres obtiveram maiores mé-
pela técnica do Respondent Driven Sam- dias em ambos os fatores (p<0,01). Em-
pling (RDS). O RDS é uma abordagem de bora as mulheres tenham percebido suas
amostragem que vem alcançando grande melhores amizades como preenchendo
popularidade internacional. Os dados são mais funções do que os homens, isto não
coletados por meio de um mecanismo de implica em uma desvalorização dos ho-
bola de neve que começa com o recruta- mens para tais aspectos. As diferenças
mento de poucas pessoas que se encai- se mostraram mais quantitativas do que
xem no perfil da população-alvo – as se- qualitativas. Aos serem questionados so-
mentes. No presente trabalho, a coleta de bre quais as primeiras palavras que lhes
dados teve início com quatro sementes – vinham à cabeça quando pensavam em
dois homens e duas mulheres. As semen- amizades, não houve diferenças signifi-
tes constituem a 1ª onda da amostra; as cativas entre homens e mulheres, tendo
pessoas recrutadas por elas compõem a 2ª ambos indicado palavras como “compa-
onda, e assim por diante. Neste estudo, as nheirismo”, “confiança”, “sinceridade/ho-
sementes responderam os instrumentos nestidade” e “respeito”. Isso é indicativo
e foram requisitadas a indicar, cada uma, de que a importância é dada por ambos
dois outros nomes para participar entre os sexos aos mesmos fatores, embora em
aqueles que apontaram como amizades graus distintos. Além do gênero do partici-
próximas. Tal procedimento teve por fina- pante, também foi considerado o sexo do
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
de irritação, em que a criança não mais con- artigos incluídos em base de dados (Scielo,
segue suportar o excesso de sensações, ou Pepsic, Lume) a partir das palavras-chave
quando algo lhe incomoda muito, e a mes- relacionadas ao tema; de uma cartilha e de
ma manifesta comportamentos de ferir-se, 4 livros sobre autismo que mencionavam
morder-se, bater com a cabeça nos objetos sobre comportamentos autoagressivos.
próximos, arrancar os cabelos, entre ou- Foi feita uma leitura completa e seletiva
tros. O presente estudo busca então, inves- de todos os materiais encontrados e um
tigar a literatura científica da área, através agrupamento entre as seguintes catego-
da pesquisa bibliográfica, com o objetivo rias: Autismo; Comportamento autoagres-
de identificar quais as estratégias utilizadas sivo apresentados por indivíduos autistas;
pela Abordagem da Análise do Comporta- Formas de tratamento do comportamento
mento na ocorrência dos comportamentos autoagressivo mais difundidas; Formas de
autoagressivos, visando amenizar os riscos manejo apresentadas pela Análise com-
para a criança e buscando também verificar portamental. Em seguida, os dados foram
quais as variáveis que podem estar influen- fichados de modo a ser identificado as
ciando a ocorrência desses fenômenos. No principais idéias. Por fim, os dados foram
entanto, constata-se que há uma carência revisados e interpretados e foi elaborada a
de estudos sobre os comportamentos de síntese dos resultados. Os resultados apon-
autoagressão que podem ser manifesta- tam para várias tentativas terapêuticas
dos em crianças autistas. E, além disso, que foram ou continuam sendo propostas
entende-se que esses comportamentos no contexto dessa problemática como, por
constituem um estressor para a própria exemplo: 1- neurolépticos em altas doses;
criança, pois podem conduzir o indivíduo a 2- Reforço negativo; 3- Baclofeno; 4- Fen-
um processo de exclusão social, e também fluramina; 5- Antagonistas opióides, além
fazê-lo perder a oportunidade de apren- outros medicamentos, como a combinação
der novas habilidades, além de ameaçar vitamina B6-magnésio, carbamazepina,
a sua saúde e segurança. Para sua família ácido valpróico e lítio. Do ponto de vista
porque esses comportamentos exigem analítico-comportamental, o autismo é
cuidados integrais e desgastam a organi- uma síndrome de déficits e excessos que
zação interna desse grupo. E também para [pode ter] uma base neurológica, mas que
a comunidade, visto que a presença dos está, todavia, sujeita a mudança, a partir de
comportamentos autolesivos necessita da interações construtivas, cuidadosamente
utilização de mais recursos por parte das organizadas com o ambiente físico e social.
instituições, intervenções mais intensas e A Análise Aplicada do Comportamento tem
de maior custo. Nesse sentido, entende-se desenvolvido cada vez mais programas de
que estudar sobre este tema é de grande tratamento buscando analisar os aspectos
relevância. No âmbito metodológico, a re- do ambiente que poderiam estar manten-
visão bibliográfica foi elaborada a partir do o comportamento, enfatizando o ensino
de uma análise descritiva e qualitativa de de novas habilidades aos indivíduos diag-
pesquisas já existentes na área a fim de nosticados com autismo, opondo-se desta
estimular uma maior compreensão do pro- forma, ao tratamento medicamentoso tra-
blema pesquisado. A pesquisa foi operacio- dicional e à exclusão social dessas pessoas.
nalizada por meio de busca eletrônica de 6 Os comportamentos autolesivos apresen-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
tados pelos indivíduos autistas podem es- autoagressão não tem a ver com nenhum
tar sendo mantidos por diferentes conse- problema fisiológico, e se é apresentado
quências, como por exemplo, necessidade de uma forma repetitiva e compulsiva,
de auxílio ou atenção dos outros, escapar pode representar uma forma de chamar a
de tarefas que são aversivas para o indi- atenção do cuidador, ou indicar que algo
víduo, obter objetos desejados, protestar não ocorreu como esperava, ou ainda
contra eventos não desejados, para comu- ser uma forma de estimulação sensorial.
nicar involuntariamente a ocorrência de Nesse caso, a Abordagem da análise do
alguma dor ou problema fisiológico que comportamento pode ser uma alternativa
causam sofrimento, e obter estimulação. eficaz, para reduzir a ocorrência dessas
O conhecimento das funções desses com- automutilações. Se não for possível
portamentos permite a compreensão de identificar uma causa ambiental para a
que os mesmos não são atos deliberados autoagressividade, primeiramente deve-
de agressão, mas que têm um valor co- -se recorrer a exames clínicos para averi-
municativo importante. De acordo com guar a existência de alguma dor, problema
a abordagem analítico-comportamental, fisiológico, ou para detectar algum pro-
para diminuir a ocorrência desses com- blema neurológico, como epilepsia, por
portamentos deve-se fazer uma análise exemplo. Nesse tipo de situação os medi-
funcional individualizada, avaliando as va- camentos podem ser uma alternativa a se
riáveis as quais o comportamento autoa- recorrer juntamente com a terapia com-
gressivo é função, para assim, ser possível portamental.
uma manipulação dessas variáveis ensi-
nando a criança meios alternativos de co- Palavras-chave: Autismo, comportamentos
municação e visando a aquisição de novos autoagressivos, Análise do Comportamento.
comportamentos adequados que atuem Contato: Larissa Andrade Viriato. Universidade
exercendo uma função semelhante ao an- Federal do Recôncavo da Bahia
terior que era inadequado. Cabe ressaltar lary_andrade15@hotmail.com
que esta análise deve ser realizada prio-
rizando as diferenças individuais e o con-
texto que influenciam o repertório com- LT01-885 – DESENVOLVENDO AS
portamental de cada criança e que não HABILIDADES SOCIAIS, O CORPO E O
esteja restrita à aplicação de procedimen- PSIQUISMO.
tos baseada exclusivamente em formas Jeane de Souza Pontes Viana - FAP/RJ
generalistas de diagnóstico. É importante jeanepontes@ig.com.br
também que a modificação dos comporta-
mentos ocorra de forma gradativa, tendo O pôster apresentado é referente a um
como objetivo principal a diminuição da trabalho de mediação, desenvolvido com
ansiedade e do sofrimento. Com base nos uma criança de cinco anos e meio diag-
resultados encontrados, entende-se que o nosticada como autista. Teve início em
manejo do comportamento autoagressivo dezembro de 2009, com base no Son-
em crianças autistas é bastante complexo. -Rise, que tem como base a atitude de
Porém, no que diz respeito ao tratamen- amor e apreciação, motivando a criança a
to, é possível compreender que quando a partir da motivação que ela já tem e exi-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
Sobre os pontos negativos, ela destacou te em relação ao seu próprio corpo e seus
que ficou com manchas, alergias, en- conflitos com a mãe para a não aceitação
joos e azia. Essa autoavaliação negativa das mudanças corporais experimentadas
foi tão marcante e forte para a gestante pela gestante. Considerações Finais: A
que uma de suas atitudes foi a retirada partir da entrevista, das leituras realiza-
do espelho (de corpo inteiro) que tinha das e da análise comparativa entre am-
em seu quarto. Para enfrentar as mudan- bos foi possível verificar que as expectati-
ças corporais da gestação ela evitava si- vas da gestante em relação às mudanças
tuações nas quais teria de se confrontar de seu próprio corpo estavam relacio-
com a própria imagem. Por exemplo, no nadas com sua própria imagem e com o
momento em que relatou que ao tirar relacionamento com os seus familiares,
fotos para ter de lembrança da sua ges- especialmente com sua mãe. Destaca-se
tação, não conseguia olhar o resultado. o fato de que apenas um aspecto posi-
“De modo geral, a mulher reagirá de uma tivo foi relatado pela gestante durante a
maneira ou de outra a essas mudanças. entrevista e estava relacionado a fala do
Poderá exaltar o seu corpo com grande marido. Por fim, salienta-se a necessi-
satisfação por tomar formas diferentes, dade de intervenções em saúde mental
mais femininas. Ou odiá-lo pela apa- para esta gestante, que objetivariam a al-
rência física que a desagrada” (Szeijer teração da sua percepção corporal, bem
& Stewart, 2002, p.121). Como um pon- como para promover uma relação mãe-
to positivo, a participante destacou que -bebê favorável.
seu companheiro achava-a bonita. Deve-
-se destacar, que a forma como ela fazia
referência a essa opinião era de modo LT01-893 – A CRIATIVIDADE E O
simples e direto, sem muitos detalhes. O PROFESSOR: UM PROCESSO DE
que poderia evidenciar que essa visão do DESENVOLVIMENTO HUMANO.
companheiro não era muito considerada
por ela. Em relação a sua própria mãe a Alessandra do N. Pereira Tinoco - UF/RJ
gestante relatou que se sentia ressentida, alenptinoco@bol.com.br
pois contou que certa vez ela a chamou Financiamento: PIBIC/UFRJ
de feia, também relatou sobre a gravidez
da cunhada, que segundo a gestante, re- A criatividade é algo inerente ao homem
cebeu muito mais atenção e cuidados por e de certa forma, está correlacionada com
parte de sua mãe. “Ela se sentava no sofá o processo de desenvolvimento humano.
e a mãe vinha e alisava a barriga dela, Para desenvolver o potencial criador da
conversava com o nenê. Já comigo a mãe criança, no entanto, se faz necessário que
não faz isso. E eu não esperava isso da esta receba estímulos durante a infância
mãe”. Podemos pensar que a gestante dentro do seu meio social. Os estímulos
tenha internalizado estes aspectos nega- em conjunto aos traços característicos da
tivos contidos na fala da mãe, passando a sua personalidade e da sua capacidade
sentir-se feia. Diante destes dados pode- de correr riscos poderão dar melhores
mos levantar a hipótese de uma relação condições para o seu desenvolvimento
entre as percepções negativas da gestan- evitando desperdício de potencial huma-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
no. Vale ressaltar que esses fatores são do aluno. Então, como podemos pensar a
imprescindíveis ao processo criador, sen- docência de modo a estimular o processo
do possível observar que a criança atra- criador? O professor propõe atividades
vés deles, se relaciona com o ato de criar que favoreçam o processo criador da
sem barreiras ao seu desenvolvimento e criança no cotidiano da sala de aula? O
este pode ser espontâneo dentro de um desenvolvimento do processo criador na
ambiente favorável. O desenvolvimento criança é um objetivo observável na esco-
da criatividade encontra-se intrinseca- la pesquisada? Qual a metodologia mais
mente relacionado à apropriação da cul- apropriada para que o aluno desenvolva
tura. Essa apropriação indica uma partici- características de sua personalidade que
pação ativa da criança no seu meio social, o tornem um aluno criativo, autônomo e
tornando próprios dela mesma os modos com a capacidade de formular soluções
sociais de perceber, sentir, falar, pensar diversas para a complexidade que a vida
e se relacionar com os outros. Assim, ela contemporânea nos exige? Estas são as
se manifesta de diversas formas e não questões que pretendemos discutir nesta
se limita apenas às artes, mas em outros pesquisa. Para reconhecermos a impor-
campos de atuação (Smolka, 2009). Pri- tância que a criatividade exerce sobre o
meiramente, a revisão de literatura nos desenvolvimento cognitivo e emocional
informa que a espontaneidade e a criati- infantil, destacamos o que Alencar (1996)
vidade são inatas ao ser humano e essen- descreve sobre o valor da criatividade,
cial para o desenvolvimento. No Brasil, pois para a autora esta é uma habilidade
observamos que muitos desconhecem necessária e que deve ser incentivada no
que o potencial presente no ser humano ambiente escolar, promovendo o bem es-
é imenso, que tem sido utilizado de for- tar emocional mediante as experiências
ma muito limitada, permanecendo mui- de aprendizagem criativas e que contri-
tas capacidades inibidas e bloqueadas bui para uma melhor qualidade de vida
por falta de estímulo, de encorajamento dos alunos. Também ajuda na formação
e de um ambiente favorável ao seu de- profissional do indivíduo, já que a criati-
senvolvimento (Alencar, 2009). Muitos vidade é uma peça fundamental para o
professores, em enfoque os da rede pú- indivíduo lidar com as adversidades do
blica de ensino, ignoram que suas atitu- mundo contemporâneo (Sartori & Fialho,
des, suas expectativas em relação aos 2009). Mediante essa interação do indiví-
alunos, assim como a metodologia utili- duo com o meio no que tange o ambien-
zada no ensino podem favorecer a apren- te escolar, a criatividade está relacionada
dizagem ou, pelo contrário, podem criar com a produção de conhecimento, con-
barreiras para este desenvolvimento, sequentemente a escola é responsável
concorrendo ainda para tornar a aprendi- por garantir meios que possam favorecer
zagem um processo aversivo e doloroso. condições para que o aluno possa criar.
Nesse aspecto, podemos dizer que o pro- Se a criança estiver inserida em um am-
cesso criador da criança sofre uma influ- biente acolhedor e que facilite e estimu-
ência significativa da escola durante a sua le o seu aprendizado, esta terá grandes
construção e a metodologia do professor chances de se tornar um sujeito criativo.
pode contribuir para a produção criativa Buscando conhecer o contexto da sala de
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
hospitalar na vida da criança cobram o no que diz respeito às suas relações com
estudo de seu desenvolvimento nesse as crianças. A elaboração e efetivação da
contexto, a compreensão das vivências sessão com sucatas, embasada em con-
estressoras e protetivas para a criança, ceitos da Psicologia Sócio-Histórica, em
sua família e equipe de cuidados hospi- especial a mediação e os processos de
talares dentro do ambiente do hospital. significação, buscou aproximar a reali-
Esse trabalho apresenta os processos en- dade externa à interna do hospital, além
volvidos em uma sessão de brinquedos de trazer alternativas para a confecção e
e brincadeiras com sucatas realizada na uso de brinquedos. Ao se considerar as
brinquedoteca do Hospital Universitário dimensões nomeadas por Urie Bronfen-
Júlio Müller (HUJM) em Cuiabá/MT. O brenner (1996/1979) no que diz respeito
HUJM tem sua brinquedoteca organizada à sustentação de processos de interação
e mantida pela Faculdade de Enferma- humana com ênfase na saúde, é possível
gem da Universidade Federal de Mato identificar três pilares: afeto, reciprocida-
Grosso, que realiza diversos projetos em de e equilíbrio de poder entre os partici-
seu interior, entre eles o “Cuidar Brin- pantes das ações sociais. Também, foram
cando”, que traz para as crianças hospi- considerados diversos autores que abor-
talizadas e suas famílias a oportunidade dam a temática do brinquedo e do brin-
de utilizar o espaço lúdico, brinquedos car na promoção do desenvolvimento
e computadores para auxiliar na elabo- infantil (Brougerè, 1995 e outros que vou
ração do processo de hospitalização, na citar)Dessa forma, ao se pensar a inter-
adesão aos tratamentos e nas dinâmicas venção com sucata, foram considerados
das terapêuticas necessárias durante a esses pilares, na busca da sustentação e
internação. Em parceria com esse proje- manutenção de aspectos mediacionais
to, o Curso de Psicologia da UFMT/Cuiabá efetivos e construções de redes de signi-
conduz o projeto “Infância, brinquedo e ficação promotoras de saúde. Para tanto,
hospitalização”, através do qual a inter- as estudantes de Psicologia utilizaram os
venção com sucatas foi realizada, sendo dados informais coletados ao longo de
essa também ligada à prática da discipli- cinco meses de presença na brinquedo-
na Estágio Básico em Contextos Educacio- teca, de uma a duas vezes por semana,
nais e Sociais. A presença dos estudantes o que favoreceu a construção de conhe-
de Psicologia nas atividades da brinque- cimentos e vínculos nesse espaço. Esses
doteca tem três objetivos específicos: dados foram obtidos em conversas com
pesquisar junto às crianças suas expec- as crianças, seus cuidadores imediatos
tativas e demandas quanto ao espaço da e equipe técnica, além de coletados nas
brinquedoteca e o uso dos computado- próprias atividades lúdicas, realizadas
res, identificar e intervir em característi- enquanto brinquedo livre nos encontros
cas do desenvolvimento infantil que pos- comas crianças. O aspecto cognitivo tam-
sam ser implementadas ou melhoradas bém foi valorizado, trazendo essa ativi-
enquanto as crianças estão internadas e dade características de desenvolvimento
fazem uso da brinquedoteca e, por fim, psicomotor, raciocínio lógico e processos
identificar e trabalhar demandas especí- de imaginação, memória e linguagem
ficas das famílias e técnicos cuidadores (Stenberg, 2000). O material utilizado foi:
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do curso de Psicologia da UCB. A idéia do de saúde ou escolas. Além disso, foi fei-
projeto surgiu da experiência de profes- ta uma articulação com os PRAIAs - DF
sores e alunos do curso de Psicologia da - Programas de Atenção Integral à Saúde
referida universidade que, nos últimos do Adolescente para identificar casos de
dez anos, tem recebido no seu Centro de transtornos alimentares, via Coordena-
Formação em Psicologia Aplicada, um nú- ção de Saúde do Adolescente da Secre-
mero significativo de encaminhamentos taria de Saúde do DF. O DF tem hoje 15
de crianças e adolescentes com transtor- PRAIAs em 15 regionais de saúde, aten-
nos alimentares, seja de órgãos e profis- dendo adolescentes na perspectiva Biop-
sionais de saúde, escolas ou mesmo pais sicossocial. O referido Programa está en-
que buscam o nosso centro à procura de caminhando os adolescentes e suas famí-
ajuda. Essa imensa demanda deve-se, em lia à UCB para participarem da pesquisa,
parte, à falta de um programa regular e após assinatura de um Termo de consen-
eficaz de atendimento a essa clientela no timento Livre e Esclarecido. As atividades
âmbito do Distrito Federal. A falta de um de pesquisa uis estão sendo realizadas
referencial teórico e prático que oriente no Centro de Formação em Psicologia
o trabalho dos professores, pesquisado- Aplicada da UCB, divididas entre ativida-
res e supervisores de estágio da UCB nos des de pesquisa-ação com as crianças e
motivou a realizar, nos últimos três anos, adolescentes e com as famílias, diagnós-
pesquisas de Mestrado sobre o referido tico com o Método do Rorchach com os
tema, objetivando uma melhor compre- adolescentes, encontros lúdicos em gru-
ensão dos transtornos alimentares e obe- po com as crianças e adolescentes, en-
sidade, buscando ampliar o olhar sobre trevistas e Grupos Multifamiliares com os
o indivíduo que apresenta o transtorno genitores. Os dados parciais da pesquisa
para o seu contexto familiar e social. Por estão em consonância com os trabalhos
outro lado, a gravidade dos transtornos e constantes do levantamento bibliográfico
a falta, ainda, de literatura que embase sobre o tema, ou seja: fatores individu-
o trabalho com essa clientela, exige que ais, familiares e sociais estão na base do
estudos mais aprofundados sejam rea- surgimento e da manutenção dos trans-
lizados. Entendemos que os resultados tornos alimentares e da obesidade em
obtidos com essa pesquisa podem ajudar crianças e adolescentes e precisam ser
a aprimorar os serviços de atendimento levados em consideração quando se pen-
de saúde à comunidade, tanto os do âm- sa em metodologia de atendimento efi-
bito público, como os de âmbito acadê- caz para esses problemas de saúde.
mico dos hospitais e clínicas - escolas das
universidades. O estudo está envolvendo Palavras-chave: transtornos alimentares,
30 famílias de crianças e adolescentes obesidade, dinâmica familiar.
com diagnóstico de transtorno alimen- Contato: Heron Flores Nogueira
tar (anorexia nervosa, bulimia nervosa) heronfn@uol.com.br
e obesidade que procuraram a universi-
dade para atendimento psicológico ou
foram encaminhados por instituições e
profissionais de saúde, hospitais, postos
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forma mediadora, já que a escola pode 1994) com análise de dados qualitativos
apresentar-se como desafiadora e hos- (Bardin, 1977). Participante: Participou
til. Sendo assim, o presente instrumento do estudo uma gestante multípara no
pareceu identificar e a avaliar qualitativa- terceiro trimestre de gestação, com 28
mente as estratégias de enfrentamento anos de idade que residia com seu com-
de crianças em idade pré-escolar, contri- panheiro. Procedimentos: A coleta de
buindo para o diagnóstico e intervenção dados ocorreu em setembro de 2010,
psicológicos nesse contexto. Entretanto, na casa da participante, onde foi aplica-
tal instrumento se encontra em fase de da uma entrevista semiestruturada. Re-
aprimoramento, sujeito a alterações e sultados: Os resultados revelaram que a
análises estatísticas consistentes, a fim de mãe através da interação, ou seja, com a
ser validado como um instrumento capaz conversa e o toque procurava formar um
de avaliar as estratégias de enfrentamen- laço afetivo com o bebê ainda no período
to (coping) de crianças em pré-escolas. pré-natal, através dos movimentos fetais
a mãe acreditava que seu filho estava cor-
Palavras-chave: Construção de instrumentos; respondendo a suas comunicações com
Avaliação de Coping; Psicologia Pediátrica. ela, o incrementou suas expectativas em
Contato: Bárbara da Silva Ferrão- Faculdade relação a ele. Já as expectativas atribuídas
Brasileira UNIVIX ao sexo e nome ofereceram mais identi-
edsferrao@folha.com.br dade ao bebê. Discussão. A entrevista
corrobora com os achados da literatura
LT01-1000 – EXPECTATIVAS DA científica sobre o tema, pois revela que a
GESTANTE E INTERAÇÃO MÃE-BEBÊ relação mãe-bebê estabelecida durante a
Cleonice Aline Dutra - ACPC gestação é um investimento importante à
Evanisa Helena de Maio Brum - UFRGS constituição psíquica do bebê, e ao exer-
cício materno (Brazelton & Cramer, 1992).
A interação da mãe com seu bebê ainda A participante se mostrou muito presta-
na gestação é uma forma indispensável tiva ao responder os questionamentos
de estabelecer um relacionamento obje- feitos a ela. E segundo a gestante a gravi-
tivo, sendo assim a expectativa da gestan- dez estava sendo um marco em sua vida,
te para com o bebê, reforça ainda mais afinal a forma como o bebê correspondia
esta relação e torna esta interação mais as suas expectativas e a intensidade de
frequente e prazerosa. O bebê anuncia, seus movimentos fetais, faziam com que
então, sua existência no interior dos pais a mãe sentisse seu bebê como mais real.
muito antes do nascimento e os projetos Sendo assim, ela demonstrou também,
e expectativas que envolvem a sua che- estar cooperando para que a relação com
gada preparam o lugar, para acolhê-lo seu bebê fosse estável e “perfeita” após
(Piccinini, Tudge, Lopes & Sperb, 1998). o nascimento. Conclusão. A percepção
Objetivo: Investigar a interação através materna dos movimentos fetais é con-
da comunicação entre a díade e as expec- siderada um grande marco na gravidez,
tativas da gestante durante a gestação. pois, faz com que a mãe sinta o feto como
Método: O método empregado neste es- mais real e personificado, e incrementa as
tudo foi um estudo de caso único (Stake, expectativas referentes a ele. É a partir da
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maneira como são percebidos estes mo- cas. Dentro deste contexto, a existência
vimentos que as gestantes vão atribuin- de determinados problemas clínicos da
do características de temperamento ao gestante e do feto podem também elevar
bebê, além de expressarem que a intera- o nível da ansiedade materna diante de
ção passou a ser recíproca, e elas podem uma gestação de risco. O nascimento pré-
até compreender certas mensagens dos -termo do bebê está entre os fatores que
filhos (Maldonado, 1997; Raphael-Leff, mais afetam a experiência da gestação,
1997; Szejer & Stewart, 1997). A gestante podendo trazer dificuldades específicas
deste estudo afirmou que as expectativas para a mulher. Diante de uma gestação de
atribuídas ao bebê durante a gestação es- risco, a mãe poderá ter de fazer um esfor-
timularam ainda mais a comunicação en- ço maior para conseguir atingir a condição
tre eles. E que esta comunicação se fazia descrita por Winnicott (1956/2000) como
cada dia mais intensa, já que segundo a preocupação materna primária (PMP)
mãe, ela era correspondida por seu filho, que envolve um estado psicológico espe-
com mensagens de companheirismo e ca- cial da mãe, que a torna sensível às ne-
rinho através dos movimentos fetais. cessidades básicas de seu filho. Tal estado
tem início ainda na gestação, sendo acen-
tuado no seu final, estendendo-se até as
LT01-1011 – INDICADORES DA primeiras semanas ou meses após o par-
PREOCUPAÇÃO MATERNA PRIMÁRIA to. Trata-se de uma condição fundamen-
NA GESTAÇÃO DE MÃES QUE TIVERAM tal da mãe para que o bebê tenha suas
PARTO PRÉ-TERMO necessidades atendidas de maneira satis-
Marocco, Carolina - UFRGS fatória desde a gestação, sejam elas quais
caca_mak@hotmail.com forem, e possa, a partir daí, continuar se
Anton, Márcia C. - UFRGS desenvolvendo. Winnicott (1956/2000)
marciacamaratta@gmail.com referiu que esse estado materno é pos-
Piccinini, Cesar A. - UFRGS sível graças a processos identificatórios
piccini@portoweb.com.br maternos que colocam a mãe em uma
Instituição financiadora da pesquisa: CAPES posição de saber o que o bebê precisa.
No que diz respeito aos primeiros conta-
A experiência subjetiva materna frente tos com seu bebê, que começam desde a
à gestação e o nascimento do bebê tem gravidez, a mãe comunica-se com ele es-
sido motivo de inúmeras investigações sencialmente através de gestos e vocali-
nas últimas décadas. Existe um perío- zações. Diante da ameaça do nascimento
do sensível no decorrer da gestação até pré-termo na gestação, a função da PMP
os primeiros dias depois do nascimento, parece ser ainda mais crucial, pois a situ-
dentro do qual as trocas íntimas mãe-re- ação de vida imposta à mãe demandará
cém-nascido são facilitadoras do ajuste dela um esforço maior que o usual para
da díade e da vinculação afetiva posterior. conseguir entrar em sintonia com o bebê
A gravidez, por si só, envolve um intenso e conseguir exercer adequadamente sua
trabalho por parte da mulher, exigindo função. Diante disso, o estudo se propõe
que esta consiga assimilar e enfrentar a investigar indicadores da PMP na ges-
mudanças corporais, sociais e psicológi- tação de mães que tiveram parto pré-
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cionamento que os idosos mantém com que também com a própria percepção da
os funcionários da instituição, 68,18% res- sua condição de saúde e dos laços afetivos
pondeu que têm um relacionamento bom que conseguem manter com a família.
e excelente. Entretanto, contrariamente
observado por Moura (2005), este grupo Palavras-chave: Idosos; Institucionalização;
de idosos não mantém dificuldades de Qualidade de Vida.
comunicação dentro da instituição, pois
72,8% dos idosos afirmaram manter bom
relacionamento e trocas experiências com LT01-1279 -EXPECTATIVAS DE FUTURO
outros idosos, apesar de uma maior sele- DE ADOLESCENTES DROGADITAS
tividade na escolha dos parceiros ou ami- Karen Lopes das Neves - UFRRJ
gos, o que vai de acordo com a perspectiva karen.lone@hotmail.com
de que os idosos em geral, são socialmen- Thais Brasil de Oliveira - UFRRJ
te e emocionalmente seletivos (Belsky, brasil_thaisoliveira@ig.com.br
2010). Foi constatado na instituição que Carla Cristine Vicente - UFRRJ
45,45% dos idosos entrevistados rece- carlavicent@gmail.com
bem visitas às vezes, 31,82% não recebem
e 22,73% são visitados com freqüência. A literatura sugere que a pequena parce-
Famílias que institucionalizam os idosos la de adolescentes que se envolvem com
em comum acordo com os próprios, são problemas relacionados ao uso de drogas
quase-sempre as que os visitam durante a tende a já apresentar problemas emocio-
institucionalização (Tier, 2004). Os Idosos nais prévios em sua história de vida (Bel-
entrevistados foram questionados sobre o sky, 2010). Estes adolescentes também
que poderia ser feito para que houvesse costumam apresentar um perfil de má
uma melhoria na sua qualidade de vida e relação social, tanto com seus pares quan-
13,7% responderam que queriam receber to com os seus familiares (Silva, 2007). Ao
visitas familiares, 13,6% disseram neces- provocar uma sensação inicial de euforia e
sitar de mais saúde e 45,45% deles, fala- bem-estar, a droga gera uma falsa sensa-
ram que sentiam falta de atividades que ção de efeito benéfico que atrai a atenção
os distraíssem como dança, canto, cine- dos adolescentes ávidos pela novidade.
ma e jogos, necessidades apontadas por Porém, o seu uso repetido e freqüente
Moura (2005) que preconiza o bem estar acaba conduzindo a um ciclo vicioso, que
biopsicossocial do idoso asilado, através causa danos ao sistema nervoso e afeta
de atividades educativas. Este estudo con- o processo de socialização destes ado-
cluiu que, apesar de o número de idosos lescentes (Soares, Gonçalves & Werner,
investigados ter sido pequeno e proce- 2010). Apesar de uma parcela dos jovens
derem de uma única instituição asilar, os que se envolvem com drogas conseguirem
resultado confirmam, em sua maioria, o de alguma forma chegar a instituições que
que a literatura da área vem descrevendo. ofereçam tratamento para sua drogadição,
A qualidade de vida do idoso instituciona- pouco se sabe a respeito de suas expecta-
lizado está de fato associada a seu bem tivas durante este processo de reabilitação
estar, o que se relaciona com as condições (Marques & Cruz, 2000). O objetivo da
específicas que o asilo pode oferecer, mas presente pesquisa foi de buscar conhecer
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senhos infantis não estão livres de concep- contextos, enquanto em outros, meninos
ções de criança, pelo contrário, carregam e meninas brincam juntos, compartilham
ideias, valores, condutas e, desta forma, descobertas e desenvolvem uma relação
difundem uma forma de ser criança. Com- de amizade. A amizade é um traço típico
preendendo os desenhos animados como das relações entre as crianças em idade es-
um dos elementos da realidade social da colar (Petrovisk, 1985). O que fundamenta
criança é possível supor sua influência, o uma relação de amizade é a reciprocidade
que exige daqueles envolvidos com a edu- e interesses comuns. As amizades entre as
cação, uma postura crítica. O presente tra- crianças são relações sociais que permitem
balho analisa o desenho infantil “Ben 10” o desenvolvimento da solidariedade, co-
25
com objetivo de conhecer a concepção municação, conhecimentos dos outros e
de criança contida nele. Dada a brevidade do mundo, além de propiciarem modelos
do presente texto, apresentamos a análise de relacionamento íntimo caracterizados
da quarta temporada (2007-2008). Todos pela confiança (Cole, Cole, 2003). Uma vez,
os episódios foram assistidos (total de dez) que o desenho se passa no período de fé-
e descritos na forma de sinopses. Nossa rias, a escola não é o cenário principal das
atenção, pelo objetivo de nosso trabalho, aventuras de Ben 10. Entretanto, em dois
focou-se no conteúdo dos episódios. Cons- episódios é possível apreender a relação
truímos para nossa análise três categorias, do personagem central com a escola. Em
a saber: a relação criança-criança; a relação um dos episódios Ben tem um pesadelo
criança-adulto e a relação criança-escola. induzido por um dos vilões da estória. O
Ao sair de viagem de férias com seu avô cenário do pesadelo é a escola e ele foge
Maxwell Tennyson e sua prima Gwendolyn da biblioteca com medo dos livros. No epi-
Tennyson, “Gwen”, Ben encontra um reló- sódio final da temporada, Ben irrita-se com
gio que se fixa em seu braço, o omnitrix. o retorno à escola; na escola ele tem que
O omnitrix carrega uma carga de DNA que se conformar em ser um garoto comum,
permite mudar o código genético de Ben, sem superpoderes e exposto a agressões
dando ao garoto o poder de se transfor- de garotos mais velhos. Somente quando
mar, a sua escolha, em 10 alienígenas com a cidade é atacada por monstros e os ga-
super-poderes. A criança que Ben mais se rotos que o agrediram vêm Ben armado e
relaciona nos episódios é sua prima Gwen. se transformando em alienígena, é que ele
O desenho apresenta a relação entre Ben passa a ser respeitado na escola. A escola
e sua prima Gwen de forma caricaturada, para Ben 10 não se constitui como lugar de
estereotipada e marcada pela disputa; não ampliação das relações sociais, pelo menos
se constitui entre Ben e Gwen uma rela- na ampliação de relações que sejam pauta-
ção de amizade que permita o desenvolvi- das em interesses comuns e na reciproci-
mento psicossocial de ambos. A literatura dade. A aprendizagem dos conhecimentos
descreve que crianças escolares passam da cultura, transmitidos pela escola, não
grande parte do tempo em grupos segre- produzem em Ben, nenhum interesse. Pelo
gados pelo sexo (Cole, Cole, 2003). Todavia, contrário, ele demonstra aversão. Nos epi-
essa segregação sexual é forte em alguns sódios da quarta temporada o adulto com
quem Ben mais se relaciona é o avô. Os
25
Animação produzida pelo Cartoon Network Studios dois possuem uma relação de confiança,
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pois o avô é o único adulto que sabe dos DIA 13/11 - Domingo
superpoderes adquiridos pelo garoto. Em
um episódio Ben ridiculariza o avô por não
ouvir e enxergar bem. Diz para o avô: “os 18h-20h
idosos não deveriam sair de casa no ve-
rão”. No mesmo episódio o avô bebe água
da fonte da juventude e torna-se jovem CONFERÊNCIA
novamente. No episódio citado, chamou
nossa atenção a forma como Ben ridicula-
riza o avô pelo fato de ser idoso. A impor- ESPAÇO VITAL URBANO:
tância da relação entre adulto e criança se OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA OS
constitui, pois, o adulto é o ser humano JOVENS
mais experiente da cultura que apresenta
o mundo humano para a criança, além de Hartmut Günther - UnB
ser o modelo de conduta para ela: estas
são as bases em que se constrói a relação Um dos primeiros estudos do que viria
entre adulto e criança. Essa relação deve a ser conhecido como Psicologia Am-
ter como princípio o respeito das especifi- biental, a partir dos anos de 1960, foi
cidades de cada idade, que, inclusive, cabe realizado quarenta anos antes. No fim
ao adulto explicitar para a criança. Parece- da década de 1920, Martha Muchow,
-nos que desenho traz implícito uma super aluna de William Stern, estudou o Espa-
valorização da idade adulta inicial. Note-se ço Vital da Criança Urbana, investigando
que quando Ben transforma-se em aliení- três “campos de treinamento”: o espaço
gena, ele deixa de ser criança e assume a no qual a criança vive; o espaço que a
forma de um super-herói adulto, porém, criança experiencia e o espaço do qual a
um adulto jovem. Através da análise das criança se apropria (Muchow & Muchow,
relações travadas pelo personagem princi- 1935/1998). Antecipou, desta manei-
pal concluímos que o desenho apresenta ra, a problemática central da Psicologia
um personagem infantil no interior de um Ambiental, isto é, a reciprocidade entre
círculo pequeno de relações e as relações comportamento e experiência subjetiva
mantidas pelo personagem principal são de um lado e espaço construído ou na-
bastante pobres. Outro elemento que iden- tural do outro. Partindo da diferenciação
tificamos na análise da quarta temporada é feita por Muchow, esta apresentação visa
que ser criança não basta: é preciso ter su- refletir sobre continuidades e mudanças
perpoderes. Ser criança e ter uma vida de históricas e culturais nos três espaços:
criança parece desinteressante e, ao mes- quais as oportunidade e desafios que
mo tempo, é um fator que propicia a falta os mesmos apresentam para os jovens,
de respeito dos demais. hoje? O espaço no qual se vive. De que
maneira o espaço urbano no qual o jovem
Palavras-chave: Criança; Desenvolvimento de hoje vive em Brasília é diferente do es-
Infantil; Televisão. paço urbano de Hamburgo, estudado por
Contato: Suzana Marcolino, IMESSN, Muchow na década de 1920? Sob a pers-
suzanamarcolino@yahoo.com.br pectiva de oportunidades e desafios há
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dam maior suporte, cuidado, informação, interações familiares têm uma organização
acolhimento e orientação. Neste contexto, dinâmica, na qual as mudanças que ocor-
os programas de atendimento familiar são rem em uma determinada relação afetam
essenciais, tanto para orientar as famílias as demais; (c) a família tende a manter um
no que se referem às tarefas de desenvol- estado de equilíbrio ou homeostase; e (d)
vimento do seu curso de vida quanto para o equilíbrio familiar ocorre através de uma
apoiá-las, fortalecê-las e encorajá-las na constante readaptação ao seu contexto.
busca de soluções para seus problemas. A Para compreendermos a família e suas re-
noção de fortalecimento da família como lações extra-familiares, faz-se necessário
solucionadora de suas próprias dificulda- recorrer a outra ferramenta teórica, mais
des deve ser priorizada no planejamento abrangente e que complementa a Teoria
dos programas e de projetos de pesquisa. Sistêmica da Família: o Modelo Bioecológi-
Para isto, duas condições são necessá- co, proposto por Bronfenbrenner. Este mo-
rias: adotar uma fundamentação teórica delo, bastante divulgado nas últimas três
sistêmica e modelos de formação profis- décadas, amplia o escopo de análise e per-
sional que sejam compatíveis à complexi- mite entender o sistema familiar de forma
dade das intervenções com as pessoas e integrada e global, levando em conside-
as famílias em situação de risco. Assim, a ração a pessoa, os processos proximais,
primeira parte desta apresentação é de- os contextos ecológicos e o tempo. Esta
dicada a discutir como a teoria sistêmi- complexidade sistêmica demanda uma
ca da família e o modelo bioecológico de inovação na formação atual de uma equi-
Bronfenbrenner constituem ferramentas pe multidisciplinar. Assim, apresentamos
apropriadas para pesquisar e lidar com a uma das alternativas de formação de pro-
família. Na segunda parte, defendemos a fissionais que nos parece apropriada: os
importância de se adotar um modelo de Modelos Transdisciplinares. A intervenção
formação profissional compatível com a transdisciplinar é definida como os papéis
necessidade de uma atuação sistêmica – o compartilhados entre os limites ou frontei-
modelo transdisciplinar. A terceira e última ras das disciplinas, de modo a otimizar a
parte é dedicada a apresentar algumas re- comunicação, a interação e a cooperação
flexões sobre a necessidade de parcerias entre os membros da equipe. Portanto, os
entre todos os segmentos envolvidos com modelos transdisciplinares têm como ob-
a qualidade de vida e o desenvolvimento jetivo proporcionar serviços mais integra-
de famílias em situação de risco. Para es- dos, coordenados e centrados na família,
tudar a família, frente às mudanças nas reduzindo os problemas de comunicação e
sociedades, é preciso compreender as potencializando a coordenação dos servi-
transformações ocorridas dentro deste mi- ços. A elaboração de programas, baseada
crossistema e, deste, em relação a outros única e exclusivamente na experiência do
contextos extrafamiliares. Quatro princí- próprio profissional que executa a inter-
pios devem ser considerados em um pla- venção e limitada à sua necessidade de
nejamento de pesquisa sob a perspectiva trabalho com a família, não se mostra mais
do desenvolvimento familiar: (a) a família adequada à complexidade de um paradig-
é caracterizada por uma estrutura específi- ma sistêmico. Um paradigma sistêmico
ca de relações entre seus membros; (b) as requer a colaboração de profissionais de
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cutor sobre as alterações feitas pelas crian- dos na escrita de textos, de maneira geral,
ças ao revisarem seus textos, examinando e na revisão textual, em particular. Assim,
o papel desempenhado pelo adulto letrado do ponto de vista psicológico, compreender
com o qual a criança interage e que contri- o processo de escrita é essencial para de-
bui com o seu processo de constituição da senvolver habilidades linguísticas, tornan-
representação escrita. Pesquisas desta na- do o indivíduo competente em sua língua
tureza muitas vezes são estudos longitudi- materna. A partir de tal reflexão é possível
nais e estudos de caso. Segundo os dados gerar ainda alternativas educacionais relati-
gerados por essas pesquisas, durante a es- vas ao planejamento de situações em que a
crita, o escritor se coloca no lugar de leitor escrita passa a ser um objeto do ensino pas-
de seu próprio texto, marcando a existência sível de tratamento didático, sem perder de
de um leitor, ou seja, de um destinatário; e vista sua natureza psicológica (aquisição e
que o produtor do texto alterna os papéis desenvolvimento).
de escritor e de leitor. A presença de um in-
terlocutor internalizado, um leitor ao qual Palavras-chave: revisão textual;
o texto se dirige, tende a ser mais saliente crianças; psicologia.
com o aumento da idade e da escolaridade Contato: Renata Nóbrega de Lucena,
(através do domínio da escrita). Um grande renata.nobrega@gmail.com.
número de investigações tem examinado
ainda as diferentes situações de revisão e
interação entre revisores/escritores. Há in- LT02-842 - O CONHECIMENTO DE
vestigações envolvendo diversas situações ALUNOS DO PRIMEIRO ANO DO ENSINO
de revisão: individual, em dupla e coletiva- FUNDAMENTAL SOBRE OS PORTADORES
mente. De maneira geral, observa-se que DE TEXTO
interações coletivas influenciam a maneira Kaline Jurema Jambeiro Rocha - UNIVASF
dos alunos revisarem. Um dos principais rocha.kaline@yahoo.com
resultados dos estudos em que se compa- Maria Tarciana de Almeida Barros - UNIVASF
ram diferentes situações de revisão é que mariatarciana@yahoo.com.br
a atividade de revisão conjunta provoca
um grande número de alterações sobre o Os estudos sobre Letramento no Brasil são
texto, havendo diferentes categorias de co- recentes, datando de duas ou três décadas
-elaboração dos membros: concordância e seguindo as preocupações com grupos
e discordância quanto a alguma alteração sociais marginalizados que não dominam
proposta e co-construção de maneira que a escrita. Por seu próprio estado de cons-
as alterações se articulavam e se comple- trução, é um conceito que enfrenta dificul-
mentavam. Os dados mostraram que mui- dades em sua definição. De acordo com
tas das ações de revisão ocorriam ao nível Kleiman (1995), tal conceito começou a ser
do planejamento da escrita e que tais alte- utilizado por pesquisadores com o objeti-
rações, no entanto, não se traduziam efeti- vo de diferenciar estudos sobre o impacto
vamente em alterações feitas sobre o texto social da escrita dos estudos em alfabeti-
em construção. Mapear, apresentar e dis- zação, que se ligavam quase que esponta-
cutir esses estudos permitem compreender neamente à escolarização e ao desenvolvi-
os diferentes processos cognitivos envolvi- mento de competências individuais. Diante
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dessa preocupação com o impacto social Gostaria que você me desse o portador X;
da escrita e das práticas sociais em que (2) Como você sabe que este é o portador
ela é central, os estudos em Letramento X?; (3) O que você acha que tem escrito no
desligam-se do individual e centram-se portador X? e (4). Pra que a gente usa o
no social, investigando não apenas quem portador X?. Com isso, obteve-se 2800 res-
é alfabetizado, mas todos os sujeitos que postas para o grupo total de participantes.
de certa forma se engajam em atividades Assim, focalizou-se o conhecimento dos
de escrita, mesmo que dominem ou não as alunos sobre a identificação do portador,
habilidades de leitura e escrita. O conceito suas características, seu conteúdo, usos e
de Letramento, portanto, focaliza os aspec- funções. Inicialmente, o grupo de pesquisa
tos sócio-históricos que são vistos como estudou a bibliografia referente à temática
intrínsecos à aquisição da escrita. Ao abor- da pesquisa. A seguir, o projeto foi subme-
dar-se a compreensão da criança sobre a tido ao Comitê de Ética em Pesquisa com
funcionalidade da língua escrita, é ressal- Seres Humanos. Sendo assinado o TCLE,
tada a importância do texto enquanto uni- realizaram-se entrevistas com os alunos
dade mínima de sentido lingüístico. O uso participantes. A análise dos resultados foi
da linguagem escrita em sociedade se faz realizada por meio de categorizações das
prioritariamente pelo texto. Dessa forma, repostas em níveis hierárquicos, os quais
foi investigado o nível de Letramento dos foram posteriormente avaliados estatisti-
alunos em relação aos portadores de texto camente (análise de variância). As análises
– objetos para serem lidos ou objetos que foram feitas com base em estudo de Mo-
carreguem um texto impresso (jornal, re- reira (1992). Quanto à identificação dos
ceita de remédio etc.) (Moreira, 1992). O portadores de texto, notou-se uma maior
conhecimento sobre portadores textuais freqüência de respostas concentradas no
será aqui tomado como um indicador de Nível III (47,4%), p<0,001, ou seja, a maior
Letramento. O presente estudo nasceu da parte do alunado em questão consegue
preocupação crescente com a qualidade identificar corretamente os portadores,
do ensino da linguagem escrita no que se tendo como critérios as características ine-
refere ao fenômeno do Letramento. Diante rentes aos mesmos. Já quanto ao conteú-
desse cenário, objetivou-se identificar o ní- do dos portadores, notou-se que a maioria
vel de letramento presente em estudantes dos participantes encontra-se no Nível I
do primeiro ano do ensino fundamental de (50,9 %), p<0,001, ou seja, os alunos erram
escolas públicas do Vale do São Francisco. ou nada dizem em relação às previsões
Participaram do estudo 50 crianças de bai- quanto ao conteúdo dos portadores de
xa renda, de 6 a 7 anos, todas alunas do texto apresentados. Quanto à função do
primeiro ano do Ensino Fundamental I de portador, pode-se dizer que a maioria dos
Escolas Públicas Municipais da região do participantes encontra-se no Nível II (58,3
Vale do São Francisco. Foram aplicadas ta- %), p<0,001, ou seja, as crianças atribuem
refas, em entrevistas individuais, que ava- função ao portador levando em considera-
liaram o conhecimento sobre portadores ção situações particulares de contatos com
de textos dos alunos. Eram apresentados o objeto ou considerando que a função dos
14 portadores de texto separadamente, portadores possui um fim em si mesma,
cada um gerando quatro perguntas: (1) mas não identificam uma função comuni-
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cativo social dos mesmos. Os dados trazi- Já há algum tempo as discussões sobre alfa-
dos revelaram que apesar dos estudantes betização ocupam um significativo espaço
investigados conseguirem fazer a identifi- no meio educacional. Este fato provavel-
cação dos portadores de textos, mostraram mente deve-se à dificuldade que ainda en-
ainda não ter desenvolvido conhecimentos frentamos em alfabetizar os nossos alunos,
sobre a função comunicativo-social da es- o que se torna um grande desafio para to-
crita, assim como sobre o conteúdo que dos os que lidam com este tema. Se antes
os portadores possuem. Portanto, pode-se nos preocupávamos com a grande quanti-
questionar: qual o sentido que tais crian- dade de alunos fora da escola, hoje vivemos
ças estão produzindo sobre portadores de o que alguns pesquisadores têm chamado
texto? Os dados apontam que os mesmos de “exclusão de dentro das escolas”, fenô-
consistem em objetos extrínsecos, porém meno que caracterizaria a incapacidade
não são utilizados de fato como objetos das escolas em alfabetizar uma boa parte
comunicativos no cotidiano das crianças. dos alunos que a procuram. Reconhece-
Sendo assim, destaca-se a importância de mos que, em grande parte, a melhoria da
tornar a experiência com portadores de alfabetização dos alunos depende de polí-
textos mais significativa para as crianças, ticas públicas que efetivem investimentos
o que pode ser realizado em várias agen- nas escolas e na formação de seus profis-
cias de Letramento, inclusive na escola, sionais. Mas sabemos também que muito
considerada como uma das agências de vem sendo realizado por professoras com-
letramento. As dimensões da escrita ultra- prometidas com a sua função de ensinar.
passam as barreiras da relação grafofônica, Concordamos com Bressoux (2003) quando
sendo preciso pensar em outras dimen- afirma que se há professores que elevam
seus alunos a maior nível de sucesso do
sões tais como: a compreensão de textos,
que outros, investigá-los e compartilhar as
as habilidades cognitivas e metacognitivas
suas práticas seria uma possibilidade de
e os conhecimentos sobre textos envolvi-
melhorar o sucesso de muitos alunos, em
dos neste processo, propondo novas estra-
outras escolas. Trabalhamos, desse modo,
tégias de ensino-aprendizagem.
com o conceito de professora-referência28.
Esta seria uma professora reconhecida na
Palavras-chave: alfabetização; letramento;
comunidade escolar por sua capacidade
portadores de textos .
em alfabetizar os seus alunos. Dominaria
Contato: Kaline Jurema Jambeiro Rocha, a metodologia de alfabetização com a qual
UNIVASF, rocha.kaline@yahoo.com se propunha a trabalhar, teria uma boa re-
lação com os seus alunos, conhecendo-os
e respeitando-os, reconhecendo ainda as
LT02-936 - AS PRÁTICAS COTIDIANAS
suas necessidades de aprendizagem. Se-
DE ALFABETIZAÇÃO: O QUE FAZEM AS
ria, enfim, uma professora comprometida
PROFESSORAS-REFERÊNCIA EM DUQUE
com a aprendizagem do código escrito dos
DE CAXIAS?
seus alunos e eficiente na tarefa. Além de
Janete Teixeira de Lyra - PUC/Rio
janetelyra@ig.com.br 28
A escolha do gênero feminino deve-se à constatação de
Zena Eisenberg - PUC/Rio que os professores que alfabetizam são, em sua maioria,
zwe@puc-rio.br mulheres.
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betização, o que corrobora as críticas que Existem relatos de crianças que nas fases
Soares (2004) faz ao ensino da escrita nos iniciais da escrita utilizam estratégias refe-
últimos anos, fenômeno chamado por ela renciais ao invés de estratégias fonológicas
de “desinvenção da alfabetização”. Entre- (Ferreiro & Teberosky, 1982). Por exemplo,
tanto, as professoras foram escolhidas jus- crianças utilizam mais letras para escrever a
tamente por seus resultados satisfatórios. palavra ‘urso’ do que para escrever a pala-
Além disto, as orientadoras pedagógicas vra ‘mosquito’ porque elas acreditam que
compreendem que outros fatores, além do o número de letras deve refletir o tamanho
conhecimento técnico do professor contri- do objeto ao invés da duração da pronúncia
buem para a alfabetização dos alunos, sen- da palavra. Essas estratégias são algumas
do esses: o comprometimento profissional, vezes chamadas de estratégias referenciais
o respeito aos alunos, a abertura a novas ou estratégias semanticas. No entanto, a
aprendizagens, a afetividade e a preocupa- evidência para essas estratégias referen-
ção com a aprendizagem dos alunos. Em re- ciais é baseada em grande parte apenas
lação a estes aspectos acreditamos que se em relatos e essa estratégia ainda não foi
faz necessária uma investigação mais apro- rigorosamente testada. O presente estudo
fundada, no sentido de compreender como investiga o uso destas estratégias nas
se dão as múltiplas relações presentes no primeiras escritas das crianças. Estudamos
dia-a-dia. “É necessário que a sala de aula 106 crianças americanas de escolas particu-
como objeto de pesquisa seja revelada na lares que tinham o inglês como primeira lín-
sua cotidianidade, na interação professor- gua (idade média de 4 anos e 7 meses). As
aluno para que a “caixa-preta” seja aberta” crianças participaram de tarefas individuais
(Bressoux, 2003, p. 48). No momento es- de leitura, conhecimento dos nomes e sons
tamos organizando um protocolo de ob- das letras e de uma tarefa de leitura. Utili-
servação, com base no conjunto proposto zando um quadro magnético e letras mag-
por Albuquerque, Morais e Ferreira (2008). néticas, as crianças escreveram 24 palavras
Esse conjunto está organizado em catego- com comprimentos diferentes que repre-
rias e estas divididas em subcategorias re- sentavam pequenos objetos (por exem-
lacionadas às atividades de alfabetização plo, bug ´mosca`, mosquito ´mosquito´) ou
desenvolvidas pelas professoras. Em nossa grandes objetos (por exemplo, bear ´urso`,
re-elaboração buscaremos identificar quais dinosaur ´dinossauro`). Nós investigamos
atividades são privilegiadas pelas professo- se as crianças que ainda não eram fonoló-
ras-referência e com que frequência apare- gicas escreveriam as palavras que denotam
cem na rotina das mesmas. objetos maiores com mais letras, ignorando
o comprimento das palavras, e se as crian-
ças fonológicas demonstrariam escritas
LT02-1001 - ESTRATÉGIAS INICIAIS DE seguindo o padrão oposto. Utilizamos um
ESCRITA programa chamado AMPR (Treiman & Kes-
Tatiana Cury Pollo - UFSJ sler, 2004), que avalia as escritas de crian-
tpollo@gmail.com ças nas fases iniciais de escrita, bem como
Rebecca Treiman - WUSTL técnicas de Monte Carlo, para identificar
rtreiman@wustl.edu subgrupos que faziam uso significativo de
Financiamento: NIH letras que eram fonologicamente apropria-
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das ou que não utilizavam letras fonologi- não encontramos nenhuma evidência para
camente apropriadas em suas escritas (56 estratégias de escrita referenciais, mesmo
crianças). Esse último grupo é o grupo de no grupo de crianças que ainda não haviam
interesse nesse trabalho. Como esperado, aprendido a utilizar letras para representar
as crianças que utilizam fonologia em suas sons. A estratégia referencial descrita por
escritas utilizaram mais letras para palavras outros pesquisadores pode não ser repre-
mais longas (p < .001), enquanto o grupo sentativa da forma como a maioria das
que não era fonológico não utilizou (p = crianças não fonológicas escrevem em ex-
.808). No entanto, ao contrário do que se- perimentos controlados.
ria esperado se as crianças utilizassesm es-
tratégias referenciais, nenhum dos grupos Palavras-chave: Alfabetização; escrita;
consistentemente utilizou mais letras para estratégias referenciais.
objetos maiores (p = .237; grupo não fono- Contato: Tatiana Cury Pollo, UFSJ,
lógico). Em um segundo estudo, 35 crianças tpollo@gmail.com
americanas de escolas particulares (idade
média de 4 anos, 3 meses) escreveram pala-
vras a mão livre. Palavras que representam LT02-1023 - A UTILIZAÇÃO DA ZONA
objetos pequenos e objetos grandes foram DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL NA
escritas em pares para fazer o contraste de AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA
tamanho mais saliente. As palavras que re- Natalia Duarte - EAPE/SEDF/GDF
presentavam objetos pequenos ou grandes nataliasduarte@gmail.com
eram escritas lado a lado (por exemplo,
“Nós agora vamos falar de coisas do ocea- O presente trabalho destaca o desafio de
no. Nós vamos escrever duas coisas. Escre- assegurar o direito social de aprender a to-
va fish ‘peixe’ aqui. (Esperar a criança termi- dos os alunos e expõe indicadores das difi-
nar). Agora escreva ship ‘navio’ aqui deste culdades na aquisição da linguagem escrita,
lado”. Nem as 18 crianças que ainda não especialmente dos grupos mais vulneráveis
utilizavam fonologia em suas escritas pro- da população. Apresenta referencial teó-
duziram escritas maiores para palavras que rico que analisa as dificuldades da escola
representam objetos maiores. No entando, em socializar a aquisição da língua escrita,
quando pedimos que as crianças fizessem a em especial Mortatti (2006), Soares (2004)
mesma tarefa mas que, ao invés de escre- e Grossi (1995). Registra a presença dessa
ver, elas desenhassem os referentes, elas dificuldade nos últimos 100 anos e apre-
produziram figuras maiores para palavras senta a operacionalização do conceito de
que representavam objetos maiores. Isso Zona de Desenvolvimento Proximal – ZDP
demonstra que as crianças conseguiam sim no trabalho pedagógico para aquisição da
entender as diferenças de tamanho dos linguagem escrita. Destaca a ZDP como
objetos, mas escolheram não as represen- conceito Vygotskiano, apresentado em
tar em suas escritas. Ao final desse estudo Pensamento e Linguagem como aquilo que
nós entrevistamos as crianças e analisamos “a criança é capaz de fazer hoje em coo-
qualitativamente suas respostas e também peração” (Vygotsky, 1993, p.89). Destaca
não obtivemos nenhuma indicação de pos- a ZDP como uma janela para a aprendiza-
síveis estratégias referenciais. Para concluir, gem (FINO, 2001) a ser utilizada na escola e
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e as crianças foi encontrada nas tarefas dos adultos inscritos nesses programas
de consciência fonológica. Além disso, os possa impor alguma restrição à sua alfa-
adultos apresentaram um desempenho betização. Por exemplo, não encontramos
relativamente melhor do que as crianças uma relação entre a idade cronológica, as
nas medidas de nomeação seriada rápida, habilidades acadêmicas e as habilidades
embora apenas as diferenças envolvendo de processamento fonológico dos jovens
as medidas de nomeação de objetos e dí- e adultos que participaram deste estudo.
gitos tenham atingido significância estatís- Nossos resultados sugerem, portanto, que
tica. Os dois grupos tampouco diferiram o fracasso de programas de alfabetização
entre si na tarefa de repetição de dígitos tardia está provavelmente relacionado a
na ordem direta. No subteste de escrita do variáveis exógenas aos participantes. Es-
TDE e na tarefa de repetição de dígitos na tudos adicionais são necessários para es-
ordem inversa, as crianças se sobressaíram clarecer a natureza dessas variáveis.
aos adultos, ao passo que no subteste de
matemática os adultos apresentaram um Palavras-chave: Alfabetização de adultos;
desempenho significativamente superior crianças; processamento fonológico.
ao das crianças. Há evidência de que pro- Contato: Marcela Fulanete Corrêa, UNIVASF,
gramas de alfabetização tardia raramente mfulanete@gmail.com
são bem sucedidos (Abadzi, 1995; Di Pier-
ro, 2010). Semelhantemente ao que tem
sido relatado na literatura especializada, CO 49 - LT03
os jovens e adultos que participaram do
presente estudo apresentaram pouco pro- Valores
gresso ao longo do programa de alfabeti-
zação. Dos 61 jovens e adultos avaliados
no início do estudo, 33 foram novamente LT03-1277 - COMO AS MÃES DIZEM
submetidos às tarefas de leitura e escrita CONVERSAR COM SEUS FILHOS SOBRE
do TDE no final do programa. Compara- SENTIMENTOS EMPÁTICOS
ções entre o seu desempenho no início Natália Lins Pequeno - UFPB
e no final do ano revelaram um aumento natalia_lins@hotmail.com
significativo, porém muito pequeno, no Cleonice Camino - UFPB
número de palavras lidas corretamente cleocamino@yahoo.com.br
[M=44,79; DP=19,56 para a primeira oca- Pablo Queiroz - UFPB
sião, M=48,21; DP=18,01 para a segunda pablooliver5@gmail.com
ocasião, t(32)=-2,96, p=0,006]. Além dis- Julian Bruno Santos - UFPB
so, nenhum progresso foi encontrado na ledjulian@hotmail.com
tarefa de escrita. A julgar pelos nossos re- Lívia Braga - UFPB
sultados, é pouco provável que o fracasso liviabsc@hotmail.com
de programas de alfabetização tardia no
Brasil possa ser atribuído a dificuldades A empatia é uma das habilidades mais
fonológicas apresentadas pelos seus par- valorizadas por todas as pessoas que cul-
ticipantes. Tampouco encontramos qual- tivam valores humanitários, sendo impor-
quer evidência de que a idade avançada tante para o desenvolvimento do julga-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
à situação que envolvia uma pessoa ne- sofrimentos nelas e principalmente neles
cessitada, destacou-se Ajudar o próximo/ próprios. É difícil compreender como este
Solidariedade (54,21% das respostas). Na último tipo recomendação promoveria
última situação estudada, pessoa pas- uma transformação de afetos – da angús-
sando por um sofrimento não merecido, tia empática para angústia simpática – e,
destacaram-se Ser generoso e Não fazer não acorrendo esta transformação, o indi-
nada errado (21,84% e 20,69% das res- víduo não desenvolveria a sua capacidade
postas, respectivamente). O fato das mães empática. Salienta-se que, segundo Hoff-
terem utilizado mais recomendações man (1975a,1982,1990), sem essa transi-
do que explicações mostra que elas não ção não haveria a possibilidade do desen-
deixaram claro para os seus filho porque volvimento de motivações altruístas.
determinados sentimentos podem ser ex-
perimentados e, neste sentido, não contri-
buem como deveriam para o processo de LT03-1416 - ENSINO DO TEMA
internalização moral. O fato do número de TRANSVERSAL ÉTICA NO ENSINO MÉDIO
explicações ter ultrapassado o das reco-
Nelson Pedro-Silva - UNESP
mendações na situação que envolvia uma
nelsonp1@terra.com.br
pessoa passando por um sofrimento não
Camila Mendes Prado - UNESP
merecido pode ter ocorrido porque essa
camilamprado@hotmail.com
situação suscita muitos sentimentos no
Camila Rippi Moreno - UNESP
observador e maiores descentrações cog-
cah.moreno@gmail.com
nitivas (Hoffman,1990,2003). As recomen-
Fernanda Estevaletto Macedo - UNESP
dações das mães para motivarem os filhos
fernanda.estevaletto@hotmail.com
a ajudar o próximo e a ser solidários com
a vítima demonstraram uma mobilização Financiamento: UNESP
afetiva das participantes para indicar aos
filhos como estes devem aliviar os senti- Nas últimas décadas, aumentou as quei-
mentos experimentados. A fala das mães xas dos docentes no tocante à violência
para os filhos não maltratarem o outro ao escolar. Ao pesquisar 13 mil alunos de
se referirem a uma situação de uma pes- escolas públicas brasileiras, por exemplo,
soa agredindo outra aparentemente de- Abramovay e colaboradores (2006) verifi-
monstra uma preocupação com o outro, caram que cerca de 50% dos docentes já
mas, considera-se que nesta verbalização tinham sido vítimas de violência discente.
há também uma preocupação nas conse- Em outra pesquisa, estudiosos concluíram
qüências em que um ato agressivo pode que 40% dos docentes consideraram as
trazer aos filhos das participantes. Julga- gangues de jovens e as drogas os maiores
-se que a recomendação dada pelas mães problemas escolares; 50% dos alunos têm
aos filhos para serem generosos ao verem o aprendizado prejudicado pela violência
uma pessoa passando por sofrimento escolar e metade dos professores pau-
não merecido incentivaria a expressão da listanos já relatou ameaças de agressão.
angústia, mas a segunda recomendação Para Fante (2005, p.9-10), a violência es-
dada para não fazerem nada errado pre- colar refere-se a “um conjunto de atitu-
veniria o filho para que este não causasse des agressivas, intencionais e repetitivas
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
que ocorrem sem motivação evidente alunos e sua influência na violência esco-
[...], adotado por um ou mais indivíduos lar; pouca importância é dada à discussão
contra outro(s), causando dor, angústia e da moral brasileira e o trabalho sobre a
sofrimento”. Produziu, na maioria de suas ética é considerado “deficiente”. O obje-
vítimas, estresse, depressão, baixa auto- tivo principal da pesquisa foi desenvolver
estima, reduzida capacidade de autoafir- procedimentos para o ensino da ética.
mação e de autoexpressão, prejudicando Secundários: discutir, tendo como pers-
o processo de ensino-aprendizagem e de pectiva a psicologia moral e ética, temas
socialização. Para Pedro-Silva (2011), tal relacionados ao interesse dos adolescen-
fenômeno é produto de personalidades tes; oferecer espaço de escuta analítica
imaturas (elas só pensam em si mesmas (Kupfer, 2004); contribuir para a reflexão
e buscam a satisfação imediata), passando sobre a moral vigente; auxiliar no desen-
as diferenças a serem vistas como obje- volvimento ético; contribuir para a melho-
tos a serem destruídos. Há outras causas ria do aprendizado escolar e incentivar os
e explicações para o bullying. Entre eles: membros da escola à concretização dos
divulgação distorcida do saber psicológi- valores básicos previstos na Lei. Participa-
co; valorização de uma sociedade centra- ram da pesquisa 26 alunos do Ensino Mé-
da nos desejos infanto-juvenis (La Taille, dio entre 15 e 17 anos, ambos os sexos,
1998a); situação política e econômica do nível sócio-econômico D, matriculados
país (Costa, 1989; Silva, 2004); o fato de a numa escola pública paulistana. Foram
escola não ser mais vista como templo do realizadas 20 oficinas, realizadas sema-
saber (Bruckner, 1997); desvalorização do nalmente (duração de 50’), com dois exe-
conhecimento (La Taille, 2006); ausência cutores e oito alunos. Nestas, abordamos
da vergonha por apresentar condutas inci- vários temas (diversidade, escola, grupos
vilizadas (La Taille, 1996) e dificuldade dos urbanos, beleza, preconceito, sexualidade
docentes em lidarem com as novas políti- e bullying). Tais assuntos foram propostos
cas educacionais. Não se pode desprezar pelo pesquisador e/ou pelos próprios su-
que os alunos estão agindo segundo for- jeitos. Levantamos os temas de interesse
mas de glória (beleza, status social e finan- dos sujeitos e as representações acerca de
ceiro), são consumistas, individualistas e tais assuntos; depois, estabelecemos vín-
hedonistas (La Taille, 2009). Há também culo e apresentamos conteúdo sistemati-
os estudos de Costa (1988, 1989, 1999). zado com o fim de informá-los e, principal-
Estes apontam que, diante da impotência mente, de que tais saberes funcionassem
e a impossibilidade de mudança do mo- como elementos “disparadores” de novas
delo social instituído, além de serem mal- discussões. Exemplo: a “normalidade” era
-socializados e frágeis psiquicamente, os citada e compreendida como sinônimo
jovens ativam mecanismos narcisistas, a de “natural”. Buscamos demonstrar, pelo
ponto de desconsiderarem valores morais conceito de curva normal (Estatística), que
e a serem descrentes quanto à lei na solu- a normalidade é uma construção (propor-
ção de conflitos. Em síntese: não há con- ção matemática). Portanto, o normal esta-
senso sobre os motivos que estimulam a belecido hoje pode ter sido compreendido
produção de tais fatos; há a ausência de e/ou pode vir a sê-lo em outras ocasiões
estudos científicos sobre os valores dos como anormal. Obtidas as informações,
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
mas atinentes aos interesses dos alunos, abstração e descentração, totalizando seis
tendo como parâmetro a perspectiva da estágios). Para esses autores, o princípio
psicologia das virtudes e os conteúdos da justiça é o fundamento do juízo moral.
curriculares; funcionaram como espaço Neste ponto, Carol Gilligan (1982) discor-
de escuta analítica; auxiliaram na melho- da, defendendo haver duas orientações
ria das relações escolares e contribuiram para tratar os assuntos morais: a masculi-
para o desenvolvimento da noção de soli- na, centrada nas ideias de justiça, direitos
dariedade e de respeito às diferenças. e deveres (“ética da justiça”); e a femini-
na, centrada nas responsabilidades e cui-
Palavras-chave: ensino médio, psicologia das dados aos outros (“ética do cuidado”). As
virtudes, ética. teorias de Piaget e Kohlberg conduzem à
Contato: Nelson Pedro-Silva, UNESP, ideia de que todas as virtudes estão liga-
nelsonp1@terra.com.br das à justiça. Esta seria, para os filósofos
e estudiosos da moral, a mais importante
das virtudes, e a única necessária. Con-
LT01-699 - VALORES RELIGIOSOS OU tudo, Lima (2000) aponta que, na forma-
VALORES MORAIS: UM ESTUDO SOBRE ção do senso de justiça, estão presentes
A VIRTUDE DA GENEROSIDADE À LUZ DE outras virtudes, inclusive a generosidade.
INTERPRETAÇÕES DE HISTÓRIAS Spinoza, segundo Comte-Sponville (1998),
define a generosidade como dar algo que
Sarah Izbicki - IPUSP faltará para quem está dando, não sendo
sarahizbicki@yahoo.com.br) a atribuição ao outro o que é seu direito
Maria Thereza Costa Coelho de Souza - PUSP (como o faz a justiça). Para Comte-Sponvil-
mtdesouza@usp.br) le (1999), a justiça seria mais racional e a
Financiamento: FAPESP generosidade, mais afetiva. Para Gilligan, a
generosidade é um importante elemento
Os escritos de Piaget sobre a construção para a “ética do cuidado”: cuidar do outro
e a qualidade das crenças infantis, as ca- nos convocaria a dar mais do que lhe é de
racterísticas da evolução cognitiva e a cor- direito, portanto, a sermos generosos. Se-
respondência entre aspectos cognitivos e gundo Vázquez (1998), a religião se carac-
afetivos do desenvolvimento, bem como a teriza pelo sentimento de dependência do
entrevista clínica, por ele proposta (Piaget, homem a Deus e pela garantia de salvação
1926), inspiram pesquisas que fazem uso dos males terrenos, entendendo-se Deus
de contos de fada como instrumento para como verdadeiro sujeito e negando-se a
estudar o desenvolvimento infantil. Para autonomia do homem. Vázquez (1998)
compreender as representações infantis defende que se confirma historicamente
da generosidade em sua relação com os que a religião inclui certa moral, pois uma
aspectos morais, deve-se considerar te- moral de inspiração religiosa sempre exis-
orizações de Piaget (1932) sobre a mora- tiu, com a ressalva de que a moral cristã
lidade (passagem da heteronomia para a estava a serviço dos interesses da classe
autonomia) e Kohlberg (1981) (passagem social dominante. Porém, a moral não se-
de estágios mais concretos e egocêntri- ria originada a partir da religião, mesmo
cos, para níveis de maior complexidade, porque é anterior a ela.
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
Fowler (1992) foi um dos autores que es- as relacionadas com a ideia da recompen-
tudou o desenvolvimento das valorizações sa (apresentadas somente por meninas)
religiosas e crenças, estabelecendo, para apresentam maior ligação com a questão
cada intervalo de idade – considerando da justiça. Quanto à coerência interna, as
as características do pensamento e os meninas tenderam a dar mais respostas
processos imaginativos correspondentes coerentes (julgam boa a atitude generosa
-, aquilo que denomina “estágios da fé” da personagem e afirmam que fariam o
(fé intuitivo-projetiva, fé mítico-literal, fé mesmo) e, os meninos, a dar mais respos-
sintético-convencional, fé individuativo- tas incoerentes (julgam boa, mas negam
-reflexiva, fé conjuntiva e, por fim, fé uni- que fariam o mesmo). Possivelmente, os
versalizante). meninos mostram que não fariam o mes-
mo, por não apresentarem necessidade
No contexto da literatura apresentada,
buscou-se investigar relações entre va- de preservar relacionamentos – o que
lores religiosos e morais. Como segundo ocorreria caso agissem generosamente -,
objetivo, foi realizada uma comparação confirmando a ideia de Gilligan de que a
entre os dois sexos, com relação à concep- masculinidade se caracteriza pela separa-
ção de generosidade. Para isso, participa- ção e a feminilidade, pelo apego. Quanto
ram da pesquisa 17 meninas e 13 meninos às relações entre valores religiosos e mo-
de uma escola pública, com idades entre rais, mais crianças defenderam a genero-
oito e 11 anos. Utilizou-se o método clíni- sidade por ser boa para os outros e apre-
co piagetiano para estudar as representa- sentaram respostas com religião explícita,
ções relacionadas à generosidade da per- seguidas das que defenderam a genero-
sonagem do conto “As moedas-estrela”, sidade do mesmo modo e apresentaram
dos Irmãos Grimm, segundo um protocolo respostas com ideia de religião implícita
previamente elaborado, a partir do qual, e das que não souberam justificar porque
conforme o participante respondia, novas a generosidade foi boa e apresentaram
perguntas eram feitas, com o intuito de respostas com ideia de religião explícita.
esclarecer pontos obscuros e acompanhar Como as crianças que trouxeram respos-
seu pensamento. As respostas obtidas fo- tas classificadas como “religião implícita”
ram agrupadas de acordo com as seme- apresentaram valores religiosos mais con-
lhanças dos argumentos, por questão do solidados, seria esperado que mais crian-
protocolo, sexo e idade do participante. ças que defenderam a generosidade por
Os dados foram submetidos a uma análise ser boa para os outros apresentassem res-
estatística. Com relação às diferenças en- postas com ideia de religião implícita, pois
contradas entre os sexos quanto à razão a ideia do “fazer o bem” seria um dos va-
pela qual a atitude generosa da perso- lores implícitos nos conteúdos religiosos
nagem foi vista como positiva, houve, na transmitidos diretamente ao indivíduo.
amostra estudada, uma tendência à in- Entretanto, a referência direta do conto
versão das características salientadas por à generosidade da personagem e à figura
Gilligan, pois as respostas relacionadas de Deus pode ter contribuído para as res-
com a ideia do fazer o bem (apresenta- postas mais frequentes. Com referência
das, na amostra, mais por meninos do que ao cruzamento dos dados relativos aos as-
meninas) se referem mais ao cuidado, e pectos religiosos e à coerência interna, a
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
frequência maior de crianças com respos- com transformações das estruturas de ra-
tas classificadas como incoerentes e com ciocínios que implicam em uma constru-
religião explícita que a de crianças classifi- ção progressiva. Existem cinco estágios
cadas do mesmo modo em relação aos as- do julgamento religioso, que podem ser
pectos morais, mas com religião implícita, divididos em três níveis de pensamento re-
mostrou o quanto os valores religiosos das ligioso, no qual os dois primeiros estágios
crianças com respostas “explícitas” ainda podem ser considerados elementares, o
não são totalmente consolidados por elas, terceiro estágio intermediário e os dois úl-
enquanto que essa consolidação ocorreu timos estágios avançados. As pessoas que
com maior intensidade nas entrevistadas se encontram no primeiro estágio consi-
que trouxeram respostas “implícitas”. A deram que Deus interfere diretamente na
consolidação do valor religioso, que per- vida das pessoas e no mundo. No segundo
mite com que a criança compreenda seus estágio existe uma reciprocidade entre os
valores implícitos, tornaria o indivíduo seres humanos e Deus, na qual as ações
apto a julgar como positiva a ação da per- humanas podem interferir nos desígnios
sonagem e, também, assumir para si sua divinos. O terceiro estágio é a autonomia
atitude. Os dados parecem corroborar a entre os seres humanos e Deus, é a sepa-
relação positiva existente entre os aspec- ração entre as duas esferas. O quarto es-
tos morais e os aspectos religiosos, refe- tágio é um retorno do divino no mundo e
rentes a valores consolidados da religião. na vida das pessoas, existe uma liberdade
de ação concedida por Deus. No quinto e
Palavras-chave: valores religiosos, valores último estágio existe uma total união entre
morais, interpretações de histórias. Deus e os seres humanos. Para investigar
Contato: Sarah Izbicki, Instituto de Psicologia o julgamento religioso, Oser e Gmunder
da USP, sarahizbicki@yahoo.com.br elaboraram uma entrevista semiestrutu-
rada, contendo dilemas hipotéticos, que
foi traduzida e adaptada para a língua
LT01-966 – VALIDAÇÃO DA ESCALA DO portuguesa pela primeira autora deste tra-
JULGAMENTO RELIGIOSO balho. Essa entrevista é extensa e requer
Aurora Camboim - UFPB bastante tempo e atenção dos entrevista-
auroraclal@yahoo.com.br dos. Para facilitar a aplicação e correção
Cleonice Camino - UFPB na investigação do julgamento religioso,
cleocamino@yahoo.com.br acreditou-se ser conveniente, a partir des-
Financiamento: CAPES sa entrevista e das respostas a ela, cons-
truir uma escala com um formato de teste
O Julgamento religioso é definido por Oser objetivo. A construção e validação da Es-
e Gmünder (1991) como a maneira pela cala do Julgamento Religioso (EJR) cons-
qual as pessoas justificam seu relacio- tituem o objetivo da presente pesquisa.
namento com Deus, principalmente, em Essa pesquisa foi realizada em duas fases.
situações difíceis da vida. Esses autores A primeira teve como objetivo a constru-
elaboraram uma sequência de estágios ção e validação de conteúdo da EJR e a se-
referentes à evolução desse tipo de pen- gunda teve como objetivo a validação de
samento, que ocorre de forma organizada construto, para verificar os coeficientes de
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tigación realizada por una cierta vanguar- temas dinámicos no lineales), y que han
dia en Latinoamérica, entiende y asimila permitido abordar los naturaleza cam-
más rápidamente los rápidos cambios que biante de itinerarios y los patrones subya-
la psicología del desarrollo requiere, aun- centes a dichos itinerarios. Una de esas
que lo hace aún de manera bastante silen- técnicas, es la de series temporales de los
ciosa. Esta charla pretende recuperar esos mínimos y máximos (van Dick & van Geert,
planteamientos a la luz de algunos núcleos 2002). Ella gráfica la trayectoria de los de-
conceptuales del desarrollo, y analizar su sempeños de un sujeto, y de esta manera
relación con los abordajes metodológicos. visualiza el tiempo serial a partir de curvas
Desde la revisión de algunas herramien- de los itinerarios del sujeto. La condición
tas metodológicas se podrá mostrar que para su aplicación es un número amplio
la no linealidad del desarrollo de la men- de observaciones sucesivas en situaciones
te resulta ineludible, por ejemplos y por idénticas, establecidas dentro de un lapso
lo tanto esa vieja premisa según la cual, determinado de tiempo. El equipo de van
el desarrollo depende de la manera cómo Geert ha introducido éstas técnicas de se-
lo abordemos sigue presente en la agen- ries temporales en estudios longitudinales
da de trabajo. En primer lugar, se toman (van Dijk & Van Geert, 2007). A partir de
versiones de los métodos microgenéticos esos trabajos, otros estudios usan esas téc-
exitosos que han producido un amplio nú- nicas en períodos más cortos y más centra-
mero de estudios y que provienen muchas dos en funcionamientos a lo largo de tres o
veces de autores con linajes muy diferen- cuatro meses con dos intervenciones men-
ciados (Flynn & Siegler, 2007; Miller & Coy- suales y con cuatro observaciones por re-
le, 1999; Siegler, 2004, 2002; Adolph, Ro- gistro (Guerrero & Puche-Navarro, 2009).
binson, Young, & Gil Alvarez, 2008; Lavelli, En tercer lugar se toma técnicas como el
Pantoja, Hsu, Messinger & Fogel, 2005; state space grid (Hollenstein, & Lewis,
Puche Navarro & Ossa, 2006). Se trata de 2006; Hollenstein, & Lewis, 2009; Lewis,
mostrar como el método micrognenético 2004; 2006). Con esta técnica se trata de
esta unido conceptualmente al cambio y a “rastrear las trayectorias de emergencia
la variabilidad. Definido como la capacidad de patrones de los fenómenos en estu-
abordar minuciosamente la manera como dio (personalidad, emociones, interacción
se manifiesta el cambio cognitivo en una madre-niño) para mostrar las transiciones
secuencia de conductas, el método micro- en los desempeños a través del tiempo
genético implica registrar un gran número (Lewis, Lamey & Douglas, 1999; Lewis,
de conductas en una secuencia corta de 2000a; Lamey, Hollenstein, Lewis & Granic,
tiempo. Se trata de cubrir el mayor núme- 2004; Hollenstein & Lewis 2006)” (De la
ro de acciones que tienen lugar antes, en Rosa, Rodriguez & Ossa. 2009 p.33-34). A
y después de que ocurre el cambio. Si se partir del espacio de estado y atractor, dos
acepta que “la esencia del desarrollo es el principios de los sistemas dinámicos, se
cambio” (Siegler & Crowley, 1991 p. 606), identifican muchos de los posibles estados
entonces la pertinencia de esta técnica de un sistema en momentos específicos.
resulta definitiva. En segundo término se La otra cosa es trata de encontrar que las
revisan otros métodos de naturaleza más tendencias de esas trayectorias correspon-
matemática provenientes de los SDNL (sis- den a un atractor. En la conclusión se hace
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
introdução do kit de objetos/brinquedos filme foi elaborado a partir das ações das
promove a Exploração Lúdica e esta se crianças, no ambiente de berçário, com a
constitui em um recurso fundamental de introdução do kit de objetos /brinquedos.
manifestação e desenvolvimento da Afe- Este filme mostra as ações de Exploração
tividade das crianças pequenas. A partir Lúdica e manifestações afetivas das crian-
desta breve apresentação da Tese preten- ças quando lhes foram oferecidos os kit’s
de-se, nessa comunicação oral, apresen- de objetos/brinquedos, compostos de
tar os dois primeiros filmes que mostram bolas, livros, chocalhos, caixas de formas,
as ações das crianças sem e com o Kit de jogo de empilhe, mordedores. A maioria
objetos/brinquedos e os resultados ob- das cenas evidencia crianças explorando
tidos em cada um deles, como também os objetos/brinquedo, primeiramente,
uma análise comparativa das ações das através do olhar, quando os identificam
crianças nessas duas situações. No pri- e os escolhem. Em seguida observam-se
meiro filme, que mostra o que as crianças a intensificação das ações e as manifes-
fazem no ambiente de berçário quando tações afetivas das formas mais distintas:
não estão com os objetos/brinquedos, pegar, morder, chupar, arrancar, dispu-
definidas a partir das ações: mostrar os tar, jogar, balançar, sorrir, apertar, segu-
cuidados básicos das professoras com as rar, agarrar, encaixar, assentar, encontrar
crianças e cenas que retratam a existência orifícios, empilhar, manipular livremen-
de brinquedos nos berçários das creches, te, solicitar ajuda, interagir com o outro,
compatíveis com o desenvolvimento das chorar, balbuciar, falar, irritar-se, criar
crianças, mas que permanecem sem uso, histórias, derrubar, imitar. Não há cenas
seja porque as professoras não os dispo- de crianças isoladas sem exploração dos
nibilizam para as crianças (visível no fato objetos/brinquedos e em todas as cenas
de alguns estarem ainda dentro das em- a Exploração Lúdica está presente nas
balagens, e no caso dos triciclos as rodas ações das crianças, assim como a Afetivi-
lisas e brilhantes demonstram não uso) dade também pode ser observada tanto
seja porque estão guardados em lugares nas formas de Afetos Perceptivos quan-
altos, inacessíveis às crianças. Observa-se to Intencional. Os dados apontam que,
neste filme que a maioria das cenas re- na ausência do kit, em apenas 59% das
trata crianças dispersas pela sala, ou sozi- cenas há Afeto Perceptivo contra 100%
nhas em algum canto, ou em seus berços, com a presença dele. No caso do Afeto
acordadas. Enquanto algumas crianças Intencional a ausência do kit torna-o pre-
exploram objetos do berçário que as colo- sente apenas em 21% das cenas contra
cam em situação de risco, como cadeira, 81% quando de sua presença. Pode-se
porta, portão, saco plástico e até mesmo perceber que há um ganho qualitativo
balões, outras carregam de um lado para no desenvolvimento da afetividade com
outro, bolas, chocalho de garrafa pet e bo- a presença do kit, uma vez que as mani-
neca. Algumas exploram o próprio corpo, festações afetivas das crianças são mais
interagem entre si e com as professoras. intencionais que perceptivas. É impor-
Poucas estão sorrindo e alegres. Dormem, tante ressaltar que no filme com o Kit de
choram e recebem os cuidados básicos objetos/brinquedos, nas primeiras cenas,
(banho, alimentação, higiene). O segundo as crianças emitem poucos sons, durante
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
sua exploração. Já do meio para o fim do moral. O campo de pesquisa com jogos
filme, pode-se observar um aumento na comporta, atualmente, temas partidários
variedade de sons emitidos pelas crian- da Antropologia, Filosofia, Sociologia e, é
ças, assim como também produzidos claro, também da Psicologia. Com relação
pelos próprios brinquedos, enquanto as a esta última, vemos importantes con-
crianças os exploram. Outro aspecto a ser tribuições do uso do jogo para o estudo
ressaltado é quanto à frequência dos kit’s de aspectos cognitivos, afetivos, sociais,
no ambiente dos berçários. Isto é, com morais, simbólicos, comportamentais,
frequência maior dos objetos/brinquedos entre outros. Neste contexto, o jogo é
dos kit’s as crianças se interagiam mais geralmente estudado em termos de suas
umas com as outras e com as professoras. influências ou contribuições para diversos
A frequência também mostrou que nas fenômenos, como, por exemplo, a repre-
últimas cenas as crianças disputavam me- sentação mental, a linguagem, a aprendi-
nos os objetos/brinquedos e brincavam zagem, sem contar a vasta gama de no-
mais próximas umas das outras. Diante ções e conceitos aos quais são, geralmen-
do exposto pode-se concluir que a Explo- te, associados. A moralidade, assim como
ração lúdica se coloca como elemento in- o jogo, vem sendo historicamente estuda-
termediário, primordial e fundante, pois da como aspecto inerente à humanidade
com ela a criança se estrutura, edifica-se e é também alvo do interesse de ciências
na sua condição de sujeito e protagonista diversas. Assim, enquanto algumas cor-
do seu desenvolvimento, não apenas in- rentes filosóficas buscam teorizar sobre
telectual, mas afetivo. os valores e princípios morais universais,
os sociólogos, geralmente, enfatizam o
Palavras-chave: afetividade; brincar; criança pensamento moral em caráter coletivo,
pequena. ficando a cargo de algumas vertentes da
Contato: Paula de Souza Birchal - Pontifícia Psicologia uma preocupação maior em re-
Universidade Católica de Minas Gerais; lação ao desenvolvimento da consciência
pbirchal@pucminas.br moral individual. Neste grupo, daremos
destaque a Epistemologia Genética de
Jean Piaget, na qual é possível encon-
LT01-1288 – A REGRA EM JOGO: trar importantes teorizações a respeito
ESTUDANDO AS CONCEPÇÕES INFANTIS do jogo e da moralidade, que nortearão
SOBRE A REGRA DO JOGO E A REGRA o presente trabalho.Acreditando que a
MORAL essência da moral deva ser estudada a
Ana Paula Sthel Caiado - USP partir do respeito que os indivíduos ad-
apcaiado@usp.br quirem pelas regras, e que o jogo possui a
Maria Thereza Costa Coelho de Souza - USP peculiaridade de reunir regras estabeleci-
mtdesouza@usp.br das nas relações entre crianças exclusiva-
Financiamento: FAPESP mente, Piaget (1932/1994) buscou inves-
tigar as afirmações e ideias destas sobre
Trata-se de um estudo sobre os julgamen- as regras do jogo de bolinha de gude,
tos emitidos por crianças a respeito das analisando não só como elas as pratica-
regras em contexto de jogo e contexto vam como também suas considerações a
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
respeito de sua origem e obrigatorieda- que lhe cabe nesta proposta, o presente
de, ao que denominou consciência das trabalho reúne os resultados referentes à
regras. Com essa pesquisa, demonstrou realização de entrevistas, utilizando-se o
como o jogo muscular e egocêntrico tor- método clínico piagetiano, com 08 crian-
na-se social, defendendo-o como espaço ças, entre 07 e 09 anos, nas quais foram
de discussão e reciprocidade, no qual os investigadas suas concepções relativas
indivíduos, considerando-se como iguais, aosquatro aspectos da moralidade supra-
poderão controlar-se mutuamente e atin- citados. A entrevista consistiu em quatro
gir, assim, o estado cooperativo, condição pares de historias-dilemas nas quais eram
primeira para o desenvolvimento do juízo contrapostas situações de jogo com situ-
moral autônomo. Desta maneira, julga- ações do cotidiano envolvendo preceitos
-se pertinente ressaltar o enfoque dado morais. Esta foi gravada e posteriormen-
ao jogo de regras como espaço de trocas te transcrita pela própria pesquisadora.
interindividuais igualitárias e estas como Foram definidos critérios de análise de
importantes ao desenvolvimento moral, forma a avaliar se as respostas emitidas
sendo a regra um importante ponto de pelas crianças tendiam mais para a auto-
intersecção entre tais aspectos. Concebi- nomia, para a heteronomia, se denota-
da por Piaget (1932/1994) como fator es- vam certa transição ou ainda se apresen-
sencial da moralidade e estudada por ele tavam contradição. Foi também analisado
como uma das estruturas do jogo – em se era mantida coerência de respostas
conjunto com o exercício e o símbolo – a entre a situação de jogo e a situação co-
regra funciona como regulador das trocas tidiana descritas nas estórias-dilema. A
sociais, determinando (ou restabelecen- este respeito cabe uma breve referência
do) seu equilíbrio, encontra-se nela um à forma como o desenvolvimento moral
sentido de obrigatoriedade que denota é tratado na abordagem piagetiana. Nela
a existência de relações sociais (Piaget, são concebidas duas formas possíveis de
1965/1973).As considerações teóricas legitimação das regras e valores morais,
apresentadas, resumidamente até então, uma a partir da referência a figuras de
embasam este trabalho, que teve como autoridade constituindo-se, portanto he-
objetivo avaliar os juízos dos sujeitos com terônoma, e outra baseada na autonomia
relação às regras do jogo e regras morais, da consciência, na qual o sujeito conse-
tomando como referência as noções de gue prescindir de interferências externas.
justiça (distributiva ou retributiva), de de- Sendo a primeira geralmente, prevalente
ver (igualdade ou autoridade), de sanção até os sete anos, momento em que ocor-
(expiatória ou recíproca) e de responsabi- re o deslocamento da postura egocêntri-
lidade (objetiva ou subjetiva). Tal propó- ca para a capacidade de coordenar dife-
sito é parte de um espectro mais amplo rentes pontos de vista, condição inerente
que busca analisar, por meio do jogo de ao exercício cooperativo e à construção
regras, diferentes maneiras das crianças de juízos morais mais autônomos. Os
praticarem, assimilarem e respeitarem a resultados demonstram conformidade
regra, buscando com isso abordar aspec- com a teoria no que diz respeito aos ju-
tos do desenvolvimento moral infantil, ízos morais emitidos, ficando as crianças
segundo a teoria piagetiana. Para a parte mais novas responsáveis, em sua maioria,
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
por aqueles que denotavam concepções vídeo é uma produção da Casa Redonda
heterônomas. Quanto às comparações Centro de Estudos, instituição localizada
entre as situações de jogo e situações em São Paulo, que atende a crianças en-
cotidianas, verificou-se uma supremacia tre dois anos e meio e sete anos. O vídeo
das segundas em relação às primeiras, ou é composto por cenas em que as crianças,
seja, houve diferenças no julgamento de ao longo das diferentes estações do ano
grande parte das crianças, no sentido de e quase sempre ao ar livre, brincam com
tomarem as situações cotidianas que en- os quatro elementos da natureza: terra,
volviam preceitos morais como mais im- água, fogo e ar (Cruz, 2005). Estimulados
portantes ou os erros delas decorrentes a falar sobre o vídeo, os alunos reconhe-
como mais graves quando comparadas às ceram o ambiente retratado como um
situações de jogo. Uma possível ponde- espaço de aprendizagem, propiciador de
ração a este respeito pode ser levantada contato com a natureza e em que, sem a
tomando em conta que as situações coti- intervenção direta de adultos, as crianças
dianas descreviam vez ou outra, a parti- podem explorar livremente os recursos
cipação de um adulto. Desta forma, são que encontram. Segundo eles, Piaget con-
evidenciados alguns fatores presentes sideraria esse espaço “ideal”, já que nele
nas concepções infantis sobre a regra em as crianças dispõem de liberdade para
diferentes contextos, assim como suas agir e é pela ação que a criança organiza
nuances e transformações. seus pensamentos. Alguns alunos identi-
ficaram as ações realizadas pelas crianças
Palavras-chave: jogos de regras; do vídeo como possibilidade de constru-
desenvolvimento moral infantil; ção de novos esquemas e de experiência
epistemologia genética. de reflexão sobre temas abstratos, como
“Deus” e “criação do mundo”. As crianças
visualizadas, segundo os alunos, vivem o
LT01-1310 – A INFLUÊNCIA DA TEORIA estágio pré-operatório, apresentam pen-
PIAGETIANA SOBRE A PERCEPÇÃO DE samento animista e linguagem marcada
ESTUDANTES DO SEGUNDO SEMESTRE por monólogos coletivos. De fato, Piaget
DO CURSO DE PSICOLOGIA A RESPEITO (2006) identifica o estágio pré-operatório,
DO BRINCAR INFANTIL que localiza-se aproximadamente entre o
Juliana Lima de Araújo - UNIFOR terceiro e o oitavo ano de vida, como um
ju_lima_araujo@yahoo.com.br momento de grande evolução, quando a
Cristiane Amorim Martins - UNIFOR linguagem, recém adquirida, expande as
crisamorim@unifor.br possibilidades de socialização e, em uma
forma ainda egocêntrica, favorece a in-
Este trabalho relata a experiência de moni- teriorização da ação e o surgimento do
toria em que se investigou a percepção de pensamento intuitivo. No vídeo vemos
alunos do segundo semestre do curso de crianças em volta da fogueira, controlan-
psicologia a respeito do brincar infantil. A do as chamas ao movimentar o vento,
experiência relatada consiste na exibição manuseando velas, cozinhando em um
do vídeo “Brincando com os Elementos” e fogão improvisado que uma delas chama
posterior discussão sobre o mesmo. Este de “caldeirão de bruxa” (é importante
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
ressaltar que todas essas atividades são relativos às capacidades básicas de ler e
supervisionadas por um adulto e que a contar é hoje o principal meio de medir
criança só realiza aquilo que pode e con- a eficácia do ensino escolar. Certamente
segue). Lima (2003) nos fala da “idade do as crianças devem ser capazes de ler, es-
fogo”, comum ao período pré-operatório, crever e contar, mas a maioria das escolas
em que as crianças sentem-se especial- parece deixar em segundo plano o desen-
mente motivadas em explorar o fogo volvimento da sua autonomia intelectual
(com frequência envolvem-se longamen- e moral e a construção de conhecimentos
te em jogar objetos numa fogueira). O relacionados à questões cotidianas. Os
vídeo também nos mostra jogos simbó- estudos de Piaget trazem grande contri-
licos, os chamados faz-de-conta, em que buição à educação. Embora ele não tenha
as crianças agem através de um “como proposto uma metodologia de ensino,
se”. Este “como se” se caracteriza como sua teoria nos exige uma quebra de para-
símbolo lúdico: as crianças, por exemplo, digma na idéia tradicionalmente atribuída
brincam imitando barulhos de carros, api- de como o conhecimento é apreendido.
tos de trem, tiros, e, nesse contexto de É a partir de sua teoria sobre o desenvol-
fantasia, exercitam um pensamento mais vimento da cognição e da aquisição de
flexível do que aquele presente nas situa- conhecimento, que muitas intervenções
ções cotidianas. Essa experiência propicia são realizadas por psicólogos e pedago-
o desenvolvimento da competência para gos. Partindo da idéia de que toda pro-
pensar sobre coisas irreais (Bomtempo, posta educacional deve, inicialmente, se
2000). perguntar que tipo de homem se quer
Discutindo as brincadeiras mostradas no formar, a grande questão a se pensar, em
vídeo, questionamos, junto aos alunos, se uma educação influenciada pela teoria
as escolas costumam dar espaço à ação piagetiana, é como promover o desenvol-
espontânea da criança. Alguns menciona- vimento da autonomia intelectual e moral
ram o fato de muitas escolas, atualmente, das crianças. Deve haver uma mudança
permitirem às crianças a experimentação de paradigma à medida que se considera
através de “feiras de ciências” e uso de o conhecimento construído pelo aluno ao
laboratórios, mas consideraram raras as invés de transmitido pelo professor. Este
práticas pedagógicas que valorizam, real- deixa de ser entendido como o possuidor
mente, a brincadeira livre. Piaget (1990) do saber, passando a ser visto como aque-
ressalta o quanto o brincar é importante le que estimula o processo de aprendiza-
para o desenvolvimento infantil, já que, gem do aluno. É importante que na for-
dispondo de um pensamento marcada- mação do psicólogo, desde os primeiros
mente concreto, é através das suas ações semestres da graduação, se reflita sobre
que a criança pequena elabora uma com- as contribuições da psicologia na supe-
preensão sobre a realidade e também ex- ração dos desafios vividos no campo da
pressa suas idéias. Tem-se alcançado mui- educação.
tos progressos teóricos no campo da edu-
cação, mas infelizmente a prática não tem Palavras-chave: teoria piagetiana, brincadeira,
conseguido acompanhar esses avanços. educação.
O desempenho em testes padronizados
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pode ser suficiente desejá-lo ou pedir a de que as funções vitais findam com a
Deus e a função do pai aparece restringida morte e a universalidade, significa dizer
aos cuidados da mãe e do bebê. A respei- que a morte serve para todos e que uma
to do nascimento, a crença predominante hora ou outra irá ocorrer (Torres, 1999).
é a do médico que corta a barriga e tira o Determinado esse conceitos, é possível
bebê, omitindo o nascimento pela vagina. compreender o fato de que informar à
Com os resultados da pesquisa espera-se criança que algum ente querido faleceu
aprofundar a compreensão sobre a cons- não é uma tarefa nada fácil. O adulto
trução do conhecimento das crianças so- tende a adiar esse momento por algum
bre a fecundação e o nascimento, e avaliar tempo, acreditando que desta forma es-
a pertinência do diálogo entre conceitos tará protegendo-a da dor do luto e ameni-
piagetianos e freudianos para estudar as zando seu sofrimento, além de que, falar
particularidades afetivas e cognitivas do sobre isso fará com que apareçam senti-
desenvolvimento infantil. mentos difíceis de lidar e que confirmam
a realidade vivida (Bolwby, 1985; Kovács,
Palavras-chave: nascimento e fecundação; 1999). São várias as explicações que pos-
psicogênese piagetiana; psicanálise. sivelmente são dadas aos pequenos: “a
Contato: Mariana Inés Garbarino (IP/USP) de que o pai ou a mãe foi viajar, ou talvez
marianagarbarino@usp.br que foi transferido para outro hospital”
(Bolwby, 1985, p. 283); a de que o ente
querido foi levado para o céu, o que leva o
LT01 – 1025 – LUTO NA INFÂNCIA: UMA menor a ficar confuso, achando que o céu
VISÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM é apenas um lugar distante e que a vol-
Camilla Ramos Medalane Cravinho - UVV ta irá acontecer mais cedo ou mais tarde.
camillamedalane@yahoo.com.br Também há algumas explicações relacio-
Claudia Patrocinio Pedroza Canal - UVV nadas a pessoas mais velhas, como, dizer
claudia.canal@uvv.br que estas foram dormir; porém, a criança
não entende de forma conotativa e acaba
Compreender a maneira como a crian- acreditando que o simples fato de ador-
ça hospitalizada vivencia o luto de outra mecer pode ser algo arriscado (Bolwby,
criança no hospital é de grande relevân- 1985). Segundo Brazelton (1994), é im-
cia, pois a partir disso é possível descobrir portante que os pais compartilhem seus
estratégias que fundamentem o programa sentimentos relacionados ao luto com
de intervenção do profissional da psicolo- os filhos. Apesar destes terem uma ideia
gia. Para entender como a criança desen- primitiva da morte, são capazes de iden-
volve o conceito de morte, foram identi- tificar os sentimentos de tristeza a partir
ficados três componentes fundamentais das expressões faciais (Harris, 1996). En-
que a caracterizam: irreversibilidade, não tão, com a transmissão do sofrimento do
funcionalidade e universalidade. Sendo adulto, a própria criança também será ca-
que a irreversibilidade refere-se ao fato paz de dividir suas emoções e se sentirá
de que algo com vida, se morrer não há mais segura e aliviada em relação a essa
a possibilidade voltar a viver; a não fun- questão que é inerente à vida (Brazel-
cionalidade diz respeito à compreensão ton, 1994; Kovács, 1999). Bolwby (1982)
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afirma também que, assim como para os esclarecido. A identidade dos participan-
adultos, as crianças necessitam do supor- tes será mantida em sigilo e a divulgação
te de alguém próximo para superar uma dos dados será feita somente por meio
perda. Dessa forma, será capaz de se reor- de nomes fictícios. Os participantes tam-
ganizar internamente e conseguirá aceitar bém poderão retirar seu consentimento
a morte como algo permanente, universal para participação na pesquisa a qualquer
e irreversível. Além do que foi citado, pes- momento de realização da mesma, sem
quisas realizadas por Almeida (2005), re- prejuízo para os mesmo. A entrevista não
velam que o brincar terapêutico também será realizada com as crianças devido à
pode ser uma forma de enfrentar a morte questão ética, prevista nessa mesma re-
e o luto, pois através dele a criança é ca- solução, de que o risco de prejuízo para
paz de representar simbolicamente essa a criança de falar sobre conteúdos rela-
situação dolorosa. Sendo assim, sabendo- tivos ao luto estando numa situação de
-se da dificuldade de se perder um ente hospitalização poder ser maior do que os
querido, a pesquisa tem como objetivo benefícios previstos para o campo cientí-
identificar o enfrentamento da morte por fico. Finalmente, em relação aos resulta-
crianças hospitalizadas, a partir da visão dos, pretende-se identificar, por meio da
da equipe de enfermagem de um hospi- equipe da enfermagem, a maneira como
tal da rede pública da Grande Vitória/ES. as crianças vivenciam o luto. Dessa forma
A pesquisa contará com 10 profissionais será possível descobrir estratégias que
da equipe de enfermagem (enfermeiros, fundamentem o programa de intervenção
auxiliares e técnicos de enfermagem), de do profissional da psicologia e obter res-
ambos os sexos. Será realizada uma en- postas que agreguem conhecimento para
trevista com duração aproximada de 20 a área científica.
minutos. Para ser incluído na pesquisa, o
participante terá que ter vivenciado algu- Palavras- chave: criança hospitalizada, equipe
ma situação de morte na pediatria. Esta de enfermagem, luto.
pesquisa será do tipo descritiva, pois visa Contato : Camilla Ramos Medalane Cravinho -
a descrever a visão dos profissionais da Centro Universitário Vila Velha
enfermagem sobre a vivência de luto por camillamedalane@yahoo.com.br
crianças hospitalizadas. Os dados coleta-
dos ao longo do estágio serão analisados
de modo qualitativo. As categorias serão LT01-1066 – ABORDAGEM CENTRADA
criadas após a realização das entrevistas, NA PESSOA: PROMOÇÃO AO
das transcrições e da leitura das mesmas, DESENVOLVIMENTO
a fim de retratarem com fidedignidade os Lydia Maria Sena e Santos
conteúdos das entrevistas. Essa pesquisa Daniela Ribeiro Barros
atenderá à resolução 196 de 1996, do Con- José Andrade Costa Silva - UEPB
selho Nacional de Saúde sobre as normas www.uepb.edu.br
éticas para pesquisa com seres humanos.
Assim, participarão da pesquisa aqueles Este trabalho objetiva apresentar o estu-
profissionais que concordarem após lei- do de um caso clínico embasado na Abor-
tura do termo de consentimento livre e dagem Centrada na Pessoa e no método
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deiras. Durante essas sessões uma frase ler. Segundo a professora, João não con-
permeou os atendimentos: “É muito difí- segue ler, interpretar e expor sua opinião,
cil”, principalmente quando as brincadei- embora tenha uma ótima participação
ras lhe exigiam concentração e habilida- nas atividades lúdicas. Acrescentaram
des específicas, assim como o medo de que todas as suas atividades eram reali-
ficar sozinho. Para finalizar o ano e iniciar zadas sob sua mediação ou de um colega,
o recesso na universidade, foi necessária e que se perdia na ordem do alfabeto e
uma nova sessão com os pais. Nesta, fala- dos números. Durante as sessões seguin-
ram dos avanços no desenvolvimento de tes João conseguiu desenvolver habilida-
João: na aprendizagem, passou de ano e já des na escrita, conhecimento em relação
conseguia escrever e, na interação social, aos números, dinheiro, valores, somas e
já que conseguia participar da roda de respeito às regras dos jogos e demais re-
conversa na escola e aceitava bem a mu- gras, autonomia, segurança na escrita e
dança de psicoterapeuta. Dessa forma, foi ordenação numérica, segurança na late-
acordado para o ano seguinte, com o iní- ralidade da escrita, clareza dos seus sen-
cio das atividades da Clínica de Psicologia timentos e indícios para alta. Nas sessões
da UEPB, um novo contato para conhecer de preparação para alta, o mesmo pôde
os interesses na continuação dos atendi- resgatar momentos importantes, como a
mentos psicoterápicos. Com a retomada pipa que confeccionara com Luiza e nossa
das atividades da clínica no início do ano, primeira sessão juntos, bem como nossos
firmou-se novamente o contrato terapêu- jogos de futebol. Vale salientar que João
tico objetivando trabalhar os sentimentos recebeu calmo e tranquilo a notícia da
de João envolvidos em suas dificuldades alta, embora expressasse preocupação
de aprendizagem, atenção, insegurança, por não compreender o real espaço de
dependência, e como lidar com as separa- tempo das sessões quinzenais. Durante
ções e mudanças afetivas. Nos primeiros estas, João tomou consciência de que iría-
contatos, percebeu-se uma notável evo- mos terminar; continuou o seu progresso,
lução em João. Quanto às mudanças, não não regrediu, pelo contrário, começou a
expressou insatisfação na troca de sala expressar seus sentimentos com clareza,
de atendimento; apresentou paciência, expor suas idéias e lembrar fatos passa-
concentração e persistência; no entan- dos. Hoje João continua com dificuldades
to, continuou manipulando as regras dos na aprendizagem, no entanto, todas as
jogos em seu favor. Com a continuação outras queixas que o fizeram procurar o
do processo, João passou a respeitar as processo psicoterápico cessaram. Portan-
regras estabelecidas e delimitar o espa- to, é com sentimento de muita satisfação
ço, bem como criar suas próprias regras. que este caso é concluído, tomando como
Também se pôde perceber sua dificulda- avaliação as visíveis mudanças de João.
de numérica, por meio da qual houve a
autorização de João para que se visitasse Palavras-chave: Psicoterapia Infantil;
sua escola. Na escola tanto a professo- Abordagem Centrada na Pessoa, Dificuldade
ra como a coordenadora pedagógica de de aprendizagem.
João relataram que o percebiam inquieto,
disperso e angustiado por não conseguir
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o quanto antes para que se possa inter- aspectos será percebida de acordo com
vir evitando prejuízos futuros (Brêtas et o tipo de desenho ou do comando que é
al., 2005; Mora, 2007; Rosa et al., 2008; dado para executá-lo. No tônus muscu-
Silva, et al., 2011). Neste sentido, o estu- lar se verifica as variações hipertônicas
do do grafismo (desenho e escrita) infan- e hipotônicas, quando o desenho apre-
til surge como uma ferramenta passível senta traços muito grossos quase rasgan-
para este fim, pois sua observação não do o papel observa-se a ocorrência de
exige grandes habilidades do observa- hipertonia (Oliveira, 2008), já quando o
dor e é possível que se faça a detecção grafismo apresenta riscos claro demais,
do indício de atraso no desenvolvimento quase apagados pode ser sinal de hipoto-
motor. Como a evolução motora segue nia (Mora, 2007). A coordenação motora
uma maturação coordenada, também o ampla é necessária para ter uma postura
desenvolvimento da expressão gráfica na corporal adequada diante dos elementos
criança acontece em estágios sucessivos, usados no ato de desenhar. Já a coorde-
o que reflete o grau de seu amadureci- nação motora fina é necessária para se-
mento nervoso (Sistema Nervoso) e mo- gurar o lápis e manuseá-lo corretamente
tor (Mora, 2007). A escolha pelo desenho e quando ao desenhar um círculo e se fi-
se faz pela sua facilidade na execução por zer outro menor dentro dele e um pingo
parte da criança. E pelas inúmeras possi- dentro do segundo círculo (uma cabaça
bilidades que ele representa, porque há com os olhos, por exemplo), aqui tam-
quem considere o ato de desenhar como bém é fundamental a presença de um
processo no qual se expressa experiên- adequando desenvolvimento óculo-mo-
cias vividas, organiza informações e reve- tor. Outros aspectos da evolução psico-
la o aprendizado (Goldberg; Yunes; Frei- motora podem ser evidenciados na análi-
tas, 2005), ou o desenho como forma de se do desenho infantil, como o esquema
representação do espaço (Padilha, 1990), corporal, a lateralização, a senso-per-
o desenho como expressão da linguagem cepção e a percepção espaço-temporal
simbólica (Hammer, 1981; Di Leo, 1985), (Viana, 2011). No entanto, estas evidên-
o desenhar como mediador e facilita- cias têm sido observadas empiricamen-
dor de interações sociais (Dias; Almeida, te, sem rigor científico, o que necessita
2009), ainda o desenho como expressão de estudos que comprovem ou refutem
de sentimento e promotor da comunica- esta hipótese. Como foi referido acima,
ção terapeuta-cliente (Silva, 2010), ape- paralelamente ao desenvolvimento mo-
nas para citar alguns. Além disso, é pos- tor, a expressão gráfica no infante deve
sível, a partir do grafismo infantil, avaliar evoluir continuamente, assim os traços e
e/ou perceber o desenvolvimento de cer- rabiscos dos primeiros anos vão se apri-
tos aspectos da motricidade da criança. morando para circunferências, bolinhas e
Os elementos da evolução motora que até o desenho perfeito da figura humana
a expressão gráfica do infante relaciona- (Oliveira, 2008). Assim, em torno dos três
-se diretamente são: o tônus muscular, anos a criança pode combinar formas re-
coordenação motora ampla e fina e co- tas e circulares, passa a relacionar suas
ordenação óculo-motor (Palácios et al., produções com objetos e pessoas (Pa-
2004; Mora, 2007). A observação destes lácios et al., 2004). Por volta dos quatro
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
anos faz figuras geométricas fechadas, algo simples. E uma vez que ele é funda-
pode deixar de desenhar ações pre- mental para desencadear uma série de
sentes e passar a registras situações de aquisições no sujeito humano como, por
motivação afetiva, aqui a figura humana exemplo, a linguagem e a escrita que são
ainda apresenta grandes desproporções fundamentais para a pessoa entrar em
(Mora, 2007). Aos cinco anos surgem os contato com o mundo exterior e assim
primeiros desenhos de pessoas com ob- adquirir os resultados conquistados pela
jetos nas mãos e a ideia de movimento cultura humana. Com isso, a pessoa pode
é representado nas gravuras. Já por volta tornar-se conhecedora e modificadora da
dos seis anos as ilustrações representam realidade que a cerca. No processo edu-
mais claramente a realidade, a noção de cacional, faz-se necessário que todo edu-
chão e céu está presente, o desenho da cando tenha acesso aos conhecimentos
figura humana dever ser o mais perfeito e produzidos, mas o bloqueio ou retardo
completo (para crianças com motricidade na evolução motor pode interferir nesta
e inteligência normal) possível (Palácios aquisição. Por isso, análise do desenho
et al., 2004; Mora, 2007) o que demons- infantil é uma possibilidade de verifica-
tra o adequado desenvolvimento motor. ção do estágio da motricidade da criança,
Do ponto de vista das funções motoras a permitindo que se intervenha em tem-
partir dos seis/sete anos a pessoa já deve po hábil evitando prejuízos futuros na
ter adquirido as habilidades necessárias aprendizagem. Como isso, o profissional
para possibilitar as demais aquisições poderá estabelecer um plano de inter-
advindas com a aprendizagem (escolar venção junto ao infante a fim de superar
ou não) e das demais interações sociais a dificuldade encontrada, ou deverá en-
que o meio em que vive a proporcionar. caminhá-lo para profissionais que atuem
A evolução do grafismo infantil refere-se na reabilitação destes aspectos.
à elaboração dos desenhos e o desenvol-
vimento da escrita manual. A este respei- Palavras-chave: Grafismo infantil.
to Condemarín e Chadwick (1990 apud Desenvolvimento motor. Avaliação motora.
Palácios et al., 2004) dividem a aquisição
da escrita em três fases: pré-caligráfica,
caligráfica e pós-caligráfica. A fase pré-ca- LT01-1479 - ACOMPANHAMENTO
ligráfica situa-se entre dois e cinco anos PSICOLÓGICO AO PORTADOR DE
aproximadamente e caracteriza-se pelo MUCOPOLISSACARIDOSE
início dos primeiros rabiscos até a elabo- Petruska Oliveira Baptista - UFPA
ração das primeiras letras. Na caligráfica petruska@ufpa.br
que ocorre depois dos cinco anos há o Ana Paula de Andrade Rodrigues
desenvolvimento propriamente dito da
escrita, ela vai até por volta de doze anos. A Mucopolissacaridose (MPS) é uma do-
E na fase pós-caligráfica a pessoas irá es- ença genética rara com manifestações
colher que tipo de letra usará, comple- patológicas progressivas na maioria dos
tando, assim o desenvolvimento do seu sistemas de órgãos. A complexidade das
grafismo. O desenvolvimento psicomotor características clínicas associadas a MPS
é um processo complexo, embora pareça dificulta aos profissionais da saúde uma
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formar um escore de inteligência que re- Pessoal estavam na gama normais. Estes
presenta a habilidade do paciente relati- resultados foram confirmados pelas per-
vo à sua idade. Atividades desenvolvidas: cepções de suas responsáveis e profes-
Análise de prontuários e levantamento sores. A partir do mencionado podemos
de dados de identificação para estabe- dizer que a melhora da qualidade de vida
lecer contato com os responsáveis; Pri- dos pacientes após as sessões de repo-
meiro contato com os responsáveis para sição enzimática e do acompanhamento
esclarecem os objetivos do acompanha- especializado é significativa. Quanto às
mento e quais os procedimentos que avaliações das Competências Sociais e os
serão adotados; Aplicação da anamnese Problemas de Comportamento, os resul-
psicológica; Aplicação do Questionário tados variaram em razão das vivencia que
de Qualidade de Vida; Aplicação do teste cada individuo, pois esta está intrinseca-
SON; Aplicação do CBCL; Elaboração do mente relacionada com as habilidades
laudo; Apresentação de relatório psico- sociais. E, que, apesar do auxílio físico e
lógico à Equipe multidisciplinar. Entrevis- psicológico que o acompanhamento no
ta devolutiva do diagnóstico e possíveis hospital proporciona as dificuldades so-
encaminhamentos à família. Dos 10 pa- ciais, comportamentais e escolares ain-
cientes inscritos, apenas quatro compa- da se encontram presentes, por serem
receram desde o início ao acompanha- uma constante na vida destes pacientes
mento psicológico. O teste SON foi apli- desde o momento da descoberta desta
cado em quatro, sendo duas meninas e doença em suas vidas. Isto se dá por ser
dois meninos. Os resultados da avaliação uma doença sistêmica e atingir todos os
apontaram diferentes graus de Déficit sentidos. Por ser uma doença sistêmica
Cognitivo, ambas as meninas apontaram que altera diversas capacidades, acredi-
grau médio, um dos meninos teve como tamos que esta característica altera os re-
resultado grau abaixo da média, e o últi- sultados apontado para alguns pacientes
mo Dificuldades no Aprendizado. Foram Déficit Cognitivo, pois não visualizamos
aplicados os Questionários de Qualidade dificuldade elaborativa ou ideativa. Os
de Vida em cinco pacientes, duas meni- assuntos relacionados aos atendimentos
nas e três meninos. O resultado para os a pacientes com MPS exige amplo co-
quatro pacientes apontou uma melhora nhecimento de diversos aspectos sobre
na qualidade de vida, ou seja, melhora a psique do paciente, e devem guardar
na saúde e no bem-estar. Foi aplicado o relações específicas com os níveis de de-
CBCL em três pacientes, sendo duas me- senvolvimento e com os sintomas apre-
ninas e um menino, as avaliações para o sentados por cada paciente, respeitando
paciente do sexo masculino nas escalas a premissa da diversidade, da idiossincra-
de Competência Social, Interação Social, sia e individualidade.
Amizades e Família resultou na escala
normal para os responsáveis, enquanto Palavras-chave: mucopolissacaridose;
que na autoavaliação resultou na escala psicopediatria; neurogenética.
limítrofe. Para ambas as meninas, a con-
tagem de Competência Social Interação
Social, Amizades, Família e Adaptação
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dentre outras, as quais oferecem poucas necessárias como competências para in-
vagas de empregos. É fundamental que serção e manutenção das pessoas com DI
ocorra o ajustamento ao trabalho com a no trabalho, visto que esse tipo de compe-
criação de oportunidades para as pesso- tência é de suma importância para o ade-
as com DI desenvolverem e mostrarem quado ‘funcionamento’ do indivíduo não
suas competências dentro de uma ótica somente no local de trabalho, mas tam-
de mercado mais real. Não basta, apenas, bém na comunidade, na família, dentre
treinar algumas habilidades básicas para outros sistemas sociais (Tanaka & Manzini,
que ocorra a efetiva inclusão das pessoas 2005). Considerando o papel do contexto
com DI no trabalho. Por outro lado, não do trabalho para a promoção ou não do
é necessária somente a preparação da desenvolvimento do indivíduo, bem como
pessoa com DI (escolaridade, qualificação da escassez de estudos com a população
profissional etc.), mas também é preciso brasileira é que se faz necessária a imple-
que as empresas tenham condições físi- mentação de estudos que visem uma re-
cas e sociais para promoverem a inclusão, flexão do processo de inclusão, de forma,
além do apoio para efetivar a acessibili- a contribuir para a geração de dados que
dade e estreitar os vínculos entre as insti- possam subsidiar políticas de atenção às
tuições profissionalizantes e as empresas. pessoas com deficiências em nosso país.
Independentemente da maneira com que
ocorre a inclusão no trabalho, este tema Palavras-chave: deficiência intelectual;
vem se tornando cada vez mais relevante inclusão no trabalho; desenvolvimento
por sua importância na perspectiva do de- humano.
senvolvimento dessas pessoas, podendo Contato: Adelaine Vianna Furtado.
subsidiar dados empíricos que fomentem Universidade Federal de Juiz de Fora.
programas de preparação do jovem com ane_vf@yahoo.com.br
DI ao mercado de trabalho. A produção
científica nesta área ainda é escassa, prin-
cipalmente, no Brasil. É preciso envidar LT01-1261 – DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
esforços no sentido de planejar estudos NA VIDA ADULTA: PRODUÇÃO CIENTÍFICA
que busquem um melhor entendimento NACIONAL
do processo de inclusão, bem como do im- Sueli de Souza Dias - UnB/SEEDF
pacto desse processo no desenvolvimento suelidiass@gmail.com
das pessoas com DI. Não há dúvidas quan- Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira - UnB
to à importância da inclusão no trabalho, mcsloliveira@gmail.com
destacando esta como via de inserção das
pessoas com deficiências nas relações de Transição para a vida adulta é uma circuns-
produção e consumo, portanto, de inclu- tância significativa para o desenvolvimen-
são social também. Além disso, trata-se to do ser humano, pois um conjunto de
da continuidade do atendimento educa- mudanças se processa, tendo o indivíduo
cional, podendo proporcionar aquisição que se reorganizar tanto do ponto de vista
de boa conduta e reconhecimento pessoal da própria subjetividade, quanto no rela-
e profissional. Dessa forma as habilidades cionamento com o seu mundo circundan-
sociais vêm sendo consideradas as mais te. Trata-se de um momento de escolhas
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compete a este ator as funções de articula- na teoria walloniana contribui para a am-
dor, formador e transformador no cenário pliação do entendimento sobre o processo
da unidade escolar. Como articulador, ofe- de constituição do coordenador pedagógi-
recendo condições aos professores para co. Assim, pessoa é o conceito empregado
que trabalhem coletivamente suas pro- por Wallon (2007) para definir e nomear o
postas curriculares; como formador, ofere- domínio ou conjunto funcional resultante
cendo condições aos professores para que de outros três: afetividade, ato motor e
se aprofundem em suas áreas específicas e conhecimento. A integração das funções
para que transformem seu conhecimento dos domínios funcionais não é estática, é
em ensino de qualidade; como transfor- mutante, a partir de oposições, conflitos,
mador, propiciando condições para que forças convergentes e divergentes nas re-
o professor seja reflexivo e crítico em sua lações com o meio social, pois pessoa é a
prática (Almeida & Placco, 2009). Sem des- síntese entre um organismo com potencial
considerar as demais vias que promovem genético para se tornar um representante
o desenvolvimento dos conhecimentos típico da espécie e o meio, predominan-
pedagógicos, curriculares e também das temente social. A integração das funções
habilidades de relacionamento interpes- desses domínios pode levar a configura-
soal, vamos nos deter nas situações de ções diferenciadas, variáveis de indivíduo
trabalho, por concordar com Dubar (1997, para indivíduo, conferindo, portanto, sin-
p.48) que o “trabalho está no processo de gularidade e caracterizando uma forma de
construção, destruição e reconstrução das ser e estar no mundo. Entretanto, de um
formas identitárias...”. Esse mesmo autor modo geral, é a afetividade que dá direção
(Dubar, 2005) lembra que há um jogo de às ações, orienta as escolhas, com base
forças constante entre atos de atribuição nos desejos da pessoa, nos significados e
e atos e sentimentos de pertença. No caso sentidos atribuídos às suas experiências
do coordenador pedagógico, os atos de anteriores, em suas necessidades fisioló-
atribuição chegam da estrutura oficial (o gicas e sócio-afetivas. Esses significados
que vem do instituído, do Sistema) e da e sentidos são constituídos no meio so-
estrutura funcional da escola (a tradução cial, portanto, na relação eu-outro. Zazzo
do instituído e as exigências da escola para (1978) observa que em Wallon pode-se
o trabalho de coordenação). Já os atos e apreender três tipos de Outro: o outro, os
sentimentos de pertença referem-se ao outros e o outro íntimo. Outro refere-se
que o coordenador aceita desses dois con- a um conceito geral; os outros referem-
textos, e o que acrescenta a eles, definin- -se àqueles com os quais o indivíduo se
do seu papel profissional, numa constante relaciona concretamente; o outro íntimo,
tensão eu-outro. Ao abordar a questão também chamado de socius (conceito
da identidade, Wallon (1975) a denomina emprestado de Pierre Janet) é o parceiro
como personalidade e a descreve como permanente na vida psíquica do indivíduo,
uma percepção e si mesmo adquirida por decorrente da articulação de elementos
afirmação constante de autonomia em re- antigos e novos da experiência do indiví-
lação aos demais, construída nos proces- duo, em suas relações com os diferentes
sos de identificação e diferenciação com o meios sociais. Para a produção de informa-
outro. A compreensão do conceito pessoa ções foram empregados questionários e
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entrevistas biográfico-narrativas com coor- papel exercido pelo Outro Íntimo. A valori-
denadoras atuando em duas Diretorias Re- zação que todos os coordenadores dão às
gionais de Ensino do Estado de São Paulo, relações interpessoais, seja nos momen-
uma na capital, outra no interior. Nesta co- tos de início da função (apoio, aceitação),
municação serão discutidos os resultados seja nos momentos formativos (aceitação,
de uma das Diretorias Regionais. O que é rejeição de propostas) é outro indicativo
recorrente no cotidiano dos coordenado- de forte influência das relações eu-outro.
res é a resposta aos atos de atribuição do Alguns coordenadores referem-se ao pa-
sistema e da organização da escola: mul- pel das políticas públicas, acentuando que
tiplicidade de tarefas: materialidade bem o coordenador precisa ver sentido nelas,
explicitada por uma mesa “cheia de coisas: para trabalhar de forma competente. Esse
rádios, revistas, livros perdidos, bilhetes de sentido foi sendo constituído por eles nas
professores, cadernos, os próprios papéis, e pelas relações sociais de sua trajetória. A
cadernos, atas...”; atendimento a situa- função formativa é recorrente, como ato/
ções imprevistas, que impedem a execu- sentimento de pertença. Afirma um coor-
ção do planejamento feito; tempo escasso denador: “Nós, coordenadores antigos, tí-
para dar conta de tantas atribuições: “a nhamos uma função que nos honrava: de-
mesa cheia de coisas migra para a casa, e o senvolver um projeto, articular o coletivo,
trabalho continua...”; atendimento a pais, formar o professor.”
professores, alunos, pessoas que procu-
ram informações; elaboração da agenda e Palavras-chave: coordenador pedagógico,
execução de Horas de Trabalho Pedagógi- identidade, relações sociais.
co Coletivo; resolver conflitos: de profes- Contato: Laurinda Ramalho de Almeida, PUC-
sores, pais, alunos. Esta situação provoca SP, laurinda@pucsp.br
manifestações de mal-estar nos coordena-
dores ao final do período de trabalho: ex-
tremados, cansados, com sensação de “fiz LT04-1327 - BUSCANDO COMPREENDER
tanto, e não fiz nada”. As atividades são A RELAÇÃO TUTOR E CURSISTA EM
feitas porque os outros exigem dele uma UM AMBIENTE VIRTUAL DE ENSINO A
atuação desse tipo. Algumas dessas ativi- DISTÂNCIA
dades, no entanto, caracterizam-se como Daniel Röhe Salomon da Rosa Rodrigues -
suas (sentimento de pertença), principal- UnB
mente a elaboração de agenda de traba- rohe.daniel.1986@gmail.com
lho e planejamento e execução de horas Regina Lúcia Sucupira Pedroza - UnB
de trabalho coletivo. Os atos de pertença Maria Fátima Olivier Sudbrack - UnB
são, também, decorrentes das relações Financiamento: PRONASCI
eu-outro, principalmente com pares (coor-
denadores de outras escolas), com profes- A educação possui a função de habilitar in-
sores, gestores, comunidade escolar que divíduos para o manejo do conhecimento.
lhes solicitam atendimento às suas neces- Paulo Freire propõe a reflexão no sentido
sidades. Ao aceitar/recusar as atribuições do reconhecimento de objetos: o si-mes-
que lhes são dadas, entra, na tomada de mo, o outro e os conteúdos disciplinares.
decisão para este ou aquele caminho, o Ele incentiva ainda o exercício de criativi-
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dade que vai além do simples reconhecer, o acréscimo de 60 horas aula pela neces-
mas que alcança a reflexão epistemológica sidade de integrar teoria e prática. A meta
do conteúdo. Educar então não significa fundamental é, pois, a socialização e im-
impor um conhecimento ao outro, mas plementação dos projetos elaborados nos
sim propor a reflexão sobre o conheci- módulos anteriores. Assim, esse módulo
mento que se almeja partilhar. É preciso estimulou a equipe da coordenação do
reconhecer o mecanismo fundamental na curso a refletir e a criar espaços para aten-
aprendizagem, destarte é necessário que der aos desafios apresentados pelos cur-
o sujeito que está aprendendo enxergue sistas. Nesse curso ocorre uma relação en-
a si mesmo. Ensinar é então a criação de tre conteudistas, supervisores de tutores,
possibilidades para a autocondução e a tutores e cursistas no sentido de garantir a
produção de diálogos que promovam a eficácia do curso. Os conteudistas além de
construção do conhecimento. O ensino a elaborarem o conteúdo participam da for-
distância é uma modalidade educacional mação dos tutores e seus supervisores. Os
que será utilizada como principal forma tutores, por serem aqueles que estão em
de ensino no futuro, pois possibilita que contato direto com os cursistas, são os res-
grandes populações tenham acesso à ponsáveis pela construção do conhecimen-
educação escolar. Isto porque proporcio- to e ações deles. Por isso faz-se necessário
na flexibilização de espaço e tempo para uma reflexão sobre a formação daqueles
os estudos. Pesquisas apontam relatos de para que atuem de forma dialógica privile-
estudantes indicando uma preferência por giando os aspectos da aprendizagem como
esse tipo de ensino porque adquirem mais um todo e não apenas as práticas tecno-
informações. O Curso de Prevenção ao Uso cráticas das ferramentas contemporâneas.
de Drogas é uma parceria entre o Progra- Deve-se garantir que os tutores favoreçam
ma de Estudos e Atenção às Dependências o potencial criativo dos educadores para
Químicas do Departamento de Psicologia que atuem na área de prevenção e saúde
Clínica do Instituto de Psicologia da Uni- pública. Este trabalho tem como objetivo
versidade de Brasília (PRODEQUI/PCL/IP/ geral refletir sobre a formação do tutor em
UnB) - em articulação com a Secretaria Na- ensino a distância e especificamente inda-
cional de Políticas sobre Drogas (SENAD) e gar sobre o papel de supervisão dos tuto-
MEC. Este é um curso à distância voltado res analisando a interação tutor-cursista
para formação de educadores de escolas no ensino a distância. Os participantes da
públicas e tem como objetivo habilitá-los pesquisa foram 45 Tutores de 45 turmas
a atuar na área da prevenção ao uso de do Módulo V e um supervisor de conteú-
drogas de forma integrada às atividades de do. Foi analisada a relação entre esses tu-
ensino em sala de aula. O curso é compos- tores e os cursistas na plataforma moodle.
to de quatro módulos de conteúdos que Os materiais de análise foram: relatórios
envolvem as temáticas sobre adolescente, padronizados para análise com ALCESTE
família, conceitos e informações básicas a partir de um banco de dados contendo
sobre drogas, a prevenção e estratégias de os fóruns de socialização de 50% do total
prevenção na escola. Na edição 2010-2011 de turmas do Módulo V; análise de conte-
do curso, foi acrescentado o Módulo V que údo das falas dos tutores em supervisão.
consiste na ampliação do curso mediante No primeiro material de análise foram
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ligadas à ciência e tecnologia não são ade- nas, como, por exemplo, passar a mão na
quadas ao seu gênero e a matemática é a cabeça delas durante alguma dificuldade
porta de entrada para o ingresso nessas encontrada nas atividades de matemática,
carreiras. Para o entendimento mais am- demonstrando mais paciência - repetindo
plo dessas questões, este trabalho analisa várias vezes as instruções, por exemplo -
a maneira como o conhecimento mate- ao explicar-lhes o conteúdo; em ocasiões
mático é mediado em sala de aula, ten- como essas as alunas, nessas aulas, eram
do como fundamento teórico-conceitual desqualificadas, como se elas não pudes-
e metodológico a abordagem de Fávero sem aprender satisfatoriamente, sendo
(2009b; 2010a) que propõe a articulação suas dificuldades tidas como naturais e,
entre a Psicologia do Desenvolvimento e a portanto, esperadas para seu gênero. Es-
Psicologia do Gênero. Assim, procedemos sas atitudes do professor revelam que as
a coleta de dados em aulas de matemática expectativas docentes em relação à apren-
de duas salas do 3º ano do Ensino Médio dizagem das alunas acerca dos conceitos e
de uma escola da Rede Pública de Ensino das regras matemáticas são menores do
do DF, uma ministrada por uma professora que os resultados esperados das alunas.
de matemática e outra por um professor Numa dessas situações, por exemplo, o
de matemática, ambos licenciados nessa professor disse que iria “utilizar o giz ro-
disciplina, ambos numa faixa etária de 35 sinha em homenagem às meninas”, numa
anos. As salas tinham em média 35 alunos clara referência à dicotomia presente na
cada, com alunos entre 17 e 19 anos. Com escola entre a feminilidade das meninas
a anuência dos professores e da direção da (associada à delicadeza da cor escolhida) e
escola, registramos em vídeo três aulas em a rigidez e objetividade do conhecimento
cada turma, sendo 30 minutos em média, matemático. Concluímos, como já assina-
com o intervalo de três dias entre cada lado por Fávero (2010 a), que as meninas
registro. As transcrições dos vídeos foram são distanciadas da matemática ao longo
submetidas à proposta de Fávero (2005), a de sua vida escolar. Tais atitudes, ao lon-
qual toma os atos da fala como unidades go do ciclo escolar, também as distanciam
de análise. Os resultados apontam que: a das carreiras científico-tecnológicas que,
mediação dos professores associa a mate- como sabemos, têm a matemática como
mática à objetividade científica e à racio- filtro de acesso e permanência. Tais dados
nalidade; as regras sobre as operações são podem explicar porque ainda hoje as alu-
transmitidas no lugar de conceitos mate- nas são distanciadas dessas carreiras, as
máticos; os alunos são mais solicitados a quais gozam de alto prestígio social (Fer-
participar durante as aulas, perguntando nandes & Healy, 2007). Nossos estudos
e procurando soluções para problemas, continuam dentro dessa linha para apro-
enquanto as vozes das alunas são menos fundar dados tais como o fato de que as
ouvidas durante as participações nas aulas dificuldades das alunas, nas mediações
de matemática. Evidenciou-se: a diferença observadas, são desqualificadas em várias
de comportamento entre professores e situações, quando, por exemplo, o profes-
alunos e professores e alunas; no segundo sor diz que “não estão aprendendo ma-
caso, os professores tendem a demonstrar temática porque estão preocupadas com
comportamento complacente com as alu- flerte com os meninos”.
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maneira pela qual o conteúdo é enfocado. como o diagnóstico de TDAH tem sido fei-
Não aparece a possibilidade de questiona- to no Sistema de Saúde Pública no Brasil.
mento frente ao método de ensino ado- Verificamos que há um grande número de
tado, as estratégias utilizadas nem se isso crianças sendo diagnosticadas como TDAH
poderia interferir no desempenho acadê- por médicos do setor de Saúde Pública,
mico dos alunos. Nesse sentido, a aprendi- mas que, de fato, não apresentam esse
zagem parece ser um processo individual e transtorno, quando avaliadas segundo os
não social. Nossos dados também revelam critérios do DSM-IV. A pesquisa nos per-
uma visão tradicional de ensino, em que a mitiu identificar três pontos básicos envol-
aprendizagem é concebida como um refle- vendo a criança diagnosticada como TDAH
xo da conduta do aluno e de sua família, pelo Sistema de Saúde Pública de Divinó-
desconsiderando o papel do professor e a polis, o qual reflete o que acontece em ou-
influência de sua prática para o desenvol- tros locais no Brasil (Gomes & cols, 2007).
vimento do estudante. O primeiro ponto refere-se à forma como
o diagnóstico tem sido realizado na Saúde
Palavras-chave: representações, Pública de Divinópolis, segundo ponto, a
aprendizagem, desempenho acadêmico. importância das narrativas das mães e es-
colas sobre a criança para que o profissio-
nal da área de saúde estabeleça o diagnós-
LT04-837 - O DIAGNÓSTICO DA CRIANÇA tico de TDAH e terceiro, a inadequação da
COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE medicação fornecida a essa criança, diag-
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE NA SAÚDE nosticada de forma inadequada. A partir
PÚBLICA dos resultados aqui encontrados, mesmo
Cláudia Lúcia Carazza - Bolsista PAEx/UEMG que parciais hipotetizamos que a criança
(FUNEDI/UEMG) usuária do Sistema de Saúde Pública de
Lúcia Maria Silva Arruda - FUNEDI/UEM Divinópolis recebe o diagnóstico médico
Marcos Paulo Alves de Oliveira - Bolsista de TDAH a partir das narrativas que a mãe
PAPq/UEMG (FUNEDI/UEMG) ou o cuidador dessa criança fornece sobre
Marilene Tavares Cortez - FUNEDI/UEMG/ ela. O principal objetivo dessa pesquisa foi
UFMG refazer o diagnóstico de TDAH recebido
por muitas crianças, já que observávamos
A pesquisa aqui relatada reavaliou o diag- que havia um número excessivo de crian-
nóstico de Transtorno de Déficit de Aten- ças com esse diagnóstico, crianças com as
ção e Hiperatividade (TDAH) dado às crian- quais tínhamos contato. Sabíamos que se-
ças usuárias do Sistema de Saúde Pública guindo as indicações das pesquisas sobre
da cidade de Divinópolis (MG). A meto- o TDAH e a indicação do DSM-IV sobre o
dologia de pesquisa envolveu analisar as número de crianças TDAH, em idade esco-
fichas das crianças com o diagnóstico ou lar, deve ficar entre 3 a 7%. O número de
indicação de TDAH de alguns Centros de crianças com diagnóstico de TDAH vincula-
Saúde de Divinópolis e refazer o diagnós- das ao nosso trabalho ultrapassava muito
tico. Os dados e resultados aqui descritos essa estatística. Em um primeiro momento
e analisados, mesmo sendo parciais, são da pesquisa foi realizado um levantamento
extremamente relevantes para se pensar de dados das crianças TDAH usuárias da
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lização que vem ocorrendo em relação ao cio do estudo, os sujeitos pouco se relacio-
diagnóstico do TDAH. Hiperatividade não navam entre si e, com o decorrer das ses-
é o TDAH. Ampliar a consciência sobre o sões, a interação foi favorecida pela maior
uso de psicoestimulantes, como o metilfe- freqüência de brincadeiras de faz-de-con-
nidato, que pode causar dano nos sistema ta. As autoras concluíram destacando a
nervoso das crianças. Ter consciência dos importância do brincar para melhorar re-
reais critérios usados para se fazer um lações sociais e promover desenvolvimen-
diagnóstico correto do TDAH. Encontrar to. O brincar também pode ser utilizado
formas alternativas de tratamento para es- para identificar habilidades em crianças
sas crianças. A Terapia Cognitiva (TC), por que apresentam alterações no seu de-
exemplo, tem propostas diferentes para senvolvimento. Esse uso é enfatizado na
abordar essa criança. Isto é, ela pretende proposta de grupo para intervenção fono-
trabalhar precisamente aspectos o proces- audiológica descrito por Laplane, Batista e
samento cognitivo da criança que, efetiva- Botega (2007), em que crianças com quei-
mente, apresente o TDAH. xas de atraso de linguagem podem mos-
trar competências através da observação
Palavras-chave: TDAH; Discussão diagnóstica; de situações que se caracterizem como as
DSM-IV. mais naturais possíveis como, por exem-
plo, o brincar. Diante da perspectiva do
brincar como contexto passível de iden-
LT04-984 - O MANUSEIO DE tificação de competências, o objetivo do
OBJETOS COMO INDICADOR DE presente projeto foi o de descrever situa-
DESENVOLVIMENTO EM CRIANÇAS ções de brincadeiras, nas quais ocorresse
COM ALTERAÇÕES DE LINGUAGEM E DE o uso de objetos por crianças com alte-
DESENVOLVIMENTO rações no desenvolvimento e linguagem,
Amanda Brait Zerbeto - UNICAMP e assim, evidenciar as competências que
amandabrait@gmail.com elas apresentam. Em relação à metodolo-
Cecília Guarnieri Batista - UNICAMP gia, trata-se de uma pesquisa qualitativa
cecigb@gmail.com observacional. Os participantes da pesqui-
Financiamento: CNPq sa foram quatro crianças com idades entre
2 e 5 anos, com queixas de alterações de
Crianças com alterações de linguagem e linguagem e no desenvolvimento global.
no desenvolvimento global são, frequen- Foram observados em contexto de um
temente, descritas por suas incapacidades grupo de Avaliação de Linguagem, super-
e limitações, mais do que por suas habi- visionado por Fonoaudióloga, Psicóloga
lidades, muitas vezes, de difícil identifica- e Pedagoga. O projeto foi aprovado pelo
ção. O brincar influi no desenvolvimento Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição
infantil, contribuindo para o desenvolvi- em que foi realizado. Os pais assinaram o
mento social, cognitivo, linguístico e mo- Termo de Consentimento Livre e Esclareci-
tor (Vygotsky, 1998). Pinto e Góes (2006) do e os nomes das crianças, quando cita-
estudaram o brincar de faz-de-conta em dos no estudo, foram substituídos por no-
crianças com diagnóstico de deficiência mes fictícios. Doze sessões foram video-
mental, entre 4 e 6 anos de idade. No iní- gravadas, com duração de uma hora cada,
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e médicos como Jean Marc Itard (1774- simbólica, contra pessoas com necessida-
1838) e Edward Seguin (1812-1880) já atri- des educacionais especiais. O simples fato
buíam uma importância ao estudo do de- de apenas colocar as crianças com neces-
senvolvimento físico e intelectual dessas sidades educacionais especiais em classes
pessoas. Preocupados com o “desenvolvi- regulares não é suficiente para que haja
mento atípico” buscavam conhecer carac- uma inclusão. Vasta literatura aponta para
terísticas especiais e desenvolver métodos a inadequada formação dos professores
de treinamento para estimular o aprendi- para lidar com o processo de inclusão.
zado dessas crianças, que naquela época Entretanto, poucos estudos considerem
eram rotuladas como idiotas, débeis e as perspectivas dos sujeitos em processo
outros pejorativos. Na evolução da histó- de inclusão. Acreditamos que tais estudos
ria da educação especial no Brasil, merece possam ser reveladores dos mecanismos
destaque a primeira inciativa do governo de exclusão, discriminação e violência vi-
Imperial na criação de institutos como: venciadas por pessoas com necessidades
“Instituto dos Meninos Cegos” (hoje “Ins- educacionais especiais e da posição des-
tituto Benjamin Constant”) em 1854, e do sas experiências na construção da subje-
“Instituto dos Surdos-Mudos” (hoje, “Ins- tividade. Práticas discriminatórias, de ex-
tituto Nacional de Educação de Surdos – clusão e até mesmo de violência ocorrem
INES”) em 1857, ambos na cidade do Rio desde os primórdios da escola. Atualmen-
de Janeiro. Mesmo com rápido avanço no te é conhecido pelo termo inglês bullying,
exterior no início do século XX, o Brasil só que designa comportamentos agressivos,
deu outro passo significativo a partir dos anti-sociais e violentos tanto em âmbito
anos 50. Entretanto, a Educação Especial educacional quanto fora dele. Porém, o
da época se dedicava apenas à pesquisa fenômeno tem chamado mais atenção
acadêmica e a pouquíssimos atendimen- no ambiente escolar pelos prejuízos que
tos educacionais. A criação de escolas de acarreta na vida das pessoas envolvidas.
ensino especial ocorreu gradativamente No Brasil cerca de 1/3 dos estudantes se
ao longo da década de 1960. Em 1969 já consideram vítimas de bullying. Brasília é
havia mais de 800 estabelecimentos de considerada a capital brasileira com maior
ensino especial para deficientes mentais, incidência de bullying: 35,6% dos estudan-
cerca de quatro vezes mais que em 1960. tes (IBGE, 2009). Não há dados estatísticos
Depois, somente a partir da reabertura relacionando pessoas com necessidades
política, com a Constituição de 1988, a especiais. No meio acadêmico, o tema
Educação Especial começa a ganhar espa- também tem preocupado pesquisadores
ço nos documentos oficiais. Em dezembro de várias áreas. Em um levantamento no
de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Edu- indexador de periódicos científicos Scie-
cação Nacional 9.394/96, define Educação lo, usando como palavra-chave bullying,
Especial e adota medidas para o devido foi possível encontrar 54 artigos sendo
exercício no Brasil, preferencialmente nas que o primeiro aparece no ano de 2001.
escolas públicas por meio da política de Após essa data o próximo trabalho data de
inclusão. Mesmo com esse novo modelo, 2005, mas é em 2008 que há um intenso
ainda persistem práticas de exclusão, dis- aumento de estudos e trabalhos publica-
criminação e até violência, principalmente dos nos periódicos indexados pelo termo.
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Não foi encontrado nenhum trabalho que lência se dá apenas de forma indireta na
relacionasse bullying e estudantes com narrativa em função de práticas veladas
necessidades educacionais especiais, ou de exclusão. As práticas escolares canali-
termos similares. Por isso, esta pesquisa zam a cultura de violência que assola a so-
procurou o sentido das práticas discri- ciedade atual e marcam mais intensamen-
minatórias vivenciadas por alunos com te as vidas das pessoas mais vulneráveis.
necessidades educacionais especiais nas Como menciona Charlot (2005), a escola
escolas, com o intuito de verificar a pos- não pode fugir negando a existência da
sível caracterização dessas práticas como violência, pelo contrário, é seu papel re-
bullying. A pesquisa empírica, de caráter fletir e lutar pela cultura de paz.
qualitativo, desenvolveu uma metodolo-
gia interpretativa das narrativas dos su- Palavras-chave: Práticas de exclusão, Bullying,
jeitos. Utilizou questionários dialogados Necessidades educacionais especiais
com questões abertas com quatro mães/ Contato: Laís Pinheiro de Menezes, UnB,
pais de crianças com necessidades espe- lais.pinheiro.menezes@hotmail.com
ciais que estudam em escolas regulares e
fazem complementação em uma escola
especial e entrevistas narrativas individu- LT04-1050 - DESENVOLVIMENTO
ais com quatro pessoas com necessida- COGNITIVO E CO-COGNITIVO DE
des especiais de 11, 14, 19 e 35 anos de INDIVÍDUOS SUPERDOTADOS
idade, alguns também estudantes de es- Fernanda do Carmo Gonçalves - UnB
colas regulares, que frequentam a escola fernandajfmg@yahoo.com.br
especial. Foi realizada no contexto de um
centro de ensino especial da rede pública O interesse por indivíduos superdotados
de educação do Distrito Federal. A partir vem crescendo nas últimas décadas. Di-
da análise dos discursos e narrativas, pro- versos países têm, inclusive, investido em
curou-se identificar e caracterizar práticas programas para superdotados por reco-
potencialmente ou evidentemente dis- nhecerem as vantagens sociais, científicas
criminatórias nas experiências escolares e econômicas relacionadas ao desenvol-
de tais sujeitos e sua possível caracteri- vimento do potencial desses indivíduos.
zação como bullying. As categorias foram Em paralelo, nas últimas três décadas, os
construídas com base nos significados e especialistas em superdotação têm res-
sentidos dessas experiências preconcei- saltado a importância de se compreender
tuosas para os próprios sujeitos. Foi pos- esse fenômeno de maneira complexa e
sível estabelecer relações entre o sentido multidimensional, conhecendo as caracte-
das vivências discriminatórias na escola, o rísticas dos indivíduos superdotados para
desenvolvimento de concepções de si e o que eles possam ser efetivamente identifi-
desenvolvimento escolar de pessoas com cados e receber um atendimento adequa-
necessidades educacionais especiais. Os do de acordo com suas potencialidades e
resultados sugerem que todos os sujeitos necessidades. Dessa forma, os programas
e suas famílias são marcados pela exclu- para superdotados não devem focar-se
são e desigualdade social na escola e na apenas nos aspectos cognitivos (como
família. Porém, o reconhecimento da vio- criatividade e inteligência), mas também
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possibilidades de sua atuação para o fa- Wallon, propondo uma abordagem semi-
vorecimento da aprendizagem infantil em ótica e considerando a complexidade do
sincronia com a comunidade, visando seu desenvolvimento humano. Assim, foram
fortalecimento. Nesse campo de investi- construídas categorias de significações
gação, o objetivo do presente trabalho é que permitiram a compreensão dos sabe-
tentar compreender as significações da res que constituíam as práticas educativas
equipe escolar de um assentamento ru- das participantes e que compunham a or-
ral sobre a criança pré-escolar assentada ganização e o cotidiano escolar. As profes-
e a educação infantil do campo. Trata-se soras entrevistadas, ambas de uma cidade
de uma análise inserida no contexto da vizinha tida como referência por ser maior
pesquisa de mestrado Educação infantil e sede da diretoria regional de ensino, ha-
no campo: significações de professores, viam iniciado seu trabalho na escola seis
pais e crianças da pré-escola, cujo obje- meses antes da realização das entrevis-
tivo geral é investigar as significações de tas. A diretora, também coordenadora
educação infantil no/do campo presentes pedagógica, é moradora da região urbana
nas práticas sociais de famílias, crianças do município do assentamento, com po-
de cinco anos, comunidade, professores e pulação estimada em 5.000 habitantes e
demais profissionais da educação em dois localizada a 14 km do assentamento. Por
assentamentos rurais. Método - A pes- fim, a monitora do ônibus é assentada há
quisa como um todo envolve a vivência cinco anos, possui dois filhos matricula-
pelo período de um mês continuamente dos na escola, sendo um na pré-escola.
no cotidiano das instituições escolares Considerações - A partir das entrevistas,
em duas comunidades rurais e entrevistas foi possível analisar algumas divergências
semiestruturadas com os principais ato- e/ou convergências entre os discursos das
res sociais envolvidos. Para este trabalho, participantes. Os discursos das professo-
foram analisadas as entrevistas com as ras/diretora divergiram destacadamente
profissionais da educação que trabalham do apresentado pela monitora do ônibus
diretamente com a pré-escola da esco- em relação à visão de criança assentada
la municipal de um assentamento rural no que tange às possibilidades de viven-
do interior do estado de São Paulo, que ciar brincadeiras e experiências de apren-
possui turmas de pré-escola e das séries dizagem no contexto rural. Na visão das
iniciais do ensino fundamental. As profis- professoras/diretora, as crianças assen-
sionais que participaram das entrevistas tadas são “carentes” e possuem poucos
foram: a diretora/coordenadora, a moni- estímulos para aprendizagem e desenvol-
tora do ônibus, a professora da pré-escola vimento. Por outro lado, a monitora entra
e a professora de educação física, que em consonância com as demais quando
ministrava aulas para eles diariamente. se trata dos modos de lidar e interpretar
As entrevistas foram trabalhadas a partir os problemas de comportamento, sempre
da perspectiva teórico-metodológica da solucionados pelo uso de ameaças de re-
Rede de Significações (RedSig) (Rossetti- preensão dos familiares/responsáveis e
-Ferreira; Amorim; Silva; Carvalho, 2004), raramente relacionados às interações com
cujas concepções baseiam-se no mate- a equipe ou à organização da rotina/am-
rialismo histórico-dialético de Vygotsky e biente. Outros aspectos que compuseram
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nais que são deslocados da sala de aula da de cuidado que respeitem e favoreçam as
alfabetização para tomar conta das crian- condições de subjetivação e acolhimento
ças entendem a importância de seu papel ao pais e aos bebês, e que contemplem
ou sabem o que fazer? Hoje já temos uma uma formação mais singularizada dos
cultura da educação infantil, mas o cuidar profissionais que se dedicam à primeira
que essa faixa etária nos pede é um cuidar infância”(Zornic, 2010, p. 4) e igualmen-
diferente, um cuidar de sustentação e con- te de sua valorização pelo trabalho exer-
tinência para além do trabalho pedagógi- cido, o que não acontece na maioria das
co que lhes é solicitado. Um bebê e uma vezes. Segundo ainda a mesma autora, na
criança muito pequena só pode se cons- pesquisa realizada pela mesma, foi cons-
tituir e construir para si uma história nar- tatado que “muitas vezes os profissionais
rativa se houver, com ela, nesse percurso, da primeira infância não conseguem reco-
um adulto que exerça a função de nomear nhecer a dimensão fundamental e criativa
o mundo, identificá-lo e interpretá-lo des- de seu trabalho, sobrecarregados por uma
de as funções corporais até o mundo das rotina repetitiva e sem uma interlocução
coisas que rodeiam essa criança e os sen- que lhes permita dar sentido e amarração
timentos que emergem em determinadas simbólica a seu ato.” (Zornic, 2010, p. 13).
situações. Há regras que ainda precisam Neste trabalho discutiremos qual a impor-
ser aprendidas e estas só assim serão se tância da formação de profissionais nesta
houver alguém que exerça essa função. O área da primeira infância, levando-se em
que é pedido aos professores, mais do que consideração os conceitos de Winnicott
uma demanda pedagógica, é sustentação de holding, handling e apresentação do
e continência (Winnicott, 2000). Como mundo como sendo as principais tarefas
articular o que se pede como trabalho a maternas e o olhar diferenciado que um
ser feito dentro de uma faixa etária e a professor precisa desenvolver para intervir
questão primordial, ao nosso ver, de cons- sem interferir em um processo de desen-
tituição de um sujeito psíquico, qual seja, volvimento que já está lá, só que às vezes
sustentar e conter no tempo e no espaço de forma ainda insipiente. Neste âmbito,
uma criança pequena nas suas angustias para ampliar a discussão que este trabalho
e desejos? Relata-nos Zornic (2010) que pretende trazer, relataremos como uma
em um estudo feito pela Fundação Carlos situação de substituição de professor no
Chagas, em parceria com o Ministério da final de ano, devido à demissão da profes-
Educação e o BID, que 49,5% das creches sora regente, pode gerar a construção de
no Brasil tem qualidade inadequada, com um trabalho entre as crianças de 3-4 anos,
nota entre 1 e 3 numa escala que vai até do Maternal II, em um colégio Municipal
10. A pesquisa foi realizada em 147 insti- do Rio de Janeiro, e a professora novata,
tuições municipais, mas também incluiu levando a uma transformação da relação
escolas conveniadas e particulares. Os professor-aluno e novos aprendizados. A
resultados enfatizaram a necessidade de técnica por ela utilizada foi desenvolvida
melhorar a formação dos profissionais no âmbito do grupo de pesquisa Criar e
que cuidam desta faixa etária” (Zornic, brincar: o lúdico na escola, coordenado
2010, p. 4). Segundo a autora, esta e ou- pela Profa. Dr. Maria Vitoria Maia (UFRJ).
tras pesquisas marcam a “falta de práticas Os impasses que as crianças de 3-4 anos
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das populações do campo para a cidade, direito à creche e que povos do campo ne-
expande-se como direito a todas as crian- cessitam do atendimento a seus filhos em
ças, não mais apenas um direito social dos creche são ainda questões não pautadas
filhos de trabalhadores rurais e urbanos. pelo país em sua agenda política e cien-
Esses avanços, sejam eles do ponto da tífica. Quando pautadas, são atravessadas
vista da ciência, da política ou da cultura, pelos discursos e práticas historicamente
não possuem, contudo, uma distribuição construídos que apelam para programas
democrática e igualitária no país. O aces- não formais, alternativos e de baixo cus-
so e a qualidade dos serviços oferecidos to para a população pobre do campo que,
às crianças de 0 a 6 anos são atravessa- como apontam vários estudos em educa-
dos por desigualdades etárias, étnicas, ção, recebe as “sobras” da cidade e é sub-
de classe e regionais. No que se refere à metida a políticas que desconsideram e
questão territorial, a desigualdade entre o desvalorizam a cultura, os modos de vida
oferecimento da educação infantil urbana e os saberes desses povos. Se essas ques-
e do campo é particularmente preocupan- tões são desafiadoras para as ciências de
te, uma vez que no campo concentram-se modo geral, são de modo peculiar para
os maiores indicadores de pobreza. Num a psicologia, dado o impacto na constru-
processo de múltiplas desigualdades, as ção das subjetividades desses povos e de
populações do campo sofrem com a au- suas crianças. Na apresentação, pretende-
sência de políticas públicas. Se assumir- -se explorar esses aspectos, a partir de
mos, com demais autores, que as crianças reflexões provenientes de pesquisas do
são o grupo geracional mais afetado pelas grupo Subjetividade, Educação e Infân-
desigualdades sociais e pelas políticas pú- cia nos Territórios Rurais e da Reforma
blicas e que, quanto menores as crianças Agrária (SEITERRA), vinculado ao Centro
mais invisíveis são do ponto de vista do co- de Investigações sobre Desenvolvimento
nhecimento e das políticas, podemos dizer Humano e Educação Infantil (CINDEDI/
que as crianças do campo de a 0 a 3 anos FFCLRP-USP). Derivam também da vivên-
de idade situam-se na ponta mais extrema cia recente desse grupo na consultoria a
desse processo. Os indicadores nacionais iniciativas, do governo federal, de cria-
evidenciam a desigualdade de acesso no ção de um diálogo entre duas áreas cujos
caso do segmento de 0 a 3 anos de idade. avanços vêm se dando pela pressão dos
Enquanto que na população infantil urba- movimentos sociais: a educação infantil
na a taxa de frequencia à creche, de acor- e a educação do campo. Afirma-se que
do com a PNAD 2008, era de 20,52%, nos será necessária uma síntese dos acúmulos
territórios rurais era de 6,83%. Os desafios construídos por essas duas áreas a fim de
para a implantação do direito à educação superar concepções de campo sem crian-
infantil no campo são enormes, dada a ça e concepções de criança hegemoniza-
quase inexistência de investigações sobre das por um ideário urbano.
a população do campo, em especial sobre Defende-se que o grande desafio na ga-
o momento em que o ciclo familiar conta rantia do direito à educação infantil dos
com a presença de crianças bem peque- bebês do campo é harmonizar os princí-
nas. Como vivem os bebês do campo, que pios e as formas do atendimento. Se os
povos do campo querem e reivindicam o princípios são os mesmos a todas as crian-
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plo, diz que “a infância, em sua aparente ela usualmente precisa submeter-se a ele.
fragilidade, pode revelar ao adulto verda- No caso das pesquisas realizadas com
des que ele não consegue mais ouvir ou crianças pertencentes às camadas mais
enxergar”. Trata-se, portanto de reconhe- empobrecidas da população (o que tem
cer uma contribuição insubstituível, já sido bastante comum), soma-se a assime-
que, como reforça Rocha (2008), a escuta tria de poder derivada do pouco prestígio
das crianças torna possível conhecer e dos pobres ante as camadas dominantes.
confrontar um ponto de vista diferente Em muitos casos, são agregadas ainda as
daquele que nós seríamos capazes de ver desigualdades de poder originadas na
e analisar no âmbito do mundo social de raça e no gênero das crianças envolvidas
pertença dos adultos. No Brasil, esse mo- na situação de pesquisa. Alguns cuidados
vimento iniciou-se lentamente, sendo di- adicionais, portanto, precisam ser toma-
fícil identificar pesquisas focadas na escu- dos ao se realizar a escuta de crianças,
ta da criança antes dos anos 90. É a partir dando especial atenção à questão ética. É
de então que alguns trabalhos principia- necessário, por exemplo, tratar com rigor
ram a busca por conhecer a criança con- o consentimento e a manutenção da par-
creta, contextualizada social e cultural- ticipação das crianças: após obter a auto-
mente (Rocha, 1999). Nos últimos anos rização dos seus responsáveis, agir de
tem crescido a produção de estudos que modo que elas não se sintam constrangi-
ampliam e aprimoram o nosso conheci- das a participar da pesquisa, deixando
mento acerca do ponto de vista da crian- bastante clara a possibilidade de elas
ça, não apenas nas áreas da educação e aceitarem ou não o convite que lhes é fei-
da psicologia, mas também na da saúde e to. Ao mesmo tempo, o pesquisador deve
outras têm sido buscadas formas de apre- ficar muito atento para perceber se as
ender o ponto de vista das crianças. Para crianças estão confortáveis e interessadas
tanto, além de recorrerem às estratégias nessa participação ao longo de todo o
tradicionalmente disponíveis, vários pes- processo da pesquisa, mesmo que a de-
quisadores têm procurado novas formas sistência de alguém não seja conveniente
de explorar as diferentes linguagens da para os seus objetivos (vale lembrar que o
criança. Buscam criar recursos metodoló- interesse para a realização da pesquisa
gicos diferentes, como entrevistas de não parte da criança e, ao contrário do
crianças em pequenos grupos; criação de pesquisador, para ela é uma proposta
histórias acerca de desenhos feitos por nova e nem sempre muito clara). Uma das
elas; complementação de pequenas his- formas de diminuir os possíveis constran-
tórias relativas ao tema enfocado; realiza- gimentos decorrentes das desigualdades
ção de jogos simbólicos; utilização de ví- entre pesquisador e crianças tem sido a
deos e fotografias feitas pelas crianças realização de atividades em grupos, pois,
etc. É preciso considerar, no entanto, que estando entre os seus pares, a criança
nesse tipo de pesquisa é estabelecida possivelmente se sente mais à vontade e
uma relação entre sujeitos com posição mais fortalecida frente ao adulto (Andra-
desigual na nossa sociedade: enquanto de, 2007; Cruz, 2002, 2004 e 2007; Cam-
ao adulto é conferido o poder de realizar pos e Cruz, 2006; Martins, 2009;
ações que afetam diretamente a criança, Schramm, 2009, Souza, 2006). Além de
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considerar aspectos éticos relativos ao in- das, como a realização de vários grupos
gresso da criança na situação de pesquisa de crianças, a fim de dificultar a identifi-
e ao seu bem estar durante a sua partici- cação da autoria das opiniões e sentimen-
pação no processo, é preciso também tos apresentados. Concluímos, portanto,
atentar para as conseqüências decorren- que seria melhor, no sentido de proteger
tes da expressão das suas percepções, as crianças, que elas não participassem
opiniões, sentimentos etc. Isto porque, dessa consulta, apesar do processo ficar
dependendo do uso que se faz delas e das empobrecido por essa ausência. Nos últi-
reações dos adultos, as crianças podem mos anos, a área da Psicologia tem sido
vir a ser penalizadas. Recentemente, por demandada a pensar acerca do papel do
ocasião do projeto Indicadores da Quali- psicólogo na escuta de crianças suposta-
dade na Educação Infantil, tivemos uma mente vítimas de violência. A partir de
experiência muito marcante nesse senti- consulta recebida sobre o procedimento
do. Esse projeto, realizado sob a coorde- denominado Depoimento sem Dano, o
nação da Ação Educativa, tinha como ob- Conselho Federal de Psicologia tem pro-
jetivo a avaliação conjunta de todos os movido o debate e tomado posição acer-
segmentos que integram a instituição de ca de várias questões éticas envolvidas
Educação Infantil acerca do trabalho que nessa escuta, tanto relativas ao papel do
está sendo realizado. Assim, foi elaborado psicólogo como às possíveis consequên-
um instrumento para a escuta das crian- cias para as crianças e adolescentes (da-
ças, utilizado de forma experimental em nos, sofrimento, revitimação) (CFP, 2009).
quatro instituições que partilharam da Escutar as crianças, portanto, é decorren-
aplicação piloto na cidade de Fortaleza. te não só do desejo de aprofundar certos
Participaram desse processo meninos e conhecimentos, mas também de uma
meninas de 4 a 5 anos que freqüentam postura política de insatisfação diante das
uma creche municipal e outra convenia- condições em que vivem a sua infância. O
da, uma instituição filantrópica e uma es- maior conhecimento das perspectivas das
cola particular. Em cada uma dessas insti- crianças sobre aspectos de suas experiên-
tuições foi ouvido um grupo de crianças. cias realmente tem permitido ampliar o
Elas trouxeram informações muito impor- conhecimento acumulado sobre as pró-
tantes sobre o seu quotidiano nessas ins- prias crianças e sobre temas a elas rela-
tituições, mas várias dessas informações cionados, fornecendo elementos para
eram contraditória com as fornecidas pe- melhor fundamentar ações a seu favor.
los adultos e algumas desvelavam práti- Mas o empenho em escutar as crianças
cas totalmente inadequadas. Nessa expe- precisa ser orientado também pelo maior
riência, concluímos que, apesar de ser cuidado com esses sujeitos, devido a sua
muito importante para o sucesso dessa maior vulnerabilidade e respeito que lhe
iniciativa que as crianças fossem ouvidas, é devido.
seria preciso preservá-la de possíveis re-
taliações provocadas pela exposição do Palavras-chave: pesquisa com crianças,
que pensam e sentem sobre a sua experi- ética em pesquisas com crianças, escuta de
ência educativa. Para minimizar esse ris- crianças.
co, seria necessário uma série de medi-
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lógico-histórico e das condições concretas Como afirma Moraes (2002), a música, so-
e objetivas que produzem os padrões de bretudo a popular, pode ser compreendi-
sociabilidade, a infância, a criança e a sub- da como parte de uma trama povoada por
jetividade continuam abstratas. contradições e tensões em que os sujeitos
sociais (re) constroem partes da realida-
Palavras-chave: infância; criança; “menor”. de social e cultural, por meio dos sons.
Nessa perspectiva, a produção artística,
especialmente a musical, tem represen-
DA CONDIÇÃO DE ‘MENOR’ EM tado, a partir da década de 70, material
‘SITUAÇÃO IRREGULAR’: RETRATOS DE documental de interesse em pesquisas de
INFÂNCIAS NA MPB enfoque histórico, antropológico, semio-
Rosângela Francischini - UFRN lógico, sociológico e literário, para citar os
rfranci/@uol.com.br mais representativos. As formas através
Narjara Medeiros de Macêdo das quais a música foi se expandindo na
narjaramaceo@yahoo.com.br sociedade, enquanto veículo de informa-
ção ou de massificação, ganha contornos
Pensar a produção artística implica, neces- diferenciados, decorrentes dos momentos
sariamente, a consideração do contexto históricos no desenvolvimento das socie-
social e histórico em que esta foi elabora- dades. Assim, além de podermos observar
da. As manifestações artísticas sempre es- manifestações específicas predominantes
tiveram associadas às tradições e culturas em determinadas épocas, convivem, em
de cada época, tendo, portanto determi- um mesmo momento histórico, diferen-
nadas funções e atribuições relacionadas tes possibilidades de expressão musical e
à estrutura social, em um determinado ideológica. Isso porque, seguindo Bakhtin
momento. Segundo Stalschimidt (1999), (1979), enquanto manifestação simbólica
em diferentes culturas ao longo da histó- a música é perpassada pelo diálogo entre
ria da humanidade, podem ser encontra- diversas vozes culturais, caracterizado ora
das manifestações artísticas que expres- por oposição/confronto, ora por comple-
sam, de algum modo, as características da mentaridade ou ainda por concordância.
sociedade em que foram produzidas, bem Desta forma, a música pode carregar ma-
como as formas de relações entre seus nifestações da cultura dominante, erudi-
membros. A música, por exemplo, pode ta/formal, bem como da cultura popular
ser encontrada em diferentes contextos em suas formas folclóricas, urbanas e/ou
sócio-históricos, com funções bem dis- massificadas. Essas possibilidades que a
tintas, tais como em rituais religiosos, na música nos apresenta, de trazer conteú-
educação/formação dos indivíduos, como dos do contexto de sua produção, podem
procedimento terapêutico, na crítica ou ser observadas também nas letras de can-
manutenção de padrões estabelecidos, ções brasileiras cujo tema é a infância. As-
dentre outros. Deste modo, as canções e sim como a música, a infância é uma cons-
músicas podem esclarecer certos aspec- trução social. A partir das observações aci-
tos da história e da cultura, que nem sem- ma, estabelecemos, como objetivo deste
pre se apresentam de maneira explícita ou trabalho, apresentar e discutir a concep-
acessível por meio de outras linguagens. ção de infância que norteou o Código de
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Menores de 1979, qual seja, sujeito “em tivos, que aqui são apenas sinalizados: a.)
condição irregular”, retratada em duas a condição do protagonista; b.) o teor do
composições musicais brasileiras, partin- discurso sobre o protagonista; c.) quem
do do pressuposto de que a construção, “fala” desse protagonista. O discurso na
a profusão e significação de elementos composição Pivete pode ser entendido
culturais e formas simbólicas comparti- como uma narrativa do cotidiano de um
lhados em uma dada sociedade, em de- sujeito em situação de rua, no Rio, em
terminado momento histórico, refletem atividades de trabalho: vendedor no se-
e refratam as condições dessa sociedade. máforo, flanelinha; em atividade ilegal:
No Brasil, teóricos que se ocupam da dis- “aponta o canivete”, “arromba uma por-
cussão sobre as políticas de atendimento ta Faz ligação direta”; “agita numa boca,
à Infância (Pilotti & Rizzini, 1995, Rizzini, descola uma mutuca”, e perambulando
1997, 1998; Kramer, 2001; Faleiros, 1995; e mendigando: “zanza na sarjeta, fatura
Neves, 1999) vêm apontando que a con- uma besteira”. Assim, o protagonista é o
cepção de infância que orienta essas po- retrato do sujeito em ‘situação irregular’.
líticas passa por um percurso inaugurado No entanto, considerando o autor da com-
pela Doutrina do Direito do Menor (em posição, Chico Buarque, cujas canções
oposição à criança), substituída posterior- são marcadas pela oposição ao regime
mente, pela Doutrina da ‘Situação Irre- autoritário, Pivete é mais um registro da-
gular’ que, decorrente de ampla mobili- quilo que contraria o discurso dominante,
zação popular, foi abandonada e em seu na época, sobre crianças e adolescentes.
lugar adotou-se, com o Estatuto da Crian- Nas palavras de Meneses, Chico “privile-
ça e do Adolescente (Lei 8.690, 1990), a gia o marginal como protagonista, pondo
Doutrina da Proteção Integral. Não é ob- a nu, assim, a negatividade da sociedade.
jetivo, neste trabalho, aprofundarmo-nos Desde o primeiro disco (...) os despossuí-
na discussão a respeito dessas doutrinas. dos têm voz e vez. Malandros, sambistas,
Nossa intenção, ao chamá-las ao cenário, pedreiros, pivetes, prostitutas, pequenos
sinaliza para uma direção/proposta de funcionários, sem terra, mulheres aban-
análise das letras das músicas, que, de al- donadas”. (Meneses, 2003: 58). Sobre Re-
guma forma, trazem o protagonista “Me- lampiano o personagem central, Neném,
nor em situação irregular”. Essa catego- é retratado na condição de trabalho nas
ria, presente no imaginário da população ruas e pelo contexto de moradia em um
por um longo período de nossa história, barraco junto à mãe, aos irmãos e de um
persiste no sentido de que configura uma “pai de agora”. Assim, igualmente, crian-
concepção de infância “delinqüente”, ça em ‘situação irregular’. A descrição
“abandonada”, que vive nas ruas e/ou em das atividades de Neném não pode ser
ambientes familiares “desestruturados”, localizada em um narrador determinado,
na mendicância, e/ou praticando atos in- ao contrário do que ocorre com Pivete.
fracionais. Foram selecionadas as músicas O refrão da canção evidencia a presença
Pivete, de Chico Buarque e Francis Hime da mãe: “Tá relapiano, cadê Neném?”, e
(1978) e Relampiano, de Paulinho Moska uma resposta, que não se sabe por quem
e Lenine (1997). A análise das letras obe- é emitida: “Tá vendendo drops ...” Os de-
deceu aos seguintes elementos constitu- mais segmentos demonstram uma des-
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construcionismo social foi utilizado como cado investigar esses temas. Nesta mesa
referencial teórico-metodológico, princi- serão apresentados quatro trabalhos que
palmente para a análise das entrevistas, a envolvem a vulnerabilidade da infância,
qual compreendeu quatro temas que nos adolescência e vida adulta. No primeiro
possibilitaram discutir algumas situações trabalho, as autoras investigam efeitos
de interação que elegemos interessantes, psíquicos de traumatismos precoces pro-
a saber: 1) Descobrindo crianças “pergun- duzidos pelo abuso sexual em crianças.
tadeiras”; 2) “Pergunta é pra conversar”: Considera-se que em função desse estágio
discutindo uma ferramenta de pesquisa de desenvolvimento esses traumatismos
com crianças; 3) Negociação de sentidos; tendem a produzir danos psíquicos que
e 4) Pesquisador em formação. Destaca- afetam o pensar, a capacidade de simboli-
mos deste trabalho que o enquadramento zar, o ajustamento no mundo e produzem
relacional específico utilizado no estudo frequentes danos na aprendizagem. As
possibilitou reconhecer a potencialidade consequências do abuso são múltiplas e
das descobertas durante a conversa com o método de Rorschach é um instrumento
as crianças e, ainda, permitiu refletir sobre poderoso nessa investigação. O segundo
como colaboramos, como pesquisadores- trabalho continua abordando o tema do
-adultos, com o processo de constituição abuso sexual na perspectiva de crianças
da infância e da pesquisa com crianças a e adultos. Neste trabalho a autora apon-
partir da construção e combinação de re- ta que o Rorschach tem sido considerado
cursos metodológicos, aliados à explora- um instrumento ideal para desencadear
ção de novas perspectivas teóricas. memórias e sentimentos relacionados às
vivências traumáticas. O processo de sub-
Contato: Ludmilla Dell’Isola Pelegrini de Melo missão ao teste pode ser muito semelhan-
Ferreira, Universidade de São Paulo – Ribeirão te à revivência da situação dramática em
Preto-SP, melolud@yahoo.com.br pesadelo. Além disso, o teste pode forne-
cer, de modo indireto, informações essen-
ciais de personalidade que os inquiridos
MR LT01 - Mesa Redonda não reconhecem plenamente em si ou
hesitam em admitir quando questionados
Convidada
sobre eles diretamente por meio de ins-
trumentos de autorrelato. De outra parte,
no trabalho seguinte, investiga-se a pers-
MR LT01-1053 - VIOLÊNCIAS,
pectiva do abusador adolescente, consi-
TRAUMATISMOS E VULNERABILIDADES
dera-se que essa fase do desenvolvimento
NO CICLO VITAL: ESTUDOS COM O
é um momento de intensa instabilidade
MÉTODO DE RORSCHACH
produzidas pelas mudanças corporais e
psicológicas que colocam em perspectiva
Temas como abuso, violência e suicídio uma reorganização da identidade corpo-
são signos do mal-estar da atualidade e ral e psicológica da infância. Enfatiza-se
revelam estados de vulnerabilidade do hu- os aspectos traumáticos deste período,
mano ao longo do seu ciclo vital. Pesqui- destacando-se as transformações violen-
sas com o Método de Rosrchach tem bus- tas decorrentes da genitalização do corpo
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mílias cujos membros da primeira geração leitura de um dos pioneiros desse estudo:
foram torturados durante o período de Di- Bartlett. A compreensão sobre o estudo
tadura brasileira. A narrativa de história de da memória na ciência do desenvolvimen-
vida é aqui interpretada como instrumen- to induz, no entanto, à necessidade de
to de recordação desde o que é relevante recuperação de sua história nessa disci-
no presente e na construção de futuro, plina. No século XIX, Ribot desenvolveu
sendo, portanto situada e mediada his- um estudo sobre memória humana. Sob
tórica e culturalmente. Em seguida, apre- a perspectiva organicista, diferenciando
sentaremos estudo em que se utilizam as recordação e memória; a recordação é um
narrativas para se entender o impacto de mecanismo de resgate de eventos passa-
ferramentas mediacionais na emergência dos, sendo um aspecto complementar da
da identidade profissional docente de es- memória. Essa distinção ocorre pelo fato
tudantes de um curso de Licenciatura em de a memória não conter aspectos subje-
Letras a distância. Em um terceiro estudo, tivos de funcionamento, mas biológicos,
enfocamos os reposicionamentos de pro- enquanto a recordação compõe o ato
fessores do ensino superior quando tran- de recuperar eventos do passado. Nesse
sitam do ensino presencial para a EaD. primeiro estudo as memórias autobiográ-
ficas são nomeadas como “pontos de re-
ferência” que são manifestados pelas nar-
A MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA NA rativas e vivências da pessoa. Esses pontos
CIÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO: de referência de memória são estabeleci-
ASPECTOS TEÓRICO-HISTÓRICOS dos por três fatores que atuam isolada- ou
André de Carvalho-Barreto - UnB, dinamicamente: interesse da pessoa, con-
andrecarvalhobarreto@yahoo.com.br senso de um grupo no qual a pessoa inte-
Silviane Bonaccorsi Barbato - UnB gra ou pelo interesse da sociedade. Esse
silviane@gmail.com ponto de referência é compreendido ain-
da como eventos e estados de consciên-
Financiamento: CAPES
cia que se posicionam ao longo do tempo
vivido da pessoa. A memória autobiográ-
Nessa sessão pretendo discutir o conceito
de memória autobiográfica no contexto fica Ribot faz uso dos seus pontos de re-
da ciência do desenvolvimento, partindo ferência para resgate de eventos vividos,
do aspecto histórico. Por memória auto- estando esses inseridos dentro tempo,
biográfica compreende-se a história de mas não muito bem organizados crono-
vida, que a pessoa constitui ao longo do logicamente pela memória. A linguagem,
tempo, promovida pelos processos de in- nesse contexto, apesar de percebida de
teração da pessoa em desenvolvimento forma orgânica, é entendida como a for-
com as outras pessoas, objetos e símbolos ma interna que a pessoa utiliza para atri-
existentes em seu contexto. A linguagem é buir significados às suas memórias, sendo
a mediadora na interação e desencadeia a ela igualmente uma forma de acesso às
construção de significados. Na última dé- memórias, recuperando-as e oferecendo
cada, a ciência do desenvolvimento huma- significados. No mesmo período Galton
no do Brasil tem retomado seus estudos evidencia a relevância da linguagem como
sobre a memória autobiográfica pela re- forma de acesso para a memória autobio-
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no passado, eu-professor no futuro, eu- sita estar incluído na relação com ele, ain-
-estudante). A partir disso, eles foram se da que seja uma relação não presencial.
identificando e diferenciando com as ou- É na relação com o aluno que o professor
tras pessoas e construindo os significados consegue se perceber em sua atividade,
que mediaram suas identidades e seus regulando suas ações e, consequente-
posicionamentos sobre o ser jovem, estu- mente, orientando e negociando seus
dante e trabalhador. Neste interjogo entre significados nas trocas intersubjetivas. Em
passado, presente e futuro, a construção relação ao ser professor, vários elementos
da identidade docente foi marcada pelos participam desta construção da experiên-
embates críticos, a negociação e a trans- cia em salas de aula presencial ou virtual:
formação entre o passado (eu – professor o tipo de atividade desenvolvida, a relação
iniciante), o presente (eu – professor atu- professor-aluno, a didática e a metodolo-
al, eu - estudante) e o futuro (eu – profes- gia e outros mediadores utilizados. O pro-
sor melhor, eu - mais preparado, eu - mais fessor é a partir de seus alunos, e, é como
qualificado para o trabalho). é por suas relações específicas com as
ideologias vivenciadas e pelas tensões no
Palavras-chave: Jovem; Narrativa; impacto destas interações. Nesta relação
Posicionamentos. está envolvida a atividade de “dar aulas’,
que se caracteriza, no ensino presencial,
como o momento privilegiado do encon-
CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA EM tro com o aluno. Quando transitamos nos
DOCENTES: DO PRESENCIAL À EAD diversos níveis do ser professor através do
Fabrícia Teixeira Borges - UNIT processo de escolarização, percebemos
fabricia.borges@gmail.com alguns significados que participam espe-
cificamente, de cada fase, e das constru-
Neste trabalho, discuto os processos iden- ções identitárias de docentes. No ensino
titários de professores do ensino superior superior, por exemplo, novos significados
e as mudanças percebidas quando transi- são negociados na relação professor – alu-
tam entre o ensino presencial e a atuação no. Inicialmente, há uma tensão na nego-
na educação à distância. Entendemos que ciação destes novos significados, pois os
a construção da identidade é dinâmica e posicionamentos vivenciados entre um
constante, envolvendo os posicionamen- e outro começam a diferir do professor
tos de si na relação com os grupos a que de ensino médio. A perspectiva de uma
pertencemos e as atividades que desen- maior autonomia do aluno e do professor
volvemos. Portanto, a identidade refere-se gera um reposicionamento nesta intera-
a um pertencimento e a uma organização ção. Em alguns momentos o impacto da
de si como forma de se construir a partir entrada na universidade para os jovens,
das relações dialógicas. A inclusão em um vem principalmente, por um contexto que
grupo determinado, como o de professo- novas ideologias são apresentadas como
res, implica no distanciamento de outros, forma de inseri-los em um novo posicio-
como o de alunos. Embora percebamos namento de ser alunos. Então a partir de
um movimento dialógico, em que o pro- um estudo com professores que atuavam
fessor, para se diferenciar do aluno, neces- tanto no ensino presencial como na EaD
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foi observado que a mediação pela tecno- de construção de novos significados que
logia impactava diretamente sua constru- estão em evidência nas entrevistas e que
ção identitária por alguns motivos: 1) pela nos propiciaram definir como marcadores
“ausência” do contato direto com o aluno, do processo identitário do professor de
modificando a relação professor-aluno e ead, as tensões vivenciadas entre o ser-
o processo de comunicação, 2) pela ênfa- -professor-presencial e o ser-professor-
se em outras atividades que não o de dar -ead. Na tentativa de definir quais as di-
aulas para identificá-lo como professor ferenças entre o atuar presencialmente e
(função administrativa e função técnica), na EaD, foi possível perceber a dinâmica
3) por uma mediação hipermidiática na identitária entre uma e outra forma de ser
construção do conhecimento, 4) por um professor. O que parece ser importante no
vivência da temporalidade diferenciada professor de EaD é considerar os aspectos
do ensino presencial. Utilizamos as narra- do ser professor, como: a relação com os
tivas de história de vida com professores alunos, a didática e os outros processos
por entendermos que as histórias de suas da construção de sua identidade a partir
vidas profissionais desencadeiam nego- de mediadores tecnológicos. O professor
ciações de significados entre as diversas presencial estabelece a relação com o
vozes presentes, como o eu-professor- aluno em um tempo e um espaço defi-
-presencial e o eu-professor-ead, propi- nido, enquanto o de ead, vivencia nesta
ciando uma reflexão sobre sua construção relação outras formas de temporalidade
identitária em uma e outra atividade. Ao e de encontro, que na maioria das vezes
contarem sobre suas carreiras docentes, são mediados pela tecnologia. Participar
na presença do outro-pesquisador, há do desenvolvimento tecnológico e ser im-
uma reorganização e a consciência de si pactado por ele, não é exclusivo da educa-
propiciadas por estas reflexões. Percebe- ção, mas implica em um processo cultural
mos a repetição dos significados, como que temos sentido em vários níveis e ati-
vozes que circulam nos textos e nas for- vidades, principalmente o das interações.
mações de professores para a Ead, como: Assim, entendemos que a tecnologia im-
“temos que planejar mais na ead que no pacta consideravelmente no desenvolvi-
presencial”, “temos que ter domínio das mento psicológico humano, influenciando
tecnologias”. Mas é quando estas vozes diretamente nas formas de ser e agir. Por-
nos remetem às dificuldade do ser pro- tanto, o ser-professor - EaD traz reflexões
fessor de ead, como: “nós não temos con- de nossa própria vivencia histórica con-
tato com o aluno”, “as relações com os temporânea e de constituição identitária
alunos são diferentes, são mais afetivas”, globalizada, mediada pelas tecnologias
“no presencial dá para improvisar, na ead e pelo advento da internet, onde namo-
não” ou “no EAD a gente tem que ter uma ramos pela internet, temos amigos pelo
visão diferente, tem que ter uma paciência MSN, mas não deixamos de vivenciar os
maior, tem que ter uma qualificação tam- afetos e os processos dialógicos que en-
bém muito maior do profissional para com volvem todas a relações humanas.
o aluno”; que percebemos o momento de
reposicionamento do professor. Nestas Palavras-chave: Identidade; Professor; EaD.
falas, podemos apreender o movimento
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psicanalítica, acaba por concluir que as dados coletados, os mesmos foram anali-
representações sociais não se alimen- sados por meio do software desenvolvido
tam apenas das teorias científicas, mas por Vergès, denominado EVOC (Ensemble
também “(...) dos grandes eixos culturais, de programmes permettant l’analyse des
das ideologias formalizadas, das experi- evocations) – versão 2003, que permite
ências e das comunicações cotidianas” a organização das evocações produzidas
(Vala, 1993 p.353). Estudos mostram que de acordo com as suas freqüências e com
as representações sociais não são a mera a ordem de evocação ou, como se adota
reprodução mental da realidade exterior no presente estudo, de importância, pos-
ao sujeito, mas elas passam a impregnar a sibilitada pela hierarquização dos termos
realidade adquirindo foros de consistên- enunciados pelos sujeitos. É um instru-
cia ontológica, orientando as cognições e mento facilitador para a análise da estru-
comportamentos dos indivíduos. (Abric, tura e organização de uma representação
Faucheux & Moscovici,1967). Nas pala- social. O instrumento contém ainda as se-
vras de Vala, (1986) “(...) as representa- guintes informações: dados de identifica-
ções são sociais, não pela sua extensão, ção: sexo, série e idade. Os participantes
mas porque emergem num dado contex- da pesquisa foram 112 alunos, sendo 54
to social; porque são elaboradas a partir do gênero feminino e 58 do gênero mas-
de quadros de apreensão que fornecem culino. 51 alunos cursam o 4º ano e 61
os valores, as ideologias e os sistemas de alunos o 5º ano do ensino fundamental. A
categorização social partilhados pelos di- idade variou entre a mínima de 9 e a má-
ferentes grupos sociais” (p.20). O papel xima de 14 anos de idade. Todos estudam
da escola está além do âmbito formal, é em escolas da rede pública de ensino do
imprescindível que a escola esteja aten- Governo do Distrito Federal. Os resulta-
ta e busque estratégias adequadas para dos apontam que a representação social
trabalhar com os alunos de forma global, mais evocada pelos alunos do 4º e 5º ano
proporcionando ambiente acolhedor e lú- foi que a escola é boa (evocada 58 vezes e
dico, além da própria aprendizagem. Des- com freqüência de 2,27%), em seguida foi
ta forma, este projeto de pesquisa teve a palavra importante com 31 evocações e
como objetivo analisar as representações com freqüência de 2,21 e por último lugar
sociais dos alunos do 4º e 5º ano do Ensi- de aprendizagem, com 28 evocações e
no Fundamental sobre a escola e sugerir freqüência de 2,125. Tais representações
reflexões sobre os aspectos pedagógicos devem primar por trabalhar a criatividade
e metodológicos proporcionados na esco- e ampliar o nível de satisfação dos alunos
la. A principal fonte de dados da pesquisa e que os ajudem a reconhecer, cada vez
foi um instrumento de evocação livre com mais, a escola como um espaço de apren-
seis respostas, que foi aplicado aos alunos dizagem e de lazer. A inserção prazerosa
do ensino fundamental do 4º e 5º ano da do aluno na escola certamente é uma ex-
rede pública de ensino do Distrito fede- periência positiva em sua trajetória esco-
ral. O instrumento de evocação possui lar estendendo-se até a vida adulta. Pode-
uma única pergunta: Para você a Escola -se concluir com essas análises que os alu-
é.... O aluno deve colocar seis frases ou nos do 4º e 5º anos do ensino fundamen-
palavras que remetam à escola. Após os tal possuem uma representação da escola
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como boa e a percebem como importante mos seres sociais, muito antes mesmo do
local de aprendizagem para o desenvolvi- nosso nascimento. Logo após o nosso nas-
mento da pessoa como um todo. cimento e durante todo o transcorrer da
nossa vida há um desenvolvimento social
Palavras-chave: Representações Sociais, como aborda Zimbardo (2005). A vida a
Escola, Crianças dois e o relacionamento matrimonial por
Contato: Teresa Cristina Siqueira Cerqueira, serem construções sociais são carregados
UnB, teresacristina@unb.br de representações que trazemos e desen-
volvemos ao longo da nossa história de
vida. A segunda característica marcante
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SUJEITOS da fase adulta é a relação de trabalho e
NA FASE ADULTA SOBRE A ESCOLA profissionalização. Rodrigues (2003) ex-
André Felipe Costa Santos -UnB plana que a escolha profissional é marca-
andrefelipecostasantos@gmail.com da por dois enfoques: satisfação e prazer
Profa. Dra.Teresa Cristina Siqueira Cerqueira -UnB por meio de ganhar a vida. Tais enfoques
teresacristina@unb.br então abalizados e influenciados pelo
meio social no qual aquele sujeito está
A Psicologia do Desenvolvimento Humano inserido. Tendo em vista estas duas carac-
tem por seu objetivo o estudo sobre a evo- terísticas basilares da vida adulta, vida a
lução da capacidade percentual e motora, dois e trabalho, constata-se o forte eixo
das funções intelectuais, da sociabilidade que o aspecto social tem na relação dos
e da afetividade do ser humano (Oliveira, indivíduos e da construção do ser. Dentro
1994). Apoiado nesta premissa e embasa- desse cenário verificamos o quanto algu-
do na relevante contribuição que estudos mas instituições como: Família; Escola;
em psicologia do desenvolvimento huma- Religião; são fundamentais e relevantes
no pode oferecer para melhor compreen- na formação do sujeito e no desenvolvi-
dermos o espaço educacional, constitui o mento social, uma vez que estas institui-
objetivo desta pesquisa apresentar dados ções exercem forte influência na constru-
e contribuições sobre as representações ção e concepção das representações dos
sociais de sujeitos da fase adulta sobre sujeitos. Tendo em vista a força destas ins-
a escola. Rodrigues (2003) aponta que o tituições, destacamos o ambiente escolar
grande marco e característica fundamen- como um das principais entidades gerado-
tal da etapa adulta são: vida a dois e o ras de representações. Segundo Mazzotti
trabalho. Com respaldo nestas conside- (2008) o ambiente escolar exerce função
rações é que me proponho explicitar de primordial na internalização de represen-
forma breve essas duas características tações sociais nos indivíduos, por meio
fundamentais da fase adulta. Pautando, das praticas sociais estabelecidas durante
todavia, no aspecto social. É mui- a formação e o processo de aprendizado.
to recorrente encontrarmos na literatura Mediante a isto a Escola é uma instituição
acadêmica, que aborde a psicologia do de grande valia de estudo, uma vez que
desenvolvimento humano, que a principal esta gera algumas representações sociais
característica da fase adulta seja a vida a que influenciam grande parte da vida do
dois, ou intimidade. Para Lane (1994) so- ser. Em função da importância do desen-
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volvimento social dos sujeitos e das suas se adotou como instrumento de coleta o
representações sociais, em todas as eta- questionário. O questionário aplicado aos
pas do desenvolvimento humano, desde Adultos possuía uma única pergunta: Para
a sua infância até a sua velhice. Trazemos você a Escola é....; Os adultos deveriam co-
para a discussão deste trabalho conceitu- locar seis frases ou palavras que deveriam
ações da Psicologia Social, com o intuito remeter à escola e depois hierarquizá-las
de melhor auxiliar na nossa compreensão pelo grau de importância as evocações.
sobre a fase adulta e mais especificamen- Demais disso, os adultos deveriam pre-
te da relação adulto/ escola. Partindo da encher itens relacionados à identificação
linha materialista- histórica da Psicologia (informações sobre idade, sexo, formação
Social trazemos à baila a Teoria das Re- acadêmica). Depois de coletados os dados
presentações Sociais, desenvolvida por dos pais, utilizamos o software desenvolvi-
Serge Moscovici em 1961, que conforme do por Vergès, denominado EVOC (Ensem-
Almeida (2003) tem oferecido um impor- ble de programmes permettant l’analyse
tante aporte teórico aos pesquisadores des evocations) – versão 2003, que possi-
que buscam compreender os significados, bilita a ordem de evocação e a freqüência
e os processos neles imbricados, criados das respostas suscitadas. Os procedimen-
pelos homens para explicar o mundo e tos para realização deste estudo foi pau-
sua inserção dentro dele. Para Jodelet as tado na aplicação de 10 questionários,
representações sociais são “uma forma de no transcorrer do segundo semestre de
conhecimento, socialmente elaborada e 2010, por cada um dos dois pesquisado-
partilhada, que tem um objetivo prático e res envolvidos. O passo seguinte foi, a efe-
concorre para a construção de uma reali- tivação da introdução dos dados colhidos
dade comum a um conjunto social” (Jode- pelos questionários no software EVOC,
let, 1989). É nesse cenário que esta pes- que permitiu a organização das evocações
quisa analisa como sujeitos na fase adulta produzidas de acordo com as suas frequ-
percebem o ambiente escolar. Outro re- ências e ordem. Para os sujeitos na fase
levante objetivo deste trabalho é inferir, adulta, obtemos 20 representações da
de acordo com as representações sócias escola. A representação mais evocada foi:
evocadas pelo grupo pesquisado, melho- socialização com 4 evocações; Aprender,
rias no espaço escolar. A matriz epistemo- Troca de Experiências,Conhecimento e
lógica escolhida para realização desta pes- Formação, aparecem com 3 cada; Respei-
quisa foi a pesquisa qualitativa que segun- to e Fazer Amigos com 2 cada. Para uma
do Gonsalves (2007), tem como baliza as melhor conceituação e visualização cate-
preocupações com a compreensão, com a gorizamos as representações em três zo-
interpretação do fenômeno, considerando nas de frequências: A maior categoria, So-
o significado que se dá a sua prática. Os cial, integrando pelas palavras Fazer ami-
participantes deste estudo foram dez (10) gos, Troca de experiências, Socialização
sujeitos na fase adulta no Distrito Federal, e Respeito, compondo 55%; a categoria
Brasília. Os participantes eram 6 do gêne- Cognitiva, composto por Aprender e Co-
ro feminino e 4 do gênero masculino, sen- nhecimento, satisfazendo 30%; A menor
do que se encontravam na faixa etária de zona chamada Cognitivo/Social é formada
26 a 36 anos. Para a obtenção dos dados, unicamente pela representação Forma-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
de como o fenômeno violência tem afe- ultrapasse as fronteiras dos diversos do-
tado o pensamento e o comportamento mínios das Ciências Sociais. O tema tem
de um povo. Entender o que os grupos de sido estudado por antropólogos, mas
professores pensam a respeito dos ado- pouco contemplado por estudos peda-
lescentes que já praticaram ou praticam gógicos e psicológicos na abordagem dos
atos infracionais, pode representar um estudos sócios-culturais. A aproximação
passo no sentido de superar possíveis dos psicólogos à questão indígena ocor-
problemas de relacionamento, visando à re nesta década. Atualmente, há uma
efetiva inclusão destes adolescentes na inserção dos psicólogos junto às aldeias
escola. Sendo assim, percebe-se a im- especialmente na área da saúde e uma
portância do estudo das representações maior adesão de psicólogos sociais nas
social em relação à questão da violência. discussões da temática indígena. O tem-
Fica clara a necessidade do aprofunda- po indígena para um ser humano desen-
mento do tema, especialmente quando, volver-se imita a natureza, cada pessoa,
por meio de pesquisas científicas (Me- tem seu próprio ritmo de aprendizagem,
nim, 2005; Santos; Aléssio, 2006; Espín- o que proporciona a educação é a cultura,
dula; Santos, 2004), percebemos que as a corporalidade, o próprio ciclo de vida
representações sociais de determinados do indivíduo, apoiando-se na cosmologia,
grupos em relação ao fenômeno da vio- nas tradições e no modo de vida da sua
lência, têm contribuído para perpetuar comunidade. “A família e a comunidade
visões preconceituosas e distorcidas. (ou povo) são os responsáveis pela educa-
Diante disso, verifica-se nos estudos das ção dos filhos. É na família que se aprende
representações sociais, um caminho vi- a viver bem: ser um bom caçador, um bom
ável para entender a visão da sociedade pescador, um bom marido, uma boa espo-
em relação ao fenômeno estudado. sa, um bom filho, um membro solidário
e hospitaleiro da comunidade; aprende-
Palavras-chave: Representações sociais; -se a fazer roça, a plantar, fazer farinha;
Adolescente em conflitos com a lei; Escola. aprende-se a fazer cestarias; aprende-se
Contato: Jaqueline Kelly Lourenço, UnB, a cuidar da saúde, benzer, curar doenças,
jaquelinek@gmail.com conhecer plantas medicinais; aprende-se
a geografia das matas, dos rios, das ser-
ras; a matemática e a geometria para fa-
ESCOLA DIFERENCIADA INDÍGENA: zer canoas, remos, roças, cacuri, etc; não
ESPAÇO ABERTO DE PRÁTICAS existe sistema de reprovação ou seleção;
EDUCACIONAIS CULTURAIS os conhecimentos específicos (como o dos
Ana América Magalhães Avila Paz -UnB pajés) estão a serviço e ao alcance de to-
anapaz.uab@gmail.com dos; aprende-se a viver e combater qual-
quer mal social, para que não tenha na
Este ensaio enfoca as concepções de edu- comunidade crianças órfãs e abandona-
cação indígena e educação escolar nas das, pessoas passando fome, mendigos,
sociedades indígenas e propõe-se a con- velhos esquecidos, roubos, violência, etc.
tribuir com as discussões para construção Todos são professores e alunos ao mesmo
da interdisciplinaridade necessária que tempo”(Gersem Luciano-Baniwa). Os mo-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
mentos coletivos importantes tais como: lar indígena foi atribuída às Assembléias
a recepção do nome, a “iniciação”, o nas- Provinciais promovida cumulativamente
cimento do primeiro filho, a morte de um com as Assembléias e os Governos Ge-
parente ou de um membro da comunida- rais. Até os anos 70, predominou o discur-
de são marcados por ações ritualísticas so integracionista que segundo Grupioni
e pedagógicas, das quais a comunidade (2008, p.36), evidencia a atuação hege-
participa ativamente, a subjetividade se mônica do órgão indigenista na oferta de
expressa de forma individual e ao mes- processos escolares aos grupos indígenas,
mo tempo é social. A educação indígena, ancorado numa legislação que apontava
em sua alteridade possibilitou estraté- para a integração dos índios à comunhão
gias para continuar sendo eles próprios, nacional “como caminho inexorável de
conforme é explicitado por Meliá (1999): seu desenvolvimento”. Entre os anos 80
“Os povos indígenas sustentaram sua al- e 90 começaram as discussões interdis-
teridade graças a estratégias próprias, ciplinares sobre a educação diferenciada
das quais uma foi precisamente a ação indígena, (Grupione, 2006). A perspectiva
pedagógica. Em outros termos, continua integracionista dos programas de educa-
havendo nesses povos uma educação in- ção e o acesso à escola, precisavam ser
dígena que permite que o modo de ser superadas pelo conceito de direito, garan-
e a cultura venham a se reproduzir nas tido pela Constituição Federal de 1988,
novas gerações, mas também que essas que recomenda o respeito às línguas, a
sociedades encarem com relativo sucesso formação de índios para a docência na
situações novas”. A escola enquanto insti- escola indígena e o reconhecimento dos
tuição foi historicamente imposta aos in- direitos culturais dos grupos indígenas.
dígenas pelos jesuítas, por volta de 1549, Nesse sentido a escola necessária aos po-
com o objetivo de domesticá-los e cate- vos indígenas é multilíngüe, fortalecedora
quizá-los, serviu desde o início para vestir da identidade, do sentimento de perten-
suas vergonhas, adestrar-lhes e reprimir- cimento étnico, exigindo do Estado uma
-lhes duramente os comportamentos postura ativa na construção de políticas
considerados inadequados. Impôs-lhes a para que os povos indígenas possam usu-
proibição e a vergonha de falar suas lín- fruir deste direito. “A escola não é o único
guas, de cultuar seus ritos de aprender lugar de aprendizado. Ela é uma maneira
com suas memórias. Este tipo de escola de organizar alguns tipos de conhecimen-
foi seguida por outras ordens religiosas: to para ensinar às pessoas que precisam,
salesianos, capuchinhos e outros missio- através de uma pessoa, que é o professor.
nários. Entre os séculos XVI a XVIII o papel Escola não é o prédio construído ou as
da escola era indissociável do projeto de carteiras dos alunos. São os conhecimen-
catequese, crianças indígenas foram reti- tos, os saberes. Também a comunidade
radas de suas famílias e levadas para inter- possui sua sabedoria para ser comunica-
natos missionários. No Império, o Estado da, transmitida e distribuída” (Gersem
laico preocupou-se com a domesticação Baniwa). As práticas educativas emergem
indígena, criando escolas que visavam de uma racionalidade que foi negada aos
a assimilação à “civilização”. Em 1834, a indígenas (Meliá, 1999). As pedagogias
competência da oferta da educação esco- indígenas são fundamentais na formação
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essas questões, o trabalho busca analisar também, que o sol é muito forte e, por
a realidade de crianças e adolescentes em isso, sentem muita dor de cabeça, sinto-
situação de risco social e econômico, que ma possivelmente agravado em decor-
trabalham com o motor do sisal. Para isso, rência da desidratação e da desnutrição.
adotou-se como referencial teórico uma Ao serem perguntados sobre o que mais
abordagem a sociologia da infância (ARI- gostavam no trabalho, eles indicaram que
ÉS, 1981) e a teoria das representações gostavam de voltar montados nos jegues,
sociais (Moscovici, 1978), a fim de se en- após as plantas terem sido descarregadas.
tender a diversidade e as permanências Eles afirmam, ainda, que gostam de poder
culturais, bem como, as contradições ine- ajudar os seus pais, pois, quando toda a
rentes à realidade das crianças que traba- família trabalha, eles conseguem uma
lham com o motor do sisal (Spink, 1993). maior margem de lucro; isso significa 90
Como método da pesquisa, foi realizado a 100 reais por mês. Nesse sentido, há o
um estudo descritivo exploratório, por incentivo dos pais, aos seus filhos, para
meio do qual foram entrevistados cinco que as crianças ajudem no trabalho com
participantes, com idades entre 9 a 15 o sisal. Para os pais, é um absurdo que os
anos. Os dados também foram coletados seus filhos não possam exercer essa tare-
por meio de pesquisa participante. Como fa, pois, a bolsa família ainda é insuficiente
instrumentos de coleta de dados, foram e, desde crianças, eles trabalharam com o
realizadas entrevistas semiestruturadas, sisal e afirmam: Os meus pais trabalharam
posteriormente, submetidas a análise de desde pequenos, eu também trabalhei,
conteúdo. Os dados levantados durante por que os meus filhos não podem tra-
a pesquisa apontam para o fato de que, balhar? Nesse sentido, é possível afirmar
mesmo com a cobertura dos variados que o trabalho no sisal faz parte da cultura
programas assistenciais do Ministério do da região; é um conhecimento transmiti-
Desenvolvimento Social (MDS) - tais como do de geração em geração e, infelizmente,
PETI (Programa de Erradicação do Traba- de difícil mudança. As precárias condi-
lho Infantil), Bolsa Família e CRAS (Centro ções são reverberadas no dia-a-dia dessas
de Referência em Assistência Social) - a crianças, que sofrem com a insuficiência
questão do trabalho infantil ainda se apre- alimentar, o excesso de atividade física e
senta como uma contingência inerente à acabam por faltar às aulas. Como conse-
realidade dos recortes territoriais dessa quência, constantemente, as essas crian-
pesquisa. Como reflexo dessa realidade, é ças trocam as fardas escolares pelo motor
possível identificar crianças que continu- do sisal. Desde cedo, elas se expõem a si-
am trabalhando com o sisal – pelo menos tuações de risco, mas, apesar da situação
uma vez por semana – ainda que recebam adversa que vivenciam, ainda possuem
incentivos governamentais. Para essas sonhos. Ao serem perguntadas sobre a es-
crianças, o trabalho no sisal é considerado cola e a necessidade de estudar, elas indi-
como uma atividade cansativa, perigosa e cam a importância do estudo, cultivam os
sofrida. Elas indicam que a principal difi- sonhos de ser policial militar, advogado,
culdade do trabalho é cortar o sisal, pois, professor e médico. Entretanto, ainda há
constantemente, eles se furam ao exercer aqueles que afirmam: Estudar para quê?
a tarefa. A maioria dos meninos indica, Eu sempre viverei pela roça, mesmo. Tal
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ríamos ainda supor que aquele mesmo ceitos relevantes como os de períodos
menino sertanejo poderia diferir bastan- críticos/sensíveis do desenvolvimento e
te de seu irmão gêmeo que, porventura, o de janelas de oportunidade. O estudo
houvesse sido adotado por uma família dos casos das crianças-lobo, perdidas ou
na “cidade grande” e vivido em contex- abandonadas ainda na primeira infância
tos diferentes dos de seu irmão sertane- em florestas, ilustra de forma dramática a
jo. Assume-se, portanto, que o indivíduo importância da compreensão desses pro-
desenvolve-se sempre em contextos que cessos de desenvolvimento (Banks-Leite
o influencia e o constitui enquanto sujei- & Galvão, 2000). Outro processo central
to. Assim, no desenvolvimento humano no neurodesenvolvimento é a sinaptogê-
há espaço para o “previsível” e universal, nese. Em determinados períodos críticos
bem como para o “imprevisível” e para há uma superprodução de sinapses em
diferenças individuais (Tourinho & Neno, áreas específicas do córtex cerebral (Mu-
2006). O desenvolvimento humano en- zskat, 2006). Entretanto, se não há uma
volve dimensões biológicas, cognitivas, estimulação ambiental, esses momento
afetivas e sociais. Essas dimensões inte- ótimos para a produção de sinapses nes-
gram-se e se influenciam mutuamente, tas áreas corticais específicas são perdi-
sem limites claros entre elas. Mudanças dos, e o desenvolvimento das habilidades
ocorrem ao longo da vida em todas as cognitivas associadas a estas áreas será
dimensões do desenvolvimento, sendo alterado (Miranda & Muszkat, 2004). Esta
observadas mais marcadamente no que afirmação aponta para o fato de que o
Biaggio (1978) denomina de períodos de desenvolvimento do sistema nervoso não
transição rápida, ou seja, a infância, ado- é apenas resultado de etapas pré-estabe-
lescência e envelhecimento (Mota, 2005). lecidas, mas é também mediado, entre
Em se tratando especificamente da infân- outras coisas, pelos processos de apren-
cia, chama-se à atenção neste trabalho dizagem e de memória. Do ponto de vista
para o fato de que a não observância de neuropsicológico, a aprendizagem depen-
características típicas de crianças em di- de da quantidade de sinapses realizadas -
ferentes fases e contextos de desenvol- e não da quantidade de neurônios. É fun-
vimento pode levar a equívocos na com- damental, portanto, que os neurônios es-
preensão do comportamento infantil com tabeleçam conexões entre si, construindo
conseqüências para práticas profissionais redes neurais que possibilitam o aprendi-
voltadas para a infância. Considerando o zado. Por outro lado, as sinapses forma-
desenvolvimento inicial pode-se afirmar das são respostas a demandas da cultura,
que as potencialidades e limitações de- contextualizadas social e historicamente.
monstradas no comportamento infantil Obviamente, esses conhecimentos sobre
são consequências diretas dos diferentes o desenvolvimento neuropsicológico é de
ritmos de crescimento neuronal, mieli- fundamental importância para a atuação
nização e maturação seqüencial de regi- psicológica em áreas como a avaliação e
ões cerebrais distintas (Pappalia, Olds & reabilitação neuropsicológica. Partindo-
Feldman, 2009). Nesse sentido, a psico- -se do desenvolvimento neuropsicológi-
logia do desenvolvimento se aproxima co, um surto de sinapses entre os cinco
da neuropsicologia e compartilham con- e sete anos de idade está associado com
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nados a entender-se”, quiçá, assim, possa- a partir da brincadeira de faz de conta (2)
mos ter processos judiciais em que todas reflexões sobre as potencialidades que se
as partes “ganhem”, a criança, os responsá- fazem e/ou podem se fazer presentes nas
veis e a instituição jurídica. práticas de cuidado e educação das crian-
ças pequenas na creche, no que se refere
Palavras-chave: avaliação psicológica; à emergência de um paradigma crítico-
psicologia jurídica, desenvolvimento. -emancipatório, com enfoque nas práticas
da autonomia (3) o lugar do choro no coti-
diano da creche.
SP LT04 - Simpósio
O MOVIMENTO DO SIGNIFICADO DO
SP LT04-1354 – PESQUISAS SOBRE BRINCAR NO GP LEFOPI
CRIANÇAS E INFÂNCIAS: DIÁLOGOS EM
Ilka Schapper - UFJF
CONSTRUÇÃO
ilkaschapper@gmail.com
Ilka Schapper - UFJF Víviam Carvalho de Araújo - UFJF
ilkaschapper@gmail.com viviamc@powermail.com.br
Michelle Duarte Rios Cardoso - BIC/UFJF
Este simpósio apresenta trabalhos de pes- dudabcc@yahoo.com.br
quisas desenvolvidas no Grupo de Pes- Patrícia Maria Reis Cestaro - UFJF
quisa Linguagem, Educação, Formação de patrícia.cestaro@oi.com.br
Professores e Infância (LEFoPI) em inter- Hilda Micarello - UFJF
locução com outro Grupo de pesquisa: o micarelo@powerline.com.br
Núcleo de Estudos da Infância: Pesquisa Mislene Carvalhais do Nascimento - UFJF
e Extensão (NEIPE/PROPED/UERJ). Tais mislenenasci@yahoo.com.br
trabalhos vêm se constituindo em torno Alexsandra Zanetti - UERJ
da temática da infância e da formação alexzanetti13@yahoo.com.br
docente que se apresenta como uma das
grandes demandas interpostas para a O presente trabalho tem por objetivo com-
educação pública nacional: a formação de preender como, no grupo de pesquisa LE-
profissionais para atuar no segmento da FoPI (Linguagem, Educação, Formação de
educação infantil.A metodologia utilizada Professores e Infância), processa o com-
consiste em sessões reflexivas, que está partilhamento de sentidos e significados
alicerçada na pesquisa crítico-colaborativa entre os participantes do grupo sobre o
como espaço de formação. Esta perspecti- desenvolvimento da imaginação, a partir
va tem por base o materialismo-histórico- da brincadeira de faz de conta. Para isso,
-dialético e as ações como práxis. A partir a discussão se centra em dois pontos: o
dessa concepção teórica e metodológica corpus teórico do grupo de pesquisa e a
optamos, então, nesse simpósio por apre- análise de um excerto, no interior de uma
sentar os seguintes temas: (1) sentidos e sessão reflexiva. A criança e suas infâncias
significados compartilhados entre os par- se transformaram em temas que, a partir
ticipantes do grupo de pesquisa LEFoPI das últimas décadas, passaram a represen-
sobre o desenvolvimento da imaginação, tar um dos grandes eixos de preocupação
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a costumeira centralidade do adulto na to- amplos que também precisam ser trans-
mada de decisões, seja impedindo ou limi- formados. Assim, o desafio é: romper com
tando as possibilidades da criança escolher culturas historicamente instituídas, na bus-
o que realizar, para onde ir, o que vestir, ca por uma transformação que promova a
seja na definição das rotinas, na tessitura emancipação. Para isso a reflexão embasa
de argumentos e resolução de conflitos. todas as partes integrantes do processo
As dificuldades vivenciadas no exercício da crítico-colaborativo - todos os integrantes,
autonomia, tanto no espaço micro das ins- sobretudo e principalmente os pesquisado-
tituições de educação das crianças peque- res, exigindo revisão de caminhos, abertu-
nas, quanto no espaço macro das relações ra ao novo, construção de outras travessias
sociais, da qual ambas se completam, se embasadas pela solidariedade e coletivida-
intercambiam e se atravessam, reforçam de entre sujeitos, instituições e as subjetivi-
a importância de redes de colaboração dades que os atravessam.
crítica para a construção de práticas eman-
cipatórias. Corroboramos com Contreras Palavras-chave: creche, crianças, autonomia
(2002, p. 212), de que a autonomia não é
uma condição possuída a priori, mas sim
uma condição circunstancial que “tem a PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA-
ver com a forma pela qual se estabelecem CULTURAL: WALLON E O CHORO DE
as relações profissionais, tanto no âmbito CRIANÇAS NO CONTEXTO DA CRECHE
da sala de aula como em outros campos Núbia Santos - UERJ/FAPERJ
de relação e intervenção.” As creches, en- nubiapsi@ig.com.br
quanto lugar oficialmente designado para Maritza Dessupoio de Abreu - UFJF
as práticas de cuidado e educação das maritzaabreu@gmail.com
crianças pequenas, também se constituem Marília Dejanira B. Almeida - PIBIC/CNPq/UFJF
em locais econômicos, culturais e sociais, mariliaberberick@yahoo.com.br
cujas relações de poder e controle se atra-
vessam. Nesse sentido, existem interesses Neste trabalho apresentaremos parte de
políticos e ideológicos que influem na es- uma pesquisa mais ampla em andamento
truturação e natureza dos discursos nela no Programa de Pós-Graduação em Educa-
construídos (Giroux,1997), evidenciando ção da Universidade do Estado do Rio de
que não há neutralidade nas relações. Todo Janeiro – PROPED/UERJ juntamente com
relacionamento humano acontece entre o grupo de pesquisa Linguagem, Educa-
sujeitos que possuem ideologias, desejos, ção, Formação de Professores e Infância
afetos e interesses. Cuidado e educação – LEFoPI da Universidade Federal de Juiz
são, sobretudo, modos de relacionamento Fora/MG. A inquietação tem nos movido a
entre diferentes sujeitos, diferentes idades compreender os sentidos e os significados
e múltiplas especificidades. Para Contreras que o pensar sobre as atividades educati-
(2002, p.186), a emancipação não se tra- vas têm para o desenvolvimento infantil e
ta de uma conquista ou direito individual, para a (re)construção das ações desenvol-
mas, sobretudo, uma construção de inter- vidas em vinte e três creches públicas do
conexões com contextos locais, específi- referido município. Isto torna-se relevan-
cos, imediatos e os contextos sociais mais te porque na sociedade contemporânea
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porque o lugar da creche vem sendo sig- supor a relevância do tema para o cotidia-
nificado a partir de outros elementos que no da creche e das relações nela estabeleci-
divergem daquele significado em tempos das. Para Wallon, há diferenças conceituais
passados, qual seja: apenas um mal neces- entre emoção e afetividade. As emoções,
sário. A metodologia utilizada para alcan- os sentimentos e os desejos são manifes-
çar o objetivo deste trabalho consiste em tações da vida afetiva. A afetividade é um
sessões reflexivas, que está alicerçada na conceito mais abrangente no qual se in-
pesquisa crítico-colaborativa como espa- serem várias manifestações. As emoções
ço de formação. Esta perspectiva tem por são constituídas de características mais
base o materialismo-histórico-dialético e específicas que as diferenciam das demais
as ações como práxis. Isso nos leva a crer manifestações afetivas. Sendo uma ativida-
que a pesquisa é uma atividade coletiva e de social, provoca, por exemplo, algumas
que os envolvidos no processo são colabo- alterações orgânicas, como aceleração dos
radores críticos. As sessões foram filmadas, batimentos cardíacos, alterações no ritmo
transcritas e estão sendo analisadas. Esco- da respiração, secura na boca, dificuldades
lhemos dialogar com Wallon, interlocutor na digestão, além de alterações expressi-
inscrito na perspectiva sócio-histórico- vas, como mudança na expressão facial,
-cultural para auxiliar na discussão sobre na postura e nas gesticulações. Nisso se
as concepções de choro e desenvolvimen- diferencia o sentimento, que não obriga-
to infantil. Lidar com o choro das crianças toriamente resulta em alterações visíveis.
evoca a concepção de infância, educação Neste sentido, que lugar ocupa na creche?
e aprendizagem que se revelam nas ações Existe possibilidade de sua expressão como
dos profissionais no cotidiano nas creches. linguagem? Como é considerado e como li-
Pressupomos, então, que o choro faz parte damos com ele? Que concepções ele pode
daquilo que convencionamos chamar de revelar nesse contexto? Estas perguntas
rotina e que deve ser problematizado para são fundamentais porque entendemos
além do momento de inserção das crianças que a formação dos profissionais da creche
pequenas nas instituições que as recebem. deve contemplar não somente os saberes
Para Wallon (2007), é no movimento do produzidos e sistematizados pela acade-
outro que a criança, ainda sem condições mia, mas também o permanente diálogo
da consciência de si e de efetuar algo por si, com outros espaços, entre eles, o contexto
que o outro, por sua ação, desencadeará a das próprias creches. As primeiras análises
ação dela. Se a emoção tem como possibili- revelaram a importância de pensar a prá-
dade a ativação do outro no processo de in- tica a partir de referenciais teóricos. Nos-
teração humana, não é difícil supor a rele- sa tentativa no movimento das sessões
vância do tema para o cotidiano da creche reflexivas foi desdobrar os nossos olhares
e das relações nela estabelecidas. É no mo- porque somente assim é possível “que se
vimento do outro que a criança, ainda sem veja do sujeito algo que o próprio sujeito
condições da consciência de si e de efetuar nunca pode ver” (Amorim, 2004, p. 14).
algo por si, que o outro, por sua ação, de- Neste processo de construir conhecimento,
sencadeará a ação dela. Se a emoção tem que é dialético, os participantes se revezam
como possibilidade a ativação do outro no nos posicionamentos ora de ouvinte ora de
processo de interação humana, não é difícil locutor, num fluxo dialógico da linguagem.
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Nesse movimento dialético entre ouvinte/ rante e depois do processo formal, como
locutor que o enunciado, no contexto de espaços de reflexão sobre o próprio traba-
produção da investigação, ganha novas lho, em seu próprio contexto. Mudamos o
formas de expressão e novas construções olhar para as crianças e para as políticas
coletivas. A descrição das sessões reflexivas públicas que incidem sobre elas porque o
demonstra o embate, o encontro e o de- conceito de infância passou por inúmeras
sencontro desta maneira de fazer pesquisa. transformações através da história. No en-
O conflito teoria-empiria permeia o diálogo tanto, precisamos educar o nosso olhar. É
entre pesquisadoras e coordenadoras/dire- necessário pensar no espaço da creche
toras. Isso porque está arraigada em nós a como lugar social que ganha visibilidade e
histórica cisão entre os dois campos e por- interesse, como espaço de investigação, na
que a representação do conhecimento aca- mesma medida em que reconhecemos que
dêmico e do conhecimento da experiência a criança exercita sua aparência e sua pre-
se manifesta continuamente nas sessões sença no tecido social.
reflexivas. A questão do olhar do outro foi
uma expressão recorrente, utilizada pelas Palavras-chave: choro, creche, sentido/
coordenadoras/diretoras. Na trama das in- significado
terações o olhar do outro é em parte o nos-
so olhar em um jogo que reflete e refrata.
O olhar do outro representa não somente CO 30 - LT4
a comunidade do entorno da creche, mas
dos pesquisadores, que, de tão fora que se Saúde
encontram, desconhecem também a mate-
rialidade das ações que tentam conhecer.
Como dizer para as coordenadoras que o LT04-838 – COMPETÊNCIA CULTURAL E
choro, a agressividade ou outras expres- EDUCAÇÃO EM SAÚDE: CONTRIBUIÇÕES
sões da criança estão inseridos em um con- PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E
texto e que, mais interessante que focalizar ASSISTÊNCIA QUALIFICADA
a reação da criança é ler o entorno no qual Clarissa Vaz Dias - UnB
estas manifestações se expressam? Esta é a vazdias@gmail.com
inversão do olhar e o redirecionamento ne- Elizabeth Queiroz - UnB
cessário que pode produzir mudanças nas bethqueiroz@unb.br
ações com as crianças. Não há, portanto,
possibilidade de mudanças em nossas prá- Entende-se a cultura a partir de uma na-
ticas se não compreendemos os mecanis- tureza dinâmica e processual, dentro
mos/estratégias que utilizamos nas ações de sistemas psicológicos inter e intra-
diárias, dentro de um contexto específico. pessoais, considerando os sentimentos,
A opção por este modelo de investigação pensamentos e ações, e as condutas de
deve-se à premissa de que a formação uma pessoa com relação a seu meio. O
profissional não pode mais se reduzir aos desenvolvimento humano se dá através
espaços formais e escolarizados, organiza- da negociação entre a percepção e ação
dos com esse fim. Ela precisa ser concebida que unem o ator e o contexto, e as suges-
como algo que pode acontecer antes, du- tões para os sentimentos, pensamentos e
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
comportamentos que proliferam através uma das estratégias mais atuais que pode
da comunicação. A comunicação implica auxiliar na abordagem dos conceitos que
o compartilhamento de significado entre permeiam o processo saúde-doença e na
aqueles que se comunicam. Comunicação redução das disparidades em saúde. É um
em saúde é uma abordagem multifaceta- modelo com indicadores para o processo
da e multidisciplinar para atingir diferen- da comunicação profissional de saúde-
tes audiências que compartilham informa- -paciente que possibilita a quem trabalha
ções relacionadas à saúde, com o objetivo em saúde intervir, exercitando o conheci-
de influenciar, engajar e apoiar indivíduos, mento e buscando o diálogo interdiscipli-
comunidades, profissionais de saúde, gru- nar, para melhorar a qualidade da atenção
pos especiais, formadores de políticas pú- integral à saúde, refletindo a jornada do
blicas e o público, para instigar, introduzir, ciclo de vida. Nesse sentido, o presente
adotar, ou sustentar um comportamento, ensaio objetivou apontar a necessidade
prática, ou política que finalmente melho- de inclusão do tema competência cultural
re os resultados em saúde, sendo a edu- nas políticas públicas de educação em saú-
cação em saúde, uma das principais vias de, para o treinamento em comunicação
de acesso para a comunicação em saúde. em saúde, visando a relação profissional
A educação em saúde é um campo multi- de saúde-paciente, de forma a favorecer a
facetado, convergindo temáticas tanto da atuação norteada pelo modelo biopsicos-
educação, quanto da saúde, e abrangendo social, em equipes comprometidas com o
todo o curso de vida da diversidade popu- reconhecimento da diversidade popula-
lacional e cultural. A Organização Mundial cional e as atuais disparidades em assis-
da Saúde agrega às dimensões da promo- tência à saúde. Para tanto, realizou-se um
ção da saúde a inclusão de fatores sociais levantamento do que tem sido utilizado
que afetam a saúde, abordando caminhos pelas estratégias de educação em saúde,
pelos quais diferentes estados de saúde e fazendo uso da competência cultural para
bem-estar são construídos socialmente. a formação profissional e implementação
Por sua vez, a educação em saúde inclui de treinamentos de competência cultural
políticas públicas que orientem ações vol- com profissionais de saúde já inseridos
tadas para a formação de profissionais de nos serviços de saúde, através de uma
saúde. A competência cultural tem sido revisão da literatura, utilizando o descri-
apontada pela literatura como um conjun- tor competência cultural, indexado pelos
to de habilidades essenciais para a efetiva Descritores em Ciências da Saúde (DeCS)
promoção da saúde e educação em saúde da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), des-
em locais onde há diversidade populacio- de 1989, ano em que o termo competên-
nal. Ela é delineada a partir de uma base cia cultural, foi definido, especificamente
de conhecimentos de diversas disciplinas, em saúde, como um conjunto de com-
numa tentativa de estabelecer uma orien- portamentos, atitudes e políticas que se
tação teórica para traduzir as variáveis unem em um sistema, agência ou entre
sócio-demográficas de um dado grupo, profissionais que possibilitam ao sistema,
assim como perceber o que é específico agência ou profissionais a efetivamente
e relevante em cada etapa do desenvol- trabalharem juntos em contextos onde as
vimento humano. Competência cultural é culturas se cruzam. As práticas sociais, in-
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da análise de um curso feito sobre essas quem prova o sabor do saber, sabe. É nes-
bases pedagógicas e indicaram que o pro- se sentido que buscamos uma estratégia
cesso de ensino/aprendizagem que não de educação para a saúde, onde o apren-
fornece fórmulas como receitas mágicas diz entra no centro do processo como su-
e, ao contrário disso, instiga e inquieta a jeito, onde o instrutor é um coordenador
pessoa permanentemente a refletir sobre e facilitador e não o detentor do saber. O
si mesma, acarreta numa produção de conhecimento é construído coletivamen-
sentidos subjetivos altamente mobiliza- te e as pessoas passam a ser responsáveis
dores de reconfigurações que agem sobre por si e também por seu aprendizado. Daí
o concreto da vida, gerando mudanças o sentido da “pedagogia do si mesmo” e
qualitativas, levando esse profissional a de uma formação como desenvolvimen-
refletir sobre sua prática clínica. Ele muda to humano. Nossa perspectiva teórica é
seu relacionamento com seu paciente, a da teoria da subjetividade de González
saindo da postura do “todo-poderoso que Rey (2002, 2004, 2005a, 2005b, 2007a,
sabe o segredo da cura”, tornando-se um 2007b), que nos fornece um entendimen-
parceiro e um construtor de diálogos clí- to histórico-cultural e uma abordagem do
nicos que conduzem o paciente a refletir ser humano em complexidade, abrindo o
também sobre si mesmo, suas rotinas e foco para uma grande angular que mira o
seu modo de vida, gerando assim mudan- indivíduo, seus processos subjetivos indi-
ças qualitativas concretas que repercutem viduais e sociais, sua história de vida, seu
nas esferas sociais, psicológicas e também momento concreto atual, sua integridade
biológicas. (Teles, 2010). Estamos numa simbólico-emocional, sua imersão dentro
fase de construção de oficinas para re- de um corpo biológico, as tensões entre
plicarmos o modelo avaliado. O primeiro o que vive como pessoa e o que o mun-
passo foi feito com profissionais de saúde do externo lhe suscita, suas contradições,
já graduados e o segundo passo investiga- etc. O nosso referencial sobre a subjetivi-
tivo será feito com estudantes das áreas dade tem pontos de encontros e possibi-
de saúde. Queremos avaliar como o con- lidades de extensão com o trabalho Edgar
ceito de saúde é transmitido nessas facul- Morin (s/d, 1996, 2000, 2008), principal-
dades, fazendo um confronto com essas mente na sistematização que faz acerca
oficinas. A hipótese é de que o modelo de da complexidade, assim como na discus-
formação é basicamente cognitivo, des- são que apresenta ao contrapor o ensino
considerando, assim, um entendimento de cabeça bem cheia ao de cabeça bem
de aprendizagem como um processo sub- feita. Em nossa perspectiva de trabalho
jetivo de desenvolvimento e transforma- buscamos “fazer” as cabeças, mais do que
ção humana. Para o direcionamento des- “enchê-las”, e isso se dá no sentido de le-
sas oficinas estamos usando a metáfora var o sujeito à reflexão, ao encontro consi-
do saber como um sabor que se prova Pre- go mesmo e, a partir daí, transformar-se.
tendemos romper com a idéia do aprovar Um processo dinâmico e permanente de
como forma de garantir que o estudante inquietação, que leve a pessoa a encon-
adquiriu o saber. A-provar seria a negação trar alternativas frente ao status quo
do provar. Em nossas oficinas estamos massificante e veiculador de ideologias
buscando o provar para conhecer, pois apaziguantes que servem aos modelos
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Família. Pois este profissional é um agente construto do coping. Esta permite sistema-
multiplicador de saúde, indispensável para tizar o processo de enfrentamento, com
alcançar o objetivo do desenvolvimento base em 13 categorias: solução do proble-
de uma abordagem qualitativa que conhe- ma, busca por suporte, esquiva, distração,
ça aspectos particulares e trabalhe com o reestruturação cognitiva, ruminação, de-
universo de significados, valores e atitudes samparo, afastamento social, regulação da
desenvolvidos nas relações da sociedade emoção, busca por informação, negação,
e no contexto em que estas ocorrem. Por- oposição e delegação. Nessa perspectiva
tanto, a valorização do fisioterapeuta nas desenvolvimentista, o coping passa a ter
políticas públicas de saúde e a sua inclusão um papel central e diferenciado, passando
social, principalmente no que diz respeito a entender os processos emocionais, com-
ao PSF, trará importante contribuição para portamentais, motivacionais, cognitivos e
a eficácia e a resolução dos problemas de sociais; mostrando como esses múltiplos
saúde que o SUS enfrenta na atenção pri- subsistemas regulatórios funcionam jun-
mária, contribuindo para a formação de tos para enfrentar o estresse. Motta (2007)
uma equipe qualificada e apta para pro- adaptou essas categorias para analisar as
mover e prevenir a saúde da população. estratégias de enfrentamento (EE) da hos-
pitalização em crianças com câncer; sendo
Palavras-chave: Fisioterapia, SUS, também utilizadas por Moraes e Enumo
representações sociais. (2008) para crianças hospitalizadas com
Contato: Ricardo Alain Leyva Nápoles, doenças diversas. Essa análise considera
Universidade de Brasília, confie.fisio@gmail.com que a criança usa EE acessando seus recur-
sos cognitivos, ambientais, afetivos, emo-
cionais e sociais. Além de estar afastada
LT04-1446 – O ENFRENTAMENTO DA de sua família, sua casa e seus amigos, a
HOSPITALIZAÇÃO EM CRIANÇAS COM criança deixa de freqüentar a escola, por
CÂNCER, NA CLASSE HOSPITALAR conta da longa internação e do tratamen-
Paula Coimbra da Costa Pereira Hostert - UFES to, podendo ter atraso escolar e prejuízo
paulahostert@gmail.com no desempenho acadêmico. Contudo, a
Sônia Regina Fiorim Enumo - UFES criança hospitalizada possui o direito legal
soniaenumo@terra.com.br de acompanhar seus estudos e não perder
Alessandra Brunoro Motta - UFES o ano letivo, conseguindo assim continuar
alessandrabmotta@yahoo.com.br no processo escolar. Assim, a educação
Financiamento: CNPq; CAPES especial em enfermarias pediátricas tem
o objetivo de prevenir o fracasso escolar,
O estudo do enfrentamento é fundamen- bem como atender às necessidades peda-
tal para compreender como o estresse afe- gógico-educacionais do desenvolvimento
ta a vida das pessoas, especialmente o de- infantil (Fonseca, 2003; Sandroni, 2008).
senvolvimento de crianças e adolescentes, Além do aprendizado, a classe hospitalar
Skinner e colaboradores (Skinner et al., (CH) contribui na evolução do quadro clí-
2003; Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007) nico da criança, sendo uma das formas de
propuseram, a partir da revisão de 100 humanização da hospitalização, que acele-
estudos, uma concepção hierárquica do ra a melhora do paciente e contribui para
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o seu bem-estar (Almeida & Albinati, 2009; paro (0,55%), seguida pela reestruturação
Sandroni, 2008). O objetivo deste estudo cognitiva (2,22%). As estratégias de afas-
foi analisar as estratégias de enfrentamen- tamento social, oposição e delegação não
to das crianças com câncer para lidar com foram escolhidas pelas crianças. Estudar as
a hospitalização e o tratamento da doen- EE de crianças com câncer torna possível
ça, considerando o diferencial da criança saber quais os fatores que causam prejuízo
frequentar a CH como possível mediador no contexto hospitalar e se o fato de ser
do coping da hospitalização. Participaram atendida por professores da CH e dar con-
do estudo 18 crianças (14 meninos e 4 me- tinuidade aos estudos no hospital ajuda a
ninas), com idade entre 6 e 12 anos (mé- minimizar esse sofrimento. Com essa pers-
dia: 9,4 anos), diagnosticadas com câncer, pectiva, este estudo identificou, usando o
internadas por 47 dias, em média, para AEHcomp comportamentos e estratégias
tratamento no Serviço de Oncologia, e ins- de coping como diretamente ligados ao
critas na classe hospitalar de um hospital enfrentamento das situações estressantes
infantil público em Vitória, ES. Para iden- no hospital, sendo os principais compor-
tificar as EE foi utilizado o Instrumento In- tamentos: brincar, conversar, assistir TV,
formatizado de Avaliação do Enfrentamen- tomar remédio, estudar e sentir raiva. Os
to da Hospitalização - AEHcomp (Motta & cinco primeiros comportamentos ou ins-
Enumo, 2004; 2010), composto por um tâncias de coping podem ser entendidos
software com 20 cenas sobre situações co- como favoráveis ao processo de adaptação
tidianas no ambiente hospitalar, para iden- ao contexto hospitalar. Esses resultados
tificar o que as crianças fazem, pensam e corroboram com dados de outros estudos
sentem sobre a sua condição de hospita- realizados com crianças hospitalizadas: por
lização (comportamentos ou instâncias de doenças diversas, Moraes e Enumo (2008)
coping), permitindo analisar suas estraté- e por Motta e Enumo (2010) com crian-
gias de enfrentamento a partir das justifi- ças hospitalizadas com câncer; sendo os
cativas dadas às escolhas da cenas. Quanto comportamentos mais escolhidos: tomar
aos resultados, as informações coletadas remédio, conversar, rezar, chorar e ficar
na avaliação foram analisadas quantitati- triste. Diante disso, entende-se que o com-
va e qualitativamente, de acordo com as portamento de conversar sugere a busca
normas do AEHcomp, sendo que os com- de apoio; e o comportamento de tomar
portamentos brincar, conversar, assistir remédio demonstra a colaboração direta
TV, tomar remédio, estudar e sentir raiva da criança para ser curada e voltar ao seu
foram escolhidas por todas as crianças, ambiente familiar. Entre as famílias de co-
e apenas uma não escolheu a cena fazer ping ou EE mais frequentes nesta amostra,
chantagem. As cenas menos escolhidas fo- estão a distração e a ruminação, seguidas
ram: pensar em fugir (3) e sentir culpa (5). das estratégias de solução de problemas e
A partir da classificação de Motta (2007), busca de suporte. Esses resultados apoiam
a estratégia de enfrentamento mais iden- os dados das pesquisas referidas anterior-
tificada foi a distração (27,77%), seguido mente, pois encontraram a ruminação e
pela ruminação (24,44%) e solução de pro- distração como as principais estratégias
blemas (10,55%). A família ou estratégia de crianças hospitalizadas. A estratégia
de coping menos identificada foi o desam- ruminação indica necessidade de atendi-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
mento psicológico e assistência social para estressores, tais como o afastamento fa-
criança neste ambiente, favorecendo seu miliar, o contato com pessoas estranhas,
processo adaptativo e seu enfrentamento a restrição de atividades lúdicas, o aban-
dessa situação adversa. Como os resulta- dono da escola e a submissão a proce-
dos do AEHcomp mostraram que todas dimentos médicos invasivos (Ferreira,
as crianças escolheram comportamentos 2006). Para lidar com essa situação, estra-
favoráveis ao processo de hospitalização tégias de enfrentamento que minimizem
(brincar, conversar, assistir TV, tomar re- os prejuízos ao seu desenvolvimento são
médio e estudar), isto sugere uma possível necessárias. Dentro dessa perspectiva, o
relação favorável ao fato de freqüentar a brincar tem sido inserido no hospital, por
CH, auxiliando as crianças a utilizar essas meio do trabalho de recreadores e como
estratégias durante situações estressan- recurso para a intervenção psicológica
tes. Os estudos da área têm mostrado que junto à criança (Moraes & Enumo, 2009;
a classe hospitalar favorece uma melhora Motta & Enumo, 2010). O brincar pode
mais rápida no quadro clínico do paciente, ter efeitos positivos para crianças que
o que pode-se observar pela estratégia de vivenciam situações de estresse, medo e
coping mais identificada - a distração (San- ansiedade associadas a doenças (Motta
droni, 2008; Almeida & Albinati, 2009). & Enumo, 2004, 2010; Brown, 2001; Mi-
tre, 2004). Assim, estudos sugerem que
Palavras-chave: Estratégias de Enfrentamento; os brinquedos no hospital representem
Hospitalização Infantil; Classe Hospitalar. a vida cotidiana, tais como brinquedos
Contato: Paula Coimbra da Costa Pereira para dramatização, para construção, para
Hostert, UFES, paulahostert@gmail.com expressão artística e jogos, desde que se-
jam seguros, acessíveis e funcionais. Des-
tacam ainda o uso do videogame, por sua
LT04-1447 – O BRINCAR NO HOSPITAL E característica de incentivar a participa-
PROBLEMAS COMPORTAMENTAIS EM ção da criança, evitando seu isolamento
CRIANÇAS COM CÂNCER, NA CLASSE e favorecendo a sensação de realização
HOSPITALAR (Motta & Enumo, 2004; Mitre & Gomes,
Paula Coimbra da Costa Pereira Hostert - UFES 2004). Através da promoção do brincar
paulahostert@gmail.com no espaço hospitalar é possível modificar
Sônia Regina Fiorim Enumo - UFES e melhorar o modelo tradicional de in-
soniaenumo@terra.com.br tervenção e o cuidado (Mitre & Gomes,
Alessandra Brunoro Motta - UFES 2004). Procurando verificar se o interes-
alessandrabmotta@yahoo.com.br se da criança em brincar no hospital te-
Financiamento: CNPq; CAPES ria relações com possíveis problemas de
comportamento e emocionais, este estu-
A criança com câncer é exposta a hos- do identificou as preferências lúdicas de
pitalizações prolongadas e frequentes, crianças com câncer, freqüentando uma
cujos motivos variam entre o diagnóstico classe hospitalar, e os problemas de com-
inicial, a medicação e a necessidade de portamento infantis relatados pelos cui-
tratar uma recidiva da doença. Uma vez dadores. Foram utilizados o Instrumento
hospitalizada, ela se depara com diversos Computadorizado de Avaliação do Brincar
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
no Hospital (ABHcomp) (Motta & Enumo, não precisam de recursos ou espaço, tais
2010) – composto por um software com como assistir TV, desenhar, ouvir histórias
20 cenas de brinquedos e brincadeiras, e conversar. Já as brincadeiras menos es-
que identifica o que as crianças fazem, colhidas - brincar de fantoche, jogar bola,
pensam e sentem sobre o brincar no hos- brincar de médico e jogar boliche - são
pital, permitindo avaliar suas brincadeiras atividades difíceis de serem realizadas no
preferidas e mais realizadas no ambien- hospital. Além disso, realizar atividades
te hospitalar. Já o perfil comportamental físicas e emitir sons foi considerado por
dessas crianças foi avaliado por meio da dez crianças como impróprio para o am-
Escala Comportamental Infantil A2 de biente hospitalar, revelando a importân-
Rutter (ECI) (Graminha, 1994) – utilizada cia da implementação de políticas e ações
para a avaliação de problemas compor- que promovam o brincar neste contexto.
tamentais e emocionais das crianças. Esses dados vão de encontro aos achados
Contém 36 itens distribuídos em três tó- de estudos anteriores (Motta & Enumo,
picos: problemas de saúde (oito), hábitos 2010; Pedro et al., 2007; Furtado, 1999),
(sete) e comportamento (21). Através do pois, apesar das restrições físicas impos-
comportamento infantil, a escala identi- tas pela doença e independente da idade,
fica casos que necessitam de ajuda psi- as crianças continuam interessadas em
cológica. Classificando essas atividades brincadeiras no ambiente hospitalar. Já a
em cinco tipos de brincadeiras de acordo ECI mostrou que 11 crianças (61,1%) fo-
com Garon (1996), tem-se a seguinte hie- ram classificadas como “clínicas”; indican-
rarquia de respostas: 1) atividades recre- do a necessidade de atendimento psico-
ativas diversas (assistir TV, ler gibi, ouvir lógico. Na subescala Saúde, os itens com
histórias, cantar e dançar): 63 (33,7%); maior frequência de respostas foram:
2) jogos simbólicos (fantoches, palhaço, dor de cabeça (30,6%), dor no estômago
desenhar e médico): 39 (20,9%); 3) jogos (20,4%) e mau humor (16,3%). Já na su-
de regras (baralho, minigame, dominó e bescala Hábitos, os comportamentos que
bingo): 39 (20,9%); 4) jogos de acoplagem apresentaram respostas mais frequentes
(montagem, modelagem, recorte/cola- foram: medo (37,2%), dificuldade de ali-
gem e quebra-cabeça) (26 = 13,9%); e 5) mentação (27,9%) e dificuldade de sono
jogos de exercício (jogar bola, tocar ins- (23,3%). Na subescala Problemas de
trumentos, boliche e jogar pedrinhas): 20 comportamento, os itens mais indicados
(10,7%). As preferências lúdicas apresen- foram: medo de situações novas (8,8%);
tadas por essas crianças corroboram com estar muito preocupada e insegura e ser
dados de outros estudos. (Motta & Enu- desobediente (7,2%), além de ser impa-
mo, 2004, 2010; Furtado, 1999) As brinca- ciente e ser “agarrada” à mãe (6,8%). Os
deiras mais escolhidas no ABHcomp - as- resultados sobre problemas emocionais e
sistir TV (88,9%), desenhar (77,8%), ouvir comportamentais identificados pela ECI
histórias (72,2%) e tocar instrumentos devem ser considerados pelos serviços de
(72,2%) - foram aquelas disponibilizadas atendimento psicológico do hospital. Es-
no ambiente hospitalar, levados pelos vo- ses problemas podem estar associados ao
luntários ou pelos professores da CH. Em impacto hospitalar no desenvolvimento
geral, estas são também atividades que de crianças com câncer; pois a maior fre-
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Num primeiro momento a escola envia ao grama e até maio de 2011, foram realiza-
Departamento Técnico Pedagógico uma dos 226 atendimentos.
ficha de encaminhamento preenchida
pelo professor da sala relatando a queixa Palavras-chave: atendimento psicopedagógico,
em relação ao seu aluno. Essa ficha é ana- ensino público, educação básica.
lisada e os alunos encaminhados passam
por uma triagem. Após essa triagem, são
realizadas avaliações para o diagnóstico, LT04-876 – PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO:
sendo confirmadas as hipóteses pode ser UMA APROXIMAÇÃO POSSÍVEL PARA A
indicado um acompanhamento específico CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS
pela equipe ou por outros profissionais. Anamaria Silva Neves - UFU
Por fim, a intervenção ocorre por meio de anamaria@umuarama.ufu.br
sessões com 50 minutos de duração, re- Lorena Candelori Vidal - UFU
alizadas semanal ou quinzenalmente nas lorenacvidal@gmail.com
Unidades Escolares onde o aluno recebe Taísa Resende Sousa - UFU
atendimento individual. Para isso são uti- taisa.r.s@hotmail.com
lizados como instrumentos jogos e ativi- Financiamento: FAPEMIG
dades diversas que visam melhorar as di-
ficuldades específicas da criança, tornan- O presente trabalho tem como objetivo
do assim a aprendizagem dos conteúdos central a discussão teórica que sustenta
escolares mais concreta, lúdica e pontual. a díade Psicanálise e Educação, como ar-
Em reuniões semanais o grupo troca ex- gumentação possível sobre as estruturas
periências e discute sobre os atendimen- afetivas e o desenvolvimento do sujei-
tos realizados, com objetivo de esclare- to. Trata-se do recorte de uma pesquisa
cer os casos e diversificar as estratégias, financiada pela Fapemig, cujo objetivo
promovendo modificações na dinâmica e geral é compreender as representações
manejo instrumental (preparação de ma- tecidas por educadoras da educação in-
teriais e atividades) utilizados nos atendi- fantil sobre a violência sexual incestuosa,
mentos. Os avanços observados nas crian- com especial interesse sobre os sentimen-
ças são apresentados aos coordenadores tos emergidos e as iniciativas assumidas
das escolas e professores em devolutiva diante da suspeita da violência vivencia-
trimestral. Este trabalho tem contribuído da pelos alunos. A eclosão da Segunda
para a melhora do desempenho acadêmi- Guerra Mundial (1939-1945) propagou e
co dos alunos atendidos, o que reforça a difundiu a Psicanálise pelo mundo. A te-
importância da ampliação e continuidade oria freudiana foi sendo conhecida por di-
do Programa. Entre 2006 e 2009, 460 alu- versas pessoas, de diferentes segmentos,
nos foram atendidos, desses, 75% foram e os seus conceitos sendo apropriados em
dispensados do atendimento por apre- cenários ampliados. Para se pensar a Psi-
sentarem progresso em seu desempenho canálise, é fundamental que se retome as
acadêmico e por terem condições, após suas origens: Freud, o pai da Psicanálise,
as intervenções, de acompanhar os con- que se dedicou aos estudos dos sentidos
teúdos trabalhados em sala de aula. Em ocultos dos fenômenos, eclodindo na sus-
2010, 178 crianças participaram do Pro- tentação fundamental do inconsciente e
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lidar com outras pessoas de forma ade- (movimento cooperativo) que, por hipóte-
quada às necessidades de cada uma e às se, estariam correlacionadas com os fato-
exigências da situação. Perceber de forma res de Habilidade IHS: F1) autoafirmação
acurada uma situação e suas variáveis per- e enfrentamento com risco; F2) autoafir-
mite que o sujeito desempenhe melhor o mação na expressão de afeto positivo; F3)
seu trabalho, tanto na dimensão técnica conversação e desenvoltura social; F4) au-
requerida pela natureza dessa atividade toexposição a desconhecidos e situações
quanto na de ser capaz de se posicionar novas; F5) autocontrole da agressividade
de forma habilidosa na rede de relações em situações aversivas. Participaram deze-
interpessoais, interna e externa, no local nove sujeitos, entre 18 e 43 anos de idade,
de trabalho. A competência interpessoal média 27,5 anos (DP=8,83), dez (53%) do
é revelada nas relações estabelecidas en- gênero feminino e nove (47%) do gênero
tre indivíduo-indivíduo e indivíduo-grupo, masculino, quinze (78,94%) com ensino
englobando assim atitudes individuais e médio completo e quatro (21,05%) ensino
coletivas, sendo estas jamais indissociá- médio incompleto. Todos exerciam ativi-
veis. Desse modo, para avaliar o desen- dades de atendimento direto ao cliente
volvimento e a aquisição da competência em uma loja de uma rede de supermer-
interpessoal é necessário a utilização de cados. Destes, sete (36,84%) na função
instrumentos válidos, que reúnam um de operadores e frente de caixa; sete
conjunto de evidências que assegurem a (36,84%) como atendentes de perecíveis
sua relevância, a sua utilidade nos usos e cinco (26,31%) no cargo de atendentes
propostos e nas interpretações geradas. de loja. Os participantes responderam ao
É nesse contexto, que o teste Zulliger no ZSC seguido pelo IHS, de forma individual
Sistema Compreensivo ZSC se insere, es- em uma única sessão. Nos resultados, em
pecialmente por integrar diversos aspec- relação ao ZSC, apenas as variáveis SumT e
tos da personalidade, com base tanto nos Isolamento oscilaram entre os parâmetros
preceitos da psicometria, como nos da normativos. Também os fatores do IHS,
projeção e por possibilitar uma investiga- mantiveram-se nos índices normativos.
ção mais completa do universo psíquico Os resultados, além disso, demonstraram
do examinando, tão solicitada no campo que os indicadores GHR, GPHR, pure H,
empresarial. Assim sendo, o objetivo des- Sum H, que informam sobre o bom re-
te estudo foi verificar as evidências de vali- lacionamento e percepção interpessoal
dade do Zulliger no Sistema Compreensivo adequada, correlacionaram-se positiva e
ZSC, focalizando a variável relacionamen- significativamente com fatores GIHS, F3 e
to, a saber: SumT (sombreado textura); Fd F1 do IHS. A variável COP, apesar de não
(comida ou ação de comer); H (humano ter apresentado índices significativos de
inteiro), Hd (detalhe humano),(H) (para- correlação com o IHS, apontou aspectos
-humano inteiro), (Hd) (detalhe para-hu- positivos qualitativamente, manteve-se na
mano); GHR (boa representação humana) média normativa e em comparação à AG,
e PHR (representação humana pobre); a mostrou-se superior. As variáveis AG, PHR,
(movimento ativo) e p (movimento passi- SumT, que podem informar sobre o rela-
vo); (isolamento); PER (resposta persona- cionamento e a percepção interpessoal
lizada); AG (movimento agressivo); COP prejudicados, correlacionaram-se negativa
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sessão e treze a mais de uma (entre duas familiares e sociais fossem modificadas.
e três sessões). A idade média é de quinze Partindo desta ideia, o Plantão atua, ofe-
anos; aproximadamente, 78% dos atendi- recendo um espaço onde o adolescente
dos são do sexo feminino e os problemas possa falar o que realmente sente e ter
mais citados são: busca de reconhecimen- liberdade de ser o que realmente se é e
to, dificuldade na escola, dificuldade em não o que a sociedade exige. Analisando
escolhas/decisão, elaboração de perdas, as demandas apresentas durante os aten-
falta de correspondência nos relaciona- dimentos e aquelas do período da ado-
mentos amorosos, incômodo com a ma- lescência, o PP se apresenta como lugar
neira de ser e reagir às situações, insatis- onde o jovem pode vivenciar com mais
fação com as atribuições e contingências liberdade suas experiências. Durante o
e insatisfação no relacionamento com a atendimento, o plantonista procura pro-
família. Para relatar a dinâmica básica dos porcionar um clima de aceitação em um
atendimentos foram utilizadas as descri- momento de reflexão, fazendo com que
ções feitas por Mahfoud (1999), que reali- o adolescente entre em contato consigo
zou uma pesquisa para identificar as fases mesmo, pense de forma mais clara sobre
do processo de atendimento no PP. Geral- a questão trazida, que entenda melhor o
mente, um atendimento acontecia com o seu problema, se posicionando em rela-
adolescente apresentando a questão (AQ) ção a ele (Mahfoud, 1999). Cabe ressaltar,
e explorando-a (ExQ). Em alguns casos o diante do que foi exposto, que para que
aluno apresentava várias questões (AV) o PP contribua de fato para o desenvol-
e no decorrer do processo se fixava em vimento do adolescente ele deve ser im-
apenas uma. Havia outros casos em que plantado juntamente com outras práticas
o jovem, depois de apresentar e explorar psicológicas e não de forma isolada na
uma questão apresentava outra nova (OQ escola (Tassinari, 1999), bem como uma
– outra questão). Além dessas, outras ex- divulgação para alunos e educadores in-
pressões foram utilizadas para descrever formando sobre importância da interven-
as fases do processo: PI – pede informa- ção. Estas ações contribuem para a entra-
ção, RA – reafirma atitude, RQR – relata da do plantonista de forma mais efetiva
como a questão se resolveu, RCA – relata e ativa no contexto da escola. Para mos-
como agiu, PR – propõe-se a refletir e AP trar como o PP pode auxiliar na tomada
– apresenta possibilidades. No encerra- de consciência e na decisão pela saúde,
mento do processo foram percebidas três passaremos a um exemplo de atendimen-
fases que correspondiam ao desfecho to: L.M.S. tem 15 anos, sexo feminino e
diante do que fora apresentado durante está no 9º ano. No seu primeiro encontro
todo o processo: mudança de perspectiva ela relatou estar apaixonada por garoto.
(MP); assumir nova atitude (ANA); decidir Diante desta paixão, ela se queixou que
agir (DA). Segundo Aberastury (1981), o não parava de pensar nesta pessoa, sen-
sofrimento, a contradição, a confusão, os do assim não se alimentava bem e estava
transtornos, durante a adolescência são mal nas atividades escolares. Além disso,
inevitáveis. Ela ressalta que estes podem ela se mostrava muito ansiosa e indecisa
ser transitórios, elaboráveis e que a dor frente a tal situação. Diante desse relato,
poderia ser amenizada se as estruturas o plantonista procurou ajudá-la a refletir
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décadas como novo arranjo social que camente as implicações políticas e éticas
viabiliza legitimamente a aproximação para que suas ações sejam intencional-
entre os cidadãos e a esfera pública em mente direcionadas se aos interesses
prol da garantia do atendimento aos di- e necessidades da coletividade (Guzzo,
reitos sociais básicos (Gohn, 2009, 2010; 2003, 2005). Se as ONGs educativas nas-
Montaño, 2002; Souza, 2009). São diver- cem e se desenvolvem no sistema social
sas as designações institucionais dessa capitalista, é necessário que essas insti-
esfera social: associações, fundações, tuições se posicionem e se assumam poli-
cooperativas e outras do terceiro setor, ticamente ante às questões sociais em fa-
sendo culturalmente reconhecidas como vor de uma conscientização do grupo so-
organizações não governamentais (ONGs) cial (Souza, 2009). Nesse sentido, há de se
e definidas como agências colaboradoras ter o cuidado de que as ONGs educativas
para a avaliação das demandas sociais e podem estar a serviço de privilégios elitis-
mobilização dos sujeitos locais para a luta tas, uma vez que elas não criticam, mas se
e garantia dos direitos civis (Gohn, 2010, aliam a proposições políticas e filosóficas
Souza, 2009). Apesar de se reconhecer o dominantes. Assim, os investimentos em-
crescimento das ONGs educativas relacio- preendidos nessas instituições corre o ris-
nado à mobilização pela democratização co de não transformar, mas, ao contrário,
da educação, paralelamente, muitas críti- perpetuar as relações de poder e incenti-
cas têm sido engendradas a partir de uma var um papel eminentemente burocrático
reflexão crítica acerca do seu papel, fun- e administrativo para angariação de ver-
ção e relevância social que podem, ainda, bas. Em um cenário de práticas educati-
ocultar a predominância de uma ideolo- vas formais e não formais amplo como o
gia burguesa e elitista própria do sistema Brasil, as organizações não governamen-
econômico capitalista (Aoyama, 2005; tais (ONGs) tem ganhado atenção da Psi-
Deluiz, Gonzalez & Pinheiro, 2003). Ge- cologia Escolar por realizarem atividades
ralmente, essas críticas são endereçadas pedagógicas que visam, em princípio, ao
à forma assistencialista com as quais as desenvolvimento humano (Soares, 2008;
ONGs desenvolvem suas atividades e que Soares & Marinho-Araújo, 2010; Souza,
corroboram com uma espécie de disfarce 2009). A conjuntura da educação brasi-
político-ideológico acerca dos problemas leira contemporânea, bem como seus
sociais sob a égide do compromisso com diversos desmembramentos institucio-
a transformação social. Uma vez que o nais, têm oportunizado novas reflexões
Estado não cumpre e nem garante ade- sobre o trabalho do psicólogo escolar e
quadamente os direitos sociais, tal como o seu compromisso político e ético com
preconiza legalmente, distribui seu poder a educação. Se a intenção é propiciar a
para amenizar o impacto de políticas vol- transformação social por meio das ONGs,
tadas para um suposto ajuste econômico a Psicologia Escolar deve comprometer-se
que atingem a população mais empobre- com o desvelamento dos aspectos ideo-
cida. Para se desenvolver ações voltadas lógicos e filosóficos presentes nos diver-
em prol da reversibilidade do quadro de sos aspectos institucionais (Guzzo, 2003;
injustiça social, é necessário que os ato- Marinho-Araujo & Almeida, 2005). Nas
res dessas instituições reconheçam criti- últimas décadas, a Psicologia Escolar tem
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tradicional reduzia a duração da infância Andrade (1998) salienta que a criança não
a seu período mais frágil; a partir do mo- deve ser subestimada, infantilizada, nem
mento em que a criança conseguia algum vista como um objeto. Ela não deve ser
desembaraço físico ela já era agregada vista como alguém que ainda não é um
aos adultos, não passando pelo período adulto, mas como alguém que constitui
da juventude. Não havia uma preocu- e é constituído, construindo, de forma
pação em controlar a transmissão dos dialética, sua subjetividade. É necessário
conhecimentos e de valores para a crian- reconhecer e valorizar a criatividade e as
ça, ela os aprendia quando auxiliava os potencialidades da criança, estimulan-
adultos a fazer as coisas. A criança vivia do sua participação, enxergando-a como
em um anonimato, e quando morria, as um sujeito que possui direitos e deveres.
pessoas não deveriam dar muita impor- A criança não é incompleta, um vir-a-ser
tância, pois ela logo seria substituída por que apenas se constituirá no futuro. Além
outra (Ariès, 2006). Esta concepção que de estar num processo de desenvolvimen-
diminui a capacidade da criança continua to em direção à idade adulta, ela é; existe,
existindo em muitas esferas da sociedade em sua totalidade, em sua singularidade,
contemporânea, o que se constata em no tempo presente. A criança traz o novo,
instituições como a escola, e até mesmo pode surpreender, transgredir e modifi-
em algumas teorias e práticas psicológi- car o mundo, não apenas sendo modifi-
cas, que tomam a criança como um ser cada por ele. Ela participa da construção
incompleto, desconsiderando sua manei- da cultura, da história e da sociedade
ra de pensar e usar a linguagem, na me- em que vive, transformando-as (Andra-
dida em que a comparam com as formas de, 1998; Pulino, 2001; Vigotski, 2007).
adultas de pensar, sentir e agir. A criança Assim, a criança, desde pequena, já está
é concebida por essas esferas como um imersa em um contexto, em uma determi-
ainda não, uma extensão de seus pais, nada cultura, no seio de uma família, de
um ser inacabado, não evoluído, que comunidades e da sociedade, desenvolve
somente será alguém quando se tor- a linguagem, constrói concepções, ações,
nar adulto (Andrade, 1998). As crianças, atitudes, valores e crenças, típicos dessa
muitas vezes, são invisíveis para algumas cultura. Porém, ela não internaliza pas-
sociedades, que possuem práticas e con- sivamente esses conceitos, mas negocia
cepções de infância que não valorizam e seus significados, atuando e co-construin-
não respeitam os direitos das crianças vi- do essas concepções (Vigotski, 2007). As
verem sua infância. É importante que se constantes transformações culturais têm
compreenda o mundo das crianças e elas ocorrido na atualidade por diversos fato-
mesmas através de seus próprios olha- res, como o surgimento da televisão, da
res. O mundo das crianças atualmente é internet, do telefone, o que possibilitou
bastante heterogêneo, elas têm contato maior velocidade de comunicação entre
com diversas realidades, com as quais diversas culturas mundiais. A frequente
interagem e aprendem valores e diversas imigração em todo o mundo e o casamen-
práticas culturais e sociais, ressignifican- to entre indivíduos de nacionalidades e
do-os e internalizando-os de forma sin- raças diferentes também contribui para
gular (Vasconcellos, 2007). Dessa forma, essas mudanças e para a convivência com
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práxis, deu origem ao acervo histórico- seus estudos, apoiando-se nos mesmos
-cultural humano. Como seres animais, parâmetros, fazendo as mesmas consi-
estamos apoiados no biológico; como in- derações para crianças que são estuda-
divíduo dotados de pensamento, no psi- das em diferentes contextos sociais. Por
cológico; e como homens, isto é, seres ca- causa dessas generalizações, afirma que a
pazes de assimilar e de converter os pro- separação da teoria e da prática sobressai
dutos da atividade interpessoal, no social. a cada instante, pois «a criança é objeto,
Seja qual for a importância que se queira e as hipóteses mais em voga são subjeti-
conceder a cada um destes elementos, vas; as interpretações forçam muitas ve-
nas sucessivas fases que desembocaram zes o sujeito que estuda a entrar no âma-
no estado atual da humanidade, resulta go da teoria e, por conseguinte, não é a
inegável que o indivíduo contemporâneo criança fenômeno natural a ser estudado,
representa o equilíbrio harmônico destes mas a criança fenômeno interpretativo.
três elementos.” (Merani, 1972, p.68) To- É relevante considerar o quanto enfatiza
mando por base as ideias de Merani fica a idéia de desenvolvimento dialético, es-
evidente que o desenvolvimento humano tando sempre presente a ideia de devir,
reflete continuamente a associação, a in- processo inacabado que a todo instante
teração, a influência de diferentes fatores, pode estar sofrendo alterações. Sabe-
sendo, portanto, um produto tanto do -se que não se herdam idéias, talentos
biológico quanto do meio social. Quando particulares, gostos, sentimentos como
afirma Merani, a “essência” do homem, virtuosidades abstratas, mas possibilida-
ou, em outros termos, suas funções psí- des materiais para o desenvolvimento
quicas, repousa sob o conjunto das rela- das mesmas em função das interações
ções sociais. Entendemos que não temos indivíduo-meio. Não se herda a rigor uma
como obter a compreensão desse proces- entidade formal, mas possibilidades para
so por isolamento, querendo entender as o desenvolvimento da mesma. Com este
singularidades, pois para Merani o que trabalho propomos resgatar os estudos
existe de mais íntimo e peculiar ao indi- desse clássico autor de desenvolvimento
víduo pode ser superado, descamuflado, na America Latina. (Re)conhecer sua pro-
quando considerarmos o meio social que posta teórica metodológica para o desen-
o envolve. A interpretação mais evidente volvimento infantil e entrelaçarmos a pro-
é que ele coloca a sociedade na condi- posta do autor com o que estudamos nas
ção de um fenômeno que tanto contribui disciplinas de desenvolvimento humano
para o surgimento das significações que na universidade. Divulgar e possibilitar
emergem a partir das funções de origem que outros possam conhecê-lo e com-
genéticas que são inatas aos indivíduos, preender a importância de seus estudos.
porém essas funções só passam a desen- Constatamos a importância do discurso
volverem-se quando estimuladas pelos feito por Merani sobre desenvolvimento
fatores presentes na sociedade. É, mister, em caráter dialético. Ele faz críticas e con-
portanto que haja a integração entre o siderações importantíssimas a autores
critério genético e o social. A partir des- de desenvolvimento que se ausentam de
sas considerações, Merani faz uma crítica fazer considerações acerca de pequenas
muito sutil aos autores que generalizam interconecções que englobam todas as
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mulher, o pai fica brabo e a mãe assustada, cente a apresentar características femini-
irritada, nervosa e preocupada. Somente nas e a parecer homossexual. Em resumo,
uma dessas narrativas sugere que, frente as narrativas mostraram que a socialização
à notícia da perda da virgindade da filha, de gênero na família contribui para a ma-
a mãe a apoia, conversando com ela e de- nutenção da articulação histórica entre
monstrando interesse pelo relato da situa- masculinidade e sexualidade heterossexu-
ção. A categoria Hipersexualização do ho- al (Louro, s/d; Seffner, 2004). No entanto,
mem reuniu as narrativas que associavam ainda que a análise de conteúdo não tenha
ser homem com ter uma heterossexualida- sido capaz de detectar os questionamentos
de exacerbada. Essas narrativas abordaram dos adolescentes, esses padrões de femini-
a aceitação e até o estímulo à sexualidade lidade e de masculinidade foram também
do adolescente homem por parte do seu relativizados e postos à prova durante a
pai e da sua mãe. Nas situações relatadas construção das narrativas. A linguagem
no grupo focal, a vida sexual ativa do fi- confirmou-se como um instrumento por
lho é aceita pela mãe e motivo de orgulho meio do qual se pode oferecer resistência
para o pai. A categoria Homossexualidade às construções estabelecidas e fixadas (Bu-
incluiu uma narrativa em que se explicava tler, 1999), abrindo-se espaço para novos
por que um adolescente da escola tinha sentidos. Ressalta-se, assim, a importância
aparência de homossexual, graças às suas de análises narrativas que contemplem os
características consideradas femininas. Es- movimentos realizados pelos indivíduos no
sas características foram atribuídas à sua processo de construção de sentidos.
pouca convivência com o pai concomitan-
te à sua criação por mulheres. Conclusão: Palavras-chave: família, socialização de
Tais narrativas foram ao encontro da afir- gênero, adolescência
mação de Oliveira (2007) acerca do papel Contato: Gabriela Sagebin Bordini, UFRGS,
fundamental da família como agente de charlestonbordini@yahoo.com.br
socialização de gênero para os jovens. As
reações dos familiares à expressão da sexu-
alidade feminina parecem promover uma LT05-718 - EXPERIÊNCIA PATERNA
socialização de gênero padronizada para EM FAMÍLIAS NUCLEARES E O
as adolescentes, fixando características e DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DA
atitudes que associam a mulher a um ser FILHA
heterossexual, pouco sexualizado e passi- Andressa Pin Scaglia - FFCLRP/USP,
vo. A família também se sobressaiu como andressascaglia@yahoo.com.br
agente de socialização de gênero para os Fernanda K. T. Mishima - FFCLRP/USP
adolescentes homens, promovendo uma fktmishima@srv1.ffclrp.usp.br
socialização de gênero padronizada, fixan- Valéria Barbieri - FFCLRP-USP,
do características e atitudes que associam valeriab@ffclrp.usp.br
o homem à heterossexualidade ativa. Essa Financiamento: FAPESP
socialização pareceu ser tomada de modo
fatalista pelos próprios participantes da A família ocupa um papel de grande im-
pesquisa, que consideraram que a criação portância no desenvolvimento emocional
oferecida pelos pais pode levar um adoles- da criança, é responsável por fornecer
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cuidado como uma maneira de poupá-la na família: “eu tenho a minha poltrona do
de frustrações: “Mesmo quando a pes- papai na sala, mas não é cativa minha não,
soa está certa eu não gosto que chamem todo mundo senta” e sentir-se em dívida
atenção da minha filha”. A criança parece em a esposa: “tenho muita gratidão pela
representar um objeto narcísico, e há um minha esposa”. Nos casos apresentados
grande medo da perda do amor. Na segun- os pais parecem vivenciar a paternidade
da díade, a criança, também de 04 anos, de maneira confusa e ambivalente, e os
apresenta-se de maneira bastante tímida e significados que atribuem à paternida-
retraída, fala pouco. A mãe aparece como de parecem refletir no desenvolvimento
uma figura de autoridade proibitiva, cas- de suas filhas. No primeiro caso, a garota
tradora: “eu queria um cachorrinho, mas mostra-se voraz e dominadora, parece que
minha mãe não deixa... não deixa eu fa- a experiência de onipotência sugere um
zer piquenique”. O seu vínculo mais forte processo deficiente de desilusão, quadro
é com o pai: “faço muitas coisas com meu este que vai ao encontro com a entrevista
pai”, mas ela parece senti-lo como alguém do pai que parece ser dominado pela filha,
que a impulsiona ora para o refúgio, ora a apresenta dificuldade para impor a autori-
autonomia: “meu pai segura atrás da mi- dade. No segundo, a garota se mostra inse-
nha bicicleta, mas tem hora que ele solta”. gura, sugere-se um ambiente com falta de
Assim, parece que os pais não são capazes holding suficiente; entrevista que também
de dar holding suficiente, de maneira que corresponde com a do pai que se mostra
a menina não se sinta segura e protegida. confuso em seu papel devido às diversas
Mostra-se frágil diante do mundo. O pai demandas e acaba por ao possibilitar uma
tem 41 anos, inicia o encontro afirmando provisão insatisfatória para a criança.
que é muito prazerosa a experiência de ser
pai, mas, em seguida, aponta dificuldades Palavras-chave: paternidade,
com a filha “ela é muito insegura, muito desenvolvimento emocional, Winnicott
tímida, alguns aspectos me preocupam Contato: Andressa Pin Scaglia, FFCLRP-USP,
nela, como o contato com outras crian- andressascaglia@yahoo.com.br
ças”, mas na seqüência atribui que todos
os problemas com a filha são, na verdade,
problemáticas da esposa: “o pediatra disse LT05-721 - PSICODINAMISMO FAMILIAR
que não deveria levar a garota em um psi- E PATOLOGIA INFANTIL
cólogo, mas minha mulher procurar um”. Andressa Pin Scaglia - FFCLRP/USP
A esposa parece impedir que o pai tenha andressascaglia@yahoo.com.br
acesso à filha, e ela é citada na maior parte Fernanda K. T. Mishima - FFCLRP/USP
da entrevista, tirando, assim, o espaço da fktmishima@ffclrp.usp.br
garota. O pai se mostrou ambivalente dian- Valéria Barbieri - FFCLRP/USP
te de seu papel e seus valores, fica dividido valeriab@ffclrp.usp.br
entre uma imagem ideal de pai e a que a
esposa exige: “às vezes eu preciso sair da A compreensão da patologia infantil en-
minha cama para dar lugar para ela para volve diversos aspectos, em especial, a
elas dormirem confortáveis, eu acho isso dinâmica familiar em que a criança vive.
horrível”. Parece não encontrar seu espaço A qualidade do ambiente oferecido pelas
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ciclo vital, para essas famílias? Ao longo cialmente quando há uma alteração de po-
do tempo, o estresse tende a aumentar? líticas educacionais, como a implementa-
Quais os níveis de estresse de pais e mães ção do ensino fundamental de nove anos.
durante os anos de adolescência dos fi- Essa ampliação prevê a entrada das crian-
lhos com DI? As estratégias de enfrenta- ças com seis anos no primeiro ano desse
mento são diferentes para pais e mães de nível de ensino, o qual passa a ter duração
adolescentes? Quais são as características de nove anos. Com essa ampliação novas
da rede social de apoio dessas famílias configurações passam a existir, mudanças
com adolescentes? Essas são algumas das de práticas pedagógicas, de tempos, es-
lacunas que podem ser discutidas e apro- paços e de relações interpessoais. Para a
fundadas em planejamentos de pesquisa, realização dessa pesquisa adotou-se como
contribuindo para a geração de dados em- respaldo teórico-metodológico a pers-
píricos que subsidiem o planejamento de pectiva bioecológica de Bronfenbrenner
programas dirigidos a essas famílias. (1997, 1999), a qual possibilita a realização
de estudos que visam analisar fenômenos
Palavras-chave: estresse, deficiência do desenvolvimento humano em sua com-
intelectual, família plexidade analisando as trajetórias indivi-
Contato: Larissa Dias de Oliveira, UFJF, larissa. duais, mas sem deixar de compreender
dias83@yahoo.com.br os contextos macros onde os indivíduos
estão inseridos. O desenvolvimento, nessa
perspectiva, é concebido como o produ-
LT05-852 - CONTINUIDADES E tor e o produto dos processos de intera-
DESCONTINUIDADES NAS RELAÇÕES ção - que devem ser recíprocos - entre o
FAMÍLIA-ESCOLA NA TRANSIÇÃO ser humano biopsicologicamente ativo e
DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O os múltiplos contextos, sendo necessário
ENSINO FUNDAMENTAL: CONCEPÇÕES que esse desenvolvimento ocorra através
DOCENTES do tempo. Destaca-se para esse estudo, a
Keila Hellen Barbato Marcondes - UNESP afirmação que Bronfenbrenner (1997) faz
keilamarcondes@yahoo.com.br sobre a importância do estabelecimento
Silvia Regina Ricco Lucato Sigolo - UNESP de comunicação entre os contextos em
sigolo@yahoo.com.br que o indivíduo em desenvolvimento é ati-
Financiamento: CNPq vo, destacando a importância dos sujeitos
(responsáveis e docentes) se envolverem
O presente estudo é parte integrante da em ambos os contextos, desenvolvendo
tese de doutoramento denominado “Tran- a confiança mútua e o consenso de ob-
sição da educação infantil para o ensino jetivos. O que esta afirmação salienta é
fundamental de nove anos: trajetórias de a importância da interação entre família-
escolarização”. A transição entre esse dois -escola, que se apresenta como um fator
níveis de ensino mostra-se um momento positivo para o desenvolvimento infantil.
de grande importância na trajetória de es- Diante desse cenário, o presente estudo
colarização das crianças, por se tratar de tem como objetivo analisar as continui-
uma situação na qual podem ocorrer con- dades e descontinuidades das relações
tinuidades e/ou descontinuidades, espe- estabelecidas entre a escola e a família
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ças que vem a influenciar novas fases da inicialmente da aplicação dos instrumen-
vida de um individuo, e por sua vez, em tos de avaliação, em seguida, intervenção
toda a família. Os modelos de planeja- com orientações sócio-educativa e, por
mento familiar típicos deixam de conside- fim, a re-avaliação com os mesmos ins-
rar os efeitos significativos da etnicidade, trumentos iniciais. Todo processo foi re-
da religião, das classes sociais, em todos alizado nas escolas, em 12 encontros de
os aspectos de quando e de que manei- 60 minutos. As sessões abordaram temas
ra uma família faz suas transições de uma como: educação, saúde, orçamento do-
fase para outra. O planejamento familiar méstico, sexualidade, relações afetivas,
realizado pelo programa de saúde pública lazer, habitação. Os participantes foram
é voltado para a questão do controle da orientados para a análise dos problemas,
natalidade, a redução do aborto, a saú- das potencialidades e das conseqüências
de da mulher, a redução da pobreza etc, definindo as possíveis soluções. O produto
não realizando avaliações das potenciali- de cada etapa é o planejamento familiar
dades e dos recursos do núcleo familiar. que responde aos diferentes problemas
Entretanto, o planejamento familiar, na presentes no sistema. A análise dos dados
perspectiva do desenvolvimento, acres- de avaliação (teste e re-teste) foi realizada
centa variáveis organizadoras do sistema, através do programa estatístico Statistical
permitindo um planejamento baseado na Package for the Social Sciences (SPSS). Os
sustentabilidade e no ciclo de vida da fa- instrumentos utilizados foram o Familio-
mília. O objetivo deste estudo é avaliar, na grama e o Inventário do Clima Familiar
perspetiva do desenvolvimento, o efeito – ICF. O Familiograma é um instrumento
da intervenção em planejamento familiar desenvolvido para avaliar a percepção da
realizado com adolescentes sobre o clima afetividade e o conflito familiar nas díades
familiar: relações de conflito e afetividade familiares, a partir de 22 adjetivos, confi-
de suas famílias, comparando os resulta- gurado com a escala Lickert. O Inventário
dos de teste e re-teste. Esse estudo teve de Clima Familiar é um instrumento que
como base o Projeto de Planejamento Fa- avalia a percepção do clima familiar e as
miliar na Perspectiva do Desenvolvimento, dinâmicas existentes nos relacionamentos
desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Saú- intra e extrafamiliares. Essa avaliação é re-
de, Educação e Desenvolvimento - SAED, alizada através de quatro fatores diferen-
da Universidade Federal do Recôncavo tes: apoio, coesão, conflito e hierarquia,
da Bahia. A metodologia do estudo é de contendo um total de 32 itens. Os resulta-
caráter quase experimental. A coleta de dos sócio-demográficos apresentam 150
dados foi realizada com 150 adolescentes, adolescentes entre 12 e 19 anos (M=16,03
entre 12 e 19 anos, estudantes de escolas e DP = 2,03). A maioria dos participantes
públicas. Os adolescentes foram convida- era do sexo feminino (73,4%). A distribui-
dos através do contato com as instituições ção da escolaridade mostra maior concen-
de ensino. A realização da pesquisa ocor- tração para o ensino fundamental incom-
reu mediante a assinatura do termo de pleto (43,4%) e ensino médio incompleto
consentimento livre e esclarecido (TCLE) (46,5%). Os dados sobre estado civil de-
pelos responsáveis dos participantes. O monstram que a maioria dos adolescen-
procedimento do projeto foi constituído tes é solteira (81,6%); 10,7% são casados;
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para que essa experiência não se repita é de extrema importância e deve ser cui-
geração após geração. São necessários es- dado com delicadeza pela díade parental
forços nos diferentes âmbitos da socieda- no momento em que se organizam os ar-
de no sentido de romper este ciclo, bem ranjos a partir da definição da modalidade
como para auxiliar as mulheres a compre- de guarda. No Brasil, via de regra, adota-
ender a dimensão do mesmo. -se o sistema de guarda única, concedida à
mãe, enquanto o pai fica com o direito de
Palavras-chave: violência doméstica, visita, geralmente em finais de semanas
transgeracionalidade, enfrentamento alternados. Essa situação favorece o afas-
Contato: Lila Maria Gadoni-Costa, UFRGS, tamento gradativo do pai na relação com
lilamariacosta@gmail.com os filhos, com grandes desvantagens para
ambos, principalmente, para os filhos. A
presença do pai, tanto quanto a presença
LT05-1033 - A VIDA EM FAMÍLIA DEPOIS da mãe, tem sido apontada pela literatu-
DO DIVÓRCIO: A PERSPECTIVA DOS ra especializada como fundamental para
FILHOS ADOLESCENTES E ADULTOS a formação da criança e do adolescente
JOVENS (Brito, 2008; Cano et al., 2009; Grzybo-
Lila Maria Gadoni-Costa - UFRGS wski, 2011). A partir da ruptura da conju-
lilamariacosta@gmail.com galidade, a guarda poderá ser definida em
Bruno Moraes da Silva - UFCSPA diferentes modalidades, visando sempre o
brunoms88@gmail.com melhor interesse da prole. A complexida-
Adriana Wagner - UFRGS de dessa tarefa impõe reflexões, visto que
adrianawagner.ufrgs@hotmail.com a literatura especializada considera que
o divórcio é o maior rompimento e tam-
O sistema familiar vem passando por diver- bém o maior promotor de mudanças no
sas transformações nas últimas décadas. processo de ciclo familiar, para todos os
Um dos fatores que contribui para essas membros da família (Alexandre & Vieira,
transformações é o número de divórcios, 2009; Cerveny, 2004; Schabbel, 2005). O
que cresceu 52% nos últimos dez anos no lugar dos filhos, segundo Alexandre e Viei-
Brasil. A partir da separação, a família pre- ra (2009), precisa ser assegurado após o
cisa se adaptar a diversas mudanças: nova fim da conjugalidade, pois a díade paren-
rotina dos filhos, padrão econômico, ma- tal continua a existir independente da se-
nutenção dos laços parentais e adaptação paração. Esses autores salientam que uma
do sistema familiar à nova configuração separação envolve conflitos no relaciona-
que se estabelece. Esse momento é reves- mento familiar e ressalta a importância e
tido de complexidade e consiste em um necessidade de que o casal parental seja
importante desafio para o ex-casal (Carter mantido, bem como a coparentalidade,
& MacGoldrick, 2001). A partir da separa- para que pais e mães possam estabelecer
ção, o estabelecimento da rotina de visi- limites e oferecer aos filhos um ambiente
tas pelo pai ou mãe não-residente pode afetivo e seguro, a fim de garantir-lhes um
gerar nos filhos a sensação de que não desenvolvimento saudável. A coparentali-
pertencem a, pelo menos, um dos lados dade é a relação que se estabelece quan-
de sua família (Travis, 2003). Tal aspecto do duas pessoas assumem, em conjunto, a
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estar “gorda”. A sua primeira crise anoré- A rigidez e o controle presentes na per-
xica ocorreu aos 15 anos, juntamente com sonalidade da anoréxica encontram-se na
um grave episódio depressivo. Chegou a fala e nos escritos da paciente. Segundo
ser internada e pesar 46 kilos. A paciente as narrativas de Ana, podemos descrever
iniciou então acompanhamento psiqui- três categorias: “Mãe: uma fonte de afe-
átrico. Apresentava também episódios tos e conflitos”, “o espelho da mãe rígida”,
de compras compulsivas. Preocupação “a negação do corpo de mulher e do fe-
excessiva com a imagem, e compulsão minino”. Consoante Ana, seus remédios,
por cosméticos e produtos de beleza que atitudes, sentimentos eram controlados,
comprava, mas não usava. A observação assim como sua comida, as amizades,
da dinâmica mãe e filha ocorreu desde a notas, horários e até mesmo o que de-
primeira sessão. Desvelou-se um compor- veria vestir. Os sentimentos da paciente
tamento simbiótico da díade mãe-filha e em relação à mãe oscilavam entre raiva,
um sentimento, por parte da paciente, de sensação de dependência, zelo e fragili-
ser controlada, de impotência diante até dade. “Minha mãe não gosta de mulher,
da própria fala. A mãe entra no consultó- ela controla as minhas roupas... (...) diz:
rio “arrastando” a filha. Fala por ela, que mulher não presta. Minhas roupas são
permanece inexpressiva. Peço-lhe para feias, meus desenhos de vestidos são
permanecer a sós com a paciente. Ao fi- horrorosos. Até meu celular ela xereta...”.
nalizar o atendimento, novamente a mãe Oscila e diz “Ela é frágil. Sozinha, perdeu
adentra o consultório. Acusa a filha, cha- meu pai e só tem a mim. Ela quer que
mando-a de mentirosa, afirmando que eu seja a menina que ela quis ser e não
lhe rouba dinheiro para comprar de forma podia. Passou a vida castelos de areia.”
desmedida e que ela está sem estudar e Ressalta: “Adoro desenhar vestidos, mas
trabalhar. Além desse comportamento, si- eles são caros, impossíveis de usar e de
tuações como ligar minutos antecedentes cair bem no meu corpo”. Para Gabbbard
ao horário da sessão para confirmar se a (1992) é como se o corpo não fizesse par-
paciente estava lá e tentar obter informa- te do self de anoréxicas, mas pertencesse
ções da filha com a terapeuta desvelava aos seus pais, de modo que há uma falha
uma situação de controle excessivo. Iden- em reconhecerem uma individualidade
tificam-se fatores familiares, psicológicos própria. Conclusões: As narrativas desve-
e socioculturais que interagem entre si lam que a internalização da mãe negati-
de forma complexa de modo a predispor, va levou Ana a desenvolver um medo de
a precipitar e/ou a manter o transtorno. assumir seu corpo de mulher adulta. O
Ana afirmou, em diversos momentos da excesso de controle é internalizado pela
terapia: “Passei a vida tentando ser uma paciente, que manifesta crises sempre
boa filha, uma boa namorada, só queria que se sentia cobrada ou em situações de
amor e aceitação...”. Destaca-se a nega- dependência.
ção inconsciente da figura feminina adul-
ta e o temor da anoréxica de assumir pa- Palavras-chave: anorexia, construção
péis concernentes a esta, como não apre- subjetiva, etnografia
sentar contornos arredondas do corpo, Contato: Nara Maria Forte Diogo Rocha, UFC,
permanecendo como um ser assexuado. naradiogo@hotmail.com
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sentido geral, para observarmos a opinião uma família constituída por casais homo-
dos participantes, enunciava que “Rela- afetivos e crianças adotadas, surge uma
cionar-se com a pessoa que ama faz parte variação considerável na faixa etária dos
da vida”. Nesta questão observamos una- 21 aos 30 anos. Nesta população espe-
nimidade entre os participantes. A partir cífica, 20% a mais responderam que não
deste momento, começamos a analisar as concordam com esta nova concepção de
respostas dadas às questões diretamente família, enquanto a faixa etária acima de
relacionadas à união por pares homoa- 41 anos foi unânime, concordando com a
fetivos e a configuração da nova família. possibilidade desta configuração familiar.
A questão apresentada era: “A ideia de Através deste questionário e da análise de
uma relação entre dois homens ou duas dados, constatou-se que, mesmo as pes-
mulheres me incomoda”, além dos resul- soas concordando com a ideia de relacio-
tados mostrarem que, apesar da maioria namentos, de afetos, de família, dentro
ser favorável ao casamento e de a unani- de um contexto geral, ainda existe certo
midade concordar com o relacionamen- preconceito, face aos relacionamentos
to entre pessoas que se amam, 26% dos homoafetivos e a adoção de crianças por
entrevistados afirmaram que se sentem homossexuais. O último gráfico demons-
incomodados com a ideia de uma relação tra uma significativa diferença entre as
entre pessoas do mesmo sexo. Destes, opiniões na faixa de 21 a 30 anos. Talvez
21% são mulheres e 31% são homens. A tal resultado esteja relacionado ao fato
pesquisa também buscou coletar dados das pessoas, nesta fase da vida, estarem
nos diferentes estados civis, abrangendo iniciando seus relacionamentos mais
solteiros, casados, uniões estáveis e divor- duradouros e vislumbrando a formação
ciados. Pretendíamos também verificar o de uma família dentro dos padrões con-
grau de tolerância das pessoas frente ao siderados “normais” para a sociedade.
relacionamento homoafetivo afirman- Também deve ser considerado o fato de
do: “A qualidade do amor entre pessoas que as pessoas, nesta faixa etária (princi-
do mesmo sexo é igual à de pessoas de palmente as mulheres), encontrarem-se
sexo diferente”. O resultado demonstrou no ápice do seu período de fertilidade e
que as pessoas casadas apresentam 7% procriação, tentando inconscientemente
mais tolerância ao relacionamento homo- refutar a possibilidade da adoção. O tema
afetivo do que as pessoas solteiras. Isso escolhido aborda dois assuntos conside-
nos chamou a atenção para analisarmos rados polêmicos pela sociedade: o pri-
as opiniões, considerando agora as dife- meiro é sobre a sexualidade, homossexu-
renças etárias. Na questão “Uma família alidade e relacionamentos homoafetivos;
pode ser composta por um casal homo- o segundo agrega a adoção, que também
afetivo e crianças adotadas” dividimos as é um assunto bastante complexo.
respostas em dois grupos: o primeiro com
pessoas menores ou iguais a 28 anos e Palavras-chave: família, homoafetivo, adoção
segundo grupo acima dos 29 anos. O que Contato: Felipe Assis, Cesuca Faculdade Inedi,
podemos perceber nos resultados obti- titiassis@gmail.com
dos é que, apesar da maioria (55%) das
pessoas concordarem com a formação de
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Reis, 1999), bem como a formação de me- descritiva, de natureza qualitativa, que
canismos de defesa, tais como a negação, busca analisar a percepção e o impacto
relatadas por Brunhara e Petean (1999) na família da recepção do diagnóstico de
como um dos mecanismos mais freqüen- síndrome de Down em recém-nascidos,
tes, provavelmente como meio de dimi- com vistas a identificar elementos para a
nuir ou encobrir a problemática do filho, construção de um serviço de apoio a famí-
para ganhar tempo para a elaboração do lias com crianças portadoras de Síndrome
choque inicial. O papel dos profissionais de Down. No estudo piloto foram reali-
de saúde, tanto no momento de atendi- zadas entrevistas semiestruturadas com
mento pré-natal em geral, como meio de pais de crianças portadoras de Síndrome
informação e conscientização, assim como de Down, baseadas em um roteiro dividi-
na ocasião do diagnóstico e informação à do em duas partes: a primeira dedicada
família, é de extrema importância. A es- à caracterização da família, e a segunda
ses profissionais cabe maior empenho no relacionada às experiências vividas por
sentido de envolver e, ao mesmo tempo, ocasião da recepção do diagnóstico de
voltar suas ações para a unidade familiar, Síndrome de Down. As análises apontam
tendo como objetivo apoiá-la, fortalecê-la para a importância da presença de um
e instrumentalizá-la ao desempenho efi- psicólogo no momento da transmissão do
caz de suas funções junto a todos os seus diagnóstico, bem como da necessidade de
membros e, de maneira particular, junto informação sobre a Síndrome. Quase to-
àqueles dependentes de cuidados. Muitas dos os casais entrevistados indicaram ter
vezes o diagnóstico da Síndrome de Down recebido a notícia entre dois dias após o
não é realizado de maneira adequada, nascimento, e apenas um recebeu esse
acarretando maior sofrimento e, como comunicado no segundo mês de gestação,
consequência, trazendo mais dificuldades sendo os profissionais responsáveis por
para a aceitação do bebê e o estabeleci- essa tarefa o obstetra, no último caso, o
mento de um vínculo adequado entre pais pediatra e o médico da UTI neonatal. O
e recém-nascido. A maneira profissional e diagnóstico, em todos os casos, foi trans-
objetiva da comunicação feita comumen- mitido de forma direta e brusca, sem pre-
te por médicos pode causar indignação parações ou cuidados especiais, inclusive
aos pais. Justamente por esse motivo é aquele de oferecer esclarecimentos sobre
importante que o bebê seja apresentado esse distúrbio e os cuidados ou rede de
à família de tal maneira que seus atribu- apoio disponível. As reações relatadas en-
tos e aspectos normais sejam ressaltados. volvem o susto, desespero, choro compul-
Também é de suma importância conside- sivo, bem como a percepção de recebe-
rar o período de desorganização que os rem informações desencontradas e falta
pais experimentam durante os estágios de de apoio. Os entrevistados relataram sen-
choque e negação, de tal forma que infor- tir-se despreparados para a recepção da
mações sobre as condições e a evolução notícia. Também foi relatada a existência
da criança terão que ser repetidas várias de conflitos familiares disparados a partir
vezes. O presente trabalho apresenta in- da notícia, os quais foram solucionados
formações construídas a partir de um es- internamente, sem interferência ou apoio
tudo piloto, que é parte de uma pesquisa de profissionais.
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importante para torná-lo mais satisfatório. res e o irmão e busca da atenção dos pro-
Assim, a coabitação refere-se a uma possi- genitores para si (Hill & Davis, 2000; Miller,
bilidade ainda em construção, na qual os Volling & McElwain, 2000). Assim como o
casais que optam por esta forma de convi- ciúme em adultos, as crianças enciumadas
vência parecem enfrentar desafios maiores agem, pensam e sentem de variadas for-
do que aqueles casados formalmente. Isto mas que não são necessariamente agres-
é, além de vivenciarem os questionamen- sivas ou abertamente competitivas (White
tos pessoais rotineiros da construção da & Mullen, 1989). Além disso, considera-se
vida conjugal, ainda precisam, algumas ve- haver ainda uma falta de clareza na litera-
zes, enfrentar a falta de credibilidade com tura científica acerca dos conceitos refe-
que a sociedade percebe a coabitação. rentes a esta temática. Objetivo. O presen-
te estudo teve como objetivo investigar, a
Palavras-chave: coabitação, satisfação partir da perspectiva dos progenitores, as
conjugal, status conjugal manifestações do ciúme de primogênitos
Contato: Caroline Rubin Rossato Pereira, pré-escolares com seus irmãos menores
UFSM/ULBRA, carolinerrp@gmail.com nos anos iniciais da relação fraterna. Me-
todologia. Participaram do estudo quatro
casais de progenitores de famílias com
LT05-1371 - INDICADORES DE CIÚMES DE dois filhos residentes na cidade de Porto
PRIMOGÊNITOS PRÉ-ESCOLARES Alegre (RS). O filho primogênito possuía
COM OS IRMÃOS MENORES idade pré-escolar e a mãe estava grávida
Caroline Rubin Rossato Pereira - UFSM/ do segundo filho no momento da primeira
ULBRA etapa de coleta de dados. Através de um
carolinerrp@gmail.com estudo de caso coletivo (Stake, 1994), os
Rita de Cássia Sobreira Lopes - UFRGS progenitores responderam separadamen-
sobreiralopes@portoweb.com.br te a entrevistas semidirigidas em quatro
momentos de coleta de dados (3º. trimes-
Com a chegada do segundo filho à família, tre de gestação, aos 6, 12 e 24 meses de
surge um novo desafio ao primogênito, o vida do segundo filho). Os dados foram
de dividir e compartilhar com o irmão o examinados através da análise de conteú-
espaço físico da casa, suas posses, brin- do qualitativa (Bardin, 1977; Laville & Dio-
quedos e, mais do que isto, a atenção, a nne, 1999). Discussão de resultados. Ao
admiração e o afeto dos progenitores. Nes- analisar conjuntamente o ciúme do primo-
te contexto, o ciúme poderia ser pensado gênito em relação aos progenitores com o
como uma experiência normal e talvez di- irmão nos quatro casos investigados, cinco
ária para estas crianças. Diferentemente formas básicas de manifestações de ciúme
das emoções básicas de raiva, tristeza e emergiram, sendo consideradas como in-
alegria, o ciúme refere-se a uma emoção dicadores de ciúme: 1) busca da atenção/
social complexa. Os indivíduos em situação afeto dos progenitores; 2) sentimento de
de ciúme expressam uma gama de emo- perda do amor dos progenitores; 3) de-
ções incluindo raiva, ansiedade e tristeza, sejo de estar no lugar do bebê; 4) expres-
as quais podem estar associadas a com- sões de agressividade; 5) expressões de
portamentos de conflito com os progenito- tristeza/desconforto. Segundo a literatura,
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seu papel, responsabilidade e função no tivo não formal. É oportuno refletir, qual
desenvolvimento dos seus alunos de ma- seja a sua ação, que há de se ter devido
neira intencional e crítica (Marinho-Arau- cuidado com mediações profissionais de
jo, 2005; Guzzo, 2003, 2005). A segunda maneira acrítica, apolítica e descontextu-
ação era concretizada através da formação alizada do panorama histórico e sociocul-
assistida às educadoras. As ações de for- tural do qual as instituições educativas de
mação eram feitas mensalmente com as terceiro setor nascem e se desenvolvem.
educadoras sociais das unidades da ONG e
a coordenadora pedagógica. Planejava-se, Palavras-chave: Psicologia Escolar, atuação, ONG.
por meio dessa ação, o desenvolvimento
de competências teóricas, conceituais e
metodológicas das profissionais, especial- SP LT04 - Simpósio
mente pela mediação de discussões da
psicologia do desenvolvimento e suas im-
plicações pedagógicas, relacionando às di- SP LT04-1383 - A CONSTRUÇÃO DO
ficuldades educacionais que encontravam CONHECIMENTO NA PRIMEIRA
no dia a dia. Posteriormente, realizava-se INFANCIA EM DIFERENTES CONTEXTOS
um acompanhamento das educadoras DE DESENVOLVIMENTO
no seu exercício profissional, provocando Silviane Barbato - IP/UnB
continuamente reflexão sobre, na e para barbato.silviane@gmail.com
a ação do educar, em consonância à pro-
posição teórica da epistemologia da ação Nesta sessão apresentaremos e discutire-
(Araujo, 2003; Plantamura, 2003). Duas mos a utilização de diferentes ferramentas
pesquisas acadêmicas em Psicologia Esco- mediacionais físicas e simbólicas na cons-
lar foram desenvolvidas pelas psicólogas trução de conhecimento da criança pe-
da ONG na própria instituição. A primeira, quena em interação com um adulto e/ou
intitulada Atuação em psicologia escolar: o seus pares. Enquanto grupo, nos interessa
desenvolvimento de competências para a entender como a criança constrói conheci-
mediação da escolha profissional em São mento e significados em contextos de prá-
Luís-MA (Carvalho, 2007), investigou o ticas e interlocuções formais e informais
desenvolvimento de competências de psi- no cotidiano da família e da escola quando
cólogos escolares para a mediação da es- ela passa a frenquentá-la. A fim de alcan-
colha profissional do grupo de educandos çarmos nosso objetivo geral, enfocaremos
adolescentes da ONG. A segunda pesquisa diferentes momentos do desenvolvimento
desenvolvida foi Psicologia escolar e o de- na primeira infância, considerando o seu
senvolvimento adulto: um estudo sobre o desenvolvimento simbólico mediado na fa-
perfil de educadoras sociais em uma ONG mília, na educação infantil e nos primeiros
de São Luís/MA (Soares, 2008), pela qual anos do ensino fundamental, entenden-
se investigou o perfil de educadoras sociais do que estamos diante de dois períodos
da instituição, visando conhecer as possibi- de transição que implicam em diferentes
lidades de mediação da Psicologia Escolar configurações das redes interacionais nas
para o desenvolvimento de competências diferentes atividades das quais a criança
profissionais próprias ao trabalho educa- participa: da construção de conhecimento
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sição para o Ensino Fundamental aos seis maior abrangência possível de suas opini-
anos (por vezes incompletos) constitui-se, ões. Tais entrevistas são submetidas à gra-
no Brasil, mudança recente, com efeitos vação, transcrição na íntegra e análise por
ainda relativamente desconhecidos e que, episódios, com prevalência de aspectos
possivelmente, envolvem fatores como qualitativos. Esperamos, com isto, colabo-
o cuidado e a educação da criança, pela rar com a compreensão teórica do tema
família, e o processo de sua escolarização e estimular reflexões sobre a construção
até o momento. As maneiras como a es- de políticas públicas, projetos político-
cola, a família e a criança lidam com es- -pedagógicos escolares e objetivos para o
tas mudanças poderão propiciar ou inibir ensino-aprendizado de crianças da Educa-
avanços no desenvolvimento global e, em ção Infantil e do Ensino Fundamental.
especial, da aprendizagem, como da lei-
tura e escrita. Temos como objetivo geral Palavras-chave: pesquisas com crianças;
a compreensão da transição da Educação Educação Infantil; Ensino Fundamental.
Infantil para o Ensino Fundamental, além
das possíveis conseqüências desta inser-
ção e os prováveis reflexos na alfabetiza- A MÚSICA COMO MEDIADORA DO
ção e no letramento das crianças, conside- DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA
rando a realidade de diferentes contextos FONOLÓGICA
de seu desenvolvimento. Sob a visão do Júlia Escalda Mendonça - UnB
desenvolvimento humano, consideramos juescalda@yahoo.com.br
importante construir informações sob Silviane Barbato - UnB
uma perspectiva longitudinal, para me- barbato.silviane@gmail.com
lhor compreensão de todo o processo e,
em particular, da transição de uma para O desenvolvimento da linguagem escri-
outra etapa da educação. Baseando-nos ta relaciona-se a um complexo sistema
na metodologia qualitativa, elaboramos de habilidades e de conhecimentos. Para
roteiros de entrevistas semiestruturadas aprender a ler e escrever as crianças de-
e de observação do quotidiano, a partir vem inicialmente entender que existe uma
de indicadores da literatura; neles, são correspondência entre a linguagem oral e
explorados aspectos da aprendizagem, os símbolos gráficos usados na escrita. Elas
situações do passado, do presente e das precisam estabelecer relações entre os
perspectivas de futuro dos participantes sons da língua e as letras, ou seja, precisam
de ambos os contextos envolvidos (escola identificar e reconhecer que os sons po-
e família), a respeito de papéis e funções dem corresponder a letras sozinhas ou em
de cada um na escolarização, bem como combinações. Esse processo é chamado
de suas possíveis relações. A entrevista de correspondência grafema-fonema e é
com crianças partiu de um roteiro ade- essencialmente um procedimento de aná-
quado ao momento de desenvolvimento, lise. A descoberta dos sons da língua, os
com base em técnicas e instrumentos já fonemas, está relacionada à competência
citados e utilizados em nossas pesquisas metalinguística denominada consciência
com crianças, tendo em vista um melhor fonológica, que se refere às habilidades de
aproveitamento da sua participação e manipular e refletir sobre os sons da fala.
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partir daí, iniciou-se um novo momento de copiar, colorir, nomear, memorizar suas
investigação sobre o ensino de Geografia, informações, tão somente. Nesse senti-
pautado pela identificação e compreensão do, a construção dos conhecimentos para
do papel dessa área do conhecimento na a leitura de mapas e a representação do
formação integral da criança. Os resulta- espaço geográfico assenta-se na premissa
dos, ainda em franco processo de desen- de que a linguagem gráfica corresponde a
volvimento, permitiram aportes teóricos um sistema de símbolos que envolve pro-
específicos aos anos iniciais de escolari- porção, uso de signos ordenados e técni-
zação. Nesse contexto, destacam-se os cas de projeção, além do atendimento a
processos de estudo da linguagem gráfica, algumas necessidades cotidianas, como
compreendida como uma espécie de “al- por exemplo o acesso a determinados lo-
fabetização cartográfica”, fundamental à cais ou os limites de uma determinada
compreensão e representação de mundo, área. A geografia escolar demanda uma
o qual se modifica em consonância com os abordagem relacional, a articulação de
próprios processos de desenvolvimento distintas noções de tempo, espaço, fenô-
da criança e as condições culturais onde menos culturais, sociais, naturais de cada
está inserida. A linguagem gráfica, expres- paisagem, entre outros, para fazer cum-
sa na Geografia por meio da cartografia, prir seu objetivo: “estudar as relações en-
assume importante papel no processo de tre o processo histórico na formação das
desenvolvimento infantil, notadamente sociedades humanas e o funcionamento
nos anos iniciais de escolarização, quando da natureza por meio da leitura do lugar,
as referências de si, do outro e do mundo do território, a partir da paisagem“ (MEC,
estão sendo construídas. Desse modo, seu 1997). Tal intento é complexo e evidencia
domínio possibilita o desenvolvimento das um problema efetivo e real: até que ponto
competências necessárias à compreensão as crianças que estão em pleno processo
do processo de produção do espaço. Isso de desenvolvimento e, por conseguinte,
evidencia a necessidade de se trabalhar habilitando paulatina e progressivamente
na perspectiva de desenvolver as habilida- sua capacidade de compreensão do espa-
des que permitam compreender o espaço ço, dispõem de condições para realizar os
geográfico na lógica de sua produção. Tal objetivos da Geografia? Assim, para o tra-
compreensão se manifesta pela possibili- balho em Geografia, há a necessidade de
dade de sintetizar informações, expressar se compreender o processo de desenvolvi-
conhecimentos sobre uma dada realida- mento da percepção espacial na criança, a
de, estudar situações (analisar, comparar, fim de identificar como se desenvolve sua
correlacionar, concluir), que demonstrem capacidade de perceber o espaço, como é
a produção do espaço na perspectiva de essa percepção e como ela é representada.
sua organização. Tal dimensão é complexa, Almeida e Pasini (1991) identificam que os
não somente por envolver novas formas conteúdos de Geografia nos anos iniciais
de entendimento sobre o papel dessa lin- de escolarização orientam-se às noções
guagem no contexto da geografia escolar, de localização, orientação e representa-
como também inovadora, por represen- ção do espaço. Nesse sentido, para essas
tar a possibilidade de superação das for- autoras, a criança desenvolve a percepção
mas tradicionais de trabalho com mapas: do espaço em três momentos sucessivos e
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terações continuadas por qualquer um dos ção “coletivizada”: Daniel, Felipe e Rena-
interlocutores. Os resultados indicaram o to, sentados à mesma mesa, quando um
uso da fala egocêntrica com a função or- deles fez a relação fonema/grafema usan-
ganizadora do desenho, a criança anuncia- do a fala egocêntrica, os demais também
va o que ia desenhar, contava a narrativa passaram a fazer essa relação, soletrando
da história, os personagens; na escrita, o conjuntamente; f) comentário de concor-
uso com a função de soletração da rela- dância ou discordância: As falas egocêntri-
ção fonema/grafema, a fim de descobrir cas do Felipe geraram sucessivas Zonas de
qual letra empregar na palavra que estava Desenvolvimento Proximal (ZDP) (Vigotski,
escrevendo. Encontramos o uso das falas 1998) pelas falas de apoio da professora ao
egocêntricas com as seguintes funções ge- complexo processo de soletração da rela-
radoras de construção de conhecimento ção fonema/grafema, seguindo a seguinte
na intersubjetividade: a) comentário de dinâmica: ele inicia pronunciando uma pa-
outro social: a fala egocêntrica do falante, lavra; a professora repete; ele pede confir-
gerando questões no interlocutor ouvinte, mação da letra que descobrira; a professo-
que pede esclarecimento ao falante. Feli- ra confirma e o incentiva ir adiante.
pe narrou sua história, em que, a cada ele-
mento inusitado que apresentou falando, Palavras-chave: fala egocêntrica, escrita,
o colega quis ver e saber do que se tratava; desenho infantil.
b) comentário do próprio falante dirigido
a outros sociais: a fala egocêntrica do fa-
lante como geradora da fala comunicativa. SP LT01 - Simpósio
Clara anunciou para si que ia desenhar o
castelo e o cabelo da princesa, serviu de
interlocutor para chamar o coletivo, as SP LT01-959 – COMPLEXIDADE,
outras meninas desenharam também o DESENVOLVIMENTO E CULTURA:
castelo e a princesa; c) falas egocêntricas DESAFIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS.
em outros sociais: as falas egocêntricas de
Angela Branco - UnB
um falante, gerando várias falas egocêntri-
ambranco@terra.com.br
cas de falantes diferentes, levando a uma
Ana Cecília Bastos - UFBA
adição coletiva de conhecimento. Renato
anaceciliabastos@gmail.com
e seus colegas da mesa, um dos meninos
Maria C.D.P. Lyra - UFPE
começou a nomear seus desenhos perti-
marialyra2007@gmail.com
nentes à história e gerou a nomeação de
outros elementos pelos demais meninos, Financiamento: CNPq
ampliando cada vez mais as falas; d) co-
mentário de avaliação: a fala egocêntrica O conceito de complexidade aplicado ao
gerando avaliação, quando algum interlo- fenômeno psicológico assume diferentes
cutor ouvinte identifica um fato errôneo. dimensões que estão interligadas. Dois as-
Quando Renato e os meninos começaram pectos são, particularmente, relevantes.
a dizer elementos errados da história, ge- Um primeiro diz respeito à multicausali-
rou a avaliação e correção do erro pelos dade que constrói uma causalidade sistê-
outros.; e) falas egocêntricas de soletra- mica, inerente ao sistema aberto que ca-
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vida da mulher, em particular, e da família, pode ser estimada, para uma determinada
em geral. Nesse sentido, é consenso entre destinação na vida (o ponto de equifinali-
os autores que trabalham com a aborda- dade). Nesse sentido, envolve a tendência
gem narrativa a idéia de que é o próprio de persistir em determinados padrões no
ato de narrar que dá coesão à diversidade curso de vida. Os autores sugerem a metá-
de nossas experiências, promovendo a co- fora de “canal” para melhor abordar a no-
nexão entre eventos passados, presentes ção de trajetória: o canal pode modificar
e futuros. É, então, através da constante seu curso eventualmente e, no entanto,
atividade de construção e reconstrução continua representando uma trilha con-
de narrativas, do relato de histórias, que creta. O modelo TEM oferece uma opor-
as pessoas dão unidade e coerência aos tunidade de explorar a complexidade da
eventos da própria vida. Discute-se a pos- história de vida, assumindo efetivamen-
sibilidade de aplicação do Modelo de Equi- te que as vidas humanas se desdobram
finalidade de Trajetórias (TEM), elaborado no tempo irreversível, de um ponto co-
por Sato e Valsiner, à análise de narrati- nhecido em direção ao desconhecido. O
vas autobiográficas de mulheres sobre a modelo inclui os modos de adaptação da
transição para a maternidade. O modelo pessoa enquanto agente, as histórias de
TEM é apropriado para análises de narra- vida integrativas da pessoa enquanto au-
tivas, na medida em que permite articular tora, situados, ambos, de forma complexa
orientação e direcionamento social à sín- e diferenciada, no contexto sociocultural.
tese pessoal, favorecendo a identificação Aqui, são também consideradas as traje-
de padrões singulares frente a contextos tórias potenciais ou não realizadas, tanto
que representam diferentes estruturas de no passado quanto no possível futuro; tais
oportunidade. É proposto por seus auto- dimensões são relevantes e presentes na
res como um novo dispositivo metodo- construção pessoal de vidas individuais.
lógicos, baseado numa visão sistêmica e A noção de eqüifinalidade, oriunda da te-
capaz de considerar seriamente a noção oria dos sistemas, refere-se ao princípio
da irreversibilidade do tempo. Assim, é de que, em sistemas abertos, um estado
consistente com a perspectiva do curso final pode ser alcançado através de mui-
de vida, a qual enfatiza o papel da agen- tos meios ou caminhos potenciais; é esta
tividade humana através de transições noção que, de certa forma, articula as di-
desenvolvimentais, devidamente contex- ferentes trajetórias e imprime à vida uma
tualizadas no lugar e no tempo histórico infinita riqueza. Finalmente, pretende-se
e através dos processos de formação e evidenciar que o modelo TEM é adequa-
dissolução de vidas interligadas. Porém, do a uma concepção do desenvolvimento
o modelo TEM vai além da identificação hierarquicamente organizado, abrangen-
de padrões: pretende alcançar a dinâmica do processos que se dão nos níveis macro-
desse movimento da pessoa em direção genético, mesogenético e microgenético,
ao futuro. Pode-se considerar que, nesse permitindo o que os autores denominam
aspecto, converge com a noção de poetic de “manutenção ontogenética’, a qual é
motion. Aqui, trajetória é entendida como semioticamente regulada por signos pro-
o componente estável de uma particular motores derivados dos níveis anteriores.
direção, cuja probabilidade de ocorrência
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lise das trocas com seu bebê. Discutire- entanto, nota-se certa carência de estudos
mos também a possibilidade de que, em que investiguem os processos educativos
se tratando de um sistema extremamen- estabelecidos a distância, na tentativa de
te fluído como aquele que investigamos, compreender como ocorre o funciona-
as trocas mãe-bebê, novos desafios se mento cognitivo nesse contexto e quais os
colocam ao analisar as trajetórias de de- elementos que o influenciam. A proposta
senvolvimento, no presente caso aquelas deste simpósio é analisar as interações
assumidas pelo desenvolvimento da fala sociais em EaD a partir de três estudos,
da mãe. Por exemplo, trajetórias que pa- desenvolvidos em diferentes Instituições
recem persistir sem bifurcações que, mais de Ensino Superior: 1) Um resumo teórico
adiante, desaparecem, coexistem com ou- que aborda a interface linguagem, cogni-
tras que, claramente, sofrem bifurcações. ção e emoção como elementos essenciais
Poderiam as primeiras ser interpretadas para o estabelecimento das trocas sociais
como resultantes da manutenção de sig- em EaD; 2) A apresentação do termo in-
nificados necessários ao próprio sistema tercognição como um conceito que va-
em estudo? Esta interpretação é coeren- loriza a mediação semiótica presente no
te com o modelo de trajetórias de equi- intercâmbio das mensagens em fóruns de
finalidade (TEM). Discutiremos, assim, as discussão para a construção dialógica do
contribuições e desafios enfrentados ao conhecimento; e 3) O desenvolvimento
aplicar este modelo para o estudo da mi- do pensamento crítico empreendido por
crogênese das trocas mãe-bebê. interlocutores concretos em fóruns de dis-
cussão, buscando evidenciar os fenôme-
Palavras-chave: self dialógico; fala da mãe; nos subjetivos e interativos presentes nas
modelo de trajetórias de equifinalidade (TEM) práticas interativas. Os estudos apresenta-
dos compartilham da metodologia qualita-
tiva e de uma visão de construção de co-
SP LT02 - Simpósio nhecimento forjada a partir de interações
sócio-afetivas e historicamente contextua-
lizadas, onde as pessoas são parceiras de
SP LT02-1298 -INTERAÇÕES SOCIAIS E comunicação, co-autoras e responsáveis
PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO NO pela a qualidade dos processos educativos
CONTEXTO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA que engendram. À medida que ocorre um
comprometimento entre os interlocuto-
res, uma parceria, voltada ao intercâmbio
A Educação a Distância (EaD) é uma mo- das ideias e ao reconhecimento e legitima-
dalidade de ensino em expansão que vem ção do outro enquanto importante media-
consolidando-se como “importante fer- dor para a sua própria aprendizagem, os
ramenta de inclusão social e de melhoria processos educativos no campo da EaD se
da qualidade da educação”, especialmente qualificam mais intensivamente. Portanto,
no âmbito do ensino superior brasileiro as análises realizadas ao longo deste sim-
(ABED, 2011, p. 41). Em função disso, di- pósio enfatizam a indissociável relação en-
versos campos teóricos e metodológicos tre intersubjetividade, cognição, emoção e
têm se interessado pela temática EaD. No práticas argumentativas para a qualidade
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tos hace que éstos varíen, ya que guardan intercognição é entendida como fenôme-
cierta relación com nuestros pensamien- no da interação socialmente estabelecida
tos” (p. 86-87). Bauman (2003) comenta entre interlocutores concretos e que reve-
que “as palavras têm significado: algumas la a interdependência mútua e constante
delas, porém, guardam sensações [...] Os entre eles para a construção dialógica do
significados e sensações que as palavras conhecimento. É um conceito ainda em
carregam não são, é claro, independen- construção, tendo se desdobrado do estu-
tes” (p. 7). Essas concepções fortalecem do empírico de Bicalho (2010) que reali-
a afirmação de Berger e Luckmann (2004) zou análises do conteúdo de mensagens
de que a intersubjetividade inclui índices postadas em fóruns de discussão de uma
de comunicação que se valem do caráter disciplina ofertada, totalmente a distân-
transcendente da linguagem, permitindo a cia, pela Universidade Aberta do Brasil
expressão de intenções e expectativas, in- (UAB) em parceria com a Universidade de
dependente da presença física dos sujeitos Brasília (UnB). A compreensão que temos
em interação. Com base na discussão que da intercognição encontra lastro em uma
levantamos, consideramos necessário na abordagem construtivista, cuja matriz
Educação a Distância, examinar como os provém da tradição piagetiana, conside-
fatores que abordamos se entrelaçam em rando a ênfase dada ao papel ativo do
momentos de intersubjetividade, e como sujeito da aprendizagem; da perspectiva
podem facilitar ou dificultar um ambiente sócio-cultural de Vigotski (2001, 2007),
de cooperação na construção de conheci- ressaltando a noção de zona de desenvol-
mentos. Concluímos que é importante não vimento proximo; da abordagem dialógica
dissociar linguagem, cognição e emoção de Bakhtin (1988, 1997); e interlocutores
no estudo da construção intersubjetiva de (Bruner, 2001; Ligorio et al., 2005; Pon-
conhecimento na Educação a Distância e tecorvo et al., 2005; Rommetveit, Blakar,
na análise dos processos de interação em 1979), sobre a importância dos proces-
ambientes virtuais de aprendizagem. sos interativos para a construção do co-
nhecimento. Partimos do pressuposto
Palavras-chave: Cognição; Emoção; Linguagem. que “o pensamento, o conhecimento e
o raciocínio são também, e prioritaria-
mente, atividades sociais” (Pontecorvo et
INTERCOGNIÇÃO: PARA UMA al., 2005, p. 46). O plano cognitivo, nesse
CONSTRUÇÃO DIALÓGICA DO sentido, é concebido na esfera do social,
CONHECIMENTO NO CONTEXTO DA no qual a interação é responsável por de-
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA sencadear os processos constitutivos do
conhecimento. Produzir conhecimento é
Rute Nogueira de Morais Bicalho - UnB
interpretar a realidade e a si mesmo, em
arutebicalho@gmail.com
um processo dialético bastante complexo,
permeado de contradições e mediações
Neste trabalho pretendemos apresentar
o conceito de intercognição para compre- várias (Linell, 2000). Defendemos que a
endermos a construção coletiva e dialó- cognição deve ser analisada no contexto
gica do conhecimento empreendida no da socialização e dos processos comuni-
contexto da Educação a Distância (EAD). A cativos. Notadamente, os estudos sobre
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especificamente para este estudo. Proto- exemplo). No que se refere aos indicado-
colos de registro de fatores afetivo-moti- res afetivo-motivacionais, em todas as
vacionais e de operações cognitivas foram provas a proporção de fatores facilitadores
utilizados durante as tarefas assistidas. Por ficou acima de 90%. A despeito das dificul-
fim, na avaliação do comportamento, o dades cognitivas, o grupo apresentou com-
Child Behavior Checklist (CBCL) foi respon- portamento acessíveis à mediação do exa-
dido pelas mães. Os dados foram subme- minador e facilitadores à tarefa, tais como
tidos à análise estatística descritiva para prazer na atividade, níveis adequados de
verificar o desempenho das crianças nas tolerância à frustração, além de vitalidade
duas formas de avaliação informatizada e sentido de alerta. Os dados do compor-
(psicométrica e assistida). O desempenho tamento da criança avaliados pela mãe
do grupo nos testes psicométricos apre- indicou, por meio do CBCL, que a maioria
sentou classificações inferiores. No TVIP- (n= 7) foi classificada no perfil “clínico” na
comp, que analisa o vocabulário receptivo, “Escala de Problemas Totais”, o mesmo na
7 crianças obtiveram índice “abaixo da subescala de “Distúrbios Internalizantes”;
média”. Na avaliação do raciocínio geral, já para os “Distúrbios Externalizantes”, só
medido pelo Comlúmbiacomp, 55% (n=6) 1 criança se enquadrou no perfil “clínico”.
da amostra foi classificada com desempe- Contudo, problemas comportamentais si-
nho “médio inferior”. Na modalidade as- nalizados pelo CBCL não se apresentaram
sistida, quanto ao desempenho nas provas como dificultadores à realização dos testes
informatizadas, a maior parte das crianças na condição de avaliação estruturada. Na
(n=6) alcançou o perfil classificado como análise geral, o grupo apresentou níveis
“alto-escore” na PEFGcomp, enquanto que de dificuldade na realização dos testes in-
na PEOcomp, 7 crianças foram referidas formatizados assistidos, que variaram em
como “não-mantenedoras”. No JAFcomp a função da prova (maior ou menor com-
maioria (n=6) conseguiu se beneficiar dos plexidade). Contudo, quando incluímos na
níveis de ajuda fornecidos pela mediado- análise do desempenho, outros indicado-
ra na fase de assistência, melhorando ou res (como os afetivos e comportamentais),
mantendo seu desempenho, numa pro- além do perfil cognitivo, o resultado se
porção de 50% de acertos na manutenção apresenta melhor, evidenciando que o gru-
(classificações “ganhador” e “ganhador de- po se beneficiou da mediação implemen-
pendente de assistência”). A relação entre tada na fase de assistência para melhorar
os indicadores cognitivos e o desempenho as habilidades dirigidas à resolução de
nas provas assistidas ficou bem estabele- tarefas. Além disso, a apresentação infor-
cida. Quanto maior o índice de operações matizada dos testes se configurou em fator
cognitivas facilitadoras à execução da tare- motivador que contribuiu para a realização
fa, melhor o desempenho (por exemplo, e persistência na situação de avaliação. Os
perfil “alto-escore” ou “ganhador” na PE- resultados desta pesquisa poderão auxiliar
FGcomp). Assim, em relação equivalente, na elaboração de estratégias no campo da
o JAFcomp, tarefa de maior complexidade, Psicologia, fomentando uma avaliação que
apresentou maior índice de operações valorize mais as potencialidades do que as
cognitivas não-facilitadoras (percepção limitações impostas pela condição de de-
episódica e conduta não-comparativa, por ficiência, também destacando a influência
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de processos afetivos na expressão das ha- sa, 2002). Por ser uma doença crônica, a
bilidades cognitivas. mesma constitui um risco para o funciona-
mento da criança, pois impõe uma rotina
Palavras-chave: Avaliação Assistida; Avaliação de consultas médicas, internações hospita-
psicológica computadorizada; Crianças com lares, baixa frequência escolar, agravamen-
deficiência. to da condição física, além de problemas
Contato: Jucineide Della Valentina de psicológicos e comportamentais (Castro &
Oliveira - Faculdade Pitágoras de Linhares, Piccinini, 2002). A AF é vista como um sério
jucineidedella@yahoo.com.br risco para o desempenho cognitivo e para
a aprendizagem (Bonner, Gustafson, Schu-
macher & Thompson, 1999) devido a
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO maior suscetibilidade a acidentes vascula-
COGNITIVO DE CRIANÇAS COM ANEMIA res e outras alterações neuronais, princi-
FALCIFORME EM PROVA ASSISTIDA palmente em crianças. Considerando que
Grace Rangel Felizardo - UFES há poucos estudos no campo da Psicologia
gracerangelf@gmail.com que avaliam o impacto da doença falcifor-
Kely Maria Pereira de Paula - UFES me nas funções cognitivas, novas investi-
kelydepaula@yahoo.com.br gações e mais detalhadas são necessárias,
Financiamento: CAPES dada a multiplicidade de fatores que po-
dem afetar o desempenho em situações
A doença crônica apresenta um forte im- de aprendizagem. Este trabalho considera
pacto sobre a capacidade funcional do su- que a proposta da Avaliação Assistida (Dy-
jeito, pois altera de forma significativa a namic Assessment) poderá ser útil na iden-
forma como o sujeito se relaciona no dia a tificação do potencial cognitivo de crianças
dia. Mesmo com o avanço nos tratamen- com anemia falciforme. Na literatura, a
tos, em muitos casos, essas doenças não avaliação cognitiva dessa população foi,
podem ser curadas, trazendo para o indivi- sobretudo realizada mediante uma abor-
duo várias e extensivas hospitalizações, dagem psicométrica (BROWN et al, 1993),
dor aguda e/ou contínua e prejuízos cogni- destacando o desempenho inferior do gru-
tivos, além do comprometimento sócio po com doença falciforme em relação à
emocional (Dias, Baptista & Baptista, população normal. Assim, com base nes-
2003). Nesse grupo, podemos citar a Ane- ses dados, optou-se por utilizar a Avaliação
mia Falciforme – AF que chega a afetar de Assistida, visto que esta se fundamenta,
6 a 10% da população afrodescendente teórica e metodologicamente, em uma vi-
brasileira. A doença é definida por uma são mais otimista acerca do desenvolvi-
mutação genética que compromete as mento humano e dos processos de apren-
funções das hemácias, responsáveis por dizagem em situação de adversidade (Feu-
distribuir o oxigênio às demais células do erstein, Rand, Jensen, Kaniel & Tzuriel,
corpo. Tal mutação leva ao encurtamento 1987), considerando os indivíduos que
da vida média dessas células, causando, apresentam uma sobreposição de riscos,
então, a anemia hemolítica, a oclusão dos como os de natureza biológica e psicosso-
vasos e infartos teciduais, resultando em cial, além de integrar à análise de variáveis
lesões e crises dolorosas constantes (Anvi- não estritamente intelectuais (Tzuriel,
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2001). A Avaliação Assistida vai além da ção – MAN e Transferência – TRF). Consi-
medição do conhecimento atual da crian- dera-se a fase SAJ como linha de base, sen-
ça, buscando compreender como a mesma do a ASS a única fase com ajuda do media-
percebe, identifica e analisa os estímulos dor. Após, suspende-se qualquer procedi-
apresentados numa situação de resolução mento de auxílio e verifica-se se a criança
de problemas. Nesse processo de avalia- melhorou seu desempenho nas etapas
ção se configura uma situação de aprendi- subsequentes da avaliação, a saber, MAN e
zagem em que o examinador, através do TRA. No procedimento assistido avaliam-
fornecimento de pistas procura oferecer -se, além do perfil de desempenho, as ope-
um suporte instrucional, o qual se ajusta rações cognitivas e o comportamento du-
ao desempenho da criança. Ao final da rante a realização da prova. Participaram
prova, além de identificar como a criança do estudo 11 crianças com idade entre 8 e
realiza a tarefa, e quais são as melhores e 10 anos, que realizavam tratamento no
mais adequadas estratégias de mediação e ambulatório de pediatria de um hospital
a sensibilidade da mesma às instruções público de Vitória, ES. Em relação à avalia-
oferecidas. Assim, o objetivo principal não ção psicométrica realizada com o Raven
é avaliar o desempenho e sim avaliar a mu- 80% da amostra foi classificada como ten-
dança do padrão de desempenho, a partir do nível intelectual médio. Quanto aos in-
da assistência do mediador, a fim de reve- dicadores de desempenho na resolução de
lar o potencial de aprendizagem, permitin- problemas os resultados mostraram que
do a construção de estratégias mais ade- houve um aumento do numero de pergun-
quadas para cada aprendiz. O presente es- tas relevantes e acertos nas fases ASS,
tudo teve como objetivo avaliar os indica- MAN e TRF quando comparada à SAJ. So-
dores de potencial cognitivo em crianças bre os perfis de desempenho verificou-se
portadoras da anemia falciforme, utilizan- que 27% da amostra foi classificada como
do o procedimento combinado de avalia- alto escore (não requer nenhum tipo de
ção psicométrica e avaliação assistida. Uti- assistência para realizar a prova) e 64%
lizou-se como instrumentos de avaliação como ganhador mantenedor; apenas uma
as Matrizes Progressivas Coloridas de Ra- criança foi classificada como ganhador de-
ven – Escala especial (Angelini, Alves, Cus- pendente de assistência, indicando que a
tódio, Duarte & Duarte 1999), a prova as- maioria da amostra obteve melhora na
sistida Jogo de Perguntas de Busca com Fi- fase de assistência e manteve o bom de-
guras Diversas - PBFD (Gera & Linhares, sempenho na fase de manutenção. No que
1998), na versão computadorizada (Olivei- se refere a transferência da aprendizagem
ra, 2009), além de protocolos específicos 100% da amostra recebeu classificação de
para avaliação de operações cognitivas e transferidor, o que demonstra alto índice
comportamentos envolvidos na resolução de perguntas relevantes e de acertos nessa
da tarefa. Anamnese realizada com as fase. Houve também um aumento das
mães e análise de prontuários médicos operações cognitivas positivas durante as
completaram o procedimento. Em um mo- fases ASS, MAN e TRF se comparadas com
delo estruturado para o contexto de pes- a fase SAJ (sem ajuda). Os comportamen-
quisa, o PBFD apresenta quatro fases (Sem tos positivos ocorreram numa média de
ajuda – SAJ, Assistência – ASS, Manuten- 89% entre as quatro fases. Apesar de a lite-
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irmãos são participantes ativos nas rela- analisa as contribuições da família nos
ções familiares, influenciando uns aos ou- atendimentos da pessoa com deficiência,
tros, direta e indiretamente. Dependendo na perspectiva de profissionais, de pro-
do modo como a família se estrutura e fessores de escolas regulares, da família
se relaciona, ela pode favorecer ou difi- (pai, mãe e irmãos) e da própria pessoa
cultar os processos de desenvolvimento com deficiência. Apesar de haver consen-
humano. Considerando que a família está so sobre a importância da parceria entre
em constante processo de adaptação e profissionais e família, os dados sugerem
readaptação em função da ocorrência que a família não participa ativamente
de eventos normativos e não normativos dos serviços e atendimentos oferecidos
próprios de seu desenvolvimento, conhe- pelas instituições, seja porque ela mesma
cer estes processos, sobretudo, quando não se inclui, seja porque são excluídas
um de seus membros apresenta algum pelos profissionais, pois ambos mostram
tipo de deficiência, torna-se prioritário. despreparos para atuarem de acordo com
Assim, este simpósio tem por finalidade modelos de intervenção centrados na fa-
discutir as contribuições de diferentes mília. A última apresentação, baseada na
membros da família (mãe, pai, irmãos) premissa de que o cuidado de pessoas
para o desenvolvimento de pessoas com com deficiência intelectual não se esgo-
deficiência, com ênfase no papel do pai. ta para os familiares ao longo do curso
A primeira apresentação compara várias de vida destes indivíduos, visa discutir as
dimensões das relações entre famílias possibilidades de desenvolvimento das
de crianças pré-escolares com e sem de- pessoas com deficiência ao se tornarem
ficiência, com destaque para as relações adultos em nosso contexto sociocultural.
conjugais, parentais e fraternas, demons- Assim, são apresentados os principais re-
trando que o pai é mais participativo nas sultados de estudos empíricos a respeito
famílias de crianças com síndrome de das trajetórias escolares e perspectivas
Down que nas famílias de crianças com de futuro de jovens / adultos com defici-
desenvolvimento típico. Dando continui- ência e das contribuições dos familiares
dade, a segunda apresentação enfoca as para a configuração de um quadro com-
principais descobertas dos estudos em- preensivo das condições educacionais e
píricos a respeito das contribuições do sociais destas pessoas. Ao final das apre-
pai da pessoa deficiente, ilustrando com sentações, serão discutidas questões re-
dados de uma pesquisa sobre os efei- lativas ao funcionamento familiar, tendo
tos de uma intervenção domiciliar com como pressuposto básico que a presença
envolvimento paterno em famílias de de uma pessoa com deficiência não re-
crianças com síndrome de Down. Den- presenta, necessariamente, um evento
tre os principais resultados encontrados, adverso, desde que haja qualidade nas
merece destaque o fato de que, embo- relações familiares e uma eficiente rede
ra a maioria dos pais tivesse o papel de social de apoio.
provedor principal, eles estavam bastante
envolvidos com seus filhos, colaborando
de forma eficiente com o desenvolvimen-
to das crianças. A terceira apresentação
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paterno (frequência, variedade de com- culinos, mas, estresse geral para todas
portamentos, qualidade das interações as mães. Após a intervenção domiciliar
e significado do envolvimento). Assim, o da pesquisadora, as atividades de treino
objetivo desta apresentação é discutir as realizado pelo pai, baseadas no Porta-
principais descobertas dos estudos empí- ge, desenvolveram novos repertórios na
ricos à respeito das contribuições do pai criança, comportamentos positivos nas
da pessoa deficiente, ilustrando com os interações foram mais frequentes e hou-
dados de uma pesquisa sobre os efeitos ve diminuição dos índices indicativos de
de uma intervenção domiciliar com envol- estresse nas mães. Embora a maioria dos
vimento paterno em famílias de crianças pais tivesse o papel de provedor principal,
com síndrome de Down. Cinco famílias conforme a literatura indica, estavam en-
de duas cidades do interior do Estado volvidos com seus filhos, colaborando de
de São Paulo participaram do estudo. As forma eficiente com o desenvolvimento
crianças, com idade entre um e dois anos, das crianças e absorvendo as dicas para
foram avaliadas com o Inventário Porta- uma melhor interação familiar, o que
ge Operacionalizado, sendo constatado pareceu contribuir para a diminuição do
atraso no desenvolvimento de todas elas. estresse nas mães. Assim, a intervenção
Elas foram filmadas, ao longo do estudo, indicou realizações nos fatores pessoais
brincando com seus genitores e essas in- do pai, que influenciam envolvimento pa-
terações foram analisadas por meio de terno, e no envolvimento em si, aumen-
três protocolos diferentes: o Protocolo tando sua frequência, ampliando a varie-
de Categorias de Análise das Filmagens dade de comportamentos, melhorando a
de Interação, o Sistema Definitivo de Ca- qualidade das interações e resignificando
tegorias Observacionais e o Protocolo de a importância do envolvimento. Concluin-
Avaliação da Interação Diádica/Triádico. do, programas de intervenção precoce
Além disso, foram utilizados o roteiro de deveriam abandonar o modelo centrado
Entrevista de Caracterização do Papel do na criança para adotar um modelo centra-
Pai Brasileiro na Educação da Criança com do na família, envolvendo também o pai
Deficiência Mental para avaliar o envolvi- e o(s) irmão(s). Futuras pesquisas devem
mento paterno; o QRS-F e o ISSL para me- avaliar formas de incluir os irmãos nas in-
dir o estresse dos genitores; e outras me- tervenções e os resultados advindos da
didas como depressão, funcionamento intervenção com a família toda.
familiar, nível de enfrentamento, supor-
te social, satisfação parental, satisfação Palavras-chave: pessoa com deficiência,
marital e empoderamento, os quais não irmão, envolvimento do pai
sofreram alterações durante o estudo. Contato: Nancy Capretz Batista da Silva,
Foram observadas interações familiares UFSCar, nancycbs@gmail.com
satisfatórias, porém, diferentes em alguns
aspectos entre pais e mães e nas díades e
tríades; envolvimento paterno em diver-
sos aspectos; baixos níveis de estresse em
relação à presença da criança; ausência
de estresse geral entre os genitores mas-
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para serem consideradas ativas e partici- que este comportamento dos pais sem-
pativas. Estudos internacionais sugerem pre ocorre, e apenas 5% dos professores
que os atendimentos familiares deveriam informaram que as famílias têm sempre
ser embasados, especialmente, no modelo esse comportamento. Portanto, os dados
centrado na família. O Programa de Edu- sugerem que apesar de a maioria das fa-
cação Familiar na Infância Precoce (Early milias procurarem por informações sobre o
Childhood Family Education), por exem- atendimento, isto não significa uma parti-
plo, fundamentado na Teoria Sistêmica e cipação efetiva da família. A sua passivida-
no trabalho desenvolvido no Centro para a de pode ser decorrente da própria falta de
Democracia e Cidadania (Center for Demo- recursos pessoais para o enfrentamento da
cracy and Citizenship) da Universidade de deficiência, indicando a necessidade de um
Minnesota (USA), é considerado um mode- programa eficaz que a capacite a lidar com
lo alternativo de atendimento às famílias. a própria deficiência e suas implicações.
Ele prioriza o desenvolvimento de lideran- Além disso, essa passividade pode estar
ças, de auto-organização e a participação associada aos próprios valores arraigados
ativa de todos os envolvidos. Por outro na cultura, cuja conformidade e autoridade
lado, no âmbito nacional, alguns estudos externa são mais valorizadas do que a pró-
revelam que a implementação desse tipo pria autonomia, o autocontrole e a respon-
de trabalho ainda é muito deficitário, em sabilidade. Esta passividade das famílias,
nossa realidade, pois os familiares ainda se aliada ao despreparo dos profissionais para
colocam em posição inferior, desconhecen- trabalhar com a família, constitui um fator
do a importância de se emanciparem e de- dificultador para os serviços e atendimen-
senvolverem uma relação mais igualitária. tos. O fato de não haver indicação de de-
Para ilustrar essa realidade, apresentamos mandas espontâneas das famílias para os
os dados de um estudo envolvendo dife- profissionais e, por outro lado, os próprios
rentes instituições de atendimento e esco- profissionais não terem o feedback da qua-
las, em que ficou constatado que a maioria lidade dos seus serviços por parte das famí-
(81%) das 16 famílias participantes avaliou lias, dificulta ainda mais a mudança de mo-
que sempre colabora com os atendimentos delos de atendimento centrados nos profis-
da criança, e que 47% dos profissionais da sionais para aqueles centrados na família.
equipe técnica avaliaram que os pais sem- Este quadro denota que é preciso investir
pre colaboram. Além disso, para 70% das na mudança de concepções e valores de
famílias, elas sempre procuram pelos pro- ambos os lados – profissionais e famílias,
fissionais para se informarem a respeito em primeiro lugar, para, em seguida, ado-
dos atendimentos da criança, mas somen- tar estratégias que sejam coerentes com o
te 32% dos profissionais das instituições modelo centrado na família, apontado pela
(equipe técnica e coordenadores) e 10% literatura como sendo o mais eficaz.
dos professores das escolas, relataram que
elas sempre procuram pelos profissionais. Palavras-chave: família, necessidades
Quando o assunto é pedir informações, fa- especiais, parceria família-instituição de
zer críticas e dar sugestões, 25% das famí- atendimento-escola
lias disseram que sempre fazem isto, 25% Contato: Simone Cerqueira da Silva, IESB,
dos profissionais das instituições avaliaram simone.cerqueira@iesb.br
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Constataram-se índices elevados para prá- mais por terem menor escolaridade, fato
ticas de estimulação (m = 40,3) e baixos que poderia indicar maiores dificuldades
para as de cuidados primários (m = 16,8). sócio-econômicas. Para enfrentar tais difi-
Uma ANOVA mostrou diferenças significa- culdades, estas mães mesclariam elemen-
tivas dos diferentes grupos de DPP (sem- tos relacionais idealizados e autônomos
pre deprimida; pelo menos uma vez depri- realizados a fim de se “ajustar” ao cenário
mida; nunca deprimida) sobre a escolari- de risco em que vivem. Os resultados além
dade materna (F(2,77) = 7,693, p<0,001) e de sugerir relação entre a DPP e o modelo
sobre os escores de estimulação (F(2, 80) cultural autônomo-relacional, justificam
= 6,983, p=0,002). Mães sempre deprimi- a importância da análise sistêmica de fa-
das: 1) estudavam, em média, menos (m = tores bio-culturais (crenças e práticas),
5,83) que as demais (mpelo menos uma vez = 9,42; ecológicos (escolaridade e renda) e psico-
mnunca deprimidas = 9,97); e 2) estimulavam, em lógicos (DPP) para uma compreensão mais
média, menos seus filhos (m = 35) que global das diferentes trajetórias de desen-
as demais (mpelo menos uma vez = 40,5; mnunca volvimento infantil.
deprimidas =
41,36). Uma ANOVA subseqüente
encontrou diferenças significativas entre Palavras-chave: depressão pós-parto; metas e
os grupos de DPP e itens de práticas ide- práticas; ambiente de risco.
alizadas e realizadas: sempre deprimidas
tiveram média maior do que as demais
em “Não é necessário atender imediata- LT04-782 - A INFLUÊNCIA DO TIPO DE
mente o bebê que chora” (prática ideali- ALIMENTAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO
zada autônoma) (F(2) = 3,298, p=0,042) e DE BEBÊS DE TRÊS MESES DE IDADE
“Dormir junto na cama” (prática realizada Jussara do Amaral Leopaci - UNESP/Bauru
relacional) (F(2) = 4,688, p=0,012); e tive- jussara_leopaci@yahoo.com.br
ram médias menores para “Conversar” Renata Ajub Tirelli - UNESP/Bauru
(F(2) = 5,081, p=0,008) e “Explicar coisas” renata_ajub@hotmail.com
(ambas práticas realizadas autônomas) Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues –
(F(2) = 3,762, p=0,027). Mães valorizaram UNESP/Bauru
mais metas relacionais, idealizaram e re- olgarolim@uol.com.br
alizaram mais práticas autônomas. Esta
conjugação pode caracterizar um cená- O desenvolvimento no primeiro ano de
rio autônomo-relacional para a presente vida é um complexo processo afetado por
amostra. Porém, a discrepância observada múltiplos fatores, como os socioeconômi-
entre crenças e práticas pode sugerir certo cos, condições de saúde ao nascer e tipo
conflito. Conflito este que pode se agravar de alimentação oferecida. A recomen-
em ambientes de risco, caracterizados por dação da OMS é de que os bebês até os
alta prevalência de DPP (sempre deprimi- seis meses de idade sejam alimentados
das = 9,2%; pelo menos uma vez deprimi- somente com leite materno, a não ser em
da no puerpério = 44,8%), baixa escolari- casos de orientação médica. O leite ma-
dade, conflitos familiares e conjugais, falta terno contém todas as proteínas, açúcar,
de apoio social (Silva, 2008). Mães com gordura, vitaminas e água que o bebê ne-
DPP mais crônica destacaram-se das de- cessita. Além disso, contém determinados
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de distintas classes sociais (Aquino & cols. crianças até seis anos de idade, previstos
2003). Não há, também, consenso na lite- para faixas etárias anuais. É composto por
ratura sobre os mecanismos pelo qual a 580 comportamentos divididos nas cinco
idade da mãe opera durante a gestação e, áreas de desenvolvimento (Linguagem,
ainda, que determinam os cuidados poste- Autocuidados, Cognição, Socialização e
riores com o bebê. Pesquisadores defen- Desenvolvimento – Motor) além do proto-
dem que mães jovens não estariam fisiolo- colo de Estimulação Infantil, composto por
gicamente prontas para uma gravidez em 45 comportamentos previstos para ava-
termos de peso, altura e desenvolvimento liação do comportamento de bebês até 4
do aparelho reprodutivo, enquanto outros meses de idade. Para o presente estudo os
focam mais sobre as condições socioeco- itens do protocolo de Estimulação Infantil
nômicas destas mães como fator de risco foram distribuídos nas áreas previstas no
que superaria o efeito da idade (Siqueira; IPO, resultando em 154 itens para avalia-
Tanaka, 1986; Vieira & cols, 2007; Gallo; ção de bebês no primeiro ano de vida. O
Leone; Amigo, 2009). Outros estudos pro- desenvolvimento das crianças de cada um
curam analisar as competências desta mãe dos grupos foi avaliado em cada uma das
nos cuidados e estimulação do desenvol- áreas de desenvolvimento e comparados
vimento do bebê (Bigras; Paquete; 2007). utilizando-se o teste estatístico t de Stu-
Apesar de a adolescente ser considerada dent. Não foram encontradas diferenças
freqüentemente incapaz de cuidar de significativas nas áreas de Linguagem (t=
uma criança, há controvérsias quanto ao 1,07; p =0,14), Socialização (t = 0,61; p =
resultado final do seu desempenho e as 0,27) e Desenvolvimento Motor (t = 0,60;
conseqüências para o seu filho (Carruth; p = 0,27). Já nas áreas de Autocuidados, os
neviling; Skinner, 1997). Estas indagações bebês do Grupo 1 apresentaram melhor
motivaram a elaboração do presente tra- desempenho (t = 2,22; p = 0,01) e na área
balho. Comparar o desenvolvimento de 31 de Cognição, foram os bebês do Grupo 2
bebês, filhos de mães até 18 anos de ida- (t = 1,81; p = 0,03) que apresentaram de-
de (Grupo 1) com o desenvolvimento de sempenho superior. Uma hipótese para o
46 bebês filhos de mães com idade entre melhor desempenho do Grupo 1 na área
19 a 24 anos (Grupo 2), no sexto mês de de Autocuidados pode estar relacionada
vida. As mães dos bebês nascidos de janei- ao fato de que estes bebês podem ter sido
ro de 2010, que não possuíam nenhuma expostos a diferentes situações de alimen-
condição de risco, identificados em uma tação e cuidados por cuidadores variados
maternidade e no Banco de Leite Huma- o que resultou na necessidade de adapta-
no, de uma cidade do interior paulista, ção a outras situações de independência
em parceria com o projeto de extensão da mãe. Coslovsky e Geller (1996) suge-
“Acompanhamento do desenvolvimento rem que a gravidez na adolescência tem
de bebês no primeiro ano de vida”, foram um grande impacto na vida da família de
convidadas a participar da pesquisa. O de- origem da jovem mãe podendo resultar
senvolvimento dos bebês foi acompanha- em múltiplos cuidadores do bebê. Silva
do utilizando o Inventário Portage Opera- e Salomão (2003) também alertam para
cionalizado (IPO) (Williams; Aiello, 2001) o o fato de que o exercício da maternida-
qual objetiva avaliar o desenvolvimento de de irá requerer reajustes e até mudanças
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tisfações em relação aos cuidados com o filhos, mas o acompanhamento diário ten-
filho e a participação paterna na escola. O de a ser considerado atribuição feminina.
inventário de dados socioeconômicos teve O resultado das entrevistas indica que os
por objetivo obter informações sobre as pais ainda apresentam características da
condições socioeconômicas da família. Os “paternidade tradicional”, tais como: pre-
resultados apontam que a maioria dos pais ferir se envolver em atividades lúdicas; não
percebe diferença na participação paterna apreciar as tarefas de cuidado; e não parti-
ao longo do desenvolvimento, quanto me- cipar de reuniões escolares. Mas, também
nor a idade menor a participação paterna. apresentam características da “paternida-
Piccinini e colaboradores (2004) discutem de não tradicional”: não gostar de impor
que o envolvimento paterno nos primeiros regras e limites; compartilhar tarefas; e
meses de vida do bebê tende a ser menor participar da vida escolar, predominado a
nas famílias que as mulheres resistem a “paternidade com manifestações de mu-
essa participação, excluindo os pais dos dança”, apresentando características da
cuidados básicos com o bebê. As ativida- paternidade tradicional e da paternidade
des que mais dão prazer aos pais em re- não tradicional.
lação aos filhos são as atividades lúdicas,
como afirma Jablonski (1999), os pais cos- Palavras-chave: Paternidade, Participação
tumam interagir mais com os filhos nos paterna, Envolvimento paterno
momentos de jogos e humor, e Roberts Contato: Karla da Costa Seabra, UERJ,
(1996) que afirma que a participação dos seabrakc@uol.com.br
pais ocorre nas horas de lazer enquanto as
mães se encarregam das tarefas rotineiras
e cotidianas. Os momentos de imposição LT04-1250 - ESPAÇOS DE CRIANÇAS,
de limites e regras são considerados pelos LUGARES DE INFÂNCIAS: UM OLHAR
pais os menos prazerosos. Este é um dos SOBRE CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DE
pontos que, segundo a classificação de EDUCADORES INFANTIS
Muzio (1998), os pais deste estudo mais Claudia da C. G. Santana - ISE TRÊS RIOS/
se distanciam da paternidade tradicio- FAETEC
nal, na qual uma característica marcante ccgsantana@yahoo.com.br
seria exatamente o fato do pai exercer o Lílian A. dos R. Ernesto - ISE TRÊS RIOS/FAETEC
“poder” dentro da família. Quanto à par- liliernesto@msn.com
ticipação na vida escolar do filho, os pais Peterson P. S. de Almeida - ISE TRÊS RIOS/
se consideram participativos dentro das FAETEC
possibilidades dos horários de trabalho e Peterson.psa@hotmail.com
evidenciam um desejo de maior participa- Elder dos Santos Azevedo - UFF
ção. Os pais atribuem pouca participação eldersouza_rj@yahoo.com.br
em reuniões solicitadas pela escola. Os re- Luther King A. Santana - USS
sultados encontrados em relação à partici- lutherk@yahoo.com.br
pação paterna na escola estão de acordo
com os encontrados por Wagner e colabo- Um pensamento que toma o homem
radores (2005), os pais tendem a investir e como um ser abstrato existe apenas no
incentivar os compromissos escolares dos “mundo das idéias”. O homem concreto
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tem como referência seu nicho, ou seja, zação que, numa abordagem semiótica,
ele ocupa espaços, os transforma em lu- funcionam tanto como signos quanto
gar, tem uma história, cultura, relaciona- como instrumentos. Na intenção de refle-
-se com pessoas e assume determinados tir sobre as questões até aqui abordadas,
papéis nos grupos sociais dos quais par- o Grupo de Estudo e Pesquisa da Infân-
ticipa. Assim são os espaços destinados cia (GEPINFÂNCIA) do Instituto Superior
a infância: estão definidos culturalmente de Educação de Três Rios busca compre-
e têm seus significados percebidos e/ou ender como a construção de um espaço
modificados pelos sujeitos nele presentes. físico para a criança pequena é utilizado
Os espaços socialmente construídos para e simbolizado por educadores infantis e
as crianças influenciam e afetam o com- crianças. Nossa pesquisa (em andamento)
portamento e desenvolvimento das mes- se desenvolve numa Escola Municipal de
mas num processo de interdependência e Educação Infantil em Três Rios que neste
afetações complexas. Em outras palavras, ano completa 50 anos. Considerada por
como nos diz Lopez e Vasconcellos (2006, muitos como uma escola modelo em edu-
p. 121), “a noção espacial, como parte in- cação infantil, não só pela sua localização,
tegrante dos sujeitos, é uma noção social, mas sobretudo, pela sua arquitetura pro-
é uma construção simbólica, constituída a jetada com amplos espaços de movimen-
partir do contexto cultural no qual se está to e uma área externa repleta de árvores e
inserido”. Nesta perspectiva, Vygotsky brinquedos próprios para esta faixa etária,
(1998) nos auxilia na compreensão da re- nosso objetivo é refletir sobre as concep-
lação do sujeito com o meio social e físico ções e práticas desses educadores neste
em que vive. Para ele, o desenvolvimen- espaço educacional. A pesquisa tem sido
to humano é entendido como a interna- desenvolvida dentro de uma abordagem
lização de processos interpsicológicos, ou qualitativa, com observações semanais
seja, o que é apreendido pelos sujeitos em diário de campo, fotografias e entre-
nas interações que estabelece com seus vistas semiestruturadas com os educado-
outros sociais e com o espaço planejado res do turno da manhã da referida escola.
por eles. O ser humano desenvolve-se pri- Como elemento concreto através do qual
meiramente por meio de uma inteligência a criança experimenta suas primeiras sen-
prática, elementar que, num processo de sações, queremos analisar como este es-
internalização transforma-se quantitativa paço é qualificado significativamente por
e qualitativamente em funções mais ela- esses educadores na sua prática cotidia-
boradas, superiores, presentes somente na com suas crianças. Entendemos como
no Homem. Esse processo de desenvolvi- Tuan (1980), Lima (1989), Lopes (1999)
mento é mediado socialmente por outros e Santana (2000, p. 19) que “um mesmo
homens no contato com instrumentos espaço pode constituir ambientes diferen-
e signos culturais. Apesar de sua ênfa- tes da mesma forma que ambientes se-
se na intersubjetividade, a perspectiva melhantes não correspondem a espaços
vygotskyana, aponta para a materialidade iguais, visto que concretamente os espa-
da cultura, o que implica entender tam- ços físicos estão prenhes de valores, cren-
bém os elementos físicos de um espaço, ças e significados que afetam sua natureza
sua composição, organização e simboli- e qualidade”. Nesse sentido, o espaço de
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rada por González Rey. O autor concebe niz, ainda em andamento, que investiga
a subjetividade como uma forma comple- a influência da aprendizagem criativa da
xa de organização do psicológico onde se leitura e da escrita no desenvolvimento
integram, formando novas unidades, os da subjetividade em alunos das primeiras
processos simbólicos e emocionais que séries de ensino fundamental. Também
tipificam as formas complexas do funcio- contribui para a discussão em foco o inte-
namento do homem inserido na cultura. ressante trabalho elaborado por González
As categorias sujeito, sentidos subjetivos Rey sobre as implicações de considerar a
e configurações subjetivas contribuem ação como configuração subjetiva para
para dar conta do caráter contraditório, a compreensão do desenvolvimento da
dinâmico e processual da subjetividade, subjetividade. As construções elaboradas
a que se constitui e se desenvolve a par- a partir das pesquisas realizadas, assim
tir da inserção do individuo em múltiplos como os avanços na teorização sobre o
contextos culturais e sócio-relacionais. desenvolvimento da subjetividade permi-
Porém, como “os outros” participam do tirão discutir, analisar e exemplificar três
desenvolvimento da subjetividade? Quais questões chaves neste campo de estudos:
os “mecanismos” pelos quais o próprio in- (1) As diferenças entre mudança e desen-
divíduo participa de seu desenvolvimen- volvimento da subjetividade; (2) Os senti-
to? Como o subjetivamente constituído dos subjetivos produzidos pelo indivíduo
intervém no desenvolvimento de novos nas suas ações e nas suas relações com
processos subjetivos? Como a subjetivi- os outros como fontes do desenvolvimen-
dade social participa da constituição das to da subjetividade e (3) As condições e
subjetividades individuais? Tentar avan- os mecanismos pelos quais os sentidos
çar na elaboração de respostas para estas subjetivos mobilizam o aparecimento de
perguntas a partir das ideias elaboradas novas configurações subjetivas. Conside-
por González Rey acerca da subjetividade ramos ser esta uma discussão necessária
e seu desenvolvimento tem gerado dife- não apenas pela sua significação para o
rentes pesquisas algumas das quais dão delineamento de novas pesquisas, mas,
suporte à Mesa proposta. Seu objetivo essencialmente, pela nossa convicção de
central é discutir o tema do desenvolvi- que avançar na compreensão dos meca-
mento da subjetividade tendo em conta, nismos do desenvolvimento da subjetivi-
essencialmente, as reflexões elaboradas dade pode favorecer o delineamento de
a partir de três pesquisas com olhares di- estratégias educativas potencialmente
ferentes: (a) a pesquisa desenvolvida por mais efetivas.
Rossato, com alunos de séries iniciais de
ensino fundamental que investigou o mo- Palavras-chave: desenvolvimento subjetivo,
vimento da subjetividade no processo de sentidos subjetivos, sujeito.
superação das dificuldades de aprendiza- Contato: Albertina Mitjáns Martínez. UnB/FE;
gem escolar; (b) a pesquisa realizada por amitjans@terra.com.br
Santos, que objetivou compreender como
o trabalho com alunos que têm desenvol-
vimento atípico impacta a subjetividade
dos professores e (c) a pesquisa de Mu-
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verso da escola, não promove, por si só, mudança tornou-se mais intensa, quando
impactos diferenciados, na subjetividade as relações entre os envolvidos expressa-
individual do professor. O que desenca- ram-se com riqueza subjetiva.
deia impactos na subjetividade, capazes
de inscrever o outro em uma condição Palavras-chave: subjetividade do professor;
significativa, depende da qualidade de mudanças; alunos com desenvolvimento
sentidos subjetivos produzidos na relação atípico.
que se constituiu mutuamente (González Contato: Geandra Cláudia Silva Santos; UECE;
Rey, 2004b). Existem processos organiza- geandracss@yahoo.com.br
tivos da subjetividade, com capacidade
generativa e outros que congregam pelo
menos, em situações específicas, como A CRIATIVIDADE NA APRENDIZAGEM DA
a estudada, qualidades não-generativas, LEITURA E ESCRITA E SEUS IMPACTOS NO
interrompendo ou impedindo o fluxo de DESENVOLVIMENTO INFANTIL
novas produções subjetivas (González Luciana Soares Muniz - UFU/Eseba
Rey, 1995, 2004a, 2007). Os vínculos emo- lucianasoares.muniz@gmail.com
cionais do professor com a atividade pro- Albertina Mitjáns Martínez - UnB/FE
fissional atuam como recursos subjetivos amitjans@terra.com.br
relevantes às mudanças, na subjetividade
individual dos professores. Na produção O presente trabalho permeia uma pesqui-
subjetiva em que houve sensível expres- sa em andamento vinculada ao Programa
são da condição de sujeito, no processo de Doutorado da Faculdade de Educação
de subjetivação da experiência com as da Universidade de Brasília. Partimos do
alunas que têm desenvolvimento atípico, pressuposto de que a escola e a sala de
mais a mudança tornou-se significativa. aula são espaços singulares de aprendi-
O movimento tenso e contraditório da zagem e desenvolvimento, e convidam a
relação estabelecida entre a realidade e várias reflexões (Muniz, 2006). Tendo em
a condição pessoal do sujeito requer con- vista que a função que move a escola é o
gruência (González Rey, 2005b, 2004a), próprio processo de ensinar e aprender
para que essa condição expresse-se e torna-se fundamental, no contexto atu-
aprimore-se. Assim, compreendemos al da sociedade que demanda cada vez
que as mudanças na subjetividade dos mais uma postura criativa das pessoas
professores concentraram-se em configu- frente aos desafios e à complexidade do
rações subjetivas associadas à atividade cenário mundial, a expressão criativa dos
em foco; a produção de novos sentidos sujeitos envolvidos nesse processo. Mes-
subjetivos firmou-se como marco central mo convalidando a relevância da criativi-
das mudanças; os descompassos entre a dade na educação, as práticas e os sabe-
condição de sujeito e a organização sub- res organizados no cotidiano escolar nem
jetiva favorecem danos na produção de sempre contribuem para a formação de
novos sentidos subjetivos; a organização sujeitos criativos. As salas de aula consti-
subjetiva produzida com as mudanças so- tuem espaços em que o professor ainda
freu implicações relevantes da integração é o único detentor do conhecimento e ao
entre processualidade e temporalidade; a aluno cabe a tarefa de ouvir e observar
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para reproduzir tal qual lhe foi ensinado, que são mobilizados na aprendizagem
caracterizando uma aprendizagem pas- criativa da leitura e da escrita, a partir do
sivo-reprodutiva (González Rey, 2003b, sistema atividade-comunicação que en-
2006). Entender como o sujeito pode volve o cotidiano da criança, seja no âm-
aprender criativamente e se desenvolver bito da escola, família ou outros contex-
como sujeito criativo no contexto educa- tos sócio relacionais nos quais a criança
cional é essencial. Acreditamos que as participa. Desta forma, partimos de uma
características subjetivas que participam concepção de personalidade como uma
da expressão criativa do sujeito são cons- configuração de configurações subjetivas
tituídas no decorrer da sua história de (González Rey, 1997) que possui um ca-
vida e a partir dos diferentes contextos ráter dinâmico, flexível e singular. Nessa
sociais de que o sujeito participa. Num concepção a categoria sujeito, constitui
movimento dialético, a história individual uma categoria fundamental para nossos
e os momentos que vivenciam os sujeitos estudos, uma vez que expressa o cará-
concretos nos trazem a possibilidade de ter ativo, intencional e transformador da
analisar a leitura e a escrita em contexto, pessoa, na confluência das configurações
como um processo singular dos sujeitos subjetivas constituídas em sua história de
envolvidos. Apreendemos como Gonzá- vida e dos sentidos subjetivos que produz
lez Rey (1995, 2003, 2007) que o desen- nos contextos sociais onde desenvolve
volvimento da subjetividade consiste em sua ação. Diante dessas reflexões, enfa-
um processo que ocorre vinculado aos tizamos que o objetivo principal desta
sentidos subjetivos que o sujeito produz. pesquisa consiste em compreender os
Como um movimento singular, o desen- processos subjetivos que se expressam
volvimento da subjetividade ocorre na na criatividade na aprendizagem da lei-
confluência da subjetividade individual tura e da escrita e os impactos desta no
e da subjetividade social. Nessa aborda- desenvolvimento infantil. Buscamos as
gem, procuramos analisar o impacto da contribuições da perspectiva histórico-
criatividade no desenvolvimento a partir -cultural, dentro dela, a linha teórica que
das complexas relações sujeito-contexto, tem elaborado o tema da Subjetividade
em que o sujeito é ativo e atua conforme desenvolvida por González Rey (1995,
os recursos subjetivos de que dispõe no 2003, 2005a), e da Criatividade, proposta
momento da ação, bem como da repre- por Mitjáns Martínez (1995, 1997, 2002,
sentação que concretiza em decorrência 2004, 2008, 2009a). Como metodologia
da situação vivida. Enfatizamos a falta utilizada, ressaltamos a opção pelos es-
de pesquisas que revelem a expressão tudos de caso a partir da Epistemologia
criativa da criança no processo de aqui- Qualitativa (González Rey, 2002, 2005b,
sição da leitura e da escrita, processo 2009), concepção epistemológica que
essencial para todo o desenvolvimento tem se mostrado promissória para a pro-
educacional posterior, e os impactos des- dução de conhecimentos sobre proces-
sa aprendizagem no desenvolvimento sos humanos complexos como a apren-
integral dela. Consideramos como funda- dizagem criativa e o desenvolvimento da
mental para a investigação aqui exposta, subjetividade (Mitjáns Martínez, 2008).
compreender os recursos personológicos Por meio da pesquisa qualitativa orien-
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tada nessa concepção epistemológica, próprio sujeito, como o que temos come-
o pesquisador demonstra abertura e çado realizar. Portanto, o produzido até
sensibilidade à imprevisibilidade da pes- o presente momento permite hipotetizar
quisa e assume sua responsabilidade e que as emoções envolvidas no momento
criatividade individual em um processo da aprendizagem, adquirem importância
interpretativo – construtivo de produção essencial para a compreensão do desen-
de conhecimento. Os sujeitos da pesqui- volvimento subjetivo da criança, o qual
sa são alunos em fase de aprendizagem é concretizado em meio aos sentidos
da leitura e da escrita que demonstram subjetivos diversos produzidos no pro-
indicadores de criatividade nesse pro- cesso de aprender criativamente. Nessa
cesso. Para contribuir, numa perspectiva reflexão, ressaltamos a sala de aula como
da pesquisa qualitativa, com a expressão espaço dialógico e que a aprendizagem
dos sujeitos, contamos com a utilização constitui-se como propulsora da ativi-
de instrumentos abertos e semiabertos, dade criadora e do desenvolvimento do
com o intuito de compreender os senti- aluno. Estudar a forma em que a apren-
dos subjetivos e as configurações subjeti- dizagem criativa da leitura e da escrita
vas implicados na aprendizagem criativa impacta o desenvolvimento ulterior da
dos alunos. Igualmente com instrumen- criança torna-se promissor no sentido de
tos deste tipo, junto a entrevistas a pais e contribuir para melhor fundamentar pos-
professores acompanhamos os possíveis síveis mudanças nas formas dominantes
impactos que a aprendizagem da leitu- em que o ensino da leitura e da escrita
ra e da escrita tem em outras áreas do tem se desenvolvido nas nossas salas de
desenvolvimento das crianças. O estudo aula, vinculado a uma aprendizagem pas-
aqui delineado apreende a prática edu- sivo-reprodutiva.
cativa como cenário de investigação e de
produção teórica. A pesquisa encontra-se Palavras-chave: desenvolvimento infantil;
em andamento e aponta como resulta- criatividade; aprendizagem.
dos iniciais a necessidade de construções Contato: Luciana Soares Muniz; UFU;
teóricas sobre como se expressa a criati- lucianasoares.muniz@gmail.com
vidade na aprendizagem da leitura e da
escrita e suas influências no desenvolvi-
mento infantil, especialmente em outros A AÇÃO COMO CONFIGURAÇÃO
aspectos da subjetividade. A revisão bi- SUBJETIVA: IMPLICAÇÕES PARA O
bliográfica do tema, realizada até o pre- DESENVOLVIMENTO DA SUBJETIVIDADE
sente instante, referente aos impactos Fernando Luis González Rey - UniCEUB/UnB
da aprendizagem criativa no desenvolvi- gonzalez_rey49@hotmail.com
mento da criança, revela a ausência de
pesquisas dessa natureza e se constata Historicamente o termo comportamento
estudos que partem do que é exterior ficou associado ao Behaviorismo, assim
ao sujeito, como métodos, recursos ma- como o inconsciente à Psicanálise, o que
teriais, estudos do professor, revelando tem levado a sua desconsideração como
a urgência de pesquisas que considerem categoria psicológica por matrizes teóri-
o desenvolvimento a partir da ação do cas diferentes daquelas em que esse ter-
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categoria na estrutura social que manifes- ta ainda que “o nível de análise para o
ta variações históricas e interculturais; (2) estudo da infância e das transições nas
alterações na sociedade afetam as crian- vidas das crianças devem ser sempre co-
ças tanto quanto os adultos; (3) as crian- letivas, o indivíduo em interação com os
ças contribuem ativamente na sociedade, outros, num contexto cultural” (p.1). Nes-
embora a natureza de sua contribuição sa linha, Corsaro propõe o conceito de
seja diferente em distintas culturas. A culturas infantis, “um arranjo estável de
passagem de um tipo de abordagem, que atividades ou rotinas, artefatos, valores
focalizava a criança, para outro, que vai e interesses que as crianças produzem e
estudar a infância e as crianças como uma compartilham em interação com os pa-
categoria social, vai modificar as práticas res” (1997). Essas culturas influenciam
sociais e as relações intergeracionais. Na e são influenciadas pelo mundo cultural
primeira, as crianças, avaliadas por sua adulto. A tese permite uma modificação
imaturidade física e mental, são, sobretu- no olhar para suas atividades cotidianas
do, controladas tanto nas famílias quanto das crianças, ou seja, ao invés da fragili-
nas escolas e creches, tendo reduzidas dade, da incompetência, da negatividade
suas possibilidades de utilizar as próprias naturalmente atribuída aos pequenos, é
capacidades e de opinar sobre suas vidas. possível formular outras hipóteses, a par-
Nesse caso, as instituições dão voz prin- tir de suas ações concretas e simbólicas
cipalmente aos adultos que delas partici- e, mais do que isso, modificar as práticas
pam, contrariando o princípio que susten- sociais. Moss (2001) afirma que “se esco-
ta que crianças e adultos têm o direito de lhemos entender as crianças como atores
serem ouvidos individual e coletivamente sociais, como especialistas em suas pró-
sobre as questões que os afetam e têm o prias vidas, então os trabalhos futuros
direito de terem suas inquietações leva- precisam tornar suas vidas visíveis por
das a sério pela sociedade (Moss e Petrie, meio da escuta das crianças pequenas:
2004). Na segunda, são coconstrutoras elas precisam participar desses estudos.
da sociedade, conforme a quinta tese Tendo feito, eu mesmo, trabalho na área,
de Qvortrup (2011), são agentes sociais. reconheço que participação e escuta são
A agência é o compromisso construído conceitos muito complexos e problemáti-
temporalmente por atores de diferentes cos. Entretanto, há maneiras pelas quais
contextos estruturais – os quais, através podemos chegar a alguma compreensão
da interação de hábito, imaginação e jul- sobre as experiências da pequena infân-
gamento, reproduzem e transformam as cia nas instituições de educação infantil –
estruturas em respostas interativas aos elas vivem suas vidas”. (2001, p.4). Não se
problemas postos por situações históricas trata somente de uma contraposição ao
em mudança (EMIRBAYER e MISHE, 1988, adultocentrismo, desenvolvido ao longo
p.970). Corsaro (2005/2007) destaca que dos séculos, e de visibilização das crian-
a utilização desse conceito em casos con- ças, mas de reconhecimento da interde-
cretos permite romper com abordagens pendência entre gerações.
individualísticas: “a natureza relacional e
coletiva da agência, tende a suplantar o Palavras-chave: infância, sociologia da
foco no ator individual” (p.3). Argumen- infância, relações intergeracionais
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todos os seus membros. Ainda que exis- para uma mudança sistêmica nos modos
ta um conjunto de experiências, iniciati- de participação (Hinton, 2008). As regras
vas e lutas “por/com/das crianças”, o que fixas e procedimentos que reforçam as re-
contribui para a progressiva inclusão das lações de poder a partir dos adultos, com-
crianças na agenda sociopolítica mun- petem com um modo mais fluido e lúdico
dial, sua efetiva participação como pro- que caracteriza a infância. Por outro lado,
tagonistas acontece ainda a passos lentos essas prerrogativas de participação num
(Sarmento et al., 2007). Para responder a âmbito de conferência implicam em certo
questão proposta, inicialmente, serão ex- treinamento anterior em modalidades de
postos importantes conceitos da Sociolo- participação nos demais espaços de con-
gia da Infância relacionados ao direito de vívio da criança e adolescente ao longo do
participação, e definidos os conceitos e seu desenvolvimento/socialização (Rogo-
práticas de participação e protagonismo, ff, 2005). Entende-se que o direito à parti-
conforme problematizados pelo referen- cipação deve ser estimulado o ano inteiro
cial da Psicologia do Desenvolvimento. O nos diversos microssistemas nos quais
referencial da teoria Bioecológica do De- crianças e adolescentes se desenvolvem –
senvolvimento Humano (Bronfrenbren- família, escola, comunidade. As pré-con-
ner, 2005) é tomado como parâmetro ferências proporcionam justamente ex-
para o olhar sobre os contextos de partici- periências de participação em ambientes
pação infanto-juvenil. Após um breve his- comunitários conhecidos das crianças e
tórico acerca das Conferências Nacionais adolescentes, mas que constituem-se em
dos Direitos da Criança e do Adolescente contextos mais amplos. São necessários
no Brasil, será discutida a participação de procedimentos flexíveis para possibilitar
crianças e adolescentes nas conferências a escuta da opinião das crianças e adoles-
nacionais e municipais. Tal discussão será centes, assim como proporcionar contro-
subsidiada a) pela consulta e análise de le pelas crianças quanto ao destino dado
documentos – programas e anais das con- às suas propostas e reivindicações. Essas
ferências disponíveis em sites do Governo estratégias não devem simplesmente re-
Federal Brasileiro e registros das confe- plicar as instituições adultas de participa-
rências municipais de Porto Alegre, e b) ção política, como os parlamentos locais
pelo acompanhamento direto do proces- ou as comissões consultivas, “mas desco-
so de participação nas pré-conferências brir, através do recurso à imaginação in-
e conferência municipal no ano de 2011. terventora, modalidades de participação
Entre os resultados encontrados no estu- compatíveis com as culturas infantis, for-
do de Souza et al. (2010), o espaço das mas de comunicação atentas aos modos
conferências nacionais parece ser visto de expressão das crianças” (Sarmento et
como do outro, o saber sobre os conteú- al., 2007, p. 196). Faz-se necessária a utili-
dos em discussão parece estar com a ge- zação do lúdico, dos desenhos, de formas
ração dos adultos, que as expressa a seu alternativas de diálogo com o poder cons-
próprio modo e linguagem. A existência tituído, que deve, por sua vez, estar pron-
de uma linguagem dominante, adulta, to a receber e interpretar formas alterna-
que predomina nos espaços de decisões tivas de participação. Isso é relevante tan-
políticas, é apontada como uma barreira to nos níveis de reivindicação das crianças
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dos dados foi dividida em três etapas: es- diversas questões do desenvolvimento
tudo de caso; efeito da intervenção intra- familiar tais como: afetividade; conflito;
-grupo e inter-grupo. Entre as questões de comunicação; orçamento doméstico; mo-
pesquisa estão: O planejamento familiar é radia; segurança; sexualidade; educação
uma política de saúde que não atinge as e saúde. Através do programa espera-se
populações da baixa renda? Nestes des- mudanças nas relações familiares e que
níveis educacionais o que ocorre com o o desenvolvimento da família seja plane-
processo cultural? Desta forma, num am- jado. Os resultados demonstram inicial-
biente onde o relacionamento entre os mente que as relações afetivas podem ser
membros se dá de forma harmoniosa é definidas como fatores de proteção para
possível que adolescentes o tenha como o desenvolvimento dos adolescentes,
o ideal para suportar as transformações evitando ou diminuído o impacto dos di-
que ocorrem neste período de transição versos problemas emocionais que podem
da fase de criança para o início da vida surgir. Os resultados foram mais efetivos
adulta. A qualidade da relação com a fa- na preparação desse adolescentes para
mília tem um impacto importante em a construção de suas famílias. O planeja-
vários aspectos da vida do adolescente mento realizado por cada adolescente foi
como, por exemplo, na formação do au- útil no sentido de demonstrar todos os
toconceito que, segundo Peixoto (2004), é elementos que precisam ser considerados
desenvolvido por influência das avaliações para o desenvolvimento familiar. Os resul-
feitas por diferentes membros da família tados precisam ser analisados a partir das
relacionadas com as representações que limitações do estudo como a dificuldade
os adolescentes fazem de si mesmo. As re- de conciliação do processo de intervenção
lações familiares foram o foco dos proce- com o calendário escolar, o que muitas
dimentos de intervenção. Durante a apli- vezes atrasou a aplicação dos procedi-
cação dos procedimentos de intervenção, mentos. Os resultados demonstram que
realizada prioritáriamente nas escolas, foi o programa de planejamento familiar na
possível perceber a dificuldades que os perspectiva do desenvolvimento contribui
adolescentes tinham de falar sobre os con- com o bem estar de adolescentes, melho-
flitos familiares. A principal preocupação rando de forma significativa a afetividade
era se os pais teriam acesso as informa- entre os mesmos, e suas respectivas famí-
ções coletadas. Essa dificuldade demons- lias. Assim, a intervenção contribuiu para
trou que os problemas familiares eram a redução dos sintomas depressivos e me-
ciclicos e que romper com os mesmos não lhora na saúde percebida dos adolescen-
dependeria apenas das ações da interven- tes. Esse resultado também foi acompa-
ção, mas sim da capacidade de cada estu- nhado por uma melhora significativa nas
dante de aplicar as orientações recebidas. relações familiares. Esses resultados são
O Programa de Planejamento familiar na efetivos e já sugerem que o programa de
Perspectiva do Desenvolvimento tem o planejamento familiar segundo a perspec-
formato de passo a passo, constituído de tiva do desenvolvimento pode ser um mé-
atividades realizadas pelos participantes, todo mais adequado para atingir as metas
sendo os mesmos a gente de sua própria do governo em relação ao planejamento
transformação. Esse modelo aborda as familiar e as melhorias sociais. O modelo
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foque das ações torna-se, deste modo, es- de não só se modifica o comportamento,
tritamente verticalizado e limitado (Burt, como também as próprias forças motrizes
1998). Reconhecendo a diversidade de também são modificadas, a partir de no-
experiências, condições de vida, carac- vos objetos incitadores que são criados
terísticas raciais, étnicas, econômicas e pelo homem. Na adolescência se mani-
culturais, dentre outras, o Ministério da festam as relações entre as necessidades
Saúde adotou a expressão “adolescências biológicas e as constituídas historicamen-
e juventudes”, com o objetivo de compre- te, que, dada à multiplicidade de interes-
ender essa multiplicidade de fatores, num ses que vão se desenvolvendo, cooperam
continuum, que implica em experiências para a ocorrência de profundas mudan-
diferenciadas com significados específi- ças nessas necessidades e aspirações. De
cos (Brasil, 2010, p. 46). Nessa perspecti- acordo com o autor, é nessa fase que vão
va, para além de extirpar os “males” que emergir novas possibilidades, novos obje-
acometem essa população, sugere-se que tos capazes de modificar os interesses e
as ações considerem três dimensões: a incitar novas necessidades, até então des-
macrossocial, relacionada às questões de conhecidas da criança. Sugerindo, então,
classe, desigualdades, gênero e etnia; a pensar os processos de subjetivação na
institucional, que diz respeito aos disposi- adolescência a partir da abordagem his-
tivos de ensino, às relações produtivas e tórico-cultural de Vygotsky e autores con-
de mercado e a biográfica, inscrita na tra- temporâneos (González Rey, 2003; Madu-
jetória pessoal do adolescente. Assim, ao reira & Branco, 2005, dentre outros) na in-
se desenvolver ações voltadas para esses terface com a condição humana, em lugar
sujeitos é necessário colocar em questão da natureza humana, pretende-se discutir
imagens estigmatizadas que atravessam o sobre a inserção da psicologia no âmbito
conceito de adolescência. Compreendê-la do sistema único de saúde, com os servi-
a partir de modelos socialmente desfa- ços oferecidos a essa população. Como as
voráveis, alude a uma forma equivocada ações desenvolvidas por esse profissional
de abordagem, pois reafirma um modelo podem favorecer o desenvolvimento inte-
estereotipado de ser adolescente (Toneli, gral desses sujeitos, conforme preconiza
2004). No estudo em questão, pretende- a normativa constitucional? Para além da
-se propor a concepção de adolescência simples transposição do modelo clínico
como uma categoria situada no contexto, hegemônico da psicoterapia individual,
o que possibilita sua despatologização. A centrada no modelo curativo, problema-
perspectiva da teoria histórico-cultural, tiza-se a necessidade de um reordena-
desenvolvida por Vygotsky (1996) con- mento prático e também paradigmático
cebe esse “momento”, no processo do da Psicologia (Boing, 2009), de modo que
desenvolvimento humano como uma ca- contribua para a transformação social e
tegoria gerada pela interação das pessoas para legitimar a condição de sujeitos em
com o seu meio. Durante a adolescência, desenvolvimento dos adolescentes. A pro-
transformações significativas ocorrem. Ao posta é pensar a promoção da saúde em
longo do desenvolvimento humano as for- estreita interdependência com os fatores
ças motrizes é que vão pôr em movimento psicossocioambientais e a psicologia na
os comportamentos. Em cada nova ida- interface com a atenção integral à saúde
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dos adolescentes, entendendo que uma gravídico puerperal, que compreende não
permanente reflexão em relação a esses só o pré-natal, mas inclui ainda o parto e
posicionamentos conceituais fomenta na o puerpério, vem se mostrando benéfica,
prática, a possibilidade, aos adolescentes, como processo privilegiado de construção
da vivência sócio-afetiva e o acesso a va- e compreensão do sentido subjetivo da
riados tipos de expressão, autodescoberta maternidade e da complexidade de emo-
e o encontro com suas próprias habilida- ções envolvidas nesta elaboração psíquica.
des, potencialidades e limitações (Traver- Além disso, a natureza profilática da in-
so-Yépez & Pinheiro, 2002). tervenção psicológica junto a este público
tem apresentado uma rica contribuição à
Palavras-chave: adolescência, promoção da prevenção da depressão pós-parto e ou-
saúde, Sistema Único de Saúde tras sintomatologias puerperais que se
Contato: Etiene Oliveira Silva de Macedo, alimentam de sinais ansiógenos, expres-
Secretaria de Estado de Saúde-DF, UnB, sos ao longo da gestação. Uma vez não
etienemacedo@gmail.com tratados, estes sinais podem exacerbar-se
na forma de quadros patológicos. O fato
de a gestação desencadear estados orgâ-
IMPLANTAÇÃO DE PRÉ-NATAL nicos e emocionais intensos faz com que
PSICOLÓGICO NO GRUPO DE este público seja alvo de intervenções de
ADOLESCENTES GRÁVIDAS: UMA diferentes naturezas. Segundo Serruya,
VISÃO INDISSOCIÁVEL ENTRE SAÚDE E Cecatti e Lago (2004), nos serviços públi-
DESENVOLVIMENTO HUMANO cos de saúde, inicialmente o trabalho era
Silvia Renata Lordello - NASAD voltado à gestante com vistas ao cuidado
srlordello@terra.com.br infantil. A saúde da mulher ganhou desta-
que somente em 1983 com a criação do
Numa perspectiva desenvolvimental, o Programa de Assistência Integral à Saúde
investimento na gravidez representa uma da Mulher (PAISM). Em 2000, foi instituído
grande contribuição à promoção de saú- o Programa de Humanização no Pré-natal
de, pois antecipa conteúdos e atitudes e Nascimento (PHPN), que preconizava a
que preparam os pais para o exercício da humanização da assistência obstétrica e
parentalidade saudável, tão desejável e neonatal como condição privilegiada para
necessária à chegada dos filhos. Sendo o adequado acompanhamento do parto e
esta uma transição ecológica das mais puerpério, mas que na visão dos autores,
significativas, a gravidez é um período de permanece um desafio à assistência por
grandes transformações, de mudanças fí- configurar-se ainda em modelos restritivos
sicas e emocionais, de planejamento de medicalizantes e hospitalocêntricos. Há na
vida, ressignificação de papéis e de re- literatura, várias iniciativas em torno de
lacionamentos. As vivências do período atendimento às gestantes (Durães-Pereira,
gravídico podem ocorrer de forma angus- Novo & Armond, 2007; Melleiro & Gualda,
tiante porque não se limitam ao plano 2004; Nagahama & Santiago, 2006; Ser-
orgânico, mas remetem à configuração ruya, Cecatti & Lago, 2004) que enfatizam
subjetiva e à significação da maternidade. avaliações dos programas destinados à
A intervenção psicológica ao longo do ciclo gestantes na saúde pública e em hospitais
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mesmo tempo, podemos dizer que, a pre- sar a formação de um professor capaz de
sença cada vez mais marcante das novas atuar nessa nova realidade. Por outro lado,
tecnologias da informação e comunicação o olhar investigativo do professor sobre o
(TIC) tem contribuído para uma revolucio- cotidiano escolar tem sido entendido, por
nária transformação (nem sempre posi- nosso grupo de pesquisa, como condição
tivas, segundo Coll & Monereo, 2010) da necessária a uma formação comprometi-
nossa realidade social e cotidiana, em que, da com práticas pedagógicas inclusivas e
de uma sociedade ainda marcadamente transformadoras. Nessa perspectiva, a pes-
rural, estamos caminhando a passos largos quisa no e do ambiente escolar pode ser
para uma sociedade da informação (SI). vista, ao mesmo tempo, como princípios,
Temos, especialmente na última década, científico e educativo. Hoje, não cabe mais
sido confrontados com ambientes virtuais ao professor apenas reproduzir os conheci-
de aprendizagem (AVA), notadamente a mentos para seus estudantes, mas buscar
plataforma moodle, que têm implicado em a compreensão dos problemas concretos
uma verdadeira revolução de transforma- que se colocam no cotidiano educacional.
ções que carecessem de estudos que nos Coconstruir ferramentas que permitam
permitam dar-lhes sentido e avaliar seu ao professor olhar sua própria prática e
valor e impacto. De uma cultura marcada- investigar as questões reais presentes em
mente oral, estamos sendo lançados a uma seu cotidiano, de forma reflexiva e siste-
cultura digital, produtora e produzida pelos matizada em bases teóricas consistentes,
avanços tecnológicos. Tal revolução nos su- constituiu a base curricular de um curso
portes da informação tem criado novas for- de especialização sobre desenvolvimento
mas de relacionamento e novas formas de humano e inclusão escolar, na modalidade
aprender e produzir conhecimento, assim EAD, oferecido pelo PGPDS – PED/IP - UnB/
como novos agentes educativos. Por ou- UAB. No contexto desse curso, os fóruns de
tro lado, de acordo com a perspectiva te- discussão - salas de conversa entre os alu-
órica da Psicologia Cultural que adotamos nos pós-graduandos (professores de redes
aqui, o desenvolvimento humano é com- públicas, psicólogos e outros profissionais
preendido como um fenômeno complexo da educação) e seus tutores e professores
e dinâmico, no qual o sujeito é tido como supervisores – constituem um meio privi-
participante ativo do seu desenvolvimento, legiado de formação, de coconstrução de
em constante interação com o meio (Bran- conhecimentos e de novos procedimen-
co & Valsiner, 2004). Por outras palavras, tos de ensinar e aprender. O presente es-
compreende-se que o sujeito se constitui tudo teve como objetivo contribuir para a
por meio da interação dialética entre pro- sistematização de princípios pedagógicos
cessos de canalização cultural e da ação do específicos da modalidade EAD e que se-
indivíduo, enquanto sujeito ativo e co-par- jam úteis à Formação de Professores que
ticipante do seu próprio desenvolvimento. possa prover a instituição escolar de meios
Nesse contexto, a presença cada vez mais pedagógicos que atendam à diversidade
frequente de cursos na modalidade EAD dos alunos. Por meio de uma abordagem
por meio de AVA tem nos confrontado interpretativa, característica da perspecti-
com desafios marcantes, especialmente va teórica aqui defendida, foram objeto de
no que se refere a necessidade de repen- análise as discussões estabelecidas nos Fó-
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entre os participantes envolvidos nas situ- apesar das características em comum que
ações interativas. O espaço subjetivo em os grupos de alunos de cada curso apresen-
que elas se processam é chamado de “situ- tam, a constituição individual de cada um é
ação social do desenvolvimento” e traduz- muito importante na formação dos grupos,
-se como o contexto que envolve o indiví- planejamos nosso trabalho. O presente
duo, permitindo a ele o estabelecimento estudo discute o percurso de uma turma
de uma zona de sentido. Retomando nossa de pedagogia durante as disciplinas minis-
escola, podemos dizer que na sala de aula tradas pela autora. O percurso serviu para
se estabelecem relações entre os alunos, nortear grande parte de nosso trabalho em
entre alunos e professores, entre os coor- sala de aula, após compreendermos que a
denadores e alunos, entre os coordenado- base das necessidades dos alunos era pro-
res e professores, e assim por diante. Essas veniente da leitura e da escrita. Construí-
relações podem produzir espaços de trocas mos estratégias no sentido de promover o
que promovem a aprendizagem e geram aprendizado e desenvolvimento de proces-
desenvolvimento. Muitas das contribuições sos de pensamento complexo, por conside-
sobre a subjetividade nessa perspectiva rarmos a importância desses processos na
vêm de autores como González Rey (2005) formação de professores. O relato foi reti-
e Martinez Mitjáns (2005), na discussão so- rado de trabalho com disciplinas de psico-
bre as concepções de Vygotsky sobre a na- logia de desenvolvimento e aprendizagem,
tureza dos processos de desenvolvimento e acompanhada durante o período de um
aprendizagem. Investigando mais os aspec- ano, disciplinas obrigatórias do primeiro
tos ligados à subjetividade humana, Gonzá- e segundo períodos do curso. Tomamos
lez Rey contribui para a compreensão dessa como base os indicadores anteriores ob-
dinâmica nos processos de desenvolvimen- servados em todos os grupos de alunos do
to. Com base em suas contribuições, pode- mesmo curso de pedagogia, de três anos
mos dizer que o ser humano se desenvolve anteriores: 1-as turmas apresentavam a
processualmente, de maneira gradual e em falta de interesse e motivação para ativida-
constante relação de tensão e conflito entre des que envolviam leitura e escrita, ainda
o sujeito e o mundo: o homem se consti- que possa parecer estranho e incoerente
tui ao mesmo tempo nas relações consigo para um curso de formação de educadores;
mesmo e com o seu meio sociocultural. Es- 2-apresentavam desvalorização da profis-
sas relações não são diretas. São mediadas são em contradição à supervalorização do
por instrumentos concretos e psicológicos, psicólogo; 3-havia de modo geral muita di-
sendo a psique constituída na unidade dia- ficuldade de entrar em contato com o erro.
lética objetividade/subjetividade, em que Após uma conversa informal com a turma
o indivíduo e o social são inseparáveis e o que ingressava havia pouco tempo, no pri-
particular contém em si o universal. As vi- meiro período, chegamos a algumas das
vências na área de educação, sejam elas respostas que nos levaram aos indicadores
em cursos presenciais ou à distância, en- sobre o curso de Pedagogia: 1-“Vim porque
volvem o aprendizado e os processos de não passei em outra. 2- Eu não gosto mui-
desenvolvimento. Baseados no pressupos- to do curso, não quero ser professora, mas
to de que os processos de constituição de só podia fazer esse curso. 3-É mais barato;
subjetividades é multideterminado e que, 4-Detesto ler; 5-Não entendo nada desses
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ender o ser humano em sua totalidade. A discussão situada neste trabalho, que
Desta forma, apresentar a subversão como envolve os temas do Desenvolvimento
produção simbólico-emocional que se ma- Humano, da Saúde e da Educação como
nifesta na mudança de posicionamento do produções subjetivas, apóia-se, principal-
sujeito em relação à ordem estabelecida, mente, na Teoria da Subjetividade de ca-
pode viabilizar a expressão de sua singu- ráter histórico-cultural desenvolvida por
laridade e contribuir para o desenvolvi- González Rey (2003). Segundo este autor,
mento enquanto crescimento individual a Subjetividade é caracterizada por uma
a partir da emergência de sentidos frente ruptura com a visão da psique como en-
à nova forma de vivenciar sua realidade. tidade individual e intrapsíquica; uma re-
Outra temática que compõe esta mesa é presentação da psique como um sistema
discutir a tríade equoterapia, educação e complexo, cujas formas de organização
promoção de saúde, instigar essa reflexão não estabelecem relações de causa e efei-
é uma forma de abertura à visibilidade to e a superação de um conjunto de cisões
desse espaço como propício à comunica- que historicamente foram construídas
ção saudável, à emersão do sujeito e ao pelo conhecimento formador na maioria
favorecimento de relações dialógicas que das correntes nas Ciências Sociais, em es-
contribuam e impulsionem os processos pecial na Psicologia, como objetivo/sub-
de aprendizagem e desenvolvimento e à jetivo, afetivo/cognitivo, interno/externo,
promoção de saúde como um processo individual/social. Na tentativa da compre-
complexo, multidimensional, subjetivo, ensão do desenvolvimento humano, vários
contraditório, singular e sistêmico (Rey, autores realizaram estudos com diferentes
2004). A última temática apresentada enfoques, tais como: os aspectos biológi-
aborda um modelo de prevenção da Aids cos, as estruturas cognitivas, o meio social,
pautado na informação, motivação e habi- o campo afetivo, entre outros. Para Piaget
lidades comportamentais. A subjetividade, (1988), o desenvolvimento humano obe-
nesta perspectiva, está necessariamente dece a estágios hierárquicos (sensório-mo-
implicada no que Lévinas chama de “aven- tor - 0 a 2 anos, pré-operatório - 2 a 7 anos,
tura do saber” ou, noutras palavras, impli- operações concretas - 7 a 11 ou 12 anos,
cada numa estrutura gnosiológica, relativo operações formais - 11 ou 12 anos). Já a
aos limites e valores do conhecimento hu- concepção behaviorista de Skinner (2003),
mano, que em última instância, também é elegeu o comportamento como objeto de
ontológica. Para Lévinas, a subjetividade estudo e analisou o desenvolvimento hu-
tem como tarefa ontológica encontrar-se, mano e a aprendizagem como unidades
compreender-se e compreender, estabe- estímulo-resposta, com o objetivo de con-
lecer referências com sentido e significar. trolar e modificar o comportamento. Com
intuito de entender o desenvolvimento
humano sob outro prisma, em que as ra-
O DESENVOLVIMENTO HUMANO, zões lineares e hierárquicas de compreen-
A SAÚDE E A EDUCAÇÃO COMO der o sujeito dessem lugar aos aspectos
PRODUÇÕES SUBJETIVAS relacionais, Vygotsky (1991) assinala que
Helio Ricardo Machado Lopéz - SENAC este é um processo dialético, complexo,
helio.lopez@terra.com.br multifacetado, por desproporções de fun-
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ções, conversões qualitativas, combina- tua como máquina, formatada por meca-
ções complexas, processos de evolução e nismos bioquímicos e histológicos, para
involução, interação de fatores externos e outro, que estabelece relações multiarti-
internos e busca constante de adaptação culadas na processualidade assimétrica do
ao meio. Segundo González Rey (2001), o constituir-se. Desta afirmação surgem dois
desenvolvimento humano é um proces- desdobramentos que consideramos sig-
so complexo e não linear, que não pode nificativos. O primeiro é que os aspectos
ser reduzido a um padrão. Desta forma o subjetivos da saúde e da educação e, por
compreende o desenvolvimento humano consequência, o desenvolvimento huma-
como uma produção de sentidos subje- no, não podem ser conceituados como um
tivos que, segundo González Rey (2009), eco da condição objetiva da realidade. Di-
esta categoria permite expressar os pro- ferentemente disto, possibilitam alterna-
cessos de subjetivação que estão além da tivas de enfrentamento ao sujeito a partir
intencionalidade e da consciência do sujei- dos seus recursos subjetivos: viver os pro-
to, e que estão estreitamente associados cessos geradores de saúde não é apenas
ao percurso das emoções que atuam como uma expressão direta entre o sujeito e os
uma o unidade inseparável com os proces- efeitos de suas ações concretas na vida co-
sos simbólicos e emocionais. González Rey tidiana. Por este viés, é caracterizada como
(2005) assevera que é preciso pensar uma produção de sentidos articuladas na trama
construção teórica diferenciada sobre a singularizada da experiência vivida. O se-
saúde e o desenvolvimento humano, im- gundo desdobramento é a possibilidade
plicada em superar sua definição em ter- real da emergência do sujeito, tendo como
mos de normalidade, equilíbrio e ausência base este cenário em que a singularidade
de sintomas e doenças perceptíveis a par- se faz presente, sendo legitimada nas prá-
tir do diagnóstico médico. Para tal, torna- ticas em educação e saúde. O resgate da
-se necessário definir saúde em termos de subjetividade na dimensão educacional,
um sistema vivo, interatuante com as com- como um atributo essencial de sua pró-
plexas formas de vida e espaços sociais pria definição histórica e cultural, permite
que ultrapassem a barreira do fisiológico e o reconhecimento das práticas educativas
expresse a qualidade do desenvolvimento como processos de sentido, promotoras
do sistema, tendo como referência os ele- de uma compreensão significativa no ato
mentos constitutivos de suas produções de aprender. Esta visão desenvolvida por
subjetivas. Conforme Langdon (1995), re- González Rey (2008) esclarece que o ca-
conhecer a subjetividade permite conside- ráter singular da do desenvolvimento hu-
rar a heterogeneidade como partícipe do mano vai nos obrigar a pensar em nossas
processo do desenvolvimento humano. práticas pedagógicas sobre os aspectos
Desta forma, ressalta a relação entre pa- que propiciam o posicionamento do sujei-
dronização-descontinuidade, em que o de- to e sua complexidade na aprendizagem.
senvolvimento humano, saúde e educação A partir desta concepção, o processo do
possuem interrelações: o caráter simbóli- desenvolvimento humano deixa de ser mi-
co da singularidade em relação aos temas metizado e robótico, para envolver-se no
citados, abre outro olhar sobre sua repre- campo das construções dos elementos de
sentação, diferente daquela que o concei- sentido do sujeito, articulado nos diálogos,
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relação, o que rompe o caráter metafísico trabalho é direcionado. Essa teia dinâmica
e alcança a sua condição histórica, mas o e processual no espaço da equoterapia na
fator imprescindível dessa relação é o ca- articulação com a educação constitui-se
ráter sistêmico, processual e integral de em momentos que expressam a organi-
compreender o sujeito. Portanto, essa trí- zação peculiar do sujeito e de sua perso-
ade nos insere na dinâmica dos processos nalidade o que nos conduz à tentativa de
de aprendizagem e desenvolvimento desa- compreender a organização da psique e
fiadores que se apresentam nesse espaço seu caráter ontológico histórico-cultural
e nos brindam com o caráter criativo, com- fora de uma perspectiva coisificada e ob-
plexo e dialético desse desenvolvimento jetivista como um ente que se revela fora
que não segue as vias diretas, mas ver- do sujeito, mas como um sistema gerador,
dadeiros caminhos criativos e elaborados processual e em constante desenvolvi-
que mobilizam a criança na produção do mento. Vygotsky (1995) pressupõe que o
conhecimento. Investigar como as ações desenvolvimento humano seja um proces-
equoterápicas em consonância com os as- so dialético, dinâmico e interativo em que
pectos educativos se constituem em inter- as diversas funções se metamorfoseiam
venções atentas e criativas que se conec- e tomam novas formas em que as velhas
tam ao sujeito atendido percorrendo o seu não se perdem, mas são constitutivas das
funcionamento psicológico (Tacca, 2008), novas, em que interno e externo são mo-
o seu pensar e a forma como produz sen- mentos interrelacionados de um processo
tidos subjetivos nas sessões, nos levam a e não algo dicotômico que se reflete em
crer que estas corroboram à aprendizagem uma instância que se substancializa, mas
e ao desenvolvimento, impulsionam e mo- que nesse conflito produz complexas es-
bilizam esses processos. São questões que truturas psíquicas capazes de diferentes
nos instigam a entender a unidade indisso- formas de organização e desdobramentos.
ciável entre cognição e afeto e a configu- À guisa dessa premissa, entramos nos pro-
ração da personalidade enquanto sistema cessos de aprendizagem e desenvolvimen-
aberto e dinâmico de autorregulação e to que implicam os sujeitos atendidos pela
regulação do comportamento do sujeito equoterapia e destacamos que a organiza-
nos seus contextos de atuação. Quando ção da ação terapêutica pressupõe a imer-
saímos do entendimento da personalidade são do sujeito no contexto de atendimento
enquanto traços fixos definidores do sujei- (Rey, 2007). Desta forma, o terapeuta é um
to e a entendemos enquanto um sistema provocador, um facilitador da emergência
relativamente estável, trazemos uma di- de sentidos subjetivos, um organizador do
mensão subjetiva que infere que a equo- contexto social de atendimento que esco-
terapia na interface com a educação possa lhe os instrumentos que mediam e mobi-
contribuir para que o sujeito possa operar lizam os motivos e as necessidades desse
com os recursos subjetivos com os quais sujeito que alavancam a aprendizagem e
se constitui para gerar alternativas diante o desenvolvimento por meio da conexão
das situações contraditórias e tensas expe- com o seu funcionamento psicológico pe-
rimentadas convertendo-as em sentimen- culiar. São as zonas de possibilidades de
tos de segurança, confiança e autovalori- desenvolvimento aportadas não em um
zação, ou não, dependendo de como esse sujeito de ausências, mas em um sujei-
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uma avaliação comparativa, mostrando D’Amorim (2002, 2004), todas com re-
claramente a força da referência social. sultados positivos e propondo alterações
Pode-se perceber que, se a percepção para a prevenção. Portanto, conclui-se
da própria vulnerabilidade leva, no caso que a prevenção tem estreita relação com
das outras doenças a um comportamen- o comportamento; as intervenções que
to preventivo, a ligação entre estas duas ensinam tais habilidades têm sido efeti-
variáveis não se aplica no caso da Aids. vas na promoção do comportamento de
Os modelos mais conhecidos de compor- evitar riscos.
tamento de saúde foram elaborados para
lidar com doenças não fatais e até, ocasio- Palavras-chave: AIDS; Modelo para
nalmente, reversíveis e no caso da Aids os Prevenção; Motivação.
comportamentos de risco a serem evita-
dos estão, em geral, ligados à vida sexual
o que os torna eminentemente sociais, MR LT07
afetando outras pessoas e dependendo
Mesa Redonda
de sua colaboração. Os autores Fisher e
Fisher (1992), discutem uma conceitu-
ação e um conjunto de operações dela
MR LT07-1492 - DESENVOLVIMENTO
derivada que possa fornecer uma base
HUMANO EM CONTEXTOS INCLUSIVOS
mais sólida às intervenções visando a re-
dução do risco Aids. A informação acerca Celeste Azulay Kelman - FE/PPGE/UFRJ
dos métodos de transmissão da Aids e de
modos específicos de prevenir a infecção Esta Mesa Redonda pretende discutir as
são elementos indispensáveis à obtenção influências das interações sociais sobre a
de um comportamento preventivo. A mo- diversidade humana, focalizando a inclu-
tivação para mudar o comportamento de são de algumas minorias em diferentes
risco é o segundo determinante da dispo- contextos e etapas do desenvolvimento.
sição à prevenção. Finalmente as habili- Será abordada a inclusão na escola, na
dades comportamentais necessárias para sociedade, na família e no trabalho de su-
executar os atos preventivos completam jeitos que apresentam surdez na infância
os três elementos do modelo. O modelo e na vida adulta, sujeitos com deficiência
é chamado pelos autores de (IMB) vindo intelectual e adolescentes em conflito
de: Information – Motivation – Behavior. com a lei. A primeira autora apresenta
(Fisher e Fisher, 1993). A partir do modelo os reflexos do respeito à diferença lin-
geral (IMB) as informações, a motivação güística dos alunos surdos de uma escola
e as habilidades a serem utilizadas serão de ensino fundamental e o impacto que
específicas ao grupo que o pesquisador essa diferença traz no desenvolvimento
visa atingir, seja este de homossexuais, da autoestima, da formação identitária
drogados, donas de casa ou estudantes e do bom desempenho acadêmico. Pro-
universitários. O modelo proposto pelos blematiza o papel dos diferentes partici-
autores já foi amplamente aplicado em di- pantes da escolarização desses alunos,
versos países, em especial no Brasil, como mostrando que a língua de sinais não ga-
mostram as pesquisas desenvolvidas por rante o aprendizado e o desenvolvimento
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Libras seja a sua língua de instrução (De- onde circulam e são respeitadas ambas as
creto Presidencial 5.626/2005). Espera-se línguas, a portuguesa e a Libras. Mas será
que a escola se adapte às necessidades que os aspectos culturais que envolvem
educacionais desses alunos, mas o que o currículo estão sendo pautados nessa
por vezes ainda se observa é o fenômeno perspectiva? Ou permanecem atendendo
denominado “copismo”, onde os alunos à cultura dominante, logocêntrica? O que
surdos dentro das classes regulares fazem fazer para que a escola apresente indi-
uma cópia mecânica, desprovida de signi- cadores mais eficazes no processo de le-
ficado e que não conduz à aprendizagem. tramento de alunos surdos, promovendo
Também apresentam uma produção tex- não apenas a construção de conhecimen-
tual rudimentar, muitas vezes incompre- tos, mas também sujeitos com autoesti-
ensível, por não dominarem a gramática, ma enaltecida? Como os surdos podem
o léxico e a semântica da língua portu- aprender melhor o português, já que
guesa. Tradicionalmente, dentro do âm- sucesso acadêmico relaciona-se também
bito escolar, as metodologias e práticas com satisfação pessoal? Será que seus
educativas empregadas são apoiadas em professores têm passado por processos
aspectos fonéticos da nossa língua. Em de formação continuada? A língua portu-
decorrência, os alunos surdos do ensino guesa está sendo ensinada como segun-
fundamental vivenciam grandes dificulda- da língua? Pratica-se a pedagogia visual?
des para aquisição da língua portuguesa, Estão presentes os atores necessários ao
o que pode eventualmente ser entendido processo adequado à escolarização do
como incapacidade cognitiva. Por serem surdo, como o intérprete educacional e
filhos de pais ouvintes, são prejudicados o instrutor surdo adulto, por exemplo?
na formação inicial de conceitos e meca- Nesse sentido, buscamos investigar quais
nismos que desenvolvem o pensamento, os aspectos que relacionam sucesso aca-
uma vez que língua e pensamento cami- dêmico com satisfação pessoal em con-
nham juntos, um influenciando o outro. textos de aprendizagem do português
Os problemas relacionados à educação como segunda língua. Com o objetivo de
de alunos surdos vão desde a estrutura verificar qual o impacto que o respeito à
e funcionamento da escola, passando diferença lingüística causa no processo de
pelo acesso ao currículo até as pessoas letramento, na autoestima e na constru-
que respondem diretamente pela inclu- ção identitária de alunos surdos, foi reali-
são escolar no ensino fundamental: seus zada uma intervenção em uma escola da
professores e gestores (Kelman; BRANCO; rede pública municipal, em forma de re-
2003; 2004). Para verificar o estágio atu- forço escolar. Os participantes foram cin-
al de desenvolvimento escolar de alunos co alunos surdos de quarto ano do ensino
surdos na rede pública municipal, procu- fundamental, com idades variando entre
ramos identificar se a escola está se trans- onze e treze anos. Inicialmente foi feita
formando para assumir uma posição de uma reunião com as mães desses alunos,
respeito à construção identitária desses que autorizaram a realização da pesqui-
alunos, tornando-se uma escola “bi-bi”: sa. As estratégias utilizadas foram o ensi-
bicultural, que englobe a cultura ouvin- no de português como segunda língua e
te e a cultura surda, e bilíngue, um local o uso da pedagogia visual (BUZAR, 2008).
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na idade adulta. Esta realidade marca de lias não demonstraram expectativa quan-
forma significativa este processo por se to a um possível casamento ou trabalho
tratar de pessoas que já estabeleceram da pessoa surda. Uma mãe entende que
sua experiência de vida com a utilização as aproximações de seu filho adulto com
de um sistema gestual, constituído no o sexo oposto são “coisas de criança”. Foi
âmbito doméstico e compartilhado com possível concluir que existe uma respon-
um número muito restrito de interlocu- sabilidade passada de uma geração para
tores. Quatro entrevistas com famílias outra quanto ao cuidado com o surdo. A
de surdos foram analisadas, procurando conquista da língua representou um mar-
identificar suas concepções a respeito co no desenvolvimento destes adultos
da surdez. Os surdos em questão são surdos. Na medida em que aprenderam
quatro adultos com idades que variam a usar uma língua como meio de comuni-
de 35 a 52 e que buscaram a escola na cação, mesmo não sendo fluentes, estes
idade adulta, onde começaram a apren- alunos passaram a interagir com outras
der a língua de sinais. Foram constituídas pessoas, alargando o universo de seus
quatro categorias de análise nas entrevis- interlocutores. Pelos relatos dos familia-
tas: a) a comunicação; b) o status dado res, eles se tornaram mais ousados em
à deficiência; c) a expectativa quanto ao abordar e manter contato com pessoas
futuro; e d) as mudanças resultantes da estranhas e passaram a ter maior contro-
inserção na escola e do o aprendizado da le sobre as próprias vidas, realizando ati-
língua de sinais. Quanto à comunicação, vidades simples como escolher roupas,
as quatro famílias relataram a constru- administrar dinheiro, expor vontades,
ção do sistema gestual na infância para modificar hábitos da vida diária. Ganha-
atender às necessidades básicas. Este sis- ram certa autonomia nas atividades da
tema gestual ainda é utilizado no âmbito vida social. As famílias são muito resilien-
doméstico e a comunicação se restringe tes quanto ao novo meio de comunicação
à indicação de atividades relativas a cui- e não demonstraram interesse com seu
dados pessoais, alimentação, repouso e aprendizado, relatando que os gestos
higiene. Relataram ainda que a comuni- satisfazem as necessidades de comunica-
cação com o surdo é estabelecida, em ge- ção. Percebe-se que, para as famílias, a
ral, com apenas um membro da família, surdez é uma condição limitante se suas
pois nem todos, no âmbito doméstico, expectativas ainda são baixas quanto ao
entendem ou se fazem entender com ele. desenvolvimento do surdo.
Quanto ao status da deficiência, três fa-
mílias consideram que cuidar do familiar Palavras-chave: surdez, língua de sinais,
com deficiência é uma espécie de missão. interação familiar
Há um sentimento de responsabilidade e
não existe a crença de que o surdo possa
tomar conta de si mesmo e encontrar, por
esforços próprios, meios de subsistência.
Dois, dentre os quatros, foram matricu-
lados na escola após as mortes das mães
cuidadoras. Quanto ao futuro, duas famí-
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dades implicava a saída do adolescente quase ninguém aprecia, mas, hoje, tenho
do CRIAAD por uma manhã ou tarde, três certeza de que é um dos requisitos mais
vezes na semana, em um período de qua- importantes para a vida desses adoles-
tro meses consecutivos. Foram nove os centes e tantos mais. Duvidar para com-
adolescentes acompanhados pela autora. preender é importante, mas desacreditar
Dentre eles, apenas um obteve uma colo- remete à condição de eterna impotência
cação significativa no mercado de traba- ou impossibilidade de mudança. Como
lho imediatamente após o curso, optando discute Bauman, é a completa derrota
pelo envolvimento com grupos diferentes em uma sociedade como a nossa, onde
de adolescentes; dois retornaram à es- quase nunca se confia no próximo, mas
cola após um período de cinco anos de na possibilidade de superá-lo. Portanto,
ausência; dois deles obtiveram uma colo- na lógica desses adolescentes, ninguém
cação no mercado de trabalho, optando corre riscos se não for um pouco ingênuo
por um novo curso no projeto; três inter- e abraçar os novos desafios acreditando
romperam o curso após a progressão de que dali sairá algo diferente. Meus veleja-
medida socioeducativa. O relato a seguir dores eram ingênuos também. E foi esse
descreve nosso percurso desde os primei- leme que levou alguns deles até o fim da
ros contatos com adolescentes em confli- jornada. A ausência dele, à deriva do bar-
to com a lei. Adegmar, juiz da infância e co. Após a análise dos casos, observamos
da juventude em uma cidade longe daqui, que alguns fatores foram determinantes
me surpreendia com sua capacidade de para que cada vela pudesse se coloca ao
ver um potencial para a vida fora do cri- vento: a aceitação/credibilidade do ado-
me naquelas crianças e adolescentes, tão lescente pelo grupo de profissionais e
temidos por sua violência. Eu tanto tinha pela família; as formas de vínculo estabe-
admiração por ele quanto curiosidade lecidas com os profissionais e grupos do
em saber como deveria ser amar aque- CRIAAD e do PROJETO GRAEL; as estraté-
las pessoas. Minha convivência com eles gias desenvolvidas pelo adolescente na
me levaria mais tarde a essa compreen- relação com os demais durante o seu per-
são. No CRIAAD, assim que os adolescen- curso no CRIAAD; e, finalmente, “a inge-
tes chegavam à unidade, os recebíamos nuidade”. De vez em quando, acordo de-
através de uma entrevista padronizada. solada com a maré. Lembro-me daqueles
Assustava-me a cada contato com um barquinhos desnorteados. Quando ficam
dos adolescentes. Por incrível que pareça, assim, logo me preocupo, temendo que
não era a condição de ilegalidade que me as velas se deteriorem e já não possam
sensibilizava, mas a condição humana de continuar a velejar. As velas ainda não
cada um deles. Foi assim que o afeto por têm rumos muito claros. Além disso, fre-
eles acabava por se entranhar através de qüentemente não sabem se deixar levar
nossos olhos, ouvidos, pele, quando nos pelos bons ventos, resistindo ao encontro
deparávamos com sorrisos deslocados, de si mesmos.
corpos mal tratados, falas interrompidas,
vidas dissimuladas, esperanças adiadas. Palavras-chave: desenvolvimento, medida
É preciso ser ingênuo para viver. Isso eu socioeducativa, inclusão laboral
aprendi com eles. Ingenuidade é algo que
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Educação Básica e que, de alguma forma, com formação de professores da rede pú-
procuram aproximar suas visões comple- blica de ensino do Distrito Federal reali-
mentares sobre a formação docente, seja zada durante o desenvolvimento dos cur-
inicial ou continuada. sos “Construindo Práticas Educativas na
Educação de Jovens e Adultos” na Escola
de Aperfeiçoamento dos Profissionais da
A APRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA Educação- EAPE. A prática de ensino re-
SÓCIO HISTÓRICA NA EDUCAÇÃO DE quer que tenhamos como pressuposto
JOVENS E ADULTOS uma compreensão clara e segura do que
Robson Santos Camara Silva - SEE-DF/GEPEJA significa a aprendizagem, o que remete
robsoncamara@gmail.com a vários problemas. Pode-se inferir que
Kattia de Jesus Amin Athayde Figueiredo - desde o momento que nascemos estamos
SEE-DF/GEPEJA aprendendo, e continuamos aprendendo
kattia.unb@gmail.com a vida toda. Nestes termos, a questão da
Simão de Miranda - SEE-DF/GEPEJA, aprendizagem toma dimensões mais am-
simaodemiranda@globo.com plas. Observa-se que há uma gradação
Andréia Costa Tavares - SEE-DF/GEPEJA das complexidades dos interesses e pre-
prof.andreiatavares@gmail.com ocupações que tomam corpo ao longo da
vida dos indivíduos. Tais aspectos ocupam
As constantes transformações num mun- o centro do processo de ensino-aprendi-
do em que ciência, tecnologia e outras zagem como elementos fundante no con-
formas de letramentos tomam relevo, a texto na educação contemporânea, o que
educação escolar torna-se um instrumen- pode ser perfeitamente desenvolvido na
to mediador das relações estabelecidas EJA. Diante disso, a aprendizagem assume
entre o homem, enquanto gênero hu- uma dimensão em seu significado maior
mano, e a sociedade. A educação, como que comumente se conhece. O que se
prática social, não está dissociada de ou- aprende não sai do nada, mas é construí-
tras práticas que permeiam igualmente o do no processo histórico constitutivo dos
processo de interação humana e produ- indivíduos em suas diversas interações
zem o conhecimento a partir da mediação societais. O desenvolvimento humano
histórico-social-cultural. A aprendizagem não é um processo eminentemente bio-
na perspectiva do desenvolvimento cog- lógico, mas de ordem social. Tais fatores
nitivo recoloca no centro do conhecimen- preponderam e são históricos, o que re-
to os sujeitos da educação. Autores como mete lançar um olhar sobre o contexto
Vigotsky (1998), Marques (2006), Libâneo de aprendizagem num plano diferente
(1994), entre outros, ajudam a compreen- de como as pessoas aprendem e podem
der melhor o processo de ensino e apon- ser estimuladas a aprender. Assim como
tam caminhos que podem ser apropriados as crianças, os adultos e jovens têm o seu
por professores que atuam na Educação processo eivado dos fatores sócio-históri-
de Jovens e Adultos (EJA). Analisar o pro- cos em seu aspecto cognitivo. Portanto,
cesso sócio-histórico de aprendizagem na pode-se também inferir que os educan-
educação de jovens e adultos. O proces- dos da EJA trazem consigo apreensões da
so metodológico se deu nas experiências sua realidade no seu acervo cognitivo, o
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sem que tragam mais problemas psicoló- No decurso da história da sociedade hu-
gicos ao afetado. A utilização das técnicas mana a educação e o trabalho têm sido
e adaptações apresentadas no decorrer do atividades fundamentais na afirmação da
trabalho visa uma melhor compreensão condição humana e servido de marco di-
da matéria por parte de todos os alunos. ferenciador dos humanos em relação aos
Adaptações feitas com materiais de baixo demais animais. Embora sejam atividades
custo são estratégias essenciais para tor- humanas de dimensões diferentes, a inter-
nar o ensino de Química um modelo a ser ligação entre ambas está na base da cons-
seguido para construir uma educação de- tituição humana, pois o trabalho no senti-
mocrática e acessível a todos. As iniciativas do ontológico é uma atividade em que o
apresentadas em nosso trabalho mostram ser humano, também um ser da natureza,
aos professores que não é impossível lecio- mobiliza seus recursos corporais para, em
nar Química para alunos cegos, devemos relação social necessária, transformar a
apenas mudar nossos métodos de ensi- natureza e produzir os meios necessários à
no. Em consequência, teremos benefícios sua subsistência. Esses meios necessários
para toda a turma, pois os alunos compre- são materiais e simbólicos. Ao proceder
enderão melhor os conteúdos se forem conscientemente na transformação da na-
apresentados a eles métodos diferentes
tureza, o ser humano também transforma
do que os de costume. Facilitar a vida do
a sua natureza tornando-a cultural. Ele
aluno com deficiência visual é excluí-los,
produz cultura e projeta a sua existência
eles precisam apenas de ferramentas para
através das gerações futuras e, ao longo da
concorrer em condições similares aos alu-
sua existência, vem ampliando progressi-
nos videntes, ao invés de receberem pri-
vamente a produtividade do trabalho. Para
vilégios que acabarão prejudicando o seu
desenvolvimento. tal, recorre à educação para transmitir a
experiência social acumulada e ao fazê-lo
Palavras-chave: Química para Cegos; Escola proporciona o desenvolvimento humano
Inclusiva; Adaptação de Materiais. que, na concepção histórico-cultural de
Contato: Juliana Alves de Araújo Bottechia, desenvolvimento humano, não pode pres-
UEG/ UnU-Formosa, cindir do desenvolvimento da sociedade. O
juliana.bottechia@gmail.com trabalho em tela tem por objetivo apresen-
tar conceitos básicos da diversidade, em
geral, e das diversidades étnico-racial, de
A EDUCAÇÃO E O TRABALHO NA gênero, e da língua utilizados na constru-
CONSTRUÇÃO DA DIVERSIDADE ção de um módulo sobre diversidade, edu-
HUMANA cação e trabalho. Vale salientar que, desde
Renato Ferreira dos Santos - SEE-DF a metade do século XX, ocorre uma série
reneja.12@gmail.com de discussões sobre a dimensão da liberda-
Ana José Marques - SEE-DF de, a essas discussões associa-se a noção
marques.ana67@gmail.com de cidadania, “que implica a conquista de
Vânia Elisabeth Bacelar - SEE-DF um amplo leque de direitos civis, políticos,
vania.elisabeth@yahoo.com.br sociais e, mais recentemente, os direitos
Alexandra Pereira da Silva - SEE-DF culturais” (Silvério, 2006, p. 7). O sentido
alexalina@bol.com.br original da ideia de liberdade transformou-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
-se, deixando de ser uma ideia abstrata e relações intersubjetivas e pela linguagem.
vazia, passando a ser um desejo dos indi- O desenvolvimento humano é intersubjeti-
víduos poderem controlar suas autorrea- vo e discursivo. Assim, a educação adquire
lizações. Essa evolução leva os grupos de contornos basilares no desenvolvimento
excluídos a formarem movimentos sociais humano cuja relação com a sociedade hu-
(de mulheres, negros, índios, homossexu- mana do seu tempo é dialética e histórica.
ais), que visam a sua melhor qualidade de Isto é, o ser humano se desenvolve com a
vida: inserção na sociedade, aquisição de sociedade e, esta se desenvolve com o ser
direitos, acesso a bens e serviços. Diante humano. Além disso, a atualidade de uma
dessa realidade, conhecer e reconhecer os sociedade reflete a sua história. Então, o
grupos socialmente excluídos torna-se ne- ser humano constituído também concen-
cessário. Além disso, existe a necessidade tra os conhecimentos e valores de gera-
de identificar os fatores geradores de tais ções anteriores, isto é, a história da própria
exclusões, pois as estratégias de conheci- humanidade. O trabalho assim concebido,
mento geram o entendimento e a possibi- ou seja, no sentido ontológico tem se ca-
lidade de se pensar ações concretas que racterizado enquanto eixo norteador da
impeçam a reprodução da exclusão. No educação desde os primórdios da humani-
que tange ao gênero, pretende-se abordar, dade e tem sido fundante na promoção do
de forma breve, o histórico que demonstra desenvolvimento humano. De acordo com
a construção do processo de dependência a concepção sócio-histórica, é nas relações
em que a mulher foi submetida e de lutas sociais estabelecidas para a produção dos
pelas mudanças, que paulatinamente, vem meios necessários à sua sobrevivência- o
conseguindo alcançar, bem como as trans- trabalho- que os seres humanos se produ-
formações ocorridas na sociedade, no que zem enquanto humanos. Nas relações in-
se refere às escolhas sexuais praticadas tersubjetivas mediadas pela linguagem, os
por homens e mulheres. Quanto à temáti- processos e as funções do seu grupo social
ca étnico-racial, a abordagem será no cam- são internalizados e passam para o con-
po conceitual de raça, etnia, de como se trole do indivíduo quando há a construção
processa o racismo no mundo capitalista das funções psicológicas superiores e o de-
e os estabelecimentos das diferenças en- senvolvimento humano. Nesse momento
tre racismo, preconceito e discriminação. o indivíduo adquire autonomia para trans-
Em relação à diversidade linguística, se- formar os valores e conhecimentos rece-
rão apontados três campos importantes: bidos socialmente. Fica configurado o es-
várias línguas nativas do Brasil; línguas paço educacional, mesmo nos ambientes
estrangeiras incorporadas ao nosso siste- de pouco domínio sobre a natureza das so-
ma escolar e as variantes linguísticas dos ciedades e comunidades comunitárias que
grupos socioculturais. Evidencia-se que o caracterizaram os primórdios da sociedade
público da Educação de Jovens e Adultos humana. Para a concepção sócio-histórica
está inserido em contexto de diversidade o desenvolvimento das funções psicoló-
e que este público busca educação e tra- gicas superiores passa necessariamente
balho. Segundo a concepção histórico- pela mediação do outro e da linguagem. O
-cultural, o ser humano se constitui hu- desenvolvimento humano é intersubjetivo
mano através do outro (pedagógico) nas e discursivo. A conceitualização está en-
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tre essas funções psicológicas superiores. O presente texto parte de algumas refle-
No entanto, o contexto social em que os xões originadas de professores que atuam
indivíduos estão inseridos é fundamental nos cursos de formação docente na Esco-
para que esse desenvolvimento aconteça. la de Aperfeiçoamento dos Profissionais
Bakhtin acrescenta que não há locução da Educação – EAPE. Preocupados com
sem interlocução, ou seja, a palavra do lo- as inquietações e relatos dos professores
cutor deve ser dirigida à palavra interna do cursistas envolvidos no processo de inclu-
interlocutor para que haja o diálogo. E o di- são, esses questionam e buscam por meio
álogo entre dois sujeitos, o sujeito apren- de pesquisas respostas que atendam aos
dente/ensinante e o sujeito ensinante/ problemas relacionados à formação dos
aprendente, deve necessariamente ocor- profissionais para escola inclusiva. Uma
rer para que haja ensino aprendizagem e, das questões, diz respeito ao Atendimen-
portanto, desenvolvimento humano. Ter a to Educacional Especializado-AEE, que
compreensão desse processo é essencial fundamenta-se nos marcos legais, políti-
para a formação continuada do profes- cos e pedagógicos que orientam a imple-
sor que trabalha na Educação de Jovens e mentação de sistemas educacionais inclu-
Adultos (EJA). Por isso, no curso de forma- sivos. AEE, pela legislação, é o conjunto
ção docente realizado pela Escola de Aper- de atividades e recursos pedagógicos e de
feiçoamento de Profissionais de Educação acessibilidade, organizados institucional-
(EAPE), abordamos esses fundamentos mente, prestados de forma complemen-
educacionais. Esse trabalho analisa e dis- tar ou suplementar a formação dos alunos
cute o processo de ensino-aprendizagem público alvo da educação especial, matri-
de indivíduos nas escolas de EJA do Dis- culados no ensino regular e deverá ser re-
trito Federal em que indivíduos situados alizado em sala de recurso multifuncional
em contextos de diversidade podem ter ou em centro de atendimento educacio-
acesso a conhecimentos que possam ser nal especializado. A formação de profes-
utilizados para além da escola. sores para atuação no AEE foi formatada
e proposta inicialmente pelo Ministério
Palavras-chave: Diversidade, Trabalho e da Educação, posteriormente foram reali-
Educação de Jovens e Adultos. zados alterações pelo grupo da educação
Contato: Renato Ferreira dos Santos, SEE-DF, especial da EAPE, para que atender as
reneja.12@gmail.com necessidades dos professores envolvidos
com os processos de inclusão dos alunos
com deficiência, os diversos transtornos
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES e altas habilidades do Distrito Federal. A
PARA ATENDIMENTO EDUCACIONAL versão 2011, foi planejada na modalidade
ESPECIALIZADO CONTRIBUI NA semipresencial, com 129 horas de ativi-
PROMOÇÃO DA INCLUSÃO ESCOLAR? dades na plataforma Moodle e 51 horas
Susana Silva Carvalho - SEE-DF/EAPE – GPEE presenciais. E o objetivo, do curso, foi de
susanaxedas@gmail.com conceituar e caracterizar as deficiências,
Leda Regina da Bitencourt Silva - SEE-DF/ o transtorno global do desenvolvimento,
EAPE – GPEE as altas habilidades/superdotação com
ledaregina@yahoo.com.br vistas à elaboração do plano pedagógi-
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ticipação, por meio de projetos, em duas Constata-se que ela ajuda a derrubar todo
salas de 4a série PIC. A pesquisa acompa- tipo de barreiras à aprendizagem e que
nhou o desenvolvimento dos trabalhos ela pode propiciar o contato com temas,
por meio de registros das observações em técnicas e tecnologias atuais e descortinar
diário de campo e por meio da filmagem e para os alunos novas áreas de interesse.
fotografia das atividades e das produções As competências básicas de leitura, es-
dos alunos. Os resultados da pesquisa crita, ciências e matemática envolvidas
mostram que o agrupamento de alunos nessas atividades se tornam, assim, meios
com vários tipos de dificuldade na sala PIC que os alunos se empenham em dominar
(alunos com deficiências, dificuldades de para atingir os objetivos por eles previstos
aprendizagem, problemas sócio-afetivos e e assumidos (Portela, 2010). Em relação
outros) constitui um desafio quase impos- aos fatores que condicionam o sucesso
sível de ser enfrentado com sucesso pelo escolar, as nossas observações nos levam
professor da sala sozinho. Por outro lado, a afirmar que os modos de organização e
a participação da equipe de pesquisa em distribuição de alunos nas classes consti-
sala de aula, assim como o trabalho inte- tuem, ainda, importantes condicionantes.
grado entre as professoras permitiu obser- Embora seja possível e desejável trabalhar
var que quando a classe se propõe metas com alunos com diferentes características,
de curto, médio e longo prazo e assume alguns tipos de agrupamentos revelam-se
um projeto coletivo e quando o professor pouco eficazes para promover o trabalho
recebe apoio, seja de outros professores escolar e a aprendizagem dos alunos. Na
da escola, seja de outros eventuais partici- sala PIC, o agrupamento obedece ao cri-
pantes do processo escolar, o avanço é sig- tério ‘alunos com dificuldades’. Esse tipo
nificativo. Outro resultado da observação de agrupamento, que lembra a ‘classe
participante permite apontar o trabalho especial’, com o agravante de concentrar
por projetos (Hernández, 1998, 2000; Rei- numa única classe todo tipo de dificulda-
ly e Laplane, 2011) como uma das ferra- des (socioeconômicas, culturais, de com-
mentas capazes de potencializar a apren- portamento, aprendizagem e também
dizagem, já que insere os conteúdos disci- deficiências e necessidades especiais) di-
plinares em um contexto que extrapola a ficulta a troca entre os alunos e a tarefa
tarefa escolar e promove o conhecimento de ensinar da professora. Por isso, a pre-
sobre a vida da família, da comunidade sença da equipe de pesquisa na sala de
e da sociedade. A partir da formulação e aula melhorou as condições de trabalho.
implementação das propostas de inter- Nesse sentido, o trabalho em pequenos
venção nas salas de aula emerge – do ro- grupos coordenados por um adulto profi-
tundo sucesso alcançado na condução das ciente que possa abordar as dificuldades e
atividades – a ideia de que a integração de as necessidades dos alunos de forma pon-
disciplinas e o estabelecimento de parce- tual se apresenta como proposta plausível
rias entre as professoras dinamiza, apoia para melhorar a qualidade do ensino, nas
e promove o trabalho escolar, ampliando turmas em que é preciso dispensar aten-
o significado cultural das atividades. Nes- ção especial a alguns alunos. Finalmente,
se sentido, a disciplina de Artes confirma a reflexão sobre a estrutura escolar e so-
seu potencial como elemento integrador. bre o papel das funções não-docentes na
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que precisa ser privilegiado por pesqui- diferenças entre os alunos com necessi-
sas sistemáticas voltadas para a constru- dades educacionais especiais (ANEE): au-
ção de políticas públicas adequadas para ditivo, visual, deficiência intelectual, física
este segmento. Além disso, reitera-se a ou múltipla. Os marcos referenciais para
necessidade de novos estudos na área de a Inclusão Escolar envolvendo educado-
psicologia do desenvolvimento, buscando res, familiares, pessoas com necessidades
o aprofundamento dos aspectos identi- educacionais especiais (PNEE) e, poste-
tários deste grupo de jovens, tais como riormente, a criação do Ensino Especial
organização política, diversidade cultural, definida na Lei de Diretrizes e Bases da
além do reconhecimento social e afetivo. Educação Nacional 9.394/1996, foram
Assim, o tema da juventude no contex- a Conferência Mundial sobre Educação
to da diversidade mostra-se campo fértil para Todos (1990 – Tailândia); a Confe-
de investigação da Psicologia do Desen- rência Mundial sobre Necessidades Edu-
volvimento comprometida com o reco- cacionais Especiais (1994 – Salamanca) e
nhecimento das diferenças e respeito às a Convenção de Guatemala (2001). O fato
identidades, especialmente no contexto da Inclusão Escolar ser discutida, predo-
brasileiro, contribuindo com indicadores minantemente, no contexto da Educação
teóricos para problematização da condi- Especial, acarretou a falsa ideia de que sua
ção juvenil na universidade e para a cons- proposta é para os ANEE’s. Deste modo,
trução de políticas públicas voltadas para o termo Inclusão Escolar passou a ser
este público. compreendido como sinônimo de Ensino
Especial (Carvalho, 2009). No entanto, en-
Palavras-chave: processos identitários, tendemos que incluir pressupõe admitir a
desenvolvimento afetivo, universitários de todos. Questões que merecem destaque
origem popular quando o assunto é Inclusão Escolar in-
Contato: Sueli Barros da Ressurreição, UNEB, cluem: Inclusão Escolar como privilégio
suelibarros13@gmail.com apenas de ANEE’s? Onde ficam outras
expressões de diversidade? Diversidade
pressupõe identidade pessoal: modos de
LT07-761 - A DIVERSIDADE COMO ser, agir; gênero; faixa-etária; classe social
PRESSUPOSTO BÁSICO NOS PROCESSOS e econômica; religião; sexualidade; re-
DE INCLUSÃO ESCOLAR gião; cultura; escolaridade; etnia; alunos
Izete Santos do Nascimento - SEEDF com dificuldade de aprendizagem, entre
izesantos@uol.com.br outros. Diversidade significa que cada in-
Rute Nogueira de Morais Bicalho - UAB divíduo tem o direito de não ser “absor-
arutebicalho@gmail.com vido de modo genérico” (Abramowicz E
Silvério, 2005, p.103). A proposta deste
Diversidade e Inclusão Escolar são temas trabalho é ampliar as discussões sobre o
recorrentes e amplamente discutidos em conceito de Inclusão Escolar para além de
livros, revistas, periódicos e artigos edu- sua associação com os ANEE’s. Seguindo
cativos em geral. A diversidade do público os pressupostos da pesquisa qualitativa,
existente no ambiente escolar tem sido foram realizadas entrevistas semiestrutu-
investigada prioritariamente focando as radas e observações do contexto escolar
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sa buscou contribuir para que a educação, 1988; Freitas E Khulman Jr, 2002; Dahl-
de fato, possa garantir a inclusão de to- berg, Moss e Pence, 2003; Priore 1996 e
dos os alunos que adentram os muros das 2000; Vasconcelos e Sarmento, 2007). A
escolas. Na perspectiva inclusiva, a escola sociologia da infância propõe como ob-
precisa de adequações que valorizem o jetos de estudo a criança, compreendida
profissional de educação; formação ade- como ator social, e a infância, como cate-
quada; equilíbrio e aperfeiçoamento das goria social do tipo geracional (Sarmento,
estruturas escolares; promoção da igual- 2008). Avessa à invisibilidade infantil, cí-
dades de oportunidade (Carvalho, 2009). vica ou científica, e à definição de criança
Sobretudo, o cotidiano escolar exige no- centrada na negatividade, propõe estudos
vas posturas educativas e humanitárias, que estejam atentos à complexidade da
capazes de mudar os homens, construir vida concreta. Ariès (1988) inaugurou uma
pontes entre educação escolar e vida em perspectiva da compreensão da infância
sociedade, na formação de indivíduos como categoria socialmente construída,
que, em diálogo com seu semelhante/ assim como estudiosos, tais como Stearns
diferente, encontrem caminhos para uma (2006) e Heywood (2004). No Brasil, pes-
vida melhor a partir do reconhecimento e quisadores (Priore, 1996 e 2000; Freitas,
respeito das diversidades individuais. 2007; Freitas e Khulman Jr., 2002; Rizzini,
2004; Pinheiro, 2006) têm estudado a his-
Palavras-chave: inclusão escolar, ensino tória da infância, deixando clara a sua con-
especial, diversidade dição de exploração, desrespeito e invisi-
Contato: Izete Santos do Nascimento, SEEDF, bilidade. Fazer antropologia, afirma Cohn
izesantos@uol.com.br (2005), “é tentar entender um fenômeno
em seu contexto social e cultural” (p. 9).
Desde a década de 20, antropólogos vêm
LT07-765 - CRIANÇA E INFÂNCIA NO estudando a infância em suas peculiari-
MOVIMENTO DOS TRABALHADORES dades e distintos contextos. Estudos vêm
SEM TERRA: OS SEM TERRINHA NAS tomando a cultura como dado simbólico,
REVISTAS acionado por atores sociais que dão senti-
Ângela de Alencar Araripe Pinheiro - UFC do à sua experiência. Pretende entender o
a3pinheiro@gmail.com lugar da criança e da infância como sistema
Ana Maria Monte Coelho Frota - UFC simbólico. Gomes (2008) re-afirma a ne-
anafrota@ufc.br cessidade de se considerar a criança “em
seus próprios termos” (p. 85), chamando
A partir de estudos feitos por diferentes a atenção para sua especificidade. A filo-
campos de conhecimento, consideramos sofia (Koan, 2004 e 2007; Agamben, 2005)
tese irrefutável a afirmação de que não vem discutindo esse tema: a infância pre-
se pode falar de infância partindo-se de cisa dizer-se, para ser. Com base na neces-
uma perspectiva a-histórica e essencialista sidade da criança se dizer, para ser escu-
(Sarmento e Gouveia,2008). É necessário tada verdadeiramente, construímos este
afirmar que a infância é um tempo de vida, projeto de investigação: Criança e infância
construído a partir das relações com os no Movimento sem Terra, com o objetivo
outros, em contextos particulares (Aries, de conhecer os significados de criança e
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luta, assumida e travada pelos sem terra, do Estado do Espírito Santo, os municípios
também é deixada muito evidente. A or- de São Mateus e Conceição da Barra. De
ganização interna do Movimento é apre- acordo com (Silva, 2005), há no território
sentada, através de texto bem escrito e quilombola do Sapê do Norte, 39 comuni-
adaptado à linguagem infantil. Chama-nos dades, cujo grande desafio atualmente é
a atenção a apresentação que é feita dos ter reconhecidos os seus direitos de pos-
Sem Terrinha, através de características: se e titularidade das terras. Apresentare-
“Mas os Sem Terrinha são muito corajo- mos dados das escolas das comunidades
sos”; “E como Sem Terrinha não tinham quilombolas, articulando reflexões sobre
nada de bobo, gritaram bem alto para os as experiências pedagógicas ali realizadas
soldados: nós não queremos balas, quere- com ideias centrais de Vygotsky (1991),
mos terra para os nossos pais” (Sem Ter- tais como a mediação do outro na cons-
rinha, 2009); “nós sem terrinha fazemos trução de significados que nos permitem
parte desde o início da luta pela terra” pensar o mundo que nos cerca e o papel
(Sem Terrinha, 2010). Fica-nos a pergunta da afetividade e das relações intra e extra-
a ser refletida: como esses conteúdos de -escolares no desenvolvimento do sujeito
significação identitária são (re)construídos que aprende. Do final do século XIX até
pelos próprios sem terrinha? Nossa inves- quase o final da segunda metade do sé-
tigação há de abordá-la, com a profundi- culo XX, os quilombos foram tratados na
dade possível. historiografia e na educação brasileira
como se restringindo aos “redutos de es-
Palavras-chave: criança, MST, infância cravos fugidos” e a experiências do perío-
do escravista. No entanto, por todo o país,
agrupamentos negros rurais suburbanos
LT07-1271 - EDUCAÇÃO ESCOLAR e urbanos se constituíram não somente
QUILOMBOLA: MEMÓRIA E VIVENCIAS como fuga ou resistência direta ao siste-
DE SABERES NAS COMUNIDADES ma vigente, mas como uma “busca espa-
QUILOMBOLAS DO SAPÊ DO NORTE: ES cial” (NASCIMENTO, 1989), na construção
INTERFACES NA ESCOLA de território que é social e histórico, atra-
Olindina Serafim Nascimento - UFES vés da manutenção e reprodução de um
modo de vida culturalmente próprio. Após
O presente trabalho é um recorte de uma mobilizações regionais em que estiveram
pesquisa em andamento no curso de Pós- envolvidos militantes e parlamentares ne-
-Graduação no PPGE-UFES que vem retra- gros e entidades de apoio, a abordagem
tar a necessidade de considerar a memó- do tema assumiu outra direção com a
ria e o saber acumulado dos mais velhos publicação do artigo 216 na Constituição
do território do Sapê do Norte, úteis nos Federal que se refere diretamente aos
conteúdos das escolas nas comunidades quilombos. Nos últimos vinte anos, os ne-
quilombolas, visando criar caminhos me- gros rurais, em todo o território nacional,
todológicos-pedagógicos para o desenvol- organizados em Associações Quilombolas,
vimento do processo educativo. O territó- reivindicam o direito à permanência e ao
rio do Sapê do Norte-ES inclui as comuni- reconhecimento legal da posse das terras
dades quilombolas de toda a região norte ocupadas e cultivadas por eles para mora-
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dia e sustento, bem como o seu modo tra- para transformar. É papel da escola, de
dicional de viver, o livre exercício de suas forma democrática e comprometida com
práticas, crenças e valores culturais consi- a promoção do ser humano na sua inte-
derados em sua especificidade. A história gralidade, estimular a formação de valo-
da educação escolar quilombola tem sido res, hábitos e comportamentos que res-
marcada pela instabilidade e pelo descaso. peitem as diferenças e as características
Da conquista da escolaridade à existên- próprias de grupos e minorias (Diretrizes
cia dos estabelecimentos de ensino nas Curriculares/Afro-Brasileiro). O processo
comunidades, passaram-se muitas lutas pedagógico para as comunidades quilom-
travadas com os poderes constituídos res- bolas difere dos demais, em função de es-
ponsáveis pelas políticas publicas. A pre- tar baseado em uma pedagogia vinculada
sença de escolas, muitas vezes, parece ser a um movimento de luta social visando
mais uma concessão governamental do reparações, reconhecimento e valoriza-
que uma obrigação em assegurar direitos ção da identidade, da cultura e da história
(GT Educação quilombola, 2008). Entre as dos negros e negras brasileiros. Nos qui-
reivindicações das Associações Quilombo- lombos, o currículo presente não poderá
las estão o direito à educação e a efetivi- permanecer insensível ao diferente capi-
dade da Lei 10.639/2003 de 09/01/2003, tal cultural de origem familiar e social que
que estabelece as diretrizes e bases da os alunos carregam no seu dia-a-dia para
educação nacional, para incluir no currí- a escola. Para atuar nas escolas das comu-
culo oficial da Rede de Ensino a obriga- nidades de quilombo, é necessário que os
toriedade da temática “História e Cultura professores tenham competência cultural
Afro-Brasileira”. A população quilombola para entender que os alunos são seres so-
busca não apenas o direito ao estudo, mas ciais com uma bagagem peculiar de cren-
lutam também para que suas tradições e ças, significados, valores, atitudes e com-
pertencimento sejam temas constantes portamentos adquiridos em ambientes
no currículo escolar. Atualmente, pela via extra-escolares que devem ser considera-
dos movimentos sociais, temos consegui- dos (Perrenoud, 2000). A etno-conclusão
do avanços em relação à incorporação da do nosso trabalho entende que a garantia
cultura afro-descendente nos currículos legal é um primeiro passo nesse campo de
escolares, mas a diversidade do povo bra- lutas contra a discriminação, mas ainda
sileiro enquanto alvo do processo educa- precisamos efetivar de fato essas discus-
cional ainda permanece como desafio nas sões nos cotidianos escolares. É necessá-
escolas. A educação constitui-se um dos rio um novo olhar, que valoriza o saber
principais mecanismos de transforma- acumulado, a tradição, a experiência vivi-
ção de um povo. De acordo com (Nunes, da e as reflexões feitas por aqueles que de
2006), uma concepção de educação que fato experienciaram o fato de serem ne-
vá ao encontro dos interesses emancipa- gros nessa nação. Entendemos que é fun-
tórios que as comunidades quilombolas damental o amplo acesso dos professores
vêm construindo requer a promoção de e professoras a uma formação específica,
uma leitura de mundo que dê ênfase à sua que empregue materiais e equipamentos
trajetória histórica, como lembrança viva pedagógicos que tratem diretamente das
de que o tempo não esvaece a disposição questões étnicas e raciais; estes são raros.
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Essencial também é o acesso dos alunos famílias carentes passam por necessidades
a materiais didáticos elaborados regional- básicas; as crianças permanecem na escola
mente que tragam perspectivas afirmati- em turno integral. Com fundamentação te-
vas para os negros. Nas comunidades qui- órica na Psicologia e na Educação, a investi-
lombolas, o direito a educação deve ser gação busca compreender as diversas pos-
entendido como um processo de desen- sibilidades de viver a infância. Utilizamos
volvimento humano e cultural. Nas esco- como instrumento de pesquisa o desenho
las quilombolas, é necessário fomentar o representando episódios de uma criança e
conhecimento, a valorização e o respeito suas falas sobre um dia livre (Schmid-Kitsi-
à descendência africana, à sua cultura e à kis, 1994). A partir das falas das crianças,
história, construindo sujeitos cidadãos e foram organizadas categorias a posterio-
cidadãs e não apenas meros dominadores ri e sobre estas foi realizada uma análise
de competência e habilidades técnicas. A quantitativa e qualitativa, cruzando a fre-
formação para a cidadania procura liber- quência e porcentagem do aparecimento
tar a população quilombola do processo das categorias a partir do conteúdo reve-
alienante, historicamente constituído, no lado pelas mesmas. O grupo de crianças
qual a formação acadêmica do negro era pesquisado, na faixa etária ente 5 e 6 anos,
limitada, enquanto mão de obra barata, e expressa suas idéias por meio de falas e
não o levava a galgar espaços relacionais desenhos. Os episódios foram desenha-
dos quais fora para eles definidos. dos em seis momentos, desde o acordar
até a hora de dormir, detalhes da forma
Palavras-chave: educação, escolar quilombola, que preenchem seu dia e as brincadeiras
território - Sapê do Norte que vivenciam tornando-se informantes
privilegiados. O pesquisador entrevista
o participante de forma que este relate
LT07-1439 - AS POSSIBILIDADES DE as intenções que teve no seu desenho e,
VIVER INFÂNCIAS SOB O OLHAR E conjuntamente, manifestam sentimentos
DESENHAR DAS CRIANÇAS e emoções ao decodificar seus traços re-
Simone Brehm Wurzel - CESUCA gistrados no papel. Os desenhos e falas re-
simone.wurzel@terra.com.br velam que é pelas interações nos espaços
Márcia Elisabette Wilke Franco - CESUCA da casa, da rua e da escola que elas vivem
Camila Francisco Zanette - CESUCA as suas diferentes atividades, explicitando
Felipe Pereira de Assis - CESUCA distintas possibilidades de infância. Os re-
sultados indicam o quanto as culturas de
Este trabalho é resultado de uma pesqui- infância dependem das interações e dos
sa empírica com contextualização teórica significados dos lugares reconhecidos pe-
das disciplinas do curso de Psicologia da las crianças. A dinâmica das interações em
Faculdade CESUCA – Complexo de Ensino cada um desses espaços é própria. A esco-
Superior de Cachoeirinha/RS, em uma es- la é mais um lugar para crianças viverem
cola pública infantil, região metropolitana suas infâncias. Elas não são passivas nas
da grande Porto alegre. A instituição que situações de entretenimento; elas são ati-
participa da pesquisa atende crianças de vas protagonistas. Elas têm presente que a
classe média baixa, tendo casos em que as não-ludicidade faz parte da vida. O lúdico e
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dade. Neste trabalho, têm-se como obje- aprendizagem, mas dentro de um com-
tivos: analisar as representações sociais plexo contexto social e institucional”. Não
de infância dos acadêmicos de licenciatu- há uma formação acabada, o professor
ra em química, física e matemática de necessita de uma constante movimenta-
uma instituição pública de Joinville; dis- ção, buscando aperfeiçoar fazeres. Se-
cutir as representações sociais dos aca- gundo Freire (2011, p.1): A responsabili-
dêmicos dos referidos cursos quanto à dade ética, política e profissional do ensi-
adolescência, e relacionar as representa- nante lhe coloca o dever de se preparar,
ções sociais apresentadas pelos acadêmi- de se capacitar, de se formar antes mes-
cos destes cursos de formação de profes- mo de iniciar sua atividade docente. Esta
sores e a educação. A EDUCAÇÃO VOLTA- atividade exige que sua preparação, sua
DA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES. capacitação, sua formação se tornem
A formação docente tem suas problemá- processos permanentes. Sua experiência
ticas enraizadas na história, partindo daí docente, se bem percebida e bem vivida,
os desafios da contemporaneidade. A vai deixando claro que ela requer uma
exigência ao professor é demasiada, a ele formação permanente do ensinante. For-
são dadas inúmeras responsabilidades. mação que se funda na análise crítica de
Será que a educação oferecida aos pro- sua prática. A prática profissional oportu-
fessores em suas formações é suficiente niza ao docente aprendizado cotidiano,
para eles encararem todas as dificulda- quando tal permite-se invadir e almejar o
des, desafios e principalmente responder curiosear dos alunos. De acordo com
de forma positiva a maioria das exigên- Freire (2011, p.1): Não existe ensinar sem
cias feitas? Não. Para o professor conse- aprender. O aprendizado do ensinante ao
guir administrar as facetas existentes é ensinar não se dá necessariamente atra-
necessário ir além dos muros de uma ins- vés da retificação que o aprendiz lhe faça
tituição. Gradativa e historicamente vem- de erros cometidos. O aprendizado do
-se focalizando a importância na forma- ensinante ao ensinar se verifica a medida
ção de professores, em passos miúdos, que o ensinante, humilde, aberto, se
mas que proporcionam em longo prazo ache permanentemente disponível a re-
grandes mudanças. É ampla a responsa- presentar o pensado, rever-se em suas
bilidade das Universidades e Faculdades posição; em que procura envolver-se
na formação profissional de docentes. A com a curiosidade dos alunos e dos dife-
ela cabe além de simplesmente passar- rentes caminhos e veredas, que ela o faz
-lhes a teoria, instigar, deixar claras as di- percorrer. A educação vem-se transfor-
ficuldades e desafios, sua importância na mando, assim como o modo de formar os
formação de cidadãos, descentralizando profissionais desta área, concomitante-
do sujeito a culpa pelas dificuldades e fo- mente a maneira de aprender e a relação
calizando o contexto social. Segundo Pe- professor-aluno. Por isso é fundamental
nin (2001, p. 9) um dos princípios citados conhecer as representações sociais que
para formação de professores é que ele: os futuros docentes, atuais licenciandos,
“... deve partir da noção de que a docên- possuem a respeito da infância e da ado-
cia não se realiza num quadro abstrato de lescência, objeto de seu trabalho. REPRE-
relações individualizadas de ensino e SENTAÇÃO SOCIAL SOBRE INFÂNCIA. Há
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uma grande diversidade da forma como Tudo é mais disponível, mais liberado,
os professores percebem as crianças e as descartável. As facilidades e soluções que
suas representações sobre a infância, a os jovens encontram para resolver seus
educação infantil e seu próprio trabalho, problemas são muito mais rápidas que há
pois, constroem ao longo de suas histó- algum tempo atrás. A falta de espaço
rias de vida, ideias de como devem ser para o amadurecimento tem preocupado
educadas as crianças. As concepções re- os educadores, inclusive quanto ao com-
lacionadas à infância e compartilhadas portamento dos alunos e suas perspecti-
em uma sociedade determinam as atitu- vas em relação à educação. Muitas vezes
des e práticas educativas e suas intera- os adolescentes sabem tudo do mundo
ções com as crianças. Como afirma Nu- virtual, mas estão com os pés longe do
nes (1994) o conceito de infância varia chão, sonhando com uma realidade que
entre distintas classes e culturas, o que não existe. Por este motivo, conhecer as
gera expectativas e demandas diferentes representações sociais dos futuros pro-
quanto ao processo de desenvolvimento fessores sobre a adolescência é um passo
das crianças, ou seja, motiva a constru- fundamental, pois oportuniza a eles
ção de várias imagens a respeito delas. maior conhecimento da realidade. ME-
Estas imagens são determinantes na prá- TODOLOGIA. Foi aplicado aos alunos da
tica educativa, nos mais diversos contex- disciplina de Psicologia da Educação de
tos sociais. Os professores são adultos uma instituição pública de Joinville um
que já passaram pela infância, e suas vi- questionário com perguntas abertas a
vências marcam profundamente as re- fim de verificar a percepção dos acadêmi-
presentações que constroem sobre as cos quanto à infância e a adolescência.
crianças e suas famílias, influenciando na Os questionários foram aplicados entre
prática educativa. Os educadores defi- os meses de março e abril de 2011. A ta-
nem a criança de forma simbólica e como bulação dos dados foi realizada através
um ser em desenvolvimento, a partir de da técnica da análise de conteúdo pro-
uma idealização que dela fazem, e da posta por Bardin (2002). Esta técnica me-
percepção de suas necessidades. Além todológica consiste em que o pesquisa-
da infância, os licenciados também ne- dor construa conhecimentos através da
cessitam conhecer as características dos análise do discurso e da organização das
adolescentes, pois isso irá demonstrar a palavras utilizadas pelo entrevistado. As
forma como eles irão trabalhar com esta questões apresentadas para os acadêmi-
faixa etária. REPRESENTAÇÃO SOCIAL SO- cos foram: como é a infância e a adoles-
BRE ADOLESCÊNCIA. A adolescência, uma cência hoje; conte uma história da sua
fase em que o jovem não é nem criança infância ou adolescência; o que é ines-
nem adulto, está repleta de confusões. quecível para você nestes dois períodos e
As representações sociais dos adolescen- o que se poderia fazer para mudar a rea-
tes são (re) criadas a todo o momento, lidade atual em relação a infância e a
bem como, na sociedade atual, a adoles- adolescência. RESULTADOS E DISCUS-
cência também foi recriada, seu tempo SÕES. Através de questionário respondi-
se estendeu: começa mais cedo e está do pelos alunos dos cursos de licenciatu-
terminando mais tarde (OLIVIERA, 1997). ra em química, física e matemática, per-
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cebe-se que eles veem a infância e a ado- bém sobre a vida em família, mencionan-
lescência nos dias atuais como complica- do a relação com os avós. Afirmam que
das, afirmando que tem uma tendência gostavam de tomar banho de rio e viajar
inclusive da infância ir desaparecendo com os pais. Um deles mencionou que
aos poucos. Mencionaram que não exis- gostava de ver, por horas, a mãe dese-
tem mais crianças como antigamente. A nhando e que deixavam a imaginação
adolescência está se antecipando e as guiar a brincadeira. Outros pontos elen-
crianças param de brincar cada vez mais cados foram: os primeiros contatos com a
cedo. Consideram que os adolescentes vida noturna, o amadurecimento pesso-
vivem em uma sociedade violenta, ex- al, as afinidades, o primeiro namorado,
postos a marginalidade e as drogas. A se- amizades da época e o aprendizado com
xualidade também é vivenciada precoce- os professores, pais e o com experiência
mente. Acreditam que as crianças e ado- de vida deles. O carinho dos pais, que
lescentes estão muito presos a tecnolo- sempre observavam tudo que faziam, em
gia, e deixam de lado brincadeiras que fim todas as descobertas feitas neste pe-
envolvem o grupo. Isso afeta o desenvol- ríodo foram apontados como aspectos
vimento social. Apresentaram como pro- positivos. Arrumar toda a bagunça, cair
blemática a falta de tempo dos pais para de bicicleta, a morte do padrinho na in-
darem atenção aos filhos, o que conduz, fância, o fato de ter passado tanto tempo
segundo eles a insegurança, a falta de ob- sozinho na adolescência, a questão dos
jetivos e limites. Afirmam que os adoles- conflitos no casamento dos pais, as ami-
centes estão cada vez mais sedentários e zades deixadas para trás, as mudanças
que os jovens vão a festas, se drogam, repentinas no corpo, as brigas como os
bebem, sem pensar nas consequências, e pais ou a super proteção por parte deles,
deixam os estudos de lado. Além disso, o jeito antigo deles pensarem, preconcei-
estabelecem uma análise baseada no tuosos em alguns casos, a distância da
contexto em que vivem, algumas preci- mãe que morava em outra cidade e uma
sam trabalhar desde jovens, outros se desilusão amorosa são os pontos negati-
sentem mais solitários. Os acadêmicos vos da fase. Um dos entrevistados disse
relatam sobre travessuras, acontecimen- que não tinha nenhuma história a ser
tos trágicos, contam fatos relacionados contada, pois tinha uma realidade triste
com a vida escolar, sobre a dedicação pa- na adolescência e outro menciona ainda
terna e outros sobre brigas com amigos a questão do bullying sofrido na escola. A
da mesma idade durante estes períodos. pergunta que se referia ao que poderia
Quando questionados sobre os momen- ser mudado em relação a realidade atual
tos inesquecíveis destas fases menciona- na infância e na adolescência, afirmaram
ram como pontos positivos: as férias em que depende como as pessoas agem, dos
casa de parentes, a reunião familiar, o valores que transmitem e ensinam. Tam-
primeiro beijo, andar de bicicleta, as bém disseram que depende do contexto
brincadeiras de boneca e liberdade para onde estão inseridos, que é necessário
brincar nas ruas, ir à escola, mudança de maior imposição de limites, dar mais
cidade e de amigos. Suas únicas respon- atenção as crianças e mostrar que tudo
sabilidades eram estudar. Relatam tam- tem seu tempo para acontecer. É neces-
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de atual. Para isso foi necessária a deli- filho”, “Família a gente não escolhe. Tem
mitação dessa etapa, diferenciando-a da gente boa e tem gente ruim” e “Às ve-
adulta. O conceito de diferenciação ado- zes tem gente que está muito próxima e
tado foi o proposto por Françoise Dolto acaba virando uma família” reforçam a
(2004), segundo o qual um jovem se tor- idéia da flexibilidade desse conceito. No
na adulto quando consegue se libertar entanto, houve consenso na visão da fa-
da influência e da angústia dos pais, ou mília como um modelo a ser seguido pelo
seja, quando consegue “caminhar com as jovem, fornecendo uma base de valores e
próprias pernas”, ser independente, não orientando suas atitudes. A comunicação
apenas financeiramente, mas emocional- familiar foi vista como algo importante
mente. Por conseqüência não é a idade por todos, mas que ocorre com limitação
que faz da pessoa um adulto, mas sim de assuntos e é colocada como variando
seu grau de autonomia. Para este estudo de acordo com os pais, como podemos
utilizou-se um grupo focal composto por observar nas falas: “É difícil um adoles-
sete estudantes de ensino médio com cente se aproximar da mãe e contar de-
idades entre 15 e 20 anos, sendo quatro terminadas coisas, porque tem vergonha,
do sexo masculino e três do sexo femini- aí conta pros amigos”, “A gente conversa
no. O grupo foi realizado dentro de uma sobre assuntos que passam na televisão
instituição de Ensino Médio da Secreta- (...) mas nunca eu comecei o assunto. Se
ria de Educação do Distrito Federal em eles puxarem o assunto, eu converso” e
Brasília – DF, Plano Piloto, com consen- “Se os pais dão abertura, o adolescente
timento da mesma, sendo a participação vai perguntar qualquer coisa”. De acor-
dos alunos voluntária. Estes debateram do com a literatura há uma maior busca
a respeito de questões previamente ela- de diálogo com a mãe (Carmona, 2000),
boradas pelas pesquisadoras, como o sendo esta considerada uma pessoa mui-
conceito de família, a comunicação e as to coerente e com grande capacidade de
regras familiares e a rebeldia na adoles- entendimento, responsável pelo cuidado
cência. Para o devido registro e análise e pela mediação das relações familiares.
posterior dos dados utilizou-se um gra- Já os participantes chegaram à conclusão
vador com a permissão de todos os su- de que a busca por um membro especí-
jeitos. Após esta etapa foi entregue aos fico da família varia conforme o assunto
participantes uma folha para que escre- e o grau de afinidade. Quando questio-
vessem o que “amam” e o que “odeiam” nados sobre a necessidade de regras, en-
em suas famílias, além de outros assun- tendida por alguns como dar satisfação,
tos que desejassem abordar. A análise foi surgiram respostas como: “Regras vão te
feita de forma qualitativa de acordo com ajudar na sociedade” e “Dar satisfação
as interpretações das pesquisadoras com não é bom, mas é uma coisa necessária
base no referencial teórico. Os resultados que você tem que aprender desde cedo
revelaram que o conceito de família para porque vão te cobrar isso lá fora”. Essas
esses jovens não se restringia ao modelo idéias apóiam a teoria da família como
padrão de família como necessariamente fornecedora de uma base ao indivíduo
boa e composta por pai, mãe e filhos. As no que diz respeito às regras e normas
falas “Pode ser pai com filho, mãe com essenciais para o convívio em sociedade
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planejando e revendo projetos terapêuti- da própria fase adulta. Além disso, o caso
cos para cada caso atendido, que pode en- ajuda a repensar também a prática clínica,
volver as três vertentes de trabalho – psi- no sentido de estar atrelada a uma busca
canálise, psiquiatria e terapia de família –, por uma cura, possuindo, então, um fim.
ou duas, ou apenas uma delas. No contex- Françoise Dolto (1988) sugere a adoles-
to do Proadolescer, em que grande parte cência como uma fase de mutação, que,
dos casos, por sua gravidade, demanda no entanto, é mais comumente definida
um atendimento aos pais, é possível que por características biológicas ou fisiológi-
este atendimento seja levado a cabo por cas do que pelos aspectos subjetivos. O
uma terapeuta de família, preservando corpo é um sinalizador, contudo, não é
assim a relação entre adolescente e psica- um determinante para que a adolescência
nalista. Há outros casos, também, em que e suas vicissitudes se instalem. Mais ain-
os pais comparecem apenas às consultas da, ela traz a idéia do adolescente como
psiquiátricas, resguardando-se o espaço um ser que não é: não é criança e não é
de análise do adolescente. Por promover adulto. Para resolver esse conflito, o ado-
estratégias integradas de tratamento, o lescente precisa passar por um segundo
programa apresenta uma solução viável Complexo de Édipo (Freud, 1905), no sen-
– e que tem se mostrado eficaz – para as tido de abandonar o amor incestuoso dos
dificuldades impostas ao analista de ado- pais, agora já fisicamente possível, para
lescentes com relação à inclusão de seus procurar um outro objeto de afeto fora
pais no tratamento. da família nuclear. Dolto (1988) pontua
que nos tempos atuais, os jovens passam
Palavras-chave: atendimento aos pais; clínica maior dificuldade para vencer essa etapa,
com adolescentes; proadolescer. devido à falta de ritos de passagem. Estes
funcionam como marcadores temporais e
sociais importantes para o entendimento
LT01-1431 - O DESENVOLVIMENTO NA dos outros em relação a este amadure-
ADOLESCÊNCIA: UM ESTUDO DE CASO cimento. Por conseqüência da visão dos
Laís de Azevedo - UnB outros, o próprio indivíduo, estando ele
laismfc@gmail.com maduro de fato ou não, pode perceber-
Regina Lúcia Sucupira Pedroza - UnB -se como adulto. Agora é o próprio jovem
rpedroza@unb.br que deve criar sua passagem, o que pode
causar grande sofrimento psíquico. Tanto
Este artigo, utilizando-se de uma situação por não estar correspondendo a um ide-
clínica, pretende discutir o desenvolvi- al da sociedade, quanto por ter que criar
mento da adolescência. Esta fase da vida por si maneiras de se separar dos pais. Ela
sempre foi vista mais como uma prepa- afirma que atualmente a independência
ração para a próxima: a idade adulta. Seu acontece de forma mais concreta pela via
objetivo parece ser formar uma ex-criança econômica, entretanto, a sociedade impe-
em um adulto completo. No entanto, o de que o jovem trabalhe. Seguindo essa
caso clínico a ser descrito traz uma série visão de ruptura, Rivelis de Paz (1978)
de questionamentos relativos a essa vi- comenta que existe um relacionamento
são geral sobre a adolescência e mesmo simbiótico entre adolescente e seus pais,
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sendo então necessária uma dessimbio- de em “mostrar quem ele realmente era”
tização, a fim de fortalecer o ego. Esta para as pessoas e queria ampliar a rede
acontece por meio de uma crise, enten- de amizades. Relatava que quando viajava
dida como a resolução de um conflito. O sozinho se sentia livre e queria se sentir
termo crise sugere instabilidade com ca- assim mais vezes. Além disso, pretendia
ráter negativo, porém nesse caso é vista “diminuir o peso da faculdade em sua
como o início de uma nova etapa. Para ela, vida”, pois seu desempenho acadêmico
é uma crise de elaboração da ruptura do o afetava em outras relações. Sua postu-
vínculo simbiótico e da nova organização ra era sempre reflexiva, porém com uma
do ego perante os pais. Durante essa crise visão majoritariamente racionalizada dos
elaborativa, podem surgir momentos de fatos. J. acredita que as pessoas o julgam
angústia, alterações do esquema corporal, e o odeiam antes mesmo de conhecê-lo,
despersonalização, sintomas fóbicos etc. culminando em uma vontade de agradar a
O termo simbiose alude a uma relação em todos. Revelou que sua mãe foi muito co-
que ambos os participantes se beneficiam brada por sua avó na juventude e para ele,
encaixando-se perfeitamente no perío- ela ainda se sente presa a essa situação.
do da infância. A criança se desenvolve Essa postura não o agrada e faz com que
de um estado de completa dependência ele se compare com ela. J. apresenta ar-
para outro de maior individuação. Este rependimentos sobre situações nas quais
caminhar, contudo não é linear. De acor- provocou sentimentos negativos em ou-
do com Wallon (1981), a adolescência re- tras pessoas. Essas lembranças são sem-
presenta o segundo momento de conflito pre as mesmas, aparecem repentinamen-
eu-outro que culminará na diferenciação te e se repetem com frequência. J. aparen-
do eu. Para todos esses teóricos, a fase da ta estar sempre na defensiva, como se os
adolescência acontece durante o período outros tivessem cobranças e julgamentos
entre doze e dezoito anos. No entanto, sobre ele. Chega a questionar todas suas
podemos refletir sobre essa fase, de for- decisões, supondo que elas foram realiza-
ma a nos questionar a respeito tanto de das por desejo de outros (mãe, pai e irmão
sua consolidação temporal quanto de sua mais velho), visto que não se conhecia e
característica finita. Será apenas uma fase precisava da aprovação deles. Relata uma
de quebra que resultará em um sujeito série de acontecimentos em que sente sua
novo, plenamente diferenciado do outro mãe excessivamente protetora. Isto é algo
ou apenas uma passagem importante na que o incomoda, chegando a afirmar que
vida? Isto é, teria a adolescência, e por sua a odeia por isso. Ao mesmo tempo em
vez, o próprio desenvolvimento, um fim, que sente o ímpeto de se separar da mãe,
um ápice? Foram estas as questões susci- deseja uma volta à sua infância perdida
tadas pelo caso clínico a seguir. J. é um jo- em meio às cobranças dela. Afirma que
vem de 20 anos, estudante de engenharia. “isto não é coisa de mãe”. O fato de ter
Filho de pais separados, mora com a mãe 20 anos faz com que J. se sinta angustia-
e o irmão mais velho, também estudante do por ainda não ter constituído seu ego.
de engenharia. Ele procurou por vontade Ele relata sentir-se velho e diz ter perdido
própria a clínica-escola da Universidade tempo na vida com algo que, para ele, de-
de Brasília com a demanda de dificulda- veria ter acontecido aos 15 anos, ou seja,
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sintática (contexto verbal) deu lugar ao ções não estiveram visíveis. Elas foram
sentido proposicional, lixo e poluição possíveis na perspectiva do contexto his-
provocam falta d’agua. Em um segundo tórico-cultural, ao capturar-se na história
caso, uma criança do ensino fundamen- da criança que, a referência incidente à
tal apresentou o seu desenho para a pes- barata promovia o sentido onde a criança
quisadora dizendo que “O cara bebeu a relacionava o lixo à falta d’agua. De forma
metade da água do copo, depois derra- diferente, no segundo caso, observou-se
mou em outro copo a água, a água saiu uma composição, a partir de elementos
voando e disse adeus mundo cruel antes gráficos no desenho e na narrativa es-
de morrer e caiu na pia”. Ao ser solicitado crita. Os elementos mantinham uma re-
pela pesquisadora que falasse um pouco lação ativa uns com os outros. Todavia,
mais devagar, pois ela gostaria de com- a perspectiva do contexto verbal não
preendê-lo melhor, a criança comple- provê explicações sobre a relação que a
mentou “Isso tem a ver que o cara tá des- criança fez entre o “Super Câmera” e as
perdiçando água, ó aqui o copo! É a única questões sobre a preservação da água.
coisa que eu vi que tem a ver... Eu vi que Os sentidos emergentes nessas condi-
simplesmente você pode morrer se des- ções não podem prescindir da história da
perdiçar muita água!”. Um tio da criança criança com os significados em questão.
que ouvia perto introduziu-se no diálogo A partir de dados construídos com dese-
e questionou “Super Câmera é?”, referin- nhos e narrativas de crianças, promoveu-
do-se a um dos super heróis de desenho -se aqui um conjunto de situações onde
animado que a criança conhece, que, en- se configuraram produção de sentidos.
tretanto, não estava presente no filme de A pretensão foi de que essas situações
curta duração. A criança então responde fossem analisadas considerando-se as-
“É, tirei da Super Câmera!”. Informa-se pectos emergentes no uso da linguagem
ainda, que o desenho que propiciou essa contrapondo-se a análise de palavras e
fala, tinha aspectos gráficos definidos, sentenças. Na condução dessa perspecti-
constituindo-se como uma composição va de análise destacou-se como parâme-
pela presença de funções coesivas, refor- tro a configuração do contexto histórico-
çadas na fala da criança sobre o desenho. -cultural, confrontando-se com o contex-
Essa criança compôs uma estória sobre o to verbal. Destacou-se que a análise do
resto da água de um copo que uma pes- contexto histórico-cultural pressupõe a
soa desperdiçou, por não toma-la toda. dinâmica de vozes sociais, aspecto au-
A diversidade, se comparada com o caso sente na análise do contexto verbal. A di-
anterior diz respeito às diferentes formas nâmica das vozes sociais, por sua vez está
de apropriação das vozes sociais. Esgotar refletida na forma de apreensão ativa de
uma análise da diversidade é praticamen- significados no discurso do outro.
te impossível. Características da história
dos autores dos diferentes desenhos Palavras-chave: Produção de sentidos;
leva-os a apropriação das vozes sociais Metodologia; Contexto histórico-cultural;
de forma diversa. No primeiro caso, na Desenvolvimento infantil.
justaposição de rabiscos circulares (pers-
pectiva do contexto verbal) as proposi-
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vras ou frases, como evidência de sucesso dois movimentos, a percepção de si, como
de condições colaborativas, no ambiente agente gestor das ações pedagógicas e
virtual, desconsiderando a qualidade das acompanhamento do fórum, e concomi-
interações e da construção coletiva de co- tantemente, a percepção do outro, no que
nhecimento. A tendência atual é associar se refere à supervisão do fórum, a elabo-
a abordagem qualitativa e a quantitativa, ração das questões e a proposição da ati-
de forma complementar os dados, empre- vidade em si, no papel de aluno. Transver-
gando a análise do conteúdo das comuni- salizando esta discussão, é fundamental,
cações. No que se refere à categoria con- no ambiente on line, o fomento à proati-
ceitos científicos e suas subcategorias, um vidade. Ela pode ser conceituada como a
dos destaques foi a contextualização, indi- capacidade de se antecipar, de prever, de
cando que nas discussões, além da apre- tomar a frente, no que tange a um deter-
sentação do conceito científico estudado, minado objetivo ou mesmo, a uma situ-
tanto os professores quanto as professo- ação. Ela está estreitamente, associada à
ras, se preocupavam em articular a este, autonomia, à curiosidade, à capacidade
reflexões ou experiências vividas na pro- de organização e à de previsão, poten-
fissão, assegurando, assim, a perspectiva cialmente, imbricada com a motivação.
teórico-prática. Esta subcategoria pode re- Por vezes, nas propostas direcionadas às
fletir o papel de professores-mediadores, discussões nos fóruns, nos planejamentos
atuando no curso de graduação, e conco- e na implementação dos conteúdos, há
mitantemente, por sua experiência como uma ‘certa’ negligência quanto o fomento
alunos (as), valorizando esta ação com- à proatividade, compreendida simples-
plementar aos conteúdos. Evitando ado- mente como autonomia, não propiciando
tar apenas o ‘modelo’ de disponibilizar o a tomada de decisão e nem assegurando
conceito no fórum, sem estabelecer rela- o espaço de proposição, por parte dos alu-
ções com a prática e sua realidade, afinal, nos. Retomando a reflexão proposta por
não se concebe o conhecimento como um Delcin (2005 citado em Bear et. al, 2009),
produto oriundo do acúmulo de informa- as novas experiências pedagógicas não
ções. Aliando à compreensão do conceito podem estar alijadas do emprego das tec-
ou pressupostos teóricos apresentados, nologias, porque ambas têm uma influên-
outro recurso identificado foi conectar o cia e podem transformá-las em ambientes
conceito ou conteúdo, a outros autores múltiplos, especialmente, com contornos
anteriormente estudados, possibilitando cooperativos, considerando o pensamen-
realizar aproximações e promovendo um to divergente, e as múltiplas linguagens.
diálogo entre eles, ou identificando dife- Espaços onde imagens, sons, afetos, de-
renças em suas abordagens. Interessante sejos, sonhos, signos e símbolos, além da
ressaltar que os e as participantes tam- perspectiva humanista se encontram para
bém descreviam elementos associados à superar o conteúdo em si, mas para criar
reflexão sobre a experiência da ativida- e ampliar as possibilidades de refazer, ino-
de de seminário, no fórum e, o papel da var e reescrever a história da educação.
discussão, estimulando e incrementando
o processo ensino-aprendizagem. Nesta Palavras-chave: Educação a Distância; Fórum;
situação, pode se observar a presença de Software Nvivo; Formação Continuada.
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(55%) seguido de SQO com 27,5% (11/40). seguintes são mais visuais, desta forma
Com relação à análise por disciplina, os as crianças assimilam melhor o conteúdo.
resultados demonstraram que em mate- As estratégias menos usuais são aquelas
mática os códigos mais utilizados foram que envolvem conhecimentos adquiridos
ET com 26 de 64 ocorrências (41%), LT com formalmente, ou de maneira explícita e
31% (20/64) e SQO com 25% (16/64); em consciente, como aquelas que situam os
História o destaque é o código XAA com eventos em uma data histórica. Notamos
105 marcações de 187 (56%), seguido de que nem sempre a linguagem do livro está
LT com apenas 20% (37/187); em Ciências de acordo com a Zona de Desenvolvimento
o código SQO é o mais usado 37 de 75 mar- Proximal das crianças como, por exemplo,
cações (49%), seguido de PT com 41% dos em História, que necessita de apoio para
casos (31/75); em Geografia, verificamos ensinar os conceitos temporais abstratos
como mais presentes os códigos PT, com pretendidos. Já matérias consideradas
15 casos entre 35 (43%), e SQO com 28,5% mais difíceis, como Matemática, há um su-
(10/35). Podemos notar que a estratégia porte maior das estratégias para exempli-
mais usual é aquela referente aos anos ficar o que pode ser mais complicado para
passados que explicam com exatidão o as crianças.
tempo do evento ocorrido, XAA, mas este
aparece apenas na disciplina de História
com maior frequência no terceiro e quarto LT04-1430 - REPENSANDO O TEMPO:
ano. A segunda estratégia mais frequente ENCONTROS E TRAVESSIAS
está associada à esquematização visual das Anabela Rute Kohlmann Ferrarini - UFMT
mudanças de uma determinada figura ou anabelaferrarini@hotmail.com
em uma ação, SQO, comumente presente Raquel Gonçalves Salgado - UFMT
em matemática, ciências e geografia, além ramidan@terra.com.br
de ter destaque em todos os anos. Já a es-
tratégia PT, que demonstra visualmente O tempo tem sido celebrado em verso e
as mudanças de objetos ou locais é mais prosa há séculos, e também tem desperta-
utilizada nas disciplinas de ciências e geo- do angústias, debates filosóficos e estudos
grafia e no terceiro ano. O código LT, que científicos. Nossas vidas são uma travessia
está relacionado aos conceitos cotidianos no tempo, permeada de instantes e lem-
representando aqueles aprendidos no dia- branças, construídas e reconstruídas na
-a-dia das crianças, aparece em destaque memória, pessoal e coletiva, e atravessa-
nas matérias de matemática e história, das por encontros entre pessoas e gera-
mas apenas no quinto ano. Notamos como ções, entre inexperiências e experiências,
a estratégia ET é pouco utilizada em todos cada vez mais raras, nessa época em que
os anos, seu uso só se torna mais evidente tudo acontece velozmente. Construir co-
na disciplina de Matemática. As estratégias nexões significativas em meio a estímulos
mais usadas nos livros são as que exigem efêmeros requer que tomemos para nós
uma noção prévia de tempo, pois a crian- nosso próprio tempo, que sejamos capazes
ça precisa saber se “100 anos” faz muito de, mesmo imersos nesse mundo de vivên-
ou pouco tempo, assim como saber se 5 cias pontuais e rasas, criar memórias e afe-
anos é muito tempo. As duas estratégias tos. Quintana, com seu olhar poético e su-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
til, exalta o corriqueiro da vida, escrevendo tentava uma ideia objetivista, segundo a
sobre amores, tempo, memória, infância e qual o tempo era propriedade da natureza
velhice. Seus poemas revelam tanto a no- e, portanto, está fora do sujeito e sempre
ção cristã de tempo, linear e determinada existiu. Já Kant, subjetivista, compreendia
pela cronologia nascimento, vida e morte, o tempo como imanente à razão humana.
quanto a filosofia epicurista, que privilegia Na Modernidade, encontramos o antes e
a busca incessante do prazer. Com a ajuda o depois, conceitos que forjam uma noção
desses quintanares, procuramos, neste en- de tempo histórico entendido como pro-
saio, refletir sobre o tempo – sem, no en- cesso, contrária à noção do tempo cristão,
tanto, ousar defini-lo – e suas repercussões retilíneo e irreversível. O homem criou os
na vida e no processo educativo, pondo relógios e os calendários, que cumprem as
em discussão a sua dimensão mensurável mesmas funções dos fenômenos naturais:
e previsível que acaba por se apropriar de orientar a humanidade na sucessão e orde-
nossos encontros com o outro e de nossas nação de processos sociais e físicos, repre-
travessias ao longo da vida. Conjugamos sentando a passagem irreversível do tem-
a sensibilidade do poeta às reflexões de po (Elias, 1998). Enquanto cresce, a crian-
Agamben (2005) sobre khronos e kairos, às ça sofre uma espécie de coerção social,
de Elias (1998) sobre o tempo em sua di- disciplinadora, que lhe ensina os habitus
mensão simbólica e de Lloret (1998), sobre sociais, inserindo-a no processo civilizató-
as idades da vida e como estas atravessam rio e capacitando-a a integrar uma comu-
a constituição de nossa identidade. A con- nidade humana e interpretar os símbolos
cepção greco-romana de tempo como um temporais socialmente usados, guiando-se
continuum lança os fundamentos da noção em função deles. Dentre as instituições
ocidental quanto à incapacidade huma- sociais, a escola está intimamente ligada
na de dominá-lo. É o tempo como eterno à ideia de tempo como processo – e pro-
duelo entre kairos e khronos, entre o tem- gresso-, sendo organizada em função dele:
po existencial e divino, que se apropria do a gestão se preocupa em cumprir a tempo
instante, e o tempo quantificado, humano, as obrigações junto ao Estado. Os profes-
delimitado e delimitador. Kairos nos convi- sores, em vencer os conteúdos. Os alunos
da a viver o prazer, enquanto khronos nos correm rumo a dois destinos possíveis:
obriga a postergá-lo. Quintana (1988) la- aprovação ou reprovação, determinados
menta que não possamos viver sem outra pela aprendizagem ou não-aprendizagem
pretensão que não seja viver: “A vida não no tempo pré-determinado como tempo
dá tempo para a Vida.” Esse pensamento certo de aprender. Assim como apreende-
perdura até o início da era cristã, quando mos o tempo como eventos que ordenam
surge a representação do tempo como nossas vidas, também aprendemos sobre
uma linha reta, com princípio, meio e fim. nossos tempos de vida. Aprendemos que
O Gênese é o marco inicial do universo além de sermos homens ou mulheres,
criado por Deus, enquanto o Apocalipse jovens ou velhos, somos/pertencemos a
é seu destino final e inescapável. Durante uma determinada idade, que não é somen-
muito tempo, as teses de Newton e Kant, te nossa, é também do outro que, assim
fundamentalmente opostas, dominaram como nós, é/pertence a essa mesma idade.
as reflexões sobre o tempo. Newton sus- Ser uma pessoa de 30 ou de 5 anos. Esse
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
ser de indica que somos todos propriedade tência de saberes que aprendemos sobre o
de alguns anos e que, vamos, ao longo da tempo. Passado, presente e futuro. Infân-
vida, sendo inscritos a grupos determina- cia, idade adulta, velhice. São conceitos e
dos de idade (Lloret, 1998). Porém, assim configurações que permeiam nossas expe-
como existe a normalidade, existe o des- riências humanas, constituídas por instan-
vio. Tornou-se comum encontrarmos pes- tes, memórias e encontros, construídas e
soas que não estão em conformidade com reconstruídas num ciclo sem fim.
seus anos de vida. É possível construir uma
identidade flexível e diversificada, dese- Palavras-chave: Tempo; Idades da Vida;
nhada pelas experiências vividas, pois uma Gerações.
idade não elimina a outra e, sim, a contém Contato: Anabela Rute Kohlmann Ferrarini,
(Lloret, 1998). Sob a perspectiva do desvio UFMT, anabelaferrarini@hotmail.com
à normalidade, é justo pensar que a socie-
dade contemporânea vive um período de
instabilidade quanto a situar as pessoas PO-LT04-B
em determinados grupos etários e papéis
sociais. Infância e idade adulta são tempos
de vida distintos, mas cujas fronteiras se LT04-813 - COMPREENSÃO DO OLHAR
tocam em determinados momentos, quan- SOBRE O BULLYING EM UMA ESCOLA DE
do as experiências da infância no mundo TERESINA-PI.
globalizado e midiático a aproximam do Nara Caroline dos Santos Silva - FACID
que seria próprio da idade adulta. Nosso nara_carolline@hotmail.com
ideário projeta sobre as crianças determi- Ana Lúcia Camargo Queiroga - FACID
nados comportamentos e linguagens que lucqueiroga@yahoo.com.br
entram em confronto com a infância que aí Ana Mary Pereira Nunes - FACID
está, transitando entre o que se espera de anna11024@hotmail.com
um adulto ou de uma criança. Confrontos
intergeracionais sempre existiram, e, na Na atualidade, um dos temas que vem
contemporaneidade, tem se mostrado ain- despertando cada vez mais, o interesse
da mais intensamente, atravessados que de profissionais das áreas de educação e
são pelas mensagens da mídia, pelas tec- saúde, em todo o mundo, é sem dúvida,
nologias e pelo consumo que seduz. A pe- o do bullying escolar. Termo encontrado
dagogia é desafiada a perceber a dinâmica na literatura psicológica anglo-saxônica,
da sociedade onde as imagens da infância que conceitua os comportamentos agres-
se constroem e desconstroem, e, assim, sivos e anti-sociais, em estudos sobre o
reconhecer as experiências formadoras da problema da violência escolar. Esta ação
infância e da adolescência. O tempo nos discriminatória dá-se, sobretudo, na ado-
intriga e confunde. Vivemos nele e ele vive lescência, podendo ser direto ou indireto
em nós. Desde o berço recebemos lições e, ocorrendo-nos mais variados contex-
sobre a passagem do tempo, a organiza- tos, sendo que o mais comum é ser entre
ção social e cultural da vida, a trajetória crianças e jovens em contexto escolar.
humana – individual e coletiva – e sobre Compreender o olhar sobre o bullying em
nossos tempos de vida. Assim, é na coexis- uma escola de Teresina, como ele se ma-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
nifesta, de que forma os professores per- temente, a partir desta investigação pode-
cebem e lidam e como os alunos reagem -se formular as hipóteses sobre as causas
ao presenciar o bullying. Uma pesquisa da queixa que lhe foi trazida para, então
de ordem qualitativa, realizada em uma intervir no sentido de melhorar este pro-
escola da rede pública de Teresina. Foram cesso. O diagnóstico psicopedagógico
realizadas entrevistas semiestruturadas a institucional explica Bassedas (1996) bus-
partir de um roteiro com oito perguntas, ca conhecer, olhar e escutar a relação do
onde os sujeitos envolvidos eram doze alu- sujeito com o conhecimento objetivando
nos e três professores. Os dados coletados a melhoria do ensino e da aprendizagem,
nesse estudo foram analisados a partir da ou seja, para ajudar a família, a escola (em
análise de conteúdo e agrupados em ca- todos os níveis – administrativo, docente,
tegorias por similaridades de respostas. A técnico, discente) a cumprir o seu papel,
partir dos resultados obtidos observou-se atuando como um articulador do ensino e
que o bullying está se disseminando entre da aprendizagem. (p.24) Dessa forma, esta
os jovens, principalmente os de idade es- pesquisa foi realizada em uma instituição
colar, gerando violência, exclusão, ocasio- não-governamental, na área da educação,
nando sérios danos psicológicos para as que observou através das atividades pe-
vitimas. Foi verificado que os professores dagógicas desenvolvidas, que um número
não tomam conhecimento da ocorrência significativo de crianças apresenta difi-
do bullying no âmbito escolar. Já os fato- culdades para aprender. Partindo destas
res que levam a ocorrência do bullying, são considerações, este estudo buscou realizar
sentimentos que variam muito, entre eles: o diagnóstico psicopedagógico institucio-
maldade, inveja, exibicionismo, falta de nal para identificar quais as crianças que
formação e violência. apresentam estas dificuldades, bem como,
propiciar uma reflexão sobre possíveis
Palavras-chave: Bullying. Escola. Jovens intervenções que os educadores sociais
poderiam desenvolver junto às crianças.
Participaram da pesquisa 50 crianças que
LT04-846 - DIAGNÓSTICO tem entre 7 à 9 anos, estão na 2ª e 3ª série
PSICOPEDAGÓGICO E POSSÍVEIS do ensino fundamental, freqüentam esco-
INTERVENÇÕES EM INSTITUIÇÕES las públicas de um município do interior do
NÃO-GOVERNAMENTAIS NA ÁREA DA Paraná, e também a instituição no contra-
EDUCAÇÃO -turno. Além disso, participaram 5 educa-
Caroline Andrea Pöttker - UNIPAN dores sociais e 15 pais ou responsáveis.
Caroline_pottker@hotmail.com Também foi necessário realizar uma carac-
terização da Instituição Social, sendo uti-
O diagnóstico psicopedagógico institucio- lizado o Projeto Político Pedagógico. Para
nal é uma forma de investigação que deve a coleta de dados foram realizadas obser-
partir da história da instituição e de suas vações nas salas e no pátio da instituição,
características atuais, reestruturando a bem como aplicado atividades pedagógi-
função desta junto aos envolvidos, identi- cas com as crianças direcionadas a leitura e
ficando os sintomas bloqueadores do pro- escrita. Ainda foram utilizadas entrevistas
cesso ensino-aprendizagem. Conseqüen- semiestruturas, as quais foram aplicadas
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
aos educadores sociais sobre as crianças delas já havia reprovado na escola. Além
e sobre os aspectos psicopedagógicos da disso, a maioria relatou que a atividade
instituição, aos pais ou responsáveis e as que não gostavam de realizar na escola era
crianças selecionadas. Nas observações escrever texto, pois consideravam muito
pode-se notar a resistência das crianças a difícil. Dessa forma, com o diagnóstico psi-
atividades pedagógicas, as quais eram se- copedagógico institucional, constatou-se
melhantes com as que realizam na escola. que neste momento que estas 15 crianças
Nas entrevistas com os educadores sociais necessitavam de uma complementação do
sobre as crianças pode-se perceber que processo de alfabetização, sendo que em
algumas crianças necessitavam de mais seguida, foi realizada uma reflexão sobre
atenção, e demoravam mais para terminar alfabetização e possíveis intervenções que
as atividades, além de presenciarem estas os educadores sociais poderiam realizar
copiando as atividades do colega. Nas ati- junto à criança. Para Paulo Freire (1991), “a
vidades pedagógicas observou-se que as alfabetização enquanto prática discursiva
maiores dificuldades eram quanto a troca possibilita uma leitura crítica da realidade,
e omissão de letras na escrita das palavras, constitui-se como um importante instru-
e em casos mais extremos a não compre- mento de resgate da cidadania e reforça o
ensão do que a criança havia escrito. Em engajamento do cidadão nos movimentos
relação às entrevistas com os educadores sociais que lutam pela melhoria da quali-
sociais sobre os aspectos psicopedagógi- dade de vida e pela transformação social”
cos na concepção dos educadores sobre (p.68). Enquanto que para Soares (2003) a
dificuldade de aprendizagem, estes as rela- alfabetização requer um novo termo, mais
cionam à dificuldade na família, a condição abrangente ou equivalente, sendo este
social, como ao próprio aluno assim como denominado Letramento. Para ela, alfabe-
a escola também. Quanto ao modelo de tizar e letrar são duas ações distintas, mas
aprendizagem da instituição para os edu- não inseparáveis, ao contrario: o ideal seria
cadores sociais não é esclarecido o refe- alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a ler
rencial teórico a seguirem, relatam que o e a escrever no contexto das práticas so-
ensino vai desde aprendizagem de letras e ciais da leitura e da escrita. Para possíveis
números até aprender um ofício, costurar, intervenções educacionais sugere-se: jo-
bordar ou pintar. Assim, foram seleciona- gos, brincadeiras, dinâmicas de motivação,
das 15 crianças e a partir disto, foram cha- para proporcionar as crianças um trabalho
mados os pais e as crianças selecionadas rico e prazeroso na aquisição da escrita e
para entrevistas. Nas entrevistas com os da leitura. Através dos jogos o indivíduo
pais, ficou evidente que todos já haviam pode brincar naturalmente, testar hipóte-
percebido a dificuldade de aprendizagem ses, explorar toda a sua espontaneidade
que seu filho apresentava. Quanto à tare- criativa. O jogo cria uma situação de regras
fa, muitos relataram que ajudam o filho a que proporcionam uma zona de desenvol-
fazer, e quando este tinha dificuldade com vimento proximal no aluno. Assim compor-
algo, muitas vezes chorava, ficava agitado, ta-se de forma mais avançada do que nas
nervoso, demonstrava insegurança, com atividades da vida real e também aprende
medo de errar. Nas entrevistas com as a separar objeto e significado. (Oliveira,
crianças percebeu-se que quase metade 1999). Para Bock (1999) “a preocupação do
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
ensino tem sido a de criar condições tais, A prática pedagógica é constituída por
que o aluno fique “a fim” de aprender” (p. diferentes fatores, abrangendo: os signi-
121). Diante desse contexto percebe-se ficados e as concepções que os docentes
que a motivação deve ser considerada pe- atribuem ao processo educativo e aos seus
los professores de forma cuidadosa, procu- atores; os saberes teórico-práticos cons-
rando mobilizar as capacidades e potencia- truídos pelos professores no seu processo
lidades dos alunos a este nível. Para a lei- formativo; a metodologia de ensino desen-
tura, os textos selecionados pelo educador volvida pelos docentes; as especificidades
devem estar de acordo com a realidade da mediação pedagógica que os docentes
dos alunos, pois serão de fácil compreen- estabelecem com seus alunos; bem como
são; levar em conta também o nível inte- aspectos relacionados à organização cur-
lectual, os interesses e os gostos. Quanto ricular e aos contextos sócio-culturais nos
aos tipos de leitura, devem ser variados: quais o docente está inserido. Este traba-
parlendas, receitas, notícias de jornais, lho tem como proposta investigar como
listas de mercado, letra de músicas, poe- a prática pedagógica de docentes de um
sias, gibis, revistas, entre outros. Portanto curso de licenciatura favorece a articula-
determinadas dificuldades de leitura e es- ção entre as dimensões da teoria e da prá-
crita apresentadas pelas crianças podem tica na formação de professores e, dessa
ser minimizadas e seu aprendizado pode forma, contribui com o desenvolvimento
ser potencializado, principalmente quan- profissional dos discentes. Este trabalho
do pais e professores se unem neste mes- apoia-se na ideia de que é no diálogo entre
mo objetivo. Um ambiente estimulante e a prática docente e a formação teórica que
encorajador que ofereça oportunidades o professor terá condições de construir
apropriadas á aprendizagem produz crian- uma prática crítica e transformadora, a
ças dispostas a aprender (Smith, 2001). partir de estudos que indicam a relevância
de tal diálogo para qualificação da forma-
Palavras-chave: diagnóstico psicopedagógico; ção docente (Brzezinski, 2008; Freire, 2001;
dificuldade de aprendizagem; intervenção. Freitas, 2002; Pimenta, 2005). A formação
de professores poderá favorecer, de forma
efetiva, processos de qualificação e desen-
LT04-912 - PRÁTICAS PEDAGÓGICAS volvimento profissional dos sujeitos, à me-
DESENVOLVIDAS EM UM CURSO DE dida que conceber a relação constitutiva
LICENCIATURA: CONTRIBUIÇÕES PARA O entre os saberes científicos e os saberes
DESENVOLVIMENTO DOCENTE da experiência. Sabendo que o desenvolvi-
Joana Dark Leite - UFG mento desse diálogo implica na superação
joanadarkl@yahoo.com.br de concepções históricas que dicotomizam
Pedro Henrique Andrade de Faria - UFG teoria e prática nos processos formati-
pedrohandradef@hotmail.com vos, privilegiando uma ou outra dimensão
Alba Cristhiane Santana - UFG (Gamboa, 2003). Nossa fundamentação
albapsico@gmail.com teórica acerca da mediação pedagógica
Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira - UnB parte dos estudos de Vygotsky (2003), os
claudia@unb.br quais enfatizam a importância da relação
Financiamento: PROLICEN/UFG dialógica estabelecida entre professores e
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
boa (2003) apresenta três abordagens 1997). Nesse sentido, pensando na rele-
que conceituam a relação entre teoria vância de estudos que contribuam com a
e prática, de formas distintas: (a) as que compreensão acerca do processo de for-
privilegiam o papel da teoria, podendo ser mação docente, buscamos compreender
classificadas como ideal-racionalistas; (b) as possibilidades de um curso de licen-
por outro lado, as que enfatizam a prática ciatura desenvolver a articulação entre
como critério para validação da teoria, a as dimensões da teoria e da prática, por
partir de uma concepção pragmático-utili- meio da análise das significações e das
tarista; (c) e, também, a abordagem dialé- concepções que orientam as práticas pe-
tica, a qual não considera a relação entre dagógicas. Entendemos que a articulação
teoria e prática em termos de adequação entre os saberes científicos e os saberes
de uma a outra, mas, de complementa- da experiência qualifica a formação dos
ção e de conflito, considerando que “é a professores, e proporciona a mobilização
própria relação entre elas que possibilita de processos de desenvolvimento profis-
sua existência” (p.125). Na perspectiva sional dos discentes, ao gerar reflexões
dialética, a relação entre teoria e prática e ressignificações acerca do processo de
é mais complexa que uma relação de im- ensinar e de aprender. Neste estudo ado-
plicação causal, na qual os saberes cien- tamos uma metodologia qualitativa, que
tíficos mantêm uma relação constitutiva concebe o processo investigativo a partir
com os saberes da experiência. E partindo da indissociação entre a fundamentação
dessa discussão, é relevante desenvolver teórica do estudo e os métodos de cons-
estudos que busquem compreender as trução e análise dos dados (Ludke & An-
concepções assumidas na tarefa de articu- dré, 1986). É um processo de investigação
lar teoria e prática nos cursos de formação que se caracteriza por: (a) ser construtivo-
docente. Acreditamos que os contextos -interpretativo na construção do conhe-
sócio-culturais sejam constituídos por um cimento; (b) contar com um instrumento
conjunto de regras, concepções, crenças visto de forma vinculada aos procedimen-
e valores que orientam a ação humana, tos, cujo papel é o de facilitar a expressão
um sistema semiótico compartilhado por dos participantes, por meio de estratégias
pessoas de um mesmo cenário social e interativas planejadas para o desenvolvi-
histórico (Bruner, 1997). Por isso, adota- mento da pesquisa (González Rey, 2005).
mos o conceito de significação, tal como Nosso estudo está vinculado a um projeto
desenvolvido por Vygotsky (2000) e Bru- de pesquisa maior, desenvolvido na Uni-
ner (1997) e, assim, o significado é visto versidade Federal de Goiás, a partir do
a partir de uma natureza relacional e pro- desmembramento da pesquisa de dou-
duzido nos processos sociais de interação torado realizada pela coordenadora do
humana. Nas relações interpessoais os projeto (Santana, 2010), a qual resultou
sujeitos negociam as interpretações que em um expressivo banco de dados, que
fazem do mundo e de si próprios, ou seja, devido ao grande número de informações
as negociações referem-se ao estabeleci- construídas não foi totalmente explorado.
mento de combinações numa mútua par- O material empírico analisado abrange
tilha de pressupostos e convicções sobre informações coletadas em entrevistas se-
como a realidade é percebida (Bruner, miestruturadas com quatro docentes de
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que apresentam dificuldades. Outra con- criança parece ser um passo importante
cepção presente é a da creche como um nessa rede de significações que delimita e
recurso para aqueles que não têm con- promove condições peculiares de desen-
dições de ficar com seus filhos em casa, volvimento e, também, que ajudariam a
pois, precisam trabalhar fora. A família dar visibilidade às necessidades e deman-
recebe o status de principal responsável das das famílias do campo.
pelo cuidado e a educação da criança de 0
a 3 anos, sendo este modelo considerado Palavras-chave: educação infantil,
o ideal pelos entrevistados. As falas suge- assentamento rural, creche
rem uma visão de instituição que se ba- Contato: Letícia Verardi Madlum, FFCLRP-USP,
seia no direito social do trabalhador, que leticiaverardi@terra.com.br
precisa do emprego e não tem com quem
“deixar” o filho, e no direito da criança no
que concerne ao cuidado desta, para que LT04-922 - BULLYING E SUA
tenha assistência durante a jornada de INTERFERÊNCIA NO PROCESSO
trabalho dos pais. A creche assume, as- EDUCACIONAL
sim, um caráter de compartilhamento so- Tamara Correia Alves Campos - UnB
cial, exercendo a mesma função da família tamara.cac@hotmail.com
quando esta não pode exercê-la. Quando
questionados sobre uma possível escolha O bullying é definido como uma agressão
pela creche caso ela existisse no próprio física ou psicológica, intencional e repetiti-
assentamento, o casal modifica seu dis- va que acontece, principalmente, no am-
curso sobre essa instituição no diálogo biente escolar. Essa agressão é perpetuada
com uma creche imaginária que atenda por pessoas que impõem um nível de po-
as necessidades das famílias do campo. der maior do que o do agredido e, muitas
Naquela concepção de creche, está au- vezes, o bullyng é confundido como uma
sente a complementariedade pedagógica brincadeira inocente. Verificam-se casos
e educativa, o que tem efeito nos sentidos de bullying em indivíduos que fogem de
sobre a própria identidade da creche en- padrões ditados pela sociedade. O proble-
quanto instituição educacional legítima, ma que se confere desse ato violento é a
que promova contextos de interação e de- questão da estigmatização do acometido
senvolvimento distintos do núcleo fami- que, muitas vezes, se sente impossibilita-
liar e que se constitua, portanto, como um do de reagir às provocações e de superá-
direito da criança. Nessa concepção, está -las, tornando o ambiente escolar ameaça-
presente o direito a uma especificidade no dor, ambiente esse responsável em formar
cuidado e na educação da criança dos ter- indivíduos aptos a se comportarem no
ritórios rurais. Esses sentidos sobre a cre- meio social. Entretanto essa situação não
che e a família falam sobre as expectati- é muito dimensionada, já que o objetivo
vas de aprendizagens e desenvolvimentos primordial é passar o conteúdo escolar
desse casal, construídas na relação entre sem se preocupar com as relações inter-
suas histórias e experiências, suas condi- pessoais; porém, o desempenho positivo
ções atuais concretas e na cultura de seus dos alunos só se torna possível quando
grupos. Compreender como concebem a há o mínimo de aparato. Visto a magni-
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Entretanto, 65% tinham consciência que o mento superficial ou, até mesmo, a falta
problema necessita de ações educativas e dele. Entretanto uma diminuição significa-
25% achavam que é normal no cotidiano tiva disto pode ser possível com a realiza-
escolar. Muitos deles relataram que fal- ção de ações educativas, incluindo dinâmi-
tam projetos que os motivem e orientem cas, a fim de interagir pais, professores e
de forma correta, dificultando muito sua alunos para o alcance de uma verdadeira
atuação. A realidade se restringe a seguir educação de qualidade, por conseguinte,
o calendário programático e realizar com uma melhor inserção social.
êxito a aprendizagem dos alunos, ou seja,
se importam muito mais com o conheci- Palavras-chave: bullying, alunos, inserção
mento formal, não refletindo que apenas social
o conhecimento acadêmico não tem ser- Contato: Tamara Correia Alves Campos, UnB,
ventia se o aluno não conseguir aplicá-lo tamara.cac@hotmail.com
socialmente. O caso de bullying não tem
que ser visto como algo isolado, que não
vá repercutir futuramente, pois, ele é ca- LT04-1014 - A IMPORTÂNCIA DA
paz de desenvolver e agravar transtornos. EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NO
Então a figura do professor não se restrin- DESENVOLVIMENTO DO JOVEM
ge em compartilhar conhecimentos; ela PROFISSIONAL: UMA EXPERIÊNCIA
vai muito além, pois, ele precisa ser como JUNTO A PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
psicólogo, conciliador e pai dos horários INFANTIL
letivos. Por isso, nesse projeto, também Fernanda Pavão Corrêa - UFTM
foram considerados os professores, atra- fernandinha_pavao@hotmail.com
vés uma de roda de conversa, para com- Caroline M. P. Alves - UFTM
preenderem mais claramente causas e carolmartins4@gmail.com
conseqüência, de problemas imediatos Letícia B. Elias - UFTM
até traumas futuros. Com relação aos le_billiejoe@hotmail.com
questionários aplicados com os pais, foi Nayara Fileni Prodócimo - UFTM
possível inferir que a maioria (70%) não nah_prodocimo@hotmail.com
sabia o que era bullying; mesmo depois Conceição Aparecida Serralha - UFTM
do esclarecimento, grande parte afirmou serralhac@hotmail.com
que seus filhos não eram vítimas dessa Jéssica Bezerra Soares - UFTM, MEC/SESu/DIFES
agressão, sendo que, em média, 61% dos jessicabsoares@hotmail.com
alunos afirmaram terem sofrido, ou seja,
isso mostra que não há uma relação efe- A extensão universitária tem se apresenta-
tiva de cuidado. Por isso foi desenvolvido do como uma possibilidade de constituição
um folheto que informava, aos pais, sobre profissional e cidadã, ao conectar a univer-
o que é bullying, como é praticado, suas sidade com as necessidades da população
consequências e soluções. Obtiveram-se (Ribeiro, 2009). Uma das características da
resultados que confirmam que a prática extensão é o fato de proporcionar uma du-
de bullying é algo que já faz parte do co- pla formação, ou seja, além da formação
tidiano escolar e, diversas vezes, o proble- dos membros da comunidade a quem se
ma não é dimensionado por um conheci- dirige o trabalho do projeto, há também a
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formação dos próprios extensionistas (Ar- Esses relatos foram lidos inicialmente em
royo & Rocha, 2010). Além disso, a exten- profundidade, levantando-se as principais
são possibilita a troca de conhecimentos percepções e reflexões realizadas. Nessa
entre a comunidade acadêmica e a popu- análise, ficou clara a percepção dos exten-
lação, e também a divulgação dos conhe- sionistas da importância do conhecimento
cimentos obtidos durante a execução do da demanda de cada instituição, buscando
projeto em eventos científicos (Fernandes; respostas de acordo com as necessida-
Alves & Nitschke, 2008; Ponte; Torres; Ma- des demonstradas: “Com o projeto pude
chado & Manfrói, 2009). Os jovens adul- perceber a importância de se conhecer
tos, ao ingressarem na universidade, cada a comunidade com a qual se trabalha, o
vez mais se vêem diante da necessidade que fica provado pelo fato de que nas ins-
de integrar e discutir conteúdos teóricos tituições surgiram diferentes queixas, que
a partir de práticas reais ou simulações da acabavam orientando os encontros para
vida profissional, visando o “aprender a fa- rumos distintos...” (Graduanda A). No iní-
zer”, não aceitando passivamente a teoria cio, foram destacadas algumas dificulda-
que lhes é apresentada. Esse contexto tem des, como ansiedade e insegurança de se
promovido uma formação crítica, reflexiva perder ou não saber o que falar diante de
e atenta para as necessidades sociais. Esta alguma situação. Contudo, de acordo com
última diz respeito não somente ao profis- o relato dos estudantes, à medida que
sional, mas também ao desenvolvimento eles passaram a lidar diretamente com as
do aluno como pessoa, como cidadão, ou professoras e educadoras das instituições,
seja, uma formação mais ampla. O presen- tiveram de se adaptar a situações inespe-
te trabalho tem como objetivo destacar as radas. Durante o projeto realizado, foi pos-
percepções e reflexões de graduandos em sível observar certas aquisições importan-
Psicologia de uma universidade pública tes para a constituição das competências
da região do Triângulo Mineiro (MG) en- dos discentes envolvidos: (a) habilidade
volvidos diretamente na execução de um da utilização dos conhecimentos ante-
projeto de extensão com educadores, so- riormente adquiridos para a realização
bre a importância dessa experiência para das atividades; (b) adaptação na maneira
o desenvolvimento profissional e pessoal de agir dos integrantes da extensão, de
destes. O projeto, executado por esses acordo com a realidade específica de cada
graduandos – discentes do terceiro ao instituição; (c) capacidade de socializar-
quinto período – e uma docente do cur- -se, desenvolvida ao longo dos encontros,
so de Psicologia, discutiu a temática da no contato com os educadores e também
agressividade na primeira e na segunda entre o próprio grupo de alunos durante
infância com grupos de profissionais da o desenvolvimento das atividades propos-
educação infantil. Para alcançar o objetivo tas; (d) capacidade de enfrentar situações
proposto neste estudo, foram analisados não programadas. Esse enfrentamento de
qualitativamente os pareceres individuais situações reais foi de grande importância
(relatos) dos extensionistas, registrados para o amadurecimento dos estudantes
de forma escrita e obtidos após o térmi- como pessoas e também como profissio-
no da execução do projeto, durante dis- nais, desenvolvendo, assim, a capacida-
cussões realizadas entre os participantes. de de pensar, de interagir com a realida-
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compreender melhor sobre o comporta- ção também pessoal que os tornem mais
mento humano na infância, o que mu- preparados para atuar como profissionais
dou a minha maneira de lidar com meus no futuro (Alves, Serralha, Scorsoloni-Co-
alunos em sala de aula. Porque vejo que min, Pavão, Soares & Miareli, no prelo).
o professor tem uma tendência em punir Assim, a experiência de extensão permite
o aluno agressivo sendo também agres- que os discentes, desde os períodos ini-
sivo com ele. Contudo, tendo em vista os ciais da graduação, se habilitem a atuar
conhecimentos adquiridos neste módulo diante de uma comunidade marcada por
percebi as causas da agressividade e cami- singularidades e ao mesmo tempo por
nhos para melhor trabalhá-la.” (Professo- problemas comuns à sociedade como
ra participante). Os diálogos permitiram o um todo. Na execução deste projeto, em
compartilhamento de dúvidas e angústias particular, tanto os educadores das insti-
que muitas vezes impedem uma compre- tuições atendidas quanto os futuros pro-
ensão mais objetiva das origens dos com- fissionais de Psicologia puderam discutir
portamentos agressivos da criança. Além sobre os aspectos da agressividade que
disso, a sensibilização demonstrada pelos dificultam o desenvolvimento da criança
profissionais foi importante, pois são eles e pensar meios de facilitarem esse desen-
que possibilitarão a repercussão do proje- volvimento, levando em conta a diversida-
to na comunidade, por meio de práticas e de cultural.
intervenções diferenciadas com os alunos
e seus familiares. A teoria winnicottiana Palavras-chave: Agressividade,
forneceu uma visão mais profunda acer- Desenvolvimento da criança, Escola.
ca dos problemas cotidianos enfrentados Contato: Nayara Fileni Prodócimo, UFTM,
na escola, dos afetos interpessoais, o que nah_prodocimo@hotmail.com
os instigou a buscarem novas formas de
exercício de seus papéis tanto profissio-
nais quanto familiares. Quanto aos dis- LT04-1065 - OUTRAS QUESTÕES QUE
centes que participaram do projeto, estes PODERÍAMOS SABER SOBRE CLASSE
puderam aumentar seus conhecimentos HOSPITALAR
sobre o tema da agressividade, sobre as Kathelem de oliveira dos Santos França - UnB
diferenças culturais e sociais na comuni- kathelemf@yahoo.com.br
dade e também integrar e discutir os con- Patrícia C. Campos-Ramos - UnB
teúdos teóricos a partir de práticas reais
e simulações da vida profissional, visando Fazem parte de nossas rotinas diárias, as-
à complementação entre teoria e prática pectos físicos, sociais e afetivos. Quando
(Lima, 2005). Desse modo, os graduandos estas rotinas são quebradas, levando-se
desenvolveram sua capacidade de identi- em consideração a hospitalização, princi-
ficar problemas, discuti-los e até apresen- palmente, durante a infância, gera-se uma
tar propostas para a resolução destes. A ruptura inesperada de vínculos sociais e
extensão, de modo geral, proporciona aos afetivos. Juntamente, o fator doença traz,
estudantes uma formação diferenciada, consigo, procedimentos que invadem o
complementando seu desenvolvimento espaço social, conduzindo o paciente à
acadêmico e proporcionando uma forma- sensação de insegurança e isolamento.
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Tais questões podem, ainda, contribuir evidencia a importância da busca pela dis-
para um não ajustamento da criança ao cussão sobre a continuidade do processo
ambiente escolar. A hospitalização de de escolarização da criança hospitalizada,
crianças em processo de escolarização e bem como a oferta de outras atividades,
a atuação do pedagogo no ambiente hos- procedimentos e estratégias curriculares
pitalar são temas que tomam proporções e/ou extracurriculares mais apropriadas
significativas na literatura, por tratarem às necessidades da criança hospitalizada.
de uma temática discutida no âmbito da A releitura foi realizada sob uma ótica
inclusão escolar. Percebe-se, no entanto, a qualitativa, com vistas à observação de in-
necessidade de maior divulgação de estu- formações ilustradas por meio de quadros
dos relacionados à permanência da crian- descritivos e históricos de casos específi-
ça no ambiente hospitalar, bem como sua cos. Como parte importante da metodo-
ruptura no processo escolar, que são de logia adotada neste estudo, foi focalizada
suma importância, pois, almejam propor- a observação de crianças hospitalizadas
cionar uma adequada inclusão educacio- que, no momento da construção das in-
nal de crianças e adolescentes hospitali- formações, estavam em idade escolar e
zados. Considerando a dialógica saúde/ com processo de escolarização interrom-
educação e os desafios de interação des- pido devido à hospitalização. Participaram
tas áreas, o presente estudo parte do in- do estudo crianças oriundas de escolas da
teresse pelo tema classe hospitalar, tendo rede de ensino público ou particular do
por base a percepção de crianças hospita- Distrito Federal e de cidades do Entorno.
lizadas e de seus cuidadores, em relação à No momento da pesquisa foi solicitada a
intervenção do pedagogo neste ambiente, colaboração de cuidadores responsáveis
prioritariamente marcado pela presença por estas crianças e das próprias crianças.
de profissionais de saúde. Neste sentido, Nos resultados foi possível perceber que
a presente pesquisa teve por objetivo ge- o trabalho realizado em classe hospitalar
ral identificar efeitos da hospitalização na implica o favorecimento da criação e ou
vida escolar das crianças, da perspectiva fortalecimento de laços afetivos entre a
dos seus cuidadores e da própria crian- criança e seu cuidador. Nos relatos dos
ça, e por objetivos específicos: conhecer cuidadores foram observados sentimen-
percepções dos cuidadores e das próprias tos em relação às situações vivenciadas no
crianças, a respeito da dialógica educação período de hospitalização da criança e que
e saúde e como a educação tem se prepa- neste momento, a criança e seu cuidador
rado para atender a criança em momentos necessitam de um espaço de escuta que
de hospitalização. O estudo foi realizado a valorize o resgate da própria história, pois,
partir da reavaliação e releitura de infor- no ambiente hospitalar, na maior parte
mações obtidas para um trabalho de es- do tempo, não é possível se preservar a
tágio realizado no ano de 2003, como exi- intimidade familiar. Foi possível perceber,
gência parcial para conclusão do curso de também, o papel inclusivo de atuação do
Pedagogia na habilitação Ensino Especial. pedagogo frente a uma adequada escuta
Tendo, no momento do presente estudo, pedagógica à criança hospitalizada, facili-
foco de análise na inclusão e na atuação do tando que a criança esteja ciente e com-
pedagogo no ambiente hospitalar, pois, se preensiva do que acontece no hospital.
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aqui obtidos e aponta para a necessida- foi tão desejado, satisfaça suas necessi-
de de mais estudos acerca da avaliação dades, promova mudanças pessoais e o
de programas de intervenção para esti- transforme em um profissional capacita-
mulação do autoconceito no contexto do (Almeida & Soares, 2003). No entanto,
educativo. O resultado positivo obtido a entrada no ensino superior não corres-
no presente trabalho justifica a realiza- ponde apenas em realizar os sonhos e de-
ção de novos estudos para a aplicação sejos pessoais, familiares e sociais, mas
do programa em outros grupos. É válido também requer do estudante coeficien-
destacar que o baixo número de sujeitos tes de resiliência capazes de possibilitar
dessa pesquisa dificulta a generalização ao estudante mediar os estados da subje-
dos dados a outros contextos, sugerindo- tividade com as expectativas e situações
-se a ampliação da amostra em interven- cotidianas, uma vez que, este período de
ções futuras. estudo é permeado de incertezas e dúvi-
das, podendo vir a desencadear quadros
Palavras-chave: autoconceito, ensino de sofrimento psíquico como ansiedade,
fundamental, promoção compulsão, fobias, estados depressivos,
Contato: Bianca Cristine Gomide Costa, ao mesmo tempo em que se busca pela
Universidade Federal de Juiz de Fora, bolsista ascensão profissional, sendo o último
do Programa de Educação Tutorial PET- fator o mais verbalizado entre os gradu-
Psicologia/MEC-SESu, biacgc@gmail.com andos. Marinho-Araújo (2009) salienta
que o ensino superior não está atrelado
apenas a ascensão social, mas vincula-
LT04-1259 - VIVÊNCIA ACADÊMICA: -se ao processo do desenvolvimento hu-
SIGNIFICADOS E MOTIVAÇÕES mano adulto, em uma dimensão crítica
Elen Alves Santos - Projeção e complexa. A motivação e o significado
elenpsi@gmail.com da vivência acadêmica que trazem os es-
Elaine Ribeiro Santos - Projeção tudantes calouros em seu primeiro ano
elaine.santos@projecao.br no ensino superior estão estritamente
Danielle Sousa Silva - Projeção relacionadas ao desenvolvimento do ci-
dssfatima@gmail.com clo vital particular de cada indivíduo. A
depender da fase do desenvolvimento
O ingresso no ensino superior é permeado em que se encontra o sujeito, percebe-se
por diferentes significados e motivações. uma dissonância entre o ideal construído
Jovens e adultos, seja qual for a idade, sobre o que é a vivência acadêmica no
apresentam razões diversas na escolha ensino superior e as relações psicosso-
do curso, como a busca pela identificação ciais; com a vivência real e concreta das
pessoal, a correspondência de expectati- relações que se estabelecem neste con-
vas pessoais e dos familiares, assim como texto. A distância entre o ideal e o real é
o desejo pelo retorno dos aspectos finan- visto como uma luta interna que impeli
ceiro e temporal que foi empregado du- o sujeito a questionar-se sobre a escolha
rante o processo acadêmico. O ingresso do curso e da faculdade, desencadeando
é marcado pela euforia e idealização de outras indagações que visam não apenas
que o novo ambiente educacional, que o ressignificar da escolha profissional,
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a pessoa cada vez mais dependente dos pelo fato de não ser parente conseguia
familiares e cuidadores. Nesse momento tempo para desenvolver suas atividades,
precisa de ajuda para se locomover, tem principalmente quando a doença ainda se
dificuldade para se comunicar e passa encontrava numa fase intermediária. Ela
a necessitar de supervisão integral para se abalava muito, emocionalmente, pelas
suas atividades comuns de vida diária, dificuldades dos pacientes e pelo descaso
até mesmo as mais elementares, como de familiares que continuavam suas roti-
alimentar-se ou vestir-se, precisando nas normalmente, limitando-se apenas a
de acompanhamento, progressivamen- visitá-los. Também relatou que muitas ve-
te intenso, causando desgaste em seus zes tinha o sono interrompido como, por
cuidadores. Borges (2010) previne que a exemplo, pelo fato de uma das pacientes
doença de Alzheimer não afeta apenas o levantar de madrugada e começar a fazer
paciente, mas também as pessoas que o almoço e esperar os filhos como se fosse
cercam. A família deve preparar-se para meio dia ou acompanhá-la quando saía à
uma sobrecarga tanto em termos emocio- rua, pois aconteceu de a paciente sair e se
nais, pois a evolução da doença acarreta perder, só voltando com ajuda de um co-
em idas frequentes a médicos, limpeza nhecido. Sofria quando a doença chegava
do ambiente, horários de remédios, troca numa fase mais adiantada e os pacientes
de fraldas, roupas de cama e pessoal do necessitavam ir para clínicas e, principal-
paciente e também financeiros através da mente, quando, pela convivência que tive-
compra de medicamentos, produtos de ra, percebia a proximidade da morte. Es-
higiene e limpeza pessoal e pagamento tas questões instigam a continuidade dos
de cuidadores ou clínicas. Este trabalho estudos sobre o desgaste dos cuidadores
objetivou investigar as dificuldades, sofri- de doentes com Alzheimer. Como se tem
mentos e privações enfrentadas pelos cui- ainda um tratamento curativo, nem vaci-
dadores de pacientes com Alzheimer, bem nas ou qualquer outro tipo de terapêutica
como apontar possíveis alternativas para preventiva, o que se pode fazer é utilizar
abrandar estas dificuldades. Muitas vezes, medicamentos que amenizem os sinto-
o cuidador não dispõe de tempo para si mas, o que auxilia o doente e facilita a
próprio, não recebe ajuda de familiares, vida do cuidador. É importante o apoio da
não dispõe de tempo para atividades de família ao doente e ao cuidador, ajudando
lazer, sente-se frustrado, triste, culpado, em outras tarefas como compras, limpeza,
entra em conflito com o paciente, não idas ao médico, bem como ouvir o cuida-
dorme bem, não se alimenta adequada- dor para que não se sinta sozinho. Seria
mente, então começa a apresentar pro- recomendado que eles tivessem acesso
blemas de saúde. Realizou-se um estudo às orientações e dicas de como cuidar do
de caso único, com análise de conteúdo idoso com Alzheimer e também de como
qualitativa. Participou deste estudo uma se cuidar. Para que o cuidador facilite sua
mulher de 50 anos de idade, que respon- tarefa é importante não tratar o idoso
deu a uma entrevista semi estruturada, como doente, mas manter uma rotina di-
contendo 14 questões. Os resultados re- ária, organizar a casa de maneira simples
velaram que a participante já cuidou de e segura, procurar manter o bom humor.
três pacientes com esta doença e que Isto ajuda a diminuir o estresse, organizar
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foi composta por 15 participantes: ado- pública um fator de gosto pela profissão,
lescentes com idades entre 17 e 18 anos, enquanto que para a maioria os alunos
estudantes do terceiro ano do ensino mé- da escola particular a escolha profissio-
dio, sendo 8 alunos de uma escola pública nal teve como fator decisivo a família,
e 7 alunos de uma escola particular. Para amigos e pares. Observa-se através disto
a coleta dos dados utilizou-se um roteiro ainda que a família influencia, ainda que
de entrevista semi estruturada, constituí- indiretamente, na escolha profissional. A
do de 12 perguntas. A partir das respostas família por ter uma função socializado-
às questões da entrevista, foram identi- ra esteve sempre incluída no meio social
ficadas categorias de análise. Os resulta- do adolescente, opinando sobre o que é
dos apontaram que a maioria dos alunos desejável ele realizar como profissão e se
provenientes da escola pública pleitearia preocupando com um futuro bem-sucedi-
vagas em instituições de ensino superior do e remunerado adequadamente (COR-
particulares, colocando inclusive como DEIRO, 2007). Acredita-se que a família
fator de exclusão, instituições mais distan- constitua uma das principais influencias
tes do local onde moram, dando preferên- nesta escolha, embora vários adolescen-
cia a cursos existentes na mesma cidade tes tenham afirmado que não se sentem
ou em cidades vizinhas. As justificativas influenciados. Além disso, outro fator que
apresentadas pelos participantes foram se destacou foi que os entrevistados, em
no sentido de que os mesmos teriam que sua maioria, não se mostraram cientes
trabalhar para custear o curso. O oposto da multiplicidade de fatores que interfe-
ocorreu com alunos da escola particular, rem na realização desta escolha, sejam
que em geral relataram que pleiteariam estas familiares, escolares, econômicas
vagas, em sua maioria, em instituições ou mesmo sociais. Deve-se ressaltar que,
de ensino superior de origem pública, por apresentar uma metodologia qualiti-
as quais consideram ter mais qualidade, tativa, o presente estudo contou com um
além de mostrarem uma preferência por número restrito de sujeitos, portanto os
instituições mais distantes, realizando o resultados não podem ser generalizados a
ideal de “morar sozinho” e ter “indepen- outras amostras. No entanto, é relevante
dência”, apesar de serem custeados pelos notar que os dados desta pesquisa confir-
pais. Outro dado obtido que merece ser mam alguns aspectos já apontados pela
ressaltado, é que os estudantes da escola literatura. Por exemplo, como afirmaram
pública, em sua maioria, levaram em con- Gonçalves e Coimbra (2007), jovens pro-
sideração o interesse e gosto pessoal para venientes de um contexto sociocultural
fazer sua escolha profissional. Já os alunos privilegiado obtêm melhores possibilida-
da escola particular, aparentaram consi- des de acesso às formações profissionais,
derar este como um dos fatores menos ao passo que adolescentes de níveis socio-
relevantes para a realização de tal esco- culturais e econômicos médio e baixo ten-
lha. Não raro, os estudantes da instituição dem a reduzir suas expectativas referente
particular demonstraram preferência por ao seu projeto de vida. Diante do estudo
profissões já existentes na própria família. realizado, acredita-se que o papel do psi-
Sendo assim, a escolha profissional passa cólogo, quando procurado pelo adoles-
a ser para a maioria dos alunos da escola cente, seja dentro ou fora da escola, para
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zagem musical, julgamos ter sido possível pares de sala de aula durante a formação
aprofundar o conhecimento e a compre- universitária. Nossa pesquisa teve como
ensão de alguns elementos envolvidos na objetivos específicos (i) verificar que tipos
problemática da implementação do ensi- de sentimentos os alunos manifestam na
no de música como obrigatório nas esco- construção do desenvolvimento humano
las brasileiras, bem como a sinalização de a respeito de suas relações afetivas entre
alguns entraves para que o referido pro- discentes; (ii) analisar a percepção do dis-
cesso de fato possa ocorrer. Como pesqui- cente de pedagogia a respeito de como
sa sobre a educação musical escolar, es- as dificuldades vinculadas às relações so-
pera-se poder contribuir para a ampliação ciais no contexto educacional podem in-
dos conhecimentos disponíveis na área, terferir na aprendizagem. Sabe-se que no
visando, em última instância, uma melhor processo de assimilação da aprendizagem
compreensão dos processos de ensino/ o indivíduo participa de maneira ativa no
aprendizagem envolvidos na construção desenvolvimento do conhecimento, assim
do conhecimento musical. como na aprendizagem cooperativa um
grupo de alunos fazem essa construção de
Palavras-chave: ensino/aprendizagem, forma coletiva, constante e ininterrupta
professores, talento musical no desenvolver ou resolver alguma tare-
Contato: Claudia Broetto Rossetti, fa. Freire (1996) fez uma indagação do por
Universidade Federal do Espírito Santo, que não estabelecer uma relação entre
cbroetto.ufes@gmail.com os saberes curriculares fundamentais e as
experiências que eles levam como indiví-
duos. Por isso é importante essa parceria
LT04-1406 - AS RELAÇÕES AFETIVAS entre docente e discente. Ao chegar numa
ENTRE DISCENTES DA PEDAGOGIA sala de aula, todo educador faz as seguin-
E SUAS INFLUÊNCIAS NA CONSTRUÇÃO tes indagações: O que vai ensinar? Para
DO DESENVOLVIMENTO HUMANO que ensinar? Como vai ensinar? O que
Fabianna Antunes Gadelha - Anhanguera também chega como desafio para o edu-
fabianna.gadelha2@gmail.com cador é estar preparado para as possíveis
Luciana Câmara Fernandes Bareicha - dificuldades de relacionamento entre os
Anhanguera alunos. Sabe-se que cada indivíduo carre-
luciana.bareicha@gmail.com ga consigo uma identidade própria que, ao
entrar em contato com outras identidades
A presente pesquisa teve como propósito pode ocorrer harmonia assim como con-
investigar a respeito da influência da afe- flitos e divergências. Ao nascer, a criança
tividade para o desenvolvimento psico- tem seu primeiro contato com o mundo
lógico e como contribuinte na formação denominado “matriz de identidade” onde
educacional na medida em que se consti- para Moreno (2009, p. 114) “proporciona
tui como componente das relações entre ao bebê humano segurança, orientação e
os discentes do curso de pedagogia. Foi guia”. Sendo assim ela proporciona à crian-
verificado como os alunos da pedagogia ça um amparo quanto à suas necessidades
percebem os tipos de afetividades nega- de ordem fisiológicas, afetivas e relacio-
tivas e positivas estabelecidas entre seus nais. A matriz de identidade é composta
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pela mãe, pai, irmãos, tios, avós e etc. Nes- jeito ao se sentir motivado a realizar uma
sa matriz de identidade, que para More- tarefa, este poderá se apropriar de suas
no (2009, p. 114) é caracterizado como a aptidões, habilidades e capacidades que
“placenta social”, a criança vai percebendo desenvolve ao longo do tempo. O fato do
a sua semelhança com as pessoas que es- discente se colocar no lugar do seu colega,
tão ao seu redor. Com o passar do tempo, mesmo que mentalmente, dá ao indivíduo
a criança é inserida numa etapa que surge a capacidade de segundo Vygotsky (apud
após o ambiente familial, o ambiente es- Carrara, 2004) ter a compreensão dos pa-
colar. Nesse novo ambiente, a criança vai péis das relações sociais que na qual tes-
adquirindo uma relação que à princípio é temunha. Percebeu-se através da pesquisa
harmoniosa, mas com o passar do tem- que o indivíduo no processo de aquisição
po a relação pode acarretar em conflitos. de conhecimento tem a possibilidade de
Pode também ocorrer problemas à níveis mudança interior e de comportamento ao
didáticos ou relacional onde será preciso interagir e construir trocas afetivas com o
um profissional para auxiliá-los. Entra em outro da sua geração e na convivência com
ação o próprio educador como profissio- o mundo. Desenvolvemos uma pesquisa
nal de formação superior com capacidade, do tipo qualitativa onde foi utilizado como
espera-se, para auxiliar nos desgastes dos instrumento de coleta de dados um grupo
vínculos constituídos no processo educa- focal composto por 16 alunos da Pedago-
cional e que afeta também o desenvol- gia da Faculdade Anhanguera de Brasília,
vimento dos sujeitos envolvidos. Nesse com alunos do 1º ao 6º semestres da res-
processo de conflitos durante o período pectiva formação. A partir de interações
de aprendizagem os alunos considerados grupais apresentamos o tema a respeito
colegas de sala de aula atuam como faci- da importância das relações afetivas entre
litadores ou opositores para facilitar ou alunos para conhecermos esse aspecto no
dificultar as superações nas dificuldades desenvolvimento emocional e educacional
de relacionamentos durante a formação dos pesquisados. Como conclusões, cons-
educacional. Para Vygotsky (apud Carrara, tatamos que nesta construção coletiva a
2004) o termo atividade não é qualquer aprendizagem ocorre numa ação conjunta
coisa feita e sim algo que tem um significa- entre o colega mais experiente e aquele
do para quem dela usufrui. Com isso uma que aprende, sendo assim, o processo é
tarefa, por exemplo, possui um objetivo e ativo por parte de quem aprende e com
um motivo onde um representa a meta a o tempo acaba adquirindo personalidade
ser alcançada e o outro, respectivamente, consciência e inteligência. A formação aca-
é a necessidade que a pessoa sente no agir. dêmica influencia significativamente a vida
Vygotsky (apud Carrara, 2004) enfatiza que dos alunos e professores nas suas constru-
há um sentido quando existe relação en- ções de capacidades cognitivas, sociais e
tre objetivo e motivo. Sendo assim, no que habilidades específicas para a profissão.
concerne ao motivo a pessoa atua porque Nesse sentido, destacamos as ideias do
há um interesse, uma necessidade ou mo- sujeito 2 que expressa suas conclusões da
tivação pelo resultado para atingir o obje- seguinte maneira: “Estou saindo outra pes-
tivo, por isso a atividade ou tarefa têm um soa com uma outra visão muito mais am-
sentido para o sujeito. Dessa forma, o su- pliada do que eu tinha à anos atrás como
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que uma criança que é alimentada afeti- pel da escola, elas apontam que as ações
vamente e recebe incentivo do seu edu- da instituição devem contemplar ativida-
cador, tende a explorar com expectativas des diversas que tratem de temas como a
positivas o seu percurso escolar, assim motivação e o respeito e que envolvam,
podendo adquirir novos conhecimentos. também, a família. Além disso, elas con-
Desta maneira, o aprender se torna mais sideram que a criação do espaço dialógico
interessante e o aluno se sente confian- é um importante recurso para favorecer a
te e competente pelas atitudes tomadas autoestima. Entretanto as respostas indi-
em sala de aula. Partindo desses pres- cam que são poucas as ações desenvolvi-
supostos, propôs-se uma pesquisa cujo das no cotidiano escolar voltadas para o
objetivo foi saber se, de fato, a autoesti- trabalho da autoestima, dentre as quais
ma influencia sobre a interação social do se pode citar o desenvolvimento dos pro-
aluno e sobre seu rendimento escolar. O jetos específicos sobre o tema e as apre-
direcionamento do trabalho se firmou sentações coletivas, que visam favorecer
por meio de uma abordagem qualitati- o reconhecimento e a valoração social do
va. Foram realizadas entrevistas com três aluno. Em seu planejamento individual,
docentes que atuam nos anos iniciais do as docentes relatam que contemplam o
Ensino Fundamental de uma escola públi- tema em suas aulas por meio da criação
ca do DF. Todas as participantes eram do do espaço dialógico e da relação afetiva,
sexo feminino e graduadas em Pedagogia. além do desenvolvimento de atividades
Os resultados mostraram que a influência reflexivas. Isso porque elas acreditam que
da autoestima é marcante no processo de a interação entre professor e aluno é um
aprendizagem. Com base nas respostas elo relacional fundamental para a autoes-
apresentadas, os professores consideram tima, de modo que a postura do profes-
que crianças com a autoestima elevada sor para com o aluno pode fazer com que
desenvolvem uma boa abstração do con- este acredite mais em seus potenciais.
teúdo, se sentem confiantes para realizar Nesse sentido, o trabalho permitiu con-
qualquer atividade ou desafio proposto e cluir que todas as docentes acreditam na
se apresentam mais participantes. Contra- relação professor-aluno como elemento
riamente, aquela com uma baixa autoes- fundamental para o desenvolvimento da
tima evita a interação social e apresenta autoestima. No entanto, embora os profis-
dificuldade em se expressar e manter con- sionais da educação considerem a impor-
tato social. As docentes acreditam que as tância da autoestima no sucesso dos pro-
condições que favorecem a autoestima no cessos de aprendizagem, ainda existe uma
contexto escolar estão basicamente orien- prática incipiente sobre a valorização des-
tadas por suas ações, que devem estar tes processos no espaço escolar, o que se
voltadas ao oferecimento de elogios para distancia, portanto, de uma proposta ideal
motivação aos alunos, para a criação de de ação considerada por elas mesmas.
uma relação afetiva com o aluno e para o
desenvolvimento de uma metodologia de Palavras-chave: Autoestima; Criança;
ensino adequada para o desenvolvimento Aprendizagem.
da autoestima, ou seja, que valorize as ca- Contato: Helen Tatiana dos Santos-Lima;
pacidades do aprendiz. No tocante ao pa- FACITEC/ SEEDF; helen.tatiana@hotmail.com
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cos dias antes da cirurgia. A mãe relatou pai o que reforça a importância do apoio
ter uma perspectiva negativa quanto à social. A doença da filha afetou a religio-
utilização de uma prótese ocular, porém sidade materna, que passou a acreditar
a adaptação à primeira prótese com dois mais em Deus. Um ponto importante a
anos e quatro meses foi considerada ser destacado neste caso é a noção pro-
boa, caracterizando o auxílio como uma cessual de adaptação. Indivíduos que são
estratégia compensatória, capaz de tirar expostos a situações estressantes apre-
o foco da deficiência. Nessa condição, o sentam reações emocionais que não ne-
desenvolvimento da criança pode seguir cessariamente evoluem para problemas
um curso guiado por suas possibilidades emocionais, compreendidos aqui como
e não pela falta. Em função da idade do patológicos. Além disso, através de uma
diagnóstico, atenção primeira foi dada à rede de apoio, que inclui os profissionais,
mãe no processo de lidar com a prótese e podem ter a oportunidade de identifi-
assimilar a perda do olho. A criança sem- car estratégias de enfrentamento mais
pre apresentou desenvolvimento físico, eficazes para lidar com aquela situação
cognitivo e emocional compatíveis com específica uma vez. O profissional pode
sua idade. Não foram relatadas altera- efetivamente contribuir com o bem estar
ções na alimentação durante a primeira do paciente através de diferentes formas
infância. Apresentou somente doenças de apoio: emocional (sendo empático às
comuns à faixa etária. Não ocorreu dé- percepções do paciente); concreto (aju-
ficit no desenvolvimento motor e da lin- dando-o a superar limitações através do
guagem, quanto aos quesitos de firmar desenvolvimento de habilidades especí-
a cabeça, sentar com apoio, sentar sem ficas ou fornecimento de recursos com-
apoio, engatinhar, desenvolver o movi- pensatórios) e informativo (orientando-o
mento de pinça, andar, balbuciar, falar, sobre sua patologia, prognóstico e possi-
primeiras palavras, primeiras frases, ca- bilidades). Em outras palavras, o profis-
pacidade motora e linguagem atual. A sional pode ser importante modelo de
mãe considera o desenvolvimento da enfrentamento para o paciente e família,
filha semelhante ao dos irmãos, haven- colaborando para sua real reabilitação,
do inclusive boa interação entre eles. A reforçando a necessidade de acesso a
menina frequenta a escola desde os três serviços de saúde e viabilizando condi-
anos, com comportamento colaborador ções de pleno desenvolvimento.
e entusiasmo. A perda ocular e o fato
de usar prótese não são associados à Palavras-chave: Anoftalmia; Reabilitação;
mudança na rotina de vida e no relacio- Prótese Ocular.
namento interpessoal. Os sentimentos Contato: Douglas Rangel Goulart, UnB,
maternos relacionados ao momento do douglasrgoulart@gmail.com
diagnóstico foram tristeza, inseguran-
ça e medo e já não estão presentes no
momento atual. A mãe relata não ter
recebido atendimento psicológico em
qualquer momento do processo de per-
da e reabilitação, o suporte foi dado pelo
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visa fornecer dados que possam contribuir dadores. Os trabalhos acima relacionados
para que abrigos institucionais se adé- dão relevo às diferentes dimensões da
quem às recentes orientações e diretrizes, qualidade que deveria ser a marca de abri-
melhorando a qualidade do acolhimento e gos institucionais que se constituíssem, de
promovendo o desenvolvimento das crian- fato, como contextos de desenvolvimento
ças. Tem também por objetivo fomentar o para as crianças acolhidas. Para atingir esta
intercâmbio entre grupos de pesquisa de qualidade há uma urgente necessidade de
universidades de duas regiões do Brasil, pesquisas na área e de trabalhos de capa-
Norte e Sudeste. O primeiro trabalho, do citação e de apoio para os profissionais
Centro de Investigações sobre Desenvolvi- envolvidos nesse importante momento da
mento Humano e Educação Infantil (CIN- vida das crianças. Cabe, ainda, acrescentar
DEDI) da Universidade de São Paulo (USP), que as novas leis e normativas nacionais
buscou trazer para esse contexto conheci- responsabilizam o abrigo, prioritariamen-
mentos e práticas interessantes, construí- te, pelo trabalho de reintegração familiar.
das nas últimas décadas, na Educação In- Para isso faz-se necessário capacitar seus
fantil. Aborda, especificamente, o momen- profissionais e mobilizar um rede integra-
to de ingresso da criança na instituição e da de serviços que os apoie nessa bela e
a complexa integração abrigo-família. O difícil tarefa.
segundo e o terceiro trabalhos apresen-
tam ações investigativas e interventivas
que, desde 2004, vêm sendo realizadas O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL
no maior abrigo para crianças de zero a ENQUANTO CONTEXTO DE
seis anos da região metropolitana de Be- DESENVOLVIMENTO: O MOMENTO DO
lém, sob a responsabilidade de alunos e INGRESSO E A INTEGRAÇAO ABRIGO –
professores do Laboratório de Ecologia do FAMILIA
Desenvolvimento (LED) da Universidade Maria Clotilde Rossetti-Ferreira - USP
Federal do Pará (UFPA). Um dos trabalhos mcrferre@usp.br
apresenta a experiência de adaptação e Ivy Gonçalves de Almeida - USP
a aplicação da Escala Infant Toddler Envi- ivy.almeida@uol.com.br
ronment Rating Scales (ITERS), revelando Financiamento: CNPq/CAPES
aspectos que concorrem para a qualidade
do ambiente físico e social em instituição Estudos têm mostrado (AASPTJ-SP, 2004;
de abrigo e, consequentemente, para as IPEA, 2005) que muitas crianças e adoles-
interações adulto-criança e criança-crian- centes permanecem por longos períodos
ça. No terceiro estudo foram investigados em abrigos de má qualidade, tendo seus
conhecimentos e concepções sobre desen- direitos novamente violados, frequente-
volvimento infantil e práticas de cuidado mente, por problemas derivados da falta
em situações de brincadeira, observadas ou deficiência de políticas públicas que
entre educadores de uma instituição de auxiliem suas famílias a enfrentarem suas
acolhimento infantil, refletindo-se acerca dificuldades. Nota-se, também, falta de
da qualidade do nicho de desenvolvimen- trabalhos efetivos com a criança, a família
to da criança a partir da integração entre e sua rede de apoio durante o acolhimento
ambiente, psicologia e práticas dos cui- institucional, que permitam seu retorno à
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família ou, no caso disso mostrar-se invi- instituição e a integração instituição - fa-
ável, seu encaminhamento a uma família mília. Quanto à inserção da criança na Edu-
substituta. Buscando superar essa situ- cação Infantil evidenciamos, em nossas
ação, planos, leis e orientações técnicas pesquisas, que a boa adaptação da criança
(Eca, 1990; Conanda & Cnas, 2006; 2009; à creche e o estabelecimento de um bom
Lei nº 12010, 2009) foram formulados relacionamento com a família dependem
e entraram em vigor, nos últimos anos, da qualidade do trabalho de acolhimento
introduzindo sérias mudanças no acolhi- à criança e à família. O processo de aco-
mento a crianças/adolescentes privados lher é planejado e feito quando se prepara
de cuidados parentais. Neste momento, e se inicia um novo ingresso, favorecendo
os abrigos institucionais se defrontam com a gradual integração da criança ao novo
exigências de adequação às novas normas, contexto, com ativa participação da famí-
que seus dirigentes raramente tiveram lia. Descobrimos, também, a importância
oportunidade de conhecer ou enfrentam da organização dos espaços, com o obje-
dificuldades para atendê-las e pô-las em tivo de promover o relacionamento entre
prática. Desta forma, o desafio e os esfor- as crianças e seu envolvimento em ativida-
ços atuais são para que estas instituições des conjuntas ou individuais, que favore-
se constituam, realmente, como espaços çam seu desenvolvimento (Amorim et al.,
coletivos de cuidado e educação de crian- 2004; Vitória & Rossetti-Ferreira, 1993). E
ças e adolescentes conquistando, assim, a no abrigo? Como fazer essa acolhida em
legitimidade de um serviço capaz de pro- situações de ruptura com a família, as
mover seu desenvolvimento, mesmo que quais podem envolver abandono, violên-
em caráter excepcional e provisório. Histo- cia, além de muito sofrimento, revolta e
ricamente, também as instituições de Edu- dor? Há poucas pesquisas nessa área. Os
cação Infantil, em especial a creche, foram dados que vimos obtendo em nosso grupo
e com freqüência ainda são vistas como de pesquisa e intervenção mostram que,
“mal necessário”. Muitos estudos e esfor- ao serem levadas de casa para o abrigo, as
ços foram necessários para tirá-las desse crianças raramente são informadas sobre
status e inseri-las no sistema de ensino, o que está ocorrendo ou do que vai ocor-
com um conjunto de leis e normativas, aos rer com elas ou com sua família (Rossetti-
quais se acrescentou, recentemente, um -Ferreira, Solon & Almeida, 2010; Rossetti-
sistema de avaliação com o objetivo de -Ferreira et al., no prelo). Não há preparo
promover um atendimento de qualidade algum para recebê-las. Os funcionários do
(Soares-Silva, Mello, Pantoni & Rossetti- abrigo, sobrecarregados de múltiplas ta-
-Ferreira, 2009; Souza, Mello & Rossetti- refas e sem orientações sobre o caso, em
-Ferreira, 2009). Quanto esse saber e essa geral, não sabem o que e como conversar
experiência podem nos ser úteis e contri- com a(s) criança(s) naquele momento.
buir para a promoção da qualidade dos Eles têm dificuldade para lidar com as rea-
abrigos institucionais? Quais as semelhan- ções e sentimentos da criança e da família
ças e diferenças entre esses dois contex- diante das separações e rupturas abruptas
tos? Nesta apresentação, dada a restrição impostas pela forma como esta medida
de tempo, decidimos abordar dois pontos de proteção tem sido realizada. Eles men-
interrelacionados: a inserção da criança na cionam seu próprio sofrimento frente ao
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sofrimento das crianças. Há uma urgente atue como mediadora em seu processo de
necessidade de pesquisas na área, além de integração no abrigo. Ademais, embora o
trabalhos de capacitação e de apoio para objetivo maior do acolhimento institucio-
os profissionais envolvidos nesse impor- nal seja a reintegração familiar, predomina
tante momento na vida e no desenvolvi- certo preconceito para com as famílias das
mento da criança. A integração instituição- crianças. As visitas dos familiares não são
-família é um tema bastante complexo que favorecidas, sendo marcadas em horários
abordaremos aqui, apenas, para comple- restritos que impedem pais trabalhadores
mentar o item anterior. Na Educação In- de irem visitar os filhos, embora a freqüên-
fantil percebemos que nas instituições fe- cia de visitas seja tomada como índice do
chadas, onde as crianças eram entregues e vínculo existente entre eles. Conforme as
buscadas pela família na porta da rua, não novas leis e normativas, a responsabilida-
se percebia a necessidade de realizar um de pelo trabalho de reintegração familiar
trabalho específico para o momento do cabe, prioritariamente, ao abrigo. É neces-
ingresso da criança nesse novo ambiente. sário, porém, capacitar seus profissionais
Achava-se que, com o tempo, bem ou mal, para isso e mobilizar uma rede integrada
as crianças se adaptavam. O contato com de serviços que os apoie nessa bela e difícil
as famílias se resumia a reuniões com pais, tarefa.
onde estes podiam ver os trabalhinhos dos
filhos e recebiam orientações sobre como Palavras-chave: acolhimento institucional,
proceder com eles quanto à higiene (pio- integração abrigo-família, educação infantil
lho...) e disciplina, dentre outros tópicos. Contato: Maria Clotilde Rossetti-Ferreira,
Nas instituições abertas, pais ou familiares CINDEDI/FFCLRP-USP, mcrferre@usp.br
podiam acompanhar as crianças até sua
sala, havendo um contato mais próximo
com a educadora. Essa proximidade nem AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE UMA
sempre era tranqüila, podendo envolver INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO
momentos de conflito e ciúmes. Nessas PROVISÓRIO INFANTIL
instituições, uma boa parceria com a fa- Camila Lima Filocreão - UFPA
mília e a adaptação da criança ao novo milafilocreao@hotmail.com
ambiente dependiam de um cuidadoso Celina Maria Colino Magalhães - UFPA
trabalho de acolhimento às crianças e seus celina.magalhaes@pesquisador.cnpq.br
familiares nos primeiros dias e semanas Lília Iêda Chaves Cavalcante - UFPA
de freqüência na instituição. E como se dá liliaccavalcante@gmail.com.br
esse processo de integração nos abrigos? Financiamento: CNPq
Em nossos estudos e práticas temos veri-
ficado que a retirada da criança da família, O desenvolvimento humano acontece em
em geral, é feita de forma abrupta e sem todos os momentos da vida das pessoas,
explicações para os familiares ou para a através de uma constante interrelação do
criança. Não existe possibilidade de que organismo humano e de seu ambiente,
uma pessoa que tenha vínculo com a crian- em diversos níveis de complexidade.(Bron-
ça, mesmo quando não envolvida na negli- fenbrenner, 1996). Muitos pesquisadores
gência ou violência que levou à separação, questionam qual seria o ambiente mais
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elevado (M=4,21), que foi seguido dos ção dos DH em função do sexo confirma
escores médios dos direitos à autonomia estudo anterior (Camino e cols., 2004). Os
(M=3,91), dos direitos ao meio ambiente resultados referentes aos alunos de esco-
(M=3,53) e dos direitos a não ser discri- la pública apresentarem um escore médio
minado (M=3,49); (2) os escores médios maior do que os alunos de escola privada
dos participantes em relação aos DH não em relação a todos os direitos, podem ser
se diferenciaram em função do sexo; (3) os justificados pelo fato dos alunos de escola
escores médios dos participantes diferen- pública serem vítimas, pela sua pertença
ciaram-se significativamente (p<.05) em à classe social desfavorecida, de maiores
função da escola que freqüentavam, tendo opressões sociais, de um poder menor de
os alunos de escola pública obtido escores reivindicação e de constantes catástrofes
médios mais elevados do que os alunos da ambientais. Quantos aos estudantes mais
escola particular em relação aos direitos novos terem obtido um escore médio de
ao meio ambiente (M=3,72 e M=3,19), as envolvimento mais elevado em relação a
conquistas sociais (M=4,38 e M=3,95) e à todas as gerações de direitos, acredita-se
autonomia (M=3,97 e M=3,81); (4) os es- que tem a ver com o fato de, por serem
tudantes de 11 a 13 anos obtiveram, em mais jovens, não pensarem nas dificulda-
relação à todas as gerações de direitos, des de participarem de lutas e pelo fato de
escores médios mais elevados do que os terem uma postura, em geral, mais afasta-
estudantes de 14 a 17 anos, sendo que os da da realidade social. A correlação posi-
escores médios obtidos pelos estudantes tiva encontrada entre os DH e a empatia,
mais novos e mais velhos foram, respec- pode ser explicada pela função motivado-
tivamente, M=3,90 e M=3,39, em relação ra da empatia em relação aos princípios de
aos direitos ao meio ambiente, M=4,47 e justiça (Hoffman, 2003; Sampaio, 2007).
M=4,14, em relação aos direitos sociais,
M=4,10 e M=3,85, em relação aos direitos Palavras-chave: direitos humanos, empatia,
para a autonomia e M=3,85 e M=3,43, em jovens.
relação aos direitos à não discriminação; Contato: Cleonice Pereira dos Santos Camino,
(5) ocorreu uma correlação positiva signi- UFPB, cleocamino@yahoo.com.br
ficativa (r=.416; p<.05) entre a empatia e
todos os direitos estudados. Diante desses
resultados, pode-se concluir que o fato dos LT03-1510 - JULGAMENTO MORAL E
direitos de primeira e segunda geração PERSPECTIVAS PARA O FUTURO DE
apresentarem escores médios mais eleva- ADOLESCENTES EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE
dos deve-se ao fato desses direitos terem Josemar Soares Rosa Filho - UNIVASF
sido os primeiros a serem institucionaliza- josemaar@msn.com
dos. Quanto aos direitos relativos ao meio Leonardo Rodrigues Sampaio - UNIVASF
ambiente terem apresentado um escore leorsampaio@yahoo.com.br
médio superior aos direitos de não ser dis-
criminado, acredita-se que se deva a uma Como uma fase consideravelmente valo-
maior presença de movimentos ecológicos rizada pela sociedade ocidental, a adoles-
nas escolas do que de movimentos relati- cência é vista sob o signo da esperança e
vos a não discriminação. A não diferencia- prosperidade, sendo estes tratados sob o
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ra física, até a falta de profissionais bem não sendo apresentado porém, de que
qualificados e a péssima qualidade edu- formas esses adolescentes pensam em
cacional disponibilizada a esses adoles- chegar a essa situação. Percebe-se que os
centes (Galvão, 2005; SINASE, 2006; Rosa adolescentes não possuem grandes pers-
Filho e Sampaio, 2009). Avaliando essa pectivas sobre o futuro, o que aponta a
situação, questiona-se: de que forma as necessidade de intervenções que visem
medidas socioeducativas poderiam ser facilitar o processo de construção e or-
melhoradas e mais bem executadas? A ganização de projetos de vida e maiores
resposta é complexa, mas aponta-se que perspectivas para o futuro. No que se re-
atualmente, segundo Sampaio (2007) fere ao julgamento moral, os dados ainda
o campo de pesquisa e educação moral não foram totalmente analisados, sendo
pode contribuir na modificação dessa re- a previsão final para a agosto deste ano.
alidade, havendo um grande número de Porém, os dados categorizados até ago-
pesquisas que comprovam a eficácia de ra apontam uma forte predominância de
procedimentos que visam uma melhoria concepções morais entre os estágios três
nas concepções morais dos indivíduos. e quatro do nível convencional da tipolo-
Considerando que as concepções morais gia kohlberguiana, apontando uma con-
dos adolescentes indicam de que forma cepção de seguimento irrestrito as regras
estes compreendem e lidam com as re- sociais como benéfica e mais bem valori-
gras sociais, tornou-se necessário inves- zada que a relativização ou análise crítica
tigar quais os níveis de julgamento moral das mesmas. Além disso, a desejabilidade
predominantes entre estes, problemati- social, característica marcante do estágio
zando e elaborando estratégias para me- três, foi uma característica evidente nas
lhoria dessa realidade, além de pesquisar entrevistas. Esses resultados apontam
quais as perspectivas para o futuro des- também, assim como no caso das pers-
ses adolescentes, apontando que a ela- pectivas sobre futuro dos adolescentes,
boração de projetos de vida pode contri- uma necessidade de maiores interven-
buir para a melhoria da realidade socioe- ções visando a promoção de níveis de
ducativa dos mesmos. Dessa forma, essa julgamento moral mais elevados, fazen-
pesquisa se delineou utilizando recursos do com que as medidas socioeducativas
qualitativos e quantitativos, sendo des- possam ser executadas de melhor forma
critiva e possuindo como instrumentos e fornecendo contexto para o desenvol-
principais entrevistas semiestruturadas vimento de uma moralidade autônoma e
e o instrumento denominado de Dile- pautada no respeito mútuo.
mas da vida real, produzido por Galvão
(2010). A amostra contou com 32 adoles- Palavras-chave: privação de liberdade,
centes de uma instituição socioeducativa adolescentes, julgamento moral
de Petrolina – PE. Estando em processo
de finalização, essa pesquisa possui ape-
nas resultados parciais, apontando que
as principais perspectivas para o futuro
dos adolescentes dizem respeito a ob-
tenção de uma boa situação financeira,
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porte as pesquisas de campo, trabalhado do pela justiça com uma concessão assis-
de forma descritiva. A significação deste tida baseada na inclusão escolar, o que le-
trabalho nos leva a história da legislação, vou ao questionamento e a problemática
todo o contexto que envolve os menores dessa pesquisa. Como ocorre a inclusão
em conflitos com a lei, isso de uma forma do menor infrator em condição de liber-
gradual. A preocupação com esse público dade assistida na vida escolar? Baseado
vem desde a colonização do Brasil, tendo neste contexto de uma vivência profis-
como exemplo às ordens criadas por D. sional e social surgiu a proposta da aná-
Fillipe II (ordenações Fillipinas). Depois lise do tema, tendo como norteamento o
vieram as leis codificadas do Código Mello letramento, que seria a forma funcional
de Mattos, até a então Constituição Fede- da alfabetização. Os resultados obtidos
ral e com ela o Estatuto da Criança e Ado- concluíram que a medida sócio-educativa
lescentes. Jesus, (2006) um dos principais de inclusão escolar por si só não garante
autores que regem esse trabalho, aborda ao adolescente infrator uma reintegração
claramente toda trajetória podendo nos social, já que além dos fatores de estrutu-
dá exemplos do inicio dessa preocupação ra familiar a ser considerado, temos o fa-
com a deliquencia juvenil, (JESUS, 2006, tor social que não garante programas de
p.31). “A preocupação com a delinquen- apoio em parceria com a escola a esses
cia juvenil estava exposta já nas Ordena- jovens e consequentemente a suas famí-
ções Filipinas, que vigoraram no Brasil por lias que vem de uma realidade dura de so-
mais de dois séculos, até a promulgação brevivência e marginalização. O trabalho
do Código Criminal do Império, em 1830”. trouxe informações práticas de observa-
Diante da preocupação e toda trajetória ções a respeito da preparação dos profes-
em volta da delinqüência juvenil em uma sores que trabalham com menores infra-
sociedade contemporânea, pode se pen- tores e que não recebem treinamentos
sar em uma garantia de direitos a uma e desconhecem essa forma de inclusão,
margem de excluídos da sociedade que trabalham com medo e inseguros, envol-
resultavam em crianças e adolescentes. vidos pela realidade sofrida do aluno de
Após a Constituição Federal que foi pro- periferia que chegam às salas de aula sem
mulgada no ano de 1988, na Câmara dos motivação. E a inclusão do menor infrator
Deputados com intuito de garantir cida- através do trabalho pedagógico escolar
dania em suas leis ao individuo brasilei- é minimizada tanto pelo despreparo dos
ro, se pensou em uma lei complementar professores, quanto pela falta de envol-
que fosse destinada ao público infantil. vimento da família no processo inclusivo
Esse ideal se consagrou em Estatuto da de aprendizagem, não existe um coopera-
Criança e do Adolescente no ano de 1990. ção mútua de responsabilidades. A parte
Diante desse contexto que a lei garante as positiva que pode ser observada nessa
crianças e adolescentes uma lei específi- pesquisa, baseia-se na funcionailidade do
ca, onde ocorra a inclusão de jovens em letramento, fator significativo nas discus-
condições de liberdade assistida em sala sões em sala. Através dessa maneira de
de aula, se pode perceber que muitos vivenciar com o aluno os vários gêneros
desses adolescentes voltavam a cometer textuais baseado em sua realidade é que
infrações mesmo depois de ser beneficia- se pode despertar para algumas questões
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condizentes com seu meio, localizando Os autores enfatizam que esse acompa-
assim, esse aluno na sociedade. Constata- nhamento pode ser realizado com proce-
-se que é considerável investir em futuras dimentos de baixo custo, simples e que
pesquisas que trabalhem diretamente todos os profissionais de saúde da rede
com as famílias dos menores infratores, pública têm possibilidade de realizá-los.
discutindo sobre o respeito, às origens, Assim, esse monitoramento tem condi-
cultura e todos os aspectos sociais que ções de ser implementado nos progra-
possam intervir na conduta do adoles- mas públicos, com a função de vigilância
cente com o meio. Através de uma abor- do desenvolvimento. E, para confirmar
dagem mais específica das realidades essa afirmação, documentos do Misté-
existentes, fatores norteadores para uma rio da Saúde (Brasil, 2002; Brasil, 2002a)
melhor qualidade do ensino público para apontam que os Programas de Saúde da
menores infratores, neste caso específico, Família podem ser considerados locais
do Distrito Federal. adequados para a avaliação e o monitora-
mento do desenvolvimento infantil, uma
Palavras-chave: inclusão, menor infrator, vez que são responsáveis pela prevenção
letramento escolar. de doenças, promoção e recuperação da
Contato: Amanda Correia Lima, Universidade de saúde. Ainda, de acordo com o Ministério
Brasília – UNB, amandajmorrisson@gmail.com da Saúde (Brasil, 2002), os profissionais da
saúde devem estar preparados para iden-
tificar os sinais precoces de atraso no de-
CO 43 - LT06 senvolvimento e encaminhar essas crian-
ças para os serviços especializados mais
Saúde adequados para o problema detectado.
Este trabalho teve como objetivos avaliar
o desenvolvimento infantil a partir do re-
LT06-712 - TRIAGEM DO
lato dos pais e verificar se havia ou não
DESENVOLVIMENTO INFANTIL NA SAÚDE
discrepância entre as informações conti-
PÚBLICA
das no prontuário da criança nos Progra-
Ana Regina Lucato Sigolo - UFSCar mas de Saúde da Família e as fornecidas
ginasigolo@yahoo.com.br pelo instrumento, a partir das informa-
Ana Lúcia Rossito Aiello - UFSCar ções relatadas pelo responsável durante
ana.aiello@terra.com.br a sua aplicação. Participaram desta pes-
Financiamento: FAPESP quisa 60 pais/responsáveis de crianças de
zero a dois anos, atendidas em cinco Uni-
Amorin et al. (2009) ressalta que uma dades do Programa de Saúde da Família.
avaliação regular do desenvolvimento in- Em função de não existir um instrumento
fantil é importante para que problemas de avaliação do desenvolvimento infantil
do desenvolvimento sejam identificados baseado no relato dos pais e padronizado
precocemente e as crianças diagnostica- para a população brasileira, optou-se pela
das sejam encaminhadas para programas adaptação da “Ficha de Acompanhamen-
específicos, para que as conseqüências to do Desenvolvimento” (Brasil, 2002),
do seu atraso sejam nulas ou mínimas. disponibilizada pelo Ministério da Saúde.
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midade com a vivência cotidiana das fa- no quintal da sua brincadeira, exploran-
mílias e um fortalecimento da rede social do, criando história e afetando os profis-
da qual ela faz parte. Este espaço abriu- sionais com os quais se relaciona. Ressal-
-se para a presença do extensionista do tamos, desse modo, seu papel ativo na
projeto “Brincadeiras”, compreendendo co-construção das ações para crianças de
seu lugar de aprendiz e proporcionando 0 a 6 anos. Lembramos, ainda, com Sou-
vivências mobilizadoras de discussões za (1994), que a compreensão do brincar
acadêmicas, que envolvem psicologia do é um processo ativo, dialógico. Assim, o
desenvolvimento, psicologia social, so- sentido que se enuncia nem está no fa-
ciologia da infância, dentre outras temá- lante nem no interlocutor, é efeito da
ticas, qualificando o olhar do psicólogo interação; na metáfora bakhtiniana, é a
em formação e sua contribuição junto a faísca elétrica produzida pelo atrito entre
este contexto, com vistas a colaborar no os pólos.
planejamento, execução e avaliação das
atividades lá propostas, constituindo-se Palavras-chave: Psicologia Comunitária,
campo interativo fundamental para a cir- brincadeira, libertação
culação de saberes e práticas a respeito Contato: Nara Maria Forte Diogo Rocha, UFC,
do brincar. Através da vivência cotidiana naradiogo@hotmail.com
dos extensionistas junto à implementação
dessa vivência nascente, realizamos leitu-
ras do documento norteador já referido. LT06-887 - VALIDADE DA ESTRUTURA DE
O brincar, como modo de comunicação, FATORES DA ESCALA DE APOIO SOCIAL
coloca em pauta: o que teriam as crianças EM GESTANTES E PUÉRPERAS
a dizer e que importância teria esta escu- Gabriela Andrade da Silva - USP
ta para o alcance dos objetivos do CRAS? gabiasilva@usp.br
Tal escuta se confunde com diagnóstico? Tânia Kiehl Lucci - USP
Como pode o brincar, no CRAS, ser liber- tanialucci@usp.br
tação? E a partir das referências já cita- José de Oliveira Siqueira - USP
das e aprofundadas no decorrer do texto, siqueira@usp.br
a seguir, coloca-se a pergunta originária Emma Otta - USP
destas reflexões: como e o que as equi- emmaotta@usp.br
pes dos CRAS podem aprender com as Financiamento: CAPES
infâncias? Ao propor uma nova perspec-
tiva e uma nova práxis para a Psicologia, Apoio social refere-se ao suporte que os
que parta do sujeito e não tome o sujeito indivíduos conseguem obter de sua rede
como alvo, Martin-Baró (2009) fala de um social, formada por familiares, amigos,
trabalho lado a lado, que se constrói ao conhecidos e profissionais. Esse apoio foi
mesmo tempo em que transforma a reali- definido como um conjunto de fatores
dade e os envolvidos. Compreendendo o socioambientais protetivos, que ajudam
CRAS como um espaço educativo, em seu o indivíduo a lidar com dificuldades ou
sentido mais amplo, ele também deve ser estresses ambientais (Lima, 2009). Pes-
lugar para a prática política democrática. quisas têm revelado que falta de suporte
A criança transforma o entorno do CRAS social na gravidez e no puerpério são fa-
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nardo et al, 2007). O estresse negativo cos como no transtorno bipolar (Reinares
(distress), incapacidade de estabelecer et al, 2008), diminuição dos prejuízos so-
relações sociais saudáveis (Fortune et al, ciais em pacientes com depressão maior
2002), depressão e ansiedade (Koblenzer, (Pinquart, Duberstein & Lyness, 2008) e
2005, Buske-Kirschbaum et al 2007) estão em câncer (revisado por Gundel, Humm-
altamente associados com os portadores ler & Lordick, 2007). Outros exemplos de
de psoríase, principalmente, quando as estudos, no Brasil, demonstram a eficá-
lesões são desfigurantes e em partes mais cia da terapia cognitivo-comportamental
visíveis do corpo, como nas mãos e ros- grupal em pacientes com estresse ocupa-
to (Niemeier et al, 2002). Além do nítido cional (Murta & Tróccoli, 2004) e hiper-
sofrimento em decorrência da própria tensão arterial (Cade, 2001), e individual
psoríase, outras doenças têm sido con- em pacientes com fibromialgia (Brasio et
sideradas comorbidades desta. Em um al, 2003). Observa-se a necessidade de
recente estudo de Gulliver (2008), ficou um tratamento para pacientes com pso-
constatado que, além da artrite psoriáti- ríase, no intuito de prevenir doenças mais
ca, outras doenças de cunho inflamatório graves no futuro, bem como propiciar
estariam a ela associadas, como a síndro- uma melhor qualidade de vida para os
me metabólica, a obesidade e doenças acometidos por esta dermatose. Assim,
cardiovasculares. Todas essas situações este trabalho objetiva avaliar o impacto
evidenciam a necessidade de alguma da intervenção cognitivo-comportamen-
modalidade de tratamento para esses tal, por meio de variáveis clínicas e psicos-
pacientes. Cade (2001) coloca que a te- sociais, em pessoas com psoríase de pla-
rapia cognitivo-comportamental é muito cas. Em relação ao método adotado para
útil, por abranger uma função educativa e este estudo, a amostra foi composta por
contribuir para o desenvolvimento de ha- 5 participantes portadores de psoríase de
bilidades, centrando-se nos aspectos afe- placas em atendimento dermatológico,
tivos, comportamentais e interpessoais. sendo 3 pessoas do sexo masculino e 2
Devido a etiologia multifatorial das doen- do feminino, com idade média de 49 anos
ças crônicas, aspectos ambientais (físicos (DP=12,94), tendo entre 18 e 65 anos e
e sociais) podem funcionar como fatores escolaridade mínima de 5ª série do Ensi-
de risco, uma vez que os comportamen- no Fundamental. Dois participantes eram
tos de risco emitidos geram emoções que casados, 2 solteiros e 1 viúvo, todos com
são prejudiciais ao organismo, aumentan- escolaridade de ensino médio completo.
do a susceptibilidade para as doenças ou No tocante à situação de trabalho, 40%
agravando a condição atual. Alguns estu- dos participantes estavam empregados
dos apontam que a intervenção psicoló- (n=2), 40% eram autônomos (n=2) e um
gica cognitivo-comportamental em doen- estava aposentado (20%). Em relação ao
ças crônicas tem auxiliado na melhora de tempo com a doença, a variação foi entre
diversas variáveis, que incluem processos 18 e 120 meses (média 70,8, DP=37,08).
psicossociais, qualidade de vida e adesão A pesquisa, de delineamento transver-
ao tratamento em pacientes com HIV (Ar- sal, quantitativa e quase-experimental,
nal, 2003, Rousaud, et al 2007), melhora foi realizada no Ambulatório de Derma-
dos sintomas nos transtornos psiquiátri- tologia da Santa Casa de Misericórdia de
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Porto Alegre. Como instrumentos, foram Por ser uma modalidade terapêutica de
utilizados: o questionário de dados sócio- curta duração, esperamos que os dados
-demográficos e da situação clínica, a Es- desta pesquisa possam servir como parâ-
cala de Ansiedade de Beck (BAI) (Beck et metro para futuras intervenções em saú-
al., 1988), a Escala de Depressão de Beck de pública.
(BDI2) (Beck et al., 1996), o Inventário de
Sintomas de Stress para Adultos de Lipp Palavras-chave: psoríase, terapia cognitivo-
(ISSL) (Lipp, 2000), um exame clínico PASI comportamental, saúde pública
(Psoriasis Area and Severity Index), além Contato: Helena Diefenthaeler Christ, PUCRS,
de 10 sessões estruturadas de interven- helenachrist@hotmail.com
ção individual, na modalidade cognitivo-
-comportamental. Quanto aos procedi-
mentos, os pacientes com psoríase vulgar LT06-1216 - A TERAPIA DE FAMÍLIA
foram recrutados por conveniência em NUM PROGRAMA AMBULATORIAL DE
ambulatório especializado. Os instrumen- SAÚDE MENTAL PARA ADOLESCENTES:
tos foram aplicados, individualmente, A EXPERIÊNCIA DO PROADOLESCER –
uma semana antes do início da interven- IPUB/UFRJ
ção (tempo 1) e uma semana após o fim Sonia Beatriz Sodré Teixeira - UFRJ
da psicoterapia (tempo 2). A intervenção soniabeso@yahoo.com.br
consistiu de 10 sessões estruturadas na
modalidade cognitivo-comportamental. O presente trabalho tem como objeti-
Os resultados obtidos no BAI apontaram vo apresentar o Programa Ambulatorial
uma diminuição não significativa da an- para Adolescentes de Risco, ressaltando
siedade (p=0,500 para distribuição dupla; as ações desenvolvidas com as famílias. È
p=0,250 para distribuição simples) nos nossa intenção mostrar a importância de
momentos pré e pós intervenção. O mes- uma aproximação com o grupo familiar,
mo resultado foi encontrado nos níveis dado que a família representa o contexto
de depressão (p=0,125 para distribuição interpessoal mais decisivo no desenvol-
dupla; p=0,063 para distribuição sim- vimento juvenil, interferindo de forma
ples). Em relação ao exame clínico PASI, fundamental na possibilidade ou não de
a análise comparativa dos dois tempos se obter autonomia e maturidade para
da pesquisa evidenciou uma diminuição a vida adulta. Sabemos também o quan-
que beirou a significância no teste para to o aparecimento de sintomas graves
distribuição dupla (p=0,063) e revelou nesta faixa etária mexe com o ambiente
uma diferença significativa na distribuição familiar, podendo trazer sérias dificulda-
simples (p=0,031). Os resultados obtidos des na convivência. Escutar e acolher a
neste piloto apontam que a intervenção família tem trazido bons resultados na
cognitivo-comportamental alterou uma clínica com adolescentes e é nosso in-
série de variáveis no sentido esperado. teresse mostrar como desenvolvemos
Sendo assim, espera-se que um número esta prática. A apresentação terá 2 eixos
maior de participantes venha a confirmar básicos de reflexão, que se cruzam e são
relações de efeito mais consistentes e sig- constitutivos do Programa: O primeiro diz
nificativas na segunda etapa da pesquisa. respeito as suas origens, como foi criado,
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LT01-1457 - LAELON: UMA PRAXIS DE que o desenvolvimento siga seu curso nas
DESENVOLVIMENTO suas diversas formas de expressão huma-
Luciane Alves de Oliveira - UFC-Sobral na de envelhecer, de ser e de se fazer cada
luaoliveira2307@yahoo.com.br vez mais vida e que a longevidade seja
Mariana Silva Paula Amaral - UFC-Sobral uma real possibilidade e uma perspectiva
mariana_spa@hotmail.com de vivermos mais e melhor. Concebemos
Marilia Gabriela Cavalcante Soares - UFC- que a longevidade não deve ser pensada
Sobral apenas numa relação com o envelheci-
cavalcante.marilia@yahoo.com.br mento e seus aspectos multimensionais
Alexsandra Maria Sousa Silva - UFC-Sobral em si, mas também com a complexidade
alelexandra@yahoo.com.br das diferentes relações e tecituras da vida
Franci Iria Servolo Sabóia - UFC- Sobral humana que se desenvolve e cada vez
irya.saboia@hotmail.com mais se alonga na linha do tempo (Olivei-
ra, 2003). O Laboratório de Estudos sobre
Não temos a vida. É a vida que nos tem. a Longevidade, do Curso de Psicologia da
Viemos a esse mundo como as folhas, as UFC-Sobral se propõe a contribuir com re-
plantas, os astros e os demais animais. flexões e ações acerca do desenvolvimento
Cada espécie tem seus limites e possibili- humano sob a perspectiva da longevidade
dades em seu desenvolver (Góis, 2008). implicando-a durante toda a Vida, de for-
Cada individuo, em sua história de com- ma a favorecer a promoção da saúde, a
plexas singularidades, é a expressão de participação social, a cidadania e o enve-
todo o universo. O ser humano traz em si lhecimento ativo, através do tripé ensino,
a história de toda a humanidade em seus pesquisa e cooperação/ extensao. Tem
aspectos etológicos, biológicos, psicológi- como bases epistemológicas as Teorias do
cos e sociais (Merani, 1972). Não devemos Ciclo Vital -Life Span (Baltes, 1993); Teoria
perder isso de vista ao tentar compreender Histórico Cultural de Vigotsky (1924-1934);
o desenvolvimento humano em sua com- Psicologia Comunitária (Góis, 2003); Edu-
plexidade. Por outro lado, sabemos que ao caçao Biocêntrica (2007). Atuamos através
longo da História da humanidade houve- de ações comunitárias, com diferentes fai-
ram muitas mudanças de diversas ordens, xas etárias, mediante o método reflexivo
sejam filosóficas, científicas, culturais, dialógico vivencial, trabalhamos com arte-
através de lutas, contradições, consensos, -identidade, círculos de cultura, filmes, da-
que nos levaram ao alongamento da ciclo tas comemorativas como o “dia do índio”,
da vida humana nos diversos continentes e “dia da mulher”, “dia do Idoso” e outros.
nas diferentes culturas. Tal fenômeno nos Em 2011 seguimos com dois projetos: o In-
coloca diante do envelhecimento. Compre- clusao Digital para o Envelhecimento ativo
endemos esse processo como algo natural e o Vida Longa e Feliz para Todos. No pri-
e inerente ao processo de mudanças mul- meiro Buscamos proporcionar uma aproxi-
tidimensionais e multidirecionais próprias mação de gerações, facilitando a troca de
da vida. Urge a necessidade de cuidado conhecimentos, habilidades, experiências,
frente a essas tantas vidas que se alongam. possibilitando a criação de laços afetivos
Precisamos garantir que o envelhecimento entre estudantes e idosos, favorecendo
seja vivido com toda a sua naturalidade, ao estimulo cognitivo, preservação e am-
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sua percepção sobre o TDAH, e como con- junto com a família e os demais profissio-
cebem o papel da escola no cotidiano dos nais envolvidos no processo de tratamento
alunos que apresentam indícios do referi- deste transtorno. Para uma melhor com-
do transtorno; e o (II) Questionário para preensão dos dados levantados junto aos
Gestores, contendo 18 questões que ob- professores, foram propostas algumas ca-
jetivaram levantar dados sobre a organiza- tegorias de análise: formação acadêmica,
ção da escola e a atuação da mesma no co- conhecimento do professor sobre o TDAH,
tidiano do aluno com TDAH, se a escola na percepção do professor sobre o aluno que
qual eles trabalham mantém algum tipo de possui indícios deste transtorno, o papel
registro sobre a incidência de alunos com da escola e do professor no desenvolvi-
este transtorno, e quais são as propostas mento e cotidiano de alunos com TDAH e
oferecidas pela instituição de ensino para o auxílio oferecido pelo professor e pela
auxiliar esses alunos e suas famílias. Todos escola a estes alunos. A maior parte dos
os participantes alegaram que suas escolas professores investigados, tanto das escolas
contam com uma equipe multidisciplinar públicas quanto das particulares possui en-
de atuação, sendo que o psicólogo não sino superior completo, tendo participado
está incluído neste grupo, o que também de alguma disciplina durante a graduação
parece ser a realidade dos demais mu- que abordou o tema TDAH. Os professores
nicípios que compõem a Grande Vitória, da escola particular consideraram que o
incluindo Vitória, o que foi demonstrado TDAH afeta tanto a vida escolar quanto a
por um estudo realizado nesta capital. As social e familiar do indivíduo, enquanto os
escolas investigadas mantêm registro de docentes da escola pública acreditam que
alunos com indícios de TDAH, sendo que ele compromete mais a aprendizagem. Os
tais registros indicam uma prevalência do professores das duas instituições demons-
sexo masculino. Em geral, quem primeiro traram uma visão negativa sobre os alunos
comunica à instituição de ensino sobre os com o TDAH, sendo as características de-
possíveis alunos com TDAH são os próprios satenção, hiperatividade/impulsividade
professores. Quanto às características atri- as mais indicadas. Boa parte dos profes-
buídas pelos gestores a estes alunos foram sores participantes atribuiu importância
encontradas prioritariamente as seguintes fundamental à participação da escola no
opiniões: desatento, hiperativo/inquieto, cotidiano de alunos com o transtorno. En-
impulsivo e com problemas de aprendiza- tretanto os professores da escola pública
gem. Dentre as poucas menções às carac- acreditam que não cabe a instituição se
terísticas positivas apareceu prestativo e envolver em questões familiares, enquan-
inteligente. De acordo com os gestores, a to os da escola particular denotaram uma
instituição de ensino em que estão aloca- valorização da inclusão da escola, família e
dos não proporciona nenhum tipo de for- os profissionais (médicos, psicólogos, psi-
mação para os professores a respeito do quiatras) em uma rede de apoio para es-
TDAH ou outros transtornos. Apesar disso, ses alunos. De acordo com os professores,
os gestores entendem que a escola exerce palestras e treinamentos sobre o tema não
um papel importante no cotidiano desses são atividades incorporadas à prática das
alunos com TDAH, educando e auxiliando escolas. Porém, dentro da sala de aula, a
no aprendizado, de modo a atuar em con- maior parte deles busca utilizar atividades
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que se refere às trocas sociais e às ações e a troca entre criança e terapeuta, troca
e interações de crianças autistas. A discus- esta menos verbal e sustentada mais na
são utilizará como ilustração uma pesqui- ação (acompanhada ou não pela fala), com
sa realizada num contexto denominado a finalidade de propiciar sequências de in-
de ‘terapia da troca e desenvolvimento’ terações significantes e tendo como subsi-
(TED- Thérapie de l’échange et devéloppe- dio a idéia de uma plasticidade neuronal
ment). Como sabido, o autismo, do ponto que viabiliza processos estruturais e fun-
de vista do desenvolvimento é um quadro cionais no cérebro, os quais, por sua vez,
multifacetado de aspectos (neurológicos, possibilitariam uma reorganização funcio-
bioquímicos, psicológicos, sociais) que, por nal interna construída pelas iniciativas e
um conjunto de fatores, tomaram rumos experiências da criança. No referido traba-
diferentes daqueles seguidos pelo desen- lho, a teoria piagetiana permitiu discutir as
volvimento espontâneo ou ‘normal’. Dito relações entre o organismo e o meio, as-
assim, o autismo, ou como preferem os sim como o papel dos aspectos biológicos
especialistas, os quadros do espectro au- e sociais, que podem estar prejudicados
tista, revelam aspectos do desenvolvimen- no autismo, mas que podem ser entendi-
to psicológico que ou estão ausentes em dos no âmbito da base interacionista do
épocas em que deveriam estar presentes modelo elaborado por Piaget, bem como
ou se apresentam deslocados, de maneira quanto ao principio fundamental da TED:
a não produzir boas adaptações ao meio, a troca. Os fatores do desenvolvimento,
sobretudo do ponto de vista afetivo e so- condições necessárias mas não suficientes,
cial. Num trabalho em que buscou investi- sozinhas, pela progressão nas evoluções
gar o que denominou construções cogniti- dos conhecimentos, e também a retoma-
vas no autismo, Mazetto (2010) selecionou da da teorização sobre as primeiras cons-
conceitos da teoria de Piaget para refle- truções cognitivas do bebê (construção do
tir sobre um contexto de atendimento a real), permitiram concluir que no caso do
crianças autistas chamado TED, que se ori- autismo, pode-se falar em contexto atípi-
ginou na França com um grupo de pesqui- co de desenvolvimento no sentido de que
sadores da cidade de Tours, com um cunho as possibilidades de trocas significativas
neuropsicológico e que tem como um dos estão diminuídas, dificultando as assimi-
pressupostos o de que as experiências de lações necessárias para as construções
troca quando provêm condições favoráveis cognitivas. No entanto, estas trocas e as-
tais como, tranquilidade, reciprocidade e similações podem ser retomadas na tera-
disponibilidade, podem favorecer a ação pia, possibilitando estender o período das
orientada para o outro, assim como aqui- ações motoras orientadas para o ambiente
sições cognitivas, afetivas e sociais. Além e para o outro, com o intuito de significar
disso, a TED se baseia na hipótese de que as ações a partir da e na interação, não
seria possível retomar o caminho evolutivo apenas social (quanto à presença de outra
do desenvolvimento com a reconstrução pessoa) mas também epistêmica (no sen-
de noções cognitivas que foram constitu- tido de um outro que é também objeto de
ídas de modo atípico e com a retomada conhecimento). Para a discussão aqui pre-
de experiências com os objetos e com o tendida, serão destacados os conceitos de
outro. É primordial nesta terapia o contato continuidade entre processos biológicos
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que pelo que elas informam”. Comparti- gem de alguém com barrreiras autísticas e
lhando desse sentimento, acredita-se que, mais difícil ainda relacionar-se com eles.
dependendo da entonação com que são Winnicott (1978, citado em Laznik, 2010)
emitidos, os grunhidos podem significar pressupõe que um bebê que não respon-
sim ou não, desaprovação ou aprovação, de de maneira convencional, coloca o ou-
acordo ou discordância. Diante desse po- tro à prova, constantemente, e acredita
sicionamento, a expressão de linguagem ser fundamental uma “loucura necessária
das pessoas com aspectos autísticos ad- das mães” (p. 142), que talvez seja possível
quire um valor muito importante. Seria apenas em condições em que haja uma ca-
isto, então, um vislumbre do nascimento pacidade materna e condições de seguran-
de um pequeno espaço mental, para um ça, para poder se relacionar (se vincular)
existir, mesmo que momentâneo? Seria com esses sujeitos. Expandindo o conceito,
isto, a possibilidade de uma pessoa com Alvarez (1994) assevera que é necessário
tal aspecto autístico emergir como sujeito? oferecer uma companhia viva a esses su-
Sujeito do desejo? Os grunhidos particula- jeitos. É preciso oferecer um “colo” para
res, diferenciados, somados aos olhares, as formas de linguagem, as expressões
sorrisos e gargalhadas parecem sugerir corporais, sons, gestos e olhares. Oferecer
uma forma de linguagem, uma marca pró- atenção, vivacidade e alegria podem ser
pria, podendo indicar algo único. Porque primordiais para a entrada nessa relação,
ninguém tem um grunhido igual ao do ou- para se comunicar com tais pessoas , mes-
tro, é como se fosse uma digital sonora, mo que essa linguagem possa parecer algo
uma forma particular de linguagem. Rocha de outra dimensão, inacessível e intocável.
(2010) afirma que Freud (1911) considera Todavia, indaga-se, como se comunicar
o encontro do “bebê com o mundo exter- com uma pessoa que não se comunica da
no como fundamental para o acontecer maneira convencional? Como estabelecer
psíquico” (p.169). E, retoma Winnicott um diálogo articulado por meio de grunhi-
(1978) que propõe que “o meio ambiente dos inarticulados? Os grunhidos emitidos
apresenta o mundo para o bebê” (p. 169). pelas pessoas com barreiras autísticas po-
Sendo assim, é fundamental o investimen- dem ser considerados como uma forma
to no outro para a constituição do sujeito. específica de linguagem? Tustin (1990)
De acordo com a teoria psicanalítica, só é alega que para lidar com pacientes com
possível um indivíduo se constituir como autismo é necessário “empatizar com eles
sujeito, a partir do olhar, do investimento, em suas angústias [...] encontrar pontos de
do gozo necessário do Outro. Lew (2004, contato com eles” (p. 231). A autora (1990)
citado em Laznik, 2010) aponta o “gozo do aponta que essa comunicação pode ser
Outro como um elemento constitutivo do desenvolvida através de conversas, com
aparelho psíquico do filhote de homem” sentimento, de forma que os mesmos se
(p. 143). E, discorre que no caso das pes- sintam entendidos. Assim, eles vão gradu-
soas com autismo, o que acontece é essa almente, se sentindo encorajados a “baixar
não-relação de gozo, de investimento, uma as barreiras de suas reações autistas mais
vez que “o autista estaria preso a um gozo extremas” (p. 231). Rhode (2000) assegura
fálico de seu próprio corpo” (p. 143). Pode que pesquisas recentes mostram que “as
parecer impossível compreender a lingua- funções cerebrais podem ser modificadas
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por intervenções psicológicas” (p. 251). peciais sejam prestados à criança. Estudos
Então, a comunicação com as pessoas com têm mostrado que as figuras parentais são
autismo pode ser possível, os grunhidos as mais afetadas pelo estresse em casos
podem ser considerados como uma forma de desenvolvimento atípico de um filho,
de expressão da linguagem, na medida em sendo, porém, a mãe mais atingida por sua
que um vínculo é estabelecido com elas. condição de “cuidadora direta” (Hamlett,
Assim, o psicoterapeuta e as pessoas que et al., 1992; Ong et al., 1998, citado por
convivem com estes sujeitos, poderiam Cherubini, Bosa & Bandeira, 2008). Outros
buscar acolher seus grunhidos, essa forma estudos também mostram que a dedica-
única e muito particular de se expressarem ção ao cuidado do filho com autismo leva
no mundo. estas mães a vivenciarem considerável
sofrimento, em virtude da emergência de
Palavras-chave: Autismo; Linguagem; Psicanálise. sentimentos ambivalentes. É comum o la-
Contato: Taísa Resende Sousa,UFU, mento pelo filho, pelas limitações frente a
taisa.r.s@hotmail.com vida que ele permanentemente apresen-
tará, as expectativas frustradas em decor-
rência da idealização de um filho perfeito
LT05-997 - COMPREENDENDO A (Monteiro, 2008), para o qual são feitos
VIVÊNCIA DE SER-MÃE DE UMA planos e construídos sonhos. O cuidado
CRIANÇA AUTISTA: UMA PERSPECTIVA diferenciado e dedicação que uma criança
FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL autista demanda, leva o cuidador a, mui-
Luana Cristina F. de L. Andrade - UFRN, tas vezes, abdicar muito de si, e de seus
luana.cris@globo.com próprios planos de vida. Alguns autores
Symone Fernandes de Melo - UFRN, afirmam que apesar dos mecanismos do
symelo@gmail.com impacto do estresse na saúde ainda serem
subjetivos da vivência de cada sujeito e,
Os estudos sobre o autismo têm se amplia- portanto, não determinados, o excesso de
do ao longo do tempo, apresentando uma tarefas atribuídas que uma pessoa absorve
visível evolução no que diz respeito aos no papel de cuidador gera consequências
conceitos atribuídos e formas de compre- em sua saúde física e psicológica (Bauer et
ensão, sendo possível apontar diferentes al., 2000; Epel et al., 2004; Bandeira et al.,
hipóteses etiológicas, graus de severidade 2007; Bandeira, Gonçalves & Pawlowski,
e características específicas ou não usu- 2006, citado por Cherubini, Bosa & Ban-
ais (Schmidt, Dell’Aglio & Bosa, 2007). A deira, 2008). Carrion, Córdoba e Collado
descoberta de um filho com autismo gera (2003) verificaram que as mulheres são
uma grande sobrecarga emocional para a mais sensíveis e responsáveis diante da
família da criança (Schmidt, Dell’Aglio & necessidade de outras pessoas e se envol-
Bosa, 2007; Monteiro et al, 2008), bem vem emocionalmente mais intensamente
como suscita muitas dúvidas e frustra principalmente quando o cuidado se refe-
expectativas em relação a um filho ideali- re ao filho. Este estudo tem por temática
zado, sendo um momento peculiarmente a maternidade no contexto do autismo. A
delicado. Este diagnóstico trás também a investigação fundamenta-se na fenome-
necessidade de que alguns cuidados es- nologia existencial, mais especificamente
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nas ideias de Martin Heidegger Trata-se são da experiência e reflexão sobre ela,
de uma pesquisa de caráter qualitativo são elas: 1) Impacto do Diagnóstico; 2)
que teve como objetivo geral compreen- Mudanças na Relação com Filhos Não-Au-
der a vivência de ser-mãe de uma criança tistas; 3) O Cuidado Com o Filho Autista; 4)
autista, considerando as características Qualidade de Vida Materna e Importância
do espectro autista e suas implicações no do Apoio Familiar; 5) O Cuidado Consigo;
tocante a maternidade. A pesquisa teve 6) O Olhar do Outro; 7) Angústia Quanto
como participantes três mães de crianças ao Futuro. Trazendo um panorama geral
com autismo, que frequentam a Associa- sobre estas unidades, a primeira busca
ção de Pais e Amigos dos Autistas do Rio apresentar como foi vivenciada por essas
Grande do Norte (APAARN), estando seus mães, a expectativa e o impacto emocio-
filhos com idades entre 5 e 8 anos. Foram nal do diagnóstico, tanto devido ao desco-
realizadas entrevistas individuais, semies- nhecimento sobre transtorno, quanto em
truturadas, tendo como referência o mo- função do sofrimento advindo do rompi-
delo de entrevista fenomenológica pro- mento com sonhos e projetos. A segunda
posto por Szymanski (2002) – a Entrevista retrata as mudanças percebidas na rela-
Reflexiva. As narrativas foram registradas ção materna das entrevistadas com seus
em áudio com o uso de gravador, bem outros filhos, entendendo os sentimentos
como transcritas na íntegra. As mães e envolvidos nesta relação, e as implicações
seus filhos receberam nomes fictícios para destas mudanças para elas e estes filhos.
que o sigilo de sua identidade fosse man- A terceira unidade trás uma compreen-
tido. Utilizou-se, inicialmente, a seguinte são sobre a relação entre a mãe e o filho
pergunta disparadora: “Como é para você autista, apresentando-se pautada primor-
ser mãe de uma criança com autismo?”, dialmente no cuidado, bem como peculiar
com a intenção de suscitar, a princípio, um dependência funcional do filho para com
discurso livre. Contudo, algumas questões a mãe. A quarta unidade procurar refletir
norteadoras direcionaram a investigação, a respeito da sobrecarga vivida pelas en-
a fim de atender aos objetivos propostos trevistadas diante das variadas responsa-
pela pesquisa. Para a análise dos dados, bilidades que lhe são atribuídas para além
foi utilizado o método fenomenológico daquelas que circundam as necessidades
baseado no modelo de Giorgi (1985). Mo- do filho autista, bem como o papel que o
reira (2002) aborda o método afirmando apoio familiar desempenha neste contex-
que ele se configura em quatro passos: a) to. Nesta quinta unidade observou-se que
leitura geral da descrição; b) releitura da estas mães apresentaram certo esqueci-
descrição discriminando as “unidades de mento de si, atribuindo pouca prioridade
sentido” presentes, focando sempre no para a realização de atividades voltadas
fenômeno; c) expressão de forma direta aos seus interesses pessoais. A penúltima
do que cada unidade de sentido contém; apresenta o desconforto e sentimentos
d) elaboração da “estrutura da experiên- emergentes diante do olhar do outro so-
cia” do sujeito, formada pela síntese de bre o comportamento diferenciado de seu
todas as unidades de sentido. A partir da filho. Por fim, a ultima unidade aborda as
análise foram discriminadas sete unidades esperanças e incertezas vividas por estas
de sentido que auxiliaram na compreen- mães diante dos limites e possibilidades
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-cultural – que também considera o víncu- de vida), os vídeos indicam que os bebês
lo como central e fundante – entende-se utilizam determinados recursos comuni-
o desenvolvimento humano a partir das cativos (como o andar em direção, seguir,
relações estabelecidas com o outro e o se aproximar ou permanecer ao redor de
ambiente, sendo essas mediadas pela lin- determinada pessoa; o olhar, o balbucio, o
guagem e engendradas num determinado choro e o sorriso direcionado; o estender
contexto histórico-cultural. No entanto, os bracinhos; entre outros recursos) na
ao considerar a diversidade de contextos interação. Esta se dá com pessoas espe-
a que a criança pode estar submetida his- cíficas, as mesmas ocorrendo, prioritaria-
tórica e socialmente, nos questionamos mente, com funcionários do abrigo, ain-
sobre processos de relações, em termos da que haja outros adultos e voluntários
de comunicação e construção afetiva de presentes. Tais comportamentos indicam
bebês que se encontram em contextos de preferências e especificidades, revelando
acolhimento institucional: como o bebê comportamento possível de seletividade
se relaciona com e nesse ambiente? Foi na escolha dos parceiros de interação. O
com essa problematização que nos pro- mesmo acontece nas interações com as
pusemos a investigar, através de um es- outras crianças. Para discutir esses modos
tudo de caso, envolvendo um ambiente de relações, foi selecionada uma cena. No
de acolhimento institucional, os modos episódio, Lucas estava no berço, interagin-
de co-construção das relações e dos vín- do de longe com um bebê de outro berço,
culos afetivos de bebês com os adultos por meio de olhares e balbucios. Quando
cuidadores e com as outras crianças que Elaine (funcionária) passa pelo berçário
compartilham do mesmo contexto. A pes- e segue em direção à cozinha, ele a vê e
quisa foi guiada pela perspectiva teórico- começa a chorar, olhando para o corredor
-metodológica da Rede de Significações. onde ela entrou. Seu choro dura alguns
O estudo foi realizado numa cidade de minutos, atraindo a atenção de uma vo-
médio porte do interior de São Paulo. Fo- luntária. Esta tira o bebê do berço e o co-
ram realizadas vídeogravações, durante loca no chão, oferecendo um brinquedo.
três meses, tendo como foco três bebês, Mesmo assim, Lucas continua chorando,
cujos nomes fictícios e idades são Lucas (3 agora com mais intensidade (“berrando”).
meses); Guilherme (10 meses); e, Rosa (5 A diretora do abrigo aproxima-se e o pega
meses). A fim de acompanhar mudanças e no colo, dizendo “pronto, pronto, pronto”.
(trans)formações ocorridas nas formas de Embora o choro diminua, não é suficiente
se relacionar e se comunicar dos bebês, para que ele pare de chorar. Nesse mo-
tem sido feita uma análise microgenética mento, Elaine volta ao berçário, mas sai
das cenas. Isto é, descrição minuciosa de rapidamente. E ele, novamente, começa a
eventos e acontecimentos e acompanha- chorar gritando e olhando na direção dela.
mento das mudanças, que tal como dis- Por fim, a funcionária reaparece e o pega
cute Lyra (2000), marcam a história dos no colo, após ele inclinar o corpo em sua
participantes em termos de momentos direção. No colo, imediatamente, Lucas
de quase estabilidade ou de mudanças. para de chorar. Ela o leva para a cozinha e
Como resultados parciais obtivemos: para a diretora do abrigo diz: “olha aí o remédio
a faixa etária em questão (primeiro ano dele (...) oh! Meu amor, tá acostumado,
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acordo com as indicações das pedagogas vam sua saída, sendo que algumas vezes o
do abrigo, que priorizaram para a atividade mais novo até chorava. Em casa e na brin-
aquelas com dificuldades na escolarização quedoteca, os primeiros encontros com
e nas relações com outras pessoas (tanto Bela foram marcados por muito silêncio e
com outras crianças quanto com as cuida- recatamento de sua parte. E assim que o
doras da instituição). Outro critério para a grupo acabava, Bela logo voltava para per-
formação do grupo foi a idade das crian- to dos irmãos, sempre cuidando dos dois.
ças, sendo a faixa etária escolhida a de 8 No transcorrer dos dias e das brincadeiras,
e 9 anos. Com a observação desses aspec- o relacionamento com a criança foi se tor-
tos, fizeram parte do grupo da brincadeira nando cada vez mais pessoal, sem tantas
um menino e cinco meninas, sendo que resistências dela e dos irmãos para as sa-
uma delas participou apenas em seus perí- ídas de casa e com maior comunicação
odos de férias, por estudar no mesmo tur- visual e corporal. Já a comunicação verbal
no de realização do trabalho. No primei- demorou um pouco mais de tempo para
ro semestre de atividades com o grupo, ser compreensível. No início, Bela apon-
duas extensionistas eram as responsáveis tava seus desejos e sentimentos com sons
por estar com as crianças. Já no segundo de impaciência e grunhidos, revelando na
semestre, a equipe contou com mais três maioria das vezes apenas os momentos de
extensionistas. Foram realizadas visitas descontentamento. Apesar dessas expres-
semanais ao abrigo durante todo o perío- sões terem perdurado por grande período,
do letivo da universidade, nas quais eram nos últimos encontros do grupo, era possí-
dedicadas uma hora e trinta minutos para vel perceber que Bela expressava com pa-
estar com esse grupo na brinquedoteca lavras sua tristeza e suas contrariedades.
da instituição. As brincadeiras, seus parti- Além de ter sido ouvida e entendida, o gru-
cipantes e suas regram eram escolhidas e po analisou o falar da criança importante
conduzidas conjuntamente, sendo o brin- por ter proporcionado a ela a melhor per-
car concebido como um fim em si mesmo. cepção das suas sensações e a organização
Ao brincar com o grupo, os extensionistas de possíveis soluções. Outras mudanças de
procuraram criar espaços de interação Bela foram em relação à vivência de mo-
com as crianças nos quais elas pudessem mentos felizes, os quais, no início, parecia
se desenvolver de forma espontânea e au- evitar ao se isolar do grupo, permanecen-
tônoma, a partir da vivência dos conflitos do calada e quieta. Tal distanciamento foi
que surgiam, das fantasias proporcionadas diminuindo ao longo dos encontros e, ao
pelas brincadeiras e das demais possibili- final, a criança brincava todo o período
dades experienciadas. A criança do pre- com os outros componentes do grupo e
sente estudo de caso foi a última a entrar expressava contentamento com risos, can-
no abrigo, seu ingresso ocorreu aproxima- tos e interações animadas. Ademais, Bela
damente um mês antes do início do grupo. em vários momentos chamava as outras
Com 8 anos, Bela tinha dois irmãos mais meninas de amigas ou deixava evidente o
novos, um de 5 e outro de 3 anos. Os três seu carinho por elas. Também foi possível
foram abrigados na mesma casa-lar. Quan- perceber diferenças nos comportamentos
do a criança era buscada em sua casa para de Bela nos outros contextos do abrigo,
participar do grupo, os irmãos estranha- como nas saídas na brinquedoteca, quan-
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do a criança escolhia permanecer brincan- gem o mais breve possível. Caso isso não
do no parquinho, na companhia de outras possa ocorrer, deve ser procurada uma
crianças, em vez de ir logo para casa ao en- família adotiva. A adoção deve ser prece-
contro dos irmãos. O acompanhamento do dida de um estágio de convivência com a
desenvolvimento e a convivência com Bela família adotante (Brasil, 1990; 2009), com
mostraram a importância da postura dos o objetivo de facilitar uma adaptação à
extensionistas de suporte para as crianças nova situação familiar, tanto nos casos de
do grupo poderem se expressar e agir de adoção nacional como internacional, nes-
forma espontânea, como sujeitos de seus te último caso devendo ocorrer no país de
desejos, a partir do vínculo de confiança e origem das crianças, por um período de no
respeito estabelecido com elas. Além dis- mínimo um mês. Apesar dos avanços nos
so, observou-se que a atividade em grupo estudos sobre adoção, permanecem ain-
auxiliou o desenvolvimento da individua- da muitas lacunas a serem preenchidas,
ção da criança, por possibilitar posiciona- principalmente com relação às dinâmicas
mentos e escolhas pessoais, e que foi pos- e estratégias de interação que propiciam
sível desenvolver uma escuta terapêutica um ambiente familiar saudável. Palacios
por meio de uma prática clínica reflexiva e (2007) afirma que os estudos têm enfo-
transformadora. cado mais os resultados da adoção e as
características dos envolvidos, mas pouco
Palavras-chave: desenvolvimento, brincadeira, tem sido estudado sobre os processos que
abrigamento. envolvem a adoção. Assim, neste estudo
Contato: Priscila Fernandes do Prado – utilizou-se como aporte teórico e meto-
Universidade de Brasília – pprifp@gmail.com dológico a Teoria bioecológica do desen-
volvimento (Bronfenbrenner & Morris,
1998), para investigar de forma qualitativa
LT01-1258 - ADOÇÃO NACIONAL E os processos proximais entre adotantes e
INTERNACIONAL: PROCESSOS PROXIMAIS adotados durante o período de convivên-
NO PERÍODO DE CONVIVÊNCIA cia anterior à adoção. Para compreender
Elisa Avellar Merçon-Vargas - UFES o desenvolvimento nesta perspectiva de-
elisa.amv@gmail.com vem ser considerados quatro níveis que se
Edinete Maria Rosa - UFES relacionam entre si: o processo, a pessoa,
edineter@gmail.com o contexto e o tempo (PPCT). Os proces-
Débora Dalbosco Dell’Aglio - UFRGS sos proximais são o primeiro mecanismo
dalbosco@cpovo.net produtor de desenvolvimento, são formas
Financiamento: CAPES duradouras de interação entre um indiví-
duo ativo e outras pessoas, objetos e sím-
O Estatuto da Criança e do Adolescente bolos. Podem ter efeitos de competência
(ECRIAD; Brasil, 1990) assegura o direi- ou disfunção dependendo dos ambien-
to à convivência familiar e comunitária a tes em que acontecem. As características
toda criança e adolescente. Nos casos em da pessoa são vistas como produtoras e
que estes direitos estão sendo violados, a produto do desenvolvimento. O contexto
criança ou adolescente deve ser acolhida e considera a relação entre pessoa e am-
deverá ser reinserida na sua família de ori- biente como multidirecional, com ambos
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alizadas nesse estudo ocorreram em um ponde: “... ele já sabe que ele não é. Ape-
contexto de conversação, tendo a seguin- sar de que ele sabe que não é... que é ado-
te questão deflagradora do tema a ser in- tado.” Esse excerto revela a “intolerância
vestigado: “Quando você ouve a palavra eliminativa” que é quando se busca trans-
adoção, o que te vem à mente? Elegemos formar aquilo que está em conflito em alvo
como categoria de análise, neste trabalho, de eliminação. A palavra filho não tem es-
a atribuição de valor às ações advindas da paço no discurso de “X”. Essa mesma es-
distinção entre “A” (valores legitimados tratégia é identificada na entrevista de “Y”,
pelas instituições e presentes naquilo que aluno do Curso Técnico de Informática, 21
o discurso social pretende significar como anos, solteiro, mora com os pais e possui
“politicamente correto” sobre adoção) e história de adoção na família. Ele elimina a
“B” (significados sobre adoção a partir de condição de adotivo do primo: “Todo mun-
discursos valorados intra-individualmen- do trata ele como se ele... é, esse fato (a
te). Para análise, seguimos as concepções adoção) não existisse.” Assim, elimina-se a
de Valsiner que nos apresenta três estra- condição de ser do outro (adotivo) e colo-
tégias de ação quando atribuímos valor ao ca-o na mesma e desejável condição dos
efetivar a distinção A e B, avaliando A não entes nascidos desta família. Identificamos
de forma positiva ou neutra, mas negati- também a “Intolerância Assimilativa” que
vamente. São elas: intolerância eliminativa é transformar algo desfavorável (condição
– o outro deve ser eliminado; intolerância adotiva) em algo favorável. Para tanto o
assimilativa – mudamos o que era desfa- entrevistado lança mão de elementos que
vorável em favorável através de diferentes descrevem a filiação/perfilhação bio-gené-
meios (aculturação, educação); e tolerân- tica – parto, DNA: “Como se fosse nascido
cia – eliminamos o contraste entre A e B da minha tia normalmente, é como se ti-
e a distinção torna-se, por avaliação, po- vesse tido parto”.“Como se ele realmente
sitiva ou neutra. Ambos os entrevistados fosse do sangue da família e tivesse o mes-
selecionados para este estudo, em um mo DNA”. Desta forma ele traz o ente ado-
primeiro momento, avaliaram positiva- tivo à condição de “normalidade” familiar,
mente a perfilhação adotiva. No entanto, como ele mesmo se refere. Dessa forma,
no decorrer da entrevista, foi possível de- por meio dessa análise, foi possível identi-
tectar as estratégias intolerância elimina- ficar, em ambos os entrevistados, as estra-
tiva e intolerância assimilativa que estão, tégias de ação utilizadas face à tensão que
segundo Valsiner, ligadas a uma atribuição a adoção desperta, uma vez que elaborar
negativa de valor quanto às distinções (A e significados sobre adoção implica trazer
B). Destacamos os seguintes exemplos: na para o discurso pessoal um significado co-
entrevista de “X”, aluna do Curso Técnico letivo que é valorado como positivo, mas
de Enfermagem, 23 anos, casada, grávida que, ao mesmo tempo, implica em adição
do primeiro filho, e com experiência de de valores negativos advindos, neste caso,
adoção na família (uma prima adotou uma da história da adoção que no passado era
criança), observamos que a palavra “filho” carregada de mitos e preconceitos.
não foi mencionada, foi omitida, silenciada
no discurso dela. Perguntamos como era a Palavras-chave: adoção; construção de
relação da família com a criança e ela res- significados; socioculturalismo;
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param 98 meninos e meninas, com idades produtivo diminuiu à medida que a idade
variando entre sete e doze anos de idade, dos participantes aumentou. Além disso,
estudantes de escolas públicas e particu- constatou-se uma interação significativa
lares de Petrolina (PE). Os instrumentos entre a idade e o nível de role-taking dos
utilizados foram: uma tarefa para avaliar participantes, sobre a quantidade dada à
a capacidade de Role-taking desenvolvida professora. Mais especificamente, obser-
por Flavell (1968), o Index of Empathy for vou-se que entre as crianças mais velhas
Children and Adolescents (Bryant, 1982) e (11 a 12 anos), aquelas que atingiram
um dilema distributivo hipotético. Este di- role-taking mais elevado tenderam a dar
lema envolvia a distribuição de lanche em menos lanche para a professora do que as
uma situação de piquenique, na qual os com menor nível de role-taking. Ademais,
personagens tinham diferentes caracterís- constatou-se uma correlação negativa e
ticas: um era mais produtivo, o outro era significativa entre o nível de role-taking e
mais pobre, o terceiro era a professora e o a quantidade de lanche distribuída para si
último era o próprio participante. De uma mesmo (r = -2,38; p = ,01). Esses resulta-
maneira geral, os resultados preliminares dos sugerem que as decisões distributivas
indicam que o nível de empatia dos par- de crianças entre os 7 e 12 anos podem
ticipantes variou significativamente em ser influenciadas pela empatia e pelo seu
função do seu sexo (as meninas pontua- nível de role-taking, especialmente quan-
ram mais alto na escala de empatia que do estas decisões envolvem a produção
os meninos) e que houve uma tendência de benefícios para elas mesmas. Sugere-
desta aumentar com o avanço na idade. -se que crianças com maior nível de role-
Além disso, que os participantes de es- -taking são capazes de coordenar mais ha-
colas públicas pontuaram mais que os de bilmente diferentes perspectivas em uma
escola particular na tarefa de role-taking. situação de dilema distributivo, fazendo
Os resultados das MANOVAS indicaram com que elas foquem não apenas o auto-
que o personagem pobre recebeu mais benefício, mas busquem adotar um mode-
que os outros e que a professora recebeu lo distributivo mais igualitário. Além disso,
menos que os demais. As quantidades acredita-se que o aumento na empatia es-
distribuídas não foram influenciadas pelo teve associado a preferência por modelos
sexo ou tipo de escola dos participantes. distributivos que enfoquem menos a pro-
Por outro lado, houve diferença significa- dução/ contribuição pessoal e considerem
tiva na quantidade dada a si mesmo, em a igualdade como um modelo mais justo.
função da idade: crianças com 11 e 12 Por outro lado, as interações entre idade
anos deram uma quantidade média de e estas duas variáveis sugerem que seus
lanches significativamente inferior aquela efeitos não podem ser isolados de outros
dada por crianças com 7 e 8 anos para si provocados pelo desenvolvimento sócio-
mesmas. Houve interações significativas -cognitivo das crianças. Diferentemente
entre o nível de empatia e a idade dos do que era esperado, o role-taking e a
participantes sobre a quantidade dada empatia, isoladamente, não influenciaram
para o personagem mais produtivo: en- a maneira como as crianças fizeram suas
tre os participantes com nível mais alto distribuições entre os personagens e, nes-
de empatia, a quantidade dada ao mais te sentido, faz-se necessário a realização
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de outros estudos para que se possa com- La variabilidad en los patrones de desar-
preender melhor em que extensão o role- rollo cognitivo micro y macro encontrados
-taking e a empatia estão relacionados às en bebés que crecen en barriadas pobres
decisões distributivas durante a infância. de Colombia y la tendencia a presentar un
desarrollo cognitivo normal y alto, inde-
Palavras-chave: empatia, role-taking, justiça pendientemente de su edad (medida en
distributiva. meses) permite en primer lugar, rebatir la
Contato: Leonardo Rodrigues Sampaio. idea de un desarrollo deficiente, ocasio-
Laboratório de Desenvolvimento - nado por la pobreza y en segundo lugar,
Aprendizagem e Processos Psicossociais. presentar procesos más difusos y cualita-
Universidade Federal do Vale do São Francisco tivamente distintos de los que presenta la
(UNIVASF). leorsampaio@yahoo.com.br visión lineal de la concepción por etapas
(Fischer & Bidell, 1998). La tendencia a
identificar una valoración positiva en los
intercambios y la relación afectiva entre
15/11 - Terça-feira la madre y el bebé, independientemen-
te de la edad del bebe y la relación que
se establece entre esta tendencia positi-
8h30-10h va y niveles diferenciados de desarrollo,
tanto resolutorios como no resolutorios,
permite cuestionar la relación propuesta
por otros autores entre relaciones po-
CONFERÊNCIA sitivas madre bebé y su desarrollo cog-
nitivo. Probablemente la concepción de
desarrollo adoptada y las metodologías
DYNAMICS IN THE “SABOR” OF utilizadas permitieron relacionar trayec-
VYGOTSKY torias variadas de desarrollo y de relación
Bernd Fichtner afectivas entre madre y bebé y llegar a
estos resultados. Los cambios metodoló-
gicos adoptados son: 1. Análisis micro de
las trayectorias y movilizaciones del de-
CONFERÊNCIA sempeño de los bebés en tiempo real, en
cinco intentos, al resolver cada una de las
situaciones correspondientes a su edad y
RELACIÓN MADRE BEBE Y DESARROLLO
más, de dos subescalas de la Escala Ordi-
COGNITIVO
nal de Desarrollo Uzgiris Hunt: objeto per-
Mariela Orozco Hormaza - Universidad del manente y causalidad. 2. Análisis macro
Valle, Colombia de las trayectorias y movilizaciones de de-
orozcohormaza@gmail.com sempeño al resolver las situaciones de las
Financiamento: COLCIENCIAS/Universida- subescalas, a través de cuatros aplicacio-
des del Valle, del Magdalena, Tecnológica nes a lo largo de tres meses. 3. Análisis de
de Bolívar y la Corporación Niñez y Cono- la relación madre bebe empleando el gra-
cimiento. fo ‘state space grid’ (Hollenstein, 2007).
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Se partió de la concepción que propone: adoptan las teorías del cambio, que per-
1) el desarrollo humano tiene lugar en ni- miten identificar fenómenos y datos que
chos ecológicos en los cuales se producen muestran que el acceso al conocimien-
acoplamientos de orden social, cuando to supone procesos variados, analizar
“los individuos se envían reiteradamen- tanto los cambios locales como globales
te una sucesión de perturbaciones tal propios de la concepción de estadios y
que uno se convierte en medio necesario profundizar en el análisis de estrategias
para la producción y mantenimiento de la – entendidas como programas de acción
organización del otro” (Perinat, 2007, p. de los bebés – para develar la naturale-
53); 2) la relación del bebé con la madre za de sus desempeños. Sin embargo las
y/o su cuidador como ejemplo de acopla- relaciones entre desarrollo y cambio aún
miento social (Maturana y Varela, 1990, no son claras. Algunos autores sostienen
citado por Perinat, 2007) para estudiar la que el cambio cognitivo constituye un es-
posible relación entre desarrollo cognitivo pacio de avances y retrocesos, en el cual
de los bebés y los tipos de intercambios lo nuevo y lo antiguo coexisten y registran
y relaciones afectivas que las madres es- el uso simultáneo de estrategias débiles y
tablecen con ellos durante el primer año fuertes (Miller & Coyle, 1999). En contras-
de vida. Por nicho ecológico se entiende te, Fischer y Bidell (1998) sostienen que
la red de relaciones sociales en las que se las relaciones entre desarrollo y cambio
ubica el desarrollo; desde esta perspecti- implican posiciones teóricas distintas que
va se considera que los vínculos que esta- requieren niveles de análisis diferencia-
blecen los bebés con las personas que los dos del desarrollo micro y macro. El de-
rodean, les permite entrar en un tejido de sarrollo muestra la evolución del cambio
relaciones familiares y de parentesco im- en un período amplio de tiempo y se cen-
pregnadas de afectividad, que constituye tra en las transformaciones permanentes
su primer nicho ecológico social. Durante y estructurales que se pueden observar
el primer año de vida, esta trama o tejido tanto a nivel macro como de dominio ge-
de relaciones tiende a manifestarse o ex- neral: en algunos dominios, ligadas con
presarse en las modalidades de intercam- cierta edad. En tanto que el cambio cog-
bios de la madre con el bebé y viceversa, nitivo se define en un nivel micro y se ocu-
en el marco de rutinas dirigidas a su cuida- pa de modificaciones en los procesos de
do, como la alimentación, el baño y la lim- funcionamiento de la actividad cognitiva
pieza y el juego, que son orientadas por la del sujeto en tiempo real (Yan & Fischer,
madre o el/los adulto/s que los atienden 2002). Para estos autores, las modificacio-
hacia metas o propósitos que enmarcan nes se dan en dominios específicos y lue-
y dan sentido a los intercambios. Se en- go se reflejan en habilidades de dominio
tiende entonces que la dinámica entre las general. Cambio, variabilidad y transición
modalidades de actividades que la madre constituyen conceptos claves en la ruptu-
adopta para asumir las rutinas y los tipos ra con la secuencialidad y el orden de las
de intercambios afectivos que ella y el teorías del desarrollo de dominio general
bebé establecen, configuran un compo- (Puche, 2008) El análisis de la variabilidad
nente fundamental de su nicho ecológico. encontrada en los patrones de moviliza-
En relación con el desarrollo cognitivo se ción o cambio de los desempeños de los
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cita a existência de delimitações implícitas crer que existem “lugares para crianças”
e/ou explícitas por parte da criança que (places for childrens) e “lugares das crian-
se propõe a brincar. Pode-se inferir, deste ças” (children´s places). Assim, os espaços
modo, que o estabelecimento de uma si- mais apropriados (lugares das crianças)
tuação de brincadeira implica em escolhas. para as brincadeiras nem sempre são os
No entanto, cada vez menos os brincantes formais, planejados por adultos (espa-
têm liberdade suficiente para realizar tais ços para crianças), embora estes possam
demarcações uma vez que os espaços ex- coincidir em determinadas situações. Os
ternos, sobretudo nas grandes cidades, estudos sobre a utilização de espaços para
tornam-se cada vez mais inapropriados brincadeiras, principalmente em ambien-
como consequência dos perigos que os tes abertos, geralmente estão mais volta-
mesmos oferecem (Bichara e cols, 2006), dos para os arranjos que pais e professores
dentre os quais se destaca a violência. A podem fazer para facilitar que as crianças
sensação de insegurança vivida por pais brinquem ou para incentivar alguns tipos
e responsáveis repercute no modo como de brincadeiras. No entanto, o presente
as crianças vivenciam suas atividades co- estudo investe em uma perspectiva dife-
tidianas e tem reforçado uma tendência renciada baseando-se nos pressupostos
marcante da interferência dos adultos na de Rasmussem (2004) de dar voz à crian-
realização das brincadeiras. Pais, educado- ça. Investigar como as crianças apropriam
res e poder público parecem tentar aten- e ressignificam espaços diversos (tanto os
der à demanda das crianças por atividades privados como sua casa ou escola, quan-
lúdicas e ao mesmo tempo atender à de- to àqueles públicos como ruas, parques e
manda do mundo adulto de manter certa praças) se constituiu como um interessan-
vigilância às crianças (a fim de garantir-lhes te meio de obter conhecimento sobre a
mais segurança). Para tanto, delimitam relação da criança com o espaço. Associa-
espaços formais destinados às brincadei- do a isto, a literatura específica relaciona
ras (Mekideche, 2005, Karsten, 2003) tais faixa etária, gênero e status socioeconô-
como parquinhos e playgrounds. As crian- mico como sendo variáveis definidoras de
ças, porém, como indivíduos ativos tanto diferenças associadas á usos dos espaços
se adaptam aos espaços formais (que, em brincadeiras, assim, meninos preferi-
em geral, são reduzidos) como também riam espaços amplos e brincadeiras com
se apropriam de espaços pouco conven- muita movimentação, enquanto meninas
cionais dando-lhes nova configuração. Tal prefeririam espaços mais restritos e brin-
tendência criativa foi comprovada por Ras- cadeiras com grandes cenários e enredos
mussen (2004) em seus estudos na Dina- mais longos. O objetivo do presente traba-
marca. Através da perspectiva das próprias lho de pesquisa foi investigar a relação de
crianças, o autor investigou a preferência crianças de 4 a 10 anos, residente em cida-
delas em relação aos espaços para realiza- des do interior da Bahia, com seu espaço
ção das brincadeiras. Com este objetivo, de brincadeiras sob o olhar dela própria.
Rasmussen (2004) utilizou um método no Para tanto se utilizou a mesma metodo-
qual os participantes fotografavam suas logia adotada por Rasmussen (2004) que
predileções em três ambientes distintos: consistia em solicitar que as crianças fo-
escola, casa e rua. Seus achados levam a tografassem seus lugares preferidos para
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quisadas, destacamos uma delas para esta gindo por longos períodos com os sujeitos,
discussão. Trata-se de uma escola pública em que partilha do cotidiano destes para
da rede municipal do Rio de Janeiro. O sentir o que significa estar naquela situa-
objeto da pesquisa é o ensino/aprendiza- ção (Alves-Mazzotti, 1998). Esta pesquisa
gem de Ética por meio da modalidade de se fundamenta na filosofia de Alasdair Ma-
Tema Transversal, conforme orientação dos cIntyre, considerado “um dos autores que
Parâmetros Curriculares Nacionais. Consi- tem escrito, de forma mais inteligente so-
deramos como hipótese que é possível se bre ética, constituído uma das vozes mais
ensinar e se aprender ética. Deste modo, autorizadas e singulares neste domínio”
partimos do pressuposto de que os pro- (Marques, 2006, p. 38). A obra do Filósofo
fessores podem contribuir na construção Alasdair MacIntyre se destaca pelo exercí-
da cidadania dos alunos visando a apren- cio da virtude na exigência de uma defini-
dizagem de Ética em suas práticas pedagó- ção clara em relação a questões sociais e
gicas. O processo ensino /aprendizagem da políticas. A Desordem Moral existente na
Ética representa um constante desafio para sociedade está especialmente ligada a um
os educadores. A observação de violência estado de emotivismo no plano da vida éti-
presente nas escolas é um fator que nos ca. O emotivismo é uma doutrina de juízos
leva a refletir sobre o ensino/aprendiza- morais pessoais de sentimento ou atitudes
gem de ética. Há uma “desordem moral” de prazer individual e de caráter valorativo
(Macintyre, 2001) na sociedade de tal or- (Macintyre, 2001). Em se tratando de edu-
dem que se faz necessária uma ação para cação e Ética a obra de Jean Piaget (1973)
que este quadro seja revertido. O ensino/ continua contribuindo, especificamente
aprendizagem de ética por meio de virtu- quanto à compreensão do desenvolvimen-
des é proposto (idem) para que a cidadania to do juízo moral da criança e do jovem. Se-
seja possível. Ao inserir a prática das virtu- gundo relato da professora regente da tur-
des no cotidiano escolar, o professor pode ma foi utilizado o livro “Histórias de Crian-
contribuir para a formação de cidadãos que ças”, cujo autor é Vinayak Krishna Gokak.
modifiquem este estado da sociedade. Os As histórias apresentadas neste livro propi-
objetivos desta pesquisa são os seguintes: ciam o trabalho sobre valores humanos e
observar como se organiza o processo de permite a construção da virtude, levando
ensino/aprendizagem da ética; e identi- deste modo o aluno à aprendizagem de Éti-
ficar a aprendizagem da ética nos alunos ca. Partindo de uma técnica de meditação
do terceiro ano do Ensino Fundamental. e apresentação oral das cenas positivas das
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com histórias, nas quais os valores humanos são
base na metodologia da “Escuta Sensível” ressaltados, a professora conseguiu uma
desenvolvida na por René Barbier (1997). dinâmica nas aulas favorável ao ensino da
A Escuta Sensível promove uma prática de Ética. A partir desta dinâmica, observamos
compreensão e de explicação da práxis dos que os alunos conseguiam se concentrar,
grupos sociais de uma instituição de for- mostrando um comportamento contrário
ma que permite o conhecimento de cada ao inicial, no qual a turma se apresenta agi-
participante. Desta forma, a observação tada. No segundo momento há leitura de
participante, permite ao pesquisador se textos que apresentam mensagens de vida
torne parte da situação observada, intera- baseada na prática das virtudes. O terceiro
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
momento se refere à atividade de desenho agir” (Brasil, 1998, p. 89). Concluímos que
sobre a história contada. No final da sema- a dimensão pedagógica nessa sala de aula
na (sextas-feiras) os alunos montavam um nos ofereceu condições de compreender a
mural com as suas produções. No segundo prática escolar e nos mostrou a realização
semestre estas histórias eram re-significa- do processo de aprendizagem da Ética que
das e a professora regente indagava se já apontaram a vivência prática das virtudes
haviam vivenciado algumas das histórias como orientação curricular. Considera-se
contadas, isto é, com questionamentos e que os objetivos inicialmente propostos
reflexões diante das situações morais co- foram alcançados, entretanto, destacamos
tidianas que surgiram no decorrer da sua que a formação Ética e Moral deve ser con-
prática. Esta pedagogia permite que além tinuada na prática escolar. Com a continui-
do desenho, os alunos passem a escrever dade de nossas observações, apresentare-
suas próprias histórias. A partir de nossas mos um quadro mais completo. Entretan-
observações, ressaltamos que a profes- to, é possível desde já afirmar que a pre-
sora regente, por seu agir com os alunos sença da Ética na prática pedagógica desta
demonstrou ter um compromisso social professora tem surtido efeitos positivos na
e político. Como exemplo, destacamos o vida dos alunos.
fato de um de seus alunos ter comparecido
à escola com marcas de agressão, por ter Palavras-chave: Ética, Educação Moral, Ensino/
sofrido violência doméstica pelo padrasto. Aprendizagem
A professora chamou da mãe e da avó que Contato: Monique Maiques de Souza A.
negaram relatando o fato de forma con- Rezende, UFRJ, moniquemaiques@yahoo.com.br
traditória. Diante da situação, a professora
escreveu um relatório relatando o estado
físico do aluno e a baixa freqüência nas au- LT03 – 1388 - A EDUCAÇÃO PARA OS
las. Em seguida, encaminhou o relatório ao DIREITOS HUMANOS: UMA ANÁLISE DA
conselho tutelar com apoio da direção, que PRÁTICA EDUCATIVA EM TRÊS ESCOLAS
inicialmente havia resistido a este procedi- PÚBLICAS DO DISTRITO FEDERAL
mento. A professora, no entanto, argumen- Divaneide Lira Lima Paixão - UCB
tou que havia ocorrido fundamentalmen- divaneide@ucb.br
te a violação dos direitos da criança. Com Tatiana da Silva Portella - UCB
esta atitude de perseverança e coragem, a tatiana@ucb.br
professora fortaleceu a dimensão Ética de Nina Cláudia de Assunção Mello - UCB
seus alunos que culminou em um trabalho nclaudia@ucb.br
sobre Estatuto da Criança e do Adolescen- Rosana Márcia Rolando Aguiar - UCB
te. Nesta prática pedagógica, a inserção zanaguiar@gmial.com
da Ética teve como objetivo conhecer e
reconhecer as atitudes pautadas por prin- Acredita-se que a escola, enquanto institui-
cípios de solidariedade, respeito, e respon- ção representante do Estado é reconheci-
sabilidade contribuindo para a construção da, consensualmente, como um lugar so-
da virtude da justiça e perseverança. “Ao cial privilegiado para o desenvolvimento de
ancorar a Educação Moral na vivência so- estratégias capazes de contribuir a médio
cial, reatam-se os laços entre pensar, falar e e longo prazo para a valorização dos direi-
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não precisassem ser respeitados, já que o cionais, por meio da aplicação de questio-
imaginário popular elege os jovens e ado- nários de livre associação e entrevistas de
lescentes como responsáveis pelo incre- grupo focal, bem como se utilizando dos
mento da violência urbana (Paixão, 2008). recursos da observação. As análises par-
Ser jovem em um mundo violento não é cialmente engendradas apontam que as
tarefa fácil e se a vida lhes tiver reservado estratégias e recursos utilizados pelos ato-
espaços de pobreza, de desigualdades e de res do cenário educativo, por vezes, não
repressão, a dificuldade só aumenta. Ao favorecem uma educação para valorização
examinar as políticas públicas voltadas para dos direitos humanos de um modo geral, e
o adolescente e para a juventude como um dos direitos das crianças e adolescentes de
todo, Castro e Abramovay (2002) atestam modo particular, uma vez que a própria ins-
mudanças positivas, com alguns avanços tituição escola é palco de violações aos di-
na área da juventude, ainda que existam reitos humanos, o que se percebe fruto de
ações sendo implementadas sem levar em posturas autoritárias e baixa qualificação
consideração a diversidade de direitos dos da adolescência como uma fase positiva.
adolescentes, o que é lamentável, já que Isto é, o modo como os atores do cenário
essa parcela da população vai ter que es- educativo concebem a adolescência e seus
perar ainda mais para ter seus direitos res- direitos parecem influenciar nas relações
peitados e a sociedade inteira continuará sociais que ocupam o ambiente escolar e
pagando por isso. As violações aos direitos nas praticas educativas ai desenvolvidas.
humanos, apesar de serem freqüentes e
amplamente divulgadas pelos meios de Palavras-chave: educação para os direitos
comunicação, como observa Cardia (1995), humanos, infância e adolescência, prática
não têm alcançado um debate mais amplo. educativa nas escolas públicas.
Assim, diante do exposto, cabe evidenciar
a importância e necessidade de trabalhos
voltados para a educação dos direitos hu- LT03 – 1389 - DIREITOS DOS
manos, especialmente nas escolas, cujo ADOLESCENTES: POSICIONAMENTOS
espaço e práticas devem ser favorecedores INDIVIDUAIS E GRUPAIS
do desenvolvimento da cidadania e das Divaneide Lira Lima Paixão - UCB
ações promotoras de desenvolvimento divaneide@ucb.br
pessoal, intelectual e social. O estudo da Angela Maria de Oliveira Almeida - UCB
DUDH, bem como do Estatuto da Criança e aalmeida@unb.br
do Adolescente (ECA) deve estar presente Financiamento: CAPES/CNPq
nas escolas brasileiras para despertar o in-
teresse de crianças e adolescentes pela te- Os direitos humanos se constituem em
mática, contribuindo para que, desde cedo, uma produção histórica, submetida aos
eles aprendam a respeitar os direitos das interesses das instituições que os definem
pessoas com as quais convivem e a exigir e cuja aplicação depende também dos Es-
o respeito que lhes cabe. A pesquisa utiliza tados. Os direitos humanos são os direitos
a uma abordagem qualitativa de estudo de fundamentais de todas as pessoas, sem
caso. Os dados estão sendo coletados com nenhuma distinção. Essa ótica, instituída
professores, alunos e orientadores educa- quando da elaboração da Declaração Uni-
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Tal mudança decorreu de sua intenção em Por exemplo, ainda há certos profissionais
se constituir como nova ciência, preocupa- que tendem – diante do fato de os alunos
da em estudar e em solucionar problemas não corresponderem as suas expectativas
de aprendizagem. Apesar destas defini- – rotulá-los de incapazes, chegando, inclu-
ções, entendemos Psicopedagogia como a sive, a excluí-los (eles permanecem na
área responsável pela formação de clínicos classe, mas é como se não existissem. Ape-
gerais das escolas; auxiliar do aluno na su- nas passa a ser considerado quando apre-
peração da fobia escolar e na construção senta condutas de indisciplina e/ou violen-
do desejo de saber, além de organizador tas). Com o passar do tempo, tais aprendi-
da vida escolar do aprendiz, auxiliar na zes acabam por internalizar a idéia da in-
aquisição dos conteúdos escolares tradi- competência. Assim, um problema decor-
cionais e no desenvolvimento psicológico. rente da relação professor/aluno, acaba
Por clínico geral, o psicopedagogo deve au- por se transformar em algo pessoal (uma
xiliar o docente e a escola a diagnosticar, fobia). Como afirma Macedo (1992, p.125),
intervir e encaminhar sujeitos que fracas- “o fracasso escolar produz fracassados.
sam na escola. Tal procedimento se justifi- Uma vez fracassado, mesmo que se com-
ca em razão de os docentes não estarem batam as causas desse fracasso, o indiví-
conseguindo realizar tal trabalho, por vá- duo dele vitimado tem problemas que pas-
rios motivos: falta de formação adequada; sam a ser pessoais.”. Outra função diz res-
número excessivo de alunos por sala de peito ao psicopedagogo auxiliar a criança a
aula; infra-estrutura material precária; re- desenvolver o desejo de construir conheci-
muneração aquém do necessário e desva- mento. Entendemos que, para isso, é ne-
lorização do trabalho docente. Em nossa cessário o estabelecimento do vínculo en-
prática, inclusive, observamos que vários tre a criança e o psicopedagogo, pois de
pacientes apresentavam problemas auditi- acordo com Freud (1909/1973) e Piaget
vos, oftalmológicos, fonoaudiológicos, de (1932/1994), só se aprende por amor a al-
coordenação motora, além dos afetivos, guém. Dessa forma, ao estabelecer o vín-
cognitivos e morais. Em razão disso, o psi- culo com o paciente e se esse, por sua vez,
copedagogo pode realizar um primeiro levar em consideração o nível de desenvol-
diagnóstico e, em decorrência, solicitar aos vimento, a probabilidade de ele seguir o
pais e/ou as instituições o encaminhamen- caminho indicado pelo psicopedagogo au-
to para especialistas. Quanto à fobia esco- menta, mas não necessariamente garante
lar, frequentemente as crianças acabam que tal fato acontecerá. Quanto a ser um
desenvolvendo um medo desmedido em auxiliar no processo de desenvolvimento e
relação ao aprendizado escolar. Acredita- de superação de seus problemas, não esta-
mos que esse temor decorra de algum fra- mos diminuindo a importância do trabalho
casso que o escolar tenha apresentado, do professor e a do psicopedagogo. Afinal,
uma ou reiteradas vezes, na própria insti- para que o desenvolvimento ocorra, é ne-
tuição. Ao malograr no seu intento, acaba cessário que o sujeito construa conheci-
internalizando-o como algo pessoal. Em mento, processo que ocorre internamen-
decorrência, afasta-se ou mostra-se, a par- te. Logo, ele é apenas provável no sujeito.
tir daquele momento, extremamente te- Segundo La Taille (1996, p.151-152), signi-
merário diante do referido aprendizado. fica dizer que “a construção é a única for-
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leitura e a escrita, quase 90% se desenvol- lógico de Henri Wallon (1975) e os recen-
veram significativamente. Alguns chega- tes estudos da sociologia da infância (Oli-
ram a passar do estágio pré-silábico para o veira, 2004; Vilarinho, 2004). A instituição
alfabético. Outros até já tinham construído que fica na região metropolitana de Belo
estruturas alfabéticas, todavia ainda apre- Horizonte atendia em período integral
sentavam problemas relacionados à orto- 126 crianças de 02 (dois) a 06 (seis) anos,
grafia e durante a intervenção tiveram divididas em cinco turmas conforme a fai-
uma visível melhora em seu desempenho, xa etária. Durante a pesquisa realizou-se
enriquecendo seu léxico. Concluímos que uma entrevista com a coordenadora e ob-
a intervenção realizada tem contribuído servações participantes durante três me-
para auxiliar no desenvolvimento cogniti- ses (Haguette, 1992) na turma escolhida.
vo, afetivo-moral e da leitura e da escrita. Essa turma era composta de 12 meninas e
Além disso, tem propiciado condições para 14 meninos. Como as demais era atendida
que as crianças superem a fobia escolar e por quatro educadoras, uma professora
construam o desejo de saber. Tendo em e uma auxiliar no turno da manhã e uma
vista que o trabalho ainda está em anda- professora e uma auxiliar no turno da tar-
mento, os resultados são preliminares. de. Como resultados e discussão apresen-
tamos a seqüência das atividades constan-
Palavras-chave: psicopedagogia, psicologia tes da rotina da instituição que era a mes-
moral e ética, psicologia das virtudes ma para todas as turmas, seguida de uma
Contato: Nelson Pedro-Silva, UNESP, análise dos comportamentos das crianças,
nelsonp1@terra.com.br professoras e auxiliares da Turma 2. Entra-
da e café da manhã; Chamada, roda para
contar novidades e atividades diversas:
CO 51 - LT04 desenho, pintura, montagem, colagem,
brincadeira com carrinhos ou na casinha
Infância 2 de bonecas de conjunto; Brincadeiras no
pátio interno ou no parque; Arrumação
dos colchões para o descanso; Almoço;
LT04 – 1218 - RELAÇÕES ENTRE Repouso com duração de uma hora e trin-
CRIANÇAS E ADULTOS E ROTINAS NA ta minutos a duas horas; Lanche; Banho;
EDUCAÇÃO INFANTIL Estória; Brincadeiras no pátio interno ou
Iza Rodrigues da Luz - UFMG/NEPEI no parque; Sopa/Jantar; e Saída. A análise
izaluz@bol.com.br da seqüência das atividades constantes da
rotina sem os registros do diário de cam-
Este trabalho teve como objetivo conhe- po poderia induzir a avaliação de que a
cer o comportamento de uma turma de rotina estava bem organizada compreen-
crianças de três durante as atividades dendo cuidados corporais, alimentação,
previstas na rotina de uma instituição de atividades de pintura, desenho, colagem,
educação infantil pública. Como referen- brincadeiras e estórias. Entretanto, com-
cial teórico utilizou-se os estudos sobre partilhando das experiências das crianças
Educação Infantil (Barreto, 1998; Oliveira, e adultos da instituição, verificou-se que
2002), a teoria de desenvolvimento psico- em muitos momentos do dia as ativida-
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mantismo que o jogo aparece como con- ao papel dos brinquedos e brincadeiras
duta típica e espontânea da criança”, fruto na educação pré-escolar”. Percebe-se que
da “nova percepção de infância a consti- após apresentar um conceito geral ao cam-
tuir-se no Renascimento”, quando “surge po, e sob o nome de jogo, estranhamente
a metáfora que correlaciona a infância do a mesma Kishimoto (op.cit.35-40) ao res-
indivíduo à da humanidade por influência saltar algumas modalidades presentes na
de J. J. Rousseau” e nos quais Fröebel (o educação infantil, as apresenta agrupadas
propositor dos jogos de construção) pode sob outras denominações, “brinquedo
ser inserido. Entre os paradigmas constru- educativo (jogo educativo)”, “brincadeiras
ídos posteriormente, a partir do século tradicionais infantis”, “brincadeiras de faz
XIX, pela psicologia científica da criança de conta” e “brincadeiras de construção”
(Claparède, Piaget, Melanie Klein, entre (grifos nossos). O primeiro grupo “remete-
outros), prossegue a autora, “a brincadeira -nos para a relevância deste instrumento
da criança aparece como um processo me- para situações de ensino-aprendizagem
tafórico relacionado a comportamentos e de desenvolvimento infantil”, ou seja,
naturais e sociais” onde, segundo a mes- “quando as situações lúdicas são intencio-
ma, “ geralmente não há uma discussão do nalmente criadas pelo adulto com vistas a
jogo em si mas um uso metafórico sem a estimular certos tipos de aprendizagem,
explicitação de seu significado” (Kishimo- surge a dimensão educativa”. Já o segundo
to, 1996, p.34, grifo nosso). Sem qualquer grupo responde pela ”brincadeira tradicio-
menção nesta obra aos jogos pedagógicos, nal infantil, filiada ao folclore” expressan-
por exemplo, de M. Montessori a auto- do-se, sobretudo, pela oralidade e é con-
ra afirma que tal uso, metafórico e sem siderada como parte da cultura popular.
profundidade, também se faz presente A terceira abordagem a das “brincadeiras
na Antropologia e na Sociologia. Será em de faz de conta” que é “também conheci-
Henriot (1989) que Kishimoto encontrará da como simbólica, de representação de
“uma espécie de definição stricto sensu” papéis ou sócio-dramática é a que deixa
já que para este, jogo é “ todo processo mais evidente a dimensão imaginária (...)
metafórico resultante de decisão tomada o conteúdo das representações simbólicas
e mantida como um conjunto coordenado recebe, geralmente, grande influência do
de esquemas conscientemente percebi- currículo e dos professores [de educação
dos como aleatórios para a realização de infantil]”. Por fim, as brincadeiras de cons-
um tema deliberadamente colocado como trução, também consideradas pela autora
arbitrário” (Kishimoto, 1996, p.7). Assim, jogos de construção possibilitam a cons-
lembra a autora, para que exista jogo é trução de cidades e bairros que estimulam
necessário que o sujeito tenha consciên- a imaginação infantil, pois “construindo,
cia de que está jogando e que manifeste transformando ou destruindo a criança ex-
conduta (subjetiva, intencional) compatí- pressa seu imaginário (...) suas representa-
vel com a situação (objetiva, constatável) ções mentais além de manipular objetos.”
e conclui: “o aparecimento de novos para- Para qualquer destas perspectivas, vale
digmas como os de Bruner e Vygotsky, par- lembrar, é necessário considerar tanto a
tindo de pressupostos sociais e da linguís- fala como a ação da criança, que revelam
tica, oferece novos fundamentos teóricos complexas relações. Embora a autora seja
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
coerente em sua busca por maior rigor são dos campos simbólicos - no sentido de
conceitual ao campo de estudos e pesqui- P. Bourdieu- ligados ao tema e assim evitar
sas sobre jogos, brinquedos e brincadei- sua banalização, em busca de maior rigor
ras, tal quadro será desafiado se tiver que conceitual no âmbito da Psicologia do De-
considerar a inclusão de outros termos senvolvimento e da Educação.
- ou quem sabe conceitos- tais como brin-
quedo pedagógico, brincadeiras escolares Palavras-chave: Psicologia da Educação;
e jogos educativos, peculiares ao campo Lúdico; Educação da infância.
da Psicologia do Desenvolvimento e da
Educação. A estes serão agregados o que
mais recentemente vem sendo chamado LT04 – 1487 - INTERVENÇÃO LÚDICA
de games, que já se fazem presentes por NAS PRÁTICAS CULTURAIS DE
exemplo, no Portal do Professor, oficial- CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE ESTRESSE
mente disponibilizados pelo MEC/Brasil EDUCACIONAL E HOSPITALAR:
em parceria com o MCT/Brasil ( “Game da ESTUDO COMPARATIVO PRELIMINAR
reforma ortográfica”, “Amino Acids Game” DE DUAS BRINQUEDOTECAS
etc.). Talvez se contraponham a estes, M. G. B. Botelho - UFRJ
os brinquedos e jogos terapêuticos bem gloriab.ufrj@gmail.com
como os de lazer, recreação e/ou entre- Katiline Carneiro Silva - UFRJ
tenimento, entre outros, que em sentido katilinecarneiro@gmail.com
amplo, todos eles, também são consi-
derados recursos de “ludicidade”, termo A importância do brincar para o desen-
apreciado particularmente pelos falantes volvimento infantil indicada por diversos
de língua espanhola e francesa. A fim de autores tais como L. S. Vygotsky, J. Piaget,
contribuir para este quadro de discussões seguidores e outros, foi tão intensamente
pretende-se apresentar pesquisa explora- publicada e debatida no âmbito da Psico-
tória e descritiva, em andamento, acerca logia que chega a dar a impressão de que
da presença e do significado de todos es- pouco resta (Silva & Botelho, 2009) para
tes termos nas publicações da primeira dé- se falar, pesquisar e acrescentar a respei-
cada, deste século, das associações nacio- to, em termos acadêmicos. No entanto,
nais de pesquisa e pós-graduação ANPEPP no âmbito da formação de professores, as
(Psicologia) e ANPED (Educação), bem contribuições do conhecimento a respeito
como da ABPD. Para efeito de análise, dar- das diversas práticas culturais do brincar,
-se-á atenção, em princípio, aos resumos em espaços de educação não-formal (brin-
e quando possível, aos textos completos quedotecas hospitalares, comunitárias,
ou artigos, dos GT32 (Os jogos e sua im- em museus etc.) para a educação formal
portância em Psicologia e Educação) e GT9 e da infância (em creches e pré-escolas),
(Brinquedo, aprendizagem e saúde) da ainda estão por serem sabidas ou aprimo-
ANPEPP e aos GT 07 (Educação de Crianças radas. É dentro deste quadro que se pre-
de 0 a 6 anos) e GT20 (Psicologia da Educa- tende apresentar um estudo exploratório
ção), da ANPED. Já a análise do material da e comparativo entre duas brinquedotecas
ABPD, terá como recorte inicial, os títulos. situadas na cidade do Rio de Janeiro as
Pretende-se promover melhor compreen- quais foram observadas pelas autoras en-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
tre os anos de 2007 e 2009. A primeira au- to. A segunda, atendia aproximadamente
tora, enquanto orientadora da pesquisa e dez (10) crianças por dia, umas na sala/
mentora/ coordenadora de uma das brin- brinquedoteca e outras no próprio leito.
quedotecas analisadas, a brinquedoteca O principal objetivo observado foi a otimi-
do tipo comunitária, e a segunda na condi- zação do processo de hospitalização da-
ção de estudante de Pedagogia e bolsista quelas crianças, numa tentativa de tornar
PIBEX. Através de observação participante, sua estada ali o menos dolorosa possível.
portanto enquanto pesquisa qualitativa Quanto aos objetivos da pesquisa nestes
(Ludke & André, 1986), as duas brinquedo- locais, o primeiro foi escolhido por favore-
tecas observadas foram dos tipos: 1. Brin- cer um estudo sobre a intervenção lúdica
quedoteca comunitária. Situada na Vila nas práticas culturais das crianças em situ-
Residencial da UFRJ era parte integrante ação de estresse educacional e/ou social.
do Projeto Brincar e Aprender, projeto de E o segundo por ser um espaço onde seria
extensão da FE/UFRJ; 2. Brinquedoteca possível promover uma intervenção lúdica
hospitalar. Localizada na enfermaria infan- no processo de internação das crianças em
til de um hospital público federal de alta situação de estresse hospitalar e/ou so-
complexidade. A primeira foi implantada cial. Percebeu-se que frente às diferenças,
pelo Projeto Brincar e Aprender em um a serem elencadas com maior grau de de-
galpão de aproximadamente duzentos me- talhamento na comunicação oral, ambas
tros quadrados (200 m²), posse da Asso- as experiências nas duas brinquedotecas
ciação de Moradores daquela localidade. apresentaram alguns aspectos em comum.
A equipe que compunha o Projeto contava O primeiro, o reconhecimento da brinque-
com duas moradoras e cinco (5) estudan- doteca como espaço efetivo de ludicidade,
tes da UFRJ, inicialmente todos do curso de crianças, com crianças e para crianças.
de Pedagogia e mais tarde com alunos dos O segundo aspecto foi a percepção de que
cursos de Psicologia e Educação Física e a estes locais enquanto espaços de respeito
professora-orientadora - tendo, portanto, à infância ( E.C.A.: 1990, Art. 16), podem
uma equipe multidisciplinar. Já a segunda e devem contribuir para a inclusão social
preexistia à nossa chegada e era situada em espaços públicos (escola e hospital, no
em uma pequena sala de cerca de 25m² caso). O terceiro aspecto foi a confirmação
do andar da enfermaria infantil. Quando de que estes espaços têm forte potencial
lá chegamos, havia um ambiente favorável de expansão como espaço de trabalho e
à assimilação da presença de estagiários de produção de conhecimento interdisci-
(as) e já contava com uma profissional de plinar para pedagogos(as), psicólogos(as),
Terapia Ocupacional atuando integralmen- terapeutas ocupacionais e enfermeiros(as)
te na brinquedoteca, a qual participou da - enquanto abertura de diálogo efetivo
sua implantação. Quanto às crianças usuá- entre os campos da educação e da saúde,
rias, a primeira recebia cerca de trinta (30) sem que haja reserva a priori, de mercado
crianças todos os dias no espaço, com o de trabalho. Por fim vale lembrar que as
objetivo de (re)significar a relação com a autoras da presente pesquisa concordam
escola e com a aprendizagem, contribuin- com Paula e Fortran (2008), no sentido
do assim para o processo de otimização da de reconhecerem estes espaços como de
escolarização dos participantes do Proje- formação da cidadania, principalmente se
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sujetos en todas las sesiones y una compa- sesiones de aplicación de dos situaciones
ración entre las dos tareas. Los resultados de resolución de problemas. Esos modos
intraidividuales se analizaron con la técni- de funcionamiento se traducen en térmi-
ca de gráficos de movimientos mínimos y nos del tránsito de los niños por los nueve
máximos (van Geert & van Dijk, 2002) y ar- criterios de medición, fluctuaciones que se
rojaron tres tendencias principales en los observan tanto en el grupo como intrain-
desempeños de los niños: Tendencia Es- dividualmente. Las tendencias forman
table, Tendencia Ascendente y Tendencia parte de los análisis detallados necesarios
Descender. Estas tendencias representan para conocer la no linealidad del sistema
tres modos de resolución de la tarea y tres cognitivo. Autores como Siegler y Svetina,
formas de funcionamiento. Se evidencia (2002, 2006) han definido tres patrones en
como los niños abandonan desempeños las formas de resolución de algunos niños
eficientes de resolución para reemplazar- en tareas matemáticas (aprendices, no li-
los por unos menos avanzados, cambian su neales y precoces), de igual forma, Yan y
combinación de desempeños de un inten- Fischer (2002) mostraron como tres suje-
to a otro y luego retornan a un desempeño tos expertos al enfrentarse a una situación
anterior (Miller, 2002). Cada uno de los su- problema transitaban diferentes vías y ca-
jetos posee particularidades en el momen- minos de resolución los cuales respondían
to de enfrentarse a la situación es por esto a ciertas regularidades que llamaron pa-
que a pesar de que existen los tres grupos trones. En términos generales, las tenden-
de niños con tendencias similares, los ca- cias son las respuestas a esas regularida-
minos seguidos por cada uno son distintos. des presentadas por los sujetos dentro de
Esas tendencias sugieren que al interior la variabilidad, mediante ellas es posible
de la variabilidad subyacen regularidades describir la naturaleza del sistema cogniti-
que pueden ser visualizadas y dan cuenta vo como un sistema dinámico en constan-
de los funcionamientos inferenciales. Los te cambio. Para concluir, el puente tendi-
resultados intragrupo muestran moviliza- do entre las situaciones humorísticas y la
ciones permanentes del grupo entre una comprensión de estados mentales resulta
sesión de aplicación y otra. No hay con- ser de gran beneficio metodológico para
sistencia en los niveles transitados por los desarrollar investigaciones conducidas a
niños, incluso no se observa ninguna ten- capturar la actividad mental del niño en
dencia al avance por parte del grupo. Otro función de esta comprensión. Adicional-
hallazgo importante es que ninguno de los mente, se sabe que el humor hace parte
niños se mantuvo en el mismo nivel duran- de la cotidianidad del sujeto y por lo tan-
te las 10 sesiones de aplicación, siempre to es posible observar socialmente como
se presentaron cambios entre los niveles, el niño aprecia los intereses y expectativas
y específicamente entre los puntajes que de otros (Reddy, 2008).
subyacen a ellos. No se encontraron dife-
rencias significativas entre la tarea de hu- Palavras-chave: Inferências; Deseos; Método
mor gráfico y la de preferencias. La eviden- Microgénetico.
cia empírica encontrada en este estudio da Contato: Mónica Roncancio Moreno,
cuenta de los modos de funcionamiento monikarm83@gmail.com
presentes en los niños a lo largo de las 10
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
L7. C:É pra subir assim. [ Ficando em pé ações e fala da criança e o seu desenho.
sob a mesa.] A criança passa a agir sobre o ambiente
(com palavras, gestos e ações) organizan-
L8. P:E é ? [Olhando para a criança e se-
do elementos semióticos discursivos que
gurando sua mão.]
constituem seu desenho, fazendo “surgir”
L9. C: aaalcança (\her) (...) o negócio lá uma escada e explorando quais as fun-
em cima. [Ainda em cima da mesa ções de uma escada, no movimento para
fica na ponta dos pés. Desce da mostrar para a pesquisadora o desenho
mesa e senta-se no chão.] que produziu. Ou seja, o desenho surge a
partir da pergunta; na regulação entre fala
L 10. P:Tem o que lá em cima? [Olhando
e ação, na tentativa de explicar o dese-
para a criança.]
nho para a pesquisadora. Reflete-se com
L 11. C:Escada aqui. [Olha para cima, os dados do presente, a regulação entre
aponta, se levanta e vai em direção fala e ação incidente quando se solicita a
a uma parede alta onde um sino criança para falar do desenho por ela pro-
de vento estava pendurado. Fica na duzido. Características do desenho infan-
ponta dos pés e levanta os braços na til, como indefinição de traços e formas,
tentativa de alcançar o objeto.] suportam a compreensão de que ele só
L 12. P: O que é isso que tem lá em cima? seja constituído pelo autor, na medida em
[Olhando para o sino de vento pen- que é apresentado para um interlocutor.
durado na parede.] Essa observação não é difícil de ser reco-
nhecida. Frequentemente experimenta-
L13. C:Pega, pega, (\her) pe... [Ainda na -se a complexa descrição de crianças de
ponta dos pés e com os braços le- seus desenhos que, sem essa descrição,
vantados fica dando saltos na tenta- eram visualizados apenas como traços, ra-
tiva de pegar o objeto. Pára e volta biscos, pontos. Essas situações suportam
para sentar-se no chão novamente.] a interpretação de que o desenho é cons-
L 14. P:Há( \! ) Você sobe para pegar uma tituído na linguagem (fala e/ou gestos) e
coisa que ta lá em cima, né? [Olhan- que por sua vez, não pode prescindir da
do para a criança.] sua propriedade, o endereçamento. Isto
é, a linguagem funciona como endere-
L 15. C:É, Assim ó. [Olha para cima, come- çamento. Ela transita entre fronteiras do
ça a subir na mesa novamente.] eu e do não-eu. Ao subir na mesa para
completar sua fala, ao agir olhando para
Neste episódio observou-se fala elabora- cima, apontando e se deslocando em di-
da unida com gestos e ações constituindo reção ao sino de vento unindo à sua fala,
o desenho infantil. Sugere-se que a re- ou ainda, quando fica na ponta dos pés e
gulação entre fala e ação manifesta pela com os braços levantados, dando saltos
criança está relacionada com a pergunta enquanto fala “Pega, pega, pe” a criança
da pesquisadora “É uma casa ou é uma estava constituindo o desenho, que ainda
escada?”, frente ao desenho da criança. não existia nos traços que a pesquisado-
Isto é, observam-se inter-constituição ra tinha em mãos. Na descrição da crian-
entre a indagação da pesquisadora, as ça pressupõe-se o desenho em ação, em
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jeitos, sendo 42% (9) do sexo feminino, lisa inicialmente as relações entre as día-
com idade média de 8,90 anos (dp=0,91) des (pai-mãe, filho-mãe, filho-pai e filho-
e entre 7 e 11 anos, que freqüentam uma -irmão) procurando com isso obter uma
escola pública da cidade de Santo Antônio visão geral da família. O relacionamento
de Jesus-BA. O projeto teve a aprovação existente entre cada díade é descrito em
no Comitê de Ética. Os dados foram obti- termos adjetivos, dados em uma escala Li-
dos em uma reunião na escola na qual o kert que vai desde “não corresponde” até
filho da participante estuda. Foi explicado “corresponde totalmente”, representan-
as participantes todos os procedimentos tes de duas dimensões mais amplas, sen-
do projeto e aquelas que aceitaram parti- do eles afetividade e conflito. Para análise
cipar assinaram o Termo de Consentimen- de dados foi utilizado o programa estatís-
to Livre e Esclarecido (TCLE). Os instru- tico SPSS 18.0. Os dados foram analisados
mentos utilizados foram o Inventário Beck através da correlação de Pearson. Os re-
de Depressão (Beck Depression Inventory- sultados do estudo apontaram as seguin-
-BDI) e o Familiograma. O BDI é um ins- tes correlações: afetividade pai-mãe (r= -,
trumento originalmente desenvolvido por 765 e p=, 000), afetividade filho-mãe (r=,-
Beck, Ward, Mendelson, Mock e Erbaugh 630 e p= ,003), conflito filho-mãe (r= ,307
(1961), que tem como propósito fazer um e p= ,188), afetividade filho-pai (r= -,742
levantamento da intensidade dos sinto- e p= ,000), conflito filho-pai (r= ,536 e p=
mas depressivos através de uma escala ,018), afetividade filho-irmão (r= -,600 e
de autorrelato composta de 21 itens cada p= ,023), conflito filho-irmão (r= ,626 e
um com quatro alternativas com esco- p= ,017). Os dados sugerem que há uma
res de zero a três os quais subentendem carga de correlação positiva significativa
graus crescentes de depressão. Esses entre os sintomas de depressão identifica-
21 itens fazem referência a 19 fatores, a dos pelo BDI os conflitos existentes entre
saber, tristeza, sentimento de fracasso, as díades familiares filho-mãe, filho-pai e
pessimismo, punição, insatisfação, autoa- filho-irmão, e uma carga de correlação ne-
versão, idéias suicidas, retraimento social, gativa entre os mesmos sintomas e a afe-
irritabilidade, choro, indecisão, mudança tividade. Esses dados sugerem que existe
na autoimagem, dificuldade de trabalhar, uma relação importante entre os níveis de
fatigabilidade, insônia, perda de apetite conflito e afetividade nas díades familiares
e peso, preocupações somáticas e perda e que influenciam os níveis de depressão
da libido. Trata-se de um inventário ini- materna. Essas alterações no funciona-
cialmente pensado para uso em pacientes mento familiar podem gerar conseqüên-
psiquiátricos, mas que, no entanto vem cias como problemas de comportamento
sendo amplamente utilizado em pesqui- infantil ou psicopatologias como o au-
sas com pacientes não psiquiátricos. O mento dos níveis de ansiedade. Um ponto
outro instrumento utilizado, neste estudo importante a ser ressaltado é a limitação
foi o Familiograma, este se constitui como do estudo para investigar outras variáveis
um instrumento capaz de avaliar díades que possam influenciar na percepção ma-
familiares com base em duas idéias prin- terna acerca do seu funcionamento fami-
cipais: a terapia sistêmica estrutural e a liar. O fato a ser ressaltado é que as rela-
Teoria dos Gráficos. O Familiograma ana- ções familiares podem influenciar muito a
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
tos éticos e cidadãos em busca constante atual, os pais podem sentir-se inseguros
de uma vida melhor. O ambiente escolar, em relação ao que devem fazer para um
como espaço de convivência e intensas melhor desenvolvimento dos filhos. A in-
interações sociais, apresenta-se como um tervenção aconteceu com pais ou respon-
terreno fértil para implantação de propos- sáveis de alunos regularmente matricula-
tas, estratégias e ações que envolvam pro- dos em uma escola de educação infantil
moção de saúde. A educação para a saúde da cidade de Itatiba, estado de São Paulo,
com enfoque integral objetiva responder com idades entre 3 e 6 anos. Participaram
às necessidades do aluno em cada etapa em média 45 familiares, incluindo pai,
do seu desenvolvimento. Desta forma, o mãe, avós ou tios. Foram realizados quatro
projeto é realizado com toda comunida- encontros semanais, dentro do ambiente
de educativa de três escolas da cidade de escolar, com duração de 1 hora e 30 minu-
Itatiba no interior do estado de São Pau- tos, onde se tratou de temas relacionados
lo. Por comunidade educativa entende-se ao suporte familiar para as questões dis-
a equipe gestora, alunos e familiares da ciplinares. O primeiro encontro abrangeu
creche à educação de jovens e adultos. o comportamento infantil e algumas pos-
Dentro do contexto do ‘Programa Escola síveis causas para o bom ou mau compor-
Promotora da Saúde’ algumas propostas tamento. O segundo dia chamou atenção
de intervenção foram pensadas como for- dos pais para as características pessoais
ma de investir na promoção de saúde do dos filhos, tanto positivas quanto negati-
ser humano na sua totalidade e pretende- vas e destacou a importância de transfor-
-se com este trabalho apresentar uma de- mar o tempo junto com os filhos em algo
las, intitulada como ‘Oficinas de Práticas prazeroso. Por ultimo, o terceiro encontro
Educativas Parentais’, que visa o desen- tratou das estratégias educativas que po-
volvimento de iniciativas familiares como dem ser utilizadas pelos pais na educa-
fatores de proteção infantil, visto que não ção dos filhos. Os participantes avaliaram
se pode negar a importância da família como excelente a iniciativa e manifesta-
para seus membros, especialmente para ram disposição para tentar mudar. Este
as crianças que vivem nesse ambiente. Se- trabalho se justifica, pois visa reduzir a
gundo Bee (1996) a forma como a família prevalência de fatores de risco e aumentar
está organizada evidencia o funcionamen- os fatores de proteção relacionados com
to da mesma, entretanto, é o processo de os estilos de vida. Além disso, acredita-se
interação familiar que tem maior impacto que a médio e longo prazo, como indica o
sobre o comportamento infantil. Na mes- Programa Nacional de Saúde Escolar (Bra-
ma direção, Macedo (1994) enfatiza que sil, 2006), o custo-efetividade das inter-
a família é, para a psicologia, revestida de venções preventivas de hoje representem
uma importância capital, visto ser o pri- um ganho em serviços de saúde amanhã.
meiro ambiente no qual se desenvolve a Pretende-se ainda, que a construção deste
personalidade nascente de cada novo ser projeto reforce a ação parceira estratégica
humano. Contudo, Fini (2000) evidencia para o desenvolvimento de ações interse-
que por causa de alterações pelas quais toriais e reafirmação de compromissos e
tem passado a família, da popularização co-responsabilidades entre os setores en-
da psicologia e das complexidades da vida volvidos, educação e saúde.
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acontecem basicamente por motivos coti- bre alguns aspectos relacionados à pater-
dianos e não por uma disparidade de va- nidade contemporânea, pode-se dizer de
lores. Para Teykal (2007) estamos presen- uma forma geral, que quando se recorre
ciando uma mudança brusca no processo à literatura nacional e internacional sobre
de transmissão, já que pela primeira vez crenças a respeito dos cuidados parentais
se assiste uma inversão no sentido trans- paternos algumas indagações e lacunas
missional – este aspecto por si só repre- ficam em aberto. E em relação à trans-
sentaria uma ruptura nunca antes vista – o missão intergeracional, a predominância
que propicia não só a imposição dos va- é também de pesquisas relacionadas às
lores da cultura jovem sobre as gerações mães e avós ou pesquisas que privilegiam
mais velhas, como torna possível a esco- os resultados dessa transmissão. Por es-
lha do que seria importante receber das sas razões, este estudo visou atender,
gerações anteriores. Podemos pensar que em parte, essas lacunas, ao investigar as
cada pessoa traz consigo crenças que são crenças sobre práticas de cuidados pa-
passadas através de gerações, sobre como rentais paternos que são privilegiadas na
devem ser os cuidados parentais e como atualidade. Além de relacionarmos como
o homem deve desempenhar o seu pa- são percebidas as práticas de cuidados
pel na paternidade. Porém, percebemos parentais paterno entre duas gerações
que essas crenças sofrem mutações, isto distintas. Participaram desta pesquisa 100
é, não há apenas uma influência geracio- pessoas residentes na cidade de Magé
nal, as próprias crenças perpassadas pelas (estado do Rio de Janeiro), divididas em
gerações estão sujeitas às modificações dois grupos: 50 (homens e mulheres) de
devidas transformações históricas, sociais 25 a 35 anos e 50 (homens e mulheres)
e ambientais, o microssistema familiar é de 55 a 65 anos. O estudo incluiu ques-
submetido ao macrossistema social, um tionário sociodemográfico, questionário
exemplo disto é o fato de na atualidade, sobre Função Paterna, aplicação da Escala
com a rápida disseminação das informa- sobre Crenças e Práticas Paterna (ECPP) e
ções resultante do processo de globaliza- Escala sobre Crenças e Práticas Paterna –
ção, essa idéia de que se pode escolher o Pretéritas (ECPP-P). As análises dos dados
que deve ser transmitido é reforçada, na foram realizadas por meio do software
medida em que viabiliza a ilusão de que SPSS. Foram realizadas análises descritivas
o saber está logo ali disponível para todos (média, desvio-padrão, valores mínimo e
e basta ter acesso a ele para adquiri-lo. máximo), bem como análise de compara-
Desta forma, o indivíduo capta saberes ção de médias (Teste t de Student e Anova
que não necessariamente foram passados Oneway) e correlações r de Pearson. Após
por seus ascendentes e sente-se livre para análise de variância ANOVA, foi utilizado o
fazer suas escolhas individuais acerca do teste post hoc de Scheffé (Dancey & Rei-
que seria relevante para ele. Essa situa- dy, 2006). Observamos durante a pesqui-
ção é, ao mesmo tempo, uma liberação sa que as crenças geracionais estão em
da cadeia transmissional e uma exaltação uma via de mão dupla, interferindo em
do individualismo, que pode trazer como novas gerações e sofrendo influências da
conseqüência a desvalorização daquilo mesma, isto reflete que embora gerações
que é passado de geração em geração. So- mais velhas tenham determinados posi-
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tivas; Ruim, média ou baixa frequência de tal Ruim. Os resultados demonstram que
práticas parentais positivas e frequência 65% (n=13) das participantes mantive-
média ou alta de práticas parentais negati- ram o mesmo estilo, sendo cinco o estilo
vas. O programa de intervenção realizado parental ótimo, três o estilo bom, duas
no presente estudo constituiu-se de oito o estilo regular, e três o estilo ruim; 20%
encontros, que ocorreram uma vez por se- (n=4) pioraram de estilo parental uma de
mana, tendo duas horas de duração cada ótimo para bom, uma de ótimo para re-
encontro e conduzidos por três estudan- gular, uma de bom para regular, e uma de
tes do último ano de psicologia. O obje- regular para ruim; e 15% (n=3) melhora-
tivo dos encontros foi promover reflexões ram de estilo, uma do estilo bom para o
sobre os temas: família; maternidade; prá- ótimo, uma do estilo regular para ótimo,
ticas parentais; desenvolvimento infantil; e uma do regular para o bom. A partir do
e projeto de vida. E no grupo de mães teste de Wilcoxon foi verificado que não
adolescentes foi trabalhado o tema ado- existe diferença significativa, em ambos
lescência. As mães adolescentes iniciaram os grupos, nos estilos parentais antes e
o programa de intervenção apresentando: após a participação no grupo de interven-
Estilo Parental Ótimo 50% (n=10); Estilo ção, Grupo 1 (T=79, p = 0,332) e Grupo 2
Parental Bom, 35% (n=6), e Estilo Parental ( T= 30, p = 0,456). Também foi realizada
Regular, 20% (4). Nenhuma participante uma comparação entre os grupos e foi ve-
apresentou Estilo Parental Ruim. Após o rificado que existe diferença significativa,
programa, quando o instrumento foi apli- entre os grupos de mães adolescentes e
cado novamente nas mães adolescentes, adultas, nos estilos parentais na primeira
observou-se que 55% (n=11) das mães e na segunda aplicação do inventário, con-
apresentaram Estilo Parental Ótimo; 35% forme o teste de Mann Whitney, 1ª apli-
(n=7) Estilo Parental Bom e 10% (n=2) Es- cação (U=127, p = 0,048) e 2ª aplicação (
tilo Parental Regular. A maioria das partici- U= 122, p = 0,035). Os resultados revelam
pantes 90% (n=18) após o grupo apresen- que as mães adultas apresentam estilos
tou estilo parental ótimo ou bom. Os re- parentais piores do que as mães adoles-
sultados demonstram que 65% (n=13) das centes na primeira e na segunda aplicação
participantes mantiveram o mesmo estilo, do Inventário. Nota-se que antes e após a
sendo oito o estilo parental ótimo, quatro participação no programa de intervenção
o estilo bom e uma o estilo regular; 10% as mães adolescentes apresentam estilos
(n=2) pioraram de estilo parental, uma de parentais mais adequados que os estilos
ótimo para regular e uma de ótimo para parentais apresentados pelas mães adul-
bom; e 25% (n=5) melhoraram de estilo, tas. Para a maioria das participantes o pro-
duas do estilo regular para o bom, duas do grama de intervenção foi eficaz, promo-
estilo bom para o ótimo, e uma do estilo vendo a aquisição e/ou manutenção das
regular para ótimo. As mães adultas nas práticas parentais positivas e a diminuição
duas aplicações, antes e depois da inter- das práticas negativas. Considera-se que o
venção apresentaram: 35% (n=7) Estilo programa foi efetivo para aquelas partici-
Parental Ótimo, 25% (n=5) Estilo Parental pantes que mantiveram o estilo parental
Bom, 20% (n=4) Estilo Parental Regular ótimo ou bom, e para as participantes que
e 20% (n=4) apresentaram Estilo paren- melhoraram seus estilos para ótimo ou
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gia, tendo como pressuposto a importân- (68,31%). Quando, todavia, indagados so-
cia assumida pela instituição em questão, bre o fato de terem recebido informações
em termos paradigmáticos, no plano das sobre o tema em âmbito acadêmico, 60%
proposições de um projeto político-peda- do total de participantes responderam
gógico de formação na área da educação. negativamente. Em torno de 40% dos es-
Esta pesquisa de natureza quantitativa, tudantes indicaram terem tido aulas, 25%
descritiva, contou com a participação de palestras, 13% disseram terem efetuado
142 estudantes dos quatro anos do curso leituras e 5% afirmaram que tiveram in-
(66%), regularmente matriculados no ano formações sobre maus-tratos infantis no
de 2011. Após consentirem em participar contexto de congressos científicos. É im-
do estudo, os estudantes responderam a portante revelar que 91% dos responden-
um questionário de escala multi-item, o tes afirmaram que a temática devia ser
qual demandava por informações visando integrada à sua formação como um dos
caracterizá-los sócio-economicamente, conteúdos desta formação. Com relação
assim como caracterizar seu conhecimen- à detecção de possíveis casos de maus-
to sobre o fenômeno, suas opiniões e -tratos, 27% referiram ter contato com
suas atitudes. Os dados coletados foram crianças de quem suspeitavam sofrerem
compilados em planilha elaborada no pro- maus-tratos domésticos. Levando-se em
grama Excel e analisados por meio de es- conta somente o subgrupo que referiu
tatística descritiva. Cumpre informar que exercer atividade remunerada (trabalho
do total de participantes, 91% eram do na área da educação), a proporção foi su-
sexo feminino; a idade média dos alunos perior, 60%, sendo que em meio aos que
era de 25,15 anos, sendo que a menor e estagiavam a proporção foi de 51%. De
a maior idade eram, respectivamente, 17 acordo com os participantes do estudo,
e 45 anos; quanto ao perfil socioeconô- os indicadores considerados para levantar
mico, 44% dos estudantes pertenceriam a suspeita de maus-tratos eram, na maior
à classe B2, o que equivale a uma renda parte das vezes, comportamentais (74%),
familiar em torno de 3 salários mínimos; seguidos pela expressão verbal da criança
31% seriam da classe B1, cujo rendimento (72%) e por evidências como marcas no
mensal gira em torno de 5 salários míni- corpo da criança (44%). Quando indaga-
mos; 16% pertenceriam à classe C, com dos sobre como lidaram com a “suspei-
2 salários mínimos; 11% à classe A2, com ção”, 38% referiram encaminhar o caso
8 salários mínimos; 1% à classe D, com à direção, 26% disseram ter notificado o
um salário mínimo e 1% à classe E, cuja caso ao Conselho Tutelar e 21% afirma-
renda é de menos de um salário mínimo. ram ter decidido não se envolver com a
De modo geral, 45,77% dos alunos da Pe- situação. Proporções semelhantes foram
dagogia disseram já trabalhar e 54,23% encontradas quando se perguntou, a to-
estavam realizando estágios na área da dos, qual seria a ação ideal a empreender
educação. Os resultados obtidos indica- frente a casos suspeitos de maus-tratos.
ram que, para a maioria dos estudantes Vale dizer que a grande maioria dos estu-
(94,37%), a principal fonte de informação dantes (92%) afirmou desconhecer o con-
sobre a temática dos maus-tratos é a “mí- teúdo da Lei estadual SP nº 10.498/00.
dia”, seguida pelas “conversas informais” Em síntese, pode-se dizer que os estudan-
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em dominar, controlar e causar dano aos mento agressivo reativo, tipo de agressão
outros e, geralmente, é mais forte que a utilizada pelas vítimas/agressores, é um
vítima e apresenta uma tendência maior ato impulsivo em resposta a uma provo-
para comportamentos de risco, como cação ou ameaça percebida (Gini & Po-
consumir tabaco, álcool ou outras drogas zzoli, 2006) e consiste em uma resposta
e porte de armas; vê sua agressividade defensiva de raiva (Lisboa, 2005). O pre-
como qualidade, tem opiniões positivas sente estudo teve por objetivo investigar
sobre si mesmo e possui boa autoestima. algumas das características dos agresso-
Autoestima é uma avaliação que o indiví- res de bullying. A amostra foi compos-
duo efetua e, comumente, mantém, em ta por 465 adolescentes, de ambos os
relação a si mesmo (Rosenberg, 1989). sexos, com idades entre nove e dezoito
Algumas crianças se posicionam tanto anos (M = 13,4 anos; dp = 1,47), estudan-
como vítimas quanto como agressores, tes de quartas a oitavas séries do Ensino
sendo denominados de vítima/agressor. Fundamental de três escolas, públicas e
Conforme Lopes (2005), estas crianças privadas, da cidade de Porto Alegre, RS.
apresentam uma combinação de baixa Dentre estas crianças, 52,7% pertenciam
autoestima, atitudes agressivas e provo- ao sexo masculino. Os instrumentos uti-
cativas e prováveis alterações psicológi- lizados foram um questionário sobre
cas, merecendo atenção especial. Podem bullying, com 15 questões de múltipla
ser depressivos, ansiosos, inseguros e escolha e a Escala de Autoestima de Ro-
inoportunos, procurando humilhar os senberg (Hutz & Zanon, 2011). Os dados
colegas para encobrir suas limitações. foram coletados de forma coletiva nas
Juntamente com o grupo de agressores, escolas, após autorização das mesmas e
as vítimas/agressores estão mais suscetí- consentimento dos adolescentes e dos
veis ao uso excessivo de cigarros, álcool e pais. Foram calculadas estatísticas des-
outras substâncias. Este grupo apresenta critivas e testes Qui-quadrado. Os resul-
risco mais elevado para apresentar se- tados mostraram que 50,0% dos ataques
veras ideações suicidas, além de vários foram realizados por meninos; 31,2%,
tipos de comportamento de risco, anti- tanto por meninos quanto por meninas
-social e de violência, quando compara- e 18,8%, por meninas. Foram encontra-
das a crianças que não estão envolvidas das diferenças significativas entre os se-
em bullying (Liang, Flisher & Lombard, xos, mostrando que os meninos são mais
2007). Em se tratando de vítimas/agres- agredidos por meninos e as meninas são
sores, é importante fazer distinção entre mais agredidas por meninas (χ²=47,2,
comportamento agressivo proativo e re- df=2, p<0,05). Além disso, os meninos se
ativo. O comportamento agressivo pro- identificaram mais como agressores do
ativo, utilizado pelos agressores típicos, que as meninas (χ²=15,4, df=4, p<0,05).
envolve tentativas de influenciar o ou- Os ataques foram realizados por dois ou
tro através de meios aversivos, em uma mais alunos em 67,7% dos casos. O tipo
situação não provocada (Gini & Pozzoli, de bullying mais utilizado pelos agresso-
2006); é um comportamento voluntário, res foi o do tipo verbal, com a utilização
deliberado e influenciado por reforços de apelido, insulto ou deboche (70,7%),
externos (Lisboa, 2005). Já o comporta- seguido do tipo físico, com a utilização de
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está acontecendo entre duas ou mais pes- municação e expressão de afetividade, au-
soas, mas todos sofrendo as consequên- toestima, perspectiva de futuro da família.
cias diretas ou indiretas da convivência em
um contexto onde a violência permeia as Palavras-chave: família, violência, violência
relações entre as pessoas. A partir desses intrafamiliar.
dados, observamos que é difícil desagre- Contato: Maria Alexina Ribeiro
gar as diferentes formas de violência, físi- alexina@solar.com.br
ca, psicológica e sexual que acontecem no
contexto familiar, para compreender suas
características e consequências, uma vez LT05-1401 - PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA
que aparecem concomitantemente. As- FÍSICA INTRAFAMILIAR CONTRA
sim, não consideramos razoável afirmar CRIANÇAS: A VISITA DOMICILIAR NA
que os comportamentos dos filhos são PESQUISA-AÇÃO
consequência da violência praticada pe- Alciane Barbosa Macedo Pereira - UEG/UnB
los pais ou o contrário, ou seja, que a vio- barbosaalciane@gmail.com
lência dos pais tem como consequência o Maria Inês Gandolfo Conceição - UnB
comportamento problemático dos filhos. inesgandolfo@gmail.com
Preferimos afirmar que todos os membros Financiamento: CAPES
da família fazem parte de uma dinâmica
onde suas relações são permeadas pela A prevenção da violência contra crianças
violência, o que vem confirmar a visão se torna necessária tendo em vista que
da violência intrafamiliar como um sinto- atos violentos são praticados contra aque-
ma de um sistema disfuncional. As pes- les que deveriam ser protegidos em seu
quisas adotam a metodologia do Grupo desenvolvimento, com base na exigência
Multifamiliar (GM) e utilizam técnicas de legal da proteção integral preconizada
levantamento de dados e intervenção da pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
terapia familiar sistêmica. Essa metodolo- de 1990. Essa prevenção pode dar-se de
gia permite o conhecimento da dinâmica diferentes maneiras e nos mais diferentes
das famílias onde há violência, ao mesmo espaços. Na família, onde ocorre a prática
tempo em que oportuniza uma reflexão da violência contra crianças, particular-
sobre a qualidade dos vínculos familia- mente a de cunho físico, justificada pela
res e sociais estabelecidos pelos sujeitos, necessidade de “educar”, intervenções a
culminando na busca de novas formas fim de promover saúde e prevenir violên-
de relacionamento. Os encontros do GM cia se tornam extremamente necessárias.
têm objetivos específicos que estão rela- Nesse contexto, a pesquisa-ação é uma
cionados com problemas que são comuns maneira de produzir conhecimento e via-
às famílias participantes, tais como: rela- bilizar as mudanças necessárias. Além dis-
cionamento pais/filhos, relacionamento so, uma estratégia de intervenção possível
conjugal, ciclo de vida familiar, o cuidado dentro da perspectiva da pesquisa-ação é
e a proteção da criança e do adolescente, a visita domiciliar. A violência é um fenô-
formas de educação dos filhos, construção meno interacional (Brandão, 2001), que
da história da família, padrões transgera- apresenta implicitamente a noção de con-
cionais de comportamento violento, co- trole, numa demonstração de poder na re-
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lação estabelecida (Guerra, 1985; Faleiros 9 e 10 anos que são atendidos por um dos
& Faleiros, 2007), por meio do uso da for- programas de extensão de um instituto es-
ça, objetivando excluir, abusar e aniquilar pecializado nas temáticas da Infância, Ado-
(Minayo, 2002). A violência contra crianças lescência, Juventude e Família, de uma uni-
e adolescentes implica uma transgressão versidade particular de Goiânia. De acordo
no poder/dever de proteção do adulto e com Brandão e Costa (2004), a visita do-
da sociedade em geral e numa coisificação miciliar é um meio para ajudar a família a
da infância. Ou seja, a negação do direito encontrar um caminho para a solução dos
que crianças e adolescentes têm de serem problemas para aquilo que gera preocupa-
tratados como sujeitos e pessoas em con- ção. Nas famílias visitadas a temática cen-
dições especiais de crescimento e desen- tral que foi o objeto da pesquisa é a pre-
volvimento (Minayo, 2002). As alternati- venção da violência física. Dos resultados
vas encontradas para tal fenômeno estão encontrou-se que uma alternativa encon-
relacionadas à adequação do poder sob trada pelas visitadoras na pesquisa-ação
a criança e o adolescente para a proteção estudada para mudar as práticas “educati-
dos mesmos e não a reprodução da coisifi- vas” violentas, principalmente em relação
cação da infância a partir de um olhar adul- à violência física, foi o estabelecimento de
tocêntrico. Outro ponto importante é dife- “combinados”. Neles, as visitadoras junto
renciar a autoridade da violência. E, além a os participantes de cada família estabe-
disso, partir do princípio de que crianças e leciam acordos para substituir as práticas
adolescentes são sujeitos de direito e por violentas por maneiras de educar que par-
isso, portadores de cidadania. O estudo é tissem do respeito ao outro e do diálogo.
um recorte da dissertação de mestrado de- De acordo com classificação de Martins
nominada de “Desligamento entre partici- e Bucher-Maluschke (2005), nas famílias
pantes e pesquisadores de uma pesquisa- onde não há a violência, o diálogo é a base
-ação sobre violência física intrafamiliar” das relações entre pais e filhos e não há a
e objetivou discutir a utilização da visita agressão física com o intuito de educar e
domiciliar como estratégia metodológica e com o poder disciplinador. Dessa forma,
prática educativa na pesquisa em questão. nas famílias em que a possibilidade de ex-
O trabalho realizado se deu a partir da aná- tensão do diálogo entre os participantes
lise das informações construídas, gravadas foi possível, provavelmente viabilizou-se
e transcritas em uma pesquisa-ação sobre também a prevenção de práticas educa-
prevenção da violência física intrafamiliar, tivas não violentas e assim, a busca pela
desenvolvida junto a famílias de crianças prevenção da violência física intrafamiliar
de um bairro de camada popular de Goi- contra crianças como forma de educar. As
ânia. Foram analisadas as transcrições de visitas domiciliares realizadas às famílias
oito visitas domiciliares realizadas em cada estudadas não somente ensejaram a bus-
uma das cinco famílias visitadas por uma ca de outras vias que não aquela do uso
das duplas de pesquisadores. A escolha da violência física, bem como para tentar
das visitas da dupla de entrevistadores evitar outros tipos de violência, tais como
se deu devido à possibilidade de acesso a negligência, e a violência emocional ou
a todo o material construído por elas. As psicológica. As ações junto às famílias po-
famílias em foco têm filhos(as) crianças de deriam ter sido potencializadas se fosse
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
realizado o que Brandão e Costa (2004) Nosso estudo integra uma pesquisa coleti-
chamam de “Devolução” e que se trata va que investiga as condições de desenvol-
de uma carta que os visitadores escrevem vimento humano e as relações de ensino
para a família sobre o assunto conversado na contemporaneidade, cujo campo em-
na visita, objetivando mostrar novas ma- pírico é uma escola pública do município
neiras de pensar sobre a temática dialo- de Campinas/São Paulo. Interessados na
gada. No entanto, os momentos de fecha- constituição social do corpo a partir da
mento e o aquecimento a cada nova visita, perspectiva histórico-cultural, nosso es-
além da visita de encerramento também tudo aborda os impactos das políticas de
buscaram levar a novas reflexões. São ne- educação inclusiva no desenvolvimento
cessários ainda mais estudos e propostas de corpos/sujeitos com deficiência. Con-
para se pensar em alternativas para edu- tudo, inseridos no contexto de uma escola
car crianças e adolescentes nos mais dife- pública de periferia, outras questões se
rentes contextos, sem o uso da violência. abrem. Não só os alunos com deficiência
A visita domiciliar inserida na pesquisa- nos chamam atenção, mas também outros
-ação se mostra como boa alternativa para corpos que, mesmo não marcados pela
a realização de novos trabalhos sobre a te- deficiência, vão ocupando posições mar-
mática. Conclui-se que a visita domiciliar é ginais neste contexto. O lugar de nossas
uma ferramenta clínica privilegiada, devi- indagações foi uma sala de aula de quin-
do seu caráter terapêutico na capacitação to ano do ensino fundamental, composta
das famílias para utilizarem seus próprios por 35 alunos, sendo 03 com deficiências.
recursos a fim de lidarem com as proble- No decorrer de um ano, freqüentamos a
máticas cotidianas. sala semanalmente. Os registros do vivido
em campo foram realizados por meio de
Palavras-chave: visita domiciliar, pesquisa- videogravações, audiogravações, diário de
ação, violência intrafamiliar campo, fotografias, entre outros. Do mate-
Contato: Alciane Barbosa Macedo Pereira, rial empírico analisado, trazemos para este
UEG/UnB, alcianebarbosa@gmail.com trabalho uma situação na qual a “melhor
aluna da sala”, empoderada pela câmera
de filmagem, vai apresentando os colegas
CO 44 - LT07 de classe. Deste corpus, destacamos um
trecho no qual esta nos apresenta Luciana
Inclusão/Deficiência
(nome fictício). Luciana possui uma histó-
ria de alternância entre duas escolas do
mesmo bairro e, segundo um relatório de
LT07 – 868 - O DESENVOLVIMENTO DO
2005, apresentava um quadro de dificul-
CORPO/SUJEITO NO CONTEXTO DA
dade de aprendizagem e de agressividade.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONTRIBUIÇÕES
No ano de 2009, Luciana retornava à esco-
TEORICO-METODOLÓGICAS DA
la pesquisada após os dois anos na outra
PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL
escola, considerada mais “fraca”. A aluna,
Flavia Faissal de Souza - FE/UNICAMP que reside em uma região do bairro mais
ffaissal@unicamp.br empobrecida, teve, no decorrer do ano le-
Financiamento: CNPq tivo, um desempenho pedagógico coeren-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
te com a maioria da classe e sua postura vel nas relações sociais vivenciadas, nos
era bastante retraída, ficava quase sempre afeta. Neste ato est(ético) de acabamen-
sozinha. O objetivo desta apresentação é to do lugar de onde o outro não pode se
colocar em discussão como os concei- ver, é produzido um conhecimento sobre
tos de vivência/experiência, acabamento o sujeito observado. Vigotski (2001, 2009)
estético e agir ético, elaborados por L.S. também nos traz elementos para pensar-
Vigotski e por M. Bakhtin, podem contri- mos a atividade/experiência estética. Ao
buir para analisar a constituição do corpo/ levantar questões sobre as possibilidades
sujeito posto/que se põe à margem nas de conhecer esteticamente uma obra de
diversas práticas do cotidiano escolar. Nas arte, o autor nos coloca frente a questões
palavras de Vygotsky (2000, p.03) “Torna- da constituição do psiquismo humano: a
mo-nos nós através do outro”. Assumimos atividade construtiva complexa, na qual
que o corpo/sujeito vai se constituindo o contemplador constrói e cria o objeto
na incorporação de sentidos e significa- estético. Para se entender o que está re-
dos antes postos entre, no mínimo, dois presentado, requer-se reunir e sintetizar
sujeitos. Contudo, o que é incorporado os elementos dispersos da sua totalida-
do vivido/experenciado “[...] é resultante de; os sentimentos não estão contidos na
daquilo que impacta e é compreendido, obra em si, mas em como quem percebe
significado, pela pessoa. [...] Não existe é afetado pela obra. O ato de produzir um
experiência sem significação. [...] Falar de conhecimento sobre o outro o qual eu
experiência é falar de corpo/sujeito afe- contemplo é um ato intermitente de cria-
tado pelo outro/signo [...] É falar da vida ção e recriação do outro. Ato no qual este
impregnada de sentido” (SMOLKA, 2006, conhecimento se torna matéria/condição
p. 107). Bakhtin (1995) nos fala do corpo de vida, se torna uma experiência vivida.
signo. Organismo e mundo encontram-se As múltiplas experiências vivenciadas pelo
no signo. O corpo é signo, uma arena de corpo/sujeito nas relações com os outros
lutas sociais, pois traz em seus significa- vão constituindo o seu desenvolvimento.
dos índices de valores contraditórios, en- A experiência vivida vai sendo significada
quanto se constitui na disputa de valores e o que se torna incorporado pelo sujeito
ideológicos. Na dinâmica do mundo, nas não é simplesmente o “como o outro me
relações interpessoais, corpos interagem vê”, mas sim o “como o corpo/sujeito” sig-
afetando o outro e se afetando. Vigarello nifica o olhar do outro e se apropria desta
(1978, p.09) afirma que o corpo “[...] é o experiência com o outro. Por esse prisma
emblema onde a cultura escreve seus sig- do signo, do significado, da significação,
nos tanto como um brasão”. Detrez (2002) do corpo marcado pelo olhar do outro,
assume que o corpo é o lugar de todos da recíproca constituição entre subjetivo/
os paradoxos. Marzano (2007), por meio coletivo, nos indagamos sobre imagens e
dos diversos olhares, nos aponta que o conceitos que vão sendo veiculados sobre
corpo é a evidência da existência huma- ser um corpo/sujeito: Como são lidas/in-
na. O corpo é polissêmico, é uma reali- terpretadas algumas marcas no corpo – da
dade histórica, mutável e multifacetada. cabeça aos pés? O que se torna significa-
Bakhtin (2003, 1993) ainda nos instiga a tivo nas relações entre colegas? Do lugar
pensar em como o olhar do outro, possí- que Luciana ocupa nas relações, o que –
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especial, revela a possibilidade de ação. ciais foram deixando de ser excluídas para
Do ponto de vista psicológico, evidencia- fazerem parte da sociedade, mas, ainda
-se que estas crianças estejam vivencian- encontram muitos empecilhos para ve-
do situações-limite e que não as tornam, rem seus direitos garantidos no seu dia a
necessariamente, vulneráveis, mas, que dia; a tendência inclusiva está contida nos
sugerem a oportunidade de articulação documentos oficiais, mas, na prática, não
dos elementos de proteção, os quais, feliz- é o que acontece no interior das escolas.
mente, muitas vezes são ofertados pelos Desde 1991, a Lei 8213 vem garantindo
profissionais de educação especial e pelos uma participação mais efetiva no mercado
próprios psicólogos. Estes profissionais, de trabalho, pois, garante ao portador de
que se envolvem mais com as crianças do necessidades especiais uma cota de vagas
que as queixas devem, por conseqüência, em empresas, variando de 2% a 5% do
assumir a tarefa de lutar para que este seja quadro de funcionários, dependendo do
um horizonte para a escola e para todos total de empregados que a mesma pos-
aqueles que a constroem. suir. Entretanto, ainda existem alguns obs-
táculos para que essa lei seja cumprida,
Palavras-chave: psicologia escolar, educação que são as barreiras físicas e psicológicas.
especial, situação-limite A primeira diz respeito à falta de rampas,
Contato: Ana Paula Gomes Moreira, PUC- corredores e portas com mais de 80 centí-
Campinas, aana.moreira@yahoo.com.br metros, banheiros próprios, dentre outras.
As barreiras psicológicas são ainda mais
difíceis de serem ultrapassadas, pois, du-
LT06-1009 - A INCLUSÃO DA PESSOA rante muito tempo, os portadores de ne-
COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS cessidades especiais foram tratados como
ESPECIAIS NO ENSINO PROFISSIONAL incapazes, sendo-lhes negado o direito ao
Alice Maria de Oliveira Souza - CEPA desenvolvimento de suas potencialidades.
alice.souza@cepeduc.com Para a realização deste trabalho, foi esco-
Ana Claudia Rodrigues Fernandes - UNB lhida a abordagem qualitativa de pesquisa,
anacrf@ibest.com.br buscando uma compreensão da Inclusão
da Pessoa com Necessidades Educacionais
Este trabalho surgiu das reflexões que Especiais no Ensino Profissional, além de
foram realizadas durante o trabalho de buscar compreender como os profissio-
uma das autoras, enquanto coordenadora nais que atuam em um instituto de edu-
pedagógica em uma instituição de ensi- cação profissional de Anápolis/GO vêm
no profissional, com pouquíssimos aten- lidando com a possibilidade de atender a
dimentos a alunos com deficiência. Tem esse alunado. O instrumento utilizado para
como objetivo identificar as dificuldades a coleta de dados foi a entrevista semi–es-
encontradas no processo de inclusão de truturada, constando de 09 questões ob-
alunos com necessidades educacionais jetivas e 04 subjetivas, que foi aplicada a
especiais, possibilitando reflexão e so- 20 profissionais, entre eles professores e
cialização de idéias inclusivas com outros funcionários técnico-administrativos. Na
profissionais. Com a evolução da Humani- entrevista, era solicitado ao participante
dade, as pessoas com necessidades espe- demonstrar sua opinião sobre a inclusão
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curso profissionalizante”. Como podemos Este ensaio reflete sobre a realidade das
perceber, em toda a pesquisa, ficou evi- pessoas com (d)eficiência, pois, embora
denciado que a instituição não está pro- tenha aumentado a quantidade de leis
movendo discussões acerca da inclusão direcionadas a esse coletivo, nosso país
para os profissionais que ali atuam. Com continua, consideravelmente, ainda mui-
relação à inclusão no ensino profissional to longe de tornar-se inclusivo. Ao longo
e no mercado de trabalho, vemos grande do século XX, especialmente nos últimos
divergência nas respostas, já que enquan- sessenta anos, foram firmados e ratifica-
to temos 01 entrevistado que acredita ser dos mais de dez tratados internacionais
a escola especial ainda a mais adequada oriundos, essencialmente, do pós-guerra
para promover a profissionalização do alu- europeu, quando foram assassinadas mi-
no com necessidade especial, enquanto lhões de pessoas, entre judeus, negros e
outro acredita que as escolas profissionais deficientes. Nesse contexto, o papel da
não fazem a verdadeira inclusão, fazendo Psicologia, enquanto uma ciência que
“arranjos” quando recebem alunos com ainda se estabelecia, foi o de legitimar o
necessidades especiais. Se quisermos, re- processo de exclusão social. Assim, au-
almente, fazer a inclusão verdadeira, pre- tores consagrados, tais como Galton e
cisamos nos preparar para recebermos os McDougall, chegaram a publicar obras em
alunos com necessidades especiais e capa- que defendiam, abertamente, a eugenia.
citá-los para serem inseridos no mercado A eugenia era necessária, pois, favorecia a
de trabalho, em igual condição com os de- criação de uma sociedade em que predo-
mais alunos. Com este estudo concluímos minassem os indivíduos mais fortes. Para
que o instituto de educação profissional Galton, a eugenia deveria ser considerada
em questão não se encontra preparado como uma teoria científica; já McDougall
para realizar o atendimento a alunos com afirmava que a Psicologia deveria propor-
necessidades especiais precisando, ainda, cionar os instrumentos necessários para
de uma discussão mais aprofundada sobre o desenvolvimento da eugenia. Assim, o
o assunto, capacitação dos profissionais estabelecimento da eugenia, enquanto
envolvidos, além de uma política voltada ciência, contemplava diversas ações por
para a formação integral da pessoa. parte do governo. Criaram-se, nos Esta-
dos Unidos da América (EUA), comitês
Palavras-chave: inclusão, educação em prol do “movimento eugenista”, tais
profissional, mercado de trabalho como o comitê sobre a hereditariedade
Contato: Alice Maria de Oliveira Souza, CEPA, da deficiência intelectual e da surdo-mu-
alice.souza@cepeduc.com dez, e o comitê de esterilização de pesso-
as com deficiência. Em 1907 chegou-se a
aprovar, no estado da Indiana-EUA, uma
LT06-1470 - LEIS PARA PESSOAS COM lei que permitia a esterilização de pessoas
(D)EFICIÊNCIA: UMA PROTEÇÃO com deficiência intelectual, sem qualquer
NECESSÁRIA? tipo de consulta prévia ao que corres-
Sara Marques Bringel - Universidade de ponderia ao desejo real dessas pessoas.
Salamanca/Espanha Essa lei foi aprovada, posteriormente, na
sara.marques.10@hotmail.com Suécia em 1922, na Noruega em 1923, na
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sárias (e eficazes) ou são apenas fruto de exploram e brincam menos e ficam mais
um assistencialismo paternalista distante ansiosas quando separadas da mãe (Vi-
da realidade de milhões de pessoas que a cente, 2009). Especificamente neste con-
necessitam diariamente? texto, efeitos sobre o desenvolvimento
da linguagem têm sido pouco estudados.
Palavras-chave: leis, inclusão social, Importante salientar a reconhecida im-
deficiência portância do contexto sócio-afetivo para
Contato: Sara Marques Bringel, Universidade o desenvolvimento cognitivo e emocional
de Salamanca/Espanha, sara.marques.10@ da criança. O processo interacional repre-
hotmail.com senta condição promotora básica para
este desenvolvimento e para a inserção
social da criança, como participante de
PO-LT02 um processo histórico e cultural. A lingua-
gem tem merecido atenção diferenciada,
uma vez que é desenvolvida a partir da
LT02 – 734 - A INFLUÊNCIA DA interação social e, por sua vez, se torna
DEPRESSÃO PÓS-PARTO NO um instrumento poderoso de interação e
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM DE de inserção social, podendo, portanto, ser
CRIANÇAS DE 36 MESES entendida como produto e instrumento
das trocas sociais. O diálogo é a expressão
Beatriz Servilha Brocchi
viva desse jogo de papéis, delimita e orga-
Vera Silvia Raad Bussab
niza o processo de enunciação. A palavra
Financiamento: FAPESP é sempre dialógica, evoca significações
que a antecedem, ao mesmo tempo em
A influência da depressão pós-parto (DPP) que desencadeia reações subsequentes.
no desenvolvimento da criança tem sido Desta forma, a atividade discursiva em
objeto de diversas investigações. No con- um processo de interação é a condição
texto do projeto longitudinal no qual a de subjetivação e essência da vida social
presente pesquisa está inserida (“Depres- humana (Colaço, 2004). Neste contexto
são pós-parto como um fator de risco da ontogênese da linguagem, a interação
para o desenvolvimento do bebê: estudo com as figuras de apego, em especial com
intedisciplinar dos fatores envolvidos na a mãe, também ocupa posição central,
gênese do quadro e em suas conseqüên- pois o diálogo mãe-filho tem se revelado
cias”, (temático FAPESP, Nº 06/59192), elemento fundamental deste processo. A
identificaram-se efeitos da DPP na intera- mãe é considerada coautora no desenvol-
ção mãe-bebê e em aspectos do desenvol- vimento comunicativo-linguístico do filho,
vimento cognitivo, emocional e neuropsi- uma vez que a criança vivencia, a partir do
comotor da criança: aos 4 meses, arranjos discurso da mãe, as mais variadas cons-
interacionais mãe-bebê mostraram-se truções gramaticais, enriquecendo seu
menos estruturados (de Felipe, 2009), repertório verbal. O entrosamento linguís-
prejuízos na sensibilidade e estruturação tico favorece o desempenho desejado em
da interação diádica (Fonseca et al., 2010); níveis de emissão e apreensão semântica.
aos 12 meses, as crianças do grupo DPP Esta interação diádica mãe-criança pode
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ser prejudicada quando a mãe apresenta abaixo do esperado para a idade, e ape-
DPP, associada à tristeza intensa e a ou- nas quatro (28,6%) obtiveram desempe-
tros incapacitantes (Schwengberger & Pic- nho esperado. Na ausência de DPP, 57,1%
cinini, 2003). A falta de habilidade da mãe estiveram abaixo do esperado, enquanto
deprimida em lidar com os próprios pro- que menos da metade (42,9%) esteve
blemas e a falta de persistência necessária dentro do esperado. Apesar do desem-
para estabelecer uma interação sensível penho abaixo do esperado apresentar-se
com a criança são fatores que comprome- para o grupo como um todo, de um modo
tem a disponibilidade desta para o filho, geral as crianças do grupo sem DPP mos-
com potenciais conseqüências para o seu traram melhores resultados (60%) do que
desenvolvimento cognitivo e afetivo (Fri- as demais e o número de crianças abaixo
zzo & Piccinini, 2005). Objetivo: Analisar a do esperado para a idade foi maior nas
influência da depressão pós-parto no de- mães depressivas (55,6% versus 44,4%). O
senvolvimento da linguagem de crianças teste do qui-quadrado não mostrou dife-
de 36 meses. Método: Foram analisadas rença significativa. Apesar de não ter sido
vinte e oito mães e crianças de três anos, constatada diferença significativa entre os
participantes do projeto que acompanha grupos, a maior parte das crianças cujas
díades atendidas pelo sistema público de mães apresentaram DPP estiveram abaixo
saúde, no distrito do Butantã, São Paulo, do esperado para a idade, o que é com-
a partir da gestação. Das participantes, patível com os dados prévios da influên-
14 apresentaram indicativos de DPP, ava- cia da depressão pós-parto na interação
liada pela Escala de Depressão Pós-parto mãe-criança e, consequentemente no de-
de Edinburgh, (Cox, Holden & Sagovsky, senvolvimento da criança, como relatado
1987); validada por Santos, Martins e Pas- por De Felipe (2009), Fonseca et al (2010)
quali, 1999). Foi realizada uma avaliação e Vicente (2009). Os dados sugerem que
do aspecto pragmático do desenvolvimen- as mães com DPP, possam ter sido menos
to de linguagem das crianças (Fernandes, responsivas e consequentemente estimu-
2000), em filmagens de quinze minutos de lado menos a linguagem de seus filhos.Em
brincadeira livre com a mãe, em função de outro contexto que não o da DPP, Taylor et
informações colhidas desde o nascimento. al (2008) verificaram que a sensibilidade
O resultado do teste foi avaliado em fun- e a responsividade materna contribuem
ção do esperado para a idade, quanto ao para desenvolvimento da linguagem du-
número de atos comunicativos por minuto rante o processo de interação entre a lin-
de interação. De acordo com a autora do guagem da criança e a da mãe. Foi cons-
teste, crianças na faixa de 3 anos devem tatado, porém, que ambos os grupo apre-
apresentar entre 6 e 8 atos comunicativos sentaram-se aquém do esperado, o que
por minuto. No teste de pragmática, mais pode ser explicado por fatores adicionais
da metade das 28 crianças, (64,3%) apre- que também influenciam a relação diádi-
sentaram desempenho abaixo do espe- ca, como: idade, emprego, nível intelec-
rado, enquanto que 10 (35,7%) apresen- tual, renda familiar e estresse emocional
taram resultado esperado para a idade. materno (Klein & Linhares, 2006; Mendes,
Na presença de DPP, constatou-se que a 2006; Fan, 2008). Com os dados obtidos,
maior parte das crianças (71,4%) estavam conclui-se que os aspectos relacionados
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quedos e instrumentos musicais, animais) versado com outras mães (55%). Quinze
e o de fonologia de acordo com a nomea- mães (75%) informaram sentimentos de
ção de figuras e repetição de palavras com tristeza, medo e até desespero durante
fonemas balanceados. O teste de pragmá- a estadia do bebê na Unidade de Terapia
tica foi analisado em função do esperado Intensiva Neonatal (UTIN), havendo uma
para a idade, quanto ao número de atos expectativa pessimista com relação à me-
comunicativos por minuto de interação. A lhora da criança. Apesar da maioria das
fluência verificou a tipologia das disfluên- mães relatarem que as crianças não apre-
cias (comuns e gagas), velocidade de fala sentaram comprometimento no desenvol-
(fluxo de sílabas e palavras por minuto) e vimento e a metade destas considerarem-
frequência de rupturas (porcentagem de -se as principais cuidadoras, observou-se
descontinuidade de fala e de disfluências que as crianças apresentaram desempe-
gagas), sendo esperado para a idade ou nho abaixo do esperado para os testes
não. Todos os testes foram transcritos em de fonologia, vocabulário, pragmática e
protocolos específicos. A prova de voca- fluência e desempenho esperado para o
bulário foi classificada de acordo com o discurso oral. Estes resultados podem ser
tipo de nomeação realizada pela criança: explicados pelo fato de que quase a meta-
designação por vocábulo usual (nomea- de das entrevistadas considerou mais im-
ção correta), não designação ou processo portante na educação seguir regras (10%)
de substituição por outro vocábulo. Este e ser obediente (30%). Apesar de estar
resultado também foi observado em fun- bem desenvolvido para a idade ser um fa-
ção da idade dos sujeitos da pesquisa. Na tor considerado importante para 10% das
fonologia, foi observado se os sujeitos mães, o saber se comportar é o aspecto
apresentaram trocas fonêmicas durante fundamental na educação da criança para
os testes de nomeação e repetição e se mais da metade das entrevistadas (60%).
estas estão dentro do esperado para o Apesar do fator biológico (prematurida-
desenvolvimento da criança. Para avalia- de, baixo peso) estar relacionado com o
ção do discurso oral, foram transcritas as desenvolvimento infantil, como relatado
histórias realizadas pelas crianças e poste- por Melo e Meio (2003), a aquisição e
riormente analisadas de acordo com o es- o desenvolvimento de todos os aspec-
tudo de Spinillo e Martins (1997) que ob- tos relacionados à linguagem (lexical,
servaram os elementos do discurso, per- sintático-semântico, discursivo, fonético-
sonagens, manutenção do tópico, trama/ -fonológico) são fortemente influenciados
evento principal e desfecho. Observou-se pelo processo interacional, pois a lingua-
que a maioria das crianças nasceu abaixo gem ocorre no contexto em que se está
de 1.500g. (65%) e quase metade com exposto. Os aspectos sócio-pragmáticos e
idade gestacional (IG) de 27 a 30 sema- as habilidades cognitivas são fundamen-
nas (55%), caracterizando recém-nascidos tais para o desenvolvimento linguístico
prematuros extremos e de muito baixo da criança (Naigles, 2002). Os achados
peso ao nascimento. A maioria das mães da pesquisa sugerem que estes aspectos
(85%) informou ter recebido orientações também influenciaram no desempenho
durante o período de internação de mé- verificado nos testes de linguagem, uma
dicos (40%), enfermeiros (40%) e con- vez que todas as crianças apresentaram
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Inteli- Inteli- Consciên- Memó- Execu- NSR: NSR: TDE: TDE: TDE:
gência gência cia ria tivo Dígitos Objetos Leitura Escrita Mate-
Verbal Não Fonoló- Fonoló- Central mática
verbal gica gica
Inteligência
1 0,19 0,49** 0,34** 0,30* -0,22 -0,40** 0,29* 0,26* 0,28*
Verbal
Inteligência
1 0,13 0,21 0,31* -0,00 -0,15 0,11 0,25 0,37**
Não verbal
Consciência
1 0,44 0,55** -0,32 -0,39** 0,48** 0,58** 0,31*
Fonológica
Memória
1 0,41** -0,14 -0,24 0,40** 0,43** 0,09
Fonológica
Executivo
1 0,10 -0,27* 0,29* 0,40** 0,36**
Central
TDE
1
Matemática
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também a estes 4 subgrupos problemas mais ricos e equilibrados que dêem su-
de probabilidade que continham conteú- porte a estas operações mentais. O teste
dos depreciativos em relação à naciona- estatístico qui-quadrado foi utilizado para
lidade brasileira ou a outra nacionalidade comparar a frequência de respostas apre-
não-brasileira, bem como problemas de sentadas pelos subgrupos. Alguns achados
probabilidade que continham conteúdos apontam para efeitos dos conteúdos va-
depreciativos em relação a uma faixa etá- lorativos dos enunciados especialmente
ria próxima ou distante da idade média no raciocínio probabilístico envolvido em
dos participantes da pesquisa. No que se tarefas que demandavam o julgamento
refere aos procedimentos éticos de pes- da habilidade técnica para mexer em apa-
quisa, houve, inicialmente, a aprovação da relhos eletrônicos, ou seja, a maioria dos
pesquisa pela Comissão de Ética em Pes- participantes concordou com os enuncia-
quisa da Universidade do Estado do Rio de dos que apresentavam conteúdos valora-
Janeiro. Foi apresentado o Termo de Com- tivos depreciativos e estereotipados em
promisso Livre e Esclarecido aos pais dos relação à habilidade técnica de indivíduos
alunos participantes, bem como também mais idosos. Em outras palavras, em uma
houve a autorização da direção da escola tarefa que envolvia o julgamento da habili-
para a realização da testagem em sala de dade técnica de indivíduos de faixas etárias
aula. No que diz respeito ao perfil sócio- diferentes (idosos e crianças), houve o jul-
-demográfico dos participantes, foi obser- gamento desfavorável ao indivíduo idoso
vada uma equivalência na distribuição dos do ponto de vista probabilístico. De modo
participantes nas classes baixa (49,9%) e complementar, os meninos, em contrapo-
média (50,06%), tendo em vista os crité- sição às meninas, demonstraram maior
rios sócio-demográficos utilizados. A maio- sensibilidade aos conteúdos depreciativos
ria dos indivíduos demonstrou praticar em relação ao seu próprio gênero em uma
esporte (83,3%), especialmente os meni- tarefa que envolvia o julgamento da habili-
nos, sendo que esta prática contrasta com dade matemática em homens e mulheres.
a pouca atividade de leitura extraclasse No que se diz respeito aos conteúdos de-
(40,6%). De modo complementar à prática preciativos relativos a nacionalidade brasi-
esportiva, as atividades de lazer também leira e a outra nacionalidade não-brasileira
foram destacadas pela maioria dos parti- apresentados em alguns problemas, não
cipantes (77,6%). Em relação ao acesso à foram encontrados resultados significati-
internet, a quase totalidade das crianças vos, como também aconteceu nas tarefas
(92,2%) menciona este acesso. Já no que que envolviam conteúdos depreciativos
se refere ao contato com outro idioma, em relação ao comportamento de mulhe-
apenas 39,5% dos participantes destaca- res e de homens no trânsito. Por fim, acre-
ram esta opção. Os principais resultados ditamos que os resultados dessa pesquisa
encontrados sugerem que os alunos par- possam ter particular relevância para o
ticipantes não adquiriram ainda um racio- contexto escolar, na medida em que as
cínio probabilístico proficiente e que, tal- situações-problema vivenciadas pelos alu-
vez, as estruturas cognitivas subjacentes a nos em sala de aula podem, muitas vezes,
este tipo de raciocínio possam estar ainda revestir-se de valores desfavoráveis ou não
demandando a construção de esquemas ao seu gênero, nacionalidade, faixa etária
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de escolas públicas na cidade de Santo An- volvimento da linguagem, pois foi possível
tônio de Jesus-Ba. A avaliação iniciou-se a notar que em concordância com estudos
partir da assinatura do Termo de consen- sobre maturação do sistema nervoso as
timento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos crianças avaliadas apresentaram estabili-
pais. Para a avaliação foi utilizada a Bateria dade do desenvolvimento da linguagem a
de Avaliação Neuropsicológica do Proces- partir dos 6 anos. Estudos com esse cará-
samento Lexical (BANPLE) (Freitas, 2009). ter podem contribuir para o processo de
Com a BANPLE foram avaliados aspectos escolarização formal, uma vez que oferece
dos componentes Fonológico, Lexical e Se- elementos relevantes no que diz respei-
mântico da compreensão e produção oral to o desenvolvimento da linguagem em
da linguagem (Freitas et al., 2010). Portan- crianças. Compreender as diferenças de-
to, as Tarefas da Produção Oral do compo- senvolvimentais da linguagem nas crianças
nente Fonológico foram Discriminação de permite saber o que se deve esperar em
Fonemas (DF) e Detecção de Rimas (DR), nível de aprendizado em cada faixa etária,
do Componente Lexical foi a Tarefa de De- considerando também os aspectos gerais
cisão Lexical (DL) e do Semântico foram As- do desenvolvimento individual.
sociação Semântica Palavra-Figura (ASPF)
e Associação Semântica Figura-Figura Palavras-chave: Avaliação Neuropsicológica;
(ASFF). As Tarefas da Compreensão Oral do Psicolinguística; Diferenças Desenvolvimentais.
componente Fonológico foi Julgamento de
Rimas (JR), do Lexical foi a Tarefa de Repe-
tição de Palavras e Pseudopalavras (RPP) e LT02 – 1192 -IDENTIFICAÇÃO DE DÉFICITS
do componente Semântico foram Nomea- PSICOLINGUISTICOS CARACTERIZADORES
ção de Figura (NF) e Fluência Verbal (FV). DE DISLEXIA EM CRIANÇAS DE 4 A 8ANOS
A análise de dados foi feita por meio do Zelma Freitas Soares - UFRB
software SPSS (Statistical Pachkage for So- soareszelma@gmail.com
cial Sciences) versão 18.0. Através da ANO- Thiago da Silva Gusmão Cardoso - UFRB
VA, com o scheffe tests buscou observar a thiago_gusmao1@hotmail.com
existência de diferenças desenvolvimen- Társis Cajado Chaves da Silva - UFRB
tais da linguagem nas crianças, conforme tcajado@hotmail.com
cada idade (4, 5 , 6, 7 e 8 anos). A partir Jacqueline Miranda Pereira - UFRB
dos resultados da ANOVA, com o scheffe acquedja@yahoo.com.br
foi possível identificar diferenças desen- Patrícia Martins de Freitas - UFRB
volvimentais significativas no desempe- pmfrei@gmail.com
nho das crianças em tarefas da função psi- Financiamento: PIBEX/PIBIC/CNPq/FAPESB/CNPq
colinguística de acordo com suas idades. A
ANOVA apontou diferenças significativas A Avaliação neuropsicológica busca inves-
(p= 0,000) entre os grupos formados. Com tigar quais são as funções cognitivas que
o scheffe foi possível notar a formação de estão comprometidas e conservadas. Os
dois grupos: grupo 1 (4 e 5anos) e o gru- principais eixos de atuação da neuropsico-
po 2 (6, 7 e 8 anos). O presente estudo logia são: a avaliação e a reabilitação (Am-
mostra que a BANPLE é sensível para de- brózio, et al 2009). Dessa forma, o presen-
monstrar aspectos relevantes do desen- te trabalho se restringe a discussões de
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dois tipos clássicos de dislexia, a dislexia ram do estudo e foram avaliadas em dife-
fonológica e a lexical, demonstrando que rentes tarefas de teoria da mente, em um
a BANPLE apresenta sensibilidade no em teste de vocabulário receptivo e em uma
identificar funções comprometidas na tarefa de compreensão de ironia traduzida
dislexia, diferenciando os dois subtipos e adaptada para o presente estudo. A tare-
clássicos. Além disso, embora a BANPLE fa de compreensão de ironia consistiu na
não tenha a função de avaliar para um apresentação de oito histórias que repre-
diagnóstico, ela permite identificar défi- sentavam situações familiares para a crian-
cits precoces do desenvolvimento e dessa ça e envolviam sempre conversas com
forma, contribui, para evitar que a criança pais, irmãos ou amigos. Em todas elas,
apresente futuras conseqüênciasdesfavo- um dos personagens fazia um comentá-
ráveis no seu contexto escolar e social. rio irônico dirigido a outro personagem. A
tarefa avaliou quatro componentes socio-
Palavras-chave: neuropsicologia cognitiva, cognitivos para a compreensão de ironia:
linguagem oral, dislexia. significado da sentença, crença, intenção e
motivação do falante. Além disso, a tarefa
avaliou um componente sociocomunica-
LT02 – 1220 - COMPREENSÃO DE IRONIA tivo por meio do julgamento feito pelos
E TEORIA DA MENTE: UM ESTUDO COM participantes sobre o quão gentil, maldoso
CRIANÇAS BRASILEIRAS ou engraçado havia sido o comentário do
Nadia Villa - UFSCar personagem. A ironia presente em cada
nadinhav@hotmail.com história podia variar quanto ao tipo (con-
Débora de Hollanda Souza - UFSCar trafactual x hiperbólica) e quanto à valên-
debhsouza@uol.com.br cia (crítica x elogio). Essas quatro variações
Financiamento: FAPESP foram, portanto, cruzadas de forma a criar
quatro diferentes categorias de ironia: elo-
A teoria da mente é a habilidade de prever gio hiperbólico (EH), elogio contrafactu-
e explicar o comportamento humano por al (EC), crítica contrafactual (CC) e crítica
meio da compreensão dos próprios esta- hiperbólica (CH). Todos os participantes,
dos mentais e dos outros (e.g., intenções, portanto, ouviram duas histórias repre-
crenças e emoções). Estudos recentes têm sentando cada uma dessas categorias. Os
demonstrado uma relação clara entre o resultados do presente estudo mostraram
desenvolvimento da teoria da mente e a que, como esperado, há uma correlação
linguagem. Em especial, há um interesse positiva entre o desempenho dos partici-
crescente em investigações sobre a relação pantes nas tarefas de teoria da mente e
entre teoria da mente e compreensão de de compreensão de ironia (r = 0.454, p <
ironia em crianças de idade escolar. O pre- 0.05), bem como um efeito de idade no
sente estudo foi uma replicação do estudo desempenho em todas as tarefas (F(2,19)
conduzido por Filippova e Astington e tem = 12.43, p < 0.05). Em relação ao escore
como objetivo principal investigar a rela- total na tarefa de compreensão de ironia,
ção entre compreensão de ironia e teoria uma diferença significativa foi encontrada
da mente em crianças brasileiras. Quaren- entre as crianças de 7 anos (M = 27.75) e
ta e três crianças de 7, 8 e 9 anos participa- 8 anos (M = 37.58) e entre as crianças de
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7 anos e 9 anos (M = 37.73). Uma ANOVA mais da metade dos participantes não jul-
de medidas repetidas foi realizada, com gou a ironia como engraçada (65% na cate-
tipo de ironia (contrafactual x hiperbólica) goria elogio contrafactual, 74% para crítica
e valência (crítica x elogio) como variáveis contrafactual e 69% na crítica hiperbólica).
intra sujeitos e idade como varíavel en- Mais uma vez, os dados das crianças brasi-
tre sujeitos. Os resultados não revelaram leiras foram muito semelhantes aos dados
um efeito significativo de valência (crítica obtidos com crianças canadenses. Consi-
x elogio), F(1, 40) = 0.38, p > 0.05), mas derando a escassez de estudos brasileiros
sim um efeito significativo de tipo de iro- sobre o tema, espera-se que o presente
nia (contrafactual x hiperbólica), F(1, 40) estudo possa contribuir para o campo de
= 13.73, p = 0.05, além de uma interação estudos sobre teoria da mente no Brasil e,
entre valência e tipo, F(1, 40) = 23.43, p < de maneira mais abrangente, que ele pos-
0.05). ANOVAs de medidas repetidas fo- sa avançar o conhecimento atual sobre a
ram também realizadas para cada um dos relação entre essa habilidade sociocogniti-
quatro componentes sociocognitivos da va e o desenvolvimento da linguagem.
compreensão de ironia. Os resultados in-
dicaram uma interação entre as variáveis Palavras-chave: Teoria da Mente; Ironia;
tipo de ironia e valência (elogio x crítica) Crianças Escolares.
em dois dos quatro componentes (crença Contato: Nadia Villa, UFSCar,
e intenção), ps < 0.05. Os dados obtidos nadinhav@hotmail.com
corroboram os resultados de Filippova e
Astington obtidos com crianças canaden-
ses. Assim como as crianças canadenses, LT02-1333 - ERA UMA VEZ: OS CONTOS DE
as crianças brasileiras apresentaram uma FADAS E A INFÂNCIA CONTEMPORÂNEA
facilidade maior para entender a ironia Iollanda Freire Costa Belchior - UFC
contrafactual, ou seja, quando o falante iollanda3fcbelchior@yahoo.com.br
diz o contrário daquilo que pretende dizer, Juliana Moita Leão - UFC
do que para entender a ironia hiperbólica, Juliana_moita@hotmail.com
quando o falante exagera aquilo que pre- Nara Maria Forte Diogo Rocha - UFC
tende dizer. Em relação ao julgamento do naradiogo@hotmail.com
conteúdo pragmático da ironia (quão gen- Maria Sandra Braz Marques - UFC
til, maldoso, engraçado foi o comentário), msbmarques@hotmail.com
as análises revelaram uma interação entre Raíza Ribeiro de Souza - UFC
tipo de sentença e valência nas três condi- raiza.psicologia@yahoo.com.br
ções analisadas (gentil, p < 0.001, maldoso,
p < 0.001, engraçado, p = 0.04). A categoria O presente trabalho tem como objetivo
elogio hiperbólico foi considerada como a discutir o conto de fadas como forma de
mais gentil pelos participantes e a crítica problematizar a infância contemporânea,
hiperbólica como a menos gentil. Na mes- apresentando as considerações de uma
ma direção, a crítica hiperbólica foi julga- pesquisa em andamento. As reflexões são
da como a ironia mais maldosa e o elogio suscitadas a partir de discussões ocorridas
hiperbólico como a ironia menos maldosa. nos encontros do projeto de extensão
Finalmente, em três das quatro categorias, “Brincadeiras: ações em Psicologia do De-
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responsáveis pela educação destes jovens (identidade) e aos jogos infantis. Todo
atletas estejam atentos a esses sinais para ser humano possui características físicas
que medidas preventivas sejam tomadas determinadas por genes provenientes da
para evitar problemas psicológicos em mãe e do pai. Os indivíduos portadores
sua fase adulta. Sugerimos outros estudos de síndrome de Down possuem um cro-
mais detalhados a respeito do desenvol- mossomo adicional no par 21; por conta
vimento dos jovens atletas das categorias disso, suas características físicas se asse-
de base, comparando os resultados com melham mais entre si do que com os seus
outras populações de jovens atletas. pais. Essa semelhança pode interferir no
desenvolvimento da representação de sua
Palavras-chave: futebol, avaliação individualidade (PUESCHEL, 1998). Ana-
comportamental, categorias de base lisamos os aspectos sociais e cognitivos
em duas crianças do sexo feminino, cujos
nomes fictícios são Maria e Clara, com
LT07-855 - FORMAÇÃO DO EGO EM onze anos de idade, residentes da cidade
CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROME de Itaitinga, na região metropolitana de
DE DOWN Fortaleza. São alunas de escola pública,
Isadora Leite Ribeiro Alves - UFC cursando o segundo ano do Ensino Funda-
isadora_alves@hotmail.com mental em salas de inclusão, sem, todavia,
Natália Araújo da Silva - UFC a assistência de uma equipe multidiscipli-
nads_araujo@hotmail.com nar de suporte para o desenvolvimento de
Rachel Xavier de Faria Vecchio - UFC suas potencialidades. Tais crianças podem
ra_vecchio@hotmail.com ser consideradas um grupo de estudo di-
Rebeca Barros de Lima - UFC ferenciado por se inserirem em grupos
rebecabdl@hotmail.com sociais restritos às suas famílias e esco-
la. Um fator determinante na escolha da
O presente resumo é resultado de uma amostra parece ser a sua condição bioló-
pesquisa desenvolvida como prática na gica comum. Porém, podemos considerar
disciplina de Psicologia do Desenvolvimen- que o incentivo de suas potencialidades
to I, ministrada no curso de Psicologia da ao desenvolvimento implicará em respos-
Universidade Federal do Ceará pela pro- tas particulares. Tal condição as aproxima
fessora Susana Kramer, com a colaboração do estudo de Erik Erikson, em que o de-
do monitor Eduardo Alverne. A pesquisa senvolvimento humano se dá de forma
(em andamento) tem como objetivo iden- contínua, dinâmica e criativa, organizado
tificar, em situação de brincadeira coleti- a partir de três dimensões centrais: bioló-
va, o desenvolvimento do ego em crianças gica, individual e social (ERIKSON, 1976).
portadoras de Síndrome de Down, a partir A identidade é construída nas experiên-
da ideia de conflitos nucleares propostos cias vividas nessas três dimensões, sendo
por Erik Erikson. Abordamos fatores so- o ego uma síntese desse processo, o qual
ciais (família e escola) e fatores biológicos pode ser observado através de jogos in-
(síndrome de Down) relacionando-os ao fantis (brincadeira coletiva), adentrando-
modelo teórico-prático de Erikson, que -se ao universo lúdico dessas crianças. Nos
se refere à formação da personalidade estudos sobre a Teoria Psicossocial do De-
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senvolvimento de Erik Erikson, vimos que ximidade a ele, o que não foi percebido
há uma transferência por parte da crian- em relação à figura materna. Também se
ça em suas brincadeiras, pois, através do destaca na brincadeira coletiva sua busca
lúdico, representará suas relações sociais. de comando sobre a situação proposta, o
Este é o modo como consegue expressar que não se deu na vivência interpessoal,
a realidade e se libertar das censuras con- na qual Clara revelou ter medo de Maria.
solidadas na sociedade, o que implica em A pesquisa permitiu a observação da for-
uma representação do ego. Realizamos mação do ego em crianças portadoras de
jogos com as duas meninas, no espaço da síndrome de Down, destacando-se alguns
brinquedoteca da escola. Foram disponibi- conflitos durante a brincadeira coletiva.
lizados jogos de montagem, bonecas, casi- O primeiro desses foi o de “autonomia x
nha de boneca e fantoches, permitindo a vergonha e dúvida”, superado por Clara ao
livre escolha da dupla participante, diante demonstrar independência e extroversão,
da presença das pesquisadoras. De um enquanto Maria assumiu uma posição de
modo geral, observamos que Maria orga- dependência ficando sempre à espera de
nizava seu espaço, enquanto brincava. No autorização para brincar, evidenciada em
início, não queria brincar; porém, ao inte- sua postura física (cabeça baixa com ges-
grarmos o lanche dela à brincadeira, suge- tos que demonstravam vergonha). Outro
rindo que também oferecesse comida às conflito interpretado é o da “iniciativa x
bonecas, ficou menos retraída. Durante culpa”, em que observamos a iniciativa de
toda a brincadeira, não ouvimos a voz de Clara durante a brincadeira, aproximan-
Maria, que apenas gesticulava e apontava do os bonecos que representavam o pai
para o que queria fazer. Na brincadeira e ela própria, afastando a que represen-
com os fantoches, Maria colocou-os para tava a sua mãe, remetendo ao Complexo
beijarem na boca constantemente, rindo de Édipo. Maria demonstra retraimento,
de sua própria ação. Quando propusemos na brincadeira, o que pode ser resultado
que desenhasse sua família, rabiscou um de relações em que lhe faltaram tempo
bonequinho triste, recusando-se a conti- e espaço que permitissem o desenvolvi-
nuar o desenho. Depois, quando solicita- mento de suas atividades com autonomia.
da a representar o seu pai, continuou o Ela não tomou a iniciativa em nenhum
desenho apresentando um bonequinho dos jogos propostos, imitando, inclusive,
feliz. Não quis desenhar a mãe, reagindo certas atividades executadas por uma das
com batidas na mesa e gestos de negação pesquisadoras. Foi observada também, no
com as mãos, sugerindo um contexto de conflito da “identidade x confusão de pa-
reprimendas. Clara, por sua vez, apresen- péis”, uma identificação por parte de Clara
tou-se de forma alegre e comunicativa. com o pai, devido à sua incapacidade de
Durante a brincadeira de casinha, despiu fixar uma identidade própria. Já em Ma-
as bonecas, diversas vezes, sugerindo in- ria, embora isso não tenha emergido cla-
terações sexuais entre elas. Também apre- ramente no contexto da brincadeira, o seu
sentou a ação de aproximar o boneco-pai papel na família ou na escola é problema-
da boneca-filha e afastar a boneca-mãe. tizado, ao se observar seu sentimento de
Verbalmente, também mencionou o pai inadequação e inferioridade na dinâmica
de forma carinhosa, demonstrando pro- proposta, o que pode constituir, segundo
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Erikson (1976), empecilho à sua identifi- pois inclusão não se reduz ao aluno se en-
cação nos contextos sociais em geral. O quadrar no espaço escolar, mas a escola
contexto social das duas meninas parece estar preparada para acolher as diferen-
corroborar tal situação, diante de relato ças. Assim, impulsionado por tais inquie-
das professoras das meninas sobre a evi- tações, o estudo teve como objetivo geral
tação dos demais alunos na interação com compreender como a escola inclusiva atua
as crianças das salas de inclusão. Além frente à necessidade de atender e ofere-
disso, notamos que, em Clara, a resolu- cer uma prática educativa que respeite as
ção dos conflitos é mais evidente do que diferenças, no intuito de favorecer o de-
em Maria. Neste sentido, segundo Erikson senvolvimento e aprendizagem dos seus
(apud Steiner, 2008), “o desenvolvimento alunos com necessidades educacionais
humano impõe conflitos nucleares que especiais – ANEE’s. Partindo dessa meta,
desencadeiam crises... [com] duas saídas os objetivos específicos propuseram: a) in-
possíveis: se o conflito é resolvido de ma- vestigar práticas educativas que procuram
neira satisfatória, a qualidade positiva é padronizar os processos de aprendizagem
construída no ego e o desenvolvimento é no espaço escolar e que comprometem o
sadio, se o conflito é resolvido de manei- desenvolvimento e aprendizagem do alu-
ra insatisfatória, a qualidade negativa se no; b) identificar tratamentos especiais es-
incorpora ao ego e o desenvolvimento é tigmatizados e preconceituosos para com
prejudicado” (p. 55). os alunos com necessidades educativas
especiais; c) registrar práticas e concep-
Palavras-chave: síndrome de Down, ções realizadas no espaço educativo que
brincadeira coletiva, ego não tenham preconceitos com as diferen-
Contato: Rebeca Barros de Lima, UFC, ças e otimizem uma aprendizagem signi-
rebecabdl@hotmail.com ficativa; e d) identificar as principais dife-
renças entre práticas educativas inclusivas
e não-inclusivas, verificando a relevância
LT07-1309 - EDUCAÇÃO INCLUSIVA OU dessas diferenças para a efetivação e qua-
EXCLUSIVA: REFLEXÕES SOBRE UMA lidade da política da inclusão escolar. Pes-
PRÁTICA EDUCATIVA QUE RESPEITE ÀS quisadores na área de desenvolvimento
DIFERENÇAS humano e educação vêm constantemente
Franciene Soares Barbosa de Andrade - UnB salientando a necessidade de uma educa-
Geane de Jesus Silva - UnB/UAB ção de qualidade para todos, no sentido
de respeitar as diferenças, sejam elas, cog-
No contexto educacional, verificou-se nitivas, culturais, afetivas e outras. Portan-
certa dificuldade da equipe escolar em to, como pressupostos teóricos, a pesqui-
compreender e aceitar as diferenças, pois, sa baseia-se em autores como: Vygotsky,
na maioria das vezes, são vistas como um Taylor, Mendes, Kelman, além da legisla-
problema que precisa ser melhorado e ção brasileira referente à educação e edu-
ajustado diante do processo de ensino- cação inclusiva. Para tanto, a construção
-aprendizagem homogêneo. Essa proble- empírica teve como suporte metodológico
mática revela que, no âmbito escolar, a de pesquisa a abordagem qualitativa, por
educação inclusiva requer um novo olhar, meio da análise documental, entrevista
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social, realidade essa que também pro- preciso problematizar os dados etnográ-
duz, em certa medida, a própria socieda- ficos, de modo a permitir transitar entre
de” (Pinto, 1997, p.34). O conceito de in- universos culturais diversos – o nosso e
fância na perspectiva histórica nos indica o do nosso sujeitos” (1996, p.67). O mé-
que não podemos compreender a criança todo utilizado foi o quanti-qualitativo.
fora de suas relações com a sociedade na Neste momento, considero fundamental
qual está vivendo e desvinculada de suas reafirmar minha convicção de que infân-
interações com os sujeitos e com a cultu- cia não pode ser entendida como uma
ra do grupo social no qual está inserida. categoria natural, mas histórica e cultu-
As crianças, através de suas narrativas, ral, ainda que não determinada de modo
não expressam uma representação única absoluto pelo social. E que, por isso, há
de infância, mas seus distintos olhares. É diversos modos de “ser” criança e “viver”
importante nos darmos conta de que a a infância, não se podendo falar dessas
cumplicidade entre sociedade, educação categorias no singular ou se entender
e infância faz surgir discursos e saberes que exista um lugar específico, distintivo
que produziram e produzem o “ser infan- de infância e de criança. Este trabalho
til” de hoje, do presente. Buscando re- procurou compreender e destacar valo-
flexões com as crianças e entrecruzando res e significados das vozes infantis, obje-
diferentes saberes disciplinares, psicoló- tivando conhecer a criança e suas carac-
gicos, pedagógicos, sociológicos, filosófi- terísticas atuais. Procurou ver a criança
cos, pediátricos, e com o uso de um ins- enquanto sujeito histórico, que produz
trumento conhecido como “teste de epi- cultura. “O olhar das crianças permite re-
sódios” utilizado por Elsa Schmid-Kitsikis velar fenômenos sociais que o olhar dos
em suas pesquisas em Genebra, procurei adultos deixa na penumbra ou obscure-
conhecer e ampliar a compreensão de ce totalmente” (Sarmento, 1997, p.25).
suas relações com o conhecimento, a cul- As pesquisas com as crianças vêm sendo
tura e os modos de subjetivação da crian- realizadas de modo especial pelos pes-
ça e com quem ela estabelece relações quisadores representantes da sociologia
na contemporaneidade. Ao se produzir da infância. Estes consideram a criança
conhecimento, cada nó, cada ponto al- como ator social e buscam ultrapassar a
cançado, acaba por sugerir um caminho e dicotomia das outras abordagens. Acre-
que vai se transformando. De uma forma ditam que as crianças como seres sociais
séria e sem abrir mão do rigor e da busca representam certos papeis sociais que
de uma explicação como uma forma de estão internalizados na sua subjetivida-
conhecer essa infância que se torna um de. As crianças dispõem de um conheci-
dos fios desta tapeçaria, tomo a criança mento, fazem várias relações, são capa-
com um ator social, a partir do olhar da zes de avaliar e vivenciar vários papéis e
sociologia da infância. Muito são os ris- inventam suas estratégias. Transgridem
cos de ver, ouvir, descrever, registrar e in- as regras atribuindo outros significados
terpretar as falas das crianças sem o de- para suas atividades. Pesquisando com as
vido rigor teórico-metodológico, salienta crianças, precisamos reconhecê-las como
Gusmão, ressaltando ainda que devemos sujeitos de cidadania. Seus conhecimen-
ir além das aparências dos fenômenos. “É tos são válidos, elas elaboram juízos acer-
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preender que o meio não é estático e é e as habilidades sociais para um bom con-
múltiplo e que o desenvolvimento infantil vívio, potencializando um ambiente sadio
está diretamente ligado ao meio em que para as crianças e para os adultos. Para a
a criança está inserida. Logo, é necessá- finalização do projeto, foi feita uma dinâ-
rio compreender o processo de aprender mica de grupo que consistia em reunir um
como um processo contínuo e intermiten- pequeno grupo no meio do grande grupo.
te, em que o individuo é capaz de recons- Os integrantes do pequeno grupo que es-
truir novas realidades. Existem diversos tavam no centro deveriam realizar ativida-
sistemas que têm capacidade de intervir des propostas pelos demais (como fechar
no ambiente infantil e no aprendizado das a porta da sala, segurar um participante
crianças. Ao iniciarmos as observações, foi no colo) com um único cordão amarrado
possível compreender que todos os pro- na cintura de cada um dos participantes,
fissionais que ali trabalham interferem no unindo-os em um círculo. A realização da
ambiente das crianças. O objetivo inicial dinâmica possibilitou a compreensão de
da proposta de intervenção foi resgatar as que, para funcionar de forma eficiente,
capacidades de cada um dos profissionais o grupo deve ter a participação de todos
que atuam na escola, visando fortalecer e que cada um tem um papel definido e
as suas relações sociais e as suas habilida- insubstituível. A proposta de intervenção
des sociais para que, desta forma, todos possui fundamentação teórica na psicolo-
possam se sentir melhor na instituição em gia de grupos e nas práticas em grupo de
que convivem e em que passam uma boa Pichon Rivière. Foi possível analisar e re-
parte de sua vida diária. Foram realizadas fletir junto com todos os profissionais da
entrevistas individuais com cada um dos instituição observada sobre como é amplo
profissionais que atuam na escola, anali- o número de microssistemas que interfe-
sadas de forma qualitativa. Aplicou-se um rem no processo de conhecimento e de
questionário com perguntas semiabertas relacionamento entre todos os participan-
e as entrevistas foram realizadas dentro tes da educação infantil. Os participantes
da instituição de ensino infantil, com re- se deram conta que, em uma sala de aula,
gistro de imagem e som. A entrevista foi o professor, as crianças, os faxineiros, os
composta por três perguntas-chave: a) há pais, os serventes, a direção e até mesmo
quanto tempo trabalha na instituição; b) a estrutura física podem ser estímulos ca-
qual é a função que exerce atualmente no pazes de interferir no ambiente social e
local (falar um pouco sobre a sua rotina); psicológico de todos os integrantes. Como
e c) quais as principais lembranças que se articulam, se estabelecem e se constro-
possuem da escola durante o período que em as relações entre as crianças e os pro-
trabalham ali. Em um segundo momen- fissionais da educação infantil dessa Esco-
to da pesquisa, foi feita uma montagem la Municipal de Educação Infantil é alvo a
áudio-visual com os dados já coletados. ser trabalhado em conjunto com o projeto
Esse material foi trabalhado em uma reu- de pesquisa chamado “Possibilidades de
nião feita trimestralmente no próprio lo- Viver as Infâncias na Contemporaneida-
cal, visando trabalhar as particularidades de”, orientado pela professora Márcia
de cada profissão, a interdependência de Elisabette Wilke Franco. O problema de
cada um dos indivíduos dentro da escola pesquisa desse projeto é compreender
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como aparecem, na perspectiva das crian- de forma mais produtiva aos desafios em
ças, as possibilidades de infância. Faremos sua vida pessoal e profissional. Não obs-
um trabalho onde as crianças irão mostrar tante o reconhecimento do valor de se
como percebem os profissionais que con- cultivar a criatividade discente e a criati-
vivem com elas neste espaço educacional. vidade almejada por educadores e gesto-
res, nem sempre essa meta se reflete nas
práticas pedagógicas. A escassez de infor-
mação sobre criatividade e as lacunas na
formação do professor explicam esse qua-
DIA 15/11 - Terça-feira dro. Reconhece-se a necessidade de mu-
danças substantivas na educação de modo
10h30-12h a garantir uma cultura de ensino e apren-
dizagem voltada para a criatividade. Cabe
ao docente assumir o papel de catalisador
do potencial de seus estudantes e a estes
LT04 - Mesa Redonda incorporar novos hábitos de produção, ex-
Convidada pressão e implementação de novas ideias.
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tendem a ser ativados nas relações inter em relação ao jovem pobre, da periferia),
generacionais de forma moralista, mas a geração de um clima de histeria e senti-
sem a preocupação em como se cons- mentos fatalistas, e para a proposição de
troem na moral da modernidade con- soluções baseadas em raciocínio unicau-
temporânea e com pouco investimento sal e linear. Concomitantemente, muitas
em combinações dialéticas, que tenham escolas vêm tomando iniciativas de en-
como vetor a democracia e formação de frentamento às violências – iniciativas
cidadãos e cidadãs solidários. Por outro de distintas naturezas, abordagens, graus
lado a ênfase na razão critica combina- de complexidade e eficácia. Na mesma
da com o cultivo das sensibilidades, da trilha, organizações não-governamentais
beleza, ou seja, da arte afasta o texto de (ONG’s) direcionam os trabalhos que de-
conceitos como tolerância e respeito, se senvolvem com crianças e adolescentes
não formatados em dialógica, ou seja, na para enfoques que dêem conta dos de-
comunicação. O debate epistemológi- safios impostos pela cultura de violência.
co subjacente é sobre possibilidades de Em meio a esse panorama de incertezas,
estimulo à solidariedade e ao cultivo do tentativas e aprendizados, reconhece-se
exercício de individualidades não ego- a emergência de novas “práticas culturais
cêntricas, portanto sensíveis a gênero, e profissionais” (Testa, 1994, p.135) no
reconhecendo a interação entre vulnera- contexto das organizações educacionais.
bilidades e buscas por autonomia dos e Essas novidades, no entanto, permane-
das jovens e a complexidade para as fa- cem, na maioria das vezes, no nível do
mílias e a escola com o tema sexualidade. “conhecimento comum ou pré-conheci-
mento pré-científico” (idem). No intui-
Palavras-chave: sexualidade, ética do cuidar, to de contribuir para a identificação de
dialogia práticas fomentadoras de uma cultura de
Contato: Mary Garcia Castro - UCSal paz, em curso em escolas e organizações
castromg@uol.com.br não-governamentais, realizou-se pesqui-
sa em três organizações educacionais
cujo trabalho em prol da prevenção da
PROTAGONISMO JUVENIL COMO violência e/ou promoção de uma cultura
ESTRATÉGIA DE INCLUSÃO E de paz têm obtido reconhecimento so-
PROMOÇÃO DA PAZ cial. As organizações situam-se em distin-
Feizi Masrour Milani - UFRB tas Unidades Federativas do Brasil – uma
feizi.milani@gmail.com escola pública em bairro periférico, um
projeto de educação em Saúde desenvol-
No Brasil, o aumento das preocupações vido por um órgão oficial em parceria com
da população, autoridades, especialistas uma ONG, num bairro de baixa renda, e
e educadores com o fenômeno das vio- uma escola internacional privada. Todas
lências nas escolas tem, por um lado, le- têm como público alvo os adolescentes.
vado esses atores sociais a se engajarem A análise de dados foi orientada pelo
em discussões em busca de alternativas modelo ecológico do desenvolvimento
e, por outro, contribuído para o agrava- humano proposto por Bronfenbrenner
mento de estereótipos (principalmente (1977, 1996), o qual enfatiza a necessi-
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se estudar o crescimento humano, e sim sempre são o mesmo. Para nós, profes-
as mudanças vividas pelo humano, no seu sores da área, coloca-se uma indagação:
tempo de vida. As fases de desenvolvi- quando damos aula, de qual psicologia
mento, suas conceituações e caracteriza- falamos? A clareza dos paradigmas das
ções, as diversas teorias que se detém a teorias adotadas por nós, na nossa práxis
compreendê-las e analisá-las, têm em si a acadêmica, é disparadora da escolha de li-
“leveza da falsidade”, são somente “sinto- vros que norteiam nossos estudos, da me-
mas do homem”, pois que representações todologia adotada nas aulas, das formas
sociais e, portanto, sempre precárias e em de avaliação e dos conteúdos a serem dis-
transformação (Frota, 2007). A descrição cutidos com nossos alunos. Porém, mui-
do desenvolvimento humano em fases ou tas vezes esta clareza não existe, e nos
estágios parece perder-se na sua aparente flagramos trabalhando com manuais de
concretude e naturalidade, deixando de Psicologia do desenvolvimento Humano
lado a busca de entender realmente como que apresentam estudos e resultados a
se processa o desenvolvimento humano. partir de uma visada maturacional e bio-
Cabe-nos refletir: o que, especificamente, logicista, como os Manuais de Helen Bee
cabe à Psicologia do Desenvolvimento? O (2003), Papalia (2008), e outros, enquanto
que a ela, importa estudar? Como estudá- defendemos uma perspectiva, por exem-
-la com nossos alunos? Biaggio (2009) plo, dita “interacionista”. A ausência de
aponta 3 fases históricas dentro da evolu- livros-texto construídos dentro da nossa
ção do campo da Psicologia do Desenvol- realidade brasileira também é outro pro-
vimento: (a) a primeira, dos anos 20 a 40 blema encontrado por docentes da área.
do século passado, caracterizada por um Finalmente, é importante ressaltar a ca-
saber centrado na maturação biológica; rência de uma teoria do desenvolvimento
(b) a segunda, que contempla os anos 40 humano organizada, acompanhada de es-
a final dos anos 50, afirma uma psicologia tudos, discussões e aplicação prática, das
mais preocupada com a correlação dos di- novas tendências apontadas por Biaggio
versos saberes, mas ainda sem conseguir (2009), tais como as teorias da psicolo-
correlacioná-los; e (c) a última fase, dos gia sócio-histórica, referidas acima. Par-
anos 60 até a atualidade, centra-se no in- tindo de uma perspectiva crítica, Kramer
teresse em explicação das causas das mu- (1997) assinala a ruptura da Psicologia do
danças do comportamento, mais que na Desenvolvimento com a vertente mecani-
sua descrição ou associação de variáveis. cista da ciência positivista, enfatizando a
Aponta, ainda, para novas tendências da crítica à visão naturalizante, biologizante,
Psicologia do Desenvolvimento, trazidas universalista e abstrata da concepção de
pela Teoria de Processamento de Infor- criança e de infância, que atravessam as
mações, pela Psicologia Dialética, pela teorias de desenvolvimento divulgadas
Sociobiologia e pelo Enfoque Ecológico de até os anos setenta do século passado.
comportamento. Falamos, assim, não de Apresenta, como contraposição, a criança
Psicologia do Desenvolvimento, mas de como sujeito da própria história, produ-
PsicologiaS do Desenvolvimento, configu- zida e produtora de cultura. Dentro des-
radas com pressupostos distintos, meto- ta perspectiva Vasconcellos (2007), por
dologias diferentes, conteúdos que nem exemplo, se nega a ver a criança como
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dramatizações, fantoches, uso de provas tas. Ao tentar saber quem eram as crian-
piagetianas, etc. Toda semana, após as ças e não exatamente quais seus diagnós-
tarefas realizadas e seu detalhado relató- ticos, produziram estratégias de interven-
rio parcial, reservávamos um tempo das ção ancoradas no exercício do que chamei
aulas para discussão em grupo e partilha aqui de sensibilidade. A maior conquista
de experiências, promovendo calorosos desta experiência parece ter sido ressal-
debates em como e o que avaliar/anali- tar os indicadores de desenvolvimento,
sar. Ao final do trabalho foram elabora- considerando quadros clínicos muito es-
dos relatórios, e um deles era destinado pecíficos, garantindo às crianças a valori-
às crianças e seus familiares. O direcio- zação de seu potencial criativo. Por outro
namento desta etapa foi promover um lado, para os estudantes, foi estruturante
encontro para indicar o desempenho das poder aprender a teoria e exercitá-la sem
crianças nas diversas atividades, conside- rigidez, com delicadeza e seriedade. Por
rando os indicadores estudados do de- fim, esta experiência revelou uma manei-
senvolvimento infantil, relacionando-os ra (ou pelo menos uma tentativa) de aliar
aos quadros apresentados pelas crianças. conhecimento, desejo de saber e relações
Nestas ocasiões, os estudantes também sensíveis, produzindo muitas mais inter-
sugeriram aos pais atividades que estimu- rogações do que respostas. Sem dúvida,
lavam o desenvolvimento, a partir das ob- esta proposta de trabalho sugere que de-
servações e do desempenho nas tarefas e sejar saber pode ser uma linha que con-
brincadeiras realizadas pelas crianças. Os duza a formas de acessar um mundo com
Planos de Trabalho de cada grupo foram diferentes linguagens.
apresentados em seminários em sala. Os
ouvintes, também motivados pelas suas Palavras-chave: relato de experiência,
próprias experiências, se tornaram per- desenvolvimento infantil, intervenção.
guntadores incansáveis. Todos desejavam
saber como foi a interação com as crian-
ças, quais as dificuldades, que conceitos e EM BUSCA DO LIVRO IDEAL PARA
preconceitos estavam presentes, que situ- O ENSINO DE PSICOLOGIA DO
ações inusitadas enfrentaram, que adap- DESENVOLVIMENTO
tações precisaram fazer, que sentimentos Francisco Silva Cavalcante Junior - UFC
vivenciaram, o que aprenderam, o que se fscavalcantejunior@gmail.com
tornou belo, o que continuou difícil, que
critérios de avaliação usaram, quais dife- Esta comunicação emerge da necessidade
renças identificaram, quais suas conclu- de se refletir sobre a utilização de livros no
sões, etc. Ao final da disciplina foi possível ensino da Psicologia do Desenvolvimento
identificar que os estudantes manejaram em cursos de graduação de universidades
de forma criativa seu conhecimento pré- brasileiras. Identificamos a dificuldade en-
vio, acrescido dos novos conhecimentos, contrada por muitos professores na esco-
transformando-os em saberes. A partir de lha de uma bibliografia que seja capaz de
interrogações sobre os quadros “clínicos” apresentar os estágios do desenvolvimen-
das crianças observadas, tornaram sua to humano ao mesmo tempo em que des-
aprendizagem um contínuo de descober- perta no leitor o prazer de ler e de apren-
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desenvolvimento se voltou para as temáti- Não há mais espaço para visões que frag-
cas relacionadas à vida adulta e à velhice, mentam o desenvolvimento humano em
sendo esta uma época marcada pela pri- períodos pré-estabelecidos, sucessivos e
mazia dos estudos da Psicologia da Infân- universais (infância, adolescência, maturi-
cia (Rosseti-Ferreira, 2006). Pode-se dizer dade e velhice), nem para abordagens que
que avanços teóricos significativos sobre tomem os grupos de idades segundo uma
o processo de envelhecimento ocorreram, lógica sequencial e linear. Tal movimento
sobretudo a partir da segunda metade do reflexivo emergente oferece espaço para
século XX, quando a Gerontologia começa uma concepção diferenciada acerca do de-
a marcar seu espaço no campo científico. senvolvimento humano no curso de vida
Outro aspecto relevante refere-se ao en- (Castro & Souza, 1995; Rosseti-Ferreira,
tendimento de que o desenvolvimento 2006). Atualmente, a velhice não pode ser
humano é entendido como um processo mais associada a características negativas,
dinâmico que se constitui a partir de uma isto é, esse momento do curso de vida não
rede sistêmica de interações, na qual as está necessariamente vinculado a doenças
dimensões sociais, históricas e culturais e incapacidade. A velhice bem sucedida
estão imbricadas dialeticamente. Compre- consiste em uma realidade concreta e que
ender a gênese social do desenvolvimento transforma a imagem das pessoas idosas
humano implica em considerar que as rela- no século XXI (Neri, 1995, 2002, 2004;
ções sociais constituem “arena e motor do Freire, 2000; Rocha-Coutinho, 2006). Esta
processo de desenvolvimento” (Rosseti- nova imagem sobre o envelhecimento
-Ferreira, Amorim & Silva, 2004, p. 24). A configura-se tanto na literatura específica
partir dessa compreensão, o processo de quanto na rede de significações que atra-
envelhecimento é visto como também de vessa o cotidiano popular, e é divulgada
desenvolvimento. Nesse contexto, Erikson principalmente na mídia e nos mercados
(1976) é um autor de extrema relevân- econômico e estético. Portanto, para se
cia na compreensão de como a velhice entender o processo de envelhecimento e
tornou-se alvo de investigações em Psico- a velhice é fundamental considerar esses
logia. Sua teoria foi inovadora ao integrar fenômenos em associação com o contex-
a experiência do envelhecimento como to sociocultural e histórico no qual estão
parte do processo de desenvolvimento inseridos e entender que a velhice supera
humano, insistindo que este não cessa atribuições cronológicas. Cada pessoa ex-
após a adolescência, como preconizavam perimenta o meio social de forma singular,
as pesquisas tradicionais. Neste novo mi- do qual participa de forma mais ou menos
lênio, novos processos de construção de ativa, conforme os condicionantes históri-
significados sobre a velhice se constituem co-culturais para as oportunidades de par-
na prática científica e no senso comum. A ticipação. É preciso levar em conta toda
nova concepção de desenvolvimento hu- uma realidade imaginária dependente de
mano que respeita as idiossincrasias e o juízos de valor, crenças, atitudes, ações, re-
contexto no qual o indivíduo está inserido presentações sociais relacionadas a épocas
exige um “olhar” interdisciplinar e contex- históricas, enfim, um leque de situações
tualizado sobre os fenômenos humanos em que o pensar, o sentir e o agir afetam
investigados ao longo do curso de vida. e são afetados por múltiplos fatores. Um
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dos elementos de grande expressão desse inserção social e status atribuído ao cargo
cenário relaciona-se aos preconceitos dire- e função exercida pelo trabalhador. Além
cionados à população idosa. Entre os mais de ser fonte de sobrevivência é também
marcantes, tem-se a percepção de que a organizador da vida diária e instrumento
experiência de envelhecer está associada de realização. Existe, portanto, valorização
à dependência e à perda de autonomia, pela sociedade das pessoas inseridas em
bem como da capacidade produtiva. Em uma vida produtiva. O fato é que o ser hu-
uma sociedade em que o fenômeno do mano prescinde do trabalho para se inserir
aumento da longevidade é significativo, no mundo contemporâneo, permitindo-
torna-se indispensável rever valores, cren- -lhe a expressão de si mesmo, o desen-
ças e atitudes frente ao processo de desen- volvimento de competências, assim como
volvimento humano e de envelhecimento, favorece a concretização de projetos de
identificando seus desafios para esse novo vida e realizações pessoais e profissionais.
século, sobretudo, em razão das distintas Borges e Tamayo (2001, p. 13) afirmam
experiências de envelhecer. Assim, é pre- que o trabalho “é meio de produção da
ciso que os contextos relacionais e edu- vida de cada um, promovendo a subsistên-
cativos assumam a temática em questão cia, criando sentidos existenciais ou contri-
como prioridade, na tentativa de se cons- buindo na formação da personalidade e da
truir uma sociedade que trate as pessoas identidade”. A identidade de uma pessoa
ao longo de todo o curso de vida a partir é a constituição psíquica que a distingue
de princípios éticos, de cidadania e justiça. das outras e está fortemente relacionada
às relações sociais que cada um estabelece
Palavras-chave: curso de vida; com o mundo. Um sistema de habilidades
desenvolvimento; envelhecimento; desenvolvidas ao longo da vida, que define
e a faz ser o que é. O trabalho e as rela-
ções interpessoais são aspectos que estão
TRABALHO, IDENTIDADE PROFISSIONAL vinculados ao processo de construção da
E PROJETOS DE VIDA NA SOCIEDADE identidade. Desta maneira, a pessoa cos-
CONTEMPORÂNEA. tuma perceber seu valor ligado àquilo que
Jacqueline F. C. Marangoni - GDF produz. Assim, a ocupação profissional é
jac.marangoni@gmail.com parte da autoimagem, da autoestima e do
Maria Eugênia de Athayde Nunes - Instituto sentimento de pertencimento. Vale con-
Agilitá siderar que o aumento da expectativa de
eugeniaagilita@gmail.com vida na sociedade contemporânea promo-
Ana Maria Freitas Coelho - Instituto Agilitá ve diferentes desafios qualitativos, entre
anamaria.agilita@gmail.com eles a aposentadoria. Uma situação a ser
José Eustáquio Moreira de Carvalho - CEFIBRA confrontada: aposentadoria X mais tem-
jeustaquio@cefibra.com.br po no mercado de trabalho. O fenômeno
do aumento da longevidade faz com que
O trabalho configura-se como questão as pessoas vivenciem o papel profissional
central para o desenvolvimento da socie- por um período maior de tempo, exigin-
dade e do indivíduo. Ocupa um papel im- do novas posturas das organizações de
portante na vida das pessoas, é razão de trabalho e dos trabalhadores. O desliga-
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eram feitas avaliações junto ao grupo. En- realidade profissional pode ocasionar
fim, o trabalho terapêutico e em grupo processos de sofrimento, sobretudo para
possibilitou o enfrentamento das dificul- as pessoas que não se prepararam para a
dades apresentadas pelos participantes. aposentadoria. A criação de espaços de
fala e reflexão no ambiente de trabalho
Palavras-chave: idosos, grupo, aposentadoria. pode propiciar a oportunidade para a pre-
paração para o período de pós-carreira,
especificamente, no que se refere ao estí-
PROGRAMAS DE PREPARAÇÃO PARA O mulo e apoio quanto a elaboração de um
PERÍODO PÓS-CARREIRA projeto de vida consistente e responsável.
Jacqueline F. C. Marangoni - GDF Neste sentido, o Estatuto do Idoso, no ar-
jac.marangoni@gmail.com tigo 28 declara que o poder público criará
Maria Eugênia de Athayde Nunes - Instituto e estimulará o desenvolvimento de pro-
Agilitá gramas de preparação para a aposenta-
eugeniaagilita@gmail.com doria: “II - Preparação dos trabalhadores
Ana Maria Freitas Coelho - Instituto Agilitá para a aposentadoria, com antecedência
anamaria.agilita@gmail.com mínima de 1 (um) ano, por meio de es-
José Eustáquio Moreira de Carvalho - tímulo a novos projetos sociais, confor-
CEFIBRA me seus interesses, e de esclarecimento
jeustaquio@cefibra.com.br sobre os direitos sociais e de cidadania”.
Os Programas de Preparação para a Apo-
O período que antecede a aposentadoria sentadoria possuem caráter educativo e
é um momento a ser considerado como ainda configuram-se como ferramenta
uma fase importante no ciclo de vida dos importante na política de Gestão de Pes-
trabalhadores. Ocorre no período em que soas das organizações de trabalho con-
o envelhecimento se expressa com mu- temporâneas. O desenvolvimento destes
danças marcantes e significativas. Princi- programas traz benefícios importantes
palmente, para aqueles que tiveram o tra- para a organização, tais como: clima or-
balho como uma das importantes fontes ganizacional favorável; contribuição para
de realização. Aspectos psicossociais refe- a Gestão do Conhecimento, sem ruptura
rentes ao processo de envelhecer estarão entre as gerações e perdas de valores tec-
presentes, questões relacionadas à dinâ- nológicos e culturais da organização; fa-
mica familiar: o reencontro do casal, os fi- cilita o processo de sucessão, além de se
lhos que ainda permanecem em casa, ou constituir em uma prática de Responsabi-
que começam a sair de casa, a divisão dos lidade Social Interna. Entre os benefícios
espaços emocionais e físicos, a retoma- para o trabalhador tem-se visualização da
da de projetos, sonhos, o redimensiona- pós-carreira como um conjunto de novas
mento das finanças pessoais, os aspectos possibilidades e de autorrealização; ofe-
legais envolvidos fazem parte do proces- rece subsídios para a tomada de decisão,
so de tomada de decisão. Diante de um manutenção da autoestima e ampliação
processo que permeia a noção de perda dos horizontes pessoais e funcionais;
de status e poder, uma ruptura com uma motivação para substituir a satisfação de-
rivada do trabalho para a elaboração de
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-se por ser ação combinatória, onde diver- de ação que refletem mudanças em uma
sos elementos simbólicos produzidos pela sociedade que começa a perceber a di-
cultura são reorganizados e reconstruídos, versidade mais como norma do que como
gerando novos produtos e contribuições exceção. Em se tratando de alunos com
culturais.É a atividade criadora que faz do altas habilidades/superdotação Barrera
homem um ser capaz de se projetar no fu- Pérez (2004), em uma análise sobre a re-
turo, de pensar, imaginar e criar o novo, alidade da inclusão de pessoas com altas
de buscar respostas e soluções para dile- habilidades, ressalta que estes cidadãos
mas e problemas humanos. Por meio da permanecem “transparentes e imunes ao
imaginação criativa, esta função psicológi- ensino de qualidade para todos” (p.1). Ao
ca que surge do encontro do sujeito com a refletir sobre a realidade desses alunos, é
cultura, é que emerge o enorme potencial possível perceber a distância da escola em
criativo humano, capaz de transformar ci- fornecer o apoio necessário para garantir
vilizações e garantir nossa sobrevivência. a inclusão de “todos” os alunos com ne-
cessidades educacionais especiais, como
Palavras-chave: Imaginação Criativa, Cultura, ressaltado por Tessaro, Waricoda, Bolo-
Desenvolvimento Humano. nheis & Rosa (2005), cuja ênfase apresen-
tada nos contextos escolares, diz respeito
à atenção e estratégias de ações voltadas
ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES/ prioritariamente aos alunos com deficiên-
SUPERDOTAÇÃO E SUA INCLUSÃO cias. Grupos de alunos de altas habilida-
EDUCACIONAL: CONTEXTOS, DESAFIOS E des/superdotação convivem entre o hiato
PERSPECTIVAS da legislação educacional, que ampara
Vera Lucia Palmeira Pereira - SEE/DF práticas pedagógicas flexíveis, e a realida-
veralppereira@gmail.com de de muitos educadores, que geralmente
desconhecem as características e estilos
O movimento de educação inclusiva ga- de aprendizagens de seus alunos e não
nhou força no início da década de 90 oportunizam, nos ambientes de ensino, a
como resposta às mudanças aos mode- qualidade educacional de que necessitam.
los e serviços educacionais oferecidos Segundo Carvalho (2000; 2005), a inclu-
aos alunos com necessidades especiais. são educacional se configura não somente
Esse movimento enfatiza a valorização como dados numéricos de matrícula ou
da diversidade e a expressão de todos os como um elemento a mais em sala de aula,
alunos - independentemente de talento, mas, sobretudo, como acesso, ingresso e
deficiência, origem socioeconômica ou permanência de alunos como aprendizes
cultural - e com elas se estabelecem o de sucesso, referindo-se ao sentimento de
respeito aos ritmos, habilidades e estilos “pertencer” ao grupo, como aspecto pon-
de aprendizagem de cada estudante. Ka- tual dessa inclusão. O pertencimento se
ragiannis, Stainback e Stainback (1999) qualifica no sentimento de acolhimento.
afirmam que a inclusão é muito mais do Em várias situações alunos superdotados
que um modelo de prestação de serviços não se percebem acolhidos no ambiente
em educação especial. Constitui-se em educacional (Barrera Perez, 2008). Rela-
um novo paradigma de pensamento e tos apresentados em distintos estudos
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sificados. Defini-se Atenção Visual como a posições que não àquela selecionada pre-
capacidade neural de selecionar determi- viamente. Uma medida clássica e muito
nada área do campo visual em detrimento utilizada em estudos psicofísicos para ava-
das demais. A atenção pode distribuir-se liação de mecanismos atencionais envol-
pelo campo visual tanto de forma locali- ve Tempo de Reação (TR). É uma medida
zada ou focalizada como de forma difusa. que possibilita ao pesquisador observar
A primeira seria a habilidade de proces- a latência e a acurácia de respostas a es-
sar de forma mais seletiva determina- tímulos apresentados ao observador. Em
da região, enquanto na segunda o foco psicofísica visual, medidas obtidas por
atencional estaria representado de forma meio de TR a estímulos luminosos, podem
aproximadamente igual por todo campo auxiliar na compreensão do processo de
visual (Eriksen & St James, 1986; Posner, seleção de informações relevantes para
1980). A atenção desempenha um papel o sistema visual, priorizando o processa-
de seleção de determinados estímulos mento de alguns atributos de um dado es-
proporcionando o melhor processamento tímulo em detrimento de outros (Posner
destes. Para que informações importan- & Raichle, 1997). Conhecer o desenvol-
tes sejam reconhecidas prioritariamente, vimento de habilidades mentais, desde a
é necessário que haja esta seleção. Este infância até a vida adulta, é fundamental
processo de seleção denomina-se Aten- para compreender a organização e função
ção Seletiva (Desimone & Duncan, 1995). cerebral, visto que o ser humano sofre
Pode-se dividir a atenção em duas formas, mudanças significativas ao longo do seu
diferentes em suas propriedades e seus desenvolvimento, em especial mudanças
mecanismos neurais, são elas: atenção vo- relacionadas à cognição. Durante mui-
luntária e atenção automática (Gazzaniga, tos anos, desde o nascimento até a vida
Ivry & Mangun, 2006). Defini-se atenção adulta, ocorre o desenvolvimento cogniti-
voluntária ou “atenção endógena” como vo, porém algumas funções cognitivas se
sendo a habilidade ou intencionalidade tornam maduras em tempos diferentes,
em prestar atenção em algo. Já a atenção i. e., diferentes regiões cerebrais amadu-
automática ou “atenção exógena” por sua recem mais cedo do que outras, conceito
vez, é descrita como o fenômeno no qual denominado Heterocronicidade. Métodos
alguma coisa capta nossa atenção, sendo que correlacionam a maturação destas
esta de ordem sensorial. A capacidade de funções cognitivas a um estágio específi-
dirigir a atenção voluntariamente para um co do desenvolvimento neural são usados
determinado local do espaço enquanto em humanos. Assim, analisar o desenvol-
se ignora outros é chamada de atenção vimento nos fornece informações sobre
espacial. Essa capacidade propicia uma a circuitaria cerebral, suas estruturas e
melhora no desempenho do observador sistemas, bem como processos cognitivos
quando ele tem o conhecimento prévio que ela mantém, possibilitando também
da posição em que irá aparecer um alvo estudos sobre a origem e o desenvolvi-
para o qual ele deve emitir uma resposta. mento de diversos fenômenos cognitivos.
Esta concentração de recursos atencio- Um exemplo é o conhecimento de que a
nais também conduz a um processamento atenção automática se desenvolve antes
menos eficiente dos estímulos em outras da atenção voluntária, o que nos traz in-
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dade aos estímulos acústicos e, logo nos ças faladas, os sinais acústicos de entrada
primeiros três anos de vida apresentam devem ser decodificados. Essa análise é
capacidade auditiva suficiente para dis- então traduzida em um código fonológico
criminar contrastes lingüísticos relevantes que possibilita o acesso léxico às informa-
na fala, o que é similar à capacidade apre- ções sobre as palavras e, posteriormente,
sentada por adultos com desenvolvimento seu significado. Observa-se uma distinção
normal (Bailey & Snowling, 2002). A fala é entre a interpretação dos sinais da lingua-
um estímulo acústico complexo, compos- gem falada e escrita. Na leitura, ressalta-se
to por uma ampla faixa de freqüências e a importância dos aspectos gráficos, como
intensidades que variam ao longo do tem- por exemplo, as letras e os espaços entre
po. Sua percepção envolve a identificação as palavras. De acordo com Gazzaniga, Ivry
e interpretação dos estímulos acústicos & Mangun (2006), na compreensão da lin-
de forma adequada sendo que, a audi- guagem falada o ouvinte se depara com
bilidade, recepção, discriminação, reco- uma série de sons e precisa identificar e
nhecimento, memória e compreensão da distinguir: a) os sinais relevantes da fala
mensagem da falada são fundamentais de outros ruídos presentes no ambiente,
nesse processo. O estímulo auditivo deve b) os diferentes sons produzidos pela fala
ser suficientemente audível e possibilitar em relação às características do aparelho
a discriminação, envolvendo sua segmen- fonador, c) os vários fonemas produzidos
tação em unidades menores, como os fo- em uma palavra/sentença, considerando a
nemas, que serão armazenados e poste- modificação de sua pronúncia quando se-
riormente utilizados no reconhecimento e guido por diferentes vogais/consoantes; d)
compreensão da fala escutada (Carvalho, as características que diferenciam a produ-
2007). A aquisição da linguagem abrange ção de um mesmo som por diferentes pes-
principalmente a percepção da fala das soas e principalmente, de sexo diferente.
pessoas que fazem parte do ambiente. A A compreensão da linguagem oral envolve
complexidade dessa habilidade requer do aspectos relacionados ao sinal da fala e ao
ouvinte a capacidade de extrair informa- contexto no qual é produzida. A importân-
ção quanto à forma espectral do som, a cia do contexto é sinalizada em situações
detecção e discriminação de modulação em que uma mesma palavra pode assumir
de amplitude e frequência, e identifica- diferentes significados, dependendo do
ção de alterações temporais que ocorrem seu uso. É importante que essa capacida-
tanto em mudanças lentas presentes ao de seja desenvolvida, tendo em vista sua
longo de um enunciado, quanto em mu- importância para o estabelecimento da
danças relativamente rápidas, resultantes comunicação com outras pessoas. Crian-
da rápida articulação consonantal (Bailey ças com problemas de aprendizagem fre-
& Snowling, 2002). A integridade do siste- quentemente apresentam dificuldades
ma auditivo central e periférico é funda- para processar sinais auditivos complexos,
mental para o sucesso de todo este proce- como discriminar as mudanças acústicas
dimento. A percepção dos sinais acústicos que ocorrem rapidamente na fala (Kraus
da fala envolve a representação das pala- et al., 1996). O período em que a criança
vras e a integração destas às sentenças. Ao inicia o processo de escolarização é ca-
tentar compreender as palavras e senten- racterizado por constantes mudanças na
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dos, que identificam alterações focais ou Stuart, 2002) que afirmam que o processa-
sistêmicas do sistema nervoso. A aquisição mento fonológico é a principal função neu-
da leitura é um processo neuropsicológico ropsicológica preditora da leitura. As outras
complexo que exige o amadurecimento de funções também preditoras são memória
diversas funções preditivas básicas para semântica e articulação da fala. Sexo, QI e
a sua habilitação, além de sofrer interfe- idade não são fatores que apresentaram
rência de diversas varáveis como sócio- correlação com a aquisição da leitura.
-cultural, biológica, ambiental, educacional
e afetivo-emocional, por exemplo (Silver, Palavras-chave: Avaliação Neuropsicológica;
Ruff, Iverson, Barth, Broshek & Bush et al., Leitura; Processamento Auditivo.
2008). Para avaliar e analisar a prontidão Contato: Valéria Reis do Canto Pereira, UnB,
da criança para a aquisição da leitura, foi vrcantopereira@unb.br
construída uma bateria neuropsicológica
para avaliar as funções preditoras da leitura
(BANLER), com vistas a identificar a pron- MR LT04
tidão para aprendizagem e subsidiar ações
preventivas, e um teste para avaliação da Mesa Redonda
aquisição da leitura (ALER). Ficou eviden-
te que, após estimulação para habilitação
da função da linguagem escrita, enquanto MR LT04-1317 - EXCELÊNCIA,
leitura, outras funções neuropsicológicas EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
foram habilitadas, que, em contrapartida, HUMANO
aqueles que se submeteram a mesma es- Mônica Souza Neves-Pereira - UnB
timulação, mas não adquiriram a leitura, monicasouzaneves@yahoo.com.br
também não desenvolveram as outras fun-
ções neuropsicológicas. A bateria neuropsi- O presente trabalho objetiva discutir as
cológica é constituída de 18 subtestes, den- relações, interfaces e interferências entre
tre eles, cinco avaliam funções preditoras, os fenômenos da Excelência, Educação e
12 avaliam funções que foram adquiridas Desenvolvimento Humano compreendidos
intrinsecamente ao processo da aquisição como processos socioculturais originados
da leitura e apenas um não apresentou da mediação, aqui compreendida como
correlação com o processo de aquisição da ação inerente à experiência humana. As
leitura (memória visual). Os resultados da abordagens sociogenéticas do desenvol-
avaliação neuropsicológica através destes vimento buscam compreender os proces-
instrumentos corroboram os estudos teó- sos de construção da natureza humana
ricos (Lyytinem, Erskine, Kujala, Ojanem & partindo do pressuposto central de que a
Richardson, 2009; Tunmer, 2008; Shaywitz, gênese das estruturas psicológicas do ho-
Shaywitz, Fullbright, Mencl, Constable & mem situa-se na dimensão histórica, so-
Skudlarski et al., 2001; Termine, Stella, Cap- cial e cultural onde os sujeitos se inserem.
soni, Rosso, Binda & Pirola et al 2007; Ca- A biologia, por si só, não é suficiente para
povilla, Gütschow & Capovilla, 2004; Ger- definir um estatuto de humanidade. Para
rits & Bree, 2009; Spugevica & Hoien, 2003; alcançar as potencialidades específicas da
Hulme, Hatcher, Nation, Brown, Adams & espécie homo sapiens, o ser humano ne-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
políticas públicas não há dúvidas de que a cas, econômicas, sociais e ideológicas que
escola venha cumprindo sua função, mes- permutam trocas e negociações contínuas
mo que precariamente (em muitos mo- com o sujeito em desenvolvimento; e (b)
mentos). Mas, e quanto aos outros aspec- em uma perspectiva micro, olhar esta cul-
tos constituintes do “ser integral” que ela tura como palco onde sujeitos se movem,
inscreve em seus objetivos educacionais? se posicionam e são afetados por todos os
Como a escola tem tratado a afetividade, componentes de um sistema cultural que
as emoções, a imaginação, a criatividade e toca, mobiliza, transforma, muda o ho-
a busca da excelência de seus alunos? Na mem, não importa em qual direção. Neste
escola nos tornamos pessoas, para o bem caldo relacional os seres humanos constro-
ou para o mal. É neste cenário, onde passa- em leituras da “realidade”, posicionando-
mos grande parte de nossas vidas, que va- -se como sujeitos agentes e receptores dos
mos aprender a ler, escrever, pensar, com- significados culturais, em uma dança dialé-
preender o mundo e a nós mesmos, além tica que revela a complexidade investida no
de nos tornarmos sujeitos de uma cultura, desenvolvimento humano e na construção
sujeitos de valores, crenças, premissas mo- da cultura. A escola, como agência social de
rais e princípios estéticos e éticos. Ensinar extrema relevância, faz parte desta dinâmi-
e aprender são processos que exigem se- ca. Passar por ela traz consequências aos
riedade, retidão e excelência. Não só por- homens, consequências que podem ser
que estas dimensões são constitutivas do transformadas em recursos que habilitam
humano, mas, especialmente, porque me- para a vida e que interferem em nossas es-
recemos qualificar nossa existência e a dos colhas, dando-nos instrumentos para nossa
nossos semelhantes. Ao experimentarmos sobrevivência. Na escola ocorre o encontro
a vida escolar somos profundamente trans- entre a cultura formalizada por meio de
formados por suas práticas, pelas media- currículos e o sujeito que necessita (dese-
ções presentes, pelas mensagens culturais ja?) “ser educado”. Na realidade, ocorre o
recebidas, internalizadas e ressignificadas. encontro entre os cânones culturais, que
A escola é lugar de desenvolvimento hu- são frutos de uma cultura coletivamen-
mano, espaço onde nos transformamos te construída, com a individualidade em
em sujeitos de uma cultura, onde ascen- busca de expressão e compreensão, tanto
demos à nossa condição de humanidade, destes legados e mensagens, como de si
por meio do desenvolvimento de nossas mesma. De acordo com Bruner, nada está
funções psicológicas, nossa consciência, isento de cultura, porém, os indivíduos não
nossa subjetividade. Apropriar-se de uma são meros espelhos das mensagens cultu-
leitura sociogenética de desenvolvimento rais. Viver em cultura exige este equilíbrio,
humano e por meio dela buscar compre- esta negociação entre o que é da ordem
ender o fenômeno educativo e a busca da individual e o que é da ordem coletiva. E
excelência implica na consideração de dois exige mais: demanda preparo do sujeito
aspectos básicos de uma visão culturalista, não só para internalizar estas mensagens,
que são: (a) em uma perspectiva macro, como para mantê-las posteriormente,
compreender a cultura como um sistema transformadas e readaptadas a outro mo-
de valores e significados em permanente mento histórico. A escola se insere nesta
transformação, com suas instâncias políti- missão, a de promover capacidades, esti-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
los de pensar, de sentir, de falar e de viver novar a existência, sempre orientados por
que, posteriormente, serão transacionados princípios humanos e éticos, com vistas ao
pelo sujeito em formas de trabalho, de pro- bem-comum e ao cultivo de um espírito de
dução, de criação, de renovação cultural. solidariedade, cooperação e fraternidade
Como agência sociocultural, a escola en- entre os povos.
frenta desafios gigantescos, muitos, talvez,
impossível de serem alcançados. Ela se pro- Palavras-chave: Desenvolvimento, Educação e
põe a formar pessoas em sua integralidade, Excelência.
transmitindo-lhes o legado cultural da hu- Contato: Mônica Souza Neves Pereira, IP/UnB,
manidade e construindo hábitos que, pos- monicasouzaneves@yahoo.com.br
teriormente, gerarão resultados cognitivos,
intelectuais e mentais. Se a educação ofer-
tada for eficiente, estes resultados passam CULTURA ESCOLAR E OS PROCESSOS DE
a caracterizar “zona de perigo”. O saber de SIGNIFICAÇÃO DE SI: RECUPERANDO O
qualidade modifica o mundo, os valores, os ELO PERDIDO
princípios, as nações. Este tipo de interfe- Sandra Ferraz de C. D. Freire - FE/UnB
rência no tecido sociocultural é, de modo sandra.ferraz@gmail.com
geral, mal visto. Uma escola excelente é Angela Cristina Uchoa Branco - IP/UnB
desejo de todos, mas causa medo e inquie- ambranco@terra.com.br
tação. Somos este paradoxo: buscamos a
manutenção do nosso status e desejamos O presente trabalho aborda os processos
modificações em nossas vidas, ao mesmo de desenvolvimento na escola enfatizando
tempo, mobilizando forças antagônicas que a interface entre práticas pedagógicas e a
terminam por ceder ao lado mais forte, em constituição de si. Tem por objetivo identi-
geral representado pelos setores dominan- ficar aspectos relacionados ao processo de
tes em uma sociedade. Talvez por esta ra- mudança no desenvolvimento das significa-
zão básica e por outras tantas periféricas, a ções de si no contexto das experiências es-
excelência não se constitua como um valor colares por meio da caracterização de Con-
no cenário educacional, especialmente em cepções Dinâmicas de Si. Fundamenta-se
países com atrasos em seu desenvolvimen- na abordagem sociocultural construtivista,
to. Por excelência compreendemos a cons- de base sistêmica, que considera o sujeito
trução de padrões intelectuais, cognitivos, ativo em seu processo de desenvolvimento
estéticos, éticos e emocionais diferencia- por meio das interações com o outro social
dos da média e que fornece instrumentos e significativo em contexto e em constante
recursos para que o sujeito se expresse de mudança. As demandas complexas postas
modo destacado em uma sociedade, pro- pela pesquisa psicoeducacional revelam a
movendo mudanças profundas e de qua- necessidade de estudar as categorias dinâ-
lidade em suas estruturas. Necessitamos micas dos processos de desenvolvimento
e temos o direito de lutar por uma escola de si no contexto escolar. As instituições e
onde possamos nos tornar excelentes pes- os grupos sociais são agentes de canaliza-
soas com padrões de excelência em nossos ção cultural e lançam mão de sofisticadas
estilos de pensar, agir, vivenciar, compre- estratégias de discriminação e exclusão,
ender, contestar, criticar, criar, inovar e re- na maioria das vezes veladas e silenciosas,
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go mesmo, com outros e com o mundo. outros resultados, expressão escrita criati-
Se fossem utilizados de forma produtiva va e bem organizada, em alunos de diferen-
como pilares fundamentais do ensino e do tes séries; do mesmo modo e em propor-
aprendizado, com certeza a excelência se- ção maior, redações “padronizadas” e com
ria uma condição sine qua non na vida das informações incorretas. Na semana seguin-
crianças e adolescentes. te foram realizados sociodramas em cada
uma das turmas. As narrativas propostas
Palavras-chave: prolepse, escola, foram lidas pelos autores, escolhidas dez
desenvolvimento, novidade, currículo. pela turma e dramatizadas por atores es-
pontâneos. Cada autor pode retornar ao
seu texto e modificá-lo apreendendo o sen-
MR LT04 tido e criando novas possibilidades de ex-
pressão de suas ideias. No segundo traba-
Mesa Redonda
lho é apresentada experiência com jovens
de 15 a 19 anos, alunos do ensino médio.
No contexto da formação de multiplicado-
MR LT04-1464 - PSICODRAMA E O
res na prevenção das DST/AIDS, o tema dos
ALUNO EM DESENVOLVIMENTO
líquidos corporais (sêmen, sangue, suor) é
trabalhado através do teatro e do sociodra-
O psicodrama constitui abordagem teóri- ma. Nessa fase do desenvolvimento a “irre-
co-metodológica com ampla utilização na verência” e a “transgressão”, compartilha-
educação. Proposto por J. L. Moreno, no dos na linguagem teatral se transformaram
início do século XX, foi utilizado nos últi- em um discurso articulado e compromis-
mos cem anos em diferentes ambientes sado com a prevenção e a atenção à saú-
de aprendizagem, formais e informais. O de. Como consequência, por iniciativa dos
objetivo desta mesa redonda é apresentar próprios alunos, ações de cidadania foram
três experiências educativas, em diferentes propostas e executadas, como a distribui-
níveis de ensino, que utilizam esta referên- ção de mais de 40 mil camisinhas durante
cia, além de discutir sua importância no o carnaval e formação do laço simbólico no
âmbito da psicologia do desenvolvimento. dia dos namorados e no dia da luta contra a
No primeiro trabalho, um modelo de ação AIDS. Finalmente, o terceiro trabalho obje-
foi empregado para se ensinar conteú- tiva discutir, refletir e apresentar o empre-
dos relacionados à água a alunos do ensi- go da metodologia educacional psicodra-
no fundamental. Cerca de 400 alunos de mática, como alicerçada em Moreno e na
seis aos 14 anos foram levados ao teatro, proposta educacional de Romaña, no curso
onde apreciaram uma peça didática infan- de pedagogia, na disciplina Socionomia,
til. De maneira interdisciplinar, na mesma Psicodrama e Educação. Enfoca o emprego
semana, realizaram redações livres sobre dos recursos de ação, envolvendo desde a
o tema nas aulas de português. Nas aulas dramatização e recursos multissensoriais,
de ciências o conteúdo ainda foi reforçado como jogos, textos, música, dança, etc, Os
apresentando-se cartilha com os persona- temas que emergiram, em sala de aula fo-
gens da peça. As redações foram analisadas ram os seguintes: bullying, inclusão, assé-
quanto ao conteúdo, verificando-se, entre dio moral no local de trabalho, sexualidade
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dagogia da Autonomia de Paulo Freire e çou a ser utilizado por pesquisadores com
a didática sociopsicodramática inspirada o objetivo de diferenciar estudos sobre o
na socionomia de Moreno. Consiste, en- impacto social da escrita dos estudos em
tão, em uma abordagem educacional que alfabetização, que se ligavam quase que
aglutina ao saber adquirido na aprendiza- espontaneamente à escolarização e ao
gem formal com a experiência vivida. Em desenvolvimento de competências indi-
resumo, articula os saberes ditos formais viduais. Diante dessa preocupação com
com as experiências afetivas e culturais o impacto social da escrita e das práticas
dos estudantes, visando o desenvolvi- sociais em que ela é central, os estudos
mento de uma postura crítico-reflexiva em Letramento desligam-se do individual
para compreender o mundo e as relações e centram-se no social, investigando não
interpessoais, ressaltando o compromisso apenas quem é alfabetizado, mas todos
e autonomia nos indivíduos. Ainda, possi- os sujeitos que de certa forma se enga-
bilitando alternativas didáticas e criativas jam em atividades de escrita, mesmo que
com a participação ativa de todos os ato- dominem ou não as habilidades de leitu-
res no espaço educacional, por meio de ra e escrita. O conceito de Letramento,
diálogos e projetos que visem trabalhar portanto, focaliza os aspectos sócio-his-
valores e a ética, além das mediações cul- tóricos que são vistos como intrínsecos
turais e sociais. à aquisição da escrita. Ao abordar-se a
compreensão da criança sobre a funcio-
nalidade da língua escrita, é ressaltada a
CO 53 - LT02 importância do texto enquanto unidade
mínima de sentido lingüístico. O uso da
Cognição linguagem escrita em sociedade se faz
prioritariamente pelo texto. Dessa for-
ma, foi investigado o nível de Letramento
LT02-824 - O CONHECIMENTO DE dos alunos em relação aos portadores de
ALUNOS DO PRIMEIRO ANO DO ENSINO texto – objetos para serem lidos ou ob-
FUNDAMENTAL SOBRE OS PORTADORES jetos que carreguem um texto impresso
DE TEXTO (jornal, receita de remédio etc.) (Moreira,
Kaline Jurema Jambeiro Rocha - UNIVASF 1992). O conhecimento sobre portadores
rocha.kaline@yahoo.com textuais será aqui tomado como um indi-
Maria Tarciana de Almeida Barros - UNIVASF cador de Letramento. O presente estudo
mariatarciana@yahoo.com.br nasceu da preocupação crescente com a
qualidade do ensino da linguagem escrita
Os estudos sobre Letramento no Brasil são no que se refere ao fenômeno do Letra-
recentes, datando de duas ou três déca- mento. Diante desse cenário, objetivou-
das e seguindo as preocupações com gru- -se identificar o nível de letramento pre-
pos sociais marginalizados que não domi- sente em estudantes do primeiro ano do
nam a escrita. Por seu próprio estado de ensino fundamental de escolas públicas
construção, é um conceito que enfrenta do Vale do São Francisco. Participaram do
dificuldades em sua definição. De acordo estudo 50 crianças de baixa renda, de 6 a
com Kleiman (1995), tal conceito come- 7 anos, todas alunas do primeiro ano do
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aqueles com boas condições econômi- serção num mundo globalizado, deve-se
cas e que optaram por essa modalidade considerar outras características relativas
educativa, na realidade de outros países a essa amostra que podem influenciar na
é mais comum encontrar estrangeiros cognição, tais como: acesso fácil e orien-
com baixo nível sócio-econômico e cujas tado aos meios de comunicação (livros,
cultura e língua de origem não são valori- jornais, revistas, programas de televisão
zadas socialmente; para estes últimos, o aberta e a cabo, internet); conhecimen-
bilinguismo aparece mais como uma ne- to e vivências culturais possibilitadas
cessidade do que uma escolha. Esse sta- por viagens para outros países, uso da
tus do imigrante perante a cultura de seu tecnologia da informação, entre outros.
país de migração vai interferir de modo Portanto, estudar este tipo de amostra
particular na vivência que tem da situa- requer cuidados metodológicos que pos-
ção bilíngue, o que é fator que influencia sam estar apropriados para o estudo das
os resultados de pesquisas. Há que se especificidades do mesmo. A psicologia
considerar ainda que o bilinguismo no cognitiva é uma área que pode ser con-
Brasil (em se tratando da aquisição de um siderada como uma importante contri-
segundo idioma no contexto da educação buidora dos estudos sobre bilinguismo e
bilíngue) é vivenciado, em geral, não por educação bilíngue, uma vez que há forte
imigrantes, mas por uma parte minori- tendência dos estudos realizados fora
tária da população que tem condições do Brasil correlacionarem bilinguismo e
de custear seus estudos numa Escola de cognição. Em geral, os resultados desses
Educação Bilíngue e que vê no bilinguis- estudos indicam que em comparação
mo oportunidades de um futuro profis- aos monolíngues, os bilíngues apresen-
sional melhor. O próprio conceito de Bi- tam ganhos nas funções executivas, tais
linguismo não tem uma definição unâni- como: atenção, inibição, monitoramento
me entre os estudiosos, o que ocasiona e alternância de tarefas (Bialystok, 2007,
estudos que se referem a níveis de habili- 2008). Pesquisas anteriores só considera-
dade linguística muito variados. Também vam a existência de tais diferenças cogni-
o conceito de Educação Bilíngue é amplo, tivas quando os sujeitos bilíngues eram
devido à existência de várias modalidades proficientes nas duas línguas. Mas hoje,
(Megale, 2005). Podemos dizer que, em levam-se em consideração os diferentes
geral, no Brasil privilegia-se um modelo níveis de domínios em diferentes habi-
de Educação Bilíngue de enriquecimento lidades (ler, escrever, falar, compreen-
por imersão, cujas motivações produzem der). Reforça-se, mais uma vez, que para
um tipo de Bilinguismo denominado, fa- entender essas diferenças cognitivas, é
zendo referência ao critério cultural, de preciso levar em consideração os fatores
elitista (Harmer & Blanc, 2000). Se, por- que cercam o individuo bilíngue no per-
tanto, apresenta-se como característica curso do seu desenvolvimento, tais como
principal da educação bilíngue no Brasil aspectos sociais, culturais, contextuais, e
uma amostra pequena da população que mudanças biológicas. Chama-se para as
possui condição financeira diferencia- ampliações de pesquisas neste sentido
da e que tem como objetivo principal a contribuem não só à psicologia cognitiva,
aquisição de uma segunda língua para in- na medida em que ajuda a compreender
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que precisa ser complementado pela ora- Os pressupostos centrais sobre os quais
ção. A oração possivelmente garante uma se ancora esta pesquisa são duplos. Por
convicção vinculada à fé e a uma experi- um lado, o estudo se fundamenta em
ência religiosa de vida que garante mais Fuentes (2009), que considera que a
crédito a essa atividade em detrimento da participação e prática em atividades de
outra, criando um sentimento de certeza “debate crítico” mobilizam operações es-
em relação as escolhas feitas. Do ponto pecíficas de raciocínio que possibilitam o
de vista psicológico, pode-se pensar que desenvolvimento do pensamento crítico.
essas pessoas precisam de uma vivência Por outra parte, o estudo se ancora no
afetiva que as assegure de que tomaram consenso encontrado entre teóricos e
a decisão certa (“E eu converso com Deus pesquisadores sobre o papel mediador
geralmente quando eu tomo uma posição da argumentação no desenvolvimento
nas minhas reflexões. A partir daí que eu cognitivo dos indivíduos. Tal mediação
converso com Deus, pra poder ver se isso, é observada na medida em que o enga-
se a minha decisão é dele ou não é muitas jamento do indivíduo na argumentação
vezes, entendeu?”, Fem3). incrementa a tomada de consciência e a
reflexão sobre seu próprio discurso, assim
Palavras-chave: Diálogo interno; oração; como do de outros, propiciando um cená-
adulto jovem. rio favorável para a construção de novas
Contato: Laís de Almeida Ambrósio, UFES, concepções e pontos de vista relativos ao
lais.ambrosio@gmail.com tema em questão (Ascione, 2000; Saíz &
Rivas, 2008; Fuentes, 2009; Leitão, 2010).
Reconhecer o “debate crítico” como uma
LT02-1215 - DESENVOLVIMENTO atividade discursiva, caracterizada pela
DO PENSAMENTO REFLEXIVO: oposição dialógica em que se enfrentam
TRANSFORMAÇÕES NA QUALIDADE distintos usuários da linguagem que sus-
DE ARGUMENTOS DE ESTUDANTES tentam diferentes pontos de vista em
PARTICIPANTES DO DEBATE CRÍTICO relação a um conflito de opinião (Fuen-
Nancy Lizeth Ramírez Roncancio - UFPE tes, 2009, Plantin, 2004), leva a pensá-lo
nalyrra@hotmail.com. como processo particular de negociação
Selma Leitão Santos - UFPE discursiva que privilegia o pensamento.
selma_leitao2001@yahoo.com As trocas contínuas que acontecem du-
Financiamento: CNPq/CAPES-Reuni rante a negociação de um conflito de opi-
nião e exigem do indivíduo que se volte
Este trabalho visa analisar o desenvolvi- sobre seu próprio pensamento e o tome
mento do pensamento reflexivo de estu- como objeto de reflexão (Ascione, 2000;
dantes universitários através da analise Ascione & Rolando, 2002; Fuentes, 2009;
das possíveis transformações na quali- Leitão, 2007b). A ideia anteriormente
dade dos argumentos que apresentam citada permite destacar o caráter de au-
enquanto participantes de uma experiên- torreferencialidade da linguagem –o dis-
cia pedagógica que proporciona intensi- curso em si mesmo– como possibilitador
va reflexão e exercício de argumentação do movimento autorregulador do pen-
(Fuentes, 2009) sobre temas curriculares. samento, ou seja, o papel regulador do
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discurso favorece a mudança do pensa- tes, 2009) como recurso para discussão
mento para um plano reflexivo, no qual o do conteúdo da disciplina. Os dados uti-
próprio indivíduo se volta sobre os funda- lizados para a análise foram construídos a
mentos e limites de seu próprio discurso partir dos registros videográficos e o ma-
(Leitão, 2007b). Das acepções aqui abor- terial pré-existente pertencentes ao ban-
dadas sobejassem três princípios teóricos co de dados gerado no contexto do pro-
que são assumidos dentro desta pesqui- jeto “O Debate Crítico como contexto de
sa: a) A cognição vista como um sistema desenvolvimento do pensamento reflexi-
complexo de funcionamentos psicoló- vo”, desenvolvido pelo Núcleo de Pesqui-
gicos construídos a partir da relação de sa da Argumentação da UFPE (NupArg/
interdependência entre o sujeito e o am- Diretório de Grupos de Pesquisa-CNPq).
biente histórico-cultural que possibilita Atendendo aos critérios de participação
a interpretação e compreensão da reali- no papel de avaliador e participação ativa
dade circundante (Vigotsky, 1934/2001; nos debates, foram escolhidos de forma
Bruner, 1997); b) Desde uma perspecti- intencional (Morse, 1991) dentre os es-
va histórico-cultural (de base dialógica), tudantes matriculados naquela discipli-
se ressalta o papel da linguagem como na oito (8) participantes. Neste trabalho
fundamental na constituição da cognição serão apresentados dois casos como um
humana e como parte relevante na cons- recorte da analise dos dados construídos,
trução e transformação do pensamento no qual se busco observar a emergência
(Leitão, 2010), e c) A natureza metacogni- de variações tanto na qualidade dos argu-
tiva da argumentação como o mecanismo mentos de cada sujeito (trajetória indivi-
que instaura a reflexão sobre o próprio dual), como nas trajetórias de desenvolvi-
pensamento (Leitão, 2007b). Portanto, a mento de diferentes sujeitos. Este estudo
natureza eminentemente metacognitiva privilegia a análise qualitativa, visto que
que caracteriza o pensamento reflexivo seu objetivo é estudar possíveis trans-
define-o como um “processo autorregu- formações que acontecem na qualidade
lador do pensamento constituído quando de argumentos produzidos por estudan-
um indivíduo toma suas próprias con- tes inseridos numa experiência pedagó-
cepções sobre os fenômenos do mundo gica intensiva de reflexão e exercício de
(conhecimento), como objeto de pensa- argumentação sobre temas curriculares
mento e considera as bases em que estas (debate crítico). Devido às características
se apoiam e os limites que as restringem” discursivas próprias do debate critico e
(Leitão, 2003, pp. 455). O presente es- ao objetivo antes mencionado, a análi-
tudo se caracteriza como uma pesquisa se qualitativa se deu em dois níveis: Na
qualitativa de tipo longitudinal de serie primeira fase da microanálise, se avaliou
de casos (Stake, 2000; Yin, 2001, Flick, a qualidade dos argumentos produzidos
2009) cujos participantes eram estudan- pelos participantes durante a realização
tes de primeiro período da graduação em de debates como em outras situações
psicologia de uma universidade publica, de argumentação que aconteceram em
matriculados em uma disciplina que teve sala de aula ao longo do semestre aca-
como proposta pedagógica central a utili- dêmico, tomando-se como referencia as
zação do Modelo do Debate Crítico (Fuen- concepções de força e solidez definidas
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Resultados e Discussão. A partir das aná- to, espera-se que os resultados obtidos
lises realizadas constatou-se que: 50% das no presente estudo incentivem reflexões
aulas analisadas apresentavam episódios direcionadas para a importância da dis-
argumentativos, das quais 10% foram ini- cussão em sala de aula, e contribua com
ciadas por algum aluno e os outros 40% a produção de novas estratégias didáticas
foram iniciados pelo professor. Verificou- que valorizem o discurso argumentativo
-se argumento baseado em exemplo em e que tornem cognitivamente produtivo
apenas 20% dos episódios argumentativos esse tipo de interação verbal no contexto
identificados. O uso de exemplos não ar- instrucional.
gumentativos, mas para fins explicativos/
elucidativos, foi observado em 60% das
aulas analisadas. Os resultados apresen- Palavras-chave: argumentação; construção de
tados evidenciam que, naquele contexto conhecimento; ensino de história
instrucional, a argumentação foi gerada, Contato: Dayse Arianne de Souza; UFPE;
principalmente, pelo professor. Ocorria a dayse_arianne@hotmail.com
freqüente utilização de exemplos para fins
não argumentativos. O argumento base-
ado em exemplo surgiu com pouca fre- LT02-1395 - ESTUDO DE REVISÃO
qüência, sendo essa forma de raciocínio, SISTEMÁTICA: UM LEVANTAMENTO
embora considerada típica no campo da SOBRE COMO O TESTE DE DESEMPENHO
história, pouco utilizada para fundamen- ESCOLAR (TDE) TEM SIDO UTILIZADO
tar e/ou contestar afirmações de modo a NOS ÚLTIMOS DEZESSEIS ANOS
favorecer a elaboração de pontos de vista Claudia Giacomoni - UFRGS
e a (re)construção do conhecimento so- giacomon@uol.com.br
bre o tema em discussão. Em consonân- Luiza Feijó - PUCRS
cia com Pontecorvo (2005), a análise dos lulufeijo@gmail.com
dados legitima a idéia de que a potência Pilar Petrasi Guahnon - FFCMPA
dos contextos de conflito de opiniões para pilarpetrasi@gmail.com
explicar e argumentar, ainda é pouco utili- Lilian Milnitsky Stein - PUCRS
zada na escola para fins de aprendizagem. lilian@pucrs.br
A instituição escolar freqüentemente Financiamento: CAPES
mantem a estrutura usual das conversa-
ções em sala de aula, com a típica seqüên- A avaliação da aprendizagem escolar tem
cia “pergunta do professor - resposta do como objetivo acompanhar a aquisição
aluno - comentário do professor”, que res- de conhecimento do aluno de uma forma
ponde, sobretudo, ao objetivo de avaliar o sistemática e gradual, verificando as mu-
aluno, verificando os conhecimentos que danças que o ensino produz no desempe-
ele já possui, ao invés de favorecer a con- nho. O processo de avaliação constitui-se
traposição dos pontos de vista e a constru- numa peça importante da educação, pois
ção do conhecimento.Tendo em vista que sem ela não é possível acompanhar o pro-
a argumentação comporta processos lin- cesso ensino-aprendizagem. A avaliação
güísticos e sociocognitivos relevantes para possibilita verificar o cumprimento dos
a aquisição e construção de conhecimen- objetivos, uma vez que averigua mediante
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equivocadas acerca da D.I., como, por reza acerca do que consistia a inclusão
exemplo, ser considerada um problema escolar. Os pais a concebiam como sendo
irreversível, sem possibilidades significa- a inserção dos alunos nas classes espe-
tivas de desenvolvimento e aprendizado. ciais, sendo que alguns acreditavam que
Segundo os participantes, as informações os filhos já haviam sido incluídos ou esta-
eram repassadas por médicos, professo- vam em classes inclusivas. Mesmo que
res e psicólogos, sendo raramente ques- fossem insultados pelos colegas e não
tionadas pelos alunos e seus responsá- estarem alfabetizados, a maioria dos alu-
veis. Assim, o poder médico e pedagógi- nos disse querer participar da escola re-
co parece não encontrar resistência na gular e apenas dois afirmaram temer os
maioria dos participantes, influenciando maus tratos por parte de colegas e pro-
sobremaneira na escolarização e nos re- fessores. Alguns alunos e responsáveis
lacionamentos dos alunos com D.I. A relataram ter solicitado à direção de Cen-
educação especial: motivos e justificati- tros de Ensino a transferência para o regi-
vas. Os alunos afirmaram que sua escola- me de integração, mas isto lhes foi nega-
rização acontecia apenas na educação do pelos profissionais que avaliavam os
especial por haver recusa das escolas re- estudantes. Esclarecidos acerca da inclu-
gulares em os aceitarem ou da escola es- são escolar, a metade dos pais afirmou
pecial em liberá-los, pelo “mau compor- que não deixaria seus filhos estudar na
tamento” e por não saberem ler ou es- educação regular, a despeito do desejo
crever. Os pais relataram o medo de que dos mesmos, por temor dos maus tratos
seus filhos fossem descriminados na es- e pela não alfabetização. Outros relata-
cola regular, que tende a excluir aqueles ram que gostariam que os filhos estives-
que destoam de seu modelo homogenei- sem na inclusão, mas que não poderiam
zante. As potencialidades e dificuldades atender ao desejo dos mesmos porque a
dos alunos. Pais e alunos reconheciam decisão não dependia deles e sim da di-
inúmeras potencialidades, sendo o prin- reção da escola. Apenas duas mães afir-
cipal problema apontado o fato de os alu- maram que lutariam pelo direito dos fi-
nos não conseguirem ler e escrever. A lhos, caso eles manifestassem o desejo
educação especial: avaliação. Pais e alu- de frequentar a escola regular. Concep-
nos disseram gostar do ambiente em que ções acerca do desempenho escolar. So-
os filhos estudavam, em especial nos bre o sentimento que nutriam frente às
centros de ensino, devido à ausência de sucessivas reprovações e a permanência
preconceitos. Porém, se queixaram de no ensino especial, alguns alunos disse-
pouco investimento na aprendizagem ram sentir-se bem e outros com “raiva”.
formal dos alunos (notadamente leitura e Algumas mães relataram sofrer de forma
escrita). Inclusão escolar: de direito, mas isolada frente às dificuldades encontra-
não de fato. Este núcleo remete a duas das pelos filhos e outras alegaram indife-
questões importantes: o desconheci- rença, pela certeza de que seu desenvol-
mento acerca do que consistia a inclusão vimento seria sempre lento e limitado.
escolar e a ausência de empoderamento Expectativas presentes e futuras. A maio-
dos alunos em relação à sua escolariza- ria dos alunos projetava grandes realiza-
ção. Nenhum dos entrevistados tinha cla- ções de cunho profissional e pessoal para
1160
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
seu futuro. A maioria dos pais, por sua lhes é essencial e deve ser valorizada. As-
vez, esperava que executassem tarefas sim, sugerimos a inclusão de alunos com
braçais, manuais, angustiando-se a res- D.I. nas séries regulares de ensino, por
peito do “que aconteceria com os filhos, meio das adequações curriculares, com
ao fim da escolarização especial”. Os re- oferta de educação especial nos centros
sultados da pesquisa indicam que, de de ensino, ou classes especiais, em turno
fato, os alunos encontravam-se na educa- contrário, e reiteramos a importância da
ção especial por “decisão” de outrem. aquisição da leitura e escrita, habilidades
Esta imposição suposta demanda uma fundamentais no processo de escolariza-
série de questões e sugestões. Com rela- ção. Com relação ao desejo e direito dos
ção às equivocadas concepções acerca da alunos de participar das classes regula-
D.I. e aos direitos e deveres referentes à res, frustrado por pais e professores, essa
inclusão escolar, sugerimos que as auto- atitude pode ser interpretada como con-
ridades competentes utilizem os meios seqüência da concepção hegemônica de
de comunicação para divulgar junto à co- que os alunos não se beneficiariam desta
munidade informações corretas e conhe- escolarização. Os jovens alunos com D.I.,
cimento científico acerca da D.I. e no que se empoderados, poderiam optar pela
consiste o direito à inclusão escolar; que escolarização de sua conveniência, o que
investigações sejam feitas com profissio- lhes é garantido por resolução legal. Alia-
nais da área de saúde sobre suas concep- da a isto, a necessidade de interação so-
ções e atuação, no que se refere à D.I.. cial destes alunos com pares mais capa-
Com relação às queixas dos pais sobre o zes, para seu desenvolvimento cultural,
não investimento na aprendizagem for- reforça a perspectiva da inclusão escolar.
mal dos filhos, se considerados os estu- Sugerimos experiências de inclusão com
dos de Vigotsky sobre a escolarização, o esses alunos, de modo a que possam par-
desenvolvimento e o aprendizado desses ticipar da educação regular e lhes seja
alunos, somos forçadas a reconhecer que garantida uma educação de qualidade.
o sistema educacional vigente pode não Os jovens e adolescentes com D.I., e suas
os estar promovendo da melhor forma mães, participantes desta pesquisa, mos-
possível. A intervenção pedagógica rela- traram-se desejosos de serem escutados.
tada pelos entrevistados tem privado os Alguns poucos, aqui, tiveram voz, mas
estudantes de dois fatores primordiais eles são muitos e resta saber se outro, de
para o seu desenvolvimento: a aprendi- fato, acolherá suas demandas e desejo.
zagem formal e a interação social com
pessoas mais capazes. Com relação à Palavras-chave: deficiência intelectual;
“imposição” da escolarização apenas na inclusão
modalidade educação especial, justifica-
da pela idade avançada dos filhos e pelas
baixas aquisições acadêmicas, é preciso
que tal posição seja repensada pelos
pais. Pessoas com D.I. devem interagir
com o ambiente social e cultural e com os
que dele fazem parte e esta interação
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
em torno da inclusão social e escolar. Es- enxergar a deficiência como uma constru-
sas questões dizem respeito a todo um ção social e não como algo pertencente
contexto mundial, como a Declaração de apenas ao sujeito, conceber o sistema es-
Salamanca (1994), da qual o Brasil é sig- colar como um contexto social complexo
natário, que definiu diretrizes mundiais que envolve a aprendizagem e o desen-
para a educação inclusiva bem como as volvimento dos indivíduos que a ele per-
interfaces com a legislação nacional sobre tencem. A escola, como representante do
a inclusão escolar. As discussões atuais, universo maior que é a sociedade, repete
tanto políticas quanto educacionais, estão nas devidas proporções tudo o acontece a
transformando a temática da inclusão em sua volta. O comportamento agressivo nas
um projeto de valorização e respeito às escolas, por exemplo, pode ser analisado
diferenças humanas, buscando alterar o dentro desse viés das contradições e mu-
universo sócio-histórico que tem embasa- danças. Fante (2003, 2005), apud Francis-
do, até os dias atuais, as instituições esco- co (2009), aponta que o comportamento
lares. De acordo com a Política Nacional agressivo nas escolas nas últimas décadas
de Educação Especial (2008), a educação adquiriu crescente dimensão em todas as
inclusiva constitui um paradigma educa- sociedades. O que o torna questão pre-
cional fundamentado na concepção de ocupante é a grande incidência de sua
direitos humanos, que conjuga igualdade manifestação em todos os níveis de esco-
e diferença como valores indissociáveis, laridade. Alunos hiperativos, com baixo li-
e que avança em relação à ideia de equi- miar para frustrações, com uma ordem de
dade formal, ao contextualizar as circuns- problemas escolares decorrentes do baixo
tâncias históricas da produção da exclusão rendimento escolar, de dificuldade de re-
dentro e fora da escola. A inclusão escolar lacionamento com os colegas e com sig-
coloca ao psicólogo um conjunto de desa- nificativos problemas familiares são vistos
fios específicos que devem ser assumidos como sujeitos diferentes, problemáticos.
crítica e criativamente. Segundo Maluf Apresentam comportamentos agressivos
(2003), apud Mitjáns (2005), os psicólogos e, como consequência dessas ações, são,
devem dar ênfase aos contextos nos quais na grande maioria dos casos, pouco com-
o indivíduo está inserido, pela emergência preendidos, e muitas vezes excluídos so-
de novas áreas de atuação que ampliam o cialmente. Esses alunos, com o passar do
campo de trabalho muito centrado, inicial- tempo, acabam sendo afastados do pleno
mente, nas queixas escolares e seus con- e bom convívio com os colegas e também
dicionantes, para o trabalho com a equi- com os professores. Como um fenômeno
pe pedagógica e outras áreas de atuação gerador de problemas emocionais, rela-
mais abrangentes e por uma procura da cionais e consequentemente cognitivos o
multidisciplinaridade, visando dar conta enfrentamento do comportamento agres-
da complexidade dos processos que carac- sivo e suas consequências demanda uma
terizam o espaço escolar. Mitjáns (2005) intervenção efetiva orientada sobre os
avalia que, além da própria representação princípios da inclusão e do respeito à di-
da inclusão escolar, é necessário que ou- versidade. Esta intervenção sobre o com-
tras mudanças aconteçam: a valorização portamento agressivo deve levar em conta
da singularidade no contexto educacional, a subjetividade do indivíduo e tudo mais
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
que o envolve, isto é, o contexto onde ele dos sobre a inclusão educacional? Assim,
convive, sua família e o ambiente escolar. estudamos as versões que o nosso cola-
A contribuição da psicologia se faz presen- borador, pseudônimo José, tem diante do
te ao identificar e permitir a compreensão tema: os processos formativos de docen-
do comportamento agressivo como um si- tes em educação inclusiva. Ele é professor
nalizador da existência de problemas com em uma instituição federal e atua com a
crianças e adolescentes que se encontram temática da educação inclusiva. Como ins-
em situação de risco, e que têm sido ali- trumento de pesquisa, utilizamos a entre-
jados do convívio escolar possibilitando vista narrativa, que foi gravada, transcrita
ações efetivamente inclusivas para ele. e textualizada (Gatazz, 2006). Conforme
Caixeta (2006, p. 69), nesse modo de pes-
Palavras-chave: inclusão escolar, psicologia, quisar, o conhecimento é produzido a par-
comportamento agressivo. tir da “relação dialógica” entre a pesquisa-
dora e o participante, e é nessa interação
que os sentidos vão sendo produzidos.
LT04-767 - UMA COMPREENSÃO DOS Trazer a lume as lembranças, memórias
SENTIDOS CONSTRUÍDOS POR UM e recordações do educador-participante
PROFESSOR SOBRE A INCLUSÃO DE possibilitaram uma compreensão dos sen-
PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS E OS tidos (Barbosa, 2006) construídos por ele,
PROCESSOS FORMATIVOS VIVIDOS na relação com a pesquisadora, sobre o
Madalena Maria Barbosa Tsyganok - UFES trabalho com as crianças e adolescentes
mada_sy@hotmail.com com deficiência em sala de aula regular, o
Juliana Eugênia Caixeta - UnB seu próprio processo de inclusão na esco-
eugenia45@hotmail.com la, no trabalho e na vida. Nessa perspecti-
Hiran Pinel - UFES va, entendemos que a escola precisa pos-
hiranpinel@ig.com.br sibilitar um processo educativo embasado
nos valores humanos, na perspectiva da
Este trabalho consiste em refletir sobre transformação da sociedade e, sobretudo,
a construção do processo formativo re- na crença de que as crianças e adolescen-
lacionado à inclusão educacional de um tes possuem diferentes possibilidades e
educador, sua trajetória pessoal-profis- caminhos para elaborar as suas aprendi-
sional-formativa e as experiências como zagens. No sentido dessas reflexões, res-
docente. O que nos interessa são os senti- gatamos a necessidade de transformação
dos produzidos e como eles se entrelaçam pedagógica da escola tendo em vista a
com o acontecer da sala de aula inclusiva. inclusão. Conforme Mantoan (2006): “A
Trata-se de um estudo qualitativo inspira- inclusão implica em uma mudança de pa-
do na metodologia de História Oral na mo- radigma educacional, que gera uma reor-
dalidade História de Vida (Portelli, 1997, ganização das práticas escolares” (p.207).
em Puntel, 2002, p. 63). As indagações Assim, defendemos que os processos for-
de pesquisa foram: quais são as vivências mativos docentes também tenham como
e experiências mais significativas da tra- referência as experiências e vivências de
jetória narrada pelo docente? O que ele outros educadores. A idéia é de valoriza-
narra sobre os processos formativos vivi- ção da pessoa do docente (Nóvoa, 2007),
1166
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
como oposição a tudo que é conformati- Marcos Paulo Alves de Oliveira - Bolsista
vo. A sua história de vida contribui para o PAPq/UEMG (FUNEDI/UEMG)
desenvolvimento de uma modalidade de Marilene Tavares Cortez - (FUNEDI/UEMG),
“investigação-ação” (Goodson, 2007), ou (UFMG)
seja, sendo investigador e nos fornecendo
dados e conhecimentos sobre o que é e A atual classificação do Transtorno de Dé-
como é ser oposição. Nesse processo de ficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
reflexão sobre o sentido de ser opositor ao foi proposta pelo Manual Diagnóstico e
estabelecido José revela que o ato de edu- Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-
car e praticar a educação inclusiva na sua -IV, 1994), sendo considerado por muitos
trajetória requer coragem para se erguer pesquisadores o diagnóstico infantil mais
ou reerguer das quedas. Concluímos que comumente estabelecido (Mcinnes & cols,
“a maneira como cada um de nós ensina 2003; Cohen & cols, 2000; Martinussen e
está diretamente dependente daquilo que Tannock, 2006; Rapport & cols, 2008, den-
somos como pessoa quando exercemos tre outros). As características mais comuns
o ensino” (Nóvoa, 2007, p. 17). Diante desse transtorno, relatados pelo DSM-IV,
das resistências e rigidez dos professo- são a desatenção, a hiperatividade e a im-
res, esse autor propõe que os docentes pulsividade. Contudo, as pesquisas mais
se apropriem dos seus próprios saberes, recentes sobre o TDAH estabelecem que
como também trabalhem as perspectivas esse transtorno envolve, necessariamen-
teóricas e conceituais. Nas narrativas per- te, algum déficit no processo cognitivo
cebemos a forte ligação com os contextos (Rapport & cols, 2008; Pennington, 2005;
sociais, culturais, político e econômico re- Willcutt, Doyle, Nigg, Faraone, Penning-
lativo ao tempo-espaço de suas vivências. ton, 2005). Ou seja, para que uma pessoa
José tornou públicas as suas experiências receba o diagnóstico de TDAH, ela tem
e abriu possibilidades de diálogo com elas, que apresentar algum comprometimento
mostrando os sentidos construídos em re- na sua atenção, funções executivas, lin-
lação aos processos profissionais-formati- guagem e em sua memória de trabalho,
vos em educação inclusiva. processos cognitivos identificados como
deficitários pelas pesquisas sobre o TDAH.
Palavras-chave: História de Vida; Educação Diante dos resultados das pesquisas sobre
Inclusiva; Processos Formativos. o TDAH acerca da relação desse transtorno
com déficits no processamento cognitivo,
e sabendo que toda a atividade acadêmica
LT04-835 - O TRANSTORNO DE DÉFICIT depende consistentemente de processos
DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE E O cognitivos, o Grupo de Pesquisa Cognos-
CONHECIMENTO DAS PROFESSORAS cere, no ano de 2010, fez um piloto para
DA REDE MUNICIPAL DO ENSINO verificar o conhecimento das professoras
FUNDAMENTAL SOBRE ESSE da rede pública de ensino na cidade de Di-
TRANSTORNO vinópolis de Minas Gerais, sobre o envolvi-
Cláudia Lúcia Carazza - Bolsista PAEx/UEMG mento dos processos cognitivos no TDAH.
(FUNEDI/UEMG) Os resultados encontrados justificam a
Lúcia Maria Silva Arruda - (FUNEDI/UEMG) preocupação de vários pesquisadores em
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
relação à maneira como o TDAH tem sido bre os déficits cognitivos ligados ao TDAH.
tratado pela Educação, Saúde, Governo A partir desta revisão e dos resultados de
e mesmo pela sociedade civil. Tais resul- pesquisas que investigam os processos
tados confirmam também a hipótese por cognitivos no TDAH, elaboramos um ques-
nós estabelecida de que as professoras tionário piloto que explorou o conheci-
não conseguem perceber a relação entre mento das professoras sobre os processos
os déficits no processamento cognitivo cognitivos envolvidos no TDAH. Aplicou-se
no TDAH e o pior desempenho escolar esse questionário em professoras que tra-
da criança TDAH. Realizar um estudo de balham com crianças de diferentes faixas
cunho exploratório sobre o conhecimento etárias. O resultado aqui apresentado é
das professoras de quatro escolas da rede parcial, uma vez que a pesquisa envolveu
pública de ensino de Divinópolis de Minas apenas a realização de um piloto, o qual
Gerais quanto aos processos cognitivos está sendo expandido, atualmente, pelo
envolvidos no TDAH. Cruzar os dados obti- Cognoscere. Assim, foram identificadas
dos sobre esse conhecimento das profes- respostas contraditórias fornecidas pelas
soras pesquisadas com o conhecimento professoras. Por exemplo, 61% das pro-
fornecido sobre as pesquisas sobre a rela- fessoras consideram que a criança TDAH
ção do TDAH com os processos cognitivos não apresenta um desempenho acadêmi-
disfuncionais. Um levantamento mais am- co pior, mas 53% das professoras afirmam
plo sobre o conhecimento da professora que a criança TDAH tem dificuldade em
sobre os déficits cognitivos envolvidos no processar o conteúdo ministrado em sala
TDAH está sendo feito para que, em um de aula. Claramente há uma contradição
próximo momento da pesquisa, o Grupo nessas respostas, pois se 53% das profes-
Cognoscere faça um mapeamento sobre soras afirmam que a criança TDAH tem
as atividades acadêmicas exigidas das dificuldade em processar o conteúdo mi-
crianças, entre nove e onze anos, em sala nistrado em sala de aula, como é possível
de aula e a dependência de tais atividades que 61% das professoras consideram que
escolares dos processos cognitivos, como a criança TDAH não apresenta um desem-
as funções executivas, memória de traba- penho acadêmico pior? Portanto, respos-
lho e linguagem. Quando tal correlação tas como essa confirmam a nossa hipó-
for realizada, buscaremos desenvolver tese de que as professoras não sabem da
estratégias para auxiliar a comunidade importância dos processos cognitivos nas
acadêmica sobre uma melhor compreen- tarefas acadêmicas, nem do envolvimento
são do transtorno e também serão criadas de déficits cognitivos no TDAH. Diante do
propostas pedagógicas de intervenção resultado que obtivemos em nosso piloto,
mais adequadas para abordar o TDAH em confirmamos a nossa hipótese de que as
sala de aula. Especificamente crianças en- professoras não conseguem perceber a
tre nove e onze anos. Os procedimentos relação entre déficits no processamento
metodológicos se dividiram em duas eta- cognitivo no TDAH e o pior desempenho
pas distintas. A primeira etapa envolveu a escolar da criança TDAH. Corroboramos
revisão de literatura, buscando encontrar, também a importância da ampliação da
especificamente, pesquisas que investiga- investigação do tema da pesquisa aqui
ram o conhecimento das professoras so- apresentada, para que seja possível de-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
1170
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
de 2010. Os casos acompanhados foram: e como fazer com Gustavo. Vale destacar
Mário (8 anos), 2o Ano (professora Sara), uma situação: A professora planeja com a
diagnóstico de Síndrome de Down e apre- classe um trabalho em grupos sobre tópi-
senta problemas motores como sequela cos acerca da cidade de Campinas. No dia
de um acidente vascular cerebral; Gustavo em que a classe, organizada em grupo,
(10 anos), 4oAno (professora Marta), diag- prepara cartazes para apresentar no dia
nóstico de Síndrome de Down e Hiperati- posterior, Gustavo faltou. No dia seguinte,
vidade, comunica-se por uso de gestos e a fim de incluir Gustavo na apresentação,
algumas poucas palavras. Como pensar a professora faz com ele um trabalho com
a educação inclusiva frente à história de recortes sobre alguns lugares de Campi-
relações desses casos? Como olhar para nas e apresenta com ele. Fala por ele, para
cada um, Gustavo e Mário? O que cada ele e para os alunos. Gustavo se envolve
caso revela? O que o conceito de com- nas apresentações, participa das discus-
pensação ajuda a enxergar? Quais são as sões, ajuda a segurar os cartazes de ou-
possibilidades e os limites das discussões tros grupos... Esses pequenos momentos
defectológicas? Mário entrou na rede vivenciados no cotidiano e condensados
regular de ensino em 2009, ano em que nos gestos dos professores e nos gestos
era, constantemente, colocado sentado dos alunos vão sendo significativos pelo
em cima da mesa da professora, por ser que revelam de possibilidades e também
agitado, cuspir saliva e derrubar os mate- de impossibilidades criadas pelas (faltas
riais dos colegas. Ao perceber que Mário de) condições concretas. A ação das pro-
apresentava medo de altura, essa foi uma fessoras orientada pela preocupação em
saída encontrada pela professora a fim de trabalhar a especificidade do aluno na
conseguir dar aula sem ser interrompi- relação com o todo nos instiga a refletir
da. No ano de 2010, Mário rastejava pelo sobre como é vislumbrada as potenciali-
chão da sala de aula, derrubava os mate- dades desses sujeitos e como isso afeta,
riais escolares... A professora tenta de to- ou seja, produz efeitos diferenciados nos
das as formas atender Mário. Em uma de- sujeitos que respondem a isso. Concebe-
terminada situação em que Mário estava mos a deficiência como o lugar de exce-
deitado no chão da sala, a professora que lência ao que enxergamos como natural.
lia uma história em um livro para a classe A presença da criança deficiente na sala
se aproxima do garoto, pega na sua mão, de aula agudiza, intensifica a necessidade
o levanta e anda pela sala com ele, drama- de problematizar as relações de ensino
tizando e contando a história. Em outros e as condições que (in)viabilizam. Consi-
momentos, em que faz roda de leitura deramos que o potencial do conceito de
com a turma, a professora pega Mário no compensação na educação inclusiva esta
colo a fim de evitar que ele corra pela sala na premissa da perspectiva de Vigotski
e envolve o aluno na leitura juntamente que articula o psicológico e a educação,
com os demais alunos. Gustavo é consi- o individual e o social, a dinâmica do ser
derado o aluno impossível da escola, que humano em se fazer-se nas relações so-
causa problemas, que foge da sala, que é ciais. Contudo, apontamos para os limites
agressivo. A professora Marta questiona da ideia de compensação como correção
em muitos momentos sobre o que fazer do déficit, como qualidade de instrução,
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
bom estudante, tendo relatado médias de < 0,001); porém, o fez inversamente com
7,6 e 7,3 nas disciplinas de português e a percepção do estilo negligente desta (r
matemática, respectivamente. Os partici- = -0,20, p < 0,001). No que diz respeito à
pantes responderam um livreto contendo correlação entre o ajustamento escolar e
os seguintes instrumentos: Escala de Ajus- a percepção da escola como comunidade,
tamento Escolar (CPPRG, 1997); Escala de compreende-se que à medida que o estu-
Percepção da Escola como Comunidade dante percebe a escola como um espaço
(Roberts, Hom & Battistich, 1995); Ques- de colaboração e aprendizagem, com ati-
tionário de Percepção dos Pais (Pasquali & vidades agradáveis, terá a tendência a se
Araújo, 1986; Schneider, 2001); Indicado- envolver mais nas atividades oferecidas
res de Bem-Estar Subjetivo (Chaves, 2003) pela escola, a ajudar os pares, a respeitar
obtido a partir de das seguintes medidas: os professores, a cumprir as normas esta-
Escala de Satisfação com a Vida, Escala de belecidas pela instituição, enfim, apresen-
Afetos Positivos e Negativos e Escala de tar um comportamento mais adaptado ao
Vitalidade; Questionário de Saúde Geral contexto escolar. No que se refere à rela-
(QSG-12) (Pasquali, Gouveia, Miranda & ção entre o ajustamento escolar e o bem-
Ramos, 1994); e por fim o Questionário -estar subjetivo, alguns autores (Batista &
Sócio-Demográfico e Educacional (idade, Oliveira, 2005; Cassady & Johnson, 2002;
sexo, escolaridade, tipo de escola, notas Giacomoni, 1998) relatam que indivíduos
em Português e Matemática, classificação satisfeitos com a vida e experimentando
acadêmica autopercebida). Inicialmente, mais afetos positivos que negativos, apre-
entrou-se em contato com as escolas para sentam um estado de bem-estar que se
apresentar o projeto às direções, a fim de reflete no comportamento, quer no am-
solicitar autorização para encaminhar o biente familiar ou escolar. Por exemplo,
Termo de Consentimento Livre e Esclare- poder-se-ia destacar o estudo de Arteche,
cido para os pais dos alunos. Em seguida, Bandeira e Gonzalvo (2003), realizado
os pesquisadores aplicaram os questio- com adolescentes que estavam envolvidos
nários aos alunos que tiveram o termo em projetos públicos e privados. À medida
de consentimento assinado pelos pais ou que estes jovens participavam de tais pro-
responsáveis. Os questionários foram res- jetos, demonstravam melhor autoestima,
pondidos de forma individual, em sala de mais satisfação com a escola e maior nível
aula, tendo sido necessários, em média, de emoções positivas e, consequentemen-
30 minutos para que os estudantes ter- te, menos ansiedade, depressão e afetos
minassem. Para efetuar as análises esta- negativos. Esses componentes de mal-es-
tísticas, empregou-se o Pacote Estatístico tar subjetivo, conforme Lourenço e Paiva
para as Ciências Sociais (PASW, versão 18). (2006), são preditores de comportamen-
Como resultados, obteve-se que a pontu- tos inadaptados, como \aqueles denomi-
ação geral em ajustamento escolar se cor- nados como antissociais. Portanto, pode-
relacionou diretamente com a percepção -se supor que estudantes que passam por
da escola como comunidade (r = 0,40, p < situações frequentes de baixo desempe-
0,001), pontuação geral de bem-estar sub- nho podem estar sofrendo de ansiedade
jetivo (r = 0,50, p < 0,001) e a percepção e depressão, gerando um mal-estar que,
do estilo autoritativo da mãe (r = 0,18, p possivelmente, influenciará nas relações
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radigma já se prenunciem, como se verifi- da fala dos professores, uma grande pre-
cou no estudo). Em se tratando do locus ocupação em não se perder a autoridade
da sala de aula, afetividade e cognição se- e o status de educador perante os alunos.
riam dois constructos independentes, com Por fim, foi muito presente nas concep-
espaços e momentos próprios de expres- ções desses professores a noção de que o
são. Quanto aos efeitos da afetividade na educador deve respeitar o seu aluno e es-
relação que os alunos estabelecem com os tar atento às suas demandas.
objetos de conhecimento, verificou-se que
os professores concebem que a aprendi- Palavras–chave: Afetividade. Concepções
zagem do aluno será tanto melhor quanto docentes. Aprendizagem.
sua relação com o docente for calcada na
afetividade. No entanto, essa relação com
os objetos de conhecimento sinalizou, com LT04-911 - AFETIVIDADE E
uma exceção, que os docentes não trazem APRENDIZAGEM: PRODUÇÃO DE TESES E
em suas concepções a noção de que o pro- DISSERTAÇÕES NO PED-PUCSP
fessor deve apresentar-se como uma via Laurinda Ramalho de Almeida - PUC/SP
que conduz o aluno ao conhecimento e laurinda@pucsp.br
que este deve ser o principal objetivo do Andrea Jamil Paiva Mollica - PUC/SP
educador e do educando. Quanto à for- ajmollica@uol.com.br
mação, no tocante à área da Psicologia do Priscilla Andrea Glaser - PUC/SP
Desenvolvimento e Aprendizagem, pouca priglaser@yahoo.com.br
alteração significativa se produziu na for- Fátima B. M. Cintra - PUC/SP
mação docente ao longo das últimas déca- fbissoto@gmail.com
das, haja vista o fato de professores com Glaucia C. R. Medrado - PUC/SP
grandes diferenças de tempo de formação glaucia.medrado@yahoo.com.br
apresentarem respostas muito semelhan- Lilian Corrêia Pessôa - PUC/P
tes a respeito do lugar da afetividade em lilipessoa@hotmail.com
sua formação. Infere-se que, ao adentra- Márcia T. C. Necyk - PUC/SP
rem na escola, os docentes acabam ten- mnecyk@uol.com.br
do suas concepções moldadas pelas in- Yuska N. B. Felicio-Garcia - PUC/SP
terações com o meio e, portanto, com as yuskinha@hotmail.com
concepções recorrentes nesse meio, que Financiamento: CNPq/CAPES
exercem mais influências em sua prática
do que a sua própria formação. Confir- Por compreender a afetividade como uma
mou-se, nos relatos, que o professor, por dimensão tão importante quanto a di-
vezes, ainda percebe seu aluno de forma mensão cognitiva na constituição do ser
contraditória: ora ele é uma criança, ora humano e, portanto, acreditar que am-
um adolescente; já é positiva, contudo, a bas devam ser igualmente valorizadas no
ênfase dada ao fato de considerarem esse processo ensino-aprendizagem do aluno
discente como uma pessoa em transição. no contexto escolar, o estudo de que trata
Também mostrou-se muito forte a associa- este texto, denominado estado do conhe-
ção entre afetividade e os anos iniciais da cimento, identificou a produção de teses
escolarização. Ainda se observou, ao longo e dissertações que priorizaram questões
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motivação têm mostrado que as percep- auxílio e respeito mútuo) esta relacionada
ções das dimensões acadêmicas e sociais à meta aprender e a autoeficácia. Dada a
da sala de aula influenciam as crenças dos importância da verificação de como estas
alunos sobre si mesmos e as metas de re- dimensões do contexto de sala de aula
alização relativas ao trabalho escolar. Es- influenciam a motivação de estudantes
tas por sua vez influenciam a natureza e brasileiros e o fato de serem raros os es-
extensão do engajamento nas tarefas. Os tudos nacionais que abordem tais ques-
estudos apoiados na Teoria de Metas de tões, pretendeu-se no presente estudo
Realização e na Teoria Social Cognitiva evi- identificar como o seguinte conjunto de
denciam o papel dos construtos motiva- variáveis se relacionam: tarefas motiva-
cionais metas de realização e a autoeficá- doras, apoio a autonomia, avaliação por
cia. Os alunos que adotam a meta apren- domínio, relação professor-aluno, relação
der (focada no aprimoramento pessoal e entre colegas, meta aprender e autoeficá-
ganho de entendimento e ou habilidade, cia. A amostra foi composta de 41 alunos
com a aprendizagem sendo um fim em si do Ensino Médio de uma escola pública
mesma) e apresentam autoeficácia (julga- do interior do estado de São Paulo. Os da-
mentos positivos de suas capacidades para dos foram coletados de forma coletiva por
desempenhar uma tarefa bem sucedida) meio das respostas dos alunos a sete es-
tem maior probabilidade de se esforçarem calas do tipo Likert elaboradas para medir
e persistirem nas tarefas escolares. Duas tais variáveis. Foram realizadas análises
linhas de investigação vêm sendo condu- acerca da consistência interna dos itens
zidas de forma independente. Uma sobre das escalas e análises correlacionais entre
as associações entre as crenças motiva- as variáveis. Os resultados indicam terem
cionais do aluno e suas percepções acerca sido significativas e positivas as correla-
das dimensões acadêmicas. Esta procura ções entre os escores da meta aprender
investigar como as percepções dos alunos aproximação e relação professor-aluno,
acerca das tarefas da sala de aula conside- meta aprender aproximação e tarefas mo-
radas motivadoras (conjunto de práticas tivadoras, meta aprender aproximação e
em que os alunos percebem as tarefas da- avaliação por domínio, autoeficácia e rela-
das como interessantes, significativas e re- ção professor-aluno, autoeficácia e apoio
levantes), do apoio a autonomia (promo- a autonomia e também foram significati-
ção de atividades que forneçam escolhas vas e positivas as correlações entre a re-
e desenvolvam responsabilidade) e da uti- lação professor-aluno e as três dimensões
lização de avaliação por domínio (práticas acadêmicas avaliadas. Apesar da amostra
avaliativas que sejam justas e não enfati- reduzida, os resultados do presente estu-
zem a competição), estão relacionadas a do sugerem que os achados da literatura
adoção da meta aprender e a autoeficácia sobre a influência das dimensões acadê-
por parte dos alunos. A outra sobre as re- micas e sociais podem ser generalizados
lações entre as crenças motivacionais e as para este grupo de alunos brasileiros. O
dimensões sociais tem explorado como a estudo oferece uma contribuição original
percepção dos alunos acerca da relação ao mostrar conjuntamente a importância
professor-aluno e da relação entre colegas das dimensões sociais e acadêmicas para
(como sendo fornecedoras de suporte, as crenças motivacionais e as associações
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Este estudo fez parte de um trabalho modalidade de ensino regular nos turnos
mais abrangente, que contou com um matutino, vespertino e noturno, e ao EJA
grupo de pesquisadores participantes da (Educação para Jovens e Adultos) no perí-
ANPEPP (Associação Nacional de Pesqui- odo noturno. Recebe alunos de todos os
sa e Pós-Graduação em Psicologia) e com bairros e distritos do município em que
apoio do CNPQ (Conselho Nacional de está localizada, em um total de 1.170,
Desenvolvimento Científico e Tecnológi- sendo a maior parte deles proveniente
co). Entendemos por moral a concepção de classe média baixa. O projeto teve iní-
de La Taille (2006) segundo a qual refere- cio em 2007, destinado apenas ao turno
-se a um conjunto de deveres, princípios noturno e idealizado pela então pedago-
e regras que devem ser obrigatoriamente ga do colégio. Ele foi motivado por recla-
observados, o que é bom ou mau, certo mações dos profissionais de educação do
ou errado numa cultura, corresponden- turno em questão, feitas em reuniões,
do à pergunta “como devo agir?” (p.29). conselhos de classe e outros encontros
Desde os estudos pioneiros de Jean Pia- acerca dos desafios encontrados em sala
get (1932/1994), consideramos a exis- de aula em relação aos alunos, tais como
tência de um desenvolvimento do juízo evasão, desinteresse, cansaço e dificul-
moral no ser humano. Dessa forma, uma dades de aprendizagem. A maior insatis-
criança pode passar de uma consciência fação referia-se à falta de respeito que
heterônoma das regras para a moral da enfrentavam tais profissionais no dia-a-
autonomia. Assim sendo, os métodos da -dia da sala de aula; que estava caracteri-
educação moral são fundamentais e, ne- zada como ausência de respeito entre os
cessariamente, não podem ser realizados próprios alunos e, também, para com os
de maneira autoritária, mas ativos, tendo professores. Além disso, valores, como
como objetivo a construção da autono- amizade e solidariedade, foram deixados
mia moral nos alunos. Para a descrição de lado, o que dificultava a convivência
da experiência, realizamos entrevistas escolar. Diante desse quadro, implemen-
com a ex-diretora da escola, a diretora tou-se o projeto, com o apoio de 18 pro-
atual, uma supervisora pedagógica, uma fessores. Os temas trabalhados foram os
pedagoga, duas professoras, uma auxiliar mais variados: drogas, sexualidade, direi-
de secretaria e três alunos. As entrevis- tos da mulher, perspectiva de vida, cultu-
tas, com roteiro semiestruturado, foram ras, dentre outros. Quanto aos procedi-
organizadas nos seguintes blocos de per- mentos adotados, a pedagoga elaborava
guntas: a) caracterização do participante; as atividades, que tinham dia e horário
b) descrição do ambiente; c) motivação/ específicos para serem trabalhadas em
contexto do projeto; d) caracterização da sala com os alunos, a partir das sugestões
experiência propriamente dita e e) con- dadas pelos docentes. A execução e o an-
siderações finais. Em relação à caracte- damento do projeto foram de responsa-
rização da experência propriamente dita bilidade de toda a comunidade escolar,
(item d) analisamos os seguintes aspec- mais diretamente dos professores, que
tos: avaliação dos resultados, dificulda- exerciam o papel de mediadores. Dessa
des/limites e apreciações gerais. A escola forma, cabia a eles criarem situações, por
em questão atende ao ensino médio na meio das atividades propostas, em que
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cem atividade laboral, nos cursos de Ad- outras. Portanto, os resultados encon-
ministração de Empresas e Ciências Con- trados apontarão se realmente mulhe-
tábeis da Pontifícia Universidade Católica res são mais vulneráveis que homens ao
do Rio Grande do Sul e 200 estudantes do assédio moral no ambiente de trabalho,
EJA. São homens e mulheres com idades bem como se há diferenças significativas
entre 18 a 59 anos, que estão no mesmo nos fatores avaliados entre os gêneros.
emprego há no mínimo 1 ano, ou que
no último emprego permaneceram pelo Palavras-chave: Assédio moral, Gênero,
período mínimo de 1 ano. A pesquisa NAQ-R.
foi realizada por meio de delineamento Contato: Helena Diefenthaeler Christ, PUCRS,
transversal, quantitativo de correlação helenachrist@hotmail.com
entre o resultado do instrumento e a va-
riável sócio-demográfica sexo. Foram uti-
lizados como instrumentos questionário LT03-1275 - DEFICIÊNCIA E POLÍTICAS
de dados sócio-demográficos e Negative PÚBLICAS: UM ESTUDO SOBRE A
Act Questionnaire (NAQ-R), o qual está PERCEPÇÃO DE GESTORES PÚBLICOS E
sendo validado para o português. Após DEFENSORES DE DIREITOS
leitura e assinatura do Termo de Con- Liliane Cristina Gonçalves Bernardes - UnB
sentimento Livre e Esclarecido (TCLE), lilicgb@gmail.com
os questionários foram entregues aos Tereza Cristina Cavalcanti Ferreira de Araujo
participantes, na sala de aula, para que - UnB
estes respondessem de forma individual araujotc@unb.br
e autoaplicável. Todos os dados foram di-
gitados no programa SPSS 17.0, para as Historicamente, na organização adminis-
análises estatísticas de freqüência, mé- trativa do Estado brasileiro, as questões
dias e desvios padrões por meio do Qui- sociais envolvendo pessoas com defici-
-quadrado e da correlação de Spearman. ência eram objeto de interesse e ação
Este estudo está aprovado pelo Comitê de setores da assistência social, saúde e
de Ética em Pesquisa da PUCRS sob o nú- educação. Porém, nas últimas décadas,
mero CEP 10/05295. Como análise dos houve uma mudança paradigmática e a
resultados, identificou-se que a literatura luta pelos direitos das pessoas com de-
aponta que mulheres são frequentemen- ficiência foi deslocada para o campo dos
te mais assediadas no ambiente de traba- Direitos Humanos. Isso gerou modifica-
lho do que os homens, sendo que o tipo ções no desenho institucional do Estado
de assédio varia conforme o gênero. Os e a questão da deficiência passou a ser
fatores de assédio moral possivelmente abordada transversalmente por várias
mais praticados contra mulheres sejam o áreas, estendendo-se para aquelas vol-
isolamento social e as medidas relaciona- tadas para o trabalho e emprego, ciência
das com o trabalho, tais como: retenção e tecnologia, previdência social, comuni-
de informações relevantes ao desempe- cação, habitação, cultura, esporte, turis-
nho profissional, realização de atividades mo, transporte, arquitetura e urbanismo.
em nível inferior a sua competência, ex- Sendo assim, são cada vez mais comple-
clusão do grupo, opinião ignorada, entre xos os desafios impostos à elaboração,
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podem favorecer (fatores de proteção) cer e idade gestacional, tendo por base
ou dificultar (fatores de risco) o funcio- a curva de crescimento intra-uterino,
namento dos indivíduos, especialmente, como parâmetro de adequação do peso
frente a situações adversas, enfatizando ao nascer à idade gestacional. Diversas
as trajetórias e a multiplicidade de variá- curvas têm sido propostas e, dentre es-
veis que concorrem para desfechos diver- sas, inclui-se a curva de Alexander, Himes,
sos (Bee, 1996). Nesse sentido, a investi- Kaufman, Mor e Kogan (1996), em que as
gação acerca desses fatores, que podem crianças são classificadas, de acordo com
se figurar como risco ou proteção ao de- os ajustes do peso ao nascer em relação
senvolvimento, é importante por permitir à idade gestacional, da seguinte forma:
compreender como eles afetam o modo “Pequena para a Idade Gestacional” (PIG)
de funcionamento e a adaptação do indi- - abaixo do percentil 10; “Adequadas para
víduo diante de condições adversas, favo- a Idade Gestacional” (AIG) - entre os per-
recendo a vulnerabilidade ou a resiliên- centis 10 e 90; e “Grandes para a Idade
cia (Masten & Gerwitz, 2006). Assim, tal Gestacional” (GIG) - acima do percentil
perspectiva se propõe a conhecer as difi- 90. Estudos evidenciam que crianças nas-
culdades que podem ocorrer na trajetória cidas pequenas para a idade gestacional
do desenvolvimento, como condição fun- (PIG) apresentam maior risco de déficit
damental para que se possa atuar sobre cognitivo e problemas comportamentais
as mesmas, evitando que os problemas ao longo da infância e adolescência (Bear,
se estabeleçam e interfiram no processo 2004; O’Keeffe et al, 2003; Pryor, Silva,
de adaptação do indivíduo (Achenbach, Brooke, 1995). Porém, o risco para o de-
1992). Dentre as condições reconhecidas senvolvimento de problemas emocionais,
como de risco biológico ao desenvolvi- como a depressão infantil, ainda é pou-
mento infantil incluem-se o baixo peso ao co pesquisado. Ademais, no Brasil, pes-
nascer e o nascimento em idade gestacio- quisas voltadas para a identificação dos
nal prematura. Considera-se que desvios efeitos psicológicos de vulnerabilidade
nesses parâmetros possam comprometer biológica ao nascer, especialmente, aque-
os processos normais de desenvolvimen- les relacionados ao seguimento a médio
to, além de expor esses bebês a uma ca- e longo prazo, são escassos (Linhares et
deia de adversidades decorrentes destas al, 2005). Ressalta-se que investigações
condições (Klein & Linhares, 2006). Nota- realizadas com crianças em período esco-
-se, na literatura, a predominância de es- lar são consideradas relevantes, uma vez
tudos que se ocupam dos efeitos do baixo que este consiste em um período de gran-
peso ao nascer e da prematuridade sobre des demandas e desafios para a criança,
os aspectos comportamentais, cognitivos com exigências de produtividade e rea-
e emocionais, utilizando de modo inde- lizações que se expressam pelo desem-
pendente os seguintes critérios de inclu- penho acadêmico e pela socialização em
são: peso ao nascer e idade gestacional contexto social diverso ao ambiente fa-
da criança. Contudo, mais recentemente, miliar (Linhares, Bordin, Carvalho, 2004).
alguns estudos têm utilizado como crité- Nesse contexto, definiu-se como hipó-
rio de inclusão uma medida combinada tese norteadora do estudo que crianças
que relaciona as variáveis: peso ao nas- expostas ao risco biológico do nascimen-
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to “Pequeno para a Idade Gestacional” tuação igual ou superior a 17, como indi-
(PIG) apresentariam, na idade escolar, cadora de provável depressão infantil. Os
mais indicadores de depressão infantil. grupos foram comparados pelo teste Qui-
Objetivou-se comparar os indicadores de -Quadrado, adotando-se p<0,05. Foi veri-
depressão infantil avaliados em uma co- ficada uma taxa de 13,2% de indicadores
orte de crianças em idade escolar, estrati- de depressão infantil para crianças PIG,
ficada pela adequação do peso ao nascer enquanto a taxa em AIG foi de 5,8% e em
à idade gestacional. Foram avaliados 665 GIG não foram encontradas crianças com
escolares, com 10 e 11 anos de idade, de tais indicadores e, no total, verificou-se
ambos os sexos, nascidos em 1994 em que 7% das crianças apresentaram indi-
Ribeirão Preto-SP. Os participantes foram cadores de depressão infantil. Constatou-
classificados conforme a curva de peso ao -se que os indicadores de sintomatologia
nascer em relação à idade gestacional de depressiva foram significativamente mais
Alexander et al (1996), sendo distribuídos freqüentes no grupo de crianças nascidas
em três grupos: PIG- 136 crianças nasci- PIG, em comparação aos grupos de crian-
das pequenas para a idade gestacional, ças nascidas AIG e GIG (p=0,002). Portan-
AIG- 485 crianças nascidas adequadas to, confirmou-se a hipótese de associação
para a idade gestacional e GIG- 44 crian- entre a vulnerabilidade biológica relativa
ças nascidas grandes para a idade gesta- ao nascimento PIG e a suscetibilidade à
cional. O estudo foi aprovado pelo Comi- depressão infantil, na idade escolar. Tais
tê de Ética em Pesquisa do HCFMRP-USP achados sugerem que crianças nascidas
e as participações ocorreram mediante PIG apresentam desvantagens em rela-
assinatura do Termo de Consentimento ção a indicadores emocionais, quando
Livre e Esclarecido pelos pais ou respon- comparadas com seus pares. Evidencia-se
sáveis. Procedeu-se a avaliação dos indi- a importância de investigações longitudi-
cadores de depressão infantil por meio nais acerca de indicadores emocionais de
do Inventário de Depressão Infantil-CDI, crianças em condições de vulnerabilidade
respondido pelas crianças. Tal instrumen- biológica ao nascer considerando-se, de
to, elaborado por Kóvacs (1983), foi adap- acordo com a perspectiva da psicopatolo-
tado e normatizado para o contexto brasi- gia do desenvolvimento, a importância da
leiro por Gouveia et al. (1995) e validado identificação de dificuldades e recursos,
para Ribeirão Preto por Hallak (2001). de modo a contribuir para a proposição
Para obtenção de informações referentes de medidas preventivas e terapêuticas
às condições clínicas, à idade gestacional voltadas para a promoção do desenvolvi-
e o peso ao nascer, utilizou-se dos dados mento e da saúde mental infantil.
dos prontuários das crianças por ocasião
do nascimento e os pais responderam a Palavras-chave: recém-nascido pequeno para
um questionário sobre as condições só- idade gestacional, fatores de risco, depressão
cio-econômicas da família. Os dados re- infantil
ferentes aos indicadores emocionais ob- Contato: Claudia Mazzer Rodrigues,
tidos pelo CDI foram codificados confor- Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
me as proposições técnicas, adotando-se Ribeirão Preto – USP, claudiamr@usp.br
como nota de corte do escore total a pon-
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rada como imprescindível aos estudos do seu lugar adolescente, assim com a
psicanalíticos acerca da depressão, assim extensão edípica que se dá na dupla: in-
como a posição depressiva teorizada por fantilização e erotização dos filhos. As re-
Klein contribui para a compreensão do percussões da depressão na adolescência
funcionamento psíquico do depressivo. são inúmeras; o jovem pode manifestar
Teóricos mais atuais, que buscam enten- irritabilidade, instabilidade, humor depri-
der as correlações entre a depressão e o mido, perda de energia, desmotivação e
adolescente contemporâneo, entre eles, desinteresse, retardo psicomotor, senti-
o psiquiatra e psicanalista de crianças e mentos de desesperança, culpa, altera-
adolescentes, Guillermo Carvajal (1998), ções do sono, isolamento, dificuldade de
também foram abordados neste traba- concentração, prejuízo no desempenho
lho. É interessante definir depressão, a escolar, baixa autoestima, ideação, com-
fim de esclarecer a complexidade diag- portamentos suicidas e agressividade. Os
nóstica, já que se assiste, na atualidade, quadros polimórficos podem estar acom-
certa confusão entre sofrimento psíquico, panhados de distúrbios psicossomáticos,
luto e depressão, levando a diagnósticos alterações de peso e do comportamento
precipitados de um quadro depressivo. alimentar, falta de reatividade, anedonia
Carvajal (2001) tece distinções importan- e fadiga (Bahls, 2002). Considerando o
tes entre mudança, perda e luto patoló- quadro exposto, este trabalho ressalta a
gico; este último, segundo o autor pode, importância do conhecimento e reconhe-
de fato, levar ao estado depressivo. As cimento das repercussões da depressão
mudanças no púbere são, muitas vezes, na adolescência, para um possível enca-
intencionais e saudáveis, desmistificando minhamento do tratamento terapêutico
a ideia de que todo adolescente sofre um e, quando necessário, psiquiátrico, assim
luto doloroso na passagem da infância como a necessidade de diagnóstico clíni-
para a adolescência. O que pode ocor- co eficaz, já que a depressão consiste em
rer, em termos de patologia, segundo o um quadro patológico específico e que,
autor, seriam lutos mal elaborados: (a) por sua vez, requisita tratamento próprio.
“luto por identificação” devido à identi- Nesta pesquisa, procurou-se compreen-
ficação inconsciente com o luto dos pais der o fenômeno da depressão no con-
que não aceitam “a perda de seu bebê”; texto da adolescência e pode-se concluir
(b) “luto patológico por regressão”, quan- que esse fenômeno é mais recorrente do
do o adolescente tem dificuldade de lidar que se imagina nessa fase da vida, devido
com as mudanças de seus esquemas cor- tanto a fatores sociais, que estão presen-
porais; (c) “lutos infantis mal elaborados tes na dinâmica do jovem, quanto a uma
da infância” que são caracterizados por série de lutos que devem ser elaborados
conflitos infantis que emergem na adoles- pelo adolescente. Há, ainda, questões
cência; (d) “luto parental”, que consiste hormonais envolvidas, devido ao desen-
em identificações negativas dos pais, que volvimento biológico. Portanto, pode-se
vêem no filho o espelho de seu envelhe- afirmar que nessa fase de transição para
cimento e a possibilidade de morte, le- a vida adulta, há uma série de contingên-
vando à inveja do corpo do adolescente, cias multifatoriais, determinantes para o
negação do crescimento deste, ocupação desencadeamento da patologia.
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estas crianças e famílias; neste sentido, los entre a população e o seu contexto co-
são necessários mais estudos. Tais dados munitário, articulando-os. O objetivo des-
evidenciam a necessidade de práticas de te estudo é o de relatar uma experiência
saúde mental que levem em conta a multi- com arte-terapia, realizada com um “Gru-
plicidade de estressores, os quais concor- po de mulheres artesãs” do CRAS, para
rem para os desfechos comportamentais compreender a “eficácia percebida” pela
das crianças expostas a condições adver- população participante. De janeiro a de-
sas, como a depressão materna. zembro de 2006, esta pesquisa qualitativa
e antropológica foi realizada no contexto
Palavras-chave: depressão, estressores, do CRAS do município de Itarema/Ceará,
comportamento. cidade de origem indígena com 37462 mil
Contato: Isabela Mendes Vilanova e habitantes e localizada a 220 km da cidade
Silva, Universidade de São Paulo – USP, de Fortaleza. O nome Itarema vem do tupi
isabelamendesesilva@hotmail.com guarani e significa “pedra de cheiro agra-
dável” ou “pedra cheirosa” e associa-se
ao nome dado à localidade pelos índios,
LT06-993 - TECENDO HISTÓRIAS DE por causa de uma pedra com forma de
VIDA: VIVÊNCIA COM MULHERES obelisco em alto mar e que só era visível
ARTESÃS NO CENTRO DE REFERÊNCIA DA em maré baixa. Entre os procedimentos
ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS) adotados para a formação do grupo, re-
Roxane Mangueira Sales - UNIFOR alizou-se uma “cartografia” da população
roxane_mangueira@hotmail.com de Itarema em parceria com a Secretaria
Nara Maria Forte Diogo Rocha - UFC de Ação Social (SAS) do Município (carto-
naradiogo@hotmail.com grafar é conhecer paisagens e capturar in-
Márcio Silva Gondim - FANOR tensidades em que se registram os encon-
mgondim@fanor.edu.br tros). Identificou-se, com isto, um grande
índice de desemprego e alto percentual
O Centro de Referência da Assistência So- de mulheres donas de casa, em situação
cial (CRAS) é um serviço público de prote- de risco, que utilizavam o artesanato (cro-
ção social básica, cuja atuação ocorre na chê) como fonte de renda e “passatempo”,
perspectiva da prevenção de situações enquanto muitos homens viviam da pes-
de risco. Localiza-se em territórios onde ca. Foram abertas inscrições para àquelas
há presença de vulnerabilidades sociais, mulheres que estivessem interessadas
enfocando a família e os vínculos comuni- em participar do grupo de artesãs, que
tários (Ministério do Desenvolvimento So- funcionaria em parceria com a SAS, com
cial e Combate à Fome, 2006). Portanto, o número máximo de 30 participantes,
seu objetivo concerne à responsabilidade que tivessem entre 15 e 65 anos de idade.
pela execução de serviços, programas e O grupo foi conduzido por três profissio-
projetos que potencializem a família como nais: assistente social, educadora física e
unidade de referência, reconhecendo a psicóloga e composto por 30 mulheres de
diversidade sócio-cultural e referendando diversas faixas etárias, com idades entre
particularidades do grupo social em que 17 a 65 anos; a maioria, com baixo grau
está inserido. Sua ação fortalece os víncu- de escolaridade e vivendo em situação de
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-las sob os seus cuidados. No que se refe- de grande parte dos sujeitos pesquisados
re à pessoa de referência na família, em não exerciam nenhum tipo de atividade
63,46% do universo pesquisado, havia a remunerada (35,34%), o que deve estar
presença do pai ou da mãe ou de ambos; ligado ao fato de muitas mães ainda exer-
em 38,56% dos casos, a criança estava sob cerem apenas o papel de dona de casa;
o convívio dos pais, ora sob os cuidados nesses casos, somente o homem traba-
da mãe (23,3%) ora do pai (1,6%). Ao se lhava fora, alcançando um percentual de
comparar com a pesquisa precedente, 27,72%, incluindo o trabalho informal.
observou-se que houve um acréscimo sig- Muitas pesquisas indicam que as situa-
nificativo na variável que mostrou o per- ções de miséria e pobreza levam os pais
centual de convívio com os pais, passando a maltratarem e abandonarem seus filhos,
de 13,24% em 2004 para 38,56% em 2009, deixando-os vulneráveis à institucionaliza-
o que pode estar ligado ao maior número ção. Logo, essas condições de pobreza le-
de casamentos civis realizados nos últi- vam-nos a se omitirem e falharem no cui-
mos anos em todo o país. Outra discussão dado e atenção aos filhos, desencadeando
relevante é o reconhecimento da paterni- várias situações que afetam diferentes ní-
dade no registro civil, sendo que na atual veis do desenvolvimento infantil. Assim, a
pesquisa esse percentual foi de 46,58%, família não é somente responsável pelos
havendo um ligeiro aumento nesse reco- cuidados diários, mas, também, deve ser
nhecimento, ao se tomar por base a aná- fonte de estímulos e estabilidade emocio-
lise anterior (43,91%). Contudo, houve nal, além de propiciar meios para o pleno
um acréscimo no número de crianças que desenvolvimento da criança, o que pode
não possuíam a paternidade reconhecida, estar comprometido devido ao risco e à
passando de 28,57% para 34,94%. Já em degradação humana que são advindas da
relação à idade, notou-se que a maioria pobreza. Essa análise de resultados admi-
das mães possuía idades entre dezenove te concluir que a família exerce um papel
e trinta anos (58,24%), mesma faixa etária fundamental para o desenvolvimento das
na qual se encontrava a maioria dos pais crianças. Pontos importantes são discu-
(15,26%). Ao se referir à escolaridade dos tidos a partir do modelo bioecológico de
pais, percebeu-se que, em mais da meta- Bronfenbrenner (1996) permitindo, assim,
de dos casos (51,81%), a mãe possuía o compreender aspectos sociais, econômi-
ensino fundamental incompleto, nível de cos e culturais que envolvem a família e o
escolaridade no qual também prevaleceu espaço de acolhimento enquanto contex-
o percentual entre os pais (12,86%), de- tos de desenvolvimento. A idéia é cons-
monstrando a baixa escolaridade na qual truir uma série histórica que possa moni-
os pais dessas crianças se encontravam, torar a evolução de aspectos implicados
o que, muitas vezes, estaria dificultando na institucionalização, se são mais meni-
o acesso a bons empregos, para que os nos e meninas os acolhidos, em que idade
mesmos pudessem garantir o sustento isso ocorre, dentre outras categorias e, a
dos filhos, o que poderia estar associado partir desse estudo, contribuir para a apli-
a própria condição de pobreza na qual se cação de políticas públicas na garantia dos
situavam a maioria das famílias dos aco- direitos tanto das crianças institucionaliza-
lhidos. Ressaltando, ainda, que as mães das como de seus familiares.
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lações jovens; (b) aumentem a compreen- A legislação brasileira determina que o re-
são e o debate relativos aos múltiplos fa- cém nascido de mães aprisionadas deverá
tores que se associam ao construto e suas permanecer com sua mãe, no cárcere, até
implicações, e (c) promovam subsídios uma determinada idade. A Constituição
à pesquisa sistemática, visando o desen- estabelece o período que durar a ama-
volvimento de programas de prevenção mentação, enquanto a Lei de Execução
e intervenção precoce. É válido ressaltar Penal (11.942/09) preceitua às mães o
que os pesquisadores consideram legí- direito de permanecerem com os filhos,
tima a preocupação com a potencial má no mínimo, até os seis meses de idade.
utilização de instrumentos desta natureza, Porém, na prática, os estabelecimentos
em especial, quanto à rotulação e/ou ex- prisionais convencionam diferentes ida-
clusão à atenção integral ou terapêutica. des e critérios de organização, pautados
O PCL:YV não se propõe a ser um critério em referenciais pouco explorados cienti-
único para a tomada de decisões acerca ficamente. Se por um lado, esse direito é
de um jovem em desenvolvimento ou de assegurado e é indiscutível a importância
qualquer prescrição relativa ao sistema de para o bebê do contato constante com
saúde ou justiça, sendo que o próprio ma- a mãe, por outro, é possível supor, com
nual técnico contra-indica esta utilização. base na Psicologia do Desenvolvimento,
A integração de informações originárias que a estadia na prisão pode interferir de
de fontes variadas, e não apenas de uma maneira peculiar na formação psicosso-
ferramenta, proporciona um quadro mais cial de uma criança. Assume-se, então, a
compreensivo e ecologicamente válido a hipótese da existência de um ponto óti-
respeito do jovem (Forth et al., 2003). mo, para além do qual a criança atinja
uma idade em que dita permanência na
Palavras-chave: adolescentes brasileiros, cadeia viria a ser iatrogênica devendo,
PCL:YV, estrutura fatorial então, a criança ser retirada do estabele-
Contato: Tárcia Rita Davoglio, PUCRS, cimento prisional. Porém, este momento
tarciad@gmail.com mais oportuno para ocorrer o afastamen-
to mãe-filho ainda não está empiricamen-
te definido e justificado, demandando
LT06-1255 -INFÂNCIA CONFINADA AO por estudos que abordem a questão con-
CÁRCERE: A PERCEPÇÃO DAS MÃES siderando todas as contingências, o que
APENADAS E O DESENVOLVIMENTO implica em uma abordagem interdiscipli-
PSICOSSOCIAL DAS CRIANÇAS nar, que contemple não apenas o jurídico,
mas, também, o psicológico. As questões
Tárcia Rita Davoglio - PUCRS
que se colocam a partir daí são: Como as
tarciad@gmail.com
Daniela Canazaro de Mello - PUCRS mães lidam com as demandas próprias da
danielacanazaro@hotmail.com relação mãe-bebê em um ambiente não
Marina Davoglio Tolotti - PUCRS familiar? Como as mães percebem o de-
matolotti@hotmail.com senvolvimento do filho dentro do cárce-
Gabriel José Chittó Gauer - PUCRS re, a partir de sua relação com o próprio
gabrielgauer@gmail.com filho? Que implicações isto tem para o
Financiamento: BPA/PUCRS desenvolvimento psicossocial da criança
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Luciana M. Caetano, discorre sobre o re- já que a noção do bem, segundo ele, diz
lacionamento entre pais de adolescentes respeito ao bem estar comum: “constitui
e sua formação moral. Maria Thereza talvez a última tomada de consciência
C.C.de Souza apresenta um estudo teó- do que é condição primeira da vida mo-
rico sobre moral e sua intersecção entre ral: a necessidade de afeição recíproca”
inteligência e afetividade. Maria A. Belin- (p.141). Portanto, para Piaget a própria
tane Fermiano apresenta dados sobre o tomada de consciência de si é estimulada
cotidiano econômico dos pré-adolescen- pela cooperação, na medida em que, é
tes e utilização de dinheiro. Sonia Bessa fruto da conduta social e não da psicolo-
descreve o nível de alfabetização econô- gia individual, pois as próprias opiniões,
mica de estudantes universitários e os sentimentos e vontades, se constituem,
resultados pós intervenção pedagógica. modificam-se e se constroem na opo-
sição, nos conflitos e na compreensão
mútua. Para Piaget (1948/2000, p.48), os
RELAÇÃO PAIS E FILHOS E A EDUCAÇÃO dois problemas essenciais da educação
MORAL. moral são: (1) assegurar a descentraliza-
Luciana Maria Caetano - UEM/PR ção: a pessoa ser capaz de situar o seu
luma.caetano@hotmail.com eu na verdadeira perspectiva em relação
Financiamento: FAPESP aos outros; (2) estabelecer a disciplina
autônoma: inserida num sistema de re-
Para a teoria do desenvolvimento de Jean ciprocidades; (3) Os pais para educarem
Piaget, o processo de construção de au- bem moralmente, necessitam ter clareza
tonomia moral é o caminho de evolução a respeito de quais valores querem que
possível para todo adolescente, que, deve os seus filhos construam e, mais que
construir um plano de vida, o que signi- isso, quais são as boas intervenções, ou,
fica organização autônoma das regras, conforme a teoria piagetiana, como esta-
afirmação da vontade como regulariza- belecer com os filhos relações de coope-
ção das tendências, inserção do jovem ração que, de fato, lhes permitam tomar
no mundo adulto. Para teoria piagetiana consciência das regras, refletir sobre elas
que tem uma abordagem deontológica, e incorporar os seus princípios como va-
o tema da moral diz respeito aos deve- lores que os constituirão como pessoa. A
res, e, portanto, responde as perguntas: autonomia moral é produto das relações
como se deve agir e o que se deve fazer. A de cooperação que propiciam a descen-
evolução da moralidade depende, dessa tração e a troca de pontos de vista. Sendo
forma, das relações que se estabelecem a cooperação fonte de personalidade, na
com o outro. Quando o sujeito constrói mesma ocasião as regras deixam de ser
o respeito mútuo e os princípios de jus- exteriores. Tornam-se, ao mesmo tempo,
tiça como dever, e as regras são funda- fatores e produtos da personalidade, se-
mentadas em tais princípios e cumpridas gundo um processo circular tão frequente
por opção racional de tais sujeitos, outro no decorrer do desenvolvimento mental.
nível de desenvolvimento moral é atingi- A autonomia sucede assim à heterono-
do, a autonomia, também denominada mia. (Piaget, 1932/1994, p. 82). Confor-
por Piaget (1932/94) de moral do bem, me se pode constatar segundo a teoria
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afetividade e ‘como’ fazer seria definido heteronomia e para ações ligadas ao dever
prioritariamente pela inteligência. Quanto regidas, sobretudo, pelos sentimentos de
às ações de cunho moral, estas também obediência, amor e temor. À inteligência
seriam reguladas por sentimentos e julga- operatória (reversível e flexível) corres-
mentos, pela razão e pela afetividade, não ponderia uma afetividade regulada por
podendo haver nenhuma ação somente sistemas de valores hierarquizados, bem
afetiva ou apenas cognitiva. Para compre- como uma afetividade que coordena con-
ender as concepções piagetianas sobre flitos entre tendências de forças diferen-
afetividade, devemos retomar a ideia de tes. Os sentimentos se tornam normativos
‘valor’, como a expansão da atividade do incorporando em sua dinâmica, as regras,
eu na conquista do universo; como o in- a reciprocidade de interesses e os valores.
tercâmbio afetivo com o exterior (objeto Neste cenário, a moral autônoma poderá
ou pessoa); como o aspecto qualitativo do ser construída e as ações morais se pau-
interesse; e, sobretudo como o ponto de tarão muito mais por sentimentos de jus-
partida para os sentimentos (no caso dos tiça do que de obediência, como bem de-
valores atribuídos às pessoas). Piaget insis- monstrou Piaget. Da ‘regulação superior’
tiu em afirmar que a vida afetiva, tal como promovida pela força de vontade resultará
a vida intelectual seria adaptação contínua a priorização das valorizações, num siste-
e que as duas adaptações são interdepen- ma móvel que se articulará a julgamentos
dentes, já que os sentimentos expressam morais pautados em princípios e não mais
os interesses e os valores das ações, das em pessoas. Quando as operações formais
quais a inteligência constitui a estrutura. são construídas, permitindo o desligamen-
Assim sendo, toda conduta possui um ele- to do real, por um lado, e, simultaneamen-
mento energético (afetivo) e um elemento te, sua submissão ao universo do possível,
estrutural (intelectual) que se relacionam a afetividade se desloca mais ainda das
mutuamente e que possuem naturezas di- pessoas e das normas enquanto objetos,
ferentes. Buscando estabelecer uma cor- para as teorias e ideais que o pensamen-
respondência entre as evoluções afetiva e to pode agora constituir. São os denomi-
cognitiva, Piaget afirmou que à evolução nados sentimentos ideológicos. Podemos
cognitiva do período sensório-motor, cor- concluir, então, que no âmbito do DEVER,
responderiam os afetos perceptivos com pensar, sentir e agir estão intrinsecamen-
vistas a enfrentar as necessidades fisio- te ligados, visto que pensar o que é certo;
lógicas e as novidades trazidas pela per- reconhecer o que é o dever; valorizar me-
cepção. São basicamente sentimentos de tas morais/princípios, parecem elementos
agrado e desagrado, êxito e sucesso, de- incontornáveis da ação moral, o que traz
correntes das ações no mundo. Às repre- implicações tanto para a Psicologia como
sentações pré-operatórias, rígidas e infle- para a Educação.
xíveis, corresponderiam sentimentos tam-
bém rígidos e inflexíveis (simpatias e anti- Palavras-chave: teoria de Piaget; julgamento;
patias), bem como sentimentos ligados às afetividade.
pessoas como objetos privilegiados (o que Contato: Maria Thereza Costa Coelho de Souza
não ocorria antes). Esta configuração afeti- Instituto de Psicologia da Universidade de São
va e cognitiva será a base para a moral da Paulo - mtdesouza@usp.br
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
ramente maior para os participantes das dos participantes quando vão comprar
classes C2/D/E. É significante o percentual algo para a casa” (χ2(8)=10,35, p=0,241).
de “tweens” que recebem dinheiro e, ao Nas categorias “sim”, 44,2%, e “às vezes”,
mesmo tempo, a frequência de recebi- 38%, respectivamente, os resultados de-
mento não é constante, apontando a falta monstram que os pais concedem espaços
de sistematização de orientação econômi- nos quais os filhos podem ou não influen-
ca que as famílias dão a seus filhos. B – Os ciar nas decisões de compra para a casa.
“tweens” necessitam de mais dinheiro. Considerações: Cotidiano econômico dos
A maioria dos participantes, para todas pré-adolescentes. Pode-se observar anali-
as classes sociais, afirmou “necessitar de sando as respostas que os pré-adolescen-
mais dinheiro, às vezes”, 62,8%. Quando tes estão inseridos no mundo econômico
se analisam os dados, observando-se os e, como possuem recursos para comprar
percentuais daqueles que dizem “sim”, sozinhos além de capacidade de influência
12,4% e os que dizem “às vezes”, infere- no seio familiar, são tratados como clien-
-se que a amostra tem uma tendência a tes pelo mercado. Verificar as compras
necessitar de mais dinheiro. Essa informa- que os “tweens” fazem com seu dinheiro,
ção é significativa e pode provocar, pelo onde e porque compram, os produtos que
menos, duas perguntas: Se os pais são solicitam a seus pais e aqueles comprados
provedores das necessidades dos filhos, na escola, quantia dispendida para isso,
porque lhes dão dinheiro? Se as necessi- necessidade ou não de ter mais dinheiro,
dades são satisfeitas, quais seriam aquelas participação nas compras para si e para
que não estão sendo satisfeitas, a ponto casa, tem grande significado para mapear
de necessitarem de mais dinheiro? C – O o universo econômico do qual eles partici-
que o “tweens” compram com o dinhei- pam e os comportamentos que manifes-
ro. As classes A1/A2, B1 e B2 apresentam tam. Os pressupostos referentes à socia-
percentual significativo para a categoria lização econômica e do consumidor dos
compram “brinquedos, eletrônicos, en- “tweens” desta pesquisa são confirmados.
tretenimento”, comparadas às demais. A Estes “tweens” apresentam, também, os
porcentagem de respostas para compram mesmos hábitos e valores, independente
“alimentos” foi maior nas classes sociais do nível socioeconômico. Os comporta-
C2/D/E. Os gastos com “brinquedos, ele- mentos estão mudando provocando re-
trônicos, entretenimento” foram quase flexos na família, escolas, instituições reli-
nulos para a classe C2/D/E e muito pe- giosas, trabalho e outros lugares no quais
quenos para a classe C1. Infere-se que, se há convívio social. Não é possível analisar
houvesse uma renda maior, tais classes o que está ocorrendo fora do contexto da
consumiriam as mesmas coisas, pois a ca- globalização e todas as mudanças prove-
tegoria de resposta com maior incidência nientes desse fenômeno possui aspectos
sobre o que gostaria de ganhar no dia das positivos e negativos. É, portanto, neces-
crianças foi “brinquedos” e “eletrônicos”. sário intervenção pedagógica para que fa-
D – Os pais pedem a opinião dos “tweens” mílias, filhos e profissionais da educação
na compra de coisas para casa. Não foi construam estratégias de resistência ao
encontrada associação significativa entre marketing e para lidar com o dinheiro. Os
classe social e “se os pais pedem opinião pré-adolescentes agem no mundo econô-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
melhorar sua qualidade de vida. Alfabeti- segundo Denegri (2007) é necessário que
zação econômica e a educação para o con- a pessoa construa uma visão sistemática
sumo podem proporcionar ferramentas do modelo econômico social no qual está
para que as pessoas entendam seu mundo inserida e, ao mesmo tempo, seja capaz
econômico, interpretem os eventos que de manejar uma série de informações es-
podem afetá-los direta ou indiretamente pecíficas que possibilitem agir de manei-
e melhorem as competências para toma- ra eficaz. Resultados e considerações. No
rem decisões pessoais e sociais sobre a pré-teste verificou-se que vários conceitos
multiplicidade de problemas econômicos econômicos, entre eles, o de bens, servi-
que se encontram na vida cotidiana. A al- ços, inflação, sistemas econômicos, mer-
fabetização econômica e a educação para cado, oferta, demanda, preços, funciona-
o consumo devem ser iniciadas desde a mento bancário, bolsa de valores, consu-
educação infantil através do desenvolvi- mo, utilização do dinheiro, estavam muito
mento de hábitos básicos de consumo e o distantes da realidade dos estudantes do
reconhecimento do uso do dinheiro; isso ensino superior do curso de pedagogia.
deve ser aprofundado na Educação Bási- Após a intervenção pedagógica os índices
ca, Ensino Médio e Ensino Superior. Para de acertos mudaram sensivelmente con-
a compreensão de conceitos econômicos, forme tabela 1.
Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós
teste teste teste teste teste teste teste teste teste teste
Estudantes 7.7 13.6 2.4 1.9 8.0 14.0 2.0 8.0 12.0 17.0 <0.0001
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
O teste de alfabetização econômica (TAE O desvio padrão de 2.3 foi para 1.9 e a me-
A) está dividido em quatro subtemas: Eco- diana 10.0 foi para 11.3 respectivamente.
nomia geral; Micro economia e economia
financeira; Macroeconomia; Economia in- Grafico 2 – Hábitos e condutas de consu-
ternacional. mo – condutas do consumo reflexivo.
Gráfico 1 – Subtemas do TAE A Responderam SIM no pré teste Responderam Sim no pós teste
Condutas de consumo reŇexivo
Economia Geral
Micro economia
Macro economica
Economia Internacional
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
que a reconhece como meio legal de co- do Curso de Letras-Libras da UFG e bus-
municação e expressão, próprios da co- ca identificar qual a perspectiva do curso
munidade surda. E, também, por conta e de que forma a Psicologia da Educação
do Decreto 5.626/2005, que regulamenta de Surdos pode contribuir com a forma-
e determina como se dará a formação de ção do egresso. Além disso, faz-se um es-
docentes para o ensino da Libras, devendo tudo teórico sobre a questão da Libras e
ser realizada em nível superior, em curso da surdez e as especificidades desse cam-
de graduação de Licenciatura Plena em po para as práticas educativas. O Projeto
Letras-Libras. Este estudo nasce de inquie- Pedagógico do Curso de Letras-Libras da
tações e desafios em relação à disciplina UFG ainda não foi aprovado nas instâncias
de Psicologia da Educação de Surdos na superiores da UFG e está em fase de con-
formação de professores para o ensino clusão. Mas, já é possível perceber suas
da Libras. Especificamente, em relação à nuances. É possível identificar que não há
formação de professores no recém cria- explicitação da concepção de formação de
do curso de Letras-Libras da Universidade professores, mas traz esclarecimentos so-
Federal de Goiás (UFG). A partir de 2009, bre a exposição de motivos em relação à
inicia-se o curso de Letras-Libras na UFG criação do curso e dos princípios em rela-
com a perspectiva de formar professores ção à interdisciplinaridade e a integração
para o ensino da Libras, que tem como re- entre teoria e prática na formação do pro-
ferência o sujeito surdo, aquele que é na- fessor. Em relação ao perfil do egresso, o
tivo nesta língua. A disciplina está na sua PPC traz as seguintes considerações: “Pre-
segunda oferta. A disciplina de Psicologia vê-se, sobretudo, a formação de um pro-
da Educação na formação de professores, fissional crítico, reflexivo e investigativo,
nesse curso, ganha roupagem desafiado- que esteja preparado para exercer uma
ra. Mesmo alguns cursos incluírem a edu- prática cotidiana de formação continuada,
cação especial como conteúdo formativo, considerando o eixo epistemológico do
no curso de Letras-Libras o eixo articula- curso: a linguagem. Espera-se, também,
dor da Psicologia da Educação é o sujei- que o egresso desenvolva competências
to surdo, sua língua e sua cultura. Nesse em práticas e legislações inclusivas, es-
cenário, objetiva-se compreender sobre pecialmente em relação à educação de
quais seriam as contribuições da discipli- surdos” (PPC de Letras-Libras, UFG, 2011,
na de Psicologia da Educação de Surdos na p. 16). O eixo epistemológico do curso é
formação do professor de Letras-Libras na a linguagem e as capacidades práticas na
UFG, a partir de um estudo dos documen- educação de surdos. Quadros e Karnopp
tos que orientam o desenvolvimento do (2004), explicam que as línguas propagam
curso e de um estudo teórico em relação a a capacidade específica dos seres huma-
Libras, a sua constituição e o sujeito surdo. nos para a linguagem, e que as diferentes
Para o desenvolvimento desse estudo, a línguas que existem expressam bem mais
metodologia utilizada possui uma aborda- do que essa capacidade para a linguagem.
gem qualitativa (Bogdan & Biklen, 1999) Elas expressam padrões sociais, valores,
tendo como estratégia a análise de conte- ideais e culturas. Sendo assim, as línguas
údo (Bardin, 2010). A análise de conteúdo são epifenomenais, o que significa que re-
tem como referência o Projeto Pedagógico presentam uma multiplicidade de fatores
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
desde o início de sua vida escolar estuda- brasileiros à educação na rede regular de
ram em escolas comuns de ensino e que ensino, tenham eles deficiências, neces-
atualmente estão em cursos superiores sidades educacionais especiais (n.e.e.) ou
ou já terminaram a graduação. O tema não. A escola regular precisa atender a
da pesquisa era Histórias de Sucesso em todos os alunos, desde que eles possam
Inclusão Escolar, entendendo-se como su- aprender e beneficiar-se da convivência
cesso o fato de pessoas com n.e.e. terem em um ambiente social comum como é a
acesso a cursos de graduação. As análises escola. Esse atendimento está previsto na
das entrevistas apontaram como indicado- Constituição Federal de 1988, art. 208: “o
res que as pessoas estão satisfeitas com dever do estado com a educação será efeti-
os cursos de graduação; um dos entrevis- vado mediante a garantia de (...) III- atendi-
tados, com deficiência visual, já concluiu o mento educacional especializado aos por-
curso em Direito e é concursado no Tribu- tadores de deficiência, preferencialmente
nal de Justiça de Goiânia, e todos os dez na rede regular de ensino”. De acordo com
entrevistados disseram ser pessoas felizes. a LDB 9394/96, no artigo 58, “entende-se
Uma das entrevistadas, que era surda, dis- por educação especial, para efeitos dessa
se ser “a pessoa mais feliz do mundo”. Nos- lei, a modalidade de educação escolar ofe-
sa tentativa é possibilitar que os alunos de recida preferencialmente na rede regular
licenciatura em Letras possam ter acesso de ensino para educandos portadores de
a informações básicas sobre inclusão esco- necessidades especiais”. São consideradas
lar. Entretanto seria necessário que a insti- necessidades educacionais especiais: defi-
tuição pudesse propor disciplinas voltadas ciência mental, deficiência auditiva, defi-
para a compreensão do processo inclusivo ciência visual, deficiência física, deficiên-
nas escolas e para o desenvolvimento de cias múltiplas, altas habilidades, condutas
metodologias de ensino aos alunos. típicas (síndromes, quadros psiquiátricos
e/ou neurológicos). Além das descritas
Palavras-chave: inclusão escolar, formação anteriormente, há o fracasso escolar, as
docente, necessidades educacionais especiais dificuldades e distúrbios de aprendizagem
Contato: Candice Marques de Lima, UFG, - multirrepetência – a condição dos sujei-
candicemarques1@gmail.com tos pertencentes às minorias e em situa-
ções atípicas: alunos circenses, alunos ad-
vindos da zona rural, migrantes. Segundo
EDUCAÇÃO INCLUSIVA, A FORMAÇÃO Mantoan (1997) “inclusão refere-se à vida
CONTINUADA E A PRÁTICA DOCENTE: social e educativa; todos devem ser inclu-
UM DESAFIO PARA A ESCOLA. ídos (ritmos e modalidades de aprendiza-
Ádria Assunção Santos de Paula - UFG/CESJ gem); supõe mudanças físicas no ambien-
adriapsi1@yahoo.com.br te; adoção de segunda língua para todos
os alunos; apoio técnico e instrumental
O contexto educacional brasileiro atraves- para professores e alunos.” Sabemos que
sa grandes mudanças após a criação da úl- a escola, da forma como está organizada,
tima Lei de Diretrizes e Bases da Educação não conseguirá atingir a meta proposta
Nacional (LDB 9394/96). Esse documento pela lei. É preciso que haja uma profunda
reafirma o direito de todos os cidadãos reorganização epistemológica, curricular e
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
metodológica para que consigamos pro- formação dos futuros professores. Embora
porcionar o desenvolvimento a todos os não tenha o objetivo de aprofundar-se em
alunos. O processo inclusivo só ocorrerá temas específicos relacionados às defici-
de fato quando toda comunidade educati- ências, oferece oportunidade para que os
va estiver envolvida e, sobretudo, quando graduandos construam uma base teórica
os diversos segmentos da escola – admi- importante para buscarem o aperfeiçoa-
nistração, direção, professores e funcioná- mento em cursos de pós-graduação. Atu-
rios – se conscientizarem de que todos são ando, concomitantemente, como psicólo-
responsáveis pela aprendizagem e pelo ga escolar/educacional em uma instituição
desenvolvimento de cada aluno. Além da privada de ensino fundamental, constatei
conscientização, é necessário que ações que há a necessidade de que a escola pro-
práticas, efetivas, previstas pedagógica e mova a formação continuada de seus pro-
financeiramente, sejam implementadas fessores e de todos aqueles que compõem
de forma planejada, de acordo com a de- o ambiente escolar, uma vez que a maioria
manda vivenciada pela instituição. Neste deles não cursou nenhuma disciplina que
contexto, formar, capacitar e instrumen- discutisse a perspectiva da educação inclu-
talizar o professor para contribuir com a siva em seus cursos de graduação. Com o
promoção de aprendizagem e de desen- objetivo de intervir nesta realidade elabo-
volvimento de todos os alunos, inclusive rei o projeto de Educação Inclusiva da es-
daqueles com necessidades educacionais cola, o qual prevê, dentre outros objetivos,
especiais é uma condição básica para a promover a capacitação teórico-prática
construção de uma educação efetivamen- dos professores e funcionários, de acordo
te inclusiva. Diante desta necessidade, com a demanda do cotidiano pedagógico
ministrando aulas no curso de Pedagogia e do funcionamento da escola em geral,
em uma Instituição de Ensino Superior realizada por uma equipe multiprofissio-
na cidade de Goiânia, elaborei, no ano de nal composta por psicólogo (a), fonoaudi-
2003, o programa da disciplina Educação ólogo (a), professores com formação para
Inclusiva, cujo referencial teórico se apóia atuarem junto aos alunos com as diferen-
na perspectiva da psicologia Histórico- tes n.e.e.’s, além de outros profissionais
-Cultural. Tal disciplina é ministrada em que colaboram com a formação docente
dois semestres - Educação Inclusiva I e mediante as necessidades da escola. Além
Educação Inclusiva II - cujos objetivos são: disto, o projeto almeja instituir e viabili-
compreender a inclusão escolar como um zar grupos de estudo permanentes com
processo dialético, constituído a partir de objetivo de promover o desenvolvimento
pressupostos históricos, epistemológicos, das equipes de profissionais da escola e a
teóricos e das políticas públicas; Discutir construção de novas práticas docentes, de
o processo de aprendizagem dos sujeitos material pedagógico, práticas avaliativas e
com necessidades educacionais especiais adequações curriculares as quais respon-
a partir dos conhecimentos produzidos dam à demanda que a sala de aula inclusi-
pela psicologia; Discutir o processo de for- va nos apresenta. Ao trabalhar diretamen-
mação do profissional inclusivo na escola, te com a formação teórica dos graduandos
enfatizando a formação do professor. A e, simultaneamente, vivenciar o cotidiano
disciplina colabora sobremaneira para a da escola, foi possível compreender a ne-
1235
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
1236
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
por uma universidade pública brasileira. Nesta sessão, refletiremos sobre o papel
O objetivo do presente simpósio é trazer do tutor na negociação e na construção
à reflexão e debate três diferentes contri- de conhecimentos sobre a área docente
buições de estudos sobre o referido curso e sobre a identidade profissional, em um
com vistas a contribuir para a formação Curso de Especialização sobre Desenvol-
de educadores. Nesse contexto, são ob- vimento, Educação e Inclusão, realizado a
jeto de estudo o processo de tutoria por distância (EaD) em ambiente digital, por
meio dos fóruns de discussão - salas de meio de uma universidade pública brasi-
conversa entre os alunos pós-graduandos leira, cujo público alvo era formado, na
(professores de redes públicas, psicólogos sua maioria, de educadores. Partiremos
e outros profissionais da educação) e seus da perspectiva sociocultural para compre-
tutores e professores supervisores os te- ender como esse conhecimento está sen-
mas abordados nas pesquisas realizadas do construído e seu impacto para as trans-
pelos professores e as avaliações do curso formações da identidade docente. Esta
pelos cursistas ressaltando as transforma- abordagem concebe o desenvolvimento
ções em seu trabalho na escola. Os temas humano como um fenômeno complexo
mais recorrentes observados nesses estu- que integra aspectos biológicos, culturais
dos dizem respeito as referências dos par- e subjetivos, pressupondo a participação
ticipantes à oportunidade de participarem ativa da pessoa no sistema simbólico da
da própria construção do curso por meio cultura. Nas múltiplas interações sociais,
da discussão nos fóruns, e a possibilidade a pessoa co-constrói com os outros uma
de ressignificarem a sua prática pedagó- compreensão do mundo e de si-mesmo,
gica por meio da pesquisa, sendo estes constituindo uma forma própria e espe-
apontados como os principais fatores de cífica de funcionamento psicológico. Este
comprometimento com a qualidade do processo é possibilitado pela aprendiza-
curso. Trazemos para debate alguns prin- gem que ocorre no cerne das interações
cípios pedagógicos construídos neste exer- estabelecidas, envolvendo diretamente,
cício de análise que consideramos uma aquele que aprende – em nosso caso,
contribuição importante para o tema da os educadores e aquele que ensina, aqui
inclusão de alunos na escola básica e de especificamente, o tutor. Consideramos
professores em curso na modalidade EaD. o espaço da EaD como um micromundo,
onde alunos e tutores se deparam com
um contexto que se caracteriza pela uti-
O PAPEL DO TUTOR NA CONSTRUÇÃO DE lização das tecnologias de comunicação e
CONHECIMENTOS E NA CONSTITUIÇÃO informação (TIC) como ferramenta; pela
DA IDENTIDADE DOCENTE inclusão de indivíduos que, muito possi-
Ana Paula Carlucci - UnB velmente, não teriam outra possibilidade
apcarlucci@gmail.com de realizar uma formação continuada;
Silmara Carina Dornelas Munhoz - UnB pela flexibilidade dos horários; pela não
silmaracarina@gmail.com) obrigatoriedade da frequência diária;
Diva Albuquerque Maciel - UnB pela distância física encurtada pelas TIC
diva@unb.br que conectam professores, alunos e tuto-
Financiamento: CAPES/PROF res; pela ampliação do tempo de estudo
1237
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
que está diretamente relacionada com a atividades propostas pelo curso, que po-
‘quebra’ da temporalidade, já que o alu- dem ser coletivas (fóruns) ou individuais
no pode acessar o material em diversos (tarefas) os alunos são convidados a re-
momentos, inclusive, de madrugada e solverem uma situação problema que, no
aos domingos; pelas orientações e aulas primeiro momento, pode ser a de opinar
que estão no ar, ininterruptamente, per- ou expressar ideias, conceitos e experiên-
mitindo ao aluno aproveitar o momento cias pessoais sobre o assunto discutido.
mais adequado para interagir com o ma- Nesta de interação com o outro, não são
terial e pela construção de conhecimento desenvolvidos e estabelecidos apenas ins-
num processo de partilha mútua de pro- truções, apontamentos, palavras, ideias,
blemas e necessidades. Nesta relação, o mas também emoções, sentimentos e
tutor é visto como alguém que está ali ações que geram a construção de signifi-
para orientar o aluno na execução de suas cados sobre o ser professor e sua prática,
atividades, auxiliando-o e tirando dúvidas como podemos observar no momento de
em relação à organização do tempo e dos trocas entre o tutor X e o cursista Y: “Olá,
estudos, como podemos observar na fala cursista Y...Tudo bem? A discussão nos
do cursista W: “Tutor, aqui estão minhas leva por esse caminho mesmo: Vygotsky
dúvidas: 1) No caso de revistas e sites da nos leva à refletir que os educandos com
internet, como se faz a citação nas refe- necessidades especiais tem um “tempo”
rências bibliográficas, segundo o modelo de resposta diferenciado, sem que isso
proposto? 2) O texto de Gil Pena e Macha- seja impedimento para que aprendam.
do de Assis tem uma atividade específica Adentrando um pouco mais nas suas
ou são para enriquecer o fórum? Obriga- afirmações, gostaria que você nos dis-
da, um abraço, Cursista W”. Porém, o pa- sesse o que quis dizer com “aspectos so-
pel do tutor não fica restrito, apenas, ao ciais”. Te aguardo! Tutor X”. “Oi Tutor X!!
de ser responsável pela construção do co- Respondendo...A inclusão é uma questão
nhecimento. Estudos e a própria experi- social porque esse assunto atinge a socie-
ência por nós vivida apontam, ainda, que dade. Grande parte da sociedade precisa
para o sucesso na aprendizagem e para a mudar diversas visões e ações precon-
manutenção da presença do aluno, o tu- ceituosas e segregadoras a cerca daque-
tor precisa promover e desenvolver um le que foge de um “padrão”. Aqui, neste
espaço de acolhimento, apoio e incentivo caso, estamos falando dos portadores
ao diálogo e à negociação, como revela a de necessidades especiais, mas também
fala da cursista: “Saudações querida pro- sabemos que há outros “diferentes” que
fessora, gostaria de agradecer mais uma sofrem com tais comportamentos. É social
vez por toda a dedicação, tenho consciên- por isso, porque exige mudança de posi-
cia que você foi uma pessoa chave para a cionamento da sociedade em respeitar o
conclusão deste curso, você é um exemplo outro em suas diferenças e dificuldades
de professora, espero um dia ser um pro- e passar a conviver de forma pacífica. A
fissional do seu calibre. Espero um dia ter inclusão exige novos valores, compromis-
o privilégio de te encontrar novamente, sos, desafios...e a escola deve está imbu-
você é uma pessoa realmente encantado- ída nisso, mas isso seria apenas a nível
ra. Um forte abraço”. Ao participarem das micro e esse compromisso precisa pene-
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te, com e para o estudo das necessidades borado para promover a especialização
educacionais especiais, e por meio da e o desenvolvimento de competências
participação de seus profissionais em in- para a atuação de professores em espa-
tervenções, debates e pesquisas voltados ços inclusivos, como escolas, hospitais e
para temáticas como: desenvolvimento, outras instituições, os educadores desen-
aprendizagem, adequações curricula- volveram estudos que envolveram áreas
res, propostas e estratégias pedagógicas, como Psicologia, Educação e Tecnologia.
orientação profissional, diagnóstico e ava- Suas pesquisas foram realizadas, em ge-
liação, prevenção, diálogo com a família e ral, nos contextos em que estes educa-
a escola, inclusão social, qualificação de dores atuavam, tendo como temáticas
educadores, entre outros aspectos. Isto questões específicas relacionadas à práti-
porque, há profissionais comprometidos ca docente do dia-a-dia e à reflexão sobre
com uma cultura de promoção humana a mesma, com consequentes propostas
que contemple a qualidade de vida a to- de inovações na área Aqui, apresentamos
dos, sem exclusão e preconceito; além um recorte dos múltiplos aspectos do cur-
disto, preocupados com a acessibilidade so, cujo foco centra-se em uma reflexão
de cada indivíduo e sua família ao con- sobre os temas abordados nas pesquisas.
vívio social e aos bens culturais, visando Uma breve classificação desses temas nos
dirimir posturas discriminatórias e con- mostram que as escolhas mais frequentes
dutas estigmatizantes. Na perspectiva do recaíram sobre: (a)aspectos gerais do pro-
desenvolvimento humano e da inclusão, cesso de inclusão; (b)aspectos específicos
assim como na da formação docente deste processo, como acessibilidade de
continuada objetivamos, com este traba- alunos com diferentes necessidades edu-
lho, refletir a respeito das contribuições cacionais especiais (NEEs); (c)alfabetiza-
teórico-práticas de profissionais da área ção e letramento, sob a ótica da inclusão;
da psicologia do desenvolvimento e da (d)impacto e alcances da adequação curri-
educação, entre outros, propostas em um cular em diferentes séries/disciplinas; (e)
curso de especialização a distância, rea- modos de avaliação dos alunos com NEE,
lizado por uma universidade pública bra- rendimento e aprovação/reprovação; (f)
sileira. O público-alvo formou-se de edu- concepções que diferentes participantes
cadores que se especializaram sobre as das pesquisas tinham de termos como
relações entre desenvolvimento humano deficiência, inclusão e diversidade, refor-
e inclusão escolar. As atividades curricu- çando uma tendência atual, nas pesqui-
lares do curso foram estruturadas a partir sas sobre desenvolvimento, de valorizar
de três eixos temáticos: (1) Desenvolvi- as opiniões, inclusive, de crianças com ou
mento humano; (2) Cultura e diversidade; sem deficiência, e de como lidam com es-
e (3) Inclusão escolar. Transversalmente tas questões a partir de suas concepções;
aos módulos temáticos e após a conclu- (g)diferentes contextos de inclusão, que
são da etapa teórica do curso, os educa- vão desde a educação precoce, passando
dores participantes realizaram pesquisas pelos níveis de educação infantil, ensino
empíricas sobre questões relativas ao fundamental e médio, até cursos de edu-
desenvolvimento humano, a educação e cação profissional, educação de jovens e
a inclusão escolar. Tendo o curso sido ela- adultos e incluindo, também, as salas de
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Aprendizagem colaborativa: Ouvir as su- o meu tempo de estudo (…) O curso, além
gestões do outro com possibilidades de de ensinar-me a ser independente quanto
intervenções foi riquíssimo também. (Alu- à busca de conhecimento, trouxe-me um
na VPC); Como aprendi com você (colega crescimento profissional muito rico e a
de curso)! Te acho de uma competência e qualidade de atendimento oferecido aos
uma dedicação tamanha. Sempre fiz ques- alunos só tende a melhorar (Aluna GS);
tão de ler tudo que você escrevia e sempre Aprendi muito, cresci muito com esse cur-
me deu base para a reflexão. Espero que so, tive oportunidades de vencer algumas
possamos estender essa amizade de cole- barreiras e derrubar alguns mitos, princi-
gas de curso em uma amizade mais sóli- palmente em relação o que muitos dizem
da. (Aluna JD); … Curso para todos nós é que estudar a distancia é muito fácil, e
apenas o marco inicial para pensarmos e pude perceber que não é tão fácil assim,
repensarmos a educação inclusiva, agora mais é enriquecedor, pois depende do es-
estamos engatinhando com a inquietude tudante querer e de um bom tutor e isso
de querer andar, voar e poder fazer muito nós tivemos, boa tutora e bons orientado-
mais e contribuir com uma educação de res. (…) fiquei surpresa comigo mesma no
qualidade para todos. O curso nos pro- final do curso! e continuo dizendo para-
porcionou momentos de estudo, reflexão béns a vocês e a todos nós que consegui-
e mudança de pré-conceitos e conceitos mos com toda a dificuldade chegarmos a
sobre educação em nosso país. Com cer- conclusão deste curso. (Aluna M.L). Dian-
teza a partir do curso somos educadores te desses depoimentos podemos concluir
diferentes e preocupados com educação que o curso de pós-graduação em estudo,
inclusive; Encerramento dá sensação de que versou sobre desenvolvimento hu-
despedida, mas, acredito que hoje nos mano, educação e inclusão escolar, e foi
tornamos uma rede de apoio. (Aluna MS); realizado pela modalidade a distância por
(c) Aprender a Aprender em EAD: Conhe- meio digital, contribuiu significativamen-
cer um pouco mais sobre as deficiências te para o aprendizado e desenvolvimento
e as possibilidades de trabalho, bem pessoal/professional dos educadores que
como as leis que muito podem contribuir nele se especializaram atingindo, inclusi-
para a garantia de Direitos foi muito im- ve, outros contextos de seu desenvolvi-
portante para mim neste módulo. Dessa mento, como a escola e a família.
forma, considero que o que mais “ fica”
apreendido é que muito ainda precisamos Palavras-chave: Formação Docente;
buscar de informações, mas