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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR

PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO


ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Processo nº 0062012-44.2017.8.19.0021

CRISTIANO MACHADO RIBEIRO, já devidamente


qualificado nos autos do processo em epígrafe, AÇÃO PENAL PÚBLICA
INCONDICIONADA, que lhe move o MINISTÉIRO PÚBLICO DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO, por seu procurador que abaixo assina,
vem a presença de Vossa Excelência, prestando as homenagens de estilo,
com fundamento no art. 105, III, a, da CF e art. 1029 do CPC, interpor
RECURSO ESPECIAL, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

Requer seja recebido e processado o presente recurso, e


remetido com as inclusas razões ao Superior Tribunal de Justiça.

Termos em que,
Pede deferimento.

Duque de Caxias, 16 de agosto de 2019.

Luis Andre Nogueira


OAB / MG-149.237

RAZÕES DE RECURSO ESPECIAL


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Recorrente: CRISTIANO MACHADO RIBEIRO
Advogado: LUIS ANDRE NOGUEIRA

Recorrido: JUSTIÇA PÚBLICA

APELAÇÃO nº 0062112-44.2017.8.19.0021
Origem: 2º Vara Criminal de Duque de Caxias

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

COLENDA CÂMARA

ÍNCLITO RELATOR

Em que pese o notável saber jurídico da colenda câmara do


egrégio Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, merece reforma o venerando
acórdão, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

I – DA ADMISSIBILIDADE RECURSAL

Preliminarmente, antes de se adentrar no núcleo critico do


recurso, impende verificar a presença dos pressupostos recursais e dos
requisitos de admissibilidade para o pleito em espécie.

I. 1 – DA TEMPESTIVIDADE

No que se refere a tempestividade, cumpre destacar que o


recurso encontra-se dentro do prazo legal estabelecido em lei.

Com efeitos, o termo inicial a partir do qual começou a fluir o


prazo se deu na publicação do acórdão proferido em sede de apelação,
mediante a confirmação tácita da intimação eletrônica ocorrida em
05/08/2019, conforme se extrai dos autos eletrônico. Assim, o derradeiro
prazo quinzenal corrido se da em 19/08/2019. Por isso, tempestivo o presente
apelo.

I. 2 – DA LEGITIMIDADE

No que se refere à legitimidade, importante salientar que o


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recorrente figura como parte habilitada a interpor recurso do acórdão
impugnado, na condição de réu da ação penal, considerando que trata-se de
parte sucumbente, por razão da improcedência parcial do pleito defensivo
em Apelação, o que lhe confere, inclusive, o interesse em recorrer.

I. 3 – DA ORIGEM DO ACÓRDÃO RECORRIDO

No que tange a origem da decisão indigitada, cumpre


demonstrar que se trata de acórdão proveniente do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro, expressamente elencado no rol do art. 105, III da
CF, em causa decidida em ultima instância, qual seja a Apelação.

I. 4 – HIPOTESES DE CABIMENTO

O presente recurso se mostra via adequada à impugnação do


venerando acórdão.

De acordo com o artigo 105, III, a, da CF, das causas decididas


em ultima instancia pelos tribunais de estados caberá recurso especial para o
Supremo Tribunal de Justiça, quando a decisão recorrida contrariar tratado
ou lei federal, ou negar-lhes vigência, conforme será demonstrado a seguir,
o acórdão hostilizado afrontou o disposto nos artigos 156, II, e 386, VII,
ambos do CPP.

Primeiramente, por afrontar o art. 156, do CPP – onde observa


o ônus da prova, direciona o momento em que pode ser realizada, e ainda
determina que, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a
realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

Em específico, pela não inclusão do resultado do analise de


espermatozoides, colhido quando no exame de corpo de delito, cujo
resultado, se positivo, seria suficiente para dar subsídio ao pleito
condenatório ou se negativo subsídios para absolvição. Visto que a
ausência de material genético do réu colocaria sub judice a narrativa de
tentativa de penetração com o uso do pênis.

Em seguida, por não ouvir em instrução processual penal as


demais pessoas que coabitavam a pequenina residência no fatídico dia e hora,
para se extrair a verdade fática. Ou seja, ALINE e GIRLANDIO. Observado
que o ónus é da acusação.

E ainda, por violação do Art. 386, VII, onde se insculpe o


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principio do in dubio pro reo, que traduz que arcabouço jurídico deve conter
informações suficientes para ancorar a condenação do réu, devendo a decisão
ser baseado em provas inequívocas da materialidade e autoria.

Por essa óptica, tem-se como contradição a palavra da vítima,


se comparada ao depoimento da avó materna de Luna, se ouvido sem a
parcialidade empregada em parte no depoimento, causada pela comoção
atribuída ao delito. A avó esteve presente na casa no referido dia e hora, foi
ouvida por precatório arrolada pelo MP, que em sua decorada defesa da
menor, revela que passou a noite inteira acordada ou dormindo por
intervalos em fase da doença que acometeu naquela época, estava
tomando remédios e se levantava para ir ao banheiro, elencou também
os presentes na casa na referida data, tracejou a condição e o tamanho
minúsculo da construção habitacional, e relutou não entendeu o porque
ninguém escutou nada, um misero choramingar.

Com base nos fatos supra mencionados, o presente recurso


também possui como base a alínea “c” do art. 105, III, da Constituição da
República, conforme será explicitado a seguir, o julgado do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro deu a lei federal interpretação divergente em
relação aos seguintes tribunais: Tribunal de Justiça de São Paulo e Tribunal
de Justiça do Rio Grande do Sul, Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
Tribunal de Justiça da Bahia, verbis:

Tribunal Justiça de São Paulo:

APELAÇÃO. ESTUPRO DE VULNERÁVEL.


INSUFICIENCIA DE PROVAS PARA A SUA
CONDENAÇÃO. MANUTENÇÃO DA ABSOLVIÇÃO.
IMPROVIMENTO DO RECURSO MINISTERIAL. 1.
Insuficiência de provas quanto ao crime de estupro de
vulnerável. A prova oral judicial não foi apta a confirmar os
fatos narrados na denúncia. Acervo probatório extremamente
frágil. Ónus da acusação. Precedentes do STF (AP 869/AL – 2ª
T. – Rel. Min. Teori Zavascki – Voto Min. Celso de Mello – j.
29.09.2015; HC 73.338-7/RJ – 1ª T. – Rel. Min. Celso de Mello
– j. 13.9.96 – DJU 19.12.96). Havendo dúvida se o réu praticou
o crime ou não, deve ele ser beneficiado (“in dubio pro reo”).
Na hipótese dos autos, aplica-se, queira-se ou não, o preceito do
art. 155, do Código de Processo Penal: “O juiz formará sua
convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial. Não podendo fundamentar sua decisão
4
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.”. Absolvição. 2. Improvimento do apelo
Ministerial.
(TJ-SP 0000700-59.2013.8.26.0118 SP 0000700-
59.2013.8.26.0118, Relator: Airton Vieira, Data de Julgamento:
14/11/2017, 3ª Câmara de Direito Criminal, Data de
Publicação: 17/11/2017)

Tribunal Justiça do Rio Grande do Sul:

APELAÇÃO CRIMINAL, CRIMES CONTRA A


DIGNIDADE SEXUAL, ESTUPRO DE VULNERAVEL.
FRAGILIDADE DA PROVA QUE CONDUZ À
ABSOLVIÇÃO. No caso dos autos não há indicativo seguro,
produzido à luz do contraditório, que indique tenha o réu
praticado o crime que lhe foi imputado. Neste contexto, do
acervo probatório não se tem como extrair juízo de condenação,
salvo fortes dose e (desautorizada) presunção, que,
evidentemente, não pode militar em desfavor do réu.
Absolvição que se impõe em respeito principio in dubio pro
reo. APELAÇÃO PROVIDA. (Apelação Crime Nº
70077908960, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do
RS. Relator: José Conrado Kurtz de Souza, Julgado em
13/12/2018).
(TJ-RS – ACRI: 70077908960 RS, Relator: Jose Conrado Kurtz
de Souza, Data de Julgamento: 13/12/2018, Sétima Câmara
Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça 31/01/2019)

Tribunal Justiça do Distrito Federal

APELAÇÃO CRIMINAL. PENAL E PROCESSO PENAL.


ESTUPRO DE VULNERÁVEL. PROVA INSUFICIENTE.
ABSOLVIÇÃO MANTIDA. RECURSO MINISTERIAL
CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. Em crime contra a
dignidade sexual, normalmente praticados às ocultas, deve-se
conferir especial relevância à palavra da vítima. 2. No caso, as
declarações da vítima apresentam graves contradições,
especialmente no que diz respeito à autoria dos supostos abusos,
atribuída pela criança a pessoa diversa em cada oitiva. Além
disso, os elementos colhidos revelam um ambiente familiar
conflituoso envolvendo diversos membros. O que pode
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indicar a influencia de parentes na versão narrada pela
vítima. E se assim é, dúvida que se revolve em favor do
acusado. 4 Apelação ministerial conhecida e improvida.
(TJ-DF 2014121003366 – segredo de Justiçãa 0003261-
77.2014.8.07.0012. Relator: MARIA IVATÔNIA, Data de
Julgamento: 13/12/2018, 2ª TURMA CRIMINAL, Data de
Publicação: Publicado no DJE: 19/12/2018. Pàg.: 253/267)

Tribunal de Justiça da Bahia

PENAL. PROCESSO PENAL. APELAÇÃO-CRIME


ESTUPRO DE VULNERÁVEL: ARTIGO 217-A DO
CODIGO PENAL. RECORRIDO ABSOLVIDO COM
FULCRO NO ARTIGO 386. INCISO VII DO CPPB. APELO
MINISTERIAL. PLEITO CONDENATÓRIO.
IMPROVIMENTO. CONJUNTURA FÁTICO-
PROBATÓRIA DELINEADA NOS AUTOS INSUFICIENTE
PARA INDICAR A OCORRENCIA DO CRIME.
IMPUTAÇÃO DO ORGÃO ACUSADOR QUE NÃO FOI
COMPROVADA DE FORMA VEEMENTE. ONUS DA
PROVA DA ACUSAÇÃO. DÚVIDA QUE, NA ESFERA
CRIMINAL MILITA EM FAVOR DO ACUSADO.
INCIDÊNCIA DO PRINCIPIO IN DUBIO PRO REO.
MANUTENÇÃO DA ABSOLVIÇÃO QUE SE IMPOE.
APELAÇÃO CONHECIDA E IMPROVIDA (Classe:
Apelação, Número do Processo: 0302386-44-2015.8.05.0274,
Relator (a): Carlos Roberto Santos Araújo, Segunda Câmara
Criminal – Primeira Turma, Publicado em 10/05/2019)
(TJ-BA – APL: 03023864420158050274, Relator: Carlos
Roberto Santos Araújo, Segunda Câmara Criminal – Primeira
Turma, Data de Publicação: 10/05/2019)

I. 5 – DO PREQUETIONAMENTO:

No que se atine ao prequestionamento, calha salientar que a


matéria em questão foi alvo de exaustiva discussão, com o esgotamento
prévio das instâncias ordinárias, não havendo de se falar em supressão de
instancias, tampouco inovação. Portanto cumprido a exigência constitucional
do prequestionamento.

II – SINOPSE DOS FATOS

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O presente feito teve início em 02 de março de 2017 quando da
instauração do Inquérito Policial por portaria para averiguação de crime por
suposta prática do delito tipificado nos arts. 217, a c/c 226, II do CP.

Abstrai do caderno processual que a representante legal da


vítima lavrou registro de ocorrência em 29 de janeiro de 2017 asseverando
que o Réu teria abusado sexualmente de sua filha menor como descrito as
fls. 03/04 dos autos físico.

Depoimento da representante legal da menor colhido as fls.05


dos autos, da vítima as fls.24, do Acusado as fls.13/16, das testemunhas
presentes no local as fls.26/27, 28/29, 33/35, 36/37, 39/40.

Exame de corpo delito incerto as fls.18/20 informando a higidez


do hímen, mas a existência de pequena ferida superficial de 0,5 cm na
comissura posterior.

Baseado em relatório preliminar e nos depoimentos colhidos, a


autoridade policial representou as fls. 61/64 pela prisão preventiva do
acusado.

Na cota de denúncia ofertada as fls. 66/67 o Parquet requereu a


decretação das medidas cautelares diversas da prisão, previstas no art. 319,
I, III E IV do CPP, por não vislumbrar a presença dos requisitos que
autorizam a prisão preventiva.

Às fls. 68 foi proferido despacho, requerendo o imediato retorno


dos autos ao MP para que fosse retificada a denúncia por ser diversa ao laudo
do exame de corpo e delito de fls. 18/20.

Ao ser proferida nova cota ministerial às fls. 69/70, o MP


requereu a prisão preventiva do Réu.

Em decisão proferida as fls.71/73, foi decretada a prisão


preventiva do Réu, bem como determinada as diligências requeridas pelo
Ministério Público.

O Réu foi preso preventivamente na data de 27 de novembro de


2017, ocasião na qual o mesmo compareceu espontaneamente ao Fórum de
Duque de Caxias.

Foi apresentada defesa preliminar pelo Réu as fls. 87/117 com


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pedido de revogação da prisão preventiva, tendo o RMP opinado às fls. 119
pelo indeferimento de tal pedido o que foi acatado pelo juízo na decisão de
fls. 120/123, ocasião na qual foi também agendada AIJ para o dia 21 de
fevereiro de 2018 às 13h.

Na data aprazada foi realizada audiência instrutória, tendo sido


ouvidas 02 testemunhas da acusação, deferida a desistência da oitiva da
Vanderly, bem como deferida a oitiva da psicóloga Mirna como testemunha
do juízo e da testemunha Ednalva através de carta precatória.

Na aludida data foi designada a data de 21 de março de 2018 às


14h para colheita dos depoimentos das testemunhas da defesa e
interrogatório do Defendendo, bem como da testemunha do juízo.

Segue carreadas as fls.221/230 o termo de audiência bem como


DVD ROM contendo a oitiva das testemunhas.

Em 21 de março de 2018, após o início da AIJ, fora ouvidas as


03 testemunhas da defesa por meio de gravação audiovisual, também
reiterou a defesa o pedido de expedição de carta precatória para colher o
depoimento da testemunha Ednalva dos Santos Ribeiro e nova data para o
encerramento da instrução com o interrogatório do Defendendo ao final,
sendo a mesma acatada pelo juízo e datada para o dia 16 de maio de 2018 às
14h audiência para encerramento dos trabalhos.

As fls. 265/276, consta a ata da audiência supra onde se ouviu a


testemunha do juízo, a psicóloga Mirna Arigoni Ortiz, mas deixou-se de
colher o interrogatório do acusado vez que não se fez presente o Defendendo
que mesmo devidamente intimado não fora levado pela SEAP, reagendando-
se na ocasião o interrogatório do mesmo para o dia 11 de Junho de 2018 às
16:20h.

Em 03 de maio foi ouvida a informante Ednalva dos Santos


Ribeiro pelo juízo deprecado, conforme consta das fls. 290/292.

E, encerrando a instrução processual em 11 de junho de 2018,


realizou-se o interrogatório do Defendendo às fls. 294/296.

As fls. 298/299, o Parquet apresentou suas razões derradeiras,


pugnando pela condenação do Defendendo nas penas dos artigos 217-A c/c
226, II, ambos do CP.

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As fls. 300/ 314 foram apresentadas as razões derradeiras da
defesa, pugnando pela absolvição do Recorrente nos termos do artigo 386, II
do CPP.

Em decisão proferida incerta as fls.316/378 do autos, o juiz


monocrático proferiu sentença.

Inconformado com a sentença a defesa interpôs o apelação,


cujas razões recursais esta contida em fls. 398/420 dos autos. Sendo
distribuída para a sétima câmara criminal TJ.

As fls. 458/469, a promotoria apresentou o parecer do ministério


publico manifestando pelo desprovimento do pleito defensivo.

Acórdão do egrégio Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro


reconheceu a irregularidade na aplicação do quantum da pena, mas manteve
a condenação com relação ao delito de estupro de vulnerável com a
majoração da pena por se tratar de pessoa a qual deveria proteger. (sobrinha).

Diante das severas violações à legislação federal que tutela o


devido processo legal, no enfrentamento de todos os elementos que
instruíram o processo, e na busca de elementos que se produzirem
necessários e eficaz no deslinde dos fatos para a obtenção da verdade, vem a
esse ilustre tribunal procurar justiça.

III - RAZÕES RECURSAIS

III. 1 - DA VIOLAÇÃO AO DEVIDO PROCESSO LEGAL E DA


INOBSERVANCIA DO ARTIGO 156 DO CPP:

Luiz Fux, ministro do STF, no livro, “Curso de Direito


Processual Civil”, 3ª Ed., Rio de Janeiro, 2005, Forense, nas páginas 247 e
257, ensina sobre o princípio do devido processo legal em comento,
respectivamente:

O princípio do devido processo legal tem como um de seus


fundamentos o processo “justo”, que é aquele adequado às
necessidades de definição e realização de direitos lesados. O
senso de justiça informa, inclusive o due process of law na sua
dupla conotação , a saber: lei justa e processo judicial justo –
substantive due process of law e judicial process.

Destarte, o devido processo legal está encartado no direito ao


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processo como direito ao meio de prestação da jurisdição, que varia
conforme a natureza da tutela de que se necessita. “O direito à jurisdição não
é senão o de obter uma justiça efetiva e adequada.”.

Nobres Julgadores, o próprio MP negligenciou ao conduzir as


informações levantadas para o deslinde da causa, e, diga-se de passagem,
com essa manobra inverteu o ônus da prova, passando para o réu o dever
demonstrar que não cometeu o crime.

Douto julgadores, a coleta de material realizada no exame de


corpo de delito, cujo resultado é capaz de sozinho descortinar pontos do
acusatório, e assim soterraria o depoimento da vitima, que seguiu eivado
inverdades.

Ao deixar de incluir o resultado, a mais completa e imparcial


das prova da existência o não da suposta tentativa de penetração, afrontou
substancialmente o preconizado no principio do devido processo legal, que
deveria ser sanado pelo juiz, baseado no que diz o art. 156 do CPP, no todo
ou em parte. In vebis:

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer,


sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a
produção antecipada de provas consideradas urgentes e
relevantes, observando a necessidade, adequação e
proporcionalidade da medida;
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir
sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida
sobre ponto relevante.

Caminha lado a lado, o fato de não serem ouvidas na instrução


processual as demais pessoas presentes na casa no dia e horas, a Sr. Aline e
o Primo Girlandio. Sendo que se arrolada pela defesa não gozaria da mesma
credencial dada as testemunhas de acusação, que nem estavam presentes na
cena (mãe e padrasto). Como se pode muito bem observado no depoimento
de Yasmim, prima e amiga da suposta vitima, arrolada pela defesa, que nem
se quer foi analisado pelos julgadores primevos, e nem aparece em relatórios.

Se sanados a duas omissões, apontaria com mais clareza as


contradições e o processo estaria equilibrado e digno de um juízo imparcial.
O fato é que o assunto aqui tratado causa comoção, e leva o recorrente ao
status mais prejudicado do mundo, repudiado nas ruas, no meio jurídico, e
ate mesmo dentro das unidades prisionais, entre os mais tipos de criminosos
bárbaros, ocorrendo sumariamente a condenação prévia nesses meios. E
desconstruir essa imagem é extremamente difícil, quase que
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impossibilitando um julgamento justo, equilibrado.

III. 2 - DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO,


ARTIGO 386, VII DO CPP.

Em se procedendo detidamente uma análise imparcial da prova


gerada pela demanda, tem-se, como dado irrefutável, que a mesma é
manifestamente anêmica e deficiente, para ancorar um juízo condenatório,
pela duvidosa autoria e materialidade.

Um cidadão tem a garantia de só responder pelo crime que


supostamente cometeu e se existir provas, e, em virtude do in dubio pro reo,
a absolvição ou o reconhecimento de crime tentado seriam soluções mais
consentâneas com o estado democrático de direito.

O princípio in dubio pro reo, segundo René Ariel Dotti, aplica-


se "sempre que se caracterizar uma situação de prova dúbia, pois a dúvida
em relação à existência ou não de determinado fato deve ser resolvida em
favor do imputado”.

Nesse diapasão, conforme refere o Prof. Aury Lopes Jr., no seu


Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional. 8 ed. V. 1. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 177 a presunção da inocência trata-se de
“princípio reitor do processo penal e, em última análise, podemos verificar a
qualidade de um sistema processual através do seu nível de observância
(eficácia)”.

O mestre italiano Luigi Ferrajoli, na obra Direito e Razão:


Teoria do Garantismo Penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 441,
por sua vez, menciona que a presunção de inocência é um princípio
fundamental de civilidade, fruto de uma opção garantista a favor da tutela da
imunidade dos inocentes, mesmo que isto acarrete na impunidade de algum
culpado, pois, ao corpo social, basta que os culpados sejam geralmente
punidos, sob o prisma de que todos os inocentes, sem exceção, estejam a
salvo de uma condenação equivocada.

Insta salientar que existem pontos, que não foram enfrentados


pelo Juiz “a quo” e pelo TJ/RJ, pois estes presumiram ser verdadeiro o
depoimento duvidoso da pequena vitima, apesar de não refletir com exatidão
a possibilidade de ocorrência da conduta nos termos em que foi descrita.

O fato é que o cenário onde esta sendo alegado ter


acontecido o suposto crime, não comporta a circunstância tracejada
pela acusação, por se tratar de uma casa de aproximadamente 35 m²,
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sem portas, coabitada no aludido momento por mais 05 (cinco) pessoas
estranhas à cena, uma delas com uma enfermidade que lhe tirava o sono,
não permitindo que ocorra dessa natureza sem a percepção por uma
dessas pessoas.

Corrobora para essa assertiva acima o depoimento da avó


em sede de instrução criminal e de Aline, a esposa do acusado, em sede
policial apenas. Presentes na casa no momento e nada viram a respeito.
Ambos devidamente inseridos nos autos.

Outro ponto conflitante é a versão dada pelo padrasto de Luna,


que em seu depoimento diz que eles foram orientados por alguém com
conhecimento técnico (no depoimento disse ser um Juiz criminal), e
assim, justifica confeccionar uma narrativa eficiente para condenar o
acusado. Deram tônica ao inserir nos depoimentos que foi com o uso do pênis
e que já havia aconteceu antes. Tanto é que sobre estes aspectos acontecem
variações nos depoimentos da menor, da genitora e do padrasto, e mesmo
assim vem induzindo os julgadores anteriores a erro.

O Brasil é um Estado Democrático de Direito e, todo


processo deve ser conduzido com a máxima cautela sem espaços para
abusos ou omissões, pois nos leva a uma condenação ou absolvição, que
pode significar um prejuízo de caráter irreparável.

Assim, impossível se faz manter-se a decisão do juiz de piso,


que foi mantida em parte pelo colegiado TJ-RJ, haja vista a ausência de
provas inequívocas, pelo conflito causado pelo não enfrentamento dos
elementos acima listados, dando ensejo a absolvição do recorrente nos
termos do artigo 386, VII do CPP.

VI – DOS PEDIDOS

Diante do exposto requer:

Seja recebido e admitido o presente recurso tendo em vista o


preenchimento dos requisitos de admissibilidade recursais.

E no mérito, seja absolvido o acusado CRISTIANO


MACHADO RIBEIRO em face da ausência de provas no que diz respeito
a prática do delito, nos termos do art. 386, VII do CPP, seguido da expedição
do almejado alvará de soltura.

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Requer por fim, seja concedido os benefícios da assistência
judiciária gratuita ao Recorrente nos termos da declaração de fls. 103 e
comprovação de trabalho de fls. 104/107, cujos elementos convergem na
compreensão da falta de capacidade de arcar com custas processuais e
honorários advocatícios nos moldes da Lei nº1.060/50.

Temos em que,
Pede deferimento.
Duque de Caxias, 09 de agosto de 2019.

LUIS ANDRÉ NOGUEIRA


OAB-MG 149.237

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