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Ensuio/histéria politica Tzvetan Todorov © que nos trouxe o século XX? UL oa Lge © pior: um regime poltico inédito,o totelitariemo, cus duas varantes, comuniamo e naziamo, provocetara a morte de eilhdes de sree umance, asim como a tortura, « deportagéo, a humilhagio de milhdee de outros; no 2 entanto, see protagoniatas sapravar ao bem, néo so mel. Felizmente para nbs, a democrecia 0 venseu; contudo, ela prépria nio esté imunizada contin a tentagio do hem, que pode levé:la a cultivar em seu intecior o “moralmente corrato” enquanto, no exterioy colta cuas borabss, at8micas ou “humanitirias Ou o (© melhor: alguns individios de destino deamtico, de luce: impledoss, tsioe do hx num séoulo de trevas, oF unis, aposar dos pesaeot,continuaram a egceditar que o homom merece permanecer como o objetive do homem: hoje, eles nos ajudam a nto entrar om desespero, Vai Grossinan « Margarete Buber-Neumann, David Rousset ¢ Primo Levi, Romain Gary ¢ 4 Germaine Tillion nos mostram que & potsivel rsistic 20 mal sem ee julgar tama enearnagto do ber. Ete livro descreve um e outro. © bom uso da meméria é aquele que serve a uma causa jusls, eno aquele que se satis em reproduaic 0 passado, ah Tavotan Todoroy, nascilo na Bulgétia, mora enn Paris desde 1963. Dixetor de pesquisas no Centre Notional de la Recherche Scientifique (Centro Nacional da Pesquisa Cientifica),eitico, historiador e flésofo, publicon numero obras, traduidas para 25 linguae. No ano 2000, foi seudado come umn epistol do humaniamo. Meméria do mal, tentagéo do bem Indagagdes sobre o século XX Sumario Prélogo: Fim de sézulo 1.0 mal do séeulo Nossas democracias liberais Totalitarismo: o tipo ideal Cientificismo e humanismo Nascimento da doutrina totaliciia A guerra, verdade da vida Ambivaléncias totalitirias 0 século de Vassili Grossman 2.A comparagio Nazismo ¢ comunismo Diferencas Julgamentos O século de Margarete Buber Neumann 3 A conservagii do passado Controlar a meméria Os tits extigios “estemanhas, historiadores, comemoradares 0 julgamento moral Os grandes relatos O século de David Rousset 7 5 2 38 “ 52 6 89 91 100 108 ui 133, 5 142 151 156 165, 173 4,.AsutilizagSes da meméria Nem sacralizar nem banalizar A servigo do interesse Vocaéo da memiria 0 século de Primo Levi 5, Passado presente 0 *moralmente correto” Mito e histéria Justiga e histéria 0 séeulo de Romain Gary 6.0s perigos da democracia ‘As hombas de Hiroshima e Nagasaki Kosovo: 0 contexto politica Aintervengéo militar O humanitirio e o judiciério Direita de ingeréncia ou dever de assisténcta? O séeulo de Germaine Tillion Epilogo: Inicio de séeulo No'as e refertncias Indice onoméstico 137, 199 195 199 209 221 223 234 202 251 269 an 200 294 309) 319 337 359 369 381 3 A conservagao do passado ‘A Madora viveu tude conosco, porqueela somos nis, seu filho somos nés. arece-me que essa Madona é a vida em sua ex- pressdo mais atéla, 0 humano sem a participagao do divino, VASSUL GROSSMAN, A Matona Sistine Controfar a meméria Os regines totalitirios do século XX revelaram a existéncia de ure pe~ rigo antes insuspeitado: o de um dominio completo sobre a memria. Nio que, no passado, se desconhecesse a destruigio sistematica dos documentos dos monumentos, o que é um modo brutal de orientar a meméria de toda asociedade, Para dar um exemplo distanciado de nés no tempo e no espa~ ‘0, sabe-se que, no inicio do século XV, 0 imperador asteca Itzcoatl orde- nou a destruigao das estelas e dos livros, a fim de poder recompor a tradi~ ‘gio & sua maneira; um século mais tarde, os conquistadores espanhdis ird0 dedicar-se, por sua vez, a apagar € queimar os indicios confirmadores da antiga grandeza dos vencides. Mas, nao sendo totalitirios, esses re sentes, morais ¢ politica. [As repetidas violéncias de que somos testemunhas na Argélia de hoje apresentam outra variante dessa situagao, na medida em que se exercem centre duas partes da mesma populecd%. Pois bem, essa violéncia ndo ilustra apenas 0 desvio criminoso de grupos cujo fanatismo religioso jé nfo & seno uma fachada, nem a crueldade da vinganca, com 0s massacres pare- ‘endo atrair-se mutuamente Ela também remete a um passado um pouco mais longinquo, o da violéncia softida pela populacto argetina, dutante cento e vinte anos, da parte do colonizador francés, Os massacres éa guerra de conquista as sistematices humilhacdes do tempo de paz, a brutalidade do conflito final sio traumatismos que nao se apagzam facilmente e poder evar, anos mais tarde, atos de uma violéncia semelhante, como ocorre com as criangas espancadas que s¢ toriam adultos espancedores. Uma vez in- troduzido na Histéria, o mal nfo desaparece com a eliminaglo de seu agen- te original. Até hoje os crimes de Hitler e a violéncia da guerra da Angélia contsibuem para a propagagio do mal. 198 Meméria do mal, tentagao do bem Vocagao da memoria ‘Ao observames assim os abusos que se podem fazer da meméria, tanto em sua forma como em suas funcées, somos tentados a perguntar-nos: 0 ‘squecimento nfo seria melhor que a lembranga? Essa pergunta nfo admi- te resposta simples € uniforme, Sem diivida, € esse 0 caso em certas situa ‘es. Em democracia, a recuperagtio do passado & um direito legitimo, mas rio se pode fazer disso um dever. Haveria ina crueldade infinita em lem- brar incessantemente a alguém os acontecimentos mais dolorosos de seu passado; 0 direito ao esquecimento existe também. No fim de sua espanto- si erbnica ilustrada de doze anos passados no Gulag, Buphrosinia Kersnovskaia escreve: "Mama, voce tinha me pedido que escrevesse a his- teria desses tristes ‘anos de aprendizagem: Fiz sua tltima vontade. Masno teria sido melhor, talver, que tudo aquilo caisse no esquecimento?” Em. Lebcriture ow ta vie (Eserever ou viver, Jorge Semprun contou como, em dado momento de sua vida, Foi praticamente salvo pelo esquecimento de sua experiéncia concentracionéria, No plano individual, cada um tem 0 diveito de decidir sobre isso. ~=Também na vida publica, pode-se preferir o esquecimento & memoria do mal. Escutemos esta histéria contada por Amiérico Vespticio, explorador do continente americano. Depois de descrever 0s encontros dos europeus com a populagéo indigena, os quais alternam colaborago ¢ confronto, ele relata que os diferentes grupos indigenas lutam entre si com muita fre- iéncia, Qual 0 motivo disso? His explicagdo proposta por Vespricio: “Eles no combatem nem pelo poder, nem para estender seus territ6rios, ‘nem impelidos por qualquer outra vontade irractonal, mas em razfo de um dio antigo, hé muito tempo instalado neles’” Se Vespiicio estiver com a razio, nfo seria 0 caso de desejar-se a essas populasdes que esquecessem ‘um pouco o dio para poderem viver em paz, que deixassem seus rancores extinguir-se € encontrassem melhor uso para a energia assim liberada? Mas, sem diivida, isso seria queré-las diferentes do que na realidade o sao. Cabe lembrar também os primeiros artigos do Edito de Nantes (1598), que possibilitou o fim das guemas civis que dilaceravam a Franga: “Que a memséria de todas as coisas passadas de um lado e de outro, desde o comego 199 do més de margo de 1585 até nosso advento & coroa, ¢ durante os outros transtomos precedentes ¢ por ocasitio dos atuais, permanecerd extinta adormecida, como coisa ndo advinda: e nao sera licito nem permitido aos nnossos procuradores-gerais, nem a quaisquer outras pessoas, piblicas ou privadas, em qualquer tempo, nem em qualquer ocasiio que seja, fazer delas mensio, processo ou perseguigéo em nenhuma corte ¢ juristigdo que seja. [.] Proibamos a todos os noss0s siditos, sejam eles de quaisquer estado e qualidade, renovar a meméria dessas coisas" Mais perto de nds, em 1881, € Paul Dérouléde, fundador da Liga dos Patriotas e militarista convicio, quem brada, em sentido oposto: Jen sals qui crofent que la haine s'apaise: ‘Mais non! Voubli n'entre pas dans nos cours” pavimentando assim 0 caminho para a camificina de Verium. Sem saber, ele confirmava com seu discurso uma afirmagio de Plutarco” segundo a qual a politica se define como aquilo que rouba ao dio sex cariter eterno = em outras palavres, que subordina 0 passado 20 presente. Para nossa infelicidade, as evocagbes da derrota de 1870-1871, os gritos de guerra de Dérouléde, Barrés, Péguy e outros inimigos do esquecimento foram ouvi- dos; eles contribuiram para o desencadeamento da Primeira Guerra Mun- dial, Ao término desta, Hitler encontrard, na evocagio do humilhante trata~ do de Versalhes, 0 argumento para convencer seus compatriotas de que era decididamente necessario empreender a Segunda. Os slogans do tipo “nem perddo nem esquecimento”, que ouvimes com freqiiéncia em nossos dias, no parecem indicar um progresso no processo de civilizagzo. > Sea evocagio do passado conduz & morte, como nao preferir o esque- cimento? Nao tiveram razio aqueles israelenses e palestinos que, reunidos ‘em tomo da mesma mesa em Bruxelas, em maryo de 1988, expressaram a conviccdo de que, “simplesmente para comesar a falar, ¢ necessério por 0 passado entre parénteses?™ Se 0 passado deve reger o presente, quem, entre judeus, cristéios e muguimanos, renunciaré 4s suas pretensbes tesitorais “Sei, hi quem creia que o do se splaca: Mas nfo! em nossa alma nio eabe oolvido" WW. da}, 200 Menéria do mal, tentagao do bem sobre Jerusalém? Na Itlanda do Norte, até um momento bem recente, os dois partidos extremistas declaravam sua vontade de “nao esquecer e nao perdoar’, ¢ a cada dia acrescentavam novos nomes & lista das vitimas da violéncia, a qual, por sua vez, provocava uma contraviolénci vingadora ‘Sem diivida foi por isso que, depois da Segunda Guerra Mundial, um de seus grandes atores, Winston Churchill, declarou: “Deve haver um ato de esquecimento de todos os horrores do passado” — sem divida ‘esquecendo* ‘que o esquecimento nio depende da vontade... Enguuanto os genocidios de meados do século, desde os da Rissia até 0 do Camboja, eram executados em nome do futuro (o totalitarismo propu- nnha-se criar um homem novo, ¢ portanto era preciso eliminar es que se prestavam mal a esse projetol, os massacres mais recentes foram tedos per- petrados em nome de uma evocagio do passado. Em Ruanda, os hutus qui- seram eliminar os tulsis para vingar humilhagbes softidas a0 longo das ddecadas precedentes; nas guerras na lugoslavia, nfo se deixou de lembrar os massacres passados, dos quais uns ou outros haviam sido vitimas, alguns culos ou alguns anos antes; na Argélia, os crimes de hoje sic tanto mais facilitados quanto 0s de ontem no foram esquecidos. A meméria da violéa- cia passada alimenta a violéncia presente: tal € 0 mecinismo da vinganga. Em nossos dias, a vinganca no é bem-vista. Ninguém a invoca de bom. Srado; mas isso nio significa que ela nos seja estranha, ainda ques prefira dar-the as aparéncias da justiga Isso pode ser particularmente bem obser vado sempre que alguém € morto. Nao vemos, com frequéncia, pais de criangas estupradas ou assassinadas lamentarem que o5 criminoses esca~ ‘pem & pena excepcional, a pena de morte? Na Franca, no recente caso do sangue contaminaéo, a situagio foi um tanto parecida: os pais das vitimas infectadas dessa maneira pela aids queriam que os responsiveis adminis- tratives Fossem condenados por assassinato, a fim de que, pelo menos, a pena deles se aproximasse do softimento das vitimas. o> Mas a diferenca entre justica e vinganca é dupla. Primeiro, a vinganga ‘consi em responder a tia ato individual por um out ato individual, em principio comparivel: vocé matou meu filho, ea vou matar 9 seni a Justiga confronta o ato individual com a generalidade da lei: 0 anonimato” dos justiceiros (policiais ou magistrados) opde-se A identidade singular do 201 vingador. Assim como o perdao, a vinganga é pessoal; a justiga nio o é, a lei ndio conhece individuos. Por outro lado, a pena néo € um reflexo do crime em espelho, mas sim proporcionada is outras penas; em vez de ser diretamente motivada, cla faz parte de um sistema. 0 ato de justiga conser ta.a ruptura da ordem social, confirma a validade da lei (escrita ou, como xnos crimes contra a humanidade, nao-escrta) ¢, por conseguinte, a prépria ordem social; ele no compensa necessariamente a ofensa sofrida pelo in- dividuo. O que importa, nessa perspectiva, ndo € que a justiga seja menos ‘ou mais severa, mas que exista [Navinganga, uma violencia nova responde a violencia antiga, aponto de provocar uma futura violéncia de compensacio: 0 mal aumenta, em vez de ddiminuit. Todo mundo pode ilusirar essa lei com exernplos antigos e moder- nos, desde a Orestia de Fsquilo aos recentes assassinatos de Belfast; todo mundo sabe que, para encerrar a inimizade entre os Montecchio ¢ os Capuleto, em certo momento é preciso remunciar & vinganga em vez de realizé-la. O ato de vinganca tem mais um inconveniente: alivia 0 individuo que o executa de conscigncia limpa, € nunca Ine permite interrogar-se sobre o mal que est nele. A questo moral ¢ esvaziada em proveito da reparasgo fisica. A justiga, or sua vez, tem o inconveniente da abstragao e da despersonalizagio; mas é a tinica chance de que dispomos para fazer a violéncia diminuir. (0 mesmo vale para essa forma de vingana legalizada que é a pena de morte, ainda em vigor em numerosos paises ndo-curopeus, especialmente nos Estados Unidos. Todos os repetidos estudos o demonstram: a pena de morte € puramente uma punigdo ~ quem matou deve mozrer; nao é de ‘modo algum, como pretendem seus defensores, uma prevengo. Em seu libelo contra a pena de morte, Albert Camus” citava este mimero revelador: na Inglaterra, entre os 250 enforcadbos pela justica no inicio do século, 170 haviam assistido pessoalmente a uma execugio capital. Portanto, esse co- nahecimento em primeira mio em nada havia modificado o comportamento deles! Por outro lado, a proximidade com a vinganga pessoal ¢ reforgada pelo fato de que, hoje, nos Estados Unidos, as familias das vitimas sto convidadas para assistir & execusdo dos assassinos. Aliis, nfo ¢ por acaso que, no Ocidente, esse pais & © unico a praticé-la: a lei do mais forte, a recusa @ uma justica impessoal e, portanto, também a lei de talito presidi- 202 Memériado mal, tentagao do ben ram 4 sua constituiglo (0 que era pudicamente chamado “a conquista do ‘Ocste™, como se aqueles imensos territérios jamais tivessem sido habitados). A pena de morte nfo é ineficaz somente enquanto meio de combater 2 iminalidade; ela também produz efeitos negativos sobre a sociedade que a pratica. De um lado, como toda vinganca, permite-the acreditar que € ppossivel libertar-se do mal, citcunscrito, para esse fim, 4 pessoa éo culpado. De outro lado, por seu carter defintivo eirreversivel, ela denega a capaci- dade de mudar que 0 criminoso possa ter, Rousseau via nessa ‘perfecti- Dilidade’ a prépria definigio de nossa humanidade: diferenga das outras espécies, o ser humano nio € inteiramente determinado por sua ‘natureza’, pode transformar-se sob o cleto de sua vontade. Essa concepgio do ho- rmem esté na base do regime democratico, que respeita ¢ protege a autono- ania do individuo; de modo que é posstvel perguntar-se seriamente se um pais como os Estados Unidos, que pratica a pena de morte em grande esca- Ja, merece verdadciramente ser qualificado de democracia. Manter a meméria do mal sofiido pode levar as reagbes de vinganga; nas 5 esquecimento também pode produzir efeitos fanestos. A vida afetiva “do individuo nos oferece aqui um paralelo esclarecedor. Como se sabe, a psicandlise atribui & meméria um lugar central: a meurose repousa sobre ‘esse transtomo particular da meméria que é 0 recalque. A pessoa afastoa de sua memoria viva, de sua consciéncta, certos fatos € eventos ocorrides na primeira infancia c que Ihe io intoleréveis, poralguma razio, Sua cura ~ pela andlise ~ passa pela recuperacio das lembrangas recalcadas. Mas aque uso a pessoa fari delas, a partir do momento em que as reconduzir & consciéncia? Enquanto estavam recaleadas, as lembrangas permaneciam aiivas (e impediam a pessoa de viver); agora que foram recuperadas, podem ser devolvidas ao seu justo lugar. 0 objetivo da psicandlise, dizia Pierre Nora, “nfo € encerra defintivamente a pessoa no repisamento do seu pas- sado, mas sim liberti-1a dele’ Outra forma de marginalizagio das lem- brangas opera-se no luto: num primeiro momento, recusamo-nos a admitir a realidade da perda que acabamos de softer, mas, progressivamente,¢ sem deixar de amar 0 morto, modificamos o estatuto das imagens ligadss a ele, ‘cum certo distanciamento vem temperar a dor. De modo geral, nés consi- deramos que o passado nfio deve reger o presente. 203 Na vide piblica, por sua vez, a lembranca do passado no é em si mesma sua prdptia justificagdo. Para nos ser verdadeiramente ttl, ela exi- 4, como a reminiscéncia pessoal, um processo de trabalho transformador (durcharbeiten € 0 termo de Freud). Desta ver, a transformagio consiste em, do caso particular, passar a uma méxima geral, prinefpio de justiga, ideal Politico, regta moral ~ que devem ser Iegitimos em si mesmos, ¢ nite por- que provém de uma lembranga que nos ¢ cara. A singularidade do fato no impede a universalidade da ligio que se extrai dele, 0 salvamento dos ju- deus bilgaros durantea Segunda Guerra Mundial, para tomarmos este exern- plo é um acontecimento tinico, nfo semelhante a nenhum outz0; nem por {sso é menos portador de um sentido e de um ensinamento que se dsigem a todos, ontem como hoje. A meméria do passado pode sct-nos itil se" permit advent sa uss. su seo mais geal que lage de Tonge 0 quadro dos tribunals “ o que significa, também, que o particular deve submeter-se 20, preceito abstato. A propria justiga criminal, como ¥imos, nasce da generalizagao da ofensa particular, ¢ & por isso que se encarna na lei impessoal, aplicada por um juiz anénimo ¢ efetuada por Jurados que ignoram tudo sobre a pessoa do ofensor, assim como sobre @ fo fendi. Esse € o prego da justiga, © nio € por acaso que ela nfo é aplicada pelas mesmas pessoas que sofieram a ofensa: é justamente a éesindividualizagao, se assim podemos falar, que permite o advento da lei. “S>0 bom uso da meméria & aquele que serve a uma justa causa, © no aquele que se contenta com reproduzir 0 passatdo. Lembzemes os processos de Viktor Kravichento ¢ David Rousset: 0s que se opunham & tentativa deles de combater os campos presentes nfo tinkiam esquecido sua prépria expe- réncia passada, Pieme Daix, Marie-Claude Vaillant-Couturicr os outos anti= 9s deportads comunistas que vinham depor tinkam vivido 0 inferno de ‘Mauthausen ou de Auschwitz, e a lemibranga dos campos estava bem presen- teem sua meméria. Se les se negaram 9 combater 0 Gulag, ndo foi por um defeito de memoria, mas porque seus principios ideoldgicos Ihes proibiam 4ss0. Como declarava a deputada comunista, ela se recusava a considerar a guest, porque sabia que “nio existem campos de concentragdo na Unio Soviética’™ Com iss, esses antigos deportades se ransformavam em verda- deiros neqacionistas, ainda mais perigosos do que aqueles que negam hoje a 204 Meméria do mal, tentagao do bem existéncta das camaras de gis, porque os campos soviéiicos estavamn entio em plena atividade, ¢ denuncti-los publicamente era a iinice maneira de combaté-ios. As lembrangas de Daix nfo eram menos precisas que as de Rousset; 0 que valorizamos nesias tltimas & 0 fato de clas servirem para defender a democracia contra o totalitarismo. H supérfluo perguntar-se-se + ‘convém ou nao conhecer a verdade sobre o passado: a resposta, aqui, & sem- pre afirmativa, 0 mesmo nio se di quanto aos objetivos @ que se pretende: chegar mediante essa evocagio do passado, ¢ 0 julgamento que fazemos, sobre isso provém de uma escolha de valores, eno da fidetidade da embranga. | Para qualquer pessoa, afirmar sua identidade € legitimo. Ninguém deve(_ cnrubescer por preferir os seus aos desconbecidos. Se sua mae ott seu filho tiverem sido vitimas de violencia, essas lembrancas fazem voct sofrer mais do que o faria a morte de pessoas desconhecidas, € vocé se empentha mais ainda em manter viva a memdria deles. Contudo, hi uma dignidade e um mérito maiores em passar da propria infelicidade, ou da dos préximos, & infelicidade dos outros. Perguntaram ao notével escritor queé André Schwarz- Bart por cue, depois de Ze dernier des justes (0 :ittimo dos justo), livro que conta o genocidio dos judeus, ele se voltara para o mundo dos escraves negros,¢ ele retrucou: "Um grande rabino, a quem se penguntou:‘A cegonha, «m judeu [sid foi chamada de Hassida (afetuosa) porque amava os seus, ¢ no centanto esti listada ma categoria das aves impuras. Por qué”, dew como resposta: Porque cla dedica seu amor unicamente aos seus” Em 1957, um funcionério piblico francés, Paul Teitgen, que era tam- ‘bam antigo deportado de Dachau, pediu demissao de seu posto de secreté- rio da administrago departamental de Argel; ¢ explicou seu gesto pela ssemelhanza entre os sinais de tortura que notava nos corpos dos prisionei- ros argelinos ¢ 05 das sevicias que sofrera pessoalmente nos porbes da Gestapo em Nancy. extmortinario escuitor Georges Jeanclos esteve imerso numna busca ext- ‘gente da tradigio judaica, na qual encontrava uma fonte de inspiraggo; con- ‘tudo, em 1960, © grupo escultérico chamado Hiroshima (ou, em hebraico, Galut, exo, destruigao) encama, com forga inesquecivel, uma tragédia dis- tante. Apis uma viagem 4 Guatemala, Jeanclos se conscientiza do martirio sofrido pela populagio desse pais ¢ produz um perturhador Guatemala. City 205 (1982), monumento-miniatura ao sofrimento humano. No mesmo ano, ecoando o massacre dos acampamentos palestinos, cria Sabra ¢ Chatila, um meio- corpo masculino contra o qual se apéia um tronco de mulher: Diz ele, numa entrevista: “E sempre a mesma histéria que, desde o holocausto, continua™** A comemoragao ritualistica no ¢ apenas de pouca utilidade para a educagio da populagio, quando as pessoas se limitam a confirmar no pas- sado a imagem negativa dos outros ou sua prépria imagem positiv também contribui para desviar nossa atengéo das urgéncias presentes, pro- porcionando-nos consciéncia limpa a baixo custo. A lancinante repetigo do “Isto, nunca mais”, depois da Segunda Guerra Mundial, em nada impe- diy 0 advento da Segunda. O fato de hoje sermos lembrados, com minticia, dos sofrimentos passados de uns, da resisténcia de outros, talvez nos tone Vigilantes quanto a Hitler e Pétain, mas também nos ajuda a ignorar os perigos atuais — visto que estes ndo ameacam os mesmos atores € no aassumem as mesmas formas. Denunciar as fraquezas de um homem sob 0 regime de Vichy faz o ‘vigilante’ atual aparecer como um valoraso comba~ tente da meméria € da justiga, sem levi-lo a comer 0 menor risco nem obrigé-lo a assumir suas eventuais responsabilidades diante das afligbes conterporineas. Homenagear as vitimas do passado ¢ gratificante, ocu- parse das de hoje é mais delicado. Hoje em dia, dizem-nos com freqtiéncia que a meméria tem direitos imprescritivels € que devemos constituir-nos em militantes da membria. Mas convém dar-se conta de que, quando se ouvem esses apelos contra 0 esquecimento ou a favor do dever de meméria, na maioria das vezes néo paraum trabalho de resgate da meméria, de estabelecimento e de interpre~ tagdio dos fatos do passedo que estamos sendo convidados (nada nem nin- guém, em paises democriticos como os Estados do Oeste Europeu, impede qualquer um de realizar esse trabalho}, mas antes para a defesa de uma sclegio de Fatos dentre outros, aquela que garanta aos seus protagonistas a ‘manterem-se no papel de herdi, de vitima ou de moralizador, por oposigio a qualquer outra selegdo que ameace atribuir-lhes outros papéis menos sratificantes. Esse é 0 motivo pelo qual convém evitar “cair na armadilha do dever de meméria”, segundo os termos de Paul Ricoeur,” para envolver- se de preferéncia com o trabalho de meméria. ela 208 inact esmsaaney Memsria do mal, tentagao do bem so/” Seniose quiser que o passado retome, nfo besta recitéto. Quem no ‘conhece a tio batida frase do fildsofo americano George Santayana se~ gundo a qial os que esquecem o passado estio condenades a repeti-lo? Ora, sob essa forma geral tal maxima é ou falsa ou desprovita de sentido. O passado histérico, tanto quanto a ordem a matureza, nao tem sentido etn sTmesmo nem sexrega sozinho qualquer valor; num e noutro caso, sentido e Valor Thes vam dos sujeitos humanos que os interrogam e avalim, 0 resmo fate, como vimos, pode receber interpretagbes oposts ¢ servir de _justificagio a politicas que se-combatem mutuamente. 0 passilo yoderd contrbuir tanto para a constituigdo da identidade, Individual ou cvletiva, quanto para a formagao de nosis vlores, ideas, ~rincipios ~ desde que“aeeitemos que estes Hltimos sjam submetidos 20 kame da rzio ¢ & prova do. debate, em_ver de querer impO-los simples- mente porque cles so os nossos. Essa vinculago aos valores éessencial; «, 20 mesmo tempo, limitada. 0 passado pode alimentar nossos prncipios de aio no presente; mas nem por isso nos revela o sentido desse presente. 0 racismo, axenofobia, a exclusto que hoje stinglem os outros mio sio idén- ticos aqueles de cingjenta, cem ou duzentos anos atri, néo tém nem 2s ‘mesmas formas nem as mesmas viimas. A sacralizaslo do passado o priva de toda efiedeia no presente; ma assinlago pur simples do pasado te nos deixa cogos diate dos dois, e por sua Yex provoca ainjus-/ parecer estreto o caminho entre sacralizagio ¢ banalizag@o a centre servir ao seu proprio interesse e fazer exortagies morais'a0s outros: e no entanto ele existe. 207 14, Ravenstrile,p. 53. 15, “Depoimento de Margerete Buber-Neumann’, in D. Rousset ef al, Pour la verité ur les comps concentrationnaires, Ramsay, 1990, p. 183. "Satan ou Bezébuth’, p. 244 “Wie vehi sich der Mensch in extzemen Situationen?", Plidoyer, p. 244. “Author's Preface", Under Two Dictators, Lonces, V. Gollanz, 1949, p. XD. >, Janine Platen in Buber Neumann, Plidoyer,p. 182-183; Sra, Anise Postel-Vinay, ‘comunicagio pessoal (dirjo-Ihe aqui todo 0 meu agradecimento) 20, Plideyer, p. 53-63; Hans Schafranek, Zivischen NKVD und Gestapo. Die “Ausligferang deutscher und dsterreichischer Antfascisten aus der Sowjetunion ‘an Nazidealschland 1937-1941, Frankfurt, ISP Verlag, 1990. 21. Von Potsdam nach Moskau, Staitonem eines Imoegs, Berlin, Ullstein, 1990. 22. Milena, Seul, 1986. 23, Rauensbriick,p. 40. 24, Kriegeschouplitze der Weltrevolution, ei Bericht aus der Praxis der Komintern 1915-1943, Stuttgart, Seewald Verlag, 1967; te ft La Révolution mondiale, Casterman, 1971 25, Der kamnunistische Untergrund, 1970. 26, Die evioschene Hamme, Schiksale meiner Zeit, Munique, Langen Miler, 1976. 27, Preiheit, cubist wieder mein... 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