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T6 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A construção política do
Brasil
Palestra com o Professor Bresser Pereira

2015

ALEXANDRE MOSS - 331529


A CONSTRUÇÃO POLÍTICA DO BRASIL

Apresentação

O presente texto trata-se de breve ensaio sobre a palestra proferida no dia 25/05/2015
pelo Professor Luiz Carlos Bresser Pereira sobre seu recente livro A Construção Política do
Brasil.

O Professor BresserPereira, conquanto primordialmente reconhecido como


economista elabora seu livro na qualidade de cientista social, ao apresentarseu trabalho como
análise da construção política do Brasil. O Professor Bresser é acadêmico e intelectual que
aprendeu e pensou o Brasil por meio de sua experiência plural, tanto no setor privado quanto
no governo onde exerceu funções diversas, dentre elas a de Ministro de Estado.

Breve resumo da palestra proferida dia 25/05/2005 com o professor Bresser Pereira

O livro se propõe a reavaliar ou complementar as teorias clássicas de interpretação


da sociedade brasileira; Gilberto Freire, Caio Prado Jr. e Sergio Buarque de Holanda, até os
anos 30, e Raymundo Faoro e Celso Furtado nos anos 50, pelo motivo mesmo de necessidade
de dar continuidade aos estudos da interpretação do Brasil, que carece de aprofundamento
acerca da grande revolução nacional e industrial que ocorreram entre os anos 30 e 80.

O novo desenvolvimentismo

Na abordagem interpretativa do assunto é utilizada a teoria do novo


desenvolvimentismo, que se trata de elaboração teórica do autor construídadesde o ano 2000,
e que se opõe, conforme explica este, ao nacional desenvolvimentismo dos anos 50, pois
diferentemente deste, que trata-se de uma forma de acomodação do capitalismo onde o Estado
e o mercado compartilham a coordenação do país com fins de atingir o desenvolvimento, a
teoria novodesenvolvimentista é uma teoria e uma proposta de políticas sociais e econômicas
Pereira Luiz carlos Bresser A construção Política do Brasil - Sociedade, Economia e Estado desde a Independência [Livro]. - São Paulo :
Editora 34 Ltda., 2015. - 2ª : p. 464.
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com vistas ao desenvolvimento que se opõem à ortodoxia liberal. (Pereira, 2015, orelha do
livro).

Segundo o Professor Bresser Pereira o novo-desenvolvimentismo de um país só se


concretiza quando este efetiva sua revolução industrial e capitalista, que necessariamente
deverá sempre contar com um determinado grau de intervenção do Estado na Economia e do
enfrentamento dos Estados economicamente dominantes no cenário mundial. Essa transição
de Estado desenvolvimentista para Estado novo-desenvolvimentista se legitima pela
pactuação entre trabalhadores, industriais e burocracia pública, (Pereira, 2015, orelha da
contracapa).

Os três grandes ciclos de desenvolvimento

Na visão do autor, considerando que o estudo de uma sociedade deve ser


pensado historicamente e, portanto pensado em termos de fases de desenvolvimento, e
considerando que no caso do Brasil a Independência foi um processo parcial, haja vista, que a
dependência econômica e política se preservou nas relações com a Inglaterra e França,
entende o autor que no país o Estado se formou antes que houvesse propriamente a afirmação
de uma nação brasileira, o que só se concretizou na década de 30 com a industrialização.

Sob esta análise o autor identifica três estágios de desenvonvimento principais: o


Imperial, Ciclo Estado e Integração Territorialquando se formou os vínculos do Estado com
o território, de natureza “autoritário mas que estabeleceu as bases para a afirmação dos
direitos humanos e da democracia”(Pereira, 2015 p. 398); da década de 30 até os anos 80,o
Ciclo Nação e Desenvolvimento,quando houve a industrialização, e segundo interpretação, a
formação de um verdadeiro Estado nação; e o Ciclo Democracia e Justiça Social, a partir dos
anos 80, no qual houve avanços significativos nas áreas política e social, que não foram
acompanhados, entretanto por correspondente crescimento econômico, ao contrário disto as

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taxas deste período demonstraram acentuada involução, cuja explicação para o fenômeno,
conforme análise do autor,

“no plano político, a idéia de nação dos brasileiros se enfraqueceu, e no plano


econômico o país caiu em uma armadilha macroeconômica de juros altos e câmbio
sobre apreciado no longo prazo, que rouba a competitividade da indústria brasileira
e é a causa da desindustrialização prematura que ocorre desde a grande crise
financeira dos anos 1980”. (Pereira, 2015 orelha da contracapa)

Ciclo Nação e Desenvolvimento- A revolução capitalista brasileira

Segundo Luiz Carlos Bresser a história dos povos pode ser para dividida em dois
estágios principais, um primeiro momento,pré capitalista, quando não há desenvolvimento
econômico e nem progresso técnico, tão só a repetição de ciclos de expansão e decadência de
impérios e, o momento seguinte às revoluções capitalistas, no qual se desencadeia o
desenvolvimento econômico e os povos adotam uma identidade nacionalista.

No Brasil a Revolução Capitalista teve sua preparação no início do século XX, se


iniciou de fato no Ciclo Nação e Desenvolvimento na Revolução de 1930, e se completou no
Ciclo Democracia e Justiça Social perdurando até os anos 80.

Getúlio Vargas foi o estadista à altura das exigências à implementação da revolução


capitalista: o momento era de manter a unidade do Estado e a industrialização. Vargas
entendendo o contexto político e econômico, sobretudo o quebra da Bolsa de Nova Iorque
tratou de romper com os velhos laços das oligarquias exportadoras de café e “associou-se aos
nacinalistas que vinham se manifestando cada vez maís ativamente no plano político,
sobretudo no movimento tenentista”.(Pereira, 2015 p. 110). Assimno quadro informaldo
Grande Pacto Nacional-Popular de 1930, Vargas com expressivo apoio popular incentiva a
industrialização em detrimento da agroexportação. Para tanto por meio do sistema de
concessões e compromissos busca o apoio e o incentivo dos setores que não produziam para a
exportação.
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Na década de 70 esse impulso arrefecepor conta da adoção pelo regime militar da


ideologia da dependência econômica como inevitavel,(Pereira, 2015 p. 399), e apesar de
retoricamente nacionalista e desenvolvementista, divergia do modelo varguista por excludente
dos trabalhadores. A recém adquirida participação política dos trabalhadores foi refreada,
privilegiando-se a classe média em ascensão e o empresariado. Priorizou-se o ensino superior
em detrimento da educação de base, e, em consequência, a concentração de renda alcançou
novos picos no Brasil, (Pereira, 2015 p. 372).

“Nessa aliança o governo não era mais elemento subordinado ao


Império, como acontecia no Ciclo Estado e Integração Territorial.
Pelo contrário, era um elemento elemento ativo, que prourava, por
meio dessa aliança, maior taxa de crescimento da renda no país. O
nacional desenvolvimentismo continuava a ser sua definição
ideológica mais apropriada. Mas um nacionalismo
desenvolvimentismo que, diferentemente do de Vargas, excluía os
traballhadores da coalizão política. (Pereira, 2015 p. 191).

Sobre este assunto ressalta o autor do fato de que nenhum país realizou sua revolução
capitalista sem antes ter havido um momento histórico anterior de autoritarismo porque, antes
da “apropriação do excedente por meio do lucro realizado no mercado, não havia condições
para a existência de regimes minimamente democráticos”, (Pereira, 2015 p. 398).

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O ciclo democracia e justiça social – A desindustrialização

A transição democrática de 1977 até 1985 representou para o país um real avanço nos
Direitos Humanos e Sociais. Apesar disso marcou também um período de decréscimo no
crescimento econômico e “prematura desindustrialização”, (Pereira, 2015 p. 371). O autor
aponta duas causas explicativas que se sucederam: primeiro, a crise da dívida externa dos
anos 80 que paralisou o país e causou a explosão da inflação, oriunda da política econômica
adotada pelos militares em relação à poupança externa; e segundo, desde 1991 a incapacidade
de políticos e economistas do Estadode gerir a crise financeira, que levou a perda do ideal de
nação e a submissão do país à nova hegemonia liberal que imperava nos países ricos desde
1979.

Importa o fato de que apesar deste retrocesso econômico a desigualdade diminuiu


nesse período, parte resultante de planos econômicos da década de 90 e parte por conta da
política redistributiva do governo Lula, principalmente de salários, menos no que a política de
transferência. (Pereira, 2015 p. 373), e sobretudo, denota o autor que no Ciclo Democracia e
Justiça Social, a democracia foi atingida e consolidade, (Pereira, 2015 p. 399).

Conclusão

O autor finaliza propondo um conjunto de questionamentos e respondendo-os.

a) O Brasil é uma nação incompleta?

Aduz que sim pois a partir dos anos 70, sob a lápide do regime militar o
desenvolvimentismo degringolou em uma política pública, com respaldo ideológico
intelectual, que afirmava o fato natural da dependencia ao imperialismo. Entrou em
crise devido ao endividamento externo e aderiu ao neoliberalismo dos anos 90.

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b) Uma sociedade ainda nacional dependente?

Conforme o autor a ambiguidade das elitesdo país peca por não adotar posições
políticas e ideológicas fortes de nacionalismo e desenvolvimentismo, e pendem
reforçando o imperialismo do Norte. Isto impediu que se formasse no país um projeto
ideológico substancial de nação.

c) Uma sociedade em busca de uma estratégia nacional de desenvolvimento?

Desde o início do século XXI o país tenta retomar o projeto estratégico de


desenvolvimento, em novas bases, porém. Por isso a exigência de um
desenvolvimentismo em moldes sociais, que equacione desenvolvimento com
estabilidade e redução das desigualdades.

d) Uma nação que rejeita o Estado liberal mas que não logrou ainda reconstruir e
renovaro Estado desenvolvimentista?

A crítica ao Estado liberal fica por conta de que o simples papel de garantidor de
contratos e mantenedor do equilíbrio das contas públicas não induz ao
desenvolvimento. Precisa haver além das contas em ordem, a legitimação do sistema
pelas classes sociais e uma burocracia pública administrativa profissional eficiente.

e) O país precisa aumentar sua taxa de investimento?

Conforme o autor, o nível de pouança no Brasil é baixo, relembra porém, não adianta a
exortação de poupar para depois investir. Expõe a lógica keynesiana, “segundo a qual
é o investimento que determina a poupança”,que urge providências de oferecimento de
oportunidades de investimentos e crédito para os empresários, e que “ o Estadorealize
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uma poupança pública positiva, em lugar de apenas alcançar um superávit primário”.


Explica também problemas com as taxas de câmbio e de juros, (Pereira, 2015 p. 401).

f) É uma sociedade em que a inflação deixou de ser um problema fundamental?

Explica que não se enfrenta mais a alta inflação inercial no país, que era o grande mal.
Que ainda se está a combatê-la mas que não se deve priorizá-la sobre a meta da taxa
de câmbio e de crescimento.

g) É uma sociedade que garante uma democracia consolidada?

Expõe a problemática do sistema eleitoral que favorece a atuação de partidos com


feição de balcão de negócios, e que obrigam o governo a atuar por coalizões com a
maioria que retiram as forças para a implantação dos comromissos asssumidos em
campanhas, mas que apesar disto as conquistas democráticas já alcançadas são sólidas
e que não há perspectiva de retocesso ao autoritarismo. Conclue este tópico aludindo
da necessidade da reforma política e que o melhor sistema eleitoral não é o distrital
mas o misto no qual metade dos deputados é eleito por distritos e a outra metade é
proporcional aos votos obtidos pelos partidos políticos.

h) É uma sociedade em que ainda impera a desiguladade mas a luta pela justiça
social ainda está viva?

A Constituição de 1988 abriu espaço para os direitos civis e sociais que conduzem a
uma democracia participativa e solidária, apesar dos impedimentos naturais impostos
pelo regime econômico do capitalismo. Sob este aspecto infere o autor da importância
dos mecanismos de transferência de rendas adotado no país e que eliminou os índices
de pobreza absoluta.

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i) É uma sociedade que ainda discrimina negros e mestiços?

Afirma que o problema de discriminação racial existe no país e que vem sendo
combatido por políticas de cotas raciais e de inclusão de alunos de escolas públicas.

j) É uma sociedade que luta pela proteção ao meio ambiente?

Relata que desde o ano de 1972, quando da Convenção de Estocolmo, que o país está
engajado no planejamento do futuro sustentável, ciente dos danos da poluição e do
efeito estufa. Contudo, mundialmente, as providências assumidas foram em grande
parte descumpridas. Sobre este ponto o autor explica que a posição do Brasil tem sido
pela viabilidade da pauta, pelas concessões mútuas e pela adoção de tecnologias que
diminuam o impacto da atividade empresária sobre o meio ambiente.

l) É uma democracia quase participativa?

O autor reitera a relação entre o desenvolvimento econômico e democracia, e avalia


que apesar das taxas de crescimento o país desfruta de uma democracia participativa.
Não deixa porém, de criticar o baixo nível moral e ético dos políticos que estão
atrelados aos financiamentos de campanhapelo empresariado com vinculos mantidos
nos veículos de comunicação.

O entendimento final do autor é no sentido de que para a volta do crescimento o país


deverá romper com o alinhamento liberal de “classes que associa os capitalistas rentistas, os
financistas e os interesses estrangeiros”, (Pereira, 2015, orelha da contracapa), devendo
retomar-se a aliança com entre o empresariado, a burocracia pública e trabalhadores,
perpetuando o modelo de desenvolvimento democrático e social, e ainda, cada vez mais
priorizando a proteção ao meio ambiente. (Pereira, 2015, 407).

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