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UNISINOS – 97948 – ÁLGEBRA LINEAR – Prof.

Rogério e Rodrigo

AUTOVALORES E AUTOVETORES DE UMA MATRIZ

Definição: Seja A uma matriz de ordem n. Se existirem v ∈ Rn , v 6= 0 e λ ∈ R tais que Av = λv,


então λ é dito um autovalor de A e v é dito um autovetor de A associado a λ.
É importante observar que, na definição acima, λ pode ser zero, mas v não pode ser o vetor nulo.
 
5 6
Exemplo: Encontre os autovetores e os autovalores de A = .
3 −2
Neste caso, procuramos um vetor não-nulo v ∈ R2 e um número real λ tais que Av = λv.
 
x
Supõe que v = . Então o problema se resume a encontrar condições sobre λ para que o
y
sistema linear homogêneo Av = λv tenha solução não-trivial. Escrevemos o sistema abaixo:
 
5x + 6y = λx (5 − λ) x + 6y = 0
, ou seja, . (S)
3x − 2y = λy 3x + (−2 − λ) y = 0
Como vimos anteriormente, este sistema possui solução não-trivial se, e somente se,

5−λ 6
= 0, ou seja, det (A − λI) = 0.
3 −2 − λ
Portanto, para encontrarmos λ, precisamos resolver a equação polinomial λ2 − 3λ − 28 = 0.
Resolvendo esta equação obtemos λ = 7 e λ = −4, que são os autovalores da matriz A.
Fazendo λ = 7 no sistema (S) acima e resolvendo o mesmo obtemos como conjunto solução
  
3y
: y ∈ R . Portanto um vetor associado ao autovalor 7 é, por exemplo, o vetor
y
 
3
v= , pois Av = 7v (faça as contas e comprove isso!).
1

Agora, fazendo λ = −4 no sistema (S) acima e resolvendo o mesmo obtemos como conjunto
  
x
solução 3 : x ∈ R . Portanto um vetor associado ao autovalor -4 é, por exemplo,
−2x
 
2
o vetor v = , pois Av = −4v (faça as contas e comprove isso!).
−3
O Polinômio p(λ) = det (A − λI) é denominado de polinômio caracterı́stico de A.
Verifique, no exemplo acima, que p(A) = A2 − 3A − 28I = 0.

Exemplo: Encontre os autovalores e os correspondentes subespaços invariantes de:


 
0 1 0
A= 0 0 1 
2 −5 4

Solução: Vamos seguir o procedimento delineado anteriormente. O polinômio caracterı́stico de A é:



−λ 1 0

p(λ) = det (A − λI) = 0 −λ 1 = −λ3 + 4λ2 − 5λ + 2.
2 −5 −4 − λ

Para achar os autovalores de A, precisamos resolver a equação caracterı́stica −λ3 + 4λ2 − 5λ + 2 = 0.


As soluções desta equação são λ1 = λ2 = 1 e λ3 = 2.
Para encontrar o subespaço invariante correspondente a λ1 = λ2 = 1, precisamos resolver o sistema

 −x + y =0
(A − 1 · I) X = 0, ou seja, −y + z = 0
2x − 5y + 3z = 0 .

Usando eliminação gaussiana, vemos que o conjunto solução deste sistema é E1 = {(x, x, x) : x ∈ R}.
Portanto o subespaço invariante correspondente ao autovalor 1 é a reta de vetor diretor (1, 1, 1).
Para encontrar o subespaço invariante (autovetor) correspondente a λ3 = 2, precisamos resolver o
sistema:

 −2x + y =0
(A − 2 · I) X = 0, ou seja, −2y + z = 0
2x − 5y + 2z = 0 .

Usando eliminação gaussiana neste sistema, obtemos o conjunto solução E2 = {(x, 2x, 4x) : x ∈ R}.
Portanto o subespaço invariante correspondente ao autovalor 2 é a reta de vetor diretor (1, 2, 4).

Observação: Notemos que, no exemplo anterior, A é uma matriz de 3 × 3, mas tem somente dois
autovalores distintos. No entanto, se contarmos as multiplicidades, A terá três autovalores: 1 que
é raiz dupla de p(λ) e 2 que é raiz simples. Vamos definir a multiplicidade algébrica de um au-
tovalor como sendo a sua multiplicidade como raiz da equação caracterı́stica. Assim, λ = 1 tem
multiplicidade algébrica 2, e λ = 2 tem multiplicidade algébrica 1.
Agora observemos que, no exemplo anterior, cada subespaço invariante tem dimensão 1. Vamos
definir a multiplicidade geométrica de um autovalor λ como sendo a dimensão do subespaço
invariante associado a λ. No exemplo anterior temos que, tanto o autovalor 1 como o autovalor 2,
tem multiplicidade geométrica 1.

Exemplo: Encontre os autovalores e os correspondentes subespaços invariantes de:


 
−1 0 1
A=  3 0 −3 
1 0 −1

Solução: Neste caso, a equação caracterı́stica é:



−1 − λ 0 1

0 = det (A − λI) = 3 −λ −3 = −λ3 − 2λ2 .

1 0 −1 − λ

Portanto os autovalores de A são λ1 = λ2 = 0 e λ3 = −2. Por isso o autovalor 0 tem multiplicidade


algébrica 2 e o autovalor −2 tem multiplicidade algébrica 1.
Para encontrar o subespaço invariante correspondente a λ1 = λ2 = 0, precisamos resolver o sistema

 −x + z = 0
(A − 0 · I) X = 0, ou seja, x − 3z = 0
x− z =0 .

Então o conjunto solução deste sistema é E0 = {(x, y, x) : x ∈ R}, que é um plano gerado pelos
vetores (1, 0, 1) e (0, 1, 0). Neste caso temos que o autovalor 0 tem multiplicidade geométrica 2.
Para encontrar o subespaço invariante (autovetor) correspondente a λ3 = −2, precisamos resolver o
sistema:

 x + z=0
(A − (−2) · I) X = 0, ou seja, 3x + 2y − 3z = 0
x + z=0.

Usando eliminação gaussiana, obtemos o conjunto solução E−2 = {(x, −3x, −x) : x ∈ R}.
Portanto o subespaço invariante correspondente ao autovalor −2 é a reta de vetor diretor (1, −3, −1).
Logo o autovalor −2 possui multiplicidade geométrica 1.

Questão: A multiplicidade geométrica de um autovalor pode ser maior do que a sua multiplicidade
algébrica?

Exercı́cio 1. Encontre os autovalores e autovetores de cada uma das matrizes abaixo. Além disso,
diga qual é o subespaço invariante correspondente a cada autovalor, bem como a sua multiplicidade
algébrica e a sua multiciplicidade geométrica.

         
−5 −1 5 −2 2 −5 5 −6 0 1
(a) ; (b) ; (c) ; (d) ; (e) ;
2 −2 2 1 1 −2 3 −4 1 0
       
4 0 1 0 0 1 1 0 −1 1 0 −9
(e)  −2 1 0  ; (f)  0 1 0  ; (i)  −1 1 −1  ; (j)  0 −9 0  .
−2 0 1 1 0 0 0 0 1 9 0 1

 
4 2
Exercı́cio 2. Considere a matriz A = .
3 −1
(a) A matriz A possui inversa? Caso afirmativo, determine A−1 .
(b) Obtenha os autovalores e autovetores de A e de A−1 .

   
1 2 1 1 3 1
Exercı́cio 3. Sejam A =  0 −1 1  e B =  0 2 0  matrizes invertı́veis.
0 0 −1 0 0 3

(a) Calcule AB e BA e observe que estes produtos são distintos.


(b) Encontre os autovalores de AB e os de BA. O que você observa?
(c) Encontre os autovetores de AB e os de BA. O que você nota?
(d) Motivado pelos itens anteriores, mostre que: se A e B são matrizes invertı́veis de mesma ordem,
então os autovalores de AB e BA são os mesmos. Mostre mais ainda: se λ1 é um autovalor de
AB com autovetor v, então λ1 é autovetor de BA com autovetor Bv. Da mesma forma, se λ2 é
um autovalor de BA com autovetor w, então λ2 é autovalor de AB com autovetor Aw.

DIAGONALIZAÇÃO DE UMA MATRIZ

Definição: Sejam A e B matrizes n × n. Dizemos que A é semelhante a B se existir uma matriz


n × n invertı́vel P tal que P −1 AP = B.

Teorema: Sejam A e B matrizes n × n semelhantes. Então valem:


(a) det A = det B; (b) A é invertı́vel se, e somente se, B for invertı́vel;
(c) A e B têm o mesmo polinômio caracterı́stico: (d) A e B têm os mesmos autovalores.
Definição: Uma matriz n × n A é diagonalizável se existe uma matriz diagonal D tal que A seja
semelhante a D, ou seja, se existe uma matriz P n × n invertı́vel tal que P −1 AP = D.

Teorema: Seja A uma matriz n × n. Então, A será diagonalizável se, e somente se, tiver n autove-
tores linearmente independentes. Mais precisamente, existem uma matriz invertı́vel P e uma matriz
diagonal D de maneira que P −1 AP = D se, e somente se, as colunas de P forem n autovetores de
A, linearmente independentes, e os elementos da diagonal de D forem os autovalores correspondentes
àqueles, colocados na mesma ordem.

Teorema: Seja A uma matriz n × n e sejamSλ1 , λS , λk autovalores distintos de A. Se Bi é uma


2 , . . .S
base do subespaço invariante Eλi , então B1 B2 . . . Bk é um conjunto LI.

Teorema: Seja A uma matriz n × n. Se A possui n autovalores reais distintos, então A é diago-
nalizável.

Teorema: Se A é uma matriz n × n, então a multiplicidade geométrica de cada autovalor é menor


ou igual a sua multiplicidade algébrica.

O Teorema da Diagonalização: Seja A uma matriz n×n com autovalores distintos λ1 , λ2 , . . . , λk .


São equivalentes:
(a) A é diagonalizável;
(b) A união B das bases dos subespaços invariantes dos autovalores contém n vetores.
(c) A multiplicidade algébrica de cada autovalor é igual à sua multiplicidade geométrica.

Exemplo: Sendo possı́vel, determine a matriz P que diagonaliza:


 
0 1 0
A= 0 0 1 
2 −5 4

Solução: Esta matriz já foi estudada anteriormente, onde descobrimos que seus autovalores são
λ1 = λ2 = 1 e λ3 = 2. Os subespaçõs invariantes têm as seguintes bases:
• Para λ1 = λ2 = 1, E1 tem base {(1, 1, 1)}.
• Para λ3 = 2, E2 tem base {(1, 2, 4)}.
Como todos os outros autovetores são somente múltiplos de algum desses dois vetores da base, não
podem existir três autovetores LI. Pelo Teorema anterior, segue que A não é diagonalizável.

Exemplo: Sendo possı́vel, determine a matriz P que diagonaliza:


 
−1 0 1
A=  3 0 −3 
1 0 −1

Solução: Esta matriz também já foi estudada anteriormente, onde descobrimos que seus autovalores
são λ1 = λ2 = 0 e λ3 = −2. Os subespaçõs invariantes têm as seguintes bases:
• Para λ1 = λ2 = 0, E0 tem base {(0, 1, 0), (1, 0, 1)}.
• Para λ3 = −2, E−2 tem base {(−1, 3, 1)}.
É fácil ver que os vetores (0, 1, 0), (1, 0, 1) e (−1, 3, 1) são LI.
   
0 1 −1 0 0 0
Assim, tomando P =  1 0 3  , então P será invertı́vel. Além disso: P −1 AP =  0 0 0  .
0 1 1 0 0 −2

(É mais fácil verificar que AP = P D.)

Exercı́cio 4.: Sendo possı́vel, determine a matriz P que diagonaliza cada uma das matrizes dos
Exercı́cios 1, 2 e 3.

Observações:
1) Seja D uma matriz diagonal e k ∈ N. Então:
   
a11 0 ··· 0 ak11 0 ··· 0
 0 a22 0
 ··· 0 


 0 ak22 0 ··· 0 

 .. . .. .. .. ..
D= . .. e Dk = 
  
.  . . . 
0 akn−1
   
 0 · · · 0 an−1 0   0 ··· 0 
0 ··· 0 ann 0 ··· 0 aknn

2) Se A é diagonalizável, então existem uma matriz inversı́vel P e uma matriz diagonalizável D tal
que A = P DP −1 . Além disso, se k ∈ N e t ∈ R, então Ak = P Dk P −1 e etA = P etD P −1 .
3) Se A é diagonalizável, então a solução do problema de valor inicial y 0 (t) = Ay, y(0) = y0 pode
ser expressa por y(t) = etA y0 .

Exercı́cio 5. Calcule a exponencial das matrizes do Exercı́cio 1.

Exercı́cio 6. Resolva o sistema de equações diferenciais abaixo:


   
0 0 4 1
y 0 (t) =  0 3 0  y, y(0) =  −1 
4 0 0 5

Exercı́cio 7. Encontre os autovalores, os autovetores e a exponencial eAt para


 
−1 1
A=
1 −1

Exercı́cio 8. Suponha que a população de coelhos c e a população de lobos l é governada por


dc
= 4c − 2l
dt
dl
=c+l
dt
(a) Se inicialmente as populações de coelhos e lobos forem c = 300 e l = 200, quais serão as
populações no tempo t?
(b) Depois de um longo tempo, qual é a proporção da população de coelhos em relação a de lobos?

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