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Pastor Também Precisa de Pastor?

Por David Kornfield

O que as seguintes pessoas têm em comum?

- O homem que tem pastoreado por quarenta anos, mas, só tem


um ano de experiência... e vem repetindo por quarenta vezes!

- O pastor que vê mais e mais seus líderes com problemas sérios em seus
casamentos ou famílias, mas lhe falta a autoridade para discipliná-los e aconselhá-
los, uma vez que ele tem problemas parecidos.

- A esposa de pastor que já não agüenta mais, porque seu marido não lhe fala
d'outra coisa, a não ser relatar como vai o ministério da igreja, e de instruções
quanto ao que ela precisa antes do seu próximo encontro pra reunião.

- O co-pastor que lamenta: "Eu tenho andado bem próximo ao pastor, por quatro
anos, e ele nunca compartilhou nada de sua vida pessoal comigo".

- O pastor que está pronto para deixar um ministério frutífero, porque a


denominação não lhe paga o suficiente para sobreviver. Ao mesmo tempo, ele não
comunica a outros suas necessidades financeiras, porque acha que seria falta de fé
ou muito humilhante.

O que estas pessoas têm em comum? Cada qual tem problemas, mesmo que, às
vezes, não estejam conscientes disso. Nenhum deles sabe como resolver os
problemas. Cada qual é pastor ou esposa de pastor. E, para cada um deles, falta
alguém com autoridade espiritual e maturidade para estender um cuidado para
suas vidas.

Quantos pastores e esposas de pastores têm alguém que lhes dá cuidado pastoral?
Dez por cento? Cinco por cento? Um ou dois por cento? É difícil dizer, mas, o que
podemos dizer é que para a maioria de nós, que somos pastores, falta um
pastoreio para nossas próprias vidas.

Isto pode nos levar a uma outra pergunta. O que é pastoreio? Muitos diriam que o
pastoreio tem muito a ver com a pregação. Outros destacariam o evangelismo.
Outros, fazendo uma análise do seu tempo, observariam que passam mais tempo
em administração do que em qualquer outra atividade. Sem dúvida o pastoreio
inclui todas estas atividades.

Mas o trabalho principal do pastor, olhando o modelo bíblico, é de cuidar do


rebanho. Salmo 23 não fala de pregar, ou evangelizar, nem de administrar. E
quando Jesus explica o que é um bom pastor, também não fala dessas atividades.
Ele fala de conhecer intimamente as ovelhas, cuidar delas e as ajudar a se
desenvolver (João 10). Este cuidado é o que Deus cobra dos pastores de Israel em
Ezequiel 34. Quero sugerir que o coração do pastoreio é o cuidado e
desenvolvimento do rebanho.

Com isto em mente, poderíamos definir o pastoreio desta forma: O pastoreio é o


cuidar e o desenvolver os santos para poder apresentá-los perfeitos ao grande
Pastor, Jesus Cristo.

Dada a definição, podemos voltar à pergunta: o pastor precisa de um pastoreio? Ele


é ovelha também, ou já não tem necessidades como as outras pessoas? É um
super-homem ou precisa de um cuidado para a vida dele? Ele é gente de carne e
osso ou já alcançou a perfeição?

A resposta a estas perguntas parece óbvia. Mas a prática de vida de muitos


pastores nega o óbvio!

Algumas denominações tem um dia mensal para o obreiro. Mas essas reuniões ou
tratam de assuntos administrativos ou têm pregações gerais que, muitas vezes,
não atingem as necessidades específicas dos pastores. Outras denominações tem
superintendentes ou bispos para supervisionar os pastores. Mas, raras vezes, isto
acontece de forma que o pastor sinta o calor de um cuidado pastoral pessoal.
Algumas cidades tem conselhos de pastores que se reúnem mensalmente. Isto
ajuda com um certo nível de comunhão e unidade, mas, raramente estes pastores
chegam a ter o tipo de relacionamento onde poderiam compartilhar problemas
íntimos.

E se estas atividades não atingem as necessidades dos pastores, como será, então,
para as esposas de pastores? Geralmente estas atividades não incluem as esposas.
Se o pastor é isolado ou solitário, a esposa do pastor geralmente é o dobro!

Está tudo bem? Podemos continuar como estamos? Uma vez que temos funcionado
assim por muitos anos, precisamos mudar? Mudar costumes, hábitos e
mentalidades estabelecidas por muitos anos será difícil. Podemos continuar
ignorando os problemas pessoais de pastores e suas esposas e manter o ministério
como sempre temos feito?

Seria bom perguntar: O que acontece quando um pastor não tem alguém que
estenda o cuidado pastoral para a vida dele?

1. Ele sofre. Não tem um meio de ser real, de abrir-se, de expressar suas dores e
dificuldades. Ele não cresce como deve por que ninguém o está ajudando superar
pontos fracos. Ele facilmente se esgota, sempre dando e nunca recebendo. E,
muitas vezes, a igreja, a denominação ou até mesmo o pastor, acha que deve ser
assim porque considera que isto é uma indicação de que ele está dando a sua vida
pelas ovelhas.

2. Sua esposa sofre. Todo homem que tem um chamado para o ministério, se for
honesto, vai admitir que ele facilmente deixa o ministério tomar prioridade em
relação à esposa. Muitos tem brincado que o pastor tem duas mulheres: a igreja e
a esposa. É comum um homem não crente, com duas mulheres, dar menos
atenção e entregar menos de seu coração à sua esposa do que à segunda mulher.
O pastor tem de lutar contra a mesma tendência e, muitas vezes, perde a luta. Até
pode ser que pare de lutar e deixe o ministério dominar sua vida.

3. Os filhos sofrem. Quantas vezes filhos de pastores querem ser qualquer coisa
menos pastor. Ainda quando sentem um chamado para o ministério, geralmente
têm em mente ser outro tipo de ministro ou pelo menos não ser um pastor como o
seu pai. Um fator que se encaixa aqui, em muitas denominações, especialmente as
pentecostais, é a falta de honra financeira dada ao pastor.

4. Os líderes da igreja sofrem. Eles não recebem um cuidado pastoral para suas
vidas porque o pastor não sabe compartilhar o que nunca recebeu. Quando eles
vêem problemas na vida do pastor, muitas vezes, sentem que têm que chegar a
soluções políticas, porque não existe alguém a quem eles poderiam recorrer para
exortar o pastor. E os líderes reproduzem o modelo de ministro que o pastor
demonstra: negligenciando suas famílias, sendo fortes e fechados. Quando eles têm
problemas, em muitos casos, não os levam para o pastor, porque sabem que ele é
ocupado demais ou temem que ele possa julgá-los por seus problemas, ao invés de
ajudá-los.

5. A igreja sofre. Quando o pastor, sua esposa, seus filhos e os líderes da igreja
sofrem, é impossível que a igreja não sofra! Além disso, os membros geralmente
tomam o pastor como modelo de um crente maduro e procuram imitá-lo. Em
muitas igrejas isso quer dizer que o "crente exemplar" está enredado no ativismo,
não admite problemas pessoais,
acha que já conhece tudo que precisa, e encoraja (e até exige) que os outros sejam
como ele.

6. O mundo sofre. Jesus falou que o amor seria a marca que convenceria o mundo
de que somos seus verdadeiros discípulos (João 13.34,35). A igreja e o pastor que
têm as qualidades indicadas acima não atrairão os descrentes como Deus está
querendo. É interessante que pastores têm dito que eram muito mais abertos
quando não eram crentes. Eles aprenderam a fechar-se na igreja. Por incrível que
pareça, existem coisas boas no mundo que passamos a negar dentro da igreja!

7. Deus sofre. Ninguém sofre sem que Deus sofra também. Se nós pudéssemos ver
o coração de Deus em relação a seus pastores, em muitos casos, veríamos um
coração quebrantado. Deus ama tanto a seus pastores que sente muito por eles
não receberem um amor e cuidado para suas vidas.

Se nos convencermos que pastores e suas esposas precisam de alguém para


estender um cuidado pastoral para suas vidas, devemos passar urgentemente a
outra pergunta: como um pastor e sua esposa podem experimentar um cuidado
pastoral?

Num certo sentido a resposta não é complicada. Existem vários modelos de


pastoreio de pastores que são bons. Por outro lado, a resposta não pode ser muito
simples porque estamos falando de uma mudança de atitude, de valores e de uma
mudança de vida.

Nós procuramos responder a este desafio de duas formas. A primeira é treinar


pastores em como formar discipuladores, começando com a liderança principal de
sua igreja. A maioria dos pastores do Brasil entende o discipulado de forma
diferente da que Jesus entendeu. Acham que o discipulado é um trabalho, de um a
três meses, desenvolvido para ajudar novos convertidos; especialmente aqueles
que estão se preparando para o batismo. Em nosso trabalho enxergamos o
discipulado de uma forma radicalmente diferente, procurando a perspectiva do
próprio Jesus, pois, para Ele, o discipulado foi a formação dos principais líderes da
igreja que iriam reproduzir. O movimento de discipulado pretende ajudar o pastor
na formação de seus principais líderes, para que estes, por sua vez, comecem seus
próprios grupos de discipulado, selecionando as pessoas que teriam a maior
possibilidade de liderar outros grupos. Neste movimento cada pastor (e cônjuge de
pastor) tem a opção de ter um pastor discipulador e participar de um grupo de
discipulado com outros pastores, experimentando, assim, um pastoreio em sua
vida.

A segunda forma de respondermos à necessidade do pastor ser pastoreado é por


meio de encontros, de três ou quatro dias, onde pastores e esposas podem
experimentar o que é um grupo de apoio pastoral. Nesses encontros também
procuramos oferecer ferramentas e treinamento prático em várias áreas, como a de
desenvolver uma equipe pastoral na igreja local. Normalmente só fazemos estes
encontros onde já existe uma boa base pastores envolvidos no movimento do
discipulado. Temos visto que estes encontros funcionam melhor quando são feitos
de forma denominacional, com o apoio e participação da liderança estadual ou
nacional.

Se você tem alguma experiência para oferecer ou conhece alguém que está
fazendo um bom trabalho de pastoreio de pastores, por favor, comunique-se
conosco. Da mesma forma, se você quiser mais informação sobre o nosso
ministério, dentro do que foi colocado acima, estamos à disposição.

Para obter mais informações sobre Pastoreio de Pastores, acesse o site


http://www.mapi-sepal.org.br/

David Kornfield é missionário da Sepal e lidera o MAPI. Formou-se em


Antropologia na Universidade de Wheaton, fez mestrado em Educação (Azusa
Pacific University) e Antropologia (Universidade de Chicago) e doutorado em
Educação Comparativa (Universidade de Chicago). Trabalha no discipulado desde o
ano de 1974. A partir de 1991, dedicou-se especificamente à formação e
treinamento de pastores e discipuladores. Casado com Débora, tem quatro filhos.

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