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1 Reviewed Work(s): Ushering in a New Republic: Theologies of Arrival at Rome in the FirstCentury
BCE by Trevor S. Luke Review by: Fábio D. Joly Source: The Classical Journal, Vol. 111, No. 4 (April-
May 2016), pp. 502-503 Published by: The Classical Association of the Middle West and South, Inc.
(CAMWS)
não tanto por sua participação nos sacrifícios públicos, que permanecem sendo muito
episódicos, mas por suas relações pessoais estreitas com os membros das classes
superiores (RÜPKE, 2005, 221);
- A raridade das fontes não reflete absolutamente o grande número de intervenções de
figuras proféticas (uates) na Roma republicana; Essa fonte de autoridade religiosa não
parece ter se beneficiado da consideração da classe superior (RÜPKE, 2005, 221); (*) Commented [U3]: - textos literários do fim da República
cujos autores assumiam um papel de uates; função com
- A prosopografia constatou ligações pessoais muito estreitas entre o Senado e os implicações mais reais e carregadas de sentido do que
frequentemente se supõe (?)
sacerdotes; Szemler popularizou a metáfora dos sacerdotes como constituindo
“comissões permanentes do Senado” (RÜPKE, 2005, 222); Os domínios de trabalho dos
diferentes colégios sacerdotais não se superpunham; O Senado se encarregava da missão,
mas não atribuía as competências; Há fontes que atestam a consciência da diferença de
papeis, ou melhor do conflito entre esses papeis (RÜPKE, 2005, 223);
- Diferenças quando comparamos sacerdotes e magistrados: cargo vitalício oposto à
anualidade, a cooptação ao “voto popular” (RÜPKE, 2005, 223);
- A aristocracia e a competição política: construção de templos, os investimentos públicos
em jogos; construções que trazem prestígio; sistema de símbolos que se constrói mediante Commented [U4]: Os XVuiri s.f. que recomendam a
altos custos / capital simbólico legítimo e comunicável (RÜPKE, 2005, 223); introdução de novos festivais no calendário, que oneram os
cofres públicos;
- Os votos sobre as propostas de lei dos magistrados – porque as assembleias não
contavam com nenhuma lei de iniciativa – possuíam o caráter de um rito de consensus,
ao exprimir o apoio esperado (RÜPKE, 2005, 223); As eleições nas assembleias, ao
fazerem suas escolhas dentre os candidatos apresentados, reforçam, no contexto da
concorrência aristocrática, a adesão ao mecanismo carreirístico/cursus honorum
- São precisamente as atividades políticas e militares dos altos magistrados que, por meio
do recurso aos auspícios, instalam-se em um espaço especificamente público; (RÜPKE,
2005, 230);
de Roma era, portanto, um "palco de história", no sentido em que nele importantes Commented [U7]: HÖLKESKAMP, Karl-J. History and
Collective Memory in the Middle Republic. In: A companion
eventos ocorriam e, simultaneamente, acontecimentos do passado eram incessantemente to the Roman Republic. Blackwell Publishing, 2006, p. 482
evocados (*) // “estratos do tempo” (*); Articularam uma identidade e construíram um
modelo de autoreferência, a partir do qual puderam ordenar suas concepções de ordem e Commented [U8]: - Passado, presente e futuro;
formas de percepção; Justificativa para a expansão e domínio do Império (BERTHELET, - A escolha pelo tema das adivinhações, mais especialmente
os auspícios;
2015, 18); - Os auspícios eram um dos meios mais influentes de
exercício de poder da República Romana Tardia, pois
- Binômio propriamente romano “auctoritas/potestas”: operatório para compreender o permitia interferir nas questões presentes e assegurar o
funcionamento e o que está em jogo na adivinhação pública augural na república romana, controle sobre decisões futuras;
- Traz o peso da tradição ancestral e do rito de fundação de
cujas instituições estruturaram-se em torno da complementaridade e da exclusão Roma;
recíproca dessas duas funções (BERTHELET, 2015, 19); - s questões prementes do presente: crise dos valores e fontes
de autoridade tradicionais; guerras civis; intensificação dos
- Os auspicia relacionam-se ao exercício e à legitimidade das magistraturas; Constatar auspícios enquanto instrumentos de controle político;
- Horizonte de expectativa; expansão do império; a realidade
em certos momentos prescritos do tempo político, e por meio de técnicas apropriadas, a do Principado / Ideia de que Lucrécio antecipa a lógica do
existência de uma situação harmoniosa entre a vontade dos cidadãos e do corpo político Principado
e aquela dos deuses (*) [página 27]; Os detentores das magistraturas patrícias, “du Commented [U9]: Os áugures observavam, de acordo com
a disciplina, os sinais divinos de não-hostilidade, constatando
peuple”/ do povo, detinham potestas pública e, por consequência, o direito de tomar os a posição favorável dos deuses em uma ação pública
auspícios em nome do povo romano (BERTHELET, 2015, 20); pretendida.
- O auspicium e a potestas cum ou sine imperio: duas expressões de uma mesma ideia SANTANGELO, F. Divination, Prediction and the end of the
Roman Republic. New York: Cambridge, 16.1, 2013, p. 4,
considerada sob pontos de vista diferentes, aquele das relações com o plano divino, 32; BELTRÃO, 2014. Op. Cit. p. 57
relação com os deuses, e aquele das relações terrestres (BERTHELET, 2015, 21); (*)
- O auspicium é prerrogativa fundamental, fonte da potestas e do imperium do magistrado;
Commented [U10]: Lembrar passagem em que Lucrécio
a correspondência/relação entre auspicium publicum e ius imperii (BERTHELET, 2015, “eleva” os homens ao lugar dos deuses;
22); Commented [U11]: Auspícios inaugurais de Rômulo (no
momento de fundação da urbs) >> Rômulo é filho de Marte;
- articulação institucional entre auspicium, potestas e imperium (BERTHELET, 2015, Os romanos, que descendem de Eneias, são filhos de Vênus,
23); antes de serem filhos de Marte; Lucrécio teria a intenção de
fazer a auctoritas do magistrado não descender de Júpiter;
- Complementaridade entre o auspicium do magistrado e a auctoritas de Júpiter (*): a Auctoritas >> o que permite ao magistrado agir em nome do
povo romano; Não seria a consulta aos auspicia e a
auctoritas de Júpiter, no momento que o magistrado toma os auspícios, “aumentaria” o constatação da posição dos deuses, mas conduzir a
ato público que ele se dispõe a fazer, atualizando e legitimando assim, por uma ação respublica com ractio;
dada\conhecida, o seu “poder em potência” (BERTHELET, 2015, 23); Vênus, que representa a visão epicurista de mundo, e
Marte, deus da guerra; Vênus persuade Marte...
- As relações de poder e autoridade entre os magistrados detentores dos auspícios, os
Commented [U12]: - Expressão “aristocracia senatorial”;
sacerdotes – em particular os áugures – o Senado e o povo de Roma (BERTHELET, 2015, - Expressão “nobreza senatorial” (nobilitas): subgrupo do
23); Senado composto apenas por famílias patrícias e famílias
consulares;
- A expressão “aristocracia senatorial” tem um sentido mais amplo que “nobreza
Commented [U13]: - Expressão “aristocracia patrício-
senatorial” (nobilitas) que passou a designar, desde as reformas Licinio-Sextiennes de plebeia”;
267 AEC, um subgrupo do Senado composto apenas por famílias patrícias e famílias - Expressão “nobreza patrícia”: relação privilegiada com os
auspícios;
consulares (BERTHELET, 2015, 23); (*)
Commented [U14]: Ou seja, ao analisarmos o modo
- Mesmo após a constituição de uma aristocracia patrício-plebeia pela abertura à elite da como um indivíduo age/atua dentro desses sistemas
plebe, entre 367 e 300 AEC, das magistraturas patrícias e dos principais sacerdotes, a institucionalizados, principalmente os deslocamentos e
desvios que realiza, com sua atitude particularizada, frente
nobreza patrícia conservou uma relação privilegiada com os auspícios e com a ao arcabouço normativo mais geral, temos pistas/indícios
auctoritas (BERTHELET, 2015, 24); (*) da sua percepção dos espaços religiosos, da forma como
intui e constrói epistemológico e cosmologicamente esses
- As magistraturas do povo (ditatura, consulado, pretura, censura, questura e édilité espaços que orientam a sua conduta;
Ou seja, optar pela perspectiva da religião romana
curule) herdaram, face às magistraturas da plebe (tribunat e édilité da plebe) um subsumida no modelo de “polis-religião”, cuja ênfase está
monopólio auspicial patrício (BERTHELET, 2015, 24); na sua inserção institucional na cidade, o que nos leva a
pensar a adivinhação pública dentro de um quadro cívico/a
- “Compromisso individual na praxis religiosa e experiências pessoais de relacionamento referência é o modelo cívico, não impede que se investigue
as perspectivas individuais/cognitivas, aquelas assumidas por
com seres divinos não estão nem apartados da rede institucionalizada de espaços e agentes individuais/líderes, como JC, dentro desses sistemas
momentos religiosos, nem independente das fórmulas normativas do ritual ainda que de signos e conceitos normativos;
sendo pessoal” Belayche 2013 p. 243 (BERTHELET, 2015, 25); (*)
Commented [U15]: Ou melhor, pragmática e
- Que levemos em consideração a inserção institucional da adivinhação pública na cidade ideologicamente informadas.
e no quadro cívico (BERTHELET, 2015, 25); Commented [U16]: Lucrécio recorre ao epíteto político-
civil de Vênus;
- “Deslocando a ênfase dos sistemas de signos e outros conceitos normativos de cultura
para o agente individual”: modelos alternativos ao de “polis-religião”; Ex.: Rüpke, 2014 Commented [U17]: Ou seja, a informação trazida pelo
(BERTHELET, 2015, 26); manejo dos auspicia não deveria gerar terror religioso nem
motivar atitudes supersticiosas;
- Visualizar a tomada dos auspícios como uma “instância oficial de legitimação que
Commented [U18R17]:
propõe decisões social e politicamente objetivas”; Papel na renovação\reiteração dos
Commented [U19]: Voltar ao hino a Vênus e a menção a
limites da cidade romana e de seu império (BERTHELET, 2015, 26); Marte.
Parece que Lucrécio não vai de encontro a essa pax
- “Os romanos criam firmemente serem um povo piedoso e descendente dos deuses: hominum/pax deorum assumida como estabelecida de
Vênus (*) é a mãe de Eneias e Marte é o pai de Rômulo. As ações que os romanos antemão, desde o período de fundação da urbs, cujos
protagonistas, Eneias e Rômulo, descendem desses dois
concebiam são em princípio em acordo com a vontade divina. É por essa razão que, deuses; A tomada dos auspícios reflete esse acordo a priori
quando interrogavam os deuses, eles esperavam a priori encontrá-los favoravelmente entre homens e deuses;
dispostos. A tomada dos auspícios reflete essa consciência: ela equivale a um rito que - Uma prece filosófica; explicação filosófica da natureza;
atesta publicamente o consenso divino” (*); (Jaillard e Prescendi 2008, p. 83) - Elege Vênus como princípio gerador de todas as coisas:
quae quoniam rerum naturam sola gubernas [= uma vez que
(BERTHELET, 2015, 27); (*) tu, sozinha, rege a natureza das coisas]; Fecha o primeiro
verso com palavra-chave da ética epicurista: uoluptas [=
- As adivinhações públicas, principalmente os auspícios, serviam à regulação do prazer];
equilíbrio de poder interno à aristocracia senatorial (BERTHELET, 2015, 27); - Vênus na condição de representação alegórica de um
mundo ordenado pelo prazer e pelos impulsos espontâneos;
- Caráter fragmentário da autoridade divinatória // sistema republicano hostil a toda Lucrécio eleva a deusa a uma posição tal que passa a
representar a visão epicurista de mundo;
concentração de poder (J. A. North) (BERTHELET, 2015, 27); (*) - Mãe de Eneias, ou seja, do povo romano; remontando às
origens de Enéas em Troia e sua descendência de Vênus.
- A adivinhação participava do processo de decisão política e articulava os acordos e Esta alusão pode sugerir que Lucrécio dava ao leitor uma ...
desacordos nas situações de incerteza (Nota 87: Rüpke 2012b) (BERTHELET, 2015, 27); Commented [U20R19]:
[– 26] Commented [U21]: JC e suas reformas religiosas.
Concentração de poder em torno do pontifex maximus;
- De diuinatione escrito entre 1° de janeiro e 15 março de 44 (Cícero era áugure desde
53\52), e revisto depois do assassinato de César (BERTHELET, 2015, 30); 46;
- Não devemos exagerar a distinção entre os tratados que Cícero escreveu para expor sua
visão como homem de Estado, como De legibus e De republica, e aqueles compostos
para fazer parte de suas concepções filosóficas, como De natura deorum e De diuinatione.
Tanto em um caso como no outro, ele incita seus contemporâneos, em particular os jovens
nobres, a honrar as tradições republicanas e a reagir à confiscação da liberdade
aristocrática (BERTHELET, 2015, 30); (*)
- De la langue latine de Varrão: informações sobre questões augurais (BERTHELET,
2015, 31);
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- O magistrado que presidisse uma assembleia deveria, na noite que a precederia, no local
no qual deveria ocorrer, “tomar os auspícios”; Essa aprovação religiosa podia ser
interrompida antes ou durante a reunião por um magistrado ou áugure que observasse
sinais contrários; Ainda que os magistrados usufruíssem da prerrogativa do contato direto
com os deuses para assegurar a aprovação divina para atividades políticas, a eles faltava
individualmente o controle e a autoridade religiosa do Senado; Na verdade, eram os
senadores, e não os sacerdotes, que desempenham largamente aquela função de mediação
comumente vista como distintivamente sacerdotal; É possível ter uma ideia do controle
religioso senatorial quando observamos a relação do Senado com os colégios dos áugures
e dos pontífices (BEARD, 1990, 34);
- Lex Ogulnia de 300 assegurou que 5 sacerdotes em cada colégio deveriam provir de
famílias plebeias (BEARD, 1990, 35);
- Áugures e pontífices ocupam posições diferentes em relação aos deuses/no sistema
religioso romano; Os pontífices não possuem acesso direito ou comunicação com o
divino; O seu poder consiste na mediação entre o centro/núcleo da religião romana, na
forma, principalmente, do Senado, e os cidadãos tomados individualmente; Os áugures
possuem uma direta linha de comunicação com o divino, embora estejam em muitos
aspectos subordinados ao Senado, o principal foco de mediação; Cícero (Dom. 1. 2)
refere-se aos pontífices como interpretes religionum (“intérpretes das observâncias”).
Enquanto chama os áugures de interpretes internuntiique Iouis Optimi Maximi
(“intérpretes e mensageiros de Jupiter Optimus Maximus”) (Phil. 13. 5. 12), expressão
similar em Leg. 2. 8. 20, internuntii; Nesse vocabulário está inscrita a visão de que os
áugures possuem uma direta ligação com o divino não compartilhada pelos pontífices;
No discurso De Domo Sua, Cícero dá grande ênfase na sapientia e sciencia (“sabedoria
e expertise”) dos sacerdotes; O pontifex ganha desse conhecimento considerável
auctoritas; Sapientia e seus cognatos: disciplina (Dom, 46. 121) (BEARD, 1990, 35-6;
9);
- As funções dos pontífices: controle sob o comportamento religioso dos indivíduos / nos
dias de festivais religiosos e seu papel consultivo em relação ao Senado; A
regulamentação das práticas funerárias/de enterramento e as leis tumulares; São
responsáveis por determinar quem deverá comprometer-se/estar obrigado a cumprir os
ritos regulares para o morto e seu túmulo e determinam o que constitui propriamente um
funeral sagrado2; Regulam a vida religiosa das famílias; Supervisionam os processos de
adoção, que envolvem a transferência de um indivíduo de uma órbita religiosa privada de
uma família para outra; As adoções são controladas e autorizadas pela comitia curiata ou
calata convocada pelo PM (Aulus Gellius, NA 15, 27, 1-3; Tacitus, Hist. 1,15); Sua
função de mediação opera entre dois polos humanos: o do Senado, com sua autoridade
religiosa, e o dos cidadãos romanos. Em termos práticos, do ponto de vista do cidadão
romano, os pontífices deveriam parecer muitos poderosos; Essa função de mediação é
crucial; Cícero no De Legibus (2. 8. 20 e 2. 12. 30 – a ligação entre qui sacris publicae
praesint’ e religio privata) reconhece implicitamente que um sistema religioso como o
romano, cujo centro repousa na esfera institucional e pública, deve encontrar meios de
ligar/unir/relacionar esse centro com o que não é privado; Os pontífices providenciam
essa ligação, essa “ponte” entre o poder central do Senado e os cidadãos tomados
individualmente, tal como vivem suas vidas; É esse aspecto particular do poder pontifical
que explica/justifica a proeminência do PM e a acirrada disputa pelo posto entre os
membros da elite romana (BEARD, 1990, 37-9);
- Os áugures desempenhavam papel de mediação entre os seres divinos e os cidadãos
romanos; podem “inaugurar” um pedaço de terra e então colocá-lo em uma relação
especial com os deuses; poder de criar um templum; a curia (=o edifício do Senado
romano) e a rostra (Cic., In Vatinium, 10, 24) são exemplos de templum; possuem o poder
authoritatively de aconselhamento (do Senado) nos casos da relação de magistrados com
os deuses (BEARD, 1990, 39; 40);
- A fragmentação da autoridade sacerdotal em Roma; a relação dos diferentes colégios
entre si; O sistema religioso romano não possuía um centro fixo: trata-se de uma religião
cujo centro estava (em termos de Derrida) constantemente “deferred”; Ainda que o
Senado fosse o centro do poder religioso, esse centro, como o centro do sistema religioso
como um todo, era esquivo/fugidio e intangível; O senatus consulta não era uma lei e não
possuía força estatutária; mas inspirava, emanava autoridade, e raramente era desafiada;
em teoria obedecida por consentimento e comum e acordo, mas que poderiam retroceder;
em volta desse centro esquivo/fugidio, os colégios podiam oferecer o foco de
reinterpretações e reformulações; O conhecimento religioso dos sacerdotes estava tão
2
“proper sanctified burial”
minuciosamente dividido entre diferentes colégios que a muito limitada área de expertise
confiada a cada colégio prevenia que essa expertise oferecesse um acesso independente
ao poder; Se compararmos com as magistraturas romanas, no ápice/topo da carreira
regular de cargos/ofícios está o cônsul, que possui amplo poder executivo sobre quase
toda área da vida romana. Esse poder é limitado, no entanto, pelo tempo: cada par de
cônsules permanece no cargo por apenas 12 meses; não é tempo suficiente para que um
magistrado ganhe, através do posto, uma base permanente de poder; Os sacerdotes
romanos ocupavam seus postos por toda vida; O poder de um sacerdote individualmente
e de cada colégio enquanto instituição era limitado pela extensão muito estreita de sua
especialização; A divisão de responsabilidades entre Senado e colégios na República
garante que a autoridade religiosa esteja o mais amplamente difusa quanto possível em
meio à elite romana (BEARD, 1990, 42, 43);
- Problemas romanos com classificação; a imensa variedade de colégios sacerdotais
romanos; dificuldades para generalizar em termos helenizantes; do ponto de vista grego,
a terminologia para discutir os colégios não foi facilmente estabelecida; No final da
República e início do Principado, era mais comum por parte dos autores gregos a
transliteração dos títulos sacerdotais romanos ou oferecer glossário explicativo (BEARD,
1990, 45);
- Em 12 AEC Augusto tornou-se PM e membro de todos os maiores colégios; Pela
primeira vez, conhecimento sacerdotal foi trazido para junto do poder executivo, e o
imperador, enquanto foco de autoridade política, tornou-se também foco de autoridade
sacerdotal; O padrão de fragmentação da autoridade religiosa e caráter de constante
“deferral” foi perdido; O poder religioso oficial estava claramente definido e localizado:
os discursos do imperador constituíam “religious policy”, que dependia para sua gênese
e eficácia de tudo aquilo que a estrutura da autoridade religiosa republicana não era
(BEARD, 1990, 48);
- Os livros de Títo Lívio que chegaram até nós que cobrem a República Média (219-167
AEC); Adivinhos regularmente citados empenhados em atividades romanas, na paz ou na
guerra: áugures; adivinhos etruscos, os haruspices, intérpretes de prodígios; os XVuiri s.f.
responsáveis pelos livros sibilinos; leitores/intérpretes de entranhas, também chamados
de haruspices, que praticam sua arte, a extispicy, em muitos atos de sacrifício público em
Roma e além (BEARD, 1990, 51); Os haruspices que faziam a leitura da exta nos
sacrifícios: embora não seja possível provar, parece que pertenciam a uma classe mais
baixa (embora talvez cidadãos), muito menos distintos que aqueles haruspices a quem o
Senado julgava mais adequado consultar (BEARD, 1990, 53);
- O que havia era a República, a res publica, o que torna complicado o uso do termo
“religião de estado”; Os rituais de adivinhação estavam amplamente disseminados em
meio às atividades religiosas, políticas e militares dos romanos; Os rituais religiosos
careciam de qualquer estrutura autônoma de poder; (BEARD, 1990, 52); Uma complexa
difusão de papeis – sacerdotes, magistrados, outros agentes rituais, o Senado e mesmo a
assembleia popular – todos possuem alguma influência na interpretação e no resultado
(BEARD, 1990, 53);
- Até onde sabemos, não havia nada que obrigasse o Senado a levar em consideração o
conselho dos sacerdotes em qualquer ocasião em particular; De acordo com relato de
Cícero (Dom. 40): os augures em 57 expressaram publicamente a visão de que as leis de
César de 59 eram uitiosae (viciosas); Fizeram isso em uma contio (ou seja uma reunião
convocada por um magistrado, Clodius), mas não em resposta a uma solicitação formal
pra um regulamento do Senado; E o Senado também não os consultou depois da contio;
O senado possuía boas razões políticas e autoridade para permitir que “considerações
prudentes” impedissem a consulta aos sacerdotes em questões de lei religiosa (BEARD,
1990, 52);
- Os três grupos de adivinhos não eram os únicos envolvidos nos atos públicos de
adivinhação; A tomada dos auspícios não era em geral conduzida pelos próprios áugures;
A tomada dos auspícios era principalmente dever dos magistrados, assim como a
execução de sacrifícios; Os auspícios eram tomados pelo magistrado em um momento
prescrito do exercício do seu cargo – antes da reunião do Senado, antes das assembleias
eleitorais ou legislativas, antes de ultrapassar o pomerium (os limites sagrados da cidade),
antes de uma batalha (BEARD, 1990, 52, 54);
- Na esmagadora maioria dos casos em que Lívio relata detalhes, a preocupação das
respostas dos sacerdotes e dos decretos do Senado não era com a interpretação dos
prodígios, e nem com a elucidação dos perigos que implicavam, muito menos com alguma
profecia específica a respeito do futuro, mas com o estabelecimento de uma cerimônia
apropriada para evitar os perigos, cujos prodígios foram um aviso; As respostas dos livros
sibilinos recordados por Lívio consistem quase todos em prescrições rituais; MacBain
argumenta que interpretações proféticas são dados característicos dos haruspices em
contraposição aos XVuiri (mas evidências a respeito dessa parte de suas atividades são
muito frágeis entre o início do século III e o final do segundo, o que inclui os bem
documentados anos de 219-167) (BEARD, 1990, 54);
- Pode-se argumentar que como o prodígio age como um alarme/advertência de um
desastre, há sempre implícito um elemento de conteúdo profético; Contudo, o que importa
não é a interpretação, mas a técnica, o conhecimento de como evitar a ameaça do desastre
(BEARD, 1990, 55);
- A leitura das entranhas tornou-se proeminente dos tempos de Cícero, enquanto outras
técnicas augurais caíram em descrédito, em parte tornaram-se “vítimas” de um processo
de mudança acidental; Uma categoria de auspícios ainda importante no século II eram os
auspícios militares, tomados pelo comandante antes da batalha; No primeiro século
perdeu lugar não por conta de uma decisão ou mudança de ideias religiosas mas porque
os homens que lutavam nas batalhas não mais assim o faziam durante os anos de seus
ofícios como cônsules, mas no ano seguinte como pro-cônsules, ainda qualificados para
comandar, mas não mais para tomar os auspícios (Cic. Div. 2, 76); A adivinhação militar
ainda tinha lugar mas não encontrava-se mais intimamente conectada com o ritual de
sacrifício antes da ação; A conclusão bem-sucedida de um sacrifício ritual se chamava
litatio, o que indica que os vários estágios do ritual haviam ocorrido sem erros ou
impedimentos e que o haruspex examinou as entranhas e as qualificou como satisfatórias
(BEARD, 1990, 55);
- Modo como Cícero no Diu. trata a adivinhação; Em parte o problema provém do modo
como Cícero opera com os conceitos da filosofia grega; Usa o termo diuinatio como uma
tradução do termo grego mantikê; O termo em latim, ao menos enquanto um termo
abstrato, não possui recorrência antes do uso de Cícero; O que Cícero faz em seu diálogo
é oferecer uma versão, cuidadosamente adaptada a uma audiência romana, de um debato
filosófico grego em específico; A sua preocupação principal não é oferecer um relato da
religião romana, e muitos menos um relato de seu desenvolvimento histórico; Preocupa-
se em conduzir um debate a respeito de um tema predeterminado em particular: é possível
para um adivinho, tendo por base suas habilidades ou talento, ter conhecimento a respeito
do futuro? (BEARD, 1990, 57); É possível que Cícero estivesse rearranjando e
reclassificando ocorrências conhecidas por ele, em um modo que seja apropriado às
exigências de um problema filosófico grego; Cícero e seus contemporâneos estão
ativamente engajados em um processo de repensar e rearranjar modos tradicionais de
pensamento e mesmo de vocabulário; Chama atenção a dependência de Cícero, para seus
exemplos, das atividades divinatórias públicas romanas (BEARD, 1990, 57);
- Há menções ocasionais, que sugerem desaprovação por parte da elite dos adivinhos das
classes mais baixas; Controversa passagem do livro de Catão, o Antigo, De Agricultura
(7, 4 - século II), sugere que a adivinhação poderia ter sido vista como uma força
ameaçadora já sob a República; Sobre o papel do uilicus, do supervisor, frequentemente
um escravo ou liberto, responsável pela propriedade/bens de um homem rico;
Aruspicem, augurem, hariolum, Chaldaeum nequem consuluisse uelet.
Não permite que [o uilicus] consulte um haruspex, augur, hariolus ou astrólogo
Os dois primeiros personagens parecem ser aqueles muito estimados, mas uma vez que
Catão os vê como disponíveis, ao menos potencialmente, para consulta por parte de um
mero uilicus, é mais provável que sejam os homens substitutos de uma classe inferior,
presumivelmente o haruspex como leitor de entranhas, e o augur como leitor dos sinais
dos pássaros (BEARD, 1990, 58); Todos esses diferentes especialistas deviam estar
disponíveis para consultas privadas; O que sugere a existência de uma tradição divinatória
mais rico do que se supõe; A passagem frequentemente é citada para demonstrar o
desprezo de Catão por adivinhos em geral; Recomenda a absoluta necessidade de manter
o uilicus em seu lugar devido, não permitindo que viole o controle do seu mestre sob o
negócio como um todo; Ao consultar os adivinhos, o uilicus pode estar ameaçando a
dominação do seu mestre, assim como o faria se contratasse, demitisse, comprasse ou
tomasse de empréstimo sem o consentimento/controle do seu mestre (BEARD, 1990, 59);
A advertência de Catão sugere o tema da relação entre o exercício do poder e o direito de
acesso ao divino (BEARD, 1990, 60);
- No tratado sobre a diuinatio Cícero está preocupado com predição ou profecia, mas o
grosso dos textos estão longe de sugerir que a profecia era o objetivo principal da
adivinhação romana; Sabemos de muitas ocasiões entre 140 e 40 que os haruspices
produziram predições próprio neste sentido; Na maior parte dos casos, eram estilizadas e
pouco especificas, prevendo dissensões civis, tumultos, intrigas, derrotas etc.; Muitas
dessas informações provêm de um autor do Alto Império, Julius Obsequens, cujas
informações foram metodicamente recolhidas de Lívio; Evitar reconstruções históricas
do seguinte tipo: uma vez que não há evidências de uma tradição profética para a Roma
arcaica, a profecia deve ser vista como um novo desenvolvimento a partir de influências
estrangeiras na República tardia (BEARD, 1990, 60);
- Uso da adivinhação como um meio de gerar confiança, ou restaurá-la depois de uma
derrota, desastre ou qualquer forma de crise, recriando por meio do ritual um sentido de
comunidade e de suporte externo e orientação à comunidade; Os romanos de fato às vezes
consultavam o oráculo de Delphi e havia um famoso oráculo próximo, o de Praenestre;
Mas essas consultas não pareciam ser procedimentos típicos (BEARD, 1990, 62);
Abordagem que sugere o uso da adivinhação como um meio de lidar/manejar as crises:
Liebeschuetz em “Continuity and Change” deu um passo considerável à frente ao refutar
a compreensão equivocada que, contudo, perdurou por muito tempo, segundo a qual todo
o sistema foi desacreditado por fraude e manipulação política (BEARD, 1990, 64);
- Na vida pública, o ato da adivinhação caracteristicamente toma lugar em momentos
predeterminados da ação política, e não em uma situação de crise isolada, de dúvida ou
conflito (BEARD, 1990, 62); Havia ocasiões nas quais os deuses eram certamente
consultados em processos de importantes tomadas de decisão; Três declarações de guerra
em Lívio, livros 31, 36 e 42, correspondentes às declarações contra Philip V, Antiochus
o Grande e Perseus; As passagens sugerem que os deuses eram consultados antes das
decisões serem tomadas, na realidade esse era o primeiro de três passos – deuses, senado
e comitia –, antes das negociações pelos oficiais responsáveis tomar seu curso; O senado,
é claro, esteve envolvido em negociações prévias e debates; se não houvesse uma maioria
em favor da guerra, eles não teriam jamais iniciado o processo de consulta; O que era
submetido aos deuses era o que o senado já possuía em mente (in animo) sobre a nova
guerra; É difícil interpretar isso como uma situação na qual conflitos entre grupos precisa
ser resolvido ou evitado; Ao invés disso, tratava-se de um programa ritual
cuidadosamente preparado posto em prática no primeiro dia de um novo consulado, e
seguramente dirigido a encorajar confiança nas votações flutuantes da comitia; As
respostas proféticas produzidas pelos haruspices nesses contextos dificilmente
desempenhariam essa função (BEARD, 1990, 64);
- As atividades dos sacerdotes eram parte integral do processo político da República
Romana, porque eles próprios não eram apenas sacerdotes, mas generais, magistrados,
oradores etc. (BEARD, 1990, 64);
- Uma característica comum de áugures, haruspices e XVuiri, tanto os etruscos quanto os
romanos, era a de que pareciam proceder a partir de registros escritos; A partir do final
da República, o estilo de procedimento dos sacerdotes deve ter compartilhado muitos
elementos em comum com historiadores, antiquários, oradores, os quais encontravam-se
engajados em atividades intelectuais características da elite senatorial (BEARD, 1990,
66);
- Pouca ênfase em discursos proféticos específicos; Poucos profetas identificáveis;
Contrasta com o papel do grego mantis; Elementos que não se encontram na tradição
romana: conquistas heroicas por parte de um adivinho; a recordação de seu nome e dos
seus feitos; reconhecimento público de sua glória; As inscrições haruspicais de Tarquinii
em Elogia Tarquiniensia (Mario Torelli); Haruspices que, ao menos em alguns casos,
estiveram ativamente envolvidos na vida política de Roma, e não apenas naquela de
Tarquinii; Trata-se de um registro local etrusco de sacerdotes considerados
individualmente; Nos registros romanos, os haruspices sempre aparecem como um grupo
sem nenhuma identificação; Mesmo no discurso que Cícero devota inteiramente a um dos
seus pronunciamentos, ele nunca menciona o nome de um único haruspex; O que temos
é uma percepção etrusca independente, bastante diversa da romana; O que nos registros
romanos sempre aparece como um grupo anônimo de sacerdotes, aos olhos dos etruscos
é uma advertência de um único, individual e identificável adivinho, cujos feitos podem
ser lembrados e registrados (BEARD, 1990, 66, 67, 68);
- Não há nada no sistema de adivinhação que possa tornar impossível utilizá-la para
se construir uma reivindicação alternativa de poder (BEARD, 1990, 68);
- Estreita conexão entre o auspicium, o direito de tomar os auspícios, e a autoridade
legítima do magistrado; A consulta aos deuses em nome/interesse do povo permaneceu
sendo uma função básica do magistrado ou pro-magistrado, provendo ao menos parte da
cerimônia por meio da qual seu poder é representado ou construído (BEARD, 1990, 69);
- Nos últimos anos da República e início do Principado, o adivinho nomeável/identificado
nominalmente reemerge [havia nos mitos do período régio], com a chegada de profecias
e prodígios conectadas com grandes homens; Parte devido a reorientação para as
dinastias, que assume uma parte vital no colapso de todo o equilíbrio do qual dependia a
República; Grandes homens que escolheram serem publicamente associados a um sistema
divinatório em particular. E ainda, a despeito de suas ideias, o adivinho serve como parte
da legitimação de sua posição (BEARD, 1990, 69, 70);
- A adivinhação romana pode ser vista como a expressão na esfera religiosa de algumas
das características dominantes da República Romana: ou seja a recusa/esforço de evitar a
concentração de muito poder em um único indivíduo; a tendência segundo a qual decisões
e ações operam por meio de grupos ou indivíduos que se alternam; a relutância em se
reconhecer as qualidades especiais ou carismáticas de um ser humano em especial
(BEARD, 1990, 69, 70);
- A elite governante organizou o sistema religioso romano de tal forma que contemple
seus mais veneráveis valores e sustente o seu controle político; mas esse sistema
permanece sempre vulnerável, ao menos potencialmente, à emergência de poderosas
iniciativas religiosas fora dos limites do sistema sustentado oficialmente (BEARD, 1990,
71);
SUBIR
- Cícero e Varrão possuíam conhecimento um do outro desde ao menos 59, e sabemos
que, enquanto debruçava-se sobre o De Republica (ao qual o De Legibus é um companion
piece), Cícero obteve alguns livros de Varrão (Cic., Att. 4. 14. 1; 16. 2) (GORDON, 1990,
181);
- Os XVuiri (que dificilmente comparecem nos relatos de Cícero) integram as profecias
daqueles círculos sacerdotais estrangeiros que, não obstante, podiam ter conhecimento da
vontade dos deuses, os fatidici e os uates, nos procedimentos públicos do estado
(GORDON, 1990, 181);
- A superioridade moral trazida pelas inovações religiosas de Numa justificam a
autoridade romana e hegemonia universal (Liv. 1. 21. 2). Ideologicamente, as reformas
religiosas de Numa tornaram possível para Roma assegurar os frutos das conquistas
militares implícitas na organização de Rômulo de uma sociedade militarizada
(GORDON, 1990, 184);
- Nem os cultos oferecidos às divindades nem as regras sob as quais elas são aplacadas
podem ser admitidos como produzidos diretamente por um grupo dominante socialmente-
interessado sob sua própria autoridade (GORDON, 1990, 196-7);
- Atos religiosos romanos destinados a apaziguar os deuses ou prevenir a sua cólera:
piacula; Dever que impõe a aparição desses signos extraordinários: procuratio
prodigiorum; Expiar a falta cometida e reconduzir as coisas ao primeiro estado:
instaurare sacrificium; Se os prodígios são declarados públicos (publicum prodigium) e
de responsabilidade do estado (suscipere prodigium) (BOUCHE-LECLERCQ, 1975,
174, 175, 176, 182);
- A disciplina religiosa exige a formalidade da cerimônia e do ritual (BOUCHE-
LECLERCQ, 1975, 176);
- [pontífices] testemunhar por meio de atos solenes de piedade o reconhecimento e a
submissão do povo romano (BOUCHE-LECLERCQ, 1975,182);
- Precaver-se de omissões involuntárias; A precaução era tão importante e as consciências
tão escrupulosas, que em pouco tempo as pessoas não se criam dispensadas do [sacrifício
da porca]; Aquele que transgredir um ritual funerário deve imolar todo ano, antes da
colheita, uma porca a Tellus e Ceres (porca praecidanea – praecidaria) [Gell. IV, 6. Paul.
p. 223] (BOUCHE-LECLERCQ, 1975, 179);
- A competência dos pontífices em matéria de expiação; A teologia pontifical, ao apreciar
a gravidade de uma falta, não levará em consideração as intenções; Supõe que todas as
transgressões são cometidas por inadvertência. Mas as transgressões cometidas
deliberadamente produzem a seus olhos uma mácula tal que ela é declarada incapaz de
desfazer/apagar (BOUCHE-LECLERCQ, 1975, 179, 180-1);
- A importância extrema que o estado atribui à conservação dos sacra gentilicia e priuata
e, por consequência, à supervisão da lei que regula sua transmissão hereditária
(BOUCHE-LECLERCQ, 1975, 201-2);
- Mas tudo o que concernia os cultos estrangeiros introduzidos pelos livros sibilinos, ou
que ultrapassava os recursos fornecidos pela tradição, remetia-se à apreciação dos XVuiri
sac. fac.; Os pontífices, observadores meticulosos dos costumes, não possuíam os meios
para resolver os casos imprevistos; Assim tiveram que ceder pouco a pouco a procuratio
prodigiorum; Os pontífices submetem à apreciação dos haruspices os prodígios cuja
interpretação lhes escapam; Se os deuses não estiverem satisfeitos com a procuratio, eles
o declaram fazendo aparecer nas entranhas da vítima signos desfavoráveis por meio dos
quais se reconhecia que o sacrifício não foi admitido (BOUCHE-LECLERCQ, 1975,180-
1, 184, 185);
- Os Xuiri s.f. empregavam mais o tesouro do estado e as economias dos cidadãos; Se os
fundos eram escassos, eles ordenavam somas/contribuições obrigatórias como os tributos
de guerra; Introduziam em Roma os deuses e os jogos e festivais da Grécia, para os quais
era necessário reservar fundos oriundos das despesas ordinárias (BOUCHE-LECLERCQ,
1975, 189);
- As zonas de competências de cada um dos colégios não estavam rigidamente
demarcadas (BOUCHE-LECLERCQ, 1975, 187);
- A eleição do P.M. deixou de ser atribuição do colégio e foi confiada aos comícios das
tribos - lei Hortensia (287); Contudo, a autoridade sacerdotal, fundada na lei divina, não
poderia de modo algum derivar da soberania popular; A eleição passou a repousar em
uma ficção legal; Os comícios mais indicavam do que impunham sua escolha; As tribos
votantes eram tiradas na sorte e os comícios presididos pelos pontífices; O colégio dos
pontífices conservou praticamente intacto sua autonomia. O P.M. permaneceu sendo
escolhido em seu seio, onde não se entra senão pela cooptação, ou seja, pela escolha do
próprio colégio (BOUCHE-LECLERCQ, 1975, 325, 326);
- O tribuno Cn. Domitius Ahenobarbus (104) irritado, segundo Suetônio (Nero. 2), por
não ter substituído seu pai no colégio dos pontífices, retomou os projetos de seu
predecessor C. Licinius e propôs de novo substituir a eleição à cooptação nos quatro
grandes colégios; A lei Domitia é admitida; Domitius entra no colégio e em 102 torna-se
P.M.; Sulla promulga uma constituição (Leges Corneliae), e o artigo dedicado aos
sacerdotes (Lex Cornelia de sacerdotiis) abole a lei Domitia (BOUCHE-LECLERCQ,
1975, 329, 330, 331);
- Lei Atia (63), proposta pelo tribuno T. Atius Labienus, foi vivamente apoiada por JC;
A conduta de César nos permite afirmar, na falta de provas diretas, que Sulla subtraiu a
eleição do P.M. ao controle popular e que a lei Atia a restituiu aos comícios; César entrou
para o colégio dos pontífices em 74; É mesmo possível que a lei Atia tenha restituído a
eleição do P.M. não aos comícios restritos, mas às XXXV tribos (Suet. Caes.13); A lei
Atia parece ter atribuído aos cônsules a presidência dos comícios sacerdotais; Sabemos
pouco da lei Julia de sacerdotiis promulgada provavelmente em 45. Cicero fala a respeito
dela em uma carta a Brutus em 43. Parece que manteve os usos existentes. César teria
julgado mais prudente orientar o sufrágio universal do que retirar suas prerrogativas
(BOUCHE-LECLERCQ, 1975, 334, 335, 336);
BIBLIOGRAFIA:
RÜPKE, J. Divination et décisions politiques dans la République romaine. Cahiers du
Centre Gustave Glotz, 16, 2005
___. “Different Colleges – Never Mind!?”. In: RICHARDSON, J.H.; SANTANGELO,
F. (ed.) Priests and State in the Roman World. Stuttgart: Franz Steiner Verlag, 2011
BEARD. M. Priesthood in the Roman Republic. In: BEARD, M.; NORTH, J. (ed.)
Pagan Priests. Religion and Power in the Ancient World. Ithaca: Cornell University
Press, 1990
GORDON, Richard. From Republic to Principate: priesthood, religion and ideology. In:
BEARD, M.; NORTH, J. (ed.) Pagan Priests. Religion and Power in the Ancient World.
Ithaca: Cornell University Press, 1990
BOUCHE-LECLERCQ, Auguste. Les pontifes de l'ancienne Rome. New York : Arno
Press , 1975 [8°AM.333 - EFR]
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