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A lei de Deus e o discipulado cristão (Rm. 7.1 – 25).

O que Paulo passa a dizer a partir desse capítulo deve ser visto e
interpretado à luz do que ele apresenta no capítulo 6:

1. Unidos a Cristo pela lógica do nosso batismo (7. 1 – 14);


a. Nós morremos para o pecado. Como podemos viver naquilo para o qual
já morremos (v. 2)?
b. Como foi que morremos para o pecado? Foi através do nosso batismo,
que nos uniu a Cristo em sua morte (v. 3).
c. Já que nós participamos na morte de Cristo, Deus quer que
compartilhemos também da sua vida de ressurreição (vv. 4 – 5).
d. Nosso velho eu foi crucificado com Cristo a fim de que pudéssemos ser
libertados da escravidão do pecado (vv. 6 – 7).
e. A morte e a ressurreição de Jesus foram, tanto uma como a outra,
eventos decisivos: ele morreu de uma vez por todas para o pecado, mas
vive continuamente para Deus (vv. 8 – 10).
f. Nós precisamos nos dar conta de que agora somos aquilo que Cristo é,
ou seja, estamos "mortos para o pecado, mas vivos para Deus" (v. 11).
g. Já que fomos vivificados da morte, devemos oferecer os nossos corpos a
Deus como instrumentos de justiça (vv. 12 – 13).
h. O pecado não pode nos dominar, pois a nossa situação mudou
radicalmente: já não estamos "debaixo da lei", mas "debaixo da graça". A
graça não encoraja a prática do pecado, pelo contrário, ela o baniu (v. 14).

1. Livres da lei: uma metáfora do casamento (vv. 1 – 6)


a. O princípio legal (v. 1).
b. Uma ilustração doméstica (vv. 2 – 3).
c. A aplicação teológica (v. 4).

Outros comentaristas descartam completamente essa interpretação:

 Primeiro, essa interpretação transforma a metáfora de Paulo forçosamente


em alegoria, coisa que a sua elaboração explícita não incentiva.
 Segundo, dá a "fruto" (karpos) uma interpretação forçada, quando a palavra
não é usada neste sentido no Novo Testamento (apesar da ordem original
de Deus, "Sede fecundos"), quando outras palavras para "filhos" poderiam
ter sido usadas, e quando já no contexto se empregou "fruto" como
"resultado" ou "conseqüência" (6.21s.).
 Terceiro, ela retrata o cristão como casado com Cristo, embora a noiva de
Cristo seja a igreja, assim como Israel será a noiva de Javé.

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d. A antítese fundamental (vv. 5 – 6)

2. Uma defesa da lei: uma experiência passada (vv. 7 – 13).

Estes versículos contêm três manifestações muito francas com relação ao


assunto:

a. A primeira é que nós morremos para a lei por meio do corpo de Cristo, a
fim de que pudéssemos pertencer a ele (v. 4). Ou seja, é impossível
submeter-nos à lei e a Cristo simultaneamente. Da mesma forma que um
casamento tem de ser anulado pela morte antes que se possa assumir um
novo matrimônio, assim a morte para a lei tem de preceder o
compromisso com Cristo.
b. Em segundo lugar, a lei despertou nossas paixões pecaminosas, de forma
que dávamos fruto para a morte (v. 5). E esta seqüência de lei – pecado –
morte deve ter deixado os leitores de Paulo com a nítida impressão de
que, na opinião dele, a lei era a responsável tanto pelo pecado como pela
morte.
c. Terceiro, agora nós fomos libertados da lei a fim de servir na novidade
trazida pelo Espírito Santo (v. 6). E essa nova vida controlada pelo
Espírito era impossível enquanto não nos libertássemos da lei.

Note-se que esta é a segunda objeção ao seu ensino à qual Paulo reage:

 A primeira foi: "Continuaremos pecando para que a graça aumente?...


Vamos pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da
graça?" (6.1, 15).
 A segunda é: "A lei é pecado?... A lei se tornou em morte para mim?"
(7.7, 13). A primeira questiona a natureza da graça, se ela incentiva as
pessoas à prática do pecado. A segunda é uma questão acerca da lei, se
é ela que dá origem ao pecado e à morte. Assim o apóstolo defende
tanto a graça como a lei contra os seus detratores.

"A fragilidade da lei" (vv. 14 – 25), que é a subdivisão seguinte:

a. A identidade do "eu"

E a pergunta-chave é como os quatro eventos do versículo 9 se aplicam a


cada um deles:

 Antes, eu vivia sem a lei;


 ... O mandamento veio;
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 O pecado reviveu;
 e eu morri.

Pode-se ir ainda mais longe e detectar seis fases paralelas nas histórias de
Adão e de Paulo:

 Primeiro, o antes eu vivia sem a lei de Paulo poderia corresponder ao período


de inocência no paraíso.
 Segundo, o mandamento veio poderia ser uma referência à ordem dada por
Deus a Adão e Eva, para não comerem da árvore que havia no meio do
jardim.
 Terceiro, quando Paulo diz que o pecado reviveu e que ele aproveitou a
oportunidade dada pelo mandamento (v. 8) pode estar aludindo a que "o
pecado" (a serpente) estava no jardim antes do homem, só que não tinha
tido oportunidade de atacá-lo, até que veio a ordem "Não comerás".
 Quarto, ao queixar-se de que o pecado o enganou (v. 11), Paulo faz-nos
lembrar a acusação de Eva de que o diabo a havia enganado.
 Quinto, o despertar de Paulo para o pecado foi devido à proibição acerca
da cobiça (vv. 7s.), enquanto que o pecado de Adão e Eva foi igualmente o
de desejar algo falso.
 Sexto, a desobediência ao mandamento de Deus gerou a morte, tanto para
Paulo (vv. 9, 11) como para Adão. Daí a seqüência lei – pecado – morte, tão
proeminente em Romanos e igualmente evidente em Gênesis.

Então, seria esse "eu" uma referência a Israel? Esta alternativa é


recomendada por Douglas Moo de maneira bastante atraente. Ele salienta:

 Primeiro, que a lei, no decorrer de Romanos 7, é a lei mosaica, o Tora;


portanto, uma referência a Adão, séculos antes, seria um anacronismo,
mesmo que "o que vale para Israel debaixo da lei de Deus através de
Moisés vale também ipso facto para todas as pessoas que se encontram
debaixo da 'lei'".
 Em segundo lugar, diz ele, "o mais natural é que 'a vinda do mandamento'
(v. 9) seja uma referência à doação da lei no Sinai", inclusive o décimo
mandamento, relativo à cobiça.
 Terceiro, ele sugere que a seqüência dos versículos 9-10 (vida –
mandamento – pecado – morte) poderia ser uma descrição da história de
Israel em um "estilo narrativo vivido" e pessoal.

b. A lei, o pecado e a morte.

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Voltemos agora ao texto dos versículos 7-13, bem como às duas perguntas
de Paulo, se ele está ensinando que a lei é a causa do pecado e da morte.

 Primeira pergunta: "A lei é pecado"? (7-12) Deve a lei em si ser chamada
de "pecaminosa", no sentido de ser a responsável pela criação do
pecado? Depois de sua enfática resposta (De modo nenhum!) o apóstolo
começa a cavoucar as relações entre a lei e o pecado.
 Primeiro, a lei revela o pecado. Ele já escreveu, antes, que "mediante a
lei... nos tornamos plenamente conscientes do pecado" (3.20).
 Agora diz: De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da
lei (v. 7a). Isto provavelmente significa que ele chegou a
reconhecer a gravidade do pecado, pois a lei o desmascara,
demonstrando ser ele uma forma de rebelião contra Deus;
reconheceu também que pela lei foi levado à convicção do pecado.
 Em seu caso, o que o convenceu foi o décimo mandamento, que
proíbe a cobiça. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a lei
não dissesse: "Não cobiçarás" (7b).
 Em segundo lugar, a lei provoca o pecado.
 Terceiro, a lei condena o pecado (vv. 9 – 11).

Isto leva Paulo à outra pergunta feita pelos seus opositores acerca da lei.

 Segunda pergunta: O que é bom [a lei] se tornou em morte para mim? (v. 13)

Antes de se estudar o texto, é essencial averiguar a identidade desse "eu":

a. Esse "eu" é uma pessoa convertida, ou não?

Vamos agora para o próximo texto (vv. 14 – 25), que se divide


naturalmente em dois blocos (vv. 14 – 20 e 21 – 25), sendo que ambos começam
com uma referência positiva à lei.

a. Sabemos que a lei é espiritual (v. 14) e no íntimo do meu ser tenho prazer na lei
de Deus (v. 22).

O trágico, no entanto, é que o autor (ou melhor, a pessoa "meio salva" que
Paulo está personificando) não consegue satisfazer essa lei. E esta, por sua vez,
não pode salvá-lo. Assim, ambos os parágrafos tratam da fragilidade da lei, que
é atribuída ao pecado.

b. A lei e a "carne" manifestadas nos crentes (vv. 14 – 20).

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Neste parágrafo o apóstolo escreve quase exatamente as mesmas coisas
duas vezes — primeiro nos versículos 14-17 e depois nos versículos 18-20 —,
presumivelmente por uma questão de ênfase. Portanto, talvez devêssemos
considerá-los juntos. Cada uma das duas seções começa, continua e termina da
mesma maneira.

 Primeiro, cada uma delas começa reconhecendo com toda franqueza a


pecaminosidade inata.

c. A dupla realidade dos crentes que estão debaixo da lei (vv. 21 – 25).

Desdobrando o texto

Leia Romanos 7.1 – 25, prestando atenção às palavras e trechos em


destaque:

 Domínio (v. 1) — jurisdição. morrestes (v. 4) — literalmente, “fostes feitos


para morrer”; em resposta à fé de um pecador. Deus torna o pecador morto
para sempre para a condenação e a punição da lei.
 Pertencerdes a outro (v. 4) — estais unidos a Cristo em relacionamento
permanente.
 Frutifiquemos (v. 4) — tenhamos uma vida transformada que manifeste
novas atitudes e ações.
 Carne (v. 5) — a humanidade pecaminosa das pessoas, ou seja, o restante
do velho homem que permanecerá com cada crente até que receba seu
corpo glorificado.
 Paixões pecaminosas (v. 5) — os impulsos irresistíveis de pensar e fazer o
mal.
 Realce pela lei (v. 5) — a natureza rebelde do incrédulo é despertada quando
lhe são impostas restrições.
 Frutificarem para a morte (v. 5) — o pecado traz uma consequência de
julgamento eterno sobre a vida do incrédulo.
 Libertados da lei (v. 6) — porque morremos em Cristo, não estamos mais
sujeitos à condenação e às punições da lei.
 Caducidade da letra (v. 6) — o código legal externo e escrito que produziu
apenas condenação.
 É a lei pecado? (v. 7) — Paulo queria deixar claro para seus leitores que a lei
não era imperfeita ou má, mas apenas um farol para iluminar o mal.

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 Ocasião (v. 8) — um ponto de início ou base de operações. morto (v. 8) — ou
seja, dormente. pecado (...) me enganou (v. 11) — ao fazer com que eu
pensasse que poderia encontrar vida ao seguir a lei.
 Carnal (v. 14) — literalmente, “de carne”, ou seja, encarcerado na
humanidade pecaminosa. Paulo não está na carne, mas a carne está nele.
 Pecado que habita em mim (v. 17) — o pecado de Paulo não fluía de sua
natureza nova e redimida, mas de sua humanidade pecaminosa ou da
carne.
 Lei da minha mente (v. 23) — equivalente ao novo eu interior.
 Livrará (v. 24) — resgatará do perigo, como um soldado que retira seu
companheiro ferido do campo de batalha.

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