Você está na página 1de 16

Revista Diálogos Interdisciplinares

2014, vol. 3, n°.2, ISSN 2317-3793

Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração:


Reflexões sobre o grau de Aderência de Pesquisadores da
Área
Dione Fagundes Nunes Gomes1
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

Maria Simone Prates Barreto2


Instituto Nacional de Pós-Graduação, São Paulo, SP, Brasil

Muitos são os aspectos envolvidos quando se pretende analisar a eficiência educacional e estes,
inexoravelmente, passam por concepção de currículo e prática docente, mais especificamente as estratégias
utilizadas nesta. Nos limites do presente artigo, estes foram os eixos escolhidos para, como objetivo final,
verificar (pela incidência) o quão aderentes ao tema têm se mostrado as reflexões e discussões de
pesquisadores da área. Este trabalho foi realizado em três etapas. A primeira foi a revisão da bibliografia
sobre a temática de currículos, estratégias e técnicas de ensino. Na segunda etapa realizou-se um estudo
exploratório que teve como crivo a incidência desses temas, como palavras-chave, nas publicações da área.
A última etapa consistiu uma análise qualitativa das publicações e, na sequência, foram elaboradas as
considerações finais. Constatou-se, pela pesquisa, que estes temas estão sendo pouco abordado, o que pode
indicar baixa preocupação na análise da eficiência educacional brasileira. Conclui-se, por fim, dada a baixa
incidência de trabalhos publicados nos principais fóruns da área e, dos publicados, uma tendência em
análises pontuais – além de insignificante ocorrência de relatos de sucesso – que a aderência de
pesquisadores de administração às discussões e reflexões sobre o tema não apresenta consistência capaz de
converter a sensação de ineficiência que paira em nossos cursos.

Palavras-chave: Currículo, técnicas de ensino, estratégias de ensino.

Many aspects are involved when you want to analyze the educational efficiency and these inexorably
undergo curriculum design and teaching practice, specifically the strategies used in this. Within the limits of

1
Doutoranda em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Professora da FEA-PUCSP. E-mail:
dfngomes@pucsp.com.br
2
Doutoranda em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Professor da Instituto Nacional de
Pós-Graduação. E-mail: simonebarreto@hotmail.com
Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de 85

Aderência de Pesquisadores da Área


this article, these were chosen for the axes, as final goal, verify (the incidence) how adherents to the subject
have shown the reflections and discussions of researchers. This work was carried out in three steps. The first
was a review of the literature on the subject of curricula, strategies and teaching techniques. In the second
step was conducted an exploratory study which screened the incidence of these themes, such as keywords,
publications in the area. The last step was a qualitative analysis of publications and, following the closing
statements was prepared. It was found, through research, that these issues are being addressed bit, which
may indicate low concern in the analysis of the Brazilian educational efficiency. We conclude, finally, given
the low incidence of papers published in the main forums of the area and of the published spot a trend
analysis - as well as insignificant occurrence of success stories - that adherence of researchers administration
to discussions and reflections on the subject shows no consistency capable of converting the feeling of
inefficiency that hangs in our courses.

Keywords: Curriculum, teaching techniques, teaching strategies.

Introdução

Pensar educação, analisar processos educacionais, rever políticas e propor práticas não revela

ineditismo ao leitor leigo ou àquele mais experimentado no campo dos saberes. Ambos estão

igualmente interessados, no final das contas, na eficiência de todas as partes envolvidas que,

no mínimo, deságua (ou deveria) no auxílio à construção de um “projeto de si” mais amplo

por parte dos indivíduos em formação (JOSSO, 2007), projeto esse que lhes serve de

propulsão para aprendizagem contínua. Nesse sentido, o aluno passa da simples condição de

ser moldado à posição de sujeito da ação – contexto proposto pela concepção

genético-estrutural do desenvolvimento cognitivo que tem Piaget e a Escola Nova como

precursores (NOT, 1993). Em outras palavras, interessa saber se afinal a educação tem

cumprido seu papel de forjar indivíduos autônomos e pensantes. Por essa razão, consideramos

esse tema (apesar de tão recorrente) nada enfadonho, como bem pontuou Freire (1996).

Um rápido olhar para o cenário da educação brasileira ante os demais países pode dar

pistas do quanto ainda é preciso caminhar. Conforme Barbosa Filho bem explicita, com base

nos dados da PNDA (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), o Brasil assistiu um

“vigoroso processo de universalização da educação” nas últimas duas décadas, que “elevou os

anos médios de escolaridade da população em idade ativa de 4,2 anos médios em 1995 para
86 Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de
Aderência de Pesquisadores da Área

6,1 anos médios de escolaridade em 2009” (2012, p.279). Entre os indivíduos na faixa de 20

anos, no mesmo período, a média saiu de 7,1 anos de estudo para 9,5 – o que revela um

significativo avanço, entretanto muito aquém do desejável que é de 11 anos para essa faixa

etária. Ajustando a lente para o quesito qualidade, os dados igualmente não são confortáveis:

no PISA1 2009 o Brasil obteve a 53ª posição em meio a 65 países participantes, ficando atrás

de México e Chile na América Latina. Apesar de todos os questionamentos que possam surgir

quanto à validade da mensuração da competência do estudante brasileiro, “a participação do

Brasil nessa avaliação é fundamental para que se possa aprimorar a qualidade da sua

educação”, ressalta Barbosa Filho (2012).

Muitos são os aspectos envolvidos quando se pretende analisar a eficiência educacional e

estes, inexoravelmente, passam por valores e cultura (SILVA, 1986; FREIRE, 1996),

concepção de currículo (SILVA, 2007; SACRISTÁN, 2000), reflexão crítica sobre a escola e

suas perspectivas futuras (CANÁRIO, 2006), processos de aprendizagem (POZO, 2002;

DEAQUINO, 2007) e prática docente no ensino superior (MASETTO, 1998, 2003; GIL,

2007; PIMENTA; ANASTASIOU, 2005; ANASTASIOU; ALVES, 2007). Este último

justifica-se, pois, no limite, a universidade é ambiente de formação dos profissionais que

atuam na educação e o fórum primário de discussão e transformação do que é afeto ao ensino

formal.

Três eixos podem ser destacados desse conjunto de elementos para uma análise mais

pragmática: na base, encontram-se os valores e a cultura – conteúdos axiológicos – sobre os

quais erguem-se as demais estruturas, como destaca Silva (1986, p. 134):


(...) a temática axiológica diz sempre respeito, obrigatoriamente, a sujeitos e objetos
que se cruzam em relações de significação. Essas relações sujeito-objeto dão-se, por
sua vez, numa sociedade, numa cultura e numa época histórica determinadas. Os
valores característicos do grupo social a que pertencemos condicionam os nossos
julgamentos. (...) ao procurarmos discriminar as concepções de aluno, professor,
escola e contexto social/mundo exterior (...) o fizemos no sentido de levantar dados
que nos permitissem rastrear os elementos axiológicos aí presentes.
Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de 87

Aderência de Pesquisadores da Área

Nenhuma leitura da realidade (ou mesmo, de projeção de cenários) pode ser dissociada de

sua identidade axiológica, a qual estabelece os pressupostos e os simbolismos presentes,

inclusive na educação.

Os dois eixos restantes, concepção de currículo e prática docente evidenciam-se na

concretude: o primeiro pelo registro e o segundo pelo testemunho. Não que se restrinjam a

isso, mas por conta disso são mais facilmente reconhecidos. Uma vez evidenciada a

importância desses eixos temáticos, em que medida a área de Administração tem se mostrado

envolvida nessa discussão? Nos limites do presente artigo, portanto, os referidos eixos foram

objetos de reflexão, mais especificamente no que tange a abrangência do currículo pelo

entendimento do seu conceito e das estratégias de ensinagem presentes na prática docente do

ensino superior. O trabalho também se propôs a um levantamento quantitativo e qualitativo de

publicações alusivas aos eixos mencionados no universo da administração, para atender ao

objetivo final de verificar (pela incidência) o quão aderentes ao tema têm se mostrado as

reflexões e discussões de pesquisadores da área. Esse trabalho não pretende esgotar a

discussão da realidade brasileira no tocante aos eixos, mas apresentar subsídios para reflexão

sobre a mesma.

O trabalho de Anastasiou e Alves (2007) fornece uma importante contribuição na

taxionomia de estratégias de ensinagem, conforme exposto. Vale ressaltar o destaque às

estratégias pouco utilizadas no campo da administração como tempestade de ideias,

dramatização, júri simulado, portfólio e estudo do meio. No limite, e mais importante, as

proposições das autoras provocam o que há de mais produtivo na prática docente: uma sincera

autoavaliação para responder em que medida as suas práticas têm atendido à diversidade tão

inexoravelmente presente no conjunto dos jovens alunos.


88 Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de
Aderência de Pesquisadores da Área

Quadro 1 – Estratégias de ensinagem


Fonte: Extraído de Anastasiou e Alves (2007, p. 86-105).

Metodologia

Este trabalho foi realizado em três etapas. A primeira foi à revisão da bibliografia sobre a

temática de currículos, estratégias e técnicas de ensino.

Na segunda etapa realizou-se um estudo exploratório que teve como crivo a incidência

dos temas currículo, estratégias e técnicas de ensino, que foram as palavras-chave, nas
Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de 89

Aderência de Pesquisadores da Área

publicações da área. Na primeira fase do estudo exploratório foi verificada a incidência dessas

palavras-chave nos eventos da ANPAD (EnANPAD, EnEO, EnGPR, EnEPQ). Essa opção

pela ANPAD foi pelo reconhecimento que a academia na área administração tem nestes

fóruns. Para ampliação da pesquisa estabeleceu-se como critério usar o ranking do guia do

estudante, as melhores universidades do Brasil e delimitou-se a busca nas melhores

universidades em administração da cidade de São Paulo, que foram: FEA/USP, FGV- São

Paulo e ESPM. Na FEA/USP foram pesquisadas as revistas REGE e RAUSP, na FGV a

revista RAE e na revista da ESPM. As publicações foram pesquisadas nos sites das

universidades. Os dados obtidos foram usados para construção da Tabela 1, apresentada e

discutida a seguir.

A última etapa consistiu uma análise qualitativa das publicações e, na sequência, foram

elaboradas as considerações finais.

Tabela 1 – Publicações aderentes aos eixos


Palavra-chave ANPAD USP FGV ESPM Total
Rausp/Rege Era
Currículo 05 02 0 0 07
Técnicas de 01 0 0 01
ensino
Estratégias de 01 02 0 0 03
Ensino
Total 07 04 0 0 11

Fonte: elaborado pelas autoras

A incidência maior das três palavras-chave foi encontrada nos eventos da ANPAD, sendo

um número altamente significante para a palavra currículo. A seguir encontrou-se uma maior

incidência nas publicações da Rausp/Rege com um número igual para as palavras currículo e

Estratégia de ensino. Não foi localizada nenhuma publicação na FGV e na ESPM que

contemplasse as palavras-chave eleitas.

Análise qualitativa dos artigos


90 Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de
Aderência de Pesquisadores da Área

De maneira geral pode-se constatar uma carência de estudos envolvendo os temas de

currículo, técnicas e estratégias de ensino especificamente, na área da educação superior em

Administração. A seguir realizou-se uma análise qualitativa dos trabalhos encontrados,

procurando sintetizar por artigo as principais conclusões dos estudos.

Em 2002 foram encontrados dois artigos nos quais foram analisados os temas de

empreendedorismo e ética nos currículos dos cursos de administração. Para o tema de

empreendedorismo, a análise foi realizada em escolas de negócios norte-americanas. O

levantamento realizado pelos autores indicou que, em termos de conteúdo programático,

predominam, de maneira significativa, temas relacionados ao processo de planejamento e

criação de empresas e ao perfil/habilidades/comportamento empreendedor. Concluíram que as

práticas pedagógicas preponderantes no ensino do empreendedorismo eram: participação ativa

dos estudantes, uma contrapartida intensa de empresários na forma de relatos da própria

experiência empresarial, coparticipação nos trabalhos que exigem mentores e orientadores,

participação em comissões para avaliação (júri) de planos de negócios e abertura de

informações empresariais para que projetos e planos de negócios sejam realizados.

Na temática de ética a pesquisa indicou uma preocupação generalizada das instituições

em abordar o assunto em várias disciplinas, promovendo uma integração curricular.

Em 2004 aparece na pesquisa um estudo de caso sobre a construção e reconstrução do

currículo no ensino em administração. A proposta do artigo foi identificar e discutir o

imaginário específico construído pelos docentes (atores sociais) em torno do processo de

flexibilização curricular no curso de administração em uma Instituição de Ensino Superior –

IES brasileira. Os autores concluíram que a evolução e a reinterpretação das ideias levaram ao

início da formação de um novo imaginário, em torno das novas propostas curriculares, que

caminha para a ideia de um real mais dinâmico, aberto ao mercado e menos ligado às

tradições, porém consciente de suas raízes culturais, sociais e históricas.

A verificação se os currículos da área de administração estavam integrados às demandas


Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de 91

Aderência de Pesquisadores da Área

socioambientais e de sustentabilidade foi realizada em 2007. Os resultados demonstraram que,

de forma geral, as IES mineiras apresentam uma deficiência quanto à disponibilização de

disciplinas que tratem questões socioambientais e de sustentabilidade.

Também, em 2007 localizou-se um estudo sobre o nível de percepção dos alunos de um

curso de administração sobre a adequação do currículo as atividades profissionais. Os autores

analisaram estatisticamente se as modificações dos currículos disciplinares ocorridas no curso

de Administração de uma universidade estadual entre 1980 e 2004 foram percebidas pelos

alunos de graduação. Em uma survey eletrônica, alunos graduados e já inseridos no mercado

de trabalho, em diversos setores da economia, autoavaliaram sua percepção sobre a adequação

ou não do conhecimento adquirido no curso às necessidades de seu exercício profissional. A

conclusão apresentada foi que alunos dos cursos de graduação em Administração de Empresas

da universidade estadual em estudo não perceberam de maneira significativa as alterações

curriculares e sua devida utilização na prática empresarial.

Em 2008 foi realizada uma análise da formação cientifica em cursos de administração na

perspectiva dos alunos. Foi desenvolvido estudo de campo, com dados coletados junto a 124

estudantes de instituições de ensino superior na cidade de Fortaleza. Os dados foram

avaliados por meio de análise descritiva e das técnicas análise de regressão e análise de

cluster. Os principais resultados foram: (1) os estudantes, em geral, são avessos à disciplina;

(2) o interesse dos estudantes é influenciado especialmente pela percepção de impacto e de

necessidade da disciplina; (3) nos grupos delineados na análise de cluster, três no total, foi

observado que aproximadamente três em cada cinco estudantes são críticos da disciplina de

Monografia e os demais estão medianamente satisfeitos.

O ultimo artigo encontrado com a busca da palavra currículo foi um estudo realizado

sobre as competências do gestor em contexto internacional e foi publicado em 2011. O

objetivo deste estudo foi avaliar em que medida as ementas dos cursos brasileiros de

graduação em Administração inserem o desenvolvimento de competências necessárias ao


92 Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de
Aderência de Pesquisadores da Área

gestor que pretende assumir designações internacionais. Para isso, foi selecionada uma

amostra de 24 Instituições de Ensino Superior – IES -, que obtiveram conceito cinco no

Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) e na avaliação in loco realizada

pelo Ministério da Educação e Cultura. Foi utilizada a análise de conteúdo clássica, com base

nas ementas desses cursos, desenvolvida a partir da definição de parâmetros que tiveram

como base os resultados de um questionário aplicado junto a brasileiros que trabalham no

exterior.

Foram avaliadas 1.324 ementas, sendo que em 622 (46,97% do corpus) foi possível

identificar algum tipo de aderência às competências propostas neste estudo. Também foram

estudadas disciplinas específicas sobre Negócios internacionais. Em linhas gerais,

observou-se que cerca da metade dos cursos avaliados possuem indicativos de que as

competências estariam sendo desenvolvidas junto aos discentes. Em resumo, destaca-se que

as cinco competências com maior número de ementas identificadas, de acordo com os

parâmetros propostos foram: visão estratégica, capacidade de decisão, capacidade de

correlação de fatos com importância para a empresa, negócios internacionais (que não chega a

ser competência, mas merece importância e destaque aqui) e capacidade para tratar com

culturas diversas. Destaca-se que, embora essa última tenha relação direta com o trabalho de

um gestor no contexto internacional, ela apresenta um número menor de ementas que as

outras, o que indica espaço para que alguns conteúdos possam ser repensados. Os autores

concluíram que os cursos brasileiros de administração parecem contemplar em suas ementas a

aprendizagem das competências que ajudam a capacitar um gestor para trabalhar em um

contexto internacional.

Na sequência, apresenta-se a análise conjunta dos artigos que apareceram na pesquisa

com as palavras técnicas de ensino e estratégias de ensino.

Para a palavra técnica de ensino localizou-se um artigo, publicado em 2011, com o titulo: A

relação entre as características sociodemográficas e a preferências por técnicas de ensino por


Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de 93

Aderência de Pesquisadores da Área

estudantes de cursos superiores de ciências sociais. O artigo analisou a difusão das estratégias

de ensino balizadas pela aprendizagem em ação no curso de administração. Entre as

características sociodemográficas abordadas, estava o gênero, idade, estado civil, renda, tipo

de instituição, turno, período, horas de estágio, horas de trabalho, horas de iniciação científica,

posse de bolsa de estudos, cotas e horas de estudo em casa.

Foram analisadas 21 técnicas de ensino: aulas expositivas, estudos de caso, leituras antes

das aulas, leituras durante as aulas, painéis, oficinas/workshops, jogos empresariais,

dinâmicas de grupo, seminários de alunos, filmes, músicas, discussões em sala, visitas a

empresas, leituras de artigos científicos, livro texto predeterminado, palestrantes, solução de

problemas, pesquisas na Internet, apresentações Power Point, transparências/retroprojetor e

uso exclusivo do quadro. Dessas técnicas, as preferidas pelos alunos foram os estudos de

caso, aulas expositivas, aulas baseadas na solução de problemas, discussões em sala, visitas a

empresas e as oficinas/workshops, respectivamente. As menos apreciadas foram aulas com

uso exclusivo de quadro, leituras durante as aulas, aulas com retroprojetor, seminários

apresentados pelos alunos e músicas, respectivamente.

As 21 técnicas foram agrupadas em 08 fatores através de análise fatorial: Aulas

expositivas e atividades participativas; Jogos e dinâmicas; Leitura prévia; Audiovisuais;

Apresentações do professor e pesquisas na Internet; Painéis; Solução de problemas e Uso

exclusivo de quadro. Testes de correlação desses fatores com variáveis sociodemográficas

mostram a existência de correlação negativa entre a idade dos alunos e sua preferência por

aulas expositivas e atividades participativas; correlação negativa entre o período em que o

aluno se encontra e sua preferência por jogos e dinâmicas; correlação negativa entre as horas

de estágio e a preferência por leituras prévia; e correlação positiva entre as horas de estudo em

casa e as preferências por leitura prévia e uso exclusivo de quadro. As variáveis renda per

capita e horas de trabalho por semana não apresentaram correlação com nenhum dos fatores.

Testes de diferenças de médias mostram que a preferência pelas técnicas de ensino não variam
94 Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de
Aderência de Pesquisadores da Área

de acordo com o gênero dos discentes. Em contrapartida, a preferência pelas técnicas variou

de acordo com o tipo de instituição (privada ou pública) e com o turno em que o discente

estuda (manhã ou noite). Os resultados obtidos indicam que, a partir da análise dos aspectos

sociodemográficos dos discentes, os docentes podem lançar mão de técnicas que têm maior

aceitação, adaptando-se às contingências e potencializando assim a aprendizagem.

Sob a palavra-chave estratégias de ensino, foram localizados três artigos. Um no

EnANPAD publicado em 2012 e dois na Rausp/Rege com os títulos: A estratégia de ensino da

Havard , publicado em 1993, e outro com o titulo: O caso como estratégia de ensino na área

de administração, publicado em 2005.

O artigo sobre a estratégia de ensino Havard Business tinha como objetivo levantar o

estado da arte do ensino de administração desta escola, tanto no curso de mestrado em

Administração como dos diversos programas para a educação de executivos. Concluíram que

a estratégia básica da escola é a inovação intelectual e envolve quatro atividades

inter-relacionadas. Essas atividades seriam: desenvolvimento do corpo docente,

desenvolvimento do capital intelectual de interesse tanto para o praticante como para o

estudioso, captura de feedback útil para as inovações em curso e as futuras e a disseminação

deste capital para grupos influentes.

O caso como estratégia de ensino na área de Administração teve como principal objetivo

à estruturação e à organização de informações relativas ao método do caso. Para tanto, foi

feita uma pesquisa bibliográfica que focou especialmente o caso como método de ensino na

área de Administração. O levantamento bibliográfico envolveu estudos seminais e recentes

sobre o tema, subsidiando análises comparativas de ideias preconizadas por diversos autores.

O último artigo sobre estratégias de ensino foi publicado em 2012. Este artigo analisou a

difusão das estratégias de ensino balizadas pela aprendizagem em ação no Curso de

Administração. O estudo utilizou os pressupostos da teoria da aprendizagem em ação, que são

transpostos do campo empresarial para o ensino, por meio de quatro estratégias de ensino:
Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de 95

Aderência de Pesquisadores da Área

método de casos, aprendizagem baseada em problemas, simulações e jogos de empresas. O

estudo foi realizado com docentes do curso de Administração que ministram disciplinas de

formação profissional. Os resultados revelaram as dificuldades dos docentes na difusão das

estratégias de ensino em ação e apontam barreiras que limitam o uso de tais estratégias no

ensino.

Considerações Finais

Este trabalho teve como objetivo realizar um levantamento quantitativo e qualitativo de

publicações alusivas aos eixos selecionados – currículo e estratégias de ensino – para verificar

o grau que estes temas estão presentes nas reflexões e discussões dos pesquisadores da área de

Administração.

Constatou-se, pela pesquisa, que estes temas estão sendo pouco abordados, o que pode

indicar baixa preocupação na análise da eficiência educacional brasileira. Como síntese dos

trabalhos encontrados na pesquisa sobre o tema currículo, nota-se a preocupação em verificar

como os currículos dos cursos de administração estão abordando as questões e

empreendedorismo, ética, bem como temas socioambientais e de sustentabilidade. A pesquisa

sobre empreendedorismo foi realizada em escolas de negócios norte-americanas. O artigo

sobre o tratamento da ética mostrou uma preocupação generalizada das instituições pela

abordagem do assunto em várias disciplinas, promovendo uma integração curricular. A

conclusão da pesquisa sobre os aspectos socioambientais e de sustentabilidade foi que, de

forma geral, as IES mineiras apresentam uma deficiência quanto à disponibilização de

disciplinas que tratem essas questões.

Uma interessante pesquisa realizada foi à verificação da percepção dos alunos de um

curso de administração a respeito da mudança curricular realizada pela universidade e a

adequação do currículo as atividades profissionais A conclusão apresentada foi que alunos dos

cursos de graduação em Administração de Empresas da universidade estadual em estudo não

perceberam de maneira significativa as alterações curriculares e sua devida utilização na


96 Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de
Aderência de Pesquisadores da Área

prática empresarial.

O artigo mais recente sobre a temática currículo foi publicado em 2011 e teve como

objetivo avaliar em que medida as ementas dos cursos brasileiros de graduação em

Administração inserem o desenvolvimento de competências necessárias ao gestor que

pretende assumir designações internacionais. Foram avaliadas 1.324 ementas e os autores

concluíram que os cursos brasileiros de administração parecem contemplar em suas ementas a

aprendizagem das competências que ajudam a capacitar um gestor para trabalhar em um

contexto internacional.

O trabalho realizado sobre as técnicas de ensinos preferidas pelos alunos auxilia os

docentes no entendimento de quais delas gozam de maior aceitação. O estudo apontou que os

alunos preferem os estudos de caso, aulas expositivas, aulas baseadas na solução de

problemas, discussões em sala, visitas a empresas e as oficinas/workshops, respectivamente.

As menos apreciadas foram aulas com uso exclusivo de quadro, leituras durante as aulas,

aulas com retroprojetor, seminários apresentados pelos alunos e músicas.

Ressalta-se que a grande maioria dos trabalhos encontrados sobre a temática de estratégias de

ensino é relativa ao uso do caso na prática educativa. O primeiro artigo teve como principal

objetivo à estruturação e à organização de informações relativas ao método do caso.

O último artigo sobre estratégias de ensino foi publicado em 2012. Este artigo analisou a

difusão das estratégias de ensino como método de casos, aprendizagem baseada em problemas,

simulações e jogos de empresas. Os resultados revelaram as dificuldades dos docentes na

difusão das estratégias de ensino em ação e apontam barreiras que limitam o uso de tais

estratégias no ensino. Aponta-se uma grande oportunidade de melhoria no ensino brasileiro,

isto é, na qualificação dos docentes para a utilização das estratégias de ensino como método

de casos, aprendizagem baseada em problemas, simulações e jogos de empresas. Reforça-se

essa necessidade de qualificação uma vez que em outro trabalho as técnicas de ensino que tem

maior aceitação dos alunos foram: estudos de caso, aulas expositivas, aulas baseadas na
Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de 97

Aderência de Pesquisadores da Área

solução de problemas, discussões em sala, visitas a empresas e as oficinas/workshops.

Como mencionado na introdução deste trabalho não se pretende esgotar a discussão da

realidade brasileira no tocante aos eixos dos valores e da cultura, concepção de currículo e

prática docente, mas apresentar subsídios para reflexão sobre a mesma.

Conclui-se, por fim, dada a baixa incidência de trabalhos publicados nos principais fóruns da

área e, dos publicados, uma tendência em análises pontuais – além de insignificante

ocorrência de relatos de sucesso – que a aderência de pesquisadores de administração às

discussões e reflexões sobre o tema não apresenta consistência capaz de converter a sensação

de ineficiência que paira em nossos cursos.

Referências Bibliográficas
ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos; ALVES, Leonir Pessate. Estratégias de Ensinagem. In
ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos; ALVES, Leonir Pessate (Orgs.). Processos de ensinagem na
universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. Joinville/SC: Univille, 2007.

ARAÚJO, Guilherme Diniz et al. O desenvolvimento do pensamento reflexivo no curso de administração. In


ENCONTRO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO – EnANPAD, 36,
2012, Rio de Janeiro. Anais do 36º Enanpad. Rio de Janeiro: ANPAD, 2012.

BARBOSA FILHO, Fernando de Holanda. O jovem no mercado de trabalho. In BARBOSA, Lívia (Org.).
Juventudes e gerações no Brasil contemporâneo. Porto Alegre: Sulina, 2012.

CANÁRIO, Rui. A escola tem futuro? Das promessas às incertezas. Porto Alegre: Artmed, 2006.

CORAL, Eliza; GEISLER, Lisiane. Motivação para a inovação. In CORAL, Eliza; OGLIARI, André; ABREU,
Aline França. Gestão integrada da inovação: estratégia, organização e desenvolvimento de produtos. São
Paulo: Atlas, 2008.

CORTELLA, Mário Sérgio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. São Paulo:
Cortez: Instituto Paulo Freire, 2000.

DEAQUINO, Carlos Tasso Eira. Como aprender: andragogia e as habilidades de aprendizagem. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2007.

DRUCKER, Peter Ferdinand. O melhor de Peter Drucker: o homem. São Paulo: Nobel, 2001.

FISCHER, Tânia; WAIANDT, Cladiani; SILVA, Manuela Ramos. Estudos organizacionais e estudos curriculares:
trajetórias simétricas e convergências inevitáveis. In ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS –
EnEO, 4, 2006. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/evento.php?acao=trabalho&cod_ed
icao_subsecao=57&cod_evento_edicao=18&cod_edicao_trabalho=4418>. Acesso em 03.12.2012.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,
1996.
98 Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de
Aderência de Pesquisadores da Área
FRIGA, Paul N.; BETTIS, Richard A.; SULLIVAN, Robert S. Mudanças no ensino em administração: novas
estratégias para o século XXI. Revista de Administração de Empresas – RAE, São Paulo, v. 44, n. 1, jan./mar.
2004. Disponível
em:<http://rae.fgv.br/rae/vol44-num1-2004-0/mudancas-no-ensino-em-administracao-novas-estrategias-para-sec
ulo-xxi>. Acesso em 03.12.2012.

GIL, Antonio Carlos. Didática do ensino superior. São Paulo: Atlas, 2007.

JOSSO, Marie-Christine. A transformação de si a partir da narração de histórias de vida. Revista Educação.


Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 3, p. 413-438, set./dez. 2007.

LIMA, Manolita Correia; CONTEL, Fabio Bertioli. Internacionalização da educação superior: nações ativas,
nações passivas e a geopolítica do conhecimento. São Paulo: Alameda, 2011.

LIMA, Thales Batista; SILVA, Anielson Barbosa. Difusão das estratégias de ensino balizadas pela aprendizagem
em ação no curso de administração. In ENCONTRO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM
ADMINISTRAÇÃO – EnANPAD, 36, 2012, Rio de Janeiro. Anais do 36º Enanpad. Rio de Janeiro: ANPAD,
2012.

MASETTO, Marcos Tarciso (Org.). Docência na universidade. Campinas/SP: Papirus, 1998.

_______________________. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo: Summus, 2003.

PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Docência no ensino superior. São
Paulo: Cortez, 2005.

POZO, Juan Ignácio. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002.

NOT, Louis. Ensinando a aprender: elementos de psicodidática geral. São Paulo: Summus, 1993.

SACRISTÁN, José Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 2000.

SCHUMPETER, Joseph. Teoria do Desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril, 1982.

SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte:
Autêntica, 2007.

SILVA, Sônia Aparecida Ignacio. Valores em Educação: o problema da compreensão e da operacionalização


dos valores na prática educativa. Petrópolis/RJ: Vozes, 1986.

SILVA, Manuela Ramos; FISHER, Tânia. Ensino de administração: uma trajetória curricular de cursos de
graduação. In ENCONTRO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO –
EnANPAD, 32, 2008, Rio de Janeiro. Anais do 32º Enanpad. Rio de Janeiro: ANPAD, 2008.

SILVA, Maria Aparecida. História do currículo e currículo como construção histórico-cultural. In VI


CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO. 2006. Uberlândia/MG. Anais.
Disponível em: <http://www.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arquivos/eixo6.htm>. Acesso em 03.12.2012.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis/RJ: Vozes, 2002.

WINKLER, Ingrid et al. O processo ensino-aprendizagem em uma disciplina de administração: percepções de


docentes e discentes. In ENCONTRO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM
ADMINISTRAÇÃO – EnANPAD, 33, 2009, São Paulo. Anais do 33º Enanpad. São Paulo: ANPAD, 2009.
Currículo e Estratégias de Ensinagem em Administração: Reflexões sobre o grau de 99

Aderência de Pesquisadores da Área

<http://guiadoestudante.abril.com.br/blogs/melhores-faculdades/tag/administracao> Acessado em 07/12/2012.

Você também pode gostar