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Terras Do Universo PDF
Terras Do Universo PDF
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As Terras no nosso Sistema Solar
que são chamadas Planetas
e as Terras no Céu Astral.
TERRAS NO UNIVERSO
Da obra em latim de
E MANUEL S WEDENBORG
(um servo do Senhor Jesus Cristo)
publicada pelo mesmo em Londres, 1758, e intitulada
Revisão:
Lygia C. Figueira Dalcin
Consultantes e colaboradores:
Andrew J. Heilman,
Cristóvão R. Nobre
J. B. Anjo Coutinho e
Luiz A. Magalhães
Pré-edição
Tiragem para circulação restrita
Agosto 1993
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Índice
C APÍTULO : P ÁG .
Introdução................................................................7
A Terra ou Planeta Mercúrio.........................................12
A Terra ou Planeta Júpiter...........................................32
A Terra ou Planeta Marte............................................60
A Terra ou Planeta Saturno..........................................72
A Terra ou Planeta Vênus............................................75
Os Espíritos e os Habitantes da Lua................................78
As Razões pelas quais o Senhor quis
nascer em nossa Terra e não em uma outra...............79
Das Terras no Espaço Sideral........................................83
Da Primeira Terra no Espaço Sideral...............................86
Da Segunda Terra no Espaço Sideral...............................93
De uma Terceira Terra no Espaço Sideral........................97
De uma Quarta Terra no Espaço Sideral.........................102
De uma Quinta Terra no Espaço Sideral.........................111
Terras no Universo
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gênero humano é a sementeira do céu), não pode agir de outro
modo senão crer que existem seres humanos onde quer que haja
alguma terra.
Que os planetas, que são visíveis aos nossos olhos porque
se encontram dentro dos limites deste sistema solar, são terras,
pode-se saber claramente por isto, que são corpos de matéria
terrestre, visto que refletem a luz do sol e porque, observados
com telescópios, aparecem, não cintilantes de chama como as
estrelas, mas sim como terras matizadas de partes obscuras. E,
também, porque são, como nossa Terra, conduzidos ao redor do
sol e progridem pela via do zodíaco e, por conseguinte, marcam
anos e estações do ano, que são a primavera, o verão, o outono e
o inverno. Do mesmo modo, como nossa Terra, giram ao redor de
seu eixo e, por conseguinte, marcam dias e os períodos do dia, a
saber, a manhã, o meio-dia, a tarde e a noite. E ainda mais,
alguns dentre eles têm luas, que são chamadas satélites, e
movem-se em tempos determinados ao redor de seu globo, como
a lua ao redor do nosso. E o planeta Saturno, porque está muito
distante do sol, tem um anel luminoso que dá muita luz àquela
terra, ainda que seja refletida. Quem é que, conhecendo estas
coisas e pensando pela razão, pode dizer que eles são corpos
vazios?
4. Além disso, falei com espíritos que o ser humano pode
ser capaz de crer que há no universo mais que uma só terra; por
isso, o céu astral é tão imenso e nele existem inúmeras estrelas,
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O céu corresponde ao Senhor, e o ser humano, quanto a toda e cada uma de suas
coisas, corresponde ao céu e, por conseguinte, o céu, perante o Senhor, é um ser humano
em grande efígie, e deve ser chamado o Máximo Homem. Nos 2996, 2998, 3624-3649,
3741-3745, 4625. Sobre a correspondência do ser humano e de todas as suas partes com
o Máximo Homem, que é o céu, em suma, ver o que lá está pelos próprios acontecimentos
relatados. Nos 3021, 3624-3649, 3741-3750, 3883-3896, 4039-4051, 4218-4228, 4318-
4331, 4403-4421, 4527-4533, 4622-4633, 4652-4660, 4791-4805, 4931-4953, 5050-5061,
5171-5189, 5377-5396, 5552-5573, 5711-5727, 10030.
Emanuel Swedenborg 11
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7.Quanto ao que concerne em geral ao culto Divino dos
habitantes de outras terras, todos os que lá não são idólatras
reconhecem o Senhor como único Deus. Com efeito, eles adoram
o Divino, não como um Divino invisível, mas como visível, e isso
também porque, quando o Divino lhes aparece, Ele aparece na
forma humana, como antigamente, do mesmo modo por que
aparecia a Abrahão e a outros nesta Terra(7). E os que adoram o
Divino sob a forma humana são todos aceitos pelo Senhor(8). Eles
dizem também que ninguém pode prestar culto a Deus
diretamente, e menos ainda estar conjunto a Ele, sem que
compreenda por meio de alguma idéia, e que Ele não pode ser
compreendido senão na forma humana; e que, se não for assim a
visão interior de Deus que pertence ao pensamento é dissipada
como a visão do olho, quando se fita o universo sem limite; que,
então, o pensamento não pode deixar de cair sobre a natureza, e
esta ser adorada no lugar de Deus.
8. Quando lhes foi informado que o Senhor assumiu o
Humano em nossa Terra, refletiram um pouco e, depois,
disseram que isso foi feito para a salvação do gênero humano.
7
Os habitantes de todas as terras adoram o Divino sob a forma humana, assim o
Senhor. Nos 8541-8547, 10159, 10736-10738. E se alegram quando ouvem dizer que Deus
se fez realmente Homem. No 9361. Não se pode pensar a respeito de Deus, senão na
forma humana. Nos 4733, 5110, 5663, 7211, 10067, 10267.
8
O Senhor recebe todos os que estão no bem, e que adoram o Divino sob a forma
humana. Nos 7173, 9359.
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Emanuel Swedenborg 13
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9
Os espíritos entram em todas as coisas da memória da pessoa, mas não pela sua
própria memória nas coisas do homem. Nos 2488, 5863, 6192, 6193, 6198, 6199, 6214.
Os anjos entram nas afeições e nos fins pelos quais e por causa dos quais a pessoa pensa,
quer e age de uma maneira e não de outra. Nos 1317, 1645, 5854.
Emanuel Swedenborg 15
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espíritos, e que daí lhes vêm os conhecimentos das coisas
espirituais e dos estados da vida após a morte e também o
desprezo pelos objetos corporais e terrestres. Pois, os que sabem
por certo e crêem que existe uma vida após a morte, ocupam-se
das coisas celestes, porque elas são eternas e trazem a
felicidade, e não das coisas mundanas, senão tanto quanto as
necessidades da vida requerem. Como tais são os habitantes, por
isso mesmo tais são também os espíritos que provêm dessa
terra(10).
13. Pude ver com que avidez procuram e extraem os
conhecimentos das coisas, tais como as da memória elevada
acima das coisas dos sentidos do corpo, de modo que, quando
examinavam o que eu sabia sobre coisas celestes, percorriam-nas
todas e diziam sem se deter: "Esta é tal, aquela é tal". Com
efeito, quando os espíritos vêm à pessoa, entram em toda sua
memória e ali despertam as coisas que lhes convêm; e mesmo, o
que muitas vezes notei, lêem como num livro as coisas que ali se
encontram(11). Esses espíritos faziam isso com mais rapidez e
destreza [do que outros], porque não se detinham em redor das
coisas que eram pesadas e lentas, que estreitam e,
conseqüentemente, retardam a visão interior, como sucede com
10
Os espíritos de cada terra estão próximos de sua terra, e isso porque provêm dos
habitantes e são semelhantes a eles em índole; e que devem ser-lhes úteis. No 9968.
11
Os espíritos que estão com o homem estão em posse de todas as coisas de sua
memória. Nos 5853, 5857, 5859, 5860.
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sociedade, se são aceitos e amados, todas as coisas que sabem
são informadas(12).
16. Mais que todos os outros, os espíritos de Mercúrio são
orgulhosos por causa de seus conhecimentos; por isso, lhes foi
dito que, embora eles soubessem inúmeras coisas, ainda assim
havia uma infinidade de outras que não sabiam; e que, se os seus
conhecimentos fossem aumentados para sempre, não poderiam
sequer alcançar uma noção de todas as coisas gerais; e também
que tinham orgulho e uma altivez de espírito (elatio animi) e que
isso não ficava bem; mas responderam que não era orgulho, mas
somente uma vaidade pela capacidade de sua memória; assim
conseguem desculpar os seus defeitos.
17. Eles têm aversão à linguagem de palavras porque
esta é material, por isso quando não havia espíritos
intermediários, não pude falar com eles senão por uma espécie
de pensamento ativo. Sua memória, sendo uma memória de
coisas em si e não de imagens puramente materiais, fornece de
mais perto seus objetos ao pensamento; pois o pensamento, que
está acima da imaginação, requer como objetos as coisas em si,
abstraídas do que é material. Embora isso seja assim, todavia os
espíritos de Mercúrio brilham pouco com relação à faculdade do
juízo; eles não se agradam das coisas que pertencem ao juízo e
12
Nos céus há uma comunicação de todos os bens, porque o amor celeste comunica aos
outros tudo o que lhe pertence; e é disso que os anjos têm sabedoria e felicidade. N os 549,
550, 1390, 1391, 1399, 10130, 10723.
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perceber o que observavam; em seguida eu os ouvia dizer: "Isso é
tal!" Quanto às coisas que eu vira nos céus e no mundo dos
espíritos, diziam que as sabiam antes. Eu percebia que havia por
detrás, um pouco à esquerda, ao nível do occipício, uma
multidão de espíritos consociados a eles.
22. De outra vez, vi uma multidão de tais espíritos, mas
a certa distância de mim, na frente um pouco à direita, e de lá
falavam comigo, mas por espíritos intermediários; pois sua
linguagem, sendo tão rápida quanto o pensamento não caía na
linguagem humana, senão por meio de outros espíritos agindo
como intermediários; e, o que me surpreendeu, falavam todos
juntos e sempre com presteza e rapidez. Sua linguagem, porque
provinha de muitos falando juntos, era percebida como
ondulatória; e, o que é memorável, deslizava voltada para o meu
olho esquerdo, embora esses espíritos estivessem à direita. Isso
porque o olho esquerdo corresponde aos conhecimentos das
coisas abstraídas do que é material, assim às que pertencem à
inteligência; mas o olho direito, às que pertencem à sabedoria(13).
Eles percebiam também, com a mesma presteza que falavam, as
coisas que ouviam, e avaliavam-nas, dizendo: "Isto é assim, isto
não é assim!" Seu poder de julgamento era como que
instantâneo.
13
O olho corresponde ao entendimento, porque o entendimento é a visão interior de
coisas imateriais. Nos 2701, 4410, 4526, 9051, 10569. A visão do olho esquerdo
corresponde às verdades, assim como à inteligência, e a visão do olho direito aos bens
da verdade, assim, à sabedoria. No 4410.
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conhecimentos das coisas, também me foi mostrado certa vez
quando eles apareciam muito longe de mim, e de lá falavam
comigo e diziam que agora se tinham reunido, e que iam fora da
esfera deste mundo para o céu astral, onde sabiam que existiam
espíritos que se ocupam, não de coisas terrestres e corporais,
mas de coisas elevadas acima destas, com quem queriam estar.
Fui informado de que eles mesmos não sabiam para onde iam,
mas que eram levados por orientação Divina aos lugares onde
podiam ser instruídos a respeito das coisas que ainda não sabiam
e que eram conformes aos conhecimentos que tinham. Aprendi
também que não sabiam como encontravam os companheiros
com quem se conjuntam, e que isso também é feito por
orientação Divina.
26. Visto que percorrem assim o universo e daí podem
mais que outros saber a respeito de mundos e terras fora deste
sistema solar, também conversei com eles sobre este assunto.
Disseram-me que existem muitas terras no universo e nelas, seres
humanos; e se admiravam de que alguns, a quem chamavam de
pessoas de pouco juízo, pensassem que o céu de Deus Todo-
Poderoso fosse somente composto de espíritos e anjos que
chegam de uma só terra, quando estes seriam tão poucos que,
com relação à Onipotência de Deus, seriam dificilmente alguma
coisa, mesmo que houvesse miríades de mundos e miríades de
terras. E mais, disseram que sabem que no universo existem
terras que, em número, ultrapassam algumas centenas de
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não quiseram falar mais nada, porém percebi que pensavam que
na nossa Terra os conhecimentos estavam nos papéis e, por
conseqüência, não na pessoa; assim, zombando de que os papéis,
por assim dizer, sabiam o que a pessoa não sabia; mas foram
instruídos a respeito do modo como isso se dá. Algum tempo
depois, voltaram e enviaram-me uma outra folha de papel escrita
também com caracteres de imprensa como a anterior, mas não
feita de colagens e grosseira, e sim bem feita e aprimorada;
disseram-me que tinham sido informados mais tarde de que
existem essas folhas de papel nesta terra e livros feitos delas.
29. Por essas coisas que foram ditas agora, está evidente
que os espíritos retêm na memória as coisas que vêem e ouvem
na outra vida, e podem, por isso, ser instruídos do mesmo modo
que quando eram pessoas, no mundo, nas coisas que dizem
respeito à fé e, assim, podem ser aperfeiçoados. Quanto mais os
espíritos e os anjos se tornam interiores, tanto mais as absorvem
prontamente e plenamente, e retêm-nas perfeitamente; e como
isso dura para sempre, é evidente que neles a sabedoria cresce
continuamente. Com os espíritos de Mercúrio o conhecimento das
coisas aumenta sucessivamente, mas não por isso, a sabedoria,
porque amam os conhecimentos que são os meios e não os usos
que são os fins.
30. Além disso, pode-se ver ainda mais pelas coisas
seguintes, qual é a natureza dos espíritos que são do planeta
Mercúrio. É preciso que se saiba que todos os espíritos e anjos,
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transformá-las, mas, em seguida, deleitaram-se com elas e
acalmaram-se. Isso porque as aves simbolizavam os
conhecimentos das coisas e a percepção desse simbolismo
também influía nesse momento(15); assim desistiram de
transformá-las e, por conseqüência, de desviar as idéias de sua
memória. Depois disso, foi permitido representar diante deles um
agradabilíssimo jardim cheio de lanternas e velas; então pararam
e foram detidos, e isso porque as lanternas com velas simbolizam
as verdades que brilham do bem(16). Por aí se vê que eles podiam
ser mantidos na contemplação de coisas materiais, contanto que,
ao mesmo tempo, seu simbolismo no significado espiritual fosse
insinuado, pois as coisas que são do significado espiritual não
tinham sido abstraídas tanto assim das coisas materiais, visto que
são representações delas.
34. Além disso, falei-lhes de ovelhas e cordeiros; mas
não queriam escutar tais coisas, porque as percebiam como
terrestres; isso porque não compreendiam o que é a inocência
que os cordeiros simbolizam. Mas isso foi percebido quando eu
disse que os cordeiros representados no céu simbolizam a
15
As aves simbolizam coisas racionais, coisas intelectuais, pensamentos, idéias e
conhecimentos. Nos 40, 745, 776, 778, 866, 988, 991, 5149, 7441. E isso como variedade,
segundo o gênero e a espécie das aves. Nos 3219
16
As lanternas com velas simbolizam as verdades que brilham do bem. Nos 4638, 9548,
9783.
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17
Os cordeiros no céu e na Palavra simbolizam a inocência. Nos 3994, 7840, 10132.
Emanuel Swedenborg 27
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que um sabe, todos sabem e, o que todos sabem, cada um lá
também sabe.
37. Como os espíritos de Mercúrio têm conhecimentos
em abundância, sentem uma espécie de orgulho; daí pensam que
sabem tantas coisas que dificilmente se poderia saber mais.
Entretanto, espíritos de nossa Terra lhes disseram que eles não
sabem muitas coisas mas sim poucas e, as que não sabem, em
relação às que sabem, são como as águas de um grande oceano
em relação às águas de uma pequena fonte; e, também, o
primeiro passo para a sabedoria é saber, reconhecer e perceber
que o que se sabe é tão pouco em relação às coisas que não se
sabe que é, dificilmente, coisa alguma. Para que aprendessem
que isso era assim, foi concedido a um certo espírito angélico
falar com eles e explicar-lhes, em geral, o que sabiam e o que
não sabiam; as coisas que não sabiam eram inumeráveis e nem
mesmo poderiam saber sequer as generalidades das coisas pela
eternidade. Ele falava, por meio de idéias angélicas, muito mais
prontamente que eles; e como revelava o que sabiam e o que
não sabiam, ficaram atônitos. Em seguida, vi um outro anjo
falando com eles; ele apareceu a uma certa altura à direita; esse
anjo era de nossa Terra e lhes relatava numerosíssimas coisas
que não sabiam e, depois, falava-lhes por meio de mudanças de
estado que diziam não compreender; então, dizia-lhes que cada
mudança de estado e, também, cada pequena parte de uma
mudança de estado continha coisas inumeráveis. Quando ouviram
isso, como tinham sido orgulhosos por causa de seus
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adquirem inteligência de outros, sem a própria meditação, como
costumam fazer os que desejam saber as verdades unicamente
por causa da fama de erudição e da honra ou lucro dela
provenientes no mundo; assim, não por causa dos usos abstraídos
das coisas mundanas. É permitido incluir aqui uma certa
experiência sobre isso. Uma espécie de som foi percebido,
penetrando debaixo ao longo do lado esquerdo até a orelha
esquerda. Notei que eram espíritos que, ali, faziam esforços para
subir, mas não pude saber quais eram. No entanto, quando
subiram, falaram comigo explicando que tinham sido lógicos e
metafísicos, e tinham mergulhado seus pensamentos em tais
coisas, sem outro fim de serem chamados eruditos e, assim,
alcançarem honras e riquezas, lamentando que agora levavam
uma vida miserável, porque tinham adquirido essas coisas sem
qualquer outro fim e, assim, não cultivaram a sua facilidade
racional por meio delas. A sua fala era lenta e emitia um som
surdo. Enquanto isso, dois deles falavam entre si acima de minha
cabeça; e, como eu perguntava quem eram, foi-me informado
que um deles era alguém muito famoso no mundo sábio, e era-
me feito crer que fosse Aristóteles; quanto ao outro, não me foi
dito quem era. Então, o primeiro foi levado ao estado em que
estava quando vivia no mundo, pois cada um pode facilmente ser
levado ao estado da vida em que esteve no mundo, porque possui
consigo cada estado de sua vida. Todavia, o que me surpreendeu
foi que ele se aproximava da minha orelha direita e ali falava,
mas num tom de voz rouco e, contudo, de maneira sensata. Pelo
conteúdo de suas palavras, percebi que era de uma natureza
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alguém quiser se tornar insensato, deve proceder dessa maneira;
mas, se desejar o contrário, deve pensar continuamente sobre o
uso, e, assim, a partir do que é interior. Em seguida me mostrou
que idéia tivera do Deus Supremo, isto é, que O imaginara
consigo com uma face humana, e rodeado por um círculo
radiante ao redor da cabeça; e agora sabia que o Senhor é Ele
mesmo aquele Homem, e o círculo radiante é a Divindade que
procede d’Ele e que influi não somente no céu, mas também no
universo, e os dispõe e governa, ajuntando que quem dispõe e
governa o céu, também dispõe e governa o universo, porque um
não pode ser separado do outro. Disse-me também que acreditou
em um único Deus, cujos atributos e qualidades se tornaram
notáveis por tantos nomes quantos outros adoraram como
deuses. Vi, então, uma mulher que estendia a mão, querendo
tocar levemente a minha face; como eu me admirasse disso, ele
falou que, quando estava no mundo, vira muitas vezes uma
mulher semelhante, que, por assim dizer, lhe tocava levemente a
face e sua mão era bela. Os espíritos angélicos explicaram que
tais mulheres foram algumas vezes vistas pelos antigos e
chamadas de "Palas"; e ela lhe apareceu por causa dos espíritos
que, quando viviam com pessoas nos tempos antigos, se
deleitavam com idéias e se entregavam a pensamentos, mas sem
a filosofia; e, como tais espíritos estavam em associação com ele
e nele se compraziam porque ele pensava a partir do que era
interior, exibiam, então uma tal mulher de modo representativo.
Por fim, declarou que idéia tivera da alma ou espírito do ser
humano, que denominara "pneuma", a saber, que era um ser
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Aqueles que professam a fé segundo a doutrina e não vivem a vida da fé, não possuem
fé alguma. Nos 3865, 7766, 7778, 7790, 7950, 8094. E seus interiores estão opostos às
verdades da fé, embora não saibam isso no mundo. Nos 7790, 7950.
Emanuel Swedenborg 33
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Em conseqüência, foi-lhes perguntado pelos espíritos que
estavam ao meu redor, se eles se recordavam dessa promessa;
responderam que se recordavam, mas que não sabiam se isso lhes
tinha sido prometido de tal modo que não pudesse haver
nenhuma dúvida a seu respeito. Enquanto conversavam assim
entre si, o Sol do céu apareceu-lhes (o Sol do céu, que é o
Senhor, não é visto senão pelos que estão nos céus mais
interiores ou terceiro céu; os outros vêem a luz que dele
procede). Ao ver o Sol, disseram que aquele não era o Senhor
Deus, porque não viam a Sua face. Mas nesse meio tempo, os
espíritos conversavam entre si, porém eu não escutava o que
diziam. Todavia, de repente, o Sol apareceu de novo e, no meio
dele, o Senhor rodeado por um círculo solar; ao vê-Lo, os
espíritos de Mercúrio tornaram-se humildes, profundamente, e
prostraram-se. Então, o Senhor também foi visto daquele Sol por
espíritos desta Terra que, quando tinham vivido como pessoas, O
viram no mundo; e eles professaram, um após outro, e, assim,
vários em sucessão, que Aquele era o Senhor; e confirmaram isto
diante de todo o grupo. Então, o Senhor foi ainda visto desse Sol
por espíritos do planeta Júpiter, que declararam em alta voz que
aquele era o Mesmo que tinham visto na sua terra, quando o Deus
do universo lhes apareceu(19).
19
O Senhor é o sol do céu; e lá, toda luz procede desse sol. N os 1053, 3636, 4060. E o
Senhor aparece assim aos que estão no Seu reino celestial, onde reina o amor para com
Ele. Nos 1521, 1529, 1530, 1531, 1837, 4696. Aparece a meia altura acima do nível do
olho direito. Nos 4321, 7078. Por isso, na Palavra, o sol simboliza o Senhor quanto ao
Divino Amor. Nos 2495, 4060, 7083. O sol do mundo não aparece aos espíritos nem aos
34 Terras no Universo
anjos, mas em seu lugar aparece algo como se fosse tenebroso, por detrás e em posição
oposta ao sol do céu, ou seja, ao Senhor. Nos 9755.
20
Nos céus há uma grande luz, que ultrapassa em alto grau a luz do meio-dia na Terra.
Nos 1117, 1521, 1532, 1619-1632, 4527, 5400, 8644. Toda luz nos céus vem do Senhor
como o sol de lá. Nos 1053, 1521, 3195, 3341, 3636, 3643, 4415, 9548, 9684, 10809. A
Divina Verdade procedente do Divino Bem do Divino Amor do Senhor aparece nos céus
como luz, e lá constitui toda luz. Nos 3195, 3222, 5400, 8644, 9399, 9548, 9684. A luz do
céu ilumina tanto a visão quanto o entendimento dos Anjos. Nos 2776, 3138. Se é dito que
o céu está na luz e no calor, isso simboliza que está na sabedoria e no amor. N os 3643,
9400, 9402.
Emanuel Swedenborg 35
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frente, ora à esquerda, ora um pouco atrás, e isso porque lhes é
permitido percorrer o Universo, para adquirirem conhecimentos.
43. Um dia uns espíritos de Mercúrio apareceram pela
esquerda num globo, que, em seguida, estendeu o seu volume
em comprimento; e eu fiquei a pensar aonde queriam ir, se era
para esta Terra ou para outro lugar; e logo notei que se
desviavam para a direita e que, revolvendo-se, aproximavam-se
da terra ou planeta Vênus, pela sua região frontal. Mas, quando
ali chegaram, disseram que não queriam permanecer ali porque
os habitantes eram maus; por isso se dirigiram para a parte
posterior dessa terra e, então disseram que ali queriam se
demorar, porque os que ali habitavam eram bons. Enquanto isso
se sucedia, eu sentia uma transformação notável no cérebro, e
uma forte atividade que disso resultava. Disso, é possível concluir
que os espíritos de Vênus, que são dessa parte do planeta,
harmonizavam-se com os espíritos de Mercúrio e que aqueles
representam a memória das coisas materiais, que se harmoniza
com a memória das coisas imateriais, a qual os espíritos de
Mercúrio representam. Daí a atividade mais forte que fora
sentida oriunda deles quando estavam lá.
44. Eu desejava saber que face e corpo têm as pessoas
do planeta Mercúrio, ou seja, se são semelhantes às pessoas da
nossa Terra. Então, foi apresentada diante de meus olhos uma
mulher inteiramente semelhante às que existem na Terra; sua
face era bela, mas um pouco menor que a das mulheres de nossa
36 Terras no Universo
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46. Tive a oportunidade de manter contato com espíritos
e anjos do planeta Júpiter, por muito mais tempo do que com os
espíritos e anjos de outros planetas. Por isso é permitido relatar
muitas coisas sobre o estado de sua vida e o estado dos
habitantes desse planeta. Que esses espíritos eram dali
provenientes, ficou claro por muitas coisas, e também é o que
me foi comunicado do céu.
47. A própria terra ou planeta Júpiter de fato não
aparece aos espíritos e anjos, pois lá nunca terra alguma aparece
a alguém, mas somente aparecem os espíritos e os anjos que vêm
dela. Os que são do planeta Júpiter aparecem na parte da frente
para a esquerda, a uma certa distância, e isso constantemente
[vide item no 42]; lá [na idéia dos espíritos e dos anjos] também
se encontra o planeta; os espíritos de cada terra estão próximos
de sua terra, e isso porque eles provêm dos habitantes (pois todo
ser humano após a morte se torna um espírito) e porque assim
são de uma natureza semelhante e podem estar com eles e lhes
serem úteis.
48. Disseram que na região da terra onde viveram,
quando estavam no mundo, havia tão grande número de pessoas
quanto a terra podia manter; também que essa terra era fértil e
tinha tudo em abundância e lá eles não desejavam nada mais que
as necessidades da vida, e o que não se relaciona às necessidades
da vida também não se relaciona ao que é útil; e por isso o
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número de pessoas era tão grande. Diziam que seu zelo maior era
a criação das crianças e que as amavam com muita ternura.
49. Além disso, disseram que lá estão distinguidos em
nações, famílias e casas, e que todos habitam separadamente
com os seus; e as suas relações sociais são por isso mantidas
entre parentes; e também ninguém cobiça os bens de um outro;
nem lhes vem à idéia cobiçar algo dos bens de outrem, e menos
ainda, dele se apropriar por qualquer ardil, e muito menos ainda
atacar e roubar; consideram isso um crime contra a natureza
humana e uma coisa abominável. Quando eu tentava explicar que
nesta Terra existem guerras, pilhagens e homicídios, afastavam-
se e tinham aversão a ouvi-lo. Os anjos me disseram que os
antiqüíssimos nesta Terra habitavam do mesmo modo, isto é,
distinguidos em nações, famílias e casas, e que todos estavam,
então, contentes com os seus bens; e enriquecer-se pelos bens
de outros, do mesmo modo que dominar por causa do amor de si,
era coisa inteiramente desconhecida; por isso os tempos antigos
e, sobretudo os tempos antiqüíssimos foram mais agradáveis ao
Senhor do que os tempos que se seguiram; e, como tal estado
existia, então, a inocência também reinava e com ela a
sabedoria; cada um então fazia o que era bom por causa do bem,
e o que era justo por causa da justiça; não se sabia o que era
fazer o que é bom e justo por causa de honra própria, ou por
causa de interesse pessoal; e, então, nada se falava senão a
verdade, e isso não tanto por causa da verdade, mas por causa
do bem, isto é, não pelo entendimento separado da vontade, mas
pela vontade unida ao entendimento. Tais eram os tempos
antigos; é por isso que, então, os anjos podiam conversar com as
pessoas e elevar ao céu as suas mentes quase que separadas das
coisas corpóreas, e lá mesmo conduzi-las por toda parte, e
mostrar-lhes as magnificências e as coisas felizes de lá, e
também comunicar-lhes suas alegrias e seus prazeres. Esses
tempos foram também conhecidos dos escritores da Antigüidade
e foram chamados por eles de Idade de Ouro, e também de era
de Saturno.
A razão de esses tempos terem sido tais como foi dito, é
porque as pessoas viviam distinguidas em nações, as nações em
Emanuel Swedenborg 39
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famílias, e as famílias em casas, e cada casa morava por si
mesma; e então não vinha à mente de quem quer que fosse
apoderar-se dos bens de outra casa, e disso adquirir para si
opulência e dominação. O amor de si e o amor do mundo
estavam, então, bem afastados; todos naqueles tempos estavam
contentes com os seus próprios bens, assim como comsc os bens
dos outros. Mas esse cenário mudou e tornou-se o oposto, com o
passar do tempo, quando a cobiça de dominar e de possuir
muitas coisas apoderou-se da mente; então, o gênero humano,
para defender-se, ajuntou-se em reinos e impérios; e, como as
leis da caridade e da consciência, que tinham sido inscritas nos
corações, cessaram de fazer efeito, tornou-se necessário, para se
deterem as violências, estabelecer leis nas quais as honras e os
interesses eram as recompensas e as suas privações, as punições.
Quando o estado foi assim mudado, o próprio céu afastou-se do
ser humano e isso cada vez mais até a nossa época, quando não
se sabe mais se o céu e se o inferno existem, e mesmo a sua
existência é negada por alguns. Essas coisas foram ditas, a fim de
ilustrar por um caso paralelo, qual é o estado dos que estão na
terra de Júpiter, e de onde lhes vem sua integridade e também
sua sabedoria, sobre as quais serão dados mais pormenores no
que se segue.
50. Por um longo relacionamento com os espíritos da
terra de Júpiter, ficou-me claro que eram mais íntegros que os
espíritos de muitas outras terras; quando chegavam, a sua
aproximação, a sua permanência e o seu influxo, então, eram tão
40 Terras no Universo
21
As estrelas na Palavra simbolizam os conhecimentos do bem e da verdade, assim, as
verdades. Nos 2495, 2849, 4697. E na outra vida as verdades são representadas por
estrelas fixas e as falsidades por estrelas errantes. No 1128.
Emanuel Swedenborg 41
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tanto mais são capazes de receber o Divino Bem, e com ele a
beatitude e a felicidade inferior. Isso é totalmente diferente no
caso de outros que não vivem na ordem do céu; neles os
interiores estão fechados e os exteriores abertos para o mundo.
52. Também me foi mostrado o tipo de face que têm os
habitantes da terra de Júpiter. Não que eu tenha visto os
próprios habitantes, mas pelo fato de que vi espíritos com uma
face semelhante à que tinham quando estavam em sua terra.
Todavia, antes que isso me fosse mostrado, apareceu um de seus
anjos por detrás de uma nuvem branca, que lhes deu permissão
e, então, duas faces me foram mostradas. Eram como as faces
das pessoas de nossa Terra, brancas e belas; a sinceridade e a
modéstia brilhavam delas. Quando os espíritos de Júpiter
estavam junto a mim, as faces das pessoas de nossa Terra
pareciam-me menores que de costume; isso acontecia porque
daqueles espíritos influía a idéia que tinham sobre as suas
próprias faces, que eram maiores; pois, quando vivem como
pessoas comuns em sua terra, crêem que após a morte suas
faces se tornarão maiores e assumirão uma forma arredondada; e
como essa idéia ficou fixa neles, por isso ela também permanece
e, quando se tornam espíritos, parece-lhes ter uma face maior.
Se crêem que suas faces se tornarão maiores, é porque dizem
que a face não é o corpo, e isso, porque por ela vêem, ouvem,
falam e apresentam o que pensam, e assim a mente transparece
por ela. Daí têm da face uma idéia como da mente em sua
forma; e como sabem que se tornarão mais sábios após a vida no
42 Terras no Universo
22
Na Palavra, o fogo é o Amor em cada significado. N os 934, 4906, 5215. O fogo sagrado
e celeste é o Divino Amor e toda afeição pertencente a esse amor. Nos 934, 6314, 6832. O
fogo infernal é o amor de si e do mundo, e toda cobiça que pertence a esses amores. N os
965, 1861, 5071, 6314, 6852, 7575, 10747. O amor é o fogo da vida e a própria vida na
realidade provém dele. Nos 4906, 5071, 6832.
23
Os espíritos e os anjos não vêem as coisas que estão neste sistema solar, mas dessa vez
por intermédio de meus olhos eles as viam. Nos 1881.
Emanuel Swedenborg 43
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expressa, ou contraída segundo o que a astúcia lhe aconselha.
Por um exame das fibras dos lábios ao redor delas, pode ver-se a
verdade, pois ali há séries de fibras em grande número
enroscadas e entrelaçadas, que foram criadas não somente para
a mastigação e para a linguagem de palavras, mas também para
exprimir as idéias da mente.
54. Foi também mostrado como os pensamentos são
apresentados pela face; as afeições que pertencem ao amor são
manifestadas pelos traços do rosto e por suas mudanças, e os
pensamentos são neles manifestados pelas variações quanto às
formas dos interiores ali presentes; não é possível descrevê-los
além disso. Os habitantes da terra de Júpiter também são
dotados de uma linguagem de palavras, mas esta não é tão
sonora quanto entre nós; uma linguagem auxilia a outra, e a
linguagem de palavras adquire vida pela linguagem da face. Fui
informado pelos anjos de que a primeira linguagem de todos em
cada terra foi a linguagem pela face, e isso proveniente das suas
duas origens ali presentes, ou seja, os lábios e os olhos. A razão
de essa linguagem ter sido a primeira é porque a face foi
formada para reproduzir as coisas que o ser humano pensa e as
que deseja na sua vontade; também por isso a face foi chamada
a efígie e o índice da mente; e mais, porque nos tempos
antiqüíssimos ou os primeiros tempos havia sinceridade, e as
pessoas não pensavam ou queriam pensar algo que não quisessem
que resplandecesse em sua face; por conseqüência, as afeições
da mente e os pensamentos daí provenientes podiam também ser
44 Terras no Universo
24
Os antiqüíssimos nesta Terra tinham uma linguagem pela face e pelos lábios, por meio
de uma respiração interior. Nos 607, 1118, 7361. Os habitantes de algumas das outras
terras possuem uma linguagem semelhante. Nos 4799, 7359, 8248, 10587. Sobre a
perfeição e da excelência dessa linguagem, ver Nos 7360, 10587, 10708.
Emanuel Swedenborg 45
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meios a falar como pensa e a pensar como deseja interiormente,
até que tenha uma mente só, e não uma mente dividida; se é
bom, a fim de que queira o bem e do bem pense e diga a
verdade; se é mau, a fim de que queira o mal e do mal pense e
diga a falsidade; o bom não pode ser elevado ao céu, e tampouco
pode o mau ser lançado no inferno antes disso; e isso a fim de
que no inferno não haja senão o mal e a falsidade do mal, e no
céu não haja senão o bem e a verdade do bem.
55. Além disso, fui informado pelos espíritos que são
desse planeta sobre várias coisas que concernem aos habitantes
de lá; por exemplo, de seu modo de andar, de suas comidas e de
suas habitações. Quanto ao que concerne ao seu modo de andar,
não andam de corpo reto, como os habitantes desta Terra e de
muitas outras, nem rastejam à maneira de animais; mas, quando
andam, servem-se das palmas das mãos, e elevam-se
alternadamente ficando sob os pés a uma meia altura; e mais: a
cada terceiro passo que dão nesse caminhar viram a face para os
lados, e para atrás deles e, então, curvam mesmo o corpo um
pouco, o que é feito subitamente, pois entre eles fica mal ser
visto pelos outros de outro modo que pela face. Quando
caminham assim, mantém sempre a face elevada, como entre
nós, a fim de que, desse modo, também tenham em vista o céu
quando olham a terra; não a mantêm abaixada para ver a terra,
o que consideram um ato condenável; os mais desprezíveis
dentre eles agem assim, e se não se acostumam a levantar a
face, são banidos de seu meio. Mas quando se sentam, parecem
46 Terras no Universo
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58. Eles gostam muito de prolongar suas refeições, não
tanto pelo gosto de comer, mas pelo prazer das conversas que,
então, se sucedem. Quando se sentam à mesa, não se sentam em
cadeiras ou bancos, ou em montes altos de relva entrelaçada,
nem também diretamente na grama, mas em folhas de uma certa
árvore; não queriam dizer de que árvore eram essas folhas, mas
como eu, tentando adivinhar, enumerava uma porção de árvores,
quando perguntei se eram folhas da figueira, enfim disseram que
sim. Mais ainda, disseram-me que não preparavam a sua comida
segundo o gosto, mas que era sobretudo segundo o seu uso;
diziam que a comida que lhes é útil é também saborosa. Sobre
esse assunto houve uma conversação entre os espíritos, e foi dito
que isso é o que convém ao ser humano, pois, assim, ele faz de
coração com que a mente seja sã num corpo são; isso se dá de
outro modo com aqueles em quem o gosto exerce o controle, por
conseguinte, o corpo adoece ou no mínimo debilita-se
interiormente e, assim, a mente também, pois essa opera de
acordo com o estado interior das partes recipientes que
pertencem ao corpo, assim como a visão e a audição exercem
suas funções segundo a condição do olho e do ouvido; por aí se vê
que loucura que é se atribuir à luxúria e à voluptuosidade todo o
prazer da vida; disso também provém a lerdeza nas coisas que
concernem ao pensamento e ao juízo, e a destreza nas que
concernem ao corpo e ao mundo; é disso que provém a
semelhança do ser humano com o animal bruto, ao qual tais
pessoas também se comparam e não sem justeza.
48 Terras no Universo
25
O cavalo simboliza o entendimento. Nos 2760-2762, 3217, 5321, 6125, 6400, 6534,
7024, 8146, 8148. E no Apocalipse o Cavalo Branco é o entendimento da Palavra. N o
2760.
Emanuel Swedenborg 49
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espíritos de nossa Terra; eles dizem o mesmo dos nossos, que
falam muito e pensam pouco, e, assim, não são capazes de
perceber interiormente muitas coisas, nem mesmo o que é o
bem; disso concluem que as pessoas de nossa Terra são pessoas
externas. Um dia foi mesmo permitido a espíritos maus de nossa
Terra agir por seus artifícios perversos, e infestar os espíritos de
Júpiter que estavam comigo; estes agüentaram completamente
os seus ataques por um longo tempo, mas, enfim, confessaram
que não podiam mais, e acreditavam que não havia espíritos
piores, pois pervertiam a sua imaginação e, também assim, o seu
pensamento, a ponto de que pareciam estar atados e não
poderem ser soltos e libertos de lá senão pela proteção Divina.
Enquanto eu lia algo na Palavra sobre a Paixão de nosso Salvador,
espíritos europeus insinuavam coisas horríveis e escandalosas
com a intenção de seduzir os espíritos de Júpiter. Indagou-se
quem eles eram e qual fora a sua ocupação no mundo, e
descobriu-se que alguns deles tinham sido pregadores, e muitos
deles eram dentre os que se diziam da Sociedade do Senhor, ou
seja, os jesuítas. Eu disse que eles, quando viviam no mundo,
podiam, por pregações sobre a Paixão do Senhor, comover as
pessoas até as lágrimas; disso também dei a razão: é que no
mundo eles pensavam de um modo e falavam de outro, assim,
traziam uma coisa no coração e apresentavam uma outra na
boca, e agora não lhes é permitido falar assim fraudulentamente,
pois quando se tornam espíritos, são forçados a falar,
absolutamente como pensam. Os espíritos de Júpiter estavam
muito admirados de como possa haver no ser humano uma tal
50 Terras no Universo
26
Chama-se um coro, quando vários espíritos falam juntos e com uninimidade. N os 2595,
2596, 3350. Em sua linguagem há uma concordância harmônica. Nos 1648, 1649. Na
outra vida a inauguração a um estado de unanimidade faz-se por coros. Nos 5182.
Emanuel Swedenborg 51
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em outras coisas semelhantes, e disse não se serviram como
meios para alcançar a sabedoria, porque consideraram essas
coisas mesmas como a sabedoria em si. Esses, visto que não
cultivaram sua faculdade racional pelos conhecimentos como
meios, na outra vida têm pouca percepção, pois só conseguem
ver as coisas em termos e por meio de termos e, para os que
vêem assim, coisas tais com esses termos são como poeira e
nuvens diante da visão intelectual [vide item no 38]; e os que se
orgulharam da erudição proveniente de tais coisas, percebem
ainda menos. Quanto aos que se serviram dos conhecimentos
como meios para debilitar e aniquilar as coisas que concernem à
igreja e à fé, esses destruíram inteiramente o seu entendimento
e enxergam nas trevas tais como corujas, vendo, assim, a
falsidade como verdade e o mal como bem. Os espíritos de
Júpiter, do seu relacionamento com tais espíritos, concluíram
que os conhecimentos induzem à escuridão e cegam. Mas foram
informados que nesta Terra os conhecimentos são os meios de se
abrir a visão intelectual que está na luz do céu; porém, como as
coisas que pertencem à vida puramente natural e aos sentidos ali
reinam, os conhecimentos também lhes são meios de se tornarem
insensatos, isto é, de se confirmarem pela natureza contra o
Divino e, pelo mundo, contra o céu. Ainda mais, foi-lhes dito que
os conhecimentos, em si mesmos, são riquezas espirituais e
aqueles que estas possuem são como os que possuem riquezas
mundanas, que igualmente são meios de se prestar usos para si,
para o próximo e para a pátria, e também meios de se fazer o
mal; e ainda mais, que os conhecimentos são como vestes que
52 Terras no Universo
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representam no Máximo Homem a imaginação do pensamento e,
assim, o estado ativo das partes interiores; mas os espíritos de
nossa Terra representam as diversas funções das partes
exteriores do corpo; quando estas querem dominar, o princípio
ativo, ou seja, a imaginação do pensamento não pode fluir do
interior; daí as repulsas entre as esferas de vida de um e de
outro.
65. Quanto ao que concerne ao seu culto Divino, o
principal é que reconhecem nosso Senhor como Deus Supremo,
Quem governa o céu e a terra; chamam-n’O o único Senhor; e
como na vida do corpo eles o confessaram e adoraram, após a
morte O buscam e acham-n’O; é o mesmo que nosso Senhor.
Perguntei-lhes se sabiam que o único Senhor é um Homem;
responderam que todos sabem que é Homem, porque em seu
globo foi visto por muitos como um Homem; e que Ele Mesmo os
instrui sobre a verdade, os guarda e dá a vida eterna aos que O
adoram por causa do bem. Diziam ainda mais, que lhes foi
revelado por Ele como devem viver e como devem crer; e que o
que foi revelado é transmitido dos pais aos filhos e que, assim, a
doutrina se transmite a todas as famílias e, por conseqüência, a
toda uma nação descendente de um mesmo pai. Acrescentaram
que lhes parece que têm a doutrina escrita nas suas mentes, o
que concluem por perceber imediatamente, e reconhecer como
se fosse proveniente deles próprios se o que lhes é dito por
outros sobre a vida do céu no ser humano é ou não é verdade.
Não estão cientes de que seu único Senhor nasceu como um
54 Terras no Universo
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eles abominam; acrescentando que absolutamente nada há de
celeste em suas mentes, mas somente o que é terrestre, que
chamavam de escórias. Também ficariam convencidos de que isso
é assim, que, quando esses espíritos ouviram que eles em sua
terra andavam nus, a obscenidade logo se apoderara de seus
pensamentos, e não tinham de modo algum pensado em sua vida
celeste, sobre a qual, então, também, ouviram falar.
67. Pude ver em que clara percepção de coisas
espirituais os espíritos de Júpiter estão, pela sua representação
de como o Senhor converte as afeições perversas em boas
afeições. Representavam a mente intelectual como uma forma
bela, e nela induziam uma atividade própria à forma que conduz
à vida da afeição; isso fizeram de um modo que não pode ser
descrito por palavras, e com tanta destreza que nisso foram
louvados pelos anjos. Estavam então, presentes uns eruditos de
nossa Terra que tinham mergulhado seu intelecto nos termos dos
conhecimentos e escrito e pensado muito sobre a forma, sobre a
substância, sobre o que é material e o que é imaterial, e sobre
outras coisas semelhantes, e não aplicaram essas coisas a uso
algum; nem mesmo compreender essa representação puderam.
68. Em sua terra, velam com o maior cuidado para que
ninguém caia nas opiniões más sobre o único Senhor, e se notam
que alguns começam a pensar maliciosamente sobre Ele,
primeiro advertem-nos e depois, por ameaças e, enfim, por
punições, acabam por desviá-los disso. Disseram-me ter
56 Terras no Universo
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apareçam na face como se esta estivesse ardendo de fogo, ainda
assim são frios, e querem constantemente aquecer-se. Daí é
evidente que o fogo, com que brilham, é o fogo do amor de si
que é um fogo ilusório. A fim de se aquecerem, essas pessoas
parecem estar rachando lenha e, quando a racham, aparece sob
a madeira algo como um homem, e, na mesma hora tentam feri-
lo; isso é proveniente de atribuírem mérito e santidade a si
próprios; os que fazem isso parecem rachar lenha na outra vida;
como também alguns de nossa terra, dos quais se tratou em
outro lugar. A fim de que esse ponto seja ilustrado, é-me
permitido também acrescentar um episódio sobre isso: na terra
inferior, sob a planta dos pés, também se encontram os que
colocaram mérito nas boas ações e nas obras; muitos dentre eles
parecem a si mesmos estar a rachar lenha. O lugar onde estão é
bem frio e parece-lhes obter calor por seu esforço. Também
conversei com eles, e tive a oportunidade de perguntar-lhes se
queriam sair desse lugar; respondiam-me que não o tinham ainda
merecido por seu trabalho; entretanto, quando esse estado é
concluído, dali são retirados. Eles são naturais, porque querer
merecer a salvação não é espiritual, pois isso vem do sentimento
de independência do ser humano e não do Senhor; e, além disso,
consideram-se melhores que os outros, e alguns deles até
desprezam os outros. Se não recebem mais alegria que os outros
na outra vida, ficam indignados contra o Senhor; é por isso que,
quando racham lenha, aparece algo como a figura do Senhor sob
58 Terras no Universo
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nas articulações dos pés ou das mãos ou com uma dor em torno
da região superior do abdome; isso os espíritos também podem
fazer com destreza, quando lhes é permitido. Quando tais
espíritos se aproximam de uma pessoa, excitam um arrepio
acompanhado de um medo; por aí a pessoa toma conhecimento
de sua chegada. Os maus espíritos são capazes de incutir medo
assim que vêm para alguém, principalmente nos que foram
ladrões enquanto viviam no mundo. A fim de que eu soubesse
como esses espíritos agem quando se aproximam de uma pessoa
de sua terra, foi permitido que um tal espírito se aproximasse de
mim; quando chegou perto, um arrepio acompanhado de terror
claramente se apoderou de mim; todavia, me arrepiei, não no
interior mas no exterior, porque sabia que era um tal espírito; eu
mesmo o vi, e ele aparecia como uma nuvem obscura com
pequenas estrelas que se movia na nuvem; as estrelas móveis
simbolizam as falsidades, e as estrelas fixas as verdades (30). Ele
encostou-se ao meu lado esquerdo voltando-se para as minhas
costas; e começou também a repreender-me, segundo os fatos e
os pensamentos que tirou de minha memória, e que interpretava
também no lado mal; mas foi detido pelos anjos. Quando
29 [idem 9]
Os espíritos entram em todas as coisas da memória da pessoa, mas não pela sua
própria memória nas coisas do homem. Nos 2488, 5863, 6192, 6193, 6198, 6199, 6214.
Os anjos entram nas afeições e nos fins pelos quais e por causa dos quais a pessoa pensa,
quer e age de uma maneira e não de outra. Nos 1317, 1645, 5854.
30 [idem 21]
As estrelas na Palavra simbolizam os conhecimentos do bem e da verdade,
assim, as verdades. Nos 2495, 2849, 4697. E na outra vida as verdades são representadas
por estrelas fixas e as falsidades por estrelas errantes. No 1128.
60 Terras no Universo
percebeu que estava junto a uma outra pessoa que não as de sua
terra, pôs-se a falar comigo e a dizer que, quando vem junto a
uma pessoa, sabe, em geral e em particular, tudo o que a pessoa
fez e pensou; e que, em seguida, a repreende severamente e
castiga-a também com diferentes tipos de dores. Numa outra
ocasião veio também a mim um tal espírito castigador e
encostou-se no meu lado esquerdo, abaixo do meio do corpo,
como o primeiro; queria também punir, mas foi do mesmo modo
impedido por anjos; mostrou-me, contudo, os tipos de castigos
que lhes são permitidos infligir às pessoas de sua terra, se agem
mal ou se têm a intenção de agir mal; havia, além da dor nas
articulações, também uma contração dolorosa pelo meio do
ventre, que senti como se estivesse sofrendo o aperto de um
cinto com pontas; havia, também, uma privação alternada da
respiração, a ponto de causar angústias; depois, também, a
proibição de se comer outra coisa senão pão, durante um certo
tempo; e, por fim, a ameaça de morte, se não deixassem de
fazer coisas semelhantes e, aí então, a privação de alegria de se
ver o cônjuge, filhos e amigos; a dor que disso provém sendo
também insinuada.
73. Os espíritos que os instruem se encostam também no
seu lado esquerdo, porém, mais pela frente; eles igualmente
repreendem, mas com bondade, e logo depois ensinam como é
preciso viver; também aparecem obscuros, não todavia como
uma nuvem, assim como os primeiros, mas como se estivessem
vestidos com sacos. Estes são chamados instrutores e os
precedentes, corregedores. Quando esses espíritos estão
presentes, espíritos angélicos estão também presentes; estes se
estabelecem próximo da cabeça e enchem-na de um modo
particular; sua presença ali é mesmo percebida como uma doce
aspiração, pois receiam que a pessoa, por sua chegada e por seu
influxo, sinta a menor dor ou a menor ansiedade; eles regulam os
espíritos corregedores e os espíritos instrutores; os primeiros, a
fim de que não façam mais mal à pessoa do que lhes é permitido
pelo Senhor, e os últimos, a fim de que lhe digam a verdade.
Quando o espírito corregedor estava junto a mim, os espíritos
angélicos também estavam presentes e mantinham minha face
Emanuel Swedenborg 61
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continuadamente alegre e risonha, com a região ao redor dos
lábios proeminente e minha boca um pouco aberta; isso os anjos
fazem facilmente por influxo, quando o Senhor o permite. Eles
diziam que inspiram uma tal expressão nos habitantes de sua
terra, quando estão presentes.
74. Se a pessoa, após o castigo e a instrução, de novo
pratica o mal, ou mesmo se pensa em fazer o mal, e não se
abstém segundo os preceitos da verdade, então, quando o
espírito corregedor retorna, ela é punida mais severamente. Mas
os espíritos angélicos moderam a punição de acordo com a
intenção no que fez e de acordo com a vontade no que pensou.
Disso pode-se ver que seus anjos, que se estabelecem pela
cabeça, têm uma espécie de jurisdição sobre a pessoa,
porquanto permitem, moderam, restringem e influem. Todavia,
foi explicado que esses anjos não julgam, mas que o Senhor, Só,
é o Juiz, e que d’Ele influem nos anjos todas as coisas que
ordenam aos espíritos corregedores e aos espíritos instrutores, e
que isso parece ser originado deles mesmos.
75. Lá os espíritos falam à pessoa, mas a pessoa não fala
por sua vez aos espíritos, só mesmo as seguintes palavras,
quando é instruída: que não agirá mais dessa maneira; não lhes é
tampouco permitido dizer a alguém que um espírito lhe falou; se
ela o faz, é em seguida punida. Esses espíritos de Júpiter,
quando estavam junto a mim, pensavam a princípio que estavam
junto a uma pessoa de sua terra; mas quando eu, por minha vez,
62 Terras no Universo
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79. Entre os espíritos de Júpiter, há também os que são
chamados de limpadores de chaminés, porque a eles se
assemelham em traje e também têm o rosto coberto de fuligem.
É-me também permitido descrever quem são e o seu modo de
ser. Um desses espíritos veio a mim e pediu-me com insistência
que intercedesse por ele, a fim de que pudesse vir ao céu; dizia
que não estava ciente de ter feito o mal, que somente
repreendera habitantes de sua terra; acrescentou que, depois de
tê-los repreendido, instruíra-os. Encostou-se no meu lado
esquerdo sob o antebraço, e falava como se o som de sua voz
fosse duplo; podia mesmo inspirar compaixão. Mas não pude
responder-lhe senão que não podia prestar-lhe qualquer auxílio,
e que isso cabia unicamente ao Senhor; nem interceder, porque
não sabia se isso seria útil ou não; mas que, se fosse digno, podia
ter esperanças. Então, ele foi enviado aos espíritos íntegros que
eram de sua terra; mas estes diziam que ele não podia
permanecer em sua companhia, porque não era tal como eles;
entretanto, visto que, por causa de seu desejo intenso, ainda
suplicasse ser admitido no céu, foi enviado a uma sociedade de
espíritos íntegros desta terra; mas estes diziam também que ele
não podia permanecer com eles; ele era mesmo de uma cor preta
sob a luz do céu; mas ele replicava que não era de cor preta,
mas sim de uma cor amarronzada. Foi-me informado que tais
são, a princípio, os que depois são admitidos entre os que
constituem a província das vesículas seminais no Máximo Homem,
ou seja, no céu; com efeito, nessas vesículas o sêmen é
64 Terras no Universo
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palavras não eram suficientemente distintas nem separadas entre
si, de forma que eu tinha que esperar um longo tempo antes de
entender o sentido; e, enquanto falava, interpunha também um
pouco de medo, assim me advertindo que eu acolhesse bem os
anjos, quando chegassem; mas, foi-me dado responder que isso
não depende de mim, e que todos são acolhidos comigo de
acordo com o que eles próprios são. Logo depois vieram anjos
dessa terra, e foi-me dado perceber, pelo seu tom de voz
comigo, que diferiam inteiramente dos anjos de nossa Terra; pois
sua linguagem se fazia, não por meio de palavras, mas por meio
de idéias que de todo lado se estendiam por meus interiores e,
por conseguinte, também possuíam um influxo na face, de modo
que a face concorria para cada detalhe da linguagem, começando
pelos lábios e continuando para a circunferência por todos os
lados. As idéias, que se usavam em lugar das palavras, eram
separadas umas das outras, mas muito pouco. Em seguida, me
falaram por meio de idéias ainda menos separadas umas das
outras, de tal modo que mal se percebia qualquer intervalo; eu
percebia algo como o significado das palavras que as pessoas que
só prestam atenção ao significado abstraído das palavras
percebem. Essa linguagem era para mim mais inteligível que a
primeira e era também mais completa. Influía do mesmo modo
que a primeira na face, mas o influxo era, de acordo com a
qualidade dessa linguagem, mais contínuo; todavia, não
começava, como o primeiro, pelos lábios, mas sim pelos olhos.
Em seguida, falaram ainda com mais continuidade e plenitude e,
então, a face não pôde responder com uma expressão adequada;
66 Terras no Universo
31
Os carros simbolizam as doutrinas da igreja, Nos 2760, 5321, 8215, e os cavalos o
entendimento, Nos 2760-2762, 3217,5321, 6125, 6400, 6534, 7024, 8146, 8148, 8381. O
Cavalo Branco no Apocalipse simboliza o entendimento da Palavra, No 2760. No sentido
Emanuel Swedenborg 67
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83. O céu, a que são elevados, aparecia à direita da sua
terra, por conseqüência, separado do céu dos anjos de nossa
Terra. Os anjos que se encontram nesse céu aparecem vestidos
de azul resplandecente, pontilhado de pequenas estrelas
douradas; e isso porque, no mundo, eles amaram essa cor;
acreditaram mesmo que ela era a própria cor celeste, sobretudo
porque estão num estado de bem do amor tal, como ao que essa
cor corresponde(32).
84. Foi-me mostrada uma cabeça calva, mas somente a
parte de cima, que era óssea; e foi-me dito que os que devem
morrer durante o ano vêem algo parecido e então se preparam.
Lá não receiam a morte senão porque deixam o cônjuge, os filhos
ou os pais, pois sabem que após a morte viverão e não partem da
vida, porquanto vão para o céu; é por isso que não chamam o ato
de morrer, "morrer", mas sim "tornar-se celeste". Os que, nessa
terra, viveram no amor verdadeiramente conjugal e cuidaram dos
filhos como convém aos pais, esses não morrem de doença, mas
tranqüilamente como num sono; e passam assim do mundo ao
céu. Lá a idade das pessoas é na sua maioria de trinta anos,
representativo, por Elias entende-se a Palavra, N os 2762, 5247. E como toda doutrina da
Igreja e seu entendimento provêm da Palavra, Elias foi chamado Carro de Israel e seus
cavaleiros, Nos 2762. É por isso que ele foi arrebatado por um carro de fogo e cavalos de
fogo. Nos 2762, 8029.
32
O azul proveniente do vermelho ou chama corresponde ao bem do amor celeste, e o
azul proveniente de branco ou brilho corresponde ao bem do amor espiritual, No 9868.
68 Terras no Universo
33
A primeira e antiqüíssima igreja em nossa Terra foi uma igreja celestial, que é a
essencial de todas, Nos 607, 895, 920, 1121-1124, 2896, 4493, 8891, 9942, 10545.
Chama-se igreja celestial aquela em que o elemento principal é o amr ao Senhor, e igreja
espiritual aquela em que o elemento principal é a caridade para com o próximo e a fé,
Nos 3691, 6435, 9486, 9680, 9683, 9780.
Emanuel Swedenborg 69
_________________________________________________
encontram-se separados dos espíritos de uma outra porque os
espíritos de cada terra representam certa parte especial no
Máximo Homem, e estão, por conseguinte, num outro e diferente
estado, e a diferença de estado faz que apareçam separados uns
dos outros, quer para a direita, quer para a esquerda e a uma
maior ou menor distância(34).
87. Uns espíritos de lá vieram junto a mim e se
encostaram no lado esquerdo da minha cabeça; e ali me
sopravam sua fala, mas eu não a compreendia; era bem suave
quanto ao seu fluxo e uma mais suave eu não percebera antes;
era como a mais branda brisa; batia primeiro no lado esquerdo
da minha cabeça e de lá para a orelha esquerda por cima; e
então subia para o olho esquerdo e pouco a pouco para o direito,
e partia, em seguida, sobretudo do olho esquerdo para os lábios
e, chegada aos lábios, entrava na boca e subia ao cérebro por um
caminho dentro da boca (que é a trompa de Eustáquio). Quando
esse sopro lá chegou, compreendi sua linguagem e foi-me
possível conversar com eles. Notei que, quando me falavam, os
meus próprios lábios moviam-se, e um pouco também a minha
língua, e isso por causa da correspondência da linguagem interna
com a linguagem externa. A linguagem externa pertence ao som
articulado que desliza para a membrana externa do ouvido e, daí
no meio dos pequenos órgãos, das membranas e das fibras que
34
As distâncias na outra vida são aparências reais, que são pelo Senhor apresentadas à
vista, segundo os estados dos interiores dos anjos e dos espíritos. N os 5605, 9104, 9440,
10146.
70 Terras no Universo
_________________________________________________
perfeita e também mais adequada e mais conforme às próprias
idéias do pensamento; além disso, expressavam-se ainda por
ligeiros movimentos dos lábios e por mudanças correspondentes
na face; efetivamente, como eram pessoas celestiais, tudo o que
pensavam se manifestava claramente por sua face e seus olhos,
os quais conformemente variavam a face quanto à forma,
segundo a vida da afeição, e os olhos quanto à luz; nunca seriam
capazes de mostrar um rosto que não fosse de acordo com o que
pensavam. Como sua linguagem se fazia pela respiração interior,
que pertence ao próprio espírito do ser humano, é por isso que
puderam conviver e falar com os anjos. A respiração dos espíritos
de Marte foi-me também comunicada (35), e percebi que sua
respiração procedia da região do tórax para o meio do ventre e,
de lá, fluía para cima através do peito com um sopro
imperceptível para a boca. Pude ver por isso, depois também por
outras provas de experiência própria, que eram de uma natureza
celestial e, assim, não diferiam dos que pertenceram à Igreja
Antiqüíssima nesta Terra.
88.Fui informado de que os Espíritos de Marte, no
Máximo Homem, representam o ponto intermediário entre o
entendimento e a vontade, assim o pensamento proveniente da
afeição e os melhores dentre eles representam a afeição do
pensamento; daí vem que a sua face age em harmonia com seu
pensamento e não podem fingir diante de quem quer que seja. E
35
Os espíritos e os anjos também são dotados de uma respiração, Nos 3884, 3885, 3891 e
3893.
72 Terras no Universo
_________________________________________________
nas comunidades e, principalmente, as coisas no céu, visto que
muitos dentre eles têm uma comunicação aberta com os anjos do
céu. Os que, em suas comunidades, começam a pensar de modo
mau e, por conseguinte, a desejar o mal, são separados; deixam-
nos sozinhos, onde vivem fora da comunidade de um modo
totalmente miserável em regiões pedregosas e outros tais
lugares, pois os das comunidades não tomam mais conta deles.
Algumas comunidades procuram, por diversos meios, coagir essas
pessoas a emendarem-se; mas, quando isso se torna uma perda
de tempo, separam-se delas. Desse modo se previnem, a fim de
que a cobiça da dominação e a cobiça do ganho não caia sobre
eles, isto é, a fim de que ninguém pela cobiça da dominação
subjugue para si uma comunidade qualquer e, em seguida,
muitas outras; e a fim de que ninguém, pela cobiça do ganho,
roube os bens dos outros. Cada um lá vive contente com os seus
bens e cada um também vive contente com a sua honra, que
consiste na reputação de ser justo e amar o próximo; esse prazer
e tranqüilidade dos espíritos pereceriam, se os que pensam mal e
querem mal não fossem expulsos, e se não combatessem com
prudência e severidade o amor de si e o amor do mundo logo nos
seus começos; pois são esses amores por que foram formados
impérios e reinos, nos quais há poucos que não desejam dominar
e possuir os bens dos outros, pois existem poucos que façam o
que é justo e reto proveniente do amor da justiça e da retidão, e
menos ainda que façam o bem proveniente da caridade mesma,
mas sim por causa do temor da lei, da perda da vida, do lucro, da
honra, e da reputação baseada nessas coisas.
74 Terras no Universo
_________________________________________________
mundo; mas que jamais algum mau espírito, mesmo o mais
infernal, podia causar-me algum dano, porque eu estava
continuamente protegido pelo Senhor.
93. Foi-me apresentado um habitante dessa terra: não
era, de fato, um habitante mesmo, mas era semelhante a um;
sua face era como a face dos habitantes de nossa Terra, mas a
parte inferior da face era escura, não por causa da barba, pois
não a tinha, mas de uma negridão que se achava em seu lugar.
Essa negridão estendia-se de cada lado até sob as orelhas; a
parte superior da face era amarela, como a face dos habitantes
de nossa Terra, que não são de pura raça branca. Ainda mais,
disseram que nessa terra alimentam-se dos frutos das árvores e,
sobretudo, de um fruto redondo que brota em sua terra; e, além
disso, de legumes; e lá se vestem com as roupas que fazem das
fibras da casca de certas árvores, fibras que têm a composição
adequada para poderem ser tecidas e também grudadas por uma
espécie de goma que existe entre eles. Contavam, além disso,
que lá sabem fazer líquidos combustíveis, pelos quais têm luz à
tarde e à noite.
94. Eu via uma espécie de um objeto belíssimo e
flamejante, de uma cor que variava, primeiro púrpura, depois
um vermelho brilhante, essas cores também reluziam lindamente
da chama; via, além disso, uma mão à qual esse objeto
inflamado se fixava, primeiro às costas da mão, depois, à palma
ou à parte interna da mão, e dali tocava a mão de leve em todo o
76 Terras no Universo
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tempo, às de vida na ave, até o ponto em que se tornou pedra,
simbolizam as transformações sucessivas da vida espiritual no
que diz respeito à inteligência. Sabiam, também, que os espíritos
que sobem de baixo pela região do dorso para a região do peito
estão numa forte persuasão de que estão no Senhor e, disso,
crêem que todas as coisas que fazem, mesmo as coisas más,
fazem-nas pela vontade do Senhor. Todavia não puderam disso
saber quem eram os que deviam ser entendidos por essa visão.
Enfim, foram instruídos pelo céu que eram os habitantes de
Marte; seu amor celestial, em que ainda estão muitos dentre
eles, foi simbolizado pelo objeto flamejante que se fixou à mão;
e a ave, no começo, quando estava na beleza de suas cores e no
vigor de sua vida, simbolizava seu amor espiritual. Mas o fato de
que essa ave se transformou em pedra e sem vida, e, enfim,
ficou de uma cor escura, simbolizava os habitantes que se
afastaram do bem do amor e estão no mal, e, entretanto, ainda
assim crêem que estão no Senhor; algo semelhante foi
simbolizado pelo espírito que se elevava e queria arrebatar a
ave.
95. Pela ave de pedra estavam também representados os
habitantes dessa terra que transformam de um modo estranho a
vida de seus pensamentos e de suas afeições em uma vida quase
nula sobre o que ouvi o seguinte:
Havia acima de minha cabeça um espírito que me falava.
Segundo o som de sua voz, percebi que estava como que num
78 Terras no Universo
37
As comunicações fazem-se por espíritos que sociedades de espíritos e de anjos enviam
a outras sociedades; e esses espíritos são chamados sujeitos. Nos 4403, 5856, 5983, 5989.
Emanuel Swedenborg 79
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do amor, inventam uma tal linguagem, entretanto não todos; e
eles, quando se tornam espíritos, conservam-na consigo. São eles
os que foram especialmente simbolizados pela ave de pedra, pois
apresentar uma linguagem por expressões do rosto e por
movimento dos lábios, suprimindo as suas afeições e retraindo
seus pensamentos aos outros, é tirar a alma à linguagem e dela
fazer uma espécie de estátua e, gradualmente, tornar-se
também em algo semelhante. Embora pensem que o que dizem
entre si não é compreendido por outros, entretanto, os espíritos
angélicos percebem todas e cada uma das coisas que eles dizem,
pelo fato de que nenhum pensamento pode ser-lhes suprimido.
Foi isso mesmo o que lhes foi demonstrado por um caso real; eu
estava pensando no fato de que os espíritos maus de nossa Terra
não sentem vergonha alguma, quando infestam os outros. Esse
pensamento influía em mim dos espíritos angélicos que
compreendiam a linguagem dos espíritos de Marte; então, estes
reconheceram que aquilo que eu pensava era o mesmo de que
falavam entre si e ficaram admirados. Além disso, por meio de
um espírito angélico foram reveladas várias coisas, tanto as que
diziam quanto as que pensavam, apesar de se esforçarem a todo
custo por suprimir-lhes essas coisas. Em seguida, esses espíritos
influíram de cima na minha face; o influxo era sentido como uma
leve chuva estriada que era sinal de que não estavam na afeição
da verdade e do bem, pois isso é o que é representado pela
estria. Falaram-me, então, de modo inteligível e disseram-me
que habitantes de sua terra falam entre si de uma maneira
semelhante. Então foi-lhes dito que isso é mau, porque assim
80 Terras no Universo
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ele estaria não somente em todo conhecimento necessário, mas
também em toda a inteligência e sabedoria, pois estas influiriam
do céu nesses amores, isto é, do Divino por meio do céu. Mas
como o ser humano não nasce nesses amores, mas sim nos
amores contrários, a saber, nos amores de si e do mundo, é por
isso que não pode deixar de nascer em toda ignorância e falta do
saber. Contudo é guiado por meios Divinos a algo de inteligência
e de sabedoria, mas ainda assim não efetivamente em coisa
alguma, a menos que os amores de si e do mundo sejam
afastados e que, assim, o caminho para o amor a Deus e para
com o próximo seja aberto. Que o amor a Deus e o amor para
com o próximo têm neles toda inteligência e toda sabedoria
pode-se ver pelas pessoas que, no mundo, estiveram nesses
amores; quando, após a morte, chegam ao céu, lá sabem e
gostam de coisas que nunca tinham conhecido antes e, ainda
mais, pensam e falam como os outros anjos tais coisas que o
ouvido nunca escutou e de que a mente nunca teve
conhecimento, as quais são inefáveis; e isso porque esses amores
têm em si a faculdade de receber tais coisas.
82 Terras no Universo
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respondem-lhes que são insensatos e que não pode haver maior
loucura que perguntar que Deus alguém adora, quando existe um
único Deus para todos no universo; e são ainda mais insensatos no
que não dizem que o Senhor é Esse Deus único e governa o céu
inteiro e, por conseguinte, o mundo inteiro, visto que o que
governa o céu, governa também o mundo, porque o mundo é
governado por meio do céu.
100. Disseram ainda que em sua terra há também
pessoas que chamam de Senhor um clarão noturno, que é grande;
mas que esses se encontram separados dos outros e não são
tolerados por eles. Esse clarão noturno provém daquele grande
anel que rodeia à distância essa terra, e das luas que são
chamadas satélites de Saturno.
101. Contaram que um outro tipo de espíritos que
andam em bandos, vêm freqüentemente junto a eles, querendo
saber como as coisas ali se passam e esses espíritos por diversos
meios extraem deles o que sabem. Desses diziam que não são
insensatos senão no que querem saber isso, não tanto por causa
de um uso qualquer, mas só a fim de o saberem. Em seguida,
foram informados de que esses espíritos são do Planeta Mercúrio
ou da terra mais próxima do sol e somente se deleitam nos
conhecimentos e não tanto nos usos que deles provêm.
102. Os habitantes e os espíritos do planeta Saturno
representam, no Máximo Homem, um sentido médio entre o
84 Terras no Universo
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esse acontecimento, também ficou claro que o homem natural
não pode introduzir-se no homem espiritual, isto é, elevar-se;
mas que, quando a pessoa está na fé e, por conseguinte, na vida
espiritual, o homem espiritual influi no homem natural e ali
pensa; pois existe um influxo espiritual, isto é, que vem do
mundo espiritual para o mundo natural, mas não vice-versa(38).
103. Além disso, fui informado pelos espíritos dessa
terra sobre os habitantes, quais as suas associações e várias
outras coisas; disseram-me que vivem distinguidos em famílias,
uma família separada da outra; assim, o marido e a esposa com
seus filhos; e estes, quando se casam, deixam a casa de seus pais
e não tomam mais conta dela, e é por isso que os espíritos dessa
terra aparecem em pares; preocupam-se pouco com sua comida e
vestimenta, pois se alimentam dos frutos e legumes que a sua
terra produz; e se vestem levemente porque são revestidos por
uma pele ou um tegumento espesso que os protege do frio; ainda
mais, todos de sua terra sabem que viverão após a morte e, por
conseguinte, não dão importância a seus corpos, senão no que
diz respeito à vida que, assim como costumam dizer, será
permanente e servidora ao Senhor; é também por isso que não
enterram os corpos dos mortos, mas deixam-no sem sepultura e
cobrem-nos com ramos de árvores da floresta.
38
Existe um influxo espiritual e não existe influxo físico ou natural; assim, há um influxo
do mundo espiritual para o mundo natural, e não do mundo natural para o mundo
espiritual. Nos 3219, 5119, 5259, 5427, 5428, 5477, 6322. Parece que há um influxo dos
exteriores do ser humano nos interiores, mas isso é uma ilusão. No 3721.
86 Terras no Universo
_________________________________________________
em sua terra O tinham visto e O representavam, também como O
tinham visto. Esses espíritos, no Máximo Homem, representavam
a memória das coisas materiais que está em harmonia com a
memória das coisas imateriais, a qual os espíritos de Mercúrio
representam. É por isso que os espíritos de Mercúrio se dão muito
bem com esses espíritos de Vênus. Assim, quando estavam
juntos, senti, de um influxo dali proveniente, uma mudança
notável e uma forte sensação em meu cérebro [vide item no 43].
108. No entanto, não conversei com os espíritos que
aparecem no lado voltado para cá e são cruéis e quase selvagens,
mas foi-me relatado pelos anjos de que caráter são, e de onde
lhes vem essa natureza tão ferina: é, a saber, que lá têm muito
prazer nos saques e o maior prazer em comer o que saquearam.
Seu prazer, quando pensam em comer os seus saques, foi-me
comunicado e senti que era extremo. Que houve também em
nossa Terra habitantes dessa natureza ferina, isso é evidente
pelos fatos históricos de várias nações, também pelos habitantes
da terra de Canaã [I Sam 30:16] e, também, segundo a nação
judaica e israelita, mesmo no tempo de David, em que cada ano
faziam excursões, saqueavam as nações e regozijavam-se
comendo o que tinham saqueado. Disseram-me também que
esses habitantes, na sua maioria, são gigantes e as pessoas de
nossa Terra não chegariam a seu umbigo; e também, são
estúpidos, não procurando saber o que é o céu ou o que é a vida
eterna, mas se ocupam somente do que concerne às suas terras e
aos seus rebanhos.
88 Terras no Universo
Os Espíritos e os
Habitantes da Lua
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nuvens, logo depois do relâmpago. Eu presumia que fosse uma
grande multidão de espíritos que sabiam emitir sons habilmente
com um tal estrondo. Uns espíritos mais simples que estavam
junto a mim zombavam deles, do que me admirei muito. O
motivo dessa zombaria foi-me logo revelado: é que os espíritos
que faziam esse estrondo de trovão não eram muitos, mas sim
em pouco número e também pequenos como crianças, e antes
eles lhes tinham incutido medo com tais sons, quando, no
entanto, absolutamente não eram capazes de causar-lhes o
menor dano. A fim de que eu soubesse quais eles eram, alguns
desceram do alto lugar onde trovejavam; e, o que me admirou,
um carregava o outro em suas costas e, assim, se aproximavam
de mim em pares. Suas faces não pareciam disformes, mas eram
mais alongadas que a de todos os outros espíritos; sua estatura
era a mesma de uma criança de sete anos, mas seu corpo era
mais robusto; assim, eram anões. Fui informado pelos anjos de
que eram provenientes da Lua. Um dos que eram carregados veio
junto a mim, encostando-se ao meu lado esquerdo sob o
antebraço e, dali, falava, dizendo que, quando emitem sua voz,
trovejam assim e, desse modo, amedrontam os espíritos que
querem fazer-lhes mal e põem-nos em fuga e, dessa forma, vão
aonde quer que queiram em segurança. Para convencer-me de
que o som vinha deles, aquele se retirou de mim para junto de
outros, mas não inteiramente fora do alcance de minha vista e
trovejou do mesmo modo. E ainda mais, mostravam-me que sua
voz, impelida do abdome como um arroto, produzia assim o
estrondo do trovão. Percebi que isso vinha do abdome, porque os
90 Terras no Universo
_________________________________________________
conservada por toda a posteridade; e assim pôde ser manifestado
mesmo a todos na outra vida que Deus Se fez Humano.
114. O motivo principal foi por causa da Palavra: é
porque a Palavra é a Divina Verdade mesma que ensina ao ser
humano que Deus existe, existe um céu e um inferno; há uma
vida após a morte; e, ainda mais, ensina como ele deve viver e
crer, para que venha ao céu e seja assim eternamente feliz.
Todas essas coisas, sem uma revelação, assim sem a Palavra
nesta terra, teriam sido absolutamente ignoradas e, entretanto,
o ser humano foi criado de tal modo que, quanto a seus
inferiores, não pode perecer(39).
115. A Palavra em nossa Terra pôde ser escrita: é
porque a arte de escrever existiu aqui desde um tempo muito
antigo, primeiro em cascas de árvore, depois no pergaminho,
mais tarde no papel e, enfim, foi difundida pela imprensa. Isso
foi provido pelo Senhor por causa da Palavra.
116. A Palavra em seguida pôde ser difundida em toda
esta terra: é porque aqui existe um comércio entre todas as
nações, não somente por viagens terrestres, mas também por
39
Só pela luz natural, nada se sabe a respeito do Senhor, do céu e do inferno, da vida do
ser humano após a morte, e as Divinas Verdades pelas quais o ser humano tem a vida
espiritual e eterna, Nos 8944, 10318/20. Isso pode-se ver pelo fato de que muitos, e entre
eles eruditos, não crêem nessas coisas, embora tenham nascido onde há a Palavra, e por
meio dela a instrução sobre essas coisas, No 10319. Foi, pois, necessário que uma
revelação viesse do céu, visto que o ser humano nasceu para o céu. No 1775.
92 Terras no Universo
40
As nações na outra vida são instruídas pelos anjos, e aqueles que viveram bem de
acordo com o seu princípio religioso, recebem as verdades da fé e reconhecem o Senhor.
Nos 2049, 2595, 2598, 2600, 2601, 2603, 2861, 2863, 3263.
41
A palavra é entendida de um outro modo pelos anjos no céu do que pelas pessoas na
terra, e os anjos possuem o significado interno ou espiritual, ao passo que as pessoas
possuem o significado externo ou natural, N os 1769-1772, 1887, 2143, 2333, 2395, 2540,
2541, 2545, 2551. A Palavra é o elemento de união entre o céu e a terra, N os 2310, 2495,
9212, 9216, 9357, 10375. Por conseqüência a Palavra foi escrita por meio de puras
Emanuel Swedenborg 93
_________________________________________________
120. Em todas as outras terras a Verdade Divina é
manifestada face a face por intermédio de espíritos e anjos, tal
como nos parágrafos anteriores, onde se tratou dos habitantes
das terras neste sistema solar; mas isso se dá dentro das famílias,
pois o Gênero Humano na maior parte das Terras habita
distinguido segundo as suas famílias; por conseqüência, a
Verdade Divina, quando é assim revelada por intermédio de
espíritos e anjos, não é difundida muito além das famílias e, a
menos que continuamente haja uma nova revelação, ela seria
corrompida ou pereceria. Isso é diferente na nossa Terra, onde a
Divina Verdade, que é a Palavra, permanece em sua integridade
perpetuamente.
121. É preciso que se saiba que o Senhor reconhece e
recebe todos os que, de qualquer terra que sejam, reconhecem e
veneram Deus sob a forma Humana, visto que Deus sob a forma
Humana é o Senhor; e uma vez que o Senhor aparece aos
habitantes nas outras terras na forma angélica, que é a forma
humana, conseqüentemente, quando os espíritos e anjos
daquelas terras ouvem dos espíritos e anjos da nossa terra que
Deus é Homem em realidade, recebem esta Palavra,
reconhecem-Na e se alegram que tenha sido assim.
correspondências. Nos 1404, 1408, 1409, 1540, 1619, 1659, 1709, 1783, 8615, 10687. No
seu significado mais interior, a Palavra trata unicamente do Senhor e de Seu Reino. N os
1873, 2249, 2523, 7014, 9357.
94 Terras no Universo
122.
Ajunte-se às razões que foram relatadas acima o
fato de que os habitantes e os espíritos da nossa Terra se
relacionam ao sentido natural e externo no Máximo Homem, e o
sentido natural e externo é o ponto mais extremo no qual as
coisas interiores da vida cessam, e no qual repousam como se
fosse o seu lugar comum: tal é a Divina Verdade na letra, que é
chamada a Palavra e pela mesma razão também existe nesta
Terra e não numa outra(42); e visto que o Senhor é a Palavra, e
seu Primeiro e o último, quis, também, por isso mesmo, a fim de
que todas as coisas existissem segundo a ordem, nascer nesta
Terra, e tornar-Se a Palavra, segundo estes trechos de João:
42
A Palavra no significado literal é natural, N os 8783, e isso porque o plano natural é o
último plano no qual as coisas espirituais e celestiais cessam e sobre o qual elas
subsistem como se sobre a sua fundação, e de outro modo o significado interno ou
espiritual sem o externo ou natural seria como uma casa sem alicerce. Nos 9430, 9433,
9824, 10044, 10436.
43
João 1:1-3, 14, 18.
44
A Palavra é o Senhor no que diz respeito à Divina Verdade, assim a Divina Verdade
procedente do Senhor, Nos 2859,4692, 5075, 9987. Pela Divina Verdade é que todas as
coisas foram criadas e feitas. Nos 2803, 2894, 5272, 7578.
Emanuel Swedenborg 95
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Das Terras no Espaço
Sideral
abertos até esse ponto, porque não estão no Senhor. É por isso
que há poucos hoje a quem seja possibilitado conversar e
relacionar-se com os anjos. Um sinal aberto disso é o fato de que
atualmente se crê muito pouco que existem espíritos e anjos;
crê-se ainda menos que existam junto a cada pessoa e que, por
seu intermédio, o ser humano tenha uma conexão com o céu e,
pelo céu, com o Senhor; e crê-se ainda muito menos que o ser
humano, quando morre quanto ao corpo, vive como espírito,
também em forma humana como anteriormente.
124. Visto que hoje em dia, no caso de muitos na igreja,
não existe fé alguma na vida após a morte e, dificilmente,
alguma fé no céu e no Senhor como Deus do céu e da terra, por
essa razão os interiores, que pertencem a meu espírito, foram
abertos pelo Senhor, para que possa, enquanto estou no corpo,
estar ao mesmo tempo com os anjos no céu e não somente falar
com eles, mas também lá ver coisas surpreendentes e descrevê-
las, a fim de que, por acaso, posteriormente, não se diga ainda:
"Quem veio do céu a nós, e nos relatou o que existe e o que lá se
passa?" Mas sei que os que antes negaram de coração a existência
do céu e do inferno e da vida após a morte se obstinarão também
contra essas coisas que descrevo, e nega-las-ão, pois é mais fácil
tornar branco um corvo do que fazer crer os que de coração têm
definitivamente rejeitado a fé; e isso porque eles pensam a
respeito de tais coisas sempre com um princípio de negação e
não com um de afirmação. Contudo, seja isso tudo o que foi
relatado até aqui sobre os anjos e espíritos, e o que será relatado
em seguida, para o pequeno número dos que estão na fé. Mas, a
fim de que os outros sejam também guiados a uma espécie de
reconhecimento dessas verdades, foi-me concedido relatar coisas
que deleitam e atraem o desejo humano de saber; as que serão
agora relatadas referir-se-ão às terras no espaço sideral.
125. A pessoa que não sabe os arcanos do céu não pode
crer que o ser humano possa ver terras tão afastadas e delas
contar coisa pela experiência de seus sentidos; mas, saiba-se que
os espaços e as distâncias e, por conseguinte, as progressões que
existem no mundo natural são, em sua origem e em sua causa
primeira, mudanças de estado dos interiores e, no caso dos anjos
Emanuel Swedenborg 97
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e dos espíritos, esses espaços e distâncias aparecem de acordo
com essas mudanças(45), e, assim, eles podem, por essas
mudanças, aparentemente ser transportados de um lugar a um
outro, e de uma terra a uma outra, mesmo às terras que estão na
extremidade do universo. Isso também acontece do mesmo modo
com o ser humano quanto a seu espírito, seu corpo
permanecendo, contudo, em seu lugar. Isso foi o que aconteceu
comigo, porquanto, pela Divina Misericórdia do Senhor, foi-me
dado conversar com os espíritos como um espírito e, ao mesmo
tempo, com as pessoas na terra como um homem. Que o ser
humano quanto ao espírito possa ser assim transportado é o que
a pessoa que pensa pelos sentidos não pode compreender,
porquanto se encontra nas limitações do espaço e do tempo e
mede suas progressões segundo o espaço e o tempo.
126. Que haja vários sistemas solares é o que qualquer
um pode ver no que se avistam tantas estrelas no universo; e é
notório, no meio erudito, que cada estrela é como um sol em seu
próprio lugar, pois permanece fixa como o sol de nossa Terra no
seu; e que a distância faz que ela apareça de um tamanho
pequeno como uma estrela comum; por conseqüência, do mesmo
modo que o sol de nosso mundo tem planetas ao seu redor que
são terras e, se esses planetas não aparecem diante de nossos
45
Os movimentos, as progressões e as mudanças de lugar, na outra vida, são mudanças
de estado dos interiores da vida, contudo, aparecem de modo real aos espíritos e aos
anjos, como se essas coisas existissem efetivamente. Nos 1273-1277, 1377, 3356, 5605,
10754.
98 Terras no Universo
_________________________________________________
e de seus Habitantes,
segundo o que foi ouvido e
visto
46
O ser humano, após a morte, tem consigo a memória de todas as coisas que foram suas
no mundo. Nos 2476-2486.
100Terras no Universo
_________________________________________________
os mesmo falar entre si; mas não me foi informado de onde eram
nem de que natureza eram; entretanto, um deles me disse que
eram guardas lá postos, a fim de que espíritos não atravessassem
deste sistema para qualquer outro sistema, sem terem
permissão. Tive mesmo uma confirmação de que isso assim se dá;
com efeito, alguns espíritos que eram parte do grupo, aos quais
não fora permitido ir além, tendo chegado a esse grande
intervalo, começaram a gritar com vigor que pereciam, pois
estavam como os que, em agonia, lutam com a morte; por essa
razão, permaneceram daquele lado do precipício e não puderam
ser transportados mais longe, pois a fumaça com fagulhas que
era exalada do precipício deles se apoderava e assim os
torturava.
129. Depois que fui transportado através desse grande
abismo cheguei, enfim, a um lugar onde me detive e, então, me
apareceram, do alto, espíritos com quem me foi possível
conversar. Por sua linguagem e sua maneira particular de
perceber as coisas e expô-las, vi claramente que eram de uma
outra Terra, pois diferiam inteiramente dos espíritos de nosso
sistema solar; eles também percebiam pela minha linguagem que
eu era de longe.
130. Após termos conversado por algum tempo sobre
vários assuntos, perguntei-lhes que Deus eles adoravam.
Responderam que adoravam um certo Anjo que lhes aparece
como um homem divino, pois resplandece de luz; e ele os instrui
102Terras no Universo
47
Há uma grande luz nos céus. N os 1117, 1521, 1522, 1533, 1619-1632, 4527, 4500,
8644. Toda luz nos céus vem do Senhor como Sol lá, N os 1053, 1521, 3195, 3341, 3636,
4415, 9548, 9684, 10809. A Divina Verdade procedente do Senhor aparece nos céus
como luz, Nos 3195, 3222, 5400, 8644, 9399, 9548, 9684. Essa luz ilumina tanto a visão
quanto o entendimento dos anjos e dos espíritos, Nos 2776, 3138. A luz do céu ilumina
também o entendimento do ser humano, Nos 1524, 3138, 3167, 4408, 6608, 8707, 9128,
9399, 10569.
Emanuel Swedenborg 103
_________________________________________________
terra, disseram que o seu é menor. Com efeito, o sol que eles
têm é uma estrela aos nossos olhos; e eu soube pelos anjos que
era uma estrela dentre as menores. Disseram-me ainda que de
sua terra se via também o espaço sideral, e do lado oeste uma
estrela lhes parecia maior que todas as outras. Foi-me informado
do céu que essa estrela é o nosso sol.
134. Em seguida, a minha vista foi aberta de modo que
pude olhar um pouco a própria terra; e avistava muitos campos e
florestas com árvores cobertas de folhas e também ovelhas
cobertas de lã. Vi, logo em seguida, alguns habitantes que eram
de classe baixa, vestidos pouco mais ou menos como os
camponeses da Europa. Vi também um homem com sua esposa;
esta me pareceu de bela estatura e aspecto decente; o homem,
igualmente. Mas, do que me admirei, ele caminhava com um ar
de grandeza e um passo quase desdenhoso, mas a mulher ao
contrário, tinha um modo de andar humilde. Apurei dos anjos
que tal é o costume nessa terra e os homens que são tais são
amados, porque a despeito disso são bons. Foi-me ainda dito que
não lhes é permitido ter várias esposas, porque isso é contra as
leis. A mulher que eu vira tinha diante do peito uma ampla
vestimenta, atrás da qual ela podia esconder-se; era feita de
maneira que podia meter seus braços nela, cobrir-se com ela e
caminhar assim; esta podia ser levantada quanto à parte inferior
e, quando era levantada e dobrada ao corpo, parecia como o
peitoral que mulheres de nossa Terra colocam sobre seu peito.
Mas servia também de vestimenta ao homem; vi que a tomava de
104Terras no Universo
_________________________________________________
mesmo ouvir as pessoas que conversavam comigo. Algumas vezes
sucedeu que, por mim, alguns deles viram amigos que tiveram na
vida do corpo, assim presentes absolutamente como antes, e
ficaram atônitos; viram também seus cônjuges e seus filhos, e
queriam que eu dissesse a estes que estavam, perto deles e os
viam, e eu lhes relatasse o estado no qual estavam na outra vida;
mas fora-me proibido dizer-lhes e revelar-lhes serem eles assim
vistos; e mesmo porque teriam dito que eu era maluco, ou teriam
pensado ser um delírio da minha imaginação, pois eu sabia muito
bem que, embora dissessem de boca que espíritos existem, os
mortos são ressuscitados e se encontram entre os espíritos e
podem ver e ouvir por intermédio do ser humano, eles não o
acreditariam, entretanto, em seus corações. Quando, pela
primeira vez, a minha visão interior foi aberta, e os que estavam
na outra vida viram por meus olhos o mundo e as coisas que
estavam no mundo foram tomados de um tão grande espanto,
que diziam ser isso o milagre dos milagres; foram também
comovidos de uma alegria nova por causa disto, que havia assim
comunicação da terra com o céu e do céu com a terra; essa
alegria durou meses, mas depois disso ter-se tornado comum,
agora em nada os surpreende. Fui informado de que os espíritos e
os anjos, junto às outras pessoas não vêem nada do que está no
mundo, mas somente percebem os pensamentos e as afeições
daqueles junto aos quais estão. De tudo isso pude concluir que o
ser humano foi criado de tal modo que vivendo no mundo com
outros seres humanos, vivesse também ao mesmo tempo no céu
entre os anjos e vice-versa, de maneira que o céu e o mundo no
106Terras no Universo
_________________________________________________
estava mais afastada, pelo fato de serem precisos dois dias para
que ali fosse guiado quanto a meu espírito. Essa terra estava à
esquerda, ao passo que a primeira estava à direita. Visto que o
afastamento no mundo espiritual provém não da distância do
lugar, mas da diferença de estado (tal como foi dito acima), por
conseqüência, pude, pela duração da viagem que foi de dois dias,
concluir que o estado dos interiores nos espíritos dessa terra
(estado esse que é o das afeições e dos pensamentos), diferia
igualmente do estado dos interiores nos espíritos de nossa Terra.
Como lá fui levado quanto ao espírito por meio de mudanças de
estado dos interiores, foi-me possível observar essas próprias
mudanças sucessivas mesmo antes de lá chegar. Isso aconteceu
enquanto estava acordado.
139. Quando ali cheguei, não vi a terra em si, mas vi os
espíritos dessa terra, pois, assim como foi dito acima, os espíritos
de cada terra aparecem ao redor de sua terra, pelo fato de
serem de uma natureza semelhante à dos habitantes, porquanto
são provenientes deles e a fim de lhes serem úteis. Vi esses
espíritos bem no alto acima da cabeça e, de lá, apareceram-me
quando chegava. É preciso que se saiba que, na outra vida, os
que estão no alto podem ver os que estão embaixo; e não
somente podem vê-los, mas também conversar com eles. Dali
observavam que eu era, não de sua terra, mas sim de um outro
lugar distante. É por isso que dali me dirigiam a palavra,
perguntando sobre várias coisas, às quais me foi dado também
responder; e, entre outras coisas, disse-lhes de que terra era e
108Terras no Universo
_________________________________________________
no começo, um culto semelhante a seu culto no mundo, mas dele
são sucessivamente removidos. Se isso é assim, é porque todo
culto permanece implantado na vida interior da pessoa, da qual
não pode ser separada nem desarraigada, senão aos poucos
sucessivamente. Quando vi esse ídolo, foi-me permitido dizer-
lhes que convém adorar, não esse que não tem vida, mas sim O
que está Vivo; responderam-me saber que Deus vive e não a
pedra, mas que pensavam sobre Deus Vivo, quando olhavam essa
pedra semelhante a um ser humano, e de outro modo as idéias
de seu pensamento não podiam ser fixadas nem determinadas em
um Deus Invisível. Então me foi possível dizer-lhes que as idéias
do pensamento podem ser fixadas e determinadas em um Deus
Invisível, quando são voltadas ao Senhor, que é Deus Visível no
pensamento sob a forma Humana; e assim o ser humano pode ser
conjunto a Deus invisível pelo pensamento e pela afeição, por
conseqüência, pela fé e pelo amor, quando está conjunto ao
Senhor, mas não de outro modo.
143. Perguntei aos espíritos que eu via no alto se em sua
terra os habitantes vivem sob regimes de governo de príncipes ou
de reis; responderam-me que não sabiam o que eram regimes de
governo e que vivem sob si mesmos, distinguidos em nações,
famílias e casas. Perguntei-lhes se estão assim em segurança;
disseram-me que estão em segurança, pois uma família não
inveja nada de uma outra e nada lhe quer tirar. Ficaram
indignados por essas coisas lhes serem perguntadas, como se os
tivesse acusado de hostilidade ou estivesse me prevenindo contra
110Terras no Universo
_________________________________________________
entrelaçam os fios com os dedos dos pés e, quando estão
entrelaçados, puxam-nos para si e os atam com as mãos.
147. Disseram-me ainda que nessa terra um marido
somente tem uma esposa, e não várias; e têm de dez a quinze
filhos. Acrescentaram que ali também se acham prostitutas, mas
que, após a vida do corpo, quando se tornam espíritos, tornam-
se, então feiticeiras e são lançadas no inferno.
_________________________________________________
da eternidade, e foi infundido no corpo quando este foi
concebido; acrescentaram-me que agora sabem que isso não é
assim, e mesmo se lamentavam de terem tido essa falsa opinião.
150. Como lhes perguntasse se queriam ver alguma coisa
em nossa Terra, dizendo-lhes que isso era possível por intermédio
de meus olhos [vide item no 135], responderam primeiro que não
poderiam e, em seguida, que não queriam, porque as coisas que
veriam não seriam senão terrestres e materiais, das quais, tanto
quanto podem, afastam seus pensamentos. Contudo, palácios
magníficos semelhantes aos que os reis e os príncipes em nossa
terra possuem foram representados diante deles, pois tais
objetos podem ser representados diante dos espíritos e, quando
o são, aparecem absolutamente como existiam; mas os espíritos
dessa terra deles não fizeram caso algum; chamavam-nos de
imitações de mármore. E, então, me contaram que entre eles
tinham palácios mais magníficos, que eram seus templos
sagrados, construímos não de pedras, mas de madeira. Quando
lhes dizia que esses templos, ainda assim eram terrestres,
respondiam que não eram, mas sim celestes, porque, quando os
viam, tinham uma idéia celeste e não uma idéia terrestre,
estando na crença de que veriam também outros semelhantes a
eles no céu após a morte.
151. Então representaram seus edifícios sagrados diante
dos espíritos de nossa Terra que declararam não terem vistos
outros mais magníficos, e, como também os vi, posso descrevê-
114Terras no Universo
_________________________________________________
quando se reúnem para o culto e, então, os que ensinam andam
embaixo do templo ao seu redor [pregando aos] outros nos
pórticos nos lados; e nessas reuniões sentem alegrias interiores
por verem o templo e pelo culto que ali é celebrado.
154. Quanto ao seu culto divino, disseram-me que
reconheciam um Deus sob uma forma Humana, assim o nosso
Senhor, pois todos os que reconheciam o Deus do universo sob a
forma Humana eram aceitos e guiados por nosso Senhor; os
outros não podem ser guiados, porque pensam sem uma forma
fixa de Deus. Acrescentaram que os habitantes de sua terra são
instruídos das coisas do céu por um contato direto com os anjos e
os espíritos, no qual podem ser admitidos pelo Senhor mais
facilmente que os outros, porque repelem de seu pensamento e
de sua afeição as coisas corporais. Indaguei sobre o que acontece
aos que entre eles são maus. Disseram-me que em sua terra não
é permitido ser desonesto, mas que, se alguém pensa mal e age
mal, é repreendido por um espírito que lhe anuncia a morte, se
ele persistir nessas coisas; e, quando persiste, morre de
fraqueza; e desse modo as pessoas dessa terra são resguardadas
de contatos com os maus. Foi-me enviado também um desses
espíritos que falou comigo como falou com eles; ainda mais,
induziu na região de meu abdômen uma dor, dizendo que lida
assim com os que pensam mal e agem mal e aos quais anuncia a
morte, se persistem. Disseram-me que os que profanam as coisas
santas são rigorosamente punidos e, antes que o espírito
corregedor chegue, aparece-lhes em uma visão uma enorme
116Terras no Universo
50 [idem 6]
O céu corresponde ao Senhor, e o ser humano, quanto a toda e cada uma de suas
coisas, corresponde ao céu e, por conseguinte, o céu, perante o Senhor, é um ser humano
em grande efígie, e deve ser chamado o Máximo Homem. Nos 2996, 2998, 3624-3649,
3741-3745, 4625. Sobre a correspondência do ser humano e de todas as suas partes com
o Máximo Homem, que é o céu, em suma, ver o que lá está pelos próprios acontecimentos
relatados. Nos 3021, 3624-3649, 3741-3750, 3883-3896, 4039-4051, 4218-4228, 4318-
4331, 4403-4421, 4527-4533, 4622-4633, 4652-4660, 4791-4805, 4931-4953, 5050-5061,
5171-5189, 5377-5396, 5552-5573, 5711-5727, 10030.
Emanuel Swedenborg 117
_________________________________________________
De uma Quarta Terra no
Espaço Sideral e de seus
Espíritos e Habitantes
_________________________________________________
sobre a natureza em seus princípios, donde resultava que a parte
mais interior da natureza, ao seu ver, fora o seu Divino e assim
podia daí facilmente ser guiado a reconhecer a natureza como
Deus. É preciso que se saiba que na outra vida a idéia de cada um
sobre qualquer coisa que seja é apresentada vivamente e por aí
cada um é examinado quanto à qualidade de seu pensamento e
de sua percepção sobre as coisas da fé; e a idéia do pensamento
sobre Deus é a principal de todas, pois, por ela, se ela é genuína,
faz-se a conjunção com o Divino e, por aí, com o céu. Indaguei-
lhes depois a respeito da idéia que tinham de Deus.
Responderam-me que concebiam um Deus invisível, mas que
concebem um Deus visível sob a forma Humana; e que sabem isso
não somente segundo uma percepção interior, mas também
porque lhes apareceu como um Homem, acrescentando que, se,
conforme a idéia de alguns estrangeiros, concebessem Deus como
invisível, assim sem forma e sem qualidade, não poderiam de
modo algum pensar em Deus, porque um tal invisível não cabe
numa idéia do pensamento. Após ter ouvido essa resposta, foi-me
dado dizer-lhes que agiam bem em pensar em Deus sob uma
forma Humana e que vários de nossa Terra pensam do mesmo
modo. Contei-lhes, então, a respeito de Abrahão, de Ló, de
Gedeão, de Manoá e de sua esposa, e do que é relatado deles em
nossa Palavra, a saber, que viram Deus sob uma forma Humana e
que, depois de tê-l'O visto, reconheceran-n'O como o Criador do
universo e chamaram-no JEHOVAH, e isso também por uma
percepção interior, mas que atualmente essa percepção interior
120Terras no Universo
51 [idem 27]
A esfera espiritual, que é a esfera da vida, eflui e transborda de cada pessoa, de
cada espírito e de cada anjo, e ela os rodeia. N os 4464, 5179, 7454. Ela eflui da vida de
sua afeição, e do pensamento proveniente de sua afeição. Nos 2489, 4464, 6206. Na outra
vida as consociações se fazem segundo as esferas, e também as dissociações. Nos 6206,
9606, 9607, 10312.
Emanuel Swedenborg 121
_________________________________________________
Mesmo, pois foi concebido de JEHOVAH e o ser da vida de cada
um vem daquele de quem é concebido; o Existir da vida
proveniente desse ser é o Humano em forma; o ser da vida de
cada ser humano, que é proveniente do pai, é chamado alma e o
existir da vida daí resultante é chamado corpo. A alma e o corpo
constituem um só ser humano; a semelhança entre um e outro é
como entre o que existe no esforço e no ato que dele provém,
pois o ato é o esforço agindo e, assim, os dois são um. O esforço
no ser humano é chamado vontade, e o esforço agindo é
chamado ação; o corpo é o instrumento pelo qual a vontade, que
é o elemento principal, age; e o instrumento e o elemento
principal no ato de agir são um, assim como a alma e o corpo. Tal
é a idéia que os anjos do céu têm da alma e do corpo. Por aí
sabem que o Senhor tornou Divino o Seu Humano, pelo Divino em
Si, que n’Ele era a alma vinda do Pai. A fé recebida por toda
parte no mundo cristão não difere pouco em oposição a isso,
pois, eis o que ela ensina:
52
Segundo o Símbolo de Atanásio.
122Terras no Universo
53
O ser humano logo após a morte ressuscita quanto ao espírito; e o espírito encontra-se
na mesma forma humana, e é um ser humano quanto a todas as coisas em geral e em
particular. Nos 4527, 5006, 5078, 8939, 8991, 10594, 10597, 10758. O ser humano
ressuscita somente quanto ao espírito e não quanto ao corpo. Nos 10593, 10594. O
Senhor, só, ressuscitou também quanto ao corpo. Nos 1729, 2083, 5078, 10825.
Emanuel Swedenborg 123
_________________________________________________
homem da terra antes que Ele Se revelasse; mas isso agora
raramente acontece, para que as pessoas não sejam
constrangidas a crer, pois a fé constrangida, tal como é a que se
inicia pelos milagres, não permanece e mesmo prejudicaria
aqueles em que a fé pela Palavra pudesse ser implantada num
estado sem constrangimento.
161. O espírito que no mundo fora um prelado e
pregador, não cria de modo algum que houvesse outras terras
como a nossa, e isso porque pensara no mundo que o Senhor
nascera somente nesta Terra e sem o Senhor ninguém pode ser
salvo. Por isso foi reposto num estado semelhante àquele em que
estão os espíritos, quando aparecem em sua terra como pessoas
(de que se falou acima), e foi enviado assim a essa terra, a fim
de que não somente a visse, mas conversasse com os habitantes
nela. Quando isso foi feito, também tive comunicação dali, para
que igualmente eu visse os habitantes e também algumas coisas
nessa terra [vide item no 135]. Então quatro tipos de pessoas
apareceram, mas um após o outro, sucessivamente. Vi primeiro
pessoas vestidas, em seguida vi pessoas nuas, de cor normal de
carne humana e depois disso vi pessoas nuas mas de corpo de cor
de chama e, enfim, pessoas negras.
162. Enquanto o espírito que fora prelado e pregador
estava junto às pessoas vestidas, apareceu uma mulher de face
muito bonita vestida com uma vestimenta simples; sua túnica
caía decentemente pelas costas e cobria também os seus braços;
124Terras no Universo
_________________________________________________
portanto provinha de si mesmo e não do céu.
163. Disseram também que percebem se há o estado
conjugal entre os de sua nação que estão nus; e foi mostrado que
percebem isso pela idéia espiritual sobre o casamento. Essa idéia
que me foi comunicada era que a semelhança dos interiores se
formava pela conjunção do bem e da verdade, assim pela
conjunção do amor e da fé, e é dessa conjunção que desce no
corpo que existe o amor conjugal, pois tudo o que pertence à
alma se apresenta sob alguma aparência natural no corpo, assim
sob a aparência do amor conjugal, quando os interiores dos dois
se amam mutuamente, e desejam também desse amor querer e
pensar um como o outro, assim estar juntos e conjuntos quanto
aos interiores que pertencem às mentes. Daí a afeição espiritual
que pertence às mentes toma-se natural no corpo e reveste-se
com o sentido próprio do amor conjugal. A afeição espiritual que
pertence às mentes é a afeição do bem e da verdade, e de sua
conjunção, pois todas as coisas da mente ou do pensamento e da
vontade, se relacionam à verdade e ao bem. Disseram também
que não há absolutamente o princípio conjugal entre um marido
e várias esposas, porquanto o casamento do bem e da verdade,
que é o das mentes, não pode existir senão entre dois.
164. Em seguida o espírito, de que se falou acima, veio
para os que estavam nus, mas que eram de corpo cor de chama
e, em último lugar, para os que eram de cor negra, dos quais uns
estavam nus e outros vestidos; mas estes e aqueles habitavam
126Terras no Universo
54 [idem 45]
Os movimentos, as progressões e as mudanças de lugar, na outra vida, são
mudanças de estado dos interiores da vida, contudo, aparecem de modo real aos
espíritos e aos anjos, como se essas coisas existissem efetivamente. N os 1273-1277, 1377,
3356, 5605, 10754.
Emanuel Swedenborg 127
_________________________________________________
essa pergunta, só a idéia de sua conjunção, fugiam para longe,
inteiramente estupefatos de terem tido no mundo um tal
pensamento provindo de uma fé cega e privada de todo
entendimento.
166. Vi, além disso, nessa terra, as moradas dos
habitantes; eram casas baixas, estendendo-se no comprimento
com janelas nos lados, segundo o número dos alojamentos ou
quartos em que eram divididas; o telhado era arredondado e
havia uma porta em cada ponta. Disseram-me que eram feitas de
barro e seu telhado era feito de tufos de grama, e as janelas
eram de palha tecidas de modo a serem transparentes. Vi
também crianças; os habitantes diziam que os seus vizinhos
vinham a eles, principalmente por causa das crianças, a fim de
que estejam em companhia de outras crianças às vistas dos pais e
sob sua guarda. Vi ainda campos que tinham a safra quase
madura, e dava, então, um tom esbranquiçado; mostraram-me as
sementes ou os grãos dessa safra que eram semelhantes aos grãos
do de trigo da China; mostraram-me também os pães feitos dessa
safra que eram pequenos, em porções quadradas. Vi, além disso,
campinas ornadas de flores e também árvores com frutos que
pareciam com romãs; depois vi também arbustos que não eram
vinhas mas eram carregados de cachos de que fazem vinho.
167. Seu sol, que para nós é uma estrela, ali aparece
flamejante e do tamanho de pouco mais ou menos de um quarto
do nosso sol; seu ano é de cerca de duzentos dias e o dia de
128Terras no Universo
168. Fui uma vez mais conduzido a uma outra terra, que
estava no universo fora do nosso sistema solar e isso também por
contínuas mudanças de estados, quase que por doze horas. Eu
estava na companhia de vários espíritos e de vários anjos de
nossa Terra, com os quais conversava durante essa viagem ou
progressão. Era levado ora obliquamente em cima, ora
obliquamente em baixo, sempre para a direita que na outra vida
dá para o sul; vi espíritos somente em dois lugares e num deles
conversei com eles. Nessa viagem ou progressão, foi-me dado
observar quão imensa é a abóbada celeste criada pelo Senhor
para os anjos e os espíritos, pois do que não era habitado, podia-
se concluir que é tão imensa que, ainda quando houvesse várias
miríades de terras e, em cada, uma grande multidão de pessoas
como na nossa, haveria, contudo, habitação para todos pela
eternidade e nunca se encheriam. Pude concluir segundo uma
comparação feita com a extensão do céu que se encontra ao
Emanuel Swedenborg 129
_________________________________________________
redor de nossa Terra e existe para a nossa Terra, e era
relativamente tão pequena que não igualava uma só parte de
uma miríade das miríades da extensão que não era habitada.
169. Quando espíritos angélicos que provinham dessa
terra chegaram à nossa vista, nos dirigiram a palavra
perguntando quem éramos e o que desejávamos. Respondemos
que estávamos a viajar, e tínhamos sido transportados para sua
terra, mas que em nada devessem recear a nosso respeito. Com
efeito, receavam que fôssemos dos que perturbam suas idéias
sobre Deus, a fé e outros assuntos semelhantes; era por causa
destes que tinham se mudado para essa região de sua terra,
fugindo deles tanto quanto podiam. Ao serem inquiridos de como
esses espíritos perturbam suas idéias, responderam que era pela
idéia de três e pela idéia do Divino sem o Humano, em Deus,
quando, no entanto, sabem e percebem que Deus é Um e que é
Homem. Então percebi que aqueles que os perturbaram e de
quem fugiam eram provenientes de nossa Terra; e também
porque há entre os espíritos de nossa Terra os que na outra vida
percorrem por todos os lados, por seu desejo e prazer de viajar
que adquiriram no mundo, visto que nas outras terras não se
fazem semelhantes viagens. Em seguida, descobri que eram
monges que viajaram ao redor de nosso globo por desejar
converter os gentios; por isso lhes falamos que agiam certo em
fugir deles, porque sua intenção era, não de ensinar, mas de
enriquecer-se e dominar; e esses se aplicam em cativar primeiro
sua simpatia por diversos meios e, depois, em subjugá-los a si
130Terras no Universo
55
O céu é distinguido em dois Reinos; um chamado o Reino Celestial e o outro o Reino
Espiritual. Nos 3887, 4138. Os anjos do Reino Celestial sabem de inúmeras coisas e têm
imensamente mais sabedoria que os anjos do Reino Espiritual, N o 2718. Os anjos
celestiais pensam e falam não provenientemente da fé, como os anjos espirituais, mas
provenientemente da percepção interior de que tal coisa é de tal maneira, Nos 202, 597,
607, 784, 1121, 1384, 1442, 1898, 1919, 7680, 7877, 8780. Os anjos celestiais dizem
somente a respeito das verdades da fé: Sim, sim; ou: Não, não; os anjos espirituais
raciocinam para saber se tal coisa é ou não é assim, N os 202, 337, 2715, 3246, 4448,
9160.
Emanuel Swedenborg 131
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visão interior do Senhor, tais proferem que é preciso crer nas
verdades ou ter fé, e raciocinam também sobre as verdades para
saber se são ou não são verdades. Além disso, não querem
mesmo que se perceba a elas por meio de alguma visão interior
ou alguma ilustração pelo entendimento; falam assim, porque as
verdades em sua posse são sem a luz do céu e, nos que vêem sem
a luz do céu, as falsidades podem aparecer como verdades e as
verdades como falsidades. Daí vários ali foram atacados de uma
tão grande cegueira que, embora a pessoa não pratique as
verdades ou não viva segundo as verdades, dizem que pode
contudo ser salva pela fé só, como se a pessoa não fosse um ser
humano pela sua vida e de acordo com a sua vida, mas que o
fosse pelo seu saber das coisas que pertencem à fé sem a vida.
Em seguida lhes falamos do Senhor, do amor para com Ele, do
amor ao próximo e da regeneração; e lhes dissemos que amar o
Senhor é amar os preceitos que vêm d’Ele, o que é, pelo amor,
viver de acordo com os preceitos (56); que o amor ao próximo
consiste em querer-se o bem e, por conseguinte, fazer o bem ao
concidadão, à pátria, à igreja, ao reino do Senhor, não para seu
próprio proveito, a fim de ser notado ou de ter mérito, mas pela
afeição do bem(57). Quanto à regeneração, os que são regenerados
56
Amar o Senhor é viver de acordo com Seus preceitos. Nos 10143, 10153, 10310, 10578,
10645.
57
Amar o próximo é fazer o bem, o que é justo e certo em toda obra e em toda função,
pela afeição do bem, da justiça e da retidão. Nos 8120-8122, 10310, 10336. A vida do
amor ao próximo é a vida de acordo com os preceitos do Senhor. No 3249.
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e não aos espíritos que estão mais abaixo, porque estes estão
mais afastados da recepção do bem do amor e da verdade da fé
do que estão os anjos que estão nos céus [vide item no 40]. Fora-
lhes permitido fazer-me essas perguntas sobre o Senhor e sobre
seu aparecimento diante dos anjos que provêm de nossa Terra,
porque então agradou ao Senhor mostrar-se presente entre eles e
repor em ordem as coisas que haviam sido confundidas pelos
maus espíritos de que se queixaram. Foi também a fim de que eu
visse tais coisas, que eu fora levado a essa terra.
171. Avistei então, pelo oriente, uma nuvem obscura
descer do céu, a qual, na sua descida, apareceu gradualmente
luminosa e numa forma humana e, enfim, essa apareceu num
esplendor cor de chama, ao redor do qual haviam pequenas
estrelas da mesma cor. Foi assim que o Senhor se mostrou
presente entre os espíritos com quem eu conversava. À sua
presença foram reunidos de toda parte, todos os espíritos que
estavam nessa região. E, quando chegavam, os bons eram
separados dos maus; os bons passavam à direita, e os maus à
esquerda e isso no mesmo instante, como se de sua própria
vontade. Os que iam à direita eram dispostos entre si de acordo
com sua qualidade do bem e os que iam à esquerda, de acordo
com sua qualidade do mal; os que eram bons permaneceram para
formar entre si uma sociedade celeste, mas os maus foram
lançados nos infernos. Em seguida, vi que aquele esplendor de
cor de chama descia nas regiões mais baixas da terra, lá bem
fundo, e então aparecia ora de uma cor de chama tornando-se
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Indaguei-lhe então o que sabia sobre o Senhor, as verdades da fé,
a remissão dos pecados, a salvação do ser humano e o céu e o
inferno, e descobri que dificilmente sabia alguma coisa e estava
na escuridão e na falsidade sobre todas e cada uma dessas coisas;
e nele não havia senão a cobiça de enriquecer-se e de dominar,
que contraíra no mundo e trouxera consigo; portanto eu lhe disse
que, como fora impelido por essa cobiça a vir a esse lugar, e
sendo tal quanto à doutrina, não pudera, entre os espíritos dessa
terra, ter um outro efeito do que retirar a luz celeste e trazer as
trevas do inferno, e fazer, por conseqüência, que entre eles o
inferno dominasse e não o Senhor. Além disso, era hábil em suas
seduções, mas estúpido quanto às coisas que concernem ao céu;
como tal fosse esse espírito, em seguida, foi precipitado no
inferno. Foi assim que os espíritos dessa terra foram liberados
desses missionários.
173. Os espíritos dessa terra disseram-me também,
entre outras coisas, que esses estrangeiros que eram, como foi
dito, espíritos-monges, fizeram tudo o que lhes foi possível para
persuadi-los a viverem juntos em sociedade e não separados e
isolados. Com efeito, os espíritos e os anjos habitam e coabitam
do mesmo modo que no mundo; os que, no mundo, habitaram em
nossa sociedade, habitam também em sociedades na outra vida;
e os que habitaram separados por casas e por famílias, habitam
também separados na outra vida. Esses espíritos, quando viviam
como seres humanos em sua terra, habitaram separados, casa por
casas, famílias por famílias, e nações por nações e, por
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inimizades, as invejas, os ódios, as vinganças, as crueldades e as
trapaças contra todos os que criavam obstáculos a esse amor,
pois do ego, em que estão os que estão no amor de si, não pode
brotar senão o mal, visto que o ego do ser humano não é senão o
mal e porque o ego, sendo mal, não recebe o bem do céu, donde
resulta que o amor de si, quando reina, é o pai de todos esses
males(58). E, além disso, esse amor é tal que rompe assim que lhe
afrouxam as rédeas, a ponto de cada um querer possuir todos os
bens dos outros; e nem isso é o suficiente, quer mesmo dominar
sobre o céu inteiro, como se pode ver pela Babilônia de hoje. Tal
é, pois, a dominação ou governo do amor de si, de que tanto
difere o governo do amor ao próximo quanto o céu difere do
inferno. Mas embora um tal governo do amor de si exista nas
sociedades ou nos reinos e nos impérios, há contudo um governo
do amor ao próximo, mesmo nos reinos e impérios, entre os que
são sábio pela fé e pelo amor a Deus, pois eles amam o próximo.
Estes, mesmo nos céus, habitam distinguidos em nações, famílias
58
O ego do ser humano, que contrai de seus pais, não é senão um mal denso, Nos 210,
215, 731, 874, 876, 987, 1047, 2307, 2308, 3518, 3701, 3812, 8480, 8550, 10283, 10284,
10286, 10731. A característica do ego do ser humano é de preferir amar-se a si do que
amar a Deus, e de amar o mundo do que amar o céu, e de não fazer caso algum do
próximo em relação a si, senão somente por causa de si mesmo, assim, a si próprio; por
isso, o ego do ser humano é o amor de si e do mundo, Nos 694, 731, 4317, 5660. Do amor
de si e do amor do mundo, quando predominam, provêm todos os males, N os 1307, 1308,
1321, 1594, 1691, 3413, 7255, 7376, 7488, 7490, 8318, 9335, 9348, 10038, 10742. Esses
males são o menosprezo pelos outros, a inimizade, o ódio, a vingança, a crueldade, a
trapaçaria, Nos 6667, 7370, 7373, 7374, 9348, 10038, 10742. E desses males provêm toda
falsidade. Nos 1047, 10283, 10284, 10286.
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percebiam em mim; eles têm uma primavera e um verão
perpétuos e, portanto, os campos são floridos e as árvores
sempre se encontram carregadas de frutos. Isso é assim porque o
ano deles é curto, sendo equivalente a somente setenta e cinco
dias do nosso ano; e onde os anos são tão curtos, o frio não se
prolonga no inverno nem o calor no verão, e por isso o solo está
sempre num estado primaveril.
178. A respeito dos esponsais e dos casamentos que se
fazem nessa terra, relataram-me que a filha que se aproxima de
sua idade de casar é mantida em casa e não lhe é permitido sair
até o dia do seu casamento; e então ela é conduzida a uma certa
casa conubial, aonde várias outras moças no mesmo estado
também são conduzidas; e ali elas são colocadas atrás de um
tábua que chega até a metade de seus corpos, aparecendo assim
nuas quanto à sua parte peitoral e à face. Então os jovens ali se
apresentam para escolher uma esposa para si e quando um vê
uma que lhe é conforme, e à qual seu coração o conduz, ele
toma-a pela mão; se, então, ela o segue, ele a leva a uma casa
previamente preparada e ela torna-se sua esposa. Com efeito,
vêem por suas próprias faces se suas mentes estão em harmonia,
pois a face de cada um lá é o índice da mente; ela não finge ou
engana. A fim de que tudo se passe com decência e sem lascívia,
sentado atrás das jovens, encontra-se um ancião e a seu lado
uma mulher idosa, que os observam. Existe um grande número
desses lugares aonde as jovens são conduzidas e há também
épocas marcadas para que os rapazes façam sua escolha, pois se
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num lugar não encontram uma jovem que lhes seja conforme,
vão a um outro; e, se não a encontram numa ocasião, voltam na
seguinte. Ainda mais: disseram-me que um marido não tem senão
uma esposa e nunca várias, porque isso é contra a Ordem Divina.
FIM