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Estatística
da Saúde
Sumário
Prefácio v
Apresentação vii
3. Mortalidade 37
3.1 Medindo a mortalidade 39
3.1.1 O relacionamento entre taxas brutas e específicas 39
3.1.2 Padronização 41
3.1.3 A mortalidade infantil e seus componentes 44
iv Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
4 Tábuas de Vida 55
4.1 Construindo uma tábua de vida 57
4.2 Tábua de vida abreviada 60
4.3 As funções de uma tábua de vida 61
4.4 Riscos Competitivos 67
4.5 Construção da Tábua de Vida de Múltiplo Decremento (o modelo de Chiang) 68
5 Fecundidade e Reprodução 73
5.1 Medindo a fecundidade 74
5.1.1 Taxa Bruta de Natalidade 74
5.1.2 Taxa de Fecundidade Geral 75
5.1.3 Taxa Específica de Fecundidade 77
5.1.4 Taxa de Fecundidade Total. 78
5.2 Medindo a reprodução 80
5.2.1 Taxa Bruta de Reprodução 80
5.2.2 Taxa Líquida de Reprodução 83
6 Projeções Populacionais 87
6.1 Usos e propósitos das projeções 88
6.2 Estimativas, projeções e previsões 88
6.3 Metodologias de projeção populacional 89
6.3.1 Métodos do crescimento populacional 89
6.3.2 Métodos dos componentes 100
Referências 121
Prefácio v
Prefácio
Neir A. Paes
Departamento de Estatística
Universidade Federal da Paraíba – Campus I
Julho, 2009
vii Apresentação
Apresentação
Ainda que o tema central deste livro-texto seja a demografia formal, mais
especificamente aquela que lida com as características mensuráveis das variáveis da demografia,
ela está fortemente associada com a estatística. A interação destas disciplinas possui um arsenal
muito importante de procedimentos e métodos para o estudo da saúde e fenômenos biológicos
das populações humanas. A articulação destes instrumentais tem uma aplicação ampla e
possibilita, entre outros, a medição dos níveis e dos padrões da mortalidade, natalidade,
fecundidade e reprodução.
Este livro-texto propõe-se a informar, atualizar, solidificar e mesmo oferecer um primeiro
contato com uma temática ainda pouco explorada em nosso meio. Articula a teoria com exemplos
práticos e atualizados enfocando com dados empíricos os movimentos populacionais biológicos
das realidades brasileiras.
Está voltado para proporcionar aos estudantes, pesquisadores e demais interessados os
meios e conhecimentos básicos e específicos da Demografia Estatística da Saúde, abordado em
uma perspectiva multidisciplinar, teórico-metodológica e empírica. Procura, ainda, dialogar com a
realidade social brasileira e com a produção científica na área em âmbito nacional e internacional.
Ênfase é dada ao desenvolvimento do comando sobre as principais técnicas e modelos de análise
demográfica estatística contextualizados pelas interpretações teóricas dos resultados obtidos em
termos dos fenômenos vitais. A proposta didática procura um equilíbrio entre métodos e técnicas e
elementos interpretativos estatísticos, de um lado e, de outro, entre uma demografia
contemporânea e aberta às tendências futuras da saúde da população e a perspectiva histórica.
Procura, assim, construir uma base de conhecimentos demográficos-estatísticos com ênfase na
saúde.
Existem procedimentos demográficos estatísticos que são de importância, mas por
envolverem recursos computacionais mais avançados foram evitados e apenas, brevemente,
apresentados neste livro-texto, quando pertinentes. Todos os dados presentes nos exemplos e
exercícios são baseados em estatísticas reais observadas para regiões do Brasil e teve-se uma
preocupação com a atualização e a diversidade. No entanto, as situações exemplificadas não são
discutidas, confrontadas ou mesmo contextualizadas em modelos explicativos, já que a proposta
deste livro-texto é a de ser primordialmente informativa e conceitual.
O material está organizado em sete capítulos. O primeiro, discorre sobre o campo e
objeto da demografia, a interação entre demografia-estatística-saúde, introduz as variáveis
básicas da demografia, bem como apresenta os componentes da dinâmica global da população.
No segundo, são enfocadas as principais fontes das informações demográficas no país e os
principais problemas com a quantidade e a qualidade dos dados. Os capítulos três e quatro estão
dedicados ao tema da mortalidade e o quinto à fecundidade e à reprodução. No capítulo seis, os
principais métodos matemáticos de projeções populacionais são abordados e no sétimo, são
apresentados alguns procedimentos para estimação dos erros e a completude nas estatísticas
vitais.
1 Campo, Objeto e Métodos da Demografia
1.1. A demografia como campo do conhecimento: a progressiva maturação da
complexidade do seu objeto de estudo
1.2. A demografia definida
1.3. Tamanho e composição da população
1.4. A dinâmica global da população
1.5. Tipos de população
1.6. Crescimento populacional e seus componentes
1.7. Medidas demográficas estatísticas
1.8. A estrutura das taxas demográficas
1.9. Tempo de duplicação de uma população
1.10 Conceito de coorte
¹A palavra “disciplina” é usada aqui no sentido de um campo de estudos. Esta denominação não implica que ela seja tratada como uma “escola” ou
“departamento” distinto, ou mesmo como uma “matéria” dentro da estrutura de uma universidade. Isto é assunto de conveniência acadêmica.
10 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
próprias todas as técnicas específicas que foram desenvolvidas para atender aos processos da
dinâmica demográfica.
Em busca do rigor na medição dos fenômenos demográficos foi desenvolvido um vasto
conjunto de métodos e técnicas de análise, próprios da ciência demográfica, o que veio reforçar
ainda mais a construção do objeto de estudo da demografia.
Do ponto de vista dos procedimentos para o planejamento da coleta e tratamento dos
dados, interage com a estatística nas etapas: coleta, validação, organização, sistematização,
ajuste, estimação, análise e interpretação, incluindo predições e projeções.
Os métodos empregados para avaliar, ajustar, corrigir e estimar dados ou indicadores
representam uma boa parte do arsenal metodológico da demografia. Eles foram desenvolvidos
devido às imperfeições dos sistemas de coleta que implicam em insegurança e baixa
confiabilidade das informações coletadas sobre a população que se pretende trabalhar. Por isso, a
obtenção de melhores resultados requer a precaução, delimitando generalizações dentro de
margens admissíveis de erros impostos pelos dados ou por um ajuste ou correção dos dados de
modo que permitam extrair generalizações válidas dentro do alcance desejado.
Neste sentido, destaca-se o grande progresso alcançado na amostragem das populações
humanas. A teoria da amostragem se desenvolveu em grande parte para atender a necessidade
de se dispor de um método indutivo por meio do qual, se façam inferências sobre a composição e
dinâmica da população através de uma fração pequena de membros dessa população. Muitas das
aplicações práticas da amostragem requerem a elaboração de desenhos especialmente
adaptados ao estudo demográfico da população humana. Entre elas, de considerável interesse,
são as postulações específicas referentes à amostragem de “populações finitas”, desenvolvidos
com o propósito de aplicar rigorosamente a teoria da probabilidade à amostragem de populações
humanas, e que se distinguem daqueles postulados referentes à “populações infinitas”, que se
adéquam ao estudo, por exemplo, dos experimentos e ensaios clínicos das ciências naturais ou
dos jogos de azar. Deduz-se, assim, a existência de uma relação de interação entre a teoria da
amostragem – a estatística - e a demografia ao ponto em que os avanços de uma delas
impulsionam o crescimento da outra.
Para a validação dos dados, métodos específicos foram desenvolvidos tanto pela
demografia como pela estatística para avaliar a coleta de dados (censitários, amostrais ou
registros contínuos), o tratamento, a cobertura, a comparabilidade e a qualidade das informações
obtidas, com o propósito de evidenciar sua confiabilidade, validade e precisão.
Ademais das técnicas gerais da estatística descritiva e da inferência estatística, a
demografia se expandiu com a criação e a adaptação de métodos, aplicando-os a vários
problemas da análise demográfica. Para o estudo da “população estática”, os demógrafos fazem
uso de boa parte da estatística descritiva, de algumas taxas especiais e de certos recursos
gráficos. Entre outros, menciona-se os seguintes procedimentos: razão de sexos, razão de
dependência, índice de envelhecimento e pirâmide etária. Para a análise da dinâmica da
população, a demografia desenvolveu um conjunto amplo e detalhado de taxas para medir os
sucessos vitais ou dos componentes da variação da população, tais como a natalidade,
mortalidade, morbidade, nupcialidade e migrações.
As taxas demográficas são concebidas para medir e captar as variações populacionais e
são calculadas como aproximações formais de probabilidade a posteriori. Em um de seus
procedimentos – cálculo da taxa de mortalidade, como parte-chave da construção de uma tábua
12 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
Em uma população podem ser distinguidos três aspectos: tamanho absoluto, distribuição e
densidade. Uma população é composta por um conjunto de pessoas, as quais não se distribuem
de forma idêntica nos espaços geográficos. Países e regiões se diferenciam pelas suas
magnitudes populacionais, conforme pode ser observado na Tabela 1.1.
A distribuição geográfica pode ser avaliada ainda pelo conhecimento da densidade de
população, isto é, o número de habitantes por km2 (hab/km2) - (Tabela 1.1). Este valor, porém,
tomado em relação ao total da área estudada, pode não traduzir a verdadeira distribuição da
população, pois, esta, encontra-se mais aglomerada em certas zonas e mais dispersa em outras.
Esta situação é traduzida pelo coeficiente de localização. Para estudar a densidade populacional é
conveniente dividir o território em zonas menores - no caso de um país, podem adaptar-se as
divisões administrativas, no caso de uma cidade, pode considerar-se os bairros, etc.
A população pode ainda distribuir-se por aglomerados rurais e urbanos. A primeira reside
isolada no campo ou em pequenos núcleos. A segunda vive nas cidades ou em povoações de
certa importância. Geralmente estes dois grupos comportam hábitos, profissões, estruturas
sociais, exigências e atitudes diferentes. Sob o ponto de vista estatístico é necessário distinguir os
aglomerados urbanos e rurais, os quais têm sua demarcação legal estabelecida por lei.
O tamanho absoluto tem suas consequências. Por exemplo, as imensas populações dos
aglomerados urbanos de hoje têm diferentes problemas quando são comparados no tempo. A
China é detentora de mais de um bilhão e a Índia de um pouco mais de um bilhão de habitantes.
Em ambos casos, o tamanho populacional tem impactos imensos nas políticas e
desenvolvimentos culturais, sociais e econômicos nestas nações.
Campo, Objeto e Métodos da Demografia 15
Tabela 1.1 Os vinte e sete países do mundo com as maiores populações absolutas em 2005
e respecivas densidades demográficas e a população com sua densidade dos estados do
Brasil em 2000 e 2005.
Densidade
População
Dens. Brasil e Demográfica
População
Rank Países Demogr. Unidades da
2005 2005
2005 Federação 2000 2000 2005
(estimada)
Tipo Estacionário – é um caso especial de população estável que apresenta uma taxa de
crescimento nula.
População Fechada - quando a estrutura é mantida ou alterada apenas pelos nascimentos
e óbitos, ou seja, ela não é afetada por migrações externas. Neste caso, as modificações são de
três tipos: aumento através dos nascimentos, diminuição através dos óbitos, e envelhecimento de
todos os sobreviventes.
População Aberta - quando além de incorporar os componentes da população fechada
está sujeita aos fenômenos migratórios, tanto de entradas como de saídas de indivíduos de
diferentes idades.
Pn − P0 = N t − Ot
A grande maioria das populações, no entanto, não é fechada. Ou seja, as pessoas podem
ir e vir de uma determinada região. Desta maneira, em uma população aberta, existem quatro – e
somente quatro - modos no qual uma população de uma área pode aumentar ou diminuir sua
população: entrada (nascimentos e imigrantes) e saída (mortes e emigrantes). Assim, a equação
básica do crescimento populacional é ampliada:
Pn − P0 = N t − Ot + I t − Et (1.1)
onde:
Pn = população em um instante n;
P0 = população inicial, instante 0;
N t = nascimentos no período t;
Ot = mortes no período t;
Campo, Objeto e Métodos da Demografia 19
It = imigrantes no período t;
Et = emigrantes no período t;
Período t (t = n – 0).
A unidade de tempo nesta equação é o número de anos. Desta forma, o período de tempo
no qual nascimentos, mortes e migrações ocorrem é dado por t anos. t, no entanto, pode ser
fracionado e não necessita ser um número inteiro.
A diferença entre nascimentos e mortes ( N t – Ot ) é chamada de crescimento natural da
população. Assim, em uma população fechada, o crescimento populacional é determinado pelo
crescimento natural. A este tipo de crescimento, alguns autores usam uma expressão alternativa
conhecida como crescimento vegetativo. Em um exercício de projeção realizado pelo U.S. Bureau
of the Census (1999) em média por minuto, ocorreram, cerca de, 249 nascimentos e 103 mortes
no mundo no ano 2000. Esta diferença resultou em um crescimento natural ou crescimento da
população mundial, aproximadamente de 146 pessoas por minuto.
Por migração líquida ou saldo migratório se entende a diferença entre o número de
imigrantes (entrada) e de emigrantes (saída) em um mesmo território, podendo ser obviamente
positiva como negativa. Desta forma, a equação básica do crescimento populacional é resultado
da soma de dois componentes: crescimento natural e migração líquida. A equação, então, pode
ser reescrita como:
tais dados são em geral razões, proporções e taxas. Estes recursos metodológicos permitem
comparações eliminando diferenças devido aos tamanhos diferentes nas populações envolvidas.
Uma razão é simplesmente qualquer número dividido por qualquer outro número. Um
exemplo é a razão de sexo, indicador demográfico usualmente medido pela razão entre o número
de homens pelo número de mulheres em uma dada população, expressa por 100.
Uma proporção é um tipo especial de razão na qual o numerador está incluído no
denominador. Isto é, tem a forma:
x
Pr oporção =
x+ y
Por exemplo, considerando a taxa anual de mortalidade, cada pessoa que sobrevive em
um ano completo, contribuirá um ano para o número total de anos expostos ao evento, enquanto
que aquelas pessoas que morrem durante o ano, só contribuirão para uma fração desse mesmo
ano. Esta fração será, em média, metade do ano considerando que as pessoas morrem ao longo
do ano. Assim, o número total de anos expostos ao evento será dado pelo somatório destas
frações que são a contribuição daqueles que sobreviveram, ou seja, a média da população total
durante um ano que contribuiu para o total da exposição ao evento durante um ano. Assim a
média da população será normalmente aproximada à população total no meio do ano. Isto explica
Campo, Objeto e Métodos da Demografia 21
porque é que as estatísticas que os serviços produzem anualmente são calculadas em relação ao
meio do ano em vez do início do ano.
Uma taxa é comumente expressa pelo número de eventos ocorridos para cada n pessoas.
Uma convenção comum consiste em multiplicar por 1.000, o qual permite que a taxa seja
interpretada pelo número de eventos para uma população de 1.000 pessoas. Uma taxa expressa
deste modo parece bastante razoável para nascimentos, mortes e migrantes. No entanto, a base
de referência pode ser mudada para ser expressa em termos de n=1 pessoa, como uma
porcentagem para cada n=100 pessoas, ou, para eventos raros, por 100.000 pessoas.
Chama-se à atenção, no entanto, que muitas medidas comumente designadas como
taxas na demografia são estritamente razões, proporções ou outros índices. Por exemplo, a
conhecida “taxa bruta de natalidade” é, na verdade, uma razão, porque além das mulheres em
idade fértil no seu denominador são incluídos idosos, crianças e homens, nenhum deles em risco
de dar à luz uma criança.
Pn − P0 N t Ot I E
= − + t − t
Pm Pm Pm Pm Pm
Assim, cada um dos termos se torna uma taxa bruta. Evidentemente, que se pode
multiplicar cada termo por 1.000 para expressá-los por 1.000 pessoas. Desta maneira, cinco taxas
brutas são definidas durante um intervalo de tempo de 0 a t:
Consequentemente,
ou ainda,
r = TCN + TLM
em palavras,
Nesta mesma publicação, o IBGE considerou nulo o saldo migratório internacional, para a
década de 80, mesmo considerando que possa haver um balanço negativo entre entradas no País
e saídas para o exterior com o propósito de fixar residência. O IBGE considera que o saldo
afetaria residualmente os efetivos populacionais projetados. Entre os argumentos colocados, faz
menção ao trabalho de Carvalho e Campos (2007), os quais estimaram em -550 mil pessoas o
saldo migratório internacional (ou seja, negativo), correspondente à população de 10 anos ou mais
de idade, para a década de 1990. Destes, 53,5% eram referentes à população masculina e 46,5%,
ao segmento feminino. Assim, para efeitos de magnitude estatística, em termos médios, este
24 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
saldo representaria algo menos do que 0,5% do total populacional médio da década – caso seja
considerada a mesma estimativas para a década de 80 - o qual pode ser considerado sem um
impacto importante no balanço compensatório da população brasileira da década de 80.
As taxas brutas expostas representam apenas uma classe particular de indicadores.
Outros tipos são encontrados na demografia. O Quadro 1.1 ilustra o cálculo para a taxa bruta de
crescimento.
Pn - P0 N O I E
r= = t - t + t - t
Pm Pm Pm Pm Pm
ou seja,
∴ r = 0,2116 ≅ 2,12% ,
quanto tempo levará uma população para que dobre seu contingente. Este interesse serve para
vários propósitos, particularmente no planejamento, administração pública e organização de uma
sociedade em suas várias dimensões, sociais, econômicas, etc. Seja qual for o propósito, uma
resposta a esta questão é dada a seguir.
Se uma população dobra de tamanho entre o tempo 0 e o tempo t, adotando a terminologia
usada na equação (1.1), então (Pn / P0) = 2 e, assim:
P
ln n = ln ( 2 ) = 0,693
P0
Uma população dobrará seu tamanho além de uma data inicial sempre que a soma de
suas taxas de crescimento além daquela data seja igual a 0,693. Assumindo que as taxas de
crescimento sejam constantes no tempo, r, a população dobrará sempre que o produto de r e t
(intervalo de tempo em anos) seja igual a 0,693.
Deste modo, assumindo uma taxa de crescimento constante r, tem-se:
0,693
Tempo de duplicação =
r
O Quadro 1.2 ilustra o tempo de duplicação. Este assunto é retomado no Capítulo 6 que
trata das projeções populacionais.
-0,693 0,693
Desde que e = 1/e ,
- Coorte de nascidos vivos do Brasil no ano de 1950, a qual se refere a todos os cidadãos
nascidos no Brasil durante o ano de 1970;
- Coorte de pessoas legalmente casadas em 1980 do estado de São Paulo, diz respeito a
todos os casamentos civilmente registrados em São Paulo durante o ano de 1980;
Os dados demográficos são produzidos por organismos que cobrem no tempo um território
levando em conta os sucessos vitais (nascimentos e mortes) ou os movimentos espaciais da
população (migrações). Poucos, na verdade, são coletados com propósitos exclusivamente
demográficos. A maior parte deles é produzida para, ou como, produto de atividades
administrativas levadas a cabo ou controladas pelos governos ou agências internacionais. Esta
função foi, por muitos séculos, exercida pelas organizações religiosas que serviam como coletoras
e mantenedoras das informações demográficas (Weinstein e Pillai, 2001; Nadalin, 2004). O campo
da demografia histórica faz grande uso dessas informações, cujos estudos contribuem
enormemente para o entendimento da trajetória e dos mecanismos explicativos das dinâmicas
populacionais das regiões.
Desta maneira, as fontes tradicionais diferem das fontes contemporâneas, tendo como as
mais relevantes os censos demográficos e os registros civis. Outras importantes fontes
administrativas incluem os controles dos movimentos migratórios, as campanhas de saúde
pública, os dados das representações ministeriais e pesquisas especiais, entre outros.
2.1.1 Censos
Um censo é uma coleta de dados sobre a população levada a cabo de uma só vez em um
dado país e envolve etapas como: formulação de questionários, planejamento e organização de
equipes, processamento e análise dos dados e divulgação dos resultados. Segundo a definição
das Nações Unidas (United Nations, 1980), um censo é:
Para o Registro Civil, o levantamento é feito trimestralmente através das agências locais
do IBGE, a partir das informações disponíveis nos cartórios. Possui abrangência nacional, cujo
menor nível de desagregação é o municipal. Sua abrangência é anual com registros civis
disponíveis desde 1974 e desde 1982 para separações judiciais e divórcios.
As principais variáveis se referem a nascidos vivos, por ano de nascimento, lugar de
residência e de ocorrência, sexo e idade; óbitos, por ano e mês de ocorrência, sexo e idade, lugar
de residência e de ocorrência, natureza; óbitos fetais, ano e mês de registro, local, idade e
residência da mãe, por parto, gestação, sexo; casamentos, por mês e local de registro, grupos de
idade, sexo, nacionalidade; separações judiciais, por natureza da ação, sentença, idade, total de
filhos; divórcios, por natureza, tipo de sentença, idade, total de filhos.
A base de dados está disponível em tabulações especiais pré-definidas através do sistema
“Sidra" em www.ibge.gov.br, e também pode ser obtido em CD-Rom na Loja Virtual do IBGE.
habitual e grau de instrução do pai e da mãe, idade e numero de filhos da mãe; duração da
gestação, tipo de gravidez, tipo de parto, peso ao nascer.
A base de dados permite quaisquer tipos de cruzamento das variáveis e se encontra
disponível no menu “Informações de Saúde”, seguido de “Estatísticas Vitais – Mortalidade e
Nascidos Vivos” em www.datasus.gov.br. Os microdados estão disponibilizados também em CD-
Rom, obtido diretamente no escritório do DATAUS, e podem ser tabulados por qualquer programa
estatístico ou através do Tabwin, fornecido juntamente com a base de dados. O manual de
instruções para o preenchimento da declaração de óbitos encontra-se disponível em
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/sis_mortalidade.pdf.
Até 1980, a fração amostral utilizada no censo para levantar um conjunto de informações -
incluindo várias demográficas - mais detalhadas era de 25% dos domicílios particulares e das
famílias, ou componentes de grupos conviventes, recenseados em domicílios coletivos. A partir de
1991, foram utilizadas duas frações amostrais: 20% para municípios com estimativa populacional
até 15 mil habitantes e 10% para os demais municípios.
Segundo, existem pesquisas amostrais retrospectivas, assim designadas, pois fazem
perguntas acerca de acontecimentos ocorridos no passado. Este recurso metodológico é muito
utilizado por vários países, inclusive pelo Brasil pelo menos desde o censo de 1940. Estas
perguntas foram fundamentalmente dirigidas para atender ao uso de alguns procedimentos
indiretos empregados para a estimação de medidas demográficas, como a taxa de mortalidade
infantil, expectativa de vida da população ou ainda taxas de fecundidade e de reprodução.
Existe ainda uma larga gama de técnicas e desenhos de estudos sofisticados, menos
usados, que podem servir para a coleta de dados demográficos sobre questões específicas que
deverão ser formuladas e utilizadas de acordo com o objetivo e o grau de precisão que se
pretende obter como o registro-dual, pesquisas prospectivas (coorte e longitudinal), entre outras.
Em um mundo globalizado, a difusão de tecnologia da informática, o desenvolvimento de
formas mais eficientes de organizar bancos de dados e a montagem e disponibilidade de
programas estatísticos, avançaram e disseminaram-se tanto que eles já fazem parte do quotidiano
de organismos governamentais e agências internacionais em todo o mundo. Nesta esteira, o
Ministério da Saúde do Brasil e o IBGE, tornaram possível a realização de vários levantamentos
estatísticos que propiciaram a construção de várias fontes alternativas ou complementares sobre
registros de estatísticas vitais, de morbidade e das condições de saúde e de vida de vários
segmentos populacionais, entre outros assuntos. Estas bases representam fontes importantes na
demografia estatística. A seguir algumas características das principais bases desenvolvidas por
estas duas fontes são destacadas.
32 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
A PNAD foi desenhada pela Fundação IBGE com o propósito de coletar informações
socioeconômicas, principalmente aquelas vinculadas às características dos domicílios,
características gerais da população, demográficas, educação e mão-de-obra. Tem como unidade
básica o município. Consiste de uma amostra probabilística selecionada em três estágios
sucessivos: municípios, setores censitários e domicílios. O número de municípios selecionados
varia em cada pesquisa. Para esta década, foram selecionados 851 municípios (de um total de
5.560) e 7.816 setores (de um total de 215.811). A primeira PNAD teve inicio em 1967, mas a
periodicidade anual somente foi atingida a partir de 1971 e a pesquisa não é realizada em anos
censitários. A partir de 2004 tem abrangência nacional e o menor nível de agregação geográfica
são as unidades da federação e regiões metropolitanas. Ademais dos temas mencionados, que
são incluídos de forma permanente, inclui, com periodicidade variável, temas de fecundidade,
saúde, nutrição e migração, entre outros. No sítio www.ibge.gov.br são encontradas sinopses das
pesquisas realizadas e na Loja Virtual podem ser adquiridos o CD-Rom com os micro-dados.
Tabulações especiais através do Banco Multidimensional de Estatísticas – BME podem ser
obtidas no mesmo sítio, o qual permite o uso de microdados.
Com o propósito apenas de elencar um conjunto de fontes que possa satisfazer a certas
demandas por dados demográficos estatísticos e mais especificamente de saúde, a seguir são
listadas as principais fontes públicas e respectivos acessos disponibilizados pelo Ministério da
Saúde do Brasil. Uma boa recopilação das fontes demográficas, com ênfase no Brasil, foi
realizada por (Hakkert, 1996), como parte de uma série de temas publicados sob os auspícios da
Associação Brasileira de Estudos Populacionais - ABEP. Uma compilação mais atualizada foi
realizada de maneira sucinta ao destacar algumas características das principais bases de dados
demográficos e de saúde no país por Sanches et al. (2005) e mais especificamente, sexual e
reprodutiva, por Cavenaghi (2006).
Outra importante iniciativa na produção de bases de informação em demografia e saúde
no Brasil é mantida pela Rede Interagencial de Informações para a Saúde – RIPSA desde 1997.
Tem como produto a publicação de Indicadores e Dados Básicos – IDB, que sistematiza
informações essenciais sobre a situação de saúde e acompanhamento de suas tendências. Os
indicadores produzidos cobrem seis subconjuntos temáticos: demográficos, socioeconômicos,
mortalidade, morbidade e fatores de risco, recursos e cobertura. Publicado de forma regular e
completa na Internet (http://www.datasus.gov.br/idb), está disponível também no formato de livro,
que sintetiza indicadores e dados básicos de forma cumulativa até o ano mais recente, cujo último
ano disponível é 2008 (RIPSA, 2008).
O Quadro 2.1 mostra as principais bases dados e sistemas sobre demografia e saúde no
Brasil.
Fontes, Dados e Erros 33
2.2.1 Censos
Para medir a qualidade global dos dados declarados nos recenseamentos de uma
determinada população alguns procedimentos elementares foram desenvolvidos e já são
clássicos na literatura demográfica. Detalhes sobre estes indicadores e exemplos práticos podem
ser encontrados em diversas publicações (Siegel e Swanson, 2004; Yaukey e Anderston, 2001;
Weinstein e Pillai, 2001; Carvalho et. al., 1994; Newell, 1988; United Nations, 1983; Santos et al.,
1980).
A discussão deste tema pode não ser dos mais agradáveis, no entanto, ele é necessário.
Como já levantado anteriormente, a mortalidade se constitui em um dos três componentes que
determinam o ritmo do crescimento populacional, sendo os outros dois a fecundidade e a
migração. O ritmo de cada um destes componentes é determinado pela freqüência da ocorrência
de seus eventos. O evento que determina a fecundidade é o nascimento; para a migração é a
mudança de residência; para a mortalidade é a morte. Talvez porque a morte seja um evento
preciso, facilmente definível e ocorra apenas uma única vez para cada indivíduo, as técnicas para
analisar a mortalidade tenham uma longa história e sejam mais desenvolvidas do que aquelas
relacionadas com a fecundidade e a migração.
As origens da demografia no século dezessete coincidem com as primeiras tentativas de
contar cientificamente o impacto das mortes no tamanho e na estrutura das populações. Estudos
de mortalidade são conhecidos desde os trabalhos pioneiros realizados por Jonh Graunt (1964)
com a publicação em 1662 do famoso “Natural and political observations made upon the Bills of
Mortality”. William Farr, em 1851, elaborou a primeira proposta para o que é, atualmente, a
Classificação Internacional de Doenças – CID, ambos desenvolvidos na Inglaterra e Gales onde
se registraram as primeiras tentativas, com registro na literatura, de se abordar a mortalidade por
causas e outros diferenciais, inclusive determinantes socioeconômicos. Muitas das importantes
inovações na história da pesquisa demográfica estão associadas com o estudo das tábuas de
vida, o uso das estatísticas paroquiais e a quantificação e computação dos dados populacionais. É
através do estudo das mortes que se faz a conexão com outros campos de estudo como as
disciplinas das ciências atuariais e da saúde pública.
A mortalidade se refere ao processo de esgotamento de uma população através da morte.
Este termo é usado quando se refere à ocorrência da morte independentemente da causa ou da
idade. O conceito relacionado de morbidade refere-se a um estado anormal ou patológico em uma
população. Sua raiz latina, morbus, significa “doença”. Na demografia, o termo é geralmente
usado em combinação com a mortalidade, devido à ligação entre os tipos de patologias e a morte.
Mais ainda, as doenças e invalidez também afetam a probabilidade de sucesso dos nascimentos,
fertilidade, bem como uniões conjugais, migrações e muitos outros processos de interesse da
demografia.
38 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
Diante das inúmeras dificuldades para se mensurar a saúde de uma população, o caminho
encontrado é o de quantificar e descrever a ocorrência de determinados agravos à saúde, doença
e morte. Assim, a maior disponibilidade em conseguir documentar estatisticamente as
informações de saúde é pelo seu avesso. Ou seja, a perspectiva do olhar científico é pelo
complemento da saúde, sua ausência. Tanto a mortalidade como a morbidade é expressa em
termos de razões, proporções e taxas. Uma discussão mais detalhada da morbidade, incluindo
taxas de incidência e prevalência pode ser encontrada na maioria dos textos introdutórios da
epidemiologia (Medronho et al. 2005; Jekel et. al. 2005; Rouquayrol, 1999; Melo Jorge e Gotlieb,
2000; Berquó,1981).
Há dois conceitos importantes na interpretação do estudo dos componentes demográficos:
nível e padrão. O primeiro se refere à magnitude de um parâmetro ou medida demográfica e o
segundo, ao comportamento delas. O nível diz respeito ao valor numérico, a estimativa, enquanto
que o padrão refere-se à seqüência numérica desses valores. Assim, por exemplo, no ano 2000, a
Taxa Bruta de Mortalidade padronizada para o estado do Amapá era de 7,34, enquanto que a do
Rio Grande do Sul, igual a 5,67. Pode-se, assim, dizer que, no ano 2000, o nível da mortalidade
geral do estado do Amapá era mais elevado do que o do Rio Grande do Sul. No Gráfico 3.1 é
ilustrado o comportamento das taxas específicas da mortalidade por faixas etárias para o
município de João Pessoa, PB para cada sexo em 2007
1.000
TEM por/1.000 hab. (log)
100
10
0
0 1 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85
Idade
Masculino Feminino
É importante ter em conta que estes dois conceitos são também estendidos para os
demais componentes da dinâmica demográfica. Portanto, podem-se usar estas terminologias
quando se faz referência à fecundidade e à migração.
Também conhecida como Taxa Geral de Mortalidade (TGM), esta medida corresponde ao
risco que os indivíduos de uma população têm de morrer no decorrer de um determinado período,
geralmente, um ano. É definida como sendo o quociente entre o total de óbitos (O) sobre a
população total (P) durante o curso de um ano para cada 1.000 habitantes vivos no meio do ano.
Representa-se por:
O
nTBM x = n x ⋅1.000
n Px
Usualmente essa taxa é representada por um número múltiplo de 10 (em geral, por mil
habitantes).
Como uma população é bastante dinâmica, mudando a cada instante no decorrer do ano,
o senso comum adota a estimativa da população total no meio do ano na suposição de que os
nascimentos e óbitos na população ocorram de forma uniforme no decorrer dos 12 meses do ano.
Este senso comum remete ao conceito de anos-pessoa, conforme discutido no Capítulo 1.
40 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
Taxas específicas são aquelas que, ao serem calculadas, apresentam, quer no numerador,
quer no denominador, ou em ambos, outras especificações além da área geográfica de estudo e
da referência temporal. Essas especificações podem ser: sexo, idade, causa básica do óbito, lugar
de residência, nível de instrução, ocupação, renda, etc. Por exemplo: taxa específica de
mortalidade segundo idade; taxa específica de mortalidade segundo causa básica de óbito; taxa
específica de mortalidade por causa básica e idade. A composição por idade, conforme discutido
no Capítulo 1, exerce um papel fundamental em uma população. Por este motivo ela é tão
enfatizada na demografia.
A taxa específica de mortalidade (TEM) é entendida como o risco de vir a falecer em cada
idade ou faixa etária. Ela é obtida através da razão entre o total de óbitos em cada idade ou grupo
etário, em um determinado ano, e a população no meio do ano do respectivo grupo etário. É
representada por:
Ox
TEM x =
n
n
n Px
onde,
x se refere à idade limite inferior do grupo etário e n à amplitude do intervalo do grupo.
O Quadro 3.1 mostra o número de óbitos por idade para o estado do Rio Grande do Sul
para 2000, bem como a população estimada para o meio do ano e respectivas taxas específicas
de mortalidade. A tabela também mostra as mesmas informações para o estado do Amapá em
2000.
Note que a TBM, mostrada na parte inferior da tabela, representa a taxa bruta para “todas"
as idades e que ela é mais elevada para o Rio Grande do Sul (6,49) do que para o Amapá (4,83).
Este resultado parece inconsistente, com o fato de que as taxas específicas de mortalidade do Rio
Grande do Sul são mais baixas do que aquelas do Amapá, praticamente em todas as idades. Para
compreender esta aparente anormalidade, será mostrado como a taxa bruta de mortalidade está
relacionada com as taxas específicas de mortalidade.
Seja nPx, o número de pessoas de idade x a x+n na metade do ano e considere como uma
estimativa do número de pessoas-ano vivas no intervalo etário x a x+n durante o ano. P é o
tamanho do total da população e funciona como uma estimativa do total de anos-pessoas vivas. O
é o número total de óbitos durante o ano. Assim, a taxa bruta de mortalidade pode ser expressa
como:
∞ Ox
∑ n Ox ∑ n
∗ n Px ∞ ∞
O n Px O x n Px
TBM = = x =0
= =∑ n
∗ = ∑ n M x ∗n C x
P P P x =0 n Px P x =0
onde,
Px
n TEM x = n M x e n Cx = n
P
Mortalidade 41
A intensidade com que se morre (nMx), a distribuição etária proporcional da população (nCx)
se constituem como os componentes fundamentais que influenciam o nível da TBM. Como
demonstrado, a taxa bruta de mortalidade é uma média ponderada das taxas específicas de
morte, onde os pesos são dados pela distribuição proporcional da população por idade. A soma
destes pesos é, evidentemente, igual à unidade.
∞ ∞
Px P
∑
x =0
n Cx = ∑
x =0
n
P
= = 1,0
P
Agora, fica mais fácil entender porque o estado do Amapá tem uma taxa bruta de
mortalidade mais baixa que o Rio Grande do Sul, mesmo embora as taxas de mortalidade sejam
mais baixas na grande maioria das idades. Este fato se deve a que a distribuição de idade da
população do Rio Grande do Sul dá mais peso às idades mais velhas, onde as taxas de
mortalidade são mais altas. Ou seja, os indivíduos com mais idade têm maior risco de morte que
os jovens. Deste modo, as TBMs não são bons indicadores quando se deseja comparar os níveis
de mortalidade de populações distintas, dado que as distribuições etárias de ambas podem não
ser semelhantes.
A TBM depende do nível da mortalidade, a estrutura etária, o sexo, e muitos fatores
específicos, como a incidência de morbidade, etc. Cada um desses elementos pode variar de um
ano para outro, e a combinação destes fatores pode causar flutuações na TBM. Uma maneira de
diminuir estas flutuações consiste em calcular a TBM considerando a média dos óbitos de três
anos consecutivos (o ano em estudo, o ano precedente e o posterior).
3.1.2 Padronização
Como as taxas TBM são influenciadas pela distribuição etária das populações, não é
possível comparar populações distintas. Uma das maneiras seria eliminar o efeito da composição
etária sobre os indicadores que se deseja comparar, ajustando-os segundo uma mesma
distribuição etária padrão. Esse procedimento é conhecido como padronização, podendo ser de
dois tipos: direta (padronização direta) e indireta (padronização indireta). A padronização, então, é
recomendada sempre que se deseja controlar o efeito de confundimento provocado por uma ou
mais variáveis.
∞
O esp = ∑ M i j ∗ Pi p
i =1
onde,
O esp representa o total dos óbitos esperados;
M i j , a taxa de mortalidade específica por idade da área j;
Pi p a população adotada como padrão (p) na idade i.
42 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
O esp
TBM P =
Pp
onde,
Pp representa a população total padrão.
Quadro 3.1 Comparação das taxas brutas de mortalidade e das taxas específicas de mortalidade
por idade em duas populações brasileiras, 2000
∞
Ox O
∑ n Ox
nTEM x = TBM = =
n x =0
n Px P P
Quadro 3.2 Taxas brutas de mortalidade padronizadas pelo processo direto em duas
populações brasileiras, 2000
∞
O esp
O esp = ∑ M i j ∗ Pi p TBM P =
i =1 Pp
a) usar a média das populações como padrão (mais recomendável para duas populações);
b) fixar uma delas e tomar a outra como padrão (mais recomendável para duas
populações);
c) usar a média harmônica das populações como padrão.
d) usar um padrão que seja próximo da média ou mediana das estruturas populacionais
sob investigação;
e) usar o total delas como padrão;
f) tomar como padrão a população total que engloba as de estudo;
g) tomar o milhão-padrão, baseado nas populações de dezenove países europeus.
O
TMI j = 1 0 ⋅ k
N0
Mortalidade 45
onde,
1Oo refere-se a todos os óbitos abaixo de um ano de idade ocorridos no ano j;
independentemente do ano de nascimento;
N0 refere-se aos nascidos ocorridos durante o ano j.
k é uma constante, múltiplo de 10, usualmente expressa por 1.000 nascidos vivos.
(Óbitos fetais ≥ 28 semanas de gestação) + (Óbitos < 1 semana de idade) durante o ano t
Nascimentos + (Óbitos fetais ≥ 28 semanas) durante o ano t
A decomposição das taxas de mortalidade por causa tem importantes e óbvias aplicações
médicas. A exposição aos riscos de morte é uma fatalidade inevitável. Está claro o interesse em
saber sob que taxas os indivíduos de uma população estão morrendo mais e em que idades as
mortes são mais prováveis de ocorrer. De que se morre mais no Brasil atualmente? Que causas
de morte são mais freqüentes na população? Quem morre mais por doenças do câncer, os
homens ou as mulheres?
Ter estas respostas é saber medi-las através das causas de morte, as quais estão
classificadas de acordo com a Classificação Internacional das Doenças – CID.
A Tabela 3.2 mostra a mortalidade em porcentagem para os grupos de causas de óbitos
segundo a CID-10 e sexo, observadas no Brasil em 2005.
Como qualquer taxa específica de morte, a taxa de mortalidade por uma causa qualquer é
calculada pela divisão do número de óbitos da causa específica pela população sob risco. Esta
última, como já definida, é a população do meio de ano ou pessoas-tempo expostas. Geralmente,
a unidade de tempo considerada é o ano. Ou seja,
n Ox ⋅ k
nTM x =
n Px
onde,
nTMx = taxa de mortalidade pela causa x;
nOx = número de óbitos devido a causa x;
Tabela 3.2 Porcentagem dos óbitos segundo a classificação da CID-10 dos grupos
de causas por sexo do Brasil, 2005
diretas, mas que foram agravadas pelos efeitos fisiológicos da gestação (exemplo: cardiopatias,
colagenoses e outras doenças crônicas). As causas obstétricas diretas, usualmente, predominam
em situações em que a mortalidade materna é alta. E, se inverte, quando vai declinando.
A taxa de mortalidade materna (TMM), correspondente a uma determinada área e período
e é calculada como:
O
TMM = m ⋅ k
j NV
0
onde,
TMj = taxa de mortalidade materna da área j
Om = número de óbitos por causas maternas;
NV0 = número de nascidos vivos;
k = uma constante, múltiplo de 10, usualmente igual a 100.000.
Usando uma tábua de vida (ver Capítulo 4), é possível estimar o número de anos que as
pessoas deixaram de viver ou o número de anos perdidos, se elas não tivessem morrido de uma
particular doença ou causa de morte. Quando uma pessoa morre em determinada idade x, ela
deixa de viver o tempo de vida restante que em média se esperaria que ela vivesse, com relação
às outras pessoas de sua mesma idade, ou seja, de sua coorte. Se os anos de vida perdidos de
todas aquelas pessoas da mesma idade, que morreram por uma determinada causa são
somados, o resultado será o total de anos perdidos por uma causa específica, ou seja, APVP
(Anos Potenciais de Vida Perdidos).
APVP = Total das expectativas de vida na idade x de todos os óbitos de uma causa
Este total de anos pedidos fornece uma idéia do custo para a sociedade em anos de vida
perdidos pelas pessoas que morreram devido a certa causa e que faleceram “antes do tempo
médio esperado”. Se este total é dividido pelo número de pessoas que morreram da mesma
causa, como resultado será obtido o número médio de anos de vida perdidos por aqueles que
morreram pela causa de estudo. Desta forma, será obtida uma estimativa do custo médio em anos
perdidos para cada indivíduo.
50 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
Variação desta estratégia é possível. Quando os dados são limitados, pode-se simplificar
os cálculos da APVP assumindo que todos os indivíduos esperam viver o número médio de anos
que se espera que viva a coorte de nascidos em uma mesma data (expectativa de vida), ou
estabelecendo um número arbitrário de potencial de vida esperado. Para enfatizar os anos
produtivos de vida perdidos, pode-se estabelecer como limite uma idade de aposentadoria
esperada, por exemplo, sessenta e cinco anos (Anderton e Richard, 1997). Se um homem de 50
anos morre de uma doença cardíaca, por exemplo, perdeu 15 anos potenciais de vida antes dos
65 anos. Mas, não há um rigor para este limite. Para o Brasil, a idade limite considerada pode ser
atribuída aos 70 anos, já que este valor se aproxima da expectativa de vida, em 2005, em torno de
72 anos.
O conceito de anos potenciais de anos perdidos foi introduzido no começo do século XX
por Dempsey (1947). O método do cálculo do APVP por uma determinada causa (Romeder e Mc
Whinnie, 1988) pode ser obtido através da seguinte expressão matemática:
i +1
APVP = ∑ a i d i
i
onde,
ai = número de anos que faltam para completar a idade correspondente ao limite superior
considerado, quando a morte ocorre entre as idades de i e i+1 anos;
di = número de óbitos ocorridos entre as idades de i e i+1 anos.
Obtendo o total do APVP por causa de morte, e dividindo-o pelo total de óbitos dessa
mesma causa, pode-se saber o número médio do APVP para cada óbito. Com esse resultado
obtém-se a média de idade que o óbito ocorreu, subtraindo da idade limite o número médio do
APVP. O Quadro 3.3 ilustra o uso da APVP para a população masculina do Brasil em 2005.
Se o APVP for dividido pelo total de óbitos do sexo masculino ocorridos no Brasil em 2005,
para obter o número médio de anos perdidos por indivíduo, a quantidade resultante é
simplesmente: 969.727,5 anos para um total de 27.876 óbitos, resultando em um número médio
do APVP de 34,79 anos.
A Tabela 3.3 mostra os anos potenciais de vida perdidos pelas principais causas externas
e o número de óbitos do sexo masculino do município de João Pessoa em 2007. Por exemplo,
para os homicídios houve uma perda média de 40,2 anos e para os acidentes de transporte de
34,0 anos.
Os anos de vida perdidos informa quanto de vida prematura foi perdida por uma
sociedade. Mas, esta é uma medida que reflete o custo da mortalidade e não da morbidade.
Quando dados são disponíveis e confiáveis, poder-se-ia indagar sobre quanto tempo uma pessoa
sofreu de uma doença devida a uma causa particular, que recursos médicos uma pessoa em
média requereu, quanto inativo uma pessoa esteve durante a doença por invalidez temporária ou
permanente, e assim por diante. Este tipo de estudo pode ser feito adaptando a metodologia do
APVP, para anos de saúde perdidos, desde que os dados permitam (Murray e Lopez, 1996).
Mortalidade 51
Anos Potenciais
Intervalo Ponto médio do Idade Limite - Ponto
Número de óbitos de Vida Perdidos
Etário intervalo médio do intervalo
no intervalo
APVP = ∑aidi
ai = número de anos que faltam para completar a idade correspondente ao limite superior
considerado (para o Brasil, em geral, 70 anos) quando a morte ocorre entre as idades i e i+n anos;
2000
Estado Sexo Cobertura Causa mal Causa
(%) definida (%) desconhecida (%)
M 70,1 12,9 38,9
Rondônia
F 70,4 14,8 40,0
M 71,4 28,8 49,1
Acre
F 74,1 33,2 50,5
M 73,8 23,7 43,7
Amazonas
F 71,4 26,2 47,3
M 67,6 7,1 37,3
Roraima
F 67,6 9,8 39,1
M 72,7 26,8 46,8
Pará
F 72,7 27,6 47,4
M 73,3 11,5 35,2
Amapá
F 72,5 14,8 38,3
M 75,2 20,5 40,2
Tocantins
F 72,5 23,5 44,6
M 71,4 37,8 56,2
Maranhão
F <70,4 40,1 58,1
M 74,1 28,4 47,0
Piauí
F <74,1 33,3 51,3
M 81,3 20,2 35,1
Ceará
F 78,7 22,6 39,0
M 80,7 26,8 41,0
Rio Gr. Norte
F 76,3 30,7 47,1
M 82,3 46,2 55,7
Paraíba
F 79,2 50,8 61,1
M 91,7 20,9 27,5
Pernambuco
F 90,9 25,4 32,2
M 81,3 28,3 41,7
Alagoas
F 81,0 33,3 46,0
M 89,3 26,9 34,7
Sergipe
F 91,7 32,4 38,0
M 89,3 27,3 35,1
Bahia
F 88,5 30,5 38,5
M 91,7 15,0 22,0
Minas Gerais
F 92,6 14,3 20,6
M 92,6 16,7 22,9
Espírito Santo
F 90,9 19,4 26,7
M 97,1 10,4 13,0
Rio de Janeiro
F 96,2 11,9 15,3
M 94,3 6,6 11,9
São Paulo
F 96,2 6,6 10,2
M 93,9 5,6 11,3
Paraná
F 93,0 5,8 12,4
M 95,7 12,0 15,8
Santa Catarina
F 93,5 13,3 19,0
M 93,0 4,6 11,3
Rio Gr. Sul
F 93,0 4,9 11,5
M 87,3 7,9 19,5
Mato Gr. Sul
F 82,6 7,4 23,5
M 86,2 7,7 20,5
Mato Grosso
F 82,6 8,7 24,5
M 83,3 11,2 26,0
Goiás
F 87,3 10,8 22,1
M 89,7 4,6 14,4
Distrito Federal
F 96,2 5,2 8,9
M 89,0 13,9 23,4
Brasil
F 87,0 15,4 26,4
* Extraída da Revista de Saúde Pública, Paes (2007)
4 Tábuas de Vida
4.1 Construindo uma tábua de vida
4.2 Tábua de vida abreviada
4.3 As funções de uma tábua de vida
4.4 Riscos Competitivos
Uma das ferramentas mais poderosas e importantes da demografia é a tábua de vida. Sua
aplicação por gerações, se estende não somente dentro dos círculos acadêmicos, mas também
fora deles. Conforme notado nos inícios dos Capítulos 1 e 3, as origens da ciência demográfica e
os estudos da mortalidade remontam desde o século dezessete, cujas fundações estão atreladas
às tábuas de vida, com trabalhos desenvolvidos particularmente por Francis Place, John Graunt e
Edmund Halley. Desde então, as contribuições têm sido feitas em termos de refinamentos e
desdobramentos de sua aplicabilidade (Namboodiri, 1987). A tábua de vida está presente de
forma direta ou indireta em boa parte da construção dos mais importantes indicadores
demográficos, bem como nas projeções populacionais. Ela tem um valor prático em muitos
campos da saúde pública e das ciências atuariais. Na ciência estatística, mais atualmente, ela é
parte do que é frequentemente chamada de “análise de sobrevivência”. A tábua de mortalidade é
de grande importância para o Ministério da Previdência Social e empresas de seguros de vida
para efeitos de determinar, juntamente com outros parâmetros, o chamado fator previdenciário
para o cálculo das aposentadorias das pessoas segundo IBGE.
O uso de conceitos como vida média esperada e funções correlatas se estendem muito
além de tópicos como: seguros de vida, anos de vida após a aposentadoria, duração do
matrimônio e probabilidade de sobrevivência.
Se os registros de óbitos estão disponíveis, bem como uma boa estimativa da população
por sexo e idade para uma região em uma determinada data ou período, conforme mostrado no
capítulo anterior, a taxa bruta de mortalidade e as taxas específicas de mortalidade podem ser
calculadas para expressar a mortalidade. Ambos os tipos de taxas têm sua utilidade, mas também
têm suas limitações. Uma taxa bruta sintetiza em um único valor a mortalidade de toda uma
população, no entanto, como visto, ela é influenciada pela estrutura etária da população. Embora
uma taxa específica de mortalidade não seja influenciada pela estrutura etária, é necessário que
se conheçam várias delas para que se possa descrever a mortalidade de uma população.
56 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
Não seria conveniente que houvesse uma medida que pudesse sintetizar a mortalidade de
uma população em um único valor e que, ao mesmo tempo, não estivesse sujeita às limitações
das estruturas populacionais por idade? A expectativa de vida ao nascer é essa tal medida.
Para entendê-la, é necessário não somente considerar o conceito de mortalidade, mas
também, os conceitos de: sobrevivência e longevidade. Uma taxa de mortalidade mede o risco de
morrer em um dado ano. O complemento desta taxa mede o risco de sobreviver. Um conceito
próximo da sobrevivência é a longevidade, ou seja, a idade em que alguém morre.
Individualmente, a longevidade de um indivíduo é determinado pela quantidade de anos que
sobrevive ou evita a morte. Conjuntamente, a idade média pela qual uma coorte de indivíduos
morre é determinada por sua taxa de morrer ou sobreviver idade por idade através do tempo de
vida coletivo. A longevidade sintetiza em seu conceito a idéia de mortalidade específica por idade.
Assim, a combinação destas taxas específicas está contida na medida de expectativa de vida
média.
A expectativa de vida, ou ainda, a esperança de vida, é um conceito hipotético. Para uma
melhor compreensão, seja uma coorte de nascidos vivos (ver conceito no Capítulo 3) e que sua
trajetória de mortalidade seja acompanhada ao longo do tempo. Certamente, ela irá se
extinguindo com o avanço do tempo. Considere, ainda, que seja possível traçar essa trajetória
descrita em termos de taxas de mortalidade específicas por idade. Assim, será possível conhecer
a idade média provável dos óbitos de todos os membros da coorte depois que ela se extinguir
totalmente. Isto é, a expectativa de vida média ao nascer.
Os demógrafos usam as tábuas de vida (tábua de sobrevivência, ou ainda, tábua de
mortalidade) para traçar a história da mortalidade dos membros de uma coorte. Uma tábua de
vida nada mais é do que uma tabela à qual representa o tempo de vida de uma coorte hipotética
desde o nascimento até a sua extinção completa. É simplesmente uma maneira elegante e
conveniente de analisar as taxas específicas por idade.
Por meio de uma tábua de vida é possível responder questões como: quantos anos
viveram em média os indivíduos que nasceram num certo instante? Quantos anos em média
espera-se que vivam as mulheres que tenham determinada idade? Pode ser de interesse, por
exemplo, das companhias de seguro, saber que as mulheres de sessenta e cinco anos ainda têm
em média 20 anos a mais de vida.
É preciso notar alguns aspectos relacionados com a construção, uso e interpretação de
uma tábua de vida. Primeiro, todo o processo de construção de uma tábua de vida é baseado
completamente na geração das taxas específicas de mortalidade por idade de uma coorte de
indivíduos.
Segundo, as suposições empregadas na construção de uma determinada tábua de vida
são hipotéticas – e provavelmente irrealistas. É muito pouco provável que exista uma coorte de
nascimentos que experimente precisamente a trajetória de taxas específicas de mortalidade por
idade empregadas em uma tábua. O propósito, na verdade, é descrever as implicações da
mortalidade durante um dado ano, não descrever uma experiência de vida de uma coorte real.
Terceiro, ao concluir que uma coorte hipotética viveria em média x anos a partir do
nascimento, se expressa resumidamente as informações contidas nas taxas numa medida
(expectativa de vida) com as seguintes características:
a) é sintética, constituída de um único número;
b) é mais facilmente apreendida que uma taxa bruta de mortalidade;
c) não sofre influência da estrutura etária.
Tábuas de Vida 57
Há dois tipos de tábua de vida: a completa, que trabalha com a idade anual dos indivíduos,
e a abreviada que faz uso dos grupos etários (normalmente, agregados de cinco em cinco anos,
exceto o grupo de 0-1 e de 1-4). O motivo de a escolha recair, comumente, pela tábua abreviada
pode se dever à qualidade dos dados em não ser suficientemente confiável para construir uma
tábua de vida completa, ou porque se prefere um perfil mais conciso da mortalidade. A Tabela 4.1
mostra um extrato de uma tábua de vida completa para o Brasil do sexo masculino em 2006.
Tabela 4.1 Tábua completa de mortalidade para o sexo masculino, Brasil, 2006
Idade Probabilidade Nº óbitos Nº Nº pessoas- Total Expectativa
exata de ocorridos sobreviventes anos pessoas- de Vida
morte entre entre x, x+n à idade exata vividos anos à idade x
x, x+n x entre x, x+n vividos a
(por mil) partir de x
(x) nq x nD x lx nL x Tx ex
0 8,620 2862 100000 97519 6850453 68,5
1 2,543 247 97138 96968 6752934 69,5
2 1,477 143 96799 96733 6655966 68,8
3 1,107 107 96667 96632 6559232 67,9
4 0,901 87 96597 96576 6462600 66,9
5 0,621 60 96554 96524 6366024 65,9
6 0,466 45 96494 96472 6269500 65,0
7 0,353 34 96449 96432 6173029 64,0
8 0,311 30 96415 96400 6076597 63,0
9 0,311 30 96385 96370 5980197 62,0
10 0,322 31 96355 96340 5883827 61,1
. . . . . . .
. . . . . . .
78 65,493 2540 38787 37517 371430 9,6
79 70,374 2551 36247 34971 333913 9,2
+
80 1,000 33696 33696 298942 298942 8,9
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas (DPE), Coordenação de População e Indicadores Sociais (COPIS).
Observe que o denominador consiste do número de pessoas vivas no início do ano. Por
exemplo, sejam 1.000 pessoas que nascem exatamente no mesmo instante. Na idade de 30 anos,
suponha que restam com vida apenas 950 pessoas. Se 10 morrem antes de completar 31 anos,
então:
10
q30 = = 0,010
950
Este tipo de cálculo geralmente não pode ser realizado diretamente porque as estimativas
populacionais normalmente são feitas para o meio do ano, em vez do início do ano. Então, as qx
são estimadas a partir das taxas específicas de mortalidade por idade, TEMx, já que estas taxas
são estimadas com a população no meio do ano. Se as TEMx são chamadas de mx, como é
convencional, então:
Sejam,
Dx o número de óbitos no ano de indivíduos de idade x;
Nx a população de idade x no início do ano;
Px a população de idade x no meio do ano.
Desta forma:
Dx
qx =
Nx
e
Dx
mx =
Px
Agora, Nx é apenas Px mais aqueles que morreram entre o início e o meio do ano. Para a
maioria das idades, este acréscimo é muito próximo de 0,5.Dx desde que os óbitos ocorram de
maneira uniforme dentro do ano. Sendo assim:
N x = Px + 0,5Dx
Tábuas de Vida 59
Dx Dx
=
Nx Px + 0,5Dx
ou seja,
Dx
qx =
Px + 0,5Dx
Dx / Px
qx =
Px / Px + 0,5Dx / Px
mx
qx =
1 + 0,5m x
Contudo, este processo representou apenas uma transformação, já que sua validade vai
depender da veracidade com que a realidade difere do suposto de que as mortes se distribuem
uniformemente durante o ano, ou seja, aqueles que morrem durante o ano vivem, em média, a
metade do ano. Este suposto é bastante razoável para todas as idades exceto para as idades
muito jovens, e com menor veracidade para os muito idosos. Os muito jovens, em média, vivem
menos que a metade do ano devido ao fato de que as mortes tendem a se concentrarem nos
períodos iniciais do ano. Ou seja, a mortalidade neonatal tem seu peso relativo diferenciado da
pós-neonatal, conforme discutido no capítulo anterior, para a mortalidade infantil. Já para a
mortalidade de 1 a 4 anos, esta concentração é menos evidente, embora não seja confortável
assumir que a distribuição das mortes seja uniformemente distribuída durante este intervalo etário.
Esta fração do ano vivida é usualmente denotada por ax, a qual também é conhecida como fator
de separação. Sendo assim, a última equação formulada pode ser generalizada como:
mx
qx =
1 + (1 - a x ).m x
Os valores que o fator de separação, a0, a1, a2..., assume variam de região para região e
de acordo com o nível da mortalidade. De acordo com Newell (1988), geralmente para as regiões
menos desenvolvidas (onde a mortalidade é alta) e mais desenvolvidas (onde a mortalidade é
baixa), é adotado o esquema apresentado no Quadro 4.1:
60 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
Uma outra recomendação, quando se exige mais refinamento dos fatores de separação
entre os sexos, foi proposta por Coale e Demeny (1983) - usando o modelo de tábuas de vida
oeste - e adaptado por Preston et. ali. (2002), conforme esquematizado no Quadro 4.2.
Existem outros métodos que são usados para transformar mx em qx, propostos por Reed-
Merrell (1977), Greville (1943) e Chiang (1968). Contudo, em termos gerais, não há importantes
diferenças entre eles e o método descrito acima.
n. n m x
n qx =
1 + n(1 - n ax ) n m x
4.0,000523
4 q1 = 1 + 4(1 - 0,4)0,000523 = 0,002091
onde,
11
4 m1 = 21034 = 0,000523
Conhecido o processo de como calcular a partir dos dados brutos, agora é possível
descrever o cálculo, a interpretação e os usos das demais colunas de uma tábua de vida, cujo
algoritmo pode ser, agora, explicitado, conforme ilustra a Tabela 4.2.
Mas, antes de entrar neste detalhamento, faz-se necessário fazer mais um esclarecimento.
Até agora, uma população real e óbitos reais foram considerados para construir o modelo
matemático conhecido como tábua de vida. Mas, mesmo baseada em dados reais, na verdade, na
construção de uma tábua de vida, lidam-se com populações hipotéticas. O principal motivo é que
para construir uma tábua de vida “real”, consistindo de uma coorte de nascimentos reais, seria
necessário esperar e acompanhar todas as mortes desta coorte até o desaparecimento do último
deles. Isso, naturalmente, levaria um tempo considerável no sentido de que seria necessário algo
em torno de 100 anos, quando se trata de seres humanos.
Para superar esta dificuldade, os demógrafos e atuários desenvolveram um modo
alternativo, denominado de tábua de vida de “período” ou algumas vezes chamado de tábua de
vida “corrente”. Estas tábuas fornecem o mesmo tipo de informações contidas em uma tábua de
vida de coorte. Estas informações procuram mostrar o que ocorreria com uma coorte se ela fosse
submetida durante toda a sua vida às condições de mortalidade observadas em uma população
real. A este tipo de coorte denomina-se como “sintética” ou “hipotética” em oposição a uma coorte
“real”. Esta última, como visto, é composta de nascimentos reais.
x - Intervalo de idade (x, x+n). Esse intervalo é definido entre duas idades exatas,
excetuando o grupo de 0 a 1, 1-4 e de 85 e mais anos.
n. n m x
n qx =
1 + n(1 - n ax ) n m x
62 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
onde,
n Dx
n mx =
n Px
n a x = fator de separação
probabilidade de sobreviver entre as idades exatas x e x+n. Ela é apenas o complemento de nqx.
Desta forma:
n px = 1 - n q x ou n px + n q x = 1
Frequentemente npx, como nqx, são expressos por 1.000 ou 10.000 de modo a evitar uma
grande quantidade de zeros.
l x = l x-n . n p x-n
l5 = l1 . 4 p1
l10 = l5 . 5 p5
.
.
Da Tabela 4.2:
l5 = 98135 ⋅ (1 - 0,002091) = 97930
Tábuas de Vida 63
l x+n
n Px =
lx
l x+n = l x - n d x
Da Tabela 4.2,
l5 = 98135 − 205 = 97930
ndx - Número de mortes no intervalo etário (x, x+n). Seus valores são oriundos da
multiplicação dos n qx pelos sobreviventes à mesma idade e traduzem o número de óbitos da
tábua da vida ocorrido no intervalo (x, x+n).
n d x = n q x .l x
Mas, ndx também pode ser calculado usando simplesmente a diferença entre dois lx.
Algebricamente:
n d x = l x - l x+n
Para o último intervalo, ou seja, o intervalo etário aberto, o número de pessoas que
morrem é o mesmo número daqueles vivos no início do intervalo. Isto é:
d x+ = l x
nLx - Número de anos vividos pelos sobreviventes do grupo inicial de indivíduos entre as
idades exatas (x, x+n). Cada indivíduo desse grupo que sobrevive cada ano, neste intervalo,
contribui para nLx com um ano completo, enquanto os que morrem durante este ano contribuem,
em média com ( 1 − ax ) do período e não com um ano. Para o intervalo de n anos, a expressão é
dada por:
n L x = nl x + n + n d x (1− n a x )n
64 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
Se para n a x nas idades x ≥ 5 anos , é assumido como igual a 0,5, então a fórmula se
torna:
(
n Lx = n l x+n + 0,5 n d x )
n Lx = n ( l x - n d x + 0,5 n d x )
( (
= n l x - 0,5 l x - l x+n ))
= n ( l x - 0,5l x + 0,5l x+n )
=n
( l x + l x+n )
2
Da Tabela 4.2:
(l 20 + l 25 ) (96697 + 95201)
5 L20 = 5 = 5 = 479745
2 2
Evidentemente que, esta expressão não é válida para ou 4 l1 já que n a x não é igual a
0,5 nestas idades. Chama-se à atenção de que o fator de separação n a x é uma medida usada
tanto na derivação de n q x como em n L x , no entanto, ele não depende dos valores da tábua de
vida e sim dos dados brutos.
Para o intervalo etário aberto, é necessário fazer uma adicional suposição acerca de
quantos anos mais, em média, aqueles vivos no início deste intervalo viverão ainda. Existem
várias alternativas. E, qualquer delas não ocasionará importantes diferenças na tábua de vida,
uma vez que, são relativamente poucas as pessoas que vivem neste intervalo. Certamente que se
devota particular interesse neste intervalo, é necessário usar da precaução. O método mais
comum faz uso das taxas específicas de mortalidade observadas (TEM) no intervalo aberto. É
bastante razoável supor que:
nd x
n m x=
n Lx
Por exemplo:
m = 5 d 20 = 1496 = 0,003118
5 20
5 L20 479745
Ou seja, a TEM é dada pela razão do número de óbitos da tábua de vida pelo número de
pessoas-ano vividos. Rearrumando esta equação, ela se torna:
∞ dx . P
∞ Lx = ∞ x
∞ Ox
ou seja,
∞ dx
∞L x =
∞ mx
Por exemplo:
d 1496
L80e+ = 80e+ = = 201525
m80e+ 0,003118
Tx - Total de anos vividos além da idade x. É o número de anos que se espera que viva os
sobreviventes de idade exata x, a partir desta idade até quando o grupo inicial de indivíduos se
extinguir totalmente. É a soma do número de anos vividos em cada intervalo de idade começando
com a idade x. Sua expressão é dada por:
Tx =n Lx + Tx+n
Da Tabela 4.2:
T20 = 5 L20 + T25 = 479745 + 4433925 = 4913670
O total de anos vividos no último grupo etário e nas idades subseqüentes será igual a
Tx =∞ Lx .
O principal propósito desta função é calcular a seguinte.
Tx
ex =
lx
Assim,
T0
e0 =
l0
66 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
Da Tabela 4.2:
T 4913670
e20 = 20 = = 50,82
l20 96697
Todas as funções usadas para a construção de uma tábua de vida são mostradas na
Tabela 4.2 para o município de João Pessoa em 2007 para o sexo masculino e o Gráfico 4.1
ilustra o comportamento das taxas de mortalidade específicas.
Tabela 4.2 Tábua de vida da população masculina residente em João Pessoa, 2007
Grupo
nPx nD x nm x nq x lx nd x nL x Tx ex
idade
0 5.119 96 0,018754 0,01865 100000 1865 99385 6868832 68,69
1–4 21.034 11 0,000523 0,00209 98135 205 392212 6769447 68,98
5–9 28.015 8 0,000286 0,00143 97930 140 489300 6377235 65,12
10 – 14 29.740 11 0,000370 0,00185 97790 181 488499 5887935 60,21
15 – 19 33.000 62 0,001879 0,00935 97609 913 485766 5399436 55,32
20 – 24 34.642 108 0,003118 0,01547 96697 1496 479745 4913670 50,82
25 – 29 32.348 96 0,002968 0,01473 95201 1402 472500 4433925 46,57
30 – 34 26.992 75 0,002779 0,01380 93799 1294 465759 3961425 42,23
35 – 39 23.072 84 0,003641 0,01804 92505 1669 458352 3495666 37,79
40 – 44 21.511 106 0,004928 0,02434 90836 2211 448653 3037314 33,44
45 – 49 17.800 113 0,006348 0,03125 88625 2769 436203 2588661 29,21
50 – 54 13.726 127 0,009253 0,04522 85856 3882 419575 2152458 25,07
55 – 59 10.861 148 0,013627 0,06589 81974 5401 396367 1732883 21,14
60 – 64 7.830 172 0,021967 0,10412 76573 7972 362932 1336517 17,45
65 – 69 5.679 185 0,032576 0,15062 68600 10332 317171 973584 14,19
70 – 74 3.854 181 0,046964 0,21015 58268 12245 260728 656413 11,27
75 – 79 2.484 184 0,074074 0,31250 46023 14382 194160 395685 8,60
80 e + 2.847 447 0,157007 1,00000 31641 31641 201525 201525 6,37
Fonte: Assis, 2009
Nota: Foi adotado para (1-ax) os valores: 0,67 em menores de 1 ano, 0,60 na idade de um a quatro anos e 0,50 nas
demais idades para ambos os sexos.
Tábuas de Vida 67
0,1
(log)
nqx
0,01
0,001
0 1 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85
Idade
a soma das causas de morte é igual à força da mortalidade total e, que se pode admitir uma razão
constante entre as forças de mortalidade total com a mortalidade de uma causa.
Sua construção diverge daquela da tábua de vida somente pela coluna qx, que é
substituída pela probabilidade de morte que é líquida qx., ou seja, aceita que uma determinada
causa ou conjunto de causas tenham sido excluídos da população.
A probabilidade líquida de morte ( qx ) passa a ser estimada por:
[(D -D )/ D ]
i ij j
q = 1 - pˆ
i,j i
)
em que pi = estimador da probabilidade de um indivíduo sobreviver de x a x+n, é igual a:
1 - (1 - a ')n M
pˆ = i i i
i 1 + ai 'ni M i
onde,
i = 0, 1, 2,..., anos;
j = 1, 2,..., r (causas);
ni = intervalo de classe para o grupo etário considerado;
M i = taxa de mortalidade na idade i;
ai ' = fator de separação na idade i;
Dij = número de óbitos ocorridos na idade i pela causa j ou grupo de causas j;
Di = número de óbitos ocorridos na idade i.
A Tabela 4.3 mostra o impacto que a eliminação parcial de 50% das agressões
(homicídios) causaria na população do município de João Pessoa em 2007. A comparação com a
esperança de vida ao nascer antes da eliminação, 68,69, mostrada na Tabela 4.2 permite fazer
uma comparação com a esperança de vida obtida após uma redução de 50% nas mortes por
agressões no município, ou seja, 69,72. A diferença entre a esperança de vida resultou em um
ganho da ordem de 1,03 anos.
A Tabela 4.4 mostra os ganhos na esperança de vida com várias simulações para as
mortes por agressões para o município em João Pessoa em 2007.
Conforme apresentado no Capítulo 3, a metodologia da tábua de vida pode também ser
usada para quantificar a mortalidade prematura na idade ativa, considerada entre 15 e 65 anos.
Por intermédio da comparação do número médio de anos vividos entre 15 e 65 anos usando a
fórmula (T15 − T65 ) /115 pode ser identificado os ganhos potenciais de vida ativa médio. Usando os
dados da Tabela 4.2 para a população masculina residente de João Pessoa, 2007, a estimativa do
número médio de anos potenciais de vida ativa perdidos ficaria dada por:
Tabela 4.3 Tábua de vida de Múltiplo Decremento com a eliminação parcial de 50% das
mortes por agressões para a população residente masculina de João Pessoa, 2007
Tabela 4.4 Tábua de vida de Múltiplo Decremento com a eliminação parcial das
mortes por agressões para a população residente masculina de João Pessoa, 2007
Portanto, é à mulher que se faz referência quando se usa o termo fecundidade, embora, as
medidas descritas aqui possam ser prontamente transpostas para os homens. Quando um
nascimento ocorre, o nível (magnitude) da fecundidade da mulher aumenta. Isto se refere a uma
mudança de paridade, isto é, o número de crianças nascidas de uma mãe. Uma mãe pode gerar
vários nascimentos durante sua vida reprodutiva (período referente da menarca à menopausa).
Assim, uma taxa de fecundidade mede a frequência deste evento empregando uma base
74 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
populacional. Essas taxas são medidas em relação a um agregado de mulheres em seu período
fértil.
Esta é a mais simples e direta medida da fecundidade. No Capítulo 1, foi definida a Taxa
Bruta de Natalidade (TBN), como o número de nascimentos vivos em um particular período
dividido pelo número de pessoas-anos vividos na população durante o mesmo período:
N
TBN = ⋅1.000
P
Fecundidade e Reprodução 75
Usualmente, esta relação é expressa por 1.000 habitantes. Da mesma maneira como no
caso da TBM, ao se calcular a TBN adota-se no denominador a população total no meio do ano,
como uma aproximação no número de pessoas-ano. A TBN é chamada de taxa “bruta” porque ela
inclui no denominador a população de todas as idades e sexos. Devido a esta inclusão, ela não é
estritamente uma medida de risco, nem de fecundidade. Pela definição do Capítulo 1, não é uma
taxa verdadeira e, sim, uma razão. Por ser afetada pela composição da população por idade,
sexo, pela maior ou menor intensidade com que as mulheres têm seus filhos e outras
características, este indicador pode confundir se usado para comparações entre diferentes
populações ou a mesma população em diferentes momentos no tempo.
No entanto, existem algumas explicações porque ela é uma medida útil. É muito fácil de
entender, requer poucos dados e é fácil de calcular. Além do mais, é possível subtrair desta taxa a
TBM e, assim, obter a taxa bruta de crescimento natural, a qual, junto com a taxa líquida de
migração determinar a taxa de crescimento populacional (ver Capítulo 1).
Segundo o IBGE, no Brasil em 2007, nasceram 3.080.266 crianças para uma população
estimada de 183.987.291 pessoas. Desta forma:
3080266
TBN = ⋅ 1.000 = 16,74 por mil
183987291
O campo de possível variação para a TBN, considerado para populações em geral, fica em
cerca de 10 a 50 por mil habitantes. A Tabela 5.1 lista a TBN para as unidades da federação e o
Brasil em 1991 e 2005. O Quadro 5.1 ilustra o cálculo para este indicador.
TFG = n Nx ⋅ 1.000
49
∑ n Mx
x=15
onde,
n N x representa o número de nascidos vivos na faixa etária x, x+n;
3080266
TFG = ∗ 1.000 = 105,24.. por..mil..mulheres
29267745
O Quadro 5.1 ilustra para o município de João Pessoa – PB, o cálculo desta taxa para o
ano de 2007.
Fecundidade e Reprodução 77
Esta é uma taxa de fecundidade e não de natalidade porque ela expressa o número de
nascimentos relativos ao número de mulheres no período reprodutivo. Note que se requer de
dados desagregados por faixa etária para o cálculo desta taxa. O campo de variação para a TFG
aproximadamente gira em torno de 50 a 300 por mil mulheres.
A principal vantagem deste indicador é que ele controla a estrutura por sexo e idade
relacionados aos nascimentos, sendo assim, um indicador de risco, portanto mais refinado que a
TBN. Mas, ele não controla inteiramente a estrutura de idade desde que pode haver variações
etárias entre as populações dentro do período reprodutivo. Por exemplo, uma população pode ter
um grande peso de mulheres jovens, enquanto que em outra população pode haver poucas
jovens, e por causa de que os nascimentos não são distribuídos uniformemente nas idades
reprodutivas, comparações entre essas populações, usando a TFG, podem levar a equívocos.
Para superar esta dificuldade, é preciso considerar as taxas de fecundidade para cada grupo
etário.
A taxa específica de fecundidade (TEF) por idade da mulher refere-se ao quociente entre o
número de nascidos vivos de mães em uma determinada idade ou faixa etária e o número de
mulheres nesta mesma idade ou faixa etária (x, x+n). É comum este indicador ser representado
em um ano calendário. Sua definição é usualmente expressa por 1.000 nascimentos, como:
N
TEF = n x ⋅ 1.000
nM x
O padrão das TEF tem um formato típico conforme representado no Gráfico 5.1, o qual
tende a mostrar características de comportamento sem importantes variações: um rápido aumento
até atingir um pico nas idades que pode variar, usualmente, na faixa de 20-24 ou 25-39 e
gradualmente declina a níveis muito baixos depois dos 40 anos. Esta regularidade do padrão da
fecundidade propicia enormemente o uso de modelos matemáticos, os quais não são abordados
aqui.
90
TEF por/1.000 hab.
60
30
0
15 20 25 30 35 40 45 50
Id a d e
49
5. ∑ 5TEFx
TFT = x=15
1.000
A TFT corresponde ao número médio de filhos que uma mulher teria ao terminar o período
reprodutivo. A Tabela 5.2. mostra as TFT para as unidades da federação e o Brasil em 1991 e
2005. O Gráfico 5.2 ilustra a evolução da TFT para o Brasil de 1990 a 2008.
Algumas considerações adicionais precisam ser colocadas. Na interpretação deste
importante indicador é preciso considerar que a TFT, de um determinado ano, se manteve
exatamente a mesma pelo menos nos últimos 35 anos (período reprodutivo: 15-49 anos) e que
não se modificará no futuro. Isto quer dizer que o número médio de filhos nascidos vivos por
mulher diz respeito a uma geração hipotética que, ao atravessar todo o período reprodutivo,
vivenciasse o conjunto das TEFs observadas no ano de referência. No cálculo da TFT não são
levadas em consideração as mulheres que falecem antes do término do período reprodutivo.
Fecundidade e Reprodução 79
Um dos grandes méritos deste indicador é que ele se constitui em uma medida sintética,
independente da estrutura etária. Pois, ele é formado pelo conjunto das TEFs, o qual corresponde
às médias de nascidos vivos por mulher nas sete faixas etárias. Sendo assim, este indicador pode
ser usado para comparações de níveis de fecundidade, sem a necessidade de padronização.
Para exemplificar as diversas taxas apresentadas neste capítulo, são usados os dados
referentes aos nascidos vivos e à população de mulheres de João Pessoa em 2007 (Quadro 5.1).
Os nascimentos são aqueles ocorridos e registrados no mesmo ano e a população foi estimada
para o meio do ano. Note que, embora o principal propósito, aqui, seja o de exemplificar o uso
destes indicadores sem a preocupação com a fidedignidade com a magnitude dos reais níveis de
fecundidade, o sub-registro dos nascimentos para este ano é considerado baixo e não foi feito
nenhum ajuste.
Esta medida é similar a Taxa de Fecundidade Total, exceto que ela considera somente os
nascimentos femininos. Ela é calculada da mesma maneira como Taxa Bruta de Reprodução
(TBR) usando as taxas específicas de fecundidade (TFT) “feminina”. As TEFs “feminina” são
adicionadas e – porque cada faixa etária é qüinqüenal – multiplicada por cinco. Assim sendo, a
Fecundidade e Reprodução 81
TFTx f representa a taxa específica de fecundidade feminina na faixa etária x, x+n, onde n = 5,
5
dada por:
f
f 5 Nx
5TEFx = M
5 x
onde,
5 N xf significa o número de nascidos vivos femininos na faixa etária x, x+5.
Desta forma, a Taxa Bruta de Reprodução, é dada pela seguinte expressão:
49 f
TBR = 5. ∑ 5TEFx
x=15
N n Nx
TEF = n x ⋅ 1.000 TFG = ⋅ 1.000
49
nM x ∑ n Mx
x=15
49
5. ∑ 5TEFx
TFT = x=15
1.000
População Nascidos
Grupo Feminina Vivos TEF TFG
Etário (1/7/2007) (ambos os
sexos)
15 – 19 32.749 1.971 0,0602 -
20 – 24 36.279 3.126 0,0862 -
25 – 29 35.746 2.890 0,0808 -
30 – 34 30.813 1.818 0,0590 -
35 – 39 27.711 769 0,0278 -
40 – 44 26.173 208 0,0079 -
45 – 49 21.816 14 0,0006 -
O Quadro 5.2 mostra os cálculos da TBR para o município de João Pessoa, PB, em 2007.
Existe uma outra maneira de calcular a TBR, a qual envolve a Razão de Sexo ao Nascer
(RSN), conforme explicitado no Capítulo 1, onde RSN corresponde ao quociente entre o número
de nascimentos de crianças do sexo masculino e do sexo feminino. A TBR pode ser estimada
apenas multiplicando a TFT pela proporção de nascimentos do sexo feminino. Em termos formais:
f49 f
N N
TBR = .5 ∑ 5TEFx = .TFT
N x=15 N
1493214
TBR = ⋅ 1,93 = 0,9356
3080266
1
TBR = .TFT = 0,4878.TFT
(1+1,05)
Nesta situação:
A TBR representa o número de nascimentos femininos que uma mulher em média teria se
ela vivesse até o final de sua vida reprodutiva e experimentasse as taxas específicas de
fecundidade “femininas”. Recorde que a TBR, como a TFT, é uma taxa de período e assim não diz
nada sobre uma coorte real. Na verdade, ela considera uma coorte sintética hipotética.
Fecundidade e Reprodução 83
Uma TBR igual a 1,0 sugere que as mulheres estão aproximadamente substituindo elas
mesmas, enquanto que um valor igual a 2,0 pode ser entendido que a população está dobrando a
si mesma em uma geração; isto é, cada mulher está gerando, em média, duas filhas. No entanto,
é importante ter clareza nesta interpretação da TBR, não somente porque ela se trata de uma
medida de período, mas também porque, por ser uma medida bruta de reprodução, não leva em
conta a mortalidade das mulheres. Claramente, nem todas as filhas sobreviverão para substituir
suas mães e nem todas as mães sobreviverão até o final dos anos de seu período de reprodução,
em torno dos 50 anos. Desta maneira, uma TBR precisa ter um valor maior do que 1,0 para que
ocorra uma substituição de fato, talvez, em torno de 1,15, apesar de que este valor dependa do
nível da mortalidade da região de estudo. Portanto, como a mortalidade exerce sua influência
nesta medida, é necessário, então, controlar seu impacto, para se ter uma medida mais realista.
Isto é o que é feito na próxima medida a ser apresentada.
A Taxa Líquida de Reprodução (TLR), algumas vezes denotada por R0, é simplesmente
uma TBR ajustada pela mortalidade. Este ajustamento é realizado pela multiplicação de cada TEF
“feminina” ( 5TEFx f ) pela probabilidade de sobreviver do nascimento até certa idade, para depois
adicionar estes produtos e multiplicar pelo tamanho da faixa etária, 5, como é usual. Desta
maneira, a TLR, por ter sofrido a influência da mortalidade será sempre inferior a TBR, cuja
diferença dependerá do nível da mortalidade da região.
Assim, para calcular a TLR será necessário o conhecimento das nTEFx f e de uma tábua de
vida. Desde que o valor de nLx representa o número de anos-pessoas vividos entre a idade x e
x+n de uma coorte de lo nascimentos, o número de anos vividos em cada intervalo etário por um
número médio de mulheres sujeitas às condições de mortalidade no período durante sua vida
reprodutiva é dado por n Lxf / l0f . Por exemplo, a probabilidade de sobrevivência de mulheres de
f
idades de 30 a 34 anos será dada por 5 L30 / l0f . A Taxa Líquida de Reprodução é, então, definida
como:
49 n Lfx f
TLR = ∑ nTEFx
x=15 l f
0
Uma TLR igual a 1,00 implica que a população feminina permanentemente sujeita às taxas
de mortalidade e de fecundidade irá repor a sí mesma. Taxas de fecundidade que correspondem
a uma TLR de 1,00 normalmente são chamadas de nível de reposição da fecundidade, embora
como alerta Preston et al. (2002), existem um número infinito de taxas de mortalidade que se
combinam com as taxas de fecundidade para produzir uma TLR = 1. Em populações com baixos
níveis de mortalidade, o nível de reposição da TFT é cerca de 2,1 filhos em média por mulher.
Fato este que não ocorre em regiões com altas taxas de mortalidade, particularmente nas
primeiras idades, quando os níveis de reposição alcançam valores superiores a 2,1.
Estas medidas de reposição indicam se a população feminina está “repondo” a si mesma e
não a população como um todo. Quando a TLR > 1, cada geração é maior que a geração prévia.
84 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
Esta taxa nada indica sobre a velocidade do crescimento. Apenas significa que as novas crianças
femininas nascidas produzirão, em média, mais que uma filha durante a duração de sua vida.
O exemplo do Quadro 5.2 refere-se a uma geração hipotética de mulheres que
experimentou desde o nascimento até o final do período reprodutivo as TEM xf e
n
15 – 49 211.287 - -
TBR - 0,7842
49 n Lfx f
TLR = ∑ nTEFx
x=15 l f
0
Taxa Liquida de Reprodução, João Pessoa, 2007
Tabela de Sobrevivência
Grupo
(nTEFx,f) (nLx,f)*(nTEFx,f)
Etário Sobreviventes Mulheres - Ano
Idade X (nLx,f)
(lx,f)
<1 1000 991 - -
1-4 987 3937 - -
5-9 984 4918 - -
10-14 983 4910 - -
15 – 19 981 4900 0,0288 141
20 – 24 979 4889 0,0421 206
25 – 29 977 4876 0,0403 197
30 – 34 974 4861 0,0277 135
35 – 39 970 4839 0,0132 64
40 – 44 965 4805 0,0042 20
45 – 49 957 4749 0,0004 17
Total - - - 765
TLR - - - 0,765
Fonte: Dados básicos – DATASUS – MS
Fecundidade e Reprodução 85
até o final da vida reprodutiva, nTEM xf (que na tábua de vida é representada pelas probabilidades
de morrer, n q x ).
Da faixa etária das mulheres 15-19 anos, nasceram 944 meninas, de 20-24, 1529, e assim,
sucessivamente. No final do período reprodutivo, das 1000 mulheres da geração inicial, apenas
943 completaram 50 anos de idade. Assim, da geração inicial, nasceram um total de 765 meninas.
Deste modo, para que a geração de 1000 mulheres que iniciaram o período reprodutivo
seja reposta, será necessário que elas tenham gerado o mesmo número total de filhas, que no
exemplo, foi de apenas 765. Portanto, houve um déficit aproximado de 31%, indicando que a
segunda geração foi menor do que a primeira, o que está representado pela TLR obtida em 0,765.
Finalmente, esta taxa indica que, se forem mantidas constantes as nTEM xf e as nTEFx f observadas
em 2007 para João Pessoa, cada geração posterior de recém-nascidas será substituída por uma
geração de filhas em torno de 31% menor.
.
6 Projeções Populacionais
6.1 Usos e propósitos das projeções
6.2 Estimativas, projeções e previsões
6.3 Metodologias de projeção populacional
simples inspeção visual, de uma linha de um gráfico mostrando como uma população total muda
no tempo. Em outro extremo, elas podem consistir de um programa computacional complexo que
projeta a população por idade, sexo, estado civil e outras características usando suposições que
variam no tempo para diferentes períodos acerca do curso seguido pelas variáveis demográficas.
Para representar uma população em uma data futura ou em uma data intermediária de um
passado recente e uma data presente, geralmente se distinguem três categorias: estimação,
projeção e previsão. Estas categorias devem ser distinguidas da predição. Esta significa uma
proposição acerca do que se pensa que acontecerá no futuro, baseado sobre um fato ou intuição.
Estimativas são necessárias porque é praticamente impossível coletar dados
continuamente sobre a população, uma vez que, esta, se encontra permanentemente em
processo de mudança. Uma estimativa populacional é uma avaliação de um tamanho
populacional ou alguma outra característica para uma data presente ou futuro próximo para o qual
não se tem uma imediata informação. Estimativas são geralmente atualizadas e são baseadas
sobre os mais recentes dados disponíveis. Por exemplo, quando os censos são realizados, eles
possuem uma data de referência, e pode-se desejar estimar a população para o meio do ano
(primeiro de julho do ano de estudo é a data usada no denominador para estimar taxas brutas de
mortalidade e de natalidade e muitas outras medidas).
Uma projeção descreve uma provável característica populacional em uma data futura
baseada sobre um conjunto de claras suposições acerca do que é esperado que ocorra entre o
tempo de projeção e da data para o qual ela se aplica. A precisão com que uma projeção é feita
depende da aderência dos supostos com os eventos que ocorrem durante o período da projeção.
Devido a que é muito difícil avaliar tendências e comportamentos futuros, costuma-se empregar
diferentes cenários para o crescimento populacional: lento, moderado e rápido. Estes cenários
resultam em três projeções populacionais, chamadas por alguns técnicos como: pessimista,
provável e otimista.
Uma previsão faz uma prospecção de alguma característica futura da população, baseada
sobre qualquer ou todas das várias fontes: projeção, teoria científica, intuição e mesmo
adivinhações cabais. Depende sempre do ponto de vista do pesquisador.
Evidentemente que as projeções e previsões usualmente são menos precisas quanto mais
distantes fizerem referência a uma data futura - mais erros são cometidos.
Pt = f(P0)
Método Aritmético
O modelo linear, também referido como crescimento aritmético, assume que a taxa de
mudança entre duas datas será constante durante o intervalo de tempo. Se a taxa de crescimento
no início de um intervalo de tempo de 10 anos for 0,5%, então este modelo estima o crescimento
como se a taxa fosse 0,5% para cada ano do intervalo.
Pn = PO + ( PO ⋅ r ) ⋅ t (6.1)
Pn = população em um instante n;
P0 = população inicial em um instante 0;
r = taxa de crescimento;
t = quantidade de tempo (número de anos ou meses) entre 0 e t.
Este é o mesmo método usado para determinar o juro simples em uma conta de aplicação.
Uma taxa fixa é aplicada ao capital inicial (P0), por exemplo, 10% (r = 0,10) ao ano (t = 1) sobre
um capital de R$1.000,00. Após um ano, a quantidade de R$100,00 (P0.r.t) é adicionado ao
capital inicial, resultando, no final do ano, em um capital acumulado de R$1.100,00. Como
mostrado no primeiro gráfico do Quadro 6.1, esta equação traça uma linha para indicar a taxa
constante de mudança.
A partir da equação acima, pode-se obter a taxa de crescimento (r) por unidade de
tempo, desde que se conheça a população inicial, a final e o tempo transcorrido.
Para se obter o valor de (r), a partir da equação, seguem-se os seguintes passos:
Pn = PO + ( PO ⋅ r ) ⋅ t
Pn - PO = ( PO ⋅ r ) ⋅ t
Projeções Populacionais 91
r=
(Pn - PO )
(PO ⋅ t )
Esta última equação pode ser utilizada para se obter uma população futura ou para se
calcular o tempo necessário para ser determinado o aumento populacional de uma dada região, a
partir de uma determinada população e de uma taxa de crescimento.
Como exemplo de aplicação, considere a população censitária do Brasil em 01/08/2000,
de 169.799.170 habitantes, e em 01/04/2007, pela contagem populacional, de 189.335.191
habitantes. Com base nesses dados é possível:
189.335.191 − 169.799.170
Portanto, r= ≅ 0,0172
169.799.170.6,7
Chega-se, assim, a uma taxa de crescimento anual de, aproximadamente, 1,72%
ao ano.
P
2002
=P
2000
+ P
2000 (
⋅r ⋅t )
P2002 = 169.799.170 + (169.799.170 ⋅ 0,0172 ) ⋅ 1,9
P2002 = 175.339.236
(
P2015 = P2000 + P2000 ⋅ r ⋅ t )
( )
P2015 = 169.799.170 + 169.799.170 ⋅ 0,0172 ⋅ 14,9
P2015 = 213.244.948
92 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
Método Geométrico
Pn = PO (1+ r )
t
(6.2)
Onde, os termos têm o mesmo significado como descritos para a equação do método
aritmético (eq. 6.1).
Este modelo pode ser aplicado para determinar juros em uma conta de aplicação anual
como se segue. Uma taxa de juro, por exemplo, de 10% por ano, é aplicado ao capital inicial, seja
R$1.000,00, o qual no final do primeiro ano produzirá R$100,00. Para o segundo ano, a taxa é
aplicada ao capital inicial mais os juros, isto é, R$1.100,00, produzindo um juro de R$110,00, e
assim por diante.
A partir da equação acima se pode obter a taxa de crescimento (r) por unidade de tempo,
desde que se conheça a população inicial, a final e o tempo transcorrido.
Para se obter o valor de (r), a partir da equação (6.2), seguem-se os seguintes passos:
Pn = PO (1+ r )
t
Pn
= (1+ r )
t
PO
P
log n = t ⋅ log (1 + r )
PO
P
log n = log (1+ r )
1
t PO
1 P
(1 + r ) = antilog log n
t PO
1 P
r = antilog log n -1 (6.3)
t PO
1 log Pn
t PO
r = 10 -1 (6.4)
A equação (6.2) pode ser ainda utilizada para se obter uma população futura ou para se
calcular o tempo necessário para determinado aumento populacional de uma dada região, a partir
de uma determinada população e de uma taxa de crescimento.
Como exemplo de aplicação, considere a população do Brasil em 01/08/2000, que era de
169.799.170 habitantes, e em 01/04/2007, de 189.335.191 habitantes. Com base nesses dados é
possível:
1 log Pn
t PO
r = 10 -1
Sendo:
t = 6,7 (em anos)
P01/04/2007 = 189.335.191
P01/08/2000 = 169.799.170
1
log 189.335.191
6,7 169.799.170
r = 10 -1 ≅ 0,0164
Na Seção 1.9 do Capítulo 1, foi mostrado o interesse em saber em quanto tempo uma
população atingirá seu dobro. Um modo alternativo consiste em explicitar o valor de t na equação
(6.2), ou seja:
94 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
2000 (
1+ r )
t
P =P
2002
P2002 = 175.124.859
2000 (
1+ r )
t
P =P
2015
P2015 = 216.329.491
Pn = PO (1+ r )
t
Pn
= (1+ r )
t
PO
P
log n = tlog (1 + r )
PO
Projeções Populacionais 95
P
log n
PO
t=
log (1+ r )
Pn = 2P0 e, portanto:
2PO
log
PO
t=
log (1+ r )
log2
t=
log (1+ 0,0164 )
Método Exponencial
r t
Pn = PO e e (6.5)
96 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
r t
Pn = PO e e
Pn r t
=ee
PO
1 P
re = ln n (6.6)
t PO
1 P
re = ln n
t PO
Sendo:
t = 6,7 (em anos)
P01/04/2007 = 189.335.191
P01/08/2000 = 169.799.170
1 189.335.191
re = ln ≅ 0,0163
6,7 169.799.170
Chega-se, assim, a uma taxa de crescimento anual de, aproximadamente, 1,63% ao ano.
Projeções Populacionais 97
r t
P =P ee
2002 2000
0,0163⋅1,9
P2002 = 169.799.170 ⋅ e
P2002 = 175.124.855
P2015 = 216.329.456
Método Logístico
O modelo logístico não assume nem um crescimento absoluto nem taxas de crescimento
constantes durante o intervalo da projeção. Em vez disso, ele descreve uma situação em que
cresce rapidamente durante o primeiro momento do intervalo, para em seguida diminuir, durante o
segundo momento, quando se aproxima ou se iguala à zero. No Quadro 6.1 é mostrado o
comportamento desta curva. Sua aplicação em vários campos além da demografia deu a esta
curva vários nomes, como a curva S, devido à sua forma, curva de saturação, ogiva ou curva de
98 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
Pareto. Segundo Keyfitz (1968) é o modelo que melhor explica a transição demográfica, teoria esta,
largamente empregada e conhecida na demografia.
A curva logística pode ser expressa por uma equação diferencial que mostra ser a taxa
percentual de crescimento proporcional à população residual, entendendo-se como população
residual a diferença entre a população de saturação e a população variável existente. Para o
emprego deste procedimento são necessárias três condições:
e P2);
- que as populações de estudo apresentem sempre crescimento, ou seja: P0 < P1 < P2;
- que seja satisfeita a condição de inflexão da curva, através de P12 > P0 . P2.
Ps
Pn =
Kt
(6.7)
1+ c ⋅e
onde:
t = t` - t0, sendo t` o ano para o qual se deseja estimar a população e t0 o ano do primeiro
censo, tomado como referência.
A partir da equação 6.7 pode-se obter a taxa de crescimento (r) por unidade de tempo e
os demais parâmetros.
Ps =
2
( )
2⋅PO⋅ P1⋅P2 -P1 ⋅ PO+P2
2
PO⋅P -P
2 1
Projeções Populacionais 99
c =
( Ps - PO ) ,
PO
1
O
(
P Ps - P )
1
1 ( s O )
k= ln
t 2 - t1 P P - P
337.314.916
P2002 =
-0,0314⋅21,97
1+1,849 ⋅ e
P2002 = 175.013.669
337.314.916
P2015 =
-0,0314⋅34,83
1+1,849 ⋅ e
P2015 = 208.319.656
*população determinada para 1990 a partir do crescimento verificado entre 1980 e 1991.
100 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
Pn = PO + Nt - Ot + It - Et
onde:
Pn = população em um instante n;
P0 = população inicial, instante 0;
N t = nascimentos no período t;
Ot = mortes no período t ;
It = imigrantes no período t;
E t = emigrações no período t.
Período t (t = n – 0)
Pn = PO + Nt - Ot
Projeções Populacionais 101
(Pn - Po )
6
Crescimento populacional
Pn =Po +( Po ⋅ r ) ⋅ t
5
Projeção 4
segundo uma taxa constante. r=
(PO ⋅ t )
3
Crescimento populacional 4
1
Projeção
função da população existente
3 P
log n
2
r = 10
-1 t
estimativas de menor prazo 0
0 1 Crescimento
2 3 Geométrico
4 5 6
0
Crescimento populacional, 6
5
cuja base para estimativas e
Projeção 4
projeções assume um 3
1 P r t
⋅ ln n Pn = Po e e
2
exponencial crescimento continuo na taxa 1 re =
de crescimento entre duas
datas.
0
0 1
Crescimento 2
Exponecial 3
t Po
O crescimento populacional
segue uma relação
matemática, que estabelece
uma curva em forma de S. A
Projeção
população tende
assintoticamente a um valor
10
9
8
7
r =k ⋅ P⋅
(Ps -P) Pn =
Ps
de saturação. Os parâmetros kt
1+ c ⋅e
6
O motivo para o maior uso deste método se deve à sua maior precisão que os métodos
baseados no crescimento populacional, além de levar em conta a decomposição dos seus
componentes demográficos e a decomposição etária. Este é, praticamente, o único método usado
para projetar população pelos órgãos governamentais dos países, principalmente para tempos
mais longos. Representa um raro consenso nas ciências sociais. Sua sofisticada metodologia
consiste em fragmentar a população em subgrupos expostos diferentemente a comportamentos
especulativos sobre a fecundidade, a mortalidade e a migração, e separadamente computa as
mudanças no tempo para cada um desses grupos. Este método é aplicado para cada sexo em
separado e por faixas etárias. Devido a este último motivo, usualmente, as projeções são
realizadas para intervalos de tempo do mesmo tamanho dos intervalos etários que são utilizados.
Outras diferenciações podem contemplar a nacionalidade, situação de domicílio, segmentos
educacionais, raciais, religiosos, etc.
As três variáveis básicas necessárias para a aplicação deste método são: a) a estrutura da
população por sexo e idade; b) as taxas de sobrevivência específicas por sexo e idade, as quais
são derivadas de uma tábua de vida; c) taxas específicas de fecundidade por idade e d) nas
situações em que a população não é considerada como “fechada” (ver definição no Capítulo 1), o
102 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
saldo líquido migratório por sexo e idade. Principalmente, devido a este último item não ser
abordado neste livro, para maiores detalhes na construção e uso do método dos componentes, o
leitor interessado é convidado a consultar referências como: Preston et al., 2002; Santos et ali,
1980; Shryock e Siegel, 1976.
Em 2008, o IBGE revisou suas projeções para a população brasileira por sexo e idade até
o ano 2050, usando para isto o método dos componentes. Os procedimentos que permitiram
estimar e projetar os níveis e padrões da mortalidade e da fecundidade estão descritos em
detalhes na publicação do IBGE (2008), bem como se encontram disponibilizados no portal do
IBGE na Internet (www.ibge.gov.br). Nele, são colocados os resultados correspondentes ao
comportamento evolutivo esperado para:
1) As esperanças de vida ao nascer, por sexo, até o ano 2100;
2) As taxas de mortalidade infantil, por sexo, até o ano 2100;
3) As taxas de mortalidade por grupos de idade e sexo, até o ano 2050;
4) As taxas de fecundidade até o ano 2050, considerando como limite 1,50 filhos em média
por mulher.
5) Considerações sobre os supostos adotados para as migrações internacionais.
Para que seja possível produzir estimativas demográficas confiáveis é necessário que os
dados possuam alta qualidade ou que, mesmo na presença de erros nos dados, possa-se
detectá-los e corrigi-los. Conforme explicitado na sessão 2.1 do Capítulo 2, boa parte dos
problemas enfrentados pelos demógrafos é devotada à qualidade dos dados. Sendo as
estatísticas vitais a matéria-prima de importantes indicadores na demografia, é costume distinguir
nelas dois tipos principais de erros: de cobertura e de declarações (completude). A seguir, alguns
destes métodos são destacados para cada uma das duas situações.
nascimentos masculinos
⋅ 100
nascimentos femininos
Significa a relação dos nascidos vivos masculinos com os nascidos vivos femininos
realizados num determinado período. Permite ver se existem ou não erros ao nível dos registros
dos nascimentos (desequilíbrios ao nível dos registros dos sexos).
Como funciona este teste? Sabe-se que nos países com boa qualidade de estatísticas
demográficas a relação de sexo dos nascimentos anda por volta de 105 (ou seja, para cada 100
meninas nascem 105 meninos). A Tabela 7.1 mostra estas razões para o Brasil e suas regiões no
ano de 2005. Como pode ser observado para todo o Brasil, esta razão é muito próxima de 105. A
existência de desvios acentuados, em relação a este valor, não pode ser senão a conseqüência
direta das flutuações aleatórias, mesmo no caso de estar em presença de uma observação
perfeita. Não se pode concluir, de imediato, que a qualidade dos dados é má. Existem as
flutuações que têm a ver com o número de ocorrência. É necessário averiguar se se deve à
dimensão da população ou à má qualidade dos dados.
Em função do número de nascimentos observados é, no entanto, possível precisar o
intervalo de variação deste erro, que é devido à existência de populações pouco numerosas. Para
tal existe uma fórmula para se encontrar o intervalo de confiança dentro do qual o total dos
nascimentos masculinos pode variar:
Para um total de 1000 nascimentos espera-se, em teoria, 512 nascimentos masculinos e
488 nascimentos femininos, ou seja, uma proporção de 0,512 e de 0,488, respectivamente.
Os limites do intervalo de confiança a 95% são determinados pela fórmula
0,512 ⋅ 0,488
0,512 ±1,96
n
onde,
A Tabela 7.1 informa que em 2005 no Brasil nasceram um total de 3.031.678 crianças,
sendo 1.551.806 do sexo masculino e 1.479.872 do feminino. Os limites do intervalo de confiança
para o total de nascimentos, usando a equação acima ficam dados por:
[0,5114 ; 0,5122]
Métodos para Avaliar a Qualidade dos Registros Vitais 107
Em seguida, calcula-se
x y
⋅100 e ⋅100
(1 - x ) (1 - y )
Pelos valores extraídos da Tabela 7.1, a razão de sexo ao nascer é igual a 104,86, cuja
qualidade dos dados de nascimentos pode ser classificada como boa.
Tabela 7.1 Nascidos vivos, segundo sexo e razão de sexos ao nascer*, Brasil e regiões,
2005
Razão de sexo*
Região Masculino Feminino Razão de sexo (RS)
RS (%)
Pn − P0 = N t − Ot + I t − E t
permite que seja calculado o número esperado de nascimentos, uma vez conhecidos os demais
elementos da equação. Ou seja, o valor de um elemento pode ser determinado através do
conhecimento dos valores de todos os outros. Assumindo que estes outros elementos tenham
108 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
sido corretamente observados, o valor esperado dos nascimentos obtido é comparado com o valor
observado dos nascimentos (registrados) e, desta forma, será obtida uma estimativa da cobertura
dos nascimentos.
Note que o número esperado de nascimentos ficará ainda mais fácil de ser calculado se a
população de estudo for considerada como sendo “fechada” conforme conceituado no Capítulo 1.
Considerando que frequentemente um sistema que tem deficiências na captação dos
nascimentos, também tem na dos óbitos, este método impõe severas restrições quanto ao seu
emprego.
NVobs (i)
Ci =
NVest (i)
em que,
50
NV (i) = ∑ TEF (i) ⋅ TM
est j=15 j j
onde,
C i = cobertura dos nascidos vivos da região i;
NVobs (i ) = total de nascidos vivos observados na região i;
NVest (i ) = total de nascidos vivos estimados para a região i;
TEF j (i ) = taxa específica de fecundidade na faixa etária qüinqüenal j da região i;
TM j = total de mulheres na faixa etária qüinqüenal j da região i;
j = faixa etária qüinqüenal de 15 a 49 anos.
∑ Nascidos
Taxa Vivos
População
Grupos Taxa Específica Nascidos Observados
Feminina
De Específica Fecundidade Vivos ÷
Ano 2000
Idade Fecundidade* x Observados** ∑ Nascidos
1° de Julho
População Vivos
Feminina Observados
Grupos de População
idade TEF Feminina NVEst. N.V.Obs. C.Nasc.
15 – 19 0,0884 8.907.348 787410 721.564
20 – 24 0,1413 8.081.197 1141873 998.523
25 – 29 0,1163 7.024.819 816986 720.342
30 – 34 0,0733 6.654.997 487811 443.512
35 – 39 0,0384 6.296.227 241775 214.808
40 – 44 0,0123 5.422.137 66692 55.665
45 – 49 0,0017 4.498.388 7647 4.690
Total 2,3585 46.885.112 3550195 3.159.104 88,98
NVobs (i)
Ci =
NVest (i)
em que,
50
NVest (i ) = ∑ TEF (i) × TM
j =15
j j
onde,
Óbitos registrados
Cobertura dos óbitos = ⋅ 100
Óbitos esperados
O método da Equação Balanço de Crescimento foi proposto por Brass (1975) para avaliar
a cobertura de óbitos da população considerada a partir dos cinco anos de idade. Tal método foi
derivado de um outro proposto por Carrier em 1958, o qual desencadeou, por sua vez, toda uma
série de outros métodos. O método de Brass para calcular a cobertura dos dados de óbitos em
uma dada população Ω ou para qualquer partição de Ω (segmento da população) parte da
seguinte fórmula fundamental das populações estáveis (Lotka, 1922):
c (a) = b ⋅ e ⋅ p (a)
-ra
(7.1)
onde,
tem-se que:
N ( a ) = B.e − ra . p ( a )
onde,
w w -rx
N(a+) = ∫ N(x)dx = B ∫ e p(x)dx
a a
onde,
Sabendo-se que:
d(a) = c(a).µ(a)
onde,
1 dp(a)
µ (a) = .
p(a) da
-ra
d(a) = b.e .p(a).µ(a)
-ra dp(a)
d(a) = b.e .
da
w -rx dp(x)
D(a+) = -B ∫ e . (7.2)
a dx
onde,
-rx w w -rx
D(a+) = [-B.e .p(x)] a - B.r ∫ e .p(x)dx
a
-rx w -ra
[-B.e .p(x)] a = B.e .p(a) = N(a) (7.3)
e,
w -rx
-.r ∫ Be .p(x)dx = -r.N(a+) (7.4)
a
D(a+) N(a)
= -r
N(a+) N(a+)
D(a+) N(a)
= +r (7.5)
N(a+) N(a+)
D (a+ ) = k.D’(a+)
onde,
D '(a+) = número de óbitos registrados, afetado por erro, de pessoas com idade igual ou
superior à idade a.
1
Se k>1 implica em sub-registro C= = Cobertura
k
N(a) D'(a+)
= r + k. (7.6)
N(a+) N(a+)
onde,
N (a+ ) = somatório de pessoas que estão na idade exata até um limite de idades w
qualquer;
c) Método de Preston et al
w ( r ( a-x ) )
N ( x ) = ∑ D (a ) e
a=x
Quadro 7.2 Técnica de Brass para estimar a cobertura dos registros de óbitos para o sexo
masculino, Brasil 2000
N(a) D'(a+)
= r +k
N(a+) N(a+)
1
Coeficiente angular: 1,227, dessa forma a estimativa é dada por: = 0,82..ou..82%
1,227
N (x) D ( x +)
- r (x) =
N ( x +) N ( x +)
Onde,
x representa as idades consideradas e r é a taxa de crescimento natural da população Ω
considerada.
Óbitosobservados
1 C0 = Óbitos .100
esperados
Onde, os óbitos observados são extraídos dos registros vitais ou pesquisas. Com o conhecimento
do total de nascidos vivos estimados (NVest) (ver item c) da sessão 7.1.1) e a taxa mortalidade
infantil (TMI) é possível encontrar o número esperado de óbitos. Assim,
Devido aos erros inerentes a toda estimativa e para facilitar a interpretação das estimativas
das coberturas tanto dos nascidos vivos como dos óbitos, muitas vezes é prudente recorrer a uma
classificação. A classificação mostrada no Quadro 7.3 foi adaptada por Paes (2007) de uma
proposta feita por Chackiel (1987).
116 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
Quadro 7.3 Classificação das coberturas dos óbitos adultos para ambos os sexos
Um outro problema diz respeito ao preenchimento das variáveis que integram o formulário
da declaração de nascimentos - DN e da declaração dos óbitos – DO. Esse tipo de
preenchimento, muitas vezes, acarreta em declarações errôneas ou omissões de informações
referentes às variáveis. Trata-se da completude, conforme referido mais acima. Para dimensionar
tal problema, um dos recursos utilizados é considerar o grau de completude de tais declarações,
através da proporção de ignorados em cada uma das variáveis. Alguns autores estabeleceram
limites de tolerância para a representatividade das variáveis. No caso das coberturas de óbitos
Preston (1980) estabeleceu 60%, a United Nation (1982) em 55% e a OECD (1979) em 50%.
Estes limites foram considerados como razoáveis para expressar os padrões de representação
das variáveis. A Tabela 7.2 ilustra para as causas externas, o percentual de preenchimento de
algumas variáveis selecionadas da Declaração de Óbitos para o município de João Pessoa do
sexo masculino em 2007.
A proporção dos óbitos por causas mal definidas é considerada como um importante
indicador da completude das informações sobre as causas básicas de morte. A nomenclatura das
causas obedece a uma normatização pactuada pelos países membros das Nações Unidas,
através da Organização Mundial de Saúde – OMS, cuja versão atual se encontra na décima
revisão. Ela é conhecida como Classificação Internacional das Doenças – CID pelo seu Centro
Colaborador da OMS em Português. A CID-10, em sua décima revisão, está classificada em 22
grupos de causas, ou capítulos, os quais, por sua vez, estão desagregados por causas e em mais
sub-divisões para várias causas de morte.
Métodos para Avaliar a Qualidade dos Registros Vitais 117
Tabela 7.2 Percentual de completude das informações de algumas variáveis para o grupo
de causas externas e suas causas para o sexo masculino, João Pessoa, 2007
Grau
Causa (CID10 BR) Estado Civil de Raça Idade
Instrução
Causas externas 70,57 16,51 87,80 99,76
Acidentes de transporte 81,33 24,00 84,00 100,00
Quedas 71,43 14,29 100,00 100,00
Afogamento e submersões acidentais 80,00 20,00 100,00 100,00
Exposição a fumaça, ao fogo e as chamas 66,67 0,00 66,67 100,00
Lesões auto-provocadas voluntariamente 58,33 8,33 91,67 100,00
Agressões 67,91 14,86 87,84 99,66
Demais causas externas 71,43 28,57 85,71 100,00
Fonte: Assis (2009)
A causa mal definida, assim simplesmente denominada, tem sua especificação definida no
capítulo XVIII da 10ª revisão da CID, como “Sintomas, sinais e achados anormais de exames
clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte”. A não especificação da causa básica
do óbito ocorre pelo mau preenchimento do atestado de óbito pelo médico, seja por negligência ou
mesmo por ignorância sobre a verdadeira causa que levou o indivíduo à morte.
Se a proporção é elevada, isto sinaliza que a mortalidade pelas outras causas está
subestimada, o que pode comprometer seriamente as avaliações e análises da mortalidade por
causas de morte. Ou seja, é provável que não seja possível extrair conclusões confiáveis sobre a
precisão das estimativas.
Uma solução imediata para este problema seria a redistribuição proporcional das mortes
por causas mal definidas em cada um dos capítulos com causas bem definidas. Mas, esta não
parece ser uma saída justa. Alternativas têm sido utilizadas por alguns autores ao procurar
resgatar essas causas através de métodos como o da “recuperação de informação” que consiste
em visitas a domicílios, hospitais, Institutos de Medicina Legal e Unidades de Saúde. Em uma
destas versões, há o método conhecido como “autópsia verbal”. Um outro método, de caráter
mais teórico, foi proposto por Ledermann (1955), o qual foi extensivamente explorado por Vallin
(1987) para regiões da França.
O método de Ledermann supõe que a proporção de uma causa entre todos os óbitos é
subestimada, pois parte de seus óbitos é atribuído às causas de óbitos mal definidos. Ledermann
utilizou a regressão linear simples entre as proporções de cada uma das causas de morte bem
definidas (Yj, j = 0,..., r) e a proporção de mortes mal definidas, X (que representa a variável
independente do modelo de regressão) obtendo as observações (Yij, Xi), para cada área de
interesse, digamos i, (i = 1,2,...,n), ao todo, n áreas. Sendo assim, para cada causa definida de
morte corresponderá uma regressão.
Por exemplo, em uma situação em que se desejasse redistribuir, reclassificar, as causas
mal definidas do Brasil em causas definidas de determinado ano, os estados (n) poderiam
representar as áreas. O coeficiente angular (β) de cada regressão da variável Yj (variável
118 Demografia Estatística da Saúde ∗ N. A. Paes
dependente do modelo) sobre X, ao todo, r coeficientes angulares (βj), fornecerão uma estimativa
dos óbitos mal definidos atribuídos às causas de morte definidas, Yj. Esta estimativa derivada do
método de Ledermann tem a propriedade de que a soma desses r coeficientes angulares (βj) é
igual a –1 e dos coeficientes da reta (αj) é igual a 0, sendo, portanto justificado como um fator de
distribuição dos óbitos mal definidos. Em outras palavras, Ledermann interpretou o coeficiente
angular da reta de regressão de Yi (proporção de mortes atribuídas à causa bem definida Yj) sobre
X (proporção de mortes mal definidas) como uma estimativa da proporção de mortes mal definidas
atribuídas à causa j. De modo que ao se dispor de r causas definidas, torna-se possível estimar a
quantidade de óbitos mal definidos que deveriam estar entre as r causas de morte. Esta
interpretação de Ledermann é conseqüência de uma propriedade da reta de regressão linear
simples. Em temos formais, tem-se que:
Yi = α + βX i + ei
n
∑ X i Yi - n XY
β̂ = i=1
n 2 α̂ = y - βˆ x
2
∑ Xi - n X
i=1
Y ij = α j + β j X i + e ij
onde:
Yij = óbitos da causa j da área i;
α j = coeficiente da reta da causa j;
βj = coeficiente de redistribuição da causa j;
Xi = óbitos observados da causa mal definida da área i;
eij = referente ao “erro” ou “resíduo”.
Demonstra-se que
∑β
j =1
j = −1
A equação de redistribuição dos óbitos por causas mal definidas para uma determinada
área é dada por:
(
O j = Y j -1 ⋅ X ⋅ β j )
Métodos para Avaliar a Qualidade dos Registros Vitais 119
onde,
No ano 2000, a Paraíba era um dos estados com uma das mais elevadas proporções de
causas mal definidas do Brasil (46,2% para os homens e 50,8 para as mulheres). A Tabela 7.3
mostra para este estado, neste mesmo ano, os coeficientes estimados de β usando o método de
Lederman e o número absoluto de óbitos antes e depois da redistribuição das causas mal
definidas em causas definidas. Para a aplicação do método foram usadas as 23 microrregiões da
Paraíba como unidades de referência para a análise de regressão linear simples. Este modelo foi
aplicado para cada um dos principais grupos de causas especificadas na Tabela 7.3, sendo
estimados, assim, os valores para β. Observe que as causas externas não foram incluídas na
redistribuição das causas mal definidas porque foram consideradas como causas relativamente
bem informadas, ou seja, com baixo sub-registro desses óbitos.
Coeficiente Óbitos
Grupo de Causa de redistribuição (βi) Antes Depois
M F M F M F
Algumas doenças infecciosas e parasitárias -0,043 -0,030 348 260 545 384
Neoplasias (tumores) -0,174 -0,183 462 468 1.259 1.223
Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas -0,104 -0,131 348 421 827 960
Doenças do aparelho circulatório -0,352 -0,393 1.475 1.448 3.092 3.064
Doenças do aparelho respiratório -0,112 -0,129 528 484 1.044 1.013
Doenças do aparelho digestivo -0,082 -0,037 331 156 707 308
Outras causas* -0,133 -0,097 1.056 915 1.669 1.316
Mal definidas - - 4.595 4.115 - -
C ⋅ Md
O = (100 - C)+
d 100
onde:
Usando os valores obtidos na Tabela 3.4 do Capítulo 3, para o Brasil em 2000, foi
encontrada uma cobertura de óbitos para os homens de 89,0% e um percentual de óbitos com
causas mal definidas de 13,9%. Sendo assim, o percentual de óbitos com causas desconhecidas
para o Brasil para este ano é dado por:
O = (100 - 89)+
d ( 100 )
89 ⋅13,9
= 23,4%
Referências 121
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