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DIFERENÇAS ELETROMIOGRÁFICAS NA REALIZAÇÃO DE ROSCA

TRÍCEPS NO PULLEY ALTO UTILIZANDO DIFERENTES PEGADAS.

Fabiano Gonçalves1,2, Flávia Porto1, Jonas Gurgel 1,2, Iuri Schroeder1,2, Hellen Hertz1,2,
Sérgio Gaspary1,2, Ismael Baldissera1, Alexandre Runge1,2, Thais Russomano1 e Luciano Castro2.
1
Grupo de Pesquisa em Eletromiografia/ Núcleo de Pesquisa em Biomecânica Aeroespacial/
Laboratório de Microgravidade/ IPCT/ PUCRS; 2Laboratório de Pesquisa em Atividade Física/
FEFID/ PUCRS.

Abstract: The empirical knowledge tells difference in acredita-se que o exercício rosca tríceps realizado no
the activation of the brachial muscle triceps during the aparelho pulley alto seja um dos exercícios dos quais se
accomplishment of the triceps exercise carried through tem dúvida quanto ao padrão de ativação muscular no
in pulley high, depending on the type of grip in the bar. que se refere aos tipos de pegada – se pronada ou
The objective of this study was to analyze the Surface supinada.
Electromyography collected of the portions lateral and O objetivo deste estudo foi verificar se há diferença
long of triceps brachial, of the extensor carpi radialis significativa nos padrões de ativação das porções do
and flexor carpi ulnaris muscles. The results had músculo tríceps braquial durante a realização do
demonstrated not to have significant difference in the exercício rosca tríceps no pulley alto utilizando as
sEMG standards of the brachial muscle triceps. técnicas de pegada pronada e supinada, através da
However, for other muscles, the values had shown eletromiografia de superfície.
statistically significant for some volunteers. Given the
small amostral amount and to the found differences, one Materiais e Métodos
suggests more studies that approach this thematic one.
Key-words: Electromyography Surface, Elbow flexion, A amostra foi composta por 4 homens saudáveis
Execution technique. com idades entre 23 e 42 anos (Tabela 1), todos
experientes na prática do exercício tríceps braquial no
Introdução pulley alto há, pelo menos, 1 ano e com freqüência
semanal de, no mínimo, 3 vezes por semana de prática
Atualmente, observa-se, uma procura crescente por de musculação. A seleção da amostra foi não-aleatória,
atividades físicas orientadas em academias, as quais tendo como critérios de exclusão o uso de drogas
indivíduos são motivados por razões de estética, saúde ilícitas, ser fumante e apresentar pressão arterial com
ou, apenas, como uma forma de convívio social. Novaes valores elevados acima de 120x80, além de condições
[1] afirma que muitas são as opções de quem busca a prévias ao teste de: ingestão de álcool nas últimas 48h,
prática de uma atividade física regular, sendo que, hoje, ingestão de cafeína nos últimos 30min, ingestão de
uma das mais procuradas são aquelas encontradas nas fármacos diuréticos na última semana, ter praticado
academias de ginástica. Dentre as atividades físicas exercícios físicos nos últimos 30min e ter menos de 6h
oferecidas em academias, tem-se que a musculação é de sono na noite anterior.
uma das modalidades mais importantes do ponto de
vista financeiro da academia, pois é a que atrai mais Tabela 1: Perfil da amostra.
adeptos, independentemente da época do ano.
Segundo Fleck [2], a musculação é uma das Estatura Massa Densidade Percentual Idade
vertentes mais conhecidas do treinamento de força, Corporal Corporal de
tendo uma definição semelhante ao do treinamento de Gordura
força. O treinamento de força – também, conhecido 171,75 72,25 1,06 17,08 31
como treinamento com pesos ou treinamento com ± ±2,95kg ±0,01g/ml ±5,55 ±10,8
5,07cm anos
cargas - tornou-se uma das formas mais conhecidas de
exercício, tanto para o condicionamento de atletas como
Após terem lido e assinado um termo de
para melhorar a forma física de indivíduos não-atletas.
consentimento autorizando a utilização de seus dados na
No ambiente de academias de musculação, percebe-
pesquisa, os voluntários responderam aos questionários
se, em alguns estabelecimentos, a prática de prescrições
PAR-Q e anamnese para parcial caracterização da
de exercicios fundamentadas, principalmente, no
amostra e aplicação dos critérios de exclusão.
conhecimento empírico. Acredita-se que o
Posteriormente, os voluntários passaram por avaliação
conhecimento biomecânico e, sobretudo, cinesiológico,
física, sendo coletadas medidas de estatura, massa
podem ser fundamentais na escolha de determinados
corporal, tamanho de segmentos (antebraços) e
exercícios físicos calcados nos objetivos do aluno e do
percentual de gordura. A estatura foi mensurada com
treinamento a qual este é submetido. Deste modo,

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auxílio de estadiômetro. A massa corporal foi verificada entre as séries foi de 3min, cronometrado pelo
por meio de balança mecânica devidamente calibrada pesquisador. A carga adotada foi de acordo com a que
(Filizola®). O tamanho de segmentos dos antebraços foi os indivíduos estavam habituados a utilizar em suas
levantado a partir da distância marcada entre os sessões de treinamento.
acidentes ósseos cabeça do rádio e processo estilóide do A aquisição dos dados de EMGs e eletrogoniometria
rádio; posteriormente, com auxílio de um paquímetro foi possível com o uso de um eletromiógrafo (Noraxon,
(Carci®), foi medido o comprimento. Para estimativa do modelo Myosystem 1400A). O canal 1 adquiriu dados
percentual de gordura, foi escolhido o modelo de dobras da porção lateral do tríceps braquial; o canal 2, da
cutâneas (adipômetro Sanny®) de 7 dobras, proposto porção longa do tríceps braquial; o canal 3, do flexor
por Jackson e Pollock (1978) e a equação preditiva de ulnar do carpo; o canal 4, do extensor radial do carpo. A
Siri [10]. colocação dos eletrodos nestas mediações foi a sugerida
Finda tal etapa, a pele do voluntário foi preparada por Cram, Kasman e Holtz [4].
para colocação dos eletrodos de superfície (eletrodos O processamento dos dados foi realizado no
simples, tipo Ag/AgCl, Marca Noraxon®). A software SAD2 (Sistema de Aquisição de Dados,
preparação incluiu limpeza da pele com água e sabão, desenvolvido pelo Laboratório de Medições Mecânicas
além de retirada de pêlos com auxílio de lâmina de da Universidade Federal do Rio Grande do Sul). A
barbear descartável e fricção da pele com algodão normalização do sinal de EMGs deu-se pelas médias
umedecido em álcool [4,5]. A configuração dos dos valores de pico. Para filtragem do sinal, foi utilizado
eletrodos admitida foi a bipolar com distância de 20mm um filtro passa-banda, entre 10 e 400Hz. Os valores
entre os centros dos eletrodos. A técnica de colocação RMS foram calculados por janelamento do tipo
dos eletrodos adotada foi a do ponto médio do ventre Hamming, de 100 pontos, a 0,04.
muscular, na direção longitudinal das fibras [6]. O Para análise estatística dos dados, foi utilizado o
eletrodo de referência (terra) foi afixado sobre a pele na software SPSS11.5 for Windows.
região da clavícula.
Apenas o membro superior do lado direito foi Resultados
instrumentado com eletrodos.
Além de dados de EMGs, optou-se por controlar o Diferenças nominais nos valores de médias de
movimento angular do cotovelo direito com o uso de EMGs foram encontradas. A fim de verificar se estas
eletrogoniômetro baseado em potenciômetro rotacional diferenças eram estatisticamente significativas, aplicou-
[7]. se o teste t de Student para amostras pareadas (p<0,05).
O local de realização do estudo foi a Academia de Os resultados demonstraram diferença
Ginástica estabelecida no Centro Esportivo da estatisticamente significativa para a musculatura
Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto extensora radial do carpo para 50% da amostra.
da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Diferenças significativas, também, foram encontradas
Sul. para 25% do n amostral, no que tange à musculatura
Previamente ao teste, os indivíduos foram treinados flexora ulnar do carpo.
a manter um ritmo de execução, auxiliados por um Os gráficos de 1 a 4 ilustram os resultados obtidos
metrônomo digital (Marca Seiko, modelo DM 11A, no procedimento de EMGs na comparação intra-
China). O ritmo de execução do exercício foi sujeitos.
normalizado com base nas equações de velocidades
linear e angular. Partindo do princípio que para que os Triceps porção Lateral (pegada pronada X supinada)
indivíduos gerem o mesmo esforço as velocidades 12

lineares médias de suas execuções devem ser iguais, a Triceps Porção Lateral (Pronado) Sujeito 1
equação geral pôde ser deduzida: 10
Triceps Porção Lateral (Supinado) Sujeito 1

−1
∆ t n ( exec /min) = rn (cm) × ∆ t p (exec/min) × 0,036630036 (cm ) 8 Triceps Porção Lateral (Pronado) Sujeito 2
Média RMS

Triceps Porção Lateral (Supinado) Sujeito 2


6

Na qual, ∆tn é o ritmo de execução de determinado


Triceps Porção Lateral (Pronado) Sujeito 3

4 Triceps Porção Lateral (Supinado) Sujeito 3

indivíduo, rn corresponde ao tamanho do antebraço Triceps Porção Lateral (Pronado) Sujeito 4

direito do voluntário, p significa o indivíduo adotado 2


Triceps Porção Lateral (Supinado) Sujeito 4

como padrão para o desenvolvimento da fórmula, e a 0

constante 0,036630036-1 foi determinada a partir das Gráfico 1: Porção Lateral do Tríceps.
variáveis deslocamento angular médio (em radianos) e
comprimento do antebraço do indivíduo tido como
padrão.
O protocolo consistiu na execução de 4 séries de 8
repetições do exercício rosca tríceps executado no
pulley alto (2 séries realizadas com a pegada pronada, 2
séries realizadas com a pegada supinada). O intervalo

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Triceps Porção Longa (pegada pronada X supinada) mais unidades motoras nesta função. Do mesmo modo,
10
que, conforme hipotetizado pelos autores, não haveria
9 Triceps Porção Longa (Pronado) Sujeito 1 de dar diferenças significativas na ativação das porções
8
do músculo tríceps braquial em função dos seus locais
Triceps Porção Longa (Supinado) Sujeito 1

7
de origem e inserção.
6
Triceps Porção Longa (Pronado) Sujeito 2
Apesar da questão cinesiológica ser perfeitamente
Média RMS

5
Triceps Porção Longa (Supinado) Sujeito 2 justificável para essas diferenças encontradas, optou-se
4 Triceps Porção Longa (Pronado) Sujeito 3
por analisar os dados captados pelo eletrogoniômetro.
Embora o ritmo de execução do movimento tenha sido
3
Triceps Porção Longa (Supinado) Sujeito 3
monitorado pelo uso de metrônomo, os voluntários
apresentaram diferenças nos valores. Com o intuito de
2
Triceps Porção Longa (Pronado) Sujeito 4

verificar se as diferenças de EMGs encontradas eram


1

Triceps Porção Longa (Supinado) Sujeito 4


0
provenientes de alterações na velocidade média (VM)
Gráfico 2 : Porção longa do tríceps. angular do movimento, decidiu-se por normalizar os
dados de média RMS pela VM angular do cotovelo. Um
Flexor Ulnar (pegada pronada X supinada) teste t para amostras pareadas foi aplicado nesses
14 valores normalizados. Os resultados demonstraram que
Flexor Ulnar (Pronada) Sujeito 1
não houve diferença significativa. Sendo assim, a
12
Flexor Ulnar (Supinado) Sujeito 1
diferença na velocidade de execução não se traduz no
10 Flexor Ulnar (Pronado) Sujeito 2 fator responsável pela diferença no padrão
Flexor Ulnar (Supinado) Sujeito 2 eletromiográfico gerado por estes indivíduos.
Média RMS

8
* Flexor Ulnar (Pronada) sujeito 3

6
Flexor Ulnar (Supinada) sujeito 3 Conclusão
O estudo revelou não haver diferença significativa
4 * Flexor Ulnar (Pronada) sujeito 4

Flexor Ulnar (Supinada) sujeito 4


na ativação das porções do músculo tríceps braquial na
2 execução do exercício rosca tríceps no pulley alto
0
realizado com pegadas do tipo pronada e supinada.
Entretanto, parte da amostra apresentou diferenças nos
Gráfico 3: Flexor ulnar do carpo. padrões de EMGs coletada dos músculos flexores e
extensores do punho.
Extensor Radial (pegada pronada X supinada)
Dada a pequena quantidade amostral e às diferenças
14
encontradas, sugere-se mais estudos que abordem essa
12
Extensor Radial (Pronado) Sujeito 1 temática.
Extensor Radial (Supinado) Sujeito 1
10 * Agradecimentos:
Extensor Radial (Pronado) Sujeito 2
À Faculdade de Enfermagem, Nutrição e
Média RMS

8
* Extensor Radial (Supinado) Sujeito 2
Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica do Rio
*
Grande do Sul, sob o nome do coordenador do
Extensor Radial (Pronado) Sujeito 3
6

4
Extensor Radial (Supinado) Sujeito 3
Laboratório de Eletrotermoterapia e Fototerapia, Ms.
Extensor Radial (Pronado) Sujeito 4
Fabrício Edler Macagnan, pela cessão de alguns
*
2
Extensor Radial (Supinado) Sujeito 4 equipamentos para o cumprimento deste estudo.
0
Academia de Ginástica estabelecida no Centro
Esportivo da Faculdade de Educação Física e Ciências
Gráfico 4: Extensor radial do carpo.
do Desporto da Pontifícia Universidade Católica do Rio
O Sujeito 1 apresentou diferenças significativas na Grande do Sul pela cessão de espaço físico para a
relação intra-sujeitos para a musculatura flexora ulnar realização deste estudo.
do carpo ( t (1,12, 706 ) , p=0,011<0,05) e para extensora Referências
radial do carpo ( t (1,12, 706 ) , p=0,002<0,05). Neste mesmo
[1] NOVAES, JS e VIANNA, JM. Personal Training e
grupo muscular, o Sujeito 4 apresentou diferenças
Condicionamento Físico em Academia. Rio de Janeiro:
estatisticamente significativas ( t (1,12, 706 ) , SHAPE, 2003.
p=0,001<0,05).
[2] FLECK, SJ. e KRAMER, WJ. Fundamentos do
Discussão Treinamento de Força. Porto Alegre: Artmed, 1999.

Os resultados encontrados foram esperados. Tendo [3] POLLOCK, ML e WILMORE, JH. Exercícios na
em vista a função cinesiológica da musculatura saúde e na doença: avaliação e prescrição para
extensora do punho, era coerente que a pegada do tipo prevenção e reabilitação. Rio de Janeiro: Medsi,
supinada, para a realização deste exercício, fosse ativar 1993.

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[4] CRAM, JR, KASMAN, GS, HOLTZ, J.
Introduction to surface electromyography.
Gaithersburg: Aspen, 1998.

[5] HERZOG, W, GUIMARÃES, ACS, ZHANG, YT.


“EMG”, in: NIGG, BM and HERZOG, W. (Ed).
Biomechanics on the musculo-skeletal system. New
York: Wiley, pp. 351-375, 1998.

[6] ARAÚJO, RC. Utilização da eletromiografia na


análise biomecânica do movimento humano. Escola
de Educação Física e Esporte, USP: São Paulo,
1998.

[7] GURGEL, J, PORTO, F, RUSSOMANO, T,


CASTRO, L, BERTOGLIO, R, SCHROEDER, I.
‘Construção e calibração de eletrogoniômetro de
baixo custo, baseado em potenciômetro, para análise
biomecânica do movimento humano’, Anais XXVII
Simp Intern Ciênc Espor, São Paulo, 2004, pp.256,
2004.

e-mail dos autores:


flaviaporto_@terra.com.br
nuba.microg@pucrs.br

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