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Título do filme: Bienvenue à Marly-Gomont

Diretor: Julien Rambaldi


Produtores: Pauline Duhault, Olivier Delbosc e Marc Missonnier
Roteiristas: Julien Rambaldi, Kamini, Benoît Graffin
Editor: Avilio Pereira
Data de lançamento: 8 de Junho de 2016

O filme “Bienvenue à Marly-Gomont” conta a historia, baseada em fatos reais,


de Seyolo Zantoko, um médico recém-formado na França que se muda para
um vilarejo ao norte de Paris com o intuito de prover uma melhor educação
para seus filhos e conseguir uma nacionalidade francesa, visto que ele e sua
família são da Zaire (nome dado na época para a República Democrática do
Congo). Isso ocorre apesar dos avisos dados pelo prefeito da cidade avisando
a ele que, justamente por ser pequena nunca em Marly-Gomont se viu uma
pessoa negra, antecipando, então, os percalços culturais e sociais que o
esperavam.
Ao chegar à cidade sua família se encontra visivelmente decepcionada, uma
vez que, por conta de uma hilária confusão ao informar sua família da
mudança, eles esperavam morar em Paris, trazendo ao filme uma das partes
mais cômicas do longa-metragem. Além da decepção, a partir da chegada dos
Zantoko é notado o conflito inter-racial instalado, como feições e ações cheias
de medo ao ver a família negra, palavras maldosas ditas pelas crianças do
vilarejo aos filhos de Seyolo e o fato de ninguém se “atrever” a ir ao consultório
do médico ou, como diziam, do “curandeiro”.
Para a infelicidade de Anne, sua esposa, Seyolo não desistia de tentar ganhar
a confiança das pessoas: ia constantemente para o bar interagir com os
homens locais, ajudava idosas com compras, cumprimentava a todos na rua e,
em seu extremo, renegava suas origens, como proibir sua família de falar sua
língua nativa, sentir vergonha de seus parentes quando iam os visitar e até
mesmo impedir sua filha de praticar futebol, afirmando que “futebol era para
ignorantes” e essa deveria focar nos estudos.
Apesar de todos os esforços, o parto de um bebê no natal foi o que mudou
tudo. A partir desse momento cada vez mais pessoas passaram a se consultar
com ele, o qual havia prometido a esposa que iria se mudar de lá mesmo que a
clínica fizesse sucesso. Com a quebra de promessa, Anne se muda por um
tempo para Zaire. Enquanto Anne está fora muitas coisas acontecem: Seyolo é
preso alguns dias antes de conseguir a sua nacionalidade fracesa por algo feito
por uns moradores da cidade que desejam se eleger para prefeito (já que
trazê-lo foi ideia do prefeito atual, “afundar” isso os ajudavam), Sivi (a filha de
Seyolo) se mostra uma estrela da seleção de futebol de sua escola (a qual
começou a jogar mesmo sem a aprovação do pai).
Ao ser preso Seyolo é suspenso de poder praticar medicina na França e
praticamente perder as esperanças. O que muda tudo é um jogo de futebol da
escola, o qual o faz descobrir quão grande era o talento da filha e o quanto ela
havia virado popular. Sua popularidade é tão grande que ele tem a ideia de
usar o fanatismo pelo futebol como uma chantagem emocional nos moradores,
para ajudarem o prefeito atual a se eleger e, assim, ter apoio para poder
praticar medicina novamente. No dia da eleição ele se concilia com sua esposa
e assiste à um espetáculo feito pelas crianças na escola que, para surpresa de
todos, representava a da sua família na cidade, impactando a cidade.No final
vemos eventos que se seguiram após esse dia, é contado o desfecho de cada
personagem na vida real.
O filme de Julien Rambaldi é uma história que aborda assuntos extremamente
importantes de uma forma leve, algo que não é tão comum. É interessante
analisar a forma como o racismo abordado na cidade, uma vez que, embora
todos eles tenham agido de forma racista, em sua maioria vem da ignorância,
do desconhecido. É possível ver pelas falácias que eram ditas pela cidade
sobre Seyolo, as quais, na medida em que ele iria ganhando a confiança e
provando sua capacidade, vão sendo desconstruídas.
Algo também intrigante a ser analisado é a forma como Seyolo nega sua
origem como uma forma de ser enturmar, de parecer mais “normal”, sendo que,
no final, são justamente essas “diferenças” que o aproximam dos moradores.
Se ele não tivesse ido com seus parentes para a igreja (algo que ele foi
relutante), o parto que trouxe pacientes não teria acontecido. Além disso,
depois do parto, houve uma grande comemoração, a qual juntou a família
inteira de Seyolo e os moradores da cidade, aproximando-os de uma forma
animada e cômica, trazendo mais uma vez a leveza do filme. E, por fim, se Sivi
não tivesse entrado na seleção da escola, ela não teria ganhado a admiração
dos moradores e também não teria se aproximado dos colegas de classe,
coisas as quias tornaram possível a reeleição do atual prefeito, ajudando-os a
ficar na cidade e ganhar a nacionalidade francesa.
Afinal, o filme traz uma bela fotografia, com trajes elegantes da família Zantoko
comparado com os simples dos moradores, ajudando no contraste entre essas
pessoas. Além de atuações brilhantes de Marc Zinga e Aïssa Maïga,
mostrando sentimentos diversos com apenas um olhar. Um drama disfarçado
de comédia é algo que define muito bem esse filme, que impacta e ao mesmo
tempo nos faz rir.

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