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sob a ótica das desigualdades territoriais

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A questão regional urbana

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sob a ótica das desigualdades territoriais

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A questão regional urbana

Estado de Mato Grosso


Governador do Estado de Mato Grosso Blairo Borges Maggi
Secretário de Estado de Administração Geraldo Aparecido de Vitto Júnior
Diretor Geral da Escola de Governo Almir Balieiro

Escola de Governo do Estado de Mato Grosso


Diretoria de Laboratório de Administração Pública Angela Maria Teixeira de Almeida
Diretoria de Educação Superior e Profissional Regina Lúcia Borges Araújo
Diretoria de Educação Continuada Toshico Elza Yamamura Rios

Universidade do Estado de Mato Grosso


Reitor Taisir Mahmudo Karim
Vice-Reitor Almir Arantes
Pró-Reitoria de Administração e Finanças Wilbum de Andrade Cardoso
Pró-Reitoria de Ensino e Graduação Neodir Paulo Travessini
Pró-Reitoria de Extensão e Cultura Solange Kimie Ikeda Castrillon
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Laudemir Luiz Zart
Pró-Reitoria de Planej. e Desenv. Institucional Marcos Francisco Borges

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sob a ótica das desigualdades territoriais

A QUESTÃO REGIONAL URBANA


SOB A ÓTICA DAS DESIGUALDADES
TERRITORIAIS
TERRITORIAIS

ÁL
ÁLVV ARO LLUCAS
UCAS DO AMARAL

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A questão regional urbana

Coordenação Editorial Marilda Fátima Dias


Projeto Gráfico/Capa Valter Gustavo Danzer
Diagramação Edgar Bortoleto Ferreira
Edição de Imagens Franciano Antunes
Revisão Equipe Editora UNEMAT

Copyright © 2005 / Editora UNEMAT


Impresso no Brasil - 2005

Ficha Catalográfica elaborada pela


Coordenadoria de Bibliotecas / UNEMAT - Cáceres

Amaral, Álvaro Lucas.


A questão regional urbana sob a ótica das desigualda-
des territoriais/Álvaro Lucas Amaral. Cáceres-MT: Editora
Unemat, 2005.

180p.

1. Desenvolvimento regional-MT 2. Política economica-MT


3. Desigualdades regionais-MT I. Título

ISBN 85-89898-31-8 CDU: 332.146 (817.2)

Índice para catálogo sistemático

1. Desenvolvimento regional-MT - 332 (817.2)


2. Política economica-MT -332.146 (817.2)
3. Desigualdade regionais-MT - 332.146 (817.2)

EDITORA UNEMAT
Av. Tancredo Neves, 1095 - Cavalhada - Cáceres - MT - Brasil - 78200000
Fone/Fax 65 3221 0080 - www.unemat.br - editora@unemat.br

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Reservados.
qualquer meio. A violação dos direitos de autor (Lei n° 5610/98) é crime estabelecido pelo
artigo 184 do Código Penal.

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sob a ótica das desigualdades territoriais

Dedico esse trabalho, com meus agradecimentos,


à minha companheira Maria Lúcia de Aquino
Amaral e à meus filhos Ticiana, FFabrício
abrício e Maiara pelo
estímulo e apoio nas horas difíceis,
pessoas de grande importância na minha vida e que
amo muito.

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A questão regional urbana

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sob a ótica das desigualdades territoriais

Agradecimentos

Ao Governo do Estado de Mato Grosso pela


oportunidade ímpar de editar essa obra.

Ao Departamento de Geografia da UFMT pela


possibilidade de levar avante esse estudo, por meio do
curso de mestrado.

A todos aqueles que direta ou indiretamente auxiliaram


e contribuíram para a realização desse projeto.

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A questão regional urbana

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sob a ótica das desigualdades territoriais

PREFÁCIO

A melhoria da gestão pública do Estado de Mato Grosso


é um dos grandes objetivos estratégicos do Governo Blairo Maggi
Maggi.
Para tanto, torna-se imprescindível o fortalecimento das instituições
de governo, principalmente, pela valorização, formação e
capacitação dos profissionais comprometidos com a efetivação das
atividades de governo no atingimento desses objetivos. Nesta pers-
pectiva ocorre todo um esforço para a criação da Escola de Go-
verno do Estado de Mato Grosso.
A Escola de Governo foi criada através da “Lei Comple-
mentar nº 156, de 19 de janeiro de 2004”, tem a finalidade de
formular as políticas de formação e capacitação dos servidores pú-
blicos civis e militares do Estado de Mato Grosso, bem como produ-
zir e divulgar conhecimentos em Políticas Públicas.
Comprometida com a melhoria da gestão pública do
Estado, a Escola de Governo está inserida em dois grandes pro-
gramas de governo; “formação e capacitação dos servidores pú-
blicos” e “estudos e geração de conhecimentos”.
Esta obra, ora prefaciada, é resultado do Projeto PPubli-
ubli-
cação de TTrabalhos
rabalhos Científicos
Científicos, contextualizado no progra-
ma Estudos e Geração de Conhecimentos em Políticas Públicas,
tendo como objetivo a geração, divulgação e socialização de co-
nhecimentos em políticas públicas.
A Escola de Governo acredita que esse projeto, inovador
em nosso Estado, contribuirá sobremaneira para a melhoria da
gestão pública, tornando-se uma prática do servidor público, gran-
de protagonista de todo esse processo.
Desta forma, o servidor público revela-se altamente com-
prometido com a permanente melhoria dos serviços públicos pres-
tados à sociedade mato-grossense, não como co-adjuvante, mas,
definitivamente, como sujeito de todo processo.

Almir Balieiro
Diretor Geral da Escola de Governo

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A questão regional urbana

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sob a ótica das desigualdades territoriais

SUMÁRIO

APRESENT A Ç Ã O ......................................................... 017

INTRODUÇÃO ............................................................ 019

CAPÍTUL O 1
A R eorganização do TTerritório
erritório e os P rocessos da
Globalização e de Ajuste P rodutivo ......................... 025

CAPÍTUL O 2
Ambiente e Desenvolvimento Regional, Breve Quadro
Conceitual ................................................................... 038
A - Espaço, Região, Regionalismo e Regionalização ........... 038
B - Economia de Base Territorial e de Rede......................... 051

CAPÍTUL O 3
A Concepção e os FFundamentosundamentos do Desenvolvimento
Regional ....................................................................... 059
A - Crescimento Econômico e Desenvolvimento ................. 059
B - A Evolução das Teorias e da Práxis de Desenvolvimento
Regional.......................................................................... 082
C - Os cenários e o Ambiente do Desenvolvimeno Regional 092

CAPÍTUL O 4
A retrospectiva recente do processo de desenvolvimento
e as desigualdades regionais em Mato Grosso ........ 103
A - A Regionalização do Estado na Visão Contemporânea . 104
B - A Dinâmica recente da diferenciação territorial e regional
no Estado de Mato Grosso .............................................. 108
1 - A Dimensão Demográfica - Territorial........................... 118
2 - A Dimensão Econômica .............................................. 119
3 - A Dimensão Social...................................................... 121
4 - Os Índices de Sustentabilidade Regional ...................... 126
5 - As Tipologias do território segundo a condição econômica 127

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A questão regional urbana

CAPITUL
CAPITULO O V
Os limites e as possibilidades de uma política pública
de desenvolvimento regional ...................................... 131
A - A Política Pública de Desenvolvimento Regional e suas
abordagens..................................................................... 136
B - Os Condicionantes e Fatores de Sucesso do Processo de
Construção Regional ....................................................... 147
C - Os Instrumentos de Intervenção e de Ação Regional .... 151
D - A proposta de Organização de um Modelo de Gestão
Regional Urbano ............................................................. 157

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................... 166

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................... 174

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sob a ótica das desigualdades territoriais

LISTA DE FIGURAS
LISTA

F igura 01 - Reorganização do Espaço e o Processo de


Globalização................................................................... 028

F igura 02 - Mudança Tecnológica, Globalização e Ajuste


Produtivo......................................................................... 034

F igura 03 - Novo Ambiente do Desenvolvimento Regional 096

F igura 04 - Crescimento Territorial Exógeno .................... 097

F igura 05 - Desenvolvimento Territorial Endógeno ............ 098

F igura 06 - Regiões de Planejamento do Estado de Mato


Grosso ........................................................................... 110

F igura 07 - Regiões de Planejamento / Sub-Regionalização


do Estado de Mato Grosso .............................................. 111

Figura 08 - Cartograma das Tipologias das Regiões Segundo


a Taxa de Urbanização..................................................... 117

Figura 09 - Tipologias Municipais Segundo o IDH, IDH Renda


e Índice de Gini, 2000..................................................... 122

Figura 10 - Cartograma das Tipologias das Regiões Segundo


10
a Dinâmica Econômica do Produto Per Capita – 2000 ..... 128

F igura 11 - Fatores Determinantes da Competitividade


11
Sistêmica e o Desenvolvimento Econômico ....................... 136

Figura 1 2 - Processos Condicionantes do Desenvolvimento


12
Territorial ......................................................................... 151

Figura 13 - Modelo de Gestão do Sistema Territorial ......... 163

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A questão regional urbana

LISTA DE QU ADROS
LISTA

Quadro 01 - Formas de Capitais Intangíveis, Determinantes


do Processo de Desenvolvimento Regional ......................... 079

Quadro 02 - Desenvolvimento Regional: Tipologia dos


Principais Paradigmas / Influências Analíticas .................... 088

Quadro 03 - Demonstrativo das Regiões de Planejamento


e Sub Regiões, Estado de Mato Grosso ............................. 109

Quadro 04 - Indicadores Sócio-Econômicos das Regiões de


Planejamento, 1991 ........................................................ 112

Quadro 05 - Indicadores Sócio-econômicos das Regiões de


Planejamento/ Sub Regionalização, 1991......................... 113

Quadro 06 - Indicadores Sócio-econômicos das Regiões de


Planejamento, 2000 ........................................................ 114

Quadro 07 - Indicadores Sócio-Econômicos das Regiões de


Planejamento/ Sub Regionalização, 2000......................... 115

Quadro 08 - Indicadores Sintéticos da Desigualdade de


Renda, 1991 e 2000, Municípios do Estado de Mato Grosso 123

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sob a ótica das desigualdades territoriais

APRESENT A Ç Ã O

O Livro “ A questão regional urbana sob a ótica


das desigualdades territoriais
territoriais”, do Eng°. Agrônomo Álvaro
Lucas do Amaral, é o resultado de uma árdua pesquisa desenvol-
vida para a elaboração da dissertação de mestrado defendida no
Programa de Pós-graduação em Geografia, cujo mérito lhe valeu
a recomendação para publicação.
O enfoque da desigualdade sob o prisma territorial con-
siste em eficiente forma de análise que permite desvendar as sin-
gularidades do processo de produção do espaço, valorizando sua
dimensão natural, econômica e sócio-cultural. O território como
suporte de análise permite, também, a detecção das relações de-
siguais de forças manifestadas pelo domínio e controle político e
econômico do espaço.
Assim, ao adotar esta abordagem, o autor buscou apre-
sentar e estabelecer as relações que articulam a dinâmica
ocupacional local com as macro-políticas regionais e imposições
da economia global e, neste contexto, retoma a discussão sobre
as possibilidades e políticas necessárias que possam viabilizar o
desenvolvimento regional.
Inicialmente, o autor aborda a reorganização do territó-
rio no processo de globalização, com a discussão pormenorizada
sobre o desenvolvimento regional e o contexto de sua ocorrência
no mundo globalizado, enfatizando seus efeitos sobre as relações
sociais e produtivas locais. É destacado, também, o papel dos
conflitos, locais ou regionais, como propulsor de alternativas de
desenvolvimento e a dimensão dada pelo capital em suas diferen-
tes formas: social, cultural, natural, empresarial e outros.
No capítulo seguinte são discutidas as principais referên-
cias teóricas conceituais relativas ao ambiente e desenvolvimento
regional, com a referência a diversos autores que têm se dedicado
ao estudo da temática tratada. Dentre os principais conceitos
analisados estão: Região, Regionalização, Regionalismo, Territó-
rio, Redes e outros.
No capítulo seguinte o autor discute detalhadamente, e
com profundidade, a concepção e a fundamentação teórica so-
bre o desenvolvimento regional, apresentando, para tanto, um sig-

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A questão regional urbana

nificativo número de autores, cujas citações ajudam o leitor a


melhor compreender e a ter subsídios teóricos e metodológicos
sobre a temática em apreço. Ressalta-se a importância atribuída
à concepção do desenvolvimento endógeno, como forma de su-
peração das dificuldades e desigualdades territoriais.
Em seguida, já tratando especificamente de Mato Grosso,
o autor apresenta uma retrospectiva recente do processo de desen-
volvimento do Estado e destaca as desigualdades regionais existen-
tes, o que lhe serve de base para, no capítulo seguinte, discutir os
limites e as possibilidades de adoção de políticas públicas voltadas
para o desenvolvimento regional, em que pondera, entre outros, o
papel dos condicionantes e dos fatores de sucesso na construção
regional. É importante destacar as discussões apresentadas neste
capítulo sobre os instrumentos de intervenção e ação regional e a
organização de um sistema de gestão urbano regional.
Diante do conjunto de análises procedidas, o autor con-
clui afirmando que as políticas públicas relacionadas ao desenvol-
vimento regional devem atuar no favorecimento de investimentos
que possam garantir a adoção de novas tecnologias, o aumento
da capacidade de produção e a otimização dos arranjos produti-
vos locais, o que potencializaria uma maior articulação intra e
inter-regional. Estas medidas, conforme defende o autor, seriam
vitais para o desenvolvimento endógeno de áreas longínquas e
periféricas, viabilizando a superação das desigualdades territoriais.

Profª. Drª. Tereza Cristina Cardoso de Souza Higa


Coordenadora do Grupo de Estudos Regionais
Sul-americanos.
Professora da UFMT

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sob a ótica das desigualdades territoriais

A retomada da discussão em torno do desenvolvimento


regional vem no bojo do processo de globalização e do poder
hegemônico atual que reforça a necessidade de respostas nacio-
nais e locais, a fim de inserir novos elementos no sistema impetrante
de expansão e acumulação capitalista. Isso vem revalorizar os pro-
cessos locais de desenvolvimento, com ênfase no planejamento
participativo e descentralizado, fundamentado nas dimensões da
sustentabilidade, com destaque para a espacial, norteada pela
busca da maior equidade no processo de desenvolvimento.
É consenso dos especialistas da área de desenvolvimen-
to territorial, que a saída para os diversos espaços nas diferentes
escalas é buscar no seu interior e no seu entorno, insumos para
um novo projeto de inserção na ordem internacional e na dinâmi-
ca de seu processo de desenvolvimento.
A heterogeneidade do sistema econômico mundial mos-
tra a existência de dois segmentos distintos e vinculados ao núcleo
globalizado. O primeiro deles com intensa articulação (grandes e
médios grupos nacionais e transnacionais), e um segundo com
reduzida inserção (economia camponesa, economia informal e
de subsistência, pequenas e médias empresas), apresentando ló-
gicas distintas de funcionalidade, mas ambas importantes para
explicar a totalidade do desenvolvimento.

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A questão regional urbana

O avanço da globalização implica maiores exigências


para os sistemas econômicos territoriais sobreviverem no cenário
atual da competitividade, devendo estes buscarem ativamente as
oportunidades de maior especialização, qualidade e diversifica-
ção produtiva interna, demandando estratégias e políticas especí-
ficas de desenvolvimento territorial, complementando, assim, aque-
las vinculadas fortemente ao núcleo globalizado.
Daí a importância, hoje, de se adotar estratégias de de-
senvolvimento que incluam essa dualidade e complexidade no pro-
cesso de expansão do capital e de se promover inovações
tecnológicas e empresariais nos âmbitos regional e local.
Dessa forma, paralelamente ao processo de crescimento
polarizado, concentrador e hierarquizado, aparece, como comple-
mentar, a alternativa do desenvolvimento endógeno mais equilibra-
do e que viabiliza o despertar das potencialidades regionais e locais.
Assim, não se trata de insistirem nas políticas públicas
somente como medidas compensatórias e assistencialistas às di-
nâmicas regionais ou locais, mas sim de promover estratégias de
desenvolvimento endógeno, de forma mais consistente e sustentá-
vel, em que o Estado, juntamente com os sistemas territoriais, apa-
reçam como os animadores e catalizadores desse processo, cri-
ando regiões inovadoras e impulsionadoras do desenvolvimento.
Este é o aspecto fundamental e inovador que deve fazer parte das
políticas de desenvolvimento regional em qualquer escala territorial.
Essa demanda é importante para o Brasil e para o esta-
do de Mato Grosso, cujo território é valorizado por sua dupla face:
sua extensão e seu capital natural de significativa heterogeneidade.
Assim, um dos papéis do Governo é justamente o de pro-
mover estratégias concertadas, definindo políticas públicas de
integração e desenvolvimento regional que incorporem uma visão
de competitividade com sustentabilidade e eqüidade, para as dife-
rentes regiões, atendendo, assim, um dos novos paradigmas do
desenvolvimento.
Por isso que a pesquisa, ora enfocada, situa-se no sentido
de clarificar o novo cenário e ambiente, contribuindo para redefinir
a política pública de desenvolvimento regional em face da oportuni-
dade que se apresenta para a sociedade a sua construção social.
Isso porque, atualmente encontra-se tratada de forma marginal e

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sob a ótica das desigualdades territoriais

insignificante, sendo negada a sua capacidade para contribuir nos


processos de distribuição da renda intra-inter-regional.
Pode-se destacar, ainda, como objetivos específicos, a
caracterização do atual processo de desenvolvimento estadual,
demonstrando a existência dos desequilíbrios regionais e identifi-
cando seus fatores condicionantes, sob a luz das teorias e da práxis
da economia e do desenvolvimento regional. E, também, propor
os componentes básicos de modelo de gestão dos sistemas urba-
nos-regionais que facilite a articulação dos atores sociais.
Estudos recentes, tendo como base os principais indica-
dores sócio-econômicos de Mato Grosso (IDH, Valor Adicionado,
PIB, Demografia, Renda Familiar etc.), mostram que a desigual-
dade regional é uma característica marcante do processo de de-
senvolvimento estadual.
O espaço matogrossense constitue-se como um verda-
deiro mosaico de tipologias regionais apresentando, algumas, os
mais baixos níveis de desenvolvimento chegando à estagnação,
problema que é agravado por estar, a maioria, desarticulada en-
tre si. As disparidades espaciais não são apenas inter-regionais,
mas assumem também importante dimensão intra-regional. Esse
quadro ratifica a hipótese da fragilidade ou, até mesmo, da
inexistência de uma política pública de desenvolvimento regional
sustentada por arranjos institucionais que possibilitem agir para
favorecer a redução dessas desigualdades.
Nas regiões dinâmicas, comandadas pelo avanço das
Comoditties, com forte vinculação ao núcleo globalizado, vamos
também encontrar presentes, situações de exclusão social e de-
gradação ambiental que demandam estratégias de desenvolvimen-
to para todos e não apenas aos atores envolvidos no atual modelo
concentrador de modernização produtiva.
A área de análise abrange todas as regiões do Estado,
configurando espacialmente a problemática da desigualdade re-
gional e a possibilidade efetiva da formulação de uma política
pública inserida no contexto atual da globalização.
O desenvolvimento regional é algo mais que um com-
promisso entre ambiente físico e crescimento econômico, que re-
conhece, nos limites da sustentabilidade, dimensões não só natu-
rais, mas também estruturais.

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A questão regional urbana

O desenvolvimento é, na realidade, aquele processo que


concilia métodos de proteção ambiental, equidade social e efici-
ência econômica, promovendo a inclusão econômica e social por
meio do emprego e da renda.
Esse conceito comporta, assim, muitas dimensões:
ambiental e ecológica, social, política, econômica, cultural, espa-
cial e institucional.
Atender as exigências impostas por essas diferentes dimen-
sões da sustentabilidade exclui, portanto, um estilo de desenvolvimen-
to conduzido e orientado exclusivamente pelas forças de mercado.
No contexto das políticas públicas, tem-se a interface do
panejamento com o desenvolvimento regional, considerando as
dimensões da regionalização, do processo de planejamento e das
desigualdades regionais.
A regionalização nesse sentido é um dos instrumentos
para se viabilizar as políticas públicas dentro dos paradigmas do
desenvolvimento, da descentralização participativa e da equidade.
Assim, o problema que se propõe estudar é o decorrente
da falta de uma política pública de desenvolvimento regional. Des-
sa forma, ter-se-á como objetivo contribuir para validar, como ne-
cessária, a construção e implementação de uma política pública
contemporânea, para fazer frente às desigualdades regionais.
As desigualdades intra e inter-regionais, por sua vez, são
resultado de muitas causas, dentre elas as formas de apropriação
da terra, do capital e da renda, e hoje, mais do que nunca, é o
modo como se produz, conserva e dissemina o conhecimento na
sociedade e que são: a educação, a qualificação, a ciência, a
tecnologia e as capacidades de inovação e de empreendimento.
Uma política de desenvolvimento regional deverá com-
plementar e, ao mesmo tempo, contrapor-se ao modelo atual de
concepção concentrada do desenvolvimento, incorporando as di-
mensões de sustentabilidade e integração aos processos vigentes
e inserir as regiões na economia nacional e internacional.
O nível regional determina e facilita o exercício da articu-
lação estratégica entre os diferentes atores territoriais e o conse-
qüente pacto social entre eles, para construção sócio-econômica
dos sistemas produtivos, por meio de arranjos institucionais, se-
gundo a especificidade de cada região.

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sob a ótica das desigualdades territoriais

O desenvolvimento regional sustentado é o resultado do


esforço organizado de toda a sociedade e, não sendo produto de
um planejamento efetuado pelo estado central ou pelo processo
de globalização, existe a necessidade de reinventar a gestão públi-
ca, incorporando a ela a visão de longo prazo, a introdução de
uma cultura de inovação empresarial, tecnológica e de coopera-
ção institucional,
A questão que se apresenta como desafio é a de que,
frente aos novos processos de reorganização espacial, urge recu-
perar o comando a partir da ótica regional e adequar o papel do
Estado como efetivo promotor do desenvolvimento regional.
Enfim, torna-se necessário assumir um compromisso,
com o desenvolvimento mais equilibrado territorialmente, basea-
do na descentralização e na potencialização das regiões e sua
diferenciação territorial.

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A questão regional urbana

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sob a ótica das desigualdades territoriais

Pretende-se, aqui, apresentar a temática do desenvolvi-


mento regional contextualizada a partir dos processos de
globalização e de reestruturação produtiva, diante do seu impac-
to sobre as relações sociais e produtivas territorializadas. Será vis-
ta a importância do gerenciamento sócio-produtivo e dos confli-
tos locais / regionais como alternativa e força de construção de
alternativa de desenvolvimento, tendo como base o poder do po-
tencial criativo do capital sob as suas diversas facetas: humano,
social, cultural, natural e empresarial.
Pelo processo de globalização (BECKER, 2000) enten-
de-se um conjunto de dinâmicas interdependentes, tais como:

• a extensão de redes (capitais financeiros, comunica-


ção, tecnologia, mídia, consumo) separadas das coletivi-
dades e das culturas;
• a velocidade acelerada das mudanças que incidem
diferencialmente nos territórios;
• a concorrência crescente entre os atores do sistema
produtivo visando baixar os custos de produção;
• a reforma e modernização do Estado com a
privatização do patrimônio público e a interconexão cres-
cente das arenas políticas e internacionais;

25
A questão regional urbana

• a dualização da sociedade com a ascensão do de-


semprego; a concentração de rendas e exclusão geran-
do novas formas de auto organizações e associações que
compõem redes organizacionais complexas, face ao re-
cuo do Estado;
• a afirmação crescente da retórica dos direitos dos ho-
mens e das minorias na política internacional.

Tais transformações (Ibidem, p. 3) resultam principalmente


da ação conjugada de dos seguintes elementos: 1. a revolução
científico-tecnológica, que cria uma nova forma de produzir, ten-
do como matéria prima a informação e o conhecimento transfor-
mados em fontes de produtividade e de poder político; 2. e a crise
ambiental, principal restrição à expansão do capitalismo sob for-
mas convencionais de produzir, pois impõe novos padrões
relacionais com a natureza e com os recursos econômicos.
Na nova dinâmica global, vale ressaltar que é o capital e
não o trabalho que se desloca livremente, realizando uma
“alocação ótima de recursos”, em razão de custos e vantagens
comparativas de matérias primas, mão-de-obra, transportes, di-
mensão dos mercados e outros fatores ligados às políticas de atra-
ção de investimentos e à educação.
A combinação crescente dos sistemas produtivos e ad-
ministrativos com as novas características da sociedade da infor-
mação faz com que os fatores de produção, tais como, terra, ca-
pital e trabalho sejam dominados pela nova economia do conhe-
cimento. Cabe aqui considerar os impactos gerados pelo proces-
so de globalização nas escalas territoriais, comprimindo a relação
espaço-tempo e anulando o espaço físico, com o aumento da
importância entre os extremos global e local.
Estamos vivenciando a era da informação, cuja ca-
racterística marcante é a intensificação do processo de
globalização em nível local e regional, o que acrescenta novos
objetos, ações e dinamismos do novo tempo, em que a infor-
mação, aliada à técnica e apoiada pela informatização dos
processos, é o papel motor das formas de comando e domina-

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sob a ótica das desigualdades territoriais

ção. De um lado, a hiper- escala da circulação do capital, e de


outro, a hipoescala da localidade onde se estabelecem as rela-
ções de produção, a complementaridade e a governança, o
que levou vários autores a cunharem o termo globalização, em
que a articulação do local com o global se faz sem a necessá-
ria mediação nacional, podendo agravar as diferenças entre
regiões. Nesse contexto é a lógica do comércio que prevalece e
não da natureza, e a tecnologia e a informação são base da
produção do espaço.
No bojo dessa relação dialética que combina o hiper-
espaço da circulação do capital com a recriação da localidade,
ressurge o discurso teórico e a prática da política da ação local e
regional na busca da construção social e econômica dos territóri-
os, da construção econômica e social, redefinindo o lugar da lo-
calidade como locus da vida econômica e social.
O local surge como conceito multifacetado, envolvendo
escala (tamanho/dimensão), diferença/especificidade, autonomia
e nível de complexidade. Ele é também identificado com a idéia de
lugar ou de região, como porção do espaço onde as pessoas habi-
tam e realizam suas práticas diárias, ocorrem as transformações e
a reprodução das relações sociais, a construção física e material da
vida em sociedade. O lugar é, portanto, a complementaridade das
dimensões, localização e interação social, no sentido antropológico
e cultural, ou seja, além de realidade empírica, a região ou o lugar
é representação social.
Em relação ao território, complementam Becattini e Rullani
(1993, p. 12):

É um dos contextos nos quais se desenvolve a


divisão do trabalho cognoscitivo, isto é a divi-
são do trabalho na produção e utilização dos
conhecimentos, os quais podem ser classifica-
dos em contextuais (quando se produzem num
contexto local) e são específicos de tais territó-
rios e “codificados” (quando se trata de co-
nhecimentos de caráter global, mais facilmente
transferível).

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A questão regional urbana

As relações entre os níveis global e local não são antagô-


nicas, trata-se de uma divisão de trabalho tipo circular, no sentido
de que o local gera conhecimentos para uso global e fornece, aos
circuitos locais, conhecimentos procedentes de todo o mundo. Por
outro lado, não se desconhece que o avanço da globalização impli-
ca em maiores exigências para todos os sistemas territoriais e que
alguns deles podem não sobreviver no cenário da competitividade
que supõe a globalização, sobretudo se a reação de tais sistemas
locais se limita a uma defensiva denunciatória da modernidade em
lugar de ativamente promover as suas oportunidades de maior es-
pecialização de qualidade e de diversificação produtiva interna.
A divisão territorial do trabalho está em função da espe-
cialização das áreas, do aumento da circulação, distribuição e
consumo. Os espaços cada vez mais se individualizam com a va-
lorização local / regional, produzindo espacialmente novos re-ar-
ranjos econômicos.
Como afirmava Santos (1994, p. 89) ao analisar o es-
paço como sistemas de objetos e sistemas de ações:

Os lugares passam a se diferenciar pelas dife-


rentes capacidades de oferecer rentabilidade aos
investimentos em funções das condições de or-
dem técnica e organizacional, mais quem de-
termina essa nova estruturação do espaço, são
os atores globais, com base na racionalidade
do mercado.

O conceito do “espaço racional”, ligado à técnica e às


demandas dos agentes hegemônicos, é de fundamental impor-
tância para a reprodução ampliada do capitalismo, tornando as
cidades pólos mecanismos de sua regulação pelos capitais
tecnológicos, financeiros e do conhecimento.
Com a globalização, a especialização agrícola baseada
na C & T inclui o campo na lógica da competitividade e, aceleran-
do a entrada da racionalidade em todos os aspectos da vida pro-
dutiva, cria-se um mundo rural, onde tudo deve ser previsto para
assegurar maior produtividade e lucro.

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sob a ótica das desigualdades territoriais

Entretanto, nesse espaço convivem os atores não benefi-


ciados (pequenos produtores, assentados, mão-de-obra
desqualificada, movimento dos sem-terra), caracterizando as
irracionalidades do processo de modernização pela exclusão so-
cial. Diversos estudos desenvolvidos na área da Sociologia sobre
Economia já previam a convivência das diversas formas de
racionalidade, pois esta não é irracional em si mesma, apenas
não segue determinada racionalidade.
A ciência comanda a técnica com o apoio informacional,
a diferença básica é a condição do acesso à informação. As no-
vas tecnologias de controle eletrônico, conjugado com as formas
organizacionais, redefinem os espaços utilizados nos processos
produtivos.
As características marcantes são: a redução do tempo
do capital, com a redução dos estoques; a racionalização das
técnicas de distribuição e os sistemas de comunicação e de infor-
mação que definem a especialidade dos circuitos e redes econô-
micas; a intensificação da mobilidade do capital, afetada as rela-
ções sociais, a influência na vida cultural que fica subordinada à
lógica da circulação do capital; e a ameaça à coesão do espaço
nacional pela simultaneidade de diversas lógicas. As mudanças
nos padrões espaciais ocorrem em função dos efeitos de localiza-
ção produtiva e relocalização de agentes econômicos e das pes-
soas, provocando novas articulações e hierarquização do espaço,
bem como a sua homogeneização e fragmentação.
A dimensão espacial cumpre um papel fundamental na
manutenção do sistema, na medida em que o arranjo das hie-
rarquias espaciais busca responder às crises econômicas sem
afetar as hierarquias de classe. Outro aspecto é de que, haven-
do a política econômica e deixada de privilegiar o mercado inter-
no em face das exportações, o novo processo conduz uma lógi-
ca competitiva que prioriza relações externas, comandadas pe-
las empresas globais responsáveis pela demanda. Anteriormen-
te, a produção e a participaçãode cada territrório, na divisão
internacional de trabalho, era delimitada pelas relações entre os
estados nacionais, onde a instância política obtinha uma certa
ascendência sobre a economia.

29
A questão regional urbana

Figura 01 - Reorganização do Espaço e o Processo de Globalização.


Fonte:Keating (1998), apud Ramirez, 2001, p. 28.

Com a globalização acontece o contrário, pois a lógica


do mercado global confunde-se com a lógica do individual das
empresas multinacionais, demandando um conjunto de medidas
que acabam assumindo um papel de condução da política eco-
nômica e social e se tornam como “condições” para participar do
processo de globalização.
Dessa forma, ocorre a passagem do período da acumu-
lação fordista para a acumulação de capital flexível (neofordismo)
e, finalmente, as mudanças no plano espacial, em que a
mundialização, considerada como um processo de expansão glo-
bal da relação social da produção capitalista, é o fator propulsor
dessa expansão através da internacionalização dos capitais pro-
dutivo, comercial e financeiro. Isso apesar do discurso do merca-
do global fazer parecer que essa dinâmica seja natural e univer-
sal, na prática os atores é que comandam e as empresas que
induzem os estados a adotar comportamentos que respondam a
seus interesses privativistas.

30
sob a ótica das desigualdades territoriais

A modernização, ou modernidade, é entendida pelo pris-


ma da inovação tecnológica, ou seja, a transformação da base
técnica da produção, inserida no atual processo de globalização
e seus impactos na disponibilização diversificada de bens e servi-
ços, informatizados ou não, no acesso à informação, na produti-
vidade e na qualificação dos setores produtivos frente aos merca-
dos consumidores.
O impacto da modernização na organização do espaço
remete-nos novamente às análises realizadas por Santos (1997),
em que se destaca o tipo de um processo modernizante, influenci-
ado por uma estrutura técnica-científica informacional e a lógica
que prevalece é a do comércio e não a da natureza com destaque
para a especialização de cidades nas funções de circulação, dis-
tribuição e consumo da produção local / regional.
Os lugares passam a se diferenciar pela capacidade de
oferecer oportunidades de investimentos em função de condições
de ordem técnica e organizacional, tendo como atores hegemônicos
o capital transnacional. Quem determina a política de moderniza-
ção e o espaço são os atores globais, as empresas multinacionais.
Essas empresas puxam na sua lógica as outras empre-
sas industriais, agrícolas e de serviços e influenciam fortemente a
ação do Estado no comando de toda a dinâmica territorial, crian-
do um espaço corporativo e a privatização do território.
A noção de espaço corporativo deriva do mecanismo que
leva a uma utilização privilegiada dos bens públicos e hierárquicos
dos bens privados. Assim, as empresas passam a desempenhar
um papel central na produção e no funcionamento do território e
da economia. Essa modernização é cada vez menos dependente
das condições naturais e mais dependente do progresso técnico e
das demandas de mercado.
Desse modo, o avanço da ciência comanda o desenvol-
vimento contínuo de novas técnicas, em que o diferencial é a con-
dição do acesso à informação em cima de uma técnica (a
informatização) com o objetivo de atender as demandas das for-
ças hegemônicas, criando as áreas de especialização agrícola que
proporcionam as condições para a expansão capitalista (capital
tecnológico, financeiro e comercial), tornando as cidades, pólos
de sua regulação.

31
A questão regional urbana

Sposito (2001, p. 609), em seu texto que trata das cida-


des médias e os contextos econômicos, destacava:

Que as cidades são compreendidas, como ponte


entre o local e o global, em vista das crescentes
necessidades de intermediação e de relações,
face ao movimento da globalização, ou seja, a
tendência recente de concentração econômica
das empresas multinacionais associadas aos
meios técnicos – informacionais viabiliza uma
dissociação territorial entre o lugar das decisões
(geralmente as metrópoles) e o lugar da produ-
ção industrial, gerando uma deslocalização da
produção para as cidades médias, sobretudo
aquelas que possuem uma posição estratégica.

Por sua vez, Silveira (2001, p. 280) também alertava para


a especialização de porções do território, com destaque para as
cidades médias, no mundo globalizado, onde aparecem para exer-
cer um comando técnico das modernas produções agrícolas.
As cidades intermediárias, que hoje são chamadas de
cidades médias, a que então chamávamos centros regionais, são
os lugares onde há respostas para níveis de demanda de consu-
mo elevado.
Nesse sentido, podemos observar, inicialmente, transfor-
mações nos setores produtivos, por meio da intensificação da
mecanização; da informatização; da comercialização; da agre-
gação de valor através da verticalização dos setores produtivos
(distritos industriais e indústrias); da oferta de bens e serviços nas
áreas da construção civil (condomínios, bairros e loteamentos,
empresas especializadas em concreto usinado, pré-moldados de
concreto, estruturas metálicas); do lazer (cinemas, teatros); da
saúde (especialidades médicas); do turismo (hotelaria, eventos lo-
cais / regionais) e da alimentação (supermercados diversificados
e restaurantes / franquias).
Ainda cabe referenciar a reflexão de Cunca Bocayuva
(2001, p.47), destacando “o espaço mundo do capital, enquanto
processo continuado de formação dos territórios produtivos em
escala internacional, que constitui o campo de observação mais
vasto das ciências espaciais”.

32
sob a ótica das desigualdades territoriais

A divisão internacional de trabalho, articulada na dimensão


mundial e condicionada pelos ciclos de acumulação de capital, mar-
ca o tempo histórico das durações temporais e, crescentemente, cons-
trói as relações espaciais na sua diversidade de recortes, de escalas.
As dimensões verticais de comando, informação e co-
municação se cruzam com as dimensões horizontais, materiais de
produção e consumo.
A geografia, historicamente construída nas estruturas soci-
ais de localização, interpreta o mundo como sistema de relações de-
siguais entre os territórios, conforme as relações de força e comando
que estruturam a mundialização do modo de produção capitalista.
A categoria de economia mundo foi elaborada por Fernand
Braudel (1979) para designar o todo unificado através dos fluxos e
mecanismos de acumulação que constituem o espaço da econo-
mia capitalista em escala internacional. A mundialização expressa
a sua forma de constituição da economia do mundo, dentro dos
ciclos de acumulação internacional historicamente configurados,
que são estabelecidos pelos modos dominantes de agenciamento
sócio produtivo, empresarial, comercial e financeiro.
A globalização é entendida como a forma atual de ace-
leração desse processo de mundialização do capital caracteriza-
da pela desregulação financeira e abertura de mercados de todas
as economias, que faz a homogeneização mercantil-monetária
das relações internacionais pela via dos fluxos transnacionais.
Diversos autores chamam atenção para, paralelamente
ao fenômeno do processo da globalização, inserir-se os impactos
da significativa mudança estrutural que as economias e socieda-
de vem conhecendo nas últimas décadas, em distinta escala e
com diferente intensidade de reestruturação tecnológica
organizacional. Esse fato afeta tanto as formas de produção, or-
ganização e gestão empresarial, quanto à própria natureza do
Estado e sua regulação sócio-institucional, assim como o funcio-
namento eficiente de qualquer tipo de organização, pública ou
privada, tais como:

• a passagem para novas formas de produção mais efi-


cientes, que concretizam a atual revolução tecnológica e
a gestão pós-fordista;

33
A questão regional urbana

• a introdução da microeletrônica que permite a


vinculação das diferentes fases dos processos econômi-
cos, trabalhando na mesma unidade de tempo real;
• as mudanças radicais ocorridas na gestão empresarial;
• a importância da qualidade e diferenciação de pro-
dutos como estratégia de competividade dinâmica;
• a renovação constante e rápida de produtos e proces-
sos produtivos, acelerando significativamente os tempos
de obsolescência técnica e amortização de ativos fixos;
• a identificação precisa da segmentação da demanda
e a existência de diferentes nichos de mercado.

A globalização econômica incorpora, adicionalmente,


maiores exigências pela crescente exposição externa dos sistemas
produtivos, exigindo novos esquemas de regulação, afim de que a
gestão pública possibilite maiores recursos e competências às ad-
ministrações locais, facilitando as necessárias alianças e as arti-
culações dos atores regionais para o desenvolvimento econômico
e a geração de emprego e renda.
O aspecto mais relevante relacionado com a nossa
temática de pesquisa é de que a globalização levou a um
“redescobrimento” da dimensão territorial já que foi capaz de pro-
vocar uma redistribuição geral da atividade no território, na medi-
da em que provoca uma transformação dos territórios
subnacionais em espaços da economia internacional. Assim, ela
determina uma nova divisão territorial e divisão social do trabalho
que pode obedecer a distintas lógicas em função de uma divisão
horizontal ou vertical dos territórios, segundo suas conexões com
outros lugares do mundo (lógica vertical), ou segundo a sua ca-
pacidade de construção de redes e organizações dentro do mes-
mo território (lógica horizontal).
A primeira delas, a vertical, poder-se-ia denominar a da
lógica das empresas multinacionais que podem segmentar seus
processos produtivos e distribuir espacialmente a produção, o que
induz a privilegiar critérios de seletividade territorial e valorizar um
número limitado de lugares com fatores estratégicos para a ex-
pansão e competitividade de suas empresas.
A segunda lógica, a horizontal, está relacionada com a

34
sob a ótica das desigualdades territoriais

idéia de construção social dos territórios e mais concretamente


com a idéia da construção de territórios inovadores e competiti-
vos. Estes constituem a mesoeconomia territorial, uma unidade de
análise essencial para propiciar o desenvolvimento de espaços,
pela articulação dos atores públicos, sociais e privados com o fim
de modificar o aparato produtivo e impulsionar um processo de
crescimento econômico com equidade.
Pode-se afirmar que o desenvolvimento de vantagens
competitivas tem um caráter marcadamente local e que a estrutu-
ra econômica nacional pode se expressar em torno de cadeias/
arranjos produtivos locais/regionais, que propiciam o desenvolvi-
mento das pequenas e médias empresas por meio de formas
associativas e articuladas para conseguir vantagens competitivas.
Esse novo cenário de globalização privilegia, portanto,
outros fatores de localização distintos dos tradicionais custos de
transporte e mão-de-obra, que parecem não ser tão determinantes
para a rentabilidade das empresas.
Assim, qualquer território pode ser atrativo para distintas
atividades econômicas sempre que possuam outros requisitos que
hoje em dia são indispensáveis, como a disponibilidade de capital
humano qualificado, infra-estrutura comunicacional, acesso a
serviços e proteção ao meio ambiente, saneamento, segurança e
outros fatores que melhoram as condições competitivas das uni-
dades econômicas do território.
Por outro lado, essa nova forma de globalização permite a
revalorização dos recursos locais latentes que, graças aos baixos
custos de transporte e de comunicações e a revolução da
microinformática, pode tornar competitivas as atividades regionais
que antes não teriam possibilidades efetivas de serem valorizadas
como, por exemplo, o ecoturismo. Ainda mais ao se constatar que
a característica central da nova economia seria a de funcionar como
uma unidade em tempo real que permite inserir-se na economia
mundial independentemente do território onde se trabalhe.
Segundo Llorens, (2001, p. 31):

A variedade dos entornos territoriais é só aparen-


temente contraditória aos avanços da
globalização, pois o seu desdobramento se ba-

35
A questão regional urbana

seia principalmente no aproveitamento da dife-


renciação territorial, apoiada na aquisição e adap-
tação do conhecimento, filtrados pela sua pró-
pria prática, institucionalidade e cultura local.

Assim, a globalização coloca um desafio para as capaci-


dades e iniciativas no sentido de valorizar a mobilização endógena
local de recursos e habilidades para a promoção de territórios em
um ambiente internacionalizado..
Na figura 2, pode-se observar a relação entre mudança
tecnológica, globalização e ajuste produtivo que retrata o novo
paradigma do desenvolvimento regional, com destaque para a
escala meso no que diz respeito à nova regulamentação (papel do
Estado) demandada pela sociedade.

Figura 02 - Mudança Tecnológica, Globalização e Ajuste Produtivo.


Fonte: LLorens (2001, p. 17)

Storper (1999, p. 30) em seu estudo sobre o desenvolvi-


mento regional no contexto mundial, chamava-nos a atenção para
as tipologias oriundas das possíveis interações das economias de
fluxos e das economias territoriais, quais sejam:
36
sob a ótica das desigualdades territoriais

a) economias altamente territorializadas e internacionali-


zadas, em que suas vantagens competitivas são baseadas em ati-
vos específicos do território, de difícil substituição que, por sua vez,
estão inseridas em cadeias produtivas e redes de caráter global
como os distritos industriais europeus;
b) economias de baixo nível de territorialização e alto ní-
vel de inserção nacional em geral se tratam de produção de gran-
des empresas multinacionais que conformam cadeias de produ-
ção massivas não diferenciadas (Comoditties), orientadas ao co-
mércio internacional e dispersas em diversos territórios;
c) economias altamente territorializadas com escassa in-
serção no comércio internacional, fundamentalmente associadas
a demandas locais especializadas e específicas;
d)economias de baixa territorialização e internacionalização
que são economias restringidas a pequenos mercados locais.

37
A questão regional urbana

Neste capitulo, a intenção é tratar dos principais concei-


tos ligados ao tema do desenvolvimento regional e da reorganiza-
ção espacial, destacando a evolução dos conceitos, suas interações
e sua aplicabilidade à pesquisa realizada.

A – ESP AÇO
AÇO,, REGIÃO
REGIÃO,, REGIONALISMO E
REGIONALIZAÇÃO

O que é o espaço? O espaço comporta muitas defini-


ções, segundo o que se fala e o que se deseja exprimir. Há o espa-
ço como reunião dialética de fluxos e fixos ou o espaço como
conjunto contraditório, formado por uma configuração territorial
e por relações de produção, relações sociais e, finalmente, o que
vai presidir a relação de hoje, o espaço formado por um sistema
de objeto e de ações, interagindo entre si.
O espaço é visto como algo dinâmico e não apenas o
lugar físico, resultante do processo social. Ele reflete formas de
organização social da produção diferenciada, ou seja, as rela-
ções trabalho-capital dele se apropriam de forma diferenciada e
geram padrões de qualidade de vida, também, diferenciados.
A organização do espaço quando espontâneo (sem in-

38
sob a ótica das desigualdades territoriais

tervenção do poder público) se faz obedecendo a leis básicas que


são ditadas pelo sistema sócio-econômico. Embora não tendo uma
racionalidade pré-concebida, o espaço produzido terá sempre uma
certa racionalidade do ponto de vista das práticas econômicas e
da dominação econômica.
Numa organização espontânea, os objetivos são defini-
dos principalmente pela classe dominante. Nessas condições, a
racionalidade buscada não se identifica necessariamente com o
modelo ideal do ponto de vista da justiça social, mas se volta pri-
mordialmente para a reprodução e ampliação das condições de
produção e de hegemonia de grupos políticos.
Daí decorre o problema fundamental a ser resolvido pela
política de desenvolvimento regional, os desequilíbrios espaciais
intra e inter-regionais, uma vez que a distribuição geográfica da
população e das atividades produtivas está diretamente ligada à
divisão social do trabalho.
A concepção é de que a forma espacial é a expressão da
combinação entre uma porção de território e um modo de produ-
ção que sobre ela se realiza. O conceito de organização de espa-
ço refere-se, portanto, às diferentes estruturas espaciais, resultan-
tes das dinâmicas da sociedade sobre um suporte territorial.
Como assinalava Milton Santos (1995), é preciso en-
tender o espaço como um conjunto indissociável de sistema de
objetos e de sistemas de ações. Os objetos não são coisas, dados
naturais, eles são fabricados pelos homens para serem a fábrica
da ação, sendo cada vez mais artificiais e cada vez mais distantes
do sistema natural (lugar e habitantes).
Ressaltando ainda que:

Os objetos contemporâneos não são coleções,


são sistemas dotados de uma mecânica e fun-
cionalidade própria, capazes de invadir qual-
quer outro sistema instalado. O sistema de ob-
jetos condiciona a forma como se dão as ações
e as ações levam a criação de novos objetos
ou se realizam sobre os objetos já existentes.
As ações, por sua vez, aparecem como ações
racionais, movidas por uma racionalidade con-
forme os fins ou meios,obedientes, a razão do

39
A questão regional urbana

instrumento e a razão formalizada. Ação deli-


berada por outros, é uma ação não explicada
a todos e apenas ensinada aos agentes.

E nesse contexto acontece a reorganização espacial e suas


diferenciações, onde se recriam as regiões e as cidades, fugindo da
solidariedade orgânica que era o cerne do fenômeno regional.
Na contemporaneidade atual, os nexos que definem a
reorganização espacial, ao invés de serem de energia, são cada
vez mais de informação, implicando no ressurgimento de dois re-
cortes espaciais, denominados provisoriamente de horizontalidades
e verticalidades.
As horizontalidades (áreas produtivas: regiões agrícolas,
cidades, conjuntos urbano-rurais) são os espaços contínuos for-
mados de pontos que se agregam sem descontinuidade, como na
definição tradicional de região e as verticalidades (sistemas urba-
nos) são os pontos separados um dos outros no espaço, que as-
seguram o funcionamento global da sociedade e da economia.
Nas áreas da agricultura moderna, as cidades são o ponto
de intersecção entre verticalidades e horizontalidades.
Nesse sentido, as cidades regionais podem se tornar um
lócus de um novo planejamento que faça frente às verticalidades
que as sociedades locais não podem comandar, colocando em
contraposição “irracionalidades”, do ponto de vista da
racionalidade imposta.
Nessa dinâmica, ressalta-se que o campo modernizado
é muito mais sujeito a um processo de regulação comandado pe-
las forças hegemônicas de mercado do que as cidades que pos-
suem uma maior inflexibilidade dos objetos e que podem ser reno-
vados à mercê da regulação dos atores hegemônicos.
Isso porque as partes mais antigas do meio ambiente
construído não são funcionais à operação dos capitais novos.
Os arranjos espaciais são originários, portanto, das
horizontalidades, das verticalidades e dos recortes espaciais
superpostos.
A região, nessas condições, mesmo aquela definida tra-
dicionalmente como uma área contínua e homogênea, deixa de
ser definida como antes. A funcionalidade não é mais o que se

40
sob a ótica das desigualdades territoriais

adapta a um fim, mais a uma ordem do sistema, passando de


uma organização natural baseada na troca de energia para uma
estruturação do território baseado na informação.
Esse meio técnico-científico, que inclui saber, faz com que
os outros se tornem apenas os espaços do fazer. Os espaços co-
mandados são os espaços de mandar, os outros são os espaços
do obedecer.
Assim, existem espaços marcados pela ciência e tecnologia,
pela informação, por essa carga de racionalidade e outros não.
Entretanto, essa racionalidade não se dá na sua totalidade, existin-
do, nas áreas transformadas, zonas onde ela é menor ou inexiste.
Os sistemas contemporâneos de objetos técnicos que cons-
tituem um território se definem pela sua ubiqüidade, universalidade
e sua tendência à unificação, tendo uma composição semelhante
em qualquer lugar, exigindo, ainda, uma unidade de comando, fun-
cionando na base de informações que provém dos centros de co-
mando e originando as regiões do fazer e as regiões de mandar.
O entendimento dessa situação é, sem dúvida, fundamen-
tal, para se poder reinterpretar e reconhecer o espaço em suas divi-
sões e recortes atuais devendo se rever as qualificações dos objetos e
das ações. As ações não são exclusivamente conforme os fins, mas
são conforme os meios, isto é, conforme os objetos não informados
de modo endógeno, mas informados de fora. São ações pragmáti-
cas, em que a inteligência pragmática substitui a meditação.
Concluindo o raciocínio, o espaço deve ser visto como
algo dinâmico e não apenas como lugar físico, resultante do pro-
cesso social. Ele deve refletir formas de organização social da pro-
dução de forma diferenciada, ou seja, as relações trabalho-capi-
tal deles se apropriam de forma diferenciada e geram padrões de
qualidade de vida também diferenciados, exigindo-se, em conse-
qüência, uma atuação também diferenciada.
Assim, o conceito de espaço na pós-modernidade res-
surge em novas bases, mais complexo e mais híbrido. Grupos e
classes dos territórios e regiões reivindicam seus interesses, inseri-
dos num universo de redes (territórios) de diversas naturezas, mes-
mo sabendo das dificuldades em priorizar uma única escala, daí a
importância dos conceitos híbridos como os de território-rede e
rede regional, para se entender a diversidade espacial.

41
A questão regional urbana

A questão regional também leva a uma interpretação e


análise dos conceitos de região, regionalização e regionalismo,
seus vínculos e diferenciações que, muitas vezes, excedem a di-
mensão do problema estritamente econômico.
A abrangência que é dada ao termo região, em virtude
da diversidade de concepções e da complexidade que envolvem a
interpretação do espaço geográfico como formação do espaço
social, torna-o associável a espaços de dimensões variáveis que
vão desde extensões territoriais pequenas até a supra nacional.
As regiões são subdivisões do espaço: do espaço total,
do espaço nacional e mesmo do espaço local. Um espaço de con-
veniência, meros lugares funcionais do todo.
A região foi, no passado, um sinônimo de territorialidade
absoluta de um grupo por meio das suas características de exclu-
sividade, de identidade e de limites. Hoje, o número de mediações
é muito grande, levando até a crer que dessa forma tradicional
não existe mais.
Para o entendimento atual do conceito de região, deve-se
ater às características que assume a divisão do trabalho nos tem-
pos atuais, em que existem várias superposições de diferentes níveis
de divisão do trabalho (internacional, nacional e local) redefinindo a
reorganização espacial de forma deliberada e planejada.
A abordagem do conceito de região enfrenta problemas
epistemológicos e metodológicos semelhantes aos confrontados
pelas noções de espaço e território, pois são conceitos elaborados
envolvendo várias disciplinas, sendo difícil encontrar ou estabele-
cer a predominância de alguma. Como assinala Brunet, Ferraz Y
Terry (1992, p. 421), trata-se de uma palavra das mais impreci-
sas, devido as suas características polissêmicas, de polivalência e
de multi- escalaridade.
Visando reforçar a discussão conceitual, é importante
rever algumas definições sobre região.
Primeiramente, como assinalam vários autores, o conceito
de região possui uma escala de definição variável que se move desde
a escala multinacional, binacional, incorporando a sub-nacional e
estadual. A análise que ora se procede, está centrada na escala regi-
onal (sub-estadual), no contexto do estado de Mato Grosso.
Na aceitação mais geral, a região é caracterizada como

42
sob a ótica das desigualdades territoriais

uma construção social localizada dentro de fronteiras territoriais,


remetendo à associação com questões econômicas.
Assim, região se refere a um conceito que abrange uma
variedade de escalas espaciais, com variados conteúdos políticos,
econômicos e sociais.
Conforme Ramirez (2001, p. 11), em sua definição mí-
nima e mais difundida, a região é entendida como um nível territorial
intermediário entre o estado e os municípios, apesar de que, no
processo de criação de blocos econômicos entre países, existem
regiões que superam em tamanho os estados nacionais.
A região, também, é identificada em função de critérios
geográficos, como espaços físicos mais ou menos homogêneos
em termos topográficos, climáticos etc., sendo definida por um
ponto central comum existente dentro de um território, como pode
ser uma cidade ou um acidente geográfico.
As regiões também podem ser definidas em funções de
variáveis culturais, tais como: tradições compartidas, padrões de
socialização, linguagem / dialeto ou de acordo com uma identi-
dade compartilhada por cidadãos e atores políticos do território.
Algumas regiões são definidas em função de divisões
institucionais, constituídas historicamente ou de criação mais re-
cente estabelecida como resultado da ação pública, privada ou
intermediária.
A região também pode ser pensada em função de fato-
res econômicos (KEATING,1998, p. 8), em que a definição tem,
como base, padrões comuns de produção, interdependência real
ou potenciais, problemas e projetos comuns, mercado de traba-
lho e outros.
A concepção é de que a forma espacial é expressão da
combinação entre uma porção de território e um modo de produ-
ção que sobre ele se concretiza em um dado momento histórico,
portanto o ato de definir regiões é, por natureza, político, embora
apoiado por critérios de natureza técnica. Essa decisão implica numa
pré-definição de objetivos, isto é, ligada a uma política estabelecida.
O tipo de região adequada aos propósitos de quem
regionaliza está sempre associada aos objetivos. Por exemplo, nos
estudos de regionalização do IBGE, as mesoregiões das unidades
da federação foram definidas pelas seguintes dimensões: o pro-

43
A questão regional urbana

cesso social como determinante, o quadro social como


condicionante e a rede de comunicação e de lugares como ele-
mentos da articulação espacial, assegurando-lhes uma identida-
de regional. Posteriormente, elas sofreram uma sub-regionalização
(microrregiões) face às especificidades, quanto à organização do
espaço, possibilitando visualizar melhor a diferenciação territorial
(estruturas de produção diferenciadas).
Apesar da diversidade de conceitos de região, da qual
decorre a multiplicidade de critérios de regionalização, bem dife-
renciados em sua natureza e que resultam na delimitação de dife-
rentes áreas territoriais, compreende-se que existe um conceito
restrito de região que implica na concepção de região organiza-
da, isto é, de espaço estruturado, caracterizado não pela
homogeneidade de estado de uma ou algumas variáveis ou pela
morfologia, mas definida por relações entre cidades dentro de um
sistema de organização hierárquica e de distribuição espacial de
funções que permitam identificar uma unidade espacial com evi-
dência de coesão interna. É a região funcional.
De qualquer forma, independente de maior ou menor
conteúdo político, o importante para a prática do desenvolvimen-
to regional é conhecer a estrutura e a dinâmica regional, que é o
ponto de partida para a tomada de decisões quanto as interven-
ções (ação regionalizada) ou para o processo de regionalização e
do processo de planejamento regional.
Na evolução do conceito de região no contexto de disci-
plinas da economia e da geografia ao longo do século XX, cabe
destacar, nos princípios dos anos oitenta, o tratamento dado à
região, entendida como um processo motriz da vida social, e não
apenas como resultante de um processo econômico político, res-
surgindo como centro do pós-fordismo, da flexibilidade da produ-
ção e dos sistemas baseados na aprendizagem.
Uma das concepções mais importantes sobre região é aquela
baseada na teoria dos sistemas, como insiste Keating, (1998, p. 10):

As regiões devem ser entendidas como siste-


mas abertos em constante processo de defini-
ção, onde as estratégias, os interesses, a iden-
tidade regional não devem ser expressão de
fatores causais e deterministas, nem a expres-

44
sob a ótica das desigualdades territoriais

são de desejos, interesses e estratégias específi-


cas, mais sim surgir e ser propriedade dos ato-
res da mesma, onde a manifestação do inte-
resse regional deve ser entendida como um
processo político complexo.

A região é uma realidade complexa e dinâmica. É dinâ-


mica tanto no sentido de ser teatro de contínuas interações entre
seus componentes, ao mesmo tempo em que interage com outras
regiões, como sentido de que é passível de mudança ao correr do
tempo, quer em suas características, quer em seus limites. Sua
complexidade decorre da multiplicidade de aspectos que constitu-
em a realidade total e que se manifestam através de fenômenos
de natureza e amplitude diversas que se inter-relacionam.
Como se vê, o conceito de região pode ser expresso de
diversas formas através das dimensões política, econômica, soci-
al, cultural, sem que necessariamente haja uma articulação entre
essas diferentes manifestações.
Trata-se, pois, de um conceito dinâmico, cujos conteú-
dos são instáveis e mutáveis, variando de acordo com os resulta-
dos do processo político e as tendências dominantes no terreno
econômico.
Outro conceito a esclarecer é o de “Regionalismo” refe-
rente à organização política da demanda regional e a mobilização
do interesse regional.
Existe um consenso em torno da idéia de que, na medida
em que as dimensões, tais como identidade cultural, coesão polí-
tica, econômica etc. coincidem dentro de um mesmo espaço
territorial dando lugar a um grau de demanda e mobilização do
interesse regional impulsionada a partir da região, tem-se o que
se denomina de “Regionalismo”.
Se se considerar que as regiões constituem arenas para
a negociação de sistemas funcionais de ação em suas dimensões
políticas, econômicas e sociais, o regionalismo pode prover as
bases para propósitos convergentes.
Uma região onde o regionalismo se faz presente geral-
mente possui um ambiente favorável para a uma cooperação
desenvolvimentista, ou seja, uma aliança de base territorial con-
formada por atores políticos e sociais pertencentes a distintos se-

45
A questão regional urbana

tores sociais, cujo objetivo é o de impulsionar o desenvolvimento


econômico em um determinado território.
Pode-se referir ao regionalismo como um movimento
político- administrativo que visa à criação de uma estrutura gover-
namental para coordenar e implementar um conjunto de funções
públicas, intermediário entre os órgãos centrais e os governos lo-
cais. O importante a destacar é de que a região e o regionalismo
podem dar sustento à constituição de atores da base regional,
com algum nível de representação regional frente ao nível superi-
or da hierarquia funcional (nacional ou estadual), formulando pro-
jeto próprio de interesse regional.
Assim, o regionalismo pode ser encarado como ativida-
des de um moderno processo de planejamento governamental,
como forma de democratizar e integrar as atividades do governo
e de assegurar maior eficácia aos objetivos regionalizados das
políticas públicas.
Dentre as causas apontadas pela manifestação histórica
do regionalismo, destacam-se:

• As transferências inter-regionais de excedentes pro-


dutivos, devidos a acumulação de capital de regiões que
concentram atividades de comercialização de bens e ser-
viços sobre as regiões produtoras;
• A deterioração nos termos de intercâmbio regional en-
tre as regiões produtoras de alimentos e materiais não
beneficiados e as regiões fornecedoras, de bens manu-
faturados de consumo e de produção;
• A relação de dependência entre regiões caracteriza-
da pela manipulação do poder de áreas centrais sobre
as áreas regionais na condução de seu processo de de-
senvolvimento.

Outro conceito a ser trabalhado é o da “Regionalização”


estritamente vinculado aos conceitos de “região” e “regionalismo”.
Assim como o termo região está ligado a diversas con-
cepções dado o seu uso generalizado, também a expressão
regionalização está associada a diversos critérios e empregada
com diferentes conotações.

46
sob a ótica das desigualdades territoriais

Em se tratando de regionalizar, duas perguntas devem


ser claramente respondidas: por que e para que regionalizar?
As motivações e as causas se enquadram geralmente
numa situação não satisfatória (ritmo e desequilíbrio do desenvol-
vimento) e de racionalidade intra e inter-regional na utilização dos
recursos e da eficiência dos serviços.
Nesse aspecto, poder-se-ia inserir a questão da dimensão
espacial do processo de desenvolvimento entendido como a distri-
buição mais eqüitativa e a redução dos desequilíbrios regionais.
A forma e a estrutura espacial de um território, como se
vê, é um produto global de diversos processos (econômico, políti-
co, cultural, político, ideológico) agindo sob a base física e, por-
tanto, deve ser entendido como uma síntese. Conseqüentemente,
a visão espacial não pode ser dominada por visão parcial e nem
alcançada pelos programas setoriais.
A avaliação sistemática da estrutura e da dinâmica regi-
onal (os processos considerados em sua dimensão temporal e em
sua dimensão espacial) é requisito para a planificação regional.
O reconhecimento da importância da estrutura espacial
de um território e sua funcionalidade decorre da necessidade de
um ajuste para as características dos diferentes espaços, levando-
se em consideração as potencialidades naturais, as necessidades
econômicas e de infra-estrutura, os padrões tecnológicos dos se-
tores produtivos locais e os aspectos sócio-econômicos culturais
dos grupos e comunidade que neles vivem e suas aspirações.
A interdependência de relações, as demandas diferenci-
adas, os desequilíbrios que se acentuavam entre os espaços e re-
giões e se expressavam geograficamente alertavam para a neces-
sidade de um enfoque multidisciplinar e de análise a nível regio-
nal. Ao evoluírem individualmente, as disciplinas ligadas à organi-
zação do espaço criaram condições para o surgimento da ciência
regional, abrindo-se perspectiva de consenso sobre a natureza do
espaço, sobre o seu processo de estruturação e da importância
de sua ordenação voluntária.
Apesar da diversidade de conceitos de região, do qual
decorre a multiplicidade de critérios de regionalização que resul-
tam na delimitação de diferentes áreas territoriais, compreende-se
que existe um conceito restrito de região, apoiado em elenco de

47
A questão regional urbana

estudos teóricos que implica na concepção de região organizada,


isto é, de espaço estruturado. Esse espaço é caracterizado não
pela homogeneidade do Estado, de uma ou mais variáveis, ou
pela morfologia, mas definido por relações entre cidades dentro
de um sistema de organização hierárquica e de distribuição espa-
cial de funções que permitem identificar uma unidade espacial
com evidência de coesão interna: a região funcional.
Ao tratar da estruturação do espaço, fala-se na distribui-
ção das cidades porque é apoiado na rede urbana que o espaço
se organiza. Não se desconhece, entretanto, a população e as
atividades na área rural, mas se considera que o rural participa da
interação no seio da região e se comunica com o seu exterior
através das cidades que são o seu centro de comunicação.
Num sentido lato, reafirmando os conceitos abordados,
a região é uma porção do espaço geográfico, cujo agrupamento
obedece a um determinado critério e, portanto delimitável, carac-
terizando e constituindo um contínuo territorial.
As formulações teóricas iniciais, como se constata, deti-
veram-se mais no processo de produção do espaço das regiões,
nas formas que assumiram, para depois discutir em o que gerava
essas formas, isto é, a própria natureza do espaço socialmente
transformado.
A conceituação de região como formação sócio espaci-
al-econômica- cultural, entendida como organização peculiar do
espaço correspondente a uma determinada formação social é re-
cente, deveu-se, principalmente, à preocupação com as formas
espaciais, mais especificamente com os desequilíbrios regionais.
Do ponto de vista da natureza do espaço qualificado pelo ho-
mem, é a forma espacial resultante da transformação e adapta-
ção da base natural. É um produto global das estruturas e práti-
cas sociais (econômicas, políticas e culturais), correspondendo a
uma forma de organização de um espaço delimitado em cada
momento histórico para um dado momento de interação homem-
tecnologia-natureza, refletindo uma determinada forma de rela-
ções de classe, uma determinada forma de apropriação e utiliza-
ção dos recursos naturais, caracterizando uma região.
Numa visão mais atual, Bandeira (2000, p. 27) identifi-
cava a região como:

48
sob a ótica das desigualdades territoriais

O território organizado, que contém em termos


reais ou potenciais os fatores de seu próprio
desenvolvimento, com total independência da
escala, podendo assim existir regiões grandes
ou pequenas, com continuidade espacial ou
com descontinuidade na virtualidade do mun-
do atual, mas com um atributo que define a
própria complexidade do sistema aberto.

Essa definição de região tem uma característica mais di-


reta quanto à relação do espaço social, do que com sua relação
comercial-industrial, no contexto da economia internacional.
Complementando, Boisier (2001, p. 43) estende sua
definição para ligá-la ao presente.

Uma região é hoje uma estrutura complexa e


interativa e de múltiplos limites, na qual o con-
teúdo define os atores (limites, tamanho e ou-
tros atributos geográficos). Uma região é hoje
única e múltipla simultaneamente, posto que
superada a noção de continuidade. Qualquer
região conforma alianças táticas para alcan-
çar objetivos determinados a fim de posicionar-
se no contexto internacional.

Surgindo, daí, o conceito de região virtual entendida como


resultante de um acordo contratual (formal ou não), entre duas
ou mais regiões contínuas ou não, para alcançar certos objetivos,
de curto e médio prazo. Alcançados seus objetivos, a associação
se dissolve sem perda da sua identidade corporativa.
Contribuindo para a discussão, Jordi Borja (1987, p. 14)
agrega, “não se trata de idealizar o território, mas sim de consta-
tar que existem unidades naturais construídas pela história e geo-
grafia, que tem uma entidade sócio-cultural, um patrimônio e um
grau de identidade da população”.
Em resumo, na evolução da definição de região prevale-
ce a idéia de conjunto, que reúne certas condições sócio-culturais
e econômicas, localizado sobre um território, que se estrutura como
sistema, reforçando os seguintes elementos:

49
A questão regional urbana

1. espaço geográfico;
2. uma comunidade humana;
3. uma história regional;
4. uma identidade cultural formada ou em formação;
5. um conjunto de atividades econômicas e,
6. finalmente, a idéia de sistema estruturante dos fatores
mencionados que proporcionam sua coesão e interação.

Finalizando essa discussão conceitual, vale lembrar tam-


bém a definição de local, entendido como qualquer recorte territorial
delimitado a partir de uma característica eletiva definidora da iden-
tidade. Pode ser uma condição física- territorial, (localidades de
uma mesma microbacia), uma característica econômica (locali-
dades integradas por uma cadeia produtiva), uma característica
étnica-cultural (localidades indígenas, de remanescentes quilombos
etc.), uma característica político-territorial (municípios de uma
micro-região) etc.
Enfim, o recorte do local depende do olhar do sujeito e
dos critérios eletivos da agregação, muitas vezes se confundindo
com o conceito de região e de território. É qualquer porção territorial
que se distingue das outras a partir dos elementos de identidade
(física, sócio-econômica ou cultural). Por exemplo, na ótica dos
gestores municipais, o local pode ser o município, uma parte de
seu território, ou um conjunto de municípios (região).
Os sistemas econômicos locais por vezes podem incluir
vários municípios caracterizados por uma atividade predominante
que define um espaço de atuação articulada em comum. Dessa
maneira, a região constitui uma unidade facilitadora de outros com-
ponentes estratégicos fundamentais (informação, planejamento,
coordenação etc.) para o desenvolvimento territorial. Propõe-se,
portanto, a utilização do termo local para nos referirmos também a
um âmbito sub regional ou microrregional, pois os termos local ou
regional estão incluídos na expressão mais genérica do territorial.
Para fins do processo de desenvolvimento regional, é
importante que se entenda o planejamento regional como o pla-
nejamento sócio-econômico e físico-territorial de uma região. A
idéia básica é a de que o modelo de organização espacial é enten-
dido como modelo síntese que formaliza a adequação da base
física natural a uma ordem social e a uma organização produtiva.

50
sob a ótica das desigualdades territoriais

Essa concepção implica em formular uma política de de-


senvolvimento da região a partir de uma visão global de sua estrutura
e de sua dinâmica, bem como sua posição no sistema estadual.
Está implícita, nessa idéia, a definição de estratégia que,
embora compatibilizada com os objetivos gerais do desenvolvi-
mento do Estado, esteja alicerçada nas peculiaridades do proces-
so regional de desenvolvimento.
O importante é entendermos, também, a flexibilidade que
deve acompanhar nossa atual percepção do conceito de região face
aos novos arranjos e configurações territoriais provocados pelos pro-
cessos de globalização, descentralização e ajuste produtivo, pois se
pode usar a categoria regional para tratar questões estaduais,
municípais ou parcialidade de qualquer desses níveis, como regiões
urbanas, rurais, agrícolas ou industriais (Carleial, 1993, p.14).
Enfim, acima da discussão conceitual sobre região, o que
interessa é a convergência para o entendimento e a práxis do pro-
cesso de desenvolvimento regional.
Para a planificação espacial, o conceito de região funci-
onal 1 é bastante adequado, pois permite apreender, em síntese, a
organização e o comportamento de uma realidade e suas
interações, ou seja, as relações intersetoriais, interinstitucionais e,
ainda, os seus sistemas sócio-econômicos.

B – ECONOMIA DE BASE TERRIT ORIAL E DE REDE

Os conceitos de território e rede, nos tempos atuais, face


aos processos dominantes da globalização e seus impactos espa-
ciais, estão fortemente relacionados com a dinâmica do espaço
regional.
O processo globalizador tem implicitado uma complexi-
dade maior, como destacam diversos autores, pois a

1
Região Funcional é a porção do território composto por entidades locacionais
tendo, por base de agrupamento, o critério de maior interação intragrupo que
entre grupos, independente do papel de cada um no padrão da inter-ação, ou
seja, o relacionamento intra-regional prevalece ao inter-regional,independemente
de se tratar de um centro polarizador.

51
A questão regional urbana

desterritorialização que ocorre em escala geográfica geralmente


implica numa territorialização em outra escala, tornando a
dissociação entre territórios e redes inquestionável.
O conceito de território compreende a heterogeneidade
e a complexidade do mundo real, suas características ambientais
específicas, os atores sociais e suas mobilizações em torno das
diversas estratégias e projetos, a existência e o acesso aos recur-
sos estratégicos para o desenvolvimento produtivo e empresarial.
Assim que é visto muito mais sobre a concepção política
e cultural do que propriamente econômica, relacionadas à idéia
de controle, de domínio e de apropriação de uma área.
Segundo Sack (1986, p. 119-33), o território surge a
partir da tentativa de um grupo ou indivíduo de influenciar ou con-
trolar pessoas, fenômenos, relacionamentos, pela delimitação e
afirmação do controle sob uma área geográfica. O mesmo autor
destacava, ainda, que uma região funcional só se transforma em
território na medida em que se torna base para uma ação política
ou política- econômica como, por exemplo, quando a seleção
dessas áreas serve de base para um programa bem definido de
investimentos públicos. Nesse sentido, o território é resultante de
identidades territoriais, grupos sociais e espaços vividos.
A dominação, como destaca vários autores, tende a origi-
nar territórios puramente utilitários e funcionais, sem que um verda-
deiro sentido seja socialmente compartilhado ou que se crie, entre
eles, uma relação de identidade, criando múltiplas territorialidades.
A partir da perspectiva do desenvolvimento local e regio-
nal não existe uma homogeneidade do espaço, mas sim uma di-
versidade de situações e movimentos protagonizados pelos atores
territoriais socialmente organizados.
O conceito de território, hoje, não se resume ao de Esta-
do, é um produto da prática social, envolvendo a apropriação, os
limites e a intenção do poder sobre uma porção precisa do espaço
e, ao mesmo tempo, um meio usado pelos atores para sua prática.
Assim, território corresponde às áreas delimitadas por
um conjunto de relações sociais localizadas e o poder implícito
nessas relações.
Tendo vista, a literatura tratar em determinados momentos
como se fossem sinônimos, os conceitos de Região e Território, é de

52
sob a ótica das desigualdades territoriais

suma importância distinguir a região ou fato regional, do conceito de


território, bem como entender as suas similaridades e superposições.
Haesbaert (2002, p. 42) apresenta uma boa síntese des-
ses conceitos, discutindo, dentre outros, os seguintes pressupos-
tos: a validade temporal dos conceitos, a distinção da utilização
dos conceitos nos campos teóricos e metodológicos, a relação
entre o abstrato e o real na definição dos conceitos. Destaca, ain-
da, que todo conceito geográfico deve possuir uma definição cla-
ra de sua delimitação espacial.
No seu entendimento, a região pode ser classificada como
recorte espacial independente da escala, dotada de certa coesão
e coerência. Uma meso-escala entre os níveis local e estadual, ou
ainda pode ser alguma parcela dentre esse meso-espaço em que
se manifesta determinados processos sociais, como é o caso dos
regionalismos e das identidades regionais.
Para o referido autor, território é um conceito mais amplo
do que região, pois envolve também as múltiplas formas de apro-
priação do espaço, nas diversas escalas espaço-temporal (a lógi-
ca reticular dos fluxos).
Destaca ainda, que a região deve ser vista como produto de
um processo social determinado que, expresso de modo complexo
no espaço, define-se também pela escala geográfica em que ocorre,
podendo ser também um tipo de território (a lógica zonal de lugares).
Dessa maneira, a região pode ser uma concepção mais
útil, quando associada a processos específicos de
re(territorialização), especialmente à formação de regionalismos e
a identidades regionais. Esses processos encontram-se intimamente
vinculados á desterritorialização promovida por redes técnico-
informacionais-econômicas as quais acrescenta uma dimensão
identitária, não instrumental.
Reforçando, conclui que se antes o Estado-Nação era a
escala de referência básica frente a qual a região se definia, sua
perda de poder e a emergência de organizações supranacionais
não oportuniza que a região desapareça, mas sim que as rela-
ções que a definem mudem de escala, surgindo regiões redes, ou
melhor, redes regionais, onde muitos grupos levam consigo a iden-
tidade regional e até mesmo, traços do regionalismo de sua re-
gião de origem.

53
A questão regional urbana

Os territórios, segundo Ohmae (1995, p. 19), podem


ser adjetivados como natural, equipado e organizado. O primeiro
se refere a um território sem intervenção humana; o segundo exa-
tamente ao equipamento físico derivado da ação do homem; e o
terceiro se relaciona a um território em que vive uma comunidade
dotada de certos princípios organizacionais. O relevante é que os
territórios organizados exercem um papel completamente novo
ao entrarem de vez na busca da competência e da competitividade,
não dependendo em nada da sua escala de tamanho.
Como vemos, o território é assim considerado um recur-
so específico e ator principal do desenvolvimento econômico, ca-
paz de gerar um“ambiente com capacidade para gerar e manter
vantagens competitivas, e não unicamente um mero espaço ou
marco de atividades econômicos ou sociais.
Esse ambiente inovador é resultante da densidade e qua-
lidade das relações entre os diferentes atores sociais que dão
potencialidade a tal território como circuito de interações, orienta-
do para o fomento empresarial e a inovação produtiva, sendo,
portanto, elementos cruciais da competitividade.
Segundo Machado(2004), os conceitos de economia de
base territorial e economia de rede, ainda em fase de desenvolvi-
mento, apontam para diferenças nas estruturas espaciais delas
derivadas.
A economia de base territorial se fundamenta em ativi-
dades de produção-agricultura, extrativismo, indústria, serviços,
comércio etc. que dependem de contigüidade territorial, constitu-
indo um complexo de interações dependentes da proximidade no
terreno (cidade, campo e vias de circulação) e apresentando uma
materialidade-extensão territorial importante, o que gera
externalidades positivas para cada lugar.
Já a economia de rede gera uma estrutura espacial ca-
racterizada pela interação entre lugares, sem que haja o imperati-
vo de proximidade/contigüidade; a base material da economia de
rede são, primordialmente, núcleos urbanos fracamente articula-
dos com seu hinterland imediato, porém dependentes da articula-
ção com outros núcleos e com regiões distantes.
Embora, no primeiro caso a estrutura espacial seja em
geral híbrida, comportando também conexões em rede entre nú-

54
sob a ótica das desigualdades territoriais

cleos e, no segundo caso a economia de rede possa coexistir com


uma economia de base territorial mais ou menos associada, em
nenhum dos dois casos são essas as características que impreg-
nam todas as relações econômicas e espaciais.
Assim, tem-se que território é o produto de uma relação
desigual de forças, envolvendo o domínio ou controle político-eco-
nômico do espaço e sua apropriação simbólica, ora conjugados e
mutuamente reforçados, ora desconectado e contraditoriamente
articulados.
Os estudos recentes de pesquisadores do Grupo RETIS
(UFRJ) entendem o conceito não apenas como a dominação deri-
vada do estado jurídico / administrativo, mas também caracteriza-
do pela situação de apropriação e da existência de ações de exclu-
são que geram processos associados de poder (territorialidades) e
que possuem uma relação de interdependência com as redes
(transnacionais, técnicas, sociais e informacionais), cuja natureza
pode ser de complementaridade, superposição ou hierarquia.
No contexto do desenvolvimento regional, o conceito de
território é de fundamental importância se for considerada a
heterogeneidade que caracteriza as regiões, abrangendo diversas
territorialidades demandando, assim, estratégias diferenciadas
segundo a sua especificidade.
Outro entendimento importante para o momento atual diz
respeito às redes que contribuem para que se compreendam essas
articulações entre as diferentes territorialidades, bem como suas
estruturações internas e externas, atuando ora como elementos
fortalecedores do território, ora em escala global e de lógica reticular.
Segundo Mance (1999, p. 10):

As Redes tratam-se de uma articulação entre


diversas unidades que, através de certas liga-
ções trocam elementos entre si fortalecendo-se
reciprocamente, e que podem se multiplicar em
novas unidades manter-se em equilíbrio está-
vel. Cada nódulo da rede representa uma uni-
dade e cada fio, um canal por onde essas uni-
dades se articulam através de diversos fluxos.

Para Castells (2000, p. 25) :

55
A questão regional urbana

As redes são instrumentos apropriados, para:


a economia capitalista baseada na inovação,
globalização e concentração descentralizada;
o trabalho voltado para a flexibilidade e a adap-
tabilidade, uma cultura de desconstrução e re-
construção contínuas; a política destinada ao
processamento de novos valores e para uma
organização social que vise à suplantação do
espaço e a invalidação do tempo.

Como destaca Haesbaert (2000, p. 125), as redes apre-


sentam-se em duas dimensões: desterrorializantes e
(re)territorializantes. Cabe, portanto, distinguir as funcionais ou
instrumentais voltadas para a eficácia do sistema capitalista e as
mais simbólicas ou de solidariedade, voltadas para as
territorialidades mais alternativas ao sistema dominante e que for-
talecem processos de construção social de natureza endógena.
O binômio desconcentração de poder / rede tem impli-
cações diretas no debate sobre desenvolvimento territorial, uma
vez que ele só será sustentável em longo prazo se houver
horizontalidade no processo e o emponderamento dos atores res-
ponsáveis para conduzi-lo.
Por outro lado, caso se queira promover a coordenação
de ações de diferentes atores sociais e potencializar sua capacida-
de de intervenção, será preciso então, fazer deles uma rede.
A estruturação de uma rede de conhecimento, no con-
texto do desenvolvimento regional, facilitará os elos entre as dife-
rentes territorialidades de uma mesma região (intra-regional) e inter-
regional com a criação de uma inteligência coletiva, sem perda da
pluralidade sobre os problemas do desenvolvimento.
Assim, o desenvolvimento territorial apóia-se, antes de
tudo, na formação de uma rede de atores, trabalhando para a
valorização dos atributos de uma região, viabilizando a existência
de uma dinâmica de cooperação entre eles.
Em síntese, as redes são uma forma de organização que
implicam um conteúdo de natureza emancipatória. São a tradu-
ção na forma de desenho organizacional de uma política de eman-
cipação (empowerment), tornando o padrão organizacional mais
compatível com as necessidades de processos de desenvolvimen-

56
sob a ótica das desigualdades territoriais

to autônomos e includentes, em que se constituem, hoje, os pro-


cessos de desenvolvimento regional.
A formação de uma rede de solidariedade ativa entre as
regiões /territórios do Estado que promova um efetivo intercâmbio
de experiências, conquistas e conhecimentos é componente fun-
damental da estratégia de desenvolvimento regional. As redes
interativas de comunicação estruturam uma nova geografia de
conexões e sistemas. Delas resulta o mundo “virtual” e o que hoje
chamamos de cibercultura. Por elas correm os fluxos, sendo que a
rede de fluxos financeiros é uma das bases do capitalismo global
e, interagindo com as outras redes de fluxos, faz das cidades pós-
modernas extensas teias de telecomunicações avançadas, ou seja,
além de centros da vida política, econômica e sociocultural, tor-
naram-se verdadeiros sistemas eletrônicos.
A política pós-moderna tem suas estratégias organizadas
em rede. De um lado, positivamente desterritorializados, temos a
ação em rede dos novos movimentos sociais, políticos e culturais,
os quais cada vez mais estão se constituindo como poder de oposi-
ção ao instituído e possibilitam que as vozes, anteriormente cala-
das, sejam ouvidas e suas concepções compreendidas.
A percepção do “lócus” de resistência e de espaços de “in-
flexibilidade” para a produção de irracionalidades face aos processos
de domínios das redes globais verticalizadas foi apontada por Milton
Santos (1997, p. 116) com um fator de planejamento estratégico
alternativo, em que o pacto dos lugares aparece como uma forma
política de resistência contra as formas atuais de globalização.
Finalizando esta discussão, vale destacar que o papel da
cidade é revelador da diferença entre esses dois tipos de estrutura
espacial.
As cidades associadas a uma economia de base territorial
são mais sensíveis ao entorno por dependerem mais das ativida-
des de produção no território, onde se situam.
Por outro lado, no caso das cidades associadas a uma
economia de rede, a dependência em relação à economia urbana
é quase total seja do próprio espaço produtivo e reprodutivo urba-
no, seja da interação com outras cidades, enquanto fraca a arti-
culação com o entorno.
O enfoque macroeconômico predominante na visão

57
A questão regional urbana

convencional, não considera os atores socio-econômicos reais,


simplificando ou reduzindo o papel dos territórios.
Para a perspectiva do desenvolvimento regional é impor-
tante articularmos os conceitos de região como contexto geográ-
fico que nos traz a idéia de forte articulação e coesão interna, com
o conceito de território como ator do desenvolvimento e que nos
permite visualizar a heterogeneidade intra–regional dos sistemas
locais produtivos protagonizados pelos atores territoriais social-
mente organizados.
Esta noção de território traz uma nova dimensão à pró-
pria idéia de planejamento, não se trata mais de decidir para onde
vão recursos já existentes, e sim de criar recursos por meio de
organizações que sejam significativas para os atores locais.
Em síntese, em face do conceito de espaço como contex-
to geográfico dado, interessa-nos ressaltar o conceito de região/
território, como atores do desenvolvimento e do potencial das re-
des como instrumento de articulação interna e externa.

58
sob a ótica das desigualdades territoriais

A – CRESCIMENTO ECONÔMICO E DESENV


CRESCIMENTO OL
DESENVOL VIMENT
OLVIMENTO
VIMENTO

Inicialmente, para delimitar a concepção de um proces-


so de desenvolvimento regional é preciso, desde o início, distingui-
lo do mero processo de crescimento econômico, pois, muitas ve-
zes, os territórios, nas diversas escalas, crescem sem reduzir sufici-
entemente suas desigualdades sociais e econômicas.
A localização e a implantação de novas atividades eco-
nômicas numa região podem elevar seus níveis de produção, de
renda e de emprego a um ritmo mais intenso que o crescimento
de sua população, sem que, entretanto, ocorra um processo de
desenvolvimento econômico e social.
Com respeito às desigualdades regionais, o modelo eco-
nômico neoclássico disseminava a idéia de que a desigualdade
era passageira. O estudo de Wiilliamson (1965) concluía que as
desigualdades são pequenas a um baixo nível do produto interno
bruto (PIB) /per capita e que estas aumentam aceleradamente
durante o processo de industrialização, mas que uma vez alcan-
çado certo nível de PIB/per capita elas tendem a desaparecer, ge-
rando a conhecida “U invertida”.
Nos últimos anos, tem-se observado uma evolução posi-
tiva no conceito de desenvolvimento, afastando-se cada vez mais

59
A questão regional urbana

de ser sinônimo de crescimento e se situando num contexto muito


mais amplo, baseado nos princípios do construtivismo, em que
predominam o subjetivo, os valores, o intangível, o holístico e o
sistêmico, o cultural e a complexidade como características de uma
nova idéia de desenvolvimento societal.
Nos anos setenta, provocava-se uma discussão sobre o
conceito ao afirmar que o ponto de partida era reconhecer o de-
senvolvimento num conceito normativo, cheio de juízos de valor,
sustentando que a alimentação, o emprego e a equidade, seriam
seus condicionantes básicos.
Celso Furtado (1982, p. 149) expressava o conceito de
desenvolvimento da seguinte maneira:

A experiência tem mostrado que o verdadeiro


desenvolvimento é principalmente um proces-
so de ativação e canalização de forças sociais
e de avanço na capacidade associativa, se tra-
tando de um processo social, cultural e secun-
dariamente econômico. Se produz desenvolvi-
mento, quando a sociedade manifesta sua ener-
gia, capaz de articular de forma convergente
forças que estavam latentes ou dispersas.

Na evolução do conceito observa-se uma recuperação


do pensamento de notáveis economistas, tais como F. Perroux, G.
Myrdall, A. Hirschamm, C. Furtado, L. J. Lebret, entre outros.
Nessa breve retrospectiva do conceito de desenvolvimento,
cumpre ainda referenciar uma proposta conhecida como Desenvol-
vimento a Escala Humana na versão de Manfred Max-Neef, Antonio
Elizalde e Martin Hopenhayn (1986) com o seguinte conceito

Desenvolvimento se baseia na satisfação das


necessidades Humanas fundamentais, na ge-
ração de níveis crescentes de auto dependên-
cia e na articulação orgânica dos seres huma-
nos com a natureza e a tecnologia, dos pro-
cessos globais com os comportamentos locais,
das planificações com autonomia e da socie-
dade civil com o Estado.

Em 1983, foi criada, por decisão da Assembléia Geral

60
sob a ótica das desigualdades territoriais

da ONU, a Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvi-


mento – CNMDA, que elaborou o relatório Brundland chamado
“Nosso Futuro Comum” destacando a definição de Desenvolvi-
mento Sustentável mais difundida em todo o planeta. A saber:
“Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende as necessida-
des do presente sem comprometer a possibilidade das gerações
futuras de satisfazerem suas próprias necessidades”.
Esse conceito sofre uma ampliação nas discussões da
Conferência ECO – 92, estendendo-se na seguinte conceituação:
“Desenvolvimento Sustentável, é aquele que concilia métodos de
proteção ambiental, equidade social, eficiência econômica, pro-
movendo a inclusão econômica e social por meio de políticas de
emprego e renda”.
Tal estilo de desenvolvimento deve oferecer um amplo
conjunto de políticas públicas capaz de universalizar o acesso da
população aos serviços de infra-estrutura econômica e social,
mobilizando recursos para que se possa satisfazer as necessida-
des presentes, sem comprometer a capacidade das gerações fu-
turas de suprir as próprias necessidades.
Em trabalho recente, Boisier (2002, p. 30) define:

O desenvolvimento pode ser entendido como o


resultado de um ambiente, que facilite a
potencialização do ser humano para transfor-
mar-se em pessoa humana, em sua dupla di-
mensão biológica e espiritual, capaz de conhe-
cer e amar. Isto significa trazer o conceito de
desenvolvimento para um marco construtivista e
endógeno, dependente da auto confiança co-
letiva e na sua capacidade para criar recursos,
mobilizar os existentes e atuar de forma, coope-
rativa e solidária, desde o próprio território.

Tomassini (2000, p.63) afirmava que:

Vivemos uma mudança que rechaça os mode-


los racionais propostos pela modernidade em
troca da diversidade e da capacidade de optar
e criar a nossa identidade, em sociedades mais
complexas, marcadas pelo avanço do conhe-

61
A questão regional urbana

cimento, da tecnologia, da informação, do


consumo, das comunicações e por mudanças
profundas na subjetividade das pessoas.

Nesse contexto, a importância dos governos, a política, os


equilíbrios econômicos, o produto interno bruto são relativizados
pela emergência e preocupação com valores tais como: qualidade
de vida, participação, equidade, cidadania, democracia, coopera-
ção, liberdade de expressão, educação e igualdade de oportunida-
des. Acrescenta -se ainda, os valores introduzidos por Boutros Galli
–1995-ONU, como condições do desenvolvimento, quais sejam: a
paz social , a economia como mecanismo do progresso, o meio
ambiente como base da sustentabilidade, a justiça como pilar da
sociedade e a democracia como sustentáculo da boa governança.
Enquanto isso Amarthya Sen (2000, p. 114) definia o
subdesenvolvimento como “a falta das capacidades básicas (ca-
pital social) e não apenas a falta de rendimentos (capital econômi-
co)” apontando o caráter não material do desenvolvimento.
Mais recentemente pode-se observar a ampliação do
conceito de Desenvolvimento Humano (PNUD), assim expresso:

O desenvolvimento humano pode ser descrito


como um processo de ampliação das opções
das pessoas, além das necessidades básicas,
incorporando outros benefícios que não são
materiais como a liberdade de expressão, au-
sência de opressão, violência ou exploração”.
As pessoas querem dar um sentido a vida, onde
os membros das famílias e comunidades valo-
rizam a coesão social e o direito de manter
suas tradições e culturas (PNUD, Relatório do
Desenvolvimento Humano, 2000)

Nesse mesmo conceito surge o Índice de Desenvolvimento


Humano – IDH, concentrando-se em três componentes: qualida-
de de vida, longevidade e nível de conhecimento.
Sem dúvida, são as mais diversas as definições atuais
sobre desenvolvimento, buscando conceituá-lo, no entanto, mais
no sentido de “ser” do que de “ter “, vinculando sempre `a idéia
da utopia social.

62
sob a ótica das desigualdades territoriais

Após essa progressiva discussão multidimensional do


conceito de desenvolvimento, fica evidenciado que desenvolvimento
e crescimento são conceitos estruturalmente distintos. Intangível o
primeiro, e material o segundo. Todavia não se conhece a totali-
dade da natureza da relação entre ambos apesar de não serem
independentes.
Em certos ciclos temporais, há a necessidade de se cres-
cer primeiro para dar uma base material ao início do processo de
desenvolvimento, em outros, necessário se faz gerar as condições
psicossociais próprias do desenvolvimento, visando estimular pro-
cessos econômicos como o associativismo, a inovação e os inves-
timentos.
O processo de desenvolvimento não pode se guiar so-
mente pelo paradigma positivista que não permite a compreensão
da complexidade, característica marcante dos processos sociais,
impedindo, geralmente, uma visão totalizante do processo do de-
senvolvimento, mas é também guiado por modelos mentais, base-
ados em outros paradigmas como o construtivista e o da comple-
xidade (MORIN, 1994), para poder interpretar a realidade.
As análises recentes que versam sobre a subjetividade
social e o desenvolvimento humano destacam que:

1. as pessoas e suas subjetividades não são apenas um


recurso adicional, mas um requisito indispensável ao desenvolvi-
mento;
2. reconhecer a subjetividade social não significa cons-
truir defesas e refúgios frente a globalização;
3. a reinvidicação da subjetividade coletiva como objeti-
vo e motor do desenvolvimento não deve derivar um populismo
voluntarista;
4. a tomada de decisões para o desenvolvimento não
pode ser tecnocrática, pois gera incertezas, quanto à diversidade
e ao discernimento público.

Sintetizando o entendimento consensual, falar em De-


senvolvimento Regional é incorporar a ele a evolução positiva des-
ses conceitos que abrangem todas as dimensões da
sustentabilidade, quais sejam: a econômica, a social, a política, a

63
A questão regional urbana

ambiental, a cultural e a espacial, possibilitando um padrão de


crescimento econômico que garanta a biodiversidade, equilibrando
a taxa de uso com a taxa de reposição ou conservação dos recur-
sos naturais e contendo, como elemento essencial, um crescente
processo de inclusão social.
Relacionada diretamente ao tema do desenvolvimento
regional, tem-se a sustentabilidade espacial que contempla o ter-
ritório como um sistema equilibrado de regiões, quanto ao seu
desenvolvimento humano.
A dimensão espacial do desenvolvimento é manifestada
pela formação de subsistemas territoriais denominado regiões ou
localidades, existindo uma interdependência entre a estrutura e evo-
lução destes subsistemas com os processos de desenvolvimento.
O desenvolvimento dos subsistemas territoriais depende
do desenvolvimento que se dá em outras regiões, pois se tratam
de subsistemas abertos em que qualquer análise da situação deve
estar vinculada ao que se passa no sistema como um todo.
Certos da interdependência entre crescimento, desenvol-
vimento e organização espacial, observa-se no tempo, sucessivas
intervenções políticas que visam modificar as estruturas espaciais
e as relações entre elas, com vistas a um melhor equilíbrio da difu-
são do desenvolvimento entre as diversas regiões e localidades.
Uma breve retrospectiva situa, no tempo, os pólos de cres-
cimento, os planos de desenvolvimento integrado, os parques in-
dustriais, o planejamento de bacias hidrográficas, a criação de
organismos de desenvolvimento regional e, por fim, a
regionalização como instrumento do planejamento, voltados ao
desenvolvimento regional. Os resultados alcançados deixaram a
desejar e foram poucos exitosos.
Quais seriam, então, as causas que contribuíram para a
manutenção desta situação, não permitindo uma mudança na
realidade da organização espacial dos territórios para uma situa-
ção mais equilibrada? Teoricamente, num processo racional de
desenvolvimento econômico e social, os valores per capita do
produto e da renda regional se expandem, havendo em média um
aumento de bens e serviços à disposição dos seus habitantes.
Esse processo de crescimento econômico irá depender,
basicamente, da região para atrair recursos nacionais e internaci-

64
sob a ótica das desigualdades territoriais

onais, públicos e privados por meio das diversas modalidades (ne-


gociação de projetos, transferências intergovernamentais de na-
tureza não constitucional e outros), o que dependerá também dos
impactos que as políticas macroeconômicas e setoriais terão so-
bre a economia regional que, geralmente, dão origem a condi-
ções externas às decisões regionais que podem estimular ou freiar
o crescimento econômico.
Outro conceito é o de “dotação de recursos” de uma
região que muda com a dinâmica do crescimento econômico, ou
seja, com os determinantes da demanda final (preferência dos
consumidores, distribuição da renda, comércio exterior), com as
condições tecnológicas de produção (surgimento de novos pro-
dutos e novos processos), da organização do processo produtivo
e de seu arcabouço político-institucional (legislação ambiental,
normas de segurança etc.).
Na contemporaneidade, o conceito de potencialidade de
recursos é econômico e não físico, isto é, o valor do recurso natu-
ral depende da estrutura da demanda, dos custos relativos de pro-
dução, dos custos de transportes e das inovações tecnológicas,
entre outros fatores.
Na lógica atual do processo das economias capitalistas, o
que vale são os custos de oportunidades, entendido como as vanta-
gens comparativas entre as regiões para produzir determinados bens
ou serviços. O mercado interno de uma região é condicionado por
três fatores: o tamanho da população regional, o seu nível geral de
produtividade e o grau de distribuição da renda e da terra.
Por outro lado, o crescimento regional depende, tam-
bém, dos fatores locacionais, tais como: custo de transportes, es-
tímulos fiscais e financeiros específicos, custo dos insumos, quali-
dade da mão-de-obra, inovações tecnológicas. Assim é necessá-
rio estudar as vantagens locacionais de cada região para a atra-
ção de crescimento de setores produtivos de crescimento nacional
lento e de estímulo ‘as potencialidades locais não exploradas.
Hirschamn (1958) ao estudar o desenvolvimento regio-
nal destacava os impactos de uma nova atividade econômica em
uma região, avaliava os efeitos diretos e indiretos; de dispersão ou
encadeamento para trás e para frente, que demandariam novos
insumos e produtos; os efeitos induzidos, provocados pela deman-

65
A questão regional urbana

da final de bens de consumo ou de bens de capital em função do


crescimento regional e os efeitos fiscais como aumento na arreca-
dação de impostos e outras contribuições.
Esses multiplicadores regionais dependem também das
estruturas da demanda final e da produção da economia regio-
nal, assim como da legislação tributária vigente no país, estado
ou região, ou seja, quanto maior o grau de interdependência pro-
dutiva e quanto menor o vazamento nos fluxos de produção e de
renda para outras regiões maiores serão os efeitos multiplicadores.
Assim, para que uma nova atividade econômica venha
promover efetivamente o desenvolvimento sustentado dessa região
e não seja apenas um ciclo temporário de crescimento, há a ne-
cessidade da expansão do seu dinamismo para outros setores da
economia regional. Nesse sentido, deve-se dar prioridade àquelas
políticas (programas e projetos) que incorporem critérios de natu-
reza distributiva e permitem a implementação dos objetivos de
eqüidade social e da biodiversidade regional.
A compatibilidade entre o crescimento econômico e o
desenvolvimento social não se processa espontaneamente, pois a
experiência histórica demonstra que a simples mobilização inten-
siva dos fatores de produção, tendem a reproduzir as condições
sociais que lhe deram origem, proporcionando maior diferencia-
ção, mas não maior eqüidade.
Tem-se ainda que considerar que as estruturas espaciais
são resultantes, primeiramente, das características de povoamen-
to e do tipo de modelo de crescimento (colonialismo) e, num se-
gundo momento, são resultantes de processos de dominação e
dependência no interior de cada país, onde as regiões metropoli-
tanas e cidades maiores dominam os territórios periféricos nacio-
nais que, por sua vez, também se inserem num sistema
hierarquizado de dominação pelos centros dos outros países.
Quando falamos em desenvolvimento regional há que
se levar em conta as estratégias que tornem o sistema produtivo
regional competitivo nos contextos de concorrência inter-regional
interna e no processo de globalização.
Essa competitividade em termos de preços e de qualida-
de é condicionante para concorrer com os bens e serviços que
chegam à região e localidades, com custos de transportes e im-

66
sob a ótica das desigualdades territoriais

postos alfandegários cada vez menores, num contexto do comér-


cio exterior com menor regulamentação.
O importante é distinguir as vantagens competitivas di-
nâmicas de cada região, separando-as das vantagens competiti-
vas espúrias baseadas em incentivos fiscais e financeiros e na de-
gradação do uso dos recursos naturais e dos ecossistemas, na
exploração da mão-de-obra ou na informalidade e na clandestini-
dade de suas operações.
Nos textos sobre economia e organização espacial, a
competitividade é vista como resultado da interação entre a de-
manda do espaço, indivisibilidades, economias de escala, custos
de transporte, comunicações e desenvolvimento econômico.
A avaliação dos enfoques das décadas setenta e oitenta,
que revelou resultados negativos da intervenção estatal nos terri-
tórios, basearam-se na organização espacial como fenômeno so-
cial, concluindo que o espacialismo puro ou a tendência de privi-
legiar os aspectos físicos da relação sociedade-território não lo-
grará êxito em modificar a estrutura espacial configurada
territorialmente como resultado da inserção dos países no modelo
primário-exportador.
Essa estrutura que tampouco se alterou substancialmen-
te com a substituição de exportações, tampouco deverá se modi-
ficar com a abertura comercial ao exterior, tendo em vista a pre-
dominância do modelo neoliberal.
Como resposta a esta tendência interpretativa do desen-
volvimento regional, aflora uma preocupação pelos territórios tanto
como construtores dos processos econômicos e sociais, quanto
principalmente frente aos processos de descentralização que sur-
gem a partir dos anos noventa.
Nesse momento, aparece como alternativa um modelo
de intervenção que combina os enfoques de “cima para baixo”
(top-down) “com os enfoques de ”baixo para cima “(bottom-up)”
dado o surgimento de um modelo de produção flexível ou não
fordista. Enquanto as teorias e políticas de desenvolvimento
concentrador “de cima para baixo“ indicam crescimento quantita-
tivo e a maximização do PIB como guias de desenvolvimento, as
estratégias de desenvolvimento econômico local mostram mais
interesse e preocupação com a satisfação das necessidades bási-

67
A questão regional urbana

cas no território, a melhoria do emprego, da renda e da qualidade


de vida, assim como a preocupação com a preservação e a con-
servação ambiental.
Do mesmo modo, frente a uma estratégia baseada no
apoio financeiro e tecnológico externos, destacam-se a importân-
cia do esforço endógeno de articulação do tecido produtivo e
empresarial local, a potencialização dos recursos próprios, o
envolvimento das instituições financeiras locais e, em resumo, a
adaptação de inovações tecnológicas e organizacionais, na base
territorial com um maior controle do processo de desenvolvimento
exercido pelos atores locais.
Como se pode observar, nas estratégias de baixo para
cima, o espaço territorial é concebido como agente de transfor-
mação social e não como um mero espaço funcional. Nessa con-
cepção, o território socialmente organizado e seus traços culturais
e históricos são aspectos muito importantes e a partir de suas par-
ticularidades territoriais nos diferentes níveis, econômico político,
social e cultural.
Em síntese, esta proposta busca inserir os territórios nos
exigentes cenários da competitividade internacional e potencializar
os graus de liberdade que oferecem os processos de
descentralização, definindo-se o desenvolvimento regional com um
processo de mudança estrutural localizado em um território deno-
minado região e que se associa a permanente progresso da pró-
pria região, da comunidade que a habita e de cada indivíduo
habitante do território.
Nesse contexto, como resultado de uma série de traba-
lhos sobre descentralização e desenvolvimento econômico local
realizados pela CEPAL, surge uma preocupação mais integral que
tenta vincular o desenvolvimento econômico com o território, des-
tacando-se as contribuições de Sérgio Boisier, na proposta alter-
nativa ligada a estratégias de desenvolvimento endógeno. Segun-
do Boisier (1993, p. 25) o processo de desenvolvimento de uma
região dependerá, fundamentalmente, de sua capacidade de or-
ganização social que se vincula:
a) ao aumento da autonomia regional para a tomada de
decisões; b) ao aumento da capacidade para reter e reinvestir o
excedente econômico gerado pelo processo econômico de cresci-

68
sob a ótica das desigualdades territoriais

mento local / regional; c) a um crescente processo de inclusão


social ; d) a um processo permanente de conservação e preserva-
ção do ecossistema regional.
Essa capacidade de organização é o fator endógeno por
excelência para transformar o crescimento em desenvolvimento por
meio de uma complexa rede de instituições e de agentes articulados
por uma cultura regional e por um projeto político regional.
Essa concepção de desenvolvimento regional/local, pres-
supõe:

• um crescente processo de autonomia decisória;


• uma crescente capacidade regional de captação e
reinversão do excedente econômico;
• um crescente processo de inclusão social;
• uma crescente consciência e ação ambientalista;
• uma crescente sincronia intersetorial e territorial de
crescimento;
• uma crescente percepção coletiva de pertencer à região.

O enfoque do desenvolvimento endógeno se apresenta


como alternativa e como ação complementar frente aos modelos
de ajuste estruturais propiciados pelos organismos financeiros in-
ternacionais, buscando fundamentalmente revalorizar as econo-
mias locais, os mercados nacionais e sub-nacionais sem descui-
dar dos potenciais exportadores no comércio internacional
(LLORENS, 2001 p. 101).
Assim, em uma publicação recente da CEPAL, (apud
AGHION, 2001, p. 30)

O desenvolvimento econômico dos distintos paí-


ses segue sendo territorialmente concentrado e
inequitativo, razão pela qual não tem sido possí-
vel aproveitar o potencial produtivo dos distintos
territórios, constituindo-se numa das causas do
aumento da pobreza. Por seguinte a análise do
papel que tem as localidades na promoção do
desenvolvimento econômico dentro de um con-
texto de gestão descentralizada, está na agenda
dos temas emergentes para os países da região.

69
A questão regional urbana

A visão sobre o desenvolvimento econômico local incor-


pora aproximações diferentes e enfoques de diferentes autores que,
apesar de não existir plena coincidência, somam-se na busca de
uma concepção mais integral e contextualizada nos problemas
reais de cada território.
O desenvolvimento regional pode ser entendido como
um processo de transformacão da economia e da sociedade de
um determinado território orientado a superar as dificuldades e
exigências de natureza estrutural no atual contexto da
competitividade e globalização econômica, afim de melhorar as
condições de vida da população desse território. Demandando,
para isso, como contrapartida, uma atuação decidida e concerta-
da entre os diferentes atores locais, públicos e privados, criando
um entorno territorial que fomente as atividades produtivas em
geral, com destaque para as microempresas e as pequenas e
médias empresas, com a finalidade de utilizarem, de forma efici-
ente, os recursos endógenos e aproveitar as oportunidades de di-
namismo exógeno presentes no território.
Nessa nova concepção, a eliminação da hipercon-
centração urbana e das disparidades regionais dá-se em novo
cenário caracterizado pela competitividade internacional, deman-
dando novas funções tanto para o Estado, como para o mercado
e para a sociedade civil, surgindo o conceito de desenvolvimento
regional endógeno. Conceito este constitui uma reformulação do
modelo exportador que, segundo Curbelo (1994), aceita-se a
necessidade do ajuste externo, mas inclui uma crítica ao conteúdo
dependente e desequilibrado dos enfoques mais ortodoxos que
propõem, a cada região a reprodução do modelo exportador na-
cional, em que a ênfase da política regional deverá ser o da pro-
moção e da especialização daquelas atividades, nas quais a re-
gião revela vantagens comparativas e para as quais as atividades
locais deveriam responder de forma induzida.
As estratégias de desenvolvimento endógeno, por sua vez,
propõem, contrariamente, os enfoques iniciais da base exporta-
dora dependentes do dinamismo exportador dos investimentos em
iniciativas de recursos endógenos e mercados exógenos. Enten-
dendo-se aí por endógeno o uso completo dos recursos regionais
que seriam factíveis em face de nova dinâmica do sistema econô-

70
sob a ótica das desigualdades territoriais

mico internacional e demanda uma articulação de todos os pro-


cessos inter-regionais, superando a distância espacial com base
na articulação de distintas operações em um processo de comu-
nicação interativa.
Assim, para maximizar as vantagens comparativas de
cada unidade produtiva, distributiva ou de gestão no referido sis-
tema, as organizações tendem a localizar cada unidade no espa-
ço mais adequado a sua função específica, articulando, depois,
as distintas unidades em uma cadeia de interdependência
translocal, graças à utilização do meio tecnológico.
Nesta discussão, que enfatiza a estratégia do
endodesenvolvimento, cabe destacar a observação de Castells
(1996-1998, p. 59) que afirmava;

Em uma economia aberta de competência


mundial, os mercados locais não são pontos
de inflexão de uma cadeia de interdependências
cuja lógica não depende da estrutura local ou
regional e sim de inserção na cadeia geral de
interdependências. Assim os sistemas auto-su-
ficientes passam a ser simples economias de
subsistência, marginalizadas do potencial de
desenvolvimento. Reafirmando que o desenvol-
vimento endógeno em nosso sistema, só pode
ter sentido como maximização dos fatores es-
pecíficos de uma região para o sistema de com-
petência aberta, articulado a rede mundial de
processos econômicos e sociais. Concluindo
que é nessa dialética do espaço de fluxos e
aspirações segmentadas das sociedades locais,
que se deve construir a nova problemática do
desenvolvimento regional.

No Brasil e na América Latina, as evidências de assimetrias


no desenvolvimento de suas regiões estiveram presentes ao longo
do processo de formação histórica, política e econômica do país
até a atualidade e sempre demandaram uma intervenção do Esta-
do. Um marco desse processo foi a criação da SUDENE (Superin-
tendência do Desenvolvimento do Nordeste) ancorada nas idéias
desenvolvidas pela CEPAL que buscava explicar o sub-desenvolvi-

71
A questão regional urbana

mento a partir do modelo centro-periferia. Assim, foram criados, na


década de 60 e 70, diversos instrumentos de políticas públicas com
essa finalidade: incentivos fiscais, fundos de redistribuição de ren-
da, programas de integração regional, PIN - PROTERRA, progra-
mas de desenvolvimento rural integrado – PDRI’s que, como mode-
lo de intervenção do Estado, foi estendido para as outras regiões.
Posteriormente, na década de 1980, destacaram-se os Programas
POLOCENTRO, POLAMAZÔNIA, POLONOROESTE e, mais re-
centemente, o PRODEAGRO e o BID PANTANAL.
O reforço das atividades econômicas nas sociedades
contemporâneas passa menos pela capacidade de o Estado cen-
tral determinar onde vão situar certas empresas que no poder de
estimular o surgimento do empreendedorismo, de um ambiente
localizado propício ao reforço do tecido produtivo de cada região.
Para alguns autores, o maior desafio do planejamento brasileiro
consiste em passar de uma lógica de repartição setorial de recur-
sos para uma lógica territorial.
Na década de 1990, ocorreram algumas tentativas nes-
sa direção, destacando-se inicialmente a ação governamental com
base em programas que, em princípio, têm natureza multissetorial
e cuja execução envolve diversos segmentos da administração
pública e da sociedade civil. Além disso, são fortalecidas organi-
zações locais – os conselhos gestores formados com ampla parti-
cipação social - responsáveis diretos pela gestão e controle de
políticas públicas.
Conforme Ricardo Abramnovay (2000, p. 11), houve aí o
início de novos recortes do território nacional por meio de ao menos
três iniciativas inovadoras: os eixos nacionais de integração e de-
senvolvimento, o programa de desenvolvimento Integrado e Susten-
tável de Mesorregiões Diferenciadas e o Zoneamento Econômico
Ecológico, expressando a vontade nacional de descentralização da
política nacional. Entretanto, houve obstáculos aos estreitos limites
institucionais em que estas se movem, pois a menor instância gover-
namental passível de executar políticas públicas – o município – é,
na maior parte das vezes, uma unidade eficiente para controlar
gastos tópicos, setoriais e localizados, mas insuficiente para permitir
a revelação dos potenciais produtivos, das capacidades e das uto-
pias das populações de uma determinada região.

72
sob a ótica das desigualdades territoriais

A articulação entre políticas setoriais e território no Bra-


sil, até hoje, consistiu fundamentalmente em distribuir incentivos e
conceder isenções como formas de estímulo à localização pro-
dutiva em regiões deprimidas, com base numa decisão do Estado
e na execução e controle de suas agências regionais.
A exaustão dessa prática se revela nas idéias atuais de
governança, de parceria público-privado e de Estado em rede. O
reforço das atividades econômicas nas sociedades contemporâ-
neas passa menos pela capacidade de o Estado central determi-
nar onde vão situar certas empresas do que no poder de estimular
o surgimento do empreendedorismo, de um ambiente localizado,
propício ao reforço do tecido produtivo de cada região. Na região
Centro Oeste, essas ações eram coordenadas pela Superinten-
dência de Desenvolvimento da Região Centro Oeste- SUDECO,
extinta no início da década de 90.
No caso do estado de Mato Grosso, destacam-se ainda
os programas POLOCENTRO (1975), POLONOROESTE (1982),
PRODEAGRO (1990) que, apesar de terem como base
regionalizações específicas do Estado, nunca incorporaram efeti-
vamente estratégias de desenvolvimento regional, sempre obede-
cendo a uma lógica centralizada, vinculada a objetivos das Políti-
cas Nacionais Setorializadas.
Complementam essas iniciativas, os estudos básicos de
desenvolvimento regional, como Estudo de Desenvolvimento da
Bacia do Alto Paraguai – EDIBAP e o Projeto de Desenvolvimento
da Bacia Araguaia-Tocantins PRODIAT.
Em Mato Grosso, além do rebatimento das ações desen-
volvidas pelo Governo Federal acima descritas, aconteceram algu-
mas ações específicas na área do planejamento e do desenvolvi-
mento regional (fóruns regionais de desenvolvimento sustentável),
mais no sentido de atender demandas constitucionais do que de
regionalização do processo de planejamento, mas longe de se cons-
tituir numa política concertada de desenvolvimento regional.
Na atualidade, convive-se com flagrantes desequilíbrios
de desenvolvimento entre as regiões do país, observando o mes-
mo fenômeno em todos os estados, mas, por outro lado, observa-
se enormes potencialidades econômicas a serem exploradas ou
desenvolvidas, em que o papel do estado, como agente regulador

73
A questão regional urbana

e mobilizador das forças econômicas, ainda deve ser considerado


como fundamental.
Diversos estudos realizados no âmbito da Comissão de
Estudos para a América Latina – CEPAL sobre as desigualdades
regionais tem destacado que a globalização da atividade econô-
mica tem elevado a escala e a complexidade das transações eco-
nômicas, alimentando desta forma o crescimento de funções de
alto nível nas sedes multinacionais e a expansão dos serviços às
empresas, especialmente de serviços corporativos avançados.
O crescimento da intensidade dos serviços na organiza-
ção da economia, processo evidente nas empresas de todos os
setores industriais desde a mineração até ao sistema financeiro,
tem estimulado o crescimento das grandes cidades que possuem
todos os fatores da competitividade.
A questão das desigualdades intra-regionais já é um tema
de maior complexidade, pois a intra-desigualdade (interior das
regiões) geralmente é responsável pela maior parte da situação de
desigualdade nacional, enquanto a inter-desigualdade entre regi-
ões responde marginalmente.
Em outras palavras, a concentração no interior das regi-
ões é o fator determinante da distribuição da renda no país, sendo
pouco significativa a contribuição das diferenças entre renda mé-
dia das regiões.
Igualmente, os argumentos para reduzir as desigualda-
des regionais se relacionam com o dever do Estado de prover igual-
dade de oportunidades para todos os cidadãos, independente de
seu lugar de nascimento. Neste contexto, outros merecem aten-
ção especial, a relação entre crescimento econômico regional, dis-
tribuição da renda e a pobreza, por exemplo.
Um outro aspecto a relevar é o de qual seria a estratégia
para mensurar o desenvolvimento regional. Surgem daí dois
enfoques: o da renda familiar e do produto. Porém, nem sempre a
renda familiar tem estreita correlação com o produto regional.
Existem territórios e regiões com renda média familiar baixa, mas
com o produto per capita elevado.
As investigações recentes revelam uma relação direta com
o modelo de desenvolvimento predominante em cada país:
a) se o modelo de crescimento se concentra em apoiar o

74
sob a ótica das desigualdades territoriais

setor tradicional da economia, haverá uma redução das desi-


gualdades associadas a um aumento da renda geral;
b) se o crescimento se concentra em apoiar apenas o
setor moderno, provocará um aumento das desigualdades e da
renda geral;
c) se o crescimento se concentra em ampliar o setor
moderno, provocará em médio prazo um aumento das igualda-
des e da renda geral.
Portanto, a formulação das políticas de desenvolvimento
regional, a articulação entre o crescimento econômico e a distri-
buição da renda e da riqueza são de fundamental importância e
condicionantes para o resultado esperado, o da redução das de-
sigualdades intra e inter-regionais.
Isso só se é possível fazer com uma intervenção planeja-
da e complementar do estado, garantindo a melhor qualificação
da mão-de-obra local novos investimentos em tecnologia, inser-
ção da pequena e média propriedade nos circuitos econômicos,
reestruturação fundiária e redistribuição do excedente econômico
para as políticas sociais compensatórias via sistema fiscal.
A implantação de novas atividades econômicas, com base
nas oportunidades competitivas regionais, se não tiverem incorpora-
do os princípios do que estamos conceituando como “desenvolvimento
regional”, podem resultar num processo socialmente excludente para
a população local e gerar apenas um ciclo econômico.
As características regionais (grau de urbanização, estru-
tura fundiária e de produção) condicionam as alternativas a se-
rem adotadas para cada região. Em algumas, o desenvolvimento
regional só será factível se se levar em conta um ordenamento
territorial com base num zoneamento sócio-econômico-ecológico
e na reestruturação fundiária regional.
Poder-se-ia afirmar que a importância do desenvolvimento
regional aparentemente mais forte ainda em países ou estados
com fortes regionalismos onde a preservação da unidade territorial
e o controle dos interesses regionais é condicionante para assegu-
rar a governabilidade.
Conclui-se, também, que o crescimento econômico é
definido como fenômeno quantitativo, enquanto o desenvolvimento
econômico constitui-se num fenômeno qualitativo, tendo a ver com
a ética, a justiça, a qualidade de vida etc.

75
A questão regional urbana

Todavia, tende a haver uma interação entre crescimento


e desenvolvimento econômico. O primeiro tende a depender cada
vez mais de fatores exógenos, da acumulação de capital, de co-
nhecimento ou de progresso técnico, da demanda externa e da
política econômica de uma região ou país. O capital é cada vez
mais desterritorializado e as decisões e inversões são,
crescentemente, de origem externa.
O desenvolvimento economico, por sua vez, exige crescen-
te sinergia entre os diversos fatores de uma economia. Para tanto,
necessita-se fazer a pergunta: como se articulam, para que se possa
estrategicamente planejar e implementar o desenvolvimento?
O desenvolvimento territorial em economias de mercado
aberto e descentralizadas depende da potencialização de fatores
endógenos, tais como:

• recursos materiais, humanos e psicossociais;


• instituições: flexíveis, inteligentes, maleáveis, velozes;
• articulação entre governos e mercados;
• atores: indivíduos capazes, corporações e coletivos,
com interesses sociais construtivos;
• procedimentos modernos de governo e a
• cultura: individualidade competitiva com solidarieda-
de cooperativa.

O pensamento de Boisier (2001) sintetiza o entendimen-


to do processo de desenvolvimento, destacando que esse proces-
so ocorre mais pela ênfase na diversidade (impacto frente aspec-
tos e experiências diferentes), do que na alteridade (em que os
outros fazem por nós).
Os processos de desenvolvimento endógeno mostram
que a identidade territorial, assim como a sinergia social, não deve
ser entendida como algo que simplesmente existe devido a uma
determinada conjugação de fatores geográficos e circunstanciais,
mas sim como algo construído historicamente, resultante dos pro-
cessos sociais, econômicos e culturais, cujos atores, apesar das
divergências, têm interesses e valores comuns.
Abramovay (2000, p. 5) reforça também o caráter
endógeno dos territórios, afirmando que estes não são simples-

76
sob a ótica das desigualdades territoriais

mente um conjunto neutro de fatores naturais e de dotações hu-


manas capazes de determinar as opções de localização das em-
presas e dos trabalhadores. Eles, sim, constituem-se por laços in-
formais, por modalidades não mercantis de interação, construídas
ao longo do tempo e que moldam uma certa personalidade sen-
do, portanto, uma das fontes da própria identidade dos indivíduos
e dos grupos sociais.
O referido autor ainda complementa dizendo que em tor-
no dos territórios existem certos modelos mentais partilhados e com-
portamentos que formam uma referência social cognitiva materiali-
zada numa certa forma de falar, em episódios históricos e num sen-
timento de origem e de trajetórias comuns, ou seja, os territórios
não são definidos apenas pela objetividade dos fatores de que dis-
põem, mas antes de tudo, pela maneira como se organizam.
O contexto da reestruturação e crise do padrão de de-
senvolvimento, ao mesmo tempo em que desvincula, fragmenta e
exclui, gera novas possibilidades de construção endógena.
A idéia de desenvolvimento local ganha substância quan-
do associa a hipótese de que as dinâmicas geradoras de desigual-
dade e exclusão não podem ser desconstruídas pelo alto ou subs-
tituídas por outros sistemas de fluxos apartados dos lugares.
O entendimento do local como alavanca significa uma
reconstituição de direitos e relações que se afasta da paralisia crí-
tica de uma dominação global. São os próprios fluxos da “socie-
dade em rede”, no contexto de transformação dos padrões de
acumulação, que atualizam o sentido analítico e prático do local
como território de mudança estrutural nas formas de reprodução
social. (BOCAYUVA, 1998).
O desenvolvimento regional tem como ênfase a
mobilização produtiva do território, visando combater a desigual-
dade e a exclusão com dinâmicas de inserção sócio-econômica, ou
seja, de interligar o social com o produtivo.Deve ser pensado como
um pacto territorial, no qual está presente a idéia força de desenvol-
vimento e de alta mobilização de recursos locais, significando:

• uma estratégia integrada de instituições locais no


enfrentamento da fragmentação territorial e exclusão
social, econômica e cultural;

77
A questão regional urbana

• o fortalecimento das lideranças locais;


• o fortalecimento de um controle social e de responsa-
bilidade pública;
• a criação de uma identidade e um sentimento de soli-
dariedade social e a ,
• mobilização de diferentes culturas criando rede e uma
interconectividade que opera numa dimensão coletiva e
quebra o isolamento.

É nesse sentido, como já mencionamos no capítulo que


tratou da relação da reorganização do espaço e processo de
globalização, o surgimento de uma outra noção ambivalente, a
de “glocal”, definido como a interação de relações da globalização
e da localização. O novo local não representa uma simples repro-
dução do global, nem constitui simplesmente sua antítese, mas
interage com ele, criando um novo processo que diversos autores
denominaram de “glocalização”, ou seja, a imposição de proces-
sos globais (homogeinizadores), recebendo influências de caráter
local (diferenciadoras), em já não se distingue mais onde começa
um e termina o outro.
O que de fato interessa efetivamente é qual a contribui-
ção que as experiências e princípios de desenvolvimento territorial,
apoiados nas relações território-rede, poderão trazer para a ques-
tão de construir uma política pública de desenvolvimento regional.
Isso, tendo em vista uma estratégia territorial diante do impacto
de fragmentação econômico e sócio -espacial gerada pelas novas
redes e novos fluxos econômicos que surgem nessa transição para
um regime de acumulação flexível.
A menor instância governamental passível de executar
políticas públicas – o município – é, na maior parte das vezes,
uma unidade eficiente para controlar gastos tópicos, setoriais e
localizados, mas insuficiente para permitir a revelação dos poten-
ciais produtivos, das capacidades e das utopias das populações
de uma determinada região.
A articulação entre políticas setoriais e território no Brasil
até o momento consistiu fundamentalmente em distribuir incenti-
vos e conceder isenções como formas de estímulo à localização
produtiva em regiões deprimidas com base numa decisão do Es-

78
sob a ótica das desigualdades territoriais

tado e na execução e controle de suas agências regionais.


Llorens (2001) chama atenção que, igualmente à diver-
sificação do tecido produtivo, quer seja de base agrária,
agroindustrial, industrial ou de serviço, o incremento do valor agre-
gado das atividades deve ser buscado, a fim de fincar as bases
mais sólidas de difusão dos efeitos positivos do crescimento eco-
nômico, do emprego e da renda.
Portanto, a estratégias de desenvolvimento devem dirigir-
se fundamentalmente, para conseguirem maiores articulações
produtivas internas das economias territoriais, possibilitando sua
inserção sustentada em segmentos dos mercados internacionais.
Ao fazer a análise comparativa das estratégias de desen-
volvimento, Llorens Albuquerque (op.cit.) asinalava as seguintes
características que as diferenciavam:

I - DESENVOLVIMENTO CONCENTRADOR
• desenvolvimento polarizado;
• crescimento hierarquizado e centralizado;
• medidas e políticas assistenciais ou compensatórias;
• instrumentos e medidas de fomento econômico setorial e
• pólos de crescimento, zonas francas e pólos industriais;

II - DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO
• desenvolvimento mais equilibrado territorialmente;
• descentralização e potencialização de comunidades
locais e regionais;
• iniciativas locais de geração de emprego para enfren-
tar a pobreza;
• o importante é criar o “entorno” político, social, eco-
nômico institucional e cultural para impulsionar o desen-
volvimento do potencial local;
• difusão de inovações;
• reorganização da base empresarial e
• formação de capital social.

Concluiu-se que o desenvolvimento territorial pode ser


definido como um processo de acumulação de capacidades com
a finalidade de melhorar, de maneira coletiva e continuada, o bem-

79
A questão regional urbana

estar econômico das comunidades. Essa noção de capacidade de


desenvolvimento refere-se tanto às circunstâncias da economia
territorial (recursos físicos, infra-estruturais e ambientais), como
as relacionadas aos seus atores sócios econômicos e instituições
(organização social e cultura).
Como destacava Aghion (1998, p. 28):

Nos primeiros modelos neoclássicos de cresci-


mento econômico, o progresso tecnológico era
considerado um elemento exógeno, não expli-
cado dentro do próprio modelo; o progresso
tecnológico era um dado do problema e expli-
cado por fatores externos aos próprios mode-
los. Entretanto, as inovações não caem do céu.
Ao contrário, são criadas pelos seres huma-
nos, operando no intervalo normal de suas
motivações, no processo de tentar resolver pro-
blemas de produção, de aprender a partir da
experiência, de encontrar novas e melhores for-
mas de fazer as coisas, de lucrar com a abertu-
ra de novos mercados. A inovação é, assim,
um processo social.

O crescimento endógeno é o crescimento econômico ge-


rado por fatores internos do processo de produção (por exemplo:
mudanças tecnológicas induzidas, rendimentos crescentes, econo-
mias de escala etc.) em oposição a fatores externos (exógenos), tais
como os acréscimos populacionais. O objetivo principal da teoria
do crescimento endógeno é investigar e compreender a ação recí-
proca entre conhecimento tecnológico e várias características es-
truturais da economia e da sociedade e como essa atuação recí-
proca resulta em crescimento econômico. Em termos da análise
espacial, observa-se um renovado interesse pelas idéias de Alfred
Marshall, como veremos no capítulo a seguir, que destacou os gan-
hos de eficiência decorrentes da aglomeração (clustering) de in-
dústrias, a importância dos transbordamentos de conhecimento a
partir da proximidade locacional e os rendimentos crescentes que
resultam do conhecimento compartilhado.
Nesse sentido, o processo de endogeinização está dire-
tamente relacionado à capacidade de organização social da re-

80
sob a ótica das desigualdades territoriais

gião e seus capitais intangíveis, (ver quadro 01), fatores endógenos


por excelência para transformar o crescimento em desenvolvimento,
por meio de uma complexa malha de instituições e de agentes de
desenvolvimento articulados por uma cultura regional e por um
projeto político regional.

Quadro 01 - Formas de Capitais Intangíveis Determinantes do Processo


de Desenvolvimento Regional

Fonte: Boisier, 2000.

O conceito de endogeinidade desenvolvido por Boisier;


Vasquez Barquero e outros era entendido em quatro dimensões
interdependentes. A primeira delas como uma crescente capaci-
dade territorial para optar por estilos de desenvolvimento próprios

81
A questão regional urbana

que permitam, num segundo momento, uma apropriação cres-


cente do excedente econômico para ser reinvestido numa matriz
produtiva mais diversificada.
A endogeinidade significa, ainda, ter capacidade territorial
para gerar suas próprias mudanças tecnológicas capazes de mudar
qualitativamente sua dinâmica produtiva. E, por último, temos que
ela só é possível num marco cultural produtor de identidade territorial
a partir dos quais os ativos intangíveis potenciam a competividade.

B – A EVOLUÇÃO DAS TEORIAS E DA PRÁXIS DE DESEN-


V OL VIMENT O REGIONAL
OLVIMENT

Nas últimas décadas, as teorias de desenvolvimento re-


gional sofreram grandes transformações, de um lado provocadas
pela crise e pelo declínio de muitas regiões tradicionalmente in-
dustriais e, de outro, pela emergência de regiões portadoras de
novos paradigmas.
Este fenômeno, com já vimos anteriormente, está associ-
ado às mudanças nas formas e nos modos de produção e de
organização, bem com à globalização e à abertura das econo-
mias nacionais.
Assim, primeiramente devem ser considerados os aspec-
tos de flexibilização e da descentralização dentro e fora das orga-
nizações, os quais ocasionam impactos importantes em termos
de reestruturação funcional do espaço. O segundo fenômeno tem
provocado impactos consideráveis sobre os custos e sobre os pre-
ços relativos das empresas, as quais têm levado cada vez mais em
conta fatores locacionais em suas estratégias de competitividade.
Fazendo uma análise da evolução das teorias e da práxis
ao longo do tempo frente aos diferentes desafios colocados face à
dinâmica territorial da economia dos diferentes espaços, tivemos
um tratamento ditado pelos principais enfoques teóricos.
Nos anos cinqüenta, com base na teoria da base de ex-
portação, as estratégias apontadas incentivavam a ampliação da
base exportadora regional, destacando-se no conjunto destas, as
teorias clássicas de localização: Von Thunen (1826) – Weber
(1909) – Cristaller (1933) – Losch (1941) – Isard (1956). Essas

82
sob a ótica das desigualdades territoriais

estratégias tinham como foco a ótica das empresas individuais,


com ênfase na decisão das firmas em função dos custos de trans-
portes para definirem a localização ótima e que, conforme sugere
Krugman em seus estudos posteriores (1995/1996), as citadas
teorias encontraram limites ao tentar explicar o processo de loca-
lização e de endogeinização regional porque, em razão da sua
escolha metodológica, não conseguiam aprender a complexida-
de dos processos concretos e dinâmicos das concentração das
atividades econômica.
Nos anos sessenta, surgiram as teorias neoclássicas de
crescimento com ênfase nos fatores de aglomeração de inspira-
ção marshalliana e keinesiana que chamaram a atenção dos sis-
temas de planejamento, destacando-se três conceitos chaves: de
“pólo de crescimento”, Perroux (1955); de causação circular cu-
mulativa, Myrdal (1957); e o terceiro, dos efeitos para trás e para
frente de Hirschmann (1958), em que o foco era o aproveitamen-
to das externalidades entre as empresas, dando ênfase aos fato-
res dinâmicos da aglomeração na medida em que incorporaram
como fator de localização a complementariedade entre firmas e
setores, assim como a noção de escala mínima de firma.
Enquanto as teorias neoclássicas de crescimento
priorizavam os mecanismos de mercado, as marshallianas e
neokeynesianas enfatizavam o papel do Estado na compensação
das desvantagens das regiões pobres versus as regiões industriali-
zadas, onde a teoria da polarização incentivava a criação de pó-
los de crescimento a partir de indústrias chaves ou de uma maior
concentração de indústriais, destacando-se a importância das eco-
nomias externas, embora com caráter mais tecnológico ou técnico.
No final dos anos setenta e início dos oitenta, começam
a surgir as teorias do desenvolvimento endógeno “de baixo para
cima”, sinalizando para a descentralização das políticas regio-
nais, com a valorização do local. O aspecto novo era a estruturação
de um modelo alternativo de desenvolvimento, cuja realização está
fundamentada por meio de um processo de organização social
ou de ação coletiva regional, tendo como característica marcante
a ampliação das bases de decisões autônomas dos atores locais,
colocando em suas mãos o destino da economia local ou regional
construído de “baixo para cima“, em vez de um modelo de desen-
volvimento “de cima para baixo”.

83
A questão regional urbana

Assim sendo, as questões básicas, do ponto de vista da


região, seriam: conhecer o seu entorno paramétrico para avaliar
os seus graus de liberdade para agir; o sinal indicativo que o resto
do sistema aponta; o percentual de domínio sobre o de uso dos
recursos naturais; os efeitos da política macroeconômica sobre a
região, mas, sobretudo, da capacidade de organização social da
região.Essa capacidade de organização social da região, por sua
vez, vai depender da qualidade e identidade com a região da sua
classe política; da qualidade da tecnocracia regional; da classe
empresarial da região; da capacidade de participação dos de-
mais segmentos sociais. (BOISIER, 1989).
São estratégias resultantes não de uma aglomeração
passiva de empresas, mas de uma coletividade ativa de agentes
públicos e privados voltados para manter a dinâmica e a
sustentabilidade do sistema produtivo local, onde a interação en-
tre os agentes regionais assume destaque.
Essa interação só é possível na presença de três elementos:

I. construção da confiança;
II. criação de bases concretas capazes de permitir redes
de comunicação e
III. proximidade organizacional, decorrente da combina-
ção dos outros dois fatores.

Esses elementos, ou a articulação deles, começam cada


vez mais a ganhar importância na explicação do sucesso de deter-
minadas regiões.
Dentro desse quadro, as instituições, não apenas o Esta-
do em seus diferentes níveis, mas também outras do quadro soci-
al, tem sua importância acrescida . Uma vez que o livre funciona-
mento do mercado na globalização leva a uma maior concentra-
ção das riquezas e a correção ou minoração desse processo terá
como elemento decisivo essas instituições.
Outra das constatações importantes, particularmente das
idéias relativas ao desenvolvimento endógeno e ao desenvolvimento de
baixo para cima, é que, não obstante as forças exógenas serem determi-
nantes para o quadro regional, qualquer estratégia local para ser bem
sucedida deveria contar com a articulação e organização dos elemen-

84
sob a ótica das desigualdades territoriais

tos locais para aumentar as suas possibilidades de sucesso.


Mais ainda, quanto mais afetadas pelas grandes forças
liberadas pelos processos de globalização/mundialização, mais
importantes teriam de ser esses elementos locais.
Dentre as estratégias que reinvidicam a representatividade
do novo paradigma de desenvolvimento regional endógeno, três
deles se destacaram: os distritos industriais, o ambiente inovador
(millieur inovador) e o enfoque de cadeias produtivas e cluster’s.
O distrito Industrial tinha como característica principal
um sistema produtivo local caracterizado por um grande número
de firmas, geralmente pequenas, envolvidas em vários estágios, e
em várias vias, nas produções de um produto homogêneo.
O milieu inovador, ou ambiente inovador surgiu sob o
impacto dos trabalhos sobre a reestruturação produtiva, as teori-
as sobre a difusão de inovação tecnológica e dos entornos inova-
dores, apontando para estratégias de vinculação do desenvolvi-
mento regional com mudança tecnológica, para isso, selecionan-
do prioridades tecnológicas e também para o reforço dos elemen-
tos que favorecessem a inovação e a formação de redes.
Por sua vez, o cluster pretendeu funcionar com uma sín-
tese das estratégias anteriores, mas não ficando restrito às peque-
nas e às médias empresas, procurando recuperar alguns concei-
tos tradicionais de pólo de crescimento e efeitos concatenados de
Perroux e Hirschman, principalmente nos conceitos de industria
motriz conjugada com uma cadeia de produção.
Um aspecto marcante das estratégias ou conceitos de
desenvolvimento acima citados parte da noção de “economias
externas marshalianas“ que tem, na aglomeração industrial, sua
principal diferenciação, em relação aos modelos tradicionais de
desenvolvimento regional,cujo dinamismo é fundamentado prin-
cipalmente por uma ação coooperativa.
A década dos anos 1990 foi marcada pela notável volta da
discussão e aprofundamento dos temas de natureza territorial nas
ciências sociais e nas organizações internacionais de desenvolvimen-
to. As referências básicas dessa retomada não foram tanto as teorias
da localização baseadas na oferta e na mobilidade de certos fatores
produtivos, e sim nas externalidades positivas que, paradoxalmente,
as aglomerações eram capazes de produzir e que já tinham sido lo-

85
A questão regional urbana

calizadas, desde o final do século XIX, por Alfred Marshall, que desta-
cava: a característica principal dos distritos industriais, não era sim-
plesmente a aglomeração de setores economicamente correlatos, mas,
sobretudo, um fator intangível, uma certa “atmosfera” industrial que
se materializava em três “economias externas”: a difusão dos conhe-
cimentos, das técnicas e da tecnologia, o desenvolvimento de máqui-
nas de produção especializadas e a criação de um importante mer-
cado local de empregos (OCDE, 2001).
O tema ficou na sombra do início de 1920 (com a publi-
cação dos últimos trabalhos de Marshall) até a descoberta pionei-
ra dos distritos industriais italianos, já nos anos 70, que imprimiu
interessante coloração sociológica a essas realidades produtivas,
destacando o papel da confiança, do inter-conhecimento e da
interação social entre os indivíduos na formação de um ambiente
em que se operava a “construção social do mercado”.
Desde então, e, sobretudo, durante a última década, é
crescente a preocupação dos economistas com a dimensão espa-
cial do crescimento econômico.
A expressão desse movimento intelectual tem como um
dos resultados a criação pela Organização Comercial do Desen-
volvimento Econômico – OCDE, uma “divisão de desenvolvimento
territorial” e passa a editar, a partir de 2001, uma publicação
anual periódica, As perspectivas territoriais da OCDE. Logo na
primeira página do número de lançamento pode-se encontrar o
reconhecimento de que “cada território dispõe de um capital es-
pecífico, o” capital territorial’, distinto daquele de outros
territórios...”(OCDE, 2001, p. 15).
O debate nos anos noventa dividiu-se, a grosso modo,
entre as perspectivas das redes mundiais e as dos distritos indus-
triais localizados. Temos aí um conjunto de produção recente em
economia regional: Piore e Sabel (1984, distritos industriais); Gremi
(1985, ambientes inovadores); Storper e Scott (1988, Organiza-
ção Industrial ) e Krugman ( 1991, Retornos crescentes), em que
o foco são as relações mercantis, sociais, tecnológicas, empresas
/ comunidades locais e a vinculação ao processo de globalização.
Segundo Camagni (apud BOISIER, 2001, p.22) a evolu-
ção dos paradigmas do desenvolvimento regional, nas últimas
décadas, poderiam ser assim descritos:

86
sob a ótica das desigualdades territoriais

• 1950/60 - a infra-estrutura como condicionante do


crescimento econômico regional);
• 1960/70 - atração de investimentos externos, pólos
de desenvolvimento, base exportação;
• 1970/80 – desenvolvimento endógeno, competência
local;
• 1980/90 – inovação, difusão de tecnologia, meio ino-
vador;
• 1990/00 – conhecimento, aprendizagem coletiva;
• 2000/10 – capital relacional, interconexão ,e-trabalho.

O que se observa atualmente em diversas regiões são


estratégias de desenvolvimento regional ou local que combinam
os elementos característicos dos últimos períodos.
Constatam-se, assim, as profundas transformações que a
teoria econômica regional experimentou nesses últimos anos, virtude
da reestruturação produtiva e espacial, assim como da emergência
de novos paradigmas que encontram, nas fontes internas da região
(história, iniciativas e ações dos agentes locais), as principais causas
do desenvolvimento e que incorporam, tanto as correntes ligadas à
concorrência imperfeita, como aquelas ligadas às correntes
evolucionistas e institucionalistas (marshallianos, e shumpterianos).
Em relação à sistematização da produção teórica em
economia regional, identificam-se três grandes blocos compostos
pelo conjunto das teorias clássicas da localização; das teorias
com ênfase nos fatores de aglomeração e pela produção recente
com a incorporação de abordagens que possam dar conta dos
novos padrões de produção baseados na automação integrada
flexível e no processo de globalização.
Por fim, é interessante observar que existe um forte
complementariedade entre as diferentes abordagens, fazendo com que
os formuladores de políticas públicas as levem em conta para a cons-
trução de estratégias de desenvolvimento regional, variando seu grau
de aplicabilidade de acordo com a realidade específica.de cada região,
não havendo uma estratégia única aplicável a todas as regiões.
Dentre as experiências internacionais que ilustram algu-
mas das transformações do marco político-institucional em curso a
partir da década de 90, sobre o planejamento para o desenvolvi-

87
A questão regional urbana

mento dos territórios, destacam-se duas. A primeira delas, o Pro-


grama LEADER (Ligações Entre Ações de Desenvolvimento da Eco-
nomia Rural), implantado no início da década de 90 na União Eu-
ropéia trouxe à tona a necessidade de se utilizar uma abordagem
territorial em face às crises experimentadas por inúmeras áreas ru-
rais européias. A abordagem dessa iniciativa, que privilegia o enfoque
no planejamento com base na competitividade dos territórios, in-
corpora de forma inovadora os aspectos econômicos, ambientais,
sociais e culturais nas suas ações. Além disso, com a experiência de
mais de uma década e mais de mil projetos apoiados, a Iniciativa
LEADER acumulou grande quantidade de lições aprendidas que
podem ser compartilhadas com outros países que estão se lançan-
do na inovação de seus processos de planejamento.
A segunda experiência apresentada é o Programa EZEC
(Empowerment Zones and Entreprise Communities) desenvolvido
nos EUA desde 1993. Diferentemente de outros programas ameri-
canos voltados para o meio rural e geralmente baseados em taxas
de incentivos e subsídios para determinados setores, o programa
EZEC agrega novos elementos, em especial a noção de
accountability2 . A sua orientação vai ao sentido de conseguir o com-
prometimento dos cidadãos de se engajarem em uma ação de pla-
nejamento estratégico a longo prazo, que seja permanentemente
monitorada e envolva os diferentes atores das comunidades.
Um dos pontos de destaque do programa foi à rápida
transformação do ato legislativo que o instituiu em regulamenta-
ções e procedimentos que orientam os atores e territórios que pre-
tendem se engajar no programa.
Além disso, a lógica de planejamento para os territórios se
baseia na participação ativa das comunidades envolvidas desde a
elaboração de um plano de médio e de longo prazo para a região,
até a implantação e acompanhamento dos projetos. As comunida-
des têm até seis meses para desenvolver seus planos e submetê-los
à revisão e estes devem refletir os quatro princípios básicos da Inici-

2
A accountability se refere as condições existentes de processos transparentes e
facilmente compreensíveis que permite a sociedade exercer pressão sobre o
desempenho das políticas públicas, garantindo o uso legal democrático e apro-
priado dos recursos públicos.

88
sob a ótica das desigualdades territoriais

ativa EZEC, que são: a) oportunidade econômica; b)desenvolvimento


sustentável; c) cooperação e parcerias nas comunidades
(community-partnership) e d) visão estratégica de mudança.
Em comum, essas duas experiências inovadoras de plane-
jamento para o desenvolvimento têm o enfoque na territorialidade do
processo, rompendo com a lógica estrita do planejamento setorial.
Além disso, em ambos os casos não se tratam simples-
mente de repasse de recursos para “regiões carentes”, mas do
apoio a projetos que se destacam por seu caráter endógeno.
O importante nestas duas experiências é que elas servi-
ram para constatar que o Estado não possui estrutura, ânimo e
mecanismos de incentivo para lidar com dinâmicas locais. O Es-
tado piramidal não consegue relacionar-se com organizações em
rede. No entanto, a presença do Estado – é o que mostram as
experiências européia e norte-americana expostas acima – tem
um papel decisivo de imprimir estabilidade e fornecer parâmetros
para o funcionamento da própria rede de iniciativas localizadas e
voltadas à inovação no processo de desenvolvimento. Sem a atu-
ação do Estado o risco de a rede se decompor em virtude das
naturais diferenças entre seus membros componentes, ou de não
encontrar interlocutores à altura de suas necessidades é imenso.
A conseqüência é que as organizações mais expressivas
da vida econômica regional não têm incentivos para permanecer
em sua articulação. Com isso, o permanente nas organizações de
caráter regional é exatamente aquilo que tende a estabelecer com
o poder público uma relação de demanda, típica do Estado
redistributivo. O pacto e o fórum acabam suplantados pelas or-
ganizações tradicionais que tendem a refletir os interesses e as
demandas típicas e localizadas dos políticos profissionais.
A relação dessas associações com os segmentos produtivos
e com o mundo associativo não tem a marca da elaboração de proje-
tos estratégicos, e sim a do atendimento a demandas específicas.
Podemos observar, no quadro 02, a síntese elaborada
por Diniz e Gerry (2001, p. 2) sobre as tipologias dos principais
paradigmas do desenvolvimento regional, permitindo-nos consta-
tar que atualmente temos a presença mais forte da abordagem
neoclássica com algumas iniciativas de natureza keynesiana e de
desenvolvimento endógeno.

89
90
Quadro 02 - Desenvolvimento regional: tipologia dos principais paradigmas/influências analíticas
A questão regional urbana
sob a ótica das desigualdades territoriais

91
A questão regional urbana

C – OS CENÁRIOS E O AMBIENTE DO DESENV OL VI-


OLVI-
MENTO REGIONAL
MENTO

Neste século, a expansão do conhecimento ou capital


cognitivo é a chave do desenvolvimento, sendo o fator
condicionante que determinará a posição que cada território ocu-
pará no jogo competitivo da globalização nas diversas escalas.
Assim, a chamada sociedade do conhecimento, como
determinou Sakaiya (apud BOISIER, 1996), baseia-se no avanço
permanente das tecnologias de comunicação e de informação,
consolidando o conhecimento como o novo fator de produção.
A acumulação do conhecimento determina a capacida-
de para inovar em um ambiente de facilidades crescentes de aces-
so à informação e à tecnologia. A questão é como incorporar
essas idéias no campo do desenvolvimento territorial.
No novo paradigma que se começa a firmar são compo-
nentes chaves: a interconexão, a interatividade, a ação coletiva, a
redução da escala geográfica, a ampliação virtual, o
construtivismo, a intersubjetividade, o conhecimento e as inova-
ções, que estão respaldados no fortalecimento e na criação de
novas formas de capital coletivo.
O tema do conhecimento tem penetrado, no campo do
sistema produtivo, a questão da competitividade, faltando articu-
lar melhor o conhecimento social (tácito) com as estruturas das
propostas de desenvolvimento. A melhoria dessa articulação é um
dos desafios para as propostas de desenvolvimento regional.
Em relação à dupla globalização/conhecimento,
Delapierre (1995) assinala que a característica fundamental da
globalização é a importância adquirida pelo conhecimento na or-
ganização e funcionamento das atividades produtivas (tecnologia,
formação, software, gastos comercias, organização).
A necessidade permanente de adquirir conhecimento se
converte num imperativo para quem administra uma empresa tanto
para quem dirige territórios, em ultima análise para qualquer ator.
Para as regiões a questão não é menor, como bem apontam
Markell e Malmberg (1999 p. 167-185): “As regiões devem quase
permanentemente reconstruir estruturas obsoletas, renovar recursos,
recuperar organizações e reconstruir conhecimentos inadequados”.

92
sob a ótica das desigualdades territoriais

Nesse ambiente, deve-se destacar as diversas inter-relações


entre conhecimento, organizações, procedimentos e territórios.
Inicialmente, temos as interações entre conhecimento e sis-
tema produtivo, pois agora a tecnologia e as inovações tecnológicas
são reconhecidas como motores para as mudanças nos padrões de
desenvolvimento dos distintos territórios, dependendo, em grande
medida, das capacidades territoriais para absorver e aproveitar deter-
minadas inovações, que envolve as combinações de diversos conhe-
cimentos tecnológicos, organizacionais e de mercado, daí a impor-
tância de se criar processos de aprendizagem coletiva.
A aprendizagem coletiva é a forma de enfrentar a incer-
teza e a ausência de coordenação pode ser entendida como emer-
gência de um conhecimento básico comum e de procedimentos
na esfera de abrangência de um conjunto de organizações geo-
graficamente próximas, o que facilita a cooperação para a solu-
ção de problemas comuns.
Neste contexto vale destacar o conceito de ativos
relacionais, estudado com aprofundamento na obra de Storper
(1998), como condicionante para assegurar a inovação e a
competitividade. Incluindo, como valores, a reciprocidade, a con-
fiança, a natureza de laços que unem os atores (cultura
coorporativa), as racionalidades de ação, sendo, portanto, a base
cognitiva para a aprendizagem.
Complementando, temos a interação do conhecimento
e da competitividade, pois uma competitividade sustentada em
longo prazo só pode basear-se em vantagens competitivas dinâ-
micas, ao contrário das vantagens comparativas baseadas na ex-
ploração de recursos naturais e na comercialização de comoditties
(capazes de sustentar bons negócios em curto prazo). O objetivo
é formular um modelo que contemple a dinâmica da
competitividade sobre as forças ativas que sustentam uma rede de
conexões por si mesmas através da gestão do conhecimento.
A competitividade sistêmica envolve um conjunto de ato-
res (empresas, governos, fornecedores, clientes, agências públi-
cas, ONGS etc.) que estruturam uma rede de cooperação e aju-
dam a difundir o conhecimento tácito.
O conhecimento tácito está constituído por elementos difíceis
de se codificar e de se difundir formalmente. Quando esses elementos

93
A questão regional urbana

se incrementam dentro da base do conhecimento, a acumulação


tecnológica se baseia na experiência e nos contatos inter-pessoais.
O conhecimento tácito, em contraposição ao cientifico e
tecnológico resultante de investimentos em educação e tecnologia,
adquire-se, basicamente, por meio da experiência e no próprio pro-
cesso produtivo e está representado por práticas organizacionais,
institucionais e estratégicas dos agentes econômicos. Também é
conhecimento possuído por membros de um grupo social, por uma
comunidade territorial, gerado através de processos históricos, que
formam parte do capital cultural (BOISIER, 2001).
A importância do conhecimento como condicionante do
processo de desenvolvimento, também tem suas implicações no campo
espacial/territorial/ geográfico, introduzindo o conceito de learning
region (região que aprende, região inteligente, ambiente inovador).
O conceito de região que aprende (learning region) de-
senvolvido por diversos autores Storper, Florida, Scott, Morgan e
outros refere-se a uma vantagem econômica sustentável baseada
na criação do conhecimento e na estruturação de redes produti-
vas que suportam a construção de uma cultura de negócios de
baixo para cima (upgrading).
Este enfoque da infra-estrutura humana regional e de
redes para alguns autores é mais importante que a infra-estrutura
física, evidenciando a importância de redes locais, de organiza-
ções e dos governos locais para as inovações tecnológicas.
As regiões inteligentes, por sua vez, são parcialmente
assentadas na teoria da organização produtiva, constituindo-se
em tipos de regiões inovadoras, criativas ou que aprendem e ca-
racterizadas por mão-de-obra qualificada por estabelecimentos
de pesquisa e ensino, por agrupamentos de empresas de alta
tecnologia e por uma diversidade de atores institucionais que, por
efeitos sinérgicos, beneficiam toda a região.
Temos, ainda, o conceito de “ambiente inovador” desen-
volvido pelo Grupo de Recuperação Européia – GREMI (Amaral,
1999, p. 10), definido como:

Um operador coletivo que reduz os graus está-


ticos e dinâmicos de incertezas e riscos, que as
organizações enfrentam mediante a organiza-

94
sob a ótica das desigualdades territoriais

ção tácita e explícita da interdependência fun-


cional, entre atores locais, realizando informal-
mente as funções de investigação, transmissão,
seleção, decodificação, transformação e con-
trole da informação.

O conceito de ambiente inovador permite explicar a di-


nâmica econômica dos sistemas de produção das cidades e das
regiões, sendo uma das formas de responder à velocidade das
mudanças e de outras formas de organização de modo eficaz
como fazem as redes setoriais.
Não se trata de converter os atores sociais em acadêmi-
cos sobre o desenvolvimento territorial, mais sim a forma de soci-
alizar a forma de conhecimento denominada como conhecimen-
to pertinente, que se equivale ao conhecimento mínimo suficiente
para o entendimento da natureza sistêmica, aberta e complexa
dos problemas que afetam o desenvolvimento regional, o que sig-
nifica entender e não só conhecer o sistema territorial.
Assim se objetiva criar e socializar um saber capaz de
interpretar de maneira consensuada e compartilhada, tanto de
estrutura, como dos processos de mudanças, criando uma sinergia
cognitiva no espaço local, ou seja, criar uma capacidade coletiva
para realizar ações em comum sobre uma mesma interpretação
da realidade e suas possibilidades de mudanças.
Segundo Boisier (2001), para a gestão territorial, deman-
da-se dois tipos de conhecimento: o estrutural e o funcional.
O conhecimento estrutural entende que toda região é
um sistema, um sistema aberto complexo, isso significa que se
requer verdadeiras mudanças mentais para intervir em uma re-
gião e para essa intervenção é necessário aprender análises de
sistemas e pensar em termos do paradigma da complexidade.
Já o funcional significa entender qual é a estrutura atual
dos processos de mudança no território (globalização), conhecer
o novo entorno (como se insere uma região em seu meio (exter-
no) e o novo interno (quais são as condições causais do cresci-
mento econômico e do desenvolvimento), o primeiro é exógeno, e
o segundo endógeno, atentar para as mudanças requeridas para
a ação do governo.

95
A questão regional urbana

Concluindo, Joahnsen (1997) afirmava que temos de


entender a região como sendo um sistema, ou seja, um conjunto
de elementos em interação para alcançar um conjunto de objeti-
vos, ou também como um grupo de partes e objetos que interatuam
e que formam um todo ou que se encontra sobre a influência de
forças com alguma relação definida.
Ao conceito de sistemas agrega-se, de forma indissociável,
os conceitos de subsistemas e supersistema, ou seja, cada sistema
é formado por partes (subsistemas) e todo o sistema é abrangido
por outro maior (super sistema).
Um sistema é um conjunto de partes que funcionam como
uma única entidade e, ao funcionar como um todo, tem proprie-
dades distintas das partes que o compõem. Essas propriedades
são denominadas de propriedades emergentes e sobressaem do
próprio sistema quando este alcança um certo nível de complexi-
dade e desaparecem quando se trata de efetuar reducionismo
analítico, assim nada como apontar o desenvolvimento endógeno
como uma emergência sistêmica.
Outro conceito importante é o de abertura sistêmica, ou
seja, a maneira como o sistema se relaciona com seu ambiente
interno e externo.
Nas diversas definições de sistemas, em sua unanimida-
de, dão ênfase específica à inter-relação entre as unidades e ele-
mentos do sistema, à sua complexidade e organização.
Desde um ponto de vista mais elementar, um território, tal
como uma região, constituiu-se em sistemas (tecno-sócio-econô-
mico) abertos, sobretudo no contexto da globalização, com fluxos
de intercâmbio com um ambiente ampliado (resto do país, do mun-
do) a ponto de que uma parte significativa das ações, que se inici-
am ou finalizam no território, tem sua finalização ou início fora dele.
A maioria das propostas oficiais não considera as rela-
ções dos territórios com o seu ambiente, marginalizando o essen-
cial do novo paradigma luhmaniano que trata do par sistema/
ambiente como substituto do paradigma antigo todo/partes.
Sistemas territoriais pequenos mostram geralmente uma
abertura sistêmica, resultando em transformar exógeno o processo
de crescimento de seu território desde o ponto de vista decisório.
Quanto mais aberto o sistema menores serão os graus de liberda-

96
sob a ótica das desigualdades territoriais

de disponíveis endogenamente para seu autocontrole, influencian-


do significativamente na capacidade de existir governo regional.
Outro conceito a ser entendido é o do paradigma da com-
plexidade, que busca superar as restrições do paradigma positivista. A
complexidade, à primeira vista, é um fenômeno quantitativo, uma quan-
tidade extrema de interações e interferências entre um número grande
de unidades, compreendendo também incertezas, indeterminações e
fenômenos aleatórios (MORIN, apud BOISIER, 2000).
Toda a região, enquanto sistema aberto e complexo: mas
sempre com uma complexidade menor que seu ambiente: tem
como objetivo primário reduzir a sua complexidade e se
complexizar.
A globalização tornou mais complexa o ambiente do
mundo e de cada região, ficando agora os territórios obrigados a
incrementar a sua complexidade, introduzir mais diversidade, mais
subsistemas no sistema regional, ou simplesmente mais atividades
e organização, dotando-os de maiores níveis de autonomia.
Boisier (2001), em seus diversos estudos sobre a ques-
tão regional, destaca o novo ambiente para o desenvolvimento
regional, composto por três novos cenários (ver figura 03).
I. O Cenário Contextual, constrói-se permanentemente
a partir de dois importantes processos contemporâneos, um de
natureza econômica, a abertura externa, e outro de natureza po-
lítica, a abertura interna.
A abertura externa é caracterizada pela intensificação e
ampliação do comércio entre os territórios, visando ocupar os es-
paços da modernidade e da competitividade, impulsionados pelo
processo de globalização, expressão concreta e funcional do novo
capitalismo tecnológico, enquanto a abertura interna é ditada por
processos de descentralização (desconcentração de processos pro-
dutivos, processos de transformação do estado, papel regulador e
de transferência de poder à sociedade civil , demandas de autono-
mias das bases territoriais e privatização de unidades produtoras de
bens e serviços), as formas de abertura se retroalimentam, pois não
é possível ser competitivo com estruturas centralizadas.
II. O Cenário Estratégico, diretamente relacionado às
novas configurações territoriais permite as regiões alcançarem
condições de competitividade e que está sendo construído, tam-

97
A questão regional urbana

bém, mediante o surgimento de novas configurações territoriais


(regiões pivotais, associativas e virtuais).
III. O Cenário Político, construído por meio da interse-
ção de dois processos a modernização do Estado sob as dimen-
sões da sua capacidade operativa de atender a dimensão territorial
(projeto regional de desenvolvimento) e das novas funções dos
governos para conduzir politicamente e articular socialmente as
mudanças necessárias que levam à reinvenção dos governos para
que possam assumir as novas funções demandadas (gestão polí-
tica de negociação e de animação social) na formação de aglo-
merados produtivos, regionais e sinérgicos.
A gestão política regional se traduz em processos siste-
máticos e permanentes de negociação para cima (governo nacio-
nal e agentes externos), para os lados (atores regionais) e para
baixo (municípios e outras bases territoriais). A animação regio-
nal, por sua vez, desdobra-se em duas funções igualmente siste-
máticas e permanentes, a de agente catalisador aquele capaz de
fazer surgir a sinergia (fundamento básico do desenvolvimento
endógeno) e a de uma função informacional, capaz de captar e
reestruturar o fluxo de informação entrópica que circula em torno
dos agentes de desenvolvimento de uma região.

Figura 03 - Novo ambiente do desenvolvimento regional.


Fonte: Boisier, 2001, p. 28.

98
sob a ótica das desigualdades territoriais

Pode-se constar que o desenvolvimento regional é resul-


tante de dois movimentos, o do crescimento exógeno e o do de-
senvolvimento endógeno.
Nas figuras 04 e 05, a seguir, podemos observar os com-
ponentes desses processos. O crescimento econômico territorial
exógeno depende atualmente da forma como opera uma matriz
de seis fatores: a acumulação de capital, a acumulação de co-
nhecimento e a acumulação do capital humano, do projeto naci-
onal e seu componente territorial (que define papéis estratégicos a
cada território), do quadro da política econômica nacional global
e setorial que impacta os territórios e pela demanda externa ex-
portações mais o gasto dos não residentes.
Se considerarmos que os atores que comandam esse
processo encontram-se em seu ambiente externo, conclui-se que
o crescimento econômico territorial é exógeno, sem poder de con-
trole pelo atores locais, cuja capacidade de poder influenciar de-
pende diretamente da sua capacidade de negociação e de pro-
moção, ambas baseadas no conhecimento.

Figura 04 - Crescimento Territorial Exógeno.


Fonte: Boisier, 2001, p. 34.

99
A questão regional urbana

Por sua vez, o desenvolvimento territorial endógeno é


entendido como um verdadeiro processo de sinergia coletiva, re-
sultante da interação dos seguintes fatores: o estoque de capitais
intangíveis, o potencial de crescimento, o grau de endogenidade e
de uma atitude mental coletiva.
A criação de sinergia cognitiva territorial pode ser enten-
dida como a capacidade coletiva para realizar ações em comum,
tendo como base a mesma interpretação da realidade e de suas
possibilidades de mudanças que possibilitam alcançar um con-
senso social e gerar poder político.

Figura 05 - Crescimento Territorial Endógeno.


Fonte: Boisier, 2001, p. 35.

É importante destacar que a ênfase dada à importância


dos fatores endógenos no papel dos atores locais para o desen-
volvimento de uma região não pode ser confundido com uma de-
fesa do isolamento em relação a mercados externos, como afirma
Amaral Filho (1996, p. 44):

Ao contrário de ser um conceito correntemente


associado ao fechamento e ao isolamento, ou
ainda ao autocentrismo e autosuficiência de
uma determinada região, o desenvolvimento

100
sob a ótica das desigualdades territoriais

endógeno deve ser entendido antes de tudo,


como um processo de transformação, fortale-
cimento e qualificação das estruturas internas
de uma região. Isso deve ser processado no
sentido de criar um ambiente ótimo e atrativo
para capturar e consolidar um desenvolvimen-
to originalmente local e / ou permitir a atração
e localização de novas atividades econômicas
numa perspectiva de economia aberta (e mes-
mo globalizada e de sustentabilidade).

Portanto, as estratégias de desenvolvimento endógeno


não são incompatíveis com as de natureza exógena como indutoras
do crescimento econômico regional. Essa forma, como afirmam
diversos autores, pode estabelecer inter-relações com o meio, en-
trando num processo sinérgico com os recursos locais, tendendo
a se transformar num sistema de empresas conectadas com uma
interdependência relativa de cada empresa do sistema, com inter-
relações produtivas cada vez mais intensas, consolidando formas
de organização e estratégias específicas ao espaço considerado.
Ao considerarmos os novos cenários do desenvolvimen-
to regional, em economias abertas e descentralizadas, chega-se à
conclusão que o grande desafio das políticas de desenvolvimento
regional consiste em contribuir para que os diferentes territórios
possam inserir-se num contexto de mercado internacional, de for-
ma moderna e competitiva e, no contexto da descentralização
nacional, de uma forma eqüitativa e participativa.
Assim, podemos visualizar quais seriam os componentes
de uma nova estrutura conceitual para a questão do desenvolvi-
mento, entendida como a possibilidade de todo o indivíduo, al-
cançar sua plena dignidade como pessoa humana. O marco ini-
cial é ter como referência os valores da liberdade, democracia,
justiça, ética, solidariedade e diversidade.
Em segundo, estarmos consciente que jamais o proces-
so de desenvolvimento será de natureza individual, e sim resultan-
te de uma ação coletiva comum, que a caracterize como uma
comunidade com forte identidade. Essa condição possibilita o
surgimento de um processo de construção social regional que,

101
A questão regional urbana

por sua vez, gerará valores regionais específicos que irão efetiva-
mente constituir uma região.
Por outro lado, temos as causas que impedem a
potencialização dos seres humanos como pessoas: o desempre-
go, a discriminação e a distribuição da renda e que está associa-
do à produtividade, às políticas sociais e à educação.
É importante quantificar, potencializar e articular os di-
versos capitais tangíveis e intangíveis de uma forma endógena.
Essa possibilidade tem uma vinculação forte com o princípio da
descentralização e com a capacidade regional de reter e reinvestir
o seu excedente para operar seus próprios impulsos de inovações
tecnológicas, fortalecendo as suas identidades regionais,
ameaçadas pelo processo de globalização.

102
sob a ótica das desigualdades territoriais

Objetiva-se, neste capítulo, realizar uma análise da evo-


lução das desigualdades regionais no estado de Mato Grosso no
período de 1991-2000, identificando suas principais tipologias
territoriais, a inter-relação das duas dimensões da desigualdade
regional, a dimensão econômica e a social e a sua interface tam-
bém com a dimensão ambiental.
Centra-se a análise nos principais indicadores básicos
a seguir: Produto Interno Bruto – PIB, Produto Interno Bruto Per
Capita, Valor Adicionado, Valor Adicionado Per Capita, Renda
Familiar, Índices de Pobreza, Indicadores Demográficos e de Ur-
banização (taxas de crescimento demográfico e urbanização) e
Índice de Desenvolvimento Humano – IDH e de Desigualdades
de Renda.
Para se permitir a evolução comparativa das desigualda-
des regionais, será também definido o Índice de Desenvolvimento
Regional – IDR.
Dessa forma, para o alcance dos objetivos definidos,
será feita, inicialmente, uma contextualização da regionalização
escolhida para a análise em foco, tendo como base os estudos
realizados no âmbito do projeto Zoneamento Sócio-Econômico
Ecológico.

103
A questão regional urbana

A – A REGIONALIZAÇÃO DO ESTADO NA VISÃO CON-


ESTADO
TEMPORÂNEA

A regionalização do espaço / território tem-se constituí-


do na base das estratégias de desenvolvimento regional, variando
de acordo com os objetivos das políticas públicas, na maioria das
vezes, adotando como critérios a tipificação e a diversificação dos
recursos naturais e a hierarquização urbana.
No contexto do paradigma do desenvolvimento susten-
tável, cabe destacar o conceito de ordenação do território, com-
preendido como a expressão espacial das políticas econômicas,
sociais, culturais e ecológicas que visem a melhorar a qualidade
ambiental das atividades produtivas e assegurar a proteção
ambiental, tendo como seu principal instrumento técnico-científi-
co, os estudos de zoneamento.
O Zoneamento Sócio-Econômico-Ecológico é entendido
como o estudo integrado dos recursos naturais, biótipos e sociais
dentro de um enfoque totalizante, de modo a integrar todos os
componentes e processos intervenientes de maneira sistêmica de
um espaço, permitindo identificar as relações de interdependência
entre os diversos sistemas naturais, sociais e econômicos. Esses
estudos, ao contemplarem as dimensões da sustentabilidade eco-
nômica, social e ecológica e serem orientados pelos princípios da
descentralização, parcerias, democracia e convergência, contri-
buem como elemento redutor das desigualdades regionais .
Berta Becker (2000) chamava a atenção dos Estados
para a importância do zoneamento e sua utilização na
implementação de estratégias de desenvolvimento, num contexto
fortemente diferenciado e competitivo, servindo de fundamento para
a negociação do uso dos seus territórios com os atores sociais
que resultem em ações inteligentes e competitivas, melhor infor-
madas, articuladas e resultantes de um consenso social mínimo.
Destacando, ainda, que os estudos de zoneamento podem impri-
mir um avanço substancial em termos de qualidade da gestão
territorial e, sobretudo, a ampliação da massa crítica capaz de
promover a passagem para o desenvolvimento sustentável.
Assim, a presente pesquisa sobre as desigualdades regionais
tem como base a regionalização resultante dos estudos realizados pelo

104
sob a ótica das desigualdades territoriais

projeto de Zoneamento Sócio-Econômico-Ecológico do estado de Mato


Grosso - ZEES – MT que incorpora a dimensão da ordenação do territó-
rio e traz como principais denominações de “espaço”: as Unidades Eco-
lógicas - UE’s - resultante da integração das informações temáticas do
meio físico e biótipo; as Unidade Sócio-Econômica - USE’s – cuja base de
dados utilizada para a sua identificação e delimitação compreendeu os
estudos de Hierarquização do espaço regional e as Unidades Sócio-
Econômicas-Ecológicas- USEE’s – que foram delimitadas com base na
interação entre das Unidades Ecológicas e as Sócio-Econômicas.
Dessa maneira, os modos de uso e ocupação do solo, de
organização da produção e os graus diferenciados de consolida-
ção das atividades, individualizados como unidades sócio-econô-
micas-USE’s e os componentes da base natural constituintes das
Unidades Ecológicas-UE’s, foram os elementos básicos da cons-
trução das Unidades Sócio Econômicas-Ecológicas-USEE’s.
Posteriormente as Unidades Sócio-Econômicas – Ecoló-
gicas serviram para a definição das Zonas e das regiões de Plane-
jamento, assim conceituadas:
Zonas - são as Unidades Sócio-Econômicas-Ecológicas-
USEE’s agrupadas nas respectivas regiões de planejamento que
foram classificadas em 5 (cinco) categorias de usos, quais sejam:
usos restritos, usos controlados, usos a readequar (recuperação
ambiental; reordenação da estrutura produtiva; fortalecimento da
agropecuária, fomento e diversificação da pequena e média pro-
dução familiar); usos a consolidar e usos especiais.
Regiões de Planejamento - Essas regiões assim constituí-
das compreendem um conjunto de USEE’s agregadas, segundo a
integração dos aspectos econômicos e ecológicos com os elemen-
tos estruturadores das regiões de influência dos pólos urbanos.
A referida regionalização resultante dos estudos do pro-
jeto Zoneamento Sócio-Econômico-Ecológico apresentou, basica-
mente, duas etapas distintas.
Na primeira fase, produziu-se inicialmente uma
regionalização funcional dos centros urbanos, resultante da sínte-
se de indicadores de disponibilidade de infra-estrutura, do porte
econômico das cidades e do papel que cada núcleo urbano de-
senvolve na rede de cidades do Estado.
Assim, o Estado pode ser compreendido por meio de tre-

105
A questão regional urbana

ze áreas de influência, nas quais se destacam vinte e seis sedes


municipais classificadas em sete tipologias segundo o grau de
hierarquização identificado, servindo de insumo para o estabele-
cimento das compartimentações da área de estudo em unidades
ambientais e unidades sócio econômicas para, finalmente, após a
análise integrada destas últimas, conceber as Unidades Sócio-Eco-
nômicas-Ecológicas-USEEs, que indicaram a conformação das
zonas de uso, o zoneamento propriamente dito.
Nas fases seguintes, denominadas de correlação, consi-
derando cenários de desenvolvimento e tendências do Estado, as
USEEs foram agrupadas em 12(doze) regiões de planejamento
obtidas no processo de aferição e ajuste dos seus limites, quando
da sua incorporação como variáveis, provocando uma revisão dos
limites das treze regiões de influência.
Essa nova regionalização adaptada do arranjo menciona-
do, resultou em doze “Regiões de Planejamento” delimitadas a partir
de um conjunto de USEEs agregadas, tendo por base uma análise
integrada dos aspectos sócio-econômicos e ecológicos com os ele-
mentos estruturadores das regiões de influência dos pólos urbanos.
As USEE´s, assim identificadas, constituem as regiões de
planejamento, resultantes da regionalização adaptada, que subs-
tituiu as regiões de influência funcional, incorporando a integração
dos aspectos econômicos, sociais e ecológicos sob a ótica da
sustentabilidade com os elementos estruturadores das regiões de
influência dos pólos urbanos formando, assim, o espaço / territó-
rio comum, com características físicas e sócio-econômicas parti-
cularizadas, específicas e homogêneas.
Em relação aos processos de regionalização, cabe des-
tacar que a ocupação do território mato-grossense tem se tradu-
zido num expressivo aumento da diferenciação interna como re-
sultado das transformações econômicas verificadas, resultando
numa heterogeneidade que é fator condicionante para a formula-
ção e implementação de políticas de desenvolvimento regional,
permitindo a sua consideração, cobrir de forma adequada um
diagnóstico mais preciso dos problemas relacionados aos níveis
meso e micro que compõem a questão regional.
Em outras palavras, a renovação das políticas regionais
exigirá, cada vez mais, a utilização de uma divisão territorial mais

106
sob a ótica das desigualdades territoriais

adequada que contemple áreas menores caracterizadas por apre-


sentarem uma problemática mais homogênea, sem que isso im-
plique em desativar instrumentos, focalizados em mesoregiões.
Nesse aspecto, as regiões de planejamento definidas pelo
Estudo do ZSEE são sub-divididas em subregionalizações denomi-
nadas zonas e que poderiam ser ajustadas e comparadas às
territorialidades existentes em cada uma, possibilitando, assim,
atender de uma maneira mais efetiva a questão da
heterogeneidade territorial.
As políticas focalizadas nesses sub-espaços possibilitari-
am: uma melhor identificação dos problemas específicos de cada
região, segundo suas diversas territorialidades; uma melhor
especificidade e foco das intervenções; uma participação mais efe-
tiva da sociedade civil na formulação, acompanhamento e avalia-
ção das ações que venham a ser desenvolvidas; facilitar a atua-
ção integrada com as administrações estaduais e municipais e
tornar mais viável a formação de parcerias com atores não gover-
namentais, cuja atuação tenha escopo regional ou local.
Essa preocupação recente está expressa em documento
datado de 1995, da Secretaria de Políticas Regionais do então
Ministério do Planejamento e Orçamento (p. 20), definindo que
as políticas regionais deveriam considerar:

A incorporação ao processo de planejamento


de uma pesquisa aprofundada de esquemas
de regionalização, que levassem em conta a
heterogeneidade de características físicas – eco-
nômicas, permitindo assim uma intervenção
mais apropriada do Governo/ Sociedade às
especificidades de cada segmento do espaço
regional, com a possível divisão dos espaços
territoriais em sub-regiões, áreas programas e
áreas de desenvolvimento local.

Dentro dessa proposição, tornar-se-ia mais factível falar em


políticas de desenvolvimento regional, sendo a adequação territorial
extremamente importante quando se tem em vista a necessidade de
se articular ações com as instâncias regionais e de se promover uma
maior participação dos segmentos organizados da sociedade civil,

107
A questão regional urbana

na implementação de políticas de desenvolvimento regional.


Cabe a observação que, de uma forma geral, as chama-
das, “políticas de desenvolvimento regional” não têm observado a
heterogeneidade do território na dimensão que é desejada como
estratégia para o alcance dos objetivos do desenvolvimento.

B - A DINÂMICA RECENTE DA DIFERENCIAÇÃO TERRIT


DA ORIAL
TERRITORIAL
E REGIONAL NO EST ADO DE MA
ESTADO MATTO GROSSO

O estado de Mato Grosso, em face de sua dimensão


territorial e sua baixa densidade demográfica, é um território em
constante processo de formação e construção.
Uma retrospectiva simplificada do seu processo de ocu-
pação recente permite visualizar as etapas que marcaram a evo-
lução da sua organização espacial, cabendo destacar, sob a égide
do Estado Novo, no período 1930 -1950, “a marcha para oeste”
que atingiu as regiões do Araguaia, Rondonópolis e Cáceres, como
um dos marcos da ocupação territorial, com o início da formação
das primeiras colônias agrícolas.
A seguir, em meados da década de 1960, surge um novo
movimento, que vai atingir seu momento mais intenso na década
de 1970, fundamentado na ocupação e integração do território,
através da modernização da grande propriedade. Esse fato ocor-
reu em função de uma forte intervenção estatal, tendo como ins-
trumento, os Programas de Infra-estrutura e de Integração Nacio-
nal (PIN/PROTERRA) e da política de incentivos fiscais para a
Amazônia (SUDAM).
Paralelamente, observou-se, também, um significativo
processo de colonização privada, com expansão em direção ao
norte mato-grossense e uma intensificação do processo de mo-
dernização agropecuária em direção aos cerrados, que teve seu
ápice, com a criação do Programa de Desenvolvimento dos cerra-
dos (POLOCENTRO) em 1975.
Na década 1980/1990, consolidam-se os processos
iniciados, sendo complementados por surtos da atividade da mi-
neração extrativa, atingindo diversas regiões do Estado.
As características marcantes desse processo de ocupa-
ção e transformação produtiva e social foram a concentração da

108
sob a ótica das desigualdades territoriais

estrutura produtiva, predominando a pecuária de corte, a cultura


do arroz e a extração de madeiras; ocupações desordenadas,
extrativas e concentradas baseadas em sistemas produtivos exten-
sivos ou semi-extensivos, considerando os recursos florestais como
apenas um sub-produto da expansão das fronteiras agrícolas e a
ausência de um sistema gerador de tecnologias adaptadas aos
ecossistemas/biomas regionais, gerando significativos impactos
negativos nas dimensões ambiental, econômica e social.
Estudos realizados sobre esse período destacavam que o
referido processo de modernização agrícola que deu início à ocu-
pação dos cerrados, que se iniciou em meados da década de ses-
senta e se estendeu até meados dos anos oitenta, não teve como
origem às condições e mecanismos internos de expansão do setor
agropecuário baseado na disponibilidade e custos dos fatores pro-
dutivos, mais sim como uma pressão externa, necessária para a
expansão do setor industrial (máquinas, insumos agrícolas etc),
viabilizado pelo Estado, por meio de investimentos em infra-estru-
tura e expansão do crédito altamente subsidiado.
A partir de 1990, surge um novo processo de ocupação
comandado pelas “comoditties” do agronegócio, com destaque
para os produtos da soja e do algodão, caracterizando-se por
uma modernização baseada nas médias e grandes empresas, com
baixa diversificação da especialização regional, trazendo, como
conseqüências, a intensificação da degradação ambiental e a re-
dução do emprego rural, evidenciando-se, ainda, intensos pro-
cessos de urbanização em todas as regiões do Estado.
Pode-se afirmar que os processos de ocupação descritos
anteriormente sempre priorizaram a questão do crescimento eco-
nômico, sem se preocupar com as diversas dimensões da
sustentabilidade, desconsiderando a espacial que dentre elas é
primordial a espacial. A espacial deveria ser o principal foco das
políticas de desenvolvimento regional, haja vista ser a base para o
desenvolvimento regional sustentado.
Uma realidade marcante do território mato-grossense, re-
sultante do processo de ocupação e transformação vivenciado nos
últimos cinqüenta anos, é a disparidade territorial, econômica e so-
cial, agravada por intensos processos de urbanização distante do
que se poderia denominar de uma “sustentabilidade espacial”, ca-
racterizada por um sistema equilibrado de territórios e cidades.

109
A questão regional urbana

O tema dominante de pesquisa na área dos estudos re-


gionais do Brasil na década de 1990 tem sido a avaliação dos
impactos do modelo de integração competitiva na divisão territorial
do trabalho.
A maioria dos autores: Lavinas e Magina, 1995; Haddad,
1994; Cano, 1997; Guimarães Neto, 1997; Cavalcante de
Albuquerque e outros 1996 concluiu que as reformas estruturais, as-
sociadas ao modelo de integração competitiva envolvendo o novo
paradigma técnico-econômico em implantação com a crise do Estado
e a exposição das empresas nacionais à concorrência estrangeira, fa-
vorece a concentração espacial da atividade econômica e a redução
dos níveis de articulação inter-regional da estrutura produtiva provo-
cando no contexto nacional/estadual/regional a reversão do processo
de desconcentração que caracterizou as décadas de 1970 e 1980.
Porém, há uma posição diferenciada quando se enfatiza
o papel do novo paradigma tecno-econômico que determina o
processo de globalização e as estratégias de competição das gran-
des empresas quando indicam a necessidade de instalação de
fábricas em locais selecionados de maneira a assegurar a
competitividade no mercado internacional. Assim, apontam tam-
bém efeitos positivos, como a migração de setores mais intensivos
em mão de obra para as regiões periféricas e o rompimento da
antiga subordinação às regiões ao pólo sudeste, mediante a cria-
ção de vínculos diretos com o mercado externo.
Como já foi evidenciado anteriormente, o processo em
pauta está promovendo a dissolução de regiões tradicionais e cri-
ando outras novas, pois as empresas se apóiam em territórios,
modelando-os, e os territórios se estruturam e oferecem oportuni-
dades de mão-de-obra e recursos às empresas.
O valor econômico e estratégico de um território, em qual-
quer escala geográfica, decorre em grande parte de sua velocidade
de passar ao novo paradigma tecno-econômico. Na região Centro
Oeste, todos os estados tiveram índices superiores aos nacionais
decorrentes da maior inserção de suas exportações para o merca-
do externo, ampliando a sua participação nas contas nacionais.
Entretanto, esse crescimento econômico da região Cen-
tro Oeste apresenta também um caráter concentrador, mantendo
elevadas situações de disparidades territoriais, como se identifica-
rá no caso do estado de Mato Grosso.

110
sob a ótica das desigualdades territoriais

A análise das desigualdades regionais com base em indi-


cadores sócio-econômicos, tem sido feita para as macroregiões e
estados, procurando detectar as tendências ocorridas.
No caso de Mato Grosso, para efeito de análise das de-
sigualdades regionais, tomou-se como base a regionalização es-
colhida (12 regiões de planejamento) e, posteriormente, a sua sub-
regionalização (19 regiões e os seus principais indicadores sócio-
econômicos. (ver quadro 03 e figuras 06 e 07).
Assim, definiu-se para Mato Grosso uma tipologia de
regiões, que servirá como objeto para caracterizar, principalmen-
te, a heterogeneidade regional do Estado e a sua evolução.

Quadro 03 - Demonstrativo das regiões de planejamento/


subregionalização– Estado de Mato Grosso

111
A questão regional urbana

Figura 6 - Regiões de Planejamento do Estado de Mato Grosso


Fonte: Anuário Estatístico - MT, 2003.
O período de análise a ser considerado será de 1991-
2000, sendo selecionados os seguintes indicadores físicos-sócio-
econômicos do estado de Mato Grosso e suas regiões:

1. Área Territorial – Km²


2. Demografia
2.1. População Total e Urbana
2.2. Taxa de Urbanização
3. Produto Interno Bruto-PIB – R$ milhões
4. Produto Interno Bruto Per Capita – R$ / hab
5. Valor Adicionado – VA – R$ milhões
6. Valor Adicionado per Capita – R$ / hab
7. Índice de Desenvolvimento Humano – IDH
8. Índice de Desenvolvimento Humano - Renda – IDH Renda
9. Índice e intensidade de pobreza
10.Índices de Desigualdade Regional
11. Índice de Desenvolvimento Regional – IDR

112
sob a ótica das desigualdades territoriais

Figura 7 - Regiões de Planejamento/Subregionalização do Estado de Mato Grosso

Com base nos quadros (04, 05, 06, 07), em anexo,


passa-se a conceituar e analisar os principais indicadores e sua
evolução para o Estado de Mato Grosso e suas Regiões, no perí-
odo de 1991/ 2000, permitindo as seguintes observações:

113
114
Quadro 04 - Regiões de Planejamento - indicadores sócio - econômicos - 1991

Fonte: SEPLAN – MT, Boletim Sócio Econômico – 2004 Diário Oficial do Estado de MT (1991/2000)
.D: Densidade demográfica – hab /km² - V
D.D .A
V.A
.A: Valor Adicionado da Produção
PIB
PIB: Produto Interno Bruto - T.Urb.
.Urb.: Taxa de Urbanização (Relação população urbana/total )
IDH
IDH: Índice de Desenvolvimento Humano - IDH R : Índice de Desenvolvimento Humano- Componente Renda
IP
IP: Índice de Pobreza (% de famílias pobres)
IDR
IDR: Índice de Desenvolvimento Regional (Relação Renda Per Capita Regional / Renda Per Capita Estadual)
A questão regional urbana
Quadro 05 - Regiões de planejamento/sub regionalização - indicadores sócio - econômicos - 1991¹
sob a ótica das desigualdades territoriais

¹dezenove regiões
Fonte : SEPLAN – MT, Boletim Sócio Econômico – 2004 Diário Oficial do Estado de MT (1991/2000)

115
116
Quadro 06 - Indicadores sócio-econômicos - Regiões de planejamento - 2000

Fonte: SEPLAN – MT, Boletim Sócio Econômico – 2004 Diário Oficial do Estado de MT (1991/2000)
.D: Densidade demográfica – hab /km² - V
D.D .A
V.A
.A: Valor Adicionado da Produção
PIB
PIB: Produto Interno Bruto - T.Urb.
.Urb.: Taxa de Urbanização (Relação população urbana/total )
IDH
IDH: Índice de Desenvolvimento Humano - IDH R : Índice de Desenvolvimento Humano- Componente Renda
IP
IP: Índice de Pobreza (% de famílias pobres)
IDR
IDR: Índice de Desenvolvimento Regional (Relação Renda Per Capita Regional / Renda Per Capita Estadual)
A questão regional urbana
Quadro 07 - Indicadores sócio-econômicos - Regiões de planejamento / sub regionalização - 2000
sob a ótica das desigualdades territoriais

Fonte : SEPLAN – MT, Boletim Sócio Econômico – 2004 Diário Oficial do Estado de MT (1991/2000)

117
A questão regional urbana

1- A DIMENSÃO DEMOGRÁFICA – TERRITORIAL


TERRITORIAL

Com foco nas evoluções das densidades territoriais


demográficas do estado e das regiões de planejamento, a densi-
dade demográfica média estadual passou de 2,36 para 2,73 hab/
km², no período de 1991-2000, não se alterando significativa-
mente, apesar de ter sido mais visível em algumas regiões. Apenas
sete, (07) das dezenove regiões, tinham densidade demográfica
acima 1 hab/ km² e, em 2000, apenas duas regiões não se en-
quadravam nesse patamar.
Em relação às taxas de crescimento populacional e ur-
banização, constatava-se o seguinte panorama:

• no período 1991 / 2000, o estado de Mato Grosso


apresentou uma taxa de crescimento demográfico da
ordem de 2,31% a.a.; acima da nacional, 1,65%; e abai-
xo, 2,37%, mas bem menor do que as apresentadas nas
décadas anteriores;
• uma intensificação do processo de urbanização, que
passou de 73,4 % em 1991, para 78,9% em 2000,
enquanto nacional e regional observa-se uma evolução
nas taxas de urbanização de 78,1 para 81,1 %, e de
73,4 para 79,1%, respectivamente.

No contexto inter-regional houve profundas alterações


no quadro demográfico, com a intensificação do processo de ur-
banização em quase todas as regiões do Estado, com destaque
para os números no seguinte contexto:

• em 1991, 76,8% das regiões, objeto do estudo, apre-


sentavam taxas de urbanização situadas na faixa de 50
a 70%, enquanto em 2000, essa faixa representava ape-
nas 21%;
• apenas três (03) regiões (nordeste, guaporé, noroes-
te) apresentaram redução nos índices de urbanização,
no período 1991/00;
• a faixa com índices de urbanização acima de 70%
passaram a representar 57,9% das regiões;
• em 1991, 42% das regiões apresentavam taxas de

118
sob a ótica das desigualdades territoriais

urbanização inseridas na faixa da média estadual, en-


quanto em 2000, já 80% apresentavam esta situação;
• a sub região, Cuiabá–Várzea Grande (região sul) des-
taca-se com a maior densidade demográfica (142 hab/
km²) seguida pela sub-região sudeste - Rondonópolis
(5,57 hab/km²), sub-região sudeste-Primavera (5,53
hab/km²), sub-região centro-oeste - Alto Paraguai (5,14
hab/km²) e sub-região sudoeste-Cáceres (4,55 hab/km²).

Figura 8 - Cartograma das Tipologias das Regiões Segundo as Taxas de


Urbanização – 2000
Fonte: Elaboração do autor, com base nos Quadros 04 e 07, e Boletim de
Indicadores Sócio-Econômicos – Seplan-MT -2003.

2 - A DIMENSÃO ECONÔMICA

O indicador utilizado para a medição do crescimento e da


dinâmica econômica é as informações referentes ao valor adiciona-

119
A questão regional urbana

do da produção que retratam a movimentação econômica decla-


rada pelo contribuinte e apuradas pela Secretaria da Fazenda, ou
seja, é o valor da produção econômica gerada no município sem a
agregação dos impostos e a redução da intermediação financeira.
No período de 1991 a 2000, observou-se uma taxa de
crescimento geométrica de 13,1 ao ano, % a.a. do valor adicio-
nado no estado de Mato Grosso, enquanto o valor adicionado
per capita passou de R$ 1.762,00, para R$ 4.279,00.
No contexto das regiões, pode-se observar o seguinte
comportamento do valor adicionado:

1. Participações regionais no valor adicionado, cuja refe-


rência é a sua participação na geração do valor adicionado estadu-
al, poder-se-ia classificar as regiões de planejamento/sub regiões
em perdedoras ou ganhadoras, resultando na seguinte situação:

• Das 19 (dezenove) regiões analisadas, 11 (onze) de-


las perderam posição, enquanto 8 (oito) apresentaram
evolução positiva.
Regiões Perdedoras: noroeste II-Juara, norte-Alta Flores-
ta, nordeste-Vila Rica, leste- Barra do Garças, leste do médio
araguaia, sudeste-Rondonópolis, sul-Cuiabá-Várzea Grande, sul
– Baixada Cuiabana, sudoeste-Cáceres, centro oeste-Diamantino
e centro oeste – Alto Paraguai, centro norte-Sinop;
Regiões Ganhadoras: sudeste-Paranatinga, sudeste-Pri-
mavera do leste, sudoeste-guaporé, sudoeste-Campo Novo do
Parecis, oeste, centro-sorriso, noroeste I-Juína.

2. Taxa de Crescimento do Produto Regional: pode-se


observar que das 19 (dezenove) regiões, apenas 6 (seis) (sudeste-
Paranatinga, sudeste- Primavera do Leste, sudoeste guaporé, su-
doeste Parecis, oeste Tangará da Serra, centro Sorriso) cresceram
acima do produto estadual, que apresentou uma taxa de cresci-
mento geométrica anual da ordem de 13,1% a.a. As regiões liga-
das as “comoditties” agrícolas, como sudoeste parecis, centro
Sorriso e Sudeste Primavera do Leste foram as que apresentaram
maior crescimento do produto regional, como se pode observar
nos quadros 04, 05, 06, 07.

120
sob a ótica das desigualdades territoriais

3. Valor Adicionado Per Capita e Índice de Desenvolvi-


mento Regional – IDR,, no período de 1991/2000, o valor adicio-
nado per capita do Estado passou de R$ 1.762 reais para R$
4.577 reais, evidenciando um crescimento significativo.
A análise sobre o prisma das regiões mostrava que, em
1991, das 19 (dezenove) regiões, 47% apresentavam valor adici-
onado per capita abaixo da média estadual e que, em 2000, esta
representatividade era de 63%.
Em 1991, a relação entre a menor e a maior renda per
capita regional era de 2,7 vezes, sendo a mesma relação, em
2000, de 2,8 vezes.
Por outro lado, a relação entre a menor renda regional e
a média estadual passou de 5,6 (1991) para 6,6 (2000).
Em termos absolutos, todas as regiões do Estado apresen-
taram um crescimento na renda per capita, mas relativamente os
dados indicam que a desigualdade entre as regiões é maior em 2000.
Tomando-se como base a relação valor adicionado per
capita regional e o valor adicionado per capita estadual foi elabo-
rado o Índice de Desenvolvimento Regional – IDR que retrata a
situação das regiões em torno da média per capita estadual e a
evolução inter-regional.

3 - A DIMENSÃO SOCIAL

A dimensão social do processo de desenvolvimento, inte-


gra as demais dimensões e as transcede na medida em que ex-
pressam, em primeira instância, as vontades dos atores organiza-
dos, qualifica a natureza e a orientação do desenvolvimento. A
sua mensuração tem como base a análise dos seguintes indica-
dores: O Índice de Desenvolvimento Humano – IDH e os Índices
de Desigualdade de Renda .

1. ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO – IDH

O estado de Mato Grosso tem apresentado, uma evolu-


ção positiva no que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento Hu-
mano – IDH, passando de um índice de 0,756(1991) para 0,773

121
A questão regional urbana

(2000), melhorando a sua posição no ranking nacional e regional.


A análise da evolução do IDH regional expõe uma me-
lhora sensível desses indicadores no período, em que as faixas
acima de +0,65 representavam apenas 55% em 1991, chegan-
do a 100% em 2000.
Entretanto, observa-se que, ao considerar o IDH renda,
a situação das regiões piora em termos de classificação, mas com
evolução positiva no período, com a redução do IDH renda média
considerada baixo, situando-se na faixa (0,50-0,65).
Nem sempre as regiões que apresentam maior dinamis-
mo econômico e renda per capita mais elevada são aquelas que
possuem melhor situação de IDH renda, pois em algumas regiões a
concentração da renda e da terra impede uma melhor distribuição
da renda.
Há que se destacar, ainda, que, mesmo nas regiões ga-
nhadoras (Sudeste Parecis, Sudeste Primavera, Centro Sorriso),
intra-regionalmente existem municípios que apresentam baixo IDH
renda e índices significativos de desigualdade social, como se pode
verificar pelos mapas.

2. INDICADORES DE DESIGUALDADE DA RENDA

A evolução dos indicadores de desigualdade de renda


(Índice de Gini e de Theil 3 ), de uma forma geral e sintética traduz-
se no seguinte comparativo:
• em relação ao Índice de Gini, das 19(dezenove) sub-
regiões no período de 1991 - 2000, apenas as regiões
do Sudeste Rondonópolis e Sudoeste Parecis apresenta-
ram uma evolução positiva, enquanto as restantes au-
mentaram os processos de concentração da renda regio-
nal, havendo, nesse caso, uma divergência no que diz
respeito a sua evolução;

3
Índice de Gini – medida de desigualdade. Varia de 0 a 1, sendo que, quanto mais
próximo de 1, pior a distribuição de renda. O índice de Gini é obtido através da
curva de Lorenz. Índice de Theil – mede o grau de desigualdade da distribuição de
indivíduos segundo a renda domiciliar per capita, quanto maior for este índice,
maior será a desigualdade.

122
sob a ótica das desigualdades territoriais

• em relação ao Índice de Theil, das 19(dezenove) sub-regi-


ões, no período de 1991 - 2000, observa-se uma evolução
positiva (convergência) apenas nas seguintes Sub-regiões:
norte - Alta Floresta; nordeste - Vila Rica; sul - Baixada
Cuiabana; sudoeste - Rondonópolis e sudoeste - Primavera.

Essa situação vem reforçar a visão de que o desenvolvimen-


to não pode ser reducionista e sustentado apenas em indicadores
econômicos, mais sim , baseado numa múltipla composição e que, a
priori, quando se associa crescimento econômico e desigualdade intra-
regional, os resultados poderiam ser assim expressados:

• regiões tipo 1: crescimento econômico e desigualda-


Positiva (+) ;
de intra-regional-P
• regiões tipo 2: crescimento econômico Positivo (+)
Negativa (-)
e desigualdade intra-regional-Negativa (-);
• regiões tipo 3: crescimento Econômico Negativo (-)
e desigualdade intra-regional- Positiva (+) ;
• regiões tipo 4: crescimento econômico Negativo (-)
Negativa (-).
e desigualdade intra-regional-Negativa

123
A questão regional urbana

Figura 09 - Tipologias Municipais segundo Índice de Desenvolvimento


Humano – IDH , IDH- Renda e Índice de Gini.
Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano - IPEA/PNUD - 2000
As classes de IDH RENDA são as seguintes: Baixa (0,562-0,622), cor vermelha;
Muito Baixa, cor laranja (0,623 a 0,650;. Média (0,651 a 0,683), cor amarela;
Média Alta (0,684 a 0,719) cor verde e Alta (0,720 a 0,815) cor azul.
As classes de IDH são as seguintes: Baixa (0,600-0,710), cor vermelha; Muito
Baixa, cor laranja (0,711 a 0,729); Média (0,730 a 0,745); cor amarela;

124
sob a ótica das desigualdades territoriais

Média Alta (0,746 a 0,769) cor verde e Alta (0,770 a 0,844) cor azul.
As classes do ÍNDICE DE GINI são as seguintes: Baixa (0,480-0,550), cor
vermelha; Muito Baixa, cor laranja (0,560 a 0,580); Média (0,590 a 0,600), cor
amarela; Média Alta (0,610 a 0,630) cor verde e Alta (0,640 a 0,710) cor azul.

Quadro 08 - Indicadores Sintéticos da Desigualdade de Renda, 1991 e


2000, Municípios do Estado de Mato Grosso

Fonte: IPEA/PNUD – 1991/ 2000.

125
A questão regional urbana

4 - ÍNDICES DE SUSTENTABILID ADE REGIONAL


SUSTENTABILID

É importante destacar, para uma análise mais completa


na definição da sustentabilidade, visando subsidiar planos de de-
senvolvimento regional/local no contexto das diversas
territorialidades, a necessidade de levar em conta todas as dimen-
sões da sustentabilidade e não apenas o crescimento ou a dimen-
são econômica, bem como toda a heterogeneidade marcante dos
diversos territórios.
Segundo análise realizada pelos estudos de zoneamento,
que estabelecerão como parâmetro para a análise da
sustentabilidade das regiões, os Índices de Eficiência Econômica
(IEE), Índice de qualidade Ambiental (IQA) e o Indice de Condição
de Vida -ICQC, constatou-se que: nenhuma das regiões de pla-
nejamento atende em mais de 50% as condições de
sustentabilidade; 55% dos municípios da região sudeste integram
a classe de categoria médio baixo, do Índice de Condição da Qua-
lidade de Vida – ICQV e 33 % integram a categoria de classe baixa.
Por outro lado em relação ao Índice de Eficiência Econômica –
IEE e Índice de Qualidade Ambiental–IQA, a situação também é
crítica, pois respectivamente 62% e 55% das Unidades Sócio-
econômicas estão enquadradas nas categorias baixas; as regiões
de planejamento (Noroeste I, Nordeste e Norte), classificadas
como pouco dinâmicas, apresentavam uma situação de qualida-
de ambiental melhor do que regiões dinâmicas (sudeste e oeste),
indicando a necessidade de uma visão mais ampla do processo
de desenvolvimento do que a visão reducionista predominante nos
tempos atuais; em relação ao Índice de Qualidade Ambiental-
IQA, verifica-se a seguinte situação: seis regiões (noroeste I, nor-
te, centro, oeste, noroeste II, centro norte), apresentavam mais de
50% das unidades sócio-econômicas–ecológicas na categoria
Alto; cinco (05) das regiões (nordeste, leste, centro oeste, sudoes-
te e sul) na categoria Média, enquanto a região sudeste apresen-
tava mais de 50% das unidades na categoria baixa; em relação
ao Índice de Condição de Qualidade de Vida – ICQV, que leva em
conta 10 (dez) variáveis, identificava 9 (nove) das 12(doze) regiões
nas categorias baixas; e, por fim, em relação ao Índice de Eficiên-
cia Econômica (IEE), que leva em conta as variáveis (grau de ur-

126
sob a ótica das desigualdades territoriais

banização, grau de utilização e especialização produtiva,


inadequação do uso agrícola, nível de antropização, cobertura
vegetal), classificava 10 (dez) das doze regiões na categoria baixa.

5 - AS TIPOLOGIAS DO TERRITÓRIO SEGUNDO A CON-


TIPOLOGIAS
DIÇÃO ECONÔMICA

Com base nos indicadores econômicos, propõe-se uma


classificação das regiões do Estado em uma tipologia de territóri-
os, dinâmicos e não dinâmicos (Figura 10), que contribuem para
evidenciar a heterogeneidade do espaço estadual, objeto maior
das políticas de desenvolvimento regional.
Tendo em vista a grande diferenciação interna ainda exis-
tente nas 12 (doze) regiões de planejamento definidas, procedeu-se
uma sub-regionalização, resultando em 19 (dezenove) regiões,
permitindo uma melhor visualização das desigualdades regionais.
As regiões dinâmicas seriam aquelas unidades territoriais
que apresentam uma taxa de crescimento econômico elevada, com
aumento de sua participação no produto econômico estadual, po-
dendo variar de territórios com elevada até baixa renda per capita.
Por outro lado, as regiões não dinâmicas seriam aquelas
unidades territoriais que apresentam um taxa de crescimento abaixo
da média estadual, apresentando uma redução de sua participa-
ção no produto econômico, podendo variar de territórios com ele-
vada até baixa renda per capita.
Na realidade, essa classificação objetiva ter uma visão
recente do quadro atual das desigualdades regionais e sua evolu-
ção na década de 1990/2000. Quando se fala em regiões ga-
nhadoras e perdedoras, em face da dinâmica econômica, não há
uma estagnação no tempo. A manutenção da tipologia ganhado-
ra vai depender muito de políticas e atitudes proativas frente ao
processo de internacionalização da economia.
Os territórios dinâmicos, com alto produto per capita,
correspondem a territórios que têm crescimento acima da média
estadual e possuem produto per capita superior. São os territórios
que podem se considerar com êxito frente aos processos de
globalização, são os “ganhadores”.

127
A questão regional urbana

Nessa tipologia enquadram-se as seguintes regiões do


estado: região Sudoeste Parecis; região sudeste Rondonópolis;
região sudeste Paranatinga; região sudeste Primavera do Leste;
região centro-Sorriso; região centro norte-Sinop; região oeste-
Tangará da serra.
São territórios fortemente vinculados a recursos naturais,
onde o dinamismo obedece, principalmente, à exploração de se-
tores primários exportadores (“comoditties” agrícolas e a madei-
ra), com aproveitamento de vantagens comparativas no contexto
de uma maior abertura de mercados. Esses territórios podem ser
classificados como potencialmente ganhadores com recursos
naturais exportáveis.
Já os territórios dinâmicos com médio a baixo produto
per capita, potencialmente ganhadores, em marcha, são os que
têm crescido acima ou em torno da média estadual, apresentan-
do produtos per capita abaixo ou inferiores à média estadual. Re-
gistrariam uma boa dinâmica de crescimento, aproximando-se de
uma situação de convergência com territórios mais dinâmicos.
Nessa tipologia encontram-se as seguintes regiões do
Estado: região leste (Médio Araguaia); região sul (Cuiabá e Vár-
zea Grande); região norte (Alta Floresta) e região sudoeste
(Guaporé). Essas unidades territoriais são também diferenciadas
segundo a explicação do seu crescimento:

I - territórios que explicam seu dinamismo pelo desenvol-


vimento e aproveitamento de vantagens comparativas associadas
à exploração de recursos naturais como é o caso das regiões Les-
te (Médio Araguaia) e Sudoeste (Guaporé).

II - territórios como a região Sul - Cuiabá e Várzea Grande,


que concentraram, através do tempo, muitas atividades econômicas,
transformando-se em centro de serviços financeiro e industrial.

Em geral, tratam-se de territórios que, apesar de não te-


rem o mesmo dinamismo dos territórios ganhadores, possuem
potencialidades latentes que se podem expressar tanto em termos
de uma base econômica, principalmente primária-exportadora ou
como pólo de serviços.

128
sob a ótica das desigualdades territoriais

Os territórios não-dinâmicos, com baixo produto per


capita, “potencilamente perdedores”, estagnados, são aqueles que
têm apresentado crescimento abaixo da média estadual e cujos
produtos per capita também estão abaixo do pró-médio estadu-
al, sendo denominados de territórios estagnados com escasso di-
namismo, cuja situação pode piorar, distanciando-se mais e, por-
tanto, são considerados como “potencialmente perdedores“.
Nessa tipologia constatam-se inclusas as seguintes regi-
ões do Estado: região centro oeste - Alto Paraguai; região nordes-
te - Vila Rica; região Noroeste I - Juína; região Noroeste II - Juara;
região sul Baixada Cuiabana.
Essas unidades territoriais são, também, diferenciadas e,
segundo a explicação, seu crescimento pode ter como origem as
seguintes situações, em territórios altamente dependentes de ativi-
dades primárias em decadência como o caso da agricultura tradi-
cional ou de algum tipo de exploração mineral (garimpos), como
as regiões do Centro Oeste - Alto Paraguai, do entorno da Baixa-
da Cuiabana; territórios de área de fronteira, com significativas
deficiências de infra-estrutura de transportes e de energia, que
impedem sua integração efetiva aos mercados interno e externo.
Os territórios não-dinâmicos, com alto produto per capita,
“potencilmente perdedores”, em retrocesso, são aquelas que têm
apresentado um crescimento abaixo da média estadual, mas têm um
produto per capita superior ao pró-medio estadual, apresentando
uma redução na participação do produto econômico estadual.
Nessa tipologia situam-se as seguintes regiões do Esta-
do: região leste Barra do Garças; região centro oeste - Diamantino;
região sudoeste - Cáceres.
Como territórios que num passado recente alcançaram
elevados níveis de produto, mas que vêm perdendo suas vanta-
gens comparativas tradicionais por não desenvolverem alternati-
vas locais, essas regionais podem ser tipificadas como territórios
“potencialmente perdedores” que têm retrocedido em suas capa-
cidades competitivas.

129
A questão regional urbana

Figura 10 - Cartograma das Tipologias das Regiões Segundo a Dinâmica


Econômica do produto per capita - 2000

Fonte: Elaboração do autor, com base nos quadros 04 e 07 e Boletim de


Indicadores Sócio-Econômicos – Seplan-MT - 2003.

130
sob a ótica das desigualdades territoriais

A princípio, poder-se-ia chamar de política pública regio-


nal o conjunto de normas, diretrizes e ações de natureza pública-
privada que tenham como uma de suas funções ou conseqüências,
fazer convergir a renda de uma região para a renda média territorial
(estado/país) reduzindo as disparidades regionais.
Cabe ressaltar que o interesse básico que deve permear
o processo é o desenvolvimento dos seres humanos e não de terri-
tórios, que são apenas instrumentos de maior ou menor eficácia
para esse fim.
Assim, pode-se confiar na organização autônoma de
um sistema tecno econômico-social e ver o desenvolvimento como
uma emergência sistêmica, gerada a partir de um certo nível de
complexidade dos territórios.
O retrospecto da evolução das políticas públicas para o
desenvolvimento regional na América Latina, evidencia mais fra-
cassos do que êxitos, havendo um vazio a ser preenchido. Com
efeito, nem a tendência da concentração urbana e industrial em
certos lugares foi revertida e nem as disparidades de renda inter-
regionais foram reduzidas..
Dentre as causas apontadas pelo referido fracasso, al-
guns autores destacavam uma carência cognitiva e uma deficiên-
cia de metodologia para tratar da questão regional, enfatizando

131
A questão regional urbana

que a cooperação entre a sociedade civil e a sociedade política


era o ponto chave para superar as deficiências e os procedimen-
tos centralizados e verticalizados do passado.
Haveria necessidade de se estabelecer novos procedimen-
tos, que permitissem a própria comunidade territorial ser o agente
endógeno, transformando-o em agente coletivo regional.
A articulação entre políticas setoriais e território no Bra-
sil, como vem ocorrendo até os dias atuais, consistiu fundamen-
talmente em distribuir incentivos e conceder isenções como for-
mas de estímulo à localização produtiva em regiões deprimidas
com base numa decisão do Estado e na execução e controle de
suas agências regionais. As superintendências, os bancos regio-
nais e os fundos constitucionais respondem a essa lógica
distributiva própria a um período histórico de construção do esta-
do, cuja exaustão se revela nas idéias atuais de governança, de
parceria público-privado e de Estado em rede.
As políticas territoriais desse período são consentâneas
de um modelo piramidal, em que o Estado responde, fundamen-
talmente, pela redistribuição de recursos para as localidades, em
função de estratégias cuja decisão é centralizada.
O processo de descentralização traz, no seu bojo, a neces-
sidade de que as políticas públicas sejam dotadas de maior grau de
horizontalidade, seletividade, territorialidade e, principalmente, capa-
cidade de articulação com atores sociais. Ou seja, em lugar de se
ordenar de forma vertical a partir do nível central do Estado, supondo
um espaço homogêneo e com uma lógica funcional setorial, as polí-
ticas devem possuir um caráter mais horizontal e territorial.
O reforço das atividades econômicas nas sociedades
contemporâneas passa menos pela capacidade de o Estado cen-
tral determinar onde vão situar certas empresas que, no poder de
estimular o surgimento do empreendedorismo, de um ambiente
localizado propício ao reforço do tecido produtivo de cada região.
Por outro lado, constata-se que o processo de desenvol-
vimento é cada vez mais resultado do esforço organizado de toda
a sociedade.
Fica clara a necessidade de uma reinvenção da gestão
pública em que características como a visão de longo prazo, a
articulação com os diferentes atores sociais e territoriais, a intro-

132
sob a ótica das desigualdades territoriais

dução de uma cultura de cooperação e inovação tecnológica se


tornam marcantes e necessárias.
A política territorial não consiste mais em redistribuir re-
cursos e riquezas já criadas e existentes, mas, ao contrário, em
despertar os potenciais para a criação de riquezas, iniciativas e
coordenações novas.
É nesse sentido que se pode falar da perspectiva de uma
economia regional da aprendizagem, de cidades e regiões de
aprendizagem.
Os territórios não são apenas o receptáculo geográfico
neutro, onde empresas, coletividades e indivíduos atuam. Cada
vez mais, eles vão-se tornando verdadeiros atores, em virtude da
interação que promovem entre os conhecimentos das empresas,
dos representantes eleitos, do setor associativo local e dos próprios
órgãos do Estado. A essência dos sistemas produtivos localizados
não é o setor econômico, mas a rede produtiva da qual a firma é
parte (MORGAN, 1996/1999).
O destino dos territórios deixa de se concentrar numa
autoridade ou numa agência central encarregada de distribuir
recursos e passa a depender da capacidade de criação de rique-
zas que a própria interação entre atores locais, permite acontecer
na condução do processo de desenvolvimento. A estrutura pira-
midal é substituída por uma abordagem policêntrica, dotada de
múltiplas instâncias de decisão.
A importância da economia das organizações e da apren-
dizagem e de sua inserção social localizada traz duas conseqüências
centrais para a reflexão em torno das políticas territoriais. Primeira-
mente, que as agências públicas voltadas ao desenvolvimento não
se limitam a oferecer um conjunto de bens e de serviços – ainda que
seja a partir de um diagnóstico participativo, elas também são de-
safiadas a participar desse processo de aprendizagem e não po-
dem limitar-se a trazer financiamentos ou mesmo treinamentos para
melhorar os negócios. A política de desenvolvimento com concep-
ção descentralizada deverá apresentar as seguintes características:

1. horizontalidade – orientando-se para criar oportuni-


dades para empreendimentos inovadores;
2. seletividade – atender os diferentes perfis produtivos

133
A questão regional urbana

de cada território;
3. territorialidade – pensar na economia como um con-
junto de economias territoriais e não apenas como um
conjunto de setores econômicos e
4. articulação – elaborada em conjunto com os atores sociais.

Em segunda instância, as agências locais de desenvolvi-


mento não devem ser um observador externo, e sim um protago-
nista ativo na elaboração de projetos e e na coordenação do pro-
cesso de desenvolvimento regional .
A comparação com projetos vindos de outras regiões e a
disputa por recursos a partir da qualidade desses projetos são con-
dições importantes para que os atores públicos do desenvolvimento
não se fossilizem nos hábitos, nas tradições e nos poderes locais.
Dessa forma, o desafio está justamente em coordenar
o processo de formação e de reestruturação de empresas, com
serviços públicos voltados a essas necessidades em transforma-
ção, o que supõe um formato organizacional estimulado, não no
sentido de trazer bens e serviços a uma certa região, mas a cons-
truir projetos de natureza estratégica.
Assim, como traço comum de uma nova política de de-
senvolvimento regional, observa-se a promoção do potencial de
desenvolvimento endógeno e não somente o crescimento exógeno
das regiões e territórios, levando em consideração a
sustentabilidade em todas as suas dimensões, principalmente a
existência e o desenvolvimento de redes institucionais e acordos
de cooperação para construir um entorno inovador apropriado
para o desenvolvimento.
O desenvolvimento regional é visto pelas suas diferenças
e potencialidades, conferindo às regiões o papel de
autodeterminadoras do seu desenvolvimento. É a valorização de
um modelo especifico para cada região, que ela mesma define,
em função de suas reais potencialidades de expansão produtiva e
da preservação de seus recursos culturais e ambientais.
Dando seqüência a esta introdução sobre os limites e as
possibilidades de uma política pública, importante se torna recu-
perar os paradigmas da regionalização, como marco inicial de
qualquer reflexão sobre uma política de desenvolvimento regio-

134
sob a ótica das desigualdades territoriais

nal: o primeiro é o paradigma original da planificação funcional


do Estado Centralizado e limitado à planificação regional de es-
paços selecionados dentro de um país; posteriormente, o
paradigma moderno e atual, funcional á nova ordem mundial e à
tecnologia eletrônica e informatizada.
O paradigma original surgiu como uma resposta do esta-
do para desenvolver certas áreas geográficas densamente povoa-
das que apresentavam certas vantagens. Regiões como produto de
sua localização, portos naturais estratégicos para a economia, áreas
de alta produtividade econômica, de necessidades resultantes da
pobreza progressiva, ou de terem sido destruídas pela guerra.
Em contraposição, o paradigma moderno e atual pressu-
põe uma mudança complexa, relativa à administração por parte do
Estado, incluindo mudanças nas esferas cultural, social e política.
O novo paradigma aponta por conceder certo nível de
autonomia de gestão, dependendo da natureza e das concepções
que se tenha, bem como da capacidade e vontade política
imperante no território que está aplicando políticas regionalizantes.
Ao anterior se agrega que todos os territórios, subdividi-
dos em regiões, são sujeitos da política de regionalização. Dife-
rente do modelo anterior, onde somente algumas áreas geográfi-
cas são objetos de políticas de desenvolvimento regional.
A mudança fundamental no modelo de desenvolvimento
regional tem sido a atitude frente à participação do Estado na vida
regional, reconhecendo que este deve dar uma maior autonomia
às regiões na tomada de decisões, com respeito às matérias e
atividades próprias, resultando em perdas para o Estado central e
grupos de poder político que o controlam.
Dessa maneira, por meio das práticas da
descentralização, tem-se o Estado criando condições para que o
ambiente regional assuma as questões ligadas ao crescimento
econômico, com o fortalecimento da identidade regional.
Nesse contexto, é importante discutir a dimensão política
do desenvolvimento regional, ou seja, a questão do poder político.
O argumento básico é que todas as regiões se encontram articula-
das entre si por relação de dominação e dependência, hierarquica-
mente ordenadas, o que significa que um dos principais problemas
para as regiões é substituir total ou em parte este tipo de relação de
dominação/dependência para uma relação cooperativa.

135
A questão regional urbana

Uma região pode acumular poder político por dois pro-


cessos, quais sejam: a descentralização e a criação de poder po-
lítico. O primeiro dá-se através de um projeto nacional/estadual
descentralizador, e o segundo mediante o consenso político, pac-
tos territoriais, a cultura de cooperação e a capacidade de criar,
principalmente, de forma coletiva, um projeto político, baseado
numa visão estratégica de desenvolvimento regional.
Fica bastante evidenciado que os assuntos de política e
sociologia são tão ou mais importantes que os aspectos econômi-
cos de uma política pública de desenvolvimento regional.
Se o desenvolvimento regional é o resultado do esforço
organizado de toda a sociedade, parece clara a necessidade de
novas formulações mais pragmáticas, onde os territórios exerçam
um papel fundamental. Nesse sentido, um dos condicionantes é a
reinvenção da gestão pública a fim de incorporar uma concepção
integral da inovação tecnológica como um processo de mudança
social, institucional e cultural, na qual a articulação entre os diferen-
tes atores sociais territoriais substitua o planejamento centralizado.
Primeiramente a estratégia predominante é de ter uma
visão territorial e não apenas do desenvolvimento, pois o objetivo é
a inovação, qualidade e flexibilidade e não apenas crescimento
quantitativo, que serão viabilizados através de mobilização do po-
tencial endógeno com a utilização dos recursos locais. A gestão
do desenvolvimento é compartilhada e local através de organiza-
ções intermediárias e dos diversos atores sociais. Por outro lado,
impulsionar as iniciativas locais em favor do desenvolvimento por
parte dos poderes públicos não consiste em colocar os atores so-
ciais sob sua tutela, mas, ao contrário, em ajudar a construir os
mercados de serviços empresarias e tecnológicos estratégicos para
a produção, a fim de tornar acessíveis aos sistemas produtivos
locais com o fortalecimento dos territórios.

A – A POLÍTICA PÚBLICA DE DESENV OLVIMENT


OLVIMENTO REGIO -
VIMENTO
NAL E SUAS ABORDAGENS

O objetivo maior do presente trabalho é o de se estabele-


cer e analisar os limites e possibilidades de uma política pública de
desenvolvimento regional na contemporaneidade mato-grossense,

136
sob a ótica das desigualdades territoriais

que vá ao encontro das necessidades da sociedade e do papel


que deva ser desempenhado por ela e pelo Estado.
Dessa forma, há que se questionar quais seriam as ca-
racterísticas principais dessa política pública. Qual seria a sua re-
lação com as outras políticas públicas, para contribuir na redu-
ção das desigualdades regionais. E, ainda, qual seria o melhor
arranjo institucional que viabilizasse uma gestão compartilhada
entre a sociedade civil, o Estado e o mercado do processo de
desenvolvimento territorial.
Inicialmente, cabe atentar para a conceituação de política
pública como o conjunto de procedimentos formal e informal que
expressa relações de poder e se destina à resolução das necessida-
des (problemas) da sociedade; a ação governamental consciente,
planejada e efetiva, visando solucionar problemas que atingem a
sociedade, com a definição clara da contribuição do Estado; o sis-
tema de decisões governamentais que visam ações corretivas ou
preventivas destinadas a modificar ou manter a realidade de um,
vários ou todos os setores da vida social e a determinação pela
vontade efetiva de atingir um objetivo predeterminado.
Assim, no contexto de um modelo de gestão do Estado,
ter-se-ia, em sua estratégia, a busca da redução das desigualda-
des intra e inter regionais (Política de Desenvolvimento Regional),
contribuindo para o alcance dos objetivos estratégicos de Gover-
no. O problema relacionado com o desenvolvimento regional é a
existência de desequilíbrios ou desigualdades espaciais.
No caso do estado de Mato Grosso, várias são ainda as
causas da existência de um padrão desigual de crescimento regio-
nal, dentre os quais se pode citar: a predominância do modelo de
desenvolvimento concentrador de renda; uma ação paternalista e
centralizadora do Estado; a visão atomizada e conjuntural da pro-
blemática do desenvolvimento (inexistência de planejamento estra-
tégico); a falta de infra-estrutura; a degradação ambiental; a con-
centração da renda e da terra; a falta de mercado interno (baixa
densidade demográfica); as deficiências de capital social e huma-
no; o atraso científico e tecnológico e até mesmo a fragilidade (qua-
se inexistência) de efetivas políticas públicas de desenvolvimento
regional e de ciência e tecnologia de caráter descentralizado.
É importante destacar que o foco é a desigualdade espa-
cial e não a desigualdade social (foco das políticas sociais), apesar

137
A questão regional urbana

da interdependência existente entre as diversas dimensões e da con-


tribuição da primeira à redução da questão social. Uma política
regional completa não pode prescindir de uma distribuição da ren-
da regional e da universalização dos serviços públicos e de infra-
estrutura. Daí que um dos desafios do desenvolvimento regional é o
de buscar articular as suas estratégias com a problemática social.
Quando se fala em desenvolvimento regional, a meta é um
sistema organizacional equilibrado do espaço, que garanta a ques-
tão da sustentabilidade espacial do processo do desenvolvimento,
contrapondo-se, às vezes, às determinações do sistema sócio-econô-
mico a fim de assegurar as aspirações de todos os atores territoriais.
A política de desenvolvimento regional é complementar e
transdisciplinar em relação as outras políticas públicas para o al-
cance das metas do desenvolvimento. Ela deve ter um forte com-
ponente, qual seja ativar as potencialidades das regiões de baixo
para cima, de forma endógena, complementando e se articulan-
do com a vertente exógena de crescimento, proporcionando a
interação dos fatores determinantes nas diversas escalas territoriais,
como demonstra a Figura 11:

Figura 11 - Fatores Determinantes da Competitividade Sistêmica e o De-


senvolvimento Econômico.
Fonte: Esser et alii (1996), apud Albuquerque 2001.

138
sob a ótica das desigualdades territoriais

Assim, pode-se constatar que o fortalecimento da


competitividade deve ser visto como um dos condicionantes visan-
do criar territórios competitivos, dependendo de uma ampla gama
de fatores, que transcedem o nível estritamente econômico e po-
dem ser classificados em quatro níveis: no nível micro situam-se
os determinantes internos, tecnológicos e organizacionais das
unidades produtivas, bem como as externalidades criadas pela
rede de empresas; no nível meso temos as condições geradas pe-
las políticas e instituições; no nível macro as condições econômi-
cas gerais e no nível meta inclui-se as variáveis intangíveis como
as estruturas sócio-culturais, com destaque para a capacidade
dos atores sociais em formularem visões de futuro e estratégias.
Já se destacou anteriormente a questão do princípio da uni-
versalidade de uma política estadual de desenvolvimento regional abar-
cando todas as regiões, independentemente de sua dinâmica atual.
O grande desafio é criar capacidade para que o Estado pos-
sa ser o promotor e ativador de um novo padrão de desenvolvimento
que crie condições para o desenvolvimento endógeno das regiões e
horizontalize nos territórios, as formas exógenas de crescimento.
Isso porque o novo paradigma da gestão pública pela
governança tem como base a efetiva integração entre as diferen-
tes esferas do poder do Estado e a co-gestão entre o aparato pú-
blico e os representantes das organizações da sociedade civil, nas
decisões sobre as prioridades e ações a serem executadas.
No contexto da gestão pública, observa-se a necessida-
de de se articular duas dimensões de importantes para a questão
regional. A regionalização das políticas públicas, garantindo a
participação da sociedade no processo de planejamento e a defi-
nição de uma política de desenvolvimento regional, visando a re-
dução das desigualdades territoriais.
Os objetivos da política de desenvolvimento regional devem
ser derivados das estratégias estabelecidas em cada um dos diferentes
territórios pelo processo de planejamento, os quais, por sua vez, neces-
sitam ser também vinculado ao restante das políticas do Estado.
Cabe reforçar, mais uma vez, a importância dos fatores
intangíveis para o sucesso das estratégias de desenvolvimento, quais
sejam: a liderança com capacidade de mobilizar e articular os ato-
res sociais; a elaboração de uma imagem ativa dos territórios; a

139
A questão regional urbana

disponibilização de um diagnóstico estratégico territorial; a elabo-


ração de uma estratégia tendo como base a cooperação entre os
atores sociais; o conhecimento preciso do sistema produtivo local e
sua dinâmica sócio-econômica; a existência de arranjos institucionais
intermediários (agência de desenvolvimento regional) resultante da
articulação entre os atores sociais; a valorização da identidade e
da cultura local; uma visão ampla do desenvolvimento regional; e,
finalmente, o reconhecimento do desenvolvimento territorial como
um processo dinâmico e sistema aberto.
É importante estabelecer um vínculo mais forte e estreito
entre as políticas regionais e as estratégias de desenvolvimento
local, uma vez que estas, colocaram em xeque as propostas tradi-
cionais centralizadas que, até meados dos anos 80, continuavam
se baseando no intento de reduzir as disparidades territoriais, por
meio de ações diretas, tais como: apoio técnico, subsídios e in-
centivos a empresas, atração de investimentos externos e melhoria
de infra-estrutura física, complementadas por formação e
capacitação de recursos humanos. Ações estas que foram sendo
substituídas e orientadas, gradualmente, para a finalidade de fa-
cilitar o tecido produtivo, as adaptações às mudanças de ordem
estrutural (pós-fordismo).
Dessa forma, produziu-se uma convergência das políti-
cas regionais com as de desenvolvimento local baseadas na valo-
rização dos recursos endógenos dos territórios, na focalização da
inovação tecnológica dos sistemas produtivos locais, na constru-
ção de organismos territoriais especializados, na promoção e di-
fusão de tecnologia, na capacitação de recursos humanos e na
dotação de infra-estruturas básicas de pesquisa e tecnologia.
Por outro lado, como já se verificou, isso não quer dizer
que a atenção voltada para potencializar recursos endógenos
abandone a alternativa de atração de investimentos externos.
Na realidade, o antagonismo entre essas alternativas
exógenas e endógenas carece de sentido, pois ambas são comple-
mentares e necessárias para a construção de territórios sustentados.
Torna-se imperativo destacar, nesse novo ambiente do
desenvolvimento regional, que as fronteiras das diversas escalas
territoriais (estado, regiões, municípios), que delimitam as ações
administrativas, muitas vezes não são referências adequadas da

140
sob a ótica das desigualdades territoriais

lógica do funcionamento ou desdobramento territorial das ativi-


dades econômicas, as quais, em certas ocasiões, até transcen-
dem àquelas unidades.
O importante para as políticas regionais é o conheci-
mento preciso das dinâmicas dos sistemas econômicos territoriais
que subsidiem a construção adequada das instituições responsá-
veis pela articulação dos atores, possibilitando inclusive a existên-
cia de arranjos institucionais inter-regionais.
Dentro dessa perspectiva, a gestão pública descentrali-
zada possui um papel decisivo para a formulação de políticas apro-
priadas com vistas à transformação produtiva, além do conheci-
mento preciso dos diferentes sistemas econômicos locais, a fim de
atender os novos requisitos das formas de organização e produ-
ção flexível com capacidade para atuar em rede.
Como princípios básicos e valores a serem perseguidos
por uma política pública de desenvolvimento regional, pode-se
destacar a universalidade que deve abranger todas as regiões,
independentemente de sua situação territorial, quanto ao cresci-
mento econômico, e devem considerar os problemas e
potencialidades de todas as regiões sem nenhum tipo de discrimi-
nação ou favoritismo. Não devem se basear somente em catego-
rias simplificadas de dinâmicas ou não-dinâmicas, mais sim no
sentido do aproveitamento das potencialidades das regiões, inclu-
indo processos de baixo para cima, originários da ação coletiva
regional e territorial.
Em segundo está a heterogeneidade territorial que
ressalta a ocorrência de um expressivo aumento, na diferenciação
intra e inter-regional, como resultado das transformações econô-
micas verificadas nas últimas décadas, resultando numa
heterogeneidade, fator condicionante para a formulação e
implementação de políticas de desenvolvimento regional pelo fato
deque possibilita cobrir de forma adequada e com um diagnósti-
co mais preciso, os problemas relacionados aos níveis meso e micro
que compõem a questão regional. Isso irá permitir uma política
voltada para as diversas territorialidades de cada região, por inter-
médio da sua divisão em sub-regiões, áreas programas e áreas
rurais, assegurando a adequação das intervenções às
especificidades de cada segmento do espaço regional.

141
A questão regional urbana

A s ustentabilidade
ustentabilidade,, cujo caráter é amplo e abrange as
diversas dimensões: social, econômica, ambiental, cultural, políti-
ca, espacial e institucional é o terceiro valor a ser perseguido. A
dimensão espacial da sustentabilidade é a que está mais ligada à
questão regional pelo fato fundamentar-se na existência de um
sistema espacial equilibrado de cidades e regiões com baixa
disparidade inter-regionais.
A dimensão ambiental incorpora a conservação e a con-
vivência com o meio natural como condição para se atingir o de-
senvolvimento. Está assentada no fato de que a preservação não
garante apenas uma melhoria na qualidade de vida, mas também
assegura um crescimento permanente e conseqüentemente uma
melhoria das condições materiais de trabalho para a sobrevivên-
cia da população.
A eqüidade social não é apenas intrínseca à natureza da
sustentabilidade, à proporção que se traduz na distribuição dos
resultados em todos os extratos sociais, mas se impõe como ele-
mento identificador do verdadeiro sentido e direção ao desenvolvi-
mento regional.
Em muitos projetos, a tecnologia empregada e a racio-
nal utilização dos recursos naturais implicam em reduzida absor-
ção de mão-de-obra.
Em vista disso, a dimensão econômico-social deverá con-
siderar de modo integrado todos os elementos, procurando aproxi-
mar tanto quanto possível, os objetivos da eficiência e eqüidade.
A viabilização do processo tecnológico, sem maiores pro-
blemas, deverá se efetivar mediante a universalização da educa-
ção básica, a qualificação para o trabalho, a geração de mais
empregos produtivos, uma melhor distribuição de renda e um amplo
acesso da população aos serviços.
A dimensão histórica-cultural permite identificar os as-
pectos mais importantes da formação nesse aspecto na Região,
essenciais para o processo de desenvolvimento regional. Nela, a
organização e a mobilização dos atores sociais são fatores
condicionantes básicos. Também o conhecimento e o laço de cul-
turas e da organização dos atores sociais facilita a compreensão
dos elementos que conformam as outras dimensões do desenvol-
vimento, inclusive a diversidade do nível de carências.

142
sob a ótica das desigualdades territoriais

Por outro lado, a dimensão técnica-científica está orien-


tada pela relação entre o conhecimento e a inovação, em particu-
lar pela aplicação de novas tecnologias voltadas para a
competitividade, para a conservação dos recursos naturais e a
mudança social.
A dimensão político institucional permite identificar o
modo como se estabelecem as relações entre o poder público (es-
tado, região e municípios) e as lideranças locais e como a autori-
dade é exercida. Deverá identificar as várias expectativas dos ato-
res sociais, com vistas ao desenvolvimento regional.
Essa dimensão, ao incorporar o modelo de gestão inte-
grada e descentralizada desse desenvolvimento regional, busca
estabelecer parcerias institucionais múltiplas entre a União, o Es-
tado e os Municípios e entre o governo, a iniciativa privada e a
sociedade organizada.
Em se tratando do quarto valor está a descentralização
do Estado que se constitui num dos condicionantes mais impor-
tantes para a configuração das políticas regionais/espaciais da-
das a heterogeneidade do espaço regional que suscita e exige ações
localizadas. Mais ainda, às próprias características do marco
conceitual do Modelo, que situa as escalas espaciais menores como
indispensáveis para se alcançar à dimensão espacial do desenvol-
vimento sustentado.
Os processos de descentralização envolvem a transferência
efetiva de poder da esfera central para as demais instâncias territoriais
(estados, regiões e municípios), que passam a assumir uma maior
responsabilidade pela implementação das ações, particularmente
quanto à prestação dos serviços, o que tende a promover um maior
adensamento às atividades públicas nas esferas locais de poder.
Esse quadro abrangente e complexo de reconstituição
das bases de atuação do Estado impacta de várias maneiras as
políticas regionais. Em outras palavras, o processo de
descentralização das políticas públicas, como movimento de
reorientação da ação estatal e da divisão do trabalho entre as
instâncias públicas nacional, regional, estadual e municipal, de-
manda reorganizar as funções e as formas de gestão de cada
uma dessas esferas, o que traz profundas implicações para o pa-
drão de desenvolvimento regional que a sociedade demanda.

143
A questão regional urbana

Disso resulta a necessidade de serem formadas parcerias


sólidas entre as esferas de competência no âmbito do poder público,
incluindo-se também a iniciativa privada e as comunidades locais. Par-
cerias que, no contexto das políticas regionais/espaciais, representam
algo bastante positivo, ao estimular a cooperação entre os principais
atores sociais, visando a solução dos problemas regionais e locais.
Tendo em vista a fragilidade dos sistemas produtivos lo-
cais, a descentralização do Estado necessita incluir conteúdos
substantivos em termos de desenvolvimento econômico, a fim de
dotar as políticas de horizontalidade, territorialidade e capacidade
de articulação estratégica entre os atores sociais.
Como quinto elemento temos a competitividade
sistêmica
sistêmica, cujo fortalecimento da competitividade territorial é
condicionante importante para promoção do desenvolvimento,
dependendo de vários fatores (capacidade tecnológica e
organizacional, externalidades, infraestrutura social, capital hu-
mano e social e aspectos culturais, institucionais e políticos etc.)
que transcedem ao estritamente econômico .
Deve ser bem entendido o seu caráter complexo e
multidimensional, de forma a evitar que seja adotada uma abor-
dagem reducionista, ignorando aspectos determinantes funda-
mentais, que permitem tornar uma região competitiva .
A competitividade sistêmica resulta da interação delibe-
rada entre o Estado e a sociedade com a finalidade de criar as
condições necessárias ao desenvolvimento .
A desconcentração espacial da produção produção, consti-
tui-se no sexto elemento a ser perseguido pela política pública de
desenvolvimento e não deve ser considerada como uma tendên-
cia generalizada, vez que é fator decisivo para a efetivação dessa
estratégia as relações inter-empresariais e as tradições locais.
Dessa maneira, deve-se atentar para as características
próprias de cada região, com a redefinição da ponderação dada,
até então, aos fatores locacionais. Os fatores reprodutivos pas-
sam a ganhar maior destaque na localização de empreendimen-
tos, tais como: o ambiente cultural favorável, o ecossistema e a
integração entre a base técnico-científica e segmentos produtivos.
Aliado a esses fatores, a estratégia competitiva das em-
presas e o entorno competitivo regional condicionam a

144
sob a ótica das desigualdades territoriais

desconcentração regional. Cada vez mais, a economia depende


de requisitos como a infra-estrutura básica e níveis de qualifica-
ção de mão-de-obra. As mudanças no mundo do trabalho e os
novos paradigmas que exigem profissionais com conhecimento
dos códigos da modernidade, dão um novo significado à forma-
ção do trabalhador e para reavaliar o papel da universidade que
assume, de fato, um lugar de ator líder na disseminação do con-
ceito e dos objetivos do desenvolvimento.
Cada vez mais, o conhecimento e a informação dese-
nham e definem os rumos do desenvolvimento. Por essa razão, a
educação e a descoberta de novos talentos adquirem um papel
de destaque na alocação de novos empreendimentos e a universi-
dade passa a ser um ator importante no processo de
desconcentração espacial das atividades produtivas, contribuindo
para a implementação de uma política de fomento ao crescimen-
to e densidade econômica das regiões ou territórios (aglomera-
ções industriais, distritos industriais, cadeias produtivas etc.), in-
cluindo a transferência de tecnologia de forma coordenada e inte-
grada pelas lideranças e organismos públicos responsáveis pelo
desenvolvimento territorial.
A acumulação do Capital Social deve ser o sétimo
valor, pois, segundo diversos autores, o capital social é constituí-
do pelo conjunto de características da organização social como
confiança, normas e sistemas que contribuem para aumentar a
eficiência da sociedade e a sua respectiva governança, facilitando
as ações coordenadas e possibilitando o alcance de objetivos.
O capital social não significa apenas a soma das institui-
ções presentes em uma sociedade, mas sim a matéria que as
mantém unidas, pois produz e dependem da coesão social, proje-
to comum e confiança mútua.
O capital social atua estabelecendo uma “cultura de con-
fiança”, que cria capacidade de negociação, de participação so-
cial e de construção da identidade social, facilitando o desenvolvi-
mento com sustentabilidade.
Contribuem para o capital social, a identidade cultural
comum, as redes de relações interpessoais, os sentimentos de con-
fiança mútua, enfim, a existência de um clima de cooperação.
Um dos objetivos a ser perseguido pela política de de-

145
A questão regional urbana

senvolvimento regional é a valorização do urbano


urbano, o fortaleci-
mento de um sistema hierarquizado de cidades que garanta o
apoio aos processos econômicos. Os centros urbanos regionais,
que se constituem na base do desenvolvimento econômico regio-
nal, devem prover, dentro de seus limites, toda a infra-estrutura e
serviços com o objetivo de criar um entorno favorável aos investi-
mentos produtivos. Devem, também, atuar como centros de co-
municação e circulação das atividades produtivas.
Na interação ambiente e desenvolvimento tem-se a di-
mensão espacial (eqüidade nas inter-relações regionais), em que
se encontra inserida a expansão urbana. Esta deveria obedecer às
premissas de um processo de planejamento estratégico com a
consolidação de um sistema hierarquizado e harmônico de uma
rede de cidades que fosse um dos resultados a serem alcançados
na construção do processo de desenvolvimento.
Assim, entende-se que a organização de uma rede urba-
na equilibrada deve ser também objeto das políticas públicas de
desenvolvimento regional e urbano, através da orientação de in-
vestimentos públicos e privados em consonância com os objetivos
regionais do desenvolvimento. Isso porque a dimensão espacial
da sustentabilidade objetiva uma configuração rural-urbana mais
balanceada e numa melhor distribuição territorial das atividades
econômicas.
A última sugestão como valor a ser perseguido é o de-
senvolvimento rural que prioriza ações de desenvolvimento ru-
ral no contexto das regiões para as áreas mais pobres de produ-
ção, em especial àquelas ligadas a processos de reforma agrária
que viabilizam uma distribuição da renda a partir dos meios de
produção, também deverá fazer parte dos instrumentos da políti-
ca de desenvolvimento regional. Em algumas regiões, a estratégia
de desenvolvimento regional deverá voltar-se ao meio rural, forta-
lecendo os processos de organização social e de acumulação de
capital social, do segmento da agricultura familiar, visando a cria-
ção e a consolidação de atividades empreendedoras nas áreas da
produção agro-ecológica, processamento agroindustrial, agro-
turismo e artesanato.
Tudo isso, com base na utilização de estruturas
associativas e comunitárias para a gestão das atividades de pro-
dução, comercialização, assistência técnica, crédito e outras.

146
sob a ótica das desigualdades territoriais

B - OS CONDICIONANTES E FFA
A TORES DE SUCESSO DO
PROCESSO DE CONSTRUÇÃO REGIONAL

O desenvolvimento regional deve ser visto como um pro-


cesso de gestão e acumulação do capital social, resultante do
consenso e articulação das suas forças motoras: o Estado, a soci-
edade e o mercado.
Na dimensão política se privilegia a descentralização,
como um dos fundamentos básicos para a construção de efetiva
política de desenvolvimento regional, para qual será vital a partici-
pação da comunidade dos diversos territórios, uma vez que é em
si mesmo uma atribuição compartilhada. Isso, entendendo-se que,
nesse contexto, o desenvolvimento territorial é um esforço pelo qual
diversas unidades administrativas e sócio-culturais de uma região
se adaptam, para se desenvolver e fazer frente a uma política
regionalizante globalizadora.
Por outro lado, enfatiza-se que não se trata de apenas
apontar vantagens ou obstáculos geográficos de localização e,
sim de estudar a montagem de redes de cooperação, que viabilizem
enriquecer o tecido social dos territórios.
Nesse sentido, ressalta-se o conceito de capital social que,
como salienta Putman (1990, p. 20), é um conjunto de recursos
(boa parte dos quais simbólicos) de cuja apropriação depende em
grande parte o destino de uma certa comunidade, aparecendo
como solução para os dilemas de ação coletiva.
Em relação à cooperação ou à confiança, é importante
ressaltar (LOOKE, 2003) que estas não se constituem condições
preexistentes necessárias para alavancar os processos de desen-
volvimento endógeno, pois a confiança e a cooperação, podem
ser construídas efetivamente a partir da necessidade e do alto in-
teresse dos atores envolvidos, em que o governo participa promo-
vendo a criação de instituições referenciais e da promoção da ação
cooperada, ou seja, a combinação de esforços cooperativos por
parte do setor privado com intervenções estatais pode resultar em
sinergias entre o estado e a sociedade.
Nesse sentido, o governo teria a capacidade de alavancar
a cooperação, induzindo os agentes locais a se organizarem, as-
sumindo uma responsabilidade coletiva pelo processo de desen-

147
A questão regional urbana

volvimento. Essas organizações teriam o mérito de facilitar a efici-


ência de uma governança democrática.
O apoio governamental deve, também, articular o au-
mento da representatividade das organizações, garantindo os be-
nefícios para toda a coletividade.
Para viabilizar uma efetiva participação, as regiões de-
vem desenvolver arranjos institucionais, visando criar as bases
para a mobilização de atores econômicos, da economia local e
da cumulação do capital social (stakeholders regionais). Numa
visão contemporânea, as regiões devem estabelecer “pactos
territorriais” que consigam mobilizar os atores em torno de uma
“visão de futuro” e de uma entidade gerenciadora que expresse a
unidade territorial.
Trata-se, em última instância, da construção de um novo
sujeito coletivo de desenvolvimento que vai exprimir a capacidade de
articulação entre as forças dinâmicas de uma determinada região.
Os agentes do desenvolvimento regional são diversos e
podem ter a seguinte classificação agregada: setor público (go-
vernos municipais, estaduais e federais); setor privado (associa-
ções empresariais, firmas produtivas do setor primário, comerci-
ais e industriais), instituições financeiras, organizações sindicais,
escolas, profissionais, universidades, organizações de pesquisa,
agências de desenvolvimento, ONGS, cooperativas e clubes soci-
ais, entre os mais destacados.
A existência de um potencial de recursos humanos,
institucionais, econômicos e culturais territorial implica num po-
tencial de desenvolvimento endógeno. Para identificar esta
potencialidade é preciso dispor de informações suficientes sobre o
tecido produtivo e empresarial.
Os poderes públicos devem negociar com os atores, a
institucionalidade mais adequada que facilite a coleta sistemática
dessas informações ou que promova espaços de intervenção pú-
blico-privado definidos nesses âmbitos, consolidando o seu papel
de ator de desenvolvimento na esfera da escala territorial, objeto
para a produção e geração de renda e empregos.
A construção do processo de desenvolvimento regional tem
como condicionante básico a participação de todos esses atores, a
fim de que haja uma representatividade efetiva para estabelecer os

148
sob a ótica das desigualdades territoriais

marcos de aliança estratégica, para ativar o desenvolvimento


territorial, cabendo destacar complementarmente que: o setor pri-
vado empresarial, de uma maneira geral, tem favorecido para o
fortalecimento de regionalismos do tipo funcional, visando resolver
problemas relativos ao setor produtivo, demandando, ainda,
despolitização dos instrumentos econômicos e abertos para parce-
rias público-privadas; o envolvimento das grandes empresas afeta-
das negativamente por mudanças de cenários, e as que pertencem
aos setores de produção tradicional, que sempre demandaram maior
proteção do Estado e dependem da existência de um claro projeto
de desenvolvimento econômico regional, que promova uma melhor
estabilidade em seus negócios; as pequenas e médias empresas
são os clientes e atores fundamentais da política econômica regio-
nal endógena, pois estão mais restringidas a mercados locais e re-
gionais e são mais dependentes da existência de bens públicos, eco-
nomias externas e serviços empresariais; a efetiva participação das
organizações empresariais, atores chaves do processo de constru-
ção da política regional, é mais sensíveis à discussão da questão
vinculada ao desenvolvimento, à inovação e à inserção externa,
desde que aconteça de uma forma articulada e planejada; os agen-
tes do setor público, em conjunto com os outros líderes territoriais,
deverão funcionar como empreendedores comunitários, pois terão
a tarefa da sensibilização do território capacitados para serem os
facilitadores, canais de comunicação e de informação e gestores
da política de desenvolvimento regional. O apoio e compromisso
da classe política regional a ser envolvida no processo de constru-
ção da política de desenvolvimento.
Complementando o rol do quadro dos atores regionais,
há de se dar uma atenção especial para a relação entre as cida-
des, suas institucionalidades e o processos de formação territorial.
Estas têm sido impactadas pelos fatores vinculados as
novas formas de produção, novas tecnologias, mudanças econô-
micas estruturais, crescentes níveis de competitividade e restrições
das finanças são forçadas a ter uma visão regional, sendo muitas
vezes os motores do processo, criando um ambiente favorável para
o desenvolvimento da articulação econômica.
A rede de cidades de uma região pode desenvolver mar-

149
A questão regional urbana

cos de acordos, a partir da definição dos interesses regionais co-


muns e que, portanto, ativa o referido processo.
A coordenação dos diferentes atores no território é a pri-
meira condição para o êxito das iniciativas locais em favor do de-
senvolvimento, normalmente são os poderes públicos nas diversas
escalas, na sua condição de garantidores da coesão territorial,
que assumem ou promovem esta iniciativa, complementados por
uma participação ativa dos atores locais.
A disponibilidade de recursos humanos qualificados cons-
titui num dos elementos mais importantes para garantir o proces-
so de inovação produtiva. As iniciativas em capacitação não pro-
duzem resultados imediatos, por isso a importância da participa-
ção do Estado em assegurar recursos, infra-estrutura e equipa-
mentos de uma forma articulada com o sistema produtivo territorial.
Para essa motivação existem vários modelos, dependen-
do das características próprias dos territórios (incubadoras de
empresas, balcões de negócios, parques tecnológicos etc.) .
Um dos instrumentos da estratégia de desenvolvimento
regional poderia constituir-se na formação de redes entre os ato-
res regionais das diversas cidades que compõem a região. Essa
estratégia iria possibilitar a construção de pontes de suportes
institucionais, pelos dos quais se tornaria possível estabelecer a
arquitetura de governança, de uma plataforma integrada de polí-
tica de desenvolvimento produtivo regional.
Como se evidenciou, a estratégia deve ser construída e
politicamente definida a partir de “alianças estratégicas” entre os
atores fundamentais da política de desenvolvimento regional: o
setor público, o setor privado e a sociedade civil, dependendo da
configuração sócio-econômica-cultural de cada região, resultan-
do em efetivos pactos territoriais. Essa arquitetura de governança
inter-setorial e representativa é que se constituirá no marco políti-
co geral e sujeito coletivo, na definição e integração do interesse
econômico regional. Fato que irá, também, contribuir para a con-
dução e o direcionamento estratégico, em que se encontram as-
sentadas as bases para que se possa proceder a análise do que se
denomina processo de construção regional.
A consolidação das identidades regionais, entendida como
o sentimento compartilhado de uma comunidade territorialmente

150
sob a ótica das desigualdades territoriais

localizada , é condição fundamental para termos resultados nas


ações de desenvolvimento territorial. Pois sem essa identidade, um
território representa apenas o resultado de uma segmentação arbi-
trária do território, pois o planejamento e a gestão territorial, é antes
de mais nada, um atividade societária, no sentido de ser uma res-
ponsabilidade compartilhada por vários atores.

C - OS INSTRUMENT OS DE INTERVENÇÃO E DE AÇÃO


REGIONAL

No que se refere às intervenções, cumpre ressaltar, inici-


almente, a importância da integração entre as intervenções públi-
cas e as dos demais atores envolvidos no processo de desenvolvi-
mento regional.
Nessa integração, desempenha papel de destaque a
compatibilização dos objetivos colimados pelos diversos atores,
surgindo a necessidade de se pensar num modelo de gestão do
sistema urbano-regional que assegure uma gestão compartilha-
da dos territórios e viabilize uma vinculação com a visão estratégi-
ca do Estado. A gestão compartilhada pode ser entendida como o
gerenciamento de ações de agentes autônomos para atingir obje-
tivos convergentes.
A estratégia de desenvolvimento regional se apóia na
aplicabilidade da gestão compartilhada, envolvendo todas as for-
ças motoras do desenvolvimento: o governo, o mercado e a soci-
edade civil. Vários são os instrumentos de gestão compartilhada,
tais como: conselhos, fóruns, pactos, contratos,agências de de-
senvolvimento, consórcios, APL’s, cadeias produtivas, redes coo-
perativas e de empresas que podem ser combinados e articulados
no contexto das escalas territoriais e de acordo com a sua
especificidade.
No que se refere ao desenvolvimento econômico, a visão
necessária deve ir além das fronteiras municipais porque, muitas
vezes, estas fragmentam as cadeias produtivas e os arranjos pro-
dutivos, havendo a necessidade de reestruturá-las a partir de uma
abordagem regional.
Nos últimos anos, têm surgido com bastante força várias

151
A questão regional urbana

estratégias e metodologias de indução do desenvolvimento


endógeno. Existe, no momento, uma diversidade de experiências
em curso, quais sejam: desenvolvimento econômico local, desen-
volvimento local sustentável, Agenda 21 Local, Agropólos, siste-
mas sócio-produtivos e redes de sócio-economia alternativa e
solidária ensaiados em escala local.
No Brasil, a experiência de maior dimensão, desde o fi-
nal da década passada, é o chamado DLIS – Desenvolvimento
Local Integrado e Sustentável que, no nosso entendimento, apre-
senta-se bastante adequado a servir de referência para a
implementação do modelo de gestão do Sistema Urbano-Regio-
nal, no contexto da nova política de desenvolvimento regional.
A nova estratégia de indução do desenvolvimento regio-
nal deve facilitar e potencializar a participação coletiva, promover
parcerias entre as iniciativas privadas de cidadãos e os programas
públicos, integrando áreas dispersas e promovendo novas sinergias
entre as diversas ações já existentes.
Deve ser, fundamentalmente, uma estratégia de investi-
mento em capital social, aplicada por meio de algumas tecnologias
sociais inovadoras de articulação de redes e de efetivação de pro-
cessos democrático-participativos ensaiados em escala territorial.
A intervenção governamental tem, portanto, o sentido de
prevenir e corrigir as inadequações de desempenho apresentadas
pelo sstema urbano-regional. Este tem revelado uma acentuação
das disparidades em termos do nível de desenvolvimento das dife-
rentes regiões, impondo-se ações preventivas e corretivas por par-
te do setor público, intervindo de uma forma compartilhada sobre
a organização territorial.
Decorre daí a finalidade de se propor um modelo de
gestão regional, para orientar os procedimentos de uma política
pública.
Essa intervenção tem como base três (03) processos
condicionantes (Figura 12), que articulam a descentralização e a
regionalização, o capital social e o empreendedorismo e o cresci-
mentos exógeno e o desenvolvimento endógeno, cujas caracterís-
ticas passamos a descrever .

152
sob a ótica das desigualdades territoriais

FIGURA 12 - Processos condicionantes do desenvolvimento Regional /


Territorial / Local
Fonte: elaboração do autor.

O processo de descentralização tem como produto final


o fortalecimento da governança local, cujo marco inicial é a
regionalização / sub-espacialização do território..
A regionalização deverá atender aos objetivos da política
de desenvolvimento regional que, como visto, significa atender a
heterogeneidade territorial.
Em Mato Grosso, os estudos realizados pelo projeto de
zoneamento definiram doze (12) regiões de planejamento, que já
incorporam efetivamente uma proposta de ordenamento territorial
e permite, inclusive, uma sub-regionalização que atende melhor
às diferentes territorialidades em formação no Estado (Unidades
Sócio-Econômicas-Ecológicas-USEEs).
Essa regionalização foi institucionalizada pelo Plano
Plurianual 2004-2007 e será internalizada para todas as regiões
do Estado no processo de discussão da Lei do Zoneamento, ora
em apreciação pelo Poder Legislativo.
Não basta apenas ter uma regionalização, pois ações re-
ais de descentralização são entendidas como uma efetiva transfe-
rência de poder às escalas regionais, nos processos de gestão
territorial que tenham como base arranjos institucionais que permi-
tam uma gestão compartilhada dos processos de desenvolvimento.
O que chama atenção, nas experiências realizadas, é a
dissociação entre o ímpeto das organizações regionais e a ausência do

153
A questão regional urbana

poder público em imprimir, de forma permanente, a sua estabilidade


mediante a definição de um horizonte estratégico a estas articulações.
Tentativas recentes como a realização de fóruns de de-
senvolvimento regional - FDR’s - para efeito de subsidiarem o pro-
cesso do planejamento governamental não tiveram ações de con-
tinuidade e serviram, somente, para atender as demandas do
momento do sistema de planejamento, não se efetivando como
um seu componente descentralizado.
Recentemente, foi editado um aparato legal que buscou
incorporar na política tributária estadual, mecanismos de distri-
buição de renda por meio do ICMS para os municípios, mas sem
vinculação a uma efetiva política de desenvolvimento regional
A inexistência de arranjos institucionais com autonomia,
formalizados no contexto das regiões, aparecem como a princi-
pal causa a obstaculizar a concretização de um processo de
descentralização, como requer o desenvolvimento regional.
A acumulação do capital social, entendida como o pro-
cesso que envolve um conjunto de ações que contribuem para
aumentar a acumulação do capital social territorial, é um dos fato-
res condicionantes para o processo de desenvolvimento regional.
Com efeito, a nova política de desenvolvimento regional
deverá ser uma estratégia de indução ao desenvolvimento centrada,
vale repetir, no investimento em capital social que prevê a adoção
de uma metodologia participativa, pela qual se mobilizam recur-
sos das comunidades, em parceria com atores da sociedade civil,
de governos e empresas em todos os níveis territoriais, para a rea-
lização de diagnósticos da situação de cada localidade, a identifi-
cação de potencialidades, a escolha de vocações e a confecção
de planos estratégicos regionais, visando a captação de recursos,
a negociação e a execução de agendas de prioridades que desdo-
brem esses planos em ações concretas.
Assim, para efetividade das políticas de desenvolvimento
regional, devem ser adotadas medidas que contribuam para a
acumulação do capital social, fortalecendo a coesão e a ação
coletiva no nível local e viabilizando a participação na formulação
e implementação das ações governamentais.
Isso supõe uma mobilização significativa dos atores sociais
territoriais a fim de construir os sistemas de informação estratégica,

154
sob a ótica das desigualdades territoriais

ampliar a base empresarial inovadora, as infra-estruturas básicas e


de formular uma política de fomento e financiamento adequado, em
suma, criar uma institucionalidade apropriada ao desenvolvimento,
como resultado da articulação estratégica da sociedade local.
Dessa forma, exige-se uma nova cultura afastada da
política da lógica de subsídios e da espera passiva dos poderes
públicos, das grandes empresas e investimento externo, para con-
solidar um efetivo sistema organização social.
Dentre as condições para o processo de acumulação do
capital social de uma região, destacam-se as demandas de com-
petência técnica, compromisso social, continuidade,
sustentabilidade e fluidez de comunicação e transparência.
Em síntese, o capital promove a melhor utilização dos
ativos físicos e humanos, traz vantagens competitivas e privilegia a
dimensão territorial do desenvolvimento.
O desenvolvimento endógeno tem como objetivo maior
a geração e o desenvolvimento de vantagens competitivas
endógenas por meio de processos participativos que criem ou con-
solidem sistemas produtivos locais (arranjos produtivos, cadeias
produtivas ou Cluster’s) nas diversas escalas do território, com o
fortalecimento dos sistemas produtivos locais.
O processo de desenvolvimento econômico local, está
condicionado por uma série de fatores: recursos humanos capa-
citados, aporte de recursos e financiamentos, disponibilidade de
informações estratégicas, cultura e capacidade empreendedora e
desenvolvimento comunitário e institucional.
Todos esses elementos podem ser construídos localmen-
te para que os territórios sejam, também, atores fundamentais do
desenvolvimento. Entretanto, é preciso ter pessoas, organizações
e redes com uma visão de futuro comum, que sirva de ferramenta
de mobilização e motivação das organizações e comunidades.
A estruturação das aglomerações produtivas (os arranjos
produtivos – APL´s e as cadeias produtivas e outros) é instrumento
potenciail para a promoção do desenvolvimento regional, se consi-
derarmos suas características, que tem por base o conhecimento
tácito no desenvolvimento de atividades criativas, na troca de infor-
mações técnicas e comerciais e na confiança entre as empresas.
Outro aspecto é o de que as iniciativas existentes promo-

155
A questão regional urbana

vidas pelas diversas instituições, apresentam-se desarticuladas,


havendo paralelismos e desperdício de recursos, ocorrendo, mui-
tas vezes, o desgaste dessas alternativas importantes. Sua grande
força é a cooperação institucionalizada, através do diálogo de li-
deranças com o setor público e na visão de futuro compartilhada.
Segundo estudo realizado pela equipe do BNDES sobre
arranjos produtivos e desenvolvimento local, o que condiciona sua
identificação são as vantagens comparativas locacionais que es-
tão diretamente relacionadas com a capacidade inovativa das
unidades produtivas, com o acesso a ativos e serviços e serviços
complementares, com a facilidade de difusão de conhecimento
especializado no local e com a imagem regional, assim como na
capacidade de reação coletiva ou individual a ameaças ou opor-
tunidades, quando a localização pode proporcionar vantagens
desse tipo satisfaz-se mais uma condição necessária para a iden-
tificação de arranjos produtivos locais potenciais.
Ressaltando, ainda, um conjunto de quatro característi-
cas que, quando presentes em uma atividade econômica,
potencializam os benefícios de eficiência coletiva, aprendizado
conjunto e inovação gerados pelas economias dinâmicas de aglo-
meração, tais como: em se tratando de dimensão territorial deli-
mitada, a aproximidade geográfica leva ao compartilhamento de
visões e valores econômicos, como mão-de-obra especializada,
fornecedores e, principalmente, conhecimento tácito, aquele que
não está codificado, mas implícito e incorporado nos indivíduos; a
presença de diferentes instituições estimula a inovação, pois favo-
rece a formação e a capacitação da mão-de-obra, investimento
em pesquisa, o desenvolvimento e o acesso a fontes de capital; a
maneira como os diferentes atores coordenam suas atividades e
investimentos favorecem a criação de economias de escala antes
inexistentes, como compras conjuntas, investimentos compartilha-
dos em P&D e treinamento, compartilhamento de infra-estrutura
de logística etc.; quando uma atividade é relevante para a região,
seja pela importância para a economia local, seja por uma voca-
ção da região, a mobilização da população e das instituições de
apoio é muito mais provável.
Entretanto, o papel do Estado é de fundamental impor-
tância para viabilizar estas aglomerações, provendo no seu am-

156
sob a ótica das desigualdades territoriais

biente a infra-estrutura (energia, transportes, comunicações, sanea-


mento); a qualificação e treinamento da mão-de obra; o apoio a
atividades e centros de pesquisa ; o financiamento a investimen-
tos cooperativos e o funcionamento como catalisadores da coo-
peração e do investimento coletivo.
Os sistemas locais produtivos precisam, do ponto de vis-
ta inovativo ou estratégico, do acesso a serviços especiais de alta
qualidade, tais como, assessoria tecnológica e organizacional
(marketing, financeira, planejamento estratégico, de logística, as-
sessoria jurídica e outros), para se desenvolverem.
Pode-se dizer que tais aglomerações seriam o produto
de um processo que envolve, além de um conjunto de empresas,
uma cooperação público – privada, decidida em torno de um
projeto coletivo. Assim, na estrutura dos sistemas produtivos regi-
onais urbanos, as estratégias a serem fortalecidas no contexto da
política de desenvolvimento regional inseridas nos planos de de-
senvolvimento regional e urbano, deveriam estar voltadas para: o
fortalecimento das cadeias produtivas já existentes, por intermé-
dio da intensificação dos processos de horizontalização (intra-
regional) e verticalização (inter regional), priorizando a inclusão
das pequenas unidades produtivas em seus complexos
agroindustriais; a criação, organização e implementação de Ar-
ranjos Produtivos Locais – APL’s , o fortalecimento da agricultura
familiar no elo das aglomerações produtivas e o ordenamento e
infra-estrutura urbana das cidades pólos.

D – A PROPOSTA DE ORGANIZAÇÃO DE UM MODEL


PROPOSTA O
MODELO
DE GESTÃO DO SISTEMA REGIONAL URBANO

O desenvolvimento regional requer modelo adequado de


gestão, pois, como se tem destacado, os existentes, que geral-
mente obedecem a estrutura piramidal, não são adequadas ao
gerenciamento das relações entre agentes autônomos do merca-
do, da sociedade civil e do Estado. O modelo desejado, além de
respeitar as identidades, deve ser capaz de gerar integração, co-
responsabilidade e cooperação.
E tal fato só ocorre quando os agentes locais se reconhe-

157
A questão regional urbana

cem como sujeitos do seu próprio destino e o desenvolvimento


passa a ser uma obra coletiva de protagonistas territoriais.
O êxito do desenvolvimento territorial, dessa forma, requer
a participação integrada dos atores públicos e privados. Por isso, é
necessária a construção de uma institucionalidade (organizações,
normas e procedimentos) que oriente essa ação no nível regional.
A gestão do sistema regional urbano pode ser entendida
como um ato relacional a ser estabelecido entre organizações e
atores regionais, objetivando realizações e expressando interes-
ses de indivíduos, de grupos e da coletividade, dentro de marcos
culturais e identitários.
O modelo de gestão proposto é de natureza indireta, ou
seja, as autoridades, ainda que mantendo as suas responsabilida-
des políticas sob as ações de desenvolvimento, transferem a res-
ponsabilidade de implementação das ações para a organização
social representativa da coletividade regional.
Os arranjos institucionais a serem viabilizados são da
constituição de entidades mistas, resultantes da parceria pública
privada, que gera as ações de desenvolvimento regional, tendo
como características básicas: a efetiva participação dos atores
sociais e econômicos, a flexibilidade e agilidade na gestão e a co-
responsabilidade repartida entre os diversos atores.
Cria-se novas entidades de abrangência regional, que
associam vários níveis de administração pública e várias organi-
zações representativas dos principais atores sociais e se constitu-
em como suas principais áreas de atuação:
a) a animação sócio-econômica: marketing territorial,
informação, assessoria e orientação, formação, assistência técni-
ca especializada, captação de recursos; b) a promoção e melhorias
de infra-estrutura técnico-científica,, para facilitar a criação e
implementação de atividades produtivas: centros de capacitação
e formação; incubadoras de empresas; áreas industriais; centros
de pesquisa e inovação tecnológica; organização de redes de in-
formação e comunicação; estudos e viabilidade econômica e de
impacto ambiental; e c) o gerenciamento dos planos de desenvol-
vimento regional urbano -PDRU’s, por meio das ações de acom-
panhamento e avaliação sistemática, que garantam a efetividade
da sua implementação.

158
sob a ótica das desigualdades territoriais

Nesse diapasão, o modelo de Gestão dos Sistemas Regio-


nais Urbanos do Estado teria, como base, uma estrutura de pro-
cedimentos e de organização, fundamentada em oito etapas:

Primeira: preparação, sensibilização e mobilização dos


atores regionais;
Segunda: a abordagem e a inserção supra-regional;
Terceira: delimitação dos espaços regionais (sub-
regionalização);
Quarta: definição dos arranjos institucionais - CPDRU’s
e APDRU’s;
Quinta: elaboração de diagnóstico e a organização do
sistema de informação regional urbano;
Sexta: formulação estratégica regional (planejamento es-
tratégico).
Sétima: a gestão dos PDRU’s;
Oitava: estruturação da rede de promoção e desenvolvi-
mento regional -urbano do estado de Mato Grosso-Rede
PDRU’s- MT.

A ETAPA DE PREPARAÇÃO, SENSIBILIZAÇÃO E


MOBILIZAÇÃO constitui-se no marco inicial do processo de condu-
ção da estratégia de desenvolvimento regional, onde se desenvolve a
organização e a capacitação das equipes coordenadoras e regio-
nais, promotoras da metodologia e baseadaas no modelo de gestão
proposto, com o objetivo da mobilização e sensibilização da socieda-
de local . Este processo é centrado na importância de um projeto
regional comum e a sua discussão é ampla no contexto territorial.
Nesta etapa serão desenvolvidas várias reuniões, pales-
tras e exposições para os diferentes grupos que compõem o teci-
do social. O produto final seria a definição dos pactos territoriais,
que irão sustentar todo o processo de desenvolvimento regional.
A etapa que constitui na ABORDAGEM SUPRA REGIO-
NAL é o momento em que estabelece-se a relação entre os objeti-
vos estratégicos de governo com a política de desenvolvimento
regional e as políticas públicas setoriais, por uma matriz inter-
relacional do desenvolvimento regional. Na inter-relação desta-
cam-se aquelas relacionadas com os setores produtivos: industri-

159
A questão regional urbana

ais, agrícolas, turísticos e minerológicos para a identificação dos


arranjos produtivos e das Cadeias Produtivas Potenciais.
Complementarmente, as políticas sociais e de infra-es-
trutura também se identificam as ações, parte do processo de pla-
nejamento regional.
A etapa da SUB REGIONALIZAÇÃO é fundamental con-
siderando-se que a revitalização das escalas menores de planeja-
mento permite a indicação de propostas de intervenção (projetos)
que traduzam, de fato, as necessidades locais e as diversas
territorialidades. As ações já realizadas em curso e/ ou programa-
das nos subespaços regionais devem-se apresentar sob a forma
de matriz, indicando, assim, o desenho da ação governamental
na região. A elaboração dessa matriz permite a identificação da
atuação do governo na área e qual o perfil da distribuição espaci-
al e setorial dos investimentos.
Também os projetos das instituições não-governamentais
e privadas em seus vários estágios deverão estar contemplados.
A ESTRUTURAÇÃO DOS ARRANJOS INSTITUCIONAIS,
referentes à quarta etapa consiste na implementação da política
estadual de desenvolvimento regional em seus diversos níveis de
gerenciamento: o estratégico que tem por base, a reorganização
do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Estado
de Mato Grosso – CDES /MT, onde terão assento representantes
de cada Conselho Regional Urbano e a criação do Fundo de Apoio
ao Desenvolvimento Regional - Urbano – FDRU; o tático que ba-
seia-se na estruturação na Secretaria de Planejamento e Coorde-
nação Geral – SEPLAN-MT, do órgão responsável pela gestão da
Política de Desenvolvimento Regional, do Fundo Estadual de Apoio
ao Desenvolvimento Regional Urbano – FDRU e do apoio técnico
– financeiro aos CDRU’s; o nível regional que determina o exercí-
cio da articulação estratégica entre os diferentes atores territoriais
e o conseqüente pacto social entre eles, orientado para a constru-
ção de entornos inovadores, que podem ter formas diferentes,
segundo o perfil produtivo territorial; e, por último, o nível territorial
onde poderão ser constituídos arranjos institucionais territoriais,
tomando-se como base as sub regionalizações e os sistemas pro-
dutivos locais, que viabilizem a representatividade ou projetos es-
pecíficos nos arranjos institucionais dos outros níveis.

160
sob a ótica das desigualdades territoriais

De uma forma geral, tendo como base a “práxis” e a


experiência nacional e internacional, prevê-se a institucionalização
de dois arranjos institucionais: a criação e estruturação dos Con-
selhos Regionais-Urbanos de Desenvolvimento – CDRU’s, como
foro representativo dos atores regionais e as Agências de Promo-
ção e Desenvolvimento Regional Urbano – APDRU’s sob a forma
de Organizações Sociais (OSCIPs), de natureza pública – privada,
responsáveis pela gestão dos PDRU´s.
Sem esse exercício de construção social do ”entorno
territorial inovador” não é possível pensar na transformação dos
diferentes sistemas produtivos compostos geralmente por peque-
nas e médias unidades de produção qual seja, um tecido produti-
vo que não tem acesso aos principais serviços e das infra-estrutu-
ras especializadas necessárias para o desenvolvimento.
O entorno territorial inovador que se descreve é, na rea-
lidade o conjunto de fatores que condicionam as estratégias de
cima para baixo, apresentando os seguintes elementos:

• Os Conselhos de Desenvolvimento Regional Urbano -


CDRU’s;
• As APDRU’s, instrumentos criados para
operacionalizar as estratégias de desenvolvimento regio-
nal – urbano, com o fim de promover a atividade produ-
tiva, a inovação e desenvolvimento tecnológico, para en-
frentar os problemas de desemprego e de desequilíbrios
sócio-econômicos, em suma, para gerir as mudanças
estruturais requeridas num determinado território.
• As ADRU’s, cuja função básica é garantir a gestão
dos PDRU’s, de uma forma contínua e permanente, com
uma proposta de parceria entre as forças motoras do
desenvolvimento: estado-sociedade-mercado e não ape-
nas como uma ação governamental do momento.

O objetivo principal das APDRU’s será a promoção do


desenvolvimento regional-urbano no contexto de uma economia
baseada no conhecimento. Será dado destaque para a criação de
uma agenda regional por meio dos PDRU’s que contemple, princi-
palmente, a difusão, criação do conhecimento (acumulação do
capital social), a promoção da competitividade sistêmica, a forma-

161
A questão regional urbana

ção de redes de informação e comunicação, a consolidação das


parcerias público-privadas e da inovação tecnológica regional.
Como arranjo institucional para viabilizar a criação e fun-
cionamento permanente das Agências de Desenvolvimento Regio-
nal Urbano - APDRU’s, estas serão organizadas à semelhança
das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIPs,
que foram criadas e regulamentadas pela Lei nº 9790/99, no
sentido de regular as relações de parceria entre o Estado e a soci-
edade civil. O seu sentido estratégico é o de proporcionar o
emponderamento das populações, visando aumentar a sua pos-
sibilidade e capacidade de influir nas decisões públicas e de
alavancar novos recursos para o processo de desenvolvimento.
Trata-se de constituir um novo marco institucional, que
possibilite redesenhar as políticas públicas, visando transformá-
las em políticas públicas de parceria entre o Estado e a sociedade
civil, vindo ao encontro da vertente do novo paradigma do desen-
volvimento regional, o da promoção da endogeinização do pro-
cesso de desenvolvimento.
A Lei das OSCIPs parte do princípio que o processo pú-
blico não é monopólio do Estado, pois existem políticas públicas
que podem ser terceirizadas ou implementadas em parcerias cons-
trutivas, sob a égide da transparência social.
Vislumbra-se que essa forma de arranjo institucional aten-
de à demanda da Política de Desenvolvimento Regional e Urbano,
uma vez que garante a continuidade e implementação das Ações
Estratégicas, contando com recursos necessários para a sua ma-
nutenção e modernização no contexto regional.
A 5ª etapa, diagnóstico e organização do sistema de
informação regional, é quando se efetua o diagnóstico e a organi-
zação do Sistema de Informação Regional, com destaque para as
seguintes etapas:

1. Levantamento bibliográfico - levantar o referencial


bibliográfico sobre o desenvolvimento da região econômica, a
microrregião ou o subespaço, definidos como o universo geográ-
fico dos PDRUs a serem elaborados;
2. PPropostas
ropostas e projetos de intervenção
intervenção- identificar
as propostas e os projetos existentes não realizados e em realiza-

162
sob a ótica das desigualdades territoriais

ção constantes do Orçamento Anual, do Plano Plurianual (PPA) e


de documentos governamentais sobre a região;
3. Ações de instituições públicas e privadas - le-
vantar as ações já realizadas, em cursos e as programadas, de
instituições governamentais e não-governamentais, identificando
os empreendimentos privados in loco e em instituições
financiadoras.
4. Indicadores sócio-econômicos - selecionar e anali-
sar indicadores sócio-econômicos regionais e municipais, especialmente
os relacionados com os níveis sustentáveis de desenvolvimento;
5. PPerfil
erfil regional -estudar a caracterização da região,
aprofundando o conhecimento por subespaço, com destaque para
o diagnóstico e identificação das principais cadeias produtivas e
arranjos produtivos locais institucionais, nas diversas
territorialidades do espaço regional.

A análise da realidade regional deverá evidenciar de uma


forma bastante aprofundada a distribuição da dinâmica econô-
mica do território, a estrutura e o comportamento dos assenta-
mentos humanos em relação à territorialidade da atividade eco-
nômica. O referido diagnóstico deverá, ainda, dar um tratamento
específico aos aspectos sociais, explicitando as relações das
disparidades e da pobreza com a distribuição da população e das
atividades econômicas.
Finalizado o referido diagnóstico, deve-se proceder uma
avaliação dos aspectos políticos, relacionados com o sistema
institucional e as políticas locais e regionais.
A FORMULAÇÃO DOS PLANOS DE DESENVOLVIMEN-
TO REGIONAL - URBANO - os PDRU´s, é a etapa em que deve ser
elaborados os PDRU´s, tendo por base a metodologia do planeja-
mento estratégico participativo, buscando-se como resultado, a defi-
nição das ações estratégicas que contribuirão para o alcance dos
objetivos do desenvolvimento regional e urbano e dos objetivos estra-
tégicos do Estado.
Numa segunda fase os Planos Estratégicos, serão apresenta-
dos à sociedade regional, em oficinas ou fóruns de desenvolvimento regio-
nal e urbano, para viabilizar uma maior participação dos atores regio-
nais e o aperfeiçoamento e complementação das propostas definidas.

163
A questão regional urbana

Os produtos dos PDRU’s (programas, ações estratégi-


cas) serão incorporados às políticas públicas setoriais, principal-
mente nas áreas da educação profissional, da inovação científica
e tecnológica (arranjos produtivos, incubadoras), de infra-estrutu-
ra de apoio logístico, (transportes, energia, saneamento e comu-
nicação) e de incentivos e crédito.
A GESTÂO DOS PDRU’S, deverá comtemplar todos os
níveis institucionais: o estratégico, o tático e o operacional envol-
vidos na Política de Desenvolvimento Regional e fundamentados
em um gerenciamento baseado num sistema de acompanhamento
e avaliação sistemático, que obedecerá ao seguinte cronograma:

1ª reunião- nível operacional-mensal - gerentes das ações


estratégicas regionais dos PDRU’ - APDRU’s;
2ª reunião- nível tático-bimestral – Conselho Regional
de Promoção e Desenvolvimento Regional Urbano – CPDRU’s;
3ª reunião- quadrimestral - Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social (Câmara de Desenvolvimento Regional – Urbano).

A oitava etapa, da ESTRUTURAÇÃO DA REDE DE PRO-


MOÇÃO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL-URBANO DO ES-
TADO DE MATO GROSSO - RedePDRU’s-MT objetiva utilizar as
tecnologias de informação e comunicação - TIC, para agrupar re-
cursos e boas práticas, que contribuam para o desenvolvimento
integrado e para o marketing dos territórios. Visa, também,
disponibilizar, para os associados da Rede, serviços restritos de acesso
a nível nacional e internacional.
As principais conexões da rede seriam os arranjos
institucionais (CDRU’s e as AGDRU’s) criadas no contexto da po-
lítica de desenvolvimento regional - urbano.
O funcionamento da Rede de PPromoção romoção e Desen-
volvimento Regional Urbano – a Rede PDUR está baseada
em um objetivo principal, o de permitir que os conselhos e as agên-
cias de promoção e desenvolvimento regional urbano comparti-
lhem informações e experiências na execução dos PDRU’s. Isso
tornará possível, para cada arranjo institucional que faça parte da
rede, identificar ou reconhecer oportunidades de ação; conhecer
e trocar técnicas e modos de fazer; copiar, adaptar ou recriar so-

164
sob a ótica das desigualdades territoriais

luções; otimizar recursos; captar recursos; estabelecer ou con-


solidar relações políticas e divulgar o próprio trabalho.
Na figura 13, pode-se observar um diagrama síntese do
Modelo de Gestão dos Sistemas Territoriais e seus componentes e
condicionantes, quais sejam: -a vinculação com a visão estratégi-
ca do Estado; -os Conselhos de Desenvolvimento Regional Urba-
nos, como instrumentos de coordenação e articulação da ação
regional; - os Planos Estratégicos de Desenvolvimento Regional –
PDRU’s e os Planos Diretores Municipais das cidades Pólos, como
os nstrumentos de gestão regional; - as Agências de Promoção e
Desenvolvimento Regional - Urbano – APDRU’s, como órgãos res-
ponsáveis pela implementação das ações regionais derivadas do
processo de planejamento (PDRU’s).

Figura 13 - Modelo de Gestão do Sistema Territorial.


Fonte: Elaboração própria do autor.

165
A questão regional urbana

Cabe ressaltar, em princípio, o processo de desenvolvi-


mento regional como uma iniciativa que tem a vocação de propi-
ciar uma realidade intermediária entre o estado e o município ca-
paz de articular as ações necessárias à formação e a estruturação
de uma rede de desenvolvimento territorial.
Ao mesmo tempo em que se verifica atividades ligadas
ao núcleo globalizado comandado pelas empresas transnacionais,
constata-se a existência de sistemas produtivos locais, que se de-
senvolvem em âmbitos territoriais limitados, responsáveis por par-
te significativa das decisões de investimentos e com uma lógica de
atuação diferenciada dos mercados globais. Tal constatação vem
caracterizar a heterogeneidade das economias que deve ser leva-
da em conta nas estratégias de desenvolvimento.
Evidencia-se, como requisitos para o desenvolvimento
regional, o reconhecimento e a valorização dos ativos locais
(potencialidades, vocações, oportunidades e as vantagens coope-
rativas, comparativas e competitivas de cada território). Em outras
palavras, deve haver uma visão abrangente e disposição para
apreender e empreender.
A partir dos anos 80 e, especialmente ao longo da déca-
da de 90, praticamente todas as avaliações das políticas tradicio-
nais de desenvolvimento regional revelaram que os mecanismos

166
sob a ótica das desigualdades territoriais

baseados em controles locacionais e em incentivos fiscais e finan-


ceiros indiscriminados haviam se tornados ineficazes para gerar
uma base permanente e sustentável de crescimento nas regiões
menos desenvolvidas.
A necessidade do desenvolvimento regional é reforçada
em face de constatação da centralização política e da concentra-
ção econômica, que tornam as forças, que agem do centro do
sistema para a periferia indispensáveis, mas insuficientes para pro-
mover o desenvolvimento da totalidade dos territórios. É necessá-
rio gerar forças que atuem, também, da periferia do sistema para
o centro, por meio de estratégias específicas, sendo indispensá-
veis para os territórios nacionais e estaduais.
Existindo, a partir daí, uma necessidade real de encon-
trar novas concepções, novos mecanismos e novas estratégias de
intervenção pública para enfrentar os desafios do desenvolvimen-
to regional.
Com base na tese esposada, cabe-nos assumir a possi-
bilidade efetiva das políticas regionais orientadas para reforçar a
capacidade e as potencialidades de desenvolvimento de cada terri-
tório, baseadas, principalmente, na criação e difusão de inova-
ções tecnológicas e sócio-institucionais apropriadas.
Nas últimas décadas, foi evidenciada uma profunda
reestruturação da economia e do papel dos governos, das empre-
sas, das regiões e das pessoas.
Diversos estudos têm mostrado, de modo especial, que a
globalização e a introdução de novos paradigmas tecnológicos
estão trazendo profundos impactos territoriais.
Ao invés da concentração industrial em alguns locais (fase
fordista do sistema de produção verticalizada), uma grande e
crescente parcela da produção fabril e de serviços vem se insta-
lando em vários locais e em grande número de firmas, muitas das
quais de portes menores, que produzem bens e serviços diferenci-
ados, para serem vendidos em múltiplos mercados-locais, regio-
nais e internacionais.
Nesse novo contexto, duas idéias têm aparecido com
muita força na literatura teórica e empírica recente: a de organi-
zações flexíveis e inovativas - requisitos necessários para a sobrevi-
vência em um mundo cada vez mais competitivo e exigente em

167
A questão regional urbana

termos de qualidade e variedade dos produtos e de constantes


inovações tecnológicas - e o de regiões ágeis e também inovativas
- definidas como espaços territoriais em que prevalece um ambi-
ente favorável à atração de investimentos e ao desenvolvimento
dos negócios. Essa segunda idéia leva diretamente à discussão
sobre o novo papel que o governo, instituições privadas e
semipúblicas deverão exercer na sociedade contemporânea.
Uma característica comum, que tem sido verificada em
muitos países, é a de que essas pequenas e médias empresas es-
tão se aglomerando em certos locais ou regiões, passando a de-
senvolver uma diversidade de relações sociais, baseadas na
complementaridade, na interdependência e na cooperação.
Essas aglomerações tem como base os sistemas produti-
vos locais (arranjos ou cadeias produtivas) que se organizam em
rede(networks) e desenvolvem sistemas produtivos de natureza
endógena, nos quais predominam vários procedimentos de coope-
ração, solidariedade e coesão e a valorização do esforço coletivo.
O resultado desses processo seria a materialização de
uma eficiência coletiva, decorrente das externalidades geradas pela
ação conjunta, propiciando uma maior competitividade das em-
presas/regiões, em comparação com as que atuam isoladamente
no mercado.
O processo de desenvolvimento regional é um processo de
mudança estrutural que conduz à melhoria de vida da população
local e no qual podem ser distinguidas várias dimensões a saber:

• a econômica, na qual os atores usam sua capacida-


de para organizar os fatores produtivos locais com níveis
de produtividade suficiente para serem competitivos nos
mercados;
• a de formação de recursos humanos, de acordo com
os requerimentos da inovação dos perfis produtivos lo-
cais;
• a sócio-cultural, na qual os valores e as instituições
locais impulsionam o próprio processo de desenvolvi-
mento;
• a ambiental que assegura a sustentabilidade do meio
ambiente

168
sob a ótica das desigualdades territoriais

• a institucional na qual a gestão territorial, facilita a


articulação público-privada em nível territorial; e
• a cientifíca - tecnológica , visando a criação de inova-
ções favoráveis ao desenvolvimento produtivo.

A globalização, em suas várias dimensões, as reestruturações


produtivas em curso em todo o mundo e as novas exigências
tecnológicas estão criando a necessidade de novas intervenções pú-
blicas no espaço nacional voltada para dotar as regiões e as firmas
que nelas operam de um ambiente econômico e institucional mais
favorável, capaz de torná-las mais ágeis, flexíveis e eficientes na busca
e no desenvolvimento de suas vantagens competitivas.
Esses novos espaços estão a exigir, por sua vez, fortes
esquemas de colaboração entre as instituições públicas e priva-
das, dentro e fora dos ambientes produtivos oferecendo apoio e
suporte aos agentes.
As políticas públicas regionais, nesse contexto, passam a
ter como objetivo maior o de criar, nas regiões, um ambiente favo-
rável à atração de investimentos, desenvolvendo e fortalecendo
instituições que conduzam ao aumento de sua capacidade de trans-
formação e de aceitação de inovações tecnológicas e, sobretudo,
que propiciem um maior grau de integração e coesão espacial,
intra e inter-regional.
Nessa perspectiva, os agentes governamentais devem
utilizar os seus poderes de alavancagem, por meio de incentivos
fiscais e financeiros e de investimentos em infra-estrutura econô-
mica e social (especialmente no que diz respeito à formação de
capital humano). No entanto, tais intervenções devem ser orienta-
das, no sentido de um apoio localizado aos arranjos produtivos,
cadeias produtivas e cluster’s, ou seja, de conjunto de atividades
identificadas como capazes de responder ágil e eficazmente aos
incentivos governamentais.
Isso posto e depois de identificadas as especializações re-
gionais, deverá haver uma perfeita sintonia entre as ações do gover-
no e as atividades desenvolvidas nos complexos produtivos, de modo
a garantir sinergias coletivas, que propiciem o aumento da capaci-
dade de inovação e de introdução de novas tecnologias, incluindo
parcerias entre governos, comunidade e agentes produtivos.

169
A questão regional urbana

Aqui caberia um retorno ao questionamento inicial sobre


a necessidade, os limites e as possibilidades, da existência de uma
política pública regional, de caráter estadual na
contemporaneidade atual, que venha contemplar todas essas ver-
tentes. Primeiramente, a sustentabilidade espacial, entendida como
criação ou manutenção de um sistema de regiões e cidades,
hierarquizado e equilibrado, é componente fundamental do que
denominamos desenvolvimento. Fica evidenciado que, cada vez
mais, no contexto dos processos de globalização e
descentralização, o Estado tem um importante papel a cumprir
para que os desequilíbrios regionais não continuem a ser uma
marca do atual modelo de desenvolvimento. Deve, isso sim, na
sua função de alocador de recursos, ser promotor e articulador,
em conjunto com a sociedade, de novas dinâmicas de desenvolvi-
mento regional, pelo fortalecimento da rede de cidades.
A dimensão do regional e sua importância surgem, pri-
meiramente, no fato que, para o Estado, a escala regional é o
objeto de suas ações e torna factível o processo de descentralização,
auxiliando a consolidar um sistema estadual de planejamento com
essas bases, descentralizado e participativo. Também estimula a
organização da sociedade como parceira do desenvolvimento es-
tadual, permite a gestão das desigualdades regionais, favorece a
integração das três esferas de governo: federal, estadual e muni-
cipal, segundo uma visão regional e, ainda, contribui significativa-
mente para a competitividade sistêmica.
Por outro lado, muitos problemas da escala municipal,
inclusive aqueles relacionados com a economia, não são resolvi-
dos apenas no âmbito municipal e as soluções exigidas deman-
dam ações de natureza regional.
Para tratar do desenvolvimento regional e urbano, a ges-
tão pública, deve ser reinventada, criando novos arranjos
institucionais que viabilizem a sua descentralização e que garan-
tam a implementação das ações estratégicas para o desenvolvi-
mento territorial. A política pública de desenvolvimento regional,
além de promover o desenvolvimento endógeno de todas as regi-
ões, deve articular e integrar, no contexto do sistema capitalista,
as duas dinâmicas: a do crescimento exógeno e a do desenvolvi-
mento endógeno.

170
sob a ótica das desigualdades territoriais

A proposta de um modelo para a organização dos siste-


mas territoriais surge nesta direção, com a criação de novos ar-
ranjos institucionais como as Agências de Promoção e Desenvolvi-
mento Regional - Urbano – APDRU’s os Conselhos Estaduais de
Promoção e Desenvolvimento Regional-Urbano – CPDRU’s e de
novos instrumentos como o Fundo Estadual de Desenvolvimento
Regional - Urbano – FDRU e uma Rede de Desenvolvimento
Territorial (regional, urbana e local) .
Fica evidenciado que a política pública de desenvolvimen-
to regional deve ser resultante da combinação de diversos instru-
mentos de intervenção (regionalização, descentralização e a arti-
culação dos processos de desenvolvimento endógeno e de cresci-
mento exógeno), tendo como referência o projeto regional de de-
senvolvimento a partir da sua formulação estratégica (planejamento
estratégico regional), que deve incorporar, ainda, políticas de dis-
tribuição de renda e da terra, de infra-estrutura logística e urbana
Uma política regional moderna contemporânea pode ser
visualizada, assim, como uma matriz de informações e ações, na
qual tem-se uma complementaridade de políticas: ordenamento
territorial, descentralização, fomento e crescimento econômico e
de gestão regional-urbana.
Em resposta à indagação sobre as potencialidades de
uma política pública no Mato Grosso contemporâneo é impor-
tante destacar que ela se constitui numa enorme oportunidade,
face ao seu potencial de contribuir para o bem-estar coletivo, tan-
to do ponto de vista material, como político e dos novos paradigmas
do desenvolvimento econômico. A sua concretização depende da
articulação de três fatores: o conhecimento científico, o poder
político coletivo e o consenso social.
Primeiramente, há que se construir novo conhecimento e
investir na acumulação do capital social para então, obterem ter-
ritórios inteligentes e capazes de ser inseridos no cenário da
competitividade sistêmica.
O poder político parece ser o segundo requisito que toda
a região deve acumular para fazer as coisas acontecerem, reco-
nhecendo duas fontes principais: a descentralização e a
concertação social (articulação de instituições e pessoas).
Em terceiro, vem o consenso social que se traduz em

171
A questão regional urbana

reconhecer a pluralidade, o direito das minorias, a racionalidade


na administração do conflito e da cultura cívica.
A política pública de desenvolvimento regional, que se defi-
ne na abordagem supra-regional, deverá centrar-se na articulação
dos dois atores institucionais, o Estado e as próprias regiões e, por
outro lado, apoiar-se nas capacidades endógenas de cada região.
A substituição do modelo neoliberal de política econômi-
ca não ocorrerá por acaso, depende antes de tudo, de como pes-
soas e instituições adotarão uma conduta visionária do processo
de desenvolvimento.
Entre as estratégias que devem compor uma política, res-
salte-se a promoção de contratos de desenvolvimento entre os
atores locais e o investimento em capital humano e social. Isso
possibilitará que os atores locais possam propor projetos com con-
teúdo inovador, além de serem protagonistas centrais da constru-
ção de seus territórios.
As cidades pólos podem desempenhar aí um papel decisivo,
não só por sua capacidade polarizadora, mas por disporem de alguns
dos recursos intelectuais necessários ao tão importante exercício refle-
xivo sobre a identidade e os objetivos de uma determinada região.
Na definição das estratégias de desenvolvimento regio-
nal, algumas diretrizes são fundamentais como: a articulação pro-
dutiva territorial rural e urbana; o compromisso com o emprego
produtivo; o conhecimento das tecnologias apropriadas à dota-
ção de recursos e potencialidades territoriais; a atenção à inova-
ção tecnológica e organizacional; o fortalecimento e adaptação
do sistema educacional e de capacitação profissional à proble-
mática sócio produtiva e a existência de políticas específicas de
apoio às pequenas e médias unidades produtoras cooperativas.
Assinala-se, ainda, como estratégias complementares: a
redução gradual das transferências automáticas e garantidas a
certos municípios e o aumento do apoio contratualizado a projetos;
o incremento dos recursos voltados à capacitação localizada para
a elaboração de projetos de desenvolvimento de caráter inovador.
Em outras palavras, os principais desafios do desenvolvi-
mento regional residem em assegurar a inovação tecnológica e
administrativa da estrutura produtiva dos diferentes territórios, pois
a inserção de apenas alguns segmentos ao núcleo globalizado

172
sob a ótica das desigualdades territoriais

não é suficiente para difundir as inovações tecnológicas sociais.


Decorrendo daí a importância de vermos o território como um
ator decisivo do desenvolvimento.
Para isso, como já foi destacado, necessário se torna a
existência no entorno inovador de um conjunto de serviços que
apóiem as ações empreendedoras da articulação das instituições
educacionais com os setores produtivos e da constituição de par-
cerias e redes que viabilizem a sinergia de esforços.
As ações na esfera pública devem ser direcionadas para
a criação de um ambiente favorável que facilite a cooperação e as
parcerias público - privadas e, na esfera privada, que mobolize e
fortaleça os vínculos com o sistema produtivo local.
As limitações, como a transitoriedade da forma de com-
posição do território mato-grossense, em face de sua dimensão, a
fragilidade dos processos de descentralização; a desarticulação
das esferas públicas e privadas e o déficit de acumulação de capi-
tal social, aparecem como principais desafios.
Procurando garantir uma governança com visão estratégi-
ca territorial voltada para todos, componente fundamental da políti-
ca de desenvolvimento regional demandada e a ser construída pela
sociedade contemporânea, há que se concretizar os pactos sociais.
Nesse sentido, a política de desenvolvimento regional deve
caminhar pelo desenho e pela execução de uma agenda de mu-
danças econômicas e sociais, dependendo, fundamentalmente,
da qualidade de suas lideranças políticas e comunitárias: o seu
nível de consciência social; de conhecimento sistêmico; de capa-
cidade de gestão administrativa; de negociação em situações de
conflitos e de tensões; a sua capacidade de atrair recursos de
instituições e agências localizadas em seu entorno de influência.
Enfim, o novo ambiente para o desenvolvimento regional,
originário principalmente dos processos de globalização, de
reestruturação produtiva e descentralização, alterou significativa-
mente as condições de competitividade, ficando, ele mesmo, de-
pendente de serem criadas estratégias competitivas baseadas no
conhecimento e na inovação tecnológica e de gestão para os siste-
mas produtivos locais numa disposição de competir realisticamente
no seu ambiente nacional/regional/local e de melhorá-lo num pro-
cesso contínuo de construção e de aprendizagem coletiva.

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