Você está na página 1de 3

A crise econômica acelerada pela política do “quanto pior melhor” de Bolsonaro e

Paulo Guedes fica cada dia mais perceptível nas ruas de qualquer cidade, como, por
exemplo, o Rio de Janeiro. Aumenta a quantidade de placas de venda e aluguel de
imóveis, portas de lojas que não abrem mais, padarias às moscas. De outro lado, é
grande número de barracas que vendem bugigangas, frutas, e até frango assado, entre
outros itens.

Pode-se observar a tristeza no semblante de pessoas que ocupam as ruas para vender
qualquer coisa, como telefones celulares e baterias velhas, aparelhos de videogame
não mais fabricados, ervas, como canela de velho, além de roupas e sapatos usados.

A crise coloca nas ruas ambulantes que visivelmente não possuem qualquer tipo de
aptidão ou vocação para vender.

Quem não consegue formalizar um emprego busca a solução dentro de vagões do metrô,
ônibus e trens, trabalhando entre estações e vivendo o risco de ser pego pela
fiscalização.

São camelôs que oferecem fones de ouvido, doces, suportes para celulares e toda
sorte de mercadorias. Fora dos vagões, no entorno dos pontos de ônibus, das
estações e terminais de transporte coletivo, vendem produtos diversos como frutas,
café, sucos e bolos, roupas usadas e até animais.

Os que não conseguem melhorar sua condição financeira acabam por morar em favelas,
bairros distantes ou acabam mesmo nas ruas, sob as marquises, bancas de jornal e
praças.

Antônio Pedro, encanador industrial, trabalhou no Complexo Petroquímico do Rio de


Janeiro (Comperj), como funcionário da empreiteira Alusa, Em 2014, foi demitido
por causa da crise. Hoje, depois de quatro anos, ainda não conseguiu emprego na sua
área.

“Não consigo mais emprego no segmento porque as empresas alegam que estou com a
idade avançada. Sobrevivo de pequenos bicos, faço pequenos consertos domésticos” –
conta Antonio, que tem 65 anos de idade.

“Não estou vivendo, estou sobrevivendo, com ajuda das pessoas, que estão sendo
solidárias com meu sofrimento, que é grande. O meu maior pesadelo é quando vence o
aluguel. Mesmo morando numa favela (Jacarezinho), tenho que pagar. Estamos pagando
por uma crise maldita do capitalismo, e a cada dia essa crise se agrava, e nós
trabalhadores, desempregados, estamos sendo destruídos, em todos os sentidos”,
desabafa.

A realidade de Antonio Pedro revela a contradição da reforma da Previdência, uma


das principais bandeiras do governo ultraneoliberal de Bolsonaro.

“Com essa reforma da Previdência, aí é que a coisa vai ficar feia. Os idosos não
vão conseguir se aposentar, nem trabalhar, porque empresas não empregam e não vão
empregar. Se é difícil para os jovens, imagina para os idosos. Vamos nos tornar um
país de idosos miseráveis, nas praças. Aqui no Brasil, no papel, na Constituição,
tudo é lindo e maravilhoso, mas, quando você chega à prática, é surpreendido, com
todos os tipos de preconceitos, principalmente em relação à idade”, conclui
Antônio, que milita no Movimento SOS Emprego, um coletivo de trabalhadores
desempregados com a crise e que lutam contra o calote dado pelos patrões nas
indenizações trabalhistas. Até hoje, por exemplo, Antônio não recebeu qualquer tipo
de verba indenizatória da Alusa, empreiteira investigada pela Lava Jato.

“Meu aluguel que é R$ 400,00, vence todo dia 15. É um sufoco ter que correr o
chapéu todo mês para conseguir pagar”, lamenta.
Portas que se fecham

Um dos setores que mais empregava no passado, o comércio, hoje vive uma profunda
crise. Em áreas de grande fluxo, como o centro do Rio, vias se tornam verdadeiras
cidades fantasmas. É o caso da Rua da Carioca: prédios onde antes não se
encontravam salas comerciais para alugar ganharam em suas janelas o colorido das
placas de aluguel e venda.

Uma pesquisa do CDL (Clube de Diretores Lojistas) do Rio de Janeiro revela que,
entre janeiro e dezembro de 2018, 10 mil lojas fecharam as portas, um aumento de
15% em relação ao mesmo período em 2017. Segundo o CDL, a alta do desemprego, a
crise no estado e a violência são responsáveis pela queda das vendas e da atividade
econômica.

Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra em Domicílios (PNAD) do IBGE, 39,5 milhões


de trabalhadores ficaram na informalidade no primeiro trimestre deste ano, o que
corresponde a 43% da população ocupada no país. Desse universo, mais de 14 milhões
trabalham por aplicativos (caso do Uber). O desemprego chega a 12 milhões de
milhões de pessoas, com 4,8 milhões tendo desistido de procurar por vagas de
trabalho. E onde vão parar essas pessoas?

Vida nas ruas

Sergio Souza tem 51 anos de idade, bombeiro hidráulico, expõe seu brechó de bonecas
de plástico em frente ao Campo de Santana, nas proximidades da Central do Brasil,
Região do Centro do Rio.

“Tem quatro anos que estou desempregado, não consigo emprego de jeito nenhum e, com
a situação difícil, sou obrigado, não porque eu goste, a vender essas coisas para
comer o pão de cada dia. Porque, se eu não vender, vou sobreviver do que se não
tenho oportunidade de nada, não tem emprego, não tem nada para ninguém neste
país?”, questiona.

O ambulante hoje está em situação de rua, dormindo nas redondezas da central do


Brasil. “O Estado está falido, a cada dia aumenta a quantidade de gente dormindo
nas ruas aqui do centro. Desisti de procurar emprego, preferindo trabalhar desse
jeito aqui por conta própria, vendendo bonecas, vestidos e livros infantis. O que
dá para vender coloco aqui na minha ‘banca-brechó’”, conta, tendo uma grande
concorrência.

“Eu fico muito triste com essa situação. É uma crise de miséria absoluta em que não
existe controle de nada, cada vez mais fica pior. Eu, sinceramente, não acredito
que vai aparecer algum governante para consertar isso, pois, a cada governo novo, a
situação piora. Veja essa reforma da Previdência: achei péssima, como um presidente
vai fazer um negócio desses com o povo?”, indaga.

Com a dificuldade para arrumar emprego depois de 50 anos, o trabalhador vai viver
do que nessa fase da vida? Antes, ele podia se aposentador. Agora terá que esperar
até 65 anos. “Nesse período, vai fazer o quê”, questiona.

“Essa reforma vai botar mais gente na miséria nas ruas do país”, arremata.

Um levantamento da Defensoria Pública do município estima que 15 mil pessoas


estejam vivendo nas ruas do Rio de Janeiro, mas os 63 abrigos só podem receber 2,3
mil – menos de 15% do total. Daí, pelo menos, mais de 14 mil pessoas dormem
diariamente nas ruas da cidade.

Basta andar pelas ruas à noite para observar o drama por trás desta estatística.
Calçadas de Copacabana, centro, Bonsucesso, Madureira e tantos outros bairros da
cidade se tornam verdadeiros depositários humanos.

Você também pode gostar