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SAMPLE

Eduardo Oliveira • 2019

A forma com que o médico avalia as funções físicas e mentais dos pacientes idosos é denominada de avaliação
geriátrica ampla (AGA), que se diferencia de outras abordagens por ser complementada por escalas de avaliação
voltadas para o idoso.

A AGA consiste em:

 Anamnese
 Exame físico
 Escalas de avaliação complementares à anamnese
 Física
 Cognitiva
 Emocional
 Social

PRINCIPAIS DESAFIOS:

Classificação: idosos maior ou igual a 60 anos.

Barreiras de linguagem: grau de escolaridade, regionalismos e problemas auditivos ou cognitivos.

Conforto do paciente:

 Garantir acessibilidade, paciência, consideração e respeito.


 Cumprimentar o paciente e chamá-lo por pronome de tratamento adequado.
 Temperatura adequada.
 Evitar barulho.
 Não ter pressa no atendimento.

Deficiências auditivas:

 No início do exame, pergunte se o paciente ouve com claridade.


 Fale clara e pausadamente.
 Avalie a integridade auditiva do paciente (presença de cerume).
 Não grite.

Deficiência visual:

 Certifique-se de que o paciente está usando lentes corretivas.


 Iluminação adequada.

Deficiência cognitiva:

 O normal é envelhecer lúcido. Logo, deficiências cognitivas indicam doenças.


 Problema comunicativo.
 Presença de acompanhante.

Falta de conhecimento:

 O grau de escolaridade interfere na comunicação entre médico e paciente.


 Não subestimar a capacidade intelectual do paciente.
ANAMNESE DO IDOSO:

PARTICULARIDADES:

 Informa pouco sobre a condição por aceitá-la como inevitável à idade.


 Intimidação pela pressa do médico.
 Informa pouco sobre sintomas com receio de ser internado ou não querer fazer os exames.
 Manifestação de várias doenças de forma atípica, demandando atendimento de urgência.
 Delírio.
 Quedas.
 Perdas funcionais.
 Infecções.
 Efeitos adversos de medicamentos.
 Doenças cardiovasculares.
 Múltiplas doenças: ter conhecimento das doenças preexistentes facilita compreender as manifestações
clínicas.
 Ter conhecimento das medicações utilizadas pelo paciente.
 Solicitar, no agendamento da consulta, que o paciente ou acompanhante traga uma sacola com os
medicamentos utilizados pelo paciente.
 Mostrar cada medicamento e perguntar posologia, tempo de uso e para que foi indicado.
 Perguntar sobre outros medicamentos recentemente utilizados.
 Perguntar a relação do uso do medicamento com declínio funcional, confusão mental, queda e
incontinência.

ASPECTOS DA ANAMNESE:

 Deficiência de memória
 Deficiência auditiva
 Deficiência visual
 Transtornos de comportamento como agressividade, irritabilidade, atitude sexual ou social inapropriada
 Alterações de marcha
 Alteração de mobilidade, flexibilidade e força muscular nos membros e tronco
 Episódios de queda
 Traumatismo
 Alterações no nível de consciência
 Alterações da cavidade oral: dente, gengiva, mucosas, próteses, tumores, úlceras e dor ao mastigar
 Distúrbios alimentares.
 Necessidade de dietas especiais
 Perda ou ganho de peso
 Modificações no padrão de sono
 Fadiga crônica
 Dor
 Disfunções sexuais
 Incontinência urinária e fecal
 Sintomas depressivos
 Sintomas de ansiedade
 Úlceras por pressão (escaras)

EXAME FÍSICO:

 Postura e marcha
 Alteração da postura devido à velhice
 Marcha senil: aumento da flexão dos cotovelos, cintura e quadril, diminuição do balançar dos braços,
levantamento dos pés e marcha de pequenos passos.
 Acentuamento da curvatura da coluna vertebral em virtude da diminuição da espessura dos discos
intervertebrais e levando à cifose
 Perda do arco dos pés = diminuição da estatura
 Equilíbrio
 Fáscie
 Hiperpigmentação
 Edema das pálpebras inferiores
 Queda das pálpebras superiores (ptose)
 Afundamento do globo ocular
 Diminuição da função lacrimal
 Transferência de um lugar para o outro
 Sinais vitais: PA, FC, FR, temperatura e dor
 Perda da capacidade respiratória e circulatória
 Aferir a pressão em 3 posições diferentes
 Medidas antropométricas: peso, altura, circunferências
 Hidratação
 Condição da pele e mucosas
 Pele flácida, formando pregas nos braços, coxas e abdome
 Cútis romboide: quadriculado na nuca
 Pele mais rugosa e seca devido à redução das glândulas sudoríparas
 Diminuição e embraqueamento dos pelos
 Aparecimento de manchas hipercrômicas, planas e lisas (melanose senil)
 Unhas espessas e curvas
 Alterações bucais
 Tecido subcutâneo
 Aumento dos pavilhões auriculares
 Gânglios
 Força muscular em grau, mobilidade e flexibilidade dos membros e tronco
 Perda de tecido ósseo (osteoporose)
 Palpação dos pulsos e ausculta cardíaca
 Endurecimento e tortuosidade de veias e artérias
 Espessamento das cúspides, aumento de tecido fibroso e calcificação, levando à sopro sistólico
 Palpação e ausculta de pulsos no pescoço e aorta abdominal
 Toque retal
 Avaliação criteriosa de deformação nos pés e mãos: deformidades, mobilidade, ferimentos, trofismo muscular
bilidade, ferimentos, trofismo muscular, sinais de inflamação, isquemia e tremores.
 Avaliação dos nervos cranianos, reflexos, sinais piramidais e extrapiramidais.

EXAME FÍSICO ESPECIAL:

Cabeça e pescoço:

 Alterações no tamanho do crânio


 Condições bucais e próteses
 Palpação e ausculta da tireoide e pulsos arteriais
 Palpação dos gânglios

Exame do tórax:

 Inspeção de cifose torácica e alargamento do diâmetro anteroposterior


 Exame das mamas
 Ausculta de bulhas cardíacas hipofonéticas
 A dilatação e a perda da elasticidade da aorta ascendente e o espessamento dos folhetos da valva aórtica
podem ser responsáveis pelo aparecimento de estalido protossistólico e/ou de sopro ejetivo, nem sempre com
significado patológico.
 Se houver estenose aórtica, o sopro quase sempre se acompanha de frêmito, alterações da pressão arterial e
dos pulsos.
 O sopro sistólico regurgitativo no foco mitral também pode não ter significado patológico e traduzir apenas
espessamento e calcificação da valva mitral, sem que haja alteração funcional. Os sopros diastólicos sempre
indicam disfunção valvar.

Exame do abdome:

 Palpar e auscultar o trajeto da aorta abdominal, pois dilatações aneurismáticas e estenoses de seus ramos
(renais, por exemplo) são mais comuns em idades avançadas.
 Palpação da região suprapúbica também é importante nos casos de diminuição do volume urinário ou
incontinência, sob pena de deixar passar uma bexiga distendida.
 Toque retal deve completar o exame, pois as doenças prostáticas, os fecalomas e as neoplasias do reto são
frequentes nessa faixa etária.
 Os idosos podem estar com fecaloma que se manifesta de maneira atípica, com a chamada incontinência fecal
paradoxal e, ocasionalmente, apenas confusão mental.

Exame das extremidades:

 Examinam-se os membros em busca de doenças osteoarticulares, as quais são a principal causa de


incapacidade nesse grupo de indivíduos.
 Deformidades, como as alterações da tíbia com arqueamento das pernas, são sugestiva de doença de Paget
dos ossos, que é exclusiva dessa faixa etária.
 Os nódulos de Heberden das articulações interfalangianas distais são comuns na osteoartrose, que também é
uma doença mais frequente na velhice.
 Já os nódulos de Bouchard, das interfalangianas proximais, as deformidades em pescoço de cisne e em casa
de botão, o desvio ulnar dos quirodáctilos e a atrofia dos músculos interósseos são próprios da artrite
reumatoide, doença que ocorre em faixas etárias mais jovens, dos 30 aos 50 anos, mas cujas sequelas poderão
ser observadas tardiamente. Pesquisam-se sinais de inflamação e isquemia.
 Avalia-se o trofismo muscular. Os pulsos devem ser rotineiramente palpados, pois a insuficiência vascular é
mais comum nesses pacientes, consequência de doenças crônicas, como a hipertensão e o diabetes, e do
tabagismo.
 O edema sempre deve ser pesquisado, sem se esquecer de que ele pode ser causado pela estase venosa em
decorrência da imobilidade. Veias varicosas contribuem para agravar essa situação.

Exame neurológico:

 Deve ser realizado em todos os idosos, independentemente da queixa do paciente, pois muitas doenças
neurológicas podem manifestar-se com sintomas inespecíficos, como é o caso da doença de Parkinson, que
pode ocorrer sem tremor e o paciente procurar assistência por depressão e/ou quedas.
 O diagnóstico será estabelecido pelo encontro, ao exame físico, de outros sinais extrapiramidais, como
bradicinesia e rigidez.
 Primeiro, avalia-se a função mental. Examinam -se os nervos cranianos e, principalmente, a movimentação
ocular. Quando comparados com os jovens, os idosos apresentam maior dificuldade com o olhar vertical,
principalmente para cima.
 É importante ressaltar que cerca de 30 a 40% dos idosos têm rigidez de nuca decorrente de osteoartrose da
coluna cervical, tornando esse sinal pouco específico para o diagnóstico de irritação meníngea. A força e o
trofismo muscular devem ser avaliados e os reflexos profundos testados.
 O envelhecimento pode diminuí-los, principalmente os patelares e aquileus.
 Sinais de comprometimento piramidal (sinal de Babinski, hiper-reflexia) e extrapiramidal (rigidez, tremores,
coreia, bradicinesia) devem ser pesquisados, pois as doenças neurodegenerativas que acometem os idosos
podem afetar esses sistemas.
 Avalia-se também a sensibilidade tátil, dolorosa, vibratória e proprioceptiva.
AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA:

Objetivos:

 Melhorar a precisão diagnóstica


 Determinar o grau de extensão e incapacidade (motora, mental e cognitiva)
 Servir de guia para medidas que visam à restituição e preservação da saúde (farmacoterapia, fisioterapia e
psicoterapia)
 Identificar fatores que predispõem à iatrogenia
 Estabelecer critérios de internação

Pacientes de alto risco:

 Idade superior a 80 anos


 Vivem sós
 Luto e depressão
 Deficiência cognitiva
 Caem com frequência
 Incontinência urinária e fecal

Parâmetros de avaliação:

 Equilíbrio e mobilidade
 Função cognitiva
 Capacidade do indivíduo de realizar atividades básicas da vida diária
 Capacidade do indivíduo de realizar atividades instrumentais da vida diária
 Condições emocionais
 Disponibilidade e adequação de suporte familiar e social
 Condições ambientais
 Estado e risco nutricional

EQUILÍBRIO E MOBILIDADE:

 Get up and go test: avalia o equilíbrio sentado, a transferência de sentado para a posição de pé, a estabilidade
na deambulação e as alterações no curso da marcha sem utilizar estratégias de compensação.
 Timed get up and go test: avalia-se o tempo em que a atividade é realizada.
 10s: independente de alteração.
 20s: independente de transferência básica.
 30s: indivíduo
dependente de
muitas
atividades da
vida diária e
habilidade da
mobilidade
 Pode-se executar o teste
de Romberg antes do
paciente caminhar e
solicitar que ele, de olhos
abertos, sustente o peso
do corpo primeiro nos
calcanhares e, depois,
nas pontas dos pés.
Escores:

1. Normalidade
2. Normalidade leve
3. Anormalidade média
4. Anormalidade moderada
5. Anormaliadde grave

FUNÇÃO COGNITIVA:

 Miniexame do estado mental: pontuação máxima de


30 (normal = 26).
 Questionário resumido do estado mental.
 Fluência verbal.
CAPACIDADE DO INDIVÍDUO DE REALIZAR
ATIVIDADES BÁSICAS DA VIDA DIÁRIA:

 Avalia-se a capacidade do indivíduo de realizar


essas tarefas, observando se é independente,
total ou parcialmente dependente e se
necessita de ajuda mecânica, como bengalas,
andadores ou cadeiras de rodas.
 Em caso de incontinência, avalia-se se é
intermitente, contínua, noturna.
CAPACIDADE DO INDIVÍDUO DE REALIZAR ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DA VIDA DIÁRIA:

 Atividades necessárias para uma vida independente.


 São mais complexas.
CONDIÇÕES EMOCIONAIS DO PACIENTE:

 Os idosos estão sujeitos às mesmas doenças psíquicas que acometem a população mais jovem.
 Alterações no comportamento que persistem por um tempo mínimo de 2 semanas, como irritabilidade,
pessimismo, sensação de menos valia, inúmeras queixas orgânicas, a falta de interesse pelas atividades
habituais, os distúrbios de memória e o afastamento social, não devem ser considerados como características
da população idosa, mas sim como prováveis sinais e sintomas de uma depressão

DISPONIBILIDADE E ADEQUAÇÃO DE SUPORTE FAMILIAR E SOCIAL:

A falta de suporte e de adequação do idoso à vida familiar e social é um dos fatores que contribuem negativamente
para as suas condições de saúde e capacidade funcional. Dessa maneira, faz-se necessária uma avaliação adequada
desse parâmetro utilizando perguntas-chave que fornecerão informações precisas. As perguntas sugeridas são:
MAUS-TRATOS:

 O médico deve reconhecer certos tipos de maus-tratos, fatores de risco, situações que sugerem e ter uma
postura ativa diante da situação de risco ou sugestiva.

CONDIÇÕES AMBIENTAIS:

 O ambiente deve propiciar autonomia, mas com grau de especificidade e cuidado, o que impõe necessidade
de planejamento e adaptação dos espaços a depender da diminuição das capacidades físicas, sensoriais e
funcionais.
 O médico deve sempre obter informações sobre o domicílio do idoso seja por meio de perguntas dirigidas ao
paciente, cuidadores e familiares, seja realizando visitas domiciliares. Na avaliação deve ser observada a
possibilidade de introduzir modificações que possam tornar o ambiente mais conveniente às limitações do
idoso.
ESTADO DE RISCO NUTRICIONAL:

 Avaliar: perda ou ganho de peso, alterações do padrão alimentar, sintomas gastrintestinais, avaliação da
capacidade funcional, demanda metabólica, antecedentes patológicos, uso de medicamentos, história social,
história dietética.
 Peso
 Altura: A altura reduz, a partir dos 40 anos de idade, cerca de 1 a 2,5 em por década, sendo mais acentuada
em idades avançadas. Essas alterações são decorrentes das alterações morfológicas que ocorrem no processo
de envelhecimento.
 IMC
 Altura do joelho: Realizada com a perna flexionada em um ângulo de 90° e posicionando a base da régua
embaixo do calcanhar, a haste pressionando a superfície da fíbula com o indivíduo deitado.
 Circunferência do braço: Avalia gordura subcutânea e músculo, medida com braço relaxado ao longo do corpo
na linha média, que foi definida com o braço flexionado, entre olécrano e acrômio.
 Circunferência abdominal: Medida feita com uma fita métrica não extensível, com o idoso em pé, no ponto
médio entre a última costela e a crista ilíaca.
 Circunferência da cintura: técnica é a mesma da medida anterior, porém deve ser feita no local da cintura
natural ou na menor curvatura entre a última costela e a crista ilíaca.
 Razão cintura/quadril: A medida da circunferência do quadril é feita com o indivíduo de pés juntos, braços
afastados do corpo, com a fita métrica ao redor da região de maior protuberância do quadril. RCQH > 1 e
RCQM > 0,85.

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