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CURSO de

PSICANÁLISE PARAPSICOLÓGICA
MÓDULO 02
MÓDULO 02: A TEORIA da PSICANÁLISE FREUDIANA

II) A DESCOBERTA DO INCONSCIENTE


1 - O hipnotismo: Durante muitos anos a psicologia tem sido a ciência do consciente humano. A
psicologia versava sobre os processos conscientes, definidos pelo introspecionistas como os
processos observados pelo indivíduo experimentante ou produzidos na sua experiência interior.
Os processos dos que tinham consciência, o indivíduo, eram considerados a única área legítima
da psicologia. Alguns fenômenos como os sonhos, as amnésias, o hipnotismo, etc. que
pertenciam aparentemente ao reino da psicologia, eram deixados de lado pela psicologia do
consciente. Porém era arbitrário descartar os fenômenos mentais dos sonhos, que tinham
cativado a imaginação de poetas e profetas nos tempos antigos. Era mais difícil passar por alto os
lapsos de memória que acontecem na vida diária e na experiência de todo o mundo. Eles ainda
eram mais enigmáticos as descontinuidades da memória e do consciente motivados por
transtornos emocionais, até mesmo conhecido nos tempos antigos. Em última instância, a
psicologia foi forçada a reconhecer que a sugestão e a hipnose eram fenômenos do incomum,
mas real da mente de humano.

O INCONSCIENTE DE PIERRE JANET


Ao mesmo tempo, Pierre Janet, na França, desenvolveu uma teoria nova do transtorno mental.
Embora Janet insistia em que o transtorno mental se origina em uma degeneração, sua teoria era
completamente psicogênica e versava sobre um automatismo não orgânico, para o qual Janet
denominou inconsciente.

Janet dizia que existem várias operações, materiais ou mentais, subtraídas à consciência:
1)- Operações Materiais inconscientes,
- sejam de movimentos parciais, dos “segmentos” de comportamento (atos habituais, escrita
automática);
 Sejam das condutas globais, das “totalidades” comportamentais (sonambulismo);
2)- Operações mentais inconscientes,
 Sejam informativas (percepção do real exterior, apreensão das ordens dadas);
 Sejam intelectuais e organizadoras (raciocínios, processos mentais diversas);
 Sejam mnênicas (evocação de lembranças no momento de condutas inconscientes,
elementos mnêmicos instigadores, sem evocação, de ações conscientes).
Em 1889, Freud seguiu as experiências hipnóticas que Bernheim levou a cabo em Nancy. Foi feito
para que o companheiro hipnotizado tenha várias experiências alucinatórias. Quando despertava,
sustentava que não podia se lembrar de nada. Bernheim exigiu o companheiro que se lembrara
do acontecido, assegurando-lhe que poderia se lembrar de tudo. Surpreendentemente, o
companheiro ia se lembrando de tudo progressivamente.
Esta experiência convenceu Freud que um indivíduo pode não saber o que sabe. Era como
se uma parte da vida mental se escondesse, não ficava a disposição da consciência. Os estudos
de Bernheim acabaram com a crença comum de que os homens sempre têm consciência do que
fazem e que eles sempre podem tomar decisões conscientes.

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Foi rejeitada a antiga “faculdade da vontade” e foi considerado aos seres humanos como o que
realmente são: desgarrado pelas emoções, e amiúde percebendo erroneamente a realidade, às
vezes alucinados, e experimentando algum “impulso irresistível” ocasionalmente.
A concepção psicológica do homem como ser racional controlado por uma “vontade” intelectual
tinha chegado ao seu fim. O momento tinha chegado em que a natureza humana, com seus
elementos irracionais, e sua vida mental inconsciente e sua tão complicada estrutura mental,
abria-se à investigação.
2 - Joseph Breuer e o método catártico:
Antes dos estudos com Charcot no Salpétriére, Freud tinha estado sob a influência de um
neurologista distinto de Viena, Joseph Breuer. Na volta de França, Freud cooperou com Breuer e,
juntos, curaram alguns pacientes que lembraram experiências passadas sob hipnose. A cura da
neurose consistiu em reviver um trauma.
«O fato fundamental era que os sintomas dos pacientes histéricos fundamentavam-se em cenas
muito significativas, mas esquecidas, de suas vidas passadas (traumas); a terapia cimentada
neste fato consistia em obrigá-los a se lembrar e reproduzir tais cenas em um estado de hipnose
(catarse); e a parte de teoria deduzida disto era que estes sintomas representavam uma forma
anormal de descarga de algumas quantidades de excitação que não tinham sido usados de outra
maneira (conversão).
Freud considerou ao sucesso do método catártico como um teste da existência do inconsciente. O
que estava consciente ficou inconsciente por meio da repressão e consciente novamente por meio
da catarse.

III) A PRIMEIRA TÓPICA: AS TRÊS INSTÂNCIAS DA MENTE


CONSCIENTE – PRÉ-CONSCIENTE E INCONSCIENTE
A teoria de Freud do inconsciente foi derivada de experiências do hipnotismo e catarse.
O fenômeno de amnésia espetacular e o restabelecimento da memória na terapêutica faziam
supor uma continuidade na possibilidade de poder representar as recordações, a perda do mesmo
e a sua recuperação.
Freud acreditou que as áreas mais escuras e inacessíveis deveriam ser estudadas por meio de
hipótese menos rígida. Esta era a estratégia metodológica.
Mas não julgava o inconsciente como uma teoria ou um postulado apriorístico; o inconsciente,
disse, é reservatório que afasta os fatos de nossa observação.
Nem as percepções nem a mobilidade não estão necessariamente conscientes. A pessoa pode
perceber objetos sem perceber isto, como em uma cegueira histérica, e pode mover-se
inconscientemente, como no sonambulismo. O menino recém nascido não tem consciência
provavelmente, mas sem dúvida é sensível, isto é, percebe a dor e o prazer e reage a eles. É
acreditado que tais percepções e reações imprimem marcas na memória.
O inconsciente armazena recordações que são inacessíveis no estado de vigília, por exemplo, as
recordações das primeiras experiências infantis.
Muitas recordações da infância são impossíveis de realizar e, no entanto não desaparecem;
muitos eventos são registrados na mente do menino e não obstante eles são incomunicáveis. É
extraordinariamente difícil de estudar as capas profundas e pré-verbais do inconsciente.
O que Freud fez realmente era uma análise indireta do inconsciente; nesta análise, os
fenômenos observáveis dos sonhos, associações livres, lapsus linguae (atos falhos) e os
sintomas os transtornos mentais eram estudados como algo representativo da grande
província mental do inconsciente.
A tensão conduz ao desenvolvimento do consciente.

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O desenvolvimento do consciente depende da crescente habilidade do menino de utilizar suas
recordações. Neste momento as recordações se acumulam, dizer isto deste modo, na «superfície,
do inconsciente, facilmente acessível e pronto a se tornar consciente.
Esta parte do inconsciente constitui o Pré-consciente.
1-O CONSCIENTE:
O CONSCIENTE pode abordar de diversos aspectos:
1.1- No Sentido DESCRITIVO: Seria a qualidade momentânea que caracteriza as
percepções externas e internas no meio do conjunto dos fenômenos psíquicos.
1.2- Segundo a teoria metapsicológica de Freud, a consciência seria função de um
sistema percepção-consciência (Pc-Cs).
1.3- Do ponto de vista TÓPICO, o sistema percepção-consciência está situado na
periferia do aparelho psíquico, recebendo ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e
as provenientes do interior, isto é, as sensações que se inscrevem na série desprazer-prazer e as
revivescências mnésicas.
1.4- Do ponto de vista FUNCIONAL, o sistema percepção-consciência opõe-se aos
sistemas de traços mnésicos que são o inconsciente e o pré-consciente: nele não se inscreve
qualquer traço durável das excitações.
1.5- Do ponto de vista ECONÔMICO, caracteriza-se pelo fato de dispor de uma energia
livremente móvel, susceptível de sobreinvestir este ou aquele elemento (mecanismo de atenção).
1.6- Do ponto de vista do CONFLITO e TRATAMENTO, a consciência desempenha um
papel importante na dinâmica do conflito.
(a)- equitação consciente do desagradável;
(b)- regulação mais discriminadora do princípio de prazer;
(c) na Teoria do tratamento, a problemática da tomada de consciência: “O tratamento
psicanalítico edifica-se sobre a influência do Cs no Ics, e mostra-nos em todo caso que
esta tarefa, por árdua que seja, não é impossível”.
Convém aqui mencionar os diferentes fatores que intervém no tratamento:
1- Rememoração e construção;
2- Repetição na transferência e perlaboração (ou elaboração);
3- Interpretação, cujo impacto não se limita a uma comunicação consciente na
medida em que conduz as remodelações estruturais.
2- O INCONSCIENTE
Então, o inconsciente é dividido em duas partes: o pré-consciente e o inconsciente propriamente
ditam. Alguns processos inconscientes podem fazer-se conscientes sem qualquer dificuldade.
Deles podem se lembrar e o indivíduo pode ter consciência deles com facilidade. Eles são como
elementos convenientemente armazenados, facilmente acessíveis.
O que é consciente é consciente durante pouco tempo, e pode passar ao pré-consciente com
facilidade. Por outro lado, os processos mentais do pré-consciente podem ficar conscientes “sem
qualquer atividade para nossa parte”.
2.1- O PRÉ-CONSCIENTE

O pré-consciente constitui o que é inconsciente em um determinado momento, mas facilmente


pode ficar consciente; está inconsciente de modo latente ou temporal.
O lapsus linguae, o esquecimento de nomes e lugares muito famosos, os erros, os equívocos na
colocação de objetos, etc., pertencem a esta categoria.
A diferença da zona pré-consciente, as capas mais fundas do inconsciente são menos acessíveis
e eles nunca podem ficar conscientes.
O indivíduo está consciente ou ele percebe uma fração pequena dos processos mentais num
tempo determinado. Assim o consciente - ou consciência - deveria ser o resultado de um processo
seletivo.

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O inconsciente tende a fazer-se pré-consciente e eventualmente consciente, mas uma parte do
mesmo se faz de fato consciente. Alguns impulsos e percepções podem fazer-se pré-conscientes
ou conscientes por um certo tempo e então se afundar novamente no inconsciente.
Em um princípio Freud atribuiu ao consciente e ao inconsciente, propriedades dinâmicas, mas
finalmente baniu toda a dinâmica para os instintos e às “operações mentais” de ID, EGO e
SUPER-EGO.
Assim, os termos “consciente, pré-consciente, e inconsciente” não indicam qualquer força
dinâmica da personalidade, mas, como Freud concluiu em última instância, essas «províncias
mentais. São conceitos topográficos que indicam a «profundidade» dos processos mentais e a
distância relativa da superfície.
Aquilo que conhece o indivíduo é consciente; o que não conhece, mas pode facilmente
conhecer alguma vez é pré-consciente; o que não pode conhecer sem um esforço definido
ou não pode conhecer de modo algum, é inconsciente.
PRÉ-CONSCIENTE: Do ponto de vista Metapsicológico, o Sistema Pré-consciente está situado
entre o sistema inconsciente e a Consciência; está separado do Inconsciente pela Primeira
Censura, que procura barrar aos conteúdos inconscientes o caminho para o pré-consciente e
para a consciência. Freud submete a passagem do pré-consciente ao consciente à ação de uma
Segunda Censura, mas distingue-se da censura propriamente dita (entre o Ics e Pcs) na medida
em que deforma menos do que seleciona, visto que a sua função consiste essencialmente em
evitar a vinda à consciência de preocupações perturbadoras. Favorece assim o exercício da
atenção.
2.2- INCONSCIENTE:
Pelas suas características podemos definir assim:
2.2.1- Os seus “conteúdos” são “representações” das pulsões (trieb).
2.2.2- Estes “conteúdos” são regidos pelos mecanismos específicos do processo
primário, como a Condensação e o Deslocamento.
2.2.3- Fortemente investidos pela energia pulsional, procuram retornar à consciência e
à ação (retorno do recalcado); mas não podem Ter acesso ao sistema Pcs-Cs senão nas
formações de compromisso, depois de terem sido submetidos às deformações da censura.
2.2.4- São mais especialmente certos desejos da infância que conhecem uma fixação
no inconsciente.
O INCONSCIENTE SEGUNDO FREUD:
Freud dizia que estava acostumado a tratar com a parte inconsciente da mente como algo real e
tangível. Alguns dos sintomas dos neuróticos obsessivos dão a impressão até mesmo aos
próprios pacientes de serem “poderosos visitantes” de outro mundo.
Os sintomas obsessivos, disse Freud, indicam uma esfera da afetividade mental «separada do
resto do mundo». Esta esfera é o inconsciente.
O INCONSCIENTE FREUDIANO pode ser entendido assim: Na opinião de Freud, nossos atos
cotidianos, nossa conduta de cada dia, podem revelar tendências inconscientes. As descobertas
essenciais de Freud: existência de conflitos psíquicos, importância das tendências sexuais,
relações entre sintomas e condutas de um lado, recalque e inconsciente, de outro. Freud disse: “O
pré-consciente, suscetível de ser evocado pelo jogo normal das representações é, pois, muito
diferente do inconsciente dinâmico, inacessível à evocação voluntária, que uma técnica especial
(hipnose, psicanálise) pode tornar consciente”.
Os fatos psíquicos latentes, isto é, inconsciente, no sentido descritivo da palavra, mas não no
dinâmico, são, de fato, pré-conscientes, “e reservamos o nome dos INCONSCIENTES aos fatos
psíquicos recalcados, isto é, dinamicamente inconsciente”. O que vem a ser, diante do
exposto, a noção de inconsciente?

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Quando, na época heróica da psicanálise, Freud substantivava o inconsciente e o distinguia
apenas do pré-consciente, considerava-o como o conjunto de fatos mentais recalcados.

No capítulo dos “Ensaios” consagrados à consciência e ao inconsciente, após haver


estabelecido que o “dinamismo psíquico se manifesta sempre sob duplo aspecto, consciente e
inconsciente”, e que se tudo que é recalcado é inconsciente, “há elementos que são inconscientes
sem serem recalcados”. Freud encontra-se “na necessidade de admitir a existência de um terceiro
inconsciente, não recalcado”. Depois diria que é o ID.
Freud jamais deixou de considerar os processos inconscientes, propriamente ditos, como
aqueles que correspondiam ao recalque, - e permaneceu, portanto, fiel ao espírito de suas
primeiras intuições.
Lê-se nos Ensaios: “o que é recalcado é para nós o protótipo do inconsciente”; e em seu último
escrito, a propósito dos elementos de si, que são recalcados: “é a este material que nós
reservamos o nome de inconsciente propriamente dito”.

DEFINIÇÃO DO INCONSCIENTE COMO SISTEMA:


Características específicas:
(1) processo primário (mobilidade dos investimentos, característica da energia livre);
(2) ausência de negação, de dúvida, de grau de certeza;
(3) indiferença perante a realidade e regulação exclusivamente pelo princípio de desprazer-prazer
(visando este restabelecer pelo caminho mais curto a identidade de percepção).
REDEFINIÇÃO DO Ics EM 1920:
Sabe-se que em 1920, a teoria freudiana do aparelho psíquico é profundamente remodelada (na
segunda tópica). São introduzidos conceitos como ID, EGO ESUPEREGO.
3- REPRESSÃO E RESISTÊNCIA:

Freud distinguiu entre rejeição consciente de um impulso - às vezes denominou supressão - e


repressão.
 Na SUPRESSÃO fica neutralizada a energia posta a disposição do impulso que procura
“converter-se em ação”. O impulso já não dispõe de mais energia; fica impotente e só existe como
uma lembrança.
 Seria a exclusão consciente de idéias e emoções indesejáveis do âmbito da atividade
mental. A força supressora provém do ego ideal. A supressão distingue-se da repressão porque
esta não é consciente.
 A REPRESSÃO tem papel preponderante na gênese da neurose, e:
 É a rejeição involuntária de um impulso sexual ou agressivo que se esforça por penetrar
ou penetrou no consciente,
 É o processo mental que resulta do conflito entre o princípio do prazer e o princípio da
realidade, quando os impulsos e desejos determinados pelo instinto estão em conflito com os
padrões de conduta moral.
 Daí resulta que os conteúdos psíquicos empurrados para o inconsciente, embora
reprimidos, mantêm-se ativos, em seu contínuo esforço de reingresso na consciência; essa luta
determina uma grande parte de comportamento pessoal e a causa de sintomas neuróticos os
mais diversos.
 É um «esforço veemente que foi exercido para evitar que os processos mentais em
questão penetrem no consciente, que por causa disso permaneceram inconscientes.
 A repressão é um ato por meio do que:
 Ou se evita que um ato mental entre no pré-consciente, sendo mantido no inconsciente,
 Ou se lança ao inconsciente um sistema mental que pertence ao pré-consciente.
 A repressão é uma concepção topográfica - dinâmica.
 O que foi reprimido tende a achar saídas, ser descarregado.
Freud sempre era conseqüente com o princípio de energia. Todos os processos mentais são
processos nos que se acumula, armazena, bloqueia ou descarrega alguma energia.
Certas forças, consciente ou inconsciente, evitam a descarga de energia.

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As mesmas forças repressoras, denominadas posteriormente de “mecanismos de defesa”,
resistem sempre à descarga da energia reprimida.
Em geral, quando uma pessoa está sofrendo uma terapia psicanalítica “resiste” inconscientemente
os esforços do terapeuta encaminhados à descarga das energias bloqueadas e a supressão da
tensão.
Uma habilidade terapêutica especial é exigida para conquistar a resistência e liberar a energia
reprimida.

RESISTÊNCIA: aplica-se a tudo o que, nos atos e palavras do analisando, se opõem ao acesso
deste ao seu inconsciente. Por extensão, Freud falou de resistência à psicanálise para designar
uma atitude de oposição às suas descobertas na medida em que elas revelavam os desejos
inconscientes e infligiam ao homem um “vexame psicológico”.
– A Resistência constitui no fim de contas o que entrava o trabalho [terapêutico].
– No seu segundo sistema, Freud acentua a resistência como um aspecto
defensivo: defesa exercida pelo EGO: “O inconsciente, isto é, o recalcado, não opõe aos esforços
do tratamento qualquer espécie de resistência”.
Em 1926, Freud distingue cinco formas de resistências:
Três estão ligadas ao EGO: (1) O recalcamento, (2) a resistência de transferência e (3) o
benefício secundário da doença “que se baseia na integração do sintoma no EGO”.
Ainda temos (4) a resistência do inconsciente ou do ID (esta torna tecnicamente necessária a
perlaboração (elaboração): é “... a força da compulsão à repetição, atração dos protótipos
inconscientes sobre o processo pulsional recalcado”).
E (5) a resistência do SUPEREGO que deriva da culpabilidade inconsciente e da necessidade de
castigo.
São as mesmas forças que vemos atuar na resistência e no recalcamento.
Freud sempre considerou a interpretação da resistência, juntamente com a da transferência,
como as características específicas da sua técnica.
4- A INTERPRETAÇÃO DE SONHOS:
Os sonhos constituem a área principal onde o inconsciente é manifestado e fica acessível à
investigação. Freud considerava a interpretação dos sonhos como o ponto culminante dos seus
estudos.
O sonho é uma parte de dormir, e dormir é recusar fazer frente ao mundo externo
temporariamente.
Freud acreditou que nossa relação com o mundo no qual entramos de modo tão involuntário só
parece ter lugar intermitente; por conseguinte, nos retiramos de maneira periódica à condição
anterior à nossa entrada no mundo; quer dizer à existência intra-uterina.
Em todo caso, tratamos de adquirir algumas condições -calor, escuridão e ausência de estímulos -
característica de tal estado. Alguns até mesmo «se encolhem como uma bola à semelhança da
posição "intra-uterina”.
A FUNÇÃO DO SONHO
O sonho – o dormir - começa com o desejo de afastar-se da realidade. Com este afastamento
relaxador o indivíduo retorna para modos de atividades mais primitivas e as forças controladoras
do consciente vão reduzindo-se progressivamente. O chão, por assim dizer, se abre à voz do
inconsciente, ao sonho. Os sonhos são uma reação da mente para os estímulos externos e
internos que agem no organismo dormente. Em sonhos, o indivíduo atribui uma realidade objetiva
às imagens que constituem o material de tais sonhos.
Um sonho, por conseguinte, é uma psicose com todos os absurdos, alucinações e ilusões
de uma psicose».

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Freud disse “Trata-se de um afastamento temporário”:
 Desejado conscientemente, do mundo exterior.
 E uma regressão ao estado da mente que precedeu ao desenvolvimento do consciente.
 Os sonhos representam demandas ou desejos que vêm do inconsciente; normalmente
tais desejos são exigências de gratificação instintiva que foi reprimida.
O EGO E O SONHO
O eu (ego) é o guardião do sonho, de forma que todas as pressões são pressões sobre o EGO
(eu).
O Ego dormente, Freud dizia, é centrado no desejo de manter o sonho; considera toda a demanda
como uma perturbação e tenta desembaraçar-se da perturbação.
O eu (EGO) adquire tal coisa mediante o que parece ser um ato de contemporização: enfrenta a
demanda com isso que, em tais circunstâncias, é a realização inocente de um desejo e deste
modo se desincumbe da demanda. Esta substituição de uma demanda para a realização de um
desejo é a função essencial do trabalho onírico.
O TRABALHO ONÍRICO
O trabalho onírico transforma o desejo inconsciente ou pré-consciente que é o pensamento onírico
latente, no que percebe o sonhador, isto é, em um conteúdo onírico manifesto. Para usar
exemplos de Freud, se um doutor deveria se levantar logo de manhã para ir para o hospital que é
um caso de desejo pré-consciente, pode continuar dormindo e sonhando que já está no hospital
como um paciente que ele não tem que se levantar logo de manhã. O material onírico latente é o
conflito em se levantar.
O Eu dormente protegeu o ato de dormir por meio do labor onírico que já transformou o desejo no
conteúdo onírico manifesto de estar no hospital como paciente, desembaraçando-se assim do
conflito.
Os sonhos protegem o dormir de um. Todos os sonhos versam sobre desejos que, por alguma
razão, não podem ser aceitos nem no consciente nem no estado de vigília.
Qualquer sonho é um intento de «afastar uma perturbação do dormir por meio da realização de
um desejo. Esta realização de um impulso reprimido fica suavizada porque no sonho se fecha o
caminho da descarga motora.
O impulso reprimido que luta para uma chance de descarga isto deve contentar-se com uma
satisfação alucinatória. Por conseguinte, os pensamentos oníricos latentes se tornam numa
coleção de imagens sensoriais e cenas visuais.
Nem todos os sonhos representam um desejo simples ou realização de um desejo. Muitos
sonhos são bastante desagradáveis e alguns deles constituem pesadelos horrorosos.
O QUE O SONHO REPRESENTA
Todos os sonhos representam desejos rejeitados ou reprimidos, mas alguns dão conta de
conflitos internos violentos em particular.
O que representa uma gratificação para o ID inconsciente pode ser percebido como uma
ameaça pelo EGO pré-consciente ou consciente.
Nos sonhos angustiosos, o material onírico latente experimentou mudanças, de forma que as
demandas são muito importantes para serem ignorados. Em ocasiões, quando a ameaça que
sofre o ego é excessiva, como acontece nos pesadelos, o indivíduo abandona o sonho e retorna
ao estado de vigília. A labor onírica dá como resultado as distorções oníricas. A labor onírica,
como nós temos dito previamente, é conseqüência de um compromisso entre as forças
inconscientes que lutam para uma descarga de energia e as forças opostas ao ego, o sensor do
sonho, que inibe, restringe e age contra tais pressões.

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A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
O sensor do sonho é a mesma força que reprime os desejos inconscientes, os mantém reprimidos
e resiste sua expressão nas associações livres necessárias para interpretar os sonhos na terapia
psicanalítica.
A interpretação dos sonhos se baseia na suposição determinista de que tudo tem uma
causa e um efeito. Este determinismo rígido levou a uma investigação completa do conteúdo
manifesto do sonho.
A continuidade da vida mental humana é estabelecida quando a idéia de Freud se aceita de que o
sonho é uma expressão de material inconsciente.
Por irracional e insensato que o sonho possa parecer, sempre representa uns processos
inconscientes que o sonhador não sabe o que sabe.
AS LEIS DA INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
A análise dos sonhos permitiu para Freud descobrir as leis que governam os processos
inconscientes, primários, e achar as diferenças entre eles e os processos conscientes,
secundários.
CONDENSAÇÃO: No inconsciente os elementos de pensamento que, durante o estado de vigília,
ficam separados, se combinam ou condensam em unidades maiores. Um elemento do
pensamento do sonho manifesto pode representar um grupo de pensamentos oníricos latentes e
inconscientes.
Normalmente, como provam as análises de sonhos, o breve conteúdo manifesto de um sonho ou
o que o sonhador percebe é uma alusão a uma grande quantidade de pensamentos e desejos
inconscientes.
DESLOCAMENTO: Outra lei que governa os processos inconscientes é a do deslocamento. No
estado de vigília, é investida a energia instintiva ou catequizadas em objetos definidos. Em
sonhos, tais catequeses ou cargas de energia mental são deslocadas de um a outro objeto com
facilidade suprema. Às vezes, elementos oníricos latentes muito significativos apenas são
mencionados ou só aludidos no conteúdo onírico manifesto, enquanto outros elementos
inconscientes de pequena importância podem alcançar representação no sonho manifesto de um
modo muito claro. Como implica a análise dos sonhos, o inconsciente usa seu próprio idioma. É o
idioma sem gramática da ilógica, no que se acham sua aplicação elementos contraditórios e se
alcançam compromissos entre acertos que se excluem mutuamente. Sim e não, verdadeiro e
falso, realidade e imaginação convivem com desprezo absoluto para consistência interna.
ELABORAÇÃO SECUNDÁRIA: Não há nenhuma lógica nos sonhos. Na elaboração secundária,
elementos não relacionados podem ser situados e representados como um todo. Uma idéia pode
ser representada por seu oposto; a relação causal pode ser substituída por uma seqüência
meramente temporal. O que resulta impossível na vida de vigília pode tornar-se possível e
verdadeiro em um sonho.
OS SÍMBOLOS ONÍRICOS
Os sonhos usam símbolos, normalmente descritivo.
Determinados símbolos são universais, como uma casa que simboliza o corpo humano. Quando é
plano, um homem simboliza. Quando há sacada e proeminências, representa o corpo feminino.
Os pais aparecem em sonhos como reis e rainhas. A água representa um nascimento, uma
viagem para a morte. A maioria dos símbolos que são aplicados nos sonhos concerne a
organismos e funções sexuais.

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Os símbolos sexuais femininos são: bolsos, jarras, receptáculos, bolsas, gavetas, caixas,
portas e janelas; os quartos e os armazéns simbolizam o útero; os relógios simbolizam processos
periódicos e intervalos; caracóis e mexilhões simbolizam as mulheres; um diamante representa os
genitais femininos abertos; edifícios tais como igrejas e capelas simbolizam as mulheres; maçãs,
pêssegos e laranjas representam peitos. Uma paisagem com pedras, florestas e água
representam órgãos femininos.
Uma capa e um chapéu simbolizam um homem. Varas, chaves, facas, varas, lápis, armas,
árvores, martelos, simbolizam o órgão sexual masculino.
Uma ponte representa o órgão masculino que conecta aos pais durante o coito. De um modo
simbólico uma ponte pode indicar nascimento ou morte, tráficos da vida para a morte, ou do útero
para o nascimento. Aviões e globos simbolizam a ereção. Maquinaria representa órgãos
masculinos. O número 3 representa o pênis e os testículos.
Para regra geral, uma aranha simboliza a mãe fálica, agressiva, e o medo a uma aranha
representam o medo ao incesto e o horror ante os órgãos sexuais femininos.
Deslizar-se e escorregar, usualmente, representam atividades masturbatórias, assim como cortar
ramos. Escalar, trepar, montar, atirar, dançar, subir escada, os movimentos rítmicos e violentos
representam o coito. As quedas e extrações de dentes simbolizam uma castração como castigo
para a masturbação.
Todos estes símbolos são usados no folclore, a mitologia, os hábitos e costumes, as histórias de
fadas e os contos populares.
Ser resgatado das águas, como é contado de Sargón, rei de Akkad, e de Moisés, significa nascer.
Percorrer uma estrada é, em sonhos, um símbolo de morte.
A ASSOCIAÇÃO LIVRE NA INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
Quando um paciente descreve o sonho, os esforços do psicanalista se dirigem a descobrir
os pensamentos oníricos latentes. Pede do sonhador que se libere da impressão do sonho
manifesto, que afasta sua atenção do sonho como um todo e a dirige para as partes individuais do
seu conteúdo, e que relate sem reservas tudo o que se lhe ocorra com relação a essa parte.
Esta é a técnica das associações livres, baseada na suposição de que, uma vez eliminada o
controle do aparato mental, os pensamentos escuros do sujeito aparecerão nas associações em
forma de recordações, idéias, perguntas e argumentos.
As associações livres não são exatamente os pensamentos oníricos latentes; os pensamentos
latentes acham-se contidos nas associações, mas não completamente. Acontece como se as
próprias associações fossem seletivas; alguns deles fluem facilmente, de forma que o sonhador
parece ficar desconcertado; freqüentemente os grandes rodeios referentes aos pensamentos
latentes e em algumas ocasiões oculta seus pensamentos completamente.
As forças de resistência podem impedir a manifestação dos pensamentos oníricos latentes. Então,
a interpretação de sonhos requer uma grande habilidade e se parece, de certo modo, à resolução
de um quebra-cabeça cuja solução final é verificada pelo fato de que todas as soluções parciais
encaixem um ao outro.
5- PSICOLOGIA DO ERRO:

O desejo inconsciente acha outras saídas à margem dos sonhos. Todos cometem erros na vida
diária. Alguns erros estão enganando porque eles manifestam o oposto ao desejo consciente do
indivíduo.
Um tipo de erro é constituído pelo lapsus linguae. Freqüentemente queremos dizer uma coisa e
dizemos algo totalmente diferente;
Por exemplo, um militar diz a um companheiro: "Eu quero que sejam mortificados cem de nossos
homens naquela colina, Bill”, em vez de dizer fortificados.

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 Ou uma mulher reclama que ela sofre um transtorno infernal incurável» em vez de dizer
um transtorno interno.
 Ou o líder de um parlamento em uma sessão com as seguintes palavras: “Cavalheiros,
eu declaro um quorum presente e com isto eu declaro fechada a sessão”. Em todos os casos se
expressava o desejo inconsciente.
Outro tipo de erro consiste em transpor coisas, perder coisas, esquecer coisas e nomes,
confundir-se ao escrever, ao ler ou ao escutar, e levar a cabo atos errôneos.
Exemplo: Um indivíduo pega um trem enganado, ou ele esquece de guarda-chuvas,
 Ou não pode se lembrar do endereço de uma pessoa à qual visitou várias vezes, ou não
pode achar um livro presenteado pela esposa, etc. Praticamente em todos estes casos atuam
umas forças ocultas.
Em um trabalho especial, Freud analisou a psicologia do erro e achou a origem dos erros no
conflito existente entre um desejo inconsciente e a censura consciente.

Nunca acontece nada por casualidade, e o erro indica o esforço para bloquear um desejo que, de
qualquer maneira, pode manifestar-se apesar das forças repressoras.
6- O INCONSCIENTE E A FORMAÇÃO DE SINTOMAS:
A manutenção de certas barreiras internas ou defesas é um sine qua non da normalidade. A
descida destas barreiras com a conseguinte pressão do material inconsciente têm lugar
regularmente durante o estado de sonho e é, por conseguinte, uma condição prévia necessária
para a elaboração de sonhos, Freud escreveu. Quando dormimos, todos nos comportamos
como se nós fossemos psicóticos. Mas se, no estado de vigília, o inconsciente fica consciente
e o modo de falar, pensar e agir do indivíduo resulta francamente regressivo, incluindo
condensações, deslocamentos, elaborações secundárias e outros elementos inconscientes, tal um
indivíduo é aparentemente um psicótico.

IV) A TERAPIA CENTRADA NO INCONSCIENTE


1- MÉTODO CATÁRTICO:
Método de psicoterapia em que o efeito terapêutico procurado é uma “purgação” [catharsis], uma
descarga adequada dos afetos patogênicos. O tratamento permite ao indivíduo evocar e até
reviver os acontecimentos traumáticos a que esses afetos estão ligados, e ab-reagi-los.
O termo catharsis é uma palavra grega tirada da religião que significa purificação, purgação. Foi
utilizado por Aristóteles para designar o efeito produzido no espectador pela tragédia: “A tragédia
é a imitação de uma ação virtuosa e realizada que, por meio do temor e da piedade, suscita a
purificação de certas paixões”.
Breuer e depois Freud retomaram este termo, que exprime para eles o efeito esperado de uma
ab-reação adequada do traumatismo.
Segundo a teoria desenvolvida em “Estudos sobre a Histeria (1895)”, os afetos que não
conseguiram encontrar o caminho para a descarga ficam “coarctados (limitados)”, exercendo
então efeitos patogênicos. Freud escreve mais tarde resumindo a teoria da catarse: “Supunha-se
que o sintoma histérico tinha origem quando a energia de um processo psíquico não podia chegar
à elaboração consciente e era dirigida para a inervação corporal (conversão)... A cura era obtida
pela libertação do afeto desviado, e a sua descarga por vias normais (ab-reação)”.
Historicamente, o Método Catártico pertence ao período (1880-1895) em que a terapêutica
psicanalítica se define progressivamente a partir de tratamentos operados em estado hipnótico.
Nos seus inícios, o método catártico está estreitamente ligado à hipnose.

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Mas o hipnotismo em breve deixa de ser utilizado por Freud como processo destinado a provocar
diretamente a supressão do sintoma sugerindo-se ao doente que este não existe: serve para
induzir a rememoração reintroduzindo no campo de consciência experiências subjacentes aos
sintomas, mas esquecidos, “recalcadas” pelo indivíduo.
Estas recordações evocadas e mesmo revividas com uma intensidade dramática fornecem ao
indivíduo ocasião de exprimir, de descarregar os afetos que, originariamente ligados à experiência
traumatizante, tinham sido logo reprimidos.
A CATARSE nem por isso deixa de ser uma das dimensões de toda a psicoterapia analítica.
Por um lado, de modo variável conforme as estruturas psicopatológicas, encontra-se em
numerosos tratamentos uma intensa revivescência de determinadas recordações, acompanhada
de uma descarga emocional mais ou menos tempestuosa; por outro lado, seria fácil mostrar que o
efeito catártico se reencontra nas diversas modalidades da repetição ao longo do tratamento, e
singularmente na atualização transferencial.
Do mesmo modo, a PERLABORAÇÃO (ELABORAÇÃO), a SIMBOLIZAÇÃO pela
linguagem, estavam já prefiguradas no valor catártico que Breuer e Freud reconheciam à
expressão verbal: “... é na linguagem que o homem encontra um substituto para o ato, substituto
graças ao qual o afeto pode ser ab-reagido quase da mesma maneira. Em outros casos, é a
própria palavra que constitui o reflexo adequado, sob a forma de queixa ou como expressão de
um pesado segredo (confissão!). (Elaboração=catarse)”.
2– MÉTODO DA LIVRE ASSOCIAÇÃO:
Método que consiste em exprimir indiscriminadamente todos os pensamentos que acodem ao
espírito, quer a partir de um elemento dado (palavra, número, imagem de um sonho, qualquer
representação), quer de forma espontânea.
Freud adotou este método definitivamente como o método por excelência da psicanálise,
especialmente como meio para chegar ao inconsciente.
3– TRANSFERÊNCIA:
O Primeiro Sistema Psicanalítico de Freud lançada em 1910 na Associação Psicanalítica
Internacional apoiava-se sobre três bases: (1) o inconsciente, (2) a teoria da libido e (3) a
transferência e resistência como base da terapia.
Freud escreveu em 1914: “Pode-se assim, dizer, que a teoria da psicanálise é uma tentativa de
explicar dois fatos notáveis e inesperados da observação, que surgem sempre que se faz uma
tentativa de descobrir a origem dos sintomas de um neurótico, em sua vida passada: os fatos da
transferência e a resistência. Qualquer linha de investigação que reconhece estes dois fatos
(transferência e a resistência) e faz deles seu ponto de partida para o trabalho pode chamar-
se de psicanálise, ainda que chegue a resultados distintos dos meus”.
O ESQUEMA DE COMO FUNCIONA A TRANSFERÊNCIA
 Antes de 1900, Freud considerou a transferência como uma das formas da “resistência”,
mas após esta data deu-lhe valor de fenômeno próprio e compreendeu que podia ser utilizada
para a análise. E se tornaria fenômeno fundamental.
 COMO FUNCIONA: Ao tratar de resolver os problemas da resistência, Freud observou
que o paciente, em vez de concentrar-se na suas dificuldades, o paciente continuava criando mais
resistência, especialmente em torno da sua relação com o analista, e constatou que os pacientes
em lugar de recordar (lembrar), reproduziam aqueles sentimentos e atitudes da sua vida passada,
transferindo-os em forma inconsciente, das pessoas que os tinha suscitado, à pessoa do analista.
 Na Transferência o analista se reveste para o paciente, por projeção, as características
de determinadas pessoas que tinham exercido influência poderosa sobre ele e que, durante a
análise, reagem diante do analista como reagiam diante de ditas pessoas.
 Para Freud, a transferência é a repetição da atitude que se teve especialmente para com
os pais no período que chamou de “complexo de Édipo”.

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4– CONTRA-TRANSFERÊNCIA:

Conjunto das reações inconscientes do analista à pessoa do analisando e mais particularmente à


transferência deste.
Alguns psicanalistas entendem por contratransferência tudo o que, da personalidade do
analista, pode intervir no tratamento, e outros limitam a contratransferência aos processos
inconscientes que a transferência do analisando provoca no analista.

Do ponto de vista técnico, podemos visualizar três orientações:


a) reduzir o mais possível às manifestações contratransferenciais pela análise pessoal, de modo a
que a situação analítica seja estruturada como uma superfície projectiva, apenas pela
transferência do paciente.
b) Utilizar, controlando-as, as manifestações de contratransferência no trabalho analítico, na
seqüência da indicação de Freud segundo a qual “... Todos possuem no seu próprio inconsciente
um instrumento com que podem interpretar as expressões do inconsciente dos outros”.
c) Guiar-se, mesmo para a interpretação, pelas suas próprias reações contratransferenciais,
muitas vezes assimiladas, nesta perspectiva, às emoções sentidas. Essa atitude postula que a
ressonância “de inconsciente a inconsciente” constitui a única comunicação autenticamente
psicanalítica.

V - A TEORIA DOS INSTINTOS:

1 – PRIMEIRA FASE: TRIEB (pulsões - instintos)


Freud denomina Trieb - geralmente traduzido como "instinto" - para a causa última de toda a
atividade. Mas devemos notar que Freud usou o termo INSTINKT, no sentido clássico falando de
“instinto dos animais”, de “conhecimento instintivo de perigos”, etc. E o termo TRIEB como “força
impulsionante relativamente indeterminada quanto ao comportamento que induz e quanto ao
objeto que fornece a satisfação”.
“PULSÃO” seria a tradução proposta para a palavra alemã TRIEB (substantivo correspondente ao
verbo TRIEBEN= impelir). Para FREUD a PULSÃO é um processo dinâmico consistindo em
um impulso que tem sua fonte numa excitação corporal localizada.
Na teoria de Freud, os instintos representam a ponte entre os mundos mentais e físicos; embora
enraizados no corpo humano, são forças que liberam energia mental.
«Os instintos (pulsão) são seres míticos, maravilhosos na sua falta de definição. "Em nossa labor
não podemos passar para alto nem um momento, e, no entanto nunca estamos seguros de vê-los
com claridade", Freud escreveu em 1933.
Os instintos (pulsão) são concomitantes psicológicos dos processos biológicos. Eles são
conceitos fronteiriços entre o mental e o físico, e representam a demanda feita à mente como
conseqüência da sua conexão com o corpo».
Mas por que merece a pulsão ser considerada como um conceito-limite entre o psíquico e o
somático? É claro que a fonte da pulsão está toda no lado somático; a meta também, pelo menos
à medida que essa meta consiste na redução da tensão ao nível da fonte somática.
Em compensação, a procura do objeto apto a reduzir esta tensão implica uma participação
necessária da atividade psíquica.
Exemplo: O primeiro de todos os objetos, o seio materno, não é procurado pelo recém-nascido: é-
lhe fornecido. Durante algum tempo ele carece dos próprios meios, intelectuais e motores, para
esta procura. Pode, quando muito, desde que a tensão somática renasça e que o objeto no
momento esteja ausente, fazê-lo presente imaginariamente, de alguma maneira “sonhar” a sua
presença.

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A primeira experiência de satisfação deixa efetivamente um traço mnésico que se reaviva quando
a tensão renasce, e Freud considera que essa rememoração tem um caráter alucinatório, isto é,
que a evocação mnésica de um acontecimento passado equivale, para o lactante, à percepção de
um acontecimento presente. Há, pois, uma confusão entre lembrança e percepção, objeto
imaginário e objeto real, como continua a se fazer no adulto quando sonha.
O fim do instinto (pulsão) sempre consiste na restauração do equilíbrio, o que se realiza por
transformações somáticas e é percebido como uma satisfação. Esta meta requer algum objeto por
meio de qual é possível à satisfação. O objeto pode ser o próprio corpo ou um objeto externo.
Por exemplo, nos lactantes, uma excitação libidinal ao nível de mucosa bucal (fonte) o
incitará (impulso) a procurar o seio ou, à falta deste, seu próprio polegar (objetos), a fim de
reduzir essa excitação por meio da sucção (meta). Desta definição resulta que existem tantas
pulsões sexuais quantas possíveis fontes somáticas de excitação libidinal.

1.1 – OS INSTINTOS SEXUAIS


Todos os organismos vivos agem de acordo com dois propósitos, a própria conservação e a
conservação da espécie. Por conseguinte, Freud distinguiu entre auto-conservação ou instintos do
ego e instintos sexuais. Estas duas forças instintivas entram freqüentemente em conflito entre si.
Os instintos sexuais são mais flexíveis que os instintos de auto-conservação; podem manter-se
em suspenso - inibido no fim -, sublimar-se, dirigir-se por caminhos novos, distorcer-se e
perverter-se; sua gratificação pode ser denegada ou substituída e seus objetos podem ser
mudados com facilidade. «A opinião popular distingue entre fome e amor, considerando-os como
representativos dos instintos dirigidos à auto-conservação e a reprodução da espécie
respectivamente. Associando-nos a esta distinção clara, postulamos, na psicanálise, outra
semelhante entre os instintos do ego ou auto-conservativos, por um lado, e os instintos sexuais,
pelo outro; denominaremos " libido " - desejo sexual- à força pela que o Instinto sexual é
representado na mente e consideraremos isto semelhante à força da fome, ou à vontade de
poder, ou à outras tendências do eu.
Freud disse: “Nós definimos o conceito de libido quantitativamente como uma força variável que
poderia servir como medida dos processos e transformações que sobrevém no terreno da
excitação sexual”.
Distinguimos esta libido, tida a origem especial, da energia que, deveria ser suposto, está por
baixo dos processos mentais em geral, de forma que também lhe atribuímos um caráter
qualitativo. Freud não defendia uma simples exigência que conduzisse à fertilização e
conservação da espécie.
Opinava que existem numerosos instintos relativamente independentes que partem de origens
somáticas diferentes. Todos eles lutam para uma gratificação na sua zona somática respectiva o
prazer do órgão.
Freud, na sexualidade, distinguia origem, objeto e fim. A origem é uma estimulação nascida em
alguma parte ou zona do organismo. São denominadas zonas erotogênicas ou erógenas para
essas partes do corpo que pode reagir antes dos estímulos sexuais. A zona erógena principal é o
genital, mas, em certos casos, muitas outras partes do corpo como a boca ou o ânus podem fazer
às vezes de zonas erógenas durante as fases pré-genitais do desenvolvimento do menino.
O objeto habitual da exigência sexual é uma pessoa do sexo oposto, mas, freqüentemente, o
objeto sexual pode ser uma pessoa do mesmo sexo, como na homossexualidade, ou o próprio
indivíduo, como na masturbação.
Freud ampliou o conceito de sexualidade para incluir as perversões e a sexualidade infantil, que
não conduzem ao fim usual do sexo, quer dizer, para a fertilização e a reprodução. De fato, as
perversões nunca tinham sido excluídas do terreno da sexualidade.

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Para regra geral, uma relação sexual perversa termina com um orgasmo e uma ejaculação de
forma semelhante ao coito normal, que pode conduzir, além de ao orgasmo, para a fertilização e
reprodução.
Freud acreditou que a sexualidade normal é desenvolvida de um modo bem parecido às
perversões, por meio da modificação de alguns elementos, a interrupção de outros e a
incorporação de uns terceiros. Isto mesmo se aplica a qualquer desvio sexual. A contemplação, o
palpitação, etc., de zonas erógenas constituem partes do jogo sexual geralmente aceitadas e
amplamente praticadas. Se tais práticas ocupam o lugar do coito e excluem a união dos genitais,
o jogo se torna uma perversão. Também, a fixação do interesse erótico em um objeto de
vestimenta, por exemplo, em vez de faze-lo nos órgãos genitais, é fetichismo.
A sexualidade perversa mostra o fato de que a sexualidade não se limita à reprodução e que a
função dos órgãos genitais não é necessariamente heterossexual. Várias possibilidades existem
relativo à origem, fim e objeto do sexo. Os órgãos genitais podem ser substituídos por outros
órgãos na busca de satisfação, como acontece no beijo normal, ou por práticas perversas, ou pela
conversão de sintomas da histeria. Uma vez Freud supôs que tanto a sexualidade normal como a
anormal procediam da mesma origem, deveria concluir que os desvios sexuais constituem uma
espécie de atraso ou impedimento do desenvolvimento sexual. Esta era uma hipótese de longo
alcance. O estudo das perversões sexuais dos adultos e dos princípios biogenéticos conduziu ao
estudo da sexualidade infantil. “Psicologicamente o menino é pai do homem”, Freud disse.
A sexualidade infantil contém todas as potencialidades do desenvolvimento futuro que pode dirigir
tanto para a sexualidade normal como para a anormal. O desenvolvimento normal tem lugar
quando a origem, o objeto e o fim do sexo se combinam em um esforço consistente de unificação
dos órgãos genitais de duas pessoas do sexo oposto.
A origem sexual normal é constituída pelos genitais; o objeto, uma pessoa madura do sexo
oposto; o fim, o coito heterossexual. O indivíduo normal atravessa umas fases de
desenvolvimento e se, por qualquer razão, retém as características de uma de tais fases –
“permanece fixo” -, é considerado anormal.
O que é normal na infância é anormal na vida madura.
Um indivíduo sexualmente anormal é um indivíduo sexualmente retardado. O menino é um
“perverso polimorfo” que pode, ou não, se tornar um adulto bem adaptado.
1.2 – OS INSTINTOS DE AUTO-CONSERVAÇÃO:
De acordo com Freud, toda a atividade dos homens se dirige a “procurar prazer e evitar dor”.
Esta atividade é controlada pelo princípio do prazer. “Nós podemos aventurar-nos em dizer que o
prazer está de alguma maneira relacionado com a diminuição, redução ou extinção da quantidade
de excitação presente no aparato mental; e que a dor supõe uma elevação do mesmo. A
consideração do mais intenso prazer que é capaz o homem, o prazer da realização do ato sexual,
deixa poucas dúvidas neste respeito”.
DIFERENÇA
(a) Os instintos sexuais sempre seguem o princípio do prazer. Os instintos de auto-conservação,
denominados às vezes instinto do eu(EGO), para regra geral fazem o mesmo. Porém, a tarefa de
evitar a dor os força a adiar, ou, às vezes, até mesmo renunciar ao prazer. Esta capacidade para
comprometer-se com a realidade e considerar o que deveria ser feito e o preço que teria que ser
pago pelo prazer é o princípio de realidade.
O princípio de realidade é uma modificação do princípio do prazer; aprova o prazer, mas não a
qualquer preço e em qualquer momento. O princípio da realidade luta pelo prazer ao mesmo
tempo para evitar a dor; é a capacidade para sacrificar um tipo de prazer para outro.

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Aparentemente, a consideração das circunstâncias revela diferenças grandes entre ambos grupos
de instintos. Por meio dos instintos do eu (EGO) aprendo a acomodar-me à realidade. O princípio
de realidade normalmente adquire uma rápida influência sobre os instintos do eu; os instintos
sexuais não são tão facilmente controlados e anos passam antes deles serem pelo menos
parcialmente subordinados ao princípio da realidade.
(b) A outra diferença entre sexo e instintos de auto-conservação estão relacionados com a sua
flexibilidade. Os instintos de auto-conservação contam com uma flexibilidade limitada.
A pessoa não pode mudar as zonas ou adiar a gratificação da fome ou a sede indefinidamente,
nem existe modo de mudar substancialmente os objetos que satisfazem a fome ou a sede. Todos
os objetos que satisfazem as necessidades básicas de ar, comida e líquidos deveriam conter
oxigênio, elementos nutritivos e água.
Os instintos sexuais podem modificar-se em relação com a zona, fim e objeto, e são suscetíveis
de numerosos desvios, perversões, substituições e conflitos. Isto não é aplicável aos instintos de
auto-conservação.

2-SEGUNDA FASE: Narcisismo (1914)


Em 1914 Freud revisou a sua teoria dos instintos. Em um princípio acreditava que os instintos da
libido ou do amor deveriam ser distinguidos dos instintos do eu ou do auto-conservação. Depois
de vários anos de experiência clínica, descobriu que a libido pode dirigir-se a si mesmo e não só
para os objetos externos necessariamente. O amor a si mesmo precede ao amor ao outro; o
recém nascido não é capaz de amar aos outros.
As crianças aprendem a separar principalmente parte do amor catequizado - investido - em si
mesmos, para catequizá-lo em suas mães. Freud denominou narcisismo a este amor próprio,
baseando-se no herói legendário Narciso grego que se apaixonou por si mesmo.
O narcisismo ou amor de si mesmo constitui um fenômeno nunca terminado. Provavelmente
começa na vida pré-natal e nos acompanha até o último dia da vida. Na primeira fase da vida é o
único canal para catequizar a libido.
No estado denominado por Freud narcisismo primário, todas as energias de que dispõem
os instintos de amor que eles são investidos em si mesmo.
Mais tarde, se o objeto amoroso é dificultado, a libido pode tornar a dirigir-se para a própria
pessoa e estabelecer-se um narcisismo mórbido, secundário.
A descoberta do fenômeno do narcisismo destruiu as barreiras das que separaram a libido dos
instintos do eu. De agora em diante, os instintos do eu deveriam ser considerados como um
caso especial das catequeses da libido, quer dizer como um investimento da libido na
própria pessoa.
Freud chegou deste modo a uma interpretação monista da vida instintiva: não existe mais que
uma força instintiva, a força do amor, a libido.

É narcisismo versus amor do objeto. Nos indivíduos bem adaptados um equilíbrio das catequeses
acontece neles mesmos e nos outros, o que lhes permite proteger-se a si mesmo e tomar cuidado
daqueles a quem amam. Em alguns indivíduos este equilíbrio se altera; alguns desenvolvem um
narcisismo mórbido e secundário, depois de ter achado impedimentos sérios na evolução das
catequeses objetivas. Outros são incapazes de cuidar de si mesmos por um narcisismo
insuficiente ou uma abundante catequese objetiva.
3- TERCEIRA FASE: EROS E TÁNATOS (1920)
Em 1920, Freud revisou sua teoria dos instintos novamente. Neste ponto escreveu o seguinte:
“Depois de longas dúvidas e vacilações, nós decidimos supor a existência de dois instintos
básicos, o Eros e o instinto destrutivo... Tánatos”.

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3.1- EROS:
Freud juntou sob o nome de “Eros” a todas as forças que procuram o prazer e que melhoram as
funções vitais do indivíduo. O Eros abraça todos os impulsos sexuais e egoístas e, desde este
momento, libido era o nome de todas as energias que se acham a disposição do Eros. (Pulsão da
Vida)
3.2 - TÁNATOS:
A finalidade do primeiro (Eros) destes instintos básicos consiste em sempre estabelecer unidades
maiores e os preservar, isto é, uni-los (juntá-las); a finalidade do segundo (Tanatos), pelo
contrário, consiste em desfazer conexões e, deste modo, destruir seres. Deveríamos supor que a
meta final do instinto destrutivo é reduzir os seres vivos para o estado inorgânico. Por isto também
podemos denominá-lo de “o instinto de morte”.(Pulsão da Morte)
Esta hipótese nova de separar os instintos agressivos e destrutivos derivou principalmente do
estudo do sadismo e o masoquismo. A gratificação sexual de um sádico depende da dor e o
sofrimento infringido por ele a seu objeto amoroso, e a de um masoquista da dor infringido a ele
por seu objeto amoroso.
Era muito difícil de interpretar o sadismo em termos da teoria da libido, e a existência de um
desejo de sofrer masoquista constituiu um desafio sério para a teoria da libido.
Freud teve que achar outros fatores que incitaram infligir ou aceitar a dor. Este fator poderia estar
relacionado com a libido e o Eros. A única solução possível era supor outra força diretora e outro
poder instintivo que empurrava aos homens para causar dor a outros em uma situação polarizada
para o objeto ou a infringir dor para si mesmo em uma situação polarizaram para eles mesmos.
Tal uma força instintiva poderia ser feita responsável do desejo de matar, humilhar e destruir. A
existência dele era suficientemente provada pela experiência diária e com o testemunho da
história humana. Os seres humanos nascem para amar e odiar; se há energia - libido - a
disposição do instinto do amor, há também energia a disposição do instinto agressivo. A meta final
do instinto amoroso é criar a vida e a meta final do instinto agressivo é destruir a vida e retro-
trazer para a natureza inorgânica. Quando a agressividade contra o mundo externo é dificultada e
não pode achar satisfação, em certas circunstâncias, pode fazer-se interior. Pode, Freud disse,
aumentar o volume do auto-destrutividade. Uma impedida agressão contém perigos muito sérios;
parece que deveríamos destruir coisas e pessoas em ordem a não destruir-nos nós mesmos.
Deveríamos achar alguns canais externos para a agressividade para nos proteger da tendência
para a autodestruição.
Como nós dissemos antes, todos os instintos vão dirigidos ao restabelecimento de um estado
primitivo de coisas. Assim que um estado de coisas desaparece, um instinto surge para o recreá-
lo. Freud denominou a esta tendência repetição-compulsão. Pode fazer-se mais forte que o
princípio do prazer e freqüentemente supera isto. A repetição-compulsão explica a tendência para
reproduzir em sonhos experiências desagradáveis e freqüentemente experiências traumáticas.
A vida é tida desenvolvido a partir da matéria inorgânica. Uma vez iniciada a vida, surgiu um
instinto dirigido ao restabelecimento do estado inorgânico e à destruição da vida. De acordo com
Freud, isto é a origem do instinto destrutivo, cuja meta final é a morte ou o restabelecimento da
natureza inanimada.
Vida e morte estão inter-relacionadas; construção e destruição são inseparáveis. Nenhum
processo vital pode ser liberado do instinto de morte.
Na vida de um indivíduo, Eros e Tanatos podem combinar seus recursos, mas freqüentemente
eles lutam um contra o outro. Comer é um processo de destruição com o propósito de
incorporação, e o ato sexual é uma agressão guiada à união mais íntima. A maioria dos impulsos
da vida sexual poucas vezes é puramente erótica; os impulsos sexuais normalmente constituem
uma combinação de demandas instintivas eróticas e destrutivas.

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VI - A SEXUALIDADE:
1- TEORIA DA CAUSAÇÃO SEXUAL:
Com a Teoria da Causação Sexual da Neurose, e a do desenvolvimento da sexualidade em geral,
Freud penetrou no cenário mais amplo da crítica social. Enquanto os neurologistas
acreditavam no Mito de que a doença mental era apenas uma variedade da patologia do
cérebro, era pequeno o significado da neurologia e da psiquiatria para a civilização em
geral.
Mas se o sexo é uma fonte de perturbação nos neuróticos e na verdade em toda gente,
como Freud logo veio a perceber, então o que está em jogo é toda a Estrutura da Sociedade, pois
a sociedade moderna prescreve, mesmo atualmente, um rígido código de abstinência sexual. A
orgulhosa moralidade das grandes nações, diz Freud em outras palavras, é um amontoado de
mentiras, e produz um mundo de neuróticos.

2- FASES DE DESENVOLVIMENTO SEXUAL ou PSICOSSEXUAIS:


Freud dividiu a vida sexual humana em três períodos:
a - SEXUALIDADE INFANTIL (aproximadamente até os cinco anos de idade) Está ainda
subdividida nas Fases ORAL, ANAL, e FÁLICA, culminando no COMPLEXO DE ÉDIPO (em
algum momento entre as idades de 3 a 5 anos).
b - PERÍODO DE LATÊNCIA e
c - PUBERDADE

Antes da fase de Édipo, o objetivo do Instinto sexual não está ligado a um objeto: o modelo
para a gratificação é a MASTURBAÇÃO, e não a relação com outro ser humano. Contudo, Freud
reconheceu alguns instintos (parciais) como: sadismo, voyeurismo e exibicionismo, isto é, os
impulsos para a crueldade, para VER e para se EXPOR, que estão regularmente ligados a outras
pessoas ou objetos.
A SEXUALIDADE Infantil culmina no Complexo de Édipo, o desejo de Ter relações sexuais com o
genitor do sexo oposto, e os correspondentes desejos antagônicos com relação ao genitor do
mesmo sexo.
FREUD ENCARAVA O COMPLEXO DE ÉDIPO COMO A FONTE DE TODA ESTRUTURA DE
PERSONALIDADE, NEURÓTICA OU NORMAL.

2.1 – A SEXUALIDADE INFANTIL:


O recém nascido:
O nascimento é uma experiência traumática que perturba a vida muito equilibrada no útero. O
nascimento, como primeiro trauma, é o protótipo de todos os sentimentos de angústia da vida
posterior. O organismo é inundado de estímulos, as tensões chegam a um máximo, e o organismo
desvalido destituído é exposto ao choque de nascer.
Depois do nascimento, o aparato mental do recém nascido sofre estímulos muito superiores para
sua capacidade de resolução. A tendência natural, por conseguinte, consiste em restabelecer a
economia mental por meio de um afastamento da realidade caindo dormindo. Então uma vez
suprimida a tensão desagradável, por exemplo, a fome, o menino fica dormindo com um
sentimento de felicidade e delícia profunda.
Só se desperta quando é estimulado pela fome, o frio ou algum outro mal-estar. O recém nascido
é completamente narcisista. É a fase de narcisismo primário, os objetos externos quase não são
apreciados. A gratificação das necessidades do menino se produz imediatamente e ele é
impossibilitado distinguir entre desejo e realidade, de si mesmo e o mundo externo. Pode sentir-se
tão onipotente quando está gratificado - depois de receber comida ou depois das evacuações -
quanto miserável se aumenta à tensão.

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Os primeiros sinais da atitude do recém nascido para o mundo externo podem ser caracterizados
como um desejo sem objeto de algo ou um tipo de anelo inconsciente de unificação com o mundo
externo. Freud denominou sentimento oceânico a este anelo nebuloso. É como se o menino
desejava retornar ao útero ou, até mesmo mais longe, para a não existência. Eros e Tanatos
estão unidos na luta por essa passividade agradável e total que em última instância significa a
morte.
Os primeiros objetos produtores de prazer com que o menino enfrenta são os bicos do peito da
mãe ou a mamadeira. A primeira zona somática que experimenta a sensação agradável de chupar
é sua boca. Então, depois do nascimento, começa a fase oral do desenvolvimento instintivo
imediatamente.
2.2 - A FASE ORAL:
Primeira Fase da evolução libidinal: o prazer sexual está então ligado de forma predominante à
excitação da cavidade bucal e dos lábios que acompanha a alimentação. Abraham propôs
subdividir-se esta fase oral em de duas atividades diferentes: sucção (fase oral precoce) e
mordedura (fase oral-sádica).
O seio materno é o objeto original de desejo sexual do infante. Durante a amamentação do infante
revela-se a primeira manifestação do instinto sexual.
A fonte é a zona oral; o objeto está estreitamente relacionado com o da alimentação; o alvo é a
incorporação.
Assim, a boca e os lábios, entre outras partes do corpo, constituem uma das zonas erógenas,
áreas do corpo que proporcionam o prazer sexual.
O menino polimorfamente perverso:
 O princípio biogenético é uma das razões principais para supor que a sexualidade do
menino é polimorfamente perverso e que dirige por algumas fases de desenvolvimento até a
sexualidade adulta e normal.
 Outras razões para esta suposição derivam dos estudos clínicos que indicam que a
sexualidade perversa e o normal são desenvolvidos a partir da mesma origem, a sexualidade
infantil.
 Tanto a sexualidade normal como a perversa se dirige para o mesmo fim, o orgasmo.
Ambas partem da sexualidade infantil desorganizada na que existem independentemente
diferentes anelos e desejos.
 Na sexualidade adulta, um dos componentes se faz dominante e toda a atividade sexual
fica concentrada em uma área, sendo outras áreas excluídas ou banidas a papéis secundários.
 Nos adultos normais domina a zona genital, nas perversões alguma outra.
 Na infância, todas as áreas ou qualquer uma delas pode fazer um esforço para seu
próprio prazer.
 Alguns adultos cuja sexualidade permanece infantil continuam sendo uns polimorfos
perversos.
As primeiras excitações sexuais do menino estão relacionadas com o processo da alimentação.
Quando o menino fica dormindo junto ao peito, totalmente satisfeito, “mostra uma expressão de
perfeito contente à que retornará novamente, na sua vida posterior, depois da experiência do
orgasmo sexual”.
O menino pode continuar chupando embora ele não tome alimento algum; chupa pelo prazer de
chupar.
Chupar para alimentar-se constitui o “protótipo de toda satisfação sexual posterior”. O desejo de
chupar inclui o desejo do peito da mãe que, por conseguinte, é o primeiro objeto do “desejo
sexual”.
O amor está relacionado com a fome, e chupar reporta gratificação tanto à fome como ao amor.
No princípio o menino distingue o peito da mãe do próprio corpo dele.

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Quando começa a chupar por prazer, o peito é abandonado como objeto de amor e é substituído
por uma parte de seu próprio corpo; ele chupa seu polegar ou sua língua, e o próprio corpo é seu
objeto amoroso.
Na fase oral da organização da libido, o objeto amoroso é ambivalente e contém tanto ao Eros
como ao Tanatos. O anelado objeto é assimilado comendo ou deglutindo, ao mesmo tempo,
sendo aniquilado.
O menino quer deglutir o que ama e seu amor conduz para a destruição dos objetos amorosos. É
uma tendência canibalista; um canibal, Freud disse, experimenta «um afeto devorador “para seus
inimigos e devora as pessoas que aprecia”.
Certos adultos que não superaram a fase oral podem reter estes elementos destrutivos no amor
da sua vida adulta. Amam seus objetos amorosos na medida em que pode explorá-los e só amam
se se produz exploração.
Karl Abraham, um dos colaboradores excelentes de Freud, sugeriu dividir a fase oral em oral-
passiva e oral-agressiva.
A fase oral-passiva se estende durante vários meses do primeiro ano da vida; para o segundo
ano - freqüentemente, bastante avançado já -, acontece a fase oral-agressiva do desenvolvimento
da libido. O estagio oral-passivo ou oral-dependente é caracterizado pelo prazer derivado de
chupar. Nesta fase, o menino não pode distinguir claramente entre ele mesmo e o mundo externo,
e percebe no chupar uma experiência auto-gratificante e completamente lógico.
Para regra geral, a fase oral-agressiva coincide com a dentição. A criança percebe que o peito da
mãe não constitui uma parte de si mesmo, isto é, sempre não está disponível ou do modo que ele
quereria. Não pode dar por certo que terá o peito. Quando frustrado, força uma solução, agarra e
morde e tenta receber a gratificação oral por meio de atos agressivos.
Eros e Tanatos se combinam durante a toda a fase oral inteira nas canibalísticas tendências para
o ato de deglutir. Não obstante, na fase oral-passiva, o menino não é fundamentalmente agressivo
e ele dá por certo a provisão de leite. No estádio oral-agressivo, a agressividade se utiliza como
arma para procurar gratificação. O menino deglute como antes, mas, também, ele enlata cuspir e
morder, e estes são pautas de comportamento definitivamente agressivo.
2.3 - A FASE ANAL:
Freud denominou sádico-anal à segunda fase do desenvolvimento da libido. Durante o segundo e
muitas vezes terceiro ano de vida, o menino experimenta prazer considerável na excreção e ele
aprende a aumentar tal um prazer retendo a fezes e estimulando as membranas mucosas do
ânus. As crianças experimentam prazer na evacuação de urina e do conteúdo intestinal, e muito
logo eles fazem um esforço para levar a cabo atos de forma que a excitação concomitante das
membranas destas zonas erógenas possam proporcionar-lhes a máxima gratificação possível...
O mundo externo intervém neste ponto como um obstáculo, como uma força hostil oposta ao
desejo do prazer do menino... Não deveriam dar saída às suas excreções quando goste, mas no
momento mostrado pelos outros... Deste modo, é precocemente exigido a trocar prazer por valor
aos olhos dos outros.
O menino estima suas fezes como uma parte do seu próprio corpo e não gosta desfazer-se deles.
“Pode oferecer resistência às pressões sociais e sentir que as fezes são sua propriedade e que
ninguém pode exercer controle sobre eles. Pode agir agressivamente por meio da evacuação;
libido e ódio se combinam, dentro de um erotismo anal, no prazer de defecar e seu sádico
'desembaraçar-se das fezes. Quando o menino resiste ao treinamento intestinal e retém suas
fezes, expressa de outro modo sua oposição aos adultos”.
A fase anal conta com outra ambivalência à margem da expulsão-retenção. Nesta fase, a
masculinidade e a feminilidade se distinguem pela atividade e a passividade respectivamente.

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Os impulsos masculinos são: scoptofilia - observar -, curiosidade, desejo de manipular e
dominar, podendo todos eles terminar em crueldade e sadismo. A expulsão ativa das fezes é
masculina.
Os impulsos femininos representam um desejo passivo relacionado com a zona erógena anal e
oca. O reto pode ser estimulado facilmente aceitando que penetre nele um corpo estranho.
A ambivalência anal da expulsão masculino-ativa e a recepção feminino-passiva de um estranho
podem conduzir a tendências bissexuais na vida ulterior.
Abraham sugeriu dividir a fase anal na fase anal-expulsiva e a anal-retentiva.
Na primeira fase e expulsiva, o menino não se preocupa do objeto externo e goza com a expulsão
sádica das fezes. O folclore e o “jargão” dão testemunho desta tendência anal - agressiva que
freqüentemente se mantém viva em jovens e adultos.
Na última fase anal ou anal-retentiva, o menino pode experimentar afeto às fezes, que se tornam
em seu objeto amoroso. Pode tratar de guardá-las e preservá-las. As fezes constituem a primeira
possessão de que o menino se desprende, à margem do amor para a pessoa que cuida dele. As
fezes são o protótipo de dom, e, por conseguinte do ouro e o dinheiro. Por outro lado, as fezes
simbolizam os bebês, pois a maioria das crianças acredita que o nascimento de um bebê constitui
um processo semelhante à defecação.
Muitas vezes as crianças consideram o pênis de forma semelhante à coluna de fezes que ocupam
o tubo mucoso do intestino. Acredita-se que a fase anal-retentiva é a origem da ternura.
Freud aceitou as sugestões de Abraham neste ponto e elaborou o conceito de ternura em
contradição com o tipo de amor oral.
A ternura origina-se no desejo de guardar e preservar o objeto que reporta gratificação e de cuidar
do mesmo.
2.4 - A FASE URETRAL:
A fase de desenvolvimento uretral é um período introdutório à fase fálica, na qual os órgãos
genitais se tornam no ponto focal de gratificação da libido. Tanto no homem como na mulher as
áreas urinárias estão estreitamente relacionadas com as áreas genitais, de forma que as fantasias
sexuais das crianças confundem freqüentemente a urina com o sêmen e a sexualidade com a
micção. O erotismo uretral é principalmente erótico, pois o próprio corpo se torna no objeto
amoroso. Este erotismo a outros objetos por meio de fantasias concernentes a urinar-se sobre
eles ou ser urinado por eles.
Nas meninas, o erotismo uretral às vezes é desenvolvido de acordo com uma regra retentiva,
mas em geral se dirige à expulsão da urina e ao prazer derivado de esvaziar a bexiga. A mesma
micção pode ser ativa e agressiva como no caso de urinar-se em alguém.
Nos meninos, conduz ao erotismo genital ativo e normal.

Nas meninas leva a um conflito sobre o papel sexual e mais tarde está relacionado com o inveja
do pênis. A natureza passiva da micção experimentada como um «deixa-o sair “ou uma perda do
controle da bexiga conduz aos meninos a uma confusão sobre o seu sexo, de forma que muitas
vezes pode achar-se uma ternura feminina em homens que se urinavam na cama durante a sua
infância”.
2.5 - A FASE FÁLICA E O COMPLEXO DE ÉDIPO:
Para regra geral, ao redor dos quatro anos o menino entra na fase fálica do desenvolvimento
libidinoso. É a fase de organização infantil da libido que vem depois das fases oral e anal e
caracterizada por uma unificação das pulsões parciais sob o primado dos órgãos genitais.
Nesta fase o infante só conhece um único órgão genital, o órgão masculino, e a oposição fálico-
castrado. A fase fálica corresponde ao momento culminante e ao declínio do complexo de Édipo;
o complexo de castração é aqui predominante.

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A noção de fase fálica é tardia em Freud, pois só em 1923 aparece explicitamente.
O termo fálico é derivado de phallos que significa pênis em ereção.
A idéia de um primado do falo está já prefigurada em textos muito anteriores a 1923. Desde os
“Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905)” em que se encontram duas teses:
a) A libido é “de natureza masculina, tanto na mulher como no homem”.
b) A zona erógena diretriz na criança do sexo feminino é localizada no clitóris, que é
o homólogo da zona genital masculina (glande).
Nesta idade, as sensações agradáveis nos órgãos genitais procuradas pela estimulação manual
assumem um papel dominante. A Libido está «localizada agora nos órgãos genitais, de forma que
toda excitação sexual se concentrará neles e por eles será descarregado.
O fator mais importante que é desenvolvido durante a fase fálica é o Complexo de Édipo.
Nesta fase o pênis se torna uma fonte de sensações agradáveis. Ao contrário do desejo de ser
acariciado que acontece na fase uretral, nesta existe uma necessidade ativa de empurrar e
introduzir o pênis. Tal coisa se torna uma preciosa de gratificação e orgulho.
Por regra geral, a mãe percebe as atividades masturbatórias do menino, o proíbe brincar com o
seu pênis, e ela pode ameaçar-lhe fazendo saber que o tiraria a menos que pare para se
masturbar. Muitas vezes adverte ao menino que ela pode explicar isto ao pai e este lhe cortaria o
pênis.
O menino tem consciência da vulnerabilidade e inferioridade com relação ao pai, cujo pênis é
maior. Teme que o pai possa castigá-lo e castrá-lo. Se tiver a oportunidade de apreciar a
diferença existente entre os órgãos masculinos e femininos, a ameaça de castração se torna algo
muito realista e estremecedor.
Acredita que todas as pessoas tiveram um pênis, porém em alguns casos estava cortado pelo
onipotente pai. Este medo à castração é muito mais forte que o medo oral a ser comido; o medo
anal a perder o conteúdo intestinal; ou medo à castração força a criança a abandonar seus
desejos incestuosos.
Pode abandonar a masturbação para sempre e adotar uma atitude passiva semelhante à que
atribui à mãe. Esta atitude passiva oculta seu crescente temor e ódio ao seu pai, que às vezes se
traduzem mais tarde por uma atitude desafiante contra todos os homens que representam uma
autoridade. O menino não abandona o afeto à sua mãe, que freqüentemente se torna em uma
relação de dependência, em uma necessidade de ser amado. Esta atitude, com seus
componentes femininos fortes e sua identificação parcial com a mãe, conduz a atitudes submissas
no que se refere às mulheres.
Freud descreve do modo seguinte as características masculinas e femininas:
«Quando nós dizemos: masculino, nós queremos dizer uma regra ativa, e quando nós dizemos:
feminino, nós queremos dizer uma regra passiva... A célula sexual masculina é ativa e móvel;
busca à feminina, enquanto isto, o óvulo, é estacionário, e espera passivamente. Este
comportamento dos organismos elementares do sexo é em linha geral um modelo do
comportamento dos indivíduos de cada sexo na união sexual.

COMPLEXO DE ÉDIPO: Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança


experimenta relativamente aos pais.
Forma positiva: O complexo se apresenta como na história de Édipo-Rei: desejo da morte do
rival que é personagem do mesmo sexo e desejo sexual da personagem do sexo oposto.
Forma negativa: Apresenta-se inversamente: amor pelo progenitor do mesmo sexo e ódio
ciumento ao progenitor do sexo oposto.

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O Complexo de Édipo é vivido no seu período máximo entre os três e os cinco anos, durante a
fase fálica; o seu declínio marca a entrada no período de latência e é superado com maior ou
menor êxito num tipo especial de objeto.
O Complexo de Édito desempenha um papel fundamental na estruturação da personalidade
e na orientação do desejo humano.
Os psicanalistas fazem dele o eixo de referência principal da psicopatologia, procurando para
cada tipo patológico determinar os modos da sua posição e da sua resolução.
Freud descobre a importância do Complexo durante a sua auto-análise que o leva a reconhecer
em si o amor pela mãe e, para com o pai, um ciúme em conflito com a afeição que lhe dedica; em
1897 escreve a Fliess afirmando que o Mito Grego salienta uma compulsão que todos
reconhecem por terem percebido em si mesmos vestígios da sua existência. E logo afirma “A
todo o ser humano é imposta a tarefa de dominar o complexo de Édipo”.
No menino: Em alguns casos é mais intenso o amor para o pai, e o menino reprime os desejos
fálicos respeito à mãe. No lugar dele, experimenta um desejo pré-genital sexual, passivo, para o
pai. Este complexo de Édipo negativo pode conduzir à homossexualidade.
Nas meninas: o complexo de Édipo procede em ordem inversa. Nos meninos dá lugar ao temor
da castração que conduz à sua resolução; nas meninas não há nenhum medo à castração.
“... enquanto o complexo de Édipo do rapaz é minado pelo complexo de castração, o da menina é
tornado possível e introduzido pelo complexo de castração”.
Assim que a menina confira as diferenças entre os sexos, experimenta uma inveja do pênis que a
empurra a amar o seu pai.
Este é o complexo feminino de Édipo, Complexo denominado de Electra.
 No princípio, a menina pequena acredita que todo o mundo é como ela.
 Mas, quando descobre que algumas pessoas têm pênis, quer possuir um e lhe ocorre
que ela teve um pênis, mas “o perdeu”.
 Começa a fazer vãos intentos de fazer a mesma coisa que os meninos e mais tarde,
com mais sucesso, faz um esforço para compensar em si mesmo tal defeito; tais esforços podem
levar, em último instancia, para uma atitude feminina normal.
 Amiúde se masturba e usa o clitóris como substituto do pênis.
 Se a garota se agarra ao desejo possuir pênis, pode desenvolver tendências masculinas
e tornar-se dominante e agressiva e, em ocasiões, homossexual. Porém, as coisas podem levar
outra direção.
 Pode mostrar-se hostil com a mãe porque não lhe deu um pênis ou lhe tirou o que
possuía e porque a mãe possui ao pai.
 O desejo que a menina experimenta de aniquilar a mãe dela e de possuir o pênis do pai
é característica do complexo de Édipo feminino.
 O amor pela mãe se torna ódio; já não constitui um objeto de amor, e a menina reage à
perda do objeto amoroso identificando-se com ele.
 Quer desempenhar o papel da sua mãe e em vez de possuir um pênis quer ter um bebê,
que é substituto do pênis.
 O papel dela faz-se agora passivo, receptivo; o caminho para a sexualidade feminina
normal está livre.
Neste estádio, a sexualidade da menina é centrada no clitóris. A masturbação clitoridiana é
característica desta idade, e às vezes é acompanhado de fantasias masculinas nas que o clitóris
joga no papel de um pênis.
 No caso de um complexo de Electra negativo, pode sonhar a menina em tomar o papel
de pai e que insere o clitóris na vagina da mãe, tendo um bebê com ela ou no dizer de Freud, “a
renúncia ao pênis só se realiza após uma tentativa para obter uma compensação”.
 A menina resvala do pênis para o filho, e o seu complexo de Édipo culmina no desejo
durante muito tempo alimentado de obter como presente um filho do pai, de lhe dar um filho.

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 Nos casos normais, o amor para o pai ou complexo de Electra positivo que dirige ao
abandono de desejo de um pênis, à identificação com a mãe, na aceitação do papel feminino-
receptivo, e para o desejo de ter - incorporar - um bebê.
COMPLEXO DE ELECTRA: Expressão utilizada por Jung como sinônimo de Édipo feminino, para
acentuar a existência nos dois sexos de uma simetria da atitude para com os pais. Freud declara
não ver interesse de tal denominação.
2.6 – O PERÍODO DE LATÊNCIA:
Na fase seguinte do desenvolvimento denominada por Freud período de latência, os sentimentos
edípicos incestuosos são reprimidos e agressivos e esquecidos.
Parte das forças instintivas são localizados atrás das proibições paternas e são utilizadas
como forças anti-instintivas. As proibições paternas interiorizadas que constitui o super-eu,
ameaçam o menino com castigos severos e mantêm debaixo de um controle forte os anelos
edípicos reprimidos.
O menino deveria identificar-se com a figura paterna ameaçadora que na maioria dos casos é o
pai do mesmo sexo. O interesse sexual do menino diminui consideravelmente, especialmente por
meio de inibições e sublimações. O amor dele aos seus pais se des-sexualiza e fica inibido no seu
fim. Embora os elementos sensual-sexuais são conservados no inconsciente, são inibidos os fins
sensuais da sexualidade dele e o menino experimenta para os seus pais alguns sentimentos mais
bem ternos que apaixonados. Como conseqüência da inibição dos anelos edípicos, as crianças
abandonam seu interesse por pessoas do sexo oposto. Durante o período de latência, por regra
geral entre os seis e onze anos, os meninos brincam com meninos e as meninas com meninas.
Os meninos tendem a associar-se e identificar-se com os pais, adultos e companheiros do mesmo
sexo, e vão estabelecendo uns interesses que aumentam sua identificação com tal sexo e seus
sentimentos de pertinência para o mesmo.

2.7 – O PERÍODO DA PUBERDADE


Durante a puberdade, a libido está totalmente separada de sua relação primitiva com os pais.
Para adaptar-se psicológica e socialmente, o menino deve dirigir sua libido fora da sua mãe, para
um objeto amoroso externo, e resolver o conflito com o seu pai. Estes processos acontecem, por
regra geral, aos dez anos de idade.
As mudanças psicológicas provocam o desenvolvimento completo das demandas sexuais e
conduzem a novas relações interpessoais. No período do rápido crescimento físico e das
mudanças glandulares, os genitais se convertem na principal zona erógena e o desejo de contatos
heterossexuais fica dominante. A identificação com o próprio sexo aconteceu durante o período de
latência; agora o adolescente faz um esforço para levar a cabo uma ação reguladora pelos atos
do pai do mesmo sexo.
Em muitos casos, as tendências amorosas ocultas sensuais e "ternas” se unem na puberdade. O
adolescente aprende a combinar as demandas sexuais livres e violentas com os sentimentos
profundamente inibidos de cuidado, ternura e consideração para o seu objeto amoroso. Cresce na
vida madura e, gradualmente, vai sendo feito mais apto para o matrimônio.
Muitas vezes não acontece a unificação destes dois elementos ou está atrasado ou fracassa em
parte.
Em tais casos o adolescente, e o adulto, reservam seus sentimentos de ternura e sua admiração
para as mulheres que não o excitam sexualmente, e se sente excitado e potente ante as mulheres
para as que não sentem respeito nenhum nem sentimento de ternura.
Em tais casos a maturidade está longe de estar completa, a união com a mãe afetuosa é inibida
em seu fim, normal durante o período de latência, não foi superada dos 10 aos 20 anos e continua
agindo como fator perturbador durante a vida adulta.

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Em alguns casos, quando o irresoluto complexo de Édipo permanece através de uma fixação
muito intensa, o adolescente, em vez de abandonar o desejo da sua mãe, se identifica com ela. O
objeto amoroso renunciado fica introjetado no eu, podendo desenvolver graves transtornos
emocionais.

VII - A LIBIDO:

Energia postulada por Freud como substrato das transformações da Pulsão sexual:
 Quanto ao objeto (deslocamento dos investimentos),
 Quanto ao alvo (sublimação, por exemplo) e,
 Quanto à fonte da excitação sexual (diversidade das zonas erógenas).
O termo Libido= (latim)= vontade, desejo. A teoria da libido evoluiu com as diversas etapas da
teoria das pulsões. No entanto, Freud sempre lhe atribuiu duas características originais:
1- Do ponto de vista qualitativo, a libido não é redutível, como queria Jung, a uma
energia mental não especificada. Embora possa ser “dessexualizada”, nos investimentos
narcísicos, isto quando por uma renúncia ao alvo especificamente sexual. O caráter sexual da
libido é sempre sustentado.
2- A libido afirma-se mais como um conceito quantitativo: na definição de Freud
está claro: “Libido é uma expressão tirada da teoria da afetividade. Chamamos assim à energia,
considerada como uma grandeza quantitativa – embora não seja realmente mensurável – das
pulsões que se referem a tudo o que podemos entender sob o nome de amor”.
A Libido–homóloga, quanto ao amar, da fome quanto ao instinto de nutrição. Na medida em
que a pulsão sexual representa uma força que exerce uma “pressão”, a libido é definida por Freud
como a energia dessa pulsão.
AS DUAS MODALIDADES DE INVESTIMENTO DA LIBIDO:
1 – LIBIDO DO EGO: Quando pode tomar como objeto, a própria pessoa, é a libido do ego ou
narcísica.
2 – LIBIDO OBJETAL: Quando pode tomar como objeto um objeto exterior, é a libido objetal.
Segundo Freud, existe uma balança energética entre estas duas modalidades de investimento,
em que a libido objetal diminui quando aumenta a libido do ego, e inversamente.
Diante das várias mudanças introduzidas por Freud até 1922, podemos tentar uma
interpretação coerente da seguinte maneira: A LIBIDO, enquanto energia pulsional, tem a sua
fonte nas diversas zonas erógenas; o ego, como pessoa total, vai armazenar essa energia
libidinal, de que é primeiro objeto; mas o “reservatório” comporta-se ulteriormente. Perante
os objetos exteriores, como uma fonte, pois que é dele que emanam todos os
investimentos.

Pulsões do ego (interesse) Pulsões sexuais ( libido)

Libido do Ego Libido Objetal

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VIII - A TEORIA DA PERSONALIDADE
A saída de Adler, historicamente trouxe complicações na medida em que Freud poderia Ter
utilizado facilmente algumas das contribuições de Adler. Enquanto censurava Adler num artigo por
tentar definir o caráter, em outro artigo Freud fez exatamente o mesmo.
Em 1912 em “Tipos de Desencadeamento da neurose” ele distinguiu quatro tipos: frustração,
incapacidade de atender às exigências da realidade (um processo de desenvolvimento); inibição
no desenvolvimento, fixação; e aumento da quantidade de libido. Na prática todos estes estão
mesclados, e não se encontram tipos puros. Ainda afirmou de que as diferenças são quantitativas
e não qualitativas, de forma que há uma gradação da saúde à doença.
CAUSAÇÃO DA DOENÇA: “A importância na causação da doença que deve ser atribuída à
quantidade de libido está em concordância satisfatória com duas teses principais da teoria das
neuroses a que a psicanálise nos levou”:
 Primeiro: a tese de que as neuroses derivam-se do conflito entre o ego e a libido,
 Segundo: a descoberta de que não há distinção qualitativa entre os determinantes da
saúde e os da neurose, e que, pelo contrário, as pessoas sadias têm de enfrentar as mesmas
tarefas de dominar sua libido – elas apenas tiveram mais sucesso nisto.
Muitos acreditam que as contribuições de Freud para a caracterologia se colocam entre seus mais
duradouros e valiosos empreendimentos.
Mas foi Karl Abraham que desenvolveu as idéias que se seguem:
1- Personalidade ORAL:
A estrutura do caráter Oral centra-se nas atividades de tomar e dar. A gênese do caráter oral deve
ser buscada nos padrões do relacionamento mãe-filho e na função maternal do ambiente.
1.1- Para algumas de tais pessoas, a sucção não acarretou perturbações e foi altamente
agradável. E retém desse período feliz uma profunda convicção de que tudo correrá sempre bem
para elas, um otimismo imperturbável que, com freqüência, as ajuda a alcançar seus objetivos na
vida.
1.2- Noutros casos, encontramos o tipo crente em que existirá sempre uma pessoa amável,
uma espécie de mãe substituta, que sempre cuidará dele e lhe propiciará tudo aquilo de que
necessita. Espera sempre haver um seio materno fluindo para benefício dele, eternamente. Tais
pessoas não fazem esforços de qualquer espécie. Revelam um intenso apetite por comida.
1.3- Noutros, se houve um período de amamentação insatisfatório ou desagradável resulta
em conseqüências diferentes: parecem estar sempre pedindo algo, seja modesta ou
agressivamente. Imploram e insistem. Desagrada-lhes ficar sós, nem que seja por instantes.
1.4- Finalmente, generosidade, sociabilidade, espírito aberto, irrequietismo, curiosidade, uma
inclinação para a investigação científica, ambição, constituem marcas típicas de caráter anal.
2- Personalidade ANAL:
O caráter anal foi o primeiro descrito por Freud em 1908 em “Caráter e erotismo anal”; No âmago
do caráter anal está a tríade de – ordem – parcimônia - e obstinação, que se consideram resultar
da educação sanitária. Exibe um alto grau de compulsividade, regularidade e atenção obsessiva
aos detalhes em sua vida quotidiana. Tudo deve estar “perfeitamente certo”, ou ele fica
perturbado.
2.1- No orgulho manifestado pela criança no ato de evacuar deve reconhecer-se um primitivo
senso de poder. E isso persiste, inconscientemente, nos adultos. Pessoas com caráter anal são
muito sensíveis a uma incursão no que consideram como seu território de poder, tomando os
inquéritos e teste da psicanálise como interferências inauditas no modo de vida delas. Agarram-se
obstinadamente à maneira como fazem as coisas e esperam anuência por parte dos demais.
2.2– Se toda a organização genital não for atingida ou se houver uma regressão para o estágio
anal-sadístico, a pessoa perde não só seu poder produtivo, no sentido generativo, mas também
perde produtividade e iniciativa, noutros setores.

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2.3- As pessoas detentoras de caráter anal, ou que possuem acentuados traços do caráter anal,
fazem uma identificação inconsciente das fezes com dinheiro (algo para reter, para guardar, para
possuir). São famosas por sua avareza. A inveja ou cobiça é outra característica dominante.
2.4– As pessoas que ficaram fixadas na fase anal-sadística são, em geral, hostis, cruéis,
maliciosas, morosas, ciumentas, inacessíveis e reticentes, com uma atitude e comportamento
conservadores em face da vida.
3- Personalidade GENITAL:
De acordo com Abraham, o indivíduo só se encontra apto a ocupar, plena e satisfatoriamente, seu
lugar e a exercer seus poderes, no seu meio social, se a respectiva libido tiver atingido a fase
genital.
3.1 – Esta, porém, em tudo revela vestígios das fases prévias, das quais proveio: (a) Da fase
oral: iniciativa e energia; (b) Da fase anal: resistência e perseverança e várias outras
características. O estágio final da evolução do caráter é relativamente isento de narcisismo. A
ambivalência está superada, o que implica ausência de conflito interno.
3.2 – Se uma pessoa conseguir alcançar a fase genital, deverá possuir também uma
quantidade suficiente de sentimentos afetivos e amistosos.
3.3 – O Complexo de Édipo, nesse ponto, é de importância decisiva. “Ampliam
gradualmente seu campo e a criança adota uma atitude amistosa e cordial, primeiro, para as
pessoas do seu ambiente mais próximo e, depois, para a comunidade como um todo”. Por isso, o
caráter definitivo de cada um “depende da história do complexo de Édipo e, especialmente, da
capacidade que desenvolveu de transferir seus sentimentos de amizade para outras pessoas ou
para todo o meio ambiente”.
CONCLUSÃO: A evolução do caráter resulta das experiências da primeira infância e da luta do
ego para se harmonizar com o Id, o Superego e a realidade.

IX – A SEGUNDA TÓPICA: A PSICOLOGIA DO EGO

O deslocamento da Psicologia do ID para a Psicologia do EGO teve lugar


gradualmente, num período de muitos anos. Culminando com o artigo “O Ego e o Id (1923)”,
onde ele propôs pela primeira vez a divisão tripartite do aparato psíquico em id, ego e superego.
Por isso, para falar corretamente, desde 1923 toda a psicanálise tem sido psicologia do ego.

APARELHO PSÍQUICO ou MENTAL:


TEORIA DA PERSONALIDADE (2ªteoria segundo FREUD)
Em 1921, Freud formulou um modelo novo de estrutura da personalidade baseado em
considerações econômicas, topográficas e dinâmicas.
 ECONÔMICAS: Versado na distribuição, equilíbrio e interdependência mútua das duas
(2) forças instintivas, Eros e Tanatos, e das energias à sua disposição, a libido e a energia
destrutiva; isto é, sobre a economia da mente;
 TOPOGRÁFICA: Versa sobre as três (3) províncias mentais, o inconsciente, o pré-
consciente e o consciente, ou topografia da mente;
 DINÂMICA: Versa sobre os três (3) mecanismos da personalidade, o ID, o EGO e o ID
ou SUPEREGO, ou dinâmica da mente.
1 - O ID (das Es)
O modelo novo de personalidade introduziu uma divisão da personalidade em três partes, o ID, o
EGO e o SUPEREGO. O recém nascido só possui o ID; o eu e o superego é desenvolvido depois,
durante a vida.
Tudo aquilo que é herdado ou é fixado na constituição, e especialmente os instintos que
têm sua origem na organização somática, acha sua primeira expressão mental no ID.

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 O ID é o vínculo tendido entre os processos somáticos e os mentais; está "em algum
lugar em contato direto com os processos somáticos, assumindo deles as necessidades instintivas
e lhes dando uma expressão mental, mas nós não podemos dizer em que substrato se realiza
este contato".
 O ID expressa a verdadeira intenção da vida do organismo individual, quer dizer, a
satisfação imediata das suas necessidades inatas. Não pode ser atribuído ao ID propósito tal
como se manter vivo a si mesmo ou ser protegido dos perigos por meio da angústia.
 O ID não conhece precauções que asseguram a sobrevivência. De fato, uma gratificação
imediata e incondicionada de uma demanda instintiva, intensamente perseguida pelo ID, pode
levar a um choque perigoso com o mundo externo e à morte do organismo.
Toda a energia mental acha-se armazenada no ID.
 No princípio esta energia põe-se a disposição dos instintos orgânicos, formados pela
fusão de duas forças primárias, o Eros e a destrutividade.
 O único trabalho de todos os instintos, relacionados com os diferentes órgãos somáticos,
é a satisfação ou descarga imediata de energia para suprimir a tensão e repor a calma.
 Este é o que Freud denominou Lustprinzip, normalmente traduzido pelo princípio do
prazer; é a demanda de uma descarga imediata de energia a que dá lugar à calma e o prazer
imediato.
O ID é completamente inconsciente e, por conseguinte, quando começa a vida de um
indivíduo, tudo é inconsciente.
 Devido à influência do mundo externo, parte do material inconsciente do ID se torna
material pré-consciente e surge o EGO.
 Nem todo material pré-consciente constitui uma propriedade permanente do eu; parte do
mesmo se perde, parte se reprime.
 Nos adultos, o material inconsciente do ID está composto tanto núcleo inconsciente
original, inalterado e quase inacessível, como de um material relativamente mais jovem e mais
facilmente mais acessível que foi reprimido pelo eu e banida ao ID.
Os processos mentais do ID, os chamados processos primários, não estão sujeitos às leis
da lógica.
 Eles podem ou não ajudar à sobrevivência do indivíduo.
 O ID se acha separado do mundo externo, mas leva a cabo funções perceptivas no seu
próprio interior.
 O fato evidente que o ID é governado pelo princípio do prazer, de forma que isto sempre
age no sentido de procurar prazer e evitar o desagrado indica que o ID pode perceber.
As percepções auto-dirigidas e os sentimentos concomitantes mostram a economia das tensões
internas e o equilíbrio do aparato mental. Sempre que se perturba a economia ou equilíbrio do
aparato mental, as forças instintivas reagem procurando uma descarga imediata de energia.
Como nós dissemos, o ID obedece cegamente ao princípio do prazer.
 Não conhece valor algum, nem o bom nem o mau, nem as normas morais, nenhumas
considerações para o outro.
 É uma caldeira onde ferve a excitação;
 Freud disse: “A energia do ID é livre, fluída, capaz de ser descarregada depressa,
condensada e deslocada com facilidade”.
O ID não muda.
 Os impulsos conativos (tendência de impulsos, propósito) que nunca saíram do ID, e
inclusive as impressões que foram lançadas no ID por repressão, são virtualmente imortais e são
conservados durante décadas inteiras embora tenham acontecido recentemente.
 O reprimido não sofre alterações com o passo do tempo.
 Em sonhos voltam recordações esquecidas de tempo da infância, e na perturbação
mental, as experiências da primeira infância jogam um papel decisivo.
 Os restantes agentes da mente “, ou mecanismos da personalidade, como são o eu e o
super-eu, surgem a partir do ID e ficam separados do mesmo”.

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 Todos são governados pelos mesmos princípios de economia e prazer.
Freud, no último resumo de sua teoria, escreveu «que as auto-percepções governam os
acontecimentos do ID com força dominante.
 O ID obedece ao princípio inexorável do prazer. Mas não só o ID. Parece como se a
atividade dos agentes restantes da mente só fora capaz de modificar o princípio do prazer, mas
não de exterminá-lo; de forma que continua esboçada uma pergunta de grande importância
teórica, e que ainda não foi liquidado: quando e como é possível superar o princípio do prazer?
 As energias armazenadas no ID são os recursos livres, sem direção e sem controle da
vitalidade de um indivíduo.
 O ID conduz o indivíduo ao tipo de atos mais irresponsáveis semelhante aos de um
recém nascido.
Nos deixe imaginar um adulto-recém nascido, com todo o poder e a habilidade de um
adulto, governado por uma caldeira onde ferve a excitação e nós teremos o retrato de um
homem dirigido pelo ID.
Quando os outros agentes mentais são desenvolvidos, o eu e o super-eu, suas energias vem do
ID. Deveria ser assinalada uma vez mais que a única fonte de energia mental, tanto do Eros como
do Tanatos, é o ID, parte dessas energias é investida nos agentes mentais.
RELAÇÃO DO EGO COM O ID:
O Ego é o agente do ID. De fato, é parte do Id, à parte que foi modelada e modificada por sua
mais direta relação com o mundo externo.
O ego é, assim, a sede da inteligência e razão, e, ao reprimir e, de certo modo, controlar os
impulsos cegos do ID salva este de aniquilamento.
Não obstante, diz Freud, o ego é frágil, tendo de extrair suas energias do próprio ID.

2- O SUPEREGO (ÜBER-ICH):
O termo Über-Ich foi introduzido por Freud em O Ego e o Id. Uma das instâncias da personalidade
tal como Freud a descreveu: o seu papel é assimilável ao de um juiz ou de um censor
relativamente ao Ego. Freud vê na consciência moral, na auto-observação, na formação de ideais,
funções do superego. Classicamente, o superego é definido como o herdeiro do complexo de
Édipo; constitui-se por interiorização das exigências e das interdições parentais.
Segundo Freud, a formação do Superego é correlativa do declínio do complexo de Édipo: a
criança, renunciando à satisfação dos seus desejos edipianos atingidos pela interdição,
transforma o seu investimento nos pais em identificação com os pais, interioriza a interdição.
Freud disse: “A imagem do eu que intervém entre o ID e o mundo externo, que se faz cargo das
demandas instintivas do primeiro para lhes dar satisfação, que percebe coisas no segundo que
usa como recordações, que, para respeitar a sua auto-conservação, está sempre em guarda
relativo às demandas excessivas de ambas direções, e que é governado em todas suas decisões
pelas regras de um princípio do prazer modificado, esta imagem, que repito, só é aplicada para o
eu realmente depois de concluir o primeiro período da infância, ao redor dos cinco anos de idade”.
ORIGEM E FORMAÇÃO DO SUPEREGO:

O novo agente mental, o SUPEREGO, é desenvolvido como resultado da fraqueza do eu infantil.


Na fase anal o menino entra em conflito com os pais relativo ao treinamento anal.
O medo para o castigo e a necessidade de afeto e proteção o força a aceitar as advertências
paternas e para «internalizá-las”, isto é, os considerar como próprio. Por exemplo, o menino
pequeno pode sofrer desgosto ao brincar com a fezes porque desagrada aos seus pais que não
quer que faça deste modo”.
Estas proibições interiorizadas e estas auto-restrições são “predecessoras do SUPEREGO”.

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A propósito que são muito fracos e, quando ninguém observa, eles são menosprezados facilmente
pelo menino. No entanto, estes “predecessores” contêm os elementos principais do futuro
SUPEREGO, quer dizer, o medo para o castigo e a conformidade com as demandas paternas.
O verdadeiro desenvolvimento do superego acontece para o fim do período fálico. O medo para o
castigo paterno alcança seu ponto culminante no complexo de Édipo. O menino, hostilizado pelo
medo à castração, é forçado a abandonar à sua mãe como objeto amoroso.
A menina, debaixo da ameaça de perder o amor da mãe dela, é forçada a menosprezar ao pai
como objeto amoroso. O menino frustrado de qualquer sexo volta da relação com o objeto à
identificação por introjeção. O introjeção do objeto amoroso é um fenômeno comum da fase oral e
aparentemente a regressão oral acontece durante a formação do superego.
As figuras paternas introjetadas são idealizadas e parecem ser mais poderosas e mais gloriosas
que na realidade. Em muitos casos, a imagem do pai joga um papel maior no SUPEREGO do
menino que normalmente abrange as imagens de ambos os pais.
Em princípio o SUPEREGO é um elemento novo somado ao eu e introjetado no mesmo,
constituindo uma parte do eu; mais tarde se torna um agente mental independente,
freqüentemente oposto ao eu.
O SUPEREGO representa a voz dos pais» e suas normas morais da mesma maneira que eles
são percebidos pelo menino. Então, o superego pode ser irracional e infantil, impondo restrições
rígidas que persistem na vida adulta sem muita consideração para a situação atual.
Um dos elementos do superego é o Eu-ideal. O Eu-ideal se origina em uma manifestação de
admiração para os pais, para quem o menino atribui a perfeição. É uma luta pela perfeição e um
esforço para viver segundo as expectativas dos pais.
Freud descreveu isto como: “O eu-ideal compreende a soma de todas as limitações ante as que
deve curvar-se o eu, e, por isto, a revogação do ideal necessariamente constituiria uma grande
alegria para o eu, que novamente poderia sentir-se satisfeito de si mesmo”.
CONFLITOS DO EGO COM O SUPEREGO:

A atitude do eu para o superego se assemelha à atitude do menino para os seus pais. O eu


precisa de afeto e indulgência. Sua auto-estima depende da aprovação do superego.
Quando o eu enche a expectativa do superego, este reage com um sentimento de felicidade e
orgulho.
 Quando um conflito existe, as forças agressivas armazenadas no superego se tornam
contra o eu com acusações que dão lugar a sentimentos de culpa e depressão.
 A depressão é uma agressão dirigida contra si mesmo; é o resultado da desaprovação
do eu por parte do superego, de um modo semelhante para os críticos paternas do
comportamento do menino.
 No transtorno maníaco-depressivo, o indivíduo oscila entre a alegria e a felicidade
resultante da total aprovação do superego e as torturas do sentimento de culpabilidade e de
depressão quando o superego se torna em sádico.
 Na interferência maníaco-depressiva, o superego se faz excessivamente duro, abusa,
humilha e faz adoecer ao seu desgraçado eu, o ameaça com os castigos mais severos, lhe
reprova por atos durante muito tempo.
 Na esquizofrenia latente, o eu se acha à mercê de um superego severo e exigente. As
imagens paternas introjetadas assumem um controle despótico de todo o aparato mental até o eu
não possa fazer outra coisa que abandonar a luta e se mergulhar no inconsciente dentro do
quadro psicótico...

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 Nos adultos bem adaptados, o superego joga o papel, de auto-observador e
representa a consciência e as normas morais; constitui os pontos de referência morais e sociais
do indivíduo.
A medida que o indivíduo cresce, o seu superego vai afastando-se gradualmente das imagens
infantis dos pais e fica mais impessoal, mais relacionado com as pautas sociais e éticas que ele
subscreve.
Nos adultos bem equilibrados, conflito algum não acontece entre as regras morais da sociedade,
representadas pelo superego, e a consideração realista de auto-proteção e sobrevivência,
representada pelo eu e o princípio da realidade.

3 - O EGO arcaico:
O recém nascido é exposto aos estímulos, mas é incapaz de perceber o que acontece
claramente, ou de mover-se voluntariamente, ou de dominar as excitações criadas pelos
estímulos internos ou externos.
Estas três funções - percepção, motilidade voluntária e controle de tensões - se tornarão às
funções eventuais do eu emergente.
O recém nascido não possui o EGO.
 Está exposto a excitações que não pode dominar. De alguma forma tem uma obscura
consciência delas e se sente aborrecido e desgraçado. Fome, sede, frio e outros estímulos
produtores de tensão fluem por seu aparato mental produzindo um estado de angústia.
 A primeira tendência mental que é desenvolvida no menino é livrar-se dos estímulos
perturbadores. O próprio menino é incapaz de fazer isto deste modo. Está desvalido e não pode
sobreviver sem que tenha cuidado dele. A ajuda vem de fora, e os estímulos perturbadores da
fome desaparecem com a satisfação deste.
O aparato mental do recém nascido, em opinião Freud, assemelha-se a um corpo flutuante
na água.
 Sua superfície está exposta para o mundo externo e recebe os estímulos externos e as
moções de descarga. Em um princípio o aparato inteiro é ID.
 Debaixo da influência das forças ambientais que agem na superfície do ID, tal superfície
experimenta mudanças significativas e gradualmente se transforma numa parte separada do
aparato mental denominado eu.
Deveria ser sublinhado que a influência do ambiente produz modificações na parte externa do ID.
 O material inconsciente do ID se torna o eu pré-consciente, no qual os processos
mentais primários dão lugar à emergência dos processos secundários.
 Este eu infantil, arcaico, só sabe e se ama a si mesmo. É narcisista. Nesta fase de
narcisismo primário, o eu infantil só tem uma consciência escura do mundo externo.
 O menino é envolto em si mesmo e nas suas necessidades; quando suas necessidades
estão satisfeitas e a sua tensão suprimida, cai e dorme dentro de um sentimento de felicidade e
onipotência.
4 – O EGO (ICH):
A palavra alemã para o ego, “das Ich”, é a mesma para EU, enquanto o inglês emprega o termo
latino EGO.
O EGO é uma organização coerente da vida mental, derivada dessa estrutura primária, que
é o ID, por meio de modificações impostas a este pelo mundo exterior.
São as seguintes as suas características:
 Não se distingue rigorosamente do ID; antes se radica no ID pela sua porção inferior.
 Em parte, ele é inconsciente, em parte consciente.
 Presta serviços a três mestres e está, conseguintemente, ameaçado por três perigos: o
mundo exterior, a libido do ID e a severidade do SUPEREGO.
 O ID produz a força motriz, enquanto o EGO detém nas mãos a roda do volante, para
alcançar a meta desejada.

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 O EGO tem 2 (dois) deveres críticos diferentes, relativos ao ID:
 (a) – vigiar o mundo exterior e aproveitar a ocasião mais oportuna para satisfazer, sem
prejuízo, os impulsos do ID;
 (b) – induzir o ID a modificar ou renunciar aos seus impulsos, ou então a substituir ou
adiar a satisfação deles.
 Do ponto de vista dinâmico, o EGO representa eminentemente no conflito neurótico o
pólo defensivo da personalidade; põe em jogo uma série de mecanismos de defesa, estes
motivados pela percepção de um afeto desagradável (sinal de angústia).
 Do ponto de vista econômico, o EGO surge como um fator de ligação dos processos
psíquicos; nas operações defensivas, as tentativas de ligação da energia pulsional são
contaminadas pelas características que especificam o processo primário: assumem um aspecto
compulsivo, repetitivo, desreal.
 Também do ponto de vista econômico, “o ego deve ser considerado como um grande
reservatório de libido, de onde a libido é enviada para os objetos e que está sempre pronto a
absorver parte da libido que reflui dos objetos”.
4.1 – AS TAREFAS DO EGO:
A tarefa principal do eu é o auto-conservação do organismo.
 Leva a cabo esta tarefa com relação ao mundo externo “percebendo os estímulos de
fora”,
 Acumulando as experiências dos mesmos (na memória),
 Evitando os estímulos excessivos (por meio da fuga),
 Tentando com os estímulos moderados (por meio da adaptação) e,
 Finalmente, aprendendo a promover as modificações apropriadas no mundo externo
para seu próprio proveito (por meio da atividade).
Para o que concerne aos eventos internos e relacionados com o ID, o eu leva a cabo sua
tarefa.
 Controlando as demandas dos instintos,
 Decidindo a autorização para obter satisfação,
 Adia tal satisfação para tempos e circunstâncias favoráveis no mundo externo ou
suprimindo suas excitações completamente.
As suas atividades são governadas pela consideração das tensões produzidas pelos estímulos
presentes no seu interior ou introduzidas nele. Por regra geral, o crescimento destas tensões se
experimenta como desagrado e sua diminuição como prazer.
O eu persegue o prazer e tenta evitar o desagrado. Um incremento do desagrado esperado é
percebido como um sinal de angústia.
O ego se ocupa da descoberta de métodos mais favoráveis e menos perigosos para obter
satisfação. Neste zelo, o eu toma em consideração ao mundo externo.
Também, o eu se rege pelo princípio do prazer. Mas, ao contrário do ID, o EGO é capaz de
calcular as conseqüências do seu comportamento.
 O ID é cego e procura a gratificação imediata das demandas instintivas, enquanto o
EGO (eu) é capaz de racionamento lógico, de considerar as relações causais e de aprender pela
experiência.
 Devido a estas atividades intelectuais o EGO aplica um princípio do prazer modificado.
 O EGO se agarra à tarefa do auto-conservação e adia ou suprime as demandas
instintivas que ameaçam o existência do organismo.
 O EGO não objeta a gratificação dos instintos, mas protege a existência do organismo
que é a exigência de qualquer experiência agradável.
 Para o eu (EGO), a saúde é anterior ao prazer. Em outras palavras, o ID não tem
cuidado da vida que não oferece prazer, e o eu (EGO) não se preocupa do prazer que
compromete a vida.

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 O ID se agarra aos anelos instintivos prescindindo dos resultados futuros; o eu (EGO) se
agarra à realidade e procura a causa do prazer sempre que não haja nenhum perigo nisto. Esta
busca modificada e limitada de prazer foi denominada por Freud princípio de realidade.
4.1.1 - As funções do eu: comprovação da realidade:

O EGO é à parte da mente que adapta o organismo ao mundo exterior.


 O eu realiza várias funções, e uma delas é o contato com a realidade.
 O eu percebe os estímulos internos e externos, considera as possibilidades de
gratificação afortunada - prazer ao máximo e mínimo desagrado - dos impulsos instintivos, e leva
em consideração a totalidade dos recursos internos - habilidades, etc., a totalidade das
circunstâncias.
 Pode ser comparado o motorista de um veículo em uma mesma estrada convergida.
O motorista (EGO),
 1) percebe o que acontece fora do automóvel;
 2) percebe (ou sabe) os recursos do veículo dele, isto é, potência, tamanho, peso, freio,
etc.
 3) estuda as possibilidades para correr pela estrada e considera a adaptação necessária
da própria velocidade e das manobras do automóvel às condições externas – estrada molhada,
estrada escorregadia, outros carros passam por ela - e as condições do próprio veículo,
 4) exercita um controle apropriado do carro de próprio dele;
 5) se move pela estrada em direção a sua meta tentando fazer isto no possível menor
tempo e pela estrada mais segura e mais econômica. Deveria ser somado isto que a tarefa do eu
se complica pelo fato de que não é uma máquina, mas um vulcão em erupção que sempre não
pode ser controlado e que no carro, simbolizando o organismo, existe um condutor no assento
posterior, o super-eu (super-ego).
Como já apontamos, a primeira e mais importante tarefa do eu emergente consiste no
contato com o mundo externo, isto é, a percepção dos objetos.
 A percepção narcisista de nosso próprio corpo é o primeiro passo nesta direção.
 O menino percebe obscuramente algumas tensões como "algo de dentro". Isto conduz à
formação da imagem do seu próprio corpo, que surge a partir das sensações desagradáveis e
agradáveis do mesmo. A percepção do corpo de um como objeto definido é um passo importante
na direção da percepção do mundo externo.
 O eu se esforça por controlar à chegada de estímulos. Quando tal coisa é impossível,
retorna ao ID dormindo ou desfalecendo.
 A regressão é conseqüência do fracasso em dominar a realidade; é um sinal de que o eu
é muito fraco e incapaz de proteger o organismo contra uma estimulação dolorosa.
O processo de percepção dos objetos externos começa por meio da identificação primária;
arcaica, com os objetos percebidos.
São várias as funções incluídas nesta identificação arcaica realizada pelo o eu emergente. O
menino põe na sua boca os objetos percebidos, introjetando seus primeiros objetos amorosos.
A introjeção oral do objeto indica que os processos perceptivos, motores e emocionais ainda estão
em uma fase de indiferenciação mútua. A identificação compreende a imitação dos objetos
percebidos; é um esforço para dominar os estímulos muito intensos, e os adapta o próprio corpo.
4.1.2 - As funções do eu (EGO): Linguagem e argumentação:

A habilidade para falar é de uma importância crucial no desenvolvimento do eu. O uso de palavras
permite uma comunicação melhor com outras pessoas e uma confirmação melhor da realidade.
Na primeira infância e em casos de deterioração mental sério, os indivíduos utilizam suas próprias
expressões vocais autistas, só compreensíveis para ele, enquanto a linguagem normal constitui
um meio de comunicação interpessoal.
A linguagem permite o menino pensar. Indubitavelmente, existe um modo pré-verbal de pensar
como existe uma consciência pré-verbal e uma percepção pré-verbal.

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Não obstante, o pensamento lógico requer uns símbolos verbais que podem ser usados nas
diferentes formas de manipulação lógica tais como generalização, abstração, etc. O modo de
pensar primário, o pensamento arcaico, tolera as contradições, é governado por emoções e é
controlado pelo desejo e as convicções mágicas. É desorganizado; une coisas que carecem de
relação entre si; toma partes por tudo, semelhança por identidade e se confunde a si mesmo com
o mundo externo. O pensamento arcaico opera com símbolos primitivos, imagens, distorções e
figuras substitutivas. Os símbolos são pictóricos e representando objetos definidos mais que
classes de objetos.
Quando, mais adiante, o eu que toma o controle dos processos do pensamento, o modo de
pensar pictórico-simbólico, pré-lógico, se mantém nos sonhos e em outros processos
inconscientes.
Em casos de perturbação mental grave, o indivíduo pode retornar a estas formas de pensamento
primitivas, pré-lógicas e ficar desconectado da expressão verbal. Na terapia psicanalítica, o
material inconsciente deve ser verbalizado e deste modo passa do inconsciente ao consciente.
4.1.3 - As funções do eu: controle motor:

O domínio da ambiente é uma das tarefas principais do eu. Isto pode ser levado a cabo por meio
da ação, de forma que o eu adulto controla o aparato motor. Ao mesmo tempo em que se produz
o desenvolvimento do aparato sensorial e um uso progressivo melhor do mesmo, o eu crescente
aprende a dominar, isto é, inibir e regular, as funções motoras do organismo. Em um princípio, os
estímulos causaram a reação em massa imediata e desorganizada do organismo. Uma das
primeiras e funções mais importantes do eu é ligar os impulsos instintivos e transformar sua
energia catequética predominantemente quiescente, tônica.
O eu aprende como adiar reações e ater-se ao princípio de realidade. Este princípio foi
mencionado pela primeira vez por Freud em 1911. Como já foi dito, não contradiz ao princípio do
prazer; é mais bem um desenvolvimento deste último. O eu persegue o prazer da mesma forma
que faz o ID, mas o eu (EGO) procura evitar o desagrado e prevenir as conseqüências
desastrosas de uma procura cega do prazer. O eu investiga o melhor modo de procurar um
máximo de prazer com um mínimo de desagrado. Antes de responder a um certo estímulo, o eu
considera as possíveis conseqüências da ação. Aprende a controlar as funções do corpo, apoiar
uma certa quantidade de tensão e descarregar a energia de forma que isto proporcione a melhor
possível gratificação - isto é, o menos arriscado - das necessidades.
Os três alvos deste caminho são a aquisição da capacidade de andar, falar e controlar os
movimentos intestinais. As funções de falar e caminhar aumentam o contato com a realidade
externa.
4.1.4- As funções do eu: controle das tensões internas:

Em um estado da mente normal e estável, as fronteiras do eu estão salvaguardado firmemente do


ID por meio de anti-catequeses ou cargas de energia que controlam os impulsos.
O superego dificilmente pode ser distinguido do eu, porque os valores culturais do
indivíduo estão em harmonia com sua percepção da realidade.
O eu, de acordo com o superego, investe ou catequiza energia em rejeitar certas demandas
instintivas que são socialmente indesejável ou perigoso para a sobrevivência do organismo.

Durante o sonho, o eu suprimo suas catequeses nos órgãos sensoriais e suspende o


contato com o mundo externo.
A supressão da anti-catequeses inibitórias, normalmente dirigidas contra o ID, é inócua, porque o
eu controla os movimentos do organismo.
Em sonhos, a redução ou supressão das inibições permite ao ID uma considerável liberdade, mas
inútil; os desejos que se acham em suspenso durante o estado de vigília «ocupam o lugar mais
importante “e se manifestam pelos sonhos.

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Em alguns casos patológicos, como o do sonambulismo, o aparato motor leva a cabo atos
inconscientes sem o indivíduo tenha consciência disto”.
Quando o organismo é exposto a um perigo externo, o eu reage com medo. Quando a pressão
interna que parte do inconsciente ameaça o eu, o sentimento de angústia serve como sinal de
perigo.

4.2 - Mecanismos de defesa do EGO:


A expressão “mecanismos de defesa” foi introduzida por Freud em 1894, e não era usado até
trinta anos após. Este é o nome das técnicas por meio das que o eu conjura as demandas
instintivas do ID ou as pressões do superego.
Dentre as defesas conhecidas por Freud que receberam considerável atenção estão a
SUBLIMAÇÃO, INTROJEÇÃO-PROJEÇÃO, REGRESSÃO E NEGAÇÃO.
Dentre as que praticamente não foram mencionadas por ele, e que receberam muita atenção,
estão a ATUAÇÃO, NEUTRALIZAÇÃO, CLIVAGEM E IDENTIFICAÇÃO.
A exceção da sublimação, todos os mecanismos de defesa indicam um conflito interior.

RACIONALIZAÇÃO: Um dos mecanismos de defesa mais importantes é a racionalização. No


intento de mediar entre o ID e a realidade, o eu se sente forçado muitas vezes para atribuir
racionalidade às demandas irracionais do ID, desdobrar uma “atenção fingida” para a
realidade e, com «desonestidade diplomática», supor que o ID aceita a realidade enquanto
de fato está deformada. A racionalização é fundamentalmente é um falso raciocínio que serve
para representar uma motivação excessivamente irracional como se fora racional e, ao mesmo
tempo, proteger a auto-estima.
ANULAÇÃO: Uma deformação mais grave da realidade é o mecanismo de anulação. O indivíduo
parece acreditar que pode contrariar ou anular suas ações anteriores que lhe fazem sentir
culpado. Por exemplo, a expiação é a convicção em que um pode anular seus atos “passados;
sempre que esta crença é aplicada na luta do eu, o mecanismo de anulação está-se usando. É
um tipo mágico, Freud disse, destinado a apagar não só as conseqüências de um evento, mas o
mesmo evento”.
NEGAÇÃO: O mecanismo de negação é outro passo adiante no caminho de afastar-se da
realidade. Quando a realidade fica muito dolorosa ou perigosa para competir com ela, o eu infantil
é subtraído a qualquer contato com a mesma e rejeita reconhecer sua existência. É a defesa pela
qual o sujeito recusa-se a reconhecer a realidade.
INTROJEÇÃO e PROJEÇÃO: É o desejo de deglutir o objeto amado e é o protótipo de relação
com qualquer objeto que seja. O oposto ao introjeção é a projeção, da mesma forma que o oposto
a deglutir é vomitar.
Melanie Klein sustentou que o desenvolvimento da criança é governado pelos mecanismos de
introjeção e projeção. Desde o início o ego introjeta objetos como sendo “maus” e “bons”, sendo o
seio da mãe o protótipo de ambos – para os bons objetos quando a criança o obtém, para os
maus quando ele lhe falta.
ISOLAMENTO: O mecanismo de defesa do isolamento é usado muitas vezes em neurose
compulsiva. Este mecanismo de defesa separa um conteúdo emocional da idéia em que estava
catequizada a emoção e divide assim em duas partes da mesma experiência. Nos casos “eu
dividido” ou personalidade dupla, parte de uma experiência fica separada do resto do próprio eu;
por regra geral, trata-se de uma parte muito desagradável que não pode ser aceita pelo eu.
O isolamento consiste no <transposição de um período refratário em qual não é permitido que
nada mais aconteça: não se registra nenhuma percepção, não se realiza ação alguma.
Normalmente acontece depois de uma experiência desagradável.

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REPRESSÃO: Um dos mecanismos de defesa mais importantes é a formação reativa e está
relacionado com a repressão. Quando um desejo foi reprimido, o eu trata de evitar sua reaparição.
Um dos métodos usados consiste em manter escondido o desejo reprimido estabelecendo um
desejo oposto ao primeiro.
Um indivíduo que odeia o pai e é muito desgraçado por causa do mesmo, pode elaborar um ritual
inteiro de afeto para o progenitor; um indivíduo propenso de um modo impulsivo para a sujeira
pode desenvolver por formação reativa uma limpeza compulsiva.
SUBLIMAÇÃO: Permite que excitações excessivamente fortes decorrentes de fontes particulares
da sexualidade encontrem uma válvula de escape e uso em outros campos, de forma que resulta
um aumento bastante considerável, em eficiência psíquica, de uma disposição que em si é
perigosa. Temos aqui uma das origens da atividade artística.
REGRESSÃO: Designa-se por regressão um retorno em sentido inverso desde um ponto já
atingido até um ponto situado antes desse. Freud em 1914 distingue três espécies de regressões:
a) Tópica, no sentido de esquema (do aparelho psíquico), particularmente
manifesta em sonho, alucinação, memória.
b) Temporal, em que são retomadas formações psíquicas mais antigas.
c) Formal, quando os modos de expressão e de figuração habituais são
substituídos por modos primitivos.
ATUAÇÃO (ACTING-OUT): Pode ser definida como uma ação, geralmente de natureza repetitiva
e compulsiva, e freqüentemente auto-destrutiva, que serve ao propósito inconsciente de resolver
um conflito interno reprimido por meios externos. A atuação toma muitas vezes a forma de
comportamento agressivo dirigido contra si próprio ou contra outros.
NEUTRALIZAÇÃO: É uma expansão do conceito de sublimação. Hartmann define como mudança
de energia libidinal e agressiva para fora do instintivo e em direção a uma forma não-instintiva.
Também postula diferentes estágios ou graus de neutralização, isto é, estados transicionais entre
a energia instintiva e plenamente neutralizada.
CLIVAGEM E IDENTIFICAÇÃO: (klieven=fender) O termo Spaltung, traduzido por “clivagem do
conteúdo de consciência” “clivagem psíquica” exprime as mesmas realidades: a partir dos estados
de desdobramento alternante da personalidade ou da consciência, tais como a clínica de certos
casos de histeria os revela ou tais como a hipnose os provoca, Breuer e Freud passaram à idéia
de uma coexistência no seio do psiquismo de dois grupos de fenômenos, e mesmo de duas
personalidades que se podem ignorar mutuamente. Freud exemplifica no fetichismo: “Por um lado
(os fetichistas) recusam o fato da sua percepção que lhes mostrou a falta de pênis no órgão
genital feminino”; esta recusa traduz-se na criação de fetiche, substituto do pênis na mulher; mas
“... por outro lado, eles reconhecem a falta de pênis na mulher, da qual tiram as conseqüências
corretas. Estas duas atitudes persistem lado a lado ao longo de toda a vida sem se influenciarem
mutuamente. É a isso que se pode chamar uma clivagem do ego”.

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