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Estimação da Seção em Falta em Sistemas Elétricos de Potência via

Redes Neurais e Sistema Especialista Difuso em Nível de


Centro de Controle

Resumo contingência e também com curvas de corrente e tensão


registradas por oscilógrafos ou registradores digitais de
O presente trabalho aborda aspectos relativos à
perturbações. Este processo, realizado off-line, é
estimação da seção em falta em sistemas elétricos de
bastante trabalhoso e requer considerável conhecimento
potência (230 kV e 500 kV), realizada em nível de
e habilidade humana.
centro de controle, utilizando informações sobre a
A tarefa de diagnóstico de faltas depende,
operação de dispositivos de proteção (relés e
principalmente, do modo como o sistema é monitorado
disjuntores). O processo de diagnóstico segue três
e operado. Grande parte dos sinais emitidos pelo
etapas principais: inicialmente são executadas as redes
sistema de proteção é registrada nas subestações com
neurais a partir dos alarmes observados, sendo que um
tomadas de tempo na ordem de milissegundos.
modelo de rede é empregado para cada componente
Geralmente, parte destas informações é transmitida
elétrico; em seguida é identificada a área desligada, com
automaticamente aos centros de controle (mudança de
base na operação de disjuntores de modo a determinar a
status de disjuntores e disparo de alguns relés). O
topologia da rede desligada; por fim, é realizado o
volume de dados disponíveis aos engenheiros de
tratamento das informações de falta externa fornecidas
proteção tem aumentado consideravelmente, devido à
pelos modelos neurais. Os resultados mostram que a
necessidade em monitorar a operação do sistema de
metodologia proposta é aplicável em sistemas reais de
proteção, durante a ocorrência de perturbações. Os
grande porte, apresenta capacidade de generalização
grandes avanços no campo das telecomunicações e
com relação a mensagens de operação de relés e
aquisição de dados também contribuíram para tal.
disjuntores, as faltas múltiplas não necessitam de
O processo de automatização da análise de operação de
tratamento adicional, tal como os casos oriundos da
disjuntores e relés tem sido motivo de pesquisa há mais
atuação de proteções de retaguarda remota.
de trinta anos, quando DYLIACCO & KRAYNAK
Palvras Chave: Proteção, redes neurais, sistemas (1969) propuseram a lógica para tratar as informações
especialistas, estimação da seção em falta. de atuação de relés e disjuntores. A utilização de
técnicas de inteligência artificial (IA) a este tipo de
problema teve início no final dos anos 70, quando um
1. INTRODUÇÃO
sistema especialista foi proposto por SAKAGUCHI &
Os equipamentos de proteção são responsáveis por MATSUMOTO (1983).
detectar a ocorrência de um defeito e agir
2. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
apropriadamente, de modo a isolar somente a parte
defeituosa do sistema (seletividade). Para que o Durante grandes contingências, a operação de relés de
restabelecimento da rede elétrica ocorra o mais proteção e disjuntores espalhados pelo sistema elétrico
rapidamente possível, de modo a evitar danos aos dá origem a um grande volume de mensagens de
consumidores e à empresa fornecedora, é essencial que alarmes, que juntamente com outros valores
a estimação dos eventos responsáveis por uma supervisionados são enviados aos centros de controle do
determinada seqüência de alarmes ocorra de forma sistema.
rápida, precisa e segura. Antes de iniciar a etapa de Após a ocorrência de distúrbios com desligamentos
restauração, os operadores necessitam estimar a causa definitivos o operador necessita selecionar as
dos desligamentos, a partir de um conjunto muito mensagens mais relevantes, extrair uma conclusão a
grande de informações. partir dos dados disponíveis, e agir apropriadamente de
Atuações incorretas da proteção, assim como problemas modo a restabelecer o sistema ao seu estado seguro.
de oscilação e sobretensões após a ocorrência da falta Portanto, a prioridade é restaurar as partes do sistema
levam a desligamentos em grandes proporções. Outros elétrico que foram desligadas, mas antes é necessário
problemas, tais como, falhas em unidades terminais que alguns procedimentos sejam realizados, ou seja:
remotas (UTR), nos canais de comunicação, ou na • Identificar o(s) componente(s) que estão em falta
aquisição de dados, implicam em informação (selecionar a hipótese mais provável);
incompleta ou corrompida, o que dificulta ainda mais a • Efetuar manobras para isolar o componente com
tarefa de diagnóstico. defeito, caso seja necessário verificação pelas
Cabe ressaltar que, além desta análise em tempo real equipes de manutenção;
que visa determinar a causa dos desligamentos, uma • Restaurar as partes do sistema atingidas pelo
análise mais detalhada é feita posteriormente (análise desligamento, mas que não estão em falta;
pós-morte) por engenheiros de proteção, que trabalham • Caso haja necessidade, as equipes de manutenção
com as informações da seqüência de eventos da são deslocadas para que o defeito possa ser

1
corrigido (isto geralmente ocorre quando algumas à ferramenta computacional de apoio, selecionar a mais
proteções operam, bloqueando o equipamento provável (PARK et al., 1999).
protegido);
3. TECNICAS DE SOLUÇÃO
• Finalmente, restaurar a(s) parte(s) onde ocorreu o
defeito. A literatura propõe a utilização de sistemas inteligentes
Destas etapas, a primeira corresponde ao diagnóstico de na tarefa de diagnóstico de faltas. A utilização das
faltas. Com a seleção da hipótese correta, consegue-se técnicas de inteligência artificial (IA) é necessária,
minimizar o tempo de interrupção e o risco de agravar a devido à ausência de uma formulação analítica eficaz,
situação ou danificar equipamentos, religando-os capaz de solucionar o problema.
indevidamente. A disposição de uma ferramenta Os Sistemas Especialistas, as redes neurais e a lógica
computacional de auxílio à tomada de decisão, nebulosa são as técnicas mais sugeridas na construção
juntamente com o sistema de supervisão poderá ser de de ferramentas para diagnóstico de faltas. A Busca
grande utilidade ao operador, pois pesa sobre ele a Tabu, o algoritmo genético e a rede de Petri também são
responsabilidade de agir sobre o sistema (YANG et al., propostos, mas poucos trabalhos foram publicados
1994). empregando estas técnicas para o diagnóstico de faltas
Um esquema de proteção bem projetado deve ser em sistemas de potência.
seletivo e rápido, sendo para tal instalada uma grande Tais técnicas surgem como soluções promissoras, onde
variedade de dispositivos de proteção ao longo da rede a natureza heurística e simbólica do raciocínio
elétrica, de acordo com o equipamento a ser protegido e envolvido nas tarefas do operador pode ser modelada.
o seu nível de tensão. Cada tipo de dispositivo de Os resultados obtidos com aplicações de sistemas
proteção é dotado de certos critérios capazes de detectar inteligentes em sistemas de potência mostram que a
o estado anormal do componente elétrico. utilização destas técnicas é adequada e bastante
A aplicabilidade de um sistema de diagnóstico de faltas proveitosa, capaz de solucionar problemas nos quais as
depende de diferentes tipos de relés de proteção a serem técnicas convencionais de programação não apresentam
considerados: bons resultados (VALE & RAMOS, 1995).
• Relés diferenciais (transformadores, geradores e Segundo WAIKAR & RAHMAN (1998) a tecnologia
barramentos); digital, cada vez mais presente nos diversos dispositivos
• Relés de distância (linhas de transmissão); que compõem a proteção de sistemas elétricos de
• Relés de sobrecorrente instantâneos ou potência, favorece o desenvolvimento de pesquisa e
temporizados, com ou sem unidade direcional aplicação de técnicas de inteligência artificial. Seu
(linhas e transformadores); trabalho explora a utilização dos sistemas especialistas,
• Relés de sobrecorrente de neutro temporizado, com das redes neurais e da lógica nebulosa no diagnóstico,
ou sem unidade direcional (linhas e detecção e classificação de faltas, respectivamente.
transformadores). 4. METODOLOGIA DE SOLUÇÃO PROPOSTA
Outros tipos de relés também podem ser considerados,
tais como: Buchholz e de temperatura, no caso de A estratégia de solução proposta por este trabalho
transformadores; relés que constituem o esquema de consiste em executar-se módulos neurais, com base nos
teleproteção utilizado em linhas de transmissão alarmes observados. As redes neurais são utilizadas para
(recepção e partida da teleproteção, chave de bloqueio modelar a filosofia de operação do esquema de proteção
da portadora, entre outros); e relés utilizados em utilizado em componentes da rede elétrica (barras,
disjuntores (baixa pressão de SF6, discordância de linhas e transformadores). Uma rede neural genérica por
pólos, entre outros). nível de tensão (230 e 500kV) é desenvolvida partindo-
O tipo e a quantidade de alarmes disponíveis dependem se do pressuposto que a tendência dentro de uma
exclusivamente do sistema elétrico em questão. empresa transmissora de energia é buscar manter, dentro
Geralmente, os relés instantâneos servem como do possível, uma filosofia de proteção semelhante para
proteção primária para o equipamento, enquanto que as os diversos componentes espalhados pelo sistema,
unidades temporizadas servem como retaguarda para o considerando a classe de tensão e o equipamento
próprio equipamento (local) ou para o equipamento protegido.
adjacente (remota). A conexão entre as informações geradas por cada um
O método de solução deve ser capaz de lidar com dos módulos neurais é realizada com o auxílio de um
situações complexas, oriundas de erros em alarmes ou sistema especialista (ver Capítulo 5), o qual tem a
ausência de parte destes. Tal cenário pode gerar função de identificar as seções atingidas pelo
diferentes combinações de faltas capazes de produzir o desligamento, de modo a formar um conjunto de
mesmo conjunto de alarmes recebidos (WEN & suspeitos em função da área desligada. Cada seção
CHANG, 1997b). contida nestes conjuntos incrementa uma hipótese sobre
Por fim, o diagnóstico de faltas é definido como um a causa do desligamento a ser analisada. Caberá ao
problema de tomada de decisão, onde várias hipóteses sistema especialista, após ser suprido com as
(componentes elétricos em falta), previamente informações resultantes dos modelos neurais, a tarefa de
formuladas, competem entre si, cabendo ao operador ou julgar os casos em que as redes não apresentem sucesso
ou aqueles para os quais as redes não foram ativadas,

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em decorrência da não excitação de suas entradas. considerados como suspeitos de terem causado o
Geralmente, estes casos estão relacionados a alarmes desligamento.
muito corrompidos ou atuações de proteção de Com base na informação resultante dos modelos neurais
retaguarda remota provenientes de falhas em relés. O de linhas e autotransformadores é iniciada uma etapa
processo de estimação da seção em falta ocorre que visa identificar a solução mais plausível entre as
conforme o fluxograma apresentado na Figura 1. diversas existentes, considerando a possibilidade de
Por ser um trabalho experimental, implementou-se as falha em esquemas de proteção (principal e/ou
redes neurais em MATLAB versão 6.0. Esta escolha foi retaguarda) e a distância da falta.
principalmente motivada pelas facilidades
4.1. MODELOS NEURAIS
proporcionadas pela estrutura de programação do
MATLAB, onde modelos podem ser criados e testados
com bastante rapidez, além do Toolbox de redes neurais. 4.2. DETERMINAÇÃO DAS ÁREAS
Por outro lado, o sistema especialista foi implementado DESLIGADAS
em CLIPS 6.05 (C Language Integrated Production A ocorrência de uma falta dentro da zona de atuação do
System) devido a sua disponibilidade, uma vez que é um relé faz com que o mesmo se sensibilize e envie um
programa de domínio público (GIARRATANO & sinal de disparo ao disjuntor, na tentativa de interromper
RILEY, 1998; CLIPS Reference Manual, 1997). a corrente que flui para o ponto de defeito. Geralmente,
ALARMES (0 ou 1)
a operação conjunta destes dispositivos resulta na
(relés e disjuntores por equipamento formação de um ou mais subsistemas (regiões) que
elétrico). podem estar ativas ou inativas. De acordo com a própria
FS = nº total de equipamentos para os filosofia de proteção, as faltas devem ser isoladas de
quais houve a sinalização de alarmes.
modo a desligar o menor número de componentes
possíveis, sendo, portanto a origem do defeito confinada
EXECUÇÃO DOS a esta pequena porção do sistema desligado. Tal
MODELOS condição é verdadeira, exceto quando da ocorrência de
fs=fs+1 NEURAIS
(linhas, barras e grandes desligamentos gerados por situações raras, tais
transformadores) como, faltas simultâneas, falhas de relés ou falta em
componentes críticos (WEN & HAN, 1995).
não Os subsistemas ativos e inativos formados em
fs = FS
decorrência de uma falta são encontrados por meio de
sim um processo de busca baseado na presença e ausência
DETERMINAÇÃO de geradores em tais áreas.
DA O procedimento utilizado neste trabalho para determinar
ÁREA DESLIGADA as regiões atingidas pelo desligamento é bastante
(topologia da rede desligada) semelhante ao utilizado por WEN & HAN (1995), ou
ANÁLISE DAS
seja:
INFORMAÇÔES 1. Identificar a configuração da rede em estado de
DE FALTA operação normal (condições pré-falta);
EXTERNA 2. Determinar a configuração pós-falta do subsistema
RESULTADOS
intacto, a partir dos estados de disjuntores;
3. Determinar o subsistema desligado, comparando-se
FIGURA 1 – Fluxograma simplificado do procedimento
as configurações obtidas em 1 e 2. Os componentes
de solução proposto.
desligados são aqueles presentes em 1 e ausentes
em 2.
Os alarmes observados são representados pelos códigos A motivação pela escolha destes procedimentos deu-se
0 ou 1, onde 0 significa inválido (sem informação) e1, devido ao fato deste ser mais adequado às características
operou. O código –1 é associado a todos os alarmes não de programação em linguagens voltadas ao
observados. Logo, só serão acionadas as redes para os desenvolvimento de sistemas especialistas, isto é,
componentes em que seja recebido pelo menos um trabalhar com linguagem simbólica ao invés de
alarme com código 0 ou 1. Inicialmente, os numérica. Todas as três etapas foram implementadas em
componentes que não satisfizerem esta condição não CLIPS, pois assim possibilita-se a incorporação de
farão parte do conjunto de suspeitos FS, mas poderão módulos específicos para a apresentação de explicações
posteriormente integrar este conjunto, se vierem a ou conclusões sobre o comportamento dos dispositivos
compor parte da rede desligada. de proteção, embora o trabalho atualmente não os
A determinação da topologia da rede desligada poderá contemple.
implicar na incorporação de novos componentes ao
4.3. TRATAMENTO DAS CLASSIFICAÇÕES DE
conjunto de suspeitos FS, caso estes façam parte da área
FALTA EXTERNA
desligada e não apresentem ativações de alarmes sobre
As redes neurais são treinadas de modo a interpretarem
operação de relés. Portanto, estes também são
um conjunto de alarmes disparados pela atuação de relés
e classificá-los de acordo com as saídas utilizadas na

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modelagem do esquema de proteção de cada ésimo objetivo. O grau de pertinência da alternativa a
componente. Os elementos para os quais houve a com relação à Oi, denotado por Oi(a), é o grau com o
classificação de falta externa são aqueles em que qual a alternativa a satisfaz o critério especificado para
possivelmente atuaram relés com função de retaguarda este objetivo. O que se procura é uma função de decisão
remota ou partida de relés utilizados para indicar falta que satisfaça simultaneamente todos os objetivos de
externa. O mapeamento da área desligada facilita inferir decisão (ROSS, 1995). A função de decisão, D, é dada
a causa do desligamento, com base na indicação da pela interseção de todos os objetivos, ou seja,
direção da falta, considerando que os componentes D = O1 O2 ... Or (1)
adjacentes são identificados. Dando prosseguimento ao O grau de pertinência que a função de decisão, D,
trabalho, desenvolveu-se uma rotina que visa utilizar apresenta para cada alternativa a é dada por:
todos os resultados até então obtidos para produzir uma D(a) = min[O1(a), O2(a),..., Or(a)] (2)
conclusão sobre a possível causa do desligamento. Por fim, a decisão ótima, a*, deve satisfazer a expressão
Considere que o sistema de 4 barras apresentado na 3.
Figura 2 corresponde a uma área desligada, cuja D(a*) = max (D(a)), para a  A (3)
topologia foi devidamente encontrada pela fase No caso da tarefa a ser executada por esta rotina, os
apresentada em 5.2. Os componentes suspeitos são objetivos que apresentam impacto sobre a decisão são
ELM-1, ELM-2, ELM-3 e B1. As barras B2, B3, e B4 os níveis em que a solução a apresenta em relação a
não fazem parte da lista de suspeitos, pois estão todas as indicações de falta externa proveniente dos
energizadas. módulos neurais. Portanto, o número total de objetivos r
varia conforme o número total de elementos cuja rede
classificou como falta externa.
Por sua vez, [O1(a), O2(a),..., Or(a)] representam o
grau de pertinência de cada solução (alternativa) a com
relação aos níveis (objetivos).
A Figura 3 mostra os diversos níveis e sua importância
em relação à linha ou transformador cuja classificação
foi de falta externa.

FIGURA 2 – Níveis de operação da proteção de


retaguarda e unidades de partida de linhas adjacentes.
Considerando que ELM-x, da Figura 2, representa o
elemento x (linha ou transformador) que integra a lista
de suspeitos, classificados como falta externa, portanto,
x varia de 1 até o número total de elementos suspeitos
classificados como falta externa. Por outro lado y
corresponde ao número total de níveis.
Os elementos e barras são dispostos em níveis relativos
ao elemento cuja classificação foi falta externa. Cada FIGURA 3 – Tratamento das informações de falta
um destes níveis é representado por uma função de externa; a) linha com unidade direcional; b)
pertinência, com valores variando de 0 a 1, ou seja, transformador sem unidade direcional.
quanto maior o valor desta, maior será a possibilidade A Figura 3 a) mostra que a operação da proteção de
da proteção do ELM-x operar para uma falta no retaguarda (local, para a própria linha; remota, para
componente pertencente á área de ação do nível. Uma componentes externos) é justificada para a própria linha
seção pode pertencer somente a um nível por indicação caso a proteção principal desta falhe. No caso da barra
de falta externa, sendo utilizado o menor nível, ou seja, B1, esta é justificada caso a proteção principal da barra
o de maior plausibilidade. falhe. Neste caso cada uma das possíveis soluções
A tomada de decisão multi-objetivo é utilizada para (LINHA e B1) apresentam uma possibilidade de falha e
inferir a solução mais plausível. Sistemas baseados em estão dentro do alcance da proteção, sendo, portanto
regras de decisão multi-objetivo são caracterizados por muito possível (MP) que a falta tenha ocorrido em um
um conjunto de solução finito e um conjunto objetivo destes componentes. Por outro lado, é possível (P) que a
(INSFRÁN et al., 1999). Com isto, a solução ótima a* operação da proteção de retaguarda da LINHA opere
selecionada apresenta o maior grau de plausibilidade, para uma falta em ELM-2, pois é necessário que a
com relação a todas as outras possíveis. proteção principal de ELM-2 e retaguarda local falhem,
Para desenvolver estes cálculos é necessário ter em além disto, a unidade de retaguarda da LINHA está no
mente algumas definições. Defina um universo com n limite do alcance (por ex., para uma falta no final de
alternativas, A = {a1,a2...an} e um conjunto com r ELM-2). No caso da barra B2, é pouco possível (PP)
objetivos, O = {O1,O2...Oy}. Considere que Oi é o i- que a proteção da LINHA opere para uma falta nesta,

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pois é necessário que a proteção primária de B2 e O diagrama unifilar simplificado do sistema teste
remota de ELM-1 falhem, e além disto, esta já está fora mostrado na Figura 5 é utilizado para dar uma noção da
do alcance da proteção da LINHA. Por fim, é muito topologia da rede elétrica em consideração, além do
pouco possível (MPP) que a proteção da LINHA opere ponto de defeito simulado.
para uma falta em ELM-3 e impossível (IP) para B3,
considerando o grande número de falhas de relés e a
distância destes com relação à LINHA.
Todos os componentes elétricos fora da direção e área
de cobertura da unidade direcional serão considerados
como nível 6 (IP – impossível). Por outro lado, os níveis
decorrentes de unidades não direcionais são analisados
de acordo com a Figura 3 b), ou seja, os procedimentos
são realizados para os dois lados do elemento.
Com base no exposto até o momento, pode-se traçar o
gráfico da função de pertinência Or(a) para as linhas
(LT(a)) e autotransformadores (TR(a)), como mostra a
Figura 4.

FIGURA 5 – Sistema sul reduzido utilizado para testar a


metodologia proposta.

5.1. CASO TESTE: FALTA NA BARRA GRA525B


A topologia da subestação é apresentada na Figura 6. A
subestação é alimentada em 500 kV pelas linhas
L_GRA-ITA e L_CNO-GRA.

FIGURA 4 – Função de pertinência para as linhas de


transmissão e autotransformadores.
A função de pertinência mostrada na Figura 4 atinge um
máximo em 0.75, caso a proteção principal esteja em
operação, isto, pois se pressupõe que se houve a
classificação de falta externa para um determinado
elemento da rede, houve falha de atuação de relés ou
disjuntores. O valor 1.00 da função pertinência foi
previsto para casos em que a proteção de retaguarda
opere corretamente (C), isto é, casos em que não houve
falha de relés ou disjuntores, como por exemplo, uma
barra sem proteção primária. Portanto, caso a proteção
primária de um determinado componente esteja em
manutenção, o mesmo passará do nível em que se
encontra para o próximo maior, ou seja: MP, passa de
0,75 para 1,00 (C); P, passa de 0,5 para 0,75; PP, de
0,25 para 0,50. A única exceção é o MPP e IP que
permanecem 0.15 e 0.0, respectivamente, devido a sua FIGURA 6 – Topologia da subestação Gravataí 500 kV.
distância em relação ao elemento que indica falta
externa. Este caso representa a não atuação da proteção principal
da barra GRA525B, uma vez que esta está em
5. EXEMPLO DE APLICAÇÃO manutenção, juntamente com a falha de abertura do
O sistema utilizado para testar a metodologia proposta é disjuntor ITAD02 da subestação Itá devido ao comando
baseado no sistema Sul Reduzido (2001), formado por de disparo do terminal P da linha L_GRA-ITA. A falta é
28 subestações com níveis de tensão em 230kV e 500 eliminada pela atuação da proteção de retaguarda
kV. remota (zona 2 temporizada) da linha L_CNO-GRA
As subestações contemplam diversos tipos de arranjos com o disparo dos disjuntores CNOD03 e CNOD05 na
de barramentos, ou seja: barra simples, barra dupla, subestação Campos Novos, e a operação da proteção
barra principal e de transferência, e disjuntor e meio. O contra falha de disjuntor. A falha do disjuntor ITAD02
sistema é formado por 49 transformadores (500/230 kV implica em sinal de abertura dos disjuntores SSOD06 e
e 230/138 kV), 61 linhas, e um grande número de SSOD08 da linha L_ITA-SSO via canal C na
disjuntores e chaves seccionadoras.

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subestação Salto Santiago, juntamente com a abertura que ela classifique um determinando componente como
do disjuntor ITAD01 na subestação Itá. “falta” ou “não falta” caso seja alimentada por um
Os resultados apresentados na Tabela 1 mostram que conjunto de alarmes muito conflitante. As incertezas
existem nove componentes suspeitos. Com exceção das envolvidas em mensagens que indicam a atuação de
linhas, que foram classificas como “falta externa”, os relés e disjuntores são tratadas com grande sucesso
demais componentes foram classificados pelos pelas redes neurais, uma vez que estas são capazes de
respectivos módulos neurais como “não falta”. A generalizar.
solução indica possibilidade de falta em GRA525B Os sistemas especialistas apresentam grande sucesso e
(0.50), e depois em GRA525A (0.25). A diferença de agilidade em determinar a topologia da rede desligada,
nível entre as duas barras dá-se devido ao fato que a interconectando os componentes elétricos envolvidos
primeira está sem proteção diferencial (manutenção). pela contingência, tornando assim a metodologia
Caso esta condição não fosse verificada, as duas seriam independente da configuração da rede elétrica. A tarefa
classificadas com o mesmo grau. A possibilidade de desenvolvida pelo sistema especialista, aliada aos
falta em GRAA-GRA2 foi limitada devido ao fato desta modelos neurais, coopera na produção de um resultado,
estar em nível 6 em relação a L_ITA-SSO e L_ARE- com base em todos os elementos cujos relés de partida
CNO. Do mesmo modo, a possibilidade de falta em ou desligamento indicam uma condição de defeito,
L_ITA-SSO é bastante remota, pois as linhas L_ARE- mapeando o cenário gerado pela falta.
CNO e L_GRA-ITA não indicam possibilidade de falta A técnica de tomada de decisão multi-objetivo permite
na direção da mesma, classificando-a em nível 6. tratar de maneira simples e eficaz as informações de
falta externa oriunda dos módulos neurais. Tal técnica
TABELA 1 – Resultados obtidos para o caso teste.
permite ainda tratar as imprecisões presentes no alcance
Componente Redes Neurais Tratamento Solução dos relés com função de retaguarda ou aqueles
FaltaNão Falta Falta Falta das utilizados como partida, para indicar a ocorrência de
Falta Ext. Ext. Info. informações
lado lado de falta
uma falta externa ao equipamento protegido.
(D) (P) externa As faltas múltiplas são tratadas de maneira natural, uma
GRA525B 0.00 1.00 --- --- 0.00 0.50 0.50 vez que os modelos neurais são ativados para qualquer
GRA525A 0.00 1.00 --- --- 0.00 0.25 0.25 componente em que foram observados alarmes. De
GRATF03 0.00 1.00 0.00 0.00 0.00 0.15 0.15 modo a complementar o conjunto de equipamentos
GRATF02 0.00 1.00 0.00 0.00 0.00 0.15 0.15 suspeitos a serem analisados, o sistema especialista
GRATF01 0.00 1.00 0.00 0.00 0.00 0.15 0.15 identifica as áreas desligadas e posteriormente realiza
L_GRA-ITA 0.00 0.00 1.00 0.00 0.00 0.15 0.15 uma busca por todos os componentes elétricos
L_CNO-GRA
associados a cada uma das regiões desligadas.
0.00 0.00 0.00 1.00 0.00 0.15 0.15
Por fim, a metodologia explora os aspectos positivos de
L_ITA-SSO 0.00 0.00 1.00 0.00 0.00 0.00 0.00
diferentes técnicas de inteligência artificial, de modo a
GRAA-GRA2 0.00 1.00 --- --- 0.00 0.00 0.00 formar uma ferramenta computacional híbrida onde
diversas rotinas operem em seqüência, modelando o
conhecimento humano voltado à tarefa de estimar a
6. CONCLUSÕES seção do sistema elétrico em falta.
Este trabalho objetivou-se em propor uma metodologia
de solução para o problema de estimação da seção em REFERENCES
falta em sistemas elétricos de potência, considerando as [1] M.A.P. Rodrigues, J.C.S. Souza, M.T. Schilling,
características peculiares do mesmo, e combinando as “Building local neural classifiers for alarm handling and
potencialidades apresentadas por diferentes técnicas de fault location in electrical power systems”. In:
IA. INTELLIGENT SYSTEM APPLICATION TO
A utilização de modelos neurais para representar a POWER SYSTEMS (ISAP’99 April 4-8, 1999: Rio de
filosofia de proteção utilizada em cada componente da Janeiro, Brazil). pp. 157-161.
rede elétrica permite grande flexibilidade e viabilidade [2] Z.A. Vale, and C. Ramos, “Temporal Reasoning in
de aplicação em sistemas reais de grande porte, além do AI Applications for Power System Control Centers”. In:
processo de treinamento ser mais simples. A estratégia IFAC CONTROL OF POWER PLANTS AND
de solução proposta por este trabalho favorece o POWER SYSTEMS (SIPOWER’95, Cancun, Mexico,
desenvolvimento de redes neurais com dimensão 1995). pp. 297-302.
reduzida, embora os modelos contemplem um grande [3] B. Wollenberg, “Feasibility study for an energy
número de variáveis (alarmes). As redes GRNN management system intelligent alarm processor”. IEEE
permitem classificar os alarmes observados mesmo com Trans. Power Systems, vol. 1, May 1986, pp. 241-247.
poucos exemplares para aprendizado, minimizando a [4] S. Madan, and K.E. Bollinger, “Application of
distância entre um conjunto de alarmes observados e os artificial intelligence in power systems”, Electric Power
padrões armazenados como conhecimento na rede, Systems Research, 41, 1997, pp. 117-131.
tornando bastante confiável a classificação apresentada [5] L. Biondi Neto, L. Chiganer, M.M.B.R. Vellasco, et
pela rede. A inclusão da classe que indica falta de al. “Sistema híbrido de apoio à decisão para detecção e
informação, de certo modo freia a rede, não permitindo diagnóstico de falhas em redes elétricas”. In: XV

6
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E TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
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