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PUCRS - Departamento de Engenharia Mecânica e Mecatrônica Escoamentos Viscosos

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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS
Faculdade de Engenharia - FENG Depto. de Engenharia Mecânica e Mecatrônica
Laboratório de Sistemas Fluidomecânicos – LSFM www.em.pucrs.br/lsfm

LSFM - Laboratório de Sistemas Fluidomecânicos

DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO SOBRE UM


CILINDRO EM TÚNEL DE VENTO

Disciplina:
ESCOAMENTOS VISCOSOS

Atualizado: agosto 2008

Levantamento de Pressão sobre Cilindro 1


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1 Introdução
Se introduzirmos um cilindro circular no interior de um fluido ideal (não viscoso), matematicamente
este não oferece resistência já que se produz um equilíbrio das forças geradas, logo a resultante das forças
é nula. As linhas de corrente ao redor do cilindro seriam como na Fig. 1.

Figura 1 - Linhas de corrente segundo o caso teórico.

No entanto, esta conclusão contradiz os resultados obtidos experimentalmente (Paradoxo de


D'Alemmbert, século XVIII), já que qualquer corpo submergido em um fluido real (viscoso) é submetido a
uma resistência devido à existência da viscosidade. A viscosidade cria um gradiente de velocidade (ou de
pressão) que produz o desprendimento da camada limite a partir de uma certa distância da borda de
ataque, que depende do tipo de regime em que estamos. Este desprendimento da camada limite é o que
gera a resistência (de pressão) do avanço do fluido sobre o cilindro.
No caso de um cilindro, e em geral de qualquer perfil ou corpo aerodinâmico, a pressão do ponto de
separação das linhas de corrente (ponto de desprendimento) depende do regime do fluido na camada limite,
onde o escoamento pode ser turbulento ou laminar.

Figura 2 - Linhas de corrente segundo o caso real, com desprendimento da camada limite.

Quando há a transição de camada limite laminar para uma camada limite turbulenta, teremos uma
diminuição brusca da resistência. Nestas condições o Número de Reynolds é denominado crítico. O valor de
Reynolds crítico depende de diversos fatores associados ao fluxo e ao tipo de superfície do cilindro
No escoamento do cilindro teremos duas formas de atrito (ou resistência). Uma por forma do corpo,
denominado atrito (ou resistência) por pressão, e a outra por efeitos viscosos do fluido interagindo com o
corpo. No caso de escoamento turbulento conseguimos uma diminuição do coeficiente de arrasto por
pressão, contudo existirá um aumento do arrasto por atrito. Como a resistência por pressão é de ordem de
grandeza maior que a de atrito teremos para o caso de escoamento turbulento, uma diminuição do arrasto
ou resistência total do cilindro. Artificialmente podemos atuar sobre a superfície do obstáculo gerando
rugosidade para "provocar" a turbulência: como exemplo nas bolas de golfe e representados na Fig. 3.

Figura 3 - Variação do ângulo de desprendimento da camada limite.

No caso de um regime laminar, o valor do ângulo θ (ângulo que forma a direção da corrente
incidente e o ponto de desprendimento) para um cilindro circular é aproximadamente de 82º. Em regime
turbulento o valor do ângulo que ocorre o desprendimento da corrente livre é de aproximadamente 120º.

Levantamento de Pressão sobre Cilindro 2


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2 Objetivos
Determinar experimentalmente a distribuição de pressão em torno de um cilindro, estudando o
comportamento do coeficiente de arrasto em cilindros. Dessa forma é possível comparar os resultados
obtidos com a bibliografia utilizada.

3 Metodologia
Utiliza-se um túnel de vento de pequeno porte, com seção de testes de 16cm x 16cm, no qual é
testado um cilindro. Estes testes são realizados com a velocidade de referencia do túnel de vento entre
8m/s a 12m/s.
O Cilindro possui 19 tomadas de pressão com 1mm de diâmetro interno abrangendo toda sua
extensão. As dimensões do cilindro são L=160mm e D=40mm. O cilindro circular possui uma tomada de
pressão e um semicírculo graduado preso, que serve para determinar o ponto do cilindro no qual estamos
medindo a pressão conforme é mostrado na Fig. 4. Estas tomadas de pressão são conectadas ao
manômetro digital para determinar a pressão.

Pθ0

Figura 4 – Visualização da seção de testes do túnel de vento e suas tomadas de pressão

4 Equações Utilizadas
4.1 Determinação do Coeficiente de Pressão

Coeficiente de Pressão (Cp):

(Pθ − P∞ ) (Pθ − P∞ )
Cp = =
1
ρU ∞ 2
(Pθ o − P∞ ) [1]
2
Onde:

(Pθ 0 − P∞ ) é a pressão dinâmica;


Pθ é a pressão estática;
Pθ o é a pressão estática para θ = 0° (ou ponto de estagnação);
P∞ é a pressão de corrente livre.

Expressão teórica do Cp para fluxo potencial:


C p = 1 − 4 sen 2θ [2]
Onde:
θ é o ângulo de inclinação.

Levantamento de Pressão sobre Cilindro 3


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A Fig.5 mostra os resultados experimentais do Cp do cilindro para Re=2650. Também é mostrada a


curva teórica do Cp dada pela Equação (2).

1.5

0.5

-0.5
Cp

-1

-1.5

-2
Cp Re
-2.5
Cp teorico

-3
0º 50º 100º 150º

Figura 5 – Coeficiente de pressão experimental da bibliografia e curva teórica.

4.2 Determinação do Coeficiente de Arrasto

Coeficiente Total de Arrasto

No escoamento sobre cilindros o coeficiente de arrasto total é formado por duas parcelas:

C D = C Dp + C Df [3]

Onde CDp é o arrasto por pressão e CDf é o arrasto por atrito.

O coeficiente de arrasto por pressão é dado em função do coeficiente de pressão através da relação:

i =n
C Dp = ∑ C Pi cos θ i ∆θ [4]
i =1

Onde: i=1,2,3...n=19; e θ =0,10,20,30…180.


O termo Cpi é determinado através da Eq. (1).

Levantamento de Pressão sobre Cilindro 4


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O coeficiente de arrasto por atrito pode ser obtido através de equaciones empíricas, por exemplo,
podemos utilizar a relação:

5,93
C Df = [5]
Re

Desta forma com Eq. (4) e Eq. (5) na Eq. (3) podemos obter o coeficiente de arrasto total do cilindro para o
Reynolds levantado nos testes de laboratório.

A força de arrasto no cilindro pode finalmente ser determinada através da relação:

1
D = CD ρU ∞ 2 S [6]
2
Onde S é a área frontal do cilindro, dada em função do comprimento e diâmetro:

S = L2R [7]

A Fig.6 o coeficiente de arrasto em função do número de Reynolds para cilindros e esferas com
superfícies lisas.

Figura 6 – Coeficiente de arrasto (CD) em função do Número de Reynolds (Re) para cilindros e esferas com superfícies

Levantamento de Pressão sobre Cilindro 5


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5 Plano de atividades
Cada grupo devera realizar as seguintes tarefas

1) Ajustar o inversor a freqüência (entre 65 e 80 Hz);


2) Medir a temperatura na seção de testes do túnel de vento (Fig.7);
3) Medir a pressão de corrente livre (P∞) (Fig.8);
4) Medir a pressão entre os pontos 1 e 2, e através da Eq. 8 determinar a velocidade de corrente livre
(U∞). (Fig.9);
4) Instalar o cilindro no túnel de vento;
5) Conectar a tomada de pressão do cilindro ao sinal de entrada do manômetro digital, assim
adquirindo a pressão estática (Pθ); (Ver Fig.4)
6) Realizar o procedimento para todas as tomadas do cilindro;

A Eq.8 é utilizada para determinar a velocidade de corrente livre na seção de testes. A dedução da mesma
encontra-se no anexo 1. Onde ρ é a massa especifica do ar e ∆P1-2 é a variação de pressão medida entre os
pontos (1) e (2) conforme Fig.9. A constante ou coeficiente ka leva em consideração a relação de área entre
a seção de testes e a câmara de estabilização do túnel de vento. Para o caso específico do túnel do
laboratório ka =0,84.

2 .∆ p 1 − 2
U∞ = (Eq. 8)
ρ .k a

Figura 7 - Medindo a temperatura na seção de testes. Figura 8 – Medindo a pressão de corrente livre.

(a)
(b)

Figura 9 - Medindo a diferença de pressão entre as seções de teste

Obs: Zerar o manômetro antes de iniciar o processo de medição


Levantamento de Pressão sobre Cilindro 6
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6 Dados da Experiência
Tabela 1 – Dados da experiência.

Variáveis Nome Valor Unidade


Temperatura do Ar T °C
Massa Específica do Ar ρ Kg/m³
Viscosidade Cinemática do Ar ν m²/s
Número de Reynolds Re -
Velocidade de Corrente Livre U∞ m/s
Diâmetro do Cilindro D m
Comprimento do Cilindro L m
Pressão de Corrente Livre P∞ Pa
Freqüência do Motor f Hz
Diferença de pressão entre 1-2 ∆p1-2 Pa

Tabela 2 – Tomada de dados.

Dados Coletados
Graus (°) Pθ (Pa) Pθ − P∞ (Pa)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
120
130
140
150
160
170
180

Levantamento de Pressão sobre Cilindro 7


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7 O relatório individual a ser apresentado deve conter:

• Capa, nome do aluno, título da experiência, objetivo e demais dados de identificação julgados
importantes pelo aluno;
• Tabelas com os valores levantados na experiência;
• Uma tabela com resultados teóricos dos dados levantados em laboratório usando as equações
adequadas;
• Explicar por que existem diferenças entre as curvas teórica e experimental do coeficiente de
pressão em função do ângulo de incidência;
• Analisar as diferenças entre o valor do coeficiente de arraste calculado experimentalmente (CP) e o
valor do coeficiente de arraste obtido na bibliografia para o mesmo Número de Reynolds;
• Estimar a partir dos resultados experimentais o ponto de desprendimento da camada limite para
diferentes Números de Reynolds e explicar por que o ponto de desprendimento muda aumentando
o ângulo à medida que o Número de Reynolds aumenta;
• Explicar o que ocorreria com o coeficiente de arraste, no caso de o cilindro da experiência tivesse a
superfície rugosa;
• Comentar a prática e conclusões;
• Referências bibliográficas.

8 Anexo – Velocidade de corrente livre (U∞) em função da diferença de pressão


entre as seções do túnel de vento.

Através da equação da energia sabemos que:


2 2
U U
p1 + ρ 1
− h bocal = ρ 2
+ p2 (A.1)
2 2
Utilizando a Equação da continuidade:
U 1 . A1 = U 2 . A2
2
A 
U1 = U 2  2 
2 2

 A1 
Desta maneira a equação da energia pode ser reescrita da seguinte maneira:
2
U
2
 A2  U2
2
p1 + ρ 2
  − h bocal = ρ + p2 (A.2)
2  A1  2
2
 A  U 22 U2
2
U2
2
p 1 + ρ  2  . k bocal = p2 + ρ
 A1  2 2 2
2
 A2  U 2 2 2
p 1 + ρ   (1 − k bocal )= p2 + ρ
U 2

 A1  2 2
2
2
 A2  2
( p1 − p 2 ) = − ρ U 2   .(1 − K bocal )+ ρ U 2
2  A1  2
Levantamento de Pressão sobre Cilindro 8
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U 2   A2  
2 2
2
 A2 
( p1 − p 2 ) = ρ −   + k bocal   + 1 
2   A1   A1  

Tornando desprezível a perda de carga no bocal (kbocal=0), podemos reescrever a equação da energia da
seguinte maneira:

U2   A2  
2 2

( p1 − p 2 ) = ρ 1 −    (A.3)
2   1  
A

Definindo a relação entre as áreas como uma constante:
  A 2 
k a = 1 −  2   , Assim, se A1=0,0256 m²; A2= 0,064 m², logo ka= 0,84
  A1  

Desta forma, considerando (U2 = U∞) podemos escrever a equação da energia, conforme a equação abaixo:

1
∆ p1 − 2 = ρ .k a U ∞ 2 (A.4)
2
Onde:
∆p1-2= Diferença de pressão entre os pontos 1 e 2 (Pa)
ρ= Massa específica do Ar (kg/m³)
U∞= Velocidade de corrente livre na seção de testes do túnel de vento (m/s)
ka= 0,84 (Constante de relação entre as áreas)

Sendo ∆p1-2:

Obs: Esta apostila foi desenvolvida em 2006/2, com o auxílio dos estagiários do NUTEMA Guilherme
Wenzel, Marcos Vinícius Scheffer Cattaneo e Pedro José Moacyr Rangel Neto. Ultima modificação (2008/2)
bolsista Rafael Crespo Izquierdo.

Levantamento de Pressão sobre Cilindro 9

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