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EVA JAMILLE COSTA CARNEIRO


FERNANDA ZENHA AMORIM
LAÍS ANJOS CRUZ
MARIANA ROCHA DA SILVA
NAJLLA MIRELLE VAZ DE SOUZA
RENATA RABELO CAVALCANTE

DIABETES MELLITUS E EXERCÍCIO FÍSICO

Alagoinhas
2010
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EVA JAMILLE COSTA CARNEIRO


FERNANDA ZENHA AMORIM
LAÍS ANJOS CRUZ
MARIANA ROCHA DA SILVA
NAJLLA MIRELLE VAZ DE SOUZA
RENATA RABELO CAVALCANTE

DIABETES MELLITUS E EXERCÍCIO FÍSICO

Trabalho apresentado como requisito para avaliação da


Disciplina Fisiologia do exercício, ministrada pelo
professor Rodrigo Silva ao 4º Semestre do Curso de
Fisioterapia da Faculdade Santo Antônio.

Alagoinhas
2010
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Sumário

1 INTRODUÇÃO ............................................................................... 04
2 DESENVOLVIMENTO .................................................................... 06
2.1 Diabetes Mellitus.......................................................................... 06
2.1.1 Diabetes tipo I ........................................................................... 08
2.1.2 Diabetes tipo II .......................................................................... 09
2.2 Complicações agudas do diabetes .............................................. 10
2.2.1 Hipoglicemia ............................................................................. 10
2.2.2 Cetoacidose diabética............................................................... 11
2.2.3 Síndrome não-cetotica hiperosmolar hiperglicêmica ................ 12
2.3 Complicações do diabetes a longo prazo .................................... 13
2.3.1 Complicações macrovasculares ............................................... 13
2.3.2 Complicações microvasculares ................................................ 14
2.3.3 Neuropatia diabética ................................................................. 15
2.3.4 Pé diabético .............................................................................. 15
2.4 Tratamento geral do diabetes ...................................................... 16
2.4.1 Plano alimentar ......................................................................... 16
2.4.2 Exercícios físicos ...................................................................... 17
2.4.3 Terapia farmacológica .............................................................. 17
2.4.4 Educação do paciente .............................................................. 18
2.5 Exercicio fisico e diabetes mellitus............................................... 18
2.5.1 Benefícios gerais do exercício físico para diabéticos................ 19
2.5.2 Riscos gerais do exercício físico para diabéticos...................... 19
2.5.3 Efeitos do exercício físico no diabetes tipo I ............................. 20
2.5.4 Efeitos do exercício físico no diabetes Tipo II ........................... 21
2.5.5 Prescrição do exercício físico para diabéticos .......................... 22
2.5.6 Programação do exercício físico para diabéticos...................... 23
3 CONCLUSÃO ................................................................................. 26
Referências bibliográficas .............................................................. 28
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1 Introdução

O Diabetes mellitus (DM) é uma doença metabólica caracterizada por um


aumento anormal da glicose sanguínea, devido a uma deficiência na secreção
e/ou ação da insulina – hormônio responsável pela entrada de glicose na célula. A
glicose é a principal fonte de energia do organismo, mas quando em excesso no
sangue, pode trazer várias complicações à saúde.
O DM é um importante problema mundial de saúde em termos do número
de pessoas afetadas, incapacidade e mortalidade prematura. Sua incidência vem
aumentando progressivamente, principalmente nos países desenvolvidos, devido
à modificação nos hábitos alimentares e ao sedentarismo dos tempos modernos.
Atualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 240
milhões de pessoas sejam diabéticas em todo o mundo, o que significa que 6%
da população tem diabetes. Além disso, segundo uma projeção internacional, a
população de doentes diabéticos a nível mundial vai aumentar até 2025 em mais
de 50%, para 380 milhões de pessoas a sofrerem desta doença crônica.
Existem vários tipos de diabetes, porém, a maioria dos casos é classificada
em duas categorias: diabetes tipo I e diabetes tipo II. O diabetes tipo I é
conhecido também como diabetes juvenil ou diabetes insulino-dependente e
caracteriza-se pela ausência de produção e secreção de insulina devido à
destruição auto-imune das células beta das ilhotas de Langerhans no pâncreas. O
diabetes tipo II, também chamado de insulino não-dependente, é o tipo mais
comum representando cerca de 90% de todos os casos de diabetes. Trata-se de
um distúrbio metabólico caracterizado por deficiência relativa na produção de
insulina, redução na sua ação e maior resistência do corpo a esse hormônio.
O tratamento do diabetes consiste principalmente em normalizar a
atividade da insulina e os níveis de glicose no sangue com o objetivo de reduzir o
desenvolvimento de complicações a longo prazo. Os principais elementos do
tratamento incluem um plano alimentar bem elaborado, a terapia farmacológica, a
educação do paciente e, principalmente, a prática de exercícios físicos regulares.
O exercício físico é extremamente importante no controle da doença devido
a seus efeitos sobre a diminuição glicemia, da obesidade e redução dos fatores
de risco cardiovascular. O exercício diminui o nível de glicose no sangue à
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medida que aumenta a sua captação pelos músculos corpóreos e melhora a


utilização da insulina ao aumentar a sensibilidade do corpo a ela. No entanto,
alguns pacientes podem não ser admitidos em um programa de exercícios físicos
devido à existência de determinados comprometimentos que podem ser
agravados durante a realização dos exercícios. Por esse motivo, antes de dar
inicio a um programa de exercícios físicos, todos os indivíduos diabéticos devem
passar por uma avaliação médica detalhada.
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2 Desenvolvimento

2.1 DIABETES MELLITUS

O Diabetes Mellitus, ou simplesmente Diabetes, é uma doença provocada


por uma desordem metabólica crônico-degenerativa de etiologia múltipla que está
associada à falta e/ou à deficiente ação do hormônio insulina (DULLIUS e LÓPEZ,
2003). Ele é caracterizado por níveis elevados de açúcar no sangue
(hiperglicemia) e pela presença de açúcar na urina (glicosúria) (HOWLEY e
POWERS, 2005).
Normalmente, determinada
quantidade de glicose circula no
sangue. As principais fontes dessa
glicose são a absorção do alimento
ingerido no trato gastrointestinal
(GI) e a formação de glicose pelo
fígado a partir das substâncias
alimentares.
A insulina, um hormônio
Imagem 1. Representação das concentrações de glicose no
produzido pelo pâncreas, controla o sangue. 1. Níveis aceitáveis de glicose no sangue. 2. Excesso de
glicose sanguínea.
nível de glicose no sangue ao
regular a produção e o armazenamento de glicose. A insulina é secretada por
células beta, as quais constituem um dos quatro tipos de células nas ilhotas de
Langerhans no pâncreas. Quando uma pessoa ingere uma refeição, a secreção
de insulina aumenta e movimenta a glicose do sangue para o músculo, fígado e
células adiposas. Nas células beta, a insulina:
Transporta e metaboliza a glicose para a energia
Estimula o armazenamento de glicose no fígado e músculo (na forma de
glicogênio)
Sinaliza o fígado para interromper a liberação de glicose
Estimula o armazenamento de lipídios da dieta no tecido adiposo
Acelera o transporte de aminoácidos (derivados de proteína nutricional) para
as células.
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A insulina também inibe a clivagem da glicose, proteína e lipídios


armazenados. Inicialmente, o fígado produz glicose através da clivagem do
glicogênio (glicogenólise). Depois, o fígado forma glicose a partir da clivagem de
substâncias diferentes do carboidrato, incluindo aminoácidos (gliconeogênese).
No estado diabético, as
células podem parar de responder à
insulina ou o pâncreas pode parar
totalmente de produzi-la. Isso leva à
hiperglicemia, a qual pode resultar
em complicações metabólicas
agudas, como a cetoacidose
diabética (DKA) e a síndrome não-
cetóticahiperosmolar hiperglicêmica
(HHNS).
Os efeitos da hiperglicemia a
longo prazo contribuem para as Imagem 2. Esquematização da funcionalidade normal de
insulina no organismo.
complicações macrovasculares
(doença da artéria coronária, doença vascular cerebral e doença vascular
periférica), complicações microvasculares crônicas (doença renal e ocular) e
complicações neuropatológicas (BRUNNER & SUDDARTH, 2005).
O diagnóstico do diabetes pode ser presumido em pacientes que
apresentam os sintomas e sinais clássicos da doença, que são: sede excessiva,
aumento do volume e do número de micções (incluindo o surgimento do hábito de
acordar a noite para urinar), fome excessiva e emagrecimento, visão borrada,
fadiga, fraqueza e tonturas.
Existem vários tipos diferentes de DM. Eles podem diferir quando à causa,
evolução clínica e tratamento, porém, a maioria dos casos de diabetes é
classificada em duas categorias:

1. Diabetes mellitus insulino-dependente, também denominado diabetes tipo I ou


diabetes juvenil;
2. Diabetes mellitus não insulino-dependente, também denominado diabetes tipo
II ou diabetes do adulto (HOWLEY e POWERS, 2005).
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2.1.1 Diabetes tipo I

É um distúrbio metabólico caracterizado por ausência de produção e


secreção de insulina devido à destruição auto-imune das células beta das ilhotas
de Langerhans no pâncreas. Acredita-se que os fatores genéticos, imunológicos
e, possivelmente, ambientais (p.ex., virais) combinados contribuam para a
destruição das células beta. Embora os eventos que levam à destruição dessas
células não sejam totalmente compreendidos, em geral aceita-se a suscetibilidade
genética como um fator adjacente comum no desenvolvimento do diabetes tipo I.
As pessoas não herdam propriamente
o diabetes tipo I; em vez disso, elas
herdam uma predisposição genética,
ou tendência, no sentido de
desenvolvê-lo.
O diabetes imunomediado
comumente se desenvolve durante a
infância e adolescência, mas pode
acontecer em qualquer idade.
Imagem 3. Azul: Células beta em estado normal. Cinza:
Também existe evidência de Células beta destruidas.

uma resposta auto-imune no diabetes tipo I. Essa é uma resposta anormal na


qual os anticorpos são direcionados contra tecidos normais do corpo,
respondendo a esses tecidos como se eles fossem não-próprios. Além de
componentes genéticos e imunológicos, estão sendo investigados os fatores
ambientais, como vírus ou toxinas, que podem iniciar a destruição das células
beta.
A destruição das células beta resulta em menor produção de insulina,
produção livre de glicose pelo fígado e hiperglicemia em jejum. Além disso, a
glicose derivada do alimento não pode ser armazenada no fígado, mas, em seu
lugar, permanece na corrente sanguínea e contribui para a hiperglicemia pós-
prandial (depois das refeições). Quando a quantidade de glicose no sangue
excede o limiar renal de glicose, os rins podem não reabsorver a totalidade de
glicose filtrada; então, a glicose aparece na urina. Quando a glicose em excesso é
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excretada na urina, ela é acompanhada por perda excessiva de líquidos e


eletrólitos (diurese osmótica).

2.1.2 Diabetes tipo II

É um distúrbio metabólico caracterizado por deficiência relativa na


produção de insulina, redução na sua ação e maior resistência a esse hormônio.
A resistência à insulina refere-se à redução da sensibilidade tecidual à esse
hormônio. Normalmente, a insulina liga-se a receptores especiais nas superfícies
celulares e inicia uma série de reações envolvidas no metabolismo da glicose. No
diabetes tipo II, essas reações intracelulares estão diminuídas, tornando assim, a
insulina menos efetiva na estimulação da captação da glicose pelos tecidos e na
regulação da liberação da glicose pelo fígado. O mecanismo exato que leva à
resistência à insulina e à sua secreção prejudicada no diabetes tipo II é
desconhecido, embora se acredite que os fatores genéticos desempenham algum
papel.
Para superar a
resistência à insulina e evitar o
acúmulo de glicose no sangue,
maiores quantidades de insulina
devem ser secretadas para
manter o nível de glicose
normal ou ligeiramente elevado.
Entretanto, quando as células
beta não podem lidar com a
Imagem 4. Resistência à insulina no diabetes tipo II, seus fatores
determinantes e consequências.
maior demanda por insulina, o
nível de glicose se eleva, desenvolvendo-se o diabetes tipo II.
Esse tipo de diabetes ocorre mais amiúde nas pessoas com mais de 30
anos de idade que são obesas, embora sua incidência esteja aumentando nos
adultos mais jovens. Como está associado a uma intolerância à glicose
progressiva e lenta (durante anos), o início do diabetes tipo II pode passar
despercebido por muitos anos. Quando os sintomas são experimentados, eles
são, com frequência, leves e podem incluir fadiga, irritabilidade, poliúria,
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polidipsia, feridas cutâneas que curam mal, infecções vaginais ou turvação visual
(quando os níveis de glicose são muito altos).

Tabela 1
Resumo das Diferenças entre os Diabetes Tipos I e II
Características Tipo I Tipo II

Outro nome Juvenil Adulto


Proporção de todos os diabéticos ~ 10% ~ 90%
Idade de início Menos de 20 Mais de 40
Desenvolvimento da doença Rápido Lento
Histórico familiar Incomum Comum
Necessidade de insulina Sempre Comum
Insulina pancreática Nenhuma ou muito pouca Normal ou elevada
Cetoacidose Comum Rara
Gordura corporal Normal/magro Geralmente obeso

2.2 COMPLICAÇÕES AGUDAS DO DIABETES

2.2.1 Hipoglicemia

A hipoglicemia (nível sanguíneo de glicose anormalmente baixo) ocorre


quando a glicose sanguínea cai abaixo de 50 a 60 mg/dl. Pode ser causada
devido a uma quantidade excessiva de insulina ou hipoglicemiantes orais,
quantidade muito pequena de alimento ou atividade física em excesso. A
hipoglicemia pode ocorrer em qualquer momento do dia. Com freqüência, ela
acontece antes das refeições, principalmente quando há atraso das mesmas.
Na hipoglicemia branda, quando o nível sanguíneo de glicose cai, o
sistema nervoso simpático é estimulado, causando sintomas como sudorese,
tremor, taquicardia, palpitação, nervosismo e fome.
Na hipoglicemia moderada, a queda no nível de glicose priva as células
cerebrais do combustível necessário para o seu funcionamento adequado. Os
sinais de função prejudicada do SNC incluem a incapacidade de se concentrar,
cefaléia, tontura, confusão, lapsos de memória, comprometimento da
coordenação, visão dupla, sonolência, entre outros sintomas.
Na hipoglicemia grave, a função do SNC esta tão prejudicada que o
paciente necessita da ajuda de outra pessoa para o tratamento da hipoglicemia.
11

Nesse caso, os sintomas podem incluir desorientação, convulsões, dificuldade em


despertar do sono ou perda da consciência.
No diabético idoso, a hipoglicemia é uma preocupação importante devido a
muito motivos:
Os idosos frequentemente moram sozinhos e podem não reconhecer os
sintomas da hipoglicemia;
Com a função renal prejudicada, os agentes hipoglicemiantes orais levam
mais tempo para serem excretados pelos rins;
Pode ocorrer a omissão de refeições devido ao apetite diminuído ou às
limitações funcionais;
A acuidade visual diminuída pode levar a erros na administração de
insulina.

2.2.2 Cetoacidose Diabética

A cetoacidose diabética (DKA) é causada por uma ausência ou quantidade


acentuadamente inadequada de insulina. Esse déficit na insulina disponível
resulta em distúrbios no metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídeos. Os
três principais aspectos clínicos da DKA são: hiperglicemia, desidratação e perda
de eletrólitos e acidose.
Sem a insulina, a quantidade de glicose que entra nas células é reduzida e
o fígado aumenta a produção de glicose. Ambos os fatores levam à hiperglicemia.
Em uma tentativa para livrar o corpo do excesso de glicose, os rins excretam a
glicose juntamente com água e eletrólitos. Essa diurese osmótica, que se
caracteriza por micção excessiva (poliúria), leva à desidratação e perda
acentuada de eletrólitos.
Outro efeito do déficit ou deficiência de insulina é a clivagem dos lipídeos
(lipólise) em ácido graxos livres que são convertidos em corpos cetônicos (ácidos
graxos de cadeia curta) pelo fígado. Na DKA, existe produção excessiva de
corpos cetônicos por causa da falta de insulina que normalmente evitaria a sua
ocorrência. Os corpos cetônicos são ácidos e seu acúmulo na circulação leva à
acidose metabólica.
12

As três principais causas de cetoacidose diabética são a dose diminuída ou


omitida de insulina, doença ou infecção, e o diabetes diagnosticado e não tratado.
A hiperglicemia da DKA leva à poliúria e polidipsia (sede aumentada). Além
disso, os pacientes podem experimentar turvação visual e cefaléia. A Cetose e a
acidose da cetoacidose diabética levam a sintomas gastrintestinais, como
anorexia, náuseas e vômitos e dor abdominal.

Falta de insulina

Reduzida utilização de glicose Maior clivagem dos


pelas células; lipídios
Aumento da produção de
glicose pelo fígado

Aumento dos
ácidos graxos
Hiperglicemia

Aumento dos Hálito cetônico


Turvação visual Poliúria corpos cetônicos Déficit de apetite
Náuseas

Fraqueza Desidratação Náuseas


Cefaléia Acidose Vômitos
Dor abdominal

Aumento da sede
(polidpsia) Respirações cada
vez mais rápidas

Imagem 5. Metabolismo anormal que provoca sinais e sintomas de cetoacidose diabética.

2.2.3 Síndrome não-cetotica hiperosmolar hiperglicêmica

A síndrome não-cetotica hiperosmolar hiperglicêmica (HHNS) é uma


afecção grave em que a hiperosmolaridade e a hiperglicemia predominam, com
alterações da sensação de consciência. Ao mesmo tempo, a cetose é mínima ou
esta ausente. O defeito bioquímico básico é a falta de insulina. A hiperglicemia
persistente provoca a diurese osmótica, resultando em perda de água e
13

eletrólitos. Com a glicosúria e a desidratação ocorrem a hipernatremia e a


osmolaridade aumentada.
Essa condição ocorre mais frequentemente nas pessoas idosas e com
diabetes do tipo II. O que diferencia a HHNS da cetoacidose diabética é que a
cetose e a acidose não ocorrem na HHNS, em parte por causa das diferenças nos
níveis de insulina. Na cetoacidose diabética nenhuma insulina está presente, e
isso promove a clivagem da glicose, proteína e lipídeos armazenados, levando à
produção de corpos cetônicos e da cetoacidose. Na HHNS, o nível de insulina é
muito baixo para evitar a hiperglicemia, mas é suficientemente alta para evitar a
clivagem dos lipídeos.

2.3 COMPLICAÇÕES DO DIABETES A LONGO PRAZO

Os sintomas específicos do diabetes tendem a se agravar


progressivamente e podem levar a complicações severas. As complicações a
longo prazo do diabetes podem afetar quase todo o sistema orgânico e estão se
tornando cada vez mais comuns à medida que as pessoas vivem mais com a
doença. As categorias gerais das complicações do diabetes crônico são a doença
macrovascular, doença microvascular e neuropatia.
As causas especificas e a patogenia de cada tipo de complicação ainda
estão sendo investigadas. No entanto, parece que os níveis aumentados da
glicose sanguínea podem desempenhar algum papel na doença neuropática,
complicações microvasculares e fatores de risco que contribuem para as
complicações macrovasculares. A hipertensão pode também ser um fator
contribuinte importante, principalmente nas doenças macro e microvasculares
(BRUNNER & SUDDARTH, 2005).

2.3.1 Complicações macrovasculares

Sintomas cardíacos: Devido à maior prevalência de hipertensão arterial,


obesidade e alterações nas gorduras, os diabéticos são mais suscetíveis a
doença cardíaca, principalmente se houver tabagismo associado. A doença
14

cardíaca pode envolver as artérias coronárias, o músculo cardíaco e o


sistema de condução de estímulos elétricos ao coração. Devido às
alterações nos nervos do coração que o paciente geralmente apresenta, as
doenças cardíacas podem ser silenciosas, sendo descobertas somente
quando ocorrem sintomas mais graves como o infarto do miocárdio, a
insuficiência cardíaca e as arritmias.

Sintomas circulatórios: As alterações circulatórias nos diabéticos se


manifestam por aterosclerose em diversos vasos sanguíneos.
Frequentemente, essas complicações causam obstrução de vasos
importantes como as carótidas, a aorta, as artérias ilíacas e diversas outras
artérias de extremidades. Essas alterações são particularmente
importantes nos membros inferiores, causando um conjunto de sintomas
que compõem o “pé diabético”.

2.3.2 Complicações microvasculares

Retinopatia diabética: O paciente com DM descompensado apresenta


visão borrada e dificuldade de refração. A longo prazo, as complicações
envolvem diminuição da acuidade visual e visão turva que estão
associados a alterações retinianas denominadas retinopatia diabética
(CZEPIELEWSKI, 2001). Isso acontece por que devido ao diabetes, há um
enfraquecimento dos microvasos que atravessam a retina e se a pressão
sanguínea se eleva, eles acabam se rompendo. Consequentemente,
forma-se um pontinho de sangue no local do derrame, seguido por
formação cicatricial. Naquele ponto não se enxerga. De pontinho em
pontinho aproximando-se entre si, a visão torna-se turva, até a pessoa ficar
completamente cega.
Existe retinopatia em cerca de 70% das pessoas com diabetes
diagnosticada há mais de 10 anos, sendo essa a principal causa de
cegueira no mundo (VANCEA, 2007).
15

Nefropatia: O envolvimento dos rins no paciente diabético evolui


lentamente e de forma silenciosa (CZEPIELEWSKI, 2001). Os rins
funcionam como filtros que eliminam substâncias desnecessárias e/ou
tóxicas para o nosso organismo. Quando ocorre a nefropatia diabética, os
rins vão perdendo a sua capacidade de trabalhar e eliminar essas
substâncias adequadamente. Consequentemente, o líquido e as
substâncias que seriam eliminados na forma de urina, começam a se
acumular na corrente sanguínea, contribuindo para a hipertensão arterial.
Se a nefropatia não for diagnosticada e tratada de forma adequada,
pode evoluir para insuficiência renal, necessitando de diálise para o
controle (VANCEA, 2007).

2.3.3 Neuropatia diabética

No paciente diabético, o envolvimento dos nervos pode provocar neurites


agudas nos nervos da face, olhos e extremidades; e neurites crônicas nos nervos
dos membros superiores e inferiores, causando progressiva perda da
sensibilidade. Os principais sinais da presença de neuropatia são a perda de
sensibilidade em bota ou luva, o aparecimento de deformidades como a perda do
arco plantar e as “mãos em prece”, além das queixas de formigamento e a
alternância entre resfriamentos e calorões nos pés e nas pernas, principalmente
durante a noite.
A perda de sensibilidade nas extremidades causa uma série de
deformidades como os pés planos, os dedos em garra e a degeneração das
articulações dos tornozelos ou joelhos (CZEPIELEWSKI, 2001).

2.3.4 Pé diabético

O “pé diabético” é uma complicação que envolve as alterações circulatórias


e neurológicas. As paredes dos vasos sanguíneos tornam-se cada vez mais
espessas, diminuindo o espaço para o sangue fluir. Isso, somado aos danos nos
nervos torna os pés um ponto frágil. Geralmente ocorre formigamento e perda de
sensibilidade, reduzindo a percepção à dor ou ao calor excessivo, por isso os pés
16

machucam-se ou sofrem queimaduras facilmente. Quando isso acontece o


suprimento sanguíneo insuficiente retarda e prejudica o processo de cicatrização,
fazendo com que as feridas fiquem abertas por muito tempo. O resultado dessas
alterações, na maioria dos casos, é a amputação de membro inferior com grave
comprometimento da qualidade de vida do diabético (VANCEA, 2007).

2.4 TRATAMENTO GERAL DO DIABETES

A principal meta do tratamento do diabetes consiste em normalizar a


atividade da insulina e os níveis de glicose no sangue com o objetivo de reduzir o
desenvolvimento de complicações vasculares e neuropáticas (BRUNNER &
SUDDARTH, 2005). Um bom controle glicêmico depende de diversos fatores que
influenciam no tratamento do diabetes. Os principais componentes do tratamento
incluem um plano alimentar bem elaborado, a prática de exercícios físicos, a
terapia farmacológica e a educação do paciente.

2.4.1 Plano alimentar

Nutrição, dieta e controle do peso constituem a base do tratamento do


diabates. O objetivo geral é auxiliar o indivíduo a fazer mudanças nos seus
hábitos alimentares, permitindo um controle metabólico adequado. Além disso, o
tratamento nutricional deve contribuir para a normatização da glicemia,
diminuição dos fatores de risco cardiovasculares, fornecer calorias suficientes
para a manutenção de um peso saudável, prevenir as complicações agudas e
crônicas, e promover a saúde geral do paciente. Para que esses objetivos sejam
alcançados, o paciente precisa seguir uma dieta equilibrada, desenvolvida
individualmente de acordo com as suas particularidades como idade, sexo,
situação funcional, atividade física e doenças associadas. De modo geral, a
composição da dieta deve incluir 50% a 60% de carboidratos, 30% de gorduras
e 10% a 15% de proteínas. Os carboidratos devem ser ingeridos em 5 a 6
porções por dia. As gorduras devem incluir no máximo 10% de gorduras
saturadas, devendo-se evitar frituras, laticínios integrais, molhos e cremes ricos
17

em gorduras e alimentos temperados com excesso de óleo. As proteínas devem


corresponder a 0,8 a 1,0g/Kg do peso ideal, por dia. Além disso, a alimentação
deve ser rica em fibras, vitaminas e sais minerais que são obtidos pelo consumo
diário de frutas e hortaliças. O consumo habitual de bebidas alcoólicas não é
recomendado, principalmente em pacientes obesos e com mau controle
metabólico (CZEPIELEWSKI, 2001).

2.4.2 Exercicios físicos

Todos os pacientes devem ser incentivados a praticar exercícios físicos


regularmente, pois eles são extremamente importantes no controle do diabetes
devido a seus efeitos sobre a diminuição da glicemia e redução dos fatores de
risco cardiovascular (BRUNNER & SUDDARTH, 2005). Os exercícios físicos
podem ser uma caminhada de 30 a 40 minutos ou atividades equivalentes. A
orientação para o início da atividade física deve incluir uma avaliação médica
adequada com o objetivo de avaliar a presença de neuropatias ou alterações
cardiocirculatórias que possam contra-indicar a atividade física ou provocar
riscos adicionais ao paciente.

2.4.3 Terapia farmacológica

Os medicamentos hipoglicemiantes orais são úteis para o controle


glicêmico de pacientes com DM tipo II, estando contra-indicados para os
pacientes com DM tipo I. Para esses pacientes, a insulina é a medicação
primordial, sendo também importante para os pacientes com diabetes tipo II que
não responderem bem ao tratamento com hipoglicemiantes orais
(CZEPIELEWSKI, 2001). Para esses pacientes que necessitam de insulina, a
dosagem é ajustada de modo a permitir um metabolismo normal dos
carboidratos, das gorduras e das proteínas. A administração da insulina, ou seja,
o tipo e o momento do dia em que ela é aplicada, é individualizada para cada
paciente para que se mantenha o controle glicêmico durante todo o dia
(WILMOR e COSTILL, 2001).
18

2.4.4 Educação do paciente

O DM é uma doença crônica que requer uma vida de comportamentos


especiais autogerenciados, por isso a educação do paciente também é um fator
muito importante para o controle da doença. Os pacientes diabéticos devem ser
instruídos sobre a nutrição, efeitos dos medicamentos, efeitos colaterais,
exercício, progressão da doença, estratégias de prevenção, técnicas de
monitoração da glicose sanguínea e ajuste da medicação, ou seja, eles devem
adquirir habilidades de autocuidado diário para evitar as flutuações agudas na
glicose sanguínea e também devem incorporar no estilo de vida muitos
comportamentos preventivos para evitar as complicações do diatebes a longo
prazo (BRUNNER & SUDDARTH, 2005).
Embora o tipo de diabetes apresentado pelo paciente altere o tratamento
que ele recebe, ambas as formas de diabetes – tipo I e tipo II – requerem um
plano de tratamento que mantenha os níveis de glicose no sangue regulares.
Uma vez que os níveis glicêmicos estejam sob controle, uma pessoa com
diabetes poderá levar uma vida relativamente normal (GOWER, 2007).

2.5 EXERCÍCIO FÍSICO E DIABETES MELLITUS

Tanto para os indivíduos diabéticos como para os não-diabéticos, o hábito


de fazer exercícios físicos regulares traz diversos benefícios, sendo os principais:
melhoria do condicionamento físico (principalmente da capacidade
cardiorrespiratória), redução da gordura corporal, aumento da massa muscular,
diminuição do estresse emocional, melhora da auto-estima, entre outros
(RODRIGUES, 2009).
Para os diabéticos, o exercício físico é extremamente importante no
controle da doença por causa de seus efeitos sobre a diminuição da glicemia e
redução dos fatores de risco cardiovascular. O exercício diminui o nível de glicose
no sangue ao aumentar a sua captação pelos músculos corpóreos e melhorar a
utilização da insulina. O exercício físico também altera os níveis lipídicos
sanguíneos, aumentando os níveis de lipoproteínas de alta densidade e
19

diminuindo os níveis totais de colesterol e triglicerídeos. Isso é particularmente


importante para o paciente com diabetes por causa do risco aumentado de
doença cardiovascular.
No entanto, antes de dar início a um programa de exercícios físicos, é
importante que indivíduos diabéticos se submetam a uma avaliação médica com o
objetivo de verificar a presença de possíveis complicações associadas ao
diabetes que possam ser agravadas pelo programa de exercícios (BRUNNER &
SUDDARTH, 2005).

2.5.1 Benefícios gerais do exercício físico para diabéticos

Diminuição da resistência insulínica;


Aumento da ação da insulina e dos hipoglicemiantes orais (medicamentos usados para
tratar o diabetes);
Captação de glicose no período pós-exercícios, desta forma, melhorando o controle da
doença;
Controle do peso corporal;
Colaboração na redução do risco cardiovascular, como por exemplo, sofrer um infarto
do miiocárdio (ataque cardíaco);
Aumento do fluxo sanguíneo e circulação dos membros inferiores, prevenindo
aterosclerose (obstrução da parede das artérias por placas de gordura);
Redução da pressão arterial;
Diminuição da perda de massa óssea;
Melhora a sensação de bem-estar e diminuição dos sintomas depressivos.

2.5.2 Riscos gerais do exercício físico para diabéticos

Hipoglicemia (queda excessiva dos níveis de açúcar no sangue);


Hiperglicemia (elevação excessiva dos níveis de açúcar no sangue) e cetoacidose
(formação de corpos cetônicos);
Complicações cardíacas;
Hemorragia retiniana (sangramento na retina dos olhos);
20

Proteinúria (perda de proteína na urina);


Desenvolvimento de úlceras nos pés;
Hipertensão: pressão sistólica de repouso acima de 180 mmHg ou pressão diastólica
acima de 105 mmHg;
Hipertermia (aumento excessivo da temperatura corporal).

2.5.3 Efeitos do exercício físico no diabetes tipo I

O efeito benéfico do exercício físico no diabético tipo I depende do seu


estado insulinêmico no inicio do exercício, ou seja, depende do fato de o diabético
estar ou não razoavelmente controlado antes do inicio da atividade. A insulina é
um dos principais hormônios responsáveis pela regulação metabólica no repouso
e mesmo durante o exercício, por isso, a presença de diferentes estados
insulinêmicos pode afetar distintamente as respostas metabólicas durante e após
o exercício físico, fazendo com que o exercício melhore ou até mesmo, deteriore
o controle glicêmico do indivíduo diabético.
Em presença de deficiência de insulina e cetose, os exercícios causarão
um aumento da glicose plasmática (hiperglicemia), acelerando a formação de
corpos cetônicos. Isso ocorre porque a captação da glicose pelo músculo,
mediada pelos exercícios, depende da insulina, e com uma deficiência da mesma
o aumento habitual da captação de glicose pelo músculo, durante os exercícios,
estará diminuído. A deficiência de insulina resulta em um grande aumento da
produção de glicose pelo fígado e as concentrações de glicose circulantes no
plasma aumentam significantemente.
Se um diabético insulino-dependente começar o exercício com excesso de
insulina, a glicose plasmática diminuirá rapidamente durante os exercícios,
ocorrendo hipoglicemia. Isso ocorre por que a elevação dos níveis de insulina
causa uma inibição da produção hepática de glicose. A captação de glicose pelo
músculo aumenta com os exercícios, e mesmo assim, o fígado é incapaz de
aumentar sua produção de glicose, para repor sua perda na circulação,
ocasionando uma queda da glicemia (POWERS e HOWLEY, 2005). Os efeitos de
vários estados insulinêmicos nos diabéticos tipo I sobre a homeostasia da glicose
durante o exercício pode ser melhor observado no quadro 1.
21

Quadro 1: Interpretação entre o exercício e insulina plasmática em Diabéticos Tipo I.


Concentração de Liberação de Captação da Concentração de
Insulina glicose pelo glicose pelo glicose (glicemia)
Plasmática fígado músculo
Normal ou
discretamente
diminuída

Acentuadamente
diminuída

Aumentada

Embora o papel do exercício físico na melhora do controle da glicemia de


pacientes com diabetes tipo I ainda não esteja claramente definido, existem outros
benefícios potenciais do exercício para esses pacientes. Como eles apresentam
um risco duas a três vezes maior de doença coronariana, o exercício pode ser
importante como auxiliar na redução desse risco, reduzindo também o risco de
doenças cerebrovasculares e arteriais periféricas (WILMOR e COSTILL, 2001).

2.5.4 Efeitos do exercício físico no diabetes Tipo II

A fisiopatologia do diabetes tipo II caracteriza-se basicamente pela


diminuição da sensibilidade do organismo à insulina. Geralmente ocorre mais
tardiamente e apresenta vários fatores de risco adicionais como hipertensão,
colesterol elevado, obesidade e inatividade.
Ao contrario do diabético insulino-dependente, cuja vida pode ser mais
complicada (em termos de controle da glicemia) no inicio do programa de
exercícios, o exercício físico é uma recomendação primária para o diabético tipo II
por que auxilia tanto no controle da glicemia quanto da obesidade e de outros
riscos adicionais. A combinação do exercício e da dieta pode ser suficiente e
eliminar a necessidade de insulina ou de medicação oral para estimular sua
secreção (POWERS e HOWLEY, 2005).
A maioria dos estudos demonstra melhora em pacientes diabéticos que se
exercitam regularmente, acreditando ser primeiramente devido à potencialização
22

da ação insulínica na musculatura esquelética. O exercício ao aumentar a


sensibilidade à insulina no diabético tipo II auxilia no controle do estado glicêmico
desses pacientes. Isso ocorre por que a contração muscular possui um efeito
similar ao da insulina, ou seja, a permeabilidade da membrana à glicose aumenta
com a contração muscular, possivelmente devido a um aumento na quantidade de
transportadores de glicose associados à membrana celular. Por isso, períodos
agudos de exercício diminuem a resistência à insulina e aumentam a
sensibilidade a ela, reduzindo as demandas celulares desse hormônio.
Dessa forma, a atividade física, incluindo um apropriado treinamento em
endurance e resistência, é a principal modalidade terapêutica para diabetes tipo II.
Infelizmente, com muita freqüência a atividade física é uma terapia pouco utilizada
(WILMOR e COSTILL, 2001).

2.5.5 Prescrição do exercício físico para diabéticos

Antes de iniciar um programa de exercícios físicos, indivíduos diabéticos


devem passar por uma avaliação médica detalhada com métodos diagnósticos
adequados. Inicialmente é traçada uma história clínica e realizado um exame
físico, com particular atenção às possíveis complicações micro e macrovasculares
(neuropatia, retinopatia e doenças cardiovasculares), que podem ser agravadas
pelo programa de exercício. São feitos também exames como glicemia de jejum;
hemoglobina glicosilada, perfil lipídico, análise de proteínas na urina e avaliação
oftalmológica.
Outro item de extrema importância, como complemento na avaliação de
DM, mesmo que não sejam portadores de doença cardiovascular é o teste
ergométrico. Recomenda-se atenção ao se iniciar um programa de exercícios de
intensidade moderada a alta principalmente em indivíduos acima de 35 anos; com
diabetes tipo I com mais de 15 anos de duração; com diabetes tipo II com mais de
10 anos de duração; presença de qualquer outro fator de risco para doença
arterial coronariana; doença vascular periférica; presença de doença
microvascular (retinopatia ou nefropatia); e neuropatia autonômica.
23

Indivíduos com complicações não devem ser admitidos em programas de


exercício físico, por estarem submetidos a maior risco de evento cardíaco durante
a prática dos exercícios.
A identificação das condições do indivíduo permitirá a elaboração de uma
prescrição individualizada de exercícios que pode minimizar o risco para o
diabético. O programa de exercícios deve ser agradável, o paciente deve escolher
a atividade que goste e variar o tipo de exercício. O diabético deve fazer exercício
num local e horário adequado, regularmente e perto da sua casa ou perto do local
de trabalho. O comportamento do paciente deve ser reforçado por si, sua família e
pelos profissionais envolvidos no programa.

2.5.6 Programação do exercício físico para diabéticos

O programa de exercícios físicos para diabéticos é extremamente


complexo, pluridimensional e multiforme, necessitando ser complementado e
interpretado por uma série de exames clínicos e laboratoriais, que ajudam a
equipe do programa (médico, nutricionista, fisioterapeuta e o professor de
educação física) a concretizar e adaptar as exigências específicas de cada
diabético às suas reais condições de saúde.
Os diabéticos em geral podem participar dos mesmos tipos de exercícios
que os não diabéticos para o seu treinamento físico, 5 a 7 vezes por semana.
Entretanto, devido à grande variabilidade individual no estado de controle
glicêmico e na resposta apresentada pelo paciente ao exercício, é fundamental
que o programa de condicionamento físico para esses tenha uma prescrição
individualizada, possibilitando a aquisição saudável e segura dos seus benefícios.
As atividades anaeróbicas de grande intensidade e curta duração, como
uma corrida de curta distância, não são recomendadas, pois não levam a perda
de peso, não melhoram o condicionamento físico nem controlam os níveis de
glicose do sangue, devendo, por isso, ser evitadas no caso de diabetes.
A prescrição adequada de um programa de exercícios físicos segue
determinada seqüência: o tipo de atividade a ser recomendada; individualidade
biológica; adaptação; intensidade, duração e freqüência das sessões de exercício
24

físico; motivação para o comparecimento regular; e reavaliação periódica


(CREPALDI e FIAMONCINI, 2005).
O programa de atividade física prescrito para pacientes portadores de
diabetes deve reunir as características descritas na imagem abaixo:

Tipo Atividade física aeróbica Exemplos: caminhar,


nadar, correr, andar de
bicicleta e ginástica
aeróbica.

Características

Frequência Duração Intensidade

20-30 minutos
Todos os dias* Moderada: 50% a 80% da
diários** ou 45-60
ou 3 a 4 vezes freqüência cardíaca máxima
minutos (3ª 4
por semana. de acordo com a condição
vezes/semana)
física, idade e grau de
treinamento.

*No caso de obesidade, a prática diária é recomendada;


**O tempo sugerido deve ser acrescentado de 5-10 minutos de exercícios de
alongamento e mobilidade articular antes e após a atividade principal.

Para os pacientes com diabetes tipo I deve-se seguir as seguintes


orientações:
Antes do exercício se a glicemia for ≤ 80-100mg/dl, devem ser consumidos
carboidratos. Se estiver acima de 250mg/dl, o exercício deve ser
postergado até que se encontre abaixo desse nível;
Não se deve praticar exercícios no momento da ação máxima da insulina,
que varia de acordo com o tipo de insulina;
A glicose deve ser freqüentemente monitorada durante o exercício (a cada
quinze minutos para os iniciantes e com menos freqüência para os
participantes experientes), logo após o exercício e de 4 a 5 horas depois;
Realizar um teste de esforço submáximo, estabelecer a intensidade do
exercício em relação às respostas da freqüência cardíaca;
Utilizar atividades de baixo impacto e sem carga de peso;
Evitar levantamento de peso com carga pesada;
25

Ingerir maior quantidade de líquidos;


Utilizar calçados adequados para a realização do exercício;
Se exercitar com alguém que possa auxiliar numa emergência
A principal preocupação com relação ao programa de exercícios para o
diabético tipo I é evitar a hipoglicemia. Isso é conseguido por meio de uma auto-
monitoração rigorosa da glicemia antes, durante e após o exercício, da variação
da ingestão de carboidratos e da dosagem de insulina dependendo da
intensidade e duração do exercício e da aptidão física do indivíduo.

Para os pacientes com diabetes tipo II deve-se seguir as seguintes


orientações:
Inicia-se com uma atividade leve aumentando gradualmente a duração;
Depois de um certo período a freqüência pode ser aumentada, entre 4 e 7
vezes por semana para promover um aumento sustentado da sensibilidade
à insulina e facilitar a perda e depois a manutenção do peso;
Os pacientes devem lutar para atingir um mínimo de 1.000kcal por semana
de todas as atividades físicas, de acordo com as adaptações de cada um;
Deve-se melhorar a saúde através da escolha de alimentos saudáveis;
Utilizar calçados adequados para a realização do exercício.
Os diabéticos não insulino-dependentes não apresentam as mesmas
flutuações da glicemia que os do tipo I durante o exercício. No entanto, aqueles
que utilizam medicações orais para estimular a secreção de insulina, podem ter
de diminuir a dose para manter a glicemia normal (POWERS e HOWLEY, 2005).
26

3 CONCLUSÃO

O exercício físico é muito importante para a saúde de qualquer pessoa,


especialmente para o diabético porque ajuda a controlar os níveis de glicose no
sangue e melhora a saúde geral do paciente. Apesar disso, poucos diabéticos
praticam exercícios físicos regularmente e muitos relutam em iniciar, muitas vezes
por não saberem o porquê e como fazê-lo. É importante, assim, esclarecer o
indivíduo diabético sobre a importância, as indicações, os benefícios e riscos
desse componente essencial do seu tratamento.
A prática regular de exercícios físicos proporciona aos diabéticos uma
melhoria na qualidade de vida através da diminuição dos níveis de glicose
sanguínea e aumento da capacidade do corpo de utilizá-la, aumento da
capacidade de ação da insulina - isso implica a administração de uma menor dose
de insulina para quem a toma todos os dias ou um melhor aproveitamento da
insulina naqueles diabéticos que produzem esse hormônio, mas não conseguem
utilizá-lo adequadamente -, redução da gordura corporal, diminuição do risco de
doenças cardíacas e melhora da hipertensão arterial. Além disso, o exercício
pode proporcionar a diminuição do estresse emocional, o aumento do
condicionamento físico (principalmente da capacidade cardiorrespiratória) e da
massa muscular, melhora da auto-estima, entre outros.
O exercício físico e a educação do paciente são os pilares fundamentais no
tratamento do diabetes. Portanto, é preciso informar o diabético sobre a doença,
os objetivos e benefícios do tratamento e oferecer a ele um programa de
exercícios físicos que o motive a ser protagonista do seu tratamento. Além disso,
um adequado programa educativo melhora a qualidade de vida do diabético,
proporcionando-lhe os meios para superar as limitações que derivam do diabetes
e implicam sacrifícios emocionais, sociais e econômicos. Ademais, provê os
meios para assegurar um melhor controle da doença e, assim, evitar ou diminuir
as complicações agudas e crônicas.
Dessa forma, pode-se concluir que um programa de exercícios físicos
estruturado, que atenda às necessidades individuais do paciente, associado à sua
efetiva educação e a outros componentes do tratamento, como um plano
alimentar bem elaborado e uso de medicamentos apropriados, podem
27

proporcionar o controle da glicemia e a redução de complicações a longo prazo


ao mesmo tempo em que melhora a sua qualidade de vida de um modo geral.
28

Referências bibliográficas

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