Você está na página 1de 14
= RAJECTOS aores bE scares —mvrnoUGiO ASEsTuDO DA FILOSOFIA GREGA HIStORLA DA FILOSORIA — PeloDo Fan an Sseghen ‘ACONDICAO TS: MODERNA ELEMENTOS DE FILOSOHA DA CIENCIA [DO MUNDO FECHADO AO UNIVERSO (GROGRAFIAHUMANA —TEORIAS estas apvicagors ‘0S GREGOS EOIRRAGONAL O.CREPUSCULO DA DADE MEDIA EwPoRTUGAL ‘ai Sen DONASCIMENTO DEUIMA NOVA FISICA 2 aan cen [AS DEMOCRACIAS CONTEDPORANEAS ‘Non Liptat ‘A RAZAONAS COISAS HUMANAS PAE-AMBULOS—OSPRIMEIROSPASSOS Bones Yves Cope: oromiswo Yan Senergten LUGAR DA DESORDEM Raymond Baeo CCONSENSOE CONFLITO 2. Pa », i MANUAL.DELvESTIGAGAO EMCIENCIAS SOCIAIS| eyo Gy Lic Wun Campers NAGDESENACIONALISMO AANGIISTIA ECOLOGICA BOFLTURD NAtLROPA a Bent [NSONDRA— e57UD0SOBRE ACLANGESTINIDADECOMUNISTA. bo saBEn AO FazsR:ronauIE foto Grape PARA UMA HISTORIA CULTURAL yeas Gomes tee ‘AMETODOLOGIA DAECONOMIA [AVELILA EUROPA ANOSSA Sree Le Ga [ACULTURADASUBTILEZA — ASPECTOS DAILOSOGTA ANALITICA CCONDICBESDA LINERDADE Ee Gave TELENISKO,UMPORIGO PARA NopwoceAcrs RAWLS, UWA MORIA Da JUSTIEA Eos seuseniicos DEMOGRAFLA SDESENVOLYINENTO: ELEMENTOS BASICOS ‘ino Tones ‘OKEGRESSODO FOLITICO Gras Neue OLGA CHANTAL MOUFFE O REGRESSO DO POLITICO RevIsAo ciewristca JOAQUIM COELHO ROSA gradiva imo, a I6gica democrética da equivaléncia foi ligada a 16gica liberal da diferenga, 0 que tende a interpretar toda a identidade como positividade, estabelecendio, assim, um pluralismo que subverte todas 4 tentativas de totalizagto, Portanto, em ciima anélise, estas duas logicas sto incompativeis, mas tal ndo significa de modo algum que 4 democracia liberal seja uma forma de governo invidvel, como afirma Schimitt, Pelo contrério, acredito que € a existéncia desta tensio entre a logica da identidade e a logica da diferenga que define a esséncia da democracia pluralist e faz dela uma forma de governo Particularmente adequada ao carécter indeterminado da politica mo. dema. Em vez de deplorarmos esta tensio, deverfanios estar gratos por ela e encaré-la como algo a ser defendido e no eliminado, De facto, é esta tensio, que tamibém se apresenta como una tensio entre a nossa identidade como individuos e como cidadios ¢ entre os principios da liberdade e da igualdade, que constitui a melhor garanta {e que o projecto da democracia modema esta vivo e enformado pelo pluralismo. O desejo de a dissolver s6 poderia conduzi 8 eliminago do politico e a destruigio da democtacia, 9 A politica e os limites do liberalismo © to apregoado «triunfo» da democracia liberal chega num momento em que se verificam cada vez mais discordincias quanto & sua natureza. Algumas destas discordancias dizem respeito a um ponto fundamental do Iiberalismo: a neutralidade do Estado. Como devemos entender isto? Uma sociedade liberal sera aqucla em que Estado 6 neutro ¢ permite a coexisténcis de diferentes modos de vida © concepgdes do bem? Ou seré uma sociedade em que o Estado promove ideais espectticos, como a igualdade e a autonomia pessoal? “Muitos liberais, numa tentativa de darem resposta ao desafio comuni- tarista, defenderam recentemente que, longe de negligenciar as ideias relativas a0 bem, o liberalismo é a materializagao de um conjunto de valores especificos'. William Galston, por exemplo, afirma que os tr8s principais defen- sores do Estado neutral, Rawls, Dworkin e Ackerman, nfo conseguem evitar a referéncia a uma teoria substantiva do bem, a que chama " Aguns tuo reents indiciadores des tendénes: Naney L, Rosenblum (ed), Liberalism and the Moral Life, Cambridge, Mass, 1989; R. B, Douglass. G. Mara H. Richardson (eds), Liberaliim and the Good, Nova Torque, 1990; Steptien Macedo, Liberal Virtues Cizenship, Viriue and Conmnunity in Liberal Consttaonais, Oxford 1991, William A, Gaston, Liberal Purposes, Gods, irs and Diversity in the Liberal State, Cambridge, 1991 179 huinanismo racionalistay. Alege que, sem o reconhecerem, «confiam seeretamente na mesma teoria triddica do bem, que presime que valor da existéncia humana, o valor da finalidade humana e da rea- lizagdo das finalidades humanas e © valor da racionalidade sf0 0 principal limite aos principios e acgdes sociais»*. Segundo Galston, os liberais deviam adoptar uma posigo «perfeccionista» e afirmar aber tamente que o liberalismo defende uma concepgao especitica do bem est empenhado na realizagio das finalidades e virtues que cons (ituem @ politica liberal Ao tejeitarem a solugdo do perfeccionismo, muitos liberais re20- nhecem os defeitos da tese da neuiralidade, tal como & normalmente formulada, B este 0 caso de John Rawls, que, na sua obra posterior a Uma Teoria da Justiga, se distanciou claramente de uma interpre- tagiio do tipo «prevaléncia do direito sobre 0 bem» que os criticos comunitaristas The imputavam. Insiste agora em que «a justiga como equidade ndo 6 procedimentalmente neuira. Ei evidente que os seus prinefpios de justiga sto substantivos e exprimem muito mais do que simples valores procedimentais, tal como a sua concepeto politica de pessoa e de sociedacle, que sio representados na posiglo original» Ronald Dworkin, por seu lado, munca aceitou a ideia de uma neutralidade absoluta, Em sua opiniao, no pr6prio coragao do libera- lismo jaz uma certa concepedo de igualdade. E porque tem de tratar todos 08 seus membros como iguais que o Estado liberal tem de ser neutral, Deste modo, afirma que, «uma vez que os cidados de uma sociedade divergem nas suas concepeées [de felicidadel, 0 governo ‘lo os trataré como iguais se preferir uma concepgio a outra, seja porque as autoridades acreditam que uma é intrinsecamente superior, seja porque é defendida por grupos maiores ou mais poderosos»'. Para ele, o liberalismo baseia-se numa moralidade constitutiva, © no no cepticismo, Segundo afirma, o Estado liberal tem de tratar os seres humanos como iguais, «no porque nao exista bem ou mal na ‘moralidade politica, mas porque é isso que esté certor' 2 William A. Galston, Liberal Purposes, p. 92. * Joh Rawls, Poltical Liberation, Nova Torque, 1993, p. 192 * Ronald Dworkin, «Liberalism, dm Sturt Harpstire (ed), Public and Private Moray, Cambridge, 1978, p. 127 Sd, ibid, p. 1, 180 Dos trés autores assinalados por Galston, Bruce Ackerman € 0 Linieo verdadeiro «neutralista», pois acredita que 0 que & constitutivo do liberalismo € um empenhamento no diflogo neutro e que o empenhamento na igualdade devia ser limitado pelas condigdes im- postas por esse didlogo, Além disso, a sua concepgio de dislogo neutro niio deixa lugar para uma inguirigao filoséfica das concepedes do bem e defende a ideia de que o liberalismo devia basear-se no cepticismo, uma vez que, segundo ele, «no existem significados, morais escondidos nas entranhas do universo»®, O liberalismo politico Defendo que © que esté realmente em jogo no debate sobre a neutralidade € a natureza do pluralismo e 0 seu lugar na democracia liberal. A forma como o Estado liberal é encarado tem consequéncias de grande alcance na politica demoeritica. Na realidad, determina como abordar questdes fundamentais, como a do «malticulturalismo», E minha intengdo analisar aqui aquela que € a posigdo actualmente predominante: nomeadamente, o «liberalismo politico», que visa manter a ideia da neutralidade, mas reformalando-a, Os liberais politicos, como John Rawls e Charles Larmore?, come- am por aquilo que caracterizam como 0 «facto» do pluralismo, isto , @ multiplicidade de concepgdes do bem que existem na sociedade democritica moderna, Isto conduz ao «problema liberal» de como organizar a coexisténcia entre pessoas com diferentes concepedes de bbem. Vale a pena notar que ndo defendem o pluralismo por acredita- rem que a diversidade € especialmente valiosa, mas apenas porque consideram que nfo poderia ser erradicado sem recurso A coergo do Estado, O seu pensamento é do tipo lockiano, mais baseado nas razies pelas quais néo deve interferir-so com o pluralismo do que no reco- ‘nhecimento do seu valor. Tomemos Rawis como exemplo, Este autor define a situago moderna como sendo constitufda por «(i) 0 facto do “ce Ackerman, Socol Justice and the Liberal Site, New Haven, 198, p. 368. » Brisiem diferengassignifeativas ene Rawls ¢ Larmare, mat ambos defender ‘uma versio do «iberaisma politico» com suficintes pontos commun par jstiiew que ‘sefam tats na mesma rica 181 pluralismo e (i) 0 facto da sua permanéneia, bem como (ii) 0 facto de ene puralismo s6 pode ser ulapasado pelo uso oressvo do poder do Estado (que pressupde um controle do Estado que nentum ‘Brupo possui)»’. A neutralidade & entao definida como a nio interfe- réncia nas opinides substantivas e o pluralismo identificado com a tolerdincia dos diferentes modos de vida, independentemente do seu valor intrinseco, Os criticos da neutralidade, por outro lado, afismam que cs mi prine(pio axiolégico, expri- pluralismo devia ser eniendida como um ptinetp a Iino oreconhecinento de que exter muitos modos de vida df rontes ¢ incompativeis, mas igualmente validos. E este o significado do «pluralismo de valores» defendido por Joseph Raz, que estabelece uma ligagio entre 0 pluralismo € 0 ideal de autonomia pessoal. Se- gundo Raz, a aulonomia pressupoe o pluralismo moral, porque uma pessoa 6 pode viver uma vida autGnoma se tiver uma multiplicidade Ge opebes moralmente aceitiveis entre as quais escolher. Este autor afirma: lugio para este problema que tanto Rawls como Larmore defendem lum liberalismo estritamente «politico», no sentido de que nio se baseia em qualquer ideal moral geral ou em qualquer filosofia do hhomem do tipo das avangadas por fl6sofos liberais como Kant ou Mill. O seu argumento € 0 de que, se ho-de ser aceites por pessoas que discordam quanto & natureza da felicidade, as instituigoes liberais nfo podem ser justifieadas por fundamentos eventualmente conttover. 08, como 0 ideal de autonomia kantiano ou a individualidade de Mill. Os liberais politicos concordam com os perfeccionistas em que 0 Estado liberal tem necessariamente de fazer referéncia a uma ideia de bem comum ¢ que nao pode ser neutro quanto & moralidede, No entanto —ao mesmo tempo que admitem nada poderem fazer sem uma teoria do bem—, alegam que a sua teoria & minimal, Deve, Porém, distinguir-se das concepgdes gerais, uma vez que se trata de uma moralidade comum, limitada a prinejpios que podem ser aceites Pot pessoas com ideais de felicidade diferentes © antagénicos. Se- ‘gundo Larmore, o significado apropriado da nog de «neutralidade» 6 0 seguinte: «Os principios neutrais so aqueles que podemos justi- ficar sem fazerem apelo as concepgdes controversas de felicidade em que possamos estar empenhados".» E Rawls afirma que sua teoria da justica € «politica», e nao «metafisica», visando «articular luma base piiblica de justificagdo para a estrutura bisica de um re- gime constitucional, funcionando a partir de ideias intuitivas funda- E como so. "Charles Larmor, «Poti tiberaism, ik Pllica! Theory, el. 18,23, Agosto de 1990, p. 345, "Rawls, Poliiea!Liberaliom, p. xvas "© Larmore, «Poicl liberalism, op. eit p. 34. 183 mentais implicitas na cultura politica pablica e abstraindo de doutri- nas religiosas, filosGfieas e morais gerais. Procura um fundamento comum — ou, se preferirmos, um fundamento neutro —, dado o facto do pluralismo"» laro que 0 liberalismo pode oferecer outras solugses para o problema da unidace social, Alguns liberais consideram que um modus vivendi hobbesiano devia ser suficiente para criar o tipo de consenso exigido por uma sociedade pluralista. Outros acreditam que tum consenso constitucional quanto aos procedimentos legais estabe- lecidos desempenhari 0 papel tio efectivamente como o faria um cconsenso relativo A justiga, Mas 0 sdiberalismo politico» considera estas solugdes insuficientes e proclama a necessidade de um tipo de cconsenso morat em que 0s valores e os ideais desempenhem um papel autoritativo, Explicando o objectivo dos liberais politicos, Larmore declara que ‘eles pretendem evitar 0 apelo a concepgdes de Felicidade controver- sas, mas também ao cepticisinio, que é em si uma questfio de desacor- do razofvel. Além disso, ndo se satisfazem com um tipo de justifica- ‘lo baseaclo meramente em consideragdes de ordem estratégica, uma JustificagZo hobbesiana fundamentada em motivos puramente prudeneiais, Na opiniio de Larmore, «36 encontrando um meio termo entre estes dois exitemos poder o liberalismo funcionar como uma concepgao moral minimal>", Na realidad, a ambi¢do do «liberalismo politico» € formular uma lista definitiva de direitos, principios © acordos institucionais inatacéveis e que constituam a base de um consenso simultaneamente ‘moral ¢ neutro, Para esse efeito, estes pensadores liberais propoem- se deixar de lado as quesides religiosas, filosoficas © melafisicas «controversas», limitando-se a uma compreensio estritamente «poli- tica» do liberalismo, Segundo acreditam, isto poderia constiit 0 fundamento comum que ainda pode ser obtido, quando j no existe a possibilidade de um bem comum, Um dos seus prinefpios funda- mentais 6 0 de que: numa sociedsde liberal as pessoas no deveriam ser obrigadas a aceitar insttuicdes e acordos com fundamentos que poderiam razoavelmente rejeitar. Portanto, a discussio politica neces- Rawls, Pola! Liberalism, p, 192 ™ Larmore, «Poca erie, op. cit, p. 346, 184 sita de ser limitada por regras que determinem o tipo de conviegées s quais possa apelar-se numa discussio. A sua tarefa consiste em definir um tal enquadramento, esperando que este crie as condigoes necessérias a obtengao de resultados indiscutive No caso de Larmore, a solugdo é uma forma de justificagao que assenta nas duas normas do diflogo racional e do respeito equitativo, Para ele, os prineipios politicos legitimos s40 aqueles a que se chega através de um diflogo racional, em que os partidos sf impulsionados. pela norma do respeito equitativo, Isto exige que nos afastemos de concepgdes «controversas» de felicidacle e que respeitemos @ neutra- lidade politica a0 concebermos prinefpios para a ordem politica, Implica que, «quando surjam desentendimentos, aqueles que queiram continuar 0 didlogo devam retirar-se para terreno neutro, a fim de resolverem a disputa ou, se no puderem consegui-lo racionalmente, de a ultrapassarem»", Rawls, por seu lado, considera que a solugao. esti na cringio de um consenso generalizado acerca de uma concep- (fo politica de justiga. Praticando um método de «evasion e igno- Fando as controvérsias filoséficas © morais, espera poder alcangar um acordo livre através de uma razao pilica sobre prinefpios de justiga que , o proble- ma da neutralidade permanece por resolver. Do seu ponto de vista, os. principios neutrais do didlogo racional certamente no o so, Para eles, 0 que os liberais proclamam como «racionalidade» € sentido como coereao, Nio € minha intengGo defender um pluralismo total e no acredito ue seja possivel evitar a exclusdo de alguns pontos de vista, Nethium Estado ou ordem politica, mesmio liberal, podem existir sem algumas formas de exclusio. O meu argumento € diferente. Pretendo defender ue é muito importante reconhecer essas formas de exclusio pelo que so e pela violéncia que significam, em vez de as ocultar sob um véu de racionalidade, Mascarara verdadeira natureza das necessérias «fron. teiras» e mods de exclusto exigidos por uma ordem democritico-libe- ral, fundamentando-os no caréeter supostamente neutro da «raciona- lidade», eria efeitos de ocultagao que poem em causa o correcto 2 Reishart Koselsk, Crue ane Cris: Enlghinment and the Pathogeness of Moder Society, Cambridge, Mas, 1988, tithes ha cued he 193 tee PORK ote funcionamento da politica democrética, William Connolly tem razio quando refere que «a pretensio de neuiralidade funciona paca manter 0s acondos estabelecidos abaixo do limiar do discurso publico»®, ‘A especificidade da democracia pluralista nao reside nia ausénoia dde dominagao e de viol2ncia, mas no estabelecimento de um conjunto de instituigdes através das quais poxlem ser limitadas e contestadas, por esse motivo que a democracia «mantém uma separaglo entre a lei e a justiga: aceita 0 facto de a jastiga ser wimpossivel», de ser tum acto que nunca pode ser totalmente fundamentado em “razdes (legais) suficientes’»®, Mas este mecanismo de «autocontenctioy deixa de ser eficaz quando a violgneia permanece irreconhecida ¢ culta sob apelos a racionalidade. Dai a importaneia de abandonar a ilusdo mistificadora de um didlogo isento de coergio, Pode minar a democracia, fechando o abismo entre lei e justiga, que € um espago constitutive da democracia modema, ‘A fim de evitar os perigos desse encerramento, 0 que € preciso abandonar & a pr6pria ideia de que poderia existir algo como um consenso politico «racionab», se i880 significar um consenso nao ba- seacdo em qualquer forma de exclusto. Apresentar as insttuigGes da ddemocracia liberal como o resultado de uma racionalidade puramente deliberativa 6 ossficé-las e torné-la insusceptiveis de transformagao, © facto de, como qualquer outro regime, a democracia pluralista modema constituir um sistema de relagdes de poder é negado ¢ 0 desafio democritico dessas formas de poder torna-se ilegitimo, O iberalismo politico de Rawls e Larmore, longe de conduzir a umia sociedade pluralista, manifesta uma forte tendéncia no sentido da homogeneidade e deixa pouco espago para a diséordincia e a contes- tagdo na esfera da politica. Ao postular que € possivel atingir um consenso moral livre sobre os furntamentos politicos através de pro- cedimentos racionais ¢ que tal consenso ¢ proporcionado pelas insti tuigdes liberais, acaba por assumir um conjunto historicamente espe- Cifico de scordos com caracter de universalidade e de racionalidade, © que & contrario & indeterminagao constitutiva da democracia moder- ® William E, Connally, IdeniyiDiference. Democrat Negotiations of Political Parador, Wnaca € Lones, 1991, p. 161 Renata Slee, Democracy and violence 1991, p. 1, in New Formations, nt 14, VerBo de 194 al na, No finn, a defesa racionalista do liberalismo, a0 procurar um argu- ‘mento que esteja acima de discussdo e pretender definir o significado do universal, comete o mesmo erro com base no qual critica 0 tota- litarismo: rejeita a indeterminaeio democrética e identifica 0 univer sal com um particular determinado, A politica democrética moderna, ligada comé esta & dectaragao dos direitos humanos, implica realmente uma referSncia & universa- lidade, Mas esta universalidade & concebida como um horizonte que rhunca pode ser alcangado. Qualquer pretensio de ocupar 0 lugar do tuniversal, de fixar 0 seu sentido final através da racionalidade, tem de set rejeitada. O conteddo do universal tem de permanecer indetermi- nado, uma vez. que 6 esta indeterminago que constitui a condigdo de existéncia da politica democratica A especificidade do pluralismo democrético moderno perde-se quando este é entendido apenas como o facto empirico de uma tmultiplicidade de concepgdes morais do bem. Necessita de ser enten- dido como a expresso de uma mutagio simbélica no ordlenamento das relagées sociais: a revolugdo democrdtica, encarada, nos termos de Claude Lefort, como «a dissolugio dos sinalizadores de certeza». Numa sociedade democritica modema jé nfo pode existir uma uni- ddade substantiva a divisfo tem de ser reconhecida como constitutiva. E uma sociedade em que 0 poder, a lei e 0 conhecimento estio expostos a uma indeterminaedo radical, uma sociedade que se tornou © cenério de uma aventura incontrotével>* Moralidade, unanimidade ¢ imparcialidade Aquilo que nas dtimas décadas tem sido celebrado como um ressurgimento da filosofia potitca 6, na realidade, uma mera extensio da filosofia moral; é 0 raciocinio moral aplicado ao tratamento das instituigdes polticas. Isto € manifesto na auséncia de uma distingo correcta entre 0 discurso moral € 9 discurso politico na habitual teorizagdo liberal. Para recuperar 0 aspecto normativo da politica sAo introduzidas na discussfo politica preocupagdes morais acerca da imparcialidade © da unanimidade. O resultado € uma moralidade Claude Lefon, The Political Forms of Modern Society, Cambridge, 1986, p. 30S, 195 priblica para as sociedades tiberis, uma moralidade considerada politica, porque & «minimal» e evita envolver-se nis concepeoes controversas da bem ¢ porgue funciona como cimento da coesio soci Pode muito bem existr lugar para tal esforga, mas este no pode substituir a filosofiapotica e nfo nos oferece a adequa compreen- sio do politico, de que necesitanos urgenterente, Além disso a sua insisténcia no universalism e no individualism pode ser prejudicial, porque mascara o verdadero desafio com que hoje, com explos dos nacionalismos ¢ a multiplicacio dos particularismos, se defronta qualquer reflexdo sobre o plualismo. Estes fendmenos precisam de ser compreendidos em termes politicos com Formas de constugd de tuma opasigio «nés/eles» e, consequentemente, 08 apelos a universa- lidade, & imparcialidade © 0s dicitos individuais no atingem o objestiv, (Os problemas que surgem do choque entre @ moralidade © a politica sio evidentes no trabalho de outro liberal: Thomas Nagel Segundo ele a dificuldade para a teria poliia reside no facto de «as instituigGes poltias ¢ a sua justficagd teGrica tentarem exterioriar as exigéncias sob um ponto de vista impessoal. Mas tém de ser ocupa- das, suportadas etrazidas 8 vida por individuos para quem o ponto de vista impessoal coexiste com o pessoal e isto tem de reflectir-se na sua concepgdo™.» Nagel considera que, para que seja possivel defender a aceitabilidade de uma ordem politica, precisamos de conciliar um ingeresse impacial para todos com uma concepeao do modo de vida «que possarazoavelmente esperir-se de cna individuo, Nagel prope que comecemos pelo conflito que cada individuo ‘srcontra em si mesmo, entre © ponto de vista impessoal, que origina uma poderosa cexigéncia de imparcalidadee igualdade universas, eo ponto de vista pessoal que dé origem aos motivos individaaisas que impedem a realizagdo de ais ideas, Fundamental para a totia pottica 6, em sua opinifo, a quesizo da legitimidade politica, que exige a concretizagao da unanimidade quan- to As insttuigbes basicas da sociedade. Como Rawls e Larmore, 2 Desenvolv este aspesto ca minha erin em «Rav ilostia poten sem pol ticas nese volume % Thomas Nagel, Equality ond Pardaty, Oxford, 1991, p. 5. 196 rejeita a solugdo hobbesiana, porque ela nao integra 0 ponto de vista pessoal ¢ s6 considera os valores e motivagdes pessoais, e insiste fem que qualquer forma de imparcialidace tem de ser fundamental para a busca da legitimidade, Considera, porém, que um sistema legi- timo teré de conciliaro prinefpio da impareialidade com uma parciali- dade razoavel, de forma que ninguém possa objectar que as exigencies que the sio feitas sko excessivas. ‘Com a sua insisténcia na «parcialidader, as opinides de Nagel representam, sem dlivida, um progresso no gue diz respeito & posicao ddaqueles liberais que equacionam 0 ponto de vista moral com o ponto de vista da imparcialidade e o privilegiam & custa de toxios 05 tipos de empenhamento pessoal. O problema est na énfase dada & unani- midade e busea de prinefpios que ninguém poderia razoavelmente rejeitar ¢ que todos poderiam concordar que deveriam ser seguidos por todos. Vé a forga de tais prinefpios no facto de terem um cardeter ‘moral. Consequentemente, defende que, quando um sistema € legiti- mo, «aqueles que vivem sob ele nio tém razdes de queixa contra forma como a sua estrutura bésica acomoda o seu ponto de vista ¢ que ninguém tem justificagio moral para negar a sua cooperacao no funcionamento do sistema, tentando subverter os seus resultados ou demubé-lo, se tiver poder para tanton" Encontramos de novo, neste caso afirmada abertamente, a mesma tentativa de excluir a possibilidade de discordancia no dominio péblico que jd observamos em Rawls ¢ Larmore, Para esses liberais, uma fordem democritico-liberal inteiramente realizada € aquela em que existe unanimidade perfeita relativamente aos acordos polticos e total ccoincid€ncia entre 0s individiuos e as suas instituigbes. O seu objective consiste em obter um tipo de consenso que, pela sua prépria natireza, desqualifique todas as tentativas para 0 desestabilizar. O pluralismo ‘que defendem s6 existe na esfera privada e estd limitado a questoes filoséficas, morais ¢ religiosas. Nao parecem compreender que tam: ‘bém podem existir conflitos insoliveis no campo dos valores polit Deve dizer-se que Nagel nfo € muito violento quanto & possibili- dade de realizar o tipo de consenso que prev, mas nao tem quaisquer davidas quanto & sua desejabilidade. Afirma: «Seria moralmente pre- +B bid, p38. 197 ferivel © condigao de verdadeira legitimidade politica que os prines. pios gerais, que governam as razdes relativas aos agentes, limitassem a possibilidade de atingir essas mesmas razoes, de tal forma que deixassem de pé algumas solugées ou distribuigdes de vantagens ¢ desvantagens que ninguém pudesse razoavelmente recusar, mesmo que estivesse em posigao de o fazer. Em vez de a moralidade ser semethante a potitica na sua sensibilidade a0 equilibrio do poder, deveriamos pretender que a politica fosse mais semelhante & moralidade na sua meta de aceitago undnime".» Segundo penso, esta una perspectiva mal orientada e as pessoas empenhadas na demo- ceracia deveriam acautelar-se com todos os projectos que aspiram a ctiagao da unanimidade, Falando da filosofia moral, Stuart Hampshire adyerte que, «seja aristotélica, Kantiana, humeana ou utilitiia, a filo sofia moral pode ser prejudicial quando implica a obrigatoriedade, ou 4 possibitidade, de existéncia de um acordo fundamental, ou mesmo dde uma convergéncia, relativamente aos ideais morais —o mal reside no facto de a realidade do conflito, tanto nos individuas como nas sociedades, estar disfargada pelo mito da humanidade como uma tunidade moral coerente através do tempo © do espaco», Penso que ‘© mesmo raciocinio se aplica ainda mais filosofia politica e que uma pposigdo democratica plutaista nfo pose pretender estabelecer de uma vez por todas todos 0s principias definitivos e acordos que os mem- bros de uma sociedade bem ordenada deveriam aceitar. As questées ccontroversas no podem ser confinadas & esfera privada e 6 uma ilusto acreditar que 6 possivel criar uma esfera piiblica no exclusiva de discussio racional, em que seria possivel atingir um consenso no coercivo. Em vez de tentar eliminar os tragos do poder e da exclusio, a politica democratica exige que eles sejam trazidos para a praga publica, tomando-os vistveis para que possam entrar no terreno da contestagao, Encarada desta perspectiva, a questio do pluralismo € muito mais complexa. Nao pode ser vista apenas em termos de sujeitos jf exis- tentes e limitada &s suas concepgdes do bem, Tem de dirigir-se a0 Préprio proceso de constituigio dos sujeitos do pluratismo. Na ver- dade, & aqui que residem hoje as questdes mais erucinis. E € aqui que 1d, tip 4, % Stuart Hampshire, Morality and Confliy, Cambridge, Mass, 1983, p. 155. 198 as limitagdes da actual abordagem liberal —enformada pelo essen cialismo e pelo individualismo — podem ter consequéncias politicas verdadeiramente prejudiciais para a politica democratica”. Que tipo de consenso? Concardo com 0s liberais politicos sobre a necessidade de distin- guir entre o liberalismo como uma doutrina generalizada, urna filoso- fia do homem, e 0 liberalismo como uma doutrina interessada nas instimigbes € valores da sociedad liberal. E estou também empenha- da — embora de forma diferente da daqueles autores — em esclarecer 41 dimensto politica do liberalismo, Quero analisar o seu contributo para a emergéncia da democracia moderna como um novo regime, Contudo, iss0 exige o reconhecimento de que o regime democratico- liberal ndo se esgota na sua componente liberal. Porque este regime consiste na articulagdo de dois elementos, o liberal constituido pelas instituigdes do Estado liberal (primado do direito, separagio de pode- res, defesa dos diteitos individuais) e 0 democrético da soberania popular e governo da maioria, Além disso, a liberdade e a igualdade, ue constituem os principios polticos do regime democritico-liberal, podem ser interpretados de muitas formas diferentes e ordenadas de acordo com prioridades diferentes, 0 que explica as multiplas formas possfveis de democracia liberal. Os «liberais» privilegiam os valores da liberdade ¢ dos diteitos individuals, ao passo que os «democratas» insistem na igualdade ¢ na participagio, Todavia, desde que nenhum dos lados tente suprimiir-o oittro, somos téstemunhas de um tuta no selo da démocracia liberal quanto as suas priotidadés, ¢ nfo entre regimes alternativos. ‘Afirmar, como 0 faz Latmore, que «0 liberalismo e a democracia so valores separados, cua relacio [..] consiste largamente no facto de a autogovemacio democrética set © melhor meio de proteger @ ‘order politica liberal», é uma interpretagao tipicamente liberal sus- > Sobre esta quest, v.o esimulane algo de Kirstie MacCiare, «On the sujest of righ pluralism plurality and poical ident,» Chantal Mauffe (ed), Dimensions of Radical Democracy, Londres, 1992 Larmor, «Political iberalirey op. ey 9. 359. 199 ceptivel de ser questionada, Nao hé divida de que @ relagio entre o Tiberalismo e a democracia é desde hé muito uma questo controversa ‘2, provavelmente, nunca sera resolvida. Uma demoeracia pluralisia é constantemente puxada em duas direegdes opostas: por um lado, no sentido da exacerbagdo das diferengas e da desintegragao e, por outro, no sentido da homogeneizagio e de poderosas formas de unidade Como jj defendi noutra ocasito”, considero que a especificidade da ddemocracia moderna como uma nova forma politica de sociedade, como um novo «regime», reside precisamente na fensdo entre a légica democritica da ipualdade o a 16gica liberal da liberdade. E uma tensa que devemos valorizar © proteger, em ver. de tentar dissolvé-ta, por- ue 6 constitutiva da democracia pluralisa, Isto nao significa que nfo esteja na origem de alguns problemas especificos; depois de estabele- cida a articulagio entre o liberalismo e a democracia, uma das preo. cupagdes constantes dos liberais tem sido a de como colocar os direitos individuais fora do aleance das regras da maioria, Para esse efeito, tém pretendido limitar 0 processo demoeritico de tomada de decisdes. Sem que seja aberiamente reconhecido, este 6 segundo creio, um dos subtextos do debate actual, Apresentar as insttuigdes liberais como resultado de uma racionalidade puramente deliberativa pode ser encarado como uma tentativa de as dotar de um fundamento que exclui a possibilidade de qualquer discondancia razoavel, 0 que pode ser visto como uma forma de as proteger contra potenciais ameagas das maiorias demoeriticas, HG, sem duivida, uma necessidade de garantir 0 pluralismo, os direitos individuais ¢ as minorias contra uma possivel tirania da taioria, Mas 0 perigo oposto existe igualmente,’o de assim tomar natural umn determinado conjunto de «libertades» @ direitos existen- tes, fortalecendo ao mesmo tempo muitas relagdes de desigualdade, A procura de «garantias» pode conduzir & propria destruigao da de- mocracia pluralista. Daf a importincia de compreender que, para que a democracia exista, nenhum agente social pode ter a possibilidade de reivindicar qualquer dominio quanto & findagdo da sociedade. A rela- Gdio entre agentes sociais s6 poder ser apelidada de «democrética» desde que aceitem a particularidade © as limitagdes das suas reivi V. © meu amigo wPluralismo e democrasa modems: em tomo de Catl Schmitt» reste volume, 200 dicagbes — isto 6, s6 na medida em que reconhegam as suas relagdes rmiituas como relagées das quais 0 poder 6 inerradicdvel. Por isso defendi que a evasio liberal a dimensio do poder esté eivada de riscos para a politica democritica Como os expoentes do «liberalismo politicon, gostaria de assistir & criagio de um amplo consenso em torno dos principios ia democra- cia pluralista. Mas nfo creio que tal consenso deva ser fundado na racionalidade e na unanimidade ou que deva manifestar um ponto de vista imparcial, Creio que a verdadeira tarefa consiste em sermos figis, as nossas insttuigoes democriticas e a melhor forma de 0 fazermos nao € demonsttarmos que devem ser escolhidas por agentes racionais «sob 0 véu da ignorincia» ou num «didlogo neutro», mas criando vigorosas formas de identiticagao com elas. Isto deverd ser feito desenvolvendo e multiplicando no maior niimero possivel de relagbes sociais 0s discutsos, as préticas, 05 «jogos de linguagem, que produ- zem «posigées de sujeito» democriticas, O objective é estabelecer a hhegemonia dos valores e priticas democriticos. Este tem de ser encarado como um objective «ético-politico», que diz. respeito aos valores especificos que podem ser realizados no dominio da politica através da acgao colectiva e que néo nega o papel onstitutivo do conflito ¢ do antagonismo, nem 0 facto de a divisio set itredutivel. Este tltimo ponto explica por que razdo é necessério {que 0s fil6sofos politicos tomem a sério a «valorizagao do pluralismo» nas suas mtltiplas dimensdes. Temos de criar espago para o pluralismo de culturas, formas colectivas de vida e regimes, bem como para 0 pluralismo de sujeitos, opgdes individuais e concepgbes do bem, o que tem consequéncias extremamente importantes na politica. Porque no reino da politica, uma vez. garantida a pluralidade de valores, bem ‘como a sua natureza conflituante, « indeterminagio nfo pode ter a “ltima palavra. A politica exige decisdo e, apesar da impossibilidade de encontrar um fundamento timo, qualquer tipo de regime politico consiste em estabelecer uma hierarquia entre valores politicos. Um regime demooritico-liberal, a0 favorecer o pluralismo, néo pode equacionar todos os valores, uma vez que a sua prépria existéncia enquanto forma politica de sociedade exige um ordenamento espect- fico de valores, que exclut um pluralismo absotuto. Um regime poll tico 6 sempre um caso de «lecidido indecidivel» e € por isso que no pode existir sem um «exterior consttutivor 201 Ravls salienta indirectamente este ponto quando expliea que «uma vvislo liberal retira da agenda politica as questdes mais controver- sass. O que € isto senao 0 tragar de uma fronteira entre aquilo que E negociivel ¢ aquilo que nfo & numa sociedade liberal? O que é isto seniio uma decisdéo que estabelece uma distinglo entre as esteras pablica e privada? Nao admira que este processo seja sentido como coercivo por aqueles que naa aceitam tal separagio. O advento do pluralismo liberal, bem como 2 sua continuidade, tém de ser encara dos como uma forma de intervencio politica num campo conflitual, uma intervengao que implica a represséo de outras alternativas, Estas ‘outras alternativas podem ser deslocadas e marginalizadas pela epa- rentemente irresistivel marcha da demoeracia liberal, mas nunca de- saparecerio completamente e algumas delas poderao ser reactivadas, Os nossos valores, as nossas insttuigoes e modo de vida constituem uma forma de organizacao politica entre uma pluralidade de outras possiveis e 0 consenso que implicam nto pode existir sem um «ex- terion», que deixard para sempre os nossos valores democritico-ibe- rais © a nossa concepedo de justiga abertos uo desafio, Para aqueles que se opdem a estes valores —agueles que so desclassificados como «irrazodveis» pelos nossos liberais racionalistas ¢ que nio par- ticipam no seu consenso generalizado — as condigdes impostas pelo dislogo «racional» sto inaceitaveis, porque negam alguns dos tragos definidores da sua identidade, Podem ser obrigados a aceitar um ‘modus vivendi, mas nfo necessariamente um que vena a esultar num consenso generalizado estivel © duradouro, conforme Rawls espera. Segundo ele, 0 regime liberal & um modus vivendi tornado necessér pelo pluralismo. No entanto, é um modus vivendi que ele pretende que valorizemos ¢ aceitemos por razées morais, © ndo por razbes prudenciais. Mas entao e aqueles que se opdem & propria ideia desse modus vivendi? E dbvio que dentro de um modus vivendi liberal, mesmo de ambito alargado, nao ha lugar para as suas exigéncias, Para cles, 0 liberalismo & um modus vivendi que sio obrigados a aceitar, 40 mesmo tempo que os seus valores sao rejeitados, Penso que nao hi qualquer forma de evitar tal situagao e temos de encarar as suas implicagdes. Um projecto de democracia radical ¢ plural tem de conciliar-se com a dimensio de conflito e antagonismo © Rawls, Political Liberation, p. 15? 202 da politica e tem de aceitar as consequéncias da irredutivel pluralidade de valores. Deve ser este 0 ponto de partida da nossa tentativa de radicalizar o regime democritico-tiberal © de alargar a revolugao democrética a um nimero crescente de relagdes sociais. Em vez de fugir da componente de violéncia e hostilidade inerente as relagdes sociais, a tarefa consiste em pensar em como criar as condigdes nas quais essas forgas agressivas podem ser diluidas © canalizadas, de forma a tornar possivel uma ordem democritica pluralista, 203

Você também pode gostar