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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2019.0000723448

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação Cível


nº 1013428-48.2015.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que são
apelantes/apelados PREFEITURA DO MUNICIPIO DE SÃO PAULO e
COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRAFEGO - CET, é apelada/apelante
MARIA ANGÉLICA DE CARVALHO E SILVA.

ACORDAM, em 11ª Câmara de Direito Público do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Recurso da CET e
adesivo da autora providos. Recurso do Município de São Paulo
parcialmente provido. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que
integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos.


Desembargadores RICARDO DIP (Presidente) e JARBAS GOMES.

São Paulo, 3 de setembro de 2019.

MARCELO L THEODÓSIO
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

11ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO


APELAÇÃO CÍVEL nº 1013428-48.2015.8.26.0053
APTES/APDOS: PREFEITURA DO MUNICIPIO DE SÃO PAULO E
COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRAFEGO - CET
APELADO/APELANTE: MARIA ANGÉLICA DE CARVALHO E SILVA
COMARCA: SÃO PAULO
VOTO Nº 15495
RELATOR: MARCELO L THEODÓSIO

RECURSO VOLUNTÁRIO DA CET - RECURSO


VOLUNTÁRIO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO -
RECURSO ADESIVO DA AUTORA - Ação de
reparação por danos materiais e morais – Alegação da
autora de que é dentista e tem seu consultório na Rua
Teixeira da Silva, nº 34, nesta Capital, e, em 26/06/2014,
transitando pela av. Paulista, na altura do nº 688, tropeçou e
caiu em virtude de parafusos acoplados ao chão, resultantes
da retirada mal implementada de sinaleiro - Em resultado
da queda, seus pertences se quebraram, e seu antebraço
esquerdo sofreu fratura, obrigando-a a imobilizar o
membro e a mão e a afastar-se de suas atividades laborais
até dezembro de 2014, período durante o qual auferiu
auxílio-doença conferido pelo INSS - Pretensão da
procedência da ação para condenar a ré no pagamento da
indenização por danos materiais, no valor de R$ 38.468,61,
corrigidos monetariamente e acrescidos de juros de mora
desde o evento lesivo, em razão das despesas a que teve de
fazer frente em decorrência do dano causado pela ré; o
julgamento procedente da ação para condenar a ré no
pagamento de indenização por danos morais, no valor
julgamento de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), corrigidos
a partir da prolação da decisão e acrescidos de juros de
mora desde a data do evento danoso, nos termos da Súmula
54, do E. STJ - Sentença de parcial procedência –
Recursos das partes.

Preliminar recursal do Município de São Paulo de


ilegitimidade passiva "ad causam", afastada.

Danos morais - Possibilidade - Nexo de causalidade -


Comprovação - Assim, comprovada a falha na prestação do
serviço pela Administração, caracterizada está a
responsabilidade dos réus em indenizarem os danos morais
causados à autora - Danos morais fixados em R$ 10.000,00
(dez mil reais) Valor que atende aos requisitos legais.

Quanto aos danos materiais, embora os documentos


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médico-hospitalares acostados aos autos comprovem o


período em que a autora precisou submeter-se a tratamento
em decorrência do acidente de que foi vítima (fls. 25/51),
os demais documentos não são suficientes para comprovar
o valor postulado, razão pela qual, para a fixação, foram
considerados os rendimentos mensais informados ao fisco,
às fl. 57 - Fixado o quantum em R$ 26.000,00, acrescidos
de juros de mora e correção monetária desde a data do
evento danoso, nos termos da Súmula 54, do E. STJ.

Juros e correção monetária - Necessidade de observância


aos novos critérios definidos pelo C. STF - Aplicação do
Tema nº 810-RE nº 870.947, observando-se o deferimento
de excepcional efeito suspensivo aos embargos de
declaração opostos pelos entes federativos estaduais nos
autos do RE 870.947.

Precedentes deste Egrégio TJSP - Sentença que julgou


parcialmente procedente a ação, mantida, com
observação (Juros e correção monetária - Necessidade de
observância aos novos critérios definidos pelo C. STF -
Aplicação do Tema nº 810-RE nº 870.947, observando-se o
deferimento de excepcional efeito suspensivo aos embargos
de declaração opostos pelos entes federativos estaduais nos
autos do RE 870.947) Recurso voluntário da CET,
improvido - Recurso voluntário do Município de São
Paulo, parcialmente provido (Tema nº 810, do C. STF) –
Recurso adesivo da autora, improvido.

Trata-se de ação de reparação por danos materiais e


morais proposta por MARIA ANGELICA DE CARVALHO E SILVA em face do
MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, alegando, em síntese, que é dentista e tem seu
consultório na Rua Teixeira da Silva, nº 34, nesta Capital, e, em 26/06/2014,
transitando pela Av. Paulista, na altura do nº 688, tropeçou e caiu em virtude de
parafusos acoplados ao chão, resultantes da retirada mal implementada de
sinaleiro. Em resultado da queda, seus pertences se quebraram, e seu antebraço
esquerdo sofreu fratura, obrigando-a a imobilizar o membro e a mão e a afastar-se
de suas atividades laborais até dezembro de 2014, período durante o qual auferiu
auxílio-doença conferido pelo INSS. Afirmou que, durante tal lapso temporal,
conviveu com dor, salas de espera em hospital, filas, consultórios médicos e de
fisioterapeutas, teve despesas com táxis, farmácias, além de toda a despesa
pessoal ordinária, sem que tenha podido trabalhar por ter tido sua ferramenta de
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trabalho a mão imobilizada por culpa da ré. Após discorrer sobre a Teoria do Risco
Administrativo, nos termos do art. 37, § 6º, da CF/88, requereu: o julgamento
procedente da ação para condenar a ré no pagamento da indenização por danos
materiais, no valor de R$ 38.468,61 (trinta e oito mil, quatrocentos e sessenta e
oito reais e sessenta e um centavos), corrigidos monetariamente e acrescidos de
juros de mora desde o evento lesivo, em razão das despesas a que teve de fazer
frente em decorrência do dano causado pela ré; o julgamento procedente da ação
para condenar a ré no pagamento de indenização por danos morais, no valor
julgamento de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), corrigidos a partir da prolação da
decisão e acrescidos de juros de mora desde a data do evento danoso, nos
termos da Súmula 54, do E. STJ; a prioridade na tramitação do feito, por ser a
autora maior de 60 (sessenta) anos. Com a inicial vieram procuração e
documentos (fls. 14/109).

Manifestação da autora requerendo que fosse


certificada a revelia do Município de São Paulo, aplicando-se-lhe os efeitos da
inércia (fls. 116/117).

Citado, o Município de São Paulo ofertou contestação


(fls. 120/133), com a qual vieram documentos (fls. 134/145). Sustentou que,
embora a Municipalidade tenha deixado transcorrer in albis o prazo para contestar,
não se operam os efeitos da revelia contra ela, nos termos do artigo 320, inciso II,
do CPC. Em preliminar, alegou a ilegitimidade do Município de São Paulo, sendo a
Companhia de Engenharia de Tráfego-CET a legitimada para figurar no polo
passivo por deter a atribuição legal para fiscalizar e realizar a manutenção da
sinalização de trânsito na Cidade de São Paulo. Em decorrência, requereu a
extinção da ação, sem o julgamento do mérito. No mérito, discorreu sobre a não
comprovação do nexo causal e da culpa do Município de São Paulo, bem como a
não comprovação dos danos alegados ante a inexistência de documento que
comprove que a autora auferia a renda mensal média alegada (fls. 23). Afirmou
não haver nos autos prova de que a autora quebrara seus óculos na queda havida
em 26/06/2014, ressaltando que a requerente apenas adquiriu novos óculos, no
valor nada módico de R$ 1.690,00 (um mil e seiscentos e noventa reais), em
13/08/2014. Afastou a indenização pleiteada pela autora a título de danos morais,
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ressaltando ser papel do julgador a quantificação de tal indenização, com base no


bom senso e na razoabilidade. Requereu o reconhecimento da ilegitimidade
passiva da Municipalidade ou o julgamento improcedente da ação.
Subsidiariamente, requereu a aplicação da regra trazida pelo artigo 1º-F, da Lei
Federal nº 9.494/97, incluído pela Lei nº 11.960/09.

Afastados os efeitos da revelia em relação à Fazenda


Pública e instadas as partes quanto à produção de provas (fls. 150/151), a autora
alegou que produziria prova testemunhal (fls. 154), enquanto a Municipalidade
alegou não ter novas provas a produzir (fls. 155/156).

Facultada à autora a substituição do polo passivo (fl.


157).

Manifestação da autora sustentando a


responsabilidade exclusiva da ré pela manutenção e fiscalização do passeio
público e requerendo a inclusão da CET no polo passivo, para evitar nulidade (fls.
160/162).

Deferida a inclusão da CET no polo passivo (fls. 165).

Citada, a COMPANHIA DE ENGENHARIA DE


TRÁFEGO-CET ofertou contestação (fls. 172/181), alegando, em síntese, não
haver qualquer reclamação na CET solicitando o reparo da aludida sinalização da
autora, de outro munícipe ou do prédio lindeiro, bem como não haver culpa por
parte da Companhia, muito menos culpa in eligendo. Sustentou a ocorrência de
caso fortuito ou força maior, em razão de não se saber a causa nem a data do
arranchamentoda sinalização, não tendo a ré condições de evitar ou reduzir as
causas da destruição da sinalização ou suas consequências. Relativamente aos
danos materiais e morais pleiteados, afirmou que tais valores não estavam
amparados em lei, que os danos morais foram orçados aleatoriamente e os danos
materiais consideraram extras que inexistem na função autônoma. Requereu: o
julgamento improcedente da ação, por inexistir culpa comprovada da CET nem
fundamento para os valores pleiteados a título de danos morais e materiais.
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Sobre as contestações ofertadas, sobreveio réplica


(fls. 186/197), acompanhada de documentos (fls. 198/200).

Instadas quanto à produção de provas (fls. 201), a


Municipalidade de São Paulo alegou não ter provas a produzir (fls. 204/205),
enquanto a autora requereu a produção de prova testemunhal (fls. 206),
apresentando, posteriormente, o rol de testemunhas (fls. 213).

Em 22/08/2017, a testemunha arrolada pela parte


autora compareceu à audiência, porém, como se verificou a ausência da intimação
dos advogados da CET, para evitar nulidades, foi declarada prejudicada a
audiência e designada outra audiência para 26/09/2017 (fls. 217/218).

A CET apresentou rol de testemunhas (fls. 228).

Em 26/09/2017, a testemunha arrolada pela parte


autora compareceu à audiência, sendo seu depoimento reduzido a termo (fls.
233/237).

As partes apresentaram suas respectivas alegações


finais: CET, às fls. 238/242; Municipalidade de São Paulo, às fls. 243/253; autora,
às fls. 254/263.

A r. sentença às fls. 264/271, julgou parcialmente


procedente a ação, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo
Civil, e condenou o Município de São Paulo e a Companhia de Engenharia de
Tráfego-CET no pagamento de indenização a título danos materiais, no valor de
R$ 26.000,00 (vinte e seis mil reais), acrescidos de juros de mora (nos termos da
Lei nº 11.960/09) e correção monetária (Tabela do E. TJSP IPCA-E) desde a data
do evento danoso, nos termos da Súmula 54, do E. STJ, bem como juros de, e
condeno as rés no pagamento de indenização a título de danos morais no valor de
R$ 10.000,00 (dez mil reais), vigentes nesta data, sujeitos às variações posteriores
até o efetivo pagamento, acrescidos de juros de mora (nos termos da Lei nº
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11.960/09) e correção monetária (Tabela do E. TJSP IPCA-E), a partir da


presente, nos termos da Súmula 362, do E. STJ. Diante da sucumbência mínima,
nos termos do art. 86, parágrafo único, do CPC, as rés arcaram com o pagamento
das despesas processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% do valor da
condenação.

Inconformada, a COMPANHIA DE ENGENHARIA DE


TRÁFEGO – CET interpôs recurso de apelação às fls. 279/287, requerendo, em
suma, seja dado provimento ao recurso de apelação, para julgar improcedente a
ação.

Contrarrazões (fls. 312/321), requerendo, em


suma, sejam majorados os honorários advocatícios recursais.

Por sua vez, o MUNICÍPIO DE SÃO PAULO interpôs


recurso de apelação às fls. 289/306, alegando, em preliminar, da ilegitimidade
passiva, "ad causam". No mais, requer, em síntese, seja dado provimento ao
recurso de apelação, reformando-se a r. sentença proferida para reconhecer a
ilegitimidade passiva do Município de São Paulo e extinguir o feito sem o
julgamento de mérito ou para julgar improcedente o pedido deduzido pela apelada,
com condenação nos ônus da sucumbência. Subsidiariamente, requer o Município
de São Paulo a redução do valor da indenização por danos morais e materiais,
debitando-se da indenização os valores recebidos pela autora a título de benefício
previdenciário. Requer, outrossim, a incidência dos índices previstos pela Lei
Federal nº 11.960/09 para fins de correção monetária.

Contrarrazões (fls. 322/340).

Por fim, a autora interpôs recurso adesivo às fls.


341/349, requerendo, em suma, seja dado provimento ao recurso, com a reforma
parcial da r. sentença, apenas para majorar o quantum fixado a título de
indenização pelos danos materiais e morais sofridos, fixando-se o valor
indenizatório nos moldes pleiteados na petição inicial.
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Contrarrazões (fls. 356/363 e 364/367).

Oposição ao julgamento virtual (fls. 370).

É O RELATÓRIO.

O recurso voluntário da COMPANHIA DE


ENGENHARIA DE TRÁFEGO – CET não comporta provimento.

O recurso voluntário do MUNICÍPIO DE SÃO


PAULO comporta parcial provimento (Tema nº 810, do C. STF).

O recurso adesivo da autora não comporta


provimento.

Rechaço a preliminar recursal do Município de


São Paulo de ilegitimidade passiva "ad causam", tendo em vista que a
calçada é um local público, competindo à Municipalidade a responsabilidade
pela pavimentação, manutenção, conservação e limpeza.

No presente caso, a autora, alegou, em síntese, que


é dentista e tem seu consultório na Rua Teixeira da Silva, nº 34, nesta Capital, e,
em 26/06/2014, transitando pela Av. Paulista, na altura do nº 688, tropeçou e caiu
em virtude de parafusos acoplados ao chão, resultantes da retirada mal
implementada de sinaleiro. Em resultado da queda, seus pertences se quebraram,
e seu antebraço esquerdo sofreu fratura, obrigando-a a imobilizar o membro e a
mão e a afastar-se de suas atividades laborais até dezembro de 2014, período
durante o qual auferiu auxílio-doença conferido pelo INSS. Afirmou que, durante
tal lapso temporal, conviveu com dor, salas de espera em hospital, filas,
consultórios médicos e de fisioterapeutas, teve despesas com táxis, farmácias,
além de toda a despesa pessoal ordinária, sem que tenha podido trabalhar por ter
tido sua ferramenta de trabalho a mão imobilizada por culpa da ré. Após discorrer
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sobre a Teoria do Risco Administrativo, nos termos do art. 37, § 6º, da CF/88,
requereu: o julgamento procedente da ação para condenar a ré no pagamento da
indenização por danos materiais, no valor de R$ 38.468,61 (trinta e oito mil,
quatrocentos e sessenta e oito reais e sessenta e um centavos), corrigidos
monetariamente e acrescidos de juros de mora desde o evento lesivo, em razão
das despesas a que teve de fazer frente em decorrência do dano causado pela ré;
o julgamento procedente da ação para condenar a ré no pagamento de
indenização por danos morais, no valor julgamento de R$ 80.000,00 (oitenta mil
reais), corrigidos a partir da prolação da decisão e acrescidos de juros de mora
desde a data do evento danoso, nos termos da Súmula 54, do E. STJ; a prioridade
na tramitação do feito, por ser a autora maior de 60 (sessenta) anos.

O artigo 37, parágrafo 6º da Constituição Federal,


estabelece:

“as pessoas jurídicas de direito público e as de direito


privado prestadoras de serviços públicos responderão
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou
culpa”.

Assim, para que se caracterize a responsabilidade


objetiva é imprescindível que o dano causado a terceiros seja provocado por
agentes estatais.

No caso em tela, a autora alegou que os danos foram


ocasionados pela omissão do Município de São Paulo que não cumpriu com seu
dever de fiscalização, ao não zelar pela segurança daqueles que se valem das
vias públicas, deixando de atribuir, especificamente, a algum agente da
Administração Pública a ausência de conduta.

Desse modo, fica afastada a responsabilidade


objetiva do Município de São Paulo, surgindo a responsabilidade subjetiva, nos
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termos do artigo 186, do Código Civil.

Além da responsabilidade subjetiva do Município de


São Paulo pela falta de fiscalização decorrente do exercício do poder de polícia,
surge a responsabilidade solidária da CET (responsabilidade solidária), tendo em
vista as atribuições de "prestar serviços ou executar obras relacionadas à
operação do sistema viário, mediante contratos com pessoas de direito público ou
privado e, ainda, com pessoas físicas" (fls. 122).

Assim, entre o dano experimentado e a ação ou a


omissão da Administração Pública, exige-se o nexo causal, que poderá ser
excluído se evidenciado que decorreu o prejuízo de circunstância que se qualifique
como caso fortuito, força maior, ou, exclusivamente, decorra de comportamento
culposo da própria vítima.

Sobre a Constituição Federal de 1988, explica


TOSHIO MUKAI:

"determina, portanto, que aquele que tenha sido


lesado por agentes de pessoas jurídicas de direito
público e/ou de direito privado, prestadoras de
serviços públicos, seja indenizado
independentemente da constatação de dolo ou culpa
do agente, bastando a comprovação do nexo causal
entre o ato praticado e o dano sofrido. Daí dizer-se
que a responsabilidade do Estado é objetiva". (in
Direito Administrativo Sistematizado, pág. 526, Ed.
Saraiva, 1999).

De fato, restou comprovada a existência do nexo


entre o dano sofrido pela autora e qualquer conduta omissiva dos réus. Observe-
se ainda que em se tratando de conduta omissiva, a responsabilidade depende da
comprovação da culpa.
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O nexo de causalidade é elemento indispensável em


qualquer espécie de responsabilidade civil. Destarte, SERGIO CAVALIERI FILHO
(2012. p. 67) define nexo causal como “elemento referencial entre a conduta e o
resultado. É através dele que poderemos concluir quem foi o causador do dano.”
O autor em referência ainda ressalta que o nexo de causalidade é elemento
indispensável em qualquer espécie de responsabilidade civil. Pode haver
responsabilidade sem culpa, mas não pode haver responsabilidade sem nexo
causal. (CAVALIERE FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10 Ed.
São Paulo: Atlas, 2012, pág. 67).

A Constituição Federal adotou a teoria do risco


administrativo; assim, a caracterização da responsabilidade independe de dolo ou
culpa dos servidores, admitindo, contudo, a contraprova de excludente ou
atenuante da Responsabilidade.

Deste modo, a reparação de um dano deve ter


primordialmente um caráter disciplinador assumindo, dessa forma, uma
penalidade ao agente causador do ilícito e de alguma forma suavizar as
consequências da dor e do sofrimento trazidos à vítima. Esta é a função principal
exercida pelo princípio da proporcionalidade, que faz com que sejam preservadas
as ações que se revestem de abuso como aquelas que efetivamente reclamem
uma apreciação do Judiciário com uma consequente reparação do dano. A
conduta do agente deve ser compatível com a consequência prejudicial ao
ofendido.

A a quantificação do valor auferido por dano moral


depende de critérios relacionados à razoabilidade e à proporcionalidade entre fato
lesivo e o dano causado por este. Isso advém da analise a ser feita pelo julgador
acerca: da avaliação das circunstâncias do fato, como a duração do sofrimento
experimentado pela vítima, os reflexos desse dano no presente e futuro, as partes
envolvidas no conflito e as condições físico-psicológicas do ofensor e do ofendido,
ou seja, respeitando, dessa forma, as peculiaridades de cada caso.

Os Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade


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estão intimamente ligados à quantificação do valor atribuído ao dano moral, visto


serem princípios norteadores do ordenamento jurídico que determinam um justo
equilíbrio entre o dano experimentado pela vítima e o prejuízo causado pelo autor
do dano.

Ademais, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça, já


se pronunciou acerca da reparação por danos morais:

“A indenização, em caso de danos morais, não visa


reparar, no sentido literal, a dor, a alegria, a honra, a
tristeza ou a humilhação; são valores inestimáveis,
mas isso não impede que seja precisado um valor
compensatório, que amenize o respectivo dano, com
base em alguns elementos como a gravidade objetiva
do dano, a personalidade da vítima, sua situação
familiar e social, a gravidade da falta, ou mesmo a
condição econômica das partes.
5. Arbitrado sem moderação, em valor muito superior
ao razoável, imperiosa a redução do valor devido à
título de danos morais, dentro dos critérios seguidos
pela jurisprudência desta Corte” (REsp. nº 239.973
RN, 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, v. un.,
Rel. Min. Edson Vidigal, em 16/5/00, DJU de 12/6/00,
pág.129).

Desta feita, a indenização por danos morais deve


ser mantida no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), sendo este valor hábil a
atender ao binômio de compensação dos dissabores suportados pela autora,
além de reprimir desagradáveis condutas similares por parte dos requeridos,
sem que seja fonte de enriquecimento sem causa por parte deste.

In casu consimili, já decidiu este Egrégio Tribunal de


Justiça do Estado de São Paulo:
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"Responsabilidade civil – Queda na calçada –


Responsabilização tanto do dono da calçada como da
Municipalidade, que deveria ter fiscalizado o passeio
público – Dano moral e material comprovados –
Condenação devida – Dano moral reduzido para se
adequar aos objetivos da indenização – Recursos
parcialmente providos." (TJSP; Apelação Cível
0052695-19.2010.8.26.0506; Relator: JOSÉ LUIZ
GAVIÃO DE ALMEIDA; Órgão Julgador: 3ª Câmara
de Direito Público; Foro de Ribeirão Preto - 2ª Vara
da Fazenda Pública; Data do Julgamento:
25/06/2019; Data de Registro: 28/06/2019);

"VOTO 31362 APELAÇÃO – AÇÃO ORDINÁRIA –


MUNICÍPIO DE ITAPETININGA – DANOS MORAIS,
MATERIAIS E ESTÉTICOS – Pretensão de
indenização em virtude de queda em via pública.
Pretensão da parte autora em ver indenizado
supostos danos materiais, morais e estéticos advindo
de queda sofrida em via pública – Realização de obra
em passeio público para colocação de grades com a
finalidade de separar a calçada do leito carroçável –
Colocação de madeiras para escorar a grade recém-
colocada, mas que não teriam sido devidamente
sinalizadas, com a finalidade de evitar acidentes –
Local em que tal benfeitoria foi realizada é utilizado
para realização de caminhadas, principalmente
durante o ocaso – Queda da autora gerou ferimentos
no rosto, joelho esquerdo, além de ter fraturado braço
esquerdo e danificado seus óculos.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO –
PRESENÇA DOS REQUISITOS ENSEJADORES DA
OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR – Existência de dano –
Prejuízos sofridos pela autora devidamente
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comprovados – Inexistência de elementos que


indiquem culpa exclusiva ou concorrente da vítima –
Município que tem por obrigação a manutenção das
vias e passeios públicos localizados em seu território
promovendo a segurança aos transeuntes –
Indenização devida. DANO MORAL E ESTÉTICO –
Caracterizados – Ofensa moral caracterizada, além
de ter a autora ficado com sequelas irreversíveis e
visíveis em seu braço esquerdo – Dano efetivo,
embora não patrimonial, posto que atinge valores
internos e anímicos da pessoa – Quantum
indenizatório fixado em R$ 20.000,00, adequado às
circunstâncias do caso – Dupla finalidade de punição
do ofensor e compensação da ofendida, sem geração
de enriquecimento sem causa. Sentença mantida.
Recursos não providos." (TJSP; Apelação Cível
1003791-36.2017.8.26.0269; Relator: LEONEL
COSTA; Órgão Julgador: 8ª Câmara de Direito
Público; Foro de Itapetininga - 4ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 12/06/2019; Data de Registro:
13/06/2019).

Quanto aos danos materiais, destaca-se, pois,


trechos da r. sentença monocrática (fls. 264/271), "in verbis":

"[...].
Quanto aos danos materiais, embora os documentos
médico-hospitalares acostados aos autos comprovem
o período em que a autora precisou submeter-se a
tratamento em decorrência do acidente de que foi
vítima (fls. 25/51), os demais documentos não são
suficientes para comprovar o valor postulado, razão
pela qual, para a fixação, serão considerados os
rendimentos mensais informados ao fisco, à fl. 57.
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Assim, fixo o quantum em R$26.000,00(vinte e seis


mil reais), acrescidos de juros de mora e correção
monetária desde a data do evento danoso, nos
termos da Súmula 54, do STJ.
[...].".

Assim, ficam mantidos os danos materiais, no


valor de R$ 26.000,00 (vinte e seis mil reais).

No tocante à atualização monetária e juros


moratórios, ressalta-se, por oportuno, que a Lei federal nº 11.960/09 alterou o
artigo 1º-F da Lei 9.494, de 10.9.97, "in verbis":

“Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda


Pública, independentemente de sua natureza e para
fins de atualização monetária, remuneração do capital
e compensação da mora, haverá a incidência uma
única vez, até o efetivo pagamento, dos índices
oficiais de remuneração básica e juros aplicados à
caderneta de poupança”.

Por sua vez, o E. Superior Tribunal de Justiça,


alterando a orientação que predominava em sua jurisprudência, estabelecera por
sua Corte Especial diretriz no sentido de que normas da espécie, “que dispõem
sobre juros moratórios, possuem natureza eminentemente processual”, e assim
aplicam-se “aos processos em andamento, à luz do princípio tempus regit actum”
(cf. EDv no REsp 1.207.197-RS, Rel. o Min. CASTRO MEIRA, j. 18 de maio de
2011, v.u., DJe de 2.08.2011).

Desse modo, vinha esta Egrégia 11ª Câmara de


Direito Público adotando esse entendimento, entendendo ser aplicável referido
diploma legal, que alterou a redação do artigo 1º-F da Lei federal 9.494, de
10.09.1997, passando a assim dispor:
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“Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda


Pública, independentemente de sua natureza e para
fins de atualização monetária, remuneração do capital
e compensação da mora, haverá a incidência uma
única vez, até o efetivo pagamento, dos índices
oficiais de remuneração básica e juros aplicados à
caderneta de poupança.”.

Ademais, no julgamento das Ações Diretas de


Inconstitucionalidade nºs. 4425 e 4357, em 14 de março de 2013, o Colendo
Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade de dispositivos da
Emenda Constitucional nº 62, de 2009, e, “por arrastamento, do artigo 5º da Lei
11.960, de 2009”, isto é, precisamente do dispositivo daquela lei federal que
modificara a redação do artigo 1º-F da Lei 9.494, de 1997. O julgamento das
declarações de inconstitucionalidade foi concluído pelo Plenário do Pretório
Excelso na data de 25.03.2015, deliberando a Suprema Corte, no que interessa à
espécie, “conferir eficácia prospectiva à declaração de inconstitucionalidade dos
seguintes aspectos da ADI, fixando como marco inicial a data de conclusão do
julgamento da presente questão de ordem (25.03.2015) e mantendo-se válidos os
precatórios expedidos até esta data, a saber: 2.1. Fica mantida a aplicação do
índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (TR), nos termos
da Emenda Constitucional nº 62/2009, até 25.03.2015, data após a qual (i) os
créditos em precatórios deverão ser corrigidos pelo Índice de Preços ao
Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e (ii) os precatórios tributários deverão
observar os mesmos critérios pelos quais a Fazenda Pública corrige seus créditos;
e (....)”.

A Suprema Corte reconheceu Repercussão Geral em


relação ao tema da extensão da inconstitucionalidade, já declarada, do artigo 5º da
Lei federal 11.969/09.

Essa suscitação, no RE 870.947-SE, j. 16.04.2015,


tomou o número 810, e do voto do Emin. Relator, Ministro LUIZ FUX, "in verbis":
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“Essa controvérsia também está presente em


diversos casos apreciados pelo Supremo Tribunal
Federal. A título ilustrativo, cito os seguintes
precedentes: RE 851.079, Rel. Min. Cármen Lúcia,
DJe de 4/12/2014; RE 848.718, Rel. Min. Dias Toffoli,
DJe de 3/12/2014; RE 839.046, Rel. Min. Gilmar
Mendes, DJe de 20/10/2014; RE 825.258, Rel. Min.
Roberto Barroso, DJe de 2/2/2015; e RE 848.145,
Rel. Min. Teori Zavascki, DJe de 25/11/2014. Ainda
que haja coerência, sob a perspectiva material, em
aplicar o mesmo índice para corrigir precatórios e
condenações judiciais da Fazenda Pública, é certo
que o julgamento das ADIs nº 4.357 e 4.425, sob a
perspectiva formal, teve escopo reduzido. Daí a
necessidade e urgência em o Supremo Tribunal
Federal pronunciar-se especificamente sobre a
questão e pacificar, vez por todas, a controvérsia
judicial que vem movimentando os tribunais inferiores
e avolumando esta própria Corte com grande
quantidade de processos.”.

O Colendo Supremo Tribunal Federal, por seu Pleno,


de julgar na data de 20.09.2017 o Tema n. 810 de Repercussão Geral Mérito, no
R.E. 870.947.

Diante disso, é caso de se observar, mesmo que


provisoriamente (porque ainda não transitado em julgado o Acórdão da Suprema
Corte), o entendimento que se colhe do voto condutor já divulgado do Ministro
LUIZ FUX, expresso nas seguintes teses:

“1. O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação


dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que
disciplina os juros moratórios aplicáveis a
condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional
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ao incidir sobre débitos oriundos de relação jurídico-


tributária, aos quais devem ser aplicados os mesmos
juros de mora pelos quais a Fazenda Pública
remunera seu crédito tributário, em respeito ao
princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º,
caput); quanto às condenações oriundas de relação
jurídica não tributária, a fixação dos juros moratórios
segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança é constitucional, permanecendo hígido,
nesta extensão, o disposto no art. 1º-F da Lei nº
9.494/97 com a redação dada pela Lei nº 11.960/09;
2. O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada
pela Lei nº 11.960/09, na parte em que disciplina a
atualização monetária das condenações impostas à
Fazenda Pública segundo a remuneração oficial da
caderneta de poupança, revela-se inconstitucional ao
impor restrição desproporcional ao direito de
propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que não
se qualifica como medida adequada a capturar a
variação de preços da economia, sendo inidônea a
promover os fins a que se destina”. (Repercussão
Geral Mérito, Tema 810, R.E. 870.947, Pleno, j.
20.09.2017).

Diante do julgamento de mérito do RE nº 870.947/SE,


Tema nº 810, STF, ATA Nº 27, de 20/09/2017, DJE nº 216, divulgado em
22/09/2017, no sentido de que a fixação dos juros moratórios segundo o índice de
remuneração da caderneta de poupança é constitucional, permanecendo hígido,
nesta extensão, o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada
pela Lei nº 11.960/09, aplica-se, pois, tal entendimento do C. STF.

Observa-se, por oportuno, que a jurisprudência


solidada no âmbito do Supremo Tribunal Federal, é cabível a aplicação de
precedente vinculante, independentemente da publicação do referido acórdão
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(AgR 612.375/DF, Min. Dias Toffoli, DJe 04.09.2017; AgR-ED 1027677/RS, Min.
Dias Toffoli, DJe 29.08.20117 e ARE 930.647/PR, Min. Roberto Barroso, DJe
11.04.2016).

In casu consimili, já decidiu este Egrégio Tribunal de


Justiça do Estado de São Paulo:

"Agravo de Instrumento. Decisão que acolheu


Impugnação à Execução de sentença oposta pela
Fazenda Estadual, na qual a executada apontou
excesso na execução, em razão de não terem os
exequentes aplicado as Leis Federais nºs. 11.960/09
e 12.703/12 no tocante à atualização monetária e os
juros de mora. Agravo dos exequentes parcialmente
provido para ser adotado o critério preconizado pelo
Supremo Tribunal Federal, quanto a correção
monetária e juros, no julgamento do Recurso
Extraordinário n. 870.947-SE (Tema 810 de
Repercussão Geral)." (TJSP, Agravo de Instrumento
nº 2230318-89.2016.8.26.0000, 11ª Câmara de
Direito Público, Rel. Des. AROLDO VIOTTI, j. em
31/10/2017).

E, ainda:

"APELAÇÃO AÇÃO MONITÓRIA CONTRATO DE


PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE EXAMES DE
CINTILOGRAFIA INADIMPLEMENTO DO
MUNICÍPIO Sentença de procedência para condenar
o apelante ao pagamento das parcelas inadimplidas,
corrigidas monetariamente a partir da propositura da
demanda, acrescidas de juros de mora de 1% ao
mês, desde a citação Pleito de reforma da sentença
para afastar a condenação ao pagamento de juros
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moratórios ou determinar a observância da Lei


Federal nº 11.960, de 29/06/2.009 em relação a eles
Cabimento em parte JUROS MORATÓRIOS
Ausência de pedido expresso na petição inicial
Irrelevância Matéria de ordem pública Pedido
compreendido no principal, conforme estabelecido
pelo art. 322 do CPC Julgamento do Recurso
Extraordinário nº 870.947, pelo STF Aplicação
integral do art. 5º da Lei Federal nº 11.960, de
29/06/2.009, no que se refere aos juros de mora
APELAÇÃO provida em parte, para determinar a
observância da Lei Federal nº 11.960, de
29/06/2.009, no tocante aos juros de Mora." (TJSP,
Apelação nº 1000462-58.2016.8.26.0428, 3ª Câmara
de Direito Público, Rel. Des. KLEBER LEYSER DE
AQUINO, j. em 7/11/2017).

Desse modo, é de rigor a observância aos novos


parâmetros definidos pelo C. STF, a fim de aplicar o Tema nº 810 - RE nº 870.947,
todavia, observando-se que, em 24.09.2018, por decisão do Min. Luiz Fux, o C.
Supremo Tribunal Federal deferiu excepcional efeito suspensivo aos embargos de
declaração opostos pelos entes federativos estaduais nos autos do RE 870.947,
que apreciou o Tema nº 810 da repercussão geral, nos seguintes termos:

"DIREITO CONSTITUCIONAL. REGIME DE


ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS INCIDENTES SOBRE
CONDENAÇÕES JUDICIAIS DA FAZENDA PÚBLICA. ARTIGO 1º-F DA LEI
9.494/1997 COM REDAÇÃO DADA PELA LEI 11.960/2009. TEMA 810 DA
REPERCUSSÃO GERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PARCIALMENTE
PROVIDO. OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EFEITO
SUSPENSIVO. ARTIGO 1.026, § 1º, DO CPC/2015. DEFERIMENTO. Decisão:
Tratam-se de pedidos de concessão de efeito suspensivo aos embargos de
declaração opostos pelo Estado do Pará (Doc. 60, Petição 73.194/2017) e pelos
Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato
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Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte,
Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e pelo Distrito
Federal (Doc. 62, Petição 73.596/2017), reiterados pelo Estado de São Paulo
através das Petições 2.748/2018 (Doc. 64) e 58.955/2018 (Doc. 152) e pelos
demais Estados embargantes através da Petição 39.068 (Doc. 146), nos termos
do § 1º do artigo 1.026 do CPC, sustentando os embargantes o preenchimento
dos requisitos da plausibilidade jurídica dos argumentos expendidos em sede de
embargos de declaração e do periculum in mora. A Confederação Nacional dos
Servidores Públicos CNSP e a Associação Nacional dos Servidores do Poder
Judiciário ANSJ manifestaram-se, por seu turno, através das Petições
3.380/2018 (Doc. 75), 59.993/2018 (Doc. 154) e 60.024/2018 (Doc. 156), pelo
indeferimento de efeito suspensivo aos referidos embargos declaratórios. É o
breve relato. DECIDO. Estabelece o Código de Processo Civil em seu artigo
1.026, caput e § 1º, in verbis: “Art. 1.026. Os embargos de declaração não
possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para a interposição de recurso.
§ 1o A eficácia da decisão monocrática ou colegiada poderá ser suspensa pelo
respectivo juiz ou relator se demonstrada a probabilidade de provimento do
recurso ou, sendo relevante a fundamentação, se houver risco de dano grave ou
de difícil reparação.” Destarte, com fundamento no referido permissivo legal,
procede-se à apreciação singular dos pedidos de concessão de efeito suspensivo
aos indigitados embargos de declaração. In casu, sustentam os entes federativos
embargantes, em apertada síntese, padecer o decisum embargado de omissão e
contradição, em face da ausência de modulação de seus efeitos, vindo a sua
imediata aplicação pelas instâncias a quo a dar causa a um cenário de
insegurança jurídica, com risco de dano grave ao erário, ante a possibilidade do
pagamento pela Fazenda Pública de valores a maior. Pois bem, apresenta-se
relevante a fundamentação expendida pelos entes federativos embargantes no
que concerne à modulação temporal dos efeitos do acórdão embargado,
mormente quando observado tratar-se a modulação de instrumento voltado à
acomodação otimizada entre o princípio da nulidade de leis inconstitucionais e
outros valores constitucionais relevantes, como a segurança jurídica e a proteção
da confiança legítima. Encontra-se igualmente demonstrada, in casu, a efetiva
existência de risco de dano grave ao erário em caso de não concessão do efeito
suspensivo pleiteado. Com efeito, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é
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firme no sentido de que, para fins de aplicação da sistemática da repercussão


geral, não é necessário se aguardar o trânsito em julgado do acórdão paradigma
para a observância da orientação estabelecida. Nesse sentido: “Agravo regimental
em recurso extraordinário. 2. Direito Processual Civil. 3. Insurgência quanto à
aplicação de entendimento firmado em sede de repercussão geral.
Desnecessidade de se aguardar a publicação da decisão ou o trânsito em julgado
do paradigma. Precedentes. 4. Ausência de argumentos capazes de infirmar a
decisão agravada. 5. Negativa de provimento ao agravo regimental.” (RE
1.129.931-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de 24/8/2018)
“DIREITO TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. SISTEMÁTICA. APLICAÇÃO.
PENDÊNCIA DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO PARADIGMA.
IRRELEVÂNCIA. JULGAMENTO IMEDIATO DA CAUSA. PRECEDENTES. 1. A
existência de decisão de mérito julgada sob a sistemática da repercussão geral
autoriza o julgamento imediato de causas que versarem sobre o mesmo tema,
independente do trânsito em julgado do paradigma. Precedentes. 2. Nos termos
do art. 85, § 11, do CPC/2015, fica majorado em 25% o valor da verba honorária
fixada da na instância anterior, observados os limites legais do art. 85, §§ 2º e 3º,
do CPC/2015. 3. Agravo interno a que se nega provimento, com aplicação da
multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015.” (RE 1.112.500-AgR, Rel. Min.
Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe de 10/8/2018) Desse modo, a imediata
aplicação do decisum embargado pelas instâncias a quo, antes da apreciação por
esta Suprema Corte do pleito de modulação dos efeitos da orientação
estabelecida, pode realmente dar ensejo à realização de pagamento de
consideráveis valores, em tese, a maior pela Fazenda Pública, ocasionando grave
prejuízo às já combalidas finanças públicas. Ex positis, DEFIRO excepcionalmente
efeito suspensivo aos embargos de declaração opostos pelos entes federativos
estaduais, com fundamento no artigo 1.026, §1º, do CPC/2015 c/c o artigo 21, V,
do RISTF. Publique-se. Brasília, 24 de setembro de 2018. Ministro Luiz Fux
Relator DOCUMENTO assinado digitalmente".

Por fim, a r. sentença às fls. 264/271 proferida


pela eminente magistrada doutora Simone Gomes Rodrigues Casoretti,
merece prevalecer in totum por seus próprios e jurídicos fundamentos.
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Considera-se prequestionada toda matéria


infraconstitucional e constitucional, observando-se que é pacífico no Egrégio
Superior Tribunal de Justiça que, tratando-se de prequestionamento, é
desnecessária a citação numérica dos dispositivos legais, bastando que a questão
posta tenha sido decidida. E mais, os embargos declaratórios, mesmo para fins de
pré-questionamento, só são admissíveis se a decisão embargada estiver eivada
de algum dos vícios que ensejariam a oposição dessa espécie recursal (STJ,
EDROMS 18205 / SP, Ministro FELIX FISCHER, DJ 8/5/2006, p. 240).

Ante o exposto, nego provimento ao recurso


voluntário da CET e ao recurso adesivo da autora. Por outro lado, dou parcial
provimento ao recurso voluntário do Município de São Paulo, apenas para fins de
correção monetária e de juros moratórios, os critérios fixados pelo Colendo
Supremo Tribunal Federal no julgamento do Tema 810 de Repercussão Geral-
Mérito, no Recurso Extraordinário n° 870.947, em 20.09.2017, observando-se o
deferimento de excepcional efeito suspensivo aos embargos de declaração
opostos pelos entes federativos estaduais nos autos do RE 870.947. No mais,
mantida a r. sentença tal como lançada.

MARCELO L THEODÓSIO
Relator

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