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a : José Arthur Ceca Filosofia mitda e demais aventuras Prof? Anselmo Alfredo FLG263 - Geografia Econdmica I Texto / Copias 42s 5 brasiliense 1985 Notas sobre a categoria “modo de produgio”’ para uso e abuso dos socidélogos* Muitos se contentam com o emprego de “modo de 1do de producdo asidtico”, ‘“o modo de pro- , “o modo de produgao doméstico”, como € cadeiras. Nao esto longe desse engano aqueles que, pressupondo dada a individualidade do objeto, tratam de enumerar os predicados que o distinguem. Justa: do segundo o arbitrio do investigador. Desse ponto de vi nada ha a objetar contra ‘‘o modo de producdo pratico-t co”, nome que um investigador audacioso usaria para FILOSOFIA MIGDA a to quanto do lado do conceito. No fundo se admite uma intui- is profundas da obra de Mar sobre o problema da forma do social. Nao nos esquegamos de € tomado como sintese de varias determi- junto, se faz po sigho dos predi do objeto conc: xionante onde os res do de produgdo feudal’, mencionando os tragos que oidenti- ficam neste ou naquele periodo da histOria, nfo avanca um asso na direc4o do conhecimento. No méximo se obtém sua prOpria realidade, Este é 0 movi- mento que nos interessa estudar num determinado modo de produgio. ‘Nao convém esquecer, em segundo que nesse pro- ide nem no inicio (ria —, oquese rminagdes mais ‘que seria da entidade valor, de sua Gegenstan- seu modo primeiro, noutro valor 0 valor, embora e Na regio da s ide, 0 que se efetiva se exprime, mas « JOSE ARTHUR GIANNOTTT de tal modo que a expresso efetuante, que vem individua- lizar ¢ ultimar a existEncia do phainomenon social (tecupe- rando 0 ve encobre os sua constituigfo. O modo de produsio lasses basicas, 0s assa~ fundiérios, na qua- lidade de donos duglo de mercadi relagbes sociais de producdo ndo dispensa suas expressOes Uticas. Toda a questdo reside em estabelecer seus varios niveis, Tepresentag4o ¢ dramatizaglo, que nada agbes de causa ¢ efeito, como se uma inf Dessa 6tica, “modo de producto” designa a forma objetiva pela qual os homens entabulam relag6es sociais por meio de suas atividades produtivas. Nao se trata de algo dado, jema a ser estudado. De um ponte 0, foi facil a Marx mostrar que pro- a € consumo se imbricam de tal ma- prontas que capeiizaiom na “produto mas produtivos particulares. ridades, e das dificuldades, do modo de outro produto possa desaparecer de imediato no consumo individual, ao menos grande parte do resultado de sua reite- FILOSOFIA MIODA, ” Tago, num determinado periodo, se apresenta para um ter- uma sociabilidade originaria, de um vinculo com outrem, que advém do fato do homem existir como espécie, como ser ge- ntrico incapaz de trabalhar sozinho. Isto se perde quando 2 producdo se faz para a troca entre proprietarios privados, completamente jos de qualquer laco social prévio. E se realiza socialmente quando se sub da troca, na qualidade de momento: fa. qual s6 a troca parece oferecer um ra drdo de medida universalmente vilido. Sabemos que 10 tra- balhadores, operando a um certo nivel de produtividade, equivalem a 5 operando a um nivel de produtividade dupla. Os trabalhos de $ operérios excluidos nem por isso deixaram de ser efetuados e, por consegi rcebemos assim que o sistema capitalis ‘em que se generaliza a produgto de mercadorias, nao ormagao sto em grande parte negados, Tub tas wae eal Tae pro- prio capital, quando somente se lhe tornam efetivos os trabs- fe para o capital efetivo, para o capital em sua plena aparigfo, nfo deixa de consttuir uma condigdo efetiva de sua existencia. \da que esse trabalho improdutivo, mas nfo itas vezes se organiza para o capital ou nos de per si produtores de mais-valia, Nesse mesmo nivel de abstrapdo, situam-se as atividades domésticas, que estipulam as condigbes de reproducao da forga de trabalho para o capi- 0 JOS ARTHUR OIANNOTTI tal. Nesse tiltimo caso, em particular, quando de fato produ- tos surgem de um trabalho organizado e reiterado, nfo cabe- ria enfeixar tais atividades sob a égide de um modo de produ- lo doméstico? Aqui pouco importa o nome, desde que nin- guém deixe de investigar a forma pela qual organiza¢ao do trabalho se reitera para o capital, existindo por meio dele ¢ nas cesuras abertas pela sociabilidade maior do sistema. O comum, entretanto, pode propiciar o engano. Essa so- lade maior no destr6i precisamente a unicidade das formas domésticas de produco? Uma coisa ¢ as mulheres trabalharem em casa para manter 0 custo de reproduedo da forsa de trabalho dos maridos abaixo de seu valor; outra, a fim de substitulrem tarefas que um estado dito socialista ja devia ter chamado a si. O que ha de comum em ambos os ca- 0s € reposto de formas t4o diferentes em cada sistema, ¢ de tal maneira transpassado por ldgicas diversas, que 0 mesmo rome s6 pode gerar confusdes. A problemética do modo de produgto surge para evitar 0s enganos das teorias que temati- zavam a producdo em geral. Nao resvalam pelo mesmo abis- ‘mo aqueles que, nas grandes totalidades reflexionantes como ‘omodo de produc asiético ou modo de produgao capitalis- ta, tratam de abstrair formas comuns e permanentes? ‘A situagdo se complica quando atentamos para a histori- cidade do proprio capital. Este, além de um objeto hist como 0 sto a dadiva, 0 valor, @ mais-valia ou o salério, é um objeto que historializa, Alguém, de posse de uma certa quan- tidade de dinheiro, formalmente determinada para gerar mais dinheito, & um capitalista; seu pecilio, um capital. Para ser efetivado como capital, esse dinheiro precisa ser trocado por mercadorias, dentre as quais se encontra a forga de trabalho. Nessa efetuaclo, o capitalista entra em concorréncia com ‘outros, mas de tal forma que seu lucro individual obedece a uma taxa gerada pela realizago da mais-valia proveniente S08 setores produtivos, com desigual composicao ‘do capital. Mecanismos desse tipo fazem com que 0 idual constitua parte integrante de uma entidade superior, o capital social total. A constituieto e individualiza~ ‘lo desse capital social depende, por sua vez, de processos de equalizacdo e compensaca0, ligados ao nivel de desenvolvi- mento das forsas produtivas, de expansio do mercado ¢ do crédito, etc. O capital socal total se efetua assim como capital FILOSOFIA MIUDA s nacional, na qualidade de parte do capital em geral, Aqui no hora de discutirmos os dificeis problemas l6gicos e econd- micos envolvidos nesse movimento de constituigo do capital em geral, vale a pena salientar tfo-somente que essa forma de individualizacao e realizado & responsivel pela instauraso, de uma entidade fantastica, o capital em geral, que nfo & mais do que 0 lado reificado do modo de produgao capitalis- ta, instalando-se como uma realidade que poe € repde suas proprias condigdes de existéncia. O mais interessante € que, no decorrer dessa circularidade, o capital incorpora modos anteriores de produedo. A produgfo simples de mercadoria, que pode so ema produtivo entre produ: tores marginais, passa a constituir um dos momentos do ciclo, jo capital, Ainda nessa gas aos mecanismos da acumulagdo pri 310 vivo sob a forma de forga de tra- de reserva. Nem sempre, porém, os * desse exército sobrevivem das sobras dos salétios a lia distribuida via estado. No interior de limites perfeitamente controlados pelo capital, esses trabalhadores podem operar de forma organizada, produzindo objetos para ‘outrem ou mercadorias que trocam entre si, sem participar diretamente do processo de geragtio do excedente. Nada nos impede de denominar tais formas de ‘“‘modo de produsao subsidiario ou cliente”, desde que nflo se perca de vista que nfo importa o objeto designado, mas a maneira pela qual ele ganha autonomia nos poros do processo capitalista, Como 0 capital demarca 0s bastidores, estipula as condigdes de exis- téncia de uma forma de socializac4éo do trabalho, como se gera e perdura tal forma ¢ a inica quest4o importante. Repondo-se a todo instante, individualizando-se gracas a seu préprio movimento circular, além de fagocitar modos, periféricos, além de instaurar uma histérla universal por meio da destruico das historias particulares, o capital esta pois ctiando formas de organizagdo do trabalho que nao se e vam sob as estritas condig6es de extragto de mais-vali se da, alids, desde seu comeco, quando o prdprio capi comercial forja o sistema colonial, isto quando o capital em 32 JOS ARTHUR GIANNOTTI geral existe apenas em germe, como processo objetivo que resultaré na revoluco industrial. Mas é assim que essa condi- ‘Até quando estamos autorizados a chamar ‘irculos um modo de produc&o? A pergunta pela denominagao perde importancia quando se privilegia a igdo das circularidades. & somente para evi- um mesmo nivel de realidade o modo de produgao c: que se torna ento conveniente reservar a categoria de modo de producto para designar o movimento objetivo de reposi- ra, um mesmo processo auténomo, a produ- igdo, a troca e 0 consumo, deixando outros no- mas produtivas subsididrias, que o modo de 10 processo de sua efetivagdo. a palavra sobre a relagdo entre modo de produgao e formacio social. Hoje se tornou costu- me dizer que um modo de produedo, em particular, o capita- que inclui outros (0, uma construglo do entendimento, e a formacio como uma realidade que s6 pode ser capturada pelo emprego de varios conceitos. Mas o que vem aser essa forma- fo social como um dado ja individualizado, presente a0 Olhar inquieto do investigador? Nio estamos separando, de um lado, o real, de outro, a construgéo te6rica, abrindo um abjsmo que a categoria marxista tem por fim precisamente ultrapassar? O “modo de producto capitalista’” é um nome 2 0 processo de objetivacdo e individualizagto de eal, 0 capital. Pouco importa que essa constitua de representagdes, que a ilusdo fara parte do de seu ser. Universal concreto, 0 capi- tal 6 uma sintese de determinagBes. A nds cabe estudar como de produgdo. Uma formagdo social néo exis- iualidade, ao contrario, pode como as nagbes dirigidas pelo estado mercantilista, ou do proprio movimento do capital que repde formas nAo-capita- FILOSOFIA MIUDA, s listas de produg40. O que int é investigar como, em cada caso, essa sintese chegs ‘como a unidade de uma formagdo social se instaura por um processo objetivo de S40 de socidlogo, que pensa o fendmeno 1 rontas, para ressaltar as relagdes causais ou funcionais entre elas.

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